192
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português brasileiro infantil: um estudo experimental (versão corrigida) São Paulo 2017

leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

UNIVERSIDADEDESÃOPAULOFACULDADEDEFILOSOFIA,LETRASECIÊNCIASHUMANAS

DEPARTAMENTODELINGUÍSTICAPROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMLINGUÍSTICA

MARCELOMARQUESRANGEL

Otraçodeanimacidadeeasestratégiasderelativizaçãoemportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental

(versãocorrigida)

SãoPaulo2017

Page 2: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

MARCELOMARQUESRANGEL

Otraçodeanimacidadeeasestratégiasderelativizaçãoemportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental

(versãocorrigida)

Dissertaçãoapresentadaaoprogramadepós-graduação em Linguística da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidadedeSãoPauloparaobtençãodotítulodeMestreemLinguística.Áreadeconcentração:LinguísticaOrientadora:Prof.ªDr.ªElaineBicudoGrolla

Deacordo,

__________________________________________________Prof.ªDr.ªElaineBicudoGrolla

SãoPaulo2017

Page 3: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

Autorizoareproduçãoedivulgaçãototalouparcialdestetrabalho,porqualquermeioconvencionaloueletrônico,parafinsdeestudoepesquisa,desdequecitadaafonte.

Page 4: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

MARCELOMARQUESRANGEL

Otraçodeanimacidadeeasestratégiasderelativizaçãoemportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental

(versãocorrigida)

Dissertaçãoapresentadaaoprogramadepós-graduação em Linguística da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidadedeSãoPauloparaobtençãodotítulodeMestreemLinguística.Áreadeconcentração:LinguísticaOrientadora:Prof.ªDr.ªElaineBicudoGrolla

Aprovadoem:30/11/2016

BancaExaminadora:Prof.Dr.MarcosFernandoLopes UniversidadedeSãoPaulo(USP)

Presidente(membronão-votante) Assinatura:_____________________________

Prof.Dr.JairoMoraisNunes UniversidadedeSãoPaulo(USP)

Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________

Prof.ªDr.ªMarinaRosaAnaAugusto UniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro

Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________

Prof.Dr.MarcelloMarcelino UniversidadeFederaldeSãoPaulo

Julgamento:_____________________________ Assinatura:_____________________________

Page 5: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

“Euvo-lodigo:éprecisoterumcaosdentrodesiparadaràluzumaestrelacintilante.Euvo-lodigo:tendesaindaumcaosdentrodevós.""Acriançaéainocência,eoesquecimento,um novo começar, um brinquedo, umarodaquegirasobresi,ummovimento,umasantaafirmação."

(FriedrichNietzsche)

Page 6: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

ALuizaRangelGará.

Page 7: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

AGRADECIMENTOS

Emprimeirolugar,gostariadeagradeceràminhaorientadora,Prof.ªElaine

BicudoGrolla,pormeacolherquandodecidiingressarnomundoacadêmico,peloapoio e todo o tempo dedicado a me guiar antes e durante meu percurso nomestrado.

Não menos importantes, agradeço aos membros da minha banca dequalificação:Prof.ªMarinaAugustoeProf.JairoNunes.Nãotenhodúvidasdeque,se há acertos neste trabalho, a Marina e o Jairo, além da Elaine (claro!) sãodiretamenteresponsáveisporeles.Muitoobrigadopeloscomentários,sugestõesepuxõesdeorelha(epelasrecomendaçõesparaessaversãocorrigida).

Nadadisso teria sidopossível senão fossepeloqueridoamigo (andolderbrother),Prof.MarcelloMarcelino.Nãoapenasvocêmeiniciounomundocientífico,mas também se tornou uma das pessoasmais queridas emminha vida. Não hápalavrasparaexpressarminhagratidãoportudoquevocêjáfezpormim.(Obrigadopelaajudacomalgunsdetalhesdessaúltimaversão).

SougratoaosprofessoresdoDLresponsáveispelasdisciplinasquecurseieque tiveram um grande impacto em minha formação acadêmica: Jairo Nunes,LucianaStortoeMarcosLopes.

Agradeçotambémaosmembrossuplentesdabancajulgadora:AnaMüller,LuanaAmaraleMariaCristinaFigueiredoSilva.

AgradeçoaosmeuscolegasdelinguísticadoLEALeàNatalieBoll-Avetisyan,pelasconversasquemeajudaramnessapesquisa.

Atrêspessoasmuitoqueridas:KarinVivanco,portodaadisposiçãoemmeajudardesdeo início;CamilladeRezende,pelaamizade,pelas risadase tambémpelosmomentosmaissérios;eRodrigoTrevisan,tambémpelaamizade,conversasemuitasrisadas.

Aosqueridíssimosamigosque,mesmocomadistância,jamaisdeixaramdemeapoiar emanter contato: CarolAssumpção, FabioLeandro, JuMonteiro, IvanZago,Jana,Edu,Ju,tioClis,Ane,LéoNicolia,SilStein,Déia,RodrigoJapa,RobsoneSilviaHelena.

ÀIr.SolangeetodosdocolégioEmiliedeVilleneuve,pormanteremasportasabertassemprequeprecisei.

Agradeço também a todas as crianças que participaram do nossoexperimentoeotornarampossível,assimcomoseuspaiseresponsáveis.

Aosmeuscompanheirosdemúsicae futebol,essenciaisparaminhasaúdemental:CarlosRenato,Deco,TiagoFrom,Maluf,TitaeosamigosdoDragãoF&C.

AosqueridosamigosLeandroeAnaLaura,peloincentivomoralepelaajudacomasfigurasdoexperimento.

Page 8: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

Aos “Seveninos”, que sem titubear contribuíram comopuderam com essapesquisa: Cris Harumi, Carina Guiname, Cintia Rodrigues, Beth Felix, MauricioShiroma,PatriciaArima,VeraGherardini,KarenTiemieSílviaBeraldo.

ÀDeboraSchisler,porsempremeoferecerpalavrasdeincentivoeapoio.ÀtiaEunice,aprimeirapessoaquemefalousobrelinguística,antesmesmo

deeumematricularnocursodeletras.ÀtiaLibânia,que,commuitocarinho,meaguentadesdesempre.AoLuizFelipe,pormeajudarsemprequepreciseieserumexemplopara

mim.Obrigado,meuirmão.Agradeço à minha família: meus pais, Reinaldo e Marina, minhas irmãs,

RenataeBeatriz,emeucunhado,Edney.Devomuitoavocês,poissemseuapoio,jamaisteriadadocontadessaempreitada.Esperoqueseorgulhemdemim.

Porfim,agradeçoaduaspessoasqueentraramemminhavidademaneiraprovidencial:LuizaRangelGaráeJulianadeCarvalho.Saibamque,quandoestivemaispróximodedesistirdetudo,vocêschegaramememostraramquetudovaleuapena.

Page 9: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

RESUMO_______________________________________________________________________________________________

Estadissertaçãoinvestigaocomportamentolinguísticodecriançasbrasileirasentre

4;0e6;11anosdeidade,acercadaproduçãodeoraçõesrelativasdeobjetodiretoe

de objeto preposicionado. Segundo Friedmann, Belletti e Rizzi (2009), essa

dificuldadeexistedevidoaotraço[+NP]presentenosujeitodarelativaenonúcleo

relativizado.Paraosautores,agramáticainfantilcomputaosujeitodarelativacomo

um elemento interveniente que impede a relativização do objeto, resultando em

umaviolaçãosemelhanteàMinimalidadeRelativizada(Rizzi,1990).Poroutrolado,

estudosexperimentaiscomoodeGennarieMacdonald (2008) indicamqueessa

dificuldadeestáausenteemrelativasdeobjetocontendoumsujeitoanimadoeum

núcleorelativizadoinanimado.Partindodessesestudos,desenvolvemosumatarefa

de produção eliciada com pares de figuras. Em nossosmateriais, controlamos o

traço de animacidade do sujeito da relativa e do núcleo relativizado, demodo a

observarquaisconfiguraçõesdeanimacidaderesultamemumamaiordificuldade

paraasrelativasdeobjeto.Nossosresultadossugeremqueasrelativasdeobjeto

diretomais difíceis contêm um sujeito inanimado. Isto ocorre uma vez que esta

posição sintática é comumente preenchida por um argumento animado (Becker,

2014). O frequente uso de estratégias de esquiva nessas relativas indica que

animacidadepossuiumpapeldeterminanteparafacilitaroudificultaraprodução

de relativas de objeto direto. No que diz respeito às relativas de objeto

preposicionado,nossosresultadosindicamquetodasasconfiguraçõesdotraçode

animacidade foram difíceis para nossos sujeitos de pesquisa, não sendo

determinanteaconfiguraçãodeanimacidadenessasrelativas.Sugerimosqueum

conjunto de fatores pode estar envolvido para a dificuldade observada nessas

construções: a ausência de relativas com pied-piping preposicional na fala dos

adultos;amaiorsimplicidadederivacionalemrelativaspreposicionadascomum

resumptivo nulo ou pronunciado (Roeper (2003); Lessa de Oliveira (2008)); as

relativas compied-piping preposicional dependem de seu ensino formal (Corrêa

(1998);GuastieCardinaletti(2003)).

PALAVRASCHAVE:oraçõesrelativas;animacidade;aquisiçãodelinguagem;estudo

experimental;portuguêsbrasileiroinfantil.

Page 10: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

ABSTRACT_______________________________________________________________________________________________

This dissertation investigates the linguistic behavior of Brazilian children aged

between4;0and6;11,inrelationtotheproductionofdirectobjectandprepositional

object relative clauses. According to Friedmann, Belletti and Rizzi (2009), such

difficultyarisesduetothe[+NP]featurepresentintherelativeclausesubjectand

therelativizedhead.Totheauthors,thechildgrammartakestherelativesubjectas

aninterveningelementthathamperstherelativizationoftheobject,resultingina

violation resembling Relativized Minimality (Rizzi, 1990). On the other hand,

experimental studies like Gennari and Macdonald (2008) indicate that such

difficultyisabsentinobjectrelativesfeaturingananimatesubjectandaninanimate

relativizedhead.Basedonthesestudies,wedesignedanelicitedproductiontask

with pairs of pictures. In our experimentalmaterial, we controlled the animacy

featureinboththerelativesubjectandtherelativizedhead,soastocheckwhich

animacy configurations render the object relatives more difficult. Our results

suggest that direct object relatives becomemore difficult when they feature an

inanimatesubject.Thathappensbecausethesubjectpositionistypicallyfilledbyan

animateargument(Becker,2014).Thefrequentuseofavoidancestrategiesinthese

relativesindicatesthatanimacyplaysadeterminingroleinfacilitatingorhindering

the production of direct object relatives. Regarding the prepositional object

relatives,ourresultsindicatethatalltheanimacyconfigurationsweredifficultfor

our research subjects, so that animacy does not play a determining role in the

productionoftheserelatives.Wesuggestthatanumberofthingsmightbeinvolved

inthedifficultyobservedintheseconstructions:theabsenceofrelativesfeaturing

prepositionalpied-pipinginthespeechofadults;thebiggerderivationalsimplicity

inprepositionalrelativeswithanullorapronouncedresumptive(Roeper(2003);

Lessa de Oliveira (2008)); relatives featuring prepositional pied-piping require

formallearning(Corrêa(1998);GuastieCardinaletti(2003)).

KEYWORDS:relative clauses; animacy; languageacquisition; experimental study;

childBrazilianPortuguese.

Page 11: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

LISTADETABELAS,GRÁFICOS,QUADROSEFIGURAS_______________________________________________________________________________________________Tabela1:Porcentagemderespostascorretasenºdecriançasquesecomportaramacima

doníveldechancenostestesdecompreensãoderelativasemFriedmannetal.(2009:76).....................................................................................................................................................69

Tabela2:Númeroderelativasproduzidas/totalpossívelemcadagrupo,porposiçãotestadaegrupodesujeitos...................................................................................................................98

Tabela3:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodireto.....................................................................................................................103

Tabela4:Númeroderelativasdeobjetodiretocomlacuna..........................................................104

Tabela5:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto.........105

Tabela6:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado.........................................................................................................................................107

Tabela7:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado.................................................................................................109

Tabela8:Númeroderelativasdeobjetopreposicionadocomlacuna.......................................110

Tabela9:Usoderelativasdeobjetodiretoepreposicionadocomlacunaeresumptivos..........................................................................................................................................................................119

Tabela10:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................122

Tabela11:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado]..........................................................................................................................................................................123

Tabela12:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................125

Tabela13:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado]..........................................................................................................................................................................126

Tabela14:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................128

Tabela15:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado]..........................................................................................................................................................................128

Tabela16:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos..........................................................................................................................................................................131

Tabela17:Empregoderesumptivoselacunaemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado]..........................................................................................................................................................................132

Page 12: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

Tabela18:Frequênciadeusoderelativasdeobjetodireto,emtodososgruposecondiçõesdeanimacidadetestadas......................................................................................................................133

Tabela19:Frequênciadeusodeumoutroverboaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas.........................................................................................134

Tabela20:Frequênciadeusoderesumptivosaoproduziumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas................................................................................................................135

Tabela21:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos...........................................................................................................................140

Tabela22:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].......................................................................................................................141

Tabela23:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionadocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos....................................................................................................................................143

Tabela24:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].......................................................................................................................144

Tabela25:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos...........................................................................................................................146

Tabela26:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].......................................................................................................................146

Tabela27:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos...........................................................................................................................149

Tabela28:Empregoderesumptivoselacunasemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].......................................................................................................................150

Tabela29:Frequênciadeusoderesumptivosaoproduzirumarelativadeobjetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas......................................................................152

Tabela30:Frequênciadeusodeconstruçõessemumarelativaparaseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas................................153

Gráfico1:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodiretoemcadagrupo..................................................................................................................................................102

Gráfico2:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado.........................................................................................................................................107

Gráfico3:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado]..............121

Gráfico4:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado]..............124

Page 13: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

Gráfico5:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado]..............127

Gráfico6:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodireto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado]...............130

Gráfico7:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].................................................................................................................................................139

Gráfico8:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].....................................................................................................................................................142

Gráfico9:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].................................................................................................................................................145

Gráfico10:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].....................................................................................................................................................148

Quadro1:ResumodosresultadosexperimentaisacercadasconstruçõesrelativasemFriedmannetal.(2009:81)..................................................................................................................71

Quadro3:PropostaemFriedmannetal.(2009:84)...........................................................................72

Quadro4:ResumodapropostaemFriedmannetal.(2009:84)acercadostiposdeintervençãoemconstruçõesrelativasnasgramáticasadultaeinfantil...........................73

Quadro5:Ascondiçõesdeanimacidadetestadasnoexperimento...............................................94

Quadro6:Exemplosdosmateriaisutilizadosnoexperimento.......................................................95

Quadro7:Osdiferentestiposderelativasdesujeito–estratégiasdeesquiva........................99

Quadro8:Tiposderelativaseasestratégiasderelativizaçãoempregadas............................100

Figura1:Omeninosujouabicicletavs.Omeninomolhouabicicleta.........................................94

Figura2:Acasaqueofuracãodestruiu.....................................................................................................98

Figura3:Ameninamolhouomenino.vs.Ameninasujouomenino.........................................120

Figura4:Ameninalambeuosorvete.vs.Ameninamordeuosorvete.....................................123

Figura5:Ofuracãoderrubouacoruja.vs.Ofuracãolevouacoruja...........................................126

Figura6:Achuvaderrubouovaso.vs.Achuvamolhouovaso....................................................129

Figura7:Ameninacolocouochapéunomenino.vs.Ameninatirouochapéudomenino..........................................................................................................................................................................138

Figura8:Omeninocolocouacordanacaixa.vs.Omeninotirouacordadacaixa..............141

Figura9:Aondatrouxeagarrafaprovelho.Vs.Aondalevouagarrafadovelho...............144

Figura10:Oventotrouxeoaviãodepapelpramesa.vs.Oventolevouoaviãodepapeldamesa..............................................................................................................................................................147

Page 14: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

SUMÁRIO_______________________________________________________________________________________________

Capítulo1:INTRODUÇÃO...................................................................................................1

Capítulo2:AESTRUTURAEAAQUISIÇÃODASORAÇÕESRELATIVAS.............10

2.1.TipologiadasoraçõesrelativaseasestratégiasderelativizaçãodoPB.........10

2.2.Aestruturadasoraçõesrelativas.....................................................................................132.2.1.Chomsky(1977)eKayne(1994)...........................................................................................132.2.2.KatoeNunes(2009)....................................................................................................................232.3.2.GuastieShlonsky(1995)eGuastieCardinaletti(2003)............................................432.3.3.Grolla(2000)eLessadeOliveira(2008)...........................................................................49

2.4.Osujeitointerveniente..........................................................................................................67

2.5.Otraçodeanimacidadenasoraçõesrelativas............................................................82

Capítulo3:ESTUDOEXPERIMENTAL...........................................................................88

3.1.Oexperimento..........................................................................................................................90

3.2.Osinformanteseoscritériosdeinclusão/exclusão.................................................92

3.3.Osmateriais...............................................................................................................................93

3.4.Classificaçãodosdados.........................................................................................................96

3.5.Classificaçãodosresultados...............................................................................................97

3.6.Resultados...............................................................................................................................1023.6.1.EliciandoasrelativasdeObjetoDireto.............................................................................1023.6.2.EliciandoasrelativasdeObjetoPreposicionado..........................................................1063.6.3.Análiseediscussão.....................................................................................................................1113.6.4.RelativasdeObjetoDiretoeanimacidade.......................................................................1203.6.5.RelativasdeObjetoPreposicionadoeanimacidade....................................................1383.6.6.Análiseediscussão.....................................................................................................................150

3.7.Síntesedosresultados........................................................................................................154

Capítulo4:CONSIDERAÇÕESFINAIS.........................................................................156

4.1.Síntesedadissertação........................................................................................................156

4.2.AlgumasespeculaçõessobreaaquisiçãodasrelativasemPB.........................159

4.3.Possíveisdesdobramentosdestapesquisa...............................................................165

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.................................................................................166

Anexo:Estímulosutilizadosnoexperimento........................................................173

Page 15: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

1

Capítulo1:INTRODUÇÃO_______________________________________________________________________________________________

As construções envolvendo subordinação, demodo geral, são pertinentes

para os estudos em gramática gerativa na medida em que seu debate abrange

questões centrais para o desenvolvimento da teoria, como movimento de

constituinteserecursividade.Umateoriasobrelinguagemadequadadeveabarcar

discussões acerca das propriedades de deslocamento de constituintes – a

propriedadedecertoselementossereminterpretadosemposiçõesdiferentesem

uma sentença –, alémde assumirquenãoháum limiteparao tamanhodeuma

sentençaemumalíngua.

Dentreasconstruçõessintáticasenvolvendosubordinação,diversosestudos

dãoàsoraçõesrelativasumaatençãoespecial.Umaoraçãorelativaéumasentença

encaixadaquemodificaumsintagmanominal(NP)nasentençasubordinante.Em

geral,éassumidoqueoelementorelativizadoencontra-seemumaposiçãoacima

deumelemento-Quoudeumcomplementizador.Oparadigma (1)exemplificaa

construçãoemfocoemportuguêsbrasileiro(PB),inglês,italiano,francêsehebraico,

respectivamente; o elemento relativizado está grifado, enquanto o

complementizador/elemento-Questáemnegrito.

1.

a. Eudirigiocarroqueomeninolavou.

(VivancoePires,2011:15)

b. Thisisthewomanthat/whoGrovertalkedto.

estaéamulherque/quemGroverconversoupara1

(McDanieletal.,1998:320)

c. L’hommequeJeanavu.

the-manthatJeanhasseen

o-homemqueJeanAUXver-PRT

(Guasti,2002:229)

1AstraduçõesdasglosasparaoPBnestetrabalhosãominhas.

Page 16: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

2

d. Labambinachelamammastabaciando.

Thechildthatthemotheriskissing

ameninaqueamamãeestábeijando

(Utzeri,2007:289)

e. Tarelietha-parashe-menasheketetha-tarnegolet.

showto-meACCthe-cowthat-kissesACCthe-chicken

mostrepara-mimACCa-vacaque-beijaACCa-galinha

(Friedmannetal.,2009:70)

CombasenotrabalhodeTarallo(1983),emPBoral,aexpressãoquesefaz

presente independentemente da posição na qual o elemento relativizado é

interpretado na sentença subordinada. O elemento relativizado pode ser

interpretado em diferentes posições dentro da oração encaixada, sendo que, na

maioriadoscasos,esseelementopodeserretomadoporumpronomeco-referente

abertonaposiçãonaqualeleéinterpretado.Alémdisso,emgeral,nãoseobservao

usodepreposiçãoprecedendoquequandooelementorelativizadoéinterpretado

comoumPPna subordinada. Essabrevedescrição é ilustradanoparadigma (2)

abaixo:

2.

a. OJoãotemumaamigai[que___i/elaiémuitoatrapalhada].(Sujeito)

b. AMariadiscutiucomomeninoi[queeuconheço___i/elei].(ObjetoDireto)

c. AMariaviuomeninoi[queeudiscuti___i/comelei].(ObjetoIndireto)

d. OJoãoviuameninai[quevocêdeuolivro___i/paraelai].(Oblíquo)

e. OJoãoabriuagavetai[queeuguardooslivros___i/nelai].(Locativo)

f. AMariaviuomeninoi[queolivro___i/deleificounasala].(Genitivo)

Não apenas o PB, mas outras línguas também são capazes de relativizar

elementosinterpretadosemdiferentesposiçõessintáticas.DeacordocomKeenan

eComrie(1977:76–79),línguascomoalemão,espanhol,francês,gregomoderno,

Page 17: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

3

hebraico,italiano,inglêserusso,entretantasoutras,seguemessepadrão2.Atéaqui,

falamos sobre a estrutura das relativas. Abaixo, passamos para resultados de

estudos sobre comportamentos de adultos e crianças com relação a essas

estruturas.

Váriosdosestudossobreacompreensãoeproduçãoderelativascomadultos

e crianças contrasta as duas construções cujos núcleos relativizados não são

preposicionados,asaberasrelativasdesujeitoeasrelativasdeobjetodireto(cf.

(2a-b)). Há consenso entre os linguistas acerca desses estudos: (i) existe uma

preferênciapelaproduçãoderelativasdesujeitoemdetrimentodasrelativasde

objeto(Belletti,2008e2009;BellettieContemori,2010;GuastieCardinaletti,2003;

Novogrodsky e Friedmann, 2006; Utzeri, 2007); (ii) as relativas de sujeito são

compreendidasmaisfacilmentedoqueasrelativasdeobjeto(Adani,2008;Bentea

etal.,2016;deVilliersetal.,1979;Friedmannetal.2009;Guastietal.2012).Em

outraspalavras,essesestudosindicamque,emcomparaçãoàrelativizaçãodeum

núcleo na posição de sujeito, as crianças (principalmente as mais novas) têm

dificuldade com relativas de objeto em tarefas de eliciação e de compreensão,

mesmoquandoháumcontextoemqueseesperaarelativizaçãodoobjeto.Porsua

vez,osadultosmostramumapreferênciapelousoderelativasdesujeito,alémde

esperaremqueumnúcleorelativosejareferenteaumarelativadesujeito.

EstudoscomoodeFriedmannetal. (2009)propõemqueessadificuldade

comas relativasdeobjeto estádiretamente relacionadaà semelhançaestrutural

entreosujeitodasubordinadaeonúcleorelativizado.Istoé,quandoosujeitoda

subordinadaeonúcleorelativizadocontêmumNPpleno,comoem“o[NPpolítico]

que o [NP senador] acusou”. Conforme veremos adiante, a semelhança estrutural

entre esses dois elementos tornaria o sujeito da subordinada um elemento

intervenienteparaomovimentodonúcleorelativizado,nosmoldesdeumaversão

maisrígidadoPrincípiodeMinimalidadeRelativizada(originalmentepropostopor

Rizzi,1990).Deacordocomaversãooriginaldesseprincípio,emumaconfiguração

2 Nem todas as línguas possuem diferentes posições sintáticas disponíveis para a relativização.Línguas comomalgaxe,maori e tagalog, por exemplo, apenas permitem construções relativas desujeito (KeenaneComrie,1977:76–79).Paraumadiscussãosobreaacessibilidadedesintagmasnominaispararelativização,cf.KeenaneComrie(1977).

Page 18: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

4

como(3)abaixo,XeYnãopodementraremumarelaçãolocal,seZéumcandidato

empotencialparaessarelação.

3. X...Z...Y

CombasenoPrincípiodeMinimalidadeRelativizadaépossívelexplicarpor

que,emPB,apenasoselementos-Quemposiçãodesujeitosãoalçadosemsentenças

interrogativas contendo dois desses elementos. Nos exemplos abaixo, quem se

refereaumsujeitoeoqueserefereaumobjeto.Em(4a),éassumidoquequemé

alçado para uma posição mais alta na estrutura (para Spec CP), não havendo

nenhumoutro elemento-Quentre aposição sintáticaondequem se encontra e a

posiçãodepouso(ZeX,respectivamente).Nocasode(4b),oalçamentodeoque(Y,

em(3))“cruza”aposiçãodesujeito(Z),quecontémquem.Umavezquequemeo

quepossuemomesmotraço[+Q],(ambossãoelementos-Qunus),(4b)ébloqueado

pelo princípio de Minimalidade Relativizada. Isto é, quem é um elemento

intervenienteparaoalçamentodeoque.

4.

a. Quemfezoquê?

b. *Oquequemfez?

NapropostadeFriedmannet al. (2009), o traço [+NP], presente tantono

sujeito da subordinada quanto no núcleo relativizado, referentes a Z e Y,

respectivamente,noesquemaem(3)(enquantoXéaposiçãoparaondeoelemento

emYsemove),éresponsávelpeladificuldadeobservadanocomportamentoinfantil

com relativas de objeto. Para os autores, as crianças interpretam o sujeito da

subordinada como um candidato em potencial para a relativização. Por ter os

mesmostraçosdoobjetoeestaremumaposiçãomaispróximadaposiçãodepouso

doqueoobjeto,osujeitodasubordinadatorna-seumelementointervenientepara

o movimento do objeto, assim como em (4). Isso explicaria a preferência pela

produção de relativas de sujeito e a dificuldade na compreensão de relativas de

Page 19: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

5

objeto por crianças. Os exemplos abaixo ilustram essa ideia de “Minimalidade

RelativizadaEstendida”.

5.

a. Oelefanteiqueoleãomolhou___i.

[+NP][+NP]

b. Oelefanteique___imolhouoleão.

[+NP] [+NP]

Em(5a),omovimentodoelementorelativizado(quecontémotraço[+NP])

cruzaumsujeitocontendoomesmotraço[+NP].Essaconfiguraçãotornaessetipo

de relativa mais difícil, uma vez que, para os autores, o leão é um elemento

interveniente,i.e.oleãoéumcandidatoempotencialparaarelativização.Porsua

vez,(5b)mostraumarelativadesujeito,naqualnãoháqualquertipodeelemento

quepossaintervirnomovimentodoitemrelativizado.

Osautoresconcluemqueascriançasaderemaumaversãomaisrígidado

princípiodeMinimalidadeRelativizada.Nestaversão“estendida”doprincípiode

Minimalidade Relativizada, uma especificação distinta de traços do alvo e do

elementointerveniente(elefanteeleãoem(5a),respectivamente)nãoéosuficiente

para que a sentença não seja bloqueada. Nessa proposta, “Minimalidade

RelativizadaEstendida”requerqueaespecificaçãodetraçosdesseselementosseja

disjunta.Deacordocomosautores:

“…the adult principle may be satisfied when the target has a featuralspecificationwhichisgloballydistinctfromthespecificationoftheintervenerinthatthetarget’sspecificationproperlyincludestheintervener’sspecification,inasuperset–subsetrelation[…]whereasthechildprincipleisviolatedinthiscaseasthestricterdisjointnessrequirementisnotmet.”

(Friedmanetal.,2009:84)

Apesar do consenso sobre a dificuldade das relativas de objeto, alguns

trabalhosexperimentaismostramqueessadificuldadepodesercontornadaaose

Page 20: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

6

manipular as características do sujeito da subordinada e do núcleo relativizado.

Gennari e Macdonald (2007), por exemplo, manipulam o traço de animacidade

dessesdoiselementoseconcluemqueessamanipulaçãopodefacilitaroudificultar

a compreensão e produção dessas estruturas. Em seu experimento, as autoras

testaramadultos falantesnativosde inglês emuma tarefade leituramonitorada

(compreensão)eumatarefadepreenchimentodelacunas(produção),controlando

o traço de animacidade dos argumentos envolvidos em seus estímulos. Seus

materiaiscontavamcomsentençasemqueosujeitodasubordinadaeraanimadoe

o núcleo relativizado (interpretado na posição de objeto da subordinada) era

inanimado,evice-versa.Foiconstatadoquerelativascomo(6a),abaixo,sãomais

facilmente entendidas emais frequentemente produzidas do que relativas como

(6b).

6.

a. Ofilmeiqueodiretorassistiu___i.

[–animado][+animado]

b. Odiretoriqueofilmeagradou___i.

[+animado][–animado]

Paraasautoras,otraçodeanimacidadeforneceinformaçãoprobabilísticaao

ouvinte, modulando a possibilidade de interpretações alternativas enquanto a

sentença é produzida. Uma vez que nomes com o traço [+animado] geralmente

recebemos papeis temáticos de agente ou experienciador, típicos da posição de

sujeito,nomescomotraço[–animado]sãocomumenteinterpretadoscomootema

deumverbo.Comisso,aosedepararcomumnomee, logoemseguida,comum

morfema relativo (um complementizador ou um elemento-Qu), interpretações

alternativas são parcialmente ativadas pelo ouvinte/falante em função de sua

frequência e plausibilidade. Ou seja, de acordo com esse estudo, as relativas de

objeto são relacionadas com estruturas contendo um sujeito [+animado] e um

objeto[–animado].Consequentemente,estruturasemqueháumsujeito[–animado]

eumobjeto[+animado]nãosãorelacionadascomrelativasdeobjeto.

Page 21: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

7

Tendocomobaseadificuldadenacompreensãoenaproduçãoderelativas

deobjetodevidoàsimilaridadedetraçosdosargumentosdasentença,eofatodea

manipulação do traço de animacidade dos argumentos poder facilitar a

interpretação desse tipo de estrutura, nosso estudo pretende investigar o

comportamentolinguísticodecriançasfalantesnativasdePBacercadaprodução

de orações relativas de objeto, controlando os traços de animacidade dos

argumentosenvolvidos.Nosmateriaisutilizados,asvariáveiscontroladasforamas

idadesdos informantes,os tiposdeoração relativa (deobjetodiretoedeobjeto

preposicional) eo traçodeanimacidadedosargumentosenvolvidosnasorações

eliciadas. Conforme apresentaremosmais adiante, nossosmateriais contemplam

nãoapenasasconfiguraçõesdeanimacidadeutilizadasnoexperimentodeGennari

eMacdonald(2007),mastambémconfiguraçõesemqueosargumentospossuem

traçosdeanimacidadeiguais.

Nossa proposta de trabalho é estudar o comportamento linguístico de

crianças em fase de aquisição do PB, acerca da produção de relativas de objeto,

manipulandootraçodeanimacidadedosnúcleosnominaisenvolvidosnaestrutura.

Emnossomaterialexperimental,utilizaremosoraçõesrelativasdeobjetodiretoe

preposicionado em que ambos o sujeito da subordinada e o núcleo relativizado

possuemo traço [+NP]– configuraçãoessaque,deacordocomFriedmannet al.

(2009), é mais custosa para crianças. Além disso, nessas orações relativas,

manipularemos o traço [±animado] do sujeito da subordinada e do núcleo

relativizado, demodo a testarmos se diferentes configurações podem facilitar a

produçãoderelativasdeobjeto.

Issoposto,nossahipótesedetrabalhoéaseguinte:

7.

a. Hipótesedetrabalho:

OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemáticoinfluenciamas

estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem sentenças

envolvendorelativas.

Page 22: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

8

b. Hipótesenula:

O traço de animacidade de um NP e seu papel temático não

influenciam as estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem

sentençasenvolvendorelativas.

Se verificarmos que nossa hipótese, (7a), está correta, nossos resultados

estarãodeacordocomoutrosestudosnaárea,quedizemqueaconfiguraçãocom

sujeito [+animado] e um núcleo relativizado [–animado] é amais produtiva em

relaçãoàsrelativasdeobjeto.

Alémdisso,setambémverificarmosqueasrelativasenvolvendotraçosde

animacidade iguais são tão problemáticas quanto relativas com um sujeito [–

animado]eumnúcleorelativizado [+animado],o traçodeanimacidadepodeser

computadoparafinsde“MinimalidadeRelativizadaEstendida”,damesmamaneira

queasimultaneidadedotraço[±NP]nosujeitodarelativaenoobjetorelativizado

são computados em Friedmann et al. (2009), oferecendo suporte para essa

proposta.

Osobjetivosespecíficosdestapesquisasão:

8.

a. Testarcriançasde4;0a6;11deidadeeadultos(de20anosdeidadeoumais)

demodoaobservarasestratégiasutilizadasaoseeliciarrelativasdeobjeto

diretoepreposicionado;

b. Verificarseamanipulaçãodo traço [±animado]dosnúcleosnominaisnos

materiaisdoexperimentoresultamemumapreferênciapordeterminada(s)

estratégia(s);

c. Comparardadosdas crianças comos adultospara checar se, em todas as

faixas etárias testadas, as crianças já apresentam comportamento adulto.

Casonãoapresentem,detectaremqueidadeissoacontece;

d. Compararosresultadoscolhidosnosexperimentosdesteestudocomdados

obtidosporestudosanterioresdisponíveisnaliteratura.

Page 23: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

9

Com base nos resultados de estudos anteriores, lançamos as seguintes

previsões:

9.

a. Ascriançasutilizarãoestratégiasdeesquivaafimdeevitararelativizaçãode

umelementoemposiçãodeobjetodiretoepreposicionado(Belletti,2008e

2009;BellettieContemori,2010;Costaetal.,2014;GrollaeAugusto,2016;

GuastieCardinaletti,2003;Labelle,1990,1996;NovogrodskyeFriedmann,

2006;Utzeri,2007);

b. Onúmeroderelativasdeobjetodiretoapresentaráumavariaçãodeacordo

com a manipulação do traço [±animado] (Bentea et al., 2016; Gennari e

Macdonald,2007;Gennarietal.,2012;Maketal.,2006);

c. Onúmeroderelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãoserá(próximo

de)zero(Labelle,1990;GuastieCardinaletti,2003;Tarallo,1983);

d. Os adultos produzirão mais orações relativas, seguindo a tarefa do

experimento,enquantoqueascrianças,principalmenteasmaisnovas,não

serão unânimes quanto ao uso de relativas em suas produções (Grolla e

Augusto,2016;Labelle,1990;McKeeetal.1998).

No próximo capítulo da dissertação, apresentaremos a fundamentação

teórica.ApresentaremosatipologiadasoraçõesrelativasdoPBeaspropostasde

análises mais aceitas na literatura e que serão relevantes ao nosso estudo. Em

seguida, discutiremos alguns trabalhos selecionados acerca da aquisição dessa

estrutura,demodoaapoiarnossaargumentaçãonessesestudos.

Oterceirocapítulodadissertaçãodizrespeitoàmetodologiaexperimental

quefoiadotadaemnossotrabalhoeaosdadoscoletadosesuaclassificação.Além

dedescreverodesenhodoexperimento,apresentaremososmateriaisutilizados,e

oscritériosdeseleçãodeinformantes,osresultadosobtidoseadiscussão.

Finalmente,noúltimocapítulo,apresentaremosnossasconsideraçõesfinais.

Page 24: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

10

Capítulo2:AESTRUTURAEAAQUISIÇÃODASORAÇÕESRELATIVAS_______________________________________________________________________________________________

De modo a fundamentar teoricamente nossa pesquisa, dedicaremos este

capítulo para apresentarmos e discutirmos alguns trabalhos sobre a análise

sintáticadasrelativasesobresuaaquisição.

Na seção 2.1, apresentaremos a tipologia das orações relativas e as

estratégiasderelativizaçãodoPB,combasenotrabalhoseminaldeTarallo(1983).

Em seguida, na seção 2.2, discutiremos duas propostas de análise bastante

influentesnaliteraturasobrerelativização,asaber:apropostadomovimentodeum

elemento-Qu, ou de um operador nulo, para uma posiçãomais alta no sintagma

relativo (Chomsky (1977)) e a análise de alçamento do constituinte relativizado

(Kayne (1994)).Ato contínuo,na seção2.3, apresentaremoscomoapropostade

análisedeKatoeNunes(2009)lidacomasoraçõesrelativasdoPB.Naseção2.4,

discutiremosalgunstrabalhossobreaaquisiçãodasoraçõesrelativas.

2.1.TipologiadasoraçõesrelativaseasestratégiasderelativizaçãodoPB

Conformevimosnaprimeiraparte,asoraçõesrelativassecaracterizampor

apresentarem um núcleo que é interpretado tanto na oração matriz, quanto na

oração subordinada. Para refinarmos a descrição da estrutura em foco neste

trabalho,sefaznecessárioencontraroutraspropriedadescapazesdedistinguiras

oraçõesrelativasdeoutrasconstruções.ConformeapontaDeVries(2002:14),duas

dessaspropriedadessão:

1.

a. Umaoraçãorelativaéumasentençasubordinada;

b. Umaoraçãorelativaéligadaaumasentençamatrizpormeiodeumnúcleo.

Aomesmotempoemqueessaspropriedadesrestringemaspossibilidades

do que pode ser uma oração relativa, elas permitem variações encontradas em

Page 25: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

11

diferenteslínguas.Essavariaçãoentrelínguas,somadaàsdiferentesclassificações

dessas estruturas, resulta em diferentes estudos sobre relativização, abordando

algumas dessas características. Por exemplo, Vivanco (2014) analisa as orações

relativasdalínguaKaritianacombasenaposiçãodonúcleorelativizado.Pormeio

de um estudo experimental, a autora analisa as relativas de núcleo interno e

relativasdenúcleoexterno,ambaspresentesnalíngua.

AquidescreveremosapenasostiposderelativasdisponíveisnoPB,combase

nas posições relativizáveis na língua e os diferentes tipos de estratégias de

relativização.

Como visto no paradigma em (2) do capítulo anterior, repetidos no

paradigma em (2a-d) abaixo, o PB permite a relativização de elementos

interpretados em diferentes posições sintáticas na oração subordinada e essas

posiçõespodemserocupadasounãoporumelementoresumptivocorreferenteao

elementorelativizado.Alémdasrelativasapresentadasnaintrodução,oPBpermite

quealgumasrelativascontenhamumapreposição,queéutilizadaantesde“que”ou

“quem” (nos casos em que o item relativizado contém o traço [+humano]). As

contrapartes preposicionadas de (2a-c), são (2a’-c’), respectivamente. Quanto às

relativas genitivas, exemplo (2d) acima, observamos o uso do pronome relativo

“cujo”/”cuja” no lugar de “que” (cf. 2d’). Todas essas relativas são encontradas

apenas em registrosmais formais ou na escrita, compondo o que é referido na

literaturacomoestratégiapadrão.

2.

a. AMariaviuomeninoi[queeudiscuti___i/comelei].(ObjetoIndireto)

a’. AMariaviuomeninoi[comquemeudiscuti___i].

b. OJoãoviuameninai[quevocêdeuolivro___i/paraelai].(Oblíquo)

b’. OJoãoviuameninai[paraquemvocêdeuolivro___i].

c. OJoãoabriuagavetai[queeuguardooslivros___i/nelai].(Locativo)

c’. OJoãoabriuagavetai[emque/ondeeuguardooslivros___i].

d. AMariaviuomeninoi[queolivro___i/deleificounasala].(Genitivo)

d’. AMariaviuomeninoi[cujolivro___ificounasala].

Page 26: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

12

Comrelaçãoàsrelativascomresumptivos,umdosprimeirosestudossobre

ousodeconstruções relativasdiferentesdasconstruçõesdescritasnagramática

tradicionalfoiodeTarallo(1983).Nesseestudo,oautoridentificaduasestratégias

derelativizaçãoutilizadasemPB,diferentesdaestratégiapadrãoilustradaacima:a

estratégiaresumptiva,queenvolveousodeumelementoresumptivo,eaestratégia

cortadora, na qual não há uma preposição identificável quando o elemento

relativizado é interpretado como um sintagma preposicional na subordinada.

Partindodestaclassificação,temosasseguintesestratégiasderelativizaçãoemPB.

3. Estratégiapadrão(comumalacuna3naposiçãorelativizada)

a. ...ameninai[que___itrabalhoucomigo].(Sujeito)

b. ...omeninoi[queeuconheço___i].(ObjetoDireto)

c. ...opessoai[comquemeudiscuti___i].(ObjetoIndireto)

d. ...amoçai[paraquemvocêdeuolivro___i].(Oblíquo)

e. ...agavetai[emqueeuguardeioslivros___i].(Locativo)

f. ...oalunoi[cujolivro___ificounasala].(Genitivo)

4. Estratégiaresumptiva4

a. ...umameninai[queelaiémuitoatrapalhada].(Sujeito)

b. ...omeninoi[queeuconheçoelei].(ObjetoDireto)

c. ...apessoai[queeudiscuticomelai].(ObjetoIndireto)

d. ...amoçai[quevocêdeuolivroparaelai].(Oblíquo)

e. ...agavetai[queeuguardeioslivrosnelai].(Locativo)

f. ...oalunoi[queolivrodeleificounasala].(Genitivo)

3Entendemoscomolacunaumaposiçãosintáticafonologicamentenula,i.e.umacategoriavazia.Aolongo do texto, utilizaremos vestígios de movimento e/ou pronomes resumptivos nulos paraidentificarcadacategoriavaziadeacordocomaanáliserelevanteàpesquisa.4Aprincípio,todosostiposderelativasparecemaceitar,emPB,umelementoresumptivonaposiçãoemqueonúcleorelativizadoéinterpretado.Noentanto,asrelativasdesujeitoapenasaceitamumresumptivoquandoonúcleorelativizadoéprecedidoporumartigoindefinido.Seprecedidoporumartigodefinido,arelativaéinaceitável,comoem(ii),que,comparadaàversãopadrão(iii),ébastantedegradada.

(i) Euconheçoumameninai[queelaiémuitoatrapalhada].(ii) *Euconheçoameninai[queelaiémuitoatrapalhada].(iii) Euconheçoamenina[que__émuitoatrapalhada.]

Apesardeocontrasteacimaserbastanteinteressante,nãoestenderemosadiscussãoparaabordaressefatosobreasrelativasdoPB,poiselefogeaoescopodenossotrabalho.

Page 27: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

13

5. Estratégiacortadora5

a. ...apessoai[queeudiscuti___i].(ObjetoIndireto)

b. ...amoçai[quevocêdeuolivro___i].(Oblíquo)

c. ...agavetai[queeuguardeioslivros___i].(Locativo)

d. ...oalunoi[queolivro___ificounasala].(Genitivo)

2.2.Aestruturadasoraçõesrelativas

Comoditonoiníciodestadissertação,asoraçõesrelativasrepresentamum

temamuito produtivo para os estudos gerativistas. Como consequência, existem

numerosaspropostasdeanáliseparaasoraçõesrelativaspresentesnaslínguasdo

mundo.Emumprimeiromomento,restringiremosnossaapresentaçãoaduasdelas:

aanálisetradicional,deChomsky(1977)eaanálisedealçamento,deKayne(1994),

jáqueumaapresentaçãoexaustivadasanálisesencontradasnaliteraturafogeao

escopodesse trabalho.Emseguida, apresentaremosapropostadeKato eNunes

(2009),emqueosautoresvisamaunificaraanálisedasoraçõesrelativasdoPBcom

basenaanálisedealçamento.Asanálisesdiscutidasabaixoforamescolhidasdadaa

suainfluêncianaliteraturaeasuapertinênciaparaessetrabalho.

2.2.1.Chomsky(1977)eKayne(1994)

Embuscadeumaanálisequepudessereduziroaparatogramaticalparaa

descrição do inglês e, consequentemente, limitar a classe de possíveis regras

gramaticais,reduzindoassimacomplexidadedateoriagramatical,Chomsky(1977)

propõe que as orações relativas envolvem movimento-A’, assim como as

interrogativas-Qu.

“I will assume [...] that wh-movement is what underlies restrictive andnonrestrictiverelativesanddirectandindirectquestions.”

(Chomsky,1977:87)

5SeguindoTarallo(1983),assumiremosqueaestratégiacortadoraserefereàsrelativascujosverbospedemumapreposição,queestáausentenasrelativas.Ascontrapartespreposicionadasde(5a-d)sãoasrelativas(4c-f).

Page 28: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

14

A proposta de Chomsky que relaciona as interrogativas-Qu com orações

relativas,tambémconhecidacomoanálisetradicional6,foiamaisdifundidadurante

anos.Chomskyobservaqueasoraçõesrelativassãosensíveisàsmesmasrestrições

de movimento que as interrogativas-Qu. Com isso, o autor relaciona algumas

características gerais assumidas nas interrogativas-Qu em inglês às construções

relativas.Sãoelas:

6.

a. Omovimento-Qudeixaumvestígionaposiçãoondeeleéinterpretado;

b. Omovimento-Quécíclico-sucessivo;

c. Omovimento-QuésujeitoaoComplexNPConstraint;

d. Omovimento-Quésujeitoarestriçõesdeilha.

(AdaptadodeChomsky,1977:86)

As interrogativas e suas contrapartes relativas em (7) exemplificam as

característicaselencadasem(6),respectivamente.

7.

a. Quemiquevocêviutiontem?

a'. apessoai[queieuvitiontem]

b. Quemiquevocêacha[tiqueoJoãodisse[tiqueaMariabeijouti]]?

b'. apessoai[queieuacho[tiqueoJoãodisse[tiqueaMariabeijouti]]]

c. *Quemiquevocêouviu[orumor[queaMariabeijouti]]?

c’. *apessoai[queieuouvi[orumor[queaMariabeijouti]]]

d. *Comquemiquevocêimagina[quemkquetkconversouti]?

d’. *apessoai[comquemitemumameninak[quekoJoãoviutkti]]

6Kenedy(2002:12)comentaqueessemodelodeChomsky(1977)seconsolidouesetornouumareferência básica durante os anos 80, estando presente namaioria dos trabalhos sobre oraçõesrelativasnocontextodateoriadePrincípioseParâmetros,alémdeser tendênciamajoritárianaspesquisasdebasenoProgramaMinimalista.Por serumaabordagemdominantenosestudosemlinguísticateórica,essetipodeanáliseédenominadomodelotradicional.

Page 29: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

15

ApropostaemChomsky(1977)éanalisarasoraçõesrelativascombaseno

movimento de um elemento-Qu para COMP, a posição mais próxima ao núcleo

relativizado.Muitostrabalhossebasearamnessaproposta,mantendoaideiadeque

há movimento-Qu para uma posição mais alta na sentença e se adequando aos

refinamentos e atualizações em teoria sintática. De Vries (2002), por exemplo,

apresentaaanálisetradicionalparaasoraçõesrelativascombasenomovimentode

umpronomerelativo,ouumoperadornulo(emrelativascomthat),paraSpecde

CP7.Consequentemente,onúcleonominalimediatamenteexternoàoraçãorelativa

égeradonabase,resultandonasestruturasem(8)(referentesa(7a'-d’)).

8.

a. apessoaqueeuviontem

[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPOPiqueeuvitiontem]]]

b. apessoaqueeuachoqueoJoãodissequeaMariabeijou

[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPOPiqueeuacho[CPtiqueoJoãodisse[CPtiqueaMariabeijouti]]]]]

c. *apessoaqueeuouvioboatoqueaMariabeijou

[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPOPiqueeuouvi[NPorumor[CPtiqueaMariabeijouti]]

d. *apessoacomquemtemumameninaqueoJoãoviu

[NP[Da][N’[Npessoa]i[CPcomquemitemumameninak[CPOPkqueoJoãoviutkti]]]

(AdaptadodeDeVries,2002:84)

De acordo com essa análise, a interpretação do pronome relativo, ou do

operadornulo,épossívelgraçasaumaregradepredicaçãoquecoindexaonúcleo

relativizadoaopronomerelativo.Aoraçãorelativaévistacomoumaproposição

abertaqueésaturadapeloreferentedonomequeantecedeasubordinada.Desta

forma,pornãopossuiruma referência independente, opronomerelativo recebe

7Asrelativascontendoocomplementizadorthatteriamaseguinteestrutura(adaptadadeDeVries,2002:84):

(i) theguythatImetyesterday[NP[Dthe][N’[Nguy]i[CPOPithatImettiyesterday]]]

OmovimentodooperadornuloOPparaSpecCPgarantiriaacoindexaçãonecessáriaparaasaturaçãoda proposição aberta, representada pela oração relativa. Chomsky defende que essa construçãoenvolvendoooperadornuloOPnãoviolariaoFiltrodoCompDuplamentePreenchido,umavezqueapenasocomplementizadorthatseriapronunciadonaoração.

Page 30: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

16

umainterpretação“anafórica”.Alémdisso,nessaproposta,aoraçãorelativaétida

comoadjuntodeN,queporsuavezégeradoforadaoraçãorelativa.

“TheruleofinterpretationforrelativesrequiresthattherelativebetakenasanopensentencesatisfiedbytheentityreferredtobytheNPinwhichitappears;hence there must be an NP in the relative that is interpreted as having noindependentreference–i.e.apronounwiththeappropriateinflectionsthatcanbegiventhe“anaphoric”interpretation.”

(Chomsky,1977:81)

Noentanto,algunsdadossugeremqueonúcleorelativizadoé,narealidade,

geradodentrodaoraçãosubordinadae,emseguida,alçadoparaumaposiçãomais

alta.Construçõesrelativascomousodeanáforas,que,deacordocomoPrincípioA

dateoriadeligação(Chomsky,1981),devemserc-comandadasporumreferente,

servemcomoevidênciaafavordeumaanálisedemovimentodoitemrelativizado.

9.

a. Johnipaintedaflatteringportraitofhimselfi.

b. *HimselfipaintedaflatteringportraitofJohni.

c. TheportraitofhimselfithatJohnipaintedisextremelyflattering.

d. *TheportraitofJohnithathimselfi/heipaintedisextremelyflattering.

(Schachter,1973:32)

10.

a. [JohnandMary]ishowedafleetinginterestin[eachother]i.

b. *[Eachother]ishowedafleetinginterestin[JohnandMary]i.

c. Theinterestin[eachother]ithat[JohnandMary]ishowedwasfleeting.

d. *Theinterestin[JohnandMary]ithat[eachother]ishowedwasfleeting.

(Schachter,1973:32)

Nos exemplos (9a), a anáforahimselfdeve ser c-comandadapor John, seu

antecedente.Ocontrário (9b)resultaemumasentençaagramatical.Porsuavez,

vemosem(9c)queaexpressãoanafóricapodeaparecerantesdeseuantecedente

Page 31: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

17

emumaconstruçãorelativa,sugerindoquehouvealçamentodoconstituintepara

uma posição mais alta na derivação, a partir da posição de objeto de paint. A

agramaticalidadede(9d)podeserexplicadacombasenomovimentode Johnde

dentrodaoraçãorelativa,posiçãoestaqueéc-comandadaporhimself.

Oparadigmaem(10)mostraamesmarelação.OconstituinteJohnandMary

devec-comandaraexpressãoeachother(cf.(10a-b)).Agramaticalidadede(10c)e

a agramaticalidade de (10d) podem ser explicadas com base no alçamento do

elementorelativizado.Noprimeirocaso,JohnandMaryc-comandaeachotherantes

deseralçadoparaaposiçãodepouso.Omesmonãoacontecenosegundocaso.Each

other c-comanda John and Mary antes de seu alçamento, resultando em uma

sentençaagramatical.

TambémpodemosencontrarevidênciasenvolvendooPrincípioCdateoria

de ligação(Chomsky1981),que implicaaagramaticalidadedesentençasemque

expressõesreferenciaissãoc-comandadasporumpronome.8

11.

a. JohnithinksthatMaryhasanunfavorableopinionofhimi.

b. *HeithinksthatMaryhasanunfavorableopinionofJohni.

c. TheopinionofhimithatJohnithinksthatMaryhasisunfavorable.

d. *TheopinionofJohnithatheithinksthatMaryhasisunfavorable.

(Schachter,1973:32)

Vemos em (11a) que o pronome pode estar ligado a John,mas em (11b)

vemosqueaexpressãoreferencialJohnnãopodeterhecomoumantecedenteque

oligue.Ocontrasteentre(11c)e(11d)podeserexplicadoseassumirmosquehá

alçamentodoNP relativizado. Em (11c),opinion of himé c-comandadopor John

8Sauerland(2000)analisaasrelativasdoinglêsepropõequerelativascomo(i),quenãoapresentamefeitosdeCondiçãoC,nãosãoderivadasporalçamento.Paraoautor,onúcleorelativizadoeaposiçãointernaàoraçãorelativa(ondeonúcleoéinterpretado)sãorelacionadospormeiodeelipse.Destaforma,alémdelidarcomaaceitabilidadede(i),apropostatambémprevêefeitosdecrossover,comoem(ii).

(i) PicturesofJohniwhichheidisplaysprominentlyarelikelytobeattractiveones.(ii) *Picturesofanyoneiwhichheidisplaysprominentlyarelikelytobeattractiveones.

Paramaisdetalhessobreaproposta,cf.Sauerland(2000).

Page 32: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

18

antesdeseualçamentoparaaposiçãorelativizada.Em(11d),oNPopinionofJohn

ocupa uma posição c-comandada pelo pronome he, resultando no contraste

observadoacima.

A versãomais difundida da análise de alçamento foi proposta por Kayne

(1994).PartindodotrabalhodeVergnaud(1974),Kaynepropõequeoconstituinte

relativizadoégeradodentrodaoraçãorelativaenucleadoporumpronomerelativo,

ocupandoaposiçãoD0.ApósoalçamentodesteconstituinteparaSpecCP,onúcleo

nominaléadjungidoaoDP.Emseguida,oCPrelativoseconcatenaaumDexterno,

formando a oração relativa. Os exemplos e suas estruturas em (12) ilustram as

construçõescomumpronome-Qurelativoeminglês.

12.

a. thepicturewhichBillsaw

the[CP[DPpicturei[DPwhichti]]k[C0[Billsaw[tk]]]]

b. thehammerwithwhichhebrokeit

the[CP[PPhammeri[PPwithwhichti]]k[C0[hebrokeit[tk]]]]

c. thepersonwhoBillsaw

the[CP[DPpersoni[DPwhoti]]k[C0[Billsawtk]]]]

(AdaptadodeKayne,1994:88-90)

Ospassosem(12a)sãoosseguintes:oconstituintewhichpictureéalçado

para Spec CP. Posteriormente, o núcleo nominal picture se adjunge ao DP e,

finalmente,háconcatenaçãododeterminanteexternotheaoCPrelativo.Omesmo

ocorrecom(12b),umarelativapreposicionada:apósoalçamentodoPPwithwhich

hammerparaSpecCP,onúcleonominalhammeréadjungidoaoPPehá,porfim,a

concatenaçãododeterminanteexternothe.

Comovemos,aderivaçãode(12c)segueosmesmospassosde(12a),como

DPwhopersonsemovendoparaSpecCPedepoisaadjunçãodepersonaoDP.No

entanto,épossívelseperguntarsobreaformaçãodoconstituintewhoperson,que

em inglês é agramatical. Em nota, Kayne (1994: 154) segue uma sugestão de

GiulianaGiusti,naqualwhopodesertomadocomoumaformadewhichqueaparece

sobconcordânciadeSpec-núcleocomumtraço[+humano]:[mani[whoti]].

Page 33: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

19

Comrelaçãoàsrelativascomthateminglês,Kaynepropõequeháalçamento

doconstituinterelativizadoparaSpecCP,comoem(13)abaixo.

13. thepicturethatBillsaw

the[[NPpicturei][that[Billsaw[ti]]]]

(AdaptadodeKayne,1994:87)

Diferentementedasrelativasem(12),emKayne(1994),asrelativascomo

complementizador that envolvem apenas o alçamento do elemento relativizado

paraSpecCP.Oproblemaaquiésimilaraoquevimosem(12c):sawpicturenãoé

umVPbemformadoeminglês,i.e.elesnãoformamumconstituintegramatical.Para

contornaresseproblema,Bianchi(1999),quetambémdiferenciaasrelativascom

thatdasrelativascomumelemento-Qu9,propõequeoconstituinterelativizadoé

nucleado por um determinante Drel em relativas com that, para em seguida ser

licenciado via incorporação ao determinante externo. Dentro dessa proposta, a

estruturasintáticadeumarelativacomthatseria(14).

14. thebookthatIread

[DPDrel+the[CP[DPtDrel[DPbook]]i[CPthatIreadti]]]

(Bianchi,1999:171)

NoquedizrespeitoaodeterminantequeprecedeoCPrelativo,aproposta

deKayne(1994)exploraoseguintecontraste.

9Aanálisepropostaparaasrelativascomumelemento-QudeBianchi(1999)diferedaanálisedeKayne (1994), entre outros pontos, no que diz respeito à posição ocupada pelo constituinterelativizado.ComRizzi(1997),BianchiassumequeCPpossuidiversascamadaseexplicaqueofatode o inglês dispor de relativas comum elemento-Qu e relativas comum complementizador estárelacionadoàdisponibilidadedealgumasdessascamadas.Paraexplicarofatodequecertaslínguas,como o italiano, o espanhol e o francês, apenas dispõem de relativas com um elemento-Qu emrelativaspreposicionadas,aautorapropõequeháumamarcaçãoparamétricarelacionada.Algumaslínguas (e.g. o inglês) possuem um sistema em que TopoP pode hospedar um constituinterelativizado, enquanto que em outras línguas (e.g. línguas românicas) TopoP não possui essacaracterística.

Page 34: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

20

15.

a. IhavetwopicturesofJohn’s.

b. *IhavethetwopicturesofJohn’s.

c. IfoundthetwopicturesofJohn’sthatyoulentme.(AdaptadodeKayne,1994:85-86)

Nosexemplosacima,vemosquetwopicturesofJohn’snãopodeserprecedido

pelodeterminantethe((15a)vs.(15b)),amenosquetwopicturesofJohn’sesteja

envolvidoemumaconstruçãorelativa,comoem(15c).

Tendo em mente o contraste entre os dois primeiros exemplos, Kayne

argumentaquethetwopicturesofJohn’snãoformaumconstituinteem(15c)eque,

nasconstruçõespossessivaseminglês,háumD0fonologicamentenulo,cujafunção

élicenciaroCasodeJohn;i.e.‘s.Nessaanálise,oconstituintetwopicturessemove

paraSpecDP,nopassoemqueapreposiçãooféinseridaemD0(cf.(16b)).Desta

forma,D0podelicenciaroCasodeJohn,salvandoaestrutura.Ouseja,asconstruções

envolvendopossessivos,comoem(15a),teriamumaderivaçãocomo(16)abaixo.

16.

a. D0[John[‘s[twopictures]]]

b. [twopictures]i[[Dof[John[‘s[ti]]]

(AdaptadodeKayne,1994:85-86)

Ainserçãododeterminanteem(15b)resultaemumasentençaagramatical

pois thenãoselecionaumcomplementoDP,nemégeradoemumaposiçãomais

baixa que ‘s; i.e. o complemento de ‘s não pode ser um DP. Kayne diz que a

gramaticalidade de (15c) pode ser explicada se as orações relativas forem

analisadascomocomplementosdeumdeterminante.Ouseja, indodeencontroà

análisedeChomsky(1977),emqueasrelativasseriamumpossívelcomplemento

deN,Kayne(1994)analisaasoraçõesrelativascomocomplementosdeD:[DPD0CP].

17. Ifoundthe[CP[twopicturesofJohn’s]ithatyoulenttime].

(AdaptadodeKayne,1994:86)

Page 35: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

21

EssaanálisepropõequeaestruturadeumarelativacomothepicturethatBill

sawdevesercomoem(15);oNPrelativizadoéalçadoparaSpecCP,queporsuavez

énucleadopelocomplementizadorthat.

18. the[[NPpicture]i[that[Billsaw[ti]]]].

(AdaptadodeKayne,1994:87)

Partindodessaformulação,épossívelanalisaraambiguidadeem(19)abaixo

combasenoantecedentedoreflexivo.Considerandoquehimselfégeradoemuma

posiçãonaqualéc-comandadoporBill(dentrodaoraçãorelativa),apósthepicture

ofhimselfseralçadoparaSpecCP,oreflexivopodesereferirtantoaJohnquantoa

Bill.

19. Johniboughtthe[[pictureofhimself]i/k[that[Billksaw[ti]]]].

(AdaptadodeKayne,1994:87)

Oproblemacomessaanáliseéquesawpictureesawpictureofhimself,em

(15) e (16), respectivamente, não formam constituintes gramaticais em inglês,

sendonecessárioainserçãododeterminantetheparaelesserembemformados.No

entanto,issogerariarelativasagramaticais,como*thethepicturethat…e*thethe

pictureofhimselfthat….Paracontornaresseproblema,Bianchi(1999)propõeque

o constituinte relativizadopossui umdeterminanteDrel em relativas como (28a)

abaixo, que em seguida é licenciado via incorporação ao determinante externo.

Dentrodessaproposta,aestruturasintáticade(20a)seria(20b).

20.

a. thebookthatIread

b. [DPDrel+the[CP[DPtDrel[NPbook]]i[CPthatIreadti]]]

(Bianchi,1999:171)

Épossívelencontrarmosargumentosempíricosquesustentamaideiadeque

odeterminanteseencontraemumaposiçãoexternaaoCPrelativo.Arelativização

Page 36: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

22

envolvendo expressões idiomáticas nos dãouma evidência a favor da análise de

alçamentocomumdeterminanteexterno.Observemosoparadigmaabaixo.

21.

a. Wemade(*the)headway.

b. *(The)headwaywassatisfactory.

c. Theheadwaythatwemadewassatisfactory.

(AdaptadodeSchachter,1973:31)

Comparando as sentenças em (21a) e (21b), vemosque o nomeheadway

ocupaaposiçãodeobjetodemake,naexpressãoidiomáticamakeheadway.Ouso

de um determinante como the imediatamente antecedendo headway torna essa

expressão inaceitável, enquanto que, em (21b), vemos que the deve preceder

headway quando este não está sendo usado em uma expressão idiomática. Ao

relativizaroobjetodemakeheadway,sentença(21c),notamosapresençadethe

antes de headway. Isso pode ser interpretado como um indício de que houve

alçamento do objeto da expressão idiomática, uma vez que ‘the headway’ não

poderiatersidogeradocomoobjetodemakenaexpressãoidiomática,comovisto

queéimpossívelem(21a).

AanálisedealçamentodeKayne,comamodificaçãopropostaemBianchi

(1999),claramentepossuivantagensemrelaçãoàanálisetradicional.Comovimos

acima,umaanáliseinvocandoomovimentodoconstituinterelativizadoéadequada

paralidarcomargumentosempíricosenvolvendooPrincípioAeoPrincípioC(cf.

(9),(10)e(11)).Alémdisso,diferentementedaanálisetradicional,nãoénecessário

estipularumaregradepredicaçãoligandoooperadornarelativaaoDPnasentença

matriz,umavezqueoDPrelativofoigeradodentrodaoraçãorelativaesemoveu

paraumaposiçãomaisalta.Tambémvemosqueaanálisedealçamentonãoestipula

aexistênciadeumoperadornuloemrelativascomumcomplementizador.

Portanto,nãoassumiremosqueasoraçõesrelativassãoderivadasapartir

domovimentodeumelemento-Qu,ouumoperadornulo,paraSpecdeCP.Neste

trabalho, vamos explorar a análise de alçamento, que envolve movimento do

constituinterelativizado,partindodedentrodasubordinada.

Page 37: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

23

Osargumentosapresentadosemfavordessaanáliseforammajoritariamente

feitoscombaseeminglês,oquenoslevaaperguntarseessamesmaanálisepoderia

seraplicadaàanálisedasoraçõesrelativasdoPB.10Naseçãoseguinte,retomaremos

asestratégiasderelativizaçãodoPB,apresentadasnosparadigmas(3-5)acima,e

exploraremoscommaisdetalhesapropostadeKatoeNunes(2009),quesugerem

umaanáliseunificadaparaosdiferentestiposderelativasencontradasnoPB,com

basenomodelodealçamento.

2.2.2.KatoeNunes(2009)

Conforme vimos na seção 2.1, as orações relativas do PB podem ser

classificadas em três diferentes estratégias: a estratégia padrão, a estratégia

resumptiva e a estratégia cortadora (paradigmas em (3), (4) e (5) acima,

respectivamente).Emtodasessasestratégias,atestamosousoquasequeinvariável

dequecomoummorfemarelativo.Talfatonoslevaaperguntarsobreanaturezado

querelativo.

Comparandoasentença(22a)eminglêscom(22b)emPB,poderíamosdizer

queomorfemarelativosecomportacomoocomplementizadorthateminglês,com

aestrutura(simplificada)em(22c).

22.

a. thebookthatIbought

b. olivroqueeucomprei

c. [DPDext[CPNPrel[CPcomp[IP...]]]]

Kenedy(2002)apontaparaofatodeoquerelativopossuircaracterísticas

queodiferedeoutrosoperadoresrelativos(presentesemregistrosmaisformais,

porexemplo),comoquem,onde,o/aqual,os/asquais,cujo(a-s),etc.Deacordocom

oautor:

10Kayne(1994)utilizatambémalgunsexemplosdofrancês,romenoeitaliano.

Page 38: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

24

“…quenãomanifestamarcasdegênero,númerooucaso…”(Kenedy,2002:83)

Kenedyargumentaafavordeumaanálisedoquecomocomplementizador

apontandoumadiferençaentreasoraçõesrelativaseasinterrogativas-Qu,asaber,

aimpossibilidadedeocorrênciadedois“ques”nasrelativas.Defato,enquantoque

asinterrogativas(23a)e(23c)sãoperfeitas,assuascontrapartesrelativasem(23b)

e(23d)sãoimpossíveisemPB.

23.

a. Oquequevocêviu?

b. *acoisaquequevocêviu

c. Quelivroquevocêleu?

d. *olivroquequevocêleu

(Kenedy,2002:84)

Deacordocomoautor, aocorrênciadedois “ques” épossível em(23a)e

(23c) uma vez que o primeiro que é derivado como um pronome interrogativo,

enquanto que o segundo que é um complementizador. Em outras palavras, o

pronomeinterrogativoocupaSpecCP,enquantoqueocomplementizadoraparece

em C0. Ao assumir que nas relativas o que é um complementizador, o elemento

relativizadoéalçadoparaSpecCP,nãohavendoumaposiçãoamaisparaosegundo

que.Portanto,Kenedy(2002)assumequeasoraçõesrelativasdoPBapresentam

umcomplementizadorqueaberto.

Noentanto,aoanalisarmosoparadigmaem(24),vemosqueoquenasrelativas

emPBnãosecomportaexatamentecomoocomplementizadorthateminglês.

24.

a. omarteloqueeuusei

b. thehammerthatIused

c. omartelocomqueeuconserteiisso

d. *thehammerwiththatIfixedthat

Page 39: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

25

Aparentemente,(24a-b)secomportamdemaneiraidêntica,sugerindoque

que e that pertencem, na realidade, à mesma classe gramatical, i.e. ambos são

complementizadores.Entretanto,(24c-d)nosmostramque,enquantooquerelativo

doPBpode ser imediatamenteprecedidoporumapreposição, o that relativo se

comportademaneiraoposta.Defato,(24c)poderiaserparafraseadoapenascoma

substituiçãodoquerelativopelopronomerelativooqual(omartelocomoqualeu

conserteiisso),sugerindoqueoquerelativo,emPB,éumpronomerelativo.11Esse

éumdosmotivosqueguiamapropostadeKato(1993),revistaemKatoeNunes

(2009),quesugeremumaanáliseunificadaparatodosostiposderelativasdoPB.

Defato,umaanáliseunificadaémaisatraentedopontodevistateórico,uma

vez que ela abre a possibilidade de redução do aparato teórico, abordando as

diferentesestratégiasderelativizaçãosobumtipodederivação.

Aanálisepropostaestádeacordocomaderivaçãoderelativas-QuàlaKayne

(1994),envolvendoalçamentodoDPrelativo([DPWh[NP]])paraumaposiçãomais

altaemCP,queporsuavezénucleadoporumCnulo.Destaforma,asestruturas

sintáticasde(24a)e(24c)seriam(25a)e(25b),respectivamente.

25.

a. o[CP[DPmarteloi[DPqueti]k][C[IPeuuseitk]]]

b. o[CP[PPmarteloi[PPcom[DPti[DPqueti]]]k][C[IPeuconserteitkisso]]]

Na análise unificada das relativas em Kato e Nunes (2009), as orações

relativas do PB envolvem um determinante relativo, homófono com o

complementizadordeclarativoeodeterminante-QuinterrogativodoPB.Osautores

comparamousodosdeterminantesdemonstrativosesteeestacomoquerelativo

comoevidênciaparaessaproposta.Em(26a-b),osdemonstrativosesteeesta,como

todos os demonstrativos em PB, precedem seus complementos nominais. Já em

11Asrelativascompied-pipingpreposicionalnãosãocomunsemPBoral(Tarallo,1983).Construçõescomoasexemplificadasem(i-iii),abaixo,parecemsermaismarginaisnalínguareforçandoaideiadequeoquerelativonãoocupaonúcleodeCP,masaparececomoumpronomerelativo.

(i) ?aprofessoracomquemquemeuspaisfalaramontem(ii) *omeninoparaquemqueeudeiolivro(iii) *acanetacomaqualqueaminhamãeassinouocheque

Page 40: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

26

(26c-d), vemos que esses mesmos demonstrativos se comportam de maneira

semelhanteaumdeterminanterelativonamedidaemqueelesnãopodempreceder

seus complementos nominais. Isto é, eles se comportam como umdeterminante

relativo, dotado de um traço [+N] forte e desencadeandomovimento do núcleo

nominal(algoquenãoacontececomosdeterminantes-Quinterrogativos).

26.

a. Elecomprouestelivro/*livroeste.

b. Elecomprouestarevista/*revistaesta.

c. Elesemprecitaumlivro,livroeste/*estelivroquenaverdadenãoexiste.

d. Omeutimeeraofavorito,posiçãoesta/*estaposiçãoqueatraíatodaaatenção.

(KatoeNunes,2009:97-98)

Finalmente,Kato eNunes (2009) explorama assimetria entreopronome

interrogativo quem sua contraparte homófona relativa, em (27a-c) e (28a-c)

respectivamente.

27.

a. Quemviuoprofessor?

b. Quemoprofessorviu?

c. Comquemoprofessorconversou?

(KatoeNunes,2009:98)

28.

a. *apessoaquem___viuoprofessor

b. *apessoaquemoprofessorviu___

c. apessoacomquemoprofessorconversou___

(KatoeNunes,2009:98)

(27a-c) ilustramqueoquem interrogativopodedesempenhara funçãode

sujeito,objetodiretooucomplementodepreposição,respectivamente.Entretanto,

o quem relativo somente pode ser usado como complemento de preposição (cf.

Page 41: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

27

(28c)),i.e.oquemrelativonãopodeserusadoemumarelativadesujeitoouuma

relativa de objeto direto (cf. (28a-b)). Ao analisar oque como um determinante

relativo,enãocomoumcomplementizador,osautoressugeremqueessaassimetria

podeserexplicadacombasenofenômenodealternânciaque-quiemrelativasdo

francês(cf.29a-b).KatoeNunespropõemqueomesmofenômenoéobservadonas

relativaspreposicionadasdoPB(cf.29c-d).

29.

a. QuelleétudianteaJeanditqui/*queviendra?

quealunoaux.Jeandissequem/quevirá

b. [[quelleétudiante]iaJeandit[CPti[que[IPtiviendrati]]]

qui

c. apessoacomquemoprofessorconversou

d. [DPa[CP[PPpessoai[PPcom[DPti[DPqueti]]]k][CPC[IPoprofessorconversoutk]]]]

quem

(KatoeNunes,2009:101)

Em francês, a alternânciaque-qui ocorre quandoumnúcleo funcional (no

caso,que)seencontraentredoisvestígiosadjacentesdeumelementocomotraço

[+humano].Comisso,oquirelativodofrancêsnãoéumitemlexicalbásico,masum

itemlexicalderivadoapartirdaconfiguraçãoobservadaem(29b).Omesmopode

serditodoquemrelativo,emcomparaçãoaoqueminterrogativo.AestruturadoPB

em(29d)possuiamesmaconfiguraçãodaestrutura(29b)dofrancês,naqualquem

éobtidoquandoseencontraentredoisvestígioscomotraço[+humano],enquanto

oqueminterrogativo(cf.27a-c)é,narealidade,umitemlexicalbásico.

Frente a esses argumentos, assumiremos em nosso trabalho, com Kato

(1993), e Kato e Nunes (2009), que o que nas relativas não é um

Page 42: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

28

complementizador12, mas um determinante relativo, gerado junto ao núcleo

relativizado dentro da oração subordinada, que em seguida é adjungido ao CP

relativo.Emseguida,nocasodasrelativasnãopreposicionadas,onúcleonominalé

adjungidoaDP,enquantoquenasrelativaspreposicionadas,apóshaveradjunção

donúcleonominalaDP,eleéadjungidoaPP13.

No que concerne a estrutura sintática das relativas do PB, Kato e Nunes

partemdaobservaçãoemKato(1993),queobservaumacertasemelhançaentrea

formadasrelativasnão-padrãoeelementosdeslocadosàesquerda:elespodemser

retomadosporumpronomeabertoounulo.

30.

a. [esselivro]i,eleiémuitobom

b. [esselivro]i,eucompreieleiontem

c. [esselivro]i,euestavaprecisandodeleiontem

(KatoeNunes,2009:109)

31.

a. [esselivro]i,euentrevisteiapessoaqueescreveuproi

b. [esselivro]i,eufaleicomumalunoqueestavaprecisadoproiontem

(KatoeNunes,2009:109)

Paraosautores,osexemplosem(31)indicamquenãohouvemovimentodo

elemento deslocado à esquerda. Enquanto que em (31a) o DP esse livro é

interpretado como complemento de escreveu, em (31b) esse livro é interpretado

comocomplementodeprecisando,umverboquerequerousodepreposição.Como

oelementodeslocadoàesquerdaéumDP,nãoumPP,KatoeNunesanalisama

posiçãorelativizadacomoumproresumptivo.

12ParaumaanálisedasrelativasdoPBemqueoquerelativoétratadocomoumcomplementizador,cf.Kenedy(2002).13ParaumadiscussãoacercadasrazõespelasquaisaderivaçãodasoraçõesrelativasdoPBenvolveadjunçãoemvezdeconcatenação,cf.KatoeNunes(2009:101-107).

Page 43: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

29

Desta forma, considerando que em PB o que relativo funciona de modo

análogo ao which relativo do inglês, os autores propõem que a diferença nas

estratégiasderelativizaçãoemPBestádiretamenterelacionadaàposiçãodeonde

oelementorelativizadoéalçadoparaseadjungiraCP.Comisso,asderivaçõesdos

trêstiposdeoraçõesrelativasobservadasnoPBsãoilustradasem(32-34):

32. Estratégiapadrão

a. aquelapessoaquecomprouolivro

[DPaquela[CP[DPpessoai[DPqueti]]k[CPC[IPtkcomprouolivro]]]]

b. olivroqueaquelapessoacomprou

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[IPaquelapessoacomproutk]]]]

c. olivrodequevocêprecisa

[DPo[CP[PPlivroi[PPde[DPtiqueti]]]]k[CPC[IPvocêprecisatk]]]]

33. Estratégianão-padrãocomresumptivosabertos

a. umaamigaqueelaémuitoengraçada

[DPuma[CP[DPamigai[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPelakémuitoengraçada]]]]]

b. olivroqueoJoãosemprecitaele

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPoJoãosemprecitaelek]]]]]

c. olivroquevocêvaiprecisardele

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêvaiprecisardelek]]]]]

34. Estratégianão-padrãocomresumptivosnulos

a. olivroqueeuentrevisteiapessoaqueescreveu

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPeuentrevisteiapessoaqueescreveuprok]]]]]

b. olivroquevocêestavaprecisando

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêestavaprecisandoprok]]]]]

(KatoeNunes,2009:114-115)

Conformeseverificaem(32),asrelativasderivadaspormeiodaestratégia

padrãoenvolvemalçamentodoelementorelativizado(oDPquepessoaem(32a),o

Page 44: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

30

DPquelivroem(32b)eoPPdequelivroem(32c))dedentrodeIPparaSpecCP,

seguidodoalçamentodoNPrelativizado,queéadjungidoaoDP/PP.

Porsuavez,nasduasestratégiasnão-padrão,oDPrelativoéalçadodeuma

posição acima de IP, a saber de LD14. Assim como na estratégia padrão, após o

alçamento do DP relativo para Spec CP, há subsequente alçamento do NP

relativizado,queéadjungidoaoDP.Naposição internaàoraçãorelativa,ondeo

elementorelativizadoéinterpretado,háumpronomeresumptivocoindexadoaoDP

relativo. A diferença entre as estratégias não-padrão está no tipo de pronome

resumptivo.Em(33),opronomeresumptivoépronunciado,enquantoqueem(34),

eleénulo.

KatoeNunesexplicamaausênciadapreposiçãoem(34b)sugerindoquea

preposição de, presente em construções envolvendo o verbo precisar, é uma

realização de caso inerente, não sendo necessário que ela seja realizada na

derivação.

“Assuming that insertion of prepositions for purposes of inherent Caserealization is subject to Last Resort, the preposition will surface in case theobjectisovert;whenitisnull,thereisnoneedforittoshowup.”

(KatoeNunes,2009:110)

Aparentemente,hádoiscasosdeambiguidadeestruturalprovenientesdessa

análise: as relativas de sujeito e as relativas de objeto direto ((35a) e (35b),

respectivamente).Porapresentaremumacategoriavazianasposiçõesdesujeitoe

objetodireto,nãoseriapossíveldizerseessasrelativassãoderivadasenvolvendoo

movimentoquepartedeumaposiçãoargumentalouseessemovimentopartede

umaposiçãodedeslocamentoàesquerda.

14Emnota,osautoresafirmamqueotipodeprojeçãoatribuídoaLDnãoérelevanteparaadiscussão:“ItisimmaterialforthepresentdiscussionwhatkindofprojectionLDinthestructuresthatfollowreallyis.AllthatmattersisthatitisthepositionthathostsleftdislocatedmaterialandisbetweenIPandCP.”(KatoeNunes,2009:112)

Page 45: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

31

35.

a. apessoaqueeccomprouolivro

b. apessoaqueeuviec

Contudo,algunsestudos,comoFerreira(2000,2009),mostramqueoPBnão

possuiresumptivosnulosnaposiçãodesujeito.Considerandoqueoraçõesrelativas

se comportam como ilhas sintáticas, apenas um pronome resumptivo pode

preencher a posição de sujeito de comprou em (35a) e (36a). Considerando a

agramaticalidade de (36b), Ferreira indica que resumptivos nulos não são

licenciadosnaposiçãodesujeitoemPB:

36.

a. [apessoa]iqueeuliolivroqueelaicomprou

b. *[apessoa]iqueeuliolivroqueproicomprou

Com isso, podemosdizer que as relativas de sujeito emPB sãoderivadas

exclusivamentepormeiodaestratégiapadrão.15

Noentanto,nãoépossívelaplicaromesmotipodetesteparaverificarotipo

decategoriavaziapresentenasrelativasdeobjetodireto,umavezqueoPBlicencia

objetosnulos,nãoexibindosensibilidadeailhassintáticas(Ferreira,2000;Galves,

1989;Kato,1993).

37.

a. [olivro]iqueeuentrevisteiapessoaqueescreveuelei

b. [olivro]iqueeuentrevisteiapessoaqueescreveuproi

NuneseSantos(2009)mostramqueépossíveldefiniro tipodecategoria

vaziaem(37b)verificandoapresençaouaausênciaderetraçãodeacento.Partindo

dos trabalhos de Santos (2002, 2003), a retração de acento em PB ocorre

15Issoexplicaaausênciadeumarelativadesujeitonosexemplosem(34).

Page 46: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

32

opcionalmenteemumsintagmafonológicoΦ,emcontextoscontendodoisacentos

primáriosadjacentes.Essapropostaéilustradaabaixo.

38.

a. [oDavi]Φ[coMEU]Φ[BOlo]Φ → reestruturação

b. [oDavi]Φ[coMEUBOlo]Φ → retraçãodeacento

c. [oDavi]Φ[COmeuBOlo]Φ(NuneseSantos,2009:123)

SegundoSantos,umproentredoisitensdeummesmosintagmafonológico

impossibilitaaretraçãodeacentoemumcontextosimilaraoapresentadoem(38).

Ouseja,em(39),ondeprointervémentrecomproueontem,nãopodehaverretração

deacento.

39. OJoãodissequeaMariacomprouproontem.

[comPROUproONtem]Φ

#[COMprouproONtem]Φ

Santosmostraqueháumaassimetriaentreproeumvestígiodemovimento

quantoàaplicaçãoderetraçãodeacento.Deacordocomaautora,umvestígioentre

doisacentosprimáriosadjacentesnãoécomputadoparafinsderetraçãodeacento.

Os exemplos em (40) envolvem uma categoria vazia na posição de objeto e um

antecedentenaperiferiaesquerdadasentença.(40a),umexemplodetopicalização,

indica que, quando há retração de acento, a categoria vazia é um vestígio de

movimento.Porsuavez,em(40b)acategoriavazianãoé interpretadacomoum

vestígiodemovimento,umavezqueelaseencontradentrodeumaoraçãorelativa,

umailhasintática.Nessecaso,apossibilidadederetraçãodeacentonãoéverificada.

Page 47: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

33

40.

a. [essasárvores]iaMariadisse[queelapodoutiontem].

[poDOUtiONtem]Φ→retraçãodeacento

[POdoutiONtem]Φ

b. [essasárvores]i,aMariapagouojardineiro[quepodouproiontem].

[poDOUproiONtem]Φ

#[POdouproiONtem]Φ

(NuneseSantos,2009:124)

Combasenestaproposta,podemosdizerqueasrelativasdeobjetodiretoem

PBpodemenvolveralçamentoapartirdeumaposiçãoargumental,resultandoem

umaoração relativa padrão, ou a partir de LD, resultando emuma relativa não-

padrãocomumresumptivopronunciadoounulo.

Nesta seção sobre a estrutura das orações relativas, contrastamos duas

propostasbastanteinfluentesnaliteraturasobreasrelativas:aanálisetradicional,

deChomsky (1977) e a análisede alçamento,deKayne (1994), argumentandoa

favor da segunda análise, com umamodificação baseada no trabalho de Bianchi

(1999).Emseguida,apresentamosapropostadeKatoeNunes(2009),queanalisam

as relativas do PB demaneira unificada. Diferentemente de outras análises, que

tomamo“que”relativoemPBcomoumcomplementizador(assimcomoothatem

inglês), Kato e Nunes (2009) analisam-no como um determinante relativo. Para

essesautores,asestratégiaspadrãoenão-padrãodiferem,entreoutrospontos,no

quedizrespeitoàposiçãodealçamentodoconstituinterelativizado.Nasrelativas

padrão,oalçamentoocorrededentrodoIP,enquantoquenasrelativasnão-padrão,

oDPrelativoéalçadodeLD,umaposiçãoacimade IP.Paradeterminarmossea

categoriavazianasrelativasdesujeitodizrespeitoaumvestígiodemovimentoou

umpronomeresumptivonulo(pro),vimosqueestudoscomoodeFerreira(2000,

2009)propõemqueoPBnãopossuiresumptivosnulosnaposiçãodesujeito.Por

suavez,asrelativasdeobjetodiretoconfiguramumcasodeambiguidadeestrutural,

umavezqueoPBlicenciaobjetosnulos(Ferreira,2000;Galves,1989;Kato,1993).

Page 48: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

34

DeacordocomNuneseSantos(2009),asrelativasdeobjetodiretopodemenvolver

alçamentotantodeumaposiçãoargumentalemIP,quantodeLD.Noprimeirocaso,

obtemosumaoração relativapadrãoeapossibilidadede retraçãodeacento.No

segundo caso, temos uma relativa não-padrão, com um resumptivo nulo, e a

impossibilidadederetraçãodeacento.

Emvistadasapresentaçõeseargumentaçõesfeitasnestaseção,analisaremos

nossos dados com base em Kato e Nunes (2009), assumindo que o constituinte

relativizadoéumDP,contendoumdeterminanterelativoque.

Na seção seguinte, abordaremos os trabalhosmais relevantes para nossa

pesquisa acerca da aquisição das relativas nas línguas naturais. Também

apresentaremos trabalhos que propõem explicar a dificuldade observada na

produçãoenoprocessamentoderelativasdeobjetocombasenascaracterísticas

estruturais do sujeito da relativa. Finalmente, veremos dois trabalhos sobre o

processodeaquisiçãodasrelativasemPB.

2.3.Aaquisiçãodasrelativasnaslínguasnaturais

Hádiversostrabalhosnaliteraturasobreaaquisiçãodasoraçõesrelativas.

Por ser um tema abrangente, esses trabalhos abordam diferentes pontos, por

exemplo a (in)existência de movimento-Qu na derivação das relativas infantis

(Guasti&Cardinaletti,2003;Guasti&Shlonsky,1995;Labelle,1990,1996),ouso

de pronomes resumptivos por crianças (Grolla, 2004, 2005a, 2005b); McKee e

McDaniel,2001;Shlonsky,1992),osestágiosnoprocessodeaquisiçãodasrelativas

em PB (Grolla, 2000; Lessa de Oliveira, 2008), a dificuldade de crianças com

relativas envolvendopied-pipingpreposicional (Corrêa, 1998; Costa et al., 2014;

Kenedy, 2007) e a assimetria no processamento de relativas de sujeito e objeto

(Belletti,2008,2009;BellettieChesi,2011;BellettieContemori,2010;Bellettietal.,

2012;Benteaetal.,2016;Friedmannetal.2009;GrollaeAugusto,2016;Miyamoto

eNakamura,2003;Utzeri,2007;entreoutros),dentreoutrostópicos.

Nesta seção, primeiramente contrastaremos a proposta de Labelle (1990,

1996)comaspropostasdeGuastieShlonsky(1995)eGuastieCardinaletti(2003)

Page 49: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

35

no que diz respeito à operação de movimento-Qu nas relativas. Em seguida,

apresentaremos alguns dados dos estudos de Grolla (2000) e Lessa de Oliveira

(2008)paraoPB,relacionando-oscomousodasestratégiasnãopadrão,asabera

estratégia resumptiva e a estratégia cortadora. Por fim, analisaremos alguns

trabalhossobreaassimetrianoprocessamentodasrelativasdesujeitoedeobjeto,

combasenapropostadeFriedmannetal.(2009),quepropõeque,emrelativasde

objeto, o sujeito da subordinada atua como um elemento interveniente para o

movimento do núcleo relativizado, acarretando problemas para a produção e o

processamentodeestruturasenvolvendodependências-A’.

2.3.1.Labelle(1990)

Em um experimento envolvendo uma tarefa de produção eliciada com

criançasde3a6anosdeidade,falantesdefrancêscanadense,Labelle(1990)analisa

1.348 orações relativas produzidas pelas crianças testadas e argumenta que as

oraçõesrelativasdofrancêscanadenseinfantilnãoenvolvemomovimentodeum

elemento-Qu para Spec CP. Para a autora, os dados das produções eliciadas não

apresentam evidências de que há movimento-Qu na relativização nessa língua

infantil.Aautora,então,ressaltadoispontos:emprimeirolugar,ascriançasfalantes

de francês canadense empregammovimento-Qu nas interrogativas; em segundo

lugardadosdeestudoscomcriançasfalantesdeinglêssugeremqueomovimento-

Qu é adquirido relativamente cedo nas relativas. Labelle propõe que as orações

relativassãofrutodeumaregradepredicaçãosimples,quecoindexatodaaoração

relativaaumNPantecedente.

“…the relative clauses produced by the children tested do not show overtpresence of aWHword in CP, although this is obligatory in adult standardFrench.[…]therelativeclausesproducedbythechildrendonotseemtorequirethe presence of an element in the clause that would be coindexed with theantecedent..”

(Labelle,1990:117)

Page 50: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

36

Ométodo utilizado por Labelle (1990) consiste em uma apresentação de

pares de figuras em preto e branco. Em cada figura, o objeto ou o personagem

correspondente ao alvo da relativização estava envolvido em uma atividade

diferentedaatividadedoobjetooupersonagemmostradonasegundafiguraeera

esperado que as crianças produzissem relativas de sujeito, objeto direto, objeto

indireto, locativo e genitivo. Ao apresentar um par de figuras, a pesquisadora

perguntavaparaacriança“Surquel[X]est-cetuvasmettretoncollant?”(Emque

[X]vocêquercolocarseuadesivo?).

Noparadigmaabaixo, vemosexemplosde relativasem francês canadense

envolvendoasposiçõessintáticasestudadaseaestratégiapadrãodalíngua(istoé,

a estratégia de relativização que envolveria movimento-Qu, de acordo com a

autora):

41. Estratégiapadrãoemfrancêscanadense

a. Sujeito: Lafille[[qui]___court]

Thegirl[[that]___runs]

ameninaquecorre

b. Obj.Direto: Laballe[[que]legarçonlance___]

Theball[[that]theboythrows___]

abolaqueameninojoga

c. Obj.Indireto: Lafille[[àqui]lamadamefaitunsourire___]

Thegirl[[towhom]theladysmiles___]

ameninaparaquemamulherfazumsorriso

d. Locativo: Laboîte[[danslaquelle]lafilleestcachée___]

Thebox[[inwhich]thegirlishiding___]

acaixaemqueameninaestáescondida

e. Locativo: Laboîte[[où]lafilleestcachée___]

Thebox[[where]thegirlishiding___]

acaixaondeameninaestáescondida

Page 51: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

37

f. Genitivo: Lagarçon[[dont][lechien___]dort]

Theboy[[ofwhom][thedog___]sleeps]

“Theboywhosedogsleeps”

omeninodequemocachorrodorme

(Labelle,1990:97)

Labellereportaousofrequentedeestratégiasnão-padrãonosdadosinfantis.

Istoé, assimcomovimosparaoPBnosparadigmas (3), (4)e (5)acima,Labelle

reportaousodeestratégiasnão-padrãoemfrancês,comoousodepronomeseNPs

resumptivos, e com lacunas, semelhantes aos exemplos das relativas

preposicionadascomumpronomeresumptivonuloemPB.Algunsexemplosdessas

produçõesseguemabaixo.

42. Estratégiacompronomesresumptivosemfrancêscanadense

a. Sujeito: Lapetitfillequ’aestassissutlaboîte

“Thelittlegirlthat-sheissittingonthebox”

apequenameninaque-elaestásentadasobreacaixa

b. Obj.Direto: Surlaballequ’i(l)l’attrape

“Ontheballthat-heitcatches”

sobreabolaque-eleelapega

c. Obj.Indireto: Celle-làquelepapaluimontreundessin

“That-onethatthefatherto-hershowsadrawing”

aqueopapaia-elamostraumdesenho

d. Locativo: Surlaboîtequelecamionrentrededans

“Ontheboxthatthetruckgoesinside-it”

sobreacaixaqueocaminhãovaidentro-ela

e. Genitivo: Surlepetitgarçonquesonchieni(l)dort

“Onthelittleboythathisdoghesleeps”

sobreopequenomeninoqueseucachorroeledorme

(Labelle,1990:98-102)

Page 52: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

38

43. EstratégiacomNPsresumptivosemfrancêscanadense

a. Obj.Direto: Surlaballequ’i(l)lancelaballe

“Ontheballthat-hethrowstheball”

sobreabolaque-elejogaabola

b. Obj.Indireto: Cellequelamamanarêveàunemaison

“The-onethatthemothersheis-dreamingofahouse”

aqueamamãeelaestá-sonhandocomumacasa

c. Locativo: Surlaboîtequelapetitefilleestdeboutsurlaboîte

“Ontheboxthatthelittlegirlisstandingonthebox”

sobreacaixaqueapequenameninaestáem-pésobreacaixa

(Labelle,1990:100)

44. Estratégiacomlacunaemfrancêscanadense

a. Obj.Direto: C’estlaballequ’i(l)dessine

“It’stheballthatheis-drawing”

éabolaqueeleestá-desenhando

b. Obj.Indireto: Surlapetitefillequelemonsieuri(l)montreundessin

“Onthelittlegirlthatthemanheis-showingadrawing”

sobreapequenameninaqueohomemeleestá-mostrandoumdesenho

c. Locativo: Surlaboîtequelapetitefilleelleembarque

“Ontheboxthatthelittlegirlshegoes”

sobreacaixaqueapequenameninaelaembarca

d. Genitivo: Surlepetitgarçonquelechieni(l)estassis

“Onthelittleboythatthedogheissitting”

sobreopequenomeninoqueocachorroeleestásentado

(Labelle,1990:100)

Emsuaanálise,Labelleexploraofatodenãohaverproduçõescontendoum

elemento-Qu(pronunciado)emseusdados,comonassentenças(41c-f).Aautora

assume que as relativas envolvem o uso do complementizador que em CP, de

maneiraanálogaàsrelativascomthateminglês.Paraaautoradaausência,nãohá

movimentodeumelemento-QupartindodaposiçãorelativizadaparaSpecCP.

Page 53: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

39

SegundoLabelle,aexistênciadaestratégiaresumptivaseriaumaevidênciaa

favorde suaproposta, umavezquenãohá sentenças interrogativasnasquais o

vestígio do elemento-Qu movido é realizado foneticamente. Para a autora, as

criançasatéos6anosdeidadeutilizamumaregradepredicaçãoquecoindexaum

NPantecedenteaoCPrelativoparaaformaçãodasoraçõesrelativas.Essarelação

daoraçãorelativacomseuantecedenteérepresentadaem(45).

45. [NP]i[CP]i

(Labelle,1990:105)

Esse índiceé equivalenteaumoperador lambda,que toma todaaoração

comoumargumento, transformando-o emumadescriçãodapropriedadedoNP

antecedente. Ou seja, Labelle assume que a relação de predicação é obtida

pragmaticamente,jáquenãohaveriaumavariávelassociadaaoseuantecedente.O

operadorlambdatomatodaaoraçãorelativacomoumapropriedadedoelemento

relativo.

46.

a. [NPLamaison]i[CPquelamamandort]i

acasaqueamamãedorme

b. Lamaison[λique[lamamandort]i]

“Thehousethatthemotheris-sleeping”

(Labelle,1990:107)

Em seus dados, Labelle atesta o uso de qui pelas crianças nas relativas

resumptivas de sujeito. Emoutros trabalhos (como emGuasti, 2000), essequi é

analisado como o resultado da relação de concordância entreque e um vestígio

nominativo ou um operador em Spec CP. Para defender sua análise, Labelle

argumentaqueoquinessasproduçõesé,naverdade,oresultadodasequênciade

um complementizadorque, cuja vogal final é apagada, e uma forma reduzida do

pronomemasculinoil,resultandoemqu’i(cf.(47a)abaixo).Labelledizqueomesmo

Page 54: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

40

ocorrenasocorrênciasdequ’a.Segundoaautora,issoseriaumexemploenvolvendo

umaformareduzidadopronomefemininoelleprecedidadequ’(cf.(47b)).

47.

a. qu’i[ki]=queil

b. qu’a[ka]=queelle

(Labelle,1990:102)

Emrelaçãoàproduçãoderelativasdesujeitocomlacuna,nasquaistambém

éobservadoousodequi,aautoraanalisaoquicomoumcomplementizador.Nesse

caso, a alternância que-qui ocorre devido à presença do operador lambda

coindexadoaumavariávelvazianaposiçãodesujeito(cf.(48)).

48. celle[λxique[xilancelaballedeneige]

“Theonethatis-throwingthesnowball.”

aqueestá-jogandoabola-de-neve

Com isso, Labelle mantém a proposta de que não há movimento-Qu na

relativizaçãoinfantil,mesmofrenteàocorrênciadequ’inasrelativasdesujeito.16

Suapropostatambémdizqueadiferençaentreasrelativasdofrancêsinfantiledo

francês adulto é que na segunda gramática, hámovimento-Qu. As operações de

relativizaçãoenvolveriamasestruturasabaixo:

16 Labelle ainda atesta a ocorrência de 29 relativas com où (onde, em PB) e um antecedentepronunciado,comoem(i).Noentanto,oùnãoéanalisadocomoumelemento-Qupelaautora,umavez que ele foi usado de maneira “genérica”, não se referindo diretamente ao seu antecedente,conformevemosem(ii).

(i) Surlaboîteoùlavoiturerentre.“Ontheboxwherethecaris-going”.

(ii) Surlapetitefilleoùellemetsonpyjama.“Onthelittlegirlwheresheis-puttingherpyjamason”.

(Labelle,1990:109)

↑qui

Page 55: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

41

49.

a. Gramáticainfantil b. Gramáticaadulta

(Labelle,1990:107)

Noentanto,LessadeOliveira(2008)observaumasituaçãocontroversana

análisedeLabelle(1990).Aautoraverificaque,das383relativasdesujeitocomum

antecedente femininonosdadosde Labelle (1990), 280 (73,1%) continham [ki],

enquantoqueapenas103(26,9%)eramencabeçadaspor[ka].ParaLabelle,oscasos

em que as relativas de sujeito foram introduzidas por [ki] envolvem uma

neutralizaçãodogênerodopronomenaposiçãodesujeitodaoraçãorelativa.Ou

seja,essaneutralizaçãofazcomqueacriançause[ki]independentementedogênero

doantecedente.SegundoLabelle,essefenômenopodeserobservadoemproduções

como(50)abaixo.

50. Pasquelamamanicouchedansuneautremason.

“Becausethemotherhesleepsinanotherhouse”.

(Labelle,1990:105)

LessadeOliveira(2008)comenta:

“…devemos considerar que, se casos como o exemplo [acima] não foremgeneralizadosnafalainfantil,estesnãoserãosuficientementerepresentativospara serem tomados como evidência de que a criança faz esse tipo deneutralização, quando realiza qui com antecedentes femininos. A autora,porém,nadaesclarecesobreafrequênciadeexemplossemelhantes[…]nafalainfantil..”

(LessadeOliveira,2008:100)

Page 56: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

42

OutropontocontroversonaanálisedeLabelle(1990)éofatodeascrianças

estudadasseremcapazesdeformularsentençasinterrogativascomoalçamentodo

elemento-Qu. Se a autora assume que na gramática adulta hámovimento-Qu na

formação de orações relativas, e esse tipo de movimento é atestado nas

interrogativas-Qu infantis, por que as crianças não aplicam o mesmo tipo de

operaçãoparaformaçãodeoraçõesrelativas?

Umterceiroponto,levantadoporGuastieShlonsky(1995),estárelacionado

àrazãoeamaneirapelaqualascriançasdeixamdeladoarelativizaçãocombasena

predicação,pararelativizarcombaseemmovimento,assimcomoLabellepropõe

paraagramáticaadulta.DeacordocomLabelle,ascriançasaospoucosdeixamde

usarumaestratégiadepredicaçãobaseadanodiscursoemfavordeumaestratégia

sintática.Considerandoqueosmecanismosdemovimento-Quem interrogativas,

inclusive compied-piping preposicional, estão disponíveis desde cedo, um outro

fatordeveria lidarcomaassimetriaentreas interrogativaseasrelativasparaas

crianças. Na proposta de Labelle, as crianças mudam de uma estratégia de

predicaçãoparaumaestratégiasintática, tornando-semaisprodutivasquantoao

uso de orações relativas. Entretanto, essa proposta cria um problema de

descontinuidade.ConformeapontaGrolla(2010):

“Thisaccountofchildren’sapparentlackofwh-movementinrelativeclausesinsemantictermscreatesadiscontinuityproblem.Shesuggestedthataschildrenbecomemore productive in their use of relatives, they shift from a semanticstrategytoasyntacticstrategy.However,itisnotclearhowproductivitydrivesthisshift.”

(Grolla,2010:41)

Além disso, a análise de Labelle está, em parte, baseada na ausência de

relativascompied-pipingpreposicionalemseusdados.Noentanto,ousodequinas

relativasdesujeitoeas lacunasnasrelativasdeobjetodireto(semumpronome

resumptivo)poderiamindicarquehámovimento-Qunaderivaçãodasrelativasem

Page 57: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

43

francêsinfantilequeaausênciaderelativaspreposicionadaspoderiaindicarquehá

umadificuldadeinerentecompied-pipingpreposicional17.

Finalmente,napropostadeLabelle,ousodepronomesresumptivosétido

comoevidênciadequenãohámovimentonasrelativasinfantis.Conformeaponta

Grolla (2010), se isso estiver certo, podemos prever que esses resumptivos

desapareceriam nas construções relativas assim que as crianças começassem a

derivarasrelativasviamovimento.Porém,issonãoéobservado,jáqueemfrancês

adultooral,ousoderelativascompronomesresumptivosécomum.18

Naseçãoquesegue,discutiremosostrabalhosdeGuastieShlonsky(1995)e

de Guasti e Cardinaletti (2003), ambas baseadas no alçamento do constituinte

relativizado(àlaKayne,1994).

2.3.2.GuastieShlonsky(1995)eGuastieCardinaletti(2003)

GuastieShlonsky(1995)reanalisamosdadosemLabelle(1990)assumindo

umaanálisealinhadaàpropostadeKayne(1994).Paraosautores,asrelativasdo

francês envolvemumcomplementizadorque/qui, alémdomovimentodeumDP

relativodedentrodaoraçãosubordinadaparaSpecCP,nocasodas relativasde

sujeito,deobjetodiretoeasrelativasnão-padrão(cf.51a).Porsuavez,asrelativas

preposicionadas, presentes nos registros mais formais do francês, envolvem o

movimentodeumPPcontendooelemento-QuparaCPesubsequentealçamentodo

DPrelativoparaseadjungiraCP(cf.51b).

51.

a. [DP[D'[Dla][CP[DPballei][C’[Cque][IPlepetitgarçonlance[DPti]]]]]]

17Paraumapropostasobreaanti-naturalidadedepied-pipingpreposicional,cf.McDaniel,McKeeeBernstein(1998),paraoinglês,eKenedy(2010),paraoPB.18Grolla(2005)apontaparadadosdeaquisiçãodorusso,deBar-ShalomeVinnitskaya(2004),emqueascriançasadquirindoessalínguapassamporumestágioemqueelasproduzemrelativascomumoperador-QucomomesmoCasosintáticodaposiçãorelativizadaeapresençadeumpronomeresumptivo.DeacordocomGrolla:“...theRussiandatashowusthatwhetherornotchildrengothroughastagewheremovementrelativesareabsent,thiscannotbethesolereasonwhytheyproduceRPsastheydo.”(Grolla,2005:42)

Page 58: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

44

b. [DP[D'[Dla][CP[DPpetitfillei][CP[PPàquiti]k[C’[Cø][IPlemonsieurmontre

undessin[PPti]k]]]]]

(GuastieShlonsky,1995:261,262e265)

Partedamotivaçãoparaestapropostavemdaobservaçãodequeumaparte

de uma expressão idiomática, como advantage em take advantage, pode ser

precedidaporumdeterminanteemumaestruturarelativa,indicandomovimento

desseconstituinteàlaKayne(1994).

52.

a. Johntook(*the)advantageofthesituation.

b. Howmuch(*the)advantagedidJohntakeofthesituation?

c. *(the)advantagethatJohntookofthesituation

(AdaptadodeGuastieShlonsky,1995:260)

Assim como na discussão sobre o paradigma em (20) (na seção sobre a

propostadeKayne(1994)),em(52a-c)vemosqueaexpressãotakeadvantagenão

admite ousododeterminante the amenosqueadvantage seja alçadoparauma

posiçãomaisalta,i.e.amenosqueadvantagesejaumnúcleorelativizado,precedido

deumdeterminanteexterno.Destaforma,GuastieShlonskyanalisamasrelativas

dofrancêscomopossuindoamesmaestruturadasrelativascomthateminglês.

Osautorespropõemqueadificuldadequeascriançasapresentamcomas

relativas preposicionadas se deve à ausência de elementos-Qu relativos em sua

gramática. Ou seja, uma relativa como (51b) seria impossível na gramática da

criançaatéqueelaadquirisseesseselementos.

“Thematurationoflinkingoperatorsopensthewaytotheproductionofpied-pipedrelativesbecausethesedependontheavailabilityofrelativeoperators.”

(GuastieShlonsky,1995:274)

Para sustentar sua proposta e explicar a razão de as crianças produzem

interrogativascomoalçamentodepreposição,masnãorelativascomoem(51b),

Guasti e Shlonsky argumentam que operadores relativos possuem propriedades

Page 59: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

45

diferentesdoselementos-Quinterrogativos,dentreelasaassociaçãoaumnúcleo

relativizado.Paraosautores,umoperadorrelativoservepararelacionarumnúcleo

relativizado (nosexemplosacima,umantecedente)aumavariáveldentrodoCP

relativo.Porsuavez,oselementos-Qu interrogativosnão têmumantecedente.A

proposta,então,ébaseadanamaturaçãodagramáticainfantil,queapenaspermitirá

construçõesrelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãoquandoosoperadores

relativosestiveremdisponíveisparaacriança.

Postoisso,épossívelnosquestionaracercadaestruturadasrelativasnão-

padrãoemfrancêsadulto.Considerandoqueasrelativasnão-padrãosãocomuns

em francês adulto (Guasti, 2002; Guasti e Cardinaletti, 2003) e que as relativas

oblíquas sem pied-piping preposicional são entendidas como o resultado da

ausência de operadores relativos na gramática infantil, qual seria a estrutura

sintáticadessaconstruçãonagramáticaadulta?

Guasti e Cardinaletti (2003) oferecem uma explicação para a ausência de

pied-pipingpreposicionalnasoraçõesrelativasnas línguasromânicas.Asautoras

analisam orações relativas eliciadas em dados do italiano infantil e do francês

infantil.Seuestudoenvolve30criançasfalantesdeitaliano,entre5;1e10;0anosde

idade, e 18 crianças falantes de francês, entre 4;5 e 7;3 anos de idade. Foram

apresentados contextos para a eliciação de diferentes tipos de relativas (sujeito,

objetodireto,objetoindireto,locativasegenitivas).Osdadoscolhidospelasautoras

foramclassificadosemdoistipos:relativasconvencionais(equivalentesàestratégia

padrão) e relativas não-padrão. De acordo comGuasti e Cardinaletti, essas duas

variedades de relativas estão presentes tanto na gramática infantil, quanto na

gramáticaadultadaslínguasromânicas,sendoqueasrelativasconvencionaisfazem

parteda escrita ede registros formais, e as relativasnão-padrão são comunsna

línguacoloquial.

Segundo as autoras, as relativas convencionais são introduzidas pelos

complementizadorescheequenocasodasrelativasdesujeitoedeobjetodireto,em

italianoefrancêsrespectivamente,ouporumpronomerelativoprecedidodeuma

Page 60: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

46

preposição,nocasodasrelativasdeobjetoindireto19(cf.(53a-c)paraosexemplos

emitalianoe(53d-f)paraosexemplosemfrancês).Porsuavez,asrelativasnão-

padrão são invariavelmente introduzidaspelos complementizadores cheeque, e

podemapresentarumelementoresumptivonaposiçãorelativizada(cf.(54a-c)para

osexemplosemitalianoe(54d-g)paraosexemplosemfrancês).20

53. Relativasconvencionais/padrão

a. Relativadesujeito

Ilragazzochehavintoilpremio

theboythathaswontheprize

omeninoqueAUXganhar(PRT)oprêmio

b. Relativadeobjetodireto

IlragazzocheMariahainvitato

theboythatMariahasinvited

omeninoqueMariaAUXconvidar(PRT)

c. Relativadeobjetoindireto

Ilragazzoacui/alqualehairegalatoillibro

theboytowhom(you)havegiventhebook

omeninoparaquem(você)AUXdar(PRT)olivro

d. Relativadesujeito

Lafillequiestpartie

thegirlthathasleft

ameninaqueAUXsair(PRT)

19Umavezquenossoestudoconcerneapenasasrelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicional,nãoapresentaremosasobservaçõesfeitaspelasautorasacercadasrelativas locativasegenitivas.Paradetalhessobreasproduçõeseanálisenotrabalho,cf.GuastieCardinaletti(2003).20Cf.Grolla(2005c,2010)paraaapresentaçãoediscussãodediversosestudossobreresumptivosem orações relativas infantis, como Bar-Shalom e Vinnitskaya (2004), para russo, Goodluck eStojanovic (1996), para serbo-croata, Grolla (2004) para PB, Labelle (1990, 1996), para francêscanadense,McKeeeMcDaniel (2001),para inglês,ePérez-Leroux(1995),para inglêseespanhol,VarlokostaeArmon-Lotem(1998),paragregomodernoehebraico.

Page 61: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

47

e. Relativadeobjetodireto

Lafillequej’aivu

thegirlthatI-haveseen

ameninaqueeu-AUXver(PRT)

f. Relativadeobjetoindireto

Lafilleàquij’aidonnéunlivre

thegirltowhomI-havegivenabook

ameninaparaquemeu-AUXdar(PRT)umlivro

(GuastieCardinaletti,2003:49-50)

54. Relativasnão-padrão

a. Relativadeobjetodiretocomresumptivo

C’èunochelochiamanoCuba

there-isonethat(they)himcallCuba

éumqueochamamCuba

b. Relativadeobjetoindiretocomlacuna

Èilcoltellochehotagliatolatorta

(it)istheknifethat(I)havecutthecake

éafacaqueAUXcortar(PRT)obolo

c. Relativadeobjetodiretocomresumptivo

Sonountipocheglipiacerischiare

(I)amafellowthatto-him‘pleases’[to]risk

souumapessoaquepara-eleagradaarriscar

d. Relativadesujeitocomresumptivo

Voicilecourrierqu’ilestarrivécesoir.

here-isthemailthat-itisarrivedtonight

aqui-estáacorrespondênciaque-elaAUXchegar(PRT)estanoite

e. Relativadeobjetodiretocomresumptivo

L’hommequejeleregarde

the-manthatIhimam-looking-at

o-homemqueeuovejo

Page 62: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

48

f. Relativadeobjetoindiretocomresumptivo

VoicilamaisonqueMarieypenseencore

Here-isthehousethatMarieof-itthinksstill

aqui-estáacasaqueMarienelapensaainda

g. Relativadeobjetoindiretocomlacuna

L’hommequejeparle

the-manthatIspeak

o-homemqueeufalo

(GuastieCardinaletti,2003:51-52)

Asautorasverificaramqueousodeumapreposiçãoprecedendoopronome

relativo foi evitado por todas as crianças até 10 anos de idade. Essa observação

condiz com outros estudos sobre a ausência de pied-piping preposicional na

produçãoeliciadaderelativascomo,porexemplo,otrabalhodeMcDaniel,McKeee

Bernstein (1998) sobre o inglês infantil. Nesse estudo, as crianças produziram

relativascomprepositionstranding.

DiferentementedapropostadeLabelle(1990),queassumequeasrelativas

em francês infantil não envolvem o movimento do constituinte relativizado ou

movimento-Qu (cf. Seção 2.4.1.), Guasti e Cardinaletti (2003) assumem que o

conhecimentodascriançasnãoéfundamentalmentediferentedoconhecimentodos

adultos. Para as autoras, tanto a gramática infantil quanto a gramática adulta

derivam orações relativas com base nomovimento-Qu. No caso das relativas de

sujeitoedeobjetodireto,asconstruçõespossuemocomplementizadorcheouque

(qui no caso das relativas de sujeito em francês), além do movimento de um

operadorrelativonulodaposiçãorelativizadaparaSpecCP.

De acordo com as autoras, a ausência de relativas com pied-piping

preposicionalnagramáticainfantilpossuiumarelaçãodiretacomaausênciadesse

tipodeconstruçãonafalacoloquialdosadultos.Comisso,aaquisiçãodasrelativas

preposicionadas depende do aprendizado dos pronomes relativos envolvidos

nessasconstruções,osquaissãoaprendidosduranteosanosescolares.

Para Guasti e Cardinaletti (2003), as relativas preposicionadas são

aprendidaspormeiodeumprocessoparecidocomoqueocorrenaaprendizagem

Page 63: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

49

de uma segunda língua. Portanto, a ausência de relativas preposicionadas nas

produções das crianças estudadas é um reflexo da aquisição tardia dessas

construções,quedependedaescolaridadedos indivíduos,nãode suamaturação

linguística.

2.3.3.Grolla(2000)eLessadeOliveira(2008)

Grolla(2000)apresentaumestudolongitudinalsobreaperiferiaesquerda

dasentençaemPBcomdadosdeproduçãoespontâneadeumacriançabrasileira,

N., dos 2;0 aos 4;0 anos de idade. Por estudar diferentes construções, Grolla

consideraumrefinamentodaestruturadoCPnosmoldesdeRizzi(1997),ilustrado

abaixo.

55.

(Grolla,2000:15)

Page 64: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

50

Nessesistema,ForcePeFinPexpressamrelaçõesrespectivamentecomuma

sentençaouumelementomaisalto,ecomoconteúdodaproposição(IP).Sendo

assim,Rizzireconhecequeessasprojeçõesforneceminformaçõessobreoqueestá

foradasentençaedentrodela.Asprojeçõesintermediárias–TopP21eFocP–são

relacionadas a articulações de tópico-comentário e de foco-pressuposição

respectivamente.Naprimeira, SpecTopPé capazdeabrigar a informaçãovelha,

enquanto o comentário é composto de um predicado complexo, que traz a

informaçãonova(cf.(56a)).Porsuavez,SpecFocPtrazumanovainformação,ao

passoqueseucomplementoexpressaumainformaçãoqueofalantepressupõeser

conhecidadointerlocutor(cf.(56b)).

56.

a. Seulivro,vocêdevedartaoPaul(nãoaoBill).

b. SEULIVROvocêdevedartaoPaul(nãoomeu).

(Grolla,2000:16)

Esse refinamento na estrutura do CP é importante para a avaliação da

complexidadedosenunciadosdeN.Grollareportaque,logoaos2;6anosdeidade,

todas as projeções estudadas por ela – TopP, FocP e ForceP – já haviam sido

manifestadas.Comrelaçãoàsrelativas,aautoraobservaqueafunçãosintáticade

sujeito foi amplamente relativizada. Com Perroni (1997), Grolla confirma a

adequaçãodaHierarquiadeAcessibilidadedoNPpostuladaporKeenaneComrie

(1977),quepreveemqueháumaordemdeposiçõessintáticasmaisacessíveisa

relativização,representadasabaixo:

57. Hierarquiadeacessibilidade(KeenaneComrie,1977)

Suj.>Obj.Direto>Obj.Indireto>Oblíquo>Genitivo>Obj.deComparação

Ahierarquiailustradaacimadeveserinterpretadadaseguinteforma:uma

língua capaz de relativizar uma determinada função sintática deve ser capaz de

21Osímbolo*àdireitadasprojeçõesTopPindicaqueelassãorecursivas.Cf.Rizzi(1997)

Page 65: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

51

relativizartodasasfunçõessintáticasàsuaesquerdanahierarquia.Porexemplo,

umalínguacapazderelativizarafunçãodeobjetoindiretotambémdevesercapaz

de relativizar as funções de objeto direto e de sujeito. Já uma língua capaz de

relativizar a função de genitivo será capaz de relativizar as funções de oblíquo,

objetoindireto,objetodiretoesujeito.

Seessahierarquiaéverificadaemdiversaslínguasdomundo(cf.Keenane

Comrie,1977:76-79),énaturalesperarqueasrelativasdesujeitosejamasmais

utilizadasporcriançasadquirindooPB(línguaessaqueadmitearelativizaçãode

outrasfunçõessintáticas).AlgunsexemplosdasproduçõesobservadasporGrolla(e

porPerroni(1997))seguemabaixo:

58.

a. Comeapedrinhaque‘táaqui.(2;10)

b. Opica-pau,quesubiunobanquinho,abriubematorneira...(3;2)

(Grolla,2000:47)

Umaobservação importante feitaporGrolla (2000,2005b)é aquaseque

completaausênciaderesumptivosrealizadosnasposiçõessintáticasrelativizadas

durante os primeiros anos de vida da criança estudada. A ocorrência de itens

resumptivos só é atestada depois de 3;0 anos de idade, como complementos

preposicionais.

59.

a. Euvounoseucolo,porquelátemaquelacobrinhaqueasmulerdançanela.(3;1)

b. Vocêqueriaaborsinhaqueeutavajuntocomela?(3;6)

(Grolla,2000:48)

Paraexplicarousodospronomesresumptivos,Grollaosanalisacomouma

estratégiadeúltimorecurso,baseando-senahipótesedeShlonsky(1992).Nessa

proposta,ospronomesresumptivosemdependências-A’sãousadosapenaspara

salvarderivaçõesqueseriamagramaticaissemeles.Ouseja,essespronomesnão

estãoemlivrealternânciacomaoperaçãodemovimento.Eminglês,porexemplo,

Page 66: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

52

pronomesresumptivossãousadossomenteemcontextosdeilha,enquantoque,em

contextos que permitem movimento de um constituinte, apenas um vestígio é

permitido.

60.

a. ThisistheboyithatMaryloves(*himi).

b. ThebookithatIwonderedwhetherIwouldget*(iti)inthemail.

(Kayne,1984apudShlonsky,1992:447)

Em contrapartida, o hebraico é uma língua que permite um uso

aparentementemais livredepronomes resumptivos, semanecessidadede ilhas

parasuaocorrência.Deacordocomosexemplosem(61),ospronomesresumptivos

parecem alternar com lacunas em quase todas as posições sintáticas dentro da

relativa.

61.

a. Ha-ʔišiše-(*hui)ʔohevʔetRina

the-manthat-(he)lovesACCRina

o-homemque-(ele)amaACCRina

b. Ha-ʔišiše-xašavtʕal-*(avi)

the-manthat-(I)-thoughtabout-(him)

o-homemque(eu)-penseisobre-(ele)

c. Ha-ʔišiše-raʔiti(ʔotoi)

the-manthat-(I)-saw(him)

o-homemque-(eu)-vi(ele)

d. Ha-ʔišiše-xašavtše-(hui)melamedʔanglit

the-manthat-(you.F)-thoughtthat-(he)teachesEnglish

o-homemque(você.F)-achouque-(ele)lecionainglês

(Shlonsky,1992:444-445)

Noparadigmaacima,vemosqueousodepronomesresumptivoséaceitoem

diferentesposiçõessintáticas.Em(61a),vemosqueapenasumalacunaépossível

Page 67: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

53

naposiçãomaisaltadeumarelativadesujeito,enquantoque(61b)nosmostraque

a gramaticalidade de uma relativa de objeto preposicionado depende do uso do

pronome resumptivo, i.e. o pronome resumptivo é obrigatório nas relativas de

objeto preposicionado. No caso de (61c) e (61d), o pronome resumptivo e uma

lacunavariam livrementenaposiçãodeobjetodiretoemumaoraçãorelativade

objetodiretoenaposiçãodesujeitodeumasentençaencaixada.

Shlonsky(1992)assumequeohebraicopossuidoiscomplementizadoresše

homófonos que selecionam tanto um Spec-A’ como um Spec-A (šeA' e šeA,

respectivamente).Noprimeirocaso,onúcleorelativizadoocupaaposiçãodeSpec-

A’ do complementizador šeA', sendo possível alçar qualquer constituinte das

posiçõesacessíveisàrelativizaçãonalíngua.Nosegundocaso,ocomplementizador

šedisponibilizaumSpec-A,posiçãoestaquesópoderáserpreenchidapelosujeito

da relativa (cf. (61a)). Por ser uma posição-A, um objeto direto não poderia ser

alçado para Spec-A, uma vez que o sujeito da relativa possui as mesmas

característicassintáticasdoobjetodireto,seriaumelementointervenienteparaseu

movimento.Ouseja,essemovimentoresultariaemumaviolaçãodoprincípiode

MinimalidadeRelativizada.22Parasederivarumarelativadeobjetodiretocomesse

complementizador(šeA),opronomeresumptivoaparecenaposiçãotemáticacomo

umaestratégiadeúltimorecurso,considerandoqueoalçamentodoconstituinteem

questãonãoélicenciado,salvandoassimessaderivação(cf.(61b)).

Essa análise nos leva a concluir que a aparente livre alternância entre

pronome resumptivo e vestígio emhebraico é só aparente, já que ela resulta da

seleção do complementizador šeA ou šeA'. Caso o primeiro seja selecionado, um

pronomeresumptivoéutilizadodeformaasalvaraderivação.Casoosegundoseja

selecionado,omovimentodoobjetodiretonãoviolaoprincípiodeMinimalidade

Relativizada.

22 Conforme apresentamos no capítulo anterior, de acordo com o princípio de MinimalidadeRelativizada, uma relação entreX eY em (i) abaixonãopode acontecer seZ éumcandidato empotencialparaarelaçãolocal.Aagramaticalidadede(ii)éexplicadapelainterveniênciadewhichcar,bloqueandoomovimento-A’dehowparaoSpecCPdamatriz.Em(iii),osuper-alçamentodethetrainébloqueadoporit,cujomovimentoestabeleceriaumarelaçãomaislocal.Cf.Rizzi(1990).

(i) X...Z...Y(ii) *[How]ididyouwonder[whichcaryoushouldfixti]?(iii) *[Thetrain]iseemsthatitislikely[titobelate].

Page 68: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

54

Grolla(2000,2005b)notaqueoPBsecomportademaneirasemelhanteao

hebraico, com relação ao uso de pronomes resumptivos. Nos exemplos abaixo,

vemosqueháalternânciaentrelacunaepronomeresumptivonasoraçõesrelativas

deobjetopreposicionadoeobjetodireto.

62.

a. Ameninaiqueeufaleicom*(elai)ontem.

b. Ameninaiqueeufalei___iontem.

c. Ameninaiqueeuvi(elai)ontemnafesta.

(AdaptadodeGrolla,2000:65-66)

UmavezqueaestratégiadeprepositionstrandingnãoépermitidaemPB,

Grolla propõe que a inserção de um pronome resumptivo é capaz de salvar a

derivação,comovemosem(62a).

Jánoexemplo(62b),vemosqueoPBpermiteumalacunacorrespondentea

todooPPrelativo,umexemplodeumarelativacortadora(cf.(5)).Essalacunanão

podeseranalisadacomooresultadodomovimentodoPPrelativizado,umavezque

nãoháumapreposiçãoalçadaem(62b).Baseando-seemFerreira(2000),Grolla

analisa essa lacuna dentro da oração relativa como um pronome nulo com

característicasespeciais(naspalavrasdaautora,“umpronomedefectivosemcaso”

(Grolla,2000:66)).Nessescasos,opronomenuloéchamadodeproespecial,jáqueele

nãoseriaumDP,masumPP,comoopronome lhe.23Destaforma,a lacunanãoé

analisadacomoresultadodemovimentodeumconstituinterelativizado.

Aevidênciaencontradapelaautoraéofatodeessacategoriavaziapoderser

encontrada em um contexto de ilha, não podendo alternar com um pronome

resumptivo.

63. Esselivroi,oJoãoconversoucomumameninaquedissequegostou(*elei).

(AdaptadodeGrolla,2000:66)

23Opronome lheem“OJoão lhedeuumpresente.”substitui“paravocê”ou“paraele”.Ouseja,oproespecialsubstituiumPP,funcionandocomoumlhenulo.

Page 69: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

55

Porsuavez,nasrelativasdeobjetodireto,comoem(62c),aalternânciaem

questãoé,aparentemente,livre.Tantoumalacuna,quantoumpronomeresumptivo

são lícitosemPB.Noentanto, conformeapontaGrolla, épossível encontraressa

alternânciadentrodeilhas,como(64)abaixo.

64.

a. EsseéolivroiqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveu___i].

b. EsseéolivroiqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveuelei].

(Grolla,2000:67)

ParaGrolla,osexemplosacimasãoevidênciadequenãohouvemovimento

daposiçãodeobjetodiretodaoraçãorelativa.Acategoriavaziaéanalisadacomo

umproresumptivo.

“Esta característica do PB falado provavelmente está ligada à presença depronomesnulosnaposiçãodeobjetonestalíngua,umfenômenoausentemesmoemlínguasbastantepróximasaoPB…”

(Grolla,2000:67)

Defato,oPBéumalínguaquepossuiargumentosnulosnaposiçãodeobjeto

direto(Ferreira,2000;Galves,1989).Grollailustraessefenômenocomosexemplos

abaixo, reforçandoaanálisedequeaalternânciapronomeresumptivo/categoria

vazia observada em (62c) é, na realidade, uma alternância entre pronome

resumptivo lexical/pronome resumptivo nulo. Desta forma, a autora mantém a

hipótesebaseadaemShlonsky(1992),quetomapronomesresumptivoscomouma

estratégiadeúltimorecurso.

Grolla (2000, 2005b) verifica nos dados de N. uma relativa demora na

produçãodospronomesresumptivos.Paraaautora,aaquisiçãodesseselementos,

emPB,segueumpadrãoespecífico,quepodeserdivididoemtrêsestágios.Emum

primeiromomento, a criança verifica se sua língua licencia esses elementos em

dependências-A’. Durante esse período, não há a produção de pronomes

resumptivos.Apenasderivaçõesenvolvendomovimentosãoencontradas,jáquea

criançaaindaestáverificandoaexistênciaounãodetaiselementos.

Page 70: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

56

Nessecaso,aproduçãodepronomesresumptivosserestringeacontextos

inequívocosdeúltimorecurso,comoporexemploemrelativasemqueopronome

resumptivoéumcomplementodepreposição(cf.(62a)e(63)).Deoutraforma,as

construçõesenvolvendodependências-A’somentepoderãoenvolveraaplicaçãode

movimento,conformeaprevisãodaautora.24

Emumsegundomomento,acriançadetectaospronomesresumptivosnulos

eabertos,presentesnoPBadulto.Comrelaçãoaosresumptivosabertos,aaquisição

dependequeacriançaapenasidentifiqueesseselementosnoinput.Aaquisiçãodos

resumptivos nulos, por sua vez, depende de uma análise mais detalhada de

construções com uma lacuna em construções-A’. Em PB, essas lacunas ora

correspondemaumresumptivonulo,oraaumvestígiodemovimento(cf.(64)e

(56),respectivamente).Comrelaçãoaessesegundoestágio,Grollacomenta:

“…a previsão é que a aquisição de pronomes resumptivos abertos precede aaquisiçãodepronomesresumptivosnulos.”

(Grolla,2005b:176)

Finalmente,oúltimoestágionaaquisiçãodepronomesresumptivos,como

propostopelaautora,envolveaaquisiçãodosresumptivosnulos,comoem(65a).A

autoraprevêque,quandopro foradquiridopelacriança,construçõesenvolvendo

umpronomeresumptivoaberto,comoem(65b),passamaserlícitasnagramática

infantil, uma vez que a lacuna observada na posição de objeto direto não

correspondeauma(aparente)alternânciaentremovimento/inserçãodepronome

resumptivo.

24ParaevidênciascomdadosexperimentaisparaoquefoiencontradoporGrolla(2000)emdadoslongitudinais, cf. Pereira-Pinto (2016). Nesse trabalho, a autora busca verificar se os pronomesresumptivosutilizadospararetomarotópiconocomentáriofacilitamoudificultamacompreensãodesentençasporcriançasadquirindooPB.Emseusdadosexperimentais,onúmerodeacertosparaassentençasdeobjetodiretosemumpronomerealizadoémaiorentreascriançasentre2;0e3;4anos,enquantoqueosdadosrelativosaoscomplementosindiretosnãoindicampreferênciaentreapresença ou ausência de pronome realizado. Isso sugere que o uso de pronomes resumptivosrealizadoséderivadodeumaestratégiadeúltimorecursoà laHornstein (2001).Porsuavez,ascriançasmaisvelhasnãoapresentamumadiferençaestatisticamenterelevanteentreapresençaouaausênciadopronomeresumptivoparacomplementosdiretos.

Page 71: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

57

65.

a. Essemeninoi,euviproiontem.

b. Essemeninoi,euvieleiontem.

(Grolla,2005b:177)

Com isso, para a autora, as relativas de sujeito e de objeto direto que

envolvem o movimento do constituinte relativizado são as primeiras a serem

adquiridaspelacriança.Porsuavez,asrelativascontendoumpronomeresumptivo

abertoviriamemseguida.

Noqueconcerneasrelativasdesujeitoedeobjetodireto,LessadeOliveira

(2008)investigadadoslongitudinaisdetrêscrianças,dos1;6aos3;6anosdeidade

adquirindooPBfaladoemVitóriadaConquista,noEstadodaBahia,epropõequea

estratégia padrão é a primeira a ser adquirida. Isto é, as primeiras relativas a

aparecer sãoasderivadasapartirdomovimentodo constituinte relativizadona

posiçãoemqueeleéinterpretadonasentençasubordinada.25

Talproposta,queestáemconsonânciacomahipótesedeGrolla(2000),toma

como base o trabalho de Hornstein (2007) sobre pronomes ligados e economia

derivacional.Hornsteinsugereque,diferentementedeitensdeumanumeração,os

pronomesligadosfuncionamcomoformativosgramaticaisutilizadosquandouma

operaçãodemovimentofalha(compreendidocombasenateoriademovimentopor

cópia).Considerandoaideiadequereflexivospodemseranalisadoscomoresultado

de movimento (cf. Chomsky 1993, 1995), ao rever os princípios A e B, o autor

observa que pronomes ligados e reflexivos se encontram em distribuição

complementar. Nessa proposta, as sentenças em (66a-b) partem da mesma

numeração(66c),sendocomparáveisentresi.Istoé,pronomeseanáforasligados

nãofazempartedanumeração.

25LessadeOliveira(2008)estudaaaquisiçãodasrelativasrestritivas,livreseapositivas.Emseusdados, as relativas apositivas e restritivas surgem desde o início do processo de aquisição dasrelativas.Suaanálisesugerequeasrelativasapositivassãoderivadasexclusivamentepormeiodaestratégiapadrão.Comisso,aautorasugerequeasrelativasdesujeitoeobjetodiretosãoadquiridascomoarelativaapositiva,istoé,pormeiodemovimento.Conformeapontaaautora,essaconclusãodesfavorecehipótesesquepreveemqueaaquisiçãodasrelativasrestritivasenvolvemumestágioemquenãohámovimento,comoahipótesedeLabelle(1990,1996).

Page 72: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

58

66.

a. Johnilikeshimselfi.

b. *Johnilikeshimi.

c. {John,likes}

(Hornstein,2007:359)

Hornsteinargumentaqueoreflexivoem(66a)éoresíduodomovimentode

Johnparaaposiçãodesujeito.Emsuaproposta,selféinseridocomoestratégiade

últimorecurso,pararecebercasoacusativo.Dadoqueessa formanãoé livreem

inglês,himéinseridotambém,paradarsuporteàself.26Umavezqueomovimento

élícitoepreferívelàinserçãodepronomesligados,ousodopronomeligadoseriaa

opçãomenoseconômicaparaaconvergênciadaderivação.SegundoHornstein:

“Bound pronouns and reflexives are grammatical formatives (not lexicalelements).Theyare themorphological by-products of grammatical “binding”operationswithreflexivebindingpreferredtopronominalbinding.Ifreflexivesaretheproductsofmovement,wecanregardpronounuseaslesseconomicalthanmovementandsoblockedwheremovementsufficesforconvergence.”

(Hornstein,2007:356-357)

Comisso,pronomesligadossãoadicionadosàderivaçãoquandoaoperação

de movimento não é possível. Ou seja, o uso de pronomes ligados seria uma

estratégiadeúltimorecurso.Porexemplo,construçõesenvolvendoilhassintáticas

e uma lacuna são melhoradas quando há um pronome (cf. (67a)). Já quando o

movimento é possível, a inserção de um pronome degrada a aceitabilidade da

sentença(cf.(67b)).

26 Podemos nos questionar por que omovimento de John resulta em himself, não em “Johnself”.Assumindoa teoriademovimentoporcópia(Chomsky(1993)),omovimentodeumconstituintedeixaumacópiaparatrás.Noentanto,seascópiasdeumelementomovidosãomantidas,oAxiomadeCorrespondênciaLinear(Kayne(1994))nãopodeseraplicado.Acópiamantidaseráaquelaquetemtodososseustraçoschecados,jáqueumacópiasemachecagemtraçosfarácomqueaderivaçãofalhe(cf.Kayne(1994)eNunes(1995)).

Page 73: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

59

67.

a. JohnisapersonwhoMarymetsomeonewhoadmired*(him).

b. JohnisapersonwhoMaryheardthatFranklikes(*him).

(Hornstein,2007:365)

HornsteinnotaqueessapropostanãogeraestruturasqueviolamaCondição

deInclusividade(Chomsky,1995),quedizquematerialsemanticamenteativonão

podeseradicionadoduranteaderivação,amenosqueelefaçapartedanumeração.

Uma vez que reflexivos e pronomes ligados são entendidos como formativos

gramaticais,elessãoelementossemanticamenteinertes.Portanto,paraHornstein,

a“inserção”desseselementosnãoviolaaCondiçãodeInclusividade.

Emrelaçãoàsrelativas,Hornsteinilustraousodeumpronomenaposição

relativizadaemfrancês.

68.

a. L’homme[surquiitutefiesti]]

the-manonwhomyourelyyourself

o-homememquemvocêREFLconfia

b. L’homme[que0i[tuasvuti]]

the-manthatyouhaveseen

o-homemquevocêAUXver(PRT)

c. L’homme[qui0i[tiestvenu]]

the-manwhocame

o-homemquemAUXvir(PRT)

69.

a. Ungarsquejemefieraissurlui

AguythatIrelymyselfonhim

umrapazqueeuREFLconfioemele

b. ??L’hommequejel’aivu

the-manthatIhimhaveseen

o-homemqueeuele-AUXver(PRT)

Page 74: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

60

c. ??Lafillequ’elleestvenue

thegirlthatshecame

ameninaque-elaAUXvir(PRT)

(Hornstein,2007:366)

Osexemplosem(68a)eem(69a)sãorelativasdeobjetopreposicionado.O

primeiroexemploilustraaestratégiapadrão,emquehápied-pipingpreposicional,

enquantoqueosegundonosmostraque,nocasodeapreposiçãonãoseralçada,um

pronomedeveserutilizado.Istoocorreumavezqueofrancêséumalínguaquenão

admiteaestratégiadeprepositionalstranding.Em(68b-c),vemosrelativasemque

hámovimentoequesãogramaticalmenteaceitáveis.Porsuavez,osexemplosem

(69b-c)contêmumpronomeresumptivo,degradandoessassentenças.Portanto,na

análisepropostaporHornstein(2007),opronomeresumptivoéusadoparasalvar

uma derivação que seria agramatical, como em relativas sem pied-piping

preposicional. Em relativas derivadas por meio de movimento, o uso de um

resumptivodegradariaasentença,comovemosem(69b-c).

Combasenessaproposta,LessadeOliveira(2008)propõequeascrianças

adquirindoasrelativasemPBnãoencontramproblemascomaestratégiapadrão

noquedizrespeitoasrelativasdesujeitoedeobjetodireto.Segundoaautora:

“…numcontextocomoodasrelativasdeobjetodiretosemenvolvimentodeilha,a preferência será para a estratégia de movimento (a padrão). Quanto àsrelativas de sujeito, estas apresentam um contexto ainda mais favorável àestratégia padrão, uma vez que […] vários estudos mostram que não existeresumptivonuloemposiçãodesujeitoemPB.”

(LessadeOliveira,2008:168)

Finalmente, no que diz respeito às relativas preposicionadas, a autora

fundamentasuaanáliseemRoeper(2003).Segundooautor,assentençasem(70)

envolvem a checagem de um traço [+Qu]. Para que isso ocorra, em (70a), o

constituintemovidoétranspostoparaseencontrarotraço[+Qu].Porsuavez,em

(70b),achecagemdotraço[+Qu]aconteceenvolvendoomenornúmerodenódulos

possível.Ouseja,paraoautor,issopoderiaexplicarapreferênciadefalantespor

Page 75: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

61

construçõescomumapreposiçãoórfã (70b),queseriam,segundoessaproposta,

uma estrutura menos complexa do que aquelas envolvendo o alçamento da

preposição(70a).

70.

a. [apictureofwhom]didhesee

Page 76: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

62

b. [who]didheseeapictureof

(Roeper,2003:5-6)

Roeper observa que a “profundidade” de um traço [+Qu] também está

relacionadaaalgunscasosdeagramaticalidade,comooobservadoem(71b).

Page 77: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

63

71.

a. Iwonderwhoyouhaveapictureof.

b. *Iwonderapictureofwhomyouhave.

(Roeper,2003:6)

Paracapturarapreferênciapor(70b)a(70a)eaagramaticalidadede(71b)

emcomparaçãoa(71a),RoeperdiscuteasnoçõesdeAttractePath,originalmente

propostasemFitzpatrick(2002)27:

72. AttractClosestC-Command:

Movaomenorconstituintecontendootraçopertinenteparaodomínio

dechecagem.

73. PathQuantification:

Escolha o percursomais curto na árvore entre o constituinte como

traçopertinenteeodomíniodechecagem.

Apreferênciapor (70b)eagramaticalidadede (71a) sãocapturadaspela

noçãodeAttract,enquantoquePathexplicariaagramaticalidadede(70a).Já(71b)

é agramatical uma vez que wonder requer que o traço [+Qu] seja checado

imediatamente.

“…wonderseeksvisibleimmediatesatisfactionofsubcategorizedinformation.”

(Roeper,2003:7)

SegundoRoeper,essasduasnoçõessãoligadasàeconomiaeserelacionama

diferentesmódulosdagramática.Em(70),observamosqueambasassentençassão

gramaticaiseapresentamdiferentesleituras.Naprimeira,háumaleituradeescopo

27DeacordocomRoeper(2003:7):

(i) AttractClosestC-Command:GistheclosestcategoryinthesisterofHiffthereisnodistinctcategoryKsuchthatKc-commandsGandKbearsafeaturematchingF.

(ii) PathQuantification:GistheclosestcategoryinthesisterofHiffthereisnocategoryKbearingafeaturematchingFsuchthatthepathP'thatwouldresultfrommovementofKissmallerthanthepathPthatwouldresultfrommovementofG.

Page 78: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

64

largo (uma foto ou um quadro qualquer), enquanto que a segunda possui uma

leituradeescopoestreito(umafotoouumquadroparticularquealguémquerver).

Desta forma,RoeperexplicaquePathpodeser invocado,mesmoassumindoque

Attractsejaaopçãosintaticamentemaiseconômica.

Com relação à aquisição das relativas preposicionais em PB, Lessa-de-

Oliveira(2008)propõequeadificuldadeinerenteaoalçamentodapreposiçãona

derivação de uma relativa é evitada na estratégia não-padrão, uma vez que o

elementoalçadonãoéumPP,masumDP(assimcomonasrelativasdesujeitoede

objetodireto,naestratégiapadrão).

“...aaquisiçãodarelativacompied-pipingpreposicionalépreteridatantoemlínguas de pied-piping obrigatório, [...] quanto em línguas que admitemprepositional-stranding...”

(Lessa-de-Oliveira,2008:177)

Podemosconcluir,combasenessaproposta,queasrelativascompied-piping

preposicionalnãosãoobservadasnasproduçõesinfantis,poiselassãomaisdifíceis

paraascrianças,umavezquepied-pipingpreposicionalenvolveanoçãodePath,

que,segundoRoeper,émenoseconômicadoqueAttract.Aproduçãodessetipode

relativapelascriançasenvolveapenasasestratégiasnão-padrão.28

Uma vez que as relativas preposicionadas são derivadas por meio das

estratégias não-padrão, podemos esperar que as relativas com pied-piping

preposicional sejam um artefato prescritivo, conforme propõem Guasti e

Cardinaletti (2003),aprendidoduranteosanosescolares.De fato,Corrêa (1998)

estuda a produção oral e escrita de diversos informantes em PB, entre não

escolarizados, alunos do Ensino Fundamental e Médio, alunos universitários e

professores, e conclui que as relativas compied-pipingpreposicional apenas são

28OsdadosdeaquisiçãoeaanálisedaestruturadasrelativasapositivasemPBemLessa-de-Oliveira(2008)sugeremqueessasconstruçõessomentesãoderivadaspormeiodaestratégiapadrão,alémdeseremadquiridascedo.Emvistadenossosdadoseanálise,podemosnosperguntarporqueaestratégiapadrãoéadquiridacedoparaasrelativasapositivaspreposicionadas,enquantoquepied-pipingpreposicionalnas relativas restritivasdependemde seu ensino formal. Foge ao escopodenossotrabalhoinvestigaradiferençaentreessesdoistiposderelativaseospossíveismotivospelosquaisaaquisiçãodaestratégiapadrãoparaasrelativaspreposicionadasocorreindependentementedeseuensinoformalparaasrelativasapositivas,masnãoparaasrelativasrestritivas.

Page 79: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

65

aprendidasnosanosfinaisdoEnsinoMédio.Paraaautora,essasrelativasrequerem

oensinoformaldesuaestruturaeuso.

IniciamosestaseçãoapresentandootrabalhodeLabelle(1990),quepropõe

queagramáticainfantilgeraoraçõesrelativassemmovimento-Quequeapenasna

gramáticaadulta,asrelativassãoderivadasviamovimento.Suamotivaçãoestáno

fatodeascriançasnãoproduziremrelativaspreposicionadasemfrancêscanadense,

mas seremcapazesdeproduzir interrogativas-Qucompied-piping preposicional,

alémdaprodução ilícitade resumptivosnasorações relativas. Emsuaproposta,

Labelledefendeatesedeque,atéos6anosdeidade,ascriançasproduzemrelativas

pormeiodeumaregradepredicação.Questionamosalgunspontosdesuaanálise,

como a assimetria entre interrogativas-Qu e relativas que envolvem pied-piping

preposicional, e a razão e a maneira pela qual as crianças abandonariam uma

operação de relativização com base na predicação, para relativizar pormeio de

movimento.Emseguida,apresentamososestudosdeGuastieShlonsky(1995)e

GuastieCardinaletti(2003),querefutamatesedeLabelle(1990)epropõemquea

relativizaçãoocorrepormeiodealçamentoàlaKayne(1994).EmGuastieShlonsky

(1995), a aquisição das relativas preposicionadas depende da maturação de

operadoresrelativos,quenãoestãopresentesnagramáticainfantil.Entretanto,os

autoresnãodeixamclaroqual seriaadiferençaentreas relativasnão-padrãona

gramáticainfantileasrelativasnão-padrãoemfrancêsadulto.Porsuavez,Guastie

Cardinaletti(2003)propõemquenãohádiferençaentreoconhecimentoadultoeo

conhecimento das crianças quanto às orações relativas e que as relativas

preposicionadas são aprendidas emumprocesso semelhante ao aprendizado de

umasegundalíngua.Aausênciaderelativaspreposicionadasnagramáticainfantil

possuiumarelaçãodiretacomaausênciadessetipodeconstruçãonafalaadulta.

Em relação às relativas do PB, inicialmente apresentamos o trabalho de

Grolla (2000), cujos dados longitudinais indicam a ausência de resumptivos nas

relativasduranteosanosiniciaisdevidadacriançaestudada.Aocorrênciadeitens

resumptivos só foi atestada após os 3;0 anos de idade como complementos

preposicionais. Com base em Shlonsky (1992), que analisa resumptivos como

estratégiasdeúltimorecurso,Grollapropõe3estágiosdiferentesparaaaquisição

desses itens. Em um primeiro momento, a criança não utiliza resumptivos em

Page 80: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

66

contextos de aparente alternância entre vestígio de movimento e pronome

resumptivo. No segundo estágio, os resumptivos abertos são identificados. Os

resumptivosnulosdependemdeumaanálisemaisprofundaquantosuadistribuição

na língua. Apenas no terceiro estágio, os resumptivos nulos são adquiridos e

construçõesenvolvendoaalternânciaentreresumptivoabertoeresumptivonulo

passam a ser lícitas na gramática infantil. Ainda sobre as relativas do PB,

apresentamos o trabalho de Lessa de Oliveira (2008), que investiga dados

longitudinaisdetrêscriançasbaianas,esugere,combaseemHornstein(2007),que

aestratégiademovimentoéaprimeiraaseradquiridapelascrianças(comrelação

àsrelativasdesujeitoedeobjetodireto),emconsonânciacomGrolla(2000,2005b).

Lessa de Oliveira propõe, com Roeper (2003), que as relativas com pied-piping

preposicionalsãopreteridasumavezquesuaderivaçãoenvolveanoçãodePath,

quesegundoRoeperéumanoçãomenoseconômicaqueAttract(sendoestaúltima

relacionadaaconstruçõescomprepositionstranding).

Em vista dos trabalhos apresentados aqui, assumiremos que as crianças

utilizamaoperaçãodemovimentonaderivaçãodeoraçõesrelativasdurantesua

aquisição.ConformeosestudosdeGrolla(2000,2005b)eLessadeOliveira(2008),

assumiremostambémqueascriançassãocapazesdeprocessareproduzirrelativas

desujeitoeobjetodireto,enquantoqueasrelativasdeobjetopreposicionadonão

são produzidas por meio da estratégia padrão, apenas com um resumptivo. As

relativasdeobjetopreposicionadosãoumartefatoprescritivo,aprendidasdurante

osanosfinaisdoEnsinoMédio,comoobservadoemCorrêa(1998).ComGuastie

Cardinaletti (2003), assumiremos que o aprendizado das relativas de objeto

preposicionadoenvolvendopied-pipingpreposicionalacontecedemodosimilarao

aprendizadodeumasegundalíngua.

Essaúltimaobservaçãovaiaoencontrodaprevisão(9c),naintroduçãodesta

dissertação,quedizquenãohaveráproduçãode relativas comalçamentos pied-

piping preposicional (ou que o número de produções com essa estrutura será

próximodezero).

Naseçãosubsequente,discutiremosapropostaquerelacionaadificuldade

no processamento e na produção de relativas de objeto com a característica

estruturaldosujeitodaoraçãosubordinada.

Page 81: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

67

2.4.Osujeitointerveniente

Muitosestudossobreaproduçãoeoprocessamentodasoraçõesrelativas

analisamaassimetriaobservadaentreasrelativasdesujeitoeasrelativasdeobjeto

direto.Estudosrecentesoferecempropostasfocadasnascaracterísticasestruturais

dos argumentos envolvidos nas orações relativas. Mais especificamente, esses

estudosanalisamainterveniênciaentreaposiçãoemqueoelementorelativizadoé

interpretado dentro da oração subordinada e a posição para onde esse mesmo

elementoémovido(BellettieContemori,2010;BellettieChesi,2011;Bellettietal.,

2012;Benteaetal.,2016;Friedmannetal.2009,Utzeri,2007;entreoutros).

Emumasériedeexperimentosenvolvendomovimento-A’easposiçõesde

sujeitoeobjetodireto,Friedmann,BellettieRizzi(2009)estudamaproduçãoea

compreensãodeoraçõesrelativas,alémdacompreensãodeinterrogativas-Qu,em

hebraico. 22 crianças falantes nativas de hebraico, entre 3;7 e 5;0 de idade

participaramdosexperimentos.

Nos experimentos sobre a compreensão das relativas, os pesquisadores

utilizaramduas tarefas.Aprimeiraenvolvia14paresde figuras, enquantoquea

segunda envolvia 7 pares de cenários com animais de brinquedo. Os tipos de

relativastestadasforamadesujeito(74a),deobjetodiretocomesemumpronome

resumptivo(74b–c),relativaslivresdesujeitoeobjetodireto(74d–e),erelativasde

objetodiretocomumprocomreferênciaarbitrárianaposiçãodesujeito(74f).

74.

a. Tarelietha-parashe-menasheketetha-tarnegolet.

showto-meACCthe-cowthat-kissesACCthe-chicken

mostrepara-mimACCa-vacaque-beijaACCagalinha

b. Tarelietha-pilshe-ha-ariemartiv.

showto-meACCthe-elephantthat-the-lionwets

mostrepara-mimACCo-elefanteque-o-leãomolha

c. Tarelietha-kofshe-ha-yeledmexabekoto.

showto-meACCthe-monkeythat-the-boyhugshim

mostrepara-mimACCo-macacoque-o-meninoabraçaele

Page 82: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

68

d. Tarelietmishe-martivetha-yeled.

showto-meACCwhothat-wetsACCthe-boy

mostrepara-mimACCquemque-molhaACCo-menino

e. Tarelietmishe-ha-yeledmenadned.

showto-meACCwhothat-the-boyswings

mostrepara-mimACCquemque-o-meninobalança

f. Tarelietha-susshe-mesarkimoto.

showto-meACCthe-horsethat-brush-plhim

mostrepara-mimACCo-cavaloque-escovamele

(Friedmannetal.,2009:70-75)

Noexperimentoqueeliciouoraçõesrelativas,ascriançasforamconvidadas

a participar de um jogo com dois pares idênticos de animais de brinquedo. Um

pesquisadorapresentaumasituaçãocomumdosparesdeanimaisedepois,como

outropardeanimais,amesmasituaçãoéapresentada,mascompapeisinvertidos.

Enquanto isso, um segundo pesquisador fica na frente da criança, apenas

observando a apresentação. Em seguida, o segundo pesquisador venda seus

própriosolhos,paraqueelenãopossaverosparesdeanimais.Assim,oprimeiro

pesquisadorapontaparaumdosanimais,pedindoparaqueacriançaodescreva

paraopesquisadorcomosolhosvendados.

Deacordocomosautores,osdadoscoletadosnostestesdecompreensãode

relativassugeremqueascriançastêmdificuldadecomoalçamentodaposiçãode

objeto direto. A tabela 1 (reproduzida de Friedmann et al. 2009: 76) mostra a

porcentagemde respostas corretaseonúmerode criançasque se comportaram

acimadoníveldechance.

Page 83: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

69

Tabela1:PorcentagemderespostascorretasenºdecriançasquesecomportaramacimadoníveldechancenostestesdecompreensãoderelativasemFriedmannetal.(2009:76).

RS RO RO+res. RLS RLO RO+pro

Tarefacomparesdefiguras 92% 70% 61% 85% 87% 90%Tarefacombrinquedos 89% 38% 50% 83% 70% 75%Médiaentreastarefas 90% 55% 56% 84% 79% 83%Nºdecriançasacimadoníveldechance 22 7 6 18 17 19Grupoacimadoníveldechance? sim não não sim sim simLegenda:RS=relativasdesujeito|RO=relativasdeobjeto|RO+res.=relativasdeobjetocompronomeresumptivo|RLS=relativaslivresdesujeito|RLO=relativaslivresdeobjeto|RO+pro=relativasdeobjetocomprocomreferênciaarbitráriacomosujeito

De acordo comos autores, as porcentagensna tabela1 sugeremque, nos

testesdecompreensãodasrelativas,ascriançastiverammaisdificuldadescomas

relativas de objeto com e sem o pronome resumptivo. As relativas de sujeito

apresentamumelevado índicepercentualdeacertos,assimcomoasrelativasde

objeto com um pro indeterminado na posição de sujeito da subordinada e as

relativaslivres(cf.(74)acima).

Com relação à tarefa de produção, os pesquisadores argumentam que os

enunciados das crianças condizem com a dificuldade observada nas tarefas de

compreensão.Istoé,osdadosindicamumapreferênciapelaproduçãoderelativas

desujeitopormeiodediferentesestratégiasderelativização.Osexemplosabaixo

ilustramasestratégiasdeesquivautilizadaspelascriançasduranteoexperimento.

Em (75a), a criança utiliza um verbo diferente daquele que foi utilizado para

descreverocenárioàcriança,enquantoqueem(75b),umaconstruçãoreflexivaé

preferida.Porfim,em(75c),aestruturaémantida,masháumareversibilidadedos

papeisdospersonagensenvolvidos.

75.

a. Sentençaalvo: Ha-jirafashe-ha-zebranicxa.

the-giraffethat-the-zebradefeated

a-girafaque-a-zebraderrotou

Page 84: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

70

Sentençaproduzida:Ha-jirafashe-hifsida.

the-giraffethat-lost

a-girafaque-perdeu

b. Sentençaalvo: Ha-pilshe-ha-ariehexbi.

the-elephantthat-the-lionhid(transitive)

o-elefanteque-o-leãoescondeu(transitivo)

Sentençaproduzida:Ha-pilshe-hitxabe.

the-elephantthat-hid(reflexive)

o-elefanteque-escondeu-REFL

c. Sentençaalvo: Ha-ezshe-ha-gorilalitfa.

the-goatthat-the-gorillapatted

a-cabraque-o-gorilaacariciou

Sentençaproduzida:Ha-ezshe-liftaetha-gorila.

the-goatthat-pattedACCthe-gorilla

a-cabraque-acariciouACCo-gorila

(Friedmannetal.,2009:81)

Paraexplicaressadificuldadena compreensãodas relativasdeobjetoea

preferênciapelaproduçãoderelativasdesujeito,primeiramenteFriedmannetal.

observamqueasrelativasconsideradas“problemáticas”emseuestudoapresentam

umacaracterísticaemcomum,asaber:apresençadeumsujeitocomomesmotraço

[+NP] do elemento alçado. Isto é, o sujeito da relativa e o objeto relativizado

possuemasmesmascaracterísticassintáticas.Paraosautores,nagramáticainfantil,

essesujeitoatuacomoumelementointervenienteparaarelativizaçãodoobjeto.

Essa observação condiz com o que foi observado no experimento envolvendo

relativaslivresenoexperimentoenvolvendoumprocomreferênciaarbitráriana

posiçãodesujeito.Nessesdoisexperimentos,osujeitodarelativanãocausariaum

efeitodeinterveniência.Noprimeirocaso,osujeitodarelativaéumDPquecontém

um elemento NP, enquanto que o elemento alçado é um elemento-Qu sem um

complemento NP (cf. 74e). No segundo caso, o objeto relativizado contém um

elementoNPeseumovimentocruzaumpro,quenãopossuiumelementoNP.Isto

Page 85: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

71

é, nesses dois casos o sujeito da relativa e o objeto relativizado possuem

característicassintáticasdistintas.

O quadro abaixo ilustra os tipos de relativas testadas pelos autores, a

estruturasubjacenterelativaacadaumadelasjuntamentecomolocaldeorigemde

movimentodoelementorelativizado,alémdojulgamentoprevistoqueascrianças

devemfornecer,deacordocomessahipótese.

Quadro 1: Resumo dos resultados experimentais acerca das construções relativas emFriedmannetal.(2009:81).Tipoderelativa

Estrutura(SpecCP...Sujeito...Objeto)

Gramaticalidade

Rel.desujeito [DNP]i ... ti ... [DNP] okRel.deobjeto [DNP]i ... [DNP] ... ti *Rel.deobj.c/resump. [DNP]i ... [DNP] ... pron.resump. *Rel.livredesujeito [Qu]i ... ti ... [DNP] okRel.livredeobjeto [Qu]i ... [DNP] ... ti okRel.deobjetoc/pro [DNP]i ... pro ... ti ok

Os autores verificam as previsões acima e propõem que as crianças têm

problemascomasrelativasdeobjetocomesemumpronomeresumptivo(aberto)

umavezque,emsuaanálise,omovimentodoelementorelativizadodedentrode

oraçãosubordinadaparaaposiçãodepousoemCPcruzaumsujeitoquepossuias

mesmascaracterísticassintáticas.ParaFriedmannetal.,acaracterísticarelevante

paraexplicaroproblemadascriançascomasrelativasdeobjetoresidenofatode

ambososujeitodasubordinadaeoobjetorelativizadoconteremotraço[+NP].Os

autores comentam que esse efeito de interveniência remete a violações de

MinimalidadeRelativizada(Rizzi,1990).

Comomencionadonocapítulo1,oprincípiodeMinimalidadeRelativizada

dizqueuma relação entreX eY em (76a) abaixonãopode acontecer seZ éum

candidatoempotencialparaarelaçãolocal.Emoutraspalavras,setantoYcomoZ

podem semover para satisfazer a checagem de traços de X, o movimento de Z

bloqueiaomovimentodeYporestabelecerumarelaçãosintáticamaispróxima.A

agramaticalidadede(76b)éexplicadapelainterveniênciadewhat,bloqueandoo

Page 86: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

72

movimento-A’dewhoparaoSpecCPdamatriz.Em(76c),osuper-alçamentodethe

busébloqueadoporit,cujomovimentoestabeleceriaumarelaçãomaislocal.

76.

a. X...Z...Y

b. *[What]idoyouthink[[who]boughtti]?

c. *[Thebus]iseemsthatitislikely[titobelate].

Adiscrepânciaobservadaentreosdadosinfantiseadultosnosexperimentos

emFriedmannetal.,segundoosautores,sedeveaofatodequeascriançasaderem

aumaversãomaisrigorosadeMinimalidadeRelativizada.Essaversãomaisrigorosa

doprincípio atuademaneira disjunta sobre o feixe de traçosdo elemento a ser

movido. Isto é, enquanto a gramática adulta permite que um elemento seja

computado para fins de movimento com base em todo um feixe de traços, a

gramáticainfantilévioladaquandoumapartedessestraçoséigual.Apropostaé

exemplificada no quadro abaixo, no qual os itens à esquerda representam o(s)

traço(s)sintático(s)presente(s)noelementomovido.

Quadro2:PropostaemFriedmannetal.(2009:84)

Gramáticaadulta

Gramáticainfantil

+A ... +A ... <+A> * * identidade +A,+B ... +A ... <+A,+B> ✓ * inclusão +A ... +B ... <+A> ✓ ✓ disjunção

Nagramáticaadulta,MinimalidadeRelativizadaseaplicaemcontextosem

que os elementos computados possuem traços idênticos para desencadear

movimento, como ilustradona linha1doquadro acima.Na gramática infantil, o

mesmo princípio atua de forma mais rígida, bastando que um dos traços que

desencadeiammovimentoestejapresenteemambososelementoscomputados(na

gramática adulta, essa relação de inclusão não é computada para fins de

MinimalidadeRelativizada).

Ou seja, na proposta dos autores, a gramática infantil não possibilita o

alçamentodoDPdaposiçãodeobjetoparaumaposiçãomaisaltanaderivaçãode

Page 87: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

73

umarelativa,umavezqueoDPsujeito,umcandidatoempotencialparaumarelação

maislocal,estádisponívelparaisso.

Quadro3:ResumodapropostaemFriedmannetal.(2009:84)acercadostiposdeintervençãoemconstruçõesrelativasnasgramáticasadultaeinfantil.

Movimentodeumelementocomotraço[+NP]Gramáticaadulta

Gramáticainfantil

[+NP] ... [+NP] ... t * * [+NP]rel. ... [+NP] ... t ✓ * [+NP](rel.) ... [+XP] ... t ✓ ✓

OestudodeFriedmannetal.(2009)originouumasériedeoutrosestudos

sobrerelativizaçãoeintervençãoquetrazemconfirmaçãoempíricaparaaproposta

de intervenção nas relativas (Adani, 2008; Belletti, 2009; Belletti e Chesi, 2011;

BellettieContemori,2010;BellettieRizzi(2013);Bellettietal.,2012;Benteaetal.,

2016; Friedmann e Costa, 2010; entre outros). No entanto, há dois pontos

discutíveisnesse estudo.Primeiramente,noquediz respeito àsporcentagensde

respostas certasnos testes sobre as relativasde objeto come semumpronome

resumptivo–precisamente,osdadosquebaseiamoestudoemFriedmannet al.

(2009)(cf.quadro1)–,atarefaenvolvendoosparesdeanimaisdebrinquedonão

semostroutãoeficiente,umavezque,porvezes,ascriançaspreferirambrincarcom

osobjetosaexecutaratarefaproposta.Adiferençanosresultadosobtidosnasduas

tarefasfazcomqueamédiaderelativasdeobjeto,comesemumresumptivo,seja

maisbaixa,causandoumamaiordiscrepâncianosresultadosfinais.

Emsegundolugar,seesseprincípiointerferenacompreensãoenaprodução

das orações relativas de objeto direto, por que esse princípio não bloqueia as

orações relativas totalmente, assim como Minimalidade Relativizada bloqueia

sentenças como (74b-c)? Isto é, essa extensão do princípio é apenas aplicada

parcialmente? Como explicar a taxa de acertos e de produções que as crianças

obtiveram? Considerando que os resultados experimentais de outros estudos

também indicam que as crianças produzem e compreendem relativas de objeto

direto,podemosnosquestionarseesseprincípiorealmenteseaplicaàproduçãoe

à compreensão de relativas. Se esse princípio é operativo na gramática,

esperaríamosque a produçãode relativasde objeto fossebloqueada.Damesma

Page 88: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

74

forma, esperaríamosqueo índicedeacertosnas tarefas envolvendo relativasde

objetofosse(próximode)zero.Poroutrolado,seapropostadosautoresseaplicar

aoprocessamentosintáticodessasrelativas,poderíamosesperarumdesempenho

mais próximodoque foi encontrado emFriedmann et al (2009).No entanto, os

autores parecem não se comprometerem com uma análise de processamento

sintático de forma clara, sugerindo que “Minimalidade Relativizada Estendida”

aindanãoestáclaramentedefinido.

“…clearly,disjointnessiseasiertodetermine,asitcanbecalculatedfeaturebyfeature, whereas calculating a subset–superset relation requires holding inoperativememoryandcomparingthewholefeaturalspecificationsassociatedtodifferentpositions,anoperationwhichmayexceedthecapacityoftheearlysystems…”

(Friedmannetal.,2009:84)

Seporumladoestetemarendediversostrabalhosparaapesquisasobreas

oraçõesrelativas(eoutrasconstruçõesenvolvendodependências-A’),poroutrohá

umconsensonoquedizrespeitoàdificuldadedascriançascomasoraçõesrelativas

deobjetoeàpreferênciapelasrelativasdesujeito,comoumamaneiradeevitara

relativizaçãodeobjeto.GrollaeAugusto(2016)apontamparaestefatoecomentam

que diferentes línguas utilizam diferentes estratégias para evitar as relativas de

objetoadependerdeaspectosespecíficosdecadalíngua.

“...children resort to different strategies in order to avoid object relatives inproduction.Although this seems to bea general trendamong languages, thespecific alternative strategies resorted to vary from language to language,dependingonlanguagespecificaspects.”

(GrollaeAugusto,2016:46)

GrollaeAugusto(2016)conduziramumexperimentocomcriançasde4e5

anos de idade, falantes de PB. Com base nos dados de uma tarefa de produção

eliciadacomparesfiguras,asautoraspropõemqueodesempenhodecriançasem

tarefasenvolvendoaproduçãodeoraçõesrelativasdependedacomplexidadedas

estruturasdisponíveisparaelas.

Page 89: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

75

GrollaeAugustoobservamqueestudosemdiferenteslínguassugeremque

ascriançasutilizamconstruçõesvariadasparaevitarumarelativadeobjeto.Por

exemplo,emitaliano(cf.(77a)),ascriançasentre3;4e6;5anosdeidadeutilizam

relativas de sujeito como uma estratégia de esquiva. Em francês e alemão, as

criançasutilizampronomesespecíficos, respectivamenteoú ewo (equivalentesa

ondeemPB),nolugardeummorfemarelativonormalmenteusadonessaslínguas

(cf.(77b-c)).

77.

a. Sentençaalvo:Vorreiessereilbambinochel’elefantebagna.

Iwouldratherbethechildthattheelephantwets.

Gostariaseromeninoqueo-elefantemolha

Produção:Voglioesserelabambinachesibagna.

Iwouldratherbethechildthatisgettingwet.

Queroserameninaquesemolha

(BellettieContemori,2010:5)

b. Sentençaalvo:DasPferd,dasderJungereitet,istjetztrot.

thehorsethattheboyridesisred.

ocavaloqueomeninocavalgaévermelho

Produção:DasPferd,woderJungereitet,isrot.

Thehorsewheretheboyridesisred.

ocavaloondeomeninocavalgaévermelho.

(Adani,SehmeZukowski,2012:7)

c. Sentençaalvo:Touchel’orangequeladameaprispourfairelejus.

Touchtheorangethattheladytooktomakejuice.

toquea-laranjaqueamulherAUXpegar(PRT)parafazerosuco

Produção:Touchel’orangeoùladameaprispourfairelejus.

Touchtheorangewheretheladytooktomakejuice.

toquea-laranjaondeamulherAUXpegar(PRT)parafazerosuco

(GuastieCardinaletti,2003:67)

Page 90: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

76

Asautorastambémcomentamque,deacordocomUtzeri(2007),crianças

maisvelhas(de6a11anosdeidade)eadultosfalantesdeitalianofrequentemente

usampassivaseconstruções“si-fa”(cf.(78)).

78.

a. Sentençaalvo:Vorreiessereilbambinochel’elefantesolleva.

Iwouldratherbethechildthattheelephantlifts.

Gostariaseromeninoqueo-elefanteergue

Produção:Voglioesserelabambinachevienesollevatodall’elefante.

Iwouldratherbethechildthatisliftedbytheelephant.

Queroserameninaqueélevantadapelo-elefante

b. Sentençaalvo:Ilbambinocheilrepettina.

Thechildthatthekingcombs.

omeninoqueoreipenteia

Produção:Ilbambinochesifapettinaredalre.

Thechildthatmakeshimselfcombbytheking.

omeninoquesefazpentearpelorei.

(Utzeri,2007:298-299)

Considerando que o uso dessas estruturas pode indicar que as crianças

evitamconstruções envolvendoumelemento interveniente à laFriedmannet al.

(2009),etambémqueascriançasmaisnovasnãoutilizamconstruçõescomavoz

passiva tão frequentemente quanto as crianças mais velhas, Grolla e Augusto

investigam a possibilidade de crianças de 4 e 5 anos utilizarem a construção

absoluta (Negrão e Viotti, 2010) em seu experimento. Essa construção, que é

superficialmente similar às passivas, é analisada por Negrão e Viotti como uma

estrutura envolvendo a ordem SV, em que o objeto direto de um verbo

prototipicamente transitivo e agentivo é promovido à posição pré-verbal. Essa

construção apresenta concordância entre o argumento promovido à posição de

sujeitosintáticoeoverbo.29

29ParaumtrabalhosobreaaquisiçãodasabsolutasemPB,comdadosexperimentais,cf.Rezende(2016).

Page 91: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

77

Por se tratar de uma construção “nova” do PB, Grolla e Augusto a

exemplificamenotamque,emPortuguêsEuropeu,essaconstruçãoéjulgadacomo

agramatical.

79.

a. Acasaestápintando/construindo.

b. Essetremjáperdeu.

c. Acadaumminuto,quatrocoisasvendem.

d. Meujardimdestruiutodocomareforma.

e. AMariaoperou.

(GrollaeAugusto,2016:39)

Asautorastambémcomparamessaconstruçãocomoutrasconstruçõesdo

PBdemodoaestabelecer,porumprocessodeeliminação,oqueessaconstrução

nãoé.Vejamososparesdeexemplosabaixo:

80.

a. Ojardimfoidestruídopelareforma.

a’. *Ojardimdestruiupelareforma.

b. OjardimfoidestruídopraaborreceraMaria.

b’. *OjardimdestruiupraaborreceraMaria.

c. Aporta(se)abriu.

c’. *Ojardimsedestruiu.

d. Esselivro,quandovocêcomprou?

d’. *Meujardimquandodestruiu?

e. prodestruírammeujardim.

e’. *Meujardimprodestruíram.

(GrollaeAugusto,2016:40-41)

Em(80a-b),vemosconstruçõespassivaseabsolutas.Noprimeirocaso,(80a-

a’),vemosqueoargumentoexternopodeserrealizadopormeiodeumaby-phrase

(=pelareforma)apenasnasconstruçõespassivas.Nosegundocaso,(80b-b’),vemos

queaspassivasaceitamqueoargumentoexternoestejaimplícito,enquantoquenas

Page 92: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

78

construções absolutas o argumento externo sequer é projetado. A primeira

conclusão é que as absolutas não são passivas commorfologia empobrecida. As

sentenças em (80c-c’) indicam que as absolutas também não são um tipo de

construção anticausativa (que são formadas por um verbo, opcionalmente,

precedidodoclíticoseemPB).EmPB,temosinterrogativas-Qucomumargumento

topicalizado, como em (80d). A agramaticalidade em (80d’) indica que as

construções absolutas não aceitam que o argumento interno apareça antes do

elemento-Qu, sugerindo que elas também não são um tipo de topicalização.

Finalmente, Grolla e Augusto comentam que as absolutas não são construções

impessoais(comumsujeitonuloeconcordânciaemterceirapessoadoplural).Nas

absolutas,overboconcordacomoargumentointerno(cf.(80e-e’)).

Após excluírem essas possibilidades, as autoras assumem, com Negrão e

Viotti (2010), que as construções absolutas possuem a estrutura em (81) e as

característicasem(82):

81.

(NegrãoeViotti,2010:57)

82.

a. OargumentointernoécomplementodeV;

b. v não é projetado, uma vez que as construções absolutas não envolvem

agentividade;

Page 93: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

79

c. OargumentointernoconcordacomonúcleoTeéatribuídoCasonominativo,

sendomovidoparaumaposiçãoforadeVP.

Deacordocomessaanálise,asconstruçõesabsolutaspossuemumpontoem

comum com as construções passivas: o argumento interno é movido para uma

posiçãopré-verbaleconcordacomoverbo.Seguindoessaanálise,GrollaeAugusto

comparamasduasconstruções,assumindoqueasabsolutassãoestruturalmente

“maissimples”doqueaspassivasportrêsmotivos:asabsolutasnãoprojetamvP,

não envolvemamarcaçãodoparticípionoverbo enão envolvemaoperaçãode

smuggling30.Umavezqueosujeitodeambasasconstruçõespodeserrelativizado

(comoem“ojardimquedestruiu”),asautoraspreveemque,emseuexperimentode

eliciaçãoderelativas,ascriançasutilizarãoessaestruturacomoumaestratégiade

esquivaparaarelativizaçãodeobjetodireto.

Nosdoisgruposdecriançasestudadospelasautoras(de4e5anosdeidade),

foiconstatadoousodeconstruçõesabsolutas:26,25%e28,75%,respectivamente

nos gruposde4 e5 anos. Por sua vez, os adultosdo estudoproduziramapenas

1,25%derelativascontendoconstruçõesabsolutas.Comrelaçãoaousodepassivas,

30DeacordocomapropostadesmugglingdeCollins(2004),oobjetodiretodeumverbotransitivointernamenteconcatenadoemVPnãopodesemoverdiretamenteparaSpecIP,poisoDPnaposiçãodesujeitointervémnomovimentodoobjetodireto.Paraevitaraintervenção,apropostaprevêoalçamentodeumconstituintecontendo[VPVDPobj],evitandoumproblemadeinterveniênciacomoDPsuj.AssumindoquebyocupaumaposiçãoacimadevP,oconstituintecontendo[VPV+DPobj]émovidoparaaposiçãodeespecificadordaprojeçãodeby.Aestruturadeumapassivaviasmugglingédadaabaixo:

(Collins,2004:9)UmavezquetodoosintagmacontendooDPobjémovidaparaumaposiçãoacimadeDPsuj,oDPobjéalçadosemviolaçõesdelocalidade.

Page 94: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

80

enquantoascriançasde4anosnãoproduziramnenhumapassiva,ascriançasde5

anoseosadultosutilizaramrespectivamente11,25%e40%derelativascontendo

umaconstruçãopassiva.Jáousoderelativasdeobjetodiretocontendoumalacuna

naposiçãopós-verbal foide36,25%nogrupodecriançasde4anos,28,75%no

grupodecriançasde5anose42,5%nogrupodeadultos.

Para Grolla e Augusto, esses números sugerem que o custo associado à

construçãopassivaestáligadoàsuaausêncianasproduçõesdascriançasde4anos.

Asautorassugeremqueousodeconstruçõesabsolutaspelosgruposdecrianças

estáassociadoàideiadequeasabsolutassãomaissimplesdoqueaspassivas,sendo

queocustodeproduçãodeumapassivacomoumtodoémaiscomplexa.

Paraasautoras,omovimento-A’daposiçãodeobjetodiretoémaiscustoso

doqueomovimentodaposiçãodesujeito,sendoqueapassivaéumaestruturaque

evitaessecusto.31Noentanto,háumcertocustoparaoprocessamentoeaprodução

dessaestrutura,deacordocomasautoras,provavelmenteligadoaomovimento-A,

geralmenteassumidoparaessaestrutura(cf.nota30).Aconclusãoéaseguinte:

“The absolutive construction avoids both costs, since there is no interveningelement for the A-movement (no external argument is projected) andconsequentlyalesscostlyA’-movementmaybeemployed.”

(GrollaeAugusto,2016:47)

A preferência por relativas de sujeito pode ser explicada com base na

propostadePrincípiodaCadeiaMínima(MinimalChainPrinciple,doravanteMCP),

deDeVincenzi(1991).Essapropostaébaseadanaideiadequecadeias,geradaspor

movimento,sãocustosasparaoprocessamentosintático,umavezqueoparsertenta

completarumacomputaçãoenvolvendoumacadeiaomaisrápidopossível.Istoé,

assimqueumaevidênciadeexistênciadeumacadeiaéencontrada,oparsernão

devedemorarparaidentificarosmembrosdessacadeia.Deacordocomaautora:

31Apesar de as crianças utilizaremestratégias de esquiva emdetrimentodas relativas de objetodireto,ousoderelativasdeobjetodiretoéatestadonasproduçõesinfantisemdiferenteslínguas.Além dos dados do PB em Grolla e Augusto (2016), Belletti e Contemori (2010) reportam quecriançasde4anos,falantesdeitaliano,utilizamrelativasdeobjetodiretoem50%desuasproduçõesequeaspassivascomeçamaserusadasporvoltados5anosdeidade,assimcomonosdadosdeGrollaeAugusto.

Page 95: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

81

“Avoidpostulatingunnecessarychainmembers[…],butdonotdelayrequiredchainmembers.”

(DeVincenzi,1991:13)

Com relação às orações relativas, oMCP prevê que, além de identificar o

núcleo relativizado, o parser postule a existência de uma lacuna na posição

argumentalmaispróximaàposiçãoemqueonúcleorelativizadoestá.Comisso,a

“resolução”dacadeiapodeserfeitaomaisrápidopossívelpeloparser,reduzindo

custosdeprocessamentorelacionadosàpostulaçãodecadeiasnarelativização.

Parafinalizar,nestaseçãoapresentamosoestudodeFriedmannetal.2009,

que originou outros estudos sobre a questão da intervenção em relativas. Sua

propostadeextensãodoprincípiodeMinimalidadeRelativizadarendeudiversos

estudosrelacionadosàproduçãoecompreensãodasrelativasporcrianças.Apesar

dehaverconsensonoquedizrespeitoaousodeestratégiasdeesquivademodoa

evitar uma relativa de objeto, a aplicação de uma versão do princípio de

Minimalidade Relativizada para explicar esse comportamento é questionável. Se

verificamosqueháproduçãoderelativasdeobjetoporcrianças,podemosdizerque

(a extensão de) Minimalidade Relativizada não bloqueia essas construções. Em

outraspalavras,aextensãodesseprincípionãodeveseroperativanagramática.

Outrosfatorespodemestaremjogonaproduçãoenacompreensãoderelativasde

objetoporcrianças, comoapreferênciaporrelaçõessintáticasmais locais, como

prevê o MCP, de de Vincenzi (1991). Essa preferência por relações mais locais

resultanousodeestratégiasdeesquivaemdetrimentodasrelativasdeobjeto.Essas

estratégiasincluemapassivizaçãodaoraçãoencaixada,promovendooargumento

naposiçãodeobjetodiretoparaaposiçãodesujeito.Conformevimosnosdadosdo

PBemGrollaeAugusto(2016),osadultosutilizamaspassivascomoumaestratégia

deesquivaderelativasdeobjeto,enquantoqueosdadosdecriançasde4e5anos

de idade indicam uma preferência pelo uso de construções absolutas como

estratégia de esquiva (possivelmente, devido à complexidade derivacional

envolvidanaderivaçãodaspassivas).

Apróximaseçãoédedicadaàapresentaçãodeumoutrofatorrelacionadoà

assimetriaobservadanaproduçãoecompreensãodasrelativasdesujeitoeobjeto

Page 96: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

82

direto,asaber:oefeitodotraçodeanimacidadenocomportamentodossujeitosde

pesquisaemestudosexperimentais.

2.5.Otraçodeanimacidadenasoraçõesrelativas

Algunsestudos,comoBenteaetal.(2016),GennarieMacdonald(2007),Mak

etal.(2002,2006),entreoutros,investigamopapeldotraçodeanimacidadenos

argumentos envolvidos em uma sentença relativa e como isso influencia o

desempenhodos sujeitosem tarefasdeproduçãoe compreensãode relativasde

objeto.Porexemplo,emumestudoenvolvendoaleituramonitoradadesentenças,

Gennari eMacdonald (2007) observam que seus sujeitos de pesquisa registram

diferentestemposdeleituraadependerdaconfiguraçãodostraçosdeanimacidade

dosnúcleosnominaisnassentenças.Nesseestudo,asoraçõesrelativasdeobjeto

com o núcleo relativizado [–animado] e o sujeito interno à oração encaixada

[+animado]apresentamtemposdeleituramenoresdoquerelativasdeobjetocom

uma configuração de animacidade inversa, i.e. relativas de objeto com o núcleo

[+animado]eosujeitodaencaixada[–animado].

GennarieMacdonaldcomentamqueasrelativasdeobjetoqueapresentaram

um tempo de leitura menor entre os sujeitos de pesquisa são processadas tão

facilmentequantoasoraçõesrelativasdesujeito.Essesdadoslevamasautorasa

concluíremqueadificuldadeobservadanasrelativasdeobjetopossuiumarelação

direta comamanipulaçãodo traçodeanimacidadedo sujeitodaencaixadaedo

núcleorelativizado.Umavezqueotraço[+animado]écomumenteencontradona

posição de sujeito, quando o núcleo relativizado contém o traço [+animado], é

esperadoqueelesejaoagenteouoexperienciadordoverbodasubordinada,papéis

temáticosgeralmenteatribuídosasujeitos.Aoencontrarumnúcleo[–animado]na

posiçãodesujeitodasubordinada,aexpectativadoleitornãoécorrespondida,em

um primeiromomento, e o leitor deve encontrar algumamaneira de resolver a

Page 97: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

83

indeterminação semântica na construção, resultando em um tempo maior de

leitura.3233

Diferentes configurações do traço de animacidade em uma determinada

construçãopodemfacilitaroudificultaroprocessamentodecertasconstruções.Em

Becker(2014),aautoracomentaquealgocomumnaslínguasdomundoéque,em

sentençastransitivassimples,aposiçãodesujeitoégeralmentepreenchidacomum

argumento[+animado].

“One very important insight about language acquisition stems from theobservation that subjects of basic, canonical sentences are often animate, ormoreanimatethanothernounsinthesentence,andthatchildrencanexploitthisfacttohomeinonbasicsentencestructure...”

(Becker,2014:1)

Entretanto, nem sempre os argumentos de um verbo estabelecem uma

relação sintática tão próxima ou esperada. Alguns tipos de verbos, como os de

alternânciacausativa-incoativaeosdealçamento,(83a)e(83b)respectivamente,

não(necessariamente)apresentamumsujeitoanimado.

83.

a. Asoluçãoescureceudentrodofrasco.

b. OJoãopareceestardoente.32 Gennari e Macdonald (2007) reconhecem que há diferentes maneiras de analisar como aindeterminaçãosemânticaéresolvidaemcasoscomooacima.Emtwo-stagemodels,porexemplo,éproposto que o leitor reanalisa a sentença. Essa reanálise é desencadeada pela chegada deinformaçõesnovas,sinalizandoquearelaçãoentreosargumentoseopredicado,queeraassumidaemumprimeiromomento,deve ser interpretadadeumaoutramaneira.Por suavez,constraint-basedmodelsassumemqueháaativaçãoparcialdeinterpretaçõesalternativas,namedidaemqueasentença é ouvida/lida, em funçãodedeterminadas restrições, como frequência e plausibilidade.Fogeaoescopodessetrabalhodeterminarqualdessasduasanáliseséamaisapropriadaparadarcontadarelaçãoentreanimacidadeeprocessamento.33Defato,ascaracterísticasdosargumentospareceminfluenciaraperformancequantoàproduçãoeaoprocessamentoderelativasdeobjeto.Belletti,Friedmann,BrunatoeRizzi(2012),porexemplo,controlaramo gênero dos argumentos em seumaterial de pesquisa, que envolvia uma tarefa decompreensão. Seu estudo contou com 31 crianças falantes de italiano e 31 crianças falantes dehebraico,todasentre3;9e5;5anosdeidade.Foiobservadoumdiferentecomportamentoentreaslínguas.Ospesquisadoresnotaramqueacompreensãodasrelativasfoisuperiornoquedizrespeitoàsrelativasemhebraico.Partedaconclusãoéqueotraçodegêneroérelevanteparaohebraico,umavez que a informação sobre gênero é codificada no verbo, facilitando assim a compreensão dasrelativas.Talfatonãoéobservadoemitaliano.Ouseja,nãoháumefeitodegêneroperse.Deacordocomosautores:“...thepotentialeffectofgenderiscruciallymodulatedbythemorphosyntacticstatusofthefeatureineachlanguage.”(Bellettietal.,2012:1053)

Page 98: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

84

Para Becker (2014), considerando que os verbos que aceitam sujeitos

animados e aqueles que aceitam sujeitos inanimados estabelecem relações

diferentes com seus argumentos, suas estruturas sintáticas também apresentam

diferenças.Segundoaautora,umsujeito[–animado]podeinformaràcriançaque

ele pertence a uma estrutura com uma configuração não-canônica. Isto é, se a

criança espera que o sujeito de uma estrutura canônica seja [+animado], a

alternânciadotraçodeanimacidadedesseargumentofazcomqueacriançaexplore

esses“desvios”paraaprenderqueosujeitopodeserumargumentomovido.

Entendendo animacidade como um conceito de natureza não-linguística,

disponíveldesdemuitocedoparaacriançaemfasedeaquisição,aautoraapresenta

umahierarquiadeanimacidade,ilustradaabaixo.

84. Hierarquiadeanimacidade

Humano(1ª/2ªpessoa>3ªpessoa;pronome/nomepróprio/espécie>outronomehumano)>

Animalnão-humano(animal“maisalto”>animal“maisbaixo”)34>Inanimado

(Becker,2014:64)

Emrelaçãoaessahierarquia,Beckernotaqueosreferentesde1ªe2ªpessoa

são necessariamente humanos, enquanto que referentes de 3ª pessoa não são

necessariamentehumanos.Alémdisso, nomespróprios geralmente se referema

humanos,aopassoquenomescomunssereferemàsmaisdiversasentidades.Com

basenessahierarquia,aautoraobservaqueadultostendemainterpretarumsujeito

[+animado] como um agente, enquanto um sujeito [–animado] é geralmente

interpretadocomoumpacienteemumaoraçãoprincipalouumargumentodeuma

sentençaencaixada.

BeckerdescreveoexperimentodeClarkeBegun(1971),cominformantes

adultos. Nesse experimento, os autores verificaram a construção de sentenças

transitivasdeacordocomotraçodeanimacidadedosujeito.Naprimeirapartedo

experimento,foramselecionados40substantivosde5diferentestipossemânticos

34Adiferençaentreanimais“maisaltos”e“maisbaixos”estárelacionadaàssuascaracterísticasemcomparaçãoaohomem.Mamíferosevertebradosemgeralsãoconsideradosanimais“maisaltos”,enquantoqueespéciesmaissimplessãotidascomoanimais“maisbaixos”.

Page 99: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

85

(200 itens no total): humano, animal, inanimado-contável (nomes que admitem

plural,como livro),concreto-incontável(comoneve),eabstrato-incontável(como

crescimento).Emseguida,ossujeitosdepesquisacompletaramsentençassimples

em inglêsde forma coerente, usandoumverbonopassado eum substantivona

posiçãodeobjeto.Essassentençasforamapresentadascomaposiçãodesujeitojá

preenchida: “(The) N ____ed (the) ____.” Após construídas, as sentenças foram

sistematicamente alteradas pelos pesquisadores, de modo que os predicados

criados com um sujeito de um determinado tipo semântico foram usados

sistematicamente comum sujeito de umoutro tipo semântico. Por exemplo, um

predicadocriadocomumsujeitohumano,como(85a),foiutilizadocomumsujeito

abstrato,comoem(85c).

85.

a. Theman[consideredtheproblem].

b. Thenoise[frightenedthebaby].

c. ??Thenoise[consideredtheproblem].

d. Theman[frightenedthebaby].

(Becker,2014:127)

Emseguida, essas sentenças foramapresentadasparaumoutrogrupode

adultos que as classificaram conforme sua aceitabilidade em uma escala de 1

(totalmente sem sentido) a 7 (perfeitamente aceitável). Becker aponta duas

generalizaçõesacercadosresultados.Aprimeiradelaséqueossujeitossintáticos

comtraço[+humano]forammaisfrequentementeaceitosemconstruçõesdiversas,

enquantoquesujeitosdacategoriaconcreto-incontávelforamosmenosaceitos.A

segundageneralizaçãoéqueospredicadosqueforamoriginalmentecriadoscom

sujeitoshumanosforamosmenosflexíveiscomoutrostiposdesujeitos.

Finalmente,foipedidoparaqueomesmogrupodeadultostentassemelhorar

assentençasmudandoapenasumadaspalavrasnelas(excetoodeterminantethe).

Foiverificadauma frequentesubstituiçãodossujeitosemsentençascujos

predicadosforamoriginalmentecriadosparasujeitoscomtraço[+humano].Com

Page 100: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

86

relaçãoaossujeitosescolhidos,foiobservadaumapreferênciapelousodesujeitos

humanos.

Osresultadosdesseexperimentosugeremque,alémdeexistirumarelação

entreo traçodeanimacidadeeaescolhadeumdeterminadopredicado,háuma

certapreferênciaporargumentoscomotraço[+animado]naposiçãodesujeitoem

sentençastransitivassimpleseminglês.

“Itispossiblethatthecross-linguisticassociationbetweenanimacyandsubjecthoodinfactresultsfromspeakers’psychologicalpreferences,thoughitisalsopossiblethatthedirectionofinfluencegoestheotherway:peoplecometoassociateanimacywithcanonicalsubjectsbecausethisiswhattheyencounterinlanguage.”

(Becker,2014:128)

De fato, de acordo com estudos sobre processamento, como Gennari e

Macdonald(2007)eMaketal.(2002),otraçodeanimacidadepresenteemnúcleos

nominais possui um papel importante no parsing da sentença. Uma vez que

diferentesconfiguraçõesdeanimacidadeaparentamestarenvolvidasnasescolhas

por determinadas estruturas, esses estudos manipulam o traço [±animado] em

construçõesdiversas,relacionandoaousodeestratégiasdalínguaqueprivilegiem

certosargumentosemumaououtraposiçãosintática,alémdedificuldadescomo

parsingdedeterminadasconstruções.Porexemplo,Beckernotaquesubstantivos

inanimadosraramentesãorelacionadosaopapeltemáticodeagente.Destaforma,

ao encontrar um sujeito [–animado], um ouvinte/leitor pode imaginar que a

estruturadasentençanãoseráadeumatransitiva.

“Ingeneral,mostinanimateNPsmakepooragents,andsotheiroccurrenceinsubjectpositioncansuggesttoreadersthatthesentencewillnothaveamatrixtransitive structure, but rather some alternative structure that allows thesubjecttobeconstruedasthepatientoftheverb.”

(Becker,2014:135)

Assim, uma vez que a seleção dos argumentos de um verbo depende, em

parte,dasrelaçõessemânticasqueserãoestabelecidasentresi,otraço[±animado]

deumargumentoemumasentençapodeinfluenciarnasprevisõesdeumfalante

acercadasaspropriedadestemáticasdopredicadoqueseguirá.Alémdisso,parece

Page 101: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

87

haverumacertapreferênciapelousodeumsujeito[+animado]quandoumobjeto

é[–animado],conformevimosnoexperimentodeClarkeBegun(1971),reportado

emBecker(2014).

EncerramosestapartedadissertaçãoapresentandooestudodeGennarie

Macdonald (2007), que aponta para uma relação entre a dificuldade no

processamentoderelativasdeobjetoeotraçodeanimacidadedosujeitodarelativa

edonúcleorelativizado.ComBecker(2014),assumimosqueotraçodeanimacidade

pode ajudar a criança em fase de aquisição a descobrir certas características

sintáticas,comoporexemploaspropriedadesdeverbosdealternânciacausativa-

incoativa e verbos de alçamento (cf. 83). Becker também descreve o trabalho

experimentaldeClarkeBegun(1971),queapontaparaumapreferênciadeusode

argumentoscomotraço[+animado]naposiçãodesujeito.Finalmente,estaseção

busca justificar a escolhado traçode animacidade comoumavariável emnosso

trabalho.Emnossoestudoexperimental,otraçodeanimacidadefoimanipuladoem

nossos materiais de modo a testarmos todas as configurações possíveis e

verificarmosseháumacorrelaçãoentreanimacidadeeintervenção,nosmoldesda

propostadeFriedmannetal.(2009).

No próximo capítulo, retomaremos nossa hipótese de trabalho, além dos

objetivoseprevisões.Detalharemosnossoestudoexperimental,apresentandoos

critérios de inclusão/exclusão de informantes para nossa pesquisa, osmateriais

utilizados e como classificaremos nossos dados. Por fim, apresentaremos os

resultadosobtidoseosanalisaremosemdetalhes.

Page 102: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

88

Capítulo3:ESTUDOEXPERIMENTAL_______________________________________________________________________________________________

Comovistonocapítulo2,emgeral,háconsensonaliteraturasobreasorações

relativasnoquedizrespeitoàdificuldadequeascriançastêmnoprocessamentode

relativasdeobjetoeàpreferênciapelousodeestratégiasdeesquiva,queincluemo

uso de relativas de sujeito e de outras estruturas, como construções passivas e

absolutas,porexemplo,emtarefasdeproduçãoderelativasdeobjeto.

Apresentedissertaçãoinvestigaocomportamentolinguísticodecriançasem

fasedeaquisiçãodoPB,acercadaproduçãodeoraçõesrelativasaotentarmoseliciar

relativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado.Emnossoestudo,verificamos

seotraçodeanimacidadedosnúcleosnominaispresentesnaestruturainfluencia

naescolhaporumaououtraestratégiadeesquiva,nessesdoistiposderelativas.

Conformeveremosemdetalhenestaseção,nossomaterialexperimentalé

compostodeorações relativasdeobjetodiretoepreposicionadoemqueo traço

[±animado]dosujeitodasubordinadaedonúcleorelativizadoforammanipulados

paratestarmossediferentesconfiguraçõespodemfacilitaroudificultaraprodução

derelativasdeobjetoemPB,comoemGennarieMacdonald(2008).Alémdisso,em

nossomaterialexperimental,nãoapenasonúcleorelativizadopossuiotraço[+NP],

mas também o sujeito da relativa. Conforme vimos no capítulo 2, seção 2.4, de

acordo com Friedmann et al. (2009), a presença de traços iguais no sujeito da

relativaenonúcleorelativizadotornaosujeitoumelementointervenienteparaa

relativizaçãodoobjetonagramáticainfantil.

Retomandonossahipótesedetrabalhonocapítulo1:

1.

a. Hipótesedetrabalho:OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemático

influenciamasestratégiasutilizadaspelosfalantesaoproduziremsentenças

envolvendorelativas.

Page 103: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

89

b. Hipótesenula:OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemáticonão

influenciamasestratégiasutilizadaspelosfalantesaoproduziremsentenças

envolvendorelativas.

Com relação ao objetivo central da pesquisa, nosso experimento foi

trabalhadodemodoaverificar a influência (i)do traçodeanimacidadedosNPs

envolvidosnaestruturae(ii)daposiçãodonúcleorelativizado(objetodiretovs.

objetopreposicionado)emumatarefadeeliciaçãoderelativasdeobjetopormeio

daapresentaçãodeparesdefiguras.Nossosobjetivosespecíficossão:

2.

a. Testarcriançasde4;0a6;11deidadeeadultos(de20anosdeidademais)

demodoaobservarasdiferentesestratégiasutilizadasaoseeliciarrelativas

deobjetodiretoedeobjetopreposicionado;

b. Verificarseamanipulaçãodo traço [±animado]dosnúcleosnominaisnos

materiaisdoexperimentoresultamemumapreferênciapordeterminada(s)

estratégia(s);

c. Comparardadosdas crianças comos adultospara checar se, em todas as

faixasetáriastestadas,ascriançasjáapresentamcomportamentoadulto.

d. Compararosresultadoscolhidosnosexperimentosdesteestudocomdados

obtidosporestudosanterioresdisponíveisnaliteratura.

Nossasprevisõessão:

3.

a. Ascriançasutilizarãoestratégiasdeesquivaafimdeevitararelativizaçãode

um elemento em posição de objeto direto e de objeto preposicionado

(Belletti,2008e2009;BellettieContemori,2010;Costaetal.,2014;Grollae

Augusto, 2016; Guasti e Cardinaletti, 2003; Labelle, 1990, 1996;

NovogrodskyeFriedmann,2006;Utzeri,2007);

b. Onúmeroderelativasdeobjetodiretoproduzidoapresentaráumavariação

deacordocomamanipulaçãodotraçodeanimacidade,sendoaconfiguração

Page 104: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

90

comumsujeito[–animado]eumnúcleorelativizado[+animado]aconfiguração

maisdifícil(GennarieMacdonald,2007;Gennarietal.,2012;Maketal.,2006);

c. Onúmeroderelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãoserá(próximo

de)zero(Labelle,1990;GuastieCardinaletti,2003;Tarallo,1983).

d. Os adultos produzirão mais orações relativas, seguindo a tarefa do

experimento,enquantoqueascrianças,principalmenteasmaisnovas,não

serão unânimes quanto ao uso de relativas em suas produções (Grolla e

Augusto,2016;Labelle,1990;McKeeetal.1998).

Conforme vimos nas seções que antecedem a descrição de nosso estudo

experimental,esperamosousodeestratégiasdeesquiva,umavezqueascrianças,

emgeral,evitamousoderelativasdeobjeto,possivelmentedevidoaoseualtocusto

de processamento (cf. (3a)). Além disso, de acordo com estudos envolvendo a

manipulaçãodotraço[±animado],esperamoseliciarmaisrelativasdeobjetodireto

em que o núcleo relativizado é [–animado] e o sujeito da relativa é [+animado]

(GennarieMacdonald,2007eMaketal.,2006).Nãoesperamosencontrarrelativas

com o alçamento de preposição, conforme a descrição em Tarallo (1983).

Finalmente,esperamosqueosadultosproduzammaisrelativasdoqueascrianças,

seguindoatarefapropostaemnossoexperimento(comoobservadonosestudosde

GrollaeAugusto,2016;Labelle,1990;McKeeetal.1998).

Noque se segue, descreveremos emdetalhes ametodologia experimental

adotada:umatarefadeeliciaçãoderelativaspormeiodaapresentaçãodeparesde

figuras. Delinearemos o desenho do experimento e as condições e estímulos

utilizados. Em seguida, apresentamos os resultados obtidos, organizados e

classificadosdeacordocomosgruposexperimentaiseogrupodecontrole.Porfim,

apresentaremosumadiscussãosobreosresultadosgerais.

3.1.Oexperimento

Ométodoutilizadofoiumatarefadeproduçãoeliciada,cujosestímuloseram

figuras apresentadas na tela de um computador. As sessões comos informantes

foram gravadas em áudio/vídeo, para a posterior transcrição das respostas. As

Page 105: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

91

sessõesocorreramemumasalareservadadaescolaondeascriançasestudavam,

semgrandes interferênciassonorasouvisuais,ondeasegurançaeacomodidade

dospesquisadoreseinformantesforamprioritariamentegarantidasdemodoanão

havervariáveisexternasquepudessemintervirnosdadoscolhidosenosresultados

doestudo.

Ametodologiausadanesseexperimentofoibaseadanaquelasdescritasem

Labelle(1990)eemFriedmannetal.(2009).Opesquisadorpropõeumaatividade

na qual o sujeito de pesquisa deve dizer qual personagem ele escolhe após a

apresentaçãode cada cena. Cadapar de figuras foi apresentado seguidode uma

contextualizaçãonarradapelopesquisador.Ospersonagenseobjetossobreosquais

osinformanteseramindagadossomentepoderiamserdiferenciadosporsuasações,

jáqueeramfisicamenteidênticosnasduasimagensapresentadas.Issofavoreceua

utilizaçãodeumaoração relativaparaa identificaçãodospersonagenseobjetos

escolhidospelosinformantes.

A interação entre o pesquisador e os sujeitos de pesquisa aconteceu da

seguinte forma.Apósapresentarcadaparde figuras,opesquisadorpediuparao

informanteescolherumpersonagem.Abaixo,exemplificamosafaladopesquisador

eafalaesperadadoinformante:

4.

Pesquisador: “Aqui,ameninaestádeitadaeaquiameninaestásentada.

Qualmeninavocêescolhe?”

Informante: “Euescolhoameninaqueestádeitada/sentada.”

Osúnicosreferentespossíveiseramoselementosidênticosapresentadosnas

figuras. Se observasse que o informante não havia produzido uma relativa, o

pesquisadorrepetiaaperguntae,porvezes,lembravaoinformantequeeledeveria

começarsuarespostacom“Euescolhoa/o...”.Casooinformanteenfrentassealguma

dificuldadepararesponderàperguntaouentenderacena,opesquisadorrepetiaa

descriçãodopardefigurasepediaparaquenovamenteo informantedesseuma

respostacompleta.

Page 106: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

92

3.2.Osinformanteseoscritériosdeinclusão/exclusão

Paraonossoexperimento,selecionamosumgrupodecontroleconstituído

porinformantes20adultosde20anosdeidadeoumais,etrêsgruposexperimentais

compostospor30criançascada.Essesgruposforamdivididosnasseguintesfaixas

etárias:de4;0a4;11deidade,de5;0a5;11deidade,ede6;0a6;11deidade.35Essa

divisãosejustificanamedidaemqueumaorganizaçãodosresultadosdessaforma

nosdáumpanoramalongitudinaldecomoascriançassecomportamcomrelaçãoà

tarefaproposta.Ogrupodeinformantesadultosnosservirádebasedecomparação.

Comisso,esperamosqueogrupoexperimentalcompostodecriançasde6;0a6;11

anos de idade se comporte demaneiramais parecida com os adultos do que as

crianças de 4;0 a 4;11 de idade. Ou seja, esperamos ver nos dados infantis uma

mudançagradualnasescolhasdasestratégiasdeesquivaerelativização,emdireção

aosdadosadultos.

Osinformantesselecionadosforamaquelesque,alémdeterementregadoo

TCLEdevidamentepreenchidoeassinado,passaramporumpré-testequeincluíaa

eliciaçãoderelativasdeobjetopormeiodeparesde figuras.Paraessepré-teste,

cinco pares de figuras foram apresentados a cada sujeito de pesquisa e, após o

pesquisadorterexplicadoatarefa,apenasaquelesqueproduziramaomenosquatro

oraçõesrelativasemsuasrespostasseguiramparaafasedecoletadedados.

No caso das crianças, antes desse pré-teste, houve um indicador de

consentimentodacriança.Aoexplicardemaneirasimplificadaebreveomotivodo

experimento e como ele aconteceria, o pesquisador pediu para que cada criança

apontasseparaumcartãoilustrandoumrostosorrindo,seelaquisesseparticipar,

35OsparticipantesadultosassinaramumTermodeConsentimentoLivreeEsclarecido(TCLE)e,nocasodascrianças,osresponsáveislegaisassinaramemeentregaramomesmotermo,concordandocomasuaparticipaçãonoexperimentoeemdisponibilizarosdadosobtidosparanossoestudo.SeusdadospessoaisestãoseguramentearmazenadosnoLEAL-laboratóriodeestudosemaquisiçãodelinguagem da FFLCH/USP, respeitando a integridade psicológica e moral dos participantes,cumprindo assim todos os Termos das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de PesquisasenvolvendoSeresHumanos,emconformidadecomasResoluçõesdoConselhoNacionaldeSaúdenº466/12ecomplementares.NúmerodoCertificadodeApresentaçãoparaApreciaçãoÉtica(CAAE):36349814.1.0000.5561AutorizadojuntoaoComitêdeÉticaemPesquisadoInstitutodePsicologiadaUSP,em04/09/2014.

Page 107: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

93

ouparaumcartãoilustrandoumrostotriste,seelanãoquisesse.Essaetapanãofoi

utilizadanacoletadedadoscomosadultos.

Foram excluídas as crianças que não terminaram a tarefa por qualquer

motivo(cansaço,desinteresse,horáriodesaída,etc.),criançasquepassarampelo

pré-teste,masquesedispersaramduranteatarefaecriançasquenãoconsentiram

em participar do experimento. Crianças com qualquer tipo de distúrbiomental,

problemaauditivo, problema severode fala ou criançasquenão fossem falantes

nativas de PB não foram recrutadas para participar de nosso experimento.

Ressaltamosquenãohouveexclusão,tampoucodiferenciaçãonotratamento,com

basenonívelsociocultural,naraça,nacrença,etc.dacriançaedesuafamília.

3.3.Osmateriais

Nos materiais usados, dois personagens idênticos são apresentados aos

informantes.Ospersonagensouobjetoscorrespondentesaoalvodarelativização

estão envolvidos em atividades diferentes nas duas imagens e só podem ser

distinguidospormeiodessasatividades.36Porexemplo,naprimeira imagem,um

meninoestámolhandoumabicicleta,enquantoquenasegundaimagem,ummenino

estásujandoumabicicleta,ambosidênticoseposicionadosdemaneiraidêntica(cf.

(5)abaixo).Foramapresentados,de formarandômicae fixa,24paresde figuras

para eliciar 12 relativas de objeto direto e 12 de objeto preposicionado (cada

informanteviutodasasfiguras,namesmaordem).Asvariáveisindependentesdo

estudo sãoo traçodeanimacidadedonúcleo relativizadoedo sujeitodaoração

relativa e a posição sintática dentro da relativa (objeto direto ou objeto

preposicionado).

Ascondiçõesformadassão,portanto:

36 As imagens foram produzidas especialmente para nosso estudo, usando o software AdobePhotoshop CS5. Agradecemos à Ana Laura Nishiuchi Fernandes, por disponibilizar os vetoresnecessáriosparaaediçãodasimagens.

Page 108: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

94

Quadro4:Ascondiçõesdeanimacidadetestadasnoexperimento.

Tipoderelativa Sujeitodasubordinada Núcleorelativizado

Relativadeobjetodireto

[+animado] [+animado][+animado] [–animado][–animado] [+animado][–animado] [–animado]

Relativadeobjetopreposicionado

[+animado] [+animado]

[+animado] [–animado][–animado] [+animado][–animado] [–animado]

Comisso,temosumestudo2x4,cujavariáveldependenteéaquantidadede

relativasdeobjetodiretoepreposicionado(estruturasalvo)produzidas.

Alémdisso,ogênerodosargumentosfoimanipuladodemodoque,emcada

pardefiguras,osdoispersonagenspossuíssemgênerosopostos,comonoexemplo

abaixo.

5. “Omeninosujou/molhouabicicleta”.

Figura1:Omeninosujouabicicletavs.Omeninomolhouabicicleta.

Amanipulaçãode gênero foi feitapara identificarmosqual argumento foi

relativizadoempossíveisrespostasiniciadascom“aquele(a)que”,“o(a)que”.Em

relaçãoaoexemploacima,umarespostacomo“...aqueestámolhada”nosindicaque

o argumento relativizado é a bicicleta. Se tivéssemos cenas como “O menino

sujou/molhouocarro”,nãoconseguiríamossaberqualéonúcleodarelativaem“...o

que está molhado.” Apesar de evitarmos esse tipo de ambiguidade em nossos

materiais,noscasosemqueoinformantenãoproduziuonúcleo,foipedidoparaque

elerepetissesuaresposta,iniciando-acomonúcleorelativo,nocaso“abicicleta”.

Apósduastentativas,casooinformanteaindanãoproduzisseonúcleoabertamente,

Page 109: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

95

continuaríamoscomoexperimentosemmaiscomentários,paranãoconstrangera

criança,computandosuaprimeiraresposta.

Algunsexemplosdosmateriaisutilizadosseguemabaixo37:

Quadro5:Exemplosdosmateriaisutilizadosnoexperimento.Posiçãorelativizada: Objetodireto

Configuraçãodeanimacidade:

Sujeitoencaixado[+animado]Núcleorelativizado[+animado]

Apresentação: “Nessafigura,ameninaestáempurrandoocachorroenessafiguraameninaestáabraçandoocachorro.Qualcachorrovocêescolhe?”

Sentençaalvo: “...ocachorroqueameninaestáempurrando/abraçando.”

Figurasusadas:

Posiçãorelativizada: Objetopreposicionado

Configuraçãodeanimacidade:

Sujeitoencaixado[+animado]Núcleorelativizado[+animado]

Apresentação: “Ameninacolocouochapéunomeninoeameninatirouochapéudomenino.Qualmeninovocêescolhe?”

Sentençaalvo: “...omeninoemquemameninacolocouochapéu/dequemameninatirouochapéu.”

Figurasusadas:

37Todasasfigurasutilizadasnoexperimentoconstamnoapêndiceaofinaldotexto.

Page 110: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

96

Ressaltamos que os estímulos para as relativas preposicionadas contêm

argumentos que desempenham diferentes funções nas sentenças, como locativo,

possessivo,objetoindireto,etc.Paraaescolhadosverboseargumentosemnosso

material experimental, enfrentamos diversos desafios, como o fato de que as

imagenstinhamdeconterelementosanimadoseinanimados,alémdeverbosque

aceitassemargumentosanimadose inanimados.Alémdisso,osverbostinhamde

fazer parte do vocabulário de crianças em idade pré-escolar. Esses desafios nos

levaramaessasdiferençasemnossosmateriais.Noentanto,lembramosquetodas

as sentenças comNPspreposicionados impõemumadificuldadenaproduçãode

relativaseessepontocomuméoquenorteiaesseestudo.Comoseveránaseçãode

resultados,ossujeitosdepesquisaapresentaramumcomportamentouniformeno

quedizrespeitoàdificuldadecomtodosessestiposdeelementospreposicionados.

Alémdisso,naapresentaçãodasfiguras,oexperimentadorapontavaegesticulava

paraqueossujeitosdepesquisaentendessemoqueestavaacontecendoemcada

cenário(comonoexemplonoquadroacima).

Intercaladoentrecadapardefigurascorrespondenteàsrelativaseliciadas,

foi apresentado um par de figuras eliciando uma sentença distratora, para

desviarmosaatençãodosinformantesdasestruturastestadas.Tambémpudemos

avaliar seos informantesestavamcooperando, aoparticiparadequadamenteem

nossatarefa.Nocasodasdistratoras,assentençasalvoconsistiamemrelativasde

sujeito.Escolhemosessaconstruçãojáquerelativasdesujeitosãoasestruturasque

ascriançasproduzemespontaneamentedesdecedo(cf.Grolla(2000)paradados

espontâneosdeproduçãoderelativasdesujeitoemumacriançaapartirdos2anos

de idade), alémdemantermos as instruções da tarefa omais simples possível e

fornecer condições para que os informantes produzissem o maior número de

relativasduranteoexperimento.

3.4.Classificaçãodosdados

Apósacoletadosdados,todasasproduçõesforamtranscritas.Levantamos

onúmerodeoraçõesrelativasdetodosostiposproduzidasporcadaparticipante,

organizando os dados de acordo com a estratégia empregada (a ser discutida

Page 111: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

97

abaixo),ogrupodoparticipanteeacondiçãodeanimacidadeeposiçãosintática

(objeto direto ou preposicionado). Além das relativas, também classificamos as

produçõesquenãocontinhamumarelativaeaquelasemqueonúcleorelativizado

eradiferentedoqueeraperguntadoparaoinformante.

Combasenastranscriçõesorganizadas,foramconduzidostestesestatísticos

paraverificarmosseasdiferençasnosresultadosentreascondiçõesdeanimacidade

e posições sintáticas e entre os grupos são significativas. Com isso, podemos

observar(i)arelevânciadasvariáveiscontroladasduranteoexperimento,asaber

otraçodeanimacidadedosujeitoedoobjetodireto/preposicionado,eaposição

sintáticadoelementorelativizado,e(ii)opercursodedesenvolvimentodascrianças

rumoaocomportamentolinguísticoadulto.

Fixadososcritériosdeclassificaçãoedeorganizaçãodosdados,passaremos

para os resultados do experimento. Emumprimeiromomento, esses resultados

serão divididos em duas partes: A seção 3.5.1 trata dos dados concernentes à

eliciaçãodasrelativasdeobjetodireto,enquantoqueaseção3.5.2temcomofocoos

dados referentes à eliciação das relativas de objeto preposicional. Em seguida,

analisaremos cada condição de animacidade, em cada tipo de relativa que o

experimentobuscoueliciar.Porfim,apresentaremosadiscussãodessesresultados

enossaconclusão.

3.5.Classificaçãodosresultados

Somando todas as produções dos três grupos experimentais e do grupo

controle, foram eliciados 2.640 enunciados, dos quais 2.150 continham orações

relativas (81,4% do total). Somando apenas os dados dos grupos experimentais

(crianças), obtivemos 2.160 enunciados, dos quais 1.682 continham orações

relativas (77,9% do total). A tabela abaixo detalha a distribuição das produções

contendo relativas e o número total de enunciados eliciados divididos entre os

gruposeostiposderelativa-alvo.

Page 112: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

98

Tabela 2: Número de relativas produzidas/total possível em cada grupo, por posiçãotestadaegrupodesujeitos.

Posiçãodonúcleo

relativizado

Adultos(N=20)

Crianças4;0–4;11(N=30)

Crianças5;0–5;11(N=30)

Crianças6;0–6;11(N=30)

Total(N=110)

Obj.Dir. 98,3%(236de240)

71,4%(257de360)

82,2%(296de360)

88,6%(319de360)

83,9%(1108de1320)

Obj.Prep. 96,7%(232de240)

60,5%(218de360)

80%(288de360)

84,4%(304de360)

78,9%(1042de1320)

Total 97,5%(468de480)

66%(475de720)

81,1%(584de720)

86,5%(623de720)

81,4%(2150de2640)

Osenunciadosquenãocontinhamarelativizaçãodoelementopedido(490,

ou18,6%dototal)possuemestruturasdiversas,comoassentençasexemplificadas

em(6a-d).

6. Sentençaalvo:“Acasaqueofuracãodestruiu.”

Produções:

a. Acasadestruída.

b. Acasatádestruída.

c. Acasanochão.

d. Ofuracãodestruiuacasa.

Aoeliciarasrelativasdeobjetodiretoeobjetopreposicionado,tambémfoi

atestadoousoderelativasdesujeitoportodososgruposestudados.Taisproduções

forambastanteprodutivaseserãoanalisadasdetidamentenoquesesegue,poiselas

sugeremumaestratégiadeesquivaprodutivautilizadatantoporadultosquantopor

crianças. Essas relativas foram classificadas de acordo com as construções

envolvidas,conformevemosabaixoenosexemplosqueseguem.

Figura2:Acasaqueofuracãodestruiu.

Page 113: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

99

Quadro6:Osdiferentestiposderelativasdesujeito–estratégiasdeesquiva. “Tipoderelativa” •“Construçãoutilizada”

RelativadeSujeito

•Comoutroverbo(cf.7a)•Comadjetivoouverbodemudançadeestado(cf.7b)•Passiva(cf.7c)•Absoluta(cf.7d)•Reflexiva(cf.7e)•Reversibilidade(cf.7f)•“ter+DP+particípio”(cf.7g)

7. Relativasdesujeito–estratégiasdeesquiva

a. Comoutroverbo

Relativaalvo:“...ameninaparaquemomeninocontouumahistória.”

Relativaproduzida:“...ameninai[que___iouviuahistória].”

b. Comadjetivoouverbodemudançadeestado

Relativaalvo:“...abicicletaqueomeninosujou.”

Relativaproduzida:“...abicicletai[que___iestásuja/sujou].”

c. Passiva

Relativaalvo:“...amulherqueocachorromordeu.”

Relativaproduzida:“...amulheri[que___ifoimordida].”

d. Absoluta

Relativaalvo:“...atoalhaqueoaspiradorengoliu.”

Relativaproduzida:“...atoalhai[que___iengoliu].”

e. Reflexiva

Relativaalvo:“...omeninoqueameninamolhou.”

Relativaproduzida:“...omeninoi[que___isemolhou].”

f. Reversibilidadedosargumentos

Relativaalvo:“...ameninacomquemomeninodançou.”

Relativaproduzida:“...ameninai[que___idançou].”

g. “ter+DP+particípio”

Relativaalvo:“...ovelhovelhodequemaondalevouagarrafa.”

Relativaproduzida:“...ovelhoi[que___iteveagarrafalevada].”

Page 114: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

100

Todas construções exemplificadas em (6-7) se juntam à contagem de

produções envolvendo as estratégias de esquiva, uma vez que esses tipos de

produções diferem da estrutura alvo. Em outras palavras, dado que o contexto

apresentadoeraclaramenteemfavordeumarelativadeobjeto,qualquerestrutura

diferente da estrutura alvo pedida em que os sujeitos fizeram modificações e

produziramcoisasdiferentesdoesperadofoiclassificadacomoumaestratégiade

esquiva. É importante salientar que, apesar de essas produções fugirem do que

tínhamos como construção alvo, elas são pragmaticamente apropriadas, como

vemosabaixoemumexemplodeumdiálogoenvolvendoousodeumaestratégiade

esquiva.38

8.

Pesquisador: “Aqui,ocachorromordeuamulher.Aqui,ocachorrolambeu

amulher.Qualmulhervocêescolhe?”

J.C.(6;2): “Euescolhoamulherquefoilambidapelocachorro.”

Noquedizrespeitoàsconstruçõesrelativasalvoatestadas,asproduçõesdos

sujeitosdepesquisaforamclassificadasdeacordocomotipoderelativaproduzida.

Listamosabaixoaspossíveisconstruçõesenvolvidas.

Quadro7:Tiposderelativaseasestratégiasderelativizaçãoempregadas.

“Tipoderelativa” •“Construçãoutilizada”

RelativadeObjeto

(DiretoouPreposicionado)

•Compronomeresumptivo(cf.9a)•ComNPresumptivo(cf.9b)•ComlacunaemposiçãodeObj.Dir.(cf.9c)•ComlacunaemposiçãodePP(cf.9d)•Compied-pipingpreposicional(cf.9e)

38Ousodeestratégiasdeesquiva foipoucoatestadoquandoasdistratoras (relativasde sujeito)forameliciadas.

Page 115: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

101

9. Relativasdeobjeto(direto/preposicionado)

a. Compronomeresumptivo

Relativa:“...amulher[queocachorrolambeuela].”

b. ComNPresumptivo

Relativa:“...atoalha[queoaspiradorlimpouatoalha].”

c. Comlacunaemposiçãodeobjetodireto

Relativa:“...omenino[queameninasujou].”

d. Cortadora(comumalacunanolugardoPP,sempied-pipingpreposicional)

Relativa:“...ovelho[queaondatrouxeagarrafa].”

e. Compied-pipingpreposicional

Relativa:“...ovelho[paraquemaondatrouxeagarrafa].”

Apartirdessa classificação,poderemoscomparara frequênciadeusodas

relativas de objeto com o uso das estratégias de esquiva. O detalhamento das

construções utilizadas também nos permitirá verificar quais construções são

preferidasemcadafaixaetária,alémdedetectarqueconfiguraçãodeanimacidade

equeposiçãosintáticatrazemmaisdificuldadesoufacilidadesparacadagrupode

participantes.

Nasseçõesseguintes,detalharemososresultadosdaeliciaçãodasrelativasde

objeto direto e das relativas de objeto preposicionado, abrangendo todas as

configuraçõesdeanimacidadeestudadas.Emseguida,apresentaremosumaanálisee

discussão acerca desses dados. Logo depois, organizaremos nossos resultados de

acordocomcadaconfiguraçãodeanimacidadetestada.Primeiro,apresentaremosos

dadosconcernentesàsrelativasdeobjetodireto.Emseguida,osdadosrelativosàs

relativas de objeto preposicionado serão apresentados. Finalmente, discutiremos

essesdadoscombasenocapítulo2eemresultadosdeestudosanteriores.

Page 116: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

102

3.6.Resultados

3.6.1.EliciandoasrelativasdeObjetoDireto

Seguindoaclassificaçãopropostaacima,ográfico1mostraafrequênciacom

quecada tipoderelativa foiproduzidoporcadagrupo,alémdaporcentagemde

produçõesreferentesàsestratégiasdeesquiva,exemplificadasem(6)e(7),acima.

Gráfico1:Frequênciadeusodeestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodiretoemcadagrupo.

Podemos ver no gráfico 1 que as estratégias de esquiva (que envolvem

construçõesdiferentesdasrelativasdeobjeto,aquelaslistadaseilustradasem(6)e

(7),foramamplamenteempregadasemtodososgruposestudados.

Aoanalisarmosasproduçõesde relativasdeobjetodireto compronomes

resumptivos, na tabela 3 abaixo, podemos notar que seu uso se torna menos

frequentedeacordocomaidadedosinformantes.Ousodepronomesresumptivos

pelas crianças de 4 anos (12,1%) é quase duas vezes maior se comparado às

porcentagensdosgruposde5e6anos(6%e5,4%,respectivamente).Jánogrupo

Page 117: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

103

de adultos, verificamos a frequência de apenas 1,1% de uso de pronomes

resumptivosnasrelativasdeobjetodireto.

Com relação às relativas comNPs resumptivos, notamos que seu uso por

criançasde4anosétãofrequentequantooseuusoporcriançasde5anos(13,2%

e12,7%,respectivamente),enquantoqueogrupodecriançasde6anosasutilizou

comumafrequênciamenor(5,4%).Porsuavez,osadultosnãoproduziramrelativas

deobjetodiretocomumNPresumptivo.

AbaixotemosatabelacomafrequênciadeproduçãoderelativascomNPse

pronomesresumptivos,seguidadealgunsexemplosdessasconstruções:

Tabela3:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetodireto.39

4anos 5anos 6anos AdultosPron.

resump.NP

resump.Pron.

resump.NP

resump.Pron.

resump.NP

resump.Pron.

resump.NP

resump.

12,1%(11)

13,2%(12)

6%(9)

12,7%(19)

5,4%(6)

5,4%(6)

1,1%(1)

0%(0)

10. Relativasdeobjetodiretocompronomesresumptivos

a. “...amulherqueocachorrolambeuela.”C.G.(4;9)

b. “...omeninoqueaondasómolhouele.”J.C.(5;9)

c. “...omeninoqueameninamolhouele.”J.C.(6;2)

11. RelativasdeobjetodiretocomNPsresumptivos

a. “...acaixaqueeletáempurrandoacaixa.”G.H.(4;4)

b. “...acachorraqueoaspiradorestáengolindoacachorra.”T.M.(5;3)

c. “...ovasoqueachuvamolhouovaso.”H.S.(6;1)

Noquedizrespeitoàfrequênciadeproduçãoderelativasdeobjetodireto

comumalacuna,nossosdados indicamqueascriançasmaisvelhaspossuemum

comportamentomaispróximoaocomportamentoadulto.Asporcentagensnatabela

4indicamqueascriançasde4anossãoasquemenosproduzemrelativasdeobjeto

39Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõescomresumptivosfrenteaototalderelativasdeobjetodaquelafaixaetária.

Page 118: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

104

direto com uma lacuna, seguidas das crianças de 5 anos (74,7% e 81,3% de

frequênciaemcadagrupo,respectivamente).Jáascriançasde6anosapresentam

uma porcentagem mais próxima à porcentagem de frequência de uso dessa

construçãoporadultos(89,2%e98,9%,respectivamente).

Tabela4:Númeroderelativasdeobjetodiretocomlacuna.40

4anos 5anos 6anos AdultosLacunadeOD LacunadeOD LacunadeOD LacunadeOD

74,7%(68)

81,3%(121)

89,2%(100)

98,9%(87)

12. Produçõesderelativasdeobjetodiretocomlacuna

a. “...ocachorroqueameninatáempurrando.”J.D.(4;11)

b. “...abicicletaqueomeninolimpou.”K.R.(5;9)

c. “...acasaqueofuracãolevou.”G.R.(6;1)

Jácomrelaçãoàsconstruçõesutilizadascomoestratégiadeesquiva,vemos

umaclarapreferênciapelaestratégiapassivanogrupodeadultos.85,5%(130de

152) dessas construções foram estruturas passivas nesse grupo. Por sua vez, as

porcentagensdosgruposdecriançasnãoparecemapontaramesmatendência.Em

geral,ascriançasutilizamrelativasdesujeitonessatarefaepreferemoutrasduas

construções:ousodeumadjetivoouumverboqueindiquemudançadeestado(i.e.

umverboincoativo),eousodeconstruçõesabsolutas.

Abaixovemosatabelareferenteàsporcentagensdeestratégiasdeesquiva,

seguidadeumexemplodecadaconstrução.41

40Asporcentagenssereferemàfrequênciadecadaproduçãorelativaaototalderelativasdeobjetodireto.41Paraosexemplosem(13),listamosasrelativasalvodadoquealgumasdasproduçõesforambemdiferentesdoqueesperávamos.

Page 119: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

105

Tabela5:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto.42Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 11,5%(31)

20,1%(54)

2,6%(7)

24,2%(65)

1,1%(3)

2,2%(6)

0,0%(0)

38,3%(103)

5anos 14,7%(31)

23,7%(50)

7,1%(15)

22,9%(48)

0,9%(2)

0,4%(1)

0,0%(0)

30,3%(64)

6anos 16,5%(41)

29,4%(73)

21,4%(53)

15,3%(38)

0,8%(2)

0,0%(0)

0,0%(0)

16,5%(41)

Adultos 1,3%(2)

9,9%(15)

85,6%(130)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,6%(1)

2,6%(4)

13. Relativasdesujeitoutilizadascomoesquivadeobjetodireto

a. Relativaalvo: “...acorujaqueofuracãoderrubou.”

Produção(V≠): “...acorujaquecaiu.”B.F.(4;5)

b. Relativaalvo: “...omeninoqueaondamolhou.”

Produção(Adj.): “...omeninoquetámolhado.”V.B.(4;8)

c. Relativaalvo: “...atoalhaqueoaspiradorengoliu.”

Produção(Pass.): “...atoalhaquetásendoaspirada.”V.B.(4;8)

d. Relativaalvo: “...ocachorroqueameninaabraçou.”

Produção(Abs.): “...ocachorroqueabraçou.”V.S.(4;6)

e. Relativaalvo: “...omeninoqueameninamolhou.”

Produção(Refl.): “...omeninoquesemolhou.”P.F.(5;8)

f. Relativaalvo: “...omeninoqueameninamolhou.”

Produção(Rev.): “...omeninoquemolhouamenina.”R.B.(4;5)

g. Relativaalvo: “...amulherqueocachorromordeu.”

Produção(terDPPRT): “...amulherqueteveojoelhomordido.”J.M.(adulto)

h. Relativaalvo: “...abicicletaqueomeninomolhou.”

Produção(N/A): “...abicicletalimpa.”P.F.(5;8)

No que concerne às produções que não continham uma oração relativa

(colunaN/A na tabela 5), vemos que as crianças de 4 anos foram as que mais

42Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 120: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

106

apresentaramesse tipodeprodução, seguidaspelas criançasde5 anos edepois

pelascriançasde6anos(frequênciasdeproduçãode38,3%,30,3%e16,5%em

cada faixa etária, respectivamente). Apenas 2,6% dos enunciados no grupo de

adultos não continham uma relativa, sendo este o grupo com a maior taxa de

frequênciadeusoderelativasemsuasrespostas.

Na próxima seção, apresentaremos os resultados quanto à eliciação das

relativasdeobjetopreposicionado.

3.6.2.EliciandoasrelativasdeObjetoPreposicionado

Nessa seção, veremos os dados relacionados à produção de relativas de

objeto preposicionado. Conforme apresentamos no capítulo 2 desta dissertação,

essasrelativas,queemsuaversãopadrãorequerempied-pipingpreposicional,são

asmaisdifíceisparaascriançasepraticamentenulasnafalacoloquialdosadultos,

falantesdePB(Grolla,2000;LessadeOliveira,2008;Perroni,2001;Tarallo,1983).

No gráfico 2 abaixo, as porcentagens de relativas de objeto preposicionado se

referem às produções de relativas com pied-piping preposicional, relativas com

resumptivospreposicionadose relativasemqueháuma lacunaemposiçãopós-

verbal,seguindoaclassificaçãoem(9)acima.

Page 121: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

107

Gráfico 2: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado.

Assimcomonográfico1,ográfico2mostraqueasestratégiasdeesquiva

foram largamente utilizadas em todos os grupos estudados. Em geral, os dados

concernentes às relativas de objeto preposicionado apresentam uma certa

uniformidadequantoàsconstruçõesmaisfrequentescomoestratégiadeesquiva,

conformeobservamosnatabelaabaixo.

Tabela 6: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado.43

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 33,7%(97)

1,4%(4)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

15,6%(45)

0,0%(0)

50,7%(142)

5anos 51,1%(123)

1,2%(3)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

17,8%(43)

0,0%(0)

29,9%(72)

6anos 61,2%(168)

1,0%(3)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

17,4%(48)

0,0%(0)

20,4%(56)

Adultos 72,0%(108)

2,8%(4)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

10,6%(16)

9,3%(14)

5,3%(8)

43Assimcomonatabelaanterior,asporcentagensdatabela6sereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construçõespassivas(Pass.),construçõesabsolutas(Abs.),usodeumreflexivo(Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 122: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

108

Primeiramente,observamosnatabelaacimaqueousodeumoutroverboé

a estratégiade esquivamaisutilizada em todosos grupos.Abaixo, temos alguns

exemplosdasconstruçõesutilizadascomoestratégiadeesquiva.44

14. Construçõesutilizadascomoesquivadeobjetopreposicionado

a. Relativaalvo: “...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”

Produção(V≠): “...ovelhoquelevouagarrafa.”C.G.(4;9)

b. Relativaalvo: “...acaixadeondeomeninotirouacorda.”

Produção(Adj.): “...acaixaquetávazia.”L.S.(4;4)

c. Relativaalvo: “...ameninacomquemomeninodançou.”

Produção(Rev.): “...ameninaquedançoucomomenino.”R.B.(4;5)

d. Relativaalvo: “...ovelhodequemaondalevouagarrafa.”

Produção(terDPPRT): “...ovelhoqueteveagarrafalevada.”F.S.(adulto)

e. Relativaalvo: “...ameninaparaquemomeninocontouumahistória.”

Produção(N/A): “...ameninadahistória.”M.S.(5;7)

Com relação ao uso de resumptivos (cf. tabela 7, abaixo), notamos que,

enquanto o grupo de adultos apresentou uma frequência baixa de produção de

resumptivos(apenas4,4%desuasproduçõescontinhamumpronomeouumNP

resumptivo), as crianças de 4, 5 e 6 anos utilizaram um pronome ou um NP

resumptivocomumafrequênciade36,5%,35,2%e35,3%45,respectivamente.Isso

sugerequeocomportamentodascriançasquantoàproduçãoderelativasdeobjeto

preposicionado contendo um elemento resumptivo pronunciado se mantém

praticamente inalteradoentreos4e6anos.Somenteogrupodeadultosparece

evitaressetipodeconstrução.

44Apesardenãoesperarmosqueascriançasproduzissemrelativascompied-pipingpreposicional,asrelativaspreposicionadasalvosãoilustradascontendoumapreposiçãomovidaparainformarapreposiçãoapresentadanosestímulosemcadacaso.45ValoresrelativosàsomadascolunasPron.resump.eNPresump.emcadagrupotestado.

Page 123: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

109

Tabela7:Empregodepronome/NPresumptivoemcadagrupoexperimentalaoeliciarrelativasdeobjetopreposicionado.46

4anos 5anos 6anos AdultosPron.

resump.NP

resump.Pron.

resump.NP

resump.Pron.

resump.NP

resump.Pron.

resump.NP

resump.

18,1%(13)

19,4%(14)

10,9%(9)

24,3%(29)

18,8%(16)

16,5%(14)

2,2%(2)

2,2%(2)

15. Relativasdeobjetopreposicionadocompronomesresumptivos

a. Relativaalvo: “...ameninadequemoventotirouopapel.”

Relativaproduzida: “...ameninaqueoventotirouopapeldela.”B.P.(4;9)

b. Relativaalvo: “...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”

Relativaproduzida: “...ovelhoqueaondatrouxeagarrafapraele.”C.M.(5;9)

c. Relativaalvo: “...ameninacomquemomeninotáfalando.”

Relativaproduzida: “...ameninaqueomeninotáfalandocomela.”T.L.(6;1)

16. RelativasdeobjetopreposicionadocomNPsresumptivos

a. Relativaalvo: “...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”

Relativaproduzida: “...ovelhoqueaondatrouxeagarrafaprovelho.”C.F.(4;9)

b. Relativaalvo: “...ovelhodequemaondalevouagarrafa.”

Relativaproduzida: “...ovelhoqueaondalevouagarrafadovelho.”R.S.(5;1)

c. Relativaalvo: “...obarcoparaondeaondatrouxeoremo.”

Relativaproduzida: “...obarcoqueaondatrouxeoremoprobarco.”H.S.(6;1)

No que se refere à frequência de produção de relativas de objeto

preposicionado com uma lacuna, ou seja, as chamadas relativas cortadoras, as

porcentagensnatabela8abaixo, indicamqueocomportamentoinfantilquantoà

frequênciadessaconstruçãosemantémestávelentreos4e6anosdeidade.Istoé,

afrequênciadeproduçãoderelativasdeobjetopreposicionadocomumalacunase

mantémpraticamenteamesmanostrêsgruposexperimentais.Caberessaltarque,

paraascriançasdonossoestudo,alacunanessasrelativasestásempreassociadaa

umPP.Assentençasem(17)exemplificamasrelativascortadoras.Porsuavez,os

46Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõescomresumptivosfrenteaototalderelativasdeobjetodaquelafaixaetária.

Page 124: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

110

adultosdoestudoproduziramessasrelativascomumalacunaemmaiorfrequência

(95,6%),sendoquepartedelas,maisprecisamente17,8%(relativoa16produções),

se refere ao uso da estratégia com pied-piping preposicional (exemplificada no

capítulo anterior), e 77,8% (relativo a 70 produções) se referem ao uso de uma

cortadora.Istoé,noquedizrespeitoàproduçãoderelativascortadorasporadultos,

77,7% dessas produções continham uma estrutura semelhante às relativas de

objeto preposicionado usadas pelas crianças, enquanto que o restante (17,8%)

continhaumapreposiçãoprecedendoomorfemarelativo(ouasexpressõesonde,cujo

oucuja).Assentençasem(18)exemplificamessetipodeconstrução.

Tabela 8: Número de relativas de objeto preposicionado cortadoras e com pied-pipingpreposicional.47

4anos 5anos 6anos Adultos

CortadoraPied-pipingprep.

CortadoraPied-pipingprep.

CortadoraPied-pipingprep.

CortadoraPied-pipingprep.

62,5%(45)

0,0%(0)

64,7%(77)

0,0%(0)

64,7%(55)

0,0%(0)

77,8%(70)

17,8%(16)

17. Relativasdeobjetopreposicionadocortadoras

a. Relativaalvo: “...acaixadeondeomeninotirouacorda.”

Relativaproduzida: “...acaixaqueomeninotirouacorda.”J.D.(4;11)

b. Relativaalvo: “...ameninadequemoventoolevouopapel.”

Relativaproduzida: “...ameninaqueoventolevouopapel.”T.M.(5;3)

c. Relativaalvo: “...obarcoparaondeaondatrouxeoremo.”

Relativaproduzida: “...obarcoqueaondatrouxeoremo.”J.C.(6;2)

18. Relativasdeobjetopreposicionadocompied-pipingpreposicional

a. Relativaproduzida:“...ameninapraquemelemostrouumafigura.”F.S.(“adulto”)

b. Relativaproduzida:“...obarcoparaoqualaondalevouoremo.”A.F.(“adulto”)

c. Relativaproduzida:“...ameninacujopapelfoilevado.”E.F.(“adulto”)

d. Relativaproduzida:“...amesadeondeoventotirouopapel.”V.G.(“adulto”)

47Asporcentagenssereferemàfrequênciadecadaproduçãorelativaaototalderelativasdeobjetopreposicionado.

Page 125: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

111

A seguir, apresentaremos nossa análise para os dados concernentes às

relativasdeobjetodiretoeàsrelativasdeobjetopreposicionado,contrastandoas

produções nos grupos estudados e comparando o comportamento dos nossos

sujeitosdepesquisanoquedizrespeitoàposiçãosintáticarelativizada.

3.6.3.Análiseediscussão

Conforme vimos nos gráficos 1 e 2, as crianças e os adultos utilizam

estratégiasdeesquivafrequentemente.Emnossaanálise,afrequenteproduçãode

orações relativas de sujeito como estratégia de esquiva ocorreu devido àmaior

dificuldadequeaconstruçãodeobjetoimpõeaosfalantes.Issoestádeacordocom

oqueencontramosnaliteraturanãoapenassobreoPB(GrollaeAugusto(2016)e

VivancoePires(2011),porexemplo),masdeoutraslínguastambém(Belletti(2008,

2009),BellettieContemori(2010),BellettieChesi(2011),BellettieRizzi(2010)e

Utzeri(2007)paraoitaliano,Costaetal.(2014)paraportuguêseuropeuehebraico,

Guasti e Cardinaletti (2003) para francês e italiano, Friedmann et al. (2009) e

NovogrodskyeFriedmann(2006)parahebraico,entreoutros).

Emnossosdados,vemostambémquenossossujeitosdepesquisapreferiram

utilizarrelativasdesujeitoemPB,emdetrimentodasrelativasdeobjetodiretoe

preposicionado. Essa observação pode ser analisada com base no Princípio da

CadeiaMínima(MinimalChainPrinciple),deDeVincenzi(1991)(cf.capítulo2,seção

2.4).Deacordocomesseprincípio,umavezqueumconstituinteéidentificadocomo

um antecedente (filler), como por exemplo um elemento-Qu movido, ou um

constituinterelativizado,oparserentendequeháumalacunaondeoantecedente

deveserinterpretado.Portanto,oparserdeveassociaroantecedenteàlacunamais

próximadisponível,postulandoassimumaoperaçãomaislocal,commenoselosem

umacadeiademovimento.Nocasodasoraçõesrelativas,oantecedenteestabelece

umarelaçãomaispróximacomaposiçãodesujeitodarelativa.Istoé,asorações

relativasdesujeitodevemserpreferidas,deacordocomesseprincípio.

Com relação às relativas de objeto direto, nossos dados indicam que as

construçõesrelativasmaisutilizadaspelascriançasmudamconformeaidade,em

direçãoaousodepassivascomoaprincipalestratégiadeesquiva,comosevênos

Page 126: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

112

adultos.Conformevimosnatabela5,ascriançasde4anosutilizaramaconstrução

absolutanamaiorpartedesuasproduções,seguidadousodeumadjetivoouverbo

incoativo.Jáascriançasde5anospassaramausarmaisconstruçõescomadjetivos

ouverbosincoativos,sendoqueaconstruçãoabsolutaficouemsegundolugar.Por

suavez,ascriançasde6anospreferiramusarconstruçõescomadjetivosouverbos

incoativos,enquantoapassivaapareceucomoasegundaconstruçãomaisutilizada.

Ouseja,ascriançasmaisvelhasutilizamcadavezmaisconstruçõespassivascomo

estratégia de esquiva, ao passo que abandonam as construções absolutas

gradativamente.Issosugerequeháumamigraçãodeumaconstruçãoaoutracomo

estratégia de esquiva, a depender da idade dos informantes, em direção ao

comportamentoadulto.

NossosdadosestãoemconsonânciacomosdadosencontradosemGrollae

Augusto(2016)eRezende(2016).Asprimeirasautorasreportamqueascrianças,

especialmenteasmaisnovas(de4anosdeidade),utilizaramaconstruçãoabsoluta

demaneirafrequente,enquantoqueousodeconstruçõespassivasapenasapareceu

nogrupodascriançasmaisvelhas(alémdogrupodeadultos).Rezendeverificaque

crianças de 3;8 a 4;11 anos de idade utilizam as construções absolutas mais

frequentementedoquecriançasde5;0a6;0anosdeidade.Emcontrapartida,os

resultados de seu estudo indicam que as crianças mais velhas produzem mais

sentençascomaconstruçãopassivadoqueascriançasmaisnovas.48Osresultados

deRezendeapontamparaamesmaconclusãoaquechegamosemnossotrabalho:a

preferênciapordeterminadaconstruçãomudaadependerdaidadedossujeitosde

pesquisa.

“Fromadevelopmentalpointofview,itisnoticeablethatfrom4to5year-olds,passiverelativeclausesemergeandtherearefewernon-validresponses…”

(GrollaeAugusto,2016:45)

Dentre as estratégias de esquiva utilizadas no grupo de adultos, as

construções passivas são amplamente favorecidas (em 85,6% dos casos). Esse

48Rezende(2016)utilizaduastarefasdistintasemseuestudoexperimental:umatarefadeproduçãoeliciadacomapresentaçãodevídeoseumatarefadejulgamentodeaceitabilidade.

Page 127: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

113

resultadocondizcomosresultadosdeoutrosestudos,comoBellettieContemori

(2010),Guasti e Cardinaletti (2003) eUtzeri (2007), emque falantes adultos de

italianoevitamproduzirumarelativadeobjetopassivizandoaestruturadentroda

oração relativa para produzir uma relativa de sujeito. Em PB, Grolla e Augusto

(2016)eRezende(2016)reportamqueosinformantesadultosqueparticiparamde

seu experimento também preferiram utilizar a construção passiva dentre as

estratégiasdeesquivadisponíveis.

A análise proposta pelas autoras se adequa aos dados desse estudo. Se

considerarmos,comGrollaeAugusto(2016:42),queasconstruçõesabsolutassão

maissimplesdoqueaspassivas,umavezqueaausênciadeagentividadefazcom

quevnãosejaprojetado(conformeapresentamosnocapítulo2,seção2.4,exemplos

(80b-b’)), não hámarcaçãomorfológica de particípio no verbo e a operação de

smuggling (cf. Collins (2004)) não está envolvida, temos uma explicação para a

preferência das crianças, principalmente as mais novas, pelas construções

absolutas.

“…it may be argued that children resort to the simplest structure availablewheneverconfrontedwiththetaskofproducingcomplexsentences.”

(GrollaeAugusto,2016:47)

Aindasobreasrelativasdeobjetodireto,comrelaçãoaousoderesumptivos

(cf. tabela 3, acima), as porcentagens relativas às frequências com as quais as

criançasutilizampronomeseNPsresumptivosnaproduçãoderelativasdeobjeto

direto sugeremqueo comportamento linguísticodas crianças estámigrando, de

maneira gradativa, rumo ao comportamento adulto. Em ambos os casos (uso de

pronomeseNPsresumptivos),ascriançasmaisnovas,produzemmaiselementos

resumptivos, enquanto que os dados das criançasmais velhas indicam que elas

possuemumcomportamentomaispróximoaoadulto,quantoàfrequênciadeuso

deresumptivos.

AsporcentagensnacolunaN/A,natabela5,parecemseorganizardeforma

decrescente,adependerdecadagrupoestudado.Issoindicaqueascriançasmais

velhas(asde6anos)produzemmaisoraçõesrelativas,seguindoasinstruçõesda

tarefapropostamaisconsistentemente,enquantoqueascriançasde4anosforam

Page 128: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

114

asquemenosderamrespostascontendoumaoraçãorelativa(seguidadascrianças

de5anos).49

No que concerne às relativas de objeto preposicionado, as porcentagens

relativasàfrequênciadeusodeumoutroverbonatabela6(V≠)indicamqueessa

estratégiadeesquivaécadavezmaisutilizadaadependerdaidadedossujeitosde

pesquisa.Istoé,ascriançasde6anosapresentamumcomportamentolinguístico

acercadousodessaestratégiademaneiramaispróximaaocomportamentoadulto,

secomparadosaosoutrosgruposinfantis.Damesmaforma,osdadosdogrupode5

anosindicamqueessascriançasapresentamumcomportamentolinguísticomais

próximo ao comportamento adulto do que as crianças de 4 anos. Assim como

sugerimosnaseçãoanterior,ascriançasparecemadotarumaestratégiadeesquiva

cadavezmaisfrequentemente,demodoqueseucomportamentomudaemdireção

aocomportamentoadulto.

Assim como observamos nos dados concernentes às relativas de objeto

direto,asporcentagensdeproduçõesquenãoenvolvemumarelativanatabela6

(colunaN/A)indicamqueascriançasde6anossãomaisconsistentesnahorade

aderir à proposta da tarefa do que as crianças de 5 anos (que, por sua vez,

produzirammaisrelativasdoqueascriançasde4anos). Istoé,ascriançasmais

velhassemostrammaisaptasaseguiras instruçõesdeumatarefaenvolvendoa

eliciaçãoderelativasdeobjetoemgeral(cf.nota49).

Conformevimosnatabela8,ascriançasnãoutilizaramaestratégiapadrão

paraproduzirrelativasdeobjetopreposicionado,enquantoqueosdadosadultos

apresentam uma baixa frequência dessa construção. Podemos concluir que a

produçãodeoraçõesrelativascompied-pipingpreposicionaldependedoseuensino

formal,comosugereCorrêa(1998).Istoé,essasrelativassãoartefatosprescritivos,

aprendidostardiamente.

49 Uma possível interpretação para esses resultados está relacionada àmemória de trabalho e àproduçãodeoraçõesrelativas.Benteaetal. (2015) investigamarelaçãoentreacompreensãodeoraçõesrelativasemfrancêsememóriadetrabalho,pormeiodetestesderepetiçãodedígitosnaordemdiretaenaordeminversacomcriançasde5a11anosdeidade.Deacordocomosautores,“…theimpactofforwarddigitspanscoresonresponseaccuracysuggeststhatlimitationsinmemoryresourcesaffecttheprocessingofA’-dependencies.“Benteaetal.(2015:18).

Page 129: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

115

Isso pode ser observado em nossos dados, por exemplo, quando

encontramosduastentativasdeusodaformacujaquenãoseadequamàpergunta

feitaduranteatarefa.

19.

a. Relativaalvo: “...ameninaparaquemomeninocontouumahistória.”

Relativaproduzida: “...ameninacujahistóriafoicontada.”E.F.(“adulto”)

b. Relativaalvo: “...abonecaparaquemomeninocontouumahistória.”

Relativaproduzida: “...abonecacujahistóriafoicontada.”E.F.(“adulto”)

As produções acimapodem ser tomadas como evidência de que o uso da

estratégia padrão para derivar orações relativas preposicionadas é aprendido

tardiamente(Corrêa,1998)eseuusoésuscetívelaerros,comonoaprendizadode

umasegundalíngua,oqueestádeacordocomapropostadeGuastieCardinaletti

(2003).50

“…thisstateofaffairscanbecapturedintermsofdifferent,coexistinggrammars[…] acquired in different moments of one’s life. Non-standard relatives arepickedupnaturallyduringthefirstyearsoflife[…]Subjectsareexposedtotheformallanguageinschoolyearsthroughreadingandwriting,anditisatthispointthatstandardrelativesstarttobeacquiredbychildren…”

(GuastieCardinaletti,2003:85-86)

Ao verificarmos as frequências de uso de relativas de objeto direto e de

objetopreposicionadoemcomparaçãoaousodeestratégiasdeesquiva,vemosque,

nosgruposinfantis,houveumamaiorproduçãoderelativasdeobjetodiretodoque

derelativasdeobjetopreposicionado(25,3%vs.20,0%,nogrupode4anos;41,4%

vs.33,1%,nogrupode5anos;31,1%vs.23,6%,nogrupode6anos).Umtestede

igualdade de proporções51 foi aplicado para verificar se a diferença entre as

50Paraumaabordagemqueconsideraqueumfalantepodepossuirumasériede“minigramáticas”relativasadiferentesdomínios,cf.Roeper(1999).51Emtodosostestesestatísticos,foiutilizadooaplicativoReafunçãoprop.test.Otestedeigualdadedeproporções(2-sampleTestforEqualityofProportions)éusadoparatestarahipótesenulaemqueasproporçõesemdiferentesgrupossãoasmesmas(istoé,osresultadossão"poracaso"),ouqueelasigualamumvalordado.Nossostestesenvolvemduasproporções(comofrequênciadeusode

Page 130: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

116

produçõesderelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionadoemcadagrupoé

estatisticamente significativa.Os resultadosdos testes estatísticos indicamquea

diferença observada é significante para todos os grupos (Teste de Igualdade de

Proporções, p-valores < 0.011; 0.024; 0.029, para os grupos de 4, 5 e 6 anos,

respectivamente). Por sua vez, os adultos produzirammenos relativas de objeto

diretodoque relativasdeobjetopreposicionado (36,7%vs. 37,5%,nogrupode

adultos), sendo que a diferença observada nesse grupo não é estatisticamente

significativa(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor>0.924).52

Issosugereque,paraascrianças,asrelativasdeobjetopreposicionadosão

maisdifíceisdoqueasrelativasdeobjetodireto.Umapossívelexplicaçãotemcomo

baseapropostadeRoeper(2003),exploradaporLessadeOliveira(2008)(cf.seção

2.3.3). Roeper propõe que operações de movimento que envolvem pied-piping

preposicional são menos econômicas do que o movimento que resulta em uma

estruturacomprepositionstranding.Deacordocomoautor,ambasasinterrogativas

“[a picture ofwhom]didhe see?” e “[who] did he see a picture of?” (relativos aos

exemplos(70a-b)nocapítulo2)necessitamdachecagemdotraço[+Qu],mashá

umapreferênciapelasegundaconstrução(aqueenvolveprepositionstranding).No

primeirocaso,paraqueachecagemdotraço[+Qu]ocorra,oconstituintemovido

devesertransposto,enquantoquenosegundocaso,essachecagemdotraço[+Qu]

ocorre envolvendo o menor número de nódulos possível. Segundo Roeper, a

checagem imediata do traço [+Qu], que resulta na interrogativa compreposition

stranding, representaaopção sintaticamentemais econômica.ComooPBéuma

língua em que a estratégia de preposition stranding resulta em uma sentença

estratégias de esquiva e frequência de uso de relativas de objeto direto ou preposicionado, porexemplo)eforamaplicadoscomintervalodeconfiançade95%.52 Nossos resultados diferem daqueles em Costa et al. (2014) para português europeu infantil ehebraicoinfantil.Paraessesautores,tantoasrelativasdeobjetodiretoquantoasrelativasdeobjetopreposicionadosão igualmentedifíceisparaascrianças.Noentanto,oscritériosutilizadosparaaclassificação dos dados são diferentes daqueles utilizados em nosso estudo. Costa et al. nãoconsideramcomoválidasasproduçõesderelativasdeobjetodiretoepreposicionadocomousodeelementosresumptivos.Apenasasrelativascomumalacuna(nocasodasrelativasdeobjetodireto),asrelativascomprepositionalpied-pipingeasrelativascortadoras(nocasodasrelativasdeobjetopreposicionado)foramincluídasnacontagemdeproduçõesválidasemseuestudo.Destaforma,osvaloresrelativosàsproduçõesderelativasdeobjetodiretoederelativasdeobjetopreposicionadonesseestudoseaproximam,oquefazcomqueosautoresconcluamqueasrelativasdeobjetodiretosãotãodifíceisquantoasrelativasdeobjetopreposicionadoparaascrianças.Paraosdetalhessobreosmateriaisutilizados,osprocedimentos,classificaçãoeanálisedosdados,cf.Costaetal.(2014).

Page 131: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

117

degradada(cf.(20a)),paraqueumnúcleorelativizadopreposicionadopossachecar

otraçorelativo,todooPPdeveseralçado–justamenteaopçãomenoseconômica,

dentrodapropostadeRoeper(cf.(20b)).

AssumindoaanálisedeKatoeNunes(2009),asestratégiasderelativização

não-padrãodoPBenvolvemoalçamentodeumDP(emvezdeumPP)partindoda

posiçãodeLD(cf.(20c)),viabilizandoachecagemdotraçorelativosemenvolver

pied-pipingpreposicional,sendomaiseconômicadoquetalestratégia.

Osexemplosabaixoilustramasderivaçõesdeumarelativapreposicionada

com preposition stranding, com pied-piping preposicional e cortadora

(respectivamente(20a),(20b)e(20c)).

Noprimeiroexemplo,oDPqueprofessoraéalçadoparaCP,deixandopara

trásapreposiçãopara.ONPrelativizadoprofessoraémovido,sendoadjungidoao

DPetodooCPrelativoéconcatenadoaodeterminantea.Essaderivaçãoresultaem

umarelativaagramaticalemPB,dadaaimpossibilidadedeprepositionstrandingna

língua.

Nosegundoexemplo, todooPPparaqueprofessora éalçadoparaCP.Em

seguida, o NP relativizado professora é adjungido ao DP, para depois se mover

novamente,sendoadjungidoaoPPnucleadopelapreposiçãopara.Finalmente,oCP

relativo se concatena ao determinante externo, resultando em uma relativa

preposicionadapadrão(i.e.compied-pipingpreposicional).

Porfim,oterceiroexemploilustraaderivaçãodeumarelativanão-padrão,

isto é, sem pied-piping preposicional. O DP que professora, gerado em LD (uma

posiçãoacimadeIP)éalçadoparaCP.Emseguida,hámovimentodoNPrelativizado

professora,queseadjungeaoDP.Finalmente,odeterminanteexternoéadjungido

aoCPrelativo.

20.

a. *Aprofessoraqueeudeiolivropara.

[IPeudeiolivro[PPpara[DPqueprofessora]]]

[CP[DPqueprofessora]i[IPeudeiolivro[PPparati]]]

[CP[DPprofessorak[DPquetk]i][IPeudeiolivro[PPparati]]]

[DPa[CP[DPprofessorak[DPquetk]i][IPeudeiolivro[PPparati]]]]

Page 132: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

118

b. Aprofessoraparaquemeudeiolivro.

[IPeudeiolivro[PPpara[DPqueprofessora]]]

[CP[PPpara[DPqueprofessora]]i[IPeudeiolivroti]]

[CP[PPpara[DPprofessorak[DPquetk]]]i[IPeudeiolivroti]]

[CP[PPprofessorak[PPpara[DPtk[DPquemtk]]]i][IPeudeiolivroti]]

[DPa[CP[PPprofessorak[PPpara[DPtk[DPquemtk]]]i][IPeudeiolivroti]]]

c. Aprofessoraqueeudeiolivropro.53

[LD[DPqueprofessorai][IPeudeiolivroproi]]

[CP[DPqueprofessorai]k[LDtk[IPeudeiolivroproi]]]

[CP[DPprofessorai[DPqueti]k][LDtk[IPeudeiolivroproi]]]

[DPa[CP[DPprofessorai[DPqueti]k][LDtk[IPeudeiolivroproi]]]]

Uma possível interpretação para os dados acerca das relativas de objeto

preposicionado é que as crianças não produzem essas relativas por meio da

estratégiapadrão(i.e.compied-pipingpreposicional)devidoaumaconjunçãode

fatores:asconstruçõesutilizadaspelascrianças(asrelativascortadorasecomum

elementoresumptivopreposicionadopronunciado)sãoasmaissimplesdoponto

devistaderivacional; o grupodeadultosnãoproduziu relativas compied-piping

preposicional frequentemente, sugerindo que as crianças não ouvem essas

construções na fala dos adultos; e a estratégia padrão para as relativas

preposicionadasdependedeseuensinoformal.

Asfrequênciasdeusodeumalacunaederesumptivosnasrelativasdeobjeto

direto em comparação com as mesmas construções nas relativas de objeto

preposicionadoindicamque,emgeral,ousoderesumptivos(pronomeseNPs)foi

maisfrequentequandotentamoseliciarrelativasdeobjetopreposicionado.Porsua

vez, ousode lacunasnaposição relativizada semostroumais frequentequando

tentamos eliciar relativas de objeto direto, em todos os grupos. A tabela abaixo

53 Em (20c), ilustramos uma oração relativa de objeto preposicionado cortadora. No caso de umarelativacomumpronomeresumptivo,temos[PPparaela]nessamesmaposição,seguindoapropostadeKatoeNunes(2009).Emnossotrabalho,estendemosaestruturapropostapelosautoresparaasrelativascomumNPresumptivo, jáqueessetipodeconstruçãofoiutilizadopornossossujeitosdepesquisa.Ressaltamosqueénecessárioumestudofuturosobreasconsequênciasdessaextensão.

Page 133: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

119

compara as frequênciasdeusode lacunas e resumptivosnas relativasdeobjeto

diretoeobjetopreposicionado.

Tabela9:Usoderelativasdeobjetodiretoepreposicionadocomlacunaeresumptivos.

RelativasdeObjetoDireto RelativasdeObjetoPreposicionado

Grupo Lacuna Pron.resump. NPresump. Lacuna Pron.

resump. NPresump.

4anos 74,7%(68)

12,1%(11)

13,2%(12)

62,5%(45)

18,1%(13)

19,4%(14)

5anos 81,3%(121)

6,0%(9)

12,7%(19)

64,7%(77)

10,9%(9)

24,3%(29)

6anos 89,2%(100)

5,4%(6)

5,4%(6)

64,7%(55)

18,8%(16)

16,5%(14)

Adultos 98,9%(87)

1,1%(1)

0%(0)

77,8%(70)

2,2%(2)

2,2%(2)

A maior frequência de elementos resumptivos nas relativas de objeto

preposicionadopodeestarrelacionadaàconjunçãodefatoresquefazemcomque

ascriançasutilizamasestratégiasnão-padrãoparaproduziressasrelativas,como

apontamosacima.Porsuavez,omaiorusodelacunasnasrelativasdeobjetodireto

podeserexplicadocombasenosdadosdeaquisiçãoemGrolla(2000,2005b),que

sugerem que as primeiras relativas de objeto direto produzidas por crianças

adquirindooPBcomoprimeiralínguasãoderivadasviamovimento,equeacriança

começaausarresumptivosapenasdepoisdeumaanáliseacercadesseselementos

nalíngua.Comisso,podemosesperarqueasrelativasdeobjetodiretoderivadaspor

movimento sejam as mais comuns na fala de crianças do que as relativas com

resumptivos.Emnossaanálise,asrelativasdeobjetodiretocomuma lacunasão

tidascomoderivadasviamovimentodonúcleorelativizado,partindodaposiçãode

objetodireto.

Nas seções que seguem, apresentaremos e analisaremos as produções de

cadagrupoestudadodeacordocomamanipulaçãodo traçodeanimacidadeem

nossosmateriaisexperimentais.Primeiramente,apresentaremososresultadosea

discussão sobre as quatro condições testadas em relativas de objeto direto. Em

seguida,seguiremososmesmospassosquantoàscondiçõestestadasemrelativas

deobjetopreposicionado.

Page 134: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

120

Aseguir,apresentaremososdadosrelativosàproduçãodeoraçõesrelativas

deobjetodiretofocalizandoasconfiguraçõesdeanimacidadeutilizadasemnosso

materialexperimental.

3.6.4.RelativasdeObjetoDiretoeanimacidade

Nessaseção,apresentaremososdadosrelacionadosàproduçãoderelativas

deobjetodireto,organizadosdeacordocomasquatrocondiçõesdeanimacidade

testadasemnossoexperimento.Apósaapresentaçãodosdados,contrastaremosas

frequências de produção para verificarmos quais condições de animacidade

influenciam ou não a produção de relativas de objeto direto de maneira

estatisticamenterelevante.

3.6.4.1.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[+animado]

Inicialmente, veremos os dados concernentes às relativas com sujeito

[+animado] e núcleo relativizado [+animado]. Um exemplo domaterial utilizado

para eliciarmos as relativas de objeto direto nessa configuração de animacidade

segueabaixo.

21. Relativaalvo:“...omeninoqueameninamolhou/sujou.”

[+animado][+animado]

Figura3:Ameninamolhouomenino.vs.Ameninasujouomenino.

Page 135: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

121

Gráfico 3: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].

Os dados concernentes à essa configuração de animacidade, ao eliciar

relativas de objeto direto, indicam que houve uma maior frequência de uso de

estratégiasdeesquivadoquederelativasdeobjetodireto.Umtestedeigualdade

deproporçõesindicaqueosdadosdascriançasde4ede6anosapresentaramuma

diferençaestatisticamentesignificativa(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor

< 0.01, para os grupos de 4 e 6 anos). As crianças de 5 anos e os adultos não

apresentaramumadiferençasignificativanomesmotesteentreafrequênciadeuso

deestratégiasdeesquivaederelativasdeobjetodiretonessacondição(Testede

IgualdadedeProporções,p-valor>0.75,paraogrupode5anos,ep-valor>0.24,

paraosadultos).

Nessacondiçãodeanimacidade,asporcentagensdasconstruçõesutilizadas

emcadafaixaetáriaconstamnatabelaaseguir.

Page 136: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

122

Tabela10:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos.54

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 3,1%(2)

21,9%(14)

3,1%(2)

21,9%(14)

3,1%(2)

7,8%(5)

0,0%(0)

39,1%(25)

5anos 10,6%(5)

21,3%(10)

6,4%(3)

21,3%(10)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

40,4%(19)

6anos 10,3%(6)

31,1%(18)

24,1%(14)

17,3%(10)

1,7%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

15,5%(9)

Adultos 0,0%(0)

8,5%(3)

85,7%(30)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

2,9%(1)

2,9%(1)

Na distribuição das porcentagens de uso de relativas de sujeito como

estratégiasdeesquivapelasconstruçõesempregadas,vemosque,entreascrianças

de 4 e 5 anos, o uso de um adjetivo ou um verbo de mudança de estado e as

construçõesabsolutassãoasconstruçõesmais frequentes.Ambasasconstruções

aparecemcomamesma frequênciaemcadagrupo(21,9%nogrupode4anose

21,3% no grupo de 5 anos). As crianças de 6 anos, por sua vez, utilizaram as

seguintesconstruçõesaoempregarumarelativadesujeitoemsuasrespostas:ouso

deumadjetivoouumverbodemudançadeestado(31,1%),umapassiva(24,2%)e

uma construção absoluta (17,3%). Já os adultos utilizaram a passiva na grande

maioriadesuasrespostas(85,7%).

Noquedizrespeitoaousodeumaconstruçãosemumarelativa,ascrianças

de 4 e 5 anos não apresentam uma grande diferença entre suas porcentagens

(39,1%e40,4%,respectivamente),enquantoqueascriançasde6anosrecorreram

aessaestratégiacommenosdametadeda frequênciadosoutrosgrupos infantis

(15,5%). No grupo de adultos, houve apenas uma produção desse tipo

(correspondendoa2,9%dasproduçõesemN/A,natabelaacima).

A tabela abaixomostra a distribuição de pronomes e NPs resumptivos, e

lacunasnaproduçãoderelativasdeobjetodiretoporcadagrupoestudado.

54Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 137: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

123

Tabela 11: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].55

4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna

26,9%(7)

3,9%(1)

69,2%(18)

11,7%(5)

13,9%(6)

74,4%(32)

9,4%(3)

6,2%(2)

84,4%(27)

4,0%(1)

0,0%(0)

96,0%(24)

Emtodososgruposestudados,vemosqueasrelativasdeobjetocomuma

lacunaforamaconstruçãomaisutilizada.Porsuavez,afrequênciaderelativascom

umelementoresumptivo,sejaeleumpronomeouumNP,éde30,8%,25,6%,15,6%

e4,0%paraosgruposde4,5e6anos,eparaosadultos,respectivamente.

3.6.4.2.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[–animado]

A seguir, apresentamos o gráfico referente às produções envolvendo

relativascomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],comoilustrao

exemploabaixo:

22. Relativaalvo:“...osorvetequeameninalambeu/mordeu.”

[–animado][+animado]Figura4:Ameninalambeuosorvete.vs.Ameninamordeuosorvete.

55 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.

Page 138: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

124

Gráfico 4: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].

Nessaconfiguraçãodeanimacidade,observamosomesmocomportamento

acima: háummaior usode estratégias de esquivadoquede relativasde objeto

direto. Novamente, os dados das crianças de 4 e de 6 anos apresentaram uma

diferençasignificativanotestedeigualdadedeproporções(TestedeIgualdadede

Proporções,p-valor<0.01,paraosgruposde4e6anos).Ascriançasde5anoseos

adultosnãoapresentaramumadiferençasignificativaentreafrequênciadeusode

estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto nessa condição (Teste de

IgualdadedeProporções,p-valor>0.24,paraogrupode5anos,ep-valor>0.09,

paraosadultos).

Nessacondiçãodeanimacidade,asporcentagensdasconstruçõesutilizadas

relativasàsestratégiasdeesquivaemcadafaixaetáriaconstamnatabelaaseguir.

Page 139: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

125

Tabela12:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos.56

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 4,8%(3)

27,4%(17)

1,6%(1)

21,0%(13)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

45,2%(28)

5anos 7,8%(4)

31,4%(16)

1,9%(1)

27,5%(14)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

31,4%(16)

6anos 6,9%(4)

34,5%(20)

20,7%(12)

15,5%(9)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

22,4%(13)

Adultos 0,0%(0)

18,9%(7)

78,4%(29)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

2,7%(1)

Natabelaacima,vemosqueascriançasdetodasasfaixasetáriaspreferiram

utilizarumadjetivoouumverbodemudançadeestadoaoproduziremumarelativa

desujeito,comfrequênciasde27,4%,31,4%e34,5%nosgruposde4,5e6anos,

respectivamente.Dentreascrianças,apenasogrupode6anosutilizoupassivasde

formafrequente,sendoqueessaconstruçãofigurouemsegundolugarnessegrupo.

As construções absolutas aparecem com certa frequência em todos os grupos

infantis também (21%, 27,5% e 15,5%, nos grupos de 4, 5 e 6 anos,

respectivamente).Quantoaosadultos,assimcomonaconfiguraçãodeanimacidade

apresentadaacima,aspassivasforamamplamenteutilizadas(78,4%).

Noquedizrespeitoaousodeumaconstruçãosemumarelativa,ascrianças

apresentam porcentagens decrescentes, de acordo com a idade de cada grupo.

(45,2%,31,4%e22,4%,respectivamenteparaosgruposde4,5e6anos),enquanto

queosadultosrecorreramaconstruçõessemumarelativaapenas1vez(relativoa

2,7%).

Atabelaabaixomostraadistribuiçãodeelementosresumptivose lacunas

nessaconfiguração,paracadagrupoestudado.

56Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 140: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

126

Tabela 13: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].57

4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna

7,7%(4)

0,0%(0)

92,3%(24)

5,1%(2)

0,0%(0)

94,9%(37)

3,1%(1)

0,0%(0)

96,9%(31)

0,0%(0)

0,0%(0)

100%(23)

NenhumdosgruposproduziurelativascomumNPresumptivo.Afrequência

comquepronomesresumptivosforamusadosédecrescente,deacordocomaidade

dos informantes.Os gruposde4, 5 e 6 anosproduzirampronomes resumptivos

respectivamentecomasseguintesfrequências:7,7%,5,1%e3,1%.Jáosadultosnão

recorreramaousodepronomesresumptivos.Emtodososgruposestudados,vemos

queaconstruçãomaisutilizadaentreasconstruçõescomumarelativadeobjeto

continhaumalacuna.

3.6.4.3.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[+animado]

Partiremosagoraparaosdadosreferentesàsoraçõesrelativascomsujeito

[–animado]enúcleorelativizado[+animado].Abaixo, temosumexemplodeuma

relativacomessaconfiguração.

23. Relativaalvo:“...acorujaqueofuracãoderrubou/levou.”

[+animado][–animado]

Figura5:Ofuracãoderrubouacoruja.vs.Ofuracãolevouacoruja.

57 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.

Page 141: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

127

Gráfico 5: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].

Nessaconfiguraçãodeanimacidade,continuamosaobservarumusomais

frequentedeestratégiasdeesquivadoquederelativasdeobjetodireto.Noentanto,

nessaconfiguraçãodeanimacidade,todososgruposapresentaramumadiferença

estatisticamente significativa (Teste de Igualdade de Proporções, p-valor< 0.01,

para todos os grupos). A diferença estatisticamente significativa entre o uso de

estratégias de esquiva e de objeto direto sugere que essa configuração de

animacidadeédifícilparaascriançaseparaosadultos.

Abaixotemosasporcentagensdeusodeestratégiasdeesquivaporgrupo.

Page 142: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

128

Tabela14:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado],porcriançaseadultos.58

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 18,3%(13)

16,9%(12)

4,2%(3)

18,3%(13)

1,4%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

40,9%(29)

5anos 20,3%(12)

22,0%(13)

10,3%(6)

22,0%(13)

3,4%(2)

0,0%(0)

0,0%(0)

22,0%(13)

6anos 29,6%(21)

23,9%(17)

15,5%(11)

11,3%(8)

1,4%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

18,3%(13)

Adultos 2,6%(1)

2,6%(1)

92,2%(35)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

2,6%(1)

Vemos na tabela acima que três construções foram utilizadas commaior

frequênciapelascriançasde4,5e6anos,paraproduzirumarelativadesujeito.São

elas:ousodeumoutroverbo,ousodeumadjetivoouumverbodemudançade

estado,eaconstruçãoabsoluta.

Novamente,podemosnotarqueafrequênciaderespostassemumarelativa

édecrescenteseobservarmosasporcentagensdosgruposdecriançasde4,5e6

anos (40,9%, 22,0% e 18,3%, respectivamente). Os adultos recorreram a

construçõessemumarelativaapenas1vez(relativoa2,7%).

Atabelaabaixomostraafrequênciadeusoderelativasdeobjetodiretoem

cada grupo, dividida entre a frequência de elementos resumptivos e de lacunas

nessaconfiguração.

Tabela 15: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].59

4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna

15,8%(3)

21,0%(4)

63,2%(12)

9,7%(3)

19,3%(6)

71,0%(22)

15,8%(3)

10,5%(2)

73,7%(14)

0,0%(0)

0,0%(0)

100%(18)

Aocontráriodoquetemosnacondiçãoanterior,todososgruposdecrianças

produziramrelativascomumNPresumptivo,alémdospronomesresumptivos.A

58Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.59 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.

Page 143: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

129

frequênciatotaldeusode itensresumptivosemcadagrupofoide36,8%,29%e

26,3%nosgruposde4,5e6anos,respectivamente.Osadultos,porsuavez,não

produziramitensresumptivos.

Em todos os grupos estudados, a construção mais utilizada dentre as

construçõescomumarelativadeobjetocontinhaumalacuna.

3.6.4.4.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[–animado]

Por fim, apresentaremos os dados relativos às relativas com o sujeito da

relativa[–animado]eonúcleorelativizado[–animado]também.Abaixo,temosum

exemplodeumarelativacomessaconfiguraçãoeopardefigurasrelacionadoaela.

24. Relativaalvo:“...ovasoqueachuvaderrubou/molhou.”

[–animado][–animado]

Figura6:Achuvaderrubouovaso.vs.Achuvamolhouovaso.

Page 144: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

130

Gráfico 6: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto direto,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].

Nessaconfiguraçãodeanimacidade,ousomaisfrequentedeestratégiasde

esquiva em comparação às relativas de objeto direto é atestado novamente. Os

dadosdascriançasde4ede6anosapresentaramumadiferençaestatisticamente

significativa (Teste de Igualdade de Proporções, p-valor < 0.01, para ambos os

grupos),enquantoqueascriançasde5anoseosadultosnãoapresentaramuma

diferença significativa entre a frequência de uso de estratégias de esquiva e de

relativasdeobjetodireto(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor>0.07,parao

grupode5anos,ep-valor>0.05,paraosadultos).Istoé,paraascriançasde4ede

6anos,adiferençaentreousodeestratégiasdeesquivaedeobjetodiretoindica

umamaiordificuldadecomessaconfiguraçãodeanimacidade,enquantoque,para

ascriançasde5anoseosadultos,adiferençaentreessasduasclassificaçõesnão

sugerequeasrelativascomessaconfiguraçãodeanimacidadesejadifícil(apesarde

essesresultadosseaproximaremmaisdop-valorqueindicariadificuldadecomessa

configuração do que em nas configurações com sujeito [+animado] e núcleo

relativizado[±animado]).

Page 145: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

131

As porcentagens de uso de cada construção referente às estratégias de

esquivaseguemnatabelaabaixo.

Tabela16:Asconstruçõesutilizadasaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado],porcriançaseadultos.60

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 18,1%(13)

15,3%(11)

1,4%(1)

34,7%(25)

0,0%(0)

1,4%(1)

0,0%(0)

29,1%(21)

5anos 18,5%(10)

20,4%(11)

9,3%(5)

20,4%(11)

0,0%(0)

1,8%(1)

0,0%(0)

29,6%(16)

6anos 16,4%(10)

29,6%(18)

26,2%(16)

18,0%(11)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

9,8%(6)

Adultos 2,6%(1)

2,6%(1)

92,2%(35)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

2,6%(1)

Atabelaacimamostraque,entreascriançasde4anos,aconstruçãoabsoluta

éamaisfrequentedentreasestratégiasdeesquivaqueenvolvemumarelativade

sujeito.Jáascriançasde5anosutilizamtantoasconstruçõesabsolutas,quantoum

outro verbo e um adjetivo ou um verbo demudança de estado. Por sua vez, as

crianças de 6 anos utilizam um adjetivo ou um verbo de mudança de estado e

construções passivas mais frequentemente. Por fim, os adultos massivamente

utilizaramconstruçõespassivascomoestratégiadeesquiva.

Comrelaçãoàsproduçõessemumarelativa,notamosqueascriançasde4e

5anosasutilizaramcomfrequênciaparecida(29,1%e29,6%,respectivamente),

enquantoqueascriançasde6anosutilizaramessaestratégiamenosvezes(9,8%).

Nogrupodeadultos,houveapenasumaocorrênciadeconstruçãosemumaoração

relativa(2,7%).

Atabelaabaixomostraafrequênciadeusoderelativasdeobjetodiretoem

cada grupo, dividida entre a frequência de elementos resumptivos e de lacunas

nessaconfiguração.

60Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 146: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

132

Tabela 17: Emprego de resumptivos e lacuna em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetodiretocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].61

4anos 5anos 6anos AdultosPR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna PR NPR Lacuna

5,5%(1)

16,7%(3)

77,8%(14)

2,8%(1)

13,9%(5)

83,3%(30)

0,0%(0)

3,4%(1)

96,6%(28)

0,0%(0)

0,0%(0)

100%(22)

Aocontráriodoquetemosnacondiçãoanterior,todososgruposdecrianças

produziram relativas comumNP resumptivo.A frequência total deusode itens

resumptivosemcadagrupofoide22,2%,16,7%e3,4%nosgruposde4,5e6anos,

respectivamente.Osadultos,porsuavez,nãoproduziramitensresumptivos.

Em todos os grupos estudados, a construção mais utilizada dentre as

construçõescomumarelativadeobjetocontinhaumalacuna.

3.6.4.5.Análiseediscussão

Dentreasquatroconfiguraçõesdeanimacidadequetestamosaoeliciaras

relativasdeobjetodireto,inicialmenteobservamosqueostrêsgruposdecrianças

(alémdogrupodeadultos)demonstrarammaisdificuldadeparaproduzirrelativas

deobjetodiretocomlacunanaconfiguraçãoemqueosujeitoéinanimadoeonúcleo

relativizado é animado. Os exemplos abaixo ilustram uma relativa com essa

configuraçãoeexemplosdeproduçõesenvolvendoestratégiasdeesquiva.

25. Relativaalvo: “...acachorraqueoaspiradorlimpou.”

[+animado][–animado]

a. Relativaproduzida: “...acachorraquetálimpando.”B.C.(4;11)

b. Relativaproduzida: “...acachorraquetásendolimpada.”L.S.(5;6)

c. Relativaproduzida: “...acachorraquetálimpa.”A.B.(6;7)

d. Relativaproduzida: “...acachorraquetásendolimpapeloaspirador.”G.V.(adulto)

61 As porcentagens se referem à frequência de produções frente ao total de relativas de objetodaquelafaixaetária.Legenda:Pronomeresumptivo(PR),NPresumptivo(NPR)eLacuna.

Page 147: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

133

EssaconclusãoébaseadanoTestedeIgualdadedeProporções,queaponta

paraumadiferençasignificativaentreousodeestratégiasdeesquivaeousode

relativas de objeto direto em todos os grupos estudados nessa configuração de

animacidade.Paratodososgrupos,otesteestatísticoresultouemp-valor<0.01.

Nossosresultadosacercadaproduçãoderelativasdeobjetodiretocomessa

configuração de animacidade corroboram estudos que indicam que tarefas

envolvendo relativas com um sujeito [–animado] e um núcleo relativizado

[+animado] acarretam dificuldades no processamento e na produção dessas

sentenças(GennarieMacdonald(2008),Gennarietal.(2012)eMaketal.(2002,

2006),porexemplo).

Podemos ver na tabela comparativa abaixo que essa configuração de

animacidade foi a que resultou nas menores frequências de relativas de objeto

direto.

Tabela18:Frequênciadeusoderelativasdeobjetodiretocomlacuna,emtodososgruposecondiçõesdeanimacidadetestadas.62

Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]

Suj.[+an.]N.R.[–an.]

Suj.[–an.]N.R.[+an.]

Suj.[–an.]N.R.[–an.]

4anos 28,9%(26)

31,1%(28)

21,1%(19)

20,0%(18)

5anos 47,8%(46)

43,3%(39)

34,4%(31)

40,0%(36)

6anos 35,6%(32)

35,6%(32)

21,1%(19)

32,2%(29)

Adultos 41,7%(25)

38,3%(23)

30,0%(18)

36,7%(22)

Emcomparaçãoàsoutrastrêsconfiguraçõesdeanimacidade,vemosquea

condição com sujeito [+animado] e núcleo relativizado [–animado] foi a que

resultounamaiorfrequênciadeusodeumoutroverbocomoestratégiadeesquiva

(cf.tabela19).Noentanto,épossívelnotarque,natabelaabaixo,acondiçãoemque

ambososujeitoeonúcleorelativizadosão[–animado]resultouemumafrequência

deusodeumoutroverbocomoestratégiadeesquivapróximada frequênciada

configuraçãoanterior.

62Asporcentagenssereferemà frequênciadeproduçõesderelativasdeobjeto frenteaototaldeproduçõesemcadaconfiguraçãodeanimacidade.

Page 148: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

134

Tabela19:Frequênciadeusodeumoutroverboaoseesquivardeumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas.63

Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]

Suj.[+an.]N.R.[–an.]

Suj.[–an.]N.R.[+an.]

Suj.[–an.]N.R.[–an.]

4anos 3,1%(2)

4,8%(3)

18,3%(13)

18,1%(13)

5anos 10,6%(5)

7,8%(4)

20,3%(12)

18,5%(10)

6anos 10,3%(6)

6,9%4

29,6%(21)

16,4%(10)

Adultos 0,0%(0)

0,0%(0)

2,6%(1)

2,6%(1)

Issoindicaque,quandoumpredicadoenvolvendoumsujeito[–animado]é

apresentado, a produçãode uma relativa contendo amesma relação entre esses

argumentos é feita mais facilmente utilizando um verbo diferente daquele

apresentado,emqueoelementorelativizado(nocaso,oobjetodireto[±animado])

ocupaaposiçãodesujeitosintático.

IssovaiaoencontrodasobservaçõesdeBecker (2014)sobreoestudode

ClarkeBegun(1971)(apresentadasnocapítulo2,seção2.5).Considerandoqueas

posições de sujeito e objeto em uma construção transitiva são comumente

preenchidas por um argumento [+animado] e um argumento [–animado],

respectivamente, o planejamento do enunciado envolvendo uma oração relativa

podeserfacilitadocasooelemento[+animado]sejarelacionadoàposiçãodesujeito

daoraçãorelativa.Noentanto,arelativizaçãodeumargumentoemqueosujeitoé

inanimado é inesperada, sendo preterida durante o planejamento do enunciado.

Issoexplicaoelevadonúmerodeconstruçõesenvolvendoumoutroverbo(alémdo

usodeconstruçõesabsolutaseincoativas)nasduascondiçõesàdireitanatabela

acima.

Éprecisoobservarqueessecomportamentopodeestarrelacionadotantoà

presençadeumsujeito[–animado]comodiscutimosacimaquantoaosverbosque

utilizamos em nossos materiais. Os verbos utilizados nessas configurações

(derrubar,molhar,limpar,engolir,levaredestruir)sãocomumenterelacionadosa

umagentenaposiçãodesujeitoemconstruçãotransitiva.DeacordocomBecker

63Asporcentagenssereferemaousoumoutroverbocomoestratégiadeesquiva.Legenda:sujeitodarelativa(Suj.)enúcleorelativizado(N.R.).

Page 149: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

135

(2014),argumentoscomotraço[+animado]sãomaisfrequentementerelacionados

aopapeltemáticodeagente.Portanto,aocorrênciadeumsujeito[–animado]com

esses verbos pode acarretar emuma sentençamais difícil de ser planejada pelo

falante,que,porsuavez,utilizaráumarelativadesujeitoparaevitarumarelativa

deobjeto(cujaderivaçãopartiriadeumaestruturatransitivacontendoumsujeito

[–animado]).

Comisso,aconclusãoaquechegamoséqueaproduçãoderelativascontendo

umsujeito[–animado]foimaisdifícilparaossujeitosdenossapesquisaeissotem

duascausasrelacionadas:otipodeverboenvolvidoe,consequentemente,ostipos

desujeitoqueessesverbosaceitam.

ComrelaçãoaousodepronomeseNPsresumptivos,nossosdadosatestam

asmenoresfrequênciasdeusodesseselementosparaascriançasquandoosujeito

é [+animado] e o núcleo relativizado é [–animado]. Considerando que esta é a

configuraçãorelacionadaàmaiorproduçãoderelativasdeobjeto,podemosdizer

queousoderesumptivostambémestárelacionadoàdificuldadeinerenteacertas

configuraçõesdeanimacidadenasrelativasdeobjetodireto.

Tabela20:Frequênciadeusoderesumptivosaoproduziumarelativadeobjetodireto,emtodasascondiçõestestadas.

Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]

Suj.[+an.]N.R.[–an.]

Suj.[–an.]N.R.[+an.]

Suj.[–an.]N.R.[–an.]

4anos 30,8%(8)

7,7%(4)

26,8%(7)

22,2%(4)

5anos 25,6%(11)

5,1%(2)

29,0%(9)

16,7%(6)

6anos 15,6%(5)

3,1%(1)

26,3%(5)

3,4%(1)

Adultos 4,0%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

TambémvemosqueousomaisfrequentedepronomeseNPsresumptivos

ocorre quando o antecedente, isto é, o elemento relativizado, é [+animado],

conformevemosnosexemplosem(26).

Page 150: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

136

26.

a. “...acaixaqueomoçotáempurrando.”C.M.(5;9)

[–animado]

b. “...acaixaqueeletáempurrando.”T.L.(6;1)

[–animado]

c. “...omeninoqueaondasómolhouele.”C.M.(5;9)

[+animado]

d. “...acorujaqueofuracãofezacorujacair.”T.L.(6;1)

[+animado]

EssesdadoslembramtrabalhossobreoobjetonuloemPB,comoodeCyrino

(1994, 2000) e Casagrande (2010). Cyrino nota que, em sentenças com um

antecedente[+animado],aposiçãodeobjetodiretoépreferencialmentepreenchida

por um pronome lexical de terceira pessoa, enquanto que o objeto nulo está

geralmente relacionado a um antecedente [–animado], conforme vemos nos

exemplosabaixo.

27.

a. OPedroidissequeaMariabeijouelei.

b. AJúliaisemprechoraquandoponhoelainoberço.

(Cyrino,2000:67-68)

c. Compreiocasacosemexperimentar___.

d. Ondeestáojornal?

Mariaperdeu___.

(Cyrino,1994:40-51)

Apesar de Cyrino analisar elementos livres em posição de objeto direto,

nossosdadoscompronomesA’-ligadosapresentamumacertasemelhançacomos

dados da autora no que diz respeito ao uso de pronomes (e NPs) resumptivos

preferencialmentequandooantecedenteé[+animado].Conformeveremosnaseção

Page 151: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

137

3.6.6, os dados das relativas preposicionadas e animacidade indicam o mesmo

comportamento.64

Finalmente,considerandoquenossosresultadosindicamqueasrelativasde

objetodiretocontendoumsujeito[–animado]sãoasmaisdifíceisparaascrianças,

podemosdizerqueotraçodeanimacidadenãopodesercomputadoparafinsde

interveniência,comoemFriedmannetal.(2009).Istoé,considerandoaanálisedos

autores,quesugereque,diferentementedagramáticaadulta,agramáticainfantil

nãoaceitaumaespecificaçãodeinclusãodostraçosdoalvocomrelaçãoaoelemento

interveniente(i.e.agramáticainfantilrequerumaespecificaçãodisjuntadetraços),

poderíamos esperar que a semelhança dos traços de animacidade do elemento

relativizadoedosujeitodarelativapudessefazercomqueasrelativascomsujeito

enúcleorelativizadocomtraçosdeanimacidadeiguaisfossemmaisdifíceisparaa

produção das crianças. No entanto, os testes estatísticos indicam que apenas as

relativas com um sujeito [–animado] e um núcleo relativizado [+animado] são

difíceistantoparaascrianças,quantoparaosadultos,querecorreramaestratégias

de esquiva mais frequentemente. Nesses casos, nossos dados sugerem que a

dificuldade com as relativas de objeto direto tem uma relação com o traço de

animacidadedosujeitodarelativa,sendoqueasrelativasdeobjetosãomaisdifíceis

paraaproduçãodecriançasquandoosujeitoé[–animado].

Portanto,nossaanáliseéqueotraçodeanimacidadedosujeitoedonúcleo

relativizado,emoraçõesrelativasdeobjetodireto,nãosãocomputadosparafinsde

interveniência.

Napróximaseção,apresentaremososdadosrelativosàproduçãodeorações

relativasdeobjetopreposicionadoconsiderandoasconfiguraçõesdeanimacidade

queutilizamosemnossoexperimento,conformefizemosnaseção3.6.2.Apósessa

apresentação, verificaremos quais condições de animacidade influenciaram a

64 Cyrino (1994, 2000) analisa a lacuna em posição de objeto direto em sentenças como asexemplificadasem(27)comopro.Ressaltamosqueemnossadiscussãonaseção3.6.3,analisamosalacunaemposiçãodeobjetodiretodeumarelativacomoumvestígiodemovimento,considerandoqueasprimeirasrelativasaapareceremnafalainfantilsãoderivadasviamovimento(cf.Grolla2000,2005),umavezqueelas sãonaturaisaos falantesdePB.Com isso, reservamosnossaanáliseeacomparaçãocomosdadosdeCyrinoaosresumptivospronunciadosqueforamproduzidos.

Page 152: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

138

produção de relativas de objeto preposicionado, com base nas frequências de

produçãoeemanálisesestatísticas.

3.6.5.RelativasdeObjetoPreposicionadoeanimacidade

3.6.5.1.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[+animado]

Iniciaremosnossaapresentação comosdados referentes às relativas com

sujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].Umexemplododessetipode

construçãosegueabaixo.

28. Relativaalvo:“...omeninoemquemameninacolocouochapéu.”

Relativaalvo:“...omeninodequemameninatirouochapéu.”

[+animado][+animado]

Figura7:Ameninacolocouochapéunomenino.vs.Ameninatirouochapéudomenino.

Page 153: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

139

Gráfico 7: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[+animado].

Nessaconfiguraçãodeanimacidade,adiferençaentreasporcentagensdeuso

das estratégias de esquiva e de relativas de objeto preposicionado se mostra

estatisticamentesignificativa,istoé,todososgruposestudadosapresentaramuma

diferença significativa entre essas duas classificações, de acordo como Teste de

IgualdadedeProporçõesaplicadoaessesdados(TestedeIgualdadedeProporções,

p-valor<0.01,paratodososgrupos).

As porcentagens das construções utilizadas relativas às estratégias de

esquiva,nessacondiçãodeanimacidade,emcadafaixaetáriaconstamnatabelaa

seguir.

Page 154: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

140

Tabela 21: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado, na condição sujeito [+animado] e núcleo relativizado [+animado], porcriançaseadultos.65

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 29,6%(24)

1,2%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

34,6%(28)

0,0%(0)

34,6%(28)

5anos 58,2%(39)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

28,4%(19)

0,0%(0)

13,4%(9)

6anos 57,1%(44)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

31,2%(24)

0,0%(0)

11,7%(9)

Adultos 69,3%(27)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

20,5%(8)

5,1%(2)

5,1%(2)

Na tabela acima, vemos que, no grupo de crianças de 4 anos, entre as

estratégias que envolvem a produção de uma relativa de sujeito, as crianças

utilizaramumoutroverbo (29,6%)ouumaestruturacontendoa reversibilidade

(34,6%)depapeis,comonasentençaem(18),abaixo.Porsuavez,aestratégiamais

utilizadapelosgruposdecriançasde5e6anos,alémdogrupodeadultos,foiouso

deumoutroverbo(frequênciasde58,2%,57,1%e69,3%,respectivamente).

29. Relativaalvo:“...ameninacomquemomeninodançou.”

a. Relativaproduzida:“...ameninaquedançou.”J.G.(4;10)

b. Relativaproduzida:“...ameninaquetádançandocomomenino.”L.S.(5;6)

c. Relativaproduzida:“...ameninaquedançoucomomenino.”H.S.(6;1)

Asproduçõessemumarelativaparaosgruposestudados representamas

seguintesporcentagensdefrequência,respectivamenteparaosgruposde4,5e6

anos,eparaogrupodeadultos:34,6%,13,4%,11,7%e5,1%.

Com relação à frequência de elementos resumptivos e lacunas, para as

relativas de objeto preposicionado nessa configuração de animacidade, temos a

tabelaabaixo.

65Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 155: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

141

Tabela 22: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito [+animado]enúcleorelativizado[+animado].66

Pron.Resump.

NPResump.

LacunasemPied-piping

LacunacomPied-Piping

4anos 18,2%(2)

18,2%(2)

63,6%(7)

0,0%(0)

5anos 17,4%(4)

26,1%(6)

56,5%(13)

0,0%(0)

6anos 30,8%(4)

15,4%(2)

54,8%(7)

0,0%(0)

Adultos 0,0%(0)

0,0%(0)

78,3%(18)

21,7%(5)

Conformevemosacima,nenhumdosgruposinfantisproduziurelativascom

pied-piping preposicional. A construçãomais utilizada em todos os grupos foi a

relativa cortadora (i.e. com uma lacuna, mas sem pied-piping preposicional). A

frequênciacomqueelementosresumptivos(pronomesouNPs)foramusadospelos

gruposde4,5e6anosfoi,respectivamente:36,4%,43,5%e46,2%.Jáosadultos

nãorecorreramaousoderesumptivos.

3.6.5.2.Sujeito[+animado],NúcleoRelativizado[–animado]

Passaremos agora para as produções relativas às orações relativas

preposicionadascomumsujeito[+animado]eumnúcleorelativizado[–animado].

Em(30),temosumexemplodecomoessaconfiguraçãofoiapresentadaemnosso

experimento.

30. Relativaalvo:“...acaixaemqueomeninocolocouacorda.”

Relativaalvo:“...acaixadeondeomeninotirouacorda.”

[–animado][+animado]

66Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.

Page 156: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

142

Figura8:Omeninocolocouacordanacaixa.vs.Omeninotirouacordadacaixa.

Gráfico 8: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].

Nessaconfiguraçãodeanimacidade,adiferençaentreasporcentagensdeuso

das estratégias de esquiva e de relativas de objeto preposicionado se mostra

estatisticamentesignificativa,istoé,todososgruposestudadosapresentaramuma

diferença significativa entre essas duas classificações (Teste de Igualdade de

Proporções,p-valor<0.01,paratodososgrupos).

Page 157: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

143

As porcentagens das construções utilizadas relativas às estratégias de

esquiva,nessacondiçãodeanimacidade,emcadafaixaetária,constamnatabelaa

seguir.

Tabela 23: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionadocomsujeito [+animado]enúcleorelativizado [–animado],porcriançaseadultos.67

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. terDPPRT N/A

4anos 23,6%(17)

2,8%(2)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

18,1%(13)

0,0%(0)

55,5%(40)

5anos 29,5%(18)

3,3%(2)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

34,4%(21)

0,0%(0)

32,8%(20)

6anos 53,1%(34)

4,7%(3)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

35,9%(23)

0,0%(0)

6,3%(4)

Adultos 63,2%(24)

7,9%(3)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

21,1%(8)

2,6%(1)

5,2%(2)

De acordo comosdadosda tabela acima, vemosqueas construçõesmais

utilizadaspelossujeitosdepesquisaenvolvemumoutroverboouumaestrutura

contendo a reversibilidade. Já as porcentagens relativas às construções que não

continhamumaoraçãorelativaaparecemdeformadecrescentenosgruposde4,5

e 6 anos, e no grupo de adultos (frequências de 55,5%, 32,8%, 6,3% e 5,2%,

respectivamente).

Atabelaaseguirmostraafrequênciaderesumptivoselacunasnaprodução

de relativas de objeto preposicionado, com um sujeito [+animado] e um núcleo

relativizado[–animado].

67Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”

Page 158: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

144

Tabela 24: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[+animado]enúcleorelativizado[–animado].68

Pron.Resump.

NPResump.

LacunasemPied-piping

LacunacomPied-Piping

4anos 15,0%(3)

20,0%(4)

65,0%(13)

0,0%(0)

5anos 3,5%(1)

20,7%(6)

75,8%(22)

0,0%(0)

6anos 11,5%(3)

11,5%(3)

77,0%(20)

0,0%(0)

Adultos 4,5%(1)

0,0%(0)

81,9%(18)

13,6%(3)

Quantoàproduçãoderelativasdeobjetopreposicionadonestacondiçãode

animacidade, assim como nos dados concernentes à condição de animacidade

apresentadaanteriormente,aconstruçãomaisutilizadaemtodososgrupos foia

relativacortadora.Afrequênciadeusodeelementosresumptivosnosgruposde4,

5 e 6 anos foi respectivamente 35%, 24,2% e 23%, enquanto que os adultos

produziramapenasumarelativacomumpronomeresumptivo,equivalentea4,5%.

3.6.5.3.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[+animado]

A seguir, veremos os dados referentes à eliciação de orações relativas

preposicionadas, em que o sujeito é [–animado] e o núcleo relativizado é

[+animado].Oexemploem(31)ilustraessaconfiguração.

31. Relativaalvo:“...ovelhoparaquemaondatrouxeagarrafa.”

Relativaalvo:“...ovelhodequemaondalevouagarrafa.”

[+animado][–animado]

68Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.

Page 159: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

145

Figura9:Aondatrouxeagarrafaprovelho.Vs.Aondalevouagarrafadovelho.

Gráfico 9: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[+animado].

Novamente,oTestedeIgualdadedeProporçõesindicaqueadiferençaentre

o uso de estratégias de esquiva e de relativas de objeto preposicionado nessa

configuraçãodeanimacidadefoiestatisticamentesignificativaparatodososgrupos

estudados(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor<0.01,paratodososgrupos).

Asporcentagensnatabelaabaixosereferemàsconstruçõesutilizadasnas

estratégiasdeesquiva,emtodososgruposestudados.

Page 160: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

146

Tabela 25: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado, na condição sujeito [–animado] e núcleo relativizado [+animado], porcriançaseadultos.69

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. TerDPPRT N/A

4anos 51,4%(37)

1,4%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

2,8%(2)

0,0%(0)

44,4%(32)

5anos 72,6%(45)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

1,6%(1)

0,0%(0)

25,8%(16)

6anos 76,3%(58)

3,9%(3)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

1,3%(1)

0,0%(0)

18,4%(14)

Adultos 89,5%(34)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

10,5%(4)

0,0%(0)

Osdadosnatabelaacimaindicamque,paratodososgruposinfantiseparao

grupo de adultos, amaioria das construções relativas produzidas (diferente das

relativasdeobjetodireto)envolviamumoutroverbo.Porsuavez,asporcentagens

de construções sem uma oração relativa nos grupos de 4, 5 e 6 anos são,

respectivamente,de44,4%,25,8%,18,4%e5,2%,Ogrupodeadultosnãoutilizou

construçõessemumarelativacomoestratégiadeesquiva.

Na tabela abaixo, temos a frequência de produção de relativas de objeto

preposicionadocomelementosresumptivosecomlacunas.

Tabela 26: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito [–animado]enúcleorelativizado[+animado].70

Pron.Resump.

NPResump.

LacunasemPied-piping

LacunacomPied-Piping

4anos 44,5%(8)

22,2%(4)

33,3%(6)

0,0%(0)

5anos 28,6%(8)

25,0%(7)

46,4%(13)

0,0%(0)

6anos 52,9%(9)

17,7%(3)

29,4%(5)

0,0%(0)

Adultos 0,0%(0)

4,6%(1)

81,8%(18)

13,6%(3)

69Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.70Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.

Page 161: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

147

Atabelaacimamostraqueascriançasde4,5e6anosutilizaramrelativasde

objeto preposicionado com elemento resumptivo pronunciado com as seguintes

frequências,respectivamente:66,7%,53,6%e70,6%.Asrelativascortadorasforam

usadas por esses mesmos grupos com frequência de 33,3%, 46,4 e 29,4%,

respectivamente. Por sua vez, os adultos utilizaram esse tipo de construção em

81,8%das relativas de objeto preposicionadoproduzidas, nesta configuração de

animacidade.

3.6.5.4.Sujeito[–animado],NúcleoRelativizado[–animado]

Em seguida, apresentaremos os dados relativos à eliciação de orações

relativasdeobjetopreposicionadocomsujeito[–animado]enúcleorelativizado[–

animado].Umexemplodessetipodeconfiguraçãoéilustradoem(32),abaixo.

32. Relativaalvo:“...amesaparaaqualoventotrouxeoaviãodepapel.”

Relativaalvo:“...amesadaqualoventolevouoaviãodepapel.”

[–animado][–animado]

Figura10:Oventotrouxeoaviãodepapelpramesa.vs.Oventolevouoaviãodepapeldamesa.

Page 162: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

148

Gráfico 10: Frequência de uso de estratégias de esquiva e de relativas de objetopreposicionado,referentesàcondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].

OTestede IgualdadedeProporções paraosdadosdessa configuraçãode

animacidade indicam que, para as crianças de 4 e 6 anos há uma diferença

significativa entre a frequência de uso de estratégias de esquiva e de objeto

preposicionado(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor<0.01,paraosgrupos

de4e6anos).Porsuavez,ascriançasde5anoseosadultosnãoapresentaramuma

diferença significativa entre a frequência de uso de estratégias de esquiva e de

relativasdeobjetodiretonessacondição(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor

=0.24,paraogrupode5anos,ep-value=0.24,paraosadultos).

Asporcentagensdasconstruçõesutilizadascomoestratégiadeesquivaem

cadafaixaetáriaconstamnatabelaaseguir.

Page 163: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

149

Tabela 27: As construções utilizadas ao se esquivar de uma relativa de objetopreposicionado, na condição sujeito [–animado] e núcleo relativizado [–animado], porcriançaseadultos.71

Grupo V≠ Adj. Pass. Abs. Refl. Rev. TerDPPRT N/A

4anos 31,3%(21)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

3,0%(2)

0,0%(0)

65,7%(44)

5anos 41,3%(21)

1,9%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

3,8%(2)

0,0%(0)

53,0%(27)

6anos 52,5%(32)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

47,5%(29)

Adultos 65,7%(23)

2,9%(1)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

0,0%(0)

20,0%(7)

11,4%(4)

Osdadosnatabelaacimaindicamque,paratodososgruposdecriançase

paraogrupodeadultos,amaioriadasrelativasdesujeitoproduzidasenvolviamum

outro verbo (31,3%, 41,3%, 52,5% e 65,7%, para cada grupo, respectivamente).

Comrelaçãoàsproduçõessemumarelativa,ascriançasde4,5e6anosasutilizaram

com as seguintes frequências: 65,7%, 53% e 47,5%. No grupo de adultos, há 4

ocorrênciasdeconstruçõessemumaoraçãorelativa(11,4%).

Finalmente,atabelaabaixomostraafrequênciadeproduçãoderelativasde

objetopreposicionadocompronomeseNPsresumptivos,alémde lacunascome

sempied-pipingpreposicional.

71Asporcentagensdatabelasereferemaousodecadaconstruçãofrenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:Usodeoutroverbo(V≠),usodeadjetivoouverbodemudançadeestado(Adj.),construções passivas (Pass.), construções absolutas (Abs.), uso de um reflexivo (Refl.),reversibilidade(Rev.),construçõescomoem“...aárvorequeteveopneuarrancado(pelovento)(terDPPRT)eoutrasconstruções(N/A)”.

Page 164: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

150

Tabela 28: Emprego de resumptivos e lacunas em cada grupo experimental ao eliciarrelativasdeobjetopreposicionado,nacondiçãosujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado].72

Pron.Resump.

NPResump.

Lacunasempied-piping

Lacunacompied-Piping

4anos 0,0%(0)

17,4%(4)

82,6%(19)

0,0%(0)

5anos 0,0%(0)

25,6%(10)

74,4%(29)

0,0%(0)

6anos 0,0%(0)

20,7%(6)

79,3%(23)

0,0%(0)

Adultos 4,0%(1)

4,0%(1)

72,0%(18)

20,0%(5)

Em nossos dados, não houve uso de pronomes resumptivos na condição

sujeito[–animado]enúcleorelativizado[–animado]pelascriançasde4,5e6anos.

Esses grupos utilizaram NPs resumptivos respectivamente com as seguintes

frequências: 17,4%, 25,6% e 20,7%. As construções com uma lacuna sem pied-

pipingpreposicional foram usadas por essesmesmos grupos com frequência de

82,6%, 74,4 e 79,3%, respectivamente. Por sua vez, os adultos utilizaram essa

construção em 72% das relativas de objeto preposicionado produzidas, nesta

configuração de animacidade. 20% das construções utilizadas pelos adultos

correspondem à relativas com pied-piping preposicional. Quanto ao uso de

resumptivos, 4% das produções dos adultos continham pronomes resumptivos,

enquanto4%continhamNPsresumptivos.

3.6.6.Análiseediscussão

Nossosdadosexperimentaisindicamque,dentreasquatroconfiguraçõesde

animacidadequeutilizamosemnossomaterialdepesquisaparaeliciarasrelativas

deobjetopreposicionado,trêsdelasforamproblemáticasparanossossujeitosde

pesquisa.Istoé,emtrêsconfiguraçõesdeanimacidade,tantoascriançasquantoos

adultos utilizaram estratégias de esquiva mais frequentemente, sendo que nos

testesestatísticosháumadiferençasignificativaentreafrequênciadeusodessas

estratégiasdeesquivaeafrequênciadeusoderelativasdeobjetopreposicionado

72Asporcentagenssereferemàfrequênciadeproduçõesfrenteaototalderelativasdeobjetodecadafaixaetária.

Page 165: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

151

emtodososgruposestudados(TestedeIgualdadedeProporções,p-valor<0.01).

Essesdadoscorroborampropostasquetomamasrelativaspreposicionadascomo

construçõesmaisdifíceisparaaprodução (Corrêa (1998)eGuasti eCardinaletti

(2003),porexemplo).

Noquediz respeitoàsconstruçõesrelativasutilizadascomoestratégiade

esquiva,emtodasascondiçõesdeanimacidade,aconstruçãomaisutilizadaenvolve

umoutroverbo.Istoé,nossossujeitosdepesquisaapresentaramumapreferência

porconstruçõesquefavorecessemarelativizaçãodeumelementoemposiçãode

sujeito, assim como foi feito com as relativas de objeto direto. Entretanto,

diferentementedoquevimoscomasrelativasdeobjetodireto(emqueossujeitos

depesquisautilizaramconstruçõespassivaseabsolutasmais frequentemente),a

estratégiadeesquivamais frequentequando tentamoseliciar relativasdeobjeto

preposicionadofoiousodeumoutroverbo.Podemosconcluirque,umavezque

argumentos preposicionados não podem ser passivizados, a solução encontrada

pelas crianças e pelos adultos para relativizar um elemento preposicionado foi

utilizarumverbodiferenteparapromoveroelementorelativizadoparaumaoutra

posiçãosintática.Ouseja,essessujeitosdepesquisautilizaramumoutroverbona

maioriade suas respostas, demodoque (i) o elemento relativizado estivessena

posiçãodesujeitodarelativae (ii)overboutilizado fossecapazdeespecificaro

núcleorelativizadoparacumpriratarefaproposta.

Apreferênciapelasrelativasdesujeitosefundamentanamesmaexplicação

dosfatosobservadosacercadasrelativasdeobjetodireto.CombaseemDeVicenzi

(1991),apromoçãodoelementorelativizadoparaaposiçãodesujeito,pormeiodo

usodeumoutroverbo, fazcomqueoantecedente (filler)estejaomaispróximo

possíveldalacunaondeeledeveserinterpretado.Destaforma,oparserécapazde

produzir uma construção com uma operaçãomais local (no que diz respeito às

operaçõesderelativização).

Alémdisso,emtodasascondiçõesdeanimacidade,ascriançasutilizamum

outroverbocomoestratégiadeesquivacadavezmaisfrequentemente,deacordo

comaidade.Ascriançasde5anosutilizamessaconstruçãomaisfrequentemente

doqueascriançasde4anos,enquantoqueascriançasde6anosasutilizammais

frequentementedoqueascriançasde5anos.Porsuavez,osadultosforamosque

Page 166: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

152

maisutilizaramumoutroverbocomoestratégiadeesquiva.Comisso,vemosqueos

dadossugeremqueocomportamentoinfantilmudaemdireçãoaocomportamento

adulto,noquedizrespeitoàescolhadasestratégiasdeesquiva.

ComrelaçãoaousodepronomeseNPsresumptivos,nossosdadosindicam

queousomaisfrequenteporpartedascriançasdeelementosresumptivosocorre

quandooelementorelativizadoé[+animado].

Tabela 29: Frequência de uso de resumptivos ao produzir uma relativa de objetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas.73

Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]

Suj.[+an.]N.R.[–an.]

Suj.[–an.]N.R.[+an.]

Suj.[–an.]N.R.[–an.]

4anos 36,4%(4)

35,0%(7)

66,7%(12)

17,4%(4)

5anos 43,5%(10)

24,2%(7)

53,6%(15)

25,6%(10)

6anos 46,2%(6)

23,0%(6)

70,6%(12)

20,7%(6)

Adultos 0,0%(0)

4,5%(1)

4,6%(1)

8,0%(2)

Assimcomonaanálisesobreosresumptivosnasoraçõesrelativasdeobjeto

direto,verificamosque,enquantoasrelativasdeobjetopreposicionadocontêmuma

lacuna quando o antecedente é [–animado], há um pronome lexical de terceira

pessoaemsentençascomumantecedente[+animado].

Outropontocomparávelàsconclusõesnaseção2.6.5dizrespeitoaousode

construçõessemumaoraçãorelativacomoestratégiadeesquiva.

73Asporcentagenssereferemaousodeelementosresumptivos(NPs+pronomes)frenteaototaldeestratégiasdeesquiva.Legenda:sujeitodarelativa(Suj.)enúcleorelativizado(N.R.).

Page 167: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

153

Tabela30:Frequênciadeusodeconstruçõessemumarelativaparaseesquivardeumarelativadeobjetopreposicionado,emtodasascondiçõestestadas.74

Grupo Suj.[+an.]N.R.[+an.]

Suj.[+an.]N.R.[–an.]

Suj.[–an.]N.R.[+an.]

Suj.[–an.]N.R.[–an.]

4anos 34,6%(28)

55,5%(40)

44,4%(32)

65,7%(44)

5anos 13,4%(9)

32,8%(20)

25,8%(16)

53,0%(27)

6anos 11,7%(9)

6,3%(40

18,4%(14)

47,5%(29)

Adultos 5,1%(2)

5,2%(2)

0,0%(0)

11,4%(4)

Emtodasascondiçõestestadas,afrequênciadeusodeconstruçõesquenão

contêmumarelativadiminuientreosgruposde4e6anos.Issoindicaqueépossível

detectarumpercursodedesenvolvimentorumoaocomportamentoadultoemse

tratandodousoderelativasparacumpriratarefaproposta.Portanto,concluímos

que as criançasmais velhas sãomais aptas a seguir as instruçõesdeuma tarefa

envolvendoaeliciaçãoderelativasdepreposicionado.

Com relação a propostas que sugerem que a similaridade de traços do

elementorelativizadoedosujeitodarelativapodeinduzirefeitosdeinterveniência

paraomovimentorelativo,comoemFriedmannetal.(2009),nossosdadossugerem

queotraçodeanimacidadenãopodesercontabilizadoparafinsdeinterveniência.

EmPBpelomenos,asrelativaspreposicionadassãoinerentementedifíceis,sendo

derivadaspelascriançasexclusivamentepormeiodeestratégiasnão-padrão(com

uma lacuna ou comumelemento resumptivo seguindo a preposição). Ou seja, a

manipulaçãodotraçodeanimacidadeemnossosmateriaisnãoresultouemuma

maior facilidade ou dificuldade para a produção de relativas de objeto

preposicionado,diferentementedoque foiobservadoparaas relativasdeobjeto

direto(emqueotraçodeanimacidadesemostrouserumfatordeterminantepara

modularadificuldadecomqueessasoraçõesrelativassãoproduzidas).

74Asporcentagensdatabelasereferemàsconstruçõessemumarelativafrenteaototaldeestratégiasdeesquivautilizadasemcadagrupo.Legenda:sujeitodarelativa(Suj.)enúcleorelativizado(N.R.).

Page 168: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

154

3.7.Síntesedosresultados

Nestecapítulo,apresentamoscomoorganizamosnossoexperimento,como

classificamosnossosdadoseosresultados.Aseguir,listaremososprincipaispontos

quelevantamosnasduasseçõesdeanáliseediscussãolevando-seemconsideração

asposiçõesrelativizadaseascondiçõesdeanimacidadetestadas.

• Nas duas posições sintáticas e em todas as condições de animacidade

testadas,foiverificadoumfrequenteusoderelativasdesujeito.Baseamos

nossaanálisenapropostadoMinimalChainPrinciple(deVincenzi,1991).De

acordo com esse princípio, assim que um elemento de uma cadeia é

identificado, o parser deve associá-lo à lacuna mais próxima possível,

postulandoarelaçãomaislocalpossível;

• É possível detectar um percurso de desenvolvimento acerca do uso das

estratégias de esquiva ao se eliciar relativas de objeto direto: as crianças

utilizam as construções absolutas cada vez menos em favor do uso de

passivas,queéaestratégiadeesquivamaisutilizadapelosadultos(cf.Grolla

eAugusto(2016)eRezende(2016));

• Com relação às relativas de objeto preposicionado, todos os grupos

utilizaramumoutroverbocomoestratégiadeesquivamaisfrequente.Em

nossa análise, isso ocorre uma vez que argumentos preposicionados não

podemserpassivizados.Comisso,osnossossujeitosdepesquisarecorreram

aousodeumoutroverbodemodoapromoveroelementorelativizadopara

aposiçãodesujeitodarelativa,postulandoumarelaçãomaislocal;

• O uso da estratégia padrão nas relativas de objeto preposicionado, i.e.

relativascompied-pipingpreposicional,ocorreuapenasnogrupodeadultos,

sendoqueseuusosemostroususcetívelaerros,assimcomonoaprendizado

deumasegundalíngua(cf.GuastieCardinaletti,2003);

• Háumadiferençasignificativaentrea frequênciadeusodeestratégiasde

esquiva ao tentarmos eliciar relativas de objeto direto e de objeto

Page 169: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

155

preposicionado. Issosugerequeasrelativasdeobjetopreposicionadosão

maisdifíceisdoqueasrelativasdeobjetodireto;

• Alémdisso,aeliciaçãoderelativasdeobjetopreposicionadoapresentouuma

diferençasignificativaentreousodeestratégiasdeesquivaeusoderelativas

empraticamentetodasascondiçõesdeanimacidadetestadas,para;

• Asrelativasdeobjetocomumsujeitoinanimadosãoasmaisdifíceis,dentre

as relativas de objeto direto. Analisamos essas condições como as mais

difíceis uma vez que a posição de sujeito tende a ser preenchida por um

argumento animado (cf. Becker, 2014). Nessas condições, a estratégia de

esquivamaisutilizadafoiousodeumoutroverbo,demodoapromovero

elementorelativizadoparaaposiçãodesujeitodarelativa;

• Emgeral,ousodepronomeseNPsresumptivosémaisfrequentequandoo

antecedente, isto é, o elemento relativizado, é animado (cf. Cyrino (1994,

2000)eCasagrande(2010));

• O traço de animacidade não é computado para fins de Minimalidade

RelativizadaEstendida(cf.Friedmannetal.,2009).Noquedizrespeitoàs

relativasdeobjetodireto,nossosdadosindicamqueadificuldadecomessas

relativas está relacionada à presença de um sujeito inanimado.Ou seja, a

similaridade do traço de animacidade nas relativas não faz com que a

estruturasejadifícilparaofalante(i.e.umaestruturaemqueosujeitoeo

objetosãoanimados,ouemqueosujeitoeoobjetosãoinanimados);

• Comrelaçãoàsrelativasdeobjetopreposicionado,otraçodeanimacidade

tambémnãoécomputadoparafinsdeMinimalidadeRelativizadaEstendida

(cf.Friedmannetal.,2009),jáquetodasasconfiguraçõesdeanimacidadese

mostraramdifíceisparaosfalantes.

Page 170: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

156

Capítulo4:CONSIDERAÇÕESFINAIS_______________________________________________________________________________________________

4.1.Síntesedadissertação

Estadissertaçãotevecomoobjetivoinvestigarocomportamentolinguístico

decriançasadquirindooPBcomoprimeiralínguanoquedizrespeitoàprodução

deoraçõesrelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado,pormeiodeuma

tarefadeproduçãoeliciadacomparesdefiguras.Nossoestudopartedacomparação

dediferentesresultadosexperimentaisacercadomesmotema:adificuldadecomas

oraçõesrelativasdeobjeto.

Primeiramente, consideramos trabalhos recentes sobre a produção e a

compreensãodeoraçõesrelativasdeobjeto.TrabalhoscomoBelletti(2008e2009),

BellettieContemori (2010),Costaetal. (2014),Friedmannetal. (2009)eUtzeri

(2007)propõemqueasrelativasdeobjeto,emgeral, sãomaisdifíceisdoqueas

relativasdesujeitodevidoàsemelhançaestruturaldosujeitodarelativaedonúcleo

relativizado.Maisespecificamente,essestrabalhossugeremqueapresençadotraço

[+NP]nosujeitoenonúcleorelativizadoéresponsávelporessadificuldade,sendo

o sujeito da relativa um elemento interveniente para o movimento do núcleo

relativizadode suaposiçãodentrodaoração relativapara suaposiçãodepouso

(considerando que o movimento do núcleo relativizado “cruza” o sujeito da

relativa).Nessaproposta,asrelativasdeobjetoemqueambososujeitodarelativa

eonúcleorelativizadopossuemo traço[+NP]sãoagramaticaisparaascrianças,

umavezqueagramáticainfantilnãoécapazdecomputarumelementoparafinsde

movimentocombaseemtodoumfeixedetraços,i.e.agramáticainfantiléviolada

quandoumapartedessestraçoséigual.

Emsegundo lugar, consideramosestudosqueobservamqueadificuldade

com as relativas de objeto apenas está presente quando o sujeito da relativa é

inanimadoeonúcleorelativizadoéanimado,masqueéaconfiguraçãoinversanão

édifícilparaaproduçãoeacompreensãodessasrelativasi.equandoosujeitoda

Page 171: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

157

relativaéanimadoeonúcleorelativizadoéinanimado(GennarieMacdonald,2007;

Gennarietal.,2012;Maketal.,2006).

Partindodessesestudos,lançamosaseguintehipótese:

Hipótesedetrabalho:

O traço de animacidade de um NP e seu papel temático influenciam as

estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem sentenças envolvendo

relativas.

Hipótesenula:

OtraçodeanimacidadedeumNPeseupapeltemáticonãoinfluenciamas

estratégias utilizadas pelos falantes ao produzirem sentenças envolvendo

relativas.

Paraverificarnossahipótese,desenhamosumexperimentodemodoaeliciar

relativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado,comquatroconfiguraçõesde

animacidade,obtendo-seassimumestudo2x4.Nossossujeitosdepesquisaforam

criançasagrupadasporidade(4;0a4;11,5;0a5;11e6;0a6;11anosdeidade)e

adultosdemaisde20anosdeidade.

Nossosdadosindicamqueasrelativasdeobjetodiretomaisdifíceisparaas

crianças são aquelas com sujeito inanimado, independentemente do traço de

animacidadedonúcleorelativizado.Aconfiguraçãocontendoumsujeitoinanimado

e um núcleo relativizado animado foi amais difícil para as crianças, seguida da

configuração contendo um sujeito inanimado e um núcleo relativizado também

inanimado.Poroutro lado,vimosqueasconfiguraçõesdeanimacidadecontendo

umsujeitoanimadoeumnúcleorelativizadotambémanimado,ouinanimadonão

foram difíceis para as crianças. Essas foram as condições em que elas mais

produziramrelativasdeobjetodireto,sugerindoqueasrelativascomumsujeito

animadonãosãodifíceisparaascrianças.Seessaanáliseestivernocaminhocerto,

podemosdizerqueotraçodeanimacidadeinfluenciaasestratégiasutilizadaspelos

sujeitosdepesquisa,verificandoassimnossahipótesedetrabalho.

Além disso, nossa análise é que o traço de animacidade não deve ser

computadoparafinsde“MinimalidadeRelativizadaEstendida”,àlaFriedmannet

Page 172: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

158

al. (2009). Caso tivéssemos verificado que as relativasmais difíceis para nossos

sujeitosdepesquisatinhamtraçosdeanimacidadeiguaisparaambososujeitoeo

núcleorelativizado,poderíamosterrelacionadoessadificuldadeàsimilaridadedos

traçosdeanimacidade.Noentanto,issonãoseverificou.

Noqueconcerneàsrelativasdeobjetopreposicionado,asaltastaxasdeuso

deestratégiasdeesquivanasquatroconfiguraçõesdeanimacidadesugerequeelas

sãomaisdifíceisparaascriançasdoqueasrelativasdeobjetodireto.Alémdisso,o

númerodeproduçõessemumarelativa foimaisaltoquando tentamoseliciaras

relativas de objeto preposicionado. Por sua vez, as relativas com alçamento de

preposiçãosóforamatestadasnogrupodeadultos.Issosugerequeessasrelativas

sãoaprendidastardiamente,provavelmenteduranteosanosfinaisdoEnsinoMédio

(Corrêa,1998).Comisso,podemosdizerqueotraçodeanimacidadenãoinfluencia

asestratégiasutilizadaspelosfalantesquantoàsrelativasdeobjetopreposicionado.

Com relação ao uso de estratégias de esquiva, observamos sua ampla

utilização na eliciação dos dois tipos de relativas (de objeto direto e de objeto

preposicionado), independente da configuração de animacidade, em todos os

grupos.Noquedizrespeitoàsrelativasdeobjetodireto,ascriançasmaisnovas(i.e.

as criançasde4;0 a4;11 anosde idade)preferiramutilizarumadjetivo (ouum

verbo incoativo)econstruçõesabsolutascomoesquiva,enquantoqueosadultos

utilizam construções passivas majoritariamente. Por sua vez, as produções das

criançasde5e6anos indicamqueháumamigraçãogradualdocomportamento

infantil emdireção ao comportamento adulto (cf. tabela 5, capítulo 3). Isto é, as

criançasde4;0-4;11anosdeidadeforamasquemenosutilizaramaspassivascomo

estratégia de esquiva, enquanto que as crianças de 5;0-5;11 anos de idade as

utilizarammaisfrequentemente,ficandoatrásapenasdascriançasde6;0-6;11anos

de idade (e dos adultos). Ao mesmo tempo, o uso de outras construções como

estratégiadeesquiva,comoasabsolutas,diminuicomaidade(4;0-4;11<5;0-5;11

anosdeidade<6;0-6;11anosdeidade<adultos),algoobservadoemoutrosestudos

sobreaaquisiçãodoPB(GrollaeAugusto(2016)eRezende(2016)).Concluímos

que essa mudança de comportamento está ligada à complexidade estrutural

inerente às passivas. Por serem mais custosas, as passivas são evitadas pelas

crianças, queutilizam, entre outras construções, as absolutas, quepossuemuma

Page 173: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

159

complexidade estrutural menor em comparação às passivas, já que elas não

projetamumargumentoexterno(cf.seções2.4e3.6.3).

Noquedizrespeitoàsrelativasdeobjetopreposicionado,todososgrupos

preferiram utilizar um outro verbo para produzir uma relativa de sujeito como

estratégiadeesquiva,sendoquepodemosobservarqueascriançasutilizamessa

estratégia cada vezmais frequentemente, em direção ao comportamento adulto

(4;0-4;11<5;0-5;11anosdeidade<6;0-6;11anosdeidade<adultos).Conforme

previmos,onúmeroderelativasenvolvendooalçamentodepreposiçãofoipróximo

azero.Apenasosadultosproduziramrelativascomessaconstrução(em17,8%das

relativasde objetopreposicionadoproduzidas), indicandoque aproduçãodessa

estratégiadependedeseuensinoformalemcontextoescolar(cf.Corrêa(1998)).

4.2.AlgumasespeculaçõessobreaaquisiçãodasrelativasemPB

Nestaseção,especularemossobrecomoocorreaaquisiçãodasrelativasnão-

padrãoemPB,nosbaseandonostrabalhosdeGrolla(2000)eKatoeNunes(2009).

Também apresentaremos uma breve discussão sobre uma possível causa para a

ausênciadeoraçõesrelativascompied-pipingpreposicional.

Conforme vimos na seção 2.2.2, Kato e Nunes (2009) propõem que, nas

oraçõesrelativascontendoumpronomeresumptivo(abertoounulo),oelemento

relativizadoégeradoemposiçãodeLD.Porsuavez,nasoraçõesrelativaspadrão,o

elementorelativizadoéalçadodedentrodaoraçãorelativa.Noquedizrespeitoà

aquisiçãodessasduasestratégiasderelativizaçãodoPB,podemosnosperguntar

comoelassãoadquiridas.

Naseção2.3.3,apresentamosotrabalhodeGrolla(2000),queanalisadados

longitudinaisdeumacriançaadquirindooPBnoquedizrespeitoàaquisiçãoda

periferiaesquerda.Emseuestudo,osdadosanalisadospelaautorasugeremqueas

primeirasoraçõesrelativasqueaparecemnafalainfantilsãoaquelasqueenvolvem

movimentodoelementorelativizado.Alémdisso,aautorasugerequeaaquisição

doselementosresumptivosemPBsegueumpadrãoespecífico.

Primeiramente, a criança deve verificar se sua língua licencia esses

elementosemdependências-A’.Duranteesseestágio,nãoháproduçãodepronomes

Page 174: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

160

resumptivos em contextos de aparente alternância entre pronome resumptivo e

lacuna, comoemrelativasdeobjetodireto (cf. (1a-b) abaixo). Segundoa autora,

nesse período, as produções relacionadas a dependências-A’ são derivadas por

movimento.

1.

a. Ameninaqueeuvi___.

b. Ameninaqueeuviela.

Quandoacriançadetectaapossibilidadedeusodepronomesresumptivos

emdependências-A’,suaproduçãoserestringeacontextosemqueomovimento

não é permitido, como exemplificam as relativas preposicionadas (2a-b). Nesses

casos,aderivaçãosetornariaagramaticalsemapresençaderesumptivos.

2.

a. Sócarrãograndãoqueviraarodadele.(2;11)

b. Euvônoseucolo,porquelátemaquelacobrinhaqueasmulerdançanela.(3;1)

(Grolla,2000:72)

Enquantoaaquisiçãoderesumptivosabertosapenasdependequeacriança

os identifique no input, a aquisição dos resumptivos nulos em dependências-A’

dependedeumaanálisemaisdetalhadade construções envolvendouma lacuna,

como os exemplos abaixo. Durante esse período, a criança ainda não produz

relativas com um resumptivo em contextos de aparente livre alternância entre

resumptivoabertoelacunademovimento.

3.

a. Esselivro,euconheço[umameninaquejáleueledezvezes].

b. Esselivro,euconheço[umameninaquejáleu___dezvezes].

c. EsseéolivroqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveuele].

d. EsseéolivroqueoJoãoconhece[aautoraqueescreveu___].

(Grolla,2000:67)

Page 175: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

161

Finalmente, quando a criança adquire os pronomes resumptivos nulos,

construções envolvendo uma aparente livre alternância entre um pronome

resumptivoabertoecomumalacuna(istoé,emcontextosdeambiguidadeentre

movimentoepronomeresumptivo)passamaserlícitasnagramáticainfantil.

4.

a. OAdriano,numvielelá.(3;5)

b. Essaeunumquero___mais.(3;6)

(Grolla,2000:72)

É nessemomento que a criança também começa a produzir resumptivos

nuloscorrespondentesatodoumPP,comonosexemplosabaixo.Nessassentenças,

o verbo brincar seleciona um PP como seu complemento. No entanto, a lacuna

correspondente ao PP é co-referente ao tópico DP. Essa falta de identidade

categorialéumaindicaçãodequenãohouvealçamentodoPP.

5.

a. Nenhumbrinquedoeubrinco.(3;7)

b. Essabonecaeuvoubrincarodiainteiro.(3;10)

(Grolla,2000:73)

Posto isso, podemos formular uma resposta para nossa pergunta acima:

comoasestratégiasderelativizaçãodoPBsãoadquiridaspelacriança?

SegundoGrolla(2000),enquantoacriançaestáverificandoapossibilidade

dousoderesumptivosemsualíngua,elautilizaapenasaestratégiademovimento

paraderivarasprimeirasoraçõesrelativas,jáqueelaéuniversal.Ouseja,podemos

dizerqueaprimeiraestratégiaderelativizaçãoadquiridapelacriançaéaestratégia

padrão,envolvendoomovimentodeumDPrelativo.

Page 176: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

162

6.

a. Comeapedrinhaquetáaqui.(2;10)

b. Querovêapelotaquevocêviu.(3;2)

(Grolla,2000:47)

Paraadquirirasestratégiasnão-padrão,i.e.asestratégiascomumpronome

resumptivoabertoouumpronomeresumptivonulo,acriançadependedaanálise

dasconstruçõesenvolvendoumalacunaemdependências-A’.Umpossíveltrigger

paraaaquisiçãodessasestratégiassãoconstruçõesemqueseverificaumafaltade

identidade categorial entre um elemento topicalizado e um elemento dentro da

sentença.Em(7a-b)abaixo,oselementostopicalizadossãoDPs:amesmacategoria

selecionada pelos verbos no interior das sentenças. Já em (7c-d), os verbos no

interior da sentença selecionam elementos preposicionados. No entanto, esses

mesmoselementosaparecemnaperiferiaesquerdasemapreposição.

7.

a. Tudovocêtem.(2;5)

b. Essedaquieuachei.(2;8)

c. Mastapeteelenumanda.(2;9)

d. Nenhumbrinquedoeubrinco.(3;7)

(Grolla,2000:33-34)

Grolla assume que essas estruturas são derivadas pela geração dos

elementostopicalizadosnabaseemTopP.Nasentença,háumproespecial,quenão

manifestaidentidadecategorialcomotópico.Istoé,nointeriordasentença,háum

proocupandoaposiçãodeumPP,enquantooelementoemTopPéumDP.

Essafaltadeidentidadecategorialtambémseverificanasrelativasdeobjeto

preposicionadoderivadaspormeiodasestratégiascortadoraeresumptiva.Nessas

estratégias não-padrão, não se verifica pied-piping preposicional, sendo que, na

análisedeKatoeNunes(2009),oselementosrelativizadostambémnãosãogerados

dentrodaoraçãorelativa,masemLD.

Page 177: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

163

8.

a. olivroquevocêestavaprecisando

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêestavaprecisandoprok]]]]]

b. olivroquevocêvaiprecisardele

[DPo[CP[DPlivroi[DPqueti]]k[CPC[LDtk[IPvocêvaiprecisardelek]]]]]

(KatoeNunes,2009:114-115)

Portanto, uma possível explicação para a aquisição das estratégias de

relativização não-padrão do PB é que a criança, ao verificar que construções de

tópico-comentário podem apresentar falta de identidade categorial entre o

elementotopicalizadoeoelementonointeriordasentença,entendequeépossível

relativizar elementos gerados emLD e, consequentemente, utilizar umpronome

resumptivo(abertoounulo)nointeriordasentença.

9. Vocêqueria[aborsinhaqueeutavajuntocomela]?(3;6)

(Grolla,2000:48)

Em nossos dados experimentais, todas as crianças que participaram da

pesquisa lidaram com a falta de identidade categorial demaneira parecida: um

elemento resumptivo foi utilizado ao produzirem uma relativa de objeto

preposicionado. Além disso, a estratégia de esquivamais utilizada por todos os

sujeitosdepesquisafoiousodeumoutroverboemsuasproduções.Possivelmente,

essa construção foi frequentemente utilizada de modo que a oração relativa

produzida apresentasse identidade categorial entre o elemento relativizado e o

elementoselecionadopeloverbonointeriordaoraçãorelativa.

Nossos dados indicam que, ao produzirem orações relativas de objeto

preposicionado, as crianças utilizam exclusivamente as estratégias cortadora e

resumptivas.Conformeapontamosanteriormente,essecomportamentodeveestar

relacionadoaumaconjunçãodefatores,comoaausênciadaestratégiapadrãono

inputdisponívelàcriança,afatoresligadosàeconomiaderivacional(nostermosde

Roeper, 2003) e a dependência do ensino formal da estratégia padrão. Outra

possível explicaçãoparao comportamentoobservadoemnossoexperimentodiz

Page 178: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

164

respeito ao número de adjunções envolvido na derivação das relativas

preposicionadas compied-piping. Comopodemosver em (10), a relativizaçãode

livroenvolveumaoperaçãodeadjunçãoamaisdoquenosexemplosem(8).

10. olivrodequevocêprecisa

[DPo[CP[PPlivroi[PPde[DPtiqueti]]]]k[CPC[IPvocêprecisatk]]]]

(KatoeNunes,2009:114)

Em (10), o PP relativo se adjunge a CP. Em seguida, livro se adjunge

primeiramenteaoDPrelativoedepoisaoPPrelativo.Nosexemplosem(8),oDP

relativoseadjungeaCP.Emseguida,livroapenasseadjungeaoDPrelativo.Ouseja,

naderivaçãopormeiodaestratégiapadrão,háumaoperaçãodeadjunçãoamaisdo

quenasderivaçõespormeiodasestratégiasnão-padrão.Poderíamos suporque,

quantomaioronúmerodeadjunçõesnecessáriasemumaderivação,maisdifícil

seráasuaprodução.Essahipótese,aindaqueembrionária,nãosefundamentaem

propostas que tratam pied-piping preposicional como algo problemático ou

antinatural nas línguas. Pesquisas como a de Labelle (1990, 1996) indicam que,

apesarpied-pipingpreposicionalserraramenteusadoporcriançasaoproduzirem

oraçõesrelativas,elasnãoapresentamproblemascominterrogativas-Qucompied-

piping preposicional. Portanto, o problema com as relativas de objeto

preposicionado poderia estar relacionado apenas ao número de adjunções

empregadas(seguidamente)emumaderivação.

Nestabreveseção,apresentamosalgumashipótesessobreaaquisiçãodas

estratégiasderelativizaçãonão-padrãodoPBesobreaquasequetotalausênciade

pied-piping preposicional nas produções de relativas preposicionadas em nosso

experimento.Buscamosaquiapresentaralgunstemasdiretamenterelacionadosà

nossapesquisademaneiraespeculativa,umavezqueofocodestadissertaçãoéa

análisedocomportamentolinguísticodecriançasde4a6anosdeidadeacercada

produçãoeliciadadeoraçõesrelativasdeobjetodiretoedeobjetopreposicionado,

relacionandoessasconstruçõescomdiferentesconfiguraçõesdeanimacidade.

Page 179: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

165

4.3.Possíveisdesdobramentosdestapesquisa

Acreditamosqueessadissertaçãopodecontribuirparaasinvestigaçõeseo

debate sobre a produção de orações relativas de objeto direto e de objeto

preposicionado, além do papel do traço de animacidade nessas construções.

Entretanto, há questões que podem ser exploradas e que são diretamente

relacionadas a nosso trabalho. Por exemplo, com relação às relativas de objeto

preposicionado, um estudo comparando diferentes tipos de relativas

preposicionadas(elementosgenitivosvs.elementoslocativos;PPsargumentosvs.

PPsadjuntos)podeapontarumamaiorfrequênciadeusodeestratégiasdeesquiva

aotentareliciarcadatipoderelativa,considerandoquepied-pipingpreposicionalé

algoquenãoatestamosnasproduçõesdeoraçõesrelativas,masquesãoproduzidas

porcriançasdesdemuitocedoemperguntas,comoatestaGrolla(2000,2005b).

Umaoutra possibilidade de estudo é comparar perguntas e relativas com

pied-pipingpreposicionaleestruturasdetópico-comentário,demodoaverificarse

aproduçãodeperguntaserelativascomumalacuna,sempied-pipingpreposicional,

comoem“quebrinquedovocêgosta?”e“obrinquedoqueeugosto”,possuialguma

relaçãocomaproduçãodeestruturasdetópico-comentáriocomfaltadeidentidade

categorial,comoem“esselivro,eupreciso”.

Por fim, esperamosquenosso trabalho tenha contribuído comos estudos

sobreasoraçõesrelativasesobreanimacidade,umavezque,conformeapontamos

anteriormente, nosso tema de pesquisa é bastante profícuo para os estudos em

gramática gerativa. Ademais, esperamos que nossos dados contribuam com o

debateacercadasestratégiasdeesquivautilizadasaoeliciaroraçõesrelativasde

objetodiretoepreposicionado,tantoemPBadultoePBinfantil,comoemestudos

translinguísticos.

Page 180: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

166

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS_______________________________________________________________________________________________

ADANI,Flavia.Re-thinkingtheAcquisitionofRelatives:ANewComprehensionStudy

withItalianChildren.Proceedingsofthe27thWestCoast,ConferenceinFormalLinguistics,UniversityofCalifornia,LosAngeles,A.B.D.2008.

ADANI, Flavia; SEHM,Marie& ZUKOWSKI, Andrea. Howdo German children andadultsdealwiththeirrelatives.In:STAVRAKAKIS.;KONSTANTINOPOULOUX.&LALIOTIM.(eds.)Advancesinlanguageacquisition.Cambridge:CambridgeScholarsPublishing.2012.p.14-22.

AUGUSTO, Marina R. A. (2008) Distinçoes entre movimentos A e A-barra nacomputaçaoon-line:QUepassiva.RevistadaABRALIN,v.7,p.9-33,2008.

BECKER, Misha. The Acquisition of Syntactic Structure: Animacy and ThematicAlignment.CambridgeUniversityPress.2014.

BELLETTI,Adriana.AspectsofthelowIParea.In:RIZZI,Luigi.(ed.)ThestructureofCPandIP,OxfordUniversityPress.2005.p.16-51.

______. Acquisition meets comparison. Some notes. In: Language acquisition anddevelopment: proceedings of GALA 2007, eds. GAVARRÓ, Anna & FREITAS,MariaJoão,Cambridge.2008.

______.Notesonpassiveobjectrelatives.In:Functionalstructurefromtoptotoe:The.InSVENONIUS,P.(ed.).Functionalstructurefromtoptotoe:thecartographyofsyntacticstructures,v.9.Oxford:OxfordUniversityPress.2009.p.282-338.

BELLETTI, Adriana & CHESI, Cristiano. Relative clauses from the input: syntacticconsiderations on a corpus-based analysis of Italian. In: STiL – Studies inLinguistics [CISCL Working Papers on Language and Cognition vol. 4], eds.MOSCATI,Vincenzo&SERVIDIO,Emilio, p. 2281-3128, Siena:UniversityofSiena.DistributedbyMITWPL.2011.

BELLETTI, Adriana & CONTEMORI, Carla. Intervention and attraction: on theproduction of subject and object relatives by Italian (young) children andadults.In:Languageacquisitionanddevelopment:proceedingsofGALA2009,eds.COSTA,João;CASTRO,Ana;LOBO,Maria&PRATAS,Fernanda,p.39-52,NewcastleuponTune:CambridgeScholarsPublishing.2010.

BELLETTI,Adriana;FRIEDMANN,Naama;BRUNATO,Dominique&RIZZI,Luigi.Doesgender make a difference? Comparing the effect of gender on children'scomprehensionofrelativeclausesinHebrewandItalian.Lingua,v.122,1053–1069.2012.

BELLETTI,Adriana&RIZZI,Luigi.Waysofavoidingintervention:somethoughtsonthedevelopmentofobject relatives,passiveandcontrol. In:Rich languagesfrom poor inputs, PIATTELLI-PALMARINI,M. & BERWICK, Robert (eds.), p.115-126.Oxford:OUP.2013.

Page 181: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

167

BENTEA,Anamaria;DURRLEMAN,Stephanie&RIZZI,Luigi.Refining intervention:theacquisitionof featuralrelations inobjectA-bardependencies.Lingua.v.169.p.21-41.2016.

BIANCHI, Valentina.Consequences of antisymmetry: headed relative clauses. Berlin:MoutondeGruyter,1999.

______.Theraisinganalysisofrelativeclauses:areplytoBorsley.LinguisticInquiry,Cambridgev.31,n.1,p.123-140,2000.

BORSLEY,RobertD.Relativeclausesandthetheoryofphrasestructure.LinguisticInquiry,Cambridge,v.28,n.4,p.629-647,1997.

CASAGRANDE, Sabrina. A correlação entre aspecto e objeto no PB : uma análisesintático-aquisicionista. 2010. 301f. Tese (Doutorado em Linguística) ―Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas,Campinas,2010.

CHOMSKY, Noam. On wh-movement. In: CULICOVER, P. W., WASOW, Thomas &AKMAJIAN,Adrian(eds.).FormalSyntax.NewYork.1977.p.71-132.

______.LecturesonGovernmentandBinding,Dordrecht:Foris.1981.______.Languageandproblemsofknowledge:TheManagualectures.Cambridge:MIT

Press.1988.______. A minimalist program for linguistic theory. In: HALE, Kenneth & KEYSER,

SamuelJ.(eds.)Theviewfrombuilding20,Cambridge:MITPress,1993.p.1-52.

______.Theminimalistprogram.Cambridge:MITPress.1995.______. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ,Michael & HALE, Kenneth: A life in

language.Cambridge:TheMITPress,2001.CLARK,HerbertH.&BEGUN,JeffreyS.Thesemanticsofsentencesubjects.Language

andSpeech,14,p.34-46.1971.COLLINS,Chris.AsmugglingapproachtothepassiveinEnglish.Syntax,n.8.2,p.81-

120.2004.CONTEMORI,Carla&BELLETTI,Adriana.Relativesandpassiveobject relatives in

Italian-speaking children and adults: intervention in production andcomprehension.AppliedPsycholinguistics.v.35,Issue6,p.1021-1053.2014.

CORRÊA,VilmaReche.OraçãoRelativa:Oquesefalaeoqueseaprendenoportuguêsbrasileiro.1998.165f.Tese(DoutoradoemLinguística).–InstitutodeEstudosdaLinguagem,UniversidadeEstadualdeCampinas,Campinas,1998.

CORRE¡ A, Letıcia M. Sicuro & AUGUSTO, Marina R. A. Custo de processamento ecomprometimentodalinguagem-movimentosintaticonacomputaçaoon-lineeminimalidaderelativizadaemoraçoesrelativaseperguntas-QU.AnaisdoVIICongressoInternacionaldaABRALIN,p.2364-2378.2011.

COSTA,Joao;FRIEDMANN,Naama;SILVA,Carolina&YACHINI,Maya.Theboythatthe chef cooked: Acquisition of PP relatives in European Portuguese andHebrew.Lingua.v.150,p.386-409.2014.

Page 182: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

168

CRAIN,Stephen&THORNTON,Rosalind.InvestigationsinUniversalGrammar:aguideto experiments on the acquisition of syntax and semantics. Cambridge: MITPress.1998.

CYRINO, Sonia Maria Lazzarini. O objeto nulo no português do Brasil: um estudosintático-diacrônico.1994.217f.Tese(DoutoradoemLinguística)–Institutode Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,1994.

______.Oobjetonulonoportuguesbrasileiro.In:GA¥ RTNER,Eberhard;SCHO¥ NBERGER,CrhistineHundteAxel(org.)Estudosdegramáticaportuguesa,v.3,p.61-73,FrankfurtamMain:TFM.2000.

DEVILLIERS,JillG.;FLUSBERG,HelenB.Tager;HAKUTA,Kenji&COHEN,Michael.Children's Comprehension of Relative Clauses. Journal of PsycholinguisticResearch,v.8,n.5,p.499-518.1979.

DEVINCENZI,Marica.SyntacticParsingStrategiesinItalian.Kluwer,Dordrecht,TheNetherlands.1991.

DEVINCENZI,Marica;ARDUINO,LisaS.;CICCARELLI,Laura& JOB,Remo.ParsingStrategiesinChildrenComprehensionofInterrogativesentences.ProceedingsoftheEuropeanConferenceonCognitiveSciences,Siena,301-308.1999.

DEVRIES,Mark.Thesyntaxofrelativization.Utrecht:LOT,2002.FERREIRA, Marcelo. Argumentos Nulos em Português Brasileiro. 2000. 113f.

Dissertação(MestradoemLinguística)–InstitutodeEstudosdaLinguagem,UniversidadeEstadualdeCampinas,Campinas,2000.

______.NullsubjectsandfinitecontrolinBrazilianPortuguese.InNUNES,Jairo(org.).MinimalistEssaysonBrazilianPortugueseSyntax.Amsterdam:JohnBenjamins,2009.p.17-50.

FITZPATRICK, Justin M. On Minimalist Approaches to the Locality of Movement.LinguisticInquiry,Cambridge,v.33,n.3,p.443-463,2002.

FRIEDMANN, Naama. Young children and A-chains: The acquisition of HebrewUnaccusatives.LanguageAcquisition,14,377-422.2007.

FRIEDMANN,Naama;BELLETTI,Adriana&RIZZI,Luigi.Relativizedrelatives.TypesofinterventionintheAcquisitionofA-bardependencies.Lingua,v.119,p.67-88.2009.

FRIEDMANN,Naama& COSTA, João. The child heard a coordinated sentence andwondered:onchildren’sdifficultyinunderstandingcoordinationandrelativeclauses with crossing dependencies. Lingua, v.120, issue 6, p. 1502-1515,2010.

GALVES,Charlotte.OObjetoNulonoPortuguêsBrasileiro:PercursodeumaPesquisa.CadernosdeEstudosLingüísticos,17,65–90.1989.

GENNARI, Silvia P.; MACDONALD, Maryellen C. Semantic indeterminacy in objectrelativeclauses.JournalofMemoryandLanguage,v.58,n.2,p.161-187.2007.

Page 183: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

169

GENNARI, Silvia P.; MIRKOVIC, Jelena &MACDONALD,Maryellen C. Animacy andcompetition in relative clause production: a cross-linguistic investigation.CognitivePsychology.v.65,issue2,p.141-176.2012.

GROLLA,Elaine.Aquisiçãodaperiferiaesquerdadasentençaemportuguêsbrasileiro.2000. 95f.Dissertação (MestradoemLinguística) – InstitutodeEstudosdaLinguagem,UniversidadeEstadualdeCampinas,Campinas,2000.

______. Resumptive pronouns as last resort: Implications for Language Acquisition.Proceedings of the 28th Annual Penn Linguistics Colloquium, eds.ARUNACHALAM, S.; SCHEFFLER, T.; SUNDARESAN, S. & TAUBERER, J.Philadelphia.2004.

______. Sobre a aquisição tardia deQU in situ emportuguêsbrasileiro.DELTA, SãoPaulo,v.21,n.1,p.57-73,2005a.

______.Pronomes resumptivosemportuguêsbrasileiroadultoe infantil. SãoPaulo:DELTA,SãoPaulo,v.21,n.2,p.167-182.2005b.

______. A Unified Account for Two Problems in the Acquisition of Pronouns.Proceedings of the 24th West Coast Conference on Formal Linguistics, ed.ALDERETE,John,HAN,Chung-hye&KOCHETOV,Alexei.Somerville:CascadillaProceedingsProject.p.173-181.2005c.

______.Metodologias experimentais em aquisição da linguagem.Revista Estudos daLingua(gem),n.7,p.9-42.2009.

______.PronounsasElsewhereElements:ImplicationsforLanguageAcquisition.1.ed.NewcastleuponTune:CambridgeScholarsPublishing,2010.173p.

GROLLA, Elaine & AUGUSTO, Marina R. A. Pronomes resumptivos em portuguesbrasileiroinfantil:dadosdeproduçaoecompreensao.RevistadeLetrasdaUFF,49,p.133-154.2014.

______.AbsolutiveConstructionsinBPandRelativizedMinimalityEffectsinChildren'sProductions.Proceedings of the 6th Conference on Generative Approaches toLanguageAcquisitionNorthAmerica (GALANA2015),PERKINS,Laureletal.(eds.),p.36-47.Somerville:CascadillaProceedingsProject.2016.

GUASTI,MariaTeresa. LanguageAcquisition: TheGrowth of Grammar. Cambridge:MITPress,2002.

GUASTI,MariaTeresa.&CARDINALETTI,Anna.RelativeclauseformationinRomancechildproduction.Probus,15,p.47-88.2003.

GUASTI,MariaTeresa.&SHLONSKY,Ur.TheAcquisitionofFrenchRelativeClausesReconsidered.LanguageAcquisition,v.4,p.257-276.1995.

GUASTI,MariaTeresa;STAVRAKAKIStavroula&AROSIO,Fabrizio.Cross-linguisticdifferences and similarities in the acquisition of relative clauses - evidencefromGreekandItalian.Lingua,v.122,issue6,p.700-713.2012.

GÜNZBERG-KERBEL,Noa;SHVIMER,Lilach&FRIEDMANN,Naama.Takethehenthatthecowkissedthehen:TheacquisitionofcomprehensionandproductionofvariousrelativeclausesinHebrew.LanguageandBrain,7,23-43.2008.

Page 184: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

170

HAEGEMAN, Liliane. Introduction to Government and Binding theory. Cambridge:Blackwell.1995.

HORNSTEIN, Norbert. Pronouns in a minimalist setting. In: CORVER, Norbert &NUNES, Jairo. (eds.) The Copy Theory of Movement. Amsterdam: JohnBenjaminsPublishingCompany,2007.p.351-385.

HORNSTEIN, Norbert, NUNES, Jairo & GROHMANN, Kleanthes K. UnderstandingMinimalism.Cambridge:CambridgeUniversityPress.2005.

KATO,MaryA.Recontandoahistóriadasrelativasemumaperspectivaparamétrica,In: ROBERTS, Ian; KATO,MaryA. (orgs.).Português brasileiro: uma viagemdiacrônica.Campinas:EditoradaUnicamp,1993.p.223-261.

KATO,MaryA.&NASCIMENTO,Miltondo.Gramáticadoportuguêsculto faladonoBrasil-VolumeIII:Aconstruçãodasentença.Campinas:EditoradaUnicamp,2009.

KATO, Mary A. & NUNES, Jairo. A uniform raising analysis for standard andnonstandardrelativeclausesinBrazilianPortuguese.InNUNES,Jairo(org.).Minimalist essays on Brazilian Portuguese syntax, Amsterdam: JohnBenjamins,2009.p.93-120.

______.UmaAnaliseUnificadadosTresTiposdeRelativasRestritivasdoPortuguesBrasileiro.RevistaSocioDialeto,v.4,n.12,ediçãoespecial,p.575-590.2014.

KAYNE,RichardS.TheAntisymmetryofSyntax.Cambridge:TheMITPress;1994.KEENAN,EdwardL.&COMRIE,Bernard.NounPhraseAccessibility andUniversal

Grammar.LinguisticInquiry,v.8,n.1,p.63-99,1977.KENEDY,Eduardo.Aspectosestruturaisdarelativizaçãoemportuguês:umaanálise

baseadanomodeloraising.2002.158f.Dissertação(MestradoemLinguística)–UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,RiodeJaneiro,2002.

______Raisingcomoumanovadescriçaosintaticaparaasoraçoesrelativas.Lingüística(PPGL/UFRJ),v.3,p.197-216,2007.

______. As relativas preposicionadaspadrão sãonaturais aos falantes doportuguêsbrasileiro? Evidências de pesquisa experimental em psicolinguística. ViaLitterae,v.2,n.1,p.58-74,2010.

LABELLE,Marie.Predication,wh-movementandthedevelopmentofrelativeclauses.Languageacquisition,n.1,p.95-119.1990.

______. The acquisition of relative clauses: movement or no movement? Languageacquisition,v.5,n.2,p.65-82.1996.

LESSA-DE-OLIVEIRA,Adriana.Assentençasrelativasemportuguêsbrasileiro:aspectossintáticosefatosdeaquisição.2008.197f.Tese(DoutoradoemLinguística).–Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas,Campinas,2008.

LESSA-DE-OLIVEIRA,AdrianaStellaCardoso.RelativizaçaoRestritivaeRelativizaçaoApositivaemPortuguesBrasileiro.Estudosdalíngua(gem),v.8,n.2,p.37-60.2010.

Page 185: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

171

MAK,WillemM.;VONK,Wietske&SCHRIEFERS,Herbert.Theinfluenceofanimacyonrelativeclauseprocessing.JournalofMemoryandLanguage,v.47,issue1,p.50-68.2002.

______.Animacyinprocessingrelativeclauses:thehikersthatrockscrush.JournalofMemoryandLanguage,v.54,issue4,p.466-490.2006.

MCDANIEL,Dana;MCKEE, Cecile&BERNSTEIN, JudyB.HowChildren’s RelativesSolveaProblemforMinimalism.Language.74,p.308-334.1998.

MCKEE,Cecile&MCDANIEL,Dana.ResumptivepronounsinEnglishrelativeclauses.Languageacquisition,n.9,p.113-156.2001.

MIYAMOTO, Edson T. & NAKAMURA,Michiko. Subject/object asymmetries in theprocessing of relative clauses in Japanese. In:Proceedings of the 22ndWestCoastConferencesonFormalLinguistics, eds.GARDING,Gina&TSUJIMURA,Mimu.Sommerville:CascadillaPress.p.342-355.2003.

NEGRA§ O,EsmeraldaV.&VIOTTI,Evani.Aestruturasintaticadassentençasabsolutasnoportuguesbrasileiro.Lingüistica(Madrid),v.23,p.37-58.2010.

NOVOGRODSKY,Rama&FRIEDMANN,Naama.TheproductionofrelativeclausesinsyntacticSLI:Awindowtothenatureoftheimpairment.Advancesinspeech-languagepathology,8,p.364-375.2006.

NUNES,Jairo.Linearizationofchainsandsidewardmovement.Cambridge:MITPress,2004.

NUNES,Jairo&SANTOS,RaquelS.StressshiftasadiagnosticsforidentifyingemptycategoriesinBrazilianPortuguese.In:NUNES,Jairo(org.).MinimalistessaysonBrazilianPortuguesesyntax.Amsterdam:JohnBenjamins,2009.p.121-136.

PEREIRA-PINTO, Flavia Regina Mello. Compreensão de Estruturas de Tópico-comentárioePronomesResumptivosnaAquisição:avaliandooscomplementosdiretos e indiretos. 2016. 144f. Dissertação (Mestrado em Linguística) ―UniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro,RiodeJaneiro,2016.

PÉREZ-LEROUX, Ana Teresa. Resumptives in the acquisition of relative clauses.Languageacquisition,n.4,p.105-139.1995.

PERRONI, Maria Cecília. Primeiras orações relativas na gramática da criança.ComunicaçãoapresentadanoXLVSemináriodoGEL,IEL,Unicamp,Campinas.1997

______.Asrelativasquesão fáceisnaaquisiçãodoportuguêsbrasileiro.DELTA,SãoPaulo.v.17,n.1,p.59-79.2001.

PINKER, Steven. Learnability and cognition: the acquisition of argument structure.Cambridge,Mass.:MITPress.1989.

REZENDE,Camillade.Sentençasabsolutasnoportuguêsbrasileiroinfantil:umestudoexperimental. 2016. 138f. Dissertação (Mestrado em Linguística) –UniversidadedeSãoPaulo,SãoPaulo,2016.

RIZZI,Luigi.Relativizedminimality.MITPress:Cambridge.Mass.1990.

Page 186: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

172

______.TheFineStructureoftheLeftPeriphery.InElementsofgrammar,HAEGEMAN,Liliane(ed.),Kluwer,1997.p.281-337.

______.Localityandleftperiphery.InBELLETTI,Adriana(ed.),Structuresandbeyond:The cartography of syntactic structures, v. 3, Oxford-New York: OxfordUniversityPress,2004.p.223-251.

ROEPER,Thomas.Universal bilingualism.LanguageandCognition, v. 2, issue3, p.169-186,1999.

______.Multiplegrammars, feature-attraction,pied-piping ,andthequestion isAGRinside TP? In: MÜLLER, N. (ed.) (In)vulnerable domains in multilingualism.Amsterdam:JohnBenjamins,2003.p.335-360.

SANTOS,RaquelS.Categorias sintáticasvaziase retraçãodeacentoemportuguêsbrasileiro.DELTA,p.67–86.2002.

______.Traces,proandstressretractioninBrazilianPortuguese.JournalofPortugueselinguistics,n.2,p.101–113.2003.

SAUERLAND, Uli. Two structures for English restrictive relative clauses. In:Proceedings of the Nanzan GLOW, eds. SAITO, Mamoru et alli, NanzanUniversity,Nagoya,Japan.2000.

SCHACHTER,Paul.FocusandRelativization.Language,v.49,issue1,p.19-46,1973.SHLONSKY,Ur.Resumptivepronounsasalastresort.Linguisticinquiry,v.23,n.3,p.

443-468.1992.TARALLO, Fernando. Relativization strategies inBrazilian Portuguese. 1983. 273f.

Tese(DoutoradoemLinguística)―UniversityofPennsylvania,Pennsylvania,Philadelphia,1983.

UTZERI, Irene. The production and the acquisition of subject and object relativeclauses inItalian:acomparativeexperimentalstudy.Nanzan linguistics.v.1,SpecialIssue3,p283-313.2007.

VERGNAUD, Jean Roger. French relative clauses. 1974. 288f. Tese (Doutorado emLinguística)–MassachusettsInstituteofTechnology,Cambridge,1974.

VIVANCO,KarinCamolese.Oraçõesrelativasemkaritiana:umestudoexperimental.2014. 117f. Dissertação (Mestrado em Linguística) ― Universidade de SãoPaulo,SãoPaulo,2013.

VIVANCO,KarinCamolese&PIRES,AlineHelena.AquisiçãoderelativasdeobjetonoPortuguês Brasileiro.Anais do VIII ENAL / II EIAL Encontro Inter/NacionalsobreAquisiçãodaLinguagem.v.1,p.15-22,2011.

______. Resumptive NPs in Brazilian Portuguese acquisition. Proceedings of IXWorkshoponFormalLinguistics2012,RiodeJaneiro,2013.

Page 187: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

173

Anexo:Estímulosutilizadosnoexperimento_______________________________________________________________________________________________

Relativasdeobjetodireto

Ameninaempurrouocachorro,eameninaabraçouocachorro.Qualcachorrovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])

Ameninamolhouomenino,eameninasujouomenino.Qualmeninovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])

Ocachorromordeuamulher,eocachorrolambeuamulher.Qualmulhervocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])

Omeninoempurrouacaixa,eomeninolevantouacaixa.Qualcaixavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])

Page 188: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

174

Omeninosujouabicicleta,eomeninomolhouabicicleta.Qualbicicletavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])

Ameninalambeuosorvete,eameninamordeuosorvete.Qualsorvetevocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])

Aquiaondaderrubouomenino,eaquiaondasómolhouomenino.Qualmeninovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])

Oaspiradorlimpouacachorra,eoaspiradorengoliuacachorra.Qualcachorravocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])

Page 189: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

175

Ofuracãoderrubouacoruja,eofuracãolevouacoruja.Qualcorujavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])

Oaspiradorengoliuatoalha,eoaspiradorsólimpouatoalha.Qualtoalhavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])

Ofuracãodestruiuacasa,eaquiofuracãolevouacasa.Qualcasavocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])

Achuvaderrubouovaso,eachuvamolhouovaso.Qualvasovocêescolhe?(Obj.Direto|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])

Page 190: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

176

Relativasdeobjetopreposicional

Ameninacolocouochapéunomenino,eameninatirouochapéudomenino.Qualmeninovocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])

Omeninofaloucomamenina,eomeninodançoucomamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])

Omeninocontouumahistóriaparaamenina,eomeninomostrouumafiguraparaamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[+animado])

Omeninofaloucomaboneca,eomeninodançoucomaboneca.Qualbonecavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])

Page 191: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

177

Omeninocolocouacordanacaixa,eomeninotirouacordadacaixa.Qualcaixavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])

Omeninocontouumahistóriaparaaboneca,eomeninomostrouumafiguraparaaboneca.Qualbonecavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[+animado]/Obj.[-animado])

Ocomputadortocouamúsicaparaamenina,eocomputadormostrouovídeoparaamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])

Oventotrouxeopapelparaamenina,eoventolevouopapeldamenina.Qualmeninavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])

Page 192: leal.fflch.usp.brleal.fflch.usp.br/sites/leal.fflch.usp.br/files/u87/2017_Marcelo... · MARCELO MARQUES RANGEL O traço de animacidade e as estratégias de relativização em português

178

Aondatrouxeagarrafaparaovelho,eaondalevouagarrafadovelho.Qualvelhovocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[+animado])

Oventobalançouopneudaárvore,eoventoarrancouopneudaárvore.Qualárvorevocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])

Aondatrouxeoremoparaobarco,eaondalevouoremodobarco.Qualbarcovocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])

Oventotrouxeoaviãodepapelparaamesa,eoventolevouoaviãodepapeldamesa.Qualmesavocêescolhe?(Obj.Prep.|Suj.[-animado]/Obj.[-animado])