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Sábado, 2 de junho de 2018 6 Cidades portalnews.com.br Lei do agrotóxico ampliará o uso de veneno nas plantações Projeto que altera a lei vigente é de autoria do então senador e atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi LEGISLAÇÃO A produção de hortifrúti é mais complexa do que se imagina, passando por diversos processos até chegar a mesa do consumidor. Primeiro é preciso criar a muda, depois plantá-la na terra, e assim, dependendo da forma de cultivo, ela precisará de in- sumos para o controle das pragas e fortalecimento das folhosas. Esses insumos são conhecidos como agrotóxicos e o uso desse produto está sendo tema de debates na Câmara dos Deputados, com o Projeto de Lei (PL) 6299/02, conhecido popularmente como “Pacote de Veneno”. O PL revoga a lei atual sobre o uso de agrotóxicos e facilita o sistema de registro, controle e fiscalização no Brasil. Essa proposta foi apresentada pelo relator, o deputado federal Luiz Ni- shimori (PR), mas o projeto em si foi criado pelo então senador Blairo Maggi, que atualmente ocupa o cargo de ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento, além de ser um dos maiores produtores de soja do planeta. A Lei dos Agrotóxicos Produtor poderá contar com um novo pacote de veneno para o controle de pragas vigente no Brasil foi criada em 1989 e as propostas de atualizações geraram polêmicas entre diversos órgãos governamentais e agentes públicos, que deno- minaram o PL como “Pacote de Veneno”. A atualização prevê a mudança do nome agrotóxicos para “defensivos fitossanitários”. O deputado federal Junji Abe (MDB), classifica como emergencial a modernização da legisla- ção sobre o uso, pesquisa, registro e comercialização de defensivos agrícolas no Brasil. “Para ser autorizado junto aos Ministérios da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente, um produto leva, no mínimo, oito anos, en- quanto os produtores bra- sileiros sofrem perdas que poderiam ser evitadas com a aplicação de itens utilizados há décadas, com sucesso e sem danos colaterais, em dezenas de outros países”. Junji ressalta que a fila de processos existentes no atual sistema regulatório levaria mais de cem anos para ser eliminada. Para o presidente do Sin- dicato Rural de Mogi das Cruzes, Minoru Mori, esse projeto diminuirá o prazo do registro dos insumos, que pode levar até uma década. Ele contou que as culturas trabalhadas no Alto Tietê não são de grãos, como soja, milho ou cana, então, o fabricante acaba não registrando devido ao alto custo e ao longo processo. “Na nossa região, especificamente, temos um grande problema: as culturas que trabalhamos aqui não são de grãos, então o fabri- cante acaba não registrando devido ao alto custo e ao longo processo de tempo para registro”. Apesar disso, há diversos órgãos e grupos contra essa atualização. Mori, no entanto, ressaltou que não é o uso indiscriminado de insumos, que será liberado, mas sim o registro do produto. “Muitas vezes se comenta numa análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que determinado produto estava com limite acima do permi- tido. São casos pequenos, menores do que 5 ou 1 ou 2% da amostragem. O que tem de irregularidade são aqueles registrados no exterior, que não estão registrados aqui, fazendo com que seja classificado como uso de defensivo não autorizado”, finalizou o dirigente. Lílian Pereira Divulgação Junji: ‘Não há danos colaterais pelo uso’ Minoru: ‘Alto custo par ao registro do agrotóxico’ A tramitação do Projeto de Lei 6299/02 que pre- tende realizar mudanças envolvendo os agrotóxicos no país traz à tona a dis- cussão de quem é contra o projeto. Diversos órgãos realizam manifestações com a finalidade de chamar atenção da sociedade para, como eles dizem, mostrar os riscos da aprovação do projeto que está em pauta na Câmara dos Deputados. Um desses órgãos é o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). De acordo com a nutricionista do órgão, Ana Paula Bortoletto, o momento é oportuno para a mobilização e o debate acerca do uso indiscrimi- nado desses produtos quí- micos. “O direito de todos à alimentação adequada e saudável passa pelas formas de produção dos alimentos, que devem ser ambientalmente sustentáveis Entidades são contra o projeto e livre de agrotóxicos. Caso esse PL seja aprovado a situação será perversamente agravada”, afirmou. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é contra o PL. O presidente do órgão, Jarbas Barbosa, aponta que a proposta retira da agência a competência de realizar a reavaliação toxicológica e ambiental dos agrotóxicos, e quem mais perde com isso, é a população brasileira. “Isso causará incerteza jurídica e passará uma mensagem negativa para os mercados mais exigente que importam produtos do Brasil”. A Anvisa e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) ficariam fora dessa nova regulamentação, ou seja, o impacto dos produtos sobre a saúde sobre o meio ambiente seria retirado deles e passado para a alçada do Ministério da Agricultura. (L.P.) A obtenção do registro do agrotóxico no Brasil, hoje, passa pela avaliação de três órgãos do governo federal: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As informações, apuradas pela Atraso atrapalhará controle de pragas o produto fica retido. Se tem um problema, tem que usar remédio para resolver, para curar a doença, mas não existe porque não está liberado. Não dá para controlar as pragas porque  não temos produtos mais modernos. O mais antigo é menos eficiente”. Machry apontou ainda, que, só em 2016, apenas um produto foi liberado no país. (L.P.) registros demoram de oito a dez anos para saírem. O engenheiro agrônomo e professor de agronegócio da Faculdade Tecnológica (Fatec) de Mogi das Cruzes, Marcos Machry, conta que a demora do registro pode atrasar os produtores, pois não podem utilizar determinado fertilizante para prevenção de pragas. “Na realidade, gera problemas, pois reportagem junto à própria Avisa, apontam que cada um desses órgãos realiza um dos produtos. Por conta da burocracia, os Prazo para conseguir o benefício termina amanhã Mogi News Machry: ‘Não temos produtos modernos’ Marcos Machry conta que a demora do registro pode atrasar os produtores Vitoria Mikaelli Mogi News SLeone/Divulgação

LegisLação Lei do agrotóxico ampliará o uso de veneno nas ...edicao.portalnews.com.br/moginews/2018/06/02/2240/... · situação será perversamente agravada”, afirmou. A Agência

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Page 1: LegisLação Lei do agrotóxico ampliará o uso de veneno nas ...edicao.portalnews.com.br/moginews/2018/06/02/2240/... · situação será perversamente agravada”, afirmou. A Agência

Sábado, 2 de junho de 20186 Cidades portalnews.com.br

Lei do agrotóxico ampliará o uso de veneno nas plantações

Projeto que altera a lei vigente é de autoria do então senador e atual ministro da Agricultura, Blairo MaggiLegisLação

A produção de hortifrúti é mais complexa do que se imagina, passando por diversos processos até chegar a mesa do consumidor. Primeiro é preciso criar a muda, depois plantá-la na terra, e assim, dependendo da forma de cultivo, ela precisará de in-sumos para o controle das pragas e fortalecimento das folhosas. Esses insumos são conhecidos como agrotóxicos e o uso desse produto está sendo tema de debates na Câmara dos Deputados, com o Projeto de Lei (PL) 6299/02, conhecido popularmente como “Pacote de Veneno”.

O PL revoga a lei atual sobre o uso de agrotóxicos e facilita o sistema de registro, controle e fiscalização no Brasil. Essa proposta foi apresentada pelo relator, o deputado federal Luiz Ni-shimori (PR), mas o projeto em si foi criado pelo então senador Blairo Maggi, que atualmente ocupa o cargo de ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento, além de ser um dos maiores produtores de soja do planeta.

A Lei dos Agrotóxicos

Produtor poderá contar com um novo pacote de veneno para o controle de pragas

vigente no Brasil foi criada em 1989 e as propostas de atualizações geraram polêmicas entre diversos órgãos governamentais e agentes públicos, que deno-minaram o PL como “Pacote de Veneno”. A atualização prevê a mudança do nome agrotóxicos para “defensivos fitossanitários”. O deputado federal Junji Abe (MDB), classifica como emergencial a modernização da legisla-ção sobre o uso, pesquisa, registro e comercialização de defensivos agrícolas no Brasil. “Para ser autorizado junto aos Ministérios da

Saúde, Agricultura e Meio Ambiente, um produto leva, no mínimo, oito anos, en-quanto os produtores bra-sileiros sofrem perdas que poderiam ser evitadas com a aplicação de itens utilizados há décadas, com sucesso e sem danos colaterais, em dezenas de outros países”. Junji ressalta que a fila de processos existentes no atual sistema regulatório levaria

mais de cem anos para ser eliminada.

Para o presidente do Sin-dicato Rural de Mogi das Cruzes, Minoru Mori, esse projeto diminuirá o prazo do registro dos insumos, que pode levar até uma década. Ele contou que as culturas trabalhadas no Alto Tietê não são de grãos, como soja, milho ou cana, então, o fabricante acaba não registrando devido

ao alto custo e ao longo processo. “Na nossa região, especificamente, temos um grande problema: as culturas que trabalhamos aqui não são de grãos, então o fabri-cante acaba não registrando devido ao alto custo e ao longo processo de tempo para registro”.

Apesar disso, há diversos órgãos e grupos contra essa atualização. Mori, no entanto,

ressaltou que não é o uso indiscriminado de insumos, que será liberado, mas sim o registro do produto. “Muitas vezes se comenta numa análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que determinado produto estava com limite acima do permi-tido. São casos pequenos, menores do que 5 ou 1 ou 2% da amostragem. O que tem de irregularidade são aqueles registrados no exterior, que não estão registrados aqui, fazendo com que seja classificado como uso de defensivo não autorizado”, finalizou o dirigente. 

Lílian PereiraDivulgação

Junji: ‘Não há danos colaterais pelo uso’

Minoru: ‘Alto custo par ao registro do agrotóxico’

A tramitação do Projeto de Lei 6299/02 que pre-tende realizar mudanças envolvendo os agrotóxicos no país traz à tona a dis-cussão de quem é contra o projeto. Diversos órgãos realizam manifestações com a finalidade de chamar atenção da sociedade para, como eles dizem, mostrar os riscos da aprovação do projeto que está em pauta na Câmara dos Deputados.

Um desses órgãos é o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). De acordo com a nutricionista do órgão, Ana Paula Bortoletto, o momento é oportuno para a mobilização e o debate acerca do uso indiscrimi-nado desses produtos quí-micos. “O direito de todos à alimentação adequada e saudável passa pelas formas de produção dos alimentos, que devem ser ambientalmente sustentáveis

Entidades são contra o projetoe livre de agrotóxicos. Caso esse PL seja aprovado a situação será perversamente agravada”, afirmou. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é contra o PL. O presidente do órgão, Jarbas Barbosa, aponta que a proposta retira da agência a competência de realizar a reavaliação toxicológica e ambiental dos agrotóxicos, e quem mais perde com isso, é a população brasileira. “Isso causará incerteza jurídica e passará uma mensagem negativa para os mercados mais exigente que importam produtos do Brasil”. A Anvisa e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) ficariam fora dessa nova regulamentação, ou seja, o impacto dos produtos sobre a saúde sobre o meio ambiente seria retirado deles e passado para a alçada do Ministério da Agricultura. (L.P.)

A obtenção do registro do agrotóxico no Brasil, hoje, passa pela avaliação de três órgãos do governo federal: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As informações, apuradas pela

Atraso atrapalhará controle de pragas

o produto fica retido. Se tem um problema, tem que usar remédio para resolver, para curar a doença, mas não existe porque não está liberado. Não dá para controlar as pragas porque  não temos produtos mais modernos. O mais antigo é menos eficiente”. Machry apontou ainda, que, só em 2016, apenas um produto foi liberado no país. (L.P.)

registros demoram de oito a dez anos para saírem.

O engenheiro agrônomo e professor de agronegócio da Faculdade Tecnológica (Fatec) de Mogi das Cruzes, Marcos Machry, conta que a demora do registro pode atrasar os produtores, pois não podem utilizar determinado fertilizante para prevenção de pragas. “Na realidade, gera problemas, pois

reportagem junto à própria Avisa, apontam que cada um desses órgãos realiza um dos produtos. Por conta da burocracia, os

Prazo para conseguir o benefício termina amanhã

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Machry: ‘Não temos produtos modernos’

Marcos Machry conta que a demora do registro pode atrasar os produtores

Vitoria Mikaelli Mogi News

SLeone/Divulgação