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KELLY ALONSO COSTA DE MACEDO CÚPULAS HISTÓRICAS - SISTEMAS CONSTRUTIVOS, PATOLOGIAS E TÉCNICAS DE RESTAURO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, área de concentração Engenharia Civil. Orientador: Prof. Vicente Custódio Moreira de Souza, PhD. Niterói, RJ 2005

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KELLY ALONSO COSTA DE MACEDO

CÚPULAS HISTÓRICAS - SISTEMAS CONSTRUTIVOS, PATOLOG IAS E

TÉCNICAS DE RESTAURO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, área de concentração Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Vicente Custódio Moreira de Souza, PhD.

Niterói, RJ

2005

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KELLY ALONSO COSTA DE MACEDO

CÚPULAS HISTÓRICAS - SISTEMAS CONSTRUTIVOS, PATOLOG IAS E

TÉCNICAS DE RESTAURO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, área de concentração Engenharia Civil.

Aprovada por:

_______________________________________________________ Prof. Vicente Custódio Moreira de Souza, Ph.D (orientador)

Universidade Federal Fluminense

_______________________________________________________ Ana Lúcia Torres Serôa da Motta, Ph.D.

Universidade Federal Fluminense

_______________________________________________________ Eliane Maria Lopes Carvalho, D.Sc. Universidade Federal Fluminense

_______________________________________________________ João Carlos Teatini de Souza Clímaco, Ph.D.

Universidade de Brasília

Niterói, RJ 2005

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Ao

grande autor da minha vida

Deus.

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Ao

grande amor da minha vida

Rodrigo.

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AGRADECIMENTOS

Ao terminar este trabalho gostaria de expressar meus sinceros

agradecimentos a todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a sua

realização. Gostaria de agradecer, em especial:

A Deus, pela minha vida e pela imensa benção em proporcionar o

aperfeiçoamento profissional em uma instituição de grande avanço científico e

tecnológico.

Ao grande amor da minha vida, meu esposo Rodrigo Alves de Macedo, pelo

companheirismo, pelas horas de auxílio, paciência e apoio.

Aos meus pais, Maria das Graças e Hugo, pelo carinho sempre dispensado

durante toda a minha vida, pelos princípios que me formaram e pela educação que

me proporcionaram, me dando a oportunidade de batalhar pelos meus sonhos e

convicções.

Ao meu irmão, Victor Hugo, pela amizade e respeito nas horas de ansiedade

e dúvidas.

Ao grande amigo e mentor profissional professor e orientador Vicente

Custódio Moreira de Souza, sempre presente nas escolhas e indicações dos

caminhos a seguir.

Aos professores da Universidade Federal Fluminense que de alguma forma

colaboraram para a minha formação e constituição da ética profissional.

Aos integrantes do Grupo Casarões, pela iniciação no campo do Patrimônio

Histórico Nacional. Ao Flávio, à Jeanne, à Andréia, ao Mateus, à Paula, à Silvia, pela

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ajuda e a amizade, em especial ao amigo, Luiz da Guia, pelas sugestões, apoio e

auxílio em softwares.

Ao grande amigo Adriano Tavares pela ajuda e assistência durante o trabalho

e a disponibilidade freqüente.

À grande amiga e irmã Flávia, que sempre estava pronta a compartilhar das

horas difíceis e alegres.

Ao Coordenador do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, da

Universidade Federal Fluminense em Engenharia Civil, Orlando Longo, sempre

disponível para apoiar.

Às funcionárias do mestrado, à Aline, à Cássia, à Clarice e à Gláucia, que

sempre foram solícitas, tiveram muita paciência em resolver os problemas

burocráticos e psicológicos, e pela imensa amizade nos diversos momentos.

Aos professores da banca examinadora pela compreensão e pela

colaboração para a finalização dessa dissertação.

Aos colegas de mestrado, em especial ao Fausto, Alexandre, Itamar, Sabrina,

Emígdio, Uilson e Marcela.

Ao engenheiro civil, Ubirajara Avelino de Mello, pertencente à empresa

Concrejato, responsável pela obra de restauro na Igreja da Candelária, o qual

possibilitou o levantamento in loco das informações necessárias ao estudo de caso.

Ao engenheiro civil, Wallace Caldas, pelas informações imprescindíveis na

caracterização da Igreja da Lapa dos Mercadores.

À CAPES, pelo apoio financeiro.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS..................................... .............................................................5

SUMÁRIO ...................................................................................................................7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................... ........................................................10

LISTA DE FOTOGRAFIAS............................... ........................................................13

RESUMO...................................................................................................................15

ABSTRACT........................................... ....................................................................16

1 INTRODUÇÃO............................................................................................17

1.1 Considerações iniciais ................................................................................17 1.2 Justificativa .................................................................................................18 1.3 Relevância ..................................................................................................20 1.4 Metodologia ................................................................................................20

2 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DOS TETOS CURVOS ............. ................22

2.1 Introdução ...................................................................................................22 2.2 COBERTURA .............................................................................................22 2.3 Arcos e Abóbadas.......................................................................................24 2.4 CÚPULAS ...................................................................................................30 2.5 CLASSIFICAÇÃO DAS CÚPULAS .............................................................45 2.5.1 Quanto à transmissão de cargas ................................................................46 2.5.2 Quanto à forma ...........................................................................................48 2.6 a PRESENÇA DA CÚPULA NA HISTÓRIA DA ARQUITETURA BRASILEIRA .............................................................................................................53 2.6.1 As diversas cúpulas em edificações no Rio de Janeiro ..............................73

3 SISTEMAS CONSTRUTIVOS ....................................................................80

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3.1 CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS .....................................................80 3.2 OS PRINCIPAIS MATERIAIS USADOS NAS CÚPULAS.........................101 3.2.1 Madeira .....................................................................................................102 3.2.2 Adobe e tijolo maciço................................................................................103 3.2.3 Pedra ........................................................................................................105 3.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS ..............................107 3.3.1 Principais propriedades da madeira..........................................................107 3.3.2 Principais propriedades dos tijolos de terra. .............................................111 3.3.3 Principais propriedades da pedra..............................................................112

4 SINTOMAS PATOLÓGICOS E TÉCNICAS DE RESTAURO ........ ..........117

4.1 DESEMPENHO E DURABILIDADE..........................................................119 4.2 As causas das patologias EM CÚPULAS .................................................122 4.2.1 Causas das patologias em cúpulas de madeira........................................122 4.2.1.1 Causas intrínsecas ................................................................................123 4.2.1.2 Causas extrínsecas ...............................................................................125 4.2.2 Causas das patologias em cúpulas de tijolos ...........................................130 4.2.2.1 Causas intrínsecas ................................................................................130 4.2.2.2 Causas extrínsecas ...............................................................................133 4.2.3 Causas das patologias em cúpulas de pedra ...........................................137 4.2.3.1 Causas intrínsecas ................................................................................137 4.2.3.2 Causas extrínsecas ...............................................................................140 4.3 PROCEDIMENTOS ADOTADOS NA RECUPERAÇÃO E RESTAURO DAS CÚPULAS HISTÓRICAS.........................................................................................145

5 ESTUDOS DE CASOS.............................................................................147

5.1 Conceitos básicos da teoria dAS cascas ..................................................149 5.1.1 As diversas teorias de cascas...................................................................151 5.1.2 Relações básicas para cascas de revolução ortotrópicas.........................153 5.1.3 Teoria das membranas aplicada a cascas esféricas.................................154 5.2 estudos de casos ......................................................................................159 5.2.1 Estudo de caso: Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores .......161 5.2.1.1 Histórico ................................................................................................163 5.2.1.2 As principais características arquitetônicas...........................................163 5.2.1.3 Aspectos construtivos............................................................................167 5.2.1.4 Patologias e propostas de soluções......................................................168 5.2.2 Estudo de caso: Igreja de Nossa Senhora da Candelária.........................171 5.2.2.1 Histórico ................................................................................................173 5.2.2.2 As principais características arquitetônicas...........................................175 5.2.2.3 Aspectos construtivos............................................................................181 5.2.2.4 Patologias e propostas de soluções......................................................184

6 MODELAGEM COMPUTACIONAL............................ ..............................197

6.1 o método dos elementos finitos ................................................................197 6.1.1 A idéia geral do método ............................................................................199 6.2 propriedades dos materiais.......................................................................201 6.2.1 Origens e características da pedra de Lioz...............................................201 6.2.2 Parâmetros adotados................................................................................203

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6.3 modelos empregados................................................................................205 6.4 resultados obtidos.....................................................................................209

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES......................... ..........................215

BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA.......................... ...............................................218

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................ ................................................224

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Exemplo de uma possível cabana do paleolítico ......................................23 Figura 2 – Abóbada tipo de arco. ..............................................................................25 Figura 3 – Fiadas de pedras horizontais. ..................................................................25 Figura 4 – Abóbada de berço. ...................................................................................27 Figura 5 – Cúpula......................................................................................................30 Figura 6 – Distribuição estrutural de cúpulas. ...........................................................31 Figura 7 – Tesouro de Atreu......................................................................................32 Figura 8 – Palácio persa de Firuz-Abad. ...................................................................33 Figura 9 – Corte Longitudinal do Pantheon...............................................................34 Figura 10 – Interior do Pantheon...............................................................................35 Figura 11 – Maquete eletrônica da basílica...............................................................36 Figura 12 - Planta baixa e fachada da Igreja de Santa Sofia ....................................37 Figura 13 – Palácio de Cristal ...................................................................................44 Figura 14 – Elementos da cúpula..............................................................................46 Figura 15 – Cúpula suspensa....................................................................................46 Figura 16 – Projeção com base circular. ...................................................................46 Figura 17 – Cúpula de pendentes. ............................................................................47 Figura 18 – Base circular. .........................................................................................47 Figura 19 – Cúpula sobre trompas. ...........................................................................47 Figura 20 – Projeção em planta. ...............................................................................47 Figura 21 – Cúpula sobre o tambor (Tb, tambor; P, pendente). ................................48 Figura 22 – Cúpula em corte. ....................................................................................48 Figura 23 – Cúpula rebaixada. ..................................................................................49 Figura 24 – Cúpula vaída. .........................................................................................49 Figura 25 – Cúpula boêmia. ......................................................................................50 Figura 26 – Cúpula bizantina.....................................................................................50 Figura 27 – Cúpulas campaniformes.........................................................................51 Figura 28 – Armação para uma cúpula bulbiforme....................................................51 Figura 29 – Cúpula bulbiforme em espiral.................................................................52 Figura 30 – Cúpula ogival. ........................................................................................52 Figura 31 – Cúpula nervurada...................................................................................53 Figura 32 – Palácio Joaquim Nabuco - Planta baixa.................................................61 Figura 33 – Palácio Joaquim Nabuco – Corte Longitudinal.......................................62 Figura 34 - O teatro Amazonas em construção.........................................................63 Figura 35 – Tensões na cúpula esférica. ..................................................................81 Figura 36 – Aparelho anular. .....................................................................................81 Figura 37 – Arcos radiais. .........................................................................................82 Figura 38 – Aparelho Bizantino. ................................................................................83

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Figura 39 – Base do aparelho helicoidal. .................................................................84 Figura 40 – Aparelho romano....................................................................................84 Figura 41 – Aparelho em arcos de descarga.............................................................85 Figura 42 – Esboço da Catedral de São Pedro, Roma. ............................................85 Figura 43 – Esboço da Catedral Saint Paul, Londres................................................86 Figura 44 – Corte transversal, Palácio de Firuz-Abad...............................................87 Figura 45 – Geometria da cúpula. .............................................................................88 Figura 46 – Traçado geométrico do projeto da cúpula. .............................................90 Figura 47 – Vista do caixotão. ...................................................................................92 Figura 48 – Pantheon - Planta baixa. ........................................................................92 Figura 49 – Corte do Pantheon. ................................................................................93 Figura 50 – Curva das pressões. ..............................................................................95 Figura 51 – Rompimentos em arcos (A – fileira única; B – fileiras independentes)...97 Figura 52 – Cimbres da cúpula do Pantheon. ...........................................................99 Figura 53 – Torre de carpintaria. ...............................................................................99 Figura 54 – Estrutura para construção da cúpula....................................................100 Figura 55 – Concretando os setores da cúpula.......................................................100 Figura 56 – Arcos de descarregamento. .................................................................101 Figura 57 – Reciprocidade entre o desempenho e a durabilidade. .........................119 Figura 58 – Causas de origens extrínseca e intrínseca. .........................................121 Figura 59 - Ruptura nos elementos de base da cúpula...........................................134 Figura 60 - Abertura em arco da base da cúpula. ...................................................140 Figura 61 - Falência do arranjo estrutural da cúpula. ..............................................141 Figura 62 – Casca de revolução..............................................................................150 Figura 63 – Membrana de rotação. .........................................................................154 Figura 64 – Diagramas de forças e tensões............................................................156 Figura 65 – Diagramas da cúpula aberta com peso próprio....................................157 Figura 66 – Cúpula aberta com lanterna. ................................................................158 Figura 67 – Exemplo da planta de uma igreja histórica e seus principais elementos.

.........................................................................................................................159 Figura 68 – Elementos de fachada das igrejas. ......................................................160 Figura 69 – Fachada principal da igreja. .................................................................164 Figura 70 – Planta baixa da igreja e projeção da cúpula.........................................165 Figura 71 – Volumetria da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. .....166 Figura 72 – Ilustração do arranjo da cúpula elíptica................................................167 Figura 73 – Vista do Morro de São Bento, ilustração de 1830, de Jean Baptiste

Debret – Igreja da Candelária ainda sem a cúpula. .........................................173 Figura 74 – Fachada principal da Igreja da Candelária...........................................176 Figura 75 – Plantas baixas e projeção da cúpula interna da Igreja de Nossa Senhora

da Candelária...................................................................................................177 Figura 76 – Volumetria da Igreja da Candelária. .....................................................178 Figura 77 – Esquema prático do interior das cúpulas. ............................................179 Figura 78 – Ilustração das colunas em arcos da cúpula. ........................................183 Figura 79 – Escada móvel de acesso ao lanternim.................................................184 Figura 80 – Cúpula da Igreja da Candelária............................................................204 Figura 81 - Planta baixa do lanternim......................................................................205 Figura 82 – Curva aproximada do quarto grau........................................................206 Figura 83 – Vistas do modelo empregado...............................................................207 Figura 84 – Seção transversal da cúpula. ...............................................................208 Figura 85 – Cúpula modelada – Modelo 1. .............................................................208

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Figura 86 – Distribuição de tensões ao longo da cúpula.........................................209 Figura 87 – Seções transversais. ............................................................................210 Figura 88 – Seção transversal - Retirada das pedras. ............................................211 Figura 89- Cúpula global - Retirada dos blocos. .....................................................211 Figura 90 – Distribuição de tensões na simulação. .................................................212 Figura 91 – Cúpula global – fissura.........................................................................213 Figura 92 – Detalhe da fissura nas juntas dos blocos de pedra. .............................214

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1 – Recife antigo, Pernambuco. ........................................................................19 Foto 2 – Ghorfas em Tunísia.....................................................................................23 Foto 3 - Ponte romana. .............................................................................................29 Foto 4 - Monastério gótico.........................................................................................29 Foto 5 – Yurta............................................................................................................31 Foto 6 - Pantheon......................................................................................................33 Foto 7 - Igreja de Santa Sofia....................................................................................36 Foto 8 - Basílica de San Lorenzo de Huesca. ...........................................................37 Foto 9 - Teto em abóbada de arestas quadripartida na nave da Catedral de Reims

em França..........................................................................................................38 Foto 10 - Basílica de San Lorenzo de Huesca – cúpula sobre perxinas. ..................38 Foto 11 - Fachada da Igreja de São Pedro, Roma....................................................39 Foto 12 – Detalhe da cúpula da igreja de São Pedro................................................40 Foto 13 - A Igreja da Candelária - RJ........................................................................40 Foto 14 - Catedral Metropolitana – RS......................................................................40 Foto 15 - Cúpulas com forma alongada, Catedral do Arcanjo São Miguel, Ucrânia..41 Foto 16 - St. Basil's Cathedral, Rússia. .....................................................................42 Foto 17 – Catedral Antioquena, Rússia.....................................................................43 Foto 18 - Estação ferroviária Paddington. .................................................................44 Foto 19 – Cúpula da Igreja do Convento de Santo Antônio. .....................................54 Foto 20 - Fachada Frontal da Igreja Nossa Senhora do Carmo – Mariana, MG .......56 Foto 21 - Incêndio em 20 de janeiro de 1999, Mariana, MG .....................................57 Foto 22 – Cúpula da Igreja da Lapa dos Mercadores. ..............................................58 Foto 23 – Interior da Igreja da Candelária.................................................................58 Foto 24 – Imagem externa. .......................................................................................59 Foto 25 – Imagem interna. ........................................................................................59 Foto 26 - Palácio Joaquim Nabuco. ..........................................................................60 Foto 27 – Palácio Joaquim Nabuco - Troca das chapas da cúpula...........................61 Foto 28 - Teatro Amazonas atualmente ....................................................................63 Foto 29 – Casa França-Brasil....................................................................................64 Foto 30 – Coreto da Praça da República, Belém. .....................................................65 Foto 31 – Interior da Igreja de Nossa Senhora da Penha, Recife. ............................66 Foto 32 – Fachada da Faculdade de Direito. ............................................................66 Foto 33 – Palácio da Justiça, Recife. ........................................................................67 Foto 34 – Palácio da Justiça em construção.............................................................68 Foto 35 - Matriz de São Sebastião de Bagé, RG. .....................................................69 Foto 36 – Museu de Arte do Rio Grande do Sul........................................................69 Foto 37- Cúpula da Catedral de São Paulo em construção ......................................70

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Foto 38 – Catedral atualmente..................................................................................70 Foto 39 – Fachada do Pantheon, Roma. ..................................................................91 Foto 40 – Caixotões da cúpula do Pantheon.............................................................91 Foto 41 – Catedral de Santa Maria Del Fiore, Florença. ...........................................96 Foto 42 – Interior da cúpula da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.

.........................................................................................................................162 Foto 43 – Interior da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. ..............165 Foto 44 – Cúpula esférica. ......................................................................................166 Foto 45 – Clarabóia sobre o retro-altar. ..................................................................166 Foto 46 – Telhado da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. ............168 Foto 47 – Telhado com proteção sobre a cúpula esférica.......................................169 Foto 48 – Patologias na cúpula esférica. ................................................................169 Foto 49 – Patologias na clarabóia. ..........................................................................169 Foto 50 – Telhado cobrindo a cúpula elíptica..........................................................170 Foto 51 – Parede com infiltração.............................................................................170 Foto 52 – Parede com patologias............................................................................170 Foto 53 – Vista da Igreja da Candelária. .................................................................172 Foto 54 – Vista da cúpula externa e esculturas.......................................................174 Foto 55 – Abertura da Presidente Vargas. ..............................................................175 Foto 56 – Detalhe da porta em bronze....................................................................176 Foto 57 – Torres sineiras.........................................................................................177 Foto 58 – Interior da Igreja da Candelária – Altar-mor. ...........................................178 Foto 59 – Espaço entre as cúpulas. ........................................................................179 Foto 60 – Escada tangenciando a cúpula interna da igreja.....................................180 Foto 61 – Cúpula com lanternim. ............................................................................180 Foto 62 – Detalhe do lanternim. ..............................................................................180 Foto 63 – Lanternim da sacristia. ............................................................................181 Foto 64 – Fiadas em pedra. ....................................................................................182 Foto 65 – Vista do conjunto.....................................................................................182 Foto 66 – Detalhe do conjunto em pedra. ...............................................................182 Foto 67 – Escada metálica móvel. ..........................................................................184 Foto 68 – Detalhe da manivela................................................................................184 Foto 69 – Detalhe da cruz no lanternim. .................................................................186 Foto 70 – Infiltração na cobertura do lanternim. ......................................................186 Foto 71 – Detalhe da base do lanternim e patologia. ..............................................187 Foto 72 – Manchas da lixiviação. ............................................................................187 Foto 73 – Fissuras nas pedras do lanternim. ..........................................................188 Foto 74 – Manchas de infiltração. ...........................................................................188 Foto 75 – Lixiviação no intradorso da cúpula de pedra. ..........................................189 Foto 76 – Manchas com cores diferentes. ..............................................................189 Foto 77 – Fissura perto de uma coluna...................................................................190 Foto 78 – Escada de acesso à varanda externa. ....................................................190 Foto 79 – Verificação da atividade da fissura..........................................................190 Foto 80 – Junta exposta às intempéries..................................................................191 Foto 81 – Junta vista por baixo. ..............................................................................191 Foto 82 – Instalações elétricas para iluminação......................................................191 Foto 83 – Pedras com escurecimento.....................................................................192 Foto 84 – Desenhos com giz...................................................................................192 Foto 85 – Pixações com tinta. .................................................................................193

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo analisar o método construtivo e o funcionamento estrutural de cúpulas históricas em edificações antigas. Desde quando se manifestou o instinto humano de construir um abrigo, o primeiro tipo que se apresenta, e o mais espontâneo, são módulos com paredes e tetos curvos. Desde então, muitos tipos de arcos e cúpulas, construídos de acordo com várias formas geométricas e com todo o tipo de materiais, eram usados. Esse patrimônio sofre deterioração ao longo de tempo, e a preservação e a restauração de sítios e edificações históricas deixaram de ser ações voluntaristas, baseadas em abordagens impressionistas dos monumentos históricos, para se afirmar como um processo complexo de aplicações multidisciplinares de saberes. A análise e a evolução do comportamento de cúpulas históricas são tarefas complexas, sendo necessária uma avaliação em conjunto com a metodologia construtiva utilizada. Nesta dissertação, há uma preocupação com a caracterização de cúpulas usadas no Brasil, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro, e as causas e sintomas de deterioração, desde o conhecimento dos agentes, à forma e aos métodos de intervenção a serem aplicados.

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ABSTRACT

The aim of this work is to propose an analysis of constructive method and structural behavior of historic domes in old buildings constructed to the National Heritage. One of the first building methods in human history, and perhaps the most spontaneous, was modules constituted of curved walls and arch ceilings. Since then, many types of arched and domes, built according to a number of geometric forms and with different materials, were created. This heritage suffers deterioration along time, and nowadays the preservation and restoration of historic sites and buildings are no longer an individual action, based on intuitive approaches, but a complex multidisciplinary scientific process. Analysis and evolution of the behavior of historic domes is a complex task, and one must take into account the building technique used and the materials employed. This work is concerned with the characterization of dome types present in Brazil, more specifically in the city of Rio de Janeiro, and the causes and symptoms of their deterioration, since only from the knowledge of the deterioration agents the correct prophylaxis can be applied.

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo principal desta dissertação é invocar a importância do estudo

técnico para intervenções no patrimônio histórico nacional, que se faz presente nos

dias atuais, em meio à modernização das grandes cidades. A Universidade Federal

Fluminense tem desenvolvido, através do grupo de pesquisa Casarões, papel

determinante no aprofundamento do conhecimento das patologias e seus

respectivos tratamentos nos estudos desenvolvidos. O estudo da área da

Restauração e Conservação dos bens imóveis tem cunho multidisciplinar, pois o

conhecimento e a técnica estão intrínsecos à reconstituição histórica da sociedade.

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Observou-se, nos últimos anos, no Brasil, a crescente preocupação na

preservação de monumentos históricos, visto que seus valores simbolizam a

trajetória histórica da sociedade. Esta dissertação visa contribuir para a formação de

banco de dados que está sendo constituído por estudos, levantamentos e pesquisas

na área da Restauração e Conservação dos bens imóveis.

Uma edificação antiga deve ser considerada tanto no aspecto de valorização

de bem imóvel, com os seus respectivos valores sócio-econômicos associados,

como também a conservação do funcionamento físico. Segundo CABRITA (1992,

pg.45), o termo conservação é definido como o conjunto de ações destinadas a

prolongar a vida útil de uma edificação, salvaguardando-a e prevenindo à

degradação.

Os danos, que são acarretados por diversos fatores ao longo da vida da

edificação, podem ser impedidos ou antecipados com um plano de uso adequado e

um planejamento de manutenção. Segundo CURY (2000, pg.15), as Normas

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Internacionais de Restauro (Cartas Patrimoniais) recomendam que a conservação

dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente e uso constante da

sociedade.

As temáticas deste trabalho são resgatar a importância de um elemento

arquitetônico usado desde o primórdio da civilização, a cúpula, levantar os materiais

e as técnicas de construção mais relevantes, e pesquisar as patologias mais

freqüentes neste tipo de elemento. Os estudos de casos adotados baseiam-se em

cúpulas chamadas verdadeiras, ou seja, possuem estruturas auto-portantes. Esta

característica foi relevante para a análise do comportamento estrutural através de

um software baseado no método dos elementos finitos.

1.2 JUSTIFICATIVA

A recuperação do patrimônio histórico deixou, há muito tempo, de ser uma

ação voluntarista, baseada em abordagens impressionistas dos monumentos

históricos, para se afirmar como um processo complexo de aplicações

interdisciplinares de saberes. Trabalhar com patrimônios culturais implica em lidar

necessariamente com muitos interesses.

Citando ABREU (1998, p.179):

Interesses práticos e interesses subjetivos. Interesses difusos e confusos. Políticos e econômicos. Materiais e afetivos. Coletivos e particulares. Interesses, interesseiros e desinteressados.

A importância do estudo sobre edificações antigas nas áreas de Engenharia e

Arquitetura tem como reflexo duas vertentes: o resgate da memória histórica e o

desenvolvimento de vultosos projetos e obras de restauração nestas edificações.

Como exemplos, observam-se, no exterior, as restaurações no Bairro Alto, em

Lisboa, Portugal, e, no Brasil, a recuperação e conservação do centro histórico de

Recife (Foto 1).

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Foto 1 – Recife antigo, Pernambuco.

Fonte: Disponível em <www.opendoortur.com.br/brasil/cidades> Acesso em 14/04/05.

A pesquisa em edificações antigas transporta para o tempo presente

conhecimentos de técnicas executivas que não foram registradas, como também

materiais originais ou manipulados que foram empregados. Essas informações são

de grande importância para uma possível intervenção na edificação, que vise sanar

suas patologias e favorecer sua conservação.

Segundo HARRIS (1993, pg.1), a busca de um abrigo, pelo homem, vem

desde os primórdios da história da humanidade. O homem, por instinto, sempre

buscou a construção de seu abrigo de acordo com as disponibilidades materiais do

local. O primeiro exemplar que se apresenta, e o mais espontâneo, são módulos

com paredes e tetos curvos. A cobertura ou o teto de uma edificação e/ou

monumento é um elemento arquitetônico que atravessou todos os períodos da

história humana, desde os primórdios, e sofreu modificações ao longo do tempo. Por

meio do estudo das edificações antigas, pode-se observar o uso de coberturas

curvas, em inúmeras obras, ao longo da história, especialmente cúpulas e

abóbadas.

Dada a importância desses bens culturais e a participação de muitos

profissionais de diversas áreas, faz-se necessário que se sistematize o

conhecimento acerca das principais patologias que atingem as edificações antigas,

bem como de suas causas.

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1.3 RELEVÂNCIA

A contribuição desta pesquisa para a Engenharia Civil está na compreensão

do funcionamento estrutural de cúpulas históricas em edificações antigas,

preservadas ou não por órgãos do patrimônio histórico e artístico, que adotem

sistemas construtivos com materiais simples ou mistos. Com a organização desses

dados, pretende-se viabilizar um roteiro de estudo que auxilie os profissionais da

área na correta indicação das intervenções necessárias. Procura-se também

salientar, quando da análise das patologias, procedimentos que devem constar num

plano de manutenção preventiva para impedir que tais problemas venham a ocorrer

novamente nas edificações.

1.4 METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta dissertação foi baseada em pesquisa

bibliográfica a fim de levantar o referencial teórico necessário para o conhecimento a

respeito do funcionamento estrutural, técnicas construtivas e materiais. Pelo estudo

observacional e descritivo de casos reais, pode-se chegar à descrição de anomalias

e análises para determinar as causas geradoras de deterioração.

A amostragem dos casos escolhidos deve apresentar condições ambientais e

estados de conservação distintos, para que o trabalho seja mais abrangente. O

trabalho é subdividido nas seguintes etapas:

� Capítulo 1: Introdução. Capítulo que aborda a relevância e justificativa do

tema, a metodologia empregada e os meios para construção do trabalho;

� Capítulo 2: Estudo sobre o histórico da presença da cúpula desde a

antiguidade até os dias atuais, bem como sua classificação e presença na

arquitetura brasileira;

� Capítulo 3: Estudo dos sistemas construtivos e os principais materiais

utilizados com suas respectivas propriedades;

� Capítulo 4: Estudo sobre as patologias em cúpulas, as possíveis causas de

degradação investigadas e indicações quanto ao tratamento;

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� Capítulo 5: Conceitos básicos da Teoria de Cascas e apresentação de dois

estudos de casos, onde é feita uma análise de conservação das cúpulas,

diagnósticos e propostas de soluções.

� Capítulo 6: Análise de um estudo de caso através do método dos elementos

finitos, em diferentes estados de conservação;

� Capítulo 7: Conclusões.

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2 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DOS TETOS CURVOS

2.1 INTRODUÇÃO

A cobertura ou o teto de uma edificação ou monumento é um elemento

arquitetônico que atravessou todos os períodos da história humana, desde os

primórdios, e sofreu modificações ao longo do tempo. Do estudo das edificações

antigas pode-se observar o uso de coberturas curvas, em inúmeras obras, ao longo

da história, especialmente cúpulas e abóbadas. A construção de tetos curvos foi

influenciada por disponibilidade de materiais, culturas, religiões e política, tornando-

se um estudo investigativo e complexo.

2.2 COBERTURA

A idéia de cobertura constitui para o ser humano abrigo ou proteção, no

sentido prático e de sobrevivência, havendo um sentido comportamental de

aconchego e território.

Segundo CORONA E LEMOS (1972, p.29), genericamente, o termo

cobertura, designa o conjunto de elementos dos sistemas de proteção dos edifícios.

Como construção, a cobertura define o sistema a ser adotado e, ao mesmo tempo,

as distribuições em planta, condicionando os valores espaciais em um projeto.

O homem começou a criar uma certa necessidade e independência do meio

em que vivia, desenvolvendo uma intuição construtiva para sua proteção. Segundo

MAYERHOFER (1953, p.2), desde quando se manifestou o instinto humano de

construir um abrigo, o primeiro tipo que se apresenta, e o mais espontâneo, são

módulos com paredes e tetos curvos. Os povos de vários locais da terra

demonstram uma acentuada tendência pelos tetos curvos. Podem ser cônicas ou

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semi-esféricas, porém observa-se que essa tendência obedece a determinantes

econômicos, conduzindo à mecânica da menor superfície.

O homem pré-histórico usava como abrigo natural e rudimentar as cavernas,

que já constituíam, talvez, um primeiro exemplo de tetos abobadados. Segundo

MAYERHOFER (1953, p.2), as primeiras cabanas do paleolítico foram cônicas ou

semi-esféricas. Viollet-Le-Duc, em sua História da habitação humana, oferece um

exemplo provável, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 - Exemplo de uma possível cabana do paleolítico Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 2.

Através da busca do conhecimento foram encontradas construções

rudimentares que imitavam as covas nas montanhas (Foto 2), onde o homem

inicialmente habitou.

Foto 2 – Ghorfas em Tunísia

Fonte: Disponível em www.perso.wanadoo.fr/etmaventure>. Acesso em 11/04/05

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Segundo GOLDFINGER (1970, p.58), essas construções pertenceram a

alguns grupos tribais, entre eles alguns trogloditas, que viviam nas montanhas e

foram obrigados a emigrar para os vales, por causa da falta de alimentos e pastos

para os rebanhos de cabras. Essa tribo desenvolveu um sistema de “ghorfas”, em

Metameur, Tunísia.

Citando GOLDFINGER (1970, p.58):

Cujos pequenos, escuros e profundos interiores reproduzem intimidade e segurança das costas naturais das montanhas.

Avançando um pouco à frente no tempo, são encontrados povos que viviam

com as intempéries do deserto e das estepes e desenvolveram tetos feitos com

couros estendidos sobre armações de varas. Segundo MAYERHOFER (1953, p.2),

as tendas dos pastores, que eram feitas com a técnica citada, afetavam as formas

cilíndrica, cônica ou semi-esférica. Considera-se esse tipo de teto como um

antepassado mais longínquo de uma abóbada. Segundo CASSINELLO (1969, p. 6),

pode-se distinguir, em geral, duas classes de abóbadas: “do tipo arco” e “cúpulas”. A

história das abóbadas e, posteriormente, das cúpulas, vem desde os primórdios da

civilização humana: sua origem se deu na época das primeiras construções em

pedra e em argila.

As formas e os materiais empregados evoluíram e ampliaram sua utilização.

Os tipos de construção têm sua própria particularidade em função do clima, material

disponível e outras necessidades do ser humano.

2.3 ARCOS E ABÓBADAS

Segundo HARRIS (1993, p.9), as abóbadas são coberturas ou seguimentos

de coberturas curvas, que se cruzam mutuamente ou entre contrafortes.

Examinando as abóbadas através da geometria espacial, há abóbadas que são

interpretadas como setores (ou “fatias”) de cúpulas e outras como desenvolvimento

de arcos. Entretanto, as duas formas são originadas de um arco diretor.

As abóbadas do tipo arco podem ser consideradas como o desenvolvimento

ou revolução de um arco diretriz plano, cujos pontos se deslocam segundo

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geratrizes retas. Os setores criados (Figura 2) com os materiais constituintes se

apóiam somente no sentido curvo da diretriz e os esforços de cada setor se

transmitem ao setor que está em cima e debaixo do mesmo, nunca pelas laterais.

Figura 2 – Abóbada tipo de arco. Fonte: CASSINELO, 1969, p.6.

Somente no final do neolítico e início da idade do bronze é que surgem as

primeiras construções de pedra, principalmente entre os povos do Mediterrâneo e os

da costa atlântica da Europa. A partir do material disponível, houve uma

necessidade de desenvolver uma técnica construtiva para utilização dos módulos de

pedra.

O emprego da pedra, em fiadas horizontais, dispostas em círculo e

empilhadas em balanços sucessivos (Figura 3), teria fornecido um outro tipo de

abrigo aos primeiros construtores. Este abrigo tem a forma do que se chama

geometria espacial de arco. Inicialmente, os povos que utilizavam pedras para

construir essas formas de arcos, utilizavam o encaixe das pedras com “junta viva”,

ou seja, não utilizavam argamassa para a ligação entre os módulos.

Figura 3 – Fiadas de pedras horizontais. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 2.

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Com o uso de módulos, surgem as abóbadas de pedra maciça, que só

aparecem nas antigas civilizações em algumas construções. Em “Dur-Sharrukin”,

atual cidade Khorsabad, Iraque, encontraram-se exemplos de construções onde, a

partir de uma técnica especial, as camadas de pedra em arco são dispostas em

posição inclinada, com um melhor contraventamento longitudinal.

Considera-se como outro exemplo do uso de pedra em abóbadas as

construções Persas. Segundo MAYERHOFER (1953, p.22), esse povo desenvolveu,

ainda que “grosseiramente”, abóbadas com pedra bruta e aparelhos estruturais sem

acabamento dos arcos. Contudo, essa técnica pode ter dado origem à arquitetura

bizantina, com os conhecimentos perpetuados com o comércio e as guerras.

Em outros locais, apenas a argila era o material disponível para ser

trabalhado. Logo, os povos dessas regiões desenvolveram um teto abobadado como

abrigo. A argila, como material, não exigia outra mão-de-obra a não ser a de

modelador, dispensando toda ferramenta, porém só permitia a construção de tetos

curvos.

Avançando no tempo, 2.780 a.C.-2.280a.C. surge, no antigo Egito, uma

civilização em que a religião ocupa papel importante na sociedade. Os egípcios

desenvolveram dois tipos de arquitetura: um estilo arquitetônico para os deuses,

com um caráter monumental aos templos e às construções mortuárias, utilizando

pedras e técnicas de execução sofisticadas, e um estilo bem diferente para o povo.

As habitações populares eram de barro estruturado com caniços (semelhante à taipa

brasileira), com coberturas de folhas de palmeiras. No Egito, a madeira era escassa

e de má qualidade e, então, o material trabalhado foi a argila.

Com a evolução dos povos e o passar do tempo, alguns povos

desenvolveram, a partir da argila, a técnica de criar tijolos, como os egípcios. A

técnica sofreu variações de acordo com os povos; alguns fabricavam tijolos crus e

outros tijolos cozidos. Essas peças fizeram parte da construção de edificações e

também da evolução dos tetos curvos. Observando a necessidade de cobrir um

determinado espaço com materiais menores, os tijolos, os construtores, usando a

força de combinações, acabaram por descobrir a verdadeira abóbada, formada por

aduelas com os leitos convergentes.

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Segundo MULLER (1984, p.123), os persas foram os responsáveis pela

evolução das abóbadas, por desenvolverem a técnica herdada dos egípcios e

criarem as abóbadas de berço (Figura 4), que se apresentam como a forma mais

simples e antiga, assim como a “srefa”, um tipo de casa primitiva usada na

Mesopotâmia, de origem pré-histórica. Mais tarde, surge um tipo intermediário de

abóbada, que aparece como uma cobertura de arcos parabólicos, suportados por

pilares centrais, que atravessam-na, ou como cobertura em forma de cúpula, onde

existe um pilar central, a “choza abisidal”.

Figura 4 – Abóbada de berço. Fonte: CASSINELO, 1969, p. 17.

A utilização e a evolução dos tetos abobadados com argila tiveram sua maior

expressão através das construções realizadas na antiga Babilônia. Os arquitetos

desenvolviam cálculos avançados e uma arte especial de construir, utilizando a

resistência do material, bem como o emparelhamento de peças e conjunto. Segundo

HARRIS (1993, p.10), as abóbadas de berço com segmentos de tijolo em

disposições radiais suportavam os “jardins suspensos do Palácio de Nabucodonosor

da Babilônia”. O estilo arquitetônico se diferencia pela preocupação em fazer dos

tetos curvos um fator presente da sociedade daquela época.

O desenvolvimento e o enriquecimento das técnicas construtivas das

abóbadas aconteceram devido à miscigenação ocorrida na Grécia, onde as culturas

jônica e aquéia foram acrescidas da imigração dórica, por volta de VI a.C. Os gregos

apreciavam as construções de pedra aparelhada, arquitraves e platibandas,

aperfeiçoando o estilo dos grandes templos egípcios. Contudo, foram os romanos

que herdaram toda a junção de conhecimentos e conceitos sobre técnicas

construtivas. A principal diferença entre a arquitetura romana e a arquitetura grega

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provém dos construtores. Enquanto os gregos só empregavam a arquitrave para

vencer os vãos, os romanos fizeram uso do arco. Aprimoraram os estudos e

desenvolveram, como nenhum outro povo, a união da arquitetura, o cálculo da

engenharia e a arte de construir dos tetos curvos.

Citando MAYERHOFER (1953, p.68):

Em parte alguma teve a Arquitetura caráter tão grandioso como na Roma antiga. Vista do alto de suas colinas, a cidade apresenta-se como um conjunto magnífico, emergindo, por todo o lado dos espaços construídos, esplêndidos edifícios. Dominavam no aspecto geral, as formas curvas dos teatros e anfiteatros; vinham depois as cúpulas semi-esféricas, alternando com telhados à moda grega, mas esses mesmos cobriam tetos curvos: berços e abóbadas de arestas.

Os construtores romanos criaram salões com grandes vãos nos palácios

imperiais e edifícios religiosos; a utilização de abóbadas com tijolos de reforço

possibilita uma distribuição equivalente dos esforços e permite grandes vãos. O uso

dos arcos como arestas das abóbadas permitiu a substituição das pesadas pedras

utilizadas na construção das abóbadas de berço por placas finas de pedras ou de

cerâmica, pois sua função estrutural tinha como objetivo vencer apenas o espaço

entre os arcos. Estudando a origem e o desenvolvimento da civilização romana,

observa-se uma gradativa evolução das estruturas: num primeiro momento,

utilizando madeira para pilares e vigas em peças revestidas de moldagens de

terracota pintadas em tons vivos, e, posteriormente, estruturas em pedras, após a

descoberta de jazidas de pedras vulcânicas, e, mais tarde, mármores finos, incluindo

o “traventino”, que passou a ser o material característico das construções românicas

mais sofisticadas. São encontrados arcos e abóbadas executados em pedras de

cantaria nas mais arrojadas pontes construídas pelos romanos (Foto 3), algumas

com mais de dois mil anos de existência e ainda eficientes.

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Foto 3 - Ponte romana.

Fonte: HARRIS, 1993, p. 9.

As chamadas abóbadas de arestas resultam da intersecção em ângulos retos

das abóbadas de berço. As curvas que se perfilam como arestas no interior

correspondem à linha de forças resultantes dos esforços de compressão de ambos

os berços. Para compensar os esforços horizontais, apresentavam-se os

contrafortes, muros grossos ou tirantes. A partir do avanço da técnica e experiência

nas construções criaram-se possibilidades de grandes conjuntos arquitetônicos e

uma nova ordem construtiva, independente das antigas igrejas, sobre base

quadrada, onde os ângulos das cargas precisam ser corrigidos por pilares, muros e

arcos.

Por volta do século XII, a técnica dos tetos curvos sofre modificações; nasce a

arquitetura gótica. Uma decomposição da abóbada em elementos portantes conduz

a uma arquitetura gótica em cruzeiro. Segundo MULLER (1984, p. 278), nas

abóbadas em cruzeiro os esforços resultantes se refletem, em princípio, com

nervuras superpostas, e, depois, se convertem em nervuras autônomas. Encontram-

se na Europa as primeiras abóbadas nervuradas no estilo gótico primitivo (Foto 4).

Foto 4 - Monastério gótico

Fonte: Disponível em <www. Matthew D. Stroud.com.br>. Acesso em 14/02/05.

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As abóbadas de cruzeiro foram utilizadas até a idade média e acabaram por

destrincharem-se em outras formas: abóbadas de berço, de arcos de claustro, de

arestas, de cruzaria em ogiva, de cruzaria quadripartida, estrelada, estrelada com

nervura no vértice, de liernes e outros.

2.4 CÚPULAS

Segundo MULLER (1984, p.85), as primeiras cúpulas conhecidas são as

chamadas falsas cúpulas parabólicas, pois tinham a “massa ligante” sustentada por

arcos, ou parte dos mesmos, recebendo os esforços estruturais, ou seja, sem função

estrutural. Estas cúpulas foram encontradas em alguns locais e em idades

diferentes:

� em 5000 a. C., próximo ao extremo oriente, através das civilizações

sumerianas, foram encontradas as chamadas cúpulas parabólicas, bem como

as cúpulas por empilhamento;

� em 3500 a. C., no Chipre, cúpulas parabólicas;

� em tribos da Ásia ocidental e africanas, foram encontradas chozas circulares

cônicas ou semi-esféricas, construídas de juncos e lama de rio.

As cúpulas, ao contrário das abóbadas, estão geralmente engendradas pelo

giro de um arco meridiano ao redor de um eixo, descrevendo cada um de seus

pontos o paralelo correspondente (Figura 5).

Figura 5 – Cúpula Fonte: CASSINELO, 1969, p. 7.

Cada fatia da cúpula se apóia em ambos sentidos (de meridianos e paralelos)

e atuam sobre os mesmos desencadeando uma rede de compressão (Figura 6).

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Figura 6 – Distribuição estrutural de cúpulas. Fonte: Disponível em < http://mega.ist.utl.pt/~vvgr/dac2/home>. Acesso em 07/01/2005.

Teoricamente, a grande diferença entre abóbadas e cúpulas está na forma de

trabalho dos esforços, enquanto que na primeira há uma distribuição plana de

tensões, na segunda a distribuição é espacial. Porém, segundo as condições de

apoio e disposição construtiva, pode haver abóbadas que trabalhem espacialmente

e cúpulas que o fazem com distribuição plana de tensões (cúpula nervurada radial).

Segundo CASSINELO (1969, p.7), analogamente pode se tratar de abóbadas ou

cúpulas com material leve, que não cumprem nenhuma função resistente, ao

estarem suspensas como teto.

Estudando a história, observa-se que nômades da Ásia oriental e central

(Mongólia) constroem suas Yurtas, tendas de varas com forma de cúpula, com

diâmetro de até oito metros (Foto 5 – Yurta.).

Foto 5 – Yurta.

Fonte: Disponível em www.novinomad.com/ tour13.shtml>. Acesso 15/01/05.

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Alguns séculos mais tarde as cúpulas são usadas em construções pela

civilização miceniana (1200-1000 a.C.). Estas construções são interpretadas pelos

historiadores como funerárias e geralmente são subterrâneas. O exemplo mais bem

conservado é o tesouro de Atreu (Figura 7), em Micenas. Possui uma cúpula de

perfil aproximadamente parabólico, nascendo ao nível do piso, com 14,30 metros de

diâmetro interior, e atingindo a altura de 15 metros sob a pedra chave. A cúpula é

construída de pedras afetando a forma de paralelepípedos, com as fiadas

horizontais dispostas em anéis, cujo diâmetro diminui sucessivamente, terminando-

se por uma única pedra-chave.

Figura 7 – Tesouro de Atreu. Fonte: MAYERHOFER, 1953, P.57.

As cúpulas na era pré-helênica tinham como característica construtiva sua

execução sobre base de pedra.

No império Persa, por volta de 600 a.C., foram utilizadas cúpulas em palácios.

Através do estudo e pesquisa em locais da Ásia, onde viveram os Persas, foram

encontradas ruínas dos palácios Firuz-Abad e Sarvistan (Figura 8). Segundo

MAYERHOFER (1953, p. 21-22), os grandes autores que se ocuparam com a

história da arquitetura persa, tais como Pascal Coste, Marcel Dieulafoy, Gayet, e

outros, não estão de acordo com a época precisa da construção. No entanto,

concordam em fixar a construção da cúpula de Firuz-Abad, uma das primeiras

utilizações deste elemento arquitetônico num palácio, com a função de imponência.

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Figura 8 – Palácio persa de Firuz-Abad. Fonte: Disponível em <www.vohuman.org/.../ Firuzabad>. Acesso em 14/03/2005.

A construção foi feita com alvenaria de pedra calcárea e argamassa de cal e

areia. Um dos aspectos mais interessante e curioso que apresentam as arquiteturas

dos palácios de Firuz-Abad e Sarvistan é o perfil oval das cúpulas, além de atender

às condições de estabilidade, segundo o sistema persa de construção direta no

espaço, sem auxílio de cimbres, ou seja, segundo MAYERHOFER (1953, p. 30), um

traçado com intenção estética.

No início da chamada era imperial, novos tipos construtivos se manifestaram.

Em Roma, ao contrário da Grécia, estas formas se refletem sempre no espaço. Um

exemplar monumental deste período é o Pantheon, datado de 27a.C., em sua forma

pura, definido com uma cúpula semi-esférica (Foto 6).

Foto 6 - Pantheon

Fonte: Disponível em <www.sanford-artedventures.com>. Acesso em 15/03/2005.

A cúpula do Pantheon possui uma estrutura interna composta por caixotões, a

partir da divisão de meridianos e paralelos, enquanto que a parte externa é descrita

como uma carapaça de concreto, sendo que o seu peso era transmitido à base por

uma trama de tijolos (Figura 9). O intradorso da cúpula apresenta, no sentido da

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altura, cinco zonas, decoradas por caixotões, às quais se seguem uma superfície

lisa.

Figura 9 – Corte Longitudinal do Pantheon Fonte: Disponível em <www.sanford-artedventures.com>. Acesso em 15/03/2005.

Segundo MAYERHOFER (1953, p. 89), a disposição dos tetos em caixotões

apresenta nas cúpulas uma particularidade que não se encontra nos berços. Num e

noutro tipos de abóbada, os caixotões são dispostos por fileiras horizontais e

ascendentes; mas, nas cúpulas, as fileiras, compreendidas cada uma entre dois

meridianos, não têm a mesma largura em todo o seu desenvolvimento: diminuem a

largura, à medida que se elevam, os caixotões e as nervuras que os separam.

Torna-se, então, necessário, para conservar a harmonia nas diferentes partes dessa

ornamentação, que as zonas horizontais de caixotões, bem como as costelas que os

separam, diminuam também de altura (Figura 10).

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35

Figura 10 – Interior do Pantheon Fonte: Disponível em <www.sanford-artedventures.com>. Acesso em 15/03/2005.

Há numerosas variações de edificações romanas e paleocristas, porém todas

elas mantêm a cúpula semi-esférica, mesmo quando a planta em que a cúpula se

apóia é circular ou poligonal. Surge uma nova concepção no oriente grego-romano:

a associação de cúpulas e quadrados. Para levantar este tipo de cúpula apesar de

todo o seu peso, a solução foi uma casca sobre quatro triângulos esféricos e as

superfícies laterais terminando em muros e arcos.

Obras criadas na área cultural do Império Bizantino expuseram a ampliação

do princípio de associação de cúpulas e quadrados: surge uma outra cúpula sobre o

anel resultante da primeira, que domina o espaço por cima dos muros de base. Na

arquitetura bizantina, a grande igreja de Santa Sofia (532/37d.C.), em

Constantinopla (atual Istambul), dominada por seu grande domo, foi um modelo para

as obras cristãs posteriores e para os arquitetos turcos (Foto 7).

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36

Foto 7 - Igreja de Santa Sofia

Fonte: Disponível em <www.xtec.es/~jarrimad/ medieval>. Acesso em 15/03/2005.

A basílica possui uma abóbada semi-esférica e planta em forma de cruz

grega, com quatro lados iguais (Figura 11). As paredes externas são construídas

com pedra e tijolo. Nas decorações mais suntuosas usam-se mármore, mosaico,

ouro e pedra. A obra-prima desse estilo é a Igreja de Santa Sofia, erguida entre 532

e 537, em Istambul, na Turquia (Figura 12).

Figura 11 – Maquete eletrônica da basílica Fonte: Disponível em <www.xtec.es/~jarrimad/ medieval>. Acesso em 15/03/2005.

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Figura 12 - Planta baixa e fachada da Igreja de Santa Sofia Fonte: Disponível em <www.biada.org/materies> Acesso em 15/03/2005.

O estilo gótico, que utilizava arcos ogivais em templos, define uma nova face

da arquitetura: o espaço interno. Os arquitetos trabalhavam no limite do material: a

pedra. As cúpulas são elevadas para uma aproximação com o céu, conseguindo

desenvolver uma estrutura de modo a transmitir ou eliminar grande parte dos

esforços de tração, restringindo-os a limites suportáveis pelas argamassas que

fazem a junção de pedras (Foto 8). Segundo HARRIS (1993, p.17), o estilo gótico

busca a passagem de um ser para um “estado de espírito sublime” e o acréscimo de

vitrais coloridos adiciona um clima de mistério à atmosfera interna (Foto 9).

Foto 8 - Basílica de San Lorenzo de Huesca.

Fonte: Disponível em <www.cruzblanca.org/ sanlorenzo>. Acesso em 07/01/2005.

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Foto 9 - Teto em abóbada de arestas quadripartida na nave da Catedral de Reims

em França

Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org> Acesso em 15/02/2005.

Segundo MULLER (1984, p.119), com o Renascimento aparece a cúpula

galonada. Nesta, as nervuras constituem a estrutura portante que reparte todos os

esforços da cúpula sobre o “tambor” que, por sua vez, translada para as quatro

perxinas que são formadas pelo encontro dos arcos na base da cúpula (Foto 10). No

vértice da cúpula, um anel de compressão absorve as linhas de nervuras. Anéis de

tração metálicos compensam os esforços da cúpula. O estilo renascentista

desenvolve a construção exterior da cúpula e ressalta as nervuras que aparecem

como linhas. As abóbadas eram construídas em tijolos comuns e eram geralmente

adotadas superfícies cilíndricas simples ou compostas pelas diferentes formas de

intersecção.

Foto 10 - Basílica de San Lorenzo de Huesca – cúpula sobre perxinas.

Fonte: Disponível em <www.cruzblanca.org/ sanlorenzo>. Acesso em 07/01/2005.

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Segundo PATETTA (1984, p. 145), a observação das características de

rigidez e resistência de uma superfície esférica levou às primeiras aplicações de

superfícies de curvatura composta (3 dimensões), realizando-se grandes cúpulas,

como a de São Pedro, em Roma.

Em 1547, Michelangelo (pintor e arquiteto) iniciou a construção da Basílica de

São Pedro, em Roma, cuja grande cúpula da igreja é de sua autoria (Foto 11).

Foto 11 - Fachada da Igreja de São Pedro, Roma.

Fonte: Disponível em <www.arquidiocese-bh.org.br>.Acesso em 14/03/2005.

Existia uma basílica antes dessa, no mesmo lugar, sobre o túmulo de São

Pedro, considerado o primeiro Papa. Ficou conhecida como a velha São Pedro. Mais

antiga, consagrada no ano de 326 era também uma construção monumental, mas

estava em ruínas na época do Papa Júlio II, no século XV. Após o exame e

avaliação do Papa Júlio II e do arquiteto de nome Bramante, foi decidido que o

trabalho para restaurar a basílica era desanimador e seria mais oportuno uma nova

construção. Bramante empenhou-se com afinco na conclusão da obra, mas parou

diante do problema de construir a cúpula do tamanho que havia imaginado. Quatro

décadas se passaram, quando então Michelangelo foi chamado. A cúpula (Foto 12)

pesa 37 milhões de quilos de diversos materiais. Só a clarabóia tem

aproximadamente 1.500 toneladas. A cúpula tem 150 metros de altura.

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Foto 12 – Detalhe da cúpula da igreja de São Pedro

Fonte: Disponível em <www.arquidiocese-bh.org.br>.Acesso em 14/03/2005.

No Brasil existem duas cúpulas que fazem réplica do estilo e/ou arranjo

estrutural da Igreja de São Pedro. A Igreja da Candelária, na cidade do Rio de

Janeiro, é construída em pedra e seu projeto está ligado ao estilo monumental da

cúpula original (Foto 13). A outra cúpula está localizada na Catedral Metropolitana

na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Foto 14).

Foto 13 - A Igreja da Candelária - RJ Foto 14 - Catedral Metropolitana – RS

Fonte: Disponível em<http://www.royalcoop.com.br/passeios.htm

O desenvolvimento de técnicas construtivas e da arquitetura nos projetos de

cúpulas se aperfeiçoaram e criaram muitas edificações majestosas. Faz-se

necessário serem citadas as cúpulas das igrejas Sant’Ivo, em Roma, por Borromini,

1650, e a de San Lorenzo, em Turim, por Guarani, 1668-1687.

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A Igreja cristã, sendo levada para as terras eslavas, inicialmente tinha suas

torres e cúpulas construídas sob a influência greco-romana, que mais tarde foram

substituídas. Os eslavos desenvolveram suas cúpulas de forma alongada, para

representar a chama de uma vela acesa (Foto 15). As torres com suas cúpulas

representam um grande círio aceso, significando que o cristianismo tem sua fé viva

em Deus e que a Igreja é a Luz que deve iluminar o mundo. O dourado representa a

claridade da chama. Onde houvesse uma Igreja Cristã lá deveria haver luz.

Foto 15 - Cúpulas com forma alongada, Catedral do Arcanjo São Miguel, Ucrânia.

Fonte: Disponível em <www.ecclesia.com.br> Acesso em 05/02/2005.

As igrejas ortodoxas desenvolveram seu próprio estilo de cúpulas, que estão

presentes em muitas de suas igrejas e preservadas até hoje. Através de pesquisas,

pode-se observar que, de fato, tanto o formato, como o número ou a cor das

cúpulas, têm um significado simbólico próprio.

Segundo o Pe. PAULO AUGUSTO TAMANINI (2004, site ortodox..), a

variedade de formas da arquitetura russa dos templos se expressa no número de

cúpulas que os coroam. Este número é simbólico. Uma única cúpula significa a fé

em um único Deus; se são três, a fé na Santíssima Trindade; se são cinco o número

de cúpulas, Cristo cercado pelos quatro evangelistas; se são sete, os sete

mandamentos da Igreja; se nove, as nove ordens angelicais; se são treze, Cristo e

os doze Apóstolos. Este número pode chegar até trinta e três, segundo o número de

anos da vida terrena do Salvador. Também a forma da cúpula tem seu sentido

simbólico: a forma de Elmo faz recordar o guerreiro, a luta espiritual que sustenta a

Igreja contra as forças do mal e das trevas. A forma de bulbo (acebolada) simboliza

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a chama de uma vela, o que nos conduz às palavras de Cristo: "Vós sois a luz do

mundo". As formas mais elaboradas e as cores fortes das cúpulas da Igreja de São

Basílio, o Bendito - Moscou, expressam a beleza da Jerusalém celeste (Foto 16).

Foto 16 - St. Basil's Cathedral, Rússia.

Fonte: Disponível em <www.ecclesia.com.br> Acesso em 05/02/2005.

Existem muitas igrejas cujas cúpulas não são de ouro, tendo ornamentos

variados. São sempre em número ímpar e a cúpula central é a dourada, que

representa principalmente o poder do Espírito Santo. Após o domínio turco-otomano,

as Igrejas acrescentaram abaixo da Cruz uma meia-lua, que representa a

supremacia do Cristianismo sobre a religião do Islan, como pode ser observado nas

Igrejas ortodoxas russas, ucranianas e romenas (as que resistiram à invasão), o que

não aconteceu com outros patriarcados (Foto 17).

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Foto 17 – Catedral Antioquena, Rússia.

Fonte: Disponível em <www.ecclesia.com.br> Acesso em 05/02/2005.

A mudança no formato das cúpulas na Igreja Ortodoxa não se deve somente

ao poder que os Russos queriam demonstrar, mas também porque, naquela região,

é natural nevar durante a maior parte do inverno. Portanto, as cúpulas com o formato

de "Aghia Sophia", seriam de grande perigo devido ao acúmulo de neve e ao risco

de desabamentos. Então, segundo estudos, eles tiveram que achar uma maneira de

fazer com que a neve não ficasse acumulada nas cúpulas, diminuindo assim este

risco de desabamento. De acordo com dados históricos e antigas fotos da Ucrânia,

algumas igrejas foram reformadas, mudando a arquitetura tipicamente grega (tijolo à

vista, cúpula como as de "Aghia Sophia") para um novo estilo desenvolvido para as

condições climáticas e culturais daquela região. As que existem em outros lugares

foram construídas assim, portanto, por influência eslava. Estudos indicam que esta

mudança foi realizada pelos cossacos.

Com a revolução industrial, houve uma transformação nas técnicas

construtivas e nos materiais. Com as técnicas de industrialização do ferro, a partir do

século XVIII, surgem novos conceitos de cobertura. A construção em ferro e,

posteriormente, em aço, retoma as antigas formas em abóbadas e cúpulas. Este

período recebe o nome de “era do ferro e vidro” e deixa como herança inúmeras

obras, principalmente na Inglaterra, como o Palácio de Cristal (Figura 13), em 1851 e

a estação ferroviária Paddington (Foto 18), que exibem suas belezas nas formas e

transparência. Segundo HARRIS (1993, p.21), o desenvolvimento do aço e de novas

teorias de cálculo na segunda metade do século XIX tornaram as estruturas mais

delgadas, eliminando o ferro fundido como material estrutural.

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Figura 13 – Palácio de Cristal Fonte: Disponível em<www.loc.gov> Acesso em 20/02/2005.

Foto 18 - Estação ferroviária Paddington.

Fonte: Disponível em <www.samsonrail.com/ gallery> Acesso em 20/02/2005.

Em 1867, com a invenção do chamado ferro-cimento, teve início as

aplicações na construção, em 1889, e o seu uso foi generalizado a partir de 1920. O

desenvolvimento das técnicas e materiais avançaram para um melhor

aproveitamento na construção civil. Novos tipos de estruturas foram amplamente

estudados e executados, como cascas finíssimas e membranas.

Atualmente, devido aos modernos cálculos estruturais auxiliados pelo

progresso da informática, as cúpulas ocupam novamente lugar de destaque entre as

grandes estruturas.

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45

2.5 CLASSIFICAÇÃO DAS CÚPULAS

Ao longo do tempo, as cúpulas sofreram modificações na técnica construtiva

e na arquitetura. A construção deste elemento arquitetônico foi adaptada aos tipos

de materiais disponíveis para execução e a forma sofreu influências dos estilos

arquitetônicos.

O estudo da classificação das cúpulas tem como foco as cúpulas históricas e

suas possíveis variações.

Através da análise da geometria e do cálculo estrutural, as cúpulas são

cascas que resistem muito bem à compressão. É possível obter cascas de diferentes

formas, variando de acordo com as necessidades estruturais ou com as exigências

estéticas. As cúpulas históricas, até o século XIX, utilizavam os materiais disponíveis

e mais comuns para as construções, como madeira, pedras e tijolos, formando

cascas consideradas de grande espessura e peso.

A cúpula é uma abóbada de curvatura regular ou de revolução que cobre um

espaço redondo, quadrado ou poligonal. As superfícies dos elementos constituintes

da cúpula, bem como os espaços compreendidos por estes, recebem denominações

especiais. Sua face externa é chamada de extradorso e a face interna, ou teto, de

intradorso. As paredes ou suportes isolados que a sustentam são os pés-direitos ou

encontros. O plano horizontal que separa a cúpula dos pés-direitos denomina-se

plano das impostas. A superfície que marca seu início é chamada nascença. A

distância entre o plano das impostas e o ponto mais alto do intradorso é a flecha. As

áreas compreendidas pelos prolongamentos dos pés-direitos, pela tangente traçada

do vértice da abóbada ao extradorso são os rins (Figura 14).

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Figura 14 – Elementos da cúpula.

2.5.1 Quanto à transmissão de cargas

Segundo KOCH (1996, pg. 132), a passagem da planta poligonal para a curva

da base da cúpula é feita através de pendentes. Os pendentes, também chamados

de perxinas, são triângulos esféricos, porém muitas vezes têm funções diferentes.

Quando o círculo da cúpula atinge os ângulos da base sobre o qual se apóia, os

pendentes se tornam partes da cúpula (Figura 15). Esta adquire o nome de cúpula

suspensa e parece uma semi-esfera cortada verticalmente (Figura 16).

Figura 15 – Cúpula suspensa. Figura 16 – Projeção com base circular. Fonte: KOCH (1996), pg. 133.

Quando a base circular da cúpula estiver inscrita na base da estrutura inferior,

os pendentes se tornam elementos independentes da cúpula (Figura 17). Esta

cúpula é chamada de cúpula de pendentes (Figura 18).

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Figura 17 – Cúpula de pendentes. Figura 18 – Base circular. Fonte: KOCH (1996), pg. 133.

Segundo CASSINELLO (1969, pg.19), a passagem da cúpula para a base

pode também ser realizada por trompas (Figura 19). As trompas são abóbadas de

interseção formadas por semicones com ângulos de abertura diferenciados que

permitem a transmissão de cargas da cúpula para a base (Figura 20).

Figura 19 – Cúpula sobre trompas. Figura 20 – Projeção em planta. Fonte: KOCH (1996), pg. 134.

No exemplo da cúpula sobre trompas, a forma quadrada da infra-estrutura é

superada e aparece na forma octogonal, unida, nos cantos superiores, por trompas.

Muitas vezes, entre os pendentes (ou trompas) e a cúpula há um tambor

cilíndrico (ou octogonal), onde inclusive podem ser abertas janelas (Figura 21).

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Figura 21 – Cúpula sobre o tambor (Tb, tambor; P, pendente). Fonte: Fonte: KOCH (1996), pg. 134.

Às vezes a cúpula termina no alto com uma abertura redonda para a

iluminação, o óculo (opaion, opaeum), ou com uma pequena edícula com aberturas,

a lanterna (Figura 22).

Figura 22 – Cúpula em corte. Fonte: Fonte: KOCH (1996), pg. 57.

2.5.2 Quanto à forma

Segundo CASSINELLO (1969, pg.37), a forma da cúpula pode ser definida

através do giro da geratriz em torno do eixo. As cúpulas são mais empregadas com

a geratriz circular e parabólica, porém há formas diversas, como as elípticas,

bulbiformes, campaniformes, e outras.

� Cúpula esférica

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A cúpula esférica é uma abóbada de revolução que possui uma geratriz em

arco de circunferência cujo eixo de simetria vertical coincide com o eixo de giro. Sua

superfície interna está definida por uma superfície esférica e com a variação da

amplitude de seus meridianos sendo menor, igual ou maior de 90°, obtêm-se outras

formas de cúpulas esféricas: abatidas (Figura 23), compridas e peraltas.

Figura 23 – Cúpula rebaixada. Fonte: Fonte: KOCH (1996), pg. 135.

� Abóbada vaída

As abóbadas vaídas nascem da interseção de uma cúpula esférica com os

planos verticais que delimitam uma planta quadrada, inscrita, interior ou circunscrita

ao círculo máximo da cúpula esférica.

Quando o quadrado é inscrito, se denomina abóbada vaída propriamente dita

(Figura 24), formada por um conjunto de quatro perxinas.

Figura 24 – Cúpula vaída. Fonte: CASSINELLO (1969), pg. 51.

Quando o quadrado é interior ao círculo máximo da cúpula esférica, obtém-se

a abóbada vaída geralmente conhecida como cúpula de quatro pontas ou cúpula de

boêmia (Figura 25).

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Figura 25 – Cúpula boêmia. Fonte: CASSINELLO (1969), pg. 50.

Quando o quadrado é circunscrito à cúpula esférica e a projeção da base é

completada com perxinas que origina a cúpula que tem por diâmetro a diagonal do

quadrado, denomina-se como cúpula esférica sobre perxinas ou abóbada bizantina,

que é uma cúpula composta (Figura 26).

Figura 26 – Cúpula bizantina. Fonte: CASSINELLO (1969), pg. 51.

� Elipsóide, parabolóide e hiperbolóide de revolução

Segundo CASSINELLO (1969, pg.54), a cúpula de geratriz parabólica, cuja

superfície interna está formada por um parabolóide de revolução, é anterior à

esférica. Este fato se deve por uma maior estabilidade ao ser sua geratriz mais

deformada que a semicircunferência e adaptar-se melhor à sua linha de pressões.

O elipsóide de revolução é uma solução pouco usada, por não adaptar sua

geratriz aos antifuniculares dos tipos correntes de carga. As cúpulas elípticas não

são tão eficientes quanto as esféricas, pois se expõem a maiores tensões. Já as

cúpulas parabólicas apresentam vantagens estruturais, mesmo comparadas às

cúpulas esféricas.

No hiperbolóide de revolução, a sua superfície perde seu caráter de cúpula

por serem inversas suas duas curvaturas.

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� Cúpulas campaniformes

As cúpulas campaniformes possuem um contorno cônico, normal à geratriz,

estando fechadas em sua parte superior por uma verdadeira cúpula esférica, ou por

um arremate pontiagudo, geralmente fechado por pedras.

Figura 27 – Cúpulas campaniformes. Fonte: CASSINELLO (1969), pg. 55.

� Cúpulas bulbiformes

Segundo CASSINELLO (1969, pg.55), na realidade não constituem cúpulas

verdadeiras por seu princípio resistente, já que sua forma origina tal série de tensões

de tração que, para construí-las, precisaria de um verdadeira armação metálica ou

de madeira (exceto quando é feita com folha de cobre), e só pequenos setores

podem ser fechados com fabricação exclusiva do material usado, ou a partir do

ponto de inflexão (Figura 28). Sua forma não nasce de delineamento construtivo ou

estrutural, é conseqüência de um simples delineamento plástico.

Figura 28 – Armação para uma cúpula bulbiforme. Fonte: CASSINELLO (1969), pg. 56.

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Os bulbos geralmente são usados como arremates em torres e são

coberturas tradicionais na arquitetura popular russa, adaptando freqüentemente um

contorno espiral, que destaca como sua forma de trabalho é totalmente distinto do

trabalho das cúpulas em geral.

Figura 29 – Cúpula bulbiforme em espiral. Fonte: CASSINELLO (1969), pg. 56.

� Cúpula Ogival

Cúpula criada no estilo gótico acompanha o teto de igrejas com arcos ogivais.

Pouco usada. Sua forma é a junção de um cone com uma esfera (Figura 30).

Figura 30 – Cúpula ogival. Fonte: Fonte: KOCH (1996), pg. 133.

� Cúpula de nervuras

São cúpulas que não possuem função portante, também chamadas de falsas

cúpulas, ou seja, sua distribuição de cargas é feita pelas nervuras ou arcos que se

comportam como o elemento estrutural chamado viga.

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Figura 31 – Cúpula nervurada. Fonte: KOCH (1996), pg. 94.

2.6 A PRESENÇA DA CÚPULA NA HISTÓRIA DA ARQUITETURA BRASILEIRA

Foi realizado um estudo com o objetivo de compreender a importância de um

elemento arquitetônico que atravessou todos os períodos da história, inclusive no

Brasil, para reaparecer nos dias atuais com uma naturalidade que talvez indique

esquecimento quanto à riqueza de sua herança e de seus significados para a toda a

sociedade. Porém, faz-se necessário uma resumida e sucinta cronologia da história

da arquitetura no Brasil.

Após a chegada de Cabral, em 1500, Portugal tomou posse do território e

transformou o Brasil em sua colônia. Primeiramente, foram construídas as feitorias,

que eram construções muito simples com cerca de pau-a-pique ao redor, porque os

portugueses temiam ser atacados pelo índios. Com a preocupação da invasão do

Brasil por outros povos, Martim Afonso fundou a vila de São Vicente (1532) e

instalou o primeiro engenho de açúcar, iniciando-se o plantio de cana-de-açúcar,

que se tornaria a principal fonte de riqueza produzida no Brasil. Após a divisão em

Capitanias Hereditárias, houve grande necessidade de construir moradias para os

colonizadores que aqui chegaram e engenhos para a fabricação de açúcar.

A arquitetura era bastante simples, sempre com estruturas retangulares e

cobertura de palha sustentada por estruturas de madeira roliça inclinada. Essas

construções eram conhecidas por tejupares, palavra que vem do tupi-guarani

(tejy=gente e upad=lugar). Com o tempo os tejupares melhoram e passam os

colonizadores a construir casas de taipa. Com essa evolução, começam a aparecer

as capelas, os centros das vilas, dirigidas por missionários jesuítas. Nas capelas há

crucifixo, a imagem de Nossa Senhora e a de algum santo, trazidos de Portugal. A

arquitetura religiosa foi introduzida no Brasil pelo irmão jesuíta Francisco Dias, que

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trabalhou em Portugal com o arquiteto italiano Filipe Terzi, projetista da igreja de

São Roque de Lisboa. Os estilos arquitetônicos eram transplantados da metrópole

para a colônia, sofrendo adaptações em função das disponibilidades locais e do

meio cultural. A arquitetura religiosa foi aquela que melhor expressou as

características dos estilos. Contudo, em muitos casos, com o atraso e a demora na

finalização das construções, houve uma descontinuidade de projeto arquitetônico

original, dificultando classificações precisas ou, ao menos, didáticas. As igrejas que

subsistiram ao tempo permanecem como exemplos de construções do século XVI

que estão ligadas intimamente com o estilo usado em Portugal. As igrejas no

nordeste do Brasil exemplificam este fato, como são os casos da Igreja dos Santos

Cosme e Damião, Matriz de Igarassu, em Pernambuco, bem como da Igreja de

Nossa senhora da Graça, em Olinda, Pernambuco. No entanto, só são encontradas

características de dinamismo espacial nas igrejas, a partir do fim do século XVI e

início do século XVII, conforme se observa na cúpula semi-esférica (Figura 13) da

Igreja do Convento de Santo Antônio (1612-1613), Recife, Pernambuco. A cúpula

está sobre perxinas e internamente forram-na azulejos portugueses do tipo tapete,

nas cores laranja, azul e branco (Erro! Fonte de referência não encontrada. ).

Foto 19 – Cúpula da Igreja do Convento de Santo Antônio.

Fonte: Rodrigo, 2005.

Em Pernambuco, muitas edificações do século XVII seguem as mesmas

características estruturais e arquitetônicas, como a Igreja de Nossa Senhora do

Pilar, Recife, e a Igreja Nossa Senhora de Nazaré, no cabo de Santo Agostinho. Na

Bahia, também pode-se observar o aparecimento de cúpulas como, por exemplo, na

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Capela-mor do Mosteiro de Monte Serrate (1598) e na Capela de Nossa Senhora da

Pena (1610). Segundo TELLES (1980, p.70), as abóbadas e cúpulas deste período

são de alvenaria.

Ainda segundo TELLES (1980, p.70), a invasão holandesa de Salvador

(1624-1625) e, depois, a de Pernambuco (1630-1654), que se estendeu a todo o

Nordeste, provocaram uma quase completa paralisação das atividades construtoras,

tanto por parte da administração como das ordens religiosas e dos particulares. A

ocupação holandesa, que, no Nordeste, durou perto de vinte e quatro anos, teve

aspectos negativos e positivos. As lutas e guerrilhas, o incêndio que arrasou quase

totalmente Olinda e a paralisação das atividades construtivas, deixaram um saldo

negativo na evolução e ampliação do patrimônio. Entretanto, entre 1630 e 1654, a

presença holandesa no Recife introduz um planejamento urbano desconhecido na

colônia. A cidade se expande para a ilha de Antônio Vaz com um traçado regular,

que difere da ocupação espontânea da época. Algumas das construções da época

que subsistiram ao tempo foram as militares, os fortes, e início das construções de

templos protestantes que se tornaram católicos após a expulsão dos holandeses,

como a atual Igreja do Divino Espírito Santo, Recife, Pernambuco.

Com o término da ocupação holandesa houve uma retomada das atividades

construtivas por parte das ordens religiosas. As igrejas possuem tetos apainelados

com pinturas.

No século XVIII, tardiamente em relação à Europa, o barroco brasileiro atinge

o auge após a descoberta de ouro em Minas Gerais. Fachadas simples, decoradas

com pedra-sabão em substituição ao mármore europeu, passam a abrigar interiores

opulentos, ornamentados com ouro e prata. A Igreja de São Francisco de Assis, em

Ouro Preto (MG), é considerada a mais bem elaborada construção do estilo. Outros

exemplos importantes se encontram em Salvador e no Rio de Janeiro. Porém, não

foram encontrados muitos vestígios do uso de cúpulas nesta região, sendo exceção

a Igreja Matriz de Mariana (MG), que possui uma cúpula sobre a Capela-Mor (Erro!

Fonte de referência não encontrada. ).

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Foto 20 - Fachada Frontal da Igreja Nossa Senhora do Carmo – Mariana, MG

Fonte: Alexandre Mascarenhas, 2002

A Igreja Nossa Senhora do Carmo de Mariana representa os projetos

monumentais eruditos em Minas Gerais. Sua construção foi iniciada em 1783 e

finalizada em 1835. Segundo MASCARENHAS (2005, pg.4), a cúpula da capela-mor

da Igreja Nossa Senhora do Carmo de Mariana apresenta estrutura abobadada em

barretes quadripartidos em “X”. No caso do Carmo de Mariana, a tesoura é “fixada”

sobre o barrote de madeira da capela-mor, transferindo seu peso para as paredes

laterais. A estrutura principal, juntamente com as cambotas secundárias em madeira,

suporta o estuque confeccionado pela trama de ripas de coqueiro e preenchimento

executado com argamassa de cal, fibra e areia. O espaçamento existente entre a

cúpula da capela-mor e a cobertura do telhado contribui para a respiração da

argamassa de cal, para a redução na mudança de temperatura (externa e interna –

dia e noite), além de facilitar a manutenção do forro. Em 1999, houve um grande

incêndio que destruiu em poucas horas todo o forro da Nave Central que continha

pintura artística de Francisco Xavier Carneiro, além dos altares laterais entalhados e

a imaginária em madeira policromada. A estrutura do forro de estuque da cúpula da

capela-mor foi atingida em decorrência das altas temperaturas, causando

deslocamento e desprendimento das argamassas, perdas parciais de elementos

estruturais e de ornamentos, além de fissuras e rachaduras. Somente o altar-mor

permaneceu intacto (Erro! Fonte de referência não encontrada. ).

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Foto 21 - Incêndio em 20 de janeiro de 1999, Mariana, MG

Fonte: Alexandre Mascarenhas, 1999

No ano de 2002, através de uma parceria entre o IPHAN e a Arquidiocese de

Mariana, houve uma intervenção nesta igreja e a cúpula sofreu reformas. Uma

equipe composta por especialistas em estuque do Programa Monumenta (Ministério

da Cultura) realizou novo processo de intervenção para consolidação e integridade

física para a compatibilidade de materiais na reintegração e no reforço estrutural do

forro em estuque da cúpula da capela-mor.

Segundo CZAJKOWSKI (2000, p.8), a partir do século XVIII, no Rio de

Janeiro, ocorrem algumas tentativas de se criar um movimento espacial, como nas

Igrejas da Glória, de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, em 1753 (Erro!

Fonte de referência não encontrada. ), São Pedro dos Clérigos (demolida) e de

Nossa Senhora da Mãe dos Homens. A mistura e variedade das edificações na

cidade ilustraram a evolução urbanística e cultural devido aos acontecimentos

históricos e políticos que se desenvolviam na região.

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Foto 22 – Cúpula da Igreja da Lapa dos Mercadores.

Fonte:Kelly,2005.

A Igreja de Nossa Senhora da Candelária, atualmente a maior igreja da

cidade, foi iniciada em 1778, após a demolição da capela existente que lhe deu

origem. Entretanto, a igreja sofreu uma profunda reforma (1887), com intervenção,

entre outros arquitetos e engenheiros, de Jacinto Rebelo, Gustavo Waehneldt,

Bithencourt Silva e Ferro Cardoso. As obras da reforma se prolongaram até o início

do século XX. A igreja foi ampliada, o cruzeiro ganhou a imponente cúpula e o

interior foi revestido de mármores e pinturas (Erro! Fonte de referência não

encontrada. ). A construção possui modificações do projeto original e adicionamento

de detalhes pertencentes a estilos arquitetônicos diferentes entre si.

Foto 23 – Interior da Igreja da Candelária

Fonte: Disponível em<http://www.royalcoop.com.br/passeios.htm

Com o fim do século XVIII e o avanço do século XIX, muitas edificações

classificadas por historiadores de estilo Neoclássico se fizeram presentes no Brasil.

Através de pesquisa geográfica pelo país para observar o patrimônio foram

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verificadas uma grande variedade de edificações e a adaptação deste estilo nas

regiões do país. O uso de cúpulas não é freqüente nas edificações pertencentes ao

estilo Neoclássico, porém há manifestações em construções que são válidas

ressaltar. No estado de Pernambuco, mais especificamente na cidade de Recife, são

encontradas muitas edificações deste período, como a Casa de Detenção do Recife

(Erro! Fonte de referência não encontrada. ), atual Casa da Cultura. Construção

iniciada em 1850 possui uma arquitetura influenciada pelo neoclassicismo e uma

cúpula em estrutura metálica no centro da edificação (Erro! Fonte de referência

não encontrada. ).

Foto 24 – Imagem externa. Foto 25 – Imagem interna.

Fonte: Rodrigo, 2005.

Sobressaindo no cenário do antigo Recife, à beira do rio Capibaribe, não há

como deixar de observar a imponente cúpula que faz parte da arquitetura do prédio

da Assembléia Legislativa de Pernambuco (Palácio Joaquim Nabuco). A construção

do prédio foi iniciada em 1870 e finalizada em 1875 (Erro! Fonte de referência não

encontrada. ). Segundo FRANCA (1977, p.56), apesar de ter características

neoclássicas, o prédio difere bastante de outras edificações do período.

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Foto 26 - Palácio Joaquim Nabuco. Fonte: BITU, p. 24.

Segundo BITU (2000, p.26), a planta do prédio é em forma de cruz latina,

porém com um dos braços no eixo principal bem mais curto e compõe-se de cinco

corpos (Erro! Fonte de referência não encontrada. ):

� o hall de acesso do plenário, com escadarias que levam ao pavimento

superior;

� no corpo posterior, com dois pavimentos, há um hall que dá acesso aos

salões e escadarias;

� no corpo lateral esquerdo localizam-se áreas administrativas, e ocupa três

pavimentos;

� no corpo lateral direito também localizam-se áreas administrativas, e ocupa

dois pavimentos;

No centro do edifício localiza-se o espaço circular destinado às reuniões

plenárias, com um só pavimento coberto pelo tambor e cúpula.

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Figura 32 – Palácio Joaquim Nabuco - Planta baixa. Fonte: Fonte: BITU, p. 28.

O edifício foi erguido em alvenaria estrutural em tijolos, cujas paredes

externas, medindo 80 centímetros de espessura, suportam o peso da coberta e

pisos intermediários, assim como a parede que circunda o vão central destinado ao

plenário e tambor com forma cilíndrica, sobre o qual apóia-se a cúpula. Esta possui

uma configuração semelhante a uma calota lisa e geometricamente equivalente a

pouco mais de uma semi-esfera. A cúpula é composta por chapas de alumínio (que

substituíram as originais em ferro, em 1990) fixadas sobre estrutura metálica em

forma de uma rede composta de meridianos e paralelos (Erro! Fonte de referência

não encontrada. ).

Foto 27 – Palácio Joaquim Nabuco - Troca das chapas da cúpula.

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Fonte: BITU, p. 40.

Abaixo da cúpula principal há um forro de estuque em forma de cúpula que

possui forma e ângulo diferente (Erro! Fonte de referência não encontrada. ).

Figura 33 – Palácio Joaquim Nabuco – Corte Longitudinal. Fonte: Fonte: Fonte: BITU, p. 35.

Segundo Bitu (2000, p.52), a pintura da cúpula em dourado, em substituição à

cor original em alumínio, foi duramente criticada, pois além de não fazer referência à

concepção original do projeto, se assemelharia à cor utilizada nas mesquitas

islâmicas.

Na cidade de Manaus, Amazonas, existe um edifício de grande vulto para o

estilo neoclássico: o teatro Amazonas, 1896 (Erro! Fonte de referência não

encontrada. ). O prédio é a obra arquitetônica mais significativa do período áureo da

borracha e principal patrimônio artístico cultural do Estado. A construção do teatro

apresentou soluções avançadas para a época, destacando-se a estrutura metálica

da cobertura, incluindo a cúpula (Erro! Fonte de referência não encontrada. ). A

cúpula é revestida externamente em cerâmica policromada, telhas em escamas, e

áreas em vidros coloridos.

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Figura 34 - O teatro Amazonas em construção Foto 28 - Teatro Amazonas

atualmente

Site: http://www.teatroamazonas.com.br/

Instalada no topo do edifício, a cúpula do Teatro Amazonas é coberta com

36.000 telhas vitrificadas importadas da Europa, em um tipo de mosaico formando

padrões com as cores da bandeira nacional brasileira.

No estado do Rio de Janeiro houve um grande avanço do estilo

Neoclassicista relacionado a transformações da sociedade como os movimentos

literários. Mudanças de comportamento e desenvolvimento também foram

influenciadas pela vinda da Família Real de Portugal para o Rio de Janeiro. Com o

advento, a simples sede da colônia na longínqua América passou a ser a única

cidade colonial da história a se tornar capital do seu império. Através do salto

demográfico que a cidade teve com a vinda de novos habitantes, cortesãos

europeus, houve a necessidade de fazer profundas modificações na cidade e na sua

arquitetura, não para apenas alojar provisoriamente a corte inesperada, mas para

aproximarem os jeitos da nova capital aos parâmetros da Europa. Com as

cerimônias e compromissos necessários à Rainha e ao Príncipe, a cidade mudou e

novos hábitos foram incorporados, bem como uma nova urbanidade. Todos os

acontecimentos neste período concederam ao Rio de Janeiro uma posição toda

peculiar na história. Seguindo os padrões europeus da época, o neoclássico se

firmou como tendência dominante da arquitetura oficial no Rio.

Observando construções do período, vê-se como exemplo de edificação que

possui cúpula a casa França-Brasil, construção em 1820, que possui uma

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arquitetura simples, porém sofisticada para representar a nobreza (Erro! Fonte de

referência não encontrada. ).

Foto 29 – Casa França-Brasil Fonte: Disponível em <www.if.ufrj.br/general/rio.html> Acesso em 25/03/2005.

Na primeira metade do século XIX observou-se uma mudança no

comportamento das sociedades. Com o crescimento das populações urbanas houve

uma necessidade de acomodação e aumento de tolerância conciliatória de

diferenças. Segundo CZAJKOWSKI (2000, p.5), as cidades tinham não somente

mais gente mas, sobretudo, eram formadas de pessoas de origens culturais

diferentes. As distâncias globais foram diminuídas, através de navios e trens, o que

gerou uma aproximação de culturas diferentes. Com a coexistência e as trocas

culturais surgiu a questão eclética na sociedade e, por conseqüência, modificações

nas perspectivas das artes e arquitetura. Tal renovação recebeu o nome de estilo

eclético. O Brasil, colonizado por vários povos, tornara-se local de convivência,

mestiçagem e sincretismo. A partir do século XIX, novas culturas, como alemães,

sírios, italianos, japoneses e espanhóis, aportaram no Rio de Janeiro e São Paulo

para se integrarem ao corpo eclético de índios, negros e portugueses. Estas

mudanças se refletiram na arquitetura e muitas edificações deste período podem ser

citadas. No ecletismo, o uso de elementos de vários estilos arquitetônicos beneficiou

o aparecimento de abóbadas e cúpulas, seguindo algumas tendências do passado.

Segundo FABRIS (1987, p.148), por todo o período colonial, os poucos

núcleos urbanos implantados pelos portugueses na região amazônica tiveram um

crescimento difícil e lento. A cidade de Belém, apesar de representar um ponto

estratégico de ligação com o interior, pelos rios, e com a metrópole, pelo mar, não

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fugiu a esta situação. A mudança só veio na segunda metade do século XIX, com as

Companhias de Comércio. A cidade de Belém então passa a viver um período de

prosperidade e se desenvolve com o avanço do século XIX, devido ao ciclo da

borracha. O uso de cúpulas foi integrado a algumas edificações. Uma das

construções ilustrativas do período eclético que possui cúpula é um pavilhão na

Praça da República, onde, em uma construção de estilo francês, há repuxos de

água, rochas artificiais e a exploração de luzes e vidros coloridos (Erro! Fonte de

referência não encontrada. ).

Foto 30 – Coreto da Praça da República, Belém.

Fonte: Disponível em <www.geocities.yahoo.com.br> Acesso em 23/03/2005.

O estado de Pernambuco, com a abertura dos portos brasileiros às nações

amigas no princípio do século XIX passou, devido à sua proximidade da Europa, a

receber influência direta, agora sem a intermediação de Portugal. A situação

geográfica do porto do Recife sempre foi um fator decisivo para as influências

culturais de além-mar, no século XIX, mas também um portão aberto para

profissionais como artistas, arquitetos e engenheiros trazerem contribuições em

várias áreas. Com a introdução dos engenhos a vapor, a cidade de Recife avançou

muito no campo da arquitetura e urbanização. Há vários tipos de construções com

tendências diferentes pertencentes a este período. Muitos arquitetos retomaram o

uso das cúpulas em seus projetos. Cabe destacar a Igreja de Nossa Senhora da

Penha no bairro de São José (Erro! Fonte de referência não encontrada. ).

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Foto 31 – Interior da Igreja de Nossa Senhora da Penha, Recife.

Fonte: Rodrigo, 2005.

Segundo FABRIS (1987, p. 186), a igreja é classificada com o estilo da Igreja

de Coríntio. A construção dessa igreja foi iniciada pelos frades capuchinhos em 1870

e finalizada vinte e dois anos depois. A igreja tem uma planta em cruz latina, três

naves e uma cúpula que domina a composição.

Considerado pelos historiadores como um dos mais grandiosos edifícios de

Recife, a Faculdade de Direito é um monumento à arquitetura eclética (Erro! Fonte

de referência não encontrada. ). O edifício ocupa uma área de 83,0 metros

quadrados e fica numa praça vasta e arborizada.

Foto 32 – Fachada da Faculdade de Direito.

Fonte: Disponível em <www.ufpe.br/direito> Acesso em 26/3/2005.

A construção impressiona pelo projeto majestoso e de grande impacto para a

época. O edifício tem sua estrutura portante constituída por grossas paredes de

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alvenaria e todos os seus pisos e cobertura são suportados por estruturas de ferro. A

cúpula tem seção octogonal.

Outro edifício de grande porte construído em Recife foi o Palácio da Justiça.

Sua construção foi iniciada em 1924 e concluída em 1930. Desde o primeiro projeto,

que data de 1917, muitas modificações foram realizadas até o início da execução do

mesmo (Erro! Fonte de referência não encontrada. ).

Foto 33 – Palácio da Justiça, Recife. Fonte: Disponível em <www.tjpe.gov.br/judiciario> Acesso em 14/01/2005.

A edificação reflete o período de poder político na cidade de Recife. O projeto

final foi realizado pelo arquiteto italiano Giacomo Palumbo e sua pretensão na

arquitetura do prédio era a monumentalidade, com grandes dimensões, coroando-o

com uma cúpula central de altura arrojada, com seu cume a 50 metros acima do

solo. Entretanto, o projeto foi modificado pouco antes da execução da mesma.

Segundo MENEZES (2002, p.45), a cúpula teria uma seção otogenal, porém as

modificações da seção para a forma quadrada, dando-lhe maior massa, e a

diminuição da altura, que baixou para 45 metros, vieram contribuir para melhorar o

aspecto estético da construção e acesso, já que o projeto original não previa tal uso.

Assentada na estrutura principal, a base quadrangular, que assume um lugar de um

“tambor”, sustenta uma forte armação de concreto e ferro, em traços suaves de

“meia-volta”.

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Foto 34 – Palácio da Justiça em construção.

Fonte: MENEZES (2002), pg.71.

Segundo MENEZES (2002, p.76), a cúpula do Palácio da Justiça é a maior do

Brasil, tendo 17 metros de lado, com a forma quadrada, e 14 metros de altura.

Atingindo o nível da base da cúpula, os pilastrões curvam-se em grandes arcos de

quatorze metros de raio e reúnem-se dez metros acima, num quadrado de 9x9

metros. Acima desse quadrado, nasce o vigamento da parte final, formando a

grande sanca externa e terminando por uma placa à feição de coberta de quatro

águas. Ainda os pilastrões são reunidos por três vigas de cintura igualmente

distanciadas; entre essas existem as nervuras secundárias obedecendo a mesma

curva dos grandes arcos, e dispostas em planos verticais, espaçados de 1,5 metros

eixo a eixo. Sobre estas nervuras foram estendidas as telas metálicas que,

revestidas depois com argamassa de cimento, constituem as paredes com 8

centímetros de espessura.

Na região sul do Brasil, aconteceram muitos eventos políticos, guerras,

revoltas. Porém, a sociedade avançou e construiu o patrimônio histórico influenciado

por culturas européias trazidas por imigrantes alemães, italianos e outros. O Rio

Grande do Sul se manteve um pouco independente das decisões nacionais, porém,

no fim do século XVIII e início do século XIX, a arquitetura seguiu as correntes do

país. No período eclético houve um exercício da corrente francesa do historicismo,

pois por formação os arquitetos tinham a base nas rigorosas academias européias.

Na realidade, houve uma junção da visão influenciada por imigrantes e uma

perspectiva da visão local brasileira. Através do levantamento de edificações

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observou-se um número reduzido do uso de cúpulas. No entanto, deve-se destacar

prédios como a Matriz de São Sebastião de Bagé (Erro! Fonte de referência não

encontrada. ), refletindo o uso de cúpulas em forma de bulbo nas torres constituídas

de cobre, característica das igrejas ortodoxas russas, ucranianas e romenas.

Foto 35 - Matriz de São Sebastião de Bagé, RG.

Fonte: Disponível em <www.bage.rs.gov.br/pmb_turismo.php> Acesso em 26/01/2005.

Um outro prédio importante na arquitetura gaúcha é a antiga Delegacia Fiscal,

atual Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Construído em 1913, no Centro Histórico

de Porto Alegre, possui uma cúpula que marca o perfil da cidade (Erro! Fonte de

referência não encontrada. ).

Foto 36 – Museu de Arte do Rio Grande do Sul

Fonte: Disponível em <www.terragaucha.com.br/imagens> Acesso em 12/02/2005.

Segundo FABRIS (1987, p.71), o estado de São Paulo era comparado a uma

ilha isolada das regiões culturais do Brasil e só conseguiu maior desenvolvimento,

inclusive urbanístico, no fim do século XVIII. São Paulo assumiu sua liderança como

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centro político e econômico, após o plantio de café suplantar a cana e com a

instalação da estrada de ferro pelos ingleses, em 1867. Desde então, a cidade se

tornou passagem obrigatória do café e da riqueza. Com o desenvolvimento através

das ferrovias, base financeira e crescimento demográfico causado pelos imigrantes,

o estado estava pronto para receber o ecletismo com grandes empreendimentos. A

taipa usada em grande parte das construções foi substituída pelo tijolo e os projetos

receberam grande influência francesa. Um exemplo significativo do ecletismo e do

uso de cúpula é a Catedral da Sé em São Paulo (Erro! Fonte de referência não

encontrada. ), em 1912. A Catedral tem estilo gótico e uma das maiores cúpulas do

país (Erro! Fonte de referência não encontrada. ).

Foto 37- Cúpula da Catedral de São Paulo em

construção

Foto 38 – Catedral atualmente

Fonte: Disponível em < www.abril.com.br/especial450/materias/catedral> Acesso em 25/03/2005.

De todos os acontecimentos históricos a partir da segunda metade do século

XVIII, nenhuma cidade foi tão transformada e remodelada quanto o Rio de Janeiro.

A cidade é um acúmulo de camadas históricas e foi palco de grandes

transformações políticas, como a passagem do Império para a República. A

diversidade de pessoas e culturas foi renovadora na perspectiva urbana. A

arquitetura eclética interpreta e acentua essa diversidade e possibilita o encontro de

culturas separadas por oceanos. Segundo CZAJKOWSKI (2000, p. 8), a partir de

1870 o estilo eclético se afirma, alterando a ornamentação e o detalhamento do

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projeto neoclássico. Com a República, o estilo eclético assumiu a hegemonia do

gosto oficial. A República e o ecletismo se afirmaram de forma arquitetônica e

urbanística através das intervenções do Prefeito Pereira Passos de 1903 a 1906 e a

Exposição Comemorativa do Centenário da Abertura dos Portos, em 1908. As

modificações ocorridas na cidade tinham por função apresentar um Rio de novos

tempos, expressando modernidade européia, desenvolvimento econômico e social,

bem como condições comerciais favoráveis e segurança. Entretanto, houve atitudes

drásticas de modernidade, pois uma grande parte do conjunto de prédios, que

refletia a participação da cidade na história, foi demolida para a construção de

grandes avenidas. A quantidade de obras no período tem um vulto surpreendente,

porém a perda do patrimônio cultural é inestimável. Atualmente, muitos dos prédios

do período ainda podem ser contemplados em uma caminhada no centro do Rio.

Como o objetivo deste trabalho é estudar casos na diversidade das cúpulas

existentes na cidade, a maior parte dos prédios será descrita em um item à frente.

Prédios com cúpulas representantes do período eclético no Rio podem ser

enumerados como:

� Teatro Municipal do Rio de Janeiro, construção 1905 – 1909, com sua

arquitetura dramática pontuada com o conjunto de três cúpulas e a águia;

� Museu Nacional de Belas Artes, construção 1905 – 1910, projeto o modelo da

École de Beaux-Arts de Paris;

� Biblioteca Nacional, construção 1905 – 1910, um dos edifícios representantes

da remodelação urbanística da cidade;

� Instituto Oswaldo Cruz, construção 1904 – 1918, com um aspecto pitoresco e

localização sobre uma colina, o palácio é o principal edifício neomourisco da

cidade.

Pesquisando e analisando essa variedade de prédios com cúpulas

pertencentes aos períodos neoclássico e eclético, muitos ainda presentes na cidade,

esta dissertação apresenta no próximo item uma descrição mais criteriosa destas

edificações, juntamente com o acervo fotográfico.

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2.6.1 As diversas cúpulas em edificações no Rio de Janeiro

Como foi citado, a cidade do Rio de Janeiro foi o cenário dos principais

acontecimentos políticos, sociais e econômicos ocorridos no país, principalmente, a

partir do século XIX. Como capital do Brasil, assistiu e sofreu as mudanças que

chegavam com governos e influências externas. A cidade é o produto de culturas e

acontecimentos, de permanência e renovação, refletindo a pluralidade local.

A cidade do Rio de Janeiro possui um vasto acervo de edificações com

cúpulas e, por esse motivo, segue-se um levantamento das edificações mais

representativas, bem como estudos de casos pertencentes à cidade, os quais serão

citados em outro capítulo. Os dados dos levantamentos e as fotos a seguir foram

pesquisados no Guia da Arquitetura no Rio de Janeiro, segundo CZAJKOWSKI

(2000).

� Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa-Morte

Construção: 1735.

Reformas: Séc. XIX e 1835-1853.

A edificação destaca-se pela complexidade de seu espaço interno com três naves que simulam a ocorrência de transepto e pela existência de uma cúpula octogonal. Junto à cúpula conjugam-se abóbadas de berço executadas em alvenaria, revelando um distanciamento do tradicional de nave única retangular.

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� Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens

Construção: 1758-1803.

Reformas: 1848, 1856 e 1861.

A edificação é o último exemplo de planta octogonal do período colonial. Associam em sua composição elementos característicos das igrejas de nave retangular, como a fachada plana de corpo central ladeado por torres e corredores laterais. A sua nave é coberta por cúpula com quatro lunetas.

� Igreja de Nossa Senhora da Candelária

Construção: 1775-1898.

A construção, iniciada no final do século XVIII, só foi concluída no século seguinte e por isso apresenta alguns elementos próprios do século XIX conjugados com os do projeto original, setecentista. O projeto original com nave única foi alterado para três naves com transepto, formando uma cruz latina. No cruzamento do transepto com a nave central ergue-se uma cúpula de pedra sob pendentes, que, apesar de prevista no século XVIII, só foi concluída no final do século XIX.

� Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores

Construção: 1753

Reformas: 1869-1873 e 1897.

A igreja representa a diversidade de partidos arquitetônicos da primeira metade do século XVIII, com nave elíptica, teto em cúpula de alvenaria e grande elaboração dos interiores. A construção sofreu algumas alterações, porém a volumetria interna não foi alterada e conservou-se a transição de dinamismo interno.

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� Centro Cultural Banco do Brasil

Construção: 1880-1906

O edifício foi concebido também para ser uma praça de Comércio e teve projeto inicial “classicizante”, mas sofreu sucessivas alterações. Possui uma cúpula com vidro apoiada em estrutura metálica.

� Casa França-Brasil

Construção: 1820

Um dos edifícios remanescentes da obra de Grandjean de Montigny no país e tratado como um marco da arquitetura nacional. Criado para abrigar a primeira Praça do Comércio (espécie de bolsa de valores) do Rio de Janeiro, o edifício teve vários outros usos. Inspirado nas basílicas cívicas romanas, o grande espaço demonstra a versatilidade do uso interno e a síntese de uma praça cercada por pórticos dóricos, com teto abobadado e uma cúpula no salão central.

� Teatro Municipal do Rio de Janeiro

Construção: 1905-1909

O Teatro Municipal é uma espécie de síntese e um dos melhores exemplos de projeto eclético republicano para a capital do Brasil. O prédio possui uma atmosfera dramática, representada pelo conjunto de três cúpulas arrematadas com globos iluminados de vidro e a grande águia de asas abertas.

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� Museu Nacional de Belas Artes

Construção: 1906-1908

A Escola Nacional de Belas Artes, sucessora da antiga Academia Imperial de Belas Artes, foi executada conforme o modelo da École de Beaux-Arts de Paris. O projeto original sofreu modificações por interferências políticas com o intuito de seguir os novos padrões da República. Possui três cúpulas do tipo hiperbólicas, duas nas extremidades do prédio e uma maior no centro da planta.

� Biblioteca Nacional

Construção: 1905-1910

O prédio tem como estrutura uma caixa externa de alvenaria complementada internamente com ferro. O aspecto externo é classicizante e no interior a simetria domina os espaços. O centro do prédio é coberto por uma cúpula com vitral francês.

� Supremo Tribunal Federal

Construção: 1909

Projetado para ser o Palácio Arquiepiscopal, o prédio foi comprado pelo governo brasileiro que nele instalou o Supremo Tribunal Federal, com modificações na arquitetura: coroamento, acréscimo de mais um pavimento e cúpulas simétricas e interligadas.

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� Estação das Barcas

Construção: 1906-1911

É um conjunto de três construções. O pavilhão mais recente é o central, composto, como os demais, num estilo misto que lembra os grandes palácios de exposição. Possui um coroamento com relevos bem profundos que mesclam motivos arquitetônicos e navais. Sobre o coroamento há uma grande cúpula com um perfil peculiar. Bulbosa, composta em gomos, tem estrutura interna de ferro.

� Palácio Tiradentes

Construção: 1922-1926

O Palácio Tiradentes lembra os epígonos do neogrego germânico. A composição sobre escadaria elevada tem ao centro colunata coríntia autônoma ladeada por corpos maciços. Os interiores são intensamente decorados, merecendo destaque a sala do plenário coberta com uma cúpula de vidro.

� Hospital da Cruz Vermelha

Construção: 1919-1923

O prédio destaca-se por sua fachada curva. No corpo central os quatro andares são tratados como duas alturas gigantes. Sobre o conjunto, o grande arco tinha mais destaque antes da modificação descaracterizadora do quinto andar. Atrás da escultura de cimento, no grande arco, está a cúpula com mirante.

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� Instituto Nacional de Educação de Surdos

Construção: 1913-1915

Esta construção palaciana é composta pelo estilo renascentista francês com imponente cobertura abobadada em escamas metálicas.

� Instituto Oswaldo Cruz

Construção: 1904-1918

O prédio foi projetado com base nos toscos croquis do próprio Oswaldo Cruz. O Instituto de Manguinhos, como também é conhecido, é o principal edifício neomourisco do Rio de Janeiro, pela qualidade e profusão de seus materiais de revestimento. O prédio tem planta em forma de “H”, quatro pavimentos avarandados coroados por duas torres cilíndricas com cúpulas de cobre.

Segundo CZAJKOWSKI (2000, p. 131), o ecletismo percorreu, na arquitetura

do Rio de Janeiro, todas as nuances possíveis de aceitação: de última novidade

arquitetônica, com influências nacionais ou internacionais, até a recente reabilitação.

Entretanto, de seu período de apogeu e da imensa quantidade de construções,

muitos edifícios ecléticos importantes foram demolidos pela “necessidade”

remodeladora de urbanização da Cidade do Rio de Janeiro. O levantamento a seguir

destaca alguns dos edifícios com cúpulas desaparecidos de maior significação.

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� Palácio Monroe

Construção:

O palácio Monroe (praça Floriano – Centro), demolido em 1976, foi projetado para ser o Pavilhão do Brasil, exposição internacional de Saint Louis, em 1904. Terminada a mostra, recebeu a medalha de ouro de arquitetura. Com sua arquitetura imponente, era um exemplar monumental com suas cúpulas em destaque. Durante anos abrigou o Senado Nacional e teve grande importância na representação da cidade.

� Pavilhão Mourisco

Construção:

O Pavilhão Mourisco, demolido na década de 1950, foi utilizado como um bar-restaurante. Sua estrutura era metálica, recoberta e revestida por mármores, ladrilhos e estuque. Caracterizava-se pela forma bulbosa de suas cinco cúpulas douradas, tão marcantes que Mourisco é, ainda hoje, a denominação do local onde se situava.

� Ministério da agricultura

Construção:

O prédio, demolido na década de 1980, era um exemplo oficial do estilo eclético com a anunciação do estilo neocolonial no Rio de Janeiro. A cúpula no centro da construção refletia um perfil altivo ao prédio.

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3 SISTEMAS CONSTRUTIVOS

3.1 CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS

Neste capítulo serão abordados arranjos estruturais, métodos construtivos

referentes aos tipos de cúpulas existentes e particularidades de algumas

construções.

O arranjo estrutural e o método construtivo variam com o tipo de cúpula a ser

estudado. Pode haver variantes devido ao material empregado. De acordo com o

tipo de cúpula, serão apresentadas as características construtivas.

Devido à literatura escassa, este trabalho tem como prioridade as

características construtivas de cúpulas feitas com tijolos ou pedras, as quais

possuem maior presença na arquitetura brasileira.

Genericamente, as cúpulas trabalham como uma rede de paralelos e

meridianos que fazem a distribuição dos esforços normais devido às cargas de peso

próprio e de revestimento.

A cúpula esférica é o tipo mais comum empregado em construções, porém há

limitações geométricas para manter a sua capacidade portante. Segundo

CASSINELLO (1969, pg.38), a cúpula esférica dita perfeita é mecanicamente

possível com aberturas de ângulos máximos de 51º; por isto existem variações da

forma, como as cúpulas rebaixadas, devido a necessidades de projeto. Contudo, há

casos em que o projetista deseja ultrapassar estes limites mecânicos e ocorre uma

mudança no arranjo estrutural e na função portante, ou seja, calcula-se uma

armação no meio da esfera. Estas necessidades se devem à existência de uma

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divisão de faixas de tensões, pois, a partir do dito ângulo limite, os parelelos

trabalham à tração (Figura 35).

Figura 35 – Tensões na cúpula esférica. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.38.

O detalhamento do comportamento da cúpula em relação a essas faixas de

tensões será visto no capítulo 5.

A variação das formas das cúpulas esféricas é reflexo dos métodos

construtivos executados ou materiais disponíveis. Estes métodos são conhecidos

como aparelhos construtivos.

Segundo CASSINELLO (1969, pg. 38), os aparelhos clássicos das cúpulas

esféricas construídas com tijolos ou pedras são: anular, bizantino, helicoidal, romano

e em arcos de descarga.

O aparelho anular consiste em ordenar os tijolos ou pedras em fiadas cônicas,

empilhadas umas sobre as outras, e sua inclinação é determinada por meio de um

cordel (ramo de cordas, que têm suas extremidades presas ao nível da fiada) fixado

no centro da esfera que define a superfície interna da cúpula (Figura 36).

Figura 36 – Aparelho anular. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.38.

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Se a abertura cônica for pequena, é possível executar a cúpula apenas com

cimbre contínuo (armação de madeira ou ferro que auxilia a modelagem executiva

de estruturas com superfícies abobadadas). Em grandes aberturas, as fiadas

inferiores se sustentam por seu próprio peso sobre a base de concreto, porém, a

partir de uma certa inclinação (de 30º em diante), é preciso manter os tijolos através

de um cordel.

Também são usados arcos de madeira que possuem abertura igual ao

diâmetro da circunferência interna, funcionando como pontos de apoio radiais e

servindo como diretrizes da superfície interna da cúpula (Figura 37).

Figura 37 – Arcos radiais. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.39.

A finalização desta cúpula geralmente é executada com pedras, ou faz-se

uma abertura para construir, sobre o último anel, uma abertura de iluminação central

da cúpula.

O aparelho bizantino anular segue quase todas as características do aparelho

anular comum, formado por fiadas cônicas, porém suas superfícies de junta não

seguem a direção radial. Para a construção deste aparelho fazem-se necessários

cimbres e uma corda fixada no centro da esfera para fixar o perfil de sua superfície

interna. As inclinações das sucessivas fiadas são determinadas com um eixo fixado

no centro da esfera que possui marcações como 1, 2, 3..., que são medidas

variáveis para cada fiada, sendo determinadas em alienação a sua altura e com

ponto de base diametralmente oposto, fazendo com que as inclinações das fiadas

variem de 0º a 45º, diferente do que ocorre no aparelho anular comum que varia de

0º a 90º (Figura 38).

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Figura 38 – Aparelho Bizantino. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.40.

A finalização dessas cúpulas possui características similares aos das cúpulas

executadas através do aparelho anular comum.

O aparelho helicoidal é um sistema empregado preferencialmente em cúpulas

de grandes aberturas (ou diâmetros), por sua facilidade e rapidez de execução, pois

dispõe de trabalhos simultâneos. De forma objetiva, este aparelho é igual ao

aparelho cônico, cujas superfícies de junta, em vez de serem cônicas, são

helicoidais.

A inclinação das sucessivas fiadas pode coincidir em um ponto (aparelho

helicoidal cônico) ou deslocar-se verticalmente sobre o eixo (aparelho helicoidal

bizantino).

O sistema consiste em iniciar o conjunto de fiadas (Figura 39) com

espaçamentos uniformes, simultâneos e no mesmo sentido. Com o assentamento do

primeiro conjunto de fiadas, faz-se necessária a preocupação com o aumento da

espessura do arranjo, pois, com a chegada de uma fiada no ponto de início da

anterior, a altura do conjunto deve estar constante em toda a base. Após cada volta

completa do conjunto de fiadas são observadas a altura e a espessura do arranjo e

observa-se que a superfície interna possui um perfil helicoidal. A finalização do cume

da cúpula pode ser feita com pedra e sua forma é conseqüência do processo

helicoidal executado e do número de conjuntos de fiadas empregado.

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Figura 39 – Base do aparelho helicoidal. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.41.

O aparelho romano é definido por cúpulas esféricas de concreto que são

formadas por uma série de arcos de tijolos, que servem de sustentação para a

massa de concreto que preenche os setores formados pelos meridianos e paralelos

(Figura 40).

Na realidade, são abóbadas nervuradas com preenchimentos com concreto

armado. Este arranjo é a solução clássica do Pantheon de Roma, a qual está

sobreposta à superfície interna formada por caixotões.

Figura 40 – Aparelho romano. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.42.

O aparelho em arcos de descarga consiste em construir uma série de arcos

sucessivos de descarga, uns sobre os outros, de tal forma dispostos que formam

uma superfície contínua (Figura 41). Para construir estes arcos necessita de um eixo

no centro da esfera que determina a superfície interna, não sendo necessário o uso

de cimbres.

Quando se chega a uma certa altura e os arcos se reduzem notavelmente em

amplitude, também se reduz o número de arcos na finalização.

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Figura 41 – Aparelho em arcos de descarga. Fonte: CASSINELLO (1969), pg.43.

Com freqüência, as cúpulas de grande espessura e grande diâmetro possuem

como solução as chamadas calotas duplas, isto é, constam de uma cúpula interna

oca e de uma proteção externa. Esse arranjo tem como objetivo aumentar

consideravelmente a espessura, sem a necessidade de alterar proporcionalmente o

peso. Desse modo, a cúpula interna é construída mais rebaixada, com o objetivo de

conseguir um aspecto interior mais agradável, sendo que a cúpula exterior possui

um perfil mais esbelto. Podem-se mencionar exemplos clássicos desse tipo de

grandes cúpulas: igreja de São Pedro de Roma (Figura 42), cuja cúpula está

definida por duas calotas de revolução de geratrizes diferentes, e a Igreja de Santa

Maria das Flores de Milão, de planta ortogonal, com muros radiais atados às suas

arestas.

Figura 42 – Esboço da Catedral de São Pedro, Roma. Fonte: KOCH (1996), pg.134.

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Muros radiais, geralmente de tijolos, enlaçam ambas as cúpulas, que desse

modo se comportam como uma unidade construtiva.

Existem também cúpulas de calota tripla e observa-se, como exemplo

clássico, a Catedral Saint Paul, de Londres, cuja primeira calota é uma cúpula

circular e a segunda é cônica e bastante deformada, para servir de apoio ao arranjo

estrutural que sustenta a cúpula externa (Figura 43).

Figura 43 – Esboço da Catedral Saint Paul, Londres. Fonte: KOCH (1996), pg.134.

Para conhecer os métodos construtivos antigos de grandes cúpulas da

antiguidade, levantaram-se ao longo do trabalho as características de projeto,

estruturais e construtivas de dois importantes monumentos da antiguidade.

Os dados pertencentes à descrição construtiva das cúpulas da antiguidade

foram pesquisados, em sua maioria, no livro “Introdução ao estudo dos tetos

abobadados”, MAYERHOFER, 1953.

� RESUMO SOBRE O MÉTODO CONSTRUTIVO DAS CÚPULAS DOS

PALÁCIOS DE FIRUZ-ABAD E DE SARVSTAN

Observando-se a construção dos palácios de Firuz-Abad e de Servistan,

percebe-se uma dominância das preocupações de ordem econômica; menor

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atenção aos detalhes, sem, contudo perder de vista os objetivos de plástica

monumental.

As cúpulas que estão sendo analisadas cobriam salas quadradas de 13,30 m

de lado.

O palácio de Firuz-Abad mede 55,50 m de frente por 103,46 m de

profundidade (Figura 44).

Figura 44 – Corte transversal, Palácio de Firuz-Abad. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p.25.

Penetra-se no palácio por um grande arco de plena volta, que se prolonga,

sob forma de berço (ou cilíndrica), para o interior do edifício. O pórtico assim

formado mede 13,30 m de frente por 27,40 m de profundidade; para ele se abrem

quatro salas igualmente cobertas por berços.

Esse grupo de compartimentos precede o corpo principal, formado por três

salas quadradas de 13,30 metros de lado, cobertas por cúpulas que atingem 22 m

de altura. Os berços e as cúpulas têm perfil oval; o traçado das curvas deriva do

emprego de um triângulo retângulo, cujas altura e hipotenusa estejam para a base,

tomada como a meia abertura do arco, nas razões de 3 a 5 para 4, medidas do

chamado “triângulo sagrado” egípcio, do qual Pitágoras criou seu Teorema (Figura

45).

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Figura 45 – Geometria da cúpula. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 30.

Resulta em um arco de três centros, em que a flecha é igual a duas vezes a

altura do triângulo gerador e a abertura é igual a duas vezes a sua base. A

passagem de forma quadrada da planta para a circular da base da cúpula é feita por

meio de trompas: abóbadas cônicas que suportam a cúpula nos vazios

correspondentes aos ângulos do quadrado circunscrito.

A construção foi feita com alvenaria de pedra calcárea e as paredes que

sustentam as cúpulas medem 4,70 m de espessura. As demais medem em média

3,10 m.

O palácio de Sarvistan mede 33,80 m de frente por 40,35 m de profundidade,

sendo de menores dimensões em relação ao palácio de Firuz-Abad.

A fachada principal é constituída por três arcos, repousando sobre pés

direitos decorados por colunas engastadas. Cada um desses arcos prolonga-se sob

forma de berço (ou cilíndrica).

O pórtico central, mais amplo, conduz à sala principal, que ocupa uma área

quadrada de 10,80 m de lado e é coberta por cúpula de perfil oval muito elevada,

construída sobre trompas.

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A construção do palácio de Sarvistan foi feita com alvenaria de pedra para as

paredes e colunas e alvenaria de tijolos para as cúpulas.

As cúpulas foram construídas sem o auxílio de escoramentos. Para os

berços, procedeu-se por fatias de tijolos ao alto, coladas a primeira contra o muro

dos fundos da galeria, a segunda contra a primeira, e assim por diante, até encontrar

o muro oposto. Os tijolos medem 28 centímetros de comprimento por 25 centímetros

de largura por 8 centímetros de altura e foram endurecidos pela ação do fogo. O

assentamento de pedras e tijolos foi feito com argamassa de 2 centímetros de

espessura.

Segundo MAYERHOFER (1953, pg.32), um dos aspectos mais curiosos que

apresenta a arquitetura dos palácios de Firuz-Abad e Sarvistan é salientado por M.

Dieulafoy, na sua obra L`art antique de La Perse. O perfil oval subido das abóbadas,

além de atender às condições de estabilidade, de convir particularmente ao sistema

persa de construção direta no espaço sem auxílio de cimbres, foi certamente traçado

com intenção estética.

O perfil dos tetos curvos de Firuz-Abad – de proporção muito feliz e

construção fácil – foi estabelecido em função do triângulo sagrado dos egípcios. Em

Sarvistan, o mesmo triângulo retângulo serviu ao traçado do perfil das aberturas e

dos tetos e na determinação de quase todas as dimensões geometricamente.

Na grande sala de Sarvistan, a altura e a largura dos montantes da porta

igualam a hipotenusa CB do triângulo modular, de base AB igual a meia abertura do

vão da mesma porta: EF=EB=BC; a altura FH da parede vertical é igual à soma das

larguras da porta e de um montante; a base da cúpula situa-se a uma altura igual à

largura da sala. A altura das trompas resulta HM=EF, igual à hipotenusa CB. Para o

perfil da cúpula é mantida a mesma proporção de três de altura por quatro de base

(Figura 46).

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Figura 46 – Traçado geométrico do projeto da cúpula. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 31.

O diâmetro MN da cúpula é igual a duas vezes HI, ou seja, a largura do arco

mais a hipotenusa. A zona de altura PN, entre o piso da galeria e a nascença da

cúpula, divide-se em duas partes: a primeira, de altura PR, plana, com janelas

abertas no mesmo eixo dos arcos do pavimento térreo, é igual à altura do cateto

menor; a outra, que corresponde às trompas: RN=Pn-Pr, igual à metade do cateto

maior.

Consideram-se que as abóbadas desses monumentos são sustentadas por

espessas paredes, sem nenhum recurso a saliências ou contra-fortes exteriores,

critério que continuará seguindo a arquitetura da antiguidade.

Firus-Abad e Sarvistan encerram os germens das plantas complexas do

Oriente cristão.

� RESUMO SOBRE O MÉTODO CONSTRUTIVO DO PANTHEON

Inicialmente será feita uma descrição do histórico do arranjo estrutural do

Pantheon, com algumas medidas e elementos, para transmitir uma idéia geral do

monumento (Foto 39). Quanto aos sistemas construtivos usados, serão citados

estudos de autores que construíram teorias, já que não existe uma versão oficial dos

fatos. Após levantamento dos estudos verificou-se que há controvérsias dos grandes

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historiadores, arquitetos e engenheiros sobre o esclarecimento da construção da

cúpula.

Foto 39 – Fachada do Pantheon, Roma.

Fonte: Disponível em < www.the-artfile.com/nl/historie/romeinen/pantheon.htm> Acesso em 18/02/05.

O espaço interior da cúpula do Pantheon mede 43,60 metros de diâmetro. A

cúpula tem na parte superior uma abertura circular de 8,90 metros de diâmetro,

servindo à iluminação e à ventilação.

A disposição dos tetos em caixões apresenta nas cúpulas uma particularidade

que não se encontra nas cúpulas de berços (cilíndricas) e tipos. Os caixotões são

dispostos por fileiras horizontais e ascendentes; mas, nas cúpulas, as fileiras

ascendentes, compreendidas cada uma entre dois meridianos, não têm a mesma

largura em todo seu desenvolvimento: diminuem de largura à medida que se elevam

os caixotões e as nervuras que os separam (Foto 40). Torna-se então necessário,

para conservar a harmonia nas diferentes partes dessa ornamentação, que as zonas

horizontais de caixotões, bem como as costelas que os separam, diminuam também

de altura.

Foto 40 – Caixotões da cúpula do Pantheon.

Fonte: Disponível em < www.framasoft.net/article3165.html> Acesso em 15/02/05.

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No sentido de meridianos e paralelos, nervuras e costelas desenham, assim,

na superfície do intradorso, a imensa trama de faixas que se cruzam, delimitando os

caixotões. As proporções dos caixotões são impressionantes (3,50 m X 3,50 m

aproximadamente na nascença da cúpula), com as suas faces lisas e arestas vivas,

que criam o clima solene para a valorização do conjunto.

O fundo dos caixotões é emoldurado por cinco tabelas escalonadas (Figura

47). Os prismas de luz e sombra, gradativamente, diminuem de tamanho à

proporção que os degraus vão penetrando na espessura da abóbada.

Figura 47 – Vista do caixotão. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 97.

As paredes cilíndricas apresentam, no interior, oito maciços iguais,

sucedendo-se a intervalos iguais: a disposição dos claros e cheios corresponde, em

planta, à divisão da circunferência em dezesseis partes iguais. Das envasaduras,

uma constitui a entrada; as demais formam nichos de planta alternadamente

retangular e circular (Figura 48).

Figura 48 – Pantheon - Planta baixa. Fonte:Disponível em <www.intranet.arc.miami.edu/rjohn/images/Pantheon.jpg> Acesso em

15/02/05.

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93

O exterior do monumento não apresenta correspondência com a forma semi-

esférica do interior. O arranque da cúpula oculta-se atrás de um muro vertical,

correspondente a um terceiro pavimento de galerias circundantes, e de um ático em

degraus – executado sob forma de anéis, em número de sete, sendo o primeiro mais

alto e os outros iguais entre si. Acima dos degraus, a cúpula é estradorsada até uma

plataforma estabelecida ao redor da abertura circular, que conserva ainda pedaços

de uma rica cornija em bronze dourado. Essa plataforma, de 1,90 metros de largura,

é revestida de chapas de bronze, com 12 milímetros de espessura, de forma

trapezoidal, colocadas com as juntas convergindo para o centro do óculo.

Figura 49 – Corte do Pantheon. Fonte: Disponível em <www.rudienos.co.uk/assets/images/Pantheon> Acesso em 20/04/05.

Revestimento semelhante a esse, que data provavelmente da obra primitiva,

se estenderia ao restante da calota e seria todo ele dourado. Há indícios históricos

que o Imperador Constâncio II retirou parte desse material e o levou para a capital

do Império do Oriente. Certo é que parte da calota estava desprotegida em 684,

quando o Papa Bento II resolveu cobri-la de chumbo; que tal proteção foi renovada

por Nicolau V, depois por Urbano VIII, e subsiste ainda. O acesso à plataforma é

facultado, no eixo da fachada posterior, por degraus praticados na calota, formando

um enlace de escadas, de 95 cm de largura, revestido de chumbo como o restante

da calota.

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94

O muro cilíndrico, que suporta a cúpula, apresenta exatamente um

embasamento contínuo, compreendendo soco, corpo e entablamento, e, sobre ele,

duas ordens superpostas de pilastras coríntias. Este muro foi feito com alvenaria

“grosseira”, com parâmetros de tijolos como o adobe, e tem a espessura da parede

de 6 metros, medida que se reduz a 1,80 metros, descontando-se os nichos

praticados para esse fim. Os andares do monumento assim estabelecidos medem

de altura, de baixo para cima, aproximadamente 12,40 metros, 9,30 metros e 8,30

metros.

Segundo MAYERHOFER (1953, pg.95), os estudos de Viollet-le-Duc, em

1855, foram imprescindíveis para muitas descrições e conclusões do arranjo

estrutural deste monumento, como o comportamento proposto para os muros e seus

respectivos materiais. Pode-se observar que o estabelecimento dos muros de apoio

da cúpula do Pantheon obedeceu ao seguinte critério: para se contrapor ao esforço

de derrubamento exercido pelo peso da cúpula contra os muros de apoio, estes

foram construídos com a espessura de seis metros. Porém sabe-se que, para

satisfazer a condição de não esmagamento, era desnecessária tamanha massa de

materiais. Então, houve uma aproveitamento da espessura, ou seja, fora da

passagem da curva das pressões, sendo então criados nichos de forma e disposição

conveniente estudada, obtendo-se, assim o magnífico resultado interno do

monumento e o máximo aproveitamento do material (Figura 50).

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95

Figura 50 – Curva das pressões. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 93.

Ainda segundo MAYERHOFER (1953, pg.97), para evitar abatimentos

desiguais e consideráveis que poderiam resultar da construção desses muros que,

além do peso próprio, deveriam suportar uma abóbada imensa, obedeceu-se às

disposições seguintes:

1ª - construíram-se grandes arcos de descarga, com duas fiadas de tijolos de

60 centímetros de altura cada uma;

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2ª - os revestimentos foram feitos de tijolos triangulares, assentes ao baixo e

de maneira que a ponta entra no maciço e a face maior forma paramento. Essa face

maior mede 28 centímetros de comprimento;

3ª - para diminuir as possibilidades de abatimento e regularizar a distribuição

de cargas, dispuseram-se, de 1,30 m em 1,30 m, fiadas de grandes tijolos

quadrados, chamados tavolani, de 60 cm de lado e 6 cm de altura.

Dessas disposições, observa-se um engenhoso método para assegurar a

estabilidade da estrutura. A cúpula mede 5,20 m de espessura na nascença, 1,57 m

na altura do último degrau e 1,40 metros no encontro da plataforma superior. O muro

vertical e os degraus que se escondem no exterior, a nascença da cúpula, sua

espessura, o revestimento das superfícies, são tantos obstáculos e dificuldades para

que se possa determinar, com precisão, o sistema construtivo empregado.

Sabe-se que Filippo Brunelleschi, grande arquiteto do século XV, estudou

seriamente as ruínas romanas e o Pantheon, antes de iniciar a construção da cúpula

de Santa Maria Del Fiore em 1415 (Foto 41).

Foto 41 – Catedral de Santa Maria Del Fiore, Florença.

Fonte: Disponível em <www.pitoresco.com.br/escultura/brunelleschi> Acesso em08/02/05.

A construção da abóbada sobre uma enorme base octogonal fez com que

Brunelleschi planejasse um método original para a sustentação da cúpula. Então, ele

investigou o Pantheon e inventou as máquinas necessárias à construção, e

executou o projeto sem utilizar o cimbre, armação de madeira que servia de molde e

suporte a arcos e abóbadas e era retirada depois de completada a obra.

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97

Brunelleschi comentou, após o estudo feito sobre o Pantheon, que, se se tratasse de

uma abóbada esférica, aconselharia o método construtivo empregado pelos

romanos no Pantheon. Contudo, infelizmente, Brunelleschi não foi mais explícito,

não divulgou o resultado dos estudos que fizera sobre a construção da maior cúpula

da antiguidade. Dos estudiosos das antiguidades romanas, foi Giambattista Piranesi

quem de mais perto investigou os materiais e processos utilizados na cúpula do

Pantheon. Reparações feitas na cobertura do monumento durante o pontificado de

Bento XIV puseram à descoberta parte das alvenarias; os andaimes estabelecidos

para o serviço permitiram o exame de superfícies.

Segundo Viollet-Le-Duc, a cúpula do Pantheon é constituída de duas

carapaças, colocadas uma sobre a outra, de modo que a primeira, construída com

auxílio de moldes, teria servido de suporte para a construção da segunda. Pode-se

observar esse processo das duas carapaças colocadas uma sobre outra sem

amarração nos arcos salientes, nos arcos de testa e mesmo nos arcos de descarga

construídos pelos romanos, que serão mostrados adiante. Esses arcos possuem a

parte central construída por fiadas de tijolos independentes. Esse método lhes fora

ensinado pela experiência para evitar rompimentos dos arcos, caso ocorressem

recalques no terreno ou falha de algum elemento estrutural de base (Figura 51).

Figura 51 – Rompimentos em arcos (A – fileira única; B – fileiras independentes). Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 98.

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A partir desta pesquisa compreende-se, então, porque os arcos romanos são

quase sempre construídos em fiadas independentes: para conservar certa

elasticidade, que não teriam arcos ligados em toda sua espessura. Esse princípio,

tão simples, será melhor estudado no próximo capítulo.

As considerações principais que devem ser observadas e que possivelmente

conduziram os construtores romanos a adotar estruturas de arcos de tijolos para

suas abóbadas de concreto foram as seguintes:

� a concretagem de uma carapaça tão grande, esses moldes, empregando

tamanha quantidade de madeira, com tantas juntas e sembladuras, ficariam

muito tempo expostos às mudanças de temperatura e de umidade e

acabariam por se deformar, comprometendo a estabilidade de abóbada;

� a concretagem se faria por camadas, em balanços sucessivos. É fácil de

conceber como superfícies curvas de tão grande extensão, construídas pouco

a pouco, apresentariam, ao lado de partes perfeitamente secas que já

tivessem dado pega, partes ainda moles e, por conseguinte, compressíveis,

resultando em ruptura durante o trabalho dos operários ou após a conclusão

da obra;

� usar um número pequeno de cimbres, cuja resistência fosse baixa, pois as

próprias nervuras de tijolos eram feitas de fiadas superpostas, a primeira

executada servindo de suporte às demais.

Assim, para Viollet-Le-Duc, a disposição de caixotões que apresenta o

intradorso da cúpula do Pantheon tem função construtiva. A divisão da superfície

interior em caixotões, estabelecidos segundo meridianos e paralelos, corresponderia

à ossatura de uma primeira carapaça, feita de arcos de tijolos, sendo os fundos dos

caixotões feitos de concreto (pedras de pequenas dimensões, ligadas com

argamassa).

Ainda segundo Viollet-Le-Duc, os cimbres da cúpula do Pantheon foram

constituídos por 28 meias-tesouras, que se apoiavam sobre o respaldo dos muros

cilíndricos (Figura 52) e iam ao encontro de uma torre de carpintaria feita de 28

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99

esteios, ligados na parte superior por dois fortes anéis, também feitos de peças de

madeira.

Figura 52 – Cimbres da cúpula do Pantheon. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 100.

Essa disposição da torre de carpintaria foi realizada de forma semelhante, em

1945, numa cúpula em concreto armado em Karlsruche, Alemanha (Figura 53).

Figura 53 – Torre de carpintaria. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 101.

Ligando esses arcos, as peças transversais apoiavam-se em suportes,

pregados nos primeiros, e recebiam, por sua vez, as outras peças, entalhadas a

meia-madeira em e conforme a Figura 54.

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100

Figura 54 – Estrutura para construção da cúpula. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 102.

Finalmente, restavam, portanto, os compartimentos vazios com base a base

de madeira, ou melhor, a fôrma, que se ia então concretar. Depois de estabelecidos

os escoramentos de carpintaria, os pedreiros podiam executar sem receio seu

trabalho (Figura 55). Segundo as pesquisas feitas pelo professor Chedanne, em

1892, com o propósito de estudar rachaduras na cúpula, descobriu-se que havia no

concreto escórias vulcânicas.

Figura 55 – Concretando os setores da cúpula. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 102.

Construíam sobre as meias-tesouras as nervuras de tijolo, reunidas pelos

arcos, assentes sobre um arco de madeira que se retirava logo em seguida. Só

restava concretar, sobre os moldes de madeira, os diferentes planos que formaram

os fundos dos caixotões.

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101

Dessa forma, estava executada uma carapaça leve e suficientemente

resistente para servir de cobertura. Porém, segundo MAYERHOFER (1953, pg.103),

os romanos a queriam mais possante: procuraram assegurar-lhes duração ilimitada

com uma segunda carapaça. Para isso, a calote dos caixotões oferecia apoio

suficiente, dispensando qualquer obra provisória. Ainda assim, os construtores

evitaram fazer pesar sobre ela toda a camada de proteção.

Da pesquisa feita nos estudos de Viollet-Le-Duc, pode-se concluir que essa

preocupação foi a motivação do sistema visto por Piranesi: parte do peso do

concreto sendo transmitida ao tambor por uma trama de arcos de tijolos (Figura 56)

judiciosamente construídos sobre a calota dos caixotões.

Figura 56 – Arcos de descarregamento. Fonte: MAYERHOFER, 1953, p. 103.

Registram-se as controvérsias dos grandes historiadores e arquitetos que se

ocuparam da construção da cúpula do Pantheon, verificando que o assunto não está

suficientemente esclarecido, tanto quanto ao arranjo estrutural, quanto ao método

construído. O processo que teria sido empregado pelos construtores do mais

arrojado e grandioso exemplo de cúpula na antiguidade continua desafiando a

argúcia dos estudiosos.

3.2 OS PRINCIPAIS MATERIAIS USADOS NAS CÚPULAS

Os materiais usados em cúpulas são empregados devido às suas

características mecânicas e físicas, bem como sua disponibilidade no local. Como

este estudo está direcionado para edificações antigas, os materiais descritos nesta

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102

dissertação são os mais utilizados e clássicos da antiguidade: a madeira, como

elemento de grande flexibilidade para uso na construção, os tijolos, que trouxe a

arquitetura de terra e a pedra, através da técnica de encaixe ou com argamassa. O

cobre usado largamente em cúpulas do tipo eslava não será citado, porém sua

presença já foi levantada no item 2.4. Somente a partir da segunda metade do

século XIX, através da revolução industrial e do uso do ferro, houve um interesse

maior com os materiais metálicos e com vidros.

3.2.1 Madeira

Segundo HARRIS (1993, pg.28), a madeira é apresentada como um dos

materiais mais antigos da Terra na utilização em abrigos. Os antigos egípcios já

faziam verdadeiros bordados em suas construções com folhas vegetais.

Com a evolução de técnicas construtivas, foram sendo aperfeiçoadas

diversas formas de utilização da madeira. São conhecidas hoje inúmeras formas de

uso, que vão desde o tradicional corte da madeira maciça em tábuas, vigas, caibros,

até grandes vigas, pilares e arcos de madeira laminada usados como base para

cúpulas ou proteção de tetos. O madeiramento estrutural da cobertura, além de

determinar a forma do telhado com suas superfícies curvas, inclinadas ou planas,

sustenta seu próprio peso e cargas permanentes de outros elementos, dentro dos

limites do material.

Segundo MARAGNO (2004, pg. 68), a madeira, como material de construção,

apresenta várias qualidades que dificilmente estarão reunidas em outro material. A

madeira tem grande potencial para o uso, pois tem reservas renováveis, desde que

haja uma utilização racional e consciente. O processo, desde sua extração até o

desdobro, é praticamente não poluente, porém requer custos altos como transporte

e secagem. As dimensões estruturais de suas peças permitem que elas sejam

facilmente desdobradas em peças menores. Mesmo que a geometria das toras seja

limitada, alongadas e geralmente de seção transversal reduzida, podem ser

processadas viabilizando uma variação de formas e dimensões. A madeira é

trabalhada com ferramentas simples e pode ser utilizada várias vezes.

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103

Segundo CALIL (2003, pg.70), a madeira é o primeiro material empregado

capaz de resistir tanto aos esforços de compressão como aos de tração, possui

grande resistência mecânica e baixa massa específica. Foi devido a estas

características que muitos construtores usaram madeira em tetos curvos. As lâminas

de madeira auxiliavam para as formas de arcos nas construções. Já os cimbres

eram insubstituíveis para a construção de cúpulas como a do Pantheon. Segundo

REECE (1985, pg.56), por volta de 535-537 d.C., o imperador Justiniano, com seus

arquitetos, reconstruiu a igreja de Santa Sophia de Constantinopla. Com uma cúpula

de 32,5m de diâmetro, a igreja foi construída com blocos retangulares de pedra-

pome suportados por quatro grandes arcos de madeira amarrados para possibilitar

uma área livre de 60m x 30m. Esta obra só foi superada 13 séculos mais tarde com

a construção das modernas estações de trem britânicas. No Brasil, muitas cúpulas

eram cobertas com madeira seguindo as curvaturas, com o intuito de proteger, já

que muitos interiores tinham pinturas em tetos de estuques, que também são de

madeira. Havia pó de serragem entre a superfície externa da cúpula e a cobertura de

madeira. Observa-se como exemplo do uso da madeira a cúpula em estuque da

Igreja Nossa Senhora do Carmo de Mariana, Minas Gerais, citada no Capítulo 2.

Contudo, a madeira possui desvantagens que devem ser observadas na

manutenção das construções. Como exemplo pode-se observar a vulnerabilidade

aos agentes externos, como clima, fungos, insetos xilófagos, entre outros. Sua

durabilidade é geralmente limitada, quando desprotegida. Ressalta-se que também

não é um material estável. A madeira está sempre sujeita às ações da umidade,

inchando com a absorção e retraindo com a evaporação. Embora resista bem diante

do fogo, em relação a outros materiais, é combustível, propagando as chamas. No

caso da madeira, respeitando-se suas características, pode-se elevar seu potencial

e qualidades, evitando, ao mesmo tempo, futuras patologias.

3.2.2 Adobe e tijolo maciço

O uso da terra nas construções tem sua origem na antiguidade,

principalmente em locais onde não havia opção senão usar lama (argila) na

confecção de abrigos. O homem aprendeu a utilizar a terra como material que era

devidamente modelado e, em alguns casos, associada à pedra, formava as

primitivas alvenarias. Segundo GITAHY (2004, pg.19), em dez mil anos de

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104

existência, pode-se dizer que a terra foi o material de construção mais utilizado no

mundo, aparecendo nos cinco continentes.

Através dos estudos dos registros históricos, verificou-se a produção de tijolos

no antigo Egito. Devido à escassez de outros materiais, os egípcios usavam lama

para confeccionar tijolos que eram cozidos ao sol. Este tijolo é denominado como

adobe, um dos primeiros elementos de terra manipulados pelo homem. De forma

sucinta, a técnica de adobe consiste na fabricação de tijolos com uma combinação

de terras arenosas ou argilosas, com ajuda de moldes simples de madeira, utilizando

ligeiramente as mãos para moldar. Com a prática desta técnica construtiva, o

homem foi aperfeiçoando a produção e buscando melhor desempenho do material.

Através das produções, observou-se que quando o solo demonstrasse baixa

resistência para a modelagem, o desempenho e a estabilidade da construção

poderiam ser melhorados se a terra fosse associada a outro material. Desta forma,

outras técnicas, como taipa de mão e taipa de pilão, foram tão propagadas como o

adobe.

Como já foi citado, o feitio do adobe é artesanal, a terra é misturada com água

e fibras vegetais para formar uma massa que é trabalhada com os pés e mãos. A

massa ou barro resultante é moldada em fôrmas de madeira. Quando

desenformado, o bloco moldado é posto para secagem à sombra por poucos dias,

até diminuir bastante a sua umidade, de maneira lenta para não provocar trincas,

depois é levado à secagem final ao sol até adquirir uma resistência ideal para o seu

uso. A sua composição tem em média de 70% de areia e 30% de argila.

Ao longo do tempo, as necessidades se modificaram e se adaptaram a novos

materiais. Surgiu a necessidade de criar tijolos menores e conseqüentemente mais

leves, bem como diminuir o tempo de produção, logo foi iniciada a produção de

tijolos por queima, criando assim o chamado tijolo maciço.

Segundo GITAHY (2004, pg.38), no início de sua produção, o tijolo maciço

era misturado e triturado em moinhos de tração animal, sendo em seguida batidos à

mão em fôrmas de madeira, ou cortados manualmente com fios de arame. A

secagem e a queima eram nos mesmos padrões hoje aplicados nas olarias

(desintegração, primeira laminação, passagem pelo misturador, segunda laminação,

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105

extrusão, secagem e queima). Atualmente sabe-se que, quanto mais homogênea for

a mistura, mais resistente a ações agressivas o tijolo será, reduzindo a possibilidade

de manifestações patológicas. A mistura para a produção de tijolo maciço é baseada

no que se chama de barro de argila magra (argila com pouca plasticidade).

A fabricação de tijolos, de uma forma geral, é uma parte muito importante no

desenvolvimento da história da construção civil no Brasil. Inicialmente o adobe era a

técnica mais simples e com maior freqüência nas construções no país. Contudo,

com as mudanças no século XIX causadas pela vinda da corte portuguesa para o

Brasil, muitas importações de culturas e técnicas começaram a fazer parte do

desenvolvimento das cidades. Novas técnicas construtivas foram desenvolvidas,

assim como novos materiais, com o objetivo de diminuição do peso das edificações

e aumento da produtividade. Neste período, muitas igrejas ainda estavam sendo

construídas e observa-se o uso de tijolos maciços tanto nas paredes como em

cúpulas. Como exemplo há a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores que

possui sua cúpula principal formada por tijolos maciços e pedra.

No final do século XIX, após a Revolução Industrial, o uso da arquitetura de

terra na construção entrou em desuso, se tornando escassa na área urbana e sendo

utilizada somente no interior.

A importância de se conhecer o método construtivo que emprega o adobe e o

tijolo maciço se dá em projetos de restauração ou recuperação.

3.2.3 Pedra

A pedra é um material de construção utilizado desde os primórdios da

civilização humana, sendo considerado, entre todos os materiais, o mais nobre e

resistente. O desenvolvimento do ser humano sempre esteve ligado ao emprego de

diversos tipos de rochas em suas atividades diárias, inclusive em artefatos

rudimentares.

Segundo CROCI (2001, pg.9), a pedra, sem dúvida, é o mais forte e durável

entre os materiais de construção. Também é mais difícil de se trabalhar, o que

resultou em uma técnica mais sofisticada de emprego em paredes, colunas, arcos,

além de outros elementos.

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106

A pedra foi usada para vencer vãos através de tetos curvos e transmitia

nobreza e imponência às edificações. Este material é geralmente encontrado em

construções de grande porte, ou seja, em sua maior parte, na arquitetura civil e

religiosa. Observa-se como exemplo a grande cúpula monolítica da Tumba de

Teodorico, em Ravena. A cúpula é talhada em um enorme bloco de pedra, pesando

em torno de 300.000 kgf.

A arquitetura da pedra no Brasil é bastante variada em virtude da vasta

riqueza mineral que o país possui. Segundo CARDOSO (2003, pg.34), as primeiras

pedras que foram utilizadas no Brasil foram as pedras portuguesas, vindas de

Portugal, e que foram substituídas pela matéria-prima local.

Segundo MARTINS (2003, pg.35), a alvenaria de pedra consiste na formação

de um maciço, estável e de dimensões predeterminadas, pela superposição de

pedras, podendo ser ou não ligadas por argamassa, denominadas de alvenaria de

pedra seca e alvenaria de pedra argamassada, respectivamente.

Nas alvenarias de pedra seca, ou pedra de junta seca, as pedras de

dimensões semelhantes são superpostas e convenientemente travadas, adquirindo

uma estabilidade ditada pelo seu peso próprio, sem a utilização de materiais de

ligação e de revestimento.

Nas alvenarias de pedra argamassada existe um elemento de ligação entre

as pedras que pode ser barro ou cal. Nas alvenarias de pedra e barro as pedras são

ligadas entre si por uma argamassa de barro ou de terra. Esta argamassa preenche

os vazios, distribuindo os esforços e tornando as alvenarias impermeáveis ao ar e à

água. Nas alvenarias de pedra e cal o método é semelhante ao anterior, substituindo

a argamassa utilizada, que pode ser a argamassa de cal e areia ou cal, areia e

barro. Este tipo de alvenaria tornou-se mais utilizado por apresentar melhores

características mecânicas, maior resistência e rigidez, diminuindo a espessura dos

elementos arquitetônicos.

Muitas cúpulas no Brasil foram construídas com materiais mistos, como tijolo

e pedra, bem como pedra argamassa. Observa-se como exemplo a cúpula da Igreja

de Nossa Senhora da Candelária. A cúpula, toda em pedra de lioz de Lisboa,

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107

representa a principal marca visual da igreja, construída em estilo neoclássico entre

1865 e 1877.

3.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS

Neste item listam-se as características e propriedades dos materiais citados

no item anterior, com suas respectivas variedades. O comportamento de cada

material é influenciado desde a sua origem como matéria-prima até a forma de

manipulação e emprego direcionado pelo homem.

3.3.1 Principais propriedades da madeira

A madeira é um material retirado diretamente da natureza, onde está sujeita a

diversos fatores de variação. Uma árvore pode estar sujeita a variações de clima,

umidade, recursos do solo e alterações do meio-ambiente criadas pelo homem,

como poluição, por exemplo.

� PRINCIPAIS PROPRIEDADES FÍSICAS

a) Anisotropia

A madeira é um material biodeteriorável que possui características

influenciadas por fatores externos e mecanismos internos que permitiram seu

desenvolvimento e configuração.

Segundo MARAGNO (2004, pg.73), as propriedades da madeira se diferem

em qualquer eixo ou plano que se tenha como referência (anisotropia): na direção

das fibras principais (longitudinal) ou perpendicular às fibras. Fatores externos como

as condições ambientais e os defeitos de desenvolvimento (nós, desvio de veios,

fibras torcidas), entre outros, também influenciam na constituição heterogênea e

anisotrópica deste material.

b) Umidade

A madeira possui um teor de umidade que apresenta-se como um fator

condicionante de todas as propriedades mecânicas e também da densidade

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108

aparente. Segundo PFEIL (1994, pg.6), o teor de umidade é igual ao peso de água

dividido pelo peso da amostra seca na estufa.

1002

21 ×−=m

mmw

w = umidade

m1 = massa úmida

m2 = massa seca

Quando a madeira é cortada, o teor de umidade apresenta-se com teor

máximo que pode variar de 30% até 70%, de acordo com o tipo da madeira. A

quantidade de água encontrada na madeira tem sua origem na constituição do

tecido vegetal, em forma de impregnação, e nos canais do tecido lenhoso. Através

de processos de secagem, o teor de umidade da madeira vai baixando até o limite

desejado para sua utilização.

c) Absorção ou inchamento

Quando o índice de umidade da madeira é inferior ao do meio ambiente há

absorção de água (ou umidade do ar), aumentando o volume das células e, por

conseqüência, ocorre expansão.

d) Flexibilidade

A flexibilidade é uma propriedade física que algumas madeiras possuem. Esta

particularidade permite à madeira ter curvatura no sentido longitudinal, sem romper-

se. Quando elástica, a madeira volta à sua forma original tão logo cesse a força que

provocou a curvatura. A madeira úmida é mais flexível que a madeira seca.

e) Resistência ao fogo

Segundo SÁNCHEZ (1993, pg.38), o comportamento da estrutura de madeira

durante um incêndio, comparado aos outros materiais, é bastante aceitável devido

às suas características físicas. Observa-se que a madeira, durante o início de sua

exposição ao fogo, forma uma película de proteção (carbonização) que retarda o

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109

processo da combustão (perda de seção de 1cm/h durante a exposição ao fogo).

Com o calor, as fibras se estendem, e, em contrapartida, a retração resultante da

desidratação, compensa esta dilação.

� PRINCIPAIS PROPRIEDADES MECÂNICAS

a) Compressão

A compressão é a propriedade mecânica que a madeira possui para resistir à

força que tende ao esmagamento de suas fibras. A compressão pode ser normal às

fibras, paralela às fibras, ou axial. Através da compressão normal às fibras são

obtidos os valores do limite de elasticidade, resistência e módulo de elasticidade.

Segundo VERÇOZA (1991, pg.133), o grau de resistência de compressão depende

da orientação do esforço, da porosidade da madeira, de sua extensão e da posição

da carga em relação aos apoios da peça, entre outros fatores. Mesmo não sendo

muito alta, a compressão na madeira oferece uma resistência aceitável. O aviso de

colapso é através do “empelotamento” na parte superior, por exemplo, em uma viga,

provocado pelo esmagamento das fibras na borda mais comprida. Na compressão

paralela às fibras ou axial pode ocorrer, por exemplo, em um pilar, ruptura por

esmagamento ou por flambagem, provocando a separação e o rompimento das

fibras. Desta forma, observa-se um esmagamento maior, e mais facilmente obtido,

no sentido perpendicular às fibras.

b) Tração

A tração é a propriedade mecânica que a madeira possui para resistir à

resultante da ação das forças em direções opostas que tendem a romper a peça. A

tração pode ser normal às fibras, paralela às fibras ou axial. Na tração normal o

esforço perpendicular “descola” as fibras, separando-as, provocando a ruptura com

alguma facilidade. Segundo VERÇOZA (1991, pg.131), a tração axial ou paralela é

resistida simultaneamente por todas as fibras, aumentando o comprimento e

reduzindo a seção transversal de suas fibras. Estas variações de contrações

transversais provocam um aumento de aderência entre as fibras, ao contrário da

compressão. Segundo PETRUCCI (1976, pg.148), dificilmente a madeira em serviço

é rompida simplesmente pela tração. Na maioria dos casos, o rompimento ocorre

pela “ação de esforços acessórios”, que resultam da interrupção das fibras pelos

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110

elementos de ligação, alterações de seção e compressão por peças de ligação, que

acompanham o esforço de tração, e pelas fibras não apresentarem orientação

perfeitamente paralela à força aplicada. Desta forma, os esforços acessórios podem

ocasionar rompimento da madeira por fendilhamento, cisalhamento ou por

compressão normal.

c) Flexão

Existem dois tipos de flexões na madeira: a estática e a dinâmica, ou

resiliência. A flexão estática é o trabalho imposto a uma determinada peça, apoiada

em dois pontos, que depende do vão, da extensão da carga, da sua distribuição,

posição, entre outros. A flexão dinâmica ou resiliência é a propriedade que

determinadas madeiras possuem de suportar esforços mecânicos ou choques.

Segundo MARAGNO (2004, pg.84), a madeira apresenta resiliência mínima quando

o esforço dinâmico é dirigido no sentido transversal das fibras, e máxima quando

dirigido no sentido axial das fibras.

d) Cisalhamento

Na madeira, o cisalhamento é a separação das fibras, provocando o

deslizamento de um plano sobre o outro. O caso mais comum de cisalhamento na

madeira é quando os esforços cortantes se desenvolvem paralelamente às fibras,

sendo a resistência mínima.

e) Fendilhamento

O fendilhamento se define como a facilidade de separação das fibras da

madeira no sentido longitudinal, vencendo a força de coesão existente entre elas

(esforço normal às fibras). Embora as fibras sejam separadas por pressão, estas não

são rompidas.

f) Elasticidade

A elasticidade é a propriedade mecânica que a madeira e outros materiais

possuem de se deformar, sob determinadas condições, proporcionalmente à

intensidade de carga aplicada, retornando à sua forma original ao término da

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111

aplicação da força. Os módulos de elasticidade da madeira dependem do tipo e da

direção da solicitação em relação às fibras.

� PRINCIPAIS PROPRIEDADES QUÍMICAS

A madeira é composta totalmente por elementos orgânicos (celulose-50%,

lignina-30% e resina, amido, açúcares-20%) que se dividem em elementos

essenciais (carbono-46%, oxigênio-37,5%, hidrogênio-5,5% e nitrogênio-1%) e

outros elementos (corpos simples e corpos minerais). É importante ressaltar que a

lignina é o aglomerante responsável pela união entre as células, tornando-as

resistentes às solicitações mecânicas e “reduzindo a absorção de umidade”.

3.3.2 Principais propriedades dos tijolos de terra.

Segundo FERRAZ (2004, pg.6), o uso da terra crua como material de

construção remonta às civilizações primitivas e, no caso do adobe, pode ser

considerado como um dos primeiros materiais de construção usados pelo homem. O

tijolo maciço também foi empregado desde a antiguidade, ou seja, é uma técnica de

construção antiga. A variedade dos tipos de solo e métodos de produção faz com

que as propriedades do adobe e do tijolo maciço sejam totalmente diferentes de

amostra para amostra.

O solo pode ser entendido sob diversos aspectos. Na geologia, ele pode ser o

produto do intemperismo físico e químico das rochas. Segundo SALOMÃO (1998, pg

15), sob o enfoque da agronomia, o solo é uma camada superficial de terra arável,

possuidora de vida microbiana, ou ainda, na Engenharia Civil, ele é um material

escavável, que perde sua resistência quando entra em contato com a água.

De forma geral, o solo pode ser caracterizado como um sistema disperso

formado por três partes: sólido, líquido e gasoso. Segundo CAPUTO (1998, pg.40), o

solo é um material constituído por um conjunto de partículas sólidas, deixando entre

si vazios que poderão estar parcialmente ou totalmente preenchidos pela água.

Logo, ao fazer a análise de um solo que será empregado em construção, deverá ser

verificada sua constituição física e química. Segundo FERRAZ (1995, pg.13), ao

analisar o solo para construções deve-se observar sua composição quanto aos

teores de areia (média, grossa e fina), silte, argila, e, às vezes, identifica-se o tipo de

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112

argilo-mineral predominante na argila. Um solo classificado como bem graduado é

aquele que apresenta em sua granulometria grãos de diversos tamanhos, da areia

grossa até a argila.

Segundo GITAHY (2004, pg.31), na maioria dos casos, para trabalhar em

construções, faz-se necessário a estabilização do solo para corrigir a granulometria

e a plasticidade. Neste caso, são adicionadas substâncias que confiram maior

coesão entre os grãos, reduzindo a sensibilidade à água e aumentando a resistência

mecânica.

Ao longo dos anos, vários materiais têm sido utilizados para a estabilização

dos solos. Segundo FERRAZ (1994, pg.14), estes materiais podem ser de diferentes

origens, como as fibras vegetais, resíduos industriais, agregados, óleo vegetal, cal,

betume e cimento. Através de testes realizados em laboratório foi observado que a

vantagem do uso de fibras, como, por exemplo, a palha, associada à areia grossa,

quando necessário, é o controle eficiente de microfissuras, e melhora da resistência

à compressão dos adobes.

Ainda segundo GITAHY (2004, pg.44), pode-se concluir que as anomalias

mais comuns nesses materiais são as favorecidas pelo meio úmido. A penetração da

água é freqüente porque a estrutura porosa facilita sua fixação e transferência.

Esses materiais podem ser visualizados como uma massa sólida, contendo no seu

interior uma rede de galerias de traçado irregular, formada pelos poros. Logo, os

materiais que constituem essas alvenarias têm como principais características a

higroscopicidade e a porosidade.

De uma forma geral, o tijolo e o adobe são caracterizados por sua baixa

resistência à água, porém a forma como são produzidos os fazem reagir de formas

diferentes diante de algumas situações e no desenvolvimento de ensaios como a

resistência à compressão.

3.3.3 Principais propriedades da pedra.

A pedra é um material oferecido pela natureza de forma definitiva, que possui

propriedades para aplicações que lhe são peculiares em obras executadas pela

civilização humana. O emprego variado de rochas sempre esteve presente na vida

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113

do homem, desde a sua origem como primeiro abrigo (cavernas). Atualmente a

sociedade ainda depende das rochas e seus recursos minerais, seja em

construções, como a fabricação do cimento, seja em combustíveis, como o petróleo,

entre outros. Segundo ROCHA (2001, pg.32), as rochas são agregados naturais de

um ou mais minerais, que por sua vez são definidos como toda substância

inorgânica natural de composição química e estruturas definidas. As rochas

presentes tanto na superfície da terra como no seu subsolo são divididas e

classificadas por sua formação: magmáticas ou ígneas, sedimentares e

metamórficas.

� PRINCIPAIS PROPRIEDADES FÍSICAS

a) Porosidade

A porosidade é uma propriedade física das rochas de conter espaços vazios,

sendo medida, percentualmente, como a relação entre o volume dos vazios e o

volume total da rocha. As rochas que possuem um alto percentual de porosidade,

são, em geral, pouco resistente à compressão, pois quanto maiores e mais

numerosos forem os poros, tanto mais finas e menos resistentes serão as capas

envoltórias da pedra sólida.

b) Dureza

A dureza de um mineral qualquer vem expressa em número por meio da

escala de MOHS e cada mineral relacionado nessa escala risca todos os minerais

de número menor e não risca os de número maior. Como as rochas são formadas

por vários minerais, a determinação da dureza é complexa.

c) Absorção ou higroscopicidade

A absorção é a propriedade física que as pedras possuem pela qual uma

certa quantidade de líquido é capaz de ocupar os vazios de uma rocha, ou parte

desses vazios. A absorção é medida em percentual e varia por ações físicas.

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114

d) Elasticidade

A elasticidade é a propriedade física que um corpo possui de voltar à posição

original após ser submetido a um carregamento e se deformar. No caso das rochas,

raramente um corpo de prova retorna às suas dimensões e forma iniciais, guardando

sempre consigo uma deformação plástica ou irreversível.

e) Adesão e aderência

Segundo CAVALCANTI (1951, pg.45), a adesão refere-se à maior ou menor

aptidão da pedra em deixar-se ligar por uma argamassa. A adesão é uma

propriedade resultante da ação química dos aglomerantes, pelas afinidades dos

materiais em contato durante a pega. A aderência provém da ação mecânica

desenvolvida pelo endurecimento da argamassa nas saliências e reentrâncias da

pedra, a qual ela se adapta e se incorpora. As pedras têm maior ou menor adesão

com as argamassas de acordo com os materiais residuais na superfície da pedra. Já

a aderência varia de acordo com a fratura (aspecto da superfície de acordo com a

extração) e a porosidade, sendo que as pedras de fratura áspera e irregular

possuem melhor aderência. A avaliação da qualidade de aderência é feita através

do esforço de tração necessário para separar a pedra da argamassa.

� PRINCIPAIS PROPRIEDADES MECÂNICAS

a) Resistência à compressão

Segundo CHIOSSI (1975, pg. 214), a resistência à compressão das rochas

apresenta uma grande variabilidade de resultados, dada a complexidade de

constituintes minerais, fissuramentos oriundos da extração ou formação, umidade e

outros fatores. Devem ser feitos muitos testes com cuidados técnicos para exprimir

uma média da propriedade. Geralmente, as rochas possuem alguns resultados em

comum: quanto mais forte for o ligamento entre os cristais, maior a resistência à

compressão. As rochas silicificadas têm maior resistência e os corpos de prova com

compressão perpendicular ao plano de estratificação apresentam maior resistência à

compressão.

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115

b) Resistência ao choque

É a resistência que uma rocha oferece ao impacto de um peso que cai de

uma certa altura, sendo medida pelo produto do peso pela altura de queda, que

causa a ruptura do corpo de prova. Esta propriedade é importante na área de bens

históricos, pois este conhecimento influi na determinação do tipo de uso que se dará

ao bem. As novas sobrecargas, tanto permanentes quanto temporárias, que

porventura sejam solicitadas à antiga estrutura, deverão ser previamente estudadas

e determinadas de forma a garantir a integridade e a durabilidade do monumento.

c) Resistência ao desgaste

Há dois tipos de resistência ao desgaste: por atrito mútuo e por abrasão. A

resistência ao desgaste por atrito mútuo é a resistência que a rocha apresenta, sob

a forma de agregado, quando submetida a atrito mútuo de seus fragmentos, porém

em alguns ensaios adiciona-se uma carga abrasiva de esferas de ferro fundido ou

aço para observar o grau de resistência. A resistência ao desgaste por abrasão,

como o próprio nome diz, é a resistência que uma rocha apresenta quando

submetida à abrasão de materiais abrasivos especificados. Esta propriedade tem

importância especial quando a rocha for empregada sob a forma de pavimento,

como no caso de pavimentos históricos com pedras.

d) Resistência à tração

A resistência à tração nas rochas é função da coesão e da textura da pedra,

ao contrário da resistência à compressão, que depende da resistência individual dos

elementos constituintes. Segundo ROCHA (2001, pg.83), as pedras resistem mal à

tração, que atinge, no máximo, 5% do valor de sua resistência à compressão, sendo,

por esse motivo, evitado o emprego da pedra nos elementos da construção que

devem resistir à tração.

e) Resistência à flexão

Esta resistência pode ser observada quando a pedra é aplicada apoiada nas

duas extremidades (vergas, arquitraves, capas de bueiro) ou numa das

extremidades (consolos, cornijas) e ocorre o esforço de flexão, que depende da

direção da carga em relação aos planos de estratificação, do estado de alteração da

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116

pedra, da presença de fissuras latentes, da umidade contida na pedra e outros.

Segundo FORSTER (1972, pg.78), a resistência à flexão das pedras oscila entre 1/9

e 1/16 da resistência à compressão.

f) Resistência ao cisalhamento

Segundo SOARES (2004, pg.121), a resistência ao cisalhamento das pedras

é, em média, 1/15 da resistência à compressão, sendo por conseguinte maior que a

resistência à tração e, geralmente, menor que a resistência à flexão.

� PRINCIPAIS PROPRIEDADES QUÍMICAS

As propriedades químicas de uma rocha podem ter uma grande variação

devido a seus elementos constituintes, ou seja, sua composição química pode variar

de amostra para amostra. Os componentes de uma rocha devem ser quimicamente

inertes para que haja um melhor aproveitamento do material.

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4 SINTOMAS PATOLÓGICOS E TÉCNICAS DE RESTAURO

Após o estudo dos principais métodos construtivos, materiais mais usados em

cúpulas e suas respectivas propriedades, este capítulo propõe um estudo das

patologias recorrentes nesse elemento arquitetônico, e das técnicas utilizadas para o

restauro.

A identificação de uma patologia pode representar modificações nos sistemas

funcionais e estruturais de uma edificação. De forma objetiva, patologias são danos

encontrados em antigas e modernas edificações. No caso de edificações antigas, o

principal responsável pela deterioração é a falta de manutenção preventiva dos

imóveis visando sua preservação. Das experiências de intervenções em edificações

antigas, sabe-se que não basta apenas um detalhamento apropriado do arranjo

estrutural do prédio, mas também um programa de manutenção no funcionamento

do uso. Segundo DE SOUZA & RIPPER (1998, pg.21), a manutenção é um conjunto

de rotinas que tem como objetivo o prolongamento da vida útil da obra, a um custo

compensador.

Ainda segundo DE SOUZA & RIPPER (1998, pg.14), o estudo das patologias

em edificações tem como objetivo o estudo das origens, formas de manifestações,

conseqüências e mecanismos de ocorrência das falhas e degradação da

construção.

Atualmente, houve um aumento de interesse pelo estudo de danos em

construções, já que há um número maior de acidentes estruturais em edificações de

diferentes tipos em vários locais do mundo. Nas últimas três décadas, a Engenharia

Civil procura, por diversos meios, uma maior durabilidade para suas obras e

soluções de recuperação. O maior objetivo é determinar as técnicas e

procedimentos de projeto, construção e manutenção que proporcionem maior vida

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118

útil, convivendo com todos os agentes patológicos, ou seja, impeçam a penetração

de substâncias agressivas, que reduzem a durabilidade, e evitem erros executivos. A

descoberta desses caminhos só é feita através de diagnósticos descritivos e

precisos. Nessa fase, as patologias seguem-se mais detalhadas, sendo mensuradas

e quantificadas, para que os procedimentos de tratamento mais adequados possam

ser indicados.

As causas que provocam a deterioração das estruturas podem ser humanas,

naturais ou acidentais.

As causas por falhas humanas podem ser ocasionadas durante a concepção

(projeto), no planejamento sobre o emprego de materiais, durante a execução da

obra ou durante o uso da edificação.

As causas naturais são originadas pela própria natureza e composição dos

materiais utilizados, fatores inerentes à própria matéria constituinte, e podem ser

detectadas numa situação específica de ambiente e esforços aplicados.

As causas acidentais são as que, embora possíveis teoricamente e,

previsíveis estatisticamente, as possibilidades de ocorrência são restritas.

As causas de deterioração têm origens diferenciadas: física, mecânica,

química ou biológica. Essas origens podem ser classificadas em dois tipos:

extrínseca (ou exógena) e intrínseca (endógena), segundo os conceitos usados em

estudos de patologias em materiais e estruturas.

O organograma, a seguir, exemplifica a relação de reciprocidade entre a

durabilidade e desempenho tendo como um dos fatores com maior índice de

degradação, a umidade. Esta figura foi revisada pela Mestre Andréa Souza

MARAGNO no livro segundo DE SOUZA e RIPPER (1998, pg.20) (Figura 57).

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119

MANUTENÇÃO

UMIDADEUm dos principais agentes facilitadores de patologias

DETERIORAÇÃO DO MATERIAL

EXECUÇÃOMATERIALPROJETO

BIOLÓGICAQUÍMICAFÍSICA

DURABILIDADE

RESISTÊNCIA SOLIDEZ CONFORTO

ESTÉTICASERVICIBILIDADESEGURANÇA

DESEMPENHO

MANUTENÇÃO

UMIDADEUm dos principais agentes facilitadores de patologias

DETERIORAÇÃO DO MATERIAL

EXECUÇÃOMATERIALPROJETO

BIOLÓGICAQUÍMICAFÍSICA

DURABILIDADE

RESISTÊNCIA SOLIDEZ CONFORTO

ESTÉTICASERVICIBILIDADESEGURANÇA

DESEMPENHO

Figura 57 – Reciprocidade entre o desempenho e a durabilidade. Fonte: MARAGNO, 2004, pg.94.

Como as cúpulas estudadas possuem materiais diversificados, houve também

uma preocupação em tentar levantar o maior número possível de patologias

identificadas em bibliografia específica, como também em visitas realizadas ao longo

do trabalho a igrejas na cidade do Rio de Janeiro.

4.1 DESEMPENHO E DURABILIDADE

Faz-se necessário conhecer o conceito de desempenho e durabilidade de um

material para que haja uma consistente escolha e correto emprego na obra, pois

desta forma há um aproveitamento da vida útil do material, dentro de um sistema de

manutenção. Segundo DE SOUZA & RIPPER (1998, pg.19), entende-se por

durabilidade o parâmetro que relaciona a aplicação das características de

deterioração do material a uma determinada construção, particularizando-a pela

avaliação da resposta que dará aos efeitos da agressividade ambiental, e definindo,

então, a vida útil da mesma.

Com relação à madeira, a durabilidade pode ser influenciada pela própria

constituição e exposição no ambiente de origem ou durante a extração e manuseio

do material. As estruturas de madeira possuem necessidade de prevenção quanto a

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120

agentes biodeterioradores ou ambientais que possuem ação facilitada pelo teor de

umidade, presente neste material. Segundo MARAGNO (2004, pg.35), além da

resistência natural, o teor de umidade da madeira condiciona também a ocorrência

de lesões como fendilhamentos/ rachaduras e abaulamentos, com a possibilidade de

comprometer o desempenho e a vida útil da estrutura.

Quanto ao adobe e o tijolo maciço, a durabilidade é reconhecida pela

continuidade de métodos construtivos com este material desde a antiguidade e por

testes laboratoriais que descrevem um bom desempenho. Entretanto, este material

construtivo depende do material de composição do solo original (matéria orgânica,

argila, sedimentos) e, com maior enfoque, do processo de fabricação, como também

da manutenção da edificação. Segundo GITAHY (2004, pg.85), a água é o elemento

central do processo de caracterização da umidade e sua penetração nos tijolos de

terra tem como conseqüência a deterioração do material, influenciando o

desempenho do mesmo.

A durabilidade de uma rocha é entendida como sendo a resistência da rocha

à ação do tempo, situação muito bem elucidada pelos exemplos de construções

desde os primórdios, que permanecem até os dias atuais. A observação da

porosidade em pedras ganha enfoque quando a preocupação é durabilidade.

Segundo CAVALCANTI (1951, pg. 120), por mais que as partículas minerais ou os

elementos sólidos estejam unidos, há sempre poros ou interstícios, através dos

quais a água e os gases tendem a deteriorar e a destruir a pedra. Logo, as

características, a quantidade total, a distribuição e a porcentagem dos poros de

diferentes tamanhos indicam a durabilidade da pedra e influem nas suas diversas

propriedades. Outra característica da pedra que influi na sua durabilidade é sua

granulação e homogeneidade. De uma forma geral, quanto mais homogênea for a

pedra e mais fina a sua granulação, maior resistência aos esforços mecânicos e

maior durabilidade, pois a pedra se torna mais densa, e, por conseqüência, menos

porosa.

Através da figura Figura 58, observa-se um organograma que ilustra desde as

primeiras etapas pelas quais o material passa, a ação de agentes que favorecem a

deterioração, as classificações destes danos, até aos fatores determinantes de

desempenho.

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121

EX

TR

ÍNS

EC

AMECÂNICA /

FÍSICA

HUMANO

NATURAL

CLASSIFICAÇÃO

ACIDENTAL

ORIGEM CAUSA

FATOR

HUMANO

ACIDENTAL

NATURALQUÍMICA

BIOLÓGICA NATURAL

MECÂNICA / FÍSICA

HUMANO

NATURALQUÍMICA

BIOLÓGICA NATURAL

INT

RÍN

SE

CA

CAUSAS DE ORIGENS EXTRÍNSECA E INTRÍNSECA

EX

TR

ÍNS

EC

AMECÂNICA /

FÍSICA

HUMANO

NATURAL

CLASSIFICAÇÃO

ACIDENTAL

ORIGEM CAUSA

FATOR

HUMANO

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BIOLÓGICA NATURAL

MECÂNICA / FÍSICA

HUMANO

NATURALQUÍMICA

BIOLÓGICA NATURAL

INT

RÍN

SE

CA

CAUSAS DE ORIGENS EXTRÍNSECA E INTRÍNSECA

Figura 58 – Causas de origens extrínseca e intrínseca. Fonte: MARAGNO, 2004, pg.97.

Observa-se então que a deterioração obedece a um processo que pode ter

origens físicas, químicas ou biológicas, e que, favorecida pelas condições

ambientais de inserção, se desenvolve em matérias que não apresentem resistência

às agressividades do agente ou processo em atuação.

A seguir serão apresentadas e discutidas as causas das anomalias presentes

nas cúpulas, que foram sistematizadas conforme suas origens intrínsecas e

extrínsecas, baseados em pesquisa bibliográfica e visitações. Um dos fatores

relevantes foi a consideração das manifestações de maior incidência e suas

possíveis causas. O estudo terá uma forma mais ampla em relação à sistematização

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122

das origens das patologias, pois o enfoque deste trabalho é a verificação

generalizada de anomalias em cúpulas e não o detalhamento minucioso dos

materiais em questão. Faz-se necessário registrar a escassez de bibliografia nesta

área.

4.2 AS CAUSAS DAS PATOLOGIAS EM CÚPULAS

A patologia das estruturas engloba o estudo das formas de manifestação, das

causas e dos efeitos das “doenças” ou deterioração da estrutura. É relevante

lembrar que, para haver uma intervenção correta, faz-se necessário um

conhecimento das técnicas e dos materiais empregados, bem como um

levantamento de patologias mais freqüentes, para um melhor diagnóstico em um

projeto de restauração.

Os principais efeitos dos problemas patológicos que conduzem à deterioração

das cúpulas são:

� degradação da aparência da estrutura, em função das manchas,

eflorescências, estalactites e fissuras, além de deformações excessivas na

estrutura;

� perda de rigidez e resistência da estrutura, em função da presença de

fissuras, do destacamento ou desagregação do material ou de corrosão;

� diminuição da vida útil da estrutura, quando os efeitos anteriores citados

atingem um nível de comprometimento que impedem a continuação do uso da

estrutura.

4.2.1 Causas das patologias em cúpulas de madeira

Após a inspeção e levantamento qualitativo de uma edificação, ao ser

constatada a patologia (ou anomalia) na estrutura de madeira, o principal passo é

entender quais foram as causas que propiciaram o seu surgimento.

O conhecimento das causas e origens de patologias em cúpulas poderá

determinar os procedimentos de reparo e prevenções como forma de garantia,

mesmo por tempo determinado, para o prolongamento da vida útil da estrutura.

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123

4.2.1.1 Causas intrínsecas

As causas de origem intrínseca dos processos de deterioração, relacionados

às estruturas de madeira, podem ser definidas como as que são inerentes à própria

matéria constituinte da estrutura. As anomalias podem ser decorrentes de defeitos

surgidos no desenvolvimento da árvore ou ambientação do material, como nós e

fibras retorcidas, podem ocorrer em função da vida útil da madeira, falha de

estocagem do material, falhas durante a execução da estrutura, e outros.

� Origem química / biológica – Causa de fator natural: decomposição

Uma das causas de fator natural que mais preocupa os profissionais ao

utilizar a madeira é a velocidade do seu processo de deterioração. Embora, este

processo seja comum a todos os materiais de construção, a decomposição na

madeira é mais rápido e prejudicial, pois a sua constituição é matéria orgânica.

Como exemplo de apodrecimento da madeira, observa-se a fermentação da seiva,

de natureza química, que ocorre com a alteração de sua composição química e esta,

por sua vez, é desencadeada por fungos e bactérias (biodeterioração) no meio

ambiente original ou em uso. A deterioração da madeira em estruturas de cúpulas é

muito comum, pois, geralmente, não há um acompanhamento ou manutenção

destes elementos. Analisando o arranjo estrutural destes imóveis históricos pode-se

observar a falta de acesso às cúpulas, bem como a falta de ventilação e luz,

propiciando um ambiente confortável para agentes biológicos. A decomposição na

madeira pode ser interrompida pela eliminação de sua causa, porém os estragos são

irreversíveis na matéria, sendo necessária a reposição da mesma.

� Origem física / mecânica – Causa de fator humano: produção

O processo de produção e utilização da madeira visa a preservação da

durabilidade e manutenção das propriedades físicas e mecânicas para um melhor

aproveitamento durante o uso. No entanto, algumas medidas de prevenção são

adotadas para evitar a deterioração, como a escolha da época e idade do corte e o

desdobro. O corte da madeira sofre variantes específicas, pois a idade ideal é

escolhida de acordo com a espécie e condições ambientais em que se encontram. A

melhor época de corte é quando a atividade da seiva é quase nula (matéria viva da

madeira), o que normalmente ocorre nos meses mais frios. Esse planejamento

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previne o ataque de insetos, já que a seiva é um atrativo. O desdobro da madeira

também é um fator importante na escolha deste material, pois no corte ocorre um

desequilíbrio do sistema de fibras mantidas por sistemas de forças. Então, deverá

verificar-se a disposição da peça no conjunto do sistema de forças original para um

aproveitamento das deformações ocorridas.

Uma patologia muito observada em cúpulas de madeira ou com arranjo

estrutural deste material são os abaulamentos acentuados, ou seja, convexidades

que não estavam no projeto arquitetônico original. Essas alterações prejudicam a

visão estética do teto e desfiguram pinturas e decorações presentes, impedindo a

leitura correta do bem. Essas deformações excessivas são decorrentes da rápida

secagem das peças de madeira, com contração das fibras periféricas, enquanto as

do interior se mantêm úmidas, podendo então gerar tensões, inclusive ao longo do

uso. Além do processo de secagem, podem também se manifestar por esforços

excessivos. Existem quatro tipos de abaulamentos: encanoamento – a peça de

madeira se deforma no sentido transversal, tomando a forma de uma calha;

empenamento – no sentido longitudinal é caracterizado pelo afastamento de uma

face da peça em relação ao plano que une uma extremidade à outra da peça;

arqueadura – ocorre quando a peça entorta sem sair do plano, flexionando no

sentido da largura; torção – o abaulamento torcido ocorre principalmente em madeira

proveniente de árvores que apresentam grã espiralada .

� Origem física / mecânica – Causa de fator humano: execução

Os problemas decorrentes da execução de uma estrutura da madeira podem

causar grandes prejuízos (custos elevados), durante ou após a construção, como

também riscos para a utilização do imóvel. Em muitos casos, a falta de qualificação

profissional de quem executa e a habilitação de quem fiscaliza podem resultar em

conseqüências desastrosas, como o início de grandes sintomas patológicos

progressivos. A utilização incorreta dos materiais e procedimentos inadequados são

fatores complexos que dificultam o levantamento e classificação das origens das

patologias. Um material empregado de forma errônea pode ser a causa de uma

patologia, porém existe a chance de haver incompatibilidade de projetos, com falhas,

ou mal detalhados, gerando interpretações múltiplas ou incorretas.

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125

4.2.1.2 Causas extrínsecas

As causas de origem extrínseca dos processos de deterioração, relacionados

às estruturas de madeira, podem ser descritas como não pertencentes à estrutura ou

à matéria de que é composta, ou seja, ocorrem induzidas por agentes, como o

ataque de insetos, intempéries, uso inadequado, vandalismo ou acidentes, como

será visto a seguir.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: concepção do

projeto

Um projeto de qualidade, original ou de intervenção, permite um correto

planejamento e uma visualização antecipada do resultado final, ocasionando as

melhores escolhas para uma efetiva implantação. É importante lembrar que obras de

intervenções em edificações antigas não podem ser planejadas inteiramente no

escritório, pois há um universo complexo de informações físicas, mecânicas e

químicas que vão alterar o percurso da obra. Segundo OLIVEIRA (2003, pg. 68), um

projeto de intervenção em edificações antigas, mesmo que extremamente detalhado,

só apresenta diretrizes fundamentais, que vão ter que se adaptar à realidade do

monumento. Considerando os aspectos multidisciplinares que esta área exige e a

dificuldade de verbas para estas intervenções, faz-se necessário a formulação de

um projeto bem elaborado, com uma pesquisa profunda de métodos e materiais,

principalmente com a previsão de reforço estrutural. Desta forma, consegue-se

oferecer condicionantes fundamentais para a elaboração do orçamento e da

execução, obtendo por resultado a situação mais próxima do pretendido e

contratado, respeitando as características e a integridade históricas da edificação.

Há grandes problemas observados por pessoas da área e através de visitas

nas edificações antigas. Uma delas é a avaliação das cargas do madeiramento, ou

seja, ocorrem erros de cálculo para escoramento de estruturas de madeira em

cúpulas para realizar intervenções e manutenções. Outro problema são as análises

de cargas incorretas para o uso do imóvel, colocando em risco a segurança dos

usuários.

Outras patologias podem estar vinculadas à concepção de projeto estrutural

em cúpulas de madeira, como as deformações por tensões, ocorrendo fissuras e

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deformações. Estas fissuras, sempre paralelas às fibras (exceto por excesso de

tração), podem ter como causas: o excesso de compressão; excesso de torção;

fendilhamento por excesso, ou má disposição de pregos ou parafusos na montagem

da cúpula e ruptura por excesso de tração, ocasionando fissuras perpendiculares às

fibras. Já as deformações permanentes podem ser causadas por esforços

excessivos, como: peça sub dimensionada em seção, deslocamentos por excesso

de cargas e esmagamento de elementos construtivos por excesso de compressão.

Geralmente, as tensões presentes nestes casos podem ser aliviadas por reforços

(normalmente metálicos) ou diminuição do peso com trocas de material, porém não

existe como reverter completamente as deformações.

Um problema presente na maioria dos imóveis históricos que possuam

cúpulas é a falta de acesso e circulação do elemento. Como já foi citada, a

manutenção é a condição fundamental na preservação da edificação. Dessa forma,

cabe ao engenheiro ou arquiteto responsável pelo projeto prever e planejar as

condições de acessibilidade segura ao local, para adequadas vistorias e espaço

técnico (uso de ferramentas e instalações para a intervenção). Deste planejamento,

deve-se criar um manual de conservação da edificação.

A falha no planejamento de drenagem de águas pluviais é um fator presente

em muitos casos de apodrecimento de material, pois há infiltração direta de água

incidindo sobre a cúpula. Esta situação traz degradação diretamente para o material

de sustentação da cúpula, bem como manchas e destruição do revestimento interno

da cúpula. Faz-se necessário o planejamento em projeto de calhas e ralos, como

também um plano de manutenção dos mesmos. A umidade do ar atinge também os

materiais expostos.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: O uso e a

manutenção e uso

Os problemas decorrentes de falhas na manutenção e ações indevidas

durante o uso podem causar graves patologias. Estes fatores, em parte, resultam do

descaso dos proprietários ou usuários em relação ao papel histórico que a

edificação possui. Outra parte provém da adequada conservação que o bem

necessita para o prolongamento da sua vida útil.

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Algumas vezes, o usuário preocupa-se em consertar o dano após a

constatação do mesmo ou assusta-se ao descobrir o estado avançado de

deterioração. Contudo, os reparos, reforços e alterações são realizados por pessoas

sem o preparo suficiente, tanto para a análise, quanto para a execução, ressaltando

também os cuidados referentes aos riscos de aplicação de produtos químicos. Essas

situações são constantes em relação à madeira, pois o conhecimento deste material

é dado como popular e de simples características. No entanto, essas intervenções

devem ser feitos por técnicos especializados e serem executadas com planejamento

e segurança.

O uso inadequado da edificação pode acarretar grandes danos, pois a

construção pode ficar exposta a condições físicas para as quais não foram

projetadas, por exemplo, reuniões com muitas pessoas concentradas em um dos

espaços.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: vandalismo

O vandalismo é uma ação grave, muito freqüente em monumentos históricos.

Por se tratar de lugares altos e diferenciais na arquitetura urbana, muitas cúpulas

são alvo desta depredação. São incluídos como atos de vandalismo as pichações,

incêndios provocados e retirada de elementos do próprio madeiramento. O problema

do incêndio com origem química é uma grande preocupação no caso de cúpulas de

madeira, pois os estragos podem ser irreversíveis. No caso de edificações

abandonadas ou sem segurança, observa-se a retirada de materiais para uso em

obras ou simplesmente pelo prazer.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator natural: fatores

meteorológicos

As exposições diárias da madeira às variações de temperaturas e umidade

relativa do ar podem provocar, a longo prazo, comprometimento do material. Em

função destes fatores ocorrem alterações no teor de umidade da própria madeira e,

por conseqüência, mudanças nas dimensões e na qualidade das peças, colocando

em risco o funcionamento estrutural e estético da cúpula ou elemento estrutural.

Segundo MARAGNO (2004, pg.121), a aplicação de vernizes, ceras ou tintas,

embora retardem, não evitam estas trocas de umidade. Para minimizar este

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problema, o teor de umidade da madeira deve aproximar-se, tanto quanto o possível,

do teor de umidade das condições médias do local de utilização. Este

condicionamento é feito através da especificação técnica do material, já que vai ser

usado em larga escala na estrutura de uma cúpula. Contudo, se esta medida

preventiva for impossível, então devem ser garantidas as condições para que a

secagem em armazenamento ocorra na obra.

Entre os autores que estudam a degradação na madeira, há unanimidade em

reconhecer que a água de precipitação atmosférica (chuva, orvalho ou granizo) é a

maior causa de danos das edificações em madeira. Isto decorre da propriedade de

higroscopicidade do material, ou seja, a madeira é capaz de absorver ou liberar

umidade de acordo com o meio ambiente, porém este processo altera suas

condições de peso volume, comprometendo a sua durabilidade. Muitas vezes, no

caso de edificações antigas, as cúpulas de madeira são protegidas por telhas

antigas com excesso de porosidade, sem manutenção, facilitando a penetração da

umidade de precipitação. Este contato com a água da chuva pode provocar no

madeiramento variações dimensionais e alterações da resistência e suas

características, como o aparecimento de fendilhamentos / rachaduras, deformações

excessivas, desagregação e descoloração da madeira.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator acidental: incêndios

Como já foi citado, a maior causa de incêndios é o ato intencional,

classificado como vandalismo, porém há outras causas que também propiciam este

problema. O fogo é uma ameaça expressiva e constante nas edificações históricas,

haja visto a dificuldade em obter investimentos em obras de restauro e preservação

do patrimônio. As conseqüências de um incêndio, no caso de cúpulas de madeira,

podem representar uma perda irrecuperável, pois em muitos casos só restam as

cinzas. Nas edificações antigas, geralmente não há planos de prevenções para esta

situação e há uma contribuição presente, a falta de manutenção. Os principais casos

de incêndios acidentais ocorrem pela falta de manutenção da rede elétrica,

negligências com lampiões de querosene, falhas humanas em lugares improvisados

no imóvel para servir como cozinhas, desconhecimento de técnicas corretas na

utilização de produtos químicos e fogueiras acesas, por mendigos, no interior de

edificações abandonadas. Como exemplo de uso de produto químico, há o incêndio

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da Igreja de Mariana, Minas Gerais. Esta Igreja tinha uma cúpula e todo o arranjo

estrutural do teto em madeira e, na finalização da obra de restauro, o madeiramento

recebeu uma camada de solução química, altamente tóxica e combustível,

característica comum destes produtos, para proteção contra insetos. Algumas horas

após a aplicação o madeiramento reagiu em combustão com a solução e provocou o

acidente descrito no Capítulo 2 desta dissertação. Além dos produtos protetores,

hidrossolúveis e inibidores da combustão, o conhecimento da madeira em

tratamentos químicos é de suma importância da aplicação correta para reduzir a

ação do fogo ou mesmo evitá-lo.

� Origem biológica – Causa de fator natural: biodeterioração

A biodeterioração é definida como qualquer mudança indesejável, causada

pelas atividades normais de organismos vivos, nas propriedades de materiais de

importância econômica, cultural e histórica. Esta área de estudo vem crescendo ao

longo do tempo, com o desenvolvimento do conhecimento patológico e técnicas

preventivas. Entender a desenvoltura da pesquisa patológica de estruturas antigas

na área biológica é compreender o aspecto multidisciplinar deste estudo e o seu

progresso. Os agentes biológicos, tanto animais quanto vegetais, também favorecem

a degradação dos materiais das cúpulas em madeiras e, em muitos casos, os danos

têm conseqüências irreversíveis.

Os fungos e bactérias atuam diretamente no processo de deterioração. Em

virtude da captação de energia para sua sobrevivência, reagem quimicamente,

produzindo ácidos que levarão à corrosão de vários materiais. Estes organismos

estão relacionados a condições específicas para o desenvolvimento, como

temperatura, umidade e pH. Os fungos responsáveis pela deterioração da madeira

causam: alteração da superfície da madeira (mofo e bolor), manchas profundas no

material com problemas estéticos e degradação da madeira com alterações das

propriedades, chegando ao apodrecimento.

Outra forma de biodeterioração é o ataque de insetos, que, no caso específico

da madeira, os principais são chamados xilófagos. Estão entre eles, besouros,

vespas, abelhas, brocas, moscas, mosquitos, mariposas e o mais conhecido, o

cupim. Durante o ataque destes agentes podem ocorrer perfurações e retirada de

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partículas do material pelos insetos. A ação do cupim sobressai dentre os outros

insetos devido à rápida deterioração da madeira e à inviabilidade no aproveitamento

da peça. O tratamento adequado vai depender da gravidade da situação da madeira.

Os procedimentos podem variar e devem ser muito bem planejados, como a retirada

da peça ou da parte afetada, a fumigação com gases, com inseticidas injetados (alta

toxidade e combustão).

4.2.2 Causas das patologias em cúpulas de tijolos

A durabilidade é reconhecida tanto para o adobe quanto para o tijolo maciço,

porém ocorrem patologias específicas, já que muitos cuidados na produção,

execução e manutenção são ignorados pelos usuários. Há também as patologias

que independem dos itens citados e estão no desenvolvimento da matéria, como

será visto a seguir.

As cúpulas de tijolos foram muito utilizadas, pois beneficiavam um material

presente em larga escala na natureza e tinha baixo custo de fabricação, como

também facilidade de mão-de-obra em geral.

4.2.2.1 Causas intrínsecas

As causas de origem intrínseca dos processos de deterioração, relacionadas

às estruturas de tijolos, podem ser definidas como as que são inerentes à própria

construção e as falhas podem ser decorrentes de fatores humanos e fatores

naturais, como o desgaste do material.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator natural: vida útil

As patologias mais freqüentes em adobe e tijolo maciço são causadas pela

ação da água, decorrente da estrutura porosa e composição do material. Entende-se

este comportamento observando a composição desses tijolos, que possui

características de higroscopicidade (variação do volume em contato com água) e de

porosidade (infiltração no material através de poros). Com base nisto, conclui-se que

o desgaste e a fixação da umidade são os maiores fatores responsáveis pela

diminuição da vida útil. A melhor alternativa para amenizar os danos é a criação de

proteção às intempéries. Observou-se que em igrejas que possuem cúpulas de

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tijolos há um sistema de proteção desde a construção. Acima da cúpula de tijolos há

uma camada de pó de serragem (para evitar possíveis absorções de água), após há

uma cúpula de madeira de fina espessura que segue a mesma forma da calota

principal e não pode ser vista sem ter acesso ao teto; acima deste elemento de

madeira há o telhado, também em forma de cúpula, com técnica de empilhamento

usando telhas. Concluiu-se que este arranjo tem por prioridade a proteção do interior

da cúpula e funciona também como um elemento acústico, já que muitas cúpulas

possuem um lanternin.

Cúpulas de tijolos pertencentes a edificações antigas que possuem

proximidade às regiões litorâneas estão sujeitas à ação dos sais, que geram fatores

de deterioração. Segundo GITAHY (2004, pg. 93), os sais transportados em estados

gasoso ou líquido penetram no material através de poros e migram para a superfície,

onde se cristalizam, ocasionando os fenômenos da eflorescência ou da

criptoflorescência. Estes fenômenos se formam da mesma maneira, porém diferem

na localização final dos cristais. De forma prática, a eflorescência e a

criptoflorescência ocorrem pelo seguinte processo: a fixação de sais solúveis se dá

pelos microporos ou fissuras na camada superficial do revestimento e após a

migração por capilaridade para o interior do tijolo; desta forma, a solução salina

transita no interior da estrutura do material, fazendo parte da constituição

propriamente dita; com a variação da temperatura ambiente, ocorre o processo de

evaporação da água e os sais atingem a superfície do tijolo, havendo cristalização

dos sais, e, por conseqüência, variação de volume e geração de tensões; na

eflorescência, os cristais ficam sobre a superfície e causam a fragmentação da

mesma; já na criptoflorescência, os cristais de sais ficam abaixo da superfície,

causando expulsão de camadas inteiras. Outra incidência de patologia semelhante é

encontrada em tijolos confeccionados com barro contendo cal, facilitando a formação

de eflorescências de carbonato ou de sulfato de cálcio. A solução para o tratamento

das superfícies destes tijolos atingidas é um tipo de reboco de recuperação.

Segundo NAPPI (1997, pg.3), é uma argamassa com adição de produtos hidrófugos,

que proporciona ao material a capacidade de repelir a água, retendo os sais e

possibilitando a transposição de vapor d’água pelo seu elevado número de poros.

O esmagamento do material da cúpula de tijolo pode ser causado por um

defeito de seção ou por baixa durabilidade e deterioração do material constituinte.

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132

Em ambos os casos, a cúpula sofre deslocamentos e fissuras na zona média, que é

considerada como a mais perigosa para colapso.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: produção

As variações da composição e das características do tijolo têm como origem o

solo escolhido para a produção, o que ocasiona manifestação de muitas patologias.

Os solos que contêm pirita ou sulfato de ferro (FeS2) apresentam manchas de

cor castanhas e diminuem a plasticidade do tijolo, comprometendo a durabilidade do

material. Já os solos com impregnação de matéria orgânica possuem baixa

durabilidade e mau cheiro na presença de água, ocorrendo desta forma

decomposição e desagregação dos blocos. As correções destas patologias quando

identificadas são as substituições desses blocos contaminados.

A indicação da composição da mistura de materiais, citada no Capítulo 3, é de

extrema relevância na produção de bons blocos, pois as terras com muita argila

produzirão adobes ou tijolos maciços que se fissuram durante o processo de

secagem. Já as terras com muita areia não possuem coesão suficiente entre as

partículas, dificultando até mesmo a moldagem do tijolo.

O processo de secagem dos tijolos também pode causar patologias, pois com

o calor excessivo ocorre uma violenta desidratação que resulta em fissuramentos

nos blocos.

É importante ressaltar também o armazenamento adequado na obra, ou seja,

o local deve ser coberto, seco, arejado e não deve ter contato com o piso

diretamente.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: execução

Como a arquitetura de terra foi muito popular nos séculos passados, a maioria

das edificações antigas no Brasil possui esta técnica e as obras de restauro

necessitam do conhecimento técnico para lidar com tijolos de terra, inclusive

cúpulas, e problemas importantes observados foram a mão-de-obra desqualificada e

a utilização incorreta dos materiais.

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Quando a mão-de-obra é desqualificada podem ocorrer interpretações

errôneas do projeto, por mais detalhado que esteja. Numa obra de restauro que une

diversas áreas, os riscos de causar maiores danos têm profunda ligação com

intervenções inadequadas. Como exemplo, a intervenção em uma cúpula de tijolo

construída em anéis com argamassa, repondo materiais de forma inadequada e

recuperar a argamassa sem a preocupação da reconstituição histórica.

O emprego inadequado de materiais apresenta alto grau de incidência, pois

se observa o desconhecimento do comportamento da terra como material de

construção. Um exemplo é a composição de argamassas de reposição entre os

tijolos. O traço inadequado pode prejudicar a interação entre os blocos, como

também fissuras, desplacamentos e desagregação.

Os danos relacionados ao acúmulo de tensões podem ter conseqüências na

superfície da cúpula e terem causas em erros de execução. As tensões na superfície

procedem da própria cúpula e são determinadas pela ação mútua que exercem

entre si, formando uma rede de compressão. Quando alguma fatia desta rede falha

ou não tem compatibilidade de trabalho causado por erro de execução (ou falha do

material – fator natural, desgaste), há uma falência na distribuição de tensões. Com

isto a estrutura da cúpula precisa encontrar seu próprio equilíbrio de forças, uma

nova acomodação. No entanto, esta redistribuição costuma causar uma lesão que

origina uma fissura no pólo da cúpula e dirige-se até o arco ou tambor de apoio. A

fissura é transpassante e, no caso de tijolos, geralmente, o caminho da fissura segue

o encontro do tijolo com a argamassa existente, pois oferece menos resistência.

4.2.2.2 Causas extrínsecas

As causas de origem extrínseca dos processos de deterioração, relacionados

às estruturas de tijolos podem ser classificadas como ações do meio nos sistemas

construtivos onde estão inseridos, ou seja, não pertencem à matéria. Ocorrem

induzidas por agentes, como falhas de elaboração do projeto, ataque de insetos,

intempéries, uso inadequado, vandalismo ou acidentes, como será visto a seguir.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: concepção do

projeto

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Como já foi visto, a forma e os cuidados na concepção de um projeto, original

ou de restauro, podem definir o aparecimento de patologias graves decorrentes de

falhas desta etapa. Quando algumas patologias são freqüentes, geralmente não

houve uma adequação de projeto a construções de tijolos e suas especificações. Às

vezes, há erros no detalhamento da edificação ou escolha de materiais

incompatíveis. No caso de tijolos faz-se necessário a definição correta do traço mais

funcional e compatível à argamassa, sendo este material de grande relevância, pois

faz a ligação e assentamento dos blocos. Outra escolha importante é o material de

revestimento, pois tem o papel estético e de proteção no tijolo. No entanto, a

aplicação de revestimentos inadequados, com coeficiente de dilatação térmica

diferentes, podem causar danos, como descolamentos nos tijolos.

As cúpulas feitas de tijolos precisam ser bem detalhadas no que diz respeito

às cargas, pois há uma variação nas dimensões dos blocos e por conseqüência uma

variação também do peso próprio total, o qual os pilares devem suportar. Há muitos

problemas de fissuras em cúpulas devido à falta de previsão das cargas reais que os

elementos de apoio precisam suportar e recalques decorrentes do afundamento do

solo, quando não houve a correta inspeção através de sondagem. Nestes casos,

são indicados o uso de reforços estruturais.

Figura 59 - Ruptura nos elementos de base da cúpula. Fonte: CROCI, 1998, p.207.

Ainda na concepção do projeto é necessária a preocupação com a estratégia

de manutenção e detalhamentos de projeto facilitadores. A construção, além de

prever acessos às cúpulas, tratamento do telhado, entre outros, deve criar também

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um manual de manutenção que contenha desde do arranjo estrutural utilizado até os

procedimentos de limpeza e inspeções.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: o uso e a

manutenção

Os problemas mais comuns encontrados em cúpulas de tijolos são o

abandono da manutenção, por alguma razão (verba, abandono, falta de acesso) e

alterações no arranjo estrutural sem consulta profissional.

A intervenção inadequada pode prejudicar ainda mais o estado de

deterioração em que a construção se encontra.

A ausência de manutenção ou a falta de intervenção faz com que o material

tenha o processo de desgaste acelerado, tendo por conseqüência o agravamento da

situação até o colapso.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: vandalismo

O vandalismo, como já citado, é uma atitude de depredação e prejuízo ao

bem sem nenhum critério, ou seja, uma ação de destruição. Geralmente, em

construções de tijolos há o roubo de blocos, sem nenhuma preocupação com os

danos causados à estrutura. Outro problema grave do vandalismo são as pichações,

pois a tinta pode entranhar nos poros do bloco e a retirada é de difícil execução.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator natural: fatores

meteorológicos

Os efeitos dos fatores meteorológicos são agravantes no processo de

deterioração das cúpulas de tijolos. Porém, os agentes mais importantes são as

águas de precipitações e as variações de temperatura e umidade.

Através da água das chuvas ocorrem muitos danos nos tijolos, devido a sua

composição. A melhor forma de evitar esta degradação é a proteção de cúpulas com

mais de um revestimento antes do telhado e manutenção correta do telhado, pois

será o grande elemento de vedação.

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136

Outro fator de grande relevância é o teor de umidade, pois, em ambientes de

índices altos, há uma fixação por higroscopicidade e a penetração por capilaridade

da água. Desta forma, a presença de água é detectada no interior do tijolo,

favorecendo fenômenos como eflorescência, criptoflorescência e a biodeterioração.

A melhor forma de prevenção é verificar a qualidade do produto e fazer uso de

algum tipo de proteção.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator: acidental

Os fatores mais comuns de acidentes em construções com tijolos são

originados de fenômenos meteorológicos que não são característicos do local e não

podem ser previstos em projeto. A situação de maior gravidade é a ocorrência de

enchentes, pois a resistência dos tijolos de terra fica muito comprometida quando da

ação interrupta da água. Dependendo do abalo causado pelo fenômeno, pode haver

risco de colapso da cúpula.

A variação do lençol freático numa determinada região pode levar o solo a

perder as condições de estabilidade e, por conseqüência, ocorrer recalques na

fundação. Este fenômeno é acompanhado de possíveis fissuras e fendas na cúpula,

visto a redistribuição estrutural.

Outra forma de fator acidental é quando uma substância química agressiva

entra em contato com o tijolo, seja por forma líquida ou gasosa, e penetra na sua

estrutura porosa, causando desagregação em logo prazo.

� Origem biológica – Causa de fator natural: biodeterioração

As patologias originadas por biodeterioração são causadas por agentes

biológicos, como microorganismos, vegetação e pequenos insetos.

Como a estrutura dos tijolos, principalmente do adobe, favorece a presença

de água, é comum a formação de biodeterioração através de microorganismos. Esta

manifestação é através da formação de biofilmes (microorganismos + produtos

metabólicos). Os microorganismos mais comuns na biodeterioração são as

bactérias, algas e, no caso de tijolos de terra, destacam-se os fungos. Observa-se

que a presença de biofilme em tijolos causa patologias específicas, como a alteração

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da cor da camada superficial (escura, esverdeada, amarelada) e a fragilização desta

camada, formando microfissuras e desagregação.

O crescimento de vegetação de pequeno porte se dá nas fissuras ou falhas

do sistema construtivo da cúpula em tijolo, através de sementes trazidas por

pequenos animais (exemplo: pássaros). A remoção deste tipo de vegetação deve

ser cuidadosa e deve-se optar pela retirada da raiz, com sua eliminação total após a

secagem.

Pequenos animais e insetos podem danificar os blocos através da perfuração

do material e retirada de partículas para fazer ninhos. Nestes casos, indica-se a

remoção da colônia e focos, além da aplicação de inseticidas, de forma segura e

adequada.

4.2.3 Causas das patologias em cúpulas de pedra

Qualquer material, por mais resistente que seja, como é o caso da pedra, está

sujeito à degradação, seja através de fatores climáticos e atmosféricos que

modificam os materiais expostos, seja por agentes externos, como o homem.

A utilização de pedras em cúpulas deve ser feita de forma cuidadosa e

planejada, pois há variantes desde a extração da rocha até o sistema construtivo

usado para suportar o peso próprio do material.

As cúpulas de pedras foram muito utilizadas desde a antiguidade, como já foi

visto. A técnica mais usada no Brasil é a argamassa ligando os blocos de pedra.

4.2.3.1 Causas intrínsecas

As causas de origem intrínseca dos processos de deterioração, relacionadas

às pedras, podem ser definidas como as que são inerentes à própria matéria e

composição da rocha.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator natural: alterações

As pedras podem ter variações na durabilidade provenientes da sua

composição química e porosidade que estão intrínsecos na formação da rocha.

Como foi visto no Capítulo 3, o tipo de solo da região onde a rocha se formou vai

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caracterizar as propriedades químicas, físicas e mecânicas pela análise da sua

composição e, por conseqüência, a durabilidade da pedra. A caracterização da

porosidade destaca-se como uma das propriedades mais importantes para

classificar uma pedra e indicar origens de possíveis anomalias. Outra característica

é que as rochas devem ser quimicamente inertes, para que seu uso não provoque

alterações em conseqüência do meio.

As características de porosidade e homogeneidade presentes nas pedras,

fatores importantes na durabilidade, podem favorecer o aparecimento de patologias,

como a cristalização de sais. Sais solúveis estão presentes na estrutura interna da

pedra e pode ter origem na composição de formação, na água de traço da

argamassa, usada em juntas de pedras, ou por umidade infiltrada. Com as chuvas e

a ação do vento, a solução salina vai sendo depositada na superfície da pedra,

infiltrando através dos poros. Esta solução salina também pode ser absorvida em

forma de vapor. Após serem incorporados na pedra, os sais ficam contidos na

estrutura da rocha. Com as variações de temperatura ocorre a evaporação da água

contida na pedra e a capilaridade da estrutura da pedra é responsável por levar os

sais até a superfície, onde entram em contato com o ar e cristalizam, causando um

esforço mecânico da parte interior para a parte exterior da pedra, danificando,

sobretudo as zonas superficiais.

A erosão alveolar caracteriza-se pela formação de cristais de sais que são

depositados nos alvéolos ou nas cavidades superficiais da pedra e que, em razão da

atuação de ventos locais, são removidos por abrasão, deixando vazios superficiais

que iniciam o processo de deterioração da pedra.

� Origem física / mecânica – Causa de fator humano: produção

A pedra sofre o processo de extração que pode ser realizado de formas

diferentes. Nos métodos de extração pode haver variações de corte e processo

químico que modificam a forma, a superfície e algumas vezes a composição da

pedra.

Como no caso de cúpulas de tijolos, o esmagamento do material da cúpula

pode ser causado por um defeito de seção ou por envelhecimento e deterioração do

material constituinte. Em ambos os casos, a cúpula sofre deslocamentos e fissuras

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na zona média, que é considerada como mais perigosa para colapso. No caso de

cúpulas mistas (tijolo e pedra), em decorrência da má qualidade do tijolo na sua

produção, podem ocorrer rupturas nas calotas devido ao esmagamento do mesmo.

Rupturas ou esmagamentos em pedras são decorrentes do excesso de carga, da

deterioração da pedra, da má qualidade da pedra (sendo o fator mais propício a

variação da resistência à compressão). Outro tipo de esmagamento é devido à

desagregação das argamassas, pois, em geral, a argamassa possui menos

resistência que a pedra e, quando o peso da cúpula é descarregado no conjunto de

redes em fiadas de pedra, as camadas inferiores são mais carregadas e há uma

descontinuidade no comportamento da cúpula, pois a argamassa perde o efeito de

ligar os blocos, eliminando um trabalho monolítico.

� Origem física / mecânica – Causa de fator humano: execução

As falhas na execução de cúpulas em pedra se devem principalmente ao

desconhecimento profundo do material e à mão-de-obra desqualificada. A utilização

de pedras em cúpulas é freqüente em obras de restauro. O emprego inadequado de

material pode causar patologias, como, por exemplo, as argamassas com traços

incompatíveis para as juntas de pedra. Outra situação freqüente é a utilização de

revestimentos, em muitos casos desnecessários, que deterioraram a superfície da

pedra.

Procedimentos incorretos na execução podem acarretar danos relacionados

ao acúmulo de tensões, com conseqüências na estrutura da cúpula. Porém, nas

cúpulas de pedra, há a presença de arcos também de pedras que apresentam

outras patologias. Desta forma, os danos relacionados ao acúmulo de tensões

podem ter causas na superfície da cúpula ou nos arcos que sustentam a cúpula. As

tensões na superfície procedem da própria cúpula e são determinadas pela ação

mútua que exercem entre si, formando uma rede de compressão. Quando ocorre

falha em alguma fatia da rede de compressão da superfície da cúpula, ou não tem

compatibilidade de trabalho causado por erro de execução (ou falha do material –

fator natural, desgaste), há uma falência na distribuição de tensões. Com isto, a

estrutura da cúpula precisa encontrar seu próprio equilíbrio de forças, uma nova

acomodação. No entanto, esta redistribuição costuma causar uma lesão que origina

uma fissura no pólo ou cume da cúpula e dirige-se até o arco ou tambor de apoio. A

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fissura é transpassante e, no caso de pedras, geralmente o caminho da fissura

segue o encontro da junta formada pela argamassa existente, pois oferece menos

resistência. Já o arco que sustenta a cúpula sofre aberturas em pontos notáveis.

Estas aberturas podem ser causadas por erros de projeto e de execução ou

intervenções para restauro sem investigação adequada da técnica construtiva.

Quando as cargas se concentram no descarregamento do ponto central, o arco se

abre em cinco pontos: na superfície interna, nos arranques e no pólo (Figura 60).

Pode ocorrer a situação contrária, ou seja, há uma concentração das cargas laterais

e as cinco fraturas se manifestam ao oposto.

Figura 60 - Abertura em arco da base da cúpula. Fonte: RUSSO, 1951, p.199.

4.2.3.2 Causas extrínsecas

As causas de origem extrínseca dos processos de deterioração, relacionados

às pedras, não são pertencentes à matéria ou composição da pedra. As causas

destas anomalias ocorrem devido a ações de agentes, como animais, intempéries,

uso inadequado, vandalismo ou acidentes, como será visto a seguir.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: concepção do

projeto

Cabe ao projetista a responsabilidade de conhecer profundamente o

comportamento do material de construção a ser usado na obra, seja um projeto

original ou de restauro. No caso de pedras, o foco dos projetos é o restauro. Através

dos conhecimentos específicos do material, o projetista poderá fazer previsões de

problemas e deformações que este material pode desenvolver ou pesquisar o

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141

método construtivo possível. Considerando obras de pedra, o projeto de intervenção

precisa prever acessos, equipamentos apropriados e resistentes ao peso próprio da

pedra, como também o manuseio.

A utilização de mão-de-obra desqualificada pode agravar as anomalias

presentes nas construções, pois existe a chance de ocorrerem interpretações

erradas sobre o tratamento.

Uma das causas de patologias, por erro de concepção, é a falha no cálculo

das cargas que os elementos de base vão suportar. Essa patologia se manifesta até

mesmo através de ruptura da cúpula, devido às especificações incompletas dos

materiais, ou falta de estudo detalhado do comportamento do solo por causa de

sondagens insuficientes, resultando em fundações inadequadas. Essas situações

ocorrem, geralmente, pela falta de planejamento e especificação de projeto. O arco

ou o tambor que ordinariamente constitui a base das cúpulas de pedra nas igrejas se

apóia geralmente sobre quatro arcos, também de pedras, que por sua vez estão

sustentados por quatro pilares. O peso dos pilares, dos arcos e da cúpula gravita em

definitivo sobre zonas de terreno relativamente pequenas, e estas zonas estão

predestinadas a suportar cargas superiores às do resto das fundações da edificação.

Observa-se então a inexistência ou a inadequação das fundações para o

descarregamento do peso próprio.

Figura 61 - Falência do arranjo estrutural da cúpula. Fonte: CROCI, 1998, p.207.

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142

Em geral, os problemas relacionados a recalques são provenientes de uma

previsão incorreta de cargas no projeto, ou desconhecimento da resistência do solo,

ou ainda, se as fundações não foram bem consolidadas para uma possível mudança

de projeto, haja visto o tempo que uma construção demorava para ser finalizada. As

novas acomodações da estrutura refletem patologias como fissuras longitudinais na

cúpula, ruptura de um ou mais arcos de apoio e desaprumo com maior ou menor

intensidade, chegando até mesmo à falência de um dos pilares, como nas cúpulas

de tijolos.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: uso e

manutenção

Como foram citadas, a conservação e a prevenção através de um plano de

manutenção e uso não fazem parte da tradição brasileira em relação ao patrimônio

histórico. Porém, esta situação causa graves patologias em estado avançado, e

muitas vezes irrecuperável.

A falta de manutenção de cúpulas de pedra pode interferir tanto no aspecto

estético da construção, como, por exemplo, a presença de crostas negras nas

pedras devido a substâncias que se fixaram através do ar, quanto no aspecto

estrutural, como a deterioração de pedras através da infiltração da água.

A intervenção incorreta na cúpula de pedra pode resultar em grande prejuízo

no imóvel, devendo-se por isto deve-se consultar profissionais especializado.

O uso da construção precisa ser planejado e previsto através da capacidade

física do imóvel. No caso de muitos usuários, recomenda-se a conscientização

através da educação cultural, mostrando o compromisso do usuário em favor dele e

da memória histórica.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator humano: vandalismo

O vandalismo, comum em outras cúpulas, consiste na destruição ou

danificação das edificações históricas por pessoas que ignoram ou não conhecem o

valor histórico do imóvel.

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143

No caso das pedras, a patologia que prevê maior custo de tratamento é a

retirada da tinta de pichação. Este fator se deve à composição da tinta que penetra

nos poros da pedra e necessita de tratamento específico e demorado para que não

ocorra deterioração da superfície da pedra.

Os incêndios, que geralmente são intencionais, geram patologias graves nas

construções de pedras. Segundo CAVALCANTI (1951, pg 120), após serem

submetidas a temperatura elevada de um incêndio e, em seguida, resfriadas

bruscamente, pela extinção do fogo com jato d’água, as pedras perdem parte das

propriedades mecânicas da formação original, em virtude da dilatação desigual de

seus minerais constituintes e da pequena condutibilidade térmica que possuem.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator natural: fatores

meteorológicos

A água de chuva é um dos agentes naturais com maior responsabilidade na

deterioração da pedra, devido à estrutura porosa do material e, na maioria dos

casos, as cúpulas de pedra ficam expostas às intempéries. A presença da água

pode implicar em ações químicas, como a corrosão pelos ácidos transportados, em

ações físico-mecânicas, como as cristalizações de sais e gelo, e favorecer os

agentes biodeterioradores. Segundo SOARES (2004, pg. 161), nas superfícies de

pedra expostas à ação da água recomenda-se o uso de materiais hidrorepelentes

como proteção, pois estes materiais não deixam a água infiltrar. Como exemplo de

materiais hidrorepelentes pode-se citar: parafina, ceras, resinas naturais, gorduras e

óleos, betumes, alcatrão e resinas sintéticas.

Para as construções de pedra expostas, o vento é um fenômeno de ação

prolongada que produz um arraste contínuo de partículas das superfícies, causando

efeitos abrasivos e erosivos sobre os materiais devido ao impacto das partículas em

suspensão no ar, ocasionando desgaste.

� Origem física / mecânica / química – Causa de fator natural: meio urbano

O meio urbano pode propiciar o aparecimento de vários problemas como as

vibrações do tráfico local causando instabilidade nas construções pétreas. Contudo,

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a atuação da poluição atmosférica é um grande fator agravante da degradação das

estruturas em pedra.

Segundo MARTINS (2003, pg.80), a poluição atmosférica, ou do ar, pode ser

definida como a presença na atmosfera de qualquer matéria ou energia que altere

as propriedades normais dessa atmosfera, prejudicando a qualidade do ar e

podendo causar danos aos materiais, como o tijolo e a madeira. A poluição

atmosférica nos grandes centros é causada pela queima de combustíveis e fuligem

dos veículos, por gases industriais onde a atmosfera é normalmente agressiva pela

existência de compostos de enxofre (SO2) em suspensão e o fenômeno de chuva

ácida. O depósito destas substâncias corrosivas e tóxicas sobre as construções de

pedra em exposição causa o fenômeno conhecido como “crosta negra”, devido à

sua coloração, que varia de cinza-claro ao negro. Segundo PUCCIONI (1997,

pg.56), a presença dessas crostas deve ser ressaltada, pois à medida que sua

espessura e dureza aumentam, maior quantidade de calor absorve, crescendo seu

coeficiente de dilatação térmica mais que o de seu suporte pétreo, ocasionando

tensões na área atingida e deterioração da pedra, inclusive com desplacamento.

Com a formação de uma nova crosta, o fenômeno reinicia e vira um ciclo causando

diminuição da espessura da pedra e, no caso de peças auto-portantes, como as

cúpulas, a redução da seção resistente pode ocasionar tensão interna no material e

danos estruturais.

Quando o enxofre está presente no ar, sob a forma de ácido sulfúrico, há um

outro tipo de camada que se instala na superfície das pedras. O depósito de enxofre

sobre a superfície da pedra, reagindo principalmente com as pedras calcárias,

ocasiona o aparecimento do gesso, o qual confere à pedra um aspecto

esbranquiçado. Esta alteração de cor é conseqüência da corrosão química

provocada pela ação do ácido sulfúrico sobre a superfície pétrea.

� Origem biológica – Causa de fator natural: biodeterioração

As ações biológicas são prejudiciais em relação aos materiais e causam

patologias que deterioram as pedras. A degradação animal ocorre quando observa-

se a presença de ninhos ou ataques à estrutura, como no caso de roedores. Podem

ocorrer também retirada de partículas do material com a ação das formigas. A

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degradação vegetal acontece quando há crescimento de plantas com raízes

incorporadas nos materiais. Este fenômeno ocorre muitas vezes pelo favorecimento

de substâncias alcalinas e sais nas argamassas, que aparecem a partir de materiais

orgânicos trazidos por animais.

As maiores causas de danos em pedras são bactérias, fungos, algas e

liquens. O crescimento destes microorganismos é favorecido principalmente pela

presença de umidade e poros na superfície da pedra. A ação de bactérias e fungos

atua diretamente no processo de deterioração. Em virtude da captação de energia

para sua sobrevivência, reagem quimicamente, produzindo ácidos que levarão à

corrosão das pedras. Além dos danos físicos, há também os danos estéticos,

formação de pátina biológica (limo), e os danos químicos, alterações de um ou mais

componentes da pedra.

Como o clima da cidade do Rio de Janeiro é quente, úmido e litorâneo,

observa-se a presença de algas que normalmente causam dano superficial no

material. Os liquens são formados por fungos e algas, e contêm incorporados em

sua solução ácidos graxos que costumam causar lesões superficiais em pedras.

Os insetos encontrados na degradação de pedras são os xilófagos, cujas

larvas se desenvolvem no solo ou em interior de madeiras e materiais de

construção. A falta de manutenção é a principal causa da proliferação destes

insetos, que perfuram e comem o material, podendo chegar à destruição total de

muitas peças. Estão entre estes insetos: cupins, besouros, formigas, brocas e

outros.

4.3 PROCEDIMENTOS ADOTADOS NA RECUPERAÇÃO E RESTAURO DAS

CÚPULAS HISTÓRICAS

Além dos tratamentos indicados para as patologias ao longo do item 4.2,

verificou-se a necessidade de complemento de informações para a segurança na

intervenção em cúpulas históricas em edificações antigas.

Deve-se ressaltar a consultoria de técnicos especializados e um planejamento

correto para que a execução não venha interferir no ajuste orçamentário de forma

que a obra fique inacabada.

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Segundo RUSSO (1951, pg.154), existem procedimentos básicos de

segurança que são comuns a vários materiais, desde que sejam parte de uma

intervenção de restauro, como, por exemplo:

� não se deve proceder a nenhuma obra de reconstrução sem antes ter

realizado um escoramento adequado, que atenda às normas de segurança

para a execução do trabalho, se tratando tanto de cúpulas como de arcos e

paredes, entre outros. No caso de cúpulas, ressalta-se a importância de

conhecer o funcionamento estrutural singular em relação às obras de

elementos comuns;

� trabalhar sempre em trechos pequenos, de acordo com o tipo e a extensão

das patologias, levando-se em conta a retração de argamassas e uma boa

distribuição das cargas para se obter uniformidade na acomodação e

amarração dos materiais;

� empregar, de preferência, argamassas com traços testados e adequados ao

material, com espessura nas juntas sempre inferior a 5 mm, molhando bem a

parte antiga da construção e empregando materiais novos de maior

resistência que os antigos para a reposição dos trechos afetados, tomando

cuidados para não descaracterizar a cúpula;

� tomar cuidado extremo nas amarrações entre a obra nova e a antiga, caso

ocorra esta situação;

� ao se empregar o concreto armado para costuras ou intromissão de elemento

de reforço, faz-se necessário seguir as normas de execução do material,

utilizando-se armações e traços indicados, com uma margem de segurança

acima do normal, pois é difícil estimar as reais características estruturais de

edificações antigas.

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5 ESTUDOS DE CASOS

Da pesquisa para a elaboração deste trabalho observa-se a importância de

estudos de casos ilustrativos, visto a diversidade de teorias, estruturas, materiais,

técnicas e patologias em cúpulas.

Esta dissertação irá apresentar dois estudos de casos distintos, sendo as

duas construções urbanas localizadas na cidade do Rio de Janeiro.

Os dois estudos de casos são:

� a Igreja de Nossa Senhora da Candelária, localizada na parte central da

cidade do Rio de Janeiro;

� a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, também na parte central

da cidade do Rio de Janeiro.

Estes estudos têm como objetivo a ilustração das teorias e técnicas

pesquisadas nesta dissertação, tanto em relação aos materiais, como às técnicas,

bem como quanto às patologias mais freqüentes nas cúpulas.

Analisar empiricamente dados oriundos da teoria, considerando a escassez

de bibliografia, foi um processo difícil, dado a variedade de origens e causas

relacionadas a uma só patologia. Diferenciar tais situações e indagações foi um

processo investigativo lento e gradual, visto que os danos e as causas formam um

ciclo vicioso em que ora fazem o papel de agentes de degradação, ora tornam-se o

próprio degrado.

Faz-se necessário ressaltar a grande dificuldade de visitação nestas

edificações para levantamento de informações, o que prejudicou a análise da real

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situação das cúpulas. Os obstáculos mais encontrados foram a falta de previsão de

acesso para inspeção da cúpula, as condições de segurança (ora pelas condições

de deterioração do elemento, ora por falta de equipamento apropriado), as

condições de salubridade (visto que em muitos casos a ventilação era precária) e a

falta de autorização dos responsáveis pelos imóveis para visitas, mesmo diante de

documentos oficiais da própria coordenação do curso de mestrado da UFF. Esse

último agravante foi justificado como uma forma preventiva para possíveis danos aos

bens, situação já ocorrida no passado, inclusive em inspeções, e a falta de acordo

entre a entidade responsável pelo imóvel e os órgãos reguladores do patrimônio,

como o IPHAN.

Outro grande agravante de informações que prejudicou a descrição do arranjo

estrutural e construtivo das cúpulas foi a falta de acesso aos únicos documentos que

detinham estas informações e estão localizados no arquivo Noronha Santos, IPHAN.

No segundo semestre de 2004, o arquivo estava fechado para reorganização interna

e pelo movimento de greve dos funcionários. Apenas em março de 2005 foi reaberto,

porém fechando novamente em abril do mesmo ano. Dessa forma, não houve tempo

hábil para que os documentos obrigatórios de pedido de pesquisa fossem

analisados, não ocorrendo consulta aos documentos da construção das igrejas.

Deve-se ressaltar que, apesar das dificuldades encontradas nos

levantamentos, algumas pessoas se mostraram bastantes dispostas a auxiliar e

participar do desenvolvimento e término da pesquisa.

Após a difícil escolha dos estudos de casos, já que a cidade do Rio de Janeiro

possui um grande acervo de cúpulas, as opções foram caracterizadas pela

oportunidade de pesquisa em patologias e modelo estrutural mais adequado para

aplicação de modelagem computacional, no caso as cúpulas “verdadeiras” ou auto-

portantes.

Apesar de todos os obstáculos, foi possível determinar muitos dos agentes de

degradação das duas construções e comprovar a aplicação da teoria de

sistematização de patologias em cúpulas e seu comportamento.

Para elucidar melhor a descrição dos arranjos descritivos das cúpulas em

estudo, será apresentado a seguir um item sobre a Teoria de Membrana e a base da

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149

Teoria das Cascas, classificação das cascas e comportamento estrutural dos

principais casos.

5.1 CONCEITOS BÁSICOS DA TEORIA DAS CASCAS

Segundo DE SOUZA e CROLL (1980, pg.233), o estudo e desenvolvimento

da Teoria das Cascas foram sempre originados de um problema dinâmico.

Inicialmente, as investigações partiram da tentativa de Lord Rayleigh de estudar as

relações entre a geometria dos sinos e seus comportamentos acústicos, em 1881, e,

para isso, ele considerou que apenas a energia de flexão contribuía para a

resistência à vibração, o que era o oposto da teoria considerada por Lamb (1882),

que apenas considerou a energia de deformação de membrana. Ambos introduziram

essas limitações de forma a obterem modelos teóricos simples o suficiente para

serem resolvidos. A polêmica nos meios científicos aumentou quando Love, em

1888, opôs-se aos dois primeiros estudos, e introduziu suas hipóteses sobre o

comportamento das cascas, que envolviam energia de deformação de membrana e

de flexão, desenvolvendo as bases do que hoje se chama Teoria Clássica das

Cascas. Essa teoria cobre um campo imenso de estudos de geometrias e condições

de contorno. Na realidade, poucos estudos tiveram continuação no século XX,

porém até os dias de hoje ainda existe esta polêmica.

O desenvolvimento do estudo de cascas é complexo, longo e composto por

inúmeras deduções e simplificações adotadas em relação ao seu comportamento.

Neste trabalho, será apresentado um conteúdo objetivo e prático das principais

características do comportamento das cascas, sem considerar detalhes de cálculo e

simplificações.

Uma casca fina é uma estrutura que pode ser definida por três parâmetros:

� superfície de referência: é aquela que define a casca e que governa o

comportamento de toda a casca. Para esse estudo, considera-se que a

superfície de referência será sempre a superfície média e, desta forma, a

espessura da casca pode ser definida como sendo o dobro da distância entre

uma das superfícies limites e a superfície de referência, em um certo ponto.

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� espessura: como a superfície de referência será sempre a superfície média, a

espessura da casca pode ser definida como sendo o dobro da distância entre

uma das superfícies limites e a superfície de referência, em um certo ponto.

� bordos: definem as condições de contorno das cascas.

As cascas são caracterizadas pela superfície média, empregando-se nas

construções de superfícies de revolução (cilindro, cone, esfera, elipsóide,

hiperbolóide de uma folha) ou nas superfícies regradas (parabolóide hiperbólico,

conóide e helicóide).

Uma casca de revolução é a geração da sua superfície média através da

rotação de uma curva ao redor de uma reta, chamada de eixo, sendo a curva e a

reta contidas num mesmo plano.

Figura 62 – Casca de revolução. Fonte: NORRIS e WILBUR, 1960, pg 575.

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151

As cascas também podem ser formadas por elementos de superfície que se

unem ao longo de arestas, como as estruturas de folhas ou cascas prismáticas e as

cúpulas poligonais.

5.1.1 As diversas teorias de cascas

Quando se procura estabelecer as equações governantes de uma casca de

revolução, uma ou mais hipóteses simplificadoras podem ser adotadas,

representando, num grau maior ou menor, aproximações que impedirão que o

modelo matemático represente completamente o fenômeno físico.

Segundo KALNINS (1965, pg. 111) apud DE SOUZA & CROLL (1980),

assumindo-se que as equações da Teoria da Elasticidade Tridimensional são a base

da análise mais geral de um sistema elástico, teorias simplificadas são baseadas em

combinações das seguintes hipóteses:

(a) as normais à superfície de referência da casca permanecem retas durante

a deformação;

(b) as normais à superfície de referência da casca não se alongam durante a

deformação;

(c) as normais à superfície de referência da casca permanecem normais

durante a deformação;

(d) as inércias de rotação em torno das tangentes às curvas coordenadas são

desprezadas;

(e) a inércia tangencial de translação é desprezada;

(f) a rigidez à flexão da casca é nula;

(g) a rigidez extensional da casca é infinita.

Dessa forma, com as aproximações adotadas, um certo número de teorias

pode ser desenvolvida.

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152

A classificação que será apresentada foi estabelecida por Kalnins em um

artigo intitulado “Dynamic Problems of Elastic Shells”, publicado no Applied

Mechanics Reviews, vol. 18, 1965 (pg. 111, 867-872).

� Teoria avançada das cascas

Consideram-se apenas as hipóteses (a) e (b), criando-se assim uma distinção

entre a Teoria da Elasticidade e “uma” Teoria das Cascas. Em termos de dinâmica

das cascas, as introduções destas hipóteses afetam apenas os modos internos, ou

“thichness modes” da casca, o que é razoável, pois eles apresentam freqüências

naturais muito altas. Em termos de engenharia, esta teoria só deve ser usada em

casos muito especiais ou para cascas espessas.

� Teoria Clássica das Cascas

Adicionando-se as hipóteses (c) e (d) às (a) e (b), tem-se a Teoria Clássica de

Cascas, inicialmente postulada por Love, em 1888. Essas hipóteses podem ser

reescritas como:

(i) – a casca é fina;

(ii) – as deflexões da casca são pequenas;

(iii) – as tensões normais transversais são desprezíveis;

(iv) – as normais à superfície de referência da casca permanecem normais

e retas e não sofrem variações no comprimento durante a deformação.

Essa teoria, em termos de Engenharia, é normalmente suficiente para

analisar o comportamento das cascas. A primeira hipótese, muito vaga, pode ser

considerada para cascas com espessura de até 1/10 do raio de curvatura da

superfície de referência. A segunda hipótese permite que todas as derivações e

cálculos sejam referidos à configuração original da casca e as últimas duas

hipóteses dizem respeito às equações constitutivas das cascas elásticas finas.

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153

� Teoria das cascas abatidas

Se o movimento for transversal, isto é, perpendicular à superfície de

referência da casca, juntar-se a hipótese (e) às (a) a (d) não ocasionará, em certas

situações, erros significativos. Porém, esta teoria apenas deve ser aplicada a cascas

abatidas, pois se, para uma casca profunda, os termos de inércia tangencial forem

omitidos, os erros de análise podem ser razoáveis.

� Teoria extensional

Derivada por Lamb e Love, esta teoria baseia-se na hipótese de que a casca

não tem resistência de flexão. Isto significa que toda a energia de deformação seria

produzida por dilatações da superfície de referência, o que equivale a se adotar as

hipóteses (a) a (d) e (f). De uma forma geral, esta teoria só deve ser aplicada a

cascas “muito finas”.

� Teoria inextensional

Esta teoria, descrita por Lord Rayleigh, equivale a adotar-se as hipóteses (a)

a (d) e (g), sendo válida apenas em casos muito especiais de cascas espessas e

apenas para algumas condições de contorno (bordo livre, por exemplo), pois as

equações diferenciais que exprimem o comportamento da casca tornam-se

inconsistentes.

5.1.2 Relações básicas para cascas de revolução ort otrópicas

O foco deste trabalho está ligado intimamente com as relações ortotrópicas,

pois além da condição da isotropia tornar-se um caso particular destas cascas, as

cúpulas históricas desta dissertação são construídas com os materiais disponíveis,

no caso madeira, tijolos e pedras (e mistos). Estes materiais, quando observados

superficialmente, formam uma malha heterogênea na construção da cúpula. No

entanto, o funcionamento destes materiais possui comportamento monolítico, pois

são ligados uns aos outros por argamassas e encaixes, formando assim uma rede

de compressão entre os materiais, como uma cúpula de material homogêneo. Desta

forma, o funcionamento da cúpula pode ser classificado como auto-portante ou

estrutural. Ainda, no Capítulo 5, serão apresentados dois estudos de casos que se

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154

enquadram nesta situação. A Igreja da Candelária possui pedras dispostas em anéis

com juntas de argamassa e encaixes. A Igreja da Lapa dos Mercadores possui uma

cúpula elíptica onde, apesar de ter nervuras de pedra, o encaixe com o material de

preenchimento, tijolos maciços, são feitos a partir de encaixes e argamassa.

As relações básicas para cascas de revolução ortotrópicas são baseadas na

Teoria Clássica das Cascas, e são derivadas utilizando-se as hipóteses de Love e a

Lei de Hooke, sendo uma teoria linear e elástica. Na análise final destas deduções e

simplificações conclui-se que uma casca possui em sua superfície pontos que

através de deformações, geram flexões, enquanto que a cúpula com forma

ortotrópica, caracterizada pelos materiais e arranjo estrutural, se comporta de

maneira diferente, só obtendo linhas de compressão ao longo da rede formada.

5.1.3 Teoria das membranas aplicada a cascas esféri cas

Para descrever o comportamento de uma membrana de revolução faz-se

necessário um modelo para descrição dos esforços.

Segundo MONTOYA (1981, pg.610), a determinação dos esforços de uma

membrana de revolução por uma carga que tem simetria rotatória, gera hipóteses

que podem ser admitidas nos casos de elementos de cúpulas. Desta forma,

considera-se uma membrana de rotação cuja superfície média tem o eixo vertical

(Figura 63).

Figura 63 – Membrana de rotação. Fonte: MONTOYA (1981), pg.611

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155

Os raios de curvatura principais, em um ponto, são designados por r1 e r2,

sendo o primeiro r1=O1A, correspondente à seção meridiana, e o segundo r2=O2A,

correspondente à seção normal perpendicular à meridiana. Em um elemento MNPQ

de superfície determinada por dois arcos de meridiano e outros dois paralelos, para

uma carga com simetria rotatória, não existirem esforços de membrana tangenciais

(por simetria). Por conseqüência, os esforços normais aos bordos são os esforços

principais NI e NII. Chama-se Z1 a componente, segundo a normal, das forças

unitárias exteriores, e P a componente, segundo o eixo da superfície de revolução,

das forças exteriores que trabalham sobre a superfície da cúpula.

Encontrando as equações relacionadas e as simplificações necessárias,

desenvolvimento segundo MONTOYA (1981, PG.611), finaliza-se com as soluções

de equações que descrevem os esforços principais de membrana (Equação (1)):

1221

22

sen2

sen2

Zrr

PN

r

PN

II

I

⋅−⋅⋅⋅

−=

⋅⋅⋅−=

ϕπ

ϕπ

Equação (1)

Como sempre, para poder admitir estes cálculos é necessário que as

condições de apoio sejam compatíveis com os esforços de membrana, o que

somente se consegue quando as reações sobre o paralelo de apoio são tangentes à

superfície média. Na prática, geralmente, se dispõe de um apoio que dá lugar a

reações verticais, absorvendo as componentes horizontais mediante um anel de

concreto. Porém, não sendo compatíveis as deformações do bordo da “lâmina” com

as correspondentes ao anel, se originam perturbações que só vão ser determinadas

mediante os cálculos de flexão, nos casos importantes.

Para a Engenharia, de uma forma prática, admite-se que uma casca fina, sob

carregamento, desenvolve tensões e binários internos. Entretanto, sob certas

condições, os momentos fletores (binários) resultantes são nulos, ou tão pequenos

que podem ser desprezados. Tal estado de tensões é chamado de estado de

tensões de membrana, por analogia às membranas que não têm resistência à

flexão.

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156

Levantaram-se, então, os esforços de membrana para os casos de cascas

esféricas que normalmente aparecem na prática.

� Cúpula esférica submetida ao peso próprio

Aplicando as fórmulas anteriores, facilmente se determinam os esforços

principais de membrana correspondentes à cúpula esférica. Chamando de “g” o

peso próprio da cúpula, por unidade de superfície, desenvolvimento segundo

MONTOYA (1981, pg.612), encontram –se as relações (Equação (2)):

ϕϕϕ

ϕ

cos1

coscos1

cos1

2

+−−⋅⋅−=

+⋅−=

grN

grN

II

I

Equação (2)

Como observado, na relação de NI o resultado é negativo, qualquer que seja o

valor de ϕ, o esforço é sempre de compressão, ou seja, sentido contrário ao

admitido no estabelecimento das equações de equilíbrio (Figura 64).

Figura 64 – Diagramas de forças e tensões. Fonte: MONTOYA (1981), pg. 612.

O esforço NII, perpendicular ao meridiano, é de compressão para ϕ<51° 50’, e

de tração para ϕ>51° 50’.

As deformações do bordo da cúpula devidas aos esforços de membrana, em

geral, são incompatíveis com as larguras dos anéis de base, ou tambor. Isto ocorre

porque há esforços de flexão que são necessários serem verificados em cúpulas de

grandes dimensões. Em geral, a espessura da base, onde a cúpula descarrega,

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157

possui uma largura considerável e é conveniente o engrossamento da espessura da

cúpula das proximidades dos seus bordos.

� Cúpulas esféricas abertas ou com lanternas

Como nos estudos de casos no Capítulo 5, o emprego de cúpulas abertas e

também com lanternas é freqüente. Nestes casos, a linha a seguir para o cálculo é a

mesma do item anterior.

A seguir, detalhou-se um formulário, segundo MONTOYA (1981, pg.615), com

os esforços que resultam das cargas mais importantes.

a) Cúpula esférica aberta submetida ao peso próprio (Figura 65).

Figura 65 – Diagramas da cúpula aberta com peso próprio. Fonte: MONTOYA (1981), pg. 615.

Esforço segundo o meridiano:

ϕϕϕ

2sen

coscos −⋅⋅−= o

I grN

Equação (3)

Esforço segundo o paralelo:

−⋅⋅= ϕ

ϕϕϕ

cossen

coscos2

oII grN

Equação (4)

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158

b) Cúpula esférica com lanterna submetida ao peso próprio (Figura 66).

Figura 66 – Cúpula aberta com lanterna. Fonte: MONTOYA (1981), pg. 615.

Esforço segundo o meridiano, sendo Q = Peso total da lanterna:

ϕπϕϕϕ

22 sen2sen

coscos

⋅⋅⋅−

−⋅⋅−=

r

QgrN o

I Equação (5)

Esforço segundo o paralelo:

ϕπϕ

ϕϕϕ

22 sen2cos

sen

coscos

⋅⋅⋅+

−⋅⋅=

r

QgrN o

II Equação (6)

O esforço NI é sempre de compressão. O esforço NII pode ser de tração ou

compressão, devendo projetar a lanterna de modo que não resultem trações no

paralelo da base. No paralelo AB do bordo superior, o peso unitário AC da lanterna

se decompõe nas forças AD e AE, a primeira correspondente ao esforço de

membrana tangente ao meridiano, e a segunda deve ser absorvida mediante um

anel de base:

or

QAC

ϕπ sen2 ⋅⋅⋅=

Equação (7)

oI

r

QNAD

ϕπ 2sen2 ⋅⋅⋅==

Equação (8)

oo

gr

QAE ϕ

ϕπcot

sen2⋅

⋅⋅⋅=

Equação (9)

O anel de base estará trabalhando a um esforço de compressão N, que se

determina mediante a fórmula dos cilindros:

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159

Capela-mor Nave Principal

ogQ

N ϕπ

cot2

⋅⋅

= Equação (10)

5.2 ESTUDOS DE CASOS

O Rio de Janeiro foi palco de grandes mudanças, principalmente do século 18

ao início do século 20, as quais influenciaram seu desenvolvimento sócio-

econômico-cultural e o avanço arquitetônico e urbanístico. As igrejas dos estudos de

casos têm papéis históricos importantes e sofreram modificações em seus arranjos

arquitetônicos, também relacionadas às transformações que a então capital do país

passava. Dessa forma, as igrejas escolhidas são representativas no acervo da

cidade.

� Algumas características típicas das igrejas

As igrejas históricas possuem alguns espaços comuns, apesar das variações

sofridas com os estilos arquitetônicos. As plantas baixas das igrejas podem ter

tipologias diferentes, devido ao período, e sua forma final resulta da conjugação dos

espaços principais e secundários. Segundo ALVIM (1999, pg. 38), o espaço central

da igreja, ou nave, pode ser constituído de várias formas diferentes. Entre as mais

comuns estão as retangulares, octogonais e curvas. Juntamente com a nave, a

capela-mor conforma um dos espaços principais da igreja: é o espaço de valorização

do altar principal e geralmente está fora da nave (Figura 67).

Figura 67 – Exemplo da planta de uma igreja histórica e seus principais elementos. Fonte: ALVIM (1999), pg. 79.

Os corredores laterais à igreja, ou naves laterais, são elementos importantes

na disposição da planta e na formação de características arquitetônicas, como o

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160

cruzamento de ambientes, formando, por exemplo, a planta em cruzeiro, ou seja, o

espaço chamado “cruzeiro” é a área de intersecção dos dois eixos. Ao encontro dos

eixos e cruzamentos de ambientes é dado o nome de transepto, ou seja, é a parte

de um edifício de uma ou mais naves que atravessa perpendicularmente o seu corpo

principal perto do coro e dá ao edifício a sua planta em cruz.

Outros termos originais das características arquitetônicas são os dos

elementos da fachada, que serão citados nas descrições dos estudos de casos

(Figura 68). A composição desses elementos também é influenciada pelo período da

construção.

Figura 68 – Elementos de fachada das igrejas. Fonte: ALVIM (1999), pg. 205.

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161

Para fazer o levantamento das anomalias nas igrejas foi utilizada uma

metodologia nas visitas técnicas, qual seja:

� inspeção tátil visual;

� informações sobre o meio ambiente;

� registro fotográfico;

� macromapeamento das anomalias.

Exame tátil visual das estruturas - procedeu-se à análise visual das cúpulas,

assim como verificações localizadas superficialmente com ferramentas.

Análise do meio ambiente - avaliaram-se as características climáticas do

local, constatando-se a proximidade marinha e o tráfico local.

Macromapeamento - constituiu na identificação "in loco" das anomalias das

cúpulas e dos seus diversos elementos constituintes, fazendo transposições das

mesmas por meio de anotações e registros em cópias de plantas.

Registro fotográfico - constituiu na captura das imagens das anomalias

encontradas na edificação, efetuada com câmara digital de 300 dpi de resolução.

5.2.1 Estudo de caso: Igreja de Nossa Senhora da La pa dos Mercadores

O estudo da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores permitiu a

visualização de métodos e materiais construtivos detalhados neste trabalho sobre

cúpulas, haja vista a escassez de informação na área. Permitiu também uma análise

das patologias descritas nesta dissertação e suas respectivas indicações de

tratamento.

É uma das raras igrejas no Rio de Janeiro que possui um adro e tem planta

em forma de elipse (Foto 42). A igreja fica localizada na Rua do Ouvidor, nº 35,

centro do Rio de Janeiro. O seu tombamento ocorreu em 20 de abril de 1938, pelo

IPHAN, e o seu número de processo é 0015-T-38.

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162

Foto 42 – Interior da cúpula da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.

Fonte: ALVIM (1999), pg. 2.

Neste estudo de caso, a construção já havia sofrido obras de restauro e

recuperação entre os anos 1996 –1999. A obra teve patrocínio da Fundação Roberto

Marinho e BNDES, sendo executada pela empresa Ópera-Prima e fiscalizada pelo

IPHAN.

Não foi possível o acesso a documentos da obra executada na igreja, porém

muitas informações essenciais sobre a cúpula foram obtidas através do Engenheiro

Civil Wallace Caldas, responsável pela obra durante toda a execução, e do sacristão

da igreja, Sr. Florentino Tomaz da Silva. Foi realizada uma visita técnica na igreja no

dia 30 de março de 2005.

A igreja está exposta à ação de sais marinhos, solúveis, pois fica perto de

zona marítima. Apesar de não ser diretamente localizada numa rua de fluxo intenso,

sofre os efeitos da poluição atmosférica causada por gases e fuligem da queima de

combustíveis de grande fluxo de veículos.

Para uma descrição correta e compreensão do arranjo estrutural da cúpula,

como também o importante papel de bem histórico ocupado pela construção, serão

vistos a seguir aspectos históricos e arquitetônicos relevantes para o entendimento

do estudo.

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163

5.2.1.1 Histórico

Inicialmente, onde atualmente é a igreja havia apenas um oratório dedicado à

Nossa Senhora da Lapa, onde os comerciantes, ou "mercadores", reuniam-se para

rezar. A partir de 1747, a Igreja começou a ser construída, sendo sagrada em 1750

e, após cinco anos, em 1975, sua obra foi concluída. Grandes obras de remodelação

foram feitas de 1869 a 1872, quando se refez a fachada do templo com aparência

clássica, construiu-se a torre sineira e completou-se a obra de talha do interior.

Em 1893, durante a Revolta da Armada, uma das torres foi destruída por uma

bala de canhão. Na reconstrução, substituíram o material original por mármore.

Com o crescimento urbano, a igreja foi ocultada pelos arranha-céus e um

pouco esquecida pela localização nas estreitas ruas. Houve uma grande

deterioração da igreja com o passar dos anos, visto a manutenção precária e a falta

de verba para reparos.

Em 1996, foi iniciada a obra de restauro com intervenções em toda a igreja,

mesmo em espaços secundários.

A igreja possui duas cúpulas, sendo a elíptica a maior e a mais marcante no

teto da igreja. A riqueza da forma desta cúpula é notada tanto no impacto causado

ao entrar na igreja, quanto na observação das formas do telhado no conjunto. A

cúpula é feita de tijolo maciço e nervura de pedra.

A composição da cúpula principal com as formas em planta da igreja, como

também a diversidade de planos internos, tornam esta construção um expressivo e

singular exemplar da arquitetura histórica carioca.

5.2.1.2 As principais características arquitetônicas

A construção da Igreja de Nossa de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores

foi realizada na metade do século XVIII, porém possui elementos do século XIX

pelas reformas ocorridas, como o aprofundamento da capela-mor e a construção,

nesse espaço, de uma pequena cúpula.

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164

A fachada da Igreja é constituída, na parte inferior, por um pórtico formado por

três arcos. A parte superior é o resultado de reformas realizadas, a partir de 1869,

por Antônio de Pádua e Castro. A fachada apresenta-se composta por três grandes

janelas, com guarda-corpo de mármore trabalhado, encimados por nichos com

estátuas de São Bernardo e Santo Adriano, procedentes de Lisboa. Entre os dois,

há um medalhão de mármore trabalhado, representando a coroação da Virgem,

encontrado em escavações realizadas no terreno. Tem frontão triangular, com torre

de mármore substituindo a original. A fachada conta ainda com um relógio e, na

torre, o mais antigo carrilhão por música da cidade (Figura 69).

Figura 69 – Fachada principal da igreja. Fonte: ALVIM (1999), pg. 269.

A igreja tem nave única e representa bem a diversidade do traçado

arquitetônico de projeto. A planta da nave é elíptica e a capela-mor retangular muito

profunda, ambas circundadas por dependências que preenchem todo o restante do

lote ocupado pela igreja (Figura 70).

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165

Figura 70 – Planta baixa da igreja e projeção da cúpula. Fonte: ALVIM (1999), pg. 65.

O interior da igreja é extremamente elaborado, ressaltando a diversidade de

planos que impressiona no aspecto de dinamismo do conjunto, com paredes e tetos

curvos (Foto 43).

Foto 43 – Interior da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores.

Fonte: http://community.webshots.com Acesso 15/03/05.

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166

A talha e a cúpula esférica, sobre o espaço da capela-mor, são típicas do

século XIX, quando ocorreu uma grande reforma. Segundo CZAJKOWSKI (2000,

pg.13), nesta igreja a talha e a ornamentação aplicada se associam à volumetria

interna, enriquecendo o espaço resultante do projeto arquitetônico, sem a

necessidade de reestruturá-lo, como ocorreu em muitas igrejas históricas (Figura

71).

Figura 71 – Volumetria da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Fonte: ALVIM (1999), pg. 147.

O teto da nave é uma cúpula elíptica, com lanternim e quatro óculos laterais,

e a cobertura da capela-mor é uma abóbada de berço em arco pleno, com uma

cúpula esférica também com lanternim (Foto 44), além de uma clarabóia sobre o

retro-altar (fundo da capela-mor) (Foto 45).

Foto 44 – Cúpula esférica. Foto 45 – Clarabóia sobre o retro-altar.

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167

A cúpula elíptica é formada por dois materiais distintos, tijolos maciços e

pedra ganisse, enquanto a cúpula esférica é feita de madeira tipo cedro.

5.2.1.3 Aspectos construtivos

A cúpula elíptica é formada por quatro nervuras de pedra tipo gnaisse, tendo

em comum um anel de pedra no centro da elipse, que é a base do lanternim. O

preenchimento dos espaços entre as nervuras é feito com tijolo maciço em fileiras

até o fechamento com o anel de pedra. Os tijolos e as pedras são assentados com

argamassa de areia e cal.

Figura 72 – Ilustração do arranjo da cúpula elíptica. Fonte: Adriano Tavares, 2005.

O engenheiro Wallace Caldas informou que há um pequeno encaixe entre as

pedras das nervuras e os tijolos que ficavam nas extremidades dos preenchimentos.

Essa descrição tem grande importância, pois descreve o comportamento ortotrópico

da cúpula, ou seja, mesmo com materiais diferentes há um sistema de trabalho

comum, tornando o arranjo estrutural monolítico, assim caracterizando uma cúpula

auto-portante, ou chamada de estrutural. O descarregamento da cúpula maior é

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168

diretamente na alvenaria da igreja, que possui parede dupla de tijolo maciço. Já a

cúpula esférica de madeira possui um pequeno tambor e descarrega na abóbada de

berço, construída com tijolo maciço.

A cúpula maior não tem nenhum revestimento de proteção na superfície

externa e a única cobertura é o telhado, com telhas coloniais, que segue a base

elíptica do traçado (Foto 46).

Foto 46 – Telhado da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores. Fonte: ALVIM (1999), pg. 169.

A cúpula menor possui uma camada, originalmente de pó de serra, para evitar

dano na madeira em caso de infiltração. Após a obra de 1999, a camada foi trocada

por uma mistura seca de cal, argila e areia.

5.2.1.4 Patologias e propostas de soluções

Como não foi possível o acesso à documentação da obra finalizada em 1999,

não houve a possibilidade de descrição dos danos encontrados na época,

comprovados por relatórios. Entretanto, das informações do engenheiro Wallace, foi

levantado que a cúpula elíptica não sofreu intervenção estrutural, pois o maior

problema encontrado foram infiltrações pelo telhado, nem por isso menos grave, pois

havia muitas telhas quebradas. Segundo as informações recebidas, havia pontos de

infiltração sobre a cúpula fazendo com que a água fosse absorvida pelos tijolos,

infiltrando no material e favorecendo a umidade. As patologias encontradas foram as

manchas em toda a superfície interna da cúpula, deteriorando o revestimento, e

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169

queda de material de massa, como ornamentos, também do revestimento. Não

houve informação sobre a execução de testes nos materiais da cúpula para

caracterização de resistência ou umidade. Para evitar novas infiltrações, foi realizada

uma recuperação no telhado e colocação de um tipo de manta e telhado Taivec

(Foto 47).

Foto 47 – Telhado com proteção sobre a cúpula esférica.

Na visita técnica realizada no dia 30 de março do corrente ano, foi constatada

a presença de manchas na superfície interna da cúpula nos espaços dos

preenchimentos. Estas manchas podem caracterizar a umidade, enxarcamento do

material, no caso o tijolo, pela localização das manchas, ou seja, a presença de

umidade favorecida pela presença de sais.

Foram observados descascamentos de revestimento, outras manchas e

estufamentos na cúpula esférica (Foto 48) e na clarabóia (Foto 49).

Foto 48 – Patologias na cúpula esférica. Foto 49 – Patologias na clarabóia.

A igreja não possui acesso à superfície interna da cúpula e a única forma é

através de andaimes dentro da construção ou pelo telhado. Foram encontradas

manchas de escurecimento na parte externa da alvenaria que serve como base para

a cúpula (Foto 50).

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170

Foto 50 – Telhado cobrindo a cúpula elíptica.

Mesmo não afetando diretamente a cúpula, faz-se necessário registrar uma

grande infiltração na parede de divisa da igreja devido a um erro no sistema de

drenagem de águas pluviais no telhado vizinho, trazendo danos ao bem (Foto 51).

Foto 51 – Parede com infiltração.

Outras paredes de dependências da igreja estão apresentando problemas

com umidades, aparecendo manchas e estufamentos do revestimento. A outra

parede de divisa também tem problemas com infiltração (Foto 51).

Foto 52 – Parede com patologias.

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171

� Propostas de soluções

Apesar de não se ter levantado muitas patologias, já que a obra de

recuperação ainda é recente, observaram-se problemas na conservação do imóvel,

mesmo após a intervenção.

As manchas na superfície interna da cúpula elíptica podem ser investigadas

através de ensaios com o material constituinte, como, por exemplo, a presença de

sais e de umidade, caso se tenha acesso ao telhado para verificar infiltrações.

Inclusive, descobrir possíveis falhas na cobertura vai beneficiar a cúpula esférica e a

clarabóia, já que estão apresentando problemas referentes à presença de umidade.

A limpeza da alvenaria externa deve ser cuidadosa, para não deteriorar o

tijolo e preservar o revestimento. Recomenda-se também algum tipo de proteção

contra as intempéries.

Os vizinhos devem ser notificados para não danificar o bem patrimonial e

resolverem os problemas dos seus respectivos telhados, bem como arcar com a

restauração do local degradado pertencente à igreja.

A informação levantada é que existe um plano de manutenção da igreja. No

entanto, não há verba, e a única fonte para os reparos são doações de pessoas ou

venda de um CD com informações da igreja, conforme descreveu o sacristão.

5.2.2 Estudo de caso: Igreja de Nossa Senhora da Ca ndelária

A concepção do método construtivo da cúpula da Igreja de Nossa Senhora da

Candelária é descrita como calota dupla, ou seja, existem duas cúpulas sobre o

mesmo eixo e curvas diferentes, conforme descrito no Capítulo 3. A cúpula externa

será o objeto do estudo de caso, conforme será descrito a seguir.

A cúpula externa da Igreja de Nossa Senhora da Candelária destaca-se das

demais do Rio de Janeiro por ser construída com pedras de Lioz, vindas de Portugal,

pela exposição do material construtivo e pela monumentalidade do traçado singular

da curva adotada em projeto, características que motivaram a escolha desta cúpula

como um estudo de caso para este trabalho. Apesar da escassez de informações

bibliográficas e acesso não permitido aos documentos da construção da Igreja,

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172

foram possíveis a especificação do material construtivo (pedra de Lioz), a descrição

aproximada do arranjo estrutural, e o levantamento das patologias, em visitas

técnicas permitidas pelo Engenheiro Civil Ubirajara Avelino de Mello, da empresa

Concrejato, responsável pela obra de restauro em andamento, ocorridas em 28 de

abril e 03 de maio, de 2005. As visitas técnicas foram acompanhadas pelo

engenheiro Luiz Pinheiro da Guia e pelo aluno de graduação de Arquitetura da UFF,

Adriano César Tavares Barroso. As informações sobre o funcionamento e

manutenção da igreja foram levantadas através do zelador, Sr. José Paulo Francis

de Oliveira.

Embora seja do período colonial, a fachada frontal da igreja possui um

equilíbrio formal e sua volumetria é ressaltada dentre outras igrejas do Rio de

Janeiro. A igreja fica localizada na Av. Presidente Vargas, Praça Pio X, centro do Rio

de Janeiro. O seu tombamento ocorreu em 14 de abril de 1938, pelo IPHAN, e o seu

número de processo é 0051-T-38 (Foto 53).

Foto 53 – Vista da Igreja da Candelária.

Fonte: Disponível em <www.ipanema.com.br> Acesso em 12/01/05.

A partir das informações levantadas da construção, faz-se necessário um

detalhamento das características arquitetônicas e estruturais da cúpula, como

também do estado de conservação atual da igreja, haja vista sua importância

histórica e cultural.

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173

5.2.2.1 Histórico

Por causa da progressiva autonomia religiosa adquirida pelo Rio de Janeiro

em relação à Bahia, além da freguesia de São Sebastião, criada desde os

primórdios da cidade, estabeleceu-se em 1634 a freguesia da Candelária. O

emprego das rochas na arquitetura brasileira sofreu novo impulso com a vinda dos

jesuítas (século XVI), que desenvolveram estilo próprio do barroco.

A Irmandade de Nossa Senhora da Candelária foi instituída na antiga Matriz

de São Sebastião, localizada no Morro do Castelo, no fim do século XVI. Durante a

primeira metade do século XVII foi erguida, no mesmo local onde hoje se encontra, a

primitiva capela construída em devoção e ao cumprimento de uma promessa feita a

Nossa Senhora da Candelária, por Antônio Martins Palma, comandante de um navio,

colhido por uma forte tempestade. No ano de 1768, a primitiva ermida encontrava-se

em ruínas.

Em 1774, o engenheiro-major Francisco Roscio elaborou o projeto da Igreja

de Nossa Senhora da Candelária, sendo a construção iniciada em 1775. Em 1811

foi celebrada a primeira missa, e somente em 1898 a igreja foi inaugurada, com as

novas obras complementares, inclusive a construção da cúpula. Ressalte-se que do

projeto original só permanece a fachada. As obras realizadas foram complexas para

a época e foram necessárias implantação e pesquisa de técnicas executivas (Figura

73).

Figura 73 – Vista do Morro de São Bento, ilustração de 1830, de Jean Baptiste Debret – Igreja da Candelária ainda sem a cúpula.

Fonte: <www.hcgallery.com.br/cidade24.htm> Acesso 16/03/05.

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174

A cúpula, toda em pedra de Lioz de Lisboa, representa a principal marca

visual da igreja, construída em estilo neoclássico. Do projeto e construção da cúpula,

entre o ano de 1865 e 1877, participaram diversos engenheiros e arquitetos, entre

eles Carl Friedrich Gustav Waehneldt, substituído por Francisco Joaquim Bithencourt

da Silva e Daniel Pedro Ferro Cardoso, autor do projeto definitivo. Muitos não

acreditavam que as fundações pudessem suportar um peso de 630 toneladas em

pedra. Os painéis da cúpula interna foram pintados por José Zeferindo da Costa,

entre 1880 e 1883, com o objetivo de evocar o milagre ocorrido no mar com o

fundador da primitiva ermida. As oito estátuas de mármore branco, que rodeiam a

cúpula externamente, foram feitas em Lisboa, por José Cesário de Sales,

representando os quatros evangelistas, a Religião, a Fé, a Esperança e a Caridade

(Foto 54).

Foto 54 – Vista da cúpula externa e esculturas.

Originalmente a igreja estava colada a outras edificações, com a fachada

frontal voltada para uma rua estreita, de cerca de 7metros de largura e com

construções fronteiras. O fato de apresentar-se, atualmente, isolada e em local de

destaque é decorrente das demolições efetuadas para abertura da avenida

Presidente Vargas, em 1944 (Foto 55).

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175

Foto 55 – Abertura da Presidente Vargas.

Fonte: Disponível em <www.alma carioca.com.br> Acesso em 02/12/04.

5.2.2.2 As principais características arquitetônicas

A construção da Igreja de Nossa da Candelária foi iniciada no final do século

XVIII e só foi concluída no século seguinte, apresentando alguns elementos próprios

do século XIX conjugados com o projeto original.

A fachada principal é formada por sobreposição de estilos arquitetônicos,

observando-se grandes espaços revestidos de cantaria, além do emolduramento das

portas, janelas, frontão triangular, pilastras aparentes, cimalha e, ainda, de detalhes

ornamentais acrescidos (Figura 74).

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176

Figura 74 – Fachada principal da Igreja da Candelária. Fonte: ALVIM (1999), pg. 290.

As portas da Igreja, uma principal e duas laterais, são em estilo Luís XV, em

bronze, esculpidas por Teixeira Lopes, e representam uma alegoria ao Santíssimo

Sacramento (Foto 56).

Foto 56 – Detalhe da porta em bronze.

Fonte: www.ipanema.com.br, acesso 15/02/05.

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177

As torres sineiras de base quadrada são coroadas com cúpulas em forma de

bulbo revestidas por azulejos (Foto 57).

Foto 57 – Torres sineiras.

O projeto original com nave única foi alterado para três naves com transeptos,

formando uma cruz latina, em 1878, pelo Arquiteto Antônio de Paula Freitas (Figura

75).

Figura 75 – Plantas baixas e projeção da cúpula interna da Igreja de Nossa Senhora da Candelária.

Fonte: ALVIM (1999), pg. 79.

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178

O interior da igreja é revestido em mármore policromado de várias

procedências, e ferro, típicos do século XIX. As pinturas decorativas na superfície da

cúpula interna e nas naves laterais foram pintadas em 1883 (Foto 58).

Foto 58 – Interior da Igreja da Candelária – Altar-mor.

Fonte: http://community.webshots.com Acesso 15/03/05.

As naves laterais são cobertas por abóbadas de arestas, que se cruzam por

transepto, arrematado em suas extremidades por capelas. A igreja apresenta

batistério à esquerda da entrada principal, dois púlpitos abaixo da cúpula, junto à

capela-mor, e outros dois na nave. Nos fundos, possui grandes ambientes onde

funcionam a sacristia, o consistório e a sala de reunião (Figura 76).

Figura 76 – Volumetria da Igreja da Candelária. Fonte: ALVIM (1999), pg. 152.

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179

Extradorso da cúpula interna

Intradorso da cúpula externa de fiadas de pedra

No cruzamento do transepto com a nave e a capela-mor, ou seja, no centro

da cruz latina, encontra-se a cúpula, uma calota dupla (Figura 77).

Figura 77 – Esquema prático do interior das cúpulas.

Chega-se à cúpula através de uma escada com dois vãos, sendo que o

primeiro começa na base do tambor, onde a cúpula descarrega as cargas, passando

no espaço existente entre a cúpula interna e a externa (Foto 59).

Foto 59 – Espaço entre as cúpulas.

O segundo vão tangencia o extradorso da cúpula interna da igreja e encontra

uma plataforma feita ao redor da abertura da cúpula interna da igreja (Foto 60).

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180

Foto 60 – Escada tangenciando a cúpula interna da igreja.

O tambor octogonal da cúpula, circundado por terraço com balaustrada e

esculturas de mármore de Lioz, é encimado por lanternim (Foto 61).

Foto 61 – Cúpula com lanternim. Foto 62 – Detalhe do lanternim.

O lanternim é construído todo em pedra mármore lioz com uma altura

aproximada de 2,50m e com base circular em pedra (Foto 62). Possui quatro portas

de ferro e vidro, que dão acesso a um guarda-corpo de pedra mármore com altura

aproximada de 50cm, que circunda o lanternim, decorado com balaustres.

Há outra cúpula esférica, de pequena proporção, cobrindo o lanternim do

telhado da sacristia (Foto 63).

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181

Foto 63 – Lanternim da sacristia.

Fonte: Adriano, 2005.

5.2.2.3 Aspectos construtivos

Como já foi citado no item 5.2.2.1, a cúpula externa é construída em pedra de

Lioz, vinda de Portugal para montar no Brasil. Segundo TELLES (1969, pg.90), a

pedra de Lioz é uma variedade de calcáreo branco, duro, cuja granulação é fina,

usada, geralmente, em cantaria e estatuária. Esta qualidade de rocha é encontrada

em abundância no entorno da cidade de Lisboa, Portugal.

A classificação da forma da cúpula é particularizada, ou seja, possui um

traçado geométrico único determinado por pontos, descrevendo uma curva com uma

equação específica. Para calcular corretamente a expressão da curva que traça o

perfil da cúpula, foi necessário levantar medidas in loco de pontos notáveis,

dimensões aproximadas das pedras na própria cúpula, e medidas de projeto em

plantas. Do livro Arquitetura Religiosa Colonial no Rio de Janeiro, da professora

Sandra Alvim, foi possível consultar algumas plantas da igreja.

A composição estrutural da cúpula é auto-portante, formada por anéis

contendo fiadas de pedra e juntas preenchidas com argamassa de areia e cal (Foto

64).

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182

Coluna tipo arco

Foto 64 – Fiadas em pedra.

Existem oito colunas tipo arco que dividem a cúpula em setores. O aspecto

externo não corresponde ao interno, pois existe alinhamento nas juntas externas,

enquanto que na interna há encaixes desencontrados. Observa-se então a

possibilidade de um revestimento externo com propósito estético ou algum trabalho

em pedra. Essa indagação só seria respondida através de testes para verificar a

composição ou algum documento do projeto.

A passagem da abertura no cume da cúpula para o lanternim é feita através

de um conjunto monolítico de blocos de pedra encaixados, com juntas preenchidas

com argamassa de cal e areia (Foto 65). Na área do transpasse, forma-se um

degrau invertido (Foto 66).

Foto 65 – Vista do conjunto Foto 66 – Detalhe do conjunto em

pedra.

O conjunto possui pedras de Lioz com outra formação rochosa, lapidadas

com formas curvas. Como citado, há oito colunas em forma de arcos que seguem a

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183

distribuição em anéis de pedras. Observou-se que o arranjo estrutural tem o encaixe

de juntas desencontradas e as colunas possuem pedras de formas diferentes e

encaixes.

Figura 78 – Ilustração das colunas em arcos da cúpula. Fonte: Adriano Tavares, 2005.

O único acesso ao lanternim da cúpula é por uma escada metálica inclinada,

que vence o vão entre as duas cúpulas, até se encaixar num apoio metálico cravado

na pedra (Figura 79). A escada é acionada por um sistema mecânico e a sua base

está na plataforma formada pela abertura do cume da cúpula interna da igreja (Foto

67). O movimento é realizado através de uma manivela associada a um conjunto de

engrenagens cônicas, que diminuem o esforço (Foto 68).

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184

Figura 79 – Escada móvel de acesso ao lanternim.

Foto 67 – Escada metálica móvel. Foto 68 – Detalhe da manivela.

O lanternim é circundado por esquadrias em ferro e vidro, que permitem a

iluminação entre as duas cúpulas, favorecendo uma incidência da luz ao interior da

igreja. A cobertura possui ornamento em forma de bulbo com uma cruz no topo e um

pára-raios.

O conjunto formado pelas duas cúpulas e o lanternim está apoiado sobre o

tambor de pedra com base octogonal, descarregando em abóbadas de arestas.

5.2.2.4 Patologias e propostas de soluções

Inicialmente, serão feitas uma descrição e uma classificação das patologias

encontradas em locais específicos, finalizando com algumas propostas de

tratamentos para a correção das anomalias.

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185

O levantamento e estudos realizados tiveram foco na análise do estado de

conservação da cúpula externa, objetivo do assunto de estudo. O engenheiro civil

responsável pela obra de restauro da igreja, pertencente à empresa CONCREJATO,

acompanhou o levantamento e informou que a empresa estava estudando a

intervenção nas cúpulas. Dessa forma, não poderia haver inspeção externa por falta

de segurança e nem testes avaliativos na pedra.

Algumas informações são relevantes para descrever o local da construção. A

Igreja da Candelária fica no centro do Rio de Janeiro, em avenida de grande fluxo de

veículos nos dias úteis, gerando uma grande quantidade de gases e fuligem (dióxido

de enxofre, SO2, trióxido de enxofre, SO3, além do dióxido de carbono, CO2)

causando poluição atmosférica. Os materiais da cúpula ficam expostos também às

intempéries, como a ocorrência de chuva comum (águas puras ou doces) e chuva

ácida (H2SO3 e H2SO4) devido às condições do local, já descrito, e ventos. A

construção fica próxima à região marinha, inclusive com sua fachada principal

voltada para o mar, tendo exposição a cloretos, sulfatos e algas. Finalizando a

descrição, porém não menos importante, o clima da cidade é caracterizado como

quente e úmido, com variações intensas de temperatura durante todo o ano.

Um funcionário da igreja informou que não existe um plano de manutenção

para inspecionar as cúpulas e elementos, nem um projeto de tratamento das

patologias existentes.

A análise será feita de cima para baixo, iniciando a descrição das patologias

pelo lanternim (lanterna).

O ornamento de pedra na cobertura do lanternim tem manchas de cor verde

escuro, caracterizando a corrosão na cruz de material metálico (possivelmente ferro)

do cume (Foto 69). A cruz fica exposta a intempéries, como chuva e vento, que são

agentes naturais meteorológicos que possibilitam a degradação de materiais,

principalmente metálicos, favorecendo o aparecimento de patologias como a

corrosão. Ressalta-se a presença do pára-raios junto ao lanternim, que, segundo

informações do Senhor José Carlos, zelador da igreja, não recebe inspeção e

manutenção, facilitando a maior degradação do material através da atuação

conjunta de água e descarga elétrica. As manchas se devem ao caminho percorrido

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186

por águas puras ou a solução corrosiva que deteriora a superfície da pedra e infiltra

pelos seus poros. Outra possibilidade de patologia é a biodeterioração, com a

formação de liquens, do ataque de algas e bactérias.

Foto 69 – Detalhe da cruz no lanternim.

Na parte interna da cobertura do lanternim observou-se lixiviação, ou seja, a

“geografia” traçada pela água da chuva através de infiltração, degradando a

superfície da pedra (Foto 70). Verifica-se a necessidade de inspeção na junta da

pedra do telhado.

Foto 70 – Infiltração na cobertura do lanternim.

Utilizada a escada móvel para chegar ao lanternim, observou-se corrosão nas

quatro esquadrias devido à incidência de chuva direta. As maçanetas estão

quebradas, dificultando o acesso para inspeção. Há formação de biodeterioração por

fungos (bolor) e umidade, favorecidos pelo empoçamento de água entre o guarda-

corpo e a esquadria. Desta forma, verifica-se a falta de algum dispositivo de

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187

drenagem neste local. Não foi comprovada a existência de buzinotes, após

observação interna e externa, através do prédio vizinho (Foto 71).

Foto 71 – Detalhe da base do lanternim e patologia.

A falta de impermeabilização neste estreito espaço externo facilita a infiltração

de água ou solução corrosiva, que escorre pela curva do conjunto de pedras que faz

a passagem da cúpula externa e o lanternim (Foto 72).

Foto 72 – Manchas da lixiviação.

Há fissuras nas pedras que formam o lanternim, com algumas causas

possíveis: as pedras não suportaram as cargas existentes; na construção da cúpula

pode ter havido problemas no encaixe; deterioração das pedras devido às variações

de temperatura, com perda de resistência do material (Foto 73). Apenas com testes

específicos a causa poderia ser avaliada.

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188

Foto 73 – Fissuras nas pedras do lanternim.

� Cúpula externa

Como foi citado anteriormente, a água que entra pela esquadria do lanternim

se infiltra, e causa lixiviação na pedra do transpasse e continua até chegar à pedra

da cúpula (Foto 74).

Foto 74 – Manchas de infiltração.

Observando a superfície interna da cúpula, percebe-se que ocorre lixiviação

em todo o intradorso, percorrendo juntas e superfícies das pedras e criando

manchas esbranquiçadas (Foto 75).

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189

Foto 75 – Lixiviação no intradorso da cúpula de pedra.

A água que se infiltra nas juntas deteriora a argamassa. Existe infiltração

também pela superfície da pedra através da porosidade da mesma, causando danos

e manchas. Essa patologia pode implicar em vários tipos de danos, pois pode haver

ataque de sais, favorecendo o aparecimento de eflorescências e elementos

provenientes da poluição. Muitas manchas parecem estar num processo de

biodeterioração, possuem cores marrom e verde (Foto 76).

Foto 76 – Manchas com cores diferentes.

A presença de fissuras em algumas pedras chamou a atenção no

levantamento. Há fissuras horizontais perto das juntas e inclinadas nas pedras (Foto

77).

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190

Foto 77 – Fissura perto de uma coluna.

A ocorrência de fissuras se dá também na parede da escada interna que dá

acesso à varanda que circunda o tambor (Foto 78). A escada tem forma de caracol e

segue junto à igreja. A empresa responsável pela obra em andamento realizou

testes para verificar a atividade das fissuras, feitos com vidros colados com epóxi

transversalmente à fissura, para verificações de atividade (Foto 79).

Foto 78 – Escada de acesso à varanda

externa.

Foto 79 – Verificação da atividade da

fissura.

A varanda que circunda o tambor onde estão as esculturas é feita de pedra e

possui uma patologia (Foto 80). Existe uma junta ao longo da varanda que fica

exposta às intempéries e possui problemas com infiltração, fissuras transversais,

desplacamento da pedra e possível corrosão com alguma armadura existente (Foto

81).

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191

Foto 80 – Junta exposta às intempéries. Foto 81 – Junta vista por baixo.

As instalações elétricas que correm o perímetro octogonal da varanda estão

sendo atacadas por corrosão, pois ficam expostas às intempéries (Foto 82).

Foto 82 – Instalações elétricas para iluminação.

As manchas escuras presentes na superfície externa da cúpula têm forma

aleatória e não foi possível diagnosticar o motivo sem testes. Observa-se que nem

todas as pedras sofreram esta patologia, apesar da mesma exposição. Entretanto,

além dos agentes naturais existentes devido à localização da igreja, há também a

possibilidade de composição química diferente de minerais, caracterizando assim

maior ou menor sensibilidade da pedra ao agente (Foto 83).

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192

Foto 83 – Pedras com escurecimento.

Mesmo sendo um dos marcos históricos e tendo presença monumental na

cidade, a igreja é vítima da ação do vandalismo (Foto 84).

Foto 84 – Desenhos com giz.

Há pixações com giz e tinta espalhadas pelo tambor da cúpula, na varanda e

nas cúpulas bulbosas das torres (Foto 85).

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193

Foto 85 – Pixações com tinta.

� Propostas de soluções

Inicialmente, convém fazer indicações de testes laboratoriais para a

determinação do grau de degradação com detalhamento qualitativo e quantitativo:

� testes laboratoriais para determinação do grau de absorção de água e

medição de umidade;

� testes laboratoriais para determinação qualitativa e quantitativa dos sais,

principalmente cloretos;

� expectrometria e raios X, que se baseiam no princípio da absorção de

radiação dos comprimentos de onda, permitindo uma avaliação qualitativa dos

elementos presentes numa amostra retirada, e a amplitude da absorção de

radiação em condições experimentais;

� reconstituição de traço da argamassa histórica, com o objetivo de caracterizar

os elementos presentes e suas respectivas proporções.

As intervenções na cúpula e seus elementos devem corrigir ou minimizar os

sistemas que possuem falhas e tratar das patologias já instaladas. É importante

ressaltar que todas as ações restauradoras devem ser pesquisadas e planejadas

para que o bem patrimonial não sofra prejuízos históricos, arquitetônicos e

estruturais. A segurança também deve ter prioridade durante a intervenção e ser

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194

detalhada, principalmente tratando-se de uma construção tão antiga, com o uso de

escoramentos.

A cruz em cima do ornamento do lanternim precisa ser retirada e sofrer um

tratamento de restauração e proteção às intempéries. Não houve informação se o

pára-raios está funcionando corretamente. O ornamento deve ser limpo com

produtos que não agridam a pedra e receber alguma proteção de material hidrófugo,

como já foi citado no Capítulo 4. Como toda a cúpula é construída em pedra de Lioz,

será indicada a limpeza, segundo critérios do IPHAN em pedras com esta

especificação mineral, descrita ao fim deste item.

A cobertura do lanternim precisa ser verificada e deve-se observar a junção

da mesma com as paredes de pedra, já que existe presença de lixiviação

internamente.

Através das patologias observadas no lanternim, verificou-se a necessidade

de obras de impermeabilização do espaço existente até ao guarda-corpo e a

colocação, se possível, de um sistema de recolhimento de águas pluviais ou

comprovação da existência de buzinotes, como foi informado, e sua limpeza e

recuperação para o uso.

As esquadrias precisam ser recuperadas, inclusive o seu funcionamento para

manutenção, e também precisam receber algum sistema de proteção às intempéries

e um sistema que bloqueie a entrada de água por sua base junto ao chão da

varanda que circunda o lanternim.

Deve ser feita a verificação das fissuras encontradas nas paredes de pedra

do lanternim, analisando a sua atividade e identificando a causa. Se houver

identificação de esmagamento da pedra, recomenda-se a necessidade de reforço de

acordo com o comportamento da fissura.

O conjunto de pedras lapidadas em curva, localizadas na passagem do

lanternim para o interior da cúpula, deve sofrer limpeza e restauração, se

necessário.

As pedras das fiadas que formam as cúpulas devem ser limpas, restauradas e

tratadas para que os agentes químicos e biológicos não sejam favorecidos para

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instalações de patologias. As argamassas das juntas devem ser recuperadas, já que

observou-se a falta da mesma em alguns trechos.

As fissuras nas pedras precisam ser estudadas, de acordo com sua atividade,

e assim possibilitar uma análise do comportamento da estrutura como um todo,

lembrando que existem muitas possibilidades, como, por exemplo, as variações

bruscas de temperatura, e verificar a necessidade de reforço.

Para uma completa proteção da superfície interna da cúpula são necessárias

a pesquisa e a investigação do verdadeiro arranjo estrutural, já que a aparência

externa não está de acordo com a interna, descobrindo se as pedras externas são

apenas revestimentos ou elementos estruturais.

A possível junta existente ao longo da varanda já possui testes para verificar a

atividade, realizados pela empresa que está intervindo na igreja, e deve ser avaliada

estruturalmente. Os relatórios da obra atual devem ser disponibilizados como base

do estudo de intervenção. A junta precisa ser tratada nas duas faces com limpeza,

reconstituição de argamassa e colocação de material elástico para suportar o

trabalho da junta.

As fissuras na parede da escada em caracol também devem ser analisadas e

estudadas, para uma possível indicação de enchimento com material específico ou

reforço.

As instalações elétricas para iluminação que percorrem a varanda estão

corroídas e necessitam de troca e verificação também das lâmpadas.

Como a igreja é muito próxima do mar, a verificação da presença de sais

marinhos, solúveis é imprescindível para a indicação de tratamento. Como foi citado

no Capítulo 4, os sais são transportados pelo vento e depositados na superfície da

pedra. Os sais penetram no interior da pedra transportados pelas águas pluviais e

pela umidade relativa do ar. Há presença também de elementos agressivos oriundos

da combustão e fuligem, devido à zona de tráfego pesado, formando possivelmente

a crosta negra nas pedras da cúpula. Segundo SOARES (2004, pg.223), a crosta

negra, além de afetar a estética, reage, por combinações químicas, com a superfície

da pedra de Lioz, produzindo sulfato de cálcio, que logo se desprende, desfolhando

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196

a pedra. Contudo, as manchas podem também ser reações diferentes a esses

elementos citados, porém variando de acordo com a composição da pedra. Não há

informação de algum tipo de material que ofereça proteção à cúpula.

As pixações precisam ser retiradas através da limpeza por materiais

específicos que não sejam abrasivos à pedra, não oferecendo maior deterioração.

No caso de giz, o tratamento é mais simples, pois é um tipo de material que,

geralmente, não impregna a porosidade da pedra por seu perfil granulométrico e

químico. O tratamento para tinta deve ser mais cuidadoso e específico para a pedra

de Lioz.

A finalização deste item se dá pelo detalhamento da limpeza da pedra de

Lioz. Segundo SOARES (2004,PG.233), o tratamento segue as indicações do

IPHAN, através do parecer técnico de novembro de 1990.

Para a limpeza da pedra, recomenda-se a utilização de solvente AB51,

composto de EDTA (sal bissódico) e bicarbonato de amônia, aplicado por

pulverização ou nebulização e escova macia. Para a proteção da pedra, faz-se

necessário impermeabilizá-la e protegê-la contra a ação de sais solúveis e da

poluição atmosférica. Pode ser utilizada, por exemplo, resina à base de siloxane ou

resina acrílica Paraloyde B-67, diluídas em hidrocarbonetos. Outra opção de

impermeabilização, mais indicada para as juntas de argamassas, é uma mistura de

água destilada e óleo de linhaça em proporções iguais, evitando a migração de sais.

Ressalta-se a grande importância de se fazer um plano de manutenção das

dependências da igreja, para que pequenos reparos não causem grandes danos e

possa haver intervenções a custos menores.

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6 MODELAGEM COMPUTACIONAL

De uma forma geral, um dos objetivos principais da engenharia consiste na

solução de problemas físicos reais com alternativas práticas e objetivas. Contudo, a

complexidade da análise envolvendo os parâmetros (ou variáveis) relevantes do

problema pode em muitas ocasiões direcionar o engenheiro a substituir o problema

físico real por um problema equivalente, mais simples, e que possa ser definido e

resolvido matematicamente.

Segundo FERRANTE (1987), a formulação matemática da maioria dos

problemas de engenharia envolve taxas de variação em relação a uma, duas ou

mais variáveis independentes, onde comumente estas variáveis independentes

representam o tempo, o comprimento ou o ângulo. Em suma, muitos problemas de

engenharia podem ser representados matematicamente por equações diferencias

ordinárias e parciais. Neste trabalho é utilizada a substituição do modelo matemático

contínuo (equação diferencial) pelo modelo numérico chamado método dos

elementos finitos, que por sua vez é implementado utilizando recursos

computacionais através de um software.

Este método é utilizado para analisar o comportamento estrutural da cúpula

da Igreja da Candelária, devido ao seu material constituinte, método construtivo e

patologias encontradas. Desta forma, verifica-se a correlação entre os danos

causados na estrutura e o seu desempenho estrutural.

6.1 O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

O método dos elementos finitos é uma importante ferramenta computacional

para executar cálculos que na prática seriam muito complexos, dados os números

de incógnitas e graus das funções. Segundo NOVAIS (1993, pg. 55), este método

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198

consiste em utilizar aproximações por partes, ou regiões, em vez de efetuar

aproximações de caráter global, produzindo equações algébricas simultâneas que

são geradas e resolvidas facilmente.

Segundo AZEVEDO (2003, pg. 3), antes do aparecimento do MEF, a análise

dos meios contínuos era efetuada por resolução direta dos sistemas de equações de

derivadas parciais que regem o fenômeno, tendo em consideração as necessárias

condições fronteira. Para facilitar a aplicação desta técnica a problemas não

elementares, era comum recorrer a séries de Fourier. Devido à sua complexidade,

estes procedimentos só eram aplicáveis a meios contínuos homogêneos e de

geometria simples. Para tentar ultrapassar algumas destas limitações, era freqüente

a substituição de derivadas exatas por derivadas aproximadas, calculadas com base

em grelhas de pontos. Da aplicação desta técnica resulta o método das diferenças

finitas, que, antes do aparecimento dos computadores, apresentava o inconveniente

de requerer a resolução de grandes sistemas de equações lineares. Para evitar este

inconveniente foram propostos diversos métodos baseados na sucessiva diminuição

de um conjunto de resíduos de cálculo. Devido à morosidade associada à aplicação

de qualquer um destes métodos, tornava-se muito atrativa a substituição do

problema real por outro semelhante, de modo a se poder recorrer a resultados

publicados em tabelas ou ábacos. Com o grande desenvolvimento que o método

dos elementos finitos teve na década de 60 e com a banalização do recurso ao

computador, passou a ser prática corrente a análise de estruturas de geometria

arbitrária, constituídas por múltiplos materiais e sujeitas a qualquer tipo de

carregamento. Este avanço é tão significativo que os outros métodos, atrás

referidos, deixaram praticamente de ser utilizados.

No âmbito da Engenharia de Estruturas, o Método dos Elementos Finitos tem

como objetivo a determinação do estado de tensões e de deformações de um sólido

de geometria arbitrária sujeito a ações exteriores. Quando surge a necessidade de

resolver um problema de análise de uma estrutura, a primeira questão que se coloca

é a sua classificação quanto à geometria, modelo do material constituinte e ações

aplicadas. O modo como o método dos elementos finitos é formulado e aplicado

depende, em parte, das simplificações inerentes a cada tipo de problema.

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199

Segundo GIORDANO, (2002 p. 1058) a existência de juntas verticais e

horizontais de argamassa torna as alvenarias anisotrópicas. Segundo SOUZA (2004,

pg.57), no método dos elementos finitos, basicamente duas aproximações diferentes

têm sido adotadas para modelar tal anisotropia: a “micromodelagem”, ou

aproximação por dois materiais, e a macromodelagem, ou aproximação por material

equivalente. Na micromodelagem, a discretização segue a geometria real de ambos

os elementos, pedras e juntas de argamassa, adotando dois modelos constitutivos

diferentes para os dois componentes. Apesar dessa aproximação parecer a mais

apropriada, uma grande desvantagem surge do número extremamente grande de

elementos a serem gerados na medida em que a estrutura cresce em tamanho e

complexidade. Além disso, a capacidade computacional para analisar tais modelos

seria indesejavelmente elevada, isto sem considerar que a real distribuição de

pedras e juntas seria impossível de determinar, a menos que se fizesse uma

investigação invasiva. O macromodelo assume que a cúpula de pedra trata-se de

uma estrutura homogênea contínua que pode ser discretizada como uma malha

finita de elementos. O elemento então deverá ter um modelo constitutivo que deve

ser capaz de reproduzir um comportamento aproximado. Neste trabalho optou-se

pela modelagem numérica dos elementos estruturais através do MEF - Método dos

Elementos Finitos, com o uso da macromodelagem, já que a mesma tem se

mostrado capaz de reproduzir satisfatoriamente o comportamento estrutural da

cúpula da Igreja da Candelária.

6.1.1 A idéia geral do método

Segundo AZEVEDO (2003, pg.4), a formulação do método dos elementos

finitos pode ser baseada no método dos deslocamentos, em modelos de equilíbrio,

ou em métodos híbridos e mistos.

Segundo NOVAIS (1993, pg.56), inicialmente, a aplicação deste método se

faz através de uma subdivisão ideal do domínio de integração do problema em um

conjunto de regiões, formando uma malha de elementos finitos. Assim, a formulação

do MEF7 requer a existência de uma equação integral, de modo que seja possível

substituir o integral sobre um domínio complexo (de volume V) por um somatório de

integrais estendido a sub domínios de geometria simples (de volume Vi). Esta

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200

técnica é ilustrada com o seguinte exemplo, que corresponde ao integral de volume

de uma função f .

∫ ∑∫ ⋅=⋅=

dVfdVfn

iVV i

1

(1)

Em (1) pressupõe-se que

∑=

=n

iiVV

1

(2)

Se for possível calcular todos os integrais estendidos aos subdomínios Vi,

basta efetuar somatório correspondente ao segundo membro de (1) para se obter o

integral estendido a todo o domínio. Cada subdomínio Vi corresponde a um elemento

finito de geometria simples.

Esta malha será caracterizada pelo tipo e número de elementos finitos

utilizados. Um tipo de elemento finito, por sua vez, estará definido principalmente por

sua forma geométrica e pelas funções de aproximação (interpolação) que utiliza.

Para problemas planos, as formas geométricas mais comuns são os triângulos, os

retângulos e os quadriláteros, os quais podem ter os lados retos ou curvos. Em

problemas tridimensionais utilizam-se tetraedros, hexaedros e paralelepípedos.

Cada elemento finito possuirá um número determinado de pontos nodais ou

nós, que diferem em número e posição de acordo com o tipo de elemento e os nós

podem ser internos ou externos. Então, deve-se utilizar uma malha de elementos

finitos e observa-se que, quanto mais refinada for a malha, maior será o número de

pontos nodais, e, portanto, melhores resultados obtidos.

Uma vez que a malha de elementos finitos tenha sido escolhida, é necessário

numerar, para referência nos passos seguintes, seus nós e elementos finitos. Em

seguida, é preciso definir as funções que aproximam o comportamento da variável

do problema sobre o elemento, para que se possam calcular suas matrizes

características.

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201

6.2 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

A pedra de Lioz é classificada como calcário e, apesar de ter uma grande

presença nas construções históricas do Brasil, tem a sua origem em Portugal. Na

época do colonialismo português, os navios vinham carregados de pedras, usadas

como lastros, e retornavam cheios de mercadoria.

A pedra de Lioz é um tipo de rocha ornamental natural, ou seja, um calcário

de boa resistência para ficar em exposição às intempéries. Esta característica pode

ser confirmada através da observação das construções históricas de Lisboa e no

Brasil. As pedras da Igreja da Candelária foram extraídas e lapidadas em Portugal,

segundo o projeto, e foram transportadas de navio para serem montadas.

Segundo ALONSO (2002, pg. 27), argamassa pode ser definida como uma

“mistura plástica cimentosa composta principalmente de cal, areia e água, que

penetra nas reentrâncias dos blocos construídos, aglomerando-os firmemente”. Por

endurecer muito devagar e também pela sua baixa capacidade de impedir a

penetração da água, no século XIX começou lentamente a ser substituída pela

argamassa de cimento. Apesar dessas desvantagens, as argamassas de cal são

mais trabalháveis, são mais aderentes e têm um custo mais baixo.

A argamassa de cal e areia nas juntas das pedras de Lioz possui função de

ligar o aparelho e, principalmente, regularizar a superfície de contato e propiciar a

aderência entre os blocos. A espessura da argamassa na Igreja da Candelária é

aproximadamente 1 cm. Considera-se a resistência da argamassa neste estudo,

pois, como foi observado no Capítulo 4, as fissuras tendem a percorrer o caminho de

menor resistência, no caso as juntas com argamassas.

6.2.1 Origens e características da pedra de Lioz

As rochas ornamentais naturais suscetíveis de aproveitamento e valorização

encontram-se repartidas, em Portugal, um pouco por todo o território e a realidade

geológica compreende uma larga variedade de pedras naturais que proporciona um

grande uso deste material. As rochas sedimentares carbonatadas portuguesas

classificadas como calcários, à exceção dos poucos casos em que a dolomita ocorre

com relativa abundância, sendo, mesmo, dominante num deles, são constituídas

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202

predominantemente por calcita que é, por vezes, o único mineral presente. Muito

acessoriamente ocorrem, em alguns, quartzo e minerais argilosos. Apresentam

texturas bastante diversas, em função da natureza, tamanho e percentagem dos

elementos clásticos que as constituem, do tipo de cimento e do grau de aglutinação

desses elementos.

Segundo MOURA (2001, pg.14), nas orlas sedimentares ocidental e

meridional de Portugal abundam espessas formações carbonatadas, cuja gênese se

processou em águas mais ou menos profundas da plataforma continental. As rochas

classificadas como calcário são provenientes de rochas sedimentares e uma das

características principais das rochas sedimentares é apresentarem-se estratificadas

numa seqüência de camadas de espessura variável, separadas por planos de

descontinuidade - os planos de estratificação. As principais áreas produtoras são a

Serra de Sicó, o Maciço Calcário Estremenho, a Região a Norte de Lisboa - Pêro

Pinheiro e a Bacia Algarvia. Em todas estas regiões os calcários explorados para

fins ornamentais são de idade Mesozóica. Citam-se ainda duas zonas distintas dos

arredores de Coimbra, uma a norte e outra a sul, onde ocorrem rochas carbonatadas

de idades Mesozóica e Quaternária, respectivamente. O grupo principal de

afloramentos de calcários ornamentais da Região a norte de Lisboa - Pêro Pinheiro

localiza-se a cerca de 50 km ao norte de Lisboa. Provêm daqui algumas das mais

tradicionais pedras ornamentais portuguesas, principalmente o Lioz. É um calcário

de idade Cretácea, cujo elevado valor econômico deriva, em grande parte, das cores

vivas que ostenta e da sua comprovada durabilidade. A atividade extrativa nesta

região ocorreu há pelo menos 6 séculos, conforme evidenciado pelo uso destas

pedras nos antigos edifícios, igrejas e monumentos de Lisboa, e de que resultaram

enormes pedreiras, a maioria atualmente inativa.

Algumas propriedades físicas estão apresentadas a seguir, com resultados de

ensaios executados por MOURA (2001, pg. 15).

Pedra de Lioz:

� Resistência à compressão: 1050 kgf/cm2;

� Resistência à flexão: 209 kgf/cm2;

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203

� Densidade aparente: 2703 kg/m2;

� Absorção de água: 0,1% do peso.

6.2.2 Parâmetros adotados

Os dados utilizados nesta modelagem, como as características dos materiais

existentes e a memória de cálculo das cargas atuantes na cúpula, estão a seguir

relacionados e foram baseados nas seguintes normas brasileiras e portuguesas:

� NBR 12766 / 92 – Rochas para revestimentos – Determinação da massa

específica aparente, porosidade aparente e absorção d’água aparente/

método de ensaio;

� NBR 12767 / 92 - Rochas para revestimentos – Determinação da resistência à

compressão uniaxial/ método de ensaio;

� NBR 12763 / 92 - Rochas para revestimentos – Determinação da resistência à

flexão/ método de ensaio;

� NBR 12764 / 92 - Rochas para revestimentos – Determinação da resistência

ao impacto de corpo duro de rochas para revestimentos/ método de ensaio.

� NP EN 12372 / 01 - Métodos de ensaio para pedra natural. Determinação da

resistência à flexão sob carga centrada;

� NP EN 1925 / 00 - Métodos de ensaio para pedra natural. Determinação do

coeficiente de absorção de água por capilaridade;

� NP EN 1926 / 00 - Métodos de ensaio para pedra natural. Determinação da

resistência à compressão.

Os valores das propriedades mecânicas dos materiais adotados em todos os

modelos estão apresentados na Tabela 1.

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204

Tabela 1 – Propriedades mecânicas dos materiais

Material Propriedades Valor Unidade

Módulo de elasticidade (E) 6 x 107 kN/m2

Coeficiente de Poisson (ν) 0,2 - Pedra de Lioz

Peso específico (γ) 26,5 kN/m3

Argamassa de cal Resistência a cisalhamento (τ) 166,67 kN/m2

As condições de apoio adotadas foram as seguintes: ao longo da base da

cúpula foi usado apoio de segundo gênero, impedindo deslocamentos horizontais e

verticais. Chegou-se a estas condições de apoio através dos estudos baseados em

MONTOYA (1981), de simulações preliminares e observações no local, onde as

condições de apoio mostraram ser as mais adequadas.

A Figura 80 mostra o arranjo em planta do lanternim e sua composição para o

cálculo de peso na abertura da cúpula.

Figura 80 – Cúpula da Igreja da Candelária. Fonte: ALVIM 1999, pg.290.

O lanternim possui uma parede circular formada por pedras de Lioz com as

seguintes medidas em metros (Figura 81):

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205

Figura 81 - Planta baixa do lanternim.

Sendo a sua altura de 3,50m, calcula-se o volume e multiplica-se pelo peso

específico da pedra de Lioz, considerando o teto do lanternim, os ornamentos e a

cruz, chega-se a um valor de aproximadamente 217,39 kN.

6.3 MODELOS EMPREGADOS

A cúpula modelada foi criada a partir do traço real em planta da curva da

Igreja de Nossa Senhora da Candelária. A planta da fachada da Igreja foi retirada do

livro “Arquitetura religiosa colonial no Rio de Janeiro: plantas, fachadas e volumes”,

segundo ALVIM (1999), pg.290, e redesenhada num software gráfico de precisão,

com medidas em metro, para então iniciar o estudo da equação da curva.

Após o desenho aproximado ficar pronto, a cúpula foi dividida em meridianos

e paralelos conforme as medidas médias levantadas nas visitas técnicas. Foram

levantadas as coordenadas dos pontos e colocadas numa tabela para a construção

do gráfico em um software. A equação foi aproximada para o quarto grau.

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206

y = 0,0002x4 - 0,0112x3 + 0,1814x2 - 0,3504x + 0,1948

0,0000

2,0000

4,0000

6,0000

8,0000

10,0000

12,0000

0,00

00

0,01

46

0,15

42

0,39

21

0,91

68

1,84

29

2,81

48

3,66

66

4,57

69

5,55

89

5,97

90

Figura 82 – Curva aproximada do quarto grau.

A partir do estudo da curva, chegou-se ao modelo adotado para a aplicação

no software que usa o método dos elementos finitos.

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207

Figura 83 – Vistas do modelo empregado.

No software que aplica o método dos elementos finitos, inicialmente foi feita

uma malha central para colocação dos sólidos em anéis representando as pedras.

Com a aplicação da curva e as medidas médias de um bloco, fez-se a revolução em

torno de um eixo e obteve-se a cúpula aproximada. O material foi aplicado com os

parâmetros adotados já citados. Foram aplicadas a força da gravidade e a carga que

atua na abertura da cúpula, originada do lanternim e ornamentos. Então obtém-se a

casca de revolução com todos os parâmetros aplicados. A cúpula recebeu apoios

internos e externos para aproximação da situação real, onde as cargas são

aplicadas diretamente no tambor. A seção transversal demonstra a distribuição das

pedras e a cúpula em corte (Figura 84).

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208

Figura 84 – Seção transversal da cúpula.

Para concretizar a criação do modelo, haja vista as limitações do usuário, a

cúpula foi modificada para a criação da sua modelagem, pois a situação real do

estudo de caso, já citado no Capítulo 5, indicava que as pedras tinham juntas

desencontradas e, por isto, possibilita uma situação mais favorável à redistribuição

de tensões no caso de falha estrutural. Desta forma, a análise é aproximada e as

situações de danos devem ser observadas considerando o arranjo original estrutural

(Figura 85).

Figura 85 – Cúpula modelada – Modelo 1.

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209

6.4 RESULTADOS OBTIDOS

Com a cúpula modelada com as pedras de Lioz, definidos os apoios e cargas

aplicadas, é possível fazer o estudo de tensões distribuídas na sua superfície e as

deformações decorrentes.

A partir do processamento do software e a observação da modelagem, quanto

à distribuição de tensões, verificou-se que o comportamento da cúpula segue os

estudos apresentados MONTOYA (1981), pois há um acúmulo de tensões de

compressão no bordo de abertura onde atua a carga do lanternim e ornamentos. Na

zona média há uma diminuição da rede de compressão, o que se deve à

deformação da cúpula com o peso próprio e as cargas externas aplicadas,

ocorrendo uma tendência natural à formação de uma área de tração, favorecendo o

movimento das pedras por atrito e possíveis fissuras horizontais seguindo as juntas,

como foi observado em alguns pontos na visita à cúpula da Igreja da Candelária. No

apoio há novamente uma concentração de tensões de compressão (Figura 86). As

tensões foram processadas e os seus resultados estão expostos em kN/m2.

Figura 86 – Distribuição de tensões ao longo da cúpula.

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210

Os resultados obtidos foram analisados por comparação entre as diversas

situações propostas. Tais situações foram comparadas através dos diagramas de

tensões e da análise das deformações.

A primeira situação é a observação das deformações ou acomodamentos da

estrutura com cargas aplicadas, através da observação do plano onde se encontra a

seção transversal (Figura 87).

Figura 87 – Seções transversais.

Para uma aplicação do estudo de deterioração da estrutura, as próximas

situações estão simulando danos nas pedras e juntas do sistema estrutural da

cúpula.

Retiraram-se duas pedras sucessivas da mesma linha vertical para simular

uma deterioração do material dos blocos e assim verificar o comportamento da

redistribuição de tensões. Ressalta-se que esta situação também pode ser causada

por um erro de intervenção e lembra-se que a situação real da cúpula da Igreja da

Candelária possui juntas desencontradas, logo a simulação feita neste trabalho

propicia maior risco de danos.

A seção transversal demonstra a localização da retirada das pedras na zona

média da cúpula.

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211

Figura 88 – Seção transversal - Retirada das pedras.

A situação global, entretanto, oferece uma visão do conjunto, observando a

localização dos blocos no arranjo estrutural (Figura 89).

Figura 89- Cúpula global - Retirada dos blocos.

Na Figura 90 pode se observar as deformações causadas por esta simulação

de danos e a redistribuição de tensões, através do estudo global da cúpula.

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212

Figura 90 – Distribuição de tensões na simulação.

Observa-se que há uma redistribuição de tensões ao longo da abertura

ocasionada pela retirada dos blocos. No entanto, percebe-se que uma maior

variação ocorre no perímetro da situação crítica. Nota-se a presença de acúmulo de

tensões de compressão na direção horizontal onde os blocos que delimitam a

abertura sofrem sobrecarga do sistema de esforços. Na direção vertical, verifica-se a

presença de uma formação de uma área tração, devido à deformação do material

pelo descarregamento sem apoio.

A próxima situação de dano tenta representar a ocorrência de uma fissura na

junta dos blocos, seja por deterioração da argamassa, seja por deterioração do

bloco de pedra.

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213

Figura 91 – Cúpula global – fissura.

Nesta situação, fica clara a forma como o material se acomoda e a

redistribuição de tensões encontra o caminho do sistema estrutural da cúpula

através da rede de esforços (Figura 91). Verifica-se também a resistência da cúpula

às deformações causadas, já que sua espessura e arranjo estrutural beneficiam o

arranjo de distribuições de esforços.

Com a fissura, observa-se a formação de uma área de acúmulo de tensões

de tração ao longo dos blocos com maior dano estrutural. Desta forma, nota-se a

quebra da ligação monolítica dos elementos da região deteriorada, possibilitando a

ação de agentes para possíveis deteriorações.

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214

Figura 92 – Detalhe da fissura nas juntas dos blocos de pedra.

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7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho faz uma proposta de análises e estudos direcionados a cúpulas

históricas e sua presença na arquitetura urbana. Conforme detalhado ao longo dos

capítulos, esta dissertação propõe uma ampliação de informações de cúpulas

antigas e suas respectivas características.

Ao final deste trabalho, é possível expor algumas considerações a respeito do

comportamento estrutural das cúpulas, seus respectivos sistemas construtivos, das

patologias mais freqüentes e das análises da modelagem computacional.

Essa dissertação busca elucidar e ampliar estudos sobre o patrimônio

histórico e cultural edificado, com especial ênfase no comportamento estrutural das

cúpulas históricas. A pesquisa bibliográfica por histórico arquitetônico e métodos

construtivos demonstrou a escassez de informação registrada para um estudo

detalhado com o objetivo de intervenções necessárias. Resgatar essas técnicas

construtivas é de suma importância para o crescimento do banco de dados nacional

na preservação do patrimônio edificado e contribui para promover a preservação

pelo usuário.

Compreender o funcionamento de um elemento arquitetônico com tipologias e

materiais aplicados de formas tão diferentes em sua estrutura, capaz de suportar os

seus próprios esforços e também as cargas de utilização, é um processo complexo

de busca e investigação sobre a melhor metodologia de análise para possível

restauro. Para melhor avaliar o grau de deterioração de uma determinada cúpula,

procurando caracterizar o nível de segurança estrutural em que se encontra,

procurou-se nesse trabalho analisar o comportamento estrutural com estudos

matemáticos e modelagens, buscando uma melhor definição para uma possível

intervenção, seja ela localizada ou global, e os procedimentos de segurança

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216

necessários, como o escoramento da estrutura, a recuperação dos materiais

deteriorados ou apenas a adoção de medidas de limpeza e manutenção dos

acabamentos.

O estudo detalhado do comportamento da estrutura, com as variações de

materiais e técnicas construtivas, fornece subsídios à tomada de decisões por parte

dos profissionais envolvidos na restauração de bens imóveis, sejam arquitetos ou

engenheiros. As patologias mais freqüentes registradas neste trabalho fornecem um

maior número de informações para um levantamento e observação por um

profissional responsável por uma possível intervenção no imóvel.

As informações sobre cúpulas históricas buscaram aumentar o conhecimento

das cascas de revolução com diferentes formas e espessuras, verificando a

aplicabilidade das teorias das cascas e buscando respostas às questões de arranjos

estruturais presentes nos estudos de casos. Observou-se, com as visitas técnicas,

que as patologias e anomalias encontradas poderiam ser amenizadas se fosse feito

um sistema de manutenção para serviços de reparos a pequenos danos. Logo,

muitas restaurações poderiam ser evitadas com medidas preventivas.

A utilização da modelagem computacional favoreceu uma maior percepção

sobre os comportamentos estruturais citados ao longo do trabalho. Através das

situações de danos propostas foi possível constatar que o comportamento das

cúpulas históricas é beneficiado por seus arranjos estruturais, suas técnicas

construtivas e os materiais empregados. Entretanto, qualquer elemento de uma

construção necessita de uma manutenção preventiva para a preservação e

existência da construção.

Propõe-se um aprofundamento de pesquisa a partir desse trabalho, visto a

complexidade desse assunto e suas muitas vertentes. Ressalta-se a necessidade de

propostas de modelagens mais próximas do estudo de caso real e uma maior

dedicação ao estudo de comportamento estrutural com danos e patologias

encontrados nas cúpulas históricas. Da observação do patrimônio histórico no

decorrer do trabalho, verificou-se a necessidade de um plano de inserção do

indivíduo como parte da preservação. A educação sobre a importância do patrimônio

histórico nacional ultrapassa as vertentes políticas e compreende a cidadania de um

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povo e seu contexto histórico. Observa-se que a evocação da cultura estimula a

busca de conhecimento e favorece o crescimento em sociedade

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