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1 INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a Redução da Maioridade Penal RIO DE JANEIRO 2011

LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LEONARDO DA SILVA BARREIRO

Considerações sobre a Redução da Maioridade Penal

RIO DE JANEIRO

2011

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Considerações sobre a Redução da Maioridade Penal

Monografia apresentada como

exigência final da Pós Graduação

do Curso de Direito e Processo

Penal da Instituição de Ensino A

Vez do Mestre – Curso de Direito

Orientador: Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2011

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RESUMO

O presente trabalho versa sobre as correntes favoráveis e contrárias à

redução da maioridade penal. A Nossa Carta Magna de 1988, estabeleceu a

inimputabilidade penal aos menores de dezoito anos de idade, devendo

receber medidas sócio-educativas e, principalmente, ser consideradas pessoas

em desenvolvimento. Tais afirmativas são consideradas cláusulas pétreas e

não podem ser abolidas. Apesar da criança e do adolescente terem uma

legislação especial, ou seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente, para

alguns este é considerado ultrapassado e ineficaz, inadequado para a

sociedade atual. Por isso, há quem defenda a redução da maioridade penal

para os dezesseis anos. No entanto, o ECA é um instrumento na construção de

uma sociedade cidadã, basta para sua efetivação no que concerne a aplicação

das medidas sócio-educativas a adolescentes infratores, que exista uma

política comunitária dos municípios no sentido de aliarem-se ao Estado para a

implementação de programas que gerenciem grandes oportunidades de vida

para aquele que já foi considerado objeto e que hoje deve ser visto, não

apenas como um adolescente infrator, mas como um sujeito de direitos. Dessa

forma, buscar-se-á discutir acerca da redução da maioridade penal.

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SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Desenvolvimento: 2.1. Abordagem Constitucional;

2.2. Direitos e Garantias Individuais no Brasil, enquanto categoria

Constitucional; 2.3. Os artigos 227 e 228 como Cláusulas Pétreas;

2.4. Da Garantia Individual; 2.5. O direito individual como núcleo

imodificável; 2.6. Corrente desfavorável a redução da maioridade

penal; 2.7. Corrente favorável a redução da maioridade penal; 2.8.

Os imputáveis por menoridade para a Constituição Federal (CF) e

para o Código Penal (CP); 2.9. Generalidades (A criminalidade como

fenômeno global); 2.10. Delinqüência Juvenil; 2.11. Delinqüência

Juvenil no Brasil; 2.12. Dificuldades para a implementação de

Políticas Públicas de prevenção e respostas; 2.13. Políticas Públicas

de Respostas; 2.14. Prevenção da Delinqüência Juvenil; 2.14.1.

Prevenção Primária; 2.14.2. Prevenção secundária; 2.14.3.

Prevenção terciária; 2.15. O tratamento diferenciado auferido pelo

ECA aos menores infratores; 2.16. Procedimentos da Delegacia

Especializada do adolescente; 2.17. Internamento; 2.18. O sistema e

sua estrutura interna; 2.19. Redução da Maioridade Penal é a

solução para o conflito?; 2.20. O dever do Estado; 2.21. O papel da

Sociedade; 3. Consideração finais; 4. Referências bibliográficas.

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil em sua contemporaneidade há um pavor social em torno da

crescente criminalidade praticada por menores inimputáveis.

Quando o tema é em torno de violência e criminalidade, envolvendo

jovens, aumenta as discussões em debates públicos. Com o objetivo de

terminar preconceitos e argumentos sem fundamento acerca dos movimentos

da “Lei e Ordem”, traduzidos pela ideologia de que a repressão é o melhor

remédio ao “fenômeno da violência”, que é demonstrado no presente trabalho.

A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico

penal. Temos por um lado à questão inerente à reforma do Código Penal pátrio

e do outro a aplicação severa e minuciosa do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

A premissa relativa à impunidade de que gozam os adolescentes no

Brasil gera em torno da questão do paternalismo do Estatuto da Criança e do

adolescente. Outra ora, questiona-se a redução da maioridade penal como

uma alternativa realmente eficiente e solucionadora dos delitos juvenis.

Cabe ressaltar, o fato do sistema carcerário e penitenciário do nosso

país, pois, não pode simplesmente querer adotar ou deixar de adotar certas

providências, sem antes cientificar, se a estrutura prisional é capaz de suprir

aos anseios punitivos esperados.

A Constituição Federal de 1988,dispõe a idade limite para a maioridade

penal, classificando como inimputáveis penalmente os menores de 18 (dezoito

anos).O ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal nº. 8.069 de

13 de julho de 1990) em consonância com a constituição instituiu a

responsabilização do adolescente (12 a 18 anos), autor de ato infracional,

prevendo seis diferentes medidas sócio-educativas. Nos casos de maior

gravidade, o adolescente pode cumprir medida sócio-educativa de privação de

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6 liberdade, aludindo desse modo que, contrariamente ao que se presume

acercado ECA, o mesmo não propõe a impunidade, mas sim, dispositivos

legais punitivos aos menores infratores.

Será demonstrado no presente trabalho os procedimentos na

Delegacia especializada de Adolescentes, tendo suas condutas tipificadas

como atos infracionais ao Ordenamento Jurídico. Ademais abordaremos o

sistema prisional, internamento e a estrutura interna, mostrando as condições

inadequadas das instituições que tem intuito e educa-los e reintregrá-los a suas

famílias.

Aproveitando o clima de insegurança disseminado no país frente aos

crescentes índices de criminalidade, tramitam atualmente no Congresso

Nacional, vários projetos de lei que propõem o rebaixamento da maioridade

penal.

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2.1 ABORDAGEM CONSTITUCIONAL

Inimputabilidade como Cláusula Pétrea.

Idade Penal no Tempo1

No Direito Romano para se estabelecer se um jovem tinha ou não

responsabilidade penal pelos atos que praticara, era feita uma avaliação física

para saber se o jovem era ou não púbere, avaliação esta, precursora do critério

do discernimento.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 228,

que a idade penal inicia-se aos 18 anos e que o adolescente responde por

seus atos na forma da legislação especial. Entretanto, nem sempre foi assim.

Passamos por várias fases, desde a inimputabilidade absoluta até os 09

anos, até a responsabilização especial do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Em 1988, a inimputabilidade penal é elevada à condição de garantia

constitucional dos adolescentes, por força do artigo 228 da Constituição

Federal, que diz que as pessoas com menos de 18 anos responderão na forma

da legislação especial.

O Estatuto da Criança e do Adolescente é esta forma de legislação

especial, que dá resposta adequada à prática de atos infracionais,

compreendidos como tais os crimes e contravenções penais.

Entretanto, antes da discussão de ser ou não a inimputabilidade e a

responsabilização garantia e direito individuais, respectivamente, e

1 1 Brasil - Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de

1988 - 31. ed. - São Paulo: Saraiva, 2003.

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8 conseqüentemente, amparados pela disposição do § 4º, do artigo 60, da

Constituição Federal, precisamos analisar o dispositivo mencionado.

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2.2. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NO BRASIL, ENQUANTO

CATEGORIA CONSTITUCIONAL

Iniciando a discussão sobre a questão da idade penal como garantia

individual e a responsabilização especial como direito individual, ambos

constitucionais, e conseqüentemente, como inseridos em cláusula pétrea,

passemos a breves considerações sobre os direitos e garantias individuais no

Brasil, em sede constitucional.

A história dos direitos e garantias individuais no Brasil é uma história de

sofrimento, luta e desrespeito.

Porém, interessa-nos analisar sua elevação à categoria constitucional e

sua asseguração como cláusula pétrea.

A Constituição do Império, em seu artigo 178, dizia que "é só

constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições respectivas dos

poderes políticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos; tudo o que

não é constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas pelas

legislaturas ordinárias."

Vê-se que a Constituição do Império elencou como direitos

constitucionais os direitos políticos e individuais do cidadão, tornando-os

cláusula pétrea.

Nas demais constituições, todas republicanas, depreende-se das

transcrições de Cretella Junior que em nenhuma outra há menção à condição

de cláusula pétrea dos direitos individuais do cidadão. 2 Brasil - Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988

- 31. ed. - São Paulo: Saraiva, 2003.

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Entretanto, as Constituições de 1891, 1934, 1967 e 1969 mantêm como

cláusula pétrea a forma republicana federativa.3

As Constituições de 37 e 46 não fazem qualquer ressalva ao poder de

reforma.

Já a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 60, § 4º, inciso IV,

novamente colocou no patamar de cláusulas pétreas os direitos e garantias

individuais, impedindo sua modificação ou abolição.

Assim, diz o artigo 60 mencionado:

"A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

"§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de

emenda tendente a abolir:

...

"IV - os direitos e garantias individuais."

Então, diante do estabelecido no artigo 60 da Constituição

depreende-se que a reforma constitucional derivada é

possível no Brasil, desde que observadas as exigências

dos incisos do caput do mesmo artigo.

Entretanto, o poder derivado é limitado, pois impossível a abolição da

forma federativa, do voto, da separação dos poderes e, por fim, dos direitos e

garantias individuais.

3 3 Brasil - Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de

1988 - 31. ed. - São Paulo: Saraiva, 2003.

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10 2.3- OS ARTIGOS 227 E 228 COMO CLÁUSULAS PÉTREA

Com a Constituição Federal de 1988, a questão da inimputabilidade

penal passou a ser questão constitucional, assim como todo o conjunto de

direitos da criança e do adolescente e a prioridade no seu atendimento.4

Quis o legislador originário definir com clareza os limites da idade penal,

em sede constitucional, da mesma forma como tratou de várias questões

penais, já no artigo 5º, quando trata dos direitos e garantias individuais.

Dito isto, resta analisar quais sejam os direitos e garantias individuais,

que do ponto de vista constitucional é claro.

Estabelece o artigo 5º da Constituição Federal, o rol de direitos e

garantias individuais da pessoa humana, sendo desnecessário discutir se são

ou não amparados pelo § 4º do artigo 60, pois expressamente definido na

carta.

Entretanto, o § 2º do artigo 5º diz que são direitos e garantias individuais

as normas dispersas pelo texto constitucional, não apenas as elencadas no

dispositivo mencionado.

Diz o § 2º do artigo 5º:

"Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não

excluem outros decorrentes do regime e dos princípios

por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a

República Federativa do Brasil seja parte".

Assim, este parágrafo nos traz duas certezas.

4 Brasil - Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988

- 31. ed. - São Paulo: Saraiva, 2003.

Costa, Flávio Ribeiro da. Estagiário do MP de Minas Gerais. Fórum de Debates do site Jus

Navegandi .2009. Disponível em: http://www.jusvegandi.uol.com.br. Acesso em 21/04/2009.

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A primeira, que a própria Constituição Federal admite que encerra em

seu corpo, direitos e garantias individuais, e que o rol do artigo 5º não é

exaustivo.

A segunda, que direitos e garantias concernentes com os princípios da

própria Constituição e de tratados internacionais firmados pelo Brasil, integram

referido rol, mesmo fora de sua lista.

Voltando à leitura do inciso IV, do § 4º, do artigo 60, compreendemos

que o dispositivo refere-se a não abolição de todo e qualquer direito ou garantia 5individual elencados na Constituição, não fazendo a ressalva de que precisam

estar previstos no artigo 5º.

Dito isto, parece-nos insofismável que todo e qualquer direito e garantia

individual previstos no corpo da Constituição Federal de 1988 é insusceptível

de emenda tendente a aboli-los.

Em relação a isto, assim se posiciona Ives Gandra Martins:(3)

"Os direitos e garantias individuais conformam uma norma

pétrea. Não são eles apenas os que estão no art. 5º, mas,

como determina o § 2º do mesmo artigo, incluem outros

que se espalham pelo Texto Constitucional e outros que

decorrem de implicitude inequívoca. Trata-se, portanto, de

um elenco cuja extensão não se encontra em Textos

Constitucionais anteriores."

Diante do exposto, e com a certeza de que existem outros direitos e

garantias individuais espalhados pelo texto da Carta Política de 1988, resta-nos

a análise e comprovação, de que a inimputabilidade penal encerra disposição

pétrea, por ser garantia da pessoa com menos de 18 anos.

55 Costa, Flávio Ribeiro da. Estagiário do MP de Minas Gerais. Fórum de Debates do site Jus

Navegandi .2009. Disponível em: http://www.jusvegandi.uol.com.br. Acesso em 21/04/2009.

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No que se refere à inimputabilidade penal, deixou-a o constituinte para o

capítulo que trata da criança e do adolescente, por questão de técnica

legislativa, uma vez que duas emendas populares, apresentadas pelos grupos

de defesa dos direitos da criança, fizeram inserir na Constituição os princípios

da doutrina da proteção integral, consubstanciados nas normas das Nações

Unidas.

Desta forma, nada mais lógico do que inserir os direitos da criança e do

adolescente no capítulo da Família.

Quis o Constituinte separar os direitos e garantias das crianças e

adolescentes, das disposições relativas ao conjunto da cidadania, visando sua

maior implementação e defesa.6

Assim, elegeu tais direitos, colocando-os em artigo próprio, com um

princípio intitulado de prioridade absoluta, que faz com que a criança tenha

prioridade na implementação de políticas públicas, por exemplo, e desta forma,

inclusive por questão de coerência jurídico-constitucional não iria deixar ao

desabrigo do artigo 60, § 4º, IV, os direitos e garantias individuais de crianças e

adolescentes, quando, foi justamente o contrário que desejou fazer e o fez.

Para comprovar o afirmado até aqui, transcrevemos parte do artigo 5º e

dos artigos 227 e 228 da Constituição Federal.

Em relação ao ato infracional e ao crime e seus processos:

"Art. 227 -

§ 3º -

IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição

de ato infracional, igualdade na relação processual e

defesa técnica por profissional habilitado, segundo

dispuser a legislação tutelar específica;

6 Costa, Flávio Ribeiro da. Estagiário do MP de Minas Gerais. Fórum de Debates do site Jus

Navegandi .2009. Disponível em: http://www.jusvegandi.uol.com.br. Acesso em 21/04/2009.

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“V- obediência aos princípios de brevidade,

excepcionalidade e respeito à condição peculiar de

pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de

qualquer medida privativa de liberdade;”.

Paralelo a este direito, temos o princípio constante do artigo 5º:

"Art.5º- ..

LV - aos litigantes... e aos acusados em geral são

assegurados o contraditório e ampla defesa, com os

meios e recursos a ela inerentes."

Inegável que os princípios do artigo 227 encontram suporte no inciso

acima transcrito e em todos os outros estabelecidos a partir do inciso XXXIX.7

Inegável, também, que tal disposição se coaduna com o regime e

princípios adotados na Constituição Federal.

Ora, a formalização da ação sócio-educativa, a defesa profissional, tudo

isto não existia no antigo "direito do menor" e só passaram a incorporar o

direito da criança e do adolescente a partir da Constituição, garantista por

excelência.

No que diz respeito ao artigo 228, da Constituição Federal, a

interpretação é a mesma.

Diz ele:

"São penalmente inimputáveis os menores de dezoito

anos, sujeitos às normas da legislação especial."

Traçando um paralelo, novamente, com o artigo 5º, no que diz respeito

ao direito penal e a vedação de aplicação de certas penas aos cidadãos,

vemos:

7SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 9ª edição, Malheiros

Editores, São Paulo/SP, 1992.

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"Art. 5º - ...

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos

termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e)cruéis;".

O legislador deixou claro que as penas ali constantes não serão

aplicadas e, no caso do 228, da Constituição, ficou mais claro ainda, ao afirmar

que os menores de 18 anos não receberão pena, posto que penalmente

inimputáveis.8

Assim, quando afirma isto, o artigo 228 garante ao adolescente sua

inimputabilidade, da mesma forma que o artigo 5º garante a todos os cidadãos

a não-aplicação das penas de morte, perpétua, de trabalhos forçados, de

banimento ou cruéis.

Então, se a legislação máxima não permite, por exemplo, a aplicação da

pena de morte ou de prisão perpétua e isto se consubstancia em garantias dos

cidadãos, insofismável afirmar que tais garantias são cláusulas pétreas.

Pinto Ferreira preleciona:

“que em relação às garantias criminais repressivas, elas

são várias, "destacando-se entre elas inicialmente a

individualização da pena, impondo a pena de acordo com

as condições pessoais do delinqüente, a fim de suavizá-

8 Costa, Flávio Ribeiro da. Estagiário do MP de Minas Gerais. Fórum de Debates do site Jus

Navegandi .2009. Disponível em: http://www.jusvegandi.uol.com.br. Acesso em 21/04/2009.

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la, numa conquista que foi trazida pela Constituição

vigente de 1988...".

O artigo 228, nada mais é do que a garantia da não-responsabilização

criminal da pessoa menor de 18 anos, justamente em razão da sua condição

pessoal de estar em desenvolvimento físico, mental, espiritual, emocional e

social, sendo que, nada mais justo, que esta garantia se aplique aos

adolescentes.

Traçando um paralelo com a responsabilização especial do adolescente

e sua inimputabilidade, temos que quando a Constituição Federal, no caput do

artigo 228 afirma que as pessoas menores de 18 anos são inimputáveis, ela

garante a toda pessoa menor de 18 anos que ela não responderá penalmente

por seus atos contrários a lei.9

Sendo assim, o referido artigo encerra uma garantia de não aplicação do

Direito Penal, como por exemplo, as cláusulas de não-aplicação de pena de

morte ou de prisão perpétua, são garantias de não-aplicação do Direito Penal

máximo a todos, conseqüentemente, todas cláusulas pétreas garantidas pelo

artigo 60, da Constituição Federal.

Em relação à segunda parte do artigo 228, que dispõe que o

adolescente, apesar de inimputável penalmente, responde na forma disposta

em legislação especial, contém além de uma garantia social de

responsabilização de adolescente, um direito individual de que a

responsabilização ocorrerá na forma de uma legislação especial.

Assim, estamos diante de uma responsabilização especial, não penal,

que é um direito individual do adolescente e, como tal, consubstanciado em

cláusula pétrea.

Dito isto, só nos resta assegurar que este dispositivo constitucional

também é cláusula pétrea, portanto, insuscetível de reforma ou supressão.

9 Jesus, Damásio E. de, Direito Penal, Volume I, Parte Geral, Editora Saraiva, São Paulo, 23ª edição, 1999.

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O advogado Rolf Koerner Júnior, enquanto integrante do Conselho

Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em 1996, teve aprovação

unânime daquele Conselho, de parecer contrário à proposta de Emenda à

Constituição 301/96, e que dá nova redação ao artigo 228 da Constituição

Federal que diminuía a imputabilidade penal para os dezesseis anos, onde

assim se manifesta:

"(Também) a inadmissibilidade da emenda: a norma do

art. 60, § 4º, IV, da Constituição Federal”.10

Apesar de a norma do art. 228, da Carta Magna, encontrar-se no

Capítulo VII (Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso), do Título VIII

(Da Ordem Social), não há como negar-lhe, em contraposição às de seu art. 5º

(Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, do Título, II, dos

Direitos e Garantias Fundamentais), a 'natureza análoga' aos direitos,

liberdades e garantias. Escreveu J. J. Gomes Canotilho que:

"os direitos de natureza análoga são os direitos que,

embora não referidos no catálogo dos direitos,

liberdadese garantias, beneficiam de um regime jurídico

constitucional idêntico aos destes".

Então, nesse aspecto, na regra do art. 228, da Constituição Federal, há

embutida uma 'garantia pessoal de natureza análoga', dispersa ao longo do

referido diploma ou não contida no rol específico das garantias ou dos meios

processuais adequados para a defesa dos direitos."

O posicionamento ora transcrito se coaduna com o posicionamento do

jurista Ives Gandra Martins, citado acima.

Não aceitar tal interpretação é negar vigência à própria disposição

constitucional do § 2º, do artigo 5º.

10 Jesus, Damásio E. de, Direito Penal, Volume I, Parte Geral, Editora Saraiva, São Paulo, 23ª edição, 1999

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2.4 - DA GARANTIA INDIVIDUAL

A Constituição Federal no Capitulo dos Direitos Sociais ao prever em

seu artigo 228, a inimputabilidade aos (18) dezoito anos de idade, deixou claro

que este artigo constitui um direito, ou seja, uma garantia individual inerente à

criança e ao adolescente, inalienabilidade intransferíveis, inegociáveis,

indisponíveis e imprescritíveis.11

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais à

pessoa humana, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as

oportunidades e facilidades, a fim de facultar o seu desenvolvimento em

condições de dignidade (art. 3º ECA).

São direitos fundamentais da criança e do adolescente os mesmos

direitos de qualquer pessoa humana, garantidos pela Constituição Federal

respeitados pelo Estatuto devendo ser observados com absoluta prioridade.

Ademais, como direito de Defasa, ressalte-se que o estabelecimento

de constituições escritas esta diretamente ligado à edição de declarações do

direito do homem. Com a finalidade de estabelecimento de limite ao poder

político, ocorrendo à incorporação de direitos subjetivos do homem em normas

fundamentais básicas. Assim, sendo a inimputabilidade classificada como um

direito social de segunda geração e elevada a categoria de garantia individual

da criança e do adolescente, mister se faz sua integral e permanente proteção

para salvaguardar e garantir a efetividades de suas garantias constitucionais.

2.5 - O DIREITO INDIVIDUAL COMO NÚCLEO IMODIFICÁVEL

Como acima foi exposto, à inimputabilidade do menor constitui uma

regra de proteção individual do adolescente, uma garantia fundamental, e, de

proteção integral e permanente previsto na CF. Portanto se qualquer deputado

11 Jesus, Damásio E. de, Direito Penal, Volume I, Parte Geral, Editora Saraiva, São Paulo, 23ª edição, 1999.

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18 desavisado entrar com uma proposta de emenda de modificação da

inimputabilidade penal, este deverá de imediato ser rejeitada .

A CF em seu artigo 60, § 4º preceitua que não será objeto de

deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: inciso IV, os direitos e

garantias individuais. Esses Direitos são aqueles garantidos por nossa

constituição escrita, inerentes à pessoa humana, são os direitos naturais,

resultado também do exercício da Democracia representativa. Assim embora o

artigo 5º traga um rol exaustivo com LXXVII incisos prescrevendo os direitos

individuais e coletivos, esse rol não é taxativo, pois as garantias individuais não

se encontrarem restritos ao rol do artigo 5º, resguardam um conjunto mais

amplo de direitos constitucionais de caráter individual dispersos no texto na

Carta magna.

12Basta para tanto analisarmos o artigo 228 da Constituição Federal e

veremos dentro do Capítulo dos direitos sociais que a inimputabilidade penal

aos 18 anos de idade constitui uma garantia individual, senão vejamos:

Ora, se a inimputabilidade penal aos 18 anos de idade é um direito

social e constituiu um direito individual, inerente à criança e ao adolescente,

que deve ter seus direitos observados com absoluta prioridade, logo se conclui

que a inimputabilidade penal aos (18) anos constitui uma “clausula Pétrea” uma

clausula imodificável da constituição. Portanto, qualquer modificação a ser feita

neste aspecto somente é possível constitucionalmente através de um poder

constituinte Originário, que é “inicial, ilimitado e incondicionado”.

Diferente do poder de emenda que possui limitações matérias que

não poderão ser objeto de deliberação, isto porque o constituinte queria que

em determinada matéria a Constituição Federal não fosse modificada, pois o

ordenamento jurídico deve ser respaldado por certa segurança jurídica, o poder

político deve sofrer algumas limitações, e isto foi feit

12 Jesus, Damásio E. de, Direito Penal, Volume I, Parte Geral, Editora Saraiva, São Paulo, 23ª

edição, 1999.

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2.6. CORRENTE DESFAVORÁVEL A REDUÇÃO DA MAIORIDADE

PENAL.

Embora parte dos doutrinadores entendem que uma possível

redução da maioridade penal violaria cláusula pétrea do direito e garantia

individual, a posição desta corrente é no sentido de ser possível a redução de

18 anos para 16 anos, uma vez que apenas não se admite a proposta de

emenda Constitucional (PEC) tendente a abolir direito e garantia Individual.

Isso não significa, como já interpretou o Supremo Tribunal Federal (STF), que a

matéria não possa ser modificada.13

Reduzindo a maioridade penal de 18 anos para 16 anos, o direito à

inimputabilidade, visto como garantia fundamental, não deixará de existir.

Com a evolução da sociedade, uma pessoa com 16 anos de idade

tem total consciência de seus atos, tanto é que exerce os direitos de cidadania,

podendo propor ação popular e votar. Portanto, eventual PEC que reduza a

maioridade penal de 18 anos para 16 é totalmente Constitucional.

O limite de 16 anos já está utilizado e é fundamentado no parâmetro

do exercício do direito de votar e à luz da razoabilidade e maturidade do ser

humano.

Nesses termos, observa Manoel Gonçalves Ferreira Filho: Timbra o

texto, no art. 228, em consagrar a inimputabilidade penal do menor de 18 anos.

“É incoerente esta previsão se recordar que o direito de votar, a

maioridade política pode ser alcançada aos 16 anos”.

2.7. CORRENTE FAVORÁVEL A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Por outro lado desse debate, as opiniões contrárias à redução ganha

um enorme vulto entre os estudiosos e as entidades representativas de classe

13 Jesus, Damásio E. de, Direito Penal, Volume I, Parte Geral, Editora Saraiva, São Paulo, 23ª edição, 1999

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20 que partem do bom senso para justificá-las, haja vista que o problema não é

legal, mas sim social.

A Ordem dos Advogados do Brasil, por meio da Comissão de

Direitos Humanos, defende, de modo coerente, que a redução da maioridade

penal não reduzirá a onda de violência que assola o País, pois, caso o

contrário, nas próprias palavras do Presidente daquela Comissão, Dr. Jairo

Fonseca, "se o código penal, válido para os maiores de idade, impedisse

crimes, ninguém iria cometê-los depois do 18º aniversário".14

Tanto assim não é verdade que a porcentagem de delinqüentes

juvenis em face da dos adultos é a menor possível, não chegando a 10% (dez

por cento). Outro fator interessante e que merece ser apontado é que, com a

redução,os maiores, que se aproveitam da menoridade penal para utilizar

jovens menores de18 anos em crimes, sobretudo o tráfico de drogas, iriam,

simplesmente, reduzir a faixa etária do aliciamento, passando a recrutar

crianças mais jovens. Além disso, dizer que o Estatuto da Criança e da

Juventude não é rigoroso é apenas falácia para esconder que a questão não é

legal, mas sim estrutural. Também argumentam que aumentar o contingente

populacional do sistema carcerário brasileiro iria somente piorar a situação,

uma vez que, como todos sabem, as penitenciárias do País não são nenhum

exemplo de reeducação, servindo apenas pelo caráter retributivo da pena.

Ademais, já existem milhares de mandados prisionais não cumpridos, em

virtude da ausência de capacidade nas prisões, que dirá com a redução da

maioridade, significando que a pena não servirá para punir o delinqüente

juvenil, mas apenas para mascarar uma situação irreal de punição, pelo

simples fato deles não estarem mais ligados ao Estatuto da Criança e do

Adolescente, mas sim ao Código Penal.

Por fim, em combate ao argumento de que a possibilidade de voto aos

16 anos e a inimputabilidade penal dos jovens nesta idade seria uma

contradição legal, apontam os que condenam a redução que imputabilidade

14 Jesus, Damásio E. de, Direito Penal, Volume I, Parte Geral, Editora Saraiva, São Paulo, 23ª edição, 1999

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21 penal não se traduz em irresponsabilidade por seus atos, revelando que o

Estatuto, também nestes caso, poderia ser muito mais eficaz que o Código

Eleitoral, desde que aplicado nos termos do preconizado em sua letra, ou seja,

visando o caráter pedagógico da medida. Como se não bastasse, revelam

estatísticas que comprovam que aquele que, infelizmente, seria realmente

abarcado pela redução da maioridade penal, ou seja, os menores carentes e

abandonados, nem mesmo tem conhecimento da possibilidade do voto,

demonstrando que, de forma alguma, podem ser considerados como

usufrutuários desta cidadania.15

2.8. OS IMPUTÁVEIS POR MENORIDADE PARA A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL (CF) E PARA O CÓDIGO PENAL (CP)

O verbo imputar sugere atribuir a alguém a responsabilidade de

determinado fato. No código penal brasileiro, a imputabilidade é o conjunto de

condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente

imputada a prática de um fato puníve. Neste caminho, então, está a palavra

imputação que sugere atribuição de responsabilidade, inculpação contra

pessoa à qual se atribui a causa de ato ilícito e punível.

Por observância à imputabilidade, podemos concluir que os

imputáveis são agentes que gozam do estado mental saudável a ponto que

possam atingir o nível de consciência da ilicitude do fato.

Nosso primeiro código penal, o Código Penal da República (de 1890)

tratava em seu art. 27, dos inimputáveis por menoridade.

15 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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22 Art. 27. Não são criminosos:

§ 1º - Os menores de 9 anos completos;16

§ 2º - Os maiores de 9 anos e menores de 14, que

obrarem sem discernimento.

No tempo em que vigorou o Código Penal da República, este

estabelecia a inimputabilidade absoluta para os menores de 9 anos,

presumindo que estes não reuniam, ainda, condições de atingirem a

consciência de ilicitude dos fatos.

Para os jovens dispostos no parágrafo segundo do art. 27, o Código

adotou o critério do discernimento através da aferição psicológica, para que se

estabeleça a responsabilidade ou a irresponsabilidade penal, como no atual

modelo alemão. A idade penal ampliou-se em 1932 com o Decreto n. 22.213

que alterou o art. 27 do Código Penal da República:

Art. 27. Não São criminosos:

§ 1º - Os menores de 14 anos.

16 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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23 A atual idade para a maioridade penal foi imposta pelo Código

Penal brasileiro de 1940, tendo sua redação alterada pela Lei nº. 7.209, de 11

de julho de 1984 e reconsagrada pela Constituição Federal de 1988, que assim

estabeleceram respectivamente:17

Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente

inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas pela legislação

especial.

Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito)

anos, sujeitos às normas da legislação especial.

Observa-se aqui que o legislador utilizou um critério puramente

biológico para a determinação da idade do agente para efeitos penais o

legislador utiliza critério puramente biológico na composição da regra absoluta:

a idade do autor do fato, sem outras indagações. Completam-se os 18, os 21

ou os 70 anos no dia do aniversário do agente. Não se leva em conta o

desenvolvimento mental que, embora possa ser plenamente capaz de entender

o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento,

não poderá ser responsabilizado penalmente por suas ações.

Por conseqüência da menoridade penal, embora o menor tenha

praticado um fato típico, antijurídico e culpável, ele não é responsabilizado

penalmente, impondo a absolvição, ficando o agente juvenil sujeito às normas

da legislação especial.

2.9. GENERALIDADES

A Criminalidade como Fenômeno Global

17 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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24

Fenômeno universal, a criminalidade cresce assustadoramente. Nos

países desenvolvidos ou nas nações do terceiro mundo, a prática de delitos,

marcada pela violência, é uma constante, inclusive nas médias e pequenas

cidades.18

Em que pese à desconfiança da estatística criminal, a verdade é que os

registros indicam aumento preocupante da delinqüência, sendo impossível se

aquilatar o verdadeiro alcance, pois a maioria dos delitos, tenham a conotação

que tiverem, permanece encoberta.

A maior parte dos crimes contra o patrimônio, contra a administração

pública, contra a propriedade intelectual, contra a organização do trabalho,

contra a saúde e até contra a pessoa, integra as cifras negras da criminalidade.

Medo dos criminosos, falta de confiança na punição e no sistema

repressivo; certeza de incômodos sem reparação moral ou material e

comodismo, podem ser relacionados entre as causas da ocultação da

criminalidade. A idéia segundo a qual a maioria dos crimes denunciados

redunda em impunidade, principalmente se o ofensor pertence às classes mais

favorecidas, muito contribui para as cifras negras, estimulando a falta de

iniciativa das vítimas.

A delinqüência juvenil, igualmente preocupante, não deve ser dissociada

da questão da criminalidade. Há que ser discutida a partir de dados reais e

científicos, sem o exagero daqueles que minimizam, e sem a paixão dos que

procuram maximizar seus efeitos.

A delinqüência juvenil existe e está aumentando. Inclusive a violenta.

Todavia, não é a única. A adulta é maior e mais grave. Qualquer política de

prevenção tem de considerá-la, sendo certo que uma das causas da patologia

da violência é o descaso com que a matéria vem sendo tratada.

18 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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25 2.10. A Delinqüência Juvenil

O conceito de delinqüência juvenil tem sido alargado para abarcar

comportamentos não tipificados nas leis penais, como acontecia, por exemplo,

no país, com o ab-rogado Código de Menores, que sancionava o desvio de

conduta. O menor em "situação irregular" podia ser privado de liberdade, em

estabelecimento penitenciário, sem determinação de tempo e sem o devido

processo legal, aí permanecendo, inclusive, depois de atingida a maioridade,

só sendo liberado pelo juiz das execuções penais. Confira-se artigos 2º, inciso

V e 41, § 3º.

A moderna inclinação no sentido de restringir a delinqüência juvenil às

infrações do Direito Penal foi seguida pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, que atendeu às Regras de Beijing.

O equívoco de incluir na delinqüência juvenil fatos penalmente

indiferentes, tem conduzido a injustiças. As decisões tutelares, geralmente,

resultavam em medidas mais severas para os menores, além de se revelarem

completamente ineficazes na prevenção dos delitos e na recuperação de

jovens.

Linguagem obscena, inadaptação social, familiar ou escolar,

permanência nas ruas, afastamento da casa paterna e indisciplina, em algumas

legislações correspondem, na prática, a respostas mais severas do que a

adultos em casos análogos. Acresce serem tais comportamentos indiferentes

às leis penais.19

É clássico o caso Estado do Arizona x GAULT em que o jovem, por

palavreado obsceno, foi sentenciado a internamento (privação de liberdade)

por até seis anos para ser "tratado". O processo, submetido à Suprema Corte

resultou na constatação de que os Tribunais de Menores ditos Tutelares, não

reconheciam os direitos fundamentais.

19 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

Page 26: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

26

O julgamento da Suprema Corte - marco importante na história do

Direito do Menor - desmistificou o caráter Tutelar de medidas punitivas,

disfarçadas em protetivas. MANZANERA critica a intervenção da justiça juvenil

em casos paradelinqüenciais ou de desvio de conduta. Observa o jurista:20

“Se discute el derecho de los tribunales de menores a

intervenir para evitar que menores predispuestos a la

delincuencia se conviertan en delincuentes, no sólo desde

un punto de vista estrictamente legal, sino también porque

los servicios judiciales actuales no garantizan que esa

intervención produzca resultados satisfactorios. Se sabe,

en efecto, que aun en las comunidades más avanzadas

los recursos disponibles son demasiado limitados para

asegurar el logro del objectivo perseguido.

La intervención de los tribunales de menores, en los

casos de menores necesitados de cuidado y protección,

pero que no han cometido ningún delito, puede producir o

acentuar una reacción de resistencia y hostilidad”.

O envolvimento da polícia judiciária com crianças e jovens que não

estejam em situações delinqüenciais (crimes) é desconselhável. Pode provocar

reações de resistência e hostilidade, predispondo à violência.

A delinqüência juvenil decorre principalmente do meio. Entre suas

causas avultam marginalização social e desestruturação familiar, que não

podem ser combatidas através de medidas simplistas.

20 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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27

O recolhimento, o confinamento temporário, a internação paternalista ou

policialesca, nada resolvem. Ao contrário, agravam o problema e sua

inadequação é proclamada, principalmente nos países mais desenvolvidos.

Os casos de assistência social têm de ser atendidos por equipe

especializada, nada aconselhando o sejam, salvo excepcionalmente, por

agentes da segurança pública. Estes devem garantir e apoiar o trabalho dos

agentes do serviço social, dos educadores sociais de rua, etc...

2.11. DELIQUENCIA JUVENIL NO BRASIL

Em 1980, portanto há mais de dez anos, o grupo de juristas coordenado

por JOSÉ ARTHUR RIOS, que por designação do Ministro PETRÔNIO

PORTELA, estudou as causas da criminalidade e da violência, assim se

pronunciou:

"No que tange ao MENOR INFRATOR, que já se constitui

na quase justificativa da conduta do MENOR

ABANDONADO, há hoje uma grande intranqüilidade em

razão dos estudos e investigações procedidas em outros

Países e no Brasil, admitindo que possam se agrupar da

seguinte maneira, em uma síntese formulada pelas

autoridades nessa grande problemática:

"a) Desorganização ou inexistência de um grupo familiar;

"b) Condições impróprias ou inadequadas da

personalidade dos pais, decorrendo daí a ausência de

afeto e de autoridade;21

"c) Renda familiar insuficiente, modesta ou mesmo vil;

21 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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28

"d) Desemprego, subemprego com rentabilidade

deficiente;22

"e) Falta de instrução e de qualificação profissional dos

membros familiares;

"f) Moradia ou habitação inadequada e condições

precaríssimas, inclusive de higiene, facilitando a

proliferação do vício em todas as escalas."

MÁRIO ALTENFELDER advertia:

"Entende-se, portanto, que a marginalização do menor é

aspecto e manifestação do processo social que

marginaliza certos grupos sociais, os quais, por sua vez,

marginalizam em massa o menor, quando:

"transferem para este menor as marcas de sua indigência

econômica e financeira;

"abandonam-no, carente e desassistido, forçando-o à

prática de atividades marginalizantes;

"provocam, pelas condições de mobilidade, habitação,

saúde, incultura, subdesenvolvimento etc., a

desintegração individual do menor em todos os aspectos.

Esse menor passa a ser, então, dentro da comunidade nacional, 'menor

problema social' e, assim, resíduo final de um complexo processo social que

apresenta estágios de evolução ou graus diferentes de apresentação. Inicia-se

com o menor em vias de marginalização social e culmina com o menor infrator,

considerando-se a criminalidade o grau máximo de marginalização social.

22 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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29

A delinqüência juvenil decorre da miséria em que vivem milhares de

famílias, as quais transferem a pobreza às crianças e jovens, muito cedo

compelidos a lutar pela vida.23

Nas ruas, onde buscam recursos, logo se vêem submetidos a

exploração e a toda sorte de violências, principalmente dos adultos.

Condicionados pelo meio, acabam cometendo atos anti-sociais de

sobrevivência. Uma equivocada política de segurança pública, ao invés de

apoiar ações de serviço social, garantindo o trabalho dos educadores sociais,

arbitrariamente retira esses meninos e jovens da rua, devolvendo-os ao mesmo

lugar, mais revoltados e agressivos. O equívoco resulta no camburão social e

no ciclo perverso, identificados por ANTÔNIO CARLOS GOMES DA COSTA,

produtores e reprodutores de violência e delinqüência, como observou

DEODATO RIVERA.

O doutrinador Cesar Barros Leal, em excelente dissertação, centrada

nos fatores e na prevenção da delinqüência juvenil, referindo-se às causas,

assim explica o fenômeno:

"No Brasil, a delinqüência juvenil é um problema

eminentemente estrutural. Os menores delinqüentes ou

infratores não importa como sejam rotulados em sua

maior parte são procedentes das classes desfavorecidas

e praticam, no mais das vezes, delitos contra o

patrimônio, destacando-se entre eles o furto.

Trata-se, a delinqüência juvenil, de um problema complexo, de múltiplas

variáveis. Por isso mesmo, pela diversidade de seus fatores endógenos e

exógenos, essa, de forma alguma, pode ser vista de um ângulo isolado. Entre a

23 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

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30 pobreza; d) a família; e) a falta de escolaridade; f) o convívio social impróprio; e

g) os meios de comunicação social."

24

2.12. DIFICULDADES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS

PÚBLICAS DE PREVENÇÃO E RESPOSTAS

Miséria e desagregação familiar, decorrentes da vergonhosa e injusta

distribuição de renda que caracterizam o país, além da falência das políticas

públicas básicas, podem ser relacionadas como as principais causas da onda

de violência urbana e, principalmente, da delinqüência juvenil.

A distorcida visão do problema, encarado isoladamente, vem ensejando

apelos a atitudes repressivas.

Prega-se em termos simplórios a violência, a exacerbação das penas

criminais, a pena capital, os julgamentos sumários, as batidas policiais, a prisão

para averiguações, e outras medidas arbitrárias, como se a reação repressiva,

por si só, prevenisse a delinqüência.

A prevenção da delinqüência não pode resultar de tão simplista,

antijurídica e equivocada proposta.

Nos tempos atuais não se justifica qualquer sugestão que não seja

técnico-científica. Como diz JASON ALBERGARIA:

"Definiu-se como uma espécie de 'Magna Carta' as

conclusões do IV Congresso da Organização das Nações

Unidas em 1970, ao proclamarem como incindíveis a

política de defesa social e a planificação do

desenvolvimento (com vistas a exploração de caminhos e

24 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

MORAES A de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed.São Paulo:

Ed. Atlas, 2004.

Page 31: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

31

meios para a planificação da prevenção, contenção e25

combate ao crime): and to establish a better society. Para

reforçar a sua ação internacional nos domínios da

prevenção do crime e tratamento do delinqüente, a

Organização das Nações Unidas vem instalando os seus

institutos de criminologia. O Secretário-Geral U THANT,

ao inaugurar o Instituto de Roma, proclamava o

importantíssimo trabalho que o Instituto iria realizar no

mundo. Referindo-se especialmente à delinqüência juvenil

e à criminalidade do adulto, declarou: 'Este Instituto

necessitará desenvolver os conhecimentos indispensáveis

ao progresso da política de prevenção, controle e

estratégia da delinqüência juvenil e da criminalidade do

adulto. Esse novo empenho da Organização das Nações

Unidas consistirá não apenas na fonte de luz a incidir

sobre esse aspecto do comportamento humano e da

política nacional, como também servirá como ponto focal

para a colaboração internacional nesse campo'.

Mais explicitamente o Instituto de Costa Rica (ILANUD) sintetiza esse

empenho da Organização das Nações Unidas nas suas funções contidas no

acordo firmado com Costa Rica. A primeira função consiste em 'organizar

cursos de formação e notadamente de estudos teóricos e práticos destinados a

planificadores, pessoal especializado e pessoas responsáveis pela elaboração

de políticas relativas à prevenção do crime e tratamento do criminoso, etc...

A falta de recursos, principalmente nas áreas técnica e da pesquisa tem

sido apontada como dificuldades da política de prevenção, principalmente da

25 Revista Âmbito Jurídico, Bibliografia: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito

Constitucional. 18ª Edição. São Paulo: Saraiva, 1997.

Page 32: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

32 delinqüência juvenil. Se é que se pode falar em política de prevenção da

criminalidade, inexistente, na prática, no país.

Qualquer política preventiva não pode prescindir dos Conselhos

Tutelares, devendo exteriorizar-se através de programas preconizados no

Estatuto da Criança e do Adolescente: orientação, apoio e acompanhamento;

assistência educativa à família; auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e

toxicômanos; liberdade assistida; acompanhamento de egressos;

restabelecimento de vínculos familiares; serviços especiais de prevenção e

atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus tratos, 26exploração, abuso e crueldade; serviço de identificação de pais,

responsáveis, crianças e adolescentes desaparecidos; proteção jurídico social,

etc...

2.13. POLÍTICAS PÚBLICAS DE RESPOSTA

À violência urbana, ao sentimento de insegurança (crescentes em todos

os países), decorrência do terrorismo, da criminalidade econômica e da

delinqüência juvenil, correspondem novos e insistentes apelos por política

penal repressiva.

A respeito da ineficácia de tal política é de se transcrever o escólio de

HELENO CLAUDIO FRAGOSO:

"Na medida em que a moderna Criminologia voltou-se

para o próprio sistema repressivo e o submeteu a análise

e pesquisa, pôde-se verificar que certos princípios gerais,

admitidos como pressupostos, não correspondem à

realidade e devem ser postos em dúvida. O efeito

preventivo da ameaça penal não está demonstrado; o

26 MORAES A de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed.São

Paulo: Ed. Atlas, 2004.

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33

efeito ressocializador e preventivo da pena evidentemente

não existe, pelo menos no que diz respeito à pena de

prisão. O crime está em função da estrutura social, que

não se modifica através do Direito Penal. É reduzido, em

conseqüência, o papel que o sistema punitivo do Estado

desempenha em termos de prevenção, e, pois, em termos

de efetiva proteção e tutela de valores da vida social.

Verificou-se, por outro lado, o alto custo social da

repressão punitiva, com a estigmatização, a

desigualdade, a corrupção, a morosidade e as

deficiências do sistema policial, judiciário e

penitenciário."27

AFRÂNIO PEIXOTO, criticando o critério do discernimento e a redução

da idade da responsabilidade penal, advertia:

"Simplesmente abominável. Antes tivesse sido a lei

omissa em todos esses casos porque 'quando um menor

comete um delito e o deixamos fugir, são menores as

probabilidades que torne a praticar novo crime, do que se

o punirmos' (VON LISZT).

Como castigo de uma culpa somenos, vai a justiça tonta levá-lo ao

cárcere, onde, na 'universidade do crime' (GARRAUD) aprenderá o que lhe

falta, dos veteranos e dos inveterados, para exercer cá fora, no primeiro

momento, talvez com aquela ânsia sôfrega que têm os doutrinários de ensaiar,

na experiência, um conhecimento adquirido. De um menino ou um rapaz

culpado de falta venial, vamos fazer, conscientemente, ineptamente,

criminosamente, um celerado, que nos vai punir pela nossa inqualificável

cegueira ou estupidez, com outros e multiplicados crimes. Será, se me

27 MORAES A de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed.São

Paulo: Ed. Atlas, 2004.

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34 permitem comparação, segregar um doentinho de sarampão, num hospital de

pestosos: e tal imbecil sociedade ainda chamará 'criminoso' ao menor

delinqüente, que ela vai transformar em grande celerado.

Embora a repressão esteja completamente falida, com resultados

negativos, inclusive gerando maior violência, a sociedade tem o direito de se

proteger. Para os casos onde a patologia da violência esteja presente, o

Estatuto autoriza medidas de defesa social eficazes, a serem impostas nas

condições e hipóteses recomendadas pelas Regras Mínimas da Organização

das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil.

O desconhecimento dos princípios, das normas, das garantias

processuais, principalmente a falta de estrutura para a aplicação correta de

medidas sócio-educativas muito contribui para a inexistência de uma adequada

política de resposta à delinqüência juvenil.28

Instituições impróprias, falta de pessoal qualificado, confinamento

arbitrário podem ser apontados como política equivocada.

Enquanto não se qualificar as áreas policial, judicial e técnica; enquanto

a sociedade não se conscientizar da importância da prevenção; enquanto os

apelos e as soluções continuarem centradas na repressão, será muito difícil

implementar uma política correta de resposta à delinqüência juvenil.

2.14. PREVENÇÃO DA DELINQÜÊNCIA JUVENIL

Não se pode cogitar de vida social, sem criminalidade ou delinqüência

juvenil. São elementos inseparáveis. O que se deve questionar é o fato e suas

conseqüências, formulando-se políticas no sentido de reduzir o fenômeno a

níveis naturais, residuais. A repressão deve ser reservada aos casos extremos.

Como observa com propriedade CESAR BARROS LEAL:

28 MORAES A de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed.São

Paulo: Ed. Atlas, 2004.

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35

"Preveni-la, a delinqüência juvenil, é impedir um genocídio

social que se permite esteja sendo praticado contra

milhares de menores, espalhados nos quatro cantos deste

país e que, produtos de um processo de socialização

divergente, disfuncionados, convertem-se em infratores

porquanto não se lhes oferecem outras opções, não se

satisfazem, a tempo próprio, as suas necessidades

básicas (suas carências, isoladas ou não, são múltiplas:

econômicas, sociais, físicas e psíquicas) nem se busca

desenvolver as suas potencialidades positivas."

2.14.1. Prevenção Primária

Exterioriza-se a prevenção primária através de medidas no sentido de

garantir os direitos fundamentais e as políticas sociais básicas.

Se as causas da delinqüência juvenil decorrem principalmente de fatores

exógenos, (BARROS LEAL), a política de prevenção deve se basear em

medidas capazes de garantir direitos básicos: saúde; liberdade e dignidade;

educação, convivência familiar e comunitária, esporte, lazer; profissionalização

e proteção no trabalho.29

Tenha-se presente, enquanto falharem as políticas sociais básicas,

dificilmente se logrará prevenir a criminalidade. Saúde, educação,

profissionalização, esporte, lazer, devem ser valorizados, principalmente a nível

comunitário.

A prevenção primária deve-se orientar no apoio às ações dos Conselhos

dos Direitos da Criança e do Adolescente.

29 MORAES A de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed.São

Paulo: Ed. Atlas, 2004.

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36 2.14.2. Prevenção Secundária

A prevenção secundária deve se materializar através dos Conselhos

Tutelares.

Se a etiologia da delinqüência aponta geralmente para a falta de

atendimento das necessidades básicas; para a desagregação familiar, para as

más companhias; para a exploração dos adultos; para a falta de escolaridade;

para o abandono; numa palavra para a miséria; se muitos consideram em

estado de risco, jovens em dificuldades; é claro que a prevenção secundária

deve se basear em programas de apoio, auxílio e orientação ao jovem e à

família. Tais programas, preconizados no Estatuto da Criança e do

Adolescente, precisam ser implementados com a máxima brevidade,

principalmente a assistência educativa a ser gerenciada pelas comunidades

locais.30

Se a criança e o jovem em dificuldade forem atendidos na própria

família; se o atendimento for de natureza educativa com a participação do

núcleo familiar e comunitário, as perspectivas de prevenção serão promissoras.

2.14.3. Prevenção Terciária

Exterioriza-se a prevenção terciária através de medidas sócio-educativas

visando readaptar ou educar o adolescente infrator.

Matérias bastante controvertidas, diagnóstico, prognóstico, tratamento,

principalmente periculosidade e inadaptação social, devem ser vistos com

cautela.

Não há como discutir, em tão apertada síntese, a respeito das diversas

concepções em torno do assunto nem abordar a chamada crise do conceito de

30 MORAES A de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4 ed.São

Paulo: Ed. Atlas, 2004.

Page 37: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

37 periculosidade. Apenas que a prevenção terciária é um dos objetivos das

chamadas medidas sócio-educativas, que elas existem e são necessárias.

O fato é que crianças e jovens, às vezes, praticam ações anti- sociais

graves, violentas. Nesse caso, impõe-se resposta, tratamento, medida sócio-

educativa, como queiram. A verdade é que tal resposta deve variar conforme o

fato e o agente, sempre limitada pela humanidade, pela ética e pelos princípios

do Direito, de tal forma que o jovem não seja penalizado com mais rigor do que

o adulto, muito menos desnecessariamente.

A prevenção da delinqüência juvenil está ligada também ao

relacionamento do sistema de justiça com o jovem acusado. Uma intervenção

inadequada, violenta ou arbitrária, pode trazer sérias conseqüências. Do

comentário a Regra 19, das Regras Mínimas da Organização das Nações

Unidas, traduzidas por MARIA JOSEFINA BECKER:

"A criminologia mais avançada advoga o uso do

tratamento não institucional. As diferenças encontradas

no grau de eficácia da institucionalização em relação à

não institucionalização são pequenas ou inexistentes. É

evidente que as muitas influências adversas que todo

estabelecimento institucional parece exercer

inevitavelmente sobre o indivíduo não podem ser

neutralizadas com um maior cuidado no tratamento. Isso

ocorre principalmente no caso dos menores, que são

especialmente vulneráveis às influências negativas. Além 31do mais, os efeitos negativos não apenas da perda da

liberdade, mas também da separação do meio social

habitual, são certamente mais agudos em sua etapa

inicial do desenvolvimento.

31 Código Penal - 5. ed. ver., atual. e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2000.

Page 38: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

38

A regra 19 pretende restringir a institucionalização em dois aspectos: em

quantidade ('último recurso') e em tempo (`mais breve período possível'), a

regra 19 reflete um dos princípios norteadores básicos da resolução 4 do 6º

Congresso das Nações Unidas: um menor infrator não deve ser encarcerado a

não ser que não haja outra resposta adequada. A regra, portanto, proclama o

princípio de que, se o menor deve ser institucionalizado, a perda da liberdade

deve limitar-se ao menor grau possível, com arranjos institucionais especiais

para contenção e tendo em mente as diferenças entre tipos de infratores,

infrações e instituições. Definidamente, os estabelecimentos 'abertos' aos

'fechados'. Além do mais, qualquer instalação deve ser do tipo correcional ou

educativo e não carcerária."

A prevenção terciária requer alternativas para a privação de liberdade

como programas de liberdade assistida, apoio e acompanhamento temporários,

serviços à comunidade, etc..32

2.15. O TRATAMENTO DIFERENCIADO AUFERIDO PELO ECA AOS

MENORES INFRATORES

Observando a segunda parte do art. 27do Código Penal, iremos

abordar as normas da legislação especial que versa dos menores infratores.

Os maiores de 18 anos possuem como demonstra o Código Penal

Brasileiro, uma responsabilidade penal perante a sociedade, enquanto, os

menores relativos a mesma idade possuem uma responsabilidade estatutária

juvenil. Os maiores, quando atentam contra um bem jurídico protegido,

submetem-se a penas criminais (privação da liberdade, restrição de direitos,

multa), já os menores, entretanto, submetem-se a penas sócio-educativas

(advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à

comunidade e liberdade assistida).

32 32 Código Penal - 5. ed. ver., atual. e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2000.

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39 O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) – ECA –

evidencia, através de suas penas sócio-educativas, seu caráter ressocializador

do menor autor de uma prática anti-social.

Outra diferenciação no tratamento entre os imputáveis e os

inimputáveis por maioridade é observada no órgão julgador. Os maiores estão

sujeitos, quando praticam delito(s), à justiça comum (salvo exceções),

enquanto os menores infratores sujeitam-se à Justiça da Infância e da

Juventude.

2.16. PROCEDIMENTOS DA DELEGACIA ESPECIALIZADA DO

ADOLESCENTE

O adolescente quando apreendido em flagrante por ato infracional deverá

desde logo encaminhado à autoridade policial competente, que fará uma

análise do fato. Se o fato ocorreu sob grave ameaça, será elaborado o auto de

apreensão em fragrante delito, se não houve grave ameaça, será

confeccionado o Registro de Ocorrência da Infração Penal, que é um

procedimento especial para a apuração de ato infracional.

Art. 172. Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para

atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em

co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializada,

que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o

adulto à repartição policial própria.

Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial

encaminhara imediatamente ao representante do Ministério Público cópia do

auto de apreensão ou boletim de ocorrência.33

33 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

Page 40: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

40 Art.177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de

participação de adolescente da prática de ato infracional, a autoridade policial

encaminhará ao representante do Ministério Público relatório das investigações

e demais documentos. (LEI 8.069/90).

2.17. INTERNAMENTO

Destarte, estes jovens são privados do convívio social e familiar.As

conseqüências são as piores possíveis, quando do cometimento de um ato

infracional, eles são recolhidos nas instituições para adolescentes infratores, a

partir daí, inicia-se um processo de adesão, e com o objetivo de identificarem-

se com os líderes, eles estabelecem sua identidade marginal. Conforme

prescreve o artigo 185 da Lei 8.069/90, o adolescente só deverá cumprir as

medidas sócio-educativas em estabelecimentos adequados para menores e,

nunca em sistema prisional apropriado para maiores.34

Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade

judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional.

§ 1º, Inexistindo na comarca entidade com as

características definidas no art. 123, o adolescente deverá

ser imediatamente transferido para a localidade mais

próxima.

§ 2º, Sendo impossível a pronta transferência, o

adolescente aguardara sua remoção em repartição

policial, desde que em seção isolada de adultos e com

instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo

de 5 (cinco) dias, sob pena de responsabilidade.(LEI

8.069/90).

34 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

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41 O objetivo do internamento desses menores seria reintegrá-lo a

sociedade, mas a realidade é outra, a probabilidade desses adolescentes

adquirirem mais conhecimento do mundo do crime é muito grande, o ambiente

utilizado para reintegrá-lo a sociedade é altamente marginalizador, onde o

modelo criminoso é a norma e não a exceção.35

O sistema de valores a que os menores infratores são submetidos é,

inevitavelmente, mais criminosos do que o mundo externo, porque todos os

internos cometeram algum tipo de delito. Portanto, não é surpreendente que

as atitudes favoráveis à delinqüência sejam reforçadas e os talentos e

habilidades relevantes para o crime se desenvolvam ainda mais após um

período em uma instituição correcional – este processo é denominado

criminalização.

A medida de internação de um adolescente deve ser utilizada como

último recurso e, procurar deixá-lo o mais breve período de tempo possível

dentro de um sistema reformatório. Trata-se de uma premissa fundamentada

em estudos científicos, confirmados exaustivamente pela comunidade

internacional de pesquisa. De outro lado, a quase imemorial experiência

histórica, francamente fracassada, dos reformatórios e casas correcionais

ensejou uma crise no sistema de contenção de jovens infratores, obrigando os

técnicos a pensar outras formas de enfrentamento da questão.

O consenso mundial acerca do malogro da medida de internação como

estratégia de educação do jovem em conflito com a lei vem traduzidos na

Convenção Internacional dos Direitos das Crianças e outros diplomas

internacionais que chegam a propor, inclusive, como ideal, sua completa

abolição.

A internação equipara-se ao regime fechado, utilizado para criminosos

que cometeram crimes em que a pena é superior a oito anos.

35 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

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42 A internação corresponde ao regime fechado na esfera penal,

reservados aos criminosos que apresentam periculosidade e tenham praticado 36crimes punidos com penas acima de oito anos (CP, art. 33,§ 2º, a), pois se a

pena for superior a quatro e não exceder a oito será cumprida em regime semi-

aberto (CP, art. 33, § 2º, b), e em regime aberto se for igual ou inferior a quatro

anos, desde que o condenado não seja reincidente (CP, art. 33, § 2º, c). A

referência a lei penal torna-se necessária para servir de parâmetro no

tratamento do adolescente, que não pode ser mais penalizado que o adulto,

mormente levando-se em conta o seu desenvolvimento mental.

O internamento equipara-se a um sistema carcerário, reservado para

aqueles criminosos que representam um perigo para a sociedade. A internação

tem seu parâmetro na legislação penal correspondente ao regime fechado, que

é destinado aos condenados considerados perigosos e que tenham praticado

crimes punidos com pena de reclusão superior a oito anos (CP, art. 33, § 2º, a).

Quanto ao sistema de internamento, os entendimentos se dividem, uns

entendem que essas unidades são instituições falidas, não é a melhor opção

para reeducar o adolescente e integrá-lo a sociedade. Por outro lado, há os

que entendem que o ECA, é mais rigoroso diante da lei penal aplicada para

maiores de dezoito anos, o sistema de internamento que é utilizado com os

menores, equiparase ao regime fechado para criminosos que são condenados

com penas superior a oito anos, portanto os menores são mais penalizados

que os adultos.

2.18. O SISTEMA E SUA ESTRUTURA INTERNA

Mesmo que o sistema de internamento oferecesse condições

adequadas, seria um fator negativo e prejudicial para o adolescente, na

verdade essas unidades foram criadas com intuito apenas de proteger a 36ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

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43 sociedade. De qualquer maneira, ainda que, em tese, se reunisse condições

ideais para o tratamento do jovem infrator privado de liberdade, ainda assim o

sistema seria danoso e contraproducente. Segundo a obra clássica de Erving

Goffman, as casas para a internação de infratores constituem instituições totais

organizadas para proteger a comunidade contra aqueles que ameacem a sua

ordem. 37

O contato restrito com o meio externo provoca a desculturalização no

recluso, impondo-lhes hábitos que não lhe servirão à vida social normal. As

instituições de internamento foram criadas não apenas como forma de abrigá-

los, mas com intuito de educá-los e reintegrá-los as suas famílias, porém, o que

ocorre na prática é o oposto. Estas instituições foram criadas com objetivo de

não somente abrigar, mas, principalmente, de educar e reintegrar à família e a

sociedade adolescentes com desvio de conduta.

Como ensinar valores e normas sociais quando o sistema de valores a

que os menores infratores estão submetidos na instituição são,

inevitavelmente, mais criminosos que os do mundo externo?

Sendo assim, não nos surpreende que as atitudes e habilidades

relevantes para o crime se desenvolvam, ainda mais, após um período em uma

escola correcional. O adolescente deverá ter sua liberdade privada somente

com o devido processo legal, a unidade de internamento deverá estribar-se nas

regras do ECA, obedecendo os critérios de idade, compleição física e

modalidade infracional.Constitui medida privativa de liberdade e somente tem

cabimento sob a égide do processo legal (artigos 121 e 110 do ECA). Diz o art.

123 do Estatuto que a internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva

para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida

rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da

infração. Tal separação é necessária, em primeiro lugar, para evitar a

37 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

Page 44: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

44 deterioração do ambiente e das relações entre os ocupantes da entidade. São

conhecidos todos os graves e tormentosos problemas, riscos e dificuldades

que podem desumanizar o ambiente do estabelecimento de internação, pondo

a perder seus objetivos pedagógicos, passando ela a desempenhar função

meramente detentiva, por vezes assumindo a condição de depósito de 38indivíduos. Seguramente, se Dante escrevesse hoje a sua divina comedia,

haveria de encontrar algum desses estabelecimentos no inferno.

Quando o assunto é unidade de Internamento para Adolescentes

Infratores, há entendimento único, ambos entendem que tais sistemas não

conseguem reeducá-los e, que na verdade são escolas correcionais para o

mundo do crime, se as regras do artigo 123 do ECA não forem cumpridas,

essas unidades servirão apenas como depósitos de seres humanos.

2.19. REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL É A SOLUÇÃO PARA O

CONFLITO?

A morte do menino João Hélio Fernandes, trouxe novamente à tona a

discussão sobre o problema dos menores infratores e a questão da redução da

maioridade penal.

No Brasil, a maioridade penal se da quando o indivíduo completa

dezoito anos, conforme encontramos na Constituição Federal (art.228), no

Código Penal (art.27) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (art.104). Mas

os menores infratores com idades entre 12 e 18 anos, estão sujeitos às

medidas sócio-educativas, regime especial, em virtude das quais serão

tomadas as ações de caráter legal a respeito dos atos que praticaram e sobre

suas pessoas.

38 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

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45 Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente

pode39rá aplicar ao menor infrator as seguintes medidas: a advertência, que

consistirá em admoestação verbal; obrigação de reparar o dano, com a

obrigação de restituir a coisa, ou, por outra forma, que compense o prejuízo da

vítima; a prestação de serviços à comunidade, que consiste na realização de

tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente há seis meses;

liberdade assistida, medida com a finalidade de auxiliar e orientar o

adolescente; inserção em regime de semi-liberdade, que possibilita a

realização de atividades externas; e a internação em estabelecimento

educacional, medida que constitui a privação da liberdade.

As medidas criadas pelo legislador, são na verdade uma maneira de

dar um tratamento diferenciado aos menores infratores, pois existe a

consciência, que estes adolescentes ainda estão em formação, reconhecendo

a condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. Esse tratamento

diferenciado deveria recuperar e reintegrar o jovem a sociedade. Coisa que

infelizmente não ocorre, pois o modo como são executadas as medidas sócio-

educativas são verdadeiras penas, totalmente ineficazes, inócuas e criticadas

por todos.

Uma das melhores formas de se saber como punir um adolescente

que cometeu uma infração, é observar o seu histórico, vida e atos, o infrator

deve ser sujeito a exames e avaliações psicológicas e sociais, e dependendo

deste resultado deve ser aplicada uma punibilidade justa com a conduta do

infrator. Pois as medidas que são tomadas hoje em dia pelo sistema, se

tornaram castigos, que acabam revoltando todos, não recuperando ninguém.

Não podemos agir pela emoção, devemos analisar quais as causas de

tanta violência, não se esquecendo que em muitos casos, o menor não passa

de uma criança, sem nenhuma base familiar, social e religiosa sobre valores.

39ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

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46 Devemos exigir do governo soluções para o problema, pois o

desemprego, a miséria da população, a falta de educação, assistência médica

precária, influenciam o aumento da criminalidade. A redução da maioridade

penal dos dezoito para os dezesseis anos em nada contribuiria para a redução

da criminalidade, ou seja, não é aumentando o tempo da reclusão que

resolveremos o problema.

O problema da violência no Brasil, só será resolvido quando não

houver tantas desigualdades sociais, enquanto existir os ambiciosos que se

elevam, mediante a riqueza e poder, com seus privilégios e arrogância junto ao

povo covarde e débil, não encontraremos uma solução razoável para o

problema da violência, como para tantos outros problemas.40

Mas a partir do momento em que o povo, manter suas prerrogativas,

tornando-se árbitros dos governos, das leis, dos tratados da vida,

começaremos a ter uma sociedade mais justa e com menos violência.

Devemos parar de tentar varrer a sujeira para debaixo do tapete, e começar

uma reeducação social, pois ao seguir o exemplo de paises que recorreram a

redução de maioridade penal, não estaríamos indo a busca de solução, mas

sim de um retrocesso.

2.20. O DEVER DO ESTADO

O Estado foi criado para proporcionar a sociedade uma convivência

social e pacífica, desde adotou essa regra, vem substituindo a vontade

individual por aquela que vise o bem estar da coletividade, que deve ser

expressada pelo Estado. O problema surge quando o Estado começa a agir

emocionalmente. 41

40 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente,São Paulo:

Saraiva, 1994.

41 GOMIDE, Paula Inez Cunha. Menor Infrator, 2. ed, 1998, Curitiba: Juruá, 2006.

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47 Nesses casos, o poder Estatal une-se à intolerância individual,

formando uma combinação das mais perigosas. Foi assim com a Lei dos

Crimes Hediondos. A ocorrência de certos crimes despertou a ira de uma ala

poderosa da sociedade e o Estado, cedendo às pressões que

sofreu,incorporou o sentimento de intolerância das pessoas, compreensível nos

seres humanos, mas inaceitável nas leis. Com isso a Lei 8.072/90 não foi

suficiente e eficaz para diminuir ou cessar os crimes hediondos, pelo contrário,

continuam a assustar a população, estando hoje absolutamente em voga em

nossos jornais e revistas. Assim, sob o aspecto social, resta ao Estado e à

sociedade tomar consciência de que a questão está em combater as causas da

marginalização e da criminalidade infanto-juvenil e não os seus efeitos, uma

vez que estes, sem solucionar aquelas, perdurarão.

O Estado deve cumprir o preceito do art. 227 da Constituição

Federal que reza o seguinte: “é dever da família, da sociedade e do Estado

assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à

vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Sob o aspecto jurídico-penal, o problema está em tornar eficaz o 42Estatuto da Criança e do Adolescente, através de uma ação contundente do

Estado, aparelhando-se para, enfim, após seis anos, recebê-lo e entender o

seu caráter pedagógico como única forma de ressocializar e reeducar o jovem

infrator. Cabe ao Estado voltar-se para o problema e tornar pleno o

cumprimento da medida sócio educativa, com a destinação de verbas

suficientes para tal, e à sociedade cobrar esta ação, pois é a inércia estatal que

gera a crença no menor que ele é impune, por estar sob a guarida do ECA e

42 GOMIDE, Paula Inez Cunha. Menor Infrator, 2. ed, 1998, Curitiba: Juruá, 2006.

Page 48: LEONARDO DA SILVA BARREIRO Considerações sobre a ... · A redução da Maioridade Penal causa polêmica dentro do mundo jurídico ... A história dos direitos e garantias individuais

48 não sujeito ao Código Penal. Vimos que isto não é verídico. Deste modo, o

Estatuto não provoca a impunidade, mas sim a falta de ação do Estado. Ao

contrário, é uma legislação moderna, que se afina com as tendências

internacionais, não só de proteção ao menor, mas de sua repressão quando o

mesmo se tornar infrator, observando as garantias constitucionais e o devido

processo legal.43

Que o Estado assegure primeiro os direitos da criança e do

adolescente previstos no ECA e depois, quiçá, terá alguma moral para falar em

responsabilidade individual e alterar a lei.

2.21. O PAPEL DA SOCIEDADE

A sociedade cobra muito pouco do Estado. Ao contrário, querem soluções

imediatistas, tais como esta da redução da menoridade penal, como se isto

fosse sanear o problema.

São muito poucos os segmentos da sociedade que questionam as causas

do aumento da criminalidade infanto-juvenil, sobretudo entre os mais

abastados. Ao contrário, fazem pressão nos legisladores para, absurdamente,

reduzirem a idade apta à habilitação para 16 anos, esquecendo-se que isto

somente beneficiará o jovem rico, que poderá ter um veículo para dirigir, sem

contar os problemas que poderão, dai, advir. Um veículo é uma arma até nas

mãos de adultos irresponsáveis, que dirá nas mãos de adolescentes notórios

pela sua imaturidade nesta questão. São adolescentes que "furtam" para uso

os veículos dos pais para fazerem os famosos "pegas".

Dai, nota-se quais são as prioridades sociais, ou melhor, daqueles

segmentos que têm poder e força sobre os parlamentares. A imprensa, como

se não bastasse, na maioria das vezes, somente divulga o que é conveniente

no momento, formando opiniões errôneas sobre a questão, sobretudo no que

43 GOMIDE, Paula Inez Cunha. Menor Infrator, 2. ed, 1998, Curitiba: Juruá, 2006.

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49 concerne à falsa idéia de que o Estatuto da Criança e Adolescente é um meio

de proteção ao menor, sem criar deveres para o mesmo e sem dotar-se de

medidas para coibir o comportamento infrator. Assim, criticam que esta

legislação protege o menor, mas, todavia, embarcam no sofisma de que a

mesma não protege a sociedade.

É necessário, pois, conscientizar a sociedade do seu verdadeiro papel que,

sem dúvida alguma, não é o de ser expectadora de um futuro sem perspectivas

para o jovem carente e abandonado; mas sim de participar ativamente,

procurando salvar o menor das ruas e cobrando atitudes estatais, pois, o

infrator de hoje, sem uma ação estruturada do Estado, será, fatalmente, o

criminoso de amanhã e quem sairá prejudicada ao final será, com certeza, a

própria sociedade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após constatação neste estudo das argumentações dos estudiosos no

direito, entre juristas e doutrinadores na matéria Constitucional e pena, sobre a

redução da maioridade penal ser viável ou não juridicamente, há de se

constatar divergências continuam ocorrendo no nosso contexto atual, não

havendo um consenso.

Há quem argumente que a redução da maioridade penal seria

plenamente justificável em face à capacidade de entendimento do menor de

dezesseis anos, pois, a ele é dado o direito de votar. Tal argumento merece

respaldo, pois além do fato de o voto para eles não serem obrigatório, também

estão sujeitos às medidas do Estatuto da Criança do e do Adolescente – ECA,

inclusive à medida máxima da internação que equivale à prisão para os

adultos.

Defender a postura de redução da maioridade penal de dezoito anos

para dezesseis anos, é andar na contra mão da história, um verdadeiro

retrocesso em nosso ordenamento jurídico, pois se sabe da falência do sistema

prisional brasileiro. As pessoas pouco informadas, que tendem a defender a

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50 redução, e isto o fazem impulsionadas pelo calor dos acontecimentos, por mera

sede de vingança, deveriam examinar com atenção quais seriam as medidas

mais justas para conter a criminalidade.

Conforme noticiários dos telejornais, os dois maiores grupos de

criminosos que atualmente aterrorizam as maiores cidades do Brasil nasceram

dentro de presídios: o Comando Vermelho, no Rio, e o primeiro Comando da

Capital em São Paulo. Isso reforça a ineficiência dos nossos presídios para a

recuperação ou ressocialização dos criminoso, pois dificilmente um condenado

ali permaneça por um determinado período conseguirá reabilitar-se para o

convívio social, sem praticar mais crimes, desta forma dentro do sistema

prisional convivendo com presos extremamente perigosos e maliciosos, só

iriam amadurecer mais para a vida criminosa.

Nesse sentido, entendo que inserir os jovens menores de dezoito anos

nessa estrutura seria uma agressão à sociedade e um retrocesso às funções

do Estado que em última análise tem o dever Constitucional de prover o bem

estar e a dignidade da pessoa humana, princípios, excessivamente enfatizados

e valorizados no novo Código Civil.

A solução para o problema da violência entre crianças e jovens é a

prevenção primária, por meio das estratégias cientificamente comprovadas,

facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que a

recuperação de crianças e adolescentes que cometem atos infracionais graves

contra a vida.

A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um

tecido social saudável e promissor, que começa antes do nascer, com um bom

pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e

o complemento até mais de um ano, vacinação, educação infantil,

principalmente propiciando o desenvolvimento e o respeito à fala da criança, a

oração, o brincar, o andar, o jogar, uma educação para paz e não a violência.

A segunda área da maior importância nessa prevenção primária da

violência envolvendo crianças e adolescentes é a educação, a começar pelas

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51 creches, escolas infantis e de educação essencial e de nível médio, que devem

valorizar o desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música,a arte, o

esporte e prática da solidariedade humana, principio fundamental para o

crescimento intelectual do ser humano.

Sabe-se que a construção da paz e a prevenção da violência dependem

de como provemos o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e

cognitivo das crianças e adolescentes, dentro do contexto familiar e

comunitário. Trata-se, portanto, de uma ação envolvendo todos os segmentos

sociais, e que esta ação seja realizada de maneira integrada, inteligente e

responsável.

Com a participação das famílias, mesmo que estas estejam incompletas

ou desestruturadas. Com participação do Estado e da sociedade Civil,

envolvendo escolas, igreja, enfim.

O sistema vigente garante ao adolescente autor do ato infracional

diversas medidas capazes de assegurar sua ressocialização. O que esta em

jogo é assegurar a boa qualidade na execução dessas medidas. Afinal de

contas, o sistema jurídico direcionado aos jovens deve sempre visar efeitos

pedagógicos e garantir que eles a tornem a delinqüir, não fazendo sentido a

simples punição pela punição. Desta forma, se a análise for feita no sentido de

se saber o que o legislador objetiva com a mudança da lei, chega-se a

conclusão de nada adiantará reduzir a idade de imputação para dezesseis

anos ou qualquer idade.

Entendo que a proposta de redução da maioridade penal apresenta-se

eivadas de inconstitucionalidade, tanto para afrontar os princípios e

racionalidades constitucionais, como também violar cláusulas pétreas

consagrada pela Constituição Federal, regra do Art. 228, que o Estado

Brasileiro se comprometeu a cumprir por ocasião da Convenção dos Direitos

das Crianças ratificada pelo Brasil em 1990.

Com base nesse entendimento, acredito que a redução do índice de

delinqüência da massa juvenil somente será alcançada mediante concretização

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52 de uma efetiva justiça social, com melhor distribuição de renda, respeito aos

direitos e garantias individuais, mediante a sintonia de todos os segmentos da

sociedade (família, sociedade, incluindo escola) e estado fortalecendo a idéia

daqueles que acreditam e apostam no potencial da nova geração, sem rótulos

ou estigmas, apenas jovens brasileiros.

Diante de todo o exposto, opino contra a redução da maioridade penal,

pelos motivos acima expostos.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de outubro de 1988 - 31. ed. - São Paulo: Saraiva, 2003.

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(promulgada em 5 de outubro de 1988), 3º volume, tomo I, Editora

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