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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 29 DE MAIO DE 2015 ANO XIV Nº 3340 RIQUEXÓS TRADIÇÃO AMEAÇADA São cada vez menos os triciclos que percorrem as ruas de Macau. Se nos anos 80 eram cerca de 300, hoje em dia são pouco mais de 60 os condutores de riquexós que tentam sobreviver a pedalar. Velhos e sem ninguém que os substitua assistem ao definhar de uma profissão que ainda faz parteda identidade de Macau. Até quando? Última página hojemacau REPORTAGEM PÁGINAS 2-3 PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB SOCIEDADE PÁGINA 6 EVENTOS CENTRAIS HOTEL ESTORIL Fachada em nome da memória FOTOGRAFIA Três tristes tipos de Macau PÁGINA 20 Oito e Oitenta OPINIÃO ANDRÉ RITCHIE Margens de sonho ANABELA CANAS h

Hoje Macau 29 MAI 2015 #3340

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Hoje Macau N.º3340 de 29 de Maio de 2015

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Director carlos morais josé www.hojemacau.com.mo Mop$10 s e x ta - f e i r a 2 9 D e m a i o D e 2 0 1 5 • a N o x i v • N º 3 3 4 0

riquexós tradição ameaçada

São cada vez menos os triciclos que percorremas ruas de Macau. Se nos anos 80 eram cerca

de 300, hoje em dia são pouco mais de 60os condutores de riquexós que tentam sobreviver a pedalar. Velhos e sem ninguém que os substitua assistem ao definhar de uma profissão que ainda

faz parteda identidade de Macau.Até quando?

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2 hoje macau sexta-feira 29.5.2015reportagem

“S ão cem patacas para quatro pessoas e ainda acham caro!”. o riso do senhor Wong só

disfarça a tristeza de mais um cliente perdido. Naquele dia, quatro turistas do continente que carregavam os seus sacos de bis-coitos, queriam ir até ao centro comercial New Yaohan. Do Grand Lisboa, recusaram-se a pagar um preço tão elevado. Ignoravam, decerto, a experiência de andar de riquexó, o meio de transporte mais característico de Macau.

A vida de um condutor de riquexó é assim, feita de altos e baixos. Trabalham ao sol e à chu-va e esperam pacientemente por clientes debaixo do pequeno toldo de cor verde e vermelha. Por mês não ganham mais do que quatro mil patacas, mas é este o preço a pagar por uma profissão com tamanha liberdade. Começam a trabalhar de manhã e só terminam quando o sol se põe, com a certeza de que já não sofrem as pressões dos patrões.

Wong, tal como os seus colegas com quem o HM falou, gosta de ter uma profissão assim, sem pressas. os ganhos mal dão para uma vida desafogada, como nos diz, mas este

“Podemos ver que só há velhos a trabalhar aqui, não há nenhum jovem. Em 1985, éramos mais de 300 triciclos, e agorahá cerca de 60”Wan Condutor de riquexó

Chegaram a Macau sabe-se lá como. Ilegais, à procura de emprego onde quer que fosse. Trabalharam nas obras ou em fábricas. Um dia, conduzir um riquexó com turistas e residentes lá dentro tornou-se a solução. Trinta anos depois, mantêm-se num negócio que apenas dá para sobreviver. Reformados, já com o BIR nas mãos, não conseguem deixar de conduzir um dos veículos mais tradicionaisdo território,mas sabem que podem ser os últimos a fazê-lo

Riquexós uma tradição que pode desaparecer

uma vida ao tRiCiClo

homem que chegou ao território há muitos anos, ilegal, vindo de Zhongshan, não se queixa.

“Faço isto há 30 anos. Antes não havia outro trabalho, não tinha muitas escolhas, e escolhi conduzir um riquexó. Todos os dias começo a trabalhar às 9h00, acabo às 18h00 ou 19h00. Tenho dias em que não tenho nenhum cliente, outros em que tenho três ou quatro clientes por dia.”

os preços variam entre as 100 e 300 patacas. Tudo isso por um

passeio completo aos principais pontos turísticos de Macau. Wong tem o seu riquexó estacionado junto ao casino Grand Lisboa e ali espera por clientes. Chegam aos grupos, olham com curiosidade, mas são poucos o que escolhem meter-se num triciclo no meio do trânsito.

Apesar disso, os tempos hoje são bem melhores. “Em Zhon-gshan, a vida era muito difícil e dura e resolvi vir para Macau trabalhar. Só tenho saudades de quando havia mais visitantes es-

trangeiros. Agora a maioria são turistas da China, que acham que os riquexós não têm nada de inte-ressante ou especial. o negócio é pior e tenho saudades de como era antes”, conta.

À hora de almoço de um dia de semana, a habitual fila de riquexós estacionada junto ao hotel Lisboa só tem triciclos vazios. os seus condutores ou estão a trabalhar noutra coisa ou só chegam ao fim--de-semana. Apenas três esperam e Leong é um deles.

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3 reportagemhoje macau sexta-feira 29.5.2015

H o Wa Fok, presidente da Associação de Condutores de Triciclos de Macau, con-

firmou ao HM que desde há três anos que o número de condutores de riquexós se mantém seme-lhante. Só um ou dois condutores terão estacionado o seu triciclo para sempre.

Existem actualmente em Ma-cau duas associações que repre-sentam estes profissionais, sendo que a outra se intitula Associação dos Triciclos de Turismo de Ma-cau, com a qual não foi possível estabelecer contacto. Cerca de 80 membros pertencem à associação de condutores, mas apenas 30 es-tão, de facto, a transportar turistas com os seus riquexós. Há cerca de 60 espalhados pelo território.

Ho Wa Fok explicou que os principais problemas que os con-dutores enfrentam actualmente é a proibição de passear por vários caminhos. As ruas deste território deixaram de servir para todos eles.

“O actual planeamento do trânsito não olha para as neces-

sidades do sector dos riquexós. Por exemplo, nas zonas que são permitidas apenas para os peões, como em frente ao templo de A-Má, ou no Leal Senado, onde há 20 anos havia circulação de veículos, são pontos de visitas, mas não podemos parar em frente aos locais quando transportamos os clientes. Isso causa conflitos entre os condutores e os clientes”, explicou ao HM.

Ho Wa Fok não tem dúvidas de que o sector “pode mesmo desaparecer” devido a essas limitações, mas também devido ao baixo número de clientes. “A maior procura é pelos autocarros dos casinos”, assegura. “No final dos anos 80 e início dos anos 90, o número de condutores foi diminuindo muito rapidamente e cada vez menos turistas ficaram interessados neste meio de trans-porte, enquanto outros [veículos] melhoraram”, explicou.

Com o passar dos anos, muitos condutores mudaram de emprego, mas Ho Wa Fok não sabe precisar

quais os sectores de actividade onde recomeçaram a trabalhar.

Da resistênciao presidente da associação de condutores diz fazer um esforço constante para a manutenção do negócio, mas espera que o Gover-no possa negociar mais por forma a resolver as dificuldades destes profissionais, disse ao HM.

Apesar de considerar que a Direcção dos Serviços de Tu-rismo (DST) dá todo o apoio ao sector, Ho Wa Fok admitiu que esta é uma área onde os valores ganhos com os apoios financeiros públicos e os lucros dos passeios “não chegam ao salário mínimo recentemente implementado para os trabalhadores dos sectores da limpeza e da segurança”.

O HM tentou obter mais es-clarecimentos junto da DST, no sentido de compreender quais as medidas que estão a ser tomadas para evitar o desaparecimento de uma profissão e sector tão tradi-cionais em Macau. O organismo

apenas confirmou que tem vindo a distribuir uniformes e outros adereços “para imprimir um maior profissionalismo, consciência e melhorar a imagem turística” dos condutores no desempenho da sua actividade.

“A DST acredita que a disponi-bilização contínua de apoio a este meio de transporte característico tem sido benéfica para a operação e promoção da actividade dos condutores e da sua associação”, disse ainda a entidade ao HM.

Foi-nos ainda confirmado que, desde 2011, ano em que foi assinado um acordo com a associação de condutores, a DST não avançou com mais apoios. O acordo consistiu no pagamento de 600 mil patacas à associação de condutores para a remodelação dos riquexós segundo o traço original. Actualmente os riquexós realizam percursos a cada 15 minutos, totalmente gratuitos. Os pontos de partida para os percursos pagos são apenas três: o terminal marítimo, a avenida Almeida Ri-beiro ou o Hotel Lisboa. a.s.s./F.F.

Riquexós uma tradição que pode desaparecer

uma vida ao tRiciclo

NúmeRo de coNdutoRes maNtém-se desde 2012

Emprego que não chega ao salário mínimo

Tal como o colega Wong, Leong também chegou a Macau de forma ilegal, vindo da vizinha Zhuhai. “Vi-nha para trabalhar e comecei numa fábrica de roupa, só que depois a fábrica fechou e resolvi ser condutor de riquexó. Ganhava sete patacas por dia, a passar a ferro. Era muito duro. Através de um amigo, arranjei este emprego. Até hoje”, conta.

E hoje mantém-se num negócio a definhar. “Está quase a desapa-recer, porque não há jovens, estão todos velhos e a reformar-se. Acre-dito que daqui a muito poucos anos já não vão haver riquexós. O apoio que o Governo nos dá, chega para um yam cha e para as despesas do dia-a-dia, pouco mais.”

Apesar de Macau ter conheci-do um brutal crescimento do seu sector turístico e do Jogo, esse desenvolvimento não trouxe bons ventos para o negócio dos riquexós. “Este negócio vai ficar sempre atrás dos táxis e dos autocarros dos casinos. Vejo que este sector já não consegue competir com outros meios de transporte”, conta Choi.

Aumentar os preços nem é uma hipótese a considerar por estes con-

“Faço isto há 30 anos. Antes não havia outro trabalho, não tinha muitas escolhas,e escolhi conduzir um riquexó. Todos os dias começo a trabalhar às 9h00, acabo às 18h00ou 19h00. Tenho dias em que não tenho nenhum cliente, outrosem que tenhotrês ou quatro clientes por dia.”WoNg condutor de riquexó

dutores. “Não podemos aumentar os preços porque quase não existem clientes. Se aumentarmos, ainda vai ser pior”, considerou Wong.

conDuzir na multiDão Conduzir hoje um riquexó significa atravessar os perigos de um territó-rio com um dos maiores valores de densidade populacional do mundo. “O desenvolvimento de Macau é im-prescindível, embora o trânsito tenha ficado uma confusão. Claro que isso nos influenciou, mas não me importo, porque esse desenvolvimento é es-sencial para o território, não é assim tão mau”, refere o senhor Wan. Para este condutor, que só está há oito anos neste negócio, as reacções em Hong Kong contra os turistas do continente também influenciaram o negócio de forma negativa. “Fizeram com que tenhamos menos clientes”.

Wan chegou a Macau em 1979, mas, ao contrários dos colegas, nunca foi emigrante ilegal. “Vim trabalhar como motorista de mer-cadorias. Este é um trabalho que me dá alguma liberdade depois da reforma. Não quero saber do lucro, porque já estou reformado. Só queria alguma coisa que ocupas-se o meu tempo e em que tivesse liberdade. Gosto de fazer isto.”

Com um sorriso no rosto, asse-gura que não está cansado. Acidentes nunca os teve, só uma vez não rece-beu dinheiro pelo serviço porque os turistas que transportava, a caminho das Ruínas de São Paulo, foram ter à rua errada. “A minha mulher e os meus filhos trabalham num casino.

“Acredito que daqui a muito poucos anos já não vão haver riquexós. O apoio que o Governo nos dá, chega para um yam cha e para as despesas do dia-a- -dia, pouco mais”leoNg condutor de riquexó

Mas não me importo de trabalhar aqui e ganhar pouco, porque estou à minha vontade. Sempre fui muito poupado e, quando uma pessoa não joga no casino, não gasta muito di-nheiro, então consegue-se comprar uma casa e pôr os filhos a estudar na universidade. Comprei casa há mais de dez anos e, nessa altura, custou menos de 200 mil patacas. Agora já tenho os meus filhos formados.”

Os seus, tal como os dos outros, não pensam sequer na hipótese

de conduzir um riquexó. “Eles não querem agora, mas acho que quando se reformarem vão poder trabalhar neste negócio, porque é livre. Podemos ver que só há velhos a trabalhar aqui, não há nenhum jovem. Em 1985, éramos mais de 300 triciclos, e agora há cerca de 60.”

Para além de não haver jo-vens, também os condutores dos tradicionais triciclos defendem que poderiam haver mais espaços

disponibilizados no território. “Os locais escolhidos para os riquexós não são suficientes, seria melhor aumentar estes espaços. Se tivés-semos dez locais, por exemplo, poderíamos ganhar mais de cinco mil patacas por mês. O Governo poderia pagar mais para nos apoiar, não é suficiente”, disse Choi.

andreia sofia [email protected]

Flora [email protected]

O senhor Wan veio para Macau em 1979 e trabalhava como motorista antes de conduzir riquexós

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4 hoje macau sexta-feira 29.5.2015política

t rês estudantes do Insti-tuto Politécnico de Macau (IPM) e da Universidade de Macau (UM) consideram

que o Governo deve criar diplo-mas que obriguem à realização de avaliação do desempenho dos directores dos departamentos da Função Pública. No estudo, inti-tulado “Construção do sistema de Avaliação do Desempenho para os Chefes do Departamento no Governo”, Fong Ka I, Loi Hio Ian e Li Mengna explicam que o regime de desempenho do Governo actualmente praticado em cada departamento “é de participação voluntária, não havendo legislação obrigatória sobre essa participação, apenas participando nele alguns departamentos”.

Publicado na revista da Ad-ministração, o estudo dos também estudantes pede que “a fim de me-lhorar a avaliação do desempenho, deve primeiro estabelecer-se uma entidade legal especializada para institucionalizar a avaliação obri-gatória, para avaliar o desempenho, e alargá-la a todos os departamen-tos do Governo”.

Os três consideram ainda ser importante que haja várias enti-

“Se não existir um sistema de inspecção e controlo da melhoria do desempenho em tempo útil as actividades de gestão do desempenho podem facilmente tornar-se umamera formalidade”Estudo

Um estudo publicado na última edição da revista da Administração pede que seja criada uma lei que determine a obrigatoriedade do regime de avaliação do desempenho na Função Pública, uma vez que só alguns departamentos o fazem. Três estudiosos defendem ainda que o actual sistema tem“falta de abertura e transparência” e pedem que o público possa também avaliaros dirigentes

Função Pública Pedido regime de avaliação obrigatório Para desemPenho

Exames a conta gotasdades a fiscalizar esse processo, mesmo que sejam instituições externas.

“No futuro, o Governo deve permitir que serviços especiais da Administração Pública, residentes e outras entidades de avaliação externa possam participar neste sistema de avaliação, para fazer com que a avaliação possa me-lhorar os efeitos da política e fazer com que o pessoal de direcção dos departamentos formem uma força de incentivo e encorajamento.”

Isto porque, dizem, sem uma supervisão rigorosa e um sistema de controlo, a objectividade e imparcialidade da avaliação do desempenho é difícil de garantir. “se não existir um sistema de inspecção e controlo da melhoria do desempenho em tempo útil as actividades de gestão do desem-penho podem facilmente tornar-se uma mera formalidade”.

Cidadão é fundamentalOs académicos, que frequentam cursos de Administração Pública, defendem que o trabalho de avalia-ção de desempenho é “fortemente profissionalizado, devendo ser realizado por uma entidade espe-

cializada”. Para que os directores dos departamentos possam ser devidamente analisados quanto ao seu desempenho e capacidade, os autores acreditam ser fundamental criar “uma série de mecanismos de acompanhamento, incluindo a fixação de metas, o acompanha-mento do feedback, os resultados da avaliação e a melhoria e os resultados”.

Criados os padrões, a coisa mais importante, defendem, é a participação do cidadão. “A avaliação do desempenho é, sem dúvida, um canal de comunicação entre o Governo e os cidadãos. O elemento mais importante para a nova gestão pública é a participa-ção do público, porque o público é o utente dos serviços [do Governo]”, lê-se no estudo.

as CrítiCas Os três autores do estudo falam ainda da existência de várias falhas no actual sistema de avaliação, que fazem com que ele não seja eficiente na prática. “Os depar-tamentos utilizam o questionário como forma de obter dados, mas neste momento não há um arranjo sistemático e um tempo uniforme

de acompanhamento, por isso não pode obter de forma efectiva e alargada as opiniões.”

Para além disso, existe “falta de abertura e transparência” em todo o processo. “As informações no site sobre o serviço público reportam--se a dois ou três anos, o que leva as pessoas a terem dificuldades em obter informações.”

O estudo sugere ainda que seja feita a apresentação de relatórios periódicos sobre o desempenho e resultados, para mostrar eventuais “inadequações do projecto ou do ser-viço”. Perante eles, dizem, o Governo pode melhorar o funcionamento e os resultados do projecto e dar suporte no futuro, para imprimir uma direc-ção adequada e novas metas.

“Com a expansão contínua das funções do Governo, os gastos do Governo aumentarão de forma significativa, mas a ineficiência nos gastos trará, inevitavelmente, declínio de qualidade. Assim, o foco da avaliação vira-se para a qualidade dos serviços, para es-tabelecer um mecanismo perfeito de avaliação do desempenho”, concluem ainda os académicos.

andreia sofia [email protected]

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5 políticahoje macau sexta-feira 29.5.2015

pubFunção Pública Pedido regime de avaliação obrigatório Para desemPenho

Exames a conta gotas

T rês associações de fun-cionários de Jogo da Fe-deração das Associações de Operários de Macau

(FAOM) reuniram-se ontem com o Governo para pedir uma calendarização exacta para a im-plementação da proibição total do tabaco nos casinos. O objectivo, dizem, é a protecção da saúde dos funcionários.

Foram cinco os representantes da FAOM que se encontraram com o secretário para Assuntos sociais e Cultura, Alexis Tam, e com o di-rector dos serviços de saúde (ss), Lei Chin Ion. Todos concordam com a decisão do Governo de que a lei anti-tabaco inclua acabar com o fumo nos casinos e pedem que o Executivo entregue de imediato o novo regime.

Os vice-presidentes da FAOM, Ella Lei e Chiang Chong sek, consi-deram até que esta decisão de proibir o fumo “já vem tarde”, como fizeram questão de dizer aos jornalistas.

“Os funcionários do Jogo sem-pre apresentaram as suas críticas

Lionel Leong lidera grupo de jovens na Ilha da Montanha o secretário para a economia e Finanças, lionel leong, liderou um grupo de cerca de cem jovens empresários de macau numa visita à ilha da montanha. o encontrou pretendeu dar a conhecer o espaço que irá receber projectos dos jovens em causa. Como noticia a rádio macau, a zona dedicada a negócios da raem fica próxima da Universidade de macau. o canal chinês da rádio macau adianta que a conclusão da primeira fase deste projecto, com 30 mil metros quadrados, está prevista para Junho. até ao final do ano deve entrar em funcionamento a segunda fase, com uma área de mais de cem mil metros quadrados. até ao momento já foram apresentados 27 pedidos de jovens empreendedores de macau, candidaturas estas que serão avaliadas no início do próximo mês. o secretário, afirma a rádio, espera que esta visita tenha resultado de forma positiva para os jovens dando-lhes a conhecer o espaço e as oportunidades nele presente.

Fumo nos casinos Pedida entrega imediata de regime Para Proibição total

onde está o calendário?

à criação de salas de fumo, mas para eles isto são truques porque a qualidade do ar dentro dos casinos continua a ser má. sabemos que há operadoras de Jogo que toleram que se fume nas áreas proibidas”, disse Chiang Chong sek.

A bem dA sAúdeElla Lei mostrou-se preocupada com a falta de um calendário para

a implementação da proibição to-tal, devido às opiniões que diz ter recebido de trabalhadores. Para a vice-presidente, é importante que o Governo corresponda aos requisi-tos de protecção de saúde incluídos na Convenção da Organização de saúde sobre a luta anti-tabaco.

“Até ao dia em que o Governo reveja o regime e conclua a apre-ciação na Assembleia Legislativa

(AL), a proibição total do fumo pode demorar [anos]. A saúde dos funcionários é inestimável, por isso o Executivo deve apresentar o documento da revisão à AL de imediato, mostrando assim a determinação da implementação da medida”, esclarece a também deputada.

Quando questionado sobre como avalia a posição das ope-radoras do Jogo que defendem a implementação das salas de fumo, Chiang Chon sek criticou a falta de critérios para essas mesmas salas, descredibilizando-as como medida de protecção para a saúde dos funcionários. O deputado exemplificou que, no aeroporto de Pequim, em Junho, vão ser fechadas todas as salas de fumo. Isto porque, afirma, até a Organi-zação Mundial de saúde suspeita do efeito eficaz das salas de fumo no interior dos espaços.

Filipa Araú[email protected]

Flora [email protected]

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6 hoje macau sexta-feira 29.5.2015sociedade

“Seria uma óptima oportunidade para abrir um concurso para jovens arquitectos, um debate ou uma consulta, para [o projecto] não ser dado sempre aos mesmos. O fundamental é ter um debate de ideias”Francisco Vizeu Pinheiro arquitecto

A partir do dia 1 de Junho o Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ)

vai “implementar a nova medida de prolongamento dos períodos de consulta externa”. Quem o confirma são os próprios Serviços de Saúde (SS) num comunicado à imprensa, onde especificam que algumas das especialidades mais procuradas vão poder atender mais utentes.

Os serviços de Ortopedia, Medicina Física e Reabilitação, Cardiologia e Imagiologia vão então ter os horários estendidos e medida procura “encurtar o tempo de espera” dos serviços em causa. Com isto, os SS pretendem que se possa ser “mais racional na utiliza-ção dos recursos e instalações do hospital” mas também conceder aos médicos especialistas e inter-nos médicos “mais oportunidades de comunicação e de prática”.

hotel estoril Arquitectos pedem entregA de projecto Aos mAis jovens

luz ao fundo do corredorAlexis Tam anunciou ontem maisdetalhes sobre o projecto de remodelação do hotel Estoril, o qual deverá manter a altura original do edifício e, eventualmente, a fachada. Francisco Vizeu Pinheiro e Carlos Marreiros aplaudema iniciativa, tendo pedido a aberturaa projectos de jovens arquitectos

saúde aumentam Períodos de consultas no são Januário

Despesas continuam a subir

Conselho do Património Cultural, mostrou-se satisfeito com a even-tual decisão de manter a fachada. “Acho que é uma atitude correcta digna de um dirigente e que vai ajudar a preservar a memória co-lectiva. A fachada do Hotel Estoril tem quase 50 anos e merece toda a dedicação para que o edifício seja bem reabilitado”.

Desafio jovemJá Francisco Vizeu Pinheiro, também arquitecto, aplaude a iniciativa, pedindo a abertura de um concurso público para a

Segundo a Rádio Macau, Alexis Tam pediu melhorias ao sistema de atribuição de subsídios no ensino especial. Já a directora da DSEJ espera que o número de escolas com ensino integrado aumente em 5 a 10%. “Se calhar muitas escolas pretendem dar este passo, no entanto, para as que não têm condições, não temos solução. Com aquelas que tiverem condições para começar a oferecer o software e o hardware poderemos comunicar para darmos uma solução em termos de estrutura e de como as turmas devem funcionar. Eu creio que assim sendo muitas escolas irão participar”, disse.

DSEJ quEr mAiS EScolAScom EnSino intEgrADo

“Acho que é uma atitude correcta digna de um dirigente e que vai ajudar a preservar a memória colectiva. A fachada do Hotel Estoril tem quase 50 anos e merece toda a dedicação para que o edifício seja bem reabilitado”carlos marreiros arquitecto

d EPOIS de um interregno que durou anos, o Gover-no anunciou finalmente os pormenores do projec-

to de recuperação do velho edifício do hotel Estoril, que não contempla um aumento de altura. “A altura está fixada. Não vamos alterá-la também porque a legislação estipula limites altimétricos [na zona tampão]. No fim, a altura vai mesmo manter-se”, disse Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, citado pela Rádio Macau.

Em relação à fachada do edi-fício, o Governo terá mostrado abertura em manter o mesmo desenho, ainda que o Secretário tenha dito que nada está decidido ainda. “Há cerca de dois dias recebi uma associação ligada aos Kaifong (União Geral das Associações de Moradores de Macau) e alguns membros pediram para manter a fachada, outros não. Tudo de-penderá da ideia do arquitecto”, referiu, segundo a rádio.

Ao HM, o arquitecto Carlos Marreiros, também membro do

Macau há poucos espaços para a prática de desporto e a maior parte das piscinas está fechada metade do ano”. Vai ainda ser estudada a possibilidade de instalar uma pista do gelo e um parque de estaciona-mento subterrâneo. Ainda não há orçamento traçado para o projecto.

andreia sofia [email protected]

O Governo pretende ainda expandir este medida de prolon-gamento do horário de serviço aos centros de saúde “no sentido de responder tanto quanto possível às necessidades dos cidadãos”.

mais gastosComparativamente ao ano de 2000, o Governo explica que as despesas efectuadas para a aquisição de serviços médicos no exterior aumentaram cerca de 11 vezes, tendo em conta que em 2000 foram gastos cerca de 30 milhões de patacas e em 2014 foram gastos 400 milhões. “O número de pacientes enviados para

As deslocações de utentes foram feitas na sua maioria para Hong Kong (1800), seguindo-se o interior da China - com oito pacientes -, seis para Portugal e

mil para outras instituições mé-dicas locais.

Relativamente ao recrutamen-to dos 529 trabalhadores para o presente ano, os SS classificam o andamento do processo como “sa-tisfatório”. Feitas as contas, e com os concursos públicos em aberto, dos 188 enfermeiros necessários os SS informam que já receberam “centenas de candidaturas”.

Sobre os 24 médicos especia-listas idealizados pelo Governo, 19 correspondem a médicos do exte-rior e, destes, já estão confirmados 12. Da lista fazem parte cinco médicos provenientes de Portugal, um da área de reumatismo, um da área de Medicina Física, dois da área de Imagiologia e um da área de Pediatria, como aliás já tinha sido anunciado.

filipa araú[email protected]

receberem serviços médicos no exterior também aumentou cerca de três vezes, de 725 pacientes no ano de 2000 para 2800 pacientes no ano de 2014”, indicam os SS.

recepção de projectos de jovens arquitectos. “O edifício em si não é propriamente único, uma vez que existem vários na Avenida Horta e Costa e junto à Escola Portuguesa de Macau (EPM). Seria uma óp-tima oportunidade para abrir um concurso para jovens arquitectos,

um debate ou uma consulta, para [o projecto] não ser dado sempre aos mesmos. O fundamental é ter um debate de ideias”, disse ao HM.

A decisão do Governo foi transmitida no dia em que Alexis Tam reuniu com os conselhos de Educação para o Ensino Não Superior e da Juventude para re-colher opiniões sobre o projecto. Além de vir a albergar as escolas do Conservatório de Macau, nas áreas da música, dança e teatro, o antigo hotel terá mais espaços para actividades artísticas.

O Governo está ainda a ponde-rar fechar a piscina e colocar água aquecida, para que possa ser utili-zada durante todo o ano. Ideia que agrada a Francisco Vizeu Pinheiro. “É uma boa ideia, uma vez que em

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7 sociedadehoje macau sexta-feira 29.5.2015

U ma residente perdeu o acesso a habitação pública depois de ter acomodado na fracção onde vivia, no Edi-

fício Vai Yin Garden , familiares que não estavam inscritos no agregado familiar aquando do concurso do Instituto de Habitação (IH). O caso remonta a agosto de 2012, quando a residente foi aceite como apta para ter uma fracção pública e, apesar de recursos, o Tribunal administrativo (Ta) negou-lhe razão.

a mulher celebrou com o IH um contrato de arrendamento de habitação social para uma casa, mas nem um ano depois, em abril de 2013, os funcionários do organismo receberam uma denúncia anónima. Esta indicava que estariam a residir na fracção pessoas não inscritas no contrato, pelo que o pessoal do Governo se deslocou à residência para uma investigação. Segundo o Ta “descobriu-se que [a mulher] residia juntamente com a filha, o genro e o neto na referida fracção, pelo que o presidente do IH proferiu

Habitação Pública Mulher perde direito a casa depois de abrigar neto e genro

candidatos e só candidatosATFPM organiza recolha de fundospara o Nepala associação de trabalhadores da Função pública de Macau (atFpM) está, desde ontem, a organizar uma campanha de recolha de fundos para ajudar as vítimas do terramoto do nepal. o projecto dura até finais deste ano, mas o intuito é que a população faça donativos num “curto espaço de tempo”. a ideia de seguir em frente com esta iniciativa surgiu, segundo o presidente da associação, José pereira coutinho, devido a vários sócios da atFpM serem residentes em Macau mas terem “origens” naquele país. “as duas associações representativas dos interesses dos nepaleses são nossas amigas de longa data, há mais de uma dezena de anos”, começou pereira coutinho por explicar à rádio Macau. “temos também grande interligação com a comunidade do nepal porque a maioria das pessoas trabalha nos casinos e nós temos dado, dentro do possível, o nosso contributo na resolução dos problemas que eles têm, em termos laborais e de residência”, acrescentou. o nepal sofreu dois sismos: o primeiro a 25 de abril deste ano e outro pouco depois, a 11 do ano passado. Juntas, as catástrofes vitimaram mortalmente 8600 pessoas e de acordo com as autoridades daquele país, há o registo de 16 mil feridos.

um despacho que decidiu a rescisão do contrato de arrendamento, por [a mulher] ter permitido a permanência na fracção arrendada de pessoas que não figuram no contrato de arrenda-mento”.

RegRa quebRadaapesar de serem familiares, a mulher terá violado o artigo do Regulamento de atribuição, ar-rendamento e administração de Habitação Social que indica que

“não é permitido a permanência na habitação, seja a que título for, de pessoa que não figure no contrato de arrendamento, salvo tratando--se de filho seu ou de elemento do agregado familiar inscrito, entretanto nascido ou adoptado”.

a mulher interpôs recurso para o Ta, alegando, entre outras razões, que o IH não sabia concretamente o tempo de permanência da filha na fracção. O tribunal diz, contudo, que a administração conseguiu fazer um

juízo adequado conforme os factos apurados no caso concreto para deci-dir se deve rescindir ou não o contrato de arrendamento e que o IH provou com base nas situações verificadas na visita que ela permitiu à sua filha, ao seu genro e ao seu neto “residir” na referida fracção de habitação social.

O Ta decidiu, então, que a mulher não tinha razão, pelo que esta perdeu o direito à casa.

Joana [email protected]

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8 sociedade hoje macau sexta-feira 29.5.2015

P rimeiro foi um gru-po de trabalhadores da Companhia de en-genharia Hsin Chong.

ontem, mais 150 trabalhadores não-residentes (TNr) de outra empresa responsável pelas obras do Parisian manifesta-

TransporTes não aos Tnr como conduTores. Faom sugere repescar seniores

Senhor local, ponha o pé no pedal

PIB cai 24,5% no primeiro trimestre do ano O Produto Interno Bruto de Macau (PIB) caiu 24,5% em termos reais no primeiro trimestre, indicam dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística (DSEC). “A contracção económica deveu-se, principalmente, à queda substancial de 35,6% das exportações de serviços. Destaca-se que a amplitude decrescente das exportações de serviços do jogo diminuiu 39,7%, em termos anuais, enquanto as exportações dos outros serviços turísticos desceram 17,7%”, refere a nota. A queda acentuou-se em relação ao último trimestre de 2014, período em que o PIB diminuiu 17,2%. Já a formação bruta de capital fixo, que reflecte o investimento, cresceu 32,2% em termos anuais. “O investimento realizado pelo sector privado aumentou 28,1%, em termos anuais, pois foram construídas várias instalações de turismo e entretenimento de grande envergadura. Realça-se que os investimentos em construção e em equipamento do setor privado subiram 30,6% e 12,9%, respectivamente”, acrescenta a DSEC. No primeiro trimestre, a despesa de consumo privado e do Governo aumentaram 6,7% e 6,8%, respectivamente.

Ensino EspecialAlexis Tam exigemelhor serviço à DSeJ

A Direcção dos Serviços de educação e Juventude (DSeJ) espera que mais

escolas comecem a receber estudantes com necessidades especiais. De acordo com a rádio macau, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura entende ainda que o organismo pode fazer um melhor trabalho na fiscalização dos subsídios dados às escolas. Actualmente, apenas 29 instituições de ensino adoptaram o regime de ensino integrado, mas a directora da DSeJ espera conseguir aumentar o número em mais 5% a 10%.

“Se calhar muitas escolas pretendem dar este passo, no entanto, para as que não têm condições, não temos solução. Com aquelas que tiverem condições para começar a oferecer o software e o hardware poderemos comunicar para darmos uma solução em termos de es-trutura e de como as turmas devem funcionar. Creio que assim sendo muitas escolas irão participar”, disse, revelando ainda que a DSeJ está ainda a estudar a hipótese de reduzir o número de alunos nas turmas de ensino inte-grado, que actualmente integram 23 alunos.

Sobre os abusos na alocação dos recur-sos no programa de educação integral para os estudantes com necessidades especiais, Leong Lai adiantou que irá ser criado um novo modelo do financiamento para apoiar as escolas que mostrem interesse em par-ticipar nesse regime, acrescenta a rádio. o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura preferiu não divulgar o nome das cinco escolas que usaram indevidamente o subsídio para o ensino integrado e que agora têm de devolver as 500 mil patacas.

U m inquérito da Federação das As-sociações dos operários de macau (FAom) mostra que 90% dos pro-

fissionais de condução não quer conduto-res não residentes a trabalhar em macau. Apesar do Governo já ter garantido que não vai permitir a contratação de TNr para desempenharem o papel de motoristas, a Associação Geral dos empregados dos Transportes de macau - que pertence à FAom – acredita que ainda vale a pena insistir neste tema.

Tong Chak Sam, presidente da Associa-ção disse numa conferência de imprensa

que foram entrevistados em março deste ano mais de 600 condutores profissionais de autocarros públicos, agências de via-gem e operadoras de Jogo. o inquérito mostra que 95% de entrevistados não quer que o sector introduza a possibilidade de contratar condutores não residentes para o território.

em causa está a falta de desemprego no sector de profissionais locais, que não podem competir com os baixos ordenados pagos aos trabalhadores estrangeiros. estes queixam-se ainda de diferenças nos hábitos do quotidiano e na forma de conduzir.

Contudo, o estudo da Associação sugere que o Governo permita que os profissionais reformados possam ajudar a colmatar a falta de mão-de-obra. Tong afirma que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) insiste em cancelar a qualificação profissional de condução de condutores com mais de 65 anos, mas que, no entanto, estas pessoas reformadas perfazem 20% do total dos empregados. isto viria, diz, a ajudar a colmatar as falhas no recursos humanos desta área. Tong Chak Sam sugere que seja aprova-da a sua continuidade no trabalho mediante apresentação de provas de saúde. F.F.

É o quarto protesto contra empresas responsáveis pelas obras do Parisian, ainda que este seja por motivos diferentes. mais de uma centena de TNr queixaram-se de não receber regalias que lhes foram prometidas pela empresa, como o pagamento de horas extraordinárias

parisian NOvO PROtEStO COM tNR DE OutRA EMPRESA

promessas por cumprir

ram-se por não terem recebido regalias a que supostamente teriam direito.

Depois de três protestos le-vados a cabo pelos operários da construção do novo projecto da Sands China no Cotai, este foi o quarto a sair à rua, ainda que as pessoas não sejam as mesmas das manifestações anteriores. A marchar desde o estaleiro das obras no Cotai até ao edifício do Gabinete de Ligação do Go-

verno Central, os trabalhadores – que, à semelhança dos outros, atravessaram a ponte Nobre de Carvalho a pé – disseram ao Hm estarem a protestar por regalias a que alegadamente têm direito.

os trabalhadores explica-ram ao Hm que são da empresa de construção Great Harvest Group, uma companhia que foi subcontratada por outra e que souberam que os colegas da Hsin Chong conseguiram

negociar as indemnizações depois dos protestos. Por isso mesmo, dizem, decidiram sair à rua porque não lhes foram pagas as regalias prometidas enquanto funcionários, tal como o subsí-dio de rendas e o pagamento de horas extra e de feriados.

Faltar ao prometido“A companhia não deu [as re-galias] que prometeu, ofereceu menos, e não podemos aceitar isto. esperamos que o Governo faça as contas das regalias que nos são devidas, de acordo com as leis”, disse um trabalhador de apelido Wong ao Hm.

Apesar dos TNr trabalha-rem para o mesmo projecto da operadora de Jogo, as solicita-ções são diferentes. recorde-se que os manifestantes anteriores – que já protestaram em frente ao mesmo espaço por três vezes - foram despedidos pela Companhia de engenharia Hsin Chong, não tendo recebido as indemnizações a que tinham direito. A situação originou uma intervenção da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DASL), que ser-viu de intermediária entre os empregados e os patrões. De acordo com um comunicado do organismo, mais de cem destes trabalhadores já assinaram até ontem o acordo com a entidade patronal. o grupo de ontem ainda não foi despedido.

o Hm tentou contactar a companhia Heng Un mas até ao fecho da edição não foi possível obter uma resposta.

Flora [email protected]

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9 sociedadehoje macau sexta-feira 29.5.2015

O consumo de droga pelas camadas mais jovem quase duplicou em quatro anos e, en-

tre as principais razões para o facto, estão “muito dinheiro no bolso para gastos correntes” e uma “educação mimada e perdulária” por parte dos pais. De acordo com os resul-tados dos mais recentes relatórios publicados pelo Instituto de Acção Social (IAS), pela Universidade de Macau (UM) e pelo Gabinete do Coordenador dos Serviços Sociais Sheng Kung Hui de Macau, é ainda perceptível que Macau é a escolha para comprar a droga.

Se em 2010 o rácio de consumo juvenil por cada cem pessoas se fica-va pouco acima de 1, os resultados de 2014 são significativos: o rácio é agora de 2,4 e a maioria dos jovens que consome frequenta o ensino básico – 5º e 6º anos. Embora haja mais rapazes a consumir do que raparigas, a taxa de consumo entre o sexo feminino tem aumentado progressivamente, registando-se um acréscimo de 46% em relação ao anterior relatório de 2010.

Segue-se a mesma linha de ra-ciocínio para a divisão dos jovens por escalões de ensino: a maioria dos consumidores frequenta o en-sino básico, mas há cada vez mais estudantes do secundário – 10º ao 12º ano – a experimentar drogas.

São a ketamina, a heroína, as pastilhas e a marijuana que lideram a lista de estupefacientes mais consu-midos. “As conclusões do estudo [da Universidade de Macau] revelam que os inquiridos nascidos em Macau, Hong Kong e outros locais que não a China continental que vivem sozi-nhos, cujos pais estão desempregados ou que disponham de muito dinheiro no bolso para gastos correntes, são os que apresentam maior tendência para abusar das drogas”, referiu o professor Spencer Li, director do departamento de Sociologia da UM.

Viagem ao mundo da ruaO IAS identifica, em todos os seus relatórios, um grupo juvenil deno-minado “jovens de rua” e no qual

Ao contrário dos resultados de 2010, Macau é agora o local predilecto para a compra de estupefacientes, perfazendo a primeira escolha de 59,6% dos inquiridos, contrastandocom os 33,3% dorelatório anterior

A taxa de jovens locais que consomem droga duplicou em quatro anos. O dinheiro nos bolsos ou a falta de atenção dos pais são algumas das principais razões para tal. Macau é agora o local predilecto para a compra de droga

Droga Consumo juvenil aumenta, mas mais disfarçadamente

Do lusco para o fusco

insere todos os jovens – “entre os seis e os 24 anos de idade” - que tenham propensão para passar várias horas do dia na rua e em ci-bercafés, longe dos olhos vigilantes dos pais ou outros encarregados de educação.

“As assistentes sociais cos-tumam ir aos cibercafés para

encontrar estes jovens e a maioria é [natural] de Macau”, explicou o IAS ontem, durante a apresentação dos estudos. Embora haja ainda uma larga percentagem deste tipo de adolescentes a consumir droga, o rácio de procura de estupefacien-tes por cada cem jovens tem vindo a diminuir.

De entre os 251 inquiridos, 47 deles confessaram já ter experi-mentado drogas, o que se traduz em 18,3% do total destes jovens. A grande maioria frequenta a escola, não está empregada e cerca de 57,4% vive na zona norte da cidade.

Estes “jovens de rua” preferem o Ice – metanfetamina –, que se

mantém na linha da frente, com uma taxa de consumo de 23,4%, enquanto a ketamina é a mais popular para 19% dos inquiridos. A cocaína fica-se pelos 12,8%, tendo sido consumida por seis dos entrevistados. A ketamina deixa assim de ser a droga preferida dos jovens – como era em 2010 – para dar lugar ao Ice.

O relatório da Sheng Kung Hui revela ainda que a maioria dos jovens consome apenas um tipo de droga de cada vez, so-mando um total de 22 pessoas. No entanto, 18 outras pessoas (34,6%) fazem uso de dois géneros diferentes e apenas uma confirmou o consumo, em simultâneo, de quatro.

Os especialistas da UM inquiri-ram mais de 9000 jovens residentes em idade escolar, comparando com os cerca de 7000 questionados há quatro anos. A razão para a dis-crepância nos números, explicou Spencer Li, está relacionada com o aumento significativo da po-pulação. “Só questionando mais pessoas é possível saber qual o rácio de consumo por cada cem”, esclareceu.

macau como localde compra Desta vez, os investigadores optaram por incluir nos estudos oito diferentes drogas, quatro a mais do que aquelas integradas nos relatórios de 2010. No que respeita às principais fontes de obtenção do produto, estão amigos, via “retalhistas” e pelo telefone. A principal justificação dada pelos consumidores é “fazer companhia aos amigos”, mas também a in-fluência de ambientes de festa e a curiosidade. Na mesma lista estão ainda o alívio de stress, a quebra de monotonia, o emagrecimento, tentação após primeira experiência e, por último, conflitos familiares e mau humor.

Ao contrário dos resultados de 2010, Macau é agora o local predilecto para a compra de estupefacientes, perfazendo a primeira escolha de 59,6% dos inquiridos, contrastando com os 33,3% do relatório anterior. Há quatro anos, era no interior da China que os jovens preferiam comprar droga, mas esta tendên-cia tem vindo a diminuir, tendo apenas 19 dos entrevistados comprado naquela zona.

O mesmo estudo revela que a idade mínima de experimentação é de dez anos de idade, sendo o consumo geral feito de forma mais camuflada, seja entre as quatro paredes de casa de amigos ou em bares e discotecas. Factor que já tem sido apontado como recorren-te. “Tornam-se mais camuflados os locais de consumo de droga pelos jovens”, acrescenta o mesmo documento.

leonor Sá [email protected]

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10 china hoje macau sexta-feira 29.5.2015

ANTÓNIO JOSÉ DA LUZ FRANCISCOFALECIMENTO

A família enlutada de António José da Luz Francisco vem comunicar o falecimento do seu ente querido no dia 28 de Maio de 2015. No dia 30 de Maio de 2015 (Sábado), na Casa Mortuária pelas 20:00 será rezada uma missa pela sua alma.No dia seguinte, 31 de Maio de 2015 (Domingo) , pelas 11:00, será realizado o funeral e uma missa no Cemitério S. Miguel Arcanjo.Rui Francisco e esposa, Alberto Francisco e esposa, Maria Fátima Francisco Tsang e Marido, cunhada Maria Alice Barros Francisco e restantes familiares antecipadamente agradecem a todos quantos queiram participar no piedoso acto.

O s correspon-dentes estran-geiros na Chi-na enfrentam

cada vez mais obstruções e perseguições por parte da polícia, de uniforme e à paisana, quando realizam o seu trabalho, segundo um relatório da Associação de Correspondentes da China.

Mais de 72% dos 120 inquiridos confirmaram esta ideia, contra os dois terços que, no ano passado, consideraram que as suas condições de trabalho piora-ram, ainda que menos de 5% tenha dito que foi objecto de violência física ou detenção.

Entre os muitos casos, um repórter que pediu anonimato afirmou que lhe confiscaram a carteira de jornalista quando entrevis-tou os familiares dos passa-geiros do voo MH370, que desapareceu quando fazia a rota entre Kuala Lumpur e Pequim, há mais de um ano.

Uma equipa de televi-são internacional teve de se deitar no chão, ao ser rodeada de homens armados quando cobria um protesto em sichuan.

Do mal o menosEstes são alguns dos exem-plos fornecidos pelos cor-respondentes que, ainda assim, se encontram em melhores condições que os

Presidentes chinês e indonésioelogiam mecanismo de intercâmbioO presidente da China, Xi Jinping, e o seu colega indonésio, Joko Widodo, enviaram mensagens de felicitação para a primeira reunião de um Mecanismo de Intercâmbio de Alto Nível entre Pessoas (MIP) realizada na quarta-feira em Jacarta. Na sua mensagem, Xi disse que a China e a Indonésia fortaleceram a confiança política mútua e a cooperação pragmática, o que beneficiou ambos os povos, desde que os dois países estabeleceram uma parceria estratégica integral, em outubro de 2013. “Acredito que o mecanismo de intercâmbio entre pessoas da China e Indonésia no nível de vice-primeiros-ministros ajudará a promover os intercâmbios e a cooperação entre os dois países na área de intercâmbios culturais e entre pessoas”, afirmou Xi. Existe um enorme potencial para a cooperação de benefício mútuo China-Indonésia, pois as economias dos dois países são altamente complementares e a Rota da Seda Marítima do Século 21 e o Fulcro Marítimo Global da Indonésia são complementares, acrescentou.

Avião movido a energia solarquer voar até ao HawaiO projecto Solar Impulse está a realizar o teste mais ambicioso do seu avião movido a energia solar: um voo sem escalas de Nanquim, na China, até o Hawai. Serão oito mil quilómetros que devem ser percorrido em cinco ou sete dias e noites de voo contínuo. O Solar Impulse está a efectuar uma volta ao mundo para promover tecnologias limpas, mas até o momento apenas tinha realizado voos de até 20 horas. Esta será a sétima etapa da viagem e, se completada com sucesso, derrubará vários recordes da aviação, entre eles o de maior duração de voo de um avião com apenas um assento. O avião será pilotado pelo engenheiro e empreendedor suíço Andre Borschberg. Segundo este, a viagem será mais um teste para a sua resistência que para a das baterias solares do avião.

RelatóRio CORRESPONdENtES NA CHINA CAdA vEz MAIS PERSEGuIdOS

Reportagem com fronteirasUm dos casos mais graves é o de Zhang Miao, assistente da correspondente do jornal alemão Die Zeit, que se encontra detida desde Outubro, depois de participar numa manifestaçãopró-democracia em Hong Kong

UMA dezena de univer-sitários chineses que

estudam no estrangeiro de-safiaram o Governo chinês com uma carta dirigida aos seus colegas na China em que revelam “a verdade” sobre o massacre de Tianan-men, em 1989. “Consideran-do os esforços constantes

Alunos no estrangeiro desafiam Pequim ao revelar “a verdade sobre Tiananmen”do Governo para encobrir o ocorrido e perseguir os sobreviventes e familiares das vítimas, senti que tinha a responsabilidade moral de elevar a voz e contar a verdade”, justificou Gu Yi, aluno na Universidade de Georgia, que escreveu a carta e conseguiu o apoio

de 12 alunos nos Estados Unidos e Austrália.

A missiva, publicada na Internet, recolhe detalhes sobre o que aconteceu na madrugada de 3 para 4 de Junho de 1989, em Pequim, quando o Governo decidiu pôr fim a quase dois meses de protestos pró-democracia

na capital e noutros pontos do país através do exército, que saiu para a rua com tanques e disparou contra os manifestantes.

O número real de mortos ainda é desconhecido, mas acredita-se que oscila entre as centenas e os milhares, com o Executivo a defender que este é um capítulo encer-rado e a negar-se a comentar o assunto.

Para surpresa dos auto-res da carta, o diário oficial Global Times publicou, num editorial, uma resposta à carta em que acusa “forças estrangeiras hostis” de esta-rem por detrás da iniciativa, gerando o resultado involun-tário de dar a conhecer ainda mais a carta.

“A sociedade chinesa chegou a um consenso para não debater o incidente de 1989 (...). Numa altura em que a China está a avan-çar, alguns estão a tentar apropriar-se da história, numa tentativa de dividir a sociedade”, lê-se no texto.

seus assistentes chineses, já que metade dos correspon-dentes que contam com a sua ajuda garantem que os

colegas foram perseguidos pelo menos uma vez no último ano, contra os 35% do ano passado.

Um dos casos mais gra-ves é o de Zhang Miao, assistente da correspondente do jornal alemão Die Zeit,

que se encontra detida desde Outubro, depois de participar numa manifestação pró--democracia em Hong Kong.

Um relatório dos Re-pórteres sem Fronteiras sobre a liberdade de im-prensa mundial, publicado em Janeiro, situou a China no lugar 176 de uma lista de 180.

Questionada sobre o assunto, a porta-voz dos Negócios Estrangeiros Hua Chunying disse na quarta--feira que “a China faz tudo o que pode para dar facilidades aos jornalistas que trabalham no país” e que “os jornalistas devem res-peitar as leis e regulamentos chineses, como em qualquer outro lugar”.

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11 chinahoje macau sexta-feira 29.5.2015

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A corrupção na FIFA foi ontem notícia de pri-meira página na

imprensa oficial de língua inglesa da China, um país que esta década já passou por idênticos problemas e que está agora empenhado numa “grande reforma do futebol”.

Tanto o China Daily como o Global Times destacam em manchete a detenção pela polícia suíça de sete dirigentes e ex-dirigentes da FIFA (Federação Internacional de Futebol) num hotel de Zurique, na quarta-feira, executando um mandado das autoridades judiciais norte-americanas.

O caso tem estado também em foco nos no-ticiários da televisão e nas redes sociais chineses.

“Isto significa que os re-sultados dos jogos interna-cionais eram manipulados pela FIFA? É terrível”, diz um comentário difundido no Sina Weibo, o Twitter chinês, com mais de 200 milhões de utilizadores.

“Afinal não é só na China que há corrupção!”, escreveu outro.

Em 2010 e 2011, deze-nas de árbitros, jogadores e dirigentes desportivos chineses, entre os quais dois vice-presidentes da Associação de Futebol da China (CFA), foram presos, acusados de aceitarem subornos para falsificar resultados.

As penas foram duras (mais de dez anos de pri-são em alguns casos) e na sequência dos inquéritos disciplinares instaurados pela CFA, 33 pessoas foram «banidas para sempre» da modalidade e vários clubes multados.

Devido à corrupção, o público afastou-se dos es-tádios e a própria Televisão Central da China deixou de transmitir os jogos da su-perliga local, mas o futebol nunca perdeu a popularida-de e a atmosfera em torno da modalidade parece estar hoje mais desanuviada.

Há três meses, sob a orientação pessoal do presidente Xi Jinping, a China anunciou um “plano para revitalizar o futebol”,

Caso FIFa “Corrupção, afinal, não é só na China”

Toca a todos

que prevê nomeadamente a introdução da modalidade nos programas de educação física em 50.000 escolas durante a próxima década.

Dá para toDosO Departamento de Justiça dos Estados Unidos indi-ciou nove dirigentes ou ex--dirigentes e cinco parcei-ros da FIFA, acusando-os de conspiração e corrupção nos últimos 24 anos, num caso em que estarão em causa subornos no valor de 151 milhões de dólares.

Entre os acusados estão dois vice-presidentes da FIFA, o uruguaio Euge-nio Figueredo e Jeffrey Webb, das Ilhas Caimão e que é também presidente da CONCACAF (Con-federação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas), assim como o paraguaio Nicolás Leoz, ex-presidente da Confe-deração da América do Sul (Conmebol).

Dos restantes dirigentes indiciados fazem parte o brasileiro José María Marín, membro do comité da FIFA para os Jogos Olímpicos Rio2016, o costa-riquenho Eduardo Li,

Jack Warner, de Trinidad e Tobago, o nicaraguense Júlio Rocha, o venezuelano Rafael Esquivel e Costas Takkas, das Ilhas Caimão.

A FIFA suspendeu pro-visoriamente 11 pessoas de toda a actividade ligada ao futebol: os nove dirigentes ou ex-dirigentes indiciados e ainda Daryll Warner, filho de Jack Warner, e Chuck Blazer, antigo homem forte do futebol dos Estados Unidos, ex-membro do Co-mité Executivo da FIFA e alegado informador da pro-curadoria norte-americana, que já esteve suspenso por fraude.

A acusação surge de-pois de o Ministério da Justiça e a polícia da Suíça terem detido Webb, Li, Rocha, Takkas, Figuere-do, Esquivel e Marin na quarta-feira, num hotel de Zurique, a dois dias das eleições para a presidência da FIFA, à qual concorrem o actual presidente, o suíço Joseph Blatter, e Ali bin Al-Hussein, da Jordânia.

Simultaneamente, as autoridades suíças abriram uma investigação à atribui-ção dos Mundiais de 2018 e 2022 à Rússia e ao Qatar.

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12 hoje macau sexta-feira 29.5.2015eventos

À venda na Livraria Portuguesa Rua de S. domingoS 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • [email protected]

e Todavia • ana Luísa amaral“E Todavia” é o mais recente livro de poesia de Ana Luísa Amaral. Fulgurante e surpreendente, nele encontramos alguns dos mais belos poemas da obra da autora.

viagem à volTa do meu QuaRTo • xavier de maistre“Viagem à Volta do Meu Quarto” é uma sátira escrita no estilo da grande narrativa de viagens, e consiste no relato autobiográfico de um jovem oficial que, detido no quarto durante seis semanas, observa a mobília, os quadros e as decorações como se fossem paisagens de uma terra longínqua. Inspirando-se em Tristram Shandy (que De Maistre muito admirava) e jogando habilmente com a imaginação do leitor, esta Viagem tornou-se rapidamente um clássico da literatura. Como o autor espirituosamente nos demonstra, o mais importante numa viagem não é o destino, é o viajante.

O GALAxy vai dedicar uma semana aos filmes franceses no próximo mês

de Junho. No total, os interessados poderão ver nove películas durante sete dias, com filmes que vão do drama ao romance e aos filmes animados em 3D. Este festival está inserido no Le French May.

A abrir, no dia 1 de Junho, está o filme “Fidelio, Alice’s Journey”, uma obra de Lucie Borleteau que retrata a história de Alice, uma mulher que parte num cargueiro, numa jornada de auto-descoberta e é confrontada com os desejos mais humanos que se podem ter. O filme está marcado para as 18h30.

A 2 de Junho, é a vez de “Saint Laurent”, de Bertrand Bonello. Às 20h40 embarque na história do famoso estilista Yves Saint Laurent, um jovem de 21 anos que é visto como o sucessor de Christian Dior e que causa um grande impacto na indústria da moda.

Do estilismo, passamos à pintura, com “Renoir”. No dia 3 de Junho, pelas 21h10, o filme de Gilles Bourdos apresenta-nos Pierre Auguste Renoir, um pintor que vive atormentado pela morte da esposa e pelo facto do seu filho ter sido ferido em combate. Contudo, uma jovem mulher entra na sua vida, trazendo uma nova energia ao velho pintor e tornando-se na sua última modelo. Mas, algo acontece na casa que agora pertence aos dois, quando também o filho de Renoir cai nas graças desta mulher.

A 4 de Junho, pelas 20h40, a obra de Olivier Assayas “Clouds of Sills Maria”, uma história que versa sobre a carreira de Maria Enders, uma actriz a quem é pedido que retome o papel que teve numa peça vinte anos antes, ainda que noutro papel, o de uma mulher mais velha e não da jovem que então era. Maria vê-se substituída por outra mulher, mais nova, mais bonita e mais sedutora e tem de lidar com o facto de estar a envelhecer.

No dia seguinte, 5 de Junho, hora de rir com a comédia “Serial (Bad) Weddings”, de Philippe de Chauveron. Às 21h10, Maria e Claude Verneuil entram no grande ecrã, bem como as suas quatro filhas, que decidem levar adiante casamentos multiculturais para pânico dos pais.

A 6 de Junho, pelas 16h45, chega a obra de Nils Tavernier “The Finishers”. O filme retrata a vida de Julien, um adolescente que vive numa cadeira de rodas devido a um

Le French May cineMa no GaLaxy eM Junho

Festa no grande ecrã

e LES queriam trazer “algo visualmente novo” para as pessoas de Macau e, por isso, criaram o grupo ‘3

Black Suits’. Um ano depois, Kenny Leong, Pharrell Ho e Peter Chang apresentam aquela que é a primeira exposição desta equipa de fotógra-fos, composta por “três tipos, três mentes e três câmaras”. No sábado, pelas 15h00, é inaugurada a mostra, no número 17 da Rua de S. Miguel, no edifício Kei Luen, bem ao lado do Abergue SCM.

No total, são cinco os conjun-tos de séries fotográficas que vão ser mostrados. A exposição, com entrada livre, fica patente até dia 14 de Junho e apresenta um “lado negro, industrial e rústico”. Mas, tal como nos explica Kenny Leong, há algo mais para além daquilo que, quem houve a descrição, parece ser apenas sujo.

“O que é irónico é que, apesar disto, há beleza nestes enquadramen-tos, já que temos um modelo como o nosso sujeito principal. Sujeito esse que, na maior parte das vezes, está sério, num estado inexpressivo, num estado que captura realmente a verdadeira essência do ser humano”, conta o criador do ‘3 Black Suits’ ao HM.

O grupo uniu-se quando Kenny Leong – natural de Macau, criado em Toronto e o homem por trás das famosas séries locais ‘Pissed Off Man’ – decidiu juntar artistas e fotógrafos que gostassem não só de fotografar, mas de “contar uma história” através das suas lentes. Primeiro, os “black suits” perten-ciam apenas a Kenny e Pharrell, natural de Taiwan, mas radicado em Macau. Depois, Peter apareceu como que por acaso.

problema cerebral. Julien desafia o pai para participar consigo numa corrida de triatlo em Nice, na Riviera francesa, onde Paul tem de ajudar o filho a superar a sua incapacidade, mas tem também de mostrar que o amor que os une é forte o suficiente para o fazer correr a ele próprio.

entre LobosNo mesmo dia, mas marcado para as 16h30, “Wolf Totem”, de Jean--Jaques Annaud. Um filme que fala de Chen Zhen, um jovem estudante de Pequim, que é enviado, durante a Revolução Cultural, para a Mon-gólia Interior, para ensinar pastores. Mas é Chen quem vai aprender mais e, às vezes, da pior forma. Do rea-lizador de “Sete Anos no Tibete”, entre outros filmes que lhe deram Óscares, esta obra conta a história improvável de uma relação entre um homem e um animal.

A 7 de Junho é a vez de “Mi-nuscule: Valley of the Lost Ants”. Os realizadores Hélène Giraud e Thomas Szabo fazem as delícias dos mais novos, com uma aven-tura animada. A história entre a amizade de seres bem pequeninos, como uma joaninha e uma formiga, contada a três dimensões. O filme está marcado para as 16h45.

Pouco mais de uma hora mais tarde, pelas 18h30, o filme de Stefan Liberski “Tokyo Fiancée” estreia no cinema do Galaxy. Uma jovem mulher belga apaixona-se por um estudante japonês e que a faz desco-brir o Japão como ela nunca o viu, nem mesmo nos dias de infância, quando costumava viver no país.

Os bilhetes para os filmes cus-tam 90 patacas, excepto para os a 3D, que têm um custo de 120 pata-cas. Estes podem ser comprados na própria bilheteira do Galaxy. J.F.

“É assim quegostamos de fotografar. Livremente e sem limitações, de improviso...”

São três jovens, com a mesma paixão: a fotografia e os lados obscuros da vida. Juntaram-se há um ano e amanhã apresentam a sua primeira exposição. A entrada é livre e a mostra inaugura às 15h00, estando patente até meio de Junho

FotoGraFia Grupo de Macau ‘3 Black SuitS’ apreSenta aManhã priMeira expoSição

três tipos, três mentes, três câmaras

“Eu e o Pharrell fotografávamos modelos em diferentes prédios in-dustriais e ambientes mais escuros em Macau. Um dia, o Peter serviu de modelo para uma das nossas ses-sões e acabamos por trabalhar todos juntos”, diz, acrescentado que os três têm a mesma paixão, ainda que

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13 eventoshoje macau sexta-feira 29.5.2015

Desenho Artista portuguesa apresenta trabalhos no Albergue SCM

Pintura “Ao Risco da Cor”até Agosto no Tap Seac

A artista portuguesa Ana Jacinto Nunes já viveu no território e

inaugura agora a sua nova exposição ‘Desta vez os bichos não dormem’ às 18h30 da próxima quarta-feira no Albergue SCM. Segundo a autora, a mostra de desenhos incorpora “de-mónios nascidos a partir de bichos, criaturas que se passeiam entre pernas” feitos segundo diferentes processos de impressão, com recurso a técnicas de desenho misto.

“Tudo começa com o desenho que é a base, a estrutura num projecto do qual resulta a criação de uma vida nova”, explica Ana Jacinto Nunes. O Albergue SCM acolhe a exposição até 26 do pró-ximo mês e pretende dar a mostrar aos visitantes o culminar do talento de quem passou do ballet para o desenhos, pintura, impressões e animações tradicionais.

Foi no Centro português Ar.Co e na Escola Secundária António Arroio que a artista se especiali-zou nesta área. Em 1996 viveu em Macau, mudando-se para os EUA de 2010 a 2011, onde teve aulas de impressão na Universidade de Indiana. Além disso, concluiu ainda cursos em Veneza e em Vermont, nos EUA.

Uma das referências que le-vou de Macau e usou durante o seu percurso artístico foi a apli-cação de papel, pincéis e tintas chinesas na pintura de murais em azulejos tipicamente lusos. A mostra, que estreia a meio da próxima semana, tem entrada livre. O Círculo dos Amigos da Cultura de Macau é co-organi-zador da exposição, que conta igualmente com o patrocínio da Fundação Macau.

A exposição “Ao Risco da Cor – Claude Viallat e Franck

Chalendard” inaugurou ontem na Galeria do Tap Seac, ficando patente até ao dia 9 de Agosto. Organizada pelo Instituto Cultural (IC), a mostra junta 41 obras de dois pintores franceses, Claude Viallat e Franck Chalendard. Claude Viallat foi um dos funda-dores em França do Movimento de Suportes/Superfícies desde 1960, que questiona a estrutura tradicional da pintura ao desenhar padrões repetitivos em superfícies sem molduras.

“Os seus trabalhos superam as limitações da tela, da moldura e da própria parede enquanto espaço expositivo. Ao pintar em todo o tipo de superfícies, desde tendas até enormes panos suspensos do tecto, Viallat cria uma nova dimen-

são espacial para o espectador”, explica a organização.

Já Franck Chalendard concentra--se na pintura e empreendeu a exploração do thesaurus de formas e motivos acumulados pela abstrac-ção. “Ele reutiliza-os reavivando os seus significados. Nas suas obras recentes pinta blocos coloridos em tecidos com padrões vistosos, servindo-se do poder emotivo das cores para criar um estilo livre e descomprometido, num deslumbre cromático”, adianta o IC.

Integrada no XXVI Festival de Artes de Macau e no Festival Le French May, a exposição pre-tende partilhar com o público “os ricos frutos da pintura francesa contemporânea”. Com entrada livre, “Ao Risco da Cor” estará aberta diariamente de das 10h00 às 21h00.

São três jovens, com a mesma paixão: a fotografia e os lados obscuros da vida. Juntaram-se há um ano e amanhã apresentam a sua primeira exposição. A entrada é livre e a mostra inaugura às 15h00, estando patente até meio de Junho

FotograFia Grupo de Macau ‘3 Black SuitS’ apreSenta aManhã priMeira expoSição

três tipos, três mentes, três câmaras

o estilo de trabalhar seja diferente. “Nem sempre é fácil, ainda por cima porque tenho um temperamento im-petuoso e uma opinião muito forte. Com três artistas a trabalhar juntos, as opiniões surgem a voar, por vezes diferentes. Especialmente quando é um projecto cuja ideia foi de um de nós e acabamos por improvisar e ir retratando à medida que as coisas vão acontecendo”, confessa Kenny Leong.

Prazeres obscurosOs três admitem ter estilos diferen-tes de fotografar, mas, ainda assim, há algo que os mantém na mesma linha de pensamento: a existência da arte na fotografia e a paixão por imagens obscuras e com alma, que

trazem “formas profundas de pensar na vida como ela é”.

A liberdade na arte é outra das coisas que os ‘3 Black Suits’ valo-rizam. “É assim que gostamos de fotografar. Livremente e sem limita-ções, de improviso... ainda que isso seja também uma grande barreira. É que, através de um planeamento, de reuniões antes das sessões fo-tográficas, as coisas tendem a ser mais suaves”, diz-nos Kenny Leong, imediatamente ressalvando contudo que “ao mesmo tempo, com esta organização, há sempre restrições ao pensamento criativo”. Até porque, defendem todos, a arte deve ser feita fora dos padrões normais.

A criatividade, como se pode ver pelas fotos do grupo, é algo que não

fica de fora do dia-a-dia dos ‘3 Black Suits’. Tanto que até o nome foi fruto de muita imaginação. “Representa--nos aos três: três profissionais, daí os ‘fatos’, e o ‘preto’, que é o nosso estilo de fotografar, a preto e branco.”

Um ano passou desde que os ‘3 Black Suits’ se uniram. Esta é a primeira vez que o público poderá ver o que tem vindo a ser feito e julgar por ele próprio. Amanhã, pelas 15h00, dá-se a inauguração da exposição, onde estarão presentes os três fotógrafos, mas também figuras convidados especiais conhecidos de Macau, como Fortes Pakeong Sequeira, vocalista dos ‘Blademark’, e Mcz Thomas Mcz, entre outros.

Joana [email protected]

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hoje macau sexta-feira 29.5.2015

O manuscrito Suma Orien-tal, que este ano de 2015 comemora os seus 500 anos, trata fundamental-

mente sobre o comércio e as mercado-rias nas “áreas que directa ou indirecta-mente interessavam aos portugueses”, como nos diz Rui Manuel Loureiro, mas “é difícil concluir se a ideia de compor um tratado de geografia orien-tal partiu do próprio Tomé Pires ou se resultou de uma encomenda expressa-mente formulada por Afonso de Albu-querque antes da partida do boticário da Índia para Malaca.”

Tomé Pires dividiu o seu manuscrito em sessenta fólios, sendo seis sobre o Egipto, Arábia e Pérsia, onze fólios so-bre a Índia e o Ceilão, três sobre a Chi-na, Léquios e Japão e quarenta fólios sobre o Sudeste Asiático, continental e insular.

Se no artigo anterior tratamos com grande brevidade os dezassete primei-ros fólios, escritos de ambos os lados das folhas, seguimos agora, com a mes-ma ligeireza para os relativos à Insulín-dia e China.

Referindo que pelas rotas marítimas do comércio o Islão foi sendo propa-gado e muitos dos portos da Insulíndia se tinham a ele convertido, Tomé Pires escrevia também sobre o poderoso im-pério javanês, existente um século an-tes da chegada dos portugueses a estes mares.

Sobre Java, Tomé Pires diz o que de outros ouviu: <Acabada é a grande ilha de Java, da melhor maneira que dela pude inquirir e investigar, verificando--me com muitos, e que me parecia con-cordarem bem concordado isto escre-vi; e certo não vou fora da ordem do que é. E não há dúvida as coisas de Java serem mais e mais honradas do que as contam, e de suas fidalguias, oufanias, determinações e ousadias, onde com verdade se achará nestas parte, assim até agora eu não ouvi>. <Dizem os mercadores malaios que Deus Criou Timor de sândalos e Banda de maçãs, e as de Maluco de cravo, e que no mun-do não é sabida outra parte em que es-tas mercadorias haja, somente nestas. E eu perguntei e inquiri diligentemente se estas mercadorias havia em outra parte, e todos dizem que não>.

Armando Cortesão refere: “Em Março de 1513, Rui de Brito, Capi-tão de Malaca, enviou a Java quatro

A CHINA E INSULÍNDIANA SUMA ORIENTAL

navios a buscar especiarias. Segundo dizem Castanheda e Barros, um dos principais objectivos desta viagem era ir a Japara (cidade no Norte da Ilha de Java) buscar o cravo salvo dum jun-co que, no ano anterior, lá naufragara ao regressar de Banda, quando da pri-meira expedição portuguesa. A frota, cujo comandante era João Lopes de Alvim e em que Tomé Pires ia como feitor, partiu de Malaca a 14 de Março e regressou em 22 de Junho do mes-mo ano com cerca de mil e duzentos quintais de cravo. Pela descrição que na Suma faz de Java, se vê que Pires visitou, pelo menos, os portos da sua costa norte entre Cherimon e Grisee, o antigo Agraci dos portugueses, jun-to a Surabaya.

Ao descrever o porto de Baros, na costa noroeste de Samatra, diz Tomé Pires, sem, aliás, mencionar a data: <Eu fui já por detrás desta ilha obra de 15 léguas>. É de crer que outras terras te-nha visitado durante a sua estada em Malaca, mas nada de positivo disso se sabe” A. Cortesão.

E continuando com o mais cre-denciado biógrafo do autor da Suma Oriental: “Muitas das descrições que Tomé Pires faz do Extremo Oriente não foram ultrapassadas durante uns dois séculos, como as de Malaca e Java, e especialmente a de Samatra, que, sem exagero, se podem classificar de notabilíssimas. Várias terras são refe-ridas pela primeira vez com os nomes que ainda hoje conservam, tais como Singapura e Japão. O valor da Suma Oriental é em especial caracterizado pela nota de veracidade que através de toda ela se sente.”

O interesse histórico de Tomé Pi-res do Sudeste Asiático leva-o a fazer referências sobre as consequências da chegada dos portugueses a Malaca e o processo de restruturação e reorde-namento dos poderes no arquipélago indonésio e as suas relações de paren-tesco.

RefeRente ao Celeste ImpéRIo

Já sobre a China, o que está relatado na Suma Oriental, acabada de escrever em 1515, foi tudo o que Tomé Pires conse-guiu reunir do que lhe foi sendo conta-do pelos mercadores que chegavam a Malaca, pois ali nunca fora. País a que só mais tarde chegou e de lá não saiu.

Vinculava ele serem os chineses gente “muito fraca e ligeira de desbaratar”, ideia que se propagou pelos séculos se-guintes, sendo muito cara a um sector da sociedade portuguesa, tanto religio-sa como política e que foi aproveitada pelos ingleses para irem à China fazer a Guerra do Ópio, assim como, à boleia destes, pelo Governador de Macau Fer-reira do Amaral.

Tomé Pires na Suma Oriental refere que: “com dez naus subjugaria o Go-vernador das Índias, que tomou Mala-ca, toda a China nas beiras do mar”, tal ter-lhe-á sido contado pelo feitor e es-crivão Jorge Álvares após a viagem de 1513 à China. Já sobre a informação de as autoridades chinesas apenas darem permissão de desembarque aos estran-

geiros se viessem através de embaixa-das tributárias, provavelmente foi-lhe transmitida pelos Luções (filipinos).

Da Suma Oriental, encontrada no Manuscrito de Paris por Armando Cor-tesão, aqui transcrevemos em tradução livre, para facilitar a leitura, algumas partes referentes à China. Assim, com o título ‘Onde o rei está’ Tomé Pires re-fere: “A terra da China é de muitas cida-des e fortalezas, todas de pedra e cal. A cidade onde o rei está chama-se Cam-bara. É de grande povo e de muitos fi-dalgos de infindos cavalos. O rei nunca é visto pelo povo, nem pelos grandes, salvo de muito poucos, por assim estar em costume. Dizem que mulas têm sem conta, como se fosse em nossa terra.” Já o texto referente a ‘Como fazem rei’

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 29.5.2015

José simões morais

diz: “O rei da China não sucede de pai a filho nem sobrinho, somente por elei-ção do conselho de todo o reino, anda sempre na cidade de Cambara, onde o rei está, e o mandarim que se por estes aprova fica rei.”

Com o título ‘Lugares do mar do reino da China’ escreve Tomé Pires: “Começando dos termos de Cauchi (actual Guangxi) pela costa da China há fortalezas. A primeira Ainam (Hai-nan), onde se acha o aljofar que vai à China; e Nantoo, e Quantom, e Cha-mcheo, e outros. Somente digamos de Quamtom (Cantão), que é maior que todas e onde é o trato todo destas par-tes.

Este Ainam é enseada em costa sem rio. Tem umas ilhas ao mar perto, onde se pesca o aljofar (pérolas miúdas, como indica Loureiro), e grande soma dele.

A cidade de Quamtom é onde o reino todo da China descarrega to-das as suas mercadorias, assim da terra firme como muitas do mar. A cidade de Quamtom é à boca da foz

de um grande rio que tem de praia mar três braças e quatro. A cidade que se vê da foz está assente em terra chã sem monte. Tem toda a casaria de pedra e cercada de muro, que di-zem que é de sete braças de largura e outras tantas de alto. E da banda da cidade dizem que é alcantilado. Isto dizem os Luções (filipinos) que já ali estiveram. E tem portos onde estão muitos juncos grandes. Vigia-se a cidade, fecham-se as portas que são fortes. Estes reis que dissemos que têm selos, quando mandam seus em-baixadores, fazem a mercadoria em a cidade dentro e senão fazem fora, obra de trinta léguas de Quamtom e de Quantom lhe levam a mercadoria. De Quamtom à cidade (Beijing) uns dizem que há quatro meses de anda-dura e outros dizem quatro e outros. Assim a verdade é que em vinte dias a bom andar podem andar o dito ca-minho.” Com o título ‘Maneira dos capitães da terra e mar em Qua-mtom’: “Afirmam que todos os que trazem mercadorias de Quamtom às ilhas ganham três, quatro, cinco por dez. E os chineses têm esse costume assim por lhes não tomarem a terra como por receberem os direitos das saídas das mercadorias, além dos da entrada. E o principal é por medo de lhe não tomarem a cidade, por que se diz que é rica cidade a de Qua-mtom, e vêm corsários muitas vezes junto com ela. É capitão desta cidade hitão, pessoa principal e cada ano é um capitão por ordenança do rei e não pode mais estar. Há outro capi-tão do mar quase como o da terra, com jurisdição sobre si. Ambos são mudados cada ano.

Dizem que os chineses fizeram esta ordenança de não poderem ir a Qua-mtom por receio dos Jaos e Malaios, que é certo que um junco destas nações desbaratam vinte juncos de chineses. Dizem que a China é de mais de mil juncos, que cada um trata onde lhe bem vem. Mas é gente fraca e segun-do o medo que têm a Malaios e Jaos, bem certo será que uma nau de quatro toneladas despovoaria Quamtom, a qual despovoada teria a China grande perda.

Não tirando a glória a cada terra, bem parecem as cousas da China se-rem de terra honrada e boa e muito rica. E para a subjugar o governador de Malaca a obediência nossa, havia mester não tanto como dizem, por que é gente muito fraca e ligeira de desbaratar. E afirmam as pessoas ca-pitães que muitas vezes foram lá que com dez naus subjugaria o gover-nador das Índias que tomou Malaca toda a China nas beiras do mar. E a

Tendo escriTo sobre a china sem um conhecimenTo direcTo, falTava a Tomé Pires ir ver com os PróPrios olhos aquele assombroso e míTico País de eleganTes e riquíssimos ProduTos

China pelas nossas naus é viagem de vinte dias. Da China há novamente navegação para o Burnei e dizem que vão lá em quinze dias e que isto será de quinze anos a esta parte.”

Já quanto às ‘Mercadorias que vem da China’ este refere: “A principal mer-cadoria da China é seda branca crua em muita quantidade e sedas soltas de muitas cores em quantidade, cetins de todas as cores, damascos enrolados de tavoleiro de todas as cores, tafetás e ou-tros panos de seda ralos a que chamam xaas e doutras sortes muitos de todas as cores. Aljofar (pérolas pequenas) grande copia, de diversas feições, pela maior parte desigual; trazem também redondo e grosso. E esta a meu parecer é tão principal mercadoria na China como a seda, posto que eles contam a seda por cabeça de mercadoria. Al-míscar em pó e em papos muito e bom, certamente, que não deve nada ao de Pegu. Cânfora de botica em grande quantidade, abarute, pedra ume, salitre, enxofre, cobre, ferro. Todo o ruibarbo não vale nada, o que até ao presente te-nho visto vem podre; dizem que antes vinha fresco, eu o não vi.” O texto con-

tinua, mas aqui deixámo-lo para termi-nar com uma matéria querida a Tomé Pires, ao ponto de pensar escrever um livro só sobre <os pesos e medidas em todos os diferentes lugares> do Orien-te. Com o título ‘Pesos da China, gran-des e pequenos’ apresenta Tomé Pires na Suma Oriental o seguinte texto: “Na China, a cem cates chama-se pico; en-tão fazes vosso preço quantos picos de pimenta por um de seda, ou quantos de tal mercadoria por um de pimenta. E assim é no almíscar, quantos cates de pimenta por um de almíscar. Aljofar o pico tem cem cates, cada cate tem de-zasseis taéis, cada tael tem dez mazes, cada maz tem dez pon. Cada cate tem vinte e uma onça de nosso peso; cada trezentos e doze cates de vinte e uma onças fazem um bar de Malaca de romã pequena.”

Muito mais se refere na Suma Oriental sobre a China, mas o espaço que aqui temos não permite continuar na nossa transcrição livre do texto des-coberto em Paris por Armando Corte-são.

“O conteúdo integral da Suma Oriental de Tomé Pires, que na épo-ca da sua elaboração permaneceu inédita e conheceu uma circulação bastante reduzida, é hoje conhecido através de uma única cópia quinhen-tista do manuscrito original, o qual teria sido enviado para Lisboa, en-dereçado a el-Rei D. Manuel I, antes da partida do boticário e embaixador para a China em 1516.” E continuan-do com Rui Manuel Loureiro, que foi o historiador que prosseguiu e apro-fundou os trabalhos realizados por Armando Cortesão e pelo seu profes-sor Luís de Albuquerque, “Uma análi-se cuidada deste manuscrito permite concluir que na altura da respectiva encadernação, que ocorreu em data incerta, alguns fólios foram trocados de lugar, pelo que a ordenação geo-gráfica das matérias não é absoluta-mente coerente.”

Tendo escrito sobre a China sem um conhecimento directo, faltava a Tomé Pires ir ver com os próprios olhos aquele assombroso e mítico país de elegantes e riquíssimos produtos, que durante séculos tanto inflamaram a mente europeia e fora o país destino das grandes viagens marítimas realiza-das pelos portugueses.

A caminho da China encontrava-se em 1516 o Embaixador Tomé Pires na nau de Fernão Peres de Andrade, en-quanto o seu livro Suma Oriental, “um verdadeiro clássico da literatura geo-gráfica portuguesa” como lhe chama Rui Loureiro e que este ano comemora 500 anos de existência, seguia rumo a Lisboa.

“muiTas das descrições que Tomé Pires faz do exTremo orienTe não foram ulTraPassadas duranTe uns dois séculos, como as de malaca e Java, e esPecialmenTe a de samaTra, que, sem exagero, se Podem classificar de noTabilíssimas. várias Terras são referidas Pela Primeira vez com os nomes que ainda hoJe conservam, Tais como singaPura e JaPão”armando corTesão

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16 hoje macau sexta-feira 29.5.2015h

A indA a pensar nos inter-valos de vazio e no silêncio das coisas, e como é talvez aí que se situam as margens de

sonho. daquilo que as transcende. Mas a não querer confundir tal como antes, o que é o vazio e o seu lugar marginal ao silêncio, com este. Tão parecido por vezes. E não o vazio desconhecido, o nada, árido que, virado do avesso, con-trariamente à interpretação do abismo em nietzsche, não revela à luz qual-quer vestígio de textura, claro-escuro ou cor. Mas o do vazio que circunda as coisas. Um certo espaço de respiração. do qual rescende um perfume muito subtil, por vezes de qualidade indetec-tável. de alguma pureza. O vazio de uma folha em branco. Em profundida-de potencial, sem limites para aquém das fronteiras. Como uma estrada que se prolonga até ao infinito sem que-bras, na qual se podem imprimir passos a qualquer momento, ou descansar. Ou que as palavras ocupam sem quebrar. Vazio como processo de construção imediato. Quando se estilhaça, é uma ponte dinamitada e o abismo de uma profundidade sem margens.

As coisas têm uma qualidade no tempo, e outra no espaço, que, tal como as cores, é expansiva ou não. A ilusão de volume na bidimensionalidade…A ilusão dinâmica que produz um pulsar para fora. Um extravasar margens. E acontece com qualquer mancha de cor, mesmo abstrata. dizer margens, é qua-se uma redundância porque lhes cha-mo de sonho. Margens são o que fica ao lado do percurso, de um rio. Muito para além dele. E do visível a partir daí.

E em torno de um poema, de um de-senho. dizem-se aí, margens de silên-cio e são o prolongamento vazio que lhes dá espaço para transpôr os limites. Um vazio protector, também.

Acontece-me tantas vezes pensar no valor que tem o sonho. Aquela mar-gem de sonho que é aparentemente e visceralmente necessária para vencer a desesperante linearidade dos dias, o inefável passar do tempo, o desalento de nada ser um pouco mais do que a medida certa. A medida justa e colada à coisa em si. Sem margem de transcen-dência. E acontece-me perguntar, até que ponto é alienar o peso concreto dos dias naquilo que são e não mais. E se somos todos parecidos nessa vontade

Margens de sonho

de compensar pelo sonho algum vazio que sempre acompanha, como a som-bra dos nossos passos, o olhar de sos-laio que lançamos sobre o caminho que se avizinha, ou rodando a cabeça um pouco para trás, aquilo que foi tempo e espaço percorrido e pareceu pouco. Em si. Ou talvez não tanto, pouco em si, mas pouco em potencial de sonho. E diria que o sonho não é direccional. não se projecta necessariamente no futuro. É mais como as cores, algumas cores, expansivo e centrípeto. E como tal contrário ao devaneio narcísico.

Acontece também por vezes per-guntar-me se as coisas como o sonho têm género. na vaga desconfiança de que sejam femininas. Sempre detestei separar o mundo e as suas qualidades por género. Mesmo se cada vez mais as separo por conta, peso e medida. Co-meço a ter algum gosto pela quantifica-ção como metáfora-antídoto do impon-derável e fugidio valor de cada coisa. A sua relação ambivalente com o tempo nas suas várias conjugações verbais, a sua dimensão privada, íntima e intrans-ponível. Ou mesmo inconfessável. A incomunicabilidade dessa dimensão. Um pântano solitário. Mas sonhado. no outro extremo, como uma bóia de salvação, a igual ilusão da ciência do mensurável. daquilo que possa ser tra-duzido por leis. Fórmulas. Modelos de um universo não tanto ao nível cósmi-co mas a um nível existencial. Modelos que não funcionem como receitas, mas antes como estruturas ao alcance da intuição. Teias de sentido, construídas por sentimentos ou sensações comuns, quer nas grandes questões que regem a progressão no espaço/tempo deste or-ganismo estranho que é o universo, se pensado ao nível da percepção e fora do âmbito científico, quer nas peque-níssimas construções humanas.

Aconteceu-me há dias comprar uma aplicação informática, um disco e um folheto resumido a uma folha A4 dobrada ao meio. A caixa, de cartão castanho com um design simples de encaixes, de uma sobriedade que aca-ba por ser bela, coberta de uma outra caixa, essa sim plastificada, com toda a informação necessária e múltiplas co-res em gradações decorativas, de uma cartolina forte, e por fora, ainda um in-vólucro de plástico incolor. Um palmo de largura, por palmo e meio de com-

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 29.5.2015

de tudo e de nada AnAbelA CAnAs

primento, e quase três dedos de altura, 20x24x4 cm. X centímetros cúbicos a envolver dois objectos sem espessura mensurável. Quase nem mesmo de-tectável ao tacto. Ocupando um dos compartimentos da caixa. E ao lado, o vazio. Um terço da largura da caixa e praticamente toda a altura, preenchida por um vazio.

Existe alguma regulamentação sobre a relação entre as dimensões das emba-lagens, naquilo que elas podem sugerir do conteúdo, e este mesmo conteúdo. Mas, para além das questões óbvias de marketing e da sedução pelas qualida-des subjectivas, que se extrapolam am-pliando-lhe o espaço da embalagem, e de alguma forma promovendo-o a um patamar mais elevado de expectativas, esta caixa lembrou-me toda essa mar-gem de sonho que instintivamente, muitas vezes pedimos ao real. A mar-gem do possível para além do óbvio real. Ou muitas vezes, especialmente a margem para além do provável. A margem do porvir idealizado. Ou da interpretação numa escala maior e me-lhor. A mais-valia simbólica associada à aquisição de algo, que ultrapassa o seu valor funcional. Dar espessura, neste caso, a uma coisa que tem uma perfor-mance virtual. E cujo suporte físico, de imediato perde a validade e é descartá-vel. No caso da aplicação para o com-putador, que permitia até um download on line com base numa chave fornecida, mesmo aquele exíguo espaço físico ocupado, era desperdiçado, não fosse para de alguma maneira consubstanciar a aquisição. Era um filtro de segurança, havia talvez que acrescentar à insigni-ficância material do objecto, toda uma margem simbólica de confiança torna-da palpável. Mas margens injustas são margens que mentem, e as deste objec-to, aludem a uma abrangência enorme da aplicação, dificilmente quantificável em termos de espaço ocupado, na me-dida em que é virtual aquele em que vive. Ou funciona. Vive…não seria a palavra adequada senão para as pessoas e os sonhos.

Um tamanho que ultrapassa a me-dida das mãos e sobra para além delas. Talvez seja preciso que as coisas e as pessoas sejam assim, para além do al-cance da capacidade de as fecharmos justas às mãos, as confinarmos nos li-mites do possível, e as enquadrarmos

com o rigor que é uma paragem. O contrário do conceito de sentido. Geo-métricamente falando um sem fim di-reccionado.

Daí que as margens de sonho pa-reçam ser o contrário das margens justas como fronteira. Como se assim resultasse a conclusão de que temos a apetência pelas margens injustas. Mas o conceito de injusto liga-se ao de jus-tiça como sistema de critérios, e não à noção de justo, como aquilo que é colado à pele das coisas. Preciso. Sem espaço além destas. No bom e no mau sentido. O que tolhe eventualmente os movimentos. Quando o que é nuclear necessita de elasticidade. No limite, o que aperta e inibe os passos.

Mas justas, são assim as margens de sonho. Porque só podem ser paradig-máticas. E porque não sendo limitadas no espaço, não sendo estreitas e menos ainda apertadas, seriam tudo menos en-ganosas porque é do interior que lhes vem a qualidade. Ou seriam fantasia. Muitas vezes.

E sempre a remeter para outros as-pectos existenciais. As pessoas, céu e inferno, como medida para todas as metáforas. Ou manequins. Mais inde-termináveis. O limbo labiríntico. Toda uma margem de sonho construída pela vontade de cada um, mas intuída nas cores variáveis com que o ser do outro se nos apresenta nos limites do que em-bora fugidio, é voluntário, e nas imensas margens que se desenrolam na impreci-são natural das leituras. Precisamos des-sas margens de sonho e precisamos de as semear na percepção de nós. Em nós próprios e dos outros em nós.

Como observar a vida ao nível de um planetário ou de um oceanário, ou vê-la no contexto do mundo. É da des-mesura universal que vem uma certa forma de margem de sonho, necessária a uma determinada abstracção do co-mezinho e ínfimo carácter da vida. E talvez como sempre, seja a consciên-cia da finitude a criar esse apelo maior. Dessas imponderáveis mas tão perse-guidas construções líricas, feitas em parte de emoção, de tempo, de verda-des, de intuições, de possibilidades. De tantas coisas que se expandem a partir de um sistema de sinais qualquer. Falí-vel ou não. Ampliando. Criando espa-ços. Fantasias poéticas. Ou verdadeiras margens de sonho.

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18 hoje macau sexta-feira 29.5.2015

Michel Reis

QUARTETO BORODIN EM HONG KONG70 ANOS AO SERVIÇO DA ELEVADA ARTE DA EXECUÇÃO EM QUARTETO

A NÃO pERDER ESTE CONCERTO pOR UM DOS MAIS CONCEITUADOS QUARTETOS DO MUNDO, QUE já ACTUOU DUAS VEzES NO FESTIVAL INTERNACIONAL DE MúSICA DE MACAU E QUE O FrankFurter allgemeine Zeitung DESCREVE COMO SENDO “NÃO QUATRO EXECUTANTES INDIVIDUAIS, MAS UM úNICO INSTRUMENTO DE DEzASSEIS CORDAS DE gRANDE VIRTUOSISMO.”

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H á sete décadas que o Quar- teto Borodin vem sendo aplaudido pelo profundo conhecimento e autori-

dade no domínio da interpretação do repertório de câmara e reverencia-do pelas suas actuações rigorosas de Beethoven e Shostakovich, e de ou-tros compositores que vão de Mozart a Stravinsky. Formado em 1945 por quatro estudantes do Conservatório de Moscovo e designado original-mente como Quarteto da Filarmónica de Moscovo, viria a adoptar a sua de-signação actual em 1955, persistindo como um dos muito poucos quartetos de câmara estabelecidos existentes que gozam de uma longevidade ininter-rupta. Ruben Aharonian e Igor Naidin juntaram-se ao Quarteto Borodin em 1996, Vladimir Balshin em 2007 e Sergei Lomovsky substituiu Andrei Abramenkov em 2011.

O 70º aniversário do Quarteto Borodin proporciona uma oportunida-de para reflectir sobre a notável conti-nuidade dos valores estéticos do quar-teto e da dedicação dos seus membros, passados e presentes, à elevada arte da execução em quarteto. Embora o mun-do esteja irreconhecível em relação a 1945, o Quarteto Borodin manteve o seu comprometimento para com a beleza tonal, a excelência técnica e a musicalidade penetrante. A coesão e visão do agrupamento sobreviveram a sucessivas mudanças, graças a um lega-do comum partilhado pelos seus mem-bros: a sua formação no Conservatório de Moscovo.

A particular afinidade do Quarteto Borodin com o repertório russo foi estimulada nos primeiros anos da sua existência por uma estreita colabora-ção com Dmitri Shostakovitch, que supervisionava pessoalmente o estudo dedicado aos seus quartetos de cor-das. O Quarteto Borodin viria a apre-sentar o ciclo integral dos Quartetos de Shostakovitch nos mais impor-tantes centros musicais do mundo, incluindo Viena, Zurique, Frankfurt, Madrid, Lisboa, Sevilha, Londres, Paris e Nova Iorque. A ideia de apresentar um ciclo completo dos quartetos de Shostakovich teve origem no Quarteto Borodin. Posteriormente redefiniu os seus programas com base num reper-tório mais abrangente, incluindo obras de Beethoven, Schubert, Prokofiev, Borodin, Brahms ou Tchaikovsky.

Para além da interpretação de quar-tetos de cordas, o Quarteto Borodin colabora regularmente com outros prestigiados músicos. Entre os seus par-ceiros incluíram-se Sviatoslav Richter, Mstislav Rostropovich, e actualmen-

te Yuri Bashmet, Elisabeth Leonskaja, Mario Brunello, Natalia Gutman, Boris Berezovsky, Elisso Virsaladze ou Christoph Eschenbach. O Quarteto dá também master classes regularmente.

O Quarteto Borodin produziu uma rica discografia ao longo destas sete décadas para as editoras EMI, RCA, Teldec e Onyx, incluindo a integral dos quartetos de Beethoven para a CHANDOS. O Quarteto começou já a gravar a integral do ciclo de Quartetos de Cordas de Shostakovich para a Decca, sendo o primeiro lançamento do ciclo um CD dedicado ao seu 70º aniversário lançado em Março passado.

Na temporada do seu 70º aniver-sário (2015), o Quarteto Borodin ce-lebra a efeméride com actuações em todo o mundo, incluindo compro-missos em Moscovo, S. Petersburgo, Roterdão, Tóquio, Istambul, Montreal, Vancouver, Amesterdão, Varsóvia, Londres, Frankfurt, Hong Kong, Miami e Filadélfia, Berlim, Zurique e Viena em festivais internacionais como Schleswig Holstein, Rheingau, Tokyo

Spring, Snape Proms, Istanbul Music e Dvorák em Praga. Os programas in-cluem quartetos de Mozart, Beethoven, Schubert, Tchaikovsky, Myaskovsky, Shostakovich – e claro de Borodin; e quintetos com parceiros incluindo Boris Berezovsky, Elisabeth Leonskaja, Ludmila Berlinskaya, Michael Collins e Alexei Volodin. É o caso do concer-to que o Quarteto Borodin vai dar em Hong Kong na Sexta-feira, dia 29, no City Hall Concert Hall, no qual irá executar o Quarteto de Cordas No 2 em Ré Maior de Borodin, o Quarteto de Cordas No 12 em Dó menor, D. 703 “Quartettsatz” de Schubert e o Quinteto de Piano em Lá Maior, op. 81 de Dvórak, acompanhado pelo notável pianista Alexei Volodin.

A não perder este concerto por um dos mais conceituados quartetos do mundo, que já actuou duas vezes no Festival Internacional de Música de Macau e que o Frankfurter Allgemeine Zeitung descreve como sendo “não qua-tro executantes individuais, mas um único instrumento de dezasseis cordas de grande virtuosismo.”

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19hoje macau sexta-feira 29.5.2015 (F)utilidadestempo muito nublado min 28 max 32 hum 70-95% • euro 8.71 baht 0.23 yuan 1.28

João Corvofonte da inveja

Aconteceu Hoje 29 de maio

tomada de constantinopla• No dia 29 de Maio de 1453, os turcos otomanos, comandados pelo califa Maomé II, tomaram a cidade de Constantinopla. Hoje conhecida como Istambul, na Turquia, a cidade foi a capital do Império Romano (330–395), do Império Bizantino (395–1204 e 1261–1453), do Império Latino (1204–1261) e, após a tomada pelos turcos, do Império Otomano (1453–1922).A “cidade de Constantino” estava estrategicamente localizada entre o Corno de Ouro e o Mar de Mármara, sendo que, no decorrer da Idade Média, foi a maior e mais rica cidade da Europa.O nome da cidade é uma referência ao imperador romano Con-stantino I que tornou esta cidade a capital do Império Romano em 11 de Maio do ano 330. Dependendo dos seus governantes, teve diferentes nomes no decorrer do tempo e foi também chamada de Tsargrado (“Cidade dos Imperadores”) pelos eslavos, enquanto que para os vikings era conhecida como Miklagård, “a Grande Cidade”, semelhante ao nome com que também era chamada pelos gregos: “a Cidade”. O nome Istambul, que se supõe derivar da expressão grega “para a Cidade” ou “na Cidade”, é usado na língua turca desde o século X, embora na maior parte dos casos as autoridades otomanas se referissem à cidade como Kostantiniyye. No entanto, havia, por exemplos alguns cargos oficiais em cujo nome aparecia Istambul — o comandante militar era o Istanbul agası o grau mais elevado da magistratura civil era o İstanbul efendisi. Em 1930, mediante a lei turca e parte das reformas nacionais do governo de Atatürk, a cidade foi definitivamente nomeada oficialmente como Istambul.Após ser capturada pela Quarta Cruzada em 1204 e depois recapturada pelas forças de Niceia, sob o comando de Miguel VIII Paleólogo em 1261, Constantinopla e o Império Bizantino foram tomados pelo Império Otomano a 29 de Maio de 1453. Depois de tomada pelos turcos, entrava-se no início da Era Moderna. Com a conquista, os turcos bloquearam as milenares rotas de comércio entre a Europa e o Oriente. Quando a República da Turquia foi fundada em 1923, a capital foi movida de Istambul para Ancara.

O que fazer esta semana? C i n e m aCineteatro

Sala 1tomorrowland [b]Filme de: Brad BirdCom: George Clooney, John Walker, Britt Robertson14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Sala 2pitch perfect 2 [b]Filme de: Elizabeth Banks

Com: Anna Kendrick, Skylar Astin, Rebel Wilson, Adam DeVine14.30, 16.30, 19.30, 21.30

Sala 3tdragon ball z: reSurrection “f” [b]FALADO EM JAPONêSLEGENDADO EM CHINêS E INGLêSFilme de: Tadayoshi Yamamuro14.30, 16.30, 19.30, 21.30

PITCH PERFECT 2

U m d i s C o h o j e“A Girl Meets BossAnovA”

(oliviA onG, 2005)

Com cerca de 20 anos, olivia ong já via a sua carreira desenvolver-se no japão, depois de ter ganho um prémio numa competição mundial em 2004. este álbum, traz covers de várias canções já conhecidas, tais como “The Girl From ipanema” e “Fly me To The moon”, entre outras seis músicas ao estilo da Bossanova. a voz suave e novo arranjo das músicas originaram comentários bastante positivos tanto no japão, como no seu país natal, singapura. - Flora Fong

HojeTEATRO “TRuST” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 100 às 350 patacas

TEATRO “DOT” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 120 às 150 patacas

EXPOSIçãO “DE LORIENT AO ORIENTECIDADES PORTuáRIAS DA CHINA E FRANçANA ROTA MARíTIMA DA SEDA” Museu de Macau (até 30/08) entrada livre

SábadoEXPOSIçãO “3 BLACK SuITS”Calçada de São Lázaro, 15h00entrada livre

EXPOSIçãO “WHO CARES” (ATé 28/07)Armazém do Boi, 16h00entrada livre

TEATRO “TRuST” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 20h00Bilhetes das 100 às 350 patacas

TEATRO “DOT” (FESTIVAL DE ARTES DE MACAu)Centro Cultural de Macau, 15h00Bilhetes das 120 às 150 patacas

Diariamente EXPOSIçãO DE ARTES VISuAIS DE MACAu (ATé 2/8)Pintura e Caligrafia ChinesasEdifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00entrada livre

EXPOSIçãO “A ÚLTIMA FRONTEIRA:MISTéRIOS DO OCEANO PROFuNDO” (ATé 31/05)Centro de Ciência de Macau

EXPOSIçãO “VALQuíRIA”, DE JOANA VASCONCELOS(ATé 31 DE OuTuBRO)MGM Macau, Grande Praça entrada livre

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Se procurares resolver as coisas através da razãoencontrar-te-ás, geralmente, num beco sem saída.

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20 opinião hoje macau sexta-feira 29.5.2015

Oito e 80

M esMo não querendo que na minha coluna deste jornal se fale unicamente da hibridez e multiculturalidade de Macau, a verdade é que, no seguimento da minha última intervenção, aca-bei por dar continuidade a esse tema.

Não que não tenha tentado fugir dele: ocorreu-me escrever sobre a professora Ana Maria Amaro, recentemente falecida, ainda que numa perspectiva diferente, explorando o facto de se tratar de uma investigadora que se debruçou intensamente sobre Macau, mas que, surpreendentemente, nunca mais aqui voltou desde 1972.

em 1972 Macau tinha menos de 250 mil habitantes. Não existia ainda nenhuma ligação terrestre entre Macau e a Taipa. Havia hortas no Porto exterior, búfalos na Taipa e kwai chi lous (*) em Coloane. os números de telefone tinham apenas quatro algarismos.

Foi esse o Macau que Ana Maria Amaro vivenciou no momento em que se foi embora há 43 anos atrás para nunca mais voltar. Isso não a impediu, no entanto, de continuar a pu-blicar obras sobre os costumes e as tradições da comunidade macaense.

Não escondo que fiquei algo afectado com essa questão, obrigando-me a reflectir um pouco sobre o assunto. e aparentemente não fui o único: bastará ler com atenção os comentários, ainda que subtis, que algumas personalidades deixaram nos jornais na se-quência da sua morte.

Não será necessariamente um problema. o importante é estarmos cientes desse facto, para que na apreciação da sua obra a mesma seja adequadamente enquadrada no tempo. Pois uma coisa é certa: as cidades e as suas gentes são organismos vivos em constante mutação.

Posto isso, fico por aqui e vou mudar de assunto para evitar que me atirem pedras.

Disse no início que iria dar continuidade ao tema da hibridez de Macau. Vamos a isso.

Como o caríssimo leitor decerto saberá, durante alguns anos vesti a camisola do Governo e dei a cara para um projecto infra--estrutural bastante controverso. e comi mui-tas balas pelo caminho, diga-se de passagem.

Balas à parte, hoje vamos recordar coisas boas: uma das tarefas que tive de cumprir no exercício das minhas funções foi a de apresentar o projecto junto dos mais novos nas escolas de Macau.

essas apresentações foram sempre feitas na companhia da Keily, a minha amável assistente da área das relações públicas. Por-tanto, uma dupla formada por um português--macaense e uma chinesa.

Vou começar por partilhar a minha ex-periência de uma apresentação numa escola chinesa.

Mal chegamos à porta da escola, está à nossa espera uma funcionária que nos cum-primenta de forma calorosa, exibindo um enorme sorriso.

sorr indo sempreAndré ritchie

somos levados ao gabinete do Director da escola, que nos recebe com a mesma simpatia, embora já de forma mais reservada. sentamo-nos e tomamos um chá, trocamos os cartões e conversamos protocolarmente.

O Director leva-nos ao anfiteatro, onde está já tudo pronto para a apresentação: computador com o ficheiro Power Point que a Keily fez chegar com antecedência; projector já ligado; mesa no palco com flores e etiquetas onde se lêem os nossos nomes, indicando os respectivos lugares; e alunos, muitos alunos, centenas de alunos. e também professores. Todos já sentadinhos à nossa espera. Batem palmas quando entramos no anfiteatro.

o Director faz um breve discurso. Mais palmas. Passa-me a palavra e faço então a minha apresentação. Chego ao fim e pergunto se alguém tem dúvidas. Levantam-se logo vários braços. Uma a uma, vou respondendo às perguntas, todas elas interessantes. No fim, o Director toma a palavra, agradece a todos e fecha a sessão. Acompanha-nos até à porta da escola. Despedimo-nos cordialmente.

“Keily, correu mesmo bem, não foi? Nun-ca pensei que os alunos pudessem demonstrar tanto interesse pelo nosso projecto!” disse eu, satisfeito, à minha colega.

“Ritchie, tu de facto não nos conheces… Isto aqui é assim: mal informámos que vínha-mos fazer uma apresentação, os professores agendaram para trabalho de casa que cada aluno preparasse pelo menos três perguntas. os professores depois analisaram as perguntas, filtraram e escolheram as mais interessantes e

menos embaraçosas para nós, as menos kám kái. Antes de cá chegarmos, já estava combi-nado quem perguntava o quê. Não percebes mesmo nada disso pá…” respondeu-me a Keily, em jeito de troça.

Agora a apresentação numa escola por-tuguesa.

Chegamos à porta da escola e não está lá ninguém para nos receber. Dirigimo-nos então à secretaria. “Apresentação? Que apre-sentação? Não sei de nada…”.

Aparece um professor, simpático, que se oferece para tratar do assunto. Leva-nos ao anfiteatro, que está vazio. Não está lá nenhum equipamento montado. Dou uma ajuda na instalação do projector e do computador, que entretanto alguém trouxe.

“olhe, falta um cabo de ligação ao projector, este aqui não dá.” “Bolas, precisamos de uma extensão, o cabo não chega lá.” Não há stress. Foi tudo resolvido, agora só falta a assistência.

o professor, despachado, vai ao recreio da escola. “Ó vocês aí, vá! e vocês também, esse grupinho, venham cá! Vamos assistir a uma apresentação.” Pronto, já temos assistência. entretanto vieram mais uns professores.

“Posso?”, pergunto ao professor. “sim, for-ça!”. Faço então a minha apresentação. Chego ao fim e pergunto se há questões a levantar.

silêncio absoluto. Zero. o professor olha para trás, para a esquerda, para a direita, para todos os lados, e o silêncio persiste. sentiu-se kám kái e, face à situação, é ele que levanta o braço, é ele que faz a pergunta. Respondo à pergunta e voltamos ao silêncio.

Finalmente, um rapaz de óculos, com cara de malandro, faz uma pergunta pertinente, questionando se as receitas das tarifas serão suficientes para cobrir os custos de operação do empreendimento.

essa deu-me trabalho. Mal acabo de res-ponder, umas meninas da fila de trás desatam a bater palmas, desalmadamente. Não pela excelente resposta que tenho a certeza que dei, fruto de tantos anos de experiência no campo do discurso insípido. As meninas pretendiam, com as palmas, terminar a sessão. e assim

foi. os professores agradeceram, conversá-mos um pouco, rimo-nos e despedimo-nos. Foram-se todos embora.

A Keily e eu ficámos sozinhos no anfiteatro. “Ritchie, mas o que foi isso, correu tão

mal! Cheguei a pensar que tínhamos de can-celar tudo e marcar uma nova sessão, mas que grande confusão!”, disse-me a Keily, chocada.

“Keily, tu de facto não nos conheces… Isto aqui é assim: somos portugueses, somos campeões na arte do desenrascanço. Qual é o problema? Tivemos computador, projector, assistência, correu tudo lindamente. e mais: aquele miúdo fez-me uma grande pergunta! sabes, como achas que os portugueses che-garam aqui há 500 anos atrás? Não percebes mesmo nada disso pá…” respondi à Keily, em jeito de troça.

Macau tem dessas coisas.

Sorrindo SempreCom a minha saída da função pública, tive de ir tratar da liquidação da minha conta do Regime de Previdência junto do Fundo de Pensões (FP) a fim de receber o meu pé-de-meia depois de 12 anos de contribuição.

segundo me explicou ao telefone uma competente funcionária do FP, tinha apenas de preencher um impresso, anexar uma fotocópia do BIR e entregar tudo na sede do FP.

o que ela não me explicou, no entanto, é que no FP iria ser atendido por um funcionário ignóbil. Coitada, como poderia ela adivinhar?

Depois de ter apresentado os tais papéis, e tendo o ilustre funcionário garantido que estava tudo em ordem, ia eu no carro a atravessar a Ponte de sai Van, a caminho de casa, quando o dito me telefona e pede para eu voltar atrás pois, afinal, encontrou irregularidades no preenchimento do impresso.

então quais eram as irregularidades? (1) o endereço, segundo aquele especialista, continha um erro ortográfico, pois escrevi “Poplar Court”, quando obviamente deveria ser “Popular Court”; e (2) o acento no meu nome “André” estava torto. sim, o acento estava torto. Por isso, disse ele, eu tinha de voltar atrás para preencher novamente o impresso.

First things first, vamos apurar os factos: (1) o prédio onde moro chama-se mesmo “Poplar” e não “Popular” como aquele ilustre sugeriu; e (2) o acento… Desculpem, mas nunca tive dificuldades em escrever o meu próprio nome, portanto o acento estava bem. Ponto final.

senti que o devia arrasar. e assim foi.Não, não houve palavrões e não levantei a

voz. Mas fui agressivo e acutilante no uso das palavras. encarnei novamente o detestável simon Chan do sketch Maquista Idol do patuá. exemplo: “Não volte a pensar com o traseiro, está bem?” (**)

Enfim, sorrindo sempre…

P.S. – Senhor Presidente do FP, não leve a mal ter contado essa história. Por favor, não encrave o meu processo. Sorria um pouco também.

(*) Malfeitor que rapta crianças.(**) “Iong kor si fat lam yeah”, expressão que faz sentido em cantonense.

“Keily, tu de facto não nos conheces… Isto aqui é assim: somos portugueses, somos campeões na artedo desenrascanço. Qualé o problema?”

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os segredos

T alvez fale por ter tido uma experiência pessoal menos agradável: vistas as coisas, não fica bem a ninguém confessar que começou a fazer fortuna vestindo vários pares de calças de ganga que vendia do outro lado da fronteira, onde a oferta de pronto-a-vestir

era escassa. Pior assenta este passado de pernas engordadas com fins lucrativos se o proprietário de tão cândidas memórias for um elemento da elite política local.

Chan Meng Kam veio há dias con-denar, numa interpelação que fez na Assembleia Legislativa, a sinceridade de Raimundo do Rosário. entende o deputa-do, que é também membro do Conselho executivo, que nem tudo deve ser dito. Para o político natural de Fujian, a fran-queza do secretário para os Transportes e Obras Públicas “pode não ser assim uma coisa tão boa”. A razão? Entende Chan Meng Kam que nem tudo deve ser tornado público.

este tipo de raciocínio, a ideia de que a população não deve saber o que se passa nos bastidores da política, corresponde, sem dúvida alguma, ao que tem sido a ati-tude política dominante – aqui e em muitos outros sítios. Nem tudo deve ser tornado público porque, entende Chan Meng Kam, a população vai pedir responsabilidades que não podem ser assacadas, por falta de legislação para o efeito. O deputado, que é também membro do Conselho Executivo, terá ainda outras razões para defender a privacidade da política local. Ele lá saberá quais são – nem tudo será, sossegue Chan Meng Kam, tornado público.

Deste tipo de afirmações podemos deduzir que Chan Meng Kam interiorizou com relativa rapidez, sendo agora capaz de passar à fase da exteriorização, uma tendência que afecta políticos de Norte a Sul, do Ocidente ao Oriente: o político, representante do povo, por ele eleito, afasta-se quase sempre do povo. Sabe mais do que o povo das coisas que ao povo dizem respeito, mas que ao povo não devem ser ditas. O político é um ser maior, um ser superior. O povo só serve, no caso em análise, para alimentar interpelações sobre infiltrações em apartamentos e ou-tros problemas de política extremamente doméstica.

Sem querer, e porque a política é uma arte que demora anos a dominar, Chan Meng Kam cometeu o mesmo pecado que aponta ao secretário: revelou uma terrível franqueza. Este tipo de sinceridade não fica bem a um deputado eleito pelos residentes de Macau. Não fica bem considerar que um secretário não deve dizer tudo, mesmo que esse “tudo” a que o líder de Fujian se refere esteja relacionado com os problemas que afectam seriamente a população, com os deslizes e problemas das obras públicas,

Raimundo do Rosário tem, assim, dois defeitos: é sincero e não é polícia. Eu cá aprecio a sinceridade, que é uma coisa constitucionalmente protegida com outro nome

contramãoIsabel [email protected]

com os atrasos e novelos emaranhados que abundam na tutela de Raimundo do Rosário. Não fica bem a Chan Meng Kam, mas também não interessa: não terá per-dido a confiança do eleitorado e, em caso de recandidatura, este acto de desmedida honestidade não lhe deverá custar votos.

Já o facto de defender a responsabili-zação dos titulares dos principais cargos é, sem dúvida, um tema conquistador de aplausos e sorrisos. O deputado teme que, apesar das muitas promessas feitas neste quase meio ano de nova governação, os secretários terminem o mandato com tudo – ou quase tudo – por fazer. e depois vêm outros e mais outros e continua-se na mesma: Macau a acumular uma colecção de lau Si Ios na prateleira e a acumular problemas também.

A responsabilização política, na minha terra de origem, dá pelo nome de eleições – o que, by the way, nos tempos que cor-rem pode não significar grande coisa, que também por lá se acumula gente que faz, desfaz e volta a fazer para ficar tudo mais ou menos na mesma, ou um bocadinho pior. A responsabilização das obras derrapadas e incompletas que Chan Meng Kam quer ver acontecer far-se-á através de uma lei que, presumo eu pelas declarações do deputado na Assembleia, fará com que os secretários que se seguem possam ser polícias dos seus antecessores. Chan Meng Kam lamenta que Raimundo do Rosário não o seja. Raimun-do do Rosário tem, assim, dois defeitos: é sincero e não é polícia.

Eu cá aprecio a sinceridade, que é uma coisa constitucionalmente protegida com outro nome. Prefiro que me digam que não se sabe quando é que o metro vai começar a funcionar, do que me en-ganem com calendários em que ninguém acredita. Também acho bem que sejam tornadas públicas as intenções em relação aos concessionários que não cumprem os contratos. Tenho direito a saber como é que vai a vida do erário público.

Como cidadã – e como jornalista –, aprecio respostas claras e dispenso mano-bras de distracção, respostas enviesadas, descaradas tentativas de manipulação, assessores de imprensa pouco talentosos, secretários que fogem dos gravadores como se lhes tivessem apontado armas. Como cidadã – e como cidadã que tem como profissão informar, logo precisa de ser informada –, dispenso intervenções de deputados com duplas funções políticas que defendem o segredo entre homens que do divino nada conhecem para se considerarem deuses.

Talvez seja das experiências do pas-sado ou do receio que o futuro representa sempre, mesmo para quem tem 203 fracções. Mas o passado já era. as cal-ças ficaram do outro lado da fronteira. O presente agora, esse, é a valer e deve ser de todos aqueles que o quiserem apanhar, que um dia destes já cá não está.

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22 opinião hoje macau sexta-feira 29.5.2015

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; André Ritchie; David Chan; Fernando Eloy; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

A finAl, o que têm em co-mum as realidades políticas de Portugal, Espanha, itália e Grécia? Já perdi a conta a quantas vezes ouvi esta pergunta, nos últimos anos e meses. A resposta teria de ser dada por uma série de teses numa série de disciplinas (história, sociologia, econo-

mia, ciência política) e acabaria por ser algo como: tudo e nada, muito e muito pouco.

Vamos tentar algumas notas. O que estes países têm em comum — entre si e com muitos outros — é uma insatisfação com a falta de resposta que a política tem dado à crise. Ao contrário do século passado, essa insatisfação não se tornou anti-democrática. Pelo contrário: a insatisfação é com a falta de democracia dentro da democracia.

isto não é único ao Sul da Europa, mas o que nós temos em suplemento é a noção de fazer parte de um conjunto. nas eleições deste domingo em Espanha, a candidata vitoriosa da

Já se viu que este modelo consegue ganhar eleições. Agora chega o verdadeiro teste: conseguir governar melhor

Rui TavaResin Público

Em comum

lista de convergência “Barcelona em Comum”, Ada Colau, disse no seu discurso que esperava que a mudança na sua cidade se estendesse a toda a Catalunha, à Espanha e ao Sul da Europa. Há uns anos esta consciência não era tão clara.

Estes países têm em comum também anos de hegemonia bipartidária nos seus sistemas políticas, e uma noção de que essa hegemonia tem beneficiado o centro e a direita. Pior: ao prolongar-se no tempo, essa hegemonia favorece a opacidade, a exclusão e a captura do estado por interesses privados.

***

A partir daqui, as opiniões dividem-se. Qual é a melhor forma de superar isto? Através de uma substituição da hegemonia, ou através de um sistema político mais plural?

na Grécia, a resposta do eleitorado foi a primeira. O PASOK implodiu e foi substituído pelo SYRiZA. Em Espanha, os primeiros sinais são de que o eleitorado pretende substituir o bipartidarismo por um sistema mais dinâmico, tirando partido da proporcionalidade para que os vários agentes políticos — mais tradicionais ou mais emergentes — se entendam.

Há ainda o modelo italiano, onde a inca-pacidade da oposição para se entender deu a Berlusconi a possibilidade de alterar o siste-ma eleitoral e atirar a esquerda para a opo-sição durante vinte anos. Possibilidade que não está nunca muito distante, em particular em Portugal, quando as elites institucionais começarem a ver que as maiorias absolutas são hoje quase impossíveis de obter.

não basta, contudo, falar de entendimentos. Para nos entendermos teremos, primeiro, de nos libertar. Essa é talvez a lição mais interessante das eleições em Espanha, embora tenha passado despercebida. Mais do que assinalarem a vitó-ria de um ou de outro partido, as eleições em Espanha marcaram o aparecimento de novas formas de fazer política, através de candidaturas de convergência construídas num modelo par-ticipativo, com primárias abertas para a escolha de candidatos e democracia deliberativa para a redacção do programa.

Já se viu que este modelo consegue ganhar eleições. Agora chega o verdadeiro teste: con-seguir governar melhor. E isso, neste caso, só será possível se a opção por mais abertura e mais democracia for genuína e se prolongar para lá das eleições. Esse é o último elemento em comum: não queremos só mais democracia, queremos mais responsabilização.

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hoje macau sexta-feira 29.5.2015 23Perfil

É uma apaixonada pela moda, pela arte e pelo estilo. Antes de ser maquilha-dora, Jez Lio estudou Comunicação

e trabalhou como editora numa revista de moda, ainda que sempre tivesse sonhado que o trabalho ideal para si era ser direc-tora de arte.

Jez nunca tinha pensado enveredar por esta profissão, até que, enquanto estudava na Universidade de Taiwan, onde tirou o curso de Comunicação e Design Gráfico, decidiu que iria mudar de ramo. A justifi-cação, como diz ao HM, é simples: gosta de tornar as pessoas bonitas

Durante os quatro anos de licenciatura, Jez foi tendo muitas oportunidades de tra-balho, juntamente com os colegas. Aqui, foi começando a responsabilizar-se cada vez mais pela maquilhagem, arte pela qual nutriu um grande interesse. Interesse que decidiu desenvolver.

“Foi no quarto ano do curso que comecei a procurar formação em maqui-lhagem. Consegui formação numa escola e, depois de me licenciar, trabalhei como editora numa revista de moda em Taiwan, enquanto aprendi a ser maquilhadora.”

O trabalho de editora, como conta Jez ao HM, esteve bem mais ligado ao que

aprendeu na universidade, deixando de parte o que a jovem mais gostava – a moda.

“Embora tivesse aprendido Comuni-cação, achava que a minha escrita não era muito boa para ser publicada. Felizmente, o trabalho obrigava não só à escrita, mas também a tirar fotografias, arranjar rou-pas... o que eu aprendi um pouco durante a licenciatura.”

Valeu a penaA estadia em Taiwan, conta-nos Jez, va-leu a pena. É que aqui conheceu muitos designers, fotógrafos, estilistas, editores de outras revistas. Algo que fez a jovem entender que “todos estes trabalhos estão ligados, cada um tem o seu estilo, mas cada um adiciona a algo ou alguém o sentido de beleza. Sem qualquer uma destas pro-fissões, o trabalho não pode ser feito de forma completa.”

Um ano na Formosa valeu à jovem muita aprendizagem e foi, para ela, um ponto de viragem. Isto, porque foi “muito diferente de estudar na universidade” e foram práticas “da vida real”.

O ano acabou e Jez volta a Macau. Não só pela família, que aqui estava, mas tam-bém pela esperança de haver mais pessoas

que, como ela, quisessem desenvolver a arte e as indústrias culturais e criativas desta cidade.

Jez confessa-nos que, no início, o regresso ao local de nascimento a deixou um pouco perdida, especialmente no que ao arranjar trabalho diz respeito. Resolveu trabalhar a tempo parcial e como maqui-lhadora freelancer ao mesmo tempo, nem pensando sequer desenvolver-se na área da Comunicação por achar, diz, que “não é um sector grande.”

“Não pensei em ser jornalista de jornais ou de televisão, que é apenas re-latar os assuntos sociais, não gosto tanto disso. O meu interesse é mais na moda, vestuário e arte.”

Agora, faz dois anos que Jez trabalha como maquilhadora, tendo feitos muitos trabalhos com noivos e modelos. A jovem admite que ainda não é muito experiente, mas também pensa duas vezes sobre se isto será mesmo necessário. É que, quando a questionamos sobre o futuro, e sobre se quer desenvolver-se ainda mais como maquilhadora profissional, Jez Lio diz não querer apenas isso.

Isto porque o trabalho actual, diz, ainda não é ideal e tem muitas limitações.

“O que eu gosto mais de fazer é a produção de todo o estilo, no entanto, em Macau há restrições neste campo, o sector não é grande, nem há uma indústria de moda forte para que haja esta necessidade. Ao ser maquilhadora, existem mais pes-soas que pagam pelo meu trabalho, mas ninguém paga a um estilista.”

No futuro, por um lado, Jez Lio ainda espera ser uma directora de arte, semelhan-te ao trabalho de editora em Taiwan, onde pode controlar muitas coisas. “É como ser uma coordenadora, arranjando fotógrafos, estilos de roupas, maquilhadores, luz, para conseguir um trabalho completo e poder ver um resultado que todos esperam.”

No estúdio de produção de fotografias e moda onde trabalha em Macau, com quatro parceiros, a jovem espera juntar mais pessoas para levar adiante a moda e a arte, de forma mais diversificada.

“Muitas pessoas de Macau acham que não há recursos nem caminhos para a moda e para a arte. Mas de facto, esses são caminhos que podem ser criados por nós. E não é tão mau como se imagina, o ambiente de Macau já está melhor.”

Flora [email protected]

Jez L io, maquiLhadora

“O caminhO da arte POde ser criadO POr nós”

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THE BANK OF EAST ASIA, LIMITED, SUCURSAL DE MACAUSíntese do relatório de actividade referente ao exercício de 2014

Em 2014, a Sucursal e as quatro agências [East Asia (Macau)] do Banco da East Asia, Limitada (“BEA”) estabelecidas em Macau continuaram a satisfazer a procura dos seus clientes de Macau e das regiões vizinhas no âmbito do serviço de financiamento transfronteiriço, utilizando a vasta rede que o Banco da East Asia (China), Limitada [East Asia (China)], subsidiária integral do Banco da East Asia, possui no Interior da China. No exercício do ano de 2014, conseguiu-se obter, em comparação com período homólogo do ano anterior, um aumento de 33% nos lucros apurados após a dedução de impostos, em virtude do empenho da [East Asia (Macau)] e das medidas eficazes de controlo dos custos adoptadas, sendo o melhor resultado registado desde o início das actividades em 2001. Por outro lado, até 31 de Dezembro de 2014, registou-se um aumento de 44% do crédito concedido aos clientes da [East Asia (Macau)] em comparação com período homólogo do ano transacto.

Além disso, a [East Asia (Macau)] lançou, em Maio de 2014, o cartão ATM com chip, para reforçar o nível de segurança dos serviços prestados com ATM. Para o futuro, a [East Asia (Macau)] vai continuar a aumentar o rácio de penetração no mercado local, para alargar a base de clientes.

Banco da EaSt aSia, Limitada, SucurSaL dE macau O Gerente – GeralWong Chun Kwan

Síntese do Parecer dos auditores Externos

Para a gerência do Banco da East asia, Limitada, Sucursal de macau (Sucursal de um banco comercial de responsabilidade limitada, incorporado na região administrativa Especial de Hong Kong)

Procedemos à auditoria das demonstrações financeiras do Banco da East Asia, Limitada, Sucursal de Macau relativas ao ano de 2014, nos termos das Normas de Auditoria e Normas Técnicas de Auditoria da Região Administrativa Especial de Macau. No nosso relatório, datado de 15 de Abril de 2015, expressámos uma opinião sem reservas relativamente às demonstrações financeiras das quais as presentes constituem um resumo.

As demonstrações financeiras a que se acima se alude compreendem o balanço, à data de 31 de Dezembro de 2014, a demonstração de resultados, a demonstração de alterações nas reservas e a demonstração de fluxos de caixa relativas ao ano findo, assim como um resumo das políticas contabilísticas relevantes e outras notas explicativas.

As demonstrações financeiras resumidas preparadas pela gerência resultam das demonstrações financeiras anuais auditadas e dos livros e registos da Sucursal. Em nossa opinião, as demonstrações financeiras resumidas são consistentes, em todos os aspectos materiais, com as demonstrações financeiras auditadas e os livros e registos da Sucursal.

Para a melhor compreensão da posição financeira da Sucursal e dos resultados das suas operações, no período e âmbito abrangido pela nossa auditoria, as demonstrações financeiras resumidas devem ser lida conjuntamente com as demonstrações financeiras das quais as mesmas resultam e com o respectivo relatório de auditoria.

Ieong Lai Kun, Auditor de ContasKPMGMacau, 15 de Abril de 2015