19
LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOAula 7

por LUIZ CARLOS TOLEDO

UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

Page 2: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A economia mercantilista firmou-se com o aumento do poder dos estados nacionais, exercido de forma absoluta pelos monarcas. Esse processo gerou mudanças funcionais e estruturais nas cidades. Temas como proteção e segurança, do pensamento medieval, deram lugar aos riscos calculados, característicos do novo sistema econômico.

A CIDADE DO CAPITAL

O capitalismo mercantil, surge como uma alternativa numa época de profundo cisma religioso e corrupção e foi fundamental para romper a estagnação que caracterizava a economia medieval.

Coketown

Page 3: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

O capitalismo mercantil e o capitalismo industrial, que lhe seguiria não traziam outros objetivos que não a obtenção do lucro e a expansão da economia. Nesse contexto não existia lugar para as guildas, limitadoras do crescimento econômico, assim como para a regulamentação do uso do solo nas cidades,eliminando-se, uns após outros, os controles sobre as atividades econômicas e sobre o impacto dessas atividades no espaço urbano, palco privilegiado da revolução industrial.

A CIDADE DO CAPITAL

Indústria Têxtil, Inglaterra Crianças trabalhando na indústria têxtil

Page 4: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A inexistência de regras econômicas e trabalhistas, se por um lado beneficiava os agentes econômicos, por outro prejudicava os consumidores que não tinham proteção quanto à qualidade e o preço dos produtos. Do mesmo modo que a produção industrial, a apropriação do espaço urbano, também não tinha restrições

A CIDADE DO CAPITAL

Bairro operário, Londres, Inglaterra Bairro operário, Londres, Inglaterra

Page 5: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

O capitalismo mercantilista cede lugar ao capitalismo industrial. Com ele surge uma nova cidade, construída para atender à atividade industrial e não a população. Nela a terra passa a ser mais uma mercadoria, não cumprindo qualquer função social.

Cidade Industrial da Krupp

Page 6: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

A base política em que se apoiava a cidade industrial era função da seguinte conjuntura: - Abolição das guildas, trazendo insegurança para a classe trabalhadora- Implantação de um mercado de trabalho aberto e competitivo- Falta de instrumentos de proteção para os trabalhadores e consumidores-Dominação política, militar e econômica de países transformados em colônias fornecedoras de matérias primas e em consumidores dos produtos industrializados não absorvidos pelo mercado europeu.

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

Repressão aos movimentos dos trabalhadores Uma típica Coke Town - Cidade carvão

Page 7: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

A base econômica era formada pela exploração das minas de carvão e pela produção siderúrgica, com a utilização da energia a vapor e o incremento dos meios de transporte ferroviário, hidroviário e naval.

Ferrovia em Derby, InglaterraMina de carvão, Inglaterra

Page 8: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

A inexistência de legislações urbanísticas contribuía para que as cidades crescessem sem planejamento e a infra-estrutura necessária para garantir condições mínimas de habitabilidade.

Bairro operário, Londres, Inglaterra

Page 9: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

A expansão urbana acelerada, a falta de saneamento, a precariedade dos serviços e equipamentos públicos, as edificações mal construídas, mal iluminadas e ventiladas, a ocupação crescente das áreas verdes e o transito caótico eram os sinais mais visíveis da desordem urbana que tornava a vida nas cidades insuportável. Para combater esse cenário surgem as primeiras normas urbanísticas criadas para regular a ocupação do espaço urbano.

Centro de Londres, InglaterraNew York, 1877

Page 10: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

Surpreendentemente não foram os urbanistas os autores das primeiras legislações e sim os gestores, médicos e enfermeiros que transferiram para a cidade as rigorosas normas de higiene adotadas nos hospitais a partir de meados do século XVIII. As doenças deixaram de ser manifestações divinas e as “patologias” urbanas deixaram de ser vicissitudes próprias da condição urbana, passando a ser “diagnosticadas e tratadas” com intervenções pontuais, ou com planos abrangentes.

Hospital LariboisiéreNormas urbanísticas Alemanha

Page 11: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

Podemos dizer que o século XIX notabilizou-se pela forte expansão urbana e pela criação de metrópoles. No início apenas Londres tinha um milhão de habitantes enquanto que, em 1914, vinte e duas metrópoles já tinham atingido essa marca. A existência de grandes reservas de carvão mineral, cujas técnicas de extração tinham sido revolucionadas com a invenção bombas de sucção movidas a vapor, que permitiam a exploração de carvão em áreas alagadas, onde era abundante, impulsionou não só a indústria como o sistema de transporte ferroviário, totalmente reformulado e ampliado por centenas de ramais.

Expansão do sistema de transporte ferroviário

Page 12: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITALO aumento do sistema ferroviário possibilitou às indústrias têxteis, localizadas junto aos rios, fontes de energia hidráulica, ou próximas às minas de carvão, a se localizar nas cidades, em função da presença da mão de obra e dos consumidores.

A simplicidade das máquinas utilizadas no início da produção industrial não exigia mão de obra especializada, facilitando a manutenção de um exército de desocupados, sempre prontos a assumir os postos de trabalho.

Oficina de costura, séc. XIX

Page 13: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

Guido Zucconi, com grande propriedade, prefere chamar a Cidade do século XIX de Cidade de Ontem e explica: “Parece-nos, porem, que a expressão “cidade de ontem” é mais convincente, porque nos remete a um tempo não remoto e a uma série de imagens ainda perceptíveis. Principalmente quem nasceu antes dos meados do século vinte entende que muitas das características da cidade do século XIX foram incorporadas ao cenário no qual ainda hoje vivemos e nos movimentamos (ZUCONNI, 2009, p.13).

Rio de Janeiro, início do séc. XX

Page 14: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

Essa cidade, em permanente transformação para adaptar-se aos novos tempos também poderia ser chamada a cidade das redes, pela infraestrutura com que passou a contar. A rede ferroviária penetrava na cidade até o seu centro. Sob as avenidas e ruas, corriam no subsolo as redes de abastecimento de água, de eliminação de esgotos e das águas pluviais, além das novas tubulações de gás responsáveis pela iluminação pública.

Sistemas urbanos de infraestrutura

Page 15: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

A especulação imobiliária decorrente do crescimento da demanda por novas habitações e da falta de limites de uma economia regida pelo “laisez faire”, transforma-se num dos maiores problemas da cidade industrial. Os ganhos com a venda de terrenos e habitações e com as rendas auferidas no aluguel de moradias precárias fazem com que áreas urbanas tenham uma rápida expansão sem nenhum planejamento e controle.

A Alfândega de outrora e seus modestos moradores, Rio de Janeiro séc XIX

Page 16: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITAL

Podemos dizer que os fundamentos do urbanismo moderno já estão presentes nos estudos de administradores, geógrafos, economistas, sociólogos, sanitaristas, engenheiros e arquitetos do século XIX que, tendo escolhido como tema a cidade, trataram-na não como uma estrutura estática e sim como um organismo em constante mudança pelas transformações políticas, sociais, econômicas e tecnológicas.

Plano urbanístico de Barcelona, 1850 Plano urbanístico de Belo Horizonte

Page 17: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

A CIDADE DO CAPITALOs avanços tecnológicos da topografia permitiam a representação da cidade em mapas cadastrais com uma infinidade de detalhes, o desenvolvimento da estatística substituía avaliações empíricas dando maior consistência aos estudos sobre a cidade.

Os novos meios de produção e de transporte criaram funções urbanas que transformaram as velhas cidades européias, até então constituídas por estruturas medievais e barrocas.

Planta Cadastral da cidade do Porto

Page 18: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

HAUSSMANN E A REMODELAÇÃO DE PARISA remodelação de Paris empreendida por Eugène Haussmann, detêm especial interesse para os cariocas, pois foi ela que, meio século mais tarde, serviu de modelo para a abertura de nosso primeiro bulevar, a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco.

Paris, a “world city” mais importante do século XIX, com a dupla condição de capital e metrópole foi palco de uma profunda renovação na estrutura urbana sob os auspícios de Napoleão III e brilhantemente comandada por Haussmann, então Prefeito do Sena

Paris, Arco do Triunfo Av Rio Branco, Rio de Janeiro, início do séc. XX

Page 19: LIÇÕES DE URBANISMO Aula 7 por LUIZ CARLOS TOLEDO UERJ – DISCIPLINA DE URBANISMO

LIÇÕES DE URBANISMOpor LUIZ CARLOS TOLEDO A CIDADE DO CAPITAL

LIÇÃO 7

HAUSSMANN E A REMODELAÇÃO DE PARIS

Sob seu comando foram abertas as grandes avenidas que ligam pontos focais da cidade como os terminais ferroviários, o Louvre, L’Hôtel de Ville, Lîle de La Cité , a Sorbonne, L’Opéra, les Halles etc. Ao longo dessas vias as edificações passaram a ter uma altura definida (gabarito) conferindo uma nova paisagem à cidade que, em muitos bairros, ainda mantinha a estrutura viária medieval.

Paris, Montmartre por PisarroPlano de Haussmann para Paris, 1853