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MÁRIO CESAR DO NASCIMENTO BEVILAQUA LIBERAÇÃO DE GABA INDUZIDA POR AMINOÁCIDOS EXCITATÓRIOS: CARACTERIZAÇÃO E EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO EM RETINA DE ROEDORES DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (BIOFÍSICA) Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho 2008

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MÁRIO CESAR DO NASCIMENTO BEVILAQUA

LIBERAÇÃO DE GABA INDUZIDA POR AMINOÁCIDOS

EXCITATÓRIOS:

CARACTERIZAÇÃO E EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO

EM RETINA DE ROEDORES

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO VISANDO A OBTENÇÃO DO GRAU DE

MESTRE EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (BIOFÍSICA)

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Ciências da Saúde Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho 2008

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Bevilaqua, Mário Cesar do Nascimento. LIBERAÇÃO DE GABA INDUZIDA POR AMINOÁCIDOS EXCITATÓRIOS:

CARACTERIZAÇÃO E EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO EM RETINA DE RATO /

XI, 98/f Dissertação: Mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica)

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), 2008.

Orientação: Patrícia Franca Gardino e Karin da Costa Calaza. 1. Retina 2. Glutamato 3. GABA 4. Aminoácidos excitatórios 5. Desnutrição

O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Neurobiologia da Retina do programa de Neurobiologia do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ sob orientação da Professora Patrícia Franca Gardino e co-orientação da professora Karin da Costa Calaza (UFF) na vigência de auxílios concedidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), Conselho de Ensino para Graduados da UFRJ (CEPEG-UFRJ), PRONEX e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

LISTA DE ABREVIAÇÕES

AAE – Aminoácido excitatório

ASP – Aspartato

CCG – Camada de células ganglionares

CNI – Camada nucelar interna

CPE – Camada plexiforme externa

CPI – Camada plexiforme interna

DA – Dopamina

DBR – Dieta básica regional

GABA – Ácido gama-aminobutírico

GABA+ - GABA positivas

GABA-IR – Imunorreatividade para GABA

GAD – Ácido glutâmico descarboxilase

GAT – Transportador de GABA

[3H]-GABA – GABA tritiado

KA – Kainato

NMDA – N-Metil-D-Aspartato

SNC – Sistema nervoso central

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por ter me concedido a oportunidade de

desenvolver este trabalho.

Agradeço às minhas orientadoras: Patrícia Gardino (Paty) e Karin Calaza! E

aproveito para parabenizá-las por desempenharem tão bem esse papel. Agradeço por serem

tão pacientes comigo, mesmo quando eu perguntava “posso não estar entendendo???”.

Muito obrigado!

Agradeço à minha família. Meus pais: José e Raquel, meus irmãos: Marcos, Márcio

e Cecília. Minhas tias Vilma e Hosana e meus primos. Muito obrigado pelo apoio!

Agradeço a todos os meus amigos! Em especial: Fernanda, Ilduara e Bárbara

(amigas da época da escola), muito obrigado pelos conselhos e companheirismo! Ainda:

Anna Claudia (minha sempre orientadora!), Gisele, Cristiano e Camila (amigos de

laboratório).

Agradeço a todos os componentes dos Laboratórios de Neurobiologia da Retina e

Neuroquímica. A ajuda de vocês foi indispensável!

Agradeço em especial aos professores dos Laboratórios supracitados: Patrícia

Gardino, Jan Nora, Fernando Mello, Maria Cristina Mello e Ricardo Reis. Muito obrigado

por cumprirem tão bem o papel de professor e nos permitirem o acesso ao conhecimento. O

papel de vocês é fundamental!

Agradeço também a Rozilane (Rose) pelo apoio técnico (não só técnico, mas

também nas discussões, experimentos...) Muito obrigado!

Agradeço ainda a todos os professores com os quais cursei disciplinas durante o

mestrado (Ricardo Reis, Edna Yamasaki, Patrícia Gardino, Marcelo Morales, Maira Froes,

Ana Martinez, Mônica Rocha). Esse, sem dúvidas, foi um período de intenso aprendizado!

Sou muito grato por ter tido a oportunidade de aprender com vocês!

Enfim, agradeço a todos os que diretamente ou indiretamente participaram desse

trabalho!

Resumo

Glutamato e GABA são os principais neurotransmissores excitatório e

inibitório, respectivamente, presentes no sistema nervoso central. Na retina de

rato, o GABA é expresso nas células amácrinas e células presentes na camada de

células ganglionares (CCG). Estudos anteriores mostraram que aminoácidos

excitatórios (AAE’s) são capazes provocar a liberação de GABA em células da

retina de aves, de gambás e de macacos. Além disso, o desenvolvimento das

células GABAérgicas apresenta um retardo em ratos desnutridos. Neste estudo, a

liberação de GABA endógeno estimulada pelos AAE’s foi estudada em retinas de

ratos adultos normais e desnutridos, usando a técnica de imunohistoquímica. O

tratamento com NMDA em animais normais resultou na redução do número de

células amácrinas imunorreativas para GABA, não exibindo efeito na CCG.

Diferentemente, NMDA reduziu a imunorreatividade para GABA tanto entre células

amácrinas quanto na CCG em animais desnutridos. Cainato e Aspartato

provocaram liberação de GABA em ambas as populações celulares GABAérgicas

na retina de animais normais e desnutridos. De forma geral, o efeito dos AEE’s foi

mais evidente entre células na CCG de ratos desnutridos. Além disso, dopamina

inibiu parcialmente os efeitos do NMDA e aspartato. A liberação de GABA, em

todas as situações estudadas, ficou caracterizada como sendo causada pela

reversão do transportador de GABA.

Abstract

Glutamate and GABA are respectively the major excitatory and inhibitory

neurotransmitters in the central nervous system. In the rat retina, GABA is

expressed in amacrine cells and cells in the ganglion cell layer (GCL). A number of

studies have demonstrated that excitatory amino acids (EAA) can promote GABA

release from retina cells in different species (avian, opossum and monkeys). Also,

the development of GABAergic cells is retarded in malnourished animals. In this

study, GABA release induced by EAA was studied in retinas from normal and

malnourished adult rats using an immunohistochemistry approach. In normal

animals, NMDA treatment promotes GABA release from amacrine cells, but not

from cells in the GCL. The same treatment showed a different effect in

malnourished rat, where NMDA was able to promote GABA release from cells in

GCL. Cainate and Aspartate promote GABA release from all the cell population

studied. The effect of EAA treatment was more significant on GCL of malnourished

animals. In addition, dopamine partially blocked the reduction of the number of

GABA immunoreactive cells when treated with NMDA or Aspartate. Based on our

data GABA release observed was due to by the reversal of GABA transporter.

SUMÁRIO LISTA DE ABREVIAÇÕES....................................................................................................................i AGRADECIMENTOS........................................................................................................ ii RESUMO..............................................................................................................................iv ABSTRACT...........................................................................................................................v SUMÁRIO............................................................................................................................vi

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8 1. RETINA ............................................................................................................................ 8

1.1 - Estrutura e principais tipos celulares .................................................................... 8 1.2 – Visão geral do Funcionamento da Retina ........................................................... 11 1.3 – Desenvolvimento da Retina ................................................................................. 13 1.4 – Classificação dos neurônios retinianos............................................................... 14 1.4.1 Fotorreceptores ................................................................................................... 14

1.4.2. Células horizontais ......................................................................................... 15 1.4.3. Células bipolares ............................................................................................ 15 1.4.4. Células Amácrinas.......................................................................................... 17 1.4.5 – Células interplexiformes............................................................................... 18 1.4.6 – Células Ganglionares.................................................................................... 19

2. SISTEMAS DE NEUROTRANSMISSORES NA RETINA.......................................................... 21 2.1. Glutamato .............................................................................................................. 21

2.2. GABA ........................................................................................................................ 27 3. LIBERAÇÃO DE GABA INDUZIDA POR GLUTAMATO E SEUS AGONISTAS......................... 31 4. MATURAÇÃO DO SISTEMA DE NEUROTRANSMISSORES E A DESNUTRIÇÃO ...................... 34

4.1. Caracterização do modelo de desnutrição............................................................ 34 4.2. Os efeitos da DBR ................................................................................................. 35

OBJETIVOS ....................................................................................................................... 39

MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................................. 40 1. SACRIFÍCIO DOS ANIMAIS, DISSECÇÃO E ESTIMULAÇÃO DAS RETINAS ............................ 40

1.1. Fixação e obtenção do tecido................................................................................ 43 1.2. Processamento imunohistoquímico ....................................................................... 44

2. CRIAÇÃO DE ANIMAIS DESNUTRIDOS ............................................................................. 46 2.1. Composição da DBR ............................................................................................. 46

3. ANÁLISE QUANTITATIVA................................................................................................ 48

RESULTADOS ................................................................................................................... 50

1. PADRÃO DE IMUNORREATIVIDADE DE GABA E ANÁLISE DO NÚMERO DE CÉLULAS GABA-POSITIVAS EM RETINAS DE RATOS ADULTOS.......................................................... 50 2. IDENTIFICAÇÃO DOS RECEPTORES DE AAE ENVOLVIDOS NA LIBERAÇÃO DE GABA ..... 52

2.1. Análise do perfil dose-resposta dos Aminoácidos excitatórios ............................. 52 2.1.1. Cainato............................................................................................................ 52 2.1.2. Aspartato......................................................................................................... 52

2.2. O Efeito do tratamento com NMDA e influência da dopamina ............................ 59 2.2.1. Análise qualitativa .......................................................................................... 59

2.2.2. Análise quantitativa ........................................................................................ 60 2.3. Efeito do tratamento com cainato e influência da dopamina................................ 64

2.3.1. Análise qualitativa .......................................................................................... 64 2.3.2. Análise quantitativa ........................................................................................ 65

2.4. Efeito do tratamento com aspartato e influência da dopamina ............................ 68 2.4.1. Análise qualitativa .......................................................................................... 68 2.4.2. Análise quantitativa ........................................................................................ 69

3. EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO CRÔNICA SOBRE A LIBERAÇÃO DE GABA INDUZIDA POR AMINOÁCIDOS EXCITATÓRIOS............................................................................................ 72

3.1. padrão de imunoreatividade de GABA e análise do número de células GABA-positivas em retinas de ratos adultos. .......................................................................... 72 3.2. Efeito do tratamento com NMDA em retinas de animais desnutridos .................. 72 3.3. Efeito do tratamento com cainato em retinas de animais desnutridos ................. 77

3.4. EFEITO DO TRATAMENTO COM ASPARTATO EM RETINAS DE ANIMAIS DESNUTRIDOS... 80 4. AVALIAÇÃO DA INTEGRIDADE DO TECIDO...................................................................... 83

4.1. Avaliação morfológica de retinas de animais normais e desnutridos................... 83

DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 86 1. CARACTERIZAÇÃO DO PADRÃO DE LIBERAÇÃO DE GABA INDUZIDA POR AMINOÁCIDOS EXCITATÓRIOS EM RETINAS DE RATOS NORMAIS................................................................ 86 2. EFEITO DA DESNUTRIÇÃO CRÔNICA SOBRE A FUNCIONALIDADE DE CIRCUITOS GLUTAMATÉRGICOS\GABAÉRGICOS NA RETINA DE RATOS............................................... 94

CONCLUSÕES................................................................................................................... 98BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................99

INTRODUÇÃO

1. Retina

1.1 - Estrutura e principais tipos celulares

A retina é uma estrutura do sistema nervoso central (SNC) que apresenta

elevado grau de segregação celular e organização laminar com diferentes camadas

morfo-funcionais. Muitos estudos se utilizam desta estrutura como modelo

experimental de sistema nervoso central. Isso, devido ao fato da retina se

apresentar fora do neuro-eixo central, o que possibilita sua obtenção sem a

contaminação por outros tecidos nervosos ou conjuntivos. Além disso, existe o

fato desta estrutura apresentar quase todos os neurotransmissores presentes no

restante do sistema nervoso central. A grande diversidade de estudos sobre os

tipos celulares retinianos e moléculas envolvidas na transmissão sináptica,

incluindo aqui os próprios neurotransmissores, são fatores muito importantes para

a utilização deste tecido como modelo de estudo tanto do SNC quanto da

compreensão da circuitaria da retiniana.

A retina é um tecido sensorial especializado que reveste internamente a

porção posterior do olho. É neste tecido que ocorre o primeiro estágio de detecção

do sinal luminoso, é também na retina que se detectam diferentes comprimentos

de onda do espectro da luz visível; já é possível a detecção de contraste

simultâneo e de estímulos em movimento.

Em vertebrados, a retina apresenta três camadas de corpos celulares

(camadas nucleares) alternadas com duas camadas de plexos onde ocorrem

contatos sinápticos (camadas plexiformes). Os principais tipos celulares

encontrados na retina são: células fotorreceptoras, células horizontais, células

bipolares, células interplexiformes, células amácrinas, células ganglionares, e as

células de Müller (principal componente glial). Estes tipos celulares encontram-se

distribuídos em camadas, a saber: a camada nuclear externa (CNE) composta

pelos corpos celulares dos fotorreceptores; a camada plexiforme externa (CPE),

exibindo contatos sinápticos entre os fotorreceptores, células horizontais e células

bipolares; a camada nuclear interna (CNI), onde se encontram os corpos celulares

de células horizontais, bipolares, amácrinas, glia de Muller e células

interplexiformes, além de algumas células ganglionares deslocadas; a camada

plexiforme interna (CPI), onde as células neuronais da CNI fazem contatos

sinápticos com as células ganglionares; a camada de células ganglionares (CCG),

onde estão presentes os corpos celulares das células ganglionares, além de

células amácrinas deslocadas. As células ganglionares emitem projeções para

áreas mais superiores do sistema visual. Tais projeções originam-se logo após a

CCG onde axônios das células ganglionares se fasciculam dando origem à

camada de fibras ópticas (CFO) que compõem as fibras do nervo óptico. (figura 1).

Figura 1. Estrutura da retina. Diagrama esquemático mostrando as

camadas e tipos celulares da retina. Modificado de NEUROSCIENCE, Segunda Edição. Dale Purves et al. 2001.

1.2 – Visão geral do Funcionamento da Retina

O funcionamento do sistema visual depende diretamente do padrão de

organização dos tipos celulares presentes na retina, assim como também do

equilíbrio metabólico entre a síntese e liberação de neurotransmissores e

neuromoduladores produzidos na estrutura.

Brevemente: os raios luminosos atravessam toda a estrutura da retina até

atingirem a porção externa dos fotorreceptores (únicas células da retina sensíveis

à luz) onde ocorrerá a transdução do sinal luminoso em sinal neural, e este

adquirirá natureza eletroquímica. A informação é então transmitida a partir dos

fotorreceptores para as células bipolares e destas para as células ganglionares.

Esta via de transmissão é conhecida como via vertical (figura 1) e ocorre

basicamente por meio de mediação glutamatérgica. A informação luminosa flui

pelos tipos celulares supracitados provocando flutuações excitatórias sublimiares

no potencial elétrico das membranas celulares. O único tipo celular no qual é

produzido efetivamente um potencial de ação é a célula ganglionar.

Células horizontais e amácrinas são componentes da via horizontal ou via

modulatória (figura 1). Nestes tipos celulares, o principal neurotransmissor é o

ácido gamma-amino butírico (GABA).

Existem dois tipos de fotorreceptores: os cones e os bastonetes. Essas

células são responsáveis pela transdução do sinal luminoso que ocorre graças a

presença da rodopsina, nos bastonetes e das opsinas, nos cones. No escuro, as

células fotorreceptoras são despolarizadas (potencial de membrana em torno de -

40mV) por influxo de cátions através de canais iônicos que são mantidos abertos

pelas altas concentrações do segundo mensageiro cGMP. Em resposta à

despolarização, os fotorreceptores liberam glutamato. O aumento progressivo de

intensidade luminosa provoca mudança conformacional nas moléculas de opsinas

e rodopsina o que ativa uma cascata enzimática que, por meio de reações de

hidrólise de cGMP, leva à redução dos níveis de cGMP e o consequente

fechamento dos canais iônicos. Dessa forma, observa-se uma proporcional

redução no potencial de membrana dessas células, o que as torna cada vez mais

hiperpolarizadas saturando-se em torno de -65mV. (Baylor, 1987).

As células fotorreceptoras (cones e bastonetes) fazem contato com células

bipolares e células horizontais. De acordo com o fotorreceptor com quem fazem

contato, as células bipolares, podem ser bipolares de cone ou de bastonete. As

células bipolares de cone estabelecem contato direto com as células ganglionares

e as células bipolares de bastonetes conectam-se a células amácrinas, que

passam a informação às células ganglionares, que através dos seus axônios

projetam-se para os núcleos visuais centrais do sistema nervoso até o córtex

visual primario, onde ocorrerá a percepção do estímulo visual. (Kolb, 1994).

Os axônios das células ganglionares emergem do globo ocular pelo disco

óptico, uma região conhecida como “ponto cego” na retina.

Apesar de se encontrarem astrócitos e microglia na retina, o componente

glial neste tecido, como citado anteriormente, é representado principalmente pelas

células de Müller. As células de Müller, além de exercerem importante papel de

suporte e nutrição, estão envolvidas também na captação de íons de potássio

liberados pelos neurônios durante a despolarização.

1.3 – Desenvolvimento da Retina

A retina é um tecido sensorial bastante complexo cuja correta formação

necessita de uma exata sincronização e coordenação de diversos fatores durante

o desenvolvimento. Dentre estes podemos citar: o aporte nutricional necessário

(Almeida et al., 2001; Silveira et al., 2007), a geração dos diversos tipos celulares

de forma apropriada e proporcional, a expressão dos diversos neurotransmissores

(Martins et al., 2007) e aferências de informações luminosas (Landi et al., 2007).

Assim como todas as outras regiões do sistema nervoso central, a retina

origina-se do tubo neural. Durante o desenvolvimento, os olhos emergem de

evaginações do diencéfalo. Tais evaginações são conhecidas como vesículas

ópticas. Cada vesícula óptica se invagina formando um cálice onde a sua parte

interna dá origem ao epitélio neural e a porção externa, ao epitélio pigmentado. A

histogênese da retina segue um padrão especial onde todos os tipos celulares são

gerados e começam a se diferenciar a partir da região central e interna para a as

regiões mais periféricas e externas da retina. A camada nuclear interna (CNI), a

camada plexiforme interna (CPI) e a camada de células ganglioanres (CCG)

desevolvem-se mais precocemente do que as camadas plexiforme externa (CPE)

e nuclear externa (CNE).

1.4 – Classificação dos neurônios retinianos

Como já mencionado, são encontrados basicamente nove tipos celulares na

retina: seis tipos de neurônios – fotorreceptores, células horizontais, células

bipolares, células amácrinas, células ganglionares e células interplexiformes – e

três tipos de células gliais – astrócitos, microglia e células de Müller.

1.4.1 Fotorreceptores

Existem basicamente dois tipos de fotorreceptores que transduzem o

estímulo luminoso em sinal elétrico. Os cones são responsáveis pela visão diurna.

O sistema de cones possui melhor resolução e é responsável pela visão de cores.

Dessa forma, existem três tipos de cones, os azuis, os verdes e os vermelhos que

absorvem comprimentos de luz na faixa do azul, verde e vermelho,

respectivamente. Os cones encontram-se concentrados na região da fóvea.

Os bastonetes encontram-se em maior quantidade que os cones. Eles

detectam luz em baixas intensidades. Possuem grandes quantidades de pigmento

(rodopsina) o que permite aproveitar pequenas quantidades de luz e ampliar este

sinal. Conseqüentemente o sistema de bastonetes é responsável pela visão

noturna.

1.4.2. Células horizontais

Seus corpos celulares estão presentes na porção mais externa da CNI.

Possuem abundantes ramificações que estabelecem contato sináptico com células

bipolares e fotorreceptores. Sua função é de modular o sinal transmitido pelos

fotorreceptores (modulação lateral). Acredita-se que o GABA seja o principal

neurotransmissor utilizado por essas células. Ao receberem input de células

fotorreceptoras, essas células são despolarizadas pelo glutamato liberado no

escuro, pois expressam receptores ionotrópicos. Como resultado da

despolarização, as células horizontais liberam GABA o que leva à hiperpolarização

dos fotorreceptores, estabelecendo, dessa forma, um mecanismo de

retroalimentação negativa (Wu, 1992).

Todos os cones e bastonetes recebem feedback de células horizontais,

mas a proporção numérica dessas células, em relação aos outros tipos celulares é

bastante pequena, geralmente, menos de 5% das células na CNI (Masland, 1986).

1.4.3. Células bipolares

Células bipolares são responsáveis pelo transporte do sinal luminoso (agora

com natureza elétrica) a partir dos fotorreceptores para as células ganglionares.

Interessantemente, as respostas registradas de células ganglionares possuem

natureza bastante diversa, quando comparada às produzidas pelos

fotorreceptores. As células bipolares são implicadas como produtores de tal

diversidade de resposta.

Fotorreceptores, de forma geral, liberam glutamato, mas as células

bipolares respondem de forma diferente às aferências glutamatérgicas. Dessa

forma, distinguem-se dois tipos de células bipolares: as que possuem receptores

de glutamato do tipo ionotrópico, despolarizando-se na presença do

neurotransmissor – bipolares OFF; e as que possuem receptores de glutamato do

tipo metabotrópico, hiperpolarizando-se em resposta ao glutamato – bipolares ON

(Werblin et al., 1991).

As células bipolares de bastonete possuem sempre resposta do tipo ON,

enquanto que as células bipolares de cones podem ser tanto do tipo ON quanto do

tipo OFF. Células bipolares do tipo ON e OFF existem praticamente na mesma

proporção na retina. Essa distinção, criada nesta primeira sinapse retiniana, é

propagada através de todo o sistema visual.

Os campos receptores das células bipolares são circulares e contêm dois

elementos concêntricos e de resposta antagônica. Dessa forma, células bipolares

de centro ON são estimuladas na presença de luz se localizadas no centro do

campo receptor, caso estejam na periferia, são inibidas. Existem ainda as células

bipolares de centro OFF, exibindo comportamento inverso.

Morfologicamente, verifica-se na CPE a formação das chamadas tríades

sinápticas (contato sináptico entre cones ou bastonetes e células bipolares onde

há a participação de duas células horizontais), exibindo as chamadas sinapses em

fita .Os terminais axonais de células bipolares levam a informação a partir da CPE

para a CPI. Nesta camada, as células bipolares estabelecem contato com células

amácrinas e células ganglionares, formando, novamente as sinapses em fita.

Ainda na CPI é possível verificar que as células bipolares do tipo ON e OFF

se estratificam em níveis diferentes: células bipolares do tipo OFF fazem contato

com células ganglionares na superfície externa da CPI, enquanto que as células

bipolares do tipo ON estratificam-se na superfície interna da CPI (Nelson e

Famiglietti, 1978).

1.4.4. Células Amácrinas

As células amácrinas estão localizadas na camada nuclear interna. Seus

prolongamentos fazem contato sináptico com células ganglionares, bipolares,

interplexiforme e outras amácrinas, formando a camada plexiforme interna

(Dowling, 1987). Existem vinte e nove tipos morfológicos de células amácrinas

(Masland, 2001) e provavelmente todos os tipos de neurotransmissores do

sistema nervoso central podem ser encontrados entre os diversos tipos de células

amácrinas (Wagner, 1992). Em contraste com as células horizontais que possuem

um único papel (relacionado com aumento de contraste) as células amácrinas

desempenham várias funções que visam o controle e a forma de respostas das

células ganglionares (Kidd, 1962; Dowling e Boycott, 1966; Kolb e Nelson, 1993).

De acordo com sua localização na retina, podem-se distinguir dois tipos de

células amácrinas: as que têm o corpo celular localizado na camada nuclear

interna e as que apresentam o corpo celular na camada de células ganglionares –

ditas deslocadas (figura 2).

O nome “célula amácrina” (introduzido por Cajal, 1894) significa “célula sem

axônio”. Hoje existem indícios de que alguns tipos de células amácrinas possuem

prolongamentos que funcionam como axônios (Dacey, 1989).

Todas as células ganglionares recebem aferências de células bipolares de

cone, mas sinapses diretas de células bipolares são a minoria de todas as

sinapses nas células ganglionares. A maioria é de células amácrinas. As células

amácrinas fazem sinapses inibitórias com os terminais axonais de células

bipolares, controlando, dessa forma, o sinal de saída para as células ganglionares

(Sterling, 1998).

As células amácrinas tem sido implicadas, além de na modulação do sinal

das células bipolares para as células ganglionares, na sincronização dos disparos

de células ganglionares. Isso se daria com a participação de neurotransmissores

ou de acoplamento – junções comunicantes – entre células ganglionares e células

amácrinas (Vaney, 1994).

1.4.5 – Células interplexiformes

As células interplexiformes possuem como principal característica a

presença de prolongamentos que unem a camada plexiforme externa à interna.

Estas células apresentam seus corpos celulares localizados na camada nuclear

interna. Em comparação aos outros tipos celulares encontrados nessa camada, as

células interplexiforme aparecem em número bastante reduzido.

As células interplexiformes levam informação da camada plexiforme interna

para a camada plexiforme externa, onde fazem contado com células horizontais e

bipolares. (Downling, 1987).

1.4.6 – Células Ganglionares

As células ganglionares, como citado anteriormente, são o único tipo celular

na retina a produzirem efetivamente potenciais de ação. Além disso, essas células

compõem a única via de saída da informação para centros visuais do sistema

nervoso. Essas células estão localizadas na porção mais interna da retina. Seus

axônios se unem, formando a camada de fibras ópticas. Os axônios das células

ganglionares são muito grande e seguem pelo nervo óptico até estruturas mais

centrais, passando pelo quiasma óptico.

As células ganglionares fazem contato com as células bipolares e células

amácrinas na camada plexiforme interna. Existem dois níveis de estratificação

dessas células na CPI. O local de estratificação na CPI e o tipo de célula bipolar

com a qual fazem contato determinam a identidade dessas células como sendo

ganglionares – ON (estratificando-se na porção mais interna da CPI – sublâmina

a), ganglionares – OFF (estratificando-se na porção mais externa da CPI –

sublâmina b) e ganglionares ON-OFF, possuindo dois níveis de estratificação

(figura 2).

Figura 2. Desenho esquemático da retina interna. A figura aponta as células bipolares ON e OFF; células

amácrinas tópicas e deslocadas e diversidade de células ganglionares (ON, OFF e ON-OFF). Bevilaqua, M.C.N. 2008.

2. Sistemas de Neurotransmissores na retina

A transmissão e\ou modulação da informação luminosa entre os neurônios

da retina se dá através liberação de neurotransmissores (na maioria dos casos) ou

por sinapses elétricas (alguns tipos celulares da retina apresentam acoplamento

elétrico – junções comunicantes). A transmissão através da via vertical, como já

mencionado, ocorre principalmente pela liberação de glutamato. Já a modulação e

processamento horizontal ocorre principalmente por meio de transmissão

GABAérgica ou por acoplamento elétrico.

Dentre os neurotransmissores presentes na retina serão destacados no

presente trabalho o glutamato (principal neurotransmissor excitatório no SNC), o

GABA (principal neurotransmissor inibitório no SNC), o aspartato e sua ação como

aminoácido excitatório candidato a neurotransmissor e a dopamina, moduladora

da ação de diversos neurotransmissores.

2.1. Glutamato

O glutamato é considerado o principal neurotransmissor excitatório do SNC,

incluindo a retina. Fotorreceptores, células bipolares e ganglionares liberam

glutamato para mediar a transferência da informação visual para centros visuais

no cérebro (Massey e Redburn, 1987).

A ação pós-sinaptica do glutamato pode ser extraordinariamente diversa.

Isso, graças à extensa de uma extensiva família de receptores de para este

neurotransmissor. Estes receptores podem ser de duas categorias: ionotrópicos

(iGLUr’s) ou metabotrópicos (mGLUr’s) (figura 3).

Os receptores ionotrópicos de glutamato são responsáveis pela

transmissão rápida no SNC. Eles podem ser complexos protéicos homoméricos ou

heteroméricos que se ligam ao glutamato e formam um canal de cátions não

seletivo (Cotman et al., 1989). Os receptores ionotrópicos podem ser classificados

de acordo com sua afinidade a agonistas glutamatérgicos em: N-metil-D-aspartato

(NMDA) e não-NMDA [ácido caínico (KA) e ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-

isoxazolepropiônico (AMPA)]. Estes subtipos de receptores ionotrópicos exibem

diferenças na farmacologia, seletividade iônica e propriedades cinéticas.

Receptores metabotrópicos de glutamato possuem habilidade de, por meio

de ativação de proteína G, acionar vias de segundos mensageiros (fosfolipase C

ou adenilil ciclase) que irão provocar respostas diversas na célula pós-sinaptica.

Os receptores do tipo NMDA (NMDAR) constituem uma classe de

receptores com muitas peculiaridades. Estes receptores apresentam alta

permeabilidade ao Ca++ e só são completamente ativados quando estão ligados

ao glutamato e glicina simultaneamente. Os NMDAR formam um canal iônico cujo

poro está constitutivamente bloqueado por Mg++ (quando a membrana apresenta-

se em potencial de repouso – bloqueio voltagem-dependente), dessa forma, é

necessária uma pré despolarizarão para que haja a liberação do canal e sua

ativação pelos agonistas glutamatérgicos. Estes receptores podem ser bloqueados

completamente por antagonistas não-competitivos tais como PCP, quetamina e

MK801 (Nakanishi et al., 1994).

Receptores NMDA são na maioria dos casos hetero-oligômeros compostos

de uma combinação de subunidades que podem ser de dois tipos: NMDAR1

(NR1) ou NMDAR2 (NR2). Existem oito isoformas de NR1 (NR1a-h) que são

geradas por splicing alternativo e quatro isoformas de NR2 (NR2A-D). A

subunidade NR2D possui ainda duas variantes resultantes de splicing alternativo,

NR2D1 e NR2D2. Receptores homoméricos formados por NR2 não são

funcionais, enquanto os formados por NR1, embora possuam correntes iônicas

relativamente baixas, apresentam-se funcionais. Entretanto, formas heteroméricas

formadas por subunidades NR2 e NR1 formam canais com correntes

significativamente mais altas e grande variedade funcional (Witkovsky, 1999;

Wässle, 1998).

Os receptores não-NMDA (AMPA e KA) formam canais iônicos voltagem-

independentes que, quando ativados, apresentam alta condutância a íons Na+.

Os receptores AMPA são canais iônicos pentaméricos formados por uma

ou mais das quatro subunidades constituintes destes receptores. Estas são

conhecidas como: GluR(1-4). possuem alta afinidade ao AMPA. O cainato também

é um importante agonista desses receptores.

Os receptores do tipo cainato são subdivididos em duas categorias:

receptores de baixa afinidade, formados pelas subunidades GluR5, GluR6 e

GluR7 e receptores de alta afinidade, formados pelas subunidades KA1 e KA2.

A ação do glutamato em receptores NMDA e não NMDA pode ser

verificada pelo uso de antagonistas. Assim, NMDAR são bloqueados pelo

antagonista não competitivo MK-801 e os receptores AMPA/KA pelo

CNQX/DNQX.

Vários estudos têm revelado a localização de receptores de glutamato na

retina de rato. Esses estudos geralmente lançam mão de técnicas como

hibridização in sito e imunohistoquímica.

No animal adulto, todas as subunidades de NMDAR podem ser detectadas

(Brandstatter et al., 1994). Análises de hibridização in situ revelam que RNAm de

subunidade NR1 encontra-se largamente distribuída através da retina. Estudos

imunohistoquímicos mostram que todas as subunidades de NMDAR são

expressas na CCG. O padrão de imunomarcação revela ainda que a subunidade

NR1 é expressa em células horizontais, amácrinas, além da CPI, onde é possível

verificar duas bandas de marcação. Ainda na CNI é possível verificar a expressão

de NR1 em células de Muller.(Brandstatter et al., 1994; Blanco et al., 1999;

Gründer et al., 2000). A subunidade NR2A é encontrada em células horizontais.

Duas bandas são formadas na CPI tanto na imunomarcação de NR2A quanto

NR2B. Verifica-se ainda a expressão de NR2B na camada plexiforme externa.

NR2C e D são encontradas em células amácrinas, ganglionares e amácrinas

deslocadas (Flecher et al., 1999).

As subunidades de receptores do tipo AMPA e KA são diferencialmente

distribuídas através da CNI e CCG. Possivelmente, podem ser encontradas em

células horizontais, bipolares, amácrinas e ganglionares. Receptores AMPA

provavelmente possuem envolvimento na transmissão em sinapses em fita da

CPE e CPI (Branstätter et al., 1998).

Finalmente, a ação do glutamato em seus receptores é regulada por um

processo de recaptação citoplasmática que é mediado por transportadores de alta

afinidade (figura 3). Uma importante característica do transporte de glutamato é o

fato de este ser eletrogênico, isto é, existe uma corrente iônica (Na+) que

acompanha o transporte. Existem cinco tipos de transportadores de glutamato

(EAAT 1-5) em ratos. Na retina, estão localizados em células de Müller e alguns

neurônios pós-sinapticos. Embora estas proteínas transportem preferencialmente

o L-glutamato, são capazes de transportar igualmente o L- e D-aspartato (Nicholls

et al., 1990).

Figura 3 – desenho esquemático de uma sinapse glutamatérgica. A figura ilustra a diversidade de receptores glutamatérgicos, assim como os transportadores de aminoácidos excitatórios. Modificado de NEUROSCIENCE, Segunda Edição. Dale Purves et al. 2001.

2.2. GABA

O GABA é considerado o principal neurotransmissor inibitório de diversas

estruturas do SNC, incluindo a retina em diferentes espécies (Mosinger et al., 1986;

Yazulla, 1986). GABA é sintetizado pela enzima descarboxilase do ácido glutâmico

(GAD), embora, em estágios precoces do desenvolvimento, uma via de síntese

alternativa a partir de putrescina seja responsável por sua síntese (De Mello, 1976;

Hokoç et al., 1990; Yamasaki et al., 1999). Essa via alternativa parece exercer um

papel menos significativo em animais adultos. Após sua síntese, o GABA é

armazenado em vesículas até a sua liberação (dependente de cálcio). Nem todas

as células que possuem GABA, possuem a sua enzima de síntese. Isso porque

algumas células captam GABA do meio extracelular, via transportadores específicos

em suas membranas. Portanto, estas células possuem GABA muito embora não

sejam capazes de sintetizá-lo (Agardh et al., 1987a, b).

Os receptores para GABA podem ser ionotrópicos (GABAA e GABAC) e

metabotrópicos (GABAB) (figura 4). O GABA pode inibir neurônios por aumentar a

condutância de íons cloreto, pela ativação dos receptores GABA

B

A e GABAC, ou de

íons potássio, via ação em receptores GABABB, causando, em ambos os casos,

hiperpolarização. De fato, é verdade que em alguns estágios do desenvolvimento, o

GABA é responsável por eventos despolarizantes (Yamashita e Fukuda, 1993). Isso

está relacionado à concentração intracelular de íons Cl- que no indivíduo neonato

mostra-se bastante aumentada quando se compara com o adulto. A concentração

intracelular de Cl- é determinada pela expressão de transportadores para estes íons

(NKCC e KCC2). Dessa forma, em estágios precoces do desenvolvimento, estão

presentes os transportadores NKCC, que mantêm alta a concentração intracelular do

ânion. Em estágios mais tardios, há a substituição de NKCC por KCC2, que

transporta o Cl- para o meio extracelular (Ben-Ari et al., 1997). Quando receptores

ionotrópicos de GABA são ativados em indivíduos adultos a resposta verificada é

hiperpolarização, pois o Cl- flui, seguindo o gradiente eletroquímico, para dentro da

célula.

Na retina de rato o GABA é expresso pelas células horizontais e células

amácrinas – tópicas e deslocadas (Mosinger et al., 1986; Yamasaki et al., 1999; Lee

et al., 1999). Os sistemas GABAérgicos e glutamatérgicos interagem na retina.

Como mencionado anteriormente, a via vertical (glutamatérgica) sofre ação

modulatória da via horizontal (GABAérgica). Esta modulação é mediada pela ação

das células horizontais na camada plexiforme externa e pelas células amácrinas

na camada plexiforme interna. A maioria das células amácrinas (92%) são

GABAérgicas e recebem aferência de células bipolares glutamatérgicas (Marc e

Liu, 2000).

Alguns estudos levantam a possibilidade de GABA ter um papel neurotrófico

em períodos precoces do desenvolvimento em função da modulação dos níveis de

cálcio. De fato, tem sido demonstrada ação neurotrófica de GABA (Spoerri, 1988;

Ikeda et al., 1997) assim como glutamato, via NMDAR (Vecino et al., 1999).

A ação sináptica do GABA é terminada pela sua captação seletiva para o

interior do terminal pré-sinaptico e de células gliais e/ou degradação pela enzima

GABA-2-oxoglutarato-transaminase. A captação de GABA se dá por carreadores de

alta afinidade e é observada em células amácrinas, horizontais e células na camada

de células ganglionares. Em retinas de mamíferos, ao contrário do observado em

retina de aves, GABA pode ser também captado por células de Müller (Moran et al.,

1986). A recaptação de GABA é mediado por um transportador que carrega GABA e

sódio para dentro da célula. Quatro tipos de transportadores para GABA foram

descritos no SNC são eles: GAT-1, GAT-2, GAT-3 e GAT-4 (Clark e Amara, 1993;

Liu et al., 1993) muito embora até o momento somente três (GAT-1-GAT-3) tenham

sido localizados na retina (Johnson et al., 1996; Hu et al., 1999). Em função do

aumento de sódio intracelular, próximo destes transportadores, ocorre a reversão da

direção de fluxo e consequentemente a liberação de GABA. De fato, tem sido

observado que reversão do transportador parece mediar grande parte da liberação

de GABA induzida por aminoácidos excitatórios (Tapias e Arias, 1982; Morán e

Pasantes-Morales, 1983; Yazulla, 1983; Yazulla e Kleinschmidt, 1983; Do

Nascimento e De Mello, 1985; Schwartz, 1987; Duarte et al., 1993; Ferreira et al.,

1994; Carvalho et al., 1995).

Figura 4 - Desenho esquemático ilustrando uma sinapse GABAérgica. A figura identifica a diversidade de receptores e transportadores de GABA. Adaptado de Owens e Kriegstein, 2002.

3. Liberação de GABA induzida por glutamato e seus agonistas

É sabido que o glutamato é um potente agente estimulador de atividade

neuronal. A estimulação com L-glutamato é responsável pela liberação de vários

agentes neuroativos, incluindo o GABA na retina de peixe, pinto, gambá e macaco

(Yazulla et al., 1985; Andrade da Costa et al., 2001; Calaza et al., 2001, 2003 e

2005). Muitos estudos sugerem que a liberação de GABA estimulada por glutamato

ou agonistas na retina de diversas espécies se dá de forma independente de cálcio

externo (Duarte et al., 1993; Ferreira et al., 1994; Carvalho et al., 1995) e ocorre via

ativação de receptores ionotrópicos NMDA e não NMDA (do Nascimento et al., 1998;

Castro et al., 1999). Em vários estudos, a liberação de GABA induzida por

aminoácidos excitatórios (AAE’s) foi analisada utilizando-se um protocolo de

liberação de [3H] GABA. Nesses trabalhos, células em cultura eram expostas ao [3H]

GABA que após sua captação, eram estimuladas com os AAE’s. Tal protocolo

experimental, entretanto, não possibilita a identificação das populações neuronais

responsáveis por tal liberação.

Os efeitos dos AAE’s na liberação de GABA podem ser parcialmente

revertidos pela aplicação de MK-801 (antagonista de receptor NMDA) e totalmente

bloqueados pela adição de DNQX (antagonista de receptores não-NMDA) e MK-801.

Isso mostra que ambos os subtipos de receptores ionotrópicos estão envolvidos

neste fenômeno (Duarte et al., 1993; Kubrusly et al., 1998; Calaza et al., 2001).

L- e D-aspartato também têm sido apontados como responsáveis pela

liberação de GABA em vários estudos utilizando-se retina de diversas espécies (Do

Nascimento e De Mello, 1985; Bloomfield e Dowling, 1985 a e b; Cha et al., 1986;

Kubrusly et al., 1998; Calaza, 2001, 2003). Ao contrário do D-glutamato, o D-

aspartato também foi eficaz em provocar a liberação de GABA em células de retina

de pinto em cultura (Kubrusly et al., 1998). Fortes evidências sustentam a hipótese

de que L- e D-aspartato ativam receptores NMDA com alta eficiência. Hashimoto e

Oka (1997) descobriram que as formas isômeras de aspartato ligam-se a sítios de

glutamato com alta afinidade. Além disso, foi observado que L-aspartato induz a

liberação de [3H] GABA na retina pela ativação específica de receptores do tipo

NMDA (Yazulla et al., 1983; Kubrusly et al., 1998; Calaza et al., 2001). Kubrusly e

colaboraderes (1998) demosntraram que tanto L- quanto D-aspartato são capazes

de provocar a liberação de [3H] GABA em culturas de células de retina de pinto via

ativação de receptores NMDA nas mesmas concentrações que glutamato e NMDA.

Poucos são os estudos que identificam os tipos celulares envolvidos na

liberação de GABA induzida por AAE’S. Andrade da Costa e colaboradores (2000)

verificaram que na retina de Cebus Apella glutamato e cainato são responsáveis pela

liberação de GABA de células da retina interna, células amácrinas e interplexiformes.

Nesse animal, a ativação de receptores NMDA não tem nenhum efeito sobre a

liberação de GABA. Em estudos recentes, Calaza e colaboradores (2001, 2003 e

2006 a e b) identificaram os tipos celulares envolvidos na liberação de GABA

induzida por AAE’s, inclusive o aspartato, na retina de pinto e gambá. Esses estudos

mostraram que na retina de pinto NMDA e aspartato não provocaram a liberação de

GABA de células horizontais, entretanto, induziram a redução de, respectivamente,

50 e 60% da imunoreatividade para GABA entre as células amácrinas GABA+. A

exposição das retinas ao cainato provocou liberação de GABA de forma significativa

nas células amácrinas e horizontais. Na retina de gambá, NMDA e cainato

provocaram a redução do número de células amácrinas tópicas e deslocadas

imunoreativas para GABA. Aspartato somente provocou a liberação de GABA a

partir de células amácrinas tópicas, não exercendo nenhum efeito nas deslocadas.

Até o presente momento não existe nenhum dado publicado em relação aos tipos

celulares envolvidos na liberação de GABA induzida por AAE’s na retina de rato. Isso

torna bastante conveniente o estudo do padrão de liberação de GABA em roedores,

mamíferos não marsupiais.

Vários indícios sugerem que a liberação de GABA induzida por glutamato e

seus agonistas, incluindo o aspartato se dê de forma não vesicular. O mais aceito é

que o GABA seja liberado via reversão do transportador. As principais evidências

que sustentam isso são: a liberação de GABA é independente de cálcio externo,

excluindo a possibilidade de liberação vesicular (Tapia e Arias, 1982; Yazulla e

Kleinschmidt, 1983; Do Nascimento e De Mello, 1985); O processo é dependente de

sódio tal como a atividade do transportador (Tapia e Arias, 1982); a exposição do

tecido/cultura de células estimulado(a) ao inibidor específico deste transportador

(NNC-711) abole completamente o efluxo de GABA induzido por AAE’S.

A Dopamina (importante neurotransmissor no SNC, incluindo a retina) tem

sido implicada na modulação da ação glutamatérgica na liberação de GABA. O que

se verifica é que a aplicação de dopamina durante a estimulação com AAE’S é

responsável pela inibição parcial na liberação de GABA. Estudos com retina de

peixes datados da década de 80 (Yazulla e Kleinschmidt, 1982; O’Brien e Dowling,

1985; Kato et al., 1985) mostraram que talvez a dopamina agisse de forma a diminuir

a concentração intracelular de sódio (via ativação de bomba de sódio) o que inibiria o

transporte reverso de GABA. Esses trabalhos propuseram ainda que a dopamina,

via ativação de receptore D1, provocaria aumento nos níveis de AMPc.

Em experimentos com cultura de células de retina de galinha, foi verificado

que somente a liberação de [3H]-GABA induzida por ativação de receptores NMDA é

sensível à modulação dopaminérgica. (Do Nascimento et al., 1998). Nesse trabalho,

constatou-se ainda que a inibição da dopamina não era mediada por receptores

dopaminérgicos clássicos – antagonistas para estes receptores não foram capazes

de bloquear o efeito inibitório. Fortes evidências sugerem a existência de um sítio

específico para a dopamina nos receptores NMDA, no qual a ligação da dopamina

teria um efeito inibitório nas correntes induzidas pela ativação do receptor (Castro et

al., 1999).

4. Maturação do sistema de neurotransmissores e a desnutrição

4.1. Caracterização do modelo de desnutrição

A desnutrição crônica (ingesta insuficiente de nutrientes) tem sido apontada

como importante agente deletério em diversos tecidos, incluindo estruturas do SNC.

As lesões decorrentes da desnutrição sobre o sistema nervoso são bastante

extensas. A desnutrição pode reduzir o número de neurônios, células gliais, e suas

conexões; pode alterar o crescimento dendrítico, causar retardo ou déficit

permanente dificultando a transmissão do sinal entre as células nervosas (Jacobson,

1991).

O modelo de desnutrição a ser utilizado no presente trabalho se caracteriza

como sendo uma grave e crônica restrição nutricional (multideficiente). Tal

desnutrição é provocada pela administração da Dieta Básica Regional (DBR).

A composição da DBR foi determinada de acordo com um inquérito alimentar

realizado na população da Zona da Mata de Pernambuco pela Universidade Federal

de Pernambuco – UFPE (Batista Filho, 1968). O efeito dessa dieta em ratos pode se

comparar ao padrão de desnutrição encontrado nessa população, principalmente

entre as crianças, com sintomatologia comparada ao Marasmo (Teodósio et al.,

1990). Dentre as principais características dessa dieta destaca-se o fato desta ser

pobre em certos nutrientes, principalmente em relação às proteínas. A dieta

comercial apresenta cerca de 22% de proteína (caseína) enquanto a DBR possui

cerca de 7,8% deste nutriente (Guedes et al., 1996).

4.2. Os efeitos da DBR

Os animais tratados com a DBR mostram-se, desde o nascimento, menores

que os animais normais. A curva de crescimentos desses animais é extremamente

débil e não exibem diferenças, em relação ao peso corporal, entre os sexos. O peso

dos cérebros desses animais mostra-se 20% menor enquanto que a taxa de

mortalidade entre eles é de cerca de 24% (Lago et al., 1997).

Dados obtidos a partir da administração da DBR revelam que a desnutrição

provocada é responsável por alterações prejudiciais no aprendizado e

desenvolvimento comportamental. Tais alterações são diretamente proporcionais ao

período e intensidade da carência alimentar. Animais alimentados com a DBR

tendem a demonstrar maior capacidade exploratória, um importante indicador de

carência nutricional. (Teodósio et al., 1979).

Almeida e colaboradores (2001) demonstraram que a expressão de

neurotransmissores como GABA, acetilcolina e proteínas ligadoras de cálcio

(calbidina e calretinina) na retina de ratos desnutridos pela administração da DBR

mostra-se bastante alterada. Tais alterações se caracterizam principalmente como

um possível retardo na maturação dos sistemas metabólicos das substâncias

envolvidas. Surpreendentemente, com a maturidade, verifica-se a compensação do

quadro de retardo de modo que aos 30 dias pós-natal (P30) os animais desnutridos

apresentam o mesmo padrão de expressão de neurotransmissores e proteínas

ligadoras de cálcio que o animal normal. Ainda nesse estudo, verificou-se que o

período de morte celular na retina de ratos desnutridos também se encontra

alterado. O pico de morte celular em animais desnutridos apresentou-se aos 8 dias

pós-natal (P8) (verificado pela presença de núcleos picnóticos), enquanto que nos

animais normais, a morte celular é verificada entre os dias 6 e 7 pós-natal (P6-7).

Algumas alterações causadas pela desnutrição via DBR mostram-se,

aparentemente reversíveis ou seja, possivelmente há uma reorganização do sistema

visando suprir tal carência nutricional. Outras, no entanto, mostram-se irreversíveis,

como, por exemplo o processo de mielinização de fibras centrais (nervo óptico) e

periféricas (nervo sural). Verifica-se, em animais desnutridos a diminuição da bainha

de mielina e o aumento do número de fibras não mielinizadas. Tais características

são verificadas durante o desenvolvimento até a fase adulta (Almeida et al., 2001;

Almeida et al., dados não publicados).

Silveira e colaboradores (2007) mostraram que a neurogênese de células com

fenótipo GABAérgico também se encontra alterada em animais alimentados com a

DBR. Em ratos desnutridos, o pico de geração de células GABAérgicas na retina

interna ocorre no 20º dia embrionário (E20) enquanto que nos animais controle, em

E18. O período de geração de células GABAérgicas na retina interna desses animais

mostrou-se bastante atrasado. Em P4 – idade que caracteriza o fim do período

mitótico de células GABA+ em animais normais (Lee et al., 1999) – há ainda grande

atividade mitótica na retina interna dos animais desnutridos. A desnutrição, nesse

caso, mostra-se responsável por alterar o período de neurogênese de células

GABAérgicas na retina.

Embora, algumas características, principalmente as que sugerem atraso na

formação/maturação da retina, sejam aparentemente reversíveis, ao ponto que na

idade adulta, não se verifica mais diferenças entre os animais normais e os

desnutridos, não se sabe quais seriam as implicações desse atraso no

desenvolvimento funcional da estrutura. Como citado anteriormente, o

desenvolvimento adequado da retina depende diretamente de uma série de eventos

perfeitamente orquestrados que incluem geração de tipos celulares e expressão de

neurotransmissores e substancias neuroativas. A literatura carece de dados que

mostrem os efeitos deste tipo de desnutrição sobre a funcionalidade (em nível

celular) de circuitos neurais e interação entre sistemas de neurotransmissores.

Tendo em vista que a liberação de GABA induzida por AAE’s é um excelente

modelo para o estudo de interações entre sistemas de neurotransmissores, torna-se

bastante conveniente verificar os possíveis efeitos da desnutrição sobre esta

característica funcional em retinas de animais adultos que, pelo menos nos aspectos

já estudados, mostra-se “recuperada” nessa idade.

OBJETIVOS O presente estudo tem como objetivo geral estudar os circuitos

glutamatérgicos/GABAérgicos na retina interna de ratos, bem como os efeitos da

desnutrição sobre tais circuitos.

Os objetivos específicos são:

1) Estabelecer o padrão de dose-resposta de AAE’s como cainato e aspartato

através de imunocitoquímica para GABA.

2) Verificar os efeitos de AAE’s na liberação de GABA em retinas intactas através

de imunocitoquímica para GABA, identificando na estrutura retiniana os tipos

celulares que respondem aos diferentes agonistas glutamatérgicos, incluindo o

aspartato. Estabelecer a contribuição de cada receptor glutamatérgico na

liberação de GABA.

3) Através de análises quantitativas, estabelecer a porcentagem de diferentes

tipos de células que respondem ao tratamento com AAE’s na estrutura da retina.

4) Verificar a modulação dopaminérgica sobre os receptores glutramatérgicos na

liberação de GABA. Identificar as populações celulares que são sensíveis à ação

dopaminérgica (se houver).

5) Através de análises quantitativas, estabelecer a porcentagem de diferentes

tipos de células que respondem ao tratamento com AAE’s e que possuem

modulação dopaminérgica na estrutura da retina.

6) Estabelecer uma análise inicial dos efeitos da desnutrição crônica sobre a

liberação de GABA induzida por AAE’s, incluindo o aspartato.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas, no presente estudo, retinas de ratos albinos de linhagem

Wistar de ambos os sexos provenientes do biotério central do Instituto de

Bioquímica Médica da UFRJ. Os animais eram mantidos sob condições

constantes de temperatura (cerca de 25ºC) e ciclo de claro/escuro (12 horas no

claro e 12 horas no escuro). A manipulação e sacrifício dos animais seguiram as

normas estabelecidas pela Sociedade Brasileira de Neurociências e

Comportamento (SBNeC) e aprovadas pela comissão de uso de animais

experimentais do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade

Federal do Rio de Janeiro.

1. Sacrifício dos animais, dissecção e estimulação das retinas

Animais adultos (com idades de 30 a 45 dias) foram sacrificados por

inalação de clorofórmio. Os olhos foram enucleados e seccionados ao nível da

córnea e gentilmente separado do humor vítreo. A calota posterior do olho,

contendo a retina, foi utilizada em diferentes protocolos experimentais (ver

desenho esquemático de um olho de rato e suas principais estruturas na figura 5).

As retinas eram então imersas em solução de Ringer que tinha a seguinte

composição: NaCl 125mM, KCl 205mM, CaCl2 2,0mM, NaHCO3 25mM, NaH2PO4

1,25mM, glicose 25mM, MgCl2 10mM. Após o preparo, a solução tinha o seu pH

ajustado para 7,2-7,4. A solução de Ringer se caracteriza por ser isosmótica ao

tecido, com osmolaridade entre 300-315mOsM.

Plano de corte

Figura 5 – Desenho esquemático de vista longituninal de um olho de rato evidenciando as principais estruturas e o plano de corte utilizado para a obtenção do tecido retiniano. Bevilaqua, M.C.N. 2008.

Os experimentos de liberação de GABA consistiam na estimulação do

tecido retiniano em solução de Ringer contendo um determinado agonista

glutamatérgico (NMDA – Research Biochemical Inc.; KA – Research Biochemical

Inc.; ou ASP – Sigma). Os dados obtidos dessas retinas estimuladas eram

comparados com a retina controle (retina que foi mantida durante todo tempo em

solução de Ringer livre de agonistas de glutamato). Detalhadamente: durante a

estimulação, as retinas eram mantidas em temperatura constante de 37ºC e

constantemente aeradas com uma mistura carbogênica de 95%O2 e 5%CO2 em

um tubo de ensaio contento a solução de Ringer e um agonista de glutamato

(NMDA - 100µM; KA - 10µM/50µM/100µM; ASP - 100µM/500µM/2mM),

completando um volume final de 2mL durante 45 minutos.

Para verificar o efeito de antagonistas de receptores ionotrópicos de

glutamato, a ação modulatória da dopamina e a participação do transportador

neuronal de GABA, foram utilizados, em uma pré-incubação, respectivamente:

MK-801 (10µM), antagonista não competitivo de receptores do tipo NMDA e

DNQX(100µM), antagonista seletivo de receptores do tipo não-NMDA; dopamina

(2mM) e NNC-711 (100µM), inibidor específico do transportador neuronal de

GABA. A pré-incubação era realizada na ausência dos agonistas glutamatérgicos

e tinha a duração de 30 minutos. Em seguida as retinas eram tratadas com os

agonistas glutamatérgicos ainda na presença das drogas utilizadas na pré-

incubação por 45 minutos (ver tabela 1).

A solução de dopamina era preparada sempre no dia do experimento na

presença de ácido ascórbico (Sigma - 200µM) para prevenir sua oxidação e

pargilina (Sigma - 200µM) para prevenir sua degradação. Pargilina e ácido

ascórbico estavam presentes também na solução de Ringer do experimento em

questão.

Em experimentos com NMDA, o Ringer utilizado na incubação era livre de

magnésio e continha 2mM de glicina, co-agonista de receptores do tipo NMDA.

Tabela 1 – exemplo esquemático de experimento de estimulação de retina com aminoácidos excitatórios

1.1. Fixação e obtenção do tecido

Após o período de incubação, as retinas eram rapidamente lavadas em

tampão fosfato (0,1M - pH 7,2) e fixadas por imersão em solução de

paraformaldeído 4% (PA 4%) e tampão fosfato por duas horas. Em seguida, o

tecido era lavado por três vezes com tampão fosfato e mantido no mesmo por uma

noite. As análises foram realizadas com processamento imunohistoquímico em

cortes transversais de retina. Para obtenção dos cortes, as retinas foram

crioprotegidas sendo colocadas em tampão fosfato com concentrações crescentes

de sacarose (15% e 30%). Após uma noite em tampão fosfato + sacarose 30%, as

retinas eram seccionadas ao meio e, na presença de meio de inclusão aquoso

(OCT – Sakura Finetek, Torrance, CA) eram congeladas em uma placa de

alumínio em nitrogênio líquido (-196ºC) o bloco congelado era então posicionado

em um suporte para cortes em criostato. Cortes transversais de 14µm eram

obtidos em criostato sob temperatura entre -15ºC e -20ºC e colhidos em lâminas

de vidro. As retinas de um mesmo experimento – por exemplo: retina controle;

estimulada com NMDA e estimulada com NMDA na presença de MK-801 – eram

montadas em um mesmo bloco, cortadas e colhidas em uma mesma lâmina. As

lâminas eram gelatinizadas previamente em solução de gelatina (0,5%) e alúmem

de cromo (0,002%) em água destilada. Cada lâmina era gelatinizada por duas

vezes e secavam por, no mínimo, oito horas. Os cortes colhidos em lâminas

gelatinizadas eram mantidos em temperatura ambiente até secarem e após isso,

armazenados em freezer na temperatura de -20ºC.

1.2. Processamento imunohistoquímico

O método de imunohistoquímica foi utilizado para avaliar, indiretamente, por

meio de marcação de GABA remanescente, a quantidade e a origem, em nível

celular, do GABA liberado com a estimulação das retinas.

Para tal, as lâminas contendo cortes obtidos em criostato foram

descongeladas a temperatura ambiente. Como o método imunohistoquímico

utilizado baseia-se na ação de uma enzima peroxidase, foi necessário uma pré-

incubação (por 15 minutos) das lâminas contendo os cortes em peróxido de

hidrogênio – 3% (H2O2) a fim de exaurir a peroxidase endógena. Após isso, as

lâminas eram lavadas em solução tampão fosfato salina (PBS) por três vezes com

intervalo de cinco minutos entre as lavagens – todas as lavagens com PBS eram

feitas dessa forma – e seguia-se a incubação com uma solução de 5% de soro de

albumina bovino (BSA) em PBS adicionado de 0,25% de Triton (PBST) por 45

minutos. Em seguida, as lâminas foram incubadas por 24 horas em solução de

PBST contendo anticorpo anti-GABA (anticorpo primário) obtido a partir de coelho

(Vector) na diluição de 1:5000. Após o período de incubação com anticorpo

primário, as lâminas eram lavadas com PBS e incubadas com o anticorpo

secundário (anti-Rabbit biotinilado, Vector) na diluição de 1:200 por uma hora. Os

cortes eram novamente lavados em PBS e incubados com ABC (complexo

avidina-biotina; Kit Elite Vectastain, Vector – 1:50) por uma hora. Finalmente, após

lavagem em PBS, a reação era revelada com o kit para peroxidase com

cromógeno SG (Vector) por 10 minutos e então eram lavados com PBS e

montados com meio de glicerol tamponado (40% em tampão fosfato 0,2M).

2. Criação de animais desnutridos

Os animais utilizados nesse trabalho foram divididos em dois grupos:

controle (alimentados com dieta comercial - purina®) e desnutridos (alimentados

com a Dieta Básica Regional – DBR). Para a formação do grupo de animais

desnutridos, foi utilizada a substituição da dieta comercial pela Dieta Básica

Regional (DBR) a ser oferecida às ratas durante toda lactação, a partir do primeiro

dia de vida pós-natal (P0) dos filhotes, e posteriormente, diretamente aos filhotes

após o desmame (aos vinte e um dias).

2.1. Composição da DBR

A DBR se caracteriza por ser uma dieta desbalanceada que contém apenas

8% de proteína (a maioria de origem vegetal), baixo teor lipídico (0,8%) e excesso

de glicídios (69%). A dieta é composta por: feijão mulatinho (Phaseolus vulgaris),

Mandioca (Manioc esculenta), batata doce (Ipomaea batatas) e charque (carne

bovina salgada e prensada). Como já mencionado, tal composição foi obtida a

partir de um inquérito alimentar realizado em 1968 por Batista Filho na região de

Zona da Mata em Pernambuco. Nesse inquérito, foram investigados os principais

componentes da dieta alimentar dessa população. Teodósio e colaboradores, em

1990, apresentaram a DBR como um modelo experimental para desnutrição e

disponibilizaram a composição centesimal dessa dieta.

Os alimentos são cozidos e ressecados na estufa (cerca de 65ºC). Após

isso, os alimentos são moídos até serem obtidas farinhas de cada alimento (com

exceção da farinha de mandioca, que pode ser comprada pronta). Os alimentos

triturados são misturados na mesma proporção encontrada nos inquéritos

alimentares e com um pouco de água morna, forma-se uma massa a partir da qual

a ração é confeccionada. As tabelas 2 e 3 mostram a composição centesimal da

dieta comercial e da DBR.

Componentes g% Proteína Carboidrato Lipídio Vitaminas Sais Minerais Fibra Kcal/Kg

Caseína Comercial

27,08 22,0 88,0

Amido de Milho

57,12 0,58 50,44 0,12 0,09 205,16

Óleo Vegetal 7,5 7,5 67,5 Vitamina Hidrossolúvel

1,0 1,0

Vitamina Lipossolúvel

1,0 1,0 1,0 9,0

Sais Minerais 4,0 4,0 Metionina 0,3 Papel de Filtro 2,0 2,0 Total 100,0 22,58 50,44 8,62 2,0 4,09 2,0 369,66

Tabela 2 – Composição centesimal dos alimentos da ração comercial Purina®

Componentes g% Proteína Carboidrato Lipídio Vitaminas Sais Minerais

Fibra Kcal/Kg

Feijão Mulatinho

18,34 3,99 10,66 0,24 0,57 1,09 60,76

Mandioca 64,81 0,84 48,59 0,12 0,43 5,64 198,80 Charque 3,74 2,74 0,43 0,06 0,06 14,57 Gordura 0,35 0,35 3,15 Batata Doce 12,76 0,30 9,99 0,03 0,20 0,48 58,87 Total 100,00 7,87 69,67 0,95 1,02 7,21 336,15

Tabela 3 – Composição centesimal dos alimentos da Dieta Básica Regional. Observe, comparando as tabelas 2 e 3 a porcentagem total de proteína das duas dietas.

3. Análise quantitativa

O número de células imunorreativas ao GABA foi quantificado em secções

radiais de retina de 14µm de espessura. As contagens foram realizadas em

secções radiais alternadas, a fim de evitar a contagem de uma mesma célula

duplamente. Utilizando-se um microscópio Axioskop (Zeiss) de campo claro,

obtinha-se o valor do numero de células GABA+, assim como os perfis de células

não marcadas na CCG e nas três fileiras mais internas da CNI (posição onde se

localizam as células amácrinas tópicas). Calculava-se, em seguida, a

porcentagem de células marcadas em relação ao total de células (marcadas e

não-marcadas). Tais contagens foram realizadas com uma lente objetiva de 40X

de aumento e uma ocular de 10X munida de gratícula (figura 6).

Cada dado referente à contagem de células provém de um experimento

com N=3. Isso quer dizer que três animais foram utilizados. Para cada animal, no

mínimo três lâminas foram analisadas. Logo, para N=3, foi necessário a análise

de, no mínimo, nove lâminas. Cabe lembrar que os cortes das retinas de

diferentes grupos de um mesmo experimento eram colhidas na mesma lâmina,

sofrendo, dessa forma, o mesmo processamento histológico e imunohistoquímico.

Os dados foram analisados estatisticamente usando o one-way ANOVA e o

pós-teste de Bonferroni.

Figura 6 – Esquema de como foi feita a análise quantitativa em cortes de retina. A figura mostra o desenho de gratícula sobreposta à foto de um corte de retina.

RESULTADOS

1. Padrão de imunorreatividade de GABA e análise do número de células GABA-positivas em retinas de ratos adultos.

As retinas de ratos adultos, que não sofreram nenhum tratamento, foram

fixadas logo após a enucleação do olho e processadas imunohistoquímicamente

para GABA. Isso permitiu a análise do padrão de expressão do neurotransmissor.

Nesse estágio, o GABA mostra-se presente em células amácrinas (três fileiras de

células mais internas na CNI) e células na camada de células ganglionares. Além

disso, foi possível verificar marcação para GABA por toda a CPI (figura 7). Os

dados estão de acordo com os expostos na literatura (Mosinger et al., 1986).

A análise quantitativa foi realizada com o intuito de identificar de forma

numérica o padrão de imunoreatividade para GABA nas populações de células

estudadas. A análise quantitativa dos corpos celulares marcados (valores tomados

como porcentagem do total de células presentes na região relativa a células

amácrinas da CNI) revelou que cerca de 47% das células amácrinas eram GABA+

e 51% das células na camada de células ganglionares expressavam GABA na

retina de ratos adultos (figura 7).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 7. A. Fotomicrografia de corte transversal de retina de rato imunoreagida para GABA. Barra= 10µm. B. Gráfico do número de células GABA+ na CNI (células amácrinas) e células na CCG em retinas não tratadas.

2. Identificação dos receptores de AAE envolvidos na liberação de GABA

2.1. Análise do perfil dose-resposta dos Aminoácidos excitatórios

2.1.1. Cainato Foi necessário o estabelecimento de uma curva dose-resposta para

cainato e aspartato para escolher a concentração ótima a ser utilizada. A dose

utilizada na estimulação com NMDA (100µM) foi obtida a partir de dados da

literatura (Calaza et al., 2001, 2003 e 2006) e mostrou-se eficaz em induzir

diminuição na imunorreatividade para GABA em retinas tratadas. Estudos

referentes ao uso do cainato mostram que este é capaz de estimular o tecido

retiniano de aves e gambá (Calaza et al., 2001, 2003 e 2006) na concentração de

100µM, porém, ao utilizar esta concentração na retina de ratos, observa-se a

destruição parcial do tecido (dado não mostrado). Dessa forma, tornou-se

necessário o estabelecimento de doses ótimas com as quais o tecido seria

estimulado, porém não danificado.

KA, em todas as concentrações utilizadas por 45 minutos, induziu

significativa diminuição na imunorreatividade e no número de células GABA+ tanto

na CNI quanto na CCG sem danificação do tecido (Figuras 8 e 9).

A partir de então, a dose estabelecida para a estimulação com KA foi a de

25µM, por se tratar de um valor intermediário, onde é verificada a estimulação do

tecido sem a sua danificação (figura 23).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 8 – Fotomicrografias de cortes transversais de retinas imunoreagidas para GABA A. retina controle e após tratamento com: B. KA 10µM. C. KA 25µM. D. KA 50µM. Barra=10µm.

Amácrinas Figura 9 – Histograma da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA após tratamento com 10µM, 25µM e 50µM de KA. P < 0,05. N=3

* * *

* *

Controle KA 10 KA 25 KA 5005

1015202530354045

% d

e C

els

GA

BA

+

Ganglionares

CNI

CCG

Controle KA 10 KA 25 KA 5005

101520253035404550556065

% d

e C

els

GA

BA

+

2.1.2. Aspartato

A dose inicial de ASP testada em experimento-piloto foi de 100µM – dose

utilizada por Calaza e colaboradores em trabalhos com retinas de pinto e gambá

(2001, 2003, 2006). Tal dose não se mostrou eficiente em provocar qualquer

liberação de GABA em retinas de ratos. Dessa forma, novamente foi necessário o

estabelecimento de uma curva dose-resposta para verificar se o ASP exerce

algum efeito na retina de rato e, se afirmativo, identificar a concentração

necessária de ASP na qual fosse possível verificar seu efeito na diminuição de

imunorreatividade para GABA em cortes de retina.

As retinas foram tratadas com ASP nas concentrações de 100µM, 2mM e

5mM por 45 minutos. A análise qualitativa mostrou que o ASP foi capaz de

provocar redução significativa no número de células GABA+ quando administrado

em concentrações iguais ou superiores a 2mM (figura 10). Em retinas tratadas

com essa concentração de ASP verificou-se significativa redução na

imunorreatividade para GABA em células amácrinas e células na CCG (figura 10).

A análise quantitativa mostrou que em retinas tratadas com 2mM de ASP a

redução no número de corpos celulares imunorreativos para GABA entre as

células amácrinas na CNI foi de cerca de 30%, enquanto que esta mesma

concentração de ASP foi capaz de reduzir a marcação para GABA em 35% na

CCG. O tratamento com 5mM de ASP provocou efeito mais notável na CNI,

reduzindo a imunorreatividade para GABA entre essas células em 60% (figura 11).

A partir deste experimento, a dose escolhida de ASP para experimentos

futuros foi de 2mM, pois a partir desse valor nota-se o efeito do aminoácido em

induzir a liberação de GABA, sem, no entanto, danificar o tecido (Figura 25).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 10 - Fotomicrografias de cortes transversais de retina de ratos processadas imunohistoquimicamente para GABA. A – retina controle. Retinas tratadas com aspartato (B) 100µM, (C) 2mM e (D) 5mM. Barra = 10µm.

**

* *

Controle 100µM 2mM 5mM0

10

20

30

40

Grupos

% d

e cé

ls. G

AB

A +

/to

tal d

e cé

lula

s am

ácri

nas

Controle 100µM 2mM 5mM05

10152025303540455055

Grupos

% d

e cé

ls. G

AB

A +

/to

tal d

e cé

lula

s na

CC

G

CNI

CCG

Figura 11 – Histogramas da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA após tratamento com 100µM, 2mM e 5mM de aspartato. P < 0,05. N=3.

2.2. O Efeito do tratamento com NMDA e influência da dopamina

2.2.1. Análise qualitativa

Qualitativamente o NMDA não parece induzir a diminuição de

imunorreatividade para GABA na CCG.

Retinas tratadas com 100µM de NMDA por 45 minutos sofreram redução na

imunoreatividade para GABA e no número de células GABA+ quando comparada

com retinas controle. A redução foi observada somente na CNI (figura 12).

O antagonista não competitivo do receptor NMDA, MK801, foi utilizado para

confirmar a ação específica de NMDA sobre seus receptores. Como esperado,

MK801 bloqueou completamente o efeito do NMDA (figura 12).

Como já citado, a dopamina tem sido mostrada como agente modulador da

ação do glutamato em receptores do tipo NMDA (Castro et al., 1999) e na

liberação de GABA induzida por NMDA e ASP (Calaza et al., 2001). Retinas

incubadas com NMDA na presença de dopamina (2µM) apresentaram um

bloqueio parcial na ação estimulatória do NMDA, apresentando, dessa forma, uma

menor redução no número de células GABA+ na CNI (figura 12).

Em retinas tratadas com NMDA na presença de NNC-711 foi observado o

completo bloqueio dos efeitos do NMDA.

Estes dados juntos sugerem que de fato os receptores do tipo NMDA estão

sendo ativados durante o tratamento com o NMDA, pois o efeito é completamente

bloqueado com o uso do MK-801. Além disso, a ação do NMDA sobre seu

receptor aparentemente é modulada pela dopamina. Os dados mostram ainda que

o processo de liberação de GABA é provocado pela reversão do transportados de

GABA, pois é completamente bloqueado pelo NNC-711.

2.2.2. Análise quantitativa

A análise quantitativa revelou que a porcentagem de células amácrinas

GABA+ na retina controle é cerca de 35%, mostrando-se reduzida em relação à

retinas intactas, não submetidas à incubação em Ringer. Em acordo com os dados

qualitativos, o tratamento com NMDA por 45 minutos foi eficiente em induzir a

diminuição de cerca de 62,5% do número de células amácrinas GABA+ na CNI.

Entre as células na CCG, o NMDA não exerceu efeito significativo (diminuição da

imunorreatividade para GABA de 15%). Além disso, as retinas que foram tratadas

com NMDA mais dopamina apresentaram uma porcentagem maior de células

amácrinas GABA+ na CPI, reduzindo o efeito do NMDA de 25% em média.

Confirmando a inibição parcial do efeito do NMDA pela dopamina (figura 13)

observada anteriormente em neurônios de hipocampo de rato (Castro et al., 1999).

Tanto o MK801 quanto o NNC-711 bloquearam completamente o efeito do

NMDA (figura 13) Estes dados corroboram a idéia de que a redução do número de

células GABA+ induzida por NMDA ocorre via estimulação direta do receptor

NMDA e reversão do transportador de GABA, caracterizando um processo de

liberação de GABA de forma não vesicular.

Como o NMDA não alterou a imunorreatividade para GABA nem o número

de células GABA+ na CCG, sugere-se que o NMDA não induz a liberação de

GABA nessa população celular ou que a dose utilizada tenha sido insuficiente em

provocar tal efeito.

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 12 - Fotomicrografia de cortes transversais de retina de ratos processadas imunohistoquimicamente para GABA. A – retina controle. Retinas tratadas com (B) NMDA 100µM, (C) 100µM de NMDA + DA e (D) 100µM de NMDA + NNC-711. Barra = 10µm.

*

Amácrinas

Controle

NMDA

NMDA+DA

NMDA+NNC

NMDA + MK

0

10

20

30

40

% d

e cé

lula

s G

AB

A+

Ganglionares

Controle

NMDA

NMDA+DA

NMDA+NNC

05

1015202530354045

% d

e cé

lula

s G

AB

A+

CNI

CCG

Figura 13 – Histograma da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA após tratamento com 100µM de NMDA, 100µM de NMDA + DA; 100µM de NMDA + NNC e 100µM de NMDA + MK801. P < 0,05. N=3.

2.3. Efeito do tratamento com cainato e influência da dopamina

2.3.1. Análise qualitativa

Retinas que foram tratadas com 25µM de cainato sofreram redução na

imunorreatividade para GABA tanto na CNI quanto na CCG. Diferentemente do

observado com o NMDA, a dopamina não foi capaz de modular o efeito do cainato

em nenhuma das retinas tratadas. Retinas tratadas com cainato na presença de

dopamina (2µM) apresentaram o mesmo padrão de imunorreatividade que as

retinas tratadas somente com cainato. O DNQX, antagonista específico de

receptores não-NMDA, bloqueou completamente a ação do KA, confirmando a

participação de receptores não-NMDA no processo de liberação de GABA

observado. O efeito do cainato foi completamente bloqueado quando a

estimulação ocorria também na presença de NNC-711. Em conjunto, esses dados

sugerem que o KA atua ativando receptores não-NMDA que não são modulados

pela dopamina e que o efluxo de GABA provocado ocorre via transportador de

GABA (figura 14).

2.3.2. Análise quantitativa

O cainato reduziu em cerca de 50% o número de células amácrinas na CNI

e diferentemente do NMDA, foi capaz de reduzir também o número de células na

CCG em torno de 20%, como verificado também na análise qualitativa. Os

resultados da análise quantitativa confirmam que a dopamina não foi capaz de

modular o efeito da estimulação com KA em nenhuma população celular em

análise. E, finalmente, a quantificação revelou que, como observado de forma

qualitativa, tanto o DNQX quanto o NNC-711 bloquearam totalmente a ação do

cainato, indicando, mais uma vez, que o efluxo de GABA induzido por ativação de

receptores do tipo não-NMDA ocorre via transportador membranar de GABA

(figura 15).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 14 - Fotomicrografia de cortes transversais de retina de ratos processadas imunohistoquimicamente para GABA. A – retina controle. Retinas tratadas com (B) KA 25µM, (C) 25µM de KA + DA e (D) 25µM de KA + NNC-711. Barra = 10µm.

Figura 15 – Histogramas da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA em relação ao número total de células na porção interna da CNI e CCG, respectivamente, após tratamento com 25µM de KA, 25µM de KA e 2µM de DA, 25µM de KA e 100µM de NNC-711 e 25µM de KA e 100µM de DNQX. P < 0,05. N=3.

**

**

Amácrinas

Controle

KA 25

KA+DA

KA + DNQX

KA+NNC

0

10

20

30

40

% d

e C

els

GA

BA

+

Ganglionares

Controle

KA 25

KA+DA

KA+DNQX

KA+NNC

0

10

20

30

40

50

60

% d

e C

els

GA

BA

+

CNI

CCG

2.4. Efeito do tratamento com aspartato e influência da dopamina

2.4.1. Análise qualitativa

O tratamento com aspartato (2mM), mesmo na presença de magnésio, foi

eficaz em provocar redução no padrão de imunorreatividade para GABA entre as

células amácrinas e também entre as células na CCG. Da mesma forma que

observado para o NMDA, a dopamina também inibiu parcialmente a redução da

imunorreatividade para GABA induzida por aspartato em ambas as populações

celulares. Ainda, o efeito do tratamento com aspartato foi totalmente bloqueado

quando na presença de MK801, um antagonista clássico de receptor NMDA, o que

confirma a ação do aspartato sobre este tipo de receptor. Quando na presença de

NNC-711, assim como ocorre com o NMDA e com o KA, verifica-se o bloqueio

total do efluxo de GABA induzido por aspartato (figura 16).

Esses dados mostram que provavelmente a ação do aspartato ocorra via

ativação de receptores NMDA, pois o efeito é bloqueado por MK801, apesar de

ocorre mesmo na presença de magnésio. O fato de o efeito ser modulado pela

dopamina reforça as suposições de que haja ativação de receptores NMDA, uma

vez que, como mostrado anteriormente, a dopamina parece não modular

receptores do tipo não NMDA. E como ocorre com os outros AAE’s estudados, o

efluxo de GABA parece ser proveniente de uma reversão no transportador de

GABA, sendo completamente bloqueado pelo NNC-711.

2.4.2. Análise quantitativa

A análise quantitativa revelou que o tratamento com aspartato a 2mM por

45 minutos foi responsável pela diminuição do número de células GABA+ de cerca

de 50% na CNI quando comparando com a retina controle. A incubação com

aspartato provocou ainda a diminuição do número de células GABA+ na CCG

(cerca de 23% do controle). O efeito do tratamento com aspartato foi modulado

pela incubação conjunta com dopamina tanto na CNI quanto na CCG, ainda que

de forma não significativa, mas é possível observar uma tendência de que a

dopamina está provocando redução no efeito do aspartato. A redução na

imunorreatividade para GABA provocada pelo tratamento com aspartato foi

completamente bloqueada pela administração de MK-801 durante a estimulação

com o aminoácido excitatório. Verificou-se o bloqueio do efeito do aspartato

também quando a retina foi estimulada na presença de NNC-711 (figura 17).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 16 - Fotomicrografias de cortes transversais de retina de ratos processadas imunohistoquimicamente para GABA. A – retina controle. Retinas tratadas com (B) ASP 2mM, (C) 2mM de ASP + DA e (D) 2mM de ASP + NNC-711. Barra = 10µm.

* Figura 17 – Histogramas da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA em relação ao número total de células na porção interna da CNI e CCG, respectivamente, após tratamento com 2mM de ASP, 2mM de ASP e 2µM de DA, 2mM de ASP e 100µM de NNC-711 e 2mM de ASP e 100µM de DNQX. P < 0,05. N=3.

*

*

Células Amácrinas

contro

leASP

A+DA

A+NNC

ASP + MK80

10

10

20

30

40

% d

e cé

lula

s G

AB

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tota

l de

célu

las

amác

rina

s

Células Ganglionares

Controle

AspA+D

A

A+NNC

ASP + MK80

10

10

20

30

40

50

% d

e cé

lula

s G

AB

A+/

tota

l de

célu

las

na C

CG

CNI

CCG

3. Efeitos da desnutrição crônica sobre a liberação de GABA induzida por aminoácidos excitatórios

3.1. padrão de imunoreatividade de GABA e análise do número de células GABA-positivas em retinas de ratos adultos.

O padrão de imunorreatividade para GABA foi investigado em retinas de

animais desnutridos aos trinta dias pós natal. Para isso, foi utilizada a mesma

metodologia já descrita para animais alimentados com dieta padrão. Dessa forma,

a população de células GABA+ na CNI de animais desnutridos é de cerca de 50%.

Enquanto que na CCG a porcentagem de células GABA+ é de cerca de 49%.

(figura 18).Como já descrito por Almeida e colaboradores (2001 e 2002), em

retinas de ratos tratados com a DBR, a detecção de GABA aos 30 dias não se

diferencia do encontrado nas retinas de animais controle (alimentados com dieta

comercial) com a mesma idade.

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 18. A. Fotomicrografia de corte transversal de retina de rato desnutrido imunorreagida para GABA. Barra= 10µm. B. Gráfico do número de células amácrinas e células na CCG GABA+ em retinas não incubadas.

3.2. Efeito do tratamento com NMDA em retinas de animais desnutridos

Retinas de animais de 30 dias desnutridos, incubadas com 100µM de

NMDA, apresentaram uma redução significativa da imunorreatividade para GABA

quando comparadas com as retinas controle (também proveniente de animais

desnutridos, porém não estimuladas com NMDA mantidas em solução de Ringer).

Surpreendentemente, a redução podia ser observada, além de na CNI, também na

CCG, onde com a mesma concentração de NMDA, não foram observados

qualquer efeito em retinas de animais alimentados com dieta comercial (comparar

figuras 12 e 19).

A análise quantitativa mostrou que o NMDA provocou uma diminuição na

porcentagem de células GABA+ na CNI de cerca de 25% enquanto que na CCG a

redução foi de 35% (figura 20).

A confirmação de que se tratava da ativação do receptor de NMDA clássico

foi obtida com o tratamento das retinas com NMDA e MK801. Este antagonista de

receptores NMDA bloqueou completamente a ação do NMDA em reduzir o

número de células GABA+ tanto na CNI quanto na CCG (figura 20).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 19. Retinas de ratos desnutridos imunorreagidas para GABA. A. retina controle. B. retina estimulada com NMDA a 100µM. C. Retina estimulada com NMDA na presença de MK-801. Barra = 10µm.

*

*

CNI

Figura 20 – Histogramas da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA em relação ao número total de células na porção interna da CNI e CCG, respectivamente, após tratamento com 100µM de NMDA e 100µM de NMDA na presença de MK801. P < 0,05. N=3.

3.3. Efeito do tratamento com cainato em retinas de animais desnutridos

Em retinas de animais desnutridos, o cainato reduziu significativamente o

número de células amácrinas GABA+ em cerca de 50% e na CCG também em

cerca de 50%. A redução na imunorreatividade provocada por cainato em retinas

de animais desnutridos mostrou-se mais evidente do que em animais alimentados

com dieta comercial (comparar figuras 14 e 21).

O efluxo de GABA provocado pelo tratamento com cainato foi

completamente bloqueado pelo tratamento conjunto de cainato com DNQX,

antagonista de receptores não-NMDA. Tal fato sugere que a liberação de GABA

induzida por cainato observada em animais desnutridos ocorre via ativação de

receptores não-NMDA (figura 22).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 21. Retinas de ratos desnutridos imunorreagidas para GABA. A. retina controle. B. retina estimulada com KA a 25µM. C. Retina estimulada com KA na presença de DNQX. Barra = 10µm.

*

*

CNI Figura 22 – Histogramas da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA em relação ao número total de células na porção interna da CNI e CCG, respectivamente, após tratamento com 25µM de KA e 25µM deKA na presença de DNQX. P < 0,05. N=3.

3.4. Efeito do tratamento com aspartato em retinas de animais desnutridos

O tratamento com aspartato em retinas de animais desnutridos provocou

redução geral na imunorreatividade para GABA. Assim como em animais

alimentados com dieta comercial, nos animais tratados com a DBR o aspartato

exerceu efeito tanto em células amácrinas quanto em células GABAérgicas na

CCG (figura 23). Entre as células amácrinas na CNI o aspartato provocou redução

no número de células GABA+ em cerca de 35%. Na CCG, a redução foi de cerca

de 50%.

O tratamento conjunto das retinas com aspartato e MK-801 impediu

completamente o efluxo de GABA provocado pelo aspartato, sugerindo haver

ativação de receptores do tipo NMDA durante a estimulação com aspartato

também em animais desnutridos (figura 24).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 23. Retinas de ratos desnutridos imunorreagidas para GABA. A. retina controle. B. retina estimulada com ASP a 2mM. C. Retina estimulada com ASP na presença de MK801. Barra = 10µm.

*

*

CNI

CCG

Figura 24 – Histogramas da porcentagem de células amácrinas (A) e células na CCG (B) imunorreativas para GABA em relação ao número total de células na porção interna da CNI e CCG, respectivamente, após tratamento com 2mM de ASP e 2mM de ASP na presença de MK801. P < 0,05. N=3.

4. Avaliação da integridade do tecido

4.1. Avaliação morfológica de retinas de animais normais e desnutridos

A histologia geral das retinas dos diferentes grupos experimentais foi

avaliada pela observação com a coloração de DAPI, que conhecidamente marca

núcleos celulares.

A estrutura das retinas não foi alterada pelos tratamentos com NMDA, KA e

ASP. Não houve, no entanto, nenhuma indicação morfológica de lesão ou edema

nas camadas nucleares, ou perfil de rompimento celular. As concentrações

utilizadas, bem como o tempo de exposição do tecido aos reagentes excitatórios

não encontraram-se dentro das faixas que provocam excitotoxicidade (figuras 25 e

26).

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 25 – Fotomicrografias de retinas de animais alimentados com dieta comercial coradas com DAPI. A – retina de animal não-estimulado. B – retina de animal tratado com 100µM de NMDA. C – retina de animal tratado com 25µM de cainato. D – retina de animal tratada com 2mM de aspartato. Barra=10µm.

CNE CPE CNI CPI CCG

Figura 26 – Fotomicrografias de retinas de animais desnutridos alimentados com dieta básica regional (DBR) coradas com DAPI. A – retina de animal não-estimulado. B – retina de animal tratada com 100µM de NMDA. C – retina de animal tratada com 25µM de cainato. D – Retina de animal tratada com 2mM de aspartato. Barra = 10µm.

DISCUSSÃO

1. Caracterização do padrão de liberação de GABA induzida por aminoácidos excitatórios em retinas de ratos normais

A liberação de GABA induzida por AAE’s é um fenômeno que tem sido

investigado por diversos autores nos últimos 27 anos. Os primeiros estudos

utilizavam a metodologia que aproveitava a capacidade de células GABAérgicas

da retina de captarem o [3H]-GABA, após a captação, um estímulo excitatório

(gutamatérgico) era oferecido e a liberação do [3H]-GABA analisada (Tapia e

Arias, 1982; Morán e Pasantes-Morales, 1983; Yazulla, 1983; Yazulla e

Kleinschmidt, 1983; Do Nascimento e de Mello, 1985; Schwartz, 1987; Duarte et

al., 1993; Ferreira et al., 1994; Carvalho et al., 1995). Essa abordagem bioquímica

possibilitou importantes descobertas em relação aos mecanismos de liberação de

GABA. Entretanto, tal metodologia não permitia a identificação dos tipos celulares

ou circuitos envolvidos na interação glutamatérgica/GABAérgica na retina.

Andrade da Costa e colaboradores (2000, 2001) e Calaza e colaboradores (2001,

2003, 2006) utilizando-se da técnica de imunohistoquímica identificaram

populações de células envolvidas na liberação de GABA em retinas numa

abordagem in situ.

É sabido que além do L-Glu, aspartato também é capaz de induzir a

liberação de [3H]-GABA (Yazulla et al., 1985; Yaqub e Eldred, 1993) e que esta

liberação ocorre via ativação de receptores do tipo NMDA (Yazulla, 1983; Kubrusly

et al., 1998).

L-Glutamato e, em menor escala, o aspartato são os principais inputs

excitatórios de células GABAérgicas na retina. Trabalhos relativamente recentes

têm, por meio de imunohistoquímica, identificado populações celulares que

respondem ao estímulo por AAE’s com liberação de neurotransmissores. Andrade

da Costa e colaboradores (2000) mostraram que em retina de Cebus Apella o KA

provoca diminuição na imunorreatividade para GABA em células amácrinas e

células interplexiformes, enquanto que o NMDA não se mostra eficiente em induzir

liberação de GABA nas populações de células GABAérgicas investigadas. Em

2001 Calaza e colaboradores mostraram que em retina de pinto o NMDA induz a

liberação de GABA de forma significante entre células amácrinas enquanto que o

KA produz o mesmo efeito nessa população de células e ainda induz a liberação

de GABA entre as células horizontais. Neste mesmo trabalho foi investigado o

efeito do tratamento com aspartato e se descobriu que este aminoácido atua de

forma a provocar a liberação de GABA somente nas células amácrinas, não

exercendo efeito sobre as células horizontais, assim como o NMDA. O efluxo de

GABA induzido por AAE’s também foi verificado em retinas de gambá – mamífero

marsupial. Este estudo mostrou que ambos NMDA e KA provocam decréscimo de

80 e 50%, respectivamente no número de células amácrinas GABA+ e células

GABAérgicas na CCG. Nesse animal, o aspartato foi capaz de induzir liberação de

GABA somente entre células amácrinas (Calaza et al., 2006). A identificação

histológica de subpopulações de células GABAérgicas na retina de rato –

mamífero placentário – que respondem aos diferentes agonistas de glutamato não

havia sido caracterizado até o momento. A identificação dessas populações

celulares torna-se de grande importância, pois acrescentam dados a respeito do

funcionamento do tecido, afirmam a retina como modelo de estudo para interações

de sistemas de neurotransmissores e, somado a dados oriundos de outras

espécies, permite o estabelecimento de relações filogenéticas entre as espécies

estudadas em relação ao funcionamento de circuitos na retina interna.

No presente trabalho ficou estabelecido que todos os agonistas

glutamatérgicos estudados (NMDA, KA e ASP) foram capazes de induzir

diminuição na imunorreatividade para GABA entre as células amácrinas de forma

significativa. Estes dados estão de acordo com o observado em outras espécies –

pinto e gambá – (Calaza et al., 2001, 2003 e 2006), exceto para o Cebus Apella,

onde o NMDA não produz nenhum efeito nessa população de células (Andrade da

Costa et al., 2000).

A dose de NMDA utilizada nos trabalhos de Calaza foi a mesma utilizada no

presente estudo (100µM). Comparando-se o efeito do NMDA em retinas de pinto,

gambá e rato verifica-se que o NMDA mostra-se mais eficiente em provocar a

redução do número de células amácrinas GABA+ na retina de gambá (80% de

redução) e na retina de rato (62,5% de redução) quando se compara com a retina

de pinto, onde a mesma dose de NMDA provocou redução de GABA-IR de 50%

entre as células amácrinas. NMDA a 100µM não foi capaz de induzir liberação de

GABA entre células na CCG de retinas de ratos. Este dado, no entanto, não

permite afirmar a incapacidade deste aminoácido em estimular esta população

celular. Seria necessário investigar o efeito do NMDA em outras doses para

averiguar se células da CCG são menos sensíveis ou completamente insensíveis

ao estímulo por NMDA.

O tratamento com KA provocou diminuição no número de células GABA+

tanto na CNI (50% das células amácrinas) quanto na CCG (20%). Em relação às

outras espécies estudadas (Andrade da Costa et al., 2000, 2001 e Calaza et al.,

2001, 2003 e 2006) pode-se afirmar que todas possuem sub-populações de

células amácrinas sensíveis ao KA na retina. O efeito do KA na retina de rato

mostrou-se quantitativamente semelhante ao encontrado na retina de pinto. A

retina de gambá mostra-se de forma global mais sensível ao KA quando se

compara com a retina de rato. O KA é responsável pela redução de 80 e 50%,

respectivamente no número de células GABA+ entre as células amácrinas e

células na CCG em retinas de gambá (Calaza et al., 2006).

O aspartato tem sido apontado como um possível neurotransmissor

excitatório na retina. Existem evidências de que o ASP é expresso por diversos

tipos celulares na retina (Yaqub e Eldred, 1991; Sun e Crossland, 2000). Ao

contrário do glutamato que não consegue distinguir entre os vários subtipos de

receptores para AAE’s, o aspartato é capaz de ativar seletivamente receptores

NMDA e aparentemente não exerce qualquer efeito sobre receptores não-NMDA.

Até o momento, não existem dados publicados a respeito dos efeitos do aspartato

em induzir liberação de GABA em retina de mamíferos não-marsupiais. Dados do

presente estudo confirmam evidências anteriores de que o ASP pode atuar como

agonista glutamatérgico também na retina de rato. Isso porque este foi capaz de

provocar liberação de GABA tanto entre as células amácrinas quanto em células

da CCG. Na retina de rato, o ASP mostrou efeito bastante semelhante ao

encontrado em retinas de pinto e gambá (Calaza et al., 2001, 2003, 2006),

provocando a diminuição no número de células amácrinas GABA+ em cerca de

50%. Embora o ASP (na concentração utilizada) não seja capaz de provocar

liberação de GABA em células da CCG em retinas de gambá, mostrou-se eficiente

em induzir a diminuição do número de células imunorreativas para GABA na CCG

em 23% na retina de ratos.

(ver tabela 4 para comparação entre as espécies já estudadas).

Cabe lembrar que o aspartato induz a liberação de GABA mesmo na

presença de magnésio (íon que conhecidamente bloqueia o canal de receptores

do tipo NMDA e que existe em concentrações na faixa de 1mM no espaço

extracelular de SNC). Kubrusly e colaboradores (1998), em relação ao efeito do

tratamento com ASP em culturas de células perfundidas com [3H]-GABA,

consideraram a hipótese de que o ASP estaria provocando efluxo de [3H]-GABA

mesmo na presença de Mg++ graças ao transporte eletrogênico de aspartato

(Wadiche et al., 1995). De acordo com essa hipótese, correntes iônicas

associadas ao transporte de ASP seriam responsáveis pela pré-despolarização

necessária para desobstruir receptores adjacentes do tipo NMDA (bloqueados

pelo Mg++) que, após isso, podem ser ativados pelo ASP. Assim, a combinação de

dois fenômenos (ativação de receptores NMDA e transporte eletrogênico de ASP)

seria responsável pelo papel do ASP em induzir liberação de GABA via ativação

de receptores NMDA.

Os efeitos dos diferentes AAE’s nas células GABA+ devem ser decorrentes

da ativação de receptores clássicos já que a liberação de GABA induzida por

NMDA/ASP e KA é completamente abolida por MK801 e DNQX, antagonistas de

receptores NMDA e não-NMDA, respectivamente. A possibilidade de que a

liberação de GABA induzida por AAE’s na retina de rato fosse decorrente de

vazamento por lise celular foi descartada pela análise da integridade do tecido

corado com DAPI (corante de núcleo celular) após a estimulação com os

diferentes agonistas. Tal análise mostrou que, mesmo após a incubação com

AAE’s, a arquitetura do tecido retiniano mostrava-se igual a de uma retina fixada

logo após a enucleação.

A dopamina, uma catecolamina presente na retina, tem sido implicada na

modulação da liberação de GABA induzida por glutamato. De fato, parece haver

grande interação entre células GABAérgicas e dopaminérgicas no processamento

visual em nível de retina (Downling, 1987; Gardino et al., 1993). Na retina de

peixe-dourado, a dopamina é responsável pelo bloqueio da liberação de GABA

provocada pela estimulação com glutamato. Nesse animal, o efeito da dopamina é

aparentemente modulado pela ativação de receptores de dopamina D1 presentes

no tecido (Yazulla e Kleinschmidt, 1982; Kato et al., 1985; O’Brien e Downling,

1985). Parte da liberação de [3H]-GABA na retina de galinha é bloqueada pela

dopamina (do Nascimento et al., 1998). Embora a análise bioquímica realizada na

retina de galinha tenha mostrado o efeito modulatório da dopamina sobre a

liberação de [3H]-GABA, esta não permite a identificação dos tipos celulares que

poderiam estar sendo influenciados por esta amina. O efeito da dopamina na

retina de galinha mostrou-se de diferente natureza em relação aos dados

provenientes de experimentos com peixe-dourado (provavelmente por diferenças

nos tipos celulares envolvidos nesta circuitaria). Na retina de aves, a dopamina

pareceu agir de forma independente de ativação de seu receptor. O efeito

somente foi verificado na estimulação com NMDA, não havendo nenhum efeito

sobre a liberação de [3H]-GABA induzida por KA. Tais dados sugerem que a

dopamina, nessa classe, age de forma direta sobre o receptor NMDA (Do

Nascimento et al., 1998). Ainda não é sabido, até o momento, se a dopamina

exerce seu efeito modulatório em retinas de mamíferos placentários e se seu

efeito nessa sub-classe ocorre via ativação de receptores dopaminérgicos ou

interação com receptores glutamatérgicos.

Na retina de rato, não só foram identificadas as subpopulações de células

GABAérgicas que sofrem ação dos agonistas de glutamato, incluindo o aspartato,

como também foi possível caracterizar o grupo de células influenciado pela

dopamina. Dessa forma, o efeito da dopamina na retina de rato mostrou-se

bastante semelhante ao encontrado na retina de pinto. Tanto o NMDA quanto o

aspartado pareceram ter seus efeitos modulados pela dopamina. A liberação de

GABA induzida por cainato não sofreu qualquer efeito pela incubação conjunta

com a dopamina. Tais dados corroboram as evidências de que o efeito da

dopamina se dê via interação com sítios específicos no receptor NMDA.

Dados anteriores sugeriam a participação do transportador de GABA na

liberação de GABA induzida por AAE’s nas células amácrinas (Hofmann e Möckel,

1991; Duarte et al., 1993; Do Nascimento et al., 1998b; Andrade da Costa et al.,

2000; Calaza et al., 2001, 2003, 2006). Baseando-se nesta evidência, pareceu

importante verificar qual era a natureza da liberação de GABA verificada em

retinas de ratos. Nesse sentido, foi avaliada a contribuição desse transportador na

liberação de GABA induzida por KA, NMDA e ASP. Em todos os casos, NNC-711

inibiu o decréscimo na imunorreatividade para GABA o que reforça a idéia de que

o transportador de GABA atue por meio de sua reversão de modo a permitir – em

grande parte – a liberação de GABA induzida pelos AAE’s.

Tabela 4 – Tabela comparativa dos efeitos de tratamentos com aminoácidos excitatórios, AAE’s na presença de dopamina e AAE’s na presença de NNC em retinas de animais de diferentes grupos taxonômicos: Ave - Gallus domesticus; mamífero marsupial - Didelphis marsupialis; mamífero placentário roedor – Rattus norvegicus albinus (Wistar); mamífero placentário primata - Cebus apella.

2. Efeito da desnutrição crônica sobre a funcionalidade de circuitos glutamatérgicos\GABAérgicos na retina de ratos

A retina (quando comparada a outras estruturas centrais como hipocampo e

córtex cerebral) pode ser considerada um tecido que exibe menos mecanismos de

plasticidade. Porém, estudos recentes têm identificado fatores que alteram a

morfologia e funcionalidade do tecido, como inputs sensoriais e aporte protéico

oferecido pela alimentação durante o desenvolvimento (Almeida et al., 2001;

Silveira et al., 2007; Xu e Tian, 2007; Landi et al., 2007). Nesse sentido, pareceu

bastante importante investigar a funcionalidade dos sistemas de

neurotransmissores em retinas de rato sob condições que conhecidamente

provocam alguma alteração no tecido. Nesse sentido foi realizada a análise dos

efeitos da desnutrição crônica nos parâmetros caracterizados no presente estudo

em animais normais. A escolha da desnutrição como injúria se mostrou bastante

conveniente devido ao fato de se tratar de um modelo baseado em uma dieta

humana, além disso, tal escolha se mostrou bastante conveniente devido ao

volume de informações oriundos de trabalhos do Laboratório de Neurobiologia da

Retina – onde o presente estudo foi realizado. Estudos anteriores utilizando a

DBR, mesma fonte de desnutrição utilizada na presente análise, mostram que a

retina responde ao insulto durante o desenvolvimento como atrasos em todos os

parâmetros investigados: expressão de neurotransmissores como GABA,

acetilcolina, proteínas ligadoras de cálcio e geração de células amácrinas

GABAérgicas. No entanto, em animais adultos (P30) o tecido se mostrou

completamente recuperado (Almeida et al., 2001; Silveira et al., 2007). Como já é

sabido, o desenvolvimento normal do tecido depende de diversos fatores que

devem acontecer de forma orquestrada. Embora morfologicamente recuperada

não se sabia, até o presente momento, se a desnutrição provoca alguma alteração

funcional no tecido retiniano.

Dados caracterizados pelo presente estudo sugerem que de uma forma

geral a desnutrição protéica multideficiente causada pelo uso da DBR provocou

uma maior sensibilidade ao estímulo pelos AAE’s entre as células na CCG. A

estimulação com NMDA provocou uma redução de cerca de 34% no número de

células GABA+ na CNI, comparando-se com retina de animal desnutrido não

estimulada pelo NMDA. Ao passo que a estimulação de retinas de animais

normais com a mesma dose de NMDA provocou redução de cerca de 62% no

número de células GABA+ na mesma população de células. Isso sugere que as

células amácrinas de animais desnutridos são bem menos suscetíveis à

estimulação por NMDA. Os efeitos de KA e ASP entre células amácrinas são

exatamente os mesmos entre animais desnutridos e normais.

Na CCG verifica-se um aumento no efeito dos três agonistas

glutamatérgicos utilizados na indução da liberação de GABA. Nesse sentido, o

efeito do NMDA na CCG foi quase três vezes maior do que o notado em animais

normais (onde o NMDA não foi capaz de induzir liberação de GABA de forma

significativa). O tratamento com cainato provocou redução no número de células

GABA+ de 50% comparando-se com retina não estimulada. O efeito desse

aminoácido foi 2,5 vezes maior do que o observado em animais normais. O

tratamento com ASP também provocou efeito mais notável em retinas de animais

desnutridos. O efeito do ASP foi duas vezes maior na CCG desses animais.

A B

CCG

normal desnutrido05

1015202530354045

*

Red

ução

da

IRca

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CNI

Normal desnutrido0

10

20

30

40

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*

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ção

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CNI

normal desnutrido0

10

20

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60

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ção

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caus

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A

CCG

normal desnutrido0

10

20

30

40

50

60

*

Redu

ção

da IR

caus

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pelo

trat

amen

toco

m K

A

Figura 27 – gráficos comparativos: redução de imunoreatividade entre animais normais e desnutridos após o tratamento com diversos agonistas glutamatérgicos. A e B, efeito do tratamento com NMDA na CNI e CCG. C e D, efeito do tratamento com KA na CNI e CCG. E e F, efeito do tratamento com ASP na CNI e CCG.

CNI

normal desnutrido0

10

20

30

40

50

60

Redu

ção

da IR

caus

ada

pelo

trat

amen

toco

m A

SP

CCG - ASP

normal desnutrido0

10

20

30

40

E F

50

60

Redu

ção

da IR

caus

ada

pelo

trat

amo

com

ASP

ent

Em conjunto, os dados obtidos nos animais desnutridos sugerem que a

injúria da desnutrição durante o desenvolvimento esteja provocando uma

alteração na funcionalidade do tecido (pelo menos nas células GABAérgicas na

CCG). Com base nos dados não é possível identificar o motivo do efeito

diferencial do tratamento com os AA’Es na porção mais interna da retina. O

aumento na expressão de receptores ionotrópicos de glutamato seria uma

explicação plausível para o observado. Embora dados anteriores tenham

mostrado que o tecido retiniano em animais adultos se mostra completamente

recuperado dos efeitos provocados pela desnutrição, resultados obtidos no

presente estudo mostram que a funcionalidade do tecido adulto foi afetada pela

injúria.

CONCLUSÕES

1 – Os aminoácidos excitatórios provocam liberação de GABA na retina de ratos

nas populações celulares estudadas. NMDA na concentração utilizada não

provoca efeitos em células na CCG.

2 – A dopamina age de forma a modular os efeitos provocados pelo NMDA e ASP

em subpopulações de células na CNI e CCG.

3 – Aspartato atua como agonista glutamatérgico endógeno agindo sobre

receptores do tipo NMDA também na retina de ratos, mamíferos placentários.

4 – A liberação de GABA em retinas de ratos é provocada pela reversão de seu

transportador.

5 – A desnutrição crônica provoca maior resposta ao tratamento com todos os

AAE’s estudados principalmente na CCG.

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