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Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

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Autobiografia da primeira bahá'í a vir a residir no Brasil, em 1921. Organizada por Gabriel Marques: No início de 2002, quando estava prestes a iniciar o trabalho, chegou às minhas mãos a transcrição completa da autobiografia de Leonora Armstrong coletada pela sra. Ruth Pringle, por volta de 1971, intitulada The Spiritual Mother of Brazil. Este precioso documento, riquíssimo em informações sobre a infância, juventude, declaração, levantamento como pioneira para o Brasil e outros dados, é uma espécie de autobiografia, inicia mente gravada e, posteriormente, transcrita de seu ori- ginal em inglês. ...Permita Deus que este singelo trabalho possa ser de ajuda aos futuros pesquisadores e amigos bahá’ís em geral, despertando-lhes o interesse e inspirando-lhes a uma maior e mais aprofundada pesquisa sobre a vida, realizações e conquistas espirituais ganhas por Leonora Armstrong e com respeito à sua influência sobre nossa própria história e destino.

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LEONORA ARMSTRONGA MÃE ESPIRITUAL

DA AMÉRICA DO SUL E DO BRASIL

Memórias & Cartas

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LEONORA ARMSTRONGA MÃE ESPIRITUAL

DA AMÉRICA DO SUL E DO BRASIL

Memórias & CartasORGANIZADO POR

ANTONIO GABRIEL MARQUES FILHO

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Introdução

IVLeonora Armstrong Memórias & Cartas

! Copyright 2006Todos os direitos reservados em língua portuguesa:Editora Bahá’í do BrasilC.P. 19813800-970 - Mogi Mirim - SP

ISBN:

1ª Edição: 2006

Tradução dos textos em inglês: Bijan Ardjomand

Revisão: Maria Trude Alves

Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Foto da capa: Leonora (1921) à bordo do vapor Vassari, vindo para oBrasil.Leonora (1971) no jubileu do qüinqüagésimo aniversário da Fé Bahá’íno Brasil.

Impressão: Prisma Gráfica e Editora Ltda, Campinas, SP, Brasil.

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Introdução

VLeonora Armstrong Memórias & Cartas

Agradecimentos

gradeço à Abençoada Beleza,Bahá’u’lláh, pelo privilégio de haverconhecido ainda em vida a sra. Leonora

Armstrong, a mãe espiritual dos bahá’ís da Américado Sul e, em especial, do Brasil;

Agradeço à minha querida esposa Heather efilhos Olive Gabriela e Victor pelo apoio incondicional,sugestões e pelo incansável, constante e sempreamoroso apoio;

Agradeço também ao Departamento de Pesquisada Casa de Justiça por facilitar o acesso ascorrespondências entre Leonora e o amado Guardião;

Agradeço à Assembléia Espiritual Nacional dosBahá’ís do Brasil pelo acesso ao acervo da sra.Armstrong e ao Departamento de Arquivos daAssembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís dosEstados Unidos da América por disponibilizar cópiasde documentos essenciais;

Agradeço aos amigos Rolf von Czékus peloencorajamento, facilitação de documentos e apoioconstante; ao casal Maralynn e Hooper Dunbar pelasacuradas observações sobre o texto final do livro; aosamigos Michael Jester e Luis Henrique Beust poralgumas das traduções; ao querido Keyvan Bueno

A

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Prefácio

VILeonora Armstrong Memórias & Cartas

Nikobin pelo amplo trabalho de formatação, idéias epublicação, pelo tempo e companheirismo nesseempreendimento; aos srs. Rodrigo Tomas, PeterMcLaren, Donald Witzel por algumas das fotografias,gravações e anotações pessoais;

Agradeço aos muitos amigos que ao longo dosanos encaminharam fotos, recordações pessoais, cartase outros documentos que agora formam um razoávelacervo sobre a história da Causa no Brasil e parte dosarquivos nacionais;

E agradeço ainda ao sr. Farhad Chahnazi, pela ge-nerosa contribuição em memória de sua mãe e pioneirano Brasil, sra. Mahin Chahnazi (1934-2004), tornan-do possível a publicação da presente edição em portu-guês.

Gabriel Marques

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Prefácio

VIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

Sumário

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

1. INFÂNCIA

2. JUVENTUDE

3. OS PRIMEIROS CONTATOS DE MARTHA ROOT COM OBRASIL

4. PIONEIRISMO

5. EMBARCANDO PARA UMA NOVA VIDA NO BRASIL

6. O PRIMEIRO DIA EM UM NOVO MUNDO

7. INICIAM-SE OS CONTATOS COM O GUARDIÃO

8. VOLTA AOS ESTADOS UNIDOS

9. A VOLTA AO BRASIL – 1923

10. A VIDA NA BAHIA

11. LANÇANDO AS SEMENTES

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xix

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63

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Prefácio

VIIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

12. A VOZ DA BAHIA POR JUSTIÇA EM RELAÇÃO À CASA DE

BAHA’U’LLAH EM BAGDÁ

13. DIFICULDADES NO CAMINHO

14. UMA SEGUNDA VISITA AOS ESTADOS UNIDOS

15. A VIAGEM DE VOLTA AO BRASIL

16. O NOIVADO DE LEONORA É DESFEITO

17. EM BUSCA DE NOVOS CAMPOS DE SERVIÇO

18. “MUITO BEM-VINDA!” – A PEREGRINAÇÃO

19. REVESES NOS ESFORÇOS DE TRADUÇÃO PARA OESPANHOL

20. UMA NOVA BREVE VISITA AOS ESTADOS UNIDOS –1933

21. ESTREITA AMIZADE COM MAY MAXWELL

22. UMA INCLINAÇÃO ESPECIAL PARA O SERVIÇO SOCIAL

23. INSTRUTORES-VIAJANTES ESPECIAIS CHEGAM PARA

AJUDAR

24. A TRADUÇÃO DO LIVRO DA CERTEZA PARA OESPANHOL

25. COMO LEONORA CONHECE SEU FUTURO MARIDO

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Prefácio

IXLeonora Armstrong Memórias & Cartas

26. A VIAGEM DE MAY MAXWELL À BUENOS AIRES EM

1940

27. A PRIMEIRA ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL LOCAL DO

BRASIL

28. PERSISTINDO EM MEIO A UMA INÓSPITA ATMOSFERA

POLÍTICA

29. O CASAMENTO DE LEONORA

30. A FORMAÇÃO DA ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL LOCAL DO

RIO DE JANEIRO

31. A FORMAÇÃO DA ASSEMBLÉIA ESPIRITUAL LOCAL DE

SÃO PAULO E UMA ONDA DE CRESCIMENTO DA

CAUSA

32. O CONTÍNUO TRABALHO DE EXPANSÃO DA CAUSA

33. TRADUÇÕES PARA O BRAILLE

34. A CRUZADA DE DEZ ANOS – 1953/1963

35. A COMPRA DO TERRENO DO FUTURO TEMPLO

BAHÁ’Í DO BRASIL

36. A FORMAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NO BRASIL

37. A PRIMEIRA CONVENÇÃO NACIONAL BAHÁ’Í DO

BRASIL

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Prefácio

XLeonora Armstrong Memórias & Cartas

38. A ALEGRIA SUCEDE A TRISTEZA

39. CRESCE O NÚMERO DAS TRADUÇÕES E PUBLICAÇÕES

EM PORTUGUÊS

40. NUTRINDO LAÇOS ESPIRITUAIS DURADOUROS

41. TRIBUTO DE LEONORA À MARTHA ROOT, EM 1969

42. JUBILEU DO QÜINQUAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA CAUSA

NO BRASIL

43. UMA EXPERIÊNCIA EXTRAORDINÁRIA

44. SERVINDO COMO CONSELHEIRA CONTINENTAL

45. OS ANOS FINAIS

APÊNDICE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS FOTOGRÁFICAS

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368

372

378

384

388

393

402

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415

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Prefácio

XILeonora Armstrong Memórias & Cartas

Prefácio

Com os corações incandescentes pelo fogo do amor deDeus e os espíritos refrescados pelo alimento do espíritocelestial, deveis seguir adiante como os discípulosfizeram há dezenove séculos, vivificando os corações doshomens com o chamado de boas-novas, com a luz deDeus em vossas faces, afastados de tudo salvo de Deus.Portanto, dirigi vossas vidas de acordo com o primeiroprincípio do ensinamento divino, que é o amor. Servir àhumanidade é servir a Deus. Deixai que o amor e aluz do Reino se irradiem através de vós de modo quetodo aquele que vos olhar seja iluminado pelo seureflexo.

‘Abdu’l-Bahá1

eonora Holsapple Armstrong, uma dasgrandes e pouco conhecidas heroínas

do mundo bahá’í, fez parte de umgrupo de almas valorosas que selevantaram para o serviço

internacional em resposta ao Chamado de ‘Abdu’l-Bahá, realizado ainda no decurso de Sua própria vida.Ela foi a primeira seguidora desta nova Revelação aabandonar seu lar a fim de estabelecer residência naAmérica do Sul, um mundo meio distante.

L

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Prefácio

XIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

Por ocasião da divulgação das Epístolas do PlanoDivino, era ela uma brilhante jovem graduada emuniversidade, já há alguns anos no exercício de suatraçada carreira. Do ponto de vista da família e daspessoas de suas relações, compreensivelmente, masrefletindo só o aspecto material, erradicar-se e partirsozinha para um continente estranho deve ter parecidoabsoluta loucura.

Em 1921, quando a jovem Leonora partiu parao Brasil, a América do Sul era, de muitas maneiras, maisdistante do seu lar em Nova Iorque do que alguémfacilmente possa imaginar hoje em dia. Eram necessáriaspelo menos duas semanas para viajar tal distância. Nãohavia serviço telefônico para assegurar a possibilidadede poder estar em contato íntimo com a família, e nemmesmo havia sequer comunicação telegráfica direta.Jovens mulheres bem-educadas, especialmente quandosolteiras, eram esperadas que permanecessem perto decasa e não saíssem desacompanhadas em meio aestranhos. Não havia certeza de emprego a sua espera, esuas parcas economias, após o custeio da passagem,seriam suficientes apenas para cobrir duas ou trêssemanas de despesas. Outro desafio assustador era o fatode que, ainda que Leonora já soubesse diversas línguas,não se encontravam entre elas aquelas comumente faladasna América do Sul.

Provavelmente a maior de todas as barreiras, noentanto, provinha não de fatores do mundo externo, massim da personalidade de Leonora. Longe de ter umanatureza aventureira, durante toda sua vida, ela foidolorosamente tímida e excessivamente desprovida deautoconfiança. Leonora, no entanto, era impelida por

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Prefácio

XIIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

um amor que sobrepujou todas as suas inclinaçõespessoais, assim como a desaprovação de amigos efamília. Este maravilhoso relato provê um vislumbreda origem desta ardente devoção, de seufuncionamento interior e de seu inimaginável gloriosoresultado, tanto neste mundo como no mundo dovindouro.

O primeiro a apoiar seus tênues esforços foi opróprio Mestre. Em Epístolas enviadas ao Brasil, Ele aconclamou a tornar-se “uma médica espiritual” e fazeruso da “Panacéia Divina” para curar os males daqueles“afligidos pela paixão e ego”. Mais tarde, durante aspróximas três décadas, até o seu falecimento, ShoghiEffendi veio a prover constante encorajamento,amorosa apreciação e inestimável orientação através desuas cartas. Repetidamente ele louvou seus “magníficose pródigos esforços”, seus “incansáveis e meritóriosserviços”, seu heroísmo, diligência e devoção, sualealdade, sua constância e firmeza. “Não podeperceber”, escreveu assegurando-a, “o esplendor esignificado do trabalho que está realizandopresentemente”. Escreveu ainda, que seus serviçosiriam inspirar a muitos no futuro, dariam umaabundante colheita, assegurariam ao seu nome umlugar de honra nos anais da Causa de Deus – e que otempo seguramente viria quando todo o Brasilalegremente responderá e universalmente reconheceráo chamado da Abençoada Beleza. Tendo em vista essapromessa, seu coração deve ter verdadeiramenteexultado ao observar, do mundo do além, o tributoprestado a Bahá’u’lláh numa sessão comemorativaespecial do Congresso Nacional do Brasil em 1992,

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Prefácio

XIVLeonora Armstrong Memórias & Cartas

assinalando o centenário de Seu falecimento – um eventoque certamente constitui um passo extremamente dignode nota na realização daquele reconhecimento universal.

Há tanto que hoje podemos aprender do relato davida de Leonora. Alguns pensamentos que assomam àmente são:

• Não existe substituto ao serviço que o crenteindividual provê – é somente através da boavontade do indivíduo que se levanta e age, emharmonia com a orientação atual do centro daCausa, que a confirmação divina e a cura finaldas nações fluem.

• Perseverança constante no serviço, apoiada pororação, finalmente produz resultadosesplêndidos. A falta de resultados visíveis noinício, ao iniciar um empreendimento importantee amplo, não deve produzir desalento. Osestágios iniciais de crescimento quase sempreocorrem sem que os notemos, como ocorrequando uma semente germina.

• Um aspecto de perseverança pode ser aimprovisação, da qual há muitos exemplos notexto: A fim de ser capaz de permanecer em seuposto, Leonora aceitou diversos tipos de serviços– dando aulas particulares de inglês, dirigindouma pequena escola, e até mesmo trabalhandocomo contadora para uma oficina e agência deautomóveis. Quando não tinha meios imediatosde reabastecer seu suprimento de panfletos

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Prefácio

XVLeonora Armstrong Memórias & Cartas

impressos para uso nas atividades de ensino, emlugar de simplesmente esperar frustrada pelachegada de novos materiais, usava umamáquina de escrever manual para fazermúltiplas cópias carbono de um texto adequadopara compartilhar com amigos. A grandetimidez da qual sofria freqüentemente, a deixavasem palavras próprias com que se dirigir àspessoas nas numerosas e amplas reuniõespúblicas que motivava e organizava ao cruzar aAmérica Latina – assim sendo, usou comorecurso memorizar e entrelaçar trechossubstanciais das Palavras de Bahá’u’lláh e‘Abdu’l-Bahá, e recitar estas em lugar de ter quedepender de seus próprios pensamentos!

• Os esforços de ensino de Leonora claramenteanimavam e fortaleciam o “triste e sobrecarregadocoração” de Shoghi Effendi (de acordo com suaspróprias palavras, no capítulo 19). Em outrostrechos da correspondência que mantiveram,ele diz que suas notícias encorajaram, inspirarame restauraram as forças de seu coração,estimularam suas esperanças, e renovaram seuvigor e força em serviço à Causa. É, certamente,igualmente verdadeiro hoje em dia, de acordocom o seu modelo, que um indivíduo, dotadodo desejo de alegrar e fortalecer o espíritodaqueles eleitos a servir no centro da Fé, nãopoderia fazer algo melhor do que se levantarcom devoção abnegada em vigoroso apoio aosplanos de ensino do momento atual.

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Prefácio

XVILeonora Armstrong Memórias & Cartas

• As cartas do amado Guardião, escritas através dosanos, poderiam constituir um manual em comooferecer apoio moral à outra alma. Ele a assegurada ajuda provinda do alto pelo Mestre,proporciona inesgotável encorajamento pessoal,eleva seu estado de ânimo com uma visão dofuturo, lembra a importância da tarefa, estimulaa que se mantenha em contato, a assegura doamor da Sagrada Família, promete que orará porela, e a urge – repetidas vezes através das décadas– a perseverar. O conselho que lhe dá, e a muitospioneiros em outras terras, é de “Persevere, sejafeliz e confiante” – três elementos que certamentecompreendem uma fórmula infalível para osucesso no serviço!

Este é o primeiro extenso esboço biográfico deLeonora Holsapple Armstrong a ser publicado etemos um débito especial de gratidão para comGabriel Marques por este muito bem-vindo esforço.Sabiamente, baseou seu trabalho em materiaisoriginais, em seus diários, entrevistas, e em suaspróprias notas e palestras. A surpreendentemultifacetada natureza de seus serviços foi fielmenteretratada. Além de realizar trabalho de ensino direto,na verdade abrindo diversos outros países na AméricaLatina à Causa, Leonora foi também verdadeiramenteinfatigável como tradutora e trabalhou assiduamentena publicação de literatura bahá’í tanto em portuguêscomo em espanhol, até mesmo aprendendo braille afim de ser capaz de fazer transcrições para os cegos.

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Prefácio

XVIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

Em seu sincero desejo de ajudar outros, semlevar em consideração seus interesses religiosos,tornou-se conhecida entre os pobres como umaenfermeira leiga. Realizou trabalho voluntário eminstituições provendo serviços sociais, proveuabrigo provisório a diversos refugiados de guerrae, em ocasiões diversas, fez lugar em seus limitadosaposentos para crianças ou mães solteirasnecessitando de ajuda temporária. Tão profundoera o seu amoroso comprometimento com osdestituídos que finalmente ao se casar, um tantotarde na vida, ela e seu esposo aceitaram de formapermanente em sua pequena família, três criançassem lar para criarem. Além de descrever asatividades e viagens de Leonora, este texto nos dáum vislumbre de algumas das dificuldades pessoaisque ela serenamente suportou no transcurso deseus sessenta anos de serviço exemplar – incluindoperíodos de grande solidão naqueles anos iniciais,com recursos tão parcos que era incapaz de atémesmo ter comida adequada (eu mesmo a ouvicontar as inúmeras vezes em que nos anos iniciaisde seus serviços tinha somente arroz e bananasainda não maduras como sustento). Além disso,também existiram os episódios pessoais de umcoração partido e severa doença.

As memoráveis palavras de Amatu’l-BaháRúhíyyih Khánum a respeito dos serviçosverdadeiramente notáveis desta sempre modestamulher, nos fazem sentir que faríamos bem emtomar cuidadosamente nota dos princípiosespirituais que podem ser discernidos nestas

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Prefácio

XVIIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

páginas. Ela escreveu: “O estudo de uma vida comoa de Leonora, uma vida de completa consagração aBahá’u’lláh e a Seus ensinamentos, uma vida detrabalho incessante que durou até umas poucas horasantes de seu falecimento com a idade de oitenta ecinto anos, uma vida em que nem ao menos ocorreua Leonora que ela estava se sacrificando – tal vida éum manual para cada geração bahá’í estudar eapresenta um desafio perene a todos aqueles quevenham a seguir seus passos.” 2

Ainda que não existam mais continentes inteirosesperando a chegada dos primeiros raios deiluminação divina, é certo que o trabalho iniciadopor Leonora e pelos outros pioneiros queinicialmente estabeleceram a Fé, está longe de haverterminado. A exortação do Mestre certamente aindase aplica: “Estes são dias assaz preciosos; aproveitaesta oportunidade e acende uma vela inextinguívelque perpetuamente esparja sua luz, iluminando omundo humano!” 3

Hooper C. Dunbar

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Prefácio

XIXLeonora Armstrong Memórias & Cartas

Introdução

ive o privilégio de conhecer a sra. LeonoraArmstrong por volta do ano de 1975,

na cidade de Belo Horizonte, Brasil.Eu havia recém me tornado um

bahá’i, quando numa das reuniões regulares dacomunidade fomos agraciados com a presençamarcante e iluminada da sra. Leonora. O corpo jáarqueado pelo tempo, cabelos prateados, mãosmarcadas e uma voz suave, doce e pausada cativavaintegralmente a atenção dos amigos presentes. Tiveainda, naquele tempo, a oportunidade de visitá-la, poruma ou duas vezes ao redor do ano de 1978, em suaprópria residência na cidade de Juiz de Fora, ao sul deMinas Gerais. Meu último, porém, mais prolongadocontato com esta personagem santa, foi nos meses finaisde sua vida, quando tive o privilégio e a graça de estarentre aqueles que lhe dispensaram certos cuidados.

Foi, entretanto, por volta do ano de 1998, apóster acesso a alguns pacotes de sua correspondênciapessoal, que me interessei por escrever, contando coma ajuda divina, uma pequena obra acerca de sua ricavida de serviços à Causa de Deus. Durante os anos quese seguiram li com interesse sua vasta correspondência,então disponível nos arquivos nacionais e em outrasfontes, numa tentativa de processar ao máximo as

T

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Introdução

XXLeonora Armstrong Memórias & Cartas

informações ou de adentrar o denso material existente,o que inclui cartas das Mãos da Causa de Deus e outrasdestacadas personalidades da história de nossa Fé.Sustentando-me nessa idéia, consegui entrevistar muitosamigos que tiveram o privilégio de conviver mais de pertocom ela, deles recebendo também, além dos relatos desuas lembranças de episódios e fatos, outros importantesdocumentos.

No início de 2002, quando estava prestes a iniciaro trabalho, chegou às minhas mãos a transcrição com-pleta da auto-biografia de Leonora Armstrong coletadapela sra. Ruth Pringle*, por volta de 1971, intitulada TheSpiritual Mother of Brazil. Este precioso documento,riquíssimo em informações sobre a infância, juventude,declaração, levantamento como pioneira para o Brasil eoutros dados, é uma espécie de auto-biografia, inicial-mente gravada e, posteriormente, transcrita de seu ori-ginal em inglês.

Coloquei de lado, então, o projeto original do livro.Agora, esse documento auto-biográfico produzido àpartir da citada entrevista concedida pela sra. Armstrong,com cerca de 50 laudas datilografadas, passou a ser acoluna vertebral do novo trabalho, estando aqui inclusoem sua integra. A essas memórias de Leonora foram,então, entrelaçadas de modo cronológico e seguindo osrelatos do documento auto-biográfico, extratos de suasmuitas correspondências com o amado Guardião ShoghiEffendi, assim como de suas cartas pessoais comdestacadas personalidades dentre os primeiros crentes,tais como suas amigas May Maxwell, Martha Root,Agnes Alexander e outros. De uma maneira geral estascartas servem como referências adicionais aos temas e

*Ruth Pringle (1920 – 2003)Esta “intrépida campeã”, comofoi chamada pela CasaUniversal de Justiça, declarou-se bahá’í em 1953 nos EstadosUnidos e logo depois sai comopioneira para Porto Rico,mudando-se anos depois paraHonduras, Guatemala, Nicará-gua, Panamá e finalmente CostaRica, onde veio a falecer. Emtodos estes países ajudou aformação de instituições bahá’ísnacionais e locais. Foi nomeadaMembro do Corpo Auxiliar em1963 e em 1980 foi nomeadaConselheira do CorpoContinental das Américas.

Incansável em seu trabalhode promover a Palavra deBahá’u’lláh, promoveu “intrepi-damente” os ensinamentosbahá’ís em especial aosmembros da raça negra, da qualera descendente e aos indígenasna América Central.

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Introdução

XXILeonora Armstrong Memórias & Cartas

episódios relatados, buscando-se ampliar acompreensão do contexto, das circunstâncias e domomento histórico dos acontecimentos, na medida emque se desenrolavam.

Minhas intervenções pessoais no presentetrabalho se limitam, portanto, à tentativa de costurar eintegrar os extratos das cartas e de outros documentosselecionados, ao corpo central da narrativa auto-biográfica preparada pela sra. Leonora Armstrong. Paramais fácil identificação do leitor, os textos originais dasra. Armstrong (sejam os de sua narrativa auto-biográfica, sejam de cartas por ela escritas são todosfacilmente identificados pelo texto, encontrando-se emfonte normal. Os extratos ou citações de outras fontes,tais como cartas de Shoghi Effendi e outras fontes estãotodas em itálico, além de referências indicativas da fontee, por fim, minhas próprias intervenções no corpo daobra encontram-se todos referenciados entre colchetes.A divisão do texto em capítulos e seus respectivos títulossão todos ilustrativos, não constando da narrativa auto-biográfica da sra. Armstrong. Considerando que aentrevista concedida pela sra. Armstrong à sra. Pringle– a qual resultou na narrativa auto-biográfica quecompõe o corpo central do presente trabalho – ocorreu,como citado, por volta de 1971, os capítulos 44 e 45,relativos ao período de 1971 até seu falecimento em1980, fogem ao padrão dos capítulos anteriores, tendoo organizador do presente trabalho assumido a tarefade fazer a introdução e eventual descrição dos eventose fatos deste período.

Permita Deus que este singelo trabalho possa serde ajuda aos futuros pesquisadores e amigos bahá’ís

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Introdução

XXIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

em geral, despertando-lhes o interesse e inspirando-lhesa uma maior e mais aprofundada pesquisa sobre a vida,realizações e conquistas espirituais ganhas por LeonoraArmstrong e com respeito à sua influência sobre nossaprópria história e destino.

Gabriel Marques

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Introdução

XXIIILeonora Armstrong Memórias & Cartas

LEONORA ARMSTRONGA MÃE ESPIRITUAL

DA AMÉRICA DO SUL E DO BRASIL

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1Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

1INFÂNCIA

A estória da minha vida deveria começar,creio eu, com minha avó materna –Leonora Georgiana Stirling – uma vez

que foi ela quem direcionou minha vida, pois foi minhamãe espiritual. Minha avó foi uma das primeiras bahá’ísda América do Norte, logo após a virada do séculoXIX para o século XX. Nascida e educada em Londres,membro devota da Igreja da Inglaterra – tanto que foicomo missionária anglicana para Clifton, condado deGalway, Irlanda, e lá, conheceu meu avô, MerrickMontague Stirling, jovem clérigo daquela igreja. Maistarde, imigrou para a América, onde tomou contatocom várias das incontáveis seitas que nasciam naquelaépoca no país. Embora devotada à sua igreja, minhaavó não aceitava cegamente todos os seus pontos devista, conservando mente aberta, já seguindo, destaforma, o princípio bahá’í que declara a investigaçãoindependente da verdade. Não se contentandomeramente com a literatura de várias seitas ou emfreqüentar suas reuniões, ela se afiliava a uma após aoutra, a fim de ver por si própria – em primeira mão, otrabalho interno, por assim dizer – e investigá-lasintegralmente, em sua ânsia por aquela que asatisfizesse completamente, encontrando em cada uma

Leonora Georgiana Stirling, aavó materna, com suas netas,Alethe e Leonora. Ela foi sua“mãe espiritual”.

Cap, 1, 2 e 3.pmd 7/5/2006, 18:451

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2Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

delas muita verdade, porém muitos dogmas que nãoconseguia aceitar. Assim, uma após outra, ela rejeitava-as. Após um mês como praticante da Ciência Cristã,por exemplo, tirou a placa de sua porta, pois nãoconseguia reconciliar-se com o lema: “sem dinheiro esem preço”. E, depois de um período considerável dedevotado serviço no Exército da Salvação, inclusivefundando em Boston o Lar para Moças Indisciplinadas,uma fundação para jovens sem lar, sem dinheiro oucomeçando a vida – ela destituiu-se de seu uniformede capitã, pois não podia mais pregar o fogo do inferno!

E assim continuou, até que aos 76 anos, quandoao visitar uma amiga no Brooklyn, minha avó ouviu,por acaso, a menção da Revelação Bahá’í – tal como aFé Bahá’í era conhecida naquela época – através deuma pessoa que aparentemente ia de casa em casa ven-dendo alguns artigos.

Durante os dois anos seguintes, minha avóperguntava a todo mundo que encontrava, se poderialhe dar alguma informação sobre a “Revelação Bahá’í”,até que, finalmente, descobriu que uma velha amiga emNova Iorque conhecia a Fé e poderia colocá-la em contatocom a sra. Isabella D. Brittingham, com a qual ela passoua se corresponder. Através das cartas da sra. Brittingham,minha avó recebeu os Ensinamentos que tanto ansiava.Muitas citações das Palavras de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá, ela copiava meticulosamente em cadernos deanotações, pois elas ainda não haviam sido impressas e,com freqüência, memorizava longos trechos para recitá-los em reuniões. Até que enfim, os longos anos de procuraforam recompensados – ela atingira sua meta, encontraraseu Bem-Amado!

Caderneta de anotaçõespertencente à avó de Leonora,onde ela anotava osensinamentos bahá’ís e outrosimportantes dados.

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3Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

Não fosse por esta vela que iluminavaseu caminho, este desejo ardenteimpelindo-a por encontrar a Verdade, nãosei como minha avó teria perseverado. Avida naqueles anos era muito difícil naAmérica. A educação obtida somenteatravés de governantas francesas – comoera o costume para as meninas na Inglaterranaquele tempo – era uma preparaçãoinadequada para se ganhar a vida, e assim,desde a morte de seu pai – tendo suamadrasta inescrupulosamente conseguidoapropriar-se de toda a considerável fortunada família – e também por ter ficado viúvamuito cedo, teve que arcar sozinha comtodas as dificuldades e a educação de sua

filha, Grace Heathcote Stirling, minha mãe.Tendo presenciado esta longa e difícil luta, minha

mãe, após quase dois anos no Smith College, nãoquerendo mais passar necessidades, começou atrabalhar como professora no Reformatório do Estadode Nova Iorque para Meninas, localizado em Hudson,onde minha avó era a tutora desde sua fundação. Foilá que minha mãe conheceu meu pai, Samuel NorrisHolsapple, tesoureiro do reformatório. Após ocasamento, eles foram morar em Hudson, em uma casamuito confortável de dois andares, cujo projeto era deminha mãe e construída por meu pai; eles a chamaramde “Chalé Celestial”, devido à sua localização em umaalta colina e à magnífica vista do rio Hudson nasmontanhas Catskill. Foi ali que nasci em 23 de junhode 1895.

Leonora com 2 semanas deidade.

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4Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

Quando minha irmã Alethe fez trêsanos e eu acabara de fazer cinco, nossa mãefaleceu. Minhas memórias sobre ela sãofragmentadas – pequenas coisas, as maistriviais, que se mantiveram em minhamemória, tais como: enrolar meu cabelo,fazendo cachos um a um em seus dedos;quando ela estava doente e eu ficava ao ladode sua cama; ou quando eu colocava minhasmãos geladas em suas têmporas, devido a

dor; ou quando eu olhava maravilhada para seu anelde noivado que ela girava em seu dedo em resposta aomeu pedido: “Faça-o brilhar, mamãe!”; ou quando elacuidava do pequeno canteiro de lírios-do-vale quetanto amava, sob a janela da sala; ou suas pétalas derosa secando em um pequeno e belo jarro chinês...Detalhes dos últimos dias de sua doença, no entanto, ede sua morte, ficaram indelevelmente gravados emminha memória. Posso, até hoje, sentir a escura nuvemameaçadora pairando sobre nós, enquanto nosso painos levava para o campo ou para a praia, sem, contudo,fazer nenhum efeito – a saúde de minha mãe pioravairrevogavelmente. Veio o dia, então, em que minhairmãzinha e eu fomos chamadas para dar o último beijoem nossa mãe. Anos mais tarde, achei em um pequenocaderno de anotações da minha avó sobre o relatodetalhado das últimas horas de minha mãe, contandocomo ela “renovara seu convênio com Deus”. Naquelaépoca, minha avó ainda não era bahá’í, pois ela ouviriafalar sobre a Fé somente anos depois.

Ainda posso ouvir os passos de meu pai andandode um lado para outro na ante-sala, durante toda aquela

Leonora e sua mãe, Grace H.Stirling.

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5Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

longa noite, e lembrar o dia seguinte quando fomoschamadas para colocar uma rosa em seu peito dentrodo caixão, naquela sala com tantas flores e um pombobranco empalhado que alguém levara e pendurara emuma das paredes. E, então, o terrível momento que éinsuportável recordar – o sentimento de perdairreparável, o vazio absoluto, a desolação indizívelenquanto olhava o caixão descendo ao túmulo.

Dizem que minha mãe foi a mais linda e maisculta mulher de nossa pequena cidade de mil e duzentoshabitantes. Ela fundou o clube de mulheres, e era umdos membros do conselho de educação; também, eraartista e escritora. Desta fase, tenho apenas alguns deseus poemas escritos de seu próprio punho, em umcaderno que achei em meio aos seus pertences, sendoalguns deles sobre mim. Sua morte foi de fato umatragédia para todos nós, especialmente o efeito em meupai, que ficou completamente desorientado. Nuncamais tivemos o queverdadeiramente pode-se chamar de lar.Nossas duas avóstentaram nos ajudar,cada uma ficandoconosco por algumtempo, mas nãopuderam dar continui-dade nesta troca deturnos. Como supor-tamos, durante aquelesanos de nossa infânciae adolescência, tama-

Leonora, seu pai, Samuel N.Holsapple e sua irmã, Alethe.

Grace H. Stirling

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6Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

*Maple-bordo: árvore da famíliadas aceráceas, de onde se extrai umxarope bem adocicado. n.t.

nha solidão, tamanho sofrimento, até mesmo algumascrueldades, eu não sei. Até acidentes houve, como emuma noite do Quatro de Julho em que nosso pai noslevou para um chalé em um lago e embriagado,direcionou o rojão para o chalé em vez do céu, e mequeimou, esfolando minha testa, por um triz não pegouum de meus olhos. Aconteceram coisas das quaisescapamos por um triz de sermos feridas seriamenteou mortas naquelas viagens com nosso pai, pois seumodo de dirigir era muito negligente. Primeiro foi comos cavalos que ficavam nervosos com os automóveis e,mais tarde, com os próprios automóveis. Nossas vidasparecem ter sido preservadas para algum propósito!Posso me lembrar quando ainda bem criança, comfreqüência à noite, antes de ir me deitar, ajoelhava-medo lado da cama de minha irmãzinha e, aflita, imploravaa Deus, com toda a intensidade do meu ser, que nosdeixasse sentir Sua presença, Sua proximidade, Suaproteção. Jamais poderia imaginar de que forma e quãoespecificamente aquelas orações iriam, mais tarde, seremrespondidas!

Meu consolo era através das belas coisas danatureza: a vista das montanhas e do rio; a nossa casa,principalmente ao pôr-do-sol; e a maravilhosafolhagem outonal dos bordos* que se alinhavam emnossa rua (avenida Rossman) até o cume da colina.Também, amava as flores silvestres, colhendo-as nosbosques e campos, estudando-as com a ajuda de um livrosobre botânica que pertencera a minha mãe, algumasvezes pintando-as, assim como, as paisagens. Amava ospássaros e com freqüência saia cautelosamente de casaao nascer do dia para observá-los e tentar identificá-los.

Alethe à esquerda e Leonora àdireita.

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7Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

Havia, também, o sítio deuma prima de meu pai quemorava à cerca de quinzequilômetros no interior, ondeminha irmã e eu ainda crianças,íamos sozinhas durante asférias, muitas vezes andandopor quase todo o caminho. Aprima Belle era meio rude, mastinha um coração bondoso.Gostávamos de ficar olhando a ordenha da vaca e anossa prima fazer manteiga, ou ajudar a recolher ofeno; e não me esqueço do delicioso pomar de maçãsque havia lá.

Outro dos poucos prazeres de que posso lembrarde nossa infância, eram as ocasionais visitas quefazíamos a uma querida amiga da mamãe, a quemchamávamos de tia – “tia Fanny” – que vivia em umagrande casa em Nova Iorque.

Costumávamos pegar o barco diurno do rioHudson, às vezes até mesmo o barco noturno, esozinhas, saíamos à procura da casa da tia Fanny. Elatinha muito apreço por nós, ficando sempre feliz emnos ver, e leváva-nos a fazer turismo – uma vez, levou-nos ao teatro. Lembro-me das horas que passávamosfascinadas no Museu Metropolitano de Arte e,especialmente, no Museu de História Natural. Um dospontos altos dessas viagens para Nova Iorque era irmosvisitar Roy Wilhelm* em seu escritório na Wall Street.Ele amava muito “mamãe Stirling”, como ele chamavaminha avó, e com freqüência, convidava-nos paraalmoçar em um restaurante – o que para nós era o maior

A querida “tia Fanny”.

*Roy C. Wilhelm (1875-1951).Foi um proeminente bahá´íamericano do tempo de ‘Abdu’l-Bahá e que postumamente foiapontado por Shoghi Effendicomo Mão da Causa de Deus.Shoghi Effendi escreveu sobreele: “Coração repleto de tristezapela perda do grandementedistingui-do, muitissimo amado,altamente admirado arauto doConvênio de Bahá’u’lláh, RoyWilhelm. Sua carreira destacadaenriqueceu os anais e os anosHeróicos, assim como osprimeiros anos da IdadeFormativa da Fé. Qualidadesgenuínas ampliaram admiração deseu amado Mestre, ‘Abdu’l-Bahá.Sua santidade, fé indomável,destacados ser viços locais,nacionais e internacional, suadevoção exemplar, o qualifica ajuntar-se ao grupo de Mãos daCausa, assegurando-o recompen-sas eternas no Reino de Abhá...”(Ver: Shoghi Effendi, Citadel ofFaith, p. 170. Ver também: O.Z.Whitehead. Some Early Bahá’ís ofthe West, pp.87-99 e Barron Harper.Lights of Fortitude, pp. 129-141).

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Capítulo 1Infância

deleite. Lembro-me de umas férias de verão – devíamosestar com pouco mais de dez anos – quando tia Fannyconseguiu que trabalhássemos em um acampamentode férias no campo, para onde ela enviava grupos de25 crianças das favelas de Nova Iorque, através daCharity Organization Society (Sociedade deOrganização Caritativa), na qual ela trabalhou durantealguns anos. A tarefa de nós duas era levar essas criançaspara longos passeios, brincar de vários jogos com elas,mantendo-as entretidas desde cedo até o anoitecer –não eram exatamente férias de descanso para nós,embora acho que nós as apreciávamos muito.

Minha válvula de escape durante o ano, noentanto, era a leitura e o estudo, e sem dúvida, durantetodos os meus anos escolares foi por esta razão queera a primeira ou ficava entre as primeiras, emborafosse a mais nova da classe. Graduei-me no ginásiocom as mais altas honras, tendo sido a oradora deminha classe e, na Universidade Cornell, fui eleita PhiBeta Kappa* no primeiro ano.

Parece, contudo, que fui de alguma formaprecoce quando criança – estas estórias tremulam emminha mente, provavelmente exageradas, como a denosso médico de família que foi chamado uma vezpor causa do alarme ao encontrarem-melendo as letrasde meu jogo de cubos – aos dois anos de idade! Meupai manteve sua promessa dada a minha mãe de queminha irmã e eu receberíamos uma educaçãouniversitária; entretanto, a bolsa escolar estadual querecebi tornou desnecessário o pagamento dos quatroanos de meus estudos na Universidade Cornell.Nenhuma dessas honrarias, devo dizer, teve qualquer

*Instituição norte-americana quecongrega estudantes detentores degrande distinção acadêmica. n.t.

Fay A. Newland, amiga de Leo-nora na Universidade Cornell.Esta amizade perdurou até o fa-lecimento de Fay em 1978.

Museu de História Natural deNova Iorque, um dos lugaresfavoritos de Leonora, e que‘Abdu’l-Bahá visita em 1912.

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9Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

efeito no sentido de me ajudar a superar minha absolutafalta de auto-confiança, a qual se devia, suponho, atantas experiências infelizes da minha infância.

Leonora em sua casa em Hudson.

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Capítulo 1Infância

POEMAS1

Encontrei estes pequenos poemas compostos por minhamãe, de seu próprio punho, em um caderno de notas. O primeirofoi escrito logo antes de meu nascimento e os outros três,obviamente, referem-se a mim, Leonora.

PRIMAVERA

IAs folhas que brotam sussurramA doce mensagem de antanho,

As brisas que sopram murmuram:“Meu amor por ti é tamanho

Que nem cabe em teu coração.”

IIJá é primavera e já noto

Que tudo desperta prá ouvirAs aves e o canto remotoDas matas, e posso sentir

A sorrir meu peito devoto.

2 de abril de 1895

t

u

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Capítulo 1Infância

FÉI

Um pássaro cantou neste ar vernalAlçando belo vôo no ar gentil:

Entre fragrantes, belas florações,Na luz plena de viço, em céu anil.

IIEnquanto isso, lá no alto, em meio aos picos,

A grande águia circula junto ao céu;Encara a ventania da montanha,

E, corajosa, enfrenta o vento incréu.

IIIAssim é a fé nascida em nossa infância:Como o cantar do pássaro em louvorÀs flores que desdobram suas belezas

Recebendo do orvalho seu vigor.

IVMas quem dirá que isto é mais desejávelDo que a fé que é nascida em dor sinceraQue supera a descrença e, como a águia,

Enfrenta, ilesa, o mal que vocifera.7 de julho de 1899

Conheço uma garotinhaNós a chamamos “Bombonzinho”Ela corre pelo campo, em meio ao

pastoAlto, alto, alto!

Juntando margaridasTodas, todas, todas!

Esta garotinha miúdaCujas flores nunca murcham.

8 de julho de 1899

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12Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

MAMÃEZINHA

Olhos castanhos, pequeninos,Sábios e doces (dançarinos!)Voltam-se em minha direção.(De incomparável graça, são!)

Uma boneca velha abraça,Com todo jeito e toda graça,

Ela a protege com amorDo que lhe pode causar dor...

E gentilmente pronuncia:Papai! Não seja barulhento!Será que não vê como tento

Pôr p’ra dormir minha boneca,Tão cansadinha e tão sapeca!

30 de junho de 1899

SONETO AO HUDSON

Belo Hudson! Que vens de colinas distantesEm meio aos verdes vales, como um fio de prata.

Assim como criança, em suas dores infantes,Busca na mãe consolo da dor que maltrata,

Igualmente, tuas águas cheias de colinasSe apressam para os braços de quem te gerou,

Bem sabes que nasceste das águas salinas,Pois foi delas que o sol, meu pai, te arrebatou,E então te acalentou em um berço de nuvens

Oh! Quando ‘inda eras muito jovem prá correr!Choveste, então, criança, sempre a te entreter,

Saltitante em cascatas, na tua juventude,Para encheres, maduro, os vales abundantes,E repousar, em paz, entre praias distantes.

Ghrnt – 25 de julho de 1899tCap, 1, 2 e 3.pmd 7/5/2006, 18:4612

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13Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

ABRIL

IQuando setembro mostra a face alegre

Mesmo que andasse muito tristeMeu coração se anima novamente e

Da tristeza desiste

IIO carvalho gigante se assoberba

Com folhas bicolores novasNo meu peito a esperança também brota

Disposta a enfrentar todas provas.

IIINa manhã que desponta, os passarinhos

Celebram a alvorada boa.Seu canto imaculado me demonstra

Que a vida não foi feita à toa.

IVAté mesmo as pequenas nuvens, no alto,

Sorriem ao passar serenas.Como não haveria eu, então,

De esquecer todas minhas penas?

VO sol rebrilha, alto e caloroso,Nos campos e florestas mil...E a natureza coça sonolenta,Os olhos que recém abriu...

VIEntão as flores brotam animadasE emprestam seu perfume doceÀ terra iluminada. E minha almaBendiz que tal perfume trouxe.

u

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Capítulo 1Infância

Sobre Uma Guirlanda de Primavera

IUma guirlanda de primaveraAdorna a fronte de Leonora:

Bem mais linda é sua face sinceraDo que as flores em minha pastora.

IIOh, mamãe, adorei! Adorei!

E já me abraça forte, com festa!A menina mais doce(bem sei!),Com a coroa de flores na testa.

IIIRadiante e sorridente, ela sai,

Aos quatro aninhos – cheia de graça.(Sua primeira grinalda!) E lá vai

Pela infância, onde o tempo não passa...

UM “RONDOLET”

Na antiga ArcádiaCaminhei ao nascer do dia;

Na antiga ArcádiaOuvia sons por onde ia,

Pois Pan tocava co’ alegria:Ninfas e faunos distraía...

Da antiga Arcádia,Oh! Nada resta mais agora!

Da antiga Arcádia,Toda beleza foi embora;

E a noite que nasce da auroraLiberta a alma que tanto chora.t

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15Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 1Infância

esde o tempo em que minha irmã e euficamos crescidas o suficienteparasairmos sozinhas, sempre participá-

vamos regularmente da Escola Dominical Episcopal,embora entre seus membros não encontrássemos nadado calor e cordialidade que almejávamos. Até mesmonosso tio, o irmão mais velho de meu pai, sua esposa efilhos, nossos primos, nós os víamos dirigirem-se aocompartimento privado da igreja, todos os domingosde manhã, sem sequer dirigirem um olhar em nossadireção, e ficávamos sentadas humildemente em um dosúltimos compartimentos, aqueles reservados para opúblico em geral. Eu achava que quando fosseconfirmada e começasse a observar a comunhão,certamente, passaria a ser tratada como um membroda família eclesial. No entanto, ao chegar o dia da minhaprimeira comunhão, apesar de me encontrar em umestado de grande emoção, pensando apenas em suatremenda importância, fiquei um tanto desiludidaquando um dos “pilares da igreja”, uma senhora deidade avançada que conhecera minha mãe, aproximou-se de mim e confiante de que ela iria me dizer algumaspalavras amorosas de apoio espiritual, disse-me que,enquanto subia para o altar, de que deveria me lembrar

Juventude2

D

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Capítulo 2Juventude

de não colocar as mãos nas grades metálicas, pois eramdifíceis de polir, conforme iria aprender como ela, casoalgum dia viesse a me tornar membro da sociedade doaltar! Caí “do sublime para o ridículo” e sempre melembro disso, desta simbólica situação. No decorrerdo ano em que comunguei regularmente, não senticrescer a amabilidade deles e como, por essa época,estava começando a estudar os ensinamentos bahá’ís ea perceber que tudo isso pertencia a uma Dispensaçãodo passado, abandonei aquela igreja.

PRIMEIRO CONTATO COM A FÉ BAHÁ’Í

O que me lembro foi, quando tinha treze ouquatorze anos de idade, de que minha avó tendoabraçado a Fé Bahá’í, começou a explicá-la para mime a dar-me livros para ler, tais como The Oriental Rose,de Mary Hanford Ford, que talvez foi o que mais meimpressionou e, também, acho que um de ThorntonChase e outro de Mason Remey. Logo, minha irmã eeu começamos a memorizar algumas Palavras Ocultase orações bahá’ís, e minha avó tocava canções bahá’ísno nosso piano ou em seu pequeno órgão, e ensinou-nos a cantá-las. Lembro-me de seu empenho em “dara Mensagem” em qualquer ocasião, a todos aquelesque conhecia ou encontrava, ensinando aos ministrosde todas as igrejas, e aos brancos e negros de nossacidade. A primeira reunião bahá’í da qual me lembroter participado foi em uma casa bem humilde de duassenhoras lavadeiras negras de terceira idade que haviam

Artigo do jornal local de Hudsonanunciando a vinda de ‘Abdu’l-Bahá para aquela cidade em1912.

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Capítulo 2Juventude

aceitado a Fé. Minha avó dedicava também muito tempoa escrever longas cartas sobre a Fé a todas as pessoasque conhecia, creio eu. Embora ela estivesse em uma

idade bem acima da qualtemos o dever de observar ojejum bahá’í, ela tinhagrande prazer em assim fazê-lo. Quando ‘Abdu’l-Bahá foià América, a alegria de minhaavó não teve limites. Elaassistiu às reuniões públicasna cidade de Nova Iorque etambém teve encontrosparticulares com ‘Abdu’l-Bahá, em um dos quais Elecolocou uma grande rosabranca na lapela de seucasaco. Ela tinha esperançade que naquele verão‘Abdu’l-Bahá pudesse vir aHudson, onde ela estavafazendo todo esforço paraprogramar reuniões, e estaesperança consolou-metambém quando me deiconta da impossibilidade deviajar de Ithaca a NovaIorque para vê-Lo. No

entanto, para nosso grande desapontamento, estaexpectativa nunca se realizou.‘Abdu’l-Bahá em Nova Iorque,

em 1912 - ano em que a avó deLeonora O conheceu.

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Capítulo 2Juventude

[Mensagem de ‘Abdu’l-Bahá enviada para a avó deLeonora, através dos cuidados da sra. Brittingham:]

“À sra. B., outubro de 1909‘Akká, Síria

Transmita minhas saudações à sra. Stirling e diga-lhe quelembro-me dela e penso nela – que esteja certa disso.

“O texto abaixo foi escrito por minha avó, Leonora G.Stirling, uma das primeiras norte-americanas a aceitar e selevantar para difundir a Fé Bahá’í. Leonora.”1

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19Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 2Juventude

[Carta da sra. Isabela D. Brittingham à avó deLeonora:]

Domingo, 13 de maio de 1912

Amada irmã,

Acabo de retornar de um precioso encontro pessoal com

nosso Pai, ‘Abdu’l-Bahá. Eu teria confiado sua carta a um

tradutor se houvesse uma ou duas mais. Eu não tinha o seu

pedido... nem o deles, – uma ação combinada - para entregá-

los pessoalmente e fazer uma ou duas perguntas especiais durante

a entrevista. ‘Abdu’l-Bahá está tão cansado que me pareceu

desagradável qualquer intromissão da minha parte. Mas eu

fui, com minhas mãos e meu coração entregues pelos demais.

Suas primeiras dulcíssimas palavras, após Suas preciosas boas-

vindas, foram que Ele estava ansioso pela minha chegada – e

esta observação transformou a reunião propriamente em

verdadeiro céu!

Eu estive “aqui” mais uma vez. Louvado seja nosso Deus

Misericordioso!

A meu pedido, Ele leu sua carta, e lhe mandou Seu

amor, cumprimentos e saudações. Disse que agora não havia

oportunidade para Ele ir a Hudson. Ele gostaria de tê-la visto

aqui para ver os corações com fragrância, amor, ternura e…

A serviço de Seu amor… sua…

I. D. Brittingham2

Sra. Isabela D. Brittingham (1852-1924). Uma das primeiras bahá’ísdos Estados Unidos. Autora de ARevelação de Bahá’u’lláh NumaSequência de Quatro Lições, quefoi primeiramente publicado em1902 pela Bahá’ï PublishingSociety em Chicago, com pelomenos nove edições posteriores.Ela foi em peregrinação em 1901logo após a renovação dasrestrições impostas sobre ‘Abdu’l-Bahá e novamente em 1909. Viajouatravés dos Estados Unidos,ensinando constantemente eenviando cartas dos novos crentespara ‘Abdu’l-Bahá. Foi nomeadacomo Discipula de ‘Abdu’l-Bahápor Shoghi Ef fendi. Ver:Whitehead, Some Early Bahá’ís, pp.131-8.

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Capítulo 2Juventude

[Espelhando-se no exemplo de sua querida avó,Leonora buscava não apenas oportunidades paracompartilhar a mensagem da Nova Revelação, masestudar e melhor compreender seus ensinamentos.]

Constantemente eu procurava seguir o exemplode minha avó em difundir a Mensagem Bahá’í, falandoa respeito às minhas colegas de classe e outras amigas,inicialmente na escola secundária e depois nauniversidade, realmente, a qualquer um queencontrasse em qualquer lugar, por mais rápido oucasual que fosse o contato. Recentemente, uma dessascolegas que me escreve regularmente – finalmente,após cinqüenta anos – aceitou a Fé e gostaria de seunir a mim servindo no Brasil!

Na universidade, fiz um curso completo sobre aBíblia com um famoso professor, pois sempre tiveinteresse em estudá-la e havia lido a Bíblia inteiraquando ainda criança, sem deixar ninguém saber. Estecurso, bem como um outro sobre religiões comparadas,ampliou minha visão, e me convenci mais e mais daverdade da Fé Bahá’í.

Durante cinco anos, depois de me graduar,ensinei latim na escola secundária e me dediquei aoserviço social, sendo este último por dois anos emBoston, onde tive a oportunidade de estar em contatocom vários bahá’ís, principalmente o casal Ober* –próxima dos quais vivi durante algum tempo,juntamente com minha avó, em um pequenoapartamento em Cambridge – e May Maxwell, quemfreqüentemente ia à Boston. May, mais do que qualquerpessoa, ajudou-me a sentir o amor de Bahá’u’lláh e

*Sra. Grace Robarts Ober e sr.Harlan Ober. Ambos foram dogrupo dos primeiros crentes dosEstados Unidos. Em 17 de julho de1912 ‘Abdu’l-Bahá presidiu acerimônia de casamento de GraceRobarts e Harlan Ober, os quaisestavam destinados a renderinapreciáveis serviços à Causa. Osr. Harlan Ober dedicou cerca desete meses de viagem na India eBirmânia, visitando Bombaim,Poona, Lahore, Calcutá, Rangoone Mandalay por volta do ano 1932.(ver: Shoghi Effendi, A Presença deDeus, p. 354). A morte da sra.Grace Robarts Ober ocorreu em1º de maio de 1938, durante aConvenção Anual dos Bahá’ís dosEstados Unidos e Canadá, logoapós sua palestra convocando ospioneiros a ganharem os objetivosdo primeiro Plano de Sete Anos.Harlan Ober veio a falecer emjulho de 1962 em seu posto depioneirismo em Pretória, Africa doSul. (ver: H. M. Balyuzi, ‘Abdu’l-Bahá – The Centre of the Covenant,p. 531).

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21Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 2Juventude

‘Abdu’l-Bahá – a realidade do amor que eualmejara sentir – e criou-se entre nós um profundolaço que foi a maior alegria que jamais conheci.Outro privilégio, cuja magnitude só pudeperceber anos depois, foi o contato com Mary, apequena filha de May Maxwell, que estavadestinada a se tornar Rúhíyyih Khánum. Quandoela era criança, muitas vezes a levei para passear,enquanto sua mãe estava doente e precisavarepousar. Havia outros a quem devo muito, taiscomo, Roy Wilhelm e o casal Kinney* pela

inspiração que recebi ao testemunhar seu grande amore suas sinceras devoções pela Fé.

May Maxwel e sua filha Mary, que mais tarde se tornaria a esposa doGuardião da Fá Bahá’í e se chamaria Rúhíyyih Khánum. Ambas foramgrandes amigas de Leonora por toda suas vidas.

*Proeminentes bahá’ís de NovaIorque. Sua casa em Nova Iorquefoi local de muitas palestras de‘Abdu’l-Bahá em 1912. Os doisreceberam nomes orientais de‘Abdu’l-Bahá: Carrie=Vaf fa(fidelidade) e Edward=Saffa(serenidade). Quando de seufalecimento, em 1950, ShoghiEffendi escreveu: “Tristeza nopassamento do ternamenteamado, altamente admirado,absolutamente fiel, firme,infatigável e abnegado pilar da Fé,Saffa Kinney. Seu espírito leonino,firmeza exemplar e notáveisserviços enriqueceram os anais doperíodo final da Idade Heróica ea fase inicial da Idade Formativada Dispensação Bahá’í. Belarecompensa assegurada no Reinode Abhá à sombra do Mestre aQuem ele tão ternamente amou,tão nobremente serviu e tãoheroicamente defendeu até oúltimo alento.” (Vide ShoghiEffendi, Citadel of Faith, p.166.).Vaffa falece em 1959.

A família Kinney e‘Abdu’l-Bahá em 1912

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22Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

Martha RootMaiores informações sobreMartha Root ver capítulo 41 des-te livro sobre tributo a ela escritopor Leonora.

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23Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

[Os primeiros contatos com pessoas no Brasil foramfeitos por Martha Root que, logo após a convençãoanual de 1919 em Nova Iorque – da qual Leonoratambém participou – partiu para a América do Sul e,após duas semanas de viagem, desembarcou na cidadede Belém, Norte do Brasil. Após breve parada nestacidade, onde aproveitou para visitas aos jornais locais,Martha Root viajou para Fortaleza, no Ceará, seguidade paradas nas cidades do Recife, Maceió e Salvador,na Bahia. Dali seu navio a levaria as cidades do Rio deJaneiro e posteriormente à Santos, de onde, então,viajou para a Argentina, com breve permanência emMontevidéu, no Uruguai. Em períodos de 2 a 3 diasem cada cidade, com exceção de Maceió e Montevidéu,nas quais permaneceu por tempo mais curto, MarthaRoot fez numerosos contatos, visitas aos principaisjornais e publicou artigos sobre a Fé. Sua permanênciaem Santos, no entanto, teve um significado especialpor causa dos teosofistas de Santos, conforme descritapor Garis*:]

endo visto um artigo escrito por Martha Rootem um jornal local, um feito de resultado

rápido, ficaram animados com as

3OS PRIMEIROS CONTATOS DE

MARTHA ROOT COM O BRASIL

“...T*M.R. Garis, autor da biografia deMartha Root: Lioness at theThreshold.

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24Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

implicações da mensagem bahá’í e solicitaram que ela falasse àsua sociedade. Uma palestra seria impossível, porque seu navioestava partindo no dia em que eles fizeram contato com ela,porém mandaram uma comitiva para encontrá-la. Um dosmembros havia ouvido rapidamente sobre a Fé em 1914 e, desdeentão, estivera em busca de maiores informações. Ele havia escritoum artigo, com seu limitado conhecimento, fazendo umaapresentação da Revelação Bahá’í para esta sociedade. O artigode Martha descortinou-lhe um novo panorama. Ele era umaalma à espera e queria escrever sobre a Fé, traduzir sua literaturae viajar pelo mundo para divulgar seus ensinamentos.

A visita de três dias à cidade de Santos e a divulgação deMartha da Fé Bahá’í, fez com que se encontrasse esta jóia emmeio às pedras. Todos os que ela abordou ficaram extremamenteinteressados nos ensinamentos que enfatizavam a unicidade dahumanidade e eles, por fim, decidiram publicar cinco mil livretos,traduzidos em português, com a participação de vários teosofistas

para garantir uma traduçãoperfeita.”1

[Através de contatos regulares,Martha Root continuou a man-ter correspondência com estes pri-meiros simpatizantes da Causa,em Santos, enviando-lhes mate-riais, assim como animando abahá’ís de outras partes a escre-verem a eles, ajudando a mantersua chama acesa.]

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25Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

PRIMEIRAS CARTAS PARA O BRASIL

Aos sr. e sra. Kerr, sr. e sra. Gnocchi, sr. Noferi e sr. J. R.

Gonçalves da Silva (de São Paulo)

Vapor Huasco; 13 de outubro de 1919; Arica, Chile

Amigos muito queridos!

Todos os dias penso em vocês, amo-os e rezo por todos.

Não imaginam como estou ansiosa em saber como vocês estão!

Sua carta ao dr. Frederico Valles Vargas foi de uma

riqueza espiritual que não pode ser expressa em palavras. Eles

se tornaram amigos muito queridos e me ajudaram muito em

Buenos Aires e, em fevereiro (ou janeiro), irão para os Estados

Unidos. Pedi ao dr. Vargas o favor de lhes escrever, pois os dois

deveriam conhecer-se bem um ao outro, vocês são almas tão

grandiosas, suas esposas também adorariam a sra. Vargas, e

suas crianças amariam as crianças deles. Espero que eles viajem

via Santos quando forem aos Estados Unidos.

Nesta costa Oeste, em todos os portos, dirijo-me a editores

de jornais, explico a Fé Bahá’í e eles publicam artigos.

Espero novamente ir à América do Sul dentro de um ou

dois anos, de modo que sinto que nos encontraremos novamente

e, nos Estados Unidos, pensarei em vocês e rezarei por vocês e

farei meus amigos se interessarem pelo Brasil.

Dr. Vargas está levando seu filho de 17 anos aos Estados

Unidos para estudar engenharia hidráulica. Pode ser que, algum

dia, o filho do sr. Kerr vá estudar lá, espero que consiga.

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26Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

Há um correio aqui através do qual posso enviar estacarta, portanto vou enviá-la imediatamente; é possível que nãopossa escrever novamente antes de chegar aos Estados Unidos,pois preciso fazer minhas reportagens (é o modo como ganho avida), mas, por favor, lembrem-se de que todos os dias penso emvocês e farei tudo o que estiver ao meu alcance pelo Brasil.Sinto saudades de vocês, meus amigos, e o dr. Vargas e suafamília são meus mais queridos amigos na América do Sul.Espero que possamos trabalhar juntos.

Foi há somente um mês – 13 de setembro – que nóstodos nos encontramos na casa do sr. Kerr.

Com amor, orações e tudo de bom para todos vocês,Sua irmã,Martha L. Root2

Cambridge Springs, Pa.15 de Janeiro de 1919Meus amados amigos,Desde que retornei, nada me fez tão feliz como sua linda

carta que falava de vocês, queridos amigos, e de seu esplêndidotrabalho. Então, ontem chegaram os livretos e eles estão excelentes.Estou tão feliz que meu coração canta de júbilo. Agradeço-lhespelo envio dos mesmos. Recebi cem e os enviei aos lugares queachei que seriam mais úteis.

!

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27Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

Em março, dois amigos partirão para a Espanha e elespoderão ir a Portugal para divulgar a Causa Bahá’í. Doisoutros já partiram para a Austrália e Fanny Knoblock, uma

encantadora bahá’í que com suas próprias expensas, estará indopara a África, assim que puder pegar um navio. Tenho esperançade que ela vá via América do Sul e que passe por Santos. O

presidente do Bahá’í Unity Board (de nove conselheiros), MasonRemey, escreveu-me dizendo que tentará fazer uma viagem àAmérica do Sul, mas ele não pode ir imediatamente.

Meu pai esteve muito doente e esta é a razão da demoradesta carta. Estive cuidando dele dia e noite, mas agora ele estámelhor e já pode ficar sentado. Meu pai está com 82 anos.

Quero ser muito boa para com ele, e quando ficar sozinha,tenho muita esperança de retornar ao Brasil. Sua carta é tãopreciosa que a estou enviando a ‘Abdu’l-Bahá e pedindo Sua

bênção para todos vocês em Santos.Por favor, compartilhe esta carta com o bondoso sr. da

Silva, depois que os irmãos Carlos Kerr e sua esposa e Luiz

Noferi a tenham lido. Vou tentar escrever regularmente assimque puder ter alguma folga, mas minhas obrigações são tantasque faço o melhor que posso.

Palavras não podem expressar quão satisfeita estou comos livretos, quão profundamente aprecio sua carta e como mesinto feliz por conhecer cada um de vocês e suas esposas e filhos

e os pais da sra. Kerr. Em espírito não estamos separados e seremosamigos por toda esta vida e no mundo do além. Tentarei aprenderportuguês tão logo esteja em um lugar onde possa ter aulas.

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28Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

Estou anexando uma Epístola (Carta) que recebi de‘Abdu’l-Bahá. Os amigos que recém-retornaram de ‘Akkácontam que ‘Abdu’l-Bahá disse que maravilhosos resultadosespirituais surgirão dessa minha viagem à América do Sul.Vocês podem fazer na América do Sul muito mais do que eujamais poderia, pois vocês conhecem a língua e os costumes dopovo. Ao lhes falar desta Causa Bahá’í, sinto-me como Andréque foi ter com Pedro; André não era um tão grande discípulo,mas sobre Pedro, Cristo fundou Sua igreja. Vocês são almasgrandiosas, porém jamais saberão dos frutos espirituais que seutrabalho há de produzir nos séculos vindouros.

Amo todos vocês muito profundamente e amo suascrianças e sempre oro por vocês. Tentarei escrever freqüentementequando os deveres não estiverem tão opressivos.

Vocês terão notícias de outros amigos também, pois a elesfalei de vocês. Sempre penso em vocês como os meus amigosmais próximos e mais queridos no mundo. Teremos muitos diasfelizes juntos e espero poder ajudar seus filhos. Tenho certeza deque eles conhecerão rapazes e moças bahá’ís na América doNorte e vocês conhecerão amigos do nosso país e de outras partesdo mundo. Quem sabe, talvez, ‘Abdu’l-Bahá vá ao Brasil.

Com amor, júbilo e orações por todos vocês,Sua irmã em Seu Convênio,Martha L. Root*3

*Embora a carta original tenha sidodatada de 15 de janeiro de 1919,provavelmente foi escrita em janeirode 1920, pois Martha Root se refereao seu retorno. Ela deixara osEstados Unidos em 22 de julho de1919, retornando à sua residênciaem Cambridge Springs, EUA, em15 de novembro de 1919, após 5meses de uma longa viagem pelaAmérica Latina. (Vide: Garis, M.R.,Martha Root: Lioness at theThreshold. Bahá’í Publishing Trust,1983.) !

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29Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

De M. L. Root,Cambridge Springs, Pa. EUA, 12 de abril de 1920Caríssimo Guido e todos os queridos amigos de Santos!Consegui ler sua carta em português quase palavra por

palavra, de modo que vocês podem me escrever sempre emportuguês. Agradeço-lhe muito pela belíssima carta e por tudoo que vocês estão fazendo. Transcrevi sua carta em inglês e aenviei para 6 amigos e fiz 50 cópias da outra e as enviei aamigos de todos os cantos do mundo. Espero que alguns amigospoosam ir a Santos ainda este ano.

…anexei a cópia de uma Epístola (Carta) de ‘Abdu’l-Bahá para vocês*. É glorioso o que Ele escreveu.

Meu pai não está bem e não posso escrever muito estasemana, mas amo todos vocês, meus irmãos e irmãs, e oro porvocês todos os dias. Espero, algum dia, voltar à América doSul. Tentarei escrever logo para vocês em espanhol. Penso nasua querida esposa e filhos, na sra. Kerr e seus filhos e em vocêe em Luiz Noferi e em Carlos Kerr e no sr. Silva. Estudoespanhol, mas sinto que não sei o suficiente para escrever, porémvou tentar.

Com amor bahá’í por todos vocês e feliz por receber devocês cartas tão maravilhosas,

Sua em Seu Convênio,Martha L. Root4

*Vide página 32. !Cap, 1, 2 e 3.pmd 7/5/2006, 18:4629

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30Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

Agnes Baldwin Alexander. (1875-1971). Distinta pioneira da Fé,mencionada por ‘Abdu’l-Bahácomo “a filha do Reino, a amadaserva da Abençoada Perfeição”, elaviajou sozinha às ilhas Hawaí, à ilhade Honolulu, e ganhou vitóriasespirituais para o Japão. Em 1957ela foi elevada à posição de Mão daCausa por Shoghi Ef fendi. Arespeito da vida e serviços de AgnesAlexander, vide Bahá’í World XV,pp. 423-430.

11 Ukyo Machi, Yotsuya,Tóquio, Japão27 de junho de 1920

Ao Sr. Guido GnocchiQuerido irmão no amor de Deus,Por intermédio de minha querida irmã, srta. Martha

Root, soube de vocês e estou escrevendo esta carta para fazeruma conexão espiritual* entre este país distante e a América doSul. Estes são dias tão maravilhosos para se viver e servir ahumanidade quando conhecemos a Mensagem de Bahá’u’lláh.A srta. Root enviou-me uma cópia de sua maravilhosa Epístolaaos amigos na América do Sul. E, também, o diário da srta.Root comoveu-me profundamente. Estou aqui servindo nestaparte do mundo por amor a Deus e pelo desejo de ‘Abdu’l-Bahá. Anexo, estão minhas Epístolas que explicam porque estouaqui. Esta é a minha segunda visita ao Japão.

Quando estamos sozinhos e afastados ... dos outros, então,o amor e a bondade de Deus se acercam de nós.

Muitos anos atrás, tive o privilégio de viajar para minhacidade natal em Honolulu vindo da Europa, onde ouvi asmaravilhosas Boas-Novas e de levar comigo esta mensagem,porém, em 1913, minha família dispersou-se e, desde então,tenho viajado pelo mundo sob Sua guia. A srta. Root passouduas semanas comigo aqui no Japão, em 1916, e na primaverade 1918, tive o privilégio de ficar várias semanas em sua casaem Cambridge Springs, Pa.

*Entre os bahá’ís americanos queescreviam com regularidade aosteosofistas de Santos, com o intuitode alimentá-los em sua Fé, estavam:Light-Plisé Kindergartner, de SãoFrancisco, Califórnia; sra. CarolineM. Barbee, de St. Louis, Missouri;sra. Lucy M. Wilson, Nova Iorque;sr. Henry Grasmere, sr. HermannG. Pauli, sr. Albert E. Killins esra. Agnes Alexander.

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31Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

Por favor, perdoe-me por ter falado tanto de mim mesma.A Causa de Deus rapidamente espalha-se aqui neste país. Émaravilhoso que tenha sido difundida entre os cegos, sendo quehá três jovens confirmados além de uma senhora que é, ao mesmotempo, cega e surda. Dois desses jovens receberam Epístolas de‘Abdu’l-Bahá, e estou anexando duas das últimas Epístolasque recebemos aqui. Algumas vezes, tenho a esperança de quealguns desses jovens lhe escreverão, mas esta aqui é apenas parafazer a conexão.

Orarei para que Suas bênçãos estejam com vocês e quevocês façam um maravilhoso trabalho em seu país, pois o mundoestá tão preparado para esta Mensagem de Vida ... desta vez.Não há separação para aqueles cujos corações estão unidos nEle,pois somos todos Um só exército e temos apenas Um Líder, eonde quer que estejamos, nosso serviço a Ele é o mesmo. Quepossamos todos nos tornar mais e mais unidos como Uma famíliado Reino de Deus!

Permita-me servi-los de qualquer modo que seja possível.Sua irmã em Seu eterno amor,Agnes B. Alexander5

Agnes Alexander vestida dekimono na década de 1920.

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32Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

A EPÍSTOLA DE ‘ABDU’L-BAHÁ

A UM BRASILEIRO

DÓ vós* que amais a verdade, ó servos da humanidade!

a floração de vossos pensamentos e esperanças,emanações fragrantes chegaram até mim, emvirtude do que um sentimento íntimo de dever

compele-me a redigir estas palavras.Testemunhai quão tumultuado está o mundo, com facções

antagônicas a se engalfinharem, e quantas terras estão rubrasde sangue, o próprio pó mesclado de vermelho. Os fogos do conflitotêm-se alastrado em tão gigantescas labaredas que jamais, querem épocas primitivas, quer na Idade Média ou nos séculosrecentes, houve tão hedionda conflagração, semelhante a umamó que toma por grãos os crânios dos homens. Não, é aindamuito pior, visto que países florescentes têm sido reduzidos aentulho, cidades têm sido arrasadas, e um sem-número de aldeiasoutrora prósperas converteram-se em ruínas. Pais têm perdidofilhos, e filhos, os pais. Mães têm tido os corações destroçadospelo pranto por seus pequeninos mortos. Crianças têm sidoorfanadas, mulheres abandonadas a vagar, errantes, sem lar.Em todos os aspectos, a humanidade tem soçobrado na degradação.Terríveis são os gritos lancinantes das crianças órfãs; cortantessão as vozes maternas angustiadas, que atingem os céus.

*Os nomes das pessoas as quaisse encontra dirigida tal Epístolaforam identificadas pelo Escritó-rio dos Arquivos do Centro Mun-dial. Note-se que os nomes fo-ram transliterados do persa e po-dem não ter sido vertidos demodo acurado. Assim, tal comodescrito pelo Departamento dePesquisa, o nome de “GuidoNushi em Santos” pode ser amesma pessoa de Angelo GuidoGnocchi. Os dezesseis nomes são:

“Capitão Rasmussen; MuhamiPara; sra. Helen Henderson; sr.Miguel Shelly; Irmã de MiguelShelly; sra. Bertha Thomas; sra.Vegas; sr. Asad Bisharih; dr.Darling; sr. Fernandes; GuidoNushi em Santos; dr. VerminsVarqas; sra. Hersch; ArnoldoMendoza; srta.Carolina eAmerico Kampfer.”

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33Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o BrasilEm duas de suas cartas aos ami-gos de Santos, Martha Rootmenciona a existência de umaEpístola de ‘Abdu’l-Bahádirigida a eles. O Departamen-to de Pesquisas da Casa de Jus-tiça conseguiu identificar ape-nas uma Epístola de ‘Abdu’l-Bahá associada com Santos nobanco de dados do Centro Mun-dial Bahá’í. Tal Epístola (videao lado) foi revelada parcialmen-te em árabe e parcialmente empersa e foi datada de 28 de ja-neiro de 1920, e está endereçadaconjuntamente a dezesseis pes-soas, incluindo ‘Guido Nushi emSantos’. Uma tradução autori-zada desta Epístola encontra-sejá publicada em Seleção dos Es-critos de ‘Abdu’l-Bahá, seção202. Entretanto, ainda que pos-sa corresponder, o Departamen-to de Pesquisas da Casa Uni-versal de Justiça não tem docu-mentação suficiente para con-firmar que esta é a mesma Epís-tola que Martha Root enviouao sr. Angelo Guido Gnocchi,em Santos, junto com sua cartadatada de 12 de abril de 1920.

E o que dá origem a todas essas tragédias é o preconceito:preconceito de raça e nação, de religião, de posições políticas; e acausa fundamental do preconceito é a imitação cega do passado -imitação na religião e nas atitudes raciais, imitação nonacionalismo fanático e na política. Enquanto esse arremedo dopassado persistir, as bases da ordem social permanecerão semsustentação, à mercê dos quatro ventos, e o gênero humano,continuamente exposto aos mais temíveis perigos.

Ora, em tão iluminada era como esta, quando realidadesanteriormente desconhecidas têm sido reveladas, quando se têmdesvendado os segredos das coisas criadas e a Aurora da Verdaderaiou, inundando de luz o mundo, será admissível que o homemprossiga uma guerra que está destruindo a condição humana?Não pelo Senhor Deus!

Cristo Jesus convocou toda a humanidade à amizade e àpaz. Disse Ele a Pedro: “Mete a espada na bainha.” Tal foi aordem e o conselho do Senhor Cristo; hoje, não obstante, oscristãos têm todos a espada desembainhada, na mão. Quãoenorme é a discrepância entre esses atos e o texto claro doEvangelho!

Há sessenta anos, Bahá’u’lláh ergueu-Se, como o sol,por sobre a Pérsia. Ele afirmou estarem sombrios os horizontesdo mundo; declarou que essas trevas auguravam calamidadese que conflitos terríveis estavam por vir. Da prisão de ‘Akká,Ele dirigiu-Se ao Imperador alemão nos mais claros termos,dizendo que uma guerra de grandes proporções estava acaminho, e que sua Berlim viria a prorromper em lamentações

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34Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

e gemidos. Do mesmo modo, apesar de ser uma vítima do sultãoda Turquia, um cativo em sua prisão - ou seja, era mantidoprisioneiro na Fortaleza de ‘Akká, Bahá’u’lláh escreveu a estesoberano, asseverando explicitamente que Constantinopla seriasurpreendida por uma súbita e profunda transformação, tãograve que as mulheres e crianças dessa cidade se deplorariam epranteariam em altos brados. Em suma, Ele dirigiusemelhantes palavras a todos os monarcas e presidentes, e tudoveio a se passar exatamente como profetizara.

De Sua poderosa Pena manaram vários ensinamentospara a prevenção da guerra, os quais se têm divulgado portodos os quadrantes.

O primeiro deles é a investigação independente daverdade, pois a imitação cega do passado tolhe o desenvolvimentoda mente. Quando, porém, cada alma pesquisar a verdade, asociedade ver-se-á livre da obscuridade da repetição contínuado passado.

Seu segundo princípio é a unidade da humanidade: todosos homens são as ovelhas de Deus e Ele é seu Pastor amoroso,que vela com extremo carinho por todos, sem favorecer a umou a outro. “Nenhuma distinção podes ver na criação do Deusde misericórdia”; todos são Seus servos, todos imploram Suagraça.

O terceiro preceito de Bahá’u’lláh é que a religião é umpoderoso baluarte; mas deve engendrar amor, não malevolênciae ódio. Fosse ela produzir malignidade, rancor ou inimizade,não teria, absolutamente, valor algum. Pois a religião é um

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35Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

remédio, e se este acarreta doença que seja então posto de lado.Outrossim, no que tange ao preconceito religioso, racial, denacionalidade e político: todos esses preconceitos atacam aprópria raiz da vida humana; todos, sem exceção, geramderramamento de sangue e a ruína do mundo. Enquantosubsistirem esses preconceitos, haverá conflitos infindos ehorrendos.

Para remediar tal situação a paz universal é necessária,e para que esta se torne realidade cumpre estabelecer umsupremo Tribunal representativo de todos os governos e povos;tanto questões nacionais quanto internacionais devem sersubmetidas a essa corte, e incube a todos levar a cabo suassentenças. Caso qualquer governo ou povo desobedeça, quecontra eles levante-se o mundo inteiro.

Outro dos ensinamentos de Bahá’u’lláh é a igualdadeentre o homem e a mulher e sua participação igualitária emtodos os direitos. E há muitos outros princípios similares.Atualmente já se tornou manifesto serem esses preceitos a própriavida e alma do mundo.

Servos da raça humana que sois, esforçai-vos de todocoração por livrá-la dessa treva e desses preconceitos quepertencem à condição humana e ao mundo da natureza, paraque a humanidade possa ingressar na luz do mundo de Deus.

Louvado seja Ele, estais familiarizados com as várias leis,instituições e princípios do mundo; nada, exceto essesensinamentos divinos, pode, hoje, assegurar paz e tranqüilidade

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36Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 3Os Primeiros Contatos de Martha Root com o Brasil

ao gênero humano. A não ser por esses ensinamentos, essa

escuridão jamais se dissipará e essas moléstias crônicas nunca se

curarão; antes, tornar-se-ão dia a dia mais violentas. Os Bálcãs

permanecerão descontentes. Sua inquietude intensificar-se-á. Os

poderes vencidos continuarão a provocar agitação. Recorrerão a

todas as medidas para atear uma vez mais a flama da guerra.

Movimentos recém-nascidos e de âmbito mundial exercerão o

máximo esforço pela promoção de seus propósitos. O movimento

esquerdista adquirirá grande importância. Estender-se-á a sua

influência.

Esforçai-vos, portanto, com o auxílio de Deus, com mente

e coração iluminados e uma força oriunda do céu, por virdes a

ser uma dádiva de Deus ao homem e por criardes bem-estar e

paz para toda a humanidade.

‘Abdu’l-Bahá Abbás

28 de janeiro de 19206

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37Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 4Pioneirismo

idéia de sair como pioneira veio à minhamente, pela primeira vez, na ConvençãoBahá’í realizada em Nova Iorque em

1919, quando recebemos as Epístolas do Plano Divinoe, de lá mesmo, imediatamente escrevi a ‘Abdu’l-Baháa respeito desse desejo. Em Sua Epístola de resposta,Ele expressou a esperança de que eu me tornasse uma“médica espiritual”. Esta esperança do Mestre tornou-se minha mais alta aspiração e, quando em 1920, li SuaEpístola à Martha Root, ordenando-lhe o trabalho deensino na América do Sul e enfatizando a importância

4PIONEIRISMO

AHotel Mc Alpin em NovaIorque, considerado na décadade 1910 o maior hotel domundo. Foi palco de 28 a 30de abril de 1919 da “Con-venção do Convênio” onde foidesvelado publicamente as fa-mosas 14 Epístolas do PlanoDivino reveladas por ‘Abdu’l-Bahá, modificando o rumo daFé Bahá’í no mundo. Váriosbahá’ís norte-americanos seapressaram a atender o Cha-mado Divino, entre elesMartha Root que realizou logodepois sua famosa viagem àAmérica Latina, vindo aoBrasil naquele mesmo ano eLeonora Armstrong que se ins-pirou a sair como pioneira,chegando ao Brasil em 1921.

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38Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 4Pioneirismo

de que este fosse seguido por outros, imediatamentepareceu-me que esta poderia ser uma tarefa definidapara mim.

Uma carta à Martha trouxe uma respostaimediata, com todo encorajamento. Ela primeirorecomendou a Argentina como o país maisprogressista e, conseqüentemente, um campopromissor; comecei, então, a estudar espanhol, masquando posteriormente Martha recebeu uma carta deum grupo de três jovens teosofistas que ela haviaconhecido em Santos, no Brasil, pedindo que alguémfosse lhes ensinar mais a respeito da Fé Bahá’í, ela achouque seria melhor para mim, ir primeiro encontrar-mecom eles.

Parentes e amigos solícitos começaram a meapontar os perigos de uma jovem ir sozinha àquelelongínquo país, grande parte do qual ainda era umaselva e não conhecendo ninguém, nem falando umapalavra da língua – era simplesmente “um salto noescuro”. Senti minha decisão enfraquecer, mas quandosurgiu um serviço social na região Norte do estado deNova Iorque me deu a súbita idéia de dar uma passadaem Montreal para consultar com May Maxwell.Embora doente, ao saber da situação, May sentou-sena cama e, em tons retumbantes que ainda ressoam naminha memória, disse:

–– Leonora, o que você está esperando? Vá!–– Eu pegarei o próximo navio – respondi.Eu tinha economizado o suficiente para pagar

uma passagem de segunda-classe e viver em um hotelpor, supunha eu, umas três semanas. Roy Wilhelm deu-me uma carta de crédito para usar em caso de

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39Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 4Pioneirismo

emergência, mas esperavanão precisar usá-la. Sabiaque meu pai me mandariadinheiro para voltar, masnenhum centavo para quepudesse permanecer noBrasil.

Martha deu-metodo encorajamento, masa família e os amigos não:

–– O que uma jovem totalmente sozinha poderiafazer em um país estranho e longínquo?

Longínquo, realmente parecia há trinta anos atrássem aviões ou rádios , e com poucos navios.

–– Que loucura poderia instigá-la a dar tal “saltono escuro”?

“... Não temos, contudo, a afirmação de Bahá’u’lláh de

que ‘As Hostes do Supremo Concurso’ viriam em auxílio de

todos aqueles que se levantaram para servir? Martha foi a

Boston e tivemos preciosas horas juntas, sentadas no saguão do

hotel, conversando e orando do fundo de nossos corações. Depois,

com sua maravilhosa generosidade, Martha mandou-me um

enorme baú, suficientemente grande para guardar todos os meus

livros, contendo muitas coisas que ela sabia poderiam ser-me

úteis – roupas de cama, talheres, até mesmo um pequeno tapete

e outros presentes ainda mais preciosos, entre eles, um fio de

cabelo de Bahá’u’lláh.”1

Navio que traria Leonora ao

Brasil em 1921.

Cap. 4, 5 e 6.pmd 7/5/2006, 18:4639

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40Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 4Pioneirismo

Foto de ‘Abdu’l-Bahá em Haifa,que Leonora sempre carregavaconsigo, foi um presente deRúhiyih Khánum à ela.

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41Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 4Pioneirismo

A CARTA DE ‘ABDU’L-BAHÁÀ JOVEM LEONORA

Acca, Palestina – 26 de julho de 1919

À serva de Deus, Leonora Holsapple, Cambridge, Mass;

Sobre ela esteja Bahá’u’lláh el-Abhá.

Ele é Deus.

Ó tu que és crente em Deus! Tua carta foi recebida. Tu

expressaste teu grande desejo de estar a serviço do Limiar Divino

e curar o enfermo com a Divina Panacéia – o enfermo afligido

pela paixão e pelo ego. O mal espiritual é mais severo do que a

enfermidade física, pois este último pode ser transformado em

saúde e vigor com o mais ínfimo remédio, ao passo que o anterior

não será curado nem por milhares de remédios bem conhecidos.

Por exemplo, se uma alma estiver aflita com o mal do apego e

inclinação a esse mundo, milhares de médicos espirituais falharão

em remediar sua condição. Do mesmo modo, as características

censuráveis constituem os males espirituais, e os Mensageiros

Divinos são os Médicos enviados por Deus. Estes Médicos peritos

não podem assegurar este restabelecimento e nada permanece,

salvo a graça e as bênçãos de Deus. Minha esperança é que tu

possas tornar-te uma médica espiritual.

Transmita, em meu nome, toda bondade à tua avó, tua

irmã, teu pai e tua amiga srta. Frances Hubbell,

Sobre ti esteja Bahá el-Abhá.

(Assinado) ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás2

!

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42Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 5Embarcando para uma Nova Vida no Brasil

Leonora à bordo do “SS Vasari” emsua viagem ao Brasil em 1921.

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43Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 5Embarcando para uma Nova Vida no Brasil

m 15 de janeiro de 1921, embarqueiem Nova Iorque no “SS Vasari”.

Meu primeiro contato com oBrasil foi feito neste navio, na

pessoa de uma jovem brasileira, Aida Eines queretornava ao seu país após dois anos estudando emNova Iorque. Como os americanos mostraram-lheimensa bondade quando ela chegou sozinha ao paísdeles, ela estava contente com a oportunidade de fazero mesmo por uma americana que estava indo sozinhaao seu país. Aida deu-me minhas primeiras aulas deportuguês e, mais importante ainda, ficou interessadana Fé e muito desejosa de ir a Haifa visitar ‘Abdu’l-Bahá; no entanto, com o passamento dEle emnovembro daquele ano, isto tornou-se impossível.*Todos eram amáveis naquele navio inglês, isto é, aquelesque pude conhecer estando na segunda-classe, atémesmo o camareiro com seu “Coragem, menina!”,quando, certa vez, me surpreendeu em um acesso desaudades de casa. E todos tiveram oportunidade deouvir sobre a Fé, porém somente poucos ficaramrealmente atraídos.

5EMBARCANDO PARA UMA

NOVA VIDA NO BRASIL

ELeonora e seu pai no embar-que do “SS Vasari”.

*Leonora Holsapple em um rela-tório enviado ao Histor yCommittee (Comitê de História),datado de 1951, escreveu: “Osdois contatos notáveis na viagemforam Aida E. [Aida Eines], umajovem brasileira retornando de doisanos de estudo em Nova Iorque, eElsie P. [Elsie Papa], uma jovemsenhora suíça recém casada. Ambasficaram profundamente impressi-onadas pelo poder que sentiram nasPalavras de Bahá’u’lláh, e estavamtão ansiosas de falar para outros arespeito, especialmente a sra. P.[Elsie Papa], que quase desde oprimeiro momento reconheceu aVerdade, que eu as mencionei emminha carta enviada a ‘Abdu’l-Bahá, e em Sua Epístola de res-posta, datada de 1º de junho de1921, Ele me pediu para transmi-tir a elas ‘as boas novas das bên-çãos divinas’”.3

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44Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 5Embarcando para uma Nova Vida no Brasil

Ao romper do dia 1o de fevereiro, nosso navioentrou no porto do Rio de Janeiro, o mais belo portoque já havia visto.

“Suaves nuanças de rosa e violeta no horizonte da formosa

baía de Guanabara e, logo, os dourados raios do sol nascente –

que pareciam simbolizar o alvorecer de um glorioso Novo Dia

– trouxeram arrebatamento e júbilo ao coração desta viajante

solitária a bordo do vapor Vasari, enquanto lentamente nos

aproximávamos das docas do Rio de Janeiro naquela manhã...

No entanto, ao desembarcar, pisando pela primeira vez

no solo deste vasto Brasil, esta viajante, uma jovem de 25 anos

de idade, sentiu seu coração enfraquecer e sua coragem

desvanecer. Ela viu os outros passageiros sendo amorosamente

abraçados por parentes ou amigos que estavam ansiosos por sua

chegada.

Ninguém a aguardava na sua chegada. Ela não conhecia

sequer uma pessoa no país inteiro, exceto a nova amiga que

conhecera a bordo, srta. Aida. Não havia, em qualquer país da

América do Sul, um único bahá’í declarado ou conhecido! A

única pessoa que viera a este continente para difundir a Causa

– aquela ‘serva estelar’ de Bahá’u’lláh – Martha Root, estivera

em muitas cidades lançando as sementes que o Mestre, ‘Abdu’l-

Bahá, havia-lhe assegurado que no futuro dariam frutos, mas

o tempo ainda não havia chegado.

Esta jovem pioneira estava só e, então, enquanto olhava

ao seu redor, observando seu novo ambiente e quase duvidando

Aida Eines a bordo do “SS

Vasari”.

Elsie Papa foi uma das pessoas que

Leonora fez amizade a bordo do

“SS Vasari”.

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45Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 5Embarcando para uma Nova Vida no Brasil

do que via, disse a si mesma: ‘Será que eu realmente dei estepasso ou estava tendo apenas um pesadelo? Que esperançapoderia, afinal, ter nesta terra estranha, de língua e costumesdiferentes, sozinha, sem recursos ou prestígio, ou qualquer outracoisa? Como poderia ganhar a vida e me dedicar à difusão daCausa?’ Lembrei-me, então, que não estava ‘sozinha’, poishavia vindo em resposta ao chamado de ‘Abdu’l-Bahá e nãohavia Ele prometido que quem se levantasse para servir SuaCausa, não importando a fraqueza ou a aparente falta derecursos, seria sustentado pelo poder do Espírito Santo?”1

Rio de Janeiro no começo do sécu-lo XX. Vista da Lagoa Rodrigode Freitas com o Cristo Redentorao fundo.

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46Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

Leonora aos 26 anos de idade,logo após sua chegada ao Brasil.

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47Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

omo minha amiga Aida temia que poderiaser difícil encontrar acomodações adequadasde hotel, pois não era costume uma jovem

de bom caráter viajar sozinha e, para piorar as coisas,era véspera do Carnaval, ela gentilmente acompanhou-me, levando-me a vários hotéis. Porém, como previsto,fui recusada em um hotel após o outro. Finalmente, oHotel dos Estrangeiros recebeu-nos e Aida até insistiuem ficar lá comigo por sua própria conta, até que tivessenotícias da cidade de Santos, do sr. Guido Gnocchi, aquem Martha Root havia escrito sobre minha vinda.

“Embora tivesse estudado um pouco de português durantea viagem e pudesse encontrar em meu dicionário de bolso aspalavras que precisasse usar, para meu pesar descobri que nãoconseguia entender absolutamente nada do que me respondiam,e praticamente não se ouvia inglês no Rio dos anos 20. Nãotendo nunca viajado a um país estrangeiro, não poderia ter-meocorrido ir ao consulado americano para obter conselhos ouinformações e eu não conhecia uma só alma no país a não serAida... Imediatamente comuniquei minha chegada a ÂngeloC. [Guido Gnocchi], o teosofista de Santos, e ansiosamente

6

CO PRIMEIRO DIA EM

UM NOVO MUNDO

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48Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

aguardei sua resposta. Caso esta não viesse, Aida já estava aprocura de alunos de inglês para mim no Rio, mas haviarelativamente pouca procura por inglês naquela época, de modoque a perspectiva não era nada brilhante. Como minha reservamonetária estava minguando, Aida continuou a procurar atéencontrar um hotel mais barato para mim, mas, mesmo assim,eu não podia esperar muito tempo e a cada dia minha ansiedadeaumentava. No entanto, finalmente chegou o telegrama que medizia para ir a Santos.”1

Foram doze dias de ansiosa espera nesse hotelno Rio… Então, embarquei para Santos em um certobarco da linha costeira. Esse pequeno barco balançavasem parar e três companheiros de cabine enjoados nãoacrescentaram qualquer conforto à viagem, mas,felizmente, ela foi curta.

“Uma jovem americana viajando sozinha em um barcobrasileiro era algo muito curioso naquela época, e os passageirosdo pequeno ‘Itapuhy’ tentavam, um após o outro, descobrirqual era a sua missão. Felizmente, graças aos esforços da queridaMartha, já tínhamos um livreto fininho em português, conhecidonos primeiros tempos como ‘Número 9’ ou ‘Big Ben’, e ele veiome socorrer habilmente na minha tentativa de esclarecer todosos que me indagavam durante esta primeira viagem em um naviobrasileiro. De manhã cedinho, sob uma chuva torrencial,chegamos ao porto de Santos.

…À nossa chegada, vi todos os passageirosdesembarcarem, serem afetuosamente abraçados por seus parentes

A tradução do livreto “Número9” foi a primeira publicaçãobahá’í em português, feita porGuido Gnocchi, em 1919, sob oincentivo de Martha Root em suavisita ao Brasil naquele ano.

Capa do livreto original publica-do nos E.U.A. no começo do sécu-lo XX. Hoje é uma relíquia en-tre os bahá’ís.

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49Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

ou amigos e aos poucos desaparecerem.

Somente eu fiquei no convés –

esperando e contemplando a chuva

torrencial. E se esse Guido Gnocchi

não se materializar? Afinal, para

mim, ele ainda era apenas um nome.

Depois de um período que me pareceu

bastante longo, de repente, vi surgir

de um dos cantos do convés uma

delgada figura debaixo de um enorme guarda-chuva. Um jovem

olhou para mim por sob ele, como se achasse que eu deveria ser a

pessoa que procurava.

A residência de Guido* era extremamente modesta, em

uma rua residencial de classe média, longe do centro da cidade,

Rua Dr. Soter de Araújo, no. 3. Assim que entramos, vi sua

jovem esposa, de ascendência portuguesa, sentada à extremidade

de uma longa e estreita mesa de jantar coberta com uma toalha

de mesa vermelha infestada de moscas. Inicialmente, ela me

pareceu um tanto fria, provavelmente de alguma forma surpresa

com a intrusão, mas foi polida. Meu pequeno e despojado quarto,

completamente sem conforto de qualquer espécie e abrindo para

a cozinha, e também a comida indescritivelmente pobre, eram

diferentes de tudo o que eu já conhecera, mas isto não me pareceu

realmente importante. Nem mesmo o fato de que, em vez de

ensinar latim numa seleta escola particular como Walnut Hill

de Natick, em Massachusetts, eu iria ser guarda-livros em uma

agência e oficina da Ford e teria de dar aulas de inglês toda

Vista do cais da cidade de Santos

em 1921.

*Ângelo Guido Gnocchi, teosofistada cidade de Santos, contato deMartha Root e quem recebeu e hos-pedou Leonora quando de sua che-gada ao Brasil em 1921. Anos maistarde trasladou-se com sua famíliapara Porto Alegre, destacando-secomo reconhecido pintor e diretordo Instituto de Belas Artes da Uni-versidade Federal do Rio Grandedo Sul.

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50Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

manhã cedo e três horas à noite, além das oito ou nove horas na

agência, só para dar conta das despesas do quarto e das refeições,

sem ter o suficiente para pagar as passagens quatro vezes por

dia, de ida e volta para o trabalho...

Durante aqueles primeiros dois meses, o calor, como

jamais eu havia sentido antes, juntamente com uma dieta

inadequada ... pareciam consumir minha vitalidade. Para

alguém que nada sabia do trabalho de guarda-livros, mesmo

em inglês, o trabalho do escritório era algo como um pesadelo,

especialmente porque incluía o telefone, através do qual, o

português parecia ainda mais difícil de entender. Ir e voltar a

pé na hora do almoço, sob o sol escaldante do meio-dia – por

ser impossível incluir passagens de ônibus no meu orçamento

– era outra provação. Havia uma grande palmeira na esquina

de nossa rua e nela eu costumava fixar meus olhos e dizer a

mim mesma, tenho que chegar até ela por mais fraca que

possa me sentir. Somente tarde da noite, após minha última

aula, podia me recolher ao porão, sendo que a família já

estava dormindo, e estudar a gramática portuguesa e traduzir

até altas horas da noite.

Algumas vezes era difícil não ter sérias dúvidas quanto

à sabedoria do passo que havia dado. O que poderia eu, sozinha

– a única pioneira bahá’í em toda a América do Sul – esperar

realizar, com tão pouco tempo à minha disposição, sem

dinheiro, sem prestígio, sem literatura em português e ainda

quase sem conhecimento da língua do país? Quantas vezes

prostrei-me em meu despojado quartinho e implorei a

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51Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

Bahá’u’lláh que me capacitasse a servir de modo mais eficiente!E a oração revelada pelo Mestre para ser usada pelos instrutoresem países estrangeiros parecia ser especialmente dirigida a mim:

‘Ó Deus’, implorava, ‘Tu me vês... confiando em Ti,tendo abandonado repouso e conforto. ...longe de minha terranatal... um estranho prostrado... suplicando-Te na calada danoite... que me ajudes... a exaltar Tua Palavra... Ó Senhor!Fortalece-me e capacita-me a Te servir com o máximo empenhoe não me abandones a mim mesmo... nessas regiões. ...’ * eBahá’u’lláh não disse: ‘Verdadeiramente, Nós vos vemos deNosso reino de glória e ajudaremos qualquer um que se levantarpara o triunfo de Nossa Causa, com as hostes da Assembléia doAlto e uma companhia de Nossos anjos favorecidos?’†

… Pouco tempo depois, tive condição de desistir dotrabalho de escritório em Santos que consumia muito do meutempo e energia, porque, aos poucos, o número de alunos deinglês cresceu até que consegui o suficiente para meu sustento.Agora era possível dedicar algumas horas por dia à tradução, oque me deixou muito feliz. Também encontrei mais e maisoportunidades de falar sobre a Fé a indivíduos, embora poucasvezes a grupos.”2

‘Abdu’l-Bahá havia expressado uma esperançapara mim – de que poderia me tornar uma “médicaespiritual” para “curar o enfermo com a PanacéiaDivina”, e em Sua Epístola à Martha Root havia ditoque “se algumas almas com perfeito desprendimento,devoção, firmeza e constância no Convênio” fossem à

*Orações Bahá’ís; 11a ed.; p. 120.†Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá; seção 218.

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52Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

América do Sul, seriam “confirmadas comoPedro e Paulo”. “Perfeito desprendimento”,esta era a chave do sucesso, conforme Marthahavia enfatizado para mim, quando de sua idaà Boston para conversar comigo logo antes deminha partida – desprendimento dos meus maisqueridos amigos, do conforto, profissão, detudo, para ganhar a bênção de ser “pobre emtudo salvo em Deus”.

Entretanto, uma coisa que me foiespecialmente difícil aceitar, foi o fato de queGuido, que escrevera a Martha pedindo quealguém viesse ao Brasil para falar mais a ele eaos seus amigos a respeito da Fé, dizendo: “Nósestamos famintos; alimenta-nos!” Em quem

esperava encontrar um verdadeiro irmão bahá’í, haviarejeitado a explanação bahá’í sobre reencarnação e namargem do livro Respostas a Algumas Perguntas emfrancês, que Martha lhe deixara, havia escrito umcomentárioao lado das palavras de ‘Abdu’l-Bahá sobreesse assunto: “infantil”. Guido com seus dois amigosteosofistas, no entanto, haviam traduzido e impressoo livreto bahá’í Número 9 para o português às suaspróprias custas,* e isto foi a única amostra de literaturabahá’í disponível em português, o que era de imensovalor para mim naquele primeiro ano. Um jovemjornalista, também amigo de Guido, Álvaro AugustoLopes, estava traduzindo o livreto The Most GreatPeace [A Maior Paz], uma pequena compilação de MayMaxwell, a qual posteriormente tive oportunidade derevisar pelo original e imprimir. Tanto Guido comoseus amigos haviam escrito alguns artigos no principal

*De acordo com Garis, M.R.,Guido Gnochi e demais teosofistasde Santos publicaram 5.000 cópiaspara ampla distribuição. Vide:Marta Root: Lioness at theThreshold. Bahá’í PublishingTrust, 1983. pp. 99-100.

Primeiro livreto publicadopor Leonora em 1922, emSantos, SP.

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Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

jornal, A Tribuna, sobre a Fé, incluindo um sobre avisita de Martha e outro por ocasião de minha chegada.

Através de Guido, soube de um CongressoNacional de Esperanto que se realizaria no Rio deJaneiro em abril daquele ano e, por sua sugestão, escrevipedindo permissão para fazer uma apresentação arespeito da Fé. Ansiosa eu estava por cada possibilidadede difundir o conhecimento da Fé; afinal, não percorritodo o caminho até o Brasil apenas com este propósito?Devo confessar que quase tive a esperança de que meupedido não fosse aceito, pois viajar sozinha até o Rio,ainda conhecendo tão pouco da língua do país epraticamente nada de esperanto, e participar de umCongresso Nacional de Esperanto, pareceu-me umatarefa além das minhas forças. Mas tive que enfrentá-la e com grande dificuldade preparei um breve discurso,palavra por palavra, com o auxílio de um pequenodicionário de esperanto/inglês que felizmente alguémhavia me dado nos Estados Unidos, pois em Santosnão consegui encontrar nenhum livro de esperanto ouum único esperantista que me pudesse ajudar. Parameu infinito alívio, depois que li meu discurso, opresidente disse que eu havia dado uma prova de queo esperanto pode ser entendido perfeitamente mesmoquando falado por pessoas de nacionalidades tãodiferentes, e ficou tão interessado na Fé que, por suaprópria iniciativa, levou-me para uma entrevista como editor de “O Jornal”, acho que era o jornal maisimportante, a qual resultou em um artigo com foto de‘Abdu’l-Bahá na edição de domingo. Meu discursofoi posteriormente publicado na íntegra em uma revistade esperanto em algum país da Europa, possivelmente

Capa da revista do CongressoNacional de Esperanto contendoa primeira palestra que Leonoradeu no Brasil - Rio de Janeiro;1921.

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Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

Áustria ou Iugoslávia. Bem, esta foi minha primeiravitória sobre minha timidez natural – eu haviarealmente falado em público! Nessa ocasião houvetambém uma primeira tentativa de falar em portuguêsna Sociedade Teosófica do Rio, mas como ainda nãohavia completado três meses no país, receio que tenhasido uma tentativa muito fraca. As pessoas, no entanto,foram amistosas e interessadas e eu tinha aquelepequeno livreto para distribuir.

Entrevista dada por Leonora,publicada no “O Jornal” do Riode Janeiro, datado de 27 de abrilde 1921.

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Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

O FALECIMENTO DA AVÓ DE LEONORA

O passamento de minha avó apenas trêsmeses depois de minha chegada ao Brasil –minha avó a quem devia a grande bênção deter recebido a Mensagem Bahá’í, minha mãeespiritual – trouxe-me um intenso sentimentode perda, ainda que, certa vez, ela tivesse medito que estaria feliz em passar para a outravida e que lá estaria mais próxima a mim doque nesta vida. Ela havia me acenado umadeus apenas com um sorriso na despedida,pois se regozijava muito por eu seguir emfrente para servir a Causa que ela haviaabraçado e tão profundamente amara, e com

confiança me dissera que esperava “coisas grandiosas”de mim.

Minha tristeza, alguns meses depois, diante dopassamento do Mestre, foi profunda. Parecia quaseimpossível aceitar o fato de que, afinal, jamais O verianesta vida conforme tão intensamente almejara eansiosamente esperara fazer. A Epístola que ‘Abdu’l-Bahá havia revelado para mim, pouco antes de Seupassamento em 1o de junho daquele ano*, foiconfortante nessa ocasião e, no decorrer dos anos,jamais deixou de ser uma fonte de encorajamento einspiração. Nela, Ele me chamara de “arauta do Reino”e fizera maravilhosas promessas para os “amigos” comos quais estava me associando, ou seja, para o povo doBrasil. Foi conforme segue:

*Esta carta de ‘Abdu’l-Bahá foienviada sem endereçamentocompleto, tendo somente o nome deLeonora e o país. Foi entregue àssuas mãos miraculosamente, atravésdo consulado americano no Rio deJaneiro, onde os americanoscostumavam afluir para saber sehavia chegado alguma correspon-dência. Um certo viajante que jáouvira falar de Leonora esteve noconsulado para pegar suacorrespondência pessoal e foisurpreendido com uma car taendereçada a Leonora Armstrong.Ele informou ao cônsul que elapoderia ser encontrada na Bahia, acentenas de quilômetros de distânciadali, para onde foi posteriormenteenviada a carta de ‘Abdu’l-Bahá.

Leonora Georgiana Stirling,a querida avó de Leonora.

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56Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

BrasilÀ serva de Deus, Leonora Stirling Holsapple.Sobre ela esteja a glória de Deus, o Mais Glorioso!

Ele é o Mais Glorioso!Ó tu arauta do Reino!Tua carta foi recebida. Agradece a Deus por teres

esclarecido tua visão e estar concedendo luz à visão de outrostambém; por teres sorvido da transbordante taça do amor deDeus, e estar também dando de beber a outros. Em toda reuniãoque circular este cálice, sem dúvida serão gerados alegria ejúbilo. Louvado seja Deus. Agora que inebriastes teuscompanheiros da assembléia com este vinho divino, estaassembléia celestial crescerá dia após dia, os amigos inebriadosterão mais arrebatamento e êxtase, começarão a romper emmelodias e harmonias e erguerão a canção que atingirá aAssembléia Suprema e regozijará e alegrará os santos.

Transmita, em meu nome, a mensagem celestial e as boas-novas das bênçãos divinas a Aida Eines, Elsie Papa, sr. e sra.Guido Gnocchi, Annie Hawes, Esther Maclane e Mary Isham,e dize-lhes que a entrada nesta Causa Divina é acompanhadade honra imperecível e soberania eterna.

Sobre ti e sobre eles esteja a Glória de Abhá!

(assinado) ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás1o de junho de 1921Bahjí, Túmulo Sagrado da Abençoada Beleza.3

!

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57Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 6O Primeiro Dia em um Novo Mundo

!Fac-símile da Epístola original de ‘Abdu’l-Bahá

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58Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 7Iniciam-se os Contatos com o Guardião

Shoghi Effendi

*Foto tirada em 1921 quando ele foinomeado o Guardião da Fé Bahá’í.

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59Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 7Iniciam-se os Contatos com o Guardião

7

Logo as mensagens do amadoGuardião começaram a chegar

para mim, urgindo-me a nuncaficar desencorajada, e sim, aredobrar meus esforços, e

guiando-me com sua infalível sabedoria.Pouco de importante aconteceu naquele

primeiro ano em Santos. Meu tempo era empregadoem ganhar meu sustento, no aprendizado de português– durante longas horas lá embaixo no porão, à noite,depois do último aluno ter ido embora – em algumastentativas de traduzir a literatura bahá’í em português,sendo que o primeiro livro ao qual me dediquei foi ASabedoria de ‘Abdu’l-Bahá*. Agora, sabia porque nauniversidade fui orientada a me especializar em latim!Havia, evidentemente, oportunidades de falar a pessoasindividualmente – houve alunos de inglês que mevieram através de divulgação no jornal e alguns foramencontrados por outros meios, mas isto parecia-medolorosamente pouco. Eu ansiava gritar a Mensagemdo topo do mundo! Era difícil não me sentirdesencorajada, não me perguntar, por vezes, o quepoderia esperar fazer sozinha, afinal, neste vastocontinente, sem recursos, sem o dom da eloqüência?

*O livro em questão é o Palestrasde ‘Abdu’l-Bahá – Paris/1911, tí-tulo utilizado na versão inglesa eadotado pela Editora Bahá’í doBrasil. A publicação norte-ameri-cana e em espanhol possui este tí-tulo que ela se refere.

INICIAM-SE OS CONTATOS

COM O GUARDIÃO

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60Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 7Iniciam-se os Contatos com o Guardião

Em lágrimas, suplicava a oração revelada especialmentepara aqueles que iriam ensinar na América do Sul: “ÓSenhor! Sou uma ave de asas partidas... Tem compaixãode minha fraqueza... Fortalece-me com Teu poder!”1

Em um dia sombrio e nublado, lembro-me que,enquanto caminhava por uma mal-cuidada rua, umasúbita onda de percepção passou por mim quandovislumbrei, à distância, uma cruz dourada que coroavaa torre de uma igreja. Pensei nos primeiros cristãosque eram tão poucos, fracos e sem prestígio aos olhosdo mundo e, no entanto, permaneceram firmes,destemidos diante dos perigos e vicissitudes, sabendoque através do poder do Espírito Santo a Cruztriunfaria. No primeiro século da nossa era cristã, aoobservador casual, sem dúvida, pareceria impossívelque o símbolo da Fé daquele punhado de pessoashumildes pudesse, depois de quase 2.000 anos, coroartorres de igrejas no outro lado do mundo! E hoje nós,embora comparativamente tão poucos e fracos aosolhos do mundo, devemos ter aquela mesma ardorosaconvicção de que nossa Causa triunfará pelo poder doEspírito Santo. Não temos a gloriosa promessa deBahá’u’lláh para fixarmos nosso olhar, Sua promessade que todo esforço sincero feito em Sua Causacertamente produziria frutos no futuro, ajudaria aintroduzir uma nova civilização mundial, apressaria oadvento daquela Idade Áurea – a Promessa de Todasas Eras? Podemos duvidar? E o Mestre não disse emSua Epístola a mim dirigida que dessas regiões seergueria tal melodia que regozijaria e alegraria aAssembléia Suprema? Cartas de muitos amigos bahá’ísem meu país também eram, claro, uma grande fonte

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Capítulo 7Iniciam-se os Contatos com o Guardião

de conforto. Quão ansiosamente eu aguardava achegada de cada navio, de seis em seis semanas!Naquela época não havia aviões.

Houve uma oportunidade de dar uma palestrasobre a Fé na “Festa da Fraternidade” realizada em SãoPaulo no dia do Ano Novo em 1922 e, nessa ocasião,se não me engano, falei também em um centroespiritualista naquela cidade. Certa vez em Santos,naquele mesmo ano, Elsa Gnocchi, a esposa de Guido,também arranjou para que eu falasse na FederaçãoFeminina. Não foi possível falar diretamente sobre aFé, mas citei algumas palavras de ‘Abdu’l-Bahá.

A única amiga que, juntamente com sua mãe,cuidou de mim quando tive tifo foi Dora Connor*,cedendo-me seu único quarto durante quatro semanase não permitindo que eu fosse levada ao hospital geral,do qual, naqueles dias, dizia-se que as pessoas iamsomente para morrer. Fiquei extremamente fraca etambém bastante preocupada com a dívida decorrenteda doença, mas estas minhas inteiramente dedicadasirmãs ajudaram-me. Durante a minha convalescença,Dora ajudou-me na tradução do pequeno livro InGalilee de Thornton Chase.

[Um profundo e genuíno amor viria a selar para sem-pre essa amizade.]

“Sua filha, então uma criança de quatro anos…ultimamente tem se interessado pela Fé. Quando finalmentechegou a hora de eu partir de Santos, suas palavras de despedidaforam:

*Dora Connor, d. Dorinha comoera conhecida, veio a se declararbahá’í em 1962, fazendo parte da1a AEL de Mogi Mirim, eleitanaquele ano. O contato de Doracom Leonora foi restabelecidodepois de anos, através de StellaB. Nikobin que havia se mudadocom seu marido para serempioneiros naquela cidade. Aamizade entre as três seguiu 2décadas, pois Leonora costumavapassar longos tempos com Stellaque a ajudava a revisar suastraduções. Após a morte deLeonora, Stella continuou a darprosseguimento ao árduo traba-lho de traduções e revisões dosEscritos Bahá’ís para a línguaportuguesa. Dora vem a falecerem Santos na década de 1980.

Dora Connor e Stella BuenoNikobin em 1962 na cidade deMogi Mirim, interior de SãoPaulo.

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Capítulo 7Iniciam-se os Contatos com o Guardião

–– Lembre-se que você sempre tem uma mãe e uma irmãaqui.”2

Logo depois disso, meu pai mandou-me dinheiropara voltar para os Estados Unidos e, como ele supunhaque jamais haveria outra oportunidade para tal, incluiuo suficiente para uma viagem pelo rio Amazonas que,naquela época, era considerado a coisa mais importantepara se ver na América do Sul.

Antes de partir de Santos, soube por intermédiode Guido Gnocchi da possibilidade de falar sobre a Féno Congresso Nacional de Proteção à Infância a serrealizado no Rio de Janeiro em setembro de 1922,como parte das comemorações do primeiro centenárioda independência do Brasil. Como me pareceu muitodifícil retornar ao Rio vindo do Norte para este evento,combinei com um dos teosofistas do Rio para que lesseminha palestra no Congresso. Isto ele o fez, e a palestrafoi incluída no grande volume impresso que continhatodas as palestras proferidas, o qual me foi enviadoposteriormente.

Vista da Baía de Todos os Santosda cidade do Salvador.

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63Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 7Iniciam-se os Contatos com o Guardião

conomizando, consegui esticar odinheiro para incluir visitas de

alguns dias ou semanas, oumesmo meses, a todas as

principais cidades no meu caminho, especialmenteSalvador, na Bahia, a qual, devido à importância que‘Abdu’l-Bahá lhe atribuiu, sempre foi meu desejoardente visitar. Quando, ao chegar nessa cidade, fui aoconsulado americano para pegar minhacorrespondência, o cônsul* perguntou-me se gostariade ensinar seus filhos durante três meses mediantehonorários. Sei que isto foi em resposta às orações –abriu-se o caminho para o ensino da Fé nestaimportante cidade.

A atmosfera litorânea e a comida nesta confortávelresidência ajudaram-me a recuperar minhas forças, ecomo as aulas eram somente pela manhã, eu tinha oresto do dia livre para o trabalho bahá’í. Umaapresentação ao presidente da “Estrela do Oriente”,afiliada à Sociedade Teosófica, imediatamente abriuuma porta, pois me ofereceram sua sede, bem no centroda cidade, para reuniões semanais. Foram impressosfolhetos para distribuição e as reuniões foram tambémanunciadas nos jornais. Muitos vieram, e continuaram

8VOLTA AOS ESTADOS UNIDOS

E

*Thomas Horatio Bevan (1887-?),cônsul americano na Bahia entreos anos de 1919-23, em cuja casaLeonora se hospedou por trêsmeses, como professora de seusfilhos, o que permitiu prolongarsua estadia no Brasil.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

a vir, semana após semana. Como atração adicional,havia aulas gratuitas de esperanto, as quais eu conseguiaensinar adiantando-me sempre uma ou duas lições emrelação aos meus alunos. Para preparar as palestrassemanais bahá’ís, eu era auxiliada por um professor deportuguês.

OS PRIMEIROS CRENTES NO BRASIL

A primeira pessoa que me pareceu realmenteabraçar a Fé com sinceridade foi um jovem brasileiro,Claudenor Luz; sempre me pareceu significativo queo nome do primeiro bahá’í fosse Luz. Claudenor era odono de uma pequena livraria, na qual casualmenteentrei à procura de uma Bíblia em português.

“Ele perguntou-me se eu queria a verdadeira Bíblia. Isto

naturalmente abriu caminho para uma apresentação da Fé e

este jovem, cujo nome era Luz, tornou-se o primeiro crente na

Bahia, o primeiro a se levantar de todo coração para difundir a

Fé. Ele tinha a vantagem de poder ler em inglês e, assim, pôde

estudar os ensinamentos mais completamente e lhe dei todos os

livros de que dispunha para ler e emprestar para outros. Uma

foto do Templo exposta em sua loja atraía a atenção e ele

distribuiu muitos livretos bahá’ís. Antes de eu partir, ele me

disse ter falado a mais de duzentas pessoas sobre a Fé, entre elas,

o mais proeminente médico da Bahia e líder nos círculos literários

que ficou especialmente interessado e desejoso de ler mais. Mais

tarde, em uma carta para mim, o sr. Luz escreveu: ‘Estou muito

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

feliz com o meu nome, Luz... é como se uma lâmpada tivessepenetrado em mim e me fornecesse o conhecimento para convenceros incrédulos.’ Através de seus esforços, foi arranjada umapalestra bahá’í na Associação dos Empregados do Comércio, naqual as pessoas demonstraram muito interesse e foram discutidosplanos para formar uma classe de estudos. Nós os presenteamoscom um livro para sua biblioteca. Também foram feitas duaspalestras para um grupo razoavelmente grande no CentroEspiritualista. A Liga Fraternista, uma organização para apromoção da fraternidade, da qual fui nomeada presidentehonorária, fez planos para a publicação de algumas palestrasbahá’ís em forma de folheto e também algumas foram publicadasna revista mensal ‘O Pensamento’, da qual se dizia ter umatiragem de 15.000 exemplares. Os jornais da Bahia e umarevista nova publicaram longos artigos.

Quando chegou o momento de deixar a Bahia, umareunião especial foi programada por aqueles que ficaram muitointeressados na Fé durante aqueles três meses, a fim deexpressarem sua simpatia em relação aos ideais bahá’ís. Haviacerca de uma centena de presentes e um programa foi preparado,com palestras e poemas especialmente compostos para a ocasião.Quando me levantei para falar e citar algumas das Palavras de‘Abdu’l-Bahá, todos se levantaram e permaneceram em pé atéeu terminar e, então, presentearam-me com belíssimas rosas.Eu realmente tinha o coração repleto de júbilo e gratidão aBahá’u’lláh, pois nesta cidade da Bahia, tão especialmentemencionada no ‘Plano Divino’, Ele me havia utilizado comoinstrumento para atrair estas almas sinceras à Fé.”1

Prédio da Associação dos Empre-

gados do Comércio, local onde Leo-

nora deu sua primeira palestra

pública em Salvador, Bahia.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Ele [Claudenor Luz] imediatamente começou afalar sobre a Fé para outras pessoas, trazendo muitaspessoas às reuniões e, depois de minha partida, tambémme escreveu a respeito de suas atividades – distribuiçãode literatura, divulgação em jornais, etc.

VIAGEM DA BAHIA PARA BELÉM

“Na viagem da Bahia para Recife surgiu a oportunidadede falar da Fé ao chefe do hospital militar e a outros médicos eoficiais. Em uma parada de três horas em Maceió, capital doEstado de Alagoas, foi possível visitar editores dos dois principaisjornais, ambos os quais prometeram publicar artigos e, também,uma pessoa cujo endereço Martha Root havia me dado, por cujointermédio encontrei um esperantista que ouvira minha palestrano Congresso de Esperanto e estava ansioso para saber mais arespeito da Fé.”2

Em Recife, Pernambuco, onde permanecidurante três semanas, a pessoa-chave novamente foium teosofista, Raul Duarte, que ficou muitoentusiasmado em relação à Fé e colaborou de todas asmaneiras possíveis. Ele organizou para que eu ficassecom uma tia sua que abriu sua grande residência parareuniões e entrevistas com repórteres e outras pessoasinteressadas.

“Quase no centro da cidade, uma casa de mais ou menosvinte quartos, construída na época colonial, um enorme jardim

Matéria publicada na “RevistaRenascença” de 22/10/1922,através de contatos de ClaudenorLuz, em Salvador, Bahia.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

cercando-a de todos os lados – com grandes coqueiros, frutas-

pães, mangueiras, bananeiras e muitas outras árvores tropicais

e uma profusão de flores – e, acima de tudo, impregnada de

uma atmosfera de espiritualidade e verdadeiro amor fraternal,

onde toda a família reunia-se para orações diárias, e por cujos

portões passava, a cada manhã cedo, uma variada multidão de

pobres e doentes, lembrando-me aquela multidão de

desamparados em ‘Akká, cujas necessidades o amado Mestre

administrava, tal era o palco das nossas primeiras reuniões em

Recife. Passei dias muito felizes nesta casa, pois eram dias cheios

de oportunidades de servir à Fé, recebendo pesquisadores da Fé a

toda hora do dia, preparando palestras e artigos e, juntamente

com o sr. R. [Raul Duarte], visitando várias organizações,

editores de jornais e pessoas importantes para convidá-los a

reuniões públicas. Houve uma palestra na Associação dos

Empregados do Comércio, com trezentos participantes, e duas

reuniões foram realizadas em casa, cada uma com vinte a trinta

presentes. Entre os que participaram das reuniões havia pessoas

proeminentes, tais como um professor da Faculdade de Direito,

o chefe do Hospital Militar, o secretário da ACM* e também o

diretor da Escola Normal. A divulgação jornalística foi excelente,

com um ou mais artigos nos principais jornais, praticamente a

cada dia daquelas três semanas. Um dos melhores jornais

publicou em sua primeira página, em duas tiragens sucessivas,

a tradução integral do discurso de ‘Abdu’l-Bahá na Leland

Stanford University. E esses editores expressaram sua prontidão

para publicar qualquer artigo sobre a Fé que eu pudesse lhes

* ACM é uma organização deserviços comunitários sem finslucrativos. A Associação Cristã deMoços foi fundada em Londres,Inglaterra, em 6 de junho de 1844,em resposta às condições sociaisinsalubres que vinham crescendonas cidades grandes no final daRevolução Industrial (aproxima-damente entre 1750 e 1850).

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

enviar periodicamente. O sr. R. [RaulDuarte], que lia inglês, prometeutraduzir partes dos livros que havia lhedado, para serem publicados em jornaise lidos nas reuniões da sociedade teosófica.E uma das filhas de sua tia, em cujaresidência fiquei, Belma de Barros, umajovem mais ou menos da minha idade,tornou-se bahá’í. Até a época de suamorte, poucos anos depois, ela falou sobre

a Fé a seus parentes e amigos em Recife e em outros lugares.”3

Suas primas, jovens de mais ou menos minhaidade, foram muito amistosas e afetuosas e mantinhammeu quarto cheio de frutas, orquídeas e outras flores.Uma delas aceitou a Fé. Além das reuniões realizadasna residência de sua tia, Raul arranjou várias reuniõespúblicas e centenas de pessoas participaram.Praticamente todos os dias, algum dos principaisjornais publicava artigos sobre a Fé, muitas vezeslongos e com fotografias.

Em outros portos entre Rio e Belém, comoVitória, Aracajú, Maceió, Cabedelo, Natal, Fortaleza eSão Luiz, embora eram curtas as permanências, houvetempo para visitar editores de jornais e, em algumascidades, contatar espiritualistas e outros grupos e, emcerta ocasião, foi dada uma palestra em uma LojaMassônica. Houve também muitas oportunidades defalar sobre a Fé com passageiros, em vários barcos, tantoindividualmente como em grupos.

A primeira bahá’í do Recife,Belma de Barros (segunda dadireita para esquerda) e sua fa-mília, em cuja residência Leono-ra se hospedou, estabelecendo umagrande amizade entre ambas.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

[Descrevendo com maior riqueza de detalhes as mui-tas oportunidades de compartilhar e semear a Mensa-gem em cada uma das cidades pelas quais passou, Leo-nora declara:]

“Nosso porto seguinte, depois de Recife, foi Cabedelo, ondevivia uma irmã de Belma que havia sido avisada sobre minhachegada. Bem cedo pela manhã, seu marido, um inglês, veio atéo navio em uma lancha a fim de me levar para sua casa. Comoo navio partia às 9 horas da manhã, não havia tempo para ir àParaíba, do qual Cabedelo é apenas um porto, mas um amigofoi chamado a bordo, um homem muito influente, parente dopresidente do Brasil, e ele prometeu visitar os editores de cadaum dos seis jornais da Paraíba, assegurando-me de que elespublicariam artigos.

* Jornal “Estado do Pará” de 11de Outubro de 1922.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Uma parada de três horas em Natal, capital do RioGrande do Norte, uma cidade com cerca de 10.000 habitantes,deu-me a oportunidade de visitar editores dos três principaisjornais, dois dos quais se ofereceram para tentar organizarreuniões públicas por ocasião do meu retorno, além do queprometeram publicar os artigos que lhes dei.

Em 1o de setembro, nosso navio atracou em Fortaleza,capital do Ceará, onde um proeminente advogado, para quem oeditor do Jornal de Recife havia me dado uma carta deapresentação, arranjou entrevistas com editores de jornais eprometeu-me dizer mais tarde se seria oportuno realizar palestrasbahá’ís.

Uma breve parada em São Luiz, capital do Maranhão,só deu-me tempo para procurar dois contatos de Martha Root efazer as visitas rotineiras a jornais.

Durante os dez dias de viagem de Recife ao Pará, houvemuitas oportunidades de conversar sobre a Fé com passageirosde várias nacionalidades e classes e com oficiais do navio,especialmente o capitão, um homem culto e escritor que leu tudoquanto pude lhe dar, discutiu comigo minuciosamente muitosaspectos dos ensinamentos e também melhorou algumas dasminhas traduções.”4

Em Belém, Pará, as portas se abriram de ummodo que parecia miraculoso, tal como o Mestre haviaprometido, se apenas levantássemos para ensinar. Maisuma vez, um teosofista, Alderico Castilho, ajudou detodas as maneiras, organizando palestras públicas e

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

uma excelente e realmentesurpreendente divulgação jornalística.Depois de minha partida, o sr. Castilhoencar regou-se da publicação da minhatradução em português de A Sabedoriade ‘Abdu’l-Bahá *, a qual May Maxwellgenerosamente havia se oferecido paracustear, e da distribuição de panfletosbahá’ís entre os interessados.Posteriormente, ele renunciou ao cargode secretário da Sociedade Teosóficapara dedicar todo o tempo possível aoserviço da Fé Bahá’í, a qual ele haviaaceitado de todo coração.

[Logo depois, oprimeiro livro bahá’íem português seriapublicado em Belém.Leonora escreve:]

“Assim, o primeirolivro bahá’í em portuguêsfoi publicado no Pará, em1922-23, sendo que, atéentão, só havia os doislivretos acima mencio-nados.”5

Da esquerda para a direita:srta. Leonora, sr. Alderico Car-valho e sua esposa sra. Oscarina,em Belém do Pará, 1922. Eleaceitou a Fé, tendo ajudado natradução e publicação do livro“Discursos de ‘Abdu’l-Bahá emParis” em português.

*Na primeira tradução para o por-tuguês o livro foi publicado com otítulo Discursos de ‘Abdu’l-Bahá emParis e nas edições subseqüentescomo Palestras de ‘Abdu’l-Bahá emParis – 1911, título da versão ingle-sa. As versões norte-americana e es-panhola do livro possuem o títu-lo: A Sabedoria de ‘Abdu’l-Bahá.n.e.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Leonora (segunda da esquerdapara a direita) com grupo de sim-patizantes antes de embarcar nobarco “João Alfredo”, indo deBelém à Manaus.

A VIAGEM POR CIDADES AO

LONGO DO RIO AMAZONAS

“Agora havia chegado o tempo de ‘ver o Amazonas’ e,para fazer isso de modo mais abrangente, escolhi um pequenobarco fluvial que levou oito dias para fazer a viagem parandoem todas as pequenas cidades ao longo do caminho e também,freqüentemente, para cortar grama para o gado que estávamoslevando ou para pegar lenha para o motor, permitindo-me assimnão só desfrutar melhor a beleza da paisagem, mas também,espalhar algumas sementes nessas cidades – Óbidos, Santarém,Piratinis, Itaquatiara, etc. – ao longo do caminho. Ospassageiros, cerca de uma dúzia, sentavam-se todos em torno deuma longa mesa no convés para fazer as refeições, com pouca ounenhuma proteção contra o sol escaldante, com o capitão àcabeceira – eram todos muito amáveis. Alguns se interessarampela Fé, especialmente o capitão que era teosofista.”6

A viagem de oito dias subindoo Amazonas em um pequeno barcofluvial do tipo chamado “gaiola” –apesar do calor extremo e da invasãode densas nuvens de mosquitos emcertos pontos da viagem – foi bastanteinteressante e agradável, com seulindo cenário, especialmente nas“estreitas”, onde passávamos sufi-cientemente próximos para ouvir ocanto dos pássaros e termos

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

vislumbres das brilhantes cores de suas plumagensreluzindo em meio à luxuriante folhagem de ambos oslados do rio – e os deslumbrantes pores-do-sol. Parameu desapontamento, a parada em Santarém foi muitotarde, à noite, para que eu pudesse descer do barco,mas na minha viagem de volta, por intermédio de umdos oficiais do barco, conheci um homem que lá viviae que me assegurou que o editor do único jornal, queera seu amigo, faria uso dos livretos e dos artigos quelhe dei. Em Óbidos, o editor do único jornal prometeuler cuidadosamente meus livretos e publicar um artigo;um dos principais oficiais dessa cidade recebera algumaliteratura bahá’í de um passageiro judeu com quem euconversara algumas vezes e quem ouvi dizer a seu amigopara não deixar de estudá-los, uma vez que essesEnsinamentos eram certamente a Verdade. Essepassageiro judeu vivia em Parintins e prometeu estudare distribuir qualquer literatura que lhe fosse enviada.Parintins não possuía jornal. Nossa outra parada foi

em Itaquatiara,com uma popula-ção de cerca de2.000 habitantes,contudo, o editorde seu único jornalparecia ser umhomem de algumacultura e meprometeu queusaria meu artigo.A informalidadedo nosso pequeno

Mapa do rio Amazonas mostran-do algumas cidades por onde Leo-nora passou em 1922, saindo deBelém e passando em Itaquatiara,Parintins, Óbidos, Santarém efinalmente Manaus, no centro daselva amazônica.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

barco, no qual, oficiais, tripulação e os dez ou dozepassageiros, todos faziam as refeições juntos em umalonga mesa no convés encabeçados pelo capitão, fezcom que eu facilmente conhecesse todos e todossoubessem da minha missão, e alguns lessem um poucosobre a Fé, especialmente o capitão.

Quando nosso barco aportou em Manaus, o sr.Gastão de Castro, presidente da Sociedade Teosófica,estava esperando para me receber, pois havia sidoavisado da minha chegada. Uma vez que aquela era anoite de sua reunião semanal, a qual se realizaria emsua casa, levou-me imediatamente para lá e ele e suaesposa, d. Ernestina, insistiram para que ficasse comeles durante minha permanência de uma semana emManaus. Foram maravilhosamente gentis, mostrando-me a verdadeira hospitalidade brasileira – talvezinsuperável. O pequeno grupo de teosofistas eraconstituído de pessoas cultas: um professor de escolanormal, oficiais do governo, um juiz, etc. Todos tinhamouvido sobre a Causa através de literatura enviada por

Leonora emManaus com osr. Gastão deCastro e família.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Martha Root e Guido Gnocchi e me mostraram opequeno livreto No. 9 que haviam cuidadosamenteguardado, dizendo que gostariam de saber mais sobreos Ensinamentos. Durante a semana que lá passeiconversei muito com eles individualmente e, na suasegunda reunião semanal, li um texto sobreimortalidade.

A primeira palestra pública em Manaus foi dadano Centro Espiritualista para cerca de 800 pessoas efui convidada para falar lá novamente, mas não houveoportunidade. A segunda foi numa igreja batista, ondehavia cerca de 3.000 presentes. As reportagensjornalísticas foram boas e também publicaram váriosartigos que lhes dei, sendo que o sr. Gastão levou-mepara visitar os editores de todos os jornais. O jornalvespertino publicou um artigo de duas colunas naprimeira página com minha fotografia e o próprioeditor de outro jornal pesquisou na biblioteca eescreveu um bom artigo, discorrendo sobre a históriado início da Causa e a crueldade dos martírios,especialmente o de Qurratu’l-Ayn. Na noite em que iadeixar Manaus, falei na Associação dos Empregadosdo Comércio para cerca de 200 pessoas, uma audiênciamuito atenta e respeitosa. Ao final, fui presenteada pelaSociedade Teosófica com uma grande e artística cestade flores. Então, cerca de trinta ou quarenta pessoasque haviam assistido à palestra acompanharam-me atéo barco.

Senti-me realmente em dívida com o sr. Gastãopor seus incansáveis esforços, aos quais se deveramtodas as reuniões públicas e a divulgação jornalística,bem como, os interessantes contatos feitos em sua casa

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

entre seus companheiros teosofistas e também parentese amigos que convidou para me conhecerem, entreestes últimos, o filho do governador do Estado.

Na viagem de volta de Manaus ao Pará, em umnavio de cruzeiro*, vários dos passageiros que haviamassistido às palestras ou leram os artigos dos jornaisvieram falar comigo, e assim houve muitasoportunidades de conversa e distribuição de literatura.Dois deles eram jornalistas do Pará que,posteriormente, publicaram artigos. Na segunda noite,pediram-me que desse uma palestra sobre a Fé, e assimo fiz, do lado de fora, no convés; pois o salão não erasuficientemente grande, uma vez que todos oscinqüenta ou sessenta passageiros vieram assisti-la.

Um dos mais interessados foi uma senhoraamericana que vinha fazendo uma viagem ao redor domundo nos últimos dez anos, viajando por todo ointerior da África, Ásia e Austrália; visitando a Nova

*No relatório de Leonora,enviado ao History Committee(1951), órgão da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ísdos Estados Unidos, ela escreveu:“No S. S. João Alfredo, um barcomaior e mais rápido que escolhipara a viagem de volta, espalhou-se a notícia de que havia umajovem americana a bordo quehavia feito palestras em Manaussobre uma nova Fé. Inicialmente,respondi individualmente àsperguntas dos passageiros edepois, a pedido deles, umapalestra foi dada para todosreunidos no convés, à qualouviram atentamente por cerca deuma hora, enquanto descíamos obelo rio Amazonas.”

O jornal “Gazeta da Tarde” pu-blicou vários artigos anuncian-do as palestras de Leonora du-rante sua estadia em Manaus.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Zelândia, as ilhas Fiji e muitas outras ilhas,permanecendo algum tempo em cada lugar a fim devisitar todos os lugares de seu interesse e observar oscostumes dos povos, fazendo muitas anotações,embora tenha me dito não ter intenção de publicá-las.Apesar de ter residido em Chicago e também ter viajadopor toda a Terra Santa, nunca tinha ouvido falar da Fé!Como gostaria que ela tivesse conhecido e levado aMensagem a todas aquelas remotas regiões! Ela leu como maior interesse tudo o que lhe dei e o que mais lheagradou foram algumas orações que copiei para ela.Levou consigo um pacote de livretos em espanhol e algunsoutros em diversas línguas para distribuir na viagem queestava planejando fazer no ano seguinte pelo interior daArgentina, Peru, Bolívia e outros países da América doSul. Ela me disse que tentaria pelo menos deixar um livretocom alguém em cada lugar que visitasse.

UMA AUDIÊNCIA

EXTREMAMENTE ENTUSIASMADA

“Pará, situado na foz do rio Amazonas, provou ser acidade com a maior e mais entusiástica de todas as audiências.Mais uma vez, a pessoa chave foi um teosofista e, também, umtelegrama do sr. Luz, da Bahia, ao editor do Estado do Pará,um dos dois jornais mais importantes daquele estado, foi degrande ajuda, pois esse jornal foi colocado à minha inteiradisposição e publicaram em sua primeira página um longo artigosobre a Fé, com fotografias. Os 500 assentos do Centro

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Espiritualista, onde houve a primeira palestra, estavam lotadosbem antes da hora marcada e centenas de pessoas em péabarrotavam até mesmo as escadas, de modo que os atrasadosnão puderam entrar... No encerramento, o presidente disse quejamais ouvira palavras tão comoventes quanto as de Bahá’u’lláhque eu havia citado, e ofereceu o auditório para tantas reuniõesquanto tempo houvesse. Foi possível apenas mais uma reuniãonesse local, pois eu havia aceitado outros convites para falar –em uma das escolas, primeiro, para cerca de uma centena de paise professores e, no dia seguinte, a pedido do diretor, às crianças ea outros grupos, principalmente no Auditório Maçônico, parauma audiência muito seleta, sendo que no dia seguinte os jornaispublicaram uma longa lista das pessoas proeminentes que haviaestado presentes. Entre os que estavam sentados à mesa com apioneira bahá’í, estava o presidente da Suprema Corte, ocomandante-chefe da polícia civil e a única mulher advogada doPará.”7

A CHEGADA EM NOVA IORQUE

Finalmente, por volta do final de 1922, parti doPará para Nova Iorque. Minha felicidade ao ver maisuma vez os meus amados, especialmente minha irmã, eos mais próximos e queridos amigos bahá’ís é difícilde descrever; durante todo aquele ano que passei nosEstados Unidos aproveitei todas as oportunidades deestar com eles. Voltei a visitar o local do último empregoque tive antes de ir para o Brasil, a New York State

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

Training School for Girls*, em Hudson, a mesmainstituição em que minha avó e minha mãe haviamtrabalhado, agora com novo nome, e logo obtive umanomeação de serviço civil para uma melhor posição, ade chefe dos agentes da condicional.† Foi muitointeressante fazer o planejamento e a supervisão dotrabalho de quatro ou cinco agentes auxiliares,casualmente, todos bem mais velhos do que eu, a vastacorrespondência, o contato com as moças antes de suacondicional e a oportunidade de fazer algumas viagenssempre que fossem justificáveis – para não falar doexcelente salário e o conforto de um apartamentoprivativo na instituição, com tudo preparado para mim,até mesmo para as minhas ninharias! Era o trabalhoque eu realmente amava e foi difícil pensar emabandoná-lo novamente, mas o desejo de voltar aoBrasil tornou-se mais e mais forte em mim. Percebique mal havia começado o trabalho naquele vasto país;havia novos bahá’ís precisando ser nutridos e muitas,ó Deus, tantas regiões completamente intocadas – soloainda virgem – tudo o que havia sido capaz de fazernos quase dois anos que lá passara era menos do queuma gota no oceano do que precisava ser feito.

[Como altas ondas num agitado mar, os pensamentosde Leonora moviam-se agora entre a vida cômoda deNova Iorque e o vasto e promissor campo de ensinono Brasil, onde muitas portas já haviam miraculo-samente se aberto diante dela, embora as dificuldadesfinanceiras a tivesse levado de retorno a seu país nati-vo. Nessa condição, ela resolve escrever ao Guardiãopedindo seu conselho.]

* Escola Estadual de Nova Iorquepara Educação de Moças.†Cargo civil relacionado ao serviçosocial em que se atende eacompanha recém-egressos daprisão. n.r.

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

“N.Y. State Training SchoolHudson, N.Y.

Março de 1923

A Shoghi Effendi, Guardião da Sagrada Causa de DeusHaifa, Palestina

Nosso amado Guardião,Esta humilde serva no limiar do Mestre, suplica seu

conselho em relação ao ensino no território do Brasil.Na primavera de 1920, supliquei ao Mestre permissão

para ir à América do Sul para me dedicar ao trabalho dedivulgar a Mensagem do Reino e, embora exteriormentenenhuma resposta tenha recebido, em janeiro de 1921, o caminhoabriu-se para ir a Santos, no Brasil.

Alguns meses depois, em um momento em que estava muitodoente, com febre e muito abatida por ter realizado tão pouco,chegou uma gloriosa Epístola a qual me trouxe nova esperançae coragem, pois ela prometia: ‘Esta assembléia celestial crescerádia após dia, os amigos inebriados terão mais arrebatamento eêxtase, começarão a romper em melodias e harmonias e erguerãoa canção que atingirá a Assembléia Suprema e regozijará ealegrará os santos.’

Tão logo recuperei minhas forças, as portas começaram ase abrir maravilhosamente. Entrementes, havia adquiridosuficiente familiaridade com o português para dar palestras nesta

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

língua e surgiram oportunidades de falar no Rio de Janeiro e em

São Paulo. Posteriormente, fui à cidade da Bahia, sobre a qual

o Mestre havia falado particularmente, e lá, durante três meses,

foram realizadas reuniões públicas semanais e muitas pessoas

foram atraídas. De lá, viajei pelo Norte, visitando todas as

cidades importantes e falando para centenas de pessoas em

reuniões, em auditórios públicos, igrejas, escolas, etc. Em todas

as ocasiões, usei quase exclusivamente Palavras de Bahá’u’lláh

e ‘Abdu’l-Bahá e muitos pareceram reconhecer Sua grande beleza

e sentir Seu tremendo poder. Os principais jornais publicaram

longos artigos em suas primeiras páginas, tornando, assim, a

Causa conhecida a milhares de pessoas.

Em cada uma dessas cidades (Santos, Rio de Janeiro, Bahia,

Pernambuco, Pará e Manaus), há pelo menos uma pessoa dedicada

a distribuir literatura, a responder perguntas, em suma, a fazer

tudo que estiver ao seu alcance para a promoção da Causa.

Nossa querida irmã, May Maxwell, enviou livros para

formarem o núcleo de uma biblioteca circulante em cada um

desses centros e, também, ajudou-nos a publicar uma tradução

em português de ‘A Sabedoria de ‘Abdu’l-Bahá’ [Palestras de

‘Abdu’l-Bahá – Paris/1911]. Esta tradução não pôde ser

preparada da maneira como ‘Abdu’l-Bahá determinou, pois não

conheço alguém que saiba ambos os idiomas persa e português,

mas alguns amigos brasileiros auxiliaram-me e a tradução foi

revisada diversas vezes, com muito cuidado, de modo que acredito

estar precisa, e embora, sem dúvida, muito da beleza das elocuções

do Mestre possa estar perdida na tradução, ainda assim, creio

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

que retrata realmente o espírito de Suas Palavras e servirá pelomenos até que uma tradução mais perfeita possa ser realizada.Tenho esperança de que isto terá sua aprovação. Sinto que háuma urgente necessidade de literatura em português, poisrelativamente poucos lêem em inglês. A única publicação quehavia em português, quando cheguei lá pela primeira vez, era opequeno livreto ‘No. 9’, e foi necessário dizer a centenas de pessoasque o leram e estavam ansiosas por saber mais que, por enquanto,nada mais foi traduzido em sua língua.

Em novembro último, voltei para este país porque duranteo último período de minha permanência no Brasil, por estarviajando, não pude ganhar meu sustento (como havia conseguidofazer no decorrer do meu primeiro ano lá) e, assim, fiz algumasdívidas, e também porque ansiava por estar na companhia dosamigos daqui. Talvez não devesse ter retornado, pois asoportunidades de serviço na minha situação atual parecem-metão pequenas se comparadas com àquelas que tive o privilégio deencontrar no Brasil. Rezo constantemente para que o caminhose abra para que eu volte ao Brasil e estou trabalhando parapagar minhas dívidas e guardar o suficiente para ir. Algumasvezes, no entanto, fico pensando se, talvez, não poderia ajudar omesmo tanto, ou mais, no trabalho da Causa lá, traduzindo omáximo possível e enviando meu dinheiro para custear apublicação dessas traduções no Brasil, especialmente porqueagora há outras pessoas que podem distribuí-las, ainda que, atéonde sei, não haja ninguém no Sul do Brasil, mas como o alemãoé o elemento predominante no povoamento daquela parte do

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Capítulo 8Volta ao Estados Unidos

país e nós temos bastante da Palavra Sagrada traduzida para oalemão, seria mais fácil difundir os Ensinamentos lá. O senhoraconselharia a me esforçar para voltar ao Brasil e, em casopositivo, posso solicitar orações por auxílio e guia? Desejodedicar minha vida ao serviço da Causa para estar livre detodo desejo exceto o de servir e da maneira e no lugar em que Elequiser que eu sirva.

Sua recente mensagem a nós trouxe-me muita alegria eoro consigo para que possamos todos nos levantar com novadeterminação e devoção e que o Reino de Deus possa serrapidamente estabelecido sobre este mundo atribulado.

Com amor e afetuosas saudações a todos os membros daFamília Sagrada.

Sua fiel no Abençoado Convênio,Leonora Stirling Holsapple”8

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Capítulo 9A Volta ao Brasil - 1923

Leonora na proa do navioque a trouxe de volta aoBrasil em 1923, junta-mente com sua irmã, Alethee a querida amiga, MaudeMickle. Da esquerda paraa direita: Leonora, Alethee Maude.

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Capítulo 9A Volta ao Brasil - 1923

artas de Claudenor Luz falavam-me docrescente interesse na Bahia e medeixaram ansiosa por ajudar a levar avanteo trabalho naquela cidade que o Mestre

mencionara tão especialmente.Foi assim que, em dezembro de 1923, novamente

parti para o Brasil, mas desta vez acompanhada pelaminha amada irmã, o que tornou mais fácil partir, etambém por uma bahá’í que conheci em Buffalo e quesentiu o desejo de trabalhar comigo no Brasil, MaudeMickle. Houve vários contatos interessantes durante aviagem naquele navio inglês, e num domingo pelamanhã, o capitão pediu-nos para conduzir o serviçoreligioso para todos os oficiais e passageiros, tendosua permissão para usarmos livremente nossosEnsinamentos e orações bahá’ís.

Mais uma vez, fiz a viagem subindo o Amazonasaté Manaus, mas desta vez em um confortável navioinglês, acompanhada por minha irmã e Maude Mickle.Novamente, o sr. Gastão e esposa foram muitohospitaleiros e incansáveis no serviço à Fé durante assemanas que lá passamos.

Em Belém, Pará, quando voltávamos de Manaus,houve uma palestra bahá’í no grande salão do novo

9A VOLTA AO BRASIL

1923

C

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Capítulo 9A Volta ao Brasil - 1923

Centro Espiritualista a uma audiência de somente cercade cem pessoas, mas que resultou em tanta divulgaçãoe em tantos buscadores, que foram ao nosso hotel nodia seguinte. Assim, decidimos ficar mais tempo a fimde que eu pudesse dar uma segunda palestra e, dessavez, a audiência foi o dobro da primeira. Estapermanência prolongada, deu-nos também aoportunidade de contatar, por intermédio de nossalavadeira de Barbados, um grupo de cerca de 25barbadianos com os quais nos encontramos várias vezespara o ensino da Fé e, depois, colocá-los em contatocom o sr. Castilho que prometeu realizar reuniõessemanais para eles. Mais tarde, soubemos que ele oestava fazendo e que os nossos amigos barbadianosestavam participando naquelas reuniões.

O fundador de um grupo teosofista do Estado doPiauí, que casualmente estava no Pará enquanto nosencontrávamos lá, ficou tão interessado que levou algunslivros e prometeu colocar artigos nos jornais do Piauí etalvez dar uma palestra sobre a Fé Bahá’í.

Uma parada de três dias em Fortaleza, Ceará,trouxe a possibilidade de, pela primeira vez, dar palestrasbahá’ís nesta cidade, pois, por ocasião da minha primeiravisita em 1922, somente houvera tempo para brevescontatos com jornais. Em cada uma das três noites houveuma palestra a uma platéia praticamente lotada quedemonstrou muito interesse, resultando em consideráveldivulgação jornalística. Ficamos tão impressionadas coma cordialidade e a sinceridade dessas pessoas quelamentamos não poder ficar mais.

Em Recife, Pernambuco, nossa parada seguinte,fomos recebidas por uma amiga, cuja mãe havia me

Fortaleza, Ceará na década de1920.

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Capítulo 9A Volta ao Brasil - 1923

recebido em sua casa em 1922. Esta amiga era Belmade Barros, agora uma bahá’í declarada e muito ativa,assim como seu primo, Raul Duarte, que falava sobrea Fé e distribuia livretos entre parentes e amigos emRecife e também no Rio Grande do Norte. Houveduas palestras públicas, sendo que na segunda, numsalão de capacidade para 200 pessoas, ficoucompletamente cheio e muitos foram obrigados a ficarem pé nos corredores e até nas escadas durante toda areunião. Editores de jornais foram amáveis ecooperativos como anteriormente.

Ao chegarmos em Maceió, capital do Estado deAlagoas, tivemos a agradável surpresa de que nossonavio permaneceria 24 horas em vez das costumeirastrês ou quatro horas, pois isto significava a possibilidadede uma reunião à noite. Juntamente com o presidenteda Sociedade Teosófica, fomos visitar os líderes de doisgrupos espiritualistas, a fim de convidá-los para areunião, e também os editores de quatro ou cincojornais, um dos quais lembrou da visita de Martha Roote também da minha visita anterior, em agosto de 1922,e nos mostrou um belo artigo sobre a Fé que haviapublicado naquela época na primeira página de seujornal. Apesar de um anúncio com tão pouco tempo,houve uma boa participação na reunião, cerca desessenta a setenta pessoas enchendo o pequeno salão eouvindo atentamente. Um esperantista, que conheciem minha visita anterior, visitou-nos no hotel, comotambém o fez alguns teosofistas, e uma pessoa quehavia participado da reunião pegou um pequeno barcopara vir até nosso navio no dia seguinte a fim de solicitar

Maceio, Alagoas, no começo doséculo passado.

Recife, Pernambuco no começo doséculo XX.

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Capítulo 9A Volta ao Brasil - 1923

mais literatura e [levar] um artigo que prometi prepararpara um dos jornais.

Naquela tarde, a bordo do navio, algunspassageiros pediram-me para dar uma palestra sobre aFé e saíram convidando todos os outros para assistirem.Um bom número de pessoas se reuniram no salão eouviram com interesse por cerca de quarenta minutose foram feitas perguntas. Durante o resto da viagematé o Rio, pudemos ter conversas individuais comaqueles passageiros.

No Rio, decidimos nos permitir fazer um poucode turismo, bem como dedicar-nos ao trabalho bahá’í,seguindo depois para São Paulo e Santos, ondeprincipalmente minha irmã quis expressar sua gratidão

Leonora e sua irmã Alethe noJardim Botânico do Rio de Ja-neiro em 1924.

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89Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 9A Volta ao Brasil - 1923

às bondosas amigas que cuidaram de mim quando tivetifo e que, provavelmente, salvaram minha vida.

Então, chegou o momento em que minha irmãprecisou retornar ao seu trabalho nos Estados Unidose Maude e eu iríamos à Bahia, onde pretendíamosestabelecer residência. Foi extremamente difícilseparar-me novamente de minha irmã, a quem amavatão profundamente. Sempre que separadas,mantínhamos íntimo contato através de assíduacorrespondência, e agora, continuamos a escreverlongas e detalhadas cartas relatando todas as nossasatividades – nossos pequenos e grandes problemas,nossas alegrias e nossas tristezas. O valor do apoiomoral que minha irmã me deu no decorrer dos anosseria difícil de ser devidamente estimado, e sua ajudano envio de roupas, da literatura bahá’í que precisavae do dinheiro nas emergências, também o foram deincalculável benefício.

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Capítulo 10A Vida na Bahia

Vistas de Salvadorem 1920. Acima acidade baixa; aolado a Praça Cas-tro Alves.

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91Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 10A Vida na Bahia

m abril de 1924, chegamos àSalvador, Bahia, com fundos

deploravelmente exauridosdevido a paradas mais numerosas

e mais prolongadas do que havíamos planejado e, daí,foi imperativo que alugássemos a primeira e a maisbarata casinha que pudemos encontrar, poispermanecer muito tempo em hotel nos deixariacompletamente sem um tostão. Era preciso quetivéssemos pelo menos uma cadeira para cada uma denós sentar em nossa casa, e uma mesa, as quaiscompramos em uma loja de móveis usados, o “Bazardos Pobres”, e dois colchões de palha. Essas coisas,juntamente com os nossos baús, foram levadas emcarroça de burro subindo o morro, até a casinha quetínhamos encontrado no bairro Rio Vermelho, no Altode São Gonçalo. A casa tinha o piso cimentado, e sebem me recordo, nenhum forro no teto, e, comodescobrimos para nosso desapontamento, nembanheiro interno ou qualquer tipo de fogão. Duasmoças negras, nossas vizinhas, gentilmente nosemprestaram um pequeno fogão a carvão, no qualcozinhamos até que ganhei dinheiro suficiente com asaulas para podermos comprar um. Lembro-me de umdivertido episódio:

10A VIDA NA BAHIA

E

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Capítulo 10A Vida na Bahia

Nas pri-meiras noites,algumas vezesassustamo-nos aoouvir nosso por-tão se abrir e porisso pensamos emcolocar um sinonele. Comprei,então, um sino por4 mil réis; masMaude, ao fazeralguns cálculos –ela era a adminis-tradora, sendo a

minha parte dar aulas de inglês e traduzir – ficoualarmada e comunicou que no final do mês poderíamospassar necessidade por causa daquele dinheiro quegastei com o sino! Assim, fui obrigada a pedir ao donoda loja que recebesse o sino de volta. Mas, então,descobrimos que era apenas um burro que estavaabrindo nosso portão!

[Ao voltar ao seu posto de pioneirismo na Bahia,Leonora sentiu-se “impelida a escrever” ao amadoGuardião, reafirmando sua “absoluta lealdade edevoção”, relatando resumidamente seu esforço juntocom a srta. Maude Mickle em “difundir as boas-novasneste país” e solicitando orações para aqueles que setornaram atraídos à Causa de Deus, naqueles primeirosdias...]

Leonora com grupo de crianças napraia do Rio Vermelho em Sal-vador, Bahia, 1925.

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93Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 10A Vida na Bahia

“Estou profundamente grata ao nosso Amado Mestre que

através de Sua infinita sabedoria e bondade designou um

Guardião para preservar a unidade da Causa, e oro para que

todos os amigos possam crescer firmemente na percepção de que a

perfeita unidade só pode ser conseguida da maneira que o Mestre

proveu e que, nesta época, volver-se para este Ponto Focal de

unidade, com absoluta lealdade e devoção, é idêntico à firmeza

no Convênio.

…Gostaria de pedir-lhe orações por aquelas almas que

se tornaram atraídas à Causa – especialmente por Claudenor

Luz que está se confirmando cada vez mais e é absolutamente

dedicado em seus esforços na difusão da Mensagem em seu Estado;

pelo sr. Gastão de Castro, presidente da Sociedade Teosófica de

Manaus e um sincero buscador da verdade; pelo sr. Alderico de

Castilho que abriu sua casa para reuniões bahá’ís no Pará; por

Belma de Barros que está estudando os ensinamentos com

seriedade e também difundindo-os entre suas amigas em

Pernambuco; e pela sra. Elisa Saltini e sua filha, de Santos, que

também ficaram muito atraídas.”1

Claudenor Luz [o primeiro a aceitar a Causa naBahia] costumava subir o morro à noite para ir à nossareunião, trazendo outros consigo; pouco tempo depoisconseguimos comprar mais cadeiras, mas realmentenossa casa ficava fora da cidade e nosso íngreme morroera tão lamacento e escorregadio que tornava-se meioperigoso nas noites escuras e chuvosas, quando euvoltava das minhas aulas no centro da cidade. Assim,

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Capítulo 10A Vida na Bahia

tão logo nossa situação financeira permitiu,mudamo-nos para o centro, alugando todo osegundo andar do prédio na rua Chile, no 21,a principal rua da Cidade Alta e, portanto, amelhor localização para reuniões bahá’ís.Claudenor imediatamente mandouconfeccionar uma placa com as palavras “SedeBahá’í” em letras grandes e esta, estendendo-se de um lado ao outro na frente do segundo

andar do prédio, atraiu considerável atenção. Os jornaistambém anunciavam nossas reuniões semanais, emuitos participavam, entre os quais se destacam HyramFaria Ribeiro e Francisco Barbosa que aceitaram a Fé eprestaram inestimáveis serviços de diversas maneiras,especialmente em traduções, e um casal inglês, Hermane Marion Rycroft, que também abraçou a Fé eposteriormente contribuiu para o sucesso de nossasreuniões com belos poemas e canções bahá’ís queHerman compunha e o casal cantava em conjunto. Doisestudantes de medicina, atraídos pela placa, ou pelosanúncios nos jornais, foram o meio através do qualfizemos um dos mais importantes contatos com umgrupo de trabalhadores de fábricas na Calçada, um dossetores mais pobres nos subúrbios da cidade. Nahumilde casa de um deles, a de dona Antonia Miranda,durante vários anos foram realizadas reuniõesquinzenais aos domingos à tarde, com umaparticipação média de quinze pessoas, sendo quealgumas participavam sempre, outras desistiam, ou semudavam, ou morriam, enquanto novas pessoasvinham e as crianças cresceram e tornaram-se, anos maistarde, membros da Comunidade Bahá’í.*

*“No dia 1o de outubro de 1924,o dr. Aloísio Campos, entãoestudante de medicina, que maistarde mudou-se para o Rio deJaneiro, levou a sra. Armstrong,nascida Leonora S. Holsapple, àcasa de d. Antonia Miranda e aapresentou como pioneira de umanova Fé. Neste mesmo dia, elesdistribuíram folhetos e livros econvidaram todos os presentespara uma reunião daí a 15 dias nomesmo local; reuniões essas quecontinuaram regularmente esempre atraíam um bom númerode participantes.”De acordo comos registros dos arquivos daAssembléia Espiritual Local dosBahá’ís da Bahia.

Rua Chile em Salvador em1920, aonde Leonora alugou osegundo andar de um edifíciono número 21 desta rua e colo-cou uma placa na frente delecom os dizeres: Sede Bahá’í.

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Capítulo 10A Vida na Bahia

[Certa vez, ao descrever essas primeiras reuniõesrealizadas na Bahia, ela escreveu:]

“As reuniões quinzenais que por vários meses temosrealizado em um dos bairros mais pobres da cidade, para umgrupo de trabalhadores de fábricas, não parecem ter resultadostão desencorajadores como as que realizamos em nossa casa. Hácinco ou seis que comparecem fielmente a todas as reuniões e acada vez trazem consigo uma ou duas pessoas novas. No últimodomingo, três de nós planejamos uma reunião especial para elas,oferecendo-lhes uma festa tanto material como espiritual, e haviacerca de vinte e cinco presentes – um grupo realmente interessado.A família em cuja casa sempre nos reunimos tem uma foto de‘Abdu’l-Bahá emoldurada e afixada na sala de reuniões. Todosficaram especialmente impressionados com os numerosos atos decaridade e palavras de conforto aos pobres da parte de ‘Abdu’l-Bahá e nos parece que O amam muito.”2

Ainda naqueles primeiros anos, 1924 e 1925,entre aquelas pessoas simples, humildes mas sinceras edevotas que compareciam às reuniões, falavam da Féaos seus amigos e faziam orações; vinte e duas, em certaocasião, assinaram uma carta dirigida ao Guardião,expressando sua simpatia em relação à Fé e lealdade aele e pedindo suas orações por seu crescimentoespiritual – de acordo com os padrões atuais, deveriater sido formada uma Assembléia Local. E, além dessegrupo, havia Claudenor Luz, incansável em suadevoção à Causa; Hyram Faria, que durante anostrabalhou comigo todas as noites até altas horas em

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Capítulo 10A Vida na Bahia

traduções e colaborou em todas as nossas outrasatividades; pelo menos três outros jovens que servirama Fé de diversas maneiras; e, o casal inglês, Herman eMarion Rycroft que eram crentes declarados e ativos.Entretanto, apesar de tudo isso – fato que veio setornando cada vez mais incompreensível para mim nosanos mais recentes* – ainda hesitei em formar umaAssembléia. Eu parecia trabalhar dominada pelaimpressão errada de que um entendimento mais claroda posição de Bahá’u’lláh era necessário, umreconhecimento mais pleno da grandeza deste Dia ededicação deveriam ser alcançados. Eu havia conhecidointimamente, e admirado profundamente, os membrosde nossas Assembléias Espirituais da América do Nortedurante aqueles primeiros tempos e – hesitei. Foi umerro grave que jamais deixei de deplorar, pois, semdúvida, o crescimento espiritual daquelas almassinceras, independente da limitação de seus donsintelectuais e da inadequação de sua compreensão daFé, poderia ter sido grandemente acelerado se tivessemtido o privilégio de unirem-se em uma AssembléiaEspiritual, de participarem da bênção espiritualproveniente da consulta, da oração e do serviço emperfeita unidade. Quando, muitos anos depois,finalmente foi formada uma Assembléia EspiritualLocal na Bahia, a maioria era composta por aquelaspessoas simples da Calçada.

Outro importante contato feito por intermédiodos dois estudantes de medicina foi na cidade de Feirade Santana†, onde, certo domingo pela manhã, houveuma palestra bahá’í na prefeitura, presidida pelopróprio prefeito.

*Conforme citado na Intro-dução, esta auto-biografia foirelatada em 1971.†Cerca de 100 km de Salvador.

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Capítulo 10A Vida na Bahia

INTENSIFICANDO AS TRADUÇÕES

[O seu desejo sincero era o de espalhar mais plena-mente as sementes da Fé em todos os campos. Ela en-contrava-se, entretanto, diante de um desafio: a senti-da falta de literatura em português. Além de um oudois folhetos já publicados, havia ainda exemplares dolivro A Sabedoria de ‘Abdu’l-Bahá. Seus esforços agorase dirigiam para a rápida conclusão de sua tradução epublicação do livro Bahá’u’lláh e a Nova Era.]

“A falta de literatura na língua portuguesa tem sido umsério obstáculo, mas aos poucos está sendo superado. Através dagenerosidade de alguns amigos americanos, foi possível publicar500 exemplares da tradução em português de ‘A Sabedoria de‘Abdu’l-Bahá’. No momento, tenho quase completa a traduçãodo livro do dr. Esslemont, ‘Bahá’u’lláh e a Nova Era’ e esperoque este também possa ser publicado num futuro próximo.”3

[Com o auxílio de um jovem brasileiro, Leonora voltoua fazer uma nova revisão na tradução de Bahá’u’lláh ea Nova Era. Mas, antes que tudo ficasse pronto parapublicação, longos meses seriam necessários. Leonoraescreveu:]

“…Um jovem brasileiro, sr. H. Faria Ribeiro, que háalguns meses ficou muito atraído à Causa, revisou toda atradução comigo, colocando-a em um português melhor. Embora

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Capítulo 10A Vida na Bahia

não seja forte e obrigado a trabalhar dez horas por dia, ele dedicoua esta tarefa de revisão muitas noites e todos os seus domingos eferiados nos últimos três meses, e com o mais belo espírito deserviço.

Também, o sr. Faria e outro jovem brasileiro, sr. Costa,estão agora trabalhando comigo em uma nova tradução: ‘AsPalavras Ocultas’, seguindo sua tradução [do inglês]. Esta,juntamente com a de algumas orações, também, esperamospublicar em pouco tempo.”4

[Aqueles, no entanto, eram tempos bastante difíceis eLeonora, diante de ainda poucos resultados de seusesforços, sentia-se desalentada e inadequada para a ta-refa. Logo, ela escreveria ao amado Guardião.]

“Durante mais ou menos todo o último mês, contudo,pareceu-nos estar passando por uma fase especialmentedesalentadora, e achei que não poderia escrever-lhe até que pudessedar notícias mais encorajadoras.

O comparecimento às nossas reuniões tornou-se aindamenor, e as organizações locais, tais como a Sociedade Teosófica,o grupo espiritualista, etc., os quais sempre foram muitoamistosos e cooperativos, participando de nossas reuniões eocasionalmente convidando-me para falar nas suas, parece queultimamente perderam o interesse. Apenas uma pessoa dessesgrupos participou da nossa festa de Naw-Rúz, embora tivéssemosmandado um convite a cada organização.

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Capítulo 10A Vida na Bahia

Assim, mais do que nunca, tornei-me consciente de minhagrande deficiência, minha completa inadequação e falta demerecimento para servir aqui, e sinceramente supliquei ao Mestreque enviasse, para trabalhar neste campo, alguém com maiorenergia, mais inflamado com o Espírito, de modo que estesespiritualmente cegos possam sentir o ‘calor de Seu amor’ esejam vivificados pelos raios do Sol da Verdade.”5

[E, em sua ânsia por se sentir mais útil aos destinosimediatos da Causa, ela ofereceu-se até mesmo para irajudar o amado Guardião em seu importante trabalhode tradução na Terra Santa.]

“Já tive alguma experiência em tradução, mas somentepara as línguas latinas e o alemão. Embora desde longa datatenha nutrido a esperança de aprender persa, não me foi possívelfazê-lo, nem tenho familiaridade com qualquer língua oriental.Na faculdade, minha especialização foi em latim e alemão e,depois de me graduar na Cornell University em 1915, lecioneiessas duas línguas durante dois anos e meio. Durante meus doisanos e meio no Brasil, fiz considerável quantidade de traduçõesdos ensinamentos do inglês para o português. Embora não tenhatido nenhum treinamento efetivo em estenografia, através daprática, adquiri uma boa velocidade nesta função e no uso damáquina de escrever.

Como não tenho obrigações domésticas, estou livre parair a qualquer parte do mundo e desejo dedicar-me inteiramenteao serviço da Causa. É necessário, no entanto, que eu ganhe

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Capítulo 10A Vida na Bahia

minha subsistência, pois não tenho qualquer renda. Atualmente,

tenho economia suficiente para pagar minha passagem à Haifa

e viver às minhas custas por um curto período.

Se julgar-me capaz de ajudá-lo em qualquer serviço, por

menor que seja, ficaria muito feliz e grata por este privilégio.”6

[Apesar do crescente trabalho e da necessidade deservicos de tradução na Terra Santa, aquilo que odestino pareceu ter reservado para ela era o igualmentegrandioso serviço no Brasil. Foi precisamente por essaépoca que Leonora recebeu uma carta de ShoghiEffendi, escrita por J. E. Esslemont*, seu antigosecretário, pedindo a tradução de um pequeno livretoem português e espanhol, à qual ela prontamente deuinício.]

“Querida irmã bahá’í,

Estou anexando um folheto de 8 páginas, o qual foi

revisado por Shoghi Effendi e que ele deseja que seja traduzido

e publicado em tantas línguas quanto possível. Seria possível

traduzi-lo e imprimi-lo em português? … Se também puder

fazer sua tradução para o espanhol, tanto melhor; mas se isto

não lhe for conveniente, queira, por favor, informar a Shoghi

Effendi de modo que ele possa fazer outros arranjos para a

tradução. Na última página da tradução em português, poderia

colocar endereços no Brasil, aos quais as pessoas que estão

buscando maiores informações poderiam dirigir-se para solicitá-

las, assim como, literatura, etc., e qualquer outra informação

de interesse local, e uma pequena lista de livros sugeridos...”7

*John E. Esslemont (1874-1925)Proeminente bahá’í britânico,muito conhecido por seu livroBahá’u’lláh e a Nova Era (publicadoem inglês em 1923). Conheceu aFé Bahá’í em 1914 e foi uma figuraimportante no embrionáriodesenvolvimento da Fé naInglaterra. Acabou se tornando umgrande amigo e confidente deShoghi Effendi, o qual convidou-oa ir a Haifa para ser seu secretáriona língua inglesa em 1924. Foidesignado postumamente Mão daCausa de Deus e nomeado comoum dos “Discípulos de ‘Abdu’l-Bahá”. Maiores detalhes ver Bahá’íWorld, vol. I, pp. 133-136.

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Capítulo 10A Vida na Bahia

CELEBRANDO O NAW-RÚZ DE 1925

[Após tão poucos anos da chegada da Fé ao Brasil,um primeiro grupo de crentes, reunidos com a jovemLeonora, celebraria na Bahia, com grande entusiasmoe devoção, a sua primeira Festa de Naw-Rúz. Aindaque Leonora desejasse ver resultados ainda maistangíveis, essa celebração era em si mesma a prova deque a Fé estava se enraizando nos corações; era umprimeiro vislumbre do cumprimento daquele desejoexpresso por ‘Abdu’l-Bahá na Epístola dirigida a ela,onde disse: “...os amigos inebriados terão maisarrebatamento e êxtase, começarão a romper emmelodias e harmonias e erguerão a canção que atingiráa Assembléia Suprema e regozijará e alegrará ossantos.”

Aqueles primeiros crentes, ainda durante ofulgor das festividades do Naw-Rúz, escreveram umacarta1 a Shoghi Effendi:]

Jardim da Graça, Salvador,Bahia, na década de 1920.

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Capítulo 10A Vida na Bahia

“Baixa da Graça, 25, Bahia, Brasil.

21 de março de 1925

A Shoghi Effendi

Haifa, Palestina

Venerado Guardião da Causa,

Nesta nossa primeira comemoração da Festa de Naw-

Rúz na Bahia, desejamos lhe estender, e à Folha Mais Sagrada

e aos demais membros da Família Sagrada, nossas amorosas

saudações, assegurando-lhe nossa inteira simpatia para com a

nobre Causa da Fraternidade Universal e da Paz.

Entendemos quão grande é a necessidade que o mundo

tem destes elevados princípios, que de fato constituem o único

remédio soberano para todos os seus males e, por isso, ansiamos

ver a aplicação universal deles, através do Poder do Espírito

Santo.

Pedimos suas orações para que sejamos orientados e

assistidos em nossos esforços em promover esta Causa por todo

o nosso país.

Com afetuosas saudações,

Em Seu serviço,

Abdon Deocleciano de Souza

H. Faria Ribeiro

F. Barbosa da CostaClaudenor da Luz

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Capítulo 10A Vida na Bahia

Ezequias da Costa Lage

Benigno Pedro Nolasco

Herman Heaton Rycroft

Marion Rycroft

Leonora Stirling Holsapple

Maude M. Mickle”8

[Logo duas cartas repletas de amor e promessas che-gariam da Terra Santa para encher os corações e almasdaqueles amigos, em especial o de Leonora, com o maispuro sentimento de júbilo e contentamento, diante dodescortinar da visão futura da Causa na Bahia e noBrasil, desveladas agora por Shoghi Effendi. Na pri-meira carta, datada de 26 de maio de 1925, o Guardiãodirigiu-se ao recém-formado grupo de crentes nas se-guintes palavras:]

“Queridos irmãos e irmãs bahá’ís,

Shoghi Effendi ficou encantado em receber suas saudações

provindas da primeira Festa de Naw-Rúz na Bahia. A Folha

Mais Sagrada e os outros membros da Família Sagrada também

retribuem suas amorosas saudações calorosamente. Todos esperam

que, ano após ano, seu grupo possa crescer em número, em força

e devoção, apressando, desse modo, o cumprimento das

resplandecentes profecias do Mestre a respeito da Bahia.

Shoghi Effendi assegura-lhes sua calorosa apreciação por

seus devotados esforços em difundir a Causa no Brasil e suas

fervorosas orações para que possam ser guiados e ajudados em

sua tarefa.”9

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Capítulo 10A Vida na Bahia

[E, de seu próprio punho, Shoghi Effendi escreveu:]

“Meus queridos e preciosos companheiros de trabalho,Sua muitíssima bem-vinda carta alegrou meu coração.

Estou tão feliz por ter recebido uma palavra diretamente devocês, e a lembrança de seu trabalho pela Causa nesses distantescampos é um grande encorajamento e inspiração para mim emmeu trabalho. Sempre os lembrarei individual e coletivamenteem minhas orações nos três Sepulcros Sagrados e lhes asseguromeu ansioso desejo de ajudá-los e servi-los de todas as formasque me seja possível. Perseverem em seus esforços, não considerema pequenez de seu número nem suas limitações e influênciaatual. Volvam o olhar para o Espírito de Bahá’u’lláh que atudo conquista e lembrem-se que o tempo seguramente viráquando a Bahia e todo o Brasil alegremente responderão euniversalmente reconhecerão o chamado de Yá-Bahá’ul-Abhá.

Felizes são vocês, os pioneiros desta gloriosa Causa!Shoghi”10

[A segunda carta foi dirigida à jovem LeonoraHolsapple. Igualmente repleta daquele mesmo espíritode encorajamento e iluminação quanto aoentendimento do estágio do trabalho que estava sendoalcançado e revelando o glorioso futuro da Causa noBrasil, esta carta de Shoghi Effendi demonstrava aindasatisfação com o trabalho das traduções emandamento.]

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Capítulo 10A Vida na Bahia

“Querida irmã bahá’í,Desde que lhe escrevi em 23 de maio, fui solicitado por

Shoghi Effendi a responder em seu nome às suas gentis cartas de12 de março e 21 de abril. Ele está muito contente por tomarconhecimento de que tem traduzido os Ensinamentos do inglêspara o português e gostaria, se possível, de ter cópias de todasessas traduções – impressas, se tiverem sido publicadas, oumanuscritas, se não o tiverem sido.

Ficamos muito felizes ao saber que quando escreveu emsua última carta, o manuscrito de ‘Bahá’u’lláh e a Nova Era’estava pronto para ser entregue ao editor. Que seja do nossoconhecimento, sua tradução será a primeira a ser publicada,ainda que outras estejam em preparação. Somos extremamentegratos tanto a você quanto ao sr. Faria Ribeiro, pelo esforçoabnegado que tiveram com a tradução e ficaremos felizes em vero livro quando este for lançado. Ficamos encantados, também,ao tomar conhecimento de que o sr. Faria e o sr. Costa estãoagora trabalhando consigo em uma nova tradução de ‘AsPalavras Ocultas’. Shoghi Effendi recentemente revisou suatradução de ‘As Palavras Ocultas’ em árabe e esta nova revisãoserá, em breve, publicada na América. Ele espera revisar a seçãopersa também, mas tem estado tão sobrecarregado com outrasobrigações durante os últimos meses que percebeu ser impossívelempreender a revisão e receia que esta terá de ser postergada pormais alguns meses ainda.

Shoghi Effendi acha que, por enquanto, seria uma penainterromper o valioso trabalho que está fazendo pela Causa no

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Capítulo 10A Vida na Bahia

Brasil, ainda que, de vez em quando, possa ser algo desalentador.Este é o tempo da semeadura, não de colheita. Não ésurpreendente que grupos teosofistas e espiritualistas percam ointeresse, visto que, naturalmente, sua preocupação primária écom seu próprio grupo. Muito mais importante do que grandesnúmeros de ‘interessados’ cujo interesse não vão além departicipar de reuniões (desde que sejam suficientementeatrativas) e de ler alguma literatura para satisfazer suacuriosidade intelectual, é a descoberta de uma única alma ali eacolá que esteja realmente sedenta pelos ensinamentos e quequando encontra a ‘água da vida’ torna-se como uma sementegerminando na primavera que, quando vem a chuva, cria raízese faz seus brotos subirem em direção ao céu e, no devido tempo,gera frutos, podendo ser 30, 60 ou 100 vezes. ‘Abdu’l-Bahádisse que se todo verdadeiro bahá’í conseguir que, no decurso deum ano, alguém venha a se tornar um verdadeiro bahá’í, aCausa em breve iluminará todo o planeta. Uma única almaque venha a tornar-se realmente altruísta e devotada ao serviçodo Bem-Amado possui o valor de mil almas que estão apenas‘interessadas’, e grandes reuniões têm pouco valor a menos quelevem à descoberta de algumas almas realmente sedentas pelaverdadeira ‘água da vida’.

Pense quão poucos tornaram-se seguidores reais,devotados e altruístas de Cristo durante Sua vida e quãodecepcionantes foram os resultados das grandes reuniões às quaisEle muitas vezes dirigiu-Se! O resultado visível de Seus três

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Capítulo 10A Vida na Bahia

anos de trabalho incessante e abnegado não foi mais que ummero punhado de seguidores, homens e mulheres, aparentementesem importância e sem influência. No entanto, a subseqüentehistória demonstrou que seus esforços não foram desperdiçados.Aquele punhado de pessoas mudou o mundo.

Portanto, não devemos ficar desapontados se nossos esforçosaparentemente mostram pouco resultado nos estágios iniciais.Devemos continuar pacientemente ‘vivendo a vida’, procurandoespecialmente por aqueles que, sedentos pela Água da Vida efamintos pelo Pão da Vida, sejam importantes ou não, aos olhosdo mundo.

Shoghi Effendi espera que seja possível aos amigos nosEstados Unidos enviarem alguns instrutores à Bahia paraajudá-la em seu trabalho. Sem dúvida, isto daria um novoímpeto à Causa e a Bahia poderia ser transformada em umabase para o trabalho missionário em outras partes do Brasil. Ocampo neste local é imenso. Foi uma iniciativa muito boa desua parte escrever ao Comitê de Ensino sugerindo que estaoportunidade seja dada a conhecer aos bahá’ís. Shoghi Effendi,em sua carta à próxima Convenção em Greenacre, recomendaráveementemente aos amigos de lá, que atentem para a importânciade enviarem instrutores aos postos avançados da Causa, comoo seu na Bahia.

Os resultados de seu trabalho entre os trabalhadores dasfábricas são muito encorajadores.

Shoghi Effendi assegura-lhe suas sinceras orações paraque os nobres esforços da srta. Mickle, os seus e os de seu pequeno

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Capítulo 10A Vida na Bahia

grupo de ajudantes sejam abençoados. O Amado Mestre proferiupalavras resplandecentes a respeito do futuro da Causa na Bahiae, sem dúvida, as confirmações do Espírito Santo estarão comaqueles que sinceramente esforçarem-se para tornar efetivas Suasgloriosas promessas por meio da difusão da Causa nesta cidade.

Quando chegar o momento certo, confiamos que terá afelicidade e a bênção de uma visita à Haifa.

Shoghi Effendi está muito cansado presentemente e esperapoder, em breve, afastar-se para descansar e mudar de ares. Oclima de Haifa é muito árido durante os meses de verão. Osmédicos acabaram de me aconselhar para sair de Haifa duranteo verão e, provavelmente, partirei para a Floresta Negra, emBaden, na Alemanha, dentro de poucos dias. Espero reassumirmeu trabalho aqui na segunda metade de setembro.

A Folha Mais Sagrada esteve seriamente doente na semanapassada, mas já está novamente bem, rogo em dizer.

Shoghi Effendi, os membros da Família Sagrada e todosos amigos aqui, unem-se em amorosas saudações e melhores votos.

Seu irmão no serviço ao Bem-Amado,J. E. Esslemont”11

[E de seu próprio punho, o amado Guardiãoacrescentou:]

“Querida irmã espiritual,Sempre estou ansiosamente esperando por suas notícias e

toda informação que possa dar-me quanto ao progresso de seu

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Capítulo 10A Vida na Bahia

J. E. Esslemont e Shoghi Effendi.

precioso trabalho. Nunca sinta-se desencorajada. Permaneçafirme e confiante. A hora do triunfo soará e o registro de seusesforços heróicos adornarão para sempre os anais desta poderosaCausa. Asseguro-lhe minhas constantes orações.

Shoghi”12

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110Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 11Lançando as Sementes

Marguerite [Margot] Worley (1910 -1997): uma das primeiras edestacadas bahá’ís do Brasil; viajou extensamente através da América doSul, tendo servido no primeiro contingente de membros do Corpo Auxiliarpara ensino, 1951-1963, e também como membro da AssembléiaEspiritual Regional da América do Sul entre os anos 1951-1960, servindoainda durante vários anos na Assembléia Espiritual Nacional do Brasil,desde o ano 1961.

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111Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 11Lançando as Sementes

[O amor e o encorajamento provenientes do Guardiãovieram a despertar um novo espírito em Leonora, assimcomo em sua companheira Maude Mickle e em meioàquele primeiro grupo de fiéis. Todos estavam agorarenovados em sua fé e prontos para novos esforços emdifundir a Mensagem e encontrar as almas preparadaspara a Causa.]

or intermédio de uma enfermeira inglesa quemorava na Bahia, soubemos de uma

oportunidade de nos estabelecer em umagrande casa em uma melhor área

residencial, onde um casal inglês havia alugado quartospara alguns rapazes ingleses e também tinha umapequena escola para crianças inglesas e americanas,com atividades as quais poderíamos dar continuidade.Oferecia tantas vantagens que pareceu-nos melhoralugar esta casa na Baixa da Graça, 25. Uma dasprimeiras alunas da pequena escola foi Margot Gleig– mais tarde Margot Worley, destinada a prestarnotáveis serviços à Fé na América do Sul.

Nossa nova casa – embora fosse de fato velha enão estivesse em bom estado de conservação – eramuito espaçosa e agradável, e para nós foi um alívio

11

P

LANÇANDO AS SEMENTES

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Capítulo 11Lançando as Sementes

estar em uma vizinhança tão sossegada depois determos morado naquele barulhento centro da cidade.A ampla sala-de-estar era muito melhor para as nossasreuniões semanais, e para os firesides* que realizávamosconstantemente. No entanto, como alguns achavamque deveríamos ter reuniões públicas em um local maiscentral, durante algum tempo, ocasionalmente,alugávamos salões para este fim, experimentandodiferentes bairros da cidade. Havia tambémoportunidades para uma séries de palestras bahá’ís emorganizações, tais como a Federação Espiritualista e oCírculo Esotérico, algumas das quais, realizadas nestaúltima, foram posteriormente publicadas na revista OPensamento, de grande circulação no Brasil.

As muitas aulas particulares de inglês que eramconstantemente ministradas, algumas vezes até dezhoras por dia e outras ocasionalmente em escolas,ofereciam incontáveis oportunidades de falarindividualmente sobre a Fé com as pessoas e dedistribuir literatura. Algumas dessas foram pessoasdestacadas como dr. Vidal da Cunha, um bemconhecido médico; Menandro Negreiros Falcão, naépoca um brilhante estudante de direito; HildéliaDrummond que tornou-se membro da primeiraAssembléia Espiritual Local e escreveu ao Guardiãoexpressando seu desejo de dedicar sua vida difundindoa Mensagem de Bahá’u’lláh em qualquer parte domundo onde fosse mais adequado; eles colaboraramem traduções e de outras maneiras; e dona AnfrísiaSantiago, eminente no campo da educação e tambémde valioso auxílio.

A pedido do Guardião, um folheto escrito pordr. Esslemont, intitulado O que é o Movimento Bahá’í

* Reunião de amigos, contatos ousimpatizantes na qual, em geral,se introduz conceitos, princípios eexplicações sobre a Causa.

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113Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 11Lançando as Sementes

foi traduzido para português e espanhol, sendo queforam impressas 2.000 cópias de cada na Bahia. Estes,nós distribuímos o mais amplamente possível, enviandoexemplares em espanhol para muitas partes da AméricaLatina, especialmente a grupos teosofistas, com umacarta acompanhando, como também à Espanha.Muitas cartas acusando recebimento foram recebidas,quase todas dizendo que o folheto e nossa carta foramlidos em uma de suas reuniões, despertando muitointeresse e pedindo mais folhetos, sendo que o númerovariava de dez a duzentos. Lembro-me de apenas umacidade – acho que foi Santiago, Chile – que mandouuma resposta decepcionante dizendo que não tinhaminteresse neste assunto. Os teosofistas de Mendoza,Argentina, que pela primeira vez interessaram-se pelaFé através de Martha Root e eles próprios traduzirame publicaram What Went Ye Out For to See?* de autoriade Thornton Chase, pediram 200 exemplares e, paradr. Carlos Stoppel, o tradutor, mandamos também umexemplar de Bahá’u’lláh e a Nova Era, em inglês, poisnem a tradução em espanhol nem a em portuguêsestavam prontas.

Outro esforço no ensino dessa época,calorosamente reconhecido pelo Guardião, foi apublicação, com a colaboração de Hyram Faria, deum periódico mensal, A Nova Era†, que era enviado aeditores de jornais e várias organizações no Estado daBahia e outros lugares.

[Numa carta enviada mais tarde ao amado Guardião,Leonora explicaria a idéia dessa nova publicação.]

*Vide relato desse episódiodescrito por Leonora em sua cartadirigida à Shoghi Effendi, pág. 135.†Este periódico teve início porvolta de julho de 1925 e rapida-mente cativou a atenção denumerosos círculos depensamento, tornando-se umvalioso instrumento de difusão dosensinamentos da Causa.

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Capítulo 11Lançando as Sementes

“Temos, creio eu, uma lista completa das sociedadesteosóficas na América do Sul, Espanha e Portugal, tendo-asobtido com o propósito de lhes enviar o pequeno periódico quetemos publicado nos últimos meses: ‘A Nova Era’.Provavelmente, o senhor já recebeu os exemplares que lhemandamos e esperamos que contarão com sua aprovação. Aidéia ocorreu-nos logo depois de ter-lhe escrito a respeito de meusentimento de que gostaria de deixar a Bahia, e pareceu umaresposta direta que convenceu-me de que ainda tenho um trabalhoespecífico para realizar aqui. Todos nós embarcamos nesta idéiacom muito entusiasmo, e muitos expressaram sua apreciaçãopelo periódico e sua inteira simpatia para com as idéiasapresentadas. Estamos distribuindo trezentos a quatrocentosexemplares por mês, enviando-os a jornais, bibliotecas, clubes,grupos teosóficos e espiritualistas e a muitos indivíduos em todosos estados do Brasil, e a todas os centros teosóficos na Américado Sul, Espanha e Portugal. Como nossa idéia era ter umperiódico adequado para esta distribuição bem ampla, pelo menosno início, selecionamos artigos de interesse geral, cuidadosamenteevitando qualquer coisa que pudesse parecer dogmático ousectário. Entretanto, como poderá ver, não fizemos qualquertentativa de encobrir a fonte, mas sim, em cada númeropublicamos pelo menos um breve resumo da história doMovimento e os ensinamentos fundamentais, citandocopiosamente Palavras de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá, ecolocando algumas palestras e Epístolas por inteiro. Achamosjustificável aproveitar largamente o material do ‘Star of the

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Capítulo 11Lançando as Sementes

West’, em vez de escrevermos nossos próprios artigos, pois apenascom dificuldade encontramos tempo suficiente para traduzi-los, fazer as revisões, etc., e também parece que nenhum dentreos membros do nosso pequeno grupo tem talento especial paraescrever. Evidentemente, esperamos que, posteriormente, à medidaque nosso número cresça, possamos vir a escrever artigos originaisem português, uma vez que esses certamente tornarão nossoperiódico mais agradável ao público do que é atualmente,consistindo quase exclusivamente de traduções. Até agora temosconfirmado apenas cerca de cinqüenta assinantes, e como aquantidade de assinantes é muito pequena e mal paga as despesas,a maior parte dos custos, evidentemente, é subsidiado porcontribuições.”1

Por intermédio de Claudenor Luz, cujo trabalhofreqüentemente o levava ao interior do Estado, foramobtidas várias assinaturas para o nosso periódico emalgumas das cidades que ele visitava.

O TRABALHO COM AS CRIANÇAS

[Ao mesmo tempo que se esforçavam para sobreviver,dando aulas particulares de inglês, Leonora e Maudealugaram uma espaçosa casa cujos quartos eram sub-alugados como um meio de “pagar as despesas”.Surgiu, então, a idéia de fundar uma escola paracrianças.]

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Capítulo 11Lançando as Sementes

Um dos jardins da Tia Victoria*, o “Jardim daAlegria” foi fundado por Maude [e Leonora] comalgumas crianças inglesas, entre elas as duas pequenasirmãs† de Margot Gleig, e a pequena brasileira órfã dequatro anos, Maria, que levamos para nossa casa, apóster ouvido falar da pequenina, a qual freqüentementeera vista mendigando à porta de uma igreja.

[Em carta a Shoghi Effendi, Leonora explica a adoçãodesta criança:]

“Ultimamente tem crescido em nós a convicção de quetalvez o mais importante de todos os trabalhos seja com crianças.Alguns meses atrás, tivemos a oportunidade de trazer para nossacasa uma pequena órfã de cerca de sete anos. Ela é mulata,como a maior parte da população da Bahia, e parece ser deinteligência mediana, mas tem respondido notavelmente bem às

*Victoria Bedekian. “ShoghiEffendi trabalhava de todas asmaneiras – tudo o que encontrava,indivíduo, objeto ou pedaço deterra, tudo o que podia ser utilizadode modo proveitoso para a Fé, eleagarrava e usava. Embora, em geral,trabalhasse por intermédio dasAssembléias, trabalhava tambémdiretamente com indivíduos. Umexemplo disso é Victoria Bedekian,conhecida como “Tia Victoria”.Durante alguns anos, ela escreveucartas que circularam amplamenteno Ocidente e no Oriente, e oGuardião estimulava-a nessaatividade, dizendo-lhe até mesmoo que ela mais deveria enfatizar emseus comunicados.” (Vide RúhíyyihRabbani, A Pérola Inestimável, p.154.)†Linda Gabrielle Gleig e JeanneGleig.

Leonora e seus alunos norte-ame-ricanos e ingleses. Foto tirada porvolta de 1924.

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Capítulo 11Lançando as Sementes

poucas coisas que pudemos lhe ensinar neste curto período, dando-nos, assim, um exemplo do que se pode realizar com criançascujas mentes ainda não estão presas pelas superstições epreconceitos. Desejamos tanto quanto nos seja possível ter diversascrianças assim, construindo, pouco a pouco, um pequeno larbahá’í para órfãos.”2

[O campo de ensino era muito vasto, e poucos ostrabalhadores. Sua amiga Maude estava pensando emretornar aos Estados Unidos e novos trabalhadoreseram necessários para apoiar o trabalho já emandamento no Brasil. Além disso, Leonora tinha planosde poder viajar para espalhar as sementes da Causa emoutras partes deste vasto país. Ela escreveu a ShoghiEffendi:]

“Esperávamos que, por esta época, já pudéssemos ter umgrupo suficientemente grande para formar uma AssembléiaEspiritual. Muitos são atraídos, mas poucos, muito poucos vãoalém disso. Como o senhor disse, no entanto, jamais devemosficar desencorajados, mas sim, continuar orando, confiando efazendo todo esforço. Perseveramos com as nossas reuniões àsquartas-feiras e domingos, embora a participação continue muitopequena.

No momento presente, nosso número está menor, sendoque a srta. Mickle sente que deve retornar aos Estados Unidospor algum tempo. Temos todos a esperança de que lhe seja possívelvoltar na primavera, assim como ela também o espera...

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Capítulo 11Lançando as Sementes

…Por outro lado, quando penso em todo este imenso país,no qual em tão ínfima parte a Mensagem foi difundida, paranão falar dos outros países deste grande continente da Américado Sul, em que a Fé é praticamente desconhecida, anseio viajara outras partes. Eu tinha tanta esperança de que alguns doscrentes americanos pudessem sentir-se livres para vir até aqui,mas nunca recebi resposta alguma do Comitê de Ensino a esterespeito...”3

[Os esforços para terminar a publicação da primeiraedição do livro Bahá’u’lláh e a Nova Era avançaramsem interrupção, apesar das constantes dificuldadescom a gráfica. Um longo processo tipográfico queincluía a montagem manual do texto, letra por letra,seguido por uma primeira impressão e revisão, antesda impressão final; tudo isto exigia demasiado tempo.]

“Foi uma grande decepção para nós não termos a traduçãodo livro do dr. Esslemont em circulação há mais tempo. Quandovimos quão lentamente o trabalho estava se desenvolvendo que,se continuasse nesta velocidade, não ficaria pronto em menos detrês anos, finalmente, depois de protestarmos repetidamente juntoao editor, sem resultado algum, decidimos mudar de editor, oqual, embora cobrando um pouco mais, garantiu que terminariao trabalho em dois meses. Nesse meio tempo, enquantopesquisávamos vários outros editores, pensamos que seria bomaproveitar a oportunidade para revisar mais uma vez atradução. O sr. Faria agora tinha muito mais prática de

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Capítulo 11Lançando as Sementes

tradução, e melhorado bastante, e assim, tenho certeza de que ademora na publicação foi para melhor. Quando estiver pronta,nós lhe enviaremos quantos exemplares desejar.

Realmente, sinto muito não ter atendido maisprontamente ao seu pedido de enviar exemplares de todas astraduções. Há muitas que poderia ter enviado em manuscrito,mas demorei em fazê-lo para poder revisá-las, pois à medidaque aprendo mais português, mais percebo quanta revisão precisaas primeiras traduções. Espero revisá-las todas, gradativamente,e lhe enviar cópias. Estou lhe enviando, junto com os folhetosem português e espanhol, um exemplar do livro ‘Palestras emParis’, o qual ainda é a única tradução que temos em forma delivro, e também os dois livretos traduzidos há algum tempo pelosamigos de Santos, dos quais, talvez, o senhor já tenha exemplares.

Até agora, nada fizemos a respeito da impressão de AsPalavras Ocultas e das orações, porque achamos que seria melhoresperarmos pela sua nova tradução de As Palavras Ocultas erevisar a nossa de acordo com ela. Também, a necessidade dissonão nos pareceu ser, talvez, tão urgente quanto à de um livrocomo o do dr. Esslemont, neste primeiro estágio do crescimentoda Causa aqui.

O sr. Faria continua incansável, dedicando todos os seusferiados, domingos e todas as noites à tradução, revisão, etc.Encontramos grande alegria em servir a Causa juntos eesperamos poder sempre fazer isso. Nós lhe pedimos que oreespecialmente por Sua guia e assistência, para que possamosservir da maneira mais efetiva possível.”4

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Capítulo 11Lançando as Sementes

[Ter encontrado e conhecido o sr. Faria parecia arealização de um sonho antigo, conforme descrito porLeonora:]

“...era minha constante esperança e súplica que Deusmandasse alguém para ajudar neste trabalho de tradução, poisdesde o início percebi que, por mais que estudasse, não me seriapossível escrever em português, pelo menos por muitos anos, comoum brasileiro nato. Sempre costumava dizer às pessoas que minhastraduções seriam usadas até que alguém o fizesse melhor e que,embora falhas, poderiam servir para dar uma pequena idéia dosensinamentos e, portanto, eram melhor do que nada.”5

[A resposta de Shoghi Effendi não demorou parachegar, conferindo-lhe novo entusiasmo:]

“As notícias de seus múltiplos esforços voltados para adifusão da Causa no Brasil e os resultados já aparentes de seutrabalho, têm sido uma fonte de imensurável alegria para ShoghiEffendi e lhe trouxeram a certeza do futuro progresso doMovimento neste país.

Você deve estar feliz em seu trabalho pioneiro na Bahia eainda que, como todo trabalho pioneiro seja difícil e necessite demuita sabedoria e perseverança, confiamos que não passarámuito tempo até que possa fazer da Bahia uma fortaleza bahá’ína América do Sul.”6

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121Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 11Lançando as Sementes

[E de seu próprio punho, o amado Guardiãoacrescentou:]

“Minha querida irmã bahá’í,Sempre acolho com alegria suas cartas provindas deste

longínquo e promissor país e desejo assegurar-lhe que sempre arecordo em minhas orações e suplico por Sua Guia Divina, vigore conforto em sua árdua, porém sagrada tarefa que tãodestemidamente escolheu para si mesma. Persevere em seus esforçose lembre-se que a semente que está tão paciente e laboriosamentesemeando irá, na plenitude do tempo, produzir uma abundantecolheita. Não se sinta desencorajada e tenha certeza de nossa

afeição, gratidão, admiração e constantes oraçõespor você.

Seu verdadeiro irmão,Shoghi”7

[Uma fonte especial de força espiritualpara Leonora eram suas amigas MarthaRoot e May Maxwell, as quais manti-nham contatos freqüentes através de cor-respondência. Tais cartas sempre chega-vam em seus momentos de dificuldades.Justamente no início de 1926 Leonoraenfrentava uma nova onda de desafiospessoais, quando uma carta, qual umabrisa revitalizadora, chegaria de MayMaxwell, a qual escreveu:]

May Maxwell, a querida amigade Leonora.

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122Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 11Lançando as Sementes

“Nos últimos tempos você tem estado constantemente emmeus pensamentos, e tenho ansiado por um contato direto comvocê porque não me satisfaz apenas ouvir a seu respeito.

Embora seja muito inspirador saber no que transformou-se sua belíssima vida, do trabalho pioneiro que está fazendonesse campo do ensino, em que os pioneiros são tão escassos e tãopoucos que podemos contá-los nos dedos de uma mão, aindaassim, estou ansiosa por receber uma palavra sua, pois sempresenti uma proximidade em relação a você tal como sinto emrelação a Agnes Alexander e outros poucos, um laço de preciosoamor, de proximidade espiritual e uma unicidade de alma queé a fonte de nossa força.

Algumas vezes, quando tiver tempo livre, por favor, conte-me onde está e como está vivendo, como chega às pessoas e lhesensina, qual é a língua delas, que literatura você usa e,principalmente, se há algum modo, ainda que mínimo, de poder-lhe ajudar e cooperar. Seria a maior alegria, meu maiorprivilégio...

Na hora das orações, você está sempre tão próxima demim, minha querida Leonora, e seria uma alegria tão grandevê-la, trocar confidências e falar uma com a outra, tal como ofizemos em Boston e aqui.”8

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123Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

[A indevida e injusta ocupação da Sagrada Casa deBahá’u’lláh em Bagdá pelos xiitas deu início a um lon-go e delicado caso, e se tornou o objeto da considera-ção de sucessivos tribunais, desde a Corte Local emBagdá até a Corte de Paz e finalmente a Liga das Na-ções. Numa carta escrita em nome de Shoghi Effendie dirigida a srta. Holsapple, o Guardião explicou a si-tuação geral.]

ara irmã bahá’í,Nosso amado Guardião, Shoghi Effendi,instruiu-me a lhe escrever esta carta para

familiarizá-la com a situação da Casa de Bahá’u’lláh emBagdá, onde Ele morou durante sua estada em Bagdá.

Visto que este lugar é muitíssimo santificado para o mundobahá’í, o amado Mestre ordenou a um dos amigos bahá’ís emBagdá, a mais de 30 anos passados, a comprá-lo. Ele o comproupara o amado Mestre, mas de algum modo foi registrado emnome deste amigo. Esta Casa havia sido ocupada por nós e estavaem nosso poder até cinco anos atrás, quando os fanáticos vizinhos

12A VOZ DA BAHIA POR JUSTIÇA

EM RELAÇÃO À CASA DE

BAHA’U’LLAH EM BAGDÁ

“C

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Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

muçulmanos, alarmados pelo rápido progresso da Causa e cheiosde inveja, abriram um processo contra nós, afirmando que aqueleamigo bahá’í em cujo nome a Casa fora registrada era ummuçulmano e não havia deixado herdeiros, portanto a casa deviaser deixada aos cuidados de uma junta de fiduciários religiosos.

Não tiveram sucesso nisso. Então entraram com outraação judicial contra nós, isto é, produziram uma herdeira esustentaram que a Casa pertencia a ela. Esta ação durou trêsanos e sete meses e nisto também foram derrotados, porque osmesmos demandantes haviam dado entrada em duas açõescontraditórias com relação à mesma propriedade.

Então, tendo sido derrotados na Corte de PrimeiraInstância, apelaram à Suprema Corte do Iraque, o país doqual Bagdá é a capital. Todos estavam certos de que esta, suaúltima tentativa, também seria fracassada. Mas para nossoassombro soubemos que em 22 de outubro a Corte Supremadecidiu em favor deles. Aqui a política interferiu. O presidentedesta Corte, sendo inglês e claramente vendo os nossos direitos,permaneceu a nosso favor, mas os outros membros da Corte,sendo nativos e desejando insitar-se com os habitantesmuçulmanos, formaram a maioria e decidiram contra nós.

Ao ouvir esta triste notícia, nosso Guardião comunicoua todos os centros bahá’ís para se dirigirem ao Alto Comissárioem Bagdá por cabograma ou carta, apelando para que o casoseja reconsiderado e executado aquilo que é justo.

Agora nosso querido Guardião deseja que você tambémgentilmente se comunique com o Alto Comissário do Iraque,primeiro por cabograma e então por carta em nome dos bahá’ís

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Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

da América do Sul, apelando por justiça e declarando o apreço

dos bahá’ís a este Lugar sagrado. Para sua informação eu incluo

uma cópia do cabograma que nosso Guardião enviou à

Assembléia Espiritual Nacional dos Estados Unidos e Canadá.

Não é necessário que se comunique com o rei do Iraque e as

autoridades centrais britânicas em Londres.

Shoghi Effendi lhe envia suas amorosas saudações com os

melhores desejos para seu sucesso no serviço do Amado de nossos

corações. Ele a assegura de suas ardentes orações por você nos

Sepulcros Sagrados...”1

[Breve, o clamor dos bahá’ís do mundo em seu apelopor justiça e declarando seu vínculo com aquele LocalSagrado seria reforçado pela voz dos bahá’ís da Bahia.Primeiramente um cabograma e em seguida uma cartaforam enviados ao Alto Comissariado em Bagdá, emnome dos bahá’ís da América Latina, fato este posteri-ormente comunicado ao Guardião da Causa, ShoghiEffendi.]

“Temos sinceras esperanças de que as orações de todos os bahá’ís

e seus apelos dirigidos às autoridades de Bagdá possam ter tido,

ou ainda tenham o desejado efeito. De fato, nós não podemos

crer que aquela sagrada Residência possa permanentemente sair

das mãos dos bahá’ís, desde que nosso amado Mestre expressou

o desejo e instruiu que ela fosse conservada como um dos lugares

de peregrinação no futuro.”2

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126Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

[Rapidamente chegaria uma carta-resposta de ShoghiEffendi, com informações sobre o desenrolar dessetriste episódio relacionado com a indevida ocupaçãoda Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá:]

“Minha cara irmã bahá’í,

Sua carta de 21 de dez. foi recebida com alegria por

nosso querido Guardião. É para ele sempre uma fonte de prazer

saber de seu trabalho e de sentir que mesmo naquele distante

país você está seriamente se esforçando para promover a Causa

que é tão cara a nossos corações. Brasil é um vasto e promissor

país e confiamos que irá espalhar sementes que no futuro irão

abranger o país inteiro e seu povo. Um trabalho de pioneirismo

como o seu é digno do maior louvor.

Shoghi Effendi ficou satisfeito em receber cópias de seu

telegrama e carta que enviou ao Alto Comissariado no Iraque.

Ambos estavam esplendidamente redigidos e estou seguro que

deve tê-lo comovido muito ver bahá’ís da América do Sul

protestando contra uma decisão injusta na Mesopotâmia.

Embora o governo ainda não tenha dado sua decisão no

caso, estamos muito esperançosos que os interesses da Causa

serão salvaguardados e as casas, que são tão ricas em memórias

sagradas para todo bahá’í, nos serão entregues. Ainda estamos

esperando os resultados, embora o escritório do Alto

Comissariado deva ter sido inundado com telegramas de protesto

de quase todos os países do mundo. ...”3

[Ao fim desta carta, Shoghi Effendi, acrescentoualgumas palavras de seu próprio punho:]

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Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

“Minha cara companheira de trabalho,Estou contente e gratificado em saber que a voz da Bahia

reforçou o chamado dos bahá’ís do mundo por justiça e eqüidadeem conexão com a Casa de Bahá’u’lláh. Possa este esforçocombinado, tão espontânea e gloriosamente demonstrado,produzir resultados desejados. Asseguro-a de minhas contínuasorações por seu bem-estar, felicidade e sucesso.

Seu irmão e simpatizante, Shoghi... Suas comunicações com respeito à Casa foram

esplêndidas. Eu a informarei se a situação o exigir no futuro.Shoghi”4

[Anos mais tarde, Shoghi Effendi ao descrever o epi-sódio da ocupação da sagrada Casa de Bahá’u’lláh emBagdá, relataria em seu livro A Presença de Deus oseguinte:

“Basta dizer que – a despeito desses intermináveisatrasos, protestos e subterfúgios e, apesar do fatode não haverem as autoridades envolvidasexecutado, evidentemente, as recomendações feitaspelo Conselho da Liga, bem como pela ComissãoPermanente de Mandatos – a publicidade obtidapara a Fé por meio desse memorável litígio, e adefesa de sua causa – a causa da verdade e da justiça,pelo mais alto tribunal do mundo, foram tais quemaravilharam seus amigos e consternaram osinimigos. Poucos episódios – talvez nenhum – desdeo nascimento da Idade Formativa da Fé deBahá’u’lláh, tem dado origem, em esferas altas, arepercussões que sejam comparáveis ao efeito

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Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

produzido sobre governos e chancelarias por esseassalto violento, não provocado por qualqueragravo, dirigido por seus inimigos inveterados contraum de seus lugares mais sagrados.”5

O próprio Bahá’u’lláh havia anteriormente revelado emesmo advertido em tons proféticos sobre o futurode Sua Casa em Bagdá, tal como citado por ShoghiEffendi:

“‘Não lamentes, ó Casa de Deus’,escreveu, de um modo significativo, opróprio Bahá’u’lláh, ‘se o véu de tuasantidade for rompido pelos infiéis.Deus te adornou, no mundo dacriação, com a jóia de Sua lembrança.Ornamento como este, homem algumpode, em qualquer época, profanar. Ati estarão dirigidos os olhos de seuSenhor, sempre, sob todas ascondições.’ ‘Na plenitude do tempo’,tem Ele profetizado, em outrapassagem, referindo-se a essa mesmaCasa, ‘o Senhor, através do poder daverdade, haverá de exaltá-la aos olhosde todos os homens. Ele a fará tornar-se o Estandarte de Seu Reino, oSantuário em volta do qual circulará aassembléia dos fiéis.’ ”6]

Entrada da Casa de Bahá’u’lláhem Bagdá, Iraque.

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Capítulo 12A Voz da Bahia por Justiça em Relação à Casa de Bahá’u’lláh em Bagdá

epois de fazer ainda outra revisão na traduçãodo livro do dr. Esslemont, como lhe expliqueiem uma carta anterior, subitamente

ocorreu-nos que seria melhor uma tradução inteiramente nova,feita por um brasileiro; então, o sr. Faria assumiu este trabalhoe já avançou consideravelmente. A fim de ter mais tempo paratal, pareceu-nos melhor transformar nosso períodico mensal emuma revista bimestral, cujo primeiro número estamosencaminhando-lhe.”1

[Tendo viajado sozinha para o Brasil, e ainda jovem,Leonora ansiava encontrar alguém que pudesse lhe serum companheiro e a apoiasse em seus serviços à Causa.Finalmente ela havia encontrado alguém especial –Hyram Faria – um amigo e igualmente dedicadocrente, que a ajudava em suas traduções e trabalhavaincansavelmente junto com ela em outras importantesáreas do serviço bahá’i.

Leonora e Hyram chegaram a ficar noivos, masessa relação entrou num tempo de dificuldades; osplanos de casamento foram desfeitos, iniciando-se umperíodo de grandes testes pessoais para Leonora.

13DIFICULDADES NO CAMINHO

“D

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130Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 13Dificuldades no Caminho

Martha Root, sua amiga e confidente, assimcomo May Maxwell, vieram em seu apoio e consolo.Numa oportunidade, Martha Root escreveu:]

“Danzig

15 de março de 1927

Muito querida e carinhosa irmã, Leonora,

Hoje, novamente, li sua carta com muito cuidado. Oh!

Quase mil vezes, parei e orei por você durante as últimas

semanas. Sei como é difícil para você, minha querida, e oro

pelo seu fortalecimento, mas se aconteceu, Leonora, é porque

Bahá’u’lláh reserva uma felicidade maior para você e, algum

dia, você Lhe agradecerá e verá que Ele escolheu para você

apenas aquilo que você mais deseja. Você não pode perceber isso

agora, mas perceberá...

Acho que você e Maude são as Qurratu’l-Ayns da

América do Sul. Continuo pedindo às pessoas para irem para

o Brasil e falo-lhes a seu respeito. Estou fazendo o melhor que

posso para encontrar alguém para ir auxiliá-la. Gostaria eu

de poder ir, mas não o posso e tento dizer a outros para irem.

Sim, sempre oro pela América do Sul.

Por favor, transmita a Maude meu mais afetuoso amor.

Eu a tomo em meus braços, Leonora, e a beijo e oro por sua

felicidade – e estou certa de que ela virá.

Sua fiel amiga,

No amor de Seu Convênio,

Martha”2

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

[Sozinha e sentindo-se confusa, devidoaos desencontros com seu noivo,vivenciando, portanto, testes pessoais se-veros, Leonora busca orientação e con-forto em Shoghi Effendi.

Aliado a uma tal situação, que incluíatambém dificuldades financeiras, Leono-ra estava prestes a deixar o Brasil. Pensouem ir em peregrinação à Terra Santa e, delá, sair como pioneira para Portugal ou,talvez, alguma colônia portuguesa naÁfrica. Inesperadamente, porém, surgiuuma oportunidade de trabalho no Cea-rá. Assim, temporariamente, ela deixou aBahia.]

“Durante os últimos dias, surgiu umaoportunidade de assumir a direção de uma escolaparticular de inglês na capital do Ceará. Pareceter mais de cinqüenta alunos, entre moços emoças. Seu atual professor, que terá de deixar otrabalho em dezembro, organizou esses jovensem uma espécie de clube para discussão deproblemas éticos e sociais e possui um pequenoperiódico no qual os alunos expressam suasidéias em inglês. Parece ser uma oportunidademuito boa para professores bahá’ís.Possivelmente, será melhor para mim aceitá-lodo que ir a um novo país neste momento.”3

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132Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 13Dificuldades no Caminho

[A sempre presente palavra de orientação do Guardiãochegou logo:]

“... Com relação a seus planos pessoais, Shoghi Effendicrê que deva permanecer neste país até que o trabalho estejacompleta e firmemente estabelecido. ...”4

[E a respeito da possibilidade de trabalho no Ceará,eis seu amoroso conselho:]

“... Shoghi Effendi lhe aconselha a aceitar este posto deprofessora que foi-lhe oferecido. Por um lado, este trabalho lheproverá os meios financeiros e, por outro, abrirá novos canaisde serviço. Como professora de inglês, você poderia entrar emcontacto com muitos jovens e conquistá-los para a Causa. ...”5

[E, de seu próprio punho, o Guardião acrescentou:]

“Minha ternamente amada irmã,Sinto que sua continua permanência no Brasil é de vital

importância e do maior valor. Se puder encontrar uma ocupaçãoque permita-lhe visitar diversos Estados deste país, isto seráaltamente satisfatório. Os exemplares encadernados do periódicobahá’í, que tão resolutamente publica, foram recebidos everdadeiramente agradeço seus pacientes e dedicados esforços.O Mestre está guiando-lhe das alturas e está realmente satisfeitocom suas inúmeras atividades. Não desespere-se ou sinta-sedesanimada, lembre-se da promessa de Bahá’u’lláh e as enfáticas

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

asseverações de nosso Bem-Amado. Recupere o ânimo e redobreseus esforços, os quais são extremamente estimados.

Seu verdadeiro irmão, Shoghi”6

1927 – LEONORA CHEGA AO CEARÁ

Em Fortaleza, Ceará [janeiro a maio de 1927],passei vários meses na casa da mãe do meu bom amigo,sr. Gastão, de Manaus, pois uma de suas irmãs haviaescrito sugerindo que viesse para assumir a direção deum instituto de inglês que fora iniciado em sua casapor um jovem professor da Índia. Isto atraiu-me etalvez seria um meio de fazer muitos bons contatos,não somente entre os estudantes, mas também entreoutras pessoas, pois tive muito boa impressão de suacordialidade quando lá estive em 1924.

No pequeno jornal publicado pelos alunos desseinstituto, foi possível publicar alguns artigos sobre aFé ou citações das Palavras de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá e, também, alguns membros da família do sr.

Gastão e seus amigos ficaraminteressados.

[Leonora logo escreveria uma longacarta a Shoghi Effendi explicandotodos os arranjos feitos para que otrabalho de ensino iniciado em Sal-vador tivesse continuidade. Explica-ria também as ações que estava toman-do para se manter a continuidade darevista A Nova Era, as traduções e a

Farol da cidade de Recife,Pernambuco, na década de 1920.

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

publicação dos Escritos em português, e dava indica-ções sobre seu possível futuro retorno à Bahia.]

“Amado Guardião,

Suas palavras de encorajamento para mim em sua carta

de 16 de outubro foram de imensa ajuda e lhe sou

profundamente grata.

Seguindo seu conselho, vim para o Ceará a fim de assumir

o trabalho de ensino de inglês que me foi oferecido. Embora

tenha chegado aqui no dia nove deste mês, ainda não foi possível

reorganizar todas as classes, e suponho que somente em meados

de fevereiro será possível reiniciar as reuniões quinzenais aos

domingos. É nessas reuniões – cujo propósito é desenvolver o

caráter do aluno, assim como fazer com que pratiquem inglês –

que espero que os princípios bahá’ís possam ser gradualmente

ensinados a esses cinqüenta ou mais rapazes e moças.

Como foi necessário dar minha resposta ao diretor dessa

escola antes de sua carta chegar, a srta. Mickle e eu consultamos,

procurando ser guiadas para tomar a decisão certa a respeito

deste assunto. Em vista do Mestre ter enfatizado a importância

da cidade da Bahia, e do senhor ter expressado, em uma carta

anterior, a esperança de que a Bahia possa tornar-se ‘uma

fortaleza bahá’í na América do Sul’ e, também, em vista do

fato de que justamente nesse momento, no início de setembro,

houve um notável crescimento em nosso trabalho, sendo que

várias pessoas haviam recém-interessado-se pela Causa e o

número dos alunos de inglês havia dobrado, achamos que seríamos

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

ambas necessárias na Bahia no momento, assim, escrevemos aodiretor explicando a situação e nos oferecendo para tentarconseguir que algum americano venha para cá. Imediatamenteescrevemos a vários bahá’ís americanos, confiantes de que alguémpoderia ficar satisfeito com tal oportunidade, mas, por enquanto,não recebemos qualquer resposta. Quando sua carta chegou,por um momento pensei em escrever para o senhor e mencionarestes novos aspectos da situação, mas sabia que isto significariaum longo atraso e, então, lembrei-me o que nosso Mestre dissesobre seguir sempre Sua ‘Primeira Palavra’, assim, não hesitamosem vir e assumir o trabalho, pelo menos temporariamente. Agora,após receber sua carta de 20 de outubro à srta. Mickle, na qualo senhor refere-se à necessidade dela se aprimorar em portuguêsvisando servir com eficiência neste país, achamos que seria melhorela ficar no meu lugar e eu retornar para conduzir o trabalhona Bahia, pois se hospedar, como estou fazendo, na residência deuma grande família brasileira em que constantemente ouve-seapenas o português, a srta. Mickle teria uma oportunidade idealde aprender a língua. Entrementes, também, ela não ficaria tãoimpedida de servir a Causa, uma vez que atualmente a únicaoportunidade de dar a mensagem aqui é através da escola, naqual, evidentemente, fala-se apenas inglês. Na Bahia, por outrolado, nossos mais importantes contatos parecem ser com pessoasque falam apenas português, tais como os trabalhadores das fábricascom os quais nos encontramos uma vez a cada dois domingos e,principalmente, o grande grupo de crianças que ultimamente têmparticipado das reuniões. Comecei a traduzir os folhetos das lições

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

de Tia Victoria para elas, como também para a nossa pequenaórfã. É claro que a srta. Mickle poderia hospedar-se na residênciade uma família brasileira na Bahia para ter a mesma oportunidadede praticar a língua, mas para isto teríamos que desistir de nossacasa que é o nosso centro para reuniões e há dois anos é conhecidacomo a Sede Bahá’í no Brasil.

Nossa pequena revista, ‘A Nova Era’, o sr. Faria pretendecontinuar em colaboração comigo, e como as cartas levam decinco a doze dias entre uma cidade e outra para ir e vir, haveriaalgum atraso no trabalho. A revista parece estar sendo bemrecebida em todos os lugares e possivelmente vamos tentaraumentar o número de exemplares.

Fiquei tão feliz em saber recentemente que Martha Rootdeu a Mensagem em Portugal. Pedi à srta. Root que nosmandasse os nomes de pessoas as quais ela sugere que enviemosnossa revista ou outra literatura que tivermos a possibilidadede traduzir posteriormente.

No momento, estou dedicando-me à tradução do‘Respostas a Algumas Perguntas’ e ficarei feliz em mandar-lheuma cópia da tradução datilografada, se assim o desejar.Lembro-me de seu pedido, há muito tempo, para lhe enviar,mesmo que em manuscrito, cópias de tudo o que tivesse traduzido,mas revendo estas antigas traduções percebi que precisariam detanta revisão que pareceu-me melhor, pouco a pouco, fazer novastraduções. A tradução de ‘As Palavras Ocultas’, no entanto,junto com as orações contidas nos dois pequenos livros, foramfeitas pelos senhores Faria e Costa e eu, de modo que estão bem

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137Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 13Dificuldades no Caminho

melhor traduzidas e posso mandar-lhe uma cópia completa se o

senhor assim o desejar.

Tenho certeza de que ficará satisfeito em saber que

recebemos muitas respostas às cartas que enviamos às Sociedades

Teosóficas da América Central, do Sul e da Espanha, e que

elas expressaram um espírito notadamente cordial. Praticamente

todas declaram que nossa carta e o folheto em espanhol foram

lidos em uma de suas reuniões, despertando muito interesse, e

solicitaram mais folhetos, sendo que a quantidade variava entre

10 e 200. A loja que pediu 200 exemplares foi a de Mendoza,

na Argentina, a primeira que ficou interessada na Causa alguns

anos atrás (acho que através de Martha Root) e eles mesmos

traduziram e publicaram ‘What Men Ye Out For To See?’, de

Thornton Chase. Talvez o senhor já tenha este folheto, mas

caso não tenha, incluiremos um dos exemplares que eles nos

mandaram. Mandamos ao tradutor, dr. Carlos Stoppel, um

exemplar do Bahá’u’lláh e a Nova Era do dr. Esslemont, o

qual ele disse estar lendo com bastante interesse. Para nossa

grande surpresa, eles agora nos mandaram vinte pesos como

contribuição para o trabalho de difundir a Causa Bahá’í aqui.

A fim de podermos responder a toda essa correspondência em

espanhol, o sr. Faria e eu começamos a ter aulas de espanhol e

também começamos a traduzir ‘Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em

Paris’ para o espanhol. Recentemente, no entanto, recebemos

dos Estados Unidos uma nova tradução em espanhol do livreto

‘No. 9’, assim, estamos pensando se agora há algum outro

bahá’í que esteja traduzindo os ensinamentos para o espanhol.

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

Se assim for, será melhor para nós concentrarmo-nos noportuguês. Tendo em vista que há grande número de pessoasque falam espanhol – certamente, muito mais do que aquelesque falam português – e, como as duas línguas são tãosemelhantes que sabendo uma, facilmente poderíamos aprendera outra, sentimos que, talvez, este seja um importante serviçoque poderíamos prestar, e esta foi outra razão que me fez pensarque não deveria ter deixado a Bahia, uma vez que estávamostendo aulas lá com um bom professor de espanhol.

No caminho para o Ceará, parei alguns dias em Recifeonde há muitas pessoas interessadas na Causa desde minhaprimeira visita em 1922. Desta vez, como nas duas primeirasvisitas, falei no Centro Espiritualista onde havia 120 a 130presentes. Eles pareceram muito mais favoravelmenteimpressionados do que nunca e estavam ansiosos por outrapalestra bahá’í. Gostaria de pedir orações por esse grupoespiritualista e, especialmente, para a família Barros que sempreme ajudou a organizar reuniões públicas, sendo algumas emsua própria casa. Eles são uma família tão sincera e bondosacomo jamais conheci em qualquer outro lugar – seu maiorprazer parece consistir em compartilhar o pouco que possuemcom os pobres, em visitar os enfermos, leprosos, presos e outrosdesafortunados. Eles amam as orações de ‘Abdu’l-Bahá epossuem uma grande foto emoldurada dEle em sua sala deestar, sob a qual colocam flores frescas todos os dias, mesmosendo espiritualistas devotos e não tendo reconhecido aBahá’u’lláh como o Prometido de todas as eras. Fui convidada

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

para falar na Sociedade Teosófica de Recife na noite do AnoNovo. Foi uma reunião bem pequena, mas todos demonstrarama maior cordialidade e interesse. Lá, foi-me possível novamentevisitar a prisão estadual e falar com vários prisioneirosindividualmente e distribuir muitos folhetos. Mais tarde, enviei-lhes cópias de algumas orações e, um homem idoso queanteriormente havia sido o mais temido bandido do Brasil, quedizem ter-se corrigido durante seus anos passados na prisão eestar estudando espiritualismo, mandou-me um pedido decinquenta exemplares para enviar a pessoas com quem ele secorresponde.

Desconheço qualquer espécie de ocupação aberta àsmulheres que possa dar-me a condição de visitar os diversosestados, que era de seu desejo, mas, certamente, ensinando inglêssou capaz de economizar um pouco para viagens ocasionais. Éisto o que sempre tenho feito e, assim, visitei doze dos vinteestados brasileiros, sendo que em oito deles fiquei o temposuficiente para realizar pelo menos uma reunião pública, e nosoutros apenas visitei os jornais e falei a indivíduos. Quandovoltar para a Bahia, poderei planejar parar em dois ou trêsestados em que ainda não tenha sido realizada uma palestrabahá’í.

Por favor, perdoe-me por escrever-lhe uma carta tão longa,mas quero deixar clara a exata situação aqui, bem como,assegurar-lhe do meu mais sincero desejo de receber suaorientação a fim de servir da maneira mais efetiva possível.Parece que cada dia torno-me mais consciente da minha absoluta

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

fraqueza e desmerecimento em servir, de qualquer forma queseja, nesta gloriosa e tão importante Causa e percebo, mais emais, que apenas através de constantes orações e volvendo-nosao Centro Divino e, especialmente, pela obediência implícita aoCentro Focal no mundo hoje, o Guardião desta grande Causa– designado pelo próprio amado Mestre – é que podemos esperarpor Sua confirmação e assistência, a única coisa que pode noscapacitar a servir verdadeiramente.

Com o mais profundo amor e devoção e as mais reverentessaudações ao senhor, à Folha Mais Sagrada e aos demaismembros da Família Sagrada,

Muito humildemente,Leonora Stirling Holsapple7

[As portas para a difusão dos ensinamentos e para umademonstração prática do espírito da Causa logo seabriram.]

“Logo depois de chegar ao Ceará, comecei a procurar umlocal para uma palestra pública, mas parecia sempre haver algumobstáculo. No entanto, tentei fazer algo no sentido da preparação,com a idéia de ensinar às pessoas através de atos enquantoesperava por uma oportunidade de dar-lhes a Mensagem compalavras. Visitei o hospital, o abrigo para indigentes, a prisãoestadual e outras instituições, falando com alguns dos internos,levando-lhes pequenos presentes, etc., e a melhor de todas asoportunidades surgiu quando se desencadeou uma epidemia degripe e disenteria* e me foi possível oferecer meus serviços visitando

*“Graves epidemias de cólera eo surto de tifo... e eu fui capaz deoferecer meus serviços levandoremédios, comida e roupas paramuitos dos doentes... lá estavampretos e brancos entre eles, detodas as matizes, e muitosmostravam claramente a misturade sangue índio com o negro ou oportuguês. Mas todos erampobres, sofrendo, necessitandoajuda humana, e todos estavamagradecidos por terem recebidoajuda, livremente, pelo amor àhumanidade.” (Extratos de carta,publicada no Bahá’í World, Vol.III, p. 365)

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Capítulo 13Dificuldades no Caminho

os pobres em suas casas, levando-lhes alimento eremédios. Quando finalmente, em 23 de abril,surgiu a oportunidade para uma palestra pública,a palestrante já havia tornado-se conhecida nacidade como ‘a enfermeira dos pobres’ e,provavelmente, muitos que participaram, de outromodo, não o teriam feito. Os jornais anunciarama palestra*, e convites foram enviados aogovernador, juízes, médicos e a todas as pessoas maiscultas da cidade. A participação foi boa e a maioriapareceu bem impressionada...

…Antes disso, no domingo de Páscoa, houveuma oportunidade de falar na prisão estadual.Todos os presos – muitos deles assassinos –reuniram-se na capela. Ao final, um deleslevantou-se e em nome de todos expressou suaapreciação e, mais tarde, recebi uma comoventecarta de um deles, dizendo-me o quanto a palestrasignificou para eles. Livretos, cópias datilografadasde algumas orações e também pequenos sacos

contendo bolos foram distribuídos entre eles no final da reunião.Em todas as reuniões da escola, também, foram realizadas

palestras somente sobre assuntos bahá’ís, tendo sido escolhidostemas como paz universal, uma língua internacional, educaçãodas mulheres, e algumas Palavras de ‘Abdu’l-Bahá foramcitadas no jornal da escola.” 8*Leonora menciona que: “Trans-

crevendo cerca de metade dapalestra … o jornal mais lido,publicou um artigo.”

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

[Entrementes, Leonora vinha recebendo insistentesconvites de seu pai e de sua irmã para visitar sua famí-lia nos Estados Unidos, pois já fazia muito tempo quenão os viam. Um cabograma havia recém-chegado departe de seu pai e ela sentiu que não poderia mais pro-telar essa visita e, assim, decidiu passar alguns mesescom sua família, entre os meses de maio a setembro de1927. Numa carta escrita ao amado Guardião, ela as-sim o informa:]

areceu importante levar avante estas e outrasoportunidades de serviço que surgiram no Cearáe, embora meu pai e minha irmã, há algum tempo,

venham insistindo para que retorne neste verão para um períodode férias, sendo que já há três anos e meio que estou longe,escrevi-lhes dizendo que não posso abandonar o trabalho noatual estágio. O campo aqui é tão vasto e os trabalhadoresainda tão poucos, que sempre sinto que não há tempo a perder.No entanto, finalmente chegou um cabograma que me fez pensarque minha ida era uma dívida para com eles, e agora estou acaminho, mas espero retornar em agosto ou setembro para

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“P

UMA SEGUNDA VISITA AOS

ESTADOS UNIDOS

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

continuar o trabalho na Bahia, no Ceará ou onde querque possa ser melhor.

…Entrementes, a srta. Mickle está dandocontinuidade ao trabalho no Ceará. Uma vez que otrabalho teria que ser interrompido em um dos doislugares, pareceu que seria melhor continuá-lo na Bahia,onde o trabalho vinha prosseguindo por três anos e haviaum pequeno grupo realmente interessado e lá pareciahaver oportunidades tão extraordinariamente boas paraserem seguidas, do que no Ceará onde o trabalho malhavia começado.

Sinto muito dizer que achamos necessáriosuspender, no momento, a publicação da nossa pequenarevista A Nova Era, pois é praticamente impossívellevar o trabalho adiante por correspondência, como

havíamos esperado...”1

A DESCONTINUIDADE DO A NOVA ERA

[Apesar do sucesso de seu trabalho de ensino no Cea-rá, um grande número de preocupações pessoais con-tinuaram a dirigir o coração e a mente de Leonora àBahia. Além disso, a distância entre o Ceará e a Bahia,onde se encontrava seu companheiro de tradução e detrabalho na publicação A Nova Era, sr. Hyram Faria,fez com que decidissem interromper aquela importanterevista. Assim, o periódico A Nova Era que havia come-çado a circular em 1925, amplamente aceito e distribu-

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

ído entre os mais diversos círculos de pensamento doBrasil e através da América Latina, foi suspenso.

A resposta de Shoghi Effendi chegaria quandoLeonora já estava visitando sua família nos EstadosUnidos. Em agosto, uma nova carta escrita em nomede Shoghi Effendi foi enviada à Leonora:]

“Ele sempre fica muito satisfeito em ter notícias suas e

de saber sobre seu trabalho pioneiro para o progresso de nossa

Causa comum neste vasto e distante país. Foi realmente

encorajador e esperançoso ler seu vívido relato das várias

reuniões e atividades às quais tem dedicado todo seu esforço.

Está além de qualquer sombra de dúvida que, algum dia, as

sementes que fielmente semeou irão florir e florescer, e lhe

acompanham e sempre acompanharão as amorosas orações de

nosso bondoso Guardião.

Ele, também, confia que sua visita à América será uma

ocasião para uma feliz reunião de família e alí encontrará,

também entre os bahá’ís da América, descanso, força e um

sentimento de merecida apreciação que a ajudará e fortalecerá

na poderosa e gloriosa tarefa que a espera no Brasil.

Shoghi Effendi deseja e sinceramente espera, no entanto,

que após seu retorno, você fará um esforço especial, talvez com

a ajuda de outros, para manter a publicação de sua revista. É

uma estonteante luz de esperança, brilhando, ainda que humilde,

porém misericordiosamente, sobre seus leitores; e quem sabe,

talvez, esta luz possa, algum dia, tornar-se uma tocha e iluminar

o caminho da justiça para incontáveis milhões da humanidade.

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

Sempre interessado em seus esforços e confiantementeesperançoso dos melhores resultados, nosso Guardião deseja quelhe assegure, mais do que nunca , de seus bons votos e orações.”2

[E, como de costume, de seu próprio punho, ShoghiEffendi enviaria uma palavra adicional para Leonora.]

“Minha preciosa irmã,Sinto que deva concentrar-se na Bahia e no Ceará e não

dissipar suas energias ao longo de demasiadas frentes diferentes.Suas cartas são para mim sempre estimulantes e revigorantes.Seu nome, asseguro-lhe, adornará os anais da Causa e inspirarámuitos pioneiros bahá’ís no futuro. Você não pode perceber oesplendor e significado do trabalho que está realizandopresentemente, porém possa Deus conceder-lhe força e paciênciaem sua exigente, mas sublime, tarefa.”3

Foi no ano de 1927 que meu pai, mais uma vez,enviou dinheiro para minha passagem para os EstadosUnidos, embora ele soubesse que desta vez seria apenasuma visita; e, na minha volta ao Brasil, deu-me dinheirosuficiente para uma viagem à Guiana Holandesa etambém para uma viagem ao Panamá, o que significavatambém oportunidades para fazer pequenos trabalhosbahá’ís em alguns portos intermediários, tais comoPorto Príncipe, Curaçao, Baranquilla, Caracas, GuianaInglesa, Trinidad e Barbados.

[Com a mente focada apenas em um só pensamento, ode como difundir as fragrâncias divinas, ela dedicava

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

cada momento, cada reunião, cada respiração aoensino.]

“Houve bem poucas oportunidades de serviço nessaviagem – apenas no estado do Maranhão, bem como, aqui noPará. Através dos esforços do presidente da Sociedade Teosófica,obtivemos permissão do governador para utilizar o teatro doestado para uma palestra...”4

[Logo depois de discursar naquele centro, elaescreveu:]

“Acabo de voltar da minha palestra no Teatro da Paz.Nas outras vezes que estive no Pará, falei em alguma organização– Centro Espiritualista, Tattwa, Sala Maçônica, etc. – assim,pensei que seria bom uma vez falar em algum auditório públicoque não tivesse ligação alguma com qualquer grupo religioso,de modo que ninguém fosse impedido de participar devido apreconceito contra qualquer grupo em particular. Eu supunha

que fosse difícil conseguir oteatro municipal, masdescobri que o novopresidente da SociedadeTeosófica é cunhado dogovernador e ele obtevepermissão deste último. Émaravilhoso como asdificuldades são removidas,

Teatro da Paz em Belém doPará.

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se apenas pedimos com fé – usei especialmente a oração de remoçãode dificuldades. A audiência, no entanto, foi muito pequena,pois houve muito pouco tempo para divulgação e convite àspessoas. Ainda assim, as poucas pessoas pareceram realmenteinteressadas, de modo que, talvez, não tenha sido em vão.”5

[De Belém do Pará seguiu viagem até Nova Iorque,onde Leonora foi recebida no porto por toda suafamília.]

“Minha irmã, meu pai e minha madrasta vieram meencontrar no navio. Todos estão bem, ou pelo menos meu pai eminha irmã estão, e minha madrasta bem melhor. Eles alugaramum pequeno apartamento na cidade para o verão, mas minhairmã começará seu novo trabalho na Pennsylvania em 15 dejunho. Então, o plano é que eu vá a Michigan visitar minha tiae, talvez, ajudá-la no trabalho com a instituição por mais oumenos um mês, pois ela ainda não encontrou alguém parasubstituir minha irmã e está com muito poucos funcionários.”6

[Para sua grande surpresa, uma inesperada visita deMay Maxwell à Nova Iorque provinda de Montrealpara uma reunião da Assembléia Nacional, trouxe umencanto adicional à curta visita de Leonora.]

“May Maxwell veio até Nova Iorque anteontem paraparticipar de uma reunião da Assembléia Espiritual Nacional,e ontem tivemos várias horas muito agradáveis juntas.Esperamos mais tarde poder passar alguns dias juntas em

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Montreal. May estava muito interessada em saber tudo sobre otrabalho no Brasil e quer nos ajudar financeiramente, de modoque possamos, talvez, fazer um trabalho um pouco maior.”7

[De Nova Iorque Leonora e Alethe foram a Hudson,sua cidade natal, a fim de visitar parentes e amigos e,de lá viajaram até Boston, onde passaram dois ou trêsdias, aproveitando o adorável clima naquela época doano.]

“Minha irmã e eu fomos sozinhas em seu pequeno carro,um Buick cupê, com ela dirigindo, pois jamais aprendi a dirigir.Logo que partimos, começou a chover e assim continuouininterruptamente até chegarmos em Hudson, nosso velho lar,a cerca de 120 milhas daqui. Apesar da chuva, desfrutamosda viagem. O campo fica lindo por essa época – tão fresco everdejante, as campinas cheias de margaridas e outras flores.Ficamos mais de um dia em Hudson, visitando nosso tio e tiae outros parentes e amigos, em seguida, fomos a Boston, ondepassamos dois dias visitando alguns bahá’ís e outros amigos nacidade e nas proximidades. Por sorte houve uma Festa deDezenove Dias enquanto estávamos lá que foi um presenteespecial para mim, pois fazia muito tempo que não participavade uma. Na Festa, disse aos amigos que, para variar, gostariaapenas de ficar ouvindo, mas eles não concordaram, tão ansiososestavam por ouvir a respeito do trabalho no Brasil. Assim, coubea mim falar a maior parte do tempo. Ao voltarmos, passamosuma noite em Worcester, na residência do sr. e sra. Howard

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

Sturven. Eles estão entre os mais antigos bahá’ís deste país e sãoverdadeiros bahá’ís. A gente sente uma tal atmosfera espiritualna casa deles –tanta paz e amor – um pouco do céu na terra.Voltamos de lá ontem – cerca de 200 milhas e, felizmente, foiagradável – um dia perfeitamente lindo. Minha irmã tem quecomeçar seu novo trabalho na Pennsylvania no dia 15, assim,acho que não teremos outras viagens juntas.”8

[No domingo, 19 de junho, ela e sua irmã ainda tiveramtempo para visitar Montrose, Pensilvânia.]

“Estava frio e choveu durante a viagem toda, mas, aindaassim, nós a desfrutamos e chegamos no início da noite semqualquer contratempo.

É um belo lugar, bem no alto das colinas e consideradomuito saudável, assim, espero que Alethe ficará bem lá. Ficamosmais de uma noite com ela, então, na manhã seguinte, meu pailevou-me um pouco mais além, para Buffalo. Lá, fiz umaagradável visita à irmã de Maude naquela tarde e, então, o sr.e sra. Ober levaram-me para sua casa, cerca de 12 milhas nointerior para passar a noite. Foi certamente adorável vê-losnovamente.”9

[As comunidades de Nova Iorque e vizinhanças estavamesperando a chegada de Ruhi Afnán*, um neto de‘Abdu’l-Bahá (primo de Shoghi Effendi), prevista parao dia 21 de junho, para passar o verão em Green Acre.Leonora nutria em seu coração o desejo de encontrar-se com um membro da Família Sagrada. Sua ansiedade

*Ruhi Afnán, primo de ShoghiEffendi, serviu-o como secretáriopor alguns anos e, assim, seu nomeera conhecido entre os crentesnorte-americanos. Ele, sua mãe eirmãos foram posteriormenteexpulsos da Fé depois de anos dedesobediência, conduta indigna efranca oposição (Vide AdibTaherzadeh, The Covenant ofBahá’u’lláh, pp. 358-362).

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aumentou ainda mais quando soube que ele haviachegado uns dias antes do previsto, de modo que elapoderia vê-lo, antes de deixar Nova Iorque. Ela assimdescreveu a ocasião daquele encontro:]

“Vários de nós foram ao navio para encontrá-lo. Ele équase dois anos mais novo do que Shoghi Effendi e, a julgar pelafotografia, acho que há uma leve semelhança – talvez mais naexpressão. A gente sente sua profunda espiritualidade. Disse-lhe:

–– O senhor é o primeiro membro da Família Sagradaque conheço. Não conheci ‘Abdu’l-Bahá.

Ruhi Afnán ficou em silêncio por um momento e entãodisse-me:

–– O importante não é ver – é servir.Foi possível a Alethe e eu participarmos da recepção que

lhe foi oferecida uma noite antes de deixarmos Nova Iorque.Havia cerca de 300 presentes – praticamente todos os bahá’ísde Nova Iorque e muitos outros. Houve alguns curtos discursose bonitas músicas e canções. Ruhi Afnán falou principalmentesobre o progresso da Causa no Oriente e em várias outras partesdo mundo, especialmente na Alemanha, dizendo que 17Assembléias Espirituais foram estabelecidas naquele país nosúltimos anos – um exemplo para todos nós. Falou-nos tambémde como a Folha Mais Sagrada e outros membros da Famíliaanseiam por notícias de nossas atividades – disse que em Haifaeles não têm cinema ou outras diversões, que a única coisa quelhes dá prazer é ouvir que a Causa está progredindo

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satisfatoriamente. Ruhi Afnán passará o verão em Green Acre,

assim, talvez possa vê-lo um pouco mais lá.”10

[Viajou, então, para se encontrar com May Maxwellem Toronto, no Canadá, onde permaneceu até 24 dejunho.]

“Desde então, estou aqui em Toronto com May, o que

para mim é sempre celestial. Houve duas recepções vespertinas

– uma delas cerca de uma hora depois de minha chegada e a

outra, de despedida, que May ofereceu no hotel esta tarde. Há

aqui um ótimo grupo de pessoas boas e cultas que estão

interessando-se pela Causa. Fizeram com que eu falasse sobre

o Brasil nas duas recepções...”11

[Sua viagem aos Estados Unidos foi também umaoportunidade para recuperar a saúde e recarregar asenergias despendidas nos seus primeiros anos de ser-viço e adaptação ao Brasil. Enquanto visitava a Girl’sTraining School, em Adrian no estado do Michigan,ela escreveu a um amigo no Brasil:]

“E se lhe dissesse quanta comida estou consumindo, duvido

que me acreditasse. Todos falaram-me tanto que estou magra e

fraca – especialmente a sra. Maxwell, minha tia e o médico

daqui que é meu amigo há vários anos – que estou comendo

realmente mais do que gostaria e também porque há tantas coisas

tão boas nesta época do ano – morangos, cerejas, peras verdes e

tantas outras frutas e verduras frescas, e um leite tão bom!

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Tomo um ou dois copos a cada refeição. A sra. Maxwell me fezcomer carne também, enquanto estava com ela – insistia quepreciso de carne, e como minha tia é da mesma opinião, continuoa comer aqui.”12

[Embora se deleitando com a farta alimentação, o cli-ma e a agradável companhia de parentes e amigos, umsentimento de estar perdendo seu tempo começou ainvadir a mente de Leonora. Ela estava pensando emretornar ao seu trabalho de difusão das fragrâncias divi-nas no Brasil, quando justamente uma carta recebidade Shoghi Effendi veio confirmar seu desejo de voltarao Brasil o mais rápido que pudesse. Ela relatou:]

“Fiquei muito feliz em receber, há poucos dias, uma cartade Shoghi Effendi, encaminhada por Maude, da qual estouanexando cópia para você. Repare que pela primeira vez, creioeu, ele me estimula fortemente a ‘concentrar-me em umas poucasalmas capazes e receptivas’ e também se refere ao‘importantíssimo campo da tradução’. Oh, isto me deixaimpaciente para estar de volta ao trabalho – sinto que, de certomodo, estou desperdiçando tempo aqui.”13

[Leonora ainda estava trabalhando na Girls TrainingSchool em Adrian, quando iniciou seus planos para oretorno ao seu posto de pioneirismo no Brasil; pois,afinal, a visita aos Estados Unidos era de curta dura-ção. Pensando na rota de sua viagem de volta e nostantos países e almas ansiosas por ouvir as Boas-Novasdo Reino, como poderia ela não aproveitar a oportu-

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nidade de visitar os paises das Antilhas, aproveitandoessa tão rara oportunidade?]

“Acho que ainda não mencionei, em nenhuma das minhascartas a você, a idéia que me surgiu sobre a minha rota deretorno, pois não estava certa a respeito, e realmente ainda nãoestou, mas prefiro pensar que vou poder realizá-la. A idéia é irpela Linha Colombiana e parar em dez das ilhas dosarquipélagos Virgens, Windward e Leeward e na GuianaHolandesa. A dificuldade é que terei de pegar outro barco paraa Guiana Holandesa para voltar a Trinidad ou Barbados, elá esperar, não sei durante quanto tempo, por um vapor ououtro barco para o Pará. Todos, principalmente a sra. Maxwell,acham a idéia maravilhosa – pelo menos haverá oportunidadede dar a Mensagem em todos esses lugares nos quais, que eusaiba, ela jamais foi levada. Penso que também pode ser possívelpegar um pequeno barco ao longo da costa da Venezuela, talvezaté o Panamá, mas isto dependerá de tempo e custo. Se fizeresta rota, partindo de Nova Iorque em 16 de agosto a bordo doSS Haiti, suponho que, na melhor das hipóteses, dificilmenteestarei na Bahia antes de 1o de outubro – e esperava chegar láno máximo até a primeira quinzena de setembro! Mas sintoque esta é uma importante oportunidade... talvez você possa memandar alguns dos folhetos em espanhol, 25 ou 50, para euusá-los, caso vá à Venezuela...”14

[Embora ainda aproveitasse o tempo restante para es-tar com sua irmã Alethe, pai, tia e outros queridos

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

entes familiares, ela já dava início ao difícil processo dedespedidas. Preparando-se para retornar a um país tãodistante como o Brasil; quando teria agora a oportu-nidade de um novo encontro com seus amigos e pa-rentes? Assim, as despedidas pareciam ser mesmo fi-nais.]

“O mês em Adrian passou deveras rápido. O trabalhofoi interessante, como sempre e, evidentemente, gostei de estarcom minha tia. Foi muito difícil deixá-la – ela é tão sozinha,principalmente desde que minha irmã foi embora. E, certamente,agora será ainda mais difícil deixar minha irmã. Este já é oterceiro dia que estou passando aqui com ela e, provavelmente,ficarei apenas mais um ou dois dias com ela, em Nova Iorque,antes de partir. Ela parece bem e está achando seu novo trabalhointeressante. Ela faz muito mais trabalho externo. Tem quedirigir seu pequeno Ford cupê a todas as partes do país parainvestigar casos de crianças abandonadas. Gostaria que vocêpudesse ver o lugar onde estou agora – é tão lindo – no topo damontanha, cercado de bosques. A estrada pela qual tivemos quesubir é tão estreita, íngreme e rochosa, e acho que a descida seráainda mais difícil. Mas minha irmã é uma motorista experientee o Ford é um carrinho muito bom.”15

“Partimos de Montrose esta manhã bem cedo, para queAlethe tivesse tempo suficiente para me conduzir cerca de cemmilhas em minha viagem e ainda parar em alguns lugares nocaminho para fazer o seu trabalho...

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No meu caminho para o Leste, parei um dia em Buffalopara visitar amigos e, naquela noite, o sr. Ober levou-me àGeneva, onde tivemos uma reunião bem grande. Lá existe umgrupo de novos bahá’ís maravilhosos e muito inflamados –talvez você se lembre de Maude ter nos falado a respeito deles.De lá, desci para Montrose a fim de visitar Alethe e agorapretendo ir a Green Acre, via Hudson, Nova Iorque, Springfield,Worcester e Boston.

Acabei de saber a respeito de um barco da Linha Furnessque é mais rápido que a Colombiana. O barco sai em 25 deagosto e pára nas mesmas ilhas, porém não vai até a Guiana.Estive pensando que de qualquer modo devo me atrasar bastante,pois não sei quando poderei pegar um barco de lá ou da Venezuelapara Barbados, e como meu pai e minha irmã preferem que eufique aqui com eles durante mais estes poucos dias e tambémcomo me surgiu a possibilidade de passar uma semana em GreenAcre em vez de apenas dois dias, provavelmente, decidirei por

este em vez daquele do dia 16.Isto também poderá significarque chegue à Bahia um poucoantes.”16

[A oportunidade de passaruma semana em GreenAcre, onde amigos bahá’ísde todas as partes do paíshaviam se reunido para es-cutar ao membro da Famí-

Green Acre, Maine. Famosa es-cola bahá’í nos Estados Unidos,a qual teve o privilégio e honrade receber a visita de ‘Abdu’l-Bahá em 1912, e que Leonoravisitou em 1927. Foto tiradana década de 1930.

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Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

lia Sagrada, sr. Ruhí Afnán, deu também a Leonora achance de rever sua amiga May Maxwell, que pessoal-mente a encorajou a visitar os países do Caribe no ca-minho de sua viagem de volta ao Brasil.]

“…as pessoas em Green Acre ficaram tão interessadasquando falei, que votaram para que me fosse oferecido 200dólares do Fundo de Ensino da Assembléia Espiritual Nacionalpara que eu possa visitar esses outros lugares, de modo que,evidentemente, tenho que ir, e oro para que não fiquemdesapontadas com o resultado... sinto-me empolgada por levara Mensagem a esses novos países, apesar de achar que não hábahá’í menos qualificada do que eu para ser enviada.”17

[Aqueles dias rapidamente transcorriam, enquantoLeonora buscava desfrutar cada um de seus momen-tos, estando com seus amigos e parentes. A estadia emGreen Acre havia sido coroada com alegrias.]

“…sempre havia alguém com quem eu desejava conversarsobre alguma coisa, pois estava sempre em movimento. Nosquatro dias que passei lá, fui acolhida por quatro pessoasdiferentes e, tanto na ida como na volta, parei em diversoslugares, passando somente um dia ou uma noite em cada lugar.Apreciei muito, pois foi agradável tanto para o corpo comopara o espírito.” 18

[Em seu retorno à Nova Iorque, ela escreveu:]

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158Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

“Alethe chegou em Nova Iorque no mesmo dia que eu –

sábado passado – e ficou até segunda à noite. Estava com receio

de que esta fosse a última vez que teria para estar com ela, de

modo que me sentia um pouco triste, mas agora que não irei

antes de 2 de setembro, poderei vê-la mais uma vez. Papai

também está feliz porque ficarei mais uns dias, pois ele terá de

voltar à Califórnia por volta do dia 27 de agosto e, portanto

sente que não estará aqui para me ver partir. Ele está planejando

ir até Montrose, onde me deixará para passar os últimos dias

com Alethe, enquanto ele segue para a Califórnia. Somente

voltarei aqui no dia do embarque.”19

[Seu contato com o Brasil continuava ininterrupto atra-vés de cartas, mesmo durante aquela curta visita aosEstados Unidos. Uma carta de amiga Maude Mickle,sua companheira de pioneirismo no Brasil, trouxe-lhea notícia do passamento da amiga Belma de Barros,uma das primeiras a aceitar a Mensagem Divina na ci-dade de Recife, quando de sua primeira visita ali, em1922.]

“Uma carta de Maude, alguns dias atrás, trouxe uma

notícia muito triste de que Belma faleceu no dia 12 de julho. A

última carta de sua irmã dizendo que ela estava bem melhor

deu-me muita esperança. Não posso tolerar o pensamento de

não poder vê-la na minha volta, apesar de saber que ela está

próxima e estará trabalhando conosco do outro lado. Belma era

pura e abnegada – ela amava ‘Abdu’l-Bahá e creio que ela O

encontrará no outro mundo.

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159Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 14Uma Segunda Visita aos Estados Unidos

A vida é tão cheia de separações, e parece que não consigo

me acostumar com elas. Meu pai viajou para a Califórnia no

último sábado, e agora só tenho mais um dia com Alethe. Ela

está comigo no trem esta noite, indo à Nova Iorque para me ver

partir. Gostei tanto destes últimos poucos dias com ela em

Montrose – sou muito grata por eles.”20

Leonora e Belma de Barros, em

foto de 1922.

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160Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

“SS Nickerie”, vapor que trouxeLeonora de volta ao Brasil em1927.

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161Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

[A primeira parte da viagem foi feita a bordo do “SSNickerie”, aportando em Porto Príncipe, Haiti e, en-tão, seguindo para Curaçao, as Índias Holandesas Oci-dentais. Numa série de cartas enviadas a Hyram Faria,companheiro de Fé e de trabalho nas traduções, e comquem ainda nutria a esperança de um futuro casamen-to, ela relataria cada detalhe dessas viagens.]

S Nickerie, 3 de setembro de 1927

Querido…,Uma carta escrita a bordo de um navio a vapor é

adequada, penso eu, para ser lida por partes – uma parte especiala cada dia...

Você teria apreciado o mar hoje – esta manhã,especialmente, estava tão calmo – assim como um grande lago, ede um azul encantador. Foi um lindo dia quente e ensolarado epareceu bom estar quente. Não creio que tenha havido mais deuma dúzia de dias realmente quentes durante os três meses queestive na América – com o tempo tão chuvoso e frio. O mar estátão tranqüilo. ...Tenho ficado sentada do lado de fora no convésestudando espanhol a maior parte do dia e tenho lido um pouco

15A VIAGEM DE VOLTA AO BRASIL

“S

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162Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

de português também – um capítulo de ‘Céus e Terras do

Brasil’. Acho melhor que, daqui por diante, eu leia um pouco a

cada dia, pois quero ser capaz de me fazer entender quando chegar

ao Brasil, não é mesmo?

Minha companheira de cabine parece ser uma pessoa

muito fria e, de início, achei os outros passageiros frios e pouco

amáveis, mas no final da tarde tive uma conversa com uma

amável moça americana e, por intermédio dela, conheci algumas

pessoas que parecem ser agradáveis. Há uma senhora

venezuelana que se senta ao meu lado na mesa de refeições, e,

assim, espero ter alguma oportunidade de praticar espanhol.

Este barco é maior do que os barcos com cabine, tem o convés

bem mais espaçoso e acho que há 42 passageiros...

Domingo à noite, 4 de setembro.

…Hoje foi mais um dia lindo e claro, com o mar tão

tranquilo – o tempo certamente tem sido perfeito até agora –

parece feito por encomenda... provavelmente; passo os meus dias

a bordo todos iguais – lendo, estudando espanhol, conversando,

etc. Esta tarde, tentei reunir um pouco meus pensamentos a fim

de preparar uma palestra (em inglês, evidentemente) para dar

em algum desses lugares onde possa surgir uma oportunidade,

mas não fui muito longe. Acho que fico muito preguiçosa sempre

que estou a bordo de um navio.

Copiarei para você uma oração que acabo de ler em um

dos cadernos de minha avó:

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

Ó meu Deus! Ó meu Deus!Verdadeiramente, este é um servo Teu que acreditouem Ti e em Teus sinais; verdadeiramente, ele (ela)ouviu Teus Chamados, volveu-se ao Teu Reino,humilhou-se em Teu Sagrado Limiar, possuído porum coração contrito, levantou-se para servir TuaCausa, difundir Tuas Fragrâncias, promover TuaPalavra e expor Tua Sabedoria.

Ó Senhor! Ó Senhor! Imerge-o no oceanode Tua glória. Ó Senhor! Ó Senhor! Conduze-oao Teu sublime Paraíso e faze com que ele estejapresente em Tua reunião de transformação.

Ó Senhor! Imerge-o em Teu oceano de luzes.*

Terça-feira de manhã, 6 de setembroO dia passou semelhante aos outros, exceto que conheci

um pouco melhor alguns passageiros e, assim, caminhei e converseium pouco mais...

Esta manhã, fiquei testando a paciência de algunsvenezuelanos com o meu pobre espanhol. Há um menino, achoque de uns 12 anos, que concordou em trocar lições comigo etivemos nossa primeira lição esta manhã. Ele é muito esperto e éum ótimo professor e aluno - luego hablerei muy bien!

San Salvador (mas, ai de mim, não é São Salvador!†)estava à vista quando fui ao convés pela primeira vez esta manhã.Acho que esta tarde vamos parar em Inagua, uma das ilhas dasBahamas, mas dizem que os passageiros serão trazidos até nós

*Autor não indentificado.n.e.† Cidade de São Salvador da Bahiade Todos os Santos.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

em uma lancha e não haverá tempo para desembarcar. Amanhã,no final da tarde, chegaremos a Porto Príncipe e acho queficaremos até a hora do almoço do dia seguinte. Se eu apenastivesse o seu conhecimento de francês, até que poderia fazer algumacoisa – ‘você se lembra como falo bem?’.

Porto Príncipe, Haiti, 8 de setembroCheguei a salvo aqui por volta das 5 horas da tarde de

ontem e dei uma pequena caminhada pela cidade. Agora demanhã, vou aos jornais.”1

[No domingo, 11 de setembro de 1927, Leonorachega a Curaçao, Índias Holandesas Ocidentais:]

“O bom navio ‘Nickerie’ entrou neste porto ao romperdo dia – bem na hora programada, sendo que o tempo continuouabsolutamente perfeito durante toda a viagem e tudo mais correubem. Agora devo permanecer aqui até quarta-feira, quandopegarei o ‘Simon Bolívar’ rumo ao Panamá.”2

“Você sabe o que é papiamento? É a língua falada pelopovo desta ilha e me disseram que é uma mistura de sete línguas:espanhol (50%), inglês (25%) e holandês, francês, português,indígena e uma outra que esqueci, completando os outros 25%.Evidentemente sendo uma possessão holandesa, o holandês é alíngua oficial usada nas escolas, etc., mas as pessoas aqui nohotel, e acho que praticamente todos, com exceção das classesmais baixas, falam inglês razoavelmente bem. Espero discursar

Curaçao, na América Central,ilha aonde Leonora passou algunsdias levando a Mensagem Bahá’í.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

aqui pelo menos uma vez, mas ainda não tive condição de fazeralguma coisa para que isto aconteça, porque hoje é domingo.”3

[Dois dias se passaram e Leonora não conseguiu umaoportunidade para falar em público, o que a deixoubastante ansiosa, até que finalmente, as portas se abri-ram. Em 13 de setembro ela escreveu:]

“Agora estou um pouco mais feliz, pois encontrei algumaspessoas interessadas em ouvir sobre a Causa e que também meajudaram a organizar uma reunião. Por acaso, hoje pela manhã,vi um cartão postal da Loja Maçônica, onde vou fazer umapalestra hoje à noite; e pensei que você teria interesse em vê-lo,como também a notícia no Boletin Commercial, o principal jornaldesta cidade de aproximadamente 40.000 habitantes!”4

Um dos poucos que compareceram foi o sr.Cohen Henríquez, um homem da terceira idade,holandês, porém proficiente em inglês, um dos homensmais proeminentes de Curaçao – presidente doConselho de Educação Pública, diretor de banco edono de uma indústria têxtil de grande benefício paraa ilha, pois provê empregos para centenas de nativos.Ele fez muitas perguntas após minha palestra e estavaansioso em obter toda a literatura que eu pudese dispor,a qual ele leu naquela mesma noite e com a qualconcordou inteiramente, como ele veio logo na manhãseguinte cedo me contar. Ele disse que fazia parte deum grupo de quatorze pessoas que estudavam teosofia,mas que ainda não havia encontrado algo que o

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

satisfizesse plenamente e que ansiava por ter umaconvicção firme.

[Este breve contato com o sr. Henríquez seriaaprofundado mais tarde e esse lhe abriria muitas por-tas para o trabalho de ensino da Causa. Em 14 de se-tembro, Leonora partiu de Curaçao rumo ao Panamá,parando em Puerto Colômbia, a bordo do “SS SimonBolívar”; entrementes, seu coração batia mais rapida-mente à medida que se aproximava da América do Sul.]

“Fiquei muito emocionada ao ouvir o bispo de Trinidadfalar na igreja holandesa no domingo à noite algo a respeito de‘nós que vivemos na América do Sul’. Não havia parado parapensar que, mais uma vez, encontrava-me na América do Sul– pelo menos, em uma ilha considerada parte dela. Ontem, foio primeiro dia em que coloquei o pé no continente sul-americano– em Puerto Colômbia. Chegamos aqui de manhã cedo no dia16, mas permanecemos ancorados na baía até a manhã seguinte,esperando um lugar vago no cais – este é um porto muitomovimentado – e estamos com tanta carga que só poderemospartir amanhã. Dizem que teremos, também, que passar doisdias em Cartagena, assim, acho que dificilmente chegaremos aoPanamá na data prevista.”5

[O tempo não pára e Leonora se impacienta. Decide,então, procurar oportunidades de ensinar longe doporto, em uma outra cidade.]

Rua central da cidade de PuertoColombia, Venezuela.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

“Ontem de manhã, peguei um trem [17 de setembro] –cerca de uma hora de viagem – para Barranquilla que pareceuma cidade importante. Não há praticamente coisa alguma aquiem Puerto Colômbia senão o cais, armazéns, etc. Fui a trêsjornais em Barranquilla e todos os três editores prometerampublicar artigos. Certamente, espero que o farão, mas sei quecausei uma péssima impressão – quase não sabendo espanhol,estava inclusive com menos auto-confiança do que de costume, ereceio que fiz uma grande confusão. Acho que devo preparar umpequeno artigo em espanhol para entregar ao próximo editor –sem dúvida, um dos passageiros o corrigirá para mim. Estou nasegunda-classe neste barco e todos os outros passageiros dasegunda-classe são pessoas de língua espanhola... A únicadesvantagem para mim é que há tão poucos passageiros nasegunda-classe – somente dois casais jovens e outros quatrohomens, nenhum dos quais falou comigo até agora, e eu, aindaque sou uma americana destemida, ainda não me aventurei afalar com eles. Faço as refeições na mesma mesa que um doscasais e embora eles não sejam propriamente amáveis, sãosuficientemente agradáveis. Não falam inglês e certamente poucostêm paciência de tentar entender uma pobre estrangeira queestá ‘assassinando’ a língua deles. No entanto, estamos nosconhecendo melhor e ontem foram tão gentis a ponto de me levarempara dar uma volta em Barranquilla. É claro que tenho muitocom que ocupar meu tempo – se não tiver alguém para conversardurante alguns dias, mas acho que por natureza não souinclinada à solidão.

Mercado sobre canoas na cidadede Barranquila, Colômbia.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

Qualquer um que leia o relato que redigi do pequeno

trabalho que fui capaz de fazer até agora (o qual acho que

anexarei para você ler), poderá ter a impressão de que

simplesmente abordo qualquer um que cruze o meu caminho e

começo a lhe falar sobre a Causa, mas na realidade não faço

nada disso...

Você sabe que, em geral, em um navio todo mundo fala

com todo mundo e as primeiras perguntas certamente são: ‘Para

onde você está indo?’ e ‘O que você vai fazer lá?’ (talvez não de

modo tão brusco), assim, geralmente logo de início, sou obrigada

a explicar minha missão.”6

[Em 22 de setembro, Leonora desembarca na Cidadedo Panamá. Com uma carta de recomendação do sr.Henríquez à mão, as portas lhe foram abertas nestacidade.]

Antes de deixar Curaçao, ele [sr.Henriquez] veio me ver novamente,trazendo cartas de apresentação aparentes e amigos seus no Panamá,entre estes últimos, o cônsul-geralholandês, todos os quais foram muitoprestativos durante minha estada noPanamá. Além desses contatosinteressantes com indivíduos duranteos poucos dias que passei no Panamá,e através deles, foi providenciada umapalestra pública [no auditóriomaçônico]. A audiência foi pequena

Vista da Cidade do Panamá em

1930.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

[cerca de 30 pessoas], em função do pouco tempo dedivulgação, mas proporcionou uma longa entrevistacom uma repórter inglesa do Star and Herald que ficouextremamente interessada e com quem deixei literatura.Também, o artigo que resultou em seu jornal ficoumuito bom.

[Em uma de suas muitas correspondências durantesuas viagens, ela acrescenta:]

“ O sr. Henriquez de Curaçao certamente provou ser achave para o Panamá. Seus parentes e amigos aqui foramsimplesmente maravilhosos, fazendo tudo o que era possível...”7

“Não é maravilhoso que Curaçao, um lugar do qualjamais ouvira falar e onde parei apenas porque tive que trocarde navio, tenha provado ser a chave para o Panamá e, talvez,para esses outros lugares? Tantas pessoas já me perguntaramporquê estava indo ao Panamá via Curaçao (sendo que há outraslinhas diretas para lá), que eu mesma comecei a ficar admirada,mas achei que deveria haver alguma razão.”8

[Alguns dias depois, novamente Leonora embarcariano “SS Simon Bolívar”, parando mais uma vez emCuraçao, onde permaneceu por apenas um dia – 28de setembro de 1927 – antes de prosseguir viagem.]

Como o sr. Henriquez sabia que, ao retornar doPanamá, meu navio pararia por um dia em Curaçao,dois dias antes, ele anunciou nos jornais que eu

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

novamente daria uma palestra no auditório maçônicoe, por esse motivo, houve uma audiência bem maiordo que na ocasião anterior, e também muitademonstração de interesse. Durante aquele dia, tivealgumas longas conversas com o sr. Henríquez etambém conversei com o cônsul brasileiro, a quem elehavia convidado para almoçar conosco. O sr.Henríquez já havia lido todo o Bahá’u’lláh e a NovaEra e pretendia emprestá-lo aos seus amigos antes decolocá-lo em uma das bibliotecas. Por longo tempodepois de minha volta ao Brasil, continuei a mecorresponder com o sr. Henríquez e acredito que eleprestou grande serviço à Fé em Curaçao.

[Enquanto a bordo do “SS Simón Bolívar”, Leonoraenviou carta ao amado Guardião, dando um relato desua visita à família e os encontros com amigos bahá’ísem Green Acre, informando as visitas que pretendiafazer a algumas das muitas ilhas do Caribe, além denotícias sobre o andamento do importante trabalhode tradução.]

“Enquanto estava noCeará, tinha pelo menos duas horaslivres por dia para trabalhar natradução de ‘Respostas a AlgumasPerguntas’ e, se tivesse sido possívelcontinuá-la conforme planejado,teria conseguido enviar-lhe atradução completa em junho.

“SS Simón Bolívar”, vapor queLeonora utilizou para viajar peloCaribe.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

Como está, somente as três primeiras partes (capítulos I a XLV)estão prontas, as quais, entretanto, estarei anexando, confiandoque o senhor me perdoará a forma como as envio. Nesta viagem,parece necessário dedicar meu tempo ao espanhol, mas em breve,quando chegar à Bahia, espero mandar-lhe o restante datradução.”9

[De Curaçao a Trinidad houve uma breve parada emPuerto Cabello, Venezuela, enquanto ela buscava en-contrar maneiras de entregar a Mensagem ao maiornúmero possível de pessoas em cada cidade.]

“Neste exato momento, estamos em Puerto Cabello e meparece o lugar mais quente que já estive. Esta tarde, dei umavolta pela cidade – não é grande – com cerca de 14.000habitantes. Fui ao único jornal da cidade e fui muito bem recebida.Esperamos chegar a La Guaira amanhã e tenho a esperança deter tempo de ir até Caracas, pois parece ser uma cidade bemmais importante...

Nesta viagem, há dois passageiros que parecemespecialmente interessados em ensinar-me espanhol e acho querealmente estou fazendo um pouco de progresso. Tenho conhecidomuitas pessoas interessantes de muitas nacionalidades diferentes.Hoje estou fazendo um grande esforço para lembrar um poucodo meu alemão a fim de estar apta para falar a alguns alemãese austríacos que encontram-se a bordo. Oh, que mistura delínguas! Certamente precisamos do esperanto!”10

Antiga rua na cidade de PuertoCabello, na Venezuela.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

[Em Trinidad os contatos e oportunidades de procla-mação da Mensagem se provaram circunstancialmen-te mais difíceis.]

Eu não tinha carta de apresentação à pessoaalguma em Trinidad, exceto a um bom amigo do sr.Henríquez que foi muito gentil, mas, tendo acabadode voltar de uma longa viagem no exterior, estavaexcessivamente ocupado para me ajudar a organizaruma palestra pública ou, possivelmente, achou istodifícil em face da situação em Trinidad naquela época.Eu própria, no entanto, por mais que tentasse só medeparei com desculpas para não alugarem ou mepermitirem usar um auditório público e nem obtivesucesso na minha busca por um editor de jornal quecolaborasse. As únicas pessoas que consigo lembrarque tiveram algum interesse na Fé foram umas poucasno pensionato inglês em que fiquei e um oficial daalfândega.

“Nesta viagem senti, talvez mais forte do que nunca, quedevo ter um ‘anjo da guarda’. Contei-lhe como as portas seabriram para o serviço em todos os lugares, mas, também, paraaquelas coisas pertinentes ao meu conforto e conveniência pessoal,sem serem de particular importância, tais como, bagagem earranjos em hotéis, etc., parece haver uma providência especial.Sempre, absolutamente em todos os lugares até agora, apareceualguém na hora certa para aconselhar-me ou ajudar de algumamaneira. Por exemplo, ontem pela manhã, ao desembarcar,estava indo ao único hotel que consegui encontrar por aqui como

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

sendo respeitável, mas era $5 por dia, muito mais do que posso

pagar (como era domingo, o consulado americano estava fechado,

assim, não pude obter informação lá, como planejara). O oficial

da alfândega, casualmente, ouviu-me quando estava falando a

esse respeito com um dos passageiros e imediatamente disse-me

que conhecia um ótimo pensionato onde me sentiria bem mais

em casa do que em hotel, e telefonou para lá por mim. Era

realmente um lugar adorável – simplesmente encantador – com

pessoas inglesas refinadas e a sra. Brisbane, uma senhora bondosa

e maternal, que é a responsável. Ela saiu para o pátio a fim de

me receber e disse:

–– Sim, filha, eu a manterei sob a minha asa.

E me deu um lindo quartinho que dá para o

dela. A comida é excelente – mais do meu gosto do

que a do navio – de modo que receio não emagrecer

nada aqui, também. Custa apenas $2 por dia em

vez de $5! Provavelmente, não ficarei aqui nem por

duas semanas, como havia pensado, pois esta manhã

soube que o navio que vai para Paramaribo é

esperado 3 ou 4 dias antes.”1

[Enquanto ainda em Trinidad, ela recebeuma carta de Shoghi Effendi em resposta auma de suas cartas, a qual lhe permite fazeruma profunda reflexão sobre a continuidadede seu serviço na Bahia:]

Praça na cidade de Trinidad.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

“Junto com sua carta, recebi esta manhã uma carta deShoghi Effendi que começa assim: ‘Sinto que você deve seconcentrar na Bahia e no Ceará.’ Se tivesse recebido a cartadele ... antes de deixar os Estados Unidos, provavelmente, teriafeito os planos de um modo diferente, embora certamente tenhatido oportunidades de serviço que pareceram importantes notrajeto todo até agora, portanto, dificilmente acho que tenhasido um erro ou que não conte com a aprovação do Guardião.Não me recordo de ter mencionado a Bahia na carta a ShoghiEffendi da qual esta é uma resposta, a não ser, talvez, em relaçãoà revista, dizendo como lamentei o fato de acharmos necessáriosuspender sua publicação temporariamente. Logo antes de receberesta carta, estava pensando que, provavelmente, seria melhorterminar o livro antes de retomar a publicação de ‘A Nova Era’,mas agora acho que não. Por algum motivo sinto, ... que breveseremos ajudados a servir juntos muito mais efetivamente doque qualquer época anterior, embora fique conjeturando quandovocê me diz ter menos tempo livre agora do que antes.Possivelmente, haverá mais alguém para nos ajudar com essetrabalho – há tanto para ser feito! Anexarei uma cópia da cartade Shoghi Effendi. Você bem pode imaginar o quanto ela mealegrou e encorajou quando cheguei aqui –mais outro lugarestranho onde não conheço pessoa alguma e não sei o que podereifazer. As palavras dele me deixam tão feliz, que sempre tenho asensação de tê-lo desapontado de alguma maneira, pois,certamente, meus pobres esforços não merecem tanto louvor eelogio e aprovação de sua parte.”12

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

[Ainda se encontrava em Trinidad, quando boasnotícias chegaram de sua irmã Alethe, exceto pelatristeza de seu pai, que ficou abatido após a viagem deLeonora.]

“De acordo com a carta de Alethe, tudo estava bem porlá, exceto que minha madrasta havia escrito que noite após noitepapai caminhava e chorava, por eu ter novamente voltado paraum lugar tão distante e por ter que ficar afastado tanto de Alethecomo de mim. É claro que isto faz com que me sinta muito mal,mas, talvez algum dia, ele não mais lamentará.”13

[Em verdade, os pensamentos de Leonora, desde suapartida dos Estados Unidos, estavam na Bahia. Cadacena, cada paisagem durante essa viagem a fazia recor-dar a vida na Bahia.]

“Hoje cedo pela manhã, havia um bem-te-vi na goiabeira,logo ali do lado de fora da minha janela, e também alguns daquelespassarinhos azuis – daquele tipo que costumávamos ver comendomamões nas nossas árvores –você se lembra? Um delescantava tão docemente que mefez chorar de saudade uma ouduas vezes.

Você percebe que… emquatro semanas a partir deamanhã estarei, espero,navegando rumo ao meu

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

amado Brasil? Estive em duas ou três companhias de navegação

daqui e também perguntei ao cônsul brasileiro, mas todos me

disseram que não há barcos de espécie alguma ou de qualquer

ponto próximo daqui para o Norte do Brasil, assim, não há

outra maneira a não ser ir de Barbados direto ao Rio a bordo do

Lamport & Holt e, então, subir a bordo do velho e querido

Lloyd Brasileiro, ou em um bom pequeno Ita – aquele que

aparecer primeiro.

Alguém pode pensar que vim a Trinidad para descansar,

pois parece que não fiz nada até agora senão escrever algumas

cartas, caminhar até o correio para enviá-las e ir até o Consulado

Americano na esperança de receber algumas, etc. O sr. Henríquez

de Curaçao deu-me uma carta de apresentação a um amigo seu

daqui, assim, como iria ficar durante longo tempo aqui, pensei

que seria melhor esperar e ver o que ele faria antes de eu mesma

tentar alguma coisa. No entanto, como ele acabou de voltar da

Inglaterra com sua família e estava à procura de uma casa,

evidentemente, não pôde dispor de muito tempo para mim. No

segundo dia após minha chegada, ele ligou-me dizendo que falaria

ao grão-mestre dos maçons a respeito de minha palestra lá. Na

tarde do dia seguinte, ele chegou com sua esposa e filha e me

levou para um belo passeio de carro, mas disse que o grão-mestre

não havia consentido que eu desse uma palestra no auditório

deles, que isto jamais havia acontecido. Ele disse que, entretanto,

veria outro maçom no dia seguinte e me contaria o resultado,

mas até agora não soube mais dele... (Hoje já é dia 7)... Ontem

à tarde, fiquei bem impaciente quando percebi que este já era o

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

meu quinto dia aqui e ainda não fiz coisa alguma, assim, tive ainspiração de ir visitar alguns ministros de igrejas. Fui até arua e perguntei o caminho para as casas dos ministros das duasprimeiras igrejas que casualmente encontrei. Ambos me receberammuito bem, disseram estar interessados em ler os livretos (nenhumdeles ouvira falar da Causa antes) e que, posteriormente,entrariam em contato comigo. Um deles me deu uma hora deboa dose de teologia – é o tipo de pessoa que tem mais prazer emouvir a si mesmo falando do que ouvir outra pessoa, assim, achoque realmente gostou da minha visita. Suponho que esta foiuma semente jogada à margem do caminho, sem ser um soloespecialmente fértil, mas, mesmo assim, quem sabe? Ele pareceusincero e me apresentou a alguns outros missionários daqui, osquais andei visitando hoje. Passei quase a manhã toda com duasmulheres americanas que já há vários anos trabalham com aIgreja Pentecostal. Quando eu estava para sair, elasperguntaram se poderíamos fazer orações juntas, ajoelharam-se e rezaram sozinhas por cerca de dez minutos, principalmentepor mim, para que eu fosse convertida, conhecesse Jesus comoelas, que minha ‘preciosa vida’ fosse inteiramente voltada paraDeus, etc. Pobres almas – elas são tão sinceras, tão gentis eafetuosas, mas suas mentes parecem tão fechadas. Outromissionário que fui visitar esta tarde, de onde acabo de voltar,da Igreja da Santidade dos Peregrinos, espero que tenha a menteum pouco mais aberta. Ele combinou para que me encontrassecom sua esposa e outro membro da igreja amanhã e me deu osnomes de vários outros. Suponho que talvez este não seja o modo

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

mais eficiente de trabalhar, mas não sei ao certo. O que maisposso fazer?

Os folhetos em espanhol foram enviados de Barbados paracá, em vez de para Curaçao ou Panamá, conforme esperava.Por enquanto, ainda não fiz uso deles aqui e, provavelmente,não o farei muito daqui por diante, mas enviarei alguns de voltaa Curaçao e a outros lugares em que poderiam ter sido distribuídosse os tivesse comigo. Agora estou ficando sem livretos em inglês!Escrevi há um tempo pedindo alguns e espero recebê-los em breve.

Há aqui uma grande colônia de indianos da ÍndiaOriental e parece estranho vê-los caminhando pelas ruas emsuas vestimentas tão diferentes. As mulheres usam anéis no nariz!Algumas têm ainda vários anéis por todo o lóbulo da orelha; ametade de seus braços está coberta por braceletes, usam pulseirasnos tornozelos e é claro, colares de vários tipos. A maioria éhindu – porém, acho eu – alguns são muçulmanos.”14

UMA PARADA EM PARAMARIBO, SURINAME

Um amigo do sr. Henríquez em Trinidad… deu-me cartas de apresentação a dois amigos seus noSuriname*, as quais, juntamente com outra que recebide um passageiro na viagem aos Estados Unidos emmaio (e quem primeiro deu-me a idéia de ir à GuianaHolandesa para difundir a Fé), abriram o caminho emParamaribo, Suriname, para uma palestra no auditóriomaçônico e também atraíram a ajuda de um teosofistae a do editor de um dos dois jornais. Embora fossemhomens extremamente ocupados, esses dois amigos

*Ela fez uma palestra na “LogeConcordia”, no centro deParamaribo. Em 22 de outubrode 1927 um artigo foi publicadono jornal The West, no qualLeonora é chamada de “umaapóstola da Paz”.

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assumiram praticamente toda a responsabilidade pelosarranjos, tais como, levar-me ao delegado de políciapara obter a permissão necessária para a palestra e visitaroutras pessoas importantes. Eles imprimiram duzentosconvites, subscritos pelo próprio editor e distribuídoentre as pessoas mais importantes da colônia, incluindoo governador (que me escreveu uma carta lamentandosua impossibilidade de comparecer, mas dizendo quemandaria alguém para representá-lo). Meu amigoeditor também escreveu um longo artigo sobre a Féem seu jornal antes da palestra e um excelente relatórioapós a mesma. Também, por sua própria iniciativa, elecolocou em seu jornal no dia da minha partida doSuriname uma nota dizendo que literatura bahá’í seriaoferecida a todos que me procurassem no hotel. Semsaber coisa alguma sobre isto, fiquei atônita quando vias pessoas começarem a chegar cedo pela manhã, e teminão ter tempo de arrumar as malas e fazer osnecessárioas contatos de despedida. O pequeninopacote de folhetos em holandês –tudo que conseguiraobter – parecia quase como o milagre dos pães e peixes,mas aqueles que solicitaram vários folhetos para amigos,peguei seus endereços para, posteriormente, mandar-lhes mais do Brasil.

A palestra teve uma audiência notavelmente boae um clérigo negro que estava presente, convidou-mepara repeti-la em sua igreja na noite seguinte. Comoele e sua congregação eram da Guiana Inglesa, sualíngua nativa era o inglês. Após umas poucas palavrasde apresentação por parte do ministro, falei do púlpito.Embora não fosse noite de seu serviço regular esomente naquele dia seus membros tivessem sido

Paramaribo, Suriname.

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avisados, a pequena igrejaestava lotada. Ao término,o ministro pediu à suacongregação que selevantasse em sinal deagradecimento e, então,uma menininha, de pelebem negra, presenteou-me com um pequenobuquê de floresbrancas. A seguintepassagem da carta doministro, que recebino dia seguinte,deixou-me muitofeliz:

“Deixe-me lhe agradecer pela interessante epenetrante palestra que a senhora proferiu na noitepassada na igreja.15 Penso que estou expressando osentimento de todos que estiveram presentes, e queouviram com arrebatada atenção, de que seu discursofoi de momentosa significação. (Minha ‘palestra’, comosempre, consistiu quase inteiramente de citações dasPalavras de Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá.) Posso lheassegurar que a lembrança daquela noite estará semprefresca nas nossas memórias e que tentaremos nostransformar para colocar em prática aquele importanteassunto de ‘Unidade’... Deixe-me lembrá-la, se lhe forpossível fazer a gentileza, de enviar-me uma dúzia oumais dos panfletos datilografados What Is the Bahá’íMovement? [O Que é o Movimento Bahá’í?] e também

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alguns daqueles que a senhora me deu para distribuirna igreja na noite passada (cópias de oraçõesdatilografadas).”

Por intermédio do agente da companhia donavio a vapor foram feitos outros contatos importantesno Suriname, tais como, com o editor do outro dosdois jornais, o qual me visitou e escreveu um bomartigo, e com o ministro luterano, seu filho e sua norainglesa, todos os quais foram muito amáveis e meconvidaram para passar todas as noites em sua casa.Isto foi algo que me deixou feliz, pois o prazer de estarcom eles e seus vários amigos interessantes, como porexemplo, o juiz da Suprema Corte e o cônsul americano(cuja esposa, posteriormente, aceitou a Fé emBarbados), era uma fuga do meu quarto de pensãoextremamente quente e infestado de mosquitos.

Ao recordar estas diversas experiências de ensinode tanto tempo atrás, uma pessoa que se destacaclaramente em minha memória é a sra. Schneider. Aindaposso lembrar da minha surpresa ao receber a visitadesta senhora inglesa de idade avançada em suabicicleta, no meu primeiro domingo no Suriname, demanhã bem cedo. A sra. Schneider disse-me quedurante muitos anos havia dedicado-se ao trabalho desaúde pública para o governo e que ainda, apesar desua idade, fazia longas viagens ao interior, caminhandomilhas pelas matas para trabalhar com os “bushnegroes” – indígenas, indianos, javaneses e outrasnacionalidades que se pode encontrar na GuianaHolandesa. Ao ouvir que uma jovem americana vierade tão longe àquele país para discursar sobre a paz, a

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sra. Schneider decidiu passar o domingo inteiro, casofosse necessário, para encontrá-la; assim, ela subiu emsua bicicleta e saiu perguntando nos hotéis e pensõesaté que encontrou a hospedaria correta. Após a nossalonga conversa sobre a Fé, a sra. Schneider levou paracasa o ‘Abdu’l-Bahá on Divine Philosophy* e o leunaquela tarde. Ela queria ter cópias de algumas oraçõesque a haviam impressionado de um modo especial.Quão grata eu sempre era pela pequena máquina deescrever Corona que meu pai havia me dado – poisdatilografava todas as minhas traduções, cópias deorações e de folhetos sempre que meu estoque deimpressos terminava. A sra. Schneider assistiu à palestrapública e, também, na noite em que parti , ela veio abordo com seu filho, assegurando-me, ao nossepararmos, de que ela poderia ser uma boa promotorada Fé – e eu realmente não poderia pensar em alguémmelhor para a Guiana Holandesa, alguém que tivessecontato com maior número de pessoas de todas asclasses e nacionalidades. Praticamente todos no país aconheciam e admiravam. Como presente de despedida,dei-lhe The Divine Art of Living† e ela prometeutambém ler o livro do dr. Esslemont, cujo exemplar euhavia presenteado à Biblioteca Colonial da GuianaHolandesa. Durante longo tempo, depois de voltar aoBrasil, mantive correspondência com a sra. Schneider,enviando-lhe mais livretos em holandês e inglês paradistribuição e sempre orando sinceramente para que,assim como ela havia demonstrado um verdadeiroespírito pioneiro levando saúde física àquele país, queela possa fazer um trabalho imensuravelmente maiorlevando saúde espiritual às pessoas.

*Coletânea de anotações feitapela sra. Isabel Fraser dealgumas palestras de ‘Abdu’l-Bahá em 1913, durante Suasegunda visita a Paris. Conformeorientações da Casa Universal deJustiça esta compilação deveráser refeita, pois há vários errosnas transcrições das palestras,não podendo ser traduzido aoutras línguas atualmente.n.e.†Uma compilação dos Escritosde ‘Abdu’l-Bahá feita pela AENdos EUA, ainda não publicadaem português. n.e.

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Uma passageira com quem tinha conversado umpouco durante minha viagem no caminho de Trinidada Paramaribo e que havia prometido me ajudar comcontatos em Georgetown, Guiana Inglesa*, caso meunavio parasse lá por tempo suficiente na viagem devolta, mandou um amigo seu para me receber no cais– e o que parecia uma resposta às minhas orações: obarco ficaria parado dois dias, conforme soubemos.Embora já passasse das dez horas da noite, fui levadapara visitar o editor do principal jornal, uma vez queera importante anunciar com a maior antecedênciapossível a palestra pública que eu esperava realizar.Assim, na manhã seguinte, veículou-se um artigo nojornal e, também, de manhã bem cedo, visitamos oprefeito e obtivemos sua permissão para alugar oauditório da prefeitura para a noite seguinte. Elelamentou que um compromisso anteriormenteassumido o impediria de presidir a palestra, mas disseque deveríamos anunciá-la como sendo seu patrocínio.A conselho do gentil editor, visitei um ex-prefeito, sr.Woolford, que era membro do parlamento e que,naquele momento, estava participando de uma sessão,mas retirou-se da sala para falar comigo e gentilmenteconcordou em presidir a reunião. Ele ainda telefonouimediatamente à sua esposa para que viesse me pegarpara levar à sua casa, onde passei o resto daquele dia euma grande parte do seguinte falando sobre a Fé à sra.Woolford e sua irmã a sra. Greene, com quemposteriormente me correspondi. A introdução do sr.Woolford foi magnífica, quase uma palestra bahá’í e,depois que terminei de falar, ele anunciou que todosos que desejassem maiores informações deveriam

Edifício da Prefeitura deGeorgetown, Guiana Inglesa,onde Leonora fez sua palestrapública em 29 de outubro de1927.

*O estabelecimento definitivo daFé Bahá’í na Guiana Inglesaocorreu em outubro de 1953, coma chegada do pioneiro americanoMalcom King.

Malcon King

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contatá-lo para obter os endereços dos quais poderiamconseguir literatura. (Naquele momento, meu estoqueestava quase completamente esgotado, porém, maistarde, enviei literatura a várias pessoas.) Estes novosamigos extremamente gentis, em seguida,acompanharam-me até o navio, pois estava para partir.

UMA PARADA EM BARBADOS

Ao chegar em Bridgetown, Barbados,16 em 2 denovembro [1927], soube que o sr. Braithwaite, quehavia se interessado pela Fé por intermédio dos Kinneyquando esteve em Nova Iorque no verão anterior e aquem eu havia avisado a respeito de minha chegada, jáhavia planejado uma palestra no Carnegie Hall eentrevistas com o governador de Barbados, o bispo de

lá e outras pessoasproeminentes. Como osr. Braithwaite eramembro do parlamento(o único membronegro) e um homembem conhecido, elepôde arranjar tudo issofacilmente. Os primeirosdias foram inteiramentetomados por fazercontatos e visitas a váriasinstituições públicas. Apalestra, marcada para10 de novembro, foi

Praça Trafalgar em Bridgetown,Barbados no começo do século XX.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

anunciada em várias igrejas no domingo anterior e nosserviços diurnos e noturnos na catedral! O própriodecano compareceu e vários outros clérigos sentaram-se à mesa comigo, como também, o diretor daAssociação Cristã de Moços e o sr. Braithwaite. Haviacerca de 100 presentes. Meus poucos livretosremanescentes foram distribuídos no final. Um dosmembros da Sociedade Teosófica, que estiverapresente, visitou-me logo depois, trazendo consigo opresidente da Sociedade que era juiz e aparentementeum homem de grande capacidade espiritual, a fim deme convidar para falar em seu auditório. Era umauditório bastante pequeno, mas estava lotado quandofalei e senti surgir um interesse genuíno.

[Em uma de suas cartas regulares a Hyram Faria, seuamigo e confidente na Bahia, ela escreveu:]

“…quando cheguei aqui ontem, soube que ele já haviafeito planos bem elaborados os quais, provavelmente, nãopoderiam ser realizados em dois dias. O sr. B. lastimou quandolhe disse quão curta deveria ser minha parada e disse que aquelesplanos de maneira alguma funcionariam. Você sabe, ele é umhomem bastante influente aqui, um dos membros do Parlamento,e quer me apresentar a pessoas importantes daqui, organizarpara mim uma palestra em um bom auditório, contar com ogovernador para presidir, etc. Hoje me levou para visitar o bispoe marcou hora para visitar o governador amanhã de manhã.Oh, caríssimo, talvez possa imaginar que sentimento de pequenezse apossa de mim ao ser apresentada como uma ‘palestrante’ –

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eu, uma palestrante! Mas, evidentemente, sei que devo esquecerquem ou o que sou, e perceber que Deus pode usar quem querque Ele escolha para realizar Seus desígnios. Em Georgetown,falei na Prefeitura, com o ex-prefeito e membro do parlamentopresidindo, e, em Paramaribo, no auditório maçônico e tambémem uma pequena igreja de pessoas negras.”17

Tantos pesquisadores procuravam-meconstantemente, e demonstravam tanto interesse ecordialidade, que me convenci de que deveria esperarpor mais um navio para não deixar escapar algumaoportunidade de difundir a Fé. Assim, foi possível,ainda, uma expressão concreta do espírito bahá’í,particularmente uma prova da ausência de todopreconceito racial – em forma de um piquenique quefiz para todas as pequenas crianças barbadianas de umorfanato. Isto e a prolongada permanência fizeram comque eu tivesse que pegar o navio inglês para minhaviagem ao Brasil, dez ou doze dias de viagem, e passarum dia na “Ilha das Flores”, a Ilha Ellis do Brasil, naminha chegada no Rio. Lembro-me vagamente,contudo, de ter conhecido alguns imigrantesinteressantes aos quais pude falar um pouco sobre aFé .

Quando revejo essas experiências, me pegoperguntando: “Foi realmente a tímida e acanhadaLeonora, outrora receosa de abrir a boca em qualquerreunião, que agora falava com governadores, membrosdo parlamento e juízes, que se sentava à mesa juntocom bispos e deões?” Posso me lembrar com que medo

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

e tremor ia a cada auditório para palestar, quantas equantas vezes repetia comigo mesma, durante todo ocaminho, estas palavras de Bahá’u’lláh: “Ó Deus, colocanas minhas palavras um sinal dos sinais de Tua PalavraSuprema, de modo que a realidade de todas as coisaspossa ser atraída.”* Quão fervorosamente eu oravapedindo força. As minhas assim chamadas “palestras”eram pouco mais que compilações das palavras deBahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá, amplamente memorizadase, ainda assim, cada uma era uma provação para mim,e era unicamente o poder de Bahá’u’lláh que mesustentava.

O RETORNO À BAHIA

Maude Mickle havia voltado aos Estados Unidos,mas a fiel empregada que veio a trabalhar para nós,quando inicialmente nos mudamos para a casa da Baixada Graça, havia tomado conta de tudo durante minhaausência, inclusive dos hóspedes pagantes quecontinuávamos a aceitar (não somente como uma fontede renda, mas também um modo de fazermos contatospara a Fé), assim, ainda havia a casa para reuniões efire-sides18 e aulas particulares, e como essa empregadacontinuou a me aliviar de todas as tarefas domésticas,fui capaz de reassumir todas as minhas atividadesanteriores. (Ao todo, ela permaneceu comigo por cercade quinze anos.) Logo depois, mudei para uma casamelhor e mais agradável de frente para o mar, com maisacomodações para as famílias inglesas e americanas queconstantemente queriam se hospedar na minha casa

*Conforme dados fornecidos peloDepartamento de Pesquisa doCentro Mundial Bahá’í, provavel-mente esta frase foi parafraseadade uma Epístola de Bahá’u’lláh aMírzá Abu’l-Fadl ainda nãopublicada.

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

como clientes. (Por esta razão, mais tarde, aluguei umacasa ainda maior, sempre na praia.) Percebi que osbanhos de mar, eram também muito benéficos paraminha saúde.

[Uma carta de Shoghi Effendi a aguardava quando desua volta à Bahia. A mensagem trazia uma orientaçãoclara: ela deveria agora manter contato através de cor-respondência com todas as pessoas às quais ensinouem sua viagem. Deveria, no entanto, tal como dito emmensagem anterior, “concentrar-se na Bahia e no Ce-ará e não dissipar suas energias em muitas frentes dife-rentes”.19 Através de seu secretário, o Guardião apro-veita ainda para discorrer sobre o futuro da Causa naBahia.]

“... Você está totalmente só em um campo tão vasto einesgotável, porém isto faz com que o trabalho seja ainda maisempolgante quando nos entregamos de corpo e alma a isto. Nãotenha dúvidas que nosso Guardião sempre orará por você e esperaver, através de seus contínuos esforços, incontáveis centrosestabelecidos ao redor da Bahia como faróis de luz de orientaçãopara as fervilhantes milhões de pessoas do continente.”20

[E, de seu próprio punho, Shoghi Effendi enviaria umrenovado estímulo para Leonora, o que semprealimentava e inflamava a chama do amor em seucoração. Ele escreveu:]

“Minha querida colaboradora,

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Capítulo 15A Viagem de Volta ao Brasil

Alegro-me por saber de suas atividades e progresso nessesdistantes países – até agora, um solo virgem para as sementes denossa amada Fé – e de sua determinação em reassumir seutrabalho pioneiro no Brasil. Sou-lhe profundamente grato pela

tradução que me enviou eespero receber a parte queainda falta em um futuro nãodistante. Estou sempre orandopor você nos SepulcrosSagrados.

Seu verdadeiro irmão,Shoghi” 21

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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Capa da 1a edição em portuguêsdo best-seller bahá’í em todo omundo. Teve sua primeira edi-ção no Brasil publicada em 1928.

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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ais e mais tempo era dedicado àtradução e revisão em portuguêsdo livro Bahá’u’lláh e a Nova Era,que agora, em 1928, depois de

muitos atrasos e dificuldades, foi finalmente impresso.Na tradução desse livro fui auxiliada por Hyram Fariaque, fielmente, noite após noite, vinha me ajudar depoisde um longo dia de trabalho. Com esta constanteassociação no serviço da Causa, uma amizade profundase desenvolvera entre nós, e, em 1925, ficamos noivos.Pouco tempo depois, nosso noivado foi desfeito devidoao encontro de Hyram, enquanto visitava sua famíliano interior, com uma prima que havia sido criada comele como irmã, mas que há vários anos não via e ambosse apaixonaram. Meu sofrimento foi intenso, mascontinuamos a trabalhar juntos pela Causa, sempreorando juntos e, pouco a pouco, retomamos o ritmo eestávamos felizes – até 1929, quando, subitamente,Hyram disse-me que sentia que teria que casar comsua prima. Isto foi muito, muito mais difícil parasuportar do que qualquer das minhas enfermidades ouprivações físicas – e este me pareceu mais duro do quequalquer um dos sofrimentos pelos quais jamais

16O NOIVADO DE LEONORA

É DESFEITO

M

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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passara. Minha irmã veio dos Estados Unidos para mever, falar com Hyram, tentar remediar a situação, massem qualquer resultado. Parecia aconselhável que eudeixasse a Bahia por algum tempo e como o Guardiãoestava agora pedindo-me para fazer mais traduções emespanhol, especialmente o livro de Esslemont, e comonão consegui encontrar alguém na Bahia que meajudasse nesse trabalho, decidi fazer um curso deespanhol para estudantes estrangeiros na Universidadede Madri, na Espanha.

UM PODEROSO INSTRUMENTO

PARA O ENSINO

[Com o livro Bahá’u’lláh e a Nova Era finalmente pu-blicado, esse veio a se tornar um novo e poderoso ins-trumento na difusão e ensino da Causa.]

“Um dos dois principais jornais desta cidade publicouum bom anúncio sobre o livro, e este foi colocado à venda emduas livrarias. Enviei alguns exemplares a indivíduos e gruposem diversas partes do país e espero poder mandar mais agoraque estou melhor de saúde. O livro está se provando ser umagrande ajuda na difusão da Mensagem entre os trabalhadoresde fábricas. Aqueles que vêm às reuniões estão emprestandoexemplares aos amigos que não podem comparecer e, a cadareunião, relatam as impressões favoráveis de uma ou mais pessoasque leram o livro. Alguns meses atrás, um homem e sua esposaficaram especialmente atraídos, jamais perdem uma reunião e

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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aceitam os ensinamentos na medida em que conseguemcompreendê-los. Depois de ler algumas páginas do livro do dr.Esslemont, este homem exclamou à sua esposa: “Bahá’u’lláh écomo Cristo!” 1

[O amado Guardião Shoghi Effendi veio expressar suagrande alegria por essa realização extraordinária e pe-las possibilidades agora abertas com a nova publica-ção. Através de seu secretário, ele escreveu:]

“Minha querida srta. Holsapple,Ele deseja que lhe transmita sua imensa alegria e

satisfação pela conclusão desta útil e preciosíssima tarefa, edeseja que lhe parabenize e ao estimado amigo que lhe ajudou.

Que este livro possa ter êxito em disseminar por todaparte na América do Sul os Ensinamentos da Causa quecomovem a alma. Que possa alcançar os corações das pessoas etransformá-las em santuários vivos e ativos de amor efraternidade humana e, ainda mais, por sua receptividadeuniversal por parte do público, possa justificar os amorososesforços, o tempo e a cuidadosa diligência que você tãoprofusamente dedicou a este trabalho, é o sincero desejo e aoração de Shoghi Effendi.”2

[E novamente em agosto daquele ano:]

“… É a esperança de Shoghi Effendi, em especial, que atradução do livro do dr. Esslemont, agora que está obtendo

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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divulgação, venha a atrair amplo interesse e traga novos e ativostrabalhadores para ajudá-la.…”3

[Como resultado dos efeitos emocionais da dissolu-ção de seu noivado com Hyram Faria, sua correspon-dência diminuiu e sua vida pessoal entrou num perío-do de grande tristeza. O peso de uma profunda de-pressão desalentou ainda mais seu solitário coração.Sentindo-se incapaz de se levantar para o urgente tra-balho que a Causa demandava e sentindo-se angustia-da com a situação, ela foi buscar refúgio e guia emShoghi Effendi.]

“Suplico-lhe que perdoe minha longa demora em acusaro recebimento de suas cartas e cabogramas, e também por lheescrever novamente com tanto detalhe e desta maneira franca epessoal. E com toda humildade e sinceridade imploro-lhe queore pelo progresso da Causa aqui, que outra pessoa possa serenviada para servir, ou que a unidade possa ser rapidamenterestabelecida entre nós, que não percamos mais tempo, mas queunamos nossos esforços e nos empenhemos com a máximasinceridade, que a esperança do nosso Amado Mestre para estacidade, para este país, possa se realizar e que logo notícias denosso progresso possam levar alegria ao seu coração e aos coraçõesde todos os crentes.”4

[As palavras encorajadoras do amado Guardião maisuma vez chegaram para devolvê-la à vida e encher seucoração de renovado vigor:]

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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“Ele ficou demasiado triste ao saber de sua enfermidade edificuldades e de sua solidão no trabalho que vem realizando tãobem, há tanto tempo.

Ele deseja, contudo, que eu lhe assegure de suas oraçõespara que seus esforços possam muito em breve encontrar solofértil e que novas pessoas levantem-se para ajudá-la em seutrabalho. ... Assegurando-lhe suas carinhosas lembranças e seuinteresse por seu trabalho.”5

[E de seu próprio punho, Shoghi Effendi acrescentou:]

“Tenha plena certeza de minhas constantes orações porseu bem-estar e progresso espiritual.

Seu verdadeiro irmão,Shoghi”6

[Uma palavra era suficiente; uma breve observação deShoghi Effendi lhe era um bálsamo curador. Logo de-pois, ela enviaria a Shoghi Effendi a tradução comple-ta de Respostas a Algumas Perguntas, embora, segun-do ela mesma, “...provavelmente precisaria de consi-derável revisão antes de ser publicado”93. Porém, ape-sar de seus esforços, um constante sentimento de inca-pacidade pessoal fazia com que ela se sentissedesencorajada. Numa de suas cartas para ShoghiEffendi, ela relatou:]

“Continuo a me perguntar, como sempre me pergunteidesde que cheguei a este país, e cada vez mais, porquê em todo

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este vasto continente da América do Sul deve haver uma únicapessoa trabalhando diretamente na difusão dos Ensinamentos,e um alguém tão incompetente. Uma verdadeira instrutora, éverdade, deve ser suficiente – alguém como Martha Root quetem fé e coragem e o dom da palavra. Em poucos dias, para nãodizer anos, ela pode agitar todo um país. Foi devido ao fato de,vez por outra, o senhor elogiar tanto os meus esforços e meencorajar e suponho também que por me parecer que o poucoque fui capaz de fazer era, talvez, melhor do que absolutamentenada, é que permaneci. Algumas vezes, tentei dizer a mim mesmaque estes povos latino-americanos não estavam tão preparadospara os Ensinamentos como outros que, talvez, sofreram mais– eles parecem tão incorrigivelmente materialistas – mas talvez,é somente minha própria incompetência, minha deficiência em‘levantar-me do horizonte do sacrifício’, os responsáveis pelosínfimos resultados até agora obtidos. O Mestre, certa vez, numaEpístola, dirigiu-Se a mim como uma ‘arauta do Reino’, maspenso que não foi porque, à época, ou mesmo desde então,merecesse este nome; mas apenas porque Ele via o potencial deme tornar aquela ‘arauto’, caso apenas me levantasse, eu tinhacapacidade – mas, em verdade, não me levantei e agora istoparece tão impossível – mais impossível até mesmo, talvez, doque o materialismo dessas pessoas. Sempre fico feliz e encorajadapelos esplêndidos relatos do progresso da Causa em outras partes,embora sempre me façam ansiar que uma verdadeira instrutoravenha para o Brasil. No entanto, sei com certeza que o PlanoDivino inclui e cuida deste continente assim como dos outros,

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que não devo me preocupar com isso, mas sim, apenas me esforçarpara aproveitar ao máximo as oportunidades de serviço que Deusme concede e ser grata por elas. Eu realmente sou, embora àsvezes fique tão desanimada pelas minhas fraquezas que sintocomo se não tivesse mais coragem de continuar.

Tenho me perguntado se seria bom tentar agora traduziro livro do dr. Esslemont em espanhol ou se seria melhor meconcentrar nas traduções em português, sendo o que se apresentano momento, na esperança de encontar alguém que me possaajudar.”7

[Uma nova palavra veio de parte de Shoghi Effendi, jun-to com o chamado para se elevar às alturas de novos atosheróicos, para perseverar e trabalhar arduamente, man-tendo sua visão num tempo futuro, quando tais semen-tes iriam germinar e produzir abundantes colheitas.]

“… Com referência a seu trabalho na Bahia, ShoghiEffendi sente que não deva, de modo algum, ficar desencorajada.Em todo trabalho pioneiro, o início é difícil e os resultadossomente surgem muito lentamente, mas as sementes que plantoutão amorosa e devotadamente na Bahia jamais serão perdidasnem morrerão totalmente. De fato, trabalhar seriamente quandonão há resultados aparentes, ensinar a Causa a pessoas que arecebem fria e indiferentemente não é uma tarefa fácil ouencorajadora e somente aqueles que, como você, são fortificadospor uma fé inabalável e uma coragem que nasce do fogo ardenteda convicção, a podem suportar.

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

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Em anos vindouros, aquelas sementes algum diafrutificarão, estejamos ou não lá para testemunhar, Eleabençoará os nossos esforços. Talvez, seria útil tentar alcançarclasses diferentes de pessoas, uma vez que as perspectivas muitasvezes diferem. ...” 8

[E de sua própria pena, Shoghi Effendi escreveu:]

“Minha querida e preciosa colaboradora,Persevere em seus esforços árduos e históricos. Continuarei

a orar por você do âmago de meu coração. Você poderia, fazer agentileza de enviar diretamente para ao sr. Horace Holley emNova Iorque, tão breve quanto possível, um relatório de suasatividades e do progresso da Causa durante os últimos doisanos no Brasil e na América do Sul, para ser incorporado àpróxima edição do Bahá’í World? Sinto que isto é essencial emuito valioso. Poderia, também, enviar para meu endereço emHaifa, tão logo quanto possível (o mais tardar até o fim demarço), uma fotografia em grupo dos bahá’ís e daquelesinteressados do Brasil?

Seu verdadeiro e afetuoso irmão,Shoghi”9

[E com um novo adendo, ele a orienta a dirigir agoraseus esforços para uma nova tradução do livroBahá’u’lláh e a Nova Era, mas desta vez, para o espa-nhol.]

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

199Leonora Armstrong Memórias & Cartas

“Sinto intensamente que você deveria empreender atradução do livro do dr. Esslemont para o espanhol, em vez deintentar outras traduções para o português. Possa o Bem-Amadolhe ajudar e inspirar neste grandioso trabalho!

Shoghi”10

UMA CARTA AOS AMIGOS BAHÁ’ÍS NA BAHIA

[Por esta mesma época, uma carta repleta de júbilofoi dirigida “Aos amigos Bahá’ís na Bahia”, em res-posta a uma carta por eles enviada a Shoghi Effendi,em 12 de novembro de 1929, por ocasião da come-moração do aniversário do nascimento de Bahá’u’lláh.Através de seu secretário, Shoghi Effendi lhes respon-deu:]

“Haifa, 17 de janeiro de 1930Aos Amigos Bahá’ís na Bahia.Meus queridos amigos,Foi com profunda alegria que Shoghi Effendi recebeu

sua carta de 12 de novembro com suas assinaturas individuais,transmitindo-lhe suas saudações e os melhores votos por ocasiãodo nascimento de Bahá’u’lláh.

Ele deseja que lhes assegure, a cada um, de seu sinceroapreço e gratidão. De fato, neste grandioso trabalho por eleombreado, ele é deveras encorajado e ajudado pelo pensamentode que longe, do outro lado dos mares, no distante Brasil, eletem amigos devotados que pensam nele e cooperam com ele em

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

200Leonora Armstrong Memórias & Cartas

nosso empreendimento comum para servir à humanidade e trazera paz de coração e o espírito de verdadeira irmandade ao mundo.

Ele deseja que lhes assegure, também, de sua afeição e desuas orações para que possam estudar mais e mais osensinamentos de Bahá’u’lláh e, com a aplicação de Seusprincípios, estabelecerem um grande centro bahá’í neste país.”11

[E, com suas próprias mãos, Shoghi Effendi acrescentariauma palavra de encorajamento pessoal a esses amigos.]

“Meus queridos colaboradores,Sua mensagem conjunta e muito bem-vinda regozijou

meu coração. Seu trabalho, seguramente, prosperará erevitalizará esse distante país. Perseverem e estudem osEnsinamentos e estejam confiantes de minhas orações oferecidasem nome de todos vocês nos Sepulcros Sagrados para que oTodo-Poderoso possa lhes abençoar, guiar e capacitar a renderserviços memoráveis à Causa de Deus.

Seu verdadeiro irmão,Shoghi”12

[Em atenção ao pedido expresso de Shoghi Effendi,Leonora preparou um relatório de todas as atividadesdos últimos dois anos no Brasil e América do Sul –1928 a 1930 – enviando em seguida para ser incorpo-rado ao The Bahá’í World, algo que o Guardião con-siderou como “essencial e muito valioso”13. A foto da-quele primeiro grupo de crentes da Bahia foi igual-mente enviada a Shoghi Effendi, com uma breve nota:]

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

201Leonora Armstrong Memórias & Cartas

“Sinto muito, também, por

não poder lhe mandar uma fotografia

melhor e de um grupo maior. Vários

dos que estão estudando os

Ensinamentos não puderam estar

presentes no dia em que a fotografia

foi tirada e dois dos mais fiéis do nosso

grupo faleceram recentemente.”14

[Em um de seus informes so-bre o trabalho de ensino, elarelatou:]

“O trabalho na Bahia, Brasil, cresceu progressivamente

durante os últimos dois anos. Talvez a mais notável realização

seja a tradução em português do livro do dr. Esslemont,

‘Bahá’u’lláh e a Nova Era’, e sua ampla distribuição não

somente na Bahia, mas, também, entre várias organizações e

indivíduos por todo o Brasil. Houve algumas notas favoráveis

na imprensa e o livro foi colocado à venda em duas livrarias da

cidade, despertando o interesse entre pessoas de todas as classes.

Reuniões quinzenais regulares são realizadas no distrito

industrial, na residência de um dos trabalhadores. Nessas

reuniões, são dadas aulas simples e livre discussão é encorajada.

Aqui foi feito um esforço especial no sentido de ensinar por atos,

bem como, por palavras, através da ajuda a alguns dos muitos

casos de extrema pobreza e, em ocasiões como o Natal,

distribuindo pequenos presentes e bolos entre centenas de pobres

Foto tirada em 1929 dos bahá’is

de Salvador, Bahia, enviada por

Leonora a Shoghi Effendi. Ele a

publicaria no III volume (1928-

1930) do famoso “The Bahá’í

World”, que, atualmente, é o

anuário com relatos das ativida-

des da comunidade bahá’í atra-

vés do mundo.

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Capítulo 16O Noivado de Leonora é Desfeito

202Leonora Armstrong Memórias & Cartas

nos abrigos para indigentes, prisão, hospital infantil, etc. Achamosque isto impressionou a muitos, especialmente porque parece seralgo inédito na Bahia. Até mesmo o padeiro alemão ficouespantado com o tamanho de nossa encomenda no Natal e,quando soube do motivo, pediu que lhe fosse permitido fazeruma pequena contribuição e, com isto, ofereceu-nos aoportunidade de lhe darmos a Mensagem.

Esperamos nos próximos meses preparar e publicartambém a tradução em espanhol do livro do dr. Esslemont afim de que os países de língua espanhola deste grande continente,assim como o Brasil, possam ter a graça de receber a Mensagemde Bahá’u’lláh e serem ressuscitados pelo poder de SuasPalavras.”15

Leonora (sétima da esquerdapara a direita)com um grupo debahá’ís em Salvador, Bahia, porvolta de 1929.

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203Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

[O encorajamento recebido do Centro da Causa, emresposta aos relatórios enviados, infundiu um novoespírito em Leonora e ela agora enviaria a seguintemensagem ao Guardião, Shoghi Effendi:]

gradeço-lhe de coração por suas palavras deencorajamento que sempre chegam quandominha coragem parece ter me abandonado e que

tenho perdido minha fé e minha esperança. Talvez, através desuas orações, eu possa serajudada a prestar grandesserviços. Sinto agora quedevo e me esforçarei maisdo que nunca antes.

Com minhaprofunda gratidão eafetuosas e reverentessaudações ao senhor, àFolha Mais Sagrada e aosdemais membros daSagrada Família...”1

17EM BUSCA DE NOVOS

CAMPOS DE SERVIÇO

“A

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Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

[Com seu ânimo renovado, sua visão se abria agorapara novas possibilidades de serviço ao Bem-Amado.Além da resolução de prosseguir firmemente com astraduções, ela esperava ainda dedicar-se ao trabalhosocial – algo que lhe era tão familiar e que contava como exemplo vivo de sua própria mãe e avó.]

“Recentemente, tive a oportunidade de dar exemplaresdo livro do dr. Esslemont a alguns dos brasileiros mais eruditose estou orando para que eles fiquem realmente interessados. Umdeles, um jovem advogado, está tentando me ajudar a obter dogoverno brasileiro a doação de um terreno no interior para oestabelecimento de uma escola industrial para crianças pobres, eum amigo inglês a quem dei a Mensagem durante minha viagemàs Índias Ocidentais há dois anos e com quem mantenhocorrespondência desde então, está profundamente interessado nesteprojeto e viria aqui para ajudar. Ele é um agricultor comformação na área tropical e também teve experiência em trabalhode serviço social, de modo que sua ajuda seria valiosa.Possivelmente, seria melhor alugar uma pequena fazenda nosarredores da cidade do que ir para o interior, onde é tão isolado.Ou, ainda, talvez seja melhor concentrar esforços em traduçõesem vez de tentar quaisquer dessas coisas no momento atual.Entretanto, há longo tempo tenho sentido que, algumempreendimento filantrópico como este, um exemplo concreto doespírito bahá’í, pode ser um meio efetivo de despertar interesse econquistar novos trabalhadores para a Causa. Talvez eu estejaerrada. De qualquer modo, tentarei, de imediato, encontrar

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205Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

alguém aqui para me ajudar na tradução em espanhol do livrodo dr. Esslemont e me sentir confiante de que serei capaz, umavez que o senhor a deseja e está orando para que eu seja auxiliada.E se, mais tarde, o caminho se abrir para este outro trabalho,saberei que está de acordo com o Plano dEle.”2

[Conhecedor do processo e dos segredos de uma boacolheita, Shoghi Effendi enviaria, através de seusecretário, orientação à ainda jovem Leonora:]

“O trabalho que você empreendeu ao abrir um novocampo é certamente difícil e durante algum tempo poderá parecerdesencorajador. Porém, a verdade é que devemos ser pacientes edar tempo para que a semente germine. Em todo país em que aCausa entrou de maneira nova, no início, poucos sinais deprogresso foram percebidos, mas logo o movimento obteve suaaceleração e maior rapidez nos resultados foi adquirida. Tantoassim que, atualmente, em alguns países onde a Causa já existepor algum tempo, grupos começam a entrar na Fé. A contagemnão é mais por indivíduos. Shoghi Effendi espera que, dentroem breve, você esteja vivenciando a mesma experiência e possaver a Terra em chamas com o amor de Deus.

A tradução de literatura é, certamente, muito importante,pois livros podem fazer o trabalho de continuidade de umaforma como nenhuma pessoa individualmente o pode. E, entrenossa literatura, o livro do dr. Esslemont é o mais completo.”3

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206Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

[E de seu próprio punho, Shoghi Effendi daria umnovo ímpeto ao trabalho da tradução e publicação dolivro Bahá’u’lláh e a Nova Era em espanhol.]

“Minha querida e preciosa colaboradora,Sua muito bem-vinda foto chegou-me em tempo e

agradeço-lhe de todo o coração. Agora permaneço aguardandoa tradução do livro de Esslemont para o espanhol e orarei paraque você possa ser guiada e fortificada pelo Espírito de nossoamado Mestre que, tenho certeza, a está guiando, cuidando eamparando em seus esforços. Persevere e jamais perca o ânimo.

Seu verdadeiro e grato irmão,Shoghi”4

INICIAM-SE AS PRIMEIRAS

TRADUÇÕES PARA O ESPANHOL

[Incansável em sua busca por horizontes cada vez maisamplos e em sua ânsia de alegrar o coração de seuamado Guardião, Leonora desejava dar cumprimentoimediato ao pedido de Shoghi Effendi. Preparou-se,portanto, para ir à Espanha, sentindo-se que estandolá, num país de fala espanhola, ela estaria melhor ca-pacitada a realizar a tarefa.]

“Já que nesta carta, e também na sua carta anterior, osenhor enfatizou a importância de traduzir o livro do dr.Esslemont agora para o espanhol, estive pensando se não seria

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207Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

aconselhável eu ir à Espanha para fazer este trabalho, pois istocertamente garantiria que o mesmo fosse feito do modo maisrápido e satisfatório possível. Uma amiga inglesa daqui, quepassou muitos anos no México, tem me ajudado um pouco coma tradução, mas ela terá de deixar a Bahia dentro de poucassemanas, e não conheço mais nenhuma outra pessoa – todos osespanhóis daqui parecem ser de classe mais baixa, com poucainstrução. E, certamente, acho que me seria impossível traduziro livro em um espanhol correto sem a assistência de alguém querealmente conheça a língua. Meu conhecimento desta língua vaiaté o ponto de sua similaridade com o português e, embora sejamlínguas irmãs, certamente há muitas diferenças. Acho que minhaausência da Bahia durante quatro ou cinco meses não afetariaseriamente o progresso do trabalho aqui e, de qualquer modo,minha impressão das suas duas últimas cartas é que o senhorconsidera este como o mais urgente trabalho neste momento,para ser colocado em primeiro lugar. E quando penso nos milhõesde pessoas de língua espanhola no mundo que não receberam aMensagem porque não temos literatura em sua língua, sinto-me ansiosa em realizá-lo o mais rapidamente e da melhormaneira possível. Assim, estou planejando viajar à Barcelonano dia 20 e confio que este plano terá a sua aprovação. Estouenviando esta carta via aérea na esperança de que chegue atempo, de modo que, talvez, possa obter uma resposta antes departir. ...

Leonora S. Holsapple” 5

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208Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

[Uma resposta do amado Guardião chegou à cidadeda Bahia depois da partida de Leonora. Ela pressentiua plena aprovação de Shoghi Effendi e com “um amorque não podia esperar” empreendeu sua viagem àEspanha. A carta de Shoghi Effendi, embora fosse lidameses mais tarde, era claramente cheia de entusiasmo,não somente por causa de seu desejo de ver o livrotraduzido em espanhol, mas, também, porque Leonoraseria a primeira a lançar as sementes da Causa naEspanha. Por intermédio de seu secretário, o Guardiãoescreveu:]

“... Ele tomou conhecimento com muito prazer de seusplanos para ir à Espanha e, enquanto alí, empreender a traduçãodo livro do dr. Esslemont e deseja que me apresse em lhe assegurarde sua sincera aprovação.

Apesar de inferirmos através de artigos em jornais que ascondições lá são bastante intranqüilas, Shoghi Effendi esperaque, durante sua estada, você venha a conseguir plantar algumassementes e, desse modo, estabeleça as bases para um futuro centrobahá’í em um país onde a Causa jamais foi conhecidaanteriormente. ...”6

[E de seu próprio punho:]

“Com a certeza de minhas fervorosas orações para arápida conclusão da tradução em espanhol do maravilhoso livrodo dr. Esslemont.

Seu verdadeiro irmão, Shoghi”7

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209Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

A VIAGEM À ESPANHA

Em julho de 1930, embarquei em um naviofrancês para Barcelona. Como nas viagens anteriores,houve algumas oportunidades de falar sobre a Fé comos companheiros de viagem e visitar editores de jornaisem portos como Dakar, Argélia, Oran e Gibraltar. EmBarcelona houve uma oportunidade de dar uma curtapalestra no centro espiritualista que visitei no domingoem que lá permaneci.

Um anúncio no ABC, principal jornal de Madri,no qual eu oferecia a permuta de trocar uma hora deinglês por uma de espanhol, trouxe numerososcandidatos, tomando todo o meu dia. Através doconsulado americano, encontrei uma pensãoconfortável, em localização central, de modo que eraadequada para as aulas. A cada um, dava aula deconversação ou qualquer tipo de aula que se desejasse,

mas em troca, a todos pediaapenas a correção das minhastraduções em espanhol detrechos da literatura bahá’í.Um oficial do exército aceitoua Fé e um jovem ficouentusiasmado com a Fé e ávidopor colaborar. Ambospassaram a se correspondercomigo depois que voltei aoBrasil.8 Estava feliz tambémpor tão boa oportunidade de

Gran Via de Madri em 1930.

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210Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

melhorar meu espanhol, mas depois de apenas trêssemanas, subitamente, fui acometida de febreescarlatina, de modo que não pude sequer mematricular na universidade no dia previsto. Quando,finalmente parecia me recuperar e me sentei à mesa paraescrever, para meu espanto, descobri que minha visãohavia sido afetada e especialistas disseram que eu estavaem perigo de perder uma vista. Na época, por causa darevolução no Brasil, nenhum dinheiro podia serenviado para mim e fui obrigada a ir ao hospital-geralcomo paciente sem recursos para um raio-x da minhaface. A freira que estava para me atender fez uma pausapara perguntar se eu era católica e quando levanteiminha cabeça para responder que acreditava nosensinamentos essenciais da igreja católica, ela me disseque era necessário ser “católica apostólica romana” e,ao dizer isso, bateu minha cabeça com tanta força namesa de aço que achei que a havia quebrado! Umdiagnóstico errado levou a uma séria operação no meunariz cujo efeito foi me deixar um pouco mais fraca doque antes e por vários dias e noites me causou umaconstante e tão intensa dor de cabeça, que sentia comose não pudesse mais suportar.

[Assim, sozinha em um país estranho, Leonora viu seuobjetivo de estudar e aprender o espanhol de maneirarápida ir se tornando mais e mais fora de seu alcance.Decidiu, então, escrever ao Guardião explicando a si-tuação.]

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211Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

“Alguns meses atrás, escrevi-lhe a respeito de meu planode ir à Espanha para estudar a língua visando poder traduzirmelhor o livro do dr. Esslemont. Esperava receber uma respostado senhor antes de partir, mas como tinha certeza de que teriasua aprovação, porque uma vez que o senhor havia enfatizado aimportância de se fazer este trabalho, vim, chegando aqui nofinal de agosto. Logo de início, encontrei pessoas competentespara me ajudar com a tradução, e a iniciei entusiasticamente,feliz por finalmente estar progredindo neste trabalho. Então,subitamente, adoecí. Já há um mês que tem sido impossívelfazer qualquer coisa, e não sei quando poderei estar apta acontinuar. Estava traduzindo um certo número de páginas pordia, e me empenhei em terminá-lo e publicá-lo até o final doano. É tão decepcionante e tão difícil de entender porquê istodeveria acontecer, sendo que vim para cá especificamente parafazer este trabalho para a Causa, trabalho que o senhor mehavia pedido para realizar e que parece tão urgente. Não consigosuportar a idéia de desistir agora e voltar ao Brasil, ainda queos médicos me advirtam sobre o frio intenso de Madri que,certamente, aumentará daqui por diante e, ao qual, sereiextremamente sensível devido a esta enfermidade, e também,por ter vivido nos trópicos durante tantos anos. Possivelmente,poderei voltar à Espanha no próximo verão, mas não é certo.Realmente, não sei o que é melhor fazer.

E agora o Brasil está atravessando as dores de umarevolução, a qual temo possa ser prolongada e sangrenta. Bemna hora em que embarquei na Bahia, o líder liberal foi

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212Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

assassinado e, então, todos predisseram que, mais cedo ou mais

tarde, isto inevitavelmente levaria a uma insurreição em todo o

país. Isto me perturbou muito, principalmente porque pensei

que se houvesse sido feito um maior esforço na difusão dos

ensinamentos, criando assim um sentimento mais forte de paz,

talvez tivesse havido o recurso da mediação em vez do antigo

método da guerra. Isto me deixa muito triste, embora, talvez,

seja somente através de sofrimento como este, é que estas pessoas

possam ser despertadas de sua indiferença e forçadas a olhar

além das coisas materiais. Oro para que, pelo menos, seja este

o resultado.

Foi possível fazer apenas poucos contatos aqui na Espanha

neste curto período, os quais acho que podem ser valiosos. Em

Barcelona, conhecí o presidente de uma federação nacional de

espiritualistas que me convidou para participar de uma reunião

de todos os oficiais da organização, na qual ele leu o folheto ‘O

Que é o Movimento Bahá’í’ em espanhol. Em uma grande

reunião pública logo em seguida, ele novamente leu o folheto e

expressou sua inteira simpatia com os objetivos da Causa,

falando durante algum tempo a respeito. Ao final, muitos se

aproximaram de mim e pediram folhetos. Aqui em Madri, fiz

contato, também, com os espiritualistas e com alguns indivíduos,

os quais espero que venham a se interessar. Também, em todos

os portos em que parei durante a viagem até aqui – Dakar

(Senegal), Gibraltar, Oran e Argélia – tentei fazer o máximo

que o curto tempo permitia, visitando editores de jornais,

presidentes de organizações maçônicas e outros. Em todo lugar,

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213Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 17Em Busca de Novos Campos de Serviço

fui muito bem recebida, mas suponho que este tipo de trabalhoseja muito superficial e não deva ter resultados duradouros.

Suplicando suas orações para que seja orientada e comminhas mais reverentes e amorosas saudações ao senhor, à FolhaMais Sagrada e a todos os demais membros da Sagrada Família,sou, sua muito humilde,

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214Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 18“Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

Vista da Mansão de Bahjí em1930, nos arredores de ‘Akká, Is-rael, onde Bahá’u’lláh faleceu.Este é um dos locais da peregri-nação bahá’í e provavelmente es-tava desta forma quando Leono-ra por lá passou.

Páginas internas do passaporte deLeonora mostrando o visto conce-dido a ela em Madri, Espanhapara ir a Palestina (Israel) em1930.

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215Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 18“’Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

urgiu, então, um súbito raio de luz naminha escuridão – um cabograma aoGuardião pedindo permissão paraperegrinação a Haifa trouxe uma resposta

imediata: “Muito bem-vinda!” Entretanto, haviachegado da Bahia uma pequena quantia em dinheiro– exatamente o suficiente para uma passagem desegunda-classe para Haifa e de volta para Bahia.

Muitos tentaram descrever o amado Guardião –não o farei, apenas digo que fiquei maravilhada ecompletamente dominada pela majestade espiritual desua presença, seu amor e sua pureza. Ele estavaenvolvido, naquela época, com a tradução de OsRompedores da Alvorada, trabalhando nelaininterruptamente durante muitas horas efreqüentemente não saindo de seu quarto nem para oalmoço, mas apenas tomando alguma bebida leve que,de vez em quando, era-lhe oferecida pela Folha MaisSagrada, enquanto ele continuava seu trabalho. Foi defato um privilégio conhecer esta Filha de Bahá’u’lláhe outros membros da Sagrada Família e tomar chá comeles todas as tardes. Certa manhã, a Folha Mais Sagradame permitiu entrar em seu quarto e tirar uma fotografiasua, sentada na cama. Embora não pudéssemos

18

S“MUITO BEM-VINDA!”

A PEREGRINAÇÃO

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216Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 18“Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

conversar, sentia seu radiante eformoso espírito. Freqüen-temente, eu ia ao Túmulo doBáb e ao de ‘Abdu’l-Bahá, e oGuardião organizou a visitahabitual ao Túmulo Sagradoem Bahjí e aos LugaresSagrados em ‘Akká. No nonodia, o dia de minha partida, aFolha Mais Sagrada estavasentada perto da porta e meajoelhei diante dela em prantos,enquanto ela, gentil eamorosamente, afagava minhacabeça. Shoghi Effendi estavaem pé do lado de fora,esperando para dizer adeus.Ele disse:

–– Quando você retornar à Bahia (acho que euesperava que ele dissesse “quando retornar à Espanha”– mas ele disse “Bahia”) lembre-se que o que é deimportância primordial é o trabalho de ensino direto;segundo em importância é a tradução e, terceiro, oserviço social, se você tiver tempo para ele.

E, então, ele colocou em minhas mãos umpequenino frasco de atar de rosas para “ungir osverdadeiros crentes do Brasil”. Marjorie Morten, deNova Iorque, que, como eu, havia passado o mesmoperíodo de nove dias como hóspede do guardião, aopartimos, observou que eu havia chegado lá como“morta” e agora “estava voltando viva”.

A Folha Mais Sagrada, BahíyyihKhánum, filha de Bahá’u’lláh.Foto tirada em 1919.

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217Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 18“’Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

[Descrição de Leonora do frasco de atar de rosasrecebido pelo Guardião:]

“O frasco de ‘atar de rosas’ – o maior de todos – foi posto peloamado Guardião nas mãos de Leonora, no momento de suadespedida, após visita de 9 dias, a convite do Guardião, comestas palavras:

‘Com isto você deve ungir osverdadeiros crentes do Brasil...’ Leonoraesperou que ele dissesse da Espanha, onde,durante 3 meses, ela havia ensinado a Fé,ainda que muito doente durante a maiorparte do tempo, ou em algum outro país,mas ele claramente disse Brasil, então, elapercebeu que deveria ‘perseverar’, como oamado Guardião sempre a havia instado,no Brasil.

Ele disse a Leonora, ainda nestaocasião, que ela deveria lembrar que:

o primeiro em importância era oensinoensinoensinoensinoensino direto da Fé,

em segundo, a traduçãotraduçãotraduçãotraduçãotradução,e em terceiro, caso ela tivesse tempo,

o serviço socialserviço socialserviço socialserviço socialserviço social que era o passatempo deLeonora, ao qual tanto sua mãe como suaavó haviam se dedicado.”1Foto dos dois frascos de atar de

rosas recebidos por Leonora naTerra Santa.

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Capítulo 18“Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

DE VOLTA À BAHIA APÓS A PEREGRINAÇÃO

Uma cirurgia muito séria me esperava quandoda minha volta à Bahia, mas, com minha saúdeespiritual agora revitalizada, a saúde física logomelhorou. Embora meu plano de fazer um cursointensivo de espanhol não tenha se concretizado, ospoucos meses de contato com pessoas de línguaespanhola foi de considerável ajuda.

[Ainda com as vívidas lembranças de sua peregrinaçãona mente, Leonora escreve ao Guardião dando umrelato da situação geral da Causa na Bahia e tecendovárias considerações sobre as possibilidades de ummaior crescimento em outras regiões do país.]

“A lembrança de minha visita a Haifa tem sido umaconstante fonte de felicidade e ajuda espiritual e estouprofundamente grata por ter-me sido concedido este privilégio peloqual tanto ansiara – o privilégio de conhecer o senhor e os demaismembros da família do Mestre e de visitar os Santuários Sagrados.Agradeço-lhe de todo coração por ter permitido minha ida e pordemonstrar tamanha bondade durante toda a minha estada.

Como era necessário que me submetesse a uma novaoperação imediatamente após minha chegada aqui e meu olhoainda não está perfeitamente normal, ainda não realizei tantoquanto esperava, mas, ultimamente, foi-me possível reiniciar atradução do livro do dr. Esslemont em espanhol e enviei os

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219Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 18“’Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

primeiros capítulos ao amigo em Madri que havia se oferecido

para revisar minha tradução. Espero que agora o trabalho

continue sem mais interrupções.

As reuniões de domingo à tarde para os trabalhadores

das fábricas foram retomadas. Todos têm demonstrado bastante

interesse em ouvir sobre minha visita ao senhor e sobre o seu

grande desejo de ver a Causa firmemente estabelecida no país

deles e me parece que estão ficando mais e mais determinados.

Acho que há sete pessoas, talvez oito ou nove, que podem ser

consideradas verdadeiros crentes – aceitam o Manifestante e

consideram Suas Palavras sobre qualquer assunto como de

autoridade divina e se esforçam em difundir os ensinamentos

entre seus amigos e colegas de trabalho, acho que pelo exemplo,

bem como, por palavras.

Ao pensar sobre as condições deste país, tenho me

perguntado se o Sul não seria mais favorável para a difusão da

Causa. O Norte do Brasil em geral, e a Bahia em particular, é

famosa pelo seu conservadorismo – especialmente as mulheres

têm a mente muito estreita. Lembro-me de o senhor ter-me dito

que seria melhor permanecer em um mesmo lugar do que ficar

viajando, mas não acha que talvez seria bom eu ir para a

capital, Rio de Janeiro, para morar e tentar estabelecer um

centro lá? Escolhi a Bahia primeiro porque o Mestre, em ambas

as Epístolas referentes à América do Sul no Plano Divino,

enfatizou muito sua importância e, certamente, se é realmente

melhor que eu fique até que se forme um grupo maior e mais

confirmado, quero fazê-lo, por mais difícil que seja para mim

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Capítulo 18“Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

devido a contatos desagradáveis aqui. Realmente tentei deixarde lado todas as considerações pessoais e julgar imparcialmentee, da impressão geral que existe e da minha própria experiênciadurante o breve período que lá passei, estou quase certa de quena capital nacional encontrarei pessoas mais cultas e de mentemais aberta, especialmente entre as mulheres, muitas das quaisrecebem educação superior e exercem várias profissões, enquantoaqui no Norte isto é praticamente desconhecido. No momentoatual, há um movimento sufragista feminino lá, e uma daslíderes, a qual conheço pessoalmente – conheci-a anos atrás noPará e me lembro dela como uma das mulheres de mente maisaberta e progressista que conheci neste país. Há também umagrande Sociedade Esperantista no Rio, cujo presidente permitiu-me falar sobre a Causa em um de seus congressos nacionaisassim que cheguei ao Brasil, e há outras organizações atravésdas quais se pode fazer contato mais facilmente do que aqui.

A colônia espanhola de lá é muito maior também, de modoque não será tão difícil encontrar alguém que ajude com astraduções em espanhol. Por outro lado, a situação política dopaís ainda parece longe de se acalmar –fala-se muito sobre outrarevolução e o Rio, sem dúvida, será o centro disto. Fico naexpectativa de que o senhor irá me aconselhar.

Estamos revisando nossa antiga tradução de ‘As PalavrasOcultas’ e fazendo uma nova da coletânea de orações para onovo livro, os quais pensamos seria bom tentar publicá-las juntos,uma vez que isto seria muito útil para nossas reuniões. Gostariade deixar isso com o grupo daqui antes de ir a algum outro

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Capítulo 18“’Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

lugar, pois acho que com este, o livro de Esslemont e ‘Respostas aAlgumas Perguntas’ (embora ainda em manuscrito) eles serãocapazes de conduzir as reuniões. E é claro que sempre queromanter contato com eles por correspondência.

Na minha viagem de volta para cá em dezembro, fuiobrigada a passar uma semana em Lisboa, em função damudança da partida do navio que eu planejara pegar, assim,tive a oportunidade de visitar o presidente do Rotary Clube,para o qual Martha Root havia sido convidada a falar quandolá esteve, e de presenteá-lo com um exemplar do livro do dr.Esslemont e visitei também os secretários de diversos gruposteosóficos e um do espiritualista. Fui bem recebida por todos e,ao retornar, recebi deles uma carta de agradecimento.

Fiquei muito contente em saber, através da carta circularda Assembléia de Haifa recebida ontem, que Khánum melhoroubastante de saúde e espero que todos estejam bem.

Novamente, assegurando-lhe minha profunda gratidãoe suplicando suas orações para que eu seja guiada.

Com as mais afetuosas saudações,Sua muito humilde em Seu serviço,Leonora S. Holsapple”2

[Uma resposta clara e direta não demoraria a chegar,com a orientação da direção e o foco necessário aosesforços no sentido da consolidação daquele primeirogrupo de crentes da Bahia, para o qual Shoghi Effendimantinha grandes esperanças.]

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Capítulo 18“Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

“... Ele sinceramente espera que este grupo que vocêmenciona em sua carta persistirá em seu interesse, estudará osensinamentos meticulosamente e terminará por formar umaAssembléia devidamente constituída. Uma vez que esta estiverformada, então os trabalhos irão se apresentar mais fáceis eencorajadores. Também faça com que estudem o Iqán, pois alíse encontram os princípios básicos da Fé. O trabalho pode serdesencorajador no momento presente, mas isto é a verdade noque se refere a todo trabalho pioneiro. Bahá’u’lláh, contudo,prometeu-nos a vitória final.

De qualquer modo, ao visitar os Sepulcros, Shoghi Effendipensará em você e em seu pequeno grupo e suplicará, para todosvocês, por ajuda e guia divinas. Por favor, transmita-lhes suasamorosas saudações. …”3

[E de seu próprio punho, o amado Guardião escreveu:]

“Minha querida e estimada colaboradora,A lembrança de sua visita ainda está vívida em minha

mente e estou aguardando ansiosamente o tempo em que lheserá possível enviar seus filhos espirituais à Terra Santa. Nãose sinta desencorajada. Persevere e permaneça confiante de queminhas orações continuarão a ser oferecidas por você nos SepulcrosSagrados.

Com minha amorosa gratidão por seus prodigiososesforços,

Seu verdadeiro irmão, Shoghi”4

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Capítulo 18“’Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

[Testes e provações são sempre os companheiros dosque amam. Assim, os próximos meses se revelariamcheios de dificuldades. Leonora precisaria mais quenunca se recordar e apegar-se aos conselhos de ShoghiEffendi para seguir avante e perseverar. Embora suacorrespondência com o Guardião fosse sempre fontede inspiração e segurança, muitos meses agora passa-riam, antes que um novo relato do desenvolvimentoda Causa na Bahia fosse novamente enviado ao Cen-tro da Causa.]

“Nossas pequenas reuniões têm continuado regularmentebem, mas novos membros não foram acrescentados ao grupo,embora ocasionalmente alguém novo compareça à reunião, e osque parecem sinceramente interessados durante longo tempoforam impedidos de comparecer por motivo de doença e outrasdificuldades. Essas pessoas são extremamente pobres e,ultimamente, sua situação foi agravada por causa da tristecondição econômica existente aqui, assim como em outras partesdo mundo. Tenho tentado ajudá-las um pouco materialmente,embora as coisas estejam difíceis para mim também e eu sinta anecessidade de dedicar muito mais tempo e energia para ganhara vida do que anteriormente, tendo, portanto, menos tempo livrepara o trabalho da Causa.”5

[Seguir adiante, perseverar, trabalhar mais arduamen-te e com plena confiança no futuro, por maisdesalentadoras e penosas as crises e dificuldades dopresente, era sempre o conselho do Centro da Causa.

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Capítulo 18“Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

Assim, compreensão e palavras de um renovadoencorajamento logo chegariam da parte de ShoghiEffendi.]

“Querida irmã bahá’í,Fui orientado por Shoghi Effendi para acusar o

recebimento de sua gentil carta datada de 1o de julho de 1932e de lhe apresentar, bem como aos amigos da Bahia, a expressãode sua amorosa gratidão e estima.

O tom geral de sua carta parecia indicar quão lentamentea Causa está progredindo no Brasil e a falta de receptividadepor parte do público brasileiro, aparentemente, tem servido paradesencorajar alguns dos crentes. Posso, tão somente, compartilharos sentimentos dele. Uma vez que a crise religiosa que estamosagora atravessando, além de ser sem precedentes em suaintensidade, está aliada a condições econômicas de caráterextremamente penoso – a sociedade humana está, hoje em dia,sendo atacada por forças tanto espirituais como materiais e, soba pressão destes poderes combinados, a própria base de nossavida social está sendo gradualmente solapada.

Porém, nós bahá’ís, que estamos completamenteconscientes do resultado de tais mudanças catastróficas mundiais,não podemos permanecer desencorajados e permitir que nossasatividades sejam paralisadas. Pois, foi-nos prometido por nossoMestre que o futuro é nosso e que, por mais desatentas que aspessoas possam estar, por mais cínica que possa parecer aperspectiva deles em relação aos nossos princípios e ensinamentos,

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Capítulo 18“’Muito Bem-Vinda!” - A Peregrinação

tal estado de coisas, contudo, é tão somente transitório e servirá,unicamente para pavimentar o caminho para a difusão e o triunfoda Causa.

Shoghi Effendi deseja que, portanto, persevere, permaneçafirme como uma rocha e enfrente corajosamente qualquerobstáculo que possa parecer estar impedindo seu trabalho. Eleestá plenamente consciente das dificuldades de todos os tipos quevocê tem que enfrentar e resolver. Mas, sinceramente espera queatravés de sua devoção e auto-sacrifício será capaz de superartodas. Ele também deseja que dê o melhor de si para conseguirrealizar a tradução do livro do dr. Esslemont para o espanhol,sendo que tal trabalho se constituirá no primeiro livro bahá’ínesta língua. Com a certeza de seus melhores votos para você,assim como, para todos os nossos amigos,...”6

[E de seu próprio punho, sempre enviando uma palavrade encorajamento e expressando genuíno interesse notrabalho de Leonora, o Guardião escreveu-lhe:]

“Querida colaboradora,Fiquei muito feliz e estimulado por ter notícias suas depois

de um silêncio tão prolongado, e confio que você continuará amanter estreito contato comigo e a me informar freqüentementesobre o progresso de suas valiosas atividades. Sinto-meprofundamente ligado a seu trabalho.

Seu verdadeiro e grato irmão,Shoghi”7

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

Capa da histórica 1a Edição dolivro “Bahá’u’lláh e a NovaEra” em espanhol, traduzido epublicado por Leonora na Bahia,Brasil, em 1933.

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

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[Apesar do esforço sobre-humano para superar as di-ficuldades, que de todos os lados a assediavam, e dafirme determinação de ir adiante e concentrar-se notrabalho vital da Causa, os resultados ainda eram apa-rentemente pequenos aos seus olhos.]

uanto à tradução em espanhol do livro do dr.Esslemont, lamento mais profundamente do

que posso em ter de lhe dizer que aindanão está pronta, embora esperava sinceramente entregá-la nas mãos do editor, no mais tardar, até o final do ano passado.Se tivesse dependido apenas do meu esforço, creio que o teriarealizado, pois há bastante tempo percebi como é lamentávelque ainda não tenhamos nenhuma literatura em uma línguatão amplamente falada como o espanhol, porém, uma revisãode minha tradução por um nativo espanhol é certamenteindispensável ou pelo menos assim me parece. Três pessoas queconheci em Madri expressaram boa-vontade em fazer isto, eàquele em quem mais confiava enviei os primeiros capítulos deminha tradução o mais rápido que pude depois de voltar de

19REVESES NOS ESFORÇOS DE

TRADUÇÃO PARA O ESPANHOL

“Q

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

Haifa, pois, conforme acho que lhe expliquei na minha últimacarta, fui obrigada a me submeter à outra cirurgia e, durantealguns meses, muito pouco pude usar os meus olhos. Mês apósmês esperei pela resposta dele, então, escrevi aos outros dois emMadri e um deles concordou em fazê-lo, mas preferiu fazer suaprópria tradução inteiramente nova. Como, a essa altura, aminha tradução estava quase terminada, insisti que ele acorrigisse, porque era desejável publicar o livro com a menordemora possível e, também, porque temia não ter meios suficientesdisponíveis para remunerá-lo pelo trabalho que uma novatradução exigiria. (Achei que seria melhor lhe oferecer umaremuneração, pois embora simpatizante dos objetivos da Causa,não me parecera suficientemente impressionado para quereroferecer seus serviços a tal ponto.) Recebi apenas um cartão comoresposta dizendo que seria breve e que havia achado muito boa aamostra de minha tradução que havia lhe enviado. Espereidurante meses, e esperando a cada correio saber algo mais dele,mas em vão. Ultimamente, tenho pensado se não seria melhorsimplesmente enviá-la a um editor assim como está, oferecendopagar mais por uma revisão especial a ser feita por algum deseus funcionários. Não sei se fariam isso, mas pelo menos possoescrever a um deles para averiguar, pois minha tradução, emboraimperfeita, pode servir a um fim temporário e, talvez interessarsuficientemente alguém de língua espanhola para que faça umamelhor tradução em um futuro próximo.”1

[No entanto, as tentativas de conseguir que os amigosem Madri, Espanha, revisassem o novo livro, falharam

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

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por causa da dificuldade de enviar dinheiro para forado Brasil, devido às restrições econômicas existentesno país depois do período da revolução política.]

“Quando o senhor enfatizou novamente a importânciada tradução em espanhol do livro do dr. Esslemont, fiquei aflitaporque, junto, o correio trouxe finalmente a carta de Madrique mencionava a quantia necessária para corrigir minhatradução (cerca de $100) e solicitando uma parte adiantado.Não me foi possível de maneira alguma enviar o dinheironecessário, porque desde a irrupção da última revolução, asregras do governo, que já eram muito restritas em relação aisso, tornaram praticamente impossível enviar até mesmo a maisínfima quantia para fora do país. Todos os meus esforços emdiversos momentos do passado a fim de encontrar alguém naBahia para fazer o trabalho mostraram-se inúteis, mas ocorreu-me indagar ao cônsul espanhol se não havia alguma editoraque publicasse livros em espanhol no Rio de Janeiro. Descobrique agora há um novo cônsul e, para minha completa surpresa,este disse-me que ele próprio é dono de uma editora aqui mesmona Bahia e que corrigiria minha tradução! Pareceu simplesmenteum milagre. Estou tão feliz em poder lhe dizer que, finalmente,o trabalho está para ser feito. Sempre tive esperança de editar olivro de uma forma atraente, uma vez que a aparência pesamuito na mentalidade latina, mas tenho ganhado tão pouconeste último ano que receio no momento somente poder pagaruma tiragem bem barata de 500 exemplares (custando cercade $150) embora fosse mais aconselhável publicar pelo menos

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

1.000 exemplares em uma língua tão falada como é o espanhol.Menciono isto porque lembro que, em uma carta anterior, osenhor expressou o desejo de dar ajuda financeira quando atradução estivesse pronta para publicação. Neste caso, eu teriauma tiragem maior e uma melhor qualidade de papel, capa,etc., e talvez em poucos meses, se as coisas melhorarem, poderiadevolver a quantia que o senhor me mandar agora, por perceberquão intensamente se necessita dinheiro em outros lugares parao trabalho da Causa, especialmente para o Templo nestemomento, certamente quero, pelo menos, estar apta a cuidar detodas as despesas daqui.”2

[O ano de 1932 foi especialmente de grandesdificuldades para Leonora. Mas, quando suas forçascomeçavam a se esvair, sempre ocorria chegar uma cartade Shoghi Effendi para novamente lhe fortalecer erenovar as esperanças. Como uma brisa matinal, taiscartas chegavam para lhe refrescar a alma e elacorrespondia com uma onda de novas atividades.Numa de suas cartas, Leonora escreveu:]

“No decorrer desses anos que trabalhei aqui sozinha, maisde uma vez, senti-me tão desencorajada por não haver maioresresultados que me pareceu que, talvez, fosse inútil tentar pormais tempo. Mas então, veio uma carta do senhor instando-mea perseverar e, então novamente, recuperei a coragem e aumenteimeus esforços. Também foi assim desta vez.”3

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

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[A notícia do passamento da Folha Mais Sagrada, naépoca, agravou sua tristeza – especialmente por ela “terestado entre os afortunados crentes que tiveram oprivilégio de conhecê-la neste mundo e aos quais elapessoalmente concedera sua amabilidade e bênçãos”.4

Leonora escreveu a Shoghi Effendi para expressar-lheseu pesar:]

“Fiquei realmente repleta de pesar e ansiava mandaralguma manifestação de condolência àqueles que lhe erampróximos. É, verdadeiramente, uma perda inestimável para todoo mundo bahá’í. O amor que a Folha Mais Sagrada me mostrouquando estive em Haifa será sempre uma lembrança afetuosa ejamais cessarei de agradecer o grande privilégio de tê-la encontradoneste mundo.”5

[Uma cópia do tributo pessoal à Folha Mais Sagrada,escrito por Shoghi Effendi, logo chegaria às mãos deLeonora. Neste, o Guardião enfatiza os vários estágiosdo sofrimento da Folha Mais Sagrada, de sua comple-ta devoção e amor ao “seu Todo-Poderoso Pai e ama-do Irmão”6. Alguns meses mais e Shoghi Effendi en-viaria aos bahá’ís da Bahia, “uma ampliação do belomonumento de mármore branco que foi erigido paraassinalar o lugar de repouso da amada Folha Mais Sa-grada”7. Esforçando-se e trabalhando sozinha na dis-tante terra do Brasil, tão longe de amigos e da família,Leonora, muitas vezes, sentiu-se abatida por ainda nãover as sementes por ela lançadas em toda a parte. “Per-severe e confie no dia da colheita”, lembrava-nos

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

freqüentemente o Centro da Causa. Por intermédiode seu secretário, o Guardião escreveu:]

“Shoghi Effendi valoriza imensamente os esforços que estáexercendo para servir a Causa no Brasil. Ele a estimula a nãose sentir desencorajada se, por ora, os resultados não lhefavorecem. Esteja segura de que seu esforço solitário, certamenteum dia, produzirá os mais maravilhosos resultados. A luz daorientação que foi irradiada por Bahá’u’lláh diante de você,irá efetivamente lhe ajudar a preparar os corações das pessoaspara receberem Sua Mensagem. A estima do Guardião e suaentusiasmada esperança no seu serviço a acompanharão efortalecerão em seu nobre empreendimento.”8

[E o próprio Shoghi Effendi viria a acrescentar a essamensagem, uma palavra de apreço pelos expressossentimentos de Leonora.]

“Sua carta, verdadeiramente, alegrou meu triste esobrecarregado coração. Agradeço os sentimentos que vocêexpressou, assim como, as notícias que compartilhou.Continuarei a orar por você de todo o meu coração e a urjo elhe encorajo fortemente a me escrever com a máxima freqüência,pois anseio por estar em íntimo contato com suas pioneiras emeritórias atividades. ...”9

[Durante aquele ano (1933) muitas cartas seriamtrocadas entre Leonora e o Guardião, tratando princi-palmente sobre o lento e difícil processo da publica-

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

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ção do livro Bahá’u’lláh e a Nova Era em espanhol,bem como sobre as novas traduções por fazer. Essascartas eram, por assim dizer, uma corda de esperançaesticada através do Atlântico e Europa e, dali, a ligan-do diretamente ao Centro da Causa, de onde ela rece-bia contínuas correntes de amor e conforto espiritual.Em janeiro daquele ano, o Guardião escreveu:]

“Querida e estimada colaboradora,Sua carta transmitiu profundo contentamento a meu

coração. Seus serviços, seu elevado empenho, jamais, jamais serãoesquecidos; tenha plena certeza. Estou aguardando ansiosamente,com grande expectativa e alegria, a publicação da versão emespanhol de ‘A Nova Era’. Este se constituirá em um serviçoadicional e memorável prestado por você ao Sagrado Limiar,apesar dos obstáculos gigantescos.

Persevere e tenha a certeza de que minhas oraçõescontinuarão a ser oferecidas em seu nome,

Seu verdadeiro e grato irmão,Shoghi”10

[A publicação final do livro em espanhol, no entanto,ainda teria de esperar quase um ano antes de finalmentechegar à Terra Santa, devido às enormes dificuldadesde publicação no Brasil durante aqueles anos,principalmente na Bahia. Mas, finalmente, em janeirode 1934, 50 exemplares da primeira publicação deBahá’u’lláh e a Nova Era em espanhol chegaram à TerraSanta, levando imensa alegria ao coração de Shoghi

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

Effendi. Os livros foram colocados nos seguinteslugares:]

“...na Biblioteca Internacional Bahá’í na Mansão deBahá’u’lláh, próximo ao Seu Santuário e lado a lado com as vintee cinco versões impressas deste mesmo livro.”11

[Shoghi Effendi escreveria mais tarde:]

“Sou-lhe profundamente grato pelos livros que mandou.Coloquei a maioria deles na Mansão de Bahá’u’lláh em Bahjíjunto ao Seu Sagrado Santuário. Eles representarão umacomovente e constante lembrança de seus incansáveis e meritóriosserviços em um país tão distante de Seu local de descanso.”12

O GUARDIÃO DÁ NOVAS TAREFAS A LEONORA

[Com a publicação final do livro do dr. Esslemont emespanhol, agora Shoghi Effendi encorajava Leonora acomeçar novos projetos de tradução. Em uma carta escritapelo seu secretário em outubro de 1933, ele disse:]

“... O mais importante livro a ser traduzido depois do dedr. Esslemont é, sem dúvida, ‘O Livro da Certeza’* deBahá’u’lláh, o qual contém a própria essência dos Ensinamentose que, em virtude de sua clareza e sua relativa simplicidade,pode ser de grande atração para todo leitor ponderado. O livrodo dr. Esslemont dá um panorama geral da Causa e é a melhor

* Leonora traduz O Kitáb-i-Íqan,O Livro da Certeza para o espanhole português, publicando suasprimeiras edições em 1937 e 1957respectivamente.

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Capítulo 19Reveses nos Esforços de Tradução Para o Espanhol

235Leonora Armstrong Memórias & Cartas

introdução sobre o assunto. ‘O Iqán’ aprofunda o conhecimentodo leitor, familiarizando-o com alguns dos problemas teológicosbásicos da Fé. É, portanto, indispensável a todo estudante doMovimento e sua publicação deve ser considerada como umpasso essencial para a difusão efetiva e ampla dos Ensinamentos.

O Guardião também a aconselha a traduzir ‘Respostasa Algumas Perguntas’*, o qual, em muitos aspectos, não possuisimilar na literatura da Fé. ‘Os Rompedores da Alvorada’†,também, pode ser de grande ajuda na difusão dos Ensinamentos.Porém, como é uma obra demasiadamente volumosa para sertraduzida no momento presente, seria preferível se você pudessesimplesmente traduzir alguns de seus capítulos importantes epublicá-los em uma revista. ...”13

*Leonora já havia, a pedido deShoghi Effendi, iniciado a traduçãodeste livro e estava pendente apenasa revisão. A primeira publicaçãodeste livro, porém, foi em 1948,mesmo assim numa versãoresumida. A versão completa destebest-seller bahá’í foi publicada em1958.†Leonora levou anos para acabara tradução deste livro e ele seriapublicado somente em 1989, noveanos após seu falecimento.

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Capítulo 20Uma Breve Visita aos Estados Unidos - 1933

Leonora em SantaMônica, EUA, comsua família em1933.

O Templo Bahá’íem Wilmete, EUA,em sua inauguraçãoem 1953. Em1933, quando Leo-nora visita este Tem-plo, ele ainda nãoestava acabado.

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Capítulo 20Uma Breve Visita aos Estados Unidos - 1933

237Leonora Armstrong Memórias & Cartas

nsistentes cabogramas do meu pai, que não estavabem de saúde, fizeram-me sentir que não deveriaesperar mais. Eu estava prometendo ir desde o

início da primavera...Sinto que meus três meses nos Estados Unidos têm sido

muito benéficos para mim de todas as maneiras. Enquantovisitava meu pai na Califórnia, foi um prazer conhecer os amigosde Los Angeles e Santa Mônica e, no meu caminho para o Leste,tive a grande alegria de visitar o Templo e ver grupos de pessoasentrando constantemente para admirá-lo e indagar sobre a FéBahá’í, durante a hora em que estive por lá. E fiquei muito felizpor estar novamente com os crentes do Leste, depois de seis anosde ausência, especialmente com a sra. Maxwell, sr. e sra. Kinneye sr. e sra. Ober. Espero e creio que voltarei com força e coragemrenovadas para servir com mais eficiência no Brasil. Peço suasorações, principalmente desta vez, para que eu receba Suaorientação.”1

[Acompanhando atentamente as atividades de Leonorae seus “serviços em constante expansão e altamentemeritórios à Causa”, Shoghi Effendi logo lheescreveria:]

20UMA BREVE VISITA

AOS ESTADOS UNIDOS ––––– 1933

Casal Kinney

Sra. Ober

“...ISr. Ober

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238Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 20Uma Breve Visita aos Estados Unidos - 1933

“Ele espera que sua estada nos Estados Unidos tenhasido benéfica para você, tanto espiritual como fisicamente e queagora você esteja revigorada e completamente pronta parareassumir seu trabalho de ensino no Brasil. Sua partida daBahia deixou uma lacuna no campo do ensino que só você podepreencher efetivamente. Que o Bem-Amado a ampare e fortaleçacom o exército invisível de Suas hostes e possa Ele capacitá-la aconquistar novas vitórias no caminho do serviço!”2

[Leonora logo responderia ao amado Guardião já deseu posto de pioneirismo no Brasil:]

“De fato, sinto-me descansada e revigorada pela minhavisita à terra natal e farei todo esforço para realizar a esperançaque o senhor expressa pela minha perseverança e redobradaatividade. As condições econômicas parecem cada vez menosfavoráveis aqui, de modo que o problema de ganhar a vida setorna mais e mais difícil, embora esteja confiante de que a faltade fundos não venha impedir seriamente o desenvolvimento dotrabalho bahá’í aqui.

Conversando com um missionário adventista que conhecina minha viagem, fiquei realmente impressionada com tudo queuma pessoa é capaz de fazer se puder dedicar todo o seu tempo aotrabalho e tiver fundos. Esse missionário tem trabalhado entreos índios ao longo do Amazonas construindo escolas para eles,estabelecendo postos médicos, etc. e estava muito entusiasmadocom os resultados. Lembrei-me da ênfase de ‘Abdu’l-Bahá, emuma das ‘Epístolas do Plano Divino’, sobre a importância do

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Capítulo 20Uma Breve Visita aos Estados Unidos - 1933

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trabalho entre os índios e desejei tanto que o caminho se abrissepara que o iniciássemos, embora certamente saiba que isto seráfeito no devido tempo, pois se trata do Plano Divino.

Assim que retornei dos Estados Unidos via Rio de Janeiro,parei lá por alguns dias a fim de fazer um pouco de trabalhobahá’í e tive a oportunidade de falar a um pequeno grupo deesperantistas, alguns dos quais ouviram sobre a Fé pela primeiravez quando falei em seu congresso alguns anos atrás. Li paraeles a tradução da sua carta ‘A Meta de uma Nova OrdemMundial’ e esta parece tê-los impressionado bastante.

Enquanto estive no Rio, visitei uma família inglesa dedevotados sufis que durante anos vem trabalhando para difundiros ensinamentos sufis naquela cidade. Eles formaram um

pequeno grupo e realizam reuniões emsua casa. Tentei entender algo de seusensinamentos na esperança deencontrar a melhor maneira de lhesapresentar a Fé. Eles leram ‘Os SeteVales’, mas parece que nãoreconheceram o poder incomparável daPalavra de Bahá’u’lláh. Tenho oradodo fundo do coração para que elesvenham a enxergar a verdade, poisparecem muito sinceros.”3

Leonora fica alguns dias no Riode Janeiro levando a mensagembahá’í nesta cidade na sua voltaao Brasil em 1933. Foto da Av.Rio Branco naquela época.

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Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

Agnes Alexander e May MaxwellFoto de 1934

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241Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

[A correspondência regular com May Maxwell era tam-bém um meio de se obter força e coragem, assim comouma oportunidade para ampliar a visão e o entendi-mento mútuo a respeito do desenvolvimento da Cau-sa; e era grande o fluxo de correspondência entre essasduas amigas. Uma das cartas, escrita logo após um aci-dente de carro com a filha Mary em novembro de 1935,é um bom exemplo da profundidade de sua amizade edas reflexões e busca de maior entendimento sobre osignificado e ensinamentos da Causa.]

ui querida Leonora,Sua última preciosa carta chegou nestas

últimas semanas; não me lembro exatamentequando chegou porque as coisas andam acontecendo muito intensae rapidamente. Em 1o de novembro, Mary chocou-se contra umbonde com seu automóvel e, embora fisicamente ela não tenha seferido, a colisão e o efeito geral do acidente trouxe bastante tensãoe preocupação adicional às nossas vidas.

Acho que todo bahá’í é, até certo ponto, um centro detempestade. Eles são atacados de dentro e de fora por todas asforças e devem permanecer em suas posições, fortes e vigilantes,conscientes e atentos e em uma atitude constantemente positiva.

21ESTREITA AMIZADE

COM MAY MAXWELL

“M

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242Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

De fato, toda a humanidade está sendo golpeada de uma formaou de outra, mas para aqueles que estão ligados à Fonte da Vida– a Fonte Viva do Poder – não há muita desculpa para sucumbir,ao nos lembrar da declaração profética do Mestre ‘até que osangue dos mártires não apareça na América, a Causa deBahá’u’lláh não será estabelecida’; e que a natureza de nossostestes e martírio será mais espiritual e psicológica do que física.Fomos dotados de uma nova força e coragem no campo de batalha,onde quer que estejamos.

Sinto como você, minha querida Leonora, que nossa maissevera provação, o supremo teste de nossa fé e proximidade aoBem-Amado é a separação dos nossos amigos bahá’ís, refiro-meàqueles bahá’ís fortes e fervorosos que estão firmementeenraizados como carvalhos, que atingiram a condição descritapor Bahá’u’lláh de ‘a imutabilidade do estado interior’, os quaissão realmente folhas da Árvore da Vida, que existem para a‘cura das nações’. Que maravilhosa substância nós colhemos denosso companheirismo, uma com a outra, quando você esteveaqui! Cada reunião, cada hora teve um valor precioso e nosdeixou um legado ao qual pudéssemos nos apegar em tempos deseparação. Se é difícil para mim que estou sempre cercada peloscrentes e, ainda assim, sempre ansiando e faminta por almasmais profundas, como você, Juliette, os Kinneys e alguns outrosque são Suas jóias inestimáveis, quão infinitamente mais difícilé para você sozinha e isolada em um vasto continente!

Sempre me sinto muito culpada, Leonora, por não lheescrever mais freqüentemente, porque embora minha vida esteja

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Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

tão sobrecarregada e pressionada por incessantes atividades,principalmente desde a condição delicada de Mary, ainda assim,eu deveria sempre encontrar tempo para lhe escrever mesmo queapenas algumas palavras para levar ao seu coração e à sua almae à sua mente ‘a radiante corrente de raios que emanam doPonto Focal, o Guardião’.

Não consigo me lembrar quando foi a última vez que lheescrevi ou se sabe que estive ausente durante oito meses do anopassado, viajando para cima e para baixo na costa do Pacífico,visitando muitas comunidades e retornando via algumas cidadesdo Canadá. Foi uma alegria imensa – liberação e inspiração –estabeleci alguns novos laços sagrados com um grupo, o qual fuiencorajada a contatar há uns dez anos, e agora estou indo aToronto por algumas semanas com a esperança de colocar láalguns elementos juntos e retomar o fio da meada de trabalhosanteriores. O tempo aqui tem sido de frio rigoroso e um especialistaem coração orientou-me para ir a um lugar de clima mais quente,mas o trabalho aqui era tão urgente que levei muito tempopensando se deveria ir ou não; e, agora, estamos tendo um degeloem janeiro que é pura bênção e que faz com que eu possa ficarpara completar o trabalho que estou fazendo e, quando de novocongelar, imediatamente irei para Toronto.

Você, minha preciosa, não tem nenhum desses problemasde clima para combater em relação à sua saúde, mas ai!, suavida toda é um problema, seu desesperado e solitário esforço, comseus limitados meios e ninguém para se apoiar a não ser oInvisível: no entanto, eu me pergunto se isto é realmente assim,

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244Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

Leonora. Você acha que todos nós talvez estejamos cada vez mais

sendo colocados em uma posição na qual seremos forçados a

reconhecer a chave para toda a situação – uma poderosa Verdade

que está se evadindo de nós? ... Estamos reconhecendo plenamente

os raios diretos do Convênio ‘através do qual cada osso

decomponente é vivificado’? Estamos nos volvendo para a Fonte

Invisível e, deste modo, recebendo os raios indiretos em vez de

nos volver diretamente ao Ponto visível e tangível em nosso meio?

Estamos vivendo em um mundo tangível e, certamente, há um

grande mistério no Centro visível e tangível que se prolonga

nesta grandiosa era por um período de mil anos, e fico pensando

se estamos nos beneficiando plenamente de Sua Poderosa Força e

significado?

Nós todos reconhecemos o Guardião da Causa de Deus,

o Chefe Espiritual e Administrativo da Causa – o Centro da

Causa de Deus conforme designado por ‘Abdu’l-Bahá – mas

será que percebemos, ainda que remotamente, o mistério

subjacente e a suprema potência de um grau descrito na Última

Vontade e Testamento, cujos termos em si mesmos nos cegam

pelo seu esplendor?

Somos adoradores dos Consagrados Lótus Gêmeos e é-

nos dito que Shoghi Effendi é seu Fruto. Ele é descrito como a

Pérola dAqueles Mares Gêmeos, o Ramo Sagrado e Primaz ‘que

abriga todo o gênero humano!’. Não deveríamos nos volver

individual e coletivamente a ele em nosso pensamento, em nosso

mais íntimo pensamento, em nossa ação, em nossas orações, em

nossa confiança, em nossa necessidade, em nossa consciência e,

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245Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

assim, através desse Canal Único, conectar-nos com a FonteInfinita? Não somente, não é este o caminho, mas há algumoutro? Não é este o princípio da Orientação ou Foco, que é aVerdade Central da Revelação Divina?

Bahá’u’lláh nos diz nesta passagem que jamais se passauma hora na Terra sem que haja pelo menos uma alma santanão reconhecida e desconhecida de todos, ainda que vivendosobre ela. Que esta conexão do Divino Bem-Amado com Suascriaturas neste planeta é uma corda que jamais se rompe, comoo cordão umbilical que conecta o filho com a mãe. Hoje, em umcerto sentido, esta misteriosa Conexão Divina é o princípiocentral de nossa Fé, a Guardiania e as instituições que revolvemao seu redor como raios em torno de um sol central. Enquantosomente uma criança oraria ao Guardião, o qual obtém suaprópria existência e a própria essência de sua Guardiania deBahá’u’lláh, ainda assim, não é ele, em um sentido muitosutil, um elo – o mais profundo e mais sagrado elo de nossaunião com o Bem-Amado Invisível? Ele nos diz que a FolhaMais Sagrada possui o poder de intercessão – um dos maioresdons de Deus às almas santas – qual não deve ser, então, apotência das orações do Guardião e todas as nossas oraçõesvoltadas inteiramente para ele?

Se a Ordem Mundial de Bahá’u’lláh é um organismo,então Shoghi Effendi é seu coração, e de todo órgão e membrodeste Corpo depende sua vida, força e vitalidade deste coração e,quanto mais crucial for a conexão de cada membro e átomo do

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Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

Corpo – com a força vital que provém do coração – mais perfeitaa saúde e a força...

…para mim o assunto mais vital e essencial da Causa,pois quanto maior for a percepção da função do Guardião menosnos desviaremos de nossa obediência, causando, portanto, menosadversidades para nós mesmos e de uns para os outros. Referindo-me a isto, estou pensando particularmente sobre os assuntos doTemplo, seus recentes contratos e sua desesperadora situaçãofinanceira.

Estou encantada porque a sra. Mathews* está indo ficarcom você! Isto, querida, é certamente em resposta às suasnecessidades e anseios e é um sinal do poderoso apoio do Guardiãoa seu trabalho. Loulie Mathews estava em São Francisco quandoeu me encontrava lá e falei em diversas reuniões e testemunheium grande desenvolvimento em toda a sua abordagem e atitude,a doçura e a beleza de sua face e a penetrante percepção de seustemas. Você e ela, tenho certeza, estarão aptas a expandir seutrabalho e ampliar seu campo de ação e estou muito feliz emsaber da recente tradução que fez do livro de Esslemont. Vocêpercebe que este é um serviço de muito maior alcance do que setivesse viajado a terras distantes?

… Jamais sinta-se desencorajada, minha preciosamenina, tentarei escrever com mais freqüência, e estou semprecom você em coração e espírito e nas minhas orações diárias.Quanto mais difícil o caminho se torna para todos nós, maissomos guiadas ao Seu aprisco.”1

*Loulie Albee Mathews (1869-1966): Uma das primeirascrentes norte-americanas. Fezvárias viagens de ensino atravésdo continente. Uma descriçãopormenorizada da visita da sra.Mathews ao Brasil encontra-seno artigo Outposts of A WorldReligion by a Baha’i TravelerJourneys Taken In 1933-1934-1935, Accompanied by EdwardR. Mathews, ou em seu best-seller Nem Todo Mar TemPérolas, publicado pela EditoraBahá’í do Brasil. Maioresinformações sobre sua vida emThe Bahá’í World, vol. XIV, pp.360-2.

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Capítulo 21Estreita Amizade com May Maxwell

[Assim como sua mãe e avó, Leonora tinha um amor eadmiração especial pelo serviço social entre os maisnecessitados. Ao retornar à Bahia, após sua viagem aosEstados Unidos, ela sentiu-se inclinada a trilhar novoscaminhos e abrir novos campos de serviço para a Causa.]

á há muito tempo sentia o desejo de provaratravés de alguma ação a realidade daminha crença na unicidade dahumanidade. Falara muito na Bahia a esserespeito e os resultados me pareciam

sempre tão pequenos. É verdade que o Guardião haviadito: “Faça serviço social, se você tiver tempo para ele.”Sei que, em realidade, não poderia dizer que tinhatempo para ele, quando havia tanto trabalho de ensinoprecisando ser feito, tanta tradução para preencher cadamomento disponível; ainda assim, eu ansiava fazer algo,em vez de só ficar falando. Eu amava serviço social,assim como minha mãe e minha avó antes de mim e,também, realmente achava que poderia atrair maisinteresse para a Fé. A forma que me ocorreu – tambémum sonho desde criança – foi abrir uma casa para órfãosou crianças socialmente desafortunadas, e isto decidiempreender agora. Aluguei os três andares superiores

22UMA INCLINAÇÃO ESPECIAL

PARA O SERVIÇO SOCIAL

J

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Capítulo 22Uma Inclinação Especial para o Serviço Social

de um grande prédio na principal rua daCidade Baixa (o coração do setorcomercial) e, no primeiro andar, instalei umrestaurante (de cujos rendimentos, euesperava cobrir os custos do andar dascrianças) e também uma confortável salade estar com uma estante cheia de livrosbahá’ís e outros, na qual homens denegócios que viriam para o restaurantepoderiam descansar e ler antes ou depois

do almoço. Em outras ocasiões, esta sala serviriatambém para reuniões. Os dois andares superioresdestinavam-se a salas de aula, recreação, refeitórios edormitórios para as crianças. Pouco tempo depois, esteprojeto foi abandonado, pois exigia muito trabalho,com muito pouca compensação e as dezessete crianças(entre quatro a onze anos de idade) foram transferidaspara o Rio Vermelho, para uma casa com um grandejardim e árvores frutíferas, onde podiam desfrutar armais puro, um pouco de jardinagem e também banhosde mar. Uma professora de ensino básico era paga paravir todos os dias da cidade ensinar as crianças e tambémuma costureira para costurar para elas e lhes ensinarum pouco de costura, ao mesmo tempo em que a filhade um casal bahá’í do bairro Calçada morava com elascomo uma mãe para aquela casa durante o primeiroano, após o qual, Eve Nicklin* que acabara de vir comopioneira dos Estados Unidos, passou a cuidar delas.Pouco tempo depois, no entanto, Eve preferiu partirpara algum campo que oferecesse maioresoportunidades para o serviço bahá’í. Com a crescentedificuldade de encontrar pessoas adequadas para

Antiga Rua Portugal, ondeLeonora iniciou a escola parameninas em Salvador, Bahia.

Eve Nicklin

*Informações sobre ela napágina ao lado.

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Capítulo 22Uma Inclinação Especil para o Serviço Social

cuidar das crianças (sendo que eu própria não podia,por causa do meu trabalho bahá’í e da necessidade deganhar o suficiente para a manutenção das crianças),pareceu-me necessário desistir do meu pequenoorfanato, mas mantive umas poucas crianças em minhacasa por algum tempo, uma delas até se tornarfinanceiramente independente e casar-se. Certamente,alguma propaganda favorável para a Fé resultou dessatentativa e, inquestionavelmente, trouxe muitosbenefícios às crianças – instrução, que algumas nuncativeram antes, uma saúde melhor, não somente devidoà função da boa alimentação e ambiente saudável, mastambém devido aos cuidados médicos e dentários(amigos médicos e dentistas generosamente ofereciamseus serviços) e, não menos importante, um pouco deensino bahá’í, principalmente a memorização deorações bahá’ís as quais, espero, algumas delas poderãoser lembradas. No entanto, é difícil julgar quão grandeou duradouro pode ter sido o valor disso para oprogresso da Causa na Bahia.

[O esforço em direção à educação das crianças foitambém relacionado à meta de estabelecer umacomunidade mais forte, incluindo uma AssembléiaEspiritual Local em funcionamento, conforme Leonoraexplicaria mais tarde em uma de suas numerosas cartasa Shoghi Effendi. A dificuldade enfrentada pelosprimeiros crentes de se libertar de certas crençasreligiosas, bem como, de uma cultura ainda permeadade superstição, aliada ao seu desejo pessoal de realizarum significativo serviço social, terminou dando lugarao surgimento de seu interesse pela educação de

Eve Blanche Nicklin (1895-1985):Distinguida pioneira norte-americana, contemporânea deMartha Root, Howard Colby Ives,e outros grandes instrutores daCausa. Partiu dos Estados Unidosno primeiro Plano de Sete Anospara o Brasil (1937), vindo a seestabelecer na Bahia, ajudando notrabalho com a escola para criançascarentes estabelecida por LeonoraArmstrong. Posteriormente (1941)foi como pioneira para o Peru ondese tornou “a mãe espiritual doPeru”. Serviu durante longos anosno CEBSA - Comité para laEnseñanza Bahá’í en Sudamérica.Em 1951 foi eleita para a primeiraAsssembléia Espiritual Regional daSudamérica, representando 10países (Peru, Equador, Chile,Bolívia, Venezuela, Brasil,Uruguai, Paraguai, Colombia eArgentina) e, posteriormente, em1956 ser viu na primeiraAssembléia Espiritual Regional,representativa dos bahá’ís daBolívia, Colombia, Equador, Perue Venezuela. Posteriormenteser viu como pioneira emMontevidéu, Uruguai (1952) e noParaguai (1953-55), quando,então, retornou a Arequipa, Peru(1955). Em 1965 foi nomeadacomo Membro do Corpo Auxiliarpara Propagação para Venezuela(onde permaneceu por 2 anos).Em 1967 foi designada para servircomo membro do Corpo Auxiliarno Paraguai. Em 1975 retorna aLima, Peru, ali vivendo até o finalde sua vida. Ver: Morales, BorisHandal. Ella del Valiente Corazón:la vida de miss Eve Blanche Nicklin(1895-1985). Ver também:Crussading Years por Nicklin, Eve..

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Capítulo 22Uma Inclinação Especial para o Serviço Social

crianças* como um caminho para se criar umacomunidade mais sólida a longo prazo.]

“Sinto muito não ter respondido sua carta de alguns mesesatrás, mas, como sempre, fiquei na expectativa de, em seguida,poder lhe mandar um relatório melhor das atividades daqui. Àsvezes, parece-me que, apesar das coisas maravilhosas que o Mestredisse a respeito da Bahia, eu não poderia ter escolhido um campomais difícil. Em todo o mundo, vemos pelo menos a nova geraçãodespertando para a percepção de que estamos vivendo em umanova era, mas, aqui na Bahia, nem os jovens têm a coragem dedesconsiderar as injunções da Igreja e investigar um ensinamentoreligioso por si mesmos. Eles nem ousam ler a Bíblia! No entanto,quando lembro que ‘Seu hálito santificado afetará até mesmo arocha’, percebo até que ponto minhas próprias deficiências sãoresponsáveis pelo lento progresso aqui. Diversas vezes, no decorrerdesses anos aqui, foi formado um grupo de pessoas que participavaregularmente de reuniões e depois um por um desistiu e, pelomenos aparentemente, ‘não houve resultado algum’. Sinto quehá apenas cerca de oito pessoas que possivelmente podem serchamadas de verdadeiros crentes, das quais duas – as mesmasduas que anteriormente prestaram grandes serviços à Causa –cortaram completamente as relações conosco por motivos denatureza puramente pessoal como o receio de desagradar às suasesposas. A maioria dos outros parece incapaz de funcionar emuma Assembléia devido à sua compreensão muito limitada. Eassim, como os anos têm passado e uma verdadeira Assembléianão foi formada, estou cada vez mais convencida de que a melhor

*A escola foi fundada em 29 dejunho de 1935 nos 2º e 3º andaresdo prédio no. 8 da Rua Portugal,centro de Salvador, iniciando ostrabalhos com 12 meninas pobres,sendo órfãs a maior parte delas.No mesmo prédio foi instalado no1º andar um restaurante para sus-tento da escola. Como o movi-mento do restaurante não cobriaas despesas da escola, a sra.Armstrong procurou uma casamais adaptável à continuação daobra e conseguiu alugar uma chá-cara no bairro do Rio Vermelho,à época nos limites da cidade, ondeinstalou as crianças, sob a direçãoe dedicação de Hilda Rocha San-tos e o auxílio de d. AntoniaMiranda. O dr. Vidal da Cunhaofereceu-se para prestar serviçosgratuitamente fornecendo, alémdisto, quase todo medicamento. Omobiliário da escola era muitosimples, muito embora cada cri-ança possuísse uma cama padrão,roupa de cama suficiente, alémde uma farda branca e demais ar-tigos necessários. Aos domingosos pais ou responsáveis podiamvisitá-las. Mais tarde a escola foifechada, tendo a sra. Leonoratransferido várias meninas parasua própria residência no bairroda Barra. (Anotações encontra-das nos arquivos da AssembléiaEspiritual Local dos Bahá’ís deSalvador, Bahia.)

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Capítulo 22Uma Inclinação Especil para o Serviço Social

coisa que posso fazer é educar um grupo de crianças, cujas mentesainda não foram preenchidas com superstições e preconceitos enão têm pais que interfiram em sua educação espiritual. Amaneira de fazer isso pareceu ser abrir ou talvez deva dizer quea urgência em fazê-lo parecia irresistível há meses atrás,exatamente quando devia estar concentrando todos os meusesforços na tradução em espanhol do ‘Iqán’ que o senhor haviame pedido com a menor demora possível e para cuja publicaçãohavia mandado tão generosa contribuição. Julguei que tendotido um pouco de experiência prática em tais coisas, a organizaçãodo lar-escola para essas órfãs demandaria uma interrupção deapenas três ou quatro semanas, mas devido aos meus limitadosmeios e falta de assistência competente, mostrou-se uma tarefabem maior do que havia imaginado, assim sendo, por mais louvávelque este esforço tenha sido, ...sinto que foi talvez um erro deixarque isto atrasasse tanto a tradução e só posso dizer que,sinceramente, sinto muito.”1

[A explícita orientação de Shoghi Effendi paraconcentrar esforços em ensinar e traduzir, a urgentenecessidade da tradução do Kitáb-i-Íqán para oespanhol, tudo isso começou a criar tensão emLeonora.]

“Sempre houve dúvida em minha mente se o senhorclassificaria esta minha tentativa com crianças como trabalhobahá’í ou puramente humanitário. Pensei nela como sendo doprimeiro tipo, a qual, conforme lembro-me, o senhor disse-meem Haifa deveria ser colocada em primeiro lugar; a tradução,

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Capítulo 22Uma Inclinação Especial para o Serviço Social

em segundo; e atividades humanitárias, em terceiro. Encarregada

do cuidado das crianças e morando na casa com elas, há uma

jovem brasileira que se declarou há vários anos e ensinou as

crianças a fazerem as orações bahá’ís todos os dias, e as ensina

também com seu próprio exemplo. Em nossas reuniões de

domingo, seguimos o ‘Lesson Outlines’, esquema de aulas

aprovado pela Assembléia Espiritual Nacional dos Estados

Unidos e Canadá. Se o senhor aprova isto como uma atividade

bahá’í direta, farei todo esforço para ampliar o alcance desta

atividade, principalmente se Eve Nicklin ou algum outro

trabahador bahá’í puder vir nos ajudar, conforme a sra.

Mathews nos aconselhou. Estou enviando-lhe uma fotografia de

algumas crianças com a sra. French no dia em que esta visitou a escola.”2

[Poucos dias depois, chegariamorientações em carta escrita emnome de Shoghi Effendi:]

“Quanto às suas atividades

relacionadas com a instrução e educação

de crianças na Causa, o Guardião aprova

este tipo de trabalho no qual você está

engajada, pois sente que por seu intermédio

poderá trazer muitas almas à Fé. É

certamente muito mais vital do que

atividades puramente humanitárias, já

que seu propósito primário é o ensino da

Causa.

Nellie French e Leonora no topo

da fotografia com as meninas de

sua escola em Salvador, no ano

de 1937.

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253Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 22Uma Inclinação Especil para o Serviço Social

Entretanto, o Guardião não acha aconselhável que você concentretodos os seus esforços neste tipo de atividade bahá’í, e considera que seriaprematuro expandi-la além de sua amplitude atual.”3

[E de sua pena, Shoghi Effendi acrescentaria um novoalento ao coração de Leonora.]

“Possa o Bem-Amado guiá-la em seus passos, alegrarseu coração, realizar suas esperanças, remover todos os obstáculosde seu caminho e capacitá-la a estabelecer uma base firme paraSua Fé e Suas instituições!”4

[Leonora respondeu:]

“Está sempre em minha mente sua injunção relacionadaao trabalho com as crianças de que atualmente não devo ampliá-lo para além da amplitude já atingida nem concentrar todos osmeus esforços neste tipo de atividade bahá’í. Tenho tentado tudopara encontrar uma pessoa mais competente para ajudar naescola, a fim de que eu possa ter mais tempo livre para dedicara outras etapas do trabalho.

Foi uma grande decepção saber que a srta. Eve Nicklinnão podia permanecer neste país em função das novas restriçõesem relação a estrangeiros. Parece estranho que quandofinalmente, depois de tantos anos, outra instrutora é enviada àAmérica do Sul, surge este obstáculo. Tinha tanta esperança deque juntas seríamos capazes de formar um grupo maior aqui.”5

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Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

Loulie Mathews

Nellie French

M. Kevorkian de Aleppo,pioneiro na Argentina.

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Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

s visitas de duas coordenadoras do ComitêInter-Americano, primeiro da sra. NellieFrench e depois da sra. Loulie Mathews,

em 1937, possibilitaram oportunidades especiais dereuniões em minha casa, às quais convidei todos osamigos de língua inglesa, principalmente alguns doshóspedes-clientes que estavam interessados em ouvirsuas palestras sobre a Fé Bahá’í, e, por intermédio ded. Anfrísia Santiago*,1 conseguimos que a sra.Mathews fosse apresentada ao eminente educador eescritor, dr. Pedro Calmon,2 a quem visitamos no Riode Janeiro, pois acompanhei a sra. Mathews até o Rioa fim de falar a um grande grupo de professores. Elafalou também na Associação Cristã de Moças do Rio ea um grupo de sufis em sua sede, a convite dos meusamigos ingleses de muitos anos, sr. e sra. Best. Foi nessaocasião que pedimos a uma velha amiga da Bahia, queentão vivia em Copacabana, sra. Helen Cooper, quecuidasse de toda a literatura bahá’í e permitisse dar seuendereço como o centro de distribuição no Rio.Durante anos, este foi o único centro e Helen e suamãe, a sra. Lawrence, que particularmente amava asorações bahá’ís, também distribuíram muitos folhetosbahá’ís entre seus próprios amigos e alunos.

23INSTRUTORES VIAJANTES ESPECIAIS

CHEGAM PARA AJUDAR

A

*Anfrísia Santiago (1894-1970).Reconhecida educadora e histo-riadora. Juntamente com MargotWorley fundaram na Bahia oMovimento das Bandeirantes.

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256Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

[O amado Guardião, posteriormente, escreveria oseguinte a respeito da memorável visita da sra.Mathews:]

“O impulso que a visita da sra. Mathews deu às suas

atividades de ensino, estou certo, irá capacitá-la a ampliar o

âmbito e aprofundar a influência de seus magníficos e generosos

esforços para o estabelecimento da Fé de Deus nesse distante

país. Orarei para que seu histórico trabalho, feito com tamanha

diligência, devoção e lealdade possa ser coroado com notável

sucesso. Sempre a lembrarei nos Santuários Sagrados. Esteja

certa disto.

Seu verdadeiro e grato irmão, Shoghi”3

[Sob a constante motivação de Shoghi Effendi, novosgrupos de devotados crentes americanos continuarama viajar a todas as partes do continente. Algunsvisitaram o Brasil, trazendo o apoio e o auxílionecessários àquela ainda solitária pioneira.]

“A Bahia tem sido, nesses últimos tempos, imensamente

favorecida pelas visitas de instrutores bahá’ís. Primeiro, em

janeiro, vieram o sr. e sra. E. R. Mathews, depois, no mês

passado, o sr. e a sra. Stuart French e o sr. M. Kevorkian de

Aleppo, com sua família. Todas estas visitas foram muito curtas,

sendo que a mais longa foi a metade de um dia, mas todas

trouxeram fragrância espiritual e encorajamento ao nosso

pequeno grupo solitário daqui. Fiquei especialmente emocionada

por conhecer os Kevorkians que vieram diretamente de Haifa e

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257Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

trouxeram um pouco da inspiração que se recebe ao se visitar

aquele Lugar Sagrado e da associação com os membros da

Família Sagrada. Agradeço-lhe sinceramente por lhes pedir que

parassem aqui para me ver. Espero permanecer em contato com

eles por correspondência agora que eles estão se estabelecendo na

América do Sul. ... É muito reconfortante saber que, finalmente,

há instrutores bahá’ís residindo em outros países da América

do Sul e que estão todos trabalhando em conjunto sob a orientação

do Comitê Inter-Americano. Tenho tido contato por

correspondência com a sra. Dodge, que agora está residindo no

Peru, e fiquei feliz por ter a oportunidade de lhe enviar literatura

em espanhol para distribuir naquele país. Houve cooperação

ainda de outra fonte: uma das bahá’ís da Alemanha, Elsa

Grossmann*, me mandou endereços de amigos que moram no

Brasil, aos quais eu poderia enviar literatura em português e,

em resposta, recebi cartas com grande demonstração de apreço e

gratidão.”4

CONCENTRANDO ESFORÇOS

NO ENSINO A BRASILEIROS

[Por intermédio de seu secretário, Shoghi Effendiencorajou Leonora a concentrar seus esforços paraencontrar almas receptivas entre os brasileiros.]

“O problema da conversão de pessoas nativas, conforme

você acertadamente diz, é extremamente difícil. Entretanto, até

*Elsa Maria Grossmann: bahá’íalemã que na Cruzada Mundialde Dez Anos saiu como pioneirapara as Ilhas Frisian, inscrevendoseu nome na “Lista de Honra”dos “Cavaleiros de Bahá’u’lláh”.

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Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

que ele seja resolvido, ainda que parcialmente, não pode haverqualquer esperança de estabelecer a Causa firme epermanentemente nos países da América do Sul. Evidentemente,estrangeiros têm que começar o trabalho. Porém, seu trabalhodeve se concentrar principalmente em encontrar os caminhos emeios através dos quais os nativos possam ser conquistados paraa Causa.

É nisto, portanto, que o Guardião deseja que você seconcentre. Seus objetivos imediatos devem ser reunir um pequenogrupo de iniciantes, cultivar e aprofundar seu interesse naMensagem, fazer com que a aceitem integralmente e lhes dar aamplitude, bem como, o estímulo para ajudar a difundi-la entreseus compatriotas. Quando tal grupo de bahá’ís nativos forestabelecido, você pode, então, ter certeza de que o trabalho há decontinuar progredindo, com alguns leves reveses, é claro, massem qualquer risco sério.

Sua tarefa, embora extremamente difícil, não é de modoalgum irrealizável. Sua perseverança pode e, sem dúvida, há deremover qualquer obstáculo que possa ameaçar o progresso deseu trabalho. O Guardião está constantemente orando por vocêpara que Bahá’u’lláh continue a lhe proteger, guiar e fortalecerem seu magnífico e pioneiro trabalho para o estabelecimento daFé na América do Sul.”5

[Leonora procura agir imediatamente.]

“Ao receber sua carta de 26 de julho, na qual o senhorme estimula a me concentrar em reunir um grupo de iniciantes

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259Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

entre os brasileiros, resolvi envidar um grande esforço e, após

consultar com os poucos que têm participado das reuniões mais

regularmente, decidi alugar, no distrito industrial onde estas

pessoas moram, uma casa para nossas reuniões, numa

localização mais acessível do que aquela na qual vínhamos nos

reunindo nos últimos anos, e uma casa melhor, em uma

vizinhança mais tranqüila, à qual podemos convidar algumas

pessoas de uma classe melhor. Encontramos uma bem próxima

à principal rua do distrito e embora fosse maior do que

precisávamos e mais cara, no mesmo dia em que fomos vê-la,

soubemos de uma família que ficaria feliz em ocupar a metade

da casa e dividir a despesa. E, no mesmo dia em que alugamos

a casa, meus rendimentos aumentaram na quantia exata

necessária para alugar a parte da frente que havíamos reservado

para nossas reuniões! Como minha situação financeira estava

pior do que no ano passado, este aspecto foi um tanto

problemático, porém, como no dia em que recebi sua carta

ocorreu-me que a primeira coisa a fazer era arranjar um local

de reuniões mais adequado, senti que deveríamos seguir em

frente com fé – e dizer isto tornou tudo muito fácil! Inauguramos

nosso novo centro com uma comemoração no dia do aniversário

do Báb, e havia vários contatos novos, um dos quais pareceu

particularmente impressionado e prometeu trazer outras pessoas.

Houve mais pessoas novas na nossa segunda reunião ontem, e

estamos bastante encorajados e esperançosos de que isto marque

o início de uma nova fase de atividades.

Agora estou muito ansiosa para imprimir a tradução de

‘As Palavras Ocultas’ e das orações, para usá-las em nossas

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260Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

reuniões. Isto parece, no momento, talvez uma necessidade aindamais urgente do que o ‘Íqán’ e ‘Respostas a Algumas Perguntas’,ambos os quais evidentemente também gostaria de publicar eespero, cedo ou tarde, fazê-lo.”6

[Esta resposta plena de confirmações e entusiasmo departe de Leonora levou uma alegria especial ao cora-ção de Shoghi Effendi, que por intermédio de seu se-cretário respondeu:]

“Sua especialmente bem-vinda carta de 28 de outubroestá à mão e lê-la atentamente trouxe grande alegria ao coraçãodo Guardião. A notícia do novo centro de reuniões que vocêescolheu para as suas reuniões e sobre o interesse sempre crescentecom que os amigos estão estudando a Mensagem realmente oinspiraram e confirmaram sua esperança para a futuraexpansão e consolidação da Causa no Brasil. Ele particularmentenutre a esperança de que a Bahia logo se desenvolverá em umdestacado centro bahá’í na América do Sul. Sua gratidão peloauto-sacrifício e constantes esforços que você está envidando paraesse fim é sem limites. Ele se sente confiante de que sua exemplarfirmeza e devoção irão resultar em um glorioso triunfo paranossa amada Fé e servirão para estimular os amigos a umrenovado e vigoroso esforço no pioneiro trabalho bahá’í. Que oBem-Amado sempre a proteja e ampare em seu trabalho e acapacite a atingir plenamente o desejo mais acariciado e ardentede seu coração!

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Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

Em suas orações nos Santuários Sagrados, o Guardiãoestá continuamente suplicando a Bahá’u’lláh em seu nome, paraque através de Suas confirmações você possa ser guiada eamparada em seu trabalho para o estabelecimento de Sua Fé noBrasil.”7

[Como de costume, Shoghi Effendi adicionou docespalavras de sincera estima por Leonora.]

“… Minha admiração por sua devoção e firmeza éprofunda e sempre crescente.

Seu verdadeiro irmão,Shoghi”8

[Em verdade, era esta contínua torrente de sinceroencorajamento o que movia Leonora e a fazia sentir-secapacitada a perseverar e seguir adiante, superando seusenso de inaptidão pessoal. Não demoraria muito paraela enviar notícias de um novo progresso em suas ati-vidades.]

“Sua carta… trouxe bastante encorajamento e renovounossa esperança de que até mesmo aqui na Bahia, onde ascondições pareciam tão desfavoráveis, logo poderemos ter umabem organizada e ativa Assembléria Espiritual. Seus elogiossobre os meus esforços me enchem de vergonha e remorso por elesnão terem sido maiores. Constantemente, digo para mim mesma:‘Esta Causa é tão grandiosa e gloriosa, de importânciaabsolutamente suprema – como é que não foi enviado alguém

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Capítulo 23Instrutores Viajantes Especiais Chegam para Ajudar

mil vezes mais eloqüente do que eu e de uma fé mais radiante edinâmica para agitar os corações dessas pessoas que parecem tãoimersos em superstição e materialismo?’ No entanto,ultimamente tenho tentado mais vigorosamente, e esperocontinuar tentando, pelo menos até que venha alguém que sejamais capaz do que eu para levar o trabalho avante.” 9

Leonora e um grupo de bahá’ís ecrianças no bairro da Calçada,em Salvador, em 1937.

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263Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

[A pedido do Guardião, Leonora já havia iniciado háalgum tempo a tradução do livro Kitáb-i-Íqán para oespanhol. Em suas orações, ela orava fervorosamentepara ser auxiliada nesta estupenda tarefa, pois já sus-peitava das enormes dificuldades que encontraria pelafrente. O trabalho havia se iniciado por volta de 1934e ainda prosseguia com certa lentidão. Ela agora es-creveria ao Guardião com informações mais recentessobre o andamento do trabalho.]

uanto à tradução do Íqán, está praticamenteterminada e, agora, acredito ter encontrado

a pessoa certa, uma jovem brasileira,professora em uma das escolas daqui, para revisar a traduçãocomigo e fazer qualquer mudança necessária.”1

[Sobre essa jovem professora, Leonora faria um escla-recimento mais tarde:]

A única pessoa que consegui encontrar para meajudar foi uma freira espanhola, cuja madre superiorarecusou-lhe permissão para ler minha tradução, mas

24A TRADUÇÃO DO LIVRO DA

CERTEZA PARA O ESPANHOL

“Q

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

quando implorei à madre, ela finalmente consentiu quea freira me ajudasse, mas ela poderia ler apenas frasesdesconexas, somente aquelas sobre as quais eu maistinha dúvida!

[O processo de revisão e publicação ainda tomaria al-gum tempo, antes de estar completamente concluí-dos. Ainda assim, contínuos sinais de encorajamentoviriam da parte de Shoghi Effendi.]

“Estou encantado com a notícia que está me dando e desejo

lhe assegurar pessoalmente as minhas contínuas, amorosas e

fervorosas orações para a realização de suas mais acalentadas

esperanças. Ficarei muito feliz em saber sobre a publicação do

Iqán em espanhol, e a mencionarei na próxima edição do The

Bahá’í World. Você poderia ter a gentileza de enviar ao meu

endereço cem exemplares assim que o livro for impresso?

Eu os colocarei na biblioteca da Mansão de Bahá’u’lláh

junto ao Seu Túmulo Sagrado.”2

[Considerando como urgente e vital a publica-ção do Íqán em espanhol, o Guardião logo vol-taria a ao assunto com Leonora.]

“...Ele sente-se bastante seguro de que, através de

seus sábios e enérgicos esforços, o trabalho será completado

com o mínimo atraso possível. Ele está certo de que você

não medirá esforços em relação a isto.

Capa da histórica primeira

edição em espanhol do ‘O

Kitáb-i-Íqan - O Livro da

Certeza’, de Bahá’u’lláh,

traduzido e publicado no

Brasil por Leonora, em 1937,

a pedido de Shoghi Effendi.

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

Certamente, será de encorajamento e estímulo para vocêsaber que a impressão deste mesmo livro em sueco estáprosseguindo satisfatoriamente e os editores esperam ter o livropronto para distribuição até o final deste mês. Esta, sem dúvida,é uma notícia muito animadora.

Grato por sua apreciação sobre a mais recentecomunicação geral do Guardião: ‘O Desenvolvimento daCivilização Mundial’. Ele espera que você faça um estudoprofundo deste panfleto, o qual ele confia que você certamentetambém utilizará em seu trabalho de ensino. Seu oferecimentopara traduzi-lo para o espanhol é realmente esplêndido e contacom a total aprovação do Guardião.”3

[Finalmente, no final de 1937, a tradução do Kitáb-i-Íqán foi completada e publicada. Exemplares foramenviados à Terra Santa e distribuídos para o trabalhode ensino por todo o continente e outras partes doplaneta:]

“Os cem exemplares da tradução em espanhol do Íqánque o senhor pediu para lhe mandar assim que o livro fosseimpresso, foram enviados há cerca de um mês e confio que tenhamchegado em segurança. Também, a pedido da sra. ..., outroscem foram enviados a Nova Iorque para o uso de instrutoresbahá’ís que podem ir a várias partes da América Latina. Enviei,ainda, alguns exemplares a sra. ..., na Argentina e à sra. ..., noPeru.”4

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

[Esta publicação foi uma fonte de grande alegria parao amado Guardião que através de seu secretárioescreveu:]

“…ele está realmente e imensamente satisfeito e gratoem saber que finalmente esta importante publicação está prontae disponível em quantidade suficiente para objetivos de ensinoem todos os países de língua espanhola. Este livro é o maisesperado e oportuno sob o ponto de vista da campanha de ensinoque agora está sendo organizada e eficientemente conduzida naAmérica do Sul, e se espera que sua circulação ocasionará umamplo despertar e intenso interesse na Causa entre todos ossetores da população.

O Guardião lhe é indescritivelmente grato por estehistórico serviço que prestou à Fé, assumindo pessoalmente atradução do livro e por ter aceitado tão gentilmente providenciarsua publicação...”5

[E ainda:]

“…O livro está lindamente impresso e muitoconveniente, é uma das publicações mais oportunas em vistadas atividades de ensino que estão sendo intensamente executadasem várias partes da América do Sul e que precisam de umnúmero crescente de publicações bahá’ís em espanhol.”6

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

NOVAS TRADUÇÕES E PUBLICAÇÕES

[O trabalho de tradução, revisão e publicaçãocontinuaria sem interrupção nos anos seguintes. Mas,a qual livro dar agora prioridade? Esta perguntamerecia ser feita ao amado Guardião:]

“Como a edição em português do livro de Esslemont estáagora esgotada, estive pensando que uma nova edição nestalíngua, seguindo a edição em inglês revisada, pode ser o trabalhomais importante para que eu execute em seguida. A idéia deum periódico bahá’í mensal como o que publicamos aqui háalguns anos, no qual artigos retirados do ‘World Order’ possamser publicados em espanhol ou português ou em ambas as línguas,também me ocorreu como digno de ser tentado novamente, emboranão saiba se o senhor consideraria aconselhável neste momento,nem tenha certeza de poder contar com a necessária cooperação.Envidarei, contudo, todo esforço para assim fazer, se o senhoraprovar tal tentativa.”7

[No momento em que os primeiros rudimentos deuma futura administração bahá’í* começava a criarraízes no continente, Shoghi Effendi escreveria:]

“Em relação à sua sugestão de se fazer uma nova ediçãoem português do livro de Esslemont, seguindo a recém-revisadaedição em inglês e também sua idéia de um periódico bahá’í mensal,

*“O trabalho de ensino nocontinente progrediu firmementeaté o ponto em que, em 1937, oamado Guardião lançou seuprimeiro Plano de Sete Anospavimentando o caminho para osPlanos subseqüentes da instituiçãoda Ordem Administrativa deBahá’u’lláh em cada uma de suasrepúblicas e ilhas.”8

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

no qual se possa publicar artigos tanto em português como emespanhol, ele lhe aconselharia a consultar com o Comitê Inter-Americano quanto à conveniência de quaisquer ações quanto aestes assuntos no momento atual. Ele está certo de que atravésde tal cooperação você será guiada em promover os melhores emais vitais interesses da Fé por toda a América do Sul.”9

[Tais consultas com o Comitê Inter-Americano deEnsino viriam a se revelar mais tarde uma necessidadepara o contínuo crescimento da Causa na AméricaLatina e também uma forma prática de cooperação eajuda mútua, ademais da orientação, guia e o amor queconstantemente fluíam diretamente do Centro daCausa.]

“Desde o início deste ano [1939], tenho sentido a urgênciade novamente visitar outras regiões do Brasil e quando,inesperadamente, surgiu uma oportunidade de dispor de umapequena propriedade, que no decorrer desses anos fuigradualmente adquirindo na Bahia; senti claramente que estavasendo provida do meio material para este propósito e, então,peguei o primeiro barco. ... Em diversas cidades, fiz novos contatose renovei os antigos; no Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Vitóriae Maceió, embora tenha passado a maior parte do tempo em SãoPaulo trabalhando no livro de Esslemont e, também, fazendo atradução de ‘Security for a Failing World’. O prof. Cobb medeu permissão para publicar este livro aqui, na esperança deque possa ser valioso para a Causa neste país...

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

É uma grande alegria saber que tantos pioneiros estãoagora vindo para a América Latina, como Wilfrid Barton, quefiquei muito feliz em conhecer na residência dos Worley emSantos. Nós todos discutimos planos para trabalhar em nossosdiferentes campos e juntos passamos algumas horas muitoproveitosas, lendo e orando em favor da difusão da Fé nestecontinente sul-americano.”10

Como a alguns anos atrás na Bahia, os meios deimpressão eram bastante primitivos, sendo que aprimeira edição de Bahá’u’lláh e a Nova Era emportuguês levou mais de um ano para ser impressa ecada capítulo precisou ser corrigido quatro vezes oumais, no verão de 1939, tive a idéia de ir a São Paulopara imprimir a segunda edição. Assim que chegueilá, telefonei à sra. Lilly Krug, a quem conheci porintermédio de um americano conhecido meu que viviaem Santos, em 1921, e fiquei emocionada em saberque ouvira sobre a Fé nos Estados Unidos e tivera aesperança de ir com sua amiga Louise Redfield visitar‘Abdu’l-Bahá. A sra. Krug lembrou de mim e meconvidou para ficar com ela, pois morava sozinhatendo seu marido já falecido. Foi muito mais agradáveldo que ficar no tipo de hotel que eu conseguia pagar,além do que, na residência da sra. Krug, fiz algunscontatos interessantes, entre eles sua nora, cuja irmãme deu alguma ajuda na revisão da minha traduçãodo livro de Stanwood Cobb, Security for a FailingWorld [Segurança para um Mundo Decadente], no qualeu trabalhava na época, e que uma conhecida editora

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Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

quase aceitou editar como sua própria publicação, bemcomo o livro de Esslemont. Desfrutei a hospitalidadeda sra. Krug durante alguns meses e, como tinha todoo tempo livre para trabalhar nesses livros, a “Nova Era”foi terminada rápida e economicamente. No entanto,sempre me repreendi por não ter dedicado mais tempoà sra. Krug enquanto permaneci em sua casa, poisembora me lembre de que, algumas vezes, fazíamosorações juntas, penso que não falei com ela sobre a Féo suficiente para que se tornasse uma bahá’í – estavasempre muito ocupada com minhas traduções.

Enquanto estava em São Paulo, tive aoportunidade de ir a Piracicaba visitar Isabel Rehder,uma velha amiga do dr. Hermann Grossmann11 e suairmã Elsa, do tempo de escola na Alemanha, a respeitode quem eles me haviam escrito e com quem eumantinha correspondência. Isabel tinha algum interessena Fé e me levou para visitar alguns amigos emPiracicaba para falar sobre a Fé e lhes oferecer algumaliteratura.

Prédio na rua principal dacidade de Piracicaba, interior deSão Paulo, em 1939, ano emque Leonora visita aquela cidadecom o intuito de levar a Fé aum contato da Mão da Causade Deus dr. Grossmann.

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271Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 24A Tradução do “Livro da Certeza” para o Espanhol

ogo antes de partir para a Espanha, em1930, dois jovens ingleses alugavam

quartos em minha casa e, umdeles, Harold Armstrong,quando voltei, começou a

demonstrar interesse em conversar comigo, contando-me seus problemas, sobre suas três filhas que estavamsendo educadas em internatos na Inglaterra, sendo quea mãe delas havia morrido quando do nascimento dafilha mais nova, e que ele tinha que gastar tudo que

ganhava na educação delas, nãosendo capaz de pagar nem mesmouma viagem para ir visitá-las.Gradualmente, nos tornamos bonsamigos. Porém, a Companhia deEnergia Elétrica e de Bonde, para aqual Harold trabalhava, transferiu-opara o Recife.

Em 1939, com a deflagração daguerra, ele temia pela segurança desuas filhas que se encontravam emuma área muito exposta, e me foipossível lhe ser de alguma ajuda paratrazê-las para o Brasil em novembro.

25COMO LEONORA CONHECE

SEU FUTURO MARIDO

LLeonora e suas futuras enteadas,Mary e Margareth, que vieramficar com o pai por causa da IIGuerra Mundial. Foto tiradana cidade de Recife, por volta de1940.

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272Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 25Como Leonora Conhece seu Futuro Marido

Fui para Recife logo após a chegada delas a fim deajudar a encontrar uma casa adequada e organizá-laaté certo ponto. Então, voltei à Bahia deixando-os paradesfrutarem o Natal juntos – pela primeira vez em dozeanos! Apenas três semanas depois, um cabogramatrouxe a triste notícia da súbita morte da filha mais novacausada por paralisia infantil, e pedia que, se possível,eu fosse visitá-lo – e foi o que fiz, sabendo quão severofoi esse golpe tanto para Harold como para sua outrafilha Mary.

[Leonora veio mais tarde a casar-se com o sr. HaroldArmstrong, em agosto de 1941, na cidade de Recife,tornando-se um firme apoiador das inúmeras atividadesde Leonora*.]

*Vide capítulo 29, p. 291.

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273Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 25Como Leonora Conhece seu Futuro Marido

o início de fevereiro, chegou aanimadora notícia de que May Maxwellestava no Rio! Uma carta anteriorfalando-me de sua intenção de viajar

não havia chegado às minhas mãos. Peguei o primeirobarco para o Rio, pois este era um acontecimentograndioso pelo qual eu ansiara e rezara por muitos anos– a vinda de May para o Brasil. Grupos de amigos, amaioria dos quais eram velhos contatos da Bahia,compareceram a dois chás oferecidos no Hotel Glória,para ouvir May falar sobre a Fé. Todos ficaramimpressionados com suas iluminadas e inspiradoraspalestras, com sua radiante personalidade, seu encantoe sua profunda espiritualidade.

Depois de ver May partir em sua viagem à BuenosAires, acompanhada por sua sobrinha, Jeanne Bolles,voltei mais que depressa à Bahia, a fim de começar,imediatamente, os preparativos para a visita que Mayprometeu fazer na sua volta – a visita que por tantotempo eu ardentemente desejara. Havia tantas pessoassinceras na Bahia que há muito sabiam sobre a Fé e,em diferentes graus, simpatizavam com ela, que sempretive a impressão de que só precisavam ouvir aseloqüentes palavras de May, testemunhar sua absoluta

26A VIAGEM DE MAY MAXWELL À

BUENOS AIRES EM 1940

N

Hotel Glória, no Rio de Janeiro,local da estadia de May noBrasil a caminho de BuenosAires. May Maxwell e JeanneBolles receberam Leonora eMargot Worley para o chá datarde neste hotel em 1940.

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274Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 26A Viagem de Msay Maxwell à Buenos Aires em 1940

convicção, sentir seu amor – para serem levadas a dar“aquele passo” – o de realmente entrar na Fé. Parecia-me que esta cidade que o Mestre havia destacado comuma menção especial iria receber essa bênção. Mas,infelizmente, não era para ser assim! Ao chegar à Bahia,encontrei dois cabogramas esperando-me. Um com atrágica notícia de sua morte e o segundo trazia-me agenerosa oferta do bahá’í americano Wilfrid Bartonde pagar minha passagem de avião para Buenos Airese todas as despesas, se eu pudesse ir ao funeral. Emalgumas horas parti, a fim de estar presente e participardo funeral da minha bem-amada May Maxwell. Porvários dias, permaneci com Jeanne em Buenos Aires,onde tive o prazer de encontrar os bahá’ís de lá,especialmente a família Kevorkian, que, a pedido do

Telegrama de Jeanne Bolles àLeonora avisando da morte deMay Maxwell.

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275Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 26A Viagem de Msay Maxwell à Buenos Aires em 1940

Guardião, havia conhecido na Bahia quando chegaramà América do Sul, e pude também conhecer os bahá’ísde Montevidéu.

[Os meses seguintes seriam repletos das ainda frescasmemórias de sua querida amiga May Maxwell, daque-la bem-amada serva de ‘Abdul’l-Bahá. Ela havia con-quistado a coroa do martírio ao falecer em plena arenado serviço, na Argentina. Leonora sentiu-se “profun-damente abatida pelo pesar diante deste real e tristeacontecimento”, ainda que, por outro lado, houvesseagora se inspirado em May e estava determinada a de-dicar-se mais do que nunca antes aos melhores inte-resses da Causa de Deus.]

“A triste ocasião que nos reuniu continua viva em minhamemória e não consigo encontrar palavras para expressar meupesar diante da morte da querida May Maxwell. Sei quãoprofundamente o senhor sente sua perda, amado Guardião, equaisquer palavras de condolências que eu possa oferecerparecerão completamente inadequadas. Para mim, assim comopara muitos outros que em todo o mundo bahá’í a amavamprofundamente, a perda é irreparável. No entanto, souprofundamente grata por sua visita a este país, no qual tenhotrabalhado por tanto tempo, e que tantas vezes ela manifestou odesejo de visitar, e o pensamento de que ela realmente falou aalgumas das pessoas que eu tanto ansiara que a conhecessem –que sua derradeira palestra foi para o pequeno grupo no Rio –é uma fonte de conforto para mim e, ao mesmo tempo, um estímulo

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Capítulo 26A Viagem de Msay Maxwell à Buenos Aires em 1940

para esforços bem maiores. Uma amiga inglesa disse que apalestra da sra. Maxwell no Rio foi a mais interessante que elaouviu em toda a sua vida e, desde então, ela está estudando osEnsinamentos. Todos sentiram o encanto de sua radiantepersonalidade, bem como, sua profunda espiritualidade. Suavisita foi realmente uma grande bênção para este país – umabênção cuja verdadeira grandeza talvez somente o futuro haveráde revelar.

Estou profundamente grata também, porque me foipermitido estar presente àquela histórica cerimônia em BuenosAires. Sinto-me em grande débito com Wilfrid Barton, cujagenerosidade em custear as despesas da minha viagem de aviãotornou isto possível.

Foi um grande prazer também estar com Jeanne Bollesem Santos e São Paulo, onde tivemos algumas boas oportunidadesde ensino. Em todo lugar, as pessoas sentiam-se extremamenteatraídas por Jeanne, e estou muito feliz por ela ter decididopermanecer na América do Sul para ensinar, pois tenho certezade que fará um excelente trabalho.”1

[Agora ao retornar de Buenos Aires – maio 1940 –após ter estado presente ao funeral de May Maxwell,Leonora veio com uma firme decisão: redobrar seusesforços no campo do ensino. Os amigos da Bahia es-creveram ao Guardião “transmitindo a ele suas con-dolências pelo passamento da querida sra. Maxwell”,ao que Shoghi Effendi respondeu através de seu se-cretário.]

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277Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 26A Viagem de Msay Maxwell à Buenos Aires em 1940Túmulo de May Maxwell emBuenos Aires.

“Queridos amigos bahá’ís,Sua mensagem conjunta, datada de 16 de março, dirigida

ao nosso amado Guardião, transmitindo-lhe suas condolênciaspelo passamento da querida sra. Maxwell foi recebida e seucoração, tão profundamente abatido pelo pesar diante desteacontecimento realmente triste, foi, de fato, imensamente

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278Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 26A Viagem de Msay Maxwell à Buenos Aires em 1940

confortado por suas bondosas palavras e, mais especialmente,

pela certeza que vocês manifestaram no sentido de redobrar seus

esforços no prosseguimento de sua missão de ensino na América

do Sul.

Certamente, a perda que os crentes americanos, e mais

especialmente a força do ensino, terão de suportar pela súbita e

inesperada ausência de uma tão determinada e capaz promotora

da Causa é extremamente pesada, mas certamente ela pode, no

decorrer do tempo, ser compensada pela determinação,

desenvoltura e abnegação que os instrutores e pioneiros da Causa

estão demonstrando cada vez mais na condução da campanha

de ensino que se estende diante deles no Plano de Sete Anos.

Eles devem, cada um e todos, colher da vida e do trabalho

da sra. Maxwell um tal exemplo de firme, abnegado e construtivo

serviço que venha inspirá-los a seguirem seus passos fiel e

incessantemente e se esforçarem por atingir o elevado propósito

que ela própria tão notável e merecidamente atingiu no serviço à

nossa amada Fé.

Aproveito esta oportunidade para lhes transmitir os

melhores votos e orações do Guardião para a continuidade de

seu trabalho de ensino no Brasil e as mais calorosas saudações.”2

[E de seu próprio punho:]

“Que o Bem-Amado de nossos corações possa ajudá-los

a trabalhar dedicadamente e incessantemente quanto nossa

ternamente amada e intrépida pioneira, sra. Maxwell, e assisti-

los a levar avante o trabalho pelo qual ela deu sua vida, dando

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279Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 26A Viagem de Msay Maxwell à Buenos Aires em 1940

assim um tão nobre exemplo àqueles que trabalharão depoisdela na Vinha Divina!”3

Mais tarde, Jeanne e eu trabalhamos juntas paraa Fé em São Paulo, em Santos e, por fim, no Rio deJaneiro, onde alugamos um apartamento e realizamosmuitos firesides. Em função de alguns artigos de jornal,quando da chegada de Jeanne ao Rio de Janeiro, umasenhora austríaca, sra. Barasch, que, certa vez, haviarecebido Martha Root em sua casa em Viena, telefonoupara um hotel após outro até localizar Jeanne. Ela nosconvidou para sua residência, onde conhecemos váriosamigos do dr. e sra. Barasch, dois dos quais,posteriormente, tornaram-se membros da primeiraAssembléia Espiritual Local do Rio de Janeiro.

Uma palestra sobre poetisas americanas a que fuiconvidada a dar em uma reunião cultural no “InstitutoBrasil-Estados Unidos” foi a maneira pela qual fiqueiconhecendo várias pessoas interessantes e tambémpossibilitou que me pedissem para dar aulas de inglêsas quais eles estavam apenas começando a pensar emorganizar. Alguns dos meus alunos ficaraminteressados na Fé e a mãe de um deles, mais tarde,tornou-se membro da Assembléia Espiritual Local.

Jeanne Bolles, sobrinha de MayMaxwel que após a morte de suatia retorna com Leonora ao Riode Janeiro e a ajuda no ensinoda Fé naquela cidade.

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280Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

Tapete enviado como presente deShoghi Effendi à primeiraAssembléia Espiritual Local deSalvador, Bahia. Ao redor doMáximo Nome na parte centraldo tapete se lê a seguinte Ode deBahá’u’lláh: “Se for o teuobjetivo apreciar a tua vida, nãote aproximes de Nossa Corte;mas se o sacrifício for o desejo deteu coração, vinde e deixai queoutros venham contigo. Pois talé o caminho da Fé, se em teucoração procurares reunião comBahá. E se recusares trilhar estecaminho, porque importunar-Nos? Ide!”1

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281Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

[Em outubro de 1939, Leonora havia escrito a ShoghiEffendi comentando sobre seu plano de ajudar naformação da primeira Assembléia Espiritual Local daBahia:]

stou planejando passar a maior parte do mês de

dezembro [1939] com o pequeno grupo na

Bahia e tenho bastante esperança de que,

desta vez, está se confirmando um número suficiente de pessoas

que nos permitirá eleger uma Assembléia, pois ultimamente tem

havido notáveis sinais de crescimento. Um dos mais antigos

crentes, agora um homem de idade avançada, ofereceu-se como

voluntário para ir a uma viagem de ensino pelo interior do Estado

da Bahia, onde conhece muita gente. Um jovem estudante de

direito,2

talvez o mais brilhante que a Bahia já viu, que ganhou

todos os prêmios da grande Academia Jesuíta e cujo retrato,

afixado no salão de honra – uma distinção raramente, ou talvez

jamais concedida a um estudante – foi retirado por um dos

padres por causa de sua adesão à Causa. Seu retrato foi removido

do salão de honra, mas ele estava feliz por ter tido a oportunidade

de dizer ao padre quem era Bahá’u’lláh e ter falado

eloqüentemente com ele por cerca de uma hora!”3

27

“E

A PRIMEIRA ASSEMBLÉIA

ESPIRITUAL LOCAL DO BRASIL

Fotografia da década de 1930

do dr. Menandro Falcão que foi

removida do salão de honra da

Academia Jesuíta por ele ter

defendido a Causa Bahá’í.

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282Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

[Leonora havia recém-retornado de sua viagem à Ar-gentina, onde participou das despedidas finais desua amiga May Maxwell. De alguma forma haviaretornado com a determinação inquebrantável de con-cretizar esse importante passo, o da formação da pri-meira Assembléia Espiritual Local da Bahia. Mais tar-de ela escreveria:]

“Desde meu retorno à Bahia, há mais ou menos um mêsatrás, estive trabalhando muito para organizar os meuscompromissos de tal modo que possa ter uma pequena renda dacasa que adquiri, que permitirá dedicar todo o meu tempo aotrabalho bahá’í e ficar livre para fazer ocasionais viagens deensino. Nesta casa, estou preparando um quarto de hóspedes noqual teremos grande satisfação em receber, como hóspede de nossaAssembléia, qualquer amigo bahá’í, para que ele ou ela possaprolongar sua estada tanto quanto possível. Foram os queridosKevorkian, com sua maravilhosa hospitalidade em Buenos Aires,quem me deram esta idéia. Foi realmente uma alegria estar comeles e também conhecer o grupo ensinado pela sra. Stewart, noqual há algumas pessoas adoráveis.”4

[Assim, depois de 20 anos de árduo trabalho para oprogresso da Causa neste vasto continente, Leonorapôde, finalmente, comunicar ao amado Guardião aformação da Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ísda Bahia, a primeira do Brasil e da América do Sul:]

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283Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

“... Tenho também a boa notícia a acrescentar de que

agora, com o retorno do sr. e da sra. Worley à Bahia, temos um

número suficiente de membros declarados para formar uma

Assembléia. Embora os brasileiros do grupo sejam adeptos fiéis

há anos, participando das reuniões, distribuindo literatura em

toda oportunidade e se esforçando para aplicar os princípios de

Bahá’u’lláh em sua vida diária, sempre hesitei em considerá-

los uma Assembléia, temendo que com sua mentalidade limitada

falhassem em apreender toda a importância da Fé. A querida

May Maxwell, no entanto, assegurou-me de que a própria

declaração de fé deles era suficiente, que se estivesse convencida

de sua sinceridade, deveríamos imediatamente nos eleger como

uma Assembléia. Há seis brasileiros que com o sr. e a sra. Worley

e eu completamos nove pessoas. São eles:

Antonia Miranda; Manoel Antonio dos Santos

Eugênio Miranda; Maria Rocha Santos

Hortência Monteiro Sacramento; Hilda Rocha Santos

Estes estavam entre os amigos que lhe enviaram uma

carta conjunta em novembro de 1929. Há outros dois que

sempre considerei como crentes e que prestaram os mais valiosos

serviços à Causa nos primeiros anos aqui, mas que agora, por

motivos familiares, não quiseram desempenhar conosco a função

de Assembléia.

O jovem estudante de direito* mencionado em minha

carta de outubro, que tem apenas 18 anos, está agora

trabalhando para formar um grupo de estudo entre seus colegas

para se reunirem uma vez por semana na minha casa. Ele tem

*Menandro Ramos NegreirosFalcão (1922-). Antigo contato deLeonora da década de 30 e 40ajudou nas primeiras traduçõesdos Escritos para o português, emespecial nas revisões. Estudou nofamoso Colégio dos Jesuítas(Colégio Antônio Vieira), onde sedestacou com diversos prêmios deExcelência. Bastante identificadocom os Ensinamentos e grandedefensor público da Causa, tevesua fotografia retirada do Hall deHonra da Escola por esse motivo.Formado em Direito, teve carreirabrilhante servindo inclusive comoPresidente do Tribunal Regionaldo Trabalho-Bahia (1979-81).Homem de vasta cultura, falandodiversos idiomas, doou suabiblioteca pessoal com mais de 8mil livros a distintas instituiçõeseducativas da Bahia.

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284Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

falado sobre a Fé a muitas pessoas e tem esperança de que umcerto padre escreverá um artigo no principal jornal da Bahiaatacando-a, pois acha que isto dará uma excelente publicidade.Há também uma jovem brasileira de 19 anos que está seriamenteestudando a Fé e ensinando a seus parentes e amigos.”5

[A notícia da formação da Assembléia Espiritual Localda Bahia trouxe muita alegria ao coração de ShoghiEffendi que, por intermédio de seu secretário,escreveu:]

“A notícia da formação da primeira Assembléia EspiritualLocal na Bahia alegrou-o e o encorajou de modo muito especial e eledeseja que transmita aos membros, cujos nomes ele anotou, suascarinhosas felicitações por este momentoso passo que eles deram, oqual, confiantemente, marca o início de uma nova era de constantee rápida expansão da Fé em todo o Brasil. Ele orará especialmentepor todos vocês, para que durante este ano seus serviços possam serricamente confirmados e que sua Assembléia possa funcionar com amáxima unidade e harmonia, e de tal forma que incite a inveja eadmiração das nossas recém-estabelecidas comunidades tanto naAmérica Central como do Sul.

… Ao terminar, o Guardião deseja que eu expresse seugrato reconhecimento ao trabalho de ensino que ultimamentevocê vem realizando em várias partes do Brasil. Ele certamenteorará para que você tenha sucesso em organizar seuscompromissos de tal modo que tenha mais tempo e liberdade

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285Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

para desempenhar, com maior vigor e intensidade do que antes,seu trabalho pioneiro para a Fé nesse país.”6

[O Guardião de seu próprio punho escreveuexpressando sua alegria:]

“Querida e apreciada colaboradora,Alegro-me em saber da formação da primeira Assembléia

Espiritual no Brasil e desejo parabenizá-la por seu sucesso quecoroou seus devotados e diligentes esforços. Orarei especialmentepela proteção de seus membros, a expansão de suas atividades ea consolidação de suas realizações. Vocês estão constantementeem meus pensamentos e orações nestes dias de turbulências, deperigo e contenda, e oro para que o Bem-Amado possa derramarSuas mais ricas bênçãos sobre vocês.”7

Visita do sr. e sra. Mottahedeh(casal à direita), provindos daTerra Santa trazendo umpresente de Shoghi Effendi paraa primeira Assembléia Espiri-tual Local do Brasil e daAmérica do Sul, eleita em 1940,em Salvador, Bahia. Na fotoalguns membros desta históricaAssembléia e alguns outrosmembros da comunidade.

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286Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

[Sob a guia de Shoghi Effendi, logo outros instruto-res bahá’ís viajantes viriam a Bahia trazer estímulo, alen-to e ajudar no crescimento das atividades. Um dessesprimeiros instrutores a virem à Bahia foi o casalMottahedeh*, quem trouxe em mãos um tapete, umpresente especial de Shoghi Effendi à recém-formada Assembléia. Leonora, entretanto, logo após aformação da Assembléia da Bahia teve que ausentar-setemporariamente da cidade de Salvador, passando al-guns meses no Rio de Janeiro, onde aproveitou parapreparar o caminho da formação da Assembléia da-quela cidade. Leonora assim escreveu sobre aquelesdias:]

“Foi uma grande dádiva para nós termos recebido a visitapor vários dias do sr. e da sra. Mottahedeh. Eles são os primeirosinstrutores bahá’ís que foram à Bahia expressamente com opropósito de realizar reuniões, sendo que os outros apenaspararam por uma ou duas horas enquanto seus navios estavamno porto. Embora não me tivesse sido possível estar na Bahiaenquanto eles se encontravam lá, ouvi acerca de seu trabalho eestou confiante de que sua visita foi benéfica para todos.

Aqui no Rio, tivemos duas reuniões nas quais o sr. e asra. Mottahedeh falaram e também duas nas quais a srta.Beatrice Irwin falou. A participação média dessas reuniões foide cerca de vinte pessoas. Houve a presença de alguns novosinteressados e outros que há vários anos conhecem a Fé esimpatizam com seus objetivos. De ambos os grupos, há algunsque agora estão estudando os Ensinamentos.

*SRA. MILDRED MOTTAHEDEH foiapontada por Shoghi Effendi em1947 para ser vir comoobservadora bahá’í credenciadajunto às Nações Unidas,mantendo-se neste cargo comovoluntária por quase vinte anos(Bahá’í World 12:597-98). Serviutambém como membro doConselho Internacional Bahá’í de1961 a 1963. Ver: Casa Universalde Justiça, Messages 1963 a 1986,p. 116.

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287Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

Através de um convite para dar uma palestra sobrepoetisas americanas no Instituto Brasil-Estados Unidos (umasociedade de intercâmbio cultural) organizada por uma senhoraamericana que conheci em Santos em 1921, foi possível fazermuitos contatos entre os intelectuais daqui – brasileiros,americanos e também refugiados políticos da Europa. Converseidiversas vezes sobre a Fé com alguns individualmente e é minha

Vista atual do Cristo Redentorsobre a cidade do Rio de Janeiro.

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288Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

*SRA. GERTRUDE EISENBERG. Saiucomo pioneira no início da CruzadaMundial de Dez Anos para as IlhasCanárias, inscrevendo seu nome no“Pergaminho de Honra destinadoa perpetuar à memória dasexplorações dos conquistadoresespirituais”. Ver: Shoghi Effendi,Messages to the Bahá’í World1950-1957, p. 51.

ardente esperança e súplica que alguns verdadeiros crentes possamresultar deste contato.

Acho que Joanne Bolles escreveu ao senhor sobre asreuniões semanais que temos tido aqui com um pequeno grupode refugiados austríacos que ouviu sobre a Fé em Viena atravésde Franz Pellinger e pelo menos um deles agora é bahá’ídeclarado.

A srta. Gertrude Eisenberg*, que conforme o senhor sabe,recentemente veio a este país, também está tendo muitasoportunidades de falar sobre a Fé, e ela espera permanecer aquiindefinidamente e manter contato com todos os que estivereminteressados.”8

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289Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 27A Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís do Brasil

[A decáda de 1930 a 1940 foi de grande distúrbio einstabilidade política no Brasil, com o surgimento demovimentos de diferentes tendências, incluindo algunslevantes regionais contra o governo. Mais e mais o paísse via afetado pela ascensão do nazismo na Alemanha,do fascismo na Itália, pela guerra civil espanhola e pelostalinismo na União Soviética. O Brasil acolheu grandesnúmeros de imigrantes destes países. Muitos dosimigrantes buscavam não apenas trabalho, mas tambémprocuravam se inserir na vida política e social do país,o qual acabara de adotar uma nova Constituição, em1934. Tal ambiente de crescente fermentação social deulugar ao aparecimento de distintas facções políticas ,tais como a Aliança Nacional Libertadora, apoiada pelaInternacional Comunista, a qual passava a desafiarabertamente o governo, suscitando o surgimento deum “estado de sítio”, com a conseqüente suspensãodas garantias constitucionais. Não seria de se estranharque diante de um clima de tantas incertezas osestrangeiros passassem a serem vistos sob um olhar desuspeita. Leonora seguia seus infatigáveis esforços dedifusão das fragrâncias divinas, mantendo vastacorrespondência com amigos e contatos em diversasregiões do Brasil e em outros países. Porém, em função

28PERSISTINDO EM MEIO A UMA

INÓSPITA ATMOSFERA POLÍTICA

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290Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 28Persistindo em Meio a uma Inóspita Atmosfera Política

da possibilidade de vir a ser objeto de eventualescrutínio, ela buscou manter uma rígida e cuidadosatransparência em suas comunicações, evitando serconfundida em suas atividades de difusão dosEnsinamentos com qualquer atividade política. Umavez, durante aqueles dias, ao receber certacorrespondência contendo material de evidente cunhopolítico, ela respondeu imediatamente, chamando aatenção do remetente quanto à impropriedade de seuconteúdo, o qual a colocava desnecessariamente emperigo; ela aproveitou a oportunidade para reafirmaros princípios de sua crença e, cortesmente, devolveu omaterial recebido.]

oi, de fato, uma surpresa receber literatura de

sua parte depois de seu longo silêncio, e ficaria

feliz em receber uma carta também. Aprecio

muito sua lembrança e agradeço sua bondade em novamente me

mandar o Christian Science Monitor. Espero que não se ofenda

nem me entenda mal se, entretanto, lhe disser muito francamente

que não posso aceitar literatura soviética e que, portanto, estou

lhe devolvendo. Estou certa de que o senhor deve entender que

nas condições atuais, com a atmosfera de suspeita que prevalece

em todo lugar, é especialmente perigoso estar em posse deste

material. Nosso Departamento de Segurança Política é

extremamente vigilante e todos os estrangeiros estão sempre sob

crescente suspeita – acredito que já existe alguma censura de

correspondência e, a qualquer momento, pode se tornar mais

rigorosa. Como bahá’í, não creio nem posso crer no comunismo

“F

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291Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 28Persistindo em Meio a uma Inóspita Atmosfera Política

e, evidentemente, não quero ser presa ou deportada como uma

comunista. Devo, portanto, suplicar-lhe para não me mandar

mais literatura sobre este assunto, embora, como falei, aprecie

sua lembrança e lhe agradeça.

Agora faz mais de dois anos que estive só uma vez na

Bahia por umas poucas semanas, tendo estado mais no Norte

do que aqui no Sul. No próximo mês, provavelmente estarei

indo novamente para o Norte. Tenho estado ansiosa para viajar

e, desta vez, fazer o maior número possível de contatos, pois com

todo este sofrimento no mundo, as pessoas estão buscando ajuda

spiritual como nunca visto antes. Sabemos que desta agonia

deve nascer uma nova civilização – a ‘nova era’ deve ser

estabelecida, mas baseada em justiça, não em igualdade.”1

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292Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

Harold e Leonora Armstrong nadécada de 1960 em seu sítio emPetrópolis, Rio de Janeiro.

Carta da autorização de casamen-to escrita pelo pai do sr.Armstrong.

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293Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

m agosto de 1941, parti do Rio deJaneiro para ir a Recife a fim de me

casar com Harold Armstrong.Nossa amizade se mantevebem no decorrer dos anos.

Senti-me confortada por seu companheirismo e passeia apreciar mais e mais suas excelentes qualidades – suasolidária compreensão, sua sinceridade, sua bondadee generosidade – sendo ele tão sinceramente dedicadoa mim. Era bom, também, ter um verdadeiro lar – nãoapenas uma casa cheia de pensionistas – para estar livreda tensão de ganhar a vida e, assim, ter mais tempolivre para dedicar à Fé. Harold não havia sentido anecessidade de se afiliar à Fé Bahá’í, embora nada oimpedisse, a não ser, talvez, coisas observadas emalguns bahá’ís que havia sido um teste para ele. Eleconcordava com todos os princípios bahá’ís,alegremente recebia bahá’ís em nossa casa parareuniões e comemorações, ou até mesmo visitasprolongadas e não se opunha a nenhuma das minhasatividades bahá’ís, às minhas constantes traduções oumesmo a viagens ocasionais de ensino. Foram mais devinte anos após nosso casamento, no entanto, quandofinalmente, um dia, ele me disse, para minha grande

29

EO CASAMENTO DE LEONORA

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294Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

felicidade, que sentia que gostaria de ser consideradoum bahá’í!

[Escrevendo a Shoghi Effendi, logo após o seu casamen-to com o sr. Armstrong, Leonora relataria com riquezade detalhes o processo de sua decisão de casar-se.]

“Um amigo inglês, Harold V. Armstrong, que vive em

Recife, há muito deseja casar comigo, embora até a pouco menos

de um ano ele não estivesse livre para isso. Sempre tive a

esperança de que ele se tornasse bahá’í, mas, embora ele tenha

mente aberta e esteja totalmente em harmonia com os princípios

da Fé, parece não ter sido capaz de compreender sua importância.

No entanto, ele entende completamente o lugar que ela ocupa

na minha vida e repetidamente me assegurou que jamais desejará

interferir, seja de que maneira for, no meu serviço à Fé. Estou

convencida disto e sinto, mais ainda, que agora que estou mais

velha e sinto que já não tenho mais tanta energia, como

anteriormente, para dedicar ao trabalho bahá’í; ao mesmo tempo

em que ganho minha vida da maneira que me é possível neste

país, isto é, ensinando inglês a brasileiros e mantendo uma

pensão, em vez de trabalhar no serviço social que eu tanto amava

nos Estados Unidos. Pelo menos deste ponto de vista, a vida de

casada decididamente me oferecerá uma vantagem, dando-me

mais tempo livre para tradução e outras atividades bahá’ís.

Desejo muito receber uma carta do senhor antes do nosso

casamento, assegurando-nos de suas orações, mas os meios de

comunicação estão tão incertos nesses tempos turbulentos. Cartas

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295Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

que foram escritas à mãe do meu futuro marido, na Inglaterra,contando sobre nosso plano, não foram recebidas por ela, masela sabe sobre nossa amizade há muitos anos e de meu interessee afeto pelas filhas de seu filho e confiamos que ela ficaria felizem saber sobre nosso casamento. Dos meus pais, estando somentemeu pai vivo, ele já deu sua carinhosa aprovação.”1

[A mudança para o Recife, na costa Nordeste do Brasil,significou, entretanto, a perda temporária da AssembléiaEspiritual Local dos Bahá’ís de Salvador, a qual seriaoutra vez formada no ano seguinte. Leonora relata:]

“O fato de estabelecer definitivamente residência em outracidade do Brasil pode significar a dissolução temporária de nossaAssembléia da Bahia, mas tenho certeza de que em um períodobem curto haverá pelo menos um crente declarado para mesubstituir. Não obstante, isto me parece completamente emharmonia com a urgente necessidade dos bahá’ís deste paístambém se espalharem o mais amplamente possível, e por muitotempo, antes de pensar em assumir um casamento, senti quelogo que outros instrutores pudessem se estabelecer aqui no Riopara levar avante o trabalho, e uma vez que agora há instrutorestão capazes na Bahia quanto o sr. e a sra. Worley, deveria tentartrabalhar mais ao extremo Norte onde até agora não há crentesdeclarados, mas onde, no passado, encontrei bastante interesse,principalmente na cidade de Recife. Sinceramente espero estartomando a decisão mais correta e não sendo muito influenciadapor meus desejos pessoais.”2

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296Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

[Leonora estava segura de que seu casamen-to com o sr. Armstrong traria bênçãos inesti-máveis. Ela tinha total confiança de que ele aajudaria a levar avante o trabalho da Fé. ShoghiEffendi escreveu-lhes para expressar sua ale-gria e sinceros desejos de felicidade.]

“Desejo expressar pessoalmente meus melhorese mais sinceros votos por sua felicidade e pelo progressoespiritual de seu marido. O trabalho que você realizouno serviço da Fé, sempre lembrarei com orgulho egratidão e acalentarei a esperança de que, emharmonia com seu marido, você será capaz de prestarserviços ainda mais notáveis à Fé e suas instituições.

Seu verdadeiro e agradecido irmão, Shoghi”3

[Em resposta aos desejos expressos pelo Guardião “porsua felicidade e pelo progresso espiritual de seumarido”, ela escreveu:]

“Sou profundamente grata por sua carta de 14 de outubrotrazendo-me seus sinceros votos pela minha felicidade, meassegurando de suas orações pelo progresso espiritual de meumarido e de sua esperança de que nos seja permitido prestarjuntos valiosos serviços à Fé. Isto me deixou mais feliz do quesou capaz de expressar e lhe agradeço com todo o meu coração. Éminha mais fervorosa e constante súplica que possamos realmenteser guiados e auxiliados e amparados a fim de servir nossa amadaFé e suas instituições nesta cidade.

Leonora em seu vestido de noiva.

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297Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

Tenho tentado tirar o máximo proveito de cadaoportunidade para fazer um novo contato, e sinto que estes poucoscontatos feitos aqui, até agora, são realmente promissores, emboraa formação de um grupo de estudos, mesmo pequeno, ainda nãotenha sido possível. A retomada de meus contatos anteriores como grupo de esperanto levou à publicação de um artigo em seupequeno periódico mensal, o qual, embora não fale diretamentesobre a Fé, menciona Bahá’u’lláh e traz citações de Suas palavrase das do Mestre e, provavelmente, haverá oportunidades paramais outros artigos.

Entrementes, a pedido do Comitê Inter-Americano tenhofeito algumas traduções do livreto intitulado ‘O MovimentoBahá’í’ e do novo pequeno livro de orações, ambos os quais,planejamos publicar aqui em breve. Ao mesmo tempo, enquantoesperamos que mais oportunidades de ensino surjam aqui emRecife, estou mantendo contato, através de correspondência, comalgumas pessoas contatadas no Rio de Janeiro e em outros lugaresna América Latina, enviando-lhes literatura, etc.

Esperávamos passar algumas semanas no Rio e na Bahiaagora no início do ano, mas devido às dificuldades em funçãoda ausência de meios adequados para se viajar nesta época,pareceu-nos aconselhável adiar esta viagem por agora.

Minha mais sincera esperança é que não demore muitopara que possa lhe escrever a respeito de um progresso mais definidono serviço da Fé nesta cidade.”4

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298Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

[Longos anos de amizade pessoal uniam RúhíyyihKhánum e Leonora. Alguns meses já haviam se passa-do após a união de Leonora e Harold, quando umalonga carta trazendo os sinceros e renovados votos defelicidade e sucesso em seu casamento veio de Amatu’l-Bahá Rúhíyyih Khánum ; incluindo também uma re-flexão especial sobre os laços eternos de amor que asuniam à sua querida mãe, May Maxwell, cujo súbitopassamento em Buenos Aires ainda produzia ecos denostalgia aos seus corações e almas.]

“Mui querida Leonora,Minha correspondência está em tal estado que nem sei se

já lhe escrevi para expressar a felicidade que, de todo o meucoração, desejo-lhe em seu casamento. Tenho pensado tanto emvocê nestes últimos anos desde que nossa bem-amada se foi, masestou mais ocupada do que nunca antes em minha vida e otempo simplesmente parece voar, não consigo de modo algumdar conta do meu próprio trabalho. Mas, isto não importa desdeque eu possa ser de alguma utilidade para o Guardião… seusafazeres é que contam, não os meus.

Sua carta, anexada à dele, foi muito bem-vinda. Estoutão feliz, minha querida, que após todos estes anos de grandesesforços, sozinha na América do Sul finalmente encontrou umcompanheiro que você ama e, tenho certeza, que lhe ama e aestima e a suas belas qualidades. Confio que você será muitofeliz e abençoada em seu casamento. Especialmente nestes dias,é bom saber que tem alguém que cuida de você e zela por você.Tenho certeza de que minha mãe está feliz por isto também.

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299Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

Nada pode jamais impedi-la de servir à Fé ... você estará emmelhor posição do que nunca para ensinar e servir à Causa.

No momento, as coisas parecem bastante sombrias poraqui. Mas sabemos que o que quer que aconteça temporariamenteno mundo hoje em dia, que este é o dia que não será seguidopela noite… uma promessa tão gloriosa, de que Deus finalmentetomou nossos destinos em Suas próprias mãos e nos deu os meiose o método para construir, espiritualmente, uma nova criaçãono mundo. O Guardião é nossa rocha e nele nos apoiamos, sejalá quão grande a fúria da tempestade nos mundos interior eexterior.

Não preciso tentar lhe dizer, querida Leonora, o quantoa amo e como me sinto próxima a você. É um laço quepraticamente cresceu comigo e está entrelaçado com o amor daminha querida mãe. Nem preciso lhe dizer o quantohumanamente senti sua falta. No início, parecia por demaisinsuportável não ser mais possível receber cartas dela, porémdevemos nos acostumar a qualquer coisa na vida. O Guardiãofoi tão divinamente bondoso comigo naquele período, e é sempretão amoroso e compreensivo que a pungência de qualquer dor seesvai. Mas, a vida é profunda e o amor é profundo e, portanto,sei que sempre sentirei a falta da mamãe até, se Deus quiser,unir-me novamente a ela.

Em anexo, está uma rosa que apanhei do limiar doSantuário de Bahá’u’lláh, no dia em que soube da morte demamãe, naquele 2 de março, fui sozinha ao Sepulcro paraorar e li a oração pelos mortos em voz alta. Senti nitidamente

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300Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

que você e Jeanne estavam lá comigo e peguei duas rosas, uma

para cada uma de vocês. Guardei-a todo este tempo para você.

Inicialmente, receei que ela fosse ao endereço errado porque

naquela época você estava de mudança e, neste inverno, como

falei, tenho estado muito ocupada e negligente com minha

correspondência. Espero que, enfim, você a receba em segurança!

O modo como a Fé está sendo difundida na América do Sul

é realmente maravilhoso. O povo latino me parece ser tão espiritual

e ao mesmo tempo intelectual. Creio que eles serão bahá’ís realmente

maravilhosos. É especialmente encorajador ver a Causa se espalhar

lá agora que está tudo tão subjugado e sufocado na Europa e em

outros países que recusam a liberdade religiosa às pessoas. Espero

logo terem outra Assembléia no Brasil.

Decidi lhe encaminhar a carta em anexo que algum

conhecido de mamãe evidentemente lhe escreveu há muito tempo

e que a secretária de papai nos enviou. Será que você poderia

entrar em contato com esse homem e lhe explicar as circunstâncias

da morte de mamãe e porque sua carta ficou tanto tempo sem

resposta? Eu agradeceria muito, e seria uma pena negligenciar

qualquer alma sincera nos dias de hoje.

Papai está muito bem e mantém-se ocupado ajudando o

Guardião de qualquer maneira que lhe seja possível. Também

estou bem e, embora algumas vezes me sinta um tanto oprimida

no grande redemoinho da Fé, apoio-me no Guardião e logo me

recupero novamente! Certamente, farei orações por você, e

freqüentemente o tenho feito, e por seu marido, e desejo que você

também ore por mim, para que eu possa ser como minha mãe.

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301Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 29O Casamento de Leonora

Esta é a minha mais elevada aspiração e sinto que se puder sercomo ela será mais do que suficiente! A cada mês que passa,percebo mais intensamente quão rara e quão verdadeiramenteboa e nobre ela era. Se alguém me perguntasse como ela era,diria que nela não havia traço algum de maldade. A partir deminha observação dos seres humanos, cheguei à conclusão de queé a coisa mais difícil de se encontrar. A maioria de nós é umpouco mesquinho ou um pouco fraco de alguma forma, emborapouco; ela não possuia, de maneira alguma, esta característica– ou assim me parece.

E agora, para confidenciar um pensamento que tive hálongo tempo. Onde você conseguiu uma máquina de escreverque imprime os caracteres como a sua? Adorei suas letras efreqüentemente fico pensando de que tipo ela é. Ela faz suascartas tão mais íntimas do que a fria datilografia e ainda tema vantagem de ser uma máquina.

Bem, Leonora, Deus sabe quando será a próxima vezque nos escreveremos. Talvez não haja interrupção nascorrespondências. Por enquanto, tem sido maravilhoso como ascartas chegam, por outro lado, talvez isto piore. Mas, de qualquermodo, nossos corações não podem ser interrompidos ou separadose você sabe que estou sempre pensando em você e próxima avocê, e sinto o mesmo de você pensando em mim.

Envio-lhe meu profundo amor,Sempre sua,Rúhíyyih

P.S.: Papai lhe manda os melhores votos e seu amor também.”5

Rúhíyyih Khánum e seu pai, sr.Willian Sutherland Maxwell,posteriormente designado Mão daCausa de Deus. Foto tirada em1948, na Inglaterra.

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Capítulo 29O Casamento de Leonora

[Escrito a mão:]

P.S.: Como não posso lhe mandar algo como presente,quero lhe enviar esta fotografia do Mestre. O Guardiãoencontrou algumas destas entre Seus papéis e as deu para mim– assim, sua associação é preciosa. Em vista das consideraçõesda carta à mamãe, eu a estou excluindo e estou lhe mandando oendereço. A carta era de um homem que ela conheceu e a quemestava ensinando e ele pediu-lhe literatura da Causa, é claroque ele pode não estar mais no Uruguai; não tenho certeza.6

AMPLIAM-SE AS FRENTES DE TRABALHO

[A tarefa agora à frente era consolidar o novo centroem Recife, apoiar e fortalecer os grupos bahá’ís naBahia e no Rio de Janeiro e seguir com a tradução epublicação de literatura bahá’í em português. Logoela voltaria a escrever a Shoghi Effendi com novidadesa respeito das publicações.]

“Estou ansiosa para passar alguns dias com os crentesda Bahia… e também espero poder visitá-los de tempos emtempos, enquanto estiver residindo em Recife, já que as duascidades são bem próximas.

Desta vez, estou lhe mandando apenas poucos exemplaresdo ‘Bahá’u’lláh e a Nova Era’, ‘A Meta de uma Nova OrdemMundial’ e ‘Religião Mundial’ em português, os quais, espero,

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Capítulo 29O Casamento de Leonora

que cheguem-lhe em segurança. Ficarei feliz, é claro, em lhemandar mais exemplares a qualquer momento.”7

[Ocupada com diversos trabalhos de tradução, com onovo grupo de bahá’í do Recife e com seu recentematrimônio, Leonora ainda assim tentava, através decorrespondência, dar apoio à recém-formada Assem-bléia de Salvador. A ela também chegariam novas car-tas de encorajamento e estima.]

“Querida e valiosa colaboradora,Você está freqüentemente em meus pensamentos e orações,

e agradeço profundamente a devoção, a constância e o cuidadocom que promove os interesses de nossa ternamente amada Fé.Que o Mestre guie cada passo que dá e cumpra cada desejo queacalente no serviço de Sua gloriosa Causa!” 8

Os três anos passados em Recife foram dedicadosprincipalmente à tradução, ensinar um pouco de inglêse serviço social voluntário como um meio de fazercontatos. Havia a United Service Organization9 e outrasatividades relacionadas à guerra, nas quais fui solicitadaa tomar parte e como fiquei sabendo que a vara juvenilnão possuía assistente social, ofereci meus serviços,especialmente para cuidar dos casos de mães solteiras,nos quais adquiri, antigamente, muita experiência nomeu trabalho como assistente social nos EstadosUnidos. O primeiro amigo da Fé em Recife, RaulDuarte, que tanto me ajudara em 1922, parecia terperdido seu antigo fervor, talvez devido a doenças e

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Capítulo 29O Casamento de Leonora

muitas dificuldades. Sua prima Belma, que se tornarauma bahá’í tão devotada, havia falecido logo depoisda minha visita ao Recife em 1924.

LEONORA ADOTA UMA MENINA

Antes de sua morte [Belma], inspirada pelo meuexemplo e meu interesse em crianças carentes, haviaadotado uma menina ainda bebê e a havia dado o nomede Leonora em consideração a mim. A família de Belma,não sendo capaz de cuidar dessa criança, colocara-aem um orfanato e agora, com dezessete anos de idade,a jovem Leonora pediu-me para ir para minha casa. Eassim fizemos, colocando-a na melhor escola e fazendotudo que podíamos para fazê-la feliz, mas, ao final,fomos obrigados a mandá-la de volta ao orfanato.Havia, entretanto, uma menina de quinze anos, Edith,quem a madre superiora nos mandou com o intuitode fazer companhia para a jovem Leonora e a quem osmédicos não deram muito tempo de vida, mas quepudemos fortalecê-la com boa comida e com osmedicamentos necessários – ela [Edith] permaneceuconosco durante todos estes trinta anos. Embora nóslhe déssemos toda oportunidade de educação, elaabandonou a escola secundária após dois anos e nuncacompletou qualquer dos cursos especiais queplanejamos para ela, nem exerceu qualquer trabalhoexterno, mas foi benéfica em nossa casa. O irmão maisnovo de Edith, descobrimos em uma colônia demeninos carentes no interior do Estado, muitoenfraquecido e completamente negligenciado, e

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Capítulo 29O Casamento de Leonora

também o levamos para nossa casa, educando-o ecapacitando-o para um trabalho, e hoje, ele está emboa situação financeira, casado, vivendo com sua famíliaem Recife. Aos poucos, levamos algumas outrascrianças carentes para nossa casa, pois continuávamossabendo de tantas, e durante algum tempo nos foipossível ajudá-las.

Constantemente convidávamos contatos –brasileiros, ingleses, americanos e alemães – para o cháou jantar, sempre com o intuito de interessá-los na Fé.A sra. Millie Collins* veio nos visitar uma vez e tambémPhilip Sprague†, com quem desta vez trabalhei para aFé na Bahia durante vários dias. Um amigo de meumarido, dr. Maria de Morais, médico e escritor, ficouinteressado na Fé e foi um incansável colaborador comos trabalhos de tradução, ajudando-me com o primeirolivro de orações que foi impresso em português e comoutras traduções como Respostas a AlgumasPerguntas. Este trabalho ele continuou posteriormenteno Rio, quando ele, assim como nós, mudou-se paralá. Outro contato importante foi o famoso escritorGilberto Freire10, a cuja casa, Hildélia Drummond,quando nos visitou em Recife, costumava ir comigonos domingos à tarde para falar sobre a Fé. Nós opresenteamos com livros bahá’ís e, em retorno, ele nosdeu alguns de sua autoria.

Em agosto de 1944, a empresa em que meumarido trabalhava transferiu-o para o Rio de Janeiro,e lá, alugamos uma grande casa de dois andares comjardim em uma agradável rua residencial, não longedo centro. Continuei a ensinar inglês no InstitutoBrasil-Estados Unidos, pois parecia o melhor meio de

*Sra. Amélia (Milly) EngelderCollins (1873-1962). Rendeuinúmeros e valiosos serviços aCausa. Em 1924 foi eleita para aAssembléia Espiritual Nacional dosEstados Unidos e Canadá, servindodurante vários anos nesse corpo.Em1949 participou da 3ª. ConferênciaSud-Americana, realizada em SãoPaulo, Brasil. Em 1951 foi chamadapelo Guardião para servir na TerraSanta. Em 1946 foi elevada àposição de Mão da Causa de Deus.Por sua generosidade nascontribuições foi chamada porShoghi Effendi como “benfeitorada Fé”. Serviu como vice-coordenadora do ConselhoInternacional Bahá’í na TerraSanta. Vide também The Ministryof Custodians 1957-1963, CentroMundial Bahá´í, Haifa, 1992 eBarton Harper, Lights of Fortitude,pp. 202-210.†Ver p. 307.

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Capítulo 29O Casamento de Leonora

se fazer contatos para a Fé, e nas primeiras semanasum dos meus alunos começou a vir à nossa casa paraestudar os ensinamentos bahá’ís e logo aceitou a Fé,tornando-se posteriormente membro da primeiraAssembléia Espiritual Local do Rio de Janeiro. VirginiaOrbison* passou alguns meses trabalhando para aCausa no Rio, e também Gertrude Eisenberg que ficoucomigo por algum tempo em 1941. Edward e MaryBode† vieram para o Brasil como pioneiros e seestabeleceram no Rio, ficando em nossa casa duranteas primeiras semanas. Tivemos muitas visitas de bahá’ísamericanos durante aqueles anos no Rio, como ShirleyWarde‡, Mason Remey11, Beatrice Irwin‡, ElizabethCheney‡, Rafi e Mildred Mottahedeh12, e Emeric eRosemary Sala‡, para alguns foi possível organizarpalestras públicas no Ministério de Educação ou naAssociação Brasileira de Imprensa, enquanto paraoutros foram oferecidos chás no Hotel Glória. Depois,alugando salas no centro da cidade, mais pessoas foramatraídas para nossas reuniões regulares noturnas.Alguns dos meus alunos vinham à nossa casa à noite

ou para “chás de conversação” nosdomingos à tarde, bem como,freqüentemente compareciam areuniões públicas.

Leonora, uma senhora do Rio deJaneiro e Virginia Orbison du-rante sua passagem naquela ci-dade.

*Sra. Virgina Orbison.Instrutora- viajante americana soba orientação do Comitê Inter-Americano, visitou diversos paísesna América Latina. Chegou aoBrasil em 1945, estabelecendo-seno Rio de Janeiro, onde ajudou aformar a Assembléia EspiritualLocal (1946). Mais tarde, sairiacomo pioneira ao início daCruzada de Dez Anos para as IlhasBalearic, na Espanha, entrandopara o rol dos pioneiros a receber“o Pergaminho de Honradestinado a perpetuar a memóriadas explorações dos conquista-dores espirituais”. Ver ShoghiEffendi, Messages to the Bahá’íWorld – 1950-1957, p. 51 eMiessler, Muriel, Pioneering inBrazil, our Glorious SpiritualAdventure, Editora Bahá’í doBrasil, 1986, p. 32.†Ver p. 310.‡Ver página ao lado.

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Capítulo 29O Casamento de Leonora

SRA. SHIRLEY WARDE. Pioneira queganhou o privilégio de serregistrada no Pergaminho deHonra dos conquistadoresespirituais ao se estabelecer emHonduras, Ilhas Britânicas (atualBelize). Ver: Shoghi Ef fendi,Messages to the Bahá’í World –1950-1957, p. 52.

SR. PHILIP G. SPRAGUE. Bahá’ínorte-americano cujos notáveisser viços como instrutor eadministrador da Causa naAmérica do Norte e Latina, tantoalegraram a Shoghi Effendi porseu exemplo e lealdade. Faleceuprematuramente em 1951. VideShoghi Effendi, Citadel of Faith,p. 169. SRA. BEATRICE IRWIN (1877-1956).

Foi uma bahá’í inglesa,descendente de irlandeses, queviveu grande parte de sua vida nosEstados Unidos, porém viajoutanto pelo seu trabalho quantocomo instrutora bahá’í a diversaspartes do mundo. Educada noCheltenham College e em Oxford,foi uma pioneira no campo daengenharia elétrica e tambémdedicou muito de sua vida parapromover a causa da paz mundial.Suas obras incluem: The Gates ofLight, The New Science ofColour e Heralds of Peace. (H.M. Balyuzi, O Báb. E.B.B., p.279) Ver ainda: Shoghi Effendi,Citadel of Faith, p. 164.

SRA. ELIZABETH CHENEY. Pioneiraamericana de Lima, Ohio; serviucomo membro do Comitê Inter-Americano, tendo viajadoextensamente por todos os paísesda América Latina. Foi pioneirano Paraguai em 1941.

SRA. ROSEMARY SALA. Juntamentecom seu marido, Emeric, forammembros da comunidade bahá’í doCanadá, onde ser viram comomembros da Assembléia EspiritualNacional de 1948 a 1953; sairamposteriormente como pioneirospara a África do Sul. Ver: ShoghiEffendi, Messages to Canada, p.45.

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308Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 30A Formação da Assembléia Espiritual do Rio de Janeiro

Em pé da esquerda para adireita: Acrísio Lacerda,Orlandino de Freitas, EdwardBode, Werner Hasenberg eÁureo Cooper. Sentadas daesquerda para a direita: AracyMachado, Mary Bode, LeonoraArmstrong e Maria Martins.

Membros da primeira Assembléia EspiritualLocal do Rio de Janeiro - 1946.

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Capítulo 30A Formação da Assembléia Espiritual do Rio de Janeiro

[Em 1946, a primeira Assembléia Espiritual Local dosBahá’ís do Rio de Janeiro foi formada com 12 eleitorese, no ano seguinte, a Assembléia já registrava os seusestatutos e buscava adquirir um local que servisse comoSede Bahá’í. Em carta circular, escrita em outubro de1947, através de seu tesoureiro, a Assembléia Localdirigiu-se à comunidade:]

s amigos sabem que é o desejo de todos da comunidadebahá’í do Rio de Janeiro, organizar, estabelecer epossuir um Centro Bahá’í, um local permanente

nosso, no Centro da Cidade, onde possamos realizar todas asnossas reuniões, festas, instalar nossa biblioteca, etc. Mas arealização deste justo desejo implica na necessidade de estabele-cermos fundo financeiro quer para a instalação quer para amanutenção do Centro, meios de que no momento carecemos.Mas não seria por isso que chegaríamos a sua presença parasolicitar contribuições, se não fosse por uma razão mais amplae mais chegada ainda.

Em vista do fato de que, de acordo com as recomendaçõesde nosso Guardião, a América Latina deverá estabelecer em

30

“O

A FORMAÇÃO DA ASSEMBLÉIA

ESPIRITUAL LOCAL DO

RIO DE JANEIRO

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310Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 30A Formação da Assembléia Espiritual do Rio de Janeiro

1951, sua própria Assembléia Nacional, devemos providenciar,desde já, a formação de um Fundo Nacional, destinado a cobrirdespesas da administração, literatura, projetos de ordem regional,viagens de delegados e congressos, etc.”1

[A evolução no crescimento da nascente comunidadedo Rio de Janeiro* trouxe alegria ao amado Guardião,cujo secretário assim escreveu aos amigos do Rio:]

“A formação da Assembléia do Rio de Janeiro encantou-o e ele está confiante de que o momento decisivo no trabalho deensino nesse país foi finalmente alcançado. As novas almas decapacidade e cheias de entusiasmo que entraram na Fé, semdúvida, irão enriquecê-la grandemente e facilitarão sua difusãoentre seus compatriotas.”2

[E o Guardião, escrevendo diretamente à LeonoraArmstrong, disse:]

“Asseguro-lhe de minha profunda admiração epermanente gratidão pelos esplêndidos serviços que prestou e deminhas constantes, minhas amorosas e fervorosas orações pelaexpansão de suas atividades e a plena realização de todaesperança que você nutre para a promoção de nossa amada Fée a consolidação de suas instituições,

Seu verdadeiro e agradecido irmão, Shoghi”3

*SR. EDWARD BODE (1906-1976) eSra. Mary Hotchkiss Bode (1896-1969). Após servir no ComitêInter-Americano (1941-42) saiucom a esposa como pioneiros parao Rio de Janeiro, onde viveram de1946-1949, ajudando na formaçãoda primeira Assembléia EspiritualLocal e nos primeiros desenvolvi-mentos da futura Editora Bahá’ído Brasil. Participaram dosesforços de ensino na Holanda ePortugal (1949-1950), no Panamáe no México (1954-1956), noMississipi e Florida, EstadosUnidos. Em 1959 foram comopioneiros para a Holanda ondeprestaram valiosos e memoráveisserviços à Causa. Em 1969 saíramcomo pioneiros para Funchal, Ilhada Madeira. Mary veio a faleceralguns meses depois em Lisboa.Edward permaneceria firme, como“soldado solitário” em seu postoaté sua morte em 1976. Ver:Muriel Miessler, Pioneering inBrazil, our Glorious SpiritualAdventure, p. 118, Editora Bahá’ído Brasil, 1986. Ver tambémartigos memoriais em The Bahá’íWorld vol. XV, pp. 460-461 e vol.XVI, pp.566-568.

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311Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 30A Formação da Assembléia Espiritual do Rio de Janeiro

[Com o necessário entusiasmo e a mobilização dosamigos, logo foi adquirida uma sala, servindo comoSede Bahá’í.4 Com a Assembléia Espiritual Localestabelecida e assegurado o seu local de reuniões, oplano era agora crescer numericamente para sustentara futura Assembléia Nacional da América do Sul a serformada em 1951. O presidente da “Sociedade Bahá’ído Rio de Janeiro”, tal como era chamada a AssembléiaEspiritual Local naquele tempo, o sr. WernerHasenberg dirigiu-se à comunidade:]

“Se, de acordo com o desejo de nosso amado Guardião, cadamembro trouxer um novo membro por ano, poderemos ter 50bahá´ís até o dia 21 de abril de 1949 e 100, até o ano de1950. Entretanto, será de esperar que estes números apresentem,apenas, o mínimo das possibilidades latentes de nossa Comunidade.

Mas, visando alcançar este alvo, torna-se necessário quecada um e todos os queridos amigos tomem sobre si a tarefa e aresponsabilidade de sacrificar pelo menos uma parte de seupróprio tempo em prol da Causa. Não é somente pelacontribuição monetária e voluntária que o indivíduo pode serútil à Causa. Muito mais e de uma maneira mais eficaz, elepoderá contribuir para a expansão da Causa, pelo sacrifíciomaterializado em trabalho e no tempo dedicado às nossasatividades. Cada um possui habilidades individuais com asquais pode honrar o privilégio de ser um servo de Bahá’u’lláh,e, como a união traz força, é possível assegurar que o mecanismode nossa Sociedade funcionará satisfatoriamente para aharmonia e união de todos.”5

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312Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 31A Formação da Assembléia Espiritual Local de São Paulo e uma Onda de Crescimento da Causa

Primeira Assembléia Espiritual Local dos Bahá’ís de

São Paulo, Abril de 1947. Da esquerda para a direita,

em pé: Romeu Rossi, Tomás Sanchez, Hans Abeling,

Paulo Gal, Edmund Miessler, Adauto Oliveira.

Sentadas: Margot Miessler*, Maria Conceição

Oliveira, Rosa Segall e Muriel Miessler.

*Menor de 21 anos, não membroda AEL.

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313Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 31

[Sabedores do empenho dos amigos do Rio de Janeiroe do sucesso de seus esforços com a formação de suaAssembléia, o grupo de São Paulo também procurourapidamente estabelecer sua própria Assembléia Espiri-tual, conseguindo-o no ano seguinte – 1947. Váriosnovos crentes começavam a entrar na Causa por todo opaís, em especial na Bahia onde um entusiasta grupo dejovens ingressou na Fé. Como era o costume à época,quando de sua declaração, cada um desses jovens escre-via uma carta diretamente a Shoghi Effendi informan-do-o de sua aceitação dos Ensinamentos. A cada umdeles o Guardião respondia, dando-lhes as boas-vindas.A uma, dentre esses jovens, Shoghi Effendi assim escre-veu, por intermédio de seu secretário:]

uerida irmã bahá’í,Sua carta ao nosso amado

Guardião, datada de 17 de maio de1948…, ele ficou muito feliz em recebê-la e dá boas-vindas ereceba com alegria esta oportunidade de pessoalmente assegurá-

31A FORMAÇÃO DA ASSEMBLÉIA

ESPIRITUAL LOCAL DE SÃO PAULO

E UMA ONDA DE

CRESCIMENTO DA CAUSA

“Q

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314Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 31A Formação da Assembléia Espiritual Local de São Paulo e uma Onda de Crescimento da Causa

la de suas amorosas orações para o sucesso de seus futuros serviçosà nossa gloriosa Fé – uma Fé que você abraçou com tantaalegria e devoção.

Ele ficou muito satisfeito em saber que você* tem sidomuito ativa, participou do congresso bahá’í para a América doSul e está constantemente ensinando a Causa às pessoas.

Ele espera que a Bahia se torne um forte centro para aFé. Seu belo nome, tão próximo ao da própria Fé, deve atrairos corações dos crentes brasileiros e encorajá-los a estabeleceruma próspera comunidade bahá’í. De fato, através dos longos edevotados serviços da srta. Holsapple, foi o primeiro lugar daAmérica do Sul a se tornar inflamado com a Luz deBahá’u’lláh!”1

[E de seu próprio punho, o Guardião acrescentou:]

“Possa o Bem-Amado, cuja Causa você abraçou comtanto zelo e determinação, guiar seus passos no caminho doserviço, auxiliá-la a adquirir um profundo conhecimento dasverdades de Sua Fé e, em dias vindouros, contribuir em prol daconsolidação e da multiplicação de suas instituições.”2

*Dinah A. C. França, a quemShoghi Effendi enviou carta, acei-tou a Causa em 1948. Serviu emdiversas instituições bahá’ís nosníveis local e nacional, incluindo aAssembléia Espiritual Nacional doBrasil. Vide: França, Dinah. ‘Mi-nhas memórias do início da FéBahá’í no Brasil’. Editora Bahá’ído Brasil, 2004.

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315Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 31

or cerca de um ano, moramos em Niterói,do outro lado da baía de Guanabara, onde,embora continuasse a participar dasatividades bahá’ís no Rio, fiz alguns

contatos interessantes. Através de Polly Wood, umabahá’í americana que durante algum tempo moroucom seu marido no Rio, conheci o dr. Madeira,fundador e diretor do Hospital Infantil de Niterói. Suafilha demonstrou algum interesse na Fé, e dr. Madeirapermitiu que usássemos um escritório no hospital parapequenas reuniões bahá’ís informais, às quaisconvidávamos contatos, entre eles, alguns médicos eenfermeiros do hospital. Mesmo depois que nosmudamos para o Rio, continuei essas reuniões poralgum tempo, indo a Niterói uma noite por semana,levando bolo e chá para servir e flores para tornar areunião mais atrativa.

Depois mudamos para Petrópolis, onde lecioneium pouco de inglês, bem como no Rio, sempre naesperança de fazer novos contatos. Um influente amigoesperantista ajudou-me a colocar artigos em um jornallocal e, certa ocasião, em um domingo de manhã,permitiu-nos usar o auditório de seu cinema, um dosmaiores e melhores da cidade, para uma palestra

32

PO CONTÍNUO TRABALHO

DE EXPANSÃO DA CAUSA

Centro de Niterói nos anos 40.Naquela época a cidade era a ca-pital do estado do Rio de Janeiro.

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316Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 32O Contínuo Trabalho de Expansão da Causa

pública. Embora tivesse imprimido cartazes e oscolocado nas vitrines das principais lojas, anúnciospublicados em jornais e, embora o diretor da Sociedadede Cultura Inglesa, onde eu lecionava, tivesse enviadonossos convites a todos de sua lista de correspondência,cerca de duzentas das mais proeminentes pessoas dacidade, o comparecimento foi amargamentedecepcionante. Se não houvesse a presença de algunsmembros da comunidade do Rio, a palestra deRangvald Taetz*, que havia vindo de São Paulo comsua esposa especialmente para a ocasião, teria sidoproferida para uma sala quase vazia! Dos poucos queforam de Petrópolis havia um professor que, ao ver oanúncio, lembrou de ter me ouvido falar sobre a Féem Recife, em 1922. Posteriormente, ele me ajudoucom o trabalho de tradução, revisando toda a minhatradução de Cristo e Bahá’u’lláh e algumas outras.

O INCANSÁVEL TRABALHO SOCIAL

EM MUITAS FRENTES

Tanto meu marido como eu sempre amamos ocampo e desejávamos passar os nossos últimos dias emuma pequena propriedade rural. Pouco tempo depoisde virmos do Norte, havíamos comprado um sítio emAustin (a cerca de uma hora de trem do Rio), edesfrutávamos os tranqüilos finais de semana quepassávamos lá, e nos divertíamos em meio à abundânciade flores, frutas e verduras. Foi-nos possível tambémajudar, em momentos diversos, alguns refugiados de

*Sr. Rangvald Taetz (1913-2006)ingressou na Causa em fins dosanos 1940, juntamente com suaesposa Nylza Taetz. Figuramentre os primeiros pioneirosexternos do Brasil, tendo servidono Uruguai entre os anos 1950 e1952. Serviram em distintasinstituições da Causa, incluindoa participação de ambos comomembros da primeira AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá´ísdo Brasil, em 1961. Ele serviuanteriormente, também, durante3 anos, como membro daAssembléia Espiritual Nacional daAmérica do Sul. Foram pioneirospor longos anos na cidade dePorto Alegre, RS, Brasil. Videtambém: Miessler, Muriel,Pioneering in Brazil our GloriousSpiritual Adventure. EditoraBahá’í do Brasil, 1986.

Rua Gonçalvez Dias emPetrópolis nos anos 30.

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Capítulo 32O Contínuo Trabalho de Expansão da Causa

guerra, deixando-os ficar em nossa fazenda até queconseguissem organizar algo definitivo para si mesmos,e alguns dos nossos amigos bahá’ís e outros tambémdesfrutaram lá alguns dias, ou semanas, ou até um mêsde descanso (ou na pequena chácara que adquirimosquando nos mudamos para Petrópolis, depois devender a outra; esta última localizada no Estado deMinas Gerais, perto do povoado de Simão Pereira).

Foi nessa época, enquanto vivíamos emPetrópolis, que meu pai faleceu depois de uma longaenfermidade. Isto havia sido uma responsabilidadepesada para minha irmã e lamentei muito por não terpodido arcar com minha parte deste encargo. Sintoconfiança de que a mui generosa ajuda financeira demeu pai para ensinar a Fé muito mais amplamente, sema qual não poderia realizar, bem como as contribuições

Leonora com um ano de idade eseu pai, Samuel Norris Holsapple.

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318Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 32O Contínuo Trabalho de Expansão da Causa

feitas em sua memória (das quais usei praticamentetodos os recursos de um montante que ele havia medeixado), terão contribuído para o progresso de suaalma.

Durante os anos 50, passamos alguns anos emSão Paulo para onde o trabalho de meu marido otransferira e lá, mais uma vez, fui tentada a me permitirum pouco de trabalho social voluntário, através deminha amizade com Pearl Byington, fundadora da“Cruzada Pró-Infância” e do hospital infantil, etambém entre os cegos, sendo que comecei a meinteressar por eles quando morava em Petrópolis. Euhavia aprendido braille no instituto nacional para oscegos (Instituto Benjamim Constant), no Rio, ecomecei a transcrever para eles Seleções dos EscritosBahá’ís e, posteriormente, comecei Bahá’u’lláh e aNova Era para o braille em português. Isto, no entanto,quase me deixou desesperada por nunca ter sido capazde terminá-lo, porque sempre há livros que precisam

ser traduzidos emportuguês que devem terprioridade, como porexemplo, neste momento,os Seleções e Rompedoresda Alvorada. Em ambos oscampos de ação foramfeitos alguns contatosmuito interessantes, comotambém, através daspoucas aulas de inglês quelecionei. O trabalho detradução, continuei como

Avenida Paulista em SãoPaulo nos anos 50.

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319Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 32O Contínuo Trabalho de Expansão da Causa

sempre, sendo habilmente auxiliada por um professoruniversitário que tinha considerável interesse na Fé ese tornou um ótimo amigo.

Quando meu marido se aposentou, no final dosanos 50, voltamos à nossa casa em Petrópolis, maspassávamos a maior parte do tempo na nossa chácaraque tanto amávamos – pelo seu cenário pitoresco, comseus regatos e quedas d’água, seu belo jardim de rosase árvores frutíferas e sua tranqüilidade. No entanto,quando tentamos morar na chácara por algum tempo,sentimos que era por demais isolada, principalmentepara um bahá’í que precisa estar constantementeensinando a Fé. Começamos a achar as viagens deônibus entre Petrópolis e a chácara cada vez maisentediantes e cansativas; então, por fim, mudamos paraJuiz de Fora, no estado de Minas Gerais, a apenas cercade 36 quilômetros da chácara.

[Leonora residia em São Paulo quando a Mão da Causade Deus, sra. Dorothy Baker,* visitou o Brasil. Elarecordou o seguinte:]

*Sra. Dorothy Beecher Baker(1898-1954). Uma das primeirasbahá’ís americanas, teve o privilégiode estar na presença de ‘Abdu’l-Bahá, juntamente com sua mãe, em1912, em Nova Iorque. Eloquenteexpositora dos ensinamentos, einfatigável apoiadora dasinstituições, serviu devotadamenteem Assembléias Locais e Nacional,incluindo o Comitê Inter-Americano. Viajou extensivamenteem vários países da América Centrale do Sul, assim como diversos paísesda Europa e Ásia. Em 1951 foielevada à posição de Mão da Causade Deus por Shoghi Ef fendi.Participou de todas as quatroConferências Intercontinentais deEnsino comemorativas docentenário da dispensação bahá’í,em 1953. Ao final da últimaConferência Intercontinental,realizada em Nova Deli, India, àpedido do Guardião, permaneceupor mais algum tempo paracampanhas de ensino. Ao retornarde sua viagem (1954), o aviãoexplodiu perto da ilha de Elba,matando todos os passageiros.Ver: Barron Harper. Lights ofFortitude, p. 191-201.

Juiz de Fora nos anos 50.

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Capítulo 32O Contínuo Trabalho de Expansão da Causa

O casal Miessler, Edmund eMuriel, e Dorothy Baker emsua visita ao Brasil. Foto tira-da em São Paulo, Capital, em1952.

*Sr. Edmund John Miessler e sra.Muriel Miessler. Pioneiros norte-americanos que chegaram ao Brasilem 1946, ali residindo até o final desuas vidas. Ele serviu como membroda Assembléia Espiritual Nacionalda América do Sul (1951-1960).Ela ser viu como membro daAssembléia Espiritual Nacional doBrasil durante muitos anos. Em1957 o sr. Miessler servia tambémcomo membro do Corpo Auxiliarpara Proteção e, em 1963, quandofoi reeleito para ser vir comomembro da Assembléia EspiritualNacional do Brasil, as Mãos daCausa pediram a todos os membrosdo Corpo Auxiliar que escolhessemem que instituição desejavamservir. Ele decidiu continuar aservir como membro do CorpoAuxiliar e serviu nesta função atéseu falecimento em 1977. Vide:Muriel Miessler. Pioneering inBrazil our Glorious SpiritualAdventure. Editora Bahá’í doBrasil, 1986.

“Eu estava ansiosa pela visita de Dorothy Baker e nãofiquei desapontada. Esta visita significou para mim muito maisdo que posso lhe dizer, pois há muito tempo não tenho tido contatocom um bahá’í em cuja companhia sente-se tão grandeespiritualidade. Como ela me lembrava de May! Ela falou duasnoites seguidas no apartamento dos Miessler* a grandes grupos,e todos, bahá’ís e não-bahá’ís, de diversas classes, pareciamprofundamente impressionados. A gente vê porque ela foi escolhidacomo Mão da Causa de Deus. Dorothy pediu-me para traduzirpara ela durante uma parte da segunda reunião, reunião estasomente para bahá’ís, e, depois, disse-me que o havia feito combastante sentimento e com o coração.”1

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Capítulo 32O Contínuo Trabalho de Expansão da Causa

[Enquanto prosseguia em seus infatigáveis esforços detradução, Leonora iniciou também a tradução de lite-ratura bahá’í para o braille, almejando ampliar as pos-sibilidades do ensino da Causa, assim como satisfazerseu incontido desejo de realizar algo no campo do ser-viço social. Ela havia escrito à sua irmã Alethe, pedin-do que lhe comprasse uma máquina de escrever emBraille. Conseguiu, entretanto, uma emprestada comuma instituição trabalhando com os cegos em São Pau-lo.]

inalmente consegui convencer o presidente da‘Fundação para o Livro do Cego’ de que elesdeveriam me emprestar uma das suas máquinas

de escrever em braille e acabei de trazê-la para casa,triunfalmente! Antes mesmo de abri-la para testar minhaprática, o que estou muito ansiosa por fazer, estou lhe enviandoesta carta na esperança de que chegue a tempo de impedir você defazer qualquer coisa no sentido de comprar uma máquina paramim, como lhe havia pedido na minha carta anterior. É claroque se por acaso você já tiver comprado uma para mim, tudobem, pois essa será minha para sempre, ao passo que esta aqui é

33TRADUÇÕES PARA O BRAILLE

Máquina de escrever em Braille,usada nos anos 50.

“F

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322Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 33Traduções para o Braille

apenas um empréstimo, mas provavelmente por um período

indefinido, pelo menos enquanto ficarmos em São Paulo. Fiquei

sabendo que há 2 ou 3 máquinas de escrever em sua sede, onde

dou aulas de inglês, que não estão sendo usadas de maneira

alguma e isto me deixou indignada porque sei quão

desesperadamente os cegos precisam de materiais. A todos que

encontrei depois de ter feito esta descoberta, falei sobre este assunto

– membros de sua diretoria e outras pessoas – e, como disse,

finalmente ganhei o caso. Estou planejando fazer, periodicamente,

alguma coisa para sua biblioteca, como, por exemplo, 2 ou 3

artigos do ‘Reader’s Digest’ que foram publicados aqui na edição

em português e que acho que poderiam ser encorajadores para os

cegos, porém, a maior parte do tempo, certamente a usarei para

transcrever a literatura bahá’í. Tenho esperança de que Edith

se dedicará a isso também, já que ela tem bastante tempo livre e,

portanto, precisa fazer algo por outros ainda menos afortunados

do que ela – ela vê sua sorte na vida como a pior de todas! – e

afastar sua mente um pouco de si própria. Ela parece sentir

ainda mais frio aqui do que em Petrópolis e está sempre sofrendo

do nariz e da garganta.

… Esta semana, fiz uma nova tradução do ‘Testamento’,

pois está para ser impressa e ainda estou trabalhando no ‘Seleção’

e, cada vez que Harold vai para o Rio, mando por ele umas 40

páginas à comunidade de lá para estudo – eles precisam tanto

de aprofundamento, e sempre senti que é porque eles não leram

suficientemente a Palavra Criativa. Também tenho revisado

minha tradução em português do ‘Íqán’, pois há um casal

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323Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 33Traduções para o Braille

brasileiro muito simpático que foi recebido na comunidade de

São Paulo na mesma noite em que eu – na minha transferência

oficial de comunidade – e vem uma noite por semana para

estudá-lo comigo. Estou novamente no Comitê de Publicações

em Português; tivemos nossa primeira reunião aqui em casa na

última sexta-feira e teremos a segunda reunião hoje à noite.

Estou também no Comitê Nacional de Ensino do setor Brasil...

Voltando ao assunto da máquina de escrever em braille –

você [Alethe] deve ter achado engraçado as minhas observações

sobre os símbolos em português. Sabe, eu havia imaginado que

fosse uma máquina de escrever normal, a não ser pelo fato de

seus botões fazerem furos e que, portanto, deveria haver um

botão para cada símbolo! Sem dúvida, muito estúpido de minha

parte! Se você ainda não tiver gasto o dinheiro na máquina, à

medida que eu precise, poderei usar um pouco dele para

literatura. Certa vez, você falou também a respeito do disco

‘Words for the World’. Gostaria muito de tê-lo – poderia me

mandar um quando puder ou talvez seja melhor esperar até eu

ir aí? Você tem ‘Drama of Salvation’? Gostaria tanto de ter

exemplares de novos livretos, material de rádio, etc. – quando

estiverem prontos – e qualquer coisa que você achar especialmente

bom para o trabalho de ensino – que incômodo sempre sou para

você!”1

[Demonstrando grande interesse nesta iniciativa detraduções para o braille, o Serviço Bahá’í para Cegos,um comitê da Assembléia Espiritual Nacional dosBahá’ís dos Estados Unidos escreveu para Leonora:]

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324Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 33Traduções para o Braille

“O amado Guardião solicitou que nos correspondêssemos

com os países onde são feitos trabalhos em braille e preparássemos

para ele uma lista completa de toda a literatura já feita em

braille, em todas as línguas. Como estamos tentando obter esta

informação o mais rápido possível, agradeceríamos muito se

você fizesse contato conosco via correio aéreo.

Precisamos saber os nomes dos autores, os títulos tanto

em inglês como em português, bibliotecas ou escolas onde as

transcrições possam ter sido colocadas e quaisquer informações

que considere úteis a respeito de seu trabalho com os cegos. Esqueci

de perguntar em que ponto está seu trabalho de transcrição do

‘Nova Era’. Deve ser maravilhoso transcrever para o braille os

livros que você traduziu, o Guardião ficará feliz.

… O sr. Torii está fazendo um trabalho magnífico e

Agnes Alexander logo estará de volta ao Japão. Publicamos

três panfletos em braille no inglês padrão.”2

[Em resposta a essa carta do Serviço Bahá’í para Ce-gos, Leonora veio a explicar seus esforços e desafioscom a tradução em braille.]

“Fiquei muito feliz em receber ontem sua carta contando

sobre o trabalho que está sendo feito aí no sentido de transcrever

a literatura bahá’í para os cegos, e também no Japão, do grande

interesse e desejo do Guardião de ser informado do progresso

deste trabalho em todos os países. Tenho me correspondido

também com o sr. Torii e admiro muito seu leal serviço durante

tantos anos.

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325Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 33Traduções para o Braille

Quanto ao meu trabalho aqui de transcrever em brailleportuguês, não fui capaz de cumprir o programa que fiz paramim mesma para este ano, principalmente por falta de umamáquina de escrever. Uma das escolas para cegos em São Paulo,para demonstrar sua gratidão pelo fato de eu ter traduzidopara o inglês um manual para acompanhar uma máquina decalcular que eles adaptaram para ser usada por cegos, permitiu-me usar uma de suas máquinas, e estava indo muito bem como ‘Nova Era’, quando foi decidido que deveríamos voltar paraPetrópolis no final de junho, e tive, então, que devolver amáquina deles. Eu esperava terminá-lo até outubro, mas, nestascircunstâncias, fiz apenas os primeiros capítulos. O título dolivro do dr. Esslemont em português é: ‘Bahá’u’lláh e a NovaEra’. O livreto – condensação do livro ‘Security for a FailingWorld’ – de Stanwood Cobb em português: ‘Segurança paraum Mundo Decadente’, ‘Seleção de Orações de Bahá’u’lláh e‘Abdu’l-Bahá’ (uma seleção feita por mim das orações) e o livreto

em esperanto: ‘La Bahaa Revelacio’, o pequenolivreto verde publicado muitos anos atrás, comuma seleção adicional dos Escritos, os transcrevipara poder emprestá-los a amigos cegos em SãoPaulo e em Niterói. Dois estudantes cegos em SãoPaulo, a quem regularmente ajudava com seusestudos, ficaram interessados na Fé e não somenteleram tudo o que tinha colocado em braille, mastambém os emprestaram a seus amigos. O livretoem esperanto, depois de tê-lo emprestado a um

Edição em braille do livreto “Co-munhão com Deus”, feita em1983, da tradução de Leonora,dando continuidade ao trabalhopor ela iniciado de levar a Men-sagem Bahá’í aos deficientes vi-suais.

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Capítulo 33Traduções para o Braille

esperantista cego em Niterói, espero poder colocá-lo na bibliotecada escola em que me permitem usar a máquina, pois lá há umgrupo que está estudando esperanto.

A maior parte do meu tempo livre é dedicada à traduçãoda literatura bahá’í em português – agora estou trabalhandono ‘Seleção’ – mas, à noite, quando meus olhos estão muitocansados para outro trabalho, gosto de usar a máquina de escreverem braille, e sou realmente grata por ter escrito a Perkins paraverificar se há alguma máquina disponível. Estou muito ansiosapara terminar ‘A Nova Era’ em braille português e para, vez emquando, continuar transcrevendo ‘Seleções dos Escritos’ [deBahá’u’lláh], pois tenho oportunidade de usá-las em meuscontatos entre os cegos.

Talvez esteja interessada em saber como aconteceu meuprimeiro contato com os cegos. Foi através de um apelo publicadono jornal do Rio de Janeiro a voluntários para lerem para osestudantes cegos do Instituto Benjamim Constant, a escolanacional para os cegos, já que o suprimento de livros e textos embraille português é tão insatisfatório. Isto fez com que eu passassea ensinar inglês a um pequeno grupo de alunos da escolasecundária de lá e, mais tarde, em São Paulo, dando aulasgratuitas de inglês em uma das instituições para cegos.

Você pergunta sobre abreviações em braille português. Achoque lembro de ter ouvido algo sobre a falta de uniformidade nossistemas usados e alguma reclamação dos alunos a respeito decomplicações ou dificuldades de leitura, mas posso ter entendidoerrado. Quando comecei a transcrever, nada sabia a respeito de

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Capítulo 33Traduções para o Braille

contrações e como ninguém me enfatizou a importância de usá-las, pois sem dúvida as teria usado para qualquer obra de grandeporte como ‘A Nova Era’, nunca dei a devida importância aoassunto. E também os muitos acentos necessários em portuguêscomplicam ainda mais o braille em português.

Quanto ao tamanho do papel – o mais utilizado pelasinstituições e o que me foi dado para transcrever trabalhos paraos estudantes é o 10 ¾ x 8. Para ‘A Nova Era’ estou usando o12 ¾ x 9 ¾, pois esta parecia ser a divisão mais adequadadas grandes folhas de papel que me era possível comprar e tevea aprovação dos alunos. Um dos alunos que entrou na faculdadeeste ano ofereceu-se para fazer cópias extras de ‘A Nova Era’em braille, com a ajuda de amigos cegos, e tudo mais que mefor possível transcrever. Quando ele souber mais inglês e tiveraprendido as contrações do braille inglês, ele mesmo será capazde traduzir e transcrever.

Ainda não coloquei transcrições da literatura bahá’í emqualquer escola ou outras bibliotecas, mas espero que logo haveráoportunidade para isso.

Meus sinceros agradecimentos por toda a sua cooperaçãoe calorosas saudações bahá’ís. Fielmente em Seu serviço.”3

[Com tão poucos tradutores, em especial para o braille– e num tempo em que até mesmo o acesso às maqui-nas de escrever em braille era um desafio – mantercontato de intercâmbio com outros tradutores era su-mamente importante. Leonora aprofundaria, portan-to, estes contatos até com pessoas no Japão.]

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Capítulo 33Traduções para o Braille

“Kamiwakakusacho, Murasakino, Kamigyo-Ku, Kyoto,Japão.

23 de abril de 1953À sra. Armstrong, São Paulo, Brasil.Querida amiga bahá’í,Algum tempo atrás, recebi sua carta com grande alegria

e gratidão, a qual estava escrita em braille esperanto. Sinto nãopoder escrever em esperanto, porque esta máquina não tem ossinais para fazê-lo. Alexander ficou muito feliz em receber suacarta que estava em anexo. Ela morou aqui nesta cidade duranteseis meses desde outubro passado e deixou o Japão com o‘Presidente Wilson’ [navio] para ir à América, a fim de assistirao congresso bahá’í em Wilmette, Illinois. Espero que ela volte aKyoto, se esta for a vontade de Deus.

Quanto aos livros bahá’ís em esperanto e em braille quevocê deseja, sinto muito que não haja nenhum no mundoatualmente, embora saiba que muitos anos atrás foi impresso‘La Bahaa Revelacio’ em Svedujo, pelo sr. Harald Thailander,um famoso esperantista cego... Todo mês, ele publica uma revistaem braille esperanto, a ‘Esperanta Ligilo’...

Estou anexando uma breve história da minha escola euma carta que a srta. Alexander tão gentilmente escreveupedindo materiais para serem mandados para a exposição queserá realizada em outubro próximo. Se puder nos ajudar nesteprojeto enviando-nos algumas coisas para cegos do Brasil, ficareimuito grato, pois não tenho absolutamente coisa alguma paracegos da América Latina.

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329Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 33Traduções para o Braille

Penso que será do seu interesse saber que

em Osaka, perto de Kyoto, temos amigos bahá’ís

do Irã que para lá chegaram recentemente e irão

morar durante alguns anos. Assim sendo, teremos

reuniões com eles.

De coração, agradeço pelo seu serviço em

ajudar os cegos e lhe desejo todo sucesso.

Com saudações bahá’ís e amor a vocês

todos, especialmente aos cegos...

Muito sinceramente,

Tokujiro Torii

Vice-diretor da Escola para Cegos da

Prefeitura de Kyoto”4

[A um novo amigo tão distante, Leonora respondeucom grande entusiasmo.]

“Querido amigo bahá’í,

Fiquei realmente muito feliz em receber sua carta de 23

de abril contendo anexos tão interessantes – a história de sua

escola municipal e o bilhete da srta. Alexander pedindo material

para sua exposição. Como vejo que sabe inglês muito bem, estou

respondendo nesta língua, o que, evidentemente, para mim é

mais fácil do que esperanto. Se, no entanto, for mais conveniente

para que eu escreva em braille inglês, ficarei feliz em assim fazê-

lo futuramente.

Como em seu bilhete a srta. Alexander diz que todo

material para a exposição deve ser recebido até 1º de maio, estou

Agnes Alexander e o casal Torii.

por volta de 1940, morando no

Japão, país onde se estabeleceu

como pioneira..

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Capítulo 33Traduções para o Braille

em dúvida se adiantaria alguma coisa lhe mandar agora…Evidentemente, todas as publicações em braille aqui são emportuguês. Um estudante universitário cego, a quem estiveajudando com seus estudos, trouxe-me um exemplar da revistamensal publicada pela imprensa braille de São Paulo, mas comoduvido que haja alguém aí que leia português, esperarei até queme dê mais notícias, antes de mandá-la ou qualquer outraliteratura em português. Em braille esperanto, tenho algunsvolumes de ‘Nia Vivo’, publicado na Iugoslávia, e ficarei felizem lhe mandar um ou todos para a exposição, se forem de alguminteresse, e também um livreto bahá’í em braille esperanto querecentemente transcrevi e que gostaria especialmente de oferecer,seja para a exposição ou para ser lido por qualquer pessoa quepossa ter interesse. Tentarei conseguir fotografias e qualquercoisa mais que você possa sugerir, se não for muito tarde paramandar...

Você dever ser, com certeza, parabenizado pelos seus muitosanos de esplêndido trabalho na Escola de Kyoto, e acho que oJapão estabelece um exemplo que outros países devem emularno trabalho para cegos. Temos muita esperança de que a visitaque acabamos de receber da srta. Helen Keller* dará um grandepasso no sentido de gerar a compreensão da opinião pública hátanto e tão urgentemente necessitada neste país. Nossacomunidade bahá’í aproveitou a oportunidade para mandar belasflores à srta. Keller com um bilhete de boas-vindas e o livreto do‘Templo’ em braille, em vista da simpatia que, como vocêprovavelmente sabe, ela expressou para com à Fé.†

*Helen Keller (1880-1968), umamulher extraordinária que era cega,surda e muda. Aprendeu a ler e es-crever pelo método Braille. O esfor-ço de sua mente em procurar se co-municar com o exterior teve comoresultado o afloramento de uma in-teligência excepcional, consideradaa maior vitória individual da histó-ria da educação. Ela foi uma educa-dora, escritora e advogada de ce-gos. Percorreu vários países do mun-do promovendo campanhas paramelhorar a situação dos deficientesvisuais e auditivos. É consideradauma das grandes heroínas do mun-do. Em um de seus escritos, ela diz:“Várias vezes pensei que seria umabênção se todo ser humano, de re-pente, ficasse cego e surdo por al-guns dias no princípio da vida adul-ta. As trevas o fariam apreciar mais avisão e o silêncio lhe ensinaria asalegrias do som.”†Dando continuidade ao trabalhode Leonora, a Editora Bahá’í doBrasil fornece livros em formato ele-trônico para o deficiente visual ins-talar em computador podendo serimpresso em braille ou escutá-loatravés de software que lê o livropara o cego. n.e.

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331Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 33Traduções para o Braille

Estou deveras interessada e muito feliz em saber da chegadade alguns bahá’ís persas ao Japão. Que exemplo eles estão nosdando [xxx]* levantando-se em resposta ao apelo do nossoGuardião por pioneiros![xxx] deve saber sobre a esplêndidaresposta também na América do Norte [xxx] recente Convenção,muitos declarando sua prontidão em ir [xxx] qualquer partedo mundo, não importando quão remota. Estamos esperando[xxx] próximo mês, uma das Mãos da Causa persa, filho [xxx]mártires. Apesar de sua idade avançada, 75 anos, ele planejavisitar [xxx] comunidades da América do Sul; como pedidoespecial do Guardião [xxx] certamente, será uma grandeinspiração [xxx]”5

*[xxx]: ilegível na cópia carbonoda carta de Leonora.

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332Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 34A Cruzada de Dez Anos: 1953-1963

Famoso mapa feito peloGuardião da Cruzada deDez Anos.

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333Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 34A Cruzada de Dez Anos: 1953-1963

[A vívida e sempre presente recordação de sua queridamãe, despertou em Leonora o desejo de se fazer umacontribuição especial em sua memória. Assim, umadoação foi enviada à Terra Santa, em nome de sua mãe– Grace Holsapple – para ajudar no avanço da Causa,dentro do contexto da Cruzada Mundial de Dez Anosque se iniciava. O Guardião lhe enviou uma nota deagradecimento.]

le deseja lhe assegurar de suas orações por suaquerida mãe nos reinos do além. Ele temcerteza de que esta doação em memória

dela será uma fonte de felicidade para ela e um meio para odesenvolvimento de sua alma no Reino de Abhá.

O Guardião está imensamente agradecido pelo seu longoperíodo de sacrifício e serviço na América do Sul. Ele sente queas sementes que você lançou produzirão frutos por muitasgerações futuras.

Ele espera, igualmente, que você será capaz de desempenharum papel muito importante na Cruzada de Dez Anos diante denós, quando a força e a capacidade de todos serão exigidas aomáximo.”1

34A CRUZADA DE DEZ ANOS

1953–1963

“E

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334Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 34A Cruzada de Dez Anos: 1953-1963

[O lançamento da grande Cruzada de Dez Anos e suasmetas desafiadoras despertaram em Leonora o desejode poder eventualmente servir em campos maisdistantes. A notícia da celebração nos Estados Unidosda Conferência Intercontinental de Ensino,coincidindo com a inauguração da Casa de Adoraçãodos Estados Unidos, junto com todas as demaisnotícias, encheu o coração de Leonora com umrenovado espírito e desejo de serviço à Causa. Elaescreveria, então, ao Guardião expressando seu desejode poder corresponder às altas expectativas que eletinha para ela.]

“Sua carta … trouxe-me muita alegria, assim como suascartas sempre o fizeram durante estes anos. Seu sentimento deque meus pobres esforços – as sementes que me foram permitidassemear neste continente – realmente ‘produzirão frutos pormuitas gerações futuras’ é, de fato, muito reconfortante paramim, e, freqüentemente, pensar nisso me incita a maiores esforços,quando tenho a tendência de ficar por demais desencorajadapela aparente pequenez dos resultados. Além disso, a esperançaque o senhor expressou em sua carta de que, apesar de todas asminhas deficiências e falhas, ainda poderei ser capaz dedesempenhar ‘um papel muito importante’ na Cruzada de DezAnos, tenho-na mantido sempre em mente e anseio saber de quemodo e onde posso servir mais efetivamente.

Não sei se por causa das importantes metas a seremalcançadas neste país, bem como, nos novos territórios aos quaiso senhor nos convocou e, em vista de meu conhecimento da língua

Templo Bahá’í de Wilmette,Illinois, EUA. Inaugurado em1953, celebrando o início daCruzada de Dez Anos.

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Capítulo 34A Cruzada de Dez Anos: 1953-1963

e do Comitê de Publicação, a cujo trabalho sempre dedico umagrande parte do meu tempo, e também por empreender algunsprojetos de ensino especiais no Norte do Brasil, ou se devo ir aum novo posto em algum lugar remoto onde as necessidades sãoainda mais urgentes. Sei como o senhor está contente pelosresultados das grandes Conferências Intercontinentais e quãoansioso está para ver todos os postos preenchidos com a menordemora possível.

De todo coração, agradeço-lhe por suas palavras deencorajamento e pela confirmação de suas orações, e lhe imploropor suas constantes orações para que eu possa ser guiada eamparada para servir da melhor maneira possível, e assim tero privilégio de acrescentar, em uma pequena medida, algo à suafelicidade.”2

[Conhecendo a pureza e a intensidade do desejo deLeonora em servir à Causa, mas também de suasresponsabilidades familiares, o Guardião assim escreveuà Leonora:]

“O Guardião, embora sinta que o estabelecimento denovos centros é da máxima importância durante a Cruzada deDez Anos, não a aconselharia a se empenhar em quaisqueratividades contrárias aos desejos de seu marido. Se ele não fazobjeção de você fazer ensino em algum lugar remoto, então, esteserá certamente um serviço altamente meritório; caso contrário,você deve continuar com suas importantes atividades relacionadosaos comitês de ensino e de publicação.”3*

*Consciente, portanto, de seudever de permanecer no Brasil,onde ainda havia tanto para serfeito e onde o número de bahá’ísativos ainda era tão pequeno, nosanos seguintes ela se dedicariacom ainda maior tenacidade àsatividades de ensino e em apoiaro fortalecimento das recém-nascidas instituições.

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

Leonora em sua chácara em Juizde Fora, Minas Gerais.

Vista do Dedo de Deus,em Petrópolis, Rio de Ja-neiro.

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

[Leonora e Rúhíyyih Khánum nutriam grande amiza-de, desde o tempo de suas juventudes, quando Leo-nora ainda se preparava para deixar os Estados Uni-dos para se tornar uma pioneira no Brasil, em 1921.Gestos de carinho e apreço eram constantes entre es-sas duas velhas amigas. Agora um pequeno, mas signi-ficativo presente, viria mais uma vez tocar o coração deLeonora – sementes da laranjeira “que o Báb plantarano jardim de sua Casa em Shiráz”.1 Em agradecimen-to, ela enviaria uma longa carta à sua querida amigaRúhíyyih Khánum.]

uito querida Rúhíyyih Khánum,A mensagem do amado Guardião

trazida por sr. e sra. Mohtadi dominou-mecompletamente com alegria e, ao mesmo tempo, com

um sentimento de vergonha por não ter feito muito mais do quefiz para merecê-la. É minha mais fervorosa súplica que, no tempoque ainda me restar para servir à Causa neste mundo, eu sejaguiada e amparada para fazê-lo cada vez mais com meu inteirocoração e efetivamente.

35

“M

A DOAÇÃO DO TERRENO

PARA O

TEMPLO NO BRASIL

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

Seu presente, minha querida RúhíyyihKhánum – [sementes] a laranja da árvoreplantada pelo Báb no Seu jardim, em Shíráz –realmente guardarei como um tesouro. Agradeço-lhe muito por sua amorosa lembrança em memandar isto e pelo seu cartão. Sou-lhe grata pordespender do seu tempo para me escrever, quando

está sempre tão ocupada. Foi uma alegria encontrar, no dia desua chegada ao Rio de Janeiro, estes queridos pioneiros persasque acabavam de chegar de Haifa e que nos trouxeram tanto doespírito daquele lugar sagrado, e isto, juntamente com seupresente e bilhete enviados através deles, fez com que me sentissemuito próxima de você.

Pede-me para lhe dizer como estou e como está indo otrabalho no Brasil. Tenho me repreendido tantas vezes por nãolhe escrever, mas o motivo é o mesmo de sempre – fico adiandona esperança de que logo possa haver mais progresso para relatar– um grupo ativo e crescente em pelo menos uma das cidades-meta, alguma vitória de destaque – anseio por ver realizaçõesmuito maiores. Sua preciosa carta, de uns três anos atrás, escritaem nome do Guardião, com uma mensagem adicionada peloseu próprio punho, foi em resposta à minha pergunta sobre saircomo pioneira para um dos distantes postos que tão urgentementeprecisavam ser preenchidos naquele tempo. Esta me pareceu sera ‘primeira escolha’ de Bahá’u’lláh, mas como o Guardiãocondicionou-a à total aprovação de meu marido, achei que nãopoderia ir... Assim, não respondi à carta do Guardião, mas

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

esperei, pensando que pudesse haver alguma mudança, até mesmoque meu marido viesse a aceitar a Fé e estar pronto para ircomigo. Entrementes, tentei fazer o que o Guardião meaconselhou, caso meu marido não aprovasse, a continuar minhasatividades com os comitês de ensino e publicação. Até algunsmeses atrás, estava revisando e corrigindo as publicações emespanhol, bem como, encarregando-me de praticamente toda atradução e revisão em português. E tendo me desembaraçadodos trabalhos anteriores, posso agora dedicar mais tempo aoportuguês e, finalmente, completei uma cuidadosa revisão datradução em português do ‘Íqán’ que fiz alguns anos atrás, eespero logo poder revisar minha tradução do ‘Seleção’. Nomomento, estou trabalhando em um livro de orações maiscompleto em português.

Como meu marido espera se aposentar no final do próximomês, surgiu a pergunta sobre onde vamos morar. Parece-me quenão devemos ficar muito longe do Rio por causa do trabalho depublicações e, também, que devemos morar em ou próximo deuma das cidades-meta, tais como Niterói, Petrópolis ou Juiz deFora (no estado de Minas Gerais). Eu estava a favor de Niterói,mas agora há planos para que pelo menos dois pioneiros trabalhemlá e, como fica próxima ao Rio, membros desta comunidade podemfacilmente ajudá-los. Acontece que nossa pequena chácara,originalmente adquirida para passarmos a nossa velhice, fica aapenas poucas milhas de Juiz de Fora, só a uma hora de ônibus,e como alguns anos atrás esta foi escolhida como uma cidade-meta pela comunidade do Rio, apesar de nada ter sido começado

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

lá até agora, fica parecendo como que esta seja, talvez, a cidadena qual devo concentrar meus esforços. Se morarmos lá, posso irao Rio sempre que necessário para estar em contato com o trabalhode publicação e ajudar a comunidade de qualquer modo que sejapossível. Como nessas viagens passaria por Petrópolis, poderiatambém preservar alguns contatos promissores que tenho lá. Semorarmos na chácara, por termos pessoas lá que fazem todo otrabalho, terei mais tempo livre do que nunca para me dedicar àtradução e também às minhas transcrições para o braille (nuncative tempo de completar ‘A Nova Era’ em braille português quecomecei anos atrás!) e também estarei mais livre para fazerviagens ocasionais a outras partes do Brasil, aonde quer que oComitê de Ensino achar melhor. Esperamos que a aposentadoriade meu marido seja adequada para isto. Ele é tão bondoso,generoso e cooperativo no que se refere ao meu serviço à Fé e meparece tão próximo a se declarar bahá’í. Por que? Ó, por queele não é? Há somente a desvantagem da chácara ser inacessível,se comparada, por exemplo, a Petrópolis, onde certamente épossível realizar firesides semanais e outras reuniões em nossacasa e onde estaríamos a apenas uma hora e meia de ônibus doRio. O ônibus de Juiz de Fora ao Rio leva cerca de cinco horas ea chácara fica a dois quilômetros do ponto de ônibus. Meu maridose disporia a morar em Petrópolis ou em alguma outra cidade-meta, se eu assim preferisse, e apenas ocasionalmente visitar achácara. Realmente não sei qual é melhor, mas oro para quesejamos guiados a tomar a decisão correta. Como gostaria de

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

poder dizer que estou pronta para ir a qualquer parte do mundo

que o Guardião aconselhe!

Talvez se lembre que alguns anos atrás lhe escrevi a

respeito de um terreno que desejava doar à Fé. Algo aconteceu

em relação a esse terreno que me parece uma coisa espantosa.

Até alguns meses atrás, ouvíamos que uma nova rodovia de

oitenta metros de largura fez tantas curvas dentro dele cortando-

o em pequenos pedaços a ponto de torná-lo praticamente inútil,

e eu estava pensando como poderia economizar o suficiente para

comprar um terreno em outro lugar. Então, o filho do amigo,

através de quem o adquirimos em 1944, levou-nos

até lá, ajudou-nos a identificar nossa propriedade,

legalizou seus limites e o avaliou. Para meu alívio,

soubemos que as descrições haviam sido muito

exageradas e que, embora seu tamanho tivesse sido

bastante reduzido, ainda restavam 20.000m2 cujo

valor era agora quase cem vezes o valor da propriedade

original! Provavelmente, o Guardião já recebeu a cópia

da escritura, pois finalmente foi transferida para a

Assembléia Espiritual, e estou feliz em dizer que isto

me deixa muito feliz, e também porque meu marido

jamais expressou uma única palavra de

arrependimento por ter consentido que eu doasse

exatamente este terreno, que por acaso se tornou tão

valioso – muito mais valioso do que qualquer coisa

que já tivemos ou esperamos ter... Isto me lembra da

Leonora e seu jardim de rosas em

Juiz de Fora.

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

história de Rabindranath Tagore a respeito de um mendigo, cujos

grãos de milho, quando doados ao rei, transformaram-se em

ouro. Eu sei que foi somente através da bondade de Bahá’u’lláh

que me foi permitido fazer esta doação, e sou imensamente grata.Como este terreno tem uma localização bastante pitoresca

– ao pé da montanha chamada Dedo de Deus e também é tãopróximo ao que se consideraria como um local adequado paraTemplo, porém, agora, receio que a área seja muito pequena, ecomo o preço aumentou tanto, não posso mais comprar terrenosadjacentes como tantas vezes pensei em fazer; se, entretanto,não for considerado muito pequeno e o julgarmos adequado,comprarei um terreno para a escola de verão mais afastado darodovia, onde deve ser mais barato ou em algum outro localcompletamente diferente. Em verdade, para uma escola de verão,provavelmente seria mais apropriado um local mais elevadonas montanhas onde no verão seria mais fresco; como, porexemplo, um dos belos locais em que nossas conferências anuaisde ensino têm sido realizadas, a 1.000 metros de altitude, eonde terrenos ainda são baratos, pois dizem que a altitude desseterreno é de apenas 200 ou 300 metros. O terreno em si estápraticamente nivelado, o que acredito que o favoreça como localpara um Templo. Há também uma abundância de rochagranítica, agora utilizada para construção em toda região. Seminha sugestão for aprovada, o Brasil poderá ter de uma só vezo terreno para ambos os objetivos. Naturalmente, sinto-mecompletamente indigna do privilégio de doar o terreno para oprimeiro Templo do Brasil, mas certamente ficarei emocionada

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

se por ventura me for permitido fazer isso. Você sente que poderia

consultar o Guardião a este respeito ou é um assunto que deve

ser deixado inteiramente ao critério da nossa Assembléia

Espiritual Nacional?

A vinda de tantos bahá’ís persas ao Brasil certamente

deu um grande impulso ao crescimento da Causa aqui e isto

levará à formação de pelo menos uma nova Assembléia no

próximo Ridván. Alguns não-bahá’ís, como meu marido,

ficaram impressionados com a sinceridade e o ardor da devoção

deles à Fé.”2

[Uma resposta plena de satisfação viria de sua amigaRuhíyyih Khánum.]

“Minha querida Leonora,

Fiquei encantada por receber notícias suas, pois há muito

ansiava por elas.

Você diz que não tinha nada para dizer ao Guardião e

por isso não escreveu, mas se soubesse quão feliz ele ficou com a

carta que escreveu devido ao fato de que o terreno que comprou

há tanto tempo não somente está registrado no nome da

Assembléia, mas também, pode vir a ser a propriedade para o

futuro Mashriqu’l-Adhkár do Brasil! Ele deseja que o terreno

seja usado para este propósito e nenhum outro. Ele está

profundamente feliz que este presente tenha vindo de sua parte,

sobre quem ele muitas vezes fala com tanto amor como a primeira

pioneira da América do Sul. Recentemente, ele começou aquilo

o que ele chama de Mapa das Realizações Auxiliares que estão

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

sendo cumpridas durante o período do Plano de Dez Anos, e

ficou muito feliz em adicionar este terreno para o Templo no

Brasil como outra importante aquisição para a Fé em seu

precioso mapa. Vê, quão feliz você deve ficar?

Tenho certeza de que se for possível para você, e contar

com a aprovação de seu marido, seria muito melhor residir

onde possa estar ativa junto com os bahá’ís, ou seja, em uma

cidade, como você sugere, em vez da sua propriedade que é tão

isolada...

Muito amor para você, minha querida Leonora, e minhas

mais afetuosas lembranças ao seu marido.

O amado Guardião envia-lhe seu amor e deseja que saiba

quão profundamente ele agradece seus antigos e atuais serviços.”3

[Que maior sentimento de alegria poderia povoar ocoração de Leonora, que saber do contentamento deShoghi Effendi ao tomar conhecimento de que elahavia adquirido um terreno com a intenção de ali cons-truir o futuro Mashriqu’l-Adhkar do Brasil? Isso ani-mou Leonora a compartilhar, ainda que timidamente,alguns detalhes de outros de seus planos pessoais emapoio à Causa. Mas, informações adicionais sobre oterreno doado, indicavam a existência de sérias com-plicações com a propriedade. Ela explicaria a situaçãonuma carta à Rúhíyyih Khánum.]

“Sua carta dizendo-me que o Guardião realmente deseja

que a propriedade seja usada para o futuro Mashriqu’l-Adhkár

do Brasil emocionou-me além das palavras. Mal ousei esperar

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

que ele o julgasse apropriado para esse propósito e ainda parecebom demais para ser verdade. Vez por outra, tenho que ler suacarta e, então, dizer a mim mesma que não é apenas um sonho!

… Agora, desde que voltamos para o Rio, surgiu umproblema com relação à propriedade do Templo. Fiquei sabendoque uma faixa de terra limítrofe com um dos seus lados foidividida em duas fileiras de lotes de construção com uma ruaentre os mesmos, e é justamente ao longo dessa rua que passarãoas redes de água e esgoto. Assim, nossa propriedade não teráacesso a esses serviços, pois será separada por uma fileira de setelotes de construção. A parte da nossa propriedade contígua aorio, conforme acho que expliquei na minha carta anterior, foiseparada do restante pela rodovia e é tão estreita que acho quesó pode ser usada como jardim.

Fiquei tão grata pela sua opinião quanto ao melhor lugarpara eu morar, e estou feliz em lhe dizer que meu maridoconsentiu em possuirmos uma casa em Petrópolis por mais algumtempo, por pelo menos mais um ano, e passarmos apenas umaparte do nosso tempo aqui na chácara. Aqui é tão belo e tranqüiloque sinto como o lugar ideal para trabalhar em traduções, etc.,e, quando em Petrópolis, posso me concentrar em orientar osbahá’ís do Rio e Niterói. Temos a esperança de poder alugaruma casa um pouco mais próxima ao centro de Petrópolis ecom telefone, de modo que será mais fácil estar em contato comas pessoas. Isto é bem difícil, mas esperamos conseguir.

Certamente, estou muito contente por estar lhe enviandocópias das cartas de sua querida mãe, tão preciosas para mim.

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

Costumava dizer à sua mãe que a beleza espiritual que elapensava ver nos outros – em mim, pelo menos, era meramenteum reflexo da beleza de seu próprio espírito, ou melhor, talvez,uma beleza que ela realmente fazia nascer neles através doardor absoluto de sua fé e da intensidade e pureza de seu amorque tão profusamente derramava sobre nós. Foi sua mãe quemprimeiro me fez sentir a realidade do amor de Deus. Foi elaquem, juntamente com Martha Root, deu-me a coragem desair como pioneira para a América do Sul e quem, em seguidaao amado Guardião, mais me encorajou a perseverar em minhaárdua tarefa. Estou anexando a primeira parte das cartas,embora não em ordem cronológica, pois,... as mais antigas, tenhoque procurar no meio dos meus muitos papéis que venhoguardando há muito tempo; nos últimos anos tenho me mudadomuitas vezes, mas aos poucos eu as enviarei. Espero querealmente possa escrever a biografia de sua mãe. Certamente,esta deve ser escrita e tenho certeza de que não há ninguémmelhor para fazê-lo.

Realmente, seria uma grande alegria vê-la novamente,querida Rúhíyyih Khánum, e que meu marido a pudesse conhecer.Tenho sonhado levá-lo a Haifa algum dia ou, talvez, a Bagdáem 1963, se, então, ainda estivermos vivos. Certamente seriaum grande privilégio. Ele lhe envia suas mais calorosas saudações.

Por favor, transmita minhas reverentes e afetuosassaudações ao amado Guardião e minha profunda gratidão portodas as suas palavras de encorajamento. Lembro-me que emuma carta, há alguns anos, ele me assegurou de suas orações

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Capítulo 35A Doação do Terreno para o Templo no Brasil

para que eu fosse auxiliada a prestar serviços à Fé e às ‘suasinstituições’ e fico realmente feliz que, em resposta às suas orações,até certo ponto me foi concedido fazer isto.”4

[Como uma folha flutuando livremente ao vento,Leonora sempre estava preparada para fazer uso dequaisquer mudanças de circunstâncias em sua vidacomo oportunidades de servir à Causa. Ascircunstâncias de uma vida, em constante movimento,agora levariam Leonora e seu marido de volta a SãoPaulo, onde ela permaneceria por muitos meses.]

“…surgiram circunstâncias com que meu marido achasseaconselhável retornar a São Paulo a fim de trabalhar por maisalguns meses e, embora estivesse ansiosa por me estabelecer emPetrópolis, tive um forte sentimento de que meu trabalho emSão Paulo ainda não havia terminado e que, portanto, nossavolta era realmente providencial para mim. Havia contatospromissores, os quais eu havia negligenciado como resultado dapressão do trabalho de tradução durante todos aqueles mesesaqui, o que sempre deplorei, mas achei que nada poderia fazera respeito. Assim, fico contente por agora poder dar continuidadea alguns desses contatos, alguns dos quais realmente parecemser pessoas de grande capacidade, pelas quais eu vinha orandohá muito tempo, e também por ter a oportunidade de cooperarum pouco mais com os persas e outros amigos daqui.”5

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348Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

Convenção em Lima, Peru, 1951 Convenção em Buenos Aires, Argentina, 1953

Convenção em Santigo, Chile, 1954. Convenção em La Paz, Bolívia,1955

Conferência Internacional de Ensino, em Niterói, Brasil, 1959

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349Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

[As primeiras Assembléias Espirituais Locais daAmérica Latina começaram a ser progressivamenteestabelecidas a partir do início dos anos 40, exatamentena metade do primeiro Plano de Sete Anos. Somenteuma década depois foi eleita a primeira AssembléiaEspiritual Regional da América do Sul, em abril de1951, composta por dez diferentes nações: Argentina,Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai,Peru, Uruguai e Venezuela.

A Cruzada de 10 Anos, lançada pelo Guardiãoem 1953, previa a formação de pelo menos 20instituições nacionais nas Américas. Esteempreendimento de abrangência mundial culminariacom a eleição da Casa Universal de Justiça no ano de1963. Lançou-se, logo no início desse Plano Mundial,um chamado de pioneirismo e nos primeiros meses de1955 começaram a desembarcar no Brasil os primeirosgrupos de pioneiros iranianos*, cujas famílias, emgeral, dirigiram-se às regiões Sudeste e Sul do país,devido as eventuais e mais favoráveis condições detrabalho. Outros grupos se estabelecem em diferentespaíses do continente, incluindo, também, pioneirosnorte-americanos.

36A FORMAÇÃO DAS

INSTITUIÇÕES NO BRASIL

*Sr. Habib Taherzadehpalestrando na ConferênciaInternacional em Salvador,Bahia, 1977. Ele, juntamentecom sua família, foi o primeiropioneiro persa a se estabelecerno Brasil em 1955, durante aCruzada de 10 anos.

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350Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

O plano colocado em ação pelo amado Guardiãoprevia ainda a formação de mais duas AssembléiasNacionais Regionais a serem formadas em 1956. Cadauma dessas duas Assembléias seria composta por cinconações, em substituição à Assembléia original formadapor dez países. E assim, no Ridván de 1956, essas duasAssembléias Espirituais Nacionais foram eleitas, umapara os bahá’ís do Brasil, Peru, Colômbia, Equador eVenezuela e a outra para os bahá’ís da Argentina,Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. Uma AssembléiaEspiritual Regional semelhante foi eleita para os paísesda América Central.

O desenrolar da Cruzada de Dez Anos previa aoseu término o estabelecimento de uma AssembléiaEspiritual Nacional independente para cada um dospaíses acima mencionados, a serem eleitas no Ridvánde 1961. Para que isso acontecesse, era necessárioestabelecer certo número de Assembléias EspirituaisLocais em cada país. Conferências especiais de ensinoforam então realizadas anualmente em cada paísvisando aprofundar os amigos nas verdadesfundamentais da Fé e para levantar os trabalhadoresnecessários para o crescimento e o fortalecimento daestrutura administrativa seminal da Causa. A forçacondutora do processo era diretamente guiada porShoghi Effendi até 1957, quando subitamente elefaleceu. Nos anos de 1957 a 1963 foram as Mãos daCausa de Deus que efetivamente dirigiram os assuntosda Causa em todo o mundo, e quando a CruzadaMundial chegou ao seu clímax, foi gloriosamenteconcluída com a eleição da Casa Universal de Justiça.*

*A respeito desse período, vide:The Ministry of the Custodians,1957-1963: An Account of theStewardship of the Hands of theCause. Bahá’í World Centre,1992.

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351Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

Futuros historiadores seguramentefarão uma fotografia mais nítida desse perí-odo e do impacto dessa movimentação nopróprio destino de cada um de seus países.Shoghi Effendi, o grande maestro de todoesse movimento, dirigia cartas de orienta-ção e estímulo aos amigos reunidos em cadaum daqueles primeiros congressos e confe-rências. Eis abaixo algumas das mensagensdirigidas ao Brasil:]

“4 de dezembro de 1953Aos crentes que estiveram reunidos na Conferência de

Ensino em São Paulo em 31 de outubro,Ele ficou muito feliz em saber que tal espírito de harmonia

e tal entusiasmo estavam evidentes naquela ocasião. É estadedicação total dos amigos que será a causa da criação de outrosgrupos e posteriormente de Assembléias Locais por todo esse vastopaís, de modo que, em conformidade com as metas fixadas peloGuardião para a Cruzada de Dez Anos, o Brasil poderá enfimter sua própria Assembléia Nacional.”1

“3 de dezembro de 1955Ao Comitê Nacional de Ensino dos Bahá’ís do Brasila/c Sra…Querida irmã bahá’í,

!

A Mão da Causa de Deus, sr.Valíyu’lláh Varqá e Leonora, emsua visita ao Brasil a pedido doGuardião, em 1953, para for-talecer as comunidades bahá’ís daAmérica do Sul. Ele falece pre-maturamente em 1955, e seu fi-lho, ‘Alí-Muhammad Varqá énomeado Mão da Causa de Deus,dando prosseguimento aos traba-lhos do pai.

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Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

Anexo, encontrará uma carta dirigida aos bahá’ís queparticiparam da recente Conferência realizada em Itatiaia. Favorcompartilhar seu conteúdo com os amigos que assinaram a carta.

Ele ficou contente em saber que os bahá’ís persas estãoajudando no estabelecimento de Assembléias nas cidades-metaescolhidas para o Brasil, e espera que, com a ajuda dos bahá’ísbrasileiros e pioneiros americanos, eles poderão rapidamentecumprir com sua tarefa.

Ele está seguro de que, com esforço suficiente e, acima detudo, em espírito de amor e unidade, os amigos serão capazes decumprir as tarefas que se apresentam diante deles. A coisa maisimportante é o espírito que anima os bahá’ís; porque é isto queacima de tudo o mais atrairá os corações dos não-bahá’ís.”2

“3 de dezembro de 1955Aos crentes que participaram da Conferência Bahá’í de Ensino

realizada em Itatiaia, Brasil, de 30 de outubro a 2 de novembro.Queridos amigos bahá’ís,O amado Guardião recebeu sua mensagem e a fotografia

daqueles que participaram da Conferência e me instruiu a lhesresponder em seu nome.

Ele está seguro que, renovados e estimulados pela suaconsulta, vocês foram capazes de levar para seus respectivoscentros um novo impulso ao trabalho de ensino.”3

!

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Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

“20 de outubro de 1956Àqueles que estiveram presentes em 8 de setembro no

Congresso de Ensino no Brasil.Queridos amigos bahá’ís,Sua carta de 8 de setembro foi recebida pelo amado

Guardião e ele me instruiu a lhes responder em seu nome.Ele espera que desta reunião de algumas devotadas almas,

haverá de surgir grandes resultados. Se cada um que nelaparticipou envidar todo esforço, antes da histórica Convenção,para ensinar e ajudar a consolidar mais a Fé neste promissorpaís e com a mesma determinação se empenhar em inflamar oscorações de todos os crentes, isto provará que esta pequena reuniãofoi de fato abençoada por Bahá’u’lláh e serviu para avançar otrabalho da Cruzada Espiritual Mundial.”4

“11 de outubro de 1957Ao sr... secretário do Congresso Regional de Ensino em

CuritibaQuerido irmão bahá’í,Ele ficou feliz em saber que o Congresso foi um

instrumento de amor e amizade entre os amigos.A meta de seu trabalho de ensino deve ser a de aumentar

o número de centros e grupos existentes e estabelecer muitasnovas Assembléias Espirituais naquela região. Deste modo,estarão provendo uma ampla e firme fundação para a Assembléia

!

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Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

Espiritual Nacional independente do Brasil, a qual deveráemergir em um tão curto espaço de tempo.”5

[O foco das muitas deliberações nestes congressos econferências era o rápido crescimento da Causa, tendocomo objetivo o cumprimento das metas estabelecidaspelo amado Guardião na Cruzada Mundial de DezAnos. Grande era a alegria e o entusiasmo dosparticipantes. Num dos congressos, realizado emNiterói, na época capital do estado do Rio de Janeiro –o Sétimo Congresso Anual Bahá’í Brasileiro de Ensino– contou com a presença de cerca de 55 bahá’ís,incluindo crianças e visitantes de várias cidades e regiõesdo Brasil (Niterói, Rio de Janeiro, Salvador, BeloHorizonte, Poços de Caldas, Campinas, Jacareí, SãoCaetano, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre). Aosamigos que lá se reuniram, as Mãos da Causa de Deus,

7o Congresso Anualde Ensino do Brasil,em Niterói, 1960.

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Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

residentes na Terra Santa, enviaram um chamadoespecial: o de também ajudar aos demais países daAmérica do Sul a obterem a quota necessária deAssembléias Locais para a formação de suasAssembléias Nacionais, tal qual estabelecido peloamado Guardião.

No Brasil, às vésperas da tão ansiosamente espe-rada Convenção Nacional, no Ridván de 1961, quandose elegeria a primeira Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil como uma instituição nacionalindependente, o retrato do estágio de desenvolvimentodas comunidades através do país era o seguinte:

! Comunidades com Assembléias Espirituais Locais:Salvador, Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo, SãoCaetano, Campinas, Curitiba e Porto Alegre.

! Grupos bahá’ís:Recife, Belo Horizonte, Cachoeira Dourada(Goiás), Mogi Mirim, Poços de Caldas e Santos.

! Bahá’ís isolados:Belém (PA), Jacareí (SP), Amargosa (BA),Petrópolis (RJ), Cruzeiro (SP) e Matinhos (PR).

! Estados que ainda não possuíam bahá’ís:Amazonas, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grandedo Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe e EspíritoSanto.

Leonora estava radiante, plena de satisfação, porver o rápido progresso da Causa na América Latina e

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Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

especialmente no Brasil. A Cruzada de Dez Anos, semdúvida, havia sido uma época de grandes avanços nocrescimento da Causa, com a multiplicação de ativida-des, comunidades e de novas instituições. Este era oresultado dos múltiplos esforços dos amigos em todasas partes, que tão vigorosamente se empenharam emservir e dedicar suas vidas às necessidades vitais da Causade Deus. A própria Leonora refletia, agora olhandoem retrospectiva, sobre seu casamento com um simpa-tizante da Causa e o eventual impacto desse importan-te passo em suas próprias atividades de pioneirismo.Numa carta dirigida à sua amiga Rúhíyyih Khánum,ela relatou:]

“Eu havia dado a devida consideração a essa possibilidadeantes de decidir e, conforme naquela época escrevi ao nosso amadoGuardião, senti-me confiante de que meu casamento me darianão menos, porém mais oportunidades de serviço à Fé, e isto foi

comprovado. Não tendo que trabalhar8 ou 10 horas por dia para ganhar avida, naturalmente tive mais tempolivre, embora tenha continuado aensinar um pouco de inglês, já quesempre pareceu o melhor meio de fazercontatos para a Fé, a menos,evidentemente, que alguém possa viajarcontinuamente, dedicando todo o seutempo, porém não tive os meios materiaispara fazer isto – somente quando meu

Margot Worley e LeonoraArmstrong, em São Paulo,1953. A formação dasinstituições no Brasil deveu-se muito ao árduo e incansáveltrabalho de ambas, além doentusiastico esforço dos muitospioneiros que se estabeleceramno Brasil a partir de 1955.

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Capítulo 36A Formação das Instituições no Brasil

pai me mandava dinheiro para ir para casa e novamente voltaré que nessas idas e vindas pude visitar muitas cidades do Nortedo Brasil e outros países da América do Sul e as Índias Ocidentais.Desde que me casei, foi-me possível fazer muitas viagens curtasque me deram inúmeras oportunidades de falar às pessoasindividualmente, e temos morado em diversas cidades, em cadauma das quais tivemos uma casa confortável e espaçosa paraconstantemente realizar firesides e Festas, e para mostrarhospitalidade a visitantes bahá’ís e amigos interessados, por váriassemanas a cada vez – coisas que nunca me foram possíveisdurante os anos em que vivi sozinha na Bahia. À tradução,dediquei muito mais tempo, muitas vezes trabalhando a noitetoda, depois de um dia cheio, quando tinha que terminar algumatradução urgente ou provas a serem devolvidas ao editor. Meumarido ocasionalmente me repreendia, dizendo não ver nenhumaoutra bahá’í negligenciar o marido, a casa e a saúde tanto quantoeu, embora nunca tenha tentado me impedir e sempre tenha meajudado tanto quanto podia. Acho que em nenhumacircunstância, posso realmente dizer que renunciei a meus esforços– por mais ineficazes que possam ter sido – quando doente nohospital, incapaz de sentar durante semanas, falei com médicos,enfermeiras e a qualquer um que me foi possível. Quando noano passado quebrei meu pulso, continuei traduzindo ‘O DiaPrometido Chegou’, ainda que datilografar apenas com minhamão esquerda fosse um lento trabalho. Também, através desteacidente foram feitos alguns dos mais promissores contatos paraa Fé aqui em Petrópolis...”6

Capa da primeira edição em1960.

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Capítulo 37A Primeira Convenção Nacional Bahá’í do Brasil

A primeira Assembléia Espiri-tual Nacional dos Bahá’ís doBrasil, eleita em 1961.De pé, da esquerda para a di-reita: srs. Edmund Miessler,Habib Taherzadéh, RangvaldTaetz (ao fundo), Ildemir Lima(à frente), Vivaldo Ramos e dr.Mario Dantas.Sentadas, da esquerda para adireita: sras. Margot Worley,Muriel Miessler e Nilza Taetz.

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Capítulo 37A Primeira Convenção Nacional Bahá’í do Brasil

oi realmente uma grande ocasião a da formaçãoda primeira Assembléia Espiritual Nacionaldo Brasil – ocasião que ansiei por tanto

tempo. Logo no início das sessões da pré-convenção, pediram-mepara falar sobre meus esforços com relação ao ensino durante osprimeiros anos e fui apresentada como aquela a quem o amadoGuardião chamara de a ‘mãe’ de todos os bahá’ís deste país.

... Conforme solicitada, contei que vim a este país apósouvir a leitura das ‘Epístolas do Plano Divino’ naquelahistórica Convenção em Nova Iorque. Quão completamentesozinha e impotente me sentira ao pisar o solo brasileiro pelaprimeira vez, percebendo que não havia sequer um único bahá’íem todo este vasto continente da América do Sul. Queseguramente a única coisa que me sustentava era a promessa deBahá’u’lláh de ajudar qualquer um que se levantasse paraservir, até mesmo o mais fraco, e mostrei como a cada passo,ano após ano, aquela promessa foi cumprida. Agora, nessagrande ocasião, eu estava muito feliz em ver também o início documprimento da promessa do Mestre em Sua Epístola paramim, poucos meses antes de Seu passamento, de que ‘estaassembléia celestial crescerá dia após dia, os amigos inebriados

37A PRIMEIRA CONVENÇÃO

NACIONAL BAHÁ’Í DO BRASIL

“F

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Capítulo 37A Primeira Convenção Nacional Bahá’í do Brasil

terão mais arrebatamento e êxtase, começarão a romper em

melodias e harmonias e erguerão a canção que atingirá a

Assembléia Suprema e regozijará e alegrará os santos’. Citei,

também, as palavras do Guardião em uma carta dirigida a

mim por ocasião da formação da primeira Assembléia Espiritual

na Bahia: ‘Orarei especialmente pela proteção de seus membros,

a expansão de suas atividades e a consolidação de suas

realizações.’ Encerrei, então, com estas inspiradoras palavras

de ‘Abdu’l-Bahá: ‘Há um poder nesta Causa – um poder

misterioso – muito, muito além da compreensão dos homens e

dos anjos...’1 Fiquei emocionada ao sentir o amor que me foi

demonstrado pelos bahá’ís de todas as partes nesta ocasião –

A primeira Convenção Nacional

dos Bahá’ís do Brasil, no Rio de

Janeiro, 1961. Sentados ao cen-

tro, a Mão da Causa, sr.

Furutan, e Leonora.

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Capítulo 37A Primeira Convenção Nacional Bahá’í do Brasil

alguns me disseram que meu exemplo os havia inspiradocom mais coragem, e até mesmo pessoas não-bahá’ís meabraçaram e beijaram minha mão – tão comovidospareciam diante desta evidência do ‘poder desta Causa’.No dia seguinte, quando os diversos delegados, membrosde grupos e bahá’ís isolados insistiram em falar um poucosobre mim, referindo-se às mensagens do Guardião paramim, ... e, novamente, me demonstraram amorosaconsideração e gratidão. Chegou, então, a hora da leituradas cartas e telegramas de todas as partes do mundobahá’í e quão humildemente grata me senti por me tersido permitido desempenhar ainda que a menor partenesta grandiosa realização para a qual todos estavam

enviando tão calorosas congratulações – parecia que eu estavasendo elevada ao pináculo da felicidade – foi, talvez, o momentomais feliz de toda a minha vida!

... Foram lidas as citações costumeiras, para lembrar aosvotantes as bem conhecidas qualificações para membros deassembléias – ‘ lealdade inquestionável, abnegada devoção, umamente bem treinada, etc...’. Finalmente o resultado da eleiçãofoi anunciado e, dentre os diversos nomes que haviam recebidovotos, foi lido o meu com somente um voto, bem no final dalista...”2

[O fato dela mesma não figurar entre o primeiro grupode bahá’ís eleitos a servir na primeira Assembléia Espi-ritual Nacional, a levou a uma profunda reflexão. Reite-

Bonde no Rio de Janeiro com car-taz anunciando a realização daprimeira Convenção Nacionaldos Bahá’ís do Brasil. em 1961.

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Capítulo 37A Primeira Convenção Nacional Bahá’í do Brasil

rando a extrema necessidade de se estar sempre alerta àsinsinuações do ego e do desejo, ela comentaria:]

“Certamente, tudo isto é para mostrar – como disse amim mesma no primeiro momento em que fui totalmentedominada por mágoa e humilhação – como estou distante deser desprendida e abnegada, e então lembrei da história queminha avó costumava me contar sobre um monge que perguntouao seu superior como poderia morrer para o ego e lhe foi ditopara ir ao túmulo de um irmão monge e que fizesse um discursoem seu louvor, enaltecê-lo até os céus e, então, voltar para lhecontar o resultado. Assim ele o fez e, então, foi-lhe dito para irnovamente ao túmulo e blasfemar contra o monge, desejandosobre sua cabeça toda maldição, e foi o que ele fez, mas,novamente, nada aconteceu. ‘Sim’, disse seu superior, ‘o irmãomonge está morto e é isto o que significa estar morto para o ego.’A pessoa pode se imaginar como sendo realmente humilde edesprendida e pode precisar apenas de uma experiência, comoesta que eu tive, para fazê-la perceber quão longe está de serrealmente assim e impulsioná-la a maiores esforços.

Sei que o único remédio é orar mais fortemente para queeu possa ser ajudada a ‘redobrar’ meus esforços, como nossoamado Guardião sempre me instou a fazer, dizendo-me paranunca ficar desencorajada.”3

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Capítulo 38A Alegria Sucede a Tristeza

38A ALEGRIA SUCEDE

A TRISTEZA

U m dos mais tristes acontecimentos daminha vida ocorreu em junho de 1966.Minha irmã, que havia voltado ao seutrabalho

de serviço social naCalifórnia, mas agoraestava se aposentando eplanejava me visitar noBrasil, faleceu numacidente de automóvel.No decorrer dos anos,muitas vezes, dissera amim mesma que uma dascoisas que jamais poderiarealmente suportar seriaa morte de minha irmã!Eu havia insistido comela para vir morarconosco, mas ela achou que o Brasil erademasiadamente distante do Alaska, onde sua únicafilha e seu genro eram pioneiros bahá’ís. Entretanto,ela estava planejando ficar comigo durante um longotempo para compensar nossa separação de mais detrinta anos. Estávamos preparando um pequeno

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364Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 38A Alegria Sucede a Tristeza

apartamento para ela em nossa casa e ela já estavaempacotando suas coisas. Estávamos contando os diaspara a nossa feliz reunião! Pareceu um golpe por demaiscruel. Como me arrependi por ter protelado por tantotempo em ir para casa visitá-la –tantas vezes ela meimplorou para ir. Eu deveria ter ido em 1944, mas naépoca estava no hospital devido a uma séria cirurgia;sendo assim, só pude contribuir nas despesas de outrapessoa para representar o Brasil naquela históricaocasião. Novamente, em 1953, estava para ir – minhairmã fez com que nosso intercâmbio não fosse possível– talvez, pudesse ter ido, de alguma maneira.Novamente, estávamos ansiosas por nos encontrar,desta vez na celebração do Jubileu em Londres, masrepentinamente antes, o marido de minha irmã faleceuna Suécia, onde eles eram pioneiros, e ela foi para oAlaska a fim de ficar com sua filha por algum tempo...Sabemos que, por mais que nos sintamosdesconsolados quando da partida de nossos entesqueridos, devemos tentar nos alegrar por eles, porterem passado através da Porta Aberta. Ainda assim,as feridas são profundas e talvez jamais, durante estavida, se curem totalmente.

[Sua tristeza foi profundamente sentida. Informadosdo ocorrido, as Mãos da Causa de Deus enviaram-lhepalavras de conforto:]

“Amada irmã bahá’í,Ficamos entristecidos ao receber, por intermédio da Mão

da Causa Jalál Khazeh, a notícia da súbita morte de sua queridaAlethe no dia de seu casamento.

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Capítulo 38A Alegria Sucede a Tristeza

irmã. Oferecemos orações especiais nos Santuários Sagrados porela e por você, e sabemos que Bahá’u’lláh a amparará em suaperda.

Seus históricos serviços e o ilustre exemplo que deu aosamigos em sua terra natal e aos pioneiros no exterior constituemde fato uma parte imortal na história da nossa gloriosa Causa.

Que Bahá’u’lláh a confirme para prestar serviços aindamais gloriosos à Sua Fé, foi nossa ardente súplica nos SantuáriosSagrados.

Com caloroso amor bahá’í,A serviço do amado Guardião,As Mãos da Causa na Terra SantaRúhíyyih, Paul Haney, A.Varghá e A. Q. Faizi”1

[Mas a alegria sucede-se ao pesar, e uma das grandesfelicidades durante aquele período de dificuldades foia declaração de seu marido, Harold Victor Armstrong.Ele que por tanto tempo tinha sido seu fiel e amorosocompanheiro, agora registrava-se oficialmente nas fi-leiras dos seguidores do Máximo Nome. A não ser pelodeclínio de sua saúde, sua declaração encheu o cora-ção de Leonora com pura alegria. Palavras de satisfa-ção chegaram em uma carta escrita em nome deRúhíyyih Khánum, somando-se ao regozijo sentido.]

“Estou escrevendo esta carta em nome da amada RúhíyyihKhánum. Ela... ficou muito sentida com a notícia muito tristedo recente falecimento de sua querida irmã. Embora pesar etristeza seja o quinhão dos mortais, sem dúvida, o deles é júbilo

Sr. Armstrong e sua queridaesposa, Leonora.

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366Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 38A Alegria Sucede a Tristeza

e felicidade perpétuos. Rúhíyyih Khánum assegura-lhe suasfervorosas orações tanto pelo progresso da alma de sua amadairmã, bem como, por sua resignação e alegria de coração. ...Conforme você mesma mencionou, agora ela está muito maisapta a lhe ajudar em seus valiosos serviços.

...A notícia da aceitação da Fé pelo seu querido maridotrouxe muita alegria ao coração de Rúhíyyih Khánum. Ela esperae ora para que a saúde de seu marido melhore e que juntospossam conquistar vitórias ainda mais grandiosas para nossapreciosa Causa. Ela espera ansiosamente ver ambos naConferência do Panamá e agradece sua tão amorosa oferta deajudar de qualquer modo no que for necessário.”2

Parte da carta* oficial da declaração do sr. Armstrong ao sr. E.Miessler em 6 de julho de 1966.

*“... Já por longo tempo sou umbahá’í em pensamento e espírito,e tenho por vezes me expressadoa outros de uma maneira a nãodeixar dúvidas de minhas idéias...”

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367Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 38A Alegria Sucede a Tristeza

*Sra. Maria de La Paz Trujillo deLopez (Dona Paquita) (? – 1985).Nascida em Barcelona, Espanha,imigrou para Caracas, Venezuela,fugindo da Revolução Espanholana década de 1940, onde se de-clarou bahá’í através da sra. GayleWoolson, uma famosa pioneirabahá’í da América Latina. Chegaao Brasil em 1959, para dedicar-se ao trabalho de ensino epioneirismo em várias cidadesbrasileiras. Também, colaborouintensamente no trabalho de en-sino na Argentina, Venezuela,Uruguai e Paraguai, onde residiupor algum tempo. Ajudou na for-mação de várias Assembléias Es-pirituais Locais do Brasil, comoas de Niterói, Natal e Belém, lo-cais onde permaneceu alguns anoscomo pioneira. Paquita, como eracarinhosamente conhecida, esta-va sempre imbuída de amor paraatrair os corações. Com sua faladócil, sincera, alegre e ao mesmotempo enfática, difundia e defen-dia sempre com grande entusias-mo os princípios da Causa, sejano ensino direto ou nas muitasentrevistas que concedia a jornaise revistas das inúmeras cidadespor onde passou. Após percorrerquase todo o Brasil e países daAmérica do Sul durante duas dé-cadas, em seus últimos anos devida estabeleceu-se como pionei-ra em Ilha Bela, no litoral paulista.Veio a falecer em 1985 em SãoPaulo, capital. Vide também:Boletim Bahá’í Brasil, Ed. Fev.1988.

D. Paquita* foi quem, num chá da tarde juntamente com Leonora, sr.Armstrong e Stella Nikobin, conseguiu esclarecer as dúvidas do sr.Armstrong, convidando-o a se declarar bahá’í, o qual para a alegria detodas as presentes, em especial de Leonora, confirma publicamente sua Féem Bahá’u’lláh e à Causa Bahá’í, vindo mais tarde a enviar umacarta oficial de sua declaração ao Membro do Corpo Auxiliar na época,sr. E. Miessler.3

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368Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 39Cresce o Número das Traduções e Publicações em Português

Uma das metas da Cruzada de

Dez Anos do amado Guardião,

Shoghi Effendi, era o estabeleci-

mento de duas Editoras Bahá’is

nacionais nas Américas, sendo

uma em Wilmette, Illinois, Es-

tados Unidos e a outra no Rio

de Janeiro, Brasil. Assim, a

Editora Bahá’í do Brasil é

estabelecida em 1957, que desde

a primeira publicação em 1922

funcionava como um Comitê de

Publicações do Brasil. Com o

estabelecimento da Editora

Bahá’í do Brasil aumentou-se

sensivelmente as publicações dos

livros bahá’ís em português, que

até os dias atuais é responsável

tanto pela tradução como pelo

fornecimento a todos os outros 8

países de lingua portuguesa: Por-

tugal, Guiné Bissau, Cabo Ver-

de, São Tomé e Prícipe, Angola,

Moçambique, Macau e Timor

Leste.

Capa da primeira edição em 1967

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Capítulo 39Cresce o Número das Traduções e Publicações em Português

urante os poucos anos que passei emJuiz de Fora, minhas atividades foram

as mesmas de sempre – lecionaringlês no Instituto Brasil-Estados

Unidos e, de modo privado, realizar firesides, publicarartigos em jornais e revistas locais, colocar livros bahá’íspara venda em livrarias e sempre traduzindo cada vezmais e mais, fazendo a necessária revisão e ocasionaisviagens ao Rio até o editor*. As muitas, muitas viagensde ônibus através dos anos entre Rio, São Paulo,Campinas, Petrópolis, a chácara, Juiz de Fora e BeloHorizonte possibilitaram incontáveis oportunidades deconversar com companheiros de viagem a respeito daFé, oferecer-lhes livretos, com endereços e algunsdesses resultaram em genuíno interesse na Fé, ou emamizade, ou ambos, enquanto outros, aparentemente,não deram qualquer resultado.

Na época de A Proclamação de Bahá’u’lláh, olivro foi presenteado às autoridades, aos reitores devárias faculdades e da Universidade de Juiz de Fora, etambém a algumas pessoas proeminentes na cidadevizinha de Santos Dumont.

39CRESCE O NÚMERO DAS

TRADUÇÕES E PUBLICAÇÕES

EM PORTUGUÊS

D

*Sr. Djalal Eghrari (1926 –1981), primeiro gerente e edi-tor da Editora Bahá’í do Brasil.Este pioneiro iraniano que che-gou ao Brasil com sua famíliaem 1955, dedicou, juntamentecom Leonora, grande tempo eesforço para o firme estabeleci-mento e desenvolvimento destaEditora.

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370Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 39Cresce o Número das Traduções e Publicações em Português

Houve também um pouco do inevitável serviçosocial – trabalho com instituições, com famílias caren-tes, algumas vezes levando para casa crianças e mãessolteiras precisando de socorro temporário. Onze anosatrás em Petrópolis [1960], ao saber de uma criançade três meses de idade precisando de um lar, eu a leveipara a chácara, e mais tarde, como todos nos afeiçoa-mos e este menininho, nós o adotamos. Danny é umacriança adorável, mas nos trouxe sérias preocupaçõespor causa de sua extrema irritabilidade..., e requer muitaassistência médica e psiquiátrica. Ele fica felicíssimo nachácara, ond passou sua infância, por isso agora estávivendo lá (com os caseiros muito confiáveis que feliz-mente temos há quase vinte anos) e está freqüentandoa pequena escola do povoado.

Uma tristeza constante para mim nos últimosanos tem sido minha inabilidade de formar Assembléiasnas duas cidades em que passamos a maior parte dotempo, Petrópolis e Juiz de Fora. Apenas duas pessoas,que eu me lembre, realmente declararam sua fé eposteriormente, uma delas desistiu, porém, se naquelaépoca os requisitos fossem tão fáceis como são hoje,alguns daqueles interessados poderiam ter desejado seregistrar como bahá’ís. Evidentemente, durante todosaqueles anos que moramos em Petrópolis, passavagrande parte do meu tempo no Rio e sempre haviamuita tradução. Em Juiz de Fora, toda vez quetínhamos um novo bahá’í que era entusiasmado e ativo,e começavamos a ter certeza de que iríamos formaruma Assembléia, ele se mudava – para o Rio ou paraBelo Horizonte ou para o interior do Estado. Noentanto, pouco antes de irmos para Santos e Campinas,

Leonora e Danny em Juiz deFora, Minas Gerais, na décadade 1960.

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371Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 39Cresce o Número das Traduções e Publicações em Português

onde passamos vários meses, quatro pessoas aceitarama Fé uma após a outra – duas delas, velhos amigos e asoutras, conhecidos mais recentes, e sinceramenteesperamos que ao retornar, logo após o início do ano,conforme estamos planejando, faremos um esforçosupremo e Juiz de Fora poderá finalmente ter umaAssembléia Local*.

*A Assembléia Espiritual de Juizde Fora, M.G., foi estabelecida nadécada de 1970.

Foto da 8a Convenção Nacio-nal dos Bahá’ís do Brasil emSantos, S.P., em 1968. Leonoraestá na terceira fileira, acima daplaca.

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372Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 40Nutrindo Laços Espirituais Duradouros

Rúhíyyih Khánum

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373Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 40Nutrindo Laços Espirituais Duradouros

[Profundos foram os laços espirituais entre Leonora eRúhíyyih Khánum. No decorrer dos anos esse vínculofoi reforçado por incontáveis cartas e encontros pes-soais, assim como pelo espírito de amor e amizade sem-pre manifesto entre as duas. Ainda em momentos degrande pressão de trabalho e outros afazeres pessoais,o grau de atenção mútua prosseguia intenso, semprealimentado com gestos e palavras de estima.]

úhíyyih Khánum está tão terrivelmente ocupada essesdias. Por muitos meses, ela esteve lendo e fazendoanotações para escrever a biografia do nosso amado

Guardião. Agora ela começou de fato a escrever e estácompletamente imersa em um oceano. É por isso que ela pediupara lhe escrever em seu nome. Ela não queria demorar em acusaro recebimento de sua carta, pois sabe que talvez durante mesesnão consiga ler quaisquer das suas correspondências pessoais.Você bem pode imaginar que tremenda tarefa ela se incumbiu,tanto emocional como mentalmente. Acho que, desta vez, elaprecisa das amorosas orações de todas as suas amigas.”1

40NUTRINDO LAÇOS

ESPIRITUAIS DURADOUROS

“R

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374Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 40Nutrindo Laços Espirituais Duradouros

[Nos primeiros meses do ano de 1968, quandoAmatu’l-Bahá empreendeu sua longa viagem pela Bo-lívia, Paraguai e outras regiões a fim de ensinar aosnativos das Américas, ela passou pelo Brasil, visitandoas cidades de Curitiba, Porto Alegre, Gravataí, SãoPaulo e Rio de Janeiro. De Curitiba em diante, RúhíyyihKhánum foi acompanhada por outra Mão da Causa,esta última residente no Brasil, o sr. Jalal Khazeh. Leo-nora encontrou-os em São Paulo, de onde viajaramjuntos até o Rio de Janeiro, antes de Rúhíyyih Khánumprosseguir em sua jornada para a Guiana Francesa,Venezuela e Colômbia.2 Mais tarde, Rúhíyyih Khánumescreveria sobre o encontro.]

“Minha querida e preciosa Leonora,

Foi difícil despedir-me de você! Até mesmo lhe ver foi como

um sonho – estou tão cansada, não tanto física, mas mentalmente

e, às vezes, sinto que até espiritualmente, que muitas vezes estou

com os sentimentos enfraquecidos,

por assim dizer! Já não ouso mais

deixar minhas emoções irem além

da pouca força de reserva que tenho

para sustentá-las. Mas sei que você

entende isto. A morte de mamãe

deixou um grande vazio – quanto

mais a de Shoghi Effendi – e como

profundamente recordo com paixão

aqueles que amo, a ferida nunca

sara, mas agora tenho uma cicatriz

Leonora e as Mãos da

Causa, Rúhíyyih Khánum

e Jalal Kházeh, em 1968.

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Capítulo 40Nutrindo Laços Espirituais Duradouros

sobre ela e não ouso cutucá-la com sentimentos profundos, poisela começaria a sangrar por todo lado e não poderia suportar.Portanto, por favor, não pense que nosso encontro foi algosuperficial para mim. Eu queria tanto vê-la durante todos essesanos, uma das poucas amigas que ainda tenho! Agora ambassentimos que este grande anseio foi ao menos um pouco suavizado.

Você que fez tantas viagens a serviço da nossa amada Fésabe quão fatigantes são as constantes demandas e quanto nosesforçamos o tempo todo para fazer o melhor para a Causa. Étudo que alguém pode fazer!

... Amor afetuoso para você sempre, minha muito querida,e outro grande abraço e beijo,

Rúhíyyih” 3

[Após a conclusão daquela longa, porém emocionanteviagem pela Amazônia, visitando os guajiros e tambémos motolones no Equador, Amatu’l-Bahá escreveuuma longa carta à sua querida amiga Leonora. Eladesejava confiar à Leonora a tradução do seu livro APérola Inestimável para o português.

Rúhíyyih Khánum certa vez havia expressadopara Leonora o desejo de ter uma máquina de escrever– como aquela que Leonora usava para datilografarsuas cartas – cujas letras lhe pareciam simular ummanuscrito, e isto lhe soava muito agradável, menosmecânico.

Esta máquina havia sido um presente especial dopai de Leonora e ela agora, como gesto de profundocarinho e estima por sua amiga, a brindaria com essa

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Capítulo 40Nutrindo Laços Espirituais Duradouros

mesma máquina numa demonstração de sua grandeafeição a Rúhíyyih Khánum.]

“Minha primeira carta em sua querida velha máquina

de escrever é para você! E estou desfrutando-a tanto quanto

sempre desejei em ter uma que escrevesse como esta e agora tenho

exatamente a sua, abençoada seja você.

Você não teve notícias minhas desde que nos despedimos

no Rio. Foi tudo muito cansativo e tumultuado e quando cheguei

em casa – depois de passar uma semana em Quito, não me

sentindo nem um pouco bem, acho que com alguma bactéria no

meu peito e uma febre, realmente não estava suficientemente

forte para mergulhar em 39 dias de convenções e reuniões de

consulta e discussões sobre assuntos intensos... Simplesmente

sucumbi e tive uma espécie de pneumonia, febre de malta, febre

paratifóide e um vírus de resfriado em meu sangue... Fiquei de

cama por 43 dias antes que pudesse me levantar por umas

poucas horas de cada vez em meu quarto....

Na época da celebração do centenário em Haifa, foi-me

possível abrir a reunião comemorativa em 31 de agosto –

realizada em Bahjí. Foi uma ocasião extremamente maravilhosa

e profundamente agradável. Pela primeira vez na história, tantos

crentes se reuniram na Terra Santa. Lentamente, minhas forças

foram restauradas e, finalmente, pude sair de Haifa para a

mudança de ares que o médico queria que eu tivesse em julho!

Embora seja o início do inverno, ainda está suficientemente

quente aqui no Mar Vermelho para nadarmos todos os dias e

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Capítulo 40Nutrindo Laços Espirituais Duradouros

isto é maravilhoso para minha saúde e deve preparar o caminhopara a viagem à África, há tanto tempo adiada...

Agora, Leonora, chego ao assunto mais importante: meulivro a respeito do amado Guardião já foi, para todos os efeitos,completado e cuidadosamente revisado por mim. Você podetraduzi-lo para o português? Sei que você pode fazê-lomagnificamente e acho que os bahá’ís prósperos daí cuidarão desua publicação. Esta foi minha impressão das coisas que ouvi.Quando voltar a Haifa, em uma ou duas semanas, começarei alhe enviar capítulo por capítulo ou o livro inteiro de uma vez seo frete aéreo for mais simples e barato. Se por algum motivo, nãopuder se encarregar disso, por favor, avise-me imediatamentepara que possa decidir o que fazer.” 4

[No final de 1969, Leonora já havia completado atradução do A Pérola Inestimável em português.*Anotícia trouxe grande alegria ao coração de sua amadaamiga Rúhíyyih Khánum.]

*A Pérola Inestimável teve suaprimeira edição publicada noBrasil somente em 2003, devidoao fato de que os manuscritosficaram extraviados durantealguns anos.

Sr. Hooper Dunbar e Leonora,durante a 9a Convenção Nacio-nal dos Bahá’ís do Brasil noHotel Fazenda Vila Forte emResende, R.J, 1969.

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Capítulo 41Tributo de Leonora à Martha Root, em 1969

Martha Root, “serva-estrela”de ‘Abdu’l-Bahá, foi a primei-ra a pisar e abrir o inteiro con-tinente sul-americano para aCausa. Foi uma das grandesincentivadoras para que Leo-nora viesse como pioneira aoBrasil.

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Capítulo 41Tributo de Leonora à Martha Root, em 1969

[Pela passagem das celebrações dos cinqüenta anos dachegada da Causa no Brasil, Leonora apressou-se aescrever um tributo à memória de Martha Root – aque-la “serva arauto” de ‘Abdu’l-Bahá – a primeira a pisarno solo do Brasil e da América do Sul.]

uem quer que tenha perdido a si mesmo,encontrou o universo e todos que

nele habitam”,1 disse uma vez‘Abdu’l-Bahá. Martha Root

provou literalmente a verdade desta declaração. Elanão dependia de seus conhecimentos adquiridos, dasua roupa ou da sua aparência pessoal. Ao entrar emcontato com reis e rainhas, estadistas e sábios, ela seconsiderava apenas como uma mensageira dAquele ReiDivino, mais grandiosa do que qualquer outro serterreno, cuja mensagem era seu privilégio ser aportadora e cujos ouvintes doutos ou reais teriam oprivilégio de receber. Ela foi verdadeiramente “o bambuoco” através do qual soprava sabedoria divina,completamente livre de todo temor e de pensamentospróprios. Inconsciente das limitações de seu próprioconhecimento, surda para seu ego, Martha Root seapresentava diante dos líderes do mundo, à realeza e

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“Q

TRIBUTO DE LEONORA ÀMARTHA ROOT, EM 1969

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Capítulo 41Tributo de Leonora à Martha Root, em 1969

aos mais brilhantes mestres, e irradiou o amor para oqual ela era meramente um canal e, verdadeiramente,conquistou as cidades dos corações dos homens.

A “primordial Mão que a vontade de ‘Abdu’l-Bahá levantou para o serviço no primeiro séculoBahá’í”, o “primeiro e mais refinado fruto que a IdadeFormativa da Fé de Bahá’u’lláh produziu” – tais foramas palavras do amado Guardião como tributo à MarthaRoot por ocasião do seu falecimento.

Foi exatamente há 50 anos, em 1919, que MarthaRoot, a primeira a se levantar e atender às Epístolasdo Mestre referentes à Missão Espiritual da América,veio para a América do Sul. No navio em que viajava,falava com todas as pessoas para lhes dizer de suamensagem à humanidade. Foi em Belém do Pará, seuprimeiro porto de escala, onde Martha Root visitouos jornais, fazendo o mesmo em Fortaleza, capital doCeará; Salvador, capital da Bahia, e Rio de Janeiro.Apesar de não haver ainda literatura em português nemem espanhol e apesar do fato de Martha não falarnenhum dos dois idiomas, ela encontrou um meio dese comunicar usando esperanto e um pouco de francês,valendo-se de tradutores que esclareciam os princípiosfundamentais da Fé. No Rio de Janeiro, Martha Rootpresenteou a Biblioteca Nacional com alguns livrosbahá’ís e fez alguns contatos interessantes, tais como,com a famosa feminista Bertha Lutz. Em Santos, ondeseu navio parou por três dias, os jornais mencionaramsua visita e várias pessoas foram a bordo para conhecê-la, entre eles, o sr. Ângelo Guido Gnocchi, junto comdois outros jovens teosofistas. Profundamenteimpressionados pela fervorosa apresentação de sua

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Capítulo 41Tributo de Leonora à Martha Root, em 1969

mensagem, esses homens empreenderam a tradução epublicação, às suas próprias custas, da primeiraliteratura bahá’í em português – um livreto conhecidopelo título No. 9 – amplamente usado naquele tempo,em inglês e outros idiomas. Dos seus contatos feitosnaquelas rápidas visitas, foram esses três amigos que,mais tarde, corresponderam-se com Martha eexpressaram o desejo de aprender mais sobre a Fé. Foitambém através de humilde solicitação de Martha Rootque o Mestre dirigiu uma longa Epístola a eles. Foipor causa desses amigos que Martha Root recomendouà Leonora Armstrong ir para o Brasil e de fixarresidência primeiro em Santos, onde ela deveria podercontar com a colaboração deles.

Em Buenos Aires, Martha Root demorou-se pormais tempo e teve melhores oportunidades pararealizar conferências e publicar artigos através deorganizações esperantistas, feministas e outras. De lá,ela seguiu para o Chile – uma viagem muito perigosanaqueles dias, pois significava cruzar os Andes,montada sobre mulas. Nesse país, Martha foinovamente incansável em difundir a Mensagem e, maistarde, parando nas principais cidades do Norte e aolongo da América do Sul, ela não perdeu nenhumaoportunidade de fazer contatos, falando com pessoasde todos os tipos de vida e emocionando a muitos comsua mensagem gloriosa.

Nós, aqui do Brasil, nos voltamos com oscorações transbordantes de amor e gratidão àquela“serva mais brilhante de Bahá’u’lláh” – que emboratão frágil em sua saúde e quase que destituída de meiosmateriais, empreendeu sozinha tal viagem, tão longa

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Capítulo 41Tributo de Leonora à Martha Root, em 1969

em torno do nosso continente, inteiramentedesprendida de si mesma, sem preocupar-se comdescanso ou conforto, ganhando seu sustento atravésde artigos que escrevia no caminho para alguns jornaisnorte-americanos – freqüentemente viajando em

terceira classe. Somos verdadeira-mente gratos àquela que pela

primeira vez neste continentelevantou o brado de “Yá Bahá’ul

Abhá!” – quem plantou as sementesde nossa amada Fé e cujos frutos

estamos hoje testemunhando em nossopaís, bem como, em todas as partes deste

continente.‘Abdu’l-Bahá disse a Martha Root:

–– Tu, em verdade, és uma arauta doReino e uma precursora do Convênio.

Verdadeiramente praticas o auto-sacrifício;demonstras bondade para com todas as nações.

Estás plantando a semente que, no devido tempo,produzirá milhares de colheitas. Estás plantando

uma árvore que por toda a eternidade dará folhas,florescerá e produzirá frutos e, cuja sombra crescerá

em magnitude dia após dia.Dos Reinos no Alto, o amor puro de Martha

continuará sendo irradiado sobre esta terra, na qualela trabalhou tão intensamente e estará nos ajudandomuito mais do que poderemos jamais saber. Vamosaproveitar esta ocasião que é o qüinqüagésimoaniversário das primeiras sementes da Fé lançadas noBrasil, para redobrarmos nossos esforços na nossasublime missão, esforçando-nos ao máximo para

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Capítulo 41Tributo de Leonora à Martha Root, em 1969

emular o exemplo luminoso de Martha Root, o qualsempre estará perante nós. Vamos nos perder a nósmesmos – assim como ela se perdeu a si própria a fimde encontrar o universo. Vamos nos transformar em“bambus ocos” – como ela verdadeiramente setransformou – para que através de nós as brisas dasabedoria e do amor divino possam produzir melodiasque envolverão toda a humanidade.2

Martha Root, em uma de suasviagens ao Japão com a famí-lia Torii. O sr. Torii foi umdos elos entre Leonora, Marthae Agnes Alexander. Maioresdetalhes ver capítulo 33.

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Capítulo 42Jubileu do Quinqüagéssimo Aniversário da Causa no Brasil

Leonora juntamente com o sr.Rolf von Czékus, recebendo ho-menagem no Jubileu de Pratada Fé Bahá’í no Brasil, em1971, Salvador, Bahia.

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Capítulo 42Jubileu do Quinqüagéssimo Aniversário da Causa no Brasil

star presente à comemoração naBahia, em fevereiro de 1971, do

50o aniversário da chegada daFé ao Brasil foi uma experiência

realmente emocionante. Ver centenas de devotadoscrentes, particularmente os indígenas, como resultadoda conversão em massa que agora está avançando tãorapidamente – e, então, lembrar o tempo em queéramos um pequenino punhado de bahá’ís! A famíliaEftekhari – aqueles devotados pioneiros bahá’ís persasque moram em Belo Horizonte – levaram-me para aBahia em seu carro, de modo que a viagem foi muitoagradável e nada cansativa, como o teria sido de outromodo, e também nos proporcionou oportunidades deensino no caminho. Várias vezes passei um ou doisdias na residência dos Eftekhari em Belo Horizonte efalei sobre a Fé a alguns de seus muitos contatos.

[Um grande número de bahá’ís do Brasil se reuniu nacidade de Salvador, Bahia, onde primeiro a Causa foiestabelecida no Brasil, para o grande jubileu docinqüentenário da Fé no Brasil. Para ilustrar osignificado da ocasião e salientar os destacados serviçosprestados à Causa pela sra. Leonora Holsapple

42

EJUBILEU DO QÜINQÜAGÉSIMO

ANIVERSÁRIO DA CAUSA NO BRASIL

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Capítulo 42Jubileu do Quinqüagéssimo Aniversário da Causa no Brasil

Armstrong, foi escrita uma carta pela Mão da Causade Deus, Jalal Khazeh:]

“Mui querida sra. L. H. Armstrong,O amado Guardião expressou as seguintes palavras, em

março de 1952, a peregrinos de língua persa e tive o privilégiode estar em sua presença: ‘Antes do estabelecimento da NovaOrdem (Assembléias Locais e Nacionais) notáveis instrutorescomo Martha Root, May Maxwell, Ransom Kehler, AgnesAlexander, sr. e sra. Dunn e srta. Holsapple viajaram por todoo mundo e proclamaram a Fé de Bahá’u’lláh a governantes,reis e pessoas proeminentes. Eles foram as estrelas brilhantesque iluminaram o horizonte de diversos continentes.’ Ele explicouem detalhes as atividades de cada um e quando pronunciou onome da srta. Holsapple, disse sorrindo que ela abriu a Américado Sul à Fé e tornou-se a ‘Mãe dos Bahá’ís do Brasil’ quandochegou em Salvador, Bahia.

Leonora, minha querida, foi meu privilégio, após minhamissão na América do Sul em 1963, ter tido a oportunidadede encontrá-la em sua residência, enquanto o sr. Armstrongnão estava se sentindo bem devido à saúde debilitada, e tive oprivilégio de encontrar a conquistadora da América do Sul, atradutora da literatura bahá’í para as línguas portuguesa eespanhola.

Temos que considerar que a srta. Leonora Holsapple, ousra. Armstrong, filha do Reino e amada serva da AbençoadaPerfeição viajou sozinha para Salvador, Bahia e alcançouvitórias espirituais no Brasil e, finalmente, na América do Sul

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Capítulo 42Jubileu do Quinqüagéssimo Aniversário da Causa no Brasil

e América Central. Ela foi confirmada nos países da AméricaLatina e se tornou origem de guia de todas as comunidades eagora, após 50 anos, quase 25 territórios do hemisférioOcidental abraçaram a Causa através dos reflexos de seusesforços nos ‘países da América Latina’ que abraçaram a Fé.Atualmente, 25 Assembléias Espirituais Nacionais comincansáveis esforços, dia e noite, expandem a Fé de Bahá’u’lláhe logo a presente geração presenciará vitória sobre vitória e,através dos esforços da sra. Armstrong, milhares de almasalcançaram as margens do mar da Fé, quanta alegria, quantafelicidade!

Leonora, nossa querida, nossa respeitada pioneira,estabeleceu um império espiritual, o qual é muito maior que oimpério físico, pois esta soberania é uma soberania eterna e estaglória é glória infinita.

Como gostaria que me fosse possível estar presente àcelebração desse Jubileu e participar da felicidade e alegria dosamigos aí presentes, mas devido à minha saúde debilitada istonão é possível, mas estarei em pensamento.”1

Bahá’ís na escadaria da Bibli-oteca Pública dos Barris, em Sal-vador, Bahia, local onde se cele-brou o cinqüentenário da FéBahá’í no Brasil, em 1971.Leonora e o sr. Hooper Dunbarao centro.

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Capítulo 43Uma Experiência ExtraordináriaLeonora e sua estimada amigaRúhíyyih Khánum, nainauguração do Templo Bahá’ído Panamá.

Leonora e a família de suasobrinha, sra. Karin Leonard,durante a inauguração doTemplo Bahá’í do Panamá.

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Capítulo 43Uma Experiência Extraordinária

ainda mais emocionante e parajamais ser esquecida foi a

experiência de estar presente naconsagração do nosso primeiro

Templo na América Latina, em abril deste ano [1972]no Panamá. É difícil descrever meus sentimentos aoentrar nesse belíssimo Templo e tentar entender todoo seu significado – um tal sentimento de cumprimentopassou por mim – cumprimento da profecia do Mestre,cumprimento das nossas esperanças de tantos anos.Ver tantos milhares de pessoas vindas de toda parte –conquistas com os indígenas tão em evidência – sentiro entusiasmo, a devoção, especialmente de numerososjovens, muitos dos quais se ofereceram para sair comopioneiros – foi realmente inspirador. E que privilégiofoi estar na presença da querida Rúhíyyih Khánum maisuma vez, e de outras Mãos da Causa que participaramna dedicação, e ouvir suas inspiradoras palavras! Quãoprofundamente grata sou a minha sobrinha Karin eseu marido Robert Leonard, agora pioneiros nasBahamas, que tornaram possível minha participaçãonesta inauguração! E antes de me deixarem voltar aoBrasil, levaram-me à sua casa em Nassau, onde passeialguns dias felizes e inesquecíveis com eles e suas duas

43UMA EXPERIÊNCIA EXTRAORDINÁRIA

E

Templo Bahá’í da AméricaCentral, localizado na cidadedo Panamá.

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Capítulo 43Uma Experiência Extraordinária

filhinhas, e também tive o prazer de conhecer algunsbahá’ís de Nassau. Tive também o prazer de conheceralguns bahá’ís de Miami, quando estive de passagempor lá, ungindo-me no óleo da minha terra nativa pelaprimeira vez em quase quarenta anos e, sem dúvida,pela última vez.

UMA OLHADA EM RETROSPECTIVA

Não foi fácil lembrar os eventos de uma vidainteira. Exceto quanto aos detalhes das minhas diversas

viagens de ensino, felizmente, foi-mepossível contar com as anotações que fiz naépoca. Ao olhar por sobre esses cinqüentaanos que passei na América do Sul – anostão ricos em oportunidades para difundir assementes da Fé, sinto que a colheita poderiater sido bem, bem mais abundante, se tivessealcançado um grau mais elevado derenúncia, de uma dedicação mais completa,deixando de lado todas as outrasconsiderações e não permitindo queproblemas pessoais ou tristezas, doençassérias, acidentes ou outras vicissitudes setransformassem em obstáculos. Se eu tivessesido mais inflamada! Por toda a eternidadelamentarei isto. Se apenas eu pudesse termantido em mente, com mais constância, asPalavras de Bahá’u’lláh: “Levanta-te, emMeu Nome, entre Meus servos, e dize: ‘...

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Capítulo 43Uma Experiência Extraordinária

Ele veio a vós ...’. ... Levanta-te, em Meu Nome, acimado horizonte da renúncia...”1

“Que tua alma se incandesça, com a chama desteFogo imorredouro que está aceso no âmago do coraçãodo mundo, de tal modo que as águas do universo sejamimpotentes para lhe esfriar o ardor.”2

E, quantas vezes orei nas Palavras de ‘Abdu’l-Bahá: “Faze todas as minhas palavras de súplica e delouvor limitarem-se a um só refrão: faze de toda aminha vida apenas servitude a Ti.”3

Eu sabia que Bahá’u’lláh podia responder a estaoração, e o faria, se eu apenas fizesse a minha parte. Seeu apenas o tivesse feito! Quão completamente indigname sinto daquele título que o amado Guardião certavez me concedeu, o de “Mãe de Todos os Bahá’ís doBrasil”!

Entretanto, é uma alegria ver pelo menos ocomeço do cumprimento daquelas palavras de ‘Abdu’l-Bahá em Sua Epístola à Martha Root em 1920:“Louvores a Deus, o Chamado do Reino foi recebidona América do Sul e as sementes foram lançadasnaquelas cidades e regiões. Certamente, o calor do Solda realidade, a chuva da Graça Eterna e a brisa doAmor de Deus as farão germinar. Sê confiante.” E quãofeliz me sinto ao recordar as palavras que o amadoGuardião dirigiu a mim há tantos anos atrás, as quaistambém mostram tão animadores sinais decumprimento: “Esteja segura. Dia virá em que todo oBrasil inteiro reconhecerá e jubilosamente responderáao chamado de Yá-Bahá’ul-Abhá!”

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Capítulo 43Uma Experiência Extraordinária

O FALECIMENTO DO SR. ARMSTRONG

[No início de 1973, o coração de Leonora se entristeceumais uma vez, agora pelo falecimento de seu queridoesposo, Harold Victor Armstrong. Palavras deconforto chegaram de perto e de longe, e de seus maisíntimos amigos do Brasil. A fim de passar aquelas horascheias de angústia, o foco de seu trabalho e de seusanseios e esperanças novamente se voltaram para oserviço à Causa.]

“... Traz, verdadeiramente, grande consolo sentir o amore a solidariedade de meus irmãos e irmãs bahá’ís nesta hora tãoangustiante e saber que estão orando pelo progresso do espíritode meu marido no Reino de Abhá. Gostaria de pedir que orassemtambém por mim, para que Bahá’u’lláh me dê forças paraservir à Fé com vigor renovado.”4

Sr. Armstrong e Leonora nosanos finais de sua vida.

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393Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

[Logo em seguida, ela seria designada pela CasaUniversal de Justiça para servir na função deConselheira Continental, notícia que realmente encheuseu coração e alma com assombro, diante de seu semprepresente sentimento de impotência e genuínahumildade. A Casa de Justiça informou os bahá’ís domundo:]

número de Conselheiros é elevado agora acinqüenta e sete com a nomeação do sr. FridayEkpe e sr. Zekrullah Kazemi na região Noroeste

da África, sr. Hushang Ahdieh e sr. Peter Vuyiya na regiãoCentral e Leste da África, dra. Sarah Pereira e sra. VelmaSherrill na América do Norte, sr. Rowland Estall e sr. PaulLucas na América Central, sra. Leonora Armstrong, sr. PeterMcLaren e sr. Raul Pavón na América do Sul, sr. DipchandKhianra e sra. Zena Sorabjee na região Centro-Sul da Ásia,sr. Firaydun Mithaqiyan na região Sudeste da Ásia, sr. RichardBenson e srta. Elena Marsella na região Nordeste da Ásia esrta. Violet Hoehnke na Australásia.”1

44

“O

SERVINDO COMO

CONSELHEIRA CONTINENTAL

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394Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

[Em um momento de grande perplexidade pessoal,novamente uma palavra de apoio e carinho veio deRúhíyyih Khánum:]

“Agora que a Casa Universal fez de você uma

Conselheira, estou certa de que nesta nova e vital atividade será

capaz de prestar serviços muito valiosos e coroar todas as suas

outras atividades, tão prolíficas e de tanto valor, durante tantos

anos. Você será feliz neste novo e amplo campo, tão essencial

para o trabalho da Fé e estou muito feliz por ter sido nomeada

Conselheira!”2

Leonora como conselheira conti-

nental em 1973, em Buenos

Aires, Argentina. Os três sen-

tados da esquerda para a direita

são: Athos Costas, Leonora

Armstrong e Mas’ud Khamsi.

Em pé da esquerda para a di-

reita são: Raúl Pavón, Donald

Witzel e Peter McLaren.

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395Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

[E como um sensível gesto de afeição, ela acrescentou:]

“Estou lhe enviando um exemplar autografado do ‘The

Priceless Pearl’ com todo o meu amor, Rúhíyyih.”3

[Amatu’l-Bahá voltou ao Brasil em 1975 em sua famosa“Expedição Luz Verde”, mas Leonora, devido à suasaúde debilitada, não pôde se encontrar com ela, o quemereceu uma pequena mensagem de RúhíyyihKhánum:]

“É muito decepcionante não vê-la nesta viagem, mas acho

que fez bem em cuidar de sua preciosa saúde, pois este é o cavalo

que você deve montar para servir a Fé! Estamos sempre próximas

de coração, não importa onde estivermos.

A viagem toda – como você bem pode imaginar – é muito

cansativa e só espero chegar ao final sã e salva! Embora a parte

na selva seja fisicamente exaustiva, em verdade, são as visitas

às cidades que me cansam mais. Acho demais a tensão de dar

palestras em televisão, rádios, pessoas – tudo isso é demasiado.

Ah, se apenas a realização de um filme pudesse

atingir seus objetivos de excitar a imaginação dos

bahá’ís e fazê-los sair para o campo do

pioneirismo!

Em Belém, falei a um seleto grupo de

professores na noite passada – cerca de 40 – e

foi excelente, pois até o diretor da faculdade

permaneceu aqui para minha palestra, mas

Rúhíyyih Khánum dentro do

Rio Amazonas, ajudando a

desencalhar o barco, durante a

‘Expedição Luz Verde’, em

1975.

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Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

apesar da forte chuva afastar as pessoas, o ministro da Educaçãoe algumas outras pessoas proeminentes também vieram. Apublicidade foi boa em ambos os lugares. O que esta região precisaé de instrutores viajantes, se não puder ter mais pioneiros. Eulhe abraço com muita ternura e envio muito amor, Rúhíyyih.”4

[A sempre fluente e freqüente correspondência entreambas jamais cessou. Em 1979, Leonora aproveitou aida de um grupo de peregrinos do Brasil à Terra Santapara enviar uma lembrança pessoal como um gesto deseu carinho e estima por Rúhíyyih Khánum e para ale-grar seu coração. Em resposta, ela receberia a seguintemensagem:]

“Minha muito querida Leonora,Perdoe por esta carta ser datilografada, mas estou certa

de que é mais rápido e mais fácil para nós duas. Recebi seu lindopresente através do sr. e sra. ..., e fiquei muito emocionada porme dar este antigo prato que significa tanto para você. Estoupendurando-o em minha pequena sala de jantar que utilizotodos os dias, de modo que possa olhá-lo e pensar em você.Independente do prato, muitas vezes penso em você de qualquermodo e, como bem sabe, com muito amor.

Fiquei muito triste em saber que a condição de seu pescoçoseja tão ruim. Pelo menos, Leonora, apesar da idade e de suascomplicações, você está constantemente prestando maravilhososserviços à Fé e continuando com suas traduções; deve ficar muitocontente por ser capaz de fazer isto. Algumas vezes recebo notícias

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397Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

de bahá’ís muito devotados cuja condição atual os impede defazer qualquer coisa para a Fé – você é uma das pessoas de sortee espero que eu também o seja.

Exceto pelas trágicas circunstâncias na Pérsia, o Ridvántrouxe notícias das muitas vitórias notáveis em todas as partesdo mundo. Isto mostra que, quando o vento da perseguição sopramais forte, a chama do reconhecimento incandesce e brilha commais ardor.

Acho que estou gozando de muito boa saúde apesar de tervisitado dezoito países em pouco mais de oito meses.

Abraço-a com todo amor, sua sempre devotada,Rúhíyyih”5

[Com as costas já curvadas pelos anos e comdores constantes no pescoço, Leonoracontinuou incansavelmente com seu serviçode tradução dos Escritos, sua correspondênciae seus serviços como Conselheira Continental.Um breve registro de seus serviços entre osanos de 1973 e 1980 inclue sua participaçãoem diversas conferências e escolas detemporada, bem como, suas muitas viagenscomo membro do Corpo Continental deConselheiros da América do Sul. Eis algunsexemplos:

! Conferência Regional para o lançamentodo Plano de Cinco Anos em Cali,Colômbia, 12 a 14 de abril de 1974.

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398Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

! Escola de Verão no Paraguai, 14 a 21 dedezembro de 1974.

A Mão da Causa de Deus sr.Faizí e Leonora em São Paulo,junho de 1974.

Leonora e a Mão da Causa deDeus dr. Muhájir, em Salvador,Bahia, durante os preparativospara a Conferência Internacio-nal de Ensino naquela cidade.

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399Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

A Mão da Causa de Deus sr.Enoch Olinga e Leonora duran-te a Conferência Internacionalde Ensino em Salvador, Bahia,em 1977. O sr. Olinga foi orepresentante oficial da CasaUniversal de Justiça à Confe-rência..

Foto da inauguração do antigoHazíratu’l-Quds Nacional doBrasil, no Rio de Janeiro, em1975, onde Leonora foi convi-dada a palestrar sobre o signifi-cado desta aquisição no desen-volvimento da Causa no Bra-sil. Esta propriedade foi vendi-da quando foi adquirida o atu-al Hazíratu’l-Quds do Brasil(1997) em Brasília, CapitalFederal.

! Inauguração do Hazíratu’l-Quds Nacional doBrasil, no Rio de Janeiro, 15 de novembro de1975.

! Conferência Internacional de Ensino, emSalvador, Bahia, Brasil, janeiro de 1977.

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400Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

! Conferência Nacional de Ensino, em Pati dosAlferes, Rio de Janeiro, Brasil, novembro de1977.

! Conferência de Mulheres, em Lima, Peru,dezembro de 1977; onde ela teveoportunidade de rever sua querida amiga EveNicklin.

Eve Nicklin e a Mão da Causade Deus, dr. Muhájir emLima, Peru, 1977, onde Leo-nora e ela se encontraram apósanos.

Paquita e Leonora durante aConferência Internacional deEnsino em Salvador, Bahia, em1977.

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401Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 44Servindo Como Conselheira Continental

! Como Conselheira continental manteve em diaum grande volume de correspondência comAssembléias Nacionais e Membros do CorpoAuxiliar. Manteve ainda entre os anos 1973 a1980 uma coluna regular no Boletim Bahá’ído Brasil – como forma de educação eaprofundamento contínuo dos bahá’ís doBrasil nas verdades fundamentais da Causa.Além disso, prosseguia incansavelmente comas traduções e demais atividades, queocupavam todo o seu tempo.

Conselheira Leonora juntamen-te com o Conselheiro RaulPavón e seus membros do Cor-po Auxiliar no Brasil. Em pé,da esquerda para a direita: Sér-gio R. Couto, LeonoraArmstrong, Touba MaaniHessari, Raul Pavón, GuittyMilani, Qodrat’u’lláh Soltani.Em baixo, da esquerda para adireita: Diógenes Andrade, JoséCarlos Carreiro, FoadShaikhzadeh e Jairo B.Cerqueira.

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402Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

Leonora em seu sítio em Juizde Fora, MG.

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403Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

[Aos 84 anos de idade e vivendo em Juiz de Fora, noestado de Minas Gerais, sua saúde se viu pouco a pou-co mais debilitada. Todos os seus movimentos – an-dar, sentar e levantar – agora se tornavam, a cada dia,mais dolorosos e difíceis, ainda assim, tomou a decisãode iniciar a construção de uma casa naquela cidade,desejando que a comunidade a pudesse usar comoHazíratu’l-Quds. Nesta época, a Assembléia Espiritu-al Nacional dos Bahá’ís do Brasil lhe havia oferecidouma viagem de peregrinação à Terra Santa, com dataconfirmada pela Casa de Justiça; mas, ela não quis acei-tar. Ela escreveria:]

ealmente, agradeço sinceramente a extremaconsideração, bondade e generosidade que desse modome foi demonstrada pelos membros da minha

querida família bahá’í e sou profundamente grata, mas conformelhes disse, parece-me simplesmente impossível pensar sobre istono momento. É algo maravilhoso para se sonhar! Em primeirolugar, em vista da minha recente completa negligência quantoaos meus deveres como Conselheira, da minha sempre crescenteconsciência da minha atual ineficiência, realmente não poderiaenfrentar os membros da Casa Universal de Justiça e as Mãos

45OS ANOS FINAIS

“R

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404Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

da Causa. Preciso esperar – e tentar – primeiramente me

recuperar, pelo menos até certo ponto. E, além disso, agora mesmo,

há tantas coisas pendentes que não poderia ir tranqüilamente,

com a mente em paz, deixando tantas coisas que exigem a minha

presença aqui.

Conforme expliquei na carta que lhes enviei ontem, sinto

que agora devo fazer o máximo que posso para cumprir com

minhas obrigações aqui e, então, ficar livre, de uma vez por

todas, desta constante preocupação, dia e noite, que está

seriamente minando minha saúde. Não é absolutamente apenas

uma questão de determinação inflexível – como alguns podem

talvez imaginar – de terminar uma construção que

por qualquer motivo comecei. É certamente muito

mais uma questão de manter minha palavra,

cumprir minha promessa a meu marido e meus

netos, bem como, aos nossos dois empregados. ”1

LEONORA RETORNA À CIDADE

DA BAHIA PARA FALECER

[Com sua saúde em rápido declínio, ela ce-deu, por fim, aos constantes apelos da As-sembléia Nacional e aceitou o convite parair residir na cidade de Salvador, Bahia, alificando, então, sob os cuidados de umadedicada família bahá’í.2 Entretanto, aque-les três últimos meses de sua vida não

Leonora perto do Farol da Bar-

ra, em Salvador, Bahia, onde

residiu por volta de 1930.

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405Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

seriam nada diferentes dos longos anos de absoluta de-dicação ao Bem-Amado dos Mundos. Deitada em seuleito, ela continuou, sem descanso, a tradução de car-tas e Epístolas, dentre essas, a “Epístola do Fogo”, umadas suas últimas traduções para o português. Foi umprivilégio ver e estar com aquele anjo de Deus, exem-plo de servitude, desprendimento e absoluta dedica-ção ao Reino. Embora com as mãos trêmulas, ela ain-da escreveria uma mensagem à primeira ConferênciaBahá’í Latino-Americana da Mulher, que se realizavaem Brasília (16 a 19 de outubro de 1980). Erainacreditável ver seu surpreendente esforço e determi-nação, já que ela também resolveu gravar a mensagem.Embora com a voz já quase inaudível e com seus mo-vimentos reduzidos, ela, como se estivesse conectada auma poderosa fonte exterior, via-se transformada eaquela aparente fraqueza subitamente desaparecia eencontrava-se novamente com força e vigor. Sentou-se em seu leito e gravou uma poderosa mensagem àConferência da Mulher.3 Suas palavras foram:]

“Em nome do Corpo Continental deConselheiros da América do Sul, desejo estendera vocês, nesta histórica ocasião, a da primeiraConferência Bahá’í Latino-Americana da Mulher,nossas mais cordiais, mais amorosas saudações enossos sinceros votos do maior sucesso possível.

Mulher, Luz da Geração Futura! Quandonós, as mulheres do mundo, refletirmos sobre overdadeiro significado deste tema que foiescolhido, ao ponto de seu verdadeiro significadopenetrar mais e mais profundamente na

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406Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

consciência de cada mulher, compreenderemosquão glorioso, que supremo privilégio é o nossoe que inescapável dever nos cabe. E, assim,deveremos nos levantar como nunca antes, paracumprir esta nossa primeira obrigação. Asmulheres sabem que são as primeiras educadorasda humanidade, que é sua a oportunidade deeducar seus filhos desde a primeira infância. Éinquestionável havermos alcançado o auge doprogresso material, a ascensão ao bem-estar físicoda criança e ainda mais, o progresso dodesenvolvimento intelectual, o qual avança apassos largos. Esta nossa civilização material emtodos os aspectos é sem precedentes. Mas seráque isso tem nos trazido felicidade? Vemos ahumanidade envolvida nas trevas do egoísmo, daambição e da desfeita; vemos nossa juventude embusca de algo sem saber o que, procurandorefúgio em drogas que levam a crimes e a mais emais tristezas para todos.

Se cada homem e mulher, neste mundohoje, tivesse sido desde a infância ensinado porsua mãe nas leis do amor de Deus, tivesse sidonutrido nos princípios éticos, espirituais e divinose ensinado realmente a amar seu próximo – quediferente seria este nosso mundo de hoje!

‘Abdu’l-Bahá disse uma vez que nossamaravilhosa civilização material é como uma belalâmpada, mas sem a luz é, portanto, inútil. Acivilização espiritual é a luz indispensável que fazcom que a lâmpada se torne útil. Cada criança épotencialmente a luz do mundo, disse ‘Abdu’l-

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407Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

Bahá e, ao mesmo tempo, suas trevas. Por isso, aquestão da educação deve ser considerada deprimordial importância. Desde a infância, acriança deve ser nutrida no seio do amor de Deus,amamentada no avanço de Seu conhecimento, afim de que ela possa irradiar luz, crescer emespiritualidade, tornar-se plena de sabedoria eerudição e adquirir as características das hostesangelicais. Eis o desafio de cada mulher hoje:somente se ela ensinar a seus filhos e filhas asqualidades espirituais, se neles incutir o amor aDeus, poderá ela prepará-los para estabelecer acivilização espiritual, a civilização Divina, a qualhaverá de superar a material, a qual trará luz àlâmpada da civilização material, uma lâmpada tãobela, mas que agora está vazia, em escuridão total.Somente deste modo, poderá a mulher se tornarverdadeiramente a luz da geração futura!”

Leonora durante a PrimeiraConvenção Nacional, no Rio deJaneiro, em 1961.

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408Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

[No início do mês de outubro, seu estado de saúdeagravou-se, não mais lhe sendo possível seguir com astraduções. Pressentia-se que ela estava rapidamente sepreparando para partir, para alçar seu vôo ao lar eterno– para voar com suas poderosas asas em direção aoBem-Amado dos mundos. Sua face irradiava luz e paz,enquanto seu corpo se via frágil; até que na sexta-feira,17 de outubro, por volta de duas horas da tarde, elapartiu tranqüilamente para o Reino de Abhá.

O funeral da “Mãe Espiritual da América do Sule do Brasil” ocorreu no início da tarde do dia seguinte,na presença de centenas de seus filhos espirituais,provenientes de praticamente todas as regiões do Brasil,bem como, de alguns países vizinhos, alguns dos quaishaviam participado da Conferência da Mulher,realizado em Brasília. A seguinte mensagem4 foi, então,recebida da Casa Universal de Justiça:]

Túmulo de Leonora no Cemi-tério dos Estrangeiros em Sal-vador, Bahia.

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Capítulo 45Os Anos Finais

Leonora Stirling Armstrong23.6.1895 - 17.10.1980

“CORAÇÕES ENTRISTECIDOS PASSAMENTO

DISTINTA CONSELHEIRA LEONORA STIRLING

ARMSTRONG, ARAUTA DO REINO, AMADA

SERVA ‘ABDU’L-BAHÁ, MÃE ESPIRITUAL

AMÉRICA DO SUL. SEUS SESSENTA ANOS

HERÓICOS DEVOTADOS SERVIÇOS CAUSA

BRASIL IRRADIA ESPLENDOR ANAIS FÉ NESSA

TERRA PROMISSORA. SOLICITANDO SERVIÇOS

EM MEMÓRIA MASHRIQU’L-ADHKÁRS

WILMETTE PANAMÁ; INSTAR TODAS

COMUNIDADES BRASIL IGUALMENTE

REALIZAREM SERVIÇOS. OFERECENDO

FERVOROSAS SÚPLICAS TÚMULO MAIS

SAGRADO PROGRESSO SEU RADIANTE ESPÍRITO

REINO ABHÁ.CASA UNIVERSAL DE JUSTIÇA”

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410Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Capítulo 45Os Anos Finais

Várias homenagens foram fei-tas a Leonora, entre elas a daPrefeitura da cidade do Rio deJaneiro que colocou uma placano cais do porto daquela cida-de. Várias cidades do Brasilpossuem ruas com seu nome.

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415Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas

1. ‘Abdu’l-Bahá. A Promulgação da Paz Universal. (Mogi Mirim, SP:Editora Bahá’í do Brasil, 2005) p. 7.

2. Amatu’l-Bahá Rúhíyyih Khánum, citada em: The Bahá’í World,1979-1983 (Haifa: World Centre Publications, 1983), VolumeXVIII, p. 738.

3. ‘Abdu’l-Bahá. Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá (Mogi Mirim,SP: Editora Bahá’í do Brasil, 1993), seção 168, p. 180.

1. Poesias das páginas 10, 11, 12, 13 e 14: Acervo pessoal da sra.Leonora Armstrong, nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil.

1. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

2. Carta da sra. Isabela D. Brittingham à sra. Leonora Georgina Stirling,datada de 13 de maio de 1912. Acervo pessoal da sra. LeonoraArmstrong, nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dosBahá’ís do Brasil.

1. Garis, M.R., Martha Root: Lioness at the Threshold. (Willmete, IL:Bahá’í Publishing Trust, 1983), pp. 99-100.

2. Carta da sra. Martha Root ao sr. e sra. Kerr, sr. e sra. Gnocchi, sr.Noferi e sr. J.R. Gonçalves da Silva, datada de 13 de outubro de1919. Acervo pessoal do sr. Ângelo Guido Gnocchi. Cópia nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

3. Carta da sra. Martha Root aos teosofistas de Santos, São Paulo,datada de 15 de janeiro de 1919. Acervo pessoal do sr. ÂngeloGuido Gnocchi. Cópia nos arquivos da Assembléia EspiritualNacional dos Bahá’ís do Brasil. Embora datada de 15 de janeiro de1919, foi provavelmente escrita em 15 de janeiro de 1920.

4. Carta da sra. Martha Root ao sr. Ângelo Guido Gnocchi e amigos deSantos, São Paulo, datada de 12 de abril de 1920. Acervo pessoaldo sr. Ângelo Guido Gnocchi. Cópia nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

PREFÁCIO

CAPÍTULO 1:INFÂNCIA

CAPÍTULO 2:JUVENTUDE

CAPÍTULO 3:OS PRIMEIROS CONTATOS

DE MARTHA ROOTCOM O BRASIL

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06415

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416Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas5. Carta da sra. Agnes Baldwin Alexander ao sr. Ângelo Guido Gnocchi,

datada de 27 de junho de 1920. Acervo pessoal do sr. Ângelo GuidoGnocchi. Cópia nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dosBahá’ís do Brasil.

6. Epístola de ‘Abdu’l-Bahá dirigida a um grupo de contatos de MarthaRoot, datada de 28 de janeiro de 1920, publicada em Seleção dosEscritos de ‘Abdu’l-Bahá (Mogi Mirim, SP: Editora Bahá’í do Brasil,1993), seção 202.

1. Leonora Armstrong, em relatório enviado ao History Committee(1951), p.1. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdos Estados Unidos.

2. Epístola de ‘Abdu’l-Bahá dirigida a sra. Leonora Holsapple, datadade 26 de julho de 1919. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Boletim Bahá’í do Brasil, abril 1979. Ano Bahá’í 136, p.5.

1. Leonora Armstrong em relatório enviado ao History Committee(1951), p. 2. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdos Estados Unidos.

2. Ibid., pp. 2-4.3. Epístola de ‘Abdu’l-Bahá dirigida a sra. Leonora Holsapple, datada

de 1o de junho de 1921. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.4. Fac-símile da Epístola original de ‘Abdu’l-Bahá dirigida à sra. Leonora

Holsapple, datada de 1o de junho de 1921, cujo original se encontranos Arquivos Internacionais Bahá’ís em Haifa, Israel.

1. Oração revelada por ‘Abdu’l-Bahá para aqueles que viriam para aAmérica do Sul, trata-se da Epístola número 14, revelada em 8 demarço de 1917, nos aposentos de Ismá’íl Áqá na casa de ‘Abdu’l-Bahá em Haifa, e endereçada aos bahá’ís dos Estados Unidos daAmérica e Canadá. ‘Abdu’l-Bahá, Epístolas do Plano Divino, EditoraBahá’í do Brasil, 2001, pp. 101-110; também citada em OraçõesBahá’ís, 11ª edição, 2004, pp. 118-9.

2. Leonora Armstrong, em relatório enviado ao History Committee(1951), p.4. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdos Estados Unidos.

1. Leonora Armstrong, em relatório enviado ao History Committee(1951), p.5-6. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdos Estados Unidos.

CAPÍTULO 4:PIONEIRISMO

CAPÍTULO 5:EMBARCANDO PARA UMA

NOVA VIDA NO BRASIL

CAPÍTULO 6:O PRIMEIRO DIA EM UM

NOVO MUNDO

CAPÍTULO 8:VOLTA AOS

ESTADOS UNIDOS

CAPÍTULO 7:INICIAM-SE OS

CONTATOS COMO GUARDIÃO

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06416

Page 439: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

417Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas2.Ibid. p. 6.3.Ibid. p. 6.4.Ibid. p. 7.5.Ibid. p. 8.6.Ibid. p. 7.7.Ibid. p. 8.8.Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de março de

1923. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 14 dejulho de 1924. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 21 deabril de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 14 dejulho de 1924. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 21 deabril de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Ibid.6. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 12 de

março de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.7. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 23 de maio de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.8. Carta escrita pelos primeiros crentes da Bahia a Shoghi Effendi por

época da primeira celebração da Festa de Naw-Rúz na Bahia , datadade 21 de março de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

9. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi aos amigos bahá’ís naBahia, Brasil, datada de 26 de maio de 1925. Arquivos do CentroMundial Bahá’í.

10. Ibid.11. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 26 de maio de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.12. Ibid.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 15 denovembro de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Ibid.3. Ibid.4. Ibid.5. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 3 de maio

de 1926. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivosda Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

6. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datadade 27 de dezembro de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

CAPÍTULO 10: A VIDA NA BAHIA

CAPÍTULO 11:LANÇANDO AS

SEMENTES

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06417

Page 440: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

418Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas7. Ibid.8. Carta de May Maxwell a Leonora S. Holsapple, datada de 11 de

janeiro de 1926. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datadade 7 de novembro de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 21 dedezembro de 1925. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 28 de janeiro de 1926. Arquivos do Centro MundialBahá’í.

4. Ibid.5. Shoghi Effendi. A Presença de Deus (Rio de Janeiro: Editora Bahá’í

do Brasil, 1981), p. 483.6. Ibid.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 15 deagosto de 1926. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta de Martha Root a Leonora S. Holsapple, datada de 15 demarço de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

3. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 15 deagosto de 1926. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 16 de outubro de 1926. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Ibid.6. Ibid.7. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 23 de

janeiro de 1927. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.8. Leonora Armstrong, em relatório enviado ao History Committee

(1951). Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís dosEstados Unidos.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 16 demaio de 1927. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 18 de agosto de 1927. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Ibid.4. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 16 de

maio de 1927. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

CAPÍTULO 12:A VOZ DA BAHIA POR

JUSTIÇA EM RELAÇÃO ÀCASA DE BAHÁ’U’LLÁH

EM BAGDÁ

CAPÍTULO 13:DIFICULDADES NO

CAMINHO

CAPÍTULO 14:UMA SEGUNDA VISITAAOS ESTADOS UNIDOS

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06418

Page 441: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

419Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas5. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 15-16 de

maio de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

6. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 4 de junhode 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivosda Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

7. Ibid.8. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada de Nova

Iorque datada de 10 de junho de 1927. Acervo pessoal da sra.Leonora Armstrong, nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil.

9. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada de Toronto,Canadá, datada de 24 de junho de 1927. Acervo pessoal da sra.Leonora Armstrong, nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil.

10. Ibid.11. Ibid.12. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada desde

Adrian, Michigan, datada de 6 de julho de 1927. Acervo pessoal dasra. Leonora Armstrong, nos arquivos da Assembléia EspiritualNacional dos Bahá’ís do Brasil.

13. Ibid.14. Ibid.15. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 2 de

agosto de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

16. Ibid.17. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada de Nova

Iorque datada de 18 de agosto de 1927. Acervo pessoal da sra.Leonora Armstrong, nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil.

18. Ibid.19. Ibid.20. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 31 de

agosto de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 3 desetembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

2. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 11 desetembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

CAPÍTULO 15:A VIAGEM DE VOLTA

AO BRASIL

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06419

Page 442: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

420Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas3. Ibid.4. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 11 de

setembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

n.o.: Post scriptum na mesma carta indicando ter sido datada de 13de setembro de 1927.

5. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 18 desetembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

6. Ibid.7. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 23 de

setembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

8. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 29 desetembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

9. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, datada de 19 desetembro de 1927. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

10. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, escrita à bordo do“SS Simón Bolívar”, datada de 29 de setembro de 1927. Acervopessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

11. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada deCumberland House, Trinidad, datada de 29 de setembro de 1927.Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

12. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada deCumberland House, Trinidad, datada de 3 de outubro de 1927.Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

13. Ibid.14. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada de Trinidad,

datada de 6 de outubro de 1927. Acervo pessoal da sra. LeonoraArmstrong, nos arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdo Brasil.

15. N.O: palestra realizada na Igreja Bethel M.E. Manse, cujo reverendoera o sr. Newburn A. Murray. (buscar ref. carta de 25 out. 1927-28)

16. N.O.: O texto da transcrição auto-biográfica de Leonora diz ter elachegado em Bridgetown em 22 de novembro de 1927. Muitoprovavelmene trata-se de um equívoco de datilografia, uma vez queem carta escrita de Bridgetown, datada de 3 de novembro de 1927

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06420

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421Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas(data anterior ao citado 22 de novembro), ela afirma textualmentehaver chegado lá em 2 de novembro de 1927.

17. Carta de Leonora S. Holsapple a Hyram Faria, enviada deBridgetown, Barbados, datada de 3 de novembro de 1927. Acervopessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

18. Nome da reunião que os bahá’ís fazem para apresentar a Fé aosamigos. (n.t.)

19. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 18 de agosto de 1927. Arquivos do Centro MundialBahá’í.

20. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 27 de outubro de 1927. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

21. Ibid.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 26 dejunho de 1929. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 3 de junho de 1929. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 23 de agosto de 1929. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 26 dejunho de 1929. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 23 de agosto de 1929. Arquivos do Centro MundialBahá’í.

6. Ibid.7. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 16 de

dezembro de 1929. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.8. Ibid.9. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 17 de janeiro de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.10. Ibid.11. Ibid.12. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi aos amigos bahá’ís na Bahia,

datada de 17 de janeiro de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.13. Ibid.14. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 12 de

março de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.15. Relatório preparado pela sra. Leonora S. Holsapple, datado de 21

de março de 1930. Ver também Bahá’í News. No. 44, setembro1930, pp. 6-7.

CAPÍTULO 16:O NOIVADO DE

LEONORA É DESFEITO

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06421

Page 444: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

422Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 12 de

março de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.2. Ibid.3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 5 de abril de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.4. Ibid.5. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 14 de

junho de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.6. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 5 de julho de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.7. Ibid.8. No acervo de correspondências pessoais de Leonora deste período,

encontram-se cartas regulares com algumas pessoas da Espanha,dentre elas: sra. Esmeralda (de Madrid) e sr. Joseph Hays (deMadrid). Este último, em carta datada de 22 Julho de 1934, escreveu:“Mi distinguida amiga: Hemos recibido una cariñosa tarjeta connoticias suyas, y sin perjuicio de que Esmeralda le contestedirectamente, lo que hará enseguida, yo la quiero felicitar por suasombroso adelanto del español, pues el libro que nos ha enviadoestá divinamente traducido y sin ninguna falta de ortografía…Es unverdadero esfuerzo de voluntad, y muy digno de admirar.

El libro y sus enseñanzas, me ha interesado, particularmente loque se relaciona con el acercamiento de razas y religiones einternacionalización del mundo. Veo que es una maravillosaorganización y como quiera que me agradaría hacer la propagandaen España, principalmente de su libro, y de las teorías que encierra,le ruego me indique como Representante de Propaganda en todaEspaña, y facilitar la difusión de su libro en todos los Centros,Universidades, librerías particulares, etc…

Veo su maravilloso espíritu, pues recuerdo sus enfermedades,de las que le supongo aliviada y comprendo el esfuerzo hecho por suparte….”

9. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 16 deoutubro de 1930. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Folha com anotações de Leonora Armstrong contendo descrição dealguns de seus objetos pessoais considerados suas relíquias pessoais.Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

2. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 15 demarço de 1931. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 8 de abril de 1931. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

CAPÍTULO 17:EM BUSCA DE NOVOSCAMPOS DE SERVIÇO

CAPÍTULO 18:“MUITO BEM-VINDA!”

A PEREGRINAÇÃO

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06422

Page 445: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

423Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas4. Ibid.5. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 1o de

julho de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.6. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 30 de julho de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.7. Ibid.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 1o dejulho de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 8 deoutubro de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Ibid.4. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datada

de 28 de outubro de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.5. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 8 de

outubro de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.6. . Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 28 de outubro de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.7. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 21 de junho de 1933. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.8. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datada

de 28 de outubro de 1932. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.9. Ibid.10. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 15 de janeiro de 1933. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.11. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datada

de 28 de dezembro de 1933. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.12. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 8 de março de 1934. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.13. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 1o de outubro de 1933. Arquivos do Centro MundialBahá’í.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 11 dedezembro de 1933. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datadade 28 de dezembro de 1933. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 31 dejaneiro de 1934. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

CAPÍTULO 19:REVESES NOS ESFORÇOS

DE TRADUÇÃOPARA O ESPANHOL

CAPÍTULO 20:UMA BREVE

VISITA AOS ESTADOSUNIDOS – 1933

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06423

Page 446: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

424Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas1. Carta de May Maxwell para Leonora S. Holsapple, datada de 10 de

janeiro de 1935. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 9 de abrilde 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Ibid.3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 27 de abril de 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.4. Ibid.5. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 5 de

dezembro de 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Anfrísia Santiago (1894-1970). Reconhecida educadora ehistoriadora, natural de Salvador, Bahia. Apresentou importantescontribuições em pesquisas históricas, colaborando com intelectuaisde sua geração, incluindo sua participação no Centro de EstudosBaianos. Apoiou Leonora com alguns contatos e mais tarde,juntamente com Margot Worley fundaram na Bahia o Movimentodas Bandeirantes.

2. Pedro Calmon Muniz de Bittencourt (1902-1985). Eminenteprofessor, político, historiador biógrafo, nasceu em Salvador, Bahia.Foi presidente da Academia de Letras e reitor da Universidade doBrasil, atual UFRJ, além de ministro da Educação e Saúde (1950-51).

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 26 de julho de 1935. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 9 de abrilde 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 26 de julho de 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

6. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 28 deoutubro de 1935. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

7. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datadade 5 de dezembro de 1935. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

8. Ibid.9. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 21 de

fevereiro de 1936. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 21 defevereiro de 1936. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 20 de março de 1936. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

CAPÍTULO 21:ESTREITA AMIZADE

COM MAY MAXWELL

CAPÍTULO 22:UMA INCLINAÇÃO

ESPECIAL PARA OSERVIÇO SOCIAL

CAPÍTULO 23:INSTRUTORES

VIAJANTES ESPECIAISCHEGAM PARA AJUDAR

CAPÍTULO 24:A TRADUÇÃO DO

LIVRO DA CERTEZAPARA O ESPANHOL

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06424

Page 447: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

425Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 3 de julho de 1936. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.4. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 5 de

dezembro de 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.5. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple, datada

de 14 de dezembro de 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.6. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 10 de janeiro de 1938. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.7. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 5 de

dezembro de 1937. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.8. The Universal House of Justice. Messages 1963 -1986. p. 353.9. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,

datada de 10 de janeiro de 1938. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.10. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 23 de

outubro de 1939. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.11. Hermann Grossmann (1899-1968): Mão da Causa de Deus,

nomeado por Shoghi Effendi em 1951. Nasceu na Argentina emudou-se com a família para a Alemanha em 1909, tornando-sebahá’í em 1920, promovendo muito a Fé naquele país. Escreveumuitos livros em alemão sobre a Fé, como também foi um grandetradutor dos livros bahá’ís para aquela língua. Sofreu muitaperseguição na época do nazismo e até prisão por 6 meses, tendotoda sua biblioteca confiscada, voltando as atividades bahá’ís em1945. Fez várias visitas à América do Sul, inclusive ao Brasil.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 9 dejunho de 1940. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora S. Holsapple,datada de 9 de abril de 1940. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Ibid.

1. Citado em Os Rompedores da Alvorada, vol. I,Editora Bahá’í doBrasil, 1989, p. 137.

2. Menandro Ramos Negreiros Falcão (1922-). Antigo contato deLeonora da década de 30 e 40 ajudou nas primeiras traduções dosEscritos para o português, em especial nas revisões. Estudou nofamoso Colégio dos Jesuítas (Colégio Antônio Vieira), onde sedestacou com diversos prêmios de Excelência. Bastante identificadocom os Ensinamentos e grande defensor público da Causa, teve suafotografia retirada do Hall de Honra da Escola por esse motivo.Formado em Direito, teve carreira brilhante servindo inclusive comoPresidente do Tribunal Regional do Trabalho-Bahia (1979-81).Homem de vasta cultura, falando diversos idiomas, doou sua

CAPÍTULO 26:A VIAGEM DE MAY

MAXWELL Ã BUENOSAIRES EM 1940

CAPÍTULO 27:A PRIMEIRA ASSEMBLÉIA

ESPIRITUAL LOCALDO BRASIL

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06425

Page 448: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

426Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficasbiblioteca pessoal com mais de 8 mil livros a distintas instituiçõeseducativas da Bahia.

3. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 23 deoutubro de 1939. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 9 dejunho de 1940. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Ibid.6. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 30 de

novembro de 1940. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.7. Ibid.8. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 29 de

junho de 1941. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Lars Gravem, datada de 1o de junhode 1940. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nos arquivosda Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 29 dejunho de 1941. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Ibid.3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora Armstrong,

datada de 14 de outubro de 1941. Arquivos do Centro MundialBahá’í.

4. Carta de Leonora Armstrong a Shoghi Effendi, datada de 24 demarço de 1942. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Carta de Rúhíyyih Khánum a Leonora Armstrong, datada de 1o dejulho de 1942. Acervo pessoal da sra. Leonora Armstrong, nosarquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

6. Ibid.7. Carta de Leonora S. Holsapple a Shoghi Effendi, datada de 29 de

junho de 1941. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.8. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora Armstrong,

datada de 7 de maio de 1942. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.9. A USO (United Service Organization) foi estabelecida em 1941

como uma agência de serviço social sem fins lucrativos para proverbem-estar social e serviço recreativo para os membros das forçasarmadas dos Estados Unidos e suas famílias.

10. Gilberto Freyre (1900-1987). Educador, juiz de Direito, sociólogo,um dos mais destacados autores brasileiros. Autor de Casa Grande eSenzala.

CAPÍTULO 28:PERSISTINDO EM MEIO A

UMA INÓSPITAATMOSFERA POLÍTICA

CAPÍTULO 29:O CASAMENTO

DE LEONORA

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06426

Page 449: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

427Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas11. Charles Mason Remey. Foi um dos primeiros crentes famosos do

Ocidente e foi nomeado para o alto grau de Mão da Causa porShoghi Effendi e presidente do Conselho Internacional Bahá’í.“Proclamou” a si mesmo como o segundo Guardião, tornando-seuma fonte de vergonha para a Causa. Foi declarado como Rompedordo Convênio e morreu em desonra alguns anos mais tarde. Ver:Adib Taherzadeh, The Child of the Covenant, pp. 331-371 eCustodians, Ministry of the Custodians.

12. Ver p. 286 deste livro.

1. Carta escrita pelo sr. Fritiof Will, em nome da Assembléia EspiritualLocal do Bahá’ís do Rio de Janeiro, datada de outubro 1947.Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Assembléia EspiritualLocal do Rio de Janeiro, datada de 26 de julho de 1946. Arquivosdo Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora Armstrong,datada de 26 de julho de 1946. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. A localização da primeira Sede Bahá’í do Rio de Janeiro foi na R.Evaristo da Veiga, 16, sala 1304.

5. Carta escrita pelo sr. Werner Hasenberg em nome da AssembléiaEspiritual Local do Bahá’ís do Rio de Janeiro, datada de 26 de abrilde 1948. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdo Brasil.

1. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi à srta. Dinah França,datada de 11 de outubro de 1948. Arquivos do Centro MundialBahá’í.

2. Ibid.

1. Carta de Leonora Armstrong a sua irmã Alethe datada de 20 dejunho de 1952. Cópia nos Arquivos da Assembléia EspiritualNacional dos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta de Leonora Armstrong a sua irmã Alethe datada de 20 dejunho de 1952. Cópia nos Arquivos da Assembléia EspiritualNacional dos Bahá’ís do Brasil.

2. Carta do Bahá´í Service for the Blind (Serviço Bahá’í para Cegos),um Comitê da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís dosEstados Unidos, datada de 3 de setembro de 1953 a Harold V.Armstrong. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdo Brasil.

CAPÍTULO 30:A FORMAÇÃO DA

ASSEMBLÉIAESPIRITUAL LOCAL

DO RIO DE JANEIRO

CAPÍTULO 31:A FORMAÇÃO DA ASSEMBLÉIA

ESPIRITUAL LOCAL DE SÃO PAULOE UMA ONDA DE CRESCIMENTO

DA CAUSA

CAPÍTULO 32:O CONTÍNUO TRABALHODE EXPANSÃO DA CAUSA

CAPÍTULO 33:TRADUÇÕES PARA O

BRAILLE

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06427

Page 450: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

428Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas3. Carta de Leonora Armstrong à sra. Amédée Gibson, Bahá´í Service

for the Blind, datada de 9 de setembro de 1953. Cópia nos Arquivosda Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil.

4. Carta do sr. Tokujiro Torii à sra. Leonora Armstrong datada de 23 deabril de 1953. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ísdo Brasil.

5. Carta de Leonora Armstrong ao sr. Tokujiro Torii, datada de 21 demaio de 1953. Cópia nos Arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi a Leonora Armstrong datadade 30 de novembro de 1952. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta de Leonora Armstrong a Shoghi Effendi datada de 28 deoutubro de 1953. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi à Leonora Armstrong, datadade 19 de novembro de 1953. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

1. Carta de Rúhíyyih Khánum a Leonora Armstrong datada de 5 dedezembro de 1956. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dosBahá’ís do Brasil.

2. Carta de Leonora Armstrong a Rúhíyyih Khánum datada de 12 dejaneiro de 1957. Cópia nos Arquivos da Assembléia EspiritualNacional dos Bahá’ís do Brasil.

3. Carta de Rúhíyyih Khánum a Leonora Armstrong datada de 5 defevereiro de 1957. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional dosBahá’ís do Brasil.

4. Carta de Leonora Armstrong a Rúhíyyih Khánum datada de 19 demaio de 1957. Cópia nos Arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldos Bahá’ís do Brasil.

5. Carta de Leonora Armstrong a Rúhíyyih Khánum datada de 30 desetembro de 1957. Cópia nos Arquivos da Assembléia EspiritualNacional dos Bahá’ís do Brasil.

1. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi “aos crentes que estiveramreunidos na Conferência de Ensino em São Paulo”, datada de 4 dedezembro de 1953. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

2. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi ao Comitê Nacional deEnsino dos Bahá’ís do Brasil, datada de 3 de dezembro de 1955.Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

3. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi “aos crentes que participaramda Conferência Bahá’í de Ensino realizada em Itatiaia, São Paulo, de

CAPÍTULO 34:A CRUZADA DE DEZ

ANOS: 1953-1963

CAPÍTULO 35:DOAÇÃO DO TERRENO

PARA O TEMPLO NO BRASIL

CAPÍTULO 36:A FORMAÇÃO DASINSTITUIÇÕES NO

BRASIL

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06428

Page 451: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

429Leonora Armstrong Memórias & Cartas

Referências Bibliográficas30 outubro a 2 de novembro”, datada de 3 de dezembro de 1955.Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

4. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi “àqueles que estiverampresentes em 8 de setembro no Congresso de Ensino no Brasil”, datadade 20 de outubro de 1956. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

5. Carta escrita em nome de Shoghi Effendi “ao secretário do CongressoRegional de Ensino em Curitiba”, datada de 11 de outubro de1957. Arquivos do Centro Mundial Bahá’í.

6. Carta de Leonora Armstrong a Rúhíyyih Khánum datada de 28 deabril de 1961. Cópia nos Arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldo Brasil.

1. Citação utilizada pelos primeiros bahá’ís norte-americanos. De acordocom o Departamento de Pesquisas da Casa Universal de Justiça emcarta datada de 27 de setembro de 1992, este texto não é deBahá’u’lláh, mas do diário de Ahmad Sohrab (o qual mais tardeveio a romper com o Convênio). O texto não é parte dos TextosSagrados Bahá’ís. n.e.

2. Carta de Leonora Armstrong a Rúhíyyih Khánum datada de 28 deabril de 1961. Cópia nos Arquivos da Assembléia Espiritual Nacionaldo Brasil.

3. Ibid.

1. Carta das Mãos da Causa, residentes na Terra Santa, à LeonoraArmstrong datada de 14 de julho de 1966. Arquivos da AssembléiaEspiritual Nacional do Brasil.

2. Carta escrita por Violette Nakhjavání, em nome de RúhíyyihKhánum, à Leonora Armstrong datada de 3 de julho de 1966.Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional do Brasil.

3. Conforme relato da sra. Stella Bueno Nikobin.

1. Carta escrita por Violette Nakhjavání, em nome de RúhíyyihKhánum, à Leonora Armstrong datada de 3 de julho de 1966.Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional do Brasil.

2. Vide breve relato da viagem de Rúhíyyih Khánum ao Brasil no BoletimBahá’í Latino-Americano; Ano 124, no. 11, fevereiro de 1968, pp. 5-7.

3. Carta de Rúhiyyih Khánum a Leonora Armstrong datada de 4 defevereiro de 1968. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional doBrasil.

4. Carta de Rúhíyyih Khánum à Leonora Armstrong datada de 3 dedezembro de 1968. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional doBrasil.

CAPÍTULO 37:A PRIMEIRA CONVENÇÃO

NACIONAL BAHÁ’ÍDO BRASIL

CAPÍTULO 38:A ALEGRIA SUCEDE

A TRISTEZA

CAPÍTULO 40:NUTRINDO LAÇOS

ESPIRITUAISDURADOUROS

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06429

Page 452: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

430Leonora Armstrong Memórias & Cartas

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1. The Universal House of Justice. Messages 1963 to 1986, p. 248.2. Carta de Rúhíyyih Khánum a Leonora Armstrong datada de 19 de

junho de 1973. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional do Brasil.3. Ibid.4. Carta de Rúhíyyih Khánum a Leonora Armstrong datada de 18 de

abril de 1975. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional do Brasil.5. Carta de Rúhíyyih Khánum a Leonora Armstrong datada de 7 de maio

de 1979. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional do Brasil.

1. Carta de Leonora Armstrong a Shapoor Monadjem datada de 2 denovembro de 1979. Arquivos da Assembléia Espiritual Nacional do Brasil.

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4. Telegrama da Casa Universal de Justiça à Assembléia EspiritualNacional do Brasil datado de 20 de outubro de 1980. Arquivos daAssembléia Espiritual Nacional do Brasil.

CAPÍTULO 41:TRIBUTO DE LEONORA

À MARTHA ROOT,EM 1969

CAPÍTULO 42:JUBILEU DO

QÜINQÜAGÉSIMOANIVERSÁRIO DA CAUSA

NO BRASIL

CAPÍTULO 43:UMA EXPERIÊNCIAEXTRAORDINÁRIA

CAPÍTULO 44:SERVINDO COMO

CONSELHEIRACONTINENTAL

CAPÍTULO 45:OS ANOS FINAIS

Referências.pmd 8/5/2006, 19:06430

Page 453: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

431Leonora Armstrong Memórias & Cartas

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Page 455: Leonora Armstrong: Memórias & Cartas

433Leonora Armstrong Memórias & Cartas

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da foto de Niteroi:Ginásio Caio Martins.

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Centro Bahá’íEducacional –Soltanieh. Foto, AW.

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ANB.400. Paquita, ANB. Eve,

?????.401. APL.402. APL.404. APL.

407. APL.408. EBB.409. Jovem, APL. Foto fim da

página tirada em Salvadordurante a ConferênciaInternacional em 1977, ANB.

410. ANB.

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em brancosugestao nestas duas: colocar algumas informações sobre afé bahai (alimento da alma, pp. 155-1163-texto da AEN)ou livros sugeridos para leitura que ela traduziu com ascapas.

Referências fotos.pmd 7/5/2006, 23:59434

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em branco

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credito grafica

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