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R e c u r s o s  P a r a  o  L íder  E s p i r i t u a l L id er a n ç a em tcm Áü& C r ise C o m o  N e e m i a s  m o t i v o u  s e u  p o v o PARA ALCANÇAR UMA VISÃO C h a r l e s  S wiNDOLL

Liderança Em Tempos de Crise - Charles Swindoll

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  • R e c u r s o s P a r a o L d e r E s p i r i t u a l

    L i d e r a n aem tcm&C r i s e

    C o m o N e e m i a s m o t i v o u s e u p o v o

    P A R A A L C A N A R U M A V I S O

    C h a r l e s S w i N D O L L

  • L i d e r a n a_ C / N / C / i t b o . S ' ( / ( _

    C r i s eC o m o N e e m i a s m o t i v o u s e u p o v o

    P A R A A L C A N A R U M A V I S O

    C h a r l e sS W I N D O L L

    T R A D U Z I D O P O R

    N e y d S i q u e i r a

    R e c u r s o s P a r a o L d e r E s p i r i t u a l

    Digitalizado por: jolosa

  • L i d e r a n a em T e m p o s d e C r i s e

    C a t e g o r i a : Liderana & Gesto / Liderana

    Copyright 1998 por Charles Swindoll.Publicado originalm ente por W Publishing Group, uma diviso da Thom as N elson Inc. (Nashville, T N - EUA).

    Todos os direitos reservados

    Ttulo Original em Ingls: H and me another brick Traduo: Neyd Siqueira Preparao de texto: Renato Potenza Reviso: M aria Guimares Faria Corceti Dutra

    Thefilo Jos Vieira

    Capa: Douglas LucasDiagramao: Viviane R. Fernandes CostaImpresso: R. R. Donnelley Amrica LatinaO s textos das referncias bblicas foram extrados da verso Alm eida Revista e Atualizada, 2 a ed. (Sociedade Bblica do Brasil), salvo indicao especfica.

    A I a edio brasileira foi publicada em maio de 2004, com tiragem de 8.000 exemplares.

    Dados Internacionais de Catalogao n a Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Sw indoll, Charles R.L iderana em tem pos de crise: com o N eem ias m otivou seu povo para alcanar u m a viso / C harles R . Sw indoll; traduzido por N eyd Siqueira So Paulo: M u n d o C risto , 2004 .

    T tu lo original: H a n d m e another brick - B ibliografia.IS B N 85-73 2 5 -3 1 5 -0

    1. B blia A . T. N eem ias C rtica e interpretao2. L iderana - E nsin o bblico3. Liderana crist 4. N eem ias (G overnador de Jud )I. T tu lo .

    0 4 -2 3 1 7 C D D - 2 6 2 .1

    ndice para catlogo sistemtico:1. Liderana: Ensino bblico: Religio crist 262 .1

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados pela:

    Associao R eligiosa Editora M undo CristoRua Antonio Carlos Tacconi, 79 - C EP 04810-020 - So Paulo-SP - Brasil Telefone: (11) 5668-1700 - H om e page: www.mundocristao.com.br

    Editora associada a: Associao Brasileira de Direitos Reprogrficos Associao Brasileira de Editores Cristos Cm ara Brasileira do Livro

    Printed in Brazil

    10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 04 05 06 0 7 08 09 10 11

  • S u m r io

    Introduo..................................................................................................7

    1. O Assunto em Pauta...................................................................... 9

    2. Um Lder dos Joelhos para Cima!.......................................... 23

    3. Preparativos para uma Tarefa Difcil.......................................... 35

    4. Saindo do Ponto Morto............................................................... 49

    5. Derrubado, Mas no Nocauteado...............................................59

    6. Desnimo: Causa e Cura............................................................. 71

    7. Amor, Emprstimos... e o Problema Financeiro...................... 87

    8. Como Lidar com uma Promoo.............................................. 101

    9. Operao Intimidao...........................................................^... 115

    10. Reavivamento na Porta das guas?............................................127

    11. A Arte do Discernimento...........................................................137

    12. Prioridades...................................................................................147

    13. Os Voluntrios Desconhecidos................................................. 159

    14. A Felicidade Est no Muro........................................................ 171

    15. Agarrando os Problemas pela Garganta.................................... 179

    Guia de Estudos......................................................................................195

    Notas......................................................................................................213

  • Introduo

    ste um livro prtico sobre liderana. Meu desejo : ser exatocom os futos que se relacionam ao assunto e s Escrituras; ser

    claro, isto , no usar termos tcnicos e clichs sem sentido; e fazer comentrios relevantes e atualizados, explicando como essas idias e sugestes podem ser postas em prtica.

    No se trata de um livro terico. Vou deixar os aspectos filosficos e psicolgicos de liderana e aprimoramento de carter para os especialistas no assunto. Minha abordagem baseia-se em observaes realistas feitas nos ltimos quarenta e cinco anos em vrias reas da experincia pessoal uma temporada como fuzileiro naval dos Estados Unidos (liderana militar), vrios anos em faculdade (liderana educacional), experincia na indstria e administrao (liderana de trabalho e empresarial), quase duas dcadas em igrejas, tanto nos Estados Unidos como no exterior (liderana eclesistica) e como marido e pai de quatro filhos ativos (liderana domstica).

    Como estudioso da Bblia, continuo a descobrir cada vez mais verdades sobre esse assunto. Parece absurdo manter esse conhecimento em minha mente ou guardado em arquivos, especialmente porque pouco se tem divulgado sobre liderana de uma perspectiva bblica.

    Por estar convencido do impacto profundo e poderoso que a Palavra de Deus causa nos que buscam sua sabedoria, compartilho esses conhecimentos com verdadeiro entusiasmo.

  • 10 L id e r a n a em T e m po s d e C rise

    na comunidade, brigas de poder nas reunies das noites de tera- feira e m administrao de nossos filhos e lares.

    O QUE UM LDER?

    O que queremos dizer com a palavra liderana? Se me pedissem para defini-la em um nica palavra, eu diria: influncia. Voc lidera algum se o influencia.

    O falecido presidente americano HarryTruman com freqncia se referia a um lder como uma pessoa capaz de fazer os outros executaram algo de que no gostam e faz-los gostar!

    Grande nmero de pginas e pilhas de livros tm sido escritos sobre liderana. Poucos so os profissionais que no tm um exemplar de Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, de Dale Carnegie, um marco sobre liderana e relacionamentos pessoais. Outro livro muito lido sobre o assunto O Poder do Pensamento Positivo, de Norman Vincent Peale. At livros como Winning Through Intimidation e Im, Youre O.K. abordam a liderana, ao tratarem do tema de relaes interpessoais.

    U m m a n u a l p a r a l d e r e s

    H, porm, um livro escrito por volta de 425 a.C., que assoma como uma obra clssica sobre liderana eficaz; ainda pouco entendido e quase desconhecido hoje. Foi escrito por um homem proeminente em negcios e poltica do Oriente Mdio na antiguidade. Esse indivduo no s possua uma filosofia de liderana pessoal como tambm a vivia. Durante sua vida, esse cavalheiro passou da total obscuridade ao reconhecimento nacional. Seu livro leva seu nome: Neemias.

    Acredite ou no, o que Neemias tinha a dizer sobre liderana refere-se s mesmas questes que voc e eu enfrentamos hoje. Por exemplo, em seu livro, aprendemos:

  • O A ss u n t o em Pa u ta 11

    a nos relacionar com um chefe difcil a equilibrar f em Deus e planejamento pessoal a lidar com o desnimo do executivo a lidar com a crtica injusta

    Nesse manual bblico para lderes em potencial, encontramos diretrizes eternas e confiveis, que funcionam. Elas nos capacitam a saber como desenvolver caractersticas de qualidade em ns mesmos e em outros - do tipo raramente encontrado hoje. Essas verdades no so despejadas de repente sobre ns. Em vez disso, so modeladas por Neemias enquanto realiza um projeto incrvel diante de desvantagens inconcebveis.

    medida que se envolver na histria, voc se ver em um dilogo imaginrio, dizendo coisas como: Neemias, voc o mximo. Preciso que as caractersticas que lhe deram xito sejam transferidas para minha vida. D-me outro tijolo, para que eu possa alcanar meu pleno potencial e tornar-me tudo que Deus planejou que eu fosse! Antes de chegar ao fim da histria, voc ficar surpreso ao ver quantos tijolos de carter foram passados das mos dele para as suas.

    U m h o m e m c o m p a r v e l m o n t a n h a

    No que se refere a caractersticas de liderana, Neemias no to diferente de pessoas de destaque, cujos nomes so mais familiares para ns. O vigsimo sexto presidente dos Estados Unidos, por exemplo, era um lder enrgico. Durante seu mandato, Theodore Roosevelt era odiado ou admirado. Um admirador ardente exclamou certa vez: Sr. Roosevelt, o senhor um grande homem! Com sua honestidade caracterstica, Roosevelt respondeu: No, Teddy Roosevelt no passa de um homem simples e comum altamente motivado. Pode-se dizer com segurana que sua resposta descreve a maioria dos grandes lderes, inclusive Neemias: simples e comum, mas altamente motivado.

  • 12 L id e r a n a e m T e m p o s d e C rise

    Edwin Markham expressou a mesma admirao por Abraham Lincoln: Ali estava um homem para resistir ao mundo, um homem comparvel s montanhas e ao mar.1

    No parece que palavras to exaltadas pudessem descrever uma pessoa comum, no ? Mas espere um pouco. Deus coloca a mo em um indivduo simples e comum que ele destinou para liderana, quer seja um Roosevelt, um Lincoln, um Neemias - quer algum como voc e eu. Ele motiva os lderes a atingir metas, a continuar trabalhando, a passar os tijolos!

    Neemias, embora fosse um homem comum no ntimo, emerge como um dos lderes mais significativos da Histria. Ele foi altamente motivado a cumprir uma tarefa para Deus, tarefa cercada por vrias circunstncias difceis.

    Antes de entrar nos pontos estimulantes e especficos do aprendizado da liderana eficaz com Neemias, precisamos conhecer um pouco de histria. Preste ateno s pginas que restam deste captulo para ter um vislumbre dos acontecimentos que antecederam a poca em que Neemias viveu. Ento estaremos prontos para um estudo detalhado do lder Neemias.

    U m o l h a r s o b r e a q u e l e s d ia s

    A histria judaica comea com Abrao aproximadamente no ano 2000 a.C. Mas no foi seno mil anos mais tarde que Israel ganhou importncia no mundo como uma nao sob Saul, Davi e Salomo. Em seus reinados, a bandeira de Israel tremulou orgulhosamente sobre a nao. Israel veio a ser finalmente reconhecido como um poder militar importante nos quarenta e um anos do governo de Davi.

    Davi elevou a causa de Israel a propores admirveis. Perto de morrer, entregou o reino a seu filho Salomo. E se voc conhece a Bblia, sabe que na ltima parte de sua vida Salomo havia sido to influenciado pelo mundo que Deus o julgou:

  • O A s s u n t o em P auta 13

    Por isso, disse o S en h o r a Salomo: Visto que assim procedeste e no guardaste a minha aliana, nem os meus estatutos que te mandei, tirarei de ti este reino e o darei a teu servo. Contudo, no o farei nos teus dias, por amor de Davi, teu pai; da mo de teu filho o tirarei.

    1 R e is 1 1 :1 1 , 12

    Com a morte de Salomo, houve uma diviso nas fileiras militares da nao. Israel tornou-se um reino dividido: dez tribos migraram para o norte e se estabeleceram em Samaria; as outras duas foram para o sul e habitaram em Jerusalm e nas regies circunjacentes. As tribos do norte foram chamadas Israel durante esse perodo de diviso, e o grupo do sul, Jud.

    Assim como a mar mais baixa na histria norte-americana foi quando pegamos em armas uns contra os outros na Guerra Civil, o mesmo aconteceu com essa diviso norte-sul na histria judaica. Eles chegaram sua hora mais difcil em mbito nacional, no quando foram atacados por um inimigo de fora, mas de dentro, e os muros de sua herana espiritual comearam a desmoronar. Durante esse perodo de diviso, o inferno literalmente rompeu as amarras. As condies caticas prevaleceram.

    Deus julgou Israel quando os assrios invadiram sua terra em 722 a.C. As dez tribos ento desapareceram; o Reino do Norte deixou de existir. Mas alguns do norte fugiram para o sul a fim de escapar do domnio assrio.

    A terra de Jud permaneceu uma nao judia durante mais de trezentos anos. Todavia, em 586 a.C., Nabucodonosor, rei de Babilnia, invadiu Jerusalm (e toda a Jud) levando cativo o povo, o que deu incio ao chamado Cativeiro Babilnico. O relato bblico em 2 Crnicas 36:18,19 registra o fim da histria de Jud e o incio do Cativeiro Babilnico.

    Todos os utenslios da Casa de Deus, grandes e pequenos, os tesouros da Casa do S en h o r e os tesouros do rei e dos seus prncipes,

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    tudo levou ele para a Babilnia. Queimaram a Casa de Deus e derribaram os muros de Jerusalm; todos os seus palcios queimaram, destruindo tambm todos os seus preciosos objetos.

    Eles queimaram a casa de Deus, o templo, e destruram o muro protetor ao redor da cidade. (Preste ateno nas palavras casa de Deus e os muros, pois trataremos de seu significado mais adiante.) Todos os prdios fortificados foram destrudos pelo fogo assim como os artigos valiosos do templo.

    Depois da invaso babilnica, Jerusalm foi totalmente arrasada! O lugar magnfico onde a glria de Deus se manifestara antes foi destrudo. O muro se achava em runas e os ces selvagens se alimentavam de quaisquer restos comestveis. Os exrcitos da Babilnia voltaram para sua terra com todos os tesouros de Jud.

    O Salmo 137 foi escrito durante essa poca sombria. O salmista clamou: Como, porm, haveramos de entoar o canto do S en h o r em terra estranha? (v. 4). Os babilnios chegaram e levaram cativos os israelitas. Seu canto terminara. Em 2 Crnicas 36:20 acrescentada uma palavra final:

    Os que escaparam da espada, a esses levou ele para a Babilnia, onde se tornaram seus servos e de seus fdhos, at ao tempo do reino da Prsia.

    Isso importante. Os judeus que sobreviveram ao cerco de Jerusalm foram presos, acorrentados como escravos e enviados para a Babilnia, a uma distncia de mais de 1.300 km. Sob Nabucodonosor e seu filho perverso, os judeus viveram como centenas de anos antes no Egito, escravos de um poder estrangeiro.

    Deus, porm, no se esquecera deles. Ele tinha um propsito e um plano. Note como o versculo 20 termina: ...at ao tempo do reino da Prsia. Veja o que aconteceu. Houve um rei chamado Ciro que governou a Prsia e outro rei, Dario, que governou os medos,

  • O A s s u n t o em P a uta 15

    seus vizinhos. As duas naes eram aliadas, mas como o exrcito persa era o maior dos dois, os dois pases eram chamados simplesmente de reino da Prsia . Os medos e persas invadiram a Babilnia e a dominaram, forando o Imprio Babilnico a se render. O que aconteceu ento? Vemos em 2 Crnicas 36:22: Porm, no primeiro ano de Ciro, rei da Prsia, para que se cumprisse a palavra do S e n h o r , por boca de Jeremias, despertou o S e n h o r o esprito de Ciro, rei da Prsia . Ciro era crente? No. Na superfcie talvez parecesse um crente, mas no era. Tinha, porm, interesse no bem- estar dos judeus. Deus no se limita a trabalhar apenas com seu povo. Ele opera na vida e na mente de incrdulos sempre que lhe agrada. Ele move o corao dos reis de um plano para outro, como fez com Ciro. O plano final de Deus era levar os judeus de volta sua terra.

    Ciro enviou, para todo o reino, um decreto por escrito, que dizia:

    Assim diz Ciro, rei da Prsia: O S enhor, Deus dos cus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalm, que est em Jud; quem entre vs de todo o seu povo, que suba, e o S en h o r , seu Deus, seja com ele.

    2 C r n ica s 3 6 :2 3

    Ele estava dizendo: Deixem que o povo de Deus volte volte cidade que foi destruda h setenta anos. Esse perodo da histria foi chamado por alguns historiadores de Segundo xodo. Os judeus voltaram ento a Jerusalm sob a liderana de trs homens.

    A Companhia A saiu primeiro com Zorobabel como seu comandante. Cerca de oitenta anos mais tarde, outro grupo, Companhia B, deixou a Babilnia com Esdras como comandante-em-chefe. A essa altura, Ciro havia morrido e a Mdia-Prsia era governada por Artaxerxes. A seguir, treze anos depois, Neemias liderou a Companhia C de volta cidade destruda.

  • 16 L id e r a n a e m T e m p o s d e C rise

    Lembra-se de eu pedir que voc prestasse ateno nos termos casa de Deus e os muros? por isto: eu queria que voc se lembrasse da casa de Deus porque esse o assunto principal do Livro de Esdras, e de os muros de Jerusalm porque esse o ponto alto do Livro de Neemias. O Livro de Esdras (que vem antes de Neemias no Antigo Testamento) registra como a casa de Deus foi reconstruda na cidade de Jerusalm. Mas o templo ficou sem proteo durante noventa anos, at Deus guiar Neemias a providenciar a liderana necessria para a construo de um muro. ao relato desse projeto que chamamos Livro de Neemias.

    U m a a p r e s e n t a o d o l iv r o

    Quando lemos Neemias 1:3, vemos que contm grande significado: Os restantes, que no foram levados para o exlio e se acham l na provncia, esto em grande misria e desprezo; os muros de Jerusalm esto derribados, e as suas portas, queimadas . Neemias respondeu, dizendo: Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos cus (v. 4).

    No Livro de Neemias, o homem que guiou seu povo apresentado em trs papis. No incio do livro, ele o copeiro do rei. No meio da histria, o construtor do muro. Na terceira parte do livro, o governador da cidade e das reas vizinhas a Jerusalm.

    O COPEIRO

    Neemias era copeiro do rei Artaxerxes. A ocupao de copeiro no soa muito impressionante. Ela parece comparvel de lavador de pratos ou, na melhor das hipteses, a mordomo ou garom. Mas o copeiro era muito mais importante do que isso. Ele provava o vinho e os alimentos antes de o rei ingeri-los. Se houvesse algum veneno neles o copeiro no viveria, mas o rei, sim. Mediante a prtica desse costume, uma grande intimidade desenvolvia-se entre quem provava e quem comia e bebia, entre o copeiro e o rei.

  • O A s s u n t o em Pa u ta 17

    De fato, os historiadores da antiguidade supem que o copeiro, com exceo da esposa do rei, era a nica pessoa em posio de influenciar o monarca.

    Segundo um estudioso do Antigo Testamento, o copeiro era muitas vezes escolhido pela beleza e atrativos pessoais, e nas cortes orientais era sempre uma pessoa de classe e importncia. Pela natureza confidencial de seus deveres e acesso freqente presena real, ele exercia grande influncia.2

    Muitos copeiros usavam seu cargo para ganhar algum extra, dizendo uma palavra boa a favor daqueles que desejavam uma promoo no governo ou um tratamento VIP. O copeiro era o conselheiro ntimo do rei.

    Neemias estabelecera uma boa relao com o rei Artaxerxes, mas levava um fardo no corao. Ele estava tambm necessitado do favor real! Quando ouviu que havia um muro derrubado em Jerusalm, Neemias ouviu Deus dizer: Quero que voc seja o lder na reconstruo daquele muro. Escolhi voc para o trabalho.

    Em vez de correr para a presena do rei e dizer: Deus me ordenou que voltasse a Jerusalm para construir um muro. Eu sou o homem que ele escolheu! , Neemias orou pedindo direo. De fato, em todo o livro voc vai encontrar Neemias pedindo orientao ao Senhor.

    O CONSTRUTOR

    A partir de Neemias 2:11, vemos Neemias passar para seu segundo papel: ele se tornou um construtor, e bastante sbio.

    As idias novas parecem passar por trs canais. Primeiro, rejeio. Voc tem uma idia de algo novo e a relata para uma pessoa:

    No vai dar certo ela responde.

    Por qu? voc pergunta.

    Porque j tentamos isso antes ou Ningum fez isso antes ela retruca. Sua sugesto rejeitada.

  • 18 L id e r a n a e m T e m p o s d e C r ise

    O segundo canal a tolerncia Olhe, eu vou permitir desde que... . O terceiro a resposta ideal, a aceitao'. Vamos em frente!

    Neemias, sabendo que a hora no era apropriada, no disse a ningum que ia reconstruir o muro de Jerusalm. Montou no cavalo tarde da noite (voc pode at ver a lua brilhando nas runas dos muros) e disse:

    De noite, sa pela Porta do Vale, para o lado da Fonte do Drago e para a Porta do Monturo e contemplei os muros de Jerusalm, que estavam assolados, cujas portas tinham sido consumidas pelo fogo. Passei a Porta da Fonte e ao aude do rei; mas no havia lugar por onde passasse o animal que eu montava.

    N eem ia s 2 :1 3 , 1 4

    Parece que o entulho estava to alto que ele no conseguiu passar a cavalo. Viu, porm, o suficiente para saber o que devia ser feito - e para saber quanto seu trabalho seria difcil. Manteve, porm, seus planos em segredo. No sabiam os magistrados aonde eu fora nem o que fazia, pois at aqui no havia eu declarado coisa alguma, nem aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra (v. 16).

    Os captulos 3, 4 e 5 do Livro de Neemias descrevem a reconstruo dos muros. Apesar das grandes dificuldades e inimigos internos e externos, eles terminaram a obra. O ponto alto, quando inauguram o muro , est em Neemias 6:15: Acabou-se, pois, o muro aos vinte e cinco dias do ms de elul, em cinqenta e dois dias.

    O GOVERNADOR

    Finalmente, Neemias trocou outra vez de papel. Tornou-se governador. O relato de sua eleio est no captulo 5, mas no lemos sobre a delegao de autoridade at o captulo 7, versculos 1 e 2:

  • O A s s u n t o em P auta 19

    Ora, uma vez reedificado o muro e assentadas as portas, estabelecidos os porteiros, os cantores e os levitas, eu nomeei Hanani, meu irmo, e Hananias, maioral do castelo, sobre Jerusalm. Hananias era homem fiel e temente a Deus, mais do que muitos outros.

    Neemias era um lder ponderado; ele viu a importncia de homens espirituais no governo da cidade. Fez tambm uma longa lista das famlias de Jerusalm, comeando com aquelas que haviam retornado primeiro. Elas se tornaram membros fundadores de sua nova comunidade murada.

    Um pouco adiante, no captulo 8, versculo 9, lemos:

    Neemias, que era o governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que ensinavam todo o povo lhe disseram: Este dia consagrado ao S en h o r , vosso Deus, pelo que no pranteeis, nem choreis. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da lei.

    Vamos fazer uma pausa e resumir. Neemias chegou cidade e reconstruiu os muros. No captulo 8, lemos que o povo ficou no grande ptio e pediu que o livro da lei de Moiss fosse levado. De um plpito de madeira, Esdras leu em voz alta para todo o povo, que ficou de p, ouvindo, desde bem cedo pela manh at o meio- dia e louvou o nome de seu Deus.

    Veja bem, esse povo estivera no cativeiro. Havia nascido no cativeiro. Conhecera a desolao espiritual. E pela primeira vez eles viram sua cidade mostrando sinais de um novo comeo. Que momento emocionante deve ter sido quando Esdras disse: Vamos todos ficar de p e ouvir a Palavra de Deus. Enquanto ele desenrolava o livro da lei e lia, o povo chorou.

    Neemias era o mestre-de-obras e empreiteiro principal! Ele passou de copeiro a construtor. Quando o muro foi completado, apesar

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    dos inimigos, ele se estabeleceu como governador e nomeou homens piedosos que lembrariam o povo de purificar-se do pecado e de louvar a Deus.

    O S MUROS DE NOSSA VIDA

    Enquanto passamos a examinar em detalhe as caractersticas da liderana de Neemias, considere a passagem em Isaas 49:15, 16:

    Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que no se compadea do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, no me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mos te gravei; os teus muros esto continuamente perante mim.

    Deus estava dizendo a seu povo: Sua vida como os muros, continuamente perante mim. Gravei sua vida em minhas mos . Os muros estavam para Jerusalm, como nossa vida est para Deus.

    Para falar com franqueza, penso que os muros de nossa vida de modo geral esto em runas por causa da negligncia. O lder que nos leva a reconstruir os muros o Esprito Santo, e ele quem continua o trabalho de reconstruo em nosso interior. Ele tenta ao mximo chamar nossa ateno para a condio de nossos muros, mas algumas vezes no ouvimos o que est dizendo. No somos, porm, surdos; simplesmente no estamos atentos.

    Alguns esto vivendo dentro dos muros de sua vida, cercados de escombros, e tudo comeou bem lentamente. No incio um pedao de pedra ou alvenaria se desprendeu. Depois surgiu uma rachadura no muro. Em seguida, um pedao caiu e apareceu um buraco. Por causa de mais negligncia, as ervas daninhas da carnalidade comearam a crescer pelo muro. Com o passar do tempo, o inimigo obteve acesso livre sua vida.

    Voc pode ser considerado um bom cristo. Mas sabe que embora seja cristo no mesmo sentido que Jerusalm pertencia aos

  • O A s s u n t o em P auta 21

    judeus, o muro em torno de sua vida espiritual, que o protege e defende, foi derrubado. Coisas como egosmo, falta de disciplina, procrastinao, imoralidade, falta de tempo para Deus, transigncia e rebeldia semearam suas horrendas sementes e comearam a dar fruto para a morte.

    Faa um inventrio sincero de sua verdadeira condio. Antes de seu projeto ser posto em prtica, Neemias se informara e se inquietara. A primeira fase foi avaliao. Hoje em dia sinto, entre vrias pessoas nas fileiras de nossa famlia evanglica, uma superficialidade em relao a Deus. Tendemos a no lev-lo muito a srio. E como se ele fosse nosso amigo. Ento nos escondemos atrs da racionalizao de que Ningum perfeito. Afinal de contas , dizemos a ns mesmos, sou melhor do que sicrano e beltrano e certamente melhor do que costumava ser. Encolhemos os ombros e fazemos um comentrio passageiro: Bem, ele vai entender. Se essa sua atitude, o inimigo est morando em seu acampamento. Seus muros caram.

    A inquietao de Neemias o levou segunda fase, reconstruo. Ele orou pedindo orientao e correo. Voc tem estado ocupado demais para orar?

    Ah, mais ocupado do que nunca! Em toda a minha vida nunca estive to ocupado!

    Mas e tempo com Deus?

    Voc responde: No h horas suficientes no dia.

    Levante-se mais cedo! Reserve a hora do almoo. Voc no pode se dar ao luxo de no se encontrar com Deus todos os dias. Dizem que o Sol nunca se levantou durante quarenta anos na China sem que Deus encontrasse o missionrio Hudson Taylor orando de joelhos por esse grande pas. A reconstruo, de fato, trabalho rduo.

    A perseverana est na pauta do dia. Mas a eroso nossa guerra constante. Pouco a pouco, pedao por pedao, o processo entra em ao. Ningum se torna vil de repente. A decadncia moral, como notamos, tem lugar quando o primeiro pedao de alvenaria se solta e uma pedra cai. Voc a deixa cada. Depois cai outra e mais outra.

  • 2 2 L id e r a n a em T e m p o s d e C rise

    Neemias finalmente enfrentou a situao e decidiu ficar at que a tarefa terminasse. A terceira palavra foi perseverana. Voc pode estar pronto a chorar por seu pecado. Pode estar a ponto de confessar seu erro, at para outra pessoa. Mas no chegou ao lugar em que, como lemos em Neemias, fortaleceram as mos para a boa obra . Eles decidiram permanecer ali.

    O velho santo A. W. Tozer disse muito bem:

    Todo lavrador conhece a fome do deserto, aquela fome que maquinaria agropecuria moderna nenhuma, nem os mtodos avanados de agricultura, jamais podem extinguir completamente.No importa quo bem preparado o solo, quo bem conservadas as cercas, quo cuidadosamente pintados os edifcios, basta que o proprietrio negligencie por um pouco os seus preciosos e valiosos acres, e eles retornaro ao estado agreste e sero devorados pela selva ou por terras desoladas. A propenso da natureza para o deserto, nunca o terreno produtivo.

    O corao negligenciado, a vida com os muros derrubados, sero logo vencidos pelo mundo, e o caos prevalecer. No se limite a arrepender-se. Reconstrua! Persevere! Nunca desista!

    Minha preocupao de que voc interrompa a leitura aqui e acumule fatos tericos sobre liderana, embora viva sem muros. Se seu corao esfriou em relao a Cristo e sua Igreja, trate do problema agora. Enquanto continua a leitura, espere o Esprito Santo usar a f e a persistncia de Neemias para criar em seu corao a sede e a disposio para ser o tipo de lder abenoado por Deus.

  • Segundo Captulo

    U m L d er dos Jo e lh o s p a ra C im a!

    Como a maioria das pessoas em posio de liderana, Neemias enfrentou continuamente circunstncias impossveis. Lembremos que ele estava a 1.280 km de distncia do que interessava a seu corao: seu povo, que vivia em meio destruio em Jerusalm. Morar a dois ou trs quilmetros de onde se trabalha uma coisa, mas Neemias tinha de fazer uma viagem de ida e volta de 2.560 km! E ningum tinha ouvido falar em 120 k por hora!

    Para complicar ainda mais, Neemias era subordinado a um incrdulo o rei Artaxerxes. Antes que Neemias pudesse deixar seu posto e viajar para Jerusalm para construir o muro, algo tinha de acontecer no corao de Artaxerxes. Sua mente precisava ser mudada. Quando recebeu as ordens de Deus, Neemias no correu para a sala do trono e apresentou uma opo ao rei: Ou voc me d trs anos de licena ou me demito! Em vez disso, foi a Deus em orao e confiou a ele a tarefa de abrir portas e mudar o corao de seu patro.

    Assim comea a histria:

    As palavras de Neemias, filho de Hacalias. No ms de quisleu, no ano vigsimo, estando eu na cidadela de Sus, veio Hanani, um de meus irmos, com alguns de Jud; ento, lhes perguntei pelos

  • 2 4 L id e r a n a e m T e m p o s d e C rise

    judeus que escaparam e que no foram levados para o exlio e acerca de Jerusalm. Disseram-me: Os restantes, que no foram levados para o exlio e se acham l na provncia, esto em grande misria e desprezo; os muros de Jerusalm esto derribados, e as suas portas, queimadas. Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos cus.

    N eem ia s 1 :1 -4

    bem provvel que Neemias tenha sido o autor de seu livro. Ele se descreveu simplesmente como filho de Hacalias, um homem cujo nome no aparece em nenhum outro lugar da Bblia. Neemias falou sobre sua ocupao no versculo 11 do primeiro captulo: Nesse tempo eu era copeiro do rei . Isso tudo que sabemos sobre suas credencias terrenas. Era copeiro do rei e filho de Hacalias.

    U m c o p e i r o c o m o c o r a o v o l t a d o p a r a D e u s

    Como observamos nos captulos anteriores, a funo do copeiro era provar o vinho e a comida do rei. Neemias servia de anteparo entre o pblico e o rei. Era uma posio de intimidade e confiana.

    A histria comea no inverno; era o ms de quisleu, ou dezembro, no vigsimo ano do rei. Fazendo um retrospecto, sabemos que o ano era cerca de 445-444 a.C. O lugar nos apresentado no versculo 1: Neemias morava em Sus, capital do Imprio Medo- Persa. Um fato mais significativo que Sus era reconhecida pelos judeus como a capital do mundo conhecido na poca. Era um centro de atividade, o lugar das decises finais; era comum que as ltimas notcias do imprio chegassem ateno do rei Artaxerxes pelos lbios de seu copeiro. Neemias era o brao direito do rei.

    No versculo 2, Hanani, um dos irmos de Neemias (acredito que seja um de seus irmos de sangue), e alguns homens de Jud apareceram. Ento, [eu, Neemias] lhes perguntei [observe as duas

  • U m L d e r - d o s J o e l h o s para C im a ! 2 5

    perguntas:] [1] pelos judeus que escaparam e que no foram levados para o exlio e [2] acerca de Jerusalm.

    Diz-se que o verdadeiro judeu nunca esquece completamente Jerusalm. Com certeza isso se aplicava a Neemias. Ele queria saber sobre o povo, conhecer a condio da cidade amada. Os que haviam voltado de Jud lhe contaram: Os restantes [o povo], que no foram levados para o exlio e se acham l na provncia, esto em grande misria e desprezo. A palavra hebraica traduzida por grande misria significa tambm calamidade. O povo daquela cidade se achava numa posio vulnervel. De fato, os homens acrescentaram, estava em situao de desprezo. A palavra hebraica para o termo significa agudo, cortante, penetrante ou lancinante. A idia suportar a violncia de palavras sarcsticas. Os judeus estavam sendo criticados e difamados pelos inimigos da f.

    Neemias ficou de corao partido. Os versculos 4 a 11 revelam sua reao, e aqui comeamos a ver surgir seu dom de liderana. Fiquei profundamente impressionado com o fato de ele, embora numa posio elevada no mundo, ter o corao voltado para Deus. Voc sabe como difcil encontrar algum em posio elevada aos olhos do mundo que continue terno diante de Deus.

    possvel que voc esteja numa posio de grande importncia. um lugar vulnervel para se viver. Cada promoo ameaa ainda mais sua vida espiritual, seu andar com Deus. Ela no tem de prejudicar seu andar, mas pode ser, e em geral , nociva. Nas Escrituras h relatos de pessoas que foram promovidas de um nvel para outro e sofreram uma eroso da promoo - lentamente se perderam no orgulho. Trato desse problema em detalhes no captulo 8.

    A S MARCAS DE UM LDER COMPETENTE

    Lemos no versculo 4 as palavras de Neemias, tocado pela necessidade de seu povo: ...assentei-me, e chorei, e lamentei [...] e estive jejuando e orando perante o Deus dos cus. Nos versculos 4 a 11, h quatro fatores muito significativos que se comprovam na vida dos

  • 2 6 L id e r a n a em T e m p o s d e C rise

    lderes competentes e espirituais. Quero que se lembre deles e vou apresent-los como ocorreram na experincia de Neemias. Vamos examin-los por ordem.

    1. O lder reconhece claramente as necessidades. O comeo do versculo 4 diz: Tendo eu ouvido estas palavras... Neemias no estava preocupado; ele no vivia num mundo de sonhos, fora da realidade. Ele perguntou ento: O que est havendo? Eles responderam: A situao deplorvel . Ele ouviu as palavras deles.

    Voc pode pensar que reconhecer necessidades um conceito bsico, especialmente para os lderes. No entanto, j encontrei pessoas em posio de liderana e responsabilidade que nunca parecem ver o problema que deveriam resolver.

    Lembro-me de ter feito um curso no seminrio com um brilhante professor de Bblia. Ele era conhecido em todo o mundo por seu conhecimento das Escrituras. Porm ele era to estudioso e conhecia as respostas h tanto tempo que se esquecera de que poderia haver perguntas! Ns levantvamos as mos e apresentvamos um problema, ele ento piscava e dizia: Problema? Que problema?

    H uma razo muito simples para a mentalidade de no h problemas. Voc j ficou perto de um professor ou chefe preocupado? Algumas mulheres tm um marido preocupado e sabem que no fcil conseguir a ateno dele. Ela olha para ele atrs do jornal e diz:

    Querido, quero conversar com voc sobre uma coisa que aconteceu.

    Sei. H um vazamento... no quarto ... a gua est escorrendo

    no assoalho.

    Sei.E de se notar como indivduos com alto grau de responsabilidade com freqncia no conseguem mais se relacionar como nvel do problema.

  • U m L d e r - d o s J o e l h o s para C im a ! 2 7

    Tenho um amigo muito bem-sucedido no ramo de construo. Ele de fato um construtor proeminente em sua cidade. Mas odeia a realidade. Com isso, sua famlia sofre. Ele tem sido enganado, explorado e abusado inmeras vezes porque odeia enfrentar os problemas e se recusa a fazer a segunda e difcil pergunta. Meu amigo criativo, visionrio, cordial, amoroso, muito terno para com as coisas de Deus. Mas no consegue ver os problemas. Evita confrontar-se com eles e diz: No me fale de problemas; vamos conversar sobre coisas agradveis .

    No entanto, acredito que uma pessoa pode ser to voltada para os problemas que s consegue pensar neles isso tambm no bom. Mas aquele que um lder de verdade reconhece com clareza as necessidades.

    Voc percebe as necessidades? E as necessidades de sua famlia? sensvel como pai ou cnjuge? Voc talvez viva sozinho. Sabe o que se passa no corao de seus pais, onde a balana pesa mais? Se ensina, tem noo das necessidades dos alunos - das crianas que compem sua sala de aula? Se executivo, est em contato com mais do que apenas aquele nvel de atividade agradvel chamado de status executivo? O que dizer das outras reas onde os problemas comeam e inflamam?

    * 2. O lder se preocupa pessoalmente com a necessidade.Neemias foi um passo alm do reconhecimento do problema. Ele no s ouviu as questes, como tambm dialogou e se identificou com elas.

    Alan Redpath escreveu:

    Vamos aprender esta lio de Neemias: no aliviamos a carga a no ser que primeiro tenhamos sentido a presso em nossa prpria alma. No podemos ser usados por Deus para abenoar at que ele tenha aberto nossos olhos e nos feito ver as coisas como so. 1

    No h melhor preparo para o servio cristo do que esse.

  • 28 L id e r a n a e m T e m p o s d e C r ise

    Neemias foi chamado para construir o muro, mas primeiro ele chorou por causa das runas. Os muros caram. Senhor! Como esses muros podem estar derrubados e o povo continuar em segurana? Porm a reao normal : Os muros caram? Quem o culpado? Quem fez isso? Ou: Eles voltaram h tanto tempo e ningum reconstruiu os muros? Mande-me o nome deles; vou resolver isso. Essas reaes so erradas. O lder deve ter compaixo.

    Antes de continuar, quero que aprendamos uma lio muito prtica sobre um pai que se recusou a reconhecer uma necessidade especfica da famlia. A histria est em 1 Samuel 3. Durante toda a minha infncia, lembro-me de ter aprendido na escola dominical sobre o jovem Samuel, que estava dormindo em sua cama quando o chamaram: Samuel! Samuel! Ele correu ento para o sacerdote Eli e perguntou: O que foi? E Eli respondeu: No te chamei, torna a deitar-te. A voz acordou Samuel outra vez e a mesma coisa aconteceu. Por fim, Eli disse: Ests ouvindo Deus te chamar. E a histria sempre terminava nesse ponto.

    Eu pensava: Por que ser que Deus o acordou tantas vezes? O que o Senhor queria dizer a ele? Mais tarde encontrei as respostas nos versculos 11 e 12:

    Disse o S en h o r a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tiniro ambos os ouvidos. Naquele dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado com respeito sua casa; comearei e o cumprirei.

    No me diga que Deus no se importa com o que acontece na casa de um lder. Ali estava Eli, um lder espiritual em Israel, e Deus se inquietava com o lar dele. Veja o versculo 13:

    Porque jd lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execrveis, e ele os no repreendeu.

  • U m L d e r - d o s J o e l h o s para C im a ! 2 9

    Sublinhe em sua Bblia conhecia e ele os no repreendeu. H ocasies em que voc sabe que algo est errado em sua casa, mas se recusa a envolver-se na correo? Fechamos os olhos razo e dizemos: Bem, de algum modo vai dar certo.

    Veja, Deus indicou o pai para uma das mais difceis posies de liderana em todo o mundo: liderar sua casa. Ele motiva, estabelece o ritmo, d orientao e encorajamento, e disciplina. Eli sabia de tudo isso, mas no quis repreender os filhos quando desobedeceram a Deus. Talvez tivesse pensado que os lderes do templo endireitariam os meninos. trgico como muitas pessoas deixam, para a Igreja, a tarefa de educar os filhos e, portanto, a Igreja vive sob constante acusao. As piores crianas do mundo so as da Igreja . A Igreja leva a culpa, mas isso no problema dela; um problema do lar. A Igreja raramente pode ressuscitar o que o lar matou.

    Ao voltarmos para Neemias como um modelo de liderana, compreenda que no estamos falando apenas de Neemias e de uma cidade antiga no alvorecer da Histria. Estamos falando de hoje. Quanto mais alto voc sobe na escala do que o mundo chama de sucesso, mais facilmente se envolve em preocupaes tericas e deixa as coisas menores, mais realistas se resolverem sozinhas.

    Note no versculo 4 que Neemias estava jejuando e orando. O que significa jejuar? Significa no fazer uma refeio, com um propsito determinado e importante: concentrar a ateno em seu andar com Deus. Algumas pessoas jejuam um dia por semana. Outras um dia por ms. Outras ainda nunca jejuam. O interessante que o jejum mencionado com freqncia nas Escrituras. Quando nosso motivo correto, quanta coisa podemos realizar com o Senhor, quando ocasionalmente poupamos o tempo de preparar, comer e arrumar a cozinha depois de uma refeio, e o investimos na orao de joelhos! Quanto maiores so as nossas responsabilidades, mais precisamos de tempo de meditao diante do Pai.

    3. O lder dedicado vai primeiro a Deus com o problema. No versculo 5, Neemias diz: Ah! S e n h o r , Deus dos cus . Ele orou.

  • 3 0 L id e r a n a e m T e m p o s d e C rise

    Qual sua primeira reao quando percebe uma necessidade? Posso dizer-lhe qual por ser geralmente minha primeira reao em minha natureza humana decada: Como posso resolver isto? ou O que fulano fez de errado para que isto acontecesse?

    Seu problema com pessoas, qualquer que seja, no ser completamente resolvido at que voc o leve a Deus em orao. Mencionei isso no primeiro captulo e est ilustrado pela vida de Neemias. Algum dia voc vai examinar as coisas que fez racionalmente na carne e odiar o dia em que isso aconteceu. A orao, repito, absolutamente essencial na vida de um lder.

    Veja como Neemias se comportou diante do Senhor. Primeiro, ele louvou a Deus.

    Ah! S en h o r , Deus dos cus, Deus grande e temvel, que guardas a aliana e a misericrdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!

    v. 5

    Ele sabia que no estava se dirigindo a outro homem, mas ao Deus dos cus.

    Para quem Neemias trabalhava? Para o rei. Esse rei era grande e temvel na terra? O mais poderoso! Mas, comparado com Deus, o rei Artaxerxes no era nada. E ento lgico que, ao orarmos a Deus, coloquemos as coisas na perspectiva adequada. Se voc estiver com dificuldade para amar ou se relacionar com um indivduo, leve-o a Deus. Deixe que o Senhor se preocupe com essa pessoa e no voc - deixe-a diante do trono.

    A seguir, nos versculos 6 e 7, ele confessou sua parte no problema.

    Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos, para acudires orao do teu servo, que hoje fao tua presena, dia e noite, pelos filhos de Israel, teus servos; e fao confisso pelos pecados dos filhos de Israel, os quais temos cometido contra ti;

  • U m L d e r - d o s J o e l h o s para C im a ! 31

    pois eu e a casa de meu pai temos pecado. Temos procedido de todo corruptamente contra ti...

    Note as palavras temos e eu. A confisso no foi em nome da falta de alguma outra pessoa. Ela estava ligada parte de Neemias no problema. O que fazemos quando estamos em conflito com outra pessoa? Normalmente culpamos o outro (nossa natureza decada em ao de novo). Quase sempre pensamos em seis ou sete maneiras como esse indivduo mostrou obstinao e m vontade de mudar, mas raramente consideramos nossa parte no problema. No entanto, a coisa funciona dos dois lados. Portanto, a primeira coisa que Neemias disse em relao ao problema foi: Senhor, sou culpado. No s desejo fazer parte da soluo, como estou confessando que fao parte do problema.

    Talvez haja dificuldades entre voc e seu cnjuge em casa, ou relacionamentos tensos entre professor e aluno na escola. Pode haver rixa entre um pai e um filho. E, com certeza, voc vai pensar em seu cnjuge, filho, me, professor, aluno, como sendo o problema. Isso no necessariamente verdade.

    Insisto com voc: ao apresentar-se a Deus em orao sobre quaisquer conflitos de personalidade, tenha a atitude refletida nestas palavras: Senhor, coloco diante de ti as reas onde causei irritao. Este meu setor de responsabilidade. No posso mud-lo, mas posso dizer-te, Deus, que esta minha parte nele; perdoa-me .

    Neemias no terminou na confisso. Em seguida, reclamou a promessa. Quando orou a Deus, ele louvou o Pai, confessou sua parte no erro e reclamou a promessa feita por Deus.

    O versculo 8 diz: Lembra-te da palavra que ordenaste a Moiss . O que Neemias estava fazendo? Citou um versculo bblico para Deus. Mencionou no s Levtico 26, mas tambm Deuteronmio 30. Ele conhecia o Livro. Senhor, abro o Livro diante de ti. Quero que vejas as palavras que pronunciaste, a promessa que fizeste. Eu as estou reivindicando, Senhor, neste momento.

    Qual era a promessa? Era dupla. A promessa era que, se Israel desobedecesse, o povo iria para uma terra estranha. Isso acontecera.

  • 3 2 L id e r a n a e m T e m p o s d e C rise

    A segunda parte era que, ao terminar o perodo de cativeiro, Deus levaria os judeus de volta a Jerusalm e os protegeria. Essa parte no fora ainda cumprida. Neemias estava dizendo: Senhor, a primeira parte verdadeira. Desobedecemos e fomos para o cativeiro. Mas, Senhor, tu prometeste nos levar de volta cidade e proteger-nos, e isso ainda no se cumpriu. Estou pedindo que o faas .

    O apstolo Paulo escreveu:

    ... no duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela f, se fortaleceu, dando glria a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera.

    R om anos 4 :2 0 , 2 1

    Deus no faz promessas levianamente. Ele diz: Prometo que, se voc me der seu fardo, vou carreg-lo. Se buscar em primeiro lugar o meu reino, acrescentarei todas essas outras coisas a voc. Se vocc tiver o corao reto diante de mim, vou lev-lo a um caminho de estabilidade e prosperidade.

    Isso no significa necessariamente que ele vai encher sua carteira. Significa que vai dar-lhe paz - como o mundo no capaz de conhecer. Vou promov-lo a um patamar no meu plano de significncia, e voc ficar satisfeito.

    Neemias disse: Senhor, tu prometeste que teu povo ser protegido nesta cidade, e estou pedindo isso neste momento.

    Por fim, Neemias levou sua petio ou desejo diante de Deus. Seu pedido era ousado.

    Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos orao do teu servo e dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem sucedido hoje o teu servo e d-lhe merc perante este homem

    v. 11

  • U m L d e r - d o s J o e l h o s para C im a ! 3 3

    Voc j orou deste modo? Senhor, faze que eu tenha sucesso. Faze que eu encontre esse lugar no centro de tua vontade, onde a prosperidade celestial repousa, em qualquer nvel que seja. Que eu possa alcanar o mximo, para que seja prspero a teus olhos. E, Senhor, concede-me o favor dos que tm autoridade sobre mim! Esse um pedido corajoso.

    4. O lder est disponvel para atender necessidade. Faze que eu seja bem-sucedido. D-me compaixo a seus olhos. Neemias reconheceu claramente a necessidade. Ele se envolveu nela. Levou-a a Deus. Estava agora pronto a satisfazer a necessidade, se fosse esse o desejo de Deus.

    O lder verdadeiro se destaca pela fidelidade diligente em meio a uma tarefa. Essa fidelidade mais do que inclinao passiva. Ela demonstrada pela disponibilidade e pelo envolvimento pessoal em atender s necessidades. No h muito benefcio em liderana por procurao.

    Durante o perodo que passei na Marinha fomos freqentemente ensinados que um capito fica com sua companhia e um lder de esquadra com sua esquadra. medida que a batalha se intensifica, sua presena cada vez mais significativa. Os que esta- vam no comando receberam instrues para ficar disponveis, para se envolverem. A indiferena contnua entre os lderes militares enfraquece a moral de seus subordinados.

    Os lderes na obra de Deus fariam bem em lembrar esse princpio. A orao fundamental. Mas no a orao terica. A orao que realiza o trabalho tem convico: Estou disponvel, Senhor preparado e disposto.

    O S BENEFCIOS DA ORAO

    O primeiro captulo de Neemias uma mescla de orao e ao. Todos os que lideram devem dar prioridade orao. Por que a orao to importante? Estas so as quatro razes mais resumidas que conheo.

  • 3 4 L id e r a n a em T e m p o s d e C r ise

    A orao me faz esperar. No posso orar e trabalhar ao mesmo tempo. Tenho de esperar para agir at que termine de orar. A orao me fora a entregar a situao a Deus; ela me faz esperar.

    Segundo, a orao ilumina minha viso. O sul da Califrnia, por estar localizado na costa, tem sempre um problema de clima pela manh, at que o sol ilumine atravs da neblina matinal. A orao faz isso. Quando voc enfrenta uma situao, ela nevoenta? A orao vai iluminar atravs da nuvem. Sua viso vai melhorar de modo que voc poder ver atravs dos olhos de Deus.

    Terceiro, a orao acalma o corao. No posso preocupar-me e orar ao mesmo tempo. Esses atos se excluem mutuamente. A orao me acalma. Ela substitui a ansiedade pela serenidade. Os joelhos no batem um no outro quando nos ajoelhamos!

    Quarto, a orao ativa minha f. Depois de orar, fico mais inclinado a confiar em Deus. E como sou impertinente, negativo e crtico quando no oro! A orao incendeia a f.

    No encha a margem de sua Bblia com palavras e pensamentos sobre a maneira como um lder ora. No termine com apenas uma teologia estril de orao. Ore! A orao foi o primeiro e principal passo que Neemias deu em sua jornada para a liderana efetiva.

    Encontrou rios que julga intransponveis?

    Encontrou montanhas que no consegue percorrer?Deus se especializa nas coisas impossveis,Ele faz aquilo que ningum pode fazer.2

    O Senhor o Especialista de que precisamos para essas experincias inconcebveis e impossveis. Ele se agrada em realizar aquilo que no nos possvel fazer. Porm, aguarda nosso pedido. Fica espera de nossa solicitao. Neemias pediu rapidamente ajuda. Sua posio favorita quando enfrentava problemas era de joelhos.

    E a sua?

  • Terceiro Captulo

    P rep arativo s p a ra u m a T arefa D ifc il

    Algumas reas da vida, em que vivemos ou trabalhamos, no vm com um superior pronto - um chefe ou uma figura de autoridade. Estudantes, professores, executivos, vendedores, pilotos, treinadores, cozinheiros ou cientistas, todos tm um superior imediato cuja presena controla e afeta significativamente a vida. nossa tarefa desenvolver as qualidades de liderana que brotam em nosso ntimo enquanto ainda prestamos contas a esses superiores em nossa esfera individual de influncia. Isso no fcil! Os lderes so geralmente melhores em dirigir do que em ser dirigidos.

    A pergunta permanece: Quando essa hora de confronto chega entre chefe e empregado, pai e filho, treinador e jogador, professor e aluno , como lidamos com ela? Essa pergunta torna-se cada vez mais complexa quando o superior insensvel ou indiferente s coisas espirituais.

    Hudson Taylor disse certa ocasio: E possvel fazer os homens se voltarem para Deus apenas pela f . Como lder, voc vai encontrar situaes em que as autoridades sobre voc esto alm de sua possibilidade de mud-las. A mensagem de Deus para voc nesse ponto a orao.

  • 3 6 L id e r a n a em T e m p o s d e C rise

    Provrbios 21 interessante por duas razes. Primeiro, um provrbio comparativo, em que uma coisa comparada com outra. A maioria dos provrbios termina com a comparao sem um fechamento, mas este chega a uma concluso do que pode ser chamado parte declarativa do provrbio. A concluso do provrbio um princpio eterno, mas vejamos primeiro a comparao.

    U m p r o v r b io v i g o r o s o

    Como ribeiros de guas assim o corao do rei na mo do S e n h o r . A sentena hebraica comea com a palavra ribeiros, referindo-se aos pequenos canais de irrigao que correm de um reservatrio principal para as regies planas, secas, que precisam encher-se de gua. Como canais de irrigao transportando gua o corao do rei na mo de Jeov, diz o original. Mas o que esse provrbio nos diz sobre nossos superiores? O autor est dizendo que o corao que exprime e comunica decises e atitudes est na mo do Senhor. Ou seja, Deus soberano.

    Veja agora na ltima parte do provrbio, a declarao: Este [Jeov], segundo o seu querer, o inclina.

    O Senhor tem na mo o corao de um rei. (No importa se o rei tem f ou no.) Como o Senhor tem na mo o corao do rei, ele literalmente o dirige para onde quer. Em resumo, o versculo poderia ter esta leitura: Como canais de irrigao transportando gua, assim o corao do rei na mo de Jeov. Ele o faz curvar-se e inclinar-se na direo que lhe agrada.

    O que se aplica ao rei tambm se aplica a seu superior! Para compreender seu chefe, voc precisa familiarizar-se com o mtodo como Deus opera; pois o Senhor tem o corao de seu superior na mo. Faa uma pausa e grave esse pensamento na mente.

    U m c h e f e q u e n o s a i d o l u g a r

    Vamos ver como a histria de Neemias ilustra muito bem a verdade revelada em Provrbios 21:1. Neemias trabalhava para um homem

  • P repara tiv o s para u m a T a refa D ifc il 3 7

    que era o rei da Prsia. H um ditado que diz: No tente mudar isso. como a lei dos medos e persas, ou seja, no passvel de mudana! Artaxerxes, rei dos medos e persas, tinha reputao de inflexvel. Neemias ocupava uma posio de influncia, pois participava da intimidade do rei. Mas seu corao no estava na Prsia, estava em Jerusalm. Ele queria voltar sua amada cidade e recons- (ruir aqueles muros, mas no podia simplesmente deixar o trabalho. Deus teria de operar no corao do rei para que ele se mostrasse receptivo ao pedido pessoal de seu copeiro.

    Neemias buscou o Senhor em orao por saber que esse era o nico meio de mudar o corao do soberano. Ele orou intensamente: Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos orao do teu servo e dos teus servos que se agradam de temer o teu nome (Ne 1:11). Veja agora o pedido dele: Concede que seja bem sucedido hoje o teu servo e d-lhe merc perante este homem . Neemias, copeiro do rei, disse com efeito: Senhor, peo-te que mudes o corao do rei, que alteres suas atitudes. Muda a situao para que eu possa fazer a tua vontade com a anuncia dele - anuncia do meu superior. Ele no correu impetuosamente para Jerusalm, mas colocou seu problema diante de Deus.

    A ESPERA ESSENCIALO que aconteceu depois de Neemias ter orado ao Senhor? Nada! Pelo menos logo em seguida. A histria de Neemias teve incio no ms de quisleu (cf. Ne 1:1) e termina no ms de nis (Ne 2:1). Quisleu dezembro; nis abril. Nada aconteceu durante quatro meses.

    Voc j passou por essa decepcionante experincia? Talvez tenha ouvido o pregador dizer em algum domingo: Ore a Deus, entregue a ele sua situao. Ento, voc foi para casa e orou sobre um problema frustrante, terminando com a orao favorita da maioria das pessoas: Senhor, d-me pacincia-AGORA!. Vem a segunda-feira e nada muda; pior que isso, um ms decorre e nada mudou. Senhor, ests acordado? Ouviste o que pedi? - voc pergunta. Outro ms se passa e depois outro. Essa foi a experincia de Neemias.

  • 3 8 L id er a n a f.m T e m p o s df. C rise

    O guerreiro da orao aprende rapidamente a ter pacincia para esperar. Era justamente o que Neemias estava fazendo esperando. No dirio que escreveu, nada foi registrado nesses quatro meses porque nada aconteceu. Ele esperou. No havia um brilho visvel de esperana, nenhuma modificao. Ele permaneceu espera, confiando e contando com Deus para tocar o corao de seu superior.

    Veja agora o versculo 1 do captulo 2: No ms de nis, no ano vigsimo do rei Artaxerxes, uma vez posto o vinho diante dele, eu o tomei para oferecer e lho dei; ora, eu nunca antes estivera triste diante dele. A Bblia Viva enfatiza o perodo de espera: Certo dia do ms de abril, quatro meses mais tarde...

    Neemias encontrava-se num ambiente familiar. O rei e a rainha estavam sentados juntos, aps terminar a lauta refeio. O aroma delicioso da comida ainda enchia o aposento, quando Neemias levou-lhes o vinho que apreciavam. Posto o vinho diante dele [...] e lho dei , disse Neemias, acrescentando um detalhe interessante: Ora, eu nunca antes estivera triste diante dele . Voc sabe quando algum quer mostrar que passou longas horas em orao? Olhe para ele. Se quiser mostrar quo grande sua espiritualidade, estar com um olhar superpiedoso, geralmente evidenciado por uma expresso infeliz.

    Neemias no tinha, porm, esse ar sombrio. Durante quatro meses no demonstrou sua tristeza. Incrvel, no ? Se tivssemos de passar trs ou quatro horas de joelhos, ns nos levantaramos com uma cara que revelaria a todos que estivemos orando seriamente a respeito de algo. Neemias entregara seu fardo ao Senhor, dizendo: Senhor, peo que me dirijas, no teu tempo. Vou descansar em ti. Assim, ele pde registrar fielmente: Eu nunca antes estivera triste diante dele .

    Quatro meses podem parecer, porm, muito tempo para esperar algum sinal de resposta do Senhor. Todos tm um limite. Neemias chegara a um ponto em que comeava a se perguntar: Ser que vai acontecer um dia?. Talvez aquela fosse sua segunda-feira negra, porque estava muito triste quando serviu o casal real naquele dia.

  • P repara tiv o s para u m a T arefa D if ic ii. 3 9

    C) rei lhe perguntou: Por que est triste o teu rosto, se no ests doente? Tem de ser tristeza do corao. Ento, temi sobremaneira (v. 2).

    Gosto da honestidade de Neemias. Muitos lderes no admitem mais a fraqueza humana. Nem Neemias. Ele disse com honestidade: Quando o rei falou comigo, tive medo. No importa quanto voc ascenda, importante deixar transparecer as falhas em sua vida. Em vez de escond-las, admita que elas existem!

    Neemias tinha um bom motivo para estar com medo. Quando se notava que um servo estava triste ou melanclico na presena do rei, normalmente ele era morto por tirar-lhe a alegria . Leia os versculos 3 e 4 e lembre-se dos sentimentos de Neemias.

    E lhe respondi: viva o rei para sempre! Como no me estaria triste o rosto se a cidade, onde esto os sepulcros de meus pais, est assolada e tem as portas consumidas pelo fogo?

    Disse-me o rei: Que me pedes agora! [Este era o momento esperado por Neemias! Deus abrira a porta.] Ento, orei ao Deus dos cus.

    Neemias orou ento no mesmo instante, pedindo sabedoria ao Senhor na escolha de palavras para expressar seu desejo ao rei.

    Voc j teve uma orao respondida? Orou e esperou, orou e esperou, e finalmente a porta se abriu. Durante um breve momento voc fica parado, quase incapaz de crer na realidade da resposta. Sua mente avana rapidamente enquanto busca a orientao do Senhor: Deus, este um momento to importante. Ajuda-me a dar esses passos com muito cuidado .

    Neemias estava exatamente nessa situao crtica na histria. Deus abrira completamente a porta.

    Que me pedes agora? - perguntou Artaxerxes a Neemias. O corao do rei estava na mo de Jeov. Deus ajustara os pensamentos do rei para que ficasse receptivo aos desejos do servo. O que voc quer, Neemias? Qual o motivo de sua tristeza?

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    Neemias respondeu (v. 5): Se do agrado do rei, e se o teu servo acha merc em tua presena, peo-te que me envies a Jud, cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique. Essa foi a resposta de Neemias, o pedido dele. Ele buscara ajuda do Senhor para mudar o corao do rei. Esperara pacientemente durante meses pela resposta do Senhor, e agora sua petio fora concedida. Ele revelara seu desejo.

    Neemias abriu o corao diante de seu chefe e esperou pela reao dele. No demorou a chegar. Neemias escreveu: Ento, o rei, estando a rainha assentada junto dele, me disse...

    E nos perguntamos; por que Neemias, deu-se ao trabalho de mencionar a presena da rainha? Isso faz mesmo a gente pensar, no ? A palavra em hebraico que foi traduzida para rainha aqui significa na verdade amigo ntimo, contato ou consorte. A rainha talvez se inclinasse para o marido e sussurrasse alguma coisa. possvel que ele tenha falado primeiro com a esposa, e ela tenha dado o empur- rozinho necessrio ao rei. Seja l o que aconteceu, a resposta dele foi: Quanto durar a tua ausncia? Quando voltars? . O final do versculo diz: Marquei certo prazo.

    Isso nos conta que o rei no queria que Neemias ficasse afastado. Ele era competente como copeiro. Apesar de sua preocupao com Jerusalm, a atitude de Neemias no trabalho era positiva. Ele mostrou-se um empregado diligente. E isso, meu amigo, uma jia rara! Quando o corao est em outro lugar, realmente difcil realizar a tarefa nossa frente. No entanto, durante quatro meses, Neemias executara fielmente seu trabalho e o rei no pensara ento: Estive espera de uma desculpa para livrar-me dele. Esta a minha oportunidade. V para Jerusalm, Neemias! . Pelo contrrio, ele perguntou: Quando voltars?

    Veja a estupenda resposta de Neemias: Marquei certo prazo . Excelente! Estou cansado de ver pessoas que chamam de f o fato de no terem planos para contar. Voc j ouviu algum dizer: No, no vamos esquentar a cabea com isso. Vamos continuar pela f. Deus nos guiar. O homem de negcios perspicaz diz: Antes de

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    voc chegar metade do caminho, vai ter de voltar para pegar mais dinheiro. A presena da f no exclui a organizao.

    D e u s h o n r a u m p l a n o

    Marquei certo prazo.

    Voc sabia que Deus honra a ordem e a organizao? Voc pode imaginar o que aconteceu na mente de Neemias, para que ele respondesse de imediato ao rei? Neemias tinha um plano. Ele fez mais do que apenas orar durante quatro meses: ele planejou. Isso, em si, um exerccio da f. Ele tinha tanta certeza de que Deus o deixaria ir que chegou a preparar um programa no caso de o rei perguntar quanto tempo ficaria fora!

    Provrbios 16:9 diz: O corao do homem traa o seu caminho, mas o S e n h o r lhe dirige os passos.

    Ir pela f no significa que voc v sair de maneira desordenada ou irrefletida. Voc faz um projeto e calcula o custo financeiro. (No captulo 7 trato dessa questo com mais detalhes.)

    Fico preocupado em ver que tantas pessoas que assumem um projeto no trabalho do Senhor entram sem um planejamento cuidadoso. Elas comeam abruptamente, no meditam sobre questes como: Aonde isto vai nos levar? Como posso expressar isto em termos claros, indiscutveis, concretos? Quais so os custos, os objetivos, as possveis armadilhas? Que processo deve ser usado? Eu poderia citar vrios indivduos ou famlias que entraram no ministrio com entusiasmo, mas depois desistiram por no terem considerado o custo. As pessoas mais desiludidas que conheo so aquelas que esto pagando o preo de no considerar todos os aspectos de seus planos no trabalho do Senhor.

    Planejar realmente uma tarefa difcil. Pensar no to emocionante quanto se envolver, mas sem planejamento a confuso inevitvel. Os bons lderes fazem a lio de casa.

    Alguns podem ler Neemias 2:7, 8 e julgar que ele presunoso. No, ele prtico. Quando o rei Artaxerxes disse: Est bem,

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    voc pode ir , Neemias prosseguiu: Espere um pouco, rei, antes de ir preciso falar algumas coisas .

    Se ao rei parece bem [gosto da maneira amvel como ele comea], dem-se-me cartas para os governadores dalm do Eufrates [os governadores eram as pessoas que tentariam deter o plano de Neemias] [...] como tambm cartaparaAsafe, guarda das matas do rei, para que me d madeira para as vigas das portas da cidadela do templo, para os muros da cidade e para a casa em que deverei alojar-me.

    N eem ia s 2 :7 , 8

    O que ele est pedindo? Pede madeira para fazer uma casa onde possa morar. Essa uma mente prtica em ao. Repare bem, durante os quatro meses de espera, Neemias ficou planejando.

    Os soldados na Independncia dos Estados Unidos costumavam dizer: Confie em Deus, porm mantenha seca a sua plvora . Ore a Deus, mas faa seus planos, reflita sobre os obstculos.

    Muitos que participam da obra de Deus so mopes. Imagine a conversa de Neemias com o primeiro soldado fora da provncia de Sus, se no tivesse feito planos de antemo.

    Aonde voc vai?

    Bem, tenho f de chegar a Jerusalm.

    Onde esto suas cartas?

    No tenho cartas.

    Volte ento e pegue as cartas.

    Ele teria de voltar e comear tudo de novo.

    Neemias era diferente da maioria dos obreiros da f . Voc no consegue imagin-lo ao sair de Sus e se aproximar do primeiro oficial?

    Aqui est a carta do rei.

    Quem escreveu?

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    Artaxerxes. Veja... bem aqui.

    Tudo bem! Pode passar.

    A seguir, ele entrou no territrio de Asafe, que provavelmente deve ter sido um pensador negativo e po-duro.

    O que voc quer?

    Um pouco de madeira.

    De jeito algum! S com requisio.

    Artaxerxes consentiu em que eu tivesse toda a madeira que fosse necessria.

    Estou certo de que Asafe verificou a requisio!

    Esse um exemplo de planejamento perfeito. Deus honra esse tipo de pensamento.

    A reao positiva do rei Artaxerxes est no versculo 6: Aprouve ao rei enviar-me... Artaxerxes teve de envi-lo porque Deus estava do lado de Neemias. Foi s uma questo de tempo. Artaxerxes disse ento: Est bem, voc pode ir . Mas ele parou a? O versculo 8 termina com a sentena: E o rei mas deu... O rei deu as cartas - cartes oficiais para que ele pudesse passar.

    Note como Neemias pensa sobre ter obtido uma reao positiva do rei: E o rei mas deu, porque a boa mo do meu Deus era comigo (v. 8). Durante quatro meses, na quietude de seu retiro de orao, Neemias havia fielmente bombardeado o trono de Deus: Senhor, envia-me para Jerusalm. Muda o corao do rei para que eu possa ir. Acende a luz verde! Neemias no tinha ento dvidas sobre a razo dessa reviravolta nos acontecimentos.

    Quando o Senhor tem sua mo sobre os lderes indicados, as pessoas so tocadas a reagir como se atingidas por uma ventania. A mo do Senhor estava sobre Neemias e ele partiu cheio de entusiasmo.

    U m a l o n g a jo r n a d a

    Vejamos nosso personagem a caminho. Lemos no versculo 9: Ento, fui aos governadores dalm do Eufrates... L estavam eles,

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    exatamente como esperava. Neemias deu-lhes as cartas do rei. O rei no s enviou cartas, como providenciou para que Neemias tivesse muito mais do que havia solicitado: ...o rei tinha enviado comigo oficiais do exrcito e cavaleiros (v. 9).

    O rei ofereceu-se para fazer mais do que Neemias imaginara. No enviarei s as cartas. No enviarei s uma permisso para que voc use minha madeira. Enviarei tambm alguns cavaleiros e soldados para acompanh-lo e dar-lhe proteo durante a viagem.

    O rei teve uma reao graciosa porque seu corao estava na mo de Jeov. Deus o direcionava para onde quisesse.

    Neemias estava a caminho de seu alvo, mas no versculo 10 descobrimos que ele teve de enfrentar homens perversos, os mesmos com os quais teria de lutar vrias vezes durante o processo. Preste ateno neles.

    Disto ficaram sabendo Sambalate, o horonita, eTobias, o servo amonita; e muito lhes desagradou que algum viesse a procurar o bem dos filhos de Israel (v. 10).

    Neemias encontrou sua primeira oposio. Quando andamos pela f, sempre deparamos com Sambalates e Tobias .

    Se voc j esteve empenhado em algum projeto que exigisse trabalho voluntrio, deve ter encontrado pessoas que no se cansam de citar a lei de Murphy: Alguma coisa errada vai acontecer; isso no vai funcionar . Muitos homens e mulheres vivem segundo esse princpio. Toda a sua vida uma enorme negativa. Tm um esprito crtico que os sufoca. Sempre que um desafio se apresenta, respondem: No d para fazer! Quando Sambalate e Tobias ouviram falar da chegada de Neemias, a reao deles foi imediata: Impossvel! Alm da atitude negativa, os dois tinham investimentos com os cidados de Jerusalm, e o plano de Neemias certamente afetaria o bolso deles. Comearam ento a fazer planos para se oporem ao arranjo de Deus.

    Quando voc anda pela f e busca liderar, vai encontrar a hostilidade daqueles que andam pelo que vem. Esses indivduos so

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    censurados pela vida de f. So especialmente criticados por no terem sua viso. Sambalate e Tobias ouviram falar dos planos ambiciosos de Neemias para reconstruir os muros da cidade e ficaram perturbados. O fato de sofrer crticas e oposio no significa necessariamente que voc esteja fora da vontade de Deus. Pelo contrrio, isso pode reforar o fato de que voc est bem no centro do plano dele.

    Como j vimos no captulo 1, foi aqui que Neemias mudou de posto. Ele no era mais o copeiro, mas sim o empreiteiro o mestre- de-obras. Cheguei a Jerusalm, onde estive trs dias (2:11).

    O que Neemias estava fazendo? No sabemos. Mas, a julgar pelo comportamento costumeiro de Neemias, ele estava provavelmente diante de Deus buscando nova direo.

    Q u a t r o p r in c p io s d a p r e p a r a o

    Neemias estava se preparando para uma tarefa difcil, mas olhava na direo certa. O relato de seus preparativos revela o que considero os quatro eternos princpios para iniciar o caminho de Deus.

    1. M udar o corao especialidade de Deus. No tente - repito no tente mudar as pessoas para que se adaptem a suas especificaes. No tente manipular, jogar, planejar esquemas, trapacear ou enganar as pessoas. Em vez disso, fale a Deus sobre elas! Talvez voc tenha um cnjuge genioso, que hoje lhe contou que no pretende mudar! Deixe que Deus lide com a teimosia de seu parceiro.

    Talvez voc esteja trabalhando com algum injusto e inflexvel, simplesmente fora da realidade. Como voc poder trabalhar assim? Voc tentou todas as maneiras existentes sem sucesso. Converse com Deus a respeito dele.

    Talvez voc conhea, no trabalho ou na escola, pessoas praticamente impossveis! Deus diz: Deixe-as comigo. Vou mud-las de uma forma como voc nunca imaginou. Mas no vou fazer essa mudana de acordo com o seu tempo, mas com o meu. Ento, nesse meio tempo, relaxe.

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    Enquanto isso, no tenha um ar to espiritual! Quando seu cnjuge olha para voc e pergunta: O que voc est fazendo? - no diga para ele, ou ela, com um tom meloso e olhos baixos: Estou orando por voc, meu amor, para que Deus mude sua vida.

    Isso terrvel. Descanse; deixe que Deus cuide de tudo. Quando vier a mudana, voc j sabe de quem toda a glria.

    2. Orar e esperar andam de mos dadas. Voc nunca ter orado realmente enquanto no tiver aprendido a esperar e esperar com alvio. Abandone-se - permita que Deus mude o corao do rei. difcil; contrrio nossa natureza humana. Mas agente firme. Desista de suas prprias solues e arrisque-se em deixar que Deus tome o controle.

    3. F no sinnimo de desordem nem substituto de planejamento cuidadoso. As pessoas de f precisam de uma mente organizada. Os lderes como Neemias estudam o problema sua frente. Embora suas circunstncias possam permitir que s dem meio passo agora, pode estar certo de que eles j decidiram o que vo fazer nos prximos doze passos. Por qu? Porque a f gera organizao, as duas andam juntas.

    H alguns anos tive a oportunidade de trabalhar com homens de negcios, e foi uma de minhas melhores experincias de aprendizado. Por mais de trs anos, eu me reuni regularmente com um grupo de vendedores de uma grande empresa. Durante esses encontros, aprendi a pensar muito mais como pensam os empresrios e aprendi tambm a admir-los.

    Quase tudo que apresentado aos homens de negcios comunicado em termos de fatos prticos. Esses fatos formam a base sobre a qual novas discusses so construdas. Aprendi com esses empresrios cristos dedicados que Deus honra o pensamento organizado. Ele no aprecia quando esperamos que nos poupe a dor do fracasso, quando nem sequer consideramos o custo do sucesso. E claro que ele no quer que falhemos naquilo para que nos chama, mas se agrada quando planejamos.

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    4. Deve-se esperar uma oposio quando a vontade de Deus est sendo realizada. Quando uma pessoa sabe que est seguindo a vontade de Deus, raro no ter pelo menos algum que se oponha a ela. Dificilmente diferente.

    Voc no gosta desse Neemias? Ele nos encontra justamente onde vivemos. Quando enfrentou problemas financeiros, pediu cartas ao rei. Quando teve medo, disse: Senhor, d-me as palavras a serem ditas . Neemias era um homem de f, todavia equilibrou a f com realismo. No tinha em mos um plano detalhado do jogo, mas refletiu sobre as dificuldades esperadas. Era um homem de coragem indmita. Pense em como ele deixou tudo que tinha em Sus, pegou a montaria e partiu - uma viagem de 1.280 km. Que grande experincia! Mas como era ameaadora - como era arriscada do ponto de vista humano!

    Neemias havia demonstrado quatro pr-requisitos necessrios queles que desejassem descobrir e desenvolver seu potencial e habilidade de liderana. Ele (1) compreendeu suas limitaes - s Deus pode mudar o corao do homem; (2) voltou-se para Deus orando e esperando; (3) organizou um plano de ao vivel (enquanto esperava a resposta do Senhor); e (4) avanou, apesar da oposio sonora, para executar o plano - uma vez que o caminho foi aberto por Deus.

    Um plano importante; esperar que Deus opere essencial; mas envolver as pessoas fundamental. No prximo captulo vamos passar para a fase onde a teoria da liderana encontra a prtica da realidade toda a questo de estimular e motivar as pessoas a arregaar as mangas e realizar o trabalho.

  • Q uarto Captulo

    S a in d o do Ponto M orto

    Estudar a histria de Neemias um pouco como ouvir um concerto. Assim como o concerto musical apresenta um solista, este concerto literrio apresenta Neemias. No era Neemias quem conduzia, mas Deus era o Regente. O solista, no entanto, tocava seu instrumento com excelente tcnica.

    O concerto apresenta um tema ou melodia principal. O principal tema do Livro de Neemias liderana. H outras partes, como planejamento, orao, oposio e governo; mas, apesar dos acompanhamentos, o tema bsico liderana repete-se vrias vezes.

    Todo concerto apresenta pelo menos trs movimentos principais, e com freqncia um tocado em contraste com os outros. Um deles pode ser baixo e suave; o seguinte, apaixonado e emocionante; o ltimo pode ter um toque de todos os outros, fechando com um crescendo apotetico.

    O mesmo se aplica histria da liderana de Neemias. O primeiro movimento ocorre do captulo 1 ao 2, versculo 10, e nele vemos Neemias apresentando-se como copeiro do rei. A partir do versculo 11 do captulo 2 at o fim do captulo 6, surge o segundo movimento avivador de Neemias como construtor. O movimento final do livro comea quando chegamos ao captulo 7, prosseguindo,

  • 5 0 L id e r a n a em T e m p o s d e C r ise

    em um grande crescendo, at o fim do livro. Nesses cinco captulos finais vemos Neemias como governador.

    Ainda mantendo a analogia, eu diria que em nenhum outro movimento o solista mostrou tanta tcnica ou brilhantismo como no segundo. Quando Neemias se torna um construtor, decidido a levantar o muro ao redor de Jerusalm, sinto que ele se tornou um dos grandes lderes da histria. Todavia, seu papel como construtor no comeou com muita eloqncia. O primeiro movimento termina ao atingir um clmax tonitruante no versculo 11. E quase possvel ouvir o ribombar dos instrumentos de percusso, o clangor das trombetas e a harmonia do movimento entre as cordas quando Neemias proclama: Cheguei a Jerusalm.

    neste ponto que Neemias se comporta de maneira muito diferente do que se espera. O leitor apressado pensaria que Neemias, chegando ao destino, seria impelido por uma compulso ardente de pegar a colher de pedreiro, empregar ajudantes e pendurar o prumo; em suma, fazer algum comear o muro bem depressa! Mas ele no fez isso. Na verdade, no fez nada. O segundo movimento do concerto comea na ltima parte do versculo 11, com a declarao de Neemias: onde estive trs dias!

    Por que ele no iniciou imediatamente o trabalho? Porque no sabia o que Deus tinha determinado para ele. Para falar a verdade, Deus estava silencioso.

    No sei se isso aconteceu durante esses trs dias ou logo depois deles, mas veja o que se seguiu: Ento, noite me levantei, e uns poucos homens, comigo; no declarei a ningum... (v. 12). No versculo 16, Neemias informa: No sabiam os magistrados aonde eu fora nem o que fazia, pois at aqui no havia eu declarado coisa alguma, nem aos judeus, nem aos sacerdotes - nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos mais que faziam a obra.

    esse lado da liderana que o observador indiferente ou mesmo os obreiros nunca enxergam. As pessoas tm a falsa idia de que o lder tem uma vida estimulante, sob holofotes, banhada pelos aplausos extticos contnuos do pblico. Essa imagem de um lder

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    bem-sucedido promovida em todo o pas pela exposio na T V e na imprensa, ou mediante canais de comunicao interna numa empresa. Deus, porm, d incio ao segundo papel de Neemias, mostrando-nos que os lderes bem-sucedidos sabem como se conduzir na solido.

    E no silncio que o indivduo garante o respeito do pblico. Neste exato momento, como nao, estamos sofrendo com a poltica. Para alguns americanos, a primeira vez que ficamos pensando no que realmente acontece no Salo Oval. Fomos criados para crer em nossos lderes nacionais. Detestamos levantar suspeitas porque ansiamos por acreditar nas aes ocultas de nossos lderes. Infelizmente, esse sentimento de confiana indiscutvel desapareceu.

    A n t e s d a a t iv id a d e . .. u m a s o l i t u d e sig n if ic a t iv a

    Se voc pensa que intensa atividade eqivale a espiritualidade, aprenda uma lio com Neemias. No na presso e correria da atividade que ganhamos o respeito dos que nos rodeiam: o que fazemos quando estamos sozinhos. Algum escreveu com sabedoria: Carter o que voc quando ningum est olhando.

    O que estava acontecendo durante os dias silenciosos de Neemias? Lemos em 2:12: No declarei a ningum o que o meu Deus me pusera no corao. Nessa frase curta e aparentemente insignificante, h pginas de conhecimento. No perodo de silncio no houvera atividade; Deus estava colocando no corao de Neemias informao da mais alta prioridade.

    Se voc um professor de escola dominical ou pastor, ministra a outros ensinando a Palavra de Deus. Mas voc estuda a Palavra? Toma nota especial do que Deus escreveu?

    De vez em quando, um jovem interessado em ser pastor me pergunta sobre o segredo de um ministrio bem-sucedido, como se houvesse, por trs das cenas, alguma manobra sagaz envolvida nisso. Minha resposta geralmente direta: faa sua lio de casa. Seja o que deve ser quando ningum est olhando. Faa o trabalho da melhor

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    forma possvel, simplesmente pela alegria de dar glria a Deus no processo. E isso exige tempo nas Escrituras!

    Esse foi um dos principais segredos do sucesso de Neemias. Ele era fiel por trs das cenas. Deu ouvidos ao Senhor.

    Enquanto buscava a mente de Deus, Neemias recebeu uma orientao objetiva.

    De noite, sa pela Porta do Vale, para a banda da Fonte doDrago [...] e contemplei os muros [note isso] [...] Passei Porta da Fonte...

    N eem ia s 2 :1 3 , 1 4

    Ele desceu pela parte sul de Jerusalm e ao voltar subiu pelo lado oeste at a Porta da Fonte. Quando Neemias chegou ao Aude do Rei, no havia passagem para o animal que montava. Ele sem dvida desmontou e andou frente da montaria. Escreveu ento: Subi noite pelo ribeiro e contemplei ainda os muros(v. 15). Neemias fala duas vezes sobre inspecionar os danos (w. 13-15). O termo hebraico para contemplar (inspecionar) significa observar algo cuidadosamente. E um termo mdico para examinar a extenso de um ferimento.

    Neemias fez uma averiguao cuidadosa, conscienciosa, do muro, por um motivo: como lder, era sua obrigao conhecer os detalhes e preparar um plano de ao. Existe, entretanto, uma grande diferena entre ter conhecimento dos detalhes e se perder nesses detalhes. O indivduo que sabe observar - tendo pleno conhecimento dos fatos sem se perder neles - o que est mais preparado para liderar.

    Neemias fez uma cuidadosa investigao dos fatos, desenvolvendo mentalmente um plano para todo o processo de construo e determinando o pessoal e os materiais necessrios.

    Enquanto inspecionava as portas, os muros e outras sees da cidade, Neemias pode ter pensado: Vejamos. Quem poderia fazer melhor este trabalho? Aquela parte necessitar de um arteso.

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    A escavao no precisar ser feita por especialistas. Para arrancar o mato e remover os escombros, abrindo passagem, posso contratar qualquer pessoa.

    Em outras palavras, Neemias planejou tudo. Ele sabia que o trabalho deveria ajustar-se ao homem. Toda a base do gigantesco empreendimento estava sendo feita no silncio e na solitude.

    D e p o is d a s o l i t u d e ... f o r t e m o t iv a o

    Neemias cumprira todos os seus deveres e fizera todas as suas investigaes. Por fim, estava preparado para discutir a necessidade de reconstruir os muros da cidade. Estava na hora de sair do ponto morto: Ento, lhes disse... (2:17).

    Por trs dias, Neemias no divulgou seus planos. Depois disso, procurou o conselho da cidade e lhes disse: Estais vendo a misria em que estamos, Jerusalm assolada, e as suas portas, queimadas; vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalm e deixemos de ser oprbrio (v. 17).

    Marquei em minha Bblia trs palavras de suma importncia no versculo 17: estamos, reedifiquemos e deixemos. A fim de motivar a comisso de planejamento da cidade e os provveis empregados ele tinha de identificar-se com a necessidade.

    Imagine o tipo de resposta que receberia se tivesse dito: Vocs esto em maus lenis. Sabem do que precisam? Devem reconstruir os muros. Se precisarem de mim, estarei no escritrio. Afinal de contas, no fui parte do problema. Vocs tm de se virar e fazer o trabalho!

    Quando voc culpa e critica as pessoas, sufoca a motivao. Quando se identifica com o problema, encoraja a motivao.

    Embora Neemias tivesse se identificado com o povo e se preocupasse pessoalmente com a situao, ele no tentou ocultar os fatos negativos. No suplicou ou ameaou; nem foi negativo em sua abordagem. Disse simplesmente: Temos de fazer algo em relao a isso. Vamos reconstruir o muro. Neemias estendeu o convite

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    para reconstruir o muro e deu ao povo uma razo para aceit-lo: Deixemos de ser oprbrio.

    H dois tipos de motivao: motivao extrnseca, que a mais comum, porm usada por um nmero menor de lderes, e motivao intrnseca, que apela ao ntimo do indivduo.

    Vejamos o uso da motivao extrnseca. Voc diz a seu filho:

    Venha, est na hora do banho. Hoje sbado... noite de banho. Vamos ficar limpos.

    A criana responde:

    No quero.

    Voc diz:

    Deixo voc assistir TV se for rpido.

    Esse um exemplo de incentivo externo.

    Quando o filho cresce um pouco mais e comea a ir escola, os pais lhe dizem: Voc vai ganhar um presente sempre que tirar nota boa. Na poca em que o filho entra na faculdade, lhe dizem: Se estudar bastante, vai ganhar um carro. Isso tambm motivao extrnseca. Certas empresas oferecem um bnus de Natal ou uma viagem especial que podem ser obtidos conforme o volume das vendas; ou seja, o incentivo novamente externo.

    A motivao extrnseca apela s nossas atitudes materialistas. Todavia, nem toda motivao externa ou extrnseca errada. Em certas ocasies, ela justamente o que produz resultado, sobretudo com crianas ou com aqueles que precisam ser recompensados por um trabalho bem feito. Mas no a melhor maneira de fazer as pessoas reconhecerem o valor do investimento de sua energia.

    Neemias no prometeu quaisquer incentivos materiais quando se dirigiu s autoridades de Jerusalm. Ele no ofereceu prmios para as famlias que trabalhassem mais depressa ou uma semana no mar Morto para o grupo que fizesse o trabalho mais bonito. No se rebaixou a esse tipo de motivao, embora muitas igrejas o faam. Damos prmios s crianas por levarem amigos igreja, por memorizarem versculos bblicos, ou por no faltarem s aulas da

  • S a in d o d o P o n t o M o r t o 55

    escola dominical. Isso pode funcionar com crianas por algum tempo, mas algo est errado quando precisa de continuidade. A medida que crescemos, a motivao intrnseca deve ter maior apelo. Neemias disse simplesmente: Esto vendo as runas? Estamos em grandes dificuldades. Vamos reconstruir este muro . E o povo respondeu: Vamos!

    Por que o povo reagiu positivamente proposta de Neemias? Como estava sendo liderado por Deus, Neemias conseguiu apelar motivao intrnseca do povo. Ele conseguiu tocar no ponto certo, bem na necessidade deles. No h muitos que possam fazer isso hoje; nunca houve. Mas esses so os melhores lderes.

    Sempre me impressionei com a vida de Winston Churchill. Em seus discursos, no descobri uma s vez em que tivesse empregado motivao extrnseca. Oua suas palavras:

    No tenho nada a oferecer a no ser sangue, suor e lgrimas.

    A vitria a todo custo, a vitria apesar de todo terror, a vitria por mais longa e difcil que seja a estrada; pois, sem vitria no h sobrevivncia.

    No vamos entregar-nos ou fracassar. Vamos at o fim. Lutaremos na Frana, lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos com crescente confiana e fora no ar; defenderemos nossa ilha custe o que custar.

    Lutaremos nas praias, lutaremos em terra, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas montanhas; jamais nos renderemos. 1

    Churchill disse ao presidente dos Estados Unidos em 9 de fevereiro de 1941, durante uma transmisso pelo rdio: Dem-nos as ferramentas e terminaremos o trabalho .2

    Jamais esquecerei o surpreendente discurso de Churchill para um povo temeroso quando se dirigiu Cmara dos Comuns em 30 de dezembro de 1941, com estas palavras:

  • 5 6 L id e r a n a em T e m p o s d e C rise

    Quando adverti [os franceses] de que a Inglaterra continuaria lutando sozinha qualquer que fosse a deciso deles, os generais franceses disseram ao primeiro-ministro da Frana e ao gabinete dividido: Em trs semanas o pescoo da Inglaterra ser torcido como o de uma galinha. De alguma galinha; algum pescoo.3

    Os nazistas nunca torceram o pescoo da Inglaterra. De algum modo, Churchill, um homem pequeno e robusto, colocou-se diante de um microfone e fortaleceu milhares de britnicos com uma motivao intrnseca. Ele apelou para o fervor deles.

    Lembro-me de Davi quando tirou a armadura de Saul e olhou para o rosto daquele gigante feio do outro lado do vale. Ele disse: No h uma causa? Enquanto todos ficaram ali imaginando as dificuldades, Davi gritou: Saiam do caminho! Pegou algumas pedras, e o resto da histria voc j sabe. Davi possua aquela estupenda motivao interior de nunca se render. Eram a mesma fora interior e compromisso comunicados por Neemias:

    Eu lhes declarei como a boa mo do meu Deus estivera comigo [...] Ento, disseram: Disponhamo-nos e edifiquemos. Efortaleceram as mos para a boa obra.

    N eem ia s 2 :1 8

    Um dia algum sugeriu: Se voc quiser de fato verificar a liderana de um indivduo, veja se ele tem seguidores. Foi neste ponto que Neemias emergiu como lder. Seus novos seguidores disseram: Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mos para a boa obra.

    C o m m o t iv a o . .. o p o s i o in e v it v e l

    Note que na mesma hora surge a oposio! Isso nunca falha. H urrp crtica direta ao plano. No momento em que a turma de trabalhadores

  • S a in d o d o P o n t o M o r t o 5 7

    arregaou as mangas, eles encontraram oposio. A lei de Murphy podia ser novamente ouvida: Porm Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesm, o arbio, quando o souberam, zombaram de ns e nos desprezaram (v. 19).

    O termo hebraico para zombaram significa gaguejar, balbuciar, pronunciar palavras de menosprezo. Sambalate eTobias olharam de cima e escarneceram daquele pequeno grupo de judeus, dizendo: Vocs esto loucos. Nunca conseguiro fazer isso. Afinal de contas, esto se rebelando contra o rei, no esto?

    Posso ver Neemias mostrando novamente as cartas que levara! Aqui esto as palavras do rei, gritou ele. Tenho a permisso de Artaxerxes.

    Mas ele fez mais que isso. Fez um pronunciamento claro na hora exata.

    Ento, lhes respondi: O Deus dos cus quem nos dar bom xito; ns, seus servos, nos disporemos e reedificaremos; vs, todavia, no tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalm.

    N eem ia s 2 :2 0

    Neemias sabia que ele e o povo de Jerusalm estavam fazendo a obra de Deus e no daria ouvidos a ningum que se opusesse ao que ele