3
Koinophobia: o medo de ter vivido uma vida comum Do grego koinos, “comum, ordinário, ausente de singularidade” + phobia, “medo” O Dictionary of Obscure Sorrows produz um dos poucos conteúdos que não raro me fazem chorar pela beleza. Assim, decidi experimentar traduzir alguns de seus textos; embora o Youtube disponibilize legendas automáticas em português, vou tentar ser melhor que as máquinas. De qualquer modo, assistam aos vídeos, pois a edição das imagens é belíssima. Tirei todas as imagens de lá. Enquanto você a vivencia, a vida parece épica. Uma chama tênue e imprevisível. Mas uma vez que ganha-se distância, tudo parece encolher, até que ela fica quase desfocada. Quando você olha sua vida

Koinophobia_ o Medo de Ter Vivido Uma Vida Comum – Animus Mundus

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Tradução do Dictionary of Obscure Sorrows, de Koinophobia, do grego koinos + phobia

Citation preview

Page 1: Koinophobia_ o Medo de Ter Vivido Uma Vida Comum – Animus Mundus

Koinophobia: o medo de ter vivido uma vida comum

Do grego koinos, “comum, ordinário, ausente de singularidade” + phobia, “medo”

O Dictionary of Obscure Sorrows produz um dos poucos conteúdos que não raro me fazem chorar pelabeleza. Assim, decidi experimentar traduzir alguns de seus textos; embora o Youtube disponibilizelegendas automáticas em português, vou tentar ser melhor que as máquinas. De qualquer modo, assistamaos vídeos, pois a edição das imagens é belíssima. Tirei todas as imagens de lá.

Enquanto você a vivencia, a vida parece épica. Uma chama tênue e imprevisível. Mas uma vez queganha-se distância, tudo parece encolher, até que ela fica quase desfocada. Quando você olha sua vida

Page 2: Koinophobia_ o Medo de Ter Vivido Uma Vida Comum – Animus Mundus

em retrospectiva, ou tenta escrevê-la, você consegue vê-la melhor do que nunca. Mas ainda assim, elaparece de alguma maneira minimizada. Modesta. Quase peculiar.

Então você reassiste à sua vida, procurando por algo interessante ou belo.

Você vê uma casa comum, com um jardim comum, em uma rua comum. Eles parecem menores do quevocê lembra. Você vê que já teve sonhos inatingíveis e obstáculos e riscos pairando ao seu redor; agoraeles, também, parecem menores.

Você se lembra dos gigantes e deusas e vilões, mas tudo que você vê agora são pessoas comuns,reunidas em seus minúsculos ambientes de trabalhos e salas de aula, cada um movendo-se em pequenospassos, como peças em um tabuleiro. Não importa quantas vezes você lance os dados, sempre serepetem esses mesmos pequenos movimentos, aqui e ali.

Realizar um trabalhinho, tirar uma folguinha. Fazer um amiguinho, ir a uma festinha. Sentir um tédiozinho,rebelar-se um pouquinho. Há tantos desses momentos-chave, eles deveriam representar alguma outra

Page 3: Koinophobia_ o Medo de Ter Vivido Uma Vida Comum – Animus Mundus

coisa. Você vai guardando e somando todos eles; mas ainda é como se tivesse algo que você esqueceude contar; algum baú cheio de glória que caiu do seu caminhão.

Você pode abraçar a vida que tem por tudo que ela é. Você sabe que não é nenhuma quebra deparadigmas; você não mudaria nada. Talvez quando você começou a construir a vida que queria, vocêtenha deixado bastante espaço para o que poderia acontecer, e não se deu conta do que estavaacontecendo.

Ou talvez você nunca a tenha vivenciado. Talvez você soubesse desde o começo que não era esse omundo que você esperava. Um mundo tão baixo e comum; aquele do qual você tentou se afastarsobrevoando-o, onde ninguém pudesse menosprezar essa vida que você construiu.

Ninguém além de você.

Conteúdo original do Dictionary of Obscure Sorrows | Traduzido sob a licença de Creative Commons 2.0