Libertação Animal e Revolução Social

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    1/32

    Libertao Animal e Revoluo Social

    Brian A. Dominik

    uma perspectiva vegana do anarquismo

    ou

    uma perspectiva anarquista do veganismo

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    2/32

    Edio Original: Animal Liberation and Social Revolution,escrito por Brian A. Dominick e publicado pelo colectivo Critical

    Mass Mediaem 1995.

    Discrdiae d i e s

    Braga, Novembro 2002

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    3/32

    1 Libertao Animal e Revoluo Social .................................................. 4

    Os Veganarquistas .............................................................................. 4

    O que a revoluo Social .................................................................. 6Veganismo Radical ............................................................................. 9

    Violncia no quotidiano ...................................................................... 16

    Alienao no quotidiano ..................................................................... 18

    O esforo revolucionrio .................................................................... 22

    2 Posfcio da terceira edio .................................................................. 25

    Sobre Libertao ............................................................................... 25

    Redefinindo Veganismo ..................................................................... 27

    As viabilidades do modo de vida ........................................................ 28

    3 O que a A.L.F. ? ............................................................................ 30

    ndice

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    4/32

    4

    No inicio do seculo XX, Thoma Edison imaginou uma forma de demonstrar, deuma s vez, o poder da electricidade e o impacto de uma cmara de filmar. Ele

    filmou a electrocuo pblica de um elefante- Larry Law

    Os Veganarquistas

    Desde algum tempo para c, a libertao animal e os activistasque lutam em seu nome tm sido confundidos num discurso e aco

    turbulentos. Apesar das teorias sobre a libertao animal e o seuactivismo serem raramente bem recebidos, ou tomados comseriedade pelo pensamento maioritrio esquerdista, muitos anarquis-tas comeam a reconhecer a sua legitimidade, no apenas comocausa vlida, mas tambm como um aspecto integral e indispensvelda teoria radical e da prtica revolucionria. Enquanto a maioria quese autodenomina anarquista no abraa a libertao animal e o seu

    modo de vida correspondente veganismo - um crescente nmero dejovens anarquistas esto a adoptar a ecologia e liberao animalcomo parte integrante da sua praxis1.

    Da mesma forma, muitos veganos e alfs2 esto a ser influencia-dos pelo pensamento anarquista e a sua valiosa tradio. Tal eviden-ciado com a crescente hostilidade dos activistas pela libertao animalem relao s estadistas, capitalistas, sexistas, racistas e idadistas3

    normas estabelecidas, que tm escalado a intensidade da sua guerra,no apenas em animais no-humanos, como tambm nos seussustentadores humanos. A relativamente nova comunidade de alfsest rapidamente a tomar conscincia da totalidade da fora que servede combustvel mquina especista, representada pela sociedademoderna. Com o crescer dessa conscincia, dever tambm crescera afinidade entre alfs e os seus mais socialmente orientados compa-

    nheiros, os anarquistas.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    5/32

    5

    Quanto mais reconhecermos as semelhanas e a interdependn-cia das nossas lutas, que em tempos considervamos bem diferentes,melhor compreendemos o verdadeiro significado de libertao e darevoluo.

    Apesar da viso alargada do mundo, anarquistas e alfs partilham

    metodologia e estratgica. Sem pretender ser capaz de falar portodos, direi que os verdadeiros anarquistas e alfs buscam realizar assuas vises atravs de qualquer meio que seja eficaz. Entendemos,ao contrrio da ideia convencional sobre as nossas posies, que adestruio e a violncia no nos levaro ao objectivo que desejamos.Mas opostamente aos liberais e progressistas, cujos objectivos solimitados a reformas, estamos dispostos a admitir que a verdadeira

    mudana surgir apenas quando acrescentarmos foras destrutivas transformao criativa da sociedade. Podemos construir tudo o quedesejarmos, e devemos ser o mais pr-activos possvel. Masentendemos tambm que s teremos espao para uma criao livrequando eliminarmos o que nos impede disso.

    Sou vegano porque sinto compaixo pelos animais; vejo-oscomo seres que possuem valores no diferentes dos humanos. Sou

    anarquista porque sinto a mesma compaixo pelos humanos, eporque recuso conformar-me com perspectivas comprometedoras,estratgias reformistas e objectivos corruptos. Como radical, a minhaabordagem em relao libertao humana e animal sem compro-misso: Liberdade total para tod@s, seno...

    Neste ensaio tenciono demonstrar que qualquer abordagemsobre a mudana social deve ser acompanhada de uma compreen-

    so, no apenas das relaes sociais, mas tambm das relaesentre o ser humano e a natureza, incluindo animais no humanos.Tambm espero mostrar como nenhuma abordagem sobre a liberta-o animal possvel, sem um entendimento e empenho socialrevolucionrios.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    6/32

    6

    Cada um tem um montante limitado de tempo e energia, e o tempo aplicado notrabalho activo para uma causa reduz o tempo disponvel para outra causa; mas

    no existe nada que impea aqueles que do o seu tempo e energia aosproblemas humanos, de se juntarem ao boicote da industria da crueldade. No

    demora mais tempo ser-se vegetariano do que comer carne...Quando os no-vegetarianos dizem os problemas humanos vm primeiro, euno posso deixar de perguntar sobre exactamente, o que eles fazem pelos

    seres humanos que os obriga a continuar a suportar o desperdcio e a falta decompaixo presentes na criao intensiva de animais.

    - Peter Singer, Libertao Animal

    O que a Revoluo Social?

    Revoluo uma daquelas palavras cujo significado varia muitoentre a forma como usado por cada pessoa. De facto, ser maisseguro dizer que no existem duas pessoas que partilhem a mesma

    ideia sobre o que revoluo realmente significa. isso mesmo, o quena minha forma de ver, torna a revoluo realmente bela.

    Quando falo em revoluo, refiro-me a uma transformao pro-funda da sociedade. Mas a minha revoluo no definida pormudanas objectivas no mundo em meu redor, tal como o derrube doestado ou do capitalismo. Esses, para mim, so apenas sintomas. Arevoluo em si no se poder encontrar fora de ns mesmos.

    completamente interna, completamente pessoal.Cada indivduo tem a sua perspectiva. Cada um de ns v o

    mundo de uma forma particular. No entanto, a maioria das pessoastm as suas perspectivas moldadas pela sociedade em que vivem. Aesmagadora maioria de ns, v o mundo e v-se a si mesmo de umaforma condicionada pelas instituies que controlam as nossas vidas,como por exemplo, o governo, a famlia, o casamento, a igreja, asempresas, a escola, etc. Cada uma destas instituies, por sua vez,

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    7/32

    7

    faz parte do que eu chamo Estabelecido, uma entidade que existesomente para a perpetuao do poder de uma relativa minoria.Apoiada pela paixo das elites, de mais e mais poder, o Estabelecidodesenha necessariamente o poder sobre resto do mundo, a partir dodomnio.

    O Estabelecidopratica vrias formas de opresso; a maioriadelas frequentemente legitimadas, mas raramente compreendidas, emuito menos contestadas. Em primeiro lugar existe o classicismo querepresenta a opresso econmica; estadismo ou a subjugao dopovo sob autoridade poltica; sexismo e homofobia, a opresso basea-da na supremacia (masculina) heterossexual ou patriarcado; eracismo, um termo geral para opresses baseadas em etnocentris-

    mos. Para alm destas formas de opresso mais frequentementereconhecidas, h a o idadismo4, a dominao dos adultos sob ascrianas e adolescentes; e finalmente, a opresso que resulta doantropocentrismo, nomeadamente o especismo e a destruioambiental.

    Durante a histria da evoluo social humana, o Estabelecidotem sido dependente das dinmicas de domnio descritas, e tem

    aumentado e concentrado o seu poder como resultado dessa depen-dncia. Consequentemente, cada forma de opresso tem-se tornadointerdependente. A infuso de diferentes dinmicas de domnio temservido para estas se realarem e completarem, tanto em versatilidadecomo em fora.

    Assim, a fora por detrs das instituies que conseguiramsocialmente educar-nos, a mesma fora por detrs do racismo,

    especismo, sexismo, classicismo, etc.. Seria razovel assumir ento,que a maioria de ns, como produto das instituies do Estabelecido,fomos moldados socialmente para alimentar a opresso dentro, eentre todos ns.

    Revoluo o processo- no o evento - de desafiar a falsidadeda sabedoria e dos valores que nos foram ensinados; e ao desafiar asaces, aprendemos a fazer e a no fazer. Somos ns o prprio

    inimigo. Eliminar os opressores da nossa cabea ser a revoluo

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    8/32

    8

    observar a sua construo desabar nas ruas, ser simplesmente umsinal (agradvel!) de que nos estamos a revoltar juntos de uma formaunida e sem restries. A revoluo social a coleco dos processosinternos. Mudanas sociais radicais das condies objectivas em cujocontexto vivemos, s podero resultar a partir de tal revoluo.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    9/32

    9

    Alguns defensores dos animais pensam que o reconhecimento dos direitos dosanimais significa uma oposio ao aborto. Nada poderia estar mais afastado da

    verdade. O aborto representa um problema moral nico, que no aparece em

    mais nenhuma situao na sociedade. Mesmo que o feto seja consideradocomo uma pessoa com direitos, a realidade que este portador de direitossubserviente, vive dentro do corpo do portador de direito primrio a me.

    Podemos deixar a deciso de terminar a gravidez me, ou podemos deixaressa deciso a algum homem branco legislador ou juiz que nunca poder

    engravidar. Na nossa sociedade patriarcal, estas so as nicas opes quetemos. No nosso ponto de vista, a oposio opresso compromete-nos a

    apoiar a liberdade de escolha.

    - Anna E.Charlton, Sue Coe & Gary Francione, The American Left ShouldSupport Animal Rights: A Manifesto

    Veganismo Radical

    Outras duas palavras, cujos significados so frequentemente malinterpretados, so radicalismo e veganismo. A utilizao destestermos por liberais, centrados em si mesmos e de viso curta, temremovido o potencial inicial que lhes era conferido. Mais uma vez, sempretender aclamar o monoplio de verdadeiras definies, ofereo omeu significado pessoal destes termos.

    Radicalismo e extremismo, ao contrrio da crena popular, noso de maneira alguma sinnimos. A palavra radical derivada, daraiz do latim rad, que significa raiz. Radicalismo no uma mediodo grau de fanatismo ideolgico, para a direita ou para a esquerda.Radicalismo descreve um estilo de abordagem sobre problemassociais. O radical, literalmente falando, algum que procura atingir araiz de um problema, para que possa atac-lo em busca de umasoluo.

    Os radicais no limitam os seus objectivos a reformas. No seuobjectivo fazer concesses aos responsveis, para conseguir umatenuante da misria que resulta da opresso. Essas so tarefas nor-

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    10/32

    10

    malmente levadas a cabo por liberais e progressistas. Enquantoreconhecem que em certas situaes h ganhos a obter comreformas, os radicais consideram que apenas a vitria um fimsatisfatrio um fim definido como uma mudana revolucionria nasrazes da opresso.

    Pela minha definio, vegetarianismo puro, no veganismo.Recusando consumir produtos de animais no humanos, paralela-mente com uma escolha de um maravilhoso estilo de vida, no emsi veganismo. O vegano baseia a sua escolha numa compreensoradical sobre o que a opresso animal realmente , e o seu estilo devida altamente informado e politizado.

    Por exemplo, no raro as pessoas que se auto-proclamam

    veganas justificarem a sua preocupao em no consumirem produtosde multinacionais, afirmando que os animais so indefesos, enquantoas pessoas no. Muitos vegetarianos no se apercebem da validadedas causas da libertao humana, ou vem-nas de forma subordinadaem relao importncia dos animais que no se podem defender.Esta mentalidade expe a ignorncia dos vegetarianos liberais, no spela opresso humana como tambm pela conexo, profundamente

    enraizada, entre a extenso do sistema capitalista e as indstrias deexplorao animal.

    Muitas pessoas que se auto proclamam veganos e activistaspelos direitos dos animais, na minha perspectiva, tm pouco ounenhum conhecimento sobre cincia social; e muitas vezes o que elessabem sobre as relaes entre sociedade e natureza no-humanaest cheio de falsos conceitos. Por exemplo, no com pouca

    frequncia que se ouve veganos argumentar que o consumo decomida de origem animal que provoca a fome no mundo. Afinal decontas, mais de 80% de cereais colhidos nos EUA vai para alimentaro gado, e tal seria mais do que suficiente para alimentar a fome que hno mundo. Parece lgico concluir, ento, que o fim do consumo deanimais nos EUA resultaria na alimentao de pessoas necessitadasnoutros lugares.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    11/32

    11

    Mas tal totalmente falso! Se os norte americanos parassem decomer carne no prximo ano, seria pouco provvel que uma nica

    pessoa que esteja a sofrer de subnutrio fosse alimentada com

    cereais frescos do solo americano. Isto porque o problema da fomemundial, como o problema do excesso de populao, no nada do

    que parece. Estes problemas tm a sua raiz na disponibilidade derecursos. As elites requerem escassez um fornecimento apertada-mente restringido de recursos por duas razes principais. Emprimeiro lugar, o valor de mercado das mercadorias desce decisiva-mente com a subida dos fornecimentos. Se os cereais que agoraalimentam o stock de comida de origem animal, fossem de repentepostos a disposio, tal alterao faria baixar dr0sticamente os

    preos dos cereais, minando a margem de lucro. Assim, as elites quepossuem investimentos no mercado da agricultura de cereais, tminteresses directamente correspondentes aos das elites que geremparte do mercado da agricultura animal. Os vegetarianos tendem apensar que os agricultores de cereais e vegetais so benignos,enquanto os agricultores envolvidos na explorao animal so viles.No entanto, o facto que os vegetais so um bem, e aqueles com

    interesses financeiros na indstria vegetal no querem disponibilizar oseu produto, se tal significar produzir mais para obter ainda menoslucro.

    Em segundo lugar, existe o facto da distribuio de comida, anvel nacional e internacional, ser uma ferramenta poltica. Governose organizaes econmicas internacionais, manipulam cuidadosa-mente os fornecimentos de gua e comida de forma a controlarem

    pases inteiros. H alturas em que a comida impedida de chegar apessoas esfomeadas, de forma a estas permanecerem dceis e fra-cas. Noutras alturas, um fornecimento gratuito de comida faz parteduma estratgia para apaziguar a populao agitada beira de umarevolta.

    Sabendo tudo isto torna-se razovel assumir que o governoamericano, to apertadamente controlado por interesses privados,

    apoiaria a no produo de cereais, de forma a salvar a indstria de

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    12/32

    12

    um possvel colapso. Fcilmente se pagaria aos agricultores para noproduzirem cereais , ou mesmo para destrurem as suas colheitas.

    No suficiente boicotar a indstria de carne e esperar que osrecursos sejam redistribudos para alimentar os necessitados. Temosde estabelecer um sistema que realmente tencione ir de encontro s

    necessidades humanas, o que implica uma revoluo social.Esta s uma das muitas ligaes entre a explorao animal e a

    explorao humana, mas ilustra bem a necessidade de uma revoluototal. Uma revoluo nas relaes entre humanos e animais foi focadacuidadosamente e , de facto, apropriada natureza da sociedademoderna. Uma das primeiras razes pelas quais os animais soexplorados porque rentvel. Os vegetarianos tendem a entender

    apenas esta razo. Mas a indstria da carne (incluindo produo delacticnios e vivisseco5) no uma entidade isolada. A indstria dacarne no ser destruda enquanto o capitalismo de mercado no fordestrudo, por ser este ltimo que providencia impulso e iniciativa aoagricultor. E para os capitalistas, a perspectiva de obter lucros fceisa partir da explorao animal irresistvel.

    O motivo do lucro no o nico factor social que encoraja

    explorao animal. De facto, a economia apenas uma das formas derelao social. Temos tambm a poltica, a cultura, as relaes inter-pessoais, cada uma das quais pode ser demonstrada para influenciara percepo de que os animais existem para uso dos humanos.

    A bblia crist e a religio ocidental em geral, esto cheias dereferncias ao alegado direito divino dos humanos em usar as con-trapartes no humanas de acordo com as suas necessidades. Neste

    momento da histria at absurdo algum pensar que os humanosnecessitamexplorar os animais. muito pouco aquilo que se ganhacom o sofrimento dos animais no-humanos. Mas deussupostamentedisse que ns podamos us-los, e ento continuamos a faz-lo,apesar do facto de termos desenvolvido a capacidade para satisfazertodas as nossas necessidades reais, que no passado envolviam autilizao de animais.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    13/32

    13

    Os vivisectores dizem que podemos aprender dos animais nohumanos, e usam este argumento para justificar a tortura e assassina-to de seres sensveis e conscientes. Os radicais tm de se aperceber,como fazem os veganos, que realmente o que podemos aprender comos animais, como viver uma relao saudvel e mtua com o nosso

    ambiente. necessrioobservar os animais no seu ambiente natural,e imitar as suas relaes ambientais, onde seja aplicvel, no nosso.Tal entendimento de harmonia entre humanos e a natureza ir um diasalvar e acrescentar valor a mais vidas, do que a cincia de torturaanimal alguma vez conseguir ao tentar ancontrar a cura para ocancro. Afinal, a raizda maioria dos cancros reside no mau tratamentoda natureza pelos humanos. Nenhum radical pode esperar que uma

    soluo para tal problema possa ser descoberta com mais destruioda natureza atravs da experimentao animal.

    As correlaes entre especismo e racismo - entre a forma comose tratam os animais e as pessoas de cr - tambm tem sido demons-trada explcitamente (e grficamente). No seu livro, The DreadedCompararison: Human and Animal Slavery, Marjorie Spiegel desenhaastutamente incrveis comparaes entre o tratamento dado aos

    animais pelo homem e o tratamento dado s raas inferiores pelosbrancos, afirmando que ambos os tratamentos so construdos volta da mesma relao de base que existe entre opressor eoprimido. Tal como Spiegel o ilustra, o tratamento dos no brancospelos brancos tem sido assustadoramente semelhante ao tratamentodos no humanos pelos humanos. Decidir se uma opresso vlidae outra no, limitar de forma consciente a compreenso do mundo,

    comprometendo-se a uma ignorncia voluntria, frequentemente semser por convenincia pessoal. Uma causa de cada vez, diz opensador monista6, como se estas dinmicas interrelacionadaspudessem ser esterilizadas e extradas da relao que tm entre si.

    O domnio masculino na forma de patriarcado e especismo,originado pelo antropocentrismo, tem sido exposto com claridadepotica por Carol Adams, no seu livro The Sexual Politics of meat.

    Feminismo e veganismo tm muito em comum, e cada um tem

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    14/32

    14

    bastante a ensinar e aprender com o outro. Depois de desenharcomparaes concretas entre a perspectiva patriarcal e tratamento deanimais, Adams descreve e apela ao reconhecimento da profundaligao entre os modos de vida vegano e feminista.

    Uma comparao entre relaes interpessoais e relaes

    homem-animal que no foi correctamente examinada, inclui o trata-mento adulto das crianas e jovens, tal como o tratamento adulto dosidosos. Em cada caso o oprimido visto como algum sem totalresponsabilidade sobre os seus actos. Por exemplo, as crianas e osidosos so igualmente vistos como dbeis e incompetentes (indepen-dentemente do seu actual potencial pela responsabilidade). Oidadismo est enraizado em algo que eu chamo adultocracia, que se

    refere noo de que os adultos possuem uma certa qualidade deresponsabilidade no encontrada nos mais velhos ou nos mais novos.Tal como os animais, aqueles que so oprimidos pelo idadismo sotratados como objectos desprovidos de carcter individual e de valor.So explorados sempre que possvel, vantajosos quando considera-dos giros, mas quase nunca lhes dado o respeito oferecido aoshumanos adultos. As crianas, os idosos e os animais so seres vivos

    pensantes e sensveis, e isto de alguma forma esquecido pelosadultos na sua busca por domnio e poder. No diferente do patriarca-do, a adultocracia no requer uma hierarquia formal: afirma o seudomnio convencendo as suas vtimas que so, de facto, menosvlidas do que os opressores adultos. Os no-humanos tambmpodem ser facilmente invalidados. Priv-los de qualquer liberdade quelhes permita desenvolverem carcter individual, um grande passo

    nessa direco.No h dvidas de que o Estado est do lado daqueles que

    exploram os animais. Com algumas excepes, a lei decididamenteanti-animal. Isso demonstrado tanto pelos subsdios dados pelogoverno s indstrias de carne e lacticnios, de vivisseco e utilizaomilitar dos no-humanos, como pela sua oposio aqueles que resis-tem s indstrias de explorao animal. Os polticos nunca iro

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    15/32

    15

    entender porque que o estado deveria proteger os animais. Afinal decontas, todas as esferas da vida social perdoam e encorajam os seusabusos. Agindo segundo os interesses do eleitorado (humano), asdecises sero sempre traduzidas, por muito absurdo que seja, con-tra os interesses do reino animal, uma vasto eleitorado que ainda no

    recebeu o direito a votar.Mas os anarquistas perguntam, caso fosse oferecido o sufrgio a

    cada animal e depois garantida a sua necessidade de protecovotando, teramos uma sociedade melhor? Isto , queremos realmenteque o estado se meta entre humanos e animais, ou preferimos elimi-nar a necessidade de tal barreira? A maioria concordaria que terhumanos a decidir contra o consumo de animais sem nenhuma

    coaco, a opo ptima. Afinal de contas, se a proibio do lcooloriginou tanto crime e violncia, imaginem a crise social que a proibi-o da carne iria criar! Tal como a guerra da droga nunca far nadapara solucionar os problemas surgidos pela dependncia qumica e oseu submundo correspondente, nenhuma guerra legal contra acarne conseguiria restringir a explorao animal; apenas causariaainda mais problemas. A raiz deste tipo de problemas reside no

    desejo, socialmente criado e reforado, de produzir e consumir coisasque realmente no necessita-mos. Tudo sobre a sociedade actual dizque necessitamos de drogas e de carne. O que ns realmentenecessitamos de destruir esta sociedade!

    Um vegano deve ir para alm da compreenso monista daopresso no-humana e perceber as suas razes nas relaes sociaishumanas. Deve tambm estender o seu modo de vida a uma resistn-

    cia contra a opresso humana.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    16/32

    16

    Mais do que uma recusa em fazer parte na violncia contra os animaisno-humanos para obter comida, roupa, etc., o veganismo uma recusa em

    participar na violncia que afecta a sociedade como um todo. O veganismo

    trabalha para expr e acabar com a sbtil indoctrinao da indstria dasociedade capitalista, que deseja des-sensibilizar a humanidade sobre aviolncia contra a maioria, para o ganho de uma minoria.

    - Joseph M. Smith, The Threat of veganism

    Violncia no quotidiano

    A nossa sociedade, poucos discordariam, largamente baseadana violncia. Para todo o lado que nos viremos parece haver violncia,as imagens controladas pelos mediacorporativosacentuam estapercepo exponencialmente.

    Esta violncia, como parte da nossa cultura e da nossa existn-cia, tem indbitavelmente um profundo efeito em ns, a tal ponto que difcil entender verdadeiramente as suas causas. Aqueles que esto

    como receptores dessa violncia, naturalmente sofrem uma brutalperda de poder. Porque poder um conceito social, ns comopessoas no compreendemos necessariamente o seu significado.Quando nos apercebemos de uma perda de poder, uma das nossasreaces tpicas consciencializarmo-nos do pouco poder que nosresta. Uma vez interiorizados os efeitos da opresso, carregamo-losconnosco, muitas vezes apenas para nos tornarmos vitimadores.

    uma verdade infeliz que as vtimas frequentemente se tornamcriminosas, especificamente porque foram vtimas. Quando aagresso toma a forma de violncia fsica, traduz-se frequentementeem mais violncia.

    Com isto presente, podemos claramente ver porque os abusossobre os animais seja directamente, no caso respeitante aos maustratos de animais de estimao, ou indirectamente, no processo de

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    17/32

    17

    ingesto de carne se relacionam com a violncia social. Oshumanos que so mal tratados, eles prprios tendem a mal trataroutros, e os animais esto entre as vtimas mais fceis e mais indefe-sas. Isto mostra-nos ainda outra razo pela qual a opresso socialdeve ser combatida por aqueles preocupados com o bem-estar dos

    animais.Esta causa-efeito dinmica funciona para os dois lados. Foi

    demonstrado que aqueles que so violentos com os animais, directaou indirectamente, tambm mais provvel que o sejam com outraspessoas. Pessoas que se alimentam segundo uma dieta vegetariana,por exemplo, so tpicamente menos violentas do que aquelas quecomem carne. Pessoas que abusam dos seus animais, provavelmen-

    te, no se ficam por a, os seus filhos ou as suas mulheres so, comfrequncia, as prximas vtimas.

    absurdo pensar que uma sociedade que oprime animais sercapaz de se tornar numa sociedade que no oprime pessoas.Reconhecer a opresso animal torna-se pr-requisito para umamudana social radical.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    18/32

    18

    Com a sua tecnologia moderna os mass media, os sistemas de transporterpido, os computadores, os planos econmicos, etc o capitalismo pode agora

    controlar as prprias condies da existncia. O mundo que vemos no omundo real, uma viso do mundo que estamos condicionados a ver A vidaem si tornou-se um espectculo contemplado por uma audincia A realidade

    agora algo que olhamos para, e pensamos sobre, no algo queexperienciamos.

    - Larry Law The spectacle: A Skeleton Key

    Aqui no jardim zoolgico, neste lugar de fascinao hipntica, seres humanosvm ver os seus prprios instintos enjaulados e esterelizados. Tudo o que

    intrnseco espcie humana, mas abafado pela sociedade capitalista,

    reaparece de forma segurano zoo. Agresso, sexualidade, movimento livre,desejo, divertimento, os puros impulsos de liberdade esto presos e expostos

    para o prazer alienado e para a manipulao de homens, mulheres e crianas.Aqui est o espectculo inofensivo, em que tudo desejado pelos seres humanos

    existe apenas na condio de estar separado da realidade da existnciahumana A condio de escravatura automticamente coloca a questo:

    Quais so as perspectivas de libertao? Escusado ser dizer que a a noode uma transformao revolucionria das relaes entre humanos e animais

    nos dias de hoje impensvel.- The Surrealist Group

    Alienao no quotidiano

    Na raiz da opresso est a alienao. Os seres humanos soseres sociais. Somos capazes de sentir compaixo. Somos capazesde entender que existe um bem-estar social, um bem comum. Porqueconseguimos sentir empatia com os outros, aqueles que nos fazemcompetir necessitam de nos alienar do efeito das nossas aces. difcil convencer um ser humano a causar sofrimento a outro. aindamais difcil convencer um ser humano a agredir um animal no-

    humano sem razo aparente, ou a contribuir directamente para adestruio do seu ambiente natural.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    19/32

    19

    Quando uma sociedade entra em guerra com outra, um impe-rativo que os lderes de cada sociedade convenam as massas deque os adversrios so maus e sub-humanos. Para alm disso, oslderes devem esconder das pessoas os verdadeiros resultados daguerra: violncia em massa, destruio e carnficina. -nos dito que a

    guerra algo que acontece noutro lugar, e esses estrangeiros quemorrem, merecem-no...A dinmica opressiva nas relaes sociais, est sempre baseada

    na dicotomia ns-eles, com uma distino clara entre opressores eoprimidos. Para os opressores, o ns supremo e privilegiado. Ariqueza compreendida pelos ricos, adquirida atravs de meiosjustos e honestos. Por exemplo, tanto o oprimido como o opressor so

    convencidos de que a inabilidade dos pobres e a sua incompetnciao que os torna assim.No reconhecido o facto de que o privilgio econmico gera

    automticamente desigualdade. Simplesmente no existe suficientepara todos quando alguns podem retirar mais do que aquilo quepartilham. Mas os ricos esto alienados deste trusmo. Eles tm de sedefender, doutra maneira no seriam capazes de justificar a

    desigualdade para a qual contriburam.Passa-se o mesmo com qualquer dinmica opressiva.Os veganos compreendem que a explorao humana e o consu-

    mo de animais facilitado pela alienao. As pessoas no seriamcapazes de viver da maneira como vivem com o desperdcio e sofri-mento animal se compreendessem os verdadeiros efeitos desseconsumo. Isto precisamente a mesma razo pela qual, numa fase

    posterior, o capitalismo afastou completamente o consumidor doprocesso produtivo. A tortura acontece noutro lugar, dentro de portasbem fechadas. Simpatizando com as vtimas da opresso especista,os humanos no seriam capazes de levar as vidas que levam.

    Os humanos tm ainda de ser alienados da ideia simples erazovel que est atrs do veganismo. Com o objectivo de manteruma dicotomia ns-eles, entre humano e animal (como se ns no

    fossemos animais!), no nos permitem ouvir argumentos que trans-cendam este falso senso de dualidade.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    20/32

    20

    -nos dito que os humanos podem empregar uma lingusticacomplexa e formas de pensamento estruturadas. Os no-humanosno. Os humanos so pessoas, os outros so bestas, no mximo... Osanimais so considerados menores, no s por natureza, mas atravsduma desumanizao activa, um processo atravs do qual as

    pessoas tiram conscienciosamente a importncia aos animais. Afinal,a inabilidade para falar ou a razo duma capacidade iluminada, nosujeita as criana ou as pessoas com atraso mental violncia que osmilhes de no-humanos sofrem todos os dias.

    Encaremos isto, a dicotomia entre humanos e animais maisarbitrria do que cientfica. No diferente do que aquela colocadaentre brancos e negros e vermelhos; entre adultos e crianas,

    entre heterosexuais e homosexuais; conterrneos e estrangei-ros. As linhas foram desenhadas sem critrio e com uma intenodesonesta, e ns somos manipulados pelas instituies que nos levama acreditar que estamos num desses lados, e que a diviso racional.

    No dia-a-dia somos alienados dos resultados da maioria dasnossas aces. Quando compramos um produto alimentar da mercea-ria, podemos ler a lista de ingredientes e usualmente ver quando os

    animais foram assassinados ou torturados no processo produtivo. Masser que sabemos alguma coisa das pessoas que fizeram esseproduto? Ser que as mulheres recebiam menos do que os homens?Seriam os negros subjugados pelos brancos na fbrica? Ser que aunio ou a colectivizao de esforos dos empregados foi esmagada?Tero sido chacinados centenas numa linha de piquete por reivindica-rem um salrio que permitisse viver?

    Quando eu como macho converso com uma fmea, ou comalgum mais novo do que eu, serei eu dominador e subjugador, talcomo a minha condio o numa sociedade patriarcal? Ser que eucomo branco me vejo (ainda que subconscientemente) num grau desuperioridade em relao aos negros? Verdadeiramente, ser queeu vejo as pessoas de cr como algo inerentemente diferente de mim?Estas so as questes que no estamos encorajados a perguntar a

    ns mesmos. Mas devemos faz-lo. Para vencermos a alienao

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    21/32

    21

    temos de estar vigilantes e ser crticos, no s em relao ao mundoque nos rodeia, mas tambm em relao s nossas prprias ideias,perspectivas e aces. Se queremos extinguir os opressores quetemos na cabea, temos de questionar constantemente as nossascrenas e pressupostos. O que devemos perguntar a ns prprios

    como indivduos, so os efeitos das nossas aces, no s os efeitosdos que nos rodeiam, mas tambm os do nosso ambiente natural.

    Como componente e chave para a perpetuao da opresso,toda a alienao deve ser destruda. Sempre que ignoremos o sofri-mento no matadouro e nos laboratrios de vivisseco, podemosignorar as condies no Terceiro Mundo, o ghettourbano, o abusodomstico, a autoridade das classes dirigentes, etc.. A capacidade

    para ignorar alguma forma de opresso a capacidade para ignorartodas as formas de opresso.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    22/32

    22

    Ser antes de tudo uma teoria prtica uma teoria da prtica revolucionria -ou no ser nada nada, seno uma aqurio de ideias, uma interpretaocontemplativa do mundo. O reino das ideias a eterna sala de espera dos

    desejos irrealizados.- The Spectacle Revolutionary Self-Theory

    O esforo revolucionrio

    Entendermo-nos a ns mesmos e a nossa relao com o mundo.O que nos rodeia no mais do que o primeiro passo at

    revoluo. Teremos ento de aplicar os nossos entendimentos at umprograma prtico de aco. Quando falo de aco, no me estou areferir meramente aos acontecimentos semanais ou mensais quandons, em colaborao com um grupo organizado, mostramos osnossos princpios numa manifestao ou executamos um conjunto de

    tarefas planeadas.Agir no assim to limitado. Isso pode ser encontrado na nossa

    vida quotidiana, na nossa rotina e nas actividades menos rotineiras.Quando afirmamos as nossas crenas participando num debate, notrabalho, mesa de jantar, ns estamos a actuar. Na verdade, quernos apercebamos ou no, tudo o que fazemos uma aco ouconjunto de aces. Reconhecer isto permite-nos transformar o nosso

    quotidiano de momentos repressivos ou alienados em momentoslibertrios e revolucionrios.

    O papel do revolucionrio simples: torna a tua vida num modeloem miniatura da sociedade alternativa, revolucionria que imaginas.

    Cada um um microcosmos do mundo que nos rodeia, e at a maisbsica das nossas aces afecta o contexto social do qual fazemosparte. Torna os efeitos dessas aces positivas e radicais na sua

    natureza.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    23/32

    23

    A revoluo tem de fazer parte do nosso modo de vida, guiadapela viso e forada pela compaixo. Qualquer pensamento quetenhamos, qualquer palavra que digamos, qualquer acto que realize-mos tem de estar baseado numa praxisradical. Temos de libertar osnossos desejos atravs duma crtica constante daquilo que nos ensi-

    naram a pensar, e dum questionamento constante daquilo querealmente queremos. Quando os nossos desejos forem conhecidos,deveremos ento actuar segundo o seu interesse.

    Depois de identificar o funcionamento da nossa sociedade, edecidir aquilo que desejamos essencialmente, deveremos comear adesmantelar o presente e a construir o futuro e devemos executarestas duas tarefas simultneamente. medida que derrubamos os

    vestgios da opresso, devemos tambm criar, atravs da convergn-cia e da espontaneidade, novas formas de relacionamento social eambiental, facilitado por novas formas organizativas. Por exemplo,falando a nvel econmico, onde hoje est a gesto privada ter deestar a gesto social amanh. Quando a produo, o consumo e oarmazenamento so hoje ditados por foras de mercado irracionais,no futuro ter de existir um sistema racional para aquisio e distribui-

    o de bens materiais e servios, direccionado para a equidade, adiversidade, a solidariedade, a autonomia e aquilo que consideramosserem os valores que guiam os nossos sonhos.

    Como visionrio, o vegano anseia por um mundo livre deexplorao animal. Para alm disso, deseja um relacionamentoverdadeiramente pacfico e saudvel entre a sociedade humana e oseu ambiente natural. O movimento da ecologia radical mostrou-nos

    que uma natureza no-animal tem um valor que no pode ser quantifi-cado em termos econmicos, da mesma maneira que os veganosdemonstraram a importncia dos animais no-humanos, um valor queno pode ser calculado pelos economistas, somente medido pelacompaixo humana. Essa compaixo, demonstrada ao proletariadopelos socialistas libertrios, s mulheres pelas feministas, s pessoasde cr e tnias marginalizadas pelos intercomunalistas, s vtimas do

    estado pelos anarquistas, a mesma compaixo sentida pelos

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    24/32

    24

    Notas1 Praxis: a fuso da teoria e da prtica; um modo de vida conscientemente

    enraizado na teoria social.

    2 Alfs : Palavra escolhida para traduzir Animal Liberationists, significa

    activistas pelos direitos dos animais no sentido lato, abrangendo as diversas

    formas de actuao.

    3 Idadistas: Palavra inventada para referir normas discriminatrias com base na

    idade.

    4 Idadismo: Palavra inventada para referir a discriminao com base na idade.

    5 Vivisseco: prtica de experimentao em animais atravs de operaes,

    dissecaes e outras formas de tortura.

    - Brian A. Dominick

    veganos e ambientalistas radicais em relao ao mundo no-humano.Cada um de ns necessita de abraar todos estes tipos deradicalidade e incorporar essas ideologias numa s teoria holstica,num s sonho, numa s estratgia e prtica uma verdade que nonos podemos permitir ignorar. S uma perspectiva e um modo de vida

    baseado numa compaixo verda-deira pode destruir os alicerces dasociedade actual e iniciar a construo de novas e desejveis relaese realidades. Isto para mim a essncia da anarquia. Ningum quefalhe ao abarcar todas as lutas contra a opresso como sendo suas,cabe na minha definio de anarquista. Isto dar origem a muitasquestes, mas eu nunca vou parar de perguntar isso a cada serhumano.

    6

    Monista: Qualquer teoria social que d nfase a uma opresso, como sendomais importante que outra.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    25/32

    25

    Posfcio da terceira edio

    Quando a segunda edio deste panfleto saiu, acrescentei um apndi-

    ce mostrando a minha preocupao sobre algumas noes expressasno texto original. Em vez de fazer alteraes ao conteudo do ensaio,que acredito manter ainda um discurso slido, optei por discutiralgumas das minhas recentes concluses dentro do tema.

    Sobre Libertao

    Entre os problemas que agora tenho com o texto original, est a minhaprpria interpretao e utilizao que eu e outros fazemos do termolibertao, no sentido de descrever o que actualmente a libertaodos animais da explorao e opresso humana. Acredito quelibertao um conceito particularmente humano, baseado no pro-cesso subjectivo de crescente consciencializao e auto-afirmao. ALibertao pessoal, e muito mais complicado do que meramente

    remover correntes fsicas. Quando um prisioneiro solto dos confinsda encarcerao, no est necessriamente liberto das opressesde uma sociedade autoritria. Est apenas livre da cela. Alcanar alibertao - por si s um ideal talvez impossvel para qualquer serterrestre - algo para alm das capacidades de qualquer animal.

    Pode ser argumentado que os animais violentados e vtimas de

    abusos (e que obviamente sofrem danos psicolgicos) devem, talcomo humanos oprimidos, sugeitar-se a um processo psicologico ousubjectivo de recuperao. Mas mesmo a recuperao pessoal,tericamente dentro das capacidades de muitas espcies animaisno-humanas, no verdadeira libertao. Libertao, como eu adefino, requer uma cresecente consciencializao social, pela qualno humanos (e alguns humanos) simplesmente no possuem tal

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    26/32

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    27/32

    27

    Redefinindo Veganismo

    Gostaria tambm de clarificar as minhas definies de alguns termos,sobretudo veganismo. A definio dada no texto original est

    correcta mas torna-se confusa no contexto do resto do ensaio, nosuficientemente distinto do que eu chamo vegetarianismo. Deixem--me ser claro: veganismo a absteno consciente, por razes ticas,de actos que contribuem directa ou indirectamente, para o sofrimentode seres sensveis, sejam eles animais ou humanos. As pessoaschegam ao veganismo atravs de dois caminhos principais:preocupao pelos direitos dos animais, seu bem estar e liberdade, e

    preocupao pelo meio ambiente (seriamente prejudicado pelacriao intensiva de animais). A abstinncia do consumo de comidaderivada de animais apenas considerada vegetarianismo. Aabstinncia de consumo de carne, tpicamente chamadavegetarianismo, de uma forma apropriada chamada ovo-lacto-vegetarianismo porque os seus praticantes continuam a comerlacticnios e ovos. A maioria dos vegetarianos escolheram tal dieta

    porque ser mais saudvel e assim no tm razes para deixar deconsumir materiai de couro, produtos testados em animais, etc.

    importante notar que o veganismo no um estado absoluto de ser.Em primeiro lugar, existem muitas interpretaes do que constitui umser sensvel. Alguns argumentam que todos os animais, desde osmamforos aos insectos, merecem todos a incluso na categoria. No

    extremo existem aqueles que acreditam que as plantas eanimais soigualmente merecedores de distino, e escolhem comer apenasfrutas e frutos secos (estas pessoas so normalmente refernciadascomo frutvoras). H ainda quem insista que muitos animais emrelao aos quais no se pode demonstrar terem vontade individual,caracter distinto, aparato nervoso complexo ou alguma aparncia deemoo, como os insectos e crustceos, no so sensveis segundo

    a sua definio. No tenho espao aqui para entrar em debate, mas

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    28/32

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    29/32

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    30/32

    30

    As aces da A.L.F. consistem em:

    Libertar animais de locais de violao dos seus direitos naturais(laboratrios, fbricas, quintas) e coloc-los em locais onde possamviver as suas vidas naturalmente, livres de sofrimento.

    Provocar danos econmicos aqueles que lucram com a destruio eexplorao dos animais.

    Tomar todas as precaues necessrias para evitar ferir qualquer animalou pessoa.

    Revelar, denunciar o horror e as atrocidades cometidas contra osanimais.

    O que a A.L.F. (Animal Liberation Front)?

    A A.L.F. (Frente de Libertao Animal) utiliza a aco directa contra o abuso deanimais, salvando-os e causando perdas financeiras aqueles que exploram osanimais, normalmente atravs de danos e destruio de propriedade.

    O objectivo a curto prazo salvar o maior nmero possvel de animais edirectamente travar a prtica de abuso sobre os animais. A longo prazo preten-de-se acabar com todo o sofrimento animal, forando as empresas responsveis afalirem.

    Porque as aces so ilegais, os activistas trabalham annimamente, em pequenosgrupos ou individualmente, e no possuem organizao centralizada oucoordenada.

    A A.L.F. consiste em pequenos grupos autnomos por todo o mundo que praticam

    a aco directa de acordo com os seus princpios. Qualquer grupo de pessoasvegetarianas ou veganas que realizem aces dentro desta filosofia tm o direito

    de se considerar como parte da A.L.F.

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    31/32

    Textos Publicados:

    Zona Autnoma Provisria, Hakim Bey, 1999

    Ai Ferri Corti, annimo, 2000

    O Anarquismo na sociedade ps-industrial, C. Cavalleri, 2001

    Discrdiae d i e s

    contacto: [email protected]

  • 8/14/2019 Libertao Animal e Revoluo Social

    32/32

    Discrdia

    e d i e s

    Aqui no jardim zoolgico, neste lugar de fascinao hipntica, seres humanos

    vm ver os seus prprios instintos enjaulados e esterelizados. Tudo o que intrnseco espcie humana, mas abafado pela sociedade capitalista,

    reaparece de forma segurano zoo. Agresso, sexualidade, movimento livre,

    desejo, divertimento, os puros impulsos de liberdade esto presos e expostos

    para o prazer alienado e para a manipulao de homens, mulheres e crianas.

    Aqui est o espectculo inofensivo, em que tudo desejado pelos seres humanos

    existe apenas na condio de estar separado da realidade da existncia

    humana A condio de escravatura automticamente coloca a questo:Quais so as perspectivas de libertao? Escusado ser dizer que a a noo

    de uma transformao revolucionria das relaes entre humanos e animais

    nos dias de hoje impensvel.

    - The Surrealist Group