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FUNÇÃO PÚBLICA. FERIADOS Governo pagará o que deve? POLÍTICA PÁGINA 4 PUB Começa a tornar-se um (mau) hábito. Terroristas, geralmente identificados com os islamistas que lutam pela inde- pendência do Xinjiang, esfaquearam indiscriminadamente quem passava, até serem detidos pela polícia. ÚLTIMA CANTÃO Seis feridos em ataque terrorista na estação de comboios PUB Ter para ler DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUARTA-FEIRA 7 DE MAIO DE 2014 ANO XIII Nº 3083 FBI ACUSA CIDADÃO CHINÊS DE VENDER PARTES DE MÍSSEIS AO IRÃO PÁGINA 8 hojemacau AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB IPOR FERRAMENTA ON LINE lançada para o apoio ao ensino da língua portuguesa SOCIEDADE PÁGINA 6 PÁGINAS 2 E 3 3 minutos Juliana Devoy conta ao HM como decorreu a reunião com os peritos da ONU em Genebra. Reduzido o seu tempo a três minutos, pediu às Nações Unidas pressão junto do Governo da RAEM para que a violência doméstica seja considerada crime público

Hoje Macau 7 MAI 2014 #3083

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Hoje Macau N.º3083 de 7 de Maio de 2014

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Page 1: Hoje Macau 7 MAI 2014 #3083

FUNÇÃO PÚBLICA. FERIADOS

Governo pagará o que deve?

POLÍTICA PÁGINA 4

PUB

Começa a tornar-se um (mau) hábito. Terroristas, geralmente identificados com os islamistas que lutam pela inde-pendência do Xinjiang, esfaquearam indiscriminadamente quem passava, até serem detidos pela polícia.

ÚLTIMA

CANTÃOSeis feridos em ataque terrorista na estação de comboios

PUB

Ter para ler

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q UA R TA - F E I R A 7 D E M A I O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 8 3

FBI ACUSA CIDADÃO CHINÊS DE VENDER PARTES DE MÍSSEIS AO IRÃO PÁGINA 8

hojemacauAGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

IPORFERRAMENTA ON LINElançada para o apoio ao ensino da língua portuguesa

SOCIEDADE PÁGINA 6

PÁGINAS 2 E 3

3 minutos

Juliana Devoy contaao HM como decorreua reunião comos peritos da ONUem Genebra.Reduzido o seutempo a três minutos,pediu às Nações Unidas pressão junto do Governo da RAEM para que a violência doméstica seja consideradacrime público

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2 hoje macau quarta-feira 7.5.2014ONUJOANA [email protected]

A ONU ouviu, na segun-da-feira e durante três minutos, Juliana Devoy sobre a situação da

violência doméstica em Macau. A directora do Centro do Bom Pastor, que trabalha com mulheres e crianças vítimas há mais de 20 anos, foi a Genebra em nome da Aliança Anti-Violência Doméstica de Macau para falar com o Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, numa altura em que Ma-cau está a ser avaliado pela ONU face a convenções internacionais que assinou.

Documentos fornecidos pela responsável a pedido do HM mostram que, no encontro, uma especialista da ONU em violência doméstica questionou Devoy sobre a lei que o Governo está a pensar implementar e que, recorde-se, prevê este tipo de violência como crime semi-público.

O perito perguntou ainda se a queixa contra o agressor tinha de ser feita pela vítima. “A Aliança respondeu à especialista que, após a vítima fazer queixa, é enviada para o hospital para que sejam verificadas as agressões. Após isso, é-lhe perguntado se quer apresentar queixa. A Aliança disse ainda que, na maioria dos casos, as mulheres agredidas disseram que não queriam, o que não permite que os casos sejam seguidos e que os agressores saiam sem sofrer consequências”, refere a acta do encontro com a organização.

PRESSÃOTal como tinha sido avançado pelo HM, Juliana Devoy representa, em Genebra, a Aliança Anti-Violência Doméstica de Macau, que reúne associações e organizações que lidam com vítimas de violência doméstica. A representante con-seguiu um frente-a-frente com o Comité da ONU, numa sessão especial para ONGs, na qual, como explicou Juliana Devoy ao HM, cada representante só tem três minutos para falar: “Havia 24 ins-crições para falar. Como consegue imaginar, muitas eram da China e uma mão cheia de outras de Hong Kong. Tínhamos esse tempo limite, pelo que tivemos de preparar muito bem o que íamos dizer, porque eles são muito rigorosos com o tempo.”

Devoy explica que foi a última

3minutos. Foi o tempo que Juliana

Devoy dispôs para explicar o seu caso

aos peritos da ONU. A maior parte do

tempo foi ocupada por organizações

da China e de Hong Kong

“Será que as vítimas estão realmente protegidas quando não há qualquer castigo para o perpetrador? A Aliança pede encarecidamente ao Comité que exerça a sua influência junto do Governo de Macau para formular uma lei justa.”JULIANA DEVOY Aliança Anti-Violência Doméstica

O tempo foi curto mas Juliana Devoy estava preparada para resumir o que se passa em Macau face à violência doméstica. Principalmente, pediu à ONU que pressione o Executivo para que a violência doméstica seja considerada crime público

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA JULIANA DEVOY PEDIU À ONU QUE PRESSIONE GOVERNO DA RAEM

Crime público, disse ela

representante a falar e que conse-guiu dizer o essencial, depois de ter reduzido o seu discurso quatro vezes. “Concentrei-me apenas em tentar fazer com que a violência doméstica seja crime público quando a lei chegar à Assembleia Legislativa. Uma mulher chinesa do Comité pediu-me algumas clarificações sobre a lei.”

Na acta do encontro, a ONU refere precisamente que a Aliança “pediu ao Comité para exercer influência junto das autoridades de Macau para formular uma lei que não só proteja as vítimas, como também responsabilize os agres-sores pelo seu comportamento”.

HARMONIA VS QUALIDADEAlém de justificar perante o Comité que tem uma preocupação espe-cialmente profunda com a violên-cia doméstica, por trabalhar há 24 anos com vítimas, Juliana Devoy

não se conteve em contrariar o Governo da RAEM novamente. “O relatório do Governo para o Comité refere que houve uma consulta pú-blica em 2012 [depois da alteração da lei de crime público para semi--público]. Na verdade, não houve consulta depois da primeira.” No discurso frente à ONU, Devoy explica que o Governo desistiu de passar a violência doméstica a crime público depois de uma

decisão, dando como justificação a harmonia social e familiar e o facto de não quererem privar as vítimas de decidir se querem ou não acusar o agressor. Mas também da as res-postas dadas pelas associações ao Executivo. “Dissemos que todas as sociedades valorizam a harmonia familiar e que não é que a lei, mas sim a violência que destrói essa harmonia. E dissemos que é mais conveniente se se tiver em conta

o direito da vítima ser protegida pelo Governo, através de leis que punam o violador.”

A representante relembrou ainda que o Governo se comprometeu a fazer uma nova lei, em 2010, para que este tipo de violência fosse crime público, pelo que não percebeu a repentina mudança de ideias.

Juliana Devoy afirmou ainda que o Executivo está só focado em reforçar as medidas de prevenção e não em acabar com o problema. “Será que as vítimas estão realmen-te protegidas quando não há qual-quer castigo para o perpetrador? A Aliança pede encarecidamente ao Comité que exerça a sua influência junto do Governo de Macau para formular uma lei justa.”

Os representantes do Governo da RAEM, nomeadamente do Instituto de Acção Social, vão responder pessoalmente à ONU amanhã.

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HOJE

MAC

AU

GOVERNO DIXIT

3 onuhoje macau quarta-feira 7.5.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

O S dirigentes da Asso-ciação Novo Macau (ANM) acusam o Executivo de ter co-

locado informações contraditórias no mais recente relatório entregue ao Comité dos Direitos Económi-cos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU) em Março último.

“A ANM descobriu que o Governo de Macau entregou re-latórios bastante enganadores ao Conselho da ONU. Como respos-ta, encorajámos outras associações a enviar rapidamente as reacções ao relatório do Governo”, disse Jason Chao, presidente da ANM, em conferência de imprensa rea-lizada ontem.

A Associação Arco-Íris de Macau, Aliança Anti-Violência Doméstica de Macau e um grupo de defesa dos direitos dos traba-lhadores não residentes já terão entregue as suas versões dos acontecimentos na última semana

Macau enfrenta esta semana o Comité para os Direitos Económicos, Sociais e Culturais da Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), mas as respostas do Governo ao pedido de análise do organismo já chegaram a Genebra. Pe-rante o Comité, o Governo assegura que todos os direitos são respeitados, seja a nível de trabalhadores não-residentes (TNR), seja de locais. Quer a nível de protecção contra violência doméstica, quer a nível de direitos sociais.

• TRABALHO- Os TNR estão protegidos por leis- A lei especifica claramente que tem de haver contratos para os TNR- Os empregadores não podem co-brar taxas aos TNR por um trabalho- A lei assegura igualdade salarial e que os TNR têm os mesmo direitos, obrigações e condições de trabalho que não são inferiores aos locais- Tanto os trabalhadores estrangei-ros, como os locais são protegidos por quase todas as mesmas leis- A Lei Laboral prevê que possa ser feito trabalho extraordinário e que o empregador e o trabalhar concordem no pagamento de horas extras- O empregador pode obrigar o funcionário a trabalhar horas extra, sem o seu consentimento, desde que não exceda as 16 horas e tem direito a ser pago- O Governo facilitou a reunião de parte laboral com patronal e já se chegou a um consenso sobre o salário mínimo para funcionários de limpeza e segurança e fazemos o esforço para que consigamos entregar a lei antes de Dezembro de 2013 (resposta do ano passado)- Os trabalhadores têm direito ao seu salário e há leis que permitem isso- Os empregadores devem comprar seguros para os trabalhadores e compensá-los em caso de aciden-tes de trabalho- Na função pública, não há di-ferença salarial entre homens e mulheres, nós privados sim, mas por razões capacidade física

• ASSUNTOS SOCIAIS- Os cidadãos têm o direito de se manifestarem e de fazerem greves sem intervenção das autoridades e que estas não podem dissolver as associações ou as suas actividades. Os empregadores não podem também interferir nestes direitos dos empre-gados, mas isso não acontece com as Forças de Segurança, que têm restrições neste sentido- O Governo apoia os TNR, fazendo panfletos e palestras educativas- O Governo presta atenção ao problema da habitação pública tendo concluído já 45 mil fracções e tendo planos para mais 19 mil

A Associação Novo Macau acusa o Governo de ter entregue relatórios “enganadores” sobre a situação da lei da violência doméstica, a implementação do salário mínimo, o direito de organização sindical e a atribuição de casas públicas à população

“O Governo não tem planos para fazer uma lei local que proteja os trabalhadores e ignorou completamente esse facto no relatório”JASON CHAO Presidente da ANM

ANM CONDENA INCIDENTE COM JORNALISTAUma jornalista da MASTV foi vítima, no passado fim-de-semana, de um incidente com um dos guarda-costas de Chui Sai On, quando este a agarrou com alguma força para a impedir de fazer questões ao Chefe do Executivo. O caso, que já foi denunciado pela Associação dos Jornalistas de Macau, mereceu ontem um comentário por parte de Jason Chao: “Este tipo de ataque é inaceitável num estado de Direito. Vemos que a situação de liberdade de imprensa tem vindo a deteriorar-se. Tenho questionado a necessidade do número de guarda-costas de que dispõe Chui Sai On. Será que é assim tão vulnerável? Não penso que o Chefe do Executivo tenha de ter tantos guarda-costas pessoais como os chefes de Governo de outros Estados. É algo que tem de ter em conta a dimensão do território. No tempo da Administração portuguesa, víamos o Governador a caminhar na rua. Depois da transferência de soberania não percebo porque é que o Chefe do Executivo passou a ter uma segurança pessoal com outras proporções.”

ANM ACUSA GOVERNO DE ENTREGAR RELATÓRIO CONTRADITÓRIO

O sol e a peneira

de Abril. Juliana Devoy, represen-tante da Aliança Anti-Violência Doméstica de Macau, encontra-se em Genebra para falar junto do comité da ONU.

SALÁRIO MÍNIMO NO SAPATOA primeira farpa da ANM diz res-peito à questão do salário mínimo. O relatório oficial refere que foi obtido consenso entre patrões e empregados para o valor a im-plementar, tendo sido recolhidas 1000 opiniões.

Mas a ANM refere que “o Governo não fez qualquer con-sulta pública” sobre o assunto. “No ano passado, em Novembro, a ANM recolheu cerca de 600 opiniões que defendiam o salário mínimo universal, mas o Governo não relatou este facto à ONU. O Governo disse no relatório que recebeu cerca de 1000 opiniões.

Claramente que as opiniões a favor de um salário mínimo para todos”, disse Jason Chao.

Em relação aos movimentos sindicais, o Governo refere no relatório que esse direito está consagrado na Lei Básica, mas a ANM explica que continua a não existir uma lei que garanta os direitos dos trabalhadores.

“O deputado José Pereira Coutinho submeteu por diversas vezes uma lei sindical à Assem-bleia Legislativa (AL) mas foram sempre rejeitadas. O Governo não tem planos para fazer uma lei local que proteja os trabalhadores e ignorou completamente esse facto no relatório”, explicou o presidente da ANM, que chama a atenção da necessidade de uma lei universal para todos, uma vez que a greve na Função Pública não traz represálias, já que os traba-lhadores têm faltas justificadas.

“A lei deveria abranger todos

os trabalhadores e não apenas os da Função Pública. Isso é pedido pela ONU, não por nós. Os fun-cionários públicos estão no grupo de trabalhadores mais bem pagos em Macau, mas antecipamos que este tipo de acções ocorram mais no sector privado, por isso é importante a existência de uma lei para proteger.”

PETIÇÕES ESCONDIDASEm relação à violência domés-tica, o relatório refere que foi realizada “uma nova ronda de consulta pública em Setembro de 2012” sobre o assunto e que a proposta de lei está “praticamen-te finalizada”, mas segundo Jason Chao, o Governo esqueceu-se do resto.

“Não vimos o Governo anun-ciar uma nova fase de consulta pública. Claro que o Governo não disse uma única palavra sobre as petições entregues por diversos grupos, que exigiam que a violên-cia doméstica fosse considerada crime público”, disse Chao.

Sobre o projecto de habita-ção pública, o Governo refere que “providenciou aproximada-mente 45,200 casas públicas”, mas a ANM refuta os números. “Sabemos que o Governo fez exactamente o contrário. Falhou na promessa de disponibilizar 19 mil casas em 2012 e nos últimos dois concursos para a habitação pública o número de candidatos ultrapassava o número de fracções disponível.”

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hoje macau quarta-feira 7.5.2014

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

TIAGO ALCÂNTARA

4 POLÍTICA

ANDREIA SOFIA [email protected]

D URANTE anos os tra-balhadores da Função Pública trabalharam por turnos nos feriados

e não foram recompensados com um dia extra de descanso ou com um pagamento adicional, uma vez que o Governo sempre considerou que a atribuição de um subsídio mensal já abrangia essas situações.

Desde que o Comissariado con-tra a Corrupção (CCAC) publicou uma recomendação que determina o pagamento de um dia extra, os Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) começa-ram a praticar essa medida, mas o deputado José Pereira Coutinho

O S deputados da segunda comissão permanente da As-

sembleia Legislativa (AL) rejeitaram a proposta de auscultação sobre o regime de garantias dos titulares do cargo de Chefe do Executivo e dos principais cargos, algo que tinha sido proposto pelo deputado Ng Kuok Cheong.

Chan Chak Mo, depu-tado que preside à segunda comissão, a proposta visava a realização de uma auscul-tação durante um mês, mas houve cinco votos contra. “Com a presença de oito de-putados, cinco votaram con-tra. Houve apenas um voto a favor e duas abstenções. Por isso, vamos continuar a discutir tendo em conta a nova versão de trabalho facultada pelo Governo”, disse Chan Chak Mo.

Ng Kuok Cheong e Au Kam San, dois deputados

FUNÇÃO PÚBLICA COUTINHO QUER PAGAMENTOS NOS FERIADOS

Paga ou não paga?

“Face à gravidade da situação e ao elevado número de trabalhadores que ficaram prejudicados vai o Governo assacar responsabilidades legais e disciplinares face à errada interpretação da lei durante vários anos?”PEREIRA COUTINHO Deputado

Trata-se de uma proposta “adequada e razoável. Acho que pode atrair os quadros qualificados do sector privado”CHAN CHAK MO

REGIME DE GARANTIAS AL REJEITA AUSCULTAÇÃO PÚBLICA

Debaixo do pano

25Anos: o tempo que

decorreu desde

que houve a última

actualização de valores

do pagamento dos turnos

de trabalho realizados

nos feriados pelos

funcionários públicos

da Associação Novo Macau (ANM) pretendiam que a população fosse ouvida neste assunto, mas viram a sua proposta ser rejeitada. Ao HM, Ng Kuok Cheong disse apenas que “eles (de-putados) pretendem aprovar o mais depressa possível esta proposta de lei. Claro que não posso aceitar isto, gos-taria que as pessoas fossem ouvidas nesta questão. Eles negaram ouvir a população e vão pressionar o Governo a aceitar esta proposta”.

Esta proposta de lei já foi alvo de duras críticas por parte dos deputados José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, que em conferên-cia de imprensa lembraram

não existirem “dados cien-tíficos” que sustentem os valores das compensações, para além de não ter sido feita uma consulta pública.

Em relação aos valores

a serem pagos pelas com-pensações, vai ser feita de duas formas. Os titulares dos cargos que venham do sector privado deverão receber uma compensação com base em 30% do salário que auferirem até ao término das funções.

Quem vem da Função Pública passa a ganhar 14% do salário mensal. Segundo Chan Chak Mo, trata-se de uma proposta “adequada e razoável. Acho que pode atrair os quadros qualifica-dos do sector privado. Mas não há dados científicos (que justifiquem o valor das per-centagens).” A proposta de lei deverá ter a sua votação final até fins de Maio. - A.S.S.

O deputado José Pereira Coutinho quer saber se o Governo vai pagar a todos os trabalhadores da Função Pública que, durante anos, não receberam um dia de folga extra quando trabalharam nos feriados. A exigência do CCAC foi conhecida em Março

chama a atenção para todos os que ficaram para trás.

“Tendo em consideração a recomendação do CCAC, vai o Governo compensar todos os funcionários que trabalharam desde o estabelecimento da RAEM até à presente data no regime de turnos e que foram explorados na não atribuição do dia de descanso compensatório remunerado, face à errada interpretação da lei?”, ques-tiona o deputado na mais recente interpelação escrita.

Coutinho quer ainda saber quantos trabalhadores estão abran-gidos por esta situação. Além disso, “face à gravidade da situação e ao elevado número de trabalhadores que ficaram prejudicados vai o Governo assacar responsabilidades

legais e disciplinares face à errada interpretação da lei durante vários anos?”

PERGUNTAS DE LEONGEm Outubro do ano passado o deputado, em conjunto com o número dois da Nova Esperança, Leong Veng Chai, questionou o Executivo sobre a actualização da lei sobre o pagamento dos turnos de trabalho realizados nos feriados, declarando que os valores não eram actualizados há 25 anos.

A recomendação do CCAC acabaria por ser publicada nos ser-viços públicos no passado dia 25 de Março. O documento do organismo, liderado por Vasco Fong, recomen-da que “quando o feriado tenha lugar no primeiro semestre do ano civil, o serviço público pode conceder um dia de descanso compensatório remunerado no mesmo ano em data a acordar com trabalhador”.

Além disso, “quando o feriado tenha lugar no segundo semestre do ano civil, obtendo acordo entre o serviço e o trabalhador, a concessão do dia de descanso compensatório poderá prolongar-se até ao termo do ano civil seguinte.”

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GCS

hoje macau quarta-feira 7.5.2014 5 política

JOANA [email protected]

C ERCA de duas de-zenas de represen-tantes de países de língua portuguesa

estão em Macau para aprender mais sobre as zonas econó-micas especiais da China. A ideia veio do Fórum Macau, que teve início segunda-feira com um colóquio subordinado ao tema, e que se prolonga até dia 18.

Zhuhai, Xiamen, Hai-não, Shenzhen e Shantou estão indicadas como sen-do os exemplos das zonas económicas especiais, mas os visitantes vão poder aperceber-se das oportuni-dades económicas de Macau e Nansha, onde o Governo

O orçamento deste ano para as elei-ções do Chefe do

Executivo vai ser maior. Isso mesmo confirmou Song Man Lei, presidente da Co-missão de Assuntos Eleito-rais do Chefe do Executivo (CAECE) numa reunião na segunda-feira, onde ficou também decidido o uso do voto electrónico.

Apesar de não indicar o montante exacto - dado que tem ainda de ser apro-vado pelo Governo -, Song Man Lei confirma que vai ser mais alto do que o que Chui Sai On teve em 2009, no valor de 13,8 milhões de patacas. Nessa altura, o líder do Governo utilizou apenas

... a implementação de zonas económicas é um trabalho “muito complicado, que deve ter a participação das empresase o apoio do Governo”CHANG HEXI Secretário-geral do Fórum

Mais de vinte representantes de países de língua portuguesa estão na RAEM para saber como se constroem zonas económicas especiais. As palestras não se ficam por Macau estando agendada uma visita a Nansha em busca de inspiração

FÓRUM MACAU PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA APRENDEM COM A CHINA

Manual de instruções

da RAEM pretende também investir.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo-çambique, Portugal e Timor--Leste enviaram represen-tantes de associações comer-ciais e técnicos de serviços públicos para a RAEM.

ELEIÇÕES ORÇAMENTO SUPERIOR A 13,8 MILHÕES

Contas à vida9% do total, mas este ano o número aumenta, porque a eleição do próximo mandato do Chefe do Executivo inclui as eleições dos membros da Comissão Eleitoral.

“Este ano, é preciso ter em conta a votação para eleição do Chefe do Executivo e para a eleição dos membros da Comissão Eleitoral. O orçamento sofreu um aumento ligeiro devido à inflação, estando previsto que o orçamento suplementar para as eleições

dos membros da Comissão Eleitoral não seja inferior ao orçamento da eleição do Chefe do Executivo”, explicou Song Man Lei aos jornalistas.

O montante exacto do orçamento “será publicado o mais breve possível”, as-segurou a presidente.

APURAMENTO ESCOLHIDOEntretanto, e de acordo com o Boletim Oficial, fi-cou decidido que Mai Man Ieng, procurador-adjunto do Ministério Público, vai pre-sidir à Assembleia de Apu-ramento Geral das eleições dos membros da comissão eleitoral e também da eleição do Chefe do Executivo.

A acompanhar Mai, está ainda um delegado do mesmo organismo, Kuok Kin Hong, o subdirector e o Chefe de Divisão dos Serviços da Administração e Função Pública, Kou Peng Kuan e Chong Sek Lun, e o subdirector dos Serviços de Estatística e Censos, Ieong Meng Chao. Este ano, além do Chefe do Executivo, também a Comissão Eleitoral vai a votos, dado o aumento de 300 para 400 membros. A votação, que decorre no final de Junho, será feita de forma electrónica.

Mais de 600 pessoas colectivas candidataram-se a esta comissão. - J.F.

Os países de língua portu-guesa podem aprender como “construir zonas económicas comerciais no seu país”, disse Chang Hexi aos jornalistas e podem também trazer mais in-vestimento à China. “Através da visita, eles podem conhecer melhor Macau e Nansha.

Com os intercâmbios, podem regressar inspirados aos seus países”, referiu o secretário--geral do Fórum.

Palestras e seminários estão na agenda dos represen-tantes e o colóquio não se fica apenas por Macau. Nansha está no itinerário, “porque ao irem lá, podem conhecer mais” a zona. Isso mesmo disse Chang Hexi à margem da abertura do Colóquio, na Universidade de Macau.

O secretário-geral fri-sou que a implementação de zonas económicas na China é uma medida “bem sucedida” e disse ainda que, actualmente, já é normal que muitos países, incluindo os em via de desenvolvimento, sigam técnicas de gestão “avançada” aplicadas por outros países e a sua experi-ência para estabelecer zonas económicas especiais.

“É para captar investi-mento externo”, explica ainda Chang Hexi, que deixa, contu-do, um alerta: a implementa-ção de zonas económicas é um trabalho “muito complicado, que deve ter a participação das empresas e o apoio do Governo”.

Para Rita Santos, se-cretária-geral do Fórum Macau, a criação de zonas especiais económicas não só facilita a integração da China no mercado internacional, como beneficia o aumento do volume das importações e exportações de mercadorias.

No total, são 28 as pes-soas dos países de língua portuguesa presentes no colóquio, sendo que os re-presentantes estão também convidados a participar no 5.º Fórum Internacional de Investimento e Construção de Infra-Estruturas, que se realiza em Macau.

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6 hoje macau quarta-feira 7.5.2014SOCIEDADE

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O Instituto Português do Oriente lançou segunda-feira uma ferramenta ‘online’ de apoio ao ensino e à aprendizagem da língua

D IRIGIDA a forma-dores e aprenden-tes, a Árvore de Recursos de Lín-

gua Portuguesa (ARELP), desenvolvida ao longo de um ano, agrupa ‘online’ um total de 556 recursos, divi-didos por 12 categorias. O lançamento da plataforma, disponível no seu portal na Internet, assinalou o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura.

O novo instrumento “permite aos docentes en-contrar compilados num só local os principais docu-mentos de referência para o ensino de Português Língua Estrangeira em vigor, ma-teriais didácticos desenha-dos para uso em contexto lectivo (Sala de Aula), bem como a ligação para fer-ramentas digitais que lhes permitirão criar materiais didácticos próprios, mais atractivos e adequados para os seus alunos”, refere uma nota do IPOR.

Já aos que estão a apren-der a língua são fornecidas ligações para alguns dos principais recursos de referência disponíveis na rede (Referência), meios de comunicação social em língua portuguesa (Comu-nicação Social), formas lúdicas de aprendizagem

O Gabinete de Comunicação Social (GCS) do Governo garante que a aplicação de

telemóvel “MSAR News” “não faz recolha de qualquer dado pessoal dos utilizadores, nomeadamente contactos, registo de chamadas ou localização”. O comunicado surge depois de uma notícia publicada ontem na imprensa, que referia que uma aplicação, vulgarmente conhecida como “app”, de um ser-viço público no sistema operativo Android estaria a recolher dados pessoais dos seus utilizadores.

Segundo o GCS, “o MSAR News serve apenas para informar e

IPOR LANÇA FERRAMENTA ‘ONLINE” DE APOIO AO ENSINO DO PORTUGUÊS

De Macau para o mundo

MSAR NEWS NÃO RECOLHE DADOS PESSOAIS DOS UTILIZADORES

Governo inocentetra, dados sobre o número de casos a decorrer de alegadas violações aos dados pessoais.

Entre Janeiro e Abril, foram aber-tos 63 processos, sendo que 32 diz respeito a entidades privadas, cinco a entidades públicas e 31 processos referentes a indivíduos. 43 processo dizem respeito à falta de legitimidade no tratamento de dados, enquanto que em 14 casos não foram observados os princípios no tratamento de dados.

Seis casos referem-se à falta de segurança no fornecimento de dados pessoais, enquanto que em 13 casos existe uma “protecção ina-dequada dos direitos do titular”.

tem como função lançar as últimas notícias do Governo, bem como publicar informações importan-tes em tempo oportuno”. É ainda garantido que a leitura dos dados disponibilizados servem para “fins estatísticos”, não sendo recolhida “nenhuma informação pessoal dos utilizadores, sendo que as mesmas servem igualmente para a actuali-zação do app”.

da língua (Sala de Aula, Jogos), bem como ligações para conteúdos de natureza cultural em língua portu-guesa (Cinema, Música ou Exposições) e comunida-des em linha facilitadoras de aprendizagem não for-mais (Rede).

A ARELP reserva ainda espaço para quem se dedica à investigação, facultando ligações para artigos cien-tíficos e teses de mestrado e doutoramento versando aspectos relacionados com o ensino/aprendizagem da língua portuguesa.

PROJECTO ABERTOApesar de, na selecção dos recursos, ter privilegiado o contexto do ensino do português na China e em Macau, o IPOR realça que a base está “concebida para servir de referência aos seus destinatários principais (professores, aprendentes e investigadores de Portu-guês Língua Estrangeira), independentemente da sua geografia de actuação”, pelo que “não é um projecto fechado”.

“Espera o IPOR com esta iniciativa igualmente mobilizar a comunidade a quem ela se dirige no senti-do de fornecer contributos que apoiem a sua melhoria e permanente actualiza-ção”, refere a mesma nota.

A ideia de organização da ARELP decorre da primeira oficina do IPOR realizada no âmbito do pro-grama interno de formação de docentes, implementado em 2013, em particular, da reflexão produzida sobre

“Novas Tecnologias de Informação no Contexto Educativo” por Betânia Nunes, um dos docentes envolvidos no projecto e responsável pela compila-ção dos dados.

A revisão e anotação de cada um dos recursos que foi dando forma e consis-tência à plataforma ficou a cargo de João Paulo Pereira, sob supervisão da Coorde-nação do Centro de Língua Portuguesa do IPOR.

Numa segunda fase, o instituto pretende disponi-bilizar, de igual modo, os materiais produzidos pelo seu corpo docente, os quais “resultam da reflexão meto-dológica que tem vindo a ser desenvolvida no quadro do plano de formação” interna.

Depois de um primeiro momento marcado pela aposta na “reorganização e diversificação da oferta formativa e dos seus ins-trumentos de suporte”, a atual direcção do IPOR insere o lançamento da ARELP nas “prioridades” definidas para a segunda fase do seu mandato no domínio da formação em língua portuguesa.

Estas passam pela “cria-ção de dinâmicas internas alargadas, vocacionadas para a produção de mate-riais e ferramentas dirigidas à comunidade, com enfoque na intercompreensão”.

“Pretende-se, desse modo, reforçar a dimensão do IPOR como instituição de formação e de produção de conteúdos em língua portuguesa, bem como de expressões culturais e ar-tísticas que exploram o seu uso”, refere a mesma nota.

O IPOR, que assinala 25 anos em Setembro, é a ins-tituição “que reúne o maior número de estudantes de português em simultâneo na Ásia”.

A aplicação “MSAR News” foi lançada no passado dia 4 de Abril pelo GCS, tendo como objectivo “reforçar o conhecimento da po-pulação sobre as linhas de acção governativa, divulgar informações do governo, notícias, imagens ofi-ciais, meteorologia e entre outras”.

Entretanto, o Gabinete de Pro-tecção dos Dados Pessoais (GPDP) divulgou, à margem de uma pales-

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7 sociedadehoje macau quarta-feira 7.5.2014

A S estradas de Macau re-gistaram 3.733 acidentes de viação no primeiro trimestre do ano, uma

média superior a 1.200 por mês, indicam dados oficiais citados pela agência Lusa. De acordo com da-dos dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), os acidentes, que aumentaram 9% face aos primeiros três meses do ano passado, resulta-ram em 1.192 vítimas (mais nove), cinco das quais mortais (o mesmo número face ao período homólogo do ano passado).

No final de Março, existiam 229.999 veículos em circulação - mais 5% em termos anuais -, dos quais mais de metade (52%) motociclos, tendo sido atribuídas 4.962 novas matrículas desde o início do ano, mais 2% compara-

tivamente a igual período de 2013, indica a DSEC.

Nas fronteiras terrestres entre Macau e a China movimentaram--se 1.189.846 viaturas, número que traduz um aumento de 6% face ao mesmo trimestre do ano anterior, com o posto fronteiriço das Portas do Cerco a contabilizar 81% do movimento total.

A mesma tendência de aumento foi observada no transporte maríti-mo, com o registo de 35.068 viagens de barco entre Macau e Hong Kong e Macau e a China, ou seja, mais 44 do que no primeiro trimestre de 2013.

Entre Janeiro e Março, efectu-aram-se, em paralelo, 11.567 voos comerciais no Aeroporto Interna-cional de Macau - mais 9% -, com as ligações entre Macau e a China a representarem 40% do total.

Em contrapartida, diminuiu o movimento no heliporto, ponto de partida ou chegada de 3.736 voos entre Macau e Hong Kong e Macau e a China, número que reflecte uma quebra de 19% em termos anuais.

Ao nível das comunicações, Macau contava, no final de Março, com 1.662.547 utentes de telemóvel - mais 7% em termos anuais, muitos dos quais de cartões pré-pagos, usa-dos frequentemente pelos turistas.

Já os utentes de linhas telefónicas fixas eram 157.155, menos 3% do que em igual período do ano passado, segundo a DSEC. No plano do ser-viço de Internet, contabilizavam-se 275.221 assinantes - mais 16% -, os quais utilizaram 226 milhões de horas nos três primeiros meses do ano, ou seja, mais 17% do que no período homólogo de 2013.

A Direcção dos Ser-viços de Protecção Ambiental (DSPA)

emitiu um comunicado onde afirma que as fábricas de cimento terão de fazer inspecções regulares ao funcionamento com a apresentação de relatórios mensais, tendo em conta uma norma recente que entrou em vigor no conti-nente. Tudo para “realizar a análise de dados cientifico e a avaliação objectiva das partículas (pó) e emissões durante o funcionamento da fábrica de cimento, por forma a reforçar a sua supervisão”.

A DSPA garante que

Igreja de S. Domingos Restauro inicia este mêsÉ já no dia 15 deste mês que o Instituto Cultural (IC) vai dar início às obras de restauração da Igreja de S. Domingos, que estará encerrada parcialmente durante os trabalhos de restauro. As pessoas poderão visitar o Museu de Arte Sacra na mesma, pois as obras não vão influenciar o seu horário. A conclusão das obras está pensada para Setembro e o IC vai implementar medidas para minimizar os danos na vida dos habitantes e turistas da região.

Juíza do Tribunal Internacional dá palestra na UMHoje, às 17 horas, Xue Hanjin, a primeira mulher juíza do Tribunal Internacional das Nações Unidas, vai dar uma palestra na Universidade de Macau, intitulada “Lei Internacional num Mundo Plural”. O evento vai focar-se em questões como os princípios básicos, os desafios e as oportunidades no sector da lei internacional, no contexto das mudanças históricos e mais recentes acontecimentos respeitantes à área das relações internacionais. A palestra será leccionada em mandarim, com tradução simultânea em inglês.

Turistas Milhares no 1º de MaioDurante os dias que se seguiram à sexta-feira do 1º de Maio, Macau contou com 1,6 milhões de entradas e saídas, incluindo os postos fronteiriços terrestres, marítimos e aéreos. As estatísticas registaram um total de 783 mil, a grande maioria pelas Portas do Cerco e pelos terminais marítimos do Porto Exterior e da Taipa. Os números demonstram, ainda que entre os dias 1 e 4 deste mês, houve 793 mil pessoas a saírem de Macau, a maior percentagem registando-se nos postos fronteiriços acima referidos. O número de turistas no território aumentou 20,3%, relativamente ao mesmo período do ano passado, tendo-se registado a entrada cerca de 552 mil pessoas nos dias seguintes ao feriado internacional do Dia do Trabalhador.

Um metro muito interessanteMais de duas mil pessoas mostraram interesse em saber mais informações sobre a construção e o funcionamento do metro ligeiro de Macau, cuja construção já se encontra em moção. Este foi o número de pessoas que, durante os primeiros quatro meses deste ano, marcaram presença na exposição sobre o metro, intitulada “Metro ligeiro – a força motriz para uma vida de qualidade”. Nesta exposição, aberta desde o início de 2014, registou-se a presença de cerca de 43 grupos de escolas primárias e secundárias e 800 pessoas a título singular, que se inscreveram nas visitas guiadas que têm lugar todos os domingos e feriados, no Centro de Ciência de Macau, das 14 às 17 horas.

IACM inspecciona e desbasta árvores O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) detectou a existência de 15 árvores em situação instável, pelo que vai proceder a várias técnicas – que incluem o desbaste ou remoção das árvores – para rectificar a segurança pública. A inspecção e posterior conservação das árvores é uma medida que sido levada a cabo pelo IACM para prevenir eventuais danos durante a época das chuvas. Estas situam-se na avenida da Praia Grande, no Largo da Sé, na estrada Ferreira Amaral, na avenida Coronel Mesquita e na avenida da República, apresentando apodrecimento das raízes ou fraco crescimento. Quanto às árvores a retirar, a entidade responsável diz que vai substituí-las por plantas novas.

Estudantes da UM ganham prémios O Concurso Internacional de Conhecimento de Macau teve recentemente como vencedores estudantes da Universidade de Macau (UM), que ganharam o primeiro, segundo e terceiro prémios na quarta edição do evento, que conta com a participação dos estudantes não só da UM como da Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST) e a Universidade Cidade de Macau (UCM). O concurso é organizado pela Associação da Juventude para Assuntos Internacionais (YAIA, na sigla inglesa), ligada à associação de estudos pós-graduados da UM, e pelo departamento do Governo e Administração Pública da mesma universidade.

QUATRO MIL ACIDENTES DE VIAÇÃO EM TRÊS MESES

Mais acidentes e mais telemóveis

DSPA AFIRMA QUE JÁ REALIZOU CERCA DE 250 INSPECÇÕES “IN LOCO”

Fábricas de cimento terão de fornecer relatórios mensais

pretende “continuar a assegurar a qualidade do ambiente e a saúde dos habitantes” na zona de Ka-Hó, estando a “anali-sar a operacionalidade da implementação da nova norma de emissões”. Está

ainda a ser planeada “a instalação de monitores nas proximidades da fábrica de cimento, para reforçar o controlo e a monitorização da qualidade atmosférica”.

O organismo público garante que depois da recepção do relatório mensal serão feitas reu-niões com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, a Direcção dos Serviços de Economia e a fábrica de cimento em questão, por forma a exigir “melhorias o mais rápido possível, de acordo com os problemas e requisitos indicados no relatório”.

Recorde-se que a fábri-ca de cimento tem sido as principais causadores de poluição do ar na zona de Ka-Hó, em Coloane, há vários anos. Entre 2010 e até ao passado dia 30 de Abril de 2014 terão sido realizadas 250 inspecções in loco por parte da DSPA. Terão sido emitidos 26 pareceres escritos à fábrica e realizadas 19 reuniões de trabalho, com vista a contornar o problema. O Governo garante que ”estão a ser efectuadas ins-pecções pelo menos uma vez por dia”, com excep-ção dos fins-de-semana e feriados.

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8 hoje macau quarta-feira 7.5.2014CHINA

JOANA [email protected]

U M empresário chinês está a ser procurado pelo FBI por, ale-gadamente, vender

partes de mísseis ao Irão. De acordo com informações enviadas ao HM pelo Consu-lado geral dos EUA em Hong Kong e Macau, Li Fangwei está a ser acusado e os EUA oferecem uma recompensa de cinco milhões de dólares americanos a quem ofere-cer informação que ajude a capturá-lo e julgá-lo.

“Li foi acusado de ser o fornecedor para o programa de mísseis do Irão”, começa por dizer em comunicado Scott Robinson, porta-voz do Consulado. “O Programa de Recompensas para Crime Organizado e Internacional do Departamento de Estado [norte-americano] está a oferecer até cinco milhões de dólares a quem tiver in-formações que levem à sua prisão e/ou condenação.”

Li Fangwei, conhecido também como Karl Lee, gere a Sinotech Industry Co. Lda., uma empresa que fabrica componentes de carbono e grafite, sediada em Dalian, na China.

Actividade industrial encolhe em AbrilA actividade no sector industrial da China recuou em Abril pelo quarto mês consecutivo, refere o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), ampliando as dúvidas sobre se a segunda maior economia do mundo ainda está perdendo força. A produção e novas encomendas diminuíram em Abril, e as novas encomendas de exportação voltaram a território de contracção após recuperação no mês anterior, de acordo com a pesquisa. “O sector industrial, e a economia como um todo, continua a perder força”, disse Qu Hongbin, economista-chefe do HSBC, afirmando que o governo precisa adoptar medidas arrojadas para garantir que a economia retome o seu ímpeto.

Tencent Holding compra 11% da NavInfoA Tencent Holding, a maior empresa de serviços de internet e para telemóveis na China, anunciou ontem a compra de 11,28% do serviço de mapas digitais NavInfo. A operação foi realizada depois da sua concorrente, a Alibaba, fazer uma aquisição semelhante no ano passado. Em comunicado, a Tencent Holding revela que pagará 1.170 milhões de yuan em troca de 78 milhões de acções, representando 11,38% do capital. A transacção, que está sujeita à aprovação pelas autoridades, acontece poucos meses depois da principal concorrente da Tencent, a Alibaba, comprar 28% da empresa de navegação por GPS, Autonavi, por 294 milhões de dólares. A empresa Tencent Holdind, proprietária do popular serviço de mensagens instantâneas WeChat, comprou em Março 15% do portal de e-commerce da JD.com, uma transacção que faz parte da estratégia de aproximação à Alibaba, que domina o mercado, mas tem vindo a perder participação no segmento dos serviços de telecomunicações a favor da Tencent.

Os EUA estão determinados em apanhar Li Fangwei, um homem de negócios chinês considerado o principal fornecedor de materiais para mísseis ao Irão, através de uma fábrica em Dalian. Os Estados Unidos querem-no tanto, que o FBI oferece uma recompensa milionária só por informações

“O Programa de Recompensas para Crime Organizado e Internacional do Departamento de Estado [norte-americano] está a oferecer até cinco milhões de dólares a quem tiver informações que levem à sua prisão e/ou condenação.”

EMPRESÁRIO CHINÊS DENUNCIADO PELO FBI POR VENDER PARTES PARA MÍSSEIS AO IRÃO

O senhor cinco milhões

“Está a utilizar esta empre-sa nos negócios com o Irão, para receber fundos em troca de produtos”, menciona uma nota da Secretaria do Tesouro dos EUA a que o HM teve acesso. “Lee gere também a Sinotech Dalian Carbon and Graphite Manufacturing Corporation, que, juntamente com a Dalian Zhongchuang Char-White Co., Ltd., tem vindo a ser utilizada por Li para enviar, pelo menos, 23 carregamentos para o Irão.”

De acordo com a im-prensa norte-americana e a Agência Reuters, o chinês está proibido de fazer nego-ciações com empresas dos EUA desde 2006. Li terá já sido sancionado por trocas ilegais deste tipo com o Irão, mas continuou a operar no país através destas compa-nhias que controlava. Além destas, outras seis empresas de Li estão na lista negra dos EUA, mas não estão sós.

MAIS ALGUNSConsiderado como o “prin-cipal abastecedor” de partes de mísseis no Irão, Li é ainda descrito pelos EUA como um apoiante de outros empresá-rios que fornecem também o Irão ou que fazem negócios no país. É o caso de homens

de negócios do Dubai, liga-dos a empresas de petróleo.

Companhias de petróleo estão, aliás, numa lista negra publicada pelo secretariado do Tesouro norte-america-no, a par de empresas de tecnologia e componentes minerais. Entre os nomes, está ainda o Instituto de Pesquisa de Tecnologia Aeronáutica de Pequim.

De acordo com os EUA, Li terá feito já mais de dez milhões de dólares america-nos em negócios com o Irão, apenas desde 2009. Esta verba é exactamente o montante ini-cial de receitas que a Sinotech diz ter, de acordo com o seu website oficial.

Informações da impren-sa norte-americana indicam que Li poderá ter fornecido partes de mísseis ao Irão ca-pazes de fabricar 500 destes engenhos.

EU NÃOO empresário disse recen-temente à Reuters que não

vendia para empresas do Irão desde que foi sancio-nado pelos EUA, ainda que “continuasse a receber pedi-dos de clientes”. Li garante que os recusou, nem tendo

respondido aos clientes, mas reafirma que, mesmo quando vendia ao Irão, era apenas materiais legais.

“Não exportei o que eles disseram, mísseis ou lá o que é”, disse.

Um banco chinês com que Li trabalha garantiu que o cliente não cometeu acções ilegais. Os EUA acusam-no de trabalhar com a embaixa-da iraniana em Pequim.

Ainda de acordo com a Reuters, a China que “se opõe resolutamente” às sanções dos Estados Unidos, sendo que estas podem vir a prejudicar o trabalho de não proliferação entre os dois países.

“A China opõe-se fir-memente à política dos Estados Unidos de citarem leis nacionais para impor sanções unilateralmente contra empresas chinesas ou indivíduos.

“Acreditamos que o que os Estados Unidos têm feito não ajuda a resolver o

problema e irá prejudicar a cooperação bilateral na luta contra a proliferação nuclear”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Qin Gang.

“A China pede aos Es-tados Unidos que acabem com estes actos errados de aplicar sanções a empresas e indivíduos chineses e voltem para o caminho correcto de cooperação anti-prolifera-ção nuclear.”

Sem acordos de extradi-ção entre a China e os EUA, não vai ser fácil aos EUA apanhar Li, que tem, inclu-sive, viajado apenas para países sem acordos com os Estados Unidos, de acordo com a imprensa.

Li está acusado pelo FBI de conspiração, frau-de, lavagem de dinheiro, violações de pactos interna-cionais e de sanções, entre outros crimes, podendo enfrentar mais de 20 anos na prisão.

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9 chinahoje macau quarta-feira 7.5.2014

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COMISSÃO DO GRANDE PRÉMIO DE MACAUANÚNCIO

A Região Administrativa Especial de Macau faz público que, de acordo com o Despacho de 23 de Abril de 2014, do Exmo. Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, foi autorizado o procedimento administrativo para adjudicação do “SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE PASSAGENS AÉREAS PARA O 61.º GRANDE PRÉMIO DE MACAU”.

1. Entidade que põe o serviço: Comissão do Grande Prémio de Macau.

2. Modalidade do procedimento: Concurso público.

3. Prazo de execução: Cumprimento das datas constantes no Caderno de Encargos.

4. Prazo de validade das propostas: 90 dias, a contar do acto público do concurso.

5. Caução provisória: MOP100.000,00 (cem mil patacas), podendo ser prestada por depósito em numerário ou mediante cheque visado, a entregar na Divisão Financeira da Direcção dos Serviços de Turismo, ou por garantia bancária, aprovados nos termos legais, à ordem da Comissão do Grande Prémio de Macau, devendo ser especificado o fim a que se destina.

6. Caução definitiva: 5% do preço total de adjudicação.

7. Valor do serviço: Sem preço base.

8. Adiamento: Em caso de encerramento dos serviços públicos por motivo de força maior, a sessão de esclarecimento, o termo de entrega das propostas e a abertura das propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora.

9. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Comissão do Grande Prémio de Macau, sita em Macau, na Avenida da Amizade n.º 207, Edifício do Grande Prémio, até às 17.45 horas do dia 29 de Maio de 2014.

10. Sessão de esclarecimento: Os interessados podem assistir à sessão de esclarecimento deste concurso público que terá lugar às 11:00 horas, do dia 12 de Maio de 2014, na sede da Comissão do Grande Prémio de Macau.

11. Local, dia e hora da abertura das Propostas:Local: sede da Comissão do Grande Prémio de Macau;Dia e hora: 30 de Maio de 2014, pelas 11:00 horas.

Os concorrentes deverão fazer-se representar na abertura das propostas para apresentação de eventuais reclamações e/ou esclarecimento de dúvidas acerca da documentação integrante da proposta.

12. Critérios de apreciação das propostas e respectivos factores de ponderação:

a) Preço -- 90%;

b) Plano de realização dos serviços 10%, avaliado de acordo com os seguintes subcritérios:i. Nível de detalhe do plano – 5%ii. Plano de resolução de incidentes – 5%

Os modos de cálculo estão descritos no art.º 11.° do Programa de Concurso.

13. Local, data, horário para exame do processo e preço para a obtenção de cópia:

Local: Comissão do Grande Prémio de Macau.Data e horário: Dias úteis, a contar da data da publicação do anúncio até ao dia e hora do Acto Público do Concurso.Preço: MOP500,00 (quinhentas patacas).

A Comissão do Grande Prémio de Macau, aos 28 de Abril de 2014.

O Coordenador,

João Manuel Costa Antunes

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, apresentou nesta

segunda-feira um novo pa-cote de ajuda ao desenvolvi-mento da África, no valor de 12 mil milhões de dólares, e ofereceu também assistência tecnológica para a construção de ferrovias velozes no con-tinente, segundo a agência estatal de notícias Xinhua.

O anúncio foi feito num discurso na sede da Orga-nização da União Africana, em Adis Abeba (Etiópia). O governo chinês ampliará em 10 mil milhões de dó-lares a sua linha de crédito para países africanos, e em 2 mil milhões o Fundo de Desenvolvimento China--África, que fica assim com um total de 5 mil milhões, segundo a Xinhua. Não foram citados prazos para a entrega das verbas.

Li “descreveu o sonho de que todas as capitais africanas estejam ligadas por comboios de alta velo-cidade, de modo a estimular a comunicação e o desen-volvimento pan-africanos”, diz a Xinhua. Segundo o primeiro-ministro, os recen-tes avanços chineses na área ferroviária permitem ao seu país colaborar para “tornar esse sonho realidade”.

A China também ofere-cerá 100 milhões de dólares adicionais para a protecção da vida selvagem, segundo Li.

Esta é a primeira viagem de Li à África desde a sua

A China não vai ceder e afrouxar a sua política de sustentação da sua economia ou acalmar o mercado

monetário volátil, mesmo que tenha en-trado em uma fase “dolorosa” de reestru-turação, escreveu o primeiro-ministro Li Keqiang, num artigo publicado no influente jornal do Partido Comunista Qiushi (Rumo à Verdade),.

Li repetiu que o seu governo está con-fortável com a desaceleração da economia desde que o crescimento permaneça den-tro de uma “faixa razoável”. A expansão da China, a segunda maior economia do mundo, desacelerou nos três primeiros meses do ano.

Tal levou alguns especialistas a especu-larem que a China pode afrouxar a política monetária de maneira mais vigorosa –

como reduzindo o volume de dinheiro que os bancos mantêm no banco central – para sustentar a economia.

Mas Li afirmou que a China precisa de firmeza para lidar com a sua economia. “Vamo-nos ater às nossas convicções e não dançar de acordo com as frequentes flutuações nos mercados, não mudar a política por causa de vozes divergentes, e vamos persistir em não expandir o défice orçamental”, escreveu Li. “Mesmo que haja flutuações de curto prazo no mercado mo-netário, vamos enfrentá-las calmamente.”

Entre as reformas deste ano, Li afirmou que serão priorizadas a permissão para investidores privados abrirem instituições financeiras, a liberalização do mercado de taxas de juros e a determinação de um sistema para assegurar depósitos.

ÁFRICA ANUNCIADA AJUDA DE US$ 12 MIL MILHÕES

Ele tem um sonhoposse como primeiro--ministro, no ano passado. Em Março de 2013, o presi-dente Xi Jinping viajou ao continente e renovou uma oferta de 20 mil milhões de dólares em emprésti-mos à África entre 2013 e 2015. Li referiu que a nova linha de crédito de 10 mil milhões de dólares se somará aos 20 mil milhões já oferecidos, segundo o China News Service.

As autoridades chinesas disseram na semana passa-da que a viagem de Li – que incluiu também Nigéria e Angola, países produtores de petróleo – não servirá

apenas para selar acordos energéticos, e que Pequim se empenhará também em melhorar as condições de vida no continente mais pobre do mundo.

As viagens de líderes chineses à África costumam ser marcadas por grandes contratos envolvendo recur-sos naturais, o que motiva a crítica de alguns sectores para os quais a China estaria unicamente interessada em receber minérios e energia do continente.

Em geral, os africanos vêem a China como um saudável contraponto à influência ocidental.

LI KEQIANG CHINA LIDARÁ COM VOLATILIDADE DO MERCADO

É preciso ter calma

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10 hoje macau quarta-feira 7.5.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

OS MONSTROS TAMBÉM AMAM • Clara SanchezSandra tem 30 anos, está grávida de um homem que não ama e decide ir viver para uma pequena aldeia da costa leste espanhola. Num dos seus passeios pela praia conhece os Christensen, um casal de octoge-nários noruegueses e estabelece com eles uma relação de proximidade. Nada faria supor que estas três vidas, unidas por acaso, pudessem ser a razão de viver de Julián, um homem recém-chegado da Argentina que segue, passo a passo, os noruegueses. Repleto de suspense e emoção, “Os Monstros Também Amam” é, acima de tudo, um romance sobre as ambiguidades do ser humano, entre a maldade e o amor, e sobre a forma como as aparências escondem o lado mais negro de cada um de nós.

NOCTURNO INDIANO • António TabucchiUma conjectura do autor é a de que este livro poderia servir de guia a um amante de viagens absurdas. E não deixa de ser absurda esta busca de um amigo que desapare-ceu, sombra que pertence a um passado também ele conjectural, numa Índia que se conhece quase só através de quartos de hotel, de hospitais, de estações de caminho--de-ferro. Uma Índia que todavia transparece em conversas com profetas nómadas, Jesuítas portugueses, prostitutas de Bombaim, uma repórter que fotografa a miséria de Calcutá. Mas este misterioso ballet de sombras é sobretudo um hino às faculdades criativas da linguagem, pois é graças a uma palavra evocada em várias línguas que o viajante se aproxima daquele que procura. E é graças à escrita que esta viagem se transforma em livro, passa da insónia ao sonho e do sonho ao texto.

A KRAM Khan é um dos coreógra-fos britânicos mais aclamados do nos-

so tempo na dança contem-porânea e vai estrear-se em Macau com “Desh”, uma peça tida como a sua exploração mais pessoal de sempre.

Inspirada no Bangladesh, terra onde nasceram os pais de Khan, o bailarino e coreógrafo apresenta, sozinho em palco, 90 minutos de diferentes personagens: um estudante activista, uma representação de si próprio enquanto criança e uma cena em que interage com uma sobrinha imaginária. Numa sucessão de pequenos contos, o espectáculo retrata um homem encurralado entre a Grã-Bretanha e o Bangla-desh, procurando arduamente um equilíbrio.

Tendo como fonte de inspiração duas realidades distintas, que passam pelas pacatas ruas de Wimbledon até aos estaleiros de Dhaka, “Desh” é também uma ponte entre ficção e realidade feita de sons, imagens, luz e movi-mento, nascido do receio do confronto interior.

A peça desenrola-se em diversas camadas dimensio-nais entre a perspectiva social e individual, endereçada a pessoas de todas as idades e culturas, explorando questões de identidade e terra num país que luta para se manter inde-pendente. Como, em tempos foi dito sobre “Desh”, a certa altura, mais do que contar a sua história, Khan conta a história de todos nós.

COM AJUDA DE PROFISSIONAISApesar de se tratar de um solo, o processo criativo desta peça foi desenvolvido com a ajuda de uma equipa de colaboradores de renome e de diferentes quadrantes artísticos.

Vencedor de um Óscar, Tim Yip, artista multidis-ciplinar oriundo de Hong Kong e mais conhecido pelo seu trabalho em filmes

AKRAM KHAN, COREOGRÁFO DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES, EM JUNHO NO CCM

“DESH”, as raízes do equilíbrioConsiderada como a criação coreográfica mais pessoal de Khan até à data, “Desh” constrói uma ponte entre o Reino Unido, onde Khan nasceu e foi criado, e o Bangladesh, terra natal dos seus pais. Um espectáculo de dança contemporânea, que pode ser a última apresentação do ‘menino de ouro da dança’ em palco

como o Tigre e o Dragão, é o responsável pela concepção visual desta produção. Com um estilo que junta o moderno ao tradicional, Yip adapta uma linguagem internacionalmen-te reconhecida, do grande ecrã para o cenário teatral.

Também Jocelyn Pook, a premiada compositora conhe-cida pelo trabalho para cinema e televisão, vai integrar a equipa de Khan.

Pook deixou a sua marca em filmes como Eyes Wide Shut ou Brick Lane e, em

“Desh”, explora uma mistura das suas próprias composi-ções, música bengali e sons urbanos gravados durante uma viagem às cidades de Dhaka e Khulna. O grupo fica completo com o designer de luz Michael Hulls e com Kar-

thika Nair, escritora e poetiza amplamente publicada, co--autora do guião para a peça.

EM BUSCA DAS RAÍZESO planeamento e pesquisa para este trabalho levaram toda a equipa numa viagem ao

Bangladesh em Novembro de 2010, em busca das raízes de Khan, documentando paisa-gens e sensações, aprendendo sobre a vida e as tradições locais, visitando estaleiros, al-deias e comunidades piscató-rias. A princípio, relembram, a

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11 eventoshoje macau quarta-feira 7.5.2014

HOJE NA CHÁVENA

A biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é considerada a mais

bela do mundo pelo conhecido portal norte-americano Book Riot, dedicado exclusivamen-te aos livros. Depois de eleger a Livraria Lello, no Porto, como a mais bonita do planeta, Portugal volta a conquistar os EUA com a incrível biblioteca escondida no interior deste monumento nacional.

“É encantadora”, lê-se. “E o que a torna ainda mais im-pressionante são as técnicas

com que é feita a preservação dos livros e como os prote-gem de serem danificados por insectos. Há 500 morcegos dentro daquela biblioteca. Durante o dia, estes ficam guardados dentro de caixas, mas à noite são libertados para se alimentarem dos insectos que por ali andam”.

Ao todo, chegam a comer o dobro do seu próprio peso em insectos, havendo também lendas de ratazanas gigantes que, há noite, saem da biblio-teca por um túnel subterrâneo

que a liga a uma zona pesquei-ra nas imediações.

Destaque também para o “magnífico chão coberto de mosaicos em rosa, cinzento e mármore branco” e para as estantes, todas elas num estilo Rococó, dispostas ao longo das paredes laterais, “separadas por uma varanda com corrimão em madeira”. Estas últimas contêm mais de 35.000 volumes, com capas forradas a couro, incluindo algumas das “maiores jóias bibliográficas”.

A Fundação Oriente acolhe a partir desta sexta-feira, “Cast Away”, uma exposi-

ção de fotografia, escultura e instalação de João Vasco Paiva. O artista português, de 35 anos, está radicado em Hong Kong desde 2006, território no qual se tem inspirado para construir as suas obras mais recentes.

A sua arte tem uma base fortemente estimulada por vários elementos urbanos, como, por exemplo, a sinalização rodoviária. Desta vez, João Vasco Paiva traz à Fundação Oriente uma série de trabalhos sobre Macau, de entre os quais se encontram Unlimited, um

vídeo criado este ano que junta imagens da plataforma virtual Google Earth e excertos das obras literárias “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto e “China”, de Jaime do Inso.

A sua colecção artística vai desde a captação fotográfica, até à reinvenção de materiais do quotidiano, passando pela criação de instalações e esculturas, pensadas para chamar a atenção à capacidade criativa que o meio urbano possibilita.

A exposição, a ser inaugurada já no dia 9 deste mês, estará aberta ao público até 7 de Junho.

Orquídea de vidro gigante em exposição no MGMO casino MGM, tem em exibição, desde dia 29 de Abril, uma escultura de vidro e metal em tamanho macro, do artista plástico norte-americano, Jason Gamrath. A obra, intitulada Equilibrum, encontra-se exposta na entrada norte-sul do casino e tem cerca de 15 metros de altura, tendo demorado cerca de duas mil horas a ser construída. O escultor diz-se “contente” por apresentar o seu trabalho “num local tão proeminente” como o MGM, esperando que “os visitantes sejam inspirados pela beleza” que pediu “emprestada à natureza, de forma a criar arte”. Afirma, ainda, que “a natureza é a verdadeira artista” assumindo-se como um “simples intermediário através do qual a beleza é expandida”. A escultura em tons púrpura e encontra-se decorada com luzes LED, pensadas para dar um aspecto mais teatral à obra. Jason Gamrath nasceu e cresceu em Washington, EUA, trabalhando actualmente na cidade de Seattle.

PORTUGAL TEM A BIBLIOTECA MAIS BONITA DO MUNDO

A jóia escondida

tarefa não foi simples uma vez que “durante os primeiros dois dias simplesmente não houve ligação com o país”, frisa Khan. Mas, depois de alguma desilusão inicial, o grupo aca-bou por descobrir uma terra de gente inovadora com diversas ideias para sobreviver à força da mãe natureza, num país frequentemente fustigado por ciclones e inundações. Khan ficou especialmente impressionado e inspirado pela juventude local e a forma como esta se reinventa numa atmosfera onde convivem a pobreza e a alta tecnologia.

“Desh”, que em bengali quer dizer pátria, é sobretudo um bailado em torno do tema da identidade, e assume tam-bém por vezes um tom de arre-pendimento, particularmente no que diz respeito à relação entre Khan e o pai. Como ad-mitiu numa entrevista, quando era novo havia uma falta de comunicação entre ambos.

“Eu nunca tinha paciência ou a disposição certa para ouvi-lo, quando tudo o que tentava fazer era comunicar comigo, dizer-me que há parte de mim nele. Ele só queria que eu tivesse aquela experiência do Bangladesh, mas eu nunca o permiti porque sempre disse que era britânico e não queria saber do Bangladesh para nada. Sentia-me desligado.”

Nesta peça, Khan encon-trou finalmente a disposição

e uma forma de se ligar ao país que os seus ancestrais chamavam pátria, numa aven-tura ficcional de movimento, cor e luz, explorando uma mistura de recordações reais e imaginárias, redefinindo sabores e cheiros aos quais juntou um pitada de política, história e herança.

Embora a designação de solo possa sugerir um espectá-culo de pequena escala, a estreia de Akram Khan como solista brinda o público com hora e meia de peregrinação intensa, com luxuriantes animações em vídeo, iluminação e um complexo aparato tecnológico.

Uma das questões que a peça poderá levantar, mesmo que fugazmente, são as razões de toda esta opulência teatral para contar uma história sobre uma simples família bengali de origens humildes. A res-posta poderá estar no facto de, apenas um homem com uma dupla herança como Khan, uma criança que é ao mesmo tempo de Londres e do Bangladesh, poder tentar dar a conhecer dois mundos tão distantes e fazê-lo através de um espectáculo que evoca a simplicidade através do movimento e a complexidade da tecnologia, de certa forma espelhando os contrastes que encontrou durante a viagem de exploração à terra da sua família.

CRESCIMENTO ARTÍSTICONascido em Londres em 1947, Akram Khan tinha apenas sete anos quando começou a dançar e a estudar kathak, uma prática tradicional do Norte da Índia. Aos 10 anos, Khan conseguiu o seu primeiro papel no teatro e, quatro anos depois, foi se-leccionado para o elenco de Mahabharata, um filme épico sobre a história da Índia reali-zado por Peter Brook. A mis-tura de estilos do coreógrafo, mesclando kathak com dança contemporânea ocidental, cedo lhe valeu a coroa de ‘menino de ouro da dança’.

Nos anos 90, Khan tinha desenvolvido uma técnica considerada impressionante, que, aliada ao carisma, ino-vação e inteligência artística, qualidades amplamente evi-denciadas nas suas arrojadas produções coreográficas, o lançou para o sucesso. Em 2002, Khan abriu a sua pró-pria companhia tornando-se num dos poucos coreógrafos contemporâneos a ganhar o aplauso generalizado do pú-blico, da Europa e dos Estados Unidos ao Médio Oriente à Ásia e Austrália.

Ao longo da última dé-cada, o coreógrafo britânico confirmou o seu talento com a criação de uma série de produções de larga escala que demonstraram uma forte capacidade para atrair conhe-cidos parceiros de palco. Entre estes encontram-se nomes de artistas de diversas áreas como o coreógrafo belga Sidi Larbi Cherkaoui e a bailarina flamenga Sylvie Guillem, com quem Khan partilhou o palco para apresentar Mons-tros Sagrados, um diálogo dançado acompanhado por música ao vivo. Uma das suas mais arriscadas colaborações teve lugar em 2008, quando Khan actuou em In-i, uma peça bailada em dueto com a actriz francesa Juliette Bi-noche, numa produção com cenografia concebida por Anish Kapoor. Embora Bi-noche nunca tivesse dançado em palco e Khan tivesse pouca experiência em representar, a dupla saiu-se bem na sua meditação sobre o amor, a luxúria e a obsessão, transfor-mada numa grande digressão internacional em 2009.

Em 2012, o artista foi convidado como coreógrafo da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres.

A apresentação teatral de “Desh” em Macau, em Junho, não será o único ca-pítulo dedicado à estreia da obra-prima de Akram Khan no território. O espectáculo também vai estar em foco em formato cinematográfico com a projecção de Six Sea-sons, um documentário sobre a criação do espectáculo, realizado por Gilles Delmas. Este é um filme incluído na edição deste ano do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau no Centro Cultural de Macau. Este es-pectáculo poderá ser também uma derradeira hipótese de ver Khan em palco uma vez que, como o artista já referiu, em breve vai deixar de dançar para se dedicar à coreografia a tempo inteiro. - Centro Cultural de Macau/HM

O planeamento e pesquisa para este trabalho levaram toda a equipa numa viagem ao Bangladesh em Novembro de 2010, em busca das raízes de Khan

João Vasco Paiva mostra “Cast Away” na Casa Garden

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12 publicidade hoje macau quarta-feira 7.5.2014

ANÚNCIOVENDA EM HASTA PÚBLICA

Faz-se público que se vai realizar uma venda em hasta pública de sucata resultante de veículos, de bens, de sucata de bens, de jóias e outros que reverteram a favor da Região Administrativa Especial de Macau nos termos da lei ou que foram abatidos à carga pelos serviços públicos. Os locais, dias e horas marcadas para visualização dos bens agora colocados à venda, para efeitos de prestação da caução e da hasta pública propriamente dita, são os seguintes:Visualização dos bens1. Sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens

Na tabela abaixo indicada encontram-se discriminados os lotes de sucata resultante de veículos, os lotes de bens o os lotes de sucata de bens colocados à venda, bem como, a respectiva data, hora e local para visualização dos mesmos na presença de trabalhadores da Direcção dos Serviços de Finanças:

No. de lote Local de armazenamento Data de identificação Horário (1) Local (2)

VS01, VS02;MS01; Macau 12/05/2014 10:00am

Edf. Veng Fu Shan Chuen (Rua da Penha, n.º 3 – 3C, Macau)

VS03, VS04;MS02, MS03,MS04;L01 (parte)

Coloane 12/05/2014 3:00pm

Parque de estacionamento provisório para veículos abandonados(Estrada de Flor de Lotus, Coloane)

L01 (parte); BL01

Macau 13/05/2014 10:00amLugar proisório entre a Av. Doutor Rodrigo Rodrigues e a Estrada do Reservatório em Macau

Nota(1) A visualização de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens inicia-se, impreterivelmente, quinze minutos após

a hora marcada, não sendo disponibilizada uma outra oportunidade para o efeito. Os interessados devem providenciar meio de transporte para se deslocarem ao local de armazenamento de cada lote.

(2) Para se dirigirem aos locais de armazenamento de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens, devem os interessados concentrar-se nos locais acima indicados.

Não há lugar à visualização de sucata resultante de veículos, de bens e de sucata de bens no dia da hasta pública, mas são projectadas fotografias dos mesmos através de computador.2. Jóias e outros Há lugar à visualização dos bens no local da realização da hasta pública, e, simultaneamente, são projectadas fotografias dos mesmos através de computador.3. As listas de bens podem ser consultadas na sobreloja do Edifício “Finanças”, ou na página electrónica desta Direcção dos Serviços (website: http://www.dsf.gov.mo). As listas dos bens com descrição pormenorizada podem ser consultadas no 8.º andar do Edifício “Finanças”, sala 803.Prestação de caução

Período: Desde a data do anúncio até ao dia 14 de Maio de 2014Montante: $3,000.00 (três mil patacas)Modo de prestação da caução: - Por depósito em numerário ou cheque, o qual será efectuado mediante a respectiva guia de depósito e paga

em instituição bancária nela indicada. A referida guia de depósito será obtida na Sala 803 do 8.º andar do Edifício “Finanças”, sito em Macau na Avenida Praia Grande, n.º 575, 579 e 585; ou,- Por garantia bancária, de acordo com o Modelo constante do anexo 1 das Condições de Vendas

Realização da Hasta PúblicaData: 15 de Maio de 2014 (quinta-feira)Horário: às 09:00 horas – registo de presenças

às 10:00 horas – início da hasta públicaLocal: Auditório, na Cave do Edifício “Finanças”, sito em Macau na Avenida Praia Grande, n.º 575, 579 e 585;

Consulta das Condições de VendaAs Condições de Venda podem ser:

- Obtidas na sala 803 do 8.º andar do Edifício “Finanças”, sito em Macau na Avenida Praia Grande, n.º 575, 579 e 585;- Consultadas na sobreloja do Edifício “Finanças”, ou na página electrónica da Direcção dos Serviços de Finanças (website:http://www.dsf.gov.mo).

A Directora dos ServiçosVitória da Conceição

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hoje macau quarta-feira 7.5.2014

hARTE

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IDEI

AS

13

João CurvêloIN VÍRUS Nº5

“S OU um viajante que nunca fez viagens para escrever sobre elas, o que sempre me pareceu estúpido. Seria

como se alguém quisesse apaixonar-se para escrever um livro sobre o amor”.

Viagens e outras viagens está longe de se confundir com um guia turístico. Nesta obra, Antonio Tabucchi leva-nos numa viagem por um mundo onde as identidades se impõem face às bandei-ras e interpela-nos sobre a pretensão de apropriação do espaço e do tempo. É que, como adverte o autor na nota que precede as crónicas, “pousar os pés no mesmo chão durante toda a vida pode originar um perigoso equívoco, o de fazer-nos crer que essa terra nos per-tence”.

Antonio Tabucchi nasceu na co-muna de Vecchiano, na região italiana de Pisa, em 1943. Chegaria a Portugal mais de duas décadas depois, no verão de 1965, depois de ter ganho uma bol-sa de estudo para o melhor aluno do curso de Português. Fez de Lisboa a sua morada, vindo a falecer nesta ci-dade na manhã do dia 25 de março de 2012. Pelo caminho, emprestou à po-lítica um pouco do seu desassossego. Apoiou Mário Soares e foi candidato pelo Bloco de Esquerda ao Parlamen-to Europeu. Com ou sem actividade pública, utilizou a escrita como instru-mento de um combate que não conhe-ce fronteiras: da crítica do salazarismo num Portugal atrasado em que “todos vestiam de preto e usavam chapéu”1 à intransigência na urgência de “desber-lusconizar a Itália”2.

Nas viagens, como na literatura e

na política, o “nomadismo intelectual”3

de Tabucchi atravessou os cinco con-tinentes e pisou o chão de dezenas de países. As crónicas que o autor reúne neste livro foram escritas com propó-sitos distintos e em tempos diferentes. Ainda que o facto de as datas nem sem-pre estarem assinaladas dificulte a leitu-ra de alguns elementos circunstanciais, a coerência estilística e a estruturação da obra permitem-nos seguir uma ló-gica que nos transporta das “viagens com objetivo” aos mais improváveis encontros de um “imaginário constru-ído por interposta pessoa”. As crónicas contêm, ao mesmo tempo, a crítica dos percursos maquinais do turismo pré-

UM LIVRO SEM FRONTEIRAS

“O MUNDO É MAIS DO QUE ESTE BURACO EM QUE VIVEMOS”

-formatado e interrogações sobre as ló-gicas hierarquizadas de construção dos lugares (provavelmente, com o sentido próximo daquele com que Brecht ques-tionara a paternidade da construção de Tebas e Babilónia). Afinal, o que é um lugar sem a sua gente? Ou o que é um viajante sem “um olhar afetuosamente atento ao quotidiano do povo miúdo da cidade”?

As referências literárias, inteligen-temente entrelaçadas nas descrições do espaço, transformam as curtas crónicas

em fotografias pormenorizadas dos lugares e dos seus povos. É assim, por exemplo, quando deambulamos com Jorge Luis Borges pelas ruas de Buenos Aires, onde “resta a beleza imóvel e onírica de uma cidade metafísica sur-preendida no seu mistério”. Ou quan-do, fugindo do Cairo prometido pelos catálogos comerciais, nos encontramos no souk do bairro de Naghib Mahfuz, escritor egípcio que recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1988. Mais tar-de, na Lisboa que nos faz sentir uma “nostalgia do futuro”, tomamos um café expresso à italiana “na companhia da-quele senhor de sorriso inefável”. O sorriso é o de Fernando Pessoa, cuja es-

tátua de bronze ocupa uma das mesas d’ A Brasileira e cuja obra foi estudada e traduzida por Tabucchi. “Viajar! Perder países! / Ser outro constantemente”, começa assim um poema escrito por Pessoa em 1933. É disso que tratam estas crónicas de Tabucchi: do que se ganha a cada chegada, mas também do que se perde a cada partida.

“Sou um viajante que nunca fez via-gens para escrever sobre elas, o que sempre me pareceu estúpido. Seria como se alguém quisesse apaixonar-se

para escrever um livro sobre o amor”, avisa o autor nas primeiras páginas. Viagens e outras viagens é um livro sobre os lugares e sobre as pessoas que Ta-bucchi conheceu. Mas é mais do que isso. É um mapa aberto, que depressa nos faz perceber que “o mundo é mais do que este buraco em que vivemos”.

1- «Antonio Tabucchi. Errante narrativa do desassossego», jornal i (26 de Março de 2012).2 - «“Desberlusconizzare” l’Italia» foi o título do último artigo de Tabucchi no jornal El País(12 de Novembro de 2011).3 - «Tem que me apetecer escrever como me apetecem pastéis de nata», entrevista ao jornal i(4 de Outubro de 2010).

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14 hoje macau quarta-feira 7.5.2014

WADJDAQUANDO UMA BICICLETA É O MUNDO

hSofia RoqueIN INFLEXÃO

O Sonho de Wadjda (2012) conta-nos a história de uma miúda que desafia o conservadorismo e o ma-

chismo da sociedade saudita, usando ténis, tendo como melhor amigo um rapaz e desejando uma bicicleta. Uma personagem improvável? Um filme rodado inteiramente em território saudita e realizado por uma mulher também deveria ser impossível. Mas «a Arábia Saudita está a mudar», diz Haifaa al Mansour. Pois que mude, radicalmente.

Wadjda, a rapariga que dá nome ao filme, é uma adolescente que vive os seus últimos anos de liberdade. Em bre-ve, por ser mulher, não poderá andar na rua com a cabeça descoberta, nem falar em público com o seu melhor amigo, Abdullah. Mas Wadjda não se encai-xa na sociedade onde nasceu. Há nela uma inocente lucidez, não muito cons-ciente, e isso fá-la desejar o mundo. Ter uma bicicleta é condição fundamental para poder fazer uma corrida com o seu amigo. Porém, é também o pretexto para metaforicamente reclamar o direi-to ao espaço público, pois “as bicicletas não são coisas de rapariga”. Aquela bi-cicleta verde e luminosa permitir-lhe-á agir como o ser singular que é, para lá das determinações do ser mulher ou do ser homem. E Wadjda tudo fará para a conseguir, nem que tenha participar num concurso de recitação do Corão para ganhar o dinheiro necessário. Isso bastará?

Neste filme de Haifaa al Mansour, a primeira realizadora mulher da Ará-bia Saudita, acompanhamos também a história da mãe de Wadjda que enfren-ta todos os dias as restrições impostas pela sociedade saudita: a simples liber-dade de movimento é uma batalha diá-ria que inclui desgastantes negociações com o motorista que a transporta para o trabalho; o drama de não conseguir ter o filho-homem que o marido, a fa-mília do marido e a própria sociedade exigem, configura o sentido da sua vida também todos os dias.

Wadjda tudo fará para conseguir a bicicleta, nem que tenha participar num concurso de recitação do Corão para ganhar o dinheiro necessário. Isso bastará?

O Sonho de Wadjda fala-nos da con-dição das mulheres sauditas, deixando claro que em causa está uma moral patriarcal que a todos/as obriga e, por isso, é um filme enredado na figura do

proibido e consequentemente, envol-to nas fronteiras do possível. Quan-do Wadjda e Abdullah se encontram na rua para brincar, cada uma destas crianças está já a experimentar um im-possível, contrariando o que se espera delas enquanto futuro homem ou futu-ra mulher. E fazem-no sob o signo da amizade.

Como foi possível fazer um filme como este na Arábia Saudita? “Tam-bém fiquei surpreendida por o ter conseguido fazer”, confessou Haifaa al Mansour ao Ípsilon (21-03-2014), numa conversa telefónica com Ale-xandra Prado Coelho. “Mas a Arábia Saudita está a atravessar grandes mu-danças, há muita coisa a acontecer sob

fância e adolescência são vividas já nas margens apertadas da submissão e do controlo absoluto.

O Sonho de Wadjda não foi exibido no reino, porque não existem salas de cinema, mas foi visto em várias sessões privadas e por muitos sauditas nos paí-ses vizinhos. Foi aplaudido em festivais por todo o mundo.

A escola pública é extremamente restritiva e nem sempre é compensada quando as famílias são relativamente liberais: as professoras são guardiãs da moral que as oprime e advertem as alu-nas para que usem o véu, ralham-lhes por falarem alto, pois “a voz de uma mulher é a sua nudez”, e escondem-nas dentro das paredes da escola sempre que a partir dos muros do recreio pos-sam ser vistas por homens. No filme, e novamente no contexto da escola, ve-mos raparigas de onze anos mostrando as fotos do casamento com um homem de vinte, outras são ameaçadas de ex-pulsão quando são apanhadas a pintar as unhas dos pés e tentam esconder o que estavam a fazer, acabando sob suspeita de terem uma relação de cariz sexual e outras ainda são advertidas de que não devem tocar no livro do Corão com as suas mãos, caso estejam mens-truadas.

Mas muita coisa tem vindo a mudar na Arábia Saudita, tal é o que compre-endemos nas declarações de Haifaa al Mansour aoÍpsilon, na mesma entre-vista já citada: “Hoje, uma mulher que queira trabalhar tem mais alternativas. Há mais incentivos para trabalharem em centros comerciais, por exemplo. Mas continua a haver resistência dos conservadores, que as pressionam para que tenham medo e não vão. É impor-tante desafiar esses preconceitos. E isso já está a acontecer, há muitas raparigas que querem apenas ter uma vida nor-mal e estão dispostas a enfrentar essas pressões. As mulheres já não se assus-tam tão facilmente”.

“Não somos nós contra o mundo”, diz Haifaa, “somos nós a tornarmo-nos também parte do mundo”. É isso que significa a bicicleta de Wadjda.

O Sonho de Wadjda não foi exibido no reino, porque não existem salas de cinema, mas foi visto em várias ses-sões privadas e por muitos sauditas nos países vizinhos. Foi aplaudido em festivais por todo o mundo e chegou a ser seleccionado para o Óscar de Me-lhor Filme Estrangeiro, não tendo sido depois nomeado.

O FILME DA PRIMEIRA REALIZADORA DA ARÁBIA

SAUDITA FALA-NOS DA CONDIÇÃO DAS MULHERES,

DEIXANDO CLARO QUE EM CAUSA ESTÁ UMA MORAL

PATRIARCAL QUE A TODOS/AS OBRIGA E, POR ISSO, É

UM FILME ENREDADO NA FIGURA DO PROIBIDO. ALIÁS,

NÃO HÁ SALAS DE CINEMA NO REINO SAUDITA

a superfície, e há neste momento uma maior abertura em relação aos direi-tos das mulheres e à arte”. Contudo, a realizadora contou que teve de filmar as cenas de exterior dirigindo os ato-res, as actrizes e as câmaras escondi-da numa carrinha e socorrendo-se de um walkie-talkie.

O poder do cinema é a força deste filme. Através de um registo ficcional, acedemos a um vislumbre documental e crítico de uma sociedade, cujos tra-ços de exotismo grotesco surgem no embate irredutível com as nossas con-vicções mais profundas sobre a liberda-de e a igualdade. É que a opressão das mulheres é-nos apresentada sobretudo pela perspetiva das meninas, cuja in-

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15 artes, letras e ideiashoje macau quarta-feira 7.5.2014

António José AndréIN ESQUERDA.NET

M ÁRIO Fortino Alfonso Moreno Reyes, actor mexicano, conhecido como Cantinflas, mor-

reu de cancro do pulmão na cidade do México, em 20 de Abril de 1993, com 81 anos. Dezenas de milhares de pes-soas juntaram-se num dia chuvoso para o seu funeral, que durou 3 dias. Era enorme a popularidade de Cantinflas, sobretudo nas classes populares.

Nasceu numa família muito humilde e tinha 12 irmãos. Teve uma adolescên-cia marcada pela pobreza o que o levou a começar a trabalhar muito cedo, pri-meiro como engraxador e depois como aprendiz de toureiro, motorista de táxi e pugilista.

A sua vida mudou quando, aos vin-te anos, trabalhando como empregado num teatro popular teve a oportunidade de substituir o apresentador do espec-táculo que adoecera. Ao inverter frases, trocar palavras e abusar do improviso, Cantinflas, conquistou o público.

Em 1930, já era o cómico mais famo-so do país. Em 1934, conheceu a actriz Valentina Subarev com quem teve o úni-co filho, Mário Arturo Ivanova. Em 1936, com uma ampla bagagem acumulada no circo, estreou-se no filme “Não Te Enga-nes, Coração”, ao qual se seguiram “Na Minha Terra É Assim”, “Águila, o Sol” (1937) e “O Signo da Morte” (1939).

Consagrou-se definitivamente como ídolo, em 1940, com o filme “Aí Está o Detalhe”, em cuja última cena e por causa dum delirante discurso passa pelas convenções sociais e muda o ve-redicto do juiz. Este filme possibilitou--lhe fundar a companhia Posa Filmes, produtora de “Gengibre contra Dina-mite”, que com quase 50 filmes, bateu recordes de bilheteira nas 3 décadas que se seguiram.

Em 1944, filiou-se no Sindicato de Trabalhadores da Indústria Cinema-tográfica. A sua contribuição foi de-cisiva para a melhoria das condições contratuais do pessoal dos estúdios. Encabeçou uma greve, secundado pe-los actores Jorge Negrete e Arturo de Córdova, com quem manteve uma for-te polémica na direcção da Associação Nacional de Actores.

A popularidade deste actor do ci-nema mexicano deve-se muito ao seu trabalho nos filmes “Nem Sangue, Nem Areia” e “O Gendarme” (1941). Com ambas as obras, Moreno espera-va amortizar os recursos investidos na Posa Filmes. Teve êxito: “Nem Sangue,

CANTINFLASACTOR E MILITANTE

Nem Areia” arrecadou 54 mil pesos em 4 dias. O sucesso extraordinário pros-seguiu com “O Gendarme”, considera-do um dos seus melhores filmes. .

Nos anos 50, os seus filmes mostram uma mudança: do personagem pitoresco, urbano e popular só restaria um humor baseado no uso reiterado do “cantinflis-mo”, a habilidade de falar muito e não dizer nada. Em todas elas, Cantinflas converteu-se num crítico da sociedade local e da humanidade, em geral. Arre-metia com singular desassombro contra a “aristocracia desnaturalizada”, fazendo com que triunfasse o autêntico sobre o falso. Era o homem que sempre dizia a verdade, se bem que de forma sarcástica.

Excepcionalmente, participou numa superprodução norte-americana “A Vol-ta ao Mundo em Oitenta Dias” (1957). Decidido a não participar em roda-gens fora do seu país, abriu uma única excepção para o filme espanhol “Dom Quixote Cavalga de Novo”, dirigido por Manuel Delgado, com quem tinha trabalhado em filmes como “O Bolero de Raquel” (1956) e “O Padre” (1965), o seu primeiro filme a cores.

Nos seus papéis sempre denunciou as desigualdades sociais e a falta de so-lidariedade. A última etapa da sua vida, depois de enviuvar em 1966, foi marca-da pela participação em acções sociais e políticas, chegando inclusivamente a pronunciar um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Cantinflas será sempre lembrado por fazer triunfar um tipo maroto de bom coração que apresenta algum paralelis-mo com o Carlitos de Charles Chaplin. Cantinflas herdou de Carlitos o coração e a alma. Só que o pobre Cantinflas, tão pobre quanto o Carlitos, dava-se ao luxo de se compadecer dos ricaços. A sua característica central era a dispa-ratada e inesgotável verborreia, que o converteu num outro génio da comédia.

A sua actuação era sobretudo fruto da agilidade e as situações mais dis-paratadas brotavam com maravilhosa simplicidade. Os filmes nada tinham de extraordinário, porém a sua figura, o seu pessoalíssimo estilo interpretativo e o seu singular sentido do humor ocu-pam um lugar relevante no firmamento da sétima arte.

MÁRIO MORENO,

O CANTINFLAS, FOI

UM DOS CÓMICOS

LATINO-AMERICANOS

MAIS POPULARES

DESDE OS ANOS 30,

CONSIDERADO UM

GÉNIO DA COMÉDIA

MUITO GRAÇAS

À DISPARATADA

E INESGOTÁVEL

VERBORREIA QUE

CARACTERIZAVA

OS SEUS PAPÉIS

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16 DESPORTO hoje macau quarta-feira 7.5.2014

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ANÚNCIOCONCURSO PÚBLICO N.º 5/P/14

Faz-se público que, por despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 8 de Abril de 2014, se encontra aberto o Concurso Público para “Fornecimento de Equipamentos Laboratoriais Cedidos Como Contrapartida do Fornecimento de Reagentes ao Centro de Transfusões de Sangue dos Serviços de Saúde”, cujo Programa do Concurso e o Caderno de Encargos se encontram à disposição dos interessados desde o dia 7 de Maio de 2014, todos os dias úteis, das 9,00 às 13,00 horas e das 14,30 às 17,30 horas, na Divisão de Aprovisionamento e Economato destes Serviços, sita na Rua Nova à Guia, n.º 335, Edifício da Administração dos Serviços de Saúde, 1.º andar, onde serão prestados esclarecimentos relativos ao concurso, estando os interessados sujeitos ao pagamento de $40.00 (quarenta patacas), a título de custo das respectivas fotocópias (local de pagamento: Secção de Tesouraria destes Serviços de Saúde) ou ainda mediante a transferência gratuita de ficheiros pela internet no website do S.S. (www.ssm.gov.mo).

As propostas serão entregues na Secção de Expediente Geral destes Serviços, situada no r/c do Centro Hospitalar Conde de São Januário e o respectivo prazo de entrega termina às 17,45 horas do dia 5 de Junho de 2014.

O acto público deste concurso terá lugar no dia 6 de Junho de 2014, pelas 10,00 horas, na sala do “Auditório” situada no r/c do Edifício da Administração dos Serviços de Saúde junto ao C.H.C.S.J..

A admissão a concurso depende da prestação de uma caução provisória no valor de $164 000,00 (cento e sessenta e quatro mil patacas) a favor dos Serviços de Saúde, mediante depósito, em numerário ou em cheque, na Secção de Tesouraria destes Serviços ou através da Garantia Bancária/Seguro-Caução de valor equivalente.

Serviços de Saúde, aos 24 de Abril de 2014

O Director dos Serviços,Lei Chin Ion

Aviso Faz-se público que, por despacho do Exmo. Senhor Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 17 de Abril de 2014, se acha aberto concurso comum, de ingresso externo, de prestação de provas, para o preenchimento de dois lugares de meteorologista operacional de 2ª classe, 1º escalão, da carreira de meteorologista operacional, em regime de contrato além do quadro da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos.

Informações detalhadas encontram-se no Boletim Oficial nº. 19, II série, de 7 de Maio de 2014 e podem acessar à página electrónica destes Serviços www.smg.gov.mo; ou seja nas horas de expediente directamente vir à sede da Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos que está localizada na Rampa do Observatório da Taipa Grande para consultar.

Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, aos 25 de Abril de 2014.

O DirectorFong Soi Kun

M ÁRIO Figueiredo, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP),

revelou que o Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa (Leiria), palco da final da Taça da Liga, vai estar cheio para receber o Benfica e o Rio Ave (hoje às 20h30, 3h30 em Macau).

“É a primeira vez que teremos uma final da Taça da Liga num dia de semana, à semelhança do que acontece com as competições euro-peias. Estando nós no centro do país, com muito bons acessos, podemos assegurar que teremos casa cheia e que Leiria foi uma aposta ganha”, declarou Mário Figueiredo durante a conferência de imprensa de apre-sentação do evento.

O dirigente afirmou ainda que a aposta em Leiria foi muito bem--sucedida e que existe a hipótese de o contrato ser renovado por mais uma ou duas épocas.

O presidente da Liga admite que está garantido “um espectáculo de altíssima qualidade”, entre o Benfica que “está a realizar uma época extraordinária”, e o Rio Ave, “que foi a revelação da época, conquistando a final da Taça da Liga e da Taça de Portugal”.

Para incentivar os jogadores da Liga, foi criado um troféu (“Man Of The Match”), que irá premiar o melhor jogador, eleito pelos jornalistas. “Esta é a competição onde se vê o verdadeiro espírito competitivo. Criámos um troféu moderno, em aço escovado e

Ténis de mesa China revalida títulos mundiais colectivos

Barça coloca 13 jogadores no mercadoA Imprensa catalã avança que o Barcelona estará a preparar uma profunda remodelação no plantel para a próxima temporada e estão disponíveis para negociar os passes de 13 jogadores. De acordo com o jornal Sport jogadores como Fàbregas, Daniel Alves, Adriano, Pedro, Mascherano, Song, Alexis, Tello, Jonathan Dos Santos, Ibrahim Afellay, Isaac Cuenca, Sergi Roberto e Oier Olazábal são negociáveis. Para os responsáveis catalães os jogadores imprescindíveis são Piqué, Alba, Busquets, Iniesta, Messi, Neymar, Montoya, Bartra e Xavi.

Van Gaal quertravar saída de NaniNuma altura em que o nome de Nani é apontado à Juventus, a Imprensa inglesa revela que o Louis Van Gaal, apontado como futuro treinador do United, estará interessado em ver o jogador. De acordo com o Mirror, Van Gaal, que deverá assumir o comando United no verão, pretende conversar com o jogador antes da possível saído do internacional português. No entanto, Nani já terá chegado a acordo com o clube de Turim para prosseguir a carreira na Juventus, isto após uma temporada marcada por lesões.

Liverpool Suárez chora após empateNem os melhores aguentam, por vezes, a pressão do futebol aos mais alto nível. Luís Suárez, após o impressionante empate do Liverpool em casa do Crystal Palace – os reds chegaram a estar na frente por 3-0 – não conteve as emoções e desfez-se em lágrimas em pleno relvado. O resultado pode ter significado o fim da luta do Liverpool pelo título inglês que escapa desde 1990, uma vez que o Manchester City, com um jogo a menos, pode saltar para a liderança da Premier League se vencer na quarta-feira o Aston Villa, pelo que depois resta apenas uma jornada do campeonato.

“Foi uma aposta ganha”, diz Mário Figueiredo, sobre a escolha do palco para o jogo de hoje entre Benfica e Rio Ave

FINAL DA TAÇA DA LIGA EM LEIRIA COM LOTAÇÃO ESGOTADA

Uma casa à Benfica

esguio, que será mais um incentivo aos jogadores”, afirmou Mário Fi-gueiredo. O prémio será entregue no campo, no final do encontro.

O responsável pela Liga con-siderou a Taça da Liga “um pólo importante de disseminação do fu-tebol português para a valorização e lançamento de jogadores jovens e assegurar receitas importantes para os clubes médios e pequenos das competições profissionais”.

“UM GRANDE EVENTO”Raúl Castro, actual presidente da Câmara Municipal de Leiria, também esteve presente na confe-rência de imprensa e afirmou que “a realização do jogo em Leiria dá a possibilidade aos leirienses de assistirem a um grande evento, que irá promover a cidade e a região”.

No que diz respeito à transmissão televisiva, a estação que irá fazer a cobertura do encontro em directo será a TVI. Luís Cunha Velho, director--geral da estação, promete fazer de

tudo para dignificar a prova: “É o segundo ano consecutivo que a TVI transmite a Taça da Liga e aquilo que nós tentamos fazer é dignificar a com-petição. Julgo que esses objectivos têm sido atingidos”.

A China confirmou hoje o favoritismo, ao revalidar os títulos mundiais masculino

e feminino de equipas de ténis de mesa, em Tóquio, Japão. Ma Long, Zhang Jike, Xu Xin materializaram o sétimo título mundial consecutivo do seu país, ao vencerem a Alemanha de Timo Boll, Dimitrij Ovtcha-rov e Patrick Franziska por 3-1. Este foi o único ponto cedido pelos chineses em todo o Mundial, curiosamente, através do cam-peão mundial e olímpico Zhang Jije ante

Ovtcharov, que acabou com sequência de 26 triunfos consecutivos do rival, que nunca tinha perdido um jogo em mundiais, tanto em singulares, como por equipas.

Liu Shiwen, Ding Ning e Li Xiaoxia, as três primeiras do ranking mundial, não deram hipóteses às japonesas Yuka Ishigaki, Kasumi Ishikawa e Sayaka Hirano, com concludente 3-0. No total, na competição por equipas, a China soma 19 títulos mundiais masculinos e outros tantos femininos.

O director-geral da TVI ainda declarou que estarão mais de 100 pessoas em Leiria para acompa-nharem passo a passo todos os mi-nutos desta final, com entrevistas, reportagens e directos.

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hoje macau quarta-feira 7.5.2014 (F)UTILIDADES 17

Pu YiPOR MIM FALO

João Corvo fonte da inveja

C I N E M ACineteatro

TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 20 MAX 23 HUM 80-95% • EURO 11.1 BAHT 0.2 YUAN 1.3

ACONTECEU HOJE

Se não sei quem sou, como posso saber que não sei?

7 DE MAIO

SALA 1THE AMAZINGSPIDER-MAN 2 [B]Um filme de: Marc WebbCom: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dante DeHaan14.15, 16.45, 21.45

THE AMAZINGSPIDER-MAN 2 [3D][B]Um filme de: Marc WebbCom: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dante DeHaan19.15

SALA 2 THE DEMON WITHIN [C](FALADO EM CANTONÊS E LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Dante LamCom: D. Wu, N.Cheung, L. K. Chi, D. Lam, A. On14.30, 16.30, 19,30, 21.30

SALA 3BILOCATION [C](FALADO EM JAPONÊS E LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Mari AsatoCom: Mari Asato, K. Takitoh, Kento Senga14.30, 16.45, 19.15, 21.30

THE AMAZING SPIDER-MAN 2

A Alemanha nazi rende-see termina a II Guerra Mundial• Sete de Maio de 1945 assinala o fim da II Guerra Mun-dial, com a rendição da Alemanha nazi, numa declaração assinada incondicionalmente perante os Aliados. No dia em que estreia a 9.ª Sinfonia de Beethoven, nasce Tchai-kovsky (1840) e Eva Perón (1919). A II Guerra Mundial foi a mais abrangente da História, envolvendo grande número de países e mobilizando mais de 100 milhões de militares. Terminou no dia 7 de Maio de 1945, com a assinatura do acordo de rendição da Alemanha de Hitler, vencida pelos Aliados. Essa assinatura marca o fim da II Guerra Mundial, que começara com a invasão da Polónia pela Alemanha, a 1 de Setembro de 1939, e com as declarações de guerra contra os germânicos, por parte da França, países do Império Britânico e do Commonwealth. Este confronto mundial fica marcado, sobretudo, pelo elevado número de mortos: foi o conflito mais letal da História da Humanidade, estimando-se que 70 milhões de pessoas tenham perdido a vida. Uma das grandes marcas da II Guerra Mundial é o Holocausto, símbolo de ataques contra civis deste conflito mundial, o único em que se recorreu a armas nucleares. Também a 7 de Maio, em 1824, estreia a 9.ª Sinfonia de Beethoven, uma das grandes obras-primas do compositor alemão. Já em 1910, o cometa Halley passa pelo planeta Terra.

A ONUHá sempre uma altura do ano em que Macau me embaraça. Além de todas as esporádicas vezes, claro, quando chega a hora de ajustar contas com organizações internacionais - como a ONU - temo sempre pelo meu lindo pêlo. Os relatórios que Macau envia para a ONU, geralmente ligados aos direitos humanos, são sempre de um território onde tudo é lindo e cor-de-rosa. Cheio de néons, tantos que, se calhar, ofuscam. Recentemente, foi dado a conhecer o relatório que o Executivo mandou à ONU sobre a violência doméstica. Ora, na resposta à organização vai tudo o que se costuma dizer ser “para inglês ver”. Não se funciona lá, que aquilo é na Suíça, mas por cá não funciona de certeza, pelo menos aqui para o Pu Yi. O Governo não menciona uma única vez que a lei vai ser de crime semi-público. É dito que “ainda não há uma lei independente”, mas que o Código Penal resolve. Não é dito que o Governo recuou na criminalização da violência doméstica e na retirada de casais do mesmo sexo da lei. O que é dito sobre o que vai trazer a lei de novo baseia-se na harmonia social. Mas, por outro lado, não é dito que mais de metade da população de Macau já disse que quer a violência doméstica como crime público, que há manifestações para isso e que a política do Governo sobre esta lei é baseada na “harmonia social”. Não é dito que nove em cada dez mulheres já sofreram com violência doméstica - mesmo sendo este um estudo do Governo. É preciso ir uma Aliança falar em nome de Macau, para mostrar, afinal, que a lei pensada e “para breve” não protege nem representa os ideais da população. Go irmã Juliana! Miau!

Nos anos 60 do Portugal do Salazarismo, o papel das mulheres raramente ia além da cozinha e da criação dos filhos. Nos meios urbanos, poucas tinham acesso a uma educação superior. Maria Filomena Mónica, socióloga e historiadora, conseguiu-o, na Universidade de Lisboa, e depois, na Universidade de Oxford, com um douto-ramento feito com a ajuda de uma bolsa da Fundação Gulbenkian. A socióloga e historiadora portuguesa tinha, à data, 28 anos, dois filhos e um divórcio, mas isso não a

demoveu de estudar no estrangeiro. Este livro, que compreende o período da vida pessoal e familiar da autora de 1943 a 1976, é mais do que um compilar de memórias. Ajuda-nos também a perceber o Portugal dos anos 50, 60 e 70 e de como as mulheres eram analisadas perante uma sociedade conservadora, principalmente as que eram emancipadas. - Andreia Sofia Silva

BILHETE DE IDENTIDADEMARIA FILOMENA MÓNICA, ALETHEIA EDITORES

U M L I V R O H O J E

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18 OPINIÃOa outra faceCARLOS MORAIS JOSÉ

hoje macau quarta-feira 7.5.2014

N A sociedade mediática, a saúde (ou o seu discurso) ganhou uma importância fundamental. Nunca como hoje as pessoas foram tão levadas a tomar a saúde como um dos principais modelos de referência nas suas vidas. Como muito bem notava Susan Sontag

em “Aids and its metaphors”, existe uma concupiscência, uma estranha relação entre a doença, a comunicação, a política e, conse-quentemente, os comportamentos. Para além de ser de desconfiar qualquer sobrevaloriza-ção do corpo, a posse da saúde – ter saúde, como se diz – mercantilizou-se como outra posse qualquer, é traduzível por quantidades de numerário (com o que se gasta no médico, na farmácia, no ginásio, no dealer). Hoje ter saúde significa também um determinado tipo de consumo, como significa determi-nado tipo de comportamento, ostentação de signos, sendo que este implica também a aderência a uma específica rede consumista.

A propagação real ou mediática das do-enças restringe os comportamentos (como no caso da sida), modifica os hábitos (como o fitness e o jogging), proporciona novos gadgets à indústria (como no caso da pneu-monia atípica). A doença ou a sua sombra proliferam através de uma quantidade as-sombrosa de revistas da especialidade, hoje predominantemente transvestidas em forma física e componentes estéticas. Na televisão

A pequena saúde e a grande vida

Lidamos com uma pequena saúde, feita de preocupações históricas sobre a decadência do corpo e a proximidade da morte. Trata-se, finalmente, do modo como a sociedade em que vivemos tira proveito das angústias (umas existenciais, outras que ela própria cria) e as molda de forma a serem mercantilizáveis

são cada vez mais comuns os programas sobre doenças – em Portugal, Júlio Isidro entrevista pessoas que sobreviveram a can-cros e ataques cardíacos. Por toda a parte somos confrontados com a necessidade da precaução, da prevenção, da medicação, do rastreio; entrando para o nosso quotidiano termos bárbaros provenientes da medicina e da manutenção, cujo aspecto mais inofensivo se tornou amplamente numa mercadoria. O que o corpo tomar é o que ele é, sobretudo em termos de valor social.

Chegámos, portanto, a um tempo em que a química retomou os seus direitos, interferindo em todas as esferas. Está prati-camente ultrapassado a era romântica em que a psicologia abdicava da factura química, na esperança de uma cura dita “espiritualista”. Hoje não há tempo para isso e, sobretudo, escasseia a paciência. “Quero a minha felicidade já, nem que seja em pequenas doses e tenho direito a ela, porque ela está em toda a parte” (como no caso do Viagra,

outro potente mutante de comportamentos, ansiedades, emoções, relações) – sente-se e diz-se.

A saúde é, portanto, fundamental. Mas convém compreender que se trata de uma saúde especial. Muito dirigida e muito bem orquestrada. Mas raramente ultrapassa o nível farmacológico, mecanicista, que en-cara o corpo como um ente fragmentado, como no caso do culturista que desenvolve uma relação particular com cada músculo. O equilíbrio é agora procurado na química, na localização dos problemas. As terapias de outro tipo encontram-se agora em franca decadência.

Na verdade, lidamos com uma pequena saúde, feita de preocupações históricas sobre a decadência do corpo e a proximidade da morte. Trata-se, finalmente, do modo como a sociedade em que vivemos tira proveito das angústias (umas existenciais, outras que ela própria cria) e as molda de forma a serem mercantilizáveis. Assim, alteram-se igual-

mente os comportamentos e regista-se uma disciplina dos corpos e dos seus horários, bem conveniente ao circular da mercadoria, de cujo estatuto os humanos se aproximam cada vez mais e alegremente, como se nisso suspeitassem da existência de uma qualquer forma primeva de justiça.

Nem por sombras estamos perante uma relação ecológica e equilibrada ou sequer perante uma reflexão mais longínqua sobre o papel da ruptura num contexto natural. Cuidamos, amedrontados, isso sim, da nossa pequena saúde, de um corpo que encaramos como estando na nossa posse ou que nos pos-sui, mas sempre com uma visão mecanicista e não integrada desse mesmo corpo. Este é comprado nos media, nos ginásios, nos mé-dicos, nas farmácias, nos dealers (de algum modo, a drogadicção ilegal é uma medicina alternativa e mais generalista, talvez mesmo a que, nalguns casos, mais se aproxima de alguma espiritualidade).

As pessoas desfilam pois pela senda da pequena saúde, em muitos casos servos da sua ditadura. Por ela reorganizam as suas vidas. São induzidas a fazer do exercício físico uma parte dos seus quotidianos. As vitaminas, outra. Os programas, os filmes, as notícias, o obsceno, como o exemplo da dor alheia, vendida ao minuto nos ecrãs, são os altares desta religião, que monitoriza o dia, as refeições, o sexo, o sono, as relações, inclusivamente consigo próprio. A pequena saúde ganha foros de modo de vida. E o que fica de fora?

A vida, precisamente a vida, a grande vida.

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19 opiniãohoje macau quarta-feira 7.5.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

José Vítor Malheiros In Público

V OLTAIRE dizia que “quase toda a História é uma sequência de atrocidades inúteis”. A frase adapta-se como uma luva ao “programa de ajustamento” a que Portugal foi submetido nos últimos anos pelo Governo de Passos

Coelho, pelos seus “parceiros” euro-peus e pelo FMI. As atrocidades a que fomos submetidos não são os horrores da guerra que estavam na mente do fi-lósofo francês, mas continuam a ser as velhas misérias sociais e um novo tipo de miséria moral de que Passos Coelho ou Paulo Portas são simultaneamente propagandistas e exemplos.

As misérias sociais estão à vista: desemprego, precariedade, subemprego, emigração forçada, salários mais baixos, pensões mais baixas, aumento da pobreza e da miséria extrema, mais pessoas sem qualquer rendimento e sem apoios so-ciais, mais crianças pobres, mais velhos pobres, mais crianças com fome, menos acesso à saúde, menos acesso à educação, mais abandono escolar, menos serviços públicos, mais depressão.

A miséria moral é aquela que foi sen-do insidiosamente instilada na sociedade pela atitude do poder e pelo seu discurso, pelo seu recurso despudorado à mentira sistemática tornada banal, pelo seu uso da desconfiança como instrumentos de manipulação do público.

Não é surpreendente que, depois de Passos Coelho, de Paulo Portas, de Mi-guel Relvas, de Maria Luís Albuquerque, de Poiares Maduro tenhamos passado a considerar comum a falta de honorabili-dade dos governantes, fazendo crescer o descrédito na democracia. Hoje vê-se como inevitável a promiscuidade entre políticos e negócios e aceitamos que a verdade, como antes acontecia na guerra, seja a primeira baixa da política.

O Governo conseguiu difundir uma cultura de desprezo pelos velhos e pelos doentes, apresentando-os como gastadores de recursos sem préstimo e como abusadores dos direitos sociais. Conseguiu impor um clima de confronto entre desempregados e trabalhadores,

Urge, portanto, que o governo assuma como principal vocação apoiar e promover acções de carácter cultural, científico e filantrópico que visem preservar e dinamizar a singularidade de Macau

edi tor ia lCARLOS MORAIS JOSÉ

UMA das lições mais importantes a retirar do século XX é que nenhum povo, cultura ou civilização poderá sobreviver sozinho no novo milénio. Com o advento da sociedade global, hoje e amanhã, mais do que nunca, a cooperação, a troca de experiên-cias e, sobretudo, o respeito pela diferença, surgem como condição de desenvolvimento e prosperidade.É neste sentido que entendemos o posicionamento singular de Macau e da sua experiência histórica, um território pacificamente construído sob a égide de duas culturas, o que contribuiu não somente para a existência de uma riquíssima variedade de traços culturais no seu seio mas, sobretudo, para o enriquecimento da sua capacidade para lidar com situações de comunicação global, que são o apaná-gio do terceiro milénio.

VocaçõesMiséria social, miséria moral: mais pobres, mais frágeis

Por considerarmos única a experiência histórica de Macau, sobretudo na sua vertente de coexistência pacífica de civilizações, temos hoje a convicção de que é a partir da existência continuada de uma identidade multicultural que se funda a rique-za específica da RAEM e a sua mais-valia para garantir um papel comunicante entre Oriente e Ocidente, cada vez mais próximos e interligados pela urgência de reunir sabedoria e esforços para a construção de um mundo mais esclarecido, tole-rante e feliz. Urge, portanto, que o governo assuma como prin-cipal vocação apoiar e promover acções de ca-rácter cultural, científico e filantrópico que visem preservar e dinamizar a singularidade de Macau.Ao exercer as suas acções no espaço desta me-mória de um encontro multissecular, cujos frutos estão ainda longe de terem sido completamente esgotados e aproveitados, nomeadamente nos aspectos relacionados com a troca de saberes e fazeres, o governo terá de compreender que a co-operação tecnológica e científica, o conhecimento aprofundado da diferença, constituem as pedras basilares de um programa de acções orientado para aprofundar a ligação entre dois mundos, afinal a vocação original e singular de Macau.Não o fazer será tudo deitar a perder, fazê-lo mal será trair as expectativas de quem nos observa e acarinha, nomeadamente o governo central que tão claras metas definiu para a RAEM. Cumprir o que a História nos impôs, recorrendo à multiplicidade de capacidades e características diversas que com-põem a sociedade de Macau, só poderá potenciar as mais-valias locais, de forma desempoeirada, moderna e que a todos beneficie.

apresentando a estabilidade de empre-go como pecaminosa e um obstáculo à competitividade. Conseguiu lançar uma guerra de gerações entre velhos “privilegiados” por terem pensões e jovens a quem foi dito que estavam em risco de nunca receber reformas devido aos “privilégios” dos seus pais e avós. O Governo conseguiu minar consensos sociais laboriosamente construídos ao longo de 40 anos de democracia, como o acordo sobre a necessidade de investir na escola inclusiva, na formação de alto nível e na investigação – que passou a ser referida na narrativa oficial como uma actividade “pouco produtiva” e longe da “economia real”. O Governo conseguiu apresentar sistematicamente a máquina do Estado como uma “gordura” impro-dutiva, um aparelho inútil e despesista, formado por burocratas preguiçosos e incompetentes, pondo trabalhadores do sector privado contra funcionários públicos e destruindo uma filosofia de serviço público e uma ética de trabalho com séculos de consolidação, para melhor desmantelar o Estado social. E impôs por todos os meios possíveis

a agenda neoliberal segundo a qual o trabalho é uma mera mercadoria sem dignidade particular, cujo valor deve ser tão reduzido quanto possível.

A miséria moral que este panorama evidencia pode ser menos visível do que os dramas da pobreza, mas é infinitamen-te mais grave, porque abre fracturas de hostilidade e desconfiança na sociedade que levam muitos anos a reparar.

O sucesso ímpar do Estado social após a Segunda Guerra Mundial não se deveu apenas aos serviços que o Estado fornecia, mas ao clima de estabilidade e de cooperação, de confiança nos outros e no futuro que esses serviços possibilita-ram. O grande sucesso do Estado social foi a derrota da insegurança e do medo – do medo da doença, do desemprego, do futuro.

A grande herança do governo PSD--CDS no final do “programa de ajusta-mento” é a reinstituição do medo e da insegurança como elemento central da vida social e como instrumento estatal de “regulação social”. E, com ele, a desconfiança e a desesperança. Dividir para reinar é uma receita eficaz, como todos sabemos.

E a grande herança do Governo PSD--CDS na prática política é a crescente banalização da mentira e a glorificação do despudor. O sofrimento não nos dei-xou melhor do que antes. As atrocidades só serviram os saqueadores.

A “saída limpa” que o Governo anunciou este fim-de-semana não é nem uma saída nem limpa, como qualquer pessoa com um mínimo de honestidade admite – porque a fragilidade da nossa situação financeira é igual ou pior do que era, porque permanecemos submetidos a uma tutela externa com direito de veto de facto das políticas nacionais. Mudámos apenas de suserano: antes eram os nossos “parceiros” europeus, amanhã serão os “mercados”. A diferença entre um “pro-grama cautelar” e uma “saída limpa” é a que existe entre o lume e a frigideira. A chantagem é a mesma, apenas muda o agente. E a instabilidade é maior.

Quando a UE refere os “progressos impressionantes” que Portugal realizou, faz um exercício de hipocrisia. Estamos economicamente mais pobres e social-mente mais frágeis. Mais temerosos e mais divididos. Só pode achar que isto é um sucesso quem tivesse este objectivo.

A grande herança do governo PSD-CDS no final do “programa de ajustamento” é a reinstituição do medo e da insegurança como elemento central da vida social e como instrumento estatal de “regulação social”

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ATAQUE COM FACA EM ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DEIXA SEIS FERIDOS

Negros hábitos em Cantão

quarta-feira 7.5.2014

Reportagem CCTV 10% dos turistas entram de forma ilegalUma reportagem da estação televisiva chinesa CCTV analisou a forma como 10% dos 18 milhões de visitantes do continente entram em Macau de forma ilegal, com o apoio de agências de viagens. Cada turista pode estar sete dias em Macau se tiver um bilhete de avião para outro destino, e é através desta via que as agências marcam viagens para outros destinos, que nunca chegam a acontecer. A partir do momento em que o turista entra em Macau é-lhe cancelada a viagem, a troco de uma comissão de 300 RMB para a agência. Segundo a TDM, que noticiou o caso, esta forma ilegal de entrar em Macau é um negócio em crescimento, sendo sobretudo praticado em Zhuhai e Shenzen. Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST) foi questionada sobre o assunto, mas disse apenas que “teremos de pedir aos serviços de emigração como lidar com estes casos”. Os chineses do continente só podem visitar Macau e Hong Kong uma vez a cada dois a três meses, sendo que, pela via ilegal, conseguem entrar mais vezes.

Associação de consumidores lusófonos lançada ontem em LisboaA associação de consumidores lusófonos, que integra o Conselho de Consumidores de Macau, foi ontem lançada em Lisboa com a presença dos secretários de Estado da Economia e dos Negócios Estrangeiros, que salientaram a sua importância para o reforço dos laços entre os países que falam português. “São iniciativas como esta que tornam a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) mais interventiva e atractiva, capaz de influenciar decisões importantes para os seus membros e estreitar os laços já existentes”, vincou o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Luís Campos Ferreira, na intervenção que assinalou a apresentação da Consumare - Organização Internacional das Associações de Consumidores de países, territórios e regiões administrativas de língua oficial portuguesa. Com o objectivo de “promover, desenvolver, fomentar e apoiar a defesa dos direitos dos consumidores, e apoiar e trabalhar diretamente com os seus membros, procurando informar os consumidores, bem como defender os seus direitos”, a Consumare integra também a congénere da Deco em Macau, o Conselho de Consumidores de Macau. “Vamos tentar estreitar esforços e pôr todos os meios tecnológicos à disposição de todos para melhorar a segurança alimentar em todos os países, e isso seria um contributo importante que iria ao encontro da vontade de todos”, acrescentou Jorge Morgado.

Jovem indiana mata o pai Uma jovem e dois amigos foram presos em Nova Déli por matar e arrancar o pacemaker do pai da rapariga para garantir que este tinha morrido, pois o homem abusava sexualmente da filha, noticiou a imprensa local. Kulvinder Kaur, de 23 anos, e os seus dois amigos foram acusados de matar o pai da rapariga com golpes de um taco de críquete quando este dormia na sua casa, na capital indiana. O motivo do crime foram os constantes abusos sexuais aos quais o homem submetia a jovem desde a morte da mãe, há três anos. Aparentemente, a rapariga deixou a porta de casa aberta para que os dois amigos pudessem entrar sem fazer barulho e matar o pai. Para garantir que o homem, Daljeet Singh, um taxista de 56 anos, estava morto, uma janela foi quebrada e, com um caco de vidro da mesma, extraíram-lhe do peito o pacemaker, disse um oficial de polícia. O corpo do homem foi transportado num carro e abandonado numa área arborizada da cidade, em Uttam Nagar, a alguns quilómetros de sua casa, onde foi descoberto no dia seguinte e a polícia divulgou fotografias para que fosse identificado. Alguns familiares reconheceram o homem e a polícia foi até sua casa, onde a filha declarou que o pai, que trabalhava para uma agência de viagens, tinha transportado turistas no seu táxi no dia da sua morte, o que foi desmentido pela empresa. Durante um interrogatório posterior, a rapariga confessou e os seus cúmplices foram identificados como Prince Sandhu, um tatuador de 22 anos, e Ashok Sharma, de 23, que trabalha numa loja de roupas, ambos já detidos.

S EIS pessoas ficaram feridas nesta terça-feira num ataque com uma arma branca numa estação de comboios na cidade de Cantão

(Guangzhou), informou a polícia.Nenhum motivo foi dado para o ata-

que, mas o nervosismo da China sobre a militância, especialmente a militância islâmica, tem crescido desde que um carro se incendiou na Praça Tiananmen de Pequim, em Outubro, e 29 pessoas foram esfaqueadas até a morte em Março, na cidade de Kunming, no sudoeste da China.

O governo culpou militantes da re-gião de Xinjiang por ambos os ataques.

A polícia de Cantão chegou rapida-mente ao local e disparou contra um dos agressores. Relatos na imprensa referem que outra pessoa fugiu.

“As advertências verbais foram ine-ficazes, então a polícia atirou, acertando num homem que segurava uma faca”, disse a polícia de Cantão.

Os agressores não foram identi-ficados. Uma investigação está em andamento.

A China culpou extremistas religio-sos por uma bomba e um ataque com uma faca numa estação em Urumqi, capital da província de Xinjiang, na quarta-feira passada, que mataram um transeunte e feriram 79.

O governo classifica os agressores de terroristas, um termo usado para descrever militantes islâmicos e sepa-ratistas em Xinjiang que empreendem uma campanha por vezes violenta para a criação do estado independente do Turquemenistão do Leste.

U MA campanha divulga-da pelo governo chinês aconselha as mulheres a

não serem selectivas na hora de escolher um parceiro e diz para se casarem cedo. “Com a idade, as mulheres valem me-nos e menos”, diz um artigo publicado pela agência oficial Xinhua. Noutro anúncio, o governo sugere que parem de sonhar com o príncipe en-cantado: “O homem perfeito existe? Talvez, mas por que razão casaria consigo?”.

A questão é saber por que razão querem os líderes chi-neses enviar uma geração de mulheres para casa, quando Japão e Coreia do Sul tentam aumentar o seu poder eco-nómico através da força de trabalho feminina.

No Fórum Económico

Mundial, em Janeiro, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe sublinhou que as mulheres poderiam aumentar o PIB do país em 16%. Ou-tros estudos sugerem que a restrição das oportunidades de emprego para as mulheres gera um custo de US$ 46 mil milhões por ano na Ásia.

Para a socióloga Leta Hong Fincher, a propaganda é um reflexo da determinação do governo chinês em contro-lar as mulheres e a sociedade através da economia e da cultura. No livro “Mulheres postas de lado”, Fincher refere-se ao termo pejorativo usado pelo governo chinês para descrever as mulheres solteiras com quase 30 anos.

As mulheres asiáticas conquistaram um nível de

educação maior e mais opor-tunidades económicas, e também começaram a adiar o casamento. Essa tendência ainda não chegou à China, mas à medida que as chinesas estudam mais, também esco-lhem focar-se na sua carreira. Segundo Fincher, isso mina as metas da população chinesa e aumenta o risco de instabili-dade e insegurança no país.

A estimativa da socióloga é que a campanha será efectiva porque as chinesas têm medo de serem “postas de lado”, e por isso recorrem a casamentos até com estranhos. Fincher ainda alerta para o facto de a campa-nha incentivar a mulher a casar--se cedo com um homem que ela não conhece, o que pode aumentar as probabilidades de violência doméstica.

As uniões facilitam a transferência da riqueza da mulher para o homem. Na China, a mulher contribui, em média, com 70 % do fi-nanciamento da casa própria, mas o nome delas aparece em somente 30% dos contratos, segundo estudos da socióloga Fincher.

“Muitas mulheres até querem os seus nomes nos contratos. Mas, no fim, aceitam um acordo desigual porque se querem casar”, disse a socióloga.

Mas, os tempos estão a nudar, queira o governo chinês ou não: “Não são só as mulheres que querem mais liberdade e independência, há alguns homens que também procuram esses objectivos”, concluiu Fincher.

CHINA GOVERNO ACONSELHA MULHERES A CASAREM-SE CEDO

Quem tudo quer, tudo perde

Um suspeito do ataque capturado e levado pela polícia