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Legislação Comentada – Prescrição – Arts. 109/118 do CP Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II – em dezesseis anos, se… Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III – em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI – em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. Prescrição das penas restritivas de direito Parágrafo único – Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade. Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória Art. 110 – A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula- se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. § 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

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Legislao Comentada Prescrio Arts. 109/118 do CPArt. 109. A prescrio, antes de transitar em julgado a sentena final, salvo o disposto no 1o do art. 110 deste Cdigo, regula-se pelo mximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I em vinte anos, se o mximo da pena superior a doze; II em dezesseis anos, se

Art. 109. A prescrio, antes de transitar em julgado a sentena final, salvo o disposto no 1o do art. 110 deste Cdigo, regula-se pelo mximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:I em vinte anos, se o mximo da pena superior a doze;II em dezesseis anos, se o mximo da pena superior a oito anos e no excede a doze;III em doze anos, se o mximo da pena superior a quatro anos e no excede a oito;IV em oito anos, se o mximo da pena superior a dois anos e no excede a quatro;V em quatro anos, se o mximo da pena igual a um ano ou, sendo superior, no excede a dois;VI em 3 (trs) anos, se o mximo da pena inferior a 1 (um) ano.Prescrio das penas restritivas de direitoPargrafo nico Aplicam-se s penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.Prescrio depois de transitar em julgado sentena final condenatriaArt. 110 A prescrio depois de transitar em julgado a sentena condenatria regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um tero, se o condenado reincidente. 1 A prescrio, depois da sentena condenatria com trnsito em julgado para a acusao ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, no podendo, em nenhuma hiptese, ter por termo inicial data anterior da denncia ou queixa.ermo inicial da prescrio antes de transitar em julgado a sentena finalArt. 111 A prescrio, antes de transitar em julgado a sentena final, comea a correr:I do dia em que o crime se consumou;II no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;III nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanncia;IV nos de bigamia e nos de falsificao ou alterao de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido.V nos crimes contra a dignidade sexual de crianas e adolescentes, previstos neste Cdigo ou em legislao especial, da data em que a vtima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo j houver sido proposta a ao penal.Termo inicial da prescrio aps a sentena condenatria irrecorrvelArt. 112 No caso do art. 110 deste Cdigo, a prescrio comea a correr:I do dia em que transita em julgado a sentena condenatria, para a acusao, ou a que revoga a suspenso condicional da pena ou o livramento condicional;II do dia em que se interrompe a execuo, salvo quando o tempo da interrupo deva computar-se na pena.Prescrio no caso de evaso do condenado ou de revogao do livramento condicionalArt. 113 No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrio regulada pelo tempo que resta da pena.Prescrio da multaArt. 114 A prescrio da pena de multa ocorrer:I em 2 (dois) anos, quando a multa for a nica cominada ou aplicada;II no mesmo prazo estabelecido para prescrio da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.Reduo dos prazos de prescrioArt. 115 So reduzidos de metade os prazos de prescrio quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentena, maior de 70 (setenta) anos.Causas impeditivas da prescrioArt. 116 Antes de passar em julgado a sentena final, a prescrio no corre:I enquanto no resolvida, em outro processo, questo de que dependa o reconhecimento da existncia do crime;II enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.Pargrafo nico Depois de passada em julgado a sentena condenatria, a prescrio no corre durante o tempo em que o condenado est preso por outro motivo.Causas interruptivas da prescrioArt. 117 O curso da prescrio interrompe-se:I pelo recebimento da denncia ou da queixa;II pela pronncia;III pela deciso confirmatria da pronncia;IV pela publicao da sentena ou acrdo condenatrios recorrveis;V pelo incio ou continuao do cumprimento da pena;VI pela reincidncia. 1 Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupo da prescrio produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupo relativa a qualquer deles. 2 Interrompida a prescrio, salvo a hiptese do inciso V deste artigo, todo o prazo comea a correr, novamente, do dia da interrupo.Art. 118 As penas mais leves prescrevem com as mais graves.Introduo:no h como estudar prescrio sem adentrar no estudo do processo penal. Por isso, este resumo ser misto, com a integrao das duas reas. Antes de tudo, vamos ao conceito: a prescrio a perda, em razo do decurso do tempo, do direito estatal de buscar a punio (P.P.P.) ou de executar a pena j imposta (P.P.E.). No se confunde com a decadncia, que a perda do direito de queixa ou de representao em face da inrcia de seu titular durante o prazo legalmente previsto. Entenda: nos crimes de ao penal privada, a ao penal iniciada pela queixa-crime, petio inicial apresentada pelo ofendido h outros legitimados e uma hiptese excepcional em que somente a vtima pode ajuiz-la, mas no falarei sobre o assunto pois foge do nosso tema. A vtima tem o prazo de 6 (seis) meses para propor a ao, contado, em regra, do dia em que se descobre a autoria do crime. Caso no o faa, ocorrer a decadncia, e a ao no poder mais ser proposta. A decadncia tambm pode ocorrer nos crimes de ao penal pblica condicionada representao, em que o Estado no pode iniciar a persecuo penal sem que a vtima demonstre interesse em punir o agente (sem que represente). Passados 6 (seis) meses do dia em que se descobriu a autoria, se a vtima no representar o agente, ocorrer a decadncia, e o Estado nada mais poder fazer para puni-lo. Exemplos:a) Joo foi vtima de injria, crime de ao penal privada. Caso no oferea a queixa-crime em 6 (seis) meses, do dia em que descobriu a autoria, haver a decadncia. Contudo, oferecida a queixa-crime e condenado o ru, o prazo para a imposio de pena, que compete ao Estado, prescricional. Obs.: caso voc esteja se perguntando o porqu de o prazo para propor a ao penal ser decadencial e o para aplicar a pena ser prescricional, basta dizer que a aplicao de sano penal compete exclusivamente ao Estado, que se submete a prazos prescricionais, e no ao particular, mesmo em aes penais privadas ou em aes penais pblicas condicionadas.b) Joo foi vtima de estupro, crime de ao penal pblica condicionada. Para que o Estado possa agir, preciso que Joo manifeste o seu interesse pela persecuo penal (a representao). Caso no o faa no prazo de 6 (seis) meses, do dia em que descobriu a autoria, ocorrer a decadncia, e o Estado nada poder fazer para punir o ofensor. No entanto, havendo a representao, o prazo para a propositura da ao, pelo Ministrio Pblico, e para a execuo da pena, caso condenado, prescricional, pela mesma razo anteriormente exposta (item a).c) Joo foi vtima de homicdio tentado, crime de ao penal pblica incondicionada. Neste caso, o interesse de Joo pela persecuo penal irrelevante. O Estado no depende de sua manifestao para punir o autor do delito. No h, nesta hiptese, qualquer situao de decadncia. Tanto o prazo para a persecuo penal quanto para a execuo da pena so prescricionais.A prescrio e a decadncia extinguem a punibilidade (CP, art. 107, IV). Por mais torpe que tenha sido o crime, ocorrendo a prescrio ou a decadncia, o agente no poder ser punido. Como a prescrio est diretamente vinculada com a inoperncia estatal, a sua incidncia gera inegvel sensao de impunidade. Por isso, importante que se evite a sua ocorrncia. A imprescritibilidade, se fosse aplicvel a todos os delitos, tambm geraria inconformismo social. Imagine algum ser condenado por um crime trinta, quarenta ou cinquenta anos aps a sua prtica. Descabido, no? Portanto, o interessante que o Estado seja gil ao punir o criminoso, para que a funo social da pena seja alcanvel. Para facilitar ainda mais o tema, vejamos a tabela a seguir:

Art. 109. A prescrio, antes de transitar em julgado a sentena final, salvo o disposto no 1 do art. 110 deste Cdigo, regula-se pelo mximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:Prazos:os prazos prescricionais esto no art. 109 do CP, que assim dispe:I em vinte anos, se o mximo da pena superior a doze;II em dezesseis anos, se o mximo da pena superior a oito anos e no excede a doze;III em doze anos, se o mximo da pena superior a quatro anos e no excede a oito;IV em oito anos, se o mximo da pena superior a dois anos e no excede a quatro;V em quatro anos, se o mximo da pena igual a um ano ou, sendo superior, no excede a dois;VI em 3 (trs) anos, se o mximo da pena inferior a 1 (um) ano..Infelizmente, no h alternativa ao leitor: ser necessrio memorizar os prazos acima (refleti sobre alguma ttica para memoriz-los, mas no pensei em nada legal. Alguma sugesto?). Geralmente, as bancas no costumam pedi-los em provas objetivas, sem consulta. Mas, por precauo, interessante t-los em mente. Ao fazer o clculo, ateno ao que prev o art. 115 do CP: So reduzidos de metade os prazos de prescrio quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentena, maior de 70 (setenta) anos..Imprescritibilidade:h somente duas hipteses em que no ocorre a prescrio: a) no racismo; b) na ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico. Quanto aos demais crimes, todos prescrevem, inclusive os mais graves, como os hediondos, a tortura e o trfico de drogas. Em relao tortura, ateno: na esfera cvel, imprescritvel o direito indenizao de vtima de tortura durante a ditadura. Contudo, o mesmo raciocnio no aplicvel no Direito Penal.A polmica sobre o art. 366 do CPP:o dispositivo possui a seguinte redao: Se o acusado, citado por edital, no comparecer, nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do disposto no art. 312.. Imagine a seguinte situao: Joo praticou o crime de homicdio. O MP ofereceu denncia em seu desfavor, e o juiz a recebeu, determinando a sua citao. Joo, no entanto, no foi encontrado pelo oficial de justia. Tampouco compareceu em cartrio ou nomeou advogado. O juiz, ento, citou-o por edital, determinando a suspenso do prazo prescricional at que Joo seja encontrado ou se apresente. Surge, ento, a seguinte questo: e se ele nunca for encontrado, ou no se apresentar, o prazo prescricional ficar suspenso para sempre? claro que no, caso contrrio, estaramos diante de mais uma hiptese de imprescritibilidade. Para o STJ, nestas situaes, o processo penal deve permanecer suspenso pelo prazo mximo em abstrato relativo ao crime, nos termos do art. 109 do CP. Passado esse prazo, retoma-se a contagem da prescrio, calculado pelo mximo da pena em abstrato legalmente previsto. Ou seja, a prescrio passa a ser calculada em dobro, sem falar-se em imprescritibilidade. No caso de Joo, o prazo prescricional ficar suspenso por 20 (vinte) anos (CP, art. 109, I), pois a pena do homicdio superior a 12 (doze) anos. Transcorrido o prazo da suspenso, a prescrio correr normalmente, por mais 20 (vinte) anos.P.P.P. e P.P.E.:a prescrio da pretenso punitiva (P.P.P.) e a prescrio da pretenso executria (P.P.E.) no se confundem. Naquela, na P.P.P., o Estado perde o direito de buscar a punio de possvel criminoso. Exemplo: a pena do furto (CP, art. 155) de um a quatro anos, e multa. Na prescrio em abstrato, espcie da P.P.P., a prescrio calculada pela pena mxima cominada ao delito em nosso exemplo, quatro anos, e a prescrio se d em oito anos (CP, art. 109, IV). Portanto, se o furto foi cometido no ano 2000, em 2009 (mais de oito anos) o Estado no poder mais oferecer denncia contra o autor do delito, pois prescrito o crime. J na P.P.E., o ru j est condenado por sentena transitada em julgado. Trata-se da perda do direito de executar a pena j imposta. Aqui, jamais se trabalha com a pena em abstrato, mas com aquela fixada em sentena. Por isso, se o ru foi condenado a dois anos por furto, a pretenso executria prescrever em quatro anos (CP, art. 109, V). A P.P.P. divide-se em:a) prescrio em abstrato: pega-se a pena mxima cominada ao crime e aplica-se quela escala do art. 109. Fala-se em abstrato pois a pena considerada a mxima atribuda ao delito, e no a que efetivamente ser aplicada (afinal, ainda no h sentena), que pode, at mesmo, ser a mnima. Para o clculo, deve ser levada em considerao eventual qualificadora. As causas de aumento e de diminuio tambm devem ser consideradas no clculo, mas, se variveis, deve-se considerar o pior cenrio possvel para o agente na causa de diminuio, calcula-se a diminuio mnima, e, na de aumento, o mximo. Exemplo: se for hiptese de aumento de 1/3 a 1/6, deve ser considerado o maior aumento possvel no exemplo, de 1/3. a intitulada teoria da pior das hipteses. As circunstncias judiciais (CP, art. 59 do CP) no devem ser consideradas para o clculo da prescrio em abstrato, tampouco as agravantes e atenuantes. Entretanto, ateno: a menoridade relativa e a idade superior a 70 (setenta) anos reduzem o prazo prescricional pela metade (CP, art. 115). O concurso de crimes tambm no considerado para o clculo da prescrio, nos termos do art. 119 do CP: No caso de concurso de crimes, a extino da punibilidade incidir sobre a pena de cada um, isoladamente.. Entenda: no concurso formal prprio (CP, art. 70) e na continuidade delitiva (CP, art. 71), aplica-se a pena de um s delito, com o aumento previsto em lei. Exemplo: vrios furtos em continuidade delitiva. Impe-se ao agente a pena de um s furto, e no de vrios, e a pena aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois teros). Contudo, para o clculo da prescrio, no se leva em considerao essa regra, e cada um dos crimes deve ser considerado individualmente (logo, o furto que precedeu os demais prescrever antes deles). Ademais, ateno para no confundir: enquanto no transitada em julgado a sentena condenatria, fala-se em P.P.P., e no em P.P.E. Por fim, a prescrio em abstrato tem duas interessantes consequncias: o acusado no responsabilizado pelas custas e tem direito restituio integral da fiana paga.b) retroativa: est prevista no art. 110, 1, do CP: A prescrio, depois da sentena condenatria com trnsito em julgado para a acusao ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, no podendo, em nenhuma hiptese, ter por termo inicial data anterior da denncia ou queixa.. O dispositivo simples, mas merece ateno. Entenda: antes da sentena condenatria, no h como saber qual ser a pena aplicada ao acusado. Por isso, o clculo feito sobre a pena mxima cominada ao crime (prescrio em abstrato). Considera-se a pior situao possvel a intitulada teoria da pior das hipteses. No entanto, aps a sentena condenatria, transitada em julgado para a acusao, j sabemos o quantum de pena aplicado e, em hiptese alguma, haver a sua modificao, a no ser para menor, se houver recurso da defesa. Por isso, passamos no mais a trabalhar com a pena mxima em abstrato, mas com a pena efetivamente aplicada. Vejamos na prtica: O agente acusado de furto. At a sentena condenatria transitada em julgado para a acusao, leva-se em considerao, para o clculo da prescrio, a pena mxima cominada ao delito. No furto, a pena mxima de quatro anos, e, pela escala do art. 109 do CP, a prescrio se d com oito anos. Imagine, no entanto, que o acusado por furto foi condenado a dois anos (no pegou a pena mxima), e no h mais como a situao ser revertida, pois transitada em julgado a sentena para a acusao ou improvido seu recurso. Neste caso, no se fala mais em pena mxima em abstrato para o clculo da prescrio, mas em pena efetivamente aplicada em nosso exemplo, dois anos. Segundo a escala do art. 109 do CP, a pena de dois anos prescreve em quatro anos (metade do tempo visto acima).Frise-se que a sentena condenatria deve estar transitada em julgado para a acusao para que se leve em considerao a pena em concreto, pois, neste caso, no poder mais ser reformada em hiptese alguma. Ateno a um importante ponto do dispositivo: a prescrio calculada com base na pena em concreto no pode retroagir para momento anterior ao recebimento da inicial (para a fase de investigao policial, por exemplo). No entendeu? Veja: Antes da sentena condenatria transitada em julgado para a acusao, o clculo da prescrio leva em conta a pena mxima cominada ao crime a teoria da pior das hipteses. A prescrio pode ocorrer antes mesmo do incio da ao penal. Imagine um furto, por exemplo, com pena mxima de quatro anos, com prescrio em oito anos. Se a investigao policial durar nove anos, contados da data dos fatos, a denncia no poder mais ser oferecida pelo MP, pois prescrito o crime. O agente no poder mais ser punido em hiptese alguma. Se a ao penal foi proposta antes de ocorrida a prescrio, o recebimento da inicial zerou o prazo prescricional. Levando em considerao o exemplo anterior, a sentena dever ser proferida em menos de oito anos, caso contrrio, ocorrer a prescrio. Proferida a sentena condenatria, havendo o trnsito em julgado para a acusao, o clculo da prescrio dever ser feito com base na pena aplicada, e no mais se levando em considerao a pena em abstrato se a acusao recorrer da sentena em relao pena aplicada, no possvel a incidncia da prescrio retroativa, pois o quantum de pena pode ser aumentado. Se de dois anos a condenao, o prazo prescricional ser de quatro anos. Neste ponto, ateno: o prazo prescricional de quatro anos tambm dever ser considerado entre o recebimento da petio inicial e a prolao da sentena, e no somente para o tempo posterior sentena (veja, a seguir, a prescrio superveniente). Por isso, se o juiz levou cinco anos para julgar, o crime estar prescrito (o novo clculo voltou no tempo. Por isso, fala-se em prescrio retroativa). Entretanto, o novo clculo no alcanar os momentos anteriores ao recebimento da petio inicial (no retroage!). Logo, se a investigao policial durou cinco anos, contados da data do crime, no haver o que se falar em prescrio. As consequncias so as mesmas da prescrio em abstrato: a sentena condenatria rescindida, e no gera efeitos, e o acusado fica isento de custas. Os valores pagos a ttulo de fiana so restitudos.c) superveniente: tambm intitulada intercorrente. Conta-se da publicao da condenao em diante (na retroativa, a contagem para trs, da data da publicao at o recebimento da inicial). Entenda: se o juiz condena o ru a dois anos, e a acusao no recorre, a prescrio ocorrer em quatro anos (no se fala mais em pena em abstrato). Caso somente a defesa recorra, o Estado ter o prazo mximo de quatro anos para o julgamento do seu recurso, sob pena de prescrio. Para a prescrio superveniente, importa o tempo que o recurso da defesa levar para ser julgado. No entanto, ateno: se o acusador no recorrer da deciso, tendo havido a prescrio retroativa, a extino da punibilidade dever ser declarada, prejudicando a anlise do recurso (veja, mais a frente, um julgado do STF sobre os efeitos da prescrio). Caso tenha recorrido pedindo o aumento de pena, fica inviabilizada a prescrio retroativa (pois no h trnsito em julgado), e o prazo prescricional para o julgamento do recurso dever levar em considerao a pena mxima em abstrato. Portanto, a anlise da prescrio retroativa precede a da superveniente. Entenda: Joo foi denunciado por furto, com pena mxima de quatro anos. Entre a recebimento da denncia e a sentena, transcorreram cinco anos. Na sentena condenatria, o juiz fixou a pena em dois anos. Caso o MP no recorra da deciso, o crime estar prescrito, em virtude da prescrio retroativa a pena de dois anos prescreve em quatro anos, segundo o art. 109, V, do CP. A prescrio superveniente nem ser analisada. Joo foi denunciado por furto, com pena mxima de quatro anos. Entre a recebimento da denncia e a sentena, transcorreram dois anos. Na sentena condenatria, o juiz fixou a pena em dois anos. O MP recorreu da deciso, pedindo o aumento da pena (no houve o trnsito em julgado, portanto). O prazo para o tribunal julgar o recurso dever levar em conta a pena mxima em abstrato cominada ao crime. Como a pena mxima do furto de quatro anos, o tribunal ter de julg-lo em menos de oito anos (CP, art. 109, IV). Joo foi denunciado por furto, com pena mxima de quatro anos. Entre a recebimento da denncia e a sentena, transcorreram dois anos. Na sentena condenatria, o juiz fixou a pena em dois anos (no houve, portanto, a prescrio retroativa). O MP no recorreu (transitou em julgado para a acusao). Caso Joo recorra, o tribunal dever julgar o seu recurso em menos de quatro anos, pois, neste caso, leva-se em considerao a pena efetivamente aplicada, de dois anos, que prescreve em quatro anos (CP, art. 109, V).d) virtual: imagine a seguinte situao: Joo praticou o crime de furto, e no h sentena condenatria na ao penal, que j tramita h seis anos. Ainda no se fala em prescrio em abstrato, pois a pena mxima do furto de quatro anos, e a prescrio, com fundamento no art. 109 do CP, ocorre em oito anos. Contudo, Joo ru primrio e todas as circunstncias lhes so favorveis. Por isso, fcil prever que, provavelmente, a sua pena ficar no mnimo legal, ou pouca coisa acima, de um ano (a pena de um ano prescreve em quatro anos). Se levarmos em considerao a prescrio retroativa, praticamente certo que, quando proferida a sentena condenatria, se no houver recurso da acusao, ser declarada a extino da punibilidade, pois uma pena de um ano prescreve em quatro anos (e o processo j tramita h seis). Diante dessa previso, de certeza da futura prescrio, o que possvel ser feito? Para tais situaes, criou-se a intitulada prescrio virtual. Ou seja, declarada a extino da punibilidade com base em previso de inevitvel prescrio retroativa futura. O STJ j se manifestou sobre o assunto, em seu enunciado de n. 438: inadmissvel a extino da punibilidade pela prescrio da pretenso punitiva com fundamento em pena hipottica, independentemente da existncia ou sorte do processo penal..A prescrio da pretenso executria (P.P.E) se d aps o trnsito em julgado, tanto para o ru quanto para a acusao, da sentena condenatria. Como consequncia, impede que o Estado execute a pena imposta. Ex.: Joo foi condenado a 2 anos, por furto. Se, em quatro anos, o Estado no executar a pena, seja em razo de fuga ou por outro motivo, ocorrer a prescrio. Se o condenado for reincidente, os prazos do art. 109 do CP para o clculo da P.P.E. devero ser aumentados em 1/3 (um tero). Como a P.P.E. no rescinde a sentena, como ocorre na P.P.P., os demais efeitos se mantm a P.P.E. no impede, por exemplo, que se reconhea a reincidncia em delito futuro. O marco inicial da contagem da P.P.E. est no art. 112 do CP: I do dia em que transita em julgado a sentena condenatria, para a acusao, ou a que revoga a suspenso condicional da pena ou o livramento condicional; II do dia em que se interrompe a execuo, salvo quando o tempo da interrupo deva computar-se na pena.. Observaes: Para a P.P.E., a sentena deve estar transitada em julgado para ambas as partes. No entanto, o marco inicial da contagem o trnsito em julgado para a acusao. A P.P.E. deve ser suspensa enquanto o condenado estiver preso por outro motivo (CP, art. 116, pargrafo nico). A P.P.E. deve ser interrompida em duas hipteses (CP, art. 117, V e VI): a) pelo incio ou continuao do cumprimento da pena; b) pela reincidncia. Conceito de reincidncia (CP, art. 63): Verifica-se a reincidncia quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentena que, no Pas ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.. Se o agente fugir, quando recapturado e iniciado (ou reiniciado) o cumprimento da pena, o prazo prescricional voltar a correr do zero (causa de interrupo). Contudo, ateno: o clculo deve ser feito sobre o restante de pena, e no sobre o total. Entenda: Joo foi condenado a quatro anos, mas fugiu aps cumprir dois anos. Se recapturado, o clculo da prescrio incidir sobre os dois anos restantes, e no sobre os quatro anos fixados na condenao. o que diz o art. 113 do CP: No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrio regulada pelo tempo que resta da pena.. Perceba que a mesma regra aplicvel na hiptese de revogao do livramento condicional (veja o art. 83 do CP).Prescrio da multa:a hiptese est prevista no art. 114 do CP: A prescrio da pena de multa ocorrer: I em 2 (dois) anos, quando a multa for a nica cominada ou aplicada; II no mesmo prazo estabelecido para prescrio da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada..Prazo prescricional diferenciado da Lei de Drogas:na hiptese de prtica do crime do art. 28 da Lei 11.343/06, a prescrio ocorre em 2 (dois) anos: Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposio e a execuo das penas, observado, no tocante interrupo do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Cdigo Penal..Novatio legis in pejus:a Lei 12.234/10 modificou a redao do inciso VI do art. 109, elevando de 2 (dois) para 3 (trs) anos o prazo prescricional quando a pena for inferior a um ano. Trata-se, evidentemente, de lei penal mais gravosa, e, portanto, no retroage para fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor. Outra alterao mais gravosa, que tambm no retroage, foi realizada pela Lei 12.650/12, que impede a prescrio (logo, prejudicial ao agente) nos crimes contra a dignidade sexual praticados contra crianas ou adolescentes, at a sua maioridade.Declarao de extino da punibilidade:a prescrio gera a extino da punibilidade (CP, art. 107, IV). Significa dizer que, ao ser declarada, todos os efeitos penais contra o acusado desaparecem (exceto na P.P.E.) se ainda no h ao penal, o Ministrio Pblico no mais poder oferec-la; se a ao estiver em trmite, dever ser imediatamente extinta; se j condenado o acusado, a sua pena imediatamente extinta. O acusado no absolvido. No h a anlise do mrito da acusao. Ele simplesmente no pode mais ser punido. Contudo, o legislador, em verdadeira aberrao jurdica, incluiu a extino da punibilidade dentre as causas de absolvio sumria, no art. 397, IV, do CPP. Curiosamente, o equvoco no foi repetido no art. 415, que trata sobre a absolvio sumria no procedimento dos crimes de competncia do Tribunal do Jri. O art. 397 do CPP traz a nica hiptese em que a prescrio pode gerar a absolvio. Nos demais casos, a extino da punibilidade dever ser declarada, no sendo fundamentao para que se absolva o acusado. Sobre os efeitos, esclareo: Efeitos da P.P.P.: a) impede o recebimento da petio inicial; b) se j houver ao penal em trmite, dever ser imediatamente extinta; c) declarada a P.P.P., todos os efeitos de eventual sentena condenatria sero extintos. No servir como reincidncia ou como maus antecedentes, e no constituir ttulo executivo no juzo cvel; d) o ru no ser obrigado a pagar custas e o que foi pago a ttulo de fiana dever ser restitudo. Efeito da P.P.E.: extingue somente a pena. Os demais efeitos da condenao so mantidos inclusive, a incluso do nome do ru no rol dos culpados.Perda da fiana na hiptese de P.P.E. (CPP):Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiana serviro ao pagamento das custas, da indenizao do dano, da prestao pecuniria e da multa, se o ru for condenado. Pargrafo nico. Este dispositivo ter aplicao ainda no caso da prescrio depois da sentena condenatria (art. 110 do Cdigo Penal)..Contagem do prazo prescricional:deve se dar nos termos do art. 10 do CP (prazo material), que contm a seguinte regra: O dia do comeo inclui-se no cmputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendrio comum.. Distingue-se do prazo processual, onde o primeiro dia no contado. Exemplo: um prazo de 5 dias, a) no prazo do CP: se o dia 1 de janeiro o dia inicial, ele includo na contagem, e o esgotamento ocorrer no dia 5 de janeiro; b) no prazo do CPP: o dia 1 de janeiro descartado da contagem, e o prazo encerrar no dia 6 de janeiro. Os prazos prescricionais so improrrogveis, no se suspendendo em finais de semana, feriados ou frias.Termo inicial da contagem da P.P.P.:A prescrio antes do trnsito em julgado (logo, P.P.P.) est regulada no art. 111 do CP. Em regra, a prescrio comea a correr do dia em que o crime se consumou (teoria do resultado). preciso tomar cuidado para no cair em pegadinhas, pois o CP, para o tempo do crime, adotou a teoria da atividade (CP, art. 4o). Se o crime for tentado, o prazo passa a correr do dia em que cessou a atividade criminosa. Nos crimes permanentes (ex.: sequestro), a prescrio corre do dia em que cessar a permanncia. Nos delitos de bigamia e nos de falsificao ou alterao de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. Por fim, nos crimes contra a dignidade sexual de crianas e adolescentes (ex.: estupro de vulnervel, do art. 217-A do CP), previstos no CP ou em legislao especial, da data em que a vtima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo j houver sido proposta a ao penal. Nos crimes habituais (CP, art. 282), a contagem deve se dar do dia em que cessa a habitualidade.Causas interruptivas e suspensivas da prescrio:regra aplicvel sempre que se falar em suspenso ou interrupo: na suspenso, o prazo congelado, e, posteriormente, volta a correr de onde parou. Ex.: em um prazo de dez dias, se suspenso no quinto dia, deste voltar a correr quando encerrada a causa suspensiva. Na interrupo, o prazo zerado. Em um prazo de dez dias, se interrompido no quinto dia, ele voltar a correr do zero. Para ficar mais claro: suspender seria a tecla PAUSE; a interrupo, a STOP. Suspendem a prescrio (CP, art. 116): a) enquanto no resolvida, em outro processo, questo de que dependa o reconhecimento da existncia do crime (questes prejudiciais arts. 92 a 94 do CPP); b) enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro (veja o art. 368 do CPP). O prazo tambm ficar suspenso na hiptese do art. 366 do CPP, hiptese em que o ru citado por edital e no comparece: Se o acusado, citado por edital, no comparecer, nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do disposto no art. 312.. Quanto s causas de interrupo, so elas (CP, art. 117): a) o recebimento da denncia ou da queixa (e no o oferecimento!). O aditamento da inicial para a correo de irregularidade no interrompe a prescrio. No entanto, se for includo novo delito, haver a interrupo; b) a pronncia (veja, abaixo, os comentrios sobre a Smula 191 do STJ); c) a deciso confirmatria da pronncia. Entenda: o ru foi pronunciado e interps RESE (CPP, art. 581, IV). O tribunal, ao julgar o RESE, confirmou a pronncia (ou seja, negou provimento ao recurso). Esta deciso interrompe novamente a prescrio; d) pela publicao da sentena ou acrdo condenatrios recorrveis. Ateno: o acrdo confirmatrio da deciso condenatria de 1 grau no interrompe a prescrio. No entanto, se houver modificao da deciso, agravando a situao do ru, o prazo interrompido; e) o incio ou continuao do cumprimento da pena; f) a reincidncia.Suspenso da prescrio na hiptese de colaborao:a Lei 12.850/13, que trata sobre as organizaes criminosas, traz a figura da colaborao premiada, em seu art. 4, nos seguintes termos: O juiz poder, a requerimento das partes, conceder o perdo judicial, reduzir em at 2/3 (dois teros) a pena privativa de liberdade ou substitu-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigao e com o processo criminal, desde que dessa colaborao advenha um ou mais dos seguintes resultados: I a identificao dos demais coautores e partcipes da organizao criminosa e das infraes penais por eles praticadas; II a revelao da estrutura hierrquica e da diviso de tarefas da organizao criminosa; III a preveno de infraes penais decorrentes das atividades da organizao criminosa; IV a recuperao total ou parcial do produto ou do proveito das infraes penais praticadas pela organizao criminosa; V a localizao de eventual vtima com a sua integridade fsica preservada.. No 3 do art. 4, h interessante previso de suspenso do prazo prescricional, que, em razo da clareza da redao, dispensa explicao: O prazo para oferecimento de denncia ou o processo, relativos ao colaborador, poder ser suspenso por at 6 (seis) meses, prorrogveis por igual perodo, at que sejam cumpridas as medidas de colaborao, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional..Smula 709 do STF:Salvo quando nula a deciso de primeiro grau, o acrdo que prov o recurso contra a rejeio da denncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.. Neste caso, a deciso que prov o recurso ser o marco interruptivo da prescrio. Se declarada nula a primeira deciso de recebimento, a interrupo ser contada a partir da segunda deciso.Smula 191 do STJ:o procedimento do Tribunal do Jri composto por duas fases. A segunda, que o julgamento perante o Conselho de Sentena, s ocorre se pronunciado o ru. Ainda que os jurados desclassifiquem o crime (de homicdio para leso corporal, por exemplo), a pronncia ser marco interruptivo. o que diz a Smula 191 do STJ: A pronncia causa interruptiva da prescrio, ainda que o Tribunal do Jri venha a desclassificar o crime.. O porqu da polmica que ensejou a edio da Smula: s se fala em pronncia em crimes dolosos contra a vida. Portanto, desclassificado o delito (para leso corporal, como j exemplificado, ou para homicdio culposo), o rito no seria o do jri, mas o comum, onde no h sentena de pronncia e, portanto, ela no mais poderia ser considerada como marco interruptivo. O STJ, no entanto, entende que a interrupo pela pronncia deve ser mantida, ainda que em hiptese de desclassificao.Consequncias da reincidncia para prescrio:so duas: interrompe o prazo da prescrio e, para o clculo da P.P.E., so aumentados em 1/3 (um tero) os prazos previstos no art. 109 do CP.Suspenso condicional do processo:o sursis processual est previsto no art. 89 da Lei 9.099/95: Nos crimes em que a pena mnima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou no por esta Lei, o Ministrio Pblico, ao oferecer a denncia, poder propor a suspenso do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado no esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso condicional da pena (art. 77 do Cdigo Penal). Durante a suspenso do processo, o prazo prescricional tambm ficar suspenso, por fora do que dispe o 6 do mesmo dispositivo: No correr a prescrio durante o prazo de suspenso do processo.. Decorrido o prazo da suspenso sem revogao, extingue-se a punibilidade, e, claro, o prprio prazo prescricional.Reduo do prazo prescricional:est prevista no art. 115 do CP: So reduzidos de metade os prazos de prescrio quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentena, maior de 70 (setenta) anos.. Fique atento: a reduo do prazo prescricional pela metade, na hiptese de agente menor de 21 (vinte e um) anos, leva em considerao o tempo da ao ou omisso (teoria da atividade). Portanto, se a ao ocorreu quando o agente tinha 20 (vinte) anos, e o resultado foi alcanado quando j estava com 21 (vinte e um) anos, haver a reduo do prazo prescricional. Em relao aos maiores de 70 (setenta) anos, o momento de anlise a prolao da sentena. O Estatuto do Idoso no modificou o dispositivo. Portanto, no h o que se falar em reduo da idade prevista no art. 115 do CP para 60 (sessenta) anos. Da mesma forma, o Cdigo Civil de 2002, que reduziu a maioridade civil para 18 (dezoito) anos, no gerou qualquer efeito no art. 115, que continua com a sua redao vigente. Duas observaes relevantes: A reduo aplicvel tanto P.P.P. quanto P.P.E. No caso de crime continuado, a reduo s incidir sobre os delitos praticados enquanto o agente for menor de 21 (vinte e um) anos. Como j comentado, no caso de concurso de crimes, a extino da punibilidade incidir sobre a pena de cada um, isoladamente (CP, art. 119). Na hiptese de crime permanente, se iniciado enquanto o agente tinha menos de 21 (vinte e um) anos, e perdurado at os 21 (vinte e um) anos completos, no incidir a reduo do prazo prescricional.Termo inicial para o clculo da reduo por senilidade:Ao tecer consideraes sobre a outra tese formulada nos embargos, o Ministro Luiz Fux aduziu a ocorrncia da prescrio da pretenso punitiva, na modalidade retroativa, em face da reduo decorrente da idade avanada [CP: 'Art. 115 - So reduzidos de metade os prazos de prescrio quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentena, maior de 70 (setenta) anos']. Pontuou que o acusado completara 70 anos no dia seguinte sesso do julgamento e que o art. 115 do CP deveria ser interpretado luz da irrecorribilidade do ttulo penal condenatrio, e no da data do pronunciamento judicial. Realou, ainda, que houvera recurso apenas da defesa. O Ministro Marco Aurlio acentuou que incidiria o prazo pela metade, pois o Cdigo Penal, ao versar a matria, no se referiria a sentena ou acrdo condenatrios simplesmente prolatados, mas recorrveis (CP: Art. 117. O curso da prescrio interrompe-se: IV pela publicao da sentena ou acrdo condenatrios recorrveis). Avaliou que, na espcie, ele teria atingido a idade antes da publicao do acrdo. Por sua vez, o Ministro Dias Toffoli indicou que a publicao da mencionada deciso colegiada dar-se-ia na sesso de julgamento, mas o acusado, ao completar 70 anos antes do trnsito em julgado do acrdo, teria jus ao benefcio relativo prescrio da pretenso punitiva. O Ministro Ricardo Lewandowski, ao reduzir pela metade o prazo, tambm, assentou a prescrio. O Ministro Celso de Mello assinalou ser possvel reconhecer a incidncia da norma do art. 115 do CP quando o condenado completasse 70 anos aps a sesso pblica de julgamento, mas opusesse embargos de declarao reputados admissveis, nos quais se buscasse infringir a deciso de modo processualmente legtimo, como no caso. (STF, AP 516 ED/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, julgado em 5.12.2013). Sobre a discusso do momento em que se afere a idade para a incidncia da prescrio reduzida pela senilidade, transcrevo esclarecedora explicao dositeDizer o Direito, ao comentar o posicionamento do Supremo: Em regra, para se beneficiar da reduo de prazo prevista no art. 115 do CP, o condenado dever ser maior de 70 anos no dia em que a sesso de julgamento for realizada, uma vez que em tal data a prestao jurisdicional penal condenatria tornar-se- pblica. No interessa, portanto, a data em que a deciso publicada na imprensa oficial. Existe, no entanto, uma situao em que o condenado ser beneficiado pela reduo do art. 115 do CP mesmo tendo completado 70 anos aps a sesso de julgamento: isso ocorre quando o condenado ope embargos de declarao contra o acrdo condenatrio e esses embargos so conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional ser reduzido pela metade se o ru completar 70 anos at a data do julgamento dos embargos.. Masson assim resume a questo: Historicamente, o Supremo Tribunal Federal no admitia a reduo da prescrio da pretenso punitiva pela metade quando o condenado completava 70 (setenta) anos de idade pouco tempo aps a prolao da sentena condenatria. Esta posio, contudo, foi alterada pelo Plenrio da Corte, que atualmente aceita a diminuio da prescrio pela metade quando a idade de 70 anos vem a ser atingida depois do julgamento, desde que na data do aniversrio do acusado a condenao ainda no tenha transitado em julgado..Prescrio de medida de segurana:A prescrio da medida de segurana imposta em sentena absolutria imprpria regulada pela pena mxima abstratamente prevista para o delito. O CP no cuida expressamente da prescrio de medida de segurana, mas essa considerada uma espcie do gnero sano penal. Assim considerada, sujeita-se s regras previstas no CP relativas aos prazos prescricionais e s diversas causas interruptivas da prescrio. O STF j se manifestou nesse sentido ao entender que incide o instituto da prescrio na medida de segurana, estipulando que espcie do gnero sano penal e se sujeita, por isso mesmo, regra contida no artigo 109 do Cdigo Penal (RHC 86.888-SP, Primeira Turma, DJ de 2/12/2005). Esta Corte Superior, por sua vez, j enfrentou a questo, tambm considerando a medida de segurana como espcie de sano penal e, portanto, igualmente sujeita prescrio e suas regras, assentando, ainda, que o lapso temporal necessrio verificao da referida causa de extino da punibilidade deve ser encontrado tendo como referncia a pena mxima abstratamente prevista para o delito. (STJ, RHC 39.920-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6.2.2014).Prescrio e crime de responsabilidade:Ocorrida a prescrio da pretenso punitiva de crime de responsabilidade de prefeito municipal, no podem ser aplicadas as penas de perda de cargo e de inabilitao para o exerccio de cargo ou funo pblica previstas no 2 do art. 1 do Decreto-lei 201/1967. Com efeito, a Quinta Turma do STJ modificou seu entendimento (REsp 1.326.452-PR, DJe 2/10/2013), acompanhando a posio j firmada pela Sexta Turma, de modo a considerar que as sanes previstas no referido dispositivo tm carter acessrio, razo pela qual a extino da pretenso punitiva com relao aplicao da pena privativa de liberdade impede a aplicao da pena acessria. (STJ, AgRg no REsp 1.381.728-SC, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 17.12.2013).Termo inicial da P.P.E. [1]:O termo inicial da prescrio da pretenso executria a data do trnsito em julgado da sentena condenatria para a acusao, ainda que pendente de apreciao recurso interposto pela defesa que, em face do princpio da presuno de inocncia, impea a execuo da pena. Isso porque o art. 112, I, do CP (redao dada pela Lei 7.209/1984) dispe que a prescrio, aps a sentena condenatria irrecorrvel, comea a correr do dia em que transita em julgado a sentena condenatria, para a acusao [...]. Cabe registrar que a redao original do dispositivo no possua a expresso para a acusao, o que gerava grande discusso doutrinria e jurisprudencial, prevalecendo o entendimento de que a contagem do lapso para a prescrio executria deveria ser a partir do trnsito em julgado para a acusao, tendo em vista que a pena no poderia mais ser aumentada. Posteriormente, com a reforma do CP, por meio da Lei 7.209/1984, o legislador, em conformidade com a orientao jurisprudencial predominante, acrescentou a expresso para a acusao, no havendo mais, a partir de ento, dvida quanto ao marco inicial da contagem do prazo prescricional. necessrio ressaltar que a interpretao do referido dispositivo em conformidade com o art. 5, LVII, da CF no sentido de que deve prevalecer, para efeito de contagem do prazo da prescrio da pretenso executria, o trnsito em julgado para ambas as partes, ante a impossibilidade de o Estado dar incio execuo da pena antes da sentena condenatria definitiva no se mostra razovel, pois estaria utilizando dispositivo da CF para respaldar interpretao totalmente desfavorvel ao ru e contra expressa disposio legal. Na verdade, caso prevalea o aludido entendimento, haveria ofensa prpria norma constitucional, mxime ao princpio da legalidade. Ademais, exigir o trnsito em julgado para ambas as partes como termo inicial da contagem do lapso da prescrio da pretenso executria, ao contrrio do texto expresso da lei, seria inaugurar novo marco interruptivo da prescrio no previsto no rol taxativo do art. 117 do CP, situao que tambm afrontaria o princpio da reserva legal. Assim, somente com a devida alterao legislativa que seria possvel modificar o termo inicial da prescrio da pretenso executria, e no por meio de adequao hermenutica. Vale ressaltar que o art. 112, I, do CP compatvel com a norma constitucional, no sendo o caso, portanto, de sua no recepo. Precedentes citados: AgRg no AREsp 214.170-DF, Sexta Turma, DJe 19/9/2012; e HC 239.554-SP, Quinta Turma, DJe 1/8/2012. (STJ, HC 254.080-SC, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 15.10.2013).Termo inicial da P.P.E. [2]:A possibilidade de ocorrncia da prescrio da pretenso executria surge somente com o trnsito em julgado da condenao para ambas as partes. Isso porque o ttulo penal executrio surge a partir da sentena condenatria definitiva, isto , com o trnsito em julgado para acusao e defesa, quando tambm surgir a possibilidade de ocorrncia da prescrio executria. Antes do trnsito em julgado para ambas as partes, eventual prescrio ser da pretenso punitiva. Todavia, esse entendimento no altera o termo inicial da contagem do lapso prescricional, o qual comea da data em que a condenao transitou em julgado para a acusao, conforme dispe expressamente o art. 112, I, do CP. (STJ, HC 254.080-SC, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 15/10/2013).Prescrio enquanto no houver o trnsito em julgado:Deve ser reconhecida a extino da punibilidade com fundamento na prescrio da pretenso punitiva, e no com base na prescrio da pretenso executria, na hiptese em que os prazos correspondentes a ambas as espcies de prescrio tiverem decorrido quando ainda pendente de julgamento agravo interposto tempestivamente em face de deciso que tenha negado, na origem, seguimento a recurso especial ou extraordinrio. De incio, cumpre esclarecer que se mostra mais interessante para o ru obter o reconhecimento da extino da punibilidade com fundamento na prescrio da pretenso punitiva, pois, ainda que ambas possam ter se implementado, tem-se que os efeitos da primeira so mais abrangentes, elidindo a reincidncia e impedindo o reconhecimento de maus antecedentes. A prescrio da pretenso executria s pode ser reconhecida aps o trnsito em julgado para ambas as partes, ainda que o seu lapso tenha incio com o trnsito em julgado para a acusao, nos termos do que dispe o art. 112, I, do CP. Nesse contexto, havendo interposio tempestiva de agravo contra deciso de inadmissibilidade do recurso especial ou extraordinrio (art. 544 do CPC e art. 28 da Lei 8.038/1990), no se operaria a coisa julgada, pois a deciso do tribunal de origem reversvel. Ademais, mostra-se temerrio considerar que o controle inicial, realizado pela instncia recorrida, prevalece para fins de trnsito em julgado sobre o exame proferido pela prpria Corte competente. Posto isso, enquanto no houver o trnsito em julgado para ambas as partes da deciso condenatria, no h que se falar em prescrio da pretenso executria, eis que ainda em curso o prazo da prescrio da pretenso punitiva, de forma intercorrente. Entretanto, se o agravo for manejado intempestivamente, sua interposio no impedir o implemento do trnsito em julgado, o qual pode ser de pronto identificado, haja vista se tratar de evento objetivamente afervel, sem necessidade de adentrar o prprio mrito do recurso. Nesse caso, ainda que submetido ao duplo juzo de admissibilidade, inevitvel o reconhecimento da intempestividade. (STJ, REsp 1.255.240-DF, Rel. Min. Marco Aurlio Bellizze, julgado em 19.9.2013).Emendatio libellie prescrio:No possvel que o magistrado, ao receber a denncia, altere a capitulao jurdica dos fatos a fim de justificar a inocorrncia de prescrio da pretenso punitiva e, consequentemente, viabilizar o prosseguimento da ao penal. A verificao da existncia de justa causa para a ao penal, vale dizer, da possibilidade jurdica do pedido, do interesse de agir e da legitimidade para agir, feita a partir do que contido na pea inaugural, que no pode ser corrigida ou modificada pelo magistrado quando do seu recebimento. Com efeito, ainda que se trate de mera retificao da capitulao jurdica dos fatos descritos na vestibular, tal procedimento apenas cabvel quando da prolao da sentena, nos termos do art. 383 do CPP (emendatio libelli). Quanto ao ponto, imperioso destacar que, ainda que o acusado se defenda dos fatos narrados na denncia, e no da definio jurdica a eles dada pelo MP, no se pode admitir que, no ato em que analisada a prpria viabilidade da persecuo criminal, o magistrado se manifeste sobre a adequao tpica da conduta imputada ao ru, o que, evidentemente, configura indevida antecipao de juzo de valor acerca do mrito da ao penal. Dessa forma, havendo erro na correta tipificao dos fatos descritos pelo rgo ministerial, ou dvida quanto ao exato enquadramento jurdico a eles dado, cumpre ao magistrado receber a denncia tal como proposta, para que, no momento em que for prolatar a sentena, proceda s correes necessrias. Ressalte-se que a doutrina e a jurisprudncia tm admitido em determinados casos a correo do enquadramento tpico logo no ato de recebimento da exordial acusatria, mas somente para beneficiar o ru ou para permitir a correta fixao da competncia ou do procedimento a ser adotado. Por outro lado, no se pode admitir que o magistrado, em prejuzo ao ru e sem que exista erro grosseiro por parte do membro do Parquet, atue de modo a alterar os parmetros da denncia formulada, o que configura violao ao princpio dispositivo, desrespeito titularidade da ao penal e antecipao do julgamento do mrito do processo. Portanto, j transcorrido o lapso prescricional previsto para o crime imputado na denncia quando do juzo de admissibilidade da acusao, imperiosa a extino da punibilidade do agente pela prescrio da pretenso punitiva estatal. Precedentes citados do STF: HC 89.686-SP, DJ 17/8/2007; do STJ: HC 103.763-MG, DJe 16/3/2009. (STJ, RHC 27.628-GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13.11.2012).Crime prescrito e registro de antecedentes: indevida a manuteno na folha de antecedentes criminais de dados referentes a processos nos quais foi reconhecida a extino da pretenso punitiva estatal. No h por que serem mantidos os registros do investigado ou processado no banco de dados do instituto de identificao nos casos de arquivamento do inqurito policial, absolvio, reabilitao ou extino da punibilidade pelo advento da prescrio, porquanto as referidas informaes passam a ser de interesse meramente eventual do juzo criminal. A manuteno dos dados na folha de antecedentes criminais nessas circunstncias constitui ofensa ao direito preservao da intimidade de quem foi investigado ou processado. Assim, os dados devero ficar apenas registrados no mbito do Poder Judicirio e disponibilizados para consultas justificadas de juzes criminais. Precedentes citados: RMS 32.886-SP, DJe 1/12/2011; RMS 35.945-SP, DJe 3/4/2012; RMS 25.096-SP, DJe 7/4/2008; Pet 5.948-SP, DJe 7/4/2008. (STJ, RMS 29.273-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20.9.2012).Sujeio da infrao administrativa prescrio penal:A Turma reiterou que a pretenso punitiva da Administrao Pblica em relao infrao administrativa que tambm configura crime em tese somente se sujeita ao prazo prescricional criminal quando instaurada a respectiva ao penal. Ademais, destacou-se que a regra constante do art. 4 da Lei n. 9.873/1999 no se aplica s hipteses em que a prescrio j se haja consumado antes da entrada em vigor do referido diploma legal. In casu, o tribunal a quo consignou que no houve sequer a abertura de inqurito policial e que os fatos questionados so anteriores edio da Lei n. 9.873/1999, motivos pelos quais, na hiptese, torna-se inaplicvel a aplicao da equiparao da prescrio administrativa penal. Precedentes citados: MS 14.446-DF, DJe 15/2/2011; MS 15.462-DF, DJe 22/3/2011; EDcl no REsp 1.099.647-RS, DJe 15/12/2010, e REsp 1.088.405-RS, DJe 1/4/2009. (STJ, REsp 1.116.477-DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 16.8.2012).Prescrio penal e efeitos na esfera civil:A extino da punibilidade, em funo da prescrio retroativa, no vincula o juzo cvel na apreciao de pedido de indenizao decorrente do ato delituoso. No caso, aps o atropelamento, foram ajuizadas uma ao penal por leso corporal culposa na direo de veculo automotor (art. 303 do CTB) e uma ao de reparao de danos materiais e morais pela vtima. A ao cvel ficou suspensa at a concluso da penal. Quanto a esta, a sentena reconheceu a autoria e materialidade do fato e aplicou a pena. Na apelao, o tribunal acolheu a preliminar de prescrio, na forma retroativa, da pretenso punitiva do Estado. Retomado o julgamento da ao indenizatria, a sentena julgou improcedente o pedido, reconhecendo a culpa exclusiva da vtima, fundamentando-se nas provas produzidas nos autos. Na apelao, o tribunal reformou a sentena com base exclusiva no reconhecimento da autoria e materialidade presentes na sentena criminal, condenando a motorista ao pagamento de indenizao por danos materiais e morais. Dessa deciso foi interposto o recurso especial. O Min. Relator afirmou ser excepcional a hiptese de comunicao das esferas cvel e penal, conforme interpretao do art. 1.525 do CC/1916 (art. 935 do CC/2002) e do art. 65 do CPP. Ressaltou, ainda, que o art. 63 do CPP condiciona a execuo cvel da sentena penal condenatria formao da coisa julgada no juzo criminal. No caso, no houve reconhecimento definitivo da autoria e materialidade delitiva, pois o acrdo, ao reconhecer a prescrio da pretenso punitiva, rescindiu a sentena penal condenatria e extinguiu todos os seus efeitos, incluindo o efeito civil previsto no art. 91, I, do CP. Com esses e outros argumentos, a Turma deu provimento ao recurso para anular o acrdo do tribunal de origem e determinar novo julgamento da apelao, com base nos elementos de prova do processo cvel, podendo, ainda, ser utilizados os elementos probatrios produzidos no juzo penal, a ttulo de prova emprestada, observado o contraditrio. (STJ, REsp 678.143-MG, Rel. Min. Raul Arajo, julgado em 22.5.2012).Prescrio do crime antecedente e lavagem de dinheiro:A extino da punibilidade pela prescrio quanto aos crimes antecedentes no implica o reconhecimento da atipicidade do delito de lavagem de dinheiro (art. 1 da Lei n. 9.613/1998) imputado ao paciente. Nos termos do art. 2, II, 1 da lei mencionada, para a configurao do delito de lavagem de dinheiro no h necessidade de prova cabal do crime anterior, mas apenas a demonstrao de indcios suficientes de sua existncia. Assim sendo, o crime de lavagem de dinheiro delito autnomo, independente de condenao ou da existncia de processo por crime antecedente. Precedentes citados do STF: HC 93.368-PR, DJe 25/8/2011; HC 94.958-SP, DJe 6/2/2009; do STJ: HC 137.628-RJ, DJe 17/12/2010; REsp 1.133.944-PR, DJe 17/5/2010; HC 87.843-MS, DJe 19/12/2008; APn 458-SP, DJe 18/12/2009, e HC 88.791-SP, DJe 10/11/2008. (STJ, HC 207.936-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 27.3.2012).Prescrio em crime de estelionato previdencirio:A quaestio juris est em saber se o delito pelo qual foi condenada a paciente, de estelionato previdencirio (art. 171, 3, do CP), possui natureza permanente ou instantnea, a fim de verificar a prescrio da pretenso punitiva. Na espcie, a paciente foi condenada, pelo delito mencionado, pena de um ano, nove meses e dez dias de recluso em regime fechado, alm de vinte dias-multa, por ter omitido o bito de sua filha, portadora de deficincia, ocorrido em 1/5/2001, data a partir da qual comeou a receber indevidamente o benefcio de aposentadoria pertencente ao de cujus, tendo a conduta perdurado at 12/2006. No writ, busca a declarao da extino da punibilidade devido prescrio retroativa da pretenso punitiva, sustentando que o crime de estelionato contra a Previdncia Social delito instantneo de efeitos permanentes. Nesse contexto, destacou-se que, no julgamento do HC 85.601-SP, o STF distinguiu duas situaes para a configurao da natureza jurdica do delito em comento. Para aquele que comete a fraude contra a Previdncia e no se torna beneficirio da aposentadoria, o crime instantneo, ainda que de efeitos permanentes. Contudo, para o beneficirio, o delito continua sendo permanente, consumando-se com a cessao da permanncia. In casu, a paciente no apenas omitiu da Previdncia Social o bito da verdadeira beneficiria da aposentadoria, mas tambm passou a receber indevidamente os valores respectivos. Assim, sendo a paciente beneficiria da aposentadoria indevida, que no apenas induziu, mas manteve a vtima (Previdncia Social) em erro, o delito possui natureza permanente, consumando-se na data da cessao da permanncia, no caso, 12/2006. Dessa forma, no h falar em prescrio retroativa, pois no transcorreu o lapso prescricional devido (quatro anos) entre a data da consumao do delito (12/2006) e o recebimento da denncia (27/6/2008). Com essas, entre outras consideraes, a Turma, prosseguindo o julgamento, por maioria, denegou a ordem. Precedentes citados do STF: HC 85.601-SP, DJ 30/11/2007, e HC 102.049-RJ, DJe 12/12/2011. (STJ, HC 216.986-AC, Rel. originrio Min. Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ-RS), Rel. para acrdo Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1.3.2012).Abandono de restritiva de direitos e P.P.E.: No caso de abandono pelo sentenciado do cumprimento da pena restritiva de direitos prestao de servios comunidade , a prescrio da pretenso executria ser regulada pelo tempo restante do cumprimento da medida substitutiva imposta. Com base nesse entendimento, a Turma concedeu a ordem para declarar extinta a punibilidade do paciente pela ocorrncia da prescrio executria da pena. Ao conferir interpretao extensiva ao art. 113 do CP, decidiu-se que o abandono no cumprimento da pena restritiva de direitos pode se equiparado s hipteses de evaso e da revogao do livramento condicional previstas no referido artigo, uma vez que as situaes se assemelham na medida em que h, em todos os casos, sentena condenatria e o cumprimento de parte da pena pelo sentenciado. Precedentes citados: HC 101.255-SP, DJe 7/12/2009; HC 225.878-SP, DJe 25/4/2012. (STJ, HC 232.764-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 25.6.2012).Prescrio de infrao disciplinar de natureza grave:Ante a inexistncia de legislao especfica quanto prescrio de infraes disciplinares de natureza grave, aplica-se, por analogia, o Cdigo Penal. Com base nessa orientao, a 2 Turma indeferiu habeas corpus no qual se pretendia restabelecer deciso de tribunal local, que reconhecera a prescrio de Processo Administrativo Disciplinar PAD, instaurado para apurar suposta prtica de falta grave. Na espcie, o paciente empreendera fuga do sistema prisional e, recapturado, contra ele fora instaurado o aludido PAD. Na sequncia, o juzo das execues deixara de homologar o PAD ao fundamento de no ter sido observado o prazo mximo de 30 dias para a sua concluso, conforme previsto no Regime Disciplinar Penitencirio do Rio Grande do Sul, porm, reconhecera a prtica de falta grave e determinara a regresso de regime, a perda dos dias remidos e a alterao da data-base para a concesso de novos benefcios para a data da recaptura. Interposto agravo em execuo, o tribunal local reconhecera a prescrio do PAD e, por consequncia, restabelecera o regime semiaberto, a data-base anterior e devolvera os dias remidos perdidos. No presente habeas corpus, a defesa afirmava que o tribunal a quo teria reconhecido a prescrio do PAD e no a da falta grave e, prescrito aquele, no poderia prevalecer a falta grave. A Turma sublinhou que, em razo da ausncia de norma especfica, aplicar-se-ia, evaso do estabelecimento prisional (infrao disciplinar de natureza grave), o prazo prescricional de dois anos, em conformidade com o artigo 109, VI, do CP, com redao anterior Lei 12.234/2010, que alterou esse prazo para trs anos. Assinalou, ainda, que o Regime Penitencirio do Rio Grande do Sul no teria o condo de regular a prescrio. Destacou que essa matria seria de competncia legislativa privativa da Unio (CF, art. 22, I). Precedentes citados: HC 92.000/SP (DJe de 23.11.2007) e HC 97.611/RS (DJe de 5.6.2009). (STF, HC 114422/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6.5.2014).Suspenso da prescrio durante a suspenso condicional da pena:Durante a suspenso condicional da pena, no corre prazo prescricional (CP, art. 77 c/c o art. 112). Com base nesse entendimento, a 2 Turma afastou a alegada extino de punibilidade do extraditando pela prescrio da pretenso punitiva estatal e deferiu a extradio. (STF, Ext 1254/Romnia, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 29.4.2014).Ateno:no confunda a suspenso condicional da pena, do art. 77 do CP, com a suspenso condicional do processo, do art. 89 da Lei 9.099/95. Embora, em ambos, a prescrio fique suspensa, no se confundem. No sursis processual, da Lei 9.099/95, o acusado tem a oportunidade de suspender o processo em sua origem, na fase de recebimento da denncia. No h, portanto, condenao. No sursis de pena, o agente foi condenado, mas a execuo da pena suspensa.Exemplo de contagem de prazo na hiptese de suspenso da pena:A Turma consignou que teria sido reconhecido o dolo especfico de lesar vtimas ao se perpetrar o crime de fraude mediante emisso de cheques sem proviso de fundos. Dessa forma, teria sido atendido o requisito da dupla tipicidade, pois, no caso concreto, o aludido crime de fraude corresponderia ao crime de estelionato previsto no art. 171, caput, do CP. Observou que, em relao legislao penal brasileira, o prazo prescricional seria calculado nos termos do art. 109, IV, c/c o art. 112, I, ambos do CP, de modo que a prescrio se aperfeioaria em oito anos a partir de setembro de 2005. No cmputo do prazo prescricional seria necessrio, porm, observar a suspenso da pena de sua concesso at sua revogao , perodo em que a prescrio tambm estaria suspensa. Assim, iniciada a contagem em setembro de 2005, suspensa em fevereiro de 2006, e retomada em fevereiro de 2007, a prescrio da pretenso executria somente ocorreria, em princpio, em outubro de 2014. Assinalou que, pela legislao penal de origem, o prazo de prescrio da pretenso executria, tambm de oito anos, s se teria iniciado na data em que se tornara definitiva a revogao da suspenso da execuo da pena, e deveria ser contado somente a partir de fevereiro de 2007, ocasio em que fora determinada a revogao do benefcio. Por fim, determinou o imediato recolhimento do extraditando com direito a detrao do tempo em que estivera preso no Brasil por fora do pedido de extradio. (STF, Ext 1254/Romnia, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 29.4.2014).Anlise de crime prescrito ligado a outro no previsto, extino da punibilidade como direito subjetivo do ru e a possibilidade de sentena absolutria em vez de declaratria:A relatora frisou, ademais, que os crimes de falsidade ideolgica e de corrupo passiva estariam atingidos pela prescrio. Todavia, diante da peculiaridade do caso, considerou que seria necessrio analisar o mrito quanto aos trs tipos penais em questo, tendo em conta a imbricao dos fatos. Salientou que a jurisprudncia da Corte seria orientada no sentido de que, remanescente um dos crimes sob julgamento, deveria ser analisado o conjunto ftico-jurdico como um todo, a partir do qual estaria motivada a acusao. Sublinhou que, se prevalecesse entendimento pela condenao, assentar-se-ia a prescrio da pretenso punitiva quanto falsidade e corrupo. Por outro lado, destacou que eventual sentena absolutria seria mais favorvel do que o registro da prescrio. O Ministro Roberto Barroso considerou que, nas hipteses em que finda a instruo, seria facultado ao juiz reconhecer a prescrio ou absolver embora no seja direito subjetivo da parte , exceto na eventualidade de vir a ser proferida deciso condenatria, situao na qual necessrio assentar a prescrio. Ressalvou que, se a extino da punibilidade pelo reconhecimento da prescrio fosse atestada em fases iniciais do processo, o magistrado teria a prerrogativa de extingui-lo. No ponto, o Ministro Luiz Fux explicitou que seria mais condizente com a dignidade da pessoa humana conferir ao julgador a possibilidade de proferir sentena absolutria ao invs de declarar a prescrio. (STF, AP 465/DF, rel. Min. Crmen Lcia, julgado em 24.4.2014).Anlise de mrito em crime prescrito:Vencido, parcialmente, o Ministro Ricardo Lewandowski, que enquadrava a absolvio no art. 386, V, do CPP (V no existir prova de ter o ru concorrido para a infrao penal). Asseverava que esse fundamento seria mais preciso e benfico. Vencidos, tambm em parte, os Ministros Teori Zavascki, Rosa Weber e Joaquim Barbosa (Presidente), que reconheciam a prescrio da pretenso punitiva em relao aos delitos de falsidade ideolgica e de corrupo passiva. O Ministro Teori Zavascki anotava que, verificada a prescrio em abstrato, como na espcie, a anlise do mrito ficaria prejudicada, e seria dever do magistrado decretar, de ofcio, a extino da punibilidade. Reputava que a pretenso punitiva, quando extinta pela prescrio, levaria a situao idntica da anistia, o que seria mais forte do que a absolvio. Alertava que, se adotada a tese de que o juzo absolutrio seria mais benfico e, portanto, necessrio, inviabilizar-se-ia o conhecimento da prescrio em abstrato, o que imporia, em todos os casos, o julgamento de mrito para, posteriormente, se declarar prescrita a pretenso punitiva. A Ministra Rosa Weber acrescia que o fundamento adotado para a absolvio, qual seja, a inexistncia de prova suficiente para se condenar, seria menos favorvel do que a extino da punibilidade pela prescrio. O Presidente destacava que a opo pela apreciao do mrito, nas hipteses em que j atingido o prazo prescricional, geraria insegurana, pois o ru permaneceria sujeito ao risco de um julgamento. (STF, AP 465/DF, rel. Min. Crmen Lcia, julgado em 24.4.2014).Possibilidade de adiamento de julgamento quando ocasionar a prescrio:O Plenrio, ao resolver questo de ordem trazida pelo Ministro Dias Toffoli (relator), deliberou, por deciso majoritria, adiar o julgamento de queixa-crime na qual se discute suposta prtica de calnia por senador. No caso, o advogado do querelante apresentara pedido de adiamento do feito, tendo em conta a impossibilidade de comparecer para fins de sustentao oral. Ocorre que, deferido o adiamento, operar-se-ia a extino da punibilidade pela prescrio da pretenso punitiva. O relator destacou que o advogado do querelado, ouvido da tribuna, no se opusera ao adiamento. Ademais, frisou cuidar-se de ao penal privada. O Ministro Ricardo Lewandowski assentou que seria direito fundamental da parte ser representada pela defesa tcnica, de maneira que a continuidade do julgamento sem a presena do advogado implicaria nulidade. Ademais, salientou que, nos termos do art. 21, I, do RISTF, o relator seria soberano para retirar determinado feito de pauta conforme julgasse conveniente. Vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Joaquim Barbosa (Presidente), que no acolhiam o pedido de adiamento. O Ministro Teori Zavascki frisava a relevncia de se defender uma causa perante o STF, de modo que no poderia haver compromisso maior. Sublinhava, ainda, que o advogado do querelante seria experiente e notvel, de modo que o problema da prescrio no teria sido despercebido. O Ministro Celso de Mello registrava que, embora se cuidasse de ao penal privada, o interesse de punir pertenceria ao Estado e seria de ordem pblica. Assim, o Colegiado no poderia concorrer para a consumao da prescrio penal. (STF, AP 584 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10.4.2014). OsiteDizer o Direito, de forma muito clara, explica o julgado: A situao foi a seguinte: Paulo ajuizou, no STF (art. 102, I, b, da CF/88), uma queixa-crime (art. 145 do CP) contra Roberto (Senador da Repblica) pela suposta prtica do crime de calnia. Pouco antes do dia do julgamento, o advogado do querelante pediu o adiamento da deliberao. O advogado do querelado concordou com o pedido. No dia do julgamento, o Relator da ao penal (Min. Dias Toffoli) trouxe a questo para ser debatida pelos demais Ministros. Isso porque, segundo ele afirmou, o prazo prescricional estava prestes a se completar (iria ocorrer alguns dias aps a data do julgamento). Assim, se houvesse o adiamento, estaria consumada a extino da punibilidade. Nesse caso, o STF deveria indeferir o pedido de adiamento? Entendeu-se que no. Por maioria, o Plenrio do STF deferiu o pedido de adiamento do julgamento. O Relator argumentou que se trata de ao penal privada e que o pedido foi feito pelo prprio advogado do querelante. Ademais, consignou-se que o advogado do querelado no se opusera ao adiamento. Vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Joaquim Barbosa (Presidente), que no acolhiam o pedido de adiamento. O Ministro Celso de Mello registrava que, embora se cuidasse de ao penal privada, o interesse de punir pertenceria ao Estado e seria de ordem pblica. Assim, o STF no poderia contribuir para a consumao da prescrio penal..Efeitos da P.P.P.:O Ministro Teori Zavascki salientou o efeito translativo dos embargos infringentes, o que significaria que o rgo julgador est investido do dever de conhecimento, de ofcio, das questes de ordem pblica, dentre as quais a prescrio penal. Aduziu que a matria prescricional deveria ser examinada com prioridade em relao s demais, visto que, verificada a prescrio da pretenso punitiva, as outras questes estariam prejudicadas. Explicou que a prescrio teria os mesmos efeitos da anistia e impediria a verificao do fato delituoso e sua vinculao com o agente, acobertado pela presuno juris et de jure da inocncia. (STF, AP 470 EI-Dcimos Quartos/MG, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acrdo Min. Roberto Barroso, julgado em 26 e 27.2.2014).