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LEITURA E ESCRITA DE TEXTOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: EM BUSCA DE ESTRATÉGIAS MOTIVADORAS PARA A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS ÂNGELA TEN CATEN DE SOUSA 1 ROSIMEIRE MESSIAS DE LANA PATROCINO 2 ADÃO LUIZ PATROCINO 3 ORISLENE DA COSTA ANDRADE FORTUNATO 4 JOSÉ WILSON MOREIRA DE LANA 5 RESUMO Este trabalho descreve uma atividade executada com alunos do Ensino Fundamental do CEJA Getúlio Dornelles Vargas, com objetivos de buscar aperfeiçoar a competência e habilidade de leitura e escrita, assim como vislumbrar possibilidades de intervenções pedagógicas no ensino de Ciências e Matemática. O recurso utilizado para coleta de dados foi a socialização de textos em anúncios de jornais com os sujeitos aprendizes. Essa prática pedagógica demonstrou que os alunos conseguiram realizar as tarefas propostas. Apesar disso, foi detectado algumas dificuldades tais como reconhecer grafia, normas gramaticais básicas, o significado de termos rotineiros, pronunciar letras, localizar informações explícitas, elementos principais dos textos e escrita de texto. PALAVRAS- CHAVE: Leitura e escrita; EJA; Estratégias didáticas. 1 Mestre em Fisiologia Vegetal – CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT 2 Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática - CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT 3 Mestre em Ensino de Ciências/Química CEFAPRO/Primavera do Leste/MT. 4 Especialista em Ciências Políticas - CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT 5 Especialista em Educação Física Escolar - CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT

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LEITURA E ESCRITA DE TEXTOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:

EM BUSCA DE ESTRATÉGIAS MOTIVADORAS PARA A CONSTRUÇÃO DE

CONHECIMENTOS

ÂNGELA TEN CATEN DE SOUSA1

ROSIMEIRE MESSIAS DE LANA PATROCINO2

ADÃO LUIZ PATROCINO 3

ORISLENE DA COSTA ANDRADE FORTUNATO4

JOSÉ WILSON MOREIRA DE LANA5

RESUMO

Este trabalho descreve uma atividade executada com alunos do Ensino Fundamental do CEJA

Getúlio Dornelles Vargas, com objetivos de buscar aperfeiçoar a competência e habilidade de

leitura e escrita, assim como vislumbrar possibilidades de intervenções pedagógicas no ensino

de Ciências e Matemática. O recurso utilizado para coleta de dados foi a socialização de

textos em anúncios de jornais com os sujeitos aprendizes. Essa prática pedagógica

demonstrou que os alunos conseguiram realizar as tarefas propostas. Apesar disso, foi

detectado algumas dificuldades tais como reconhecer grafia, normas gramaticais básicas, o

significado de termos rotineiros, pronunciar letras, localizar informações explícitas, elementos

principais dos textos e escrita de texto.

PALAVRAS- CHAVE: Leitura e escrita; EJA; Estratégias didáticas.

1 Mestre em Fisiologia Vegetal – CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT 2 Especialista em Metodologia do Ensino da Matemática - CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT 3 Mestre em Ensino de Ciências/Química – CEFAPRO/Primavera do Leste/MT. 4 Especialista em Ciências Políticas - CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT 5 Especialista em Educação Física Escolar - CEJA Getúlio Dornelles Vargas/ Primavera do Leste/MT

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READING AND WRITING TEXTS IN EDUCATION OF YOUTH AND ADULTS: IN

SEARCH OF MOTIVATIONAL STRATEGIES FOR KNOWLEDGE

CONSTRUCTION

ABSTRACT

This paper describes an activity carried out with students from CEJA Getúlio Dornelles

Vargas Elementary School, with the aim of improving literacy and reading skills, as well as

the possibility of pedagogical interventions in the teaching of Science and Mathematics. The

resource used for data collection was the socialization of texts in newspaper with the

apprentices subjects. This pedagogical practice demonstrated that the students were able to

carry out the proposed tasks. Despite this, some difficulties were detected such as recognizing

spelling, basic grammatical norms, the meaning of routine terms, pronouncing letters, finding

explicit information, main elements of texts and writing text.

KEY- WORDS: Reading and writing; EJA; Didactic strategies.

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Introdução

O trabalho formulado teve como objetivo propor atividades tendo em vista aperfeiçoar

as habilidades de leitura e escrita, nas disciplinas de Ciências e Matemática, de estudantes do

Ensino Fundamental, três (03) turmas, período noturno, do Centro de Educação de Jovens e

Adultos Getúlio Dorneles Vargas (CEJA), no município de Primavera do Leste/MT.

O CEJA é uma unidade de ensino escolar da Educação Básica, que está localizada no

centro da cidade, cercada de comércios, órgãos públicos, praça e igrejas. Possui prédio com

12 salas de aulas, uma (01) sala de vídeo, uma (01) biblioteca, um (01) laboratório de

informática, uma (01) sala de professores, uma (01) secretaria, uma (01) quadra de esporte,

seis (06) banheiros e uma (01) cozinha.

Atualmente no CEJA as aulas acontecem em dois (02) turnos, matutino e noturno,

atendendo o Ensino Fundamental e Ensino Médio. No ano de 2017, foram matriculados no 1º

semestre 1148 estudantes, sendo 240, no período matutino e 908 no período noturno.

Quanto aos recursos pedagógicos e tecnológicos, a escola possui biblioteca,

laboratório de informática, quadra de esportes e salas de aulas, sala de professores e cozinha

com refeitório. Conta com computadores, Internet, impressoras, data- show, aparelhos de

sons, caixa de sons e TV etc., para planejamento de aulas pelos docentes.

Os componentes curriculares no CEJA estão organizados por área do conhecimento.

As disciplinas têm uma determinada carga horária e o estudante frequenta as aulas até

concluir a carga horária necessária. Para finalizar o Ensino Fundamental o aluno deverá cursar

a carga horária de 200 horas por disciplina. Enquanto no Ensino Médio Médio, o aluno deverá

cursar 100 horas por disciplina.

A Matriz Curricular com carga horária/etapa combina aulas presenciais (incluindo

oficinas pedagógicas e aula cultural) e atividades extraclasses (que correspondem a 30% da

carga horária total).

A matrícula é realizada por área de conhecimento, e o aluno só poderá efetuar nova

matrícula quando concluir todas as disciplinas da área de conhecimento que estiver cursando.

Ela pode ser efetuada a qualquer momento do ano letivo escolar em quatro (04) componentes

curriculares, facultando a matrícula em cinco (05) disciplinas, desde que seja especificamente

para atender a disciplina de Educação Física.

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O aluno é matriculado no Ensino fundamental ou no Ensino Médio. Assim, em uma

mesma turma do Ensino Fundamental tem alunos do 6º, 7º, 8º e 9º anos, e no Ensino Médio,

alunos dos três (03) anos.

Em cada dia da semana, a aula é de uma disciplina específica, ou seja, o professor

permanece quatro (04) horas com a mesma turma de alunos. Assim, por exemplo, o aluno que

precisa estudar as disciplinas de Ciência e Matemática, frequenta apenas os dias em que estas

disciplinas são ministradas. Os alunos do Ensino Fundamental matriculados nas áreas de

conhecimento das Ciências da Natureza e Matemática também são matriculados na área de

Humanas. Enquanto que os alunos matriculados em Linguagem frequentam apenas essa área

de conhecimento.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) requer dos docentes, dedicação e empenho no

planejamento de suas aulas com metodologias diversificadas, recursos didáticos específicos e

trabalho cooperativo e colaborativo.

Estes profissionais em busca de aperfeiçoamento da prática pedagógica e do melhor

resultado no processo de ensino e aprendizagem, mediante avaliação diagnóstica, constataram

que os alunos do Ensino Fundamental e Médio apresentam nível elevado de não proficiência

na leitura e escrita de textos. Diante disso, considerando as diversidades e particularidades dos

sujeitos aprendizes da modalidade EJA, o CEJA reassumiu o compromisso de ressignificar o

planejamento de ensino com vistas em superar esta realidade, uma vez que a aquisição das

competências e habilidades de leituras e escritas são condições sine qua non, ou seja,

essenciais para o desenvolvimento e evolução da aprendizagem dos sujeitos.

Nesse sentido, os professores e professoras do CEJA nos encontros semanais de

formação continuada - (Projeto Pró- Escolas Formação na Escola - PEFE) - estão pesquisando

e discutindo sobre metodologias de ensino, assim como socializando suas práticas

pedagógicas com os pares em busca de diretrizes que favoreçam uma educação justa e de

qualidade para nossos estudantes.

A nossa pretensão é que os sujeitos aprendizes, mediante a execução de atividades

como estas, sintam sensibilizados e interessados a praticarem a leitura e escrita no seu

cotidiano, compreendendo a importância dessas competências para sua autonomia e

emancipação na sociedade hodierna. Além disso, que estas estratégias didáticas possam

facilitar e contribuir para vislumbrarmos possíveis intervenções pedagógicas.

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Leitura e escrita de textos na educação escolar

O ser humano é um ser cognoscente capaz de construir e assimilar conhecimentos no

decorrer de sua história. E como ser social, cultural e histórico os seus conhecimentos vão se

ampliando, aprofundando e perpetuando de geração a geração.

De acordo com Neves et al., (2007) a linguagem escrita é uma das grandes conquistas

dos seres humanos. O domínio da leitura e escrita possibilitou ao homem grandes realizações,

como por exemplo, o conhecimento de diferentes culturas em lugares e tempos distintos.

A escola é um espaço sociocultural com a função de proporcionar ao ser humano

possibilidades de inserção ao mundo da leitura e escrita. De acordo com Rangel e Machado

(2012),

a escola, considerada como um dos importantes locus de construção e apropriação

de conhecimentos ora reproduzidos, ora criados, tem o compromisso de implementar

e desenvolver atividades que coloquem o aluno diante de desafios impostos pela

leitura e interpretação de um mundo letrado no qual está inserido. Os professores são

os principais articuladores e promotores dessas práticas organizadas e planejadas de

conhecimento e reconhecimento de um mundo letrado (RANGEL; MACHADO,

2012, p. 2).

Saber ler e escrever é imprescindível para a formação e desenvolvimento integral do

cidadão. Normalmente, ensinar a ler e a produzir textos são tarefas atribuídas, na escola,

especificamente ao professor de língua materna. Todavia, quando a comunidade escolar

“possui” o compromisso de contribuir na formação de sujeitos leitores e escritores, deve haver

o engajamento e a participação de toda a comunidade escolar, sobretudo dos docentes em

todas as áreas do conhecimento.

Neste viés, concordamos com Stlik & Higa (2014) que afirmam que esse compromisso

não pode se restringir apenas ao professor de Língua Portuguesa, mas os docentes de

disciplinas como Física, Química, Biologia, Ciências e Matemática precisam oferecer

oportunidades para que o estudante tenha acesso à leitura e produção de textos de vários

gêneros, tornando o capaz de interpretar e compreender informações de diferentes fontes. Ou

seja, é possível contribuir no ensino e aprendizagem de competências e habilidades de

leituras, produções e interpretações de textos sem deixar de ensinar conteúdos específicos da

disciplina.

De acordo com Rangel & Machado (2012) as ações de leitura e escrita exigem que o

sujeito aprendiz adquira competências específicas para conseguir assimilar os conteúdos lidos,

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a fim de torna-los úteis no seu cotidiano. Com efeito, Freire (1989) afirma que a leitura e a

escrita, ou seja, a alfabetização do sujeito aprendiz constitui-se em um movimento dinâmico,

de ir e vir, movimento que flui da leitura do mundo à leitura da palavra e vice-versa. Ou seja,

a leitura do mundo antecede a leitura da palavra e a prática consciente pode transformar o

“mundo”.

Para esses pesquisadores a aquisição da competência e da habilidade de leitura e

escrita de diferentes gêneros textuais é um processo que demanda consistente organização

didática, e, além disso, depende de mediações e motivações para que o sujeito aprendiz

adquira o prazer de ler e escrever em qualquer fase da vida.

Conforme Solé e Schilling (1998, p. 20) “[...] na aprendizagem da leitura, o aprendiz

precisa da informação, do apoio, do incentivo e dos desafios proporcionados pelo professor ou

do especialista na matéria em questão [...]”. Ademais, para as autoras a leitura é um processo

de interação entre leitor e o texto, carregado de objetivos variados. Há um horizonte amplo de

propósitos que mobiliza o leitor diante de um texto tais como fantasiar, deleitar, seguir

instruções, buscar informações, argumentar e contra argumentar conhecimentos dentre outros.

Isso significa que no processo de leitura implica considerar sua finalidade, pois não é um ato

desinteressado.

Igualmente, faz se necessário compreender que o ensino e aprendizagem da leitura é

um processo complexo, pois exige o conhecimento de vários fatores tais como: o nível de

letramento e alfabetização do sujeito, os tipos de textos e leituras que serão desenvolvidos

com os estudantes, as formas de assimilação do texto e o conhecimento de quem é o sujeito

aprendiz (PIETRI, 2009). Com efeito, o autor afirma:

A atividade de leitura exige muito trabalho, e o prazer da leitura se origina das

possibilidades de realizar esse trabalho. Essas possibilidades são construídas - não

nascemos com elas, mas as adquirimos e desenvolvemos - e podem ser

aperfeiçoadas continuamente (PIETRI, 2009, p. 23).

Ensinar com qualidade exige profissionais preparados e atualizados, que se inserem

sem reservas no processo educativo. Para tanto, é necessário ter consciência dos desafios que

estão subjacentes na busca do aperfeiçoamento da prática pedagógica, das rupturas de

concepções e mudanças de visões construídas nos anos de experiências de sala de aula.

A construção do conhecimento é conduzida pelo ato de educar que, por conseguinte

demanda dos educadores e pesquisadores, eficiência, dinamismo consistente, formação

científica e pedagógica, consciência das transformações que ocorrem na sociedade para

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reflexão sobre os possíveis desafios encontrados na profissão e atitudes para buscar e propor

possíveis soluções nas situações manifestadas.

Recorremos a Pietri (2009) para reiterar que a aquisição da leitura e escrita é um

processo que envolve vários fatores. Com isso, ressaltamos que os trabalhos colaborativos e

interdisciplinares são fundamentais no planejamento de conteúdos escolares. Por isso, a

inserção de textos variados, jogos, artigos, poemas, receitas culinárias, músicas, desenhos,

imagens, mapas, gráficos, ambientes extraclasses dentre outros elementos didáticos devem ser

considerados importantes neste processo. Segundo o autor é,

a partir de um planejamento estruturado, segundo a diversidade de possibilidades

linguísticas que a linguagem em suas múltiplas formas pode oferecer, e de

atividades e estratégias capazes de abrir os caminhos para que cada forma de

linguagem ganhe sentido para o aluno, o professor vai abrindo e criando espaços

para que os processos linguísticos possam ser assimilados e compreendidos (

PIETRI, 2009, p. 2009).

Moreira (1997) aponta vários princípios para que ocorra uma aprendizagem

significativa. Dentre eles, o autor afirma que a utilização de recursos e materiais

diversificados facilita a aprendizagem significativa do sujeito aprendiz. Ou seja, o professor

não deve centralizar no uso exclusivo do livro didático e do quadro de giz.

Faz- se necessário buscar métodos eficientes de como ensinar a leitura e escrita, mas

também pensar como fazer para que o aprendiz deseje ler e escrever seus textos.

Condições Metodológicas

O evento iniciou em sala de aula com os alunos e a professora realizando uma

exposição dialogada a respeito do tema de estudos, com explicações de como seria o

desenvolvimento das ações e suas finalidades. Este foi um momento importante para

estimular e ativar o envolvimento dos alunos nas tarefas. A atividade aqui descrita, utilizando

jornais para a leitura e produção de textos, foi realizada em sala de aula por 30 alunos das

turmas de Ensino Fundamental, período noturno, no CEJA - Getúlio Dornelles Vargas, nas

disciplinas de Ciências/Matemática.

O trabalho constitui se da seguinte forma: iniciamos as atividades com a distribuição

de exemplares de jornais para todos os alunos. Em seguida, solicitamos que eles localizassem

a página destinada aos anúncios dos classificados. Após a leitura e análise de alguns anúncios,

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os alunos deveriam selecionar um (01) ou dois (02) anúncios e, por meio de leitura,

compartilhar com os colegas da turma. Assim que todos os alunos realizaram a leitura,

discutimos e analisamos as características que um anúncio deve conter. Posteriormente, foi

distribuída aos alunos uma segunda seção de classificados contendo anúncios que abordavam

questões e conceitos sobre Ciências, Matemática e artes (textos humorísticos e criativos).

Logo em seguida todos os alunos realizaram uma leitura compartilhada para os colegas da

sala de aula.

Propomos, após as leituras, para as turmas análise, discussão sobre os tipos de

anúncios e que cada aluno produzisse um texto escrito com uma autopropaganda, como se

fossem um produto à venda ou para ser alugado. Suas produções foram recolhidas e

apresentadas em sala de aula para todos os alunos. Para finalizar as atividades, realizamos um

momento para discussão sobre os conceitos relevantes, a importância e a finalidade das

atividades, bem como as principais dificuldades na realização das mesmas.

Resultados e Discussões

Ao entregar os jornais para os alunos, foi concedido um tempo para que eles

encontrassem as páginas solicitadas, porém a maioria dos alunos desconhecia a seção do

jornal destinada aos anúncios, e disseram nunca terem feito uso da mesma. Ao receberem a

explicação, poucos alunos reconheceram a página solicitada e necessitaram de auxílio para

encontrá-la. Alguns deles comentaram que fazem a busca de imóveis e objetos para venda ou

aluguel em páginas de aplicativos na Internet, mas em jornais nenhum aluno o fez.

Durante a leitura do anúncio escolhido, verificamos que alguns dos alunos ainda

estão se apropriando dessa habilidade, demonstraram dificuldades tais como reconhecer

grafia, normas gramaticais básicas, o significado de termos rotineiros, pronunciar letras,

localizar informações explícitas e elementos principais dos textos. Estas dificuldades,

posteriormente, foram transcritas e confirmadas na escrita dos textos. Observamos (Figura.

01) que alguns alunos escrevem como pronunciam as palavras.

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Figura 01– Produção escrita de aluno do Ensino Fundamental do CEJA.

No momento da leitura compartilhada, seção de anúncios criativos e divertidos,

vários estudantes solicitaram auxílio, pois não compreenderam as informações textuais.

Porém, esses estudantes mesmo com suas limitações não se intimidaram a participar da

atividade, pelo contrário se dispuseram voluntariamente para a leitura. Aqueles com maior

fluência na leitura expressavam alegria e satisfação logo que iniciavam a leitura

compartilhada, evidenciando maior domínio, fluidez e certa técnica na leitura e compreensão

dos textos.

Quando os estudantes foram informados que deveriam produzir um texto de anúncio,

no qual seriam o produto a ser vendido ou locado, todos apresentaram certa resistência,

dizendo não saberem o que e/ou de que escrever, ou ainda por julgarem não possuir

características interessantes para a autopropaganda. Porém, através da interação e apoio dos

colegas e professores todos se encorajaram e fizeram seus anúncios.

Defendemos que atitudes como estas não devem ser vistas pelo docente como

obstáculos para não planejar este tipo de atividades, mas como oportunidades para melhorar e

ressignificar o saber e fazer pedagógico. Nessa perspectiva, nossa proposição encontra

anuência com Rangel e Machado (2012, p.3) que afirmam que à função do professor nessa

trajetória é “desenvolver atividades que oportunizem aos alunos tornarem-se leitores e

escritores competentes, criando hábitos de leitura e escrita para além do conteúdo curricular

obrigatório, a partir do contato direto e permanente com o mundo letrado.”

Vale destacar que na atividade de produção de texto, percebemos que além da

resistência inicial, os estudantes se sentiam incapazes cognitivamente, revelando baixa

autoestima com expressões negativas e de fracasso. A maioria dos alunos aparentavam

curiosos para saberem o que os colegas escreveram, enquanto outros pediram para que seus

textos não fossem socializados com os colegas, mas autorizaram a realização da leitura. Para

Stlik & Higa (2014) é necessário ir aos poucos despertando nos aprendizes o hábito pela

aquisição do conhecimento e o prazer pela leitura e escrita.

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Julgamos importante ressaltar, que ao executar essa atividade sobre a capacidade de

escrita dos alunos, tornou-se evidente a necessidade de buscar e implementar estratégias

pedagógicas que auxiliem o professor a ensinar a leitura e produção de diferentes textos

propiciando aos alunos oportunidades para a aprendizagem desse conhecimento.

Figura 2 – Produção escrita de aluno do Ensino Fundamental do CEJA.

Constatamos que 61% dos anúncios escritos pelos alunos tratavam de

autopropaganda, ou seja, eles se fizeram de objetos, vendendo ou alugando a si mesmos,

valorizando características pessoais ou tarefas que sabem fazer. Os demais anúncios, ou seja,

39% referiam se a propaganda de objetos como casas, carros e animais.

A maioria dos textos apresentaram alguns problemas de ortografia como palavras

sem acento, letras maiúsculas no meio da frase, e erros de pontuação – omissão de vírgulas e

pontos finais, e vários não possuíam uma pontuação sequer, do início ao fim do texto. Isto é,

desprovidos de domínio básico dos códigos, normas e habilidades convencionalmente

requeridas para um indivíduo alfabetizado. Com efeito, Moreira & Rocha (2013, p. 3) ao

citarem Soares (2004) afirmam que “a alfabetização envolve o processo da consciência

fonológica e fonêmica, a construção das relações som e letra e o aprender a ler e a escrever

alfabeticamente”.

Essa estratégia didática revelou que os alunos são criativos ao produzir os textos de

anúncios. Além disso, a análise dessa ação reforçou a ideia da necessidade de empenho e

dedicação conjunta dos docentes em busca de novos caminhos metodológicos, que

possibilitem aperfeiçoar o conhecimento dos aspectos inerentes ao processo de ensino e

aprendizagem de leitura e a escrita, uma vez que é um compromisso de toda a comunidade

escolar.

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Considerações Finais

A atividade formulada serviu como instrumento para análise diagnóstica e avaliativa

da prática pedagógica, pois pode possibilitar ao professor auxiliar os alunos que apresentaram

dificuldades na leitura e na escrita de textos e que necessitam de intervenção pedagógica mais

intensa.

De maneira geral, todos necessitam de auxílio pedagógico, porém, em alguns casos,

a necessidade de uma intervenção pedagógica tornou se mais evidente. A alfabetização e

letramento do indivíduo são essenciais para sua inserção no mundo da leitura, escrita e

compreensão de textos de diferentes gêneros, e consequentemente para a apropriação de

conteúdos, conceitos, ideias e proposições em todos os componentes curriculares.

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