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1 Língua Portuguesa – Interpretação de textos Vestibular - FUVEST 1. (Fuvest 2013) Não mais, musa, não mais, que a lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Duma austera, apagada e vil tristeza. Luis de Camões. Os Lusíadas. a) Cite uma característica típica e uma característica atípica da poesia épica, presentes na estrofe. Justifique. b) Relacione o conteúdo dessa estrofe com o momento vivido pelo Império Português por volta de 1572, ano da publicação de Os Lusíadas. 2. (Fuvest 2015) Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já deve de andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, o número de corpos que se têm de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. Almeida Garrett, Viagens na minha terra. a) Destas reflexões feitas pelo narrador de Viagens na minha terra, deduz-se que ele tinha em mente um determinado ideal de sociedade. O que caracteriza esse ideal? Explique resumidamente. b) Identifique, em Viagens na minha terra, o tipo social sobre o qual, principalmente, irá recair a crítica presente nas reflexões do narrador, no trecho aqui reproduzido. O que, de acordo com o livro, caracteriza esse tipo social? 3. (Fuvest 2015) Leia o poema de Drummond para responder às questões relativas a dois versos de sua última estrofe. ELEGIA 1938 Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

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Língua Portuguesa – Interpretação de textos

Vestibular - FUVEST 1. (Fuvest 2013) Não mais, musa, não mais, que a lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Duma austera, apagada e vil tristeza. Luis de Camões. Os Lusíadas. a) Cite uma característica típica e uma característica atípica da poesia épica, presentes na

estrofe. Justifique. b) Relacione o conteúdo dessa estrofe com o momento vivido pelo Império Português por volta

de 1572, ano da publicação de Os Lusíadas. 2. (Fuvest 2015) Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? – Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já deve de andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, o número de corpos que se têm de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro – seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. Almeida Garrett, Viagens na minha terra. a) Destas reflexões feitas pelo narrador de Viagens na minha terra, deduz-se que ele tinha em

mente um determinado ideal de sociedade. O que caracteriza esse ideal? Explique resumidamente.

b) Identifique, em Viagens na minha terra, o tipo social sobre o qual, principalmente, irá recair a

crítica presente nas reflexões do narrador, no trecho aqui reproduzido. O que, de acordo com o livro, caracteriza esse tipo social?

3. (Fuvest 2015) Leia o poema de Drummond para responder às questões relativas a dois versos de sua última estrofe. ELEGIA 1938 Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

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Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor. Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan. ANDRADE, Carlos Drummond de, Sentimento do mundo. Considerando-se a “Elegia 1938” no contexto de Sentimento do mundo, explique sucintamente a) a que se refere o eu lírico com a expressão “felicidade coletiva”? b) o que simboliza, para o eu lírico, a “ilha de Manhattan”? 4. (Fuvest 2015) Leia a seguinte mensagem publicitária de uma empresa da área de logística: A gente anda na linha para levar sua empresa mais longe Mudamos o jeito de transportar contêineres no Brasil e Mercosul. Através do modal ferroviário, oferecemos soluções logísticas econômicas, seguras e sustentáveis. a) Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título da mensagem, ao emprego de

expressão com duplo sentido. Indique essa expressão e explique sucintamente. b) Segundo o anúncio, uma das vantagens do produto (transporte ferroviário) nele oferecido é

o fato de esse produto ser “sustentável”. Cite um motivo que justifique tal afirmação. 5. (Fuvest 2015) Leia o seguinte texto jornalístico: PARA PARA Numa de suas recentes críticas internas, a ombudsman desta Folha propôs uma campanha para devolver o acento que a reforma ortográfica roubou do verbo “parar”. Faz todo sentido. O que não faz nenhum sentido é ler “São Paulo para para ver o Corinthians jogar”. Pior ainda que ler é ter de escrever. Juca Kfouri, Folha de S. Paulo, 22/09/2014. Adaptado. a) No primeiro período do texto, existe alguma palavra cujo emprego conota a opinião do

articulista sobre a reforma ortográfica? Justifique sua resposta. b) Para evitar o “para para” que desagradou ao jornalista, pode-se reescrever a frase “São

Paulo para para ver o Corinthians jogar”, substituindo a preposição que nela ocorre por outra de igual valor sintático-semântico ou alterando a ordem dos termos que a compõem. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.

6. (Fuvest 2015) Limite inferior Aprendi muito com o economista-filósofo Roberto de Oliveira Campos, particularmente quando tive a honra e a oportunidade de conviver com ele durante anos na Câmara dos Deputados. Sentávamos juntos e assistíamos aos mesmos discursos, alguns muito bons e sábios. Frequentemente, diante de alguns incontroláveis colegas que exerciam uma oratória de alta visibilidade, com os dois braços agitados tentando encontrar uma ideia, Roberto me

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surpreendia com a afirmação: “Delfim, acabo de demonstrar um teorema”. E sacava uma mordaz conclusão crítica contra o incauto orador. Um belo dia, um falante e conhecido deputado ensurdeceu o plenário com uma gritaria que entupiu os ouvidos dos colegas. A quantidade de sandices ditas no longo discurso com o ar de quem estava inventando o mundo fez Roberto reagir com incontida indignação. Soltou de supetão: “Delfim, construí um axioma, uma afirmação preliminar que deve ser aceita pela fé, sem exigir prova: a ignorância não tem limite inferior”. E completou, com a perversidade de sua imensa inteligência: “Com ele poderemos construir mundos maravilhosos”. NETTO, Antonio Delfim, Folha de S. Paulo, 17/09/2014. Adaptado. a) Explique por que o axioma formulado por Roberto de Oliveira Campos tornaria possível

“construir mundos maravilhosos”. b) Identifique o trecho do texto que explica o emprego da expressão “oratória de alta

visibilidade”. 7. (Fuvest 2015) Leia o seguinte texto: Mal traçadas Canadá planeja extinguir os carteiros No mundo inteiro, os serviços de correio tentam se adaptar à disseminação do e-mail, do Facebook, do SMS e do Skype, que golpearam quase até a morte os hábitos tradicionais de correspondência, mas em nenhum lugar se chegou tão longe quanto no Canadá. Em dezembro, o Canada Post anunciou nada menos que a extinção do carteiro tal como o conhecemos. A meta é acabar com o andarilho uniformizado que, faça chuva ou faça sol, distribui envelopes de porta em porta e, às vezes, até conhece os rostos por trás dos nomes dos destinatários. Os adultos de amanhã se lembrarão dele tanto quanto os de hoje se recordam dos leiteiros, profetizou o blog de assuntos metropolitanos do jornal Toronto Star, conformado à marcha inelutável da modernidade tecnológica. Claudia Antunes, http://revistapiaui.estadao.com.br. Adaptado. a) Qual é a relação de sentido existente entre o título “Mal traçadas” e o assunto do texto? b) Sem alterar o sentido, reescreva o trecho “conformado à marcha inelutável da modernidade

tecnológica”, substituindo a palavra “conformado” por um sinônimo e o adjetivo “inelutável” pelo verbo lutar, fazendo as modificações necessárias. Exemplo: “marcha inevitável da modernidade tecnológica” = marcha da modernidade tecnológica que não se pode evitar.

8. (Fuvest 2015) Examine a seguinte matéria jornalística: Sem-teto usa topo de pontos de ônibus em SP como cama Às 9h desta segunda (17), ninguém dormia no ponto de ônibus da rua Augusta com a Caio Prado. Ninguém a não ser João Paulo Silva, 42, que chegava à oitava hora de sono em cima da parada de coletivos.

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“Eu sempre durmo em cima desses pontos novos. É gostoso. O teto tem um vidro e uma tela embaixo, então não dá medo de que quebre. É só colocar um cobertor embaixo, pra ficar menos duro, e ninguém te incomoda”, disse Silva depois de acordar e descer da estrutura. No dia, entretanto, ele estava sem a coberta, “por causa do calor de matar”. Por não ter trabalho em local fixo (“Cato lata, ajudo numa empresa de carreto. Faço o que dá”), ele varia o local de pouso. “Às vezes é aqui no centro, já dormi em Pinheiros e até em Santana. Mas é sempre nos pontos, porque eu não vou dormir na rua”. www1.folha.uol.com.br, 19/03/2014. Adaptado. a) Qual é o efeito de sentido produzido pela associação dos elementos visuais e verbais

presentes na imagem acima? Explique. b) O vocábulo “pra”, presente nas declarações atribuídas a João Paulo Silva, é próprio da

língua falada corrente e informal. Cite mais dois exemplos de elementos linguísticos com essa mesma característica, também presentes nessas declarações.

9. (Fuvest 2015) A uma religiosidade de superfície, menos atenta ao sentido íntimo das cerimônias do que ao colorido e à pompa exterior, quase carnal em seu apego ao concreto (...); transigente e, por isso mesmo, pronta a acordos, ninguém pediria, certamente, que se elevasse a produzir qualquer moral social poderosa. Religiosidade que se perdia e se confundia num mundo sem forma e que, por isso mesmo, não tinha forças para lhe impor sua ordem. Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil. Adaptado. Tendo em vista estas reflexões de Sérgio Buarque de Holanda a respeito do sentido da religião na formação do Brasil, responda ao que se pede. a) Essas reflexões se aplicam à sociedade representada nas Memórias de um sargento de

milícias, de Manuel Antônio de Almeida? Justifique resumidamente. b) Os juízos aqui expressos por Sérgio Buarque de Holanda encontram exemplificação em

Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, especialmente na parte em que se narra o período de formação do menino Brás Cubas? Justifique sucintamente.

10. (Fuvest 2015) Responda ao que se pede. a) Qual é a relação entre o “sistema de filosofia” do “Humanitismo”, tal como figurado nas

Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e as correntes de pensamento filosófico e científico presentes no contexto histórico-cultural em que essa obra foi escrita? Explique resumidamente.

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b) De que maneira, em O cortiço, de Aluísio Azevedo, são encaradas as correntes de pensamento filosófico e científico de grande prestígio na época em que o romance foi escrito? Explique sucintamente.

11. (Fuvest 2014) No breve “Prólogo da 3ª edição” das Memórias póstumas de Brás Cubas, assinado pelo autor, Machado de Assis, constava o seguinte trecho:

Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava: “As Memórias póstumas de Brás Cubas são um romance?” Macedo Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava amigamente as Viagens na minha terra. Ao primeiro respondia já o defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo dele que vai adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era para outros. Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: “Trata-se de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo”. Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida.

O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama “rabugens de pessimismo”. Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir dos seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho.

Machado de Assis Considerando esse trecho no contexto da obra à qual se incorpora, atenda ao que se pede. a) Identifique um aspecto das Memórias póstumas de Brás Cubas capaz de ter suscitado a

dúvida expressa por Capistrano de Abreu. Explique resumidamente. b) Em que consistem os “lavores de igual escola”, a que se refere o autor, no final do trecho?

Explique sucintamente. 12. (Fuvest 2014) Considere o excerto abaixo, no qual o narrador de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, contempla a cidade de Paris.

(...) E por aquela doce tarde de maio eu saí para tomar no terraço um café cor de chapéu-coco, que sabia a fava.

Com o charuto aceso contemplei o Boulevard, àquela hora em toda a pressa e estridor da sua grossa sociabilidade. A densa torrente dos ônibus, calhambeques, carroças, parelhas de luxo, rolava vivamente, com toda uma escura humanidade formigando entre patas e rodas, numa pressa inquieta. Aquele movimento indescontinuado e rude depressa entonteceu este espírito, por cinco quietos anos afeito à quietação das serras imutáveis. Tentava então, puerilmente, repousar nalguma forma imóvel, ônibus que parara, fiacre que estacara num brusco escorregar da pileca; mas logo algum dorso apressado se encafuava pela portinhola da tipoia, ou um cacho de figuras escuras trepava sofregamente para o ônibus — e, rápido, recomeçava o rolar retumbante.

a) No trecho “com toda uma escura humanidade formigando entre patas e rodas”, pode-se

reconhecer a marca de qual escola literária? Justifique sucintamente sua resposta. b) Tendo em vista que contemplar significa “fixar o olhar em (alguém, algo ou si mesmo), com

encantamento, com admiração” (Dicionário Houaiss) ou “olhar, observar, atenta ou embevecidamente” (Dicionário Aurélio), qual é a experiência vivida pelo narrador, no excerto, e que sentido ela tem no contexto da época em que se passa a história narrada no romance?

13. (Fuvest 2014) Observe o seguinte trecho de Til, de José de Alencar, no qual o narrador caracteriza a personagem Berta:

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Contradição viva, seu gênio é o ser e o não ser. Busquem nela a graça da moça e encontrarão o estouvamento do menino; porém mal se apercebam da ilusão, que já a imagem da mulher despontará em toda sua esplêndida fascinação. A antítese banal do anjo-demônio torna-se realidade nela, em quem se cambiam no sorriso ou no olhar a serenidade celeste com os fulvos lampejos da paixão, à semelhança do firmamento onde ao radiante matiz da aurora sucedem os fulgores sinistros da procela. a) Segundo o narrador, Berta é uma “contradição viva”, cujo “gênio é o ser e o não ser”. Como

essa característica da personagem se relaciona à principal função que ela desempenha na trama do romance?

b) Considerando a expressão “anjo-demônio” no contexto cultural da época em que foi escrito o

romance, justifica-se o fato de o narrador classificá-la como “antítese banal”? Explique resumidamente.

14. (Fuvest 2014) Leia o seguinte texto, para atender ao que se pede: Conversa de abril É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. Retorno à aldeia depois de três dias de galope de jipe pelas estradas confusas de caminhões e poeira e explosões. Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste tempo de primavera? Deixai-me estirar o corpo na cama; depois tiro as botas. Ouvi-me. As montanhas, já vos descreverei as montanhas. Rubem Braga* *Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda Guerra Mundial. O fragmento acima pertence a uma de suas crônicas desse período. a) Reescreva o seguinte trecho, dando-lhe características narrativas e empregando a terceira

pessoa do plural, em lugar da segunda: “Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste tempo de primavera?”

b) Tendo em vista as informações contidas no excerto, o início do texto – “É abril” – é coerente

com o emprego do pronome este, em “neste tempo de primavera”? Explique. 15. (Fuvest 2014) Considere o seguinte texto, para atender ao que se pede: O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito; a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação. Fernando Pessoa, Da literatura europeia. a) Considerando-a no contexto em que ocorre, explique a frase “o homem vive a princípio uma

vida exterior, e mais tarde uma interior”.

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b) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é”, substituindo por sinônimos as expressões sublinhadas.

16. (Fuvest 2014) No poema “Sentimento do mundo”, que abre o livro homônimo de Carlos Drummond de Andrade, dizem os versos iniciais: Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, Considerando esses versos no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede. a) Que desejo do poeta fica pressuposto no verso “Tenho apenas duas mãos”? b) No poema de abertura do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade – Alguma poesia

(1930) – apareciam os conhecidos versos

Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração.

Quando, anos depois, o poeta afirma ter “o sentimento do mundo”, ele ratifica ou altera o ponto de vista que expressara nos citados versos de seu livro de estreia? Explique sucintamente.

17. (Fuvest 2014) Leia o seguinte trecho de uma reportagem, para em seguida atender ao que se pede: Cantoria de sabiá-laranjeira na madrugada divide ouvidos paulistanos

Diz uma antiga lenda indígena que, durante as madrugadas, no início da primavera,

quando uma criança ouve o canto de um sabiá-laranjeira, ela é abençoada com amor, felicidade e paz. Isso lá na floresta. Na selva urbana, a história é outra: tem gente se revirando na cama com a sinfonia que chega a durar duas horas seguidas antes mesmo de clarear o dia.

“Morei 35 anos no interior paulista e nunca fui acordada por passarinho algum”, conta uma moradora do Brooklin (zona sul). “Agora, em plena São Paulo barulhenta e caótica, minhas madrugadas têm sido bem diferentes”. Folha de S. Paulo, 16/09/2013. Adaptado. a) Tendo em vista o contexto, é possível concluir, de modo irrefutável, que a citada moradora

do Brooklin faz parte dos paulistanos que não apreciam o canto do sabiá-laranjeira? Justifique com base no texto.

b) Reescreva os trechos do texto que se encontram em discurso direto, empregando o discurso

indireto e fazendo as modificações necessárias. 18. (Fuvest 2014) Entrevistado por Clarice Lispector, para a pergunta “Como você encara o problema da maturidade?”, Tom Jobim deu a seguinte resposta: “Tem um verso do Drummond que diz: ‘A madureza, esta horrível prenda...’ Não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente”. Nota: O verso citado por Tom Jobim é o início do poema “A ingaia ciência”, de Carlos Drummond de Andrade, e sua versão correta é: “A madureza, essa terrível prenda”. a) Aponte dois recursos expressivos empregados pelo poeta na expressão “terrível prenda”. b) Reescreva a resposta de Tom Jobim, eliminando as marcas de coloquialidade que ela

apresenta e fazendo as alterações necessárias.

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19. (Fuvest 2013) No excerto abaixo, narra-se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, quando este, reduzido à miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro: Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele recebeu-ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado. — In hoc signo vinces!* bradou. E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis. — Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu. — Sim? acudiu ele, dando um bote para mim. — Trabalhando, concluí eu. * “In hoc signo vinces!”: citação em latim que significa “Com este sinal vencerás” (frase que

teria aparecido no céu, junto de uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha). Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. a) Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as considerações que, ao longo de suas

Memórias póstumas, ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “— Trabalhando, concluí eu”.

b) Tendo, agora, como referência, a história de D. Plácida, contada no livro, discuta sucintamente o mencionado conselho de Brás Cubas.

20. (Fuvest 2013) Leia com atenção o trecho de Til, de José de Alencar, para responder ao que se pede. [Berta] — Agora creio em tudo no que me disseram, e no que se pode imaginar de mais horrível. Que assassines por paga a quem não te fez mal, que por vingança pratiques crueldades que espantam, eu concebo; és como a suçuarana, que às vezes mata para estancar a sede, e outras por desfastio entra na mangueira e estraçalha tudo. Mas que te vendas para assassinar o filho de teu benfeitor, daquele em cuja casa foste criado, o homem de quem recebeste o sustento; eis o que não se compreende; porque até as feras lembram-se do benefício que se lhes fez, e têm um faro para conhecerem o amigo que as salvou. [Jão] — Também eu tenho, pois aprendi com elas; respondeu o bugre; e sei me sacrificar por aqueles que me querem. Não me torno, porém, escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das sobras que me atirava, como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro. Não foi por mim que ele fez isso; mas para se mostrar ou por vergonha de enxotar de sua casa a um pobre-diabo. A terra nos dá de comer a todos e ninguém se morre por ela. [Berta] — Para ti, portanto, não há gratidão? [Jão] — Não sei o que é; demais, Galvão já pôs-me quites dessa dívida da farinha que lhe comi. Estamos de contas justas! acrescentou Jão Fera com um suspiro profundo. a) Nesse trecho, Jão Fera refere-se de modo acerbo a uma determinada relação social (aquela

que o vinculara, anteriormente, ao seu “benfeitor”, conforme diz Berta), revelando o mal-estar que tal relação lhe provoca. Que relação social é essa e em que consiste o mal-estar que lhe está associado?

b) A fala de Jão Fera revela que, no contexto sócio-histórico em que estava inserido, sua posição social o fazia sentir-se ameaçado de ser identificado com um outro tipo social — identificação, essa, que ele considera intolerável. De que identificação se trata e por que Jão a abomina? Explique sucintamente.

21. (Fuvest 2013) Leia o texto. Ditadura / Democracia

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A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação: “Não posso me queixar”. Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos. a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, esse texto emprega o recurso da

ambiguidade? Justifique sua resposta. b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até “queixar”), pondo no plural a palavra

“cidadão” e fazendo as modificações necessárias. 22. (Fuvest 2013) Leia o seguinte poema. TRISTEZA DO IMPÉRIO Os conselheiros angustiados ante o colo ebúrneo das donzelas opulentas que ao piano abemolavam “bus-co a cam-pi-na se-re-na pa-ra-li-vre sus-pi-rar”, esqueciam a guerra do Paraguai, o enfado bolorento de São Cristóvão, a dor cada vez mais forte dos negros e sorvendo mecânicos uma pitada de rapé, sonhavam a futura libertação dos instintos e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone

automático. Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, tal como os caracteriza o poema de

Drummond, ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua? Explique resumidamente.

23. (Fuvest 2013) Leia as seguintes manchetes:

Grupo I Esperada, na Câmara, a mensagem pedindo a decretação do estado de guerra Jornal do Brasil, 07 de outubro de 1937. Encerrou seus trabalhos a Conferência de Paris Folha da Manhã, 16 de julho de 1947. Causaram viva apreensão nos E.U.A. os discos voadores Folha da Manhã, 30 de julho de 1952.

Grupo II Quase metade dos médicos receita o que indústria quer Folha de S. Paulo, 31 de maio de 2010. Novo terminal de Cumbica atenderá 19 milhões ao ano Folha de S. Paulo, 26 de junho de 2011. MEC divulga hoje resultados do Enem por escolas Zero Hora, 22 de novembro de 2012.

a) Cada um dos grupos de manchetes acima reproduzidos, por ter sido escrito em épocas

diferentes, caracteriza-se pelo uso reiterado de determinados recursos linguísticos. Indique um recurso linguístico que caracteriza as manchetes de cada um desses grupos.

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b) Manchetes jornalísticas costumam suprimir vírgulas. Transcreva a última manchete de cada grupo, acrescentando vírgulas onde forem cabíveis, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.

24. (Fuvest 2013) Leia o excerto. Ninguém mais vive, reparou? Vivencia. “Estou vivenciando um momento difícil”, diz Maricotinha. Fico penalizado, mas ficaria mais se Maricotinha estivesse passando por ou vivendo aquele momento difícil. Há uma diferença, diz o dicionário. Viver é ter vida, existir. Vivenciar também é viver, mas implica uma espécie de reflexão ou de sentir. Não é o caso de Maricotinha. O que ela quer dizer é viver, passar por. Mas disse vivenciar porque é assim que, ultimamente, os pedantes a ensinaram a falar. Ruy Castro, Folha de S. Paulo, 27 de junho de 2012. Adaptado. a) Da personagem José Dias, diz o narrador do romance Dom Casmurro, de Machado de

Assis: “José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servia a prolongar as frases”. Em que o comportamento linguístico de Maricotinha, tal como o caracteriza o texto, se compara ao da personagem machadiana?

b) Quem já _________________________ a perda de um parente conhece a dor que estou sentindo. Preencha a lacuna da frase acima, utilizando o verbo viver ou o verbo vivenciar, de acordo com a preferência do autor do texto. Justifique sua escolha.

c) No trecho “os pedantes a ensinaram a falar”, a palavra “pedante”, considerada no contexto, pode ser substituída por __________________________.

25. (Fuvest 2013) Leia este texto: Entre 1808, com a abertura dos portos, e 1850, no auge da centralização imperial, modificara-se a pacata, fechada e obsoleta sociedade. O país europeizava-se, para escândalo de muitos, iniciando um período de progresso rápido, progresso conscientemente provocado, sob moldes ingleses. O vestuário, a alimentação, a mobília mostram, no ingênuo deslumbramento, a subversão dos hábitos lusos, vagarosamente rompidos com os valores culturais que a presença europeia infiltrava, justamente com as mercadorias importadas. O contato litorâneo das duas culturas, uma dominante já no período final da segregação colonial, articula-se no ajustamento das economias. Ao Estado, a realidade mais ativa da estrutura social, coube o papel de intermediar o impacto estrangeiro, reduzindo-o à temperatura e à velocidade nativas. Raymundo Faoro, Os donos do poder. a) Considerado o contexto, é inteiramente adequado o emprego, no texto, das expressões

“europeizava-se” e “presença europeia”? Explique sucintamente. b) As palavras “litorâneo” e “temperatura” foram usadas, ambas, no texto, em seu sentido

literal? Justifique sua resposta. 26. (Fuvest 2013) Examine o seguinte anúncio publicitário:

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a) Qual é a relação de sentido existente entre a imagem de uma folha de árvore e as

expressões “Mapeamento logístico” e “caminho”, empregadas no texto que compõe o anúncio acima reproduzido?

b) A que se refere o advérbio “aqui”, presente no texto do anúncio? 27. (Fuvest 2013) Leia o texto. Na mídia em geral, nos discursos, em mensagens publicitárias, na fala de diferentes atores sociais, enfim, nos diversos contextos em que a comunicação se faz presente, deparamo-nos repetidas vezes com a palavra cidadania. Esse largo uso, porém, não torna seu significado evidente. Ao contrário, o fato de admitir vários empregos deprecia seu valor conceitual, isto é, sua capacidade de nos fazer compreender certa ordem de eventos. Assim, pode-se dizer que, contemporaneamente, a palavra cidadania atende bastante bem a um dos usos possíveis da linguagem, a comunicação, mas caminha em sentido inverso quando se trata da cognição, do uso cognitivo da linguagem. Por que, então, a palavra cidadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido? Maria Alice Rezende de Carvalho, Cidadania e direitos. a) Segundo o texto, em que consistem o uso comunicativo e o “uso cognitivo” da linguagem?

Explique resumidamente. b) Responda sucintamente a pergunta que encerra o texto: “Por que, então, a palavra

cidadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco esclarecido?”

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Gabarito: Resposta da questão 1: [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] b) Embora em 1572 o império português estivesse vivenciando seu auge, tornando-se

verdadeiramente global, com uma rede de entrepostos que ligava Lisboa a Nagasaki, trazendo enormes riquezas para Portugal, o poeta, nesta estrofe, evidencia o paradoxo entre essa riqueza e a maneira como ela era obtida, através, especialmente, de “cobiça” e “rudeza”.

[Resposta do ponto de vista da disciplina de Português] a) Na estrofe que faz parte do epílogo da epopeia “Os Lusíadas”, o poeta dirige-se às musas,

declarando-se incapaz de continuar a fazer poesia devido ao ambiente de cobiça e insensibilidade social que o rodeia. A menção a figuras da mitologia é típica da poesia épica que narra os feitos heroicos de um povo de forma grandiloquente e usa a intervenção de seres sobrenaturais para engrandecimento da ação. Também os versos decassílabos dispostos em esquema rimático ABABABABCC refletem o rigor formal característico do Classicismo. No entanto, o tom decepcionado do poeta que, nesta estrofe, tece duras críticas ao aviltamento moral em que o país tinha mergulhado não é comum nas epopeias clássicas que se restringem a enaltecer virtudes e qualidades do herói coletivo.

b) No final do século XVI, Portugal atingiu o ponto mais alto da sua economia mercantilista decorrente da expansão marítima por todos os continentes. No entanto, uma crise dinástica que tem início no reinado de D. Sebastião e que se intensifica após sua morte na batalha de Alcácer-Quibir, provocará o início do declínio do Império e que se agravará com o domínio espanhol sobre Portugal até meados do século XVII. Resposta da questão 2:

a) O autor sonhava com a utopia iluminista de um mundo mais livre e socialmente mais justo. Teorias e possibilidades sociais formuladas ao longo século XVIII com a Revolução Francesa e XIX com as teorias marxistas, que pregavam uma vida mais justa e sem a exploração do próximo.

b) A crítica social recai sobre o burguês, sobre aquele que quer lucrar e ganhar custe o que custar, até mesmo comprar um título nobiliárquico de barão, tudo conquistado à custa da exploração do próximo: – seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. Resposta da questão 3:

a) A expressão felicidade coletiva remete à ideia de uma utopia, de uma sociedade minimamente mais justa e digna, o que pode soar uma certa tendência à esquerda política da época. Basta lembrar que no período em que foi escrito o poema, vivia-se, no Brasil, em plena era getulista, em que a palavra utopia e ideais tidos comunistas poderiam render até voz de prisão. Desse modo, o livro Sentimento do Mundo lançado em 1940 é o livro com maior preocupação social de Drummond. Portanto, a felicidade coletiva trata-se da visão de uma felicidade social em que todos possam ser felizes juntos.

b) A ilha de Manhattan representa o imperialismo. O capitalismo que dividiu o mundo em dois: os que compraram o discurso americano e os que foram na onda da antiga URSS. Segundo os ideais da época, o capitalismo americano seria o responsável pela manutenção das desigualdades e, sobretudo, das injustiças sociais, enquanto os países comunistas tentavam criar uma sociedade mais igualitária. Com o fim do muro de Berlim, essa fantasia comunista perdeu muito de sua força, mas na época em que o poema foi escrito, esses conflitos viviam seu apogeu. Resposta da questão 4:

a) Para maior expressividade a palavra linha traz uma ambiguidade bastante pertinente, mencionando a expressão andar na linha que quer dizer fazer tudo de maneira correta e a ideia de linha de trem, já que a empresa oferece transportes em containers via férrea.

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b) Hoje sustentável ganhou um significado a mais, quer dizer de toda forma de trabalho que não prejudica o meio ambiente, o que acontece com os trens, eles não poluem o ar como outros meios de transporte e também são mais baratos. Resposta da questão 5:

a) O uso do verbo roubar, sempre pejorativo, sendo usado de maneira conotativa a chamar a atenção de um acento que não deveria ter saído da língua. A jornalista aponta um problema ortográfico em que se contrasta o verbo parar com a preposição para. Depois da nova reforma ortográfica, ambas aparecem sem nenhuma marca diferencial para evidenciar o uso de palavras homônimas, mas justapostas em duas classes gramaticais distintas.

b) São Paulo, para ver o Corinthians jogar, para. São Paulo para a fim de ver o Corinthians jogar. Resposta da questão 6:

a) Quando formou o axioma em que a ignorância não tem limite inferior, o deputado Roberto Campos quis dizer que a ignorância sempre nos surpreende devido a sua ilimitada capacidade de aparecer sempre pior e mais profunda. Um sarcasmo de um homem que convivia com políticos de todos os escalões no dia a dia do Congresso. Quanto ao último e mordaz comentário do colega político, esses mundos maravilhosos são o da galhofa e do riso fácil, já que toda essa teatralidade não passava de discurso vazio.

b) O trecho que vai explicar a ironia contida na expressão oratória de alta visibilidade é: com os dois braços agitados tentando encontrar uma ideia (...) Resposta da questão 7:

a) A expressão essas mal traçadas linhas tornou-se um clichê do universo epistolar em extinção já no Canadá. O título, de certa forma, ironiza essa mudança que se aponta e mais uma profissão familiar às pessoas que se vai substituída pela tecnologia.

b) Resignado à marcha da modernidade tecnológica contra a qual não se pode lutar... Resposta da questão 8:

a) Estamos diante de uma contradição e, por conseguinte, de uma ironia. Diante desta imagem, nossos olhos sentem um estranhamento imediato fruto do contraste produzido pela palavra escrita em letras garrafais e tomando boa parte do anúncio: CONFORTO. Em cima, com custo, percebemos a existência de um homem deitado. Abaixo do homem um anúncio imenso. O efeito de sentido é produzido pelo contraste gerador da ironia presente entre a palavra CONFORTO e um homem dormindo ao relento, em um lugar que não foi feito para isso. A posição toda torta do homem enquanto dorme colide com a segurança e a beleza escritas também no anúncio, outro contraste que levará à ironia. Refletido pelo vidro, no canto à esquerda, há um outro homem, que também parece maltrapilho, e que parece estar se penteando e utilizando o vidro do ponto de ônibus para sua toalete, o que também remete à beleza expressa na mensagem escrita do anúncio. Uma ironia produzida pela própria realidade.

b) (...) ninguém te incomoda (...) O pronome te usado com o sentido de você ou do oblíquo o

faz parte do coloquial brasileiro. (...) por causa do calor de matar (...) expressão hiperbólica usada informalmente. Resposta da questão 9:

a) Essas reflexões se aplicam plenamente ao universo criado em Memórias de um Sargento de Milícias, em que se encontra as beatas que iam mais para fofocar do que para rezar, o padre que foi pego com uma amante em plena luz do dia. A autoridade que se submetia aos segredos de uma amante, o que acabou salvando a pele de Leonardo Pataca que no final ainda acaba promovido. Tudo isso embalado em uma sociedade em que se privilegiavam os contatos e os segredos para que a ordem fosse totalmente alterada, a partir de conveniências.

b) A religiosidade apresentada por Brás Cubas também é desprovida da verdade religiosa, aparecendo assim, totalmente superficial. Quando criança era impulsivo e cruel frequentava a

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missa por causa da obrigação materna. Tinha um tio padre que mal sabia dos sacramentos, apegado apenas à ritualística da religião, portanto, superficial. Resposta da questão 10:

a) O Humanitismo, sistema filosófico tão perfeito que nasceu para arruinar todo arcabouço teórico da época, é uma crítica velada, sobretudo ao Positivismo de Comte, que resumia o mundo aos fenômenos observáveis. Segundo Quincas Borba, a sobrevivência dos mais aptos, ditada pela máxima a vida é luta, era a força propulsora para as guerras e para a fome, sempre convenientes aos mais fortes e prejudicial aos mais fracos, uma crítica também ao evolucionismo de Darwin.

b) O Cortiço foi baseado principalmente nas ideias do determinismo, em que o homem é fruto do meio, cuja máxima “inquestionável” perdurou até o século XX. No cortiço, toda a classe operária era mostrada de modo a se render ao meio que o próprio meio proporcionava de miséria, de promiscuidade, levando as personagens a adquirirem uma conformação quase animalesca chamada de zoomorfismo. A visão darwinista da lei do mais forte também aparece na figura autoritária e egoísta de João Romão, representante de uma burguesia cruel e tacanha capaz de ganhar pela exploração sem dó nem piedade, levando-nos também as ideias marxistas do lucro e da mais valia. Resposta da questão 11:

a) Capistrano de Abreu levanta a dúvida sobre o gênero da obra por estar pensando no conceito tradicional de um romance, ou seja, contendo um enredo predominantemente linear, criando um ambiente de suspense e aventura, resolvido de maneira surpreendente. Contudo, a obra de Machado de Assis, que inaugura o Realismo brasileiro, caracteriza-se por um estilo digressivo, distanciado do padrão descrito do romance tradicional, possuindo um narrador volúvel, que relata uma vida vazia, sem grandes acontecimentos.

b) Refere-se às técnicas de narrativa livre dos autores citados, a saber, Almeida Garrett, Xavier de Maistre e Laurence Sterne, os quais utilizam-se de uma narrativa digressiva, sem compromisso com a linearidade característica dos romances tradicionais, aproximando-se, assim, ao estilo, ou forma, utilizada por Machado de Assis também em sua obra. Resposta da questão 12:

a) Neste trecho reconhecem-se características do Naturalismo, uma vez que a animalização (ou zoomorfização) é um recurso dessa escola.

b) A experiência narrada de forma distanciada por Zé Fernandes é a da observação atenta com uma perplexidade diante da vida agitada na Paris durante a Belle Époque, contraponto de sua vida tranquila no campo. Resposta da questão 13:

a) Essa característica está relacionada ao seu papel de heroína e mártir, uma defensora que se sacrifica em benefício dos desvalidos. Sua situação social evidencia essa característica, pois transita entre duas classes sociais distintas, a saber, a elite e os escravos. Berta era livre, porém pobre, não pertencia à classe dominante.

b) A classificação é justificada quando se lembra da escola literária à qual a obra está inserida, o Romantismo, pois é comum encontrar personagens que apresentam caráter dual e/ou contraditório. Resposta da questão 14: a) Uma das possibilidades de reescrita é:

“Ele disse que tinha no bolso um caderno de notas e perguntou se queriam que lhes descrevesse aquelas montanhas e vales, e o que faziam os seres humanos naquele tempo de primavera”.

b) Por estar o autor no Hemisfério Norte, local onde se encontrava como correspondente da Segunda Guerra Mundial, o mês de abril corresponde à estação da Primavera. Dessa forma, o

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uso do pronome “neste” está correto, uma vez que se refere ao tempo presente em relação à anunciação. Resposta da questão 15:

a) Na frase, o autor considera que, em primeiro lugar, o ser humano busca reconhecimento de seus feitos pelo outro, evidenciando sua vaidade. Posteriormente, ele se volta para si e reconhece seus atos, gerando, ou não, o orgulho, preocupando-se então consigo.

b) O homem prefere ser elogiado, valorizado, enaltecido etc. por aquilo que não é a ser menosprezado, desvalorizado, desestimado etc. por aquilo que é. Resposta da questão 16:

a) Logo no primeiro verso do poema, o advérbio “apenas” aponta para um reconhecimento da própria impotência do eu lírico. Essa ideia irá percorrer todo o resto do poema. Porém, também sugere um desejo de força, a fim de lutar contra aquilo que o oprime, clamando para isso, em outros poemas, à ação coletiva, evidenciando, assim, a ideologia do poeta no contexto em que o livro foi escrito.

b) O ponto de vista do poeta é alterado. No primeiro livro, os versos citados indicam um eu lírico voltado para si, para a subjetividade, colocando seus sentimentos como mais importantes, maiores que o próprio mundo. Mais tarde, vemos o poeta voltar-se para os sentimentos do mundo, ou seja, priorizar e valorizar as mazelas que se espalham pelo mundo, evidenciando um poeta mais preocupado com a coletividade do que com a individualidade. Resposta da questão 17:

a) Mesmo tendo em vista o contexto, a fala da moradora não permite concluir de forma “irrefutável” (ou seja, sem restar dúvidas) que ela não aprecie o canto do sabiá-laranjeira, pois ela diz que as madrugadas estão “diferentes”, mas isso não significa piores, tampouco pode significar melhores.

b) Uma moradora do Brooklin (zona sul), que viveu 35 anos no interior paulista, disse que nunca foi acordada por nenhum passarinho, acrescentando que agora, em plena São Paulo barulhenta e caótica, suas madrugadas têm sido muito diferentes. Resposta da questão 18:

a) Notamos o uso de um paradoxo no emprego do adjetivo “terrível” ao substantivo “prenda”, cujo significado remete a algo que é bom, pois é um presente dado a alguém como um agrado. Outro recurso é a metáfora, pois faz uma relação entre “madureza” (maturidade) e “terrível prenda”.

b) Há um verso de Drummond que afirma: “A madureza, essa terrível prenda”. Não sei, Clarice: nós nos tornamos mais capazes, porém mais exigentes. Resposta da questão 19:

a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.

b) Brás Cubas assume comportamentos diferentes relativamente a Quincas Borba e a D. Plácida. Enquanto que ao primeiro, num gesto vaidoso e paternalista, lhe dava uma pequena esmola e aconselhava a trabalhar para conseguir mais dinheiro, à segunda, movido pelo interesse em manter uma aliada para os seus encontros clandestinos com Virgília, oferecia quantias generosas sem nenhum sentimento de culpa. Resposta da questão 20:

a) A sociedade retratada em “Til” está estruturada basicamente em duas camadas sociais: os grandes latifundiários e os escravos com a gente humilde do campo. Os personagens que habitam na Fazenda das Palmas estão submetidos ao poder de Luís Galvão, representante de uma aristocracia rural a quem todos devem obrigações e favores. Jão Fera reconhece as

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limitações impostas pela sua condição de agregado que vive da caridade do seu “benfeitor” e se vê obrigado a uma subserviência humilhante para poder sobreviver.

b) Jão Fera não admitia ser identificado com o escravo negro, por isso prefere o trabalho de capanga dos ricos ao do trabalho na lavoura, típico da ralé. Resposta da questão 21:

a) A frase “Não posso me queixar” permite duas interpretações: o cidadão não reclama da situação porque está contente com o sistema ou, então, porque ele está sujeito a um regime totalitarista em que a censura o impede de manifestar a sua insatisfação.

b) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de uma ditadura o que acham do seu país, eles respondem sem hesitação: “Não podemos nos queixar”. Resposta da questão 22:

a) Os “conselheiros” do Império, citados no poema de Drummond, são representantes de uma elite burguesa que se caracteriza pela insensibilidade social e alienação política, grupo em que está inserido também Brás Cubas, protagonista do romance de Machado de Assis. Entregues a futilidades e a prazeres imediatos, esquecem os verdadeiros dramas que os cercam, moldam as suas vidas de acordo com os interesses individuais de um mundo de aparências e experimentam o tédio e a angústia de quem não luta pela realização pessoal.

b) Ao conjugar o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, Drummond apresenta uma visão crítica e pessimista da História do Brasil, pois as atitudes da elite do sistema totalitarista de Getúlio imitam as da elite do século XIX no que diz respeito a frivolidade, alienação e provincianismo. Resposta da questão 23:

a) As mensagens do Grupo I apresentam inversão de oração, ou seja, os predicados antecedem o sujeito, dando destaque à ação. As do Grupo II, por se apresentarem na ordem direta, enfatizam o agente e não a ação em si.

b) Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, os adjuntos adverbiais intercalados devem

ser assinalados por vírgulas. Assim, as manchetes deveriam ser transcritas da seguinte forma: – Causaram viva apreensão, nos E.U.A., os discos voadores (Folha da Manhã, 30 de julho de 1952, adaptado)

– MEC divulga, hoje, resultados do Enem por escolas (Zero Hora, 22 de novembro de 2012, adaptado) Resposta da questão 24:

a) Da mesma forma que José Dias usava os superlativos para demonstrar eloquência e imprimir erudição ao discurso, Maricotinha utiliza o termo “vivenciar” em vez de “viver” porque lhe soava mais elegante e enobrecedor.

b) De acordo com a preferência de Ruy Castro, a lacuna seria preenchida com o termo “viveu” no sentido de “passou pela experiência de”, pois, segundo ele, o verbo “vivenciar” pressupõe também reflexão.

c) A palavra “pedante” pode ser substituída por pretensioso, arrogante, no sentido de estar convencido de que é melhor do que realmente é. Resposta da questão 25:

a) As expressões “europeizava-se” e “presença europeia” para designar a influência da cultura inglesa no cotidiano da colônia são inadequadas, pois a sociedade brasileira já havia recebido anteriormente a influência da cultura do colonizador português, obviamente, também europeu.

b) As palavras “litorâneo” e “temperatura” foram usadas em sentido figurado: a primeira refere-se às atividades comerciais realizadas por mar entre as duas nações e a segunda à necessidade de adaptação da cultura estrangeira à realidade local. Resposta da questão 26:

a) As nervuras da folha assemelham-se a desenhos de rotas e caminhos traçados em mapas, relacionando-se, desta forma, com a expressão “mapeamento logístico”, no sentido

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de planejamento estratégico para desenvolvimento de uma indústria competitiva na região da Amazônia.

b) O advérbio “aqui” refere-se à imagem da folha da planta amazônica e, metaforicamente, a toda a floresta. Resposta da questão 27:

a) Na mídia em geral, a linguagem é vazia de sentido por repetição excessiva ou inadequação ao contexto fatual, enquanto que o uso cognitivo da linguagem diz respeito ao perfeito entendimento do termo, ou seja, ao processo mental da informação.

b) A palavra cidadania é constantemente evocada por se tratar de assunto amplamente discutido, mas, muitas vezes, de forma banal, sem a preocupação com o seu verdadeiro significado: exercício consciente das ações do indivíduo na sociedade.