6
Produto final do 43 0 programa de treinamento em jornalismo diário ESPECIAL 1 ¤ SEX TA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 ¤ ab laços de família Julia, de sete meses, recebe massagem em sua casa em Araçuaí; como várias crianças da cidade, ela só verá de novo seu pai daqui a oito meses BUROCRACIA FREIA RETORNO A ANGOLA ONU tem programa que poderia repatriar por ano até 150 refugiados angolanos, mas falta de documentos e de divulgação atrasa volta à pátria Pág. 4 GOVERNO EXPANDE LAPTOPS NA ESCOLA Mesmo sem avaliar teste em curso, MEC vai ampliar uso na rede pública de computadores móveis Págs. 8 e 9 Curso de professores a distância opõe governos federal e municipal Págs. 8 e 9 NOVA ADUANA SECA COMÉRCIO EM FOZ Aperto da fiscalização traz crise econômica e diplomática à região da Tríplice Fronteira e faz políticos locais criarem “mini-MercosulPágs. 2 e 3 FILAS ANULAM ATÉ 2 HORAS DE LAZER A Folha visitou 43 lugares, entre cine- mas, bares, restaurantes e casas no- turnas, para mapear quanto tempo o paulistano perde à espera de diversão Pág. 10 PLACAS NÃO LEVAM AO DESTINO CERTO Conheça 13 armadilhas das ruas de SP: locais em que, por falta de placas –ou por erros na sinalização– o motorista vai parar bem longe de onde queria ir Pág. 5 FOTOS E SONS TENTAM IMPEDIR QUE FILHOS SE ESQUEÇAM DOS PAIS - em Araçuaí, cidade no centro do Vale do Jequitinhonha em que mais de um quinto dos homens passa oito meses por ano nas usinas de cana-de-açúcar de outras cidades e Estados, projetos procuram preservar vínculo familiar Págs. 6 e 7 guerra e paz ensino fronteira caminhos noite Bruno Miranda/Folha Imagem Wertha Santana/Folha Imagem Montagem/Fotos: Raimundo Paccó/Folha Imagem Silas Martí/Folha Imagem Danilo Verpa/Folha Imagem Folha Imagem

laços de família - Folha de S.Paulo · Produto final do 430 programa de treinamento em jornalismo diário ESPECIAL 1 ¤ SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007¤ ab laços de família

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Page 1: laços de família - Folha de S.Paulo · Produto final do 430 programa de treinamento em jornalismo diário ESPECIAL 1 ¤ SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007¤ ab laços de família

Produto final do 430 programa de treinamento em jornalismo diário

ESPECIAL 1 ¤ SEX TA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 ¤

ab

laços defamília Julia, de sete meses,

recebe massagem em suacasa em Araçuaí; como

várias crianças da cidade,ela só verá de novo seupai daqui a oito meses

BUROCRACIA FREIARETORNO A ANGOLAONU tem programa que poderia repatriar por ano até 150 refugiadosangolanos, mas falta de documentose de divulgação atrasa volta à pátriaPág. 4

GOVERNO EXPANDELAPTOPS NA ESCOLAMesmo sem avaliar teste em curso,MEC vai ampliar uso na rede públicade computadores móveis Págs. 8 e 9

Curso de professores a distância opõegovernos federal e municipal Págs. 8 e 9

NOVA ADUANA SECACOMÉRCIO EM FOZAperto da fiscalização traz criseeconômica e diplomática à regiãoda Tríplice Fronteira e faz políticoslocais criarem “mini-Mercosul”Págs. 2 e 3

FILAS ANULAM ATÉ 2HORAS DE LAZERA Folhavisitou 43 lugares, entre cine-mas, bares, restaurantes e casas no-turnas, para mapear quanto tempo opaulistano perde à espera de diversãoPág. 10

PLACAS NÃO LEVAMAO DESTINO CERTO Conheça 13 armadilhas das ruas de SP:locais em que, por falta de placas –oupor erros na sinalização– o motoristavai parar bem longe de onde queria irPág. 5

FOTOS E SONS TENTAM IMPEDIR QUE FILHOS SE ESQUEÇAM DOS PAIS - em Araçuaí, cidade no centro do Vale do Jequitinhonha em que mais de um quinto dos homens passa oito meses por ano nas usinas decana-de-açúcar de outras cidades e Estados, projetos procuram preservar vínculo familiar Págs. 6 e 7

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Page 2: laços de família - Folha de S.Paulo · Produto final do 430 programa de treinamento em jornalismo diário ESPECIAL 1 ¤ SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007¤ ab laços de família

ef SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 novoemfolha A3

SilasMarti/Folhas Imagem

FOTO1.8521.0

))) ESTACIONADOESTACIONADOESTACIONADOTáxis à espera na principal rua do comércio de Ciudad delEste às 15h, quando fecha a maior parte das galerias

SAUDADE

Ex-“sacoleira”quervoltarrelações

áridasMaria Antônia diz que

comprou ablusa comestam-pa de oncinha que veste “porcinco pilas no Paraguai”.“Sacoleira” por 15 anos, eladiz ter criado cinco filhos,construído e mobiliado umacasa com o dinheiro do con-trabando. Cada vez que cru-zavaaponte, traziacincocai-xasdeuísqueeduasdecigar-ro, sem contar objetos nosbolsos e memórias de com-putador presas à barriga. Amercadoria ia até São Paulo.Todos os patrões “caíram”nas mãos da Receita. “Às ve-zes, passava dias escondidano meio do mato para fugirda polícia.Não tinha banhei-ro, nada”. Ela diz que ganha-vamais deR$ 1.200 pormês.Com o aperto da Receita,deixou a ponte, fez umcursoe virou cabeleireira.“Hojenãoganhonemametade”.

SilasMarti/Folha Imagem

FOTO1.8521.0

Fórumdepolíticos locaisexigesoluçãobinacional

Sintofaltadorisco,daadrenalinaMARIAANTÔNIAOTHOex-“sacoleira”

................................................................................................DA EQUIPEDE TREINAMENTO

A crise comercial e diplomá-tica desencadeada pela novaaduana em Foz do Iguaçu foi oestopim para a criação de umParlamento Trinacional —for-maencontradapelosdirigentesdas cidades afetadas para co-brar uma solução dos governosfederais.São três os pontos que tra-

vam a negociação entre Para-guai e Brasil: o imposto cobra-do na aduana, o limite anual deimportações e a lista de produ-tosquepodemcruzaraponte.“O governo brasileiro cortou

ocomérciodeumdiaparaoou-tro, prejudicandoaunidadeda-da pelo Mercosul”, diz NelsonAguinalgalde, presidente daCâmaradeCiudaddelEste.Mais do que o comércio, está

em jogo o peso da região noMercosul. “Somos mais que aponte da Amizade. Temos pro-blemas de escala internacionale recebemos a atenção de umacidade qualquer”, diz CarlosBudel, criador do Parlamento epresidentedaCâmara local.Namesmalinha,pensaopre-

feito de Ciudad del Este e can-didato à vice-presidência doParaguai nas eleições de 2008,Zacarías Irún. “OMercosulnãofunciona como pólo de desen-volvimentoregional”, afirma.Para Argemiro Procópio Fi-

lho, especialista em Mercosulda Universidade de Brasília, se

o governo acatasse as deman-das locais estaria reconhecen-do a fragilidade do bloco e lega-lizandoocontrabando.Segundo o Itamaraty, a nova

aduana causou desconforto di-plomático com o Paraguai, queacabou levando questões do-mésticas para a mesa de nego-ciações binacionais. A crise nãochegou a azedar as negociaçõesno âmbito do Mercosul, masdeixounoParaguaia impressãode que o bloco não atende aseus interesses.Isso porque o governo para-

guaio tem sidopressionadoporum lobby dos comerciantes deCiudad delEste para que endu-reça o discurso contra o Brasil,na tentativa de forçaruma libe-ralizaçãocomercialnaregião.Como resultado, Lula pro-

meteu liberar umpacote de be-nefícios a Ciudad del Este, in-cluindoadiscussãodeuma“zo-na franca” na região. O prazoexpirou, a imprensa paraguaiareclamou e o Brasil pediu maisduas semanas para estudar eaprovaraproposta.Assunção, Brasília e o Parla-

mento Trinacional concordamnum único ponto: a criação deuma tarifação reduzida paraumalistadeprodutoseumaco-ta anual para cada “sacoleiro”,que passaria a ser ummicroim-portador legalizado. Mas a so-lução depende do pacote de be-nefíciosaseranunciado.

MuroA discussão, que se intensifi-

cou com o aperto da fiscaliza-ção na aduana em novembro,piorou quando foi divulgada aconstrução de um muro entreBrasil e Paraguai soba pontedaAmizade. Em visita a Itaipu nomês passado, o presidente LuizInácio Lula da Silva desautori-zou a construção domuro,masjá era tarde. Lula foi acusadodeautoritarismo e oMercosul, debloco falido por políticos daTrípliceFronteira.(SILASMARTÍeWILLIANVIEIRA)

ALTERNATIVA)))MUAMBA1MUAMBA1MUAMBA1Atravessadores contratados pelas galerias empacotamprodutos que serão levados a clientes no lado brasileiro

Nemumacolher

WillianVieira/Folha Imagem Maria fuma um cigarrosossegada em frente à sua lo-ja de roupas usadas perto daponte da Amizade. “Traba-lhohá 18 anos enuncapasseiuma colher de muamba pelaponte”, diz orgulhosa, en-quanto o marido, Gercino,separa os fardos de roupascoloridas e os sapatos queeles compram de ONGs emSão Paulo e revendem parapessoas carentes na regiãode Foz. O contrabando nun-ca foi tentaçãoparaela. “Nãoquero trabalhar fria. Pagoimposto, tenho contador, fa-ço tudo no legal. Ganho pou-co, mas não tenho medo denada”. Cada peça de roupa écomprada a R$ 2 e vendida aR$ 3. O lucro parece peque-no, mas, segundo associa-ções locais, hámais de 50 lo-jas no ramo, que crescemmesmocomacrise.

WillianVieira/Folha Imagem

FOTO1.8521.0

FOTO1.022.0

)))MUAMBA2MUAMBA2MUAMBA2“Formiguinhas” esperam pela carga arremessada daponte e sobem morro até depósitos e estacionamentosMaior rua comercial de Ciudad

del Este, deserta às 20h

SilasMarti/Folha Imagem

NuncapasseimuambapelaponteMARIAFERNANDESvendedorade roupasusadas

Números da crise

TRÍPLICE FRONTEIRA

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social

Cadastros no Bolsa Família

Mercadorias apreendidas em Foz do Iguaçu (valores em US$ mi)

2004

33,5

62,3

77,0

2005 2006

Fonte: Receita Federal

Demissões formais

Fonte: Sindicato dos Comerciários de Foz do Iguaçu

822

1.244

2006 2007

Aumentode 51,3%

11,36% Apreensões na zona 1ª /aduana (ponte da Amizade)88,63%Apreensões na zona 2ª / rio Paraná,lago Itaipu e região

Até maio de 200732,7

Brasil

UruguaiArgentina

Paraguai

Bolívia

em Foz do Iguaçu

18.5112005

28.6802007 (até fevereiro)

+55% +40%

no Brasil

10,9 mi2005

15,3 mi2007 (até fevereiro)

Chile

Peru

SomosmaisqueapontedaAmizade.TemosproblemasdeescalainternacionalerecebemosaatençãodeumacidadequalquerCARLOSBUDELpresidentedaCâmaraMunicipaldeFozdoIguaçuecriadordoParlamentoTrinacional

OMercosulnãoestáfuncionandocomopólodedesenvolvimentoparaaTrípliceFronteira.TemosquetirarasmáscarasZACARÍASIRÚNprefeitodeCiudaddelEste

Nossofocoéinteligência.Nãopossoficarcorrendoatrásdeparaguaiode16anos,deMonzacheiodecigarroALESSANDRODEMATTOSdelegadodaPolíciaFederal emFozdoIguaçu

Diadechuvaémaisfácil,masagentevoltaparecendoporco,comlamaatéascoxas.ANÔNIMA“sacoleira”

Seeutivesseforçatraficavatambém,porquenãodáparavercriançapassandofomeSOLANGEestudante

FOTO1.8521.0

ALTERNATIVA2

De“sacoleira”aprostitutaTerezinha trabalhou co-

mo “sacoleira” no Paraguaiaté um mês antes da novaaduana, quando foi atropela-da na ponte. Durante os seismesesderecuperação,elaeofilho de 13 anos foram sus-tentados por vizinhos “saco-leiros” em Porto Meira, naperiferia de Foz do Iguaçu.Quando voltou a andar, aponte estava fechada para os“laranjas”. Tentou trabalharcomomanicure e cabeleirei-ra, mas não ganhava o sufi-ciente. Mesmo com mais de40 anos, decidiu virar garotade programa —os amigos achamam de “tia de progra-ma”. Desde o início do ano,Terezinha faz ponto emfrente ao motel Sex Sabe. Seantesela ganhavaR$100pordia como “laranja”, agora re-cebe entreR$30eR$40porprograma.

))) FILASFILASFILAS“Sacoleiros” aguardam fiscalização na nova aduana daReceita em Foz do Iguaçu; espera pode levar horas

SilasMartí/Folha Imagem

FOTO1.8521.0

))) ÀSMOSCASÀSMOSCASÀSMOSCASGuarda-volumes usado como depósito com prateleirasvazias; faturamento caiu de R$ 800 para R$ 30 por dia

Passeidos40esoutiadeprogramaTEREZINHARIBEIROex-“sacoleira”

A2 novoemfolha SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 ef

PauloGiandalia/Folha Imagem - 25/11/1994

EXPEDIENTE

FOTO4.025.0

O Novo em Folha é pro-duto da 43ª turma do Pro-grama de Treinamento emJornalismoDiáriodaFolha.Osparticipantesdiscutem

pautas, fazem reportagens,sugerem fotos, mapas e grá-ficos e cuidam do acaba-mento. A circulação é inter-na e há uma versão expandi-da na internet (www.fo-lha.com.br/071773).A 43ª turma de treina-

mento foi patrocinada pelaPhilip Morris Brasil e pela

Odebrecht.)EDITORADETREINAMENTOAna Estela de Sousa Pinto)EDITORA DO SITE DE TREINA-MENTOJuliana Laurino)EDITORADONOVOEMFOLHAAna Estela de Sousa Pinto)APOIOTÉCNICOHeide VieiraPaulo Haddad) PROJETO GRÁFICO, DIAGRA-MAÇÃOE INFOGRAFIAJuliaMonteiroMarcio José de Freitas

Fot

o sRaimun

doPac

có/F

olha

Imag

em

PontedaAmizadeem1994, quandomais de3milhõesde “sacoleiros” gastavamcercadeUS$100milhõespor anona região

SilasMartí/Folha Imagem

FOTO4.025.0

Rafael Targino confereplacas eVerenaFornettiacompanhaprova de cursodepedagogia semipresencial

FOTO1.9217.0

Ricardo

Nog

ueira/F

olha

Imag

em

Vista atual dapontedaAmizade, commovimento fracoemhorário de pico; engarrafamento caiudeaté 5horas para 20minutos

fronteiraemcriseFernandoBueno (esq.) eGustavoGouveia fazemseleçãodefotos para amatéria sobre refugiados angolanosnoBrasil

Silas

Martí/F

olha

Imag

em

Willian

Vieira/

Folha

Imag

em

Novaaduanaestrangulacomérciode“sacoleiros”Apertoda fiscalizaçãonapontedaAmizadeprovocadesemprego,aumentacriminalidadeealimentacrisediplomáticaentreBrasil eParaguai;políticosdascidadesafetadasnosdois ladossearticulamparapressionarMercosulSilasMartí (dir.) fotografamovimento da pontedaAmizadee

WillianVieira entrevistamototáxi no ladobrasileiro

Julian

aLa

urino

/Folha

Imag

em

FOTO1.9217.0

WillianVieira/Folha Imagem

................................................................................................SILASMARTÍWILLIANVIEIRADA EQUIPEDE TREINAMENTO

Não hámais lâmpadas no te-to de um dos guarda-volumesno lado brasileiro da ponte daAmizade. Não fazem falta. Osgalpões de concreto e madeiranão funcionammaisànoiteeasprateleiras aguardam vazias os“sacoleiros”quenãovêmmais.A construção de uma nova

aduanano fimdoanopassadoeo aperto da fiscalizaçãonapon-te estrangularam o comérciona fronteira mais movimenta-da do Brasil, secando a fonte derenda de pelo menos 45 milpessoas. Elas passaram a bus-car alternativas —dentro ou fo-radocontrabando.Quase não há estatísticas, já

que a maior parte do comércioafetado é informal e órgãos ofi-ciaisnão têmdados.Masacriselevou políticos de cidades nosdois lados da fronteira a criaruma espécie de “mini-Merco-sul” para exigir uma soluçãodos governos federais (leia tex-toaolado).O problema não aparece em

gráficos, mas é visível nas ruas.No lado brasileiro,mais de cemmototáxis aguardam passagei-ros. Acabaram os congestiona-mentos de até cinco horas naponte, que já foi símbolo do co-mércio binacional. No lado pa-raguaio, caiu60%omovimentodas lojas e 5.000 delas fecha-ramdesde2002, segundoauto-ridades locais.

A maior loja de computado-res da cidade demitiu metadedos funcionários. Estavam va-zias na hora do almoço numasexta-feira as 200 mesas dapraça de alimentação do Shop-ping Vendôme, onde o movi-mento caiu cerca de 80%. “Se obrasileiro não comprar maisaqui, não tem jeito”, diz a donade restauranteOralinadaSilva,uma dos 8.000 brasileiros quetrabalham emCiudad del Este,segundoassociações locais.EmFoz, aCâmaraMunicipal

estima uma perda de R$ 18mi-lhões ao mês no comércio naponte. Perderam clientes oshotéis e pousadas dos “sacolei-ros”. Na entrada do hotel Qué-bec, ainda se ouve o barulho defita crepe embalando as caixas,mas o movimento caiu. Trêsdos 20 quartos estavamvagos eo pátio usado como armazém,vazio. “Antes tinha até fila praentrar”, lembra Dora, caixa dapadariaemfrenteàpousada.Até 2005, apenas 5%dos que

passavam pela ponte eram fis-calizados, alimentando com-boios de até 300 ônibus commercadorias, que ultrapassa-vam de longe a cotamáxima deUS$ 300 por pessoa. Comano-va aduana, passaram a fiscali-zar 100% do fluxo. Nenhumônibus foi apreendido na ponteemcincomeses.

“Atravessadores”Novas rotas, porém, surgi-

ram para contornar a aduana,especialmente pelo rio Paraná.No mês passado, 89% dasapreensões aconteceram forada ponte, grande parte no rio—alimentando um mercado de“atravessadores”, contratadospelas galerias deCiudaddelEs-te para entregar o produto noBrasil. “Por 5%do valor a gentepassa um computador”, diz ummotoqueiro. Segundo a Recei-ta, 70 veículos foram apreendi-dos emmaio na ponte, a maio-ria táxisemototáxis.Quando o carregamento é

maior, o contrabando é feitopor barcos. “Dia de chuva émais fácil”, conta uma vende-dora que traz mil jaquetas porviagem. “A gente volta com la-maatéascoxas”.

Problemasnafiscalização“Fiscalização no rio mesmo

quase não há. Não há pessoalsuficiente”, diz o delegado daReceita em Foz, Gilberto Tra-gancin. “Se tivesse policiamen-to, comcertezaseestrangulariaoproblema.”O efetivo dobrou em três

anos, mas as prioridades sãooutras. “Nosso foco é inteligên-cia. Não corro atrás de Monzacheio de cigarro”, explica o de-legado da Polícia Federal emFoz,AlessandrodeMattos.Com a ponte fechada para o

contrabando, ganham força otráficodedrogaseosacertosdecontas. Segundo estudo da pre-feitura, a cidade atingirá nesteano a taxa de 1 homicídio por1.000 habitantes —média qua-trovezesmaiorqueanacional.Tráfico e violência marcam a

famíliadeSolange.Sua irmãEl-za foi presa atravessando afronteira com maconha. Dei-xou cinco filhos, mantidos comos R$ 75 que recebe do BolsaFamília. “Se eu tivesse forçatraficava também. Não dá paravercriançapassar fome.”Segundo oMinistério do De-

senvolvimento Social, o núme-ro de cadastrados no programaem Foz aumentou 55% —15%acimadamédianacional.

Mototáxi traz passageiro para o lado brasileiro; ao fundo,motoqueiros aguardamclientes em fila para atravessar ponteJohannaNublat (dir.) eMarianaBenevides, naRedação,

conferindo informaçõesda 1ª versão impressa damatéria

Julian

aLa

urino

/Folha

Imag

em

Bru

noMiran

da/F

olha

Imag

em

VeridianaSedeh (dir.) entrevista donaZefa, artistadoVale doJequitinhonha, eClara Fagundes revisa reportagemsobre filas

Vejaentrevistas,galeriadefotos,diáriodeviagem ) www.folha.com.br/ 071773

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Av. dosBandeirantes

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OUTROS PROBLEMAS

Veja como fugir das “pegadinhas” das placas de São Paulo

PRINCIPAIS ARMADILHAS

Campo Belo (zona sul)Av. Washington Luís, sentido Interlagos x av.Vereador João de Luca, sentido Cupecê

A placa que indica a entrada para a avenidaCupecê está na horizontal de tão torta

Antes de passar pelo viaduto WashingtonLuís, entre à direita e passe por baixo dele

Problema

>> Av. Rebouças, sentidocentro - na altura da ruaOscar Freire, há uma placa“Centro/Alternativa”. Omotorista entra na Oscar evê uma placa, na rua MeloAlves, indicando “Centro”.Mas a Melo Alves terminana própria Rebouças,poucos metros depois —eo motorista volta para ondeestava

>> Av. 9 de Julho, sentidoCidade Jardim - há trêsentradas para a av. Paulista.No entanto, só duas delasestão indicadas. A que nãotem nenhuma placa —aúltima, próxima ao túnelDaher Cutait— é a entradaque sai logo atrás do Masp

Av. WashingtonLuís

Av. Ver. João de Luca

Av. Prof. Vicente Rao

R. Guilherme Asbahr Neto

R. Jac

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R. Palestina

R. Mara

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Túnel

Av. Eusébio Matoso

R. D

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Av. Rebouças

Av. Brig. Faria Lima

R. Henrique Monteiro

R. Sampaio Vidal

Av. São João

Av. Nove de Julho

Av. Ipiranga

R. da Consolação

Av. São Luis

R. A

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Frei

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Radial Leste

R. Sete de Abril Viad. do Chá

Av. Prof. Arnolfo Azevedo

Praça CharlesMiller sentido

Angélica

sentidoBarra Funda

R. Itápolis

R. Itatiara

Av.

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R. Des. Paulo

Passalaqua

R. AlagoasR. Heitor de Morais

R. Dr. Acacio Nogueira

Av. Jorn. RobertoMarinho

Av.

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Luís

R. IpirangaR. Joaquim NabucoR. Laplace

R. Embo

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R. Palm

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R. Viaza

Rio Tietê

Marginal direita do Tietê

Av.

Dom

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S. M

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R. Dom. Pedro H. de O. Bragança

R. Cachoeira do Sul

sentidoCastello Branco

Como fugir

Campo Belo (zona sul)Av. dos Bandeirantes, sentido aeroporto

Uma placa indica à direita para a av. Ver. J.Diniz. Logo após a placa, há uma entrada. Asinalização no asfalto acompanha essa indicação,mostrando o acesso. Se o motorista entrar nessarua, pode voltar para a marginal Pinheiros

A entrada correta é antes do próximo viaduto

Campo Belo (zona sul)Av. dos Bandeirantes, sentido aeroporto

Na entrada certa para a José Diniz, uma dasplacas está escondida pelas árvores; a que diz o nomeda avenida está de cabeça para baixo

O motorista deve ficar atento: o acesso àavenida fica logo antes da placa

Pinheiros (zona oeste)Av. Eusébio Matoso, sentido centro

A placa que indica que o motorista deve pegaro túnel para o centro está escondida pelas árvores.Se perder a entrada, é preciso ir até a av. Brig.Faria Lima, fazer o retorno e pegar a Rebouças

Mantenha-se na pista da esquerda e pegueo túnel

República (centro)Av. Ipiranga, sentido bairro até praça João Mendes

O motorista que vem do viaduto do Chá eacessa a Ipiranga pela av. São João não conseguechegar à praça João Mendes. A placa que indicariaa entrada para a praça, na Ipiranga, não existe. Omotorista termina na rua da Consolação

Entre à esquerda na av. São Luís (logo depoisda praça da República) e siga em frente

Consolação (centro)Praça Charles Miller

Na saída da avenida Prof. Arnolfo Azevedo,uma placa indica ‘Barra Funda/Angélica‘ para aesquerda. Quando o motorista segue para ocaminho indicado, chega na praça em frente aoestádio do Pacaembu. Nela, há outra bifurcaçãosem nenhuma indicação para que lado seguir

Fique na pista da direita e siga em frentepela rua Itatiara para chegar à av. Angélica

Campo Belo (zona sul)Av. Jorn. Roberto Marinho, sentido marginalPinheiros x av. Washington Luís, sentido Interlagos

O acesso às avenidas WashingtonLuís/Interlagos (pelo viaduto Dep. Luís E. Maronde Magalhães) não está sinalizado

Entre à direita na placa Jabaquara(caminhões), mas pegue à esquerda para cruzara Roberto Marinho e siga em frente para chegarà Washington Luís

Jaguara (zona norte)Cebolão, sentido Castello Branco

Quem vem da rodovia Anhangüera e precisaacessar a marginal Pinheiros não é avisado de que,se continuar na faixa da direita, não entra namarginal e acaba na parte pedagiada da rodoviaCastello Branco

Quando sair da Anhangüera, fique na faixada esquerda para pegar a ponte e chegar à marginal

>> Saída do túnel Tribunalde Justiça, sentidoIbirapuera - na saída dotúnel, há quatro placassuspensas, indicando emque faixa ficar. As da direitaestão escondidas porárvores; a da extrema-direita, além de escondida,está quebrada no pedaçoque indica onde ficar parachegar ao Ibirapuera

>> Marginal Tietê, sentidoCastello Branco - omotorista não é avisado,na pista expressa, queprecisa entrar na pista localpara chegar à ponte doTatuapé. Essa ponte dáacesso à Imigrantes e àAnchieta

F otos: Raim

undo Paccó/Folha Imagem

Jefferson Coppola/Folha Imagem

>> Av. São Luís - a placa que indica o sentido para a praçaJoão Mendes está escondida por árvores

ef SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 novoemfolha A5

trânsitoPlacasemSãoPaulo levamatéparao lugarerrado

labirintourbanoPartedas20milsinalizaçõesdeorientaçãodacidadeestãosujas, amassadaseconfundemomotorista;CETdizquevaiavaliarosproblemasencontrados

................................................................................................RAFAELTARGINODAEQUIPEDE TREINAMENTO

Quemestána av. dosBandei-rantes (zona sul) no sentido ae-roporto e se guia pelas placaspara chegar à Ver. José Dinizpode acabar na marginal Pi-nheiros, no lado oposto ao des-tino. Essa é apenas uma das 13armadilhas encontradas pelaFolhanasruasdeSãoPaulo.De6a 20de junho, a reporta-

gem andou cerca de 700 kmnacidade e constatou: existemplacas que mais atrapalham doque ajudam. Há sinalizaçõestortas, amassadas, de cabeçapara baixo e até aquelas que le-vam ao lugar errado (veja ma-pas ao lado). A CET (Compa-nhiadeEngenhariadeTráfego)disse que vai avaliar os casosapontadospelareportagem.Mesmo no centro, é possível

se perder com a sinalização. Apsicóloga Nair Falcão, 44, já seperdeuna região. “Eu sabia quea praça JoãoMendes era cami-nho para [o bairro da] Liberda-de. Não achei nenhuma placaque me indicasse onde ficava.Fiquei dando volta até pergun-tarpara taxistas”, afirma.Segundo Hugo Pietrantonio,

professor do departamento deengenharia de transportes daUSP, quem faz a sinalizaçãoconta justamente com isso: queo motorista pergunte ou con-sultemapas.

ProblemasMas nem rotas recomenda-

daspelositedaCETsãobemsi-nalizadas. Emumadelas, omo-torista que vem de fora precisasaber qual pista é a expressa equal é a local namarginal Tietê—informação que não existe.Em 2005, a reportagem da Fo-lha jáhaviaconstatadoisso.Na época, o órgão disse que

iria implantar uma sinalizaçãoespecial navia.Noentanto, sóo

projetopiloto foi iniciado,enãohá verbas para completá-lo(leia textoaolado).ACETdecideondecolocaras

placas depois que são feitos es-tudos de tráfego. Dependendodo projeto, podem-se levar atéoito meses para que a sinaliza-ção chegue às ruas. Ela segue opadrão de um manual —o Pro-grama de Orientação de Tráfe-go (POT),de1978.Para o engenheiro Francisco

Moreno Neto, ex-gerente dePlanejamento e de EngenhariadeTráfego da CETentre 1976 e83, um dos problemas é que oPOTnãoacompanhouo cresci-mentodeSãoPaulo.As placas ainda sofremcoma

falta de conservação. Elas du-ram em torno de cinco anos,passando por uma lavagemanual—que, às vezes, não acon-tece.Colisõesde veículose rou-bostambémsãocomuns.Cada placa custa, em média,

R$ 3 mil. Estima-se que há 20mil sinalizações de orientaçãoem São Paulo.O órgão não sou-be dizer nem quantas placassão roubadas por ano, nemquantas faltamemSãoPaulo.MorenoNeto calcula que são

necessárias, hoje, 15 mil. Se-gundo ele, implantar todas te-ria um custo de cerca de R$ 25milhões.

Faltaverbaparaplacas........................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

A CET ia começar nesteano os estudos para trocartodas as placas de orienta-ção. No entanto, segundo achefe do Departamento deLogística e Estudos Espe-ciais da CET, Daphne Savoy,outras prioridades estão nafila. Pior: nãoháverba.O iní-cio foiadiadopara2008.Outro projeto, que troca-

ria as placas das marginaisPinheiros e Tietê —e iria re-solver o problema apontadopela reportagem em 2005—,também está encostado porfaltadedinheiro.“A verba da sinalização de

orientaçãoé sempreaúltimaa ser levada em considera-ção”,afirmaSavoy.Para trocar todas as placas

deorientaçãodeSãoPaulo, aCETcalcula que levará cercadetrêsanos—apartirdomo-mento em que os projetosestejam prontos e que hajaverba. Por ano, são trocadascerca de mil sinalizações dotiponacidade.A solução tem sido fazer

parcerias com a iniciativaprivada. As placas azuis queindicam serviços (comohos-pitais e delegacias) foram,em parte, bancadas peloshospitaisparticulares.Desde 1998, já foram colo-

cadas 700 desse tipo. A CETfaz um termo de parceriacom a instituição interessa-da e fornece um anteprojetocom as características que aplacadeveter.A iniciativaprivada, então,

passa a ser a responsável porconfeccionar e implantar asinalização. (RT)

Vejaartesegaleriadefotos ) http://www.folha.com.br/ 071773

A4 novoemfolha SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 ef

devoltaaangola

1961 Grupos nacionalistas MPLA (Movimento Popular deLibertação de Angola), Unita(União Nacional paraIndependência Total de Angola)e FNLA (Frente Nacional deLibertação de Angola) lutamcontra Portugal

1975 Independência do país.Início da guerra civil. MPLA,apoiado pela União Soviética,disputa o poder com a Unita ea FNLA, apoiadas pelos EUA.Agostinho Neto, do MPLA,assume a presidência

1979 José Eduardo dosSantos, do MPLA, sucedeAgostinho Neto. FNLA perdeforça e conflito se polariza entreo MPLA e a Unita

1991 Acordo de paz encerraprimeira fase da guerra civil eestabelece eleições livres

1992 Eleições presidenciais;MPLA vence e elege Santos.Unita não aceita o resultado eretoma a guerra, que chega pelaprimeira vez a Luanda (capital).Início do maior fluxo derefugiados para o Brasil

2002 Jonas Savimbi, líder

da Unita, morre em combate.Unita entrega armas e encerraguerra civil

Próximas eleições: 2008(Parlamento) e 2009(Presidência)

Guerra civil deixou 1milhão de mortos

CRONOLOGIA

Fonte: CIA Factbook, Fórum de Quadros Agolanos e Angolinistas, Zakeu Zengo, professor da Uerj

Denis D

oyle/Associated Press - 18.dez.2003

Guilherm

e Venâncio/France Presse - 10.m

ar.91

casaJulia Moraes/Folha Imagem Alexandre Campbell/Folha Imagem

FOTO2.5227.0

FOTO2.4627.0

Aaluna deenfermagemEugêniaCoelho,quequervoltara Angolaapós afaculdade Leonardo Matos, marido de Domingas Dalas, e Anderson Osvaldo, filho do casal

Tenhoquesergrataaopaísquemeacolheu.Aquieumeidentifiquei, fizamigoseestouaestudarEUGÊNIACOELHOrefugiadahá8anosnoBrasil

Minhamulherfoiembora,agoraqueroregularizarosdocumentosdomeufilhoparaqueelepossaencontrá-laLEONARDOMATOSrefugiado há oitoanos no Rio de Janeiro

DocumentosdificultamretornoderefugiadosBurocraciaéoprincipalentraveparaprogramaderepatriaçãovoluntáriadaONU;ConsuladodeAngolaafirmanãohaverproblemas

................................................................................................FERNANDOBUENOGUSTAVOGOUVEIADAEQUIPEDE TREINAMENTO

DomingasDalas voltou aAn-gola deixandomaridoe filhonoBrasil. Após oito anosnoRiodeJaneiro, como refugiada deuma guerra que deixou 1 mi-lhão de mortos, Domingas ten-taserestabeleceremseupaís.Comoela, outrosexpatriados

querem retornar, mesmo queemAngolaamaioriadaspontese estradas continue destruída,exista mais de uma mina ter-restre por habitante e carênciade infra-estrutura básica comoescolasehospitais.Mas, embora a ONU tenha

começado este ano um progra-ma para repatriar quem quervoltar a seupaísnatal, ninguémembarcoucomajudadaentida-de.Aorganizaçãopoderiaman-dar até 150 pessoas por ano,massórecebeusetepedidos.Seis não têm a documenta-

ção necessária, o que revela umdos principais obstáculos daação: a dificuldade de obterpassaportes. Sem os papéis,

dois dos seis desistiramevolta-ram para Angola por meiospróprios—foi o casodeDomin-gas.Osoutrosquatroaguardamosdocumentos.O único refugiado que estava

em dia com a burocracia desis-tiuantesdeembarcar.A repatriação voluntária,

promovidapeloAcnur (agênciada ONU que dá assistência aosrefugiados), paga passagem aé-reaeUS$200aosangolanosre-fugiados que queiram voltar àterra natal. Mas é preciso terpassaporteválido.E quem não tem os papéis

demora para obtê-los. “Fala-

mosváriasvezescomocônsuleo embaixador (de Angola), poisexigem requisitos que não épossível que o refugiado te-nha”, diz Luis Varese, repre-sentantedoAcnurnoBrasil.Segundo o consulado, não há

dificuldades (leia o texto ao la-do). Os postulantes, no entan-to, enfrentamum círculo vicio-so da burocracia: o governo an-golano dá o salvo conduto aquem já tema passagem.Mas oAcnur só dá passagens a quemjáobteveospassaportes.Outro fator que explica a bai-

xa adesão é a divulgação aindatímida, feita com panfletos e

cartazes apenas no Rio de Ja-neiro. No Estado, vivem 1.310refugiados angolanos —com1.684 pessoas, é de Angola amaior população de expatria-dosnoBrasil.Moradora de São Paulo, Eu-

gênia Coelho faz parte dessegrupo e quer voltar quando ter-minar a faculdade de enferma-gem —ela curso o segundo deoito semestres. “Oobjetivoé le-var o que aprendi fora para omeupaís”.Apesar da determinação, Eu-

gênia nunca tinha ouvido falarda iniciativadoAcnur.“Quando for resolvido esse

problema (da documentação),provavelmente até o fim de ju-lho, faremos a propaganda commais força”,afirmaVarese.A agência deve repetir no

Brasil a estratégia que adotouna África: divulgar a repatria-çãovoluntáriaporváriosanosecessar o programa apenasquando perceber que não hámais interessados.“A repatriação voluntária é

um direito do refugiado”, afir-maorepresentantedoAcnur.

Angolano vive quase a metade do tempo de um brasileiro

COMPARATIVO ENTRE AS DUAS EX-COLONIAS

Área totalPopulaçãoCrescimento demográficoExpectativa de vidaCrescimento do PIBPopulação abaixo da linha de pobreza

1.246.700 km2

12.263.5962,184%37,63 anos15%70%

8.511.965 km2

190.010.6471,008%72,24 anos3,7%31%

Angola Brasil

OUTROLADO

ConsuladovênormalidadeFuncionários do corpo di-

plomático de Angola no Bra-sil afirmam não haver difi-culdades para os angolanosobterem a documentaçãonecessária para a repatria-çãopeloprogramadoAcnur.Segundo o vice-cônsul de

Angola no Brasil, AlbertinodeJesus, “nãoháburocracia,o que existe é a tramitaçãoprópriadoprocesso”.Jesus afirma que o candi-

datoà repatriaçãodevepedirem Angola uma certidão denascimento, ou um docu-mento que prove a sua na-cionalidade.Para isso, segundo Jesus, é

preciso que ele tenha algumcontato no país que possaobtereenviarodocumento.O papel deve ser levado ao

Departamento de RegistrosCentrais, que verifica suaau-tenticidade. O contato o en-via ao Ministério das Rela-ções Exteriores de Angola,onde ele deverá buscar e en-tão mandar ao requerenteno Brasil, que o leva ao Con-suladodeAngolanoRio.O secretário para área

consular da Embaixada deAngola no Brasil, Isaú Boco,também diz não ver dificul-dades na obtenção da docu-mentação necessária: “Oproblema é que a embaixadaexige certos requisitos paracomprovar se a pessoa émesmoangolana”.No entanto, o secretário

dissequeoembaixador irásereunir com o representantedo Acnur no Brasil, Luis Va-rese, para resolver questõesreferentesàdocumentação.

AviagemdeLuenaaLumbalaN’Guimbodemoravaumatardenaépocadosportugueses.Hojelevadoisdias.AsdezpontesestãodestruídaseseusacessosminadosSTEPHANLOUTITchefedo Escritório do Acnur em Luena

PAÍSAFRICANOJÁRECEBEUDEVOLTA410MILREPATRIADOSProgramadaONUnaÁfricaterminouapósoretornode90%dos457milrefugiados,principalmentedosvizinhosZâmbiaeRepúblicaDemocráticadoCongo

Angolanos constituem maior grupo de refugiados no Brasil

PERFIL DOS REFUGIADOS NO BRASIL E NO MUNDO

Palestinos

Afeganistão

Iraque

Sudão

Somália

Rep.Dem. Congo

Burundi

REFUGIADOS NO BRASILPrincipais continentes de origem 78%

9%7% 6%

América

Europa

África

Ásia

REFUGIADOS NO MUNDOPrincipais grupos de origem (em %)

Mundo

Brasil

refugiadospedidos

de refúgio

3.357 60914,2 mi 96,6 mil

PLACAR GERAL

30,3

14,8

10,6

4,8

3,2

2,8

2,8

Fonte: Acnur (ONU) 2006 e Conare

7,7%são menoresde 18 anos

26%Mulheres

74%Homens

50%Mulheres

50%Homens

45%são menoresde 18 anos

NO MUNDO

NO BRASIL

LEGISLAÇÃOBRASILEIRA ÉUMADASMAISABRANGENTESLei,quefazdezanos,étidacomoumadasmaismodernas;critériosparadefinirquemérefugiadosãomaisamplos

Vejaíntegradetextos,entrevistasegaleriadefotos ) www.folha.com.br/ 071773

longede

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CIDADELABORATÓRIO

Bru

noMiran

da/F

olha

Imag

em

BrunoMiranda/Folha Imagem

GO

MG

ARAÇUAÍ EM NÚMEROS

Fontes: IBGE e PNUD

População Analfabetismo*

Média de anosde estudo*

IDH (Índice deDesenvolvimentoHumano)* **

Área

Taxa deurbanização*

Desemprego*

37.1082.236 km2

57,3%

15,9%

30,3%3,9

0,687

SP

MG

BA

GO

RJ

Belo Horizonte

* Dados de 2000 ** IDH vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor

AraçuaíVale doJequitinhonha

FOTO1.9225.0

Cortador e filhosretratados por

americana

êxodoComfotos,cidadetentaimpedirquefilhosesqueçampais

CoralMeninos deAraçuaí ensaiamúsicasdonovoCD

Ser CriançaOcoralMeninosdeAraçuaínasceudesseprojeto,que temco-

mo lema a educação pelo brinquedo e é desenvolvido comcrianças entre 7 e 14 anos, em paralelo à escola. Em 1998, osparticipantes queriam dar um presente à Natura, financiadorado Ser Criança na época. Como gostavam de cantar, pensaramem fazer uma apresentação musical. Uma ONG chamou paraprepará-los o grupoPonto dePartida, de Barbacena, que acom-panha o coral até hoje. Em julho, eles lançam seu segundo CD,que temparticipaçãoespecial deMiltonNascimento.

HomensdeixamfamíliaduranteoitomesesparatrabalharemoutrosEstadose,quandovoltam,nãosãoreconhecidospelos filhos;projeto fotografa famíliasegravavozesparapreservarmemóriaemantervínculo

BrunoMiranda/Folha ImagemFoto deFamíliatenta preservarvínculo afetivo

FOTO1.9219.0

laçosdeJúlia émassageadaemprojeto deONGumdia após partida

de pai cortador

MeninosdoCidadeCriança perdemtimidez brincando

Cidade Criançafamília Pessoas da própria comunidade participam da educação decrianças de zero a seis anos e dão apoio emocional e dicas desaúde a gestantes. Em visitas semanais, as grávidas e os bebêsrecebemmassagens. Aos sábados, elas fazemcaminhadas e tro-camreceitas.Hádiasdebeleza, commanicureecabeleireiro.

BrunoMiranda/Folha Imagem

FOTO1.9219.0

BrunoMiranda/Folha Imagem................................................................................................VERIDIANASEDEHDAEQUIPEDE TREINAMENTO

O marido de Maílsa Fernan-des, 22, não acompanhouages-tação da filha do casal, Júlia,hoje com setemeses. Provavel-mente não verá seus primeirospassos. Ele foi para o corte decana quando Maílsa estava noprimeiro mês e só voltou umasemana antes do parto. Mesesdepois, refezocaminho.Assim como ele, 2.000 ho-

mens deixaramAraçuaí, noVa-le do Jequitinhonha (MG), esteano rumo a usinas de cana-de-açúcar em São Paulo, segundodados do Sistema Nacional deEmprego(Sine).Mesmosemincluir trabalhos

clandestinos ou em outros Es-tados, essa cifra já correspondea cerca de 20% dos homenscom mais de 18 anos —idademínima para as usinas—, se-gundo dados do Pnud (Progra-ma das Nações Unidas para oDesenvolvimento) de 2000. Opróprio Sine admite que o nú-merorealdevesermaior.Quando voltam,depois deoi-

tomeses, essespais já forames-quecidos por seus filhos. Paratentar manter o vínculo das fa-mílias, a americana EmmaRaynes, 25, envia, há um mês,fotografias de crianças de Ara-çuaí para plantações de cana-de-açúcar nos Estados de SãoPaulo, Rio de Janeiro, MatoGrossoeMinas.Comisso, ela querqueospais

possam acompanhar o desen-volvimentodosfilhosO trabalho também é feito

com quem fica. Desde feverei-ro, Emma fotografa famílias egrava mensagens dos pais emCD para que as crianças não seesqueçamdafigurapaterna.“Vou mostrar sempre a foto

do pai para que ela não se es-queça dele”, promete Maílsa,mãedeJúlia.Para desenvolver esse traba-

lho, a americana conta com oapoio de uma fundação holan-desa, que também financia umprojeto da ONG Centro Popu-lar de Cultura e Desenvolvi-mento (CPCD), que atua na ci-dade desde 1998. Trata-se doCidadeCriança (leia textoabai-xo), desenvolvido com gestan-tes e crianças de zero a 6 anos—mulheres e filhos de cortado-resdecana.Há quatro anos, o marido de

Rosalina de Jesus, 30, já nãotroca sua casa pelo corte de ca-

na.Ele agoradirige oúnicoôni-bus que liga a comunidade ru-ral Engenheiro Schnoor, ondemoram, à zona urbana de Ara-çuaí.MasRosalinanão esquecea solidão que sentiu durante agravidezdoprimeirofilho.“Quando ele voltou, o bebê já

estava andando”, recorda comos olhos cheios de lágrimas. Nasafra do ano seguinte, omaridofoi embora deixando-a grávidadeseusegundofilho.Sair de casa rumo aos cana-

viaisnãoédestinosódoschefesde famílias, mas também dosjovens de Araçuaí a partir dos18 anos. Por acreditarem que otrabalho nas usinas seja uma

das únicas possibilidades deadquirir bensmateriais, eles fi-cam ansiosos para chegar àmaioridade.“Meu filho de 15 fala que está

doido para completar 18 anospara ir para o corte”, relataVal-deniceMariaAlves,35.Ângela Maria Moreira, 46,

conta que um de seus cinco fi-lhos justifica o objetivo de sercortador da seguinte forma:“Mãe, você não tem condiçõesde dar o que eu quero. Queroroupa, calçado, até comida, àsvezes,vocênãopodemedar”.O produtomais cobiçado ho-

jeemAraçuaíéamoto.“De uns cinco anos para cá,

virou uma febre. Primeiro foi orelógio, depois, o som.Agoraéataldamotocicleta”, relataCelsoSilva, 47, que já foi cortador decana e trabalhou na SecretariaMunicipal de Agricultura e ho-je dirige um dos projetos doCPCD em Araçuaí, o CaminhodasÁguas.As motocicletas chegam na

cidade desmontadas, em umcaminhão, alguns dias antesdostrabalhadoresretornarem.Por pensarem nas oportuni-

dades que terão no futuro, al-guns meninos perdem o inte-ressepelosestudos.“Quando digo parameu filho

de 11anosestudar,eleresponde‘estudar para que? Sei que voupara o corte. Opai sempre foi’’’,relataRosalina.O trabalho nas usinas nem

sempre corresponde às expec-tativas de quemdeixa a família.Ângela diz que dois de seus fi-lhos ligamreclamandoquea si-tuação está ruim e que eles es-tão ganhando muito pouco,menos deR$8pordia. “Agentefica triste, eles saem numa es-perança de conseguir compraralgumacoisa”, lamenta.

FOTO3.027.0

CoraldevolvecinemaaValeapósquase30anos................................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

A partir de agosto, Araçuaí,no Vale do Jequitinhonha, vol-tará a terumcinema—oúltimofoi fechadonadécadade70.Devolver uma sala à cidade

foi idéia dos jovens do coralMeninos de Araçuaí. Eles apli-caram R$ 40 mil arrecadadoscom espetáculos e venda deCDsnaconstruçãodamesma.Aparteque faltavados recur-

sos para o cinema, R$ 275 mil,foi obtida pelaONGCentroPo-pular de Cultura e Desenvolvi-mento (CPCD) com os gover-nosfederaleestadual.

No Vale —com 53 municí-pios—, só osmoradores deCar-bonita podem assistir a filmesna tela grande, de acordo comdadosdoIBGE.Mas a cidade tem apenas

projeção de DVD em um telão,o que faz do cinema do coral oúnicoregistradonaregião.A sala, de cem lugares, está

sendo construída no centro an-tigo de Araçuaí. Ela será geren-ciada por uma cooperativa dejovens que participam dos pro-jetos do CPCD e deve levar omesmo nome do coral. Preçoda entrada e filme de estréiasãoquestõesaindaemaberto.

Até os dez anos, Cátia Go-mes, 17, nunca tinha ido ao ci-nema. Numa viagem com o co-ral a São Paulo, ela assistiu àanimação“VidadeInsetos”.“É muito legal, parece que a

genteestá chegandonomundo,que está dentro do filme.” A jo-vem espera a inauguração emAraçuaí para ir a uma sala deexibiçãopelasegundavez.A ida à capital paulista tam-

bém foi a primeira oportunida-de de Cátia sair de sua cidadenatal. Comocoral, foi atéParis,onde o grupo se apresentoucom Milton Nascimento noanodoBrasilnaFrança. (VS)

Clésio Celestino,19,molda ferro para fazer escultura

FabriquetasDigoparameufilhode11anosestudareele

responde‘paraque?Seiquequevouparaocorte.ROSALINADEJESUS,moradoradeAraçuaí

Jovens a partir de 16 anos aprendema fazer esculturas, bone-cos,móveis e utensílios de ferro, bambu, tecido,madeira e tintade terra. Depois de dominarem as técnicas, eles entram para acooperativa Dedo de Gente, que gerencia as vendas. Cada coo-peradotrabalhameioperíodoeganhaR$175pormês.

CoralMeninosdeAraçuaí ensaia emcinemaconstruído comdinheiro arrecadadopor eleBrunoMiranda/Folha ImagemTERAPIA

...........................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

Desabafar é doque as grávi-das de Araçuaí mais gostamno projeto Cidade Criança.Sem ter com quem conversare angustiadaspor ficaremoitomeses longe dosmaridos, elasganham mães cuidadoras—mulheres que já viveram ouvivemamesmaexperiência.Noprojetocoordenadopela

ONG Centro Popular de Cul-tura e Desenvolvimento(CPCD), as mães cuidadorasdão dicas de saúde, apoioemocional e aplicam massa-gens nas gestantes e nascriançasdeatéseisanos.

“Eramuito bom, a gente fa-lava muita coisa”, recorda-seMaílsa Fernandes, 22, dasidas semanais da mãe cuida-doraMargarida à sua casa en-quanto estava grávida e longedomaridocortadordecana.O Cidade Criança é um dos

quatro projetos desenvolvi-dos pelo CPCD em Araçuaí(leia textoaolado).Todos fazem parte de um

maior, o Arassussa, que, como apoio de mais 12 ONGs einstituições, querem fazer deAraçuaí a primeira cidadesustentável do Brasil. A ques-tão ambiental será o focoprincipalnosprimeirosanos.“Araçuaí é uma plataforma.

Se a gente conseguir fazer es-se trabalho noVale, consegui-rá fazer em qualquer lugar dopaís”, afirmaTião Rocha, pre-sidentedoCPCD. (VS)

BrunoMiranda/Folha Imagem

FOTO1.9219.0

Desabafoafastasolidão

FOTO3.027.0

Lendadizquecidade foifundadaporprostitutas................................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

Quando“donaMariaCheiro-sa” — a mais antiga prostitutada cidade— olha para o cinemaem construção, ela se lembrade tudo que viveu naquele ce-nário, hoje em ruínas e redutodetráficodedrogas.Os 67 anos de Cheirosa tra-

duzemgrande parte dahistóriade Araçuaí, que tem sua funda-ção ligadaàprostituição.A versão mais popular é a de

que meretrizes expulsas porum padre de uma aldeia, ondeaportavam canoeiros, subiramo rio que dá nome à cidade e

conseguiram abrigo na fazendada matriarca Luciana Teixeira.Atraídos pelas mulheres, os ca-noeirosmudaramdeporto, on-de se formou um arraial, que,em1871,deuorigemaAraçuaí.Por muito tempo, dona Ma-

ria fez o papel da fundadora dacidade em festas comemorati-vas. “Todo ano eu interpretavaLuciana Teixeira. O padre queconvidava. A gente saía da pra-ça da igreja de caminhão e asmeninas que moravam comigofaziamopapeldas inquilinasdeLuciana.Tinhaoscanoeiros...”Outra lembraça de donaMa-

ria é o período em que morou

na igreja com outras prostitu-tasdacidade.“Passei quatromesesna igre-

ja. Tudo quanto é mulher foipara lá. O padre tratava todomundobem.Ninguémfaziana-daerradopor lá.”O que levou as mulheres à

igreja foi uma enchente, em1979,quedeixouoentãocentroda cidade submersopor 15dias.Os comerciantes se estabelece-ram num ponto mais alto, fun-dandoocentroatual.“Passei nesta rua de canoa.

Ficou tudo embaixo d’água”,aponta dona Maria para a ruadaconstruçãodocinema. (VS)

Mudas são cultivadas comtécnicasdepermacultura

Caminho das ÁguasOprojeto recuperou, comagricultura sustentável (permacul-

tura), um sítio de 5 ha. A técnica não usa agrotóxicos nemquei-madas. A água da chuva é armazenada, esterco serve comoadu-bo e são plantadas espécies quemantêmaumidadedo solo. Emjulho,osítiopassaafuncionarcomoescolaparaosagricultores.“Cheirosa”, amais antiga prostituta da cidade, observa ruínasao redor da construçãodo cinema

OuçatrechodocoralMeninosdeAraçuaí ) www.folha.com.br/ 071773

A6 novoemfolha SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHODE 2007 ef ef SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 novoemfolha A7FotosEmmaRaynes/ArquivoPessoal

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>> Meninos paramde jogar futebol paraconhecer laptop

Veja onde estãoos alunos quereceberam oslaptops

AS PRIMEIRASCINCOESCOLAS

COMPUTADOR

TURMASPARTICIPANTES

ESTÁGIO DOPROJETO

QUANTIDADE

Gilvan Barreto / Folha Imagem

Danilo Verpa / Folha Imagem

Leonardo Wen / Folha Imagem

>> Alunospaulistanosaprendema enviare-mails

Palmas (TO)

Classmate (Intel)

400

Professores emtreinamento

Fundamentale médio

Piraí (RJ)

Classmate (Intel)

400

Ajustes da rede antesde começar a usar

3ª a 8ª séries dofundamental

Brasília (DF)

Mobilis (Encore)

40

Ajustes da rede antesde começar a usar

4ª e 7ª séries dofundamental e EJA(jovens e adultos)

São Paulo (SP)

XO (OLPC)

120

Usaram poucas vezesos computadores

2ª e 5ª séries dofundamental

>> Alunosdominamtecnologia maisrápido queprofessores

Porto Alegre (RS)

XO (OLPC)

175

Já usam os computadoresdesde março

4ª e 6ª séries dofundamental; outrasséries no 2º semestre

ef SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 novoemfolha A9

UMDIANAESCOLA (I)MOBILIDADE

Sinal toca,ninguémsai

Laptopnãosaidaescola

........................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

O sinal toca numa escoladeperiferia deSãoPauloeosalunos reclamam.Mas o avi-so indicava o final das aulas,não o começo. Ninguémqueria sair da classe e deixaros laptops —a escola é umadas cinco em que o projetoUCAestá implantado.Cauê, da2ª sériedoensino

fundamental, mandava oprimeiro e-mail de sua vidaquando o sinal tocou. Os co-legas que ainda não haviamconseguido enviar mensa-gens não queriamarredar pédolugar.Na outra das duas escolas

em que o projeto já foi im-plantado, em Porto Alegre,os alunos não têm esse pro-blema. Cada um tem o seucomputador e pode usá-loinclusive no recreio. Só nãopodemaindalevarparacasa.A Folha acompanhou ati-

vidades nas duas cidades. Naescola gaúcha, os alunos játêm facilidade para pesqui-sar na internet, produzirtextos, filmar, fotografar, jo-gareconversarpeloMSN.Mesmo com os jogos libe-

rados, os professores garan-tem que eles estão mais dis-ciplinados e prestam maisatençãoàsatividades.A facilidade das crianças

contrasta comodesconfortode professores, que dizem“engatinhar”. Fátima Fer-nandes, da turma que rece-berá os laptops em Brasília,brinca que está perdendo osono com a chegada doscomputadores: “Eu sou arainha do papel: carreguei ecortei papel nesses meus 21anosemsaladeaula”.Para a coordenadora do

UCA em Porto Alegre, LéaFagundes, é positivo que oprofessor se sinta descon-fortável e, diante das possi-bilidades abertas pelo com-putador, não possa repetirsempreamesmaaula.Na opinião do secretário

de Educação a Distância doMEC, Carlos Bielschowsky,a experiência gaúchamostraque o desafio do projeto épossível: “Transformar osalunos em mais autônomos,mais autores, mais atores,que desenham sua própriatrajetória”.(JNeMB)

........................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

Apesar da proposta de queos alunos levassem os com-putadores para casa, nenhu-ma das escolas do UCA sabedizerquando issovai aconte-cer. Em Brasília, Palmas eSão Paulo, os pais serão cha-mados para discutir a idéia.Vários têm medo de que osfilhos sejamassaltados.Em Piraí, os computado-

res não sairão da escola, pelomenos, até o final deste ano.Os alunos serão incentiva-dos a ficar na escola após asaulas, acompanhados desuas famílias.Em Porto Alegre, os alu-

nos poderão levar os compu-tadores para casa quando to-dos os 400 tiverem um lap-top—hojehá 175.

ÉparasermóvelPara o representante da

One Laptop per Child naAméricaLatina,DavidCava-llo, é fundamental que oscomputadores estejam sem-pre com os estudantes: “Osturnos nas escolas brasilei-ras sãocurtos.Queremosau-mentar a oportunidade deaprendizagemdascrianças”.O computador faria tam-

bém a inclusão digital da co-munidade, segundo o pro-fessor Simão Pedro Mari-nho,daPUC-MG.“Amaiorpontede sedução

do UCA é fazer o menino jáincluído ser agente da inclu-sãona sua famíliaenasuavi-zinhança, mesmo que eleainda esteja na periferia domundodigital.”(JNeMB)

NOVAMÚSICADEGIL FALASOBRE ‘MENINOINTERNETINHO’Ouçano site docaderno “BandaLarga”, emque oministro daCulturacita a facilidade dosgarotos coma rede

redeRaimundo Paccó/ Folha Imagem

...........................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

Iria Brzezinski, pesquisa-dora da Universidade Católi-ca de Goiás, é avaliadora decursos doSinaes (SistemaNa-cional de Avaliação da Educa-çãoSuperior)doMEC.Ela diz que amaneira como

o curso semipresencial é feitohojenãoéadequada.

FOLHA -Oquea senhora achadocursodepedagogiaadistância?

IRIA BRZEZINSKI - Eu já fui pre-sidente da Anfope (Associa-ção Nacional pela Formaçãodos Profissionais da Educa-ção). Há muito, nós somoscontra a educação a distânciafeita em massa como temacontecido nos últimos doisanos. Para formarprofessoresprecisa de presença, não podesertotalmenteadistância.

A educação a distância nãopode ser negada, é necessária.No entanto, negamos a for-maçãocomoestásendofeita.

FOLHA -Fazeragraduaçãotodaadistânciaéadequado?

IRIA - Não é adequado. Nãobasta fazer os exames presen-ciais. Examenão significa for-mação. Exame é chegar e fa-zer uma prova. A formação écontínua e o aluno temque seformaremquatroanos.

FOLHA - A maioria se forma emtrêsanos.

IRIA - É um aligeiramentoquenãoaceitamos.Nossa lutaé que toda formação de pro-fessores seja feitanauniversi-dade com no mínimo quatroanosdeduração.

FOLHA - Segundo as instituições,cursos a distância têm a mesmacargahoráriaqueopresencial.

IRIA - Não tem professor nasala. Não tem a mesma cargahorária.Sabeporquê?O professor que não é for-

mado em ensino superior,mas já trabalhou, se entranessecursopode ter cargaho-rária computadacomoforma-çãoediminuir os quatro anos.Prática sem formação não éformação.

CONTRA

FOTO1.8520.0

AFAVOR

...........................................................................................DAEQUIPEDE TREINAMENTO

João Vianney, da educaçãoa distância da Universidadedo Sul de Santa Catarina, jáfez parte de comissões doMEC que avaliam cursos depedagogiaadistância.Ele aprova a metodologia

semipresencial para os que jádão aulas, mas acredita que ocurso não é adequado paraadolescentes que acabaramdeconcluiroensinomédio.

FOLHA - A graduação a distânciapodeformarbonsprofessores?

JOÃO VIANNEY -Pode, comres-trições. No mundo inteiro, aeducação a distância tem sidoentendida como educação deadultos, quase sempre nomercado de trabalho. Paraaquele grupoquenão temfor-maçãoadequadae já trabalha,

a formação a distância é ex-tremamenteenriquecedora.Agora, para umamenina de

16 anos egressa do ensinomé-dio, eu entendo que esse pro-grama deveria ter um dese-nho quase que semipresen-cial, para que ela pudesse ternão apenas o conhecimentomas tambémambiênciada vi-daeducacional.Eu não recomendaria um

curso de pedagogia para umacriança recém-egressa do en-sinomédio.

FOLHA -O que difere um profes-sor formadoadistânciadeumfor-madoporcursopresencial?

VIANNEY - Não há nenhumadistinção. A formação a dis-tância tem que obedecer àsmesmas diretrizes curricula-res. A formação éequivalente.Se vai ser boa ounão dependedainstituiçãoqueoferece.

FOLHA -Quais os benefícios e osprejuízosdocursoadistância?

VIANNEY - Educação a distân-cia permite o ingresso no en-sino pela flexibilidade de ho-rários de estudo. É um alunoadulto, que entende a educa-ção a distância como umaoportunidade que ele não po-deperder.

Estudiosoaprovacursoparaadultos

Avaliarnãoéformar,dizeducadora

Estudantes de curso semipresencial fazem avaliação

ALUNOS ESTUDAMEMCASAEFAZEMPROVANAFACULDADENos encontros presenciais, os alunosestudamumaapostila comumtutor, quegeralmente não temmestrado oudoutorado. Emalgumas instituições, a aulaé ao vivo. Dúvidas são enviadas pelainternet e respondidas pelos tutores.

Galeriadefotos,áudioelinksrelacionados ) www.folha.com.br/ 071773

A8 novoemfolha SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 ef

Danilo Verpa/Folha Imagen

avançodigitalGovernoapressaaexpansãodelaptopsemescolaspúblicasMesmosemconcluir teste iniciadonesteanoemcincocidades,governoquerampliarpara todososEstadosousodecomputadoresmóveisporalunosdaredepúblicaeatingiraté250milestudantesem2008;efeitonasnotasédesconhecido,masprofessoresvêemmaismotivação................................................................................................JOHANNANUBLATMARIANABENEVIDESDAEQUIPEDE TREINAMENTO

Ogovernofederalestásepre-parandoparacolocar computa-dores móveis (laptops) em es-colas públicas de todos osEsta-dosdopaís jánoanoquevem.Embora ainda não tenha re-

sultados das cincoexperiênciasiniciadas este ano, o UCA (UmComputador por Aluno) queratingir de 150mil a 250mil alu-nosnocomeçode2008.Segundo José Luiz Maio de

Aquino, assessor da Presidên-cia e um dos responsáveis peloprojeto, a previsão é que o nú-mero exato seja definido naspróximasduassemanas.Se a ampliação atingir opata-

marmais alto, de 250mil estu-dantes, o governo estará entre-gando laptops a aproximada-mente 0,5% dos 48,6 milhõesde alunosmatriculados na redepública de ensino, segundo da-dosdoInepde2006.O edital para a compra das

máquinas deve ser lançado atéo final de agosto pela Presidên-cia da República e pelo MEC(MinistériodaEducação).

NovocomportamentoComoaexperiênciadoproje-

to UCA, até agora, abrangeuapenas cerca de 160 alunos e émuito recente, não há resulta-dos objetivos que comprovemque o uso de laptopsmelhora a

aprendizagem.O que o uso dos computado-

res já conseguiu demostrar éque os alunos mudaram decomportamento na classe, se-gundo os envolvidos com a ex-periência.“No pouco tempo que os lap-

topsestãonaescola, jánotamosque o brilho nos olhos dos alu-nos mudou. Eles não queremfaltar e não chegam mais atra-sados”,disseacoordenadoradoprojeto emSãoPaulo,Roseli deDeusLopes.Para ela,mais do que notas, o

quedeve ser avaliado é seo alu-no temmaisautonomianabus-ca de informações e se está de-senvolvendo raciocínio, criati-vidade e senso crítico: “O maisimportante hoje não é conteú-do, é saberprocurareanalisar a

informação.”Dentre as cinco escolas pio-

neiras, SãoPauloePortoAlegre(RS) são as mais adiantadas.Nessasescolas,osalunos traba-lham com os computadoresmóveisdesdemarço.Em Palmas (TO), Brasília

(DF) e Piraí (RJ), os computa-dores já chegaram, mas aindaestão dentro de caixas e armá-rios. A estrutura das escolas es-tá sendo preparada e os profes-sores, recebendocapacitação.O impactodousodos laptops

fora da escola também aindanão pôde ser avaliado. O proje-to prevê que os alunos levemoscomputadores para casa, mas,até agora, o equipamento nãosai da escola em nenhuma dascinco cidades (leia texto na pá-ginaaolado).

AmpliaçãoApesar dos planosde amplia-

ção, Carlos Bielschowsky, se-cretário de Educação a Distân-cia do MEC, diz que a medidaserá “cautelosa e restrita”, pornão terocorridoa inclusãodigi-tal desejada e os alunos aindanão terem sido avaliados pelaProvaBrasil.Mas o secretário diz ter um

“sentimento forte de que oUCA vale a pena”, pelo que pô-de observar em São Paulo ePorto Alegre. Segundo ele, osalunos realmente se mostrammais interessados e ativos nasaulascomlaptop.

ElesnãoqueremfaltarenãochegammaisatrasadosROSELIDEDEUSLOPEScoordenadoradoUCAemSãoPaulo

TemossentimentofortedequeoUCAvaleapena,emboranãotenharesultadosaindaCARLOSBIELSCHOWSKYsecretáriodeEducaçãoaDistânciadoMEC

ensinoemAluna da 2ª série fundamental brinca com o computador em escola municipal de São Paulo

Cursodepedagogiaadistânciaopõegovernos

A graduação a distânciaem pedagogia no país

* 37 instituições divulgaram os dados e seis nãoinformaram os números. A reportagem não conseguiufalar com três faculdades. Outras quatro foramautorizadas pelo MEC, mas não oferecem o curso

Alguémaceitaaformaçãodomédicoadistância?Porqueparaoprofessortudopodeserdequalquerjeito?ARTURCOSTANETO

doConselhoMunicipaldeEducaçãodeSãoPaulo

Paraformarprofessoresprecisaterpresença,nãopodesertotalmenteadistânciaIRIABRZEZINSKI

pesquisadoradaUniversidadeCatólicadeGoiás

EducaçãoadistânciapermiteoingressonoensinopelaflexibilidadedehoráriosJOÃOVIANNEYDOSSANTOS

diretordaUniversidadedoSuldeSantaCatarina

MECexpandenopaís formaçãodeprofessoresemcursosquenãotêmaulasdiárias;emSãoPaulo,prefeituradecidenãoaceitardiplomasdessesistema................................................................................................VERENAFORNETTIDAEQUIPEDE TREINAMENTO

Enquanto o MEC (Ministé-riodaEducação) investenafor-mação a distância, formandosno curso de pedagogia afirmamsentir preconceito ao procuraremprego.APrefeitura de SãoPaulode-

cidiu que não aceitará forma-dos a distância no edital abertona segunda-feira, 25 de junho,para contratar professores ecoordenadorespedagógicos.Artur Costa Neto, do Conse-

lhoMunicipal deEducação, dizque a prefeitura não questionaa legalidade do diploma, mas

querdecidirquemcontrata.“Alguém aceita a formação

domédico a distância? Por quepara o professor tudo pode serdequalquer jeito?Ocurso jáéoque dura menos. Ser professorémaisbanal?”Embora não pretenda seguir

a medida tomada por São Pau-lo, o Conselho de Educação doRio Grande do Sul, que estabe-lece diretrizes para o Estado,tambémécontraa formaçãodoprofessoradistância.A posição da Prefeitura de

São Paulo é reprovada peloMEC. O ministério afirma quea regulamentação dos cursossuperiores é responsabilidade

federal e, se o curso é reconhe-cido,odiplomatemvalidade.Apesardasresistências,onú-

mero de formandos na meto-dologiadeveaumentar.Neste ano, 123 instituições

participaram do edital para oprograma Universidade Abertado Brasil, que autorizará aabertura de pólos presenciais—unidades aonde o aluno vaiesclarecer dúvidas ou fazerprova. Cerca de 80 serão auto-rizadosafuncionarem2008.Em três anos, ao menos 136

mil alunos sematricularam empedagogia ou normal supe-rior— cujos alunos podem terequivalênciaàpedagogia.

A Anfope (Associação Nacio-nalpelaFormaçãodeProfissio-nais daEducação)mandoucar-ta ao MEC contra a primeiragraduação do professor a dis-tância. A Anfope aceita que li-cenciaturas específicas, depoisda conclusão daprimeira facul-dade, sejamsemipresenciais.O MEC não determina a fre-

qüência com que os alunos de-vem ir aos pólos. Há desde ins-tituições com uma aula por se-mana até centros que fazem aavaliação presencial duas vezespor semestre. Isso significaque, nos cursos em que a fre-qüência é menor, o aluno podeseformarindo14vezesàaula.

Page 6: laços de família - Folha de S.Paulo · Produto final do 430 programa de treinamento em jornalismo diário ESPECIAL 1 ¤ SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007¤ ab laços de família

A10 novoemfolha SEXTA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2007 ef

ESPERA MÁXIMA

PARA COMER

XminTempo dasmaiores filas

Dias maistranqüilos

Dias maismovimentados

Bella Paulista - bufê(rua Haddock Lobo, 354)

30 min seg. a qui. (antesdas 19h) das 19h às 22h e nosfinais de semana pela manhã

9

Brasil à gosto (rua Prof.Azevedo do Amaral, 70)

40 min qua. e qui. ter,sex. e sáb. (das 20h às 22h) e finaisde semana no almoço (das 13h30às 16h)

7

Cantina Roperto(rua 13 de Maio, 634)

30 min seg. a qua. sáb.e almoço de dom (das 14h às 16h)

10

Cantina Conchetta(rua Treze de Maio, 560)

2h seg. a qua. sex. a dom.

1

Famiglia Mancini(rua Avanhandava, 81)

1h30 a 2h seg. a qua. sex. e sáb. e almoço de dom. (das13h às 15h)

2

Lellis Trattoria(rua Bela Cintra, 1849)

40 min ter. e qua. sex.a dom.

8

Mestiço (rua Fernando deAlbuquerque, 277)

1h seg. a qui. sex. e sáb.(das 21h às 23h30)

5

O Compadre (av. OttoBaumgart, 500, shopping Lar

Center)

1h30 a 2h seg. a qui. feriados e finais de semana

3

Pizzaria Avanhandava 34(rua Avanhandava, 34)

1h30 seg. a qua. qui. asáb. (das 21 à 0h30)

4

Walter Mancini(rua Avanhandava, 126)

40 min a 1h seg. aqua. sex. e sáb. e no almoço dedom. (das 14h às 15h)

6

Veja os outros 33estabelecimentos em:www.folha.com.br/071773

Dublin (rua Ministro JesuínoCardoso, 178)

1h30 seg. a qua. qui. asáb. (a partir das 23h)

1

El Kabong(rua Mateus Grou, 15)

1h seg. a qua. sex. a dom.

3

Jeremias(rua Avanhandava, 37)

30 min a 1h ter. sex. e sáb. (das 21h à 1h)

8

José Menino(rua Aspicuelta, 596)

1h qua. em dias quentes,principalmente nos finais desemana e terças

4

Zeppelin(rua Aspicuelta, 524)

40 min ter. a qui. sex. e sáb.

9

Posto 6(rua Aspicuelta, 644)

1h30 seg. a qua. sáb. (das21h às 3h) dom. (das 17h à 21h)

2

Ó do Borogodó(rua Horácio Lane, 21)

1h seg. sex. a dom.

5

Pacha(rua Mergenthaler, 829)

1h (para pagar, na saída)depende da atração da noite

das 1h20 às 2h40

6

Vegas(rua Augusta, 765)

40 min ter. a qui. sex. e sáb.

10

Vogue (av. Nova Faria Lima,4531)

1h só funciona às sex. e sáb. a partir das 23h

7

BARES E BALADAS

As dez filas maisdemoradasnoiteemsãopaulo

Paulistanogastaaté2horasdelazerna filaReportagempercorreuanoitepaulistanaecalculou:nadançadascadeirasdos restaurantes, aesperachegaaduashoras;embaresebaladas, édeatéumahoraemeia;noscinemas, a filapodechegara40minutos

tempoperdidoDicas de sobrevivência

FILA PASSO A PASSO

ROTA DE FUGA

>> Comemore:Aniversariantes têm prioridadenas filas das baladas. Tente tersempre um no grupo

>> Antecipe-se:Faça reserva ou compreingressos pela internet. Cadeirasnumeradas evitam a corridapelos melhores lugares

>> Chegue cedo:Muitas casas noturnaspermitem que os clientes saiame voltem. Garanta seu ingresso

>> Tenha um plano B:Atravesse a rua e espere a filadiminuir. Quase sempre há umbarzinho mais tranqüilo logo ali

>> Fuja de estréias:As filas costumam ser maioresnos primeiros dias de exibição

ETIQUETA DA FILA

>> Relaxe:Lembre-se de que você está alipor opção. Guarde os resmungose queixas para filas inevitáveis

>> Divirta-se:Vale aproveitar a fila parapaquerar, mas não exagere. Nemsempre a pessoa ao lado quercontato

>> Não abuse:A espera cria “novos velhosamigos”, mas evite pediremprestado celular, moedas eum gole da cerveja de quem vocêacabou de conhecer

>> Não fure fila:Caso não resista e seja flagrado,desista e volte para seu lugar.Nada de brigas: o erro foi seu

................................................................................................CLARAFAGUNDESDAEQUIPEDE TREINAMENTO

Esperar é parte da rotina delazer na noite paulistana. A re-portagemvisitou43estabeleci-mentos em oito noites e calcu-lou: sãodetrêsminutinhosa40no cinema, até duas horas emrestaurantes e umahora emeiaembaresebaladas.A maioria dos clientes recla-

ma. “Eume sinto passando porum funil... Estamos confina-dos”, diz Ana Paula Conti, 20,que desistiu da fila do El Ka-bong,emPinheiros.Mas na rua Avanhandava,

que concentra algumas dasmaiores filas visitadas, “osclientes já estão acostumadoscom a espera”, segundo YaraAlvarez, recepcionista do Fa-migliaMancini. Na quinta (14),às22h40,umadúziadepessoasaguardava na rua —a esperamédiaerademeiahora.O restaurante não aceita re-

servas, e a fila chega a duas ho-ras. OWalterMancini, logo emfrente, aceita. Mas os clientescostumamirsemreservaparaaAvanhandava e esperam nosdois restaurantes, na pizzaria enobar—dosmesmosMancini.Na Vila Madalena, bairro

campeão em fila de bares, o pú-blico costuma ter menos pa-ciência. Os seis bares visitadoscontam que, às vezes, perdemclientes para vizinhos com filamenor. O freguês vai para o barem frente, em busca de cervejageladae,quemsabe,umamesa.“Aqui não tem fila, não tem

mesa e, às vezes, acaba até o co-po”, brinca o garçom do Bassa,Sérgio Soares, numa quinta-feira de bar lotado. Semespaço,os clientes se espalhavam pelacalçada. Os copos não tinhamacabado.

MudançaderoteiroO movimento dos bares au-

menta com o calor. Quando fazfrio, as filasmigramparacafésepara os bufês, como o da Gale-riadosPãesedaBellaPaulista.Mas amudança não depende

apenas do tempo. “Pois os ba-res nascem, vivem, parecemeternos a umdeterminadomo-mento, emorrem”,comoescre-

veuocronistaPauloMendesdeCampos [“Os bares MorremnumaQuarta-feira”].Na Vila Olímpia, reduto das

baladas paulistanas, o movi-mento caiu em sete das oito ca-sas visitadasnosábado(16).Re-janeAlves, donadaVouge, con-ta quedecidiu abrir só às sextase sábados, “por causa do esva-ziamento da Vila Olímpia”. Háseis meses, a casa funcionavadeterçaadomingo.Só a Via Funchal não sente a

queda. “Nosso público é o pú-blico do show do dia, não de-

pende do movimento no bair-ro”, diz o gerente operacionalMarcosLivi.

SemfilaMas, mesmo sem lotação,

muitosclubes têmfilanaentra-da.Gerentes e donos juramquenão émarketing. “Éo tempodeabriracomanda”, justificam.Leo Sanchez, empresário da

noite há 30 anos, diz que o sis-tema americano —no qual ocliente compra o ingresso aoentrar e paga o consumo dire-tamente no bar— diminuiria as

filas de entrada e acabaria comas de saída. Para ele, amoda do“esquenta” (encontro para be-ber antes da balada) aumentouas filas: “Aqui na Pacha, 70%dos clientes chegamentre 1h20e2h40.Aí temfila”,diz.Os cinemas reconhecem que

a venda de cadeiras numeradasacabaria com a corrida pelosmelhores lugares. “Mas o pú-blico não está acostumado acomprar com antecedência”,diz Solange Nascimento, coor-denadora administrativadoCi-nesesc-SP.

WertherSantana/Folha Imagem

Para os amigos Tainara, Léo, Aline, Rafa, Toni, Mirna e Bruno, a espera é o melhor da festa

Oshowestavalotado,quente,Mirnadesmaiou...Agentenãotinhadormido,nemtinhacomobeberágua.Bommesmofoiafila!TAINARA,14adolescentequenãogostadoSimplePlan,masadorouafiladoshow

Obomdafilaéquesealguémestácomfome,comsede,todosajudam.MIRNA,15veteranadas filasdoSimplePlan,RDBeEvanescence

...........................................................................................DAEQUPEDE TREINAMENTO

Enquanto muitos recla-mam das filas, eles não per-dem uma. Chegam cedo paracurtir oqueconsideramome-lhor da festa. Parte do grupose conheceu na fila do showdo Simple Plan. Os primeiroschegaram na segunda noAnhembi: a banda tocaria nosábado. “Na quarta, já tinhaumas 50 pessoas lá. Era festatodanoite”,contaLéo,18.

Três meses e alguns showsdepois, se encontraramna filado Evanescence. Mirna, 15,diz que foi apenas “curtir a fi-la”, mas amigos fizeram “umavaquinha”paraoingresso.Nem sempre é fácil conci-

liar atividades. LéoeAline, 16,quase perderam o emprego:“Teve um show da MTV. Agente teve que faltar... Traba-lhandoà tarde,nãodava,né?”.Não tiveram dúvidas: falta-ram ao trabalho, mesmo sa-bendo que o chefe ia descon-fiardomal-estar súbito.Mirna não sabe ainda que

profissão escolher. Mas dizque, porora, guardar lugaremfila de show é o trabalho dosseussonhos.

LADOB

“Adoro filadeshow”

Vejaenqueteedepoimentosde leitores ) www.folha.com.br/ 071773