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SALVADOR DOMINGO 7/5/2017 OPINIÃO A3 www.atarde.com.br 71 3340-8991 (Cidadão Repórter) 71 99601-0020 (WhatsApp) ASSOCIADA À SIP - SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA PREMIADA PELA SOCIETY FOR NEWS DESIGN MEMBRO FUNDADOR DA ANJ - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS ASSOCIADA AO IVC - INSTITUTO VERIFICADOR DE COMUNICAÇÃO SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO: (71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS: DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: CIDADAOREPORTER@GRU- POATARDE.COM.BR, (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855; CIRCULAÇÃO: (71)3340-8612; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850. Fundado em 15/10/1912 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente: RENATO SIMÕES Vice-Presidente: VERA MAGDALENA SIMÕES Diretor Geral: ANDRÉ BLUMBERG | Diretora de Redação: MARIANA CARNEIRO | Diretor Comercial: EDMILSON VAZ | Diretor de Operações: CLEBER SOARES | Diretor Controller: DILSON SANTIAGO | Gerente Industrial: ÉLIO PEREIRA BRUNO AZIZ Paulo Ormindo de Azevedo Arquiteto, professor titular da Ufba [email protected] N a década de 80 ou 90 do século XX, não me lembro bem, houve uma feira de tecnologia no Centro de Convenções. Pela primeira vez, a internet foi apresentada ao público soteropolitano. O técnico, depois de passar informações básicas sobre a grande novidade no cenário da informática, se colocou à disposição pa- ra esclarecer dúvidas. Fiz-lhe uma pergun- ta: quem é o responsável pela internet? Disse ele: ninguém. A sua resposta me atemorizou. Com- preendi que um invento de tanto poder na sociedade seria um perigo funcionar sem alguém que controlasse prováveis ações da fraqueza humana. Entregar a internet à consciência individual e co- letiva é utopia quando ainda temos pro- vas inequívocas de que o homem nem sempre orienta a sua liberdade pelos câ- nones da ética e do bem comum. E agora a pergunta mais angustiante ainda, diante da última novidade digital: a Baleia Azul. Como pescá-la e mantê-la numa prisão para ela não causar mais tragédias a internautas imaturos, jovens inexperientes incapazes de enfrentar o furor das suas guelras? Atribuem-se ao fatídico jogo fenôme- nos horripilantes como flagelações e até suicídios entre crianças e adolescentes. Isto não deve ocorrer num momento em que o ser humano está descobrindo o mistério da vida e as motivações da fe- licidade. Será que a turma jovem não está satisfeita com o novo jeito de viver da sua geração? Para ela, na verdade muitas transformações acontecidas que a bene- ficiaram, representam a conquista de no- vos direitos em reação aos dogmas da velha guarda. Na gênese de um suicídio está o de- sencanto que pode levar o homem ao desespero. Não viola o instinto de con- servação tão forte na pessoa humana quem é feliz. Santo Agostinho, cérebro genial, confessa depois de tanto procurar a paz interior: “Senhor, fizeste-nos para Ti e nosso coração não descansa enquanto não descansar em Ti”. Será que Deus não está fazendo falta a eles? Lamentavelmente fica provado que o todo poderoso cidadão da pós-moderni- dade evoluiu racionalmente, multiplicou conquistas científicas e tecnológicas, mas não conseguiu controlar os frutos das suas vitórias. A Baleia Azul e outros fe- nômenos da cultura digital sinalizam uma defasagem entre os avanços da ciên- cia e da técnica e o amadurecimento hu- mano. Está na hora dos responsáveis pe- las comunidades sentirem a necessidade de parâmetros na saga tecnológica. Não podemos continuar a reboque da loucura de alguns perniciosos que agem sem dis- cernimento. É utopia pensar-se que a consciência coletiva pode rastrear a li- berdade do homem. Se não houver li- mites impostos por legislações, as feras satânicas continuarão destruindo a feli- cidade da criatura humana e arruinando o próprio destino da humanidade. Yvette Amaral Professora universitária [email protected] EDITORIAL Permanente exclusão A morte e as mortes do centro histórico Onde está a lucidez humana? atarde.com.br/bahia DESTAQUES DO PORTAL A TARDE Loja promove aula de adestramento de cães e feira de doação Kin Kin / Divulgação atarde.com.br/esportes Acompanhe em tempo real os lances de Vitória x Bahia A exclusão do índio no processo histórico do Brasil é irreparável, uma exclusão permanente A brutalidade contra indígenas no do- mingo passado em Bahias, povoado no estado do Maranhão, antes de qualquer julgamento ou apontamento de quem é certo e o errado, é um caso que expõe a fragilidade de ser descendente de nativos americanos e viver num Brasil que pouco resguardou do passado pré-invasão por- tuguesa em 1500 – numa outra ótica, o que são apenas palavras trocadas, do pas- sado pré-descobrimento. Gamala é o nome da etnia da tribo que foi atacada por um grupo de pis- toleiros ligados a fazendeiros, que se- gundo o Conselho Indigenista Missio- nário (Cimi), foi consequência de dis- puta de terras no pequeno povoado do município maranhense de Viana. O enredo é conhecido, apesar de ser “coisa de índio”, como o popularesco bra- sileiro perpetuou de geração em geração para diminuir um assunto ou ação: cada parte reivindica que tem direito sobre a terra, desde a década de 1980 sob o con- trole de fazendeiros. No entanto, líderes da etnia Gamala há três anos comandam a retomada daquele espaço. Esta é uma dinâmica que se arrasta em diversos pontos do território nacional, nu- ma disputa complexa que nem lei ou documentos, até mesmo intervenção do governo federal ou da desmantelada Fun- dação Nacional do Índio (Funai) – mais isolada do que qualquer etnia que resiste ao contato com outros homens – têm conhecimento necessário para mediar a demarcação de terras no país. Tem a ver, mesmo, com representatividade, e a ex- clusão do índio no processo histórico do Brasil é irreparável, uma exclusão per- manente. Na escola, por exemplo, pou- quíssimo se fala dos nativos brasileiros, suas etnias e resistências. Como inte- grá-los agora? Sem apoio do governo para reaver muitas das terras ocupadas, algumas em episódios tão sanguinários como o do domingo passado no Maranhão, os índios perdem direitos num Brasil em que os antepassados assistiram bestia- lizados ser desmatado e corrompido pa- ra bem longe do que as tantas etnias entendiam como habitat natural. Mas, quando interditam estradas, canteiros de obras e invadem o Palácio do Pla- nalto, os índios devem ser penalizados pelas mesmas leis que os excluem. N ão é só o centro histórico que está enfermo. O Comércio, antigo centro financeiro do estado, está enfermo também. Conheço inúmeros edifícios re- lativamente novos que têm um só elevador funcionando e são abastecidos por carros pipas, porque têm dívidas enormes com a Embasa e a Coelba. Os proprietários de suas salas buscam quem se comprometa apenas a pagar o condomínio e o IPTU. Não é muito diferente a situação da Av. 7 de Setembro e Rua Chile, a main street de Salvador até os anos 60. Será que podemos criminalizar os pro- prietários desses imóveis por omissão, ou será que o problema é mais profundo, re- sultante de políticas públicas comprome- tidas? O nosso centro tradicional foi con- denado com a transferência de suas fun- ções centrais, na década de 1970, para um novo centro periférico, na maior transação imobiliária que esta cidade já viu, quando se transformaram glebas rurais de patacas em lotes dourados comerciais com o in- vestimento público. O poder político e a administração estadual foram transferidos para o CAB e o econômico e comercial para o Iguatemi. Como se não bastasse, em 1992 se expulsou a população e se excluiu o Centro Antigo e o Comércio do projeto do metrô. O drama da área é resultado do conchavo imobiliário. Quando o Iguatemi e a Paralela se transforma em um dos locais mais con- gestionados, e inóspitos da cidade, a Orla do Atlântico, sem um parque costeiro ca- paz de amenizar a maresia, vira uma zona de motéis e shoppings decadentes e o estoque de terrenos do Corredor da Vi- tória se esgota, o capital imobiliário se propõe, candidamente, a revitalizar o Centro Antigo. Uma senhora compra 150 imóveis em Santo Antônio Além do Car- mo, outro cavalheiro adquire igual nú- mero de imóveis na Rua Chile e projetos imobiliários para o Largo Dois de Julho e o Sodré são apresentados. Se pensam que vão verticalizar o Centro Antigo, se en- ganam. Acho positivo que a Prefeitura se in- teresse pelo Centro Antigo, mas não creio que vá se resolver o problema pela jus- tialização e mercado imobiliário. Para re- construir 1500 ruínas e recuperar uma área tão extensa não bastam isenções fis- cais. Quem são esses proprietários vir- tuais? Tirando uma franja com vista para a baia, que pode interessar à pequena hotelaria, não creio que a nossa burguesia possa querer morar em apartamentos sem garagem, playground e transporte na porta. Creio sim num plano urbanístico que envolva União, Estado e município com investimentos pesados em mobili- dade e recuperação de ruínas e pardieiros para uma clientela de “Minha casa, mi- nha vida”, que inclua as 3.000 famílias carentes que foram o sal da área e outros setores sociais, como funcionários públi- cos, comerciários e estudantes. Sem essa decisão política, vai se continuar mor- rendo e liquidando o Centro Antigo.

Kin Kin / Divulgação EDITORIAL Permanente exclusãobiblioteca.fmlf.salvador.ba.gov.br/phl82/pdf/Hemeroteca/recorte67.pdf · SALVADOR DOMINGO 7/5/2017 OPINIÃO A3 71 3340-8991 (Cidadão

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SALVADOR DOMINGO 7/5/2017 OPIN IÃO A3

www.atarde.com.br71 3340-8991

(Cidadão Repórter)

71 99601-0020(WhatsApp)

ASSOCIADAÀ SIP -

SOCIEDADEINTERAMERICANA

DE IMPRENSA

PREMIADAPELA

SOCIETYFOR NEWS

DESIGN

MEMBROFUNDADOR DA ANJ

- ASSOCIAÇÃONACIONAL

DE JORNAIS

ASSOCIADAAO IVC -

INSTITUTOVERIFICADOR DECOMUNICAÇÃO

SEDE: RUA PROFESSOR MILTON CAYRES DE BRITO, N.º 204, CAMINHO DASÁRVORES, CEP: 41.820-570, SALVADOR/BA, FALE COM A REDAÇÃO:(71)3340-8800, (71)3340-8500, FAX: (71)3340-8712 OU 3340-8713, DE SEGUNDA ASEXTA-FEIRA DAS 6:30 À MEIA-NOITE. SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS:DAS 9:00 ÀS 21 HORAS; SUGESTÃO DE PAUTA: [email protected], (71)3340-.8991. CLASSIFICADOS POPULARES: (71)3533-0855;CIRCULAÇÃO: (71)3340-8612; CENTRAL DE ASSINATURA: (71)3533-0850.

Fundado em 15/10/1912

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Presidente: RENATO SIMÕESVice-Presidente: VERA MAGDALENA SIMÕES

Diretor Geral: ANDRÉ BLUMBERG | Diretora de

Redação: MARIANA CARNEIRO | Diretor Comercial:

EDMILSON VAZ | Diretor de Operações: CLEBER

SOARES | Diretor Controller: DILSON SANTIAGO |

Gerente Industrial: ÉLIO PEREIRA

BRUNO AZIZ

Paulo Ormindo de AzevedoArquiteto, professor titular da [email protected]

N a década de 80 ou 90 do século XX,não me lembro bem, houve umafeira de tecnologia no Centro de

Convenções. Pela primeira vez, a internetfoi apresentada ao público soteropolitano.O técnico, depois de passar informaçõesbásicas sobre a grande novidade no cenárioda informática, se colocou à disposição pa-ra esclarecer dúvidas. Fiz-lhe uma pergun-ta: quem é o responsável pela internet?Disse ele: ninguém.

A sua resposta me atemorizou. Com-preendi que um invento de tanto poderna sociedade seria um perigo funcionarsem alguém que controlasse prováveisações da fraqueza humana. Entregar ainternet à consciência individual e co-letiva é utopia quando ainda temos pro-vas inequívocas de que o homem nemsempre orienta a sua liberdade pelos câ-nones da ética e do bem comum.

E agora a pergunta mais angustianteainda, diante da última novidade digital:a Baleia Azul. Como pescá-la e mantê-lanuma prisão para ela não causar maistragédias a internautas imaturos, jovensinexperientes incapazes de enfrentar ofuror das suas guelras?

Atribuem-se ao fatídico jogo fenôme-nos horripilantes como flagelações e atésuicídios entre crianças e adolescentes.Isto não deve ocorrer num momento emque o ser humano está descobrindo omistério da vida e as motivações da fe-licidade. Será que a turma jovem não estásatisfeita com o novo jeito de viver da suageração? Para ela, na verdade muitastransformações acontecidas que a bene-ficiaram, representam a conquista de no-vos direitos em reação aos dogmas davelha guarda.

Na gênese de um suicídio está o de-sencanto que pode levar o homem aodesespero. Não viola o instinto de con-servação tão forte na pessoa humanaquem é feliz. Santo Agostinho, cérebrogenial, confessa depois de tanto procurara paz interior: “Senhor, fizeste-nos para Tie nosso coração não descansa enquantonão descansar em Ti”. Será que Deus nãoestá fazendo falta a eles?

Lamentavelmente fica provado que otodo poderoso cidadão da pós-moderni-dade evoluiu racionalmente, multiplicouconquistas científicas e tecnológicas, masnão conseguiu controlar os frutos dassuas vitórias. A Baleia Azul e outros fe-nômenos da cultura digital sinalizamuma defasagem entre os avanços da ciên-cia e da técnica e o amadurecimento hu-mano. Está na hora dos responsáveis pe-las comunidades sentirem a necessidadede parâmetros na saga tecnológica. Nãopodemos continuar a reboque da loucurade alguns perniciosos que agem sem dis-cernimento. É utopia pensar-se que aconsciência coletiva pode rastrear a li-berdade do homem. Se não houver li-mites impostos por legislações, as ferassatânicas continuarão destruindo a feli-cidade da criatura humana e arruinandoo próprio destino da humanidade.

Yvette AmaralProfessora universitá[email protected]

EDITORIAL Permanente exclusão

A morte e as mortes do centro histórico

Onde está alucidez humana?

atarde.com.br/bahia

DESTAQUESDO PORTAL

A TARDE

Loja promove aulade adestramento decães e feira de doação

Kin Kin / Divulgação

atarde.com.br/esportes

Acompanhe emtempo real os lancesde Vitória x Bahia

A exclusão do índiono processohistórico do Brasilé irreparável,uma exclusãopermanente

A brutalidade contra indígenas no do-mingo passado em Bahias, povoado noestado do Maranhão, antes de qualquerjulgamento ou apontamento de quem écerto e o errado, é um caso que expõe afragilidade de ser descendente de nativosamericanos e viver num Brasil que poucoresguardou do passado pré-invasão por-tuguesa em 1500 – numa outra ótica, oque são apenas palavras trocadas, do pas-sado pré-descobrimento.

Gamala é o nome da etnia da triboque foi atacada por um grupo de pis-toleiros ligados a fazendeiros, que se-gundo o Conselho Indigenista Missio-nário (Cimi), foi consequência de dis-puta de terras no pequeno povoado do

município maranhense de Viana.O enredo é conhecido, apesar de ser

“coisa de índio”, como o popularesco bra-sileiro perpetuou de geração em geraçãopara diminuir um assunto ou ação: cadaparte reivindica que tem direito sobre a

terra, desde a década de 1980 sob o con-trole de fazendeiros. No entanto, líderesda etnia Gamala há três anos comandama retomada daquele espaço.

Esta é uma dinâmica que se arrasta emdiversos pontos do território nacional,nu-ma disputa complexa que nem lei oudocumentos, até mesmo intervenção dogovernofederaloudadesmanteladaFun-dação Nacional do Índio (Funai) – maisisolada do que qualquer etnia que resisteao contato com outros homens – têmconhecimento necessário para mediar ademarcação de terras no país. Tem a ver,mesmo, com representatividade, e a ex-clusão do índio no processo histórico doBrasil é irreparável, uma exclusão per-

manente. Na escola, por exemplo, pou-quíssimo se fala dos nativos brasileiros,suas etnias e resistências. Como inte-grá-los agora?

Sem apoio do governo para reavermuitas das terras ocupadas, algumasem episódios tão sanguinários como odo domingo passado no Maranhão, osíndios perdem direitos num Brasil emque os antepassados assistiram bestia-lizados ser desmatado e corrompido pa-ra bem longe do que as tantas etniasentendiam como habitat natural. Mas,quando interditam estradas, canteirosde obras e invadem o Palácio do Pla-nalto, os índios devem ser penalizadospelas mesmas leis que os excluem.

N ão é só o centro histórico que estáenfermo. O Comércio, antigo centrofinanceiro do estado, está enfermo

também. Conheço inúmeros edifícios re-lativamente novos que têm um só elevadorfuncionando e são abastecidos por carrospipas, porque têm dívidas enormes com aEmbasa e a Coelba. Os proprietários de suassalas buscam quem se comprometa apenasa pagar o condomínio e o IPTU. Não é muitodiferente a situação da Av. 7 de Setembro eRua Chile, a main street de Salvador até osanos 60.

Será que podemos criminalizar os pro-prietários desses imóveis por omissão, ouserá que o problema é mais profundo, re-sultante de políticas públicas comprome-tidas? O nosso centro tradicional foi con-denado com a transferência de suas fun-ções centrais, na década de 1970, para um

novo centro periférico, na maior transaçãoimobiliária que esta cidade já viu, quandose transformaram glebas rurais de patacasem lotes dourados comerciais com o in-vestimento público. O poder político e aadministração estadual foram transferidospara o CAB e o econômico e comercial parao Iguatemi. Como se não bastasse, em 1992se expulsou a população e se excluiu oCentro Antigo e o Comércio do projeto dometrô. O drama da área é resultado doconchavo imobiliário.

Quando o Iguatemi e a Paralela setransforma em um dos locais mais con-gestionados, e inóspitos da cidade, a Orlado Atlântico, sem um parque costeiro ca-paz de amenizar a maresia, vira uma zonade motéis e shoppings decadentes e oestoque de terrenos do Corredor da Vi-tória se esgota, o capital imobiliário sepropõe, candidamente, a revitalizar oCentro Antigo. Uma senhora compra 150imóveis em Santo Antônio Além do Car-mo, outro cavalheiro adquire igual nú-mero de imóveis na Rua Chile e projetosimobiliários para o Largo Dois de Julho e

o Sodré são apresentados. Se pensam quevão verticalizar o Centro Antigo, se en-ganam.

Acho positivo que a Prefeitura se in-teresse pelo Centro Antigo, mas não creioque vá se resolver o problema pela jus-tialização e mercado imobiliário. Para re-construir 1500 ruínas e recuperar umaárea tão extensa não bastam isenções fis-cais. Quem são esses proprietários vir-tuais? Tirando uma franja com vista paraa baia, que pode interessar à pequenahotelaria, não creio que a nossa burguesiapossa querer morar em apartamentossem garagem, playground e transporte naporta. Creio sim num plano urbanísticoque envolva União, Estado e municípiocom investimentos pesados em mobili-dade e recuperação de ruínas e pardieirospara uma clientela de “Minha casa, mi-nha vida”, que inclua as 3.000 famíliascarentes que foram o sal da área e outrossetores sociais, como funcionários públi-cos, comerciários e estudantes. Sem essadecisão política, vai se continuar mor-rendo e liquidando o Centro Antigo.