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AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB LIVRO FOTOGRAFIAS DE JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO A BORDO DO NAVIO-ESCOLA SAGRES PATRIMÓNIO Edifícios em mãos privadas SOCIEDADE PÁGINA 8 ENTREVISTA PGS. 2-3 CENTRAIS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 8 DE MAIO DE 2015 ANO XIV Nº 3326 ROSE LAI NENG “Cheques só para quem precisa” PÁGINA 7 Numa acção rara em Macau, um grupo de trabalhadores do FIC veio a públi- co contradizer o CCAC. Os funcionários afirmam terem sido condicionados pelo ex-vogal e superior hierárquico Chan Son U que “os guiou na forma de responder às perguntas” do Gabinete de Alexis Tam. CORRUPÇÃO FUNDO DAS INDÚSTRIAS CULTURAIS Funcionários sem medo hojemacau Quantos nós tem o vento ANABELA CANAS JOSÉ SIMÕES MORAIS Um notável fundador de Macau PUB h G O N Ç A L O L O B O P I N H E I R O

Hoje Macau 8 MAI 2015 #3326

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Hoje Macau N.º3326 de 8 de Maio de 2015

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AgênciA comerciAl Pico • 28721006

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numa acção rara em Macau, um grupo de trabalhadores do FiC veio a públi-co contradizer o CCAC. Os funcionários afirmam terem sido condicionados pelo ex-vogal e superior hierárquico Chan son U que “os guiou na forma de responder às perguntas” do gabinete de alexis Tam.

corrupção fundo das indústrias culturais

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2 hoje macau sexta-feira 8.5.2015entrevista

As receitas do jogo caíram no primeiro trimestre. O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, referiu recente-mente que, caso continuem a decair, vai accionar um plano de contenção orçamental, pre-parando-se para reduzir ou cortar despesas. Considera que é possível alcançar este objec-tivo? Quais as despesas que devem ser cortadas em primeiro lugar?É difícil prever. Mas acho que o Secretário deu uma alerta para sabermos que o Governo está a fazer poupanças. O Governo vai observar se as receitas continua-rem descer. Se isso acontecer, a comparticipação pecuniária deve ser a primeira despesa a ser cor-tada. Na realidade, os benefícios sociais da população de Macau são muito bons. Nunca concordei com que se oferecessem cheques à população. Esse plano tinha a ver com a partilha de benefícios apenas quando houvesse bons resultados. Agora o Governo ga-nha menos, devemos “oferecer” de volta o dinheiro ao Executivo? Se for para evitar uma grande agita-ção, o primeiro passo deve ser a diminuição do valor dos cheques. Antigamente, era cinco mil patacas e agora atingiu os nove mil. De-vemos retroceder no valor, porque se cada residente recebe menos, o Governo já consegue poupar mui-to. E se continuar com os cortes, poderia começar a depender da ne-cessidade das pessoas. Pensemos de forma justa: é dar a quem tiver necessidade. Os que vivem sem grande dificuldades, por exemplo, a família de Stanley Ho, que está também a ganhar cheques e vales de saúde, não sentem nada. Não é preocupante as queixas da população, se se cortar a com-participação pecuniária? Pode-se tentar ajudar de outra maneira, seria melhor do que dar cheques a todos. Como a economia de Macau começou a retroceder, é necessário pensar em quem prote-ger primeiro e essas são as pessoas com necessidades, tais como famí-lias com dificuldades financeiras ou com portadores de deficiência. O desenvolvimento social é seme-lhante à vida do ser humano. Uma pessoa pode ser promovida para um cargo bem pago, e, depois, ganhar menos quando as receitas da companhia começarem a descer. Mas ganhar menos não significa que vamos ficar na miséria, só voltamos à situação anterior, por isso, pode não haver problemas. Podemos pensar em Macau, retro-

Rose Lai NeNg vice-reitora da Faculdade de Gestão empresarial da um

“Concordo com uma economia livre em que todos usufruam dos resultados”A professora da área da Economia e Finanças considera que a comparticipação pecuniária deve ser o primeiro corte no plano de contenção orçamental do Governo. Quanto às outras medidas, a também vice-reitora da Faculdade de Gestão Empresarial alerta que até podem desagradar alguns residentes, mas é algo necessário para equilibrar os benefícios públicos. Rose Lai sugere até a criação de uma taxa para pedir habitação públicae a impossibilidade de se vender essas fracções a preçode mercado privado

cedendo para o que o território era há vários anos: as pessoas já eram felizes com o desenvolvimento económico, já ganhavam muito mais do que antigamente. Actual-mente, se apenas voltarmos para essa situação, não deve haver uma grande agitação [social].

Mesmo com residentes a ganhar menos?Acho que os residentes devem entender o corte e não pensar sem-pre que têm de ser apoiados, nem pensar que o Governo tem e pode resolver tudo. O Governo é também constituído por seres humanos, não são super-homens. A população não deve só fazer perguntas e esperar que o Governo responda a tudo. Na realidade, uma sociedade desenvolvida não pode fazer todas as pessoas felizes, porque cada um

tem o seu desejo e todas as medi-das que o Governo toma podem desagradar a diferentes partes da população. A densidade populacional de Macau do ano passado foi de

20.500 pessoas por km2, um índice que ocupou o primei-ro lugar depois do Mónaco e de Singapura. Li Jiazeng, um académico da Universidade da Cidade de Macau ,considera que a situação em Macau não está muito grave, quando com-parado com Bombaim, na Índia. Mas existem deputados que se preocupam com a lotação e a capacidade máxima de recepção de turistas em Macau. Qual é a sua opinião?Macau está sempre lotado, actual-mente está ainda pior, mas a lotação depende das zonas onde moram re-sidentes. Como eu moro no novo campus da UM, já não quero ir para península de Macau devido à pressão originada entre pessoas e veículos. Para um residente que vive na zona norte ou na Areia

“O Governo vai observar se asreceitas continuarem descer. Se isso acontecer, a comparticipação pecuniária deve ser a primeira despesaa ser cortada”

“Os que vivem sem grande dificuldades, por exemplo, a família de Stanley Ho, que está também a ganhar cheques e vales de saúde, não sentem nada”

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3 entrevistahoje macau sexta-feira 8.5.2015

Rose Lai NeNg vice-reitora da Faculdade de Gestão empresarial da um

“Concordo com uma economia livre em que todos usufruam dos resultados”

Preta, é ainda mais lotado, por causa dos trabalhadores não resi-dentes (TNR), porque são pessoas que ganham pouco e têm de dividir um apartamento com cerca de dez pessoas, o que faz [mais pessoas no mesmo local]. Quanto a visitantes, como todos vão visitar os mesmos sítios, um caminho normal de dez minutos pode demorar uma hora a ser feito por causa do trânsito. Cla-ramente, isso não é um fenómeno positivo. A lotação de Macau não está no número de quantas pessoas existem por km2, mas nos engarra-famentos de trânsito e a dificuldade em apanhar autocarros e táxis, esse impacto negativo é maior. O Governo tem planos para con-trolar o número de veículos atra-vés de medidas económicas, in-cluindo o aumento de impostos e

“É importante (o reordenamento dos bairros antigos) porque apesar de não aumentar a oferta de casas directamente, melhora o ciclode vida da população, nãoé necessáriopensar-se na demolição de edifícios, porquea qualidade vaiser melhor”

o cancelamento de alguns passes mensais. Considera que isto é útil e justo para os condutores?Depende dos ângulos. Se eu for uma empresária e gostar de comprar vários automóveis, não devo gostar dessa política do Governo. Mas para um residente que não tem capacidade econó-mica para comprar um veículo e apanha autocarros todos os dias, claramente espera que o número de

automóveis seja controlado e ali-viado o trânsito. As vozes contra existem porque acham isso in-justo para os consumidores, sim, mas deve-se pensar no que é mais importante:  beneficiar as compras livres de veículos, ou melhorar o ambiente total do trânsito? Claro que a segunda é mais importante. Eu concordo com uma economia livre, mas só na base de que todos usufruam dos resultados. Se for apenas uma parte [a usufruir] e outros a sofrer, não vale a pena. No que toca ao estacionamento, de facto, estacionar automóveis em Macau é barato, porque 15 patacas por hora num parque privado, comparado com zonas movimentadas de Hong Kong, onde meia hora custa 28 dólares, [é bom]. Em Cambridge, um parque custa 40 patacas por hora. De facto,

não existe uma solução melhor, contudo, se o Governo não tomar medidas, uma parte das pessoas continuam a ser ricas, compram carros e a lotação vai ser ainda mais grave. O Governo tem de beneficiar  primeiro  a  população geral, o equilíbrio será maior e não apenas justo para os consumidores. O sector imobiliário apela muitas vezes para que sejam retiradas as políticas face aos preços demasiados elevados do imobiliário, ou seja as medidas de actualização de impostos e das percentagens de hipoteca, embo-ra o Chefe do Executivo dissesse que não ia haver alterações. Qual é o sua ponto de vista? Concordo com o não retirar das políticas. Existem não por causa de uma boa economia, mas por cau-sa dos preços dos imóveis. Macau é pequeno e faltam ofertas. As medidas servem para evitar preços elevados, os quais actualmente ainda não estão num nível que um residente normal pode suportar, pelo que não devem ser retiradas. Sim, as transacções de casas e in-fluenciaram directamente o sector imobiliário, mas não a população em geral, portanto não faz sentido retirar. A economia piorou mas não por causa dessas políticas. Por outro lado, é óbvio que o merca-do imobiliário peça ajuda porque ficou pior mas é um dos principais sectores de Macau. Ou seja, isso causou desemprego de agentes e encerramento de agências. Mas voltando ao equilíbrio, salvam--se os agentes ou protegem-se os residentes? Que sugestões face ao imobiliá-rio pode dar ao Governo?São várias. Primeiro, o reorde-namento dos bairros antigos. É importante porque apesar de não aumentar a oferta de casas directamente, melhora o ciclo de vida da população, não é ne-cessário pensar-se na demolição de edifícios, porque a qualidade vai ser melhor. A seguir, reven-do completamente o sistema de habitação económica. É verdade que o Governo tem melhorado, mas apenas parte após parte, porque nem existem sequer dados sobre as necessidades habitacio-nais existentes em Macau. Mas o Governo tem construído ha-bitações públicas [na mesma], mesmo com metade de candidatos a não terem uma necessidade real ou a não corresponder aos requisi-tos. É como se fosse uma lotaria. Uma sugestão é que se crie uma taxa de pedido de habitação,

umas dezenas de patacas para entregar um pedido, assim exclui--se uma parte de pedidos feitos só porque são gratuitos. Além disso, as fracções podem ser vendidas no mercado privado depois de 16 anos e os preços chegam a um ní-vel elevado como os apartamentos privados. Assim, a habitação económica é sempre insuficiente apesar da contínua construção. Não é um sistema bom, penso que deve ser vendida sempre como ha-bitação pública e os moradores de habitação sociais mudam entre estes apartamentos. O Governo vai estudar um novo modelo de habitação social, visando os residentes com rendi-mento médio e os recém-casais. Concorda com a ideia?Apoio a medida, é útil. Os que ganham rendimento médio são os que andam sempre entre o “preciso e não preciso de ajuda”, mas nem conseguem pagar a entrada duma fracção autónoma através da própria capacidade económica. Contudo, é necessário analisar pormenores deste modelo, por-que não concordo que os jovens de apenas 20 anos que só começaram a trabalhar há pouco tempo possam pedir uma habitação social. Prefiro que se ofereça um modelo de arren-damento, o que, na prática, pode ser feito na actual habitação social, que existe apenas para pessoas com muitas dificuldades. Portan-to, é necessário uma discussão de modelos e destinatários do novo plano.

Flora [email protected]

“Macau está sempre lotado, actualmente está ainda pior, mas a lotação depende das zonas onde moram residentes”

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4 hoje macau sexta-feira 8.5.2015política

a emissão de acções em reminbis e o processo de registo de empresas na zona de comércio livre

de Guangdong vão ser facilitados. O anúncio foi feito por Wei Guan-gxiong, representante do Gabinete para os Assuntos Financeiros de Guangdong, que adiantou à Rádio Macau que “dentro de um mon-tante, permite-se a livre circulação das moedas, seja para efeitos de investimento, seja para as trocas de produtos financeiros”. As afir-mações foram feitas durante a apre-sentação, por vários organismos daquela região, de novas políticas para a zona de comércio livre. Entre elas estão ainda a possibilidade de

L EOnG Veng Chai acusa o Governo de “não ter envidado esforços na formação de tradutores-intérpretes” de língua chinesa

e portuguesa. O deputado pede por isso que sejam criadas condições para a formação de mais profissionais deste campo, justificando o estreitamento das relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

“Para além dos cursos de Língua Portuguesa ministrados na Universidade de Macau e no Insti-tuto Politécnico, de que planos concretos dispõe o Governo para a formação de intérpretes-tradutores de chinês português?”, questionou o deputado.

Leong Veng Chai, que não fala português, perguntou ainda de que medidas dispunha o Executivo para melhorar os conhecimentos dos trabalhadores da Função Pública desta língua. É que na sua opinião, muitos deles “não têm conhecimentos básicos de Português, portan-to deparam-se com dificuldades na tradução mais comum e nada complexa” de assuntos do quotidiano, sublinhou o deputado numa interpelação escrita.

O documento começa com o deputado a dar voz a “queixas de vários cidadãos” que apontam a realização de actividades da Função Pública

somente em chinês, tendo Leong Veng Chai sublinhado que também o Português é língua oficial da RAEM. Como exemplo, refere as acções de formação da responsabilidade do Instituto da Habitação e que são dirigidas a quem pretenda exercer a função de mediador imobiliário. “A respectiva lei já foi implementa-da há alguns anos, no entanto, até ao momento, não existe ainda nenhum curso em Português, portanto os falantes de Português não podem inscrever-se nos referidos cursos de formação o que, indirectamente, lhes retira oportunidades de emprego”, refere o deputado. L.S.M.

Secretáriode Estado vai encontrar-se com Lionel Leong

O Secretário de Estado Ad-junto da Economia por-

tuguês vai encontrar-se com o Secretário para a Economia e Finanças da RAEM, Lionel Leong. Leonardo Mathias, que chega ao território sábado à noi-te, começa o programa oficial no domingo, quando Mathias abre as hostes com um jantar em sua honra na residência consular.

na segunda-feira, o dia é preenchido, sendo que começa logo pelas 9h30. O responsável do Governo luso irá conduzir um workshop intitulado “De-safios do Século XXI na Área Económica e da Segurança Alimentar” para operadores económicos e consumidores, a ter lugar às 9h00 no Centro de Actividades Turísticas.

Segue-se um almoço, ofe-recido pelo BnU, durante o qual o Secretário de Estado vai “conhecer potenciais investi-dores”, como avança a nota de agenda do Consulado.

Às 15h00, dá-se então o encontro com Lionel Leong, no Banco da China, que deverá durar até às 16h30, quando Leonardo Mathias dá uma conferência de imprensa no auditório Stanley Ho, no Consulado Geral de Portugal.

A visita a Macau fica por aqui, já que terça-feira é dia de Leonardo Mathias se deslocar ao território vizinho para se reunir com o Secretário Per-manente para o Comércio e Desenvolvimento Económico de Hong-Kong, Philip Yung Wai-hung e de seguida almoçar no Clube Lusitano.

O evento conta com a pre-sença de associados e empresá-rios de descendência portugue-sa e naturais de Hong Kong. O último ponto da agenda é uma reunião com o Chefe Executivo da Autoridade Monetária de Hong Kong, Peter Pang.

TraduTores Queixas de falTa de cursos e prejuízos no emprego

A falar é que a gente se entende

“O Governo da RAEM vai efectuar um estudo sobre as vantagens das políticas na zona de comércio livre, tendo em vista o aperfeiçoamento e o reforço dos respectivos trabalhos de acompanhamento”comunicado do execuTivo

Livre circulação de moeda e outros benefícios foram anunciados para a zona de comércio livre de Guangdong, numa altura em que Macau acredita que novas oportunidades se vão abrir tanto para a RAEM, como para a lusofonia

zona de comércio livre Registo de empResas facilitado

Tudo para vingar

investidores provenientes da China poderem emitir acções na moeda local na bolsa de Hong Kong.

Tudo a ajudarDurante a mesma sessão de escla-recimento, ficou também a saber-se que as empresas estabelecidas em

Guangdong vão poder escolher o local onde querem fazer o desalfan-degamento das suas mercadorias, havendo ainda espaço para uma flexibilização das inspecções de for-ma a facilitar o fluxo dos produtos.

O Governo adiantou também que vai proceder à realização de

uma pesquisa para melhor iden-tificar as políticas mais benéficas para Macau naquela zona, de forma a trazer frutos para todas as partes envolvidas. “O Governo da RAEM vai efectuar um estudo sobre as vantagens das políticas na zona de comércio livre, tendo em vista o aperfeiçoamento e o reforço dos respectivos trabalhos de acompanhamento”, lê-se num comunicado do Executivo.

O mesmo documento subli-nha a emergência da construção e entrada em funcionamento do Parque Industrial de Cooperação entre Guangdong e Macau e do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa. Para Chui Sai On, a atenção deve agora virar-se para a cooperação regional na formação de quadros, no estudo de uma base de negócios de jovens, entre outras questões.

Para Sou Tim Peng, director dos Serviços de Economia, as novas políticas para a zona experimental de comércio livre de Guangdong vão ser uma oportunidade para Ma-cau, mas também para a lusofonia. “Julgo que poderá trazer grandes potencialidades para as empresas locais e também para as empresas de países de língua portuguesa”, adiantou à Rádio.

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5 políticahoje macau sexta-feira 8.5.2015

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AnúncioHM 2ª vez 8-5-15Acção de interdição n.º cV2-15-0016-cPE 2º Juízo Cível

Requerente: O MINISTÉRIO PÚBLICO.------------------Requerida: LEI CHOI SOI, casada, residente em Macau, na Rua dos Hortelãos, 142, Edif. Da Alameda da Tranquilidade, Bloco 1, 20º andar “B”.-----------------------

O MERETÍSSIMO JUIZ DO 2º JUÍZO CÍVEL DO TRIBUNAL JUDICIAL DE BASE DA R.A.E.M.:---- FAZ SABER que foi distribuída ao 2º Juízo Cível do Tribunal Judicial de Base de R.A.E.M., a Acção acima mencionada, contra LEI CHOI SOI, casada, residente em Macau, na Rua dos Hortelãos, 142, Edf. Da Alameda da Tranquilidade, Bloco 1, 20º andar “B”, para o efeito de ser declarada a sua interdição por anomalia psíquica.--

Macau, em 28 de Abril de 2015.-------------------

*****

J osé Pereira Coutinho quer saber quais os critérios usados pelos Governo para selec-

cionar as mais de 1500 pes-soas integradas na base de dados de talentos da RAEM. o também presidente da As-sociação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) diz que a visita a Macau – e a algumas institui-ções de ensino superior – de “talentos” locais que vivem no exterior, e que teve lugar em Fevereiro, foi forjada.

H o Ion sang e Mak soi Kun criticaram a falta de fiscali-zação dos espaços onde estão

localizados os depósitos de materiais e que estão arrendados ao Governo, depois do incêndio que ocorreu na Areia Preta esta terça-feira. os dois deputados da Assembleia Legislativa (AL) falam ainda da insuficiência de espaços em Macau para a colo-cação de materiais de construção e recuperação.

Ao jornal ou Mun, Mak soi Kun confessou que são comuns em Macau os locais de depósito para materiais

de construção, mas que não existe nenhum organismo público com direito a entrar nos terrenos. o de-putado explicou que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e os serviços de saúde (ss) só podem analisar provas depois de receberem queixas, frisando que há zonas cinzentas na lei.

Também o deputado Ho Ion sang criticou a falta de fiscaliza-ção dos terrenos arrendados mas que estão desocupados, lembrando que muitos não estão aproveitados depois de anos da concessão pelo

Governo. o facto desses espaços serem utilizados para depósitos de materiais de construção ou outros bens logísticos acarretam riscos de segurança, lembrou o deputado dos Kai Fong.

“Quantas bombas comunitárias existem, de facto, ao nosso lado? o Governo tem a responsabilidade de pedir aos concessionários dos terrenos para cumprirem responsabilidades, por forma a eliminar riscos para a seguran-ça”, concluiu.

Flora [email protected]

Explosão CritiCada falta dE fisCalização dE dEpósitos dE matEriais

“Bombas comunitárias”, onde?

“Com base em que critérios científicos e académicos foram os 18 indivíduos considerados ‘talentos’ e convidadosà custa do erário público a visitara RAEM e diversos serviços públicos e entidades de ensino superior?”

talEntos Pereira Coutinho questiona rigor da seleCção

sábios e mal aproveitadosJosé Pereira Coutinho quer saber porque é que foi organizada uma viagem de “talentos” do exterior a Macau paga com dinheiros públicos. Além disso, o deputado questiona o Executivo sobre a existência de um plano de aproveitamento de funcionários públicos com mestrado e doutoramento

Assim, pede ainda que lhe sejam feitos esclarecimentos quanto à justificação desta viagem e consequente gasto de dinheiros públicos.

“Com que base e critérios científicos e académicos e de que áreas de forma-ção foram classificados os 5567 indivíduos intitulados

de talentos?”, questiona o deputado numa interpela-ção escrita. “Com base em que critérios científicos e académicos foram os 18 indivíduos considerados ‘talentos’ e convidados à custa do erário público a visitar a RAEM e diversos serviços públicos e entida-des de ensino superior?”, perguntou ainda.

Não é a primeira vez que o deputado pede ao Governo esclarecimentos sobre esta questão.

De acordo com infor-mações disponíveis no we-bsite oficial da Comissão de Talentos, cerca de 4400 inscritos encontram-se no território, enquanto apenas pouco mais de 1100 estão no estrangeiro. é o sexo masculino que mais lugares preenche nesta lista. Quase 10% daqueles que residem no exterior estão em Hong Kong, enquanto apenas 4% está na China, 1,7% nos EUA e uma percentagem mínima - de 0,3% - reside em Portugal.

Estudos, para quEvos quEro?Na interpelação, o presi-dente da ATFPM vai mais longe e sugere a criação de um plano de aproveitamento dos recursos humanos com qualificações académicas de grau universitário que, na sua opinião, não estão a ser aproveitados.

“Existe algum plano de aproveitamento dos milha-res de mestres e centenas de doutorados na Função Pública, para que possam ser considerados quadros qualificados, uma vez que muitos deles continuam a ser desaproveitados nos serviços públicos onde tra-balham?”, questionou.

Para Pereira Coutinho, grande parte destes fun-cionários estão a exercer trabalhos em departamentos e posições que não são da sua competência e nos quais não é possível aproveitar as suas capacidades e conheci-mentos.

“De acordo com dados estatísticos oficiais traba-lham na Função Pública cer-ca de 300 doutorados e 2500 mestres. Muitos são conside-rados quadros qualificados mas são desaproveitados nos próprios serviços públicos e desperdiçados com funções alheias às suas habilitações académicas e experiência profissional”, acusou o depu-tado no documento enviado ao Governo.

Leonor sá [email protected]

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6 publicidade hoje macau sexta-feira 8.5.2015

a caminho dos 5500 amigosJunta-te a opera!

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7sociedadehoje macau sexta-feira 8.5.2015

U m grupo de traba-lhadores do Fundo das Indústrias Cul-turais (FIC) garante

ter sido pressionado por Chan Son U para não reve-lar detalhes sobre a alegada atribuição do fundo a um familiar do agora ex-vogal do organismo. Numa con-ferência de imprensa ontem realizada propositadamente para o efeito, oito funcioná-rios do FIC asseguram que foram pressionados para responder de determinada forma caso fossem chama-dos a falar na investigação.

Os funcionários afirmam que Chan Son U os “guiou na forma de responder às perguntas” do Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, aquando da investigação pre-liminar do caso. Dizem ainda que o ex-vogal “apontou clara-mente” aos funcionários para que estes dissessem que ele “nunca tinha participado em nenhuma reunião da Comis-são de Avaliação” do Fundo ou para dizerem apenas “que só cumprimentou os membros da Comissão” referida.

Os trabalhadores, que se recusaram a dar o nome - ainda

O Governo não tem ainda informa-ções sobre o pro-

cesso de negociação com a Sinosky para o forneci-mento de gás natural em macau. Está é pelo menos a resposta do Gabinete para o Desenvolvimento do Sec-tor Energético (GDSE) ao Hm, quando questionado sobre como se encontram as negociações com a conces-sionária, se foi já entregue

Os funcionários afirmam que Chan Son U os “guiou na forma de responder às perguntas” do Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, aquando da investigação preliminardo caso

Um grupo de funcionários do FIC assegura que o ex-vogal ilibado pelo CCAC os pressionou para não revelarem factos na investigação feita pelo Gabinete de Alexis Tam e dizem mesmo que o fizeram por Chan Son U ser seu superior hierárquico. Os trabalhadores afirmam ainda que o ex--vogal estava na mesma sala quando foi aprovado o projecto

FIC Funcionários contrariam ccac e denunciam pressões de chan son u

A verdade da mentira

Gás nAturAl Governo “sem InFormAções” sobre sInosky

Negociações complexas

que tivessem dado a cara pe-rante os jornalistas, tendo acei-te até tirar fotografias - dizem ainda que, após as questões do Gabinete do Secretário, o ex-vogal “consultou com os trabalhadores o conteúdo de conversa” e que se sentiram pressionados por causa disso.

CondiCionadosmas os funcionários vão mais longe: afirmam mesmo que tiveram de responder às perguntas do Gabinete consoante as indicações do ex-vogal por este ser “su-perior a eles”, ainda que se tivessem sentido “pressiona-dos por essas respostas não corresponderem aos factos”.

Os homens referem que Chan consultou os processos de atribuição do fundo sem ainda ter declarado o impedi-mento. Não se sabe ao certo se o impedimento aconteceu ou não, mas pela demissão do cargo, presume-se que não tivesse acontecido.

mais ainda, os traba-lhadores que participaram na reunião da Comissão de Avaliação lembram-se que o ex-vogal “estava no mesmo escritório onde a reunião avaliou o respectivo projec-to, estando apenas separado por um painel”.

Os funcionários deci-diram assumir a situação de forma pessoal – ou seja, “sem representar o FIC”, por quererem cumprir, dizem, o dever de responsabilidade dos funcionários públicos.

Recorde-se que Alexis Tam despediu Chan Son U depois deste ter, alegada-mente, atribuído o Fundo a um familiar. Contudo, esta semana, o Comissariado contra a Corrupção negou ter havido conduta ilegal e ar-quivou o processo. O Gabi-nete de Alexis Tam, a quem foi pedido um comentário sobre a decisão do CCAC, ainda não se manifestou.

Flora [email protected]

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mac

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o plano detalhado sobre o fornecimento a macau e so-bre quando é que o Governo prevê que a concessionária possa fornecer este serviço.

“Neste momento, não temos informações para fornecer”, lê-se na resposta enviada ao Hm.

Foi em 2007 que o Execu-tivo assinou um contrato com a empresa para o fornecimen-to de gás natural ao território. Por falta de consenso face ao

preço do produto, contudo, não se atingiu ainda uma conclusão.

Em Agosto do ano pas-sado, o assunto esteve em destaque na Assembleia Legislativa, através de uma interpelação de Kwan Tsui Hang, que se mostrava insatisfeita com a política energética do Governo.

A deputada lamentava o facto de o contrato já ir a mais de meio e a Sinosky ainda não ter ainda apre-sentado o plano prometido ao Governo sobre o forne-cimento a longo prazo. A empresa pede agora quase o dobro do dinheiro do que pedia em 2007 e atribui ainda a culpa de perdas de 147 milhões de patacas desde 2006 ao Governo, pela “falta de revisão dos preços do gás natural”. A falta de revisão dos pre-ços aconteceu, segundo o GDSE, porque a empresa não apresentou qualquer plano.

Também a Companhia de Electricidade de macau (CEm) estava dependente da Sinosky para poder co-meçar a produzir energia eléctrica através do gás natural. Numa altura em que macau está fortemente dependente da China para tal, a produção de electri-cidade com gás natural, de acordo com Kwan Tsui Hang, está suspensa há já três anos. mas a CEm já disse, este ano, que vai apresentar uma proposta ao Governo na mesma.

Questionado sobre o assunto na AL, na altura, Arnaldo Santos garantiu que o Governo está em-penhado na diversificação das fontes de energia e que há vários factores externos que estão na origem do aumento do preço, sendo que a “matéria que está a ser negociada”.

O gás natural existe, ago-ra, apenas em Seac Pai Van e na Ilha da montanha. J.F.

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8 sociedade hoje macau sexta-feira 8.5.2015

A maior parte do patri-mónio de Macau cons-tituída por edifícios está a ser utilizada para uso

privado. Isso mesmo confirmou ao HM o Instituto Cultural (IC), depois de questionado sobre a matéria.

De acordo com uma resposta escrita enviado ao nosso jornal, há 128 imóveis protegidos considera-dos património cultural que, diz o IC, “contêm um total de mais de 400 edifícios”. Além de igrejas e

H ouve, nos primeiros cinco meses deste ano, 48 casos de burla telefónica feitos através de telefonemas de criminosos

que se passavam por funcionários de filiais de bancos da China em Macau e dos Correios. Foram registados cinco casos de residentes locais vitimizados, tendo o valor do prejuízo ascendido as 90 mil patacas.

“De 1 de Janeiro de 2015 a 4 de Maio de 2015, a PJ recebeu 48 casos de burla telefónica em que os burlões fingiram ser funcionários de bancos. entre estes casos, registaram-se cinco com prejuízo. o valor total do prejuízo destes casos ascendeu a mais de 90 mil patacas”, disse a Polícia Judiciária (PJ), em resposta ao HM.

No entanto, nenhum dos criminosos foi ainda detido, mas as autoridades sublinharam que há uma relação estreita de cooperação com a entidade homóloga da China para resolver aquilo que dizem ser um “crime transfronteiriço”.

Bancos Meia centena de Burlas dão prejuízo de 90 Mil patacas

“está lá? É do banco”

“Uma pequena parte (dos imóveis) está a ser utilizada pelo Governo (...) no entanto, a maior parte dos edifícios é propriedade privada e está de uso privado por indivíduos ou instituições privadas.”

A maioria dos edifícios classificados de Macau está a ser usada por privados. o IC fala numa “pequena parte dedicada ao Governo”, mas afirma que está de olho nos privados, de forma a queestes edifíciossejam mantidos

patriMónio “Maioria” dos iMóveis sob uso privado, diz iC

o que é nosso é delestemplos, há alguns que estão a ser usados pelo Governo.

“uma pequena parte está uti-lizada pelo Governo, tais como o edifício da Direcção dos Serviços dos Assuntos Marítimos e da Água, edifício do Instituto Cultural e edi-fício do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, entre outros”, refere o IC. “No entanto, a maior parte dos edifícios é propriedade privada e está de uso privado por in-divíduos ou instituições privadas.”

O IC não especifica a quantida-de de imóveis sob uso privado e não revela os nomes das associações a ocupar este património devido à Lei da Protecção dos Dados Pes-soais. “o Instituto Cultural não tem autoridade de fornecer os nomes das mesmas instituições”, revela.

IC fIsCalIzaA questão já foi levantada pelo deputado José Pereira Coutinho, através de interpelações escritas. o HM tentou contactar o deputado para perceber se já obteve respos-tas sobre o assunto, mas não foi possível até ao fecho desta edição.

Ao que o HM apurou, a As-sociação de Beneficência Tong

Sin Tong, por exemplo, ocupa uma casa no Largo Ponte e Horta, conhecida por Antiga Fábrica de Ópio, que alguns especialistas de-fendem que deveria ser um museu.

Sobre a necessidade de preser-vação do património a ser usado por entidades privadas, o IC é claro e garante que a Lei de Salvaguarda do Património Cultural confere o dever legal aos proprietários dos trabalhos da manutenção e repa-ração do imóvel classificado. “Em casos especiais e [que] não violem a mesma lei, o Instituto Cultural fornecerá o apoio adequado.”

Numa resposta a uma interpe-lação de Pereira Coutinho, ontem analisada pelo HM, o IC garante a mesma coisa, acrescentando que dispõe de um mecanismo de inspecção permanente para os 128 imóveis classificados. “Caso haja necessidade de proceder à sua imediata reparação e preservação, o IC tomará a iniciativa de comunicar com os respectivos proprietários (...), acordando com os mesmos a adopção de medidas com vista a uma protecção conjunta do valor cultural dos imóveis”, pode ler-se do documento assinado por Guilherme ung vai Meng, presidente do IC.

Recentemente, o IC garantiu ao HM que mais itens vão fazer parte da nova lista do património. Mas, para os que ainda não constam o Instituto garante ter medidas.

“o IC também se preocupa com os imóveis de interesse cultural que ficam fora da lista de património sugerindo e acordando com os proprietários a adopção de medidas de protecção. Por exemplo, o IC restaurou e protegeu com sucesso o portão de pedra da entrada do Pátio do Arco e alguns edifícios do Pátrio da eterna Felicidade e do Pátio das Seis Casas.”

Joana [email protected]

A burla efectiva acontece de forma indi-recta, já que o telefonema dos criminosos para as vítimas não provoca, em si, a retirada de dinheiro. É, antes, uma forma de adquirir os dados pessoais das pessoas para depois um cúmplice, que se faz passar por agente policial, proceder à burla efectiva.

a CresCerA PJ admite que este tipo de crimes tem vindo a aumentar exponencialmente desde o início deste ano. “A partir do segundo semestre de 2014, houve um aumento deste tipo de burla, tendo-

-se registado um relevante aumento a partir de Abril do presente ano”, explica a entidade.

As vítimas são, na esmagadora maioria, residentes da RAeM com número de telemó-vel e contas bancárias na China continental, mais especificamente em Zhuhai. Grande parte dos criminosos é também originária do continente, diz a autoridade. A PJ sublinha que em nenhum dos casos se verificou “imediato prejuízo de dinheiro em relação directa após o fornecimento dos dados pessoais” das vítimas.

leonor sá Machado [email protected]

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9 sociedadehoje macau sexta-feira 8.5.2015

Nepal Governo doa 20 milhões. mGm também ajuda

Tarda mas chega

A Associação Comercial de Ar Condicionado e Re-

frigeração de Macau realizou um estudo sobre o sistema de ventilação do terminal de au-tocarros das Portas do Cerco. O estudo, com vista à melhoria do espaço, foi entregue ao Go-verno, que prometeu analisar o documento.

“Depois de ouvir a apre-sentação da proposta, o Se-cretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, referiu que os

O Executivo da RAEM resol-veu desblo-quear uma ver-

ba de 20 milhões de patacas para apoiar o Nepal depois do forte sismo que destruiu grande parte do país e que gerou uma forte crise humanitária. Segundo um comunicado ontem emitido, a acção visa “disponibilizar os apoios necessários às vítimas e manifestar a sua solidariedade”.

O apoio financeiro ficou decidido depois do encontro de Chui Sai On com Mahesh Prasad Dahal, cônsul do Nepal em Macau e Hong Kong. O cônsul “manifestou a atenção e apoio do Governo da RAEM nos trabalhos de salvamento após o sismo e esperou que o processo de doação possa ser concluído o mais rápido possível, a fim de prestar apoio às vítimas e à reconstrução das zonas afectadas”.

pub

AnúncioHM 2ª vez 8-5-15

Acção Ordinária n.º CV3-05-0029-CAO 3º Juízo Cível

AUTOR: MAI GOU, casado, residente em HONG KONG, Flat/RM 43 9/F Tshun Ngen BLDG 41-43 Hillwood RD KL HK.RÉUS: CHOI IO WENG, masculino, residente em Macau, na Rua de S. Domingos, n.º 5-A; CHIN KEI TAK, masculino, com última morada conhecida em Macau, na Avenida Dr. Sun Yat Sen, Edf. Va Fong Kok, 12º andar “A”.

***

FAZ-SE SABER que, pelo Tribunal, Juízo e processo acima referidos, correm éditos de trinta (30) dias, a contar da segunda e última publicação do anúncio, notificando o Réu CHIN KEI TAK para no prazo de vinte (20) dias, decorrido que seja o dos éditos, constituir novo mandatário, sob pena de o processo prosseguir os seus termos, aproveitando-se os actos anteriormente praticados pelo advogado nos termos do artº 81º do Código de Processo Civil de Macau, face à renuncia aos mandatos pelos seus advogados, Sr. Dr. PEDRO REDINHA, Sra. Dra. CÉLIA SILVA PEREIRA, Sr. Dr. KUONG KUOK ON e Sr. Dr. CHEANG SENG CHEONG.

Macau, aos 29 de Abril de 2015.

*****

Ventilação nas Portas do Cerco em análiseserviços das Obras Públicas vão estudar a viabilidade e o conteúdo da proposta da As-sociação. Concordando que o problema de ventilação deste terminal subterrâneo de transportes públicos tem que ser resolvido, o Governo irá acompanhar, no mais breve espaço possível, os re-feridos trabalhos”, pode ler--se num comunicado oficial, emitido depois do encontro entre a entidade e o Executi-vo. Contudo, não é avançado

IAS Subsídios a famílias vulneráveis somam 14,5 milhõeso instituto de acção social (ias) vai gastar cerca de 14,5 milhões de patacas para a atribuição do subsídio a famílias em situação vulnerável a cerca de 3700 agregados. a primeira tranche desta ajuda já começou a ser distribuída desde o passado dia 5 às famílias que já contam com o apoio regular do ias, pelo que atribuição aos novos requerentes só começa a ter lugar a partir do próximo dia 18. deste último grupo fazem parte cerca de 1640 famílias. o subsídio vai ser atribuído em duas fases e os montantes variam consoante o agregado familiar. os valores para este ano oscilam entre as 2400 e as 9100 patacas para famílias compostas por uma ou mais de oito pessoas respectivamente.

Durante o encontro, ocor-rido na sede do Governo, foi ainda feito um balanço das vítimas e dos estragos causados pelo sismo.

Mahesh Prasad Dahal apontou que, neste mo-mento, o Nepal “é um dos países mais afectados, sendo impossível avaliar os prejuízos” de um desastre que também afectou países vizinhos, como a Índia. O cônsul agradeceu o apoio já dado pela China e adiantou que o “Governo do Nepal irá empenhar-se nos traba-lhos de reconstrução após a catástrofe”.

Já o Chefe do Executivo revelou “o profundo pesar e solidariedade para com as vítimas desta catástrofe natural e à comunidade do Nepal, estabelecida em Ma-cau, fazendo votos da rápida recuperação das zonas mais fragilizadas”.

Últimas ajudasA ajuda oficial chega muitas semanas depois de organi-zações não governamentais do território, como é o caso da Cáritas ou Cruz Vermelha, terem disponi-bilizado apoios logísticos

e financeiros às vítimas. Uma campanha de recolha de fundos e bens materiais, com arranque no Facebook, também já registou muitos apoios, estando neste mo-mento o transporte dos pro-dutos assegurado para Hong Kong. O facto do Executivo não se ter manifestado até agora levantou polémica entre os nepaleses residentes no território.

Entretanto, a operadora de Jogo MGM anunciou ontem o apoio financeiro de 500 mil patacas para as vítimas nepalesas, a ser doado à Cruz Vermelha de Macau. Esta é a maior ajuda até agora, sendo que o orga-nismo angariou dois milhões e 300 mil patacas para a ajuda financeira ao Nepal. De acordo com o presidente da Cruz Vermelha de Macau, Eddie Wong, o dinheiro foi doado por empresas, insti-tuições, grupos e também pessoas individuais. Eddie Wong também disse que a Cruz Vermelha já enviou vinte pessoas para o vale de Katmandu para ajudarem nas operações de salvamento na zona mais afectada pelo sismo. a.S.S.

o conteúdo da proposta feita pela Associação. Chui Sai On assumiu que “existem alguns aspectos que podem ser melhorados” no espaço. Rocky Poon, presidente da Associação, indicou que as obras feitas no terminal, em 2013, “já aliviaram muito o problema da ventilação”, sendo que a proposta feita “serve para um estudo dos serviços competentes sobre a sua viabilidade na prática”.

tiago alcântara

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10 china

O Governo chinês lançou uma campanha contra

os abortos em função do sexo do feto de forma a reduzir o desequilíbrio na proporção entre homens e mulheres, informou esta quinta-feira a agência ofi-cial Xinhua.

Segundo a mesma fonte, um dos objectivos da inicia-tiva, que a Comissão Nacio-nal de Saúde e Planificação Familiar pôs em marcha em Abril e que se prolonga até Novembro, é diminuir a recorrência das mulheres a

Inspector-geral da asae consIdera “bastante posItIva” a vIsIta à chIna

Contra o preconceito e a contrafacçãoO inspector-geral

da Autoridade de Segurança Ali-mentar e Eco-

nómica (ASAE), Pedro Portugal Gaspar, considerou ontem “bastante positiva” a sua primeira missão à China, afirmando ter encontrado “abertura e interesse” para aprofundar a relação com os organismos congéneres chineses.

“Tendo presente que parte dos problemas que surgem na Europa e em Por-tugal na área dos produtos económicos e da segurança alimentar são oriundos da China, é importante esta-belecer melhores canais de comunicação”, disse Portugal Gaspar à agência Lusa em Pequim.

O responsável citou o

Campanha contra aborto em função do sexo do fetopub

exames médicos que deter-minam o sexo do feto.

Os abortos em função do sexo do feto, um fenómeno so-cial conhecido como feticídio, e os exames que o determinam são ilegais na China, embora a preferência por filhos varões e a política do filho único (instaurada no final da década de setenta e que foi revista no final de 2013) tenham tornado estas práticas populares.

Em 2014, havia 115,88 rapazes por cada 100 rapari-gas na China, o que coloca o país no topo do ‘ranking’ de

hoje macau sexta-feira 8.5.2015

“Não há nenhum preconceito contra a China. Há 500 anosque não há”

caso de alguns brinquedos que têm sido banidos do mercado europeu por “não reunirem os requisitos de se-gurança” vigentes na União Europeia: “Tem de haver convergência de requisitos técnicos”, afirmou.

Em declarações à agên-cia Lusa, o inspector-geral da ASAE salientou que a actuação deste organismo visa também “defender a marca Portugal” e “proteger os produtos portugueses” no estrangeiro.

“Temos produtos de re-ferência, nomeadamente vinhos e azeites, que têm sido alvo de contrafacção noutros mercados. Para dar seguran-ça aos nossos exportadores, interessa saber se esses pro-dutos foram corrompidos em Portugal ou no mercado de destino”, referiu.

Pedro Portugal Gaspar chegou na terça-feira a Pe-quim, integrado na comitiva do secretário de Estado da Economia, Leonardo Ma-thias, que está a efectuar uma visita de oito dias à China para “reforçar a cooperação” bilateral e cujo programa inclui Macau e Hong.

Em Pequim, o inspector--geral da ASAE reuniu-se com responsáveis da China Foods and Drugs Administration e da State Administration for Industry and Commerce, dois organismos com estatuto ministerial, que dependem directamente do Conselho de Estado, o executivo do governo chinês.

“Foi uma missão bastan-te positiva para um primeiro

contacto. Em termos de in-teresse e de empenhamento, a recepção foi óptima. Há, de facto, abertura e interesse para aprofundar alguns pon-tos”, disse Portugal Gaspar.

O inspector-geral da ASAE assinalou ainda que os seus interlocutores mostraram-se “muito em-penhados no combate à contrafacção e na protecção da propriedade industrial”.

Sem preconceitoSA ASAE vai organizar este ano “sessões de esclare-

cimento” para operadores económicos chineses, em co-laboração com a Embaixada da China em Portugal, anunciou ainda, Pedro Portugal Gaspar

disparidade de sexos entre a população infantil.

A perseguição às agên-cias de fertilidade ilegais e às clínicas e ginecologistas itinerantes fazem também parte das actividades da cam-panha, bem como o controlo sobre equipamento médico e medicamentos utilizados nos abortos e nos exames médicos.

No âmbito da campanha, as autoridades chinesas vão ainda elaborar uma lista “negra” com os nomes das organizações envolvidas em actos ilegais.

“Não há nenhum precon-ceito contra a China. Há 500 anos que não há”, disse.

Em Março de 2006, sob a direcção de outro inspector--geral, a ASAE mandou fechar 14 restaurantes chi-neses, na sequência de uma mediática inspecção a mais de uma centena de estabele-cimentos do género, de norte a sul de Portugal.

Nove anos depois, Por-tugal Gaspar reconhece que aquela operação “faz parte da história” do organismo que dirige, mas salienta que

desde o segundo semestre de 2014, a ASAE tem contactos com a embaixada da China e a que a sua página na internet já difunde informações em chinês (mandarim)”.

“Para ultrapassar qualquer preconceito que possa existir, vamos organizar este ano sessões de esclarecimento para operadores económicos chineses residentes em Por-tugal, em colaboração com a Embaixada da China”, disse.

“Não queremos actuar só numa base repressiva”, acrescentou.

“Foi uma missão bastante positiva para um primeiro contacto. Em termos de interesse e de empenhamento, a recepção foi óptima. Há, de facto, abertura e interesse para aprofundar alguns pontos”

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 297/AI/2015-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora, 肖紫蘭, portadora de salvo-conduto para deslocação a Hong Kong e Macau da R.P.C. n.° W63238xxx, que na sequência do Auto de Notícia n.° 45/DI-AI/2013, levantado pela DST a 04.05.2013, e por despacho da signatária de 23.01.2015, exarado no Relatório n.° 24/DI/2015, de 06.01.2015, em conformidade com o disposto no n.° 1 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório por suspeita de prestação de alojamento ilegal na fracção autónoma situada na Rua de Luís Gonzaga Gomes, n.ºs 210-212, Edf. Kam Fung Tai Ha – Kam Fung, Bloco 2, 3º andar K.-------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele auto de notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito não sendo admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo conforme o disposto no n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A matéria constante daquele auto de notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, punível nos termos do n.° 1 do artigo 10.° do mesmo diploma.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d'Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 16 de Abril de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

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11 chinahoje macau sexta-feira 8.5.2015

O especialista em tráfico de seres humanos Matt Friedman esti-

mou quarta-feira em mais de 35,8 milhões o número de pessoas escravizadas em todo o mundo, adiantando que a cada cinco segundos existe um novo escravo.

“O aparecimento de novas formas de escrava-tura moderna está a afectar

Hong Kong ExistEm 36 milhõEs dE pEssoas Escravizadas no mundo

Um escravo a cada cinco segundosMatt Friedman, assessor técnico de vários governos que procuram acabar com a escravatura esteve em Hong Kong para falar das novas formas deste flagelo. A Ásia é o continente com mais escravos, segundo o último relatório mundial sobre escravaturada Fundação Free Walk

Seis dos 10 primeiros países com o maior número de pessoas em regime de escravatura moderna são asiáticos, os primeiros lugares são ocupados pela Índia, China e Paquistão

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cada vez mais pessoas, dado que a sociedade carece de ferramentas para as com-bater”, declarou Friedman numa conferência em Hong Kong, citado pela agência noticiosa espanhola EFE.

Segundo o especialista internacional, a Ásia é o continente com o maior número de escravos, 69% de acordo com dados do último relatório mundial

Pequim pede que Japão respeite apelo da comunidade internacional a porta-voz da chancelaria chinesa, hua chunying, pediu esta quinta-feira que o Japão tome uma atitude séria relativa ao apelo da comunidade internacional e faça uma reflexão sincera sobre a história da invasão. a afirmação foi feita para comentar a declaração divulgada por 187 historiadores vindos dos Estados unidos, Europa e austrália, que expressaram preocupações como a postura de abe shinzo acerca da questão histórica. hua chunying disse que a china está atenta às reportagens relacionadas com esta matéria. a porta-voz salientou esperar que o Japão trate adequadamente estas questões para ganhar a confiança da comunidade internacional e dos países vizinhos.

sobre escravatura elaborado pela Fundação Free Walk.

Seis dos 10 primeiros países com o maior número de pessoas em regime de escravatura moderna são asiáticos, os primeiros luga-res são ocupados pela Índia, China e Paquistão.

Friedman, que trabalha há mais de 25 anos na área, disse que 75% dos considerados escravos mo-dernos realizam trabalhos forçados, 60% dos quais integrando cadeias de produção do sector privado cujo resultado chega até nós em forma de inúmeros produtos.

Adiantou que 74% das quase 36 milhões de pessoas submetidas a escravatura são

adultas e que 24% estão na indústria do sexo, segundo a EFE.

O especialista, que du-rante seis anos e até 2012 trabalhou na ONU, viaja pelo mundo para tentar consciencializar o sector

privado e obter financia-mento para combater o tráfico de seres humanos. Friedman é ainda assessor técnico de vários governos que procuram acabar com a escravatura, especialmente na Ásia.

Page 12: Hoje Macau 8 MAI 2015 #3326

12 hoje macau sexta-feira 8.5.2015eventos

À venda na Livraria Portuguesa Rua de S. domingoS 16-18 • Tel: +853 28566442 | 28515915 • Fax: +853 28378014 • [email protected]

a arca do tesouro • João FazendaTexto de Alice Vieira A Orquestra Metropolitana de Lisboa encomendou a Alice Vieira um pequeno conto para Eurico Car-rapato musicar. A Arca do Tesouro, um texto sóbrio e sábio, que se insurge contra a ditadura imposta pelo relógio, conflui com uma música simples, bela e comunicativa e dá conhecer a história de Maria e da sua caixa azul.

o senhor do seu nariz e outras histórias • João FazendaTexto de Álvaro Magalhães Um conjunto de cinco contos encantadores e divertidos, que também nos deixam a pensar. Há a história de um rapaz condenado a carregar desde a nascença um nariz do tamanho de um chouriço e que, aos poucos, transforma a sua desgraça em graça. Há também a história de quatro ladrões que são enganados por uma luz esverdeada que lhes falava ao ouvido. E a história de Pedro e Inês, que se queriam bem, mas se desencontraram durante a vida inteira (e na outra também). E a história do Senhor Pascoal, que deu a volta ao mundo à procura da felicidade e só a encontrou quando deixou de a procurar. E ainda a história de um homem ambicioso e agitado que não dava descanso ao seu anjo da guarda. Tanto quis e tanto andou, que acabou onde tinha começado.

Quadro de Pomar rendeu 60 mil eurosmas as estrelas foram os pentes africanos

USJ Finlandeses em palestra sobre Inovação J OAQUIM Magalhães de Castro, fotógrafo e autor de diversos livros de viagens, está satisfeito por mostrar os

resultados de uma viagem e projecto de uma vida. Foi há três anos que o autor embarcou e acompanhou vá-rias fases do navio português, desde o dia-a-dia a bordo, a formação de cadetes ou a viagem numa regata. As imagens vão agora ser publicadas no livro “Sagres – A nossa barca”, que será lançado no auditório do Consulado de Portugal em Macau, no próximo dia 12. Para já, apenas foram produzidos mil exemplares.

“Penso que é um bom presente para oferecer a alguém”, disse Joa-quim Magalhães de Castro ao HM. “O Sagres é querido de muitos portu-gueses e também é preciso recordar que o Sagres está na memória dos

O pente tchokwe recolhido em Angola entre os anos 20 ou

30 do século XX tinha uma base de licitação de 500 euros. Estava entre as peças de valor mais baixo que a Cabral Moncada leiloava segunda-feira à noite, em Lisboa, mas foi uma das mais disputadas e chegou aos 13500 euros. Com direito a salva de palmas na sala, vinda até de quem tinha perdido a batalha para outro comprador.

O interesse nas peças da tribo Tchokwe começou a revelar-se assim que o primeiro de 12 lotes surgiu, já o leilão ia a meio. Este conjunto de três pentes (um com falta de dentes) que tinha uma base de licitação de 400 euros e chegou aos 1250 euros. Os se-guintes conseguiram preços mais altos (2900 euros e 2300 euros, respectivamente), mas foi quando surgiu no projector a imagem do pente com a figura feminina, um exemplar perfeito que o número de braços levantados aumentou.

Os conjuntos vendidos não estavam entre os mais caros do leilão nem entre os que Miguel Cabral Moncada considerava serem as grandes apostas da casa. Afinal, tinha um quadro de Vieira da Silva e outro de Júlio Pomar para vender. Ambos iam à praça com uma base de licitação de 60 mil euros, cada um, e acabaram retirados. “Há interessados? Não

há interessados?”. O martelo bateu no palanque sem que ninguém le-vantasse a raquete. Mas a história não acaba aqui.

Antes do último lote ter sido vendido, o quadro de cavalos do pintor português, intitulado Vin-cennes II, de 1965, já tinha novo dono. Preço? “A base de licitação: 60 mil euros”, confirmou Miguel Cabral de Moncada ao DN.

DOIS professores finlandeses especialistas em Inovação vão

ser oradores numa palestra sobre Laboratórios Vivos e a aprendiza-gem colectiva, que terá lugar na próxima quarta-feira, das 18h30 às 20h00, na Universidade de São José (USJ). A iniciativa, conduzida em inglês e com entrada livre, pretende dar a conhecer ao público e interes-sado nesta área o que é necessário fazer para fazer jus às exigências do mercado actual.

“Tanto os serviços privados, como os públicos têm que come-çar a acelerar a criação dos seus produtos”, refere a organização em comunicado. O objectivo de Lauri Tuomi e Sakariina Keikkanen é

esclarecer os presentes acerca dos novos modelos de negócios e da importância de conceitos como “co-criação” e “direccionado para o consumidor”.

A organização sublinha ainda que o conceito de Laboratórios Vivos será aplicado à resolução de problemas sociais em Macau. Esta conferência conta com o apoio do Programa da União Académica da União Europeia e vai também focar-se nas possibilidades de co-laboração entre a Ásia e a Europa.

Os dois professores convidados vêm da Universidade Hagga-Helia de Ciências Aplicadas e são espe-cializados em Desenvolvimento e Inovação.

Três anos depois da viagem a bordo do navio Sagres, Joaquim Magalhães de Castro vai finalmente publicar as imagens que captou. O livro “Sagres – A nossa barca” será lançado na próxima semana no auditório do Consulado de Portugal em Macau. O autor planeiaainda lançar umlivro de textossobre o Sagres,ainda sem data

FotograFias do navio sagres apresentadas em livro

“O Sagres faz parte da história de Macau”

Autor a bordo da Sagres

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13 eventoshoje macau sexta-feira 8.5.2015

Actor e cantor ChilamCheung no Venetian em JulhoChama-se “Chi Lam Crazy Hours Live in Macao” e é o espectáculo que o actor e cantor Chilam Cheung traz a Macau no próximo dia 4 de Julho, a decorrer na arena do Venetian. Os bilhetes vão estar à venda a partir de amanhã e variam entre as 280 e 1080 patacas. Chilam Cheung começou a sua carreira em 1991, tendo lançado o album “Crazy Hours” o ano passado.

Sands organiza duas provas de vinho este mêsO Sands Macao vai organizar mais duas provas de vinho nos próximos dias 15 e 29, onde deverá apresentar 11 novos vinhos da ASC Fine Wines e sete outros da Piccini Estate. No primeiro dia, os amantes daquela bebida terão oportunidade de experimentar os vinhos brancos Prosecco, Pinot Grigio, Riesling e Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, juntamente com vinhos tintos da Tuscânia e do estado norte-americano do Oregon. O dia 29 é inteiramente dedicado aos vinhos italianos, com sete Piccini Estate, incluindo quatro tintos, dois brancos e um Prosecco extra seco. As iniciativas, que acontecem das 18h00 às 21h00, custam 158 patacas e vão realizar-se no Paiza Lounge do Sands.

O músico João Gil estreia o projecto “Non-Finito”, no dia 23 de Julho, no pal-

co do Festival cooljazz, em Oeiras, anunciou ontem a organização.

João Gil, que fez já parte, entre outros, dos Trovante, Ala dos Namorados, Cabeças no Ar e Filarmónica do Gil, actua na primeira parte do concerto de António Zambujo, nos Jardins do Marquês de Pombal, em Oeiras, apresentando o seu novo projecto musical, que “junta algumas das suas composições mais emble-máticas com originais”, segundo a mesma fonte.

Do alinhamento de “Non--Finito” fazem parte, entre outras, as canções “Perdidamente”, “Sau-dade”, “Esplanada”, “125 azul”, “Zorro”, “Loucos de Lisboa” e “Postal dos correios”, interpreta-das por nomes como Nancy Vieira, Filipe Pinto e Ricardo Ribeiro.

“Tal como um edifício em permanente construção, João Gil junta o que há de melhor na sua obra e apresenta uma viagem aos grandes momentos, mas também algumas canções originais, numa nova abordagem por um grupo de

cooljazz joão Gil estreia “NoN-FiNito”

Músico multi-projectosexcepcionais músicos”, afirma a organização.

O músico conta cerca de 30 anos de carreira e tem participado nos mais diversos projectos musicais, designadamente no álbum “Fados de amor e pecado”, com João Monge, da fadista Ana Sofia Varela, que foi distinguido com o Prémio Amália Melhor Álbum em 2010.

Mais recentemente, o músico formou o grupo Baile Popular, gravou um CD com Luís Represas, ex-companheiro dos Trovante, for-mou o Quinteto Lisboa, em 2012, e compôs uma “Missa brevis”.

A 12.ª edição do Festival edp-cooljazz realiza-se nos Jardins do Marquês de Pombal e no Parque dos Poetas, em Oeiras, nos arredo-res de Lisboa, de 19 a 31 de Julho.

Entre os nomes já confirmados estão Chick Corea & Herbie Han-cock, que actuam no dia 19 Julho, Mark Knopfler, no dia 28, Melody Gardot, dia 29, Lionel Richie, dia 30, e a dupla Caetano Veloso e Gilberto Gil a 31 de Julho.

Desde 1994, o festival conta “mais de 120 concertos, tendo juntado mais 275.000 pessoas”, segundo a mesma fonte.

Obra sObre África em JunhOJoaquim Magalhães de Castro vai ainda lançar este ano, em Portugal, mais um livro de viagens, mas desta vez em terra. Trata-se de um retrato da presença portuguesa na zona da África Subsariana. “Tenho um livro sobre a África Subsariana, o Magrebe, Marrocos, Senegal e Mauritânia, que vai ser editado em Portugal, em Junho. Isto porque este ano comemoramos os 600 anos da conquista de Ceuta, que deu inicio a todo o processo de expansão portuguesa. É uma data marcante e eu percorro esses locais. Sempre na mesma senda, da busca da presença portuguesa nesses locais.”

FOTOGRAFiAS dO NAViO SAGRES APRESENTAdAS EM LiVRO

“o sagres faz parte da história de Macau”chineses de Macau, porque esteve cá duas vezes. O Sagres está na memória dos chineses.”

Os apoios institucionais e fi-nanceiros tardaram a chegar, o que explica a publicação da obra tantos anos depois. Apesar das dificulda-des, Joaquim Magalhães de Castro revela-se orgulhoso do projecto. “Este é um livro trilingue, e é a primeira vez que o Sagres tem algo escrito em chinês e inglês. Creio que essa será a novidade. Depois tentei dar uma maior abrangência, porque fiz três viagens, bastante distintas”, conta o autor.

Numa obra que pretende, ela pró-pria, levar o leitor a viajar no navio, começa por mostrar as actividades a bordo, que compõem a maior parte das fotografias presentes. Segue-se a formação de cadetes e a viagem na regata. As legendas das fotos foram escritas pelo próprio Joaquim Magalhães de Castro.

“O objectivo não é apenas ser um livro de fotografia, é também ser um livro de viagens. Não quero que seja um livro muito sério, quero que seja um pouco juvenil, para misturar um pouco a banda desenhada com a fotografia. Poderá ser considerado um pouco fora do padrão, e ainda bem”, revelou o autor.

Apesar de ainda não ter uma data, Joaquim Magalhães de Castro quer ainda pegar na experiência e passá--la para a escrita, com a publicação de novo livro que será uma espécie de Diário de Bordo para todos os que o lerem.

ApostA nA diplomAciAA aventura começou em 2010, quan-do Joaquim Magalhães de Castro embarcou no Sagres com destino a

Goa. Mais tarde faria nova viagem só para retratar a formação dos cadetes, numa viagem com destino à Madeira, Cabo Verde e Açores. Para além das fotos sobre todos esses momentos, o livro conta com textos introdutórios dos coman-dantes do navio. Proença Mendes recorda: “Ao longo dos 20 dias de tirada fomo-nos habituando a ver o Joaquim a aparecer onde quer que houvesse actividades, independen-temente da hora. Tirava fotos sem conta, filmava tudo o que acontecia e fazia muitas perguntas”.

Visivelmente fascinado pelo navio, o autor considera que tanto os empresários portugueses como chi-neses poderiam aproveitar o Sagres para promoverem os seus negócios.

“Há uma parte de diplomacia económica do Sagres e que não é muito utilizada. O Sagres todos os anos faz viagens, e precisam é de patrocinadores. É uma escola e uma embaixada de Portugal ambulante. Nessa viagem de preparação dos cadetes podiam aproveitar para promover os produtos portugueses”, considera.

Joaquim Magalhães de Castro recorda sempre a enorme aceitação do navio por parte da população portuguesa. “Sempre que o navio chega a um Porto abre para visitas. Uma das queixas que fizeram os comandantes foi que os empresários portugueses poderiam aproveitar o Sagres para fazer a promoção dos seus produtos. Não apenas por ser um navio português, mas também por ser um grande veleiro, que exerce sempre um grande fascínio, por ser um navio muito bonito”, concluiu.

Andreia sofia [email protected]

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hoje macau sexta-feira 8.5.2015

H á largos dias, um vento de fim do mundo. Coisa per-turbadora nos fenómenos atmosféricos é o vento.

Dissipador. Desestabilizador. Porque a enormidade do universo me causa o te-mor da diluição. Outras vezes o confor-to. Como na contemplação do mar, ou do céu. Algo de temporariamente har-monioso, repostas as devidas escalas, se traduz numa sensação de apaziguamen-to. Sobretudo isso. No entanto aquilo que me faz sentir na verdadeira escala de grandeza face ao universo, com um rigor maior, é apavorante. Viver na ilu-são de ter uma alma cheia, uma cons-ciência maior que o tamanho da cabeça e sentir o seu conteúdo exorbitante, e mesmo assim, face a um vento comum, sentir a insignificância de desempenhar um papel baseado na enorme ficção, de relevância da espécie, num planeta tam-bém insignificante e ínfimo. Um grão de poeira neste universo. E, face a este mecanismo de modéstia, uma série de outras insignificâncias existenciais, são erradicadas do rol das prioridades. Do ser e do fazer, dos esquemas e estraté-gias. Tudo sem passar de ilusões de rele-vância. E é o baixar os braços ou enco-lher os ombros em desalento. Mas há o amanhã para compor tudo isto. Não sei no entanto se o depois de amanhã é real, ou já é aspirar a muito mais do que a im-previsibilidade universal condena a ter como incerto. Há sempre um meteorito futuro em trajectória de colisão dramá-tica. Que esperar para apurar a essência do momento único que é este? Que já passou algumas palavras atrás e que se escoa por entre os dedos, como pelos intervalos das teclas.

Era vento norte, não sei sequer dizer se frequente, mas que naquele dia me apanhou desprevenida e receptiva ao exagero dos sentidos. O mais negativo dos quatro ventos na mitologia também, violento, frio e devorador. Bóreas. Mas o que limpa. Definido como uma simples brisa forte, na escala que diz a dimen-são actuante dos ventos em velocidade, inventada pelo Sr. Beaufort, mas esque-cendo a medida variável com que estes nos apanham, envolvem e revolvem, por vezes. Só um vento de vinte nós. Que exagero meu. Hipersensibilidade num momento particular.

O vento forte, no campo, pode ser atemorizador porque toda a natureza vegetal se move tresloucada, violenta, ruidosa. Não sei porquê apavorante, se simplesmente acentua a percepção da natureza como um conjunto de forças

Quantos nós tem o vento (I)

vivas…Mas na cidade é diferente. A ci-dade crispa-se e parece-me subitamente silenciosa, resistente e triste. Na cida-de, qualquer cidade, contrária e ausen-te dessa natureza transcendente de for-ças, os ventos são de tal modo alheios à natureza disciplinada em que se ordena

o espaço, que me dão uma sensação de imprecisa de temor. Porque desse ven-to indomável que atravessa a correr as ruas disciplinadas da cidade, emerge a sensação de que, por comparação, es-tas são mortas, remotas, a resistir como ruínas aos elementos.

Não é que tenha sido exactamente assim. Mas algo naquele momento arre-dou da minha percepção os sinais nor-mais também da existência de pessoas, registando com intensidade que tornou real, o que talvez fosse só uma impres-são baralhada dos sentidos. Varridas do

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 8.5.2015

de tudo e de nada AnAbelA CAnAs

mundo, naquele lugar, o resto das pes-soas. E as que ficaram, isoladas do meu olhar inquieto por uma cortina de recu-sa de entendimento maior, à excepção daquilo que sentia. Mesmo as folhas ainda ausentes das tílias, pareciam ter sido levadas malevolamente ainda an-

tes de rebentar. Este vento numa cida-de move sempre e quase só lixo pelos ares. Sacos de plástico, como restos de civilização.

Esta minha paragem um pouco fora dos referenciais de normalidade, tam-bém por ver-me, nessa mesma tarde,

mas antes, numa incursão rápida a meio do meu dia, e para tratar de uma coisa banal, um documento que me identi-fica não já como ser com identidade, mas agora com cidadania, o que me deu matéria para pensar. E num sítio, para além do vento, de uma rara estra-nheza. Na margem da cidade mas ir-reconhecível. Espaçoso, novo, despido de referências. E também aí pensei que tudo me lembra de alguém. Seja quem for. Gravado em profundidade num lu-gar exterior ou anterior. Ou pensando melhor, num lugar posterior da memó-ria da estranheza. O que mostra toda a falibilidade dos eixos referenciais, e do suposto elo entre coisas, lugares e pessoas. A qualquer momento inespe-radamente reelaborado.

Depois pensei que na realidade o meu mundo morreu, um certo mundo. Não como morre todos os dias no es-coar dos segundos, nem como quando consigo adormecer e o perco da cons-ciência que é o único modo que tenho de o possuir, mas como uma certa for-ma de familiaridade, na qual, é certo, também noutro tempo me senti ana-crónica. Ligada por empatia a coisas de outras épocas, mas também a coisas que eram mudança relativamente a elas. Penso depois na minha vontade de par-tir que povoava todas as noites aqueles momentos de escuridão pacífica antes do sono, pelos quais me deitava emo-cionada para rever noite após noite. A cabeça povoada de literatura de piratas e corsários, expedições e descobertas. Mundos longínquos, carácteres no-bres. O muito longe como apelo. Mais tarde a minha vontade e partir ganhou contornos menos definidos até se reco-nhecer a si própria como independente de tempo e lugar. Pensei que na reali-dade o meu fim do mundo já foi. Parece exagero mas dou por mim a pensar que o meu mundo morreu.

Foi morrendo aos poucos subliminar-mente, a velocidades diferentes, fui-as lendo parcialmente e naquele dia elabo-rou-se a frase definitiva. Mas não morreu porque tenho a idade que tenho, mas sim porque a tenho no tempo que habi-to. E com a infância lá longe. Um tempo de bons e de maus. Começou a morrer quando atingi uma idade de maturidade. Quando apareceu a internet e subverteu as relações de proximidade e distância en-tre as pessoas e os saberes. Quando a pu-blicidade invadiu o meu espaço e o meu tempo privado, vindo ao meu encontro quando não a quero. Quando os telemó-veis permitiram às pessoas naturalmen-

te telefonar demais, de e para qualquer lugar. Perguntar, onde estás em vez de como estás, e excluíram qualquer noção de rigor ou de respeito pela privacidade. Quando se passou a copiar tudo e tudo se tornou mais impessoal, quando se perdeu a caligrafia, o cheiro dos livros. Quando o meu pai morreu, porque quando os pais morrem se desprende uma parte das raízes e as árvores podem ter tendência a tombar. E o meu avô mais paternal. E o outro que se suicidou. E mais um sem número de tios e tias benéficos e bem dispostos. Os mais velhos de uma famí-lia grande. E que eram aqueles que mais relação tinham comigo. Com um grau de identificação maior. Dos mais novos a distância é muito maior porque já são um outro mundo.

E a minha amiga quase irmã, Guiomar. Pouco mais do que a idade de Cristo e também com uma coroa de espinhos. Mas no estômago. E amiza-des e amores que acabam. Ou vão aca-bando, por vezes já cobertos por uma capa fina de inércia, que não resiste a um gesto particular, uma insignificân-cia qualquer. Não era pois da nature-za que falava e sim de um mundo que senti que já não está cá. Que foi desa-parecendo dando sinais e um dia já lá não estava. Resumido àquela sensação de para sempre, que é também o lugar da infância. E que um dia se desfaz. Nos últimos trinta anos, dez anos ou no ano passado talvez. Algumas pes-soas fizeram o epitáfio mas não a ora-ção fúnebre. Essa cabe-me a mim mas não a quero fazer. Depois entendi que começou a acontecer quando tinha seis anos. E, pela primeira vez dei uma enorme desilusão a mim própria. Uma mentira triste e que não tive a capaci-dade de emendar. E me fez morrer um pouco. Mas dela, dessa primeira pe-quena morte, nasceu progressivamente algo que me estrutura e é importante.

Resta pensar nesse ou neste mun-do como uma epiderme, de que todos os dias se desprendem células mortas, renovadas do interior incessantemente por outras mais novas, e que com um bom exfoliante se limpa toda essa cama-da já em desuso, fazendo emergir uma pele de mundo mais luminosa. A prazo, claro, mas temporariamente nova.

E depois, coincido por momentos neste mundo a trinta centímetros de distância, vejo que são seis da tarde. Olho pelas janelas e vejo a luz a mu-dar perceptivelmente, e sei que este é o mundo possível. O deste preciso mo-mento. E é bom.

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hoje macau sexta-feira 8.5.201516 h

T erminamos o artigo que abordava a vida do Capi-tão Jorge Álvares dizendo que, após a morte do Padre

Francisco Xavier ocorrida em 1552, não aparecem mais informações sobre esse mercador português. no entanto, através de rui manuel Loureiro sabe-mos que nesse mesmo ano, ainda em sanchoão, o Capitão Jorge Álvares en-comendara a mercadores chineses vá-rias peças de porcelana azul e branca, onde o seu nome aparecia, “o man-DoU FaZer JorGe aLVrZ 1552” e que mais tarde lhe foram entregues. o Padre João de Lucena refere que após o Capitão regressar a malaca, aí, algu-mas semanas depois, “uns ladrões o ma-taram bem desastradamente no mato, indo a cortar madeira”. assim fecha-mos a história da vida deste mercador e Capitão, que terá morrido nos finais de 1552, ou inícios de 1553.

Pedro Velho é outra figura à qual dedicamos uma procura de anos para saber um pouco mais da sua vida e quase nada conseguimos adiantar para além do muito badalado episódio ocor-rido em sanchoão, onde também inter-vém o Padre Francisco Xavier.

Pertencente à lista dos primeiros habitantes de macau, Pedro Velho me-receu uma referência desse jesuíta em carta de 13 de Janeiro de 1552 ao rei de Portugal D. João iii: “Homem rico e abastado e de muito serviço”. encon-trou pela primeira vez o Padre Xavier no Japão, após este chegar a Kagoshi-ma, satsuma, no dia 15 de agosto de 1549.

Pedro Velho partira de Portugal para a Índia em 1524 e no ano seguinte estava no malabar já como Capitão de um navio, tendo também comercializa-do por malaca, China e Japão. Pouca informação existe sobre esta persona-gem e não fosse ter na ilha de sanchoão ocorrido o episódio de ficar a saber a altura da chegada do seu falecimento, seria mais um dos capitães mercadores portugueses que pelo extremo oriente passaria sem deixar rasto.

上州 A IlhA de ShAnghuAn

na costa da província de Guangdong, a sul do delta do rio das Pérolas en-contra-se a ilha de shanghuan, conhe-

PEDRO VELHOnOtáVEL funDaDOR DE Macau

cida pelos portugueses por sanchoão, s. João, ou sanchuan, que segundo Benjamim Videira Pires fica a “duas lé-guas do continente, e trinta da cidade de Cantão”.

em 1535 havia uma alfândega em macau, que depois foi transferida para Lampacau, onde os portugue-ses, no início disfarçados de habitan-tes do sião em embaixada tributária, iam para negociar com os chineses. em 1543, com a chegada dos por-tugueses ao Japão, as ilhas ao redor de Cantão, sanchoão e Lampacau, ganharam um imenso movimento e nesse mesmo ano, já quinhentos portugueses aí negociavam com os chineses sedas, chá e porcelanas, a troco de prata. altura em que os mercadores portugueses consegui-ram também estabelecer-se em Liam-pó, na costa da actual província de Zhejiang e daí expulsos, foram para Chincheu, porto da província de Fujian. Perdidas estas duas bases, os mercadores portugueses compra-ram a tolerância dos mandarins de Guangdong, que veladamente lhes permitiram estadias curtas de novo em shanghuan e Lampacau, tão mal estavam as finanças provinciais chi-nesas. assim, para realizarem trocas com os comerciantes de Cantão, desde 1549 até 1553/4, os barcos portugueses, os únicos europeus que navegavam no mar da China, por es-tarem proibidos de entrar no conti-nente chinês, aportavam na ilha de sanchoão, sobretudo entre os meses de Julho a outubro.

o Padre Francisco Xavier, devido à embaixada do Vice-rei das Índias à cor-te chinesa ter sido desfeita em malaca, chegou a sanchoão para entrar clan-destinamente na China. É dele a des-crição feita em 1552 desta ilha, como sendo muito movimentada e onde nu-merosos comerciantes cantonenses vi-nham fazer fazenda com os portugue-ses, negociando sedas por prata. aí se acomodavam algumas centenas de por-tugueses alojados a bordo das suas em-barcações, ou em cabanas temporárias destruídas no fim da estação comercial, antes de abandonarem a ilha.

rui manuel Loureiro acrescen-ta: “À chegada do padre mestre, a ilha assumia o aspecto de uma enor-

me feira franca, onde portugueses e chineses se dedicavam a um intenso tráfico, descuidando de todo a vida espiritual.” Já o Padre João de Luce-na referia em finais do século XVi ser sanchoão “uma feira de enganos e usuras, uma praça de jogo, brigas e desmandos”, “de gente rica, farta, ociosa, dissoluta” e pela chegada à ilha do jesuíta Francisco Xavier,

onde mandando erguer uma igreja, modificou o estar desses mercadores portugueses.

em sanchoão, provavelmente em setembro de 1552, o Padre mestre Xavier revelou ao amigo Pedro Velho que a sua hora chegaria quando lhe soubesse mal o vinho. isto ocorreu de-pois de Pedro ter entregado a chave do seu cofre ao padre para de lá retirar

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 8.5.2015

José simões morais

o dinheiro do dote de casamento de uma chinesa pobre. Pedro Velho, en-tretido nos copos e a jogar, não quis deixar a mesa e acompanhar o jesuíta. Após regressar com a chave, entregan-do-a disse-lhe ter retirado trezentos cruzados e logo Pedro retorquiu de-ver ele ter levado os trinta mil que lá estavam. Perante tal desprendimento, Francisco Xavier revelou-lhe que nada na vida lhe faltaria e indicou quais os sinais que antecipariam a chegada da sua morte.

A vidA de Pedro velho

Foi pelo acordo de 1554, entre o Capi-tão-mor Leonel de Sousa e o mandarim Wang Bo (subintendente dos Assuntos de Defesa Costeira), que Macau se tor-

nou na China uma das principais bases de comércio de estadia temporária para os portugueses, passando a permanente em 1557. Assim, o início do estabele-cimento oficial e fixação portuguesa em Macau. Já da Ilha de Shanghuan se tinha perdido o comercial interesse, após daí levar o corpo do Santo, mas Lampacau, como porto de veniaga, só deixou de o ser entre os anos de 1561 e 1562.

Importante comerciante, Pedro Ve-lho foi um dos notáveis fundadores de Macau e aqui, já com uma adiantada idade, a sua extraordinária morte cau-sou grande sensação.

Amigo de Diogo Pereira e de S. Francisco Xavier, de que foi testemu-nha dos seus primeiros milagres, Pedro Velho viveu “até à última velhice prós-pero e abundante assim de dinheiro, como de outros bens de fortuna. Este-ve algumas vezes arriscado a quebrar, mas com os subsídios dos amigos, que prontamente lhe acudiam, como se fossem comuns os interesses, tornava a levantar a cabeça.” Palavras do Padre Francisco de Sousa no “Oriente Con-quistado por Jesus Cristo”.

Já Manuel de Faria e Sousa no li-vro “Ásia Portuguesa” por duas vezes fez referência a Pedro Velho: No ano de 1585?, “Rajale, Rei da cidade de Jor, escandalizado de que em Macau lhe tivessem metido ao fundo uma embarcação, por mais que lhe des-sem satisfações, dispôs-se à vingan-ça, fingindo que as tinha por justas. Com boa frota impedia os manti-mentos àquela praça.

Partiu a ser capitão-mor daque-le mar D. Jerónimo de Azevedo, que, dando princípio ao reparo, enviou Pe-dro Velho com oito navios sobre uma povoação vizinha de Jor. Queimou-a. Ao recolher, porém, assaltado pela ar-mada inimiga, foi desbaratado com a perda de quatro fustas e perdê-las-ia todas se Pedro da Cunha Carneiro não acudisse velozmente com o seu galeão e, com estranha valentia, não os arran-casse às mãos do inimigo.”

“Finalmente, estando um dia muito alegre e festival em um solene banque-te, pediu vinho e parou ao primeiro sorvo, porque lhe soube a fel, e trazen-

“Finalmente, estando um dia muito alegre e Festival em um solene banquete, pediu vinho e parou ao primeiro sorvo, porque lhe soube a Fel, e trazendo à memória no mesmo tempo a proFecia do santo, teve um certo horror a tão improviso anúncio da morte”

do à memória no mesmo tempo a pro-fecia do Santo, teve um certo horror a tão improviso anúncio da morte.

Querendo certificar-se mais, passou a taça aos amigos e perguntou-lhes a que lhes sabia aquele vinho. Responde-ram que era excelente.

Mandou vir outros copos e outras castas diversas de vinhos e todos lhe amargavam na boca.

Não lhe restando já dúvidas, levan-tou os olhos ao Céu e tacitamente se pôs todo nas mãos de Deus e referiu aos convidados a profecia do Santo e o cumprimento dela que agora se via e começou a preparar-se para bem mor-rer.

Repartiu da sua fazenda liberalmen-te com os pobres e deixou o restante aos filhos, que viveram depois ricos e abastados das cousas do mundo.

Despediu-se dos amigos, muitos dos quais vendo-o são e valente e ouvindo--o falar da morte tão vizinha, como ele dizia, imaginavam que já tonteava ou pela muita velhice, ou por alguma repentina melancolia e tratavam de o alegrar com lhe dizer cousas alegres e o aliviar com divertimentos aprazíveis.

Mas ele os levou todos consigo à igreja, onde havia mandado aprestar tudo quanto era necessário para um ofício funeral; tomou o Santo Viático e a Extrema Unção das mãos do Vigá-rio, e deitando-se na tumba, como se estivesse morto, fez cantar uma Missa de Requiem.” O Padre Manuel Teixei-ra refere este texto retirado do Padre Francisco de Sousa no “Oriente Con-quistado por Jesus Cristo”.

A morte de Pedro velho

Montalto de Jesus escreve: “Outro notável fundador de Macau foi Pedro Velho, um importante mercador cuja extraordinária morte causou grande sensação.

Conta-se que durante uma festa se despediu misteriosamente dos seus amigos, os convidou para o seu funeral e, depois de deixar resolvidos os seus assuntos mundanos, foi à igreja, prepa-rou-se para a morte e, imitando os mor-

em sanchoão, provavelmente em setembro de 1552, o padre mestre Xavier revelou ao amigo pedro velho que a sua hora chegaria quando lhe soubesse mal o vinho

tos, deitou-se num ataúde, entre círios acesos, enquanto padres oficiavam uma missa cantando de requiem, para des-canso da sua alma.

Quando, depois da cerimónia, os criados levantaram a mortalha com a qual se tinha coberto, encontraram-no realmente morto. Soube-se que duran-te a festa ele recebeu o que considerou um aviso de morte, profetizado por S. Francisco Xavier em Sanchuan – en-tre os aldeãos daquela ilha, havia uma linda rapariga. Para a salvar das ten-tações a que estava exposta, S. Fran-cisco apelou para a generosidade de Pedro Velho que, embora descrente em assuntos de fé, nunca negou a as-sistência pecuniária ao santo homem para os seus actos de caridade. Em troca de um dote para o casamento da doce rapariga de Sanchuan, S. Fran-cisco abençoou o doador e, para que a morte não o apanhasse desprevenido, predisse que o seu último momento estaria próximo quando achasse azedo um bom vinho: foi o que aconteceu na festa. De muito serviu esta predi-ção para atestar o dom de profecia do santo na sua canonização.” Regressan-do ao Padre Francisco de Sousa no Oriente Conquistado...: “Estava já na igreja povo inumerável, uns esperan-do para verem o cumprimento da pro-fecia do Santo e outros para se rirem da doudice do Velho. No fim da missa se chegou o Sacerdote com os Minis-tros junto à tumba para lhe cantarem, como é costume, o último responsó-rio. Estava ele ainda vivo no princípio desta cerimónia, mas acabado o res-ponsório e cantado o Requiescat in pace, se chegou um criado a ele para o levantar e achou-o morto.

Incrível foi o ruído e abalo do povo, enquanto acabaram de desenganar-se, seguindo-se logo muitas lágrimas de devoção e ternura e afectuosas bênçãos à santa memória do Padre Mestre Fran-cisco defunto havia já muitos anos.

Aconteceu esta prodigiosa morte em Macau”.

importante comerciante, pedro velho Foi um dos notáveis Fundadores de macau e aqui, já com uma adiantada idade, a sua eXtraordinária morte causou grande sensação

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João Corvofonte da inveja

Aconteceu Hoje 8 de maio

nasce jean Henri Dunant, fundador da cruz Vermelha • A 8 de Maio de 1828 nasce Jean Henri Dunant. Nascido na Suíça, Dunant venceu o Prémio Nobel da Paz em 1901, por ter fundado a Cruz Vermelha Internacional e criado a Convenção de Genebra. Jean Henri Dunant era filho de um casal com grande influência na cidade e activo na vida política e social. O pai era membro do Conseil Représentatif, um dos ex-ramos legislativos da cidade de Genebra, e cuidava de órfãos e ex-reclusos. Já a mãe era filha de Henri Colladon, chefe do Hospital de Genebra e prefeito de Avully. Ela trabalhava no sector de caridade, especialmente com pobres e doentes. As actividades de caridade dos pais reflectiram-se na edu-cação dos filhos: eles incentivaram a responsabilidade social desde cedo em Henry Dunant e nas suas duas irmãs e dois irmãos. Uma experiência marcante para Henry Dunant foi uma viagem com o pai para Toulon, onde teve que testemunhar a tortura de prisioneiros numa cozinha.Inicialmente um homem de negócios, Dunant cresceu para se tornar representante de uma companhia genovesa. En-frentando alguns problemas no que diz respeito à exploração de terras - e numa tentativa de solução desses mesmos problemas - decidiu dirigir-se pessoalmente ao imperador francês Napoleão III, que na época se encontrava em Itália dirigindo o exército francês. Ao presenciar o sofrimento na frente de combate na Batalha de Solferino em 1859, Dunant organiza de imediato um serviço de primeiros socorros. Desta sua experiência resultou o livro ‘Un souvenir de Solferino’, publicado em 1862, onde sugeria a criação de grupos nacionais de ajuda para apoiar os feridos em situações de guerra e propunha a criação de uma organização internacional que permitisse melhorar as condições de vida e prestar auxílio às vítimas da guerra.É então em 1863 que é criado o que chamava na altura ‘Comité International de Secours aux Blessés (Comité Internacional de Socorro aos Feridos) reconhecida no ano seguinte pela Convenção de Genebra e o que viria a ser o Comité Interna-cional da Cruz Vermelha.A Cruz Vermelha é uma organização que até hoje ajuda pessoas doentes no mundo inteiro.

“citizen KAne”(orson Welles, 1941)

h o j e h á f i l m e

O que fazer esta semana? C i n e m aCineteatro

Sala 1the avengerS: ageof ultron [3d] [b]Filme de: Joss WhedonCom: Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo14.15, 19.15

the avengerS:age of ultron [b]Filme de: Joss WhedonCom: Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo16.45, 21.45

Sala 2helioS [c]FAlADO EM CANTONêS lEGENDADOEM CHINêS E INGlêSFilme de: longman leung, Sunny lukCom: Jacky Cheung, Nick Cheung, Shawn Yue, Ji Jin-hee14.30, 16.45, 19.15, 21.30

Sala 3murmur of the heartS [b]FAlADO EM MANDARIM lEGENDADOEM CHINêS E INGlêSFilme de: Sylvia ChangCom: Isabella leong, Joseph Chang, lawrence Ko, lee Sinje14.30, 16.45, 19.15, 21.30

HojeTEATRO “O FATO”

(FESTIVAl DE ARTES DE MACAU)

Centro Cultural de Macau, 20h00

Bilhetes das 150 às 200 patacas

ExPOSIçãO DE ARTES VISUAIS DE MACAU (ATÉ 2/8)

Pintura e Caligrafia Chinesas

Edifício do antigo tribunal, 10h00 às 20h00

entrada livre

ExPOSIçãO “A ÚlTIMA FRONTEIRA:

MISTÉRIOS DO OCEANO PROFUNDO” (ATÉ 31/05)

centro de ciência de Macau

PAlESTRAS SOBRE O OCEANO

Centro de Ciência de Macau, 18h00 às 19h00

entrada livre

AmanhãTEATRO “O FATO” (FESTIVAl DE ARTES DE MACAU)

Centro Cultural de Macau, 20h00

Bilhetes das 150 às 200 patacas

DANçA “AERODINâMICA”

(FESTIVAl DE ARTES DE MACAU)

Centro Cultural de Macau, 20h00

Bilhetes das 100 às 250 patacas

PAlESTRAS SOBRE O OCEANO

Centro de Ciência de Macau, 18h00 às 19h00

entrada livre

RESIDêNCIA ARTíSTICA “EqUIlíBRIO”, DE lEE KIHO

Armazém do Boi, 16h00

entrada livre

Domingo TEATRO “O FATO” (FESTIVAl DE ARTES DE MACAU)

Centro Cultural de Macau, 20h00

Bilhetes das 150 às 200 patacas

Diariamente ExPOSIçãO DE FOTOGRAFIA

DE ERWIN OlAF (ATÉ 8 DE MAIO)

Casa Garden

entrada livre

ExPOSIçãO “HOMENAGEM A MESTRES

INSPIRADORES” (ATÉ 10 DE MAIO)

Armazém do Boi

entrada livre

ExPOSIçãO “VAlqUíRIA”,

DE JOANA VASCONCElOS (ATÉ 31 DE OUTUBRO)

MGM Macau, Grande Praça

entrada livre

Uma obra prima do homem que foi considerado, desde cedo, um prodígio. “Citizen Kane” traz-nos a história de um magnata do jornalismo, Charles Foster Kane, que morre - logo no início do filme – dizendo “Rosebud” como as suas últimas palavras. Começa, então, a especulação em torno da notícia do falecimento daquele que é um dos homens mais ricos do mundo. Cabe ao jornalista jerry Thompson (William alland) investigar a vida de Kane... joana Freitas

18 hoje macau sexta-feira 8.5.2015(F)utilidades

Nada há mais cómico que um homem.

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19opinião

S ó sabe o que é ter filhos quem os tem, mas nem todos aque-les que se encarregaram já de garantir a descendência sabem exactamente o que implica o exercício do prolongamento da espécie. Para os que ainda não se estrearam nestas andanças, para os que já não se lembram (a memória selectiva parental

é admirável) ou para os que nunca chegaram a compreender bem o que aconteceu lá em casa: o nascimento de um bebé é uma coisa tão fantástica quanto terrível.

O miúdo vem cá para fora e é três quilos de gente – mais coisa, menos coisa. Cai de pára-quedas no mundo sem saber nada do que é isto, sem perceber o que lhe aconteceu. Para as tarefas da sobrevivência, conta – à partida – com a experiência dos mais vivi-dos, daqueles que são responsáveis por ter adquirido existência. O ser humano é, numa fase inicial, muito pouco desenrascado, mas extraordinariamente ditador. Chora desal-madamente horas a fio sem se explicar, sem que nada lhe sirva de consolo. Três quilos de gente, mais coisa menos coisa, que põem a casa em pantanas – se não houver avó, tia, vizinha ou empregada experiente por perto, os primeiros dias com um filho novinho em folha podem ser para esquecer. E as noites também.

Mesmo que a criança de ditadora tenha pouco e seja calma, rechonchuda e queri-díssima, continua a desconhecer o conceito de autonomia: no primeiro mês, tem de se alimentar de três em três horas, incluindo durante a noite, o que é mesmo chato. A sofreguidão continua, por norma, nos meses seguintes. É mais espaçada, mas continua.

A lei de Macau – e quase todos os patrões

contramãoIsabel [email protected]

Os filhos das mães

Os pais não contam. É como se o papel que desempenham tivesse começado e terminado na noite (ou no dia) em que aconteceu a parte mais aprazível do processo paternal. Filho feito, assunto despachado

do burgo, que nestes assuntos são escrupu-losos no cumprimento rigorosíssimo da lei – dá às recém-mães o direito a ficarem em casa 56 dias depois do nascimento dos filhos. Há uns anos, não muitos, era ainda pior – a licença de maternidade mal ultrapassava o primeiro mês de vida –, mas o número 56 continua a ser uma lástima, uma vergonha para um sítio que acha que não pertence ao terceiro mundo.

Aos 56 dias de campeonato, é pouco provável que lá por casa tenha havido uma noite de sossego nas últimas 55 noites. Aos 56 dias de campeonato, os miúdos ainda não dominam a arte de enfiar o leite no biberão e não fazem a mínima ideia de que as fraldas não são para sempre, há que as ir mudando de vez em quando. Quanto à mãe, a quem a enfermeira tanto chateou para dar de ama-mentar, anda num desespero para garantir um banco de leite congelado no frigorífico ou então já se rendeu às quase 300 patacas por lata que a fórmula custa. Mistura-se com água e está feito.

Como é óbvio, há a avó, a tia, a vizinha ou a empregada experiente para que tudo isto custe menos. Ou não – não há a avó nem a tia nem a vizinha, a empregada custa dinheiro, as creches estão cheias e são poucas as que aceitam bebés em tão preliminar estado de independência. Mas 56 dias são 56 dias – e o patrão conta os trocos ao que já perdeu com tão generosa benesse social.

No meio disto tudo, o pai não conta. É como se o papel que desempenha tivesse começado e terminado na noite (ou no dia) em que aconteceu a parte mais aprazível do processo paternal. Filho feito, assunto despachado. O pai não conta porque a lei desconhece-o. Dá-lhe dois dias de faltas justificadas e a coisa fica por aqui.

O primeiro dia é para estar à porta do blo-co de partos à espera de notícias. O segundo é para ir comprar as fraldas que o hospital público não garante aos recém-nascidos, grandes consumidores deste objecto descar-tável que, disponibilizado em abundância, teria efeitos mais perniciosos nos cofres públicos que a debandada colectiva dos junkets de Macau. Neste segundo e último dia de falta justificada talvez se jante ainda com o resto da família. E se beba um copo para comemorar a chegada do mais novo.

No dia em que a companheira e o des-cendente têm alta, já não há falta possível e nem sempre a compreensão da entidade patronal está garantida: o melhor é ir bus-car a família à hora do almoço e, se a cria nasceu no hospital público, há que ter muita fé nos santos e nos deuses todos para que haja um lugar para estacionar a viatura, ou então rezar ainda mais para que haja um táxi caridoso ali por perto. Um autocarro à pinha também é uma opção inesquecível de primeira viagem em família.

Com toda a gente em casa e em segurança, o pai volta para o trabalho. Ou talvez não – tal-vez tenha guardado os imensos dias de férias previstos na lei para ficar uma semana a sentir o papel de pai. Ou talvez não – a avó, a tia, a vizinha ou a empregada experiente fazem as vezes. A vida é assim e começa logo difícil.

Esta semana voltou a falar-se da ne-cessidade de haver licença de paternidade em Macau. Leio e releio a frase que acabo de escrever e considero-a inqualificável, incompreensível, pelo grau de atraso que implica: Macau tem ouro no chão, ouro nos tectos, ouro nos cofres, Macau sofre e contorce-se porque os milhões são menos do que eram no ano passado, Macau gaba-se de ter famílias, as que podem e as outras, Macau é conservadora e nada independente, Macau tem primos e mais primos que serão por certo filhos de alguém, filhos das mães e dos pais também, mas Macau não acarinha quem quer ter família – sobretudo quem quer tê-la desde o primeiro minuto, com tudo aquilo que devia ter direito.

Presumo que seja assunto pouco fractu-rante: a verdade é que, por altura do 1o de Maio, não vejo gente na rua a pedir mais direitos para os trabalhadores que são pais, o fim dos turnos estranhos e a criação de horários reduzidos para quem tem filhos pequenos, o aumento da licença de mater-nidade, uma licença de paternidade que seja condigna. As reivindicações são outras, por certo mais importantes: o fim das salas de fumo nos casinos, os aumentos salariais, o fim dos trabalhadores não residentes, o di-nheiro, o dinheiro e o dinheiro, que é – como toda a gente sabe – o que se leva desta vida.

Por aqui, os beijos dos filhos valem pou-co. Os beijos dos filhos de quem toma deci-sões políticas devem valer ainda menos.

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A “Avaliação Ecossistémica do Milénio (MA na sigla em língua inglesa) ” é um projecto de pesquisas realizado entre 2001 e 2005, por mil e trezentos e sessenta cientistas, de noventa e cinco países, e coordenado pela ONU, com o objectivo de avaliar

os impactos das mudanças nos ecossistemas, o uso e desperdício dos recursos naturais do planeta, bem como a qualidade de vida do ser humano, tendente a estabelecer uma base científica que apoiasse as necessárias acções para garantir a conservação e o uso sustentável dos ecossistemas e o bem-estar dos seres humanos.

Os estudos levados a cabo durante quatro anos, examinaram profundamente, os benefí-cios que recebem as pessoas das funções dos ecossistemas, tendo os resultados sido publi-cados em Março de 2005, revelando que mais de 60 por cento dos serviços dos ecossistemas examinados, estão a ser degradados ou a serem utilizados de forma insustentável.

O relatório final aponta cinco principais causas de degradação dos serviços dos ecossistemas, avisando que as alterações climáticas como segunda principal causa a seguir à actividade humana, são as únicas cuja ocorrência está a aumentar rapidamente para todos os tipos de ecossistemas.

O quinto relatório sobre as “Perspectivas do Meio Ambiente Mundial” e o “Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA na sigla em língua inglesa) ”, publicado em 2012, actualizou a informação sobre o meio ambiente mundial, sustentando a avaliação de 2005.

O relatório da iniciativa “Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB na sigla em língua inglesa) ”, publicado em 2010, teve por base um estudo sobre as razões económicas da conservação da diversidade biológica e dos serviços dos ecossistemas, e revelou que os benefícios superam so-bremaneira os custos, mas tal mensagem, extremamente importante, não teve ainda a repercussão que deveria no que se refere à reorientação das dotações orçamentais.

A situação exige medidas urgentes. Além dos múltiplos riscos que representam as alterações climáticas, os relatórios sobre as “Perspectivas do Meio Ambiente Mundial” de 2012, e do “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em língua inglesa) ” de 2013, confirmaram outras tendências preocupantes como as zonas húmidas, incluídos os rios, lagos, turfeiras e pântanos situarem-se entre os ecossistemas mais gravemente afectados.

Modelo económico mundial esgotado“UNEP estimates that up to US$6 trillion a year is needed until 2030 for countries to improve their energy, transport, water and urban infrastructure-the building blocks of sustainable development.”Our planet: Time for Global ActionUnited Nations Environment Programme (March 2015)

As tomadas de água, a perda e fragmentação do habitat, a contaminação por excesso de nu-trientes, sedimentos, sais e toxinas prejudicaram consideravelmente a função do ecossistema e geram importantes emissões de gases de efeito de estufa na maioria das principais bacias hi-drográficas e fizeram que alguns grandes rios não conseguissem desaguar no mar.

A existência de imensa população pobre que vai aumentando nas zonas áridas do mundo, cria um círculo vicioso de escas-

sez de água, cultivo em terras marginais, pastoreio excessivo e sobre-exploração de árvores. As florestas tropicais, um importan-te sistema de armazenamento de carbono, estão a ser sobre-exploradas e eliminadas para fins agrícolas, sendo uma ameaça, tanto para o clima mundial, como para o bem-estar da população local, constituin-do uma perda irreversível da diversidade biológica, degradação dos solos e alteração das correntes de água.

Alguns modelos climáticos prevêem que a perda de terrenos baldios cumulados poderia converter-se numa fonte de dióxido de carbono em terrenos baldios durante este século. Algumas dessas situações contri-buem para as mudanças climática, enquanto outras sofrerão um agravamento.

O aquecimento atmosférico, especial-mente no Árctico, poderia libertar mais gases de efeito de estufa com o derretimento de gelo permanente, e a elevação do nível do mar provocado pelas mudanças climáticas o que obrigou já algumas comunidades costeiras a mudarem.

A ocorrência de secas recentes afectou a produção de alimentos na África setentrio-nal, Médio Oriente, América do Norte, Ásia Central e Austrália, provocando o aumento dos preços dos alimentos, agravado pelas

A existência de imensa população pobre que vai aumentando nas zonas áridas do mundo, cria um círculo vicioso de escassez de água, cultivo em terras marginais, pastoreio excessivo e sobre-exploração de árvores

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Modelo económico mundial esgotado

Os calamitosos desastres que têm ocorrido por todo mundo não podem ser considerados como fenómenos meteorológicos isolados, mas sim fruto das mudanças climáticas e os danos são em certa medida o resultadode um planeamento deficiente

quotas de biocombustíveis que utilizam quantidades cada vez maiores de trigo e milho, e um maior consumo de carne, que se traduz no uso de 50 por cento das culturas capazes de produzir grandes quantidades de proteínas como alimentação para animais.

As tempestades tropicais são cada vez mais intensas e economicamente prejudi-ciais, tal como tinham previsto os cientistas do IPCC, relativamente ao efeito das mu-danças climáticas, ainda que os regimes de chuvas sejam cada vez menos previsíveis. Os importantes efeitos das mudanças climáticas repercutem nos ecossistemas florestais e em 2025 seremos testemunhas da extinção lenta de grande parte das florestas.

As catastróficas inundações que cada vez com mais frequência têm assolado a América do Norte, Europa, China (devendo

as alterações climáticas serem consideradas segurança de Estado, no entender de alguns cientistas), Brasil, Indonésia, Índia, e Aus-trália a um ritmo sem precedentes.

Os calamitosos desastres que têm ocorrido por todo mundo não podem ser considerados como fenómenos meteoroló-gicos isolados, mas sim fruto das mudanças climáticas e os danos são em certa medida

o resultado de um planeamento deficiente, sendo que a lista desses incidentes aponta de maneira inequívoca para um futuro in-certo repleto de desafios ecológicos, como foi previsto no relatório do IPCC de 2007.

As reacções negativas relacionadas com o carbono, como por exemplo, florestas inadaptadas que morrem como consequência das mudanças climáticas antropogénicas,

que libertam quantidades muito maiores de dióxido de carbono seriam uns dos pontos de inflexão mais evidentes que a comunidade internacional, em particular a “sociedade civil global” deveria prever e evitar, se deseja conter o ritmo e a grandeza das mudanças climáticas, dentro de limites relativamente controláveis.

As crises ecológicas e de recursos que enfrenta a sociedade moderna são bem mais graves do que a recente crise financeira, pois ameaçam os alicerces do sistema económico e a continuidade do desenvolvimento huma-no. É de primordial importância que estes problemas sejam reconhecidos inequivoca-mente, quando cada vez mais se agravam.

O “Painel de Alto Nível do Secretário--Geral da ONU sobre Sustentabilidade Global”, apresentou em Janeiro de 2012, um relatório em que conclui que o “actual modelo económico está a levar inexoravel-mente os recursos naturais e os sistemas de manutenção da vida no planeta ao limite das suas possibilidades”.

A fim de manter a prosperidade que o mundo avidamente deseja, é necessária uma rápida transição para uma economia mundial mais ecológica que liberte o consumo insus-tentável de recursos do bem-estar humano. A história demonstra, em geral, que o mundo não soube preparar-se antecipadamente para fazer face ao agravamento vagaroso dos problemas que causou.

Pelo contrário, os países agem apenas quando um problema se torna demasiado grave, e não é possível desconsiderar ou ignorar. No entanto, com esses adiamentos só se conseguirá que muitas das opções em termos de soluções produtivas não estejam disponíveis, ou sejam mais dispendiosas e que aumente a probabi-lidade dos resultados não serem óptimos, ou inclusive sejam irreversíveis.

A “Cimeira da Terra”, celebrada no Rio de Janeiro, em 1992 aprovou, entre outras medidas, três convenções extremamente importantes, como a “Conferência Quadro das Nações Unidas para as Alterações Cli-máticas (QNUAC), a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) e a Conven-ção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (CNUCD).

Os ambiciosos acordos internacionais, com um âmbito praticamente universal, adoptaram importantes medidas, ainda que insuficientes, para alcançar o desenvolvi-mento sustentável. Em todos esses instru-mentos se faz um apelo à criação de planos nacionais dirigidos a atingir os objectivos das respectivas convenções, e obtiveram financiamento de fontes bilaterais e mul-tilaterais, especialmente através do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF na sigla na língua inglesa) destinada aos países em desenvolvimento. Planos esses nunca rea-lizados em muitos países, encontrando-se esquecidos politicamente, dado não existir tipificado o crime de responsabilidade polí-tica governativa danosa por acção, omissão ou negligência.

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas António Conceição Júnior; Arnaldo Gonçalves; David Chan; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

O processo da reforma cons-titucional de Hong Kong entrou na sua fase final. De acordo com o último anúncio emitido pelas au-toridades da RAEHK sobre esta matéria, a reforma vai ser baseada nas decisões tomadas pelo NPCSC a 31 de Agosto, tendo ainda sido

determinado que o processo de formação dos 1200 membros do “Nominating Commitee” vai permanecer inalterado. De acordo com esta premissa, os candidatos do campo pró--democrático vão poder participar no pro-cesso, apesar de este grupo considerar que qualquer pessoa eleita desta forma está sujeita a ser manipulada por aqueles no poder. Segun-do a opinião de Larry Diamond, o supervisor de Regina Ip Lau Suk-yee (a presidente da New People’s Party), os elementos do sector pró-democracia só têm duas opções ao seu dispor. Ou aceitam as propostas de reforma apresentadas de modo a permitir que os seus membros participem na eleição para depois a identificarem como fraudulenta, ou então rejeitam a proposta, passando desta forma das palavras à acção e reafirmando assim a determinação do campo pró-democrático.

Na verdade, Macau enfrentou uma si-tuação semelhante em 2012. Nessa altura, o

“Os pró-democratas acabam por ter apenas uma opção ao seu dispor e não duas (como defende Larry Diamond), e esta só pode ser a rejeição da proposta de implementação de um mecanismo de selecção prévia dos candidatos,que vai contra os princípios da democracia”

um gr i to no desertopaul chan wai chi*

Os votos decidem tudo (I)Governo da RAEM apresentou uma proposta de reforma constitucional “2+2+100” à Assembleia Legislativa para que esta dis-cutisse e votasse sobre este assunto. Mas, face à campanha publicitária bem planeada e organizada pelo sector pró-governamental, que controlou os maiores canais de comu-nicação social e chegou mesmo a reunir 100.000 assinaturas a favor da proposta, a frente pró-democracia de Macau não conseguiu concretizar medidas concretas para evitar a sua aprovação, não obstante a sua tentativa de recolher assinaturas nas ruas do território, aliada à greve de fome de alguns dos seus membros e uma pro-posta que aconselhava que a votação sobre esta proposta de revisão constitucional fosse alargada de modo a incluir todos os residentes locais. Nessa altura, eu próprio cheguei a considerar apresentar a minha demissão do posto de deputado de modo a mostrar a minha posição em relação a esta matéria. Mas, quando os outros deputados da Associação de Novo Macau revelaram numa conferência de imprensa que não se iriam demitir, decidi então abandonar esta ideia e optei por tentar lutar pelo sufrágio universal enquanto membro da AL. Mas como o nosso grupo representava apenas uma pequena porção do total de assentos disponíveis na Assembleia Legislativa,

não tínhamos possibilidade de alterar o curso desta votação. Eu era da opinião que a minha demissão podia ser usada como moeda de troca, de modo a fazer pressão sobre os elementos pró-governamentais e ao mesmo tempo reforçar a nossa posição em futuras negociações. Mas, no final, a frente pró-democracia do território não conseguiu apresentar uma posição coerente nessas mes-mas negociações e optou em vez por assumir

cartoon por Stephff

uma atitude passiva. Ao mesmo tempo, recebi informações que me fizeram pensar que a proposta ia passar a ser “2+1+100”, o que significaria que apenas um assento para o sector profissional seria adicionado nas eleições indirectas, permanecendo assim inalterado o número de assentos para o sector social e educacional. Quando chegou a altura de votar sobre a aprovação desta proposta, tudo parecia indicar que a posição oficial era que o número de assentos adicionais nas votações directas e indirectas devia ser diferente. Foi, aliás, o próprio voto do pre-sidente da AL, Lau Cheok Va, que acabou por ser determinante no resultado final. Se este tivesse procedido de outra maneira, a Assembleia Legislativa do presente teria mais componentes democráticos.

A política parlamentária envolve uma constante luta pelo poder, e requer a formu-lação de estratégias, assim como coragem, determinação e um cuidado extremo para nunca revelar as nossas cartas aos opo-nentes. Durante a reforma constitucional de Macau em 2012, o Governo chinês e o campo pró-governamental controlaram todo o procedimento, e isto fez com que não tivessem medo nenhum em apresentar uma proposta que iria beneficiar apenas um pequeno grupo de pessoas detentoras de in-teresses entronizados. Mas, no caso de Hong Kong, e depois da “Umbrella Revolution”, a reforma constitucional já não apresenta nenhuma oportunidade para negociações. A publicidade a favor da implementação desta proposta inclui o slogan “2017: Make it happen!”, que é indicador da atitude assu-mida pelas autoridades chinesas e o sector pró-governamental. Independentemente de os legisladores do campo pró-democrático aceitarem ou rejeitarem esta proposta, o seu conteúdo já não pode ser alterado. O arquitecto desta reforma teve o cuidado de apresentar os pró-democratas como os responsáveis por qualquer avanço ou recuo nesta reforma constitucional. Se estes vie-rem a aceitar a proposta apresentada, isso indica uma vitória do Governo chinês; se no entanto os mesmos optarem por rejeitar o pacote, esta posição representa uma derrota do campo pró-democrático.

No final, os pró-democratas acabam por ter apenas uma opção ao seu dispor e não duas (como defende Larry Diamond), e esta só pode ser a rejeição da proposta de implementação de um mecanismo de selecção prévia dos candidatos, que vai contra os princípios da democracia. Só desta maneira é que os mesmos não abandonam o ideal democrático da realização de um verdadeiro sufrágio universal. Mas, se assim o fizerem, vão de seguida ter de lidar com os problemas que certamente vão surgir depois desta tomada de posição.

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hoje macau sexta-feira 8.5.2015 23Perfil

Q uando não tem de ir ao mercado comprar alimentos ou limpar a casa dos patrões, Vivian uy fotografa os pedaços de vidas humanas que habitam em Macau.

Com o seu Ipad, vê o mundo de cada um. Fotografa velhos em vãos de escada, crianças a saltitar no largo do Senado, mulheres ricas vindas da China a comprar jóias.

As suas fotografias estão carregadas de beleza, mas quando lhe dizem que quase poderia ser a nova Xyza Cruz Bacani, desata a rir. Vivian Uy, também empregada doméstica oriunda das Filipinas, gosta do trabalho da sua conterrânea, mas nem imagina sequer que um dia pode ser como ela, uma das vencedoras de uma bolsa para estudar Fotografia em Nova Iorque, depois de dez anos a limpar casas em Hong Kong.

“Comecei a tirar fotografias há um ano e não tinha ideia que ia gostar disto. Gosto muito de observar as pessoas, os jovens, velhos, sem-abrigo, os ricos, homens, mulheres. Então comecei a pensar: ‘porque não captar esses momentos?’”.

E foi aí que começou. Para já só tira fotografias com o seu Ipad, mas espera “um dia ter máquinas fotográficas”, contou ao HM.

Na fotografia, prefere utilizar o nome Ágape Sora, uma mistura de tagalog e japonês, que significa “amor incondicional”.

Em Macau há cerca de um ano, Vivian Uy esteve antes em Hong Kong, onde trabalhou para três patrões. Episódios

de violência não os viveu, mas passou por várias situações humilhantes, que a fizeram querer mudar de vida.

“Não posso dizer que encontrei maus patrões, mas não me tratavam muito bem. no meu segundo emprego já me convenciam a vir trabalhar para Macau, mas ainda assim decidi manter-me em Hong Kong. Com o terceiro patrão já não conseguia trabalhar mais, então decidi vir para Macau, com a ajuda dos meus amigos. o Governo de Hong Kong não faz nada e não responde às queixas das empregadas domésticas.”

aqui assume sentir outra liberdade, a possibilidade de ter uma vida só sua, sem o controlo permanente dos patrões.

“Aqui temos liberdade. Não ao ponto de podermos fazer tudo o que queremos, mas depois do trabalho podemos ir para a nossa casa e estar com os nossos amigos. Em Hong Kong trabalhamos 24 horas por dia e, mesmo quando estamos a dormir, os patrões acordam-nos para fazermos coisas.”

De trabalhaDora inDepenDente a emigranteAté chegar a Hong Kong, Vivian Uy trilhou vários caminhos. Fez todo o tipo de trabalhos que lhe pudessem alimentar a família, mas o dinheiro nunca chegava. Teve um ciber-café, foi guia turística para japoneses - o que a levou a aprender a língua do país do Sol nascente, que ainda domina. ainda assim, o dinheiro não chegava, pois do seu trabalho vinha o único sustento de uma família inteira. Teve de emigrar para a região vizinha. O marido, filho e família ficariam para trás.

“uma amiga falou-me da possibilidade de arranjar emprego no Canadá, mas penso que é difícil porque temos de gastar muito dinheiro e é muito longe das Filipinas. Não conseguia ir porque iria ter saudades do meu filho e depois era difícil ir a casa. não queria estar separada do meu filho”, conta.

O rapaz, quase a chegar à universidade, tem o sonho de ser engenheiro, mas os pais não conseguem pagar-lhe os estudos. Mas nem assim a vontade o demove. Para já, vai estudar tecnologia, a sua segunda opção, e depois pagar o curso de Engenharia com as suas poupanças, conta a mãe.

“Ele não quer vir para Macau, já lhe disse para ti-rar umas férias, mas diz que não gosta disto. Mas vou convencê-lo”, refere Vivian uy.

Esta empregada doméstica filipina vive numa casa com cerca de dez pessoas. Só no seu quarto estão cinco. Regressa diariamente ao seu cubículo por volta das onze da noite, mas sente-se feliz na RAEM. Faz parte de uma comunidade naturalmente alegre, apesar das adversidades da vida.

“Todos nós queremos privacidade, mas o nosso salário não nos permite pagar uma casa só para nós. Com este tipo de trabalho não podemos pedir por mais, o mais importante é termos uma boa relação com os nossos patrões e termos um bom ambiente. Sabemos que não podemos ter um melhor salário, mas já é bom podermos sustentar a nossa família.”

andreia Sofia [email protected]

ViVian Uy, empregada doméstica

“Gosto muito deobservar as Pessoas”

Ágape Sora

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