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PUB LUSA A inexistência de um salário mínimo em Macau surpreendeu a União Europeia, que o expressa num relatório. Afinal, tal prática é comum em toda a China. Com excepção de uma pequena região especial... PÁGINA 6 EUROPA DIZ QUE ERA O MINIMO... AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB ÚLTIMA DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 19 DE MAIO DE 2014 ANO XIII Nº 3091 CAVACO SILVA Este nome de Macau... VISITA PÁGINAS 2 A 5 hojemacau FORAM AS CONTAS QUE O BENFICA FEZ 3 ´

Hoje Macau 19 MAI 2014 #3091

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Hoje Macau N.º3091 de 19 de Maio de 2014

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LUSA

A inexistência de um salário mínimo em Macau surpreendeu a União Europeia, que o expressa num relatório. Afinal, tal prática é comum em toda a China. Com excepção de uma pequena região especial...

PÁGINA 6

EUROPA DIZ QUEERA O MINIMO...

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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ÚLTIMA

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 1 9 D E M A I O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 9 1

CAVACO SILVA

Este nome de Macau...

VISITA PÁGINAS 2 A 5

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UM PLANETA DE OPORTUNIDADES

ANDREIA SOFIA [email protected]

O S atrasos na atribui-ção do BIR a portu-gueses residentes em Macau era um

dos debates mais aguardados pela comunidade portuguesa durante a presença de Cavaco Silva no território. Mas a verdade é que o Presidente da República mos-trou-se “surpreendido” quando foi confrontado com a questão.

“Ouvi elogios rasgados em relação à comunidade portuguesa aqui em Macau e ao contributo económico e social que tem dado. Se aquilo que ouvi em relação à comunidade foi muito forte, pare-ce que existe alguma contradição com eventuais limitações para acolher novos portugueses que queiram instalar-se nesta parte do mundo. Surpreende-me um pouco face aquilo que vi, na reunião que tive com o Chefe do Executivo, contactos com o meio empresarial e a parte das universidades”, disse Cavaco Silva na conferência de imprensa organizada ontem à tarde no consulado.

Contudo, o chefe de Estado defendeu que “se há alguma difi-

Maria Cavaco Silva lembrou que a emigração

de portugueses sempre aconteceu, “mesmo

sem crise”, sustentando que o mundo actual

`encolheu` e que existem oportunidades em todo

o lado. O tema da emigração surgiu durante

uma conversa com os jornalistas a propósito da

língua, quando Maria Cavaco Silva disse estar

convencida de que os jovens portugueses iriam

dar a atenção necessária à aprendizagem do

chinês e lembrou que o seu neto mais novo

estava triste porque uma colega tinha ido viver

para Xangai. Instada a comentar se os pais da

criança tinham sido `forçados` a deixar o país,

a primeira-dama recordou que a emigração foi

sempre uma temática presente nas famílias

portuguesas e que a actual facilidade de

comunicação permite encontrar “oportunidades”

nos mais diversos locais do planeta.

2 hoje macau segunda-feira 19.5.2014VISITASímbolo de amizadeA transição de Macau “permitiu projectar mais alto no Oriente o nome de Portugal como um país construtor de consensos e de pontes entre culturas e mostrar a abertura da China ao mundo e o seu desejo de cooperação fraterna com Portugal”, disse Cavaco Silva. “A transição de Macau marcou igualmente o início de uma nova fase de relacionamento com a China, baseada na confiança e no respeito mútuo”, acrescentou. Já em Pequim, tinha defendido que a RAEM “é um dos maiores símbolos da amizade” entre Portugal e a China.

Transição exemplar e ligação estratégicaO presidente da República afirmou que a ligação de Portugal à China e a Macau é “uma prioridade estratégica”, considerando “exemplar” o processo de transição do território para a administração chinesa. A visita ao território, afirmou, serve para “reafirmar de forma muito clara e inequívoca” que a relação com a cidade constitui uma “orientação estratégica da política externa portuguesa”. Para Cavaco Silva, o “sucesso económico e social de Macau” e “a estabilidade política verificada nestes 15 anos é a prova de que a escolha feita em 1987 do modelo para a Região foi a escolha certa”. Portugal, continuou, “orgulha-se de ter uma relação especial com Macau e orgulha-se do desenvolvimento económico, social e da estabilidade política que tem sido garantida na sequência da Lei Básica que resultou da negociação da Declaração Conjunta.”

Na câmara com...As câmaras de comércio luso-chinesa e de Macau assinaram ontem um protocolo de cooperação no Clube Militar, com a presença não só de Cavaco Silva como de vários ministros de Portugal. Filipe Cunha Santos, presidente da delegação da câmara de comércio luso-chinesa em Macau, explicou os objectivos do protocolo assinado. “Marca no fundo um protocolo dos associados entre as duas câmaras em termos de comércio, turismo e outros sectores empresariais. É um protocolo que visa fortalecer os laços dos associados das duas câmaras e tem algumas bases na troca de visitas a Macau, China e Portugal.” O acordo visa ainda “uma troca de informação comercial e de negócios na área do investimento e do comércio bilateral”, disse Filipa Cunha Santos. “Vamos ter mais encontros com entidades chinesas, continuando a fazer o nosso trabalho de lobby junto do Governo, e iremos entrar em algumas feiras que se realizam aqui e trazer alguns associados”, acrescentou o presidente da delegação da câmara de comércio luso-chinesa. Questionado sobre o número de empresas portuguesas que pretendem estabelecer-se neste lado do mundo, Filipe Cunha Santos não adiantou números concretos, mas falou da existência de contactos. “Temos tido contacto de algumas empresas, sobretudo tecnológicas, que têm alguma expansão em Angola ou Brasil e que querem entrar aqui. Mas tem sido crescente o número de quadros qualificados que têm vindo trabalhar para Macau”, reforçou Filipe Cunha Santos, dando como exemplo áreas como a arquitectura ou a advocacia.- A.S.S.

QUESTÃO DOS BIR CAVACO SILVA FALA EM “CONTRADIÇÃO” E SURPRESA

Portas abertas para uma solução

Almoço reservadoDepois da visita à Escola Portuguesa de Macau (EPM), Cavaco Silva chegou ao Clube Militar para a cerimónia de assinatura do protocolo e para um almoço com empresários. Angela Leong, deputada e directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Ambrose So, também da SJM, ou Rita Santos, secretária-geral adjunta do Fórum Macau, foram algumas das figuras presentes. Ao almoço, Aníbal Cavaco Silva fez ainda um discurso à porta fechada para os presentes, ao qual os jornalistas não puderam assistir. Depois da assinatura do acordo, Chui Sai Cheong, irmão do Chefe do Executivo, deputado à Assembleia Legislativa (AL) e presidente da câmara de comércio de Macau explicou os objectivos da parceria. “Em conjunto podemos atingir os objectivos para sair de Macau, esta é a melhor forma. Os países de língua portuguesa têm os seus privilégios e nós também, e podemos aproveitar as oportunidades para explorar novos negócios.”

O presidente da República mostrou-se “surpreendido” quando confrontado com os atrasos na atribuição da residência a portugueses. Mas afirmou que a realização de reuniões anuais da Comissão Mista entre Portugal e Macau poderão “ultrapassar essas dificuldades”

culdade, então o acordo que assi-námos ontem, juntamente com o Chefe do Executivo, abre portas para o diálogo e negociação para ultrapassar essas dificuldades”.

O acordo de que Cavaco Silva falou diz respeito à previsão de realização de reuniões anuais da Comissão Mista de Portugal e Macau, no sentido de estreitar relações bilaterais.

REFORÇAR CONSULADOOutra das promessas deixada por Cavaco Silva diz respeito ao reforço de recursos humanos no consulado de Portugal em Macau, depois de vários funcio-nários terem rescindido contrato com o MNE, como reacção a cortes salariais. Mas o Presidente

garantiu que, a ser feito esse recurso, terá sempre objectivos económicos.

“Imaginando que muito mais chineses queiram visitar Portugal, vão precisar de um visto. Portanto temos de pensar em como pode-mos responder com brevidade aos pedidos que nos são apresentados. O senhor embaixador e o senhor cônsul com certeza que anseiam por ter mais funcionários que pos-sam dar resposta aos pedidos que possam ser apresentados. Vamos fazer um esforço para reforçar os funcionários aqui em Macau”, disse Cavaco.

Destacando o investimento, o turismo e a exportação de bens como os “grandes pilares do desenvolvimento económico em

Portugal”, Cavaco Silva espera mais visitantes chineses no país.

“Fico com a ideia de que, de-pois desta viagem, haverá muito mais empresários chineses a que-rer visitar Portugal. O facto de se tratar de uma visita de Estado a convite do próprio presidente Xi conta na reacção dos empresários e também aqui em Macau. Vários me disseram que estarão em Por-tugal muito em breve”, garantiu.

SEM NOSTALGIACavaco Silva sublinhou que não parte de Macau com “nostalgia” face à presença portuguesa em Macau, tendo tecido vários elogios ao território. Depois de uma visita de uma semana à China, marcada por 29 acordos assinados, 18 encontros com entidades políticas, empresariais e académicas, e ainda 15 inter-venções públicas, Cavaco Silva mostrou-se optimista em relação ao futuro. “Deixei muito claro que as relações com a China são estratégicas na política externa portuguesa. Dos dirigentes chi-neses verifiquei que valorizam muito a cooperação com Portugal e estão dispostos a trabalhar para alargar essa cooperação”.

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3 visitahoje macau segunda-feira 19.5.2014

ORDEM DE MÉRITO PARA CHUI SAI ONChui Sai On partilhou este fim-de-semana “com Macau e com a sua população” a Grã-Cruz da Ordem de Mérito que lhe foi atribuída por Cavaco Silva. Numa cerimónia na residência do cônsul-geral de Portugal, Chui Sai On agradeceu ao presidente da República portuguesa a condecoração e lembrou que entre Macau e Portugal “existem laços históricos, laços fortes de amizade e de cooperação”. Para Chui Sai On, a visita de Cavaco Silva iniciada no sábado é uma “oportunidade e um sinal para confirmar esta continuação de cooperação e de amizade”. O Chefe de Estado recordou o passado de Fernando Chui Sai On na sua vida política, como deputado à Assembleia Legislativa, e associativa e social para justificar a atribuição da condecoração com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito ao actual chefe do Governo local. “Há mais de 20 anos que o seu vínculo afectivo com Portugal se vem sedimentando”, disse Cavaco Silva ao salientar que o Chefe do Governo “sempre teve a participação intensa na vida económica e social do território, teve parte activa na preparação da Lei Básica e nas negociações que levaram à transferência da Administração”, sublinhou. Por outro lado, o Chefe de Estado não esqueceu que “Macau é casa de muitos portugueses, que aqui vivem, aqui trabalham, aqui instalaram as suas famílias e são bem acolhidos. “Ao longo destes 15 anos, o doutor Fernando Chui Sai On sempre apoiou firmemente esta comunidade portuguesa, impulsionou a sua participação activa e empenhada nas estratégias de desenvolvimento definidas pelo Executivo ao mesmo tempo que lhe reconheceu a competência, o espírito empreendedor, a verticalidade e o profissionalismo que a caracterizam”. Cavaco Silva justificou ainda a condecoração com o apoio de Chui Sai On à divulgação da cultura portuguesa, ao apoio da disseminação do português, razões que ponderaram à distinção do líder do Governo de Macau.

LEONOR SÁ [email protected]

N A sua intervenção di-rigida à comunidade portuguesa de Ma-cau, que se realizou

na Torre de Macau, o presidente Cavaco Silva disse que todos os portugueses da RAEM são “embaixadores de Portugal”, uma vez que representam uma parcela significativa do país.

No mesmo encontro, o Presidente condecorou seis personalidades de Macau, incluindo a presidente da Casa de Portugal, Amélia António, o presidente da Assembleia--geral da Associação dos

Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APO-MAC), Jorge Fão, o deputado e presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), José Pereira Coutinho, o pre-sidente do Instituto Cultural de Macau, Guilherme Ung Vai Meng, o cônsul-honorário de Portugal em Hong Kong, Ambrose Sou Shu Fai e, finalmente, Rui Cunha, pre-sidente da fundação de nome homónimo.

Amélia António não con-sidera a sua condecoração como algo individual. Afirma, antes, que é “uma forma de reconhecer que, em Macau,

há uma comunidade que tra-balha” para um bem comum, a mesma que “tem mantido a cultura portuguesa viva e que dá o seu contributo para que se continue a defender a língua portuguesa e os interesses da comunidade” lusa em Macau, acreditando ser parte do “ros-to” dos portugueses residentes em Macau. Confessou ao HM que “ainda não é possível fazer um balanço dos frutos” da visita de Cavaco Silva, por-que “as informações não são muitas”. Para Amélia António, os eventuais benefícios serão vistos “na área económica, cultural e nas relações com a China”, rematando que “são

coisas que, a longo prazo, se poderão ou não vir a sentir”.

Também Pereira Coutinho considerou que a sua conde-coração “é colectiva, porque uma só pessoa não consegue fazer tanta coisa”, referindo-se aos trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos na ATFPM e na AL. Contudo, acrescentou que “ainda há muito a fazer em Macau. É preciso ter algumas precauções porque estamos demasiado dependentes do jogo. A diversidade econó-mica tem que ser feita, custe o que custar. Caso contrário, os jovens só têm duas saídas: ser funcionários públicos ou trabalhar no sector do jogo”.

O ministro António Pires de Lima disse ao HM que o ba-

lanço da visita oficial “é positivo”, já que “correu muito bem, tanto do ponto de vista político, como empresarial”. O ministro da Eco-nomia considera que os encontros e contactos que seguiu mais de perto “foram extraordinariamente positi-vos”, pois “Portugal é um país bas-tante aberto ao investimento chinês e isso foi claramente reconhecido pelas autoridades” da China.

Quanto a Portugal, confessou ao HM que o estado da balança comercial portuguesa não é ainda o ideal, reforçando que “é preciso aumentar os nossos níveis de ex-

portação e levar muito mais turismo chinês a Portugal”. É a primeira vez que pisa solo macaísta e admite ter ficado “deslumbrado” com o território e que sentiu “uma enorme afectividade e carinho na relação entre as autoridades regionais e o Chefe de Estado português”, consi-derando que é “um óptimo sinal de como o território fez a transição” de soberania.

Sobre esta visita, o ministro comentou que, embora intensa, “foi muito importante” para estabelecer “um marco na relação entre os dois países”, que “agora tem que ser bem aproveitada pelos portugueses”, acrescentou.

O presidente do Instituto Cultural de Macau,

Guilherme Ung Vai Meng, invocou ontem a união de duas “nações que amam intensamente a poesia”, no lançamento do livro “100 sonetos de Luís Vaz de Camões”. Ung Vai Meng disse também que existe, por parte do povo chinês, uma “grande admiração por exí-mios poetas” como Camões, Fernando Pessoa e Camilo Pessanha. O instituto tem “servido de ponte entre as culturas”, com o objectivo de dar a conhecer as obras

portuguesas e chinesas a pessoas de diferentes idio-mas, disse Ung Vai Meng, sublinhando a importância da “produção, tradução, publicação e divulgação das obras literárias”. “Embora a China e Portugal tenham estabelecido relações diplo-máticas oficialmente há ape-nas 35 anos, os seus povos relacionam-se há mais de meio milénio”, e esses laços têm permitido “ultrapassar as divergências políticas e as diferenças culturais” dos dois povos, sublinhou Ung Vai Meng.

Os sonetos abandonados

DURANTE a cerimónia de lança-mento da obra “100 sonetos de Luís

Vaz de Camões” em língua chinesa, que aconteceu na galeria do Tap Seac, o pre-sidente do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng, disse que “a poesia de Camões constitui tanto um património precioso do povo português, como uma pérola brilhante no tesouro da literatura mundial”.

Embora Cavaco Silva tivesse es-tado presente durante o discurso de Ung Vai Meng, acabou por abandonar o evento a meio, faltando à sessão de declamação de poemas, o que fez com que duas crianças declamassem os poemas para um público quase inexistente.

PRESIDENTE CONDECORA SEIS PERSONALIDADES DE MACAU

“Os embaixadores de Portugal”

Pires de Lima “Um marco na relação” “Unidos pela poesia”, diz Ung

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LUSA

CORAÇÃO QUENTE

PÉROLAS

4 visita hoje macau segunda-feira 19.5.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

“E LES não sabem nem so- nham, que o sonho comanda a vida”. O verso do poema “Pedra

Filosofal”, de António Gedeão, fez-se ontem ouvir na recepção a Aníbal Cavaco Silva feita pelos alunos da Escola Portuguesa de Macau (EPM).

No pavilhão gimnodespor-tivo, ouviu-se ainda o hino da escola cantado por miúdos de palmo e meio, danças chinesas e poemas de poetas portuguesas.

No final, Cavaco Silva subiu ao palco e fez um pequeno discurso. “Quero agradecer o gesto especial, e que muito nos emocionou, da exposição alusiva a Portugal. Muito obrigado pelo maravilhoso sarau de boas-vindas que prepararam”, disse o presidente da República portuguesa, sem deixar de reforçar a importância da EPM.

“A EPM representa um pro-jecto ambicioso. Os alunos sairão daqui preparados para o mercado de trabalho ou para prossegui-rem estudos em várias partes do mundo. A EPM é especial e estes professores são especiais”, disse Cavaco Silva.

• O Presidente da República chegou a Macau no sábado, para a última etapa da sua deslocação oficial à China tendo sido recebido no aeroporto por duas crianças de uma escola luso-chinesa que entregaram ao casal presidencial 15 rosas brancas. Num documento revelado pelo Gabinete do Chefe do Executivo “o número de flores é alusivo aos 15 anos da Região Administrativa Especial de Macau” e porque as rosas brancas “serão as preferidas” de Maria Cavaco Silva

• No domingo, ao visitar o Instituto Politécnico de Macau, o casal pre-sidencial recebeu um ramo com 20 flores numa “alusão aos 20 anos desde a última visita oficial” de Cavaco Silva a Macau

• Já na sede do Governo, Cavaco Silva recebeu como prenda de Chui Sai On um quadro com uma imagem em relevo das Ruínas de São Paulo, o ‘ex-libris’ do turismo local, Património da Humanidade e um legado português na cidade

• No Palácio do Governo voltou a ser hasteada também a bandeira portu-guesa, numa “tradição” de receber um Chefe de Estado com a sua bandeira ao vento na sede do Governo, que foi o gabinete de Rocha Vieira, o último governador português de Macau

• Integrado na comitiva presidencial, o general Vasco Rocha Vieira tem tratamento protocolar equivalente a ministro, tendo-lhe sido atribuída “viatura oficial e alojamento” pelo Governo de Macau

• O banquete de boas-vindas é mais modesto do que o apresentado na capital chinesa. “Seis pratos” serão servidos num encontro das culturas chinesa e portuguesa já que o vinho - Esporão Private Selection 2010 branco e Batuta 2010 da Nieport - será português como é tradicional nos jantares oficiais

• Aos 18 convidados de honra da co-mitiva, o Chefe do Executivo entregou também um livro de fotografias do pa-trimónio reconhecido pela UNESCO em 2005, intitulado “Sentir o Património” da fotojornalistas portuguesa Carmo Correia, da agência Lusa, radicada na cidade há mais de uma década

• Nas Ruínas, Cavaco Silva fez questão de tirar uma fotografia com Maria Cavaco Silva, dizendo que esta serviria para “fazer a comparação” com outras fotos tiradas no mesmo local nas três visitas que fez a Macau anteriormente, em 1987, 1994 e 1999

• Antes de abandonar o local, Cavaco Silva desceu a escadaria da frente da fachada da antiga igreja do Colégio de São Paulo e foi conversando com as de-zenas de turistas que se aproximaram do cordão policial para cumprimentar o visitante, sendo que a maioria não sabia de quem se tratava

Maria Cavaco Silva esteve no território em 1998, pela primeira vez. Para a primeira dama, o “enorme crescimento” de Macau impressiona. “Eu já estava à espera disto, já não conheço Macau, a última vez que cá estive foi em 1998 e isto cresceu tanto, tanto”, afirmou primeira-dama. “Regressar a Macau é sempre algo que nos aquece o coração”, disse, principalmente por ter estado “ligada à passagem de Macau para a China”.

Portugal sério e positivoO Presidente da República portuguesa abor-

dou muitos aspectos positivos da economia e indústria portuguesas, inovações como o cartão multibanco ou a “via verde”, alertando para a importância estratégica do país, que será a “primeira porta” na ligação entre a Ásia e a Europa através do canal do Panamá.

Recordou também que Portugal é membro fundador do euro e deixou um recado: “Se alguém vos disser que, um dia, o euro pode desaparecer, diga que a opinião do Presidente de Portugal, que conhece bem o assunto, é que eles são muito irrealistas”. “O euro, tal como o dólar e a moeda chinesa, vão cada vez mais afirmar-se como moedas internacionais”, sustentou.

O Presidente da República considerou o final da operação de resgate financeiro a Portugal “um dia marcante” para o país, mas alertou que isso, frisa, não significa que tenham terminado as exigências de rigor. “Foi duro. O povo português demonstrou um grande sentido de responsabili-dade. Mas, chegar ao fim a operação de resgate não significa que tenham terminado as exigências de rigor a que Portugal está sujeito, tal como os outros países da zona euro”, acrescentou.

“Faço votos para que nunca mais Portugal venha a encontrar-se nesta situação. Faço votos para que no futuro Portugal seja capaz de gerir de forma responsável as suas contas, mantendo--as perfeitamente controladas”, concluiu o Presidente da República.

NA ESCOLA PARA VER ALUNOS DANÇAR E DECLAMAR POESIA

“Um projecto ambicioso”O lado “especial” referido

pelo chefe do Estado português está ligado à dinamização do português. “Com uma forma-ção orientada para o diálogo intercultural entre o Oriente e o Ocidente, esta escola traduz e honra a especificidade cultural de Macau. Trata-se de um contexto privilegiado para a promoção da língua portuguesa, projectando--a ainda mais na Ásia oriental”, acrescentou Cavaco Silva.

“VISITA MUITO POSITIVA”Terminado o espectáculo, que durou cerca de meia hora, Pedro Roleta, aluno do 9º ano, mostra-va-se satisfeito com a visita de Cavaco Silva à sua escola. “Fico contente pelo presidente vir cá a Macau. É uma boa mensagem para mostrar o espírito português que há em Macau”, disse ao HM.

A sua colega Mariana Tam disse mesmo que a visita “foi um momento importante para a esco-la”. Já Mariana Santos referiu que “a visita foi muito positiva pois reforça a ideia de Portugal quan-do estivemos cá e vemos Macau com importância”. A aluna do 9º ano de escolaridade acrescentou ainda que “é sempre bom ver que se importam com Macau”.

Cavaco Silva não falou ape-nas do posicionamento da escola no território, mas do próprio posicionamento da língua por-tuguesa no mundo. “Os vossos estudos são uma importante aposta no futuro. O português é língua oficial de cerca de 250 milhões de pessoas, em quatro

continentes. É língua oficial de várias organizações internacio-nais. É cada vez mais uma língua presente no mundo dos negócios, da cultura e da ciência. Nesta es-cola, onde o ensino do português já se faz de forma integrada e em paralelo com a língua chinesa, o futuro é auspicioso.”

LUSA

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PÉROLAS

5 visitahoje macau segunda-feira 19.5.2014

N UM encontro com Chui Sai On em Macau, o Presidente da repúbli-ca portuguesa passou

em revista o passado, mas quis perspectivar o futuro nos vários domínios, salientando agradecer ao Chefe do Executivo da RAEM o “empenho que tem colocado” na promoção da língua portuguesa nesta parte do mundo.

A questão da língua voltou a ter um papel predominante, tendo Cavaco Silva dito que é em Macau que se reconhece de “forma mais forte o valor económico, para além do cultural, da língua portuguesa, uma língua de negócios, uma lín-gua de investimentos que [se quer] cada vez mais projectar”.

Para Cavaco Silva, “o ensino do Português na China é uma van-tagem dos dois países”. O Chefe de Estado sublinhou mesmo que a China tem “interesse em ter ci-dadãos que falem a língua de oito países no mundo, alguns em franca e grande expansão económica, como é o caso do Brasil, de Angola ou de Moçambique”.

Já do ponto de vista de Portu-gal, Cavaco Silva garantiu ser um contributo para que “cidadãos do mundo, neste caso chineses, co-nheçam melhor Portugal, as suas potencialidades nos mais variados domínios, que conheçam a riqueza da cultura, a riqueza do património MAIS PROFESSORES LUSOS

Já o director da Escola Superior de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau, Choi Wai Hao, disse em Pequim que Macau tem de se assumir como o centro de formação de língua portuguesa para toda a China. “Macau deverá ser isso porque isto é condição privilegiada, legada pela história e então Macau tem essa responsabilidade de responder ao desafio que o desenvolvimento das relações comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa traz e o Governo de Macau tem de assumir essa responsabilidade perante a China”, disse. O mesmo responsável disse que depois da criação no Politécnico de Macau do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, há cerca de um ano, o Governo de Macau tem a responsabilidade de ajudar no recrutamento dos professores para reforçar o ensino da língua portuguesa na cidade. É que, sublinhou, «são precisos mais professores nativos de português para o Politécnico».

LÍNGUA PORTUGUESA PRESIDENTE VÊ ENSINO COMO VANTAGEM PARA CHINA E PORTUGAL

“A língua mais falada no hemisfério sul”Presidente emocionado no Jardim de Camões. Comunidade faz parte da família, remata Chui Sai On

histórico e cultural” pelo que se de-seja que “muitos chineses possam visitar Portugal”. E é também por isso, disse, que nos contactos com as autoridades chinesas se insistiu nos voos directos, factor que con-tribuiria para aumentar o fluxo de turistas entre os dois países.

EMOÇÃO NO JARDIM DE CAMÕESPor sua vez, Chui Sai On explicou ao presidente português que a co-munidade portuguesa residente na cidade está perfeitamente integrada. “A comunidade portuguesa já se conseguiu integrar perfeitamente na sociedade de Macau e nós damos

MANDARIM EM PORTUGALO ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, disse em Pequim que Portugal vai colaborar com o Instituto Confúcio para o ensino da língua chinesa no ensino secundário em Portugal. Falando no final da visita do Presidente da República à capital chinesa, Nuno Crato escusou-se a fixar uma data para a introdução da disciplina opcional nos programas curriculares portugueses, mas adiantou como possibilidade um prazo de três a cinco anos. “É provável que em breve haja condições para oferecer, ainda apenas em alguns locais, a possibilidade alternativa de ter mandarim nos estudos secundários e no terceiro ciclo”, disse o ministro.

muita importância aos contactos e ligações culturais. Também res-peitamos muito as características tradicionais e culturais de diferentes comunidades e acho que a comu-nidade portuguesa é também um elemento da nossa grande família e, por isso, teremos que, de mãos dadas, construir um futuro cada vez mais promissor em prol do bem-estar da população”, afirmou.

Chui Sai On prometeu também o empenho no reforço do papel de Macau como plataforma entre a China e os países de língua por-tuguesa através do Fórum Macau e sublinhou que a divulgação da língua portuguesa é uma respon-sabilidade local perante a China continental, mas também uma ne-cessidade da Região em ter quadros bilingues nas mais variadas áreas.

No Jardim Camões, Cavaco ou-viu falar português e assumiu estar “emocionado” ao conversar na língua do poeta com escuteiros e alunos de várias escolas de Macau, manifes-tando o desejo de que “continuem a falar cada vez mais” português.

O casal presidencial, que se des-locou à gruta para depositar uma coroa de flores em homenagem ao poeta, foi conversando com um ou outro aluno, vincando sempre a ne-cessidade de se preservar a língua portuguesa em Macau, factor que Cavaco Silva considera ser “cada vez mais essencial”. “(Vim aqui) prestar homenagem ao grande poeta que é Camões e o facto de ele ser um símbolo da ligação entre Portugal, Macau e a China, uma

ligação de amizade. É um símbolo da preservação da ligação cultural entre Macau e Portugal”, disse aos jornalistas.

“Espero que continuem a falar ainda mais português porque o por-tuguês, disseram-me empresários macaenses, é cada vez mais impor-tante no mundo dos negócios”, mas também o é no “mundo cultural e no mundo artístico”, sublinhou Cavaco Silva ao reiterar que é a língua mais falada do hemisfério sul.

LUSA

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TIAG

O AL

CÂNT

ARA

GCS

6 hoje macau segunda-feira 19.5.2014POLÍTICA

JOANA [email protected]

O último relatório anual da União Europeia (UE) sobre Macau,

tornado público na sexta--feira, aponta melhorias ao nível da política, mas não deixa de lado alguma “modéstia” na forma como a reforma política aconteceu no território.

“Foi feito um progresso gradual na reforma política, com as eleições para a As-sembleia Legislativa. (...) Os eleitores de Macau esco-lheram 14 dos 33 lugares ao hemiciclo. Isto foi um passo modesto, mas positivo, com vista ao reforço da base de-mocrática de Macau”, pode ler-se no relatório a que o HM teve acesso.

A UE diz que o sistema político de Macau se tornou mais democrático com o acréscimo de lugares de deputados directos na AL em 2013 – recorde-se que passaram a ser 14 os deputa-dos eleitos directamente, 12 os da via indirecta, através

ID Profissionalização no desporto é aposta do novo presidente

UE – MACAU COM OBJECTIVOS PARA 2014A União Europeia garante que vai continuar a manter uma relação com Macau e tem já traçados objectivos para este ano. A cooperação nas áreas legal, de protecção ambiental, académica e cultural é uma das metas a atingir, ao mesmo tempo que a UE assegura querer reforçar a colaboração no combate ao tráfico humano. O investimento de países europeus na Ilha da Montanha está também na calha, bem como as trocas comerciais, de forma a que Macau “possa diversificar a sua economia”.

A UE diz “encorajar fortemente o Governo a fazer todos os esforços necessários para que sejam tomadas acções contra os riscos inerentes ao sector do jogo”

A UE considera que Macau progrediu no que à forma de governar diz respeito, mas admite que a composição da Assembleia Legislativa permite ao Chefe do Executivo receber mais apoio nas decisões. O 12º relatório anual da UE sobre Macau aponta melhorias, mas indica também que a diversificação económica tem de ser cumprida e que Macau é o único lugar da China sem um salário mínimo

RELATÓRIO DA UE REFORMA POLÍTICA DA RAEM É “MODESTA”

Orgulhosamente sós

de associações, e sete os nomeados pelo Chefe do Executivo -, mas assume que há também um senão nesta composição.

“Dos eleitores regista-dos de Macau, apenas 55% votaram, menos 5% do que em 2009 e a menor vota-ção desde 2001”, começa por dizer o documento da UE. “Os candidatos pró--Governo conseguiram 23 lugares, constituindo uma larga maioria. Tendo em conta que o Chefe do Exe-cutivo nomeia outros sete candidatos, o Governo pode contar com o apoio de quase todos os membros da AL.”

A UE realça também que

“foram feitas alegações” de que a Comissão para os As-suntos Eleitorais da AL “não foi totalmente imparcial”, mas indica que a liberdade de imprensa foi respeitada e os órgãos de comunicação social deram informações sobre todas as listas.

O documento indica que foi feito um progresso em melhorar a transparência e

a boa governação, mas tam-bém frisa que a UE concorda com a recomendação do Co-mité dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, quando esta diz que Macau deveria ter um calen-dário para a implementação do sufrágio universal. “Um sistema que assegure a todos os cidadãos o direito de votar e ser eleito. A UE apoia este objectivo [e] espera que mais progresso seja feito neste sentido.”

MUITO DINHEIRODE UMA SÓ FONTEEste é o 12º relatório da UE e ressalva que a política ‘um país, dois sistemas’ continua a ser adequada para Macau e que os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos da RAEM são respeitados. Também o desenvolvimen-

JOSÉ Tavares traçou a crescente profissiona-lização de atletas e agentes desportivos como

uma das prioridades do mandato de dois anos. Tavares tomou posse, na sexta-feira à tarde, como presidente do Instituto do Desporto (ID) – um cargo que desempenhava de forma provisória desde o ano passado.

De acordo com a Rádio Macau, o presi-dente do ID disse considerar que tem de ser “injectada uma maior dinâmica” no sector associativo”, algo que, diz, só parte de uma via profissional. “Secalhar, futuramente, vamos ter de pensar não só nos atletas, mas também nos dirigentes desportivos”, referiu José Tavares, citado pela rádio.

Mais de uma centena de atletas vão ser abrangidos por um plano de apoio à alta competição. O presidente do ID acredita que o futuro Centro Polivalente de Estágio vai ser uma peça importante nesta nova etapa do desporto local, mas a planta do projecto só deve estar pronta “no final deste ano” ou “no princípio de 2015”. A abertura da infra--estrutura, que estará localizada junto ao Dome, vai ser feita em 2018.

“A construção deve demorar três anos porque é uma obra inédita, que engloba a parte de com-petição, medicina desportiva, acomodação e um refeitório a sério. Vamos ter 300 e tal quartos”, lembrou José Tavares à rádio.

A liberdade de imprensa foi respeitada e os órgãos de comunicação social deram informações sobre todas as listas

to económico de Macau é elogiado, mas não sem que um comentário seja feito da parte da União.

“Apesar do esforço do Governo, a estrutura eco-nómica de Macau não se diversificou de forma sig-nificativa nos recentes anos. (...) O Governo conta prin-

cipalmente com os impostos sobre o jogo para as suas receitas fiscais.” No ano passado, cerca de 81% das receitas do Governo eram provenientes do jogo.

A questão dos recursos humanos é outra que não é deixada de fora no relatório, com a UE a notar que, devido ao crescimento da indústria do jogo, Macau não conse-gue ter recursos humanos adequados. Por tudo isto e o que o jogo traz mais, a UE diz “encorajar fortemente o Governo a fazer todos os esforços necessários para que sejam tomadas acções contra os riscos inerentes ao sector do jogo”.

Apesar de admitir os lados positivos da cooperação entre Macau e Guangdong, nome-adamente no que à Ilha da Montanha diz respeito, a UE faz ainda questão de realçar no documento que Macau é único em algo menos positivo.

“Em Outubro de 2013, Macau levou a cabo a pri-meira consulta pública sobre a implementação de um sa-lário mínimo para porteiros e empregados de limpeza. Macau é a única jurisdição da República Popular da China que não tem salário mínimo obrigatório.”

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7 políticahoje macau segunda-feira 19.5.2014

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F LORINDA Chan as-segura que o novo regime de compen-sações em caso de

cessação de funções tem apenas como intuito criar um sistema uniforme e não “ser um fato feito à medida”. As declarações da Secretária para a Administração e Justiça foram feitas à margem de mais uma reunião da Comissão que analisa na especialidade o “Regime de Garantia dos Titulares do Cargo de Chefe do Executivo e dos Principais Cargos a Aguardar Posse, em efectividade e após cessação de funções” e chegam depois de alguns deputados terem criticado o regime.

Florinda Chan assegura que a ideia do regime “não é beneficiar uma minoria”, mas sim permitir aos titula-res de cargos que não tenham efectuado descontos para aposentação ou sobrevivên-cia durante o exercício de funções que recebam apoio.

As críticas ao regime surgiram principalmente da boca de José Pereira Couti-nho e Leong Veng Chai, de-putados da Nova Esperança. Os dois queixam-se que os deputados da 2ª. Comissão Permanente da Assembleia

A S máquinas POS do sistema ban-cário Union Pay deverão continua a funcionar nos casinos de Macau,

ao contrário do que tinha sido avançado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, que escreveu que o dia 1 de Julho era a data limite para a utilização por parte de operadoras.

Francis Tam, Secretário para a Eco-nomia e Finanças, negou ontem aos jornalistas que exista alguma data. “Não temos uma data para parar as operações. Se houver necessidade vamos fazer. A Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) já emitiu um comuni-cado e já temos um regime rigoroso de fiscalização quando houver (máquinas) nos casinos. Temos vindo a acompanhar o caso e o que está a acontecer dentro dos casinos.”

O South China Morning Post citou fontes ligadas às operadoras de jogo no artigo que noticiava que a AMCM tinha imposto uma data limite. O jornal avançou que, caso as operadoras continuassem a utilizar as máquinas POS da Union Pay, seria a polícia a tratar do assunto.

“As operadoras vão ser informadas que terão de parar de usar as máquinas ilegais dos cartões da Union Pay ou então vão ter de sofrer com medidas repressivas

das autoridades na transferência ilegal de dinheiro”, escreveu o diário em língua inglesa de Hong Kong.

À margem da visita de Cavaco Silva no Clube Militar, o Secretário Francis Tam garantiu ainda que o Governo vai “fiscalizar e reforçar” as operações. “Reiteramos que tudo o que tem a ver com a Union Pay ou outros sistemas similares em operação vamos acompanhar e dar atenção. É nossa responsabilidade pensar em soluções e me-lhorar e regulamentar a nossa fiscalização. Temos acompanhado e tido respostas para esse tipo de situações. Se houver essa ne-cessidade vamos reforçar, mas não tenho uma data para novas instruções”, disse o Secretário para a Economia e Finanças.

Ao HM, também a AMCM disse não ter mais informações dos que as que já têm vindo a ser publicadas. A AMCM assegurou estar atenta às notícias e garantiu que tem medidas, mas não mencionou muito mais. “A AMCM tomará, como de costume e no âmbito das suas atribuições, todas as provi-dências eficazes e necessárias e cumprirá, com rigor, a lei, salvaguardando, assim, a saúde e a segurança do sistema financeiro de Macau”, voltou a repetir o organismo numa resposta por escrito ao HM. “Não temos mais informações adicionais que possamos dar.” - A.S.S. e J.F.

REGIME DE COMPENSAÇÕES FLORINDA CHAN NEGA QUE SISTEMA SEJA “FATO FEITO À MEDIDA”

Uma fórmula e nada mais

FRANCIS TAM NEGA EXISTÊNCIA DE PRAZO LIMITEPARA TERMINAR COM MÁQUINAS DA UNION PAY

Cartões sob controlo

Legislativa têm um conluio com o Governo.

O deputado e outros membros da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) já pediram inclusive o can-celamento da proposta de lei. Além de requerer uma maior abrangência do diploma, o presidente da ATFPM consi-dera, que é “muito estranho” não ter havido auscultação pública em relação a esta matéria. Pereira Coutinho não descartou a hipótese de aprovação da lei, caso esta abrangesse todos os trabalha-dores da função pública, mas, como abrange apenas os altos cargos, o deputado considera que é apenas uma forma de beneficiar os dirigentes “com compensações milionárias”.

O regime prevê que que a compensação seja mais elevada para os titulares dos principais cargos não vinculados à função pública, calculada com base em 30%

da remuneração mensal au-ferida na data da cessação de funções, “de forma a atrair as elites sociais”.

A proposta inicial de redacção era de uma com-pensação a atribuir, numa única prestação, calculada

com base em 14% da remu-neração mensal auferida na data da cessação de funções multiplicada pelo número

de meses desde a tomada de posse. “Posteriormente, a maioria dos deputados da 2ª. Comissão Permanente da AL foi da opinião que se de-veria [aumentar para 30%]”, referiu Florinda Chan, citada em comunicado. “O Go-verno ponderou a questão e subscreveu a opinião da Comissão”, adiantou.

A Secretária voltou a afirmar que a compensação por cessação de funções tem somente como objectivo a criação de um regime, à se-melhança do que aconteceu em 2009 com o Regime de Impedimento, para regular impedimentos e conflitos de interesses dos titulares de cargos principais após cessação de funções.

“A proposta de lei visa a instituição de um meca-nismo sistematizado e não, como algumas opiniões apontam, para um fato feito à medida”, termina a Secre-tária. - J.F.

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hoje macau segunda-feira 19.5.2014

JOANA [email protected]

U M homem que foi condenado por ofensa simples à integridade física

num caso de violência do-méstica tentou interpor re-curso da decisão do Tribunal Judicial de Base (TJB), mas viu os juízes não acederem ao seu pedido. Segundo um acórdão publicado na sexta-feira, o colectivo do Tribunal de Segunda Instân-cia (TSI), onde foi interposto o recurso, não acreditou na versão de que o homem não queria magoar a esposa.

O caso remonta a Outu-bro de 2009, quando uma discussão por causa de uma relação extra-conjugal do marido da vítima levou a que o homem “avançasse e empurrasse a ofendida, caindo esta no chão e ficando ferida no pulso esquerdo”. O caso só chegou a tribunal porque a mulher fez queixa pessoalmente às autorida-des, uma vez que, em Macau, a violência doméstica não é considerada crime.

O TJB acabou por con-denar o homem pelo crime de ofensa simples à inte-

CTM com falha na rede móvel durante duas horasA Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) voltou a ter uma falha na rede, desta vez nos serviços de telemóvel. De acordo com um comunicado da empresa, alguns clientes podem ter tido problemas em fazer telefonemas no passado sábado. A avaria deu-se desde as 12:30 às 14:00 e suspeita-se que tenha sido devida à instalação de um novo equipamento, que não estaria a funcionar bem. A CTM assegura que já falou com a empresa fornecedora, para que um problema destes não volte a acontecer. Para a rede voltar ao normal, foi necessário activar o mecanismo de emergência de reparação de trabalho. A empresa recebeu cerca de 200 queixas sobre o sucedido.

O condutor que atrope-lou fatalmente uma menina de 14 anos, na

Rua do Patane, foi acusado de homicídio por negligência. O anúncio chega por comunicado do Ministério Público, uma semana depois do caso ter acontecido.

O acidente ocorreu no dia 9 de Maio. A adolescente atravessava numa passadeira na Rua do Patane, perto do supermercado Park’n’Shop e do Largo do Pagode do Patane,

A Nam Kwong Develo-pment vai tornar-se o

maior accionista da Com-panhia de Electricidade de Macau (CEM), depois de a empresa estatal chinesa ter decidido pagar mais de 4,7 mil milhões de dólares de Hong Kong à Sino--French Development. De acordo com um comuni-cado enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, a empresa francesa vendeu 90% do capital da Sino--French à Nam Kwang ,

que detém, por sua vez, 42,2% da CEM. A Nam Kwong passa, então, a ser a maior accionista da companhia.

Para o presidente exe-cutivo da EDP - que detém 21% do capital do consór-cio sino-português - “a en-trada de um novo accionista chinês” é vista como “uma evolução natural, possível e potenciadora de maior crescimento da CEM”, disse, em declarações à agência Lusa em Pequim.

“Parece-nos uma boa notícia para a CEM e para nós”, disse António Mexia, qualificando a transação de “normal” no sentido em que o novo accionista é, com certeza, alguém que está motivado para o cres-cimento da companhia”.

O Governo de Macau tem uma participação de 8%, a China Power International tem 6% do capital, sendo os restantes 2% detidos por acionistas locais.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA TRIBUNAL CONDENA HOMEM E NEGA-LHE RECURSO

Uma conduta a penalizar

Condutor que atropelou adolescente acusado de homicídio por negligência

gridade física por dolo, um crime punido com três meses de prisão. “A con-duta agressiva do arguido

causou lesões à ofendida, necessitando esta de dois dias para se recuperar.” Neste caso, o arguido aca-

bou por ter pena suspensa por dois anos, tendo sido, contudo, condenado a pagar uma indemnização e a ser

submetido a um regime de prova”, que assenta num plano individual de readap-tação social.

O homem, no entanto, não se conformou com a decisão do tribunal e seguiu para a Segunda Instância, onde apresentou um recurso. No seu entender, o tribunal que o condenou estava erra-do, por considerar que a sua conduta foi dolosa.

“A factualidade provada apenas permitia afirmar que o recorrente avançou e empurrou a ofendida, actos esses que foram praticados pelo recorrente não com a intenção ou na expectati-va de ofender o corpo da ofendida, mas por, e tão-só, querer livrar-se dela, sendo que só assim se explicaria porque é que a seguir, o arguido deixou a residên-cia, em vez de continuar as discussões ou praticar mais actos agressivos”, refere o recurso do homem.

O arguido evocou o princípio da dúvida razoável para se defender, pedindo mesmo a absolvição, mas o TSI não se pôs do seu lado. “O TSI considerou manifestamente improce-dente o recurso interposto pelo recorrente, porque, em primeiro lugar, não estava alicerçado em nenhum facto o fundamento invocado pelo recorrente de ele só ter em-purrado a ofendida para se livrar dela e, após notificado da acusação, o recorrente não apresentou novos factos para serem apreciados pelo Tribunal. Só veio fazê-lo na fase de recurso, o que não é permitido por lei.”

Além do tribunal não poder dar como provados os factos que o homem evoca, o TSI diz também que o homem podia, de facto, prever a consequência da sua conduta. “Acresce que a sua conduta levou a que a ofendida tenha caído e ficado ferida, entendendo o Tribunal que, dentre as três formas de dolo pre-vistas no Código Penal, se verificava, pelo menos, dolo eventual na sua conduta, a qual, portanto, devia ser penalizada.”

Nam Kwong maior accionista da CEM

quando foi atropelada pelo camião. Uma testemunha no local disse ao HM que a menina foi projectada vários metros, depois de ter embatido no vidro do veículo, que partiu com o impacto. A jovem não resistiu a graves ferimentos na cabeça.

De acordo com o MP, o homem ao volante é residente local e tem 36 anos, sendo condutor de profissão. Mas, quando chegou à passadeira “não reduziu atempadamen-te a velocidade e bateu” na

menina, de apelido Cheong. Uma testemunha ocular disse às autoridades que a jovem foi levada entre sete ou oito metros à frente da passadeira.

O MP considera que o ho-mem não respeitou as regras de trânsito e afirma “haver fortes indícios do crime de homicídio por negligência”. O homem está, agora, sujeito a medidas de coacção, que incluem o pagamento de uma caução. O caso foi devolvido à polícia para mais investigação.

8 SOCIEDADE

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hoje macau segunda-feira 19.5.2014 9 sociedade

JOANA [email protected]

O S documentos que ori-ginaram a acusação do crime de prevaricação a Raymond Tam, ago-

ra ex-presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), e outros três responsáveis do instituto, estavam desaparecidos desde antes de 2003. Pelo menos é o que diz Lei Chi Hong, um ex--chefe de departamento do IACM, que tem vindo a testemunhar em

A testemunha que tem vindo a ser ouvida no julgamento que tem Raymond Tam como principal arguido, deus três informações diferentes ao longo dos anos para dar conta que os documentos relacionados com as dez campas perpétuas tinham desaparecido do IACM antes da presença dos arguidos

Indústrias Culturais Esclarecimentos sobre apoio financeiro

O impacto do “grave e complexo problema” da qualidade do ar

sobre a saúde vai estar em foco na próxima terça-feira, numa mesa redonda promovida pela Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau.

“A qualidade do ar tem vindo a deteriorar-se, essencial-mente devido a dois factores: o desenvolvimento na China e o desenvolvimento em Macau. E, por isso, é importante debater esta questão”, disse à agência Lusa António Trindade, um dos oradores convidados.

Para o engenheiro português radicado em Macau, são precisos

melhores meios de transporte para as pessoas que vivem na região e para os que a visitam.

“Estou falar [do impacto] dos carros, dos barcos, e dos aviões”, sustentou o também presidente da CESL-Asia, uma empresa de matriz portuguesa em Macau, que opera na área da consulta-doria e operação nos sectores da energia e do ambiente.

António Trindade conside-rou ainda que se pode aprender com as boas práticas implemen-tadas noutras partes do globo:

“As pessoas não se lembram, mas a poluição atmosférica já foi um problema grave na Europa, em Londres, por exemplo, ou

na América, na Califórnia. De uma maneira geral, todas as pessoas têm participação neste processo (...), mas o Governo tem a capacidade de influenciar positivamente a maneira como se produz energia, como se tratam os resíduos”, elencou, ao descrever aspectos que “têm a ver com o desenvolvimento e subdesenvolvimento econó-mico”.

A perspectiva médica tam-bém vai estar representada na mesa redonda, promovida pela Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Ma-cau, através da intervenção do pneumologista Alvis Lo.

N ADA mais do que acusações infundamentadas. É desta forma que Steve Wynn reage às mais re-

centes acusações da União Internacional de Engenheiros Operacionais (IUOE, na sigla inglesa) sobre a actividade de um operador junket no casino Wynn. Pro-motor de jogo que terá, alegadamente, relações com membros da 14K.

Num comunicado emitido pela ope-radora de jogo, Steve Wynn diz que as acções de Jeffrey Fiedler, Director de Projectos e Iniciativas Especiais do sin-dicato que enviou uma carta com estas acusações a Manuel Joaquim das Neves, têm uma razão por trás. “São acções de um patrão de sindicato, amargo e sem sucesso, que perdeu a representação de empregados na antiga empresa de Steve Wynn, a Mirage Resorts.”

Joaquim das Neves, director dos Serviços de Coordenação e Inspecção de Jogos (DICJ), recebeu a carta da União, mas não fez ainda quaisquer declarações sobre o caso.

Já Steve Wynn continua com um rol de acusações contra Fiedler. “A IUOE não tem sido capaz de conseguir que os nossos funcionários de Las Vegas se juntem a ela. Estas alegações de Fiedler são apenas os eventos mais recentes numa série de acções imprudentes, que

não têm qualquer credibilidade e que nem são dignas de uma maior resposta.”

No comunicado enviado à imprensa, Wynn diz ainda que “lá porque Fiedler conseguiu persuadir a MGM Resorts a render-se”, nunca vai conseguir fazer o mesmo com a Wynn Resorts. Se o senhor Fiedler tiver a coragem de nos acusar directamente de má-conduta, responderemos de uma vez por todas em tribunal.” - J.F.

AMBIENTE POLUIÇÃO E SAÚDE DE MACAU EM DISCUSSÃO

Um problema complexoWYNN NEGA ACUSAÇÕES DE UNIÃO SINDICAL DOS EUA

Patrão não treme

LEI CHI HONG PODE VIR A SER ARGUIDO

CASO IACM TESTEMUNHA ADMITE DESAPARECIMENTO DE DOCUMENTOS ANTES DE 2003

Força para a bancada da defesa

tribunal, no caso que tem Tam como principal arguido.

O Ministério Público acusa os arguidos de terem demorado a entregar documentos relacionados com a atribuição alegadamente ilegal de dez campas perpétuas no Cemitério de São Miguel Arcanjo de forma propositada, mas estes sempre defenderam que não os entregaram mais cedo porque não os conseguiam encontrar. Na audi-ência passada, ao ser interrogado pela defesa, Lei Chi Hong disse a mesma coisa.

“Apesar de o MP ter pedido a apresentação [dos documentos] em 2010, já anteriormente se tinha tentado encontrar os documentos”, começou por afirmar Lei. Con-frontado com um relatório que escreveu quando ainda estava no departamento dos cemitérios, a testemunha confirmou que escre-veu por três vezes informações que indicavam aos superiores que os documentos não estavam no arquivo do instituto.

“Ele preparou informação em 2004 onde afirmava que tinha pro-curado os documentos e que nunca os tinha encontrado”, defendeu Álvaro Rodrigues, advogado de Tam.

Num relatório enviado em anexo a um email para um dos ar-

guidos, Lei escreveu exactamente isto: que em 2003, 2004 e 2009 se tinha tentado procurar os documen-tos, sem sucesso e que até Março de 2010 eles nunca apareceram.

Paulina Alves dos Santos, as-sistente no processo, colocou em causa a veracidade do relatório, alegando que poderia ter sido propositadamente colocado no email – mais tarde apresentado pelo terceiro arguido, Chefe de Departamento dos Serviços de Ambiente e Licenciamento, ao MP como prova -, para que fos-sem descartadas as culpas pela entrega tardia dos documentos. O tribunal não deu importância ao facto evocado por Paulina e, em tribunal.

Na altura em que Lei Chi Hong fez as informações, os arguidos nem sequer estavam no IACM. Contudo, relembrou a defesa, Ng Peng In era o Chefe da área dos cemitérios. Recorde-se que este ex-administrador do IACM é arguido num outro processo por falsas declarações, sendo que se sabe já que Ng tinha os documen-tos consigo e não os entregou aos arguidos, quando o MP lhes pediu os documentos para investigação. O julgamento continua hoje.

O Tribunal Judicial de Base admitiu um pedido do procurador-adjunto do Ministério Público, Paulo Chan, para a extracção de uma certidão das declarações de Lei Chi Hong em tribunal. A testemunha, que tem

vindo a contradizer em tribunal coisas que disse no MP aquando da inquirição antes do julgamento, vai ser investigada por falsas declarações. A defesa subcreveu o pedido do MP, mas também sublinhou que a testemunha

fez dois depoimentos no MP, um segundo que contrariava e explicava o primeiro que, agora, é diferente do que Lei diz em tribunal. A testemunha nunca foi confrontada com isto na procuradoria, assegura.

O Fundo das Indústrias Culturais (FIC) vai organizar duas sessões de esclarecimento sobre as candidaturas ao apoio financeiro. A ideia é que a população “conheça melhor” os métodos de candidatura. As sessões acontecem nos dias 23 e 25 de Maio, das 15h às 17h, no Centro de Apoio Empresarial de Macau, na Alameda Dr. Carlos D’ Assumpção e no Edifício China Civil Plaza. As vagas são limitadas e os interessados devem inscrever-se até amanhã, telefonando para o

número 2850 1000 ou enviando email para [email protected]. Visando apoiar o desenvolvimento das indústrias culturais de Macau, o FIC concederá apoio financeiro a projectos de quatro grandes áreas, especialmente, o design criativo, exposições e espectáculos culturais, colecção de obras artísticas e média digital, tendo a cobertura de dezenas de actividades culturais e criativas. Os candidatos devem ser empresas comerciais constituídas na RAEM.

Raymond Tam

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10 CHINA hoje macau segunda-feira 19.5.2014

China Southern Airlines encomenda 80 aviões à Airbus

A China Southern Airlines, com sede em Cantão, no sul do país, firmou um

acordo com a Airbus para a compra de 80 aviões A320, informou ontem o fabricante aeronáutico europeu. A encomenda inclui 30 dos actuais modelos de avião A320, pelo valor unitário de entre cerca de 626 e 804 mi-lhões de patacas, informou, em comunicado, a divisão da Airbus na China. Os restantes 50 aviões serão A320neo, um modelo em desenvolvimento que estará dotado de mo-tores mais potentes e mais eficientes, pelo que o seu valor unitário oscilará entre cerca de 690 e 876 milhões de patacas.

Ao abrigo do acordo, as aeronaves serão entregues, de forma gradual, entre 2016 e 2020. A companhia aérea chine-sa assegurou, por seu lado, que com a aquisição espera que a sua capacidade de transporte cresça 12,1%.

A estatal China Southern Airlines é a maior companhia aérea do mundo em termos do número de passageiros trans-portados e a maior da Ásia ao nível da dimensão da sua frota.

A China enviou ontem cin- co barcos para o Viet-name para retirar mais cidadãos chineses do

país, palco de uma onda de violentos protestos anti-China.

A informação foi facultada pelo Ministério dos Transportes, indicou ontem a agência oficial chinesa Xi-nhua, dando conta de que o primeiro navio zarpou cerca das 08:00 de um porto de Haikou, na província de Hainan, no sul da China.

O barco deve chegar ao Vietname depois de cumprir 17 a 18 horas de viagem, segundo a Administração de Segurança Marítima de Hainan.

Dois chineses foram mortos e mais de 100 ficaram feridos du-rante as manifestações anti-China no Vietname que resvalaram em violentos confrontos.

Dezasseis chineses ficaram feridos com gravidade tendo sido retirados do Vietname na manhã de ontem a bordo de um avião fretado pelo governo chinês.

Mais de 3.000 chineses foram retirados do Vietname na tarde de sábado, segundo dados do Minis-tério dos Negócios Estrangeiros da China.

As tensões entre a China e o Vietname – dois vizinhos comu-nistas, mas históricos rivais – agudizaram-se depois de Pequim ter anunciado a instalação de uma plataforma petrolífera em águas territoriais de ilhas disputadas por ambos, com milhares de vietnami-tas a saírem para as ruas protago-nizando protestos em massa nas principais cidades do país.

Na semana passada, Pequim moveu uma sonda de perfuração de

A polícia chinesa interro-gou sete pessoas suspei-tas de ligação ao ataque

cometido há três semanas na região do Xinjiang, noticiou sábado um jornal do Partido Comunista Chinês (PCC).

“Sete suspeitos em fuga foram capturados a 14 de Maio pela polícia de Xinjiang, e foram alvo de interrogatório no âmbito da investigação em curso”, escreve o jornal Global Times na sua edição em chinês.

Um ataque com recurso a arma branca e explosivos na estação de Urumqi, perpetrado a 30 de Abril, no último dia de uma visita do Presidente chinês Xi Jinping à região, causou um morto e 79 feridos.

Dois alegados atacantes foram mortos no ataque.

A polícia identificou poste-riormente outro alegado agres-

PEQUIM ENVIA BARCOS PARA RETIRAR MAIS CHINESES DO VIETNAME

Corda a esticar

2mortos e maisde100 feridos

DETIDOS SETE SUSPEITOS LIGADOS AO ATAQUE EM XINJIANG

Investigação em curso

“Os incidentes violentos dos últimos dias têm manchado a imagem das nossas iniciativas patrióticas e do povo vietnami-ta”, disse a organização, nas con-vocatórias das manifestações, segundo a AFP.

Embora as autoridades viet-namitas nem sempre tenham sido firmes na contenção de protestos anti-China, como lembra a AFP, o primeiro-ministro, Nguyen Tan Dung, disse ontem que tinha sido pedido às forças policiais que “tomassem medidas que a ordem pública e a segurança” não fossem “perturbadas”.

Já na Na sexta feira um Jornal chinês apoiava medidas “não pa-cíficas” contra Vietname, ao consi-derar a possibilidade de guerra no estratégico Mar do Sul da China. “As disputas no Mar do Sul da Chi-na devem ser resolvidas de forma pacífica, mas isso não quer dizer que a China não possa recorrer a medidas não pacíficas perante as provocações do Vietname e das Filipinas”, diz um editorial do Global Times.

“Muitas pessoas acreditam que uma guerra forçada iria con-vencer alguns países das sinceras intenções pacíficas da China”, acrescenta o jornal em inglês do grupo Diário do Povo, o órgão central do PCC.

águas profundas, pela primeira vez, perto da ilha de Paracel, num gesto contestado por Hanói e qualificado de “ilegal”.

A escalada da tensão levou mesmo a ONU a pedir moderação aos dois países.

A China e o Vietname mantêm

uma antiga disputa territorial no Mar do Sul da China por causa da soberania das ilhas Paracel e Spra-tly, alegadamente ricas em petróleo.

NOVAS MANIFESTAÇÕESAs manifestações contra a alegada “agressão chinesa” foram convo-

cadas para várias cidades, entre as quais a capital vietnamita, Hanói, e para o centro financeiro de Ho Chi Minh.

As convocatórias apelam a ma-nifestações pacíficas, em contraste com os confrontos verificados durante esta semana.

sor, Sedirdin Sawut, um indiví-duo de 39 anos, oriundo do sul de Xinjiang.

Os sete suspeitos interro-gados pela polícia esta semana

estavam “numa propriedade agrícola da cidade de Changji, no distrito de Jimsar”, não muito longe de Urumqi, acrescentou o Global Times.

Dois irmãos de Sedirdin Sa-wut, a sua mulher e um primo, estão entre os detidos, segundo o jornal.

O Xinjiang é um território cerca de 17 vezes maior que Por-tugal e com apenas 23,5 milhões de habitantes, muito rico em recursos minerais, que confina com o Afeganistão, Paquistão e várias ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central.

Os uigures, um povo de religião muçulmana e cultura turcófona, constituem cerca de 45% da população, mas o número de han, a principal etnia da China, tem vindo a aumentar muito ao longo do último meio século.

Os uigures queixam-se de pressões e perseguições por parte das autoridades e de uma política repressiva face à sua religião e cultura.

Desde 2009, a região é palco frequente de violência, a qual se intensificou nos últimos meses e é classificada por Pequim como fruto de actos “terroristas” que atribui a movimentos separatis-tas e islamitas.

A escalada de violência já fez com que a ONU pedisse moderação aos dois países. Enquanto a China retira os cidadãos do território vietnamita, organizações não governamentais convocam uma série de manifestações em várias cidadese no centro financeiro de Hanói

3 mil chineses retirados no sábado

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11 chinahoje macau segunda-feira 19.5.2014

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMOANÚNCIO

A Região Administrativa Especial de Macau, através da Direcção dos Serviços de Turismo, faz público que, de acordo com o Despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 24 de Abril de 2014, se encontra aberto concurso público para adjudicação do “Serviço de aluguer de barcaças e barcos de apoio destinados ao 26.o Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau”.1. Entidade que põe a prestação de serviços a concurso: Direcção dos Serviços de Turismo.2. Modalidade do concurso: Concurso público.3. Objecto dos serviços: aluguer de barcaças e barcos de apoio destinados ao 26.o Concurso Internacional de Fogo de

Artifício de Macau.4. Prazo de execução: Obedecer às datas constantes no Caderno de Encargos.5. Prazo de validade das propostas: O prazo de validade das propostas é de noventa dias, a contar da data do encerramento

do acto público do concurso.6. Caução provisória: MOP64.000,00 (sessenta e quatro patacas), a prestar mediante garantia bancária ou depósito em

numerário, em ordem de caixa ou cheque visado, emitidos à ordem da Direcção de Serviços de Turismo, efectuado directamente na Divisão Financeira da Direcção dos Serviços de Turismo ou no Banco Nacional Ultramarino de Macau, através de depósito à ordem do Fundo de Turismo, na conta número:「8003911119」devendo ser especificado o fim a que se destina.

7. Caução definitiva: 4% do preço total da adjudicação.8. Preço base: Não há.9. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Balcão de Atendimento da Direcção dos Serviços de Turismo, sita

em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’ Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 12.º andar até às 17:45 horas do dia 3 de Junho de 2014.

10. Local, dia e hora do acto de abertura das propostas: pelas 10:00 horas do dia 4 de Junho de 2014 no Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito no 14.º andar da sua sede.

Os concorrentes ou os seus representantes legais deverão estar presentes no acto público de abertura das propostas para os efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados a concurso, nos termos do artigo 27.° do Decreto-Lei n.° 63/85/M, de 6 de Julho.Os concorrentes ou os seus representantes legais poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, apresentar procuração notarial conferindo-lhe poderes para o acto de abertura das propostas.11. Adiamento: Em caso de encerramento dos serviços públicos por motivo de força maior, o termo do prazo de entrega

das propostas, a data e a hora de abertura de propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora.

12. Critérios de apreciação das propostas:Critérios de adjudicação Factores de ponderação

Preço 50%Experiência do concorrente 20%Maior garantia de segurança e eficiência na prestação do serviço 20%Maior flexibilidade dos prazos na prestação do serviço 10%

13. Local, dias, horário para a obtenção da cópia e exame do processo do concurso:

Local: Balcão de Atendimento da Direcção dos Serviços de Turismo, sita em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’ Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 12.º andar, além disso ainda se encontra igualmente patente no website da Direcção dos Serviços de Turismo (http://industry.macautourism.gov.mo), podendo os concorrentes fazer “download” do mesmo.Dias e horário: Dias úteis, desde a data da publicação do respectivo anúncio até ao dia e hora limite para entrega das proposta e durante o horário normal de expediente.

Direcção dos Serviços de Turismo, aos 5 de Maio de 2014.A Directora dos Serviços

Maria Helena de Senna Fernandes

A China anunciou novas leis que intensificam o con-trolo sobre as operações

interbancárias, regulações que incluem a limitação do volume e do vencimento dos créditos, com o objectivo de conter os riscos financeiros do país e apoiar “a economia real”.

Segundo um comunicado con-junto, publicado na sexta-feira,

U MA equipa de investiga-dores de Taiwan realizou, com êxito, testes clínicos

em animais com amiodarona, um fármaco utilizado contra a arritmia cardíaca, como tratamento eficaz contra o cancro do fígado.

A amiodarona combate os tu-mores no fígado por via do fomento da autofagia, o processo através do qual as células se desfazem em componentes desnecessários, explicou ontem o professor de Imunologia e Microbiologia da Universidade Cheng Kung, Liu Hsiao-sheng, que lidera a equipa de especialistas.

PEQUIM ENDURECE CONTROLO SOBRE TRANSACÇÕES INTERBANCÁRIAS

Ataque à “banca paralela” TAIWAN TESTA FÁRMACO CONTRA ARRITMIA COMO TRATAMENTO PARA CANCRO DO FÍGADO

Uma nova esperançados cinco grandes reguladores financeiros do gigante asiático, incluindo o Banco Popular da China, vão ser introduzidas 18 novas medidas para controlar a “banca paralela”, um problema que, segundo vários analistas, ameaça a estabilidade do sistema financeiro chinês.

“O rápido crescimento dos negócios interbancários desem-

penhou um papel importante na facilitação da gestão da liquidez e melhorou a alocação de recursos (...), mas alguns dos negócios deveriam ter tido uma maior regulação”, indica o comunicado.

Neste sentido, os regulado-res admitem que a informação sobre algumas operações “não foi suficiente” e que algumas empresas “evadiram a regulação financeira”.

A nova normativa estabelece padrões mais restritos e medidas de controlo de risco nas operações interbancárias.

“A gestão de riscos não é feita adequadamente e não encaixa com o ajuste do país às suas po-líticas macroeconómicas”, disse o PBOC, que vai obrigar todos os bancos a criar uma divisão específica para operar os seus negócios interbancários.

A nova regulação vai ser apli-cada a empréstimos, depósitos, pagamentos e outras transacções financeiras entre bancos e outras instituições financeiras do gigante asiático.

A equipa de especialistas des-cobriu que o fomento da autofagia aumenta as probabilidades de sobrevivência dos pacientes com cancro do fígado, num estudo com 46 doentes e desde então que pro-cura medicamentos que produzam este efeito.

Após realizar testes clínicos em animais com diversos tipos de medicamentos, a equipa de Taiwan concluiu que a amiodarona era a mais eficaz em induzir a autofagia e a combater o crescimento dos tumores do fígado.

Actualmente, os investi-gadores estão a levar a cabo análises a pacientes, esperando resultados positivos para que seja aprovada a comercialização da amiodarona como tratamento anti-cancerígeno.

O custo do tratamento do can-cro hepático com amiodarona será 200 vezes inferior ao dos fármacos actuais e causará menos efeitos se-cundários, disse Liu Hsiao-sheng, citado pela agência Efe.

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hoje macau segunda-feira 19.5.201412 publicidade

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hoje macau segunda-feira 19.5.2014 13PUBLIREPORTAGEM

Foco na comunidadeM ACAU já não é a mesma cidade que era há 10 anos atrás. Desde a abertura do Sands Macao, a 18 de Maio de 2004, Macau tem transformado

substancialmente, conhecendo um crescimento recorde.A visão de Sheldon Adelson, de introduzir o conceito

de resort integrado para a Ásia – cujo sucesso pode ser claramente percepcionado através do crescimento sem precedentes do Cotai – começou com o Sands Macao. Este complexo de hotel e entretenimento estabeleceu, rapidamente, um padrão para os futuros desenvolvi-mentos de Macau, uma vez que este luxuoso destino foi o primeiro complexo de jogo a ser detido e gerido por um operador internacional.

Tal como aconteceu em Las Vegas, a chegada do modelo de resort integrado de Adelson ajudou a alterar a percepção que a sociedade tinha da cidade, primeira-mente conhecida como um destino do jogo, e mais tarde reconhecida como um dos centros mundiais para o turismo e lazer, que oferece um grande escolha de alojamento, compras, gastronomia, entretenimento e eventos MICE, aos visitantes que estejam em negócios ou em lazer.

Depois do Sands Macao ter sido pioneiro na tomada destes primeiros passos dentro de um novo mercado, os resultados podem verificar-se com o Cotai Strip Resorts Macao – uma cidade de resorts integrados que ajuda a promover a reputação de Macau enquanto uma das regiões preferidas como destino de negócios, lazer e entretenimento.

Tudo começoucom o Sands Macao

T ODAS as empresas focam, naturalmente, na vertente empreendedora do seu negócio. A Sands China Ltd dá bastante importância às

oportunidades que permitem o cumprimento das suas próprias responsabilidades sociais e da relação com a comunidade local, no sentido de contribuir para que a sociedade de Macau se torne cada vez melhor.

Criado em 2009, o programa Sands China Care Ambassador (SCCA), tem actualmente mais de 420 membros de voluntários provenientes de todas as

propriedades da Sands China; eles contribuíram com mais de 4600 horas de trabalho comunitário, até à data. Isto permitiu que os membros da equipa da empresa tivessem a oportunidade de servir a comu-nidade local, assim estendendo a sua atenção aos menos privilegiados.

O SCCA já ajudou mais de 4900 beneficiários, criando relações com a comunidade através de uma série de programas e actividades. Estes incluem a actividade anual de limpeza de primavera das casas dos idosos que vivem sozinhos, o convite de residentes idosos para um lanche de Ano Novo Chinês no restaurante Bambu, do Venetian Macao, a participação no “Um Dia de Vo-luntário 2013”, no qual os voluntários passaram bons momentos com membros da Associação dos Familiares Encarregados dos Deficientes Mentais de Macau.

Este ano, a Macau Special Olympics vão trabalhar em conjunto com a Sands China para apoiar o lançamento do programa “Special Olympics Healthy Athletes”, dedicado para promover a qualidade de vida das pessoas com deficiência mental, através de exercícios e implementação de bons hábitos.

A Sands China também contribuiu, durante a última década, com mais de 2,6 milhões de patacas para a Caritas de Macau através de iniciativas de caridade como jantares e bazares apoiando a implementação e desenvolvimento de serviços sociais na comunidade local.

Além de doações, a empresa instituiu a”Sands China Community Academy”, que procura impulsionar os eventos de celebridades a um nível mais comunitário em Macau. David Beckham, Yao Ming e Tiger Woods foram apenas algumas das figuras que estiveram presentes nestes eventos de caridade. Os esforços da Sands China, no sentido de cumprir as suas respon-sabilidades sociais, foram espelhados pelas outras grandes companhias internacionais que estão, cada vez mais, a juntar-se às organizações sociais locais para oferecer assistência e prestar cuidados às pessoas e famílias locais com dificuldades.

A protecção do meio ambiente é outra forma im-portante com o qual a Sands China se relaciona com a comunidade. A companhia organiza regularmente actividades “verdes”, contribuindo para o reforço da protecção ambiental e para a consciencialização do público do seu desenvolvimento sustentável em Macau.

Juntamente com a Macau Ecological Society, a Sands China criou o Sands China Green Fund, procurando promover a conservação ambiental nas escolas locais e oferecendo bolsas de estudo aos alunos. No ano passado, foi possível angariar 900 mil patacas para este programa.

Em Novembro transacto, comemorou-se o terceiro ano consecutivo em que a Sands China se tornou o principal patrocinador da corrida TrailHiker, um evento comunitário popular que serve para consciencializar a sociedade sobre o ambiente e para angariar fundos para a caridade.

Como parte da estratégia do Sands ECO360º im-plementada através das operações globais do Sands Las Vegas, o Venetian Macao instalou lâmpadas LED – como forma de poupar energia – o que, em 2013, resultou numa redução total de 15,5 milhões de Kwh de consumo de electricidade (energia suficiente para o consumo mensal de mais de 46 mil casas).

Todos estes esforços “verdes” fizeram com que o Venetian Macao, o Sands Macao e os três hotéis do Sands Cotai Central vencessem o prestigiante prémio Macao Green Hotel nas categorias de ouro e prata.

As propriedades da empresa também têm empe-nhado esforços para promover a participação mensal na iniciativa Earth Hour, um programa anual orga-nizado pela World Wildlife Fund como parte, da sua campanha mundial “I will, if you will”. Esta iniciativa consiste em desligar as luzes exteriores dos edifícios por uma hora em cada mês – e duas vezes por mês no Conrad Macao. Depois de introduzir a lógica de “Earth Hour, Every Month”, este estabelecimento hoteleiro recrutou mais de 20 outros hoteis em Macau, simultaneamente inspirando outros a participar, como a Marina Bay Sands, em Singapura, e a Cape Grace, na África do Sul.

O Sands ECO360º também criou a iniciativa de Green Meetings, que inclui o lançamento de um relatório de impacto ambiental depois da realização de cada evento o qual explica os níveis de consumo de energia eléctrica e de água, bem como a taxa de reciclagem feita e a sustentabilidade alimentar.

Finalmente, a parceria entre a Sands China e a Clean the World visa em promover a recolha de sobras de sabões depois dos eventos em apoio à importante iniciativa deste agente de reciclagem gobal para proteger o ambiente e combater a expansão global de doenças preveníveis, reciclando estes materiais.

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14 EVENTOS hoje macau segunda-feira 19.5.2014

O Centro Cultu-ral de Macau (CCM) vai juntar mais

espectáculos aos já agen-dados workshops Inspi-rARTE, iniciativa pensada para ocupar o Verão dos mais novos. Desta vez, o CCM vai organizar cinco diferentes actuações, que incluem temas como ani-mação e jazz.

A primeira actividade, já em Julho, vai incluir performances artísticas de dois palhaços franceses,

a dupla Pâtacrêp, mais tarde seguindo-se a sessão Piano Mágico e curtas de Chopin, um espectáculo que alia a actuação ao vivo de um pianista e filmes de animação.

O evento Constela-ções por Aracaladanza foi preparado para os mais pequenos e consiste numa peça de dança teatral, ins-pirada no pintor espanhol Joan Miró. Songs from Above é um espectáculo específico para bebés, onde estes vão poder dar

os seus primeiros passos num palco de teatro.

Finalmente, em Setem-bro, o CCM vai oferecer um concerto de jazz da banda Christian McBride Big Band.

Os bilhetes já estão à venda, sendo que há variados preços e descontos efectivos para os diferentes espectá-culos, começando nas 200 patacas. O CCM oferece também pacotes familiares para diversos espectáculos, com preços que vão desde as 400 às 650 patacas.

É já hoje que Patrícia Neves, jornalista radicada em Macau, vai apresentar o livro “Império nuclear: a era pós-

-Fukushima” na Livraria Portuguesa, às 18h30. A obra relembra o desastre nuclear que teve lugar a 11 de Março de 2011, na cidade nipónica de Fukushima.

Inicialmente destacada pela agência Lusa, onde trabalhava na altura, para fazer a cobertura de um desastre pela primeira vez, Patrícia Neves voltou ao local durante um mês em 2012, para recolher material de investigação. A autora deslocou-se até ao local da antiga fábrica de materiais radioactivos, na zona de exclusão que cerca a central nuclear e que é hoje uma zona inabitável devido aos resíduos ainda existentes e que são nocivos para o ser humano.

O incidente de Fukushi-ma ocorreu depois de um terramoto e um tsunami te-rem devastado grande parte do Japão, assim resultando no derrame de água conta-minada que estava dentro dos reactores da central nuclear.

Patrícia Neves é licen-ciada em Comunicação Social pelo Instituto Supe-

rior de Ciências Sociais e Políticas pela Universidade Técnica de Lisboa. Começou a trabalhar como jornalista em 2004, tendo chegado a Macau em 2008. Por cá, além da Agência Lusa, trabalhou no Jornal Tribuna de Macau.

“Império Nuclear – A Era Pós-Fukushi-ma” é o primeiro livro da jornalista e menciona, ainda, o acidente de Chernobyl, que ocorreu em Abril de 1986 na actual Ucrânia e as consequências – físicas, sociais e económicas – destes eventos nas populações locais e mundiais. Actual-mente, tanto Chernobyl como Fukushima permanecem cidades fantasma, mantendo altos níveis de substâncias radioactivas.

Com prefácio de José de Freitas Ferraz, embaixador de Portugal no Japão, o livro

foi lançado já em Lisboa, a 23 de Abril.

Hoje, depois da apre-sentação do livro, os pre-sentes vão poder assistir à inauguração de “Primavera silenciosa”, uma exposição de fotografias que retratam a era pós-tsunami do Japão, da autoria de Carolina Ro-drigues. A exposição estará aberta ao público no mesmo local até dia 8 de Junho.

Milefólio

Paula BichoNaturopata e Fitoterapeuta • [email protected]

Nome botânico: Achillea millefolium L.Família: Asteraceae (Compositae).Nomes populares: Aquileia; Erva-das-cortade-las; Erva-do-Bom-Deus; Erva-do-Bom-Jesus; Erva-dos-carpinteiros; Erva-dos-golpes; Erva-dos-militares; Feiteirinha; Mil-em-rama; Milfolhada; Mil-folhas; Milfólio; Prazer-das--damas; Salvação-do-mundo.

Originário das regiões temperadas da Europa e Ásia Ocidental, o Milefólio pode alcançar os 70 cm de altura. Apresenta folhas grandes e alongadas, muito divididas em pequenos segmentos, e belas flores brancas ou ro-sadas agrupadas em ramalhetes terminais (corimbos).Conhecido pelos Celtas que o colhiam em rituais religiosos, o Milefólio ficou ainda imortalizado pela mitologia grega, pois foi com Milefólio que a deusa Afrodite lavou o calcanhar ferido de Aquiles durante a Guerra de Troia. Apesar de não ter sobrevivido, a planta passou a ser conhecida por Aquileia em honra a este grande herói, símbolo da força e da coragem. Desde então, ganhou tal reputação que na Antiguidade era conhecida por herba militaris. Foi ainda referido elogiosamente por Dioscórides, Plínio, Santa Hildegarda, Laguna, entre tantos outros autores ao longo da história, e validado pela ciência atual. São usadas as sumidades floridas.

COMPOSIÇÃOÓleo essencial de cor azul, lactonas ses-quiterpénicas amargas, flavonoides, ácidos fenólicos, alcaloides, taninos, poliacetilenos, cumarinas, resina, vitaminas e minerais.Cheiro a cânfora, sabor adstringente e amargo.

AÇÃO TERAPÊUTICAConsiderado um tónico amargo, o Milefólio tonifica os órgãos digestivos, aumentando a sua motilidade e a secreção de sucos, abrindo o apetite e favorecendo a digestão; é antissético, diminuindo as fermentações intestinais, anti-inflamatório, combate espasmos e auxilia na expulsão de gases; beneficia ainda a função biliar, aumentando a produção de bílis pelo fígado e a sua secre-ção pela vesícula. Tem sido usado com êxito na perda de apetite e anorexia, náuseas, vómitos, digestões pesadas, diminuição do ácido clorídrico no estômago (hipocloridria), gastrites, espasmos digestivos, distensão

abdominal e flatulência, mau funcionamento do fígado, inflamação da vesícula e pertur-bações do fluxo biliar.Diurético, o Milefólio é depurativo do sangue, diminui a sua viscosidade (fluidificante) e dilata os vasos sanguíneos, melhorando a circulação e baixando a tensão arterial, sendo indicado na arteriosclerose. É igual-mente usado nas constipações e gripes, por estimular a sudação, aumentando a eliminação das toxinas e diminuindo a fe-bre. Considerada uma grande planta para a mulher, o Milefólio regulariza o ciclo e o fluxo menstrual, reduzindo o fluxo abundante, detendo as hemorragias uterinas e aliviando as dores por vezes associadas.

OUTRAS PROPRIEDADESExternamente, o Milefólio desinfeta, de-sinflama e cicatriza, regenera os tecidos, tonifica os vasos sanguíneos e ajuda a parar os sangramentos, sendo muito usado nas feridas, chagas e úlceras varicosas, gretas, frieiras, queimaduras e furúnculos; é empregue ainda nas hemorragias nasais, hemorroidas, inflamações ginecológicas, dores menstruais, acne e eczemas. Igual-mente antitranspirante e desodorizante, é usado para combater o mau odor dos pés e o excesso de transpiração.

COMO TOMARUSO INTERNOInfusão: 1 colher de sobremesa das sumida-des floridas por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 ou 4 chávenas por dia.Em tintura, xarope, cápsulas ou comprimi-dos, a planta ou em fórmulas, de acordo com a bula.As folhas jovens podem ser usadas para aromatizar saladas, manteigas, molhos ou tortilhas.USO EXTERNOInfusão: 30 a 40 gramas das sumidades flo-ridas por litro de água fervente. Em banhos de imersão, banhos de assento, lavagens, compressas e tamponamentos nasais.

PRECAUÇÕESContraindicado nas perturbações digestivas com excesso de acidez. Como outras plantas da família das Compostas, a planta recen-temente colhida pode originar alergias. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.

HOJE NA CHÁVENA CCM ANIMAÇÃO, DANÇA E JAZZ PARA TODOS

Um Verão cheio

OBRA DE PATRÍCIA NEVES SOBRE FUKUSHIMA, HOJE NA LIVRARIA PORTUGUESA

Um império desfeito

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ESPECTÁCULOS

15 eventoshoje macau segunda-feira 19.5.2014

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

GÉNIO • Harold BloomO que é o génio? Como diz Harold Bloom, é a capacidade para estar acima da sua época, o princípio antigo que reconhece e exalta o que temos de divino, e o dom de dar vida àquilo que de melhor há em nós. Nesta obra monumental, um dos mais proeminentes críticos literários do mundo faz uma celebração inigualada de cem dos espíritos mais criativos da histó-ria. Da Bíblia a Sócrates, passando pelas obras-primas transcendentes de Dante, Camões e Shakespeare, até à modernidade de Pessoa, Faulkner e Hemingway, Harold Bloom expõe os numerosos paralelismos entre os génios que selecionou e as formas surpreendentes como se influenciaram mutuamente ao longo dos séculos.

O DOMÍNIO DO OCIDENTE • Ian Morris Uma história construída ao longo de cinquenta mil anos, O Domínio do Ocidente recla-ma o seu lugar entre os clássicos modernos da história mundial. O autor Ian Morris um polímata e um académico de renome internacional, bem como «o historiador antigo mais talentoso do mundo» (Niall Ferguson) — explica a história do domínio ocidental numa teoria unificada de todas as coisas geopolíticas. Descrevendo os padrões da história hu-mana, Morris reúne as mais recentes descobertas de várias disciplinas, da história antiga à neurociência, não só para explicar porque acabou o Ocidente por dominar o mundo, mas também para prever o que nos trarão os próximos cem anos. Simultaneamente vibrante, erudito e divertido, O Domínio do Ocidente é um «relato espantosamente informativo, imaginativo e envolvente… provocante… e intelectualmente estimulante».

Cindy Ng Sio Ieng com exposição no centro UNESCO

É já esta quarta-feira que a artista de Macau, Cindy Ng Sio Ieng vai inaugurar uma exposição de 12 obras

pintadas a tinta da china, patente no Centro UNESCO até dia 4 do próximo mês. Cindy Ieng já viu as suas obras expostas em Pequim, Seattle (Estados Unidos), Taiwan e Macau, tendo ainda sido uma das artistas com obras no festival de vídeo arte V-Art, e na exposição de vídeo arte, ambas em Itália.

A mostra é organizada pela Fundação Macau e está inte-grada no projecto de promoção de artistas de Macau, estando aberta ao público diariamente, das 10 às 19 horas.

Universidade de São José inagura “MultipliCity”

A faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José (USJ) vai inaugurar a exposição

“MultipliCity”, que terá lugar na sexta-feira na galeria da Creative Macau, às 18.30 horas.

A mostra vai englobar obras de design realizadas por estudantes de arquitectura da USJ durante o ano lectivo passado e que incluem pequenos e grandes projectos de urbanismo, por exemplo. “MultipliCity” terá vários tipos de obras expostas, desde instalações a maquetes, desenhos a trabalhos de design. Esta vai, ainda, compreender um pavilhão feito em bambu e que vai estar em exposição na Praça Sai Van.

Esta iniciativa, cuja organização fica a cargo da Fundação Macau, da Creative Macau e, finalmente, do Centro Cultural de Macau (CCM), estará aberta ao público até dia 13 do próximo mês, das 14 às 17 horas, de segunda a sexta-feira. A USJ vai disponi-bilizar um catálogo sobre a exposição.

Violino de Cheng Peng Cheong anima Fundação Rui Cunha

O violinista de Macau, Cheng Peng Cheong, vai fazer um recital na Fundação Rui Cunha esta terça-feira. O

espectáculo vai consistir na interpretação do solo nº1 suíte de Max Reger, de “Arpeggione Sonata”, de Schubert e de “3 romances”, de Schumann.

O artista começou a aprender violino com oito anos de idade, tendo sido regente de concerto e violinista em orquestras como a dos alunos do Conservatório de Macau, da Orquestra Sinfónica da Juventude de Macau e da Or-questra Sinfónica HKAPA. Cheng colaborou, ainda, com outras orquestras internacionais e pisou palcos como o da Paramount Opera House e Jordan Hall, em Boston.

Actualmente, frequenta o curso de mestrado em Música e Cultura Europeia no Conservatório VanAmsterdam, onde tem Nobuko Imai como professor. Para além de actuar frequentemente, Cheng é, ainda, fundador da Associação de Cordas de Macau e vice-presidente do Conselho de administração desta entidade.

• PÂTACRÊP’ 26 - 27 de Julho | Pequeno AuditórioVinda de França, Pâtacrêp’ é uma história para crianças a partir dos três anos. A Compagnie Choc Trio viaja com Maurice e Cornelius, dois palhaços gulosos e

preguiçosos que apresentam uma mescla de malabarismo, comédia e música original por vezes tocada com a ajuda de utensílios de cozinha. A companhia francesa actuou em mais de MIL espectácu-los, utilizando a linguagem universal do humor visual e da música para conquistar o público tanto em França como no exterior.

• CHRISTIAN MCBRIDE BIG BAND 2 de Setembro | Grande AuditórioAclamado contrabaixista e compositor, Christian McBride é considerado uma força poderosa e exaltante que conquistou o mundo do jazz. O swing da sua Big Band vai improvisar sobre os sons mais cool, do blues e bebop jazz, passando pelos clássicos e pelas suas próprias composições. Em 2011 a banda de McBride foi galardoada com um Grammy pelo seu The Good Feeling, um álbum feito de arranjos de standards de jazz reinventados como “Broadway” e de faixas originais como “Bluesin’ in Alphabet City”, um tema comissionado a McBride por Wynton Marsalis para a Jazz at Lincoln Center Orchestra. Ao longo de mais de 20 anos, a estrela do contrabaixo tocou e colaborou em centenas de gravações e actuou em inúmeros agrupamentos musicais com quase todos os grandes nomes do jazz, de Sonny Rollins a Herbie Hancock, entre muitos outros.

• MÚSICA CELESTE 29 de Julho - 3 de Agosto | ART Música Celeste é uma suave via-gem de descoberta através da arte das marionetas, num espectáculo para crianças entre os dois e os quatro anos. Dentro de uma tenda branca, as crianças sentam-se muito perto da acção, contem-plando os melhores momentos da infância num mundo de algodão. Concebida e desenvolvida pela galardoada companhia dinamar-quesa Teater Refleksion, esta peça fala-nos sobre a beleza do mundo através de pequeninas marionetas, numa história narrada como um canto de embalar.

• PIANO MÁGICO E AS CURTAS DE CHOPIN 9 -10 de Agosto | Grande AuditórioA força da música de Chopin dá vida a Piano Mágico, um filme de animação colorida que narra as aventuras de Anna, uma menina de 10 anos, o seu primo e um piano espantoso. Desafiando o medo, os dois primos deixam a Polónia voando para longe numa aventura que os leva dos telhados de Paris aos céus enevoados de Londres, onde a rapariga procura pelo pai para o levar de regresso a casa. Acompanhado pela música ao vivo de Colleen Lee, premiada pianista de Hong Kong, Piano Mágico também nos leva pelas Curtas de Chopin, uma série de pequenos filmes realizados com o apoio de Lang Lang, que gravou o conjunto original dos Études de Chopin para o projecto. Este fantástico espectáculo estreou em Londres e andou em digressão por Nova Iorque e Melbourne, entre outras cidades, levando as crianças numa viagem ao mundo da música clássica através das obras-primas de um dos maiores compo-sitores de todos os tempos. Para crianças com mais de seis anos.

• CONSTELAÇÕES 30 - 31 de Agosto | Pequeno AuditórioO grupo espanhol Aracaladanza convida-nos a provar Constelações, um bailado de cores, formas e jogos para famílias e crianças a partir dos quatros anos. Inspirado no imaginário de Joan Miró, um dos maiores artistas do século XX, o espectáculo leva ao palco cinco bailarinos que interpretam o universo emocional do pintor catalão. A luz e o movimento são utilizados para abrir as portas da fantasia, deixando correr livremente emoções simples com adereços espantosos, marionetas e filmes de animação.

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100 anos de Albert Camus

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Introdução e tradução de ruI CasCaIshARTE

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ZHENG DANYIOITO POEMAS CHAMADOS ESTILHAÇOS

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1997

Nascido em 1963, em Zigong na província de Sichuan, Zheng Danyi, vive actualmente em Hong Kong, onde publi-ca na Sixthfingerpress, uma editora-oásis, digamos assim, no ténue contexto cultural de Hong Kong. A sua mãe era actriz, uma intelectual que a Revolução Cultural poupou lançando--a para uma fábrica de açúcar para o resto da vida. Algumas das primeiras palavras que Danyi disse quando nos encontrá-mos foram: “odeio açúcar”. Os poemas aqui apresentados são de “Wings of Summer”, uma colectânea que reúne poesia de 1984 a 1997 em tradução inglesa de Luo Hui. È curioso en-contrar um poeta que, ao contrário do cinismo em moda na

Europa, não aposta em desdenhar do seu ofício. Em Portugal, por exemplo, tornou-se fino entre poetas dizer que “a poesia não interessa” (um famoso dictum de T.S. Eliot). Até faz senti-do, para quem escreve nos subúrbios da vida, por tédio. Não no caso de Zheng Danyi, onde a escrita e a vida não são sepa-ráveis. Na sua poesia, como em muita da arte contemporânea chinesa, há uma crueza e um desassombro por vezes quase brutais que têm obtido uma recensão fora da China que as considera como violência gratuita ou como estranheza delibe-rada. Mas que outra coisa esperar de uma crítica e de uma so-ciedade que se habituaram a ver a arte como mero exercício?

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17 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 19.5.2014

1. O VENTO BATE COM SUAVES CASCOS

O vento bate com suaves cascos nos vidros da minha janelaEu balanço como água num copoNo corredor branco do tempoComo um copo de água não me posso inclinar

O vento, depois dos bosques, varre agora as ruas…O vento, saindo da cidade…a um distante vale

Abre: castanha felicidade engarrafadaOlho para dentro de mim…O ventoFica no copo, por isso só posso tremerTremer. EcoarO som das rochas despejadas nos tímpanos do vale

*

2. POESIA

O horário marcado, papel preparado, sangue grita em calmaUm som inclina-se para a frenteUma sombra varrendo diz: AgoraA escrita começaQuando o vale mistura a sinfonia das canções de amanhã

Rasgo as ligadurasRasgo a pele da dor para veres -

Olha, aquiPoesia – este pássaro a ficar cor-de-rosaPenas cheias, músculos fortes, ossos embrulhadosCordas vocais prateadas e finas como asas de cigarraTodo completo…E aquiO crescimento no céu

E fundos arranhões que deixou no papel…

*

3. RECUSA

Toneladas de gelo flutuando no céuChamamos-lhe nuvemToneladas de raiva agitando-se no céuChamamos-lhe trovão

No cálice do universoRelâmpago gelado junta-se de novo a carneToneladas de carneChamamos-lhe amor

Chamamos-lhe: qualquer coisa –Até que finalmente lhe chamamos; ódioFlutuando no coração Um pedaço de rugoso osso

Entre estas linhasNuvens de diferentes designações recusam-se a fundir

*

4. VOCABULÁRIO BRANCO

Então, deve ser assim que se cospe gravilha“Sobe rochas, esmaga…”Então, deve ser assim que se limpam feridas mortas“Luvas, rochas, serra eléctrica…”

Já não sonhamos para além de amanhãNas rochas, vocabulário brancoPaciente aguarda que a ordem esguiche, em massa

5. MAS UM POETA É SÓ…

Mas um poeta é só um rádio amadorNo coração de sal e cristal, rápido nevoeiro prevalece

Cristal, olhos translúcidos, fixa blocos de cimentoOrganizados como caixões ao longo do céuMais alto, num inferno de cimento, é salve-se quem puder

Mas um poeta pode voar – no sonhoDe um objecto voador feito de gralhas e papel encharcado

Mas um poeta é só alguém que fala no nevoeiroSó um falanteEm espesso nevoeiroUm archaeopteryx, exalando quentes baforadas

*

6. COM POESIA

Escuridão. Escuridão continuaUm brilho branco no crânioNunca pode ser esmagado

Começo a limpar sangue em cadáveresCom poesia, começo a rezarDeixo sair calor aprisionado nos membros de vocabulárioCom poesia – o radiador inquebrado

Quando no meu vas deferens algo se agita…

*

7. VIDA

Vida, o que podes espremer agoraA parte perecível pereceuA parte que abana foi abanadaO que pode ser perdido, perdidoO que pode sobreviver, sobrevive…Oh, Vida, a que me espreme

Mas já não podes espremer mais, nem sequerUma lágrima forçada

*

8. APARTAMENTOS DE CIMENTO

Recuas perante ti mesmo, recebesO lençol branco com clavículas

As portas estão sendo instaladas, uma a umaA cama, amarando as suas oito pernas, não está disposta a suportar –Um frio

Desejo de se erguer ocupa o leito de morteDesnecessariamente largo

Com expressões presas e câmara lentaNovos inquilinos estão-se a mudarErguendo-se, caindo, em fila

As portas estão numeradas por dentro, com endereços…Como pedras tumulares erigidas na mente“Não mais escrita – não mais!”

Um cheiro ardente penetra as narinasEle jaz na cama como suave fioQueimado por um sonho de alta voltagem…

Maio de 1985

De Dezasseis Poemas, 1988

Page 18: Hoje Macau 19 MAI 2014 #3091

18 h hoje macau segunda-feira 19.5.2014

I

– Hypocrite lecteur, – mon semblable, – mon frère!Charles Baudelaire

F OI no dia 6 de Novembro de 1999, nas vésperas da transferência de soberania de Macau para a China, que o caso de

João Junqueiro apareceu pela primeira vez nos jornais portugueses de Macau, sob forma de breve:

EspionagEm a oriEntE

Um português residente em Macau fu-giu ontem do território, levando con-sigo documentos secretos da adminis-tração portuguesa, relacionados com o processo de transição de soberania, relevou fonte oficial. João Junqueiro, 31 anos, consultor, terá apanhado um avião em Hong Kong para destino incerto. A mesma fonte assegurou que “o inciden-te em nada afectará as excelentes rela-ções que Portugal mantém com a Repú-blica Popular da China, nem o decorrer normal da cerimónia de transferência de soberania, no próximo dia 20 de Dezembro de 1999”. Hoje, o governo português encetou diligências junto da Interpol, no sentido da captura do ale-gado espião, foi ainda revelado.

Depois deste singelo mas saboroso aperitivo, que cheirava a suculenta história, nada mais veio a lume, quer na imprensa de Macau (remetida desde o início a um perplexo silêncio), quer nos media portugueses, cujo primeiro assomo pare-ce ter tido a sua origem mais num acto irreflecti-do de um assessor precipitado que numa atitude de Estado, reflectida e ponderada. Afinal, um caso de espionagem, de traição, num momento tão delicado, em nada ajudava o normal desen-rolar dos acontecimentos, pretendido pelos po-líticos envolvidos, portugueses ou chineses. Parecia tarde demais. Por todo Macau, na pri-meira semana, o caso gerou um grande entu-siasmo. Que documentos teria levado João Junqueiro? Quem seriam os seu patrões? Teria mudado de identidade? Quanto ganhara? Esta-ria numa ilha a gozar o dinheiro? A exiguidade de factos dava pouco material à imaginação. As pessoas circulavam entre estas questões, sem pistas para as respostas. Depois as atenções voltaram-se para o julgamento de um gangster poderoso e o interesse esvaneceu-se. O assunto acabou por ser prudentemente esquecido.Se a Interpol estava, de facto, atrás de João Jun-queiro, que documentos foram roubados ou a quem os vendera, ninguém veio a terreiro escla-recer. Estranhamente distraídos, os jornalistas também não se lembravam de perguntar, nas esporádicas conferências de imprensa promo-vidas pela administração de Macau. Instalou--se um silêncio quase cúmplice sobre tão difícil tema. Nalguns círculos, aos quais também não eram alheios os homens da imprensa, entrou--se por outro género de considerações. A quem poderiam interessar documentos do governo de Macau? Não certamente aos chineses: era voz corrente que estes estendiam longe os seus tentáculos na máquina administrativa, tendo acesso a praticamente todos os papéis que des-cansavam sobre a secretária do Governador. Quanto mais simples documentos esquecidos por secretarias irrelevantes... Seria um caso de espionagem industrial? Mas de que indústria, se não havia conhecimento de existirem segredos industriais bem guardados que não os da con-trafacção dos papéis dos mortos? Pouco depois corria a notícia, não confirmada, de que João Junqueiro fora assassinado, algures

O IMPÉRIODO FIM(folhetim do fim de um império)

no mundo, num epílogo do género “o crime não compensa”. E, lentamente, a memória da-quele rapaz ia-se esbatendo, até porque a cida-de se animava com os preparativos da festa da transferência de soberania. Por todo o lado se viam os visitantes da ocasião, caras conhecidas e desconhecidas que pairavam agora sobre Macau para respirar o perfume dos últimos dias, acres-centando alguma novidade e frenesim às tertú-lias da cidade. O caso parecia definitivamente enterrado. Entretanto, chegava o dia 20 de Dezembro de 1999. No pequeno enclave de Macau, no Mar do Sul da China, foz do Rio das Pérolas, eram arriadas as cinco quinas e içadas as cinco estre-las. Era suposto ser o começo de uma nova era.

IIChamo-me Raul Sempiterno, nasci em Freixo de Espada-à-Cinta, nordeste de Portugal. Es-crevo esta espécie de confissão, a que preferia prudentemente chamar de relato, para escla-recer as autoridades ou qualquer interessado sobre a verdade dos factos que deram origem à minha detenção. Reafirmarei aqui e sempre a minha inocência. O inspector Lúcio Mar-ques foi extremamente gentil ao conceder-me esta oportunidade (tempo, lápis e algum papel) para explanar por escrito as minhas razões, até porque o meu actual estado praticamente me impossibilita de estabelecer a minha inocência de outro modo. Mais tarde explicarei porquê. Aliás, a montanha de equívocos que se ergueu na instrução do meu processo é de tal forma monstruosa que não a posso considerar criada por humanos: deriva certamente da imaginação de um qualquer ser divino e entediado. Na cela, as longas horas de solidão exerceram--me na memória um efeito estranho: fico no escuro, a observar um interminável desfile de situações, frases soltas, pessoas, citações, pro-vérbios, fórmulas químicas, sistemas de saber... percebo agora os acontecimentos e revejo cada detalhe com uma clareza inexistente no mo-mento em que os vivi. Revivo distintamente cada momento, sinto-os como pequenas quei-maduras inscritas na carne e sobrevêm o arre-pendimento e a vergonha, não de crimes come-tidos mas da minha incapacidade de prever o perigo, desta cegueira de pássaro hipnotizado, saltitando tolamente pelo ramo em direcção às entranhas da serpente.Neste princípio é preciso revelar a quem ler es-tas linhas que o seu autor é um homem conside-rado, pela extensa maioria dos seus conhecidos e contemporâneos, normal e ajustado às exigên-cias do seu tempo. Apesar de alguns hábitos so-litários e de preferir aos humanos a companhia das pedras, nunca fui considerado um excêntri-co, um esquisito, mas unicamente um indivíduo com interesses particulares, decorrentes obvia-mente da minha profissão de geólogo. Esta le-vou-me para países distantes do meu. Mal saíra da universidade, um artigo de ocasião, publica-do numa revista da especialidade, despertou a atenção de uma pequena mas respeitável com-panhia de consultores nas área dos petróleos. A minha disponibilidade fez o resto. Assim gastei os meus últimos vinte anos: por desertos res-

sequidos, na solidão das plataformas marítimas, encerrado em laboratórios assépticos.

IIIConheci João Junqueiro em Macau, pouco antes da sua espectacular fuga, noticiada nos jornais. À época analisava amostras para uma empresa inglesa e a necessidade de resultados urgentes trouxeram-me do Pacífico Sul a Hong Kong. Gostei da vida imoderada da ex-colónia britânica. Outras transacções obrigaram-me a atravessar o Rio das Pérolas e desembarcar em Macau, o que — algo estranhamente, diga-se — não me tinha ainda passado pela cabeça. Só no jactoplanador, ao ouvir a voz amável dos micro-fones, tive a plena consciência de que ia desem-barcar numa cidade onde residiam portugueses há quase quinhentos anos. Talvez por isso logo tenha decidido prolongar a minha estadia. Vi-sitei tudo e repeti muitos lugares, muitas ruas, surpreendido pela arquitectura dúbia e a indife-rença das gentes. Terei de vos contar as impressões, ainda que primárias e superficiais, que a cidade me causou. Isto porque serão também fonte de apreciação dos meus actos e motivações. Através desta lei-tura rápida, poder-me-ão julgar o ânimo, como se tornará também clara uma total ausência de expectativas ou ambição.

De Macau, sabia-a cidade portuguesa, fundada como entreposto por comerciantes e aventu-reiros loucos do século XVI, que a impiedade tinha expulso das colónias relativamente mais acolhedoras da Índia portuguesa. Só no sécu-lo XIX, depois do advento de Hong Kong, um governador sem um braço — e que era servido à mesa por um macaco de libré que trouxera do Brasil — proclamara colónia o pequeno enclave, expulsando as alfândegas chinesas e humilhando os mandarins. Por estes actos in-sanos Ferreira do Amaral perdeu a cabeça, no sentido literal do termo. Reza a lenda que o seu crânio terá sido exibido em Cantão pelos dois assassinos, ainda que bem longe das concessões europeias, então localizadas na ilha de Shamian, onde já na década de oitenta deste século foi construído um feérico hotel, mistura singular e bem acabada de luxo oriental e do gosto kitsch dos novos-ricos da abertura ao capitalismo da China vermelha.

Algures na zona norte de Macau, o turista me-nos apressado pode visitar uma rocha junto à qual Amaral foi derrubado do seu corcel bran-co e esfaqueado sem piedade. Diz-se que teria mandado remover um cemitério para construir uma estrada e que os chineses não lhe teriam perdoado esta afronta aos antepassados. Esta é a versão geralmente aceite por académicos e historiadores dos mais variados calibres. Mas também se comenta, em círculos mais dou-tos, que a verdadeira razão não terá passado por ofensas a mortos mas a vivos. É sabido que o governador inspirava nas mulheres um fervor místico e sexual, com a sua pose romântica de militar maneta, suportada por um garboso uni-forme de traça napoleónica. Há, portanto, sus-peições de ter sido um marido enganado quem, aproveitando a conjuntura favorável, pagou aos dois assassinos para destruírem aquele que lhe tinha destruído a honra. Outra versão atribui ao ópio o móbil do crime. Dois viciados que pela manhã saíam vacilantes de uma fumerie, sem dinheiro para manter os so-nhos nas asas do fumo, terão atacado o primeiro cavaleiro que lhes surgiu à frente, sem saberem de quem se tratava, simplesmente para o alivia-rem de alguns trocados e de novo se refugiarem no conforto das esteiras de palha entrançada, ao som da ópera de Cantão e do teatro de sombras.Sabia também que ainda este ano decorreria a transferência de soberania, algo que Portugal propusera desde 1975 mas que a China só no fi-nal do milénio, exactamente no último solstício, entendera conveniente aceitar. Hoje a cidade vivia aparentemente do jogo. O resto era um entrançado de ruelas buliçosas, sem ordem e de asseio irregular, iluminadas pe-los letreiros luminosos de um comércio baço, repreensível, e pelas lanternas vermelhas dos es-parsos altares taoistas. Durante o dia, as pesso-as arrastam-se sob uma estranha luz coada por nuvens cinzentas e baixas, no meio de uma hu-midade sufocante. À noite, o céu avermelha e, sem que a temperatura desça, o ar torna-se um pouco mais respirável. É então quase agradável contemplar o rio e uma vírgula de lua, entrever entre os prédios as duas pontes que ligam a ci-dade à ilha da Taipa e a um aeroporto plantado sobre o mar. Agradava-me pois passear, a alma apodrecida de desejos simples mas extremamente ener-vantes. Contraditoriamente, o ócio também me proporcionava momentos de grande pasmo, ao fazer-me sentir nada realmente de interessante ter para fazer na vida e mesmo a justificação ra-cional da inutilidade de qualquer acção. Ficava longos momentos sentado com o olhar perdido dentro de memórias que me remetiam a outras cidades, outras paisagens. Assim faria, a partir de agora, em qualquer outro sítio. Como se esta cidade me instilasse um veneno: sentar-me-ia para fantasiar sobre um hipotético passeio em Macau. Estava sem estar e, prevendo que nun-ca partiria, sorria interiormente como se tivesse obtido a verdadeira e mais desejada condição: a certeza de estar em lugar nenhum, a capacidade instantânea de viagem.

IVEm Macau tudo pode suceder, porque o mundo recusa-se a ficar suspenso e as coisas acabam mesmo por acontecer, como em qualquer outro lugar. Mas, tolhidos por um céu baixo e persis-tentemente nublado, mergulhados num calor ensurdecedor e numa humidade irrespirável, o mais esfuziante acontecimento, detalhe, ob-servação, dedução, assemelham-se ao devaneio, por acção de um esmaecido poder de entorpe-cimento e cada um respira, finalmente, sob a tirania do sonho. A sua natureza dúctil permite então ao pensamento evoluir num entrançado de sinestesias. A este clima não é alheia a existência do jogo.

Carlos Morais José

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19 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 19.5.2014

Ostensivo ou subterrâneo, assim se sente a sua omnipresença. Nas ruas traseiras, já longe das luzes potentes dos casinos, escuta-se o maru-lhar incessante das pedras do mahjong. Vem de bairros densos. Os jogadores acotovelam-se em filas nas fronteiras para depois engordarem os casinos com uma febre moderada nos olhos. Em Macau não há glamour, nem chic, simples-mente se joga sem ostentação que não seja a do dinheiro. A roleta gira e os dados desocultam os seus números, as cartas saem de caixas onde reside o segredo: a indiferença.

VFoi também o olhar indiferente de João Jun-queiro que me fez reparar nele. Ou talvez um brilho estrelar, muito ténue, longinquamente cintilando no fundo das suas pupilas emba-ciadas. Vou tentar descrever o mais fielmente possível como conheci João Junqueiro e tra-vámos conhecimento. Bem sei que este é um dos pontos fortes da acusação. Não duvido, no entanto, da boa fé dos magistrados; acredito ser sua intenção fazer emergir a verdade. Por isso a pretendo contar, não omitindo nenhum detalhe que a memória me faculte. Devo confessar (e não interpretem mal esta confissão): um dos as-pectos mais penosos de todo este processo foi o facto de ter perante mim pessoas de bem que duvidavam da minha honestidade. Ainda pior: esta desconfiança desconcertou-me, emprestou um ar vacilante aos meus argumentos, transfor-mou álibis seguros em episódios sem relevância, nos quais se leu mais serem invenções de um culpado que o relato de um inocente, sobretudo por estar ausente, no meu modo titubeante de contar, a descontracção habitual dos que nada têm para esconder; nos olhos dos magistrados bailou sempre um sorriso de incredulidade que

quase me tentava dar-lhes razão (pois não a têm eles normalmente?) e me faz sentir culpado; por cansaço ou profundo tédio, para me ver livre de tudo isto, pensava em assinar uma qualquer confissão. Repeti milhares de vezes durante os amáveis mas persistentes interrogatórios, conduzidos pelo inspector Lúcio Marques, nunca ter conhe-cido ou contactado João Junqueiro antes de de-sembarcar em Macau. Aliás, não pretendo aqui ironizar. Nos gabinetes da Polícia Judiciária nem sequer existiu alguma vez o chamado “mau”, o polícia ameaçador e violento. Pelo contrário, fui sempre tratado com a máxima consideração. Por exemplo: ofereciam-me assiduamente café, uísque, por vezes biscoitos. Bom... a verdade é mesmo esta: travei conhecimento com esse per-sonagem do modo que passo a relatar.No Casino Lisboa, a sua figura contrastava com a dos outros jogadores, chineses na sua imensa maioria. Nem alto nem baixo, a pose era cur-vada como se pretendesse não ser visto ou es-tivesse prestes a desaparecer. Devia rondar os trinta anos, mas os seus gestos pertenciam ainda a um estudante pretensioso que deixou há uma semana a faculdade. Vestia uma camisa branca e calças indefiníveis. Não jogava. Seguia os acon-tecimentos da banca francesa. Aproximei-me e, com toda a naturalidade, perguntei: – Não joga? Ele voltou-se e respondeu como se esperasse pela minha presença, como se fossemos dois velhos conhecidos e cúmplices, num passeio pelo casino. – Não. Gosto de ver a sequência.– Qual sequência? João parecia agora encher-se de paciência. – Neste jogo existem três dados. Se a sua soma é igual ou superior a 11, chamam-lhe o Grande;

se é inferior, chamam-lhe Pequeno. Quem acer-ta ganha o montante que apostou.Calava-se. Pensei que o aborrecia. Isso não me espantava: até à minha chegada ele era o único ocidental naquela sala; agora não só alguém lhe dirigia a palavra como ainda lhe fazia perguntas de principiante. Resolvi afastar-me mas não tive tempo para isso. Ele continuava: – Refiro-me à sequência dos números que vão saindo e às consequentes apostas dos jogadores. Sabe que há quem acredite numa certa regulari-dade e faça muitas contas; outros confiam num palpite. Agora curvava-se um pouco na minha direc-ção, como se me fosse confidenciar um segredo ou alguma informação importante. – Num ou no outro caso, é tudo uma questão de sorte. Endireitou-se e perguntou-me devagar (as sí-labas escapavam-se-lhe dos lábios lentamente, suspiradas): – E você, acredita na sorte?Olhei para ele, desconfiado, sem saber se o ha-via de levar a sério. Não era a primeira vez que no Oriente alguém tentava gozar com a minha alienígena ignorância. Mas preferia dar-lhe o benefício da dúvida. – Não, não acredito – e fiquei à espera. Ele sus-surrou, meio distraído: – O que eu gosto mesmo é de ver confirmado o predomínio do caos e a derrota das leis. Decididamente gostava deste rapaz. Estendi-lhe a mão. – Chamo-me Raul Sempiterno.– E é? – riu-se. – O meu nome é João. João Junqueiro. Desculpe a fraca piada. – Não faz mal. Já estou habituado. O jogo prosseguia; os croupiers lestos e indife-rentes aos números, atentos às fichas coloridas.

Naquela mesa saía continuamente o Grande, para gáudio de uma menina de unhas longas. – João, parece fácil ganhar aqui. Afinal, existem cinquenta por cento de hipóteses de acertar.Ele encolheu os ombros e respondeu: – É verdade. O problema é não saber quando apostar; e a tentação, alimentada pelos palpites certos, de aumentar a parada. Repare na espiral de puras coincidências, que gostamos de inter-pretar como regularidades: imagine que joga e perde; na vez seguinte aposta o dobro, se ga-nhar recupera o que perdeu, se voltar a perder, terá de voltar apostar o dobro e assim sucessi-vamente, dependendo do seu capital inicial a ca-pacidade de duplicar sempre a aposta. Quantas vezes pode um jogador perder de seguida num jogo em que há cinquenta por cento de hipóte-ses de acertar? Infinitas, acredite. – Esse método até parece eficaz... – atrevi-me a comentar. – A verdade é que não resulta e só utilizado por principiantes. Já assisti ao Grande sair dezasseis vezes. A partir da nona vez é óbvia a tentação de apostar uma soma astronómica no Pequeno. A lei das probabilidades quase grita que sairá na próxima. Mas não. A lei engana-se e os jogado-res abandonam sobre a mesa montes de fichas impressionantes. Outros se aproximam, ago-ra que a probabilidade vai aumentando até ser quase uma certeza. E também perdem. Quanto vezes poderá a sorte ludibriar a matemática? Esperou um momento, como se recuperasse o fôlego. Na mesa, o Grande voltava a sair pela sexta vez consecutiva. Um sorriso decorou-lhe os lábios e concluiu: – A sorte fez aparecer a vida, a matemática es-creveu um mundo morto.

(Continua na próxima semana)

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GONÇ

ALO

LOBO

PIN

HEIR

O

20 DESPORTO hoje macau segunda-feira 19.5.2014

Faleceu no dia 15 de Maio de 2014 com 41 anos de idade no Hospital do Governo. Deixa esposa e filho, pai, irmão, cunhada e família. A família participa que no dia 20 de Maio de 2014 será rezada uma missa de corpo presente, pelas 20:00 horas na Casa Mortuária Diocese. No dia seguinte dia 21 de Maio de 2014 pelas 11:30 horas, será rezada uma missa no Cemité-rio de S. Miguel Arcanjo, à qual se seguirá o funeral. Antecipadamente se agradece a todos quantos se queiram associar ao piedoso acto.

JOSÉ NOVO FRANCISCOFalecimento

Chao Pak Kei 1 – 0 Kei Lun

Monte Carlo 2 – 2 Ka I

Sub-23 0 - 6 Benfica

Kei Lun 0 - 6 Polícia

*Folgou o Sporting Clube de Macau

RESULTADOS

MARCO [email protected]

U MA semana depois de ter empatado a uma bola com o líder Benfica e de

ter baralhado as contas da luta pelo triunfo na edição de 2014 da Liga de Elite, o campeão Monte Carlo vol-tou a defraudar. A formação orientada por William Chu não conseguiu melhor do que um empate a duas bolas frente ao Windsor Archa Ka I, naquele que foi o embate de maior nomeada da décima segunda ronda

KA I E MONTE CARLO DIVIDEM PONTOS

Benfica e Polícia goleadoresda principal competição futebolística do território.

Num desafio bem dispu-tado, pautado pelo equilí-brio, coube aos actuais cam-peões de Macau a primeira grande iniciativa de perigo do encontro, num lance de bola parada protagonizado por Rafael Medeiros. O avançado brasileiro tomou em mãos a responsabilidade de converter um livre directo em posição frontal à baliza do Ka I e quase surpreendeu Ieong Fong Meng no último reduto do adversário.

Apenas o ferro negou vantagem ao onze “cana-

rinho”, mas o lance aca-bou por não intimidar os comandados de Chan Man Kin. A resposta da formação rubro-negra materializou-se pouco depois, com o nige-riano Christopher Nwarou a rematar ao lado da baliza do Monte Carlo quando tinha apenas Ho Man Fai pela frente.

Não marcou à primeira, marcou à segunda. Mais obs-tinado na recta final da pri-meira parte, o Windsor Arch Ka I acabou por inaugurar o marcador nos instantes finais dos primeiros quarenta e cinco minutos, numa jogada

que tem Lee Keng Pan e Samuel Ramosoeu como protagonistas. O camisola sete da formação orientada por Chan Man Kin abriu para o golo fácil do atleta do Botswana, que se limitou a empurrar para o fundo das redes do Monte Carlo.

A perder pela margem mínima, os campeões do território entraram melhor na etapa complementar e garantiram o tento da igual-dade aos nove minutos da segunda parte. Marcou An-derson Braz na sequência de uma boa jogada individual, em que percorreu metade do terreno de jogo e foi superando adversários antes de bater o incauto Ieong Fong Meng com um remate seco. O avançado brasileiro acabaria por chamar a si o estatuto de principal figura do encontro, ao assinar nova grande jogada aos setenta minutos. Solicitado na frente, após uma jogada rápida de contra-ataque, Anderson Braz fez o que lhe era exigido, fazendo passar o esférico por entre as pernas do desamparado Ieong Fong Meng.

A vencer pela primeira vez, o Monte Carlo não dispôs de muito tempo para festejar. Aos setenta e cinco minutos o Ka I repôs a igualdade, com Alison Brito

a responder da melhor forma a um bom cruzamento de Bruno Figueiredo e a bater Ho Man Fai com um remate colocado. Com o empate, Monte Carlo e Ka I atrasam--se mais ainda na classifica-ção e vêm complicar-se as escassas hipóteses de que ainda dispunham de chegar ao título.

No sábado, os empates foram nota dominante. An-tes ainda de Ka I e Monte Carlo entrarem em campo, Chao Pak Kei e Lai Chi já tinham dividido pontos. Num encontro parco em oportunidades, os golos acabaram por surgir apenas na segunda parte. Pang Chi Hang inaugurou o marcador para o Lai Chi aos quarenta e sete minutos, batendo o

guarda-redes do Chao Pak Kei, depois de ter levado a melhor sobre dois adversá-rios. A formação orientada por Inácio Hui respondeu na mesma moeda quatro minutos depois, com o mé-dio Kuok Siu Tin a marcar à boca da baliza do Lai Chi.

Ontem foi a vez do Ben-fica entrar em campo e a for-mação orientada por Bruno Álvares não defraudou, ao golear a Selecção de Sub-23 da Associação de Futebol de Macau por seis golos sem resposta, num desafio em que Iuri Capelo esteve em evidência, ao apontar um hat-trick. O internacional do território inaugurou o marcador logo no primeiro minuto de jogo, voltando a repetir a graça aos 29 e aos 39 minutos, um minuto depois do português José Lopes ter deixado o nome nos anais da partida. Os dois restantes golos da formação encarnada foram apontados pelo brasi-leiro Marquinhos aos dez e aos quinze minutos. Com o triunfo, o Benfica de Macau consolidou o primeiro lugar da tabela, que lidera com 29 pontos.

Tradicionalmente pouco ofensiva, a formação do Grupo Desportivo da Polícia de Segurança Pública alcan-çou no derradeiro encontro da décima segunda jornada a sua maior goleada dos úl-timos tempos, ao brindar o Kei Lun com seis golos sem resposta. O onze das forças de segurança inaugurou o marcador por intermédio de Leong Chan Pong aos oito minutos e duplicou a vanta-gem à passagem da hora de jogo, num lance concluído por Ho Wai Tong. Chan Weng Son, aos 65 minutos e William Shek, dez minutos depois, colocaram a Polícia a vencer por quatro zero, antes de Leong Chan Pong bisar na partida e de Un Tak Ian encerrar, em cima dos 90 minutos, a marcha do marcador.

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hoje macau segunda-feira 19.5.2014 (F)UTILIDADES 21

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

João Corvo fonte da inveja

C I N E M ACineteatro

TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 27 MAX 30 HUM 75-95% • EURO 10.9 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE

O inglês tornou-se na mais estranha das línguas.

19 DE MAIO

SALA 1GODZILLA [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen14.30, 16.45, 21.30

GODZILLA [3D] [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen19.15

SALA 2 TRANSCENDENCE [C]Um filme de: Wally PfisterCom: Johnny Depp, Morgan Freeman, Rebecca Hall, Paul Bettany14.30, 16.45, 19.15

THE AMAZINGSPIDER-MAN 2 [B]Um filme de: Marc WebbCom: A. Garfield, E. Stone, J. Foxx, D. DeHaan21.30

SALA 3ABERDEEN [C](FALADO EM CANTONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Pang Ho-cheungCom: Louis Koo, Gigi Leung, Eric Tsang, Miriam Yeung14.15, 16.00, 17.45, 19.30

THE ETERNAL ZERO [C](FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Takashi YamazakiCom: Junichi Okada, Haruma Miura, Mao Inoue21.30

GODZILLA

Morre Catarina Eufémia, símbolo da luta contra o Estado Novo• Resistente ao regime de Salazar, Catarina Eufémia foi uma ceifeira, analfabeta, morta a tiro durante uma greve contra o Estado Novo, a 19 de Maio de 1954, com um dos seus três filhos ao colo. Transformou-se num símbolo da luta dos trabalhadores.A história de Catarina Eufémia é a melhor personificação da resistência ao regime de Salazar. É uma história terna, que entristece, que representa o combate à opressão. A vida de Catarina foi marcada pela luta, pelo trabalho. A morte, que se assinala hoje, representa a face mais negra de uma ditadura.Catarina Efigénia Sabino Eufémia nasceu em Baleizão, no Alentejo, a 13 de Fevereiro de 1928. Dedicou a sua vida ao trabalho rural, como ceifeira, analfabeta. Durante uma greve, a 19 de Maio de 1954, foi baleada por um tenente da Guarda Nacional Republicana. Tinha então 26 anos e carregava ao colo um filho de oito meses, no momento em que é assassinada.A vida e morte de Catarina Eufémia acabaram eternizadas pela História, cantadas por Zeca Afonso, contadas pelos poemas de Sophia de Mello Breyner, Carlos Aboim Inglez, Eduardo Valente da Fonseca, Francisco Miguel Duarte, José Carlos Ary dos Santos, Maria Luísa Vilão Palma e António Vicente Campinas.

AutenticidadeUma visão, uma palavra, é pronunciada por todos estes homens e mulheres que na segunda metade do século XIX e início do século XX abandonam, com mais ou menos desgosto, a sua Europa natal: degenerescência. Um mesmo horizonte os fascinava, também ele traduzível por uma palavra: autenticidade. O que se perdeu, o que se procura.Deixava-se para trás uma sociedade obscurecida pelos valores mercantilistas emergentes, na qual a máquina tomava já cada vez mais o lugar do homem e o lucro e o lugar dos valores. Uma sociedade, finalmente, decadente, varrida pelas guerras e onde a era da reprodutibilidade – da qual a fotografia era a técnica mais óbvia – exterminava qualquer espécie de aura e de alma. Uma sociedade na qual, nas palavras do Nietzsche de Zaratrusta, “mais um século de leitores – e o próprio espírito cheirará mal”.É a emergência do conceito de tédio, no qual se afundará o poeta francês Charles Baudelaire, trânsfuga espiritual, que não aguentou a realidade de África, mas cuja visão, tendo como arquétipo o corpo lacerado e torturado de uma jovem negra, o viria a perseguir até à morte.O tédio é a doença da modernidade europeia novecentista, cantado por Kiekergaard que chega ao ponto de pensar os homens como a criação de um deus entediado, a mulher como a criação de um homem entediado e a perda do Paraíso como uma bondade divina, um meio de escapar ao inevitável tédio de uma vida perfeita.E para escapar ao tédio não há senão a viagem, uma desterritorialização, cujo horizonte é a morte por dissolução. Não a morte física, mas a morte de uma identidade que se sente dolorosa, fracturada, fragmentada, distante do mito e divorciada do ritual.

Los Angeles num futuro em que a humanidade coloniza o espaço e cria seres geneticamente alterados, replicantes, “mais humanos que os huma-nos”. Um filme de culto, uma mistura de policial noir e ficção científica. Uma profunda reflexão filosófica sobre uma identidade perdida. Humanos e pós-humanos numa eterna busca do amor. “Se me amasse tinha-me feito eterno”, frase de um replicante para o seu criador. - José C. Mendes

H O J E H Á F I L M EBLADE RUNNER

RIDDLEY SCOTT, 1982

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22 OPINIÃO hoje macau segunda-feira 19.5.2014

1. Quando chegou a vez do arguido se apresentar perante o juiz, um leve rumor in-cendiou a assistência. Cara esquálida, olhos negros e vagamente recalcitrantes, Alcides ajeitou o corpo magro sobre o arcabouço incerto da cadeira, examinou com demorada candura o galarim do juiz, pousou os olhos de relance nas resmas de papel adormecidas sobre a mesa do Ministério Público e abra-çou, num breve e incomodado impulso, a madrinha enredada numa teia de aflição, o esgar murcho e despojado de quem não tem mais lágrimas para chorar.

“Como se declara o arguido?”, inquiriu com desnudado desamor e voz abnegada o juiz, os óculos deslocados para o fundo da cana do nariz, duas lanças apontadas sem resquícios de malícia à meditabunda e absorta complacência do rapaz ali sentado.

“Inocente, Meritíssimo”, proclamou com sumida concomitância o arguido e de novo se disseminou por entre os presentes o in-quieto rastilho da dissensão, uma indignação apenas refreada pelo semblante impassível do tribuno, imperturbado e imperturbável no púlpito da civilidade.

“Alcides Gomes Passarinho, 26 anos, mecânico de profissão, quadro activo de várias corporações de bombeiros há quase dez anos. Foi distinguido por actos de bra-vura no combate às chamas, tido por exímio sapador. É assim, senhor Passarinho?”

“Assim é, Meritíssimo”, condescende o arguido, a voz diminuída mas desperta.

“O senhor Passarinho sabe que foi detido fora de flagrante delito, mas está consciente de que o corpo de prova apresentado pelo Mi-nistério Público faz incidir sobre si a autoria dos crimes que lhe são consignados? Escutou duas das testemunhas ouvidas neste tribunal garantir que o viram no local um nada antes dos montes se fazerem cinza, outra que se julgou na presença de uma assombração quando o viu acariciar-se sobre os penedos enquanto o mundo ardia, labaredas de bra-dar aos céus enleadas num valsa de morte com soutos e pinhais, palheiros e vivendas. O que tem o Sr. Passarinho a dizer em sua defesa?”, admoestou o juiz.

Alcides Passarinho eriçou as pálpebras, contorceu-se no desconforto da cadeira e ru-boresceu ligeiramente, mas na voz não se lhe manifestou o menor espasmo, a menor tremura quando declarou: “Inocente, Meritíssimo. Eu apagava os fogos. O Arménio era quem os acendia. O Arménio sempre se deixou enlear pela fosforescência dos tições, sempre gostou das chamas a galopar sobre as veredas e até do sol a esmorecer, um laranja acabrunhado, por detrás de cortinas de fumo. Foi o Arménio, Meritíssimo”, conclamou o arguido sem rasgo de hesitação e na primeira fila de bancos, bem na frente do pelotão da assistência, a madrinha de Alcides Gomes Passarinho dilacerou-se num uivo gutural, como se possuída por caprichos inspirados pelo próprio belzebu.

Foi a rubicunda senhora, a malha negra estrangulada sobre os ombros largos, quem clarificou o dilema e devolveu alguma

expediente c ín icoMARCO CARVALHO

Os incendiários

Da mesma forma que os bombeiros recorrem à política de terra queimada para travar frentes que ameaçam povoações, também o executivo da RAEM queima soluções com o objectivo de salvar uma ou outra árvore em detrimento da floresta

sensatez à aparente senilidade do arguido. Mortificado pela bizarria da sessão e pelo convulso terror que se apoderou da afogue-ada dama, o meritíssimo quis saber de onde brotou tamanho pavor e isto foi o que ouviu num pranto: “Este Arménio de que o meni-no fala já não vive entre os nossos, Senhor Doutor Juiz. Era parceiro de um ventre desse que aí tendes e sumiu-se nas labaredas que mataram os pais de ambos, eram os gaiatos meninos de balouço e de jogar à bola. Nin-guém sabe porque razão a casa ardeu, mas o Arménio tinha uma admiração transida pelo fogo, escorregava para um mundo de para-lisia e silêncio enquanto nacos de castanho crepitavam na lareira, adormecia frente ao fogão enquanto espera que o lume fizesse incandescer trempes e frigideiras”.

Como quem não se se sente não é filho de boa gente, e não há muito quem se queira aventurar no risco de tomar parte com o demo, o Meritíssimo tomou conselho com colegas de ofício e julgamento e declarou Alcides Gomes Passarinho, mecânico ex-

periente e bombeiro sabedor, versado nas artes da sapa e do contra-fogo, inimputável dos crimes de que era acusado. O colectivo de juízes deu como provado tudo o que constava na acusação, mas conclui que o arguido não poderia ser condenado por ter um quadro psicótico, como problemas de memória, resultantes de circunstâncias que importa esclarecer em sede própria, que é o mesmo que dizer em instituição psiquiátrica que mantenha o Senhor Alcides longe de fósforos, lareiras e pedras de lascar, Passa-rinho na gaiola.2. A fábula de cima é um despropósito. É um despropósito porque na Macau capital mundial do jogo e Património Mundial não há memória de incêndios de dimensão cla-morosa e contar-se-ão pelos dedos das mãos os pirómanos condenados. É certo e sabido que foram as chamas que dotaram a Cidade do Nome de Deus do seu mais conhecido e singular ex-libris e que a Ilha Verde, nos tempos em que se erguia sobre um desma-zelo de barracas, ardeu incontáveis vezes (em 1928, em 1950 e em 1955 as chamas roubaram um tecto e um palmo de terra a milhares de pessoas), mas na Macau con-temporânea, dos néons e das rebanhadas de turistas, a voracidade das chamas deixou de ser uma inimiga. O que não quer dizer que o território não se deixe consumir a fogo lento. Arde na fogueira da especulação imobiliária, mas também nas labaredas da indiferença de um governo que se mantém impassível perante as circunstâncias. Na excedentária Macau, onde os casinos e as infra-estruturas que os servem levam prioridades sobre hospitais, prisões e redes de transporte, as dificuldades no acesso a um tecto são cada vez mais um factor de desigualdade. Não bastasse a escalada astronómica no preço das fracções, motivada não se sabe bem por que circunstâncias e porque mandamentos

da economia, multiplicam-se as histórias de agências e de agentes imobiliários que atropelam sem escrúpulos os limites da lei e procuram a todos o custo extorquir quem os procura. Uns concebem contratos com preços diferenciados para cada ano de ocu-pação da fracção, outros procuram imputar a quem arrenda taxas e impostos inexistentes, comissões e franquias indevidas. Chamada a intervir, a polícia encolhe os ombros. Instado a esclarecer, o governo não só assobia para o lado, como também reitera que a única forma de apagar o incêndio é com mais e novos fogos, dos que ardem e dos que se habitam.

Ao bom bombeiro pirómano pergunta--se-lhe quanto já ardeu e ele responde o que vai arder, em mente os hectares de eucaliptal que se insinuam a um fósforo. Ao executi-vo de Macau pergunta-se-lhe por preços de fracções e ele responde com políticas e promessas esdrúxulas, porque tempo é dinheiro e o tempo empatado pelo círculos de decisão em consultas públicas, inquéritos e abstracções é, para os que lucram com a especulação, sinónimo de milhões. Pompo-samente absurda, a premissa de que “as terras de Macau devem servir as gentes de Macau” chega a ser perigosa de tão empiricamente evidente, mas, ao passo incerto a que ganha definição, não pode ser vista como mais do que uma manobra de diversão, uma forma de embalar a inquietude de quem por cá vive. Da mesma forma que os bombeiros recor-rem à política de terra queimada para travar frentes que ameaçam povoações, também o executivo da RAEM queima soluções com o objectivo de salvar uma ou outra árvore em detrimento da floresta. Pode ser que quando o fogo se extinga e o governo tiver prontas as tais fracções destinadas à classe média já por cá não se encontre ninguém digno desse nome e da Macau ponto de encontro de culturas não reste pedra sobre pedra.

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23 opiniãohoje macau segunda-feira 19.5.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

N O dia 15 de Maio de 2014 o Nanfang Daily informava que em Dongguan, China, um homem, Lin, com cer-ca de 40 anos, vestido de soutien e cuecas foi pela rua ter com a namorada, Liu, para lhe oferecer flores.

Liu, com cerca de 30 anos, tinha estado em Ingla-

terra a estudar. A família era rica e possuia vários negócios. Quando Liu viu como Lin vinha vestido, sorriu. Lin ajoelhou-se e pediu-a em casamento. Liu aceitou e aca-baram por casar.

Esta é uma cena engraçada e comovente. Quem visse a figura de Lin não podia deixar de rir. Este tipo de acontecimentos são sem-pre tocantes e deve ser por isso que se diz que quando estamos apaixonados fazemos tudo para que o outro esteja feliz. A cena de Lin é um bom exemplo.

Se tivesse encontrado um polícia na rua, este provavelmente não o prenderia se soubesse que Lin estava a fazer um pedido de casamento.

Nem todas as cenas de amor são assim tão felizes. O Sky Post deu uma notícia no dia 15 de Maio de 2014 em que se dizia que uma rapariga se lamentava, no seu website, por o namorado não estar bem preparado para o casamento. Não tinham dinheiro suficiente. A rapariga obrigou o rapaz a juntar dinheiro. Alguns anos depois tinham apenas $120,000. Segundo um estudo, um casamento em Hong Kong custa, em média, HK$302,590. Este número é 7% mais alto do que em2012. Como é óbvio, a rapariga não tinha dinheiro suficiente para a cerimónia.

A rapariga queixava-se também de que os sogros não tinham poupanças. Tinha medo que os sogros não tivessem dinheiro para comprar uma pulseira ou uma bracelete como prenda de casamento. Na sociedade chinesa, quanto mais presentes os sogros oferecem à noiva, maior é o amor que têm por ela.

Nem todos os casamentos necessitam de muito dinheiro. No dia 15 de Maio de 2014, o jornal Metro, relatou o casamento da senhora Chow, de 89 anos, com Im, de 66, em Chongqing, China. O casamento deu-se dois dias antes.

Chow contou que apesar de viver no mesmo centro, não conhecia Im disse:

“A senhora Chow foi muito gentil.Foi por isso que casamos.”

A senhora Chow tinha mais 23 anos do

que Im. Os chineses dizem que este é “um amor de irmã mais velha com o irmão mais novo”, (SB). As pessoas com esta diferença de idades, têm origens diferentes. Se não se derem bem, podem ter problemas.

macau v is to de hong kongDAVID CHAN*[email protected] • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

Casamentos modernos

Um bom exemplo, é uma notícia dada pelo mesmo jornal no mesmo dia. A senhora Chan, de 39 anos, que vivia em Yau Ma Tei, Hong Kong foi apunhalada pelo namorado, Tang, de 23 anos. Apesar de não serem casados, viviam juntos há dois anos. O terrível acontecimento deu-se porque Chan queria separar-se.

Chan, 16 anos mais velha do que Tang, queriauma vida mais estável, o que é com-preensível. Tang, enquanto jovem queria uma vida mais excitante. Para mais, Chan nasceu na década de 1970 e não devias estar muito familiarizada com os computadores e

a internet, ao contrário de Chan que nasceu nos anos 90. Tang não tem problemas com as novas tecnologias. As origens diferentes origens podem ser um problema e as relações amorosas do tipo SB podem acabar mal.

O Sky Post dizia que havia cerca de 20% de relações SB em Hong Kong recentemente, o que não deixa de ser curioso. Uma mulher solteira, de meia-idade, pode facilmente atrair um jovem. Como os outros amantes podem apaixonar-se, mas as discussões aparecem mais facilmente neste tipo de relacionamen-tos, porque a pressão é maior. Num caso de

O CAMINHO DAS ÍNDIAScartoon por Stephff

separação, em que, digamos, a senhora A quer acabar com a relação, ou tem outro amante, B não deverá reagir bem porque acha que deu o seu melhor para manter a relação com A. Se B se apaixona por alguém da sua idade, digamos, C, a pressão deverá ser muito menor.

Seja em Hong Kong seja em Macau, a lei apenas permite o casamento entre uma mulher solteira e um homem solteiro. Ambos têm de ter idade para casar. Mas a nossa lei não diz que roupa se deve vestir para se propor casamento, nem faz referência à diferença de idades e de pensamento entre as partes. É demérito da lei. Pelos casos acima descritos podemos verificar que os relacionamentos SB são mais complicados. Mas há que consiga levar avante uma relação deste tipo. Será uma benesse de Deus. Ninguém sabe. Desejemos que todos os casais se dêem bem. Mas espe-remos que não aconteçam mais casos como o da senhora Chan com Tang.

Seja em Hong Kong seja em Macau, a lei apenas permite o casamento entre uma mulher solteira e um homem solteiro. Ambos têm de ter idade para casar. Mas a nossa lei não diz que roupa se deve vestir para se propor casamento, nem faz referência à diferença de idades e de pensamento entre as partes. É demérito da lei

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LUSA

hoje macau segunda-feira 19.5.2014

BENFICA GANHA TAÇA DE PORTUGAL E É O PRIMEIRO A VENCER AS TRÊS PROVAS

O imparável rio vermelho

O S Serviços de Saúde (SS) emi-tiram ontem um

comunicado onde reagem a críticas sobre o caso de atropelamento de uma jo-vem cuja família não tem, alegadamente, dinheiro para suportar todas as des-pesas hospitalares.

“Nos últimos dias cir-cularam nas redes sociais comentários a propósito de um grave acidente de viação ocorrido (...) que causou a hospitalização de uma estudante (...) e que terá alegada falta de apoio por parte do Governo da RAEM. Os valores que foram alegados eram que as despesas médicas atin-giam as 50 mil patacas por dia. Os SS são obrigados a esclarecer que todos os cidadãos estão protegidos pelo sistema de saúde de Macau”, pode ler-se no comunicado.

Os SS acrescentam ainda que “não existe nenhuma situação em que seja negado, aos cidadãos, o acesso ao tratamento médico por falta de con-dições económicas ou dificuldades financeiras para pagar a despesa de cuidados de saúde”.

“Compete ao Instituto de Acção Social (IAS) e ao Serviço de Acção Social do Centro Hospitalar Conde de São Januário a prestação de assistência social aos grupos com dificuldades económicas. Assim, neste contexto e tratando-se a situação de um acidente de viação é suposto que as viaturas envolvidas possuam seguros contra terceiros e, para além de que o responsável pelo acidente deverá assumir a respectiva responsabi-lidade”, explica o mesmo comunicado.

Os SS garantem que o director Lei Chin Ion já

entrou em contacto com o director do hospital Kiang Wu para garantir que são prestados cuidados médi-cos e que estes “não serão afectados por causa da dificuldade de pagamento da despesa médica”. O Governo garante ainda que o Kiang Wu “não exigiu ou exigirá à família da paciente o pagamento de qualquer despesa, tendo apenas entregue à família um documento dos actos médicos efectuados e o respectivo valor”. Além disso, “será a seguradora a garantir os pagamentos devidos através das even-tuais indemnizações que possam ter lugar”.

SS NEGAM PROPOSTADE AMPUTAÇÃOOs SS emitiram entretanto um outro comunicado onde prestam esclareci-mentos sobre um doente, de nacionalidade estran-geira, que foi tratado no hospital Conde de São Januário com uma “fasciite necrótica”, uma bactéria comedora de carne. “Os SS negam os rumores de que foi proposto ao paciente uma cirurgia de amputa-ção ao doente conforme foi veiculado. O cirurgião plástico que acompanhou a situação propôs ao utente uma secção de desbrida-mento mais profundo. O médico, como lhe compe-te, informou o paciente das eventuais consequências inerentes à aplicação desta técnica cirúrgica (...) A decisão do doente passou por querer efectuar uma intervenção cirúrgica em Hong Kong. Os SS salien-tam, ainda, que a cirurgia à qual o paciente foi sub-metido em Hong Kong é em tudo semelhante à que foi proposta pelo cirurgião plástica do São Januário”, lê-se no comunicado.

GOVERNO NEGA FALTA DE APOIO

Saúde é um direito de todos

C AMPEONATO, Ta- ça da Liga e Taça de Portugal. O Benfica ganhou esta época

os três títulos possíveis, a nível nacional, um feito ímpar na história do futebol português. A única mácula na carreira dos encarnados terá sido a derrota na final da Liga Europa, nos penáltis, contra os espanhóis do Sevilha. Ainda assim, uma época para recordar.

Ontem no Jamor, para a final da Taça de Portugal, o Benfica apresentou Oblak; Maxi, Luisão, Garay, André Almeida; Salvio, Amorim, Enzo, Gaitán; Rodrigo e Lima. Por seu lado, o Rio Ave escalonou Ederson; Lionn, Marcelo, Rodriguez, Edimar; Filipe Augusto e Ta-rantini; Ukra, Braga e Pedro Santos; Ruben Ribeiro.

Durante a primeira parte, foi acentuado o domínio benfiquista, que culminou com um golaço de Gaitan, com o pé direito, aos 20 mn de jogo. O Rio Ave tentava a espaço responder à pressão do Benfica, mas dificilmente chegava com perigo à baliza de Oblak.

Depois do golo, o Rio Ave ainda esboçou uma reacção mas era rapidamente contra-riado pelos jogadores encar-nados. O Benfica também não conseguiu oportunidades claras de voltar a marcar, o que sentenciaria o jogo. Assim o Rio Ave foi para o intervalo ainda a sonhar.

E o sonho fazia sentido. No segundo tempo, o Rio Ave entrou dominante e perigoso. Por diversas ve-zes, ameaçou a baliza do Benfica, de forma perigosa. Contudo, a partir do meio da segunda parte o Benfica voltou a equilibrar o encon-tro, disfrutando de algumas oportunidades e segurando melhor o jogo a meio campo.

No entanto, até ao final do encontro, o Rio Ave foi

sempre mais contundente na disputa da bola, embora os seus avançados vacilassem na hora de desferir à baliza. Até ao final do encontro não houve mais nenhuma alteração no marcador.

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Assim, o Benfica juntou, este domingo, a Taça de Por-tugal ao campeonato e à Taça da Liga, após derrotar, na final, disputada no Estádio Nacional, no Jamor, o Rio Ave, por 1-0, com um golo

de Gaitán, aos 20 minutos. Num jogo de sofrimento para os da Luz, bastaram os primeiros 45 minutos para Jorge Jesus conseguir, à segunda final consecutiva, o tão ambicionado troféu.

LUSA