Lições de Texto - leitura e redação

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    -L 1 C ; A a

    Nao e amontoando osinqredicntes que seprepara uma receita;assim tambem niio esuperpondo [rases que5e constroi um texto.

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    E2(lJ V101 UJroE

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    NL 1 c A 0 1CONS1DERAt ;O 'ESSOBRE A NOC;AODE TEXTO

    Leia 0 texto abaixo, uma tira de As cob ra s, d e LU Is Fe rna ndo V erissim o:

    v . u1'"t" s ol tVlL.Ot4~

    ' "~ M~ ~. E ~"uN 0'"

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    Essa tirinha e exem plar para dem onstrar da is dados im portan tissim os nale itu ra d e u rn te xto:

    a) num texto, 0 sign ificado de um a parte nao e a uton om o, m as d ep en dedas outras com que se re laciona. Tanto e verdade que, no caso da tirinha ac im a,fomos obrig ados a re in te rp re ta r 0 sentido do quadrinho urn , quando 0 confron-tam as com a dais.

    ,b) a sign ificado g loba l de urn texto nao e a resu ltado de mera soma de

    su as p arte s, m as d e uma c erta c orn bin aca o g era dora d e se ntid os. N ao fosse e ssedado, 0 p eq ue no te xto h um oristic o a dm itiria a se gu in te le itu ra : q ue 0 g ov ern o d eFH Cm erece nota dez e que anda a dez qu il6m etros por hora , Oua lq ue r le itor m e-d ia de texto d lr!a que in terpre ta-Io dessa form a sign ifica nao te-!o entend ido.

    Em s in te se , n um te xto 0 sentido de cada partee defin ido pe la re lacao quem an te rn com a s d em ais con stitu in te s d o todo: 0 sentido do todo nao e m era som adas partes, m as e dado pe las m ultip las re lacoes que se estabe lecem entre elas,

    Ao explic a r 0 se ntid o d a tira a qu i re prod uzid a, u samos d ive rsa s v eze s a p a-lavra texto. Mas 0 que e urn tex to? Essa pa lavra e bastante usada na escola em esmo fo ra d ela . E muito fre qu en te ou virm os fra se s c om o seu texto fico u m uitoborn; 0 te xto sa b re 0 q ua l versa ra m a s oue s t oe s da p ro vo d e P ortu gu es era muitolo ng o e co m plexo ; a s o to res d e n avela d evem d eca ro r texto s en orm es to do s a s d ia s;o tex to c on stitu cio no t d esc eu a deta lh es q ue d everia m esta r em leis ordinorioA pesar do uso corren te da pa lavra , a conce ito de texto nao e tao sim ples: m esm op ara a qu ela s p essoa s h ab itu ad as a emp re ga r e sse te rm o c om fre qu en cia ,

    C om ecemos p ar d efin ir q ua is sa o a s p rop rie da de s d e um te xto:

    A prim e ira e que e le tem coerencia de senti do. lsso quer d izer que e lenao e urn am ontoado de frases, ou se ja , ne le , as frases nao estso pura e sirn -p le srn en te d is po sta s umas a po s a s o utra s, m a s e sta o re la cio na da s e ntre 5 1 . i E poris so q ue , n ele , 0 sentido de um a frase depende do sentido das dem ais com quese relac iona . a exem plo do texto com que in ic iam os esta licao m ostra de m a-ne ira sim ples e c lara que 0 sentido de qua lquer passagem de um texto e dadopelo todo, Se nao levarm os em conta as re lacoes de um a frase com as outrasque com p6em 0 te xto , c orremos 0 risco de atribu ir a e la um sentido opostoaque le que eta efe tivam ente tem .

    U ma m esm a frase pode ter sentidos d istin tos dependendo do contex tedentm do qua l esta inserida . P recisem os um pouco m elhor 0 conce ito d e con-texto. E a un idade maior em que uma unidade menor esta inserida . Assim , a

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    frase (unidade maier] serve de contextopara a palavra; 0 texto, para a frase, etc. acontexto pode ser explicito, quando e ex-presso com palavras, ou implicito, quandoesta embutido na situacao em que 0 textoe produzido. Quando Lula disse a Collor noprimeiro debate do segundo turno das elei-

    o principio da coerencia de sentido pode serobservado mesmo em quadros construidos apartir de fragmentos aparentemente descone-xos. Nesta colagem do inlcio do seculo, a pro-fusao de elementos traduz 0 atordoamento dohomem da epoca diante do massacre. por vezesindiscriminado. de inforrnacoes.

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    coes presidenc ia is de 1989 Eu sabia que voce era col/orido por fora, mas caiadopordentro, tados os brasile iros en tenderam que essa frase nao queria d ize r Vo-c e tem cores pa r fora, mas e revestit i t i de cal por dentro, mas Voce apresenta umdiscutso modema, de ccn tro -escucrdo , mas e reocionario. Como fa i passive l en -tender a frase dessa maneira? Porque e la fo i colocada den tro do contexte dosd iscu rsos da cam panha presidenc ia l. Ne le , a ad je tivo col/orido signi f icava "rela-tivo a Coller", "adepto d e C olla r"; Coller apresen tava -se com o um renovador,como alquern que pre tend ia m odern izar 0 pais , m elhorar a distr ibuicao d e re nd a,combate r as priv ileq ios dos ma is favorecidos; Rona lda Ca iado era 0 candidatamais a d ire ita , d efe nd ia a m a nu te nc ao do statu quo, e tc . As frases ganham sen-t ido, parque es t ao corre lac ionadas um as as ou tras.

    U m texta e , pois, um todo organ izado de sen tido. D izer que e le e um to-do organ izado de sentido im plica a firm ar que 0 texto e um conjun to form adode partes solida rias, ou se ja , que a sentido de uma depende das outras.

    Que e que faz que urn conjun to de frases form e um texto e nao um amon-toado desorgan izado? Sao varies as fa tores. C item os par enquan to da is. 0 pri-meiro e a coerencia, isto e , a harm onia de sen tido de modo que nao ha ja nadailoqico, nada contraditorio, nada desconexo, que nenhum a parte nao se so li dar izecom as demais. A base da coerencia e a con tinu idade de sentido, ou se ja , a au -sencia de discrepancias. Em princ fp io, se ria incoeren te um texto que dissessePedro esto muito doente. 0 quadrado do hipotenusa e igual a soma do quadradodos catetos. Essa incoerencia se ria dada pe lo fa to de que nao se percebe a re lacaode sen tido en tre as duas frases que com p5em 0 texto. Um outro fa tor e a l iqacaodas frases par certos e lem entos que recuperam passagens ja d itas ou garantema concatenacao en tre as partes. Assim , em Niio chove h6 vorios meses. a s pastosnao paderiam, portanto, estar verdes, 0 te rmo portanto estabe lece um a re lacaode decorrenc ia 16g ica entre um a e outra frase. Esse segundo fator e menos im -portan te que 0 prim eiro, pa is, mesm o sem esses e lem en tos de conexao, um con-junto de frases pode ser coerente e, por conseguin te , um todo organ izado de sen-tido. Observe 0 texto abaixo, de Carlos Drum mond de Andrade:

    o QUE SE DIZQue frio! Que vento! Que calor! Que carol Que absurdo! Que

    bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amort Que besteira! Que es-peranca! Que modos! Que noite! Que gracal Que horror! Que do-cura ' Que novidade! Que susto! Que pao l Que vexame! Que men-tira! Que corifusao ' Que vida! Que talento! Que alivio! Que nada ...

    Assim, em plena floresta de exclarnacoes, vai-se tocando prafrente.Carlos Drummond de Andrade. Poes i o e pCOSG Rio de Janeiro . Nova Agu ilar. 1983. p . 1379.

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    Faltam elem entos de liga~ao entre as partes no prim eiro paraqrafo, m asa u ltim a frase, Assim, em plena f/o re sta de exctomocoes, val-se tocando prof ren te , produz a un idade de sentido. 0 texto de ixa de ser um amontoado a lea-t6 rio d e e xcla ma coe s, a dqu irind o c oe re nc ia e , d essa form a, m ostra ndo 0 caratereste reotipa do d e n ossa lin gu ag em cotid ia na.

    A segunda caracterfstica de umtexto e que ele e delim itado por doisbrancos. Se a tex to e um todo organ i-zado de sentido, e le pade ser verbal (u rncon to, p or ex em plo), v isu al (um q ua uro),verba l e v isual (um film e) e tc. Mas, emtodos esses casas, sera de lim itado pordois espacos de nao sentido, dois bran-cos, um a nte s d e corn ec ar 0 te xto e ou trodepois. E 0 espaco em branco no papelan tes do in lc io e depois do fim do texto;e 0 tempo de espera para que 0 f i lmecomece e a que esta depois da palavraFim; e 0 m om enta antes que 0 maestrolevante a bat u ta e 0 mom en to de pois q uee le a a ba ix a, e tc.

    S a gr a da F am ilia , pintura de Michela ngelo, de 1504.Durante seculos, a rnoldura dos quadroscumpriu a funcao de isola-los do en-torno, visanda a estabelecer com nitidezurn campo para a olhar, au seja, um es-p aco de s iq nifica ca o, da mesma formaque os brancos antes e depois de umtexta verbal.

    o tex to e produzido por um suje ito num dado tempo e num determ inadoespaco. Esse su je ito, por pertencer a um grupo socia l num tem po e num espaco,expoe em seus textos as ideias, os anse ios, as tem ores, as expecta tivas de seutem po e de seu grupo soc ia l. Todo texto tem um cara tcr h lstorico, nao no senti-do de que narra fa tos h istoricos, m as no de que reve la os idea is e as concepcoesde um grupo socia l num a determ inada epoca, C ada periodo h istorico coloca paraos hom ens certos prob lem as e os textos pronunciam -se sabre e les. Par exem plo,em nossa epoca, em que os recursos naturais do planets correm 0 risc o d e e sg o-ta r-s e, a pa re ce 0 d iscurso ecoiog ista que m ostra a necessidade de preservar an atu re za com vista s a man ute nca o da espe cie h urn an a.

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    b) um a le itu ra , de um lado, nao pode levar em conta 0 que nao esta no in te -rior do text a e, de outro, deve levar em consideracao a re lacao, assina lada, de um aform a ou de outra , por m arcas tex tua is, que um texto estabe lece com outros.

    o proprio fato de escolher urn pro-duto de consume diario - no caso.um a lata de sop a - para com eleconstruir um a pintura e um a fo rm ade representar certo estaqio de de-senvolvimento atingido par uma 50-ciedade.

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    Nao ha texto que nao mostre 0 seutem po. Cabe lem brar, no entan to, que um asoc iedade nao produz um a unica forma dever a rea lidade, um unico modo de anali-sar os problem as colocados num dado m o-m enta . Com o ela e d ivid ida em grupos so-c ia is, q ue tern in te re sses m uita s ve ze s a n-taqonicos, p rod uz ide ia s d iv erg en te s e ntresi. A mesma soc iedade que gera a ideia deque e preciso par aba ixo a floresta arna-zonica p ara e xp lora r su as riq ue za s, p rod uza ide ia de que preservar a f loresta e maisren tave l, C abe lem brar, no entan to, que a l-gum as ide ias, em certas epocas, exercemdom in io sabre outras, ganhando a estatu-to de concepcao q ua se g era l na socie dad e.E nccessario e nte nd er a s concepcoese xiste nte s n a epoca e na sociedade em queo texto foi p roduzido para nao correr 0 ris-c o d e c om pre end e-lo d e m an eira d istorc id a.

    C om o a s id eia s 56 podem ser expres-sas por m eio de textos, analisar a re lacao dotexto com sua epoca e e stu da r a s relacoes deum texto com outros.

    Poderiamos d izer que um texto e ,p ais, u m todo org an iza do d e sen tid o, d eli-m itado par dais brancos e produzido porum su jeito num dado espaco e num dadotempo.

    Duas conc lus6es podem os tira r des-sa n oc ao :

    a) uma le itu ra nao pode basear-seem fragm entos isolados do texto, ja que 0sig nifica do d as pa rte s e determ inado pe lotodo em que estao enca ixadas;

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    TEXTOCOMENTADO

    a texto que segue e um anuncio publicitario publicado pela revistaVeja .a produto anunciado sao os carros russos Lada, que acabavam de en-trar no mercado brasileiro.

    APROVEITE QUE OS RUSSOSNAo ENTENDEM NADA SOBRE LUCRO.

    ELES AINDA FAZEM CARROSQUE DURAM PELO MENDS 20 ANOS.

    Se existe alguma coisa que os russos n ao sabem fazer direito e ganhardinheiro. Eles ainda pensam que e urn born negocio fazer urn carro mo-demo, confortavel, resistente, com chapa de aco helga, urn motor simples,em que qualquer mecanico mexe e que ainda pOT cima nao da manutencao.E que as russos que fabricam as Lada estao aeostumados a consumidoresque ficam de 10 a 15 anos com 0 mesmo carro, que vendem para outrosconsumidores que tambern fiearn urn tempao com 0 mesmo carro, que ven-dem para outros. Na Russia, 0 carro que nao resistir a tantos consumido-res nao e born. E olhe que nao deve ser facil fazer urn carro que funcioneperfeitamente por tantos anos em urn pais oude 56 15% das estradas saopavimentadas. Mas voce nao mora na Russia e, com certeza, nao tern urncarro russo. Bntao, voce deve estar pensando em trocar de carro daqui apOUCD.Espere 56 ate novembro e cornpre os primeiros Lada que VaG che-gar ao Brasil. Porque, do jeito que os russos aprendem rapido, logo, logoeles podem aprender a ganhar dinheiro.

    Veja , 7 nov. 1990.

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    Para dem onstrar que, num texto, 0 sign ificado de um a parte depende desu as re la co es c om a s o utra s, v amos in te rp re ta r, iso la dame nte , 0 sig nific ad o d asduas prim eiras linhas do texto aeim a. Quando se d iz " Ap ro veite q ue 05 r us s a sniio entendem na da sa bre lucre", a frase rem ete para 0 fa to de que a Russia erao pa is Ifder do b loeo socia lista e de que la , portan to, nao havia necessidade debuscar 0 lue ra , com o nos p aises cap ita listas. C om o esse te xto e de 1990, quan-do eram not6rias as difieu ldades econ6m icas par que passava a entao lln iaoSovie tica, pode-se pensar que a concepcao sobre a qual 0 te xto v ai tra ba lh ar ea da superioridade da ecanom ia cap ita lista sabre a socia lista , ou se ja , pode-seim ag in ar q ue 0 te xto c on sid era ra n eg ativ o 0 fa to de os russos nao entenderemnada sobre luero .

    A s d ua s lin h as seg uintes com ecarn a m ostrar q ue e ssa hip6 te se in te rp re -ta tiva nao e verdade ira . Seus carros nao estao subm etidos a obsolescenciacrescente p lane jada pe la industria capita lista para que 0 consume se ja sem premaior: e les duram pela menos vinte anas.o texto em le tras menores confirm a essa ultim a hipotese de le itura: osrussos nao sabem ganhar dinhe ira , porque pensam que bom neg6cio e fabricarum carra moderno, confortavel. resisten te (com chapa de ace be lqa, que duram uito tem po e passa de um dono a outre. que suporta estradas nao pavim enta-das), com m otor sim ples (em que qua lquer m ecanico m exe], que nao da m anu-tencao.

    Agora 0 sentido se apresenta em toda a p lenitude e e contrario ao queas duas prim eiras linhas, isoladas do contexto, davam a entender. Bam neg6-c io , p ara 0 indust ria l cap it alis ts , e fabricar urn carra que nao dure m uito tem poe, por conseouinte, p recise ser troca do. O af d ecorre q ue 0 lu cr o, segundo 0 tex-to , e a/go que se ob te rn a custa do co nsum ido r. e fruto da ganancia. 0 lucro ea m ota do cap ita lism o. J a os russos. por nao serem cap ita listas, nao visam aolucra e fabricam , por isso, produtos de grande durabilidade. 0 lucro e , por ex-tensao, 0 sistem a q ue 0 p rodu z sao n eg ativos pa ra 0 con sum idor, en qu an to n aoentender de lucro e positiva para ele . pais nao 0 submete a obsole sc en cia p la -nejada. o texto e um a pub lic idade dos carros russos Lada, ve iculada na epoca emque com ecararn a ser vend idos no B rasil. A estrateq ia de persuasao do texto e. ransformar 0 que sempre se considerou um ponto negativo da econom ia so-cia lista em ponto positivo para 0 e on sum idor. A ultim a frase con elam a 0 com-:: acor potencia l a e fe tuar 0 n eg 6cio ra pidame nte, a cen an do com 0 p erig o d as:~~r5rormar;be5 PO! qUE' pa5S33 Russia. Transform ando-se em econom ia sub--=~:.a a s cham adas le is do m ercado, os russos aprenderao a ganhar dinhe iro

    seq inte , 0 c on sumid or e sta ra su bmetid o a obsole scenc ia p lanejada,a .s be s bastan te durave is,

    . . :;

    i.!.jIs;,iI,. .

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    L 1 < ; A O 1a texto que segue e 0 capitulo LXVIIIdo livro Mem6ria s p6stum a s de Bra s Cuba s, de

    Machado de Assis.o VERGALHO

    Tais eram as reflexoes que eu vinha fa-zendo, por aquele Valongo fora, logo dcpoisde ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas urnajuntamento; era um preto que vergalhava

    5 outro na praca. 0 Dutro Mia se atrevia a fu-gir; gernia somente estas unicas palavras:- "Nao, perdao, meu senhor; meu senhor,perdao!" Mas 0 primeiro nao fazia caso, e,a cada suplica, respondia com urna verga-

    10 lhada nova.- Toma, diabo l dizia ele; toma mais

    perdao, bebadol- Meu senhor! gernia 0 outro.- Cala a boca, besta! replicava 0 ver-

    15 galho.Parei, olhei, .. Justos ceusl Quem havia

    de ser 0 do vergalho? Nada menos que 0meu moleque Prudencio, - 0 que meu pai li-bertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele

    20 deteve-se logo e pediu-me a bencao; per-guntei-lhe se aquele preto era escravo dele.- E , sim, nhonh6.

    - Fez-te alguma coisa?- E urn vadio e urn bebado muito gran-25 de. Ainda hoje deixei ele na quitanda, en-

    quanta eu ia lei embaixo na cidade, e eledeixou a quitanda para ir na venda beber.

    - Esta bom, perdoa-Ihe, disse eu.

    Pois nao, nhonh6. Nhonh6 manda,nao pede. Entra para casa, bebado l 30

    Sal do grupo, que me olhava espantadoe cochichava as suas canjeturas. Segui ca-minho, a desfiar uma infinidade de refle-xoes, que sinto haver inteiramente perdido;alias, seria materia para urn born capitulo, 35e talvez alegre. Eu gosto dos capitulas ale-gres; eo meu fraco. Exteriorrnente, era tOT-vo 0 episodic do Valongo: mas s6 exterior-mente. Logo que meti mais dentro a faca doraciocinio achei-lhe urn miolo gaiato, fino, 40e ate profundo. Era urn modo que 0 Pru-dencio tinha de se desfazer das pancadastecebidas, - transmitindo-as a outro. Eu,em crianca, montava-o, punha-lhe urn freiona boca, e desancava-o sem compaixao; ele 4Sgemia e sofria. Agora, porem, que era livre,dispunha de si rnesmo, dos braces, das per-nas, podia trabalhar, folgar, dormir, desa-grilhoado da antiga condicao, agora e queele se desbancava: comprou um escravo, e 50ia-Ihe pagando, com alto juro, as quantiasque de m im recebera. Vejam as sutilezas domarota!

    Machado de Assis. Mcmorias postumas dE Bras Cubas. SaoPaul. Atica, 1995. p. 100-1.

    , 0-

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    iI~;- ,,iI";;II

    Os dois personagens centrals dessa narrativa vern indicados por duas desiqnacoes iniciais:um preto ... outro ("era urn preto que vergalhava Dutro no orocc"). Como no interior de um texto,uma passagem explica outra, cada um desses personagens vem designado por outras palavrasassim distribuidas ao longo do texto:

    U M P R E T O O U T R Orneu senhor: rneu senhor (linha 7) o outro (Iinha 5)o primeiro (linha 8) diabo [linha 11)ele [linha 11) bebado (linha 12)meu senhor (I inha 13) o outro (I inha 13)o vergalho (Iinhas 14-5) besta [linha 14)o do vergalho (Iinha 17) aquele preto, escravo (I inha 21)o meu moleque Prudencio [linhas 17-8) vadio, bebado (Iinha 24)o que meu pai libertara (Iinhas 18-9) ele (linha 25)ele [linha 19) ele [linha 26)Ihe (Iinha 21) Ihe (linha 28)dele (linha 21) bebado (l inha 30)te (llnha 23) a Dutro (I inha 43)o Prudencio [linhas 41-2) urn escravo (linha 50 )0, I he llinha 44) Ihe l l i n h a 51)0, de [linha 45)de 5i rnesmo (Iinha 47)ele, se (lin ha 50 )do maroto (Iinhas 52-3)

    Como se pode notar, esses dois grupos de palavras servem para costurar entre si varias pas-sagens do texto e tarnbem para 0 narrador ir construindo 0 perfil de cada uma das personagens.Na coluna 1, alern dos pronomes (e le , the , de le , te etc.l. que servem para evitar repeticoes enfa-don has e para indicar correlacoes entre passagens do texto, ocorrem palavras e expressnes comque 0 narrador da informacoes sabre Prudencio e traduz 0 modo como este trata 0 outro preto.a) Que intormacoes importantes 0 narrador nos da sobre Prudencio?b) Como define 0 modo de Prudencio tratar 0 escravo que adquirira depois de libertado?

    QU,"STAO 2 para exprimir sentimentos de variados tipos:horror, espanto, desespero, raiva, medo etc.No interior do texto [Iinha 16J ocorre a se-guinte exclarnacao: " Ju sto s re u s!"a) De que personagem procede esse qrito?b) Que tipo de sentimento exprime?c) Que tipo de ocorrencia provocou tal senti-mento no narrador?

    Na coluna 2, ao lado dos pronomes que sereferem ao escravo que era acoitado, existempalavras que, de um lado, servem para confir-mar 0 autoritarismo e a crueldade de Pruden-cia, de outro, servem para indicar a irnaqemque Prudencio fazia de seu escravo.a] Cite algumas dessas palavras.b) Qual e a imagem que criarn do escravo se-gundo Prudencio?

    a) Quais sao as palavras que 0 homem chico-teado usa para tratar 0 seu atua I senhor?b) Quais as que Prudencio usa para se dirigirao narrador? Qual 0 seu significado?s palavras OU frases exclamativas servem

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    c) Considerando 0 qrau de formalidade propriode cada uma dessas express6es, quem e quedemonstra menos intim idade no trato com 0seu superior hierarquico?

    Na sua opiniao, 0 capitulo em questaomostra um narrador preacupado com a insti-tuicao escravagista au apenas preocupado emrevelar formas do comportamento humano?

    QUESTAO 6o narrador diz que gosta dos capitulosaleqres.a] 0 capitulo em que s t ao e alegre?b) Fundamente sua resposta.

    No dialoqo entre Nhonh6 e Prudencio, a lin-guagem do e x-e scra vo e marcada par desvios danorma culta da lingua, em contraste com a doseu ex-senhor, absolutamente ajustada 85 pres-cricoes gramaticais: a colocacao pronominal e accerencia no usa das pessoas do pronome e doverbo sao ;indices disso ("Fez-te"; "perdoa-Ihe").a) Cite, na fala de Prudencio, alguns desvios dalingua culta escrita.b) Considerando que, num texto, todas as ocor-rencias contribuem com a sentido global, tenteinterpretar a fu ncao desses desvios da linguaculta para a caracterizacao da personagem Pru-dencio,

    QUESTAO 8Levando em conta a texto na sua totalida-

    de, podemos dizer que nele:al 0 narrador ironiza, com certo amargor, procedimento do seu ex-escravo.b ) Prudencia, a juIgar par esse espet;ku"lo,etao severo com 0 seu escravo quanto com 0seu ex-senhor.c) 0 narrador ap r e s en ta plenasjustificativas pa-ra 0 rnau comportamento do seu ex-escravo.d] 0 narrador tenta explicar os motivos que le-yam um homem a odiar outro.e] 0 narraoor se mostra surpreso com a reacaodo homem chicoteado perante as vergalhadasde seu senhor.

    A maier injustica que eu ainda vi de-senfreada e as soltas na face da terra foi aque prendeu os senhores Almeida e ManuelCaetano, a proposito de uma tentativa deroubo ao senhor Lobo da Reboleira.

    Vinham aqueles inofensivos cidadaospelo seu caminho, mansos e quietos,e des-prendidos de cobica, Passa ra rn a porta docapitalists no momento em que 0 senhorLobo escorregava nas escadas ingremes eoleosas de sua casa, gritando que andavamratoneiros la dentro. 0 senhor Almeida,quando tal ouviu, reeeou que 0 tomassempor urn dos salteadores, e estugou 0 passo.o senhor Manuel Caetano, rnenos arnedron-tado das suspeitas, mas temeroso de ser cha-mado como testemunha, fugiu tambem, Osvizinhos do senhor Lobo, venda fugiremdais homens, e ouvindo os gritos da criadado milionario, correram atras deles, e, auxi-liados pela guarda do Banco, apanharam--nos. Sao a queixoso e sua criada, convida-dos a reconhecer os ladroes, e nao os co-nhecem, Sao charnados os vizinhos, que osperseguiram, e asseverarn a identidade daspessoas,

    Aqui esta a historia contada pelos pre-sos, unicos, a meu ver, que a podem contarcomo ela foi, Mas havera de oito rneses queestao esperando que as julguem. Tomoucargo de defesa Marcelino de Matos.

    Se a juri provar a inocencia destes daishomens, qual e 0 artigo da lei que imp6eno ministerio publico 0 sacratissimo deverde as indenizar?

    Cam iio Cas te lo B ra nco . Memorias do corcI"re lsbna, A . M .Perei ra . 1966 v 2, P 120-1

    No excerto que Ihe apresentarnos, ha pelomenos duas palavras que nao sao comuns noportuques coloquial brasileiro: ra tone iro e estu-gar. 0 contexto, no entanto , permite entendero que siqnificarn,

    Releia 0 texto de Carni!o, e a seguir indique:a) 0 sentido das duas palavras:b) os elementos contextuais que permitem en-tender tal sentido.

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    A que la se nho ra te rn urn p ianoQue e agradavel mas nao e 0 corre r dos riosNem murmurio que as arvores fazem ...Por que e precise te r urn piano?o melhor e te r o uvido sE arnar a n atu re za .Alberto Caeiro (heteronirno de Fernando Pessoa],

    Qu e s im b oliz a a p iano no poem a?

    PROPO STAS DE REDA~AO-- -

    l) No cap itulo X I de Mem 6ria s p 6stu ma sde Bras Cubes, 0 narrado r, falando de sua in-fancia, confe ssa-se um "men i no diobo", te i-moso e b irre nto . Entre a lgum as de suas crue l-da d es faz a Iusao a e sta, que di z respei to aomodo com o tratava se u entao e scravo Pru-dencio:

    ( . . . J Prudencio, urn moleque de cas a , e rao m eu cavalo de todos as dias: punha asrnaos no chao , recebia urn corde l no s quei-xos, a gu isa de fre io , eu trepava-lhe ao dor-sa , com um a varinha na m ao, fustigava-o,dava m il voltas a urn e Du tro Iado, e eleob edecia , - a lgum as ve ze s g em endo - m asobedec ia sem dize r palavra, ou, quandomui to , urn - "ai, nhonho l" - aD que e u re-torquia: - 'Ta la a boca, b e sta!"

    Ma,had 0 de As, is, op, cit., p, 32-3.

    10 cap itu lo L XV II I, a m esm o narrado r ob-::;E~'Ci que , ao de ixar a grupo , e ste 0 olhava e s-L.~::';'IlO e c oc hi ch av a as suas conje turas , is to: -c: c : s....oosicoes sab re a ce na que acabava- _ = - c c.ie , e ntre as p e ssoas que coch i-_ . : : . - ~ - - G i . . . a que sou be sse do passado_ ~ - _ :.. .- : ..=~ : ::21 0 liu calada as su posicoe s e_ - _ _ :.: ;~ _ .o o e , de pois de um ce rto

    C s e : sabia,- r- _ .. ... . ~ex;:o. 0 significado

    de um a passagem dep ende de inforrnacoe scontidas em passag ens a n te rio re s .

    R ed ija um texto, e xpondo os cornentariosque as inte g ran te s do grupo faziam :a) ante s de te rem inforrnacoe s sobre 0 passa-do de Prud encio ;b) de pois de sabe rem que e le re pe tia ali. comse u a tual e srravo . as m e sm as crue ldade s quese u ex-senhar fazia com ele.

    2)

    Excellente escravoV!.'nde-se u en c r eoulo de 22 80n08, sem ,.i-

    cio e muira fie]: bom e sceado eceiuhei-o,eopeiro, belieiro. F"z todo 0 oi!eni

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    , . . , ,1 1 C ; A a 9

    oduplo sentido pode serexplorado com malicia ehumor, como se v e notrccho a sequir:

    "Poi a primeira vez que 0governo manifestou algumaprcocupaciio genuina com aaqricultura. 0 ministroJose Serra mandou urnjornalista plantar batatas ':Dectaraciui do deputado Delfim Neto,Reuista Veja, 3 jan. 1996.

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    I0E 'u~ m E V"I . . . c : o. . . . V::l ::l V 0;::CL V > V0-0 . . _rn < L J ''Q_ VI "0ctI (l) Vn "- :;l!:: ::l 0- +-''- . . . . . . ~0 . . . . (l).~ v rn EE Vl . . . . V1 "0 (1) 'aJa "0u

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    NL 1 C ; A 0 9A s VAR1ASPO SS lS 1L1D A UE S D ELE1TURA D E UM TEXTQ

    Leia 0 texto abaixo, uma das fabulas de La Fontaine:o LOBO E 0 CORDEIROamos mostrar que a razao do rnais forte e s e rn p re a melho r ,

    Urn cordeiro matava a sede numa corrente de aguapura, quando cbega urn lobo cuja forne 0 levava a bus-car caca.

    - Que atrevimenta e esse de sujar a agua que estoubebendo? - diz enfurecido a lobo. - Voce sera castiga-do par essa temeridade.

    - Senhor - responde 0 cordeiro -, que Vossa Majes-tade nao se encolerize e leve em conta que estou beben-do vinte passos mais abaixo que a Senhor. Nao posso,pais, sujar aagua que esta bebendo.

    - Voce a suja - diz 0 cruel animal. - Sei que vocefalou mal de mim no ano passado.- Como eu poderia te-lo feito, se nao havia sequer

    nascido? - responde 0 cordeiro. - Eu ainda mama.- Se nao foi voce, foi seu irmao.- Eu nao tenho irmaos.- Entao, foi alguem dos seus, porque todos voces, in-

    clusive pastores e caes, nao me poupam. Disseram-rneiS50 e, portanto, preciso vingar-me.

    Sem fazer nenhuma outra forma de julgarnento, 0lobo pegou 0 cordeiro, estracalhcu-o e devorou-o.

    La Fontaine. Fobl~5. Tours, AlFredMame et Fil" 1918. v. 1, p. 10.

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    llustracao deGustave Dorep ara a fa bu lao lobo e ocoroe iro .

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    Mas eu vi Manuel Rodriguez,Manolete, mais deserto, toureiro mais agudo,mais mineral e desperto,

    A primeira questao que se pode propor quando se I e uma fabula e aseguinte: ela e uma historia de bichos ou de gente? 0 leitor poderia responderprecipitadamente: de gente, e clare. Se Ihe perquntassernos como e que ele sa-be disso, certamente responderia que Ihe ensinaram na escola que as fabulascontam histories de seres humanos representados por animais, plantas etc. Ca-beria entao a pergunta: como e que os estudiosos chegaram a essa conclusao?Inferiram-na do fato de que ha nos textos uma reiteracao de traces sernanti-cos, isto e , de elementos que comp6em 0 significado das palavras, que obrigaa ler 0 texto de uma dada maneira.

    Vejamos 0 que ocorre em nossa tabula. Inicialmente, temos dois anima is:o lobo e 0 cordeiro. Poderfamos, entao, pensar que se trata de uma hist6ria debichos. No entanto, atribuem-se a eles procedimentos proprios dos seres hu-manns (dizer, castiqar, responder, encolerizar-se, falar mal, naGpoupar, vingar-sel,qualidades e estados exclusives dos homens (enfurecido, temeridade, ter ir-moos), formas de tratamento utilizadas nas relacoes sociais estabelecidas en-tre os humanos (Senhor, Vossa Majestade, voce). Essa repeticao. essa recorren-cia, essa reiteracao do trace sernantico humano desencadeia um novo plano deleitura.O primeiro plano de leitura e historia de animais. A medida, porem, queelementos com 0 trace humano se repetem, nao se pode mais ler a tabula comouma historia de bichos. Esses traces desencadeiam outro plano de leitura: 0 deuma hist6ria de homens. Nesse novo plano, 0 lobo e 0 homem forte que oprimeo mais fraco, representado pelo cordeiro.

    A recorrencia de traces sernanticos e que estabelece que leituras devemou podem ser feitas de um texto. Uma leitura nao tem origem na intencao doleitor de interpretar 0 texto de uma dada maneira, mas esta inscrita no textocomo virtualidade, como possibilidade.

    Lido de modo fraqmentario, 0 texto pode parecer um aglomerado desco-nexo de frases a que 0 leitor da 0 sentido que quiser e bem entender. Nao e as-sim: h a leituras que nao estao de acordo com 0 texto e, por isso, nao podemser feitas., Mas talvez alquern perguntasse: um texto nao pode ac:eitar multiplasleituras? Everdade, pode admitir varias lnterpretacoes, mas nao todas. Sao ina-ceitaveis as leituras que nao estiverem de acordo com as traces de significadoreiterados, repetidos, recorrentes ao longo do texto.

    Ha textos que possibilitam rnais de uma leitura. Neles, as mesmas figu-ras tern mais de uma interpretacao, segundo 0 plano de leitura em que foremanalisadas. Para explicar isso, tomemos como exemplo um trecho do poema"Alguns toureiros", de .Ioao Cabral de Melo Neto.

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    o de nervos de madeira,de punhos secos de fibra,o de figura de lenha,lenha seca da caatinga,o que melhor calculavaa fluido aceiro da vida,a que com mais precisaorocava a morte em sua fimbria,o que a tragedia deu numero,it vertigem, geometria,decirnais a ernocaoe ao susto, peso e medida,sim, eu vi Manuel Rodriguez,Manolete, 0 mais asceta,nao so cultivar sua flormas demonstrar aos poetas:como damar a explosaocom mao serena e contida,sem deixar que se derramea flor que traz escondida,e como, entao, trabalha-Iacom mao certa, pouca e extrema:sem perfumar sua flor,sem poetizar seu poema.J0

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    so, a traqedia, a ernocao, a vertigem e ao susto, que poderiam levar a rupturacom a realidade, ele contrap6e 0 coicu!o, a precisiio, 0 numero, a geometrio, osdecimais, peso e medida. Os versos seguintes dizem que Manolete cultivava suaflor asceticamente, secamente. A flor e a ernocao. E preciso conter a ernotivi-dade, domar sua explosao e. depois, trabalha-la, nao permitindo que se der-rame. A ernocao deve ser pouca. Nao se deve nunca perfumar a flor, deixar queuma emotividade descontrolada se espalhe.

    Essas estrofes estao referindo-se ao toureiro, cujo trabalho Ihe imp6ecor dicoes tais que a presence da morte e uma constante e a vida existe ape-sar das circunstancias adversas.

    Deixamos tres versos de lado em nossa leitu ra: mas demonstrar aos poe-tas, sem poetizar seu poema e lenha seea do coatinga. Os dois primeiros versosnao se integram ao plano de leitura proposto, a da vida de um toureiro. Comoa atitude de Manolete e um ensinamento para os poetas? Esses versos deter-minam a criacao de um outro plano de leitura: 0 do ato de poetar. Todas as fiqu-ras devem ser lidas agora tambern nesse plano. a poeta deve ser seco, contido,agudo, domar as ernocoes. Sua poetica deve ser contida, para que, com umgesto menos calculado. nao rompa ele com a realidade em que deve trabalhar.o ultimo dos tres versos leva a um plano de leitura social. Nao se trata maisdo toureiro espanhol, mas do nordestino (lenha seea do caatingo), que, vivendo emcondicoes tao extremas, roca a todo instante, a fimbria da morte, devendo, pois,com precisao, calcular 0 fluido aceiro da vida. Eseco, contido, doma suas emocoes,pois qualquer gesto menos preciso pode significar a ruptura definitiva.Esse texto admite, pelo menos, tres leituras: a do tourear, a do poetar ea do viver no Nordeste.

    As anedotas, as frases maliciosas, de duplo sentido, os textos humoristi-cos jogam com dois pianos de leitura. Neles, le-se 0 que pertenee a um planoem outro. Veja, par exemplo:

    - Entao, 0 senhor sofre de reumatismo?- E claro. 0 que senhor queria? Que eu usufruisse do reu-matismo, que eu desfrutasse do reumatismo, que eu fruisse doreumatismo, que eu gozasse 0 reumatismo?

    Observe que, nessa anedota, 0 verba sofrer esta usado em dois sentidosdiferentes: soirer de + nome designativo de doenco signifiea "ter": sofrer + de+ nome abstrato signifiea "padecer" A questao foi formulada com 0 primeirosentido, que determina urn plano de leitura: 0 das dcencas que se tern. Foi, noentanto, lida pelo interlocutor no segundo sentido, que gera outro plano de lei-tura: 0 dos sofrimentos da vida.

    Para que haja uma anedota, ou duplo sentido, e preciso que haja duasleituras em algum nivel linguistieo. Na anedota abaixo, por exemplo, enuncia-sea frase com uma entonacao e ela elida com outra.

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    A professora passou a li

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    TEXTOCOMENTADO o texto aba ixo e um poema de

    C arlos D rummon d d e A nd ra de :A NOlTE DISSOLVE OS HOMENSA noite desceu. Que noite!Ja nao enxergo meus irmaos.E nem tampouco os rumores

    que outrara me perturbavam.A noite desceu. Nas casas,

    nas mas onde se combate,nos campos desfalecidos,a noite espalhou a medoe a total incornpreensao.A noite caiu, Tremenda,sem esperanca ... Os suspirasacusam a presenca negraque paralisa os guerreiros.E 0 arnor nao abre caminhona noite. A noite e mortal,cornpleta, sem reticencias,a noite dissolve os hornens,

    diz que e inutil sofrer,G ravu ra de

    Kiithe Kollwitz.A c er vo d o

    Museu d e A r teC on t em po r iin ea

    da U 5P .s a o Pa u l o ,

    Aurora,entretanto eu te diviso, ainda timida,inexperiente das luzes que vais acendere dos bens que repartiras com todos os homens.Sob 0 umido veu de raivas, queixas e humilhacoes,adivinho-te que sobes, vapor roseo, expulsando a treva noturna.o triste mundo fascista se dccornpoe ao contato de teus dedos,teus dedos frios, que ainda se nao modelarammas que avancam na escuridao como urn sinal verde e peremptorio.Minha fadiga encontrara em ti 0 seu termo,

    a noite dissolve as patrias,apagou os almirantescintilantes! nas suas fardas.A noite anoiteceu tudo ...o mundo nao tern rernedio.Os suicidas tinham razao.

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    minha came estremece na certeza de tua vinda.o suor e urn oleo suave, as maos dos sobreviventes se enlacarn,os corpos hirtos adquirem uma fluidez,uma inocencia, urn perdao simples e macio ...Havemos de amanhecer. 0 mundose tinge cam as tintas da antemanhae 0 sangue que escorre e doce, de tao necessariapara eolorir tuas palidas faces, aurora.Carlos Drummond de Andrade. Reunioo' 10 livros de poesic: Rio de Janeiro, J05 e Olympio, 1969. p. 57-8.

    o poem a constitu i-se em torno de tres im agens: duas exp lic itas (noite eaurora) e um a im pl lc ita (manho).

    A p rim e ira e a noiie. Va i-se m ostrando a chegada da noite num a grada-

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    corneca a mostrar os primeiros sinais, A democracia expeti ra 0 medo, abriracaminho para 0 amor (as moos dos sobreviventes se enlm;;aml, acabara com afadiga da opressao. Oepois da dureza da ditadura, havera a f lexibilidade dademocracia. 0 mundo dernocra t ico ainda nao e sta completamente configura-do (inexperiente dos fuzes que vais acender e dos bens que repartirds com todosas homens; aindo se na o mode/aram), mas 0 poeta canta a ce rte za de sua vindai o v oncom no escuridtio como um s ina l verde e peremptorio; certeza de tuavinda; h avem o s d e a m a nhecer; 0 m undo se tinge co m a s tin to s do a ntem onha ).a segundo plano de leitura trabalha com 0 par de con tra rio s t o sc i smo Xdemocracia, hom61ogo a oposicao morte X vida.. 0 fa sc isrn o e morte, porquedissolve, porque e a riq idez, a dem ocrac ia e v id a, p orq ue e f luidez.

    L l < ; A O 9 EXERC 1C l QA multi p ia possib ilidade d e le itu ra do te xto pode se r usada inte nc:ionalm ente p e lo e nuncla-

    dar para que 0 se u te xto atinja 0 re su ltado que e le tem em m ente . E 0 caso da passagem b i'b li-ca que se gu e , extralda do cap itu lo 1 2 do se gundo liv ro de S am ue l Para situa-la, convern r e cupe -r ar r e sum id am e n te 0 que d iz 0 cap itu lo ante rio r, que , sob 0 titulo "Pe cado s de Davi", re la ta umepisodic pouco e d ificante p ara 0 grande re i d e I s ra e l.

    S egundo 0 re la ta , ce rto d ia , ao entardecer, Dav i avistou, do t er race do palaclo rea l , urna rnu-Ih e r que tom ava b anho e se e ncantou por eta. E ra B e ts ab e ia , mulher de U rias, urn dos trinta 501-dados m ais valo roso s de D av i. E stando U ria s ausente d e J er us ale m , Davi dorm iu com Be tsabe ia ,e ng rav idando-a . Nao te ndo consequido em purra r a pa te rnidade da crianca para U rias , D avi orde-nou que Joab , se u sob rinho e com andante cas trop as em gue rra , colocasse Uria s bem na fre ntede b atalh a, n a r e g , i a o de r na io r v io lenc ia e risco , para q ue e le m orre sse . Exe cu tada a ord em dosobe rano , U rias m orre u e Davi t omou Betsabeia com o e sposa .

    S e gue e ntao 0 te xto q ue se ra ob je to de analise .NATA ACUSA DAVI, QUE SE ARREPENDEPOT isso a S enhor m andou 0 profe ta Nata a D avi. N ata fo i te r com Davi e lhe disse :"Numa cidade h av ia do is hom ens , u rn rico e ou tro pob re . 0 rico tinha ovelhas e bo is emquantidade, 0 pobre 56 possuia me smo uma ove1h inha pequena que tinha com prado e

    criado . E la cre sce u com ele e junto com os fllhos , comendo do se u bocado ebe be ndo da sua taca, donnindo no seu regaco, em um a palavra : tinha-a naconta de filha .

    Che gou ao hom em rico lim a vis ita . Ele te ve pe na detom ar um a re s das suas ove lhas au bo is , a fim de p re pa ra r

    para a visita. Tornou a ove lh inha do hom em pob re ea p re parou para 0 visitante"

    Davi ficou furioso com e ste hom em e disse aNata: "Pela vida do senhor! 0 hornem que fe z is tom e re ce a m orte . H e pagara quatro ve ze s a ove lha

    par te r fe ito um a co isa de s tas , sem te r p e na"Entao Na ta re p licou a Davi: "E s tehom em e s tu ... !"

    B ib li a s a g ra d a . 13. ed, P e tr o po li s, Vo z e s, 1990. p, 345.C ena de batalha do exercito de

    D av i, e m g ra vl.!ra d e G usta ve D ore ,132

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    Numa prime ira le itura , a narracao do pro-fe ta Nata nos fa la de dois homens, um rico eum pobre . Como 0 n arr ad or c ara cte riz a:a ) a pobreza de um?b) a riqueza do outro?

    Ainda numa prim eira le itura, as ovelhas ebois de que fa la 0 narrador podem ser in te r-p retados no seu sentido litera l, lsto e , comoan im ais propriam ente d itos, com o bens mate-riais de seus donas. Pelo re la ta do narradordepreende-se, no entanto, qu e ha um a d ife-renca entre a significado que a ovelhinha ternpara 0 homem pobre e 0 que as ove lhas e 05bois t e rn para 0 hom em rico.a ) T en te d efin ir 0 que a ovelhinha tem de es-p ecial p ara 0 hom em pabre .b ) As ove lhas eram tao especiais para 0 ho -m em rico quanta a ove lha para 0 pobre?

    QU~~TAo : 3Essa d iferenca com que a narrador descreve

    a r e l acao entre os dois homens e seus a n im a isinte rfere decis ivam ente na d ire< ;ao argum en-tativa que ele quer dar ao seu texto. Pode-sed izer que, qracas a tal diferenca, 0 roubo e asacrific io da ovelhinha pe lo homem rico pro-voca mais an tipatia e revolta? Explique suaresposta.

    QU~Hii.O 4o homem rico e defin ido inic ia lm ente co-mo urna pe ssoa de sconhec id a do interlocutor:

    o n a rr ador 0 tra ta por e fe e a un ica outra ind i~cacao e que morava numa cidade.

    Por m eio dessa estrateqia narra tiva , Nataconsegue obter de Davi toda a atencao sobreos epis6dios narrados e uma vee mente e fu rio-sa condenacao do crim e desse "estranho"a) Q ual e 0 ju lgamento que Davi faz desse ho-mem?b) Q ua l e a pena lidade que 0 sob era no de ere-tou para a crime cometido?

    Tendo arrancado de Davi a condenacao doproced im ento do homem rico e provocado suaira contra a perversidade cometida , Nata , numlance surpreendente e fu lm inante , diz que 0hom em rico e Davi: de ixa de se r designado pore fe e passa a ser designado por tu . A troea dee le por tu n o fin al d a n arra ca o remete 0 textoa um outro p lano de significado, provocandooutra versao p ara o s a co nte cim e nto s.

    Levando em conta 0 fato que levou Nata aprocurar Davi para censura-lo. que sentido pas-sam a adqu irir no texto:a) 0 hom em pobre?b) a ovelhinha do homem pobre?c) 0 ato de tornar a ovelhinha do hom em pobre?d) a condenacao do homem rico?

    QUESTAo 6Nao se constr6i um tex to com duplo sen-

    tido sem um proposito, mas com a intencao deobter um determ inado resultado.a) Ou a I a i ntencao de Nata ao constru i r essana r racao?b) Esse proposito de Nata foi a tingido?c) Se 0 profeta nao ad otas se a e stra te qia do du-plo se ntido pa ra 0 texto, ter ia conseguido mes -mo e fe ito?

    Os textos de humor fazem largo uso da du -p ia possibilidade de le itu ra.

    Eo que acontece nesta piad inha rapids:DIALOGO DESENCONTRADOUrn garoto pergunta para 0 outro:- Voce nasceu em Pelotas'?- Nao, eu nasci inteiro.

    a) Q ual 0 duplo sentido desse texto?b) Qual eo dado lingu istico que explica 0 du-p lo s en tid o?

    IPelotas i" uma irnportante cidade do Rio Grande do SuJ.

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    DIALOGO DESCONTRAiooDuas turistas em Paris trocam ideias

    sabre generalidades da viagern:- V oce acredita que estou ha tres dias em

    Paris e ainda nao consegui ir ao Louvre?- Pois eu tambem. Deve ser a com ida.

    a) Como a segunda interlocutora entendeu afala da primeira?b) Qual a palavra que permitiu essa interpre-tacao?

    Dois pcquenos goles de vinho,

    Iurn cal~ado ccrt?".'"d e i x a m q u a l q u c r r n u l . h c r

    in- SIS IV Irn critc alta.

    COX'FORl

    PAQUETA'. . _ l' I o . . .. . . .. ' J ,_~.~ho._, . . . . , . . . ~ . . . .PkIM,\VERA IVEk.\O

    No anuncio acirna, 0 efeito de sentido produzido e criado sobretudo pela dupla possibilidadede leitura.a) Qual e a dupla interpretacao possivel para esse texto?b) Qual e a palavra cujo duplo sentido desencadeia essa dupla interpretacao?

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    QUESTAO 10A que stao que segue , e xtra ida de ve stib ula r da Unicam p, e xp lora a dup la possib ilidade de

    leitura co mo re cu rso h um oristico :Para en te nde r a tira aba ixo , e necessario dar-se conta de que a p e rgunta de H e lga pode te r

    d ua s i nt er pr et ac oe s.

    SIM ... AcMO QCJEE ."

    a) No conte xto , com o de ve se r inte rp re tada a fala de H e lga?b) Com o H agar in te rp re tou a fa la de H e lga?c ) Exp lique par que 0 com portam e nto linguistico de H agar nao corre sponde ao de um falantecomum.

    Muitas ve ze s, a dup la possib ilidade de le i-tura de um te xto nao e 0 re sultado de um pro-gram a ou de uma e strate q ia inte ne iona l doauto r, m as de um de scu ido , um coeh ilo que , sefosse pe rceb ido , se ria corrig ido . Ne sse s case s ,d ife re ntem e nte dos ante rio re s , nao se tra ta deum recurso de construcao textua l, m as de de -fe ito a se r e vitado p e lo se u cara te r pe rturb a-d or. O bs erv e 0 te xto que se gue , pub licado naFo lha Sudes te , de 6 de junho de 1992, e u tili-zado num ve stibular da Unicam p.

    A s vide olo e adoras de S ao Carlos e staoe scondendo suas fitas de sexo e xp licito . Ade cisao atende a um a portaria de de zem brode 91 , do Juizado de Menore s , que p ro ibeque as casas de video a luguem , exponharne ve nd am fitas pornograficas a m eno re s de1 8 anos. A portaria p ro ibe ainda os m eno-re s de 18 an o s de irem a m ote is e rode io ssem a com panhia ou au orizacao dos p ais .

    Foilla Sudeste, 6 jun. 1992.a) T ranse re va a passag em que p roduz e fe ito dehumor .b ) Qual a situacao enqracada que e ssa p assa-g em pe rm ite im ag inar?

    c) R e es cre va 0 tre cho de fo rm a a impedir ta linterpretacao.

    P R O P O S T A S DE REDA~AO1 ) L eia 0 tre cho que segue :Ce rta ve z um a fam ilia ingle sa fo i passar

    fe rias na A lem anha. No de corre r de urn pas-se io , as pe ssoas da fam ilia viram um a e asa decampo que Ih e s pare ce u boa para as fe rias deve rso . Fo rarn falar com 0 prop rie ta rio da e asa ,um pastor a le rnao , e e om binaram aluqa-la nov era o se gu in te .

    D e volta a Ing late rra d iscutiram muitoace rca da p lanta da casa . De re p ente a se nho -ra lem brou-se de nao te r visto 0 w . e . Con-forme 0 sentid 0 pra tico dos ing Ie se s , e scre veuim ediatam e nte para confirm ar ta l d e talhe . Acarta fo i e se rita assim :

    G e ntil Pa sto r,S ou m embro da fam ilia ingle sa que 0

    visitou ha poueo com a finalidade de alu-gar sua proprie dade no proxim o ve rao . Co-mo e sque cemos urn de talhe m uito impor-tante , agrade ce ria se nos inform asse ondese e nco ntra 0 w . e .

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    o pastor alernao, nao compreendendo 0significado da abreviatura W . e . e julgandotratar-se da religiao inglesa White Chapel,respondeu nos seguintes termos:

    Gentil Senhora,Tenho 0 prazer de comunicar-Ihe que 0local de seu interesse fica a 12km da casa.: E muito comedo, sobretudo se se tern 0 ha-bito de ir lei frequentemente; nesse case, epreferivel levar comida para passar lei 0 diainteiro. Alguns vao ape, outros de bicicleta.

    Continue, dando ao texto uma proqressaocoerente com 0 fragmento transcrito.2) "0 jornal serve para informar e para

    embrulhar."Nesse trecho, 0 verba embru lha r pode ser

    interpretado com dais significados diferentes.Um desses sentidos produz efeito de humor econtern uma critica a um poder que 0 jornaltem sabre os seus leitores.

    3) Ha situacces em que a falta de com-preensao de uma frase produz transtornos.

    No dia 8 de marco de 1993, a CMTC (Com-panhia Municipal de Transportes Coletivos),

    136

    comemorando 0 dia internacional da mulher,quis hornenaqea-la e rnandou afixar no inte-rior de seus 6nibus um cartaz com esta frasede Simone de Beauvoir':

    "Ninquem nasce mulher, torna-se".Houve usuaries que, por um rnal-entendi-

    do, consideraram a frase como provocacao.o motorists Antonio Pereira da Silva, 37anos, assirn se pronunciou: "S6 se for aqu i emSao Paulo, porque la no estado da Bahia, quemnasce mulher morre mulher mesmo e quem nas-ce homem e cabra macho para 0 resto da vida".Ele diz que muitos de seus colegas tarnbernnao gostaram do cartaz, colorado logo arrasdo banco do motorista. "No lugar que esta, 0pessoal pode ficar pensando coisas: pega malpara agente", reciamou.

    A F olh a d e 5. Pau lo , no dls 9 de marco domesmo ano, fez uma reportagem enfocandoas diferentes significados que os usuaries de6nibus deram a frase: "Des dez usuaries entre-vistados pela Folha ontem, so um disse ter en-tendido ciaramente a frase do cartaz,

    A balconista Diana Ouadros, 16, disse quea condicao de mulher 'se conquista, conformea gente vai fi cando mais forte'. J a 0 enca nadorMiguel Ezequiel da Silva, 47 anos, achou ex-plicacao mais simples: 'A frase e meio boba,mas eu concordo: ninquern nasce mulher, nas-ce crianca. Oepois de certa tempo e que viramulher' ".

    "Cada um faz 0 que quer, ne?"{Marialva da Silvd Teixeira. 3 4. f ax in e i r aj"Se VOCe nasce mulher, vai ser sempre mu-

    Iher. Nao entendi nada."(Cr is t ina dos Santos . 17. emp r egada dorncstica)"S6 pode ser para provocar a gente."(Antonio Pereira d a S ilv a. 37. motorists da l inha Largo deP in he i r os -J a r dim S a rnpa lo )"Eu nao concordo. Acho que e uma s e rn -

    -vergonhice essa frase."{Cicero Rodrigues Barros, 23. repositor de produ tcs de super-mercado]Levando esses dados em conta, coloque-se

    na condicao de motorista de 6nibus e redijaum texto sobre os acontecimentos ocorridosdurante 0 dia de trabalho.

    2 Escritora tranccsa (Paris, 1908 - id., 1986), companhclra do fi-IOSQfoJean-Paul Sartre, dedieou grande parte de SLJ< l vida

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    NL 1 C ; A '0 24

    Nurn texto, certos elementoscomparam-se aos [ios quecosturam entre si as partes deuma vestimenta. Cortadosesses fios, 0 que sobra saosimples pedacos de pano.

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    . . . . . .s : : : :(1J.. _(1J0'1

    )"Q; I::Ia . . .~ . . . . . .VI:::l Q)(.)

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    -L 1 C ; A 0 24COE SAOTEXTUAL

    Leia a receita que segue:

    BOLO DE ARROZ

    3 xicaras de arroz1 colher (sopa) de manteiga1 gema1 frango1 cebola picada1 colher (sopa) de molho Ingles1 colher (sopa) de farinha de trigo1 xicara de creme de leiteSalsa picadinhaPrepare 0 arroz branco, bern solto. Ao mesmo tempo, faca 0frango ao molho, bern temperado e saboroso. Quando pronto,retire as pedacos, desosse e desfie. Reserve.Quando 0 arroz estiver pronto, junte a gerna, a manteiga e asalsa, coloque numa forma de buraco e leve ao forno.No caldo que sobrou do frango, junte a cebola, 0 molho ingles,a farinha de trigo e leve ao fogo para engrossar. Retire do fogoe junte 0 creme de leite.Vire 0 arroz, ja assado, num prato. Coloque a frango no meio edespeje por cima 0 molho. Sirva quente.Terezinha Terra. Todo dia lima dclicio. Sao Paulo, Atica, 1993. 1).39.

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    Observe 0 trecho que segue, extraido de uma obra de Almeida Garret:

    Uma receita divide-se em duas partes: na primeira, apresenta-se ao lei-tor a serie de ingredientes necessaries para preparar 0 prato; na segunda, expli-ca-se como ele e feito. Naquela, introduzem-se no texto entidades novas (no-vas, do ponto de vista da cornunicacao, sao os termos, ou inforrnacoes, queainda nao apareceram no texto, que estao sendointroduzidos pela primeiravel). Na segunda parte, retomam-se os termos que ja foram introduzidos. Paradeixar daro que se trata do arroz, da manteiga, da gema, do frango, dacebo-la, do molho ingles, da farinha de trigo, do creme de leite e da salsa ja referi-dos, usa-se 0 artigo definido diante desses substantives, pois tern ele a funcao,entre outras, de denotar que 0 termo que ete precede indica 0 mesmo ser queoutro termo identico presente no texto ja mencionara. Assim, quando se diz 0frango, 0 que se e sta in dican do e que e aquele mesmo frango ja mencionadona lista de ingredientes. Observe e ntao que as palavras e frases de urn textoestao relacionadas entre si. Essa e uma das propriedades que distingue urn tex-to de um amontoado de palavras ou frases.

    A liqacao, a relacao, a conexao entre as palavras, express6es au frasesdo texto chama-se coesao textuaL Ela e manifestada por elementos formais,que assinalam 0 vinculo entre os componentes do texto ..Assim, no periodo quecorneca 0 romance lracema, de Jose de Alencar:

    Verdes mares bravios de min ha terra natal, onde canta a jan-daia na fronde da carnauba,

    o termo onde faz a conexao entre verdes mares bravios de minho terra natal ecanto a jandoio no fronde do cornauba e, ao faze-lo, retoma 0 primeiro seg-mento. Onde e um elemento coesivo, e a conexao entre as duas partes e urnf enorneno de coesao ,

    Ha dais tipos principais de mecanismos de coesao: 1 ) a retomada de ter-rnos, express6es au frases ja ditos au sua antccipacao: 2) 0 encadeamento deseqrnentos do texto.

    A ) R E T O M A DA O U A NT ECIP A C;A O P OR U MA P A L A V R A G R A M A T I C A L(P R O NO ME S , V ER SO S, NU ME R A IS , A D V ER BIO S)

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    Eu darei sempre 0 primeiro lugar a modestia entre todas as belasqualidades. Ainda sobre a tnocencia? Ainda, sim. A inocencia bastauma falta para a perder; da modestia so culpas graves, 5 6 crimesverdadeiros podem privar. Urn acidente, urn acaso podem destruiraquela, a esta s6 uma acao propria, determinada e voluntaria,

    Almeida Garret. Via ge ns n a m in ha te rra . Rio de Janeiro. Ediouro, 1969. p. 58.

    A palavra aquela retoma 0 substantivo inocencio; 0 vocabulo esta recu-pera a palavra modesiio. Todos os termos que servem para retomar outros saochamadosanaforicos. Quando Esses termos antecipam, anunciam outros [porexemplo, na frase Meu poi disse isto: v6 deitar cedo, isto antecipa va deitar ce-do), sao denominados cataf6ricos.

    Sao anaforicos e/ou cataf6ricos as pronomes demonstrativos (este, esse,aque/e), os pronomes relativos (que. a qual, cujo, onde), certos adverbios e 10-cucoes adverbiais (nesse momenta, enttio, 1 6 etc.) e os verbos ser e fozer, 0artigo definido, 0 pronome pessoal de 3~ pessoa (ele/elo; a/a; Ihe). Vejamosalguns exemplos:

    Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele 0 aban-donara, mudara de profissao e passara pesadamente a ensinar nocurso primario: era tudo 0 que sabiamos dele.

    a professor era grande, gordo e silencioso, de ombros contraidos.Clarice l.ispector, A i eg i a o e s tr angei ro . 5~o Paulo. Atica, 1977. p. 11.

    o possessive seu e 0 pronome pessoal reto de 3~ pessoa ele antecipam aexpressao D professor. Sao, pais, cataf6ricos. a pranome pessaal oblfquo 0 re-toma a expressao seu trabalho anterior. E um anaforico.

    Andre e Pedro sao fanaticos torcedores de futebal. Apesar disso, sao di-ferentes. Este nao briga com quem torce para outro time; aquele 0 faz.

    o termo isso retoma 0 predicado sao toruiticos torcedores de futebol; esterecupera a palavra Pedro; oouete, 0 termo Andre; a foz, 0 predicado briga comquem torce para a Dutro time. Sao, portanto, anaforicos,

    Facarnos algumas observacoes sabre 0 usa dos anaforicos.1) Embora em geral um anaforico so possa ser utilizado se 0 termo que

    ele retomar estiver explicitamente mencionado (par exemplo, falta coesao aotexto Ele e meu cunhado. Casou-se com elo h6 paueo tempo, parque elo naoretoma nada explicitamente dito), admite-se, em casos em que a termo substi-tufdo for claramente inferida pelo contexte, que se faca uso de um anaf6rico:

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    Beth est6 namorando. Ele parece ser urn cara legal. Nesse caso, ele retomanamorado, que se infere do verba nomorar.

    2) Em geral, 0 artigo indefinido serve para marcar a introducao de infar-macoes novas, que, uma vezintroduzidas, passam a ser acompanhadas pelo artigodefinido, quando retomadas. Nao se pode usar pela primeira vez, par exernplo, 0termo amigo em um texto, dizendo Encontrei 0 amigo. Comeca-se dizendoEncontrei um amigo. Quando for feita uma outra referencia a de, diz-se 0 amigo,entiio, disse-me que...

    3) Em funcao anaforica, 0 verba fazersubstitui verbos de acao, e a ser ,verbos de estado:

    Pedro, Ana e Carolina trabalham muito, Andre quase nao 0 faz. (= tra-balha) De fato, ele ficou muito constrangido com a situacao: mas nao foi (=ficou] tanto quanta se poderia esperar.

    Quando um ellemento anaf6rico esta empregado num contexte tal quepode referir-se a dois termos antecedentes distintos, isso rompe a coesao e, parconseguinte, provoca ambiguidade. E preciso que a leiter ou ouvinte percebabem que palavra e retamada com a anaf6rico.

    Na frase 0 famasa jornalista desentendeu-se com 0 jornal por causa desua companha a Favor do presidente, 0 termo sua pode referir-se tanto a famo-50jornalista quanto a jorna!.

    Para evitar ambiguidade, redige-se a frase de outro modo. Por exemplo:A campanha do famoso jornalista em favor do presidente levou-o ao

    desentendimento com 0 jornaL I A campanha que fazia em favor do presidentelevou 0 famoso jornalista a desentender-se com 0 jornal.

    Vamos mostrar urn outro exemplo de ambiguidade, desta vez com pro-nome relativa:

    Jorge criticou severa mente a prima de sua arruqa, que frequentava 0mesmo clube que ele.

    Nesse caso, 0 pronome que pode estar referindo-se a amigo ou a prima.Como ja dissemos, urn anaf6rico caracteriza-se par retomar um te rrno ja

    mencionado. Se nao 0 fizer, 0 enunciado fica desconexo, embora, em alguns casos,como no exemplo abaixo, fragmento de uma cronica de Armando Nogueira, adesconexao sirva para criar um efeito humoristico:

    Sinceramente, nao tenho palavras pra definir este momentado futebol brasileiro. Ou, por Dutra, tenho sim. Vou busca-Ias

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    noutro campo. Urn velho amigo, ilustre psicanalista, certa vezfez urn concurso entre as pacientes de urn asilo de loucos, nosuburbia do Rio. A prova era simples: ganharia urn presente defim de ana aquele que desse, numa frase, a melhor definicao devida. A pergunta era singela: "Como voce define a vida?"

    Venceu 0 concurso a frase lapidar: "A vida nao e seniio aquelacuja nos vivemos 0 qual.i,"

    Arma ndo Noguei ra, 0 E sta do de S . P au lo, 16 nov. 1994, E2

    B ) R E T O M A D A P O R P A LA V RA L E XIC A L(S UB S TA N TIV O S , V ER SO S , A D JE TIV O S )

    Nesse caso, pode-se retomar um termo, repetindo-o ou substituindo-opor um sinonirno, por um hiperonimo au hip6nimo ou por urna antonornasia.Comecemos 0 estudo desse mecanismo de ccesao. explicando 0 que sao

    hipcronimo, hip6nimo e antonornasia. Hiperonimo e um termo que rnantemcom outro uma relacao do tipo contem/esta contido; hlponimo e uma palavraque tem com outra uma relacao do tipo esta contido/contern: flar e hiperoni-mo de rosa, que e seu hiponimo. 0 significado de rosa esta contido no de flor,porque toda rosa e uma flor, mas nem toda flor e uma rosa. 0 maximo da hipe-ronimia sao palavras que podem substituir praticamente todas as outras damesma classe: coiso, coisar, neqocio, elemento. Antonornasia e a substituicaode urn nome proprio par um comum au de um comum por um proprio. H a anto-nornasia, principalmente, quando se indica uma pessoa celebre nao por seunome, mas por uma caracteristica muito conhecida: 0 ex-titti em vez de Arnal-do Antunes; ele e um joaquirn si lverio dos reis em lugar de ele e urn traidor.

    Voltemos agora a questao da coesao par retomada com uma palavra le-xical. No exemplo, Lia muito, toda especic de livro. Policiais, entiio, nem se fala,de vo ra va, a termo livro e retomada por um hlponimo, pa/iciais.E preciso manejar com muito cuidado a repeticao de termos lexicais, pois,se ela nao estiver a service da criacao de um efeito de sentido de intensifica-c;ao, por exemplo, e considerada uma falha de estilo. A repeticao de palavras,prefere-se sempre sua retomada por sinonirnos, hlperonirnos e hiponimos. Mui-tas vezes, a repeticao produz belos efeitos de sentido, como nesta estrofe deum poema de Luis de Cam6es:

    Mudarn-se as tempos, mudam-se as vontades,Muda-se 0 ser, muda-se a co nfianca:Todo a Mundo e composto de mudanca,Tornando sempre novas qualidades.Luis de Carnoes, Obra complete. Rio de Janeiro, Nova Agu i lar, 1988. p. 284.

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    A e lipse , ou apagam ento de um te rm o da frase , que pude r se r re cup e ra-do pe lo conte xto , e tarnbem um expe die nte de cce sao . Na e lip se , tem os are tom ada de um te rm o que se ria re pe tido , m as que e apagado , par se r facil-m e nte de p re e ndido do conte xto . E 0 que acorre ne ste fragm ento de Veja sobrea de spe dida do ex-p re s ide nte I tam ar Franco :

    I tam ar Franco e ra urn hornem fe liz ao passar a faixa p re s i-dencia l para Fe rnando H enrique Cardoso , m as e stava tris tonhoao acordar no dia se guinte . Ja nao e ra p re s ide nte da Repub licade s de l~ de jane iro e p re cisava de ixar 0 Palacio do Jaburu (' ..lCalado , fo i ao banhe iro e em balou alguns ob je tos.

    Veja, :24, 11 ja n. 1995.

    o suje ito do p rim eiro era e e xp licitam e nte m e ncio nad o, !tamar Franco. Osoutros ve rbos do te xto tern 0 me sm o su je ito . No e ntanto , e le vem e lip tico , is to e ,ocu lto , por se r facilm ente de p re e ndido do conte xte . No inte rio r do te xto , qua l-que r te rm o pode vir e lip tico . Par e xem p la, em A alguns, a vida oferece muito; aoutros, pouco, ha e lip se da form a ve rbal oferece. Pode have r tambern e lip se porante clpacao , is ta e , de te rm os que VaG oco rre r em seguida : Era muito orgu/hoso.Ofendia-se, irritavo-se com qua/quer brincadeira. 0 com plem ento de ofendio-se(com qua/quer brincadeira) vem e lip tico por a n te cipacao . N ao se adm ite e sse tipode e lip se , quando os dois ve rbas te rn re q encia dife re nte . Par e xem plo , as indus-tria is estiio apoiando e van votar no outro candidato. D eve -se , ne sse caso , co locara comp lem e nto no prim e iro ve rba e retorna-lo por um anafo rico pronom inal, pa isa e lip se apaga a cam plem enta inte iro e . se e le s sao introduzidos po r p re posicoe sdife re nte s au se um e introduzido par p re posicao e outro nao , faze ndo-se a e lip se ,re tom a-se a p re posicao indev ida ou inexis te nte ou nao se re cupe ra a preposicao,N o e xe mplo acirna, a e lip se re tom aria 0 complemento no outro candidato e a ite rfam os um a frase assim : O s industriais cstiio apoiando no outro candidato e vdovotar no outro candidato. Para e vita r e sse p rob lem a, de ve -se d ize r 05 industriaisestiio apoiando 0 outro candidato e viio va tar nele.

    2. COESAO POR ENCADEAMENTOD E SE GM EN TO S TEXTUAIS

    A ) CONExAoE fe ita par cane ctore s ou op e radore s discurs ivos , que sao palavras ou ex-

    p re ss6 e s re sponsave is pe la conca te nacao , p e la criacao de re lacoe s e ntre o sse gm entos do te xto . S ao e xem plo s de ope rado re s : entiio, portanto, ja qUE, comefeito, porque, ora, mas, assim, daf, dessa forma, isto e .3 7 4

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    precise levar em conta que ca-da um desses conectores, alern de ligaras partes do texto, estabelece uma certarelacao sernantica (causa, finalidade,conclusao, contradicao, condicao etc.],que possui uma dada funcao argumen-tativa no texto. Quando se escreve, epreciso usar 0 conector adequado ao ti-po de relacao que se quer exprimir, comvistas a elaboracao da arqurnentacao:

    Este ana a chuva nao foi abun-dante, mas as colheitas foram boas.

    Algoritmo de EuclidesMatematico grego do seculo III a.c.

    Algoritmo para calculo domaximo divisor comum entre men,

    sendo men numeros inteiros e positivose sendo m maior que n

    o novo valor de mr =O? )-_-I~ passa a ser 0 valor de n,

    e a novo valor de npassa a ser0valor de r

    Mas e 0 conectoradequado a es-se periodo, porque contra poe elementoscom orientacao argumentativa contra-ria. Para que a colheita seja boa, e pre-ciso que a chuva seja abundante. Ora,como a chuva foi escassa, esperava-seuma colheita ruim. a fato de a colhei-ta ter sido boa esta em oposicao ascondlcoes clirnaticas. Seria descabidotrocar 0 mas por portanto ou porque,que indicam, respectivamente, conclu-sao ou causa, porque, com esses conec-tores, os elementos relacionados devemapresentar, do ponto de vista argumen-tativo, a mesma orientacao.

    Os operadores nao sao elementosvazios que possam ser permutados umpelo outro, a bel-prazer de quem escre-ve. 0 usa inadequado dos conectorescria paradoxos semanticos. Vejamos osprincipais tipos de operadores:

    1) os que marcam uma qradacao numa serie de argumentos orientada nosentido de uma determinada conclusao. Alguns indicam 0 argumento mais forte:ate, mesmo, ate mesmo, inclusive; outros introduzem um argumento, deixandosubentendida a exlstencia de uma escala com outros argumentos mais fortes: ao

    Calcule q,sendo q 0 produto dadivisao de m por n,

    e calcule r,sendo r0resto dadivisao de m por n

    neomaximo divisor comumdos valores iniciaisde men

    Nesta representacao do Algoritmode Euclides par meio de urn fluxo-grama, as setas desempenham afunc;1io de conectores, estabele-cendo a relacao entre as diversasoperacoes indicadas.

    menos, pe/o menos, no minimo, no maximo, quando muito.

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    Elo tem to da s a s qua lid a des n ecesso r ia s p a ra veneer na vid a : e b on ita , in -te lig en te , c ha r m o sa e a te r ica (ne sse ca so, a pre se nta m-se os a rg um en tos orie n-tados no sen tido da conclusao q ua lid ades n ecessa ria s p ara ven eer n o v ida e con-sid era -se a riq ue za 0 argum ento m ais forte dessa esca la ).

    Ele e um po litico tu ib i'. C heqa ra pe lo m eno s a ser p re fe ito (p elo m eno s in -troduz urn argum ento na mesm a d irecao de se r um po litico h a bit, d eix a p re ss u-posta um a esca la com outros argumentos ma is fortes ~ ser governador, se rp residen te e tc. ~ , ind ica que se usou 0 argum ento menos forte ; esse tipo deoperador 56 se com bina com argum entos de va lor positivo).

    E le n iio e m uito in te liq en t: Nunca sera um c ien tis ta . No m axim o sera umba m tecn ico (no m axim o , a ssim como q ua nd o m uito , in troduz um argum ento nam esma d irecao de no o ser m uito in te lig en te , deixa suben tend ida um a esca lacom outros argum entos m ais fortes - se r um traba lhador braca l e tc . ~ , ind icaque se usou 0 a rgume nto rne nos forte ; e sse s op era dore s 56 se com binam coma rg um e ntos d e va lor d ep re cia tivo).

    2 ) os que m arcam uma re lacao de con juncao argum enta tiva , isto e , queligam argum entos em favor de uma m esma conc.usao: e , ta mbem , a inda , n em ,niio 5 6 ... m a s ta m bem , ta n to ... co m o , o iem de, o lem d isso , a pa r d e .

    A curto p ra zo , 0 Bra sil n iio e s to rti en tre o s p o ises m ais desenvo fv id o s dom undo , p a is seus ind ica do res so cia is 0 s itu a m en tre o s m o is a tra sa do s. Cotivema inda lem bra r que 0 flu xo d e c ap ita is em di rer ;oo a Am eric a La tin a p ra tic a m en tecesso u (a in da inc lu i m ais u rn argumento no con jun to argum enta tivo que pre -tende com provar que 0 Brasil nao esta ra , a curto p razo, en tre os paises ma isd ese nvolv id os d o mu nd o).

    Ess es o pe radore s in d ic am 0 desenvolv im en to do d iscurso e nao a repe ti-c ;ao do que foi d ito an tes. Devem ser usados apenas quando a sequencia in tro-duzida por e les ind icar um a proqressao d iscursiva , quando acrescen ta r um dadon ovo a o con ju nto a rgume nta tivo:

    O lhou-a com descon fianca e recusou-se a fa lar.N ao te ria 0 menor sen tido fazer uma frase em que a sequencia in tro-

    duz ida por esse tipo de operador re ite rasse 0 que foi d ito antes:Recusou-se a fa la r e ficou de boca fechada .3) os que ind icam um a re lacao de d isjuncao argum enta tiva , isto e , que in -

    troduzem argum entos que levam a conclus6es opostas, que te rn orien tacao argu-men ta tiv a d ife re n te : a u, o u en ta o , quer ... q uer . se ja ... se ja , ca so co ntra rio .

    E p rec iso m an ter , a to do custo , 0 p la no de es ta biliza r;a o eco n6m ica . O u ,e nto o , se ra in ev ita v et a v o lta d a in fla r;a o . (0 prim eiro periodo esta orien tado nosen tido de que a in flacao nao volta ; 0 segundo va i na d irecao oposta .)376

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    :.: (If. . . Q .8Tl' I:

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    4) os que marcam uma relacao de conclusao, isto e . que introduzem umaconclusao em relacao a dois (ou mais) enunciados anteriores [qeralrnente, umdeles permanece implicito porque ele e considerada verdade universalmenteaceita, voz qeral]: portonto, logo, par consequinte. pais (poisindica conclusao,quando nao for a palavra que introduz a oracao).o Palmeiras toi 0 melhor time do comoeonato. Terio, pais, que ser 0 cam-peao (pais introduz urna conclusao a duas afirrnacoes anteriores. uma delas im-plicita: 0 melhor time do campeonato e sempre 0 c amp e ao , 0 Palmeiras foi 0melhor time do campeonato. Teria, pais, que ser 0 carnpeao).

    5) 05 que estabelecem uma comparacao de superioridade, de inferioridadeau de igualdade entre dois elementos sempre com vistas a uma conclusao a favorou contra: tanto ... quanta, tao ....quanto, mais ... (do) que, menos ... (do) que.

    - Acho que devemos contratar um novo professor de po r t uque s ,- Nao sei, os que temos sao tao bons quanto qualquer outro.Nesse caso, 0 comparative de igualdade direciona-se argumentativa-

    mente contra a conclusao: ja que os nossos professores sao tao bans quantaqualquer outro, nao e precise fazer um novo contrato. Deve-se notar que acornparacao sempre tem um valor argumentativo, sempre e usada com vistas achegar a uma conclusao a favor ou contra. Por issa, os elementos de um com-parativo de igualdade sao perrnutaveis sintaticamente, mas nao argumentati-vamente. Nele, nao ha igua.ldade argumentativa. Se, no exemplo dado acima,se permutassem os elementos, a or ien tacao argumentativa seria outra. Se sedissesse Ouoioucr outro e tao born quanta as que temos, a orientacao argu-mentativa seria no sentido de contratar, ja que qualquer professor teria ao me-nos 0 nfvel dos atuais contratados.

    6) os que introduzem urna explicacao ou justificativa ao que foi dito noenunciado anterior: po r que , j6 que, que. pois.

    A alegria da posse de Fernando Henrique j6 acobou, porque 05 problemasj6 comecorom (porque serve de justificativa para a afirrnacao de que a alegriada posse do presidente ja acabou).

    7) os que marcam uma relacao de contrajuncao, ou seja, contrapoernen unciados de orientacao argu mentativa contra ria : conju ncoes adversativas(mas, p o r em , contudo, todavia, no entanto, ent re tantos , conjuncoes concessi-vas (embora. oindo que. mesmo que, apesarde que).

    A Sabesp esta tratando a 6guo do represo de Guarapiranga, mas 0 gostodo agua das reqioes Sui e Sudeste da cidade niio melhorou (a parte anterior ao

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    mas conduz a conclusao de que ogosto da aqua melhorou; 0 mas introduz umenunciado de orientacao argumentativa contra ria a conclusao anteriorimplici-ta: 0 qosto nao melhorou),

    Embora 0 prefeito Paulo Moluf tenha prometido durante a campanhaeleitorcl na o aumentor 05 impostos, 0 IPTU aumentou muito neste ana (emboraintroduz um enunciado que conduz a conclusao de que as impastos nao serlarnaumentados; a ora cao principal apresenta um enunciado oposto a essa orien-tacaoarqurnentativa: 0 impasto predial aumentou).

    Se conjuncoes adversativas e concessivas ligam enunciados de orien-tacao argumentativa oposta, qual e a di ferenca entre elas? N:as adversativas,prevalece a orientacao argumentativa do segmento introduzido por ma s .Observe a dlferenca entre Romtuio e um bam jogodar, mas e indisciplinado eRomtuio e indisciplinado, mas e um born jagodor. No primeiro caso, a conclusaoe no sentido de que e um profissional que causa mais mal do que bem a . equipeem que estiver jogando; no segundo, a conclusao vai no sentido contrario. 0primeiro segmento da um argumento possivel para uma dada conclusao: 0 seg-mento introduzido par mas da 0 argumento decisive para uma conc lusao con-tra ria , T e rn es . entao, a seguinte est rateqia argumentativa: prirneiro, tornar pre-sente uma conclusao, para introduzir 0 argumento que ira anula-!a. Nas con-cessivas, prevalece a orientacao argumentativa do segmento nao introduzidopela conjuncao. Observe-se a diferenca entre: Romano e um bom jogador, mase indiscipJinado (0 segmento introduzido pela conjuncao e 0 argumento deci-siva) e Embora seja um bom jogador, Romorio e indisciplinado (0 segmento naointroduzido pela conjuncao e que e 0 decisive), Temos a estrateqia de anunciarque 0 argumento introduzido pela concessiva. ernbora verdadeiro. sera anula-do par outro mais forte, que conduz a uma conclusao contraria. Em outras pa-lavras, a direita da adversativa vern urn argumento suficientemente forte paradesautorizar 0 anterior; a direita da concessiva vern um argumento contrario,mas nao suficientemente forte, para desmentir 0 Dutro.

    8) os que introduzem um argumento decisive. apresentado como umacrescirno, como se fosse desnecessario, justamente para dar 0 qolpe final noargumento contra rio: alias, a/em do mais, a/em de tudo, a/em disso, ademais.

    Este govern a est mesmo ajudando as descomisados: permitiu a e/evapJoabusiva dos precos, diminuiu 05 investimentos na area social. Alem do mais,achatou 05sokuio: iolem do mais introduz 0 argumento mais forte - 0 achata-menta salarial - no sentido de mostrar que 0 governo nao esta ajudando osdescamisados; os outros sao a perrnissao para a elevacao abusiva dos precos ea d immuicao dos investimentos na area social).

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    9) as que indicam uma qenerali-zacao au uma arnplificacao do que foidito anteriormente.: de fa to, rea/mente,a/his, tambem, e verdode que...

    Pedro jo chegou. Alias, ele semprechega antes do hora (alias introduz urnenunciado que generaliza 0 que foi ditoanteriormente: nao foi 5 6 hoje que elechegou antes da hora, chega sernpre].

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    No vestuario, alern de sua fun-~ao utilitaria r os cintos sao usa-dos tarnbern para estabelecer aconexao visual entre a pe~a queesta acima da dntura - carnisaou blusa - e a que esta abaixodela - calea ou saia.

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    Gostei multo de sua coso. Reolmente, adorei (realmente introduz umenunciado que amplifica, intensifica 0 que foi dito anteriormente).

    10) 0$ que especificam ou exemplificam 0 que foi dito anteriormente:par exemp lo , como.

    Houve ganho real de solaria com 0 plano d e e sta b i ti so c iu : econ6mica. aconsumo de alimcntos, par exempla, cresceu 20% (0 enunciado que fala sabreo crescimenta do consumo dos al i rnentos especifica a af i rmacao de ordem maisgeral de que houve aumento de salario real).

    Mesmo os estados tidos como mais desenvolvidos, como Sao Paulo, RioGrande do SuI, Rio de Janeiro eMinas Gerais, estiio falldos (como introduz a es-pecificacao de quais sao os estados mais desenvolvidos).

    11) as que marcam uma relacao de retlflcacao, de correcao, isto e , as queintroduzem uma correcao, um esclarecimento, um desenvolvimento au uma re-definicao do conteudo do primeiro enunciado, atenuam au reforcarn 0 conteu-do de verdade do enunciado: au melho t , de fa to, pela con t ror io , 00 contr6rio,isto e , quer dizer, au sejo, em outros potovros.

    Este governo esta contradizendo 0 programa apresentado no campanhoe/eitoral, isto e , n iio e sto cumprindo aspromessas de campanha (ista e introduz umsegmento que retiflca 0 que se disse anteriormente: nao se trata de contradicaoem relacao ao programa, mas de descumprimento das promessas de campanha).

    Vo u passar de a no . Ou me/hor, v o u te nte r (au melhor introduz uma ate-nuacao em rela

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    sequenciadores. cabe ao leitor reconstruir, com base na sequencia, os opera-dores discursivos que nao estao presentes na superficie textual. 0 lugar do co-nector e marcado por sinais de pontuacao (virgula, ponto, dois-pontos, pontoe virqula},

    Precise soir imediatamente. Tenho um compromisso (no lugar do ponto--final, teriamos um porque, pois a segunda oracao indica a causa da necessi-dade de sair imediatamente].

    Os operadores de sequenciacao podem ser do seguinte tipo:

    1) os que marcam a sequencia temporal: dais meses depais, uma semanaantes. um pouea mais cedo etc. (ocorrem principalmente nas narracoes].

    JO[1O Alfredo teve uma profunda dcccpciio omorosa. Alguns enos antes, elej6 vivera uma situac;ao semelhante (alguns anas antes indica que 0 fato de tervivido uma outra decepcao amorosa e anterior a essa de que se esta falanda).

    2) os que marcam a ordenacao espacial: 6 e sq u er da . o t ra s , no frente etc.(ocorrem principalmente nas descr icoes l .

    A esquerda, via-se uma porta. que abria para um jardim todo florida.3) os que servem para especificar a ordem dos assuntos no texto: primei-

    ramente, em sequido, 0 sequir, fino/mente.Em minha exposicao sobre 0 tempo. primeiramente explicarei como se

    organiza 0 sistema temporal no portuques, a seguir falarei sobre 0 usa de urntempo com valor de outro, finalmente discutirei a orqanizacao temporal do ro-mance.

    4) os que, na conversacao, servem para introduzir um dado tema ou paramudar de assunto: a prop6sito, par falar nissa, mas voitando 00 assunto, fazen-do um parentese.

    Pareee-me que 0 estado de Sao Paulo esta falido. A prop6sito, que estafazendo 0 ex-governador Fleury?

    A quantidade de conectores e sequenciadores e bastante grande. Naoenumeramos todos os que existem. Arrolamos apenas os principais e expli-eamos sua funcao coesiva, para que se fique atento aos mecanismos de coesaoe as suas marcas linguisticas.

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    Cabe ainda lembrar que, se faltam parteslndispensaveis da oracao e doperiodo, 0 texto nao tera coesao. Tomemos 0 seguInte perfodo:

    o homem que procurava exibir as roupas que ganhara no ultimo Natalna ceia que ocorrera na casa de Celinha.

    Temos ai:1) 0 homem;2) que procurava exibir as rou pas (oracao subordinada adjetiva restritiva]:3) que ganhara no ultimo Natal na ceia [oracao subordinada adjetiva

    restri tiva]:4) que ocorrera na casa de Cel inha (oracao subord inada adjetiva restritiva].A segunda oracao esta subordinada aquela que seria a primeira, referin-

    do-se ao termo homem; a terceira e subordinada a segunda; a quarta, a tercel-ra. A primeira oracao esta incompleta. Falta-Ihe 0 predicado. Quem fez 0 perlo-do escreveu 0 termo a que se refere a segunda oracao, cornecou uma serie deoracoes adjetivas e "esqueceu-se" de desenvolver a primeira oracao.

    A escrita nao exige que as perfodos sejam longos, mas que sejam com-pletos e que as partes estejam absolutamente conectadas entre si. Se faltampartes na sequencia, nao pode haver coesao,

    Para que haja urn texto, nao basta a existencia de coesao, pois podemoster ccesao sem que alcancernos a unidade de sentido necessaria para que 0texto seja um texto. Observe 0 exernplo que segue:

    Urn amigo meu veio para 0 Brasil, para aqui abrir urn neqocio.o pais foi descoberto por Pedro Alvares Cabral.Ele apresenta urna enorrne desiqualdade socia!.Tambem 0 Peru apresenta desigualdades qeoqraficas,

    Nesse caso, temos uma relativa coesao, ja que 0 pais e urn hiperonirnoque retoma 0 termo Brasil; ele e um anaforico que recupera a termo Brasil;tombem acrescenta um dado a favor de urn determinado argumento. No entan-to, como nao ha coerencia de sentido, ou seja, unidade de sentido, 0 conjuntonao e um texto, mas urn arnontoado de frases. A coesao e condicao necessaria,porern nao suficiente, para construir urn texto.

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    TEXTOCOMENTADO o trecho que segue e um frag-menta de uma cr6nica de Eca de

    Oueiros,

    Ha ern Portugal quatro partidos: 0 Partido Historico, 0 Reqcne-radar, 0 Reformista e 0 Constituinte. Re i ainda outros, mas anoni-mos, conhecidos apenas de algumas farnilias. Os quatro partidosoficiais, com jomal e porta para a rna, vivem num perpetuo anta-gonismo, irreconciliaveis, latindo ardenternente uns contra os ou-tros de dentro de seus artigos de fundo. Tem-se tentado uma paci-ficacao, uma uniao. Impossivel! Eles so possuem de comum a lamado Chiado que todos pisam e a Arcada que a todos cobre. Quais saoas irritadas divergencias e principios que os separarn? - Vejamos:o Partido Reqenerador e constitucional, moriarquico, intima-mente monarquico, e lembra nos seus jomais a necessidade da eco-nomia.o Partido Hist6rico e constitucional, irnensamente monarquico,e prova irrefutavelmente a urgencia da econornia.o Partido Constituinte e constitucional, monarquico, e da subi-da atencao a economia.o Partido Reformista e monarquico, e constitucional, e doidinho

    pela economia!Todos os quatro sao cat6licos.Todos os quatro sao centralizadores.Todos as quatro tern 0 mesmo afeto a ordem.Todos os quatro querem 0 progresso, e citam a Belgica,Todos os quatro estimam a liberdade.Quais sao entao as desinteligencias? - Profundas! Assim, par

    exemplo, a ideia de liberdade entendem-na de diversos modos.o Partido Hist6rico diz gravemente que e necessario respeitar asliberdadcs publicus. 0 Partido Regenerador nega, nega numa diver-gencia absoluta, provando com abundancia de argumentos que 0que se deve respeitar sao - as publicus liberdades.A coriflagracao e manifesta!E

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    N esse te xto, E c;ade O ueir6s satiriza a s pa rtidos politicos p ortugu eses deseu tem po, m ostra ndo q ue suas d ive rq enc ia s n ao sa o p roqram aticas. m as d ize mrespe ito ao m ero jogo do poder. 0 texto e co nstru id o iron ic am e nte . A s e xp re s-s6es p erp etu o o n ta g o nism o , itte co n cilio v els, ir rito d o s d iv erq cn cio s. p rin eip io sq ue a s sep ara m , d esin te t;g en cio s p ro fu nd os e tc. devem ser en tend idas ao con-tra rio: nao possuem eles antagon ism os, nem diverqenc ias de princip ios, nemdesin tc liqencias profundas, nem sao irreconciliave is. 0 que perm ite entende rque, de fa ta , a que se afirm a e negado e que, quando a narrador va i exp lic ita ra s d ife re nc as d e p osica o e ntre o s p artid os, 0 que faz e m ostrar identidades p ro-g ram atica s: os q ua tro sa o c on stitu cion ais, m on arq uico s, c ato licos, c en tra liza -d ore s, d ao e nfa se a econom ia , e assim par d ian te . A iron ia m ais fina e construi-da quando, depois de d izer que e les concebem de diversos m odos a ide ia deliberda de, a cron ista m ostra que a d iverqen cia entre 0 P artido H ist6rico e 0 Re-generador no que tange as libe rdades pub licas esta na posicao do ad je tiva .A qu ele p re ga 0 respeita a s l iberdades pub-leas, e e ste , a s p ub lic as lib erd ad es.o m ecan ism o basico de construcao da coesao tex tua l e a re tom ada , p rin -c ip alm en te p or p ala vra s d e va lor a na f6 ric o, d e te rm os a nte riorm en te co loc ad os n otexto. D epois de afirm ar qu e em P ortuga l h a q ua tro p artid os , re toma-s e, c om a rti-g o defin id o, 0 termo part ido qu atro vezes, espe cifican do-se qu ais sao e les. Emse gu id a, e le s sa o re tom a dos p ela e xp re ssa o quo tr o p a r tid o s , p re ce did a d e a rtig od efin id o, p ara a firm ar-se q ue v iv em em p erp etu o a nta gon ism o. M ais a dia nte , p aram ostrar as un icas coisas que possuem em com um (a la ma do Ch io do que to do sp isam e a A rea da que 0 to d o s c o bre ), re cu pe ra -se a e xp re ssa o as q u a tr o p o rtid o scom 0 anafor ico eles. 0 pronom e as re tom a a exp ressao 05 qua tr o p a r tid o s , quan -do se pergun ta em que se base ia 0 de sa co rd o entre e le s.

    Os quatro pa raqra fos segu in tes cornecam com a repe ticao do nom e deurn dos partidos na posicao de su je ito. Seu pred icado fa la dos p rinc ip ios p ro-qrarnaticos de cada um deles, que sao absolu tam en te identicos, com excecaoda enfa se n ele s p osta (mondrqu ico X in tim am e nte m o n 6rq uic o X imensamentemonorqu ico ) , da ordem em que aparecem no prog ram a (co n s t itu cio n a I , m o n o r -quico X motui rouico, const i tueional ) e d o vocabu lario usado pa ra expo-los ( lem-bra 0 n ece ssid od e d o ee on om ia X pro vo i rr e fu t a v elmen te 0 u rgencia d o eco no -m ia X d o su bid o o t enco o a econom i a X d o id in ho p ela e co n om ia ).Os c in co p ara qra fo s s eg uin te s re cu pe ram , c om 0 p ronome inde fin ido t o do se a num era l card ina l qua t ro , a e xp re ssao quo tr o p o r tid o s , mostra nda con ve rq e n-cia s e ntre e le s. N a p ara qra fo se gu in te , re to rn a-se , com 0 sinonimo desintel igen-cios, 0 te rmo diverqencios. Assim in traduz um segmen to que va i con firm ar ae xis te nc ia d e desintetiqencias profundas; p o r e xemp lo se rve p ara in dic ar q ue se v aiespec ificar u m p rocesso que e b em amplo . P ara e xe rn plific a-la s, re cu pe ra -se 0nom e de dois dos pa rtidos, para d izer que a d ife renca en tre e les esta no lugar doa dje tiv o. A p ala vra con f l ogrm;ao recupera 0 te rmo an t agon i smo .

    C om esse proced im ento de re tom ada par anaf6ricos au pa r pa lavras le -x ica is, constr6 i-se um texto bastante coeso, 0 que pe rm ite que a iron ia se jaim ed ia tam ente cap tada pe lo le ite r.

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    L 1 C ; A O 24Ttxro PARA AS QUESTOES 1 E 2 (FUVEST)A chuva salvou 0 GP BrasiL Vinte mi-

    nutos de toro, mais uma brilhante corrida deAyrton Senna, transformararn urn passeio deAlain Prost num pesadelo molhado. 0 fran-ces da Williams foi derrotado pela agua, {...Para ganhar a corrida de Interlagos, Sennacontou com sorte, pericia tecnica bern traca-da e, sobretudo, uma burrada sem tamanhode Alain Prost. 0 nanico, que largou na pole,fazia uma prova sem sustos, liderava comtranquilidade e so perderia se urn raio caisseem sua cabeca. Aconteceu quase isso. Na 30~passagern, debaixo de urn bela aguaceiro,nao parou para colocar pneus "biscoito" e nofim da Reta dos Boxes perdeu 0 controle deseu carro, batendo no Minardi de CristianFittipaldi.

    Foino de S. Paulo, 29 mar. 1993, 5-1

    H i! no texto varias palav ra s e express6esliqadas a chuva, como t a r o , 6gua, (pesadelolmolhado, aguaceiro. Ao ernpreqa-las, 0 autorprocurou:a) relatar urn acontecimento previsivel, verifi-cado dura nte 0 G P Brasi I.b) apresentar a chuva inesperada como unicofator da derrota de Prost.c) apresentar dais pontos de vista com relacaoao fen6meno da chuva: um, liqado ao vencido,outro, ao vencedor.d) conseguir efeitos estilisticos que tornassemo texto mais precise e eiegante.e) demonstrar que, a s . vezes, a providencia di-vina faz sua propria justica.

    Em todo a texto, os nomes de Alain Proste Ayrton Senna nunca sao retomados expres-samente pelo pronome etc. 0 autor,a] nao repetindo pronomes, caracteriza, comprecisao, a personalidade de cada um dos pi-lotos.b) preferindo as recursos utilizados, depreciaProst e evita possfveis ambiguidades.

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    Ec) empregando a expressao "0 frances da Wif-Iiams", subestima um passivel motive da supe-rioridade de Prost.d) utilizando esse expediente, da maximo deinfcrmacoes sobre os dais pilotos rivals.e) optando par outras expressoes, torna 0 tex-to propositadarnente prolixo e confuso.

    TEXTO PARA AS QUESTOES 3 E 4 (FUVEST)Talvez 0 esporte haja nascido de uma $U-

    blimacao da guerra. Tanto melhor para ashornens de boa vontade. A guerra so se fazcom morte. E 0 esporte exige 0 maximo devida. Guerra so traz euforia nacional au tra-gedia, Esporte traz riqueza de emocoes.

    Se bern que ele ja nao seja mais tao san-to, dada a violencia, como tambem nao s