35

Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste
Page 2: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - A semana de... Carlos Borges16 - Entrevista D. Gregório II Laham28 - Dossier Liberdade Religiosa40 - Internacional

46 - Multimédia48 - Estante50 - Vaticano II52 - Agenda54 - Por estes dias56 - Programação Religiosa57 - Minuto Youcat58 - App Pastoral60 - Pastoral da Saúde62 - Liturgia64 - Fundação AIS66 - Lusofonias

Foto da capa: AISFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

2

Opinião

Liberdadereligiosa em risco[ver+]

Carreirismo naIgreja[ver+]

Repensar aPastoral da Igreja[ver+]

Octávio Carmo |Fernando CassolaMarques |Manuel Barbosa |PauloAido Tony Neves | António Marujo |Nuno Rogeiro

3

Page 3: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Valem menos do que um cão?

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

Eu, pecador, me confesso: dei a notícia doassassinato de um casal de cristãos noPaquistão com a tristeza e o choque naturalperante a barbárie em causa, mas rapidamentehouve outras notícias, outras entrevistas,infelizmente mais choques e preocupações. Nãome surpreendeu que não viesse ninguém paraas ruas protestar, por exemplo, diante daembaixada do Paquistão. O mesmo se diga emrelação aos cristãos que morrem na Síria ou noIraque, bem como aos milhões que aí sãoforçados a deixar tudo para trás, em troca deuma sobrevivência precária.Felizmente, eles não sabem que aqui noOcidente há pessoas que, lutando por aquilo emque acreditam, são capazes de fazer de fazervigílias contra touradas ou contra a morte de umcão, mas os cristãos, pelo contrário, parecemassistir com indiferença ao martírio dos seusirmãos. Imagino o choque: será que eu valhomenos do que um cão?O recente relatório sobre a liberdade religiosa daFundação Ajuda à Igreja que Sofre (cujaapresentação reuniu ficou mais marcada pelasausências institucionais do que pela presença dequem de direito), as entrevistas ao patriarcaGregório III Laham e o testemunho do arcebispolibanês Issam John Darwish ajudam a combater oque foi definido como “iliteracia religiosa”.Não quero acreditar nisso, mas talvez haja quempense que as comunidades religiosas atingidaspelo fundamentalismo ‘merecem’ esse castigo eestão a provar do seu próprio veneno; talvez afalta de humanidade chegue ao ponto deconsiderar um

4

crente como cidadão de segundaou de terceira, face a outras vítimasdas barbáries e das tragédias quese multiplicam no planeta.Estes homens e mulheres, noentanto, representam um patrimóniode humanidade que não pode serdescurado ou maltratado, pelocontrário: a resposta ao extremismo,ao fundamentalismo, ao Mal, exigeum fundo comum de valores, deespiritualidade, muito mais do que

uma mera intervençãomilitar, armando ou desarmando aspartes em conflito segundointeresses momentâneos.A violência não se combate commais violência e a intolerância exigeum acréscimo de fraternidade e dediálogo na vida das comunidadescrentes. Só assim se poderá ver nooutro um irmão, com quem construirum mundo mais digno do desígniodivino para todos.

5

Page 4: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

6

Tentámos sobretudo colocar osinteresses da nação em primeirolugar (…) houve sete casosassinados por um magistrado queeram ‘copy paste', só haviadiferença na quantia de dinheiro edepois outros dois assinados portimorenses também. Porque era oprocesso de ensino que se estava afazer. Fazem uma cópia, não veemfactos». «Eu não tenho o direito dedizer que isto é incompetência, quenos faz perder dinheiro do Estado?Tudo junto foram 35 milhões queperdemos só por causadisso”. Primeiro-ministro de Timor Leste,Xanana Gusmão, sobre a expulsãodos sete funcionários judiciais dopaís (Lusa, 05/11/2014) “Não estão criadas as condiçõesadequadas para prosseguir apolítica de cooperação na áreajudiciária com Timor Leste sem queprimeiro tenha lugar umareavaliação cuidada depressupostos e regras bem diversasdas que conduziram à atualsituação”.Ministra da Justiça portuguesa,Paula Teixeira da Cruz (Jornal deNotícias, 05/11/2014)

“Que, com aquilo que se orçamentee depois se execute, não se ponhamais em causa a solidariedade e ajustiça de uma sociedade que bemprecisa disso”.Presidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, D. ManuelClemente, sobre o Orçamento deEstado para 2015 que está a serdiscutido na especialidade(04/11/2014) Esta gente não é religiosa, dizemque são muçulmanos mas quem éesta gente? Pessoas convertidas aoIslão à pressa na Suécia ou naHolanda? O que sabem eles doIslão? Eu acredito que, na maiorparte dos casos, são oportunistas,mercenários. Por isso, os ataquescontra os cristãos na Síria nãopodem ser interpretados como umaperseguição religiosa”.Patriarca da Igreja Católica Greco-Melquita de Antioquia e de todo oOriente, Gregorios III Laham (Lusa,31/10/2014)

7

Page 5: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Repensar a pastoral, tarefa emandamento

A renovação da pastoral da IgrejaCatólica em Portugal poderá passarpela reinstituição de umsecretariado nacional dedicado aesta área, que sirva para asdioceses como “fórum” de partilha econsolidação de estratégias. Ementrevista à Agência ECCLESIA, emFátima, o presidente da ComissãoEpiscopal da Missão e NovaEvangelização, D. Manuel Linda,adiantou que “a necessidade derecuperar este órgão já esteve maisdo que uma vez” em cima da mesade diálogo dos bispos portugueses.Para a revitalização da pastoral nãoexistem “soluções pré-fabricadas”,há que “escutar” os outros, “ver por

onde passam as grandespreocupações”, salientou o prelado.A recuperação deste secretariadonacional de pastoral, “coordenadore distribuidor de materiais, quefuncionava como forma deintercâmbio daquilo que se iarealizando”, poderá ser tema emdebate na próxima assembleiaplenária da Conferência EpiscopalPortuguesa, que vai decorrer emFátima entre 10 e 13 de novembro.Entretanto, a Comissão Episcopalda Missão e Nova Evangelizaçãopromoveu esta terça-feira emFátima uma reunião com os bispos eresponsáveis diocesanos no campo

8

da pastoral. D. Manuel Lindaadmitiu que numa sociedade “develha cristandade”, como aportuguesa, em que “teoricamentejá todos ouviram falar de Jesus, émais difícil dizer algo que cative”.Esse é um dos desafios, o danovidade. No entanto há ainda“muita gente que não temconhecimento nenhum de Cristo”, oque deve levar também a Igreja atrabalhar a sua “dimensãomissionária”, acrescentou.O acolhimento, a espiritualidade, oaproveitamento das potencialidadesdos leigos, a proximidade com osjovens, a presença mais efetiva

nos meios urbanos, são outrasáreas a considerar, neste esforçode revitalização pastoral.No caso específico dos jovens, obispo defende que “pela sualinguagem específica e maneira decomunicar, normalmente através dasnovas tecnologias”, eles podem “seragentes primordiais da NovaEvangelização, na sua faixa etária”.Até porque quando as novasgerações deixarem de “falar” sobrereligião, até de criticar e debater,isso significará que ela “nãopreocupa, não tem importância,morreu”, concluiu.

9

Page 6: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Quer rezar? É só clicar, 3 vezes pordiaO Secretariado Nacional doApostolado da Oração, obra daCompanhia de Jesus, acaba dedisponibilizar uma aplicação móvelque propõe três momentos deoração por dia, com a ajuda dasnovas tecnologias.O projeto ‘Click To Pray’ (clique pararezar) está disponível em Android,IOS e no site www.clicktopray.org,apresentando em três momentos dodia “propostas de oração simples ebreves, para além de convidar osseus utilizadores a fazerem parte deuma rede social de oração”,assinala um comunicado dospromotores da iniciativa, enviado àAgência ECCLESIA.O ‘Click to Pray’ resulta de umaparceria com o DepartamentoNacional da Pastoral Juvenil e aempresa La Machi, contando com oapoio da Agência ECCLESIA, darede de informação católicainternacional Aleteia e do grupoR/com (Renascença).A aplicação vai ser apresentadapublicamente no dia 21 deste mês,às 10h00, no Carmelo de São Joséem Fátima. O evento de lançamentoconta com a presença de D.Antonino Dias, presidente daComissão Episcopal do Laicado eFamília;

do padre António Valério, secretárionacional do Apostolado da Oração;do padre Eduardo Novo, diretor doDepartamento Nacional da PastoralJuvenil, colaborador e parceirodesta iniciativa; e de Juan DellaTorre, CEO de La Machi,responsável pelo desenvolvimento eestratégia de comunicação doprojeto ‘Click To Pray’.Durante a tarde do mesmo dia vãoter lugar, na ‘Domus Carmeli’ deFátima, as Jornadas Práticas SobreComunicação Digital, destinada aprofissionais e voluntários ligados àcomunicação da Igreja. Estainiciativa visa “proporcionarformação prática que daráinstrumentos para um uso atual eeficaz dos meios digitais nacomunicação da fé”.

10

Paulistas encerram comemoraçõesdo centenário de fundaçãoO patriarca de Lisboa encerrou ocentenário da Família Paulistaconsiderando-a um carisma“oportuno” para a Igreja Católica,pela forma como coloca hoje astecnologias de comunicação aoserviço da evangelização. Ementrevista à Agência ECCLESIA,depois da inauguração da novacapela da congregação na QuintaRainha dos Apóstolos, na Apelação,D. Manuel Clemente recordou que“para São Paulo carismas sãograças que Cristo concede para aedificação da Igreja” e que“aparecem no momento certo paraaquilo que é preciso fazer”.Foi o que aconteceu há um século,pela mão do Beato Tiago Alberione,fundador dos Paulistas, que decidiu“deitar mão” aos “novos recursosmediáticos, desde a imprensaàqueles que se seguiram depois,para que a evangelização setornasse ainda mais próxima detoda a gente”, para que chegasse“onde tinha de chegar”, salientou.

Já o superior regional dos Paulistasem Portugal, padre José CarlosNunes, explicou que o projeto dacapela, de linha “contemporânea”,pretende corresponder ao desafiodo Beato Tiago Alberione de umaIgreja Católica capaz de “comunicarcom os homens e mulheres do seutempo”.Ao mesmo tempo, a ideia foi erguerum templo que ajude acongregação, através da“celebração, da oração, daarquitetura, da liturgia”, a“amadurecer” a sua fé. Porque nabase do sucesso de todo e qualquer“apostolado ou comunicação” cristãestá sempre a “qualidade da fé”,frisou o sacerdote.Em Portugal, os Paulistas estãopresentes em três comunidades edesenvolvem a sua missãoapostando numa editora multimédia,a Paulus, numa publicaçãoimprensa, a revista «Família Cristã»,e num programa de rádio semanalcom transmissão em várias rádioslocais e no estrangeiro.

Foto: Família Cristã

11

Page 7: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

12

Fátima: Terceira parte do «Segredo» analisado pelo Centro de FísicaAtómica

Movimento Vida Ascendente

13

Page 8: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Lá fora… a ausência de liberdadereligiosa

Carlos BorgesAgência ECCLESIA

O ciclo das horas, dos dias e meses trouxe-me aestas páginas que são da autoria dos jornalistasda Agência ECCLESIA mas não fui eu que trouxea chuva, o vento ou a neve nas terras altas, nemafugentei o antecipado e hipotético verão de SãoMartinho.Para quem não tem terras de cultivo ou colheitaspara apanhar estas preocupações climatéricassão menores depois da apresentação doRelatório 2014 sobre liberdade religiosa daFundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), estaterça-feira, no auditório da Assembleia daRepública, em Lisboa.Nesse dia do Paquistão chegaram notícias queapenas afundam o país nas estatísticas e sãoclassificadas como impróprias para pessoas detodos os credos, géneros e idades que respeitama liberdade, a liberdade religiosa e os direitoshumanos: Um casal cristão, de 26 e 24 anos deidade, foi atirado para um forno e queimadosvivos por um multidão que os acusaram deblasfémia contra o Corão.O relatório da AIS analisou a liberdade religiosaentre outubro de 2012 e junho deste ano erevelou, reforçando conclusões anteriores, queos cristãos “são de longe o grupo religioso maisperseguido”.O documento analisou 196 países e em 81destes países, foram identificados como locaisonde

14

a liberdade religiosa “é perseguidaou está em declínio”.Deste universo, 20 países sãosinalizados como tendo umaperseguição “alta”. Depois, aFundação esmiuça ainda mais estarealidade e em 14 a perseguiçãoreligiosa está relacionada com oextremismo islâmico e em seispaíses a regimes autoritários. Ouseja, em nome de um Deus quedizem ser paz mas pelas açõesfazem a guerra e nos outros emnome de uma liberdade que só épermitida se for a que eles impõem.A Fundação dependente da SantaSé também está presente emPortugal, Lisboa e Fátima, econcluiu que “a liberdade de culto éuma realidade concreta nasociedade, respeitada pelospoderes instituídos”.“Chuva em novembro, Natal emdezembro”, diz a vasta e ricasabedoria popular portuguesa maspara mim mais do que o calendáriocivil a aproximação do tempo doNatal é marcado pelo calendáriolitúrgico e por sinais exteriores comoa

passagem do circo pela freguesia,que foi embora esta semana, pelosintermináveis anúncios na televisãoe pela iluminação na ruas e/oucentros comerciais, que já vi emLisboa e no Barreiro.Nos territórios onde os cristãos sãoperseguidos ou foram obrigados afugir como no Iraque podia nãohaver Natal mas a Ajuda à Igreja queSofre, com uma campanhahumanitária de quatro milhões deeuros, está a contribuir para que aestrela da esperança, fraternidade esolidariedade continue a brilhar.A Fundação está a apoiar “12projetos concretos” onde contemplatambém presentes de Natal – lápis;cadernos para colorir e livroscatequéticos como as Bíbliaspara Crianças; casacos e meias -para as crianças que fugiram doEstado Islâmico.

Foto: Kamané Fotografia Lisboa, dezembro 2013

15

Page 9: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

16

Cristãos são essenciaispara o futuro do Médio OrienteO patriarca sírio Gregório III Laham, líder greco-melquita de Antioquia,passou por Portugal a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS)para deixar um apelo em defesa da paz e da liberdade religiosa.

Entrevista de Octávio Carmo

Agência ECCLESIA (AE) - A suavisita a Portugal acontece nummomento em que a violênciaaumenta na Síria. Como analisaesta «guerra sem rosto» que temvindo a denunciar?D. Gregório III Laham (GL) -Falamos de um conflito que provocavítimas de forma contínua. Tenhodito, de facto, que esta é umaguerra sem rosto, uma guerrilhasem rosto, não sabemos o motivodesta guerra. Temos democraciacomo no mundo árabe e melhor doque no mundo árabe; há serviçossecretos em todo o lado, por vezeshá tortura, corrupção - não estamosno melhor dos mundos, mastambém não estamos no pior e eupergunto: o que é que esta guerranos pode trazer? Éverdadeiramente, como se diz naEuropa, uma primavera árabe pelademocracia, a liberdade de religião,de culto?

Não vejo o que este grupo, que sediz oposição, nos pode trazer. E sehouvesse uma verdadeira oposição,que diríamos moderada… Pelocontrário, há oposições,completamente divididas. SegundoKofi Annan e Lakhdar Brahimi(enviados da ONU para a Síria), comquem me encontrei em 2013, hádois mil grupos que combatem naSíria.Não podemos esperar que dois milgrupos façam Democracia: estãodivididos, querem dinheiro, repartementre si o dinheiro, não têmprograma. Não são uma alternativa,não há uma alternativa.Eu não quero o regime, quero umEstado: há um Governo, há umatradição síria de convivência, deliberdade religiosa e de culto, deprocissões, de peregrinações, deconfrarias.

17

Page 10: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

AE - De que forma vê o crescimentodo chamado Estado Islâmico?GL - O Estado Islâmico não é nemEstado nem islâmico, como me disseum mufti [pessoa a quem éreconhecida autoridade emassuntos relacionados com a da leiislâmica, sua aplicação einterpretação]. Não é islâmicoporque não representa o Islão, essaé uma vontade, mas eu penso quetudo isto é, antes, umainstrumentalização.A desinformação, a manipulaçãodesempenharam e desempenhamainda um grande papel nisto. Osmedia apresentaram as coisas deforma completamente diferente darealidade e não sei se na Europa háinformação sobre a manipulação, seisso se sabe.Há um objetivo que para mim não éclaro. Nesta guerra na Síria e agoraem parte do Líbano e no Iraque -onde houve uma campanha militarmal fundamentada -, há todo ummal, que eu denomino ‘mysteriuminiquitatis’, o mistério do mal.Também o vemos numa Europacada vez menos cristã, que se dizde raízes cristãs mas onde há umatendência de não o afirmar. Isso égrave. Há uma

Europa que já não está na suaforma cristã: um mundo sem Deus éum mundo onde não há valorespara o homem, como disse BentoXVI.Muitos destes mercenários, destesguerrilheiros que estão agora naSíria, com o Estados Islâmico, estagente que combate são pessoasque perderam o sentido da vida, dohomem, da dignidade do homem. Senão são muçulmanos, se sãocristãos, pessoas que seconverteram ao Islão com a internet,o que é que podemos esperardeles. Que formação muçulmana éque têm? É um alibi, portanto, umalibi, e para mim é um instrumento.O Daesh - Estado Islâmico do Iraquee do Levante ou Estado Islâmico doIraque e da Síria, como vocês lhechamam - é um instrumento. Não seicomo é que de repente têm 15milhões de pessoas sob a suajurisdição, na região onde estãopresentes. Têm um território de 40mil quilómetros quadrados. É algoque se tornou tão grande que não éverossímil e é por isso que digo queestá instrumentalizado.Eles são um perigo mesmo para oIslão e por vezes ainda mais para oIslão

18

do que para o Cristianismo. Isto nãoserá um complô contra o Islão? Paramim, de uma forma ou de outra, éum complô para destruir o Islãodesde o interior, despojá-lo, dividi-loe, mais ainda, é um movimento semvalor.Por isso, a atual coligação dealguns países contra este ‘EstadoIslâmico’ é insuficiente. Dado que élimitada

e dividida, vai gerar ainda maisdivisões, mais guerra. Se quisermosum verdadeiro remédio, é precisoque haja um consenso, um acordogeral de todas as partes e de todosos países do mundo e não apenasalguns, sejam países europeus ouárabes.

19

Page 11: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

AE - O que tem faltado para chegara este acordo?GL - Se estamos verdadeiramente afalar de um perigo para ahumanidade, é preciso que todos ospaíses, a Rússia, a China, o Japão,os Estados árabes - porque é quesó a Jordânia, a Arábia Saudita enão os outros? Onde estão Omã,Barém, Tunísia? Se é um perigo, épreciso que todo o mundo esteja deacordo, porque se não houver umconsenso geral, isso vai causarainda mais guerra, mais vítimas emais horror.

Este consenso geral tem de darresultados do ponto de vista militar,mas sobretudo ideológico, para quehaja uma ideologia comum aomundo e não apenas a uma parte. AE - Essa ideologia exige umalaicidade do Islão?GL - Sim, é por isso que eu peçouma frente comum, local. Já fizemosreuniões dos patriarcas cristãosorientais, não apenas os católicos,desde junho, para formar uma visãocomum e assumir posições comuns.

20

Visitamos juntos o Iraque,Washington (EUA) e temos outrasprogramadas, há uma frentecomum, cristã, que ajudar acompreender melhor a situação. Eufiz um apelo ao mufti do Egito, omaior país islâmico e também omaior país cristão do Médio Oriente,com 15 milhões de coptas, para queconvocasse uma reunião de muftis epatriarcas para criar uma frentecomum. É muito importante ter estaespécie de cimeira espiritual, inter-religiosa, cristãos e muçulmanosjuntos para mostrar onde nascemose dar a verdadeira posição sobre oser humano.Há um trabalho neste sentido, paraque haja uma cimeira espiritual, oque poderia ajudar a criar umconsenso universal, a começar peloIslão - porque há o Paquistão, não ésó o mundo árabe - e o mundoeuropeu, para compreender melhoro desafio e o perigo deste momento. AE - O Papa Francisco tem dadouma atenção muito particular aoMédio Oriente.GL - Sim, sim. Já quando o PapaSão João Paulo II foi à Síria em2001, havia um novo presidente[Bashar al-Assad, que continua aser chefe de Estado], filho de Assad,que o recebeu dizendo: ‘Bem-vindoà Síria, berço

do Cristianismo’. Tiro-lhe o meuchapéu.É uma verdade histórica, mas é bomouvi-lo da boca do presidente deuma república árabe. Gostamos deouvir o Papa Bento XVI e o PapaFrancisco que não se podecompreender o Médio Oriente semos cristãos e a necessidade demanter os cristãos nos seus locaisde origem, também é bom citar umpresidente que disse isso, é umtestemunho muito importante paramim.Por outro lado, vemos uma certaabertura: a nova Constituição doEgito tem 25 pontos que favorecemos cristãos, as outras minorias, asmulheres, a família, os DireitosHumanos. Nessa Constituição é ditoque a civilização egípcia é, emprimeiro lugar, faraónica, depoiscristã e em terceiro lugarmuçulmana. Tudo isso mostra comoé importante a presença cristã.O Papa Francisco repete muitasvezes a expressão “a minha amadaSíria”, é muito bonito. Tudo isso émuito importante, é precisocompreender a importância dapresença cristã e do nosso papel.Para mim, defender a presençacristã no Médio Oriente - naPalestina, na Síria, no Egito, noIraque - é bom, mas essa presençatem em vista uma missão.

21

Page 12: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

GL - Nós queremos conservar apresença cristã, ajudar os cristãos aficar - agradeço à Ajuda à Igreja queSofre, aos cristãos de Portugal,obrigado por tudo -, mas peçosobretudo aos cristãos da Europa anão se defenderem apenas apresença dos cristãos, mas a ligar apresença à missão e a missão àpresença. Digam: ajudamos oscristãos para que continuem apermanecer no mundo árabe, comofermento na massa, como luz e sal.Este é o acento: se falarmos apenasem ajudar os cristãos, nos cristãosperseguidos, isso reflete-se numamentalidade de gueto. Peço sempreque não se fale demasiado nasperseguições, para não criar umamentalidade defensiva, de pessoas

vencidas. É preciso dar coragemaos cristãos para ficarem, com umamissão, senão vai dizer-se: oscristãos da Europa ajudam oscristãos do Oriente, é uma cruzada,ajudam-nos contra os outros.No berço do Cristianismo, há umaIgreja que fala de Jesus, que dá oEvangelho, que o vive num contextomuçulmano. São João Paulo II játinha dito que a essência do homemé ser “com e para”. Nós somoscristãos no Médio Oriente com osmuçulmanos, estamos num paísárabe, de maioria muçulmana.Somos uma Igreja com os outros epara os outros.É uma Igreja que gosto de chamar‘Igreja dos árabes’. Ainda mais,forçando, chamo-lhe a ‘Igreja doIslão’. Não é uma Igreja formada por

22

muçulmanos convertidos, não é sóisso, é uma Igreja que está emrelação e deve levar Jesus ao Islão,de forma especial, não apenaspregando - como fazem algunsgrupos protestantes, que fazem mal.É preciso, como disse o PapaFrancisco, que o Cristianismo sejaatraente, atrativo: esta é averdadeira missão.Mesmo que os países europeustivessem hoje leis que são contra oCristianismo, o cristão teriam de tera coragem de viver como portuguêse como católico. Esta coragem nãoé apenas para o cristão que vive nomundo muçulmano, mas também

num mundo demasiadosecularizado, ateu ou, digamos,contra a Igreja.No Evangelho é dito que ‘Deusamou tanto o mundo’. Na liturgia deSão João Crisóstomo, dizemos: ‘Tuamaste o teu mundo’. Para mim,cristão, Portugal é o meu mundo, aArábia, o Líbano, a Síria são o meumundo, que tenho de amar, levandoos meus valores cristãos. É a minhamensagem para os meus amigos emPortugal.É preciso ajudar os cristãos amanter a sua identidade, como disseo Papa aos jovens no Brasil, comabertura. Este é o adágio:identidade e abertura.

23

Page 13: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

AE - Quais são as principaisnecessidades dos cristãos na Síria?GL - Há mais de seis milhões dedeslocados no interior do país edois ou três milhões de refugiados,incluindo cerca de 450 mil cristãos,ou seja, 25% dos nossos cristãosestão fora da Síria. Eles sãocorajosos, resistiram durante trêsanos e meio, a tragédia da Síria temuma duração mais longa e o choqueda fuga dos cristãos é menos fortedo que a do Iraque, num tempolimitado. Mas é mais grave, nonosso país, até porque járecebemos um milhão e meio derefugiados iraquianos que partiram,entretanto.Outra estatística importante para osnossos amigos na Europa: há entre91 a 100 igrejas destruídas oudanificadas, de todas ascomunidades cristãs. Há mais de 25aldeias que ficaram sem habitantescristãos, também.A Igreja está ao lado do povo,ninguém fugiu: todos os bisposficaram no seu lugar, todos ospatriarcas estão em Damasco. Cadaigreja transformou-se num centro deajuda, todas. Agradecemos atodas as comunidades que nosajudaram, às agências humanitáriasde todo o mundo.

Aos poucos, vemos sinais positivos:Maalula ficou vazia em setembro de2013 e um ano depois 200 famíliasvoltaram a entrar. Agora temos umjardim de infância, uma escola, ecomecei a reconstruir as igrejas.Em Homs, o centro está destruído -foram seis meses para remover osdestroços, seis meses. Ainda nãocomeçamos a reconstruir, mas aigreja está lá e no próximo dia 28vou inaugurar a reparação. Sãopontos positivos.É preciso reconstruir igrejas, centrosde catequeses, apoiar as pessoasna reconstrução. As prioridades sãoajudar imediatamente, e depoisparticipar, quando as pessoasregressarem, com o Estado, nareconstrução das suas casas: diriaque 2 ou 3 mil dólares, por exemplo,para famílias pobres. É preciso quea Igreja se prepare para isso, que aIgreja participe e que os cristãossintam que a mão da Igreja está lá:é uma mão bela, estendida, queajuda, a mão do bispo, a mão dopatriarca.É preciso que as organizaçõescristãs ajudem a Igreja local: cadapadre, cada monge, todos os quetrazem o hábito são um centro deajuda.

24

Eu sinto que as pessoas estãotraumatizadas, sobretudo os jovens,as crianças, mesmo sem o sentirem.Então, como ajudar a enfrentar esteproblema? Neste momento, estou àprocura de saber como fundarpequenos centros, pequenosclubes, para ajudar de forma diretae indireta, a diminuir, digamos, estestraumas nas nossas aldeias, nos

nossos fiéis, nas nossas gentes, nasnossas escolas.Quem sabe se em Portugal hápessoas que nos leiam e quetenham um conceito interessante doque se pode fazer na reabilitação,na diminuição do trauma nas nossascrianças?São pequenos projetos que podemmostrar que a Igreja está junto daspopulações, que estão feridas.

25

Page 14: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

AE - Teve oportunidade departicipar na assembleiaextraordinária do Sínodo dos Bispossobre a família. Que avaliação fazdos trabalhos?GL - Esta assembleia serviusobretudo para desbravar terreno.Os bispos da Europa, da Ásia, daÁfrica, do Médio Oriente, daAmérica, vivem a família, sabemcomo elas estão, nessas regiões.Abordamos os problemas, osdesafios, mas não quisemos darremédios, soluções, propostas,como é costume fazer: deixamosisso para um período de reflexão,nos vários países, e depois a partirdesta reflexão vamos apresentarideias que possam ajudar a definiruma nova linha, entre acontinuidade e a novidade. É umpouco o dilema: como abrir-se àsfamílias em sofrimento, emdificuldade, dando-lhes ao mesmotempo o Evangelho; como estaraberto às situações e, sobretudo,ajudar as famílias a sair dessassituações, porque não se trataapenas de as compreender. Épreciso ajudá-las, onde elas estão,a converterem-se, a mudar devisão.Não insistimos muito nisto, do meuponto de vista é precisocompreender as situações,perceber porque é que

as pessoas chegaram a esseponto, mas não deixá-las no mesmolugar. A Incarnação fez isso: Deusfez-se homem, mas não deixou ohomem em baixo, elevou-o.Compreendendo as situações dosdivorciados, de convivência semcasamento, não as posso deixar noseu pecado, há outro valor cristão:se tu és cristão, aqui está o valor. Épreciso combinar a doutrina daIgreja, a situação das pessoas, acontinuidade e a novidade, odiálogo, o contacto contínuo. Nuncapodemos deixar ninguém sozinho, aIgreja não pode deixar uma pessoasó, mesmo no período desofrimento, mas também não a podedeixar ficar ali, é preciso mostrar-lheoutro caminho. Jesus disse: ‘Eu souo Caminho’. É preciso dizer a quemestá num sofrimento terrível que háum caminho, que há uma verdade. Éuma desafio para a família e para aIgreja.

26

27

Page 15: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

28

29

Page 16: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Mártires com nome e rostoO último nome da tragédia que seabateu sobre os cristãos é o de AsiaBibi, cuja condenação à morte foireafirmada há dias. Acusada hácinco anos, no Paquistão, por ter“conspurcado” um poço reservado amuçulmanos ao querer beber umcopo de água, a sua defesa da fécristã custou-lhe a acusação deblasfémia e a pena de morte.Como me dizia a jornalista francesaAnne-Isabel Tollet, autora deBlasfémia, numa entrevista que meconcedeu há três anos, Asia Bibi éapenas o rosto visível de umatragédia mais vasta, que atingecristãos e muçulmanos: em 1000condenações ao abrigo da lei dablasfémia, 800 são de muçulmanos.E este agravamento da violênciaextremista, mesmo que legal, resultadirectamente das guerras noAfeganistão e no Iraque, em que aspotências ocidentais se envolveramcom invasões dos dois países.Os cristãos são, hoje, a minoriareligiosa mais perseguida. No últimoséculo, muitos morreram apenas porse afirmarem cristãos: “No final dosegundo milénio, a Igreja tornou-senovamente a Igreja dos mártires”,dizia o Papa João Paulo II, na TertioMillenio Adveniente.

Andrea Riccardi recenseou muitoscasos d’O Século do Martírio.“Agora, chegou-se a um frescoincrível do martírio do século XX. Porum só motivo? Há um que os une atodos: são cristãos...”, dizia ohistoriador, em entrevista publicadaem Deus Vem a Público.Foram, entre muitos, os casos doarcebispo arménio-católico IgnazioMaloyan, de Mardin, morto emJunho de 1915 por recusarconverter-se ao islão; do padreortodoxo russo Alexandre Men (9 deSetembro de 1990), autor deuma Vida de Cristo onde comparavaa experiência de Jesus no Jardimdas Oliveiras com a experiência domártir; de Dietrich Bonhoeffer,testemunha maior da “vivênciaradical da fé” contra o nazismo (9 deAbril de 1945); de Edith Stein,nascida judia e morta em Auschwitz(1942) por causa disso, apesar dese ter tornado cristã e monjacarmelita; de Martin Luther King,pastor baptista que teve o sonho dever as pessoas tratadas com igualdignidade; dos monges de Tiberine(Argélia, 1996), assassinados porestarem próximos de Deus e dosseus vizinhos; de Oscar Romero,morto quando celebrava missa (ElSalvador,

30

Março de 1980) – inexplicavelmenteainda não beatificado, tal comoIgnacio Ellacuría e companheirosjesuítas (El Salvador, 1989).Recordar estes nomes é uma formade dizer que a consciência de cadapessoa é o mais sagrado que há. a

E que é possível um mundo onde anorma seja o respeito pelaconsciência.

António MarujoJornalista do religionline.blogspot.pt;o autor escreve segundo a anteriornorma ortográfica

Leituras sugeridas:Andrea Riccardi, O Século do Martírio (Quetzal); António Marujo, Deus Vem aPúblico (Pedra Angular); Didier Rance, Rezar com os Mártires do Século XX (AIS-Ajuda à Igreja que Sofre/Apostolado da Oração); Reinhard Backes, Por Causa doMeu Nome – perseguição aos cristãos nos dias de hoje (Paulinas/AIS); RobertRoyal, Os Mártires Católicos do Século XX (Principia); AsiaBibi, Blasfémia (Alêtheia); Henri Teissier, Christophe Lebreton, (Consolata), MartinLuther King, Eu tenho um sonho (Bizâncio); Óscar Romero, A Doce Violência doAmor (Consolata)

31

Page 17: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

A Liberdade Religiosa,Condição do Homem Inteiro

Se a religião (ou a capacidade de aquestionar) é uma extensãointeligente do ser, a liberdadereligiosa confunde-se com a ideiade uma humanidade que cresceíntegra. Isto é, dotada de todas assuas capacidades e possibilidades.

Não se trata aqui apenas doexercício da palavra, do direito decirculação, da não obstrução aoculto, da possibilidade demanutenção de uma consciêncianão coagida.Não se trata apenas do direito àexpressão e opinião, da tolerância

32

face a um sistema de convicções,do reconhecimento da diferença, daabdicação, pelo estado epela comunidade, de interferir nasescolhas pessoais. Traduz tudoisso, mas é mais do que isso.Na verdade, se a religião é, paraalém de inteligência, essência, aliberdade religiosa é a principalproteção da identidade do indivíduo.Por outras palavras, o ser humanocompleto realiza-se aqui, napossibilidade de interrogar a vida

e de fazer a pergunta primeira.Como diziam alguns filósofos, apergunta sobre Deus é a primeirapergunta, independentemente daresposta.Os sistemas que querem destruir adignidade individual costumam porproibir o culto. Ou admiti-lo, mas deforma quase clandestina, como seos fiéis não pudessem comunicarentre si, ou explicar a sua condiçãode assembleia.Os sistemas quedesejam destruir a individualidadeprecisam de tomar o corpo e oespírito. O não reconhecimento deuma verdadeira liberdade religiosa(que é, ao mesmo tempo, direito egarantia, proclamação e eficácia)procura dar ao Estado, ao poder deum senhor ou de um grupo desenhores, a possibilidade deconduzir homens vazios.Sem a possibilidade de interrogarsobre o essencial, o homem vazio éesse ser parcial, cortado,irreconhecível ao espelho da alma,mesmo que impresso numpassaporte ou num bilhete deidentificação.E esse ser parcial é o sonho últimodas tiranias. Desapossado deidentidade verdadeira, apesar deidentificado, fichado, localizado,vigiado, o homem parcial, ser nãolivre, é um destroço.E a humanidade destroçada é umaforma de morte em vida.

Nuno Rogeiro,comentador

33

Page 18: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

A ameaça da violência sobre a féOs atos de violência cometidos emnome da religião continuam adominar os meios de comunicaçãosocial internacionais. A impressãoinevitável é de que o terror deinspiração religiosa não só estágeneralizado como está a aumentar.Infelizmente, este relatório confirmaesta avaliação.Em quase todos os países onderegistámos uma mudança nasituação e na condição das minoriasreligiosas, essa mudança foi parapior. Por vezes, a deterioração écausada por

discriminação legal ouconstitucional; noutros casos estárelacionada com hostilidadesectária, muitas vezes ligada atensões raciais ou tribais. Nalgunscasos envolve um grupo religiosoque oprime outro, ou que tentamesmo eliminá-lo. Noutras situaçõesainda, um estado autoritário tentarestringir as atividades de um gruporeligioso específico.Nos países ocidentais, a tensãoreligiosa está a aumentar,provocada pelo fenómeno recentedo ‘ateísmo agressivo’, dosecularismo liberal

34

e do influxo rápido de migranteseconómicos e refugiados com umafé e uma cultura claramentediferentes das do país deacolhimento.O relatório reforçainvestigações anteriores queestabeleciam que os Cristãos sãode longe o grupo religioso maisperseguido. A suscetibilidade dosCristãos à opressão estádiretamente relacionada com o factode eles estarem historicamentemuito dispersos, muitas vezes emculturas muito diferentes das suas.Muitos dos países onde os Cristãosestão estabelecidos há gerações oumesmo milénios tornaram-se agorasujeitos ao extremismo.Em quase todos os vinte países

que identificámos com níveisde perseguição mais “alta” àliberdade religiosa, os gruposminoritários muçulmanos tambémenfrentam perseguições terríveis esistemáticas. Contudo, deve referir-se que, na maior parte dos casos,estas são realizadas por outrosmuçulmanos. O aumento da tensãoentre muçulmanos xiitas e sunitas éum tema constante neste relatório.

Peter Sefton-WilliamsPresidente do Comité Editorial do

Relatório da LiberdadeReligiosa Mundial da AIS

Resumo do relatório 2014

Relatórios especializados

Para alargar o espectro de análise dos relatórios nacionais individuais, aAjuda à Igreja que Sofre pediu a especialistas em liberdade religiosa queidentificassem tendências emergentes em África, no Médio Oriente, naÁsia, na América do Norte, na Europa Ocidental, na Rússia e ÁsiaCentral, e na América Latina. Os relatórios destes especialistas estãopublicados na totalidade em formato eletrónico e podem ser acedidosem www.religion-freedom-report.org

35

Page 19: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Cristãos são cada vez maisperseguidosO Relatório 2014 sobre a liberdadereligiosa no mundo, da FundaçãoAjuda à Igreja que Sofre (AIS),revela que os cristãos são o grupomais atingido pelas violações a estedireito, em particular no Médio eExtremo Oriente. O documentorealça o impacto negativo dacriação ou reforço de “Estadosuniconfessionais”, como é visível nocaso do autoproclamado ‘EstadoIslâmico’.O relatório analisa a situação em196 países do mundo, dos quais 81(41%) são identificados como locaisonde a liberdade religiosa “éperseguida ou está em declínio”. Nototal, 20 países são designadoscomo de perseguição “alta” emrelação à liberdade religiosa;destes, 14 experimentamperseguição religiosa relacionadacom o extremismo islâmico:Afeganistão, República Centro-Africana, Egipto, Irão, Iraque, Líbia,Maldivas, Nigéria, Paquistão, ArábiaSaudita, Somália, Sudão, Síria eIémen.Nos restantes seis países da ‘listanegra’, a perseguição religiosa estáligada a regimes autoritários:Mianmar, China, Eritreia, Coreia doNorte, Azerbaijão e UsbequistãoUm total de outros 35 países(incluindo Angola) foi classificado

como tendo problemas deliberdade religiosa “preocupantes”,sem deterioração da sua situação.A organização católica precisa que,no período compreendido entreoutubro de 2012 e julho deste ano,a liberdade religiosa “entrou numafase de declínio grave”.O documento retrata um aumentodas perseguições dirigidas às“comunidades religiosasmarginalizadas”, não apenas cristãs,e sustenta que “os paísesmuçulmanos são predominantes nalista de estados com as violaçõesmais graves à liberdade religiosa”.A análise sublinha que a liberdadereligiosa está “em declínio” tambémnos países ocidentais predominanteou historicamente cristãos, tanto porcausa do “desacordo em relação aopapel a ser desempenhado pelareligião na ‘praça pública’” comopelo “aumento da preocupaçãosocial com o extremismo”.A fundação pontifícia aponta aindaum aumento da “iliteracia religiosa”entre os decisores políticosocidentais e os meios decomunicação social.O relatório apresenta uma série decasos concretos de violações daliberdade religiosa, como o

36

do missionário sul-coreano KimJung-Wook, de 50 anos,“condenado a trabalhos forçadosperpétuos pelas autoridades norte-coreanas”.Nesse contexto, são tambémlembradas as 276 alunas raptadaspor membros do grupo terrorista‘Boko Haram’ de uma escolasecundária em Chibok, no nordesteda Nigéria, em abril deste ano, ou ocaso de Meriam Ibrahim, sudanesaque foi inicialmente condenada àmorte por enforcamento no Sudão eque atualmente se

encontra nos Estados Unidos daAmérica.O relatório da fundação assinala, arespeito de Portugal, que “aliberdade de culto é uma realidadeconcreta na sociedade, respeitadapelos poderes instituídos”.“A necessidade de todos os líderesreligiosos proclamarem em voz altaa sua oposição à violência deinspiração religiosa e dereafirmarem o seu apoio à tolerânciareligiosa estão a tornar-se cada vezmais urgentes”, sustenta a AIS.

37

Page 20: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Cristianismo em perigo no MédioOrienteO arcebispo libanês D. Issam JohnDarwish disse em Lisboa que aliberdade e o diálogo entre religiõesestão ameaçados no Médio Orientee questionou a aparente apatia doOcidente. “O Médio Oriente é hoje opátio de radicais islâmicos quedestroem a imagem de todos ospaíses e criam uma nova ideologiabaseada no ódio”, declarou, noauditório da Assembleia daRepública, em Lisboa, durante aapresentação do Relatório 2014sobre a liberdade religiosa nomundo, da Fundação Ajuda à Igrejaque Sofre (AIS).D. Issam John Darwish, presidentede um Comité Episcopal para oDiálogo Islâmico-Cristão, denuncioua ameaça do ‘Daesh’(autoproclamado ‘Estado Islâmico’).“Como é que os países ocidentaispermitiram que isto acontecesse?Como é que os países democráticospermitiram que estes gruposradicais decapitassem pessoasinocentes?”, perguntou o arcebispogreco-melquita.Segundo o responsável, os cristãosestão a atravessar “uma fasecrítica”, tendo passado, porexemplo, de 80% da populaçãolibanesa em 1920 para 40% hoje; asguerras na Síria e no

Iraque forçaram muitos cristãos aimigrar.“Venho hoje de uma região feridaque luta entre países, religiões,seitas, grupos étnicos, na qualpessoas são assassinadas diantedos media”, referiu, lembrando que“igrejas foram destruídas, padres ereligiosas foram raptados”.Segundo o prelado, a chamada‘Primavera Árabe’ não avançou e ospaíses árabes enfrentam agora“ondas de fanatismo” e“instabilidade”.Catarina Martins, diretora dosecretariado português da AIS,afirmou que é “fundamental” dar aconhecer “a situação dos diversospaíses do mundo em termos deliberdade religiosa”.A campanha de Natal da fundaçãopontifícia vai reverter este ano emfavor dos refugiados no MédioOriente.Na apresentação do relatóriomarcou presença MichaelGulbenkian, sobrinho-neto deCalouste Gulbenkian, cristão doOriente e português.“Neste país que esteve na linha dafrente do intercâmbio religioso, hojeem dia há uma total ignorância”

38

em relação a estas questões, a quese soma uma “total falta desolidariedade”, advertiu.O orador assinalou que os cristãosdo Oriente “estão numa faseextremamente complexa, na medidaem que perderam completamente

a esperança, sobretudo no Iraque ena Síria”. “O Cristianismo arrisca-sea desaparecer, nesses países”,alertou, precisando que “é precisofazer alguma coisa” e não “olharpara o lado” em relação à “tragédia”no Médio Oriente.

39

Page 21: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Carreirismo na Igrejacontraria exemplo dos santos bisposO Papa Francisco disse no Vaticanoque os bispos têm uma missão de“serviço” e dedicação aos outros naIgreja, alertando para os perigos docarreirismo nos membros do clero.“O episcopado não é umahonorificência, é um serviço. Jesusquis que fosse assim. Não devehaver lugar na Igreja para amentalidade mundana que dizassim: Este homem fez a carreiraeclesiástica e tornou-se bispo. Não,não, na Igreja não deve haver lugarpara esta mentalidade, oepiscopado é um serviço, não umadistinção para vangloriar-se”,declarou, perante milhares depessoas reunidas na Praça de SãoPedro para a audiência públicasemanal.O Papa sublinhou que este não éum cargo de “prestígio” e pediu queos bispos saibam ser um “sinalvisível” da ligação entre Cristo e oseu povo, um instrumento de“comunhão”, como tantos santosque os precederam.“Os santos bispos - e há tantos nahistória da Igreja, tantos bispossantos - mostram-nos que esteministério não se procura, não sepede, não se compra, mas acolhe-se em

obediência, não para se elevar, maspara abaixar-se, como Jesus”,precisou.Neste, contexto, afirmou que é “étriste quando se vê um homem queprocura este cargo e faz tantascoisas para lá chegar”. “Quando alichega, não serve, pavoneia-se, viveapenas para a sua vaidade”,assinalou, numa intervençãosaudada pelos presentes com umasalva de palmas.O Papa precisou que os bispos,como sucessores dos Apóstolos,são colocados à frente dascomunidades cristãs “como garantesda sua fé e como sinal vivo dapresença do Senhor no meio delas”.Francisco lembrou ainda que osbispos constituem “um únicocolégio”, unido ao Papa, em quetodos procuram “ser cada vez maisservidores dos fiéis, servidores daIgreja”, uma experiência que foivisível, por exemplo, na assembleiaextraordinária do Sínodo quedecorreu em outubro.“Não há uma Igreja saudável seos fiéis, os diáconos e ospresbíteros não estiveremunidos ao bispo. Esta

40

Igreja que não está unida ao bispo éuma Igreja doente”, advertiu.No final da audiência, Franciscodeixou saudações aos vários grupospresentes, incluindo os peregrinosde língua portuguesa:“Queridos irmãos,

rezai pelos vossos Bispos, quesãogarantes da verdadeira fé e sinalvivo da presença do Senhor no meio de vós. Rezai também pormim. Agradeço-vos decoração. Que Deus vosabençoe”.

41

Page 22: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Regras para renúncias de bispos ecardeaisO Papa Francisco publicou umconjunto de disposições, em seteartigos, sobre a renúncia ao cargode bispos e membros da CúriaRomana, que confirma a disciplinavigente, recordando as situações deexceção à norma.“É confirmada a disciplina vigentena Igreja latina e nas várias Igrejasorientais sui iuris, segundo a qual osbispos diocesanos e eparquiais, equantos lhes são equiparados, bemcomo os bispos coadjutores eauxiliares, são convidados aapresentar a renúncia ao seu ofíciopastoral ao cumprir 75 anos deidade”, assinala o rescrito,publicado após uma audiência doPapa ao secretário de Estado doVaticano, cardeal Pietro Parolin.

As novas disposições recordam que“nalgumas circunstânciasparticulares”, a autoridadecompetente pode “julgar sernecessário pedir a um bispo queapresente a renúncia ao ofíciopastoral”, algo que já aconteceu noatual pontificado.Esta situação deve acontecer“depois de se terem feito conhecer”à pessoa em causa “os motivos detal pedido” e de se terem “escutadoatentamente as suas razões, emdiálogo fraterno”.O Papa considera “digno de apreço”o gesto de quem, “levado pelo amore pelo desejo de um melhor serviçoà comunidade”, decide apresentar arenúncia antes do 75 anos “pordoença ou outro motivo grave”.

42

Nulidade matrimonial:Justiça exige decisão rápida

O Papa reforçou esta quarta-feirano Vaticano a sua preocupação coma necessidade de agilizar osprocessos de nulidade domatrimónio, por uma questão de“justiça” com as pessoas envolvidas,e rejeitou a mercantilização dostribunais da Igreja. “Há muito genteque tem necessidade de umapalavra da Igreja sobre a suasituação matrimonial, para o sim epara o não, mas que seja justa.Alguns procedimentos são tãolongos ou tão pesados que nãofavorecem [a justiça] e as pessoasdesistem”, alertou Francisco, numencontro com participantes numcurso promovido pelo Tribunal daRota Romana (Santa Sé).O Papa deu como exemplo oTribunal interdiocesano de BuenosAires que cobre 15 dioceses, nosjulgamentos de primeira instância,incluindo uma situada a cerca de240 quilómetros. “É impossívelimaginar que pessoas simples,normais, vão ao Tribunal. Têm defazer uma viagem, perder dias detrabalho, salário, tantas coisas.Dizem: ‘Deus compreende-me e vouem frente, assim, com este

peso na alma’”, observou.Segundo Francisco, é importanteque a Igreja faça “justiça” e diga aestas pessoas se o seu matrimónioé “nulo” ou “válido”. “Assim poderãoseguir em frente sem esta dúvida,sem esta escuridão na alma”,precisou.A intervenção, improvisada, alertoupara o risco de misturar estesprocedimentos canónicos com“negócios”, alertando para aexistência de “escândalos públicos”.“Eu tive de despedir do tribunal, hátempos, uma pessoa que dizia: ’10mil dólares e faço os doisprocessos, o civil e o eclesiástico’.Isto não, por favor”, pediuFrancisco, recordando que noSínodo dos Bispos deste anoalgumas propostas falaram de“gratuidade” neste campo.O Papa instituiu em setembro umacomissão especial de estudo para areforma do processo matrimonialcanónico, com o objetivo desimplificar os procedimentos, umproblema que esteve em debate norecente Sínodo extraordinário dosBispos.

43

Page 23: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial internacional nos últimos dias, sempre atualizados emwww.agencia.ecclesia.pt

44

Papa vai a Turim para venerar Santo Sudário

Audiência geral, 05.11.2014

45

Page 24: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Apoio ao lutohttp://www.apelo.web.pt/ No passado dia 2 de Novembrocomemorámos mais uma solenidadede todos os fiéis defuntos. Por seruma altura em que, naturalmente,pensamos mais naqueles que noseram queridos e partiram para acasa do Pai, esta semanaapresentamos como sugestão denavegação o sítio da APELO –Associação de Apoio à Pessoa emLuto. Neste espaço fala-se com“naturalidade sobre perdasemocionais profundas, como asprovocadas pela morte de um entequerido”.Ao digitarmos o endereço daassociação, encontramos umespaço simples e bastante claro,sendo certo porém que, a qualidadegráfica e o uso das mais recentestecnologias de desenvolvimento depáginas web não está a seraplicado.Na opção “quem somos”,descobrimos que a APELO é uma“instituição baseada na colaboraçãosolidária e voluntária de pessoas emluto, técnicos e profissionais dediferentes áreas e outras pessoasque desejam promover o auxílio aoluto”. Percebemos ainda que asáreas de

intervenção chave destaorganização são:- O apoio direto às pessoas efamílias em luto;- A formação, ensino e pesquisasobre o luto;- A divulgação do tema “os afectos:construção, manutenção e perda”;- A cooperação interinstitucional.No item “onde estamos”,encontramos os centros da APELOjá implantados em algumas zonas dopaís, bem como, informaçõesregionais de cada extensão destaassociação.Se pretender colaborar tornando-sesócio aceda à opção “associado”,onde encontra todos dados que lhepermitem juntar-se a esta extensamissão solidária.Em “pedido de apoio”, entramosnum espaço muito importante, dadoque é através desse formulário quepodemos entrar em contacto comesta fabulosa equipa que prestaapoio nesta área tão sensível eesquecida por muitos.Para finalizar, destacamos a páginainicial, pois aí dispomos de umconjunto enorme de conteúdos.

46

Temos possibilidade de adquirironline os livros do prof. EduardoRebelo (“Desatar o nó do luto”,“Amor, luto e solidão” e ainda“Defilhar: como viver a perda dofilho”), que são “leiturasaconselhadas a quem sofre o lutopela perda de um filho, por viuvezou por se ver privado de outroalguém ou algo com muitosignificado pessoal”. Encontramostambém ligações para duasexcelentes reportagens produzidaspela rádio TSF,

relacionadas com esta associação.E ainda sugestões na áreaformativa, seja para as oficinasformação ou para os cursos deaconselhamento do luto.Pois bem, aqui fica a sugestão paraque memorizem este endereço e odivulguem, dado que é uma maneirade nos mantermos actualizados comas iniciativas desenvolvidas por estaenorme associação.

Fernando Cassola [email protected]

47

Page 25: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Eterno agora"Eterno agora - Conversas com oDeus de sempre" é um livro docónego António Rego que ajuda adescobrir Deus no quotidianoatravés de poemas que sãoorações.“A sugestão destes textos provémdo ritmo litúrgico, no ciclo anual quenos retoma, sempre mais à frente,sempre mais a fundo”, escreve D.Manuel Clemente no prefácio. “Nãoé repetição, mas insistência daqueleDeus que ‘está à porta e bate’, semse cansar de bater, até que lhaabramos, franca e escancarada”,sublinha.Através destes textos, o leitor iráreparar que “o Natal ou a Páscoasão sempre iguais no que dizem, daparte de Deus”, mas “semprenovos” no que dizem a cada um, “noagora” em que “irrepetivelmente”cada pessoa está.Com a chancela da “Oficina doLivro”, o “Eterno agora - Conversascom o Deus de sempre” foiapresentado esta quinta-feira, emLisboa, e é publicado no ano emque o autor assinala 50 anos desacerdócio.António Rego nasceu em S. Miguel,nos Açores, em 1941. Foi ordenadopadre no dia 21 de junho de 1964,tendo iniciado o trabalho pastoral etambém no jornalismo, na Ilha

Terceira, onde esteve até 1968,quando é chamado para trabalharna Rádio Renascença.Em Lisboa, trabalhou na rádio,primeiro na Renascença depois naRDP, escreveu em diferentes jornaise coordenou o grupo de sacerdotesque presidiam à missa transmitidapela RTP. Em 1979 esteve no iníciodo programa 70x7 e em 1992 noscomeços da TVI.O Secretariado Nacional dasComunicações Sociais e o ensino naUniversidade Católica foramocupações ao longo dos 50 anos depadre e jornalista, tendo sidotambém consultor do ConselhoPontifício para as ComunicaçõesSociais.Atualmente é jornalista ecoordenador dos programasreligiosos na TVI.

48

49

Page 26: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

II Concílio do Vaticano:Imprensa clandestina de inspiraçãocatólica

No mesmo ano em que surge a revista «O Tempo e oModo», em 1963, começa a ser publicado e difundidoum jornal clandestino, policopiado, de orientaçãocatólica. Enquanto «O Tempo e o Modo - Revista dePensamento e Acção» inaugurou na sociedadeportuguesa um espaço de diálogo entre católicos eoutros meios culturais, a publicação «Direito àInformação» era um projecto editorial que “pretendiadifundir notícias e documentos que a censura nãodeixaria passar nos jornais legais, com especialatenção ao problema da guerra colonial” (In: JoãoMiguel Almeida – «A oposição Católica ao EstadoNovo»; Edições Nelson de Matos; Página 123).Entre 1963 e 1969 saem dezoito números, seis dosquais até 1965. A equipa coordenadora integrava ocasal Maria Natália e Nuno Teotónio Pereira, o padreAntónio Jorge Martins, frei Bento Domingues. Atiragem era inicialmente de três mil exemplares e onúmero de páginas variava. Num artigo publicado nojornal «Público» e depois no livro «Tempos, lugaresPessoas», Nuno Teotónio Pereira realça que oprimeiro número foi dedicado à guerra em Angola,“denunciando a prisão e exílio para Portugal de novepadres angolanos, com residências fixas vigiadaspela PIDE em conventos e casas religiosas dispersasde norte a sul do país”.Na colectânea dos textos, o arquitecto escreveu queo número dois do «Direito à Informação» foi dedicadoà miséria “imerecida dos trabalhadores”; o númerotrês colocou novamente em destaque a guerra emÁfrica e

50

os dois seguintes “a visita,silenciada com a conivência daIgreja Portuguesa, da viagem dePaulo VI à Índia” (In: Nuno TeotónioPereira; «Tempos, lugaresPessoas», página 125).O jornal era policopiado, primeironalgumas igrejas e, quando as“exigências da clandestinidadeapertaram, num apartamento doLumiar”. Tal como escreveu JoãoMiguel de Almeida, a distribuição“fazia-se através de contactopessoal ou por correio, por vezesutilizando, para iludir a vigilância dapolícia política, «sobrescritostimbrados de movimentos nãosuspeitos, como os grupos decasais católicos, cuja direcção aliásnão se coibiu de denunciar à PIDE oestratagema, e ainda de empresasfictícias» ”.

Em Novembro de 1964, o PapaPaulo VI visitou a União Indiana,facto que “deixou Salazar furioso,tendo sido imposta uma apertadacensura ao acontecimento, que ogoverno português resolveusilenciar” e “o mais espantoso é quea Igreja foi conivente com estaatitude: as centenas de publicaçõescatólicas que se publicavamregularmente, mesmo as que nãoeram obrigadas a ir à censura, comoos boletins paroquiais, obedeceramcegamente à ordem do ditador”.Este facto levou a que um “grupo decristãos organizasse a saída de umnúmero único de um jornal chamado«Igreja Presente», que foi impressoem Madrid, graças à colaboração decatólicos espanhóis que militavamna oposição ao franquismo".

51

Page 27: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Novembro 2014Dia 07 de Novembro*Guarda - Instalações do futuromuseu de arte sacra - Encontro«Café In» promovido peloDepartamento da Pastoral Juvenilda Diocese da Guarda com apresença de D. Manuel Felício. * Senegal – Dakar - Encerramentodo congresso da União dossacerdotes da África Ocidental como tema «A família como participanteno diálogo inter-religioso». * Lisboa - Ministério daSolidariedade, Trabalho eSegurança Social - Reunião de D.Jorge Ortiga, arcebispo de Braga,no Ministério da Solidariedade,Trabalho e Segurança Social * Lisboa – UCP - Arcebispo deBraga, D. Jorge Ortiga, participanuma reunião na UniversidadeCatólica Portuguesa (UCP) com aDirecção da Faculdade de Teologia. * Leiria - Aldeia de Santo Antão - AAssociação de Visitadores dosEstabelecimentos Prisionais deLeiria - Os «Samaritanos» -organiza jantar solidário paraangariar fundos para a construçãode uma capela na Prisão-Escola deLeiria.

* Bragança - auditório da EscolaSuperior de Tecnologia e Gestão - OAgrupamento XVIII de Bragança doCorpo Nacional de Escutas promoveum sarau com o intuito de «semearvalores» com a presença do antigochefe nacional do CNE. * Cantanhede - Câmara Municipal -Debate sobre «Religião eMaçonaria» com Henrique Monteiroe João Conduto * Lisboa - Massamá - Encontro dosbispos com autarcas de Sintraintegrada na visita pastoral àvigararia da Amadora * Lisboa - Colares (Rodízio - Casados Jesuítas) - Encontro de oraçãosobre «Vede como eles Trabalham -Sentido e Critérios Cristãos naProfissão» para membros daACEGE. (07 a 09) Dia 08 de Novembro* Bragança - Celebração solene dapromulgação do título de basílicamenor ao Santuário de Santo Cristode Outeiro * Lisboa - Seminário dos Olivais -Curso de formação para agentes dapastoral do baptismo

52

* Fátima - Centro Pastoral Paulo VI -Ação de formação anual do CPMsubordinada ao tema «CPM –âmbito da Nova Evangelização». * Setúbal - Palmela (Casa deOração) - Sessão de formação paraleitores promovida pela ComissãoDiocesana de Liturgia e MúsicaSacra. * Lamego - Seminário maior deLamego - Jornada de formação decatequistas. * Braga - Casa Episcopal - ConselhoPastoral da arquidiocese de Braga * Guarda – Seminário - Encontro deprofessores de Educação Moral eReligiosa Católica (EMRC) com D.Manuel Felício. * Lamego – Sé - A Diocese deLamego é entronizada pelaConfraria dos Vinhos do Porto comcelebração presidida por D. JacintoBotelho. * Setúbal - Sesimbra (NúcleoMuseológico da Capela do EspíritoSanto dos Mareantes de Sesimbra)- Apresentação do livro «Descriçãoda Arrábida» do Padre InácioMonteiro por Ana Chora com ediçãodo Centro de Estudos Bocageanos.

* Lisboa - Auditório do Colégio deSão João de Brito - Concerto«Cantar juntos» para pais e filhos * Lisboa - Associação Portuguesados Amigos dos Castelos (RuaBarros Queirós nº 20) - Início docurso livre sobre a história dasordens e congregações religiosaspromovido Centro de Literaturas eCulturas Lusófonas e Europeias daFaculdade de Letras daUniversidade de Lisboa e comcoordenação científica de JoséEduardo Franco. * Porto - Felgueiras (Mosteiro deSanta Maria de Pombeiro) - ADireção Regional de Cultura doNorte promove um espetáculoinserido no Ciclo de ConcertosEspaços da Polifonia com o GrupoVocal Ançãble. * Lisboa - Convento dosDominicanos - Concerto solidário(consiste na entrega de um alimentonão perecível) com a OrquestraNova de Guitarras. * Porto - Encontro da equipanacional da Juventude OperáriaCatólica (JOC) (08 e 09)* Fátima - Centro Catequético -Curso intensivo destinado acatequistas em fase inicial deformação (08 e 09)

53

Page 28: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

A partir deste sábado, Portugal terá mais uma basílica,desta vez no nordeste transmontano. O título foiatribuído pela Congregação para o Culto Divinoà igreja de Santo Cristo de Outeiro, do Vaticano, eserá lido por D. José Cordeiro, bisop de Bragança-Miranda. A igreja de Santo Cristo de Outeiro,monumento nacional desde 1927, é datada do final doséc. XVII, sendo concluída na 1ª metade do séculoXVIII. A Conferência Episcopal Portuguesa reúne-se emAssembleia Plenária, entre os dias 10 e 13 denovembro. A agenda de trabalhos inclui, entre outrosassuntos, a preparação da visita “ad limina” dosbispos de Portugal ao Vaticano, agendada para osdias 7 a 12 de setembro de 2015 e a publicação deum documento sobre o Ano da Vida Consagrada, quea Igreja Católica inicia no dia 30 de novembro. A iniciativa é do Centro de Estudos do PensamentoPortuguês. Pertence ao pólo do Porto da Faculdadede Teologia da Universidade Católica Portuguesa e vaipromover um colóqui internacional sobre o tema“Catolicismo, modernidade e anti-modernidade (1910-1940)”. Decorre nos dias 13, 14 e 15 de novembro, noauditório na Católica/Porto. Chegará primeiro uma nova edição do semanáriodigital Ecclesia. Mas é bom reservar já o dia 14 desetembro para a V Jornada de Teologia Prática. Tema:«As intrigantes linguagens da fé».

54

55

Page 29: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h18Domingo, dia 09 - Viseu: umadiocese em Sínodo RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 10 -Entrevista ao cónegoEmanuel Silva sobre aSemana dos Seminários;Terça-feira, dia 11 -Informação e entrevista aAlfredo Teixeira sobre aJornada de Teologia Prática;Quarta-feira, dia 12 - Informação e entrevista ao padreFernando Sampaio sobre a Pastoral da Saúde;Quinta-feira, dia 13 - Informação e entrevista a HelenaRebelo Pinto sobre a Família;Sexta-feira, dia 14 - Apresentação da liturgia dedomingo pela irmã Luísa Almendra e o cónego AntónioRego. Antena 1Domingo, dia 09 de novembro, 06h00 - Semana dosSeminários com entrevista a D. Virgílio Antunes Segunda a sexta-feira, 10 a 14 de novembro - 22h45 -A realidade dos Seminários: Braga, Verbo Divino,Angra, Redemptoris Mater e Évora.

56

Para que servem os Sacramentos?

57

Page 30: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

WhatsPrayer, a horação1. O que é a HORAÇÃO?Horação é um trocadilho usando aspalavras Hora e Oração. Estetrocadilho é original do Pe. RuiSantiago. WhatsPrayer, a horação,é um grupo de oração via aaplicação WhastApp. Todos os dias,às 09 horas de Portugal, é enviadauma oração simples, curta, masinterpelativa. As orações são aoestilo Taizé: pequenas frases quepermitam a meditação das pessoas,a interpelação, a oração. Sãopontos de oração. 2. A quem se destina?Esta iniciativa destina-se a todos osutilizadores WhatsApp. Não háidade mínima nem limite. Todos osque enviarem o número detelemóvel, através de mensagemprivada na página do facebook doiMissio, serão adicionados ao grupo. 3. Sabendo que existem hojemuitas formas de oração nasnovas plataformas qual a ideiapara criar algo no WhatsApp.WhastApp é da aplicações maisusadas para comunicar. Foi dasaplicações mais caras compradaspelo Facebook (cerca de 20 milmilhões

de euros), é das aplicações quemais tem crescido em número deutilizadores e funciona em quasetodos os sistemas operativos dossmartphone. Já há muitas coisaspensadas pela Igreja e agentespastorais para o Facebook, Twitter,

58

mas não havida nada aindapensado para esta aplicação, emPortugal. A comunidade iMissio querdar uma nova utilidadeao WhatsApp: fazer das 9 da manhãa hora de oração (horação) a Deus.A vantagem desta aplicação é quesurge nos écrans do smartphonesdos utilizadores: usar

o push dos smartphones para puxarà oração individual, mas tendopresente que mais pessoas estão arezar ao mesmo tempo. 4. Com que periodicidade vamoster esta horação?As orações são enviadas todos osdias à 9 horas de Portugal. 5. Como tem sido as primeirasreações?Pelo que é possível observar aspessoas estão a aderir, a dar osparabéns pela iniciativa, dandoalguns ecos de que as orações sãointerpelativas, desafiantes, curtas. 6. Quantas pessoas já aderiram?Quanto às latitudes geográficas,temos pessoas de Portugal, deEspanha, do Qatar, do Brasil, dosUSA, do Malawi, de Moçambique. Amaioria portugueses a viveremnesses países. Já aderiram cerca de150 pessoas. A iniciativa foi lançadano passado dia 19 de outubro, viapágina do facebook do iMissio.

59

Page 31: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Ano A – 32º domingo do TempoComumFesta da Dedicação da Basílica de Latrão Deus moraconnosco

O 32º Domingo do Tempo Comum coincide este anocom a Festa da Dedicação da Basílica de São João deLatrão, cuja “dedicação” ou consagração aconteceuno ano 320. É a catedral do Papa, enquanto Bispo deRoma, é a “mãe de todas as igrejas”, o símbolo dasIgrejas de todo o mundo, unidas à volta do sucessorde Pedro. Somos convidados a tomar consciência deque a Igreja de Deus é hoje, no meio do mundo, amorada de Deus, o testemunho vivo da presença deDeus.A primeira leitura de Ezequiel garante-nos que Deusnunca desiste de ser uma presença amiga ereconfortante na caminhada dos homens e dederramar sobre a humanidade sofredora vida emabundância. Trata-se de uma boa nova que devemoster continuamente presente. As guerras, as injustiças,as convulsões sociais, a depressão económica, osescândalos que abalam a sociedade e que nos fazemdesconfiar das instituições, a falência dos líderes emquem confiamos, as notícias diárias sobre aescravatura e o tráfico de seres humanos, a crise devalores, a falta de respeito pela vida humana,desenvolvem em nós sentimentos de angústia efrustração, insegurança e instabilidade, orfandade eabandono.Para nós, crentes, a certeza de que Deus reside nonosso meio e derrama continuamente sobre nós vidaem abundância é um convite à serenidade, àconfiança e à esperança. Temos de dar testemunho,diante dos nossos contemporâneos, desta certeza quenos anima.Na segunda leitura, São Paulo afirma que os cristãossão templo de Deus, onde reside o Espírito que osanima a

60

serem sinal vivo de Deus. No nossoambiente familiar, no nosso espaçode trabalho, no nosso círculo deamigos, devemos ser o rostoacolhedor e alegre de Deus, asmãos fraternas de Deus, o coraçãobondoso e terno de Deus.O Evangelho diz-nos que podemosencontrar Deus olhando para Jesus.Nas palavras e nos gestos de Jesus,Deus revela-se e manifesta-nos oseu amor, oferece-nos a vida plena,faz-se companheiro da nossacaminhada e aponta-nos caminhosde salvação.O verdadeiro culto que Deus esperanão são os ritos solenes epomposos, mas vazios, estéreis ebalofos. O culto que Deus aprecia éuma vida

levada na escuta das suaspropostas e traduzida em gestosconcretos de doação, de entrega,de serviço simples e humilde aosirmãos. Quando somos capazes desair do nosso comodismo e danossa autossuficiência para ir aoencontro do pobre, domarginalizado, do estrangeiro, dodoente, estamos a dar a resposta“litúrgica” adequada ao amor e àgenerosidade de Deus paraconnosco. Estamos a ser Igreja emsaída, como tanto nos pede o PapaFrancisco, sempre transformadospela Palavra e pela Eucaristia.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

61

Page 32: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

A doença e o sofrimento na BíbliaA vida é relação com Deus e com osoutros nossos irmãos. Diz EnzoBianchi que «a doença é um mal,uma desarticulação do ser a que énecessário resistir». E L. Manicardidefende que a doença é umatentado à plenitude da vida não sóporque implica a diminuição dasforças e das capacidades físicas,mas também porque provocadependências, perturba a vidafamiliar e afetiva, afasta da vidasocial e profissional, ameaça a vida,põe em causa a fé. A doença, comefeito, não deriva da vontade deDeus, nem o sofrimento é castigo.Em Deus encontramos vida esaúde. É certo que alguns textos doAntigo Testamento sugerem a ideiaque a doença e o sofrimento sãoconsequências do pecado, masessa relação entredoença/sofrimento-pecado éanterior à Bíblia. Tem origem nofundo cultural da humanidade,estando por isso presente em todasas sociedades pagãs. Chama-se o“princípio da retribuição” e temsubjacente uma lógica de “olho porolho e dente por dente”. Constitui aprimeira tentativa de compreensãoda doença e do sofrimento. É aindahoje, desgraçadamente, a forma

A Assistência espiritual ereligiosa é prestada aoutente a solicitação dopróprio ou dos seusfamiliares ou outros cujaproximidade ao utenteseja significativa, quandoeste não a possa solicitare se presuma ser essa asua vontade.

(Decreto Lei 253/2009, art. 4)

de compreensão de muitos cristãos.Na perspetiva da revelação bíblica,de forma particular nos evangelhos,o princípio da retribuição veiculauma ideia terrível: Deus é vistocomo adversário ou inimigo dohomem, n’Ele não se pode confiarporque é vingativo. Pode-seperguntar: teria Jesus curadoalguém se assim fosse?O que vemos nos evangelhos, pelocontrário, é Jesus, o Médico divino,numa luta permanente contra o mal,atendendo e curando os doentes desuas doenças e sofrimentos. E acura, que é física mas tambémsocial, moral e espiritual, dá aosdoentes a

62

Assistência religiosa e cuidados de saúde:tema apresentado aqui semanalmente

e no programa Ecclesia, RTP2, em cada quarta-feiraEntrevista ao padre Fernando Sampaio

“Se tiver de ser internado(a), não esqueça, peça avisita do capelão aos enfermeiros logo no início dointernamento. Não fique à espera”. (Comissão Nacional da Pastoral da Saúde) possibilidade de viveremintegralmente de novo as suas vidas(O caso mais expressivo é o dosleprosos que tinham de viver namargem da sociedade e da vida).No evangelho de S. João, Jesus dizque a deficiência/doença –cegode nascença- não está associadaao pecado e que na cura se revelaa glória de Deus (cf. Jo 9, 3).

Mateus (Mt 8, 17), ao dizer queJesus «tomou sobre si as nossasdoenças e carregou as nossasdores» (Mt 8,17; Is 53, 4), está areferir-se à luta sem tréguas contrao mal de que as doenças físicas,psíquicas e espirituais parecem serde alguma forma expressão emetáfora. Por isso Jesus acolhe ecura as pessoas de suas doenças esofrimentos.

63

Page 33: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

SÍRIA: DIAS DE DESESPERO NA CIDADE DE ALEPPO

As mãos vazias da Irmã AnnieMeu Deus, que posso fazer?Quantas vezes, tantossacerdotes se questionaram jáassim? Que posso eu fazer?Como dar uma ajuda concreta,quando não se tem nada? Édifícil, por vezes, imaginar apobreza imensa em que vivemmuitas comunidades cristãs.Como em Aleppo, na Síria. É difícil imaginar a pobreza imensaem que vivem os cristãos na Síria,por causa da guerra civil que deixouem ruínas cidades inteiras. ComoAleppo. Os que puderam fugiram.Aleppo foi a grande metrópole donorte da Síria. Agora é um destroço.Por causa da guerra asinfraestruturas colapsaram. Astorneiras estão secas, a maior partedas lâmpadas estão cobertas de póe continuam adormecidas. “Aspessoas já se esqueceram do saborda carne ou da fruta fresca”,lamenta-se a Irmã AnnieDemeerjian, das Irmãs de Jesus eMaria. Ela ficou na cidade. Paraonde iria, se há tantas pessoasdesesperadas ainda a viverem emAleppo? Para onde iria? Dias de desesperoPara a Irmã Annie, cada dia que

passa aumenta o seu desânimo. Elaestá em Aleppo para ajudar mascontinua de mãos vazias. O seusorriso tranquiliza, o seu olharbondoso dá esperança mas nãoalimenta quem tem fome, não fazesquecer os gritos das bombas aexplodirem em sangue, não fazparar a guerra. A Irmã Annie temuma energia que surpreende. “Sequisermos que os cristãospermaneçam no Médio Oriente,temos de ajudá-los em tudo o quefor necessário para que possamsobreviver.” Em Aleppo, como emoutras cidades e aldeias na Síria, háuma teimosia que comove. Todos osdias se celebra a missa, mesmo queno meio de escombros. Todos osdias se murmuram orações em favorda paz, mesmo quando tudo à voltaparece destruído. Todos os diasalguém recomeça tudo de novo,porque não se pode desistir da vida. Milhões de refugiadosDesde Março de 2011, quandocomeçaram os primeiros tiros daguerra civil, já morreram mais de150 mil pessoas na Síria e mais de10 milhões precisam de ajudahumanitária para sobreviverem.

64

Mais de seis milhões perderam assuas casas e estão refugiadosalgures no país. Cerca de doismilhões estão a viver em campos derefugiados no Líbano, na Jordâniaou na Turquia. A Irmã AnnieDemeerjian continua de mãos vaziase todos os dias nos pede mais emais ajuda. Tudo o que lheconseguimos dar é sempreinsuficiente. Quando se perdeutudo, um simples cobertor faz toda adiferença para se resistir ao frioagreste do Inverno que está àsportas da cidade. Uma barra desabão e um garrafão de águapotável valem mais do que todos oslingotes de ouro que se pudessemoferecer. Verdadeira solidariedadeJean-Clément, Arcebispo de Aleppo,conhece bem o trabalho da IrmãAnnie e a tenacidade dos 16sacerdotes que, com ele, procuram“acalmar as pessoas aterrorizadas”,como nos disse, há algumassemanas, através de um e-mail.Que fazer para espantar o medo?“Os nossos padres celebram amissa diariamente, essa é averdadeira solidariedade em Cristo”,diz Jean-Clément, sublinhando quenão é fácil a vida na cidade, poismesmo nos bairros menosafectados pela guerra “há sempreuma granada a cair aqui e ali”. Nomeio da pobreza imensa, comoajudar esta igreja que sofre?

“As intenções de missas, porexemplo – diz – permitem-nosminorar a miséria dos mais pobres.Sem elas, não poderíamos fazermuito, pois os fiéis já não podemapoiar os seus padres e a Igreja,como faziam de boa vontade antesda guerra. Hoje, já nem sabem comoirão sobreviver no dia seguinte…”Cheios de Deus mas de mãosvazias, tanto o Arcebispo Jean-Clément como a irmã AnnieDemeerjian precisam da nossaajuda para alimentarem todos osque ficaram na cidade de Aleppo eque precisam de sobreviver agoraao terrível Inverno. As torneirascontinuam secas, as lâmpadasapagadas e as prateleiras vazias.Os cristãos de Aleppo precisam denós!

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

65

Page 34: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

Olhar os campos…

Tony Neves

Sou filho de agricultores e ainda nesta semanadei um dia da minha vida ao trabalho do retiraras espigas de milho do campo e desfolha-las emcasa, antes de as colocar no espigueiro. Gostodos ares do campo e não esqueço nem escondoas minhas raízes.Como boa parte dos portugueses, não entendo apolítica agrícola imposta pela União Europeia aosEstados-membros. Talvez não a compreendaporque nunca estudei a sério os dossiers. Ouentão, porque tudo o que sei sobre o assunto li-oem artigos saídos na comunicação social, sem origor que seria exigido para ser claro.Tempos houve em que a União Europeia pagouaos agricultores para estarem quietos, para nãoproduzir, para deitar abaixo vinhas… tudo istopara evitar excessos de produção e, desta forma,manter ou fazer subir os preços de mercado.Devo confessar que sempre achei esta políticaridícula, porque o importante não é deixar deproduzir para aumentar o preço dos produtos,mas produzir o máximo para que ninguém tenhafome no mundo. Com estas políticas nósganhamos mais dinheiro, mas o mundo ganhamais fome e miséria…Esta será, talvez, uma análise sem grandeprofundidade. Será, de certeza, ingénua, pois atéparece que eu acredito num mundo onde aspessoas contam mais que o dinheiro, a felicidadevale mais que o lucro! Sim, acredito nessemundo e é por esta fraternidade universal que euluto.Há sinais que vêm das relações internacionaisque me assustam. Um deles tema ver com o

66

excessivo peso que a indústria dasarmas tem no mundo. Assim, ospaíses e grupos económicos que asfabricam sentem a urgente econstante necessidade de as pôr nomercado, incentivando guerras poresse mundo fora. Também algumasdas lógicas das políticas agrícolasme preocupam porque háinteresses que estão acima daspessoas e dos seus direitos e essalógica de pagar para não cultivar éperversa pelos efeitos de fome queprovocam em certas

regiões do mundo que só podemsobreviver à custa de excedentes deáreas mais férteis.Há que rever certas políticas e aagrícola é uma das mais decisivaspara o presente e o futuro dahumanidade. É necessário que oolhar dos países e continentessobrevoe a sua região e ultrapassea lógica curta dos seus interessesegoístas. Queremos um mundo maisfraterno e solidário e todos seremospoucos para o ajudar a construir.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

67

Page 35: Liberdade - agencia.ecclesia.pt · assistir com indiferença ao martírio dos seus irmãos. ... O relatório da AIS analisou a liberdade religiosa entre outubro de 2012 e junho deste

68