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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ QUINTA-FEIRA 30 DE MAIO DE 2013 ANO XII Nº 2861 PUB PUB VENHAM MAIS CINCO (SÉCULOS) Ter para ler MOP$10 AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 27 MAX 31 HUM 75-95% EURO 10.1 BAHT 0.2 YUAN 1.2 PUB ENSINO FUNDOS ATRIBUÍDOS DSEJ JÁ DESPACHOU MAIS DE 104 MILHÕES PÁGINA 7 Wu Kam Hon volta a ser número dois de Melinda Chan Velhos parceiros • prédios degradados Base de dados estará pronta em 2014, diz DSSOPT PÁGINA 5 • académico do ipm defende Contratação lá fora fomenta diversidade e cria emprego local PÁGINA 4 UM MERCADO QUE SOBREVIVE A CUSTO, MESMO COM A AJUDA DO GOVERNO CENTRAIS MODA ELEIÇÕES 2013 Tudo como em 2009. O número dois da lista de Melinda Chan à Assembleia Legislativa será o “amigo” Wu Kam Hon. “Penso que seremos bons parceiros e é por isso que mantenho o nome. Tem a mesma missão que eu”, foi assim que a deputada confirmou o seu braço direito para as eleições deste ano, onde a expectativa é melhor do que há quatro anos. Abatalha, essa, continuará focada em questões na área social. “Pessoas com deficiência, idosos e também jovens, porque eles também têm algo a dizer.” PÁGINA 2

Hoje Macau 30 MAI 2013 #2861

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Edição do jornal Hoje Macau N.º 2861 de 30 de Maio de 2013asia,

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AgênciA comerciAl Pico • 28721006 D irector carlos morais josé • quinta-feira 30 de maio de 2013 • Ano Xii • nº 2861

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Venham mais cinco (séculos)

Ter para lermop$10

aguaceiros ocasionais min 27 max 31 hum 75-95% • euro 10.1 baht 0.2 yuan 1.2

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ensino fundos atribuídos

dseJ Já despachou mais de 104 milhões

página 7

Wu Kam hon volta a ser número dois de melinda chan

Velhos parceiros

• prédios degradados

Base de dados estará pronta em 2014, diz DSSOPT

página 5

• académico do ipm defende

Contratação lá fora fomenta diversidade e cria emprego local

página 4

um mercado que sobrevive a custo, mesmo com a aJuda do governo centraismoDa

eleiÇÕes 2013

Tudo como em 2009. O número dois da lista de Melinda Chan à Assembleia Legislativa será o “amigo” Wu Kam Hon. “Penso que seremos bons parceiros e é por isso que mantenho o nome. Tem a mesma missão que eu”, foi assim que a deputada confirmou o seu braço direito para as eleições deste ano, onde a expectativa é melhor do que há quatro anos. A batalha, essa, continuará focada em questões na área social. “Pessoas com deficiência, idosos e também jovens, porque eles também têm algo a dizer.” página 2

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quinta-feira 30.5.2013política2 www.hojemacau.com.mo

Andreia Sofia [email protected]

Melinda Chan vai candidatar--se às eleições legislativas de

Setembro com Wu Kam Hon, o seu número dois que já tinha sido o seu braço direito no acto eleitoral de 2009. Segundo disse a ainda deputada ao Hoje Macau, o nome mantém-se na sua lista de preferências dada a confiança de uma parceria de longos anos. “Conheço-o há cerca de 18 anos. É professor na universidade e temos os mesmos objectivos. Penso que seremos bons parceiros e é por isso que mantenho o nome. Tem a mesma missão que eu.”

do lado dos eleitores Melinda Chan espera a mes-ma ou maior aceitação face a 2009, ano em que foi eleita para o cargo de deputada pela via directa com 7857 votos. “Vamos tentar o nosso melhor, não apenas Wu Kam Hon mas toda a equipa, para termos um bom resultado, e

Joana [email protected]

na próxima quinta-feira, o Go-verno vai à assembleia legis-

lativa (al) esclarecer os deputados sobre a recente auditoria ao serviço de autocarros. O convite foi feito pela própria al e está já agendado na página do organismo, sendo que acontece na sala do plenário.

Ontem, lau Si io garantiu que o executivo não ia fugir às responsabilidades no que diz respeito às duras críticas tecidas pelo Comissariado de auditoria (Ca) ao serviço de transportes públicos. O secretário para as Obras Públicas e Transportes disse concordar com o documento e não pôs de lado a hipótese de punir as empresas dos autocarros, “caso sejam detectadas infracções”.

A actual deputada directa garante ao Hoje Macau que vai manter o seu velho parceiro político Wu Kam Hon como número dois da lista. Quanto à comissão de candidatura, só vai ser entregue formalmente no próximo mês

Eleições 2013 académico já tinha sido o número dois em 2009

Wu Kam Hon volta a ser parceiro de Melinda Chan

Autocarros Governo vai à AL responder sobre críticas ao serviço de transportes

dSaT pode precisar de ajuda externa“Vamos fazer estudos e análises às infracções faladas no relatório e penalizar de acordo com o contrato que temos com as operadoras de autocarros”, referiu.

lau Si io vai sentar-se à frente da Comissão de acompanha-mento dos assuntos de Terras e Concessões Públicas para dar resposta sobre o relatório do Ca que, recorde-se, acusou a direcção dos Serviços para os assuntos de Tráfego (dSaT) de má gestão, não só nos horários dos autocarros, mas também na fiscalização dos bilhetes de autocarro. “Uma amos-tragem das receitas provenientes

das tarifas referentes a dois dias verificou que determinado veículo não procedeu à entrega da caixa de tarifas em dois dias seguidos, o que acarreta o risco de extravio de receitas em dinheiro”, pode ler-se no documento.

AJudA de ForAO secretário para as Obras Públicas e Transportes assegura que o Governo não vai fugir a nenhuma questão re-lacionada com o relatório, garantindo que já ordenou à dSaT para “estudar e analisar de forma pormenorizada o seu conteúdo”, especialmente no que diz respeito ao cumprimento do que

vem estipulado nos contratos com as operadoras.

lau Si io admite existirem diferenças entre o que se passa na realidade e o que era pretendido

com a implementação do novo modelo de serviço de autocarros. “a dSaT foi instruída para elevar a capacidade de fiscalização e gestão do serviço de autocarros”, avança, acrescentado que o organismo po-derá vir a pedir a ajuda de terceiras entidades para a fiscalização. “A dSaT tem solicitado a empresas profissionais de contabilidade para dar opiniões, não excluindo a pos-sibilidade, no futuro, de introduzir mais métodos de fiscalização.”

Resta agora saber que conclu-sões vão sair da reunião da próxima semana, em que os representantes do Governo se deslocam à al.

também para poder mostrar todos os esforços que tenho vindo a realizar nos últimos quatro anos.”

“espero ter um bom re-sultado este ano, melhor do que nas últimas eleições. isso encoraja-me”, acrescenta.

CArAS novASFoi na passada segunda-feira que teve inicio o processo do reconhecimento legal das listas dos potenciais candidatos às eleições de 15 de Setembro. as comissões de candidatura têm de ser entregues até ao dia 28 de Junho, e será no próximo mês que Melinda Chan irá apresentar formalmente a sua equipa. até lá, as discussões prosseguem. “Sei que muitos grupos já apresentaram a sua candidatura, mas penso que só farei isso em Junho. ainda estou a fazer algumas nomea-ções e isso leva tempo.”

apesar de manter os mesmos parceiros políti-cos, Melinda Chan garante que o seu grupo terá “caras novas”. Mas prefere não avançar mais informações, garantindo que em Junho as novidades poderão surgir. “estou a planear ter caras novas e ainda estamos a discutir. espero ter cerca de dez pessoas na comissão, mas ainda não decidi.”

Foi em Setembro do ano passado que Melinda Chan confirmou que iria ser candidata para mais uma ronda de quatro anos. ao Hoje Macau, garantiu que iria continuar focada na área social, nas “pessoas que querem líderes”, como “pessoas com deficiência, idosos e também os jovens, porque eles também têm algo a dizer”.

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3políticaquinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo

Joana [email protected]

A Sociedade para o Desenvolvimento dos Parques In-dustriais de Ma-

cau (SDPIM) desistiu de um terreno integrado no Parque Industrial Transfronteiriço Zhuhai – Macau, que detinha desde 2005. Segundo um despacho ontem publicado em Boletim Oficial (BO), e assinado pelo secretário para as Obras Públicas e Transportes, Lau Si Io, a SDPIM não desistiu de todos os cinco lotes que lhe foram adjudicados há oito anos – e que tinham um tamanho de 48,126 metros quadrados -, mas apenas de uma parcela com uma área de 478 metros quadrados. “Em consequên-cia da desistência, a parcela de terreno aí identificada, com o valor atribuído de 478 mil patacas, reverte, livre de ónus ou encargos, à posse da RAEM, para integrar o domínio público”, pode ler-se no despacho.

O Hoje Macau procurou saber junto da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DS-SOPT) quais os motivos que levaram a SDPIM a desistir da parcela de terreno, mas tal não foi possível. Contu-do, segundo consta, desde

O deputado José Pereira Coutinho entregou mais uma interpelação

escrita ao Governo onde pede medidas mais reforçadas em prol da saúde dos que trabalham nos casinos. “O Gover-no deve impor às empresas conces-sionárias que proporcionem exames médicos semestrais ou anuais aos seus trabalhadores, a fim de averiguar se sofrem de doenças resultantes do fumo passivo”, pode ler-se no documento.

“Se, por infelicidade, nos próximos três anos, os trabalhadores dos casinos ficarem doentes ou a sua saúde for afectada devido ao fumo passivo, quem é que vai assumir as responsa-bilidades?”, acrescenta.

Estes três anos a que se refere o deputado dizem respeito ao prazo que foi dado para os casinos im-plementarem a proibição total do fumo nos espaços de jogo. Tal leva “os seus trabalhadores a terem de continuar a suportar o mau ambiente de trabalho. Infelizmente, aquando

O Governo já entregou à Assembleia Legislativa

(AL) a sua versão da Lei de Terras, alterando pontos que os deputados tinham ques-tionado. É o caso do artigo relacionado com a dispensa de concurso público aquando da concessão de terrenos. Kwan Tsui Hang explicou ontem que a isenção de concurso público só pode acontecer caso os empreendimentos se articulem com as políticas do Governo. Políticas que têm de ser ins-critas nas Linhas de Acção Governativa do Executivo ou promovidas em conferência de imprensa da Administração.

Já na lei actual, a conces-são com dispensa de concurso público só é permitida em casos urgentes e relacionados com obras do Governo.

De acordo com a Rádio Macau, o Governo aditou ainda um conteúdo em que diz que se o terreno reunir condições para ser revertido, a Administração declara a caducidade da concessão e esse terreno é concedido ao banco hipotecário. “No entanto, como o banco não pode desenvolver o projecto ficou determinado no diplo-ma que será dada um prazo, a ser definido pelo Governo mediante os casos, para en-contrar um novo promotor. Esta terceira pessoa, realçou Kwan Tsui Hang, fica proibi-da de mudar a finalidade do terreno”, diz a Rádio, citando a presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, encarre-gue de analisar o diploma na especialidade. - J.F.

Terrenos Sociedade dos Parques Industriais desistede parcela de terreno não edificável

Toma lá que eu não queroo início do contrato que esta é uma área onde não é permitido edificar, por ser de acesso de emergência. A empresa não teria vontade de ficar encarregue do espaço, uma vez que teria de ser cuidado e, por isso, pretendia entregá-lo ao Governo. A empresa já tinha comuni-

cado a intenção de desistir do lote em Outubro do ano passado, mas a decisão foi tomada apenas a 20 de Maio.

A Sociedade tem como sócio maioritário a RAEM e o Instituto de Promoção do Comércio e do Inves-timento de Macau (IPIM) detém 40%. O terreno da

Fumo nos casinos Deputado preocupado com trabalhadores

Coutinho quer que operadoras promovam exames

Lei de Terras Alterações do Governo agradam aos deputados

Articulados melhorados

da discussão da proposta de lei, a grande maioria dos deputados es-teve a favor desta solução”, lembra Coutinho.

De apontar, contudo, que a deputa-da Angela Leong, directora-executiva

da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), já apelou na Assembleia Le-gislativa (AL) a uma total proibição de se fumar nestes espaços.

NormAs por sATisFAzerCoutinho considera ainda que tanto as normas do regime de prevenção e controlo do tabagismo como as directrizes sobre as áreas para fuma-dores dos casinos, “não satisfazem as normas, a grande maioria delas”, com base nos resultados divulgados no passado mês de Abril. “Será que tal se deve à falta de rigor na apreciação e fiscalização por parte dos Serviços de Saúde?”, questiona o deputado, que lembra situações em que se fuma fora dos espaços de jogo, como nos restaurantes e cafés dentro dos casinos.

“De que médicos dispõe o Go-verno para que os trabalhadores e as pessoas que os frequentam não sejam afectados?”, aponta. - A.S.S.

qual faz parte esta parcela foi concedido à SDPIM, por arrendamento e sem concurso público, ainda no tempo em que Ao Man Long era secretário para as Obras Públicas e Transportes. O terreno tem de ser aprovei-tado exclusivamente para a construção de um parque

industrial transfronteiriço destinado a finalidades in-dustriais.

Recorde-se que o Con-selho de Administração da SDPIM era presidido por Paulina Alves dos Santos, exonerada do cargo no ano passado pelo Chefe do Exe-cutivo. Foi Paulina quem

assinou o contrato entre a sociedade e o Governo, em Julho de 2005.

E agora, o que acontecerá com o espaço? De acordo com a DSSOPT, em princí-pio, não poderá ser utilizado. “Não pode ser objecto de qualquer tipo de ocupação, temporária ou definitiva”, explica o despacho anali-sado. Até à hora do fecho desta edição, não foi possí-vel obter qualquer resposta sobre isto, bem como não foi possível também saber se a SDPIM recebeu algum terreno ou valor em dinheiro como troca pela desistência do terreno.

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quinta-feira 30.5.2013www.hojemacau.com.mo4 política

Andreia Sofia [email protected]

A Sociedade de Política Pública de Macau (SPPM) está a preparar um projec-to de investigação com

sugestões para entregar ao Governo sobre a gestão dos recursos humanos, ainda sem data de conclusão.

Chan Cheuk Wah, presidente da SPPM, disse ao Hoje Macau não querer adiantar mais pormenores devido ao facto do projecto estar numa fase inicial.

Contudo, o também docente

O docente do Instituto Politécnico de Macau defende que a contratação de recursos humanos especializados fomenta a diversificação económica e a criação de empregos locais. Chan Cheuk Wah preside à Sociedade Pública de Macau que está a preparar um estudo nesta área para apresentar ao Executivo

Emprego Chan Cheuk Wah defende contratação de talentos de fora

Recrutar para diversificar

do Instituto Politécnico de Macau (IPM) acredita que a importação de talentos estrangeiros em nada inter-fere com o mercado laboral local. “Não é como se lêem nas notícias, em que se diz que se recrutarmos pessoas de fora os locais vão perder os seus empregos. Se recrutarmos lá fora teremos uma economia mais diversificada e temos mais oportunidades de emprego para os locais.”

O presidente da SPPM dá o exemplo de Singapura, que “con-vida pessoas de fora e onde acabam por se criar muitos novos empregos

para os locais. Macau deveria con-siderar isso, e pensar em como pode recrutar cérebros do exterior, que podem criar novos investimentos e novas oportunidades”.

Chan Cheuk Wah garante que o Executivo está a fazer o trabalho de casa. “Está a realizar algumas

pesquisas, como por exemplo ao nível dos recursos humanos na área do trabalho social, e também nas novas tecnologias. (Está a analisar) como se pode desenvol-ver a investigação na área da alta tecnologia.”

A polémica dos recursos hu-

manos tem estado na ordem do dia devido à possível contratação dos estudantes do continente que estudem nas universidades locais. O Chefe do Executivo garantiu que tal só iria acontecer em caso de “situações de grande falta de recursos humanos qualificados em alguns sectores”.

SPPM tAMbéM eStudAbAiRRoS AntigoSOutro dos projectos que está a ser desenvolvido por esta entidade diz respeito à área do urbanismo, sobre a “renovação dos bairros antigos e dos espaços antigos de Macau”. “A lei vigente não é forte o suficiente para fomentar a renovação os espaços urbanos. Nos edifícios mais antigos é muito difícil encontrar os donos. Actual-mente o Governo nada pode fazer, mas uma nova lei daria mais apoio para que o Governo renovasse os edifícios antigos e fizesse novas construções para termos uma nova utilização das áreas antigas. Este seria um dos assuntos importantes a desenvolver.”

Desde 2011 que a lei de reor-denamento dos bairros antigos se encontra em discussão na Assem-bleia Legislativa (AL) sem grandes avanços que apontem para uma conclusão definitiva.

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quinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo 5sociedade

Rita Marques [email protected]

A Direcção dos Serviços de Solos e Obras Públi-cas (DSSOPT) organi-zou ontem uma visita

de inspecção aos antigos edifícios, junto da Praça Lobo de Ávila, que acabou por ser tão curta quanto os números que foram divulgados. Aos jornalistas não foram cedidos dados sobre o número total de edi-fícios degradados, nem o número de obras ilegais detectadas, nem tampouco o número de reparações já efectuadas. Isto porque, haverá uma “base de dados” que está a ser criada, cuja conclusão está prevista para “inícios de 2014, a título experimental”.

A DSSOPT remeteu-se apenas a números deste ano, salvaguardan-do que “não há casos em estado iminente de ruína”, isto porque, garantem, as obras são feitas no prazo máximo de 10 dias e, por isso, o problema é rapidamente resolvido, seja pelo proprietário ou pela Administração - caso o dono da obra não assuma a responsabili-dade de imediato, acabando depois por ser compensada.

Desta feita, entre Janeiro e Maio, foram abertos 59 processos de edifícios com necessidades de reparações. “Dentro do universo de 59, 25 já foram avaliados, dos quais cinco notificados para [os condóminos] procederem no prazo de um mês à reparação (...) não estão em perigo iminente porque nesse caso a Administração notifica para procederem rapidamente à demo-lição do edifício. Se não actuam, a Administração actua”, indica Cheng Ton Chun, chefe funcional da divi-são de urbanismo da DSSOPT. E, acrescenta o técnico superior Pun I Chung, que 51 casos merecem tratamento prioritário porque estão em mau estado de conservação ou em perigo iminente de ruína.

Mas, por revelar ficam os casos que transitaram de anos passados e quais os que estão em incumpri-mento, até porque têm apenas um mês para proceder à sua reparação. Entre 2010 e 2012, segundo dados cedidos pelo organismo, foram abertos 800 processos de edifícios degradados, 100 dos quais estavam a ser acompanhados. “Não temos agora em mãos esses números, estamos a tentar criar uma base de dados dos edifícios em estado de conservação precária, nomea-damente, para a Administração ter

A DSSOPT está a realizar um inventário de todos os edifícios que não se encontram em bom estado de conservação. Para já, não dispõe publicamente de dados sobre as propriedades que se encontram em incumprimento face ao tempo de reparação e às inspecções periódicas a que os proprietários são obrigados a proceder. Indicam apenas que, entre Janeiro e Maio, foram encontrados 59 edifícios degradados, que devem proceder a reparações no espaço de um mês

Edifícios antigos Foram detectados 59 prédios em mau estadode conservação que não representam perigo para a população

Base de dados só em 2014

perfeito conhecimento e dominar o número exacto dos edifícios em mau estado de conservação (3.ª classe), os edifícios em perigo de ruína (2.ª classe) e os edifícios em perigo iminente de ruína (1.ª classe)”, avança o técnico.

SolidaRiedadeface ao incidentePara todos os efeitos, não há incumprimentos, por parte dos moradores, no que toca à inspecção periódica aos edifícios, previstas de cinco em cinco anos no Código Civil. Segundo o organismo, esta é “uma obrigação dos condóminos que têm de proceder à reparação dos seus edifícios e se eventual-mente o reboco vier a cair e fizer vítimas, terão de solidariamente responder ao incidente”, explica Cheng Chun.

No entanto, de acordo com o Regulamento Geral de Construção Urbano (RGCU), que se encontra a ser actualizado pelo Governo, a coima máxima prevista para estes casos é de 10 mil patacas, caso menosprezem as suas responsabili-dades e obrigações de conservação e reparação.

fiScalização caBea cada uM e a ninguéMMas a DSSOPT, admite ainda, que a divisão de fiscalização não tem meios humanos para fiscalizar toda a cidade, sendo dada maior atenção nas operações diárias, em que se repare pelo seu aspecto exterior, que os edifícios causem perigo à segurança pública. Resta-lhe ape-nas apelar à população, sobretudo em épocas de intempéries como as que estão a ser vividas. “Tendo em conta a época de chuva e de tufões, os edifícios saíram afectados e, por isso, reforçamos as acções de fiscalização e esperamos apelar à população para não esperarem a ajuda da Administração mas con-tratarem técnicos qualificados”, explica o responsável do departa-mento de urbanismo.

Por outro lado, indicam, está a ser aperfeiçoado o mecanismo de notificação dos proprietários face aos edifícios degradados e obras ilegais que ponham em perigo a segurança pública.

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quinta-feira 30.5.2013www.hojemacau.com.mo6 sociedade

Rita Marques [email protected]

Há medidas a curto, médio e longo prazo para im-pedir novamente cheias. Depois de inquirida sobre

as obras de prevenção de inundações, em dias de chuva intensa, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) responde ao Hoje Macau sobre os novos planos. Para breve está prevista “a instalação de cinco postos de monitorização do nível do mar em vários locais de Macau, um junto da Rua da Praia do Manduco, três na Ilha da Taipa e um na Ilha de Coloane”, indica o organismo.

Mas o ponto crítico, e mais destacado pela DSSOPT, prende-se

OS estudantes do ensino superior que queiram

continuar os seus estudos após a licenciatura podem agora ter acesso a subsídios do Governo mais elevados no próximo ano lectivo de 2013/2014. Em comuni-cado, o Governo explica que “serão aumentados substancialmente o número e o montante das bolsas de mérito para estudos pós--graduados”. Tudo para “apoiar os estudantes que frequentem cursos de ensino superior e com o objectivo de continuar a incentivar a frequência de cursos de pós--graduação de alto nível”.

O número total de bolsas passará a ser de 125, ao invés das actuais 96, cujo aumento é de 30%, estima o Executivo.

Quanto às bolsas de mé-rito para os cursos de dou-toramento vão subir de 15 a 20, cujos montantes pagos anualmente vão passar das 72 mil para 75 mil patacas. Quanto às bolsas de mérito para cursos integrados de mestrado e doutoramento sobem de um para cinco. Os valores pagos passam de 61.800 mil patacas para 66 mil patacas.

Face às bolsas de mes-trado vão subir de 80 para

100, com valores a passar de 51 mil para 54 mil patacas. As candidaturas podem ser feitas de um a 30 de Setembro e os alu-nos devem ser residentes permanentes, frequentar um curso de pós-graduação ou terem sido admitidos por uma instituição do ensino superior para frequentarem os mesmos cursos.

As áreas prioritárias para as candidaturas, segundo o Governo, são a educação, acção social, Direito, medi-cina, enfermagem, tradução e interpretação do chinês--português, sem esquecer a criatividade cultural.

DADOS oficiais da Di-recção dos Serviços de

Estatística e Censos (DSEC) mostram que o sector do tu-rismo, no que diz respeito a restaurantes, hotéis e outros empreendimentos similares, continua a ser dos mais im-portantes da economia no que diz respeito à contrata-ção de mão-de-obra.

Nos primeiros três me-ses do ano trabalhavam nes-ta área quase 70 mil pessoas (69.619), um aumento de 9% face ao mesmo perío-do de 2012. Só os hotéis empregavam mais de 45 mil trabalhadores, um au-mento de 9,3% em termos

anuais. No que diz respeito aos salários, a remuneração média para um trabalhador a tempo inteiro situou-se ligeiramente acima das 12 mil patacas, uma subida de 7,9% em termos anuais. O salário médio de um empregado de mesa num hotel é hoje de 8500 pata-cas, enquanto que a de um empregado de limpeza dos quartos de hotel é de 7830 patacas. Já os empregados de mesa em restaurantes e similares ganham cerca de 6940 patacas por mês.

No que diz respeito aos restaurantes e espaços si-milares os empregos vagos

diminuíram 37,3% face a 2012, tendo atingido a fasquia das 2107 vagas. Os mesmos dados mostram que a taxa de rotatividade (6,9%) e de recrutamento (7,6%) são “as mais altas”, segundo o comunicado on-tem divulgado.

Pelo contrário, a quebra registou-se na área das in-dústrias transformadoras. Esta perdeu 2,5% de traba-lhadores nos primeiros três meses do ano, empregando actualmente 11.193 pessoas. A remuneração média men-sal deste tipo de trabalhado-res é hoje 7890 patacas, uma subida de 7,5%.

Inundações Prevista criação de infra-estruturas contra as cheias

DSSOPT prepara travão

Ensino Superior Bolsaspara estudos pós-graduados vão aumentar

Aumentos rondam os 30%, estima o Governo

Turismo Vagas no sectordesceram, taxa de recrutamento aumentou

Emprega-se hoje mais 10% de trabalhadores

com as estradas onde se procede ao novo troço do metro ligeiro na Taipa, junto ao Jockey Club. O Governo diz que está em vista a implementação de “maiores colectores de água pluvial” desde a Estrada Governador Albano Oli-veira até à Avenida dos Jogos da ásia Oriental. Neste caso, o novo plano de acção reparte-se entre a DSSOPT e o Gabinete de Infra--estruturas e Transportes (GIT). Este último será responsável pela execução do sistema de drenagem da Estrada Governador Albano Oliveira, pelo que, explicam os Serviços de Obras Públicas, terá de contratar mais recursos humanos para acelerar a execução da rede de drenagem. A cargo da DSSOPT fica o troço inferior do sistema de

drenagem junto da Avenida dos Jogos da ásia Oriental.

A longo prazo, a DSSOPT traça outros objectivos e promessas. “A Administração irá proceder nas zonas onde a inundação é mais susceptível à inspecção do ponto de situação do actual sistema de drenagem e proceder de forma programada, em função das ne-cessidades, à sua substituição por colectores de maiores diâmetros.” A par disso, será ainda realizada a ava-liação e a beneficiação do sistema de drenagem em todo o território.

Em comunicado lançado no Gabinete de Comunicação Social (GCS), a DSSOPT deu também as mesmas garantias depois de se ter reunido, na passada terça-feira (28 de Maio) com os Serviços de Me-

teorologia e Geofísicos (SMG), o GIT, e a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que ouviram sugestões de diversas associações civis sobre o tratamen-to das inundações. No mesmo, a DSSOPT garante que irá abrir em 1 de Junho um acesso provisório para aproveitar a parte do terreno localizado no oeste do Jockey Clube de Macau para construir um acesso provisório, no sentido de minimizar o impacto ao trânsito desta zona.

No rol de sugestões das associa-ções civis, a DSSOPT adianta que existem pedidos para que sejam melhoradas as informações clima-téricas do portal electrónico dos SMG, acréscimo de mais canais de divulgação e instalação das várias estações de monitorização.

Mais de 200 eventos com cerca de 200 mil participantesMacau acolheu 230 reuniões, conferências e exposições no primeiro trimestre que contaram com a participação de cerca de 200 mil pessoas e geraram receitas de 5,3 milhões de patacas, revelam dados oficiais ontem divulgados. Entre Janeiro e Março, Macau acolheu menos 41 eventos do que no período homólogo do ano passado e os 230 eventos registados tiveram uma duração média de 2,2 dias, envolvendo 203 mil participantes. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos, os eventos realizados na Região Administrativa Especial chinesa no primeiro trimestre geraram receitas de 5,3 milhões de patacas, mais 51% face ao mesmo período de 2012, a maior parte decorrente da venda de produtos, e implicaram despesas de 34,75 milhões, mais 13%.

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7sociedadequinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo

Joana [email protected]

A Direcção dos Servi-ços de Educação e Juventude (DSEJ) já gastou mais de

43 milhões de patacas com a atribuição do subsídio para as turmas reduzidas, nos pri-meiros três meses do ano. De acordo com dados publicados ontem em Boletim Oficial (BO), o organismo alocou 41% do total dos fundos atri-buídos no primeiro trimestre, que alcançaram um total de 104.536.126 patacas, neste regime. Em Abril, o Executivo anunciou aumentos nos mon-tantes do subsídio para turmas reduzidas, cujo objectivo é que cada turma seja constituída por menos de 35 alunos, de forma a que haja uma melhor aprendizagem.

Segundo os dados dispo-nibilizados e analisados pelo Hoje Macau, a escola que mais turmas reduzidas teve

Ensino DSEJ atribuiu mais de 104 milhões de patacas em subsídios

Turmas reduzidas recebem quase metadesional dos professores de Macau e com a atribuição de prémios de antiguidade.

De acordo com os dados de ontem, na lista de mon-tantes atribuídos durante os primeiros três meses do ano da DSEJ, o organismo alocou mais 7.977.978 patacas para estes dois regimes, ou seja, 7,6% do total de apoios atribuídos. Os docentes têm direito a um prémio de antiguidade por cada cinco anos de serviço prestado. Já no que diz respeito ao apoio para a formação pessoal, tem de ser requerido à DSEJ.

Dos 104 milhões e meio de apoios que a DSEJ atri-buiu nos primeiros três me-ses do ano, além dos acima mencionados, alguns mon-tantes serviram para apoios financeiros para consultas de aconselhamento aos alunos e pagamento de rendas para salas de explicações, entre outros propósitos.

– e, consequentemente, que mais dinheiro recebeu – foi a secção inglesa do Santa Rosa de Lima, a quem foram atri-buídos quase cinco milhões de patacas. Também o Colé-gio Anglicano de Macau foi um dos mais beneficiados com esta medida, tendo recebido 4.347.000 patacas.

À Escola Internacional de Macau, a DSEJ atribuiu pouco mais de três milhões, enquanto a secção inglesa do Colégio do Sagrado Coração de Jesus recebeu 2.800.000 patacas.

O Governo pretende elevar este subsídio para tur-mas reduzidas até ao ensino secundário complementar, estimando que sejam gastos até 1,2 mil milhões.

Prémios e Formação Ainda este ano, em Março, foi anunciada a despensa de mais de cem milhões de patacas com subsídios para o desenvolvimento profis-

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quinta-feira 30.5.2013nacional8 www.hojemacau.com.mo

Um grupo de piratas infor-máticos chineses con-seguiu aceder a vários projectos do programa

de armamento dos Estados Unidos, incluindo informações sobre o sistema de mísseis anti-balísticos, noticiou esta terça-feira o diário norte-americano The Washington Post.

Segundo o jornal, que cita um relatório classificado do Pentágono (Departamento de Defesa norte--americano), os piratas informáti-cos tiveram acesso a informação confidencial relacionada com vá-rios projectos de armamento, como é o caso do avião multifunções F-35 Joint Strike Fighter.

Avaliado em cerca de 10,08 biliões de patacas, este projecto é o mais caro da história do Pen-tágono, sublinhou o diário The Washington Post.

De acordo com o Defense Science Board, um organismo consultivo integrado por elementos da sociedade civil e da adminis-tração norte-americana, os dados que foram pirateados são relativos a várias dezenas de sistemas de armamento, considerados como fulcrais para o exército norte--americano.

O grupo teve acesso aos planos

OS serviços de emergên-cia chineses resgataram

com vida um recém-nascido, que estava num cano de esgoto de um edifício na pro-víncia oriental de Zhejiang, divulgou esta terça-feira a comunicação social chinesa.

Um vídeo divulgado pela televisão estatal chinesa, CCTV, mostra os vários passos do resgate do recém--nascido com dois dias de vida, preso num tubo com

H7N9 Novo caso em Pequim após duas semanas sem ocorrências na ChinaAs autoridades de Pequim informaram ontem do registo de um novo caso da estirpe da gripe aviaria, o segundo da cidade, e o primeiro relatado na China no intervalo de duas semanas. O paciente é um menino de seis anos do bairro de Haidian, no noroeste da cidade, o qual mostrou os primeiros sintomas de contágio no passado dia 21, altura em que foi encaminhado para o hospital. A criança apresentava indícios de recuperação e até regressou à escola, mas, mais tarde, os médicos viriam a detectar a presença do vírus H7N9 no seu organismo, pelo que ficou novamente sob assistência. O novo caso eleva para 132 o total de casos da nova estirpe do vírus da gripe aviaria em seres humanos (um dos quais em Taiwan e os restantes na China). Do total, 37 pessoas morreram. A idade média dos que foram infectados pelo vírus é de 61 anos, sendo que mais de dois terços (68 %) são do sexo masculino.

Segurança Piratas informáticos chineses tiveram acesso aos planos de armamento dos EUA

Espinha dorsal da Defesa americanado sistema de mísseis Patriot, do sistema de radar ultra-moderno Ae-gis, do caça F-18 ou do helicóptero Black Hawk.

Alguns destes projectos cons-tituem a “espinha dorsal” da estra-tégia de defesa do Pentágono para a Ásia, Europa e Golfo Pérsico, indicou o The Washington Post.

O diário norte-americano refe-riu que estas manobras de pirataria fazem parte de uma vasta campa-nha de espionagem chinesa que tem como alvo a indústria da defesa e as várias agências da administração norte-americana.

O relatório confidencial, agora publicado, não acusa for-malmente a China pelo roubo destas informações, mas refere que Washington advertiu Pequim sobre estas manobras. “Existem muitas áreas delicadas e estamos a trabalhar para certificarmo-nos da viabilidade das nossas defesas e capacidades informáticas”, reagiu um alto responsável do Departamento de Defesa norte--americano, que preferiu não ser identificado.

“A quantidade de informação que eles conseguiram reunir ain-da não é clara”, referiu o mesmo responsável, citado pela agência noticiosa francesa AFP.

Crime Recém-nascido resgatado de um cano de esgoto na China

Com dois dias de vidaapenas 10 centímetros de diâmetro.

Duas horas após ter sido localizada, a criança foi resgatada com vida pelas equipas de emergência.

O alerta foi dado pelos moradores do prédio, se-

gundo noticiou um diário da província de Zhejiang.

O jornal local referiu que os moradores começaram a ouvir um barulho, que pare-cia ser o choro de um bebé, na segunda-feira.

Depois de terem confir-

mado a presença do recém--nascido, os bombeiros co-meçaram a cortar segmentos do esgoto do prédio para tentar resgatar a criança.

As equipas no local optaram por transportar o cano de esgoto onde estava

o recém-nascido para o hos-pital mais próximo.

Apesar de apresentar alguns cortes na cara e nas extremidades dos membros, o bebé foi retirado do cano com vida. Segundo o diário local, o recém-nascido ainda tinha vestígios de placenta.

O bebé, do sexo masculi-no, com um peso de 2,3 quilos, foi transferido imediatamente para uma incubadora.

A mãe do recém-nascido disse estar “profundamente arrependida” pelo que fez com o filho, informaram as autoridades locais esta terça--feira. “A polícia encontrou a mãe. Ela está profundamen-te arrependida pelo que fez. Os detalhes do caso ainda estão sob investigação”, es-creveu a polícia da província de Zhejiang no seu perfil no Weibo, a rede social chinesa semelhante ao Twitter.

Um membro das forças

policiais disse à agência France-Presse que a mãe conseguiu esconder a gra-videz e que o bebé caiu no esgoto depois de esta dar à luz ‘inesperadamente’. “A mulher estava no local durante todo o trabalho de resgate e admitiu que era a mãe quando foi in-terrogada”. Segundo a fonte, ainda não há informações sobre o pai da criança.

As famílias chinesas são alvo de uma grande pressão social e financeira devido à política de um filho único, que impõe multas muito altas aos casais que decidem ter mais de que um descendente.

Para além disto, os bebés nascidos fora do casamento também são abandonados para evitar estigmas sociais.

O avião multifunções F-35 Joint Strike Fighter

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quinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo 9região

A China e os Estados Unidos pro-meteram maior cooperação naval,

numa reunião entre altos responsáveis militares dos dois países, numa altura de tensão no Pacífico devido às dis-putas territoriais na região, informou ontem a imprensa oficial chinesa.

No encontro, que decorreu em Pequim, participou o comandante norte-americano para o Pacífico, Cecil Haney, e o subchefe do Estado-Maior do Exército de Libertação Popular chi-nês, Qi Jianguo, o qual sublinhou que a China “vai trabalhar com os Estados Unidos para aprofundar a confiança militar e a cooperação”.

Às periódicas tensões na região provocadas pelo conflito latente entre as duas Coreias, somam-se nos últimos anos as disputas territoriais entre a China e países vizinhos, como o Japão, Filipinas e Vietname.

Os Estados Unidos, que o Presi-

dente chinês vai visitar na próxima semana, têm vindo a insistir na sua neutralidade nos conflitos territoriais da região, mas Pequim receia que Washington tente aproveitar as tensões para aumentar a sua influência no Pa-cífico, com recentes medidas como o aumento das suas tropas na Austrália.

Um relatório anual elaborado por especialistas ligados ao exército chi-nês, publicado na terça-feira, assinala que a região da Ásia-Pacífico se trans-formou num “novo centro global”, onde se vislumbra “uma competição geopolítica, económica e militar”.

O documento, do Centro para a Política Nacional de Defesa citado pela agência oficial chinesa Xinhua, indica que os “Estados mobilizaram o seu foco estratégico para Este” e que as grandes potências “têm intensificado o seu ‘jogo’ no sentido de um domínio regional”.

FMI revê em baixa crescimento da China para “cerca de 7,5%” em 2013O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a economia da China cresça “cerca de 7,75%” em 2013, revendo em baixa a sua previsão do mês passado que era de 8%. “A economia chinesa deverá crescer cerca de 7,75% este ano e ao mesmo ritmo no próximo ano”, disse o vice-director-executivo do FMI, David Lipton, aos jornalistas em Pequim, justificando a revisão com o abrandamento do crescimento das exportações da China.

As tropas tailandesas terão provavelmente abatido a

tiro um fotógrafo italiano nos protestos massivos da oposição em Banguecoque, em 2010, segundo um inquérito oficial, divulgado ontem por um tribu-nal criminal.

Contudo, a investigação não é conclusiva em relação à identidade do indivíduo res-ponsável pelo disparo da bala que atingiu Fabio Polenghi, um fotógrafo ‘freelance’, de 48 anos.

O fotógrafo italiano fazia a cobertura das manifesta-ções que estiveram nas ruas de Banguecoque durante

dois meses, em 2010. “Du-rante o inquérito, peritos testemunharam que a vítima morreu devido a ferimentos causados por uma bala de alta velocidade, como as disparadas pelas forças de segurança, não havendo qualquer prova da presença de outros grupos naquela área aquando do inciden-te”, disse um magistrado do tribunal, em declarações citadas pela agência AFP.

Polenghi foi morto a 19 de Maio de 2010, dia em que os soldados abriram fogo contra o movimento dos “camisas vermelhas” que protagoniza-

vam manifestações no centro da capital.

A irmã do fotógrafo, Elisabetta Polenghi, reagiu à divulgação das conclusões do inquérito, afirmando que a decisão foi “positiva”, mas considerou não ser esta a “solução”. “Agora espero que algo realmente aconteça e que aqueles que são responsáveis tenham qualquer tipo de pu-nição”, disse aos jornalistas.

Mais de 90 pessoas morre-ram e 1.900 ficaram feridas na sequência desses confrontos entre soldados e manifestantes tailandeses, a maior parte dos quais não armados.

O Japão e a Rússia assinaram ontem um acordo para desenvolverem em conjunto

uma zona potencialmente rica em petróleo e gás no mar de Okhotsk, ao largo do Extremo Oriente russo.

A petrolíferas Rosneft, controlada maio-ritariamente pelo Estado russo, e a Inpex, que tem o Estado japonês como principal accionista, assinaram um protocolo para a exploração de dois blocos a cerca de uma centena de quilómetros a sul da cidade de Magadan. “Julga-se que esta zona ao largo de Magadan tem importantes reservas de pe-tróleo e gás”, refere a Inpex em comunicado.

segundo o diário japonês Yomiuri, as reservas estão estimadas em 3,4 mil milhões de barris, o equivalente ao petróleo importado pelo Japão em três anos.

A Inpex terá os direitos sobre um terço dos hidrocarbonetos da zona. “Esta parceria com a Rosneft poderá oferecer à Inpex a oportunidade de desenvolver actividades na Rússia, um país com imensas reservas de hidrocarbonetos”, acrescentou a empresa japonesa.

O Yomiuri precisou que uma sociedade pública japonesa vai financiar entre 50 e 70 % os custos da exploração, cujos trabalhos deverão arrancar em 2017 para que a explo-ração se inicie nos anos de 2020.

Em Abril, o primeiro-ministro japonês, shinzo Abe, e o Presidente russo, Vladimir Putin, acordaram cooperar no desenvolvi-mento do Extremo Oriente russo e no leste da Sibéria, durante a primeira visita oficial em dez anos de um chefe do Governo japonês na Rússia.

Diplomacia China e EUA prometem maior cooperação naval apesar da tensão regional

Aprofundar confiança

Tailândia Inquérito concluique fotógrafo italiano terá sido abatido em 2010

Bala de alta velocidade

Petróleo Japão e Rússiavão desenvolver campo no mar de Okhotsk

Reservas de 3,4 mil milhões de barris

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quinta-feira 30.5.201310 moda www.hojemacau.com.mo

Com dificuldades no financiamento e a falta de formação específica ao nível do ensino superior, o sector da moda em Macau vive dias obscuros. Há novas caras a produzir peças de roupa e vontade de fazer mais, mas falta mais vontade vinda de cima. O Hoje Macau traça o retrato da indústria no dia em que o Instituto Cultural anuncia o lançamento de um programa de subsídios para estilistas de mais de 14 mil patacas

Andreia Sofia [email protected]

Os vestidos com um toque de classe de Bárbara Diaz escondem as dificuldades que a estilista enfrenta to-

dos os dias para manter o negócio que iniciou há mais de um ano em Macau. Meses depois de ter mostrado a sua mais recente colecção na galeria da Fundação Rui Cunha, Bárbara Diaz mostra-se algo descontente com o panorama da indústria. “É uma marca registada cá e que tento produzir cá, mas está-me a sair muito caro e não sei até que ponto conseguirei manter isto. Trabalho com costureiras privadas e essas têm um preço mais elevado do que numa fábrica na China”, conta ao Hoje Macau.

Bárbara Diaz tem vindo a tornar--se num dos nomes mais conhecidos no mundo da moda local, mas ainda não tem nenhuma loja com o seu nome. “Faço tudo em casa, vendo na Internet. As pessoas vêm cá, experimentam as roupas.”

Esta estilista portuguesa, que foi um dos nomes convidados do último Macau Fashion Link, em 2011, é o exemplo de como o sector da moda funciona no território: a formação é pouca, tal como a estratégia. Mas o mercado mostra vontade de abrir. “Há novos nomes, não sei se são marcas que existem há muito tempo, ou se têm vindo a estabelecer o nome, mas tem havido mais nomes o que eu acho óptimo, quantos mais melhor. Não é uma concorrência, porque somos todos muito diferentes, cada um completa o outro.”

Clara Brito, um dos nomes da marca Lines Lab, também composta por Manuel Correia da silva, sediada em Macau há dez anos, diz que “o mercado de Macau está a crescer, começam a haver algumas lojas que Trabalho de Anna Noir (Ana Cardoso), em cima à esquerda, os vestidos de Paulo de Senna Fernandes, em cima à direita e as sugestões do Lines Lab de Clara Brito e Manuel Correia da Silva

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11quinta-feira 30.5.2013 modawww.hojemacau.com.mo

Clara Brito, da Lines Lab, e Bárbara Diaz falam do mercado em Macau

Sobrevive-se com dois eventos por ano

fazem algum investimento”. Contu-do, “tem de haver um investimento empresarial”.

Paulo de Senna Fernandes ou Ana Cardoso, que recentemente apresen-tou na Casa Garden a sua colecção Anna Noir, são outros nomes da indústria da moda local.

Só o Centro de Produtividade tem CurSoS Actualmente quem queira fazer a sua formação superior na área da moda não encontra nenhum curso em nenhuma universidade local, ao contrário de Hong Kong, onde existe o Hong Kong Design Centre.

Aqui, o Centro de Produtivida-de e Transferência de Tecnologia (CPTT) é o único que oferece diver-sos cursos na área, mas uma pesquisa feita no website revela que não há tradução do chinês na explicação dos programas curriculares.

Bárbara Diaz chama a atenção para esse problema. “Tenho pouco conhecimento do centro e tenho a ideia que é em chinês, não sei se é por falta de divulgação...acho que deveria ser mais divulgado junto de pessoas que falam português ou inglês.”

Clara Brito defende a criação de um curso universitário. “O centro é a única instituição que assume esse papel e era fundamental haver um investimento maior. Estamos a sentir uma mudança no número de designers que estão em Macau. Sinto que esse número tem vindo a crescer.

Para conseguirmos investir nesta indústria é fundamental investir na nova geração.”

O curso teria que ter uma vertente de partilha. Seria “uma plataforma que começasse a incluir estudantes internacionais, ser um centro de for-mação com professores de renome que pudesse permitir que outros que não estão em Macau tivessem a sua formação aqui”.

doiS eventoS Por anoCriar um negócio de moda no territó-rio implica atravessar desafios como os preços das rendas das lojas e os elevados custos de produção. Nor-malmente as peças são produzidas na China, dada a fraca existência do sector fabril. “Tem sido cada vez mais difícil desenvolver prototipa-gem, desenvolver a peça mestra, e é sempre uma complicação trabalhar com as fábricas. Não sendo fábricas muito grandes, tal como as nossas empresas são pequenas, torna-se difícil encontrar alguém que tenha o conhecimento e a vontade de investir em desenho e inovação.”

Depois, é importante mostrar a marca ao mundo. As feiras do sector são a melhor opção para o fazer, mas Clara Brito considera que a participa-ção deveria ser feita em conjunto. “É um investimento totalmente nosso ir a feiras para internacionalizar a marca, mas é importante ter uma par-ticipação mais consistente. Não é ir uma marcada representar-se sozinha,

mas haver um agregado de marcas com a chancela do Instituto Cultural (IC) e o Instituto de Promoção ao Comércio e Investimento (IPIM), o que pode ser um trampolim para as feiras lá fora.”

Contudo, é importante fazer antes o trabalho de casa, como “verificar o tipo de clientes, lojas, retalhistas, agentes, distribuidores, antes de se investir na participação da feira”. Clara Brito diz que é isso que tem faltado às marcas de Macau, dando como exemplo a região vizinha, onde as marcas se mostraram numa feira inseridas na Hong Kong Fashion Designers Association.

Para mostrar o trabalho na

RAEM, são poucos os locais para o fazer. “Os únicos dois eventos que têm alguma força, ligados à promoção de designers locais, são o Macau Fashion Link e o Macau Fashion Festival, organizado em conjunto com o CPTT e o IPIM”, diz Clara Brito.

Contudo, “têm de permitir que essa promoção seja feita lá fora de uma maneira mais forte, com marke-ting e estratégias de comunicação. É preciso passar da passerelle para as lojas, para que se torne sustentável”.

a PouCa ajuda finanCeira Olhando para a vertente financeira, os recursos são poucos, como expli-

ca Bárbara Diaz, que diz é “pouco o apoio que temos do Governo, quase nenhum, não é suficiente”. “Para um designer que normalmente tem duas colecções por ano, quanto muito pode fazer metade de uma, o que não nos dá possibilidade de ter uma certa continuidade do nosso trabalho.”

Já Clara Brito considera exis-tirem apoios. “É importante ter financiamento para que os projectos possam vingar ao nível da promoção e organização de eventos.”

Algo que o mais recente “pro-grama de subsídios à criação de amostras de design de moda 2013” pode fazer. Em comunicado divulgado ontem, o IC revela que vai disponibilizar mais de 14 mil patacas para todos os estilistas lo-cais, que poderão apresentar as suas propostas a partir de 17 de Junho até 16 de Agosto.

Tal serve para “incentivar a produção de amostras de design de moda, bem como de catálogos promocionais, instando os designers locais a explorarem actividades comerciais e a participarem em desfiles de moda e marketing in-ternacionais”, aponta o IC.

Tanto Bárbara Diaz como Clara Brito aplaudem a ideia. A criadora da Lines Lab considera que o apoio do IC representa “um investimento na cidade, que permite que não só nós como outros, e as marcas locais, fomentem o seu projecto”. Paulo de Senna Fernandes

Clara Brito Bárbara Dias Ana Cardoso

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quinta-feira 30.5.2013vida12 www.hojemacau.com.mo

O cabo-verdiano Ja-nir Nuno da Cruz, de 23 anos, recém--licenciado na Uni-

versidade de Macau (UMAC), venceu um concurso de elec-trotécnica entre universidades do território e de Hong Kong com um projecto de controlo de computadores através da mente.

O prémio foi atribuído esta semana pela secção de Macau da maior associação

A Coreia do Sul ordenou esta terça-feira o encerramento tem-

porário de dois reactores nucleares, enquanto não forem substituídas peças que estavam certificadas com documentos falsos. Outros dois re-actores, um em manutenção e outro acabado de construir, permanecerão também encerrados, colocando o país perante uma provável crise energética no Verão.

Já em Novembro passado, peças como ventiladores de arre-fecimento, cabos e interruptores sem a devida certificação para uso em unidades nucleares tinham sido identificadas em dois reactores da central de Yeonggwang, no sul do

país. Seis engenheiros foram por isso condenados a penas de prisão este mês.

Agora, a Comissão de Segurança Nuclear da Coreia do Sul encontrou documentos falsos de certificação de cabos utilizados em duas outras cen-trais – Kori e Wolsong, a 320 e 280 quilómetros da capital Seul, respecti-vamente. Um reactor de cada central permanecerá encerrado enquanto os cabos não forem substituídos.

Um segundo reactor em Kori, que está em manutenção, também não terá ordem para retomar a produção até que o mesmo proble-ma seja resolvido. Na central de Wolsong, a abertura de um reactor

recém-construído também foi adia-da, pelo mesmo motivo.

A Coreia do Sul tem 23 reactores nucleares operacionais e quatro em construção. A energia nuclear res-ponde por 30% do abastecimento de electricidade do país, que, de resto, depende de importações de petróleo, gás e carvão.

O Governo já anunciou que, com tantos reactores suspensos, haverá problemas “sem precedentes” no abas-tecimento eléctrico no Verão, quando o consumo sobe devido ao maior uso do ar condicionado. Na próxima sexta--feira, serão anunciadas medidas para contornar as dificuldades.

A Coreia do Sul tem em curso

uma avaliação da segurança de todo o seu parque nuclear, motivada pelos primeiros casos de peças sem certificação.

Os episódios no país somam-se aos receios sobre o nuclear realimentados pelo acidente na central de Fukushi-ma, no Japão, em Março de 2011, na sequência do sismo e do tsunami que devastaram parte do país.

No próprio Japão, todas os seus 50 reactores foram encerrados de-pois de Fukushima e só em Julho do ano passado é que um deles reentrou em funcionamento. Em 2012, ape-nas 2% da electricidade consumida no Japão veio do nuclear, contra 30% antes do acidente de 2011.

Ambiente Documentos falsos levam Coreia do Sul a encerrar reactores nucleares

Crise energética no Verão

Electrotécnica Cabo-verdiano venceu concurso promovido por Macau e Hong Kong

Quando a resposta está na mentemundial de engenheiros, a IEEE - Instituto dos Enge-nheiros Electrotécnicos e Electrónicos, sedeada nos Estados Unidos, disse Janir Nuno da Cruz à agência Lusa. “Este projecto está relacionado com a mente hu-mana, tendo como objectivo controlar computadores uti-lizando as ondas cerebrais”, explicou.

Ao indicar que o sistema é “pensado para pessoas com

dificuldades motoras”, para aumentar a sua autonomia, o estudante salientou que ele pode também ser aplicado a “videojogos, podendo ainda ser utilizado por militares e astronautas, pois é uma ferramenta adicional para se controlarem computadores, além das mãos e da voz”.

Através deste sistema, disse, “uma pessoa em frente a um ecrã de computador consegue, utilizando apenas

um capacete com alguns eléctrodos, executar coman-dos simplesmente através do olhar”. “Na demonstra-ção que fiz [no concurso] utilizei o computador com o objectivo de a pessoa escrever algo, recorrendo a um teclado virtual em que apenas se observam as letras que se quer escolher e depois o eléctrodo detecta-as e selecciona-as”, apontou.

O sistema pode também

ser utilizado para “controlar cadeiras de rodas, braços eléctricos e outros equipa-mentos”. “A investigação internacional relacionada com este tipo de projecto começou há cerca de dez anos, mas ele ainda não pode ser comercializado, porque está numa fase experimental e os sinais da mente humana são muito fracos, por isso também procurei aumentar o sinal”, salientou.

Janir Nuno da Cruz, que terminou recentemente a licenciatura em Engenharia Electrotécnica e Electrónica na UMAC, onde chegou em 2009 através de uma bolsa da Fundação de Macau, vai participar, em Julho, num simpósio internacional na ci-dade chinesa de Dalian para apresentar o seu projecto, que será publicado na revista científica Neurocomputing.

Este cabo-verdiano, na-tural de São Vicente, preten-de dar continuidade aos es-tudos para depois regressar a Cabo Verde, onde planeia “fomentar a investigação na área da engenharia biomédi-ca e lançar uma empresa que desenvolva projectos nessa área”, disse à Lusa.

“Nos países subdesen-volvidos ainda há muitos problemas ao nível dos equipamentos que ainda não são calibrados para a nossa realidade e os profissionais de saúde também não têm preparação suficiente para utilizar determinados equi-pamentos sofisticados, por isso pretendo contribuir para melhorar esta situação”, indicou.

Janir tem em vista apro-veitar o facto de “Cabo Verde ser uma porta para África e desenvolver a partir daí projectos biomédicos que possam ser vendidos e adap-tados ao clima da região, que sejam suficientemente simples para poderem ser utilizados pelos técnicos de saúde e robustos, tendo em conta as falhas de electrici-dade existentes nos países subdesenvolvidos”. “Quan-do um país desenvolvido trabalha nestes sistemas não pensa muito nos problemas que existem nos países subdesenvolvidos, como a instabilidade do sistema de distribuição de energia eléctrica, mas em África é preciso pensar nisto e como não há muita investigação nesta área, vejo isto como um futuro”, concluiu. - Lusa

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13quinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo cultura

Tiago [email protected]

O título para o Pa-vilhão de Ango-la na Edição de 2013 da Bienal

de Veneza é Encyclopedic City. Segundo os organi-zadores da representação angolana: “ao palácio enci-clopédico foi atribuída uma missão impossível: nenhum edifício pode conter uma multiplicidade de espaços, possibilidades e objectos. Quando um edifício tende para se tornar enciclopédico, ele torna-se uma cidade”. O artista em foco, Edson Chagas, questiona-se acerca das nossas percepções sobre a cidade, e o modo como uma determinada inundação de símbolos caracteriza a vida urbana.

Enquanto primeira na-ção subsariana a participar na Bienal de Veneza, a equi-pa de criativos enfrentou a difícil tarefa de representar Angola, e tanto quanto possível o seu panorama ar-tístico. Afirmar que Angola tem mudado nos últimos anos é um total eufemismo. Desde o fim da Guerra civil, em 2002, a economia do país tem registado níveis de crescimento sem preceden-tes, ao nível do continente Africano, mas também no contexto mundial. O súbito afluxo de riqueza ao territó-rio tem significado grandes transformações territoriais e urbanas no país mas sobre-tudo na sua capital, Luanda. O grau de transformações

Dança Companhia Israelita apresenta ReflexosNos próximos dias 31 de Maio e 1 de Junho, pelas 20h, o Centro Cultural de Macau recebe a companhia israelita Fresco Dance com o espectáculo Reflexos. Reflexos é um espectáculo visual no qual as emoções das personagens são comunicadas através da combinação de movimento, efeitos de luz, música, vídeo e marionetas, proporcionando ao público uma experiência verdadeiramente excepcional. Inspirado em obras famosas de poetisas israelitas icónicas, Reflexos conta a história de uma relação turbulenta – um triângulo amoroso entre um homem, uma mulher e uma segunda mulher. Uma enorme cama surge no palco – um objecto do quotidiano transformado no recreio de um casal, no qual este coloca em prática a sua relação. Mas estes não estão sozinhos. Um terceiro, a outra mulher, junta-se a eles. Esta segunda mulher interage na vida do casal, manipulando a sua história à medida que esta se desvenda no palco. O tempo linear deixa de existir, criando dúvidas sobre o que é o presente e o que é o passado. O público muda o seu foco de atenção do casal sobre a cama para a outra mulher, interrogando-se quem é real e quem é o seu reflexo.

Literatura Souto Moura é um dos convidados da Festa Literária de ParatyMais de 40 convidados estarão na Festa Literária Internacional de Paraty que este ano não terá nenhum escritor português convidado na programação principal mas terá um arquitecto, o Prémio Pritzker 2011. O arquitecto português Eduardo Souto de Moura é um dos convidados da 11.ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que acontecerá no Brasil de 3 a 7 de Julho. O vencedor do Prémio Pritzker em 2011 partilhará o palco com o célebre crítico de arquitectura da revista New Yorker, Paul Goldberger. E falarão sobre As Medidas da História. A literatura portuguesa também estará em destaque na sessão Lendo Pessoa à Beira-Mar que juntará a cantora Maria Bethânia e a académica brasileira Cleonice Berardinelli, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da PUC-Rio, de 96 anos, que há mais de cinco décadas se dedica ao estudo do poeta português Fernando Pessoa. Este promete ser um dos encontros mais concorridos da festa que terá mais de 40 convidados, entre brasileiros e estrangeiros. Nesta edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o escritor homenageado é Graciliano Ramos (1892-1953), o autor de Vidas Secas e de Memórias do Cárcere. Aquele que é o mais importante festival literário brasileiro celebra a importância do escritor para a literatura brasileira, 60 anos após a sua morte. Recorde-se que o director-geral do FLIP, Mauro Munhoz esteve recentemente em Macau, a convite do Festival Rota das Letras.

Arte Segredos descobertos na pintura de PollockHá segredos na pintura de Pollock que o restauro está a revelar. Tal como acontece com a pintura antiga, o restauro de One, obra-prima do Expressionismo Abstracto, revelou e permitiu eliminar intervenções posteriores à morte de Pollock. Na passada Terça-feira, One: Number 31, 1950, uma das telas que o pintor norte-americano fez nos três anos iniciais da sua emblemática técnica de dripping e que é hoje tida como uma obra-prima do Expressionismo Abstracto, voltará ao seu lugar no Museu de Arte Moderna da Nova Iorque (MoMA) após quase um ano de trabalhos de restauro. E esta imensa obra de mais de cinco metros de lado por mais de dois e meio de altura não é agora a mesma que antes. Durante a observação a raio X e luz ultravioleta a equipa de conservação do museu fez o tipo de descoberta que mais habitualmente acontece durante o restauro de pintura antiga: traços que em nada se assemelhavam ao estilo de Pollock, com uma textura diferente, sugerindo passagens repetitivas do pincel não encontradas em qualquer outra das suas obras. Nestas secções, a tinta era também diferente da usada no resto da tela. Os testes revelaram que, para além do esmalte usado por Pollock, havia também na tela uma resina sintética. Dado que os registos do MoMA mostravam que a One não fora tocada desde que ali chegara, em 1968, e dado que não havia também indicação de ter sido restaurada antes disso, resta averiguar em que momento e circunstâncias a resina apareceu. Tal como a pequena mosca intacta colada a um dos cantos da pintura – presume-se que em 1950, com a tinta ainda fresca, tenha poisado no quadro.

Bienal de Veneza Poderá a representação de uma localização geográfica específica tornar-se obra de arte?

A vez de Angola aparecer

a que se tem assistido em Luanda revela mudanças tão controversas quanto benéficas. A falta de infra--estruturas pode facilmente resultar numa expansão urbana sem centro definido.

O complexo passado e presente de Luanda é o foco do Pavilhão de Angola na Bienal de Veneza de 2013. A análise que se faz da cidade, enquanto resposta ao tema da Bienal, é também uma clara continuação das práticas dos artistas seleccionados, bem como da dupla de curadores envolvidos, ‘Beyond En-tropy’ (Paula Nascimento, Stefano Rabolli Pansera), que também foram os cura-dores do Pavilhão de Angola na Bienal de Arquitectura de Veneza do ano passado. Pau-la Nascimento e Stefano Ra-bolli Pansera têm trabalhado sobre o potencial urbano dos bairros informais de Luan-da, procurando estimular alternativas de planeamento na capital de Angola. Em ‘Beyond Entropy’, a dupla de curadores propôs um modelo alternativo de intervenção na cidade Africana, através de um protótipo que era simul-taneamente espaço público e infra-estrutura. O Pavi-lhão de Angola na Bienal de Arquitectura de Veneza do ano passado fundava-se no paradigma que o forte crescimento demográfico de Luanda representa. Mas também na proliferação de situações semelhantes, com problemas e contradições idênticas um pouco por toda a África. O modelo

alternativo proposto por Paula Nascimento e Stefano Rabolli Pansera consistia na plantação de Arundo Donax – uma planta de crescimento muito acentuado e que pode ser utilizada na produção de biomassa – nos espaços liminares entre edifícios nos subúrbios de Luanda. Em Veneza foi apresentada uma reconstrução do sistema de plantio (escala 1:1) que os visitantes podiam percorrer.

EsTéTicA E inTErvEnção ArTísTicAO projecto ‘Beyond En-tropy’ mostrou um claro interesse nas estéticas rela-cionais e na possibilidade da intervenção artística para a implementação de uma mudança real e estrutural na sociedade. Por outro lado, a opção em reconstruir o sis-tema de plantio remete para a aparente impossibilidade de recriar ou representar um ambiente, e em como este pode ser usado para criar uma nova experiência enquanto resultado. É aqui que se sobrepõe o trabalho da dupla de curadores com os interesses do artista se-leccionado, Edson Chagas, e é por essa via que o pro-jecto ‘Encyclopedic City’ desenvolver-se-á. Chagas é um fotógrafo cuja obra explora os parâmetros de fotojornalismo, em torno da cidade de Luanda. A série de fotografias Found Not Taken, de Edson Chagas, é uma documentação sis-temática e catalogação de objectos abandonados no

redor da cidade que foram recontextualizados, criando uma taxonomia alternativa de Luanda. A reorganização dos objectos descartados explora as várias dicotomias que existem na cidade. A documentação fotográfica deste processo torna-se numa série enigmática de imagens que reflecte a apa-rente impossibilidade de fornecer uma visão completa e ‘enciclopédica’ de uma cidade.

Enquanto que em ‘Beyond Entropy’ o projecto de instalação é adoptado para questionar se a representação de uma localização geográfi-ca específica pode tornar-se obra de arte, Edson Chagas procura responder à mesma pergunta por intermédio da imagem. Chagas vê um ponto de encontro natural na criação de uma instalação fotográfica de 23 fotografias de grande formato do seu trabalho, que permite ao es-pectador criar a sua própria experiência urbana através de um caminho individual percorrido sobre as imagens. A proposta de Chagas não ousa o desejo de recriar um fac-símile da cidade, mas antes explorar interacções pessoais com a cidade, e o modo como isso pode ser usado para moldar um novo espaço alternativo. A obra de Edson Chagas, com cura-doria de Paula Nascimento, Stefano Rabolli Pansera, Jorge Gumbe e Feliciano dos Santos pode ser vista no Pa-lazzo Cini, em Veneza, de 1 de Junho a 24 de Novembro.

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14 cultura quinta-feira 30.5.2013www.hojemacau.com.mo

Mia Couto, autor de “Jesusalém” e de “O Último Voo do Flamingo” e que

venceu esta segunda-feira a 25.ª edição do Prémio Camões, estreou-se com um livro de poesia, publicado há 30 anos.

“Raiz de Orvalho”, a obra, surgia então contra a corrente da poesia militante e panfle-tária, que marcava a época, depois de os primeiros textos do escritor terem já aparecido em duas antologias de autores moçambicanos, marcados pela tradição e a memória cultural do continente, e pelo “falinventar” português, de que o escritor fez a sua assinatura.

Mia Couto “é um elo vivo de toda a tradição portuguesa e de todo o espaço da língua portu-guesa”, disse o pensador Eduardo Lourenço no final de 2011, quando o autor de “Cronicando” foi dis-tinguido com o Prémio que leva o seu nome. “Merece qualquer

Universidades lusas mais uma vez entre as melhoresUma vez mais, as universidades portuguesas estão entre as melhores a nível internacional. Seis instituições universitárias nacionais foram escolhidas para integrar o QS World University Rankings 2012/2013, um dos maiores e mais influentes “rankings” deste género em todo o mundo que acaba de ser revelado com base nos resultados do último ano lectivo. A Universidade de Coimbra é a instituição portuguesa com melhor classificação, ocupando o 385.º lugar numa lista que conta com cerca de 900 universidades de países que vão dos EUA a Singapura, passando pela Austrália ou o Japão. Segue-se-lhe a Universidade do Porto, que se encontra em 404.º lugar, e a Universidade Nova, em Lisboa, a quem foi atribuída a 432.ª posição. Neste “ranking” figuram ainda a Universidade de Lisboa, a Universidade Católica Portuguesa de Lisboa e a Universidade Técnica de Lisboa, as três colocadas abaixo do 550.º lugar.

Oslo vai mesmo construir novo Museu MunchA autarquia de Oslo anunciou terça-feira que a coligação política que governa a cidade chegou a um acordo definitivo para a construção do novo Museu Munch, que deverá ser inaugurado em 2018 na zona portuária de Bjørvika, na parte oriental da capital norueguesa. Após anos de avanços e recuos, um compromisso entre várias forças políticas, do centro-direita à esquerda, permitiu que fosse recuperado o projecto Lambda, apresentado pelo gabinete espanhol Herreros Arquitectos, que ganhara, em 2009, o concurso internacional lançado para o efeito. A decisão vem pôr fim a anos de polémica, durante os quais se discutiu se o projecto espanhol – um arrojado edifício com o topo inclinado, a lembrar um pouco um chapéu alto amolgado –, cumpria os requisitos que se exigem a um museu, ou se o custo estimado era razoável, ou mesmo se se justificava construir um edifício de raiz para acolher a colecção que Munch legou à cidade.

Prémio Camões Mia Couto é o vencedor

O inventor de palavras

Literatura Novo livro reúne cartas entre Pessoa e Ofélia Queiroz

Sonho de uma vida normal

espécie de prémio”, disse então Eduardo Lourenço.

antónio Emílio Leite Couto, Mia Couto, nasceu em 1955, na Beira, numa família originária de Portugal. Em 1971, iniciou os estudos de Medicina na antiga Universidade de Lou-renço Marques, actual Maputo, associando-se então à Frente de Libertação de Moçambique (FRELiMO).

Depois do 25 de abril de 1974, interrompeu a formação, para trabalhar como jornalista, primeiro em a Tribuna, com Rui Knopfli, depois na Agência de informação de Moçambique, que dirigiu. Seguiram-se a revista Tempo e o Notícias, até 1985, quando ingressou na Universi-dade Eduardo Mondlane, onde se formou em Biologia e onde é actualmente investigador e professor de ecologia.

após o primeiro livro, segui-ram-se, entre outros, “Tradutor de Chuvas”, também de poesia, “Vozes anoitecidas”, livro de contos com que se estreou na ficção, a que se sucedeu “Cada Homem é uma Raça”, “Estórias abensonhadas”, “Contos do Nascer da Terra”, “Na Berma de Nenhuma Estrada”, “O Fio das Missangas”.

a relação entre Fernan-do Pessoa e Ofélia

Queiroz está retratada num novo livro que reúne as cartas trocadas entre o poeta português e a sua namorada platónica. O editor brasileiro Pedro Corrêa do Lago quis apresentar ao público o espólio de documentos

que retratam parte da vida daquele que é con-siderado um dos maiores expoentes da poesia de língua portuguesa.

O coleccionador ad-quiriu as cartas num leilão da organização britâni-ca Sotheby’s e reuniu--as numa colectânea, organizada pelo escritor

e crítico literário Ricardo Zenith. Para Pedro Cor-rêa do Lago estas cartas marcam “um momento muito importante” para “qualquer biografia de Pessoa”. “Conseguimos com isso publicar pela primeira vez a correspon-dência completa, a troca epistolar que é muito

importante nesta rela-ção amorosa”, explica o editor à agência Lusa, considerando que “os documentos de Fernando Pessoa” revelam “uma faceta importante da personalidade complexa” do autor.

Depois de analisar as cartas, Pedro Corrêa do

Lago refere que a relação entre Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz “não passou de beijinhos” por-que “ela era uma menina perfeitamente encanta-dora, mas chegou a hora em que ele viu que não estava preparado para o casamento”.

Pedro Corrêa do Lago acredita que o poeta por-tuguês “sonhou com uma vida normal” e que esta paixão por Ofélia Quei-roz “prova isso mesmo”. “acho que Pessoa queria ser feliz e encontrar--se num relacionamento amoroso, mas por uma série de motivos não era o destino nem a vocação dele”, salientou o inves-tigador brasileiro.

O livro já foi apre-sentado na cidade de São Paulo (Brasil) e vai chegar a Portugal no dia 14 de Junho, para uma apresentação pública em Lisboa, com local a designar. a publicação inclui um prefácio de Eduardo Lourenço, en-saísta português.

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15culturaquinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo

É a mais documentada das coreografias da história da dança e, no entanto, ninguém pode dizer, com

certeza, que sabe o que se passou naquela quarta-feira, 29 de Maio de 1913, no Théâtre des Champs--Elysées, em Paris. Ontem, 100 anos depois, quando a filha de Vaslav Nijinsky, Tamara, entrou no renovado teatro, também ele a celebrar o centenário, terá sido com a memória do pai aos ombros que recebeu a homenagem devida à A Sagração da Primavera, uma obra que, na véspera de uma Eu-ropa a entrar em guerra, fundou a modernidade na dança e viria a transformar o século XX.

Hoje, o escândalo de há um século será mais mito que verdade, mas não deixará de ser simbólica a presença de alguém que, aos 93 anos, é o testemunho mais directo de um momento que ainda hoje não cessa de querer ser repetido. E, sobretudo, quando até há vinte anos atrás resistia a dar a conhecer a versão integral dos diários do pai (editados em português pela Assírio & Alvim) por não o rever na ambiguidade - sexual, criativa e psicológica - que caracterizou os anos de criação coreográfica de Nijinsky.

Artista coreano cria armaduras feitas de vaselinaTêm o aspecto de verdadeiras armaduras, mas o melhor é não arriscar entrar numa batalha com elas, pois são feitas de... vaselina. O seu criador é o artista sul-coreano Jung-ki Beak, que teve esta ideia depois de ser obrigado a usar vaselina para proteger a pele. Este artista de 31 anos criou uma série de capacetes, armaduras peitorais e luvas com vaselina como uma forma de representar a função de protecção deste creme hidratante, conforme explicou ao jornal Daily Mail. “Todos os invernos tenho de aplicar vaselina na minha mão esquerda para prevenir que fique seca, caso contrário a pele fica gretada pois é muito fina e frágil devido a uma queimadura que sofri na infância”, contou Jung-ki Beak ao mesmo jornal britânico.

Sagração da Primavera Estreia foi há 100 anos em Paris

Fundadora da modernidade na dançaSentados nas cadeiras de

veludo vermelho que fazem de-saparecer os espectadores dada a imensidão da sala, e quando os primeiros acordes da obra de Stravinsky foram tocados pela orquestra do Teatro Mariinsky, conduzida pelo maestro Valery Gergiev, os espíritos de Nijinsky, Sergei Diaghilev, o empresário dos Ballet Russes, de Igor Stravinsky, o compositor da obra, e Gabriel Astruc, o proprietário do teatro, estarão a observar - e provavelmen-te - a rir com a solenidade de uma obra que, na altura, foi un succès de scandale. “Era exactamente o que eu queria”, disse um Diaghilev faustoso perante um Astruc que, sendo seu amigo, em certa medida mecenas, acendia e apagava a luz para tentar acalmar uma sala em polvorosa. Gabriel Astruc queria um teatro “que pudesse ser tes-temunha da arte do seu tempo”, explica-se no livro que celebra o centenário do Théâtre des Champs--Elysées, mas o tempo não parecia preparado para a revolução que se vivia naquela noite.

Jacques Rivière, na Nouvelle Re-vue Française escrevia, meses depois da estreia, que “a grande novidade era a recusa do supérfluo”. “Eis

aqui uma obra absolutamente pura. Tudo aqui é franco, intacto, límpido e rude. A Sagração da Primavera é a primeira obra-prima que podemos opor às do impressionismo.”

Muitas versões eM 100 anosPassaram 100 anos, e mais do dobro de versões nas suas mais diversas acepções, estéticas e geográficas, mas permanece a mesma dúvida. Laurent Chetouane, coreógrafo francês, que assinou a sua Sagra-ção aos 40 anos, no fim de 2012, diz mesmo que a obra continua a ser um mistério sobre os perigos e as possibilidades de caos do colectivo. Olga Roriz, aos 57, que ontem estreou no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, um

solo com o mesmo tema, fala “de uma força misteriosa”. A mesma que desloca o seu corpo por um espaço que tem sido apresentado como terreiro mas que é, apenas, um palco. “De dentro de mim já não sai”, diz a coreógrafa.

Há jogos de auto-ficção perma-nentes, reconhece Olga Roriz, que dançou como eleita para o Ballet Gulbenkian e, neste segundo re-gresso à obra, encontra “margens de força que a peça pede e que nenhuma outra poderia pedir”. O solo é um momento de profunda introspecção depois de uma obra colectiva que, dizia a coreógrafa na altura da estreia, em 2010, “uma súmula do seu trabalho”. Roriz tem no solo agora estreado oportunida-

de para se experimentar, e pôr em causa, provavelmente como nem em Electra (solo de 2010) havia feito. “Há uma ritualização nesta obra que a deixa por definir”, diz a coreógrafa, intuindo modos de agir sobre o corpo que são da ordem do inumano e não tanto do racional. “O trabalho existe no momento em que permito que essa memória possa estar ao serviço deste corpo”, diz. Mas o corpo de que fala é também o corpo do espectador. O de agora e o de 1913. De certo modo, aquilo que Olga Roriz procura é também aquilo que Martha Graham, em 1984 procurou com a sua versão de A Sagração, a exposição de um ritual xamanístico que quer ser uma proposta de ordem mundial.

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quinta-feira 30.5.2013desporto16 www.hojemacau.com.mo

Marco [email protected]

Menos de uma semana depois de ter cele-brado a conquista do Campeonato de Fute-

bol da II Divisão e a inerente subida à principal prova do desporto-rei do território, o sporting Clube de Macau voltou a deixar claro que dispõe do mais completo e mais credenciado plantel do segundo escalão. A formação orientada por Mandinho e por João Maria Pegado já atingiu os objectivos a que se propunha no início da temporada, mas continua a espalhar carisma e bom futebol pelos relvados de Ma-cau. ontem, mesmo sem algumas das suas principais referências no onze titular, a formação verde e branca voltou a golear e a deixar claro que a marcha triunfal que conduziu a equipa à Liga de elite foi tudo menos acidental. João Maria Pegado e Mandinho deram

a titularidade a Vasco Bismarck na baliza do sporting e chamaram ao onze inicial vários atletas menos utilizados ao longo da temporada. A aposta da dupla de treinadores do conjunto leonino não afectou em nada o rendimento da equipa, que acabou por golear sem apelo nem agravo a frágil formação da selecção de sub-18 da Associação de Futebol de Macau por cinco bolas a duas.

os leões do território tiveram em António Vale da Conceição uma das suas principais figuras. O dianteiro e filho do presidente da Direcção do sporting Clube de Macau, António Conceição Júnior, não deu por muitas ocasiões o seu contributo à equipa durante a cor-rente temporada, mas demonstrou ter um sentido de golo apurado no desafio frente ao onze da As-sociação de Futebol de Macau. o também músico e vocalista do colectivo Turtle Giant teve um papel instrumental na vitória do

conjunto verde e branco, ao apontar os dois primeiros golos do desafio. os jovens da selecção de sub-18 ainda conseguiram reduzir, mas os leões não acusaram o golo do adversário e voltaram a adiantar-se no marcador, desta feita por inter-médio de naftal shikongo. o atleta namibiano foi outro dos atletas em destaque na formação orientada por Mandinho e por João Maria Pegado, ao fazer de novo o gosto ao pé pouco depois da formação da Associação de Futebol de Macau ter reduzido para 3-2 numa jogada confusa, com origem numa decisão polémica do árbitro da partida. sem parar o encontro ou apontar qualquer falta, o juiz do encontro mostrou um cartão amarelo a Pedro Maia e onze da selecção de sub-18 aproveitou a confusão ao meio--campo para visar com sucesso o último reduto dos leões.

o sporting Clube de Macau dispôs ainda de várias boas opor-tunidades para dilatar a vantagem,

entre as quais uma grande penali-dade desperdiçada pelo habitual capitão leonino, Pedro Maia. o último tento do desafio acabou por favorecer de igual modo os leões do território, ainda que tenha sido apontado na própria baliza por um defesa da formação adversária.

Tranquilidade lusaBem mais tranquila foi a vitória alcançada pela Casa de Portugal. A formação orientada pelo são-to-mense Pelé não necessitou sequer de entrar em campo para derrotar o Chang Wai. A formação de ma-triz chinesa foi despromovida na secretaria por parte da Associação de Futebol de Macau depois de não ter comparecido a dois encontros consecutivos. Para além de ter sido despromovido, o Chang Wai está proibido de disputar durante duas temporadas as competições organizadas pelo organismo que chama a si a tutela do desporto-rei em Macau.

Benfica Uros Matic confirma assinaturaUros Matic anunciou a saída do Kosice para o Benfica, confirmando a notícia avançado por A Bola há precisamente uma semana. Na altura, o médio sérvio disse ao nosso jornal que ainda não podia falar sobre o assunto, mas no adeus ao clube eslovaco que representou nas últimas cinco temporadas afirmou que vai seguir os passos do irmão mais velho. Já o avançado Lazar Markovic (Partizan), que está perto da Luz, reconheceu o interesse dos encarnados, encarando a mudança para a Luz como um grande desafio na carreira. “Como surgiu na Imprensa, vou sair para o Benfica e seguir os passos do meu irmão”, resumiu Uros Matic, em declarações reproduzidas no site do Kosice. O médio ofensivo assumiu, finalmente, o compromisso com os encarnados, depois de A Bola ter revelado o negócio. Aos 23 anos tem a grande oportunidade na carreira, inspirado por aquilo que Nemanja conseguiu. Foi, aliás, o irmão que lhe abriu as portas do Benfica. Em Fevereiro, Uros esteve duas semanas no Seixal a prestar provas - a experiência deixou bem impressionados os responsáveis encarnados, que logo trataram de assegurar a contratação. Como acabou contrato, chega a custo zero, embora Benfica e Kosice estejam a estudar a possibilidade de formalizar um protocolo de formação.

Arsenal volta à carga e oferece 175 milhões de patacas por NaniO Arsenal não desiste e vai voltar à carga, tendo em vista a contratação de Nani. De acordo com a edição desta quarta-feira do Daily Star, os gunners vão oferecer milhões de patacas para convencerem os rivais de Manchester a venderem o passe do internacional português. Na época transacta, recorde-se, os dois clubes negociaram a venda de Robin Van Persie para o Man. United. Nani, 26 anos, tem contrato com os red devils até ao verão do próximo ano, 2014.

II Liga António Vale da Conceição marca diferença

sporting campeão firma credenciais

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17quinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo futilidades

Sudoku [ ] Cruzadas

[ ] Cinema Cineteatro | PUB

Aqui há gato

[Tele]visão

Pu Yi

SoluçõeS do problema

HORIZONTAIS: 1-SITO. GESAR. 2-ATO. BA. RODO. 3-PECIOLO. MIL. 4-ARO. DEUS. DO. 5-TA. PUA. ORO. 6-SIM. ARI. 7-CÃO. AMO. PA. 8-VA. RAMA. ROL. 9-ORA. MARIOLA. 10-LIÇA. DA. GIM. 11-TEORIA. PORO.VERTICAIS: 1-SAPATO. VOLT. 2-ITERA. CARIE. 3-TOCO. SÃ. AÇO. 4-PIOR. AR. 5-BODUM. AM. 6-GALEA. AMADA. 7-OU. AMARA. 8-SORO. 9-SOM. RI. ROGO. 10-ADIDO. POLIR. 11-LI. ARVORAR.

REGRAS |Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição

SOLUÇÃO DO PROBLEMADO DIA ANTERIOR

HORIZONTAIS: 1 – Situado; revestir com gesso, para depois pintar ou dourar, estucar. 2 – Aperto com nó ou laçada; uma das consoantes do alfabeto sânscrito; utensílio de madeira que serve para juntar os cereais nas eiras, e o sal nas marinhas, para puxar a cinza do forno, etc. 3 – Pé da folha; um milhar. 4 – Caixilho de madeira para os vãos das janelas, etc.; ser supremo, infinito, perfeito, criador do Universo, contr. da prep. de com o art. def. o. 5 – Basta! (interj.); haste terminada em bico; declamo. 6 – Auência; nome próprio masculino. 7 – Quadrúpedr carnívoro, doméstico; dono da casa em relação aos criados; a parte mais larga da enxada. 8 – Caminhe; os ramos ou a folhagem das plantas; relação. 9 – Além disso; desarvergonhado. 10 – Lugar destinado a torneios; contr. da prep. de com o art. def. a; instrumento para encurvar as calhas das linhas férreas. 11 – Conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou ciência; cada um dos pequenos orifícios da derme.VERTICAIS: 1 – Peça de calçado que cobre só o pé; forma internacional de vóltio. 2 – Repetel ulceração nos dentes e ossos, e que os destrói progessivamente. 3 – Parte do tronco que fica ligada à terra depois de cortada a árvore; perfeita; liga ferro-carbónica endurecida pela têmpera. 4 – Aquele ou aquilo que é de qualidade inferior à de todos os outros; fluido gasoso, transparente e invisível que constitui a atomosfera. 5 – Cheio muito activo e característico do bode não castrado; antes do meio dia (abrev.). 6 – Elmo; querida. 7 – Designada alternativa (conj.); desejara. 8 – Senhor (abrev.); parte aquosa que se separa do leite ou do sangue depois de coagulados. 9 – Emissão de voz; manifesta riso; suplico. 10 – Funcionário agregado a outro, como auxiliar, ou que está além do número fixado no respectivo quadro; tornar lustroso pela fricção. 11 – Qualquer objecto com forma cilíndrica; receptáculo das plantas.

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TdM 13:00 TDM News - Repetição13:30 Telejornal + 360º (diferido)14:40 RTPi DIRECTO19:00 Montra do Lilau (Repetição)19:30 Vingança20:30 Telejornal21:00 TDM Talk Show21:30 Castle Sr.4 22:10 Escrito nas Estrelas23:00 TDM News23:30 Herman 201300:30 Telejornal – Repetição01:30 RTPi Directo

INFORMAÇÃO TDM

RTPi 8214:00 Telejornal Madeira14:35 Biosfera15:05 AntiCrise15:30 Moda Portugal16:00 Bom Dia Portugal17:00 Destinos.pt17:15 Portugal Aqui Tão Perto18:10 O Teu Olhar (Telenovela)19:00 República20:00 Jornal da Tarde 21:15 O Preço Certo22:10 A Hora de Baco22:35 Surf Report22:55 Portugal no Coração

30 - FOX Sports13:00 Chang World Of Football 2012/1313:30 NASCAR Sprint Cup Series 2013 - Highlights14:30 MLB Regular Season 2013 New York Mets vs. New York Yankees17:30 (Delay) Baseball Tonight International 201318:30 Total Rugby19:00 ABL Crossover 201319:30 (LIVE) FOX SPORTS Central20:00 LIVE) Asean Basketball League 2013 Sports Rev Thailand Slammers vs. San Miguel Beerman22:00 FOX SPORTS Central22:30 Thursday Fight Night With UFC23:00 UFC Countdown/ Unleashed T

31 - STAR Sports13:00 Mobil 1 The Grid 201313:30 Smash 201314:00 Furusiyya FEI Nations Cup 201315:00 Sports Max 2012/1316:00 European Le Mans Series 2013 - Imola17:00 Mobil 1 The Grid 201317:30 Smash 201318:00 Russian Premier Liga 2012/1319:30 FIA F1 World Championship 2013 - Highlights Monaco Grand Prix 21:00 2 Wheels21:30 (LIVE) Score Tonight 201322:00 SBK Superbike World Championship 2013 - Highlights22:30 2 Wheels23:00 European Le Mans Series 2013 - Imola

40 - FOX Movies12:20 The Girl With The Dragon Tattoo14:55 Final Fantasy: The Spirits Within16:45 201219:20 The Barrens21:00 Lockout22:35 The Darkest Hour00:05 Hellraiser: Revelations

41 - HBO11:50 Constantine13:50 Battleship16:00 The Thing Called Love17:55 Lassie19:30 Hbo Central20:00 S.W.A.T.22:00 Game Of Thrones23:00 The Hangover Part Ii00:40 Coach Carter

42 - Cinemax12:00 Lost Boys13:30 Unknown15:25 Hollywood On Set16:00 Assignment To Kill17:45 Nick Of Time19:15 Justice League20:30 All About The Benjamins22:00 Unknown23:50 Never Back Down 2

Um Ao mAn Long PArA SemPre

O AnjO dA GuArdA • Robert Muchamore ryan já salvou a vida de ethan mais do que uma vez. ethan chama-lhe o seu anjo da guarda. mas ryan trabalha para a CHerUB, uma organização secreta com uma vantagem essencial: nem os criminosos mais experientes suspeitam que crianças os possam vigiar. A família de ethan gere um império milionário no mundo do crime, e a missão de ryan é destruí-lo. Será ryan capaz de completar a missão dele sem destruir o seu amigo ethan?

O GOlpe dOs TrAficAnTes • Maria Inês Almeida, Joaquim Vieira Durante um passeio a uma ilha algarvia, o barco onde viajavam Duarte, Marta e alguns amigos é roubado por traficantes. Os dois jovens seguem uma pista para tentarem descobrir o paradeiro dos ladrões. Só que, no meio desta aventura, ficam cercados por gente com más intenções, e então tudo se vai complicar.

os casos de corrupção são feridas difíceis de sarar em qualquer sociedade, principalmente quando a corrupção está directamente ligada aos cargos políticos. Apesar de estar a cumprir pena, o antigo secretário para as obras Públicas e Transportes, Ao man Long, ainda deixa um longo rasto. Prova disso é a notícia publicada ontem no jornal Ponto Final sobre o difícil rasto dos milhões que Ao man Long colocou no estrangeiro. Segundo Wayne Patrick Walsh, número dois da divisão de direito internacional do Departamento de Justiça de Hong Kong, diz que são necessários mais acordos de cooperação. responsáveis da área entrevistados pelo mesmo jornal dizem existir falta de “enquadramento” na área da cooperação judiciária e “obstáculos formais” na relação com o Direito da China. Seria importante e absolutamente fundamental que os donos das jurisdições melhorassem os diversos aspectos por forma a pôr mão no dinheiro que é da rAem e dos contribuintes que por aqui existem. mas o rasto de Ao man Long permanece também nas infra-estruturas nas ligações à CSr, como também revelou o Hoje macau na sua edição de ontem. resta-nos perguntar se mesmo atrás das grades Ao man Long mantém os seus tentáculos bem vivos, prontos a coordenar os ganhos obtidos com processos corruptos. resta também saber quais os tentáculos amigos que permitiram que isso acontecesse e que continuam a permitir. resta, ainda, lutar por um melhor sistema na rAem que evite casos e que saiba ver onde andam dinheiros perdidos que pertencem à Administração e, portanto, às pessoas.

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Houve (há?), em tudo isto, uma grande dose de experimentalismo, talvez inevitável, que condicionou a consistência de uma estratégia de médio prazo que nunca passou para além do chavão das reformas estruturais. Pelo contrário, o curto prazo e o imediatismo prevalecem, os ziguezagues sucedem-se, as contradições acumulam-se. O défice é um, depois é outro e, por fim (?), um terceiro. Não há margem para baixar o IRC, afinal talvez haja e, por fim (?), é o grande instrumento que abre a era do investimento. Só que não é fácil recuperar o investimento quando o Governo se tornou, ele próprio, um factor de instabilidade e incerteza. Assim se perde tempo e dinheiro e, pior, a credibilidade.

As sondagens não mentem: os erros têm sido tantos, a incapacidade de explicar as opções tão grande, que o populismo das soluções fáceis e milagrosas e da inércia está a fazer o seu caminho. Como se fos-se possível. Que não restem dúvidas: a consolidação orçamental, em patamares ainda exigentes mas alcançáveis, é parte indissociável da solução.

Alberto CAstroin Jornal de Notícias

ePitAmoS o exercício já ensaia-do há uns três anos: ir ao futuro ou, como agora se diz, ao pós--troika. Projectando o presente, chegaremos a essa fase em que, teoricamente, passaríamos a

financiar-nos no mercado, com uma dívida pública colossal, as famílias angustiadas, as empresas exangues e um país dividido. Não são boas as perspectivas. Vamos admitir, os economistas são bons nisso, que, ainda assim, se intuiria o prenúncio de uma saída para esta crise. Quando? Como? Sozinhos? São perguntas de resposta difícil. No que toca ao “quando”, o melhor é admitir que o caminho se faz caminhando. o “como” resulta de readquirirmos potencial de cres-cimento, subsistindo um novo “mas como?”, a pergunta do milhão de euros. Apenas o “sozinhos” tem uma reposta óbvia: não. Devemos muito e pagamos caro por isso. A oCDe estima que as reformas estruturais aumentam o potencial de crescimento em 3,5%. Não chega. Se não nos quisermos quedar, para sempre, numa apagada e vil tristeza, a ganhar para apenas pagar os juros da dívida pública acumulada, temos de renegociar (juros, prazos), de ter sorte (um pouco mais de inflação, um prémio) e

quinta-feira 30.5.2013opinião18 www.hojemacau.com.mo

As sondagens não mentem: os erros têm sido tantos, a incapacidade de explicar as opções tão grande, que o populismo das soluções fáceis e milagrosas e da inércia está a fazer o seu caminho. Como se fosse possível. Que não restem dúvidas: a consolidação orçamental, em patamares ainda exigentes mas alcançáveis, é parte indissociável da solução

Pós da troika

R

de a procurar na frente europeia, com um activismo que confronte os nossos parceiros europeus com a insustentabilidade da situa-ção. A renegociação é tanto mais inevitável quanto mais diminua a base social de apoio à continuação das reformas, a não ser que, para os burocratas europeus, a democracia não seja um valor absoluto. A complacência com a situação na Hungria não é, a esse propósito, um bom augúrio.

No meio disto tudo, é preciso manter o

norte, perceber o essencial: só sairemos deste colete-de-forças gerando recursos líquidos sobre o exterior, diminuindo a nossa posição devedora, minorando a dependência. esse é o enunciado. Aumentar as exportações, diminuir e substituir importações, conter a dívida pública e privada. Não se sabe bem como se faz e, sobretudo, como se faz mino-rando o respectivo custo social, ele próprio um escolho na progressão da consolidação orçamental, uma parte crítica da solução.

cartoon política de dois filhos para os rohingyaspor Steff

Será o Governo, na sua actual configu-ração, capaz de conduzir o país nesta recta final até o pós-troika? Duvido. O episódio com a SRU do Porto é paradigmático. A re-abilitação urbana é uma das poucas políticas cujos méritos são consensuais, mesmo que as vias a prosseguir difiram. Por incompetência, ou por prepotência, a ministra Assunção Cristas hostilizou uma cidade e, de cami-nho, evidenciou uma incapacidade política confrangedora. Se se prestou a ser a face de quem se esconde atrás do arbusto, como diria Sócrates e como a carta de menezes parece indiciar, tanto pior. Na linha da desorientação estratégica que tem prevalecido, é provável que o executivo venha a arrepiar caminho, pagando o que deve. Pelo meio, admitamos, prestou um serviço inestimável à cidade, motivando uma convergência nunca antes alcançada. Se tudo não se esgotar nesta circunstância, Cristas merecerá, afinal, a medalha da cidade.

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19opiniãoquinta-feira 30.5.2013 www.hojemacau.com.mo

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Numa cidade organizada e funcional existem horas e lugares para tudo, e não devemos encarar os incómodos a que tantas vezes nos sujeitamos como qualquer coisa de inevitável e sem solução. Com um pouco mais de vontade, havia mais qualidade de vida. E tínhamos todos a ganhar com isso

Vão-se lixar! (Que eu estou a trabalhar)a eu a caminho do trabalho no outro dia de manhã, quando ao passar pela Rua da Tercena, aqui perto de casa, quase tomo o segundo banho do dia. Uma funcionária da tal concessionária do tratamento dos resíduos de Macau

lavava alegremente um depósito de lixo a golpes de mangueirada, alheia ao facto de serem nove da manhã e estarem por ali a circular pessoas a caminho dos seus afazeres diários. Protestei com o seu desleixo, e apesar de fazer bastante calor, dei-lhe a entender que não estava nada interessado em ser “refres-cado”. Não fiquei sem resposta, e de peito feito a profissional da limpeza de caca das lixeiras atirou-me com um decidido: “este é o meu trabalho!”. Ora pois é, ninguém disse que não, e toca já a sair da frente. Quem não gosta pode muito bem fazer um desvio por outra rua qualquer, de preferência pelo bilhar grande, que foi para onde a senhora me mandou ir dar uma volta.

ainda a semana passada esperava por um autocarro na av. almeida Ribeiro, na paragem em frente a uma conhecida ou-rivesaria junto da Rua Camilo Pessanha, eram já onze da noite. Enquanto conver-sava com uma amiga aproxima-se uma daquelas recolectoras de cartão e outros objectos empurrando um volumoso carri-nho de mão, que me passa em cheio por cima do pé. Não me partiu nenhum osso, mas a dor foi suficiente para lhe dizer das boas, recorrendo ao uso das pragas que o meu parco conhecimento da língua chinesa ainda me permite. Visivelmente assustada com a minha (justificada) reacção, teve o desplante de dizer que a culpa era minha, pois enquanto levava o carrinho vinha dizendo “kuan soi” – literalmente “água quente”, uma expressão utilizada para avisar quem se encontra pelo caminho de que se transporta algo pesado ou perigo-so. De nada adiantaria recordar-lhe que o passeio é público, e de que tenho o direito de ali permanecer o tempo que me apete-cer sem levar em cima com o entulho que estes recolectores de pacotilha insistem em transportar em qualquer sítio e a qualquer hora. Afinal vivemos numa cidade desen-volvida e cosmopolita. Mas haverá quem tenha assistido à cena que considere que o mau da fita era eu. Afinal a senhora estava a “trabalhar”, coitada, mesmo que ninguém a obrigue a tamanha empreitada.

Voltando à Rua da Tercena. Mesmo antes de chegar à Rua dos Ervanários, no passeio onde se realiza diariamente uma espécie de Feira da Ladra, existe uma pequena loja que compra o cartão que tantos residentes passam o dia a juntar, e que depois vendem

bairro do or ienteLeocardo

assiste a este triste espectáculo é outra. Como se explica que alguém se sujeite andar por aí imundo a carregar toneladas de tralha pela rua o faça para ganhar mais alguns trocos apenas “para passar o tempo”?

a falta de civismo e o desrespeito pelo conceito do “outro” não se resume a estes apanhadores de cartão e ferro-velho. a pró-pria recolha do lixo, feita pelos camiões da tal concessionária num horário que ninguém conseguiu ainda entender muito bem, é uma boa desculpa para se fazer um escarcéu, com latões arremessados e um cheiro pestilento no ar. Quem tem o azar de estar na rua à hora da recolha do lixo ou de estar a conduzir atrás do camião do lixo, fica com o estômago revirado e adquire uma tez amarelada nada saudável. Mas querem o quê? Os tipos estão ali a recolher o vosso lixo, deviam era estar agradecidos. É um trabalho sujo mas alguém tem que o fazer. as cargas e descargas, um problema comum a muitas cidades, adquire uma dimensão muito própria em Macau. Os veículos de carga estacionam onde muito bem lhes apetece às horas que bem enten-dem, e não saem dali até que a estiva fique completa. Pouco importa que obstruam o trânsito e provoquem congestionamentos – é um “mal necessário” – e não adianta buzinar ou fazer cara feia. “O que foi, pá? Têm pressa, passem por cima. Não vêem que estamos a trabalhar?”

Quem foi abençoado com o dom da paciência, o que não é o meu caso, aceita melhor este tipo de situações que tantas vezes nos deixam com os nervos à flor da pele. Afinal somos uns sortudos, passa-mos o dia sentados num escritório, com uma secretária só para nós em frente a um computador, com ar-condicionado num ambiente salúbre e rodeados de conforto, gente bonita e limpinha. Deviamos ser mais compreensivos com quem ganha a vida na rua, sujeito aos rigores do clima e à poluição enquanto efectua honestamente o trabalho sujo e pesado, indispensável a todos nós e ainda por cima mal pago. Nada contra estes operários que suam e contribuem da forma que podem para o bem comum, mas isto não pode nem deve ser uma desculpa para o caos. Rejeitar este estado de coisas não significa necessariamente estar a faltar ao respeito com estes esforçados profissionais. Trata apenas de pedir que o respeito seja mútuo. Numa cidade organizada e funcional existem horas e lugares para tudo, e não devemos encarar os incómodos a que tantas vezes nos sujeitamos como qualquer coisa de inevitável e sem solução. Com um pouco mais de vontade, havia mais qualidade de vida. E tínhamos todos a ganhar com isso.

“a vinte avos a tonelada”, como disse um conhecido pré-candidato às próximas elei-ções legislativas, entrevistado há poucos dias na Rádio Macau. Muitas vezes os carrinhos onde o cartão é empilhado ficam estaciona-dos há porta deste receptador, bloqueando por completo a via pública reservada aos peões, obrigando-os a passar pela estrada. Não adianta protestar ou sequer resmungar, pois isto “é gente que trabalha”, que ganha o pão com o suor do rosto, que anda por aí a

enfiar a cabeça nos latões do lixo, a separar o cartão no meio do passeio, a levar o ferro--velho pela rua, tantas vezes riscando auto-móveis ou ameaçando a integridade física dos restantes transeuntes. Não temos outra alternativa senão respeitá-los, e o melhor é sair da frente se temos amor às canelas e aos tornozelos. Qualquer dia equipam o utilitário com uma sirene que assinale a sua nobre labuta. Se não há fome em Macau, como dizem, a imagem que se passa para quem

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quinta-feira 30.5.2013www.hojemacau.com.mo

Rita Marques [email protected]

Os futuros arquitectos da Universidade de são José (UsJ) puseram em prática os conhecimen-

tos adquiridos este ano lectivo em projectos inovadores criados de raiz, agora expostos na galeria de arte Creative Macau até 10 de Junho, sob o nome “Building Dwelling Thinking”. Mas a grande obra-prima teve direito a um local de exposição privilegiado, bem no centro da praça sai Van, junto à Torre Macau.

Thomas Daniell, coordenador do departamento de Arquitectura e Design, explica que o “Pulse Pavilion” (Pavilhão Pulsação, em português) usou técnicas de Macau e materiais recicláveis tradicionais, fazendo uma home-nagem ao artesanato local. “Tra-balharam durante os primeiros três dias de construção com artesãos locais de Macau, especialistas em construção de bambu”, explica o responsável. “Aprenderam muito sobre técnicas e materiais de cons-trução tradicionais. E, portanto, o pavilhão é uma combinação destas com técnicas internacionais contemporâneas.”

O pavilhão é feito também de elementos de tela e um sistema

Arquitectura Alunos da UsJ criaram obra com ajuda de artesãos locais

Bambu a pulsode iluminação LED, sensível ao movimento e, por isso, criam um ambiente interactivo com os visitantes. “Como as pessoas se movem ao redor e através do pa-

vilhão, as luzes vão mudar de cor e intensidade.”

Pelo uso abundante destas matérias-primas, a obra tem também uma visão ecológica. “Questões de

sustentabilidade e meio ambiente são extremamente importantes para o programa de arquitectura na UsJ. (...) O bambu é um material de crescimento rápido e de baixo custo. É muito importante na história de Macau e na cultura chinesa e todo o bambu será reutilizado ou reciclado”, avança Thomas Daniell.

A escolha do local, explica o responsável, foi elegida em coo-peração com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), de acordo com o tamanho, visibilidade, segurança e impacto

da construção. A mesma foi ainda alvo de apoios da Fundação Macau, da Torre de Macau e da Traxon Technologies.

Além desta construção de pro-porções reais, nos Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE), na Creative Macau, junto ao Centro Cultural de Macau, estarão ainda maquetas e desenhos de casas fa-miliares e planos urbanísticos, bem como uma pequena instalação de bambu desenhadas e construídas pelos alunos de Arquitectura, da Faculdade de Indústrias Criativas.