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 Práticas Sociais e Diversidade Telma Martins Peralta

LD Praticas Sociais e Diversidade

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LD Praticas Sociais e Diversidade

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  • Prticas Sociais e Diversidade

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    Instituies de Ensino Rede Laureate Brasil

    Business School So Paulo (BSP)CEDEPE Business School (CBS)Centro Universitrio Ritter dos Reis (UniRitter)Centro Universitrio do Norte (UNINORTE)Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS)Faculdade dos Guararapes (FG)Faculdade Unida da Paraba (UNPB)Centro Universitrio IBMRUniversidade Anhembi Morumbi (UAM)Universidade Potiguar (UnP) Universidade Salvador (UNIFACS)

    Telma M

    artins Peralta

    Telma Martins Peralta

    Fundao Biblioteca NacionalISBN 978-85-87325-45-7

  • Telma Martins Peralta

    Prticas Sociais e Diversidade

    EDITORA UNIFACS LaureateSalvador

    2013

  • Copyright 2013 da Laureate. permitida a reproduo total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n. 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituio Federal, art. 5, inc. XXVII e XXVIII, a e b.

    P426p

    Peralta, Telma Martins

    Prticas sociais e diversidade / Telma Martins Peralta. Salvador : UNIFACS, 2013.

    94 p. : il. ; 18,3x23,5. ISBN 978-85-87325-40-2

    1. Educao aspectos sociais. I. Ttulo.

    CDD: 371.19

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate International Universities)

  • SumrioA importncia do processo de socializao e a formao dos grupos sociais........................................................................5

    O processo de construo da identidade ....................................................17

    A organizao da sociedade: compreendendo a violncia existente .............................................................................................27

    Discutindo a questo da incluso social .......................................................39

    Educao, diversidade, incluso e seus desafios na educao .............51

    Diversidade sociocultural ...................................................................................65

    A criatividade no trabalho pedaggico diante das diversidades ........73

    A escola, o indivduo e a sociedade ...............................................................85

  • 5A importncia do processo de socializao e a formao dos grupos sociais

    IntroduoTodos os dias, a partir do momento em que acordamos, convivemos com pessoas,

    sejam elas da famlia, do trabalho, da escola, da igreja, ou mesmo em uma roda de amigos, nos momentos de lazer, tornando-nos, assim, seres sociais.

    Podemos dizer que o ser humano se socializa quando participa da vida em socieda-de, assimilando suas normas, valores e costumes.

    A socializao o processo pelo qual o mundo social, com seus mltiplos valores, passa a fazer parte de seu mundo interior.

    O processo de socializao ocorre dentro de uma sociedade, por meio das rela-es entre os indivduos, grupos sociais e instituies.

    Dentro dessa perspectiva, nesta unidade sero abordados os seguintes assuntos:

    o processo de construo da socializao;

    a percepo social do indivduo, assim como suas atitudes e mudanas;

    a formao dos grupos sociais.

    Durante o seu aprendizado haver reflexes, uma seo intitulada Saiba mais, alm de dicas de filmes e livros para que voc possa ampliar cada vez mais os conheci-mentos adquiridos nesta unidade.

  • 6ObjetivosAo final da unidade, espera-se que voc seja capaz de:

    compreender a abordagem sobre o processo de construo da socializao;

    estimular o confronto entre a teoria e a prtica relacionadas ao processo de socializao;

    refletir e observar com um olhar atento a nossa realidade social;

    compreender as manifestaes comportamentais por meio da interao pessoal;

    ampliar seus conhecimentos a respeito da formao e da importncia de per-tencer a um grupo social.

    O processo de construo da socializao comum ouvirmos que o indivduo, nos dias atuais, deve se socializar. Esse discurso

    prevalece em nosso meio social. Contudo, o que , de fato, o to falado processo de socializao? O que esse discurso vem a ser na prtica?

    Podemos dizer que, desde seu nascimento, o indivduo encontra-se inserido em um contexto social de trocas e constantes aprendizagens. Portanto, tal indivduo est exposto a crenas e valores de um grupo social no qual est inserido. assimilao das crenas, valores e costumes d-se o nome de socializao. Vale ressaltar que tal deno-minao procede da rea da Psicologia Social. no processo de socializao que nos apropriamos das formas institucionais do nosso contexto social (BOCK et al., 1999).

    A socializao pode ento ser definida como algo que internalizamos ao longo de nossa existncia, nas inmeras interaes com o mundo exterior.

    Bock et al. (1999, p.131) postulam (alegam, requerem) que a [...] cada encontro social, cada momento de comunicao e interao entre as pessoas so sempre mo-mentos de nosso processo de socializao, que ininterrupto no decorrer de nossas vidas. Logo, infere-se que estamos em constante processo de socializao com os nossos parceiros em todos os contextos de nossas vidas: no seio familiar, escolar e em todos os outros em que nos encontramos atrelados (unidos por vnculos fortes). Bock et al. (1998) salientam ainda que o perpassar (seguir certa direo; percorrer um cami-nho sem se deter) por diversos ncleos sociais agrega valores que compem a realida-de objetiva.

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    portncia do processo de socializao e a formao dos grupos sociais

    A Dra. Ana Mercs Bahia Bock possui um vasto currculo de pesquisa dedicada Psicologia Social.

    A autora Doutora e Mestre na rea de Psicologia Social, alm de ser professora titular do departamento de Psicologia Social da PUC-SP.

    Publicou o livro Psicologias: uma introduo ao estudo da Psicologia, no qual re-trata temas da atualidade sob a ptica da Psicologia.

    Para mais informaes, visite o site: . Acesso em: 29 out. 2011.

    Saiba mais

    necessrio que o esperado beb venha ao mundo para que ele inicie o processo de socializao?

    A percepo social dos indivduos por meio da percepo que formamos nossas impresses sobre outros

    indivduos.

    Essa percepo de suma importncia, pois permite darmos um sentido ao mundo social que nos rodeia e que tambm nos influencia diretamente.

    Nesse processo de percepo notamos as caractersticas de cada ser humano. Sendo assim, possvel concluirmos que todos os indivduos so objetos de percep-o. Infere-se ento que ocorre, nesse sentido, uma dinmica mtua: percebemos e somos objetos da percepo do outro.

    Dessa maneira, podemos analisar que a percepo social abrange os processos de cognio que tm como objetivo adquirir novos conhecimentos e abranger a percepo, a memria, a imaginao e o raciocnio, cujos conceitos abordaremos a seguir.

    Percepo corresponde aos estmulos que so transformados em imagens mentais.

  • 8 Memria local onde armazenamos nossas informaes, podendo ser ativa ou a longo prazo. A memria ativa fica em estado de alerta ou ateno, e a mem-ria a longo prazo composta por registros vividos com enfoque emocional.

    Imaginao reflexo das aes no qual busca-se solucionar problemas com-plexos por meio de operaes mentais.

    Raciocnio formado por nmeros, figuras, gestos e palavras. A manipulao desses smbolos uma atividade complexa realizada pelo indivduo.

    Como dito anteriormente, o ser humano estabelece relaes de significaes, atribuindo sentidos realidade em que se encontra. Dessa maneira, constri seus pontos bsicos de ancoragem, que do origem a outras formas de pensar. A partir do momento em que entramos em contato com a realidade atribumos significados aos novos fatos.

    Afinal, como ocorre o processo de percepo social?

    Podemos dizer que esse processo ocorre por meio do contato com o mundo, em que o indivduo organiza as informaes adquiridas na convivncia com o outro.

    Agora vamos identificar algumas impresses que obtemos a partir de nossa per-cepo, construda nas relaes sociais.

    Vejamos os exemplos a seguir:

    Executivo, estudante, mdico, guarda de trnsito e piloto.

    Ao processo de interiorizao das informaes pode se dar o nome de percepo. Assim, torna-se necessrio salientar que a percepo est ligada cultura em que o indivduo se encontra inserido.

    As atitudes fato que o indivduo possui informaes e as organiza de forma a faz-lo agir

    favoravelmente ou desfavoravelmente em relao s outras pessoas e aos objetos presentes no meio social (BOCK et al., 1999).

    importante destacar que as atitudes dependem de nossa percepo sobre o mundo social e que as relaes podem ocorrer amistosamente ou at mesmo em forma de conflito.

    As atitudes esto relacionadas ao que as pessoas sentem e pensam. Nesse aspecto, o comportamento est ligado tambm s normas sociais, forma de como agir.A

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    As mudanas de atitudesO indivduo est sempre em evoluo, ou seja, adquirindo constantemente novas

    informaes. Assim, normal que este adquira novas percepes, culminando em novas atitudes, fazendo com que reavalie pensamentos pr-formados.

    Como as atitudes so integradas por componentes cognitivos, afetivos e compor-tamentais comum que o indivduo assuma inmeras mudanas de atitudes, seja por meio de uma nova experincia ou mesmo por uma nova informao.

    E quanto a voc? Quo aberto (a) voc est em relao mudana de atitudes no seu universo vivencial? Nas amizades, nas relaes de trabalho e nas relaes afetivas?

    A formao dos grupos sociaisNs, seres humanos, somos, por excelncia, seres sociais. Estamos em constante

    construo e pertencemos a diferentes universos sociais. Pode-se definir grupos sociais como pequenas organizaes de indivduos que, possuindo objetivos comuns, desenvolvem aes na direo desses objetivos (BOCK et al., 1999). Nos grupos sociais esto presentes o coletivismo, as normas, os ideais comuns e a unio do grupo do qual se participa.

    As pessoas pertencentes a um grupo social interagem de forma a aceitar as pres-cries ditadas por esse mesmo grupo. Assim sendo, aceitam direitos, obrigaes e normas de procedimentos condizentes realidade do grupo ao qual pertencem.

    Pode-se dizer que ns construmos uma histria ao longo de nossa existncia. Portanto, essa histria de vida est atrelada ao fato de pertencermos a inmeros grupos sociais como: famlia, escola igreja e trabalho. Evidentemente, perpassamos por diversos outros ncleos sociais que nos auxiliam na construo de nossa identidade, mas abordaremos, aqui, as descritas anteriormente.

    FamliaA famlia o primeiro grupo social com o qual nos deparamos aps o nascimento.

    Podemos dizer que ela a responsvel por nossa preparao para o mundo externo. Ela contribui no que diz respeito construo de nossa essncia.

  • 10

    Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) formou-se em Direito, Histria e Filo-sofia nas Universidades de Moscou e A. L. Shanyavskii, respectivamente. Comeou sua carreira aos 21, em Gomel, no perodo de 1917 a 1923. Lecionou Literatura, Cincias e Psicologia. Preocupava-se com as questes ligadas Pedagogia.

    Vygotsky enfatiza o processo histrico-social e a linguagem no desenvolvimento do indivduo. No decorrer do seu trabalho foi um psiclogo experimental, uma caracterstica marcante em suas construes tericas.

    A teoria de Vygotsky chega ao ocidente por meio dos livros: Pensamento e Linguagem (1993) e A Formao Social da Mente (1991).

    Segundo Papalia (2006, p. 726) [...] a famlia a fonte primordial de apoio emocional e quando esse apoio no est presente ou os relacionamentos com a famlia so pobres ou ausentes, os efeitos negativos podem ser profundos.

    A necessidade de um grupo de referncia no qual ocorram relaes diretas de ajuda mtua, amparo e trocas afetivas, cognitivas e valorativas fundamental para a vida da pessoa e para a relao com o outro, ou seja, para o relacionamento inter-pessoal. Vygotsky (1998) atribui grande importncia ao papel da interao social ao desenvolvimento humano. Rego (1995), referindo-se s premissas vygotskianas, ma-nifesta-se dizendo: O desenvolvimento est intimamente relacionado ao contexto sociocultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinmica (e dialtica) atravs de rupturas e desequilbrios provocadores de contnuas reorganizaes por parte do indivduo.

    Assim sendo, o indivduo se desenvolve em constantes trocas com seus parceiros. Para Rego (1995, p. 93) [...] a premissa de que o homem constitui-se como tal atravs de suas interaes sociais, portanto, visto como algum que transforma e transformado nas relaes produtivas em uma determinada cultura.

    Pode-se dizer que as normas de comportamento diferem de famlia para famlia. Em cada grupo familiar, seus integrantes se reconhecem biologica e culturalmente, pois cada grupo possui uma determinada cultura.

    Percebe-se, ento, a importncia do papel da famlia como primeiro ncleo das relaes sociais.

    Saiba mais

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    Vygotsky contribuiu nas reflexes sobre o desenvolvimento e relao com a aprendizagem no meio social e tambm sobre o desenvolvimento do pensamento e da linguagem.

    Para saber mais a respeito da vida e obra de Vygotsky, acesse:

    . Acesso em: 29 out. 2011.

    . Acesso em: 29 out.2011.

    EscolaA escola outro ncleo de grande importncia nas relaes sociais que o indiv-

    duo estabelece com o mundo.

    Quando a criana inicia o seu processo escolar, leva o que aprendeu durante a convivncia com seus familiares. O ambiente escolar, assim como o familiar, ser fun-damental em seu processo de desenvolvimento cognitivo e social.

    A instituio escolar exerce o papel de formao dos valores sociais. na escola que o indivduo tem a apreenso do conhecimento formal, isto , a escola exerce um espao de formao contnua.

    IgrejaA igreja constitui um grupo social de grande importncia para muitos. As pessoas

    pertencentes a esse grupo, alm de comungarem com os preceitos ditados por ele, esto em consonncia com as suas normas e seus valores.

    O conhecimento religioso faz parte do patrimnio da humanidade, promovendo oportunidades para que o indivduo seja tambm capaz de adquirir formao de ati-tudes e valores.

    A crena em algum tipo de divindade e o sentimento religioso so fenmenos comuns a todas as pocas e lugares do planeta.

    Cada pessoa tem, em sua respectiva crena religiosa, um fator de estabilidade, de aceitao e obedincia s normas para que enfim alcance equilbrio. Dessa forma, ao longo do tempo, o indivduo vai internalizando valores e crenas e, consequente-mente, permitindo construir padres de comportamento.

  • 12

    TrabalhoA pessoa, no segmento profissional, interage em um ambiente de trabalho no

    qual existem regras bsicas para sua integrao dentro de um determinado grupo. Nesse universo estaro em jogo habilidades, conhecimentos adquiridos ao longo de sua existncia, valores, comportamentos e atitudes agregados.

    A socializao dentro desse grupo social profissional contribui significativamente para que haja um bom relacionamento entre o indivduo e a organizao no qual est inserido.

    Podemos ento concluir que o ser humano um ser social e se organiza em grupos. No grupo profissional tendemos a mediar, negociar, criar, participar, liderar e decidir. Todos esses atributos esto presentes nesse grupo social.

    A construo do ser social, feita em boa parte pela educao, a assimilao pelo indivduo de uma srie de normas e princpios sejam morais, religiosos, ticos ou de comportamento que balizam a conduta do indivduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, produto dela.

    Sabia mais sobre mile Durkheim em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    Dicas de filmes

    A Guerra do Fogo, de Hugh Hudson, 1981. Filme que aborda, nos primrdios da humanidade, grupos de homindeos que disputam a posse do fogo.

    O Filho da Noiva, de Juan Jos Campanella, 2001. O filme conta a histria de Rafael, um quarento estressado que, depois de sofrer um enfarte, resolve colocar sua vida em ordem. nesse momento que recebe a visita de um amigo de infncia engraado e tenta reconquistar sua filha e sua namorada.

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    O Garoto Selvagem, de Franois Truffaut, 1970. O filme conta a his-tria de Victor de Aveyron, menino at ento sem nenhum contato com humanos, capturado numa floresta francesa.

    O Pescador de Iluses, de Terry Gilliam, 1991. Esse filme exibe como os valores e atitudes mudam o comportamento das pessoas.

    Dicas de livros

    FREEDMAN; CARLSMITH; SEARS. Psicologia Social. So Paulo: Cultrix,1970.

    LANE, Silvia T. M. O que Psicologia Social. So Paulo: Brasiliense, 1986.

    MARTINS, Carlos B. O que Sociologia. So Paulo: Nova Cultural/Brasiliense, 1986.

    Dicas de vdeos

    DEL PRETTE, Zilda A. P. Habilidades Sociais So Vitais para se Relacionar com o Mundo. Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    GILBERT, Dan. As Emoes Humanas. Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    Sntese

    A socializao um processo que ocorre na interao com outras pessoas, sendo que necessria ao desenvolvimento do ser humano. Precisamos interagir com o outro para assimilarmos normas, valores e costumes de diferentes grupos sociais.

  • 14

    Podemos dizer que passamos a perceber o outro e, no instante em que o perce-bemos, tambm passamos a ser objeto de percepo.

    As atitudes que temos acerca das relaes que nos envolvem esto intimamente relacionadas nossa percepo social enquanto indivduos. No entanto, elas podem ser modificadas ao longo do tempo, de acordo com as nossas experincias e a vivncia no nosso meio social. As atitudes do indivduo geralmente esto atreladas ao meio social no qual ele est inserido.

    O comportamento humano complexo. Todos ns recebemos influncias do meio social em que vivemos e agimos de acordo com o que aprendemos ao longo de nossa existncia. importante frisar que o indivduo aprende com os seus afins, mas as regras podem ser mudadas ao longo do processo da existncia.

    importante salientar tambm que, ao longo da vida, as pessoas participam de vrios grupos sociais. O primeiro contato do indivduo com a famlia, depois ele vai para a escola, ambiente em que ir aprender com outras pessoas de universos familiares distintos. Podemos citar tambm a igreja como outro grupo social, alm do profissional, em que o indivduo ir interagir com pessoas diferentes, mas que possuem objetivos comuns.

    Podemos concluir que o contato social, ou seja, a interao entre os indivduos indispensvel ao crescimento do ser humano, uma vez que nesse contexto que h a troca de todos os aspectos e o respeito em relao a diferena entre os indivduos, tornando possvel a vida em sociedade.

    Referncias

    BOCK, Ana Mercs Bahia et al. Psicologias: uma introduo ao estudo da Psicologia. 13. ed. So Paulo: Saraiva, 1999. Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    BOCK, Ana Mercs Bahia. Psicologa para Amrica Latina. Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    DEL PRETTE, Zilda A. P. Habilidades Sociais Vitais para se Relacionar com o Mundo. In: Saia Justa (GNT), 2011. Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    FERRARI, Mrcio. Lev Vygotsky, o Terico do Ensino como Processo Social. Dispo-nvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

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    portncia do processo de socializao e a formao dos grupos sociais

    ______. mile Durkheim, o Criador da Sociologia da Educao. Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    GILBERT, Dan. As Emoes Humanas. In: Saia Justa (GNT). Disponvel em: . Acesso em: 29 out. 2011.

    PAPALIA, Diane E. et al. Desenvolvimento Humano. Traduo de: BUENO, Daniel. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

    REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histrico-cultural da educao. 7. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 1995.

  • 17

    O processo de construo da identidade

    IntroduoNs, seres humanos, transformamo-nos a cada momento por meio da relao

    com o meio social. Ao longo do tempo adquirimos caractersticas de representao a respeito de ns mesmos. Assim, vamos construindo a nossa identidade.

    Podemos dizer que tentamos, como seres humanos nos identificar e construir, reconstruir e integrar uma sociedade.

    Diante disso, os assuntos a serem abordados nesta unidade sero:

    o processo de construo de identidade;

    a concepo de identidade.

    Para aprimorar seus conhecimentos voc contar com uma leitura complementar, vdeo, reflexes, uma seo intitulada Saiba mais, dicas de filmes e livros para que voc atinja os objetivos esperados neste curso.

    ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que voc seja capaz de:

    compreender os pressupostos tericos sobre o processo de construo de identidade;

    refletir sobre a questo da identidade sob vrios aspectos da realidade social;

    compreender a importncia da interao social na construo da identidade.

  • 18

    O processo de construo da identidadeO homem primeiramente existe, se descobre, surge

    no mundo; e s depois se define.

    Jean-Paul Sartre

    Iniciaremos esta unidade com a seguinte questo: Quem somos ns? A identi-dade nos caracteriza como seres nicos?

    No decorrer desta unidade, esperamos que voc aproveite para aprender e am-pliar os seus conhecimentos sobre a questo.

    Bock et al. (1999, p. 145) definem identidade como uma [...] denominao dada s representaes e sentimentos que o indivduo desenvolve a respeito de si prprio, a partir do conjunto de suas vivncias. Para os autores, a identidade a sntese pessoal sobre si mesmo, incluindo dados pessoais (cor, sexo, idade etc.), biografia (trajetria pessoal), atributos que os outros lhe conferem, permitindo, dessa forma, uma repre-sentao a respeito de si.

    Os indivduos, ao se depararem com a pergunta quem somos ns?, podem levar em considerao inmeros aspectos para defini-la, como: aspectos psicolgicos, traje-tria pessoal e de sentimentos e preferncias que afloram a partir do convvio com o outro.

    O ser humano dotado de racionalidade, o que lhe permite conhecer, ter vontade prpria e fazer escolhas que sofrem inmeras mudanas ao longo do tempo.

    A capacidade do ser humano em agir com autonomia diante das situaes im-plica responsabilizar-se pelas escolhas feitas, ou seja, o ser humano dotado do livre- -arbtrio. Portanto, caber ao indivduo a deciso sobre qual caminho ser percorrido.

    As concepes de identidade Hall (2001, p. 10) apresenta trs concepes de identidade, a saber:

    sujeito do Iluminismo;

    sujeito sociolgico;

    sujeito ps-moderno.

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    O processo de construo da identidade

    A concepo do indivduo no Iluminismo baseava-se numa [...] concepo de pessoa humana como um indivduo totalmente centrado, unificado, dotado das capa-cidades de razo, de conscincia e de ao (HALL, 2011, p. 10).

    Assim sendo, a identidade de uma pessoa era o centro essencial do eu, sendo, portanto, uma concepo individualista.

    A ideia de sujeito sociolgico refletia [...] a crescente complexidade do mundo moderno e a conscincia de que esse ncleo interior do sujeito no era autnomo e autossuficiente (HALL, 2001, p. 11), mas formava-se na relao com outros sujeitos que mediavam para ele valores, sentidos e smbolos a cultura dos mundos que ele/ela habitava (HALL, 2001, p. 11).

    Dentro da concepo sociolgica, a identidade formada na interao entre o eu e a sociedade.

    Na concepo ps-moderna, o sujeito no possui identidade fixa, essencial ou permanente. Assim, [...] a identidade torna-se uma celebrao mvel: formada e transformada continuamente em relao s formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (HALL, 1987, p. 12-13). Rajagopalan (2003, p. 71) corrobora com a mesma ideia dizendo:

    Entre os pesquisadores que se interessam pela questo da identidade, j no h mais quem, em s conscincia, acredite que as identidades se apresentam como prontas e acabadas. Pelo contrrio, acredita-se, em larga escala, que as identidades esto, todas elas, em permanente estado de transformao, de ebulio. Elas esto sendo constantemente reconstrudas. Em qualquer momento dado, as identidades esto sendo adaptadas e adequadas s novas circunstncias que vo surgindo. A nica forma de definir uma identidade em oposio a outras identidades em jogo. Ou seja, as identidades so definidas estruturalmente. No se pode falar em identidade fora das relaes estruturais que imperam em um momento dado.

    Portanto, o indivduo assume [...] identidades diferentes em diferentes momen-tos, identidades que no so unificadas ao redor de um eu coerente (HALL, 2011, p. 13). Infere-se, ento, que a identidade plenamente unificada, completa, segura e coe-rente uma fantasia (HALL, 2011, p. 13).

    Podemos considerar, ento, que a relao com o outro, constitutivamente dife-rente, de suma importncia formao do indivduo.

    Bock et al. (1999) afirmam que o primeiro contato do indivduo com o mundo ex-terior se d por meio da famlia, conforme estudado na unidade 1. Portanto, comum que nos identifiquemos com diferentes indivduos, de diferentes ncleos sociais ao longo de nossa existncia. Passamos, muitas vezes, a interiorizar o que para ns so caractersticas importantes de tais indivduos. Tais referncias, ao longo da vida, contri-buem para a formao da nossa identidade. Hall (2001, p. 39), em relao a essa ques-to, diz: A identidade surge no tanto da plenitude da identidade que j est dentro

  • 20

    de ns como indivduos, mas de uma falta de inteireza que preenchida a partir de nosso exterior, pelas formas atravs das quais ns imaginamos ser vistos por outros. Para o autor (HALL, 2001, p. 11), [...] o sujeito ainda tem um ncleo ou essncia inte-rior que o eu real, mas este formado e modificado num dilogo contnuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que os mundos oferecem.

    possvel afirmar que a identidade algo formado por meio de processos inconscientes, e no algo inato, ou seja, existente na conscincia no momento do nascimento?

    Leia parte do poema de Joo Cabral de Melo Neto que retrata a temtica social da misria do serto nordestino.

    Leitura complementar

    O meu nome Severino,

    como no tenho outro de pia.

    Como h muitos Severinos,

    que santo de romaria,

    deram ento de me chamar

    Severino de Maria

    como h muitos Severinos

    com mes chamadas Maria,

    fiquei sendo o da Maria

    do finado Zacarias.

    Mais isso ainda diz pouco:

    h muitos na freguesia,

    por causa de um coronel

    que se chamou Zacarias

    e que foi o mais antigo

    senhor desta sesmaria.

    Como ento dizer quem falo

    ora a Vossas Senhorias?

    Vejamos: o Severino

    da Maria do Zacarias,

    l da serra da Costela,

    limites da Paraba.

    Mas isso ainda diz pouco:

    se ao menos mais cinco havia

    com nome de Severino

    filhos de tantas Marias

    Morte e vida severinaJoo Cabral de Melo Neto

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    O processo de construo da identidade

    Disponvel em: .

    mulheres de outros tantos,

    j finados, Zacarias,

    vivendo na mesma serra

    magra e ossuda em que eu vivia.

    Somos muitos Severinos

    iguais em tudo na vida:

    na mesma cabea grande

    que a custo que se equilibra,

    no mesmo ventre crescido

    sobre as mesmas pernas finas

    e iguais tambm porque o sangue,

    que usamos tem pouca tinta.

    E se somos Severinos

    iguais em tudo na vida,

    morremos de morte igual,

    mesma morte severina:

    que a morte de que se morre

    de velhice antes dos trinta,

    de emboscada antes dos vinte

    de fome um pouco por dia

    (de fraqueza e de doena

    que a morte severina

    ataca em qualquer idade,

    e at gente no nascida).

    Somos muitos Severinos

    iguais em tudo e na sina:

    a de abrandar estas pedras

    suando-se muito em cima,

    a de tentar despertar

    terra sempre mais extinta,

    a de querer arrancar

    alguns roado da cinza.

    Mas, para que me conheam

    melhor Vossas Senhorias

    e melhor possam seguir

    a histria de minha vida,

    passo a ser o Severino

    que em vossa presena emigra.

    Nesse poema o retirante Severino tenta definir quem ele realmente , mas por conta disso, traz tambm a sua realidade social.

    Assista verso do poema feita em forma de desenho, disponvel em: .

    Para saber mais sobre o pernambucano Joo Cabral de Melo Neto, acesse: .

  • 22

    Dicas de filmes

    Escritores da Liberdade, Richard LaGravenese, 2007. O filme narra a histria da professora G e seus alunos. No meio de tanta violncia, desi-gualdade e desprestgio, a professora lana o olhar para as experincias daqueles jovens, motivando-os a ler e escrever sobre suas vidas, resul-tando em valores um tanto quanto esquecidos pela direo da escola.

    Sem Identidade, de Jaume-Collet Serra, 2011. A histria desenrola- -se com a volta do Dr. Martin Harris, o qual acorda depois de um acidente de carro em Berlim e descobre que a sua mulher subitamente j no o reconhece e outro homem assumiu a sua identidade.

    Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir, 1989. Um ex-aluno se torna professor de Literatura em uma tradicional escola preparatria. Os seus mtodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmo cria um choque com a ortodoxa direo do colgio.

    O Sorriso de Monalisa, de Mike Newell, 2003. Julia Roberts atua como uma professora recm-graduada que consegue emprego em um conceituado colgio. Incomodada com o conservadorismo da sociedade e do prprio colgio, decide lutar contra as normas e acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios.

    Dicas de livros

    ACKERMAN, Larry. Cdigo da Identidade. So Paulo: Rocco, 2006.

    CIAMPA, Antnio da Costa. A Estria do Severino e a Histria da Severina. So Paulo: Brasiliense, 1987.

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    O processo de construo da identidade

    Sntese

    A identidade acontece na interao entre o eu e a sociedade em que vivemos. O sujeito possui um ncleo que o eu real, mas sofre modificaes contnuas em relao ao mundo exterior. Somos formados e modificados num dilogo contnuo com diferentes mundos exteriores e com as identidades que tais mundos oferecem.

    Assim, a identidade algo que vai se formando ao longo do tempo. Ela est sempre em transformao e em movimento. Podemos dizer que assumimos mltiplas identidades em diferentes momentos. Ento, dentro de ns h identidades contradit-rias que nos conduzem para diferentes direes.

    interessante perceber que, ao longo da nossa existncia, vamos nos construin-do e participando da construo do coletivo. A comunicao, nesse aspecto, impres-cindvel. por meio dela que vamos construindo relacionamentos, construindo afetos e desafetos e vamos, alm disso, aprendendo nesse processo interativo. Essa uma condio do processo de construo da identidade.

    Ento, dizer que a identidade, como afirma Stuart Hall, [...] plenamente unificada, completa, segura e coerente uma fantasia de fato uma fantasia, um devaneio. Se sentimos que somos plenos do nascimento morte porque construmos uma histria, no mnimo cmoda, acerca de ns mesmos. E bastante confortvel pensar dessa forma, mas totalmente ilusria.

    Referncias

    BOCK, Ana Mercs Bahia et al. Psicologias: uma introduo ao estudo da Psicologia. 13 ed. So Paulo: Saraiva, 1999. Disponvel em: . Acesso em: 31 out. 2011.

    HALL. Stuart. A Identidade Cultural na Ps-Modernidade.Traduo de: SILVA, Tomaz Tadeu da; LOURO, Guaracira Lopes. 5. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

    NETO, Joo Cabral de Melo. Morte e Vida Severina. Cultura Brasileira. Disponvel em: . Acesso em: 31 out. 2011.

    MEC. TV Escola. Morte e Vida Severina: audiovisual da obra-prima de Joo Cabral de Melo Neto. Disponvel em: . Acesso em: 31 out. 2011.

  • 24

    RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma Lingustica Crtica: linguagem, identidade e a questo tica. So Paulo: Parbola editorial, 2003.

    RELEITURAS. Resumo Biogrfico e Bibliogrfico de Joo Cabral de Melo Neto. Dis-ponvel em: . Acesso em: 31 out. 2011.

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    A organizao da sociedade: compreendendo a violncia existente

    IntroduoA sociedade contempornea vivencia momentos preocupantes e inquietantes

    sobre a questo da violncia. Grande parte das pessoas sente-se insegura e define lugares que podem frequentar e outros que so considerados perigosos, sendo aconselhvel no frequentar. Podemos ressaltar que a violncia est onipresente no cotidiano contemporneo.

    A violncia no uma preocupao exclusivamente de nossa sociedade, mas um tema que circula na vida cotidiana de diversas outras sociedades, tanto nos pases pobres como nos desenvolvidos.

    Em relao a isso, abordaremos nesta unidade os seguintes assuntos:

    a agressividade e a violncia;

    a violncia na famlia;

    a violncia na escola;

    a violncia nas ruas.

    Haver tambm: reflexes, vdeo, sesses intituladas Saiba mais, dicas de filmes e livros para que voc amplie seus conhecimentos e, assim, a questo em foco possa ser ampliada.

    ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que voc seja capaz de:

    entender o conceito de agressividade e violncia abordados neste contexto;

  • 28

    refletir sobre a violncia do ponto de vista da realidade social;

    compreender diferentes fatores relacionados violncia;

    destacar os fatores e a importncia da famlia na questo da violncia;

    analisar a violncia no ambiente escolar;

    refletir sobre a violncia nas ruas e a insegurana que permeia a sociedade.

    A agressividade e a violnciaA no violncia a mais alta qualidade de orao. A riqueza no pode consegui-la,

    a clera foge dela, o orgulho devora-a, a gula e a luxria ofuscam-na, a mentira a esvazia,

    toda a presso no justificada a compromete.

    Mahatma Gandhi

    A psicanlise explica: o ser humano agressivo por excelncia e podemos avali- -lo pela forma como ele se manifesta diante das mais diversas situaes (BOCK et al., 1999). A agressividade constituda por impulso que pode voltar-se para fora: a heteroagresso consumao de atos destrutivos dirigidos ao mundo exterior; ou para dentro do indivduo: a autoagresso agresso que tem por objeto o prprio agressor (BOCK et al., p. 330).

    Esses mesmos autores ampliam as colocaes acerca da agressividade dizendo:

    A agressividade sempre est relacionada com as atividades de pensamento, imaginao ou de ao verbal e no verbal. Portanto, algum muito bonzinho pode ter fantasias altamente destrutivas, ou sua agressividade pode manifestar-se pela ironia, pela omisso de ajuda, ou seja, a agressividade no se caracteriza exclusivamente pela humilhao, constrangimento ou destruio do outro, isto , pela ao verbal ou fsica sobre o mundo (BOCK et al. 1999, p. 330).

    fato que o indivduo aprende a no express-la de forma descontrolada no seio da famlia e, tambm, na escola. Vale ressaltar a importncia do processo de sociali-zao na internalizao de controle do indivduo, conforme salientado na Unidade 1. Como j visto, em todos os grupos sociais existem mecanismos de controle ou punio dos comportamentos agressivos no valorizados pelo grupo.

    Assim sendo, faz-se necessrio que a sociedade crie condies favorveis para ca-nalizar os impulsos destrutivos para a no manifestao da violncia nas mais diversas esferas. importante lembrar que a violncia pode ocorrer nas mais diversas esferas do contexto social, como: no incentivo competio escolar e no mercado de trabalho, no culto a beleza voltada ao pblico feminino. Pode-se dizer tambm que:A manuteno da violncia ocorre quando se conserva milhes de cidados em condies subuma-

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    A organizao da sociedade: com

    preendendo a violncia existente

    nas de existncia, o que acaba por desencadear ou determinar a prtica de delitos associados sobrevivncia (roubar para comer, a prostituio precoce de crianas e jovens) (BOCK et al.,1999, p. 331).

    Vale ressaltar que a temtica da violncia no se relaciona exclusivamente prtica de delitos e criminalidade. Pode-se enfatizar tambm as condies de vida pouco propcias que inmeras vezes levam as pessoas autodestruio (drogas, lcool e suicdio). H de se considerar, tambm, a violncia no interior da famlia, escola, trabalho, polcia, ruas etc.

    Portanto, a palavra violncia remete a uma ao do ser humano. No momento em que age, exerce-se a violncia ou no. No h uma posio intermediria. Entender a violncia que vigora no seio de nossa sociedade uma tarefa que nos coloca diante da prpria essncia do ser humano.

    E voc? Voc j vivenciou alguma situao que poderia estar enquadrada como uma prtica de violncia?

    A violncia na famliaA famlia exerce um papel fundamental na vida do indivduo. Os pais so os

    primeiros modelos de padres de conduta em nossa cultura, fazendo com que as pessoas internalizem a forma de procedimento desse grupo social.

    Bock et al. (1999, p. 334), referindo-se violncia no interior da famlia, fazem a seguinte colocao:

    No interior da famlia, lugar mitificado em sua funo de cuidado e proteo, existem muitas outras formas de violncia alm da fsica e sexual; ou seja, h o abandono, a negligncia, a violncia psicolgica, isto , condies que comprometem o desenvolvimento saudvel da criana e do jovem.

    A negao do afeto exerce um fator importante na questo da violncia. A violncia crescente dentro do ambiente familiar algo que chama a ateno de autoridades e de pesquisadores. Tal fenmeno no est apenas circunscrito pobreza, embora se destaque em termos estatsticos.

    Dentro desse contexto, Carvalho et al. (2010, p. 31-32) ressaltam que existem outras formas de violncia. So elas:

    Violncia fsica ocorre quando algum causa ou tenta causar dano por meio de fora fsica, de algum tipo de arma ou instrumento que possa causar leses internas, externas ou ambas.

    Violncia psicolgica inclui toda ao ou omisso que causa ou visa causar dano autoestima, identidade ou ao desenvolvimento da pessoa.

  • 30

    Negligncia a omisso de responsabilidade de um ou mais membros da famlia em relao a outro, sobretudo queles que precisam de ajuda por questes de idade ou alguma condio fsica, permanente ou temporria.

    Violncia sexual toda ao na qual uma pessoa, em situao de poder, obriga outra realizao de prticas sexuais, utilizando fora fsica, influncia psicolgica ou uso de armas ou drogas.

    A famlia considerada um lugar de amparo e cuidados, mas, infelizmente existem muitos casos em que no o que acontece na realidade. (BOCK, 1999, p. 334). no ambiente familiar que muitas crianas e adolescentes sofrem experincias de violncia: a negligncia, os maus-tratos, a falta de ateno, a violncia psicolgica, a agresso fsica, o abuso sexual so apenas alguns exemplos. Vale ressaltar que a violncia no um fenmeno apenas dos dias atuais e que atinge todas as classes sociais.

    possvel afirmar que o modelo de famlia vigente em nossa sociedade carac-teriza-se pela ausncia de afeto, fundamental para o desenvolvimento saudvel da criana e do jovem?

    possvel inferir que a primeira violncia para com a criana seria a negao do afeto, ingrediente essencial para sua sobrevivncia psquica?

    Saiba mais

    Declarao dos direitos da crianaNo dia 20 de novembro de 1959, representantes de centenas de pases aprova-

    ram a Declarao dos Direitos da Criana.

    Nesta unidade, destacamos o artigo 6. da declarao, no qual consta o direito a ter uma famlia e a importncia dela para a criana:

    Artigo 6.Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criana

    precisa de amor e compreenso. Criar-se-, sempre que possvel, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hiptese, num ambiente de afeto e de segu-rana moral e material, salvo circunstncias excepcionais, a criana da tenra idade no ser apartada da me. sociedade e s autoridades pblicas caber a obrigao de A

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    A organizao da sociedade: com

    preendendo a violncia existente

    propiciar cuidados especiais s crianas sem famlia e quelas que carecem de meios adequados de subsistncia. desejvel a prestao de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manuteno dos filhos de famlias numerosas.

    Para ler a Declarao do Direito da Criana na ntegra, acesse o site: .

    Lei 8.069/90A Presidncia da Repblica dispe a Lei 8.069 de 13 de Julho de 1990:

    Captulo III

    Do Direito Convivncia Familiar e Comunitria

    Seo I

    Disposies GeraisArt. 19. Toda criana ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio

    da sua famlia e, excepcionalmente, em famlia substituta, assegurada a convivncia familiar e comunitria, em ambiente livre da presena de pessoas dependentes de substncias entorpecentes.

    1. Toda criana ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhi-mento familiar ou institucional ter sua situao reavaliada, no mximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciria competente, com base em relatrio elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma funda-mentada pela possibilidade de reintegrao familiar ou colocao em famlia substi-tuta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Includo pela Lei 12.010, de 2009) Vigncia.

    2. A permanncia da criana e do adolescente em programa de acolhimento institucional no se prolongar por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciria. (Includo pela Lei 12.010, de 2009) Vigncia.

    3. A manuteno ou reintegrao de criana ou adolescente sua famlia ter preferncia em relao a qualquer outra providncia, caso em que ser esta includa em programas de orientao e auxlio, nos termos do pargrafo nico do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Includo pela Lei 12.010, de 2009) Vigncia.

    Disponvel em: .

  • 32

    A violncia na escolaA instituio escolar um espao para a socializao e a construo dos saberes.

    Existe uma tenso entre o sistema escolar que vigora em nossa sociedade e as expecta-tivas dos discentes. Estes, muitas vezes, deparam-se, na escola, com regras de conduta adversas realidade em que vivem.

    Segundo Abramovay (2005, p. 29), h dois fatores fundamentais que contribuem para a singularidade da violncia na escola.

    Primeiramente, h que se observar como determinado o papel do aluno na dinmica escolar. A escola estabelece normas que visam organizar o seu funcionamento, mas que, na maioria das vezes, no conseguem responder aos seus objetivos e, alm disso, so formuladas e implementadas de forma unilateral, sem se considerar a palavra do aluno, o mesmo pode-se dizer em relao s punies.

    Um segundo ponto de conflito a falta de dilogo dos adultos da escola, representados por professores, diretores e outros membros do corpo tcnico pedaggico, com os jovens. Demonstra-se um desinteresse pela cultura, condies e vida dos jovens, o que vai alm da sua identidade como aluno. comum a escola rotul-los como sujeitos-problema, ou seja, indivduos com atitudes e comportamento estranhos instituio, como se a escola no fosse corresponsvel da forma de ser desses. A escola tende a considerar a juventude como um grupo homogneo, socialmente vulnervel, desprotegido, sem oportunidades, desinteressado e aptico. Desconsidera-se o que ser jovem, inviabilizando a noo do sujeito, perdendo a dimenso do que a identidade juvenil, a sua diversidade e as diversas desigualdades sociais.

    Logo, possvel notarmos que a as atitudes de estudantes, docentes e membros da direo devem estar vinculadas ao dilogo que todas as situaes demandam. Isso poder ser atingido a partir de normas e dinmicas que considerem todos os integrantes do ambiente escolar.

    Reflexo

    E voc? J parou para pensar no modelo de educao que vigora em nossa so-ciedade atual? Tal sistema prioriza as necessidades dos jovens de forma geral?

    A instituio escolar tem como base dar continuidade ao processo de socializao, iniciado na famlia. Nesse sentido, Bock (1999, p. 335) assevera que:

    [...] a violncia manifesta-se de modo mais sutil na relao das crianas e dos jovens com os contedos a serem aprendidos, que podem no ter significado para sua vida; na relao com professores, que se caracteriza por prticas autoritrias e sem espao para o dilogo, para a crtica; na relao com prticas disciplinares que buscam a sujeio do educando, a submisso, a docilidade, a obedincia, o conformismo.

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    A organizao da sociedade: com

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    Assim, pode-se dizer que a escola, muitas vezes, no se encontra em consonncia com os valores reais da vida dos indivduos. Para Abramovay (2005, p. 30) [...] a convivncia na escola pode ser marcada por agressividade e violncias, muitas vezes, naturalizadas e banalizadas, comprometendo a qualidade do ensino-aprendizagem.

    Reflexo

    possvel suscitar a questo de que a maior violncia exercida pela escola atual impedir que os alunos pensem e, portanto, se expressem, levando-os a verbalizarem apenas contedos ministrados durante as aulas? A decoreba prevalece no seio da escola atual?

    Vale ressaltar a questo de crianas e jovens menos favorecidos que, muitas vezes, no conseguem atingir o repertrio ministrado pela escola. Pode-se citar, como exemplo, os inmeros jovens que trabalham nas ruas buscando meios para sobreviver e para levar o sustento para suas prprias casas. O saber desses jovens negligenciado pela escola.

    Bock et al. (1999, p. 335), em relao s crianas e jovens que no conseguem o desempenho escolar esperado, pronunciam-se dizendo:

    Essas crianas e jovens, que acabam no conseguindo um desempenho escolar esperado, so percebidos como incapazes, so transferidos para classes especiais e, na quase totalidade dos casos, levados a se expulsarem da escola. Essa experincia de fracasso escolar muito importante na construo de sua identidade. A incapacidade que lhes atribuda passa a ser internalizada e eles se sentirem incapazes.

    Bock et al. (1999, p. 335) destacam ainda estudos sobre livros didticos que [...] demonstram que os contedos veiculados esto impregnados de preconceitos ou de uma viso de mulher, de negro, que fomenta a formao de preconceitos.

    H de se considerar, ento, que o preconceito traz consequncias infrutferas inte-rao entre os diversos integrantes que compem um dado grupo social.

    Saiba mais

    Acesse o site a seguir para ler o artigo Menos violncia, notas melhores, publi-cado na revista Nova escola. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

  • 34

    A violncia nas ruasA violncia nas ruas um problema de nosso contexto social. Ela apresenta-se

    diante de nossos olhos a todo o momento e no h mais como neg-la. Todos, de uma forma generalizada, tememos a violncia que nos afeta diretamente. A violncia nas ruas tema de livros, filmes e de notcias dirias dos jornais impressos, virtuais e tele-visivos. Muitos episdios da vida diria nos induzem a temermos uns aos outros e h, consequentemente, um afastamento entre os prprios indivduos. Segundo Bock et al. (1999, p. 336), [...] comeamos a ter a cara do medo e a pr para fora a nossa prpria agressividade, de modo destrutivo, no intuito de nos proteger. O outro , ento, per-cebido como um agressor em potencial, um agente de violncia, o que nos leva a um clima de insegurana que perpassa por toda a populao.

    Saiba mais

    Acesse o site do Ibope para saber mais a respeito da insegurana em relao violncia no pas. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

    A nica revoluo possvel dentro de ns(GANDHI, 2004.)

    No possvel libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravido de si mesmo.

    Sem ela, qualquer outra ser insignificante, efmera e ilusria, quando no um retrocesso.

    Cada pessoa tem sua caminhada prpria.

    Faa o melhor que puder.

    Seja o melhor que puder.

    O resultado vir na mesma proporo de seu esforo.

    Compreenda que, se no veio, cumpre a voc (a mim e a todos) modificar suas (nossas) tcnicas, vises, verdades etc.

    Nossa caminhada somente termina no tmulo ou at mesmo alm.

    Segue a essncia de quem teve sucesso em vencer um imprio...

    Reflexo

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    A organizao da sociedade: com

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    Dicas de filmes

    Crianas Invisveis, de Mehdi Charef, Ktia Lund, John Woo, Emir Kusturica, Spike Lee, Jordan Scott, Ridley Scott, Stefano Veneruso e Jaume-Collet Serra, 2005. O filme retrata a viso de cada diretor sobre as crianas de seu pas. So histrias que vo chocar, fazer sorrir e emocionar.

    Carandiru, de Hector Babenco, 2003. O filme, que conta uma histria baseada em fatos reais, retrata a violncia, superlotao, instalaes precrias, falta de assistncia mdica e jurdica na Casa de Deteno de So Paulo.

    Dicas de livros

    MORAIS, Regis de. O que Violncia Urbana. So Paulo: Brasiliense, 1981.

    SILVA, Helena Oliveira da; SILVA, Jailson de Souza. Anlise da Violncia Contra a Criana e o Adolescente Segundo o Ciclo de Vida no Brasil conceitos. So Paulo: Global, 2005.

    Dicas de vdeos

    PROGRAMA EDUCAR PARA PAZ. Violncia. Reduo da agressividade entre os alunos. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

    GLOBO. Violncia na Escola. Disponvel em: . Acesso em: 5. nov. 2011.

  • 36

    Sntese

    O tema violncia vem sendo pensado no contexto mundial. Esse um assunto sempre visto com preocupao e que permeia todas as esferas da sociedade, no importando o sexo, nvel socioeconmico, religioso ou mesmo cultural. A criminalidade e a insegurana tm atingido, de forma desordenada, os pequenos e grandes centros urbanos.

    Tivemos a oportunidade de compreender a distino da agressividade e da violn-cia, destacando-a dentro do ambiente familiar, nas ruas e na escola. A violncia est, de tal forma, integrada no cotidiano social, que o homem no pode deixar de consider- -la. Ela se faz presente das mais diferentes formas de manifestaes humanas. Vale res-saltar que a violncia no se restringe apenas parte fsica, ou seja, ela pode manifes-tar-se por outras vias: por meio de gestos, pela verbalizao, pela presso psicolgica e tambm pela negligncia.

    Estudos e pesquisas indicam que a crescente violncia presente na nossa socie-dade vem sendo palco de grandes discusses por parte dos rgos como a Unesco (Organizao para a Educao, a Cincia e a Cultura das Naes Unidas e a ONU (Orga-nizao das Naes Unidas), entre outros.

    Dentro desse contexto, o crescimento no ndice de violncia ainda indica que os mtodos utilizados para afast-la das prticas sociais so ineficientes. Essa , sem dvida, uma questo de alto nvel de complexidade que precisa ser discutida com a participao de todos os segmentos sociais.

    Referncias

    ABRAMOVAY, Miriam (Coord.). Cotidiano das Escolas: entre violncias. Braslia: Unesco, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

    BOCK, Ana Mercs Bahia et al. Psicologias: uma introduo ao estudo da Psicologia. 13 ed. So Paulo: Saraiva, 1999. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

    CARVALHO, Cludia Maciel. Violncia infantojuvenil, uma triste herana. In: ALMEIDA, Maria da Graa Blaya (Org.). A Violncia na Sociedade Contempornea. Dados ele-trnicos. Porto Alegre: Edipucrs, 2010. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

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    A organizao da sociedade: com

    preendendo a violncia existente

    ECA Estatuto da Criana e do Adolescente. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 Presidncia da Repblica. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

    HAKIME, Raphael; AVANZI, Silvia. Menos Violncia, Notas Melhores. Disponvel em: . Acesso em: 05 nov. 2011.

    IBOPE Instituto Brasileiro de Opinio Pblica e Estatstica. Inteligncia Realiza Pesquisa sobre a Sensao de Insegurana em Relao Violncia no Pas. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

    REDE ANDI BRASIL. Declarao Universal dos Direitos das Crianas. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2011.

  • 39

    Discutindo a questo da incluso social

    IntroduoNesta unidade abordaremos uma temtica de destaque mundial: a incluso social.

    Esperamos que o contedo possa lhe auxiliar a refletir sobre o tema.

    O assunto destacar a importncia e a necessidade de assegurar a todos o pleno acesso aos seus direitos. A igualdade social, partindo desse princpio, ser fundamental para que todas as pessoas portadoras de necessidades especiais possam exercer seus respectivos papis no contexto social.

    O processo de incluso acontece de forma gradual, por meio de avanos e regres-sos, uma vez que os seres humanos possuem natureza complexa e herdam formas de agir de seus antecessores. Ademais, eles tm preconceitos e diferentes maneiras de compreender o mundo.

    Assim, os assuntos a serem abordados nesta unidade sero os seguintes:

    conceito de incluso;

    incluso e sociedade;

    mudanas a partir do sculo XX direitos;

    o termo deficincia;

    tipologias da deficincia.

    Desejamos a todos vocs um timo aproveitamento.

    ObjetivosAo final da unidade, espera-se que voc seja capaz de:

    compreender a definio de incluso social;

    refletir sobre a questo da concepo histrica e a sociedade atual;

  • 40

    conhecer os direitos das pessoas portadoras de alguma deficincia; identificar e compreender as categorias de deficincia existentes; entender as tipologias de deficincia.

    ConceitoVoc sabe qual a definio de incluso social?

    A incluso social tornou-se foco de discusses na sociedade vigente. O processo da construo de uma sociedade inclusiva implica em promover igualdade de oportu-nidades no contexto social a todos os cidados. Contudo, para termos uma viso sobre essa questo apresentaremos a definio do conceito de incluso, segundo alguns autores:

    Bartalotti (2006, p. 23) descreve que a incluso [...] uma proposta de construo de cidadania; a sociedade inclusiva envolve todos os segmentos sociais, ao transformar um modo de ser, pensar e agir, sendo[...] um processo de mo dupla, tanto a pessoa com deficincia como a sociedade precisam se modificar.

    Segundo o Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa, incluso significa o estado daquilo ou de quem est incluso, inserido, compreendido dentro de algo, ou envol-vido, implicado em um grupo. J para Schwarz e Haber (2009, p. 181), [...] a incluso requer um movimento, uma ao e imprescinde que se saia do lugar-comum para rumar a um outro lugar, mais justo e democrtico.

    Conclumos que todos os cidados tm os mesmos direitos e, dentro desses, possuem o direito liberdade sem discriminao.

    Incluso e SociedadeA capacidade de ver coisas de um ponto de vista novo fundamental para o processo criativo, e

    essa capacidade repousa na vontade de questionar toda e qualquer premissa.

    Marcel Proust

    O processo de incluso de pessoas em qualquer contexto muito recente. A trajetria de excluso mundial deixou marcas em diferentes sociedades. Tais marcas persistem de forma, muitas vezes, velada no contexto atual. Conforme pesquisa de Schwarz e Haber (2009, p. 19-20):

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    Discutindo a questo da incluso social

    [...] no auge da civilizao grega, os bebs que nasciam com uma deficincia eram sacrificados. Plato, em A Repblica, e Aristteles, em A Poltica, recomendavam a eliminao das pessoas nascidas disformes nas lies de planejamento das cidades gregas. No entanto, Homero, o mais famoso poeta grego, autor de Ilada e Odisseia, era cego, o que atesta o grande paradoxo que julgar uma pessoa que tem uma deficincia como incapaz para o trabalho ou para a vida social e afetiva. Mesmo sem a eliminao pura e simples, a viso de excluso e incapacidade persistiu ao longo do tempo. As pessoas com deficincia tinham direito vida, porm ficavam margem da sociedade, internadas em asilos ou outras instituies, encaradas principalmente como objetos de intervenes mdicas ou caridade, em vez de serem tratadas como detentoras de direitos e deveres.

    Esses fatos descritos anteriormente nos permitem compreender que, na Antigui-dade, as pessoas consideradas diferentes eram descartadas. Percebe-se, por meio de tais atos, uma sociedade preconceituosa.

    Bartalotti (2006, p. 41-42), ao retratar a questo das pessoas com necessidades especiais, tambm menciona a trajetria de tal concepo no passado:

    Nas concepes pr-cientficas, predominantes na Antiguidade e na Idade Mdia, a compreenso sobre a deficincia est muito ligada ao sobrenatural. Vista como possesso demonaca ou como castigo divino, essas pessoas eram sistematicamente eliminadas, pelo sacrifcio de sua vida ou pelo abandono, que acabava tambm consistindo em uma sentena de morte. A deficincia, ento, era algo que no pertencia ao mbito do humano.

    Para a autora (2006, p. 42), [...] no final da Idade Mdia, com o fortalecimento do cristianismo, difundida a ideia de que todos so filhos de Deus; essa concepo impede a eliminao pura e simples das pessoas com deficincia. A mesma autora prossegue em suas colocaes, dizendo:

    no Renascimento, com o florescimento das artes e da busca pelo conhecimento, que surge a preocupao com o indivduo e com as explicaes cientficas para os males que o afligem tem-se o incio do perodo das chamadas concepes cientficas sobre a deficincia; no era mais nos deuses que estava sua explicao, mas sim no corpo da pessoa... So elaborados os primeiros tratados que tentam localizar no corpo do homem a razo dos seus males de possesso doena, observa-se a mudana do lugar da deficincia.

    A partir do sculo XVIII, e com maior nfase no sculo XIX, assiste-se evoluo da medicina, dos conhecimentos especficos sobre o desenvolvimento do ser humano e sobre os males que podem provocar alteraes nesse desenvolvimento. As pessoas com deficincia, vistas como doentes, passam a ter direito a tratamento, levando ao crescimento das tcnicas, das intervenes e ao surgimento de instituies especializadas no tratamento dessa parcela da populao.

    Pode-se salientar que a partir do sculo XX houve um avano significativo rela-cionado aos estudos de diversas reas de conhecimento. A Psicologia, a Educao e a Sociologia contriburam para tal avano. Assim, a sociedade, por meio de pesquisas sobre as causas da deficincia, comea a discutir e avaliar tal conceito.

    Contudo, Bartalotti (2006, p. 44) descreve que [...] quando se fala em incluso, no entanto, observamos que o maior entrave , ainda, a fora que tem a concepo de deficincia como doena, o que leva busca da justificativa de atitudes de segregao,

  • 42

    muitas vezes defendidas pela ideia de contgio. Justificando o termo contgio, a autora remete a no como um contgio fsico, como se a deficincia pegasse, mas um contgio social.

    Mostraremos, a seguir, os direitos que cabem s pessoas com deficincia.

    Mudanas a partir do sculo XX DireitosA partir do sculo XX, surgiram as mudanas, por meio da Declarao Universal

    dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resoluo 217 da Assembleia Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro de 1948, no qual estabelece:

    Art. 1. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So dotadas de razo e conscincia e devem agir em relao umas s outras com esprito de fraternidade.

    Art. 2. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo, lngua, religio, opinio poltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condio.

    Art. 3. Toda pessoa tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.

    Art. 4. Ningum ser mantido em escravido ou servido; a escravido e o trfico de escravos sero proibidos em todas as suas formas.

    Art. 5. Ningum ser submetido tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

    Art. 6. Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

    Art. 7. Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, a igual proteo da lei. Todos tm direito a igual proteo contra qualquer discriminao que viole a presente Declarao e contra qualquer incitamento a tal discriminao.

    Disponvel em: . Acesso em: 6 nov. 2011.

    Vale ressaltar a importncia da legislao, mas necessrio tambm que todos sejam participativos na busca pela igualdade social de uma maneira responsvel e consciente.

    Schwarz e Haber (2009, p. 35) dizem que a Constituio brasileira inclusiva. Para os autores,

    [...] a Constituio Federal de 1988 tem como princpio fundamental a igualdade e, para garantir o cumprimento da norma, o texto de nossa Lei Maior reforou esse princpio de igualdade com di-versas repeties ao longo de seu teor. A Constituio ainda assegurou como objetivo fundamen-tal da Repblica Federativa do Brasil construir uma sociedade livre, justa e solidria e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. O que significa que todos os brasileiros so iguais em direitos e obrigaes.

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    Discutindo a questo da incluso social

    Partindo deste princpio, em 7 de junho de 1999 houve a elaborao da Conveno Interamericana para a eliminao de todas as formas de discriminao contra as pessoas portadoras de deficincia, considerado o primeiro documento internacional de direitos humanos do sculo XXI, onde declara que:

    [...] as pessoas portadoras de deficincia tm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de no ser submetidas discriminao com base na deficincia, emanam da dignidade e da igualdade que so inerentes a todo ser humano.(CONVENO INTERAMERICANA, 1999)

    Saiba mais

    Saiba mais sobre a Conveno Interamericana para a eliminao de todas as formas de discriminao contra as pessoas portadoras de deficincia acessando o site: . Acesso em: 7. nov. 2011.

    A Constituio Federal Brasileira e a Conveno Interamericana possuem iguais princpios conceituais. Ambas postulam que [...] a deficincia em si no limita a pessoa, no algo a ser curado, mas sim parte da diversidade humana (SCHWARZ; HABER, 2009). O que diferencia os indivduos a influncia do meio em que vivem.

    Com base no exposto, diversas medidas garantem os direitos que tm por objetivo atenuar os problemas advindos de inmeras deficincias, como os que se seguem: sade, educao, transporte, isenes fiscais, financiamentos e acessibilidade.

    Saiba mais

    Saiba mais sobre a Lei Federal 10.098/2000 que garante a acessibilidade aos portadores de necessidades especiais acessando o site: . Acesso em: 7 nov. 2011.

    Bartalotti (2006, p. 7), acerca da questo da incluso, diz:

    Para entendermos melhor esses mecanismos de organizao social e, principalmente, trabalharmos pela real superao da desigualdade, faz-se necessria uma compreenso mais profunda sobre os processos que engendram as relaes incluso-excluso.

    A questo da incluso envolve [...] uma possibilidade de abertura de espaos so-ciais, uma garantia do direito de cada cidado ter acesso aos recursos de sua comuni-dade (BARTALOTTI, 2006, p. 12).

  • 44

    Historicamente, os deficientes buscam a garantia do direito participao na sociedade, por meio de mecanismos institucionalizados como: programas de reabilitao, instituies especializadas, classes especiais e locais de trabalho (BARTALOTTI, 2006).

    Segundo a autora (2006, p. 16), [...] a democratizao nos espaos sociais, em crena, na diversidade como valor na sociedade para todos contribui de forma favor-vel. Bartalotti (2006, p. 16) diz ainda que [...] incluir no apenas colocar junto e, prin-cipalmente, no negar a diferena, mas respeit-la como constitutiva do humano.

    Assim, consolida-se a ideia de que incluir algo que requer uma postura tica individual e coletiva.

    O termo deficinciaAs polticas pblicas sociais estabelecem alguns mtodos para a construo da

    cidadania das pessoas com algum tipo de deficincia no intuito de tornarem-se sujeitos ativos em uma sociedade.

    Falaremos, a seguir, sobre as diferentes categorias de deficincias.

    Deficincia toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou funo psi-colgica, fisiolgica ou anatmica que gera incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padro considerado normal para o ser humano.

    Deficincia permanente diz respeito quela que ocorreu ou se estabilizou durante um perodo de tempo suficiente para no permitir recuperao ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos.

    Incapacidade uma reduo efetiva e acentuada da capacidade de integrao social, com necessidade de equipamentos, adaptaes, meios ou recursos especiais para que a pessoa com deficincia possa receber ou transmitir informaes necessrias ao seu bem-estar e ao desempenho de funo ou atividade a ser exercida (MINISTRIO DA EDUCAO, Decreto 3.298, de 1999).

    Saiba mais

    Saiba mais sobre o Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamen-ta a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, e dispe sobre a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia, acessando o site: . Acesso em: 7 nov. 2011.

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    Discutindo a questo da incluso social

    Tipologias de deficinciaInmeras pessoas diariamente lutam pela cidadania e, portanto, buscam condi-

    es de igualdade. A cidadania implica direitos e deveres.

    Barchifontaine (apud BARTALOTTI, 2006, p. 33) apresenta os [...] direitos do cida-do como direitos sociais a serem assegurados pelo Estado, tais como moradia, sade, educao, lazer, trabalho etc.. Assim sendo, um dos fatores fundamentais dentro dessa questo a liberdade de expresso, de pensamento, de escolha, de locomoo.

    Ns, seres humanos, construmos, ao longo do nosso processo de desenvolvi- mento, critrios morais e ticos de acordo com os padres da nossa sociedade e, portanto, estamos em constante interao com o meio. Construmos padres de comportamento prprios. Devemos reavaliar constantemente questes ligadas s diferenas com o intuito de construirmos uma sociedade inclusiva.

    A seguir, para entendermos melhor os tipos de deficincias e nos inteirarmos de como cada uma delas definida em seu grau de desenvolvimento e denominaes especficas, destacamos:

    Deficincia fsica alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da funo fsica, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputao ou ausncia de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congnita ou adquirida, exceto as deformidades estticas e as que no produzam dificuldades para o desempenho de funes.

    Deficincia auditiva perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e nveis na forma seguinte:

    (a) de 25 a 40 decibis (db) - surdez leve; (b) de 41 a 55 db - surdez moderada; (c) de 56 a 70 db - surdez acentuada; (d) de 71 a 90 db - surdez severa; (e) acima de 91 db - surdez profunda; e (f ) anacusia.

    Deficincia visual acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, aps a melhor correo, ou campo visual inferior a 20 (tabela de Snellen), ou ocorrncia simultnea de ambas as situaes.

    Deficincia mental funcionamento intelectual significativamente inferior mdia, com manifestao antes dos dezoito anos e limitaes associadas a duas ou mais reas de habilidades adaptativas, tais como: (a) comunicao; (b) cuidado pessoal; (c) habilidades sociais; (d) utilizao da comunidade; (e) sade e segurana; (f ) habilidades acadmicas; g) lazer; e h) trabalho.

    Deficincia mltipla associao de duas ou mais deficincias (PLANALTO DO GOVERNO Lei 7.853 Decreto 3.298, de 1999).

  • 46

    Dentro desse contexto, faz-se importante a conscientizao sobre o nosso papel dentro da sociedade inclusiva, onde o respeito diversidade deve prevalecer.

    Para que voc amplie os seus conhecimentos importante saber que o Censo realizou uma pesquisa no ano de 2000, onde revelou que 24,6 milhes de pessoas se declararam portadoras de alguma deficincia. Esse nmero corresponde a 14,5% da populao brasileira. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), importante destacar que a proporo de pessoas portadoras de deficincia aumenta com a idade, sendo 4,3% nas crianas at 14 anos, para 54% do total das pessoas com idade superior a 65 anos.

    Veja a tabela:

    Tabela 1 Proporo de pessoas de 10 anos ou mais de idade, portaddoras ou no de deficincia, ocupada na semana de referncia, por sexo, segundo os grupos de idade Brasil

    Um dado interessante do IBGE (2000) que, medida em que a populao est mais envelhecida, a proporo de deficientes aumenta, surgindo, da, novas demandas e necessidades que atendam a determinados grupos.

    Finalizaremos esta unidade com o seguinte pensamento:

    O universalismo que queremos hoje aquele que tenha como ponto em comum a dignidade humana. A partir da, surgem muitas diferenas que devem ser respeitadas. Temos direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza

    Boaventura de Sousa Santos

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    Discutindo a questo da incluso social

    Dicas de filmes

    Nascido em 4 de Julho, de Oliver Stone, 2010. Ron Kovic (Tom Cruise) um rapaz idealista e cheio de sonhos que deixa a namorada e a famlia para ir lutar no Vietn. Na guerra, ele ferido e fica paraplgico. Ao voltar para o seu pas confrontado com a realidade do preconceito aos defi-cientes fsicos.

    Janela da Alma, de Joo Jardim e Walter Carvalho, 2002. Dezenove pessoas com diferentes graus de deficincia visual narram como veem os outros e como percebem o mundo.

    Meu P Esquerdo, de Jim Sheridan, 1989. Baseado em fatos reais, o filme narra a histria do escritor e pintor irlands Christy Brown, que guarda uma sequela da paralisia cerebral desde beb e que, apesar das dificul-dades, conseguiu pintar e escrever usando, para isso, apenas o seu p esquerdo.

    O Escafandro e a Borboleta, de Julian Schnabel, 2004. Baseado em fatos reais, o filme conta a histria de Jean-Dominique Bauby, 43 anos, editor da revista Elle e apaixonado pela vida. Subitamente ele sofre um derrame cerebral. Quando acorda, vinte dias depois do incidente, est lcido mas descobre que est com um tipo raro de paralisia: a nica parte do corpo que movimenta o olho esquerdo. Bauby se recusa a aceitar seu destino. Com o tempo aprende a se comunicar: piscando as letras do alfabeto, forma palavras, frases e at pargrafos. Ele cria um mundo prprio no qual utiliza outra parte de seu corpo que no se paralisou: a mente.

    Dica de entrevista

    WERNECK, Cludia. Incluso Social todos somos responsveis. Disponvel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

  • 48

    Sntese

    Retratamos, nesta unidade, a oportunidade de aprender a partir do conceito de incluso social, sob a ptica de dois autores.

    A incluso palco de grandes discusses na busca pela igualdade de oportu- nidades e de uma vida digna. Portanto, temos que fazer da incluso social uma realida-de, embora saibamos que h um longo caminho a ser percorrido.

    O processo histrico nos mostra uma sociedade preconceituosa, no qual diferen- ciava claramente aqueles que eram considerados diferentes no meio social. A partir do sculo XX houve uma reformulao dentro dos estudos de diversas reas do conhecimento e, consequentemente, iniciaram-se algumas mudanas que favorecem os excludos da sociedade.

    A legislao estabelece direitos s pessoas com deficincia proporcionando a igualdade entre todos os cidados.

    Podemos dizer que a deficincia pode ser categorizada de trs formas distintas. So elas: deficincia, deficincia permanente e incapacidade. Alm de suas tipologias, destacam-se as deficincias fsicas, auditivas, visuais, mentais e tambm as mltiplas, conforme o Decreto 3.298 de 1999.

    Devemos observar o assunto no apenas sob o aspecto legal, mas principalmente como uma oportunidade de crescimento para todos ns. oportuno salientar que para incluir precisamos aceitar as pessoas como elas, de fato, so. Acredito que esse seja o maior mandamento desta unidade.

    Referncias

    ASSEMBLEIA GERAL DAS NAES UNIDAS. Declarao Universal dos Direitos Huma-nos. Resoluo 217 A(III). Disponvel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

    BARTALOTTI, Celina Camargo. Incluso Social das Pessoas com Deficincia: utopia ou possibilidade. So Paulo: Paulus, 2006.

    CONVENO INTERAMERICANA. Conveno Interamericana para a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra as Pessoas Portadoras de Deficincia. Disponvel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

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    Discutindo a questo da incluso social

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRFICA E ESTATSTICA. Censo Demogrfico 2000 Pessoas Portadoras de Deficincia. Disponvel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

    MINISTRIO DE EDUCAO E CULTURA. Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia - Decreto 3.298 de 1999. Disponvel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

    NASCIMENTO, Anglica. Incluso Social Todos Somos Responsveis. Disponvel em: . Acesso em: 07 nov. 2011.

    PLANALTO DO GOVERNO. Normas Gerais e Critrios Bsicos para a Promoo da Acessibilidade das Pessoas Portadoras de Deficincia - Lei 10.098 de 2000. Dispon-vel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

    ______. Poltica Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia Lei 7.853 Decreto 3.298 de 1999. Disponvel em: . Acesso em: 7 nov. 2011.

    SCHWARZ, Andra e HABER, Jacques. Cotas: como vencer os desafios da contratao de pessoas com deficincia. So Paulo: i.Social, 2009.

  • 51

    Educao, diversidade, incluso e seus desafios na educao

    IntroduoNa unidade anterior estudamos a questo da incluso em suas mltiplas vertentes.

    Nesta unidade especificaremos a questo da incluso voltada educao. Essa questo est, indiscutivelmente, associada ideia da construo de uma sociedade democrtica na qual a diversidade deve ser respeitada.

    No decorrer da unidade destacaremos pontos que merecem um olhar mais deta-lhado. Assim sendo, os assuntos abordados sero os seguintes:

    a concepo de educao inclusiva.

    a formao de educadores.

    a instituio escolar.

    as mudanas no ambiente escolar.

    Esperamos que vocs tenham, nesta unidade, um excelente aproveitamento sobre a questo da educao inclusiva, tema relevante na nossa atualidade.

    ObjetivosAo final desta unidade, espera-se que voc seja capaz de:

    entender os pressupostos que envolvem a educao especial;

    compreender a importncia da formao continuada dos educadores na atua- lidade;

    identificar o papel da instituio escolar em relao educao especial;

    compreender como operar as transformaes dentro do ambiente escolar.

  • 52

    Concepo de educao especialA perspectiva de educao para todos constitui um grande desafio para o sistema

    educacional. A questo da diversidade na educao um desafio, tanto no que diz respeito dificuldade de aceitao de crianas com deficincias quanto dificuldade de aprendizagem apresentada por muitos alunos.

    A Educao Especial no nosso pas segue a Lei de Diretrizes e Bases da Educacional Nacional (LDBEN), de 1996 - Captulo V - da Educao Especial - artigo 58 e pargrafos 1, 2 e 3 que descrevem:

    Entende-se por Educao Especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educao escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.

    1 Haver, quando necessrio, servios de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educao especial.

    2 O atendimento educacional ser feito em classes, escolas ou servios especializados, sempre que, em funo das condies especficas dos alunos, no for possvel a sua integrao nas classes comuns do ensino regular.

    3 A oferta da educao especial, dever constitucional do Estado, tem incio na faixa etria de zero a seis anos, durante a educao infantil. (PLANALTO, Lei 9.394/96)

    Segundo Paulon (2005, p. 19), [...] a educao especial definida, a partir da LDBEN, como uma modalidade de educao escolar que permeia todas as etapas e nveis de ensino. Infere-se a partir de suas palavras que todos, em condies espe-ciais, teriam acesso educao. A autora (PAULON, 2005, p. 19) prossegue dizendo que [...] se faz necessrio propor alternativas inclusivas para a educao e no apenas para a escola. Paulon conclui que a [...] escola integra o sistema educacional (conselhos, servios de apoio e outros), que se efetiva promotora de relaes de ensino e apren-dizagem, atravs de diferentes metodologias, todas elas aliceradas nas diretrizes de ensino nacionais. (2005, p. 19)

    Assim, para o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais, faz-se necessrio uma reestruturao do formato do ensino, no sentindo de otimizar novas metodologias que atendam comunidade escolar.

    Podemos observar dentro desse contexto o artigo 59 da LDBEN, que diz:

    Os sistemas de ensino asseguraro aos educandos com necessidades especiais:

    I - currculos, mtodos, tcnicas, recursos educativos e organizao especficos, para atender s suas necessidades;

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  • 53

    Educao, diversidade, incluso e seus desafios na educao

    II - terminalidade especfica para aqueles que no puderem atingir o nvel exigido para a concluso do Ensino Fundamental, em virtude de suas deficincias, e acelerao para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;

    III - professores com especializao adequada em nvel mdio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integrao desses educandos nas classes comuns;

    IV - educao especial para o trabalho, visando a sua efetiva integrao na vida em sociedade, inclusive condies adequadas para os que no revelarem capacidade de insero no trabalho competitivo, mediante articulao com os rgos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas reas artstica, intelectual ou psicomotora;

    V - acesso igualitrio aos benefcios dos programas sociais suplementares disponveis para o respectivo nvel do ensino regular. (PLANALTO, Lei 9.394/96)

    A Educao Especial, no contexto atual, vista como uma modalidade de educao escolar a servio da formao dos alunos que possuem algum tipo de deficincia. A educao pode ser vista como um universo regido por mltiplas diferenas. Tal diversidade uma condio de desafio s expectativas de democratizao da educao. A escola, com o desgnio de contemplar as demandas oriundas da sociedade, no deve desconsiderar tais necessidades.

    Saiba mais

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  • 54

    Formao de educadoresO educador exerce um papel fundamental na construo do conhecimento dos

    alunos, portanto, deve permanecer em constante aprendizado para que adquira co-nhecimentos especficos no intuito de buscar solues para os desafios no ambiente escolar.

    Baseando-se nesse princpio segue o grfico com informaes do MEC/SEEP (2006):

    Distribuies dos professores com curso, de no mnimo 40h, para atender alunos com necessidades educacionais especiais em 2006.

    Prieto (2006, p. 57), ao referir-se sobre a importncia da formao continuada do professor, diz:

    A formao continuada do professor deve ser um compromisso dos sistemas de ensino comprome-tidos com a qualidade do ensino que, nessa perspectiva, devem assegurar que sejam aptos a ela-borar e a implantar novas propostas e prticas de ensino para responder s caractersticas de seus alunos, incluindo aquelas evidenciadas pelos alunos com necessidades educacionais especiais.

    Dessa maneira, os educadores devem ser capazes de [...] analisar os conhecimen-tos atuais dos alunos, as diferentes necessidades demandadas nos seus processos de aprendizagem, assim como [...] elaborar atividades, criar ou adaptar matrias, alm de prever formas de avaliar os alunos para que as informaes sirvam para retroalimentar seu planejamento e aprimorar o atendimento dos alunos (PRIETO, 2006).

    A autora salienta ainda que [...] h muitos professores dos sistemas de ensino com pouca familiaridade terica e prtica sobre o assunto. Percebe-se que muitos

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    docentes, ao completarem seus estudos, [...] no tiveram acesso a esses conhecimen-tos. A autora informa ainda que [...] o conhecimento dos domnios tericos e prticos dos professores essencial para subsidiar a formulao de polticas para sua continua-da formao pelos sistemas de ensino (2006, p. 58).

    Nessa mesma linha de raciocnio, Paulon (2005, p. 21) relata a importncia da formao do professor:

    A formao do professor deve ser um processo contnuo, que perpassa sua prtica com os alunos, a partir do trabalho transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio. fundamental considerar e valorizar o saber de todos os profissionais da educao no processo de incluso. No se trata apenas de incluir um aluno, mas de repensar os contornos da escola e a que tipo de educao esses profissionais tm se dedicado. Trata-se de desencadear um processo coletivo que busque compreender os motivos pelos quais muitas crianas e adolescentes tambm no conseguem encontrar um lugar na escola.

    Podemos destacar que o educador deve buscar meios de aprendizagem que possibilitem a esses alunos conhecimento e aprendizagem que atendam s suas necessidades e expectativas.

    Sobre a questo da concretizao das prticas utilizadas pelos educadores, Pietro (2006, p. 59) ressalta que [...] no h como mudar prticas de professores sem que os mesmos tenham conscincia de suas razes e benefcios, tanto para os alunos, para a escola e para o sistema de ensino quanto para seu desenvolvimento profissional.

    indiscutvel a importncia do educador no que diz respeito atuao, coopera-o e conhecimento que dispem, para poder corresponder s necessidades educa- cionais de todos os alunos, garantindo, assim, a sua permanncia no sistema de ensino.

    As competncias previstas para os educadores atuarem em suas salas partem, segundo Pietro (2006, p. 60), do seguinte princpio:

    [...] considerar as diferenas individuais dos alunos e suas implicaes pedaggicas como condio indispensvel a elaborao do planejamento e para a implantao de propostas de ensino e de avaliao da aprendizagem, condizentes e responsivas s suas caractersticas.

    Salienta-se, novamente, a importncia da formao do educador para atuar de forma competente no ambiente escolar. Assim, [...] o seu conhecimento deve ultrapas-sar a aceitao de que a classe comum , para os alunos com necessidades educacio-nais especiais, um mero espao de socializao (PIETRO, 2006).

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, de acordo com a resoluo CNE/CEB n. 2 de 11 de setembro de 2001, informa as qualificaes do educador no espao escolar ao referir-se Educao Especial:

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    Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que essas tenham as suficientes condies para elaborar seu projeto pedaggico e possam contar com professores capacitados e especializados, conforme previsto no artigo 59 da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Docentes da Educao Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nvel mdio, na modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura de graduao plena;

    1 So considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais aqueles que comprovem que, em sua formao, de nvel mdio ou superior, foram includos contedos sobre Educao Especial adequados ao desenvolvimento de competncias e valores para:

    I - perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a educao inclusiva;

    II - flexibilizar a ao pedaggica nas diferentes reas de conhecimento de modo adequado s necessidades especiais de aprendizagem;

    III - avaliar continuamente a eficcia do processo educativo para o atendimento de necessidades educacionais especiais;

    IV - atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educao especial. (RAMA, 2004)

    Com base nas legislaes, no que se refere ao sistema de ensino e capacitao de educadores, faz-se necessrio que os projetos pedaggicos realmente se efetivem dentro desses parmetros e que os educadores compreendam a importncia da sua interveno pedaggica dentro do ambiente educacional.

    Saiba mais

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    A instituio escolarUma escola inclusiva deve envolver a todos no que diz respeito ao acolhimento

    dos alunos e na elaborao de formas diferentes de ensinar, na qual no haja seleo ou discriminao de contedos para a construo do conhecimento.

    Por meio da educao as pessoas vo aprendendo a lidar com as diferenas. Os alunos com deficincia vm mostrando, ao longo do tempo, de forma competente, o seu valor, e a sociedade, da mesma forma, vem percebendo a importncia do diferente para a sua formao. A educao exerce papel fundamental no que tange garantia de direitos iguais, seja para alunos ditos normais,