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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
LEANDRO PEREIRA GONÇALVES
NACIONALISMO E CONSERVADORISMO: A GÊNESE, O
DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DE PLÍNIO SALGADO E A
INFLUÊNCIA LUSITANA NO INTEGRALISMO
Juiz de Fora
2010
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
LEANDRO PEREIRA GONÇALVES
NACIONALISMO E CONSERVADORISMO: A GÊNESE, O
DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DE PLÍNIO SALGADO E A
INFLUÊNCIA LUSITANA NO INTEGRALISMO
Monografia elaborada pelo acadêmico
Leandro Pereira Gonçalves, como exigência
do curso de graduação em História
(Bacharelado) da Universidade Federal de
Juiz de Fora, sob a orientação da Professora
Doutora Cláudia Maria Ribeiro Viscardi.
Juiz de Fora
2010
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………………………………...…………….....……... 4
1. HISTORIOGRAFIA INTEGRALISTA ………….…..................…........…. 8
1.1 INVESTIGAÇÕES SOBRE O INTEGRALISMO ................................... 9
1.2 O DESENVOLVIMENTO DO INTEGRALISMO E DA
INTELECTUALIDADE DO “CHEFE” NA REPÚBLICA
BRASILEIRA .............................................................................................. 16
1.3 O PENSAMENTO CRISTÃO-CONSERVADOR-NACIONALISTA DE
PLÍNIO SALGADO ................................................................................... 29
CONCLUSÃO ....................................................................................................... 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 47
4
INTRODUÇÃO
Numa aldeia indígena da Amazônia, uma índia se casa com um importante
cacique. No princípio, não havia noite – ela estava adormecida no fundo das águas
– mas somente dia. A filha da Cobra-Grande (pajé) casou-se com um cacique muito
bom e bonito que possuía três servos muito fiéis. Como a moça não queria dormir
com o marido, pois a noite jamais chegaria; o moço ordena aos três servos que se
dirijam, pelo rio, à casa do pai dela, o qual tinha o poder de criar as trevas. Ao
chegar à habitação da Cobra-Grande, este lhes entrega um caroço de tucumã, bem
fechado, com proibição expressa aos condutores de não abri-lo. Mas o caroço
emitia diversos ruídos e sons de animais que viviam nas trevas. Não suportando a
curiosidade, um dos índios resolve abrir o coco. Imediatamente, tudo se transforma
em trevas. A índia percebe o que ocorreu, retira um fio de seus cabelos e, segurando
nas suas extremidades, atravessa com ele a escuridão e consegue dividir o dia e a
noite. Como castigo, os servos são transformados em macacos por toda a
eternidade. Essa lenda indígena tupi, proveniente do Norte do Brasil, conta como se
deu o nascimento da noite e mostra as consequências da desobediência humana.
Quando se estuda o integralismo e o pensamento ideológico de Plínio
Salgado, é necessário recorrer a lendas e mitologias por uma forte razão: os líderes
integralistas dirigiam-se à sociedade supondo que, entre os cidadãos, existiam
pessoas apavoradas que teriam a solução para salvar essa sociedade. Os discursos
eram sempre mitológicos com um forte teor espiritualista. Os integralistas não
teriam existido sem a criação de inúmeros mitos sobre o medo, tendo por trás desse
discurso político a aceitação das palavras de Plínio Salgado, pensamento que é
seguido inclusive após a morte do líder em 1975, promovendo grandes resquícios
em pleno século XXI.1
1 Após a morte de Salgado, os antigos militantes, iniciaram um processo de luta pela manutenção da
memória do integralismo. Entre os anos de 1975 e 1988, os ex-militantes da AIB e do PRP atuaram
principalmente na publicação de artigos em defesa do movimento. Em 1981 foi fundada a Casa de
Plínio Salgado na capital paulista, com o objetivo de preservar a memória do Chefe. No ano de
1983, o ex-militante e advogado Anésio Lara Campos Júnior registrou a Ação Nacionalista
Brasileira, porém sem continuidade ou aderência expressiva. Em 1985, outra tentativa de
reestruturação que cria uma nova AIB e torna-se seu primeiro presidente. Durante o decorrer da
década de 1980 os conflitos entre os “herdeiros” da doutrina se acentuam. De um lado, liderados
pela viúva do Chefe, estavam aqueles que não concordavam com o que consideravam “usurpação”
da legenda da AIB por Anésio. De outro, o então presidente da AIB que, se recusava a abrir mão da
liderança. Nessa ocasião, tentaram reorganizar o integralismo através dos Centros Culturais que
reunia alguns grupos nacionalistas, mas não necessariamente seguidores diretos do integralismo.
5
Para compreender o discurso dos integralistas, é fundamental ter em mente
que eles falavam para um público considerado inseguro, medroso e à espera de um
grande líder que lhes oferecesse proteção. Posicionavam-se como se soubessem as
causas dos males do mundo moderno. Supunham que era possível impedir que a
nação entrasse num futuro perigoso. Como na lenda indígena, os integralistas
achavam que as trevas estavam sobre o Brasil, o caroço de tucumã estava aberto e
os males imperavam sobre a sociedade. E eles, os integralistas, através da palavra
do líder Plínio Salgado, em tom profético e espiritual, colocavam-se como os
únicos capazes de fechar o coco e colocar ordem no Brasil.
A formação do movimento integralista brasileiro deu-se no início da década
de 1930, sob a liderança do escritor e jornalista Plínio Salgado. Em outubro de
1932, o escritor divulgou o Manifesto de Outubro2, propondo a formação de um
grande movimento nacional.
A organização política registrou-se sob a denominação de Ação Integralista
Brasileira. Com uma organização liderada pelo jornalista e escritor, Plínio Salgado
que era colocado como Chefe Nacional do movimento, todos os demais membros
tinham que jurar obediência às suas ordens, sem discussão. A AIB mantinha uma
organização paramilitar e utilizava diversos elementos identificadores, como o uso
obrigatório de uniforme (camisa-verde), a adoção da letra grega Sigma () como
símbolo do movimento e da saudação indígena Anauê, que significa “você é meu
irmão”.
Alguns deles pertenciam ao movimento “Carecas” do Rio de Janeiro e do ABC em São Paulo. A
relação entre os “Carecas” e o integralismo vem desde a década de 1980, através de Anésio Lara
Campos Jr, que os “acolheu” na recém-fundada AIB. No novo século, as ações ocorrem
principalmente a partir de 2004, quando em dezembro reuniram-se os grupos dispersos que tentavam
dar uma unidade ao integralismo. O 1 Congresso Integralista para o Século XXI que tinha como
objetivo a tentativa de reorganizar a AIB foi um fracasso, pois sem acordo, houve uma ruptura. De
um lado, a FIB (Frente Integralista Brasileira), que defende a interpretação fiel da doutrina,
seguindo, de forma inquestionável, as diretrizes apontadas por Plínio Salgado. De forma antagônica
coloca-se o MIL-B (Movimento Integralista Linearista do Brasil) que sustenta uma interpretação,
seguindo uma interpretação filosófica própria do grupo. A Ação Integralista Revolucionária se
coloca como a aglutinadora dos grupos dispersos. e defende a via revolucionária para alcançar o
poder. CARNEIRO, Márcia. Do Sigma ao Sigma – entre a anta, a águia, o leão e o galo – a
construção de memórias integralistas. Tese de Doutorado (História), Niterói: Universidade Federal
Fluminense, 2007. 2 O Manifesto de Outubro é composto por dez capítulos: Concepção do universo e do homem; Como
entendemos a nação brasileira; O principio de autoridade; O nosso nacionalismo; Nós, os partidos e
o governo; O que pensamos das conspirações e da politicagem de grupos e facções; A questão social
como a considera a Ação Integralista Brasileira; A família e a nação; O município centro das
famílias célula da nação e O Estado Integralista. SALGADO, Plínio. Manifesto de outubro de 1932.
São Paulo: Voz do oeste, 1982b, p.3-18.
6
O integralismo atacava o liberalismo, os partidos políticos e o parlamento,
considerando a democracia liberal como destruidora da alma nacional e responsável
pela disseminação do comunismo, inimigo maior a ser combatido. Apresentando-se
como um movimento de despertar da nação, o integralismo canalizava para a ação
política, as angústias e temores dos setores médios, constituindo-se como
instrumento de sua incorporação ao processo político. O perigo comunista da
revolução soviética e as mobilizações do proletariado acentuaram o temor de
proletarização dos setores médios, universo em que o integralismo recrutava a
maior parte de seus militantes.
Para os integralistas, o caroço de tucamã havia sido aberto no Brasil.
Quando isso aconteceu, espalharam-se os males: o liberalismo e o comunismo,
responsáveis por todos os desvios da humanidade e, para solucionar os problemas,
Plínio Salgado com um discurso não linear, pregava uma doutrina nacionalista com
desvios da composição, de acordo com o momento em que ela fora desenvolvida.
O pensamento intelectual de Plínio Salgado pode ser visto em cinco fases. A
primeira diz respeito ao momento antecessor à fundação do movimento integralista,
em que era encontrada uma fala de alto teor cultural, principalmente no momento
das agitações modernistas, além da presença de um alto valor político-religioso,
resultado das influências sofridas com o meio social existente na década de 20. A
presença de uma política baseada em um cunho cristão será ponto fundamental na
criação da concepção de política para Plínio Salgado.
O segundo período ocorre na ocasião da fundação e desenvolvimento do
movimento integralista, pois com um discurso agressivo e intenso, direcionou o
pensamento de milhares de pessoas pelo país. O terceiro momento ocorre em
Portugal na ocasião do exílio, em que sua doutrinação sofre uma influência
significativa de movimentos conservadores lusitanos. O quarto período ocorre na
ocasião do retorno ao Brasil com a fundação do Partido de Representação Popular,
uma tentativa de incluir o pensamento autoritário integralista dentro de um contexto
democrático que o Brasil passou a exercer após o Estado Novo. Por fim, o quinto
momento em que aparece com uma fala fraca e terminal, (assim como o partido que
era filiado, a ARENA - Aliança Renovadora Nacional, que era muito mais bode
7
expiatório do que partido político)3 que corresponde ao período parlamentar no
regime militar.
O estudo terá como foco central a primeira fase da política do pliniana, uma
vez que a proposta é discutir e visualizar a momento de criação e formação do
pensamento político-ideológico daquele que virou na década de 1930 uma
referencia para a política da extrema-direita brasileira.
3 Cf. GRINBERG, Lucia. Partido Político ou bode expiatório: um estudo sobre a Aliança
Renovadora Nacional – ARENA (1965-1979). Rio de Janeiro: Mauá X, 2009.
8
1. HISTORIOGRAFIA INTEGRALISTA
Há aproximadamente vinte anos, se alguém chegasse a algum centro de
discussão investigativa e dissesse que era um pesquisador do integralismo, sem
dúvida seria visto com um ar de desconfiança, principalmente por ser um momento
em que o historiador tinha uma preocupação exaustiva com a História Social e
Econômica, não havia um olhar para a História Política. Analisar o movimento
integralista e suas relações no meio acadêmico, é algo relativamente novo, mas está
dentro de um contexto de franca ascensão.
Ao falar do integralismo, pensa-se inicialmente em relações de práticas
autoritárias e ditatoriais com atrelamentos fascistas, mas na verdade é possível
identificar diversas outras questões dentro do movimento que pode ser considerado
um dos grandes objetos de estudos da política do século XX, principalmente pelo
forte crescimento nos anos 1930 através da Ação Integralista Brasileira (AIB). A
continuidade da militância em um momento em que tais práticas não eram comuns
após a Segunda Guerra Mundial com do Partido de Representação Popular (PRP) é
algo que merece atenção, pois teve a capacidade de sobreviver na política por duas
décadas. Com a dissolução do PRP, pensou-se que determinadas fontes ideológicas
seriam extintas, mas a presença de um governo ditatorial no Brasil e a manutenção
dos componentes ideológicos nacionalistas de cunho autoritário permaneceu,
influenciando assim, o surgimento dos denominados neointegralistas, que vem
provar ao cidadão do século XXI que ideologias reacionárias e a semente da
intolerância ainda estão presentes no nosso meio.
A partir dos anos 1970 até a última década do século XX houve um
crescimento significativo das pesquisas sobre o integralismo. O período inicial da
década de 70 é visto como um período de fertilidade, mas sem ainda contar com a
participação direta dos historiadores, que ainda não enxergavam a política como
elemento crucial da pesquisa acadêmica. O integralismo não era visto como algo
histórico, o que é estranho, pois em plena década de 1970, quase 40 anos após a
fundação da AIB, os pesquisadores não visualizavam o tema como algo de
importância para compreender o desenvolvimento político do século XX, assim, tal
função ficou a cargo das Ciências Sociais.
9
1.1) INVESTIGAÇÕES SOBRE O INTEGRALISMO
Alguns membros das ciências sociais, como Florestan Fernandes
enxergavam na década de 70 alguma importância em compreender o integralismo,
mas não pelo movimento, mas pela relação política de defesa pautada em um
governo burguês para o Brasil, segundo o sociólogo, um Estado de direito burguês
no momento do regime militar
Hoje está na moda dizer-se que se deve estudar o integralismo. Não
compartilho dessa opinião. Nem mesmo devemos nos preocupar em
destrui-lo. Os integralistas desempenharam o papel histórico de
cavalheiros de triste figura no seio do pensamento conservador e dentro
da burguesia. Se merecem atenção não é tanto por eles próprios, quanto
pelo fato de que o pensamento conservador e a burguesa dependente da
periferia do mundo capitalista tenham precisado deles.4
O ponto de partida da pesquisa acadêmica é o estudo que foi realizado pelo
cientista político Hélgio Trindade nos anos de 1967 a 1971 na Université Paris 1
(Panthéon-Sorbonne) denominado: L´Action intégraliste brésilienne: un
mouvement de type fasciste au Brésil. Com a conclusão, a tese foi traduzida e
publicada no Brasil em 19745 sob o título: Integralismo: o fascismo brasileiro na
década de 30. Este estudo promoveu a entrada da temática no meio acadêmico,
sendo responsável por tornar conhecido o movimento, além de ter sido alvo de
novas interpretações.
Após o citado trabalho, houve o desenvolvimento de novas pesquisas acerca
do integralismo dentro das ciências sociais, trabalhos que tiveram como aporte a
crítica a tese do Hélgio Trindade. A primeira a contrapor foi o clássico estudo de
José Chasin que no ano de 1977, sob a orientação do Professor Maurício
Tragtenberg na Escola de Sociologia e Política defendeu em São Paulo a tese de
doutoramento: O Integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade no
capitalismo hiper-tardio. Nela criaram-se novas concepções para analisar o
integralismo de Plínio Salgado, questão que provocou diversos debates entre o
4 FERNANDES, Florestan. Prefácio. In: VASCONCELLOS, Gilberto. Ideologia curupira: análise
do discurso integralista. São Paulo: Brasiliense, 1979, p.11. 5 João Fábio Bertonha na obra: Bibliografia orientativa sobre o integralismo (1932-2007) informa
que a data de publicação no Brasil foi 1975 (p.3), já no corpus das referências, informa que foi em
1974 (p.74). A data oficial, segundo o próprio Hélgio Trindade é 1974, data de lançamento da obra
em questão no Brasil.
10
autor e Hélgio Trindade. A tese foi publicada no ano de 1978 com o mesmo título e
é considerada um dos principais elementos da historiografia contemporânea com o
intuito de analisar o pensamento de Plínio Salgado dentro de uma concepção
dialética lukacsiana.
No mesmo ano de 1977, ocorreu na Universidade de São Paulo a defesa da
tese de doutorado: Ideologia curupira: análise do discurso integralista, escrita pelo
cientista social, Gilberto Felisberto Vasconcellos. Publicada em 1979, criou sob a
orientação do Professor Doutor Gabriel Cohen, uma terceira via de análise do
pensamento integralista, remetendo a questões relacionadas ao movimento
modernista, grupo que pertenceu o líder da AIB, Plínio Salgado.
Fechando as pesquisas e leituras referentes ao integralismo na década de
1970, tem-se o estudo da filósofa Marilena Chauí, que no livro: Ideologia e
mobilização popular, escreveu o capítulo Apontamentos para uma crítica da Ação
Integralista Brasileira. Datado de 1978, a autora, promove a continuidade da
criação de novos modelos interpretativos do integralismo e embasada no marxismo
faz um estudo com base nas classes contidas no movimento.
A discussão do integralismo no âmbito regional também foi alvo de
pesquisas na década de 1970, como pode ser observado por Bertonha. Na Ciência
Política, René Gertz defendeu em 1977 na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul a dissertação: O integralismo e os teuto-brasileiros no Rio Grande do Sul,
influência direta do precursor dos estudos, Hélgio Trindade que foi orientador da
pesquisa.
A quadríade (Trindade, Chasin, Vasconcellos e Chauí) passou a ser ponto de
referência essencial para o estudo do movimento integralista, influenciando de
forma direta os estudos, mas ainda contidos nas ciências sociais e filosofia.
Somente em meados da década de 1980, a AIB passou a ser analisada, de forma
tímida, dentro da academia histórica. Como foi mencionado, a História ainda não
colocava a AIB como objeto de análise. Crê-se que esta opção caminhava ao lado
das fortes relações do meio com o pensamento marxista e até mesmo pela Escola
dos Annales, que não viam a História Política, ainda mais uma temática de cunho
conservador, como algo necessário na ocasião.
No século XXI, somente nos seis primeiros anos do novo século 283
pesquisas foram realizadas sobre o tema, um número superior ao somatório das
11
produções das décadas de 1980 e 1990.6 No novo século, com a passagem do tempo
e alterações metodológicas, a História Política passou a ter importância nos
diálogos e a busca de novos temas, principalmente com a explosão dos cursos de
pós-graduação que fez do integralismo uma prática de pesquisa recorrente, mas
ainda vista com certo ar de preconceito em determinados segmentos. O avanço
historiográfico ainda demonstra a vitalidade das análises realizadas na década de
70, tornando-as composições referenciais para o estudo em questão.
A primeira grande obra acadêmica Integralismo: o fascismo brasileiro na
década de 30, de Hélgio Trindade, acabou se constituindo em um grande estímulo
para outros cientistas. O autor propõe a análise da ideologia do movimento, assim
como as razões de seu nascimento e de sua expansão política pelo Brasil. Ele situa a
AIB no contexto social, político e econômico brasileiro, comparando-a ao fascismo
a influência do fascismo europeu foi sem dúvida, crucial na
configuração da AIB enquanto movimento político.[...] o estudo da
Ação Integralista nos leva a concluir que os aspectos centrais de sua
ideologia, a forma de organização altamente hierarquizada, o estilo
carismático e autocrático não se podem explicar sem a influência do
modelo europeu de referência externo.7
Hélgio Trindade dá ainda uma grande ênfase à formação política e
intelectual de Plínio Salgado, passando pela sua aventura literária. No segundo
capítulo da obra, o autor analisa o engajamento ideológico no modernismo. A
análise de Hélgio Trindade estabelece sempre o paralelo crítico entre a doutrina e o
romance
Sua obra romanesca, escrita em pleno período modernista, estabelece a
ponte entre sua atividade de escritor e de ideólogo político, A
publicação, em 1926, do romance O estrangeiro, fixa o marco inicial da
mutação ideológica do futuro chefe integralista. [...] Essa série de livros
são reveladores do tipo de concepção de Plínio sobre a situação
econômica, social e política dos anos 20. Eles refletem sua inquietação
com as contradições de uma sociedade em transição e a fonte de onde
brotam e se elaboram alguns dos temas fundamentais da ideologia
integralista.8
6 BERTONHA, João Fábio. Bibliografia orientativa sobre o integralismo (1932-2007).Jaboticabal:
Funep, 2010. 92p. 7 TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. Porto Alegre:
Difel/UFRGS, 1979, p. 278. 8 idem, ibidem, p.48-49.
12
O objetivo de Hélgio Trindade não é realizar análises literárias – a utilização
de citações dos romances servirá apenas para explicar a formação política de Plínio
Salgado
A obra de José Chasin, O Integralismo de Plínio Salgado: forma de
regressividade no capitalismo hiper-tardio, parte do pressuposto de que a crítica do
integralismo tem defendido a idéia de que a inspiração junto ao fascismo é direta e
total. O autor procura oferecer uma explicação alternativa para o fenômeno. Chasin
esclarece que sua obra busca caracterizar a individualidade do movimento
integralista, que tem como objetivo negar sua identidade com relação ao fascismo
europeu.
José Chasin conclui que o integralismo não seria um tipo de fascismo,
como supõe a maior parte dos pesquisadores. Ao contrário disso, seria uma
ideologia utópica, isto é, uma forma de regressão que ocorre em uma fase do
capitalismo brasileiro designada por ele como hiper-tardio. Na década de 1930,
a sociedade brasileira não possuía condições objetivas para o surgimento de
movimentos fascistas.
As conclusões de Chasin são pautadas nos livros de Plínio Salgado, entre
eles os romances. A forma de pensar o integralismo é oposta ao pensamento de
Hélgio Trindade, mas a posição atribuída à análise literária é a mesma. Os
romances servem apenas para compreender o pensamento pliniano: “Salgado, ao
longo de toda a sua obra, confere ao movimento modernista a condição de estágio
inicial do ideário integralista, e O estrangeiro o caráter de seu primeiro manifesto.”
9
Como mencionado anteriormente, a tese de Gilberto Vasconcellos sobre o
integralismo – em Ideologia curupira: análise do discurso integralista – propõe
que a ausência de uma autodeterminação cultural no Brasil aproxime o integralismo
do contexto europeu. Portanto, a presença de um capitalismo periférico de grande
dependência fez com que o integralismo não adotasse a mesma ideologia fascista.
A partir disso, o autor se propõe a identificar a especificidade do discurso totalitário
periférico.
9 CHASIN, José. O integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade no capitalismo hiper-
tardio. Belo Horizonte: Una, 1999, p.173.
13
Para Vasconcellos, a influência existe, mas a afirmação de que o
integralismo segue as características fascistas não deve ser feita devido à ausência
do capitalismo hegemônico. O autor questiona a especificidade do discurso
integralista relacionando-o com o fascismo
Então em que região de seu discurso estaria refletida marca de nossa
experiência sócio-cultural? Ainda que tenha havido condições internas
favoráveis à emergência de um movimento fascista no Brasil dos anos
30 (o que é bastante discutível, pois faltou aqui seu pré-requisito
essencial: a organização política da classe operária), isso não invalida de
forma alguma o caráter meramente reflexo do integralismo. Apresentá-
lo como uma ideologia eclética para designar o fato de ter ele se
abeberado das mais diversas fontes, nacionais e estrangeiras, como o fez
Trindade, acaba de por deixar no ar a questão de sua especificidade,
posto que todo discurso fascista ostenta ineludivelmente – quer floresça
numa país hegemônico ou periférico – uma salada teórica, isto é, uma
ideologia heteróclita em virtude de seu extremado irracionalismo.10
Gilberto Vasconcellos tem como objetivo analisar a relação ideológica do
discurso integralista, sempre promovendo suas diferenças no contexto nacional: “o
integralismo é visto como um fascismo aculturado”11. Mostra, a todo momento, a
negação dos integralistas a aceitar a relação ideológica européia, devido à força
nacionalista: “Eles negavam de pés juntos o rótulo de copiadores do fascismos
europeus”12. A influência é inegável, assim como a falta de originalidade do
pensamento ideológico de Plínio Salgado.
Na pesquisa Em busca do sigma: estudo sobre o pensamento político de
Plínio Salgado às vésperas da fundação da AIB, Maria do Pilar de Araújo Vieira
realiza um estudo de extrema importância para o desenvolvimento analítico da
fundação do integralismo, uma vez que o trabalho marca a presença jornalística de
Plínio Salgado no momento antecessor da fundação do movimento em 1932,
desenvolvendo, assim, a teoria política integralista.13
No ensaio Apontamentos para uma crítica da Ação Integralista Brasileira,
Marilena Chauí apresenta um exame da ideologia do movimento. A autora propõe a
investigar as práticas discursivas do integralismo tendo como vista o seu receptor.
10 VASCONCELLOS, Gilberto. A ideologia curupira: análise do discurso integralista. São Paulo:
Brasiliense, 1979, p. 49-50. 11 idem, ibidem, p.46. 12 idem, ibidem, p.47. 13 Cf. VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo. Em busca do sigma: estudo sobre o pensamento político
de Plínio Salgado às vésperas da fundação da AIB. Dissertação de Mestrado (História), Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 1978.
14
Ao analisá-las, verifica que o destinatário do discurso integralista é a classe média
urbana, classe essa convocada não apenas para ser militância, mas, sobretudo, para
exercer papel de precursor mais consciente e combativo do movimento.
Para Marilena Chauí não é preciso saber se o integralismo é uma
semelhança do fascismo ou não, o que importa são suas ideias implantadas dentro
do Brasil na situação política e econômica existente
Torna-se de menor importância saber se houve importação dos
fascismos europeu, pois o que interessa compreender é que importando
ou não idéias que não poderiam espelhar a situação brasileira, as
formulações integralistas exprimiram, na forma da construção pura, a
verdade do nacionalismo como política autoritária, mesmo quando os
militantes aderiram a AIB pelo medo do comunismo ou pelo anti-
liberalismo.14
Ricardo Benzaquen de Araújo, na obra Totalitarismo e Revolução: o
integralismo de Plínio Salgado, tem como objetivo privilegiar a análise da
ideologia integralista através de um debate entre conservadorismo e totalitarismo. O
integralismo, segundo o autor, se aproximaria do pensamento conservador em sua
crítica ao liberalismo, à burguesia e ao individualismo. Ao pesquisar as obras de
Plínio Salgado e ao aproximar o conservadorismo e o totalitarismo, percebe-se que
esta totalidade representa outra forma de abordagem. Nela, a sociedade civil seria
absorvida pelo Estado, restando apenas organizações consideradas naturais, como
família e a corporação profissional
A própria análise de Plínio, então, ao trabalhar com uma noção
autoritária de totalitarismo, acaba involuntariamente por confirmar a
pertinência do outro sentido deste conceito para a sua interpretação. E
isto ganha maior relevância se nos lembrarmos que, sustentado numa
leitura totalitária de tradição católica, o integralismo de Plínio
praticamente não comporta nenhuma proposta de reorganização
econômica da sociedade.15
14 CHAUÍ, Marilena. Apontamentos para uma crítica da Ação Integralista Brasileira. In: ______;
FRANCO, Maria Sylvia Carvalho. Ideologia e mobilização popular. São Paulo: Paz e Terra, 1985.
p. 116. 15 ARAÚJO, Ricardo Benzaquem de. Totalitarismo e Revolução: o integralismo de Plínio Salgado.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988, p.98.
15
As análises mostram as várias interpretações e teorias existentes sobre Plínio
Salgado, além de sua ideologia com pretensões nacionalistas. Entretanto,
independentemente da visão, a influência político-ideológica na sociedade
brasileira na década de 1930 é inegável, portanto a necessidade de compreender as
principais vertentes referentes ao tema.
16
2. O DESENVOLVIMENTO DO INTEGRALISMO E DA
INTELECTUALIDADE DO “CHEFE” NA REPÚBLICA BRASILEIRA
A participação de Plínio Salgado na Semana de Arte Moderna de 1922 foi
decisiva para sua formação intelectual e política, sendo responsável pelo
amadurecimento de suas convicções ideológicas. Foi por meio do movimento
modernista que ele consolidou a configuração de suas idéias políticas sobre o
Brasil. A questão do nacionalismo cultural e político passou a ser o ponto mais
marcante entre os intelectuais e artistas após a Semana de 22.
Foi neste período que ocorreu a ascensão do ultra-nacionalismo europeu, o
fascismo de Benito Mussolini, do qual participaram vários artistas futuristas, como
Marinetti. No Brasil a estrutura republicana do período fazia com que o sentimento
de nacionalidade fosse exalado nos setores políticos. Nesse contexto que ocorreria a
consolidação do pensamento nacionalista defendido por Plínio Salgado. Portanto,
essa ideologia acaba por ser uma conseqüência do cenário nacional da República
Brasileira, e para isso torna-se necessária uma análise de todo o processo de
consolidação da República e os interesses que estão por trás desta formação.
A idéia de República, que tem sua origem na derivação grega, fundamenta-
se na composição de um regime em que a vida ocorre em um lugar comum, em
uma sociedade compartilhada, sendo esta a base do argumento republicano.
Segundo os gregos, o indivíduo é capaz de dominar o público com algumas
ações, iniciando pela solidariedade que – valor que deveria ser aplicado pela
política – e tendo na liderança uma pessoa virtuosa que deixa seus interesses de
lado para governar e ser solidário.
Como a virtude é uma qualidade pouco vista na sociedade contemporânea,
sendo praticamente inexistente, Platão apresenta uma solução para o problema: a
criação da lei, sendo esta a garantia de harmonia na vida comum. Assim, a
República é um sistema político que depende da lei.
Surge um novo questionamento: e se a lei apresentar alguma falha? É
necessário aplicar uma nova forma de ação política, que é a formação de um
governo por meio dos interesses, que é quando algo ocorre para beneficiar alguém.
Este jogo político de interesses passa a ser a base da República Brasileira e ocorre
com o objetivo de beneficiar alguém ou algum grupo. Portanto, o inimigo da
República pode ser apontado como o patrimonialismo, que é o furto do patrimônio
17
público pelo governante, sendo este o principal mal da República, que tem sua
concepção inicial ferida. É este molde político que se formará no Brasil a partir do
final do século XIX: uma República patrimonialista.
Seguindo a sociologia weberiana, Sérgio Buarque de Holanda aponta que o
Estado brasileiro é um prolongamento do poder do pater-familias na política:
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade
[...] compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do
privado e do público. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que
separa o funcionário ‘patrimonial’ do puro burocrata conforme a
definição de Max Weber. Para o funcionário ‘patrimonial’, a própria
gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as
funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a
direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como
sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a
especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias
jurídicas aos cidadãos.16
Seguindo esta mesma teoria weberiana, Raymundo Faoro apresenta:
A realidade histórica brasileira demonstrou a persistência secular da
estrutura patrimonial, resistindo galhardamente inviolavelmente, à
repetição, em fase progressiva, da experiência capitalista. [...] Num
estágio inicial, o domínio patrimonial, desta forma constituído pelo
estamento, apropria as oportunidades econômicas de desfrute dos bens,
das concessões, dos cargos, numa confusão entre o setor público e o
privado.17
Neste contexto ocorreu a implantação de um regime político que atendesse
aos interesses dos “novos atores políticos” que entram em cena no Brasil. O regime
em questão é a República, e pode-se concluir que ela teria a sua formação sob a
tutela dos donos do poder, que colocariam os seus interesses privados dentro do
aparelho estatal. Mesmo se tratando de grupos dominantes, as divergências entre
eles sobre qual modelo implantar no Brasil passa a ser um debate incansável nos
primeiros tempos de República
as raízes da República devem ser buscadas mais longe e mais fundo, o
ato de sua instauração possui valor simbólico inegável. Não foi por
16 HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p.145-
146. 17 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo:
Globo, 2001, p.822-823.
18
outra razão que tanto se lutou por sua definição histórica. Deodoro,
Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Floriano Peixoto: não há
inocência na briga pela delimitação do papel de cada um dessas
personagens. Por trás da luta, há disputa de poder e há visões distintas
sobre a natureza da República.18
A Primeira República terá seu início com os governos militares do Marechal
Deodoro da Fonseca e do Marechal Floriano Peixoto. Em 1894 é eleito o primeiro
presidente civil do Brasil, Prudente de Morais, um cafeicultor paulista que inicia o
período conhecido como República Oligárquica – uma decorrência do Estado
burguês com vertente patrimonialista em que o poder de fato estará presente nas
fazendas cafeeiras dominadas pelos chefes locais, denominados coronéis. O poder
incalculável desses coronéis dará a tônica deste período que vai até o ano de 1930 e
é portanto, um sistema político que liga o chefe local ao presidente da república,
envolvendo reciprocidades políticas:
Nessa concepção, o coronelismo é então, um sistema político nacional,
baseado em barganhas entre o governo e os coronéis. O governo
estadual garante, para baixo, o poder do coronel sobre seus dependentes
e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos públicos,
desde o delegado de polícia até a professora primária. [...] O
coronelismo é a fase do processo mais longo de relacionamento entre os
fazendeiros e o governo.19
Como o café era a base econômica que sustentava a aliança entre os grupos
burgueses dominantes, sempre que existia uma crise do café, ocorria uma eleição
competitiva, já que esta crise ocasionava uma disputa entre estas classes
dominantes. Uma das eleições competitivas ocorreu no ano de 1922 e foi causada
por uma série de mudanças econômicas no Brasil. Aos poucos o sistema
oligárquico se mostra esgotado dentro da sociedade política brasileira. Seguindo o
modelo de sucessão pautado na política dos governadores, São Paulo e Minas
Gerais foram articulando a sucessão de Epitácio Pessoa, em 1922, e o escolhido foi
o mineiro Artur Bernardes.
O lançamento desta candidatura gerou uma grande discordância entre as
oligarquias regionais. A insatisfação entre as oligarquias que não eram ligadas ao
18 CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 2005, p.36. 19 CARVALHO, José Murilo de. Pontos e bordados: escritos de história e política. Belo Horizonte:
UFMG, 1999, p.132.
19
café revela o descontentamento com a política de desvalorização cambial e de
endividamento externo para garantir a valorização do produto. O conflito, portanto,
estava ligado à valorização do café que sempre fora a base da República
oligárquica:
Contra essa candidatura levantou-se o Rio Grande do Sul, liderado por
Borges de Medeiros que denunciou o arranjo político São Paulo-Minas
como uma forma de garantir recursos para os esquemas de valorização
do café, quando o país necessitava de finanças equilibradas. Os gaúchos
temiam também que se concretizasse uma revisão constitucional [...]
limitando a autonomia do Estado. Uniram-se ao Rio Grande do Sul a
Bahia, Pernambuco, Estado do Rio [...] formando a Reação Republicana
que apresentou o nome de Nilo Peçanha.20
Essa tentativa de acabar com a força do eixo São Paulo-Minas foi em vão,
pois as manobras políticas e a máquina estatal de voto estavam concentradas nestes
dois estados. Essas eleições competitivas de 1922 ocorreram ainda sob a influência
de um fator externo – o período posterior à Primeira Grande Guerra (1914-1918),
pois a década de 1920 vivia uma crise conjuntural na economia devido às
conseqüências do pós-guerra e, com isso, a periferia, o Brasil, acabou sendo a
maior atingida
O desenvolvimento da crise que alcançou o seu vértice em 1922, explica
a política contraditória de Epitácio Pessoa. Em termos do comércio
internacional, o favorecimento das importações estrangeiras atingia
diretamente o desenvolvimento do surto industrial, além de esgotar as
reservar de divisas proporcionadas pelo saldo favorável deixado pelas
exportações realizadas durante a Guerra. Por outro lado, a pretensão
protecionista na esfera da circulação, já estava previamente
comprometida em seus resultados pela internacionalização da economia
brasileira.21
Vivia-se uma crise generalizada no Brasil, e o período de disputa eleitoral
iria estimular o surgimento de novos movimentos políticos, sociais e culturais: a
eclosão do tenentismo; a fundação do Partido Comunista do Brasil; a criação do
Centro Dom Vital; a Semana de Arte Moderna.
20 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2004, p.305-306. 21 ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. Pequena história da formação social brasileira. Rio de
Janeiro: Graal, 1986, p.552.
20
O tenentismo esteve presente em toda a década de 1920 como um
movimento de contestação da ordem vigente e era encabeçado por jovens oficiais
do exército brasileiro sem relações com a cúpula das forças armadas. O movimento
ocorreu com o objetivo de subversão da ordem e promoção da intervenção militar
no país. A insatisfação dos oficiais menos graduados teve início após a Primeira
Guerra Mundial.
A Primeira Guerra Mundial dera ao Exército brasileiro, que não havia
tido nenhuma experiência de combate externo desde a Guerra do
Paraguai, havia quarenta anos, a bem-vinda oportunidade de fazer lobby
para suas necessidades crônicas. Os comandantes do Exército sabiam
que seu equipamento era obsoleto, e também estavam conscientes de
que seus métodos de treinamento eram inadequados. [...] O fim da
guerra também estimulou novas questões, particularmente entre os
oficiais menos graduados, sobre o fracasso do Brasil em alcançar taxas
de crescimento econômico da Argentina e dos Estados Unidos. [...] Um
grupo particularmente ativo em levantar essas questões perturbadoras
sobre o desenvolvimento do Brasil era o dos oficiais menos
graduados.22
O grupo que defendia a luta contra o sistema existente no Brasil era
favorável a uma mudança, desde que limitada aos seus interesses, característicos da
sociedade pequeno-burguesa, pois suas origens eram provenientes desta camada:
Existe um consenso generalizado em entender o Tenentismo como uma
manifestação da pequena burguesia urbana, especialmente a do setor
militar. Esta origem social explicaria porque nele se reuniram diversas
propostas, às vezes radicais, de reformulação do sistema político,
embora tais propósitos carecessem de unidade programática.23
Ainda em 1922 ocorre o nascimento do Partido Comunista do Brasil (PCB).
Com a imigração italiana o Brasil passou a conhecer, em fins do século XIX, as
idéias anarquistas, fortemente atuantes nas camadas operárias durante todo início
do século XX. Entretanto, os poucos resultados alcançados pelos anarquistas
fizeram com que sua ideologia fosse questionada. É nesse mesmo momento que
ocorre a vitória comunista na Rússia com a da Revolução de Outubro de 1917.
Entusiasmados pelo sucesso do comunismo russo, em 1922, surgiu o Partido
Comunista do Brasil, com o objetivo defender a ditadura do proletariado. Sua
atuação foi limitada pela ilegalidade imposta pelo presidente Artur Bernardes
22 SKIDMORE, Thomas E. Uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p.144-145. 23 ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. op.cit., p.554.
21
Mesmo não tendo grandes ações nos primeiros tempos no Brasil, ideologia
de luta e contestação passaram a ser uma marca do PCB, que desde sua fundação
mostra a ligação com o comunismo russo:
os comunistas brasileiros procuraram logo filiar-se à Internacional
Comunista (IC) e, para isso, enviaram um delegado ao IV Congresso da
organização, realizado em meados de 1922. Mas não conseguiram
tornar-se membros da IC nessa ocasião, ficando apenas como
observadores. Somente no V Congresso da IC, em 1924, é que foram
aceitos como membros com plenos direitos.24
A força de oposição ao governo chega também à Igreja Católica, que, em
1922, iniciou uma série de atuações para impor sua ideologia e seus interesses
políticos à sociedade brasileira. A principal ação da Igreja Católica nesse momento
foi a fundação do Centro Dom Vital, que tinha como objetivo lutar por uma
ideologia anticomunista e antiliberal. Sua intenção era formar um forte grupo
católico com o objetivo catolicizar o Brasil de uma maneira completa. A fundação
do Centro Dom Vital mostra uma forte preocupação da igreja com a formação dos
intelectuais católicos, que seriam os responsáveis por fazer a ligação com a camada
mais baixa da sociedade, impedindo que esses fossem para o lado comunista.
Por fim, em 1922, aconteceu a Semana de Arte Moderna, auge da ruptura
cultural no Brasil. O modernismo no Brasil não foi apenas um movimento artístico,
sendo também representante de uma manifestação contrária à política brasileira.
Existia no Brasil, na década de 1920, um forte movimento com o objetivo de
eliminar da cultura brasileira qualquer tipo de influência estrangeira. A classe
artística buscava formar uma nova civilização, defendendo a verdadeira cultura
brasileira:
Atacavam-se os padrões acadêmicos da poesia parnasiana e da prosa
pós-naturalista e, num sentido mais amplo, a dependência cultural da
produção estética nacional em relação às matrizes européias. Busava-se,
através de uma reavaliação crítica, integrar o folclore à arte, valorizar a
linguagem popular e também as novas formas de apreensão do modo
que a produção estética de vanguarda européia havia realizado. [...]
Desta forma, os conflitos sociais, os problemas humanos da civilização
industrial e as conquistas cientificas faziam a sua irrupção no campo e
na produção artística.25
24 VIANNA, Marly de Almeida G. O PCB, a ANL e as instituições de novembro de 1935. In:
FERREIRA, Jorge; NEVES, Lucília de Almeida. (orgs.) O Brasil republicano. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, v2, p.70 25 ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. op.cit., p.556.
22
A capital paulista passa a viver, no início do século XX, um grande processo
de industrialização com um grande crescimento urbano, fazendo com que a cidade
de São Paulo encontrasse um processo de desenvolvimento tecnológico e de
pioneirismo em várias áreas, sendo a cultura também afetada por esse
desenvolvimento. Com isso, São Paulo torna-se pioneira na arte de contestação
cultural brasileira.
A necessidade deste momento era mostrar mudanças. Os valores burgueses
estavam cada vez mais presentes no Brasil, que passou pelo processo de
implantação destes valores no fim do século XIX. Dentro de um contexto burguês
existe a presença de uma nova classe: a média, que busca o seu espaço dentro da
sociedade burguesa:
Desde o advento da República, a classe média disputava uma parcela do
poder e algumas vezes chegava a conquistá-la. Ao seu impulso,
entretanto, opunha-se violentamente a classe territorial que dominava
inteiramente o sistema de escolha para o Legislativo e para o Executivo,
travando qualquer participação aos novos elementos.26
O movimento modernista surge para servir de base de contestação desses
novos grupos sociais que fazem parte do Estado burguês brasileiro: “O ambiente
que o Movimento Modernista encontrava era dos mais propícios ao irrompimento
de alguma coisa nova.”27 O objetivo do movimento era a defesa dos novos valores
culturais na nova sociedade que estava presente no Brasil:
O que existia de predominantemente pequeno-burguês e nacionalista no
movimento conhecido como modernismo neutralizaria o que tinha de
aristocrático e de velho e de negativo, depurando as suas manifestações
para desembocar no largo estuário do pós-modernismo, quando as
linhas ficariam muito mais claras e os traços pareciam definitivos.28
Após o choque cultural provocado na sociedade brasileira com a Semana, o
seu caráter político mostra-se visível:
Tal como ocorreu em outros setores, as opções políticas dos
modernistas também se manifestaram posteriormente. Se a maioria
26 SODRÉ, Nelson Werneck. História da literatura brasileira: seus fundamentos econômicos. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976, p.523. 27 idem, ibidem, p.524. 28 idem, ibidem, p.531-532.
23
aceitou as mudanças conformando-se com o direcionamento da direita
que lhes foi imprimido, outros como Oswald de Andrade optaram por
um encaminhamento da questão social em termos teóricos marxistas. O
estímulo renovador que fora iniciado pela Semana de Arte Moderna
manifestou-se em outros campos do conhecimento, em particular, o das
Ciências Humanas. Procuravam-se entender as peculiaridades da
Formação Social Brasileira.29
Aos poucos os modernistas começaram a se organizar em grupos
ideológicos e a expressar suas concepções nos manifestos. O primeiro deles foi o
Manifesto da Poesia Pau-Brasil, lançado por Oswald de Andrade em 1924. Nele é
apresentada uma definição de novos princípios para a poesia por meio de uma
revisão cultural do Brasil com a valorização do elemento primitivo. Defende a
assimilação do inimigo estrangeiro para fundi-lo à cultura nacional e busca a
produção de uma síntese dialética que tem como objetivo resolver as questões de
dependência cultural, formuladas tradicionalmente atrás do binômio: nacional e
cosmopolita. O manifesto rejeita as formas cultas e convencionais da arte e defende
o abstracionismo e a recuperação dos elementos autóctones, aliadas às conquistas
tecnológicas do século XX.30
Estas idéias passam a ter a sua radicalização com o lançamento do
Manifesto Antropofágico em, 1928, do mesmo Oswald de Andrade:
Segundo o Manifesto, nossa utopia seria uma volta ao estado primitivo
de pureza, estado em que se vivia longe de compromissos com a ordem
social patriarcal e hierárquica, base da exploração do capitalismo
moderno na visão do autor, longe das formas institucionalizadas de
religião, longe da política e da economia.31
Oswald de Andrade apresenta o manifesto como sendo a síntese das idéias
amadurecidas durante a fase do modernismo brasileiro, tendo como base de
inspiração o Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels. Ele coloca o
objeto estético para o sujeito social e coletivo como centro das preocupações,
propondo um novo perfil do Brasil e sua variedade étnica. Segundo Oswald de
Andrade a descoberta do Brasil pôs fim ao matriarcado primitivo, à propriedade
29 ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. op.cit., p.557. 30 SALGADO, Plínio et al. Nhengaçu verde amarelo: Manifesto do verde-amarelismo ou da Escola
da Anta. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro:
apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 2002,
p.361-367. 31 ALAMBERT, Francisco. A semana de 22: a aventura modernista no Brasil. São Paulo: Scipione,
1999, p.73.
24
comum do solo e ao Estado sem classes defendendo que já existe no Brasil o
comunismo.32
Contra estes manifestos divulgou-se, em 1929, do Manifesto do Verde-
amarelismo. Nele pode ser encontrado um discurso baseado no nacionalismo
cultural e político, inserido no contexto de ascensão dos movimentos totalitários
europeus e inspirado nesses regimes autoritários em que o nacionalismo deste
grupo mostra sua ação, pois, para os intelectuais envolvidos neste manifesto, a
estrutura republicana é incompatível com seus ideais de defesa.
Os principais defensores desta ideologia eram Menotti del Picchia e Plínio
Salgado, dois escritores paulistas que tiveram uma participação na Semana com
suas poesias:
Em sua coluna jornalística, Menotti del Picchia e Plínio Salgado deram
o tom ‘verdeamarelo’ a esse debate. Idealizavam uma cultura xenófoba,
ultra-nacionalista, reticente a toda influência exterior. Na ânsia de
procurar interpretar o Brasil, baseavam-se em mitos que se tornavam
dogmas irracionais; com apelos à Terra, à Raça, ao Sangue. Em nome
de uma suposta integridade nacional, rejeitavam a liberdade de
expressão e a pesquisa estética, para celebrar a subserviência da criação
aos parâmetros da brasilidade que eles mesmos definiam e impunham
como valor incontestável de verdade. Aos olhos para o futuro, que o
primeiro tempo modernista indicava, os verdeamarelos opõem os olhos
voltados para o passado, um passado mítico, irreal, idealizado, povoado
por uma disciplina opressiva, no qual, paradoxalmente, queria inventar
o futuro.33
Radicalizando as idéias defendidas no manifesto, Plínio Salgado criou o
Movimento Anta, no qual o ultra-nacionalismo era levado ao extremo e que seria a
base para a fundação da Ação Integralista Brasileira, grupo político criado pelo
próprio Plínio Salgado em 1932:
Pode-se, pois, legitimamente concluir que o engajamento literário
representou uma experiência mais crucial para Salgado do que sua
participação em atividades políticas. Primeiramente, porque o
modernismo conduz toda uma geração a tomar consciência de que, para
encontrar a identidade nacional, é preciso rejeitar os moldes estéticos e
literários europeus, fonte de alienação cultural das elites. Além disto,
porque esta nova consciência deve ser alimentada por um nacionalismo
realista, fundado na exaltação do índio, da nova raça em formação e das
potencialidades da Nação, para fazer face ao nacionalismo romântico,
idealizador do ‘bom selvagem’ literário e influenciado pela cultura
européia. Enfim esta consciência nacionalista adquire um significado
32 SALGADO, Plínio et al., 2002, p.353-360. 33 ALAMBERT, Francisco, op.cit. p.92-97.
25
político na medida em que o movimento modernista, colocando em
causa as elites tradicionais, ameaça o sistema dominante. Neste
contexto, a literatura e a política interpenetram-se.34
A relação de Plínio Salgado com a política e a literatura é predominante,
pois por meio do modernismo nasce a concepção de uma ideologia política que iria
predominar no Brasil durante toda a década de 1930, aglutinando milhares de
brasileiros em torno da imagem deste escritor que se torna um líder político.
Essas novas idéias e concepções políticas foram essenciais para a formação
de uma nova mentalidade que teve início no Brasil: de mudança, mas com a
presença dos valores burgueses em quase todos os movimentos de 1922:
tenentismo; Semana de Arte Moderna; anticomunismo religioso defendido pelo
Centro Dom Vital. Apenas um dos movimentos era contrário à ideologia burguesa:
o PCB – mas que tem suas ações limitadas pela ilegalidade.
Como foi mencionado, sempre que ocorre uma crise econômica acontecem
eleições competitivas. Devido à crise de 1929, e com a queda da bolsa de Nova
Iorque, a economia brasileira é totalmente arrasada, dando início a uma crise
generalizada na sociedade política brasileira que irá culminar com um movimento
de luta, em 1930, que teve como objetivo derrubar a oligarquia e formar um novo
Estado.
Assim, em 1930, Getúlio Vargas chega ao poder após a vitória da Aliança
Liberal nesse movimento contra a oligarquia paulista. O objetivo do novo governo
foi tirar o Brasil da crise que se encontrava, mas sempre mantendo como principal
meta a defesa dos interesses burgueses.
A década de 1930 foi um período de efervescência ideológica, sendo o
reflexo da década anterior, com o aparecimento de dois grupos políticos
antagônicos: a Ação Integralista Brasileira e a Aliança Nacional Libertadora.
Na década de 1920, durante a crise econômica e política que abalou o
Brasil, várias correntes ideológicas se organizaram com o objetivo de criticar a
ordem vigente. Esses movimentos extrapolaram a década em vigor e chegaram à
década de 1930, no governo de Getúlio Vargas, com força considerável.
Um dos principais movimentos de contestação foi a Ação Integralista
Brasileira, fundada no dia 07 de outubro de 1932, pelo ideólogo Plínio Salgado. O
34 TRINDADE, Hélgio. op.cit., p.48.
26
Integralismo é visto como um movimento essencialmente autoritário que terá a sua
ideologia marcada pelo ultra-nacionalismo e a luta contra o capitalismo financeiro
internacional, liberalismo e, obviamente, contra o socialismo e o comunismo:
os integralistas combatiam o federalismo e as demais práticas do
liberalismo burguês que haviam organizado o Estado Republicano até
1930 e que a Constituição de 1934, embora mais limitadamente,
mantivera em seu texto.35
Essa fundação foi resultado de vários outros pequenos movimentos que
existiram no Brasil em anos anteriores:
A ascensão da direita na década de 1930 caracteriza-se também pela
organização de vários movimentos de inspiração fascista: Ação Social
Brasileira (Partido Nacional Fascista); Legião Cearense do Trabalho;
Partido Nacional Sindicalista e o movimento monarquista Ação
Imperial Patrionovista. Com exceção da Legião Cearense que teve uma
penetração regional importante, estes movimentos são organizações
reunindo um pequeno grupo de indivíduos e com audiência política
restrita, cuja relevância é ter precedido e reforçado a convergência
ideológica de direita. Nascidos à margem das forças revolucionárias no
poder, eles são dirigidos por líderes civis ou militares, em geral hostis à
Revolução de 1930, mas conscientes das novas perspectivas à ação
política abertas pelo movimento revolucionário com a derrubada da
Velha República.36
O primeiro movimento de direita no Brasil foi a Ação Social Brasileira, que
tinha como proposta a organização de um Partido Nacional Fascista. No entanto,
não alcançou sucesso algum, por querer implantar no Brasil uma política
essencialmente fascista, baseada no caso italiano, sem levar em consideração as
especificidades culturais brasileiras:
O programa do Partido divide-se em duas partes: a primeira, intitulada
“Vontade”, expões as grandes linhas da sua plataforma política, onde
aparecem as medidas de proteção à agricultura ao desenvolvimento
industrial, à educação mental e moral do povo, em favor da
nacionalização dos diversos ramos da economia [...] sem esquecer as
medidas de fortalecimento da raça.37
A Legião Cearense do Trabalho foi o segundo movimento direitista no
Brasil. O grupo foi fundado no Ceará por Severino Sombra, um seguidor das idéias
35 ALBUQUERQUE, Manoel Maurício. op.cit., p.581. 36 TRINDADE, Hélgio. op.cit., p.103. 37 idem, ibidem, p.104.
27
de Jackson de Figueiredo, um dos maiores responsáveis pela criação do ultra-
conservador Centro Dom Vital:
Jackson de Figueiredo contribuía para fortalecer o Poder Executivo, um
poder que acentuou gradativamente sua tendência ao autoritarismo e à
centralização nos últimos governos da “República Velha”. Ele e seu
grupo organizaram-se em defesa da legalidade, em combate aos
movimentos “liberais” de sua época.38
Seguindo essa doutrinação Severino Sombra criou a Legião Cearense do
Trabalho, com o objetivo de aplicar no Brasil essa ideologia autoritária baseada no
nacionalismo e na ação contra o comunismo e o liberalismo burguês.
Outro movimento da direita foi o Partido Nacional Sindicalista, criado pelo
jornalista mineiro Olbiano de Mello. Sua idéia de uma organização partidária
conservadora baseada no nacionalismo corporativista do fascismo de Mussolini não
saiu do papel, sendo apenas um movimento político-ideológico que contribuiu para
o desenvolvimento do pensamento político do período.
O último movimento foi a Ação Imperial Patrionovista Brasileira, uma
organização neomonarquista católica, fundada para recuperar a monarquia no
Brasil, seguindo as mesmas características medievais com base na estrutura real e
católica:
A AIPB surgia para promover, pelos processos legais, a instauração do
IMPÉRIO ORGÂNICO BRASILEIRO, sob o reinado da DINASTIA
NACIONAL DA CASA DE BRAGANÇA, representada no herdeiro e
pretendente ao Trono Brasileiro, sua Alteza Imperial Dom Pedro
Henrique Afonso Felipe Maria de Orléans e Bragança. Como expressão
mais contundente dessa nova ofensiva foi criada a Guarda Imperial
Patrionovista, que recrutava jovens militantes interessados em defender
o Brasil cristão e em preparar a instauração do III Império. [...]
procuravam igular-se aos demais movimentos políticos autoritários, do
início dos anos 1930.39
Todos estes movimentos serviram de base para a estruturação ideológica
ocorrida em 1932 para a fundação da Ação Integralista Brasileira. O grande
38 DIAS, Romualdo. Imagens de ordem: a doutrina católica sobre a autoridade no Brasil. São Paulo:
Unesp, 1996, p.90. 39 MALATIAN, Teresa. Império e missão: um novo monarquismo brasileiro. São Paulo: Nacional,
2001, p.47.
28
responsável pela criação desse movimento de massa foi o escritor, jornalista e
político: Plínio Salgado.
29
3. O PENSAMENTO CRISTÃO-CONSERVADOR-NACIONALISTA DE
PLÍNIO SALGADO
Há diversas formas de olhar o pensamento de Plínio Salgado,
principalmente quando a análise é estabelecida dentro da base temporal
cronológica, como a exposta anteriormente. Mas, na realidade, independente de
qual Plínio fala-se, um permanece durante toda a vida política e ação na sociedade
brasileira, o líder com um discurso de cunho, conservador, nacionalista,
tradicionalista e de base cristã. O pensamento cristão, a luta pela defesa de valores
políticos voltados para a inserção na sociedade com uma fala religiosa é o fio
condutor do intelecto de Salgado.
Plínio Salgado, desde a infância, foi fortemente influenciado pela presença
de uma doutrina cristã e autoritária na família. Segundo o biógrafo de Plínio
Salgado, Carlos de Faria Albuquerque, um correligionário do PRP baiano, ao falar
da família do pai Coronel Francisco das Chagas Esteves Salgado e da mãe Dona
Anna Francisca Rennó Cortez: “ambas de ancestralidade espanhola, modelos de
honradez e de virtudes cristãs e cívicas.”40 A imagem de defensor dos valores do
cristianismo, sempre foi a marca central em torno do Plínio Salgado, algo feito por
ele próprio e pelos seguidores da doutrina, como a passagem citada em que o
biógrafo da década de 50, busca na genealogia explicações, fazendo com que os
militantes enxergassem que o discurso de Plínio Salgado seria na verdade uma
espécie de missão recebida por Deus no seio familiar, outro ponto - família - de
defesa da doutrina pliniana.
Plínio Salgado na infância estudou em escolas católicas e sempre mostrou
ter facilidade com as letras. Em Minas Gerais, na cidade de Pouso Alegre, estudou
no Ginásio Diocesano e até os 16 anos sempre foi ativo nas atividades culturais,
religiosas e até mesmo esportivas, momento em que sofre com a morte do pai, no
ano de 1911. A morte do pai fez com que Plínio Salgado mudasse para São Paulo, o
que o colocou em contato com teóricos defensores de teorias ligadas a
características nacionais como a superioridade racial e psicologia das massas,
muitas dessas teorias expressas no denominado darwinismo social
40 ALBUQUERQUE, Carlos de Faria. Plínio Salgado: resumo biográfico. Salvador: Gazeta dos
Municípios, 1951, p.9.
30
Deve-se observar, todavia, que é por essa época que ele parece ter o
primeiro contato com autores que irão ter grande importância na
formação do seu pensamento. Autodidata, vai ‘devorar’ as obras de
Gustavo Le Bon, Spencer, Haeckel, Lamarck e muitos outros, até
retornar, em 1913, para São Bento de Sapucaí, onde desempenhará uma
variada gama de funções, empregando-se como professor e jornalista,
dirigindo um grupo teatral, um clube de futebol e o Tiro de Guerra
local.41
No mesmo ano, iniciou jornalismo em São Bento do Sapucaí e continuou os
estudos de maneira autodidata, formando-se em professor secundário. Em 1916,
tornou-se redator do jornal Correio de São Bento. No ano de 1918, casa-se com
Maria Amélia Pereira e, menos de um ano depois, a esposa morreria, deixando sua
única filha de 14 dias
Nova morte na vida de Plínio e, desta vez, seguida de profunda crise
espiritual. Transtornado, ele se volta para a religião, lendo Farias Brito e
Jackson de Figueiredo, pensadores católicos furiosamente anti-
spencerianos e antipositivistas, que irão animar até sua visão do
integralismo. Desse modo, se ao falecimento do seu pai seguiu-se a
viagem a São Paulo e o contato com o materialismo positivista, a morte
da esposa irá acarretar uma duradoura ligação com o espiritualismo
católico. Essas duas influências encaminham-se, evidentemente, em
direções opostas, e ele próprio assim vai considerá-las.42
Segundo o biógrafo citado: “no contato intelectual com os mais famosos
autores em voga, Plínio sofre as íntimas inquietações entre o materialismo e o
espiritualismo.”43 Analisa-se a morte da esposa, como um sinal de referência no
desenvolvimento da marca central do pensamento pliniano, a inserção na defesa de
uma teoria espiritualista e cristã para a sociedade brasileira, questões que moveram
Plínio Salgado na ocasião da morte de Maria Amélia.
Para analisar o pensamento pliniano, é essencial uma reflexão sobre as bases
que serviram de apoio para o desenvolvimento do jovem Salgado
Todas essas referências são importantes para compreendermos o
ambiente em que se formou o pensamento do jovem líder integralista,
porque foi nesse período, transcorrido do segundo decênio do século
XX até a década de 1930, que Plínio Salgado colheu as principais ideias
que, mais tarde, fizeram parte da doutrina integralista. O modernismo, o
41 ARAÚJO, Ricardo Benzaquem de. op.cit., p.22 42 idem, ibidem., p.22-23. 43 ALBUQUERQUE, Carlos de Faria. op.cit., p.11.
31
pensamento autoritário e os pensadores espirituais-católicos
colaboraram para a herança intelectual de Salgado. Por esse motivo
devemos compreender essas ações intelectuais articuladas com o tempo
de maturação das ideias do futuro líder da Ação Integralista Brasileira.44
Verifica-se que sob a influência de teóricos do catolicismo conservador da
década de 20, Plínio Salgado, no ano de 1927, publicou a obra Literatura e Política
e nesse livro podem ser analisadas as primeiras referências que estiveram presentes
no pensamento de Salgado no que diz respeito à intelectualidade brasileira
Sentir-se-á nestas páginas a impressão que me tem ficado da obra de
Alberto Torres, das ponderações de Tavares Bastos, do novo
pensamento nacional que, com feições diferentes, por vezes
contrastantes, espelha-se na literatura social e política de Oliveira
Vianna, Pontes de Miranda, Licínio Cardoso, Roquete Pinto, Tristão de
Athaíde, Jackson de Figueiredo, e outros de igual merecimento.
Também será observada a influência dos depoimentos e comentários de
Euclides da Cunha, visionador alcantilado dos problemas brasileiros. E
ver-se-á, finalmente, que tomei o Brasil dentro do seu tempo e das
contingências internacionais, sob a impressão fortíssima da situação
nacional em face da luta de ideias que derivou, nos velhos países, da
Grande Guerra e da Revolução Russa.45
Em Jackson de Figueiredo, Salgado encontrou bases de sustentação para o
desenvolvimento do pensamento cristão para o desenvolvimento nacional
Uma rigorosa disciplina caracterizou a dinâmica da personalidade de
Jackson de Figueiredo, conforme obra doutrinária [...] Ordem,
autoridade e disciplina eram seus princípios mais caros. [...] A Igreja é
vista por Figueiredo como a instituição capaz de garantir o equilíbrio na
estrutura social, como refúgio do amor e da bondade, como força e
amparo seguro. [...] Para ele, o pensamento liberal constitui a maior
fonte de injustiça social, a origem de todas as tiranias políticas presentes
no mundo moderno. Considera-o uma fantasia de doutrina, em virtude
de sua incapacidade de afirmação dogmática. Não acredita no livre
exame, na vontade do povo, no sufrágio popular e no laicismo. No
campo político, seu empenho consiste em exigir maior respeito à lei, em
esclarecer o conceito de ordem e em fortalecer o princípio da
autoridade.46
44 BATISTA, Alexandre Blankl. Mentores da nacionalidade: a apropriação das obras de Euclides da
Cunha, Alberto Torres e Farias Brito por Plínio Salgado. Dissertação de Mestrado (História), Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006, p.31-32. 45 SALGADO, Plínio. Literatura e Política. In: ______. Obras completas. São Paulo: Américas,
1954. v.19, p.22 46 DIAS, Romualdo. op.cit., p.70-72..
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Através da teoria proposta por Jackson de Figueiredo, enxergam-se algumas
das bases existentes do pensamento doutrinário de Plínio Salgado, como o
antiliberalismo e o valor cristão como base de justificativa de um poder autoritário
a ser desenvolvido. Compreendia a Revolução Francesa de 1789 como causadores
dos males da sociedade, principalmente no terreno do cristianismo, por isso a luta
intensa e categórica contra os movimentos liberais
Jackson de Figueiredo contribuía para fortalecer o Poder Executivo, um
poder que acentuou gradativamente sua tendência ao autoritarismo e à
centralização nos últimos governos da “República Velha”. Ele e seu
grupo organizaram-se em defesa da legalidade, em combate aos
movimentos “liberais” de sua época.47
O pensamento católico de Jacson de Figueiredo está relacionado à principal
ação da Igreja Católica na década de 20, através da fundação do Centro Dom Vital,
que tinha como princípio lutar por uma ideologia anticomunista e antiliberal:
O Centro Dom Vital foi fundado por Jackson de Figueiredo em 1922,
com o apoio de D. Leme. A definição de seu papel está diretamente
ligada à conjuntura social brasileira. [...] O Centro é fundado num ano
importante na história política, intelectual e religiosa [...] Um espírito de
euforia e renovação emergia no período pós-guerra. Instituições
políticas começavam a entrar em crise. [...] O Centro Dom Vital foi
organizado com a finalidade de catolicizar as leis, lutar pela paz [...]
enfim, para contribuir com o episcopado na obra de recatolicização da
intelectualidade.48
A intenção do Centro Dom Vital era formar um forte grupo católico com o
objetivo de transformar o Brasil através do catolicismo
O clero católico brasileiro, sob a liderança do Cardeal Dom Sebastião
Leme, empenhou-se num esforço de ‘recristianizar’ a população do
país, que no seu entender estaria se afastando cada vez mais do caminho
traçado pela religião. [...] No primeiro momento, os inimigos principais
eram o liberalismo, a maçonaria e o positivismo, mas logo os
comunistas assumiram o lugar de adversário e concorrente mais
perigoso.49
A fundação do Centro Dom Vital mostrava uma forte preocupação da igreja
com a formação dos intelectuais católicos, que seriam os responsáveis por fazer a
47 DIAS, Romualdo. op.cit., p.90. 48 idem, ibidem., p.89-90. 49 MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo no Brasil
(1917-1964). São Paulo: Perspectiva/FAPESP, 2002, p.25-26.
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ligação com a camada mais baixa da sociedade, impedindo que esses fossem para o
lado comunista.
As relações do integralismo com o vitalismo são questões que apresentam
uma certa divergência no debate, uma vez que é defendido pela maior parte dos
pesquisadores do vitalismo uma inexistência de relações com o integralismo,
exemplificado pelo pesquisador Romualdo Dias:
O fato do Centro Dom Vital ter assumido um papel restrito no combate
ao liberalismo contribuiu para gerar um mal-entendido entre o vitalismo
e o integralismo, no ano de 1932. Figueiredo entendeu que, no período
anterior a 1928, a conjuntura política nacional havia colocado seu grupo
diante de dois caminhos: optar pelo fascismo ou pelo comunismo, ou
ficar com o liberalismo burguês; em decorrência desta situação, a
aliança ente catolicismo e direitismo era vista como inevitável. Alceu
Amoroso Lima, continuando o trabalho de Jackson de Figueiredo,
defendia o princípio de autoridade, porém sem nenhum envolvimento
com qualquer política partidária.50
Percebe-se que o contato de Plínio Salgado com o Centro Dom Vital é
pautado por interesses múltiplos, uma vez que a AIB contou com adesão de
católicos pertencentes ao Centro, como Alceu Amoroso Lima, já que o integralismo
teve no quadro de militantes a adesão de alguns católicos companheiros dele no
Centro Dom Vital, isto porque o Centro propunha o desenvolvimento de uma
sociedade cristã regida pelo princípio da autoridade o que coincidia com as
propostas da AIB.
A intelectualidade católica da década de 20 foi para Plínio Salgado, uma
espécie de conforto pela morte da esposa e ao mesmo tempo a busca de força para a
concepção de um novo ideal político. Há ainda um processo de grande presença
doutrinária nas teorias de Euclides da Cunha, Alberto Torres e Farias Brito,
principalmente no contexto de busca de uma ação missionária e nacionalista para o
Brasil.51
Em Alberto Torres52, Salgado e um forte grupo de intelectuais na década de
20, desenvolveram a teoria do “mal urbano”, e da “salvação pelo retorno ao interior
50 DIAS, Romualdo. op.cit., p.90-91. 51 Cf. BATISTA, Alexandre Blankl. Mentores da nacionalidade: a apropriação das obras de
Euclides da Cunha, Alberto Torres e Farias Brito por Plínio Salgado. Dissertação de Mestrado
(História), Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006. 52 Ensaísta, político e sociólogo, seus dois principais livros são Organização Nacional (1914) e O
Problema Nacional Brasileiro (1915). Antiimperialista fervoroso, instigava o governo a desviar a
sua atenção dessa ilusória civilização litorânea e varrer do território nacional o capitalismo
cosmopolita.
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do Brasil”.53 Desse traço ideológico, pode-se compreender com maior clareza o
momento no qual esses intelectuais produziam novas propostas para a sociedade,
tendo como base um novo conceito de sociedade e Estado. Aliás, a teoria de
Alberto Torres, estará presente em praticamente todas as obras literárias ficcionais
de Plínio Salgado, além de ser a base do Manifesto de outubro de 1932, a luta
contra o cosmopolitismo.
Ao citar sua primeira grande obra, o romance O estrangeiro afirma
Em abril de 1926, publicou-se o romance; nunca mais abandonei esta
batalha. O drama de meu povo apoderou-se de mim. As dores, os
misteriosos tumultos de uma sociedade em formação, as lutas políticas,
os caldeamentos étnicos, cosmopolitismo e nacionalismo, civilização
artificial e instintos bárbaros da floresta, angústias do pensamento e
vagas ansiedades coletivas, tudo isso constituiu, dia a dia, uma orquestra
perene que me empolgava no turbilhão de músicas estranhas.
Esgotando-se a primeira edição do O estrangeiro em vinte dias, meus
amigos comemoraram esse fato, oferecendo-me em bronze o
personagem do romance que encarnava o espírito imortal da Terra
Jovem.54
No Manifesto de outubro de 1932, Plínio Salgado expôs com clareza seus
propósitos para o Brasil. O autor e político deixou muito claro no Manifesto seu
desejo ideológico: a defesa de uma política nacionalista baseada no
conservadorismo, tendo a manutenção da propriedade como forma de organização
social, a aversão ao cosmopolitismo para a defesa de uma sociedade forte e
organizada dentro de um contexto tradicionalista.55
Plínio Salgado, no dia 3 de dezembro de 1974, promoveu um discurso na
Câmara dos Deputados em Brasília, sendo este ato, o último momento público do
líder, na ocasião com 79 anos de idade. Na despedida do parlamento, fez uma
reflexão sobre a vida política e cultural no Brasil e ao relembrar a década de 30
afirmou:
53 A melhor relação existente entre o discurso de Altberto Torres e Plínio Salgado está em: VIEIRA,
Maria do Pilar de Araújo. Em busca do sigma: estudo sobre o pensamento político de Plínio Salgado
às vésperas da fundação da AIB. Dissertação de Mestrado (História), São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 1978. 54 SALGADO, Plínio. Despertemos a Nação! Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p.5-6. 55 SALGADO, Plínio. op. cit., 1982b, p.3-18
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Nesse tempo, estava eu muito influenciado por alguns patrícios, a
começar por Farias Brito, o filósofo cearense que me incutiu, mediante
análise que fez das filosofias do século XIX, o sentimento espiritualista.
Ao mesmo tempo embrenhei-me na leitura de Alberto Torres. Primeiro,
na sua “Organização Nacional”, em que criticava a Constituição de
1891, mostrando seu desacerto pela falta de conexão com a verdadeira
realidade do nosso país, em seguida, no seu livro “Problema Nacional
Brasileiro”, que me inspirou apaixonada orientação nacionalista.
Alberto Torres foi meu mestre de nacionalismo brasileiro.56
No mesmo período em que Plínio Salgado estava promovendo a inserção da
cultura política e religiosa no Brasil, com as relações anteriormente analisadas,
passaram a desenvolver as ações políticas. Participou da organização do Partido
Municipalista, formado por líderes do vale do Paraíba com o objetivo de combater
o governo estadual que, para Plínio Salgado, era algo que deveria ser exterminado.
Para ele era inadmissível o desequilíbrio político entre o poder central, os Estados e
os municípios. Essa participação política de Plínio Salgado no Partido
Municipalista foi fundamental para sua vida política:
Plínio acaba por ser preso pela polícia após um tiroteio ocorrido durante
a campanha do partido municipalista, seguindo-se a essa prisão uma
segunda e definitiva viagem para São Paulo. Nessa cidade, Plínio irá
passar a maior parte dos seus próximos anos, e será também aí que ele
levará adiante e se engajará definitivamente em duas atividades
distintas, já esboçadas em São Bento de Sapucaí, que farão com que o
seu nome se torne nacionalmente conhecido: a literatura e a política.57
Em São Paulo, empregou-se como suplente de revisor no Correio
Paulistano e para completar a renda encarregou-se da seção de futebol da A Gazeta.
Após quatro anos de trabalho, foi elevado a redator, principalmente de textos
voltados para a crítica literária e política e, dessa forma, passou a ter um certo
prestígio na capital paulista, o que fez ser convidado para inserir no movimento
modernista que teve como marco central a Semana de Arte Moderna de 1922.
Até então, Plínio Salgado só havia escrito poemas, além dos textos
jornalísticos. No Correio Paulistano, teve contato com o poeta Menotti Del Picchia,
que era redator-chefe do jornal e fez com que Plínio fosse convencido de abandonar
a poesia parnasiana e a dedicar-se à prosa, o que o colocou na rota dos modernistas
por meio do projeto de renovação da cultura nacional. Como Plínio Salgado
56 SALGADO, Plínio. Despedida do parlamento. 2 ed. Brasília: Câmara dos Deputados, 1976, p.5 57 ARAÚJO, Ricardo Benzaquem de. op. cit., 1988, p.23
36
afirmava: “Estávamos todos preparados para o grande movimento. Faltava
aglutinar. E isto foi feito em fevereiro de 1922.” 58
A experiência modernista despertou a consciência de uma organização
política voltada para a luta. Nesse contexto de defesa da nação brasileira, lançou,
em 1926, o primeiro romance, O estrangeiro, sucesso estrondoso na época. A obra,
que é situada, entre os anos de 1913 e 1923, foi na época do lançamento
considerada inovadora e um sucesso de vendas. O livro esgotara-se em 30 dias e foi
alvo de críticas positivas, inclusive dos opositores teóricos, como na época, o já
consagrado Monteiro Lobato, que naquele momento era um dos principais
protetores do autor:
Vem de São Paulo um livro que vale pela mais pura revelação artística
destes últimos tempos. O estrangeiro, de Plínio Salgado [...] Todo o
livro [...] é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem
verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura [...] Plínio Salgado é
uma força nova com a qual o país tem que contar.59
A participação no modernismo foi fundamental para a formação política de
Salgado. Essa experiência deu a ele a consciência de uma organização política para
lutar contra as forças existentes: “No início de sua ação ideológica no seio do PRP,
Salgado se engajou numa corrente que pretendia renovar o velho partido.”60
Plínio Salgado tentou reformular o Partido Republicano Paulista, mas,
obviamente, as estruturas de poder da oligarquia não permitiram. E, após o sucesso
de O estrangeiro, passou a ser reconhecido nacionalmente como um verdadeiro
representante da intelectualidade modernista de cunho cristão, justificativa que é
realizada em 1926 para a entrada no Movimento do verde-amarelismo em
contrapartida ao domínio que passou a existir na ocasião pelas ideias marxistas de
alguns dos intelectuais brasileiros.
No ano de 1927, alcança a primeira grande vitória política, é eleito
Deputado Estadual pelo PRP, mandato que auxilia o crescimento do nome de Plínio
Salgado por todo estado de São Paulo. Após a crise de 1929, é convidado para ser
58 SALGADO, Plínio. A “semana de arte moderna” no seu cinquentenário. In: ______. Discursos
parlamentares. Seleção e introdução de Gumercindo Rocha Dorea. Série Perfis Parlamentares,
Brasília: Câmara dos Deputados, 1982a. v.18, p.576. 59 LOBATO, Monteiro. Forças novas. In: CARVALHO, José Baptista (edt.). Plínio Salgado: in
memorian - 1. São Paulo: Voz do oeste; Casa de Plínio Salgado, 1985, p.110-113. 60 TRINDADE, Hélgio. op.cit., p.49.
37
coordenador da campanha vitoriosa de Júlio Prestes, mas como consequência do
movimento de 1930 não toma posse. Após esse momento, Plínio iniciou um
momento de introspecção quando realizou uma viagem à Europa e à Terra Santa.61
Ao ter contato com a política europeia, passa a analisar características
pautadas no corporativismo belga, holandês, dinamarquês, além do fascismo
italiano. A partir desse isolamento em solo europeu, reflete sobre as novas
perspectivas para o Brasil e enxerga a saída através de um nacionalismo agressivo
de uma sólida base cristã.
A relação e o discurso de Plínio Salgado é algo dúbio, pois duas falas são
criadas em dois momentos. Antes da Segunda Guerra Mundial, o discurso a favor
do fascismo era explícito, após o conflito que expôs para a sociedade os horrores
dos regimes autoritários e ditatoriais e com a necessidade de criar uma fala
democrática, o fascismo é colocado como algo desnecessário para a pátria.
No Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, está depositado no Fundo
Plínio Salgado a cópia de uma conferência realizada na Sociedade Italiana de
Cultura Muse Italiche denominada Como eu vi a Itália. Nela, Plínio Salgado tece
elogios disparados ao regime de Mussolini, principalmente após o encontro que
teve com o líder italiano. A citada conferência foi a primeira publicação da
Sociedade Editora Latina62, editora destinada a publicar em italiano ou em
português, autores de ambas as nacionalidades que tivessem como propósito
promover o intercâmbio cultural. A editora idealizada pelo intelectual fascista de
São Paulo Ferrucio Rubbiani63 durou pouco, mas o suficiente para mostrar relações
de Plínio Salgado com o fascismo italiano e que, posteriormente, passou a ser algo
negado com veemência.64
Não há como negar a relação existente entre a formação do integralismo e
consequentemente a doutrina de Plínio Salgado como fascismo. No dia 13 de maio
de 1970, a revista Veja publicou uma entrevista de quatro páginas com Plínio
Salgado, que apontava na ocasião a atuação na relatoria da Comissão de Educação
61 Relata todos os detalhes da viagem no lado oriental em: SALGADO, Plínio. Oriente: impressões
de viagens. Rio de Janeiro: Edições do autor, 1946. 62 SALGADO, Plínio. Como eu vi a Itália/ Come ho visto l'Italia: conferência na Sociedade Italiana
de Cultura “Muse Italiche.” São Paulo, Sociedade editora latina, 1936. 63 Intelectual fascista de São Paulo, proprietário da Sociedade editora latina. 64 TRENTO, Ângelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. São
Paulo: Instituto Italiano de Cultura/Nobel, 1989, p.299.
38
da Câmara dos Deputados. Com o título A volta do Chefe65foi indagado pela
reportagem da revista sobre a viagem que fez à Itália
Ele não relembrou também da satisfação com que descrevia sua visita a
Roma. Quando ‘me vi frente a frente, no Palácio Veneza, com o gênio
criador da política do futuro... o médium supremo da nacionalidade, o
profeta das nações, o contemporâneo do futuro’. As sensações
esfuziantes que Mussolini provocava em Plínio Salgado tornaram-se
três anos depois, quando o integralismo assumiu proporções razoáveis
na vida política brasileira, mais seguras, metódicas e palpáveis. No dia 9
de novembro de 1937, Galezzo Ciano, ministro das Relações Exteriores
do ‘Impero” e genro do ‘contemporâneo do futuro’, registrava em seu
diário: ‘Há cerca de um ano financio os integralistas com 40 contos por
mês. Se nestes dias de luta forem necessárias intervenções maiores,
fornecerei disponibilidade ao embaixador’66
As relações são inegáveis, não há como impedir qualquer tipo de processo
analítico em relação a esse processo de relação. Como foi citado anteriormente,
após a Segunda Guerra Mundial, qualquer tipo de relação com os fascismos
europeus era negado com força pelos integralistas de Plínio Salgado. Na biografia
citada anteriormente datada de 1951, sobre a viagem pela Europa é dito que
Salgado: “expõe suas ideias Nacionalistas e Cristãs a respeito do Brasil: ‘nem
comunismo, nem fascismo, nem liberalismo’. Imagina um sistema novo, um regime
diferente: um meio termo entre o domínio absoluto do Estado e o domínio absoluto
do indivíduo."67
Essa é a prática defendida pelo Partido de Representação Popular, época em
que a biografia foi escrita, pois a ideia de Plínio Salgado, é criar um regime
nacionalista democrático dentro do contexto cristão. Vale lembrar que, o mundo
estava inserido na Guerra Fria e o imaginário social brasileiro tinha como senso
comum a concepção do mal comunista. Sendo assim, Plínio criou um contexto
religioso para defender o Brasil dos inimigos.
O Plínio Salgado da década de 30, no contexto da Ação Integralista
Brasileira, sofreu uma espécie de mutação e na segunda metade da década de 40 e
50 passou a ser outro Plínio Salgado. Antes, um líder que pautava suas discussões
em cima da força, autoridade, respeito e submissão ao Chefe, depois passa a ser um
65 O título fez um jogo de imagens utilizando o sigma - A volta do “ChΣfΣ” -, símbolo maior do
movimento integralista na década de 1930. SALGADO, Plínio. A volta do “Chefe” (entrevista).
Revista Veja, São Paulo, Maio. p.20-23, 1970. 66 idem, ibidem., p.21 67 ALBUQUERQUE, Carlos de Faria. op.cit., p.21.
39
político inserido no contexto da democracia brasileira com o PRP. O momento
chave para a compreensão desse processo de transformação ocorre no período do
Estado Novo, momento em que fica exilado em Portugal (1938-1946) e ocorre o
que se denomina de cristalização do pensamento “político religioso democrático”
de Plínio Salgado, em que inicia uma jornada em direção à defesa dos valores
religiosos, temática que é constante na política dele.
Plínio Salgado sempre mostrou uma relação próxima e respeito aos
portugueses, principalmente dentro da denominada “Mãe Pátria”. Com o anseio de
criar uma política cultural única dentro das relações existentes, a lusitanidade será
elemento fundamental para a compreensão do pensamento desse político que, aliás,
foi um dos motivos do líder ter ido para Portugal no exílio e, principalmente, ter
tido uma recepção e uma atuação política, cultural e religiosa de destaque em solo
português.
Percebe-se que o denominado “conservadorismo português” é um dos
pontos vitais da formação política e religiosa de Plínio Salgado. Deixa-se, citada a
relevância das várias análises que foram desenvolvidas até o momento na academia,
que relacionaram o fascismo italiano como base central da doutrina desenvolvida
por Plínio Salgado. Não se tem a pretensão de rompimento, o que é debatido é a
significativa presença do conservadorismo português como uma espécie de
sobrevida e direcionamento do grupo de Plínio Salgado.
O conservadorismo português apontado é formado pelo Integralismo
Lusitano (IL), Movimento Nacional-Sindicalista (N/S) e o Salazarismo. Três
elementos políticos que proporcionaram o desenvolvimento e a propagação da
política de Plínio Salgado. Veja-se que não foi usado o termo política integralista,
pois o estudo não limita a fase da década de 30 como elemento de relações com os
lusitanos. Crê-se que o conservadorismo português é a base de grande parte do
pensamento doutrinário de Plínio Salgado, que terá reflexos em vários meios da
sociedade, como na política, cultura, religião, literatura, dentre vários espaços de
atuação do político.68
A doutrina de Plínio Salgado é vista como brasileira, ou seja, é uma criação
nacional, não é uma cópia ou mesmo um mimetismo, mas é inegável ser
influenciado de sobremaneira pelos movimentos congêneres europeus e com uma
68 Cf. PINTO, António Costa. Os Camisas Azuis: ideologia, elites e movimentos fascistas em
Portugal – 1914-1945. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.
40
maior escala o lusitano. A defesa do nacionalismo é a principal marca da obra de
Plínio Salgado, a mesma que esteve presente no N/S que surgiu no seio do IL.
Segundo Hélgio Trindade, o líder brasileiro era conhecedor da doutrina idealizada
pelo português69 e afirma ainda sobre a relação política e religiosa: “todo o
conteúdo tradicionalista da ideologia integralista inspira-se, em parte, na doutrina
social da Igreja e nos temas fundamentais da renovação das elites católicas.”70
A relação católica no movimento político é algo visível e real no projeto
idealizado por Plínio Salgado, questão que não estava presente unicamente no
movimento integralista brasileiro. Dessa forma, entende-se que um dos pontos
fundamentais para a compreensão do pensamento idealizado por Salgado, deve ser
enxergado através da presença lusitana no processo de construção e
desenvolvimento da ideologia de Salgado. Para a verificação dessa relação, tem-se
como base a literatura-cristã nacionalista do autor.
As relações comumente ignoradas no afã de construção da especificidade
brasileira perpetuam-se nas considerações mútuas que permanecem nas memórias
das antigas relações colônia-metrópole - não é somente questão de língua, é cultura
e é recíproca. Salgado é exemplo disto, uma vez que antes mesmo do movimento
integralista brasileiro, segundo Hélgio Trindade, o contato com a literatura
integralista lusitana já era conhecida por Plínio Salgado.71
Observa-se a influência72 que sofreu Plínio Salgado vinda de terras lusitanas
em três momentos: a primeira relação está presente na inspiração que ele obteve
dos integralistas lusitanos até o ano de 1932, momento da fundação da AIB.
Percebe-se que o IL influenciou de sobremaneira o congênere brasileiro no ato da
fundação, bem como no período anterior à oficialidade. Um dos vários pontos de
convergência entre o pensamento político idealizado por Plínio Salgado e o
denominado conservadorismo português foi o aspecto religioso inserido na política.
69 TRINDADE, Hélgio. op.cit., 1979, p.251. 70 idem, ibidem, p.2 71 TRINDADE, Hélgio. op.cit., 1979, p.251. 72 Segundo o Dicionário de ciências sociais: A questão da influência “em seu sentido mais amplo
[...] designa tudo o que, em qualquer contexto social e sobretudo político, leva os indivíduos ou os
grupos a se afastarem de uma linha de conduta predetermianda. Mais especificamente, o termo é
usado para indicar mudanças no comportamento de uma pessoa ou grupo decorrentes da relação
antecipada de outrem [...] a influência provocará uma mudança ou reversão de decisões, orientações
ou comportamentos anteriores (ou previstos) [...] H.D.Lasswell, que frequentemente utiliza
categorias estabelecidas por M.Weber em suas discussões sobre política e poder, afirma claramente
que ‘o estudo da política é o estuda da influência e do influente.’ Dicionário de Ciências Sociais.
Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1986. pp. 597-598.
41
Essa relação que foi sustentada de forma intensa por Salazar, passou a ser o ponto
da relação de poder defendido por Plínio Salgado após o exílio, em que busca no
momento do regresso o poder, sob a tutela da Igreja Católica, assim como fez
Salazar em Portugal. Ao analisar o discurso religioso na década de 30, Giselda
Brito Silva afirma: “o integralismo se configurava numa força espiritual de grande
relevância na defesa dos valores tradicionais. Alguns chegavam a declarar
abertamente seu apoio ao movimento integralista.”73
O retorno ao Brasil ocorreu no contexto democrático pós-Estado Novo e era
necessário criar uma nova forma de fazer política. O fascismo não era mais
suficiente, era preciso criar no contexto político brasileiro um novo Plínio Salgado
dentro de uma nova política. Esse “novo” líder foi obrigado a alterar a forma de
pensar a sociedade e como consequência as composições intelectuais e literárias
sofreram transformações. Em Portugal, publicou o livro O conceito cristão da
democracia e no capítulo Origens democráticas das ditaduras afirma que a
democracia está falida na sociedade contemporânea, que o próprio tirano utiliza de
meios inescrupulosos para a tomada do poder, podendo o caminho ser a
democracia, como ocorreu na Alemanha hitlerista.74 Por isso, apresenta como
solução para os problemas da sociedade a salvação da democracia e o caminho é o
espírito:
ou a democracia se proclama abertamente espiritualista e cristã e, nesse
caso, pode outorgar todas as liberdades aos cidadãos, menos a de se
utilizar dessa liberdade para implementar regimes que contrariem
aqueles seus princípios fundamentais, e nem por isso deixará de ser
democracia [...] Não há, por conseguinte, outro meio de defesa e
sustentação da democracia senão a consideramo-la democracia de
efeito, em função de uma consciência religiosa. Proclamando,
corajosamente, a fé num Deus pessoal, na imortalidade, liberdade e
responsabilidade da nossa Alma, e na doutrina ensinada por Jesus
Cristo, deduziremos dessas fontes o conceito de uma democracia
indestrutível, porque não atrás em si, como um fruto bichado, a antítese
de si mesma, que é gérmen de morte, mas trará o poder da renovação
das formas com a conservação da sua essencial vital.75
73 SILVA, Giselda Brito. O universo católico como espaço circulante da produção de sentido dos
discursos integralistas no pós-1930. Revista de Teologia e Ciências da Religião da UNICAP, Recife,
n. 3, ano.3, p. 73-98, 2004, p.91. 74 SALGADO, Plínio. O conceito cristão da democracia. São Paulo: Guanumby, 1951, p.93-95. 75 idem, ibidem., p.99-102.
42
Assim, observa-se a defesa de uma “nova política” por Plínio Salgado,
através de um conceito democrático e como é observado no discurso dele, de
solidez cristã, crê-se que era a intenção de montar uma política salazarista no
Brasil, afinal é o único regime de força que mantém o poder após a Segunda
Guerra. É visível uma relação consistente entre a política proposta por Plínio
Salgado em diversas fases da vida, com a existente em Portugal em vários
momentos da História.
O último momento de Plínio Salgado ocorre no período de desintegração do
PRP com o Ato Institucional nº2 em 1965, no período do regime militar. Os
objetivos de Plínio Salgado para o Brasil, não surtiram efeitos após o retorno do
exílio, pois não conseguiu aglutinar os antigos integralistas dentro do novo contexto
de democracia, inclusive antigos líderes não compactuaram com os rumos traçados
por Plínio Salgado, como por exemplo, Miguel Reale.
No momento de ação política do PRP, a participação de Plínio Salgado foi
discreta, ou seja, todos os planos de uma sociedade espiritualista, cristã,
democrática, não fizeram efeito algum, afinal um integralista propondo a
democracia, é algo descabido. Foi candidato derrotado na disputa para a presidência
do Brasil em 1955. A participação do PRP nesse período foi muito tímida, com
mandato no legislativo.
Com o fim do período democrático no Brasil em 1964, Plínio Salgado
apoiou de maneira incondicional o regime implantado:
O PRP, com seu presidente Plínio Salgado, apoiou o movimento
político-militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart e a
subsequente eleição, pelo Congresso, do general Humberto Castelo
Branco como chefe do governo, em 31 de abril seguinte. Plínio
justificou essa posição dizendo da tribuna da Câmara que o seu Partido
sempre esteve presente em todas as lutas históricas pela sustentação da
tradição cristã da nacionalidade e das instituições democráticas. Nessas
condições o PRP, naquele momento histórico da Nação, se
conglomerava em torno de uma candidatura que, certamente, traria ao
Brasil a restauração da Constituição e o respeito ao Congresso Nacional.
Assim o PRP declarava seu voto pró general Humberto Castelo
Branco.76
O Ato Institucional nº. 2 extinguiu todos os partidos, inclusive o PRP de
Plínio Salgado:
76 LOUREIRO, Maria Amélia Salgado. Plínio Salgado, meu pai. São Paulo: GRD, 2001, p.471.
43
Na posterior reorganização partidária, Plínio Salgado filiou-se ao
partido do governo, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), por
encontrar em seu seio as pessoas que maior afinidade tinham com suas
ideias, ideias essas que sempre o nortearam. Nessa legenda candidatou-
se à reeleição para deputado federal, em novembro de 1966, ainda por
São Paulo, e foi vitorioso, sendo conduzido, na legislatura iniciada em
fevereiro do ano seguinte, ao cargo de vice-líder do partido na
Câmara.77
Plínio Salgado afirmava categoricamente que havia no período militar uma
força intensa do integralismo no regime em questão. Em 1970 afirmou:
Somos perto de 700.000 em todo o Brasil. Menos em quantidade do que
em 1937, quando somávamos 1 milhão. Mais em qualidade, porque,
agora, muitos que eram jovens estudaram e se tornaram grandes
homens. [...] No momento em que eu quiser, poderei mobilizá-los.78
Em outubro de 1970, foi reeleito para seu último mandato na Câmara, pela
ARENA. Na sessão do dia 10 de outubro de 1972, em comemoração ao
quadragésimo aniversário da Ação Integralista Brasileira, Plínio Salgado
demonstrou uma certa satisfação de dever cumprido dentro da sociedade brasileira,
mas não de uma maneira completa, devido ao fato de o país sempre negar-lhe o
poder máximo
Sr. Presidente, hoje festejamos a data comemorativa do esforço ingente
que fiz em defesa da nossa Pátria, da união das Forças Armadas, do
combate ao comunismo. E o maior atestado que tenho disso é o relatório
de Dimitrov a Stalin, do qual possuo cópia e onde se diz: “Não foi
possível vencermos no Brasil porque tivemos a leviandade de
subestimar a força e a influência que o integralismo representava”. Está
lá escrito, Srs. Deputados. Se tudo isto não é serviço ao Brasil, se tudo
isto não é reconhecido como obra salvadora de nossa pátria durante
quarenta anos, ofereço esta incompreensão a Deus. [...] Só quero um dia
poder, fechando os olhos aos meus contemporâneos, abri-los ante vós,
meu Criador, e exclamar: Senhor, o que me destes eu empreguei da
melhor maneira que julguei possível. Aqui estou, Senhor, eu cumpri o
meu dever.79
77 idem, ibidem, p.477. 78 SALGADO, Plínio. op. cit., 1970, p.22. 79 SALGADO, Plínio. op. cit., 1982a, p.518-519.
44
Durante a trajetória de vida, Plínio Salgado sempre deixou clara sua
ideologia política, caracterizada pelo nacionalismo extremo, que acabou por ser a
marca de suas ações políticas na sociedade brasileira.
45
CONCLUSÃO
Na ciência humana o interesse por Plínio Salgado pode ocorrer dentro da
História política, por meio do estudo da ideologia nacionalista da Ação Integralista
Brasileira (1932-1937), do Partido de Representação Popular (1945-1964) ou até
mesmo de sua participação em defesa do regime militar no Brasil, em seus
mandatos de deputado federal pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional). O
interesse por Plínio Salgado pode se dar, também, por intermédio da literatura
modernista, na qual o autor se destacou ao lado de outros modernistas que, no
entanto, ainda que defendessem os valores de uma arte nacional, não caíram nos
extremismos do nacionalismo integralista.
Percebe-se o pensamento pliniano pautado em uma estrutura conservadora e
tradicionalista dentro de um contexto de desenvolvimento das práticas autoritárias
e, portanto obteve um crescimento profícuo no interior da sociedade brasileira.
O desenvolvimento intelectual de Plínio Salgado foi pautado em doutrinas e
ideologias cristas, tendo na década de 30 o auge, Verifica-se uma grande
importância a relação que o Chefe integralista teve com a cultura portuguesa, uma
vez que esse contato proporcionou diversas trocas políticas, proporcionando a
cristalização do movimento que terá seguimento após o exílio durante o Estado
Novo.
A despedida de Portugal aconteceu com um grande banquete e foi planejado
como uma atividade pública, reforçando seus laços com os diversos segmentos
políticos e religiosos. Como foi analisado, em Portugal, Plínio Salgado teve a
oportunidade de reordenar e cristalizar as bases da política integralista, a questão
espiritual e cristã, que já era evidente no momento da oficialidade do movimento,
mas que teve em Portugal uma espécie de reorientação doutrinária do integralismo.
A Igreja Católica é considerada ponto determinante na ascensão de Salazar ao
poder. Percebe-se uma busca semelhante de Plínio Salgado, que influenciado pelo
conservadorismo português, idealizou o poder no regresso ao Brasil.
A passagem de Plínio Salgado em Portugal foi de extrema importância, não
só pelo desenvolvimento das novas concepções teológicas, mas pelo fato do
estabelecimento de ações políticas estarem presentes na reorganização do
integralismo na década de 1940, com a criação do Partido de Representação
46
Popular. Em terras europeias (que estava em plena II Guerra Mundial), Plínio
Salgado foi de forma intensa influenciado pelo conservadorismo português
principalmente por Salazar, que estava no poder e desenvolvia, assim como
Salgado, uma política de defesa aos valores cristãos.
O retorno de Plínio Salgado ao Brasil ocorreu no contexto democrático e fez
com que existisse uma obrigatoriedade de formar uma nova concepção política. A
inspiração fascista não era suficiente. Esse “novo” líder altera a forma de pensar a
sociedade e como consequência a composição intelectual e literária sofreu
transformações, assim como a política brasileira que não era compatível com as
antigas orientações autoritárias.
47
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