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Domingo, 15-3.-1?** L.etrameAries FUNDADOR: JORGI LACERDA ANO 7.° N.° 283 DIRETOR: ALMEIDA FISCHER T^ EVO ao sr. Augusto Mey- I I er a indicação do artig» •*—^ de Maurlce Viroux sobre Lautréamont Lautrea- mont et le Dr. Chenu no Mercure de Prance de dezem- bro último. t Não quero falar do artigo em si. pois decerto no Brasil intel- ro se tomou conhecimento do assunto. Entre nós, as coi- sus francesas caminham mal» depressa do que as federais. Al- guns até se deram ao luxo de discutir de viva voz/nos ca- fés parisienses, o escândalo. Meu amigo Ferdinand Berredo, que acaba de chegar do Sena, fala- me da enorme sensação desper- tada por Maurine Viroux. O próprio articulista não conse- seguiu (ou não quis) evitar o sensacionálismo. Conhec edor, como deve ser, do seu ambl- ente, preferiu criar uma aura de escândalo a apresentar a matéria entrosada num estudo ponderado. Não lhe escapou se- quer o "suspense" é a sua indagação, se os plágios de Lautréamont são apenas esses, e nada mais nada menos do que um volte na próxima seiria- na um final de capítulo radio- Tônico, Por outro íado, escasseou a Viroux aquela fleuma de AI- brecht,- recriminada por Wt Hayser, de reunir em seis vo- lumes as provas dos plagiatos «e Lessing no empenho mórbido de destruir uma glória. Fleuma, disse eu. Iludo-me. Aquele ódio velho, aquela idéia fixa dele- teria, aquele rancor surdo de quem esperdiça toda luma vida na; faina de sapa, somente com- paravel, em pólo oposto, ao afã construtivo e dignificador de quem sacrifica uma existência inteira em testemunhar a vera- cidade de cada passo, histórico « geográfico da Bíblia. Todos quantos se inteiraram das poucas páginas (apenas der) de Viroux no Mercure sa- bem què Lautréamont, nalgu- >nas passagens dos Chants de " Maldoror. tão famosos por sua influencia no surrealismo e úl- tunamente postos em evidência, entre nos, quando Jorge de LI- ma, após o lançamento da In- vençao de Orfeu. confessou sua penetração pela poesia de Isl- Jore Ducasse, sabem que lautréamont apenas se limitou a copiar trechos inteiros da Encyclopédie d'Histoire Naturel- le do Dr? Chenu. Assim, muito do arroubo sus- «tado pela inspiração sobre- humana de Ducasse é mérito cientifico e não místico do nm simples naturalista, e nem sequer deste, de um obscura colaborador de Buffon, Guéneau de Montbéliard. Não sei ainda quais os ar- gumentos que serão atirados à arena pelos idolatras maldoro- «stas. Será, a meu ver, uma valorização ainda maior dos Hhants. O recurso é dos mal» comuns em literatura. Quando f\ descobre um plágio ou uma lonte- , semnre os que en- «óivtram moio de provar (e com freqüência o nrovam) qur " fa'o depõe á favor do acusa- «o Alias, o plágio está desmo- Ça?mdò. e ninguém mais Jtfeçciipà muilo rom êle. A ten- tfiiva de AIbrecht contra Le.«- gmj surtiu efeito contrário. * «"ifoalmente, acredito que a titeão -- a piórM de Du- ficará bem pouco afeta- "vi poesia, cinilá menos ¦nal de contas, nuè !'<•• e?e 11 p^+^-ríftr^sé àbf. phiío- res. mie formaram Quadros com >>~v .i f Lm*4p\imiimm^^ ^*»SSrAn^^itfS^5 _^^^ ^^mm^-Ar-m*mmmwam^iÊmm^.mmmm\*^ri ••%.^»w \\g'fffii 'fmWMl^^^t^^^m?mm\\Ws' 1 ••• *lh*Ímmw^-wíi ^BSmm^Sm^SmmmWmw xm\áammmmmmmiÈ'í'$^^mBsK^ Xilogravura de JAMES REID ,3S>*', REFLEXÕES SOBRE O CASO LAUTRÉAMONT r<>? No pedaços de madeira, recortes de jornais, etc, portanto elemen- tos existentes e trabalhados? Que fez ele senão adiantar-se aos poetas, que tiraram poemas de catálogos telefônicos, guias de turismo; notícias de gazeta. faits-divers? Que fez ele. en- fim, senão erigir-se em precur- sor extraor d i n á r i o de Ezra Pound. ou quase um epígono deste (por um curioso proces- so de retroatividade histórica). Ifivr nií!» certos processos além do extremo admitido pela ética liickãfifv? Mési«vó mie &e provo *iuc ie %k, 03 Cantos süo ajan- lamento de plágios, Isidorc Du- FAUSTO CUNHA casse, pretenso Conde de Lata- tréamont, não sairá da litera- tura da qual foi posto para fo- ra um honestíssimo Mr. George Ohnet. Será, então, um fenô- meno tanto mais importante quanto mais se provar que ele não é autor de seus poemas. Quanto mais se provar que eje, de certo modo, reabilitou o la- do literário da ciência, restau- rou o sentido metafísico desta, reintegrou-a na comunsão da sensibilidade lírica... Não. Isl- dore Ducasse nada sofrerá. Se- ria inicio ore, 'oro nuinn 11- tc?&°t>ui'a cm uns IViollèie foi mo- dêlo de utilitarismo, em que para Camus as, dúvidas sobre a paternidade de La Peste cor- reram por conta da publicida- de moderna, se desse ao grande rapsodo (no sentido mais puro do termo) a esponja e o fel. De resto, Lautréamont não Iludiu a ninguém: ele mesmo declarou que le plagiat est riécessaire. Em conversa ainda com o poeta de Giraluz, ele me cha- mou a atenção para a ntitude lidimamente clássica de Ducás- se que o artigo de Viroux vem accnhiâr. O plágio, na litera- tura clássica, era multo mais que uma tradição —* era uma lei. Vergillo não ,se abalança- ria a epopéia sem abeberar-sej em Homero, nem Ariosto í.omi Vcrgílio. nem Camões sein Ari* osto. Danlc, o demiurgo, ado- tando para o poema cíclico um«u técnica que até hoje surftrccn**? de, tomou para guia inicial «J Cisne de Mântua. A própria II-' teratura alemã, com Klopstock, não se liberta da invocação ho~; merina. Diz-me o Sr. Auguütofj Meyer que ao estilo clássico de* Lautréamont se acrescenta, dc-j pois de Viroux, uma conscir>n-< cia clássica. A posição dosfi Chants na história literária re-* presenta, agora, um problema; crucial para a crítica. E chego ao ponto aonde de- sejara aportar. De toda essa/ /¦história de plágio nos Chanta de Maldoror Quem sai abatido « rldiculizado é a critica literâ-v ria francesa. Especialmente ecr- ta crítica com fumaças de ui-C êncla, certa crítica de impres**^ sionismo matemático, que pro-J cura. nas páginas da geometrlaf e da álgebra, a interpretaçãoi' metafísica do que, ao cubo ütíi ' tudo, é mera informação dd história natural. O artigo dõl Maurice Viroux é de uma ferl-J nidade quase atroz para com* esses críticos.j1 Com efeito, Soupault não tl-t nha obrigação nenhuma de sa-^J ber história natural, de ser es-* pecialista em ornitologia. Maíi os críticos Mareei Jean c Aríi-a» Mezei, antes de lançarem a*: explicações matemático-psitolo^ gicas r de Maldoror, deveriam* adotar algum processo mais en» consonância com as suas ve-4 leidades científicas para nã# caírem no descrédito, —- no pü** ro gôzo^ em que ora se en«i contram, com as citações cruel*, de Viroux. Essa "matbémntl-* que de Tobsession" que deduzi-** ram do "vol des étourneaux'^' pode, até, estar, certa. A "cürva^. do quarto grau" pode estar benrfeí calculada, como também o mo-.ji vimento cicloidal: mas daí par4* tir para a afirmação de ou<*f "c'est 1'image menie de Tobsesv; sion cycliaue" é algo de uue neste instante, se estará rind< a bom rir o último osso Montbéliard, transformado re-~T pentinamente em padroeiro d*} surrealismo francês. A descrição** do vôo dos estorninhos como^ significando, em LautréamonfpF o movimento do livro é impres-«l| •Jionismo sem base alguma. Es-V se vôo que nos é demonstra dof pomposamente "como o roovii mento de um pêndulo evoluindo** em torno de um centro sob aA influência de uma força cea-f trífuga crescente", pêndulo ês-2 se que "descreve uma espiraá dirigida para o exterior" e qu«# retorna ao centro "traçando es-« pirais decrescentes", quandon "intervém uma força centríuetaR antagônica" revela o esfôr— ço ã Le Verrier para o cálculo^ de uma abstração misteriosa^ Eles estão na mesma situacã*»: daquele personagem le um con- to satírico de Sinclair Lewls^ empenhado na glorificação dd um misterioso poeta, que poe fim se desmascara a si próprio. A muitos isso pode afigurar-* se como uma desmoralizas ão total da crítica, como um des- moronamenjo de todo critério» interpretativo. como o desinus- caramento dos processos cientí-*», ficos de análise. A mim, o as-», sunto deu matéria a reflexões de outra espécie. No momento em que se hi~ tem, de um lado, a crítica úr\-* preSsiOiiistà, concessionária da favorfí; c dispenseira de slóri.is^ (Conclui na 2.a pá#^ m >-v

L.etrameAries - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/114774/per114774_1952_00283.pdfEncyclopédie d'Histoire Naturel-le do Dr? Chenu. Assim, muito do arroubo sus-«tado pela inspiração

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Domingo, 15-3.-1?**

L.etrameAriesFUNDADOR: JORGI LACERDA

ANO 7.° — N.° 283DIRETOR: ALMEIDA FISCHER

T^ EVO ao sr. Augusto Mey-I I er a indicação do artig»•*—^ de Maurlce Viroux sobre

Lautréamont — Lautrea-mont et le Dr. Chenu — noMercure de Prance de dezem-bro último.t Não quero falar do artigo emsi. pois decerto no Brasil intel-ro já se tomou conhecimentodo assunto. Entre nós, as coi-sus francesas caminham mal»depressa do que as federais. Al-guns até já se deram ao luxode discutir de viva voz/nos ca-fés parisienses, o escândalo. Meuamigo Ferdinand Berredo, queacaba de chegar do Sena, fala-me da enorme sensação desper-tada por Maurine Viroux. Opróprio articulista não conse-seguiu (ou não quis) evitar osensacionálismo. Conhec edor,como deve ser, do seu ambl-ente, preferiu criar uma aurade escândalo a apresentar amatéria entrosada num estudoponderado. Não lhe escapou se-quer o "suspense" — é a suaindagação, se os plágios deLautréamont são apenas esses,e nada mais nada menos doque um volte na próxima seiria-na um final de capítulo radio-Tônico,

Por outro íado, escasseou aViroux aquela fleuma de AI-brecht,- recriminada por WtHayser, de reunir em seis vo-lumes as provas dos plagiatos«e Lessing no empenho mórbidode destruir uma glória. Fleuma,disse eu. Iludo-me. Aquele ódiovelho, aquela idéia fixa dele-teria, aquele rancor surdo dequem esperdiça toda luma vidana; faina de sapa, somente com-paravel, em pólo oposto, ao afãconstrutivo e dignificador dequem sacrifica uma existênciainteira em testemunhar a vera-cidade de cada passo, histórico« geográfico da Bíblia.

Todos quantos se inteiraramdas poucas páginas (apenasder) de Viroux no Mercure sa-bem què Lautréamont, nalgu->nas passagens dos Chants de "

Maldoror. tão famosos por suainfluencia no surrealismo e úl-tunamente postos em evidência,entre nos, quando Jorge de LI-ma, após o lançamento da In-vençao de Orfeu. confessou suapenetração pela poesia de Isl-Jore Ducasse, — sabem quelautréamont apenas se limitoua copiar trechos inteiros daEncyclopédie d'Histoire Naturel-le do Dr? Chenu.

Assim, muito do arroubo sus-«tado pela inspiração sobre-humana de Ducasse é mérito —cientifico e não místico — donm simples naturalista, e nemsequer deste, de um obscuracolaborador de Buffon, Guéneaude Montbéliard.Não • sei ainda quais os ar-gumentos que serão atirados àarena pelos idolatras maldoro-«stas. Será, a meu ver, umavalorização ainda maior dos

Hhants. O recurso é dos mal»comuns em literatura. Quandof\ descobre um plágio ou umalonte- , há semnre os que en-«óivtram moio de provar (ecom freqüência o nrovam) qur" fa'o depõe á favor do acusa-«o Alias, o plágio está desmo-Ça?mdò. e ninguém mais séJtfeçciipà muilo rom êle. A ten-tfiiva de AIbrecht contra Le.«-gmj surtiu efeito contrário.* «"ifoalmente, acredito que atiteão -- a piórM — de Du-• ficará bem pouco afeta-"vi poesia, cinilá menos¦nal de contas, nuè !'<•• e?e11 p^+^-ríftr^sé àbf. phiío-res. mie formaram Quadros com

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Xilogravura de JAMES REID,3S>*',

REFLEXÕES SOBRE OCASO LAUTRÉAMONT

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pedaços de madeira, recortes dejornais, etc, portanto elemen-tos já existentes e trabalhados?Que fez ele senão adiantar-seaos poetas, que tiraram poemasde catálogos telefônicos, guiasde turismo; notícias de gazeta.faits-divers? Que fez ele. en-fim, senão erigir-se em precur-sor extraor d i n á r i o de EzraPound. ou quase um epígonodeste (por um curioso proces-so de retroatividade histórica).Ifivr nií!» certos processos alémdo extremo admitido pela éticaliickãfifv? Mési«vó mie &e provo*iuc ie %k, 03 Cantos süo ajan-lamento de plágios, Isidorc Du-

FAUSTO CUNHA

casse, pretenso Conde de Lata-tréamont, não sairá da litera-tura da qual foi posto para fo-ra um honestíssimo Mr. GeorgeOhnet. Será, então, um fenô-meno tanto mais importantequanto mais se provar que elenão é autor de seus poemas.Quanto mais se provar que eje,de certo modo, reabilitou o la-do literário da ciência, restau-rou o sentido metafísico desta,reintegrou-a na comunsão dasensibilidade lírica... Não. Isl-dore Ducasse nada sofrerá. Se-ria inicio ore, 'oro nuinn 11-tc?&°t>ui'a cm uns IViollèie foi mo-dêlo de utilitarismo, em que

para Camus as, dúvidas sobre apaternidade de La Peste cor-reram por conta da publicida-de moderna, se desse ao granderapsodo (no sentido mais purodo termo) a esponja e o fel.

De resto, Lautréamont nãoIludiu a ninguém: ele mesmodeclarou que — le plagiat estriécessaire.

Em conversa ainda com opoeta de Giraluz, ele me cha-mou a atenção para a ntitudelidimamente clássica de Ducás-se que o artigo de Viroux vemaccnhiâr. O plágio, na litera-tura clássica, era multo maisque uma tradição —* era uma

lei. Vergillo não ,se abalança-ria a epopéia sem abeberar-sejem Homero, nem Ariosto í.omiVcrgílio. nem Camões sein Ari*osto. Danlc, o demiurgo, ado-tando para o poema cíclico um«utécnica que até hoje surftrccn**?de, tomou para guia inicial «JCisne de Mântua. A própria II-'teratura alemã, com Klopstock,não se liberta da invocação ho~;merina. Diz-me o Sr. AuguütofjMeyer que ao estilo clássico de*Lautréamont se acrescenta, dc-jpois de Viroux, uma conscir>n-<cia clássica. A posição dosfiChants na história literária re-*presenta, agora, um problema;crucial para a crítica.

E chego ao ponto aonde de-sejara aportar. De toda essa//¦história de plágio nos Chantade Maldoror Quem sai abatido «rldiculizado é a critica literâ-vria francesa. Especialmente ecr-ta crítica com fumaças de ui-Cêncla, certa crítica de impres**^sionismo matemático, que pro-Jcura. nas páginas da geometrlafe da álgebra, a interpretaçãoi'metafísica do que, ao cubo ütíi' tudo, é mera informação ddhistória natural. O artigo dõlMaurice Viroux é de uma ferl-Jnidade quase atroz para com*esses críticos. j1

Com efeito, Soupault não tl-tnha obrigação nenhuma de sa-^Jber história natural, de ser es-*pecialista em ornitologia. Maíios críticos Mareei Jean c Aríi-a»Mezei, antes de sé lançarem a*:explicações matemático-psitolo^gicas r de Maldoror, deveriam*adotar algum processo mais en»consonância com as suas ve-4leidades científicas para nã#caírem no descrédito, —- no pü**ro gôzo^ em que ora se en«icontram, com as citações cruel*,de Viroux. Essa "matbémntl-*que de Tobsession" que deduzi-**ram do "vol des étourneaux'^'pode, até, estar, certa. A "cürva^.do quarto grau" pode estar benrfeícalculada, como também o mo-.jivimento cicloidal: mas daí par4*tir para a afirmação de ou<*f"c'est 1'image menie de Tobsesv;sion cycliaue" é algo de uueneste instante, se estará rind<a bom rir o último osso d«Montbéliard, transformado re-~Tpentinamente em padroeiro d*}surrealismo francês. A descrição**do vôo dos estorninhos como^significando, em LautréamonfpFo movimento do livro é impres-«l|•Jionismo sem base alguma. Es-Vse vôo que nos é demonstra dofpomposamente "como o rooviimento de um pêndulo evoluindo**em torno de um centro sob aAinfluência de uma força cea-ftrífuga crescente", pêndulo ês-2se que "descreve uma espiraádirigida para o exterior" e qu«#retorna ao centro "traçando es-«pirais decrescentes", quandon"intervém uma força centríuetaRantagônica" — revela o esfôr—ço ã Le Verrier para o cálculo^de uma abstração misteriosa^Eles estão na mesma situacã*»:daquele personagem le um con-to satírico de Sinclair Lewls^empenhado na glorificação ddum misterioso poeta, que poefim se desmascara a si próprio.A muitos isso pode afigurar-*se como uma desmoralizas ãototal da crítica, como um des-moronamenjo de todo critério»interpretativo. como o desinus-caramento dos processos cientí-*»,ficos de análise. A mim, o as-»,sunto deu matéria a reflexõesde outra espécie.

No momento em que se hi~tem, de um lado, a crítica úr\-*preSsiOiiistà, concessionária dafavorfí; c dispenseira de slóri.is^

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J Página — «- LETRAS E rART ES Domingo, 15-3-1953

D AS revistas literárias quocirculam .atualmente noBrasil, "Revista Branca

se destaca como a que maisfocaliza os problemas de inte-

iTfisse dos escritores, em seusI comentários críticos e nas su-gestões que caminha aos or-g&os competentes do Governo.

..Um desses assuntos que elaVentila com freqüência o o que_iz respeito, por exemplo, _subvenções para periódicos cul-turais ou, mais especificamente,para os especializados na dl-

i.vulgução de trabalhos sobre li-ieratura c arte.|p Os tópicos publicados pela-••Revista Branca" nesse senti-jüo, que têm tido a melhor re-¦percussão entre os escritores e'artistas de todo o país, suscl-taram mesmo editoriais de rc-.Vistas portuguesas, como "Pro-aneteu", considerada das maisimportantes publicações literá-irias que circulam em Lisboa.Baseada em idéias apresenta-'das

pela "Revista Branca", sõ-bre a possibilidade do Governo.conceder auxílio financeiro aosperiódicos considerados de In-jterêsse para a divulgação depossas manifestações culturais,"Prometeu" sugeriu às autori-_ades portuguesas que fizes-,sem o mesmo em relação a ela_ suas congêneres, desde 'queos problemas são comuns a uns

REFLEXÕES SOBRE

CASO LAUTRÉ\MONT •

* '(Conclusão da 1.» página)

Representada na figura ilustrejde Tristão de Athayde, e do ou-firo, a crítica científica, rígida equase desumana, ora se avan-fcajando em Bráulio do Nasci-mento —• o caso Lautréamont éum saco de chumbo no prato doSegundo. O esfarelaínento dopientificismo crítico de Mareeifrean c Arpad Mezei é mais uniaprova de que não basta a sen-jgibilidadc lírica, não basta ogosto pessoal, não basta a cul-jtura generalizada e muito me-nos o critério de ver, cm cadafigura consagrada pelos inísti-cos c pelos impressionistas, um

j gênio e uma divindade. Na cri-iica de Bráulio do Nascimento,semelhante equívoco jamais se-fria perpetrado. Na de Tristão,c-o a cada instante, mutatismutandis.I E melancólico que o grandeleader da crítica nacional con-siderc a crítica científica comoruma fase superada de sua car-ireira. Na verdade, ele semprese mostrou ura tanto alérgico aqualquer manifestação nessesentido, Tristão de Athayde, -que nem em pensamento des-prezaria a obra de Pius Ser-ivien, menosprezou o trabalhoidealista daquele que, no Bra-sil, podia ter sido a nossa maiorfigura estética, c foi, talvez, oúnico precursor de Bráulio doNascimento. Falo de Henrique1'Abílio, que Tristão conheceu di-(retamente, e sobre cuja. obradeixou cair a mortalha do si-üêncio (perdoem-me a frase-feita), ainda que instado parase pronunciar, ainda que pes-soalmente desafiado num artigoque, mesmo hoje, é das maio-ires páginas de nossa crítica e[fundamental para o estudo do'modernismo.

|, Dia a dia, desarticula-se oiíhpressionismo crítico, como oimpressionismo científico. Não'serão as desilusões da velhicemem a falta de inclinação demossa gente para o estudo de-«interessado, que deterão o pro-cesso evolutivo de uma crítica,caão totalmente desumana (por-mie o homem jamais será infe-arjor à sua ciência), não total-fènente objetiva (porque a es-feencia subjetiva tem a sua rca-flidade inalienável), mas bastem-pC forte para estar a cobertoHe deificações póstumas c, Io-jggjlc ridículos ântumos.

UM JORNAL LITERA-RIO SUBVENCIONADO

e ouiros, em Portugal e noBrasil.

Aqui entre nós também algu-mas iniciativas se tomaram porinspiração de "Revista Bran-ca", embora nada de efetivo sotenha conseguido, em face damanifesta má vontade e daIgnorância de grande parte dosmembros da Câmara Municipal.Paschoal Carlos Magno, quecom toda a sua desordem apa-rente ainda é um dos poucoshomens de inteligência e sen-sibilidade que fazem algumacoisa de útil pela cultura ar-tística deste pais, na sua quali-dade de vereador apresentoua seus pares um projeto de leide auxílio a várias instituiçõesculturais, entre elas a própria"Revista Branca", iniciadorado movimento. Os nomes quoIndicou foram estudados ao la-do de outros tantos de peque-nas sociedades esportivas e so-ciais som nenhuma importân-

SALDANHA COELHO.

cia, mas sugeridos por políticosda maioria e portanto mais ln-

• fluentes nas resoluções daque-Ia Casa legislativa. O resulta-do foi que. na hora dos cortessobraram as publicações lite-rárias, tidas naturalmente co-mo coisa supérflua e sem valorcomo fonte de votos. Aliás náosurpreendeu muito essa aütu-de de incompreensão, pois osvereadores não ignoram que nofato de se subvencionar umapublicação da natureza de "Re-vista Branca" não estaria Im-plícita a sua venda, a sua sub-missão por menor que fosse.

Outro efeito a registrar-se êo caso do Deputado Jorge La-cerda, fundador de "Letras eArtes" e seu diretor até sereleito para representar o Esta-do de Santa Catarina na Cà-mara dos Deputados. Nadaíez ainda no que diz respeitoà concessão de auxílios a re-vistas de literatura, mas por

...

outro lado participou de umprojeto de lei já aprovado quoinstitui prêmios de cem milcruzeiros anuais para escrito-res e pintores brasileiros. E es-ta é uma vitória que mereceaplausos de quantos se Inte-ressem pelo desenvolvimentode nossa cultura artística.Oxalá lhe sobre tempo paraestudar uma possibilidade doGoverno estimular os hoje es-cassos periódicos de letras, amaneira do qUe acaba de serfeito com "Caiçara", em Ma-rllia, no Estado de São Paulo.

Informa "Caiçara,", no seunúmero correspondente a Ja-neiro dêste ano, que a Prefei-,-tura Municipal de Marília lheconcedeu uma subvenção anualde trinta mil cruzeiros, aten-dendo a um apelo -feito à Cã-mara local-com base na reso-lução aprovada no III Con-gresso Paulista de Escritores,Esta notícia, que está tendo a

PAUL ELUARD E A NOVAGERAÇÃO FRANCESA

GABRIEL ¦ VENAISSIN,

PAUL

Eluard está morto,Não ponhamos à contados entusiasmos nccroló-

gicos a bela afirmação que to-dos os jornais' prodigalizaram:Paul Eluard é o nosso maiorpoeta de hoje. Quem aindaduvida disso? Mas são coisas

que não se demonstram. A be-.leza não se deixa quebrar pornenhuma coisa, a ná.o ser pe-los' teoremas.

Tomarei, pois, a grandeza deEluard como adquirida, ornomaravilhosamente evidente, efalarei dele como se ainda es-

tivesse vivo, a respeito do últi'mo livro que publicou: a An-thologie des écrits sur Part, I,Les Frères VoyarÁts. ,

Esse livro poderia passar co-mo simples antologia, apresen-tada sob a forma de uma su-cessão de textos muito curtos,

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OS 53 EVROS NOTÁVEIS DE 19 5 2CHICAGO — A "Ameri-

can Library Association"anunciou, como faz todos osanos, a sua relação de livrosnotáveis de 1952. Esses tifcu-los são selecionados por umcomitê e somam sempre cin-quenta e três, abrangendo to-dos os gêneros da prosa c dapoesia. São eles:"A Declaração de Pé'«, deHerberfc Agav; ,Duveen", deSamuel N. Behrman; "Ru-mor e Repercussão" —1941-1944, de Bernahrd Be-rencen; "A Santa Biblia",edição revista; "Anos.de Es-perança: 1885-1915", de VánWyck Brooks; "A Geópoliti- •ca da Fome", cie Josué deCastro: "O Testemunha",de W li i 11 a k e r Chambers;"Roma e uma Vivenda", de•Eleanor Clark; O Matador",de Barnaby Conrad; "Amé-rica de um Homem", de Alis-tair Cooke; "O Curso do Im-pério", de Bernard A. De•Voto.

"Viagem ao Extremo Pa-cifico", de Thomas E*. De-wny; "Os Mustangs", de Ja-mes F. Dobie; "Éticas noGoverno", de Paul H. Dou-gias; "Artavé? do Alto Hi-malaya", de William O. Dou-glas; "Poemas e Peças Com-pletos", do T. S. Eliot; "OHomem Invisiver', de RalphElison; "Diário de um Jo-vem"., de Anne Frank; "Ge-òrgè Washington — vol. 5 —Vitoria, com a Ajuda daFrança", de Douglas S. Fre-eman; "Janelas para o Prin-.clpe-herdeiro", de ElizabethJ. Gray; "A Era Turbuleii-ta: uma crônica .diplomatí-

ca de quarenta anos, 1904-1945", de Joseph C. Grew.

"O Espirito de Liberdade",de Learned Hançl;" HughWalpole", de Rupert Hart-Dávis; "O Velho e o Mar",de Ernest Hemingway; "Me-morias de Herbert Hoover",

Katherine Anne Porter, autorade "Os Dois Passados"

vol. 2 — O Gabinete e aPresidência, 1920-1933; vol.3 — "Á Grande Depretsão,1929-1.941", de Herbert Ho-ovei; "O Estranho Império— uma narrativa do ociden-te norte", de Joseph K.Howard; "Karen", de MarieJ. Kiiülea; "O Almirante deEsquadra King" — crônicanaval, de >Ernest J. King eW. M. Wliitehid; "Flexa no

Azul", de Koestler; "AnoDeserto", de Joseph W.Krutch.

"Historia Americana doExtremo Oriente — 1945-1951", de Keneth S. Latou-rette; "O Futuro dos Politl-cos Americanos", cie SamuelLubbel; "Poemas Coligidos:1917-1952", de Archibald MacLeish; "As Cartas de Ena St.Vincent Millay", de EdnaSt-. Vincent Millay; "A Iro-nla da Historia Americana",de Reinohld Niebnhr; "Hir-torias de Frank 0'Connp'r",de Frank 0'Connor; "Mi-nhas Três Vidas", de cida-dão, comunista e contra-espião", de Herbert A. Phil-forick; "Os Dias Passados",de Katherine A. Porter; "OHomem no Burro", de Hil-da F. M. Prescott; "O Fui-gor da Vida", de Erich M.Remarque; "Ao Sul da Li-herdade", de Carl T. Ro-wan; "Bernard Sliav/ e aSra. Patrick Campbell —sua correspondência'', de Ge-orge B. Shaw.

?. Viagem de- Meio Seeulo",de William L. Shirer; "MãoDourada", de Edith Simon;"Discursos de Adiai Steven-ron", de George T. Strong;"Abraliam Lincoln", de Ben-jamin P. Thomas; "Docu-mentos íntimos", de ArtliurH. Varidênbérg; "A GrandeFronteira", de Walter P.Webb; "Sam Cíeméns ofHannibal", de Dixon Wec-ter; "Luta pela Europa", deChester Wilmont; e "".AsMargens da Luz", de Ed-mund Wilson. •— S. C.

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melhor repercussão em todo opais, provocou um movimen >cie simpatia por todos os lc-gtoludores daquela cidade puu-listana que, auxiliando "Cai-caras", deram uma demonstra-qâo evidente de discernimentoe cultura."Calçara" ó um tablóldc Ucdoze páginas quo so edita nau.«almente em Marllla, para ndivulgação de trabalhos Ilterá-rios e reproduções de traiu-lhos plásticos. Feita com o es-forço de um grupo que estasob a direção de Plávio Sam-pleri e João Mesquita Valcn-ça, dois nomes significailv ;da' nova geração de poetas bra-sileiros, a revista vem se apre-

«sentando com um espírito ba>;-tante louvável, isto é, fugindointeiramente àquele pléguismoe àquela acomodação interes-seira e humilhante que não sú o>Atípicos de uma revista de cria-dores na acepção integral dotermo. Este 6 um traço-muitrexpressivo de sua natureza iidependente, e que deve ser motivo de orgulho pára seus di-retofes e um exemplo para ou-trás revistas mais antigas e o>>gente mais velha — mas que»ainda não compreendeu queuma revista de letras não deveser instrumento de servilismo.veículo de bajulações vexatú-rias.

abrindo sobre um belíssimo ai-bum de reproduções, de que so-mente mãos amorosas volve-rão as páginas.

. Mas o olhar agudo e cs de-dos quentes de Paul Eluarddeixaram seus traços de luz nadupla escolha das palavras cdas formas. Não é de formaalguma uma antologia comoas outras, podeis ficar certos.

Parece-me que ela obrigariaos mais ineptos a ver que aarte não é um problema, c sim g

HTi-i

a vida, tanto ela a humaniza, ,1

_¦'_!

tanto é ela regida por essa"contagiosa avidez" do belo. 'wfc

¦___!Lá está, como em cada linhado poeta, a exigência de Tukfraternidade: "Ver é compre^ender, é agirj ver é unirmundo ao homem e o homeiao mundo. Dava-se outrora <nome de Irmãos Vident:("Frères Voyantes") aos Quin-j

¦ze-Vingts, os trezentos hoinenâde vista normal casados c<mmulheres cegas. Fraternida;I< Wísemelhante une o pintor aosffiHindivíduos que são... ineana-1^zes, muito freqüentemente, deaproveitar o sentido da visão", n

Outro qualquer teria feito Wesse livro somente com a ceiebridade dé seu nome. Fê-loPaul Eluard com o seu amor |aos homens, a todos os lio-mens. E' mais que uma der-I

radeira mensagem: é um grit^ Icm prol da fraternidade.

®Em torno do hígar deixado |

vazio por Eluard, que vemosnós? Disse em torno, e queriadizer atrás... Um desses aca-,sos mágicos e fecundos ipas

que, no momento em que Eluarupartia, se publicasse um S»'11-um mapa da poesia francesa.o Panorama crítico dos novosj

poetas franceses, de Jean WJjselot.

Dcixá, pois, Eluard uma mui-'tidão que o admirava c da quaíera cie o príncipe — essa smsjptidão de poetas que Jean Eoü«?jselot, corajosa c tòriestãmenp'tenta encaminhar em ívossíi cS

rCeã- cobrdènando-a'.. -Sou,,(Conclui na 10.a pagia-lJ

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Domingo, 15-3-1953 1 E TRÁS E "A RT HS Página — 3

C>l

HEOOÜ para os de ml-. nha geração o tempo tlc

>l scrcver memórias. Al-Va as publicam. Outros

preparam na sombra os orlgl-gaia Dlr-sc-la que a natureza,ím

'.surdina, lhes soprou essaoOtlgaçáo porque loaos. uns con

*# espirito mais resoluto, outros* menos afoitos, se entregam sem

amargura a esse inventário decacos: seja na'conversa, em ar-ti«o tm entrevista ou sob a lorma ritual do livro. Ha dez anosatrás quem lhes insinuasse quejâ era tempo de recapltular,geria repelido com zombaria: uvida continuava em funciona-mento e fabricando sensaçõesr.ovas; era época de dissipar,nao de recolher. Alguma coisa-se passou, pois, no intervalo,e essa coisa foi'a aquisição daconsciência de um limite, comsüa resignada, para não dizeialegre aceitação. ,

E contudo tuna ponderaçãome ocorre: serão válidas essasmemórias de escritor? Ninguémmelhor do que ele para com-pô-las, no que toca a manipu-laçâo artística. Mas que secre-tas experiências terá podido re-ter para esse balanyo crepus»ciliar? O escritor deu-se (.oudevia ter-se dado) no que ima-£inou""e escreveu. Toda a suavida passou pela sua obra. Oque resta alimentará ainda umlivro? E não seria melhor queesse livro fosse escrito antes poruma testemunha ingênua e ve-raz, ou por um grupo de teste-münliás clêsse ieitio, que nosreconstituísse quanto possível oente comuni implicado na pes-soa nhtoiógica do escritor?

Não figuro a história intimadé Alonso Quijano, contada porSancho; a diversa iluminaçãointerior dev ambos não anula oíato de que nenhum dos doisíoi escritor- e ambos eram sim-pies perante a mistificação ine-xente às letras e aos letrados.Gostaria de ler Cervantes con-tado por Sancho. (pireis que ocriado de quarto há .muito épersonagem da história literá-ria, 4 e conhecemos as suas in-discrecóes. Este é, porém, umaspecto do passado. Não hámais criados de quarto. A tes-temunha próxima do escritor, eterrível, porque lhe frustra- a-intimidade no afã de s.urpreen-

• dê-la, chama-se repórter.E é o repórter, precisamen-

te, quem impede ao escritor con-tempórânéo dobrar-se sobre simesmo e fisgar algum matizíntimo de idéia ou sentimentoainda não comunicado ao pú-

MEMÓRIASCARLOS DRUMMOND.DE^ANDRAPE

blico através de seus livros. Orepórter conta antes do mèmd-rialista, e o torna inútil. Sabe-mos hoje de cada literato o quoele come e bebe, o clube es-portivo u que se consagrou (ese não há nenhum, 0 escritoro inventa para não se confessa ••fora de época), o número deseus sapatos e de suas camisas,se é supersticioso, se ajuda amulher em casa, se fila cigar-ros ou os compra, se tem me-do de morrer e se ronca. O es-crltor deixa-se fotografar de pi-jama, brincando com os neto;ou soltando pandorga na praia.Falta conhecer dele, por inqui-rição ou confissão espontânea,apenas os miúdos negócios dosexo, mas não haja dúvida: asrenortacens de daqui a vinte

anos os registrarão com exatu eminuciosa probidade. E os cs-crüores atuais, ainda náo atin-gldos em cheio por essa lan-terna crun do jornalismo, nâoperdem por esperar: os recrltuários médicos de hoje serãovarejados meticulosamente, eclínicos e especialistas idosos,surdos e aposentados, receberãoa visita de uma repórter de1970, que lhes perguntará —abolido por ^incômodo o sigiloprofissional — como é que o ro-mancista N se livrava de suasdores de cotovelo e quais os seuspossíveis desmandos. *

E' visível que tais clrcunstãn-cias não deixam margem à so-brevivência dos gêneros clássi-cos da biografia, da auxobiogra-fia, do diário íntimo e das me-

/ '

mórlas. A fórmula Jurnallstl-ca (Inclusive nos seus desdo-braméntos radiofônicos e cine-matográflcos, hoje alcançando ntelevisão e amanhã chegandotalvez no espetáculo mental, aprojeção, dentro de nós, de imatens, sons e fatos produzidosá distância», superou a calmaaútude do homem que sacavada pena dé pato para confiaiao papel de boa fibra um se-grado cia juventude a ser revê-lado aos pósteros.

Essa contínua e imediata ex-posição do presente retira aohomem uma de suas dimensõesessenciais, que é o passado. íni-

, be-o de recordar, porque ele jánão acumula no esquecimento,para depois reviver. Sua vidavai desfilando ao alcance e à

AS OBRAS COMPLETAS^E GILBERTO AMADO

NAS LIVRARIAS, "A DA NÇA SOBRE O ABISMO"

. >>

tUlberto Amado — cujasconferências tanto interessedespertaram, há alguns mesesatrás — entrega hoje ao pu-blico o 3." volume de suasObras, intitulado "A DANÇASOBRE O ABISMO".

São ensaios de psicologia so-ciai, interpretação histórica eexegese literária, à semelhau-ça dos que já haviam sido reu-nidos nos volumes anteriores:"A Chave de Salomão e Ou-tros Escritos" e "Grão de Areiae Estudos Brasileiros".

Euclides da Cunha dizia qiunão podia escrever sem umabase, e a% sua base era o fatoO mesmo se dá com GilbertoAmado. Apesar dos transes cieeloqüência que se notam porvezes na sua prosa, não há ne-Ia a menor tendência para aabstração e- os efeitos formaispeculiares à geração parnasia-na, contra os quais justamen-te ele reagiu. O autor de "ADança Sobre o Abismo" é dosque escrevem para dizer algu-ma coisa, e dizrVla de maneiraclara, nítida e bela, jogandocom dffdos concretos e não compalavras. Suas páginas são

sempre calcadas na experien-cia e no desejo de trazer para

mmmmmmmGilberto Amado

as inquietudes ao nosso tem-po um pouco de csclarechucn-to, de contribuir para a solu-cão de problemas que nos ator-mentam. O trato intimo coma realidade fez com que Gil-berto Amado tivesse antecipa-do, entro nós, muitas verdadese vislumbrado rumos que sómais tarde vieram a ser per-corridos.

Neste volume "A Dança Só-ore o Abismo", vemos, aindauma vez, quaula coisa ele nostem dado de 'primeira mão.Quem, por exemplo", já expli-cou, com tanta íiwura e ex*-tidão, as diferenças entre aEuropa e a América, como Gil •berto Amado, no ensaio "Com-parações", que ai encontramos?Suas análises do "Espirito doNosso Tempo", as cohfèrêh-cias sobre Goethe e TobiasBarreto, sobre a natureza daprosa e da poesia, as inlerpre-taeões de Dickcns c AnatoleFrance e tantas outras pági-nas desse livro estão carrega-das de pensamentos novos, deachados e de uma grande den-sidadê espiritual, que lhe tor-liam a leitura particularmentefecunda.

mercê de seus olhos o doaalheios, e se está enfastiado dese assistir viver em todo o im-pudor dessa publicidade só lheresta apertar um botão e des-ligar essa espécie de aparelhosupersônico cm que, como umfilme falado, nossa vida moder-na se desenrola. Desliga e vol-ta ao mundo interior. Mas cn-tão fica prisioneiro da noite,porque perdeu a infância to'psicanalista a subtraiu ou en-veneno u'», o passado tem o de-slnterôsse das revistas velhas, co futuro ainda náo foi claóo-rado pelos técnicos que esprei-tam lá fora, com sua maquinade gravar pensamentos. |

E, mais do que nenhum outroser, o escritor precisaria de re-traímento que o reconduzisse áintimidade consigo mesmo e aaraízes da vida, que lhe cabepesquisar e interpretar. Suapessoa devia ser objeto de clau-«ura perfeita, só interrompidapelos surtos naturais dê sua avi-dez de comunicação, ou pelusatividades peculiares ao oficio.Nem se chame a isto de soli-dão orgulhosa ou inumana, pre-judicial às fontes da criação.ü melhor oiv o único, porqueespecifico, do escritor é o quoele escreve; o mais se dilui pascondições comuns a todo fida-dão. Quo lhe adianta compe-Tir com os que poderemos cha-mar de heróis externos — o po-lítieo, o militar, o missionário,o ator, o industrial? Essas per-sdnàlidades agem no plano ime-dia to da realidade transforma-vel e carecem ue ter con I atodireto com ps elementos a quese dirigem. O escritor não laianominalmente a pessoa algimiü,não está certo de ser ouvidohoje, e na maioria dos casosnão o será nunca, pois sua obram perde-num oceano de papelescrito e destruído. A imagemdo iiecionista de um milhão deexemplares ó um desses mitos'do século 20, que' não coníor-tam o verdadeiro escritor, poisa* comunicação real se óperanuma zona de silêncio e numaatmosfera de abandono que na-cia tem a ver com o fenóm?nodas grandes tiragens, c esse mi-lhão ide leitores se volta, célere,para á próxima atração, esqiie-cendo o sucesso da véspera: sitasemoçõe intelectuais seriam pro-duzidas igualmente pela inverHção de um novo tipo de aspar-gos em lata.

Já é tempo de o escritor vo*-*tar-a seu ofício. (Agência Na-cional).

MÈftmBÊWmÊÊBB&lSSSmzMyM i # mmk HÉv ¦ ¦¦¦¦¦¦¦' i«M»MM2gF™m18 Ira llSPllr J&eliiL ¥%%& %- ¦ ?!ÍÍPIlPlalÍ#^ f ÊBÈ^-mdw---- •¦¦¦ JÊomÊÊsfÈSÈ

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Vinheta de SANTA ROSA

POEMA DE CHRISTIAN MORGENSTERNFLORESTA EM SONHOTRAUMWALD

DES VOCELS AUC VERFCHLEIRT SICH;ER FALLT IN SCHLAF AUF SEINEM BAUrVi.DER WALD VERWANDELT SICH IN TRAUMUND WIRD SO TIEF UND FEIERLICH.

OERMÓND, DERSTILLE, STEIGT EM EMPORiDIE KLEINE KEHLE ZWISCHERT MATT.#M PANZEN WALDE SCHWINCT KEIN BLATX:FERN LAUTET/FERN, DER STERNE KHOR

CERRAM-SE OS OLHOS DO PÁSSAROPOUSADO NA ÁRVORE.A FLORESTA TRANSFIGURA-SE EM SONHOÊ TORNA-$E PROFUNDA E SOLENE.

. • ¦

.

SURGE A LUA SILENCIOSA:O PASSARINHO CANTA TIMIDAMENTE.NEM UMA .FOLHA SE MOVE EM TODA A FLORESTALONGE —• SÒA O CORO DAS ESTRELAS

méucão de JOÃO ÂCCIOL

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Página — 4 LETRAS E ARTES Domingo, 15-3-1953

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DRSDE

n. publicação de, "Diário" ein iui:» acom-punho a trajetória literá-ria de Paulo Ucckcr Fi-

«lho. Deveras êsse livro reveloum artista desesperado com osrohlemas humanos c metafisl-os. Não apenas pela escolha de

Heus autores preferidos, masJtamhém pelas agudas observa-

t.gçóes c análises de requinte fl-yeram-mc não esquecer o nome

(jdessc solitário jovem «scritor doHio Grande do Sul. Aguardava,jenlãn. com curiosidade as suaspróximas obras. E a sua poucaIjüdade. talvez., uns vinte e pouco'tonos influiu também para quel<D meu interesso aumentasse, játflue acredito numa revelação,l-tnuira identidade entre arte clindcldadc, poesia e juventude.li Depois, em 1050, entregou ao1 público um diário em poemas•— "Ah! Terra". E nesse livropercebi ainda a presença da-«picle espírito inquieto, no camí-

ho místico dn desespero huma-o, uni s»:r com os pés e asãos atados na vida, mas com

s olhos perdidos no infinitoimpossível. Senti pouco o poeta4» mais o ensaísta. Na linha daapoesia curvilínca de Álvaro de[Campos, mio conseguiu porémRealizar-se poeticamente, faltan-

Ijdo-lhe aquela densidade lírico-dramática, do autor português.;JEm 1951 publicou uma novela,Wntcrnato". Confesso que nãoapercebi, não compreendi a men-isagem que pretendia ultra nas-

PAULO HECKER FILHO - o crítico

«ar a temática crua do livro.Foi um livro comentado, discu-ti«*o. Nos anos seguintes publi-cou Paulo Hecker Filho "Na pazda lua" (contos) e "Triângulo"(teatro, novela c poesia). O.pri-meiro revelou Hepker Filho umcontista de primeira, e consídc-rei o seu segundo melhor Uvro,desde o "Diário".

Além desses livros, Paulo He-cker Filho dirige com uma equi-pe de sensibilidade igual â sua— a revista "Crucial", já emseu quarto número. E destaco onome de Vera Mogilka, autorade contos e poemas que reve-Iam o seu talento brilhante,com uma personalidade agressi-va e tempestuosa.

Datado em 1952,/ mas publi-cado em princípios do correnteano, surgiu "A alguma verda-de" (crítica e autocrítica), fium livro importante, mas tam-bém bastante discutível, porquediante de certas verdades ja-mais ditas entre nós, encon-tram-se algumas injustiças emrelação a alguns nomes de poe-tas e romancistas. Em primeirolugar, é preciso situar a posi-ção de Paulo Hecker Filho na

CYRO PIMENTEL

literatura do Rio Grande 4oSul; um olhar à sua personall-dade de espirito polêmico, aoseu temperamento explosivo, àsua maneira de ser rtdo con-tra". Estudando-se então % po-slção temperament.il de HeckerFilho, o seu livro vie crítica tor-na-se importante para aquelesque o vêem como uma criaturacapaz de afirmativas revelado-ras.

Nestas notas desejo mais dis-cordar do que concordar comas opiniões de Paulo Hecker Fi-lho. Logo, à página 72, a suaprimeira injustiça; falando deuma antologia da nova poesiabrasileira; aliás muito parcial eprincipalmente desonesta, o au-tor de "Triângulo" apenas des-tacou uns quatro poetas novos;falou em mediocridade onde in-cluiu alguns autores talentososcomo Péricles da Silva Ramos,Darcy Damasceno e Afonso Fe-lix de Sousa, fora os que nãoestão nessa antologia facciosa.Também é de se estranhar queHecker Filho sempre vigilanteem suas atitudes tenha aceita-do como autêntica essa antolo-gia, deixando passar em branca

nuvem o que mereceria de suaparte uma acusação à parciali-dade da dita antologia, aliássem nenhuma importância. Equanto a antologias cm geralsão todas cias parciais c incom-pletas, pois o interesse de quemas organiza é sempre pessoal.

í: incompreensível também aatitude de Hecker Filho em,aceitar Mário Quintana comoum poeta importante. Talvez oseja para o Rio Grande do Sul,mas a sua poesia é medíocre. E6 estranho como o crítico lhe -dê importânoia dedicando-lhenesse seu livro notas e artigosmuito simpáticos. Mas a con-fusão de valores cm nossos diasé algo de espantar, pois até emSão Paulo, um mineiro, o sr.Dantas Mota, retórico no piorsentido da palavra, é considera-do grande poeta por certo gru-po!...

Já em relação a João Cabralde Melo Neto concordo com oseu ponto de vista, aliás idên-tico ao meu no que concerne âsua poesia, e vale a pena trans-crever o que diz a pág. 236:"Vou contra João Cabral. Naanálise dum poeta é preciso dis-

ÉT% | AO podemos, ao terminaiM_\ a leitura do livro do sr.íf* Geraldo Vidigal "A Cl-

DADE", deixar de dizeirialguma coisa sobre sua poesiaè seu prefácio. Este último de-wlne uma posição ao lado da^jQual estou entre uma boa ^>or-;ç5o de poetas novos. Não hábno entanto, na minha atitude©u na de qualquer outro poata.^Inclusive 'o autor em questão *&ma encolha prévia. Estamosdesse lado por uma necessidadeBnata. compulsória, cuja comutócáçãó só se* processa atravésIfcJa experiência humana, a que:chamamo--- vivência.' Isso não exclui, todavia, ?âmporta nela dos poetas que es-'tflo situados do outro lado. C:-e-pnos que o sr. Vidigal foi umipouco intransigente e examinei)m questü:) de um ponto de vistaexcedi va mente pessoal. .

j Não querendo incluir direta-'Unente 'Valery nesta exposição,•poroui isso acarretaria uma«responsabilidade de que não po-deritimos nos livrar num pe-•queno artigo, podemos partir •¦de experiência modernista pa-Ta tentarmos ^expor um pontode v\>f-'V mais vasto e menospessoa.'.

Acredito que estas -ãiui? po-elçõe.s existentes na poesia no-V& é uma conseqüência lógica

le salutar do modernismo. Cadadia que passa podemos ver maisclaramente que aos poetas de

122 faltavam "carga lirica, ossen-tela e forma", embora isso nãofcnule absolutamente a ' impor-

'jfcância desces poetas. Ora,, . osipoetas novos, numa reaçãoimais intuitiva que premeditada,procuraram acrescentar a essa[poesia disforme e rica em opor-'tunidades, aquilo que lhe fal-'tava, falta esta que os próprios«poetas de 22 confessaram ouconferam em seus últimos-11-

''jwos. Os clamores da revoluçãoiJhaviam passado — a paz era[propícia e os atos de heróis-Ittos e sublevação produziam! seus frutos.

As personalidades fão diferen-tes c diferente é a vida de ca-da um. Alguns, por natureza,acrescentaram àquela experiên-cia seu lirismo puro e huma-no, outros, por natureza tam-

, bénr .sua imanente rigidez es-

UM LIVRO - UMA POSIÇÃOE. C. CALDAS

tética, tanto niais exagerada Não se pode negar que faltequanto mais se ressentia sua vivência à esses poetas, nem seaur«ncia. pode acusá-los de herejes. VI-

vencia é o que se viveu com omáximo de sensibilidade, e naopode haver dúvidas quanto S

'liMSi *''

Desenho de DARCY PENTIATO

cernir o que traz de relevantecomo conteúdo e como forma.Como conteúdo o que João Cu-brnl tem do melhor são algunspoemas Iniciais Influenciadospor Drummond e partes d"OCão sem Plumas", significandoquase só dor do miserável poetaem abandono. Respeitável maspouco.' Nem se pode falar que.existe nele uma forte vivênciado sensível, o qual se é obriga-do a admirar por exemplo numSchmidt. Conteúdo, portanto,mofino. Como forma, trás ino-vações, mas que chegaram cmseu rebuscamento a diminuir,quase a asfixiar a poesia deseus poemas... Pois poesia nun-ca foi algidez que precisamosnos forçar para acender um pou-co; mas coisa que explode nagente se se tem sentido poético,o que é raro". — Ainda bemque encontro um espírito queparticipa de minha opinião sô-bre João Cabral, isto é, vê-senêlc a sombra de um esteta masjamais de um poeta. E um dosequívocos de alguma de nossacrítica tem sido esse; o de acei-tá-lo como um poeta impor-tante. na nova geração, o quenão é verdade.

Em suas cartas ao críticoportuguês João Gaspar Simões,há um exagero de simpatia aofalar do "Fernando Pessoa ¦—sua obra e vida". A parte in-teressante é apenas a biográ-fica, pois com referência a de

(Conclui na 10/ página)

existência e sensibilidade deles.Um canta a vida, enquanto tu-do que ela contém parece e>crever nos seus- sentidos comoseu destino se processa, o ou-tro sonha a poesia como a for-ma mais bela de transmitir odestino do homem.

São duas experiências queafinal'buscam um caminho uni-co. E é no próprio livro do sr.Geraldo Vidigal que vamos en-contrar a aproximação desseideal.

E' visível a preocupação for-mal em todo o livro "A CIDA-DE". A "descarga lírica" depoeta não se processa total-mente segundo a posição emque se julga encontrar. Masliricamente parece querer justi-ficar-se: ,

"Cada emoção que se agitaCada atitude que. brota,Cada figura em delírio,.- Falam sua própria línguaNo teu ser contraditório".No primeiro poema do livro, ,

"Voz", encontramos uma per-feita harmonia, entre forma("palavra e ritmo") e descargalirica. E* um poemtt belo e bepirealizado, cuja leitura nos dáp resultado natural da experl-ênefa modernista.

Mas d sr. Geraldo Vidigalnão nos parece um' poeta „ degrande fôlego. São poucos ospoemas do livro em que vamosencontrar repetida essa harmo-nia. E' tanto menor seu - Uris-mo quanto mais frágil rma preo-cupaçoã formal, produzindo en«tão poemas à maneira dos mo*iâernistas:

"Deixai que as lâmpadasbrilliem

Entre os dedos de Aladino;— Não há Aladinos para to-

das as lâmpadas*9»Isto nos leva a pensar que

@ sr. Geraldo Vidigal é um au»ftêntico representante da nova

geração — como « são seus«ompanheiiros que estão do«outro lado", — um poeta queteteia- nas proximidades do ca«

aninho único, caminho que não«ardarâ a encontrar/desde quem liberte de um pouco de vista«Jheio ao itinerário da poesia,como êle mesmo intuitivamentetm á& prova,.

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Domingo, 15-3-1953 I ETRAS E ARTES Página — 5 #

R IMUAUD tinha d« anosmenos que Vcriauie eaiaiiarmr; mu sua es-

Duittvsii precocidade ia* coraviiie éle pertença, poeticamente,

fm geração daqueles. Antes de-jgFlas e mais vlgorosraenle, rc-

voltou-se contra a moda cmpoesia. Ma» sua obra c seu no-me permaneceram inteiramentedesconhecidos, só sendo revela-dos no momento cm que Mal-larmé c Vcrlainc entraramrumoem na gloria. Constituemeles a trindade dos mestres üosimbolismo. Se a floria de Ver-Iam decresceu, a de Rimbaud,como a de Mallarmé continuoua subir; sua influencia tem sf-do muito eficaz sobre algunspoetas de hoje que tendem a

K-onsíderá-lo como um dos maisespantosos criadores de ima-Seus, um dos poetas mais pres-tigiosos que até agora existi-rara.

Rimbaud manifestou-se aosquinze anos como poeta e aosjyintc anos tinha detinitivamen-ic renunciado à poesia. Emtrês ou quatro anos cobriu asetapas de uma longa evolução.Seus primeiros versos são deura colegial inteligente quehouvesse assimilado à primei-ra vista a maneira dos grandesmestres; escreveu poemas enter-ncciuos ou satíricos que lem-hram o Victor Hugo de "Pau-vres Gens" e dos "Uhati-ments"; diverte-se com os te-mas parnasiajnos, dirige umhino a VenuS, evoca a nature-za primitiva, seus deuses e seusfaunos. Mas, bem depressa, ve-mos afirmar-se a verdadeiranatureza desse poeta adolescen-te; um poder de revolta que oimpele contra tudo o que o seupensamento pode apreender:religião, política, patriotismo,»mor, nada poupa êle e o seusarcasmo não é absolutamentea pura retórica. Já o gosto davida errante, da vagabundagemo lançava pelas estradas; empoemas breves, regulares tantoquanto a língua como quanto aumetro, inscrivia êle, com umtraço vigoroso, suas sensações deboêmio abandonado sobre avasta terra, cheio da alegria

ior haver rompido os liamesue o prendiam a uma orga-

UMA SÍNTESE DE RIMBAUD

nização da qual não sentiu ab-•olutamcnte a necessidade.

Seus primeiros ensaios lheparecem sem nenhum tnteres-se; aos deiesete anos já senteéle o tedio da sua literatura eda sua época, enquanto esperabem depressa aborrecer-se iam-oem da literatura em gerai;quer tentar alguma coisa denovo; concebe uma nova ma-neira de ver c sentir a rea)'.-dade e a possibilidade de criaruma lingua nova para tradu-ção de seus visões e sensações

Então escreve o "HatcaiiIvre", uma obra singular e ior-te que abre as portas a um no-vo imagismo poético. E' umaobra de inspirações li fresca,evidentemente, talvez mesmosaida ,direatmtnte, de um poe-ma inglês; as leituras de Kim-baud, as narrativas de viagem,as descrições exóticas dos poe-tas deixaram traços nas suaslembranças, mas sua imagina-ção exaltada transforma tudoisso. d ponto de partida temalgum contato com a rèàlida-de; um rio da America, umaborca que desce... mas, logoem seguida o poema transcen-de os limites dessa imagem boapara os romances de FenimoreCooper e Mayne Rcid. O navioé impelido para o mar; as no-ções de tempo e de espaço sãoabolidas pouco a pouco, e o vi-sionario do navio embriagadovê espantosos espetáculos, por-que êle mergulha no "poemado mar" e torna-se tambémuma parcela viva da enormevaga; é sob essa nova forma devida que êle contempla os "ar-qwipelagos siderais", as rever-berps do sol sobre o mar, asmargens rihnca atingidas pornenhum navegador, os monstrosmarinhos criados pela imagi-nação dos séculos... é um des-lizar de imagens meio reais emeio ' fantásticas, como podeforma-las um "vidente" e cuja

PI ERRE MARTI NO.

extraordinária veemência nãopodemos caracterizar com pala-vras. „ <\

Ao mesmo tempo, Rimbaudescreve esse famoso soneto das"Vogals" que nSo foi, prova-velmenet, senão um diverlimen-to para êle, uma fantasia sobreum tema fornecido por umaleitora de acaso. Mas esse so-

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Rimbaud

neto fez grande rumor na. épo-ca simbolista; viu-se nele umateoria da audição colorida, opropósito firme de introduzir-sena poesia novas "corresppnden-cias", e os desejos musicais e"harmonistas" de' alguns ce-naculos com isso ficaram mui-to encorajados. Esses versos,que o próprio Rimbaud não to-mou a serio, assinalam, em to-do caso, suas curiosidades no-vas, seu desejo de substituir ovelho instrumento poético porum instrumento completamen-te novo > A crise poética do au-tor do "Bateau Ivre" atingiu,

porém, seu apogeu no momen-to da viria comum com Verlai-ne. Dessa época datam as "II-luminations", uma revolla deensaios cm prosa e verso, quepossuem algumas analogiascom os "Romances sans paro-les"; c "Une Saison ,en enter",reeolta de prosas líricas, que cuma autobiogralia intelectual,» risloria transfigurada dessesdois anos de intensa excttaeãocerebral."Muminations" quer dizer,assegura-nos Verhiine, gravuracoloridas, iluminuras; é pelomenos ò sentido inglês da pa-lavra; mas admite-se a hipoie-se de Rimbaud tenha visto nes-ue título a imagem do fogo nanoite. A dupla acepção dá, eratodo caso, «ma idéia do quecontém esses versos. Livro tu-mulluoso, obscuro, perturbador:Rimbaud aí diz de novo seunsentimentos violentos de revol-ta, seu anarquismo exasperado.Mas sobretudo ai vemos o po-der e o inedilismo das sensa-ções do poeta. A realidade nãolhe chega ao espírito sob a for-ma de um quadro ordenado,mas como uma serie de vagasde sensações diversas que, to-das imperiosamente, queremexprimir-se no mesmo momen-to do tempo; parecem atrope-lar as palavras, sobrepor umasàs outras, mistura-las. Porprocessos semelhantes, Verlai-ne, na mesma época, procura-va descreve ras paisagens in-glesas ou belgas; mas os seusquadros parecem lógicos ao la-do dos de Rimbaud.

A essas sensaões puras seconfundem por vezes eompli-cando-lüe ainda o congiome-rado, os estados de alma dopoeta. Facilmente, escapa éleàs noções de tempò c de espa-ço; vê-se no centro do univer-so; seu olhar não é retido pe-Ias cidades ou por nenhuma dasobras dos homens; não parece

éle ver e pensar com os olhoue um cérebro de homem; sen-te-se solitário, multo forte tmulto poderoso. Esse tumultoe estas singularidades das "de-murches" d* espirito arrastam-no a grandes obscurldades; po*demos considerá-las de bomgrado maiores que as de Mal-larmé, pois este ultimo se dei-xa sempre guiar por um fio Io-gieo qeu podemos, de quandoem quando, apreender; emRimbaud, desde a origem hadesordem na visão. "Somenteeu — disse êle — tenho a cha-ve dessa parada selvagem". Oscomentários muito precisos quese tem dado de alguns poemascias "Iluminations" não satis-fazem.

"La Saison en* enfer" foi es-erita de abril a agosto de 1873,Isto é, no momento em que nligação entre Rimbaud c Ver-Ininc se desfazia, mas não setinha ainda rompido. Sob dis-farces simbólicos, Rimbaud fa/.desfilar as principais horas dusua crise; os desafios à socic-dade, ao cansaço da servidãosexual, as ambições da arte, odesejo de entrar no silencio, odesejo de fugir, de romper com-pletamcnte com a vida presen-te de conhecer a "aventura", averdadeira aventura bem longe,dos meios e das preocupaçõesdos homens de letras.

Um poema em prosa "A AI-quimia do verbo" resume aaambições de arte do poeta emseus momentos de maior cxal-taçâo. Aí temos a alucinação,uma lingua total para "todosos sentidos", o poder para opocat de ver os seres vivos oujnanimados sob um aspectodiverso daquilo que êlcs são...Estamos bem longe das abstra-ções de Mallarmé e da preocu-pação da Idéia. Rimbaud querser também uma espécie defeiticeiro, um mestre de "fan-tasmagorias", quer criar subs-tancias, "Inventar novas flores,novos astros, novas carnes, no-vas línguas"; acredita ele quevi atingir "os segredos PARAMUDAR DE VIDA", para mo-dificar "as leis c os costumes".

O*desejo era muito forte, a(Conclui na 8.a pág.)

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'¦¦¦¦"¦•¦*¦¦ ; ^ "' '''^ ' .:':-" Vinheta de SANTA ROSA

I POEMA DA¦

VIAGEM... •SOB O TETO DO MUNDO ,

"

ME PERCO NA HORA-ACALANTOE \k PERCORRO OS ÍONS DO NADA.DOS MASTROSÒ SANTELMO PENDENO RASTRO DESTE SANGUE;EM VÃO CONSOLAM-ME AS ESTRELAS00 OLVI DO DESTE CANTO.,SOU O POETA MONOCÓRDICO •DO AZUL NA TERRA QUE ME HAURE. • *-

Ó ETERNO SONO DE ASTROS CHEIOS DE LODO! _Ó LIVROS DONDE OS RÉPTEIS VOAM PARA O SONHO!Ô PUNHAIS EM RISTE,MANCHADOS DE IRRISÃO E PATERNIDADE!NOVAMENTE PARTIS,

VI AG E MNOVAMENTE AUSCULTAIS MINHA SOMBRA QUE DELIRA,NOVAMENTE, COMO A SOLIDÃO SEM PASSAPORTEVIAJAIS...

POR MARES DE ONTEM E HOJE, INAVECADOS, . V , - "

ESTALA O CORAÇÃO DE VELA ROTA AO VENTO,ESTALA-ME A CORDA ÚNICA EM QUE VIVIA:A CERTEZA DERRADEIRA DE SER DEUS.. KrU]0-ME FINCADO AO SOLO DAS RAIZES,COMO A EVOLADA NOTA QUE SE PRENDENAS GRADES DE UMA ESTRANHA PAUTA NEGRA.e sou Número. XVOCÁBULO, tGRITO —ECO DAS DUNAS DEBRUÇADAS ANTE O CAOS DA FUGA..

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F E R N A N D O P ó Y O A Síg5

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N|ÍM — •« í. E^/?^!5 B-5<RT'KS' >¦< Domingo, 15-3-1VW

OS DRAMAS DE IBSENE OS ROMANCES DESELMA LAGERLOFF

JORGE RAMOS

p ARA compreender os tira-mas de Ibsen ou os ro

mances de Selou Langer*.loff é necessário perscrutar ofundo complexo da alma es-candinava, cujo caráter temparticularidades quase inaces-síveis à sensibilidade latina. Apsicologia da raça sueca possuimeandros infinitos, e aparentescontradições. A língua desse po-vo que ama o isolamento é um«ivcíro de imagens. As origensmúltiplas da sua vida só po-dem ser estudadas por quemconheça profundamente as rai-í:cs da sua história c da sua li-teratura. País de camponesescom uma cultura moral qur•hes permite ocupar, desde oséculo XIII, um lugar nas as-,sembléias do Riksday, a Suéciadeve a esses homens livres quecultivam o solo o seu primeirorei: Gustavo Wasa. A famílianunca foi oprimida pela prepo-tência paternal e marílal doDireito romano, nem a mulherconsiderada inferior ao homem.

Nos tempos antigos, quando arainha Berta fiava tranqüila-mente no seu castelo, as mulhe-res suecas caçavam o urso e oalce. Nessa terra onde dir-se-ianão existir ainda perfeito equi-líbrio entre a noite e o dia, en-tre a terra e a água, a imagi-nação fatiga o espirito do ho-mem, que recebe dessa nature-za primitiva e selvagem umaimpressão profunda que nós en-contramos em todas as mani-festações da sua literatura en-caminhada para o pessimismo.A Escandinávia é triste. Quernas vastas planícies da Suécia,niier nas montanhas desertas: a Noruega, expostas à íúriaVias tempestades de neve, oJho-mem cercado por um ambientede tristeza e de desolação, me-dita e sonha como que imersonuma nebulosidade voluptuosa."As quimeras dançaram diantettè meus olhos" --- diz à herói-na dum poema. -

Para estes espíritos concen-Irados, inimigos de gestos, deatitudes e de confidencias, pen-sar é um entretenimento comobeber ou dançar. Pensam pelaúnica alegria de pensar. Uma<>arcela da sua inteligência apli-t.a-se às coisas materiais e prá-iicas, a outra recreia-se em abs-trações. .. ~- , .

Quando os primeiros dramasde Ibsen foram representados«m Portugal um crítico experi-uientado notaria que estávamoscm presença duma mentalidade. bsolutamente diferente damentalidade portuguesa, e que.'es excediam, às concepções devida do homem peninsular du-ma maneira tão inesperada queíi'3 podíamos classificar de sim-;óIicos. O teatro realista de Ib-

sen exalta até o inverossímil o(lealismo latente na alma nór-

dica. As personagens ibsenianastrazem consigo uma neblinamisteriosa. Filhas duma natu-veza brutal, dão instintivamen-te aos seus sentimentos umaforma viril. Os mais delicados

. estados de alma exprimem-se* com um vigor c uma sonorida-de vibrantes que logo se aba-fam numa Ironia mordente, des-concertante, reveladora da tre-,aienda inquietude que vive no•;ubconsciente da alma escandi-nava, e «ue tão depressa se fazclamor e grito como murmúrioc surdina. Por indolência ou porfatalismo, o sueco é um especu-lativo facilmente atraído pelasdigressões filosóficas. Entre asenertrias intelectuais e as pos-çibilidades de ação há divergên-cias hostis. Debaixo duma apa-

rente frieza, esconde-se a ar-AÁrúe exaltação cerebral que

lhes eleva o pensamento até osmais altos domínios da raetafí-slca. Sofrem por nao consegui-i cm pôr de acordo as realidadesda vida com as suas aspirações.Facilmente se compreende quecom semelhante temperamentoo amor na Escandinávia tivessetomado uma forma muito dife-rente da dos povos do sul.

A mitologia do Norte essen-cialmente guerreira, celebra aWalkyria intangível, aspirandoà glória que ela possa conquis-tar pela força. O amor não ocu-pa lugar algum na literaturaclássica paga. O homem do Nor-te respeita a mulher e despre-za o desejo sensual que ela lhepossa suscitar. Ignora a arte doamor, a escala infinita das suas"nuances", a riqueza e a varie-dade das suas emoções.

D. João é um herói desconhe-cido nos anais do amor escan-dinavo. Consideram o amor me-ridional uma insipidez porquesão incapazes de lhe compreen-der a gracilidade e a delicadeza.

Grandes bebedores e gastrô-nomos, os escandinavos têm doamor uma concepção pesada,egoísta, brutal. A fisionomia doescandinavo retrata-lhe a alma.A testa alta revela, a par daimaginação, uma ambição de-sordenada; o nariz é autoritárioe contrasta com a desolação In-saciável da boca desdenhosa eávida. A mulher sonha com oheroísmo e a força. Seus senti-mentos são violentos e compli-cados. Reservada e orgulhosado seu valor moral, compreen-de o amor como um devaneiosentimental que Implica deveresmuitos sérios. Tem mais neces-sidade de ternura do que de pai-xão. Habituada a trabalhar pe-Ia sua independência, perde*muito da graça e do encanto:é a companheira indiferente dohomem.

Traçado o perfil dessa raçaestranha, náo é difícil observarque as figuras de Ibsen não po-dem ser desenhadas com osmesmos traços com que um es-critor latino esboça as suas per-sonagens. A placidez dos senti-dos. a sentimentalidade platônl-ca do escandinavo é a antíteseperfeita deste violento desejo feuosse que é entre os povos1 ^toSul a causa de tantos «h**fflas.O longo inverno sem sol, o v&-rão sem noite, inquietam a ima-^inação do escandinavo emba-lada na Infância pelas "saçus''fantásticas. A alma sueca ê dasmais difíceis de analisar. En-cara da debaixo de certos pon-tos de vista, é uma alma crê-rtula, infantil, cheia de ünsõe^.ignorando o mal e sofrendocruelmente quando é coagida aauweeber-sc dê!*'.

Quando se estuda a mitologiaescandinava encontva-se emcontraste com o elemento amo-roso e sensual da r^itologia £i*e-ga um misticismo de purê/'», or-gulhosa e intransigente. O es-f^ndinavo ama a musif» deWagner e a filosofia de Níetzí?-rh*\ Esta alma complexa e aui-mérica. tímida e sile^ciosí|. ff»idesentranhada da obs"untiarlenelo esn^ito luminoso dc Selmr*I> periotf.

A autora célebre de "GostaBerlim*" não conquistou a renu-tação de escritora mundial nor«m;>!<>nei* forma de originàlida-de. O seu estilo é duma levezatransnarente: nada de enredoseoni>u«"fiados. Conl^-nos si*nnl*r,histórias de velhos lendas eimagina fantasias deliciosas que

. desnertam no f>»hfli das almasos sonhos que ali dormiam...

físt* "Gosta Berfí^tr". senhor(Conclui na JO* pásrina)

V/,ra?M —fazendo ago-

perguntou a

teu jovem amigo o

poeta e ensaísta norte-ame-ricano Ralph Waldo Enter-

ton. "Você tem um diá-

rior?" Naquele dia, Henry

David Thoreau fêz a pri-meira anotação em seu diá-

rio.

Contudo, o que Thoreau

escreveu não foi estrita-

mente um diário. Eremita,

naturalista e escritor (1817-1862), êle mesmo pro-curava uma definição paraseu diário. "Não poderiameu Diário ser chamado de

Notas de Campanha?"^.—indagava êle.. "Meu diário

é aquilo de mim que de ou-

tra maneira transbordariae se desperdiçaria, rebuscos

do campo no qual eu co-

lho. É uma folha que pen-de sobre minha cabeça no

caminho. Eu curvo o ramo

e escrevo minhas precessobre ela; em seguida, sol-

tando-o, o ramo ergue-se e

mostra os rabiscos ao céu...

O corvo, o ganso, a águia

levam minha pena e o ven-

to agita as folhas quandoeu passo. Ou, se minha

imaginação não se alteia,

mas rasteja na lama e no

lodo, então eu escrevo com

uma cana".

O diário de Thoreau tor-nou-se seu cesto de cole-eionador, no qual levava

para casa. as suas observa-cões. "Um diário deve con-ter um registro de todanossa alegria, nosso exta-se", escreveu ele.

v Editado pela primeiravez em 1906, por BradfordTõrrey e Francis H. Allen,

-em'14 volwmes, "0 Diáriode Henry D. Thoreau"(Houghfon Mifflin Com-

pany, Boston, Massachu-seus) foi novamente lan-

çado em 1951 pelos mes-mos editores.

% Além do praier que sen-tia em escrevê-lo, Thoreaubem depressa compreendeusua utilidade prática. O diá-rio tornou-se um depósitopara a massa de dados ei-entíficos que colecionava,levado por seu interesse portudo quanto movia ou crês-cia. É-ises eram os sub^ro-

dutos dc mus passeios a

pé e suas excursões pelorio, de suas observações de

cada dia durante todo o

ano. "Como são indispen-

sáveis essas experiências

para formar o verão!" —

escreveu ele, referindo-se

ao primeiro lírio dágua.

Contudo, ao que parece,

jamais teve certeza da ver-

dadeira aplicação que po-deria dar a esse subprodu-

to científico. Muito poucodele foi incluído em tudo

quanto publicou.Fato ainda mais signifi-

cativo, Thoreau descobriu

na expansão e revisão de

seu jornal, o laboratório no

qua! desenvolveu e experi-

mentou seus escritos. O

registro de um incidente,

rabiscado a lápis à luz do

sol, à sombra dos bosquesou à luz do luar, sobre o rio

ou nos campos, tornava-seo ponto de partida. Em um

dia posterior, revisava o quehavia escrito e acrescenta-va o que fora -omitido an-tes — muitas vezes, a paite mais significativa. "O*

homens e as coisas de hojesão em geral mais honestose verdadeiros na memóriade amanhã" — escreveuêle. As anotações eramtransformadas em palestrase, em seguida, em ensaios.Em seu tempo de vida, elasconstituíram a base dosúnicos livros que saíram di-retamente de suas mãos:"Weak"* e "Walden ",

que

"Revista Branca" publicaráem junho.

"Walden" foi o registrode seus dois anos de per*manência em uma cabana

*

1 Domingo, 15-3-1953 _____

__f

pAia

LETRAS *? 'ARJT.ES¦top».

HENRY DAVt) THOREAUTOWNSENDfCUDDER

•er tão independenterelação i sua espécie

mto os pássaros que fa-

|m ninhos»0 método de composi-

que construiu para si prprio, nas proximidadessua aldeia natal de Con-cord, Estado de Massachusetts, na parte nordeste,^Estados Unidos. Esse períòdo de reclusão em WaldenPond, de 1845 a 1847, re-sultou de seu desejo de

provar que Um ser humano

Thoreau pode ter si-abalhoso, mas para ele

resentava também umzer. Permitia-lhe reno-

se e auxiliava-o a ele-se ao máximo de seuer. O que publicou nãoeve venda senão mui-anos depois de sua mor-E Thoreau ainda estava

ocupado cm viver, ocupadocm registrar o que via couvia, o que pensava c sen-tia, quando faleceu, aos 44anos de idade*

Em seu diário, encon-tram-se observações como

esta: "Nada deve ser tãotemido quanto o medo".Típicos também de Tho-reau são trechos como êste:"Alguém prendeu o rabo do

gato na porta ainda agorae êle soltou tal miado queexpulsou dois mundos demeus pensamentos. Eu via

coisas indizíveis no céu e

pairando em meu espirito,

e agora tudo se reduziu a

um rabo de gato.Vastas nuvens de pensa-

mento flutuavam atravésde meu cérebro, como nu-

vens carregadas de chuvasuficiente para fertilizar erestaurar um mundo, e ago-ra tudo se dissipou".

Foi em seu papel de ms-

petor de tempestades deneve, viajando até longe desua aldeia de Concord, a

pé ou sobre as águas, queThoreau encontrou a maior

parte daquilo que lhe deu

permanência! Quanto a

pessoas, havia a tia deEmerson, Mary M o o d yEmerson, sobre quem Tho-reau escreveu: "A mais sa-

gaz e mais viva mulher queconheci. . . iste talvez sejao maior elogio que se lhe

possa fazer.. . que ela, commais certeza do que qualquer outra mulher, dá a seu

O ROM AN C E m T .ü R A L I ST AE O

ANTES de mais nada'é pre-

ciso ver ZOLA subovdl-nando o romance à ciên-cia. O romancista devia,

segundo o mestre de Medan,apresentar os personagens co-mo parte integrante de ummeio social e analisar-lhes, comminúcias, as ações e reaçõesprovocadas pelo meio. Tudodevia ser encarado científica-mente. Destarte, o romance se-ria, tão somente, uma forma es-íétiea de fazer a História soei-ai e natural do homem reagin- ,do na sociedade ou da soele-uade influenciando o homem.Assim convencido ZOLA^se jpl-.gava impotente para forjar umenredo. Sendo o homem umproduto do meio ambiente,(idéiade TAINE) e da hereditarieda-de «idéia de CLAUDE BER-NARD), quando ZOLA queriaestudar, por exemplo, a opres-são da classe operária, partiadessa tese e ia, paulatinamente.

ROMA Níffc M O D E RN O"

- '*

A. J. DL ifkuiUREDC

COP-* 'O e T)C *y*"> "¦'-•". ou-

iativos ao assunto. ^Começavaa dedicar-se a seu romance .semse preocupar com o entrecho;•sem saber que episódios haverianele, que personagens nele figu-rarianr nem de que modo co-meearia e acabaria" —• decla-rQií o próprio ZOLA a PA'11ALEXIS. Confessou ainda Zü-LA que. para cada romance,*'cercava-se-de uma, bibliotecainteira relativa ao assunto iratado; conversava com pessoascompetentes na matéria, sem-pre' que fosse possível; e vin-Java para coi-hccer o cenártóas pessoas que o habitavam fsua moralidade peculiar.

Recolhidos-, os dados necessíwrios. diálogos, descrições de D~siohbmias, cenas entrevista.1?. è.'ár-tanto tudo catalogado em P$s"tas, Zola bosque javageral do livro

idêli

¦o' ciiendo pastas com os dados tu- '«ente, 'descendo as purüi uni-

des Partia dos-grupos l sò-tis e. analisando-os, deles ar-iiçav.a os indivíduos. Em tôr-destes, lentamente, t-e esbo-

va um enredo vago, semprelistrado em pastas metódica-ente arrumadas. Delineado oitrecho. agora então ZOLAidáyá dos personagens emirtieulav. E porque cada um|ha previamente" seu papel a"mpenhar, ZOLA estudava-

com paciência "e minúcia,-fifa pregressa,. os hábitos e re-fões, a saúde.: o^ aspecto físi-

o temperamento. Estava cei -de que os indivíduos eram;os da herecUtariedade e doliente em .que viviam. Assim.

poucos" as pastas engros-iam. ZOLA fazia pesquisas.ras viagens e começava en-

selecionar o ínáteria,! co-Dapçjti oy ¦ * ;v.:i\;v fapí-

J" por capítulo, mas íiho o

ímík de vez. Ia por etapas,.Terminado o exaustivo traba-lho, todo o material seleciona-do estava distribuído, cada per-sonãgém recebera função pró-pria no livro. Estava, pois; fel-to o "plano primitivo". Agoraera burilar mais, cortar sempre,abaular as arestas e, enfim,executar o "plano definitivo"da obra. Feito isto. que resta-va? O mais fácil para ZOLA:lentamente escrever o livro,Trabalho seguro e constante:quatro páginas por dia, até fin-ciar. sem haver um instanfe se-quer de indecisão. De ZOLAnão se poderia dizer que osuersonagens dirigiam o autor.Ele manejava conscientementetodos os cordões dos seus bo-hecos. E se não lhe valera agrande forca lírica, certamentejá hoje ninguém leria Teresajtaíjuin Naná, A Besta Huraa-

. na. O Ventre de Paris, L'Asso-moi»*. Germinal e quantos ou-tros constituem os vinte yolu-mes ca* Péric dos Rou&oürMac-.

(Concluí na i';.'1 páft..)

companheiro ocasiio de ex-

pressar seus melhores pen-lamentos".

Thoreau conhecia cães e

apreciava o com selvagem

dos latidos de um cão de

caça. "Muito musical e atè

mesmo suave agora, como

uma buzina, é o latido de

um cão ouvido em algum

mato distante, enqu a n t o

permaneço em pé ouvindo

em algum campo bem so-

litário e silencioso". Seus

melhores pensamentos re-

lacionavam-se com a pro-cura da vida e a tinalidade

da vida, com a necessidade

de a gente conservar-se no

alto de sua própria ineli-

nação, a melhor para se

aproveitar o máximo de ca-

da momento. Escreveu êle:"Esta manhã... pela vi-

gésima vez pelo menos,

pensei naquela montanha

da parte mais oriental de

nossa cidade (onde não

existe realmente uma única

colina alta) que uma ou

duas vezes eu escalei e quecom freqüência deixei quemeus pensamentos escalas-

sem sozinhos... Em minha

escalada costumava passar

por um bosque escuro e de-

serto em sua base... Eu

tremia enquanto caminha-va (tenho uma lembrançaindistinta de ter estado to-

ra, sozinho, à noite) e de-

pois subia firmemente...até perder-me no ar do ai-

to e nas nuvens, parecendoatravessar uma linha ima-

ginária que separa uma co-

lina. . . de uma montanha...Você sabe, nada de cami-nho, mas vaguear, emocio-nado, sobre a rocha nua

"e

sem trilho, como se fossear e huvem solidificados. . .

"E não existirão, a leste

ou a oeste, montanhas das

quais se possa olhar parabaixo paara Concord em

pensamentos, e para todo omundo? Nos sonhos, essa

elevação mostra-se a mim

de tempos a tempos e pa-rece-me ter convidado meucompanheiro certa vez aescalá-la comigo..."

Assim eram as medita-cões desse naturalista e

pensador americano há umséculo.

[frad, SALDANHA COELHO)

Ngina — 7

O ROMANCE, UMA Cl-TAÇÃO E UM INQUE-RITO MALOGRADO...

HAROLDO BRUNO

1

A

CRITICA ou o ensaio depoesia tem uma proiun-didade e uma extenfSo

correspondentes à supremaciaque o gênero poético mantémna estética literária. Porque, seé verdade que quase toda aciência estética se ergue sobreas especulações a respeito vdapoética, no sentido amplo do es-pírito criador, o estudo particu-lar da invenção e das condiçõesda poesia como forma literáriadiscriminada assume aí um re-levo que coloca os demais gene-ros num plano de franca de-slgualdade. A estética literáriavem sendo quase a estética dapoesia.

E' muito freqüente encon-trarmos, nos livros clássicos defilosofia da arte, a aplicação aoromance, ao conto, ao teatro,etc, de métodos que a tradiçãoconsagrou como específicos dotratamento poético, resultandodisso um falso conceito do poé-tico, sobretudo no romance, quercomo técnica de expressão, quercomo concepção estética em simesma. Embora alguns teóricosainda incidam no mesmo equl-voco, a situação se modificoubastante de certa-época para cá.

Na verdade, o -século XX, comseu profundo sentido das dife-renças, é que inaugura um novociclo da estética literária. Neleo romance começa a ter inde-pendência e a mostrai que, alémdo remoto parentesco histórico,comum a todos os gêneros li-terários, suas ligações com apoesia são menos substanciaisdo que se pensou. O poético ro-manesoo limitou-se ao poéticogeral e vago, à própria condi-çSo da linguagem elaborada eartística, aos recursos naturaisda palavra que traduz as ima-gens da experiência • objetiva,enquanto o poético puro tam-bém se restringiu a exprimiremoções subjetivas. A poesiaépica desapareceu, a poesia mo-derna é principalmente elegia-ca. Ao contrário, são as for-mas sensíveis da representaçãodo real, é o poder de transpo-sição da vida nos seus aspectosconcretos e cotidianos, o queidentificamos no romance comoa sua .essência permanente, eisto só é poético na escassa me-1dida em que contemporânea-mente a poesia se nutre de cir-cunstâncias comuns, perdendomuito ou quase tudo de sua in-timidade e idealismo, sobretudode sua pessoalidade, como que-ria Coleridge. Certo, existemromances intencionalmente poe-ticos, mas, ou eles se impõempela forma que adota os ar-tífices da técnica poética, des-pertando mais emoções interio-res do que nos acercando desituações objetivas, através dasquais' alargamos nossa expe-riência da vida, ou -não chegamsequer a ter categoria de fie-ção. São caprichosas expressões,de hibridismo literário.

Dentro dessa posição e queescrevemos nossas "Notas sô-bre o romance", tentativa aeensaio sobre .estética ou psico-iogia do gênero romanesco, emparte divulgado em suplemen-tos literários desta capital, masque o autor inicialmente pen-sou em incluir nos "Caderno-»de Cultura" que Simeão Lealvem lançando peio Ministérioda Educação. Qualquer que se-ja o seu destino (são tantos oscandidatos aos "Cadernos")',_épara nós motivo de satisfaçãover que algumas das idéiasagitadas encontraram acolhi-da ,não para uma aceitação m-discriminada, e sim para umadiscussão judiciosa.

No volume "Curso de Ro-mance", organizado pela Aea-demia Brasileira de Letra?;, de-

paro-me, na conferência do Sr.Cassiano Ricardo — A poesiana técnica do romance — comhonrosa referência aos meusmodestos apontamentos. A cer-ta altura de sua aguda anán-se sobre as condições da arteromanesca, que ele encara emestreita conexão com os va-lores poéticos, a ponto de lntí-tular um dos capítulos com Cs-te pensamento de Novalls: —-"Quanto mais poético, mai,verdadeiro" — o grande poetae ensaísta escreve: "Nao dei-xa de ter razão Haroldo Bruno,cm suas recentes Notas xotiv.o romance, quando db; que oromance "criou uma terceiradimensão estilística, subverteu-do os valores da linguagem li-terária". Entretanto, nao nv..-parece que a imagem seja ape-nas, no romance, "um elemen-to ornamental, por assim dl-zer', um detalhe luminoso quese dissolve na representação to-tal". Ao contrário, a imagem(no seu sentido moderno) e co-mo ainda há pouco nos faziaver João Gaspar Simões, citan-do Viço — é a lógica poética emoposição à lógica racional, cien-tífica — nada impedindo queseja um elemento de expressão(não apenas ornamental) naprosa romanesca".

Evidentemente, não se tratade uma clistorsão do pensamen-to expresso nos rápidos comeu-tários que o tema central da-quelas notas — buscar o sentidodo romance através das rea-ções psicológicas do leitor co-mum — teria suscitado, porém,certamente, porque o Sr. Cas-siano Ricardo leu apenas aspartes publicadas esparsamen-te, sem a percepção da unida-de; o certo é que o trecho ei-tado, que nos permitimos trans-crever, não denuncia de modoclaro a verdadeira posição do"autor ern face do problema daimagem e do conceito na tec-nica do romance. Nem esta, co-mo já se disse, era a sua prin-cipal preocupação. Seria antesa imagem e o conceito na lin-guagem, na realização, na fa-tura do romance. Todavia, sal-vo üma deficiência em tradu-zir fielmente o ponto de vistadefendido, as idéias expendidascoincidem naquele assunto como que xo Sr. João Gaspar Si-

! mões disse ou veio a dizer (ig-noramos o trabalho aludido).Nosso pensamento da imagemé, precisamente, não a de umelemento diametralmente opôs-to ao conceito, uma vez que nãosomos tão ingênuos para negara associação do racional e dointuitivo na obra de arte, po-rém de um elemento da inte-ligência que se completa emmaior ou menor grau com oconceito para criar. O que afir-mavamos, sintetizando agora, éque no romance, havendo oprimado da representação ob-jetiva sobre a emoção interior,da ação sobre a contemplação,do conteúdo, ou melhor, da so-ma de experiências práticas eproblemas imediatos sobre vi-" vências ou emoções estéticaspuras — em face de tudo isso.dizíamos que o conceito predo-mina e à imagem, que não éuma operação do conhecimen-to, entra antes como um re-curso da linguagem do que co-mo um reflexo de uma facul-dade da percepção. No« roman-ce, a imagem (e a metáfora eo símbolo) seria um artificioou um ornamento da arte lite-rária, ao passo que na poesiaseria a própria condição cria-dora. Tanto é assim que, emseguida, comenta o ilustre con-ferencista: "Aliás, o próprioHaroldo Bruno, numa outrapasF-íieem das suas hotas afir-

(Conclui na 10.H página)

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Página — 8 ZETRAS E ARTES uomingo, 15-3-1953

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POUCO se sabe a respeito

dos bons escritores, da-qucles que se ocupam «so-

mente com a arte, sem se in-teressar pelo cartaz político, nocontinente latino - americano,sobretudo quundo a gente vivemais ou menos isolado nos cha-mados paises pequenos.

Já tivemos a oportunidade desalientar este triste fato, masnunca acharemos bastante re-peti-lo pois è uma pena que aspoucas revistas de literaturaeme entre nós circulam se ocu-pem apenas com os "mcsnlers"de Paris, e outras merca-dorlas de menor importância.A moda dos "best-sellers" devedesaparecer, pelo menos du'mentalidade dos escritores.

Vive na capital da republicacentro-americana de Guatcmu-Ia um contista quase que des-"*conhecido fora das fronteirasde seu país, pois nunca correuatrás do reclame, preterindotrabalhar no ambiente.- serio davida um tanto provinciana, noalto sentido da palavra. Esteescritor chama-üe Carlos Sa-mayoa Chinchilla, e seu ulti-mo livro, intitulado "MadreMilpa" (Cuentos y Leycndas deGuatemala, 1950), constituiuma das mais valiosas contri-

CARLOS SAMAYOA CHINCHILLA,CONTISTA GUATEMALTECO

bulções à vida literária do ist-mo centro-americano.

Apesar ue ter publicado ain-da outros trabalhos do mesmovalor, entre os quais menciona-mos "Cuatro tíuertôs", "Lucasa de ia muerta" c "28 es-tampos de Ia Cucsta Grande"apesar de ter triunfado combrilho em vários concursos li-terarios inter-americanos, ape-sar de ser um dos mais auten-ticos e humanamente profun-dos contistas daquela região, oescritor guatemalteco é, nãopodemos otultar a realidade,um desconhecido na maioriados paises americanos. Juanade Ibarbourou, Miguel AngelAsturias, Rafael Hcliodoro Vai-le, Henry A. Wall:icc ocupa-ram-se d2 seus contos, mas nemeste fato teve a repercussãomerecida: o contista da Guatc-mala continua *a ser, de certo

STEFAN BACIU.

modo, o escritor de uma gran-de província...

Nuda de mais injusto, nad^ide mais errado, pois CarlosSamayo Chinchilla é, sem au-vida alguma, um dos mais for-tes contistas da vida centro-americana; em suas narraçõessente-se a vida da terra, agi-tando-se com ' um dramatisnteespantoso, poucos escritores uohoje, têm — lá na AmericaCentral — um estilo mais pes-soai do que este homem, quedevemos conhqcer. "MadreMilpa", um grosso volume dequase 500 páginas, traz umacompleta visão de um mundoque ignoramos — a velha Gua-temala, com suas lendas e suastradições e a nova Guatemala,com uma vida agitada e corta-da por tantas paixões, tudo ls*so vive nos contos de SamayonChinchilla de tal modo, que &e

éle fosse um norte-americano,um francês ou-um sueco, seualivros já teriam sido traduzidose comentados.

Encontrei nessas paginas umsopro dramático, como rara-mente se acha em outras obras.De um autor assim costuma-scdizer que 'tem amplos reciu-íeos". Sem duvida. Escrevendode uma maneira simples, dlrc-ta, Samayoa Chinchilla revelauma arte espantosa, que so-mente poderá ser aproximadaaos contos de maior fôlego deoutro escritor da Guatemala —desta vez conhecido em todo omundo — quo se assina MiguelAngel Asturias.

Posso afirmar que "MadreMilpa" não é somente um oti-mo livro de contos pois signiíi-ca o encontro com um escritordos mais fortes do Continen-

te. "El cuentteta mãs cuentls-ta de los cuentistas de Guatc*mala", anota com razão o cri»tico e poeta salvadorenho Hu«go Lindo, escrevendo a respei-to de nosso autor; e numa ter*ra que Já nos deu Rafael Are-valo Martlnez, Carlos Wyld Os*pina e alguns novos de valor,tal coisa significa muito. Eiaporque creio que os verdadeirosconhecedores e amadores daverdadeira literatura da Ame-rica Lütina, têm o dever defacilitar a círoulação da obrade Carlos Samayoa Chinchilla,ajudando desse modo a pene-/tração da literatura sem aspasem todos os círculos.

Nenhum Kominform ajudaSamayoa Chinchilla, pois o.que êle faz, se chama arte e.agora, quando uma parte damoderna literatura guatemalte-ca anda namorando o horrívelrealismo socialista de origemnitidamente estrangeiro, achaque qualquer comentarista oucronista honesto da vida litera-ria americana, tem, firais doque nunca, 9 dever de focalizailivros como "Madre Milpa" frautores .como Samayoa Chin-cliilla, pois em seus trabalhosse encontra a grande e eternaalma americana, e nos mesmosse canta o Quetzal.

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OUVE um tempo em queos amigos de Eneida sepuseram a lamentá-la.

Olhavam aquela "cavalheira"com piedade, sozinha no seusegundo andar sem uma flor,um passarmho por compa-nheiro-. Cada um sugeria umpaliativo, mas geralmente eraobrigado a esquecer, por medode ofendê-la ou despertar•'complexos". "Eneida estásó", — dizia-se a meia bocapelas calçadas do Vermelhinho~-, "está com a mania de quevai entregar a alma num des-tes lotações em disparada.Consta que já fez testamento,legando seus alfarrábios e ihi-niaturas ingênuas a herdeirosanônimos". E todos calavambuscando uma solução para oimpasse: aquela tristeza depássaro prisioneiro, transpi-rando nos olhinhos verdes, me-lancólicos, sem a febricitaçãccostumeira. Todavia, esta tris-teta imaginária era fruto dealguns poetas dedicados, emcrise talvez do que fazer, por-que a "cavalheira" em quês-tão é um personagem alegrís-simo. Tudo não passava detima psicose infundada, dostais amigos, que enxergavamos objetos e as criaturas, plan-,tados no tédio ou num solitá-rio agônico.

Uma oeia manhã bateram-lhe à porta. A solução surgiraafinal: chegava-lhe a senhoraDona Genoveva, "duplamenteadúltera". Para os que não aconhecem — um parêntesls —-a "senhora" referida é umaradiola de mesa com pleapemanual. Não é de uma gran-de marca, mas a companheiraliei da Eneida — apesar damá fama — das horas semamigos, sem vozes que lhe cha-mem ou cantarolem na cozi-nha, quebrando o monótono dequatro paredes.

Perguntei há dias, por que acronista não mudava aquelepicape por um automático. Fi-tando-me com grande espanto,disse após um silêncio, muitoeéria. que a tarefa de mudaros discos, de virá-los mesmo,dava um tom- mais íntimo 1"era como se estivesse a con-versar com alguém assuntosociosos e amáveis".

A escolha de seus discos obe-dece a um critério todo parti-cul ar. Eneida os busca inde-pendente de moda: ora em car-navais antigos ora em festasjuninas, tão despercebidas hojecm dia e desfiguradas. Há umpoeto que é seu maior colabo-rador. Presenteou-a com meiacentena de ante-diluvianos, dis-cos da velha "Casa Edson",com música anunciada por umavoz rouquenha, que parece sairdo túmulo do faraó Ramsés IIou das tumbas do Grande Valeegípcio.

ENEIDA, A CAVALHEIRA, OUUMA SOLIDÃO RILQUIANA

NATANIEL DANTAS

Também há canções france-sas. Falam sempre de Paris,do Sena a rolar no silêncio;das ladeiras. de Montmartrecom suas casas seculares e, àsvezes, escandalosamente bran-cas como as viu Utrillo; dos

. vagabundos filosóficos, como os"mesirs" Dupont, Duval, Du-rant ou Prosper, de Chevaller;de Pigàllè com sua fauna in-ternacional; ou de um "bistro"anônimo, donde viu muita tar-de morrer -ao lado de Bahdel-ra com sua barba de "mujick"e Cícero Dias, falando com umjeito todo especial $as pontesde Recife.

Mas a preocupação dos aml-* gos de Eneida não ficou com

a Dona Genoveva — devo dl-zer —, culpada de muita in-sõnia da vizinhança. Não.Trouxeram-lhe um cão ' imen-üo, çâo de chácara, o Necrotom.A" história dêste policial mere-ceuma crônica especial ou umcapítulo de romance. Creioqite sem o Humanitas do ma-cróbio Quincas Borba, Necro-tom, disputaria um lugar pri-vilegiado na galeria do méritoe fama canina. \ ' ' < '¦

Acontece que Eneida não su-porta tirania, prisão de qual-'l quer espécie e lamentava dei-xar o pobre animal, durantedias e noites, trancado dentrodo apartamento. O bicho de-finhava a olhos vistos. A pri-meira vez que o levou a pas-seior foi sensível aos olharesque não os deixavam com In-sistência gulosa. Eneida se viaridícula- com um cão imensopelas ruas de Copacabana eacabou por se encabular. In-cumbiu da tarefa a criada, -po-rêm esta se recusou, alegandoque tal primazia "não era pa-ra negro". E o Necrotom sedefinhando, triste, cheio de

olhares quebrados, espiando ospostes e os oitis da rua...

Sofria também Eneida, e des-cobriu a solidão oportuna deum poeta. Isto foi uma eurecana vida da minha querida ami-ga, que, segundo ela, correu ves-tida ao telefone para falar aopoeta. Vinícius de Morais mo-ra numa casa à antiga comterreno, e para lá foi o Necro-tom, onde goza — se está vivo— da grama e ..espaço . até odia de hoje.

Não obstante, a turma afli- •ta, os '"alucinados" não sosse-garam. Teimavam com aquê-le tédio da cronista e num be-lo dia enviaram-lhe um pa-pagaio. De fato parecia a me-ihor das soluções. Eneida lheescolheu • o nome de Narcisus,poético, de flor, e se pôs a darlições de conversação ao bicho.Os dias se escoavam. A pluma-gem do "louro" enriquecia; dematizas, mas além de roer ba-nanas e gomos de laranja comangu, o bicho nada fazia."Talvez achasse o nome deflor ofensivo e equívoco à suadignidade de homem—-r- pen-sou Eneida. O único caminhoera rebatizá-lo e o chamou daípor diante : de Dutra. Masqual! - se o "louro" era mo-cho, mais mochp ficou, indamais investido de suas altasresponsabilidades... E certavez qtrando o procurou, esten-

, dia-se silencioso como vivera,ao solo do primeiro andar nu-nia quietude grave e imóvel demorto. Ninguém soube por quemorreu um papagaio. E' atéum assunto em potencial parauma crônica futura, mas páraum homem como o Rubem Bra-ga ou Fernando Sabiho. ParaEneida não presta. Todavia,ninguém soube o porquê da-quela morte, segundo a Enei-da, que o lamentou muito, foi

a misantropia, aquele ar ril-quiano...

Só Dona Genoveva se man-tém firme, "adúltera" e semproblemas. Lava o sono demuito burguês pacato, da vizi-nha do primeiro andar, quefreqüentemente se irrita comas danças, com os bailes ines-perados da "cavalheira" Enei-da.

Esta senhora, a quem atri-buiram fantasiosamente tédios,é a criatura mais "fabulosa"do planeta, porque não há ter-mo de comparação éríl^e si eoutros especimens, além de sçruma pessoa alegríssima.

Há pouco lhe convidaram pa-ra fazer uma conferência na"Casa da Amizade" e alguémse espantou, quando, em meiodo entusiasmo, declarou que afraternidade haveria de ser fei-ta à base da cachaça..'. "Na-da de sessões obrigatórias, deprotocolos, mas cachaça e boa-vontade". De modo algum fi-quei admirado. Eneida usa areceita e mantém um aparta-mento no gênero, sem letrel-ros nem títulos registrados nématas de sessões. Creio que acachaça seria mesmo capaz depromover paz neste mundolouco.

No clube ilegal da "cava-lheira" Eneida, as reuniões são•sabatinas com número varia-vel de consócios. Uns são leva-dos por amigos, outros pelo en-derêço e simpatia. O mais im-portante é que quem vai vol-ta sempre, volta e com um oumais adesionistas.

A "cavalheira" senta-se ge-ralmente à indiana com suascalças de sarja azul e dirige apalestra sobre temas incertos,umedecendo a garganta combatidas de limão. Os visitantes

.vão chegando, às vezes uma

UMA SÍNTESE DE RIMBAUD(Conclusão da 5* pág.)

crise muito,violenta. Em trêsou quatro anos, Rimbaud tinhavivido uma longa vida intelee-tual; sentia-se como morto."Não sei mais falar" — diziaêle. Nem as palavras nem osritmos podiam satisfazer o seugrande tormento interior. Brus-

camente, recomeaç sua vida;durante alguns anos vagabun-deia através da Europa, da Ásiae da África, passando por ex-traordinarias aventuras; masparece acalmar-se e fixa-se naAbissínia, ocupando-se de umadura tarefa de traficante co-lonial. Sua passagem pelo

mundo dos letras já não lheparece mais do que uma "es-taça© no interno". "isso japassou — escrevia êle &m lgT3— Sei hoje saudar a Bele*»".Mas não era mais como poetaque êie o fazia

delegação de dez ao mesmotempo, que se vai abancandopelo chão. O pinter Bandeira,Osório Borba, Osório' Nunes,Darei, um casal muito simpá-tico, cujo nome não me ocor-re, são os mais assíduos, alémdas delegações de Belém doPará e dos sambistas com seusviolões imensos e seresteiros.O assunto ou a dança se es-gota lá pelas três ou quatroda madrugada com um "atéa vista", um "até sábado" ou"domingo, na praia, em frenteao Rian".

A anfitriã adora macumba,carnaval,^ Paris e banhos demar; de fazer — segundo ela— amigos, da poesia das coisase de sua rua, ondc.;há realmen-te coisas "fabulosas", como:um homem solitário que pas-sa as noites tocando acordeonou, então, vindo à janela es-piar o sereno em gorro vene-ziano côr de púrpura; aqueledo "contra", que por tudo, porsimples comemoração de Ano-Bom, grita do escuro por "va-gabundos" e outras coisas in-traduzíveis...; mais o íarma-cêutico que sé recusa a darinjçções anti-gripais, alegandoque a cachaça é que é o re-médio...

O tal clube é dos^melhores,porque não se firma noutros •interesses além da amizade.Sem ser estreito, apoia-se embases nacionalistas da - cachaçae por • isto mesmo . ninguémnos poderá acusar de organiza-ção suspeita e aconchavadacom alambiques escoceses ou

.do lúpulo alemão. Tudo é ver-de e amarelo e gravita entreCampos e a zona do marsa-pê pernambucano, êomos íran-camente da cana, tradicionais,nossa "base" não acarreta dfs-persão de divisas para sossegoda Cexim. Temos um "bar-man" que há dias conseguiuum coquetel notável, cuja re-celta gostaria de dar, sincera-mente, aos grã-finos do "Bifede Ouro" e do "Juca's Bar".

Afinal, sou também membroda tal agremiação da "cava-lheira" Eneida e tenho o pro--pósito de dizer em páginas fu-turas, da visão desta criaturasó, em termos de grande ternu-ra. Eneida será sempre a ima-gem da vida, de uma grande virda percorrida de humanidade ecompreensão, 3 desta .compreen-'são que jamais se apaga, mes-'mo que as coisas mudem e sô-bretudo desçam os véus do)desencanto ou da profunda ecortante indiferença. Eneidaconhece os sortilégios da ale-gria, da permanente juventu-de e, neste particular, encon-tra-se uma certa relação suãcom a obra famosa do mestreVirgílio... E' que ambas sãopermanentes e terrivelmentejovenlSt

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uomi ngo. 15-3-1953 LETRAS E ARTES Página

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AO sei so atravessa- uma fase do saturação.

O que eu sinto é von-tade de ouvir música,

üômente música, nada além de

tdente da poesia, porem musi-ei! música apenas, combinaçãode sons.

li — Passo o dia todo ouvirt-do música contemporânea. Or-eariizo um programa com bas-tante método e permaneço iner-te e sombrio, num estado demelancolia que a música sem-,we me deixa. Aliás a grandearte não me oferece nunca ne-nhuma alegria, nem tampouconenhum estado de euforia oude coisa simplesmente agrada-vel Todo o contato que tenhocom uma obra de arte plena-mente realizada, seja uma pa-giná de Proust, uma partiturade Bach ou uma reprodução deum quadro de Giotto, me deixaiacabrunhado e triste. Tenho asensação de que todo o mundoestá aos meus pés e que nãotenho, entretanto, coisa algumacolocada sob a minha, vigilãn-cia constante. Paradoxo quenão me traz felicidade nenhu-ma... (A tempo) Registro aaudição: "L'Heure Espagnole",ópera em um <ato, de Ravel;"Erwartung", monodrama deSchoenberg; "Elegia Sinfônl-ca", para orquestra de cordas(In Memoriam de Anton VonWebern). de Ernst Krenek;" Apollon Musagète", de IgorStravinsky; e a Sonata paratrombone e piano, de Paul Hin-demith.

III — Fico estarrecido ante aaudição do Quarteto n. 16, opus135, de Beethoven, executadopelo quarteto de cordas Pascal.Principalmente o primeiro mo-vlmento me dá a justa medidade todo o gênio desse grandealemão, morto seis meses depoistíe terminada essa obra tãograndiosa tecnicamente falandoe mais grandiosa ainda sob oponto de vista do conteúdo hu-mano e do senso de eternidadelmanente. O primeiro movi-mento, Allegretto, segundo Jo-nathan Schiller, "is a highlyconcise sonata form". Em toda

NOTAS PARA UM,DIARIO REFLEXIVO

REYNALDO BAIRÃO

¦a sua extensão, persiste a obs-tlnação do Homem que desejaee decifrar a todo custo. Aliássemelhante persistência atra-vessa a obra inteira, mostran-do-se mais nitidamente no de-«esperado Finale, que é prece-dido de duas questões básicaspara o conhecimento: os fama-sos "Muss es sein" e "Es musseein", ambos absolutamente nãoresolvidos porque TUDO con-siste em resolver "Der schwer-gefasste Entschluss"...

IV — Leitura do "Panoramada Moderna Poesia Brasileira",de Sérgio Milliet, publicado pe-Io Ministério da Educação eSaúde (Serviço de Documenta-ção). em 1952, no Rio de Ja-neiro. Livro de caráter didáti-co, esse panorama nos traz d»?volta o crítico que já estamoshabituados a ler e „ comentai.Sérgio Milliet começa o seutrabalho com a Semana de Ar-te Moderna, expõe aos leitoresas vésperas do nosso Movimen-to Modernista, fala de como &literatura brasileira atravessa-va um "desses períodos de es-tagnação estéril" e dá a en-tender que o Movimento Mo-dernista, de sentido revolucio-nário não poderia deixar de serum movimento romântico emsua essência e convenções. Não

, esquece, igualmente, de frisarque pouca foi a influência eu-ropéia sobre os modernistas bra-sileiros da primeira hora. Diz:leê "O que nos veio da Euro-pa foi o verso livre, foi a co-ragem de romper com a sin-taxe convencional, foi o despo-jamento do falso poético, foi ohumor, foi o direito de trocara imagem comparativa ou ale-gorlca pela imagem direta, foka revalorização dos qualificati-

vos, etc.". Porque mais "do queinfluência técnica houve influ-ência de espírito. Revolucionou-se o conceito de poesia. Até osparnasianos, e mesmo até o.inossos simbolistas a poesia eraarte simplesmente, forma lite-rária obediente a regras de me-trificação e de ritmo. Depois do22 a poesia passa a ser sobre-tudo emoção. O conceito se des-loca do campo do racional pa-ra o campo do irracional". Emseguida, penetrando diretamen-te na obra de cada modernista,tira de cada uma o que de maisimportante e essencial ela apre-senta, estudando, desse modo, aobra de Mário, Oswald, Bandel-

-ra. Guilherme, Bopp. MuriloMendes, Schmidt, Drummond coutros. Logo após, escreve sô-bre os mais novos, detendo-seem Vinícius, Cabral de Melo Ne-to, Domingos Carvalho da SU-va, Ledo Ivo, Péricles Eugênioda Silva Ramos, José Paulo Mo-reira da Fonseca; Marcos Kon-der Reis, Cyro Pimentel, JoséEscobar Faria, José Tavares deMiranda, Bueno de Rivera,Dantas Mota e tantos outros.Crítico céptico nem sempre Sér-gio Miliet põe o seu cepticismoa serviço do julgamento de umaobra. Como êle mesmo diz, náo

\há. necessidade de julgar nin-guém, já que ninguém é juiz.Juiz é o próprio Tempo, .que seencarregará da devida seleçãono momento oportuno.

V— Muito discutível o tra-balho de Ledo Ivo sobre Máriode Andrade. Depois de uma re-leitura, pretendo comentá-lo,discutindo, com o autor da"Ode ao Crepúsculo", certospontos do seu ensaio, principal-mente aqueles em que êle sedetém mais demoradamente na

personalidade do criador de"Maeunaimr,".VI -— Sábado cb Carnaval.

Vinte c três horas. Estou noRio. E fico no hotel, não soporque detesto carnaval, masporque já há carnaval bastante

.nas letras nacionais. Deitado,leio. côm vivo * interesse, pelosegunda voz, a "Viola de Boi-so", de Carlos Drummond deAndrade. Em seguida, devoro olivro de ensaios de Eugênio Go-mes: "O Romancista e o Von-tríloquo". E, logo depois, final-mente, o "Teatro de Marionc- .tes", do Kleist, numa louváveltradução de Paulo Mendes Càm-pos.

vil — A aquisiçâoitios "Cho-ros número 10", numa grava-ção norte-americana, me fazlembrar a acusação que sofreuVilla-Lobos* de haver plagiadoCatulo e um outro sujeito qual-quer. Nada mais ridículo. Oque o nosso Villa-Lobos fêz como "Rasga o-Coração"; Bach.Chopin, Mussórgsky, R a v c 1,Stravinsky, Bela Bartók e Car-los Chave/, fizeram muitas vê-zes e nem por isso foram acusa-dos de piaglariós em seus rea-pectivos países, fi plágio ocompositor se aproveitar damúsica erudita para fazer mu-slca popular. O contrário nuncafoi plágio em lugar algum, emnenhuma época. O aproveita-mento inteligente do folclore eda música popular de um pai»é mais do que acertado, 6 umanecessidade, uma vez que todaarte só alcança universalidade(e este é o caso de Villa-Lo-bos, aqui entre nós) quando elaé essencialmente nacional e nãoapenas de sentido regionalista.

VIII — Ainda Villa-Lobos.Ouço, pela primeira vez, "A

Mis:# tio £ão Sebastião", paratrôs vozes (A Capellai. A seu-saç&o que a gente sento, ao to-mar contato pela primeira ve»com uma bbni de arte ó algoae Indescritível e do indeíini-vol — é algo assim corno se agdnto pudesse presenciar n cn-mjftò 'do mundo, participando,totalmente, dessa criação, noamugo, indecifrável.

XX — A noite, ouço "ja??." e,depois, leio 'aproximadamentetrinta paginas cio "Thc Ideu ofMárcli". do Thornton Wiltíer.Anotar o .seguinte: -só dandoum salto ao desconhecido pode-mor, ter consciência de ser H*vròs". Observação: A mesmaque escrevi, heje h tarde %propósito d'"A Missa tio Si" oSebastião",- de 'Villa-Lobos,

-r Joàri Miro v.!sio por Ca-bral dè Melo Neto, ^José Linsdo Rego comentado por ÁlvaroLins, Canmux o ThornpsomBréton discutido por GlatideMauriac Gide passeando pelo"Journal" de Jiilieh Green. EKafka se confessando 'e sofreu-cio no seu diário íntimo.

XI — Leitura e reíeitura dapequena biografia que Mariado Lòurdes Teixeira escreveusôbrO^Graçá Aranha, para asEdições Melhoramentos, SãoPaulo, 1952. Obra destinada ,*Juventude, é.ssc trabalho da au-tora de'"Alfeu e Arétusa" vemconfirmar, mais uma ve.:, o va-lor dessa escritora, um dos nos-ses melhores ensaístas de hoje.sem favor nenhum. Claro, ob-Jetlvo, linear, escrito num es-tílo enxuto c muito pessoal, na-da mais oportuno do que êssftlivro sobre o autor de "Ganaã'%tão injustamente esquecido pe-Ias gerações novas e novíssimas— o /que por certo não se darácom as gerações vindouras,quando a distância permitiruma exegese sobro a obra da-quele quo escreveu "A Estéti-ca da Vida".

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NEL SENVinheta de SANTA ROSA

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[(Tradução de Vicente Augustus Carnicelli)^' .V- \CERUÜ ALBERI

DOVE PIÚ DOLCI SUONO MICRA

E NASCE CUSTO ALI! PiOGGE

ARVORES CERÚLEAS

ONDE O MAIS DOCE SOM EMIGRA

E NASCE O SABOR ÀS NOVAS CHUVAS,

AD UNA FRONDA, DOCILE

LA LUCEOSCILLA

ALLE NOZZE CON VAMÂ;

DA FRÒNDE, DÓCIL

A LUZ OSCILA

ÀS NÚPCIAS COM O AR;

NEL SENSO Dl MORTE,

ECCOMI, SPAVENTAT© D5AMORE

NO PRENUNCIO DA MORTE,

EIS-ME, ATÔNITO DE AMOR.*3t,

S A XV A T O I Q U A S I M O !) O

Página — 10 L ET R'AS E 71 RT ES Domingo, 15-3-1953—— •»*», •

{Conclusão da 7." pág»)quarl. Porque a téoniCá nutu-rallsta è tôciu exterior a pró-prla vida e os romances estn*vam presos à defesa dumu tesecientifica, já hoje superada,Daí percebermos certo nr doreportagem cm alguns natura-listas de menos talento oumesmo .sentirmos uma vagasensação de tédio diante dostemas cscatológicos dos zolistassem lirismo.

MATTIIENW JOSEPHSON.na obra já citada, transcreveintegralmente, o plano do maiscaracterístico romance natura-lista de ZOLA: I/Assomoir. Doplano, vemos que ZOLA nãoconfiava na imaginação, nemna memória. Tudo ôle anotava.c o livro surgiu aos poucos, poretapas como um feto que segera, cresce c nasce, por forçade sua paciência c vontade.

O método de ZOLA teve aae-ptos c até ainda existe na Amé-rica do Norte um SINCLAIRLEWIS, que trabalha segundo.u modelo naturalista. Ora. umromance assim feito com obscr-varão e método, voltado parafora, teria de servir aos tem-jK-ramcutos plásticos, amantesdas córe.s c cias formas do mun-cto exterior. Em Portugal, porèj&mnlo. a na recém EÇA DEQUEIROZ, FIALHO DE AL-MEIDA. RAMALHO ORTI-GÃO. TRINDADE COELHO coutros. FIALHO ¦ entáo, afirmi»FIDELINA DE FIGUEIREDO,não se interessava pelas almashumanas complexas. Preocupa-«j. apenas, a paisagem ou oscaracteres sem labirintos psico-lógicos. Aqui no Brasil, JÚLIORIBEIRO teve o mérito de di-vulgar o Naturalismo com o ro-mance A CARNE, apesar deartista de pouca força criado-ra, mais gramático que ro-mancisía. Já ÀLUtZIO ASE-VEDO sé rebelou um páisagis-tá .seguidor de ZOLA com ta-lento e . graça. Realizou obrasmerecedoras de apreço: O Mu-lato, o Cortijo, O Homem, Ca-sa de Pensão, todos sob a !n-fluência do autor de Naná. Co-nhecendo-sc a técnica natura-lista; sempre preocupada com oexterior, cpmpreeride-sé fácil-mente como um introspectivo dotipo de Machado de Assis, di-zerído-ee realista, foi, em ver-dade. precursor tío romance mo-demo; que veio evoluindo para-lelamente ao realismo desdeSTENDHAL até GIDE ePROUST. Atina'], mesmo quan-do o realismo de FLAUBERT eZOLA imperavam, já os írus-êos penetravam a alma huma-na. Na França mesmo. STEN-DHAL, embora, apontado por.TÁINE como •precursor do roa-lismo, foi,, naturalmente, umantecessor de ANDRÉ GIDE ouMARCÈL PROUST, analistasda alma humana.

Enquanto a ciência positivaclava aos homens do século XTXa sensação de haverem pene-tradd* tortos'os segredos e re-sorvido todo.s os problemas hu-manos alguns filósofos comoÍJARTMAN e BERGSON, aolado de estetas como BENE-DETO CROCCE, reconheciamque sobejava razão a Hamlet,quando gritava haver,' entre a.nossa cabeça c o céu. muitascoisas que nossa vã filosofiaclsconhccc. Já anteriormente ospoetas, num movimento que sechamou simbolism, quiseramexpressar a poesia ilógica dosubconsciente. Foram eles, semduvida/; os precursores do gran-de movimento intelectual' doséculo XX, que começou naiFrança, com MARINETTI e,com a Semana da Arte Mo-derna, em São Paulo, abriu oadebates para o surto do Moder-ilisrrip. O romance moderno es-tá, sem dúvida, relacionado aomovimento intelectual que gc-rpti o Modernismo. Mas é pre-ciso não confundir RomanceModerno com Modernismo. Mo-dèrhismo foi revolução inte-lectuál contra dogmas literá-rios estabelecidos. Foi EscolaLiterária. O romance modernoê. tão somente, um modo este-tico de fazer obra de arte li-terária fiecionista. Baseia-sq

O ROMANCROM

nos «sludos de BERGSON eCROCCE. na psicanálise deFREUD e também nas escola»dissidentes de ADLER c JUNG.Os romancistas introspectivos,por .temperamento, são ineli-nados a analisar a alma huma-na e a reconhecer que o mun-do só nos parece belo, se nos-sa alma está alegre, e sempreé triste, se choramos. Em todoaos tempos houve analistas daalma dos homens. Já Sófoclcsna Grécia antiga, com AJax,Electra, Édipo é Antígona reve-Ia-se criador do drama psico-lógico. E depois dele, pelos tem-pos adiante, os verdadeiros ar-tistas procuram analisar o prõ-prio homem, porque ao homemsó interessa a dor ou a alegriado seu semelhante. Tudo malac paisagem secundária. O quo

E NATURAANCE MODERNO

LISTA E O

vale, em verdade, são os éter-nos .m i.niiH niciv ódio, amor,inveja, bondade, ciúmes e qunn-tas grandezas e misérias en-chem os almas cm todos ostempos. O romance moderno,portanto, valendo-se de umatécnica mais apurada pela cul-tura do século XX, voltou-semais para dentro, desceu asprofundezas da alma e exploraintensamente o desvão escurodo subconsciente humano. Cer-to de que o mundo interior dohomem é representação de ima-gens e símbolos, a arte moder-na procura traduzir o inefávelaoravés duma linguagem que e.quase sempre, mensagem an-gustiosa de' almas raladas nosofrimento diário. E o*roman-cista moderno, valendo-se depalavras, tenta disser com a

linguagem mulambenta e ira-ca o tumultb interior duma ul-ma sensível, que sofre e desejadar aos seus semelhantes umaidéia do seu próprio mundo,na certeza de que os seus an-seios são comuns a todos. Daí,a meu ver, o gosto que têm osromancistas modernos para ia-lar na primeira pessoa. Iden-tificam-se com os personagense, ossiin, mais facilmente, ana-lisando-se, penetram mais fun-damente na psicologia dos ti-pos que, criam. Outro ponto lm*portante a considerar é ser avida, naturalmente, ilógica. Nãose pode, portanto, querer queos fatos surjam com a sequôn-cia lógica que o raciocínio im-põe. Isto foi visto muito bempor SOMERSET MAUGHAM.quando reconhece, no "AGEN-

O ROMANCE, UMA CITAÇÃO E UM INQUÉRITO MALOGRADO...

(Conclusão da 7.a pág.)ma, e mui judiciosamente, que,"como arte, a linguagem do ro-mance tem sempre uma baseimagistica". Em suma. pela ele-vada consideração em que te-mos o Sr. Cassiano Ricardo,gostaríamos imensamente queéle conhecesse cm conjunto asreferidas notas, cujo título eínplaquete é — "Do leitor de ro-mance".

Ao escrevermos êsse ligeirotrabalho, imaginamos comple-tá-lo com um .inquérito entreleitores, de um laao. e críticosc ensaístas de outro. E íormu-

PM ÉLUARD E â NOVAERAUO FRANCESA

Íamos então uma pergunta queprocuramos reconstituir de me-mória: "A leitura do. romanceproporciona naturalmente umaemoção, como a poesia, a tra-gédia. etc.. Tal emoção tem umsentido estético puro, caracte-rizandorse pelo deleite, pelacontemplação? Ou, ao contra-rio. e sendo o gênero transpo-sição da realidade cotidiana,significa um chamamento, -umimperativo de participação?"Mas o escritor brasileiro é imqn-samente ocupado e apenas a ca-pacidade de trabalho verdadei-ramènte britânica do Sr. Eu-gênio Gomes, nos valeu. Compequenas variantes,, o notávelensaísta de ""Espelho

contra es

pria época. E, a menos que oleitor se decida a partilhar oujá seja partícipe de suas ten-dências políticas, estéticas ououtras, o que o há de atrair se-guramente no decorrer da lei-tura de um romance é a ilusãoda verdade humana, â "base,porém, de uma sinceridade tãopoderosa que.a faça verossímil.Difícil é sem dúvida explicaro que significa sinceridade emarte, mas a percepção de queela existe não escapa à expe-riência do leitor. Está claro quea emoção que o romance pro-porciçma não é semelhante à.deoutros gêneros, como a poesia.Não é simplesmente estética. Acertos aspectos, é a menos pon-

pelho" colocou o problema em . derável. Cada um lá encontra

(Conclusão da 3.u pág.)sclc-t c escrupuloso, não se di-rige senão aos poetas aindanão classificados e lhes dá umaposição que não é de manualnem de estante.

E' justo que comece com Re-né Char, princípado de poesia,domínio de uma beleza que opróprio Éluard, do alte de suaestatura, não dissimulava.Atrás de Char, parece-me qtíoa poesia* francesa de hoje e deamanhã é comandada por ho-meus tão pouco ligados entresi, como sejam Georgés Sehéha-dé, Aimé Césairc. Jean Taráieu,Jeàn Cãyrol c Máurice Fom-beurc. E' uma escolha pessoal,não à mesma de Rousselot,cujo escopo é menos de hierar-cuia. do que de convite a amar.

Mas quão difícil c ingratoera esse còmétimcntó! Acho-osevero para com Prèvert e mui-to cordial para com muitos.O melhor estudo é o de Mi-chaux. Nada se escreveu demais justo e conciso sobre esseinacessível fenômeno. Rousse-lot revela-me a existência deClaudc Vigèe e de Robert Gof-fin, é eu admiro-o por ser ami-go de tantos e tantos poetas.

Poder-sc-ia dar a esse livroo título de — as conseqüênciasdo surrealismo. No fundo, jun-tou os poetas discutidos porqueé discutível, necessário e cora-joso fazê-lo. Eis por que se de-ve ler o livro com o mesmo fer-vor com que foi escrito.

-termos que são. os nossos.- Sua• resposta, que em seguida repro-. duzimos. nos compensa do ln-

sucesso do inquérito, que teria-para os.brasileiros a importãn-cia inédita de' inquéritos damesma natureza realizados naFrança: "A transposição darealidade cotidiana está condi-cionada a vários fatores, entreos quais sobressai a inclinaçãoparticular do romancista pe-rante" a sociedade, a religião, a

. filosofia ou a política. Qualquer tuitri desses elementos pode con-tribuir. e às vezes de modo de-sastroso, para imprimir à ver-dade da vida um colorido dl-ferente. E' fácil aliás apreendera força de um romance, quan-do, passada a fase mais agudada interferência de - certos fa-tores aleatórios,'.-a "gente

podeencontrar em seu bojo o quesempre perdura numa obra li-terária: a marca do espíritocriador, que, em sendo legítl-mo," se afirma soberanamente,não importa qual seja a intenrção particularista ou sectaristado autor".

"Afere-se o poder dessa fôr-ça no romance pela soma deconhecimentos da natureza hu-mana, e não apenas pela arte.Assim é que várias passagensde Flaubert. trabalhadas sob amais intensa febre de perfel-ção artística, são hoje tão friascomo peças de museu, ao passoque um romance sem estilo eaté sem gramática pode conteraspectos, personagens e cenascapazes de sobreviver à sua pró-

o que quer ou o que não quer.E' um gênero superior a quais-quer regras e. como a vida, queêle procura refletir, pode ofere-cer direções as mais opostas".

CS DRAMAS DE IBSENE ÚS ROMANCES DE SELMA

ÉÊÊ(Conclusão da G.a. pág.)

de "dez mil beijos e de trezemil cartas de amor", como êlepróprio se intitula, encho de en-tusiasmo todos os corações es-candinavos. Encarna na sua ai- 'ma complexa o espírito deaventura e a intensidade dafantasia romanesca clüma raea.Mas para nós, para a nossa sen-

l sibilidade de latinos é tão in-compreensível como um papirocoberto de hicroglifos, E* quecertas expressões da língua sue-ca, e precisamente aquelas quedão aos fatos o verdadeiro sig-'nifiçado, são iniraduzíveis, por-que para exprimirmos dètermi-nados "sentimentos" que nãoexistem na nossa alma, recorre-mos apenas a cviivalêndas quedesfiguram e alteram o sentidointimo.

Quer se trate duma obra cria-da pelo cérebro dum filósofo ouduma obra imaginada pela ai-ma dum poeta, a literatura es-candinava só pode dar à Ima-ginação desta raça uma porçãode sonhos. ¦-•—•'.

A TORREHUGO TAVARES

TORRE INDEFESA. MAL INCUBA E ABRIGANA RESINA DO TEMPO ACUMULADOESTE ONDULAR DE VERDE, E A FORÇA

. r ANTIGADE UM UNIVERSO MAIOR, DESORBITADOPÁSSAROS SECAM LUZ NO CHÃO PISADO.E SOFRE O SER SEM SER, SE FONTE AMIGAALONGA OS PARALELOS NO PASSADOE TORTURADAS SOLIDÕES, IRRIGA

l MATÉRIA DISSOLUTA ABERTA AO FRUTO.EM SONHO E SONO REPOUSANTE A MEDOCOBERTA DE LUNUGEM E CREPE E LUTO.RECOMPÔ-LA TALVEZ DO QUE RESTOUDA FORMA ESTRUTURADA, fi TARDE OU

[CEDOAO IMPONDERÁVEL SER QUE JÁ NAO SOO

TS BRITÂNICO", que u vidaé ilógica, mas o leitor e.xlgoque ou fatos, no romance, sejamlógicos! Pois Justamente pre-tendeu o romance moderno, aomenos os .grandes mestres cu-\.flmo JOYCE ou PROUST, que- *brar o aspecto lógico da feiturado romance. Se o romance ótentativa de apresentar um pe-daço da vida, ou mesmo a vidaintegral, como pode ser lógicona seqüência dos capítulos, soa vida, matéria básica do ro-mance. por si mesma é confusae desnorteante? Daí o aparem-te desalinho da prosa de umJOYCE. que se íorna aindamais difícil quando traduzidoPROUST mesmo, apesar daterrível lógica da lingua fran-cesa, não é fácil de ser verti-do. Assim, dia a dia. os ro-mancistas modernos se apro^p*.ximam dos poetas, ou melhorjá os poetas e romancistas mo-dernos surgem unidos num sóartista. Todos procuram o éterno da alma e querem, com

'

pobre linguagem humana, ex-primir o inefável que exisli-ainda nos recônditos do ser. i

(Continua no próximo número ' jfèl_J fy

PAULO HECKER FILHO— o crítico

. Conclusão da 4.:i pág)estudo da obra poética do gran-de poeta de "Mensagem", JoãoGaspar Simões foi de uma in-compreensão, de uma falta desensibilidade incomensuráveis.Deu a impressão de que quemescreveu o b'vro sobre o "Supra-Camões" foi um inimigo c nã<»amigo do poeta. Aliás, é preeí-so chamar a atenção para a ín-capacidade de João G. Simõesde fazer crítica de poesia. A suafalta de sensibilidade, demons-trada em recentes artigos, é ai-go de escandalizar qualquer lei-tor mediano. Escrevendo sóbrepoetas brasileiros, principalmcn-te .sóbre os jovens, vê-se clara-mente que Gaspar Simões, levaem conta a posição pòlííieo-li?terária dos poetas, elogiando osfreqüentadores de suplementose não o fazendo com os que tti$Sles estão afastados. Aliás, as1suas opiniões nada acrescentam!à crítica brasileira, pois comfijlquase todos os críticos r.aciosiais, o sr. João Gaspar Simõesé- também um crítico parcial, e,como' já afirmei, de uma mons-truosa falta de sensibilidade pa-ra a poesia. ¦

A correspondência de Paxd»Hecker Füho com o crítico paü1'lista Sérgio Milliet vem revelaralgumas verdades, entre elas ada complascêneia de Sérgio pa-ra com a mediocridade e a mis-tificaeão: Vítima da p r ó p r i abondade, Sérgio Milliet elogiou,demasiadamente, estimulou es-treantes medíores- e vulgares epara alguns autênticos foi deuma aspereza e hegatividade atoda prova. Os estreantes me-díocres acreditaram em suas pa-lavras, mas os outros não. A.sua ternura demasiada para comos jovens prejudicou-o sensível-mente. E a correspondência ago-ra publicada neste livro de Pau-Io Hecker Filho (as respostas»de Sérgio sairam publicadas no»n. 3 da revista "Crucial") pfte;a nú algumas confisões do pró-prio Sérgio Milliet, onde o mes-mo reconhece a sua falta, ',)

Há muito ainda o que co-*mentar a discutir neste "A al~guma verdade", de Paulo He-ker Filho. Não sei até onde sei<autor chegará. Com menos datrinta anos deu provas de seutalento múltiplo, de seu espíritosempre insatisfeito consigo mes-mo e que traz a marca autênti-«a do escritor torturado, deses;perado com os problemas hu-manos e espirituais. Que umoutro espírito mais compreensí-'vel .perceba o seu real valor, 4que infelizmente não tem acon*tecido até agora. O silêncio ewrelação a "Paulo Hecker Filhatalvez seja o resultado da' suaiiatitudes sinceras e agressiva^que revelam o seu desprezo pe?'elogio fácil e gratuito

ir?

J.

Domingo, 1^-3-1953 [LETRAS E ARTES Página — II \ -1—.-

ms PANORAMA LITERARIQâ-.: «. ' '' <:;.- .¦#'.*¦'•'¦<¦¦'¦ ¦ ' \ ¦•'vi.¦ ¦¦¦ •&¦'¦

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Um livro de João Neves da FontouraKm edições de Caderno Cultura,

acaba do wr apreaciUndo o livro•poeira de Palavras", üe João Ntveada Fontoura. Trata-se de uma sele-efto do discursos pronunciados peloautor em diferentes épocas. Na suafecunda atividade política e, cívica,imprime sempre ao quo escreve amarca do bom gofcto, do um estilotorso, de aprimorada qualidade lite-íiirla. Ab orações de quo loram retl-rados os trechos do presente volumetiveram, quando pronunciadas, Idéias,-pensamentos o reflexões que lmpll-cam um grande amadurecimento doespírito e so enquadram no que -tiomali genuíno possuímos em matériade literatura política.

"A ilha", novela de José Condeo escritor José Conde esta concluindo a sua anunciada

,„.,„,„ ..A nha". Anuncia-se, a propósito, que a editorafíalllmard, de Paris, vai editar uma tradução das »h ato-

rias da Cidade Morta", Uvro que obteve o prêmio Faoloprado de ficção. ^L'íi*»ÍÍ:iiii*>»"Tendências espiritualistas do modernismo ,>'. de Renato Rocha

Está no prelo o ensaio de Renato Roclia "Tendências

Muirltuallstas do modernismo", sõbrc o qual, alias, UA pou-,-o so pronunciou o critico Tristáo dó Athayde. Trata-*s de,m estudo dos mais serenos e profundos até agora tentado»'"bre

as correntes espiritualistas que influenciaram o movi*-uuito modernista brasileiro. ; fJ

Número especial de 'Revista Brancadedicado á Jones Rocha

Deverá circular nos próximos dias o número especial* "Revista Branca", dedicado a Jones Rocha, jovem es-¦vitor recentemente falecido. Nesse número serão eatarn-Ícos além de trabalhos de ficção; poesia e ensaismo deíones Rocha, diversos depoimentos de seus companheirosd0 reviste^^v

Je So|„ de pauJo gonfimApareceu novo livro de Paulo Bonfim, um dos bons

Mementos com que conta a nova geração do poetas e que,íá doís anos atrás, havia publicado "Transfiguração",

avhíbém poemas. Em artigo publicado na "Gazeta^ de S.Paulo. Menotti dei Picchia fez lisonjeiras referência? a'•Relógio de Sol".1"As Elites Agressivas" de Djacir Menezes

pela Organização Simões saiu o livro de Djacir Mene-ros "As Elites Agressivas", em que se estudam as místicasnxoclernas no campo da economia e da política, e sem nu-íicla um dos trabalhos mais importantes aparecidos ulü-mamente no campo da filosofia política Em 1950, publicouDjacir Menezes o estudo "Crítica Social de Eça de Quel-rós", já esgotado.«Ciranda de Pedra", de Lygia Fagundes Telles

Em meados dêste ano, deverá apa-

recer o romance- de Lygia Fagundes

Telles, "Ciranda de Pedra", em edi-,

ção de "O Cruzeiro". A consagrada

contista cie "O Cacto Vermelho", li-

vro premiado pela Academia Brasiiei-

ra de Letras, deverá assim estrear no

romance com üm trabalho que, cie ari-

temao, se afigura da maior impórtan-

cia para a nossa ficção.

Encerradas as inscrições para os Prêmios doIV Centenário de São Paulo

Kncemram-Hfi ns inscrições para os prêmios comemora-ti vos do IV Centenário de São Paulo. Esses prêmios, que bAo .on mais altos até hoje concedidos no Brasil, despertaram omaior Jnteresco em todo o pais, scudÔ avultado o númerodu concorrentes.

"O Homem e a Religião'*Dentro do algum tempo será lançado o primeiro vo-

lume de um.1, história das religiões, da autoria de Uer-nardino Carvalho. "O homem e a religião" — assim sointitula* o referido ensaio — abrangendo um largo pano-rama da evolução social do Ocidente, a partir de suas orl-gens antigas, propõe-se a analisar as várias formas por quovem passando o esprlto místico dos povos. Trata-se, polo,de 13H1 estudo histórieo-filasóflco em quo o autor, antigoaluno de remlnárlo e, portanto, Iniciado na disciplina v.eo-lógica, revela conhecimentos de antropologia, ^associados

,-(, Hnálise sistemática das religiões

Trilogia poética de Edgard BragaEm seguimento a "Albergue do Vento", que assinala a

integração definitiva de Edgard Braga nas correntes maismodernas da poesia brasileira, deverá o poeta lançar, pro-xlmameijte, maÍ3 dois volumes, que irão constituir uma trl-logla, dentro da linha estética e poéMca.do "Albergue doVento' *f .-»

"Cântaros Vazios"O poeta Waldir Ribeiro do Vai. que estreou em 1930

com o livro "Orvalho", acaba de publicar nova coletâneade versos sob o titulo "Cântaros Vazios". O volume, quetraz capa de Haroldo Zaluar, foi lançado pela Editora ' ANoite".

"O Jogral Caçurro'. de Darcy Damasceno ;O poeta Darcy Damasceno, um d03 diretores da revista

"En-saio" e figura destacada na poesia da nova geração, de-verá tirar em edição limitada, fora do comércio, uma pia-quete de poemas intitulada "O Jogral Caçurro". Excetuan-do essa plaquete, o poeta não pretende lançar tão cedo ne-iihum livro, embora esteja trabalhando em dois deles. "A

Vida Breve", último volume publicado por Darcy Damas-tieno", teve a sua tiragem esgotada.

Antologia da poesia, organixada por -Élcio Xavier

O poeta álcio Xavier, quo nos deu, no mês passafl»"Rosaquarium" e cuja estréia, com "O Véu da Manhã", ahcangou aceitação unanimo por parte da crítica, está orga-nizando uma antologia de poesia, a ser editada pela -Re-

vista Branca". A reíericta coletânea sairá com prefacio ueFausto Cunha.

mm W%m

'Ler", de janeiroMuito bom o número de janeiro de "Ler", jornal ãfi

literatura e arte que se publica em Lisboa, sob a clire-cão de Francisco Lyon de Castro. O número em apreçopublica, entre outras, colaborações de Teixeira de Pas-coaes, Pedro da Silveira, Antônio Quadros Álvaro Sa-lema, Delfim Santos, Jorge Ramos, Jaime Cortesao, To-más Ribas, etc.

Obras Completas de Marques RebeloAs edições "O Cruzeiro" vêm publicando as Obras

Completas de Marques Rebelo. Já foram W«J%: efedição uniforme, o romance "Marafa" o o volumj^ccontos. "Oscarina". Agora, esta programado o

JP,Viec'mento de nova edição de "Stela, me abriu a poiU volume que reúne alguns dos melhores contos de MarquesRebello. !

tradução francesa de "Ivíargarida

La Rocquc"Continua recebendo n meinor .

lhld'i i>or prute cUi critica francesa atradução do belo romance de DlnahSilveira de Queiroz. "L'Ilo aux Dé-mons". feita pela escritora franco-brasileira Almée Gama Pcrnandcn.Agora, por ocasião do prêmio Instt-tuldo 'i»ra ÚndUÇÕes de livros estran-gclrcs.*no primeiro escrutínio, o livrodo Dlnah Silveira de Queiroz foi colo-cado entre os doze melhores.

"Além dos Marimbus", romancede Herberto Salles

Denoia de "Cascalho", cuja segunda edição, lntclrameu-to refimdida, obteve êxico, de critica e do Uvrarla, aindamaior que o'da primeira, lançará HerbertoJBaUes seu se-

.gundo romance, intitulado "Além dos Marimbus .

Os prêmios de contos de "Letras Fluminenses'*Obteve o maior êxito o concurso de contds^j^tjtuido

por "Letras Plumlnense-5". Jornal literário do Niterói. Co-mo Jã noticiamos, o primeiro prêmio coube a SamuelRawet com o trabalho "A Visita". O secundo c tercehoprêmios, respectivamente, do dois mil e mil cruzeiros Í0-íam levantados por Lucy Teixeira e Alphousus Gulma-racns Pilho.

bcnweitzerDepois de "Decadência e Regeneração da Cultura**,

de Albert Schweitzer, a Melhoramentos vai publicar, doeminente filósofo, filantropo, médico, musiçlsta c escri-tor. a história de sua juventude."O Parque e Outros Poemas", de Alberto

da Costa e SilvaJá está sendo impresso, na prensa manual da "Revista

Branca", pelo poeta Elcio Xavier, o livro de estréia deAlberto da Costa e Silva, intitulado "O Porque e OutrosPoemas". Alberto da Costa e Silva é filho de Da Cos a oSilva, de quem lançou, há pouco, as poesias completas.

Os Prêmios Nobe!Em lançamento das Edições "O Cruzeiro'*, vem de sei

nublicado "Os Prêmios Nobcl". de autoria de J. S. Ribel-ro Filho. O livro conta a história do instituidor do Pre-mio Nobel e focaliza os diversos escritores, diplomatas «cientistas'já contemplados com a importante laurea.

Livro de poemas de MarionitiSm lançamento da Livraria José Olymplo Editora, vem

de ser publicado o volume de versos, "Amor! Fonte, daVida!...", de autoria do Maria Paga no Botana (Maxion),

Brito Bfoca prepara uma antologia do

modernismo

Brito Bròca, indubitavelmente, an.„das noâías figuras mais autorizadaaem coiõas literáriíifí, está preparandouma antologia do modernismo, a sairdentro de um ano, na qual reuniráãs página.'; mais expressivas de nossapresa e poesia modernas. Além dessaantologia, Brito Broca está ultimandoum alentado documentário Éôbre omovimento modernista brasileiro, aser publicado polo Serviço de Doou-mentação do Ministério da Educação.

rr í:aiawmmM msm li!O "Diário ele Minas" está sain-

ao, ac:-. domingos, com um suple- .mento literário dos mais interes-santes e variados. Esse suplemen-co esteve até agora a cargo do poe-ta Afonso Ávila, um elos diretoresda revista "Vocação", tendo comocolaborador o cronista e criticoFábio Lucas. Além da matéria as-finada, o referido suplemento trazduas boas seções intituladas "Tn-buna elas Letras" e "Ronda dosSuplementos. Jornais e Revistas' ,á cargo de Fábio Lucas e AfonsoÁvila. Esses dois jovens, figurasdas mais expressivas da nova- ge-ração mineira, deram ao suplemen-to cm questão uma fase de grandebrilho, tornando-o um dos m«-lhores do país.

C REGRESSO DE AURÉLIOBUâRQÜE DE HOLâHDá

Após vários meses de permanên-cia na Europa, regressou o esêri-tor Aurélio Buarqtie de Holanda.Nojticiá-sèi a propósito, que umaeditora de Portugal, manifestouinteresso na reedição cio livro ciecontos "Doiô Mundos", há muitotempo esgotado. Todavia, essareedição jâ está confiada a uma

editora brasileira.

wmm âs opiniões ¦E u úueu

de wm'

mmámmmweaBmmÊmmã» tm^waaaranscaosr

MAURIAC CONTRA A NRF^ Voltou Mauriac a investir contra a NRF,

chamando-a inclusive de "velhinha care-ca". O recém-laureado com o prêmio MobeJataca, também, companheiros de geração. En-quanto isto, sai novo numero da NRF.

THOMAS MANN MA SÜSÇAa Thomas Mann, que se estabeleceu,' parece

que definitivamente, na Suiça, acaba de

publicar, em edição restrita, destinada so aos

amigos, um ensaio intitulado "Elogio do E£ê-

mero" em que expõe uma filosofia um poucocépticá, cheia de ironia, ligada à tradição.doselogios erasmianos. Declara Mann que admnao efêmero em antítese ao imortal e a0 eterno,

enfadonhos poroue.invariáveis. Para ele, nacta

há de mais precioso que a fugacidade das coi-

sas- é a alma verdadeira d.i existência, que ihe

confere seu valor, sua dignidade, seu interesse.O efêmero nos dá a noção do tempo, conclui

o romancista de jose do E;;d:o __AM_CARTAS INÉDITAS DE FRANZ

KAFKAe Foram publicadas as cartas inéditas do

Kafka a Milena, jovem jornalista de J^ra-

ga, a quem Kafka conheceu quando ja se acna-

va tuberculoso, e oue fora cortejada por muUos

immwJ

escritores como Franz Werfel, Kapek, c ou-tros 'A correspondência é de grande ternurarevelando Kaíka, nessas missivas amorosa?, tu-

do quanto sentia e não ousava confessar. Gomo

sempro, o prefácio -c de Mas Brod.

EXPOSIÇÃO DE |EAN COCTEAU@ Exposição de Jean Cocteau em Nice. 25

pinturas feitas entre 1951 e 1952 c uma ta-pecaria "Judith e Holofernes". , Diz-se queCocteau decidiu passar a residir, definitivamen-to, em Nice. Enquanto isso, Picásso e Chagai]trabalham no mesmo ateliér em Venço, noMeio-Dia.

A ESTÉTICA DE KANDINSKY® Saiu a 2a. edição do livro, de Kandinsky

"Du Spirituel dan.s 1'Arfc et dans Ia Pein-ture en Particulier''. A primeira edição, deapenas 300 exemplares numerados, havia apa-recido em 1949. Na tiragem lançada, agora,pelas Editions de Beaune, além das ilustraçõesdo próprio Kandinsky, há ainda um postiáciode Charles Estienne. O livro fora escrito em1010, tendo sido originar .«mente lançado em1012, com uma nova edição no mesmo ano, am-bas'em alemão. O livro, já traduzido para oinglês-, o italiano, o russo (em parte), tem ago-ra a sua segunda edição na tradução francesa.

O último Uvro de Jorge de Li-ma, "Invenção cló Õrfeu", conti-nua muito discuticlQ. Dèpbís daaprimeiras opiniões francamentefavoráveis, começa ma aparecfjr oacríticos que negam inteiramente opoema como Péricioj Eugênio daSilva líamos e Menotti elel Pie-chia. Do outro lado ne contamnomes importantes como MuriiluMendes, João Gaspar Simões, Luiz.Òanatarava. Essa dlyergêiacla dojuízos é bem o reflexo do interes-se ciue o poema vem KUHcitanüo.

.riO poeta Menotti dei Picchlr»

voltou k critica literária, manben-do agora \ivc\a seção cm "A Gáze_-ta" de São Paulo. Trata-se de umdo nossos intelectuais mais ocupa-dos, pois acumula fünçõea dodeputado e critico com as suasocupações de poeta e acadêmico.

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Faleceu na Califórnia o escritòlWalter B. Pliklng, autor de "iJvicia começa aos 'quarenta", livratraduzido

' para vários línguas.

E.sj!) "best-seller", que não é pro-prlamento uma obra literária, tor-«ou Pitking famoso no mundo in-telro, tendo suas Idéias educativasio.i-ádo certo csito social.

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'\*DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 1953

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0 VENTO ESTÁ PASSANDO SOBRE A Ml NHA CABEÇATRAZENDO 0 PERFUME DAS FLORES ;QUE NASCERAM ANTES DE MIM. . '

DEVE SER 0 MESMO QUE ACOMPANHA A MORTE,AQUELE QUE SE APROXIMA INESPERADAMENTEDESPETALANDO AS COROLAS AO SURGIR DA NOlTPO MESMO QUE BALANÇA OS CIPRESTES 'SOBRE OS TÚMULOS SEM INSCRIÇÃOAQUELE QUE AFUGENTA AS NUVENSPARA O SEIO DAS TREVAS,O QUE TRANSPORTA NA MADRUGADA

'¦¦

O CHORO DAS CRIANÇAS ENFERMASPARA O INFINITO SILENCIOSO,O QUE-SURGE COM A ESPERANÇA E A PAZAC CAMINHANTE DOS DESERTOS.Ç VENTO DOS TEMPOS ESTÁ PASSANDOE COM AS SUAS MÃOSESTÁ DESPREGANDO AS ESTRELASCOS OLHOS DA NOITE

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