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Levantamento Geológico de Pormenor da Pedreira Sul da Serafina (Parque de Monsanto, Lisboa) para fins de Reabilitação Urbana

Detailed Geological Field Survey of the Serafina Quarry (Monsanto Park, Lisbon) for Urban Rehabilitation

Águas, C.1, Costa, C. N.2, Caetano, P.3, Vendas, D.4, Almeida, J. A.5, Verdial, P.6, Kullberg, J7

1,2 Egiamb, Consultores, Lda, Lazarim, Portugal, 2,3,4,5,6,7 CIGA, FCT/UNL, Quinta da Torre, Portugal, 1cesaraguas@yahoo.com, 2cnc@fct.unl.pt, 3pcsc@.fct.unl.pt, 4daniel@ciga.fct.unl.pt, 5ja@fct.unl.pt, 6hasse@ciga.fct.unl.pt, 7jck@fct.unl.pt

SUMÁRIO Nesta comunicação apresenta-se o estudo geológico que foi elaborado para a Pedreira Sul da Serafina no Parque de Monsanto em Lisboa, com vista à definição das condições para a sua reutilização como área de actividades lúdicas. Elaborou-se um mapa de prevenção de riscos da pedreira. Faz-se uma proposta para a classificação do local para património geológico municipal.

Palavras-chave: cartografia, geologia, pedreira, riscos, património geológico municipal.

SUMMARY This paper presents the geological study that was carried out at the South Quarry of the Monsanto Park in Lisbon, with the purpose of defining the condition for reclaiming the area for recreational activities. A prevention hazard map was created, and a local geodiversity patrimony was proposed for this site.

Key-words: cartography, geology, quarry, hazards, local geodiversity patrimony.

__________________________________________ Introdução Esta comunicação apresenta o levantamento geológico de pormenor efectuado para a Pedreira Sul da Serafina, localizada no Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, requerido pela Divisão de Matas – Espaço Monsanto, com o propósito de efectuar um parecer sobre a possibilidade de reabilitação de uma antiga pedreira abandonada, com problemas de estabilidade e risco de queda de blocos, enquadrada num local problemático, onde coexistiam actividades marginais e de lazer. O projecto consistia assim em reabilitar a área degradada, do ponto de vista social e recreativo, numa zona de actividades lúdicas, em condições mínimas de segurança, com a implementação de equipamentos para desportos radicais, como escalada e sliding, e zonas de merendas.

Geologia Trabalhos de Campo De modo a obter a melhor caracterização do local do ponto de vista geológico e geotécnico, procedeu-se à realização de trabalhos de campo que consistiram na recolha de elementos geológicos e geotécnicos, como sejam a litologia, estado de alteração do maciço rochoso, características estruturais, atitudes, espaçamentos, aberturas, enchimento e persistência (ou continuidade) de fracturas, de acordo com as normas propostas pela SIMR (Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas). A pedreira apresentava condições de difícil acesso e em segurança para observação e medição de parâmetros geológicos, nomeadamente nos taludes que a constituíam com cerca de 20 metros de altura, tendo de se recorrer para tal, a um veículo de uma corporação de bombeiros equipado com uma grua móvel, que permitiu a cobertura dos trabalhos de campo em todos os locais, em situação de excelente observação e segurança (Figura 1).

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Figura 1 – Condições de acesso aos afloramentos para a realização do levantamento de campo. Geologia e Estrutura A geologia regional da área de estudo interessa predominantemente formações carbonatadas do Cretácico, que se encontram limitadas a Sul, e a Norte, por rochas vulcânicas do “Complexo Vulcânico de Lisboa”. Em termos locais, os trabalhos de campo realizados identificaram as seguintes formações geológicas, da base para o topo [2]: a) Cenomaniano médio (C2

c) – calcários margosos com intercalações argilosas ou argilo-margosas, por vezes muito plásticas;

b) Cenomaniano superior (C3c) – calcários

cristalinos apinhoados; c) Depósito detrítico (pós-cenomaniano, recente) –

constituído por elementos detríticos carbonatados, muito alterados.

Com base nos levantamentos geológicos de pormenor foi elaborada uma carta geológica local, com relevância para os aspectos litológicos e estruturais, que se apresenta na Figura 2. Figura 2 – Carta geológica local da Pedreira Sul da Serafina

Nas figuras 3 e 4, observam-se as formações presentes nas frentes que se encontram voltadas para sudoeste e sul respectivamente. As formações cenomanianas apresentam atitude geral de N60ºE 7ºSE. Regra geral, as camadas inclinam nos taludes da pedreira no sentido do maciço, o que é favorável à não ocorrência de escorregamentos. No entanto, existe um talude com dimensões (altura e largura) mais reduzidas, que se encontra orientado para Este (ao contrário dos restantes que se encontram para Oeste e Sul), e no qual as camadas existentes inclinam para o exterior do talude, constituindo um factor favorável à ocorrência de deslizamentos de rocha. Figura 3 – Depósito detrítico sobrejacente às camadas calcárias muito alteradas do Cenomaniano superior (C3

c). Figura 4 – Calcários cristalinos apinhoados do Cenomaniano superior (C2

c) sobrejacentes aos calcários margosos do Cenomaniano médio (C2

c). No que respeita à tectónica local, importa referir a ocorrência de uma falha inversa, que corta os taludes a Nordeste da pedreira (F na Figura 2) e que, em alguns locais, constitui a base de consolas de dimensões importantes. A falha apresenta uma atitude média E-W 20ºN, inclinando para o interior dos taludes, (Fotografia 5) não constituindo por isso um elemento favorável à ocorrência de movimento de rotura.

F

F

C3c

C3c

C2c

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Figura 5 – Plano de falha inversa, constituindo base de consola (delimitada a tracejado). Contudo, devido à elevada continuidade da superfície de compartimentação da falha, constituir por si só uma consola de dimensões muito significativas e, ao facto de ser preenchida por material argiloso, esta deve ser tida em conta quer na estabilidade global do maciço quer na estabilidade do talude que comporta a consola acima referida. Localmente, em quase toda a frente voltada a sudoeste, existem consolas com dimensões importantes. Os seus blocos, de dimensões bastantes consideráveis, encontram-se geralmente fracturados por diaclases (definidas pela estratificação) apresentando continuidades importantes. Na Figura 6 observa-se um pormenor de uma consola representativa da frente voltada a sudoeste que exibe: elevado estado de fracturação (F4-5); diaclases abertas (> 10 mm); persistência de diaclases muito elevada a “completa” (95 a 100%); diaclases sem enchimento; consola com balanços bastante importantes (entre 1 a 3 m). Figura 6 – Consola bastante diaclasada, com continuidade e abertura muito elevadas. A realização de cartografia geológica de pormenor conjugada com o levantamento das características estruturais do maciço permitiu a identificação de zonas de risco de queda de blocos, alguns dos quais em estado de equilíbrio limite, necessitando intervenções urgentes para reforçar a sua estabilização. Estas medidas poderão passar, nos blocos de maiores dimensões, por colocação de pregagens em sitos específicos dos mesmos, e nos de menores dimensões, proceder à sua fixação através

de redes de malha de aço pregadas próprias para o efeito. O depósito detrítico (ver Figura 2) é também gerador de potenciais instabilizações, sendo o seu reperfilamento, com a remoção da bordadura dos taludes até cerca de 2 metros, uma medida importante para prevenir queda de blocos. Análise Estereográfica Com o propósito de identificar possíveis variações das características das fracturas ao longo da pedreira, procedeu-se ao tratamento estatístico, através da representação em projecção estereográfica em 3 sectores distintos – 1, 2, e 3 (Figura 7). Figura 7 – Mapa de projecção estereográfica. Foram identificadas, por sector, três famílias principais de diaclases (excluindo a estratificação), frequentemente ortogonais entre si. No sector 1 identificou-se uma quarta família de diaclases, mas de baixa densidade (tabela 1). Tabela 1 – Atitude dos taludes e principais famílias de diaclases por sector.

SECTOR TALUDES FAMÍLIAS DE DIACLASES

1 A – NS 90º B – N60ºE 90º C – N60ºW 90º D – N80ºE 70ºNW

F1 – N75ºW 87ºN F2 – N2ºE 80ºW F3 – N26ºE 70ºNW F4 – N57ºE 87ºNW

2 E – N43ºW 80ºNE F – N40ºW 88ºSW G – N30ºE 90º

F1 – N65ºW 86ºSW F2 – N2ºW 87ºW F4 – N42ºE 86ºSE

3 H – NS 90º I – N16ºW

F2 – N16ºW 84º W F4 – N56ºE 87ºNW F5 – N84ºE 86ºN

1 m

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Prevenção do Perigo A pedreira contém vários perigos significativos para a segurança de pessoas e equipamentos, resultantes principalmente de queda de blocos de taludes, desabamento de terras e perigo de queda em altura por possibilidade de circulação junto da crista dos taludes. De modo a prevenir possíveis acidentes, foram consideradas as seguintes regras de segurança: 1. Prevenir desabamento de terras e quedas de

blocos: • Remoção de vegetação; • Saneamento de terra existente na bordadura dos

taludes até distâncias de pelo menos 2 m; • Saneamento dos taludes com blocos e solo

soltos; • Colocação de uma vedação de segurança na

base dos taludes pertencentes à Zona de Risco III [3], com sinalização de perigo de queda de blocos;

• Uso de capacete de segurança ao circular na proximidade da base dos taludes da Pedreira.

2. Prevenir o perigo de queda junto aos precipícios dos taludes: • Colocação de vedação de segurança nos bordos

dos taludes com sinalização de segurança de Perigo de Queda em Altura.

De acordo com regras acima descritas, foi elaborado um mapa de prevenção com base numa carta de perigos derivada de uma carta de zonamento geotécnico [3] (Figura 8).

Figura 8 – Mapa de prevenção da segurança. Proposta de Classificação para Património Geológico Municipal A Geodiversidade engloba a grande variedade de rochas, fósseis, minerais, geomorfologias e solos que ocorrem no nosso planeta, no qual os processos

naturais moldam as formas das paisagens. Noutras palavras, o termo Geodiversidade reflecte toda o espectro de processos e características geológicas e geomorfológicas. Alguns destes fornecem combinações de benefícios sociais, económicos e ambientais para a nossa sociedade [4]. Assim, a conjugação de importantes factores geológicos na pedreira, tais como o excelente afloramento de formações do Cenomaniano Superior, história do local como antiga indústria extractiva que fornecia matéria-prima para monumentos de Lisboa e arredores, boas vias de comunicação e acessos, inserção num ambiente de lazer e turístico como é o caso do Parque da Pedra em Monsanto (actual nome da pedreira depois de construído o projecto de diversões) (Figura 9), constitui-a num local ideal para ser classificação de Património Geológico Municipal, onde uma grande variedade de pessoas, desde crianças a idosos, desportistas, turistas, estudantes e investigadores, teriam excelentes condições para observar e compreender a importância geológica deste local. Figura 9 – Parque da Pedra, antiga Pedreira da Serafina em Monsanto. Referências Bibliográficas [1] Almeida, F. M. – Carta Geológica do Concelho de

Lisboa. Escala 1:10 000. Folha 3. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 1986.

[2] Zbyszewski, G. – Carta Geológica dos Arredores de Lisboa na escala 1:50 000. Folha 34-D (Lisboa). Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 1963.

[3] Águas, C., Costa, C., Caetano, P., Vendas, D., Almeida, J., Verdial, P. – Estudo Geológico e Geotécnico das Pedreiras da Serafina (Parque de Monsanto, Lisboa). 10º Congresso Nacional de Geotecnia. FCT/UNL. In press.

[4] English Nature, Quarry Products Association and Silica and Moulding Sands Association – Geodiversity and the minerals industry –Conservation our geological heritage. Entec UK Ltd. 2003.