Leilões de Eficiência Energética No Brasil

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    LEILO DE EFICINCIA ENERGTICA NO BRASIL

    Agenor Gomes Pinto Garcia

    TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO DOS

    PROGRAMAS DE PS-GRADUAO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

    NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM CINCIAS

    EM PLANEJAMENTO ENERGTICO.

    Aprovada por:

    Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc.

    Prof. Roberto Schaeffer, D. Sc.

    Prof. Howard Steven Geller, D.Sc.

    Prof. Mauricio Tiomno Tolmasquim, D. Sc.

    Prof. Reinaldo Castro de Souza, D. Sc.

    Dr. Jeferson Borghetti Soares, D. Sc.

    Dr. Mrcio Macedo Costa, D. Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL

    JANEIRO DE 2008

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    GARCIA, AGENOR GOMES PINTO

    Leilo de Eficincia Energtica no Brasil

    [Rio de Janeiro] 2008

    XVII, 186 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc.,

    Planejamento Energtico, 2008)

    Tese Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, COPPE

    1. Eficincia energtica

    2. Leiles

    3. Medio e verificao

    I. COPPE/UFRJ II. Ttulo (srie)

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    No adianta colocar comida em casa s carradas, se se jogam fora as migalhas1.

    Antigo ditado mineiro, dito por meu av Agenor e

    repetido disciplinarmente por minha me.

    1Na verdade, o dito original tinha um vis machista, caracterstico da ordem social vigente: No adianta

    o homem colocar comida em casa s carradas, se a mulher joga fora as migalhas. Para completar a ana-logia com a energia, poder-se-ia acrescentar: nem a roa to grande para produzir tanto, nem a casapara caber todo o lixo...

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    minha av Sazita,

    Que, cedo, viva, meteu-se em um trem na distante Antnio Prado

    para dar saber aos filhos pequenos o passado.

    querida companheira Tonha,

    Que, criana, no entendia a desigualdadeE desde ento busca conhecer para combater o presente.

    Ao meu neto Henrique,

    Que, orgulhoso, acaba de aprender a ler

    E comea a busca infinda de todo humano o futuro.

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    Agradecimentos

    Ao professor Alexandre Szklo, pela orientao geral desde o Mestrado,

    combinando com percia a viso de conjunto e o rigor no detalhe.Ao professor Roberto Schaeffer, cuja competncia cientfica e

    experincia acadmica complementaram a orientao recebida.

    Ao professor Howard Geller, pela amizade iniciada, marcada pela crena

    no leilo de eficincia energtica no Brasil. A Mr Willian Gruen pelos

    documentos disponibilizados.

    Ao professor Mauricio Tolmasquim, pelo apoio recebido desde a seleo

    ao mestrado do PPE.

    Aos demais membros da banca, a ateno e desvelo.

    Ao meu scio e amigo Andreas Hahn, pelos comentrios sobre M&V.

    Ao prof. Leonardo Resende, pelo auxlio com a teoria dos leiles, lamen-

    tando sua no participao na banca.

    minha companheira Tonha, pela vida compartilhada em mais esta etapade nossas atribuladas e gratificantes existncias.

    Aos meus velhos pitutos, Gabi, Marcinho e Cai, e as novas Carol e

    Paulinha e o queridssimo Henrique, pelo apoio e compreenso da pri-

    vao do convvio do pai, sogro e av.

    A meus irmos A e Kiko, o apoio como os dedos da mo.

    Marlene e Inha, eternas incentivadoras.

    A todo o pessoal do PPE, CENERGIA e EPE, pelo convvio e apoio.

    Ao CNPq, pelo apoio recebido nos primeiros anos de doutorado.

    E aos que, em outra dimenso, fizeram tudo dar certo em minha vida, me-

    nos a saudade: me, pai, Dad, Tidi, Tidu e Julieta.

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    Resumo da Tese apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessrios

    para a obteno do grau de Doutor em Cincias (D.Sc.) em Planejamento Energtico

    LEILES DE EFICINCIA ENERGTICA NO BRASIL

    Agenor Gomes Pinto Garcia

    Janeiro/2008

    Orientadores: Alexandre Salem SzkloRoberto Schaeffer

    Programa: Planejamento Energtico

    Expandir o sistema eltrico atravs da reduo do consumo pela venda de eficin-

    cia energtica uma idia aventada desde a concepo do modelo do Setor Eltrico vi-

    gente. O tema tem voltado baila, em particular o uso de leiles para tal, semelhana

    do que praticado na expanso do sistema com energia nova. Esta tese pretende discutir

    as questes relativas implantao do leilo de eficincia energtica no Brasil e sugerir

    um modelo para sua efetivao. O primeiro captulo apresenta o histrico e a configura-

    o do modelo do Setor Eltrico atual, com destaque para o planejamento energtico,

    retomado aps o racionamento de 2001, e a estrutura para sua expanso; analisa tambm

    o resultado dos leiles at agora. O segundo captulo considera a validade da venda de

    eficincia energtica para expanso do sistema e a teoria dos leiles, hoje largamente

    desenvolvida, e sua aplicao ao caso em questo, estudando o possvel comportamentodos diversos agentes e sua implicao no formato do leilo ESCOs, grandes consumi-

    dores e fabricantes de equipamentos. O terceiro captulo analisa as experincias de ven-

    da de eficincia energtica j havidas no mundo o DSB (demand-side bidding) nos

    EUA, com anlise dos resultados prticos obtidos e um estudo da Agncia Internacional

    de Energia sobre este mecanismo de mercado para realizar o potencial de eficincia

    energtica. O DSB funciona, mas no simples (GELLER, 2006) parece resumir as

    concluses sobre o DSB seu principal mrito est em desenvolver as tcnicas de

    M&V e a indstria de ESCOs, colocando a eficincia energtica como alternativa realde expanso. O quarto captulo apresenta uma proposta para implantao do leilo, dis-

    cutindo a sua oportunidade, fonte de recursos, aspectos regionais e apresentando um

    modelo de como poderia funcionar operacionalizao, arranjo institucional e passos a

    percorrer. O quinto captulo discute e apresenta exemplos de M&V ferramenta essen-

    cial para o sucesso do leilo, cujo desenvolvimento proporcionado por este, em contra-

    partida, pode alavancar o mercado de eficincia energtica no pas. Finalmente, conclui-

    se que o leilo pode trazer contribuies importantes para a eficincia e o planejamento

    energtico, embora no possa ser o nico nem o mais barato mecanismo de promoode eficincia energtica.

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    Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.) in Energy Planning

    DEMAND-SIDE BIDDING IN BRAZIL

    Agenor Gomes Pinto Garcia

    January/2008

    Advisors: Alexandre Salem SzkoRoberto Schaeffer

    Department: Energy Planning

    Since the New Electric Sector Models conception an energy-efficiency auction,

    like the ones used to buy new energy, was considered. Recently, the subject has beenfrequently commented in studies and meetings. This thesis discuss the main issues about

    its implementation in Brazil and proposes a model for this. The first chapter shows the

    history and the Electric Sector actual frame, with emphasis in the energy planning, re-

    sumed after the 2001 electricity shortage, the structure created for the system expansion

    and analyses the results of the new energys auctions until now. The second chapter

    studies how the energy-efficiency auction can affect agents and consumers and presents

    the auction theory, which is growing fast in recent years, and how it can be applied to

    the present case, showing the possible agents behavior ESCOs, larger consumers andappliance manufacturers, and its implication on the auction shape. The third chapter

    shows the past world experience in energy-efficiency selling the USA DSB (demand-

    side bidding) and its actual results and an IEA (International Energy Agency) study

    about this market mechanism of energy-efficiency promotion. The DSB works but its

    not simple (GELLER, 2006) sums up the main conclusion about DSB it develops the

    M&V techniques and the ESCO industry, making energy-efficiency as good as new

    generation for systems growing. The fourth chapter presents a proposal for the energy-

    efficiency auctions implementation in Brazil its opportunity, resources source, re-

    gional aspects and the steps to get there. The fifth chapter analyses the M&Vs tech-

    niques and shows examples of the four options for projects the M&V is essential for

    the auction success and its development, on the other hand, can leverage the energy-

    efficiency market in Brazil. Finally, the last chapter concludes that the energy-efficiency

    auction can make a great contribution for energy efficiency and energy planning, but it

    cant be the only mechanism used and its not the cheapest way to realize energy-

    efficiency potential.

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    SUMRIO

    Introduo .................................................................................................................................1

    1 O Novo Modelo do Setor Eltrico e a Eficincia Energtica ........................................4

    1.1 Histrico .....................................................................................................................4

    1.2 A Reforma da Dcada de 1990...................................................................................7

    1.2.1 Situao do Setor antes da Reforma...................................................................7

    1.2.2 O Modelo de Livre Mercado ..............................................................................8

    1.2.3 Problemas do Modelo.......................................................................................11

    1.3 O Racionamento de 2001 .........................................................................................12

    1.3.1 Causas...............................................................................................................12

    1.3.2 O Racionamento ...............................................................................................141.4 O Novo Modelo do Setor Eltrico............................................................................16

    1.4.1 Segurana de Suprimento.................................................................................18

    1.4.2 Modicidade tarifria .........................................................................................18

    1.4.3 Ambientes de contratao.................................................................................19

    1.4.4 Arranjo institucional.........................................................................................21

    1.4.5 A Expanso da Oferta.......................................................................................23

    2 Leiles de eficincia energtica...................................................................................... 292.1 Leiles e GLD ..........................................................................................................29

    2.1.1 O Teste do Participante ....................................................................................31

    2.1.2 O Teste do No-Participante ............................................................................32

    2.1.3 Teste do Custo Total do Recurso (CTR) ..........................................................35

    2.1.4 Teste do Custo para a Companhia de Eletricidade...........................................36

    2.2 Teoria dos Leiles ....................................................................................................36

    2.2.1 Tipos de leilo ..................................................................................................37

    2.2.2 Outros aspectos do leilo..................................................................................43

    2.2.3 Vulnerabilidade dos tipos bsicos de leilo......................................................45

    2.2.4 Tipos especiais de leilo...................................................................................46

    2.3 Leiles de Eficincia Energtica no Brasil...............................................................47

    2.3.1 Alternativas do Leilo de Eficincia no Brasil.................................................47

    2.3.2 Provveis participantes e caractersticas do leilo............................................49

    3 Venda de Eficincia Energtica no Mundo..................................................................56

    3.1 DSB nos EUA...........................................................................................................56

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    3.1.1 Origem e desenvolvimento...............................................................................56

    3.1.2 Medidas, mercados e proponentes....................................................................58

    3.1.3 Sistemtica do programa ..................................................................................60

    3.1.4 Custos dos projetos...........................................................................................62

    3.1.5 Tipo de leilo e concorrncia............................................................................66

    3.1.6 Alocao de riscos............................................................................................67

    3.1.7 M&V.................................................................................................................67

    3.1.8 Questes sobre o DSB......................................................................................67

    3.1.9 Concluses........................................................................................................70

    3.2 O Estudo da Agncia Internacional de Energia........................................................71

    3.2.1 Mecanismos, programas e barreiras .................................................................73

    3.2.2 Descrio do mecanismo..................................................................................74

    3.2.3 Interferncia com outros mecanismos..............................................................76

    3.2.4 Barreiras ...........................................................................................................76

    3.2.5 Efeitos na Reestruturao da Indstria de Eletricidade....................................79

    3.2.6 Resultados Potenciais .......................................................................................80

    3.2.7 Experincia Anterior com o Mecanismo..........................................................80

    3.2.8 Agentes Promotores..........................................................................................81

    3.2.9 Condies Importantes para a Efetiva Implantao .........................................81

    3.2.10 Financiamento ..................................................................................................82

    3.2.11 Impactos nas Companhias de Eletricidade .......................................................82

    3.2.12 Arcabouo Poltico-Institucional......................................................................83

    3.2.13 Problemas Identificados com o Mecanismo.....................................................84

    3.2.14 Impactos do Mecanismo...................................................................................84

    3.2.15 Avaliao do Mecanismo .................................................................................85

    4 Proposta de Leilo de eficincia energtica para o Brasil ..........................................874.1 Oportunidade do leilo .............................................................................................88

    4.1.1 A expanso do sistema eltrico e o planejamento energtico ..........................88

    4.1.2 A questo ambiental .........................................................................................89

    4.1.3 A efetividade das aes de eficincia energtica..............................................89

    4.1.4 Custo dos programas e medidas de eficincia energtica.................................90

    4.1.5 Alternativa ao leilo Certificados Brancos....................................................92

    4.2 Recursos a utilizar ....................................................................................................944.3 Regionalizao .........................................................................................................95

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    4.4 Operacionalizao ....................................................................................................96

    4.4.1 Planejamento da eficincia energtica..............................................................97

    4.4.2 Viabilizao das medidas de eficincia energtica.........................................123

    4.4.3 Seleo das propostas .....................................................................................124

    4.4.4 Contratos, financiamento e fonte de recursos.................................................126

    4.4.5 Medio e Verificao....................................................................................126

    4.4.6 Avaliao e aprimoramento do mecanismo....................................................129

    4.5 Arranjo institucional...............................................................................................130

    4.6 Passos a percorrer ...................................................................................................132

    4.6.1 Estabelecimento do modelo............................................................................132

    4.6.2 Interao com os agentes e aperfeioamento .................................................132

    4.6.3 Aspectos legais e institucionais ......................................................................132

    4.6.4 Tramitao final..............................................................................................132

    4.6.5 Programa piloto ..............................................................................................132

    4.6.6 Divulgao e capacitao ...............................................................................133

    4.6.7 Operacionalizao ..........................................................................................133

    4.6.8 Cronograma indicativo ...................................................................................133

    5 Medio & Verificao................................................................................................. 134

    5.1 Opes de M&V.....................................................................................................134

    5.2 Opo A: troca de motores com carga constante ...................................................137

    5.2.1 Descrio da reforma, seu propsito e impacto sobre os usurios .................137

    5.2.2 Fronteira de medio e efeitos interativos com o exterior da fronteira ..........137

    5.2.3 Opo de Medio e Verificao....................................................................138

    5.2.4 Variveis independentes e fatores estticos....................................................139

    5.2.5 Plano de monitorao dos fatores estticos ....................................................139

    5.2.6 Linha de base..................................................................................................1395.2.7 Anlise econmica e oferta ao leilo..............................................................142

    5.2.8 Perodo ps-reforma .......................................................................................144

    5.3 Opo B: eficientizao de sistema de bombeamento............................................147

    5.3.1 Descrio da reforma, seu propsito e impacto sobre os usurios .................148

    5.3.2 Fronteira de medio e efeitos interativos com o exterior da fronteira ..........149

    5.3.3 Opo de Medio e Verificao....................................................................150

    5.3.4 Variveis independentes e fatores estticos....................................................1505.3.5 Plano de monitorao dos fatores estticos ....................................................150

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    5.3.6 Linha de base..................................................................................................150

    5.3.7 Anlise econmica e oferta ao leilo..............................................................151

    5.3.8 Perodo ps-reforma .......................................................................................154

    5.4 Opo C: eficientizao de sistema de condicionamento ambiental......................155

    5.4.1 Descrio da reforma, seu propsito e impacto sobre os usurios .................156

    5.4.2 Fronteira de medio e efeitos interativos com o exterior da fronteira ..........156

    5.4.3 Opo de Medio e Verificao....................................................................159

    5.4.4 Variveis independentes e fatores estticos....................................................160

    5.4.5 Plano de monitorao dos fatores estticos ....................................................160

    5.4.6 Linha de base..................................................................................................160

    5.4.7 Anlise econmica e oferta ao leilo..............................................................161

    5.4.8 Perodo ps-reforma .......................................................................................163

    5.5 Opo D: novo sistema de bombeamento ..............................................................163

    5.5.1 Descrio da reforma, seu propsito e impacto sobre os usurios .................164

    5.5.2 Fronteira de medio e efeitos interativos com o exterior da fronteira ..........165

    5.5.3 Opo de Medio e Verificao....................................................................165

    5.5.4 Variveis independentes e fatores estticos....................................................165

    5.5.5 Plano de monitorao dos fatores estticos ....................................................165

    5.5.6 Linha de base..................................................................................................166

    5.5.7 Anlise econmica e oferta ao leilo..............................................................166

    5.5.8 Perodo ps-reforma .......................................................................................170

    6 Concluses e recomendaes .......................................................................................171

    6.1 Concluses..............................................................................................................171

    6.2 Recomendaes para novos estudos.......................................................................174

    Referncias ............................................................................................................................ 175

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Estrutura tradicional do Sistema Eltrico Brasileiro....................................... 5

    Figura 2 Modelo institucional ..................................................................................... 10

    Figura 3 Histrico das afluncias da regio Sudeste................................................... 12

    Figura 4 Potncia instalada e gerao.......................................................................... 13

    Figura 5 Dados do subsistema Sudeste/Centro-Oeste................................................. 13

    Figura 6 Consumo de energia eltrica no Brasil 1970 2005 .................................... 15

    Figura 7 Consumo setorial no Brasil 1970-2005......................................................... 16

    Figura 8 Ambientes de contratao............................................................................. 19

    Figura 9 Participao do Mercado Livre de eletricidade............................................. 20

    Figura 10 Energia eltrica no SIN e Mercado Livre ................................................... 20

    Figura 11 Agentes Institucionais do Setor Eltrico..................................................... 21Figura 12 - Alternativas para atendimento da demanda................................................. 22

    Figura 13 - PNE 2030 Projeo do consumo final de eletricidade.............................. 23

    Figura 14 Processo de Planejamento do Setor Eltrico............................................... 24

    Figura 15 Esquema do MIPE ...................................................................................... 25

    Figura 16 Expanso do sistema eltrico ...................................................................... 26

    Figura 17 Leiles de compra no ACR......................................................................... 26

    Figura 18 Relaes contratuais de gerao de eletricidade ......................................... 27

    Figura 19 Energia vendida nos leiles de expanso.................................................... 28Figura 20 Preo da energia gerada nos leiles de expanso........................................ 28

    Figura 21 Teste RIM ................................................................................................... 32

    Figura 22 Teste RIM (anlise alternativa)................................................................... 33

    Figura 23 Variao do custo mximo de eficincia com a expanso requerida.......... 35

    Figura 24 Leilo ingls................................................................................................ 39

    Figura 25 Leilo alemo.............................................................................................. 39

    Figura 26 Leilo selado de 1 preo ............................................................................ 40

    Figura 27 Leilo selado de 2 preo ............................................................................ 41Figura 28 Alternativa 1: todos os projetos aceitos ...................................................... 48

    Figura 29 Alternativa 2: leilo especfico de eficincia energtica............................. 48

    Figura 30 Estrutura do PROESCO.............................................................................. 52

    Figura 31 - Distribuio dos projetos de DSB nos EUA................................................ 57

    Figura 32 Unidade de ar condicionado instalada em telhado...................................... 58

    Figura 33 Low-e ceiling............................................................................................... 59

    Figura 34 Projetos mecnicos demanda reduzida na ponta do vero....................... 60

    Figura 35 Fases do Projeto do Bid 2001 ..................................................................... 62

    Figura 36 Papel das entidades no leilo ...................................................................... 97

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    Figura 37 - Potenciais de Conservao de Energia ........................................................ 98

    Figura 38 Ponto de operao da bomba..................................................................... 106

    Figura 39 Ajuste da vazo por vlvula de controle ................................................... 106

    Figura 40 Ajuste da vazo por AVA ......................................................................... 107

    Figura 41 Fluxo de energia e eficientizao .......................................................... 108Figura 42 Efeito de sistema em ventiladores de teto................................................. 110

    Figura 43 - 7 Passos para a Eficincia Energtica........................................................ 118

    Figura 44 Estimativa de economia de energia........................................................... 128

    Figura 45 Fora-tarefa para o leilo .......................................................................... 131

    Figura 46 Opo de M&V a adotar ........................................................................... 135

    Figura 47 Fronteira de M&V opo A ................................................................... 138

    Figura 48 Medio em motor de bomba.................................................................... 140

    Figura 49 Curvas da bomba....................................................................................... 141Figura 50 Curva de rendimento do motor ................................................................. 141

    Figura 51 Variao da atratividade do investimento com a oferta opo A........... 144

    Figura 52 - Medio aps a reforma............................................................................. 146

    Figura 53 Curvas da bomba com novo rotor ............................................................. 148

    Figura 54 - Fronteira de M&V opo B .................................................................... 149

    Figura 55 - Variao da atratividade do investimento com a oferta opo B ........... 154

    Figura 56 Unifilar do aeroporto................................................................................. 157

    Figura 57 Correlao entre consumo do aeroporto e do TPS.................................... 158Figura 58 Consumo estimado do TPS x temperatura ambiente ................................ 158

    Figura 59 Variao da atratividade do investimento com a oferta opo C........... 162

    Figura 60 Escolha da opo D no exemplo considerado........................................... 164

    Figura 61 - Fronteira de M&V opo D.................................................................... 165

    Figura 62 Curva da bomba mais eficiente................................................................. 167

    Figura 63 - Variao da atratividade do investimento com a oferta opo D ........... 169

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Comparao entre os Modelos do Setor Eltrico ......................................... 17

    Tabela 2 Comparao entre riscos em projetos pela oferta e demanda....................... 29

    Tabela 3 - Comparao dos programas quanto a riscos assumidos................................ 30

    Tabela 4 Comparao ampliao x eficincia energtica............................................ 34

    Tabela 5 Vulnerabilidade dos tipos bsicos de leilo.................................................. 45

    Tabela 6 ESCOs por pas e faturamento (2001).......................................................... 50

    Tabela 7 Resultados dos PEEs .................................................................................... 50

    Tabela 8 Perfil das ESCOs brasileiras......................................................................... 51

    Tabela 9 Caractersticas e vulnerabilidades dos oferentes .......................................... 55

    Tabela 10 Fatores de correo considerados pela Xcel Bid 2001 ............................ 64

    Tabela 11 Caractersticas do Mecanismo.................................................................... 72Tabela 12 Avaliao do Mecanismo ........................................................................... 85

    Tabela 13 Programao do workshopEPE de 7 dez.2006 .......................................... 87

    Tabela 14 Resultados do PEE por ciclo ...................................................................... 90

    Tabela 15 Resultados do PEE (ciclos 2000/01 a 2004/05).......................................... 91

    Tabela 16 Resultados do PEE (ciclos 2005/06 e 2006/07 parcial).............................. 91

    Tabela 17 Resultados do PROCEL em 2006 .............................................................. 92

    Tabela 18 Metas de Certificados Brancos na Europa.................................................. 93

    Tabela 19 Desenho de um esquema de Certificados Brancos..................................... 93Tabela 20 Potencial em fora motriz na indstria ..................................................... 100

    Tabela 21 Boas condies para aplicao de AVAs ................................................. 104

    Tabela 22 Medidas de eficincia energtica em sistemas de bombeamento (XEnergy)

    .............................................................................................................................. 108

    Tabela 23 Medidas de eficincia energtica em sistemas de bombeamento (Procel)109

    Tabela 24 - Medidas de eficincia energtica em sistemas de ventilao.................... 110

    Tabela 25 Medidas de eficincia energtica em sistemas de ar comprimido (XEnergy)

    .............................................................................................................................. 111Tabela 26 - Medidas de eficincia energtica em sistemas de ar comprimido (Procel)112

    Tabela 27 - Economias em sistemas de compresso.................................................... 113

    Tabela 28 - Economia e custos de gesto energtica ................................................... 118

    Tabela 29 Perfil operacional da amostra (motores padro)....................................... 120

    Tabela 30 Perfil operacional com motores de alto rendimento ................................. 120

    Tabela 31 Perfil com as economias obtidas............................................................... 120

    Tabela 32 Custo da energia evitada........................................................................... 120

    Tabela 33 Estrutura da fora-tarefa para o leilo de eficincia energtica................ 130

    Tabela 34 Cronograma de implantao..................................................................... 133

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    15/203

    xv

    Tabela 35 Dados nominais e operacionais do motor................................................. 140

    Tabela 36 Formao do investimento (sem o leilo) opo A ............................... 142

    Tabela 37 Anlise econmica sem oferta ao leilo ................................................... 142

    Tabela 38 - Formao do investimento (com o leilo) opo A ............................... 143

    Tabela 39 Anlise econmica com oferta mxima ao leilo opo A.................... 143Tabela 40 Variveis Opo A.................................................................................... 145

    Tabela 41 Situao ps-reforma estimada e medida ................................................. 146

    Tabela 42 Economia segundo o IPMVP ................................................................... 147

    Tabela 43 Relao entre a vazo e a potncia do motor............................................ 150

    Tabela 44 Perfil esperado de vazo ........................................................................... 151

    Tabela 45 Vazes e potncias para as condies ps-reforma opo B................. 152

    Tabela 46 Estimativa da energia reduzida opo B................................................ 152

    Tabela 47 Formao do investimento (sem o leilo) opo B ................................ 152Tabela 48 Anlise econmica da opo B (sem o leilo).......................................... 153

    Tabela 49 Custos estimados com a oferta ao leilo opo B.................................. 153

    Tabela 50 Variveis opo B..................................................................................... 154

    Tabela 51 Clculo da economia opo C ............................................................... 159

    Tabela 52 Dados para estabelecimento da linha de base........................................... 160

    Tabela 53 Investimento opo C ............................................................................ 161

    Tabela 54 Anlise do investimento (sem leilo) - opo C....................................... 161

    Tabela 55 Investimento (com o leilo) opo C..................................................... 162Tabela 56 - Vazes e potncias para as condies ps-reforma opo D................. 167

    Tabela 57 Investimento em equipamentos opo D............................................... 168

    Tabela 58 Composio do investimento opo D .................................................. 168

    Tabela 59 Estimativa da energia reduzida opo D ............................................... 168

    Tabela 60 Anlise econmica do investimento (sem leilo) opo D.................... 169

    Tabela 61 Variveis opo D..................................................................................... 170

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    16/203

    xvi

    SIGLAS UTILIZADAS

    ABESCOAssociao Brasileira das Empresas de Servios de Conservao de Energia .................. 49, 51, 69, 183

    ACL

    Ambiente de Contratao Livre.............................................................................................................19ACRAmbiente de Contratao Regulada.................................................................................................19, 26

    AneelAgncia Nacional de Energia Eltrica ............................................................... ................ 11, 21, 76, 178

    AVAAcionador de velocidade ajustvel .............................. 104, 106, 107, 124, 148, 164, 165, 167, 168, 170

    CBsCertificados Brancos..............................................................................................................................56

    CCEECmara de Comercializao de Energia Eltrica......... 18, 20, 21, 22, 23, 26, 27, 81, 126, 130, 173, 177

    CCM

    Centro de Controle de Motores............................................................................................................138CLASP

    Collaborative Labeling and Appliance Standards Program.................................................102, 119, 177CTR

    Teste do custo total do recurso ......................................................................... ..................................... 35DNAEE

    Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica..............................................................................6DSB

    Demand-side bidding......................................................... 1, 2, 49, 56, 57, 58, 63, 65, 67, 68, 69, 70, 71ELETROBRS

    Centrais Eltricas Brasileiras ........................................................................ ....... 109, 177, 178, 179, 184EPE

    Empresa de Pesquisa Energticav, 1, 2, 15, 16, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 45, 47, 49, 53, 100, 178, 179,180, 185

    ESCOEmpresa de Servios de Conservao de Energia ................... 1, 50, 51, 52, 56, 65, 67, 68, 70, 180, 186

    GLDGerenciamento pelo Lado da Demanda....................................... 1, 56, 57, 58, 62, 63, 66, 67, 68, 69, 70

    IEAInternational Energy Agency.......................................................................................56, 71, 72, 73, 181

    IPMVPInternational Performance Measurement and Verification Protocol............................................ 124, 181

    M&VMedio e Verificao.................................................................................................65, 67, 70, 71, 121

    MDLMecanismo de Desenvolvimento Limpo ............................................................... ................................89

    MMEMinistrio das Minas e Energia ..................1, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 26, 27, 99, 122, 178, 179, 182, 183

    MT&RMonitoring, Targeting and Reporting..................................................................................117, 118, 119

    P&DPesquisa e Desenvolvimento ............................................................. ............................................ 79, 181

    PCEPlanejamento Corporativo de Energia ........................................................... ........................ 63, 116, 117

    PCH

    Pequena Central Hidreltrica...............................................................................................................1, 2PDEPlano Decenal de Expanso de Energia.................................................................................................25

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    17/203

    xvii

    PEEPlano de Eficincia Energtica ............................................ 30, 35, 50, 72, 76, 77, 78, 80, 81, 82, 83, 84

    PGEPrograma de Gesto Energtica...........................................................................................................116

    PIRPlanejamento Integrado de Recursos...............................................................................................56, 74

    PNEPlano Nacional de Energia de Longo Prazo........................................................... 22, 23, 24, 97, 99, 179

    PUCPublic Utility Comission......................................................................................................................184

    RCBRelao custo-benefcio.........................................................................................................91, 142, 143

    RFPRequest for Proposals ............................................................... ..................................................... 57, 186

    RIMTeste do no-participante...........................................................................................................32, 33, 35

    SBC

    Summit Blue Consulting............................................................ 57, 58, 59, 60, 63, 64, 65, 67, 68, 70, 71TDTaxa de desconto ............................................................ ............................................. 142, 153, 161, 169

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    18/203

    1

    INTRODUO

    O novo modelo do Setor Eltrico brasileiro, concebido inicialmente pelo Instituto de

    Cidadania (2002, p. 18), que serviu de base ao promulgado recentemente, previa a implanta-

    o de uma poltica de uso racional e eficiente de energia, reestruturando-se o Programa deConservao de Energia Eltrica Procel, da Eletrobrs, disponibilizando mais energia para

    consumo graas ao uso mais eficiente. Esta abordagem genrica recebeu crticas que aponta-

    vam para a necessidade de definio explcita de mecanismos de eficincia energtica

    (SCHAEFFER in Brasil Energia, jul.2004, p. 22). Entre as propostas que apareceram para

    uma maior concretizao da melhoria de eficincia, durante o processo de discusso do mode-

    lo, estava a de que blocos de energia conservada pudessem ser negociados, semelhana

    das energias alternativas - elica, solar, biomassa e PCH (SCHAEFFER, 2004, p. 22), que

    tm uma parcela garantida de gerao contratada (MME, 2003, item 13.1, p. 57) atravs deum processo de leilo.

    Szklo e Geller (2006, p. 193-194), elencaram 4 polticas principais para aumentar a con-

    servao de energia no Brasil: criar uma nova agncia de eficincia energtica, incorporar

    prticas de ofertas de energia pelo lado da demanda expanso do setor e medidas de eficin-

    cia energtica como opo de planejamento, incrementar a aplicao da Lei de Eficincia E-

    nergtica e adotar cdigos de energia para os novos prdios comerciais. A oferta de energia

    pela demanda envolveria uma requisio de projetos (local de aplicao, medida, custo, redu-

    o estimada, vida til e incentivo requerido), sua qualificao, implementao e posteriorverificao. Outras propostas tm aparecido (WWF-Brasil, 2006; Geller, 2006) sugerindo a

    implantao do leilo de eficincia energtica.

    Experincias internacionais j existem de venda de energia e demanda pelo consumidor,

    o chamado DSB demand side bidding. O DSB existe nos EUA desde 1987, onde 35 com-

    panhias de eletricidade assinaram contratos de longo prazo com ESCOs2e consumidores para

    explorar potenciais de reduo de demanda e energia por preos determinados (GOLDMAN

    e KITO, 1995, p. 13). Segundo estes autores, os contratos so pagos segundo a performance

    verificada (ibidem, p. 14) e surgiram como forma de ampliar a execuo de programas deGLD (gerenciamento pelo lado da demanda).

    A idia acabou no saindo na edio inicial do modelo, que veio luz em 2004

    (BRASIL, 2004), em vista das dificuldades que continha e das prioridades estabelecidas em

    funo da conjuntura de ento, com folga de oferta de energia no sistema eltrico. Agora ela

    volta tona, com as dificuldades de expanso no longo prazo 3, trazida por proposta de Geller

    2Nos EUA, Energy Service Companies, que prestam tipicamente servios de eficincia energtica, como ser

    discutido em vrias partes ao longo desta tese. No Brasil, adotou-se o a mesma sigla, ESCO, significando Em-presa de Serviosss de Conservao de Energia.

    3O Plano Nacional de Energia 2030 (EPE, 2006) aponta para uma expanso da gerao eltrica ainda marcadapor aproveitamentos hdricos, onde empreendimentos hoje considerados de grande complexidade socioambi-

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    19/203

    2

    (2006), que motivou a discusso do tema em um workshoppromovido pela EPE em dezembro

    de 2006 (EPE, 2006e).

    Segundo ele, o DSB funciona, mas no simples, ou seja, vrios pontos precisam ser

    bem definidos para que apresente bons resultados. Como o modelo do setor eltrico brasileiro

    seleciona os projetos de nova gerao com maior atratividade atravs de leiles, inclusive de

    energias alternativas (PCH, elica e biomassa), por que no incluir a eficincia energtica,

    como uma fonte virtual?

    Visto desta forma, o leilo teria o papel de explorar uma parte do potencial de eficincia

    energtica diretamente, eliminando barreiras ao mercado de ESCOs ou at mesmo explorando

    outras oportunidades, como discutido neste trabalho. Outra opo seria utiliz-lo como forma

    de selecionar medidas que buscassem atender a uma meta obrigatria de reduo de consumo

    estabelecida para distribuidoras de energia eltrica ou at mesmo indstrias. Esta obrigatorie-dade garantiria a reduo da meta fixada, enquanto o leilo buscaria o melhor preo para a

    sociedade um mercado de eficincia energtica pode se desenvolver a partir da compra e

    venda destas redues de energia, em um mecanismo hoje conhecido como Certificados

    Brancos. Ambas as formas, entretanto, exigem uma concepo correta do leilo, aes prvias

    que garantam sua adequao e uma estrutura institucional que lhe d suporte e estabelea um

    sistema adequado de medio e verificao de forma que, para todos os agentes, haja confian-

    a na energia realmente retirada do sistema. Esta tese pretende discutir as principais questes

    acerca do leilo e definir um possvel modelo de implantao deste mecanismo.

    Vender energia no gasta no to simples como vender energia gerada, exige a que-

    bra de diversas barreiras. Este problema se aproxima do enfrentado pelas ESCOs, cujo neg-

    cio baseia-se na renda no gasta que a eficincia energtica proporciona. O instrumento de

    mercado caracterstico das ESCOs o contrato de performance, cujo resultado depende es-

    sencialmente da apurao da economia obtida. O estabelecimento deste tipo de contrato no

    simples e os riscos so grandes e de variados tipos (STONER JR. e POOLE, 2003, apud

    GARCIA, 2003, p. 121-122).

    O Novo Modelo Institucional do Setor Eltrico brasileiro enfatiza o planejamento delongo prazo e o uso de leiles para seleo dos projetos de menor custo para expanso do sis-

    tema. Estabelecer leiles de energia virtual, a um custo menor que a energia real, alm da

    vantagem econmica, tem tambm vantagem ambiental, pelo impacto evitado, e social, pois a

    indstria de eficincia energtica gera servios. Estabelecer um modelo adequado, que incen-

    tive os potenciais agentes participao, e onde haja confiabilidade na energia economizada

    atravs de aes de medio e verificao que sejam por todos aceitas (como o a energia

    ental ou com baixssimo nvel de conhecimento ou investigao somam 31,5% do potencial de energia apro-veitvel (234 GW), 7,7% apresentam interferncia em terras indgenas ou unidades de conservao e mais 10%esto prximas a estas reas ou so no-prioritrias.

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    20/203

    3

    gerada por novas usinas) pode ser um excelente instrumento (mas no o nico) de incrementar

    a eficincia no uso da energia no Brasil. Vrias medidas podem se constituir em usinas virtu-

    ais, retirando energia do sistema: entre elas, pacotes de energia conservada poderiam ser

    formados pela agregao de medidas implementadas em vrias fbricas, por exemplo, pelo

    uso de fora motriz. Fabricantes de equipamentos poderiam lanar no mercado produtos comtecnologia que incorporasse maior eficincia energtica, cujo investimento necessrio seria

    pago com a energia economizada vendida atravs do leilo. Grandes consumidores de energia

    eltrica poderiam vender a energia economizada em melhorias em seus processos. Esta tese

    pretende apresentar um modelo para o Brasil que possa cumprir esta funo, e pode servir

    como subsdio ao aprofundamento da questo entre os agentes, continuando a discusso do

    workshopda EPE de dezembro de 2006 (EPE, 2006e).

    Assim, o Captulo 1apresenta o Novo Modelo do Setor Eltrico, retomando o processo

    histrico em que apareceu, suas principais caractersticas e como a eficincia energtica se

    insere no processo de planejamento e como atendimento expanso da demanda; o Captulo 2

    discute os benefcios e desvantagens dos diversos agentes e consumidores com a venda de

    eficincia energtica, para em seguida abordar a teoria dos leiles e, a partir da anlise das

    caractersticas dos provveis oferentes, as condies de contorno para o estabelecimento de

    um modelo de leilo de eficincia energtica no Brasil; o Captulo 3analisa outras experin-

    cias de venda de eficincia energtica para o sistema no mundo o DSB dos EUA e um estu-

    do da IEA sobre este mecanismo; o Captulo 4discute questes sobre o leilo de eficincia

    energtica no Brasil a oportunidade de sua implementao hoje, recursos que poderiam serutilizados, aspectos regionais e apresenta um modelo operacionalizao, arranjo institucio-

    nal e passos a percorrer, que poderia servir para implement-lo; o Capitulo 5aborda especifi-

    camente a questo da Medio & Verificao (M&V), pela sua relevncia no processo de

    conferir credibilidade energia economizada, com exemplos em eficincia energtica em

    fora motriz na indstria; finalmente, apresentam-se as concluses e recomendaes para des-

    dobramento do tema e as referncias utilizadas no trabalho.

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    21/203

    4

    1 ONOVO MODELO DO SETOR ELTRICO E A EFICINCIA ENERGTICA

    1.1 Histrico

    O incio do setor eltrico brasileiro, no final do sculo XIX, com o advento da Repbli-ca, foi marcado por uma estrutura descentralizada, com dois modelos de atuao: empresas

    municipais, para desenvolvimento da iluminao e transporte pblicos, e grandes investidores

    internacionais, destacando-se a Light nos estados de So Paulo e Rio de Janeiro

    (TOLMASQUIM et al., 2002, p. 45).

    Porm, logo a necessidade de grandes investimentos e oportunidade de economia de es-

    cala provocaram a centralizao do mercado. Alm disso, o Cdigo de guas de 1934 federa-

    lizou o poder concedente. A primeira crise do setor falta de investimentos, dificuldade de

    importao, parque industrial nacional incipiente (LEITE, 1997, p. 71) ocorreu poca da IIGrande Guerra, quando foi criado o CNAEE (Conselho Nacional de guas e Energia Eltri-

    ca) para geri-la. Houve desatendimento da demanda e racionamento em So Paulo, Rio de

    Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Sul (LEITE, 1997, p. 72). Aps a guerra, alguns

    estados intervieram no setor, j que o ento governo (Marechal Eurico Dutra) no priorizava o

    setor de infra-estrutura (TOLMASQUIM et al., 2002, p. 46). Nesta poca, ainda quase todo o

    parque gerador era privado.

    A interveno do Estado no Setor Eltrico iniciou-se de forma mais incisiva com a atua-

    o da CHESF (Cia. Hidroeltrica do So Francisco, criada em 1945), a partir de 1949. Osgovernos de Getlio Vargas (1951-1954) e Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961)

    concentraram esforos no setor de infra-estrutura, com interveno do Estado, criando as ba-

    ses do desenvolvimento industrial brasileiro. Acreditavam que o papel do Estado era fazer

    grandes obras, prover a chamada indstria de base e assim impulsionar o desenvolvimento.

    Em 1957, nasce em So Paulo a indstria automobilstica nacional, que marca o ingresso do

    Brasil na era industrial moderna. O trip do desenvolvimento era dado pela presena do Esta-

    do no setor de infra-estrutura, as multinacionais na indstria de transformao, inclusive equi-

    pamentos, e as companhias nacionais nos bens de apoio (por exemplo, no setor de autopeas)e produtos finais.

    Houve tambm racionamento na dcada de 504(Belo Horizonte, 1959, e na rea da Li-

    ght, 1953/54, com uma enorme quantidade de grupos diesel-eltricos instalados pelos pr-

    prios consumidores) e ganhou consistncia a concepo de que um sistema nacional de de-

    senvolvimento do setor de energia eltrica deveria fundar-se em uma viso de longo prazo

    (10 anos) e na convico de que os projetos [...] deviam ser comparados em funo do seu

    potencial intrnseco de contribuir para a produo de energia ao menor custo (LEITE, 1997,

    4O perodo hidrolgico considerado crtico pelo ONS Operador Nacional do Sistema Eltrico do sistema hi-dreltrico brasileiro vai de de maio/1949 a novembro/1956, no perodo 1931-2001 (ONS, 2004).

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    22/203

    5

    p. 123). Fizeram-se estudos sistemticos a partir da dcada de 60 e abandonavam-se projetos

    isolados de usinas para adotar uma proposta de planejamento integrado (ibidem, p. 131).

    Em 1961, no governo de Jnio Quadros, foi criada a Eletrobrs Centrais Eltricas Bra-

    sileiras (em projeto no Congresso Nacional havia 7 anos). A Eletrobrs passa a ser a empresa

    holdingdas estatais do setor, incluindo a Chesf e Furnas 5, e com funo de agente financia-

    dor, administrando o Fundo Federal de Eletrificao.

    A partir de 1964, nos governos militares, a Eletrobrs foi assumindo mais funes e o

    setor se organizando de forma centralizada, com a estrutura que perduraria at a dcada de

    1990. Nesta organizao, a Eletrobrs tinha as funes de planejamento, financiamento e co-

    ordenao e respondia pelos segmentos de gerao e transmisso, atravs das 4 subsidirias

    regionais: Eletronorte, na regio Norte, Chesf, no Nordeste, Furnas, Sudeste e Centro-Oeste e

    Eletrosul, na regio Sul. As empresas distribuidoras, como monoplios naturais em cada esta-do, passaram a pertencer a estes, sob a gide da Eletrobrs, com a estatizao de muitas em-

    presas6, processo que findou em 1979, com a aquisio do Grupo Light, j no fim do governo

    do General Ernesto Geisel. Algumas empresas regionais detm um quinho de gerao e

    transmisso Gomes (1998) prope o esquema da Figura 1para a estrutura do Setor.

    Supridoras Regionais

    (Furnas, Eletrosul, Eletronorte e

    Chesf)

    Empresas verticalmente

    integradas

    (Cemig, Cesp, Celg, CEEE e

    Copel)

    Distri-

    buidora

    1

    Distri-

    buidora

    2

    Distri-

    buidora

    n

    Consu-

    midores

    1

    Consu-

    midores

    2

    Consu-

    midores

    n

    Consu-

    midores

    Cemig

    Consu-

    midores

    Cesp

    Consu-

    midores

    Celg

    Consu-

    midores

    CEEE

    Consu-

    midores

    Copel

    Fonte: GOMES (1998).Figura 1 Estrutura tradicional do Sistema Eltrico Brasileiro

    5FURNAS nasceu com o desafio de sanar a crise energtica que ameaava, em meados da dcada de 50, oabastecimento dos trs principais centros socioeconmicos brasileiros - So Paulo, Rio de Janeiro e Belo Hori-zonte. Com o objetivo de construir e operar no rio Grande a primeira usina hidreltrica de grande porte do Bra-sil - a Usina Hidreltrica de Furnas, com capacidade de 1.216 MW (...) Hoje, FURNAS (...) conta com umcomplexo de onze usinas hidreltricas e duas termeltricas, totalizando uma potncia de 9.919 MW(...), com19.277,5 km de linhas de transmisso e 46 subestaes... (FURNAS, 2007).

    6Em 1963 a proporo da capacidade instalada das empresas sob controle externo ainda era elevada, corres-pondendo a 46% (sendo 38% da Light e 8% do grupo Amforp) (LEITE, 1997, p. 132). A aquisio da Am-forp consumou-se em nov.1964 (ibidem, p. 153), mas a da Light s em jan.1979, sob fortes crticas quanto sua oportunidade (ibidem, p. 244).

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    23/203

    6

    Nesta fase, como conta Mello (2000), com a interveno estatal e com vistas a promo-

    ver o desenvolvimento econmico, notadamente no setor industrial, definiu-se um grande

    salto na infra-estrutura energtica. De 1945 a 1995, a capacidade instalada passou de

    1.342 MW a 55.512 MW, sendo 50.687 MW em mais de 200 hidreltricas, 89 delas com po-

    tncia acima de 10 MW.

    Alm da presena estatal, o modelo se caracterizava por elevados nveis de coordena-

    o e hierarquizao entre os agentes (ROSA et al., 1998, p. 150). O planejamento, feito a

    longo prazo (10, 15 anos), como o exigem as usinas hidroeltricas, era feito pelo GCPS (Gru-

    po Coordenador de Planejamento Setorial dos Sistemas Eltricos), a operao definida de

    modo centralizado pelo GCOI (Grupo Coordenador de Operao Interligada)7, ambos da Ele-

    trobrs. Havia tambm o CONAMA (Conselho de Meio Ambiente do Setor Eltrico), para

    adequao s normas ambientais e o GCCE (Grupo Coordenador para a Conservao de Ele-

    tricidade), para implantao das medidas de eficincia energtica definidas pelo PROCEL. A

    sociedade participava atravs de vrios grupos atuantes, entre os quais a ABRACE (Associa-

    o Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia), representante dos grandes

    consumidores industriais. O Estado, portanto, alm da posse de ativos, realizava concesses

    nas demais reas, controlava a operao do sistema, regulava preos e servios e elaborava

    um planejamento de expanso determinativo.

    Este modelo comeou a apresentar problemas ao final dos anos 70s (TOLMASQUIM et

    al., 2002, p. 48), com o uso pelo Governo das empresas do setor eltrico na poltica econmi-

    ca: por um lado, usando o seu poder de captao de emprstimos estrangeiros (dinheiro no

    investido no setor), e por outro lado, usando as tarifas de eletricidade como controle da infla-

    o. Tambm os choques do petrleo, de 1973 e 1979, fizeram com que o pas buscasse redu-

    zir a sua dependncia quele recurso, havendo ento o incentivo ao maior uso de energia el-

    trica pela indstria8. Houve tambm incentivos ao estabelecimento de indstrias eletro-

    intensivas pois as hidreltricas construdas proporcionavam sobras ao sistema eltrico. Este

    quadro e a crise fiscal do Estado levaram a uma deteriorao do setor, financeira e tcnica,

    como conseqncia formando um pano de fundo adequado s propostas de mudanas estrutu-

    rais no setor, que se tornaram freqentes no mundo aps a implantao de modelos liberais naInglaterra e outros pases9.

    7Leite (1997, p 259) considera que importante medida de conservao [de energia] foi tomada antes das crises[do petrleo], quando se constatou a dificuldade que tinham as concessionrias dos sistemas eltricos interliga-dos de usarem bem a energia hidrulica disponvel, agindo independentemente umas das outras. Pela lei de I-taipu, foram criados em 1972 os GCOI, [...] mecanismo [que] evitou aumentos significativos de capacidade.

    8Programa de Substituio de Energticos Importados por Eletricidade, portaria DNAEE no 140, de novembrode 1983, conhecido como programa de eletrotermia (LEITE, 1997, p. 261).

    9Leite (1997, p. 282) comenta que no fim da dcada de 80 comea a tomar corpo a idia de privatizao deservios at ento a cargo de empresas sob controle do Estado. Teve ela um fundamento ideolgico, de reduzira presena do Estado como agente econmico direto, e outro pragmtico, decorrente da interferncia polticana administrao das empresas.

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    7

    Em 1989 eleito presidente Fernando Collor de Mello, com uma proposta de maior li-

    beralizao de mercado, que ento predominava no mundo aps o fim da Unio Sovitica. Na

    dcada de 90, portanto, uma srie de mudanas atingiu o setor eltrico, com a retirada gradual

    do Estado e o estabelecimento de um processo de privatizao. Isto, porm, no foi feito de

    forma sistemtica, causando uma srie de problemas que culminaram com o dficit de energiaeltrica de 2001 e o racionamento, o que ser discutido no item 1.3. Esta reforma representou

    uma alterao profunda no setor, como comenta Chacapuz (2006, p. 454-455):

    A economia brasileira sofreu importantes transformaes na dcada de 1990 em de-corrncia das reformas que promoveram a abertura comercial, a liberalizao do flu-xo de capitais e a reduo da presena do Estado como produtor de bens e servios.Tais reformas ganharam suporte poltico mais slido e impulso adicional com a es-tabilizao monetria alcanada em 1994 que encerrou um longo perodo de alta in-flao.A opo pelas reformas liberais representou uma mudana completa em relao spolticas desenvolvimentistas que fomentaram o processo de industrializao do pasdurante quase meio sculo, mediante grandes investimentos pblicos na indstria debase e na infra-estrutura.Ao seguir o caminho da liberalizao, a exemplo da maioria dos pases latino-americanos, o Brasil buscou ajustar sua economia ao novo cenrio internacional, ca-racterizado pelo movimento cada vez mais intenso de fluxo de capitais e outros fe-nmenos associados ao chamado processo de globalizao, como o acirramento daconcorrncia e a maior integrao dos mercados nacionais.[...]A privatizao reduziu em muito o papel do setor produtivo estatal, um dos princi-pais suportes do trip desenvolvimentista modelado na dcada de 1950 e consolida-do no regime militar.

    1.2 A Reforma da Dcada de 1990

    1.2.1 Situao do Setor antes da Reforma

    Em resumo, a situao do setor no incio das reformas est apresentada abaixo.

    1.2.1.1 Problemas econmicos

    Alto investimento: como se viu, a crise financeira do setor no permitiu que os in-vestimentos necessrios em gerao e transmisso fossem feitos. Tolmasquim et al.(2002, p. 65) mostram que, de 1985 a 2000, a capacidade instalada cresceu 160%

    enquanto o consumo o fez taxa de 190% (o que resulta um dficit de 19%). Leite(1997, p. 325), comentando a situao atual (em 1996) da energia no Brasil, previaque na eletricidade a crise financeira especfica levou paralisao das obras de u-sinas geradoras e insuficincia dos sistemas de transmisso e distribuio, o queaponta para a possibilidade de crise de abastecimento a curto prazo.

    Estatais endividadas: conseqncia do uso pelo Estado das empresas como polticaeconmica, como foi mostrado (item 1.1).

    Tarifas baixas: idem, para controle da inflao. Em setembro de 1989, o BancoMundial (1990, apudROSA (org.), 2001, p. 31) calculou que a tarifa mdia paga

    pela indstria representava apenas 80% do seu custo marginal. Difcil captao de recursos: como conseqncia do endividamento e do baixo fa-

    turamento.

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    8

    Multinacionais de equipamentos: mantm o controle do mercado, impondo o pre-o dos produtos.

    Empreiteiras nacionais: h tambm sinais de cartelizao e super-faturamento.

    1.2.1.2 Problemas ambientais

    Uso da terra: os reservatrios requerem grandes reas alagadas, o que entra emconflito com outros usos da terra.

    Impactos sobre a populao: muitas vezes, os reservatrios provocam o desloca-mento de pessoas, o que at os anos 80s era feito de modo arbitrrio. Paulatinamen-te, a sociedade foi reagindo e o deslocamento passou a ter extensas negociaes.

    Recursos hdricos: o uso da gua, cada vez mais escasso, exige um aproveitamentocompartilhado.

    Inundao de florestas: alm da sua destruio, h emanao de gs metano.

    1.2.1.3 Presses internacionais

    Diversos pases estavam tambm mudando o seu modelo, o que aumentava a presso

    para a adeso do Brasil. Na Argentina, houve desmembramento total e privatizao radical

    dos ativos pblicos (ROSA et al., 1998, p. 127); no Chile, o processo foi semelhante, porm

    de implantao mais lenta; a Frana apresenta um contraponto tendncia de privatizao,

    pois foi mantido o monoplio da estatal EDF Electricit de France, que, porm, teve que

    mudar a sua estratgia empresarial; a mudana inglesa, por suas caractersticas pioneiras, re-

    presenta um paradigma mundial de programa de privatizao, realizado durante a gesto deMargaret Thatcher; a Noruega segmentou o setor, porm manteve o controle pblico dos ati-

    vos; nos EUA, onde o setor nunca foi estatal, houve vrias adequaes da legislao para

    compatibilizar as foras de mercado com os interesses da sociedade.

    1.2.2 O Modelo de Livre Mercado

    O processo de privatizao, como j dito, no foi feito de modo sistemtico. Iniciou-se

    ainda no governo Collor, em 1992, com o PND (Plano Nacional de Desestatizao), que in-

    cluiu as empresas do grupo Eletrobrs (que j haviam passado por reforma administrativaradical). O primeiro alvo foram as distribuidoras, j que as geradoras apresentavam problemas

    de difcil soluo, inclusive a inadimplncia das distribuidoras. As primeiras a serem privati-

    zadas foram a Escelsa (Esprito Santo Centrais Eltricas S/A), em 1995 e a Light (Light Ser-

    vio de Eletricidade S/A, do Rio de Janeiro), em 1996. At 2001 haviam sido privatizadas 23

    empresas (TOLMASQUIM et al., 2002, p. 52).

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    9

    Em 1993, uma lei10permitiu a recuperao tarifria e garantiu a sua recuperao frente

    inflao. Tambm promoveu um encontro contbil, zerando as dvidas das distribuidoras

    com as geradoras.

    Outro passo importante foi a contratao da consultora Coopers & Lybrand, com expe-

    rincia adquirida no processo ingls, cujo modelo passamos a analisar. Os principais atrativos

    para a mudana eram:

    Investimentos: atrair investimentos privados, j que o Estado no conseguia arcarsozinho com a expanso necessria do setor.

    Confiabilidade: seriam carreadas para o Brasil as mais modernas tcnicas, inclusivede gesto, aumentando a confiabilidade do sistema, que a deteriorao financeira jestava ameaando.

    Tarifas: a competio tenderia a reduzir as tarifas ao consumidor final.

    1.2.2.1 Premissas

    O setor eltrico foi segmentado em 4 nveis verticais: gerao, transmisso, distribuio

    e comercializao, de maneira a se instituir um mercado competitivo nas pontas (gerao e

    comercializao) e garantir o livre acesso no transporte (transmisso e distribuio). O relat-

    rio inicial da Coopers & Lybrandde 1996 no considerou, contudo, o carter hdrico do sis-

    tema brasileiro e a otimizao que sua operao interligada proporciona, o que foi consertado

    mais tarde, pela incorporao de sugestes de profissionais brasileiros do setor no relatrio

    consolidado final (CHACAPUZ, 2006, p. 503).

    1.2.2.2 Modelo institucional

    Foram introduzidas as figuras do agente regulador (ANEEL - Agncia Nacional de E-

    nergia Eltrica), do mercado atacadista (MAE - Mercado Atacadista de Energia Eltrica), um

    mecanismo para permitir o despacho timo no sistema hdrico (MRE - Mecanismo de Realo-

    cao de Energia), e o operador centralizado (ONS - Operador Nacional do Sistema Eltrico).

    O planejamento passou a ser indicativo e no determinativo, o que veio a se constituir no cal-

    canhar-de-aquiles do modelo, e resultou no racionamento de 2001. A Figura 2d uma idiados principais agentes.

    10Lei no8.631, de maro de 1993 Regime Econmico dos Concessionrios de Servios de Eletricidade, regu-lamentada pelo decreto no774, ainda no mesmo ms (LEITE, 1997, p. 283).

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    Poder Legislativo

    CNPE

    ANEEL

    Gerao Comercializao

    Distribuio

    Transmisso

    Operao: ONS

    Poltica energtica

    Indstria

    Planejamento

    Regulao

    MME

    Financiamento BNDES

    Agncias Estaduais

    Sociedade:

    rgos ambientais

    Procons

    Conselhos de Consumidores

    Associaes de Consumidores

    Fonte: Adaptado de Tolmasquim et al. (2002, p. 53)Figura 2 Modelo institucional

    1.2.2.3 Regulao

    As funes da ANEEL so (TOLMASQUIM et al., 2002, p. 53-54):

    a. Implementar as polticas energticasb. Incentivar a competio

    c. Regular e fiscalizar os servios

    d. Estabelecer critrios de clculo de preo de acesso aos sistemas de transmisso edistribuio

    e. Articular-se com outros rgos reguladores

    f. Estimular a melhoria dos servios e defender os direitos dos consumidores

    g. Garantir a conformidade com os rgos ambientais

    A idia que a ANEEL garanta a qualidade dos servios, modicidade das tarifas, prote-

    o aos consumidores cativos e garantia de fornecimento, e sirva de mediador entre os agen-

    tes.

    1.2.2.4 O Mercado Atacadista

    A energia pode ser contratada de duas formas: via contratos bilaterais, entre geradores e

    comercializadores, de longo prazo, ou via mercado spot, de curto prazo. O preo do mercado

    spot determinado pelo ONS (preo MAE), atravs do custo marginal de operao. Todos os

    grandes geradores e comercializadores participam do MAE, o que serve de base para o despa-

    cho centralizado de carga, feito pelo ONS. A prioridade , portanto, para a otimizao do sis-

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    tema hdrico, e no das regras do mercado. Este acerto feito posteriormente, atravs do

    MRE.

    O preo MAE reflete o custo de dficit e , portanto, bastante voltil em funo do re-

    gime hidrolgico. Esta foi uma dificuldade para viabilizar o investimento em termoeltricas.

    1.2.2.5 O Operador do Sistema

    O ONS foi criado em 1998, com a finalidade de operar o Sistema Interligado Nacio-nal (SIN) e administrar a rede bsica de transmisso de energia em nosso pas. A suamisso institucional assegurar aos usurios do SIN a continuidade, a qualidade e aeconomicidade do suprimento de energia eltrica. Cabe ao ONS garantir a manuten-o dos ganhos sinrgicos da operao coordenada criando condies para a justacompetio entre os agentes do setor (ONS, 2004).

    1.2.3 Problemas do Modelo

    Este modelo acabou apresentando os seguintes problemas, aps sua implementao: Ausncia de investimentos privados: a mudana do planejamento determinativo

    para indicativo, aliada ao compromisso de supervit primrio, impediu o Estado deassumir os investimentos necessrios, ao passo que a falta de definies quanto aoaparato regulatrio e o risco cambial em relao ao gs natural (j que se buscavaincentivar as termoeltricas com este combustvel) causaram um ambiente no pro-

    pcio aos investimentos privados.

    Taxa de desconto: o clculo do custo de energia eltrica depende da taxa de atuali-zao do capital, estipulada para as hidroeltricas entre 10 e 12% (ROSA, 2001, p.42). O setor privado trabalhava com taxas prximas a 20%. A elevao destas taxassinalizaria para o mercado a escassez de capital e tornaria as termoeltricas maiscompetitivas.

    Gesto de recursos hdricos: embora haja ainda um grande potencial hdrico de ge-rao de energia eltrica, principalmente na regio Norte, h o problema das reasalagadas e outros impactos ambientais que dificultam o seu aproveitamento eltrico.

    Modelo ingls: o relatrio da Coopers & Lybrandseguiu o modelo ingls, de gera-o quase exclusivamente termoeltrica, e vrias correes tiveram que ser feitas pa-ra adequ-lo nossa realidade, incluindo a operao interligada, a manuteno daidia do planejamento e a preservao da Eletrobrs como agente financiador paraviabilizar o potencial hidroeltrico no aproveitado. Tambm questionava-se umadesverticalizao radical do setor num parque predominantemente hdrico.

    Quadros tcnicos: alm da falta de tradio do Brasil em atividades reguladoras, aformao do quadro tcnico da ANEEL enfrentou srios problemas porque a legis-lao no permite a incluso de ex-funcionrios das empresas eltricas (ROSA et al.,1998, p. 147).

    Desigualdades sociais e regionais: o mercado brasileiro, alm de assimtrico (osub-sistema SSECO engloba 73% dos consumidores e consome 33 GW mdioscontra 8 do sistema NNE dados do ONS para 2003), envolve diferenas regio-

    nais, como o ndice de atendimento residencial, bem maior na metade sul do pas.

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    Efeito estufa: o incentivo s termoeltricas, ainda que a gs natural, esto na contra-mo do ponto de vista ambiental.

    1.3 O Racionamento de 2001

    1.3.1 Causas

    Foram apontadas como causas do racionamento de 2001-2002:

    Perodo hidrolgico desfavorvel: embora tenha havido um perodo de poucaschuvas, notadamente no perodo mido (dezembro a abril) de 2000 2001, estacondio no estava fora das previses, como mostra a Figura 3.

    Fonte: ONS apud SAUER (2002).Figura 3 Histrico das afluncias da regio Sudeste

    Consumo de energia eltrica acima da capacidade: a Figura 4mostra como, apartir de 1990, a distncia entre capacidade e gerao foi-se alargando.

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    Perodo % Cap. Inst. % Consumo1981 1990 4,8 5,91991 2000 3,3 4,1Fonte: Eletrobrs apudSAUER (2002).

    Figura 4 Potncia instalada e gerao

    Isto significa que as usinas tiveram que aumentar o seu fator de capacidade para atender

    demanda crescente, causando a depleo dos reservatrios at seu ponto crtico, como se

    pode ver na Figura 5.

    Mdia de precipitao anual

    Energia natural afluente

    Gerao anual

    Gerao anual pela gua estocada

    Gerao anual pela gua afluente

    Eficincia no uso da vazo afluente

    Energia armazenada

    Fonte: Moreira e Esparta (2006, p. 158).Figura 5 Dados do subsistema Sudeste/Centro-Oeste

    Investimentos decrescentes: como falta da capacidade do Estado de investir e dano entrada do setor privado, como previa o modelo.

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    Restries do sistema de transmisso: as regies Norte e Sul poderiam ter forneci-do energia suficiente para evitar, ou pelo menos minorar em boa parte, o raciona-mento, se houvesse capacidade de transmisso suficiente. Moreira e Esparta (2006,

    p. 159-163), aps estudar em profundidade a questo, concluem que na prtica, al-guma folga deve haver na transmisso e cerca de 2.000 MW a mais de capacidade

    provavelmente teriam sido suficientes para mitigar ou at evitar a crise de eletrici-dade.

    Apenas baixa incidncia de chuvas no pde ser atribuda a incapacidade de atendi-

    mento do sistema, como pode ser evidenciado por:

    Oapago11de 11 mar.1999: a anlise das causas do evento que derrubou o sistemaSE CO pelo ONS sugeria a queda de um raio na subestao (SE) de Bauru. No en-tanto, no s no h evidncias de ter havido o raio pelo sistema de deteco de des-cargas atmosfricas existente, como isto no explicaria a queda da SE. O evento pa-

    rece indicar que o sistema operava com alto risco por falta de investimento(ROSA, 2001, p. 160).

    Programas de termoeltricas: houve dois programas, sendo o segundo o PPT Programa Prioritrio de Termoeltricas, lanado em fevereiro.2000, que previa aconstruo de 49 unidades, onde apenas 15 tiveram efetivo andamento, 13 por inici-ativa da Petrobras (SAUER et al., 2003, p. 165). Consideram estes autores: os in-centivos e garantias oferecidos para viabilizar o Programa Termeltrico foram o re-conhecimento governamental do fracasso da reforma eltrica.

    CASHEE: Comisso de Anlise do Sistema Hidrotrmico de Energia Eltrica, cria-da por decreto do Presidente da Repblica para apontar as causas do racionamento,sob a coordenao do engenheiro Jerson Kelman, chegou concluso de que a hi-drologia adversa, por si s, no teria sido suficiente para causar a crise(CHACAPUZ, 2006, p. 632) e que o fator predominante da crise foi a energia noaportada ao sistema devido ao atraso de obras na gerao e transmisso e no im-

    plementao de novas usinas, entre elas as do PPT (ibidem, p. 633).

    1.3.2 O Racionamento

    Sauer (2002, p. 35) descreve com propriedade o desenrolar da crise:

    De 1994 para c, sistematicamente, ano aps ano, retirou-se dos reservatrios das u-

    sinas mais gua do que entrou com as chuvas. Com a progressiva insuficincia nacapacidade de gerao, para atender demanda crescente, os estoques dos reservat-rios hidroeltricos foram dilapidados. Concomitantemente foi perdida tambm suafuno de dar segurana e de confiabilidade dos sistemas da gerao de eletricidade,pela garantia de um estoque estratgico de energia, que historicamente sempre foirespeitada. Esse estoque, que nunca ficou abaixo de 44% do nvel dos reservatrios,a partir de 1995 foi sendo continuamente consumido, at chegar ao patamar inditode 19% em novembro de 1999.

    Para administrar a crise, o Governo Federal criou, em 18 maio.2001, a Cmara de Ges-

    to da Crise de Energia Eltrica (CGCE) com o objetivo de reduzir o consumo de eletricidade

    11Termo que ficou sendo usado para designar uma falta de energia eltrica em uma grande regio, equivalenteao black-outda lngua inglesa.

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    em 20%. O perodo previsto inicialmente ia de junho a novembro de 2001 e valia para as re-

    gies Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, e a reduo seria relativa ao perodo de maio-

    julho.2000, afetando diferentemente os consumidores (PEGO FILHO et al., 2001). Cada con-

    sumidor deveria reduzir o seu consumo de acordo com a meta estabelecida, ficando sujeito a

    multa e corte de fornecimento caso no a atingisse, segundo regras estabelecidas 12. O racio-namento durou at fevereiro de 2002 (9 meses) e resultou em uma expressiva reduo do con-

    sumo, com repercusso at os dias atuais.

    A Figura 6mostra o perfil de consumo de energia eltrica no Brasil de 1970-2005 e de-

    fine bem a influncia do racionamento.

    -

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    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005

    TWh/ano

    Consumo final (TWh) Regresso 1994-2000

    Fonte: Elaborao prpria, a partir do BEN 2006 (EPE, 2006).Figura 6 Consumo de energia eltrica no Brasil 1970 2005

    Os objetivos de reduo do racionamento foram atingidos e as chuvas no perodo mido

    de 2001-02 restabeleceram a normalidade da oferta. Para uma anlise rpida, a linha pontilha-

    da da Figura 6 uma extenso de regresso feita nos anos de 1994-2000 do consumo total de

    energia eltrica no Brasil nos anos do calendrio (consumo = 13,453 * ano 26.575; r2 =

    0,994) e aponta para uma diferena, em 2005, de 2,7 GW med (correspondendo a uma hidre-

    ltrica de 5 mil MW). No entanto, a inclinao da curva real 2002-05 maior, indicando uma

    tendncia de retomada dos padres de consumo anteriores.

    Todos os setores foram atingidos, em maior ou menor grau, como mostra a Figura 7.

    12Outras medidas foram tomadas, como a construo de termeltricas emergenciais, que praticamente no che-garam a operar.

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    100

    120

    140

    160

    180

    200

    1970 1980 1990 2000

    [TWh/ano]

    RESIDENCIAL COMERCIAL PBLICO

    AGROPECURIO INDUSTRIAL

    Fonte: Elaborao prpria, a partir do BEN 2006 (EPE, 2006).Figura 7 Consumo setorial no Brasil 1970-2005

    Uma pesquisa da CNI13(2002), atravs de questionrios respondidos por 1.159 inds-

    trias pequenas e mdias e 238 grandes, mostrou que pouco mais da metade das empresas

    industriais brasileiras no parece ter sofrido impactos negativos importantes (CNI, 2002, p.

    1). Metade das pequenas e mdias e quase 30% das grandes no investiram em maior eficin-

    cia energtica (no questionrio, esta opo inclua cogerao, troca de insumo energtico,troca de equipamentos e outras cerca de das pequenas e quase 40% das grandes adquiri-

    ram equipamentos mais eficientes). O questionrio no apurou quantas desligaram ou reduzi-

    ram cargas para atender meta. 2/3 das empresas no fizeram uso de gerao prpria ou fon-

    tes alternativas.

    Estes dados parecem indicar que havia, em muitas empresas, uma folga grande no con-

    sumo de eletricidade, sinalizando desperdcios, e que a eficincia energtica contribuiu apenas

    com uma pequena parte na reduo do consumo verificada. poca do questionrio, mais da

    metade das empresas acreditavam que a crise iria se repetir nos anos vindouros. Portanto, umacorreo de rumo fazia-se necessria.

    1.4 O Novo Modelo do Setor Eltrico

    Aps o racionamento, diversos estudos foram feitos no sentido de se evitar a repetio

    do evento, entre eles o do Instituto Cidadania, reunindo uma equipe onde diversos participan-

    tes comporiam o corpo tcnico do novo Governo Federal. Esta equipe elaborou documento

    13Confederao Nacional da Indstria.

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    17

    (IC, 2002) que serviria de base ao Novo Modelo proposto, e estabelecia como premissas, en-

    tre outras colocaes:

    Fornecer energia uma funo de elevada importncia estratgica para o crescimen-to sustentvel.

    As bases de sustentao do fornecimento de eletricidade no podem ser entregues sforas do mercado, nem a uma viso tecnocrtica e centralizadora.

    A poltica energtica deve voltar-se ao crescimento econmico, ao atendimento dasnecessidades da sociedade, gerao de empregos, melhor distribuio de renda e incluso social. Entre outros desdobramentos necessrios, esse perfil resulta na ne-cessidade de se buscar a universalizao do fornecimento da energia eltrica, inclu-sive no meio rural, com tarifas mdicas.

    O Brasil dispe de abundantes potenciais hidrulicos para gerao de energia eltri-ca a custos muito inferiores mdia dos praticados internacionalmente.

    O planejamento de longo prazo instrumento fundamental para se programar as a-es necessrias consecuo das metas visadas.

    O planejamento integrado, de longo prazo, exige uma nova estrutura institucionalenvolvendo definies precisas para: a) eletricidade; b) petrleo e gs natural;c) lcool e bagao da cana; d) carvo e combustvel nuclear; e) fontes alternativascomo a elica, a solar e a biomassa; f) conservao de energia; g) cogerao e ge-rao eltrica distribuda nas empresas consumidoras.

    Propunha-se, portanto, um novo modelo que pretendia ser a sntese dos outros dois: re-

    tomava o planejamento energtico, a prioridade s hidreltricas, o valor econmico-social da

    energia ao mesmo tempo em que mantinha a participao privada e a concorrncia nos setores

    de gerao e comercializao. A Tabela 1resume as principais diferenas entre os 3 modelos

    j praticados no setor eltrico brasileiro.

    Tabela 1 Comparao entre os Modelos do Setor Eltrico

    Modelo Estatal (at 1995) Modelo de Livre Mercado (1995a 2003) Novo Modelo (2004)

    Financiamento atravs de recursospblicos

    Financiamento atravs de recursospblicos e privados

    Financiamento atravs de recursospblicos e privados

    Empresas verticalizadasEmpresas divididas por atividade:gerao, transmisso, distribuio ecomercializao

    Empresas divididas por atividade:gerao, transmisso, distribuio,comercializao, importao eexportao

    Empresas predominantementeestatais

    Abertura e nfase na privatizaodas empresas

    Convivncia entre empresas esta-tais e privadas

    Monoplios - competio inexis-tente

    Competio na gerao e comercia-lizao

    Competio na gerao e comercia-lizao

    Consumidores cativos Consumidores livres e cativos Consumidores livres e cativos

    Tarifas reguladas em todos os seg-

    mentos

    Preos livremente negociados na

    gerao e comercializao

    No ambiente livre: preos livre-mente negociados na gerao ecomercializao

    No ambiente regulado: leilo elicitao pela menor tarifa

  • 7/25/2019 Leiles de Eficincia Energtica No Brasil

    35/203

    18

    Modelo Estatal (at 1995) Modelo de Livre Mercado (1995a 2003) Novo Modelo (2004)

    Mercado Regulado Mercado LivreConvivncia entre Mercados Livree Regulado

    Planejamento Determinativo -Grupo Coordenador do Planeja-mento dos Sistemas Eltricos(GCPS)

    Planejamento Indicativo pelo Con-

    selho Nacional de Poltica Energ-tica (CNPE)

    Planejamento pela Empresa dePesquisa Energtica (EPE)

    Contratao: 100% do MercadoContratao : 85% do mercado (atagosto/2003) e 95% mercado (atdez./2004)

    Contratao: 100% do mercado +reserva

    Sobras/dficits do balano energ-tico rateados entre compradores

    Sobras/dficits do balano energ-tico liquidados no MAE

    Sobras/dficits do balano energ-tico liquidados na CCEE. Meca-nismo de Compensao de Sobras eDficits (MCSD) para as Distribui-doras

    Fonte: Cmara de Comercializao da Energia Eltrica - CCEE (2007).

    O novo Governo (Luiz Incio Lula da Silva), assumindo em 2003, concebeu nestas ba-

    ses um novo Modelo Institucional do Setor Eltrico (MME, 2003), estabelecendo como

    objetivos principais:

    Garantir a segurana de suprimento de energia eltrica

    Promover a modicidade tarifria, por meio da contratao eficiente de energia paraos consumidores regulados

    Promover a insero social no Setor Eltrico, em particular pelos programas de uni-versalizao de atendimento

    Comentam-se abaixo alguns itens deste novo modelo de importncia para esta tese.

    1.4.1 Segurana de Suprimento

    Este um dos itens principais do modelo, visto que se queria evitar a repetio do ra-

    cionamento. Prev-se a contratao de 100% da demanda, novas definies de energia asse-

    gurada, melhor equilbrio entre hidreltricas e termeltricas, otimizando custo e garantia de

    suprimento e monitoramento contnuo.

    Um mercado forte de eficincia energtica prov o conhecimento do uso da energia pe-

    los diversos setores e, portanto, uma melhor capacidade de planejamento e previso, especi-

    almente em condies de restrio de oferta.

    1.4.2 Modicidade tarifria

    Pretende-se alcanar modicidade tarifria atravs da compra otimizada da gerao, o

    que ser feito sempre por meio de leiles, na modalidade menor tarifa (MME, 2003, p. 8),

    compra atravs dopoolde distribuidoras (facilitando a contratao de hidreltricas e obtendo

    economia de escala) e compra separada da energia das usinas j com investimento amortizado

    (energia ve