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1
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Leandro Ferreira Barbosa
Ser no mundo
Rio de Janeiro 2014
2
Leandro Ferreira Barbosa
Ser no mundo
Trabalho de conclusão do curso de Filosofia para
obtenção do título de Bacharel em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Professor Orientador: Prof.Dr.Gilvan Luiz Fogel
Rio de Janeiro 2014
3
Leandro Ferreira Barbosa
Ser no mundo
Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção
do título de Bacharel em Filosofia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, submetida à aprovação da banca examinadora composta pelos seguintes membros:
Banca Examinadora
Professor Orientador:
Prof.Dr.Gilvan Luiz Fogel
____________________
Professor Examinador:
Prof.Dr.Fernando Augusto da Rocha Rodrigues
___________________
Professor Examinador: Prof.Dr.Rafael Haddock-Lobo
___________________
Rio de Janeiro, março de 2014
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço à vida pela dádiva de poder ser, pelo caloroso abraço de mãe que guardo
na memória imaculável do meu ser, pela força de um pai amigo nos momentos mais
difíceis da vida, pelo legado ético herdado pelo mais singelo dos seres que conheci,
meu avô, e pela providência divina encarnada como avó, quem me ensinou
somente por ser si mesma. Agradeço à todos meus familiares pelo amparo,
agradeço àqueles encontrados no decorrer da vida, são grandes amigos que guardo
aqui no peito. Grato pelos exemplos de vida de todos com os quais convivi e que
pude carregar comigo algo deles. Grato pelo sacrifício herculíneo dos professores,
mestres e doutores da educação desse nosso país mesmo quando as condições
não são muito favoráveis. Grato ainda mais por estar na presença da flor do meu
jardim, minha esposa. Grato pelo lógos que vem do coração.
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“De cada vez que o ser se detém no seu destino, acontece apropriativamente,
súbita inesperadamente mundo.” [ HEIDEGGER, Martin “O dito de Anaximandro”]
6
RESUMO
A presente investigação visa poder promover uma meditação que pense não somente sobre o homem, mas que perpasse sua natureza, e ainda assim, não só
sobre a natureza e sim de um modo mais originario de ser, onde, por determinação do proprio ser, habita a essência do homem, ser-no-mundo. Quando dito pelo pensador que o ser do homem consiste em ser em um mundo, pressupõe-se que o
homem foi degradado como um ser meramente mundano. Detenhamo-nos que “mundo”, na expressão ser-no-mundo, não significa uma oposição de um ente
mundano a um ente celeste nem mesmo o mundano opondo o “espiritual”. Mundo antes disso, não significa nenhum ente ou conjunto de entes mas a abertura do ser. O homem está exposto à abertura do ser, que é como abertura, e sendo, o ser
lançou para si a essência do homem na “cura”. Procura-se pensar no tocante a expressão ser-no-mundo, a essência da ek-sistência. Assim, aquém do mundo,
homem não é homem como um sujeito, tampouco é primeiro e somente sujeito enquanto se refere sempre a objetos. Ao contrário, o homem como presença é o que se abre na abertura, é o que clareia o “meio” no qual pode-ser uma relação do
sujeito para o objeto.
Palavras – chave: Abertura do ser, presença, ser-no-mundo
7
ABSTRACT
The present investigation aims to promote a meditation that thinks not only on man, but pervades his nature, and even yet, not only on nature but rather in an original way of being, where, by determination of the own being, inhabits the essence of
man, being-in-the-world. When told by the thinker that man’s being consists to be in a world, it is assumed that the man was degraded as being merely mundane. Let us
dwell on that “world”, in the expression being-in-the-world, does not imply an opposition to a worldly entity to a celestial entity not even the mundane opposing the “spiritual”. Before that, world does not signify any entity or group of entities but the
openness of being. Man is exposed to the openness of being, as this and being this openness, the being has launched himself to the essence of man in the “cure”. It
seeks to think regarding the expression being-in-the-world, the essence of ek-sistence. So, short of the world, man is not man as a subject, nor is the first and only subject as it always refers to objects. On the contrary, man as presence is what
opens the openness, is what clarify the “medium” in which could be a relation of the subject to the object.
Keywords: Openness of being, presence, being-in-the-world
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................... 9
CAPÍTULO 1 – SER-NO-MUNDO...................................................... 10
1.1 - Ser em um mundo.......................................... 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 33
REFERÊNCIAS................................................................................. 34
9
INTRODUÇÃO
Ao longo de suas obras, Heidegger, nos convida a pensar a referência que
caracteriza o ser do homem como um ente que se distingue por ser capaz de
compreensão e de dar significância ao que denominamos mundo. A expressão que
tomaremos como o sentido de nossa investigação será ser-no-mundo.
Proeminalmente, a trataremos como aquilo, ou o que se refere ao ente que nós
mesmos somos, ou seja, presença (Dasein), trabalhado na obra Ser e Tempo1.
Segue-se, dessa implicação que, em sendo, a presença está sempre junto-ao
mundo, conjunta; e existindo, está sempre em-meio ao mundo.
Segundo o pensador, em seu interesse acerca da posição da “ciência”, tal
como em suas investigações ao explicitar suas estruturas fundamentais, reconhece
Heidegger na ciência, que ao modo de ser-no-mundo a presença ocupa-se do
mundo.
1 Ser e Tempo; Vol I; editora vozes
10
CAPÍTULO 1 – SER-NO-MUNDO
1.1 – Ser em um mundo
Pretenda-se talvez, ao afirmar que, ao modo do ser da presença, seja
constituinte de sua essência ser em um mundo. Mostra-se com isso, que na ek-
sistencia, a presença recebe seu sentido de ser da relação com o mundo, e por sua
vez, mundo recebe sua significação através da presença. Pontuemos que essa
relação remete uma certa simultaneidade, e já o fosse assim por estar exposta na
própria expressão ser-no-mundo; presente em um mundo, por justamente possuir
um caráter de ser lançado-junto-ao mesmo. A presença como ser-em-um-mundo,
como diz o enunciado, pretende ocupá-lo, e ao ocupá-lo, o faz detendo-se nessa
ocupação, demora-se nesse caminhar. Com o filósofo, poderíamos então conquistar
um passo acerca da expressão, quando com ele, evocarmos que o ser-no-mundo,
enquanto ocupação, é tomado pelo mundo ao qual se ocupa?
Para isso, atentemos para o fato de que ainda há um outro modo do ente em
seu ser, seria ele, denominado ente intramundano. Ao expressá-lo assim, com o
caráter de intra-mundo, como simplesmente subsistentes, visa-se designar os entes
simplesmente dados; ao contrário do ser-no-mundo tal como presença, seriam
àqueles entes que, destituidos da possibilidade de terem sentido, ou seja, por
estarem simplesmente lançados aí no mundo, não o significariam e nem mesmo
retirariam dele um sentido.
Poderíamos ainda evocar dos entes intramundanos, que são eles, destituídos
de mundo e mundo tomado como o sentido em que o ser projeta a partir de si seu
horizonte; tido nesse projetar o próprio da ocupação da presença. Seguindo a
afirmativa, notemos que os entes intramundanos não tocariam os demais entes por
eles não serem dotados do modo de ser característico do ser-no-mundo, ao modo
da disposição, modo esse que vamos expôr como sendo o ser-em.
11
Diz Heidegger:
“Um ente só poderá tocar o outro ente simplesmente dado dentro do mundo se, por natureza, tiver o modo de ser-em, se, com sua presença, já se lhe houver sido descoberto um mundo.”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo,
oitava edição, editora vozes, p.101)
É apresentado no segundo capítulo da obra, o conhecimento do mundo como
um modo derivado do ser-em, momento tido como constitutivo da presença como
ser-no-mundo.
Notemos aí uma evidência da estrutura do salto, caracterizada na passagem
acima como o modo de ser-em, tal qual suporia, por natureza estar nesse modo de
ser, dado ao encontro do mundo com a sua presença. É no ocupar-se da presença
que a descoberta de mundo ocorre, somente se já lhe for entregue o estado de
ocupação que acontece com o mundo. Percebe-se nessa colocação, um certo
caráter instrumental, onde, o ente ao qual o ser-no-mundo vai ao encontro na
ocupação de instrumento, é denominado como ser-para, em uma breve exposição
seria como uma meta, um fim a ser alcançado, tal como finalidade. Evidenciando
assim, seu caráter de serventia, de estar à mão. Ora, alguém poderia enunciar que
a expressão ser-no-mundo se dá nos moldes do que, por vezes, denominamos por
comportamento; na expressão, percebe-se exatamente a possibilidade intrínseca da
concordância.
Segue-se que, na questão do comportamento, na relação da proposição com
a coisa, é a sua própria realização, a cada vez, como um desencadear de um
comportamento. Mas como? Conquanto, ao afirmar que todo comportamento é
caracterizado pelo fato de ser estabelecido justamente, no seio do aberto, mantêm-
se dessa forma, originalmente referido àquilo que é manifesto enquanto tal.
Poderíamos apresentar no movimentar-se do em-vista-de no em-face-de-si o seu
caráter ek-sistente.
12
Contenhamo-nos ainda no que foi exposto como o caráter da serventia; essa
dada na relação, ou melhor, na coligação presente na referência aos entes
intramundanos, no processo que se dá na ocupação do ser pelo Dasein(presença),
o que é exatamente uma evidência da dinâmica do comportar-se da presença. Tal
como o mundo, o instrumental é dado em um momento estrutural, como caráter de
ser em um mundo; a referência é exatamente o que determina a estrutura do
instrumento do ente que está à mão. Percebe-se que, como ser-no-mundo pertence
ontologicamente à presença, teríamos disso, que seu ser para com o mundo vale,
fundamentalmente, como ocupação. Concluiríamos então, que a serventia do
instrumental vem à luz, quando o ser-no-mundo ocupa-se com o que está à mão em
um perfazer, e a medida que se entrega inteiramente ao ato, como presença; em
um estar à disposição de seu uso ao modo de ser desse instrumento.
Tenhamos que, absorvido pelo seu uso, o ser-no-mundo, como ocupação,
coloca o instrumento como o prolongamento da presença em um mundo; é dado na
própria ocupação junto-com o instrumento algo no acontecimento em que, a
ocupação volta-se a si mesma em um fazer despreocupado, como ser-em
simplesmente fazer-se ser, sua revelação. Trata disso que estamos a denominar
como a serventia do instrumento, ou se preferirem, denominaremos como sendo um
“para-quê”, sua manualidade. Apresenta-se a manualidade em Ser e Tempo como a
determinação categorial dos entes, tal como são “em si”. Percebe-se no para-quê,
que o mesmo é estruturado pela referência, ou melhor, pela totalidade referencial
denominada como mundo e sendo assim poderíamos evocá-lo como constituindo a
mundanidade2 do mundo.
Em Ser e Tempo, notamos que na mundanidade do mundo, ou seja, em seu
modo de ser mais original, está ela, a mundanidade, diretamente relacionada com
totalidade dos entes intramundanos ao modo da sua serventia, e no instante
estrutural e constitutivo do ser em um mundo, irrompe. Entretanto, se
2 ideia
13
mundo pode de certa forma tornar-se evidente, é por, de certa maneira, junto-com,
ter-se tornado nesse aberto a abertura e, exatamente por não consistir nem
economizar no caráter de serventia do instrumento. Tratado o ser-junto ao mundo
de tal maneira que, como existencial, nunca indicaria um mero dar-se em conjunto
das coisas que ocorrem. Heidegger diz muito claramente que não há uma
justaposição de um ente denominado presença a um outro denominado mundo.
Marca-se que a questão da presença como ser-no-mundo ainda não foi posta
com a devida clareza de pensamento; tentemos como Heidegger, procurar elaborá-
la com o cuidado de ver seus momentos constitutivos. Percebe-se que no
pensamento do filósofo, todo questionamento, em seu irromper, já possui um certo
direcionamento, um sentido guia. Tomemos então o nosso, aquele proposto na
questão da presença como ser-no-mundo. Mas entretanto, o que significa
questionar-se pela questão do sentido do ser quando a indicação seria que o
interrogado é o ente mesmo? Contudo, ser quer dizer ser de um ente.
Ao analisarmos o termo presença (Dasein) como ser-no-mundo, notemos
como nos aproximamos de uma caracterização do ente que nós mesmos somos, e
somos ao modo do questionamento, na busca de um sentido. Ainda podemos
evocar do ser-no-mundo, que o mesmo possui sempre uma compreensão de seu
ser, mesmo que vaga, distante. Em suas considerações, Heidegger coloca a
presença como o ente que em seu ser compreende e comporta-se com seu próprio
ser, e com isso, seguem-se duas determinações, a tratar – uma, sua existência, a
designação do ser desse ente, e outra, encontramos que o ser-no-mundo é
aprendido ontológicamente em função de seu próprio ser e, mesmo que não queira,
não pode deixar de comportar-se consigo ao longo dos dias; decorre desses pontos
o que é chamado ek-sistencia.
Voltemos ao primeiro momento em que o pensador busca evidenciar a
estrutura fundamental do ser-no-mundo, desde uma caracterização ao modo do ser-
em, justamente o indício da referência da unidade constitutiva da presença.
Não tomemos o ser-em como uma simplória abordagem espacial3 da
presença, na qual ela estaria “dentro” do mundo. Heidegger até mesmo trabalha
etimológicamente o conceito do “em” e suas origens. Segundo ele, o termo derivado
3 Tópos
14
da língua alemã advém de outro tido como “innan”4, significa habitar, cultivar,
familiarizar-se com, morar. Então, aproveitando este conceito da análise
etimológica, e evocado do habitar um certo caráter para além do espacial, talvez o
filósofo esteja nos dando indícios de que queira afirmar seu cunho fundamental; o
que se denomina na obra Ser e Tempo como existencial, o mesmo que estruturas
ontológicas.
Ser junto ao mundo pressupõe um certo empenhar-se, essa possibilidade de
estar empenhado no mundo é justamente por não ser um simplório ocorrer dentro
de um mundo ou mesmo um mero ser junto das coisas; ao contrário, é possível por
habitar no mundo como descrito anteriormente. Pontuemos que o referido empenho
se dá pela presença no seu modo de ser-em. Seguindo o pensar, tomemos que
esse empenho com caráter de habitação, nos dá indicações para compreendê-lo
como um deixar-ser da ek-sistencia que desvela o mundo. Heidegger diz que em
todo o comportamento do homem historial, sentido ou não, compreendido ou não,
ainda assim, a presença está disposta ao modo do ser-no-mundo e, através desta
disposição, colocada no ente em sua totalidade, no mundo.
Contenhamo-nos no deixar-ser do ente, esse exposto como o caráter da
disposição ao modo do ser da presença em relação com o ente em sua totalidade,
ou seja, da própria disposição do ser em sendo em um mundo. Nisso a presença
penetra, perpassa e precede todo o comportamento do aberto que nele se
desenvolve, no comportar-se da presença o ser é perpassado pela disposição de
humor que tem sua gênese na revelação do ente em sua totalidade como mundo.
No entanto, como seria esse movimento de origem, gênese, que irrompe da relação
simultânea, em um mesmo instante? E nesse instante, o tomaremos sob o aspecto
de um mero agora? Como seria o ser assim perpassado por uma disposição de
humor?
Imaginemos o raio, que de súbito aparece, irrompe na vigília5 da prontidão,
ao passo que para os incautos “dormentes”, resta o temor do trovão. Dessa
projeção imaginativa, não surge da experiência do mero agora, sim do instante,
esse mesmo sem um para quê, sem ser-para algo, ocupa-nos só por ser-si-mesmo.
A ocupação, ao modo do ser-em, vale como os entes que vêm ao encontro da
4 Traduz-se por “em” - Inesse 5 Heráclito
15
presença. Caracteriza-se a ocupação pelo seu caráter imediato, por ser exatamente
o que configura a relação da presença com os entes intramundanos.
Rememorando, a presença volta-se para os entes que lhe vem ao encontro
como entes dispostos através do modo próprio de ser da ocupação, ser-em como
ser-para. Detenhamo-nos como ocorre a compreensão, essa mesma dita por
Heidegger como processo teórico, fundada no modo de ser da presença como ser-
no-mundo. Então passemos à nossa, que visa compreender a presença a partir de
seu fundamento mais essencial, sua raiz, ser-no-mundo. Percebe-se que desta
afirmação derivam-se duas alternativas - uma, descrita primeiramente quando a
presença volta-se para os entes que lhe vem ao encontro enquanto disponíveis ao
modo da ocupação e ademais; que a presença pode ver os entes intramundanos
com o caráter de simplesmente subsistentes, portanto não serviriam para seus “fins”
práticos quando perdida a relação da serventia ao modo de ser-para algo,
justamente a disponibilidade do instrumento é colocada em questão.
Contidos na expressão ser-no-mundo, atentemos ao que o filósofo diz:
“o ser-em é, pois, a expressão formal e existencial do ser da pre-sença que
possui a constituição essencial de ser-no-mundo.”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora vozes, p.100)
Presume-se que partamos de uma compreensão fenomenologica do ser-no-
mundo como possuidor do caráter de uma recusa de encobrimentos,
obscurantismos e distorções devido ao fenômeno já ser sempre, de alguma forma,
visto em toda presença. Nela e para ela, presença, a constituição de ser é desde
sempre re-conhecida; entrementes, para ser “conhecida”, o conhecer toma a si
mesmo como conhecimento do mundo, exatamente o que se evidencia no
conhecer, no dizer e discutir o mundo, a sua operação primária de ser em um
mundo. Ao modo do conhecer, a presença adquire um estado de ser referido ao
mundo já desde sempre descoberto. Essa possibilidade adquirida desde si-mesma,
16
pode tornar-se uma tarefa, e assim como ciência, talvez assumir o sentido do ser-
no-mundo.
Fundado no ser em um mundo, o conhecimento não é o criador da relação,
da referência, do sujeito com o mundo nem de uma ação exercida pelo mundo
sobre o sujeito. Conhecer, na obra do filósofo, é um modo da presença cunhado no
ser-no-mundo, e levado a tal compreensão, que como constitutivo do fundamento,
imprescinde de uma certa interpretação prévia. Para tanto, retomemos o rumo da
mundanidade, previamente tratada por estar diretamente relacionada com totalidade
dos entes intramundanos ao modo da sua serventia, e que no instante estrutural e
constitutivo do ser em um mundo, ela irrompe. Heidegger indica que para
alcançarmos a ideia de mundanidade, a investigação deve seguir o caminho que
parte desse caráter mediano (Mitdasein) de ser em um mundo.
No dia-a-dia de ser-no-mundo fazem parte, como um pertencer, os modos de
ocupação que são o que permitem o encontro com o devido ente de que se ocupa.
Acontece de forma que traga à luz a determinação dos entes intramundanos. Ainda
contidos na ocupação, o ente que é dado à mão pode ser encontrado como
inadequado para o feito ou até mesmo sem condições de cumprí-lo. Atentemos para
a importância desse momento, no instante em que o instrumento à mão, na sua
impossibilidade de emprego, descobre a circunvisão de estar empenhado em uso.
Surge que, do inesperado, na surpresa, é proporcionado o modo do instrumento não
estar à mão. Mas como ocorre do que não pode ser usado estar simplesmente aí
lançado no mundo?
Poderíamos então buscar mais enraizamento, quando com o filósofo, somos
aptos a reconhecer que ao modo da ocupação da presença, não nos deparamos
apenas com o que possa ser empregado em meio ao que está à mão, mas nos
deparamos tão e principalmente com o que falta. Na falta, conceituado como não
somente com o que falta, não com o que está impossibilitado de ser manuseado,
mas acima de tudo, com o que não está de modo algum à mão. Visa-se com isso
mostrar algo simplesmente dado do manual, entretanto, percebe-se que o
simplesmente dado ainda possui um caráter de manualidade do instrumento.
Guiado pela circunvisão, o ser-no-mundo ocupa-se em ser o que já se é,
baseado em uma familiaridade com o mundo, é consanguíneo. E se obtivemos até
17
aqui, que só aprendemos ontologicamente o ser-em-si dos entes intramundanos
com base no fenômeno denominado mundo, poderíamos então constatar que a
possibilidade do mundo poder evidenciar-se, é por ele já ter-se aberto. Seguindo o
pensar, o mundo vale como algo em que (worin) a presença enquanto ente sempre
esteve com, e para o qual (worauf) pode apenas retomar em qualquer empenhar-se.
Após uma exposição superficial a respeito do ser-no-mundo ao modo da
ocupação, tornou-se possível, mesmo que de relance, perceber na estrutura de ser
do manual o seu caráter referencial, de sinalizar para algo, como caráter de indicar
um caminho. No ser como sinal, presente na estrutura do manual, percebe-se uma
brecha para adentrarmos no fenômeno da própria referência pelo ser-instrumento
do manual. A respeito do caráter instrumental diz Heidegger:
“Os sinais são, no entanto, antes de tudo, instrumentos cujo caráter instrumental específico consiste em mostrar.” (HEIDEGGER, Martin, Ser e
Tempo, oitava edição, editora vozes, p.126)
No próprio ato de mostrar temos uma espécie de referência, onde
formalmente, toda referência é um relacionar. Conquanto, nem toda relação vale
como referência por não necessariamente possuir uma determinada ação de
mostrar. Esse sinal está à mão numa totalidade conjuntural. Enquanto instrumento,
o sinal constitui-se por referência - seu ser-para - e como abordado anteriormente,
sua serventia. Sinal não se encerra em sendo uma coisa marcada pelo mostrar,
mas antes disso, caracteriza-se por um ser-instrumento que eleva todo instrumental
à circunvisão e de tal maneira que seu sentido de ser, anuncie-se conjuntamente.
Quando tomamos a expressão referência, indica-se com isso que o ser-no-
mundo, em si-mesmo, possui o caráter de estar referido a; nesse caráter, o ente se
descobre enquanto referido a uma coisa como o ente mesmo que ele é. Na
conjuntura, algo se deixa e se faz junto a, representa o caráter ontológico do
manual; pretende-se exatamente indicar pelo termo referência o ser do com-junto,
18
ou seja, a conjuntura acompanha o caráter ontológico do ser do ente, para além de
uma mera afirmação (ôntica) do que ele possa fazer.
Ao ser da presença, pertence uma compreensão de ser, e de ser o que já se
é. Esse compreender de mundo com o que a presença já está sempre em relação,
representa uma abertura prévia de perspectiva em que acontece a liberação dos
entes intramundanos que vem ao encontro. Acompanhemos o sentido proposto pelo
pensador, quando apreendemos o aspecto de remissão dessas referências como
ação de signi-ficar. Familiarizando-se com as remissões, o ser-no-mundo significa
para si-mesmo, oferece seu ser e seu poder ser-si-mesmo para uma compreensão
originária. Ao ser da presença pertence uma certa referencialidade. Marca-se que
nessas relações do ser-para, do ser em virtude de e do estar com de uma
conjuntura, em seu conteúdo fenomenológico, resistem a qualquer tipo de
funcionalização algébrica/matemática.
Acerca da espacialidade do ser-no-mundo, não signifiquemos como um mero
ocorrer espacial, em alguma posição no espaço, ou devido ao caráter de estar à
mão em algum lugar. Convém ao ser-no-mundo ao modo do ser-em, ocorrer em
uma espacialidade caracterizada por distanciamento e direcionamento.
Sobre a espacialidade do ser-no-mundo ao modo do distanciamento,
Heidegger diz:
“Distanciar diz fazer desaparecer o distante, isto é, a distância de alguma
coisa diz proximidade. Em sua essência, a presença é em dis -tanciando.” (HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora vozes, p.158)
Percebe-se no dito, que o distanciar vale como um existencial que possui um
caráter de aproximação à vista na ideia de preparo, de providenciar, de ter à mão.
Reside na essência da presença como ser-no-mundo uma tendência de
proximidade. Com isso concorre que o manual do mundo não se oferece como algo
simplesmente dado para um observador imortal, à parte, como que destituído do
caráter de ser em um mundo, no entanto, mundo vem ao encontro no cotidiano da
19
presença que se empenha em ocupações dentro de uma totalidade referencial
descoberta na circunvisão.
Retomemos outra caracterização do ser-em da presença, seu
direcionamento. Assim como o distanciamento, o direcionamento (sentido de ser)
acontece conduzido previamente ao modo de ser-no-mundo pela circunvisão da
ocupação. A presença enquanto ser-no-mundo, a cada passo, descobre já tendo
descoberto um mundo. Portanto, conclui-se que no fenômeno da espacialidade, não
se pode encontrar a origem da determinação ontológica do ser dos entes
intramundanos. Ademais, conclui-se que o espaço não se deriva do mundo devido
ao fato de poder ser concebido exatamente recorrendo-se ao mundo. Ainda
podemos afirmar com o filósofo que não por uma mera des-mundanização do
mundo circundante que seria possível ter acesso ao “espaço primordial”, não por
uma simplória abstração. No entanto sim, quando descoberta a espacialidade desde
o mundo e à medida que também se mostra constitutivo de um mundo; ocorre em
um acordo com a essência espacial da presença no que concerne sua constituição
fundamental de ser-no-mundo.
Evocando um restrospecto, dirijamos nossa atenção para a análise feita até
o presente momento, a mesma que fora abordada no contorno que vem ao encontro
“dentro” do mundo, tratada até aqui restringindo-se entre o instrumento manual e a
natureza simplesmente dada, no caráter de entes destituídos de presença.
Entretanto estaria faltando um modo de ser do ente baseado no modo de ser da
presença dos outros, ou seja, vem ao encontro diferenciando-se da manualidade e
do ser simplesmente dado. Portanto, são entes que não apenas diferem do
instrumento e das coisas, mas por co-possuirem o caráter de serem e estarem em
um mundo, e justo por este motivo, que vem ao encontro no modo de ser-no-
mundo. São como a própria presença, co-presenças. Segue-se então, que
poderíamos trazer à luz o questionamento de, ao se querer identificar o mundo sob
o aspecto de ente intramundano, dever-se-ia também evocar, o mundo é presença.
Mas como ocorre o encontro com as demais presenças?
Segundo nosso caminhar até o presente momento, nesse instante, podemos
pontuar que esse encontro não ocorre por uma apreensão prévia, no sentido de
20
estar simplesmente dado desde o início6, como se distinguisse assim dos demais
sujeitos e nem mesmo ocorre ao ser uma primeira visão de si onde se estabeleceria
o referencial da diferença. Os “outros”, fundamentalmente, vem ao encontro a partir
do mundo em que se mantém ao modo de ser-no-mundo, e como já exposto,
empenhado em ocupações orientadas por uma circunvisão. Portanto, Heidegger
reforça que o encontro se dá em oposição aos supostos “esclarecimentos teóricos”,
que, sem qualquer esforço impõem-se sobre o ser simplesmente dado dos outros
na co-presença; rememoremos, para tal oposição, o teor fenomenal deve ser
sinalizado do seu encontro com o mundo.
Essencialmente devido ao seu caráter de ser-com, visto ser-em-si-mesma, a
presença é apta na abertura co-pertencer com os outros presentes, com isso,
fiquemos com a evidência de que o ser-com segue um sentido ontológico-
existencial. A partir disso, podemos concluir que o ser-com é responsável por
determinar no âmbito da existência, o ser-no-mundo, ocorre mesmo se “um outro”
co-presente não é, certamente, dado ou percebido. Ainda que evocado e tentado
“um” estar só no mundo pela presença como alguma espécie de isolamento que
aparta, estar-só aqui, mesmo que levado às ultimas consequências, é ser-com no
mundo. Heidegger, incisivamente, ainda vai nos apontar que é exatamente pelo
caráter de ser-com e para o ser-com que o outro como realidade pode faltar.7
Portanto, percebe-se que o estar-só configura um estado deficiente do
existencial ser-com, seu próprio poder ser “um” estar-só é a prova disso. No termo
estar-só não concorre a ideia de estar simplesmente sem a presença de outros, o
ser-no-mundo pode estar só mesmo que junto-ao mesmo encontre-se um ou até
grupos de homens. Seguindo a análise, se tomado o ser-com como existencial
constitutivo de ser-no-mundo, talvez ele possa ser interpretado da mesma forma
que o modo de ser da ocupação, aquele já tratado como sendo o modo de lida da
circunvisão com o manual.
No entanto, não é próprio do modo de ser-com o caráter ontológico da
ocupação, tal como abordado no modo de ser-no-mundo, muito embora o modo de
ser-com, também ser detentor do mesmo caráter de serventia, de ser-para um fim.
O ente com o qual o ser-no-mundo se relaciona enquanto modo de ser-com também 6 Imanência
7 Ser e Tempo; oitava edição; p.177; editora vozes
21
não possui o caráter de estar-a-mão ao modo de intrumento, pois esse ente mesmo
é presença, co-presente no mundo; acerca desse ente não há ocupação, mas sim
preocupação.
Trataremos de expor melhor, o que queremos dizer quando o ser-no-mundo
vai ao encontro de um outro no modo de ser-com e perguntaremos, que
peculiaridade é essa de não ser regido pelo modo da ocupação, mas sim por um
caráter de pré-ocupação?
Funda-se a preocupação na constituição de ser da presença, como um modo
de ser-com. Na maior parte das vezes, seu caráter de urgência evidencia-se pela
manutenção de um estado deficiente de preocupação. Tal como Heidegger,
poderíamos pontuar exemplos desses modos de pré-ocupação, a saber – ser por
um outro, contra um outro, sem os outros, passar ao lado um do outro e até mesmo
o não se sentir tocado pelos outros, constituem possíveis modos de preocupação.
Especialmente nos últimos modos de preocupação, os de deficiência e de
indiferença, podemos referí-los ao que o pensador denomina em sua obra por
convivência; convivência cotidiana e mediana8 de um com o outro.
Ainda contidos na investigação acerca desses modos de preocupar-se do
ser-no-mundo, percebemos neles, um certo aspecto de não surpresa e evidência tal
como na caricatura do mordomo inglês e sua famosa indiferença, convenientes
tanto à co-presença cotidiana dos outros, como também à manualidade do
instrumento ao qual se ocupa no dia a dia.
Está presente nos modos indiferentes da convivência cotidiana, um certo
desvio de onde a interpretação ontológica deveria encaminhar-se. Facilmente,
nesses modos, desvia-se de uma interpretação estrutural, de fundamento, e acaba-
se por seguir um entendimento imediato sobre esse ser como ser simplesmente
dado de muitos sujeitos. Muito embora possa ser visto como um detalhe
insignificante, esta nuança, nos coloca em prontidão; de que subsiste
ontologicamente uma diferença entre a relação do ser com a ocorrência das coisas
de modo indiferente e o caráter de não se sentir tocado dos entes que convivem
entre si.
8 Mitdasein
22
Em Ser e Tempo, Heidegger nos convida a pensar nos dois modos positivos
da preocupação, em suas possibilidades extremas. Em uma de suas “possibilidades
positivas”, a preocupação poderia retirar o cuidado de ser do outro para tomar-lhe o
lugar nas ocupações saltando para o seu lugar, no intuito de assumir a ocupação
que o outro deveria realizar. Assim mesmo, o ser que deveria realizar a ocupação, é
deslocado, retraindo-se para posteriormente assumir a ocupação como disponível e
pronto-para, ou até mesmo dispensá-la totalmente. Não tarda a perceber, que nesse
modo, o outro tende à dependência e dominação, mesmo que essa dominação
permaneça encoberta e seja silenciosa para quem seja dominado. Essa
preocupação que retira do outro o cuidado, determina a convivência de um para
com o outro em larga amplitude, e em quase todas situações, determina a ocupação
do manual.
Contudo, percebe-se ainda uma possível preocupação que não detém o
caráter de substituir o outro, mas que salta, antecipando-se a ele. Entretanto, não
para lhe retirar o cuidado, mas para guardá-lo e devolvê-lo como tal. Acerca dessa
possível preocupação, Heidegger diz:
“Essa preocupação, que, em sua essência, diz respeito à cura propriamente dita,ou seja, à existencia do outro e não uma coisa de que se ocupa, ajuda o outro a tornar-se, em sua cura, transparente a si mesmo e livre para
ela.”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora vozes, p.179)
Comprova-se na preocupação, que ao ocorrer como uma constituição de ser
em um mundo, agrega-se segundo suas possibilidades, presente no seu caráter já
evocado nos termos em-vista-de no em-face-de-si. Presente tanto no seu ser para
com o mundo quanto no seu ser para consigo mesmo. Começamos a nos aproximar
do que o pensador diz por convivência, exatamente nesse caráter recíproco do em-
vista-de no em-face-de-si; em uma ocupação comum é onde o ser-no-mundo
empreende-se com a mesma coisa. No entanto, o que percebemos é exatamente
uma ocupação comum fundamentada numa postura de desconfiança.
23
Assim como a circunvisão faz parte da ocupação ao modo de descoberta do
manual, a preocupação é motivada pela consideração e pela tolerância e também,
por sua vez, circunvisão e pré-ocupação, ambas respectivamente em seus modos
deficientes e indiferentes correspondem à preocupação, essa que, em logo, leva
até a total desconsideração e a tolerância, que alimenta a indiferença.
Previamente foi exposta a mundanidade; interpretada como totalidade
referencial da significância, tal como a presença deixa e faz vir ao encontro o
manual enquanto algo que se descobre em sua conjuntura. Com isso, podemos
com Heidegger, encaminhar-nos para a compreensão de mundo como mundo que
libera não apenas o manual com caráter de ente que vem ao encontro dentro do
mundo, mas como presença, e os outros em sua co-presença. O contexto
referencial da significância, ou mundanidade do mundo, enraíza-se no modo de ser
mais próprio da presença, onde em essência, não se pode ter conjuntura alguma, o
que corresponde justamente ao ser-em virtude do qual o próprio ser-no-mundo é
como é.
Portanto, ser-com os outros pertence ao ser-no-mundo, ao passo que, sendo,
radicalmente põe em jogo seu próprio ser; é enquanto ser-com que o ser-no-mundo
“é como” em virtude dos outros, o pensador assim o estrutura e nos convida a tomá-
lo por um enunciado existencial. Ainda que o ser-no-mundo acredite não precisar
dos outros, mesmo que cada presença não se volte em preocupação para outro,
persiste ainda assim no modo de ser-com. No ser-com, como ser-em virtude dos
outros, os outros, já encontram-se abertos em sua presença. Mas como acontece
do ser-com em virtude dos outros ocorrer de já está aberto em sua presença?
Enquanto existente, o ser-com no caráter de ser-em-virtude-de já
compreende os outros abertos em suas devidas presenças. Trata-se de dizer -
nesse perfazimento, é a mundanidade que fundamenta a consolidação na estrutura
ontológica do ser-em-virtude-de; nessa abertura dos outros aproxima-se a presença,
também no perfazer, da significância. Portanto, lancemos nossas raízes ao húmus
da terra e, junto com Heidegger, pensemos em uma conclusão para o
questionamento acima - a mundanidade do mundo, essa mesma que se mostra
constitutiva da presença em seu caráter essencial, ser-no-mundo. Deixa assim, que
24
o manual do mundo circundante venha ao encontro junto-com a co-presença, os
outros, no mais próprio da ocupação guiada pela circunvisão.
Na mundanidade do mundo, desde sua estrutura, os outros não são dados
como sujeitos, largados, soltos ao lado das demais coisas circundantes, os outros
se dão em um mostrar de ser-no-mundo, empenhados ao modo das ocupações do
mundo que os circundam, justamente desde um ser que, no mundo, está disposto à
mão.
É ao modo de ser-com que se funda o ser que se compreende originalmente,
move-se desde o início tal como o modo de ser mais imediato do ser-no-mundo,
ocorre como um conhecer compreensivo tomado na ocupação. Segue-se, a partir
do que o ser-no-mundo se ocupa e do que nessa ocupação se compreende; o
pensador refere com isso ao que possibilita o entendimento da ocupação da
preocupação. Conclui-se que o outro é descoberto previamente na disposição da
preocupação das ocupações. Conquanto, haveria ainda de tomarmos os modos
deficientes ou, pelo menos indiferentes, mantidos pela preocupação como
ocupação.
Será que já poderíamos evocar um certo aspecto do conhecer contido na
obra Ser e Tempo? Observa-se que o conhecer necessita de certa forma aprender a
conhecer-se9, mesmo quando se encontra nos modos afastados, como ocorre ao
esconder-se, ou mesmo na errância. Percebe-se que a convivência necessita de
determinados caminhos; tanto para uma aproximação do outro, quanto para
procurá-lo.
A abertura na preocupação brota essencialmente do modo de ser-com. Assim
também percebemos brotar da convivência, respectivamente, ao modo do revelar-
se e fechar-se. No ser-com e ser-para os outros, subsiste portanto, uma referência,
uma relação ontológica entre presenças. Acerca da relação ontológica diz
Heidegger:
9 Parece-me evocar a famosa passagem à porta do oráculo de Delphos – conheça-te a ti mesmo.
25
“Essa relação, pode-se dizer, já é cada vez constitutiva da própria
presença, a qual possui por si mesma uma compreensão de ser e, assim relaciona-se com a presença. A relação ontológica com os outros torna-se, pois, projeção do próprio ser para si-mesmo “num outro”. O outro é um
duplo de si mesmo.”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora vozes, p.181)
No entanto, alto lá! O filósofo também já traz à atenção que esta reflexão
ancora-se em bases pouco sólidas, ou seja, a pressuposição do argumento em que
o ser do ser-no-mundo, é para si mesmo o ser para um outro, implica não parecer
primeiramente justa. Enquanto permanecer à parte, dificilmente se fará evidente em
sua justa determinação. Portanto, se não houver um cuidado com o que
compreendemos por eksistencia, permanecerá enigmática a relação ontológica.
Notemos o quanto nos aproximamos do que costumeiramente tomamos por
empatia, no entanto diverge em sua constituição do ser-com e justamente pelo
motivo de ser, a empatia, originada da própria constituição do ser-com. Podemos
conquistar mais um passo com o pensador quando concluimos, através da analítica
desenvolvida, que o ser-com é um constitutivo existencial do ser-no-mundo. Tal
como abordado anteriormente, o porquê da presença ser, segue o modo de ser da
convivência, o que jamais deveriamos tomar por ser uma mera soma de numerosos
sujeitos, ocorre ao passo de desconsiderá-los, por não os levar em conta em seu
ser mais próprio.
O ser-no-mundo ao modo de seu empenhar-se, ao lado do ser-com os outros
no mundo das ocupações também acontece de ser, de certa forma, o que ele
próprio não é; conquanto, quem é que assume o ser ao modo do convívio cotidiano?
Tratado anteriormente a espacialidade do ser-no-mundo ao modo do
distanciamento, da mesma forma ocorre que existencialmente, o ser-no-mundo,
segue ao passo do afastamento; é enquanto convivência cotidiana que habita o
modo de ser-com enquanto afastamento constitutivo, sob a tutela dos outros revela-
se o seu ser mais próprio. Não tratemos como um outro, o que é meramente
determinado, qualquer um poderia representá-lo. Começamos a nos aproximar da
resposta à pergunta suscitada acima, onde se instaura a evidência do que
Heidegger nomeia como impessoal, seu ser, pertence aos outros. Portanto o “quem”
26
não é dado como esse ou aquele, não é dado como um si-mesmo do impessoal,
nem mesmo a soma de todos eles, neste caso, o “quem” é o neutro.
No impessoal, todo ser-no-mundo está entregue a um nivelamento,
caracterizado pelo achatamento do ser ao modo de ser dos outros, provoca-se
assim, o desaparecimento no convívio cotidiano da possibilidade do ser-no-mundo
diferenciar-se, é dado a um modo de ser que dissolve sua própria presença em
virtude dos outros. Perde-se até mesmo o contato com a responsabilização do que
foi feito. Alertemo-nos, no entanto, para o caráter confortante da falta do inesperado
e evidenciado na possibilidade de se calcular; é evocado nesse modo de ser do
impessoal, um certo conforto na exatidão pressuposta. A medianidade é
apresentada de maneira a abafar o inaugural, eliminar a primazia, assim todo
originário é planificado, trata-se da banalização do que se conquistou com muito
esforço.
Ao modo de ser da presença, o mundo libera cotidianamente o ente que vem
ao encontro delimitado pela medianidade baseada no impessoal; este, como um
existencial, caracteriza-se em uma primeira aproximação por ser como a presença
está no mundo, está dada em um mundo comum. Assim, essa “subjetividade” não
estaria ao molde de um si-mesmo, mas sim, impessoalmente à mão. Ou seja,
primeiramente somos dados não como um autêntico ser-si-mesmo, mas como um
impessoalmente si-mesmo. Passado esse primeiro momento, em que a presença na
maior parte das vezes é impessoal, eis que surge no irromper da presença como
ser-no-mundo, quando ela descobre o mundo e o aproxima de si, abre desta
maneira o mundo para si-mesma, representa a abertura que inaugura o romper das
confusões, dissipa o obscurantismo em que a presença mesma se encerra.
Ontologicamente, parece-nos próximo o modo de ser da convivência
cotidiana com o modo de ser simplesmente subsistente, no entanto, de nenhuma
forma alcançaremos seu conceito por mera analogia; justo por ser do alcance do
impossível compreender o ser-si-mesmo como algo simplesmente dado, não se
trata de um estado privilegiado do sujeito que de alguma maneira desgarrou-se do
impessoal. É abissal a distância do ser-si-mesmo do si-mesmo mais próprio e o que
tomamos por identidade do eu que se mantem sempre no decorrer das vivências
cotidianas.
27
Até aqui conquistamos com a analítica existencial da presença, de certa
maneira, um sentido orientador que se fundamenta constitutivamente nesse ente,
enunciado como ser-no-mundo. Percebe-se que desde o início preparamos o solo, o
compostamos e aramos, para que assim, pudéssemos indicar o que poderíamos
chamar de seu caráter “mais imediato”, para que conseguíssimos talvez mostrar,
mesmo que de relance, o fundo, sua estrutura mais unitária e originária, ser-no-
mundo. Atravessamos por suas demonstrações em uma caracterização fenomenal
que se volta para o momento do irrompimento da estrutura mundo; estrutura mesma
que determina ontologicamente os modos de ser desse ente e suas possibilidades.
Em uma exposição primeira, tratou-se de preparar um norteamento acerca do ser-
em como tal, de forma que assim, o trouxesse à luz em seu modo mais próprio de
ser, ao conhecer si-mesmo no mundo.
Nota-se o cuidado com que o pensador mantém a estrutura do fenômeno
longe de possíveis fragmentações, conquanto agora trataremos de reconduzir ao
existencial ser-em; mostrado no ser-no-mundo seu aspecto de ser-junto-a, tal como
o modo de ser da ocupação; também no modo de ser-com, tido na relação com as
demais presenças, com o outro, tal como denominamos com Heidegger de
preocupações; por fim, o ser-si-mesmo mais próprio, o quem da presença.
No entanto, para onde direcionaremos o nosso olhar quando posta a questão
do ser-em enquanto tal? Recordemos, que na indicação mesma do fenômeno, já
nos foi confiada a visão fenomenológica. Acerca da visão do fenômeno, Heidegger
diz:
“A presença sempre traz consigo seu pre e, desprovida dele, ela não apenas deixa faticamente de ser, como deixa de ser o ente dessa essencia.
A presença é a sua abertura.”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora vozes, p.192)
28
Portanto, é da essência desse ser sua existência10, o ser posto em jogo é
justamente o “pre” da sua presença. Tende-se assim, através dessa análise, expor
seus dois aspectos, a saber – o aspecto de se caracterizar a constituição primordial
do ser da abertura e, como é preciso interpretar o modo de ser-em que esse ente é,
tal como no cotidiano, o pre da sua presença. Dessa forma, junto com o pensador,
conclui-se dois modos constitutivos do ser desse pre, são ao mesmo tempo
originários, encontrados na disposição e no compreender e, ambos determinados
pela fala. Contudo, disposição e compreender são análogos ao conceito de abertura
do ser-no-mundo. Da análise fenomenológica da disposição e da compreensão,
torna-se aparente o ser do pre que interpretamos como decadência, um ritmo, uma
cadência, que nos mostra um modo de existir próprio do movimento do ser.
Ser-no-mundo trazido de sua origem, é uma estrutura que se fundamenta
pelo caráter de totalidade. Agora, tal como Heidegger em sua obra, perguntemos
então, como ocorre do ponto de vista ontológico-existencial o todo dessa totalidade?
Acontece que já expusemos de certa forma o modo da disposição, enquanto
o caráter do em-vista-de no em-face-de-si. Na disposição a presença já sempre se
dispôs sobre si-mesma, tal como uma afinação de humor, sintoniza-se.
Entrementes, faz-se pouco caso da presença que, sendo no mundo se revela; o
pouco caso ou a indiferença que caracterizam a estrutura do desvio, é o “que
é”(Dass) ao modo da disposição. Assim, o pensador visa conosco amparar o ponto
de vista ontológico-existencial, onde, de forma alguma, encontraremos razão ao
desprezar a evidência da disposição como modo originário de ser; especialmente
comparando-a com a certeza, configurando-a com a retidão de um conhecimento
teórico baseado no que é simplesmente dado. Segue-se da afirmação, que não
seria menos falso afirmar que tais fenômenos habitariam o âmbito do irracional, pois
o irracional também não compreende seu modo de ser, portanto, é apenas um outro
lado do racionalismo o chamado irracionalismo.
No modo do compreender, como existencial, expusemos como um em-
virtude-de, também constitutivo do pre da presença. Ao evocar que o ser-no-mundo
enquanto presença é seu pre, indicamos de certa forma que o mundo é presença, e
assim fica então evidenciada sua presença no ser-em. Presencia-se a abertura
10 Ek-sistencia
29
como tal do mundo nesse em-virtude-de e, denomina-se essa abertura como
compreensão; compreender na obra do filósofo ainda é marcado pelo ser do poder-
ser e, é somente pelo caráter de compreender-se em seu pre, que ela, presença,
pode perder-se e ser levada ao desconhecimento. No compreender lançado
existencialmente e, por este motivo mesmo, o ser-no-mundo fica possibilitado de se
perder e desconhecer. No entanto, no âmago desse poder-ser, o ser-no-mundo já
se entregou ao que é possível de se encontrar em suas possibilidades mesmas.
Marquemos então mais um passo acerca da questão anteriormente evocada,
quando procurávamos o rastro do todo dessa totalidade do ponto de vista
ontológico-existencial, em seguida, perpassamos pela disposição e pelo
compreender como modos originários, para que, em virtude disso, alcançássemos
um conceito claro. Obtivemos que, como abertura, o compreender sempre alcança a
constituição fundamental do ser-no-mundo. No modo de ser das disposições de
humor, o ser-no-mundo “vê” as possibilidades de ser a partir do qual ele é.
Estamos a nos aproximar de nossa madrugadora aurora, quando acerca do
termo tomado por nossa investigação, pontuamos que primeiramente, é o ser-no-
mundo ao modo da presença, empenhado no mundo das ocupações. Como
conceito, percebe-se a ocupação como o que é direcionado pela circunvisão, essa
que descobre o que está à mão e o preserva nesse mesmo estado de descoberta. A
descoberta de mundo, própria da circunvisão, possui o caráter ontológico do
distanciamento. E, sendo para si ao modo do distanciamento, essencialmente cria
para si novas possibilidades de distanciar-se. Significaria que assim, toma-se o que
está mais próximo, o que está à mão, em direção ao que está distante. No caráter
do repouso e na guarda, a cura transmuta-se na ocupação das possibilidades de ver
o mundo em seus aspectos.
Almeja-se o distante para torná-lo próximo, esse é o caráter ontológico do
distanciamento, pois o ser-no-mundo só se deixa levar pelo aspecto do mundo. A
presença fica assim determinada, ao passo que, pode desprender-se do ser-junto
que em uma primeira aproximação, está dada na cotidianidade do impessoalmente
si-mesmo. Desde si-mesmo, o ser-no-mundo já sempre pôde ser si-mesmo; ele
sempre caiu de si mesmo e decaiu no mundo, está junto e no mundo das
30
ocupações. Decair no mundo ou, estar disposto nele, significa um empenhar-se na
convivência.
Busca-se com Heidegger, uma exposição do modo de ser da decadência
como algo que não se refere ao ser-no-mundo como um ente simplesmente dado.
Conclui-se que, ao modo da decadência, trata-se apenas de evocarmos o poder-
ser-no-mundo, muito embora seja com caráter da impropriedade. Desvelar-se-á
que, enquanto modo de ser desse ser-em, a decadência se apresenta como
comprovação mais fundamental da existencialidade da presença, como ser-no-
mundo.
Temos fundamentado que, inerente à essência da presença tematizamos a
constituição ontológica da abertura quando se buscava o ser do pre. O modo de ser
da abertura ficou evidente ao formar-se na disposição, no compreender e por
suposto, na fala. Em seu aspecto cotidiano, esse modo da abertura corresponde à
falação, à curiosidade e à ambiguidade. Conquista-se assim bases mais sólidas
para uma interpretação do ser-no-mundo como ser da presença enquanto cura.
Nossa investigação parte rumo ao nexo “esquecido no esquecimento”, a
referência e, de tal maneira que esse ser possa desde sua abertura, ser trazido
diante de si-mesmo. E aberto para si o ser-no-mundo em um estar lançado típico, tal
como o que tratamos na expressão em-vista-de, projeta-se assim para suas
possibilidades de ser.
Desde o ser-no-mundo co-pertencem dois modos, tratados de maneira
igualmente originária, são eles – o ser-junto do que está à mão e o ser-com os
outros que é sempre em virtude de si-mesmo. Contudo, nesse ser si-mesmo, como
foi tratado também pelo termo em-face-de-si, ocorre primeiramente como um
impessoalmente si-mesmo; o ser-no-mundo em virtude disso, está sempre em
decadência.
Em seguida, Hedegger vai concluir acerca da cotidianidade mediana:
31
“Pode-se, portanto, determinar a cotidianidade mediana da presença como
ser-no-mundo aberto na decadência que, lançado, projeta-se e que, em seu ser junto ao “mundo” e em seu ser-com os outros, está em jogo seu poder-ser mais próprio”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora
vozes, p.247)
Através dessa investigação, notamos que para o alcance conceitual acerca
do fenômeno da cura, deveríamos antes de mais nada, buscá-lo desde uma análise
existencial que é responsável por preparar a questão mais inquietante, a que se
refere ao sentido do ser em geral. Até então, a problemática ontológica herdada
pela Tradição, compreendeu o ser em uma primeira aproximação, como sentido do
ser simplesmente dado, costumeiramente tomado por “realidade”(mundo real).
Contudo, percebe-se que desde a Tradição, mantém-se ainda obscuro o ser-no-
mundo através de uma análise ontológica, desde seu fundamento. Trata-se da
necessidade de aprofundar o diálogo filosófico, de estruturar as raízes em busca do
nexo11ontológico, percebido entre cura, mundanidade, manualidade e ser
simplesmente dado. Tal sentido de ser simplesmente dado, ocorre como quando
distraídos chamamos pelo termo realidade.
Consideremos que, enquanto possibilidade de ser do ser-no-mundo, como
disposição privilegiada, a angústia se angustia com o próprio ser-no-mundo;
angustia-se junto com a presença que se abre em face de si. É exatamente o que
oferece o solo fenomenal para a apreensão da totalidade originária da presença.
Ainda que o ser não possa ser concebido onticamente, jamais poderia sê-lo
completamente imcompreendido. Desvela-se esse ser como cura, é graça, Aléthea.
Como modo de disposição, acontece da angústia abrir primeiramente mundo
como mundo, conquanto, isso não siginifica dizer que desde a angústia possamos
conceber a mundanidade do mundo. Revela-se na angústia o poder ser mais
próprio do ser-no-mundo, é livre-para poder escolher e acolher a si mesmo; o por
quê se angustia torna-se com o quê se angustia, próprio do angustiar-se. Sobre o
caráter da mesmidade, o do mundo como mundo, Heidegger diz:
11 Mesmidade (ipseidade)
32
“A mesmidade existencial do abrir e do aberto em que se abre o mundo como mundo, o ser-em como poder-ser singularizado, puro e lançado,
evidencia que, como fenômeno da angústia, se fez tema de interpretação uma disposição privilegiada.”(HEIDEGGER, Martin, Ser e Tempo, oitava edição, editora vozes, p.255)
Na disposição, revela-se como se encontra a presença, no entanto, encontra-
se em um certo estranhamento de si a presença que se angustia; na estranheza de
estar em nada e um lugar que é lugar nenhum, não consegue se sentir em casa.
Como já trabalhado, o ser-em foi tratado como o que constitui fenomenalmente o
fundamento da presença, logo, ser-no-mundo. Distancia-se de uma compreensão
de “interioridade”, para que possa ser tomado, o ser-em, desde seu caráter de estar
familiarizado com, como habitar em, é nativo, como sentir-se em casa.
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluamos então que, ao modo da angústia, rompe-se com o que está
familiarizado, retira-se do ser-no-mundo seu empenho decadente no mundo,
singulariza-se ao tomar para si o seu poder ser si mesmo, ser-livre para escolher e
acolher-se. Mas em que medida conquistamos com a angústia, essa capacidade,
como disposição originária e privilegiada, de poder-ser livre-para sermos nós
mesmos no todo da presença?
Trata-se de reconhecer na disposição de humor, ainda que um fenômeno
raro em sua essência, um princípio para a analítica existencial. A raridade de sua
ocorrência é exatamente a evidência de que o ser-no-mundo permanece encoberto
para si no impessoalmente si mesmo, mas que, perpassado por essa disposição
original, abre-se para ser originalmente si mesmo.
A totalidade estrutural da presença do ser, ou pelo que denominamos como
mundanidade do mundo, pode ser evidenciada em sua plenitude quando evocada
como um anteceder-se a si mesma no caráter de já ser em um mundo. Configura-se
por ser um fenômeno em uma totalidade indivisível; reconstruí-lo desde partes ou
até mesmo impulsos particulares e, sua tentativa desde um querer, desde um
desejar ou tendência; acaba ficando, por fim, fadada ao fracasso.
Reflitamos pois, cura é, pura e simplesmente desde vida, enquanto ser
vivente, presente em um mundo, antecede a si mesma; no homem dispõe-se
privilegiadamente ao modo da disposição originária, referente ao elemento
constitutivo de sua essência, o fundo sem-fundo; nada. Nesse nada, esse que é
húmus, como homem, ser-no-mundo, pode-ser livre-para, vê, avista algo em face de
si, há um sentido de ser, há muito clama pelo ser; angustia-se, supera-se desde sua
origem – irrompe do nada, obrigado pela graça de mais um sorriso, evoé.
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Referências
HEIDEGGER, Martin (1927) – Ser e tempo, Editora vozes.
HEIDEGGER, Martin (1929) – Sobre a esssência do fundamento, Livraria
Duas cidades.
HEIDEGGER, Martin (1929) – Hegel e os gregos, Livraria Duas cidades.
HEIDEGGER, Martin (1947) – Sobre o humanismo, Tempo brasileiro.
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“Afinal, as florestas européias se tornaram o equivalente dos desertos para onde os monges do oriente cristão se
dirigiam em sua busca pela solidão.” Referência a Floresta negra de Heidegger
NATIVIDADE _ SER-NO-MUNDO