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LÍNGUA PORTUGUESA/ LITERATURA BRASILEIRA

LÍNGUA PORTUGUESA/ LITERATURA BRASILEIRA · - a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregula-res: vareia (varia), ... de grupos jovens e de segmen-tos sociais de contestação,

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA

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Didatismo e Conhecimento 1

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA1. LÍNGUA PORTUGUESA:

ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E SIGNIFICAÇÃO

● LÍNGUA E CONTEXTO COMUNICATIVO

A. Unidade e diversidade da língua portuguesa: variação regional, variação

social e registros de usoB. A frase e suas modalidades: declarativa,

interrogativa, imperativa e exclamativaC. A aspectos fonético-fonológicos,

lexicais e gramaticais da língua, tendo em vista sua dimensão sociodiscursiva

“Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se um velho amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da idade; se uma matrona autoritária ou uma dedicada; se um mercador errante ou um lavrador de pequeno campo fértil (...)”

Todas as pessoas que falam uma determinada língua conhe-cem as estruturas gerais, básicas, de funcionamento podem sofrer variações devido à influência de inúmeros fatores. Tais variações, que às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes bastantes evi-dentes, recebem o nome genérico de variedades ou variações lin-guísticas.

Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes-mo significado dentro de um mesmo contexto. Suponham-se, por exemplo, os dois enunciados a seguir:

Veio me visitar um amigo que eu morei na casa dele faz tempo.Veio visitar-me um amigo em cuja casa eu morei há anos.Qualquer falante do português reconhecerá que os dois enun-

ciados pertencem ao seu idioma e têm o mesmo sentido, mas tam-bém que há diferenças. Pode dizer, por exemplo, que o segundo é de gente mais “estudada”.

Isso é prova de que, ainda que intuitivamente e sem saber dar grandes explicações, as pessoas têm noção de que existem muitas maneiras de falar a mesma língua. É o que os teóricos chamam de variações linguísticas.

As variações que distinguem uma variante de outra se mani-festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico, sintático e lexical.

Variações Fônicas

São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons constituin-tes da palavra. Os exemplos de variação fônica são abundantes e, ao lado do vocabulário, constituem os domínios em que se percebe com mais nitidez a diferença entre uma variante e outra. Entre es-ses casos, podemos citar:

- a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô.

- o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, hoje frequentes na fala caipira.

- a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma-relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem oral coloquial.

- a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró-polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formam típicas de pessoas de baixa extração social.

- A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira): quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol.

- deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa extração social.

Variações Morfológicas

São as que ocorrem nas formas constituintes da palavra. Nesse domínio, as diferenças entre as variantes não são tão numerosas quanto as de natureza fônica, mas não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar:

- o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da lingua-gem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssi-mo), uma prova hiper difícil (em vez de dificílima), um carro hiper possante (em vez de possantíssimo).

- a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regu-lares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) o recado, quando ele repor (repuser).

- a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregula-res: vareia (varia), negoceia (negocia).

- uso de substantivos masculinos como femininos ou vice--versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal).

- a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e ad-jetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro indicado, as noite fria, os caso mais comum.

- o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu.

Variações Sintáticas

Dizem respeito às correlações entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tantas as dife-renças entre uma variante e outra. Como exemplo, podemos citar:

- o uso de pronomes do caso reto com outra função que não a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti) e ele.

- o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem.

- a ausência da preposição adequada antes do pronome rela-tivo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de: de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que) eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio.

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Didatismo e Conhecimento 2

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome

“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família dele (em vez de ...cuja família eu já conhecia).

- a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz me irrita.

- ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che-gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela semana muitos alunos; Comentou-se os episódios.

Variações Léxicas

É o conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracterizam com nitidez uma variante em confronto com outra. Eis alguns, entre múltiplos exemplos possíveis de citar:

- a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil; Esse amigo é um carinha maior esforçado.

- as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Portugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que cha-mamos de suéter, malha, camiseta.

Designações das Variantes Lexicais:

- Arcaísmo: diz-se de palavras que já caíram de uso e, por isso, denunciam uma linguagem já ultrapassada e envelhecida. É o caso de reclame, em vez de anúncio publicitário; na década de 60, o rapaz chamava a namorada de broto (hoje se diz gatinha ou forma semelhante), e um homem bonito era um pão; na linguagem antiga, médico era designado pelo nome físico; um bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usava-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supimpa.

- Neologismo: é o contrário do arcaísmo. Trata-se de palavras recém-criadas, muitas das quais mal ou nem entraram para os di-cionários. A moderna linguagem da computação tem vários exem-plos, como escanear, deletar, printar; outros exemplos extraídos da tecnologia moderna são mixar (fazer a combinação de sons), robotizar, robotização.

- Estrangeirismo: trata-se do emprego de palavras empresta-das de outra língua, que ainda não foram aportuguesadas, preser-vando a forma de origem. Nesse caso, há muitas expressões lati-nas, sobretudo da linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo”), ipsis litteris (textualmente, “com as mesmas letras”), grosso modo (“de modo grosseiro”, “impreciso”), sic (“assim, como está escri-to”), data venia (“com sua permissão”).

As palavras de origem inglesas são inúmeras: insight (com-preensão repentina de algo, uma percepção súbita), feeling (“sensi-bilidade”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informa-ções básicas), jingle (mensagem publicitária em forma de música).

Do francês, hoje são poucos os estrangeirismos que ainda não se aportuguesaram, mas há ocorrências: hors-concours (“fora de concurso”, sem concorrer a prêmios), tête-à-tête (palestra particu-lar entre duas pessoas), esprit de corps (“espírito de corpo”, cor-porativismo), menu (cardápio), à la carte (cardápio “à escolha do freguês”), physique du rôle (aparência adequada à caracterização de um personagem).

- Jargão: é o lexo típico de um campo profissional como a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. No jargão médico temos uso tópico (para remédios que não devem ser inge-ridos), apneia (interrupção da respiração), AVC ou acidente vascu-lar cerebral (derrame cerebral). No jargão jornalístico chama-se de gralha, pastel ou caco o erro tipográfico como a troca ou inver-são de uma letra. A palavra lide é o nome que se dá à abertura de uma notícia ou reportagem, onde se apresenta sucintamente o as-sunto ou se destaca o fato essencial. Quando o lide é muito prolixo, é chamado de nariz-de-cera. Furo é notícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma barriga. Entre os jornalistas é comum o uso do verbo repercutir como transitivo direto: __ Vá lá repercutir a notícia de renúncia! (esse uso é considerado errado pela gramática normativa).

- Gíria: é o lexo especial de um grupo (originariamente de marginais) que não deseja ser entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identidade por meio da linguagem. Existe a gíria de grupos marginalizados, de grupos jovens e de segmen-tos sociais de contestação, sobretudo quando falam de atividades proibidas. A lista de gírias é numerosíssima em qualquer língua: ralado (no sentido de afetado por algum prejuízo ou má sorte), ir pro brejo (ser malsucedido, fracassar, prejudicar-se irremediavel-mente), cara ou cabra (indivíduo, pessoa), bicha (homossexual masculino), levar um lero (conversar).

- Preciosismo: diz-se que é preciosista um léxico excessiva-mente erudito, muito raro, afetado: Escoimar (em vez de corrigir); procrastinar (em vez de adiar); discrepar (em vez de discordar); cinesíforo (em vez de motorista); obnubilar (em vez de obscurecer ou embaçar); conúbio (em vez de casamento); chufa (em vez de caçoada, troça).

- Vulgarismo: é o contrário do preciosismo, ou seja, o uso de um léxico vulgar, rasteiro, obsceno, grosseiro. É o caso de quem diz, por exemplo, de saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal, arruinou-se), feder (em vez de cheirar mal), ranho (em vez de muco, secreção do nariz).

Tipos de Variação

Não tem sido fácil para os estudiosos encontrar para as va-riantes linguísticas um sistema de classificação que seja simples e, ao mesmo tempo, capaz de dar conta de todas as diferenças que caracterizam os múltiplos modos de falar dentro de uma comuni-dade linguística. O principal problema é que os critérios adotados, muitas vezes, se superpõem, em vez de atuarem isoladamente.

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Didatismo e Conhecimento 3

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAAs variações mais importantes, para o interesse do concurso

público, são os seguintes: - Sócio-Cultural: Esse tipo de variação pode ser percebido

com certa facilidade. Por exemplo, alguém diz a seguinte frase:

“Tá na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.” (frase 1)

Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos caracterizá-la, por exemplo, pela sua profissão: um advogado? Um trabalhador braçal de construção civil? Um médico? Um garimpei-ro? Um repórter de televisão?

E quem usaria a frase abaixo?

“Obviamente faltou-lhe coragem para enfrentar os ladrões.” (frase 2)

Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes a grupos sociais economicamente mais pobres. Pessoas que, muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, quando muito, fizeram-no em condições não adequadas.

Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que ti-veram possibilidades socioeconômicas melhores e puderam, por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a leitura, com pessoas de um nível cultural mais elevado e, dessa forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua.

Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita aci-ma está bastante simplificada, uma vez que há diversos outros fa-tores que interferem na maneira como o falante escolhe as palavras e constrói as frases. Por exemplo, a situação de uso da língua: um advogado, num tribunal de júri, jamais usaria a expressão “tá na cara”, mas isso não significa que ele não possa usá-la numa situa-ção informal (conversando com alguns amigos, por exemplo).

Da comparação entre as frases 1 e 2, podemos concluir que as condições sociais influem no modo de falar dos indivíduos, geran-do, assim, certas variações na maneira de usar uma mesma língua. A elas damos o nome de variações socioculturais.

- Geográfica: é, no Brasil, bastante grande e pode ser facil-mente notada. Ela se caracteriza pelo acento linguístico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre, inten-sidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam principal-mente na pronúncia. Ao conjunto das características da pronúncia de uma determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque mi-neiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc. A variação geográ-fica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida no vocabulário, em certas estruturas de frases e nos sentidos diferen-tes que algumas palavras podem assumir em diferentes regiões do país.

Leia, como exemplo de variação geográfica, o trecho abaixo, em que Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, recria a fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas:

“__ Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado Mangolô!].

__ Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço, porque não paga a pena... De primeiro, quando eu era moço, isso sim!... Já fui gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite, foras

d’hora, em cemitério... (...). Quando a gente é novo, gosta de fa-zer bonito, gosta de se comparecer. Hoje, não, estou percurando é sossego...”

- Histórica: as línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Essas altera-ções recebem o nome de variações históricas.

Os dois textos a seguir são de Carlos Drummond de Andrade. Neles, o escritor, meio em tom de brincadeira, mostra como a lín-gua vai mudando com o tempo. No texto I, ele fala das palavras de antigamente e, no texto II, fala das palavras de hoje.

Texto I

Antigamente

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e prendadas. Não fazia anos; completavam prima-veras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levantam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais ido-sos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomava cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chu-pando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’agua.

(...) Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramon-tana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo enca-petados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas teteias.

(...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os me-ninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, bortinas a capa de goma (...). Não havia fotógrafos, mas retratis-tas, e os cristãos não morriam: descansavam.

Mas tudo isso era antigamente, isto é, doutora.

Texto II

Entre Palavras

Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – cir-culamos. A maioria delas não figura nos dicionários de há trinta anos, ou figura com outras acepções. A todo momento impõe-se tornar conhecimento de novas palavras e combinações de.

Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar nenhuma palavra ou locução atual, pelo seu ouvido, sem registrá-la. Ama-nhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar com seu avô; talvez ele não entenda o que você diz.

O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, a chacrete, o linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone, a informática, a dublagem, o sinteco, o telex... Existiam em 1940?

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Didatismo e Conhecimento 4

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAPonha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a

motoneta, a Velo-Solex, o biquíni, o módulo lunar, o antibiótico, o enfarte, a acumputura, a biônica, o acrílico, o ta legal, a apar-theid, o som pop, as estruturas e a infraestrutura.

Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mundo, a descapitalização, o desenvolvimento, o unissex, o bandeirinha, o mass media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem.

Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o servo-mecanismo, as algias, a coca-cola, o superego, a Futurologia, a homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a Sudene, o Incra, a Unesco, o Isop, a Oea, e a ONU.

Estão reclamando, porque não citei a conotação, o conglo-merado, a diagramação, o ideologema, o idioleto, o ICM, a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom, e a guitarra elétrica.

Olhe aí na fila – quem? Embreagem, defasagem, barra tenso-ra, vela de ignição, engarrafamento, Detran, poliéster, filhotes de bonificação, letra imobiliária, conservacionismo, carnet da gira-fa, poluição.

Fundos de investimento, e daí? Também os de incentivos fis-cais. Knon-how. Barbeador elétrico de noventa microrranhuras. Fenolite, Baquelite, LP e compacto. Alimentos super congelados. Viagens pelo crediário, Circuito fechado de TV Rodoviária. Argh! Pow! Click!

Não havia nada disso no Jornal do tempo de Venceslau Brás, ou mesmo, de Washington Luís. Algumas coisas começam a apa-recer sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na esquina, para consumo geral. A enumeração caótica não é uma invenção crítica de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos os dias. Entre palavras circula-mos, vivemos, morremos, e palavras somos, finalmente, mas com que significado?

(Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988)

- De Situação: aquelas que são provocadas pelas alterações das circunstâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de falar compatível com determinada situação é incompatí-vel com outra:

Ô mano, ta difícil de te entendê.

Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em situação informal, não tem cabimento se o interlocutor é o professor em situação de aula.

Assim, um único indivíduo não fala de maneira uniforme em todas as circunstâncias, excetuados alguns falantes da linguagem culta, que servem invariavelmente de uma linguagem formal, sen-do, por isso mesmo, considerados excessivamente formais ou afe-tados.

São muitos os fatores de situação que interferem na fala de um indivíduo, tais como o tema sobre o qual ele discorre (em princípio ninguém fala da morte ou de suas crenças religiosas como falaria de um jogo de futebol ou de uma briga que tenha presenciado), o ambiente físico em que se dá um diálogo (num templo não se usa a mesma linguagem que numa sauna), o grau de intimidade entre os falantes (com um superior, a linguagem é uma, com um colega de mesmo nível, é outra), o grau de comprometimento que a fala implica para o falante (num depoimento para um juiz no fórum escolhem-se as palavras, num relato de uma conquista amorosa para um colega fala-se com menos preocupação).

As variações de acordo com a situação costumam ser chama-das de níveis de fala ou, simplesmente, variações de estilo e são classificadas em duas grandes divisões:

- Estilo Formal: aquele em que é alto o grau de reflexão sobre o que se diz, bem como o estado de atenção e vigilância. É na lin-guagem escrita, em geral, que o grau de formalidade é mais tenso.

- Estilo Informal (ou coloquial): aquele em que se fala com despreocupação e espontaneidade, em que o grau de reflexão sobre o que se diz é mínimo. É na linguagem oral íntima e familiar que esse estilo melhor se manifesta.

Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um pequeno trecho da gravação de uma conversa telefônica entre duas universi-tárias paulistanas de classe média, transcrito do livro Tempos Lin-guísticos, de Fernando Tarallo. AS reticências indicam as pausas.

Eu não sei tem dia... depende do meu estado de espírito, tem dia que minha voz... mais ta assim, sabe? taquara rachada? Fica assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê um artigo, lê?! Um menino lá que faiz pós-graduação na, na GV, ele me, nóis ficamo até duas hora da manhã ele me explicando toda a matéria de eco-nomia, das nove da noite.

Como se pode notar, não há preocupação com a pronúncia nem com a continuidade das ideias, nem com a escolha das pala-vras. Para exemplificar o estilo formal, eis um trecho da gravação de uma aula de português de uma professora universitária do Rio de Janeiro, transcrito do livro de Dinah Callou. A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro. As pausas são marcadas com reticências.

...o que está ocorrendo com nossos alunos é uma fragmenta-ção do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo... e fica com uma série... de aspectos teóricos... isolados... que ele não sabe vincular a realidade nenhuma de seu idioma... isto é válido tam-bém para a faculdade de letras... ou seja... né? há uma série... de conceitos teóricos... que têm nomes bonitos e sofisticados... mas que... na hora de serem empregados... deixam muito a desejar...

Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o grau de formalidade e planejamento típico do texto escrito, mas trata-se de um estilo bem mais formal e vigiado que o da menina ao telefone.

Frase: é todo enunciado capaz de transmitir, a quem nos ouve ou lê, tudo o que pensamos, queremos ou sentimos. Pode revestir as mais variadas formas, desde a simples palavra até o período mais complexo, elaborado segundo os padrões sintáticos do idio-ma. São exemplos de frases:

Socorro!Muito obrigado!Que horror!Sentinela, alerta!Cada um por si e Deus por todos.Grande nau, grande tormenta.Por que agridem a natureza?“Tudo seco em redor.” (Graciliano Ramos)“Boa tarde, mãe Margarida!” (Graciliano Ramos)“Fumaça nas chaminés, o céu tranquilo, limpo o terreiro.”

(Adonias Filho)

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Didatismo e Conhecimento 5

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA“As luzes da cidade estavam amortecidas.” (Érico Veríssimo)“Tropas do exército regular do Sul, ajustadas pelos seus alia-

dos brancos de além mar, tinham sido levadas em helicópteros para o lugar onde se presumia estivesse o inimigo, mas este se havia sumido por completo.” (Érico Veríssimo)

As frases são proferidas com entoação e pausas especiais, in-dicadas na escrita pelos sinais de pontuação. Muitas frases, prin-cipalmente as que se desviam do esquema sujeito + predicado, só pode ser entendidas dentro do contexto (= o escrito em que figu-ram) e na situação (= o ambiente, as circunstâncias) em que o fa-lante se encontra. Chamam-se frases nominais as que se apresen-tam sem o verbo. Exemplo: Tudo parado e morto.

Quanto ao sentido, as frases podem ser:

Declarativas: aquela através da qual se enuncia algo, de for-ma afirmativa ou negativa. Encerram a declaração ou enunciação de um juízo acerca de alguém ou de alguma coisa:

Paulo parece inteligente. (afirmativa)A retificação da velha estrada é uma obra inadiável. (afirma-

tiva)Nunca te esquecerei. (negativa)Neli não quis montar o cavalo velho, de pêlo ruço. (negativa)Interrogativas: aquela da qual se pergunta algo, direta (com

ponto de interrogação) ou indiretamente (sem ponto de interroga-ção). São uma pergunta, uma interrogação:

Por que chegaste tão tarde?Gostaria de saber que horas são.“Por que faço eu sempre o que não queria” (Fernando Pessoa)“Não sabe, ao menos, o nome do pequeno?” (Machado de As-

sis)

Imperativas: aquela através da qual expressamos uma ordem, pedido ou súplica, de forma afirmativa ou negativa. Contêm uma ordem, proibição, exortação ou pedido:

“Cale-se! Respeite este templo.” (afirmativa)Não cometa imprudências. (negativa)“Vamos, meu filho, ande depressa!” (afirmativa)“Segue teu rumo e canta em paz.” (afirmativa)“Não me leves para o mar.” (negativa)

Exclamativas: aquela através da qual externamos uma admi-ração. Traduzem admiração, surpresa, arrependimento, etc.:

Como eles são audaciosos!Não voltaram mais!“Uma senhora instruída meter-se nestas bibocas!” (Graciliano

Ramos)

Optativas: É aquela através da qual se exprime um desejo:Bons ventos o levem!Oxalá não sejam vãos tantos sacrifícios!“E queira Deus que te não enganes, menino!” (Carlos de Laet)“Quem me dera ser como Casimiro Lopes!” (Graciliano Ra-

mos)

Imprecativas: Encerram uma imprecação (praga, maldição):“Esta luz me falte, se eu minto, senhor!” (Camilo Castelo

Branco)“Não encontres amor nas mulheres!” (Gonçalves Dias)

“Maldito seja quem arme ciladas no seu caminho!” (Domin-gos Carvalho da Silva)

Como se vê dos exemplos citados, os diversos tipos de frase podem encerrar uma afirmação ou uma negação. No primeiro caso, a frase é afirmativa, no segundo, negativa. O que caracteriza e dis-tingue esses diferentes tipos de frase é a entoação, ora ascendente ora descendente.

Muitas vezes, as frases assumem sentidos que só podem ser integralmente captados se atentarmos para o contexto em que são empregadas. É o caso, por exemplo, das situações em que se explora a ironia. Pense, por exemplo, na frase “Que educação!”, usada quando se vê alguém invadindo, com seu carro, a faixa de pedestres. Nesse caso, ela expressa exatamente o contrário do que aparentemente diz.

A entoação é um elemento muito importante da frase falada, pois nos dá uma ampla possibilidade de expressão. Dependendo de como é dita, uma frase simples como “É ela.” pode indicar consta-tação, dúvida, surpresa, indignação, decepção, etc.

A mesma frase pode assumir sentidos diferentes, conforme o tom com que a proferimos. Observe:

Olavo esteve aqui.Olavo esteve aqui?Olavo esteve aqui?!Olavo esteve aqui!

Exercícios

01. Marque apenas as frases nominais:a) Que voz estranha!b) A lanterna produzia boa claridade.c) As risadas não eram normais.d) Luisinho, não!

02. Classifique as frases em declarativa, interrogativa, excla-mativa, optativa ou imperativa.

a) Você está bem?b) Não olhe; não olhe, Luisinho!c) Que alívio!d) Tomara que Luisinho não fique impressionado!e) Você se machucou?f) A luz jorrou na caverna.g) Agora suma, seu monstro!h) O túnel ficava cada vez mais escuro.

03. Transforme a frase declarativa em imperativa. Siga o mo-delo:

Luisinho ficou para trás. (declarativa)Luisinho, fique para trás. (imperativa) a) Eugênio e Marcelo caminhavam juntos. b) Luisinho procurou os fósforos no bolso.c) Os meninos olharam à sua volta.

04. Sabemos que frases verbais são aquelas que têm verbos. Assinale, pois, as frases verbais:

a) Deus te guarde!b) As risadas não eram normais.c) Que ideia absurda!d) O fósforo quebrou – se em três pedacinhos.

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Didatismo e Conhecimento 6

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAe) Tão preta como o túnel!f) Quem bom!g) As ovelhas são mansas e pacientes.h) Que espírito irônico e livre!

05. Escreva para cada frase o tipo a que pertence: declarativa, interrogativa, imperativa e exclamativa:

a) Que flores tão aromáticas!b) Por que é que não vais ao teatro mais vezes?c) Devemos manter a nossa escola limpa.d) Respeitem os limites de velocidade.e) Já alguma vez foste ao Museu da Ciência?f) Atravessem a rua com cuidado.g) Como é bom sentir a alegria de um dever cumprido!h) Antes de tomar banho no mar, deve-se olhar para a cor da

bandeira.i) Não te quero ver mais aqui!j) Hoje saímos mais cedo.

Respostas1-“a” e “d”2- a) interrogativa; b) imperativa; c) exclamativa; d) optativa;

e) interrogativa; f) declarativa; g) imperativa; h) declarativa3- a) Eugênio e Marcelo, caminhem juntos!; b) Luisinho,

procure os fósforos no bolso!; c) Meninos, olhem à sua volta!4- a/b/d/g5- a) exclamativa; b) interrogativa; c) declarativa; d) impera-

tiva; e) interrogativa; f) imperativa; g) exclamativa; h) declarati-va; i) imperativa; j) declarativa

Letra e Fonema

Letra é o sinal gráfico da escrita. Exemplos: pipoca (tem 6 letras); hoje (tem 4 letras).

Fonema é o menor elemento sonoro capaz de estabelecer uma distinção de significado entre palavras. Veja, nos exemplos, os fo-nemas que marcam a distinção entre os pares de palavras:

bar – mar tela – vela sela – sala

Não confunda os fonemas com as letras. Fonema é um ele-mento acústico e a letra é um sinal gráfico que representa o fone-ma. Nem sempre o número de fonemas de uma palavra correspon-de ao número de letras que usamos para escrevê-la. Na palavra chuva, por exemplo, temos quatro fonemas, isto é, quatro unidades sonoras [xuva] e cinco letras.

Certos fonemas podem ser representados por diferentes letras. É o caso do fonema /s/, que pode ser representado por: s (pensar) – ss (passado) – x (trouxe) – ç (caçar) – sc (nascer) – xc (excelente) – c (cinto) – sç (desço)

Às vezes, a letra “x” pode representar mais de um fonema, como na palavra táxi. Nesse caso, o “x” representa dois sons, pois lemos “táksi”. Portanto, a palavra táxi tem quatro letras e cinco fonemas.

Em certas palavras, algumas letras não representam nenhum fonema, como a letra h, por exemplo, em palavras como hora, hoje, etc., ou como as letras m e n quando são usadas apenas para indicar a nasalização de uma vogal, como em canto, tinta, etc.

Classificação dos Fonemas

Os fonemas classificam-se em vogais, semivogais e consoantes.

Vogais: são fonemas resultantes das vibrações das cordas vo-cais e em cuja produção a corrente de ar passa livremente na cavi-dade bucal. As vogais podem ser orais e nasais.

Orais: quando a corrente de ar passa apenas pela cavidade bucal. São elas: a, é, ê, i, ó, ô, u. Exemplos: já, pé, vê, ali, pó, dor, uva.

Nasais: quando a corrente de ar passa pela cavidade bucal e nasal. A nasalidade pode ser indicada pelo til (~) ou pelas letras n e m. Exemplos: mãe, venda, lindo, pomba, nunca.

Observação: As vogais ainda podem ser tônicas ou átonas, de-pendendo da intensidade com que são pronunciadas. A vogal tôni-ca é pronunciada com maior intensidade: café, bola, vidro. A vogal átona é pronunciada com menor intensidade: café, bola, vidro.

Semivogais: são os fonemas /i/ e /u/ quando, juntos de uma vogal, formam com ela uma mesma sílaba. Observe, por exemplo, a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: pa-pai. Na sílaba pai, o fonema vocálico /i/ não é tão forte quanto o fonema vocálico /a/; nesse caso, o /i/ é semivogal.

Consoantes: são os fonemas em que a corrente de ar, emitida para sua produção, teve de forçar passagem na boca, onde deter-minado movimento articulatório lhe criou embaraço. Exemplos: gato, pena, lado.

Encontro Vocálicos

- Ditongos: é o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-versa) numa mesma sílaba. Exemplos: pai (vogal + semivo-gal = ditongo decrescente); ginásio (semivogal + vogal = ditongo crescente).

- Tritongos: é o encontro de uma semivogal com uma vogal e outra semivogal numa mesma sílaba. Exemplo: Paraguai.

- Hiatos: é a sequência de duas vogais numa mesma palavra mas que pertencem a sílabas diferentes, pois nunca há mais de uma vogal numa sílaba. Exemplos: saída (sa-í-da), juiz (ju-iz)

Encontro Consonantais

Ocorre quando há um grupo de consoantes sem vogal inter-mediária. Exemplos: flor, grade, digno.

Dígrafos

Grupo de duas letras que representa apenas um fonema. Exemplos: passo (ss = fonema /s/), nascimento (sc = fonema /s/), queijo (qu = fonema /k/)

Os dígrafos podem ser consonantais e vocálicos.

- Consonantais: ch (chuva), sc (nascer), ss (osso), sç (desça), lh (filho), xc (excelente), qu (quente), nh (vinho), rr (ferro), gu (guerra)

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Didatismo e Conhecimento 7

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Vocálicos: am, an (tampa, canto), em, en (tempo, vento), im,

in (limpo, cinto), om, on (comprar, tonto), um, un (tumba, mundo)

Atenção: nos dígrafos, as duas letras representam um só fone-ma; nos encontros consonantais, cada letra representa um fonema.

Observe de acordo com os exemplos que o número de letras e fonemas não precisam ter a mesma quantidade.

- Chuva: tem 5 letras e 4 fonemas, já que o “ch” tem um único som.

- Hipopótamo: tem 10 letras e 9 fonemas, já que o “h” não tem som.

- Galinha: tem 7 letras e 6 fonemas, já que o “nh” tem um único som.

- Pássaro: tem 7 letras e 6 fonemas, já que o “ss” só tem um único som.

- Nascimento: 10 letras e 8 fonemas, já que não se pronuncia o “s” e o “en” tem um único som.

- Exceção: 7 letras e 6 fonemas, já que não tem som o “x”.- Táxi: 4 letras e 5 fonemas, já que o “x” tem som de “ks”.- Guitarra: 8 letras e 6 fonemas, já que o “gu” tem um único

som e o “rr” também tem um único som.- Queijo: 6 letras e 5 fonemas, já que o “qu” tem um único

som.

Repare que através do exemplo a mudança de apenas uma le-tra ou fonema gera novas palavras: C a v a l o / C a v a d o / C a l a d o / C o l a d o / S o l a d o.

Exercícios

01. A palavra que apresenta tantos fonemas quantas são as le-tras que a compõem é:

a) importânciab) milharesc) sequerd) técnicae) adolescente

02. Em qual das palavras abaixo a letra x apresenta não um, mas dois fonemas?

a) exemplo b) complexoc) próximosd) executivoe) luxo

03. Qual palavra possui dois dígrafos? a) fecharb) sombra c) ninhariad) correndo e) pêssego

04. Indique a alternativa cuja sequência de vocábulos apre-senta, na mesma ordem, o seguinte: ditongo, hiato, hiato, ditongo.

a) jamais / Deus / luar / daí b) joias / fluir / jesuíta / fogaréuc) ódio / saguão / leal / poeirad) quais / fugiu / caiu / história

05. Os vocabulários passarinho e querida possuem:a) 6 e 8 fonemas respectivamente;b)10 e 7 fonemas respectivamente;c) 9 e 6 fonemas respectivamente;d) 8 e 6 fonemas respectivamente;e) 7 e 6 fonemas respectivamente.

06. Quantos fonemas existem na palavra paralelepípedo:a) 7b) 12c) 11d) 14e) 15

07. Os vocábulos pequenino e drama apresentam, respectiva-mente:

a) 4 e 2 fonemasb) 9 e 5 fonemasc) 8 e 5 fonemasd) 7 e 7 fonemase) 8 e 4 fonemas

08. O “I” não é semivogal em:a) Papaib) Azuisc) Médiod) Rainhae) Herói

09. Assinale a alternativa que apresenta apenas hiatos:a) muito, faísca, balaústre.b) guerreiro, gratuito, intuito.c) fluido, fortuito, Piauí.d) tua, lua, nua.e) n.d.a.

10. Em qual dos itens abaixo todas as palavras apresentam ditongo crescente:

a) Lei, Foice, Roubob) Muito, Alemão, Viuc) Linguiça, História, Áread) Herói, Jeito, Quiloe) Equestre, Tênue, Ribeirão

Respostas:

01-D (Em d, a palavra possui 7 fonemas e 7 letras. Nas demais alternativas, tem-se: a) 10 fonemas / 11 letras; b) 7 fonemas / 8 letras; c) 5 fonemas / 6 letras; e) 9 fonemas / 11 letras).

02-B (a palavra complexo, o x equivale ao fonema /ks/).03-D (Em d, há o dígrafo “rr” e o dígrafo nasal “en”).04-B (Observe os encontros: oi, u - i, u - í e eu).05-D / 06-D / 07-C / 08-D / 09-D / 10-C

Ortografia

A palavra ortografia é formada pelos elementos gregos orto “correto” e grafia “escrita” sendo a escrita correta das palavras da língua portuguesa, obedecendo a uma combinação de critérios eti-mológicos (ligados à origem das palavras) e fonológicos (ligados aos fonemas representados).

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Didatismo e Conhecimento 8

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRASomente a intimidade com a palavra escrita, é que acaba tra-

zendo a memorização da grafia correta. Deve-se também criar o hábito de consultar constantemente um dicionário.

Desde o dia primeiro de Janeiro de 2009 está em vigor o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, por isso temos até 2016 para nos “habituarmos” com as novas regras.

Esse material já se encontra segundo o Novo Acordo Orto-gráfico.

Emprego da letra H

Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonéti-co; conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e da tradição escrita. Grafa-se, por exemplo, hoje, porque esta pala-vra vem do latim hodie.

Emprega-se o H:- Inicial, quando etimológico: hábito, hélice, herói, hérnia, he-

sitar, haurir, etc.- Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh e nh: chave, bo-

liche, telha, flecha companhia, etc.- Final e inicial, em certas interjeições: ah!, ih!, hem?, hum!, etc.- Algumas palavras iniciadas com a letra H: hálito, harmo-

nia, hangar, hábil, hemorragia, hemisfério, heliporto, hematoma, hífen, hilaridade, hipocondria, hipótese, hipocrisia, homenagear, hera, húmus;

- Sem h, porém, os derivados baiano, baianinha, baião, baia-nada, etc.

Não se usa H:- No início de alguns vocábulos em que o h, embora etimoló-

gico, foi eliminado por se tratar de palavras que entraram na língua por via popular, como é o caso de erva, inverno, e Espanha, res-pectivamente do latim, herba, hibernus e Hispania. Os derivados eruditos, entretanto, grafam-se com h: herbívoro, herbicida, hispâ-nico, hibernal, hibernar, etc.

Emprego das letras E, I, O e U

Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i/, /o/ e /u/ nem sempre é nítida. É principalmente desse fato que nascem as dúvidas quando se escrevem palavras como quase, intitular, má-goa, bulir, etc., em que ocorrem aquelas vogais.

Escrevem-se com a letra E:

- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –uar: con-tinue, habitue, pontue, etc.

- A sílaba final de formas dos verbos terminados em –oar: abençoe, magoe, perdoe, etc.

- As palavras formadas com o prefixo ante– (antes, anterior): antebraço, antecipar, antedatar, antediluviano, antevéspera, etc.

- Os seguintes vocábulos: Arrepiar, Cadeado, Candeeiro, Cemitério, Confete, Creolina, Cumeeira, Desperdício, Destilar, Disenteria, Empecilho, Encarnar, Indígena, Irrequieto, Lacrimo-gêneo, Mexerico, Mimeógrafo, Orquídea, Peru, Quase, Quepe, Senão, Sequer, Seriema, Seringa, Umedecer.

Emprega-se a letra I:

- Na sílaba final de formas dos verbos terminados em –air/–oer /–uir: cai, corrói, diminuir, influi, possui, retribui, sai, etc.

- Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra): antiaé-reo, Anticristo, antitetânico, antiestético, etc.

- Nos seguintes vocábulos: aborígine, açoriano, artifício, ar-timanha, camoniano, Casimiro, chefiar, cimento, crânio, criar, criador, criação, crioulo, digladiar, displicente, erisipela, escárnio, feminino, Filipe, frontispício, Ifigênia, inclinar, incinerar, inigualá-vel, invólucro, lajiano, lampião, pátio, penicilina, pontiagudo, pri-vilégio, requisito, Sicília (ilha), silvícola, siri, terebintina, Tibiriçá, Virgílio.

Grafam-se com a letra O: abolir, banto, boate, bolacha, bole-tim, botequim, bússola, chover, cobiça, concorrência, costume, en-golir, goela, mágoa, mocambo, moela, moleque, mosquito, névoa, nódoa, óbolo, ocorrência, rebotalho, Romênia, tribo.

Grafam-se com a letra U: bulir, burburinho, camundongo, chuviscar, cumbuca, cúpula, curtume, cutucar, entupir, íngua, ja-buti, jabuticaba, lóbulo, Manuel, mutuca, rebuliço, tábua, tabuada, tonitruante, trégua, urtiga.

Parônimos: Registramos alguns parônimos que se diferen-ciam pela oposição das vogais /e/ e /i/, /o/ e /u/. Fixemos a grafia e o significado dos seguintes:

área = superfícieária = melodia, cantigaarrear = pôr arreios, enfeitararriar = abaixar, pôr no chão, caircomprido = longocumprido = particípio de cumprircomprimento = extensãocumprimento = saudação, ato de cumprircostear = navegar ou passar junto à costacustear = pagar as custas, financiardeferir = conceder, atenderdiferir = ser diferente, divergirdelatar = denunciardilatar = distender, aumentardescrição = ato de descreverdiscrição = qualidade de quem é discretoemergir = vir à tonaimergir = mergulharemigrar = sair do paísimigrar = entrar num país estranhoemigrante = que ou quem emigraimigrante = que ou quem imigraeminente = elevado, ilustreiminente = que ameaça acontecerrecrear = divertirrecriar = criar novamentesoar = emitir som, ecoar, repercutirsuar = expelir suor pelos poros, transpirarsortir = abastecersurtir = produzir (efeito ou resultado)sortido = abastecido, bem provido, variado

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Didatismo e Conhecimento 9

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAsurtido = produzido, causadovadear = atravessar (rio) por onde dá pé, passar a vauvadiar = viver na vadiagem, vagabundear, levar vida de vadio

Emprego das letras G e J

Para representar o fonema /j/ existem duas letras; g e j. Grafa--se este ou aquele signo não de modo arbitrário, mas de acordo com a origem da palavra. Exemplos: gesso (do grego gypsos), jeito (do latim jactu) e jipe (do inglês jeep).

Escrevem-se com G:

- Os substantivos terminados em –agem, -igem, -ugem: gara-gem, massagem, viagem, origem, vertigem, ferrugem, lanugem. Exceção: pajem

- As palavras terminadas em –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio: contágio, estágio, egrégio, prodígio, relógio, refúgio.

- Palavras derivadas de outras que se grafam com g: massa-gista (de massagem), vertiginoso (de vertigem), ferruginoso (de ferrugem), engessar (de gesso), faringite (de faringe), selvageria (de selvagem), etc.

- Os seguintes vocábulos: algema, angico, apogeu, auge, es-trangeiro, gengiva, gesto, gibi, gilete, ginete, gíria, giz, hegemonia, herege, megera, monge, rabugento, sugestão, tangerina, tigela.

Escrevem-se com J:

- Palavras derivadas de outras terminadas em –já: laranja (la-ranjeira), loja (lojista, lojeca), granja (granjeiro, granjense), gorja (gorjeta, gorjeio), lisonja (lisonjear, lisonjeiro), sarja (sarjeta), ce-reja (cerejeira).

- Todas as formas da conjugação dos verbos terminados em –jar ou –jear: arranjar (arranje), despejar (despejei), gorjear (gor-jeia), viajar (viajei, viajem) – (viagem é substantivo).

- Vocábulos cognatos ou derivados de outros que têm j: laje (lajedo), nojo (nojento), jeito (jeitoso, enjeitar, projeção, rejeitar, sujeito, trajeto, trejeito).

- Palavras de origem ameríndia (principalmente tupi-guarani) ou africana: canjerê, canjica, jenipapo, jequitibá, jerimum, jiboia, jiló, jirau, pajé, etc.

- As seguintes palavras: alfanje, alforje, berinjela, cafajeste, cerejeira, intrujice, jeca, jegue, Jeremias, Jericó, Jerônimo, jérsei, jiu-jítsu, majestade, majestoso, manjedoura, manjericão, ojeriza, pegajento, rijeza, sabujice, sujeira, traje, ultraje, varejista.

- Atenção: Moji palavra de origem indígena, deve ser escrita com J. Por tradição algumas cidades de São Paulo adotam a grafia com G, como as cidades de Mogi das Cruzes e Mogi-Mirim.

Representação do fonema /S/

O fonema /s/, conforme o caso, representa-se por:

- C, Ç: acetinado, açafrão, almaço, anoitecer, censura, cimen-to, dança, dançar, contorção, exceção, endereço, Iguaçu, maçarico, maçaroca, maço, maciço, miçanga, muçulmano, muçurana, paço-ca, pança, pinça, Suíça, suíço, vicissitude.

- S: ânsia, ansiar, ansioso, ansiedade, cansar, cansado, descan-sar, descanso, diversão, excursão, farsa, ganso, hortênsia, preten-são, pretensioso, propensão, remorso, sebo, tenso, utensílio.

- SS: acesso, acessório, acessível, assar, asseio, assinar, car-rossel, cassino, concessão, discussão, escassez, escasso, essencial, expressão, fracasso, impressão, massa, massagista, missão, necessá-rio, obsessão, opressão, pêssego, procissão, profissão, profissional, ressurreição, sessenta, sossegar, sossego, submissão, sucessivo.

- SC, SÇ: acréscimo, adolescente, ascensão, consciência, consciente, crescer, cresço, descer, desço, desça, disciplina, discí-pulo, discernir, fascinar, florescer, imprescindível, néscio, oscilar, piscina, ressuscitar, seiscentos, suscetível, suscetibilidade, susci-tar, víscera.

- X: aproximar, auxiliar, auxílio, máximo, próximo, proximi-dade, trouxe, trouxer, trouxeram, etc.

- XC: exceção, excedente, exceder, excelência, excelente, excel-so, excêntrico, excepcional, excesso, excessivo, exceto, excitar, etc.

Homônimos

acento = inflexão da voz, sinal gráficoassento = lugar para sentar-seacético = referente ao ácido acético (vinagre)ascético = referente ao ascetismo, místicocesta = utensílio de vime ou outro materialsexta = ordinal referente a seiscírio = grande vela de cerasírio = natural da Síriacismo = pensãosismo = terremotoempoçar = formar poçaempossar = dar posse aincipiente = principianteinsipiente = ignoranteintercessão = ato de intercederinterseção = ponto em que duas linhas se cruzamruço = pardacentorusso = natural da Rússia

Emprego de S com valor de Z

- Adjetivos com os sufixos –oso, -osa: gostoso, gostosa, gra-cioso, graciosa, teimoso, teimosa, etc.

- Adjetivos pátrios com os sufixos –ês, -esa: português, portu-guesa, inglês, inglesa, milanês, milanesa, etc.

- Substantivos e adjetivos terminados em –ês, feminino –esa: burguês, burguesa, burgueses, camponês, camponesa, campone-ses, freguês, freguesa, fregueses, etc.

- Verbos derivados de palavras cujo radical termina em –s: analisar (de análise), apresar (de presa), atrasar (de atrás), extasiar (de êxtase), extravasar (de vaso), alisar (de liso), etc.

- Formas dos verbos pôr e querer e de seus derivados: pus, pusemos, compôs, impuser, quis, quiseram, etc.

- Os seguintes nomes próprios de pessoas: Avis, Baltasar, Brás, Eliseu, Garcês, Heloísa, Inês, Isabel, Isaura, Luís, Luísa, Queirós, Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás, Valdês.

- Os seguintes vocábulos e seus cognatos: aliás, anis, arnês, ás, ases, através, avisar, besouro, colisão, convés, cortês, corte-sia, defesa, despesa, empresa, esplêndido, espontâneo, evasiva, fase, frase, freguesia, fusível, gás, Goiás, groselha, heresia, hesitar, manganês, mês, mesada, obséquio, obus, paisagem, país, paraíso, pêsames, pesquisa, presa, presépio, presídio, querosene, raposa, represa, requisito, rês, reses, retrós, revés, surpresa, tesoura, tesou-ro, três, usina, vasilha, vaselina, vigésimo, visita.

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Didatismo e Conhecimento 10

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAEmprego da letra Z

- Os derivados em –zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita: ca-fezal, cafezeiro, cafezinho, avezinha, cãozito, avezita, etc.

- Os derivados de palavras cujo radical termina em –z: cruzei-ro (de cruz), enraizar (de raiz), esvaziar (de vazio), etc.

- Os verbos formados com o sufixo –izar e palavras cognatas: fertilizar, fertilizante, civilizar, civilização, etc.

- Substantivos abstratos em –eza, derivados de adjetivos e de-notando qualidade física ou moral: pobreza (de pobre), limpeza (de limpo), frieza (de frio), etc.

- As seguintes palavras: azar, azeite, azáfama, azedo, amizade, aprazível, baliza, buzinar, bazar, chafariz, cicatriz, ojeriza, prezar, prezado, proeza, vazar, vizinho, xadrez.

Sufixo –ÊS e –EZ

- O sufixo –ês (latim –ense) forma adjetivos (às vezes subs-tantivos) derivados de substantivos concretos: montês (de monte), cortês (de corte), burguês (de burgo), montanhês (de montanha), francês (de França), chinês (de China), etc.

- O sufixo –ez forma substantivos abstratos femininos deri-vados de adjetivos: aridez (de árido), acidez (de ácido), rapidez (de rápido), estupidez (de estúpido), mudez (de mudo) avidez (de ávido) palidez (de pálido) lucidez (de lúcido), etc.

Sufixo –ESA e –EZA

Usa-se –esa (com s):- Nos seguintes substantivos cognatos de verbos terminados

em –ender: defesa (defender), presa (prender), despesa (despen-der), represa (prender), empresa (empreender), surpresa (surpreen-der), etc.

- Nos substantivos femininos designativos de títulos nobiliár-quicos: baronesa, dogesa, duquesa, marquesa, princesa, consulesa, prioresa, etc.

- Nas formas femininas dos adjetivos terminados em –ês: bur-guesa (de burguês), francesa (de francês), camponesa (de campo-nês), milanesa (de milanês), holandesa (de holandês), etc.

- Nas seguintes palavras femininas: framboesa, indefesa, lesa, mesa, sobremesa, obesa, Teresa, tesa, toesa, turquesa, etc.

Usa-se –eza (com z):- Nos substantivos femininos abstratos derivados de adjetivos

e denotado qualidades, estado, condição: beleza (de belo), fran-queza (de franco), pobreza (de pobre), leveza (de leve), etc.

Verbos terminados em –ISAR e –IZAR

Escreve-se –isar (com s) quando o radical dos nomes corres-pondentes termina em –s. Se o radical não terminar em –s, grafa--se –izar (com z): avisar (aviso + ar), analisar (análise + ar), alisar (a + liso + ar), bisar (bis + ar), catalisar (catálise + ar), improvisar (improviso + ar), paralisar (paralisia + ar), pesquisar (pesquisa + ar), pisar, repisar (piso + ar), frisar (friso + ar), grisar (gris + ar), anarquizar (anarquia + izar), civilizar (civil + izar), canalizar (ca-nal + izar), amenizar (ameno + izar), colonizar (colono + izar), vulgarizar (vulgar + izar), motorizar (motor + izar), escravizar (es-cravo + izar), cicatrizar (cicatriz + izar), deslizar (deslize + izar), matizar (matiz + izar).

Emprego do X

- Esta letra representa os seguintes fonemas:

Ch – xarope, enxofre, vexame, etc.CS – sexo, látex, léxico, tóxico, etc.Z – exame, exílio, êxodo, etc.SS – auxílio, máximo, próximo, etc.S – sexto, texto, expectativa, extensão, etc.

- Não soa nos grupos internos –xce- e –xci-: exceção, exceder, excelente, excelso, excêntrico, excessivo, excitar, inexcedível, etc.

- Grafam-se com x e não com s: expectativa, experiente, ex-piar, expirar, expoente, êxtase, extasiado, extrair, fênix, texto, etc.

- Escreve-se x e não ch: Em geral, depois de ditongo: caixa, baixo, faixa, feixe, frouxo, ameixa, rouxinol, seixo, etc. Excetuam--se caucho e os derivados cauchal, recauchutar e recauchutagem. Geralmente, depois da sílaba inicial en-: enxada, enxame, enxa-mear, enxaguar, enxaqueca, enxergar, enxerto, enxoval, enxugar, enxurrada, enxuto, etc. Excepcionalmente, grafam-se com ch: encharcar (de charco), encher e seus derivados (enchente, preen-cher), enchova, enchumaçar (de chumaço), enfim, toda vez que se trata do prefixo en- + palavra iniciada por ch. Em vocábulos de ori-gem indígena ou africana: abacaxi, xavante, caxambu, caxinguelê, orixá, maxixe, etc. Nas seguintes palavras: bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, mexer, mexerico, puxar, rixa, oxalá, praxe, vexame, xarope, xaxim, xícara, xale, xingar, xampu.

Emprego do dígrafo CH

Escreve-se com ch, entre outros os seguintes vocábulos: bu-cha, charque, charrua, chavena, chimarrão, chuchu, cochilo, facha-da, ficha, flecha, mecha, mochila, pechincha, tocha.

Homônimos

Bucho = estômagoBuxo = espécie de arbustoCocho = recipiente de madeiraCoxo = capenga, mancoTacha = mancha, defeito; pequeno prego; prego de cabeça lar-

ga e chata, caldeira.Taxa = imposto, preço de serviço público, conta, tarifaChá = planta da família das teáceas; infusão de folhas do chá

ou de outras plantasXá = título do soberano da Pérsia (atual Irã)Cheque = ordem de pagamentoXeque = no jogo de xadrez, lance em que o rei é atacado por

uma peça adversária

Consoantes dobradas

- Nas palavras portuguesas só se duplicam as consoantes C, R, S.

- Escreve-se com CC ou CÇ quando as duas consoantes soam distintamente: convicção, occipital, cocção, fricção, friccionar, facção, sucção, etc.

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Didatismo e Conhecimento 11

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Duplicam-se o R e o S em dois casos: Quando, intervocá-

licos, representam os fonemas /r/ forte e /s/ sibilante, respectiva-mente: carro, ferro, pêssego, missão, etc. Quando a um elemento de composição terminado em vogal seguir, sem interposição do hífen, palavra começada com /r/ ou /s/: arroxeado, correlação, pressupor, bissemanal, girassol, minissaia, etc.

Exercícios

01. Observe a ortografia correta das palavras: privilégio; di-senteria; programa; mortadela; mendigo; beneficente; caderneta; problema.

Empregue as palavras acima nas frases: a) O......teve.....porque comeu......estragada. b) O superpai protegeu demais seu filho e este lhe trouxe

um.........: sua.......escolar indicou péssimo aproveitamento. c) A festa......teve um bom.......e, por isso, um bom aprovei-

tamento.

02. Passe as palavras para o diminutivo: - asa; japonês; pai; homem; adeus; português; só; anel; - beleza; rosa; país; avô; arroz; princesa; café; - flor; Oscar; rei; bom; casa; lápis; pé.

03. Passe para o plural diminutivo: trem; pé; animal; só; pa-pel; jornal; mão; balão; automóvel; pai; cão; mercadoria; farol; rua; chapéu; flor.

04. Preencha as lacunas com as seguintes palavras: seção, ses-são, cessão, comprimento, cumprimento, conserto, concerto

a) O pequeno jornaleiro foi à.........do jornal. b) Na..........musical os pequenos cantores apresentaram-se

muito bem. c) O........do jornaleiro é amável. d) O..... das roupas é feito pela mãe do garoto. e) O......do sapato custou muito caro. f) Eu......meu amigo com amabilidade. g) A.......de cinema foi um sucesso. h) O vestido tem um.........bom. i) Os pequenos violinistas participaram de um........ .

05. Dê a palavra derivada acrescentando os sufixos ESA ou EZA: Portugal; certo; limpo; bonito; pobre; magro; belo; gentil; duro; lindo; China; frio; duque; fraco; bravo; grande.

06. Forme substantivos dos adjetivos: honrado; rápido; escas-so; tímido; estúpido; pálido; ácido; surdo; lúcido; pequeno.

07. Use o H quando for necessário: alucinar; élice, umilde, esitar, oje, humano, ora, onra, aver, ontem, êxito, ábil, arpa, irôni-co, orrível, árido, óspede, abitar.

8. Complete as lacunas com as seguintes formas verbais: Hou-ve e Ouve.

a) O menino .....muitas recomendações de seu pai. b) ........muita confusão na cabeça do pequeno. c) A criança não.........a professora porque não a compreende. d) Na escola........festa do Dia do Índio.

9. A letra X representa vários sons. Leia atentamente as pala-vras oralmente: trouxemos, exercícios, táxi, executarei, exibir-se, oxigênio, exercer, proximidade, tóxico, extensão, existir, experiên-cia, êxito, sexo, auxílio, exame. Separe as palavras em três seções, conforme o som do X.

- Som de Z; - Som de KS; - Som de S.

10. Complete com X ou CH: en.....er; dei.....ar; ......eiro; fle......a; ei.....o; frou.....o; ma.....ucar; .....ocolate; en.....ada; en.....ergar; cai......a; .....iclete; fai......a; .....u......u; salsi......a; bai.......a; capri......o; me......erica; ria.......o; ......ingar; .......aleira; amei......a; ......eirosos; abaca.....i.

Respostas

01. a) mendigo disenteria mortadela b) problema caderneta c) beneficente programa

02. - asinha; japonesinho; paizinho; homenzinho; adeusinho; por-

tuguesinho; sozinho; anelzinho; - belezinha; rosinha; paisinho; avozinho; arrozinho; princesi-

nha; cafezinho; - florzinha; Oscarzinho; reizinho; bonzinho; casinha; lapisi-

nho; pezinho.

03. trenzinhos; pezinhos; animaizinhos; sozinhos; papeizi-nhos; jornaizinhos; mãozinhas; balõezinhos; automoveizinhos; paizinhos; cãezinhos; mercadoriazinhas; faroizinhos; ruazinhas; chapeuzinhos; florezinhas.

04. a) seção b) sessão c) cumprimento d) conserto e) conserto f) cumprimento g) sessão h) comprimento i) concerto.

05. portuguesa; certeza; limpeza; boniteza; pobreza; magreza; beleza; gentileza; dureza; lindeza; Chinesa; frieza; duquesa; fra-queza; braveza; grandeza.

06. honradez; rapidez; escassez; timidez; estupidez; palidez; acidez; surdez; lucidez; pequenez.

07. alucinar, ontem, hélice, êxito, humilde, hábil, hesitar, har-pa, hoje, irônico, humano, horrível, hora, árido, honra, hóspede, haver, habitar.

08. a) ouve b) Houve c) ouve d) houve

09. Som de Z: exercícios, executarei, exibir-se, exercer, existir,

êxito e exame.Som de KS: táxi, oxigênio, tóxico e sexo.Som de S: trouxemos, proximidade, extensão, experiência e

auxílio.

10. encher, deixar, cheiro, flecha, eixo, frouxo, machucar, cho-colate, enxada, enxergar, caixa, chiclete, faixa, chuchu, salsicha, baixa, capricho, mexerica, riacho, xingar, chaleira, ameixa, chei-rosos, abacaxi.

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Didatismo e Conhecimento 12

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA

● ORGANIZAÇÃO TEXTUALA. Coerência textual; progressão temática;

informação dada e informação nova; informa-ção principal e informação secundária; informa-

ção implícita e informação pressupostaB. Modalização e ponto de vista

C. Discurso direto, indireto e indireto livreD. Paráfrase, alusão e citação

E. Mecanismos de coesão textual: referências internas, substituições, elipses, repetições e re-

dundância

Não basta conhecer o conteúdo das partes de um trabalho: introdução, desenvolvimento e conclusão. Além de saber o que se deve (e o que não se deve) escrever em cada parte constituinte do texto, é preciso saber escrever obedecendo às normas de coerência e coesão. Antes de mais nada, é necessário definir os termos: coerência diz respeito à articulação do texto, à compatibilidade das ideias, à lógica do raciocínio, a seu conteúdo. Coesão refere-se à expressão linguística, ao nível gramatical, às estruturas frasais e ao emprego do vocabulário.

Coerência e coesão relacionam-se com o processo de produção e compreensão do texto, a coesão contribui para a coerência, mas nem sempre um texto coerente apresenta coesão. Pode ocorrer que o texto sem coerência apresente coesão, ou que um texto tenha coesão sem coerência. Em outras palavras: um texto pode ser gramaticalmente bem construído, com frases bem estruturadas, vocabulário correto, mas apresentar ideias disparatadas, sem nexo, sem uma sequência lógica: há coesão, mas não coerência. Por outro lado, um texto pode apresentar ideias coerentes e bem encadeadas, sem que no plano da expressão, as estruturas frasais sejam gramaticalmente aceitáveis: há coerência, mas não coesão.

Na obra de Oswald de Andrade, por exemplo, encontram-se textos coerentes sem coesão, ou textos coesos, mas sem coerência. Em Carlos Drummond de Andrade, há inúmeros exemplos de textos coerentes, sem coesão gramatical no plano sintático. A linguagem literária admite essas liberdades, o que não vem ao caso, pois na linguagem acadêmica, referencial, a obediência às normas de coerência e coesão são obrigatórias. Ainda assim, para melhor esclarecimento do assunto, apresentam-se exemplos de coerência sem coesão e coesão sem coerência:

“Cidadezinha Qualquer”

Casas entre bananeirasmulheres entre laranjeiras

pomar amor cantar:

Um homem vai devagarUm cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar

Devagar.. as janelas olham.Eta vida besta, meu Deus.”

(Andrade, 1973, p. 67)

Apesar da aparente falta de nexo, percebe-se nitidamente a descrição de uma cidadezinha do interior: a paisagem rural, o estilo de vida sossegado, o hábito de bisbilhotar, de vigiar das janelas tudo o que se passa lá fora... No plano sintático, a primeira estrofe contém apenas frases ou sintagmas nominais (cantar pode ser verbo ou substantivo os meu cantares = as minhas canções); as demais, não apresentam coesão uma frase não se relaciona com outra, mas, pela forma de apresentação, colaboram para a coerência do texto.

“Do outro lado da parede”Meu laço de botina.Recebi a tua comunicação, escrita do beiral da viragem

sempieterna. Foi um tiro no alvo do coração, se bem que ele já esteja treinado.

A culpa de tudo quem temna é esse bandido desse coronel do Exército Brasileiro que nos inflicitou.

Reflete antes de te matares! Reflete Joaninha. Principalmente se ainda é tempo! És uma tarada.

Quando te conheci, Chez Hippolyte querias falecer dia e noite. Enfim, adeus.

Nunca te esquecerei. Never more! Como dizem os corvos.” João da Slavonia

(Andrade, O., 1971, p. 201202)

Embora as frases sejam sintaticamente coesas, nota-se que, neste texto, não há coerência, não se observa uma linha lógica de raciocínio na expressão das ideias. Percebe-se vagamente que a personagem João Slavonia teria recebido uma mensagem de Joaninha (Recebi a tua comunicação), ameaçando cometer suicídio (Reflete antes de te matares!). A última frase contém uma alusão ao poema “O corvo”, de Edgar Alan Poe.

A respeito das relações entre coerência e coesão, Guimarães (1990, p. 42) diz:

“O exposto autorizamos a seguinte conclusão: ainda que distinguíveis (a coesão diz respeito aos modos de interconexão dos componentes textuais, a coerência refere-se aos modos como os elementos subjacentes à superfície textual tecem a rede do sentido), trata-se de dois aspectos de um mesmo fenômeno a coesão funcionando como efeito da coerência, ambas cúmplices no processamento da articulação do texto.”

A coerência textual subjaz ao texto e é responsável pela hierarquização dos elementos textuais, ou seja, ela tem origem nas estruturas profundas, no conhecimento do mundo de cada pessoa, aliada à competência linguística, que permitirá a expressão das ideias percebidas e organizadas, no processo de codificação referido na página... Deduz-se daí que é difícil, senão impossível, ensinar coerência textual, intimamente ligada à visão de mundo, à origem das ideias no pensamento. A coesão, porém, refere-se à expressão linguística, aos processos sintáticos e gramaticais do texto.

O seguinte resumo caracteriza coerência e coesão:

Coerência: rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação semântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com outra”).

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Didatismo e Conhecimento 13

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRACoesão: conjunto de elementos posicionados ao longo do

texto, numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática, fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, tem-se a coesão lexical.

Coerência- assenta-se no plano cognitivo,da inteligibilidade do texto;- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão

conceitual;- relaciona-se com a macro estrutura; trabalha com o todo,

com o aspecto global do texto;- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.

Coesão- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;- situa-se na superfície do texto, estabelece conexão sequencial;- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes

componentes do texto;- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.

Coerência e coesão são responsáveis pela inteligibilidade ou compreensão do texto. Um texto bem redigido tem parágrafos bem estruturados e articulados pelo encadeamento das ideias neles contidas. As estruturas frasais devem ser coerentes e gramaticalmente corretas, no que respeita à sintaxe. O vocabulário precisa ser adequado e essa adequação só se consegue pelo conhecimento dos significados possíveis de cada palavra. Talvez os erros mais comuns de redação sejam devidos à impropriedade do vocabulário e ao mau emprego dos conectivos (conjunções, que têm por função ligar uma frase ou período a outro). Eis alguns exemplos de impropriedade do vocabulário, colhidos em redações sobre censura e os meios de comunicação e outras.

“Nosso direito é frisado na Constituição.”Nosso direito é assegurado pela Constituição.

“Estabelecer os limites as quais a programação deveria estar exposta.”

Estabelecer os limites aos quais a programação deveria estar sujeita.

“A censura deveria punir as notícias sensacionalistas.”A censura deveria proibir (ou coibir) as notícias sensacionalistas

ou punir os meios de comunicação que veiculam tais notícias. “Retomada das rédeas da programação.”Retomada das rédeas dos meios de comunicação, no que diz

respeito a programação.

“Os meios de comunicação estão sendo apelativos, vulgarizando e deteriorando indivíduos.”

Os meios de comunicação estão recorrendo a expedientes grosseiros vulgarizando o nível dos programas e desrespeitando os telespectadores.

“A discussão deste assunto é inerente à sociedade.”A discussão deste assunto é tarefa da sociedade (compete à

sociedade).

“Na verdade, daquele autor eles pegaram apenas a nomenclatura...”

Na verdade, daquele autor eles adotaram (utilizaram) apenas a nomenclatura...

“A ordem e forma de apresentação dos elementos das referências bibliográficas são mostradas na NBR 6023 da ABNT”

(são regulamentadas pela NBR 6023 da ABNT).

O emprego de vocabulário inadequado prejudica muitas vezes a compreensão das ideias. É importante, ao redigir, empregar palavras cujo significado seja conhecido pelo enunciador, e cujo emprego faça parte de seus conhecimentos linguísticos. Muitas vezes, quem redige conhece o significado de determinada palavra, mas não sabe empregá-la adequadamente, isso ocorre frequentemente com o emprego dos conectivos (preposições e conjunções). Não basta saber que as preposições ligam nomes ou sintagmas nominais no interior das frases e que as conjunções ligam frases dentro do período; é necessário empregar adequadamente tanto umas como outras. É bem verdade que, na maioria das vezes, o emprego inadequado dos conectivos remete aos problemas de regência verbal e nominal.

Exemplos:

“Coação aos meios de comunicação” tem o sentido de atuar contra os meios de comunicação; os meios de comunicação sofrem a ação verbal, são coagidos.

“Coação dos meios de comunicação” significa que os meios de comunicação é que exercem a ação de coagir.

“Estar inteirada com os fatos” significa participação, interação.

“Estar inteirada dos fatos” significa ter conhecimento dos fatos, estar informada.

“Ir de encontro” significa divergir, não concordar.“Ir ao encontro” quer dizer concordar.

“Ameaça de liberdade de expressão e transmissão de ideias” significa a liberdade não é ameaça;

“Ameaça à liberdade de expressão e transmissão de ideias”, isto é, a liberdade fica ameaçada.

“A princípio” indica um fato anterior (A princípio, ela aceitava as desculpas que Mário lhe dava, mas depois deixou de acreditar nele).

“Em princípio” indica um fato de certeza provisória (Em princípio, faremos a reunião na quarta-feira quer dizer que a reunião será na quarta-feira, se todos concordarem, se houver possibilidade, porém admite a ideia de mudar a data).

“Por princípio” indica crença ou convicção (Por princípio, sou contra o racismo).

Quanto à regência verbal, convém sempre consultar um dicionário de verbos e regimes, pois muitos verbos admitem duas ou três regências diferentes; cada uma, porém, tem um significado específico. Lembre-se, a propósito, de que as dúvidas sobre o emprego da crase decorrem do fato de considerar-se crase como sinal de acentuação apenas, quando o problema refere-se à regência nominal e verbal.

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Didatismo e Conhecimento 14

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAExemplos:

O verbo assistir admite duas regências: assistir o/a (transitivo direto) significa dar ou prestar

assistência (O médico assiste o doente):Assistir ao (transitivo indireto): ser espectador (Assisti ao

jogo da seleção).

Inteirar o/a (transitivo direto) significa completar (Inteirei o dinheiro do presente).

Inteirar do (transitivo direto e indireto), significa informar alguém de..., tomar ou dar conhecimento de algo para alguém (Quero inteirá-la dos fatos ocorridos...).

Pedir o (transitivo direto) significa solicitar, pleitear (Pedi o jornal do dia).

Pedir que contém uma ordem (A professora pediu que fizessem silêncio).

Pedir para pedir permissão (Pediu para sair da classe); significa também pedir em favor de alguém (A Diretora pediu ajuda para os alunos carentes) em favor dos alunos, pedir algo a alguém (para si): (Pediu ao colega para ajudá-lo); pode significar ainda exigir, reclamar (Os professores pedem aumento de salário).

O mau emprego dos pronomes relativos também pode levar à falta de coesão gramatical. Frequentemente, emprega-se no qual ou ao qual em lugar do que, com prejuízo da clareza do texto; outras vezes, o emprego é desnecessário ou inadequado. Barbosa e Amaral (colaboradora) (1988, p. 157) apresentam os seguintes exemplos:

“Pela manhã o carteiro chegou com um envelope para mim no qual estava sem remetente”. (Chegou com um envelope que (o qual) estava sem remetente).

“Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sensibilidade...”

Encontrei belas palavras e não duvido da sensibilidade delas (palavras cheias de sensibilidade).

“Dentro do envelope havia apenas um papel em branco onde atribui muitos significados”: havia apenas um papel em branco ao qual atribui muitos significados (onde significa lugar no qual).

“Havia recebido um envelope em meu nome e que não portava destinatário, apesar que em seu conteúdo havia uma folha em branco. ( .. )”

Não se emprega apesar que, mas apesar de. E mais: apesar de não ligar corretamente as duas frases, não faz sentido, as frases deveriam ser coordenadas por e: não portava destinatário e em seu interior havia uma folha ou: havia recebido um envelope em meu nome, que não portava destinatário, cujo conteúdo era uma folha em branco.

Essas e outras frases foram observadas em redações, quando foi proposto o seguinte tema:

“Imagine a seguinte situação: hoje você está completando dezoito anos. Nesta data, você recebe pelo correio uma folha de papel em

branco, num envelope em seu nome, sem indicação do remetente.

Além disso, você ganha de presente um retrato seu e um disco. Reflita sobre essa situação.

A partir da reflexão feita, redija um texto em prosa, sem ultrapassar o espaço reservado para redação no caderno de respostas.”

Como de costume, muito se comentou, até nos jornais da época, a falta de coerência, as frases sem clareza, pelo mau emprego dos conectivos, como as seguintes:

“Primeiramente achei gozado aqueles dois presentes, pois concluo que nunca deveria esquecer minha infância.”

Há falta de nexo entre as duas frases, pois uma não é conclusão da outra, nem ao menos estão relacionadas e gozado deveria ser substituído por engraçado ou estranho.

“A folha pode estar amarrada num cesto de lixo mas o disco repete sempre a mesma música.”

A primeira frase não tem sentido e a segunda não se relaciona com a primeira. O conectivo “mas” deveria sugerir ideia de oposição, o que não ocorre no exemplo anterior. Não se percebe relação entre “ o disco repete sempre a mesma música” e a primeira frase.

“Mas, ao abrir a porta, era apenas o correio no qual viera trazer-me uma encomenda.”

Observa-se o emprego de no qual por o qual, melhor ainda ficaria que, simplesmente: era apenas o correio que viera trazer-me uma encomenda.

Por outro lado, não mereceram comentários nem apareceram nos jornais boas redações como a que se segue:

“A vida hoje me cumprimentou, mandou-me minha fotografia de garoto, com olhos em expectativa admirando o mundo. Este mundo sem respostas para os meus dezoito anos. Mundo carta sem remetente, carta interrogativa para moço que aguarda o futuro, saboreando o fruto do amanhã.

Recebi um disco, também, cuja música tem a sonoridade de passos marchando para o futuro, ao som de melodias de cirandas esquecidas do menino moço de outrora, e do moço homem de hoje, que completa dezoito anos.

Sou agora a certeza de uma resposta à carta sem remetente que me comunica a vida. Vejo, na fotografia de mim mesmo, o homem que enfrentará a vida, que colherá com seu amor à luta e com seu espírito ambicioso, os frutos do destino.

E a música dos passos futuros na cadência do menino que deixou de ser, está o ritmo da vitória sobre as dificuldades, a minha consagração futura do homem, que vencerá o destino e será uma afirmação dentro da sociedade.” C. G.

Exemplo de: (Fonseca, 1981, p. 178)

Para evitar a falta de coerência e coesão na articulação das frases, aconselha-se levar em conta as seguintes sugestões para o emprego correto dos articuladores sintáticos (conjunções, preposições, locuções prepositivas e locuções conjuntivas).

Para dar ideia de oposição ou contradição, a articulação sintática se faz por meio de conjunções adversativas: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto (nunca no entretanto).

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Didatismo e Conhecimento 15

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAPodem também ser empregadas as conjunções concessivas e

locuções prepositivas para introduzir a ideia de oposição aliada à concessão: embora, ou muito embora, apesar de, ainda que, conquanto, posto que, a despeito de, não obstante.

A articulação sintática de causa pode ser feita por meio de conjunções e locuções conjuntivas: pois, porque, como, por isso que, visto que, uma vez que, já que. Também podem ser empregadas as preposições e locuções prepositivas: por, por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em consequência de, por motivo de, por razões de.

O principal articulador sintático de condição é o “se”: Se o time ganhar esse jogo, será campeão. Pode-se também expressar condição pelo emprego dos conectivos: caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que.

O emprego da preposição “para” é a maneira mais comum de expressar finalidade. “É necessário baixar as taxas de juros para que a economia se estabilize” ou para a economia se estabilizar. “Teresa vai estudar bastante para fazer boa prova.” Há outros articuladores que expressam finalidade: afim de, com o propósito de, na finalidade de, com a intenção de, com o objetivo de, com o fito de, com o intuito de.

A ideia de conclusão pode ser introduzida por meio dos articuladores: assim, desse modo, então, logo, portanto, pois, por isso, por conseguinte, de modo que, em vista disso. Para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão emprega-se ainda. Os articuladores aliás, além do mais, além disso, além de tudo, introduzem um argumento decisivo, cabal, apresentado como um acréscimo, para justificar de forma incontestável o argumento contrário.

Para introduzir esclarecimentos, retificações ou desenvolvimento do que foi dito empregam-se os articuladores: isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras. A conjunção aditiva “e” anuncia não a repetição, mas o desenvolvimento do discurso, pois acrescenta uma informação nova, um dado novo, e se não acrescentar nada, é pura repetição e deve ser evitada.

Alguns articuladores servem para estabelecer uma gradação entre os correspondentes de determinada escala. No alto dessa escala acham-se: mesmo, até, até mesmo; outros situam-se no plano mais baixo: ao menos, pelo menos, no mínimo.

Informações explícitas e implícitas

Texto:

“Neto ainda está longe de se igualar a qualquer um desses craques (Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé), mas ain-da tem um longo caminho a trilhar (...).”

Veja São Paulo, 26/12/1990, p. 15.

Esse texto diz explicitamente que:- Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé são craques;- Neto não tem o mesmo nível desses craques;- Neto tem muito tempo de carreira pela frente.O texto deixa implícito que:- Existe a possibilidade de Neto um dia aproximar-se dos cra-

ques citados;- Esses craques são referência de alto nível em sua especiali-

dade esportiva;- Há uma oposição entre Neto e esses craques no que diz res-

peito ao tempo disponível para evoluir.

Todos os textos transmitem explicitamente certas informa-ções, enquanto deixam outras implícitas. Por exemplo, o texto acima não explicita que existe a possibilidade de Neto se equi-parar aos quatro futebolistas, mas a inclusão do advérbio ainda estabelece esse implícito. Não diz também com explicitude que há oposição entre Neto e os outros jogadores, sob o ponto de vista de contar com tempo para evoluir. A escolha do conector “mas” entre a segunda e a primeira oração só é possível levando em conta esse dado implícito. Como se vê, há mais significados num texto do que aqueles que aparecem explícitos na sua superfície. Leitura proficiente é aquela capaz de depreender tanto um tipo de signifi-cado quanto o outro, o que, em outras palavras, significa ler nas entrelinhas. Sem essa habilidade, o leitor passará por cima de sig-nificados importantes ou, o que é bem pior, concordará com ideias e pontos de vista que rejeitaria se os percebesse.

Os significados implícitos costumam ser classificados em duas categorias: os pressupostos e os subentendidos.

Pressupostos: são ideias implícitas que estão implicadas logi-camente no sentido de certas palavras ou expressões explicitadas na superfície da frase. Exemplo:

“André tornou-se um antitabagista convicto.”

A informação explícita é que hoje André é um antitabagista convicto. Do sentido do verbo tornar-se, que significa “vir a ser”, decorre logicamente que antes André não era antitabagista convic-to. Essa informação está pressuposta. Ninguém se torna algo que já era antes. Seria muito estranho dizer que a palmeira tornou-se um vegetal.

“Eu ainda não conheço a Europa.”A informação explícita é que o enunciador não tem conheci-

mento do continente europeu. O advérbio ainda deixa pressuposta a possibilidade de ele um dia conhecê-la.

As informações explícitas podem ser questionadas pelo recep-tor, que pode ou não concordar com elas. Os pressupostos, porém, devem ser verdadeiros ou, pelo menos, admitidos como tais, por-que esta é uma condição para garantir a continuidade do diálogo e também para fornecer fundamento às afirmações explícitas. Isso significa que, se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não falta nunca a aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer “Até Maria compa-receu à aula de hoje”. Até estabelece o pressuposto da inclusão de um elemento inesperado.

Na leitura, é muito importante detectar os pressupostos, pois eles são um recurso argumentativo que visa a levar o receptor a aceitar a orientação argumentativa do emissor. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressuposto, o enunciador pretende transfor-mar seu interlocutor em cúmplice, pois a ideia implícita não é pos-ta em discussão, e todos os argumentos explícitos só contribuem para confirmá-la. O pressuposto aprisiona o receptor no sistema de pensamento montado pelo enunciador.

A demonstração disso pode ser feita com as “verdades incon-testáveis” que estão na base de muitos discursos políticos, como o que segue:

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Didatismo e Conhecimento 16

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA“Quando o curso do rio São Francisco for mudado, será re-

solvido o problema da seca no Nordeste.”

O enunciador estabelece o pressuposto de que é certa a mu-dança do curso do São Francisco e, por consequência, a solução do problema da seca no Nordeste. O diálogo não teria continuidade se um interlocutor não admitisse ou colocasse sob suspeita essa cer-teza. Em outros termos, haveria quebra da continuidade do diálogo se alguém interviesse com uma pergunta deste tipo:

“Mas quem disse que é certa a mudança do curso do rio?”

A aceitação do pressuposto estabelecido pelo emissor permite levar adiante o debate; sua negação compromete o diálogo, uma vez que destrói a base sobre a qual se constrói a argumentação, e daí nenhum argumento tem mais importância ou razão de ser. Com pressupostos distintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido.

A mesma pergunta, feita para pessoas diferentes, pode ser embaraçosa ou não, dependendo do que está pressuposto em cada situação. Para alguém que não faz segredo sobre a mudança de emprego, não causa o menor embaraço uma pergunta como esta:

“Como vai você no seu novo emprego?”

O efeito da mesma pergunta seria catastrófico se ela se diri-gisse a uma pessoa que conseguiu um segundo emprego e quer manter sigilo até decidir se abandona o anterior. O adjetivo novo estabelece o pressuposto de que o interrogado tem um emprego diferente do anterior.

Marcadores de Pressupostos

- Adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivoJulinha foi minha primeira filha.“Primeira” pressupõe que tenho outras filhas e que as outras

nasceram depois de Julinha.

Destruíram a outra igreja do povoado.“Outra” pressupõe a existência de pelo menos uma igreja

além da usada como referência.

- Certos verbos

Renato continua doente.O verbo “continua” indica que Renato já estava doente no mo-

mento anterior ao presente.

Nossos dicionários já aportuguesaram a palavra copydesk.O verbo “aportuguesar” estabelece o pressuposto de que copi-

desque não existia em português.- Certos advérbios

A produção automobilística brasileira está totalmente nas mãos das multinacionais.

O advérbio totalmente pressupõe que não há no Brasil indús-tria automobilística nacional.

- Você conferiu o resultado da loteria? - Hoje não.A negação precedida de um advérbio de tempo de âmbito

limitado estabelece o pressuposto de que apenas nesse intervalo (hoje) é que o interrogado não praticou o ato de conferir o resul-tado da loteria.

- Orações adjetivas

Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se preocupam com seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos, etc.

O pressuposto é que “todos” os brasileiros não se importam com a coletividade.

Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se preocupam com seu bem-estar e, por isso, jogam lixo na rua, fe-cham os cruzamentos, etc.

Nesse caso, o pressuposto é outro: “alguns” brasileiros não se importam com a coletividade.

No primeiro caso, a oração é explicativa; no segundo, é res-tritiva. As explicativas pressupõem que o que elas expressam se refere à totalidade dos elementos de um conjunto; as restritivas, que o que elas dizem concerne apenas a parte dos elementos de um conjunto. O produtor do texto escreverá uma restritiva ou uma explicativa segundo o pressuposto que quiser comunicar.

Subentendidos: são insinuações contidas em uma frase ou um grupo de frases. Suponhamos que uma pessoa estivesse em visita à casa de outra num dia de frio glacial e que uma janela, por onde entravam rajadas de vento, estivesse aberta. Se o visitante dissesse “Que frio terrível”, poderia estar insinuando que a janela deveria ser fechada.

Há uma diferença capital entre o pressuposto e o subentendi-do. O primeiro é uma informação estabelecida como indiscutível tanto para o emissor quanto para o receptor, uma vez que decorre necessariamente do sentido de algum elemento linguístico coloca-do na frase. Ele pode ser negado, mas o emissor coloca o implicita-mente para que não o seja. Já o subentendido é de responsabilidade do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha dito o que o receptor depreendeu de suas palavras. Assim, no exemplo dado acima, se o dono da casa disser que é muito pouco higiênico fechar todas as janelas, o visitante pode dizer que também acha e que apenas constatou a intensidade do frio.

O subentendido serve, muitas vezes, para o emissor proteger--se, para transmitir a informação que deseja dar a conhecer sem se comprometer. Imaginemos, por exemplo, que um funcionário recém promovido numa empresa ouvisse de um colega o seguinte:

“Competência e mérito continuam não valendo nada como critério de promoção nesta empresa...”

Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita:

“Você está querendo dizer que eu não merecia a promoção?”

Ora, o funcionário preterido, tendo recorrido a um subenten-dido, poderia responder:

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Didatismo e Conhecimento 17

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA“Absolutamente! Estou falando em termos gerais.”

Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre

Num texto, as personagens falam, conversam entre si, expõem ideias. Quando o narrador conta o que elas disseram, insere na narrativa uma fala que não é de sua autoria, cita o discurso alheio. Há três maneiras principais de reproduzir a fala das personagens: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre.

Discurso Direto

“Longe do olhos...”

- Meu pai! Disse João Aguiar com um tom de ressentimento que fez pasmar o comendador.

- Que é? Perguntou este.João Aguiar não respondeu. O comendador arrugou a testa e

interrogou o roto mudo do filho. Não leu, mais adivinhou alguma coisa desastrosa; desastrosa, entenda-se, para os cálculos conjun-to-políticos ou políticos-conjugais, como melhor nome haja.

- Dar-se-á caso que... começou a dizer comendador.- Que eu namore? Interrompeu galhofeiramente o filho.Machado de Assis. Contos. 26ª Ed. São Paulo, Ática, 2002, p. 43.

O narrador introduz a fala das personagens, um pai e um filho, e, em seguida, como quem passa a palavra a elas e as deixa fa-lar. Vemos que as partes introdutórias pertencem ao narrador (por exemplo, disse João Aguiar com um tom de ressentimento que faz pasmar o comendador) e as falas, às personagens, (por exemplo, Meu pai!).

O discurso direto é o expediente de citação do discurso alheio pela qual o narrador introduz o discurso do outro e, depois, repro-duz literalmente a fala dele.

As marcas do discurso são:

- A fala das personagens é, de princípio, anunciada por um verbo (disse e interrompeu no caso do filho e perguntou e começou a dizer no caso do pai) denominado “verbo de dizer” (como re-crutar, retorquir, afirmar, obtem-perar declarar e outros do mesmo tipo), que pode vir antes, no meio ou depois da fala das persona-gens (no nosso caso, veio depois);

- A fala das personagens aparece nitidamente separada da fala do narrador, por aspas, dois pontos, travessão ou vírgula;

- Os pronomes pessoais, os tempos verbais e as palavras que indicam espaço e tempo (por exemplo, pronomes demonstrativos e advérbios de lugar e de tempo) são usados em relação à pessoa da personagem, ao momento em que ela fala diz “eu”, o espaço em que ela se encontra é o aqui e o tempo em que fala é o agora.

Discurso Indireto

Observemos um fragmento do mesmo conto de Machado de Assis:

“Um dia, Serafina recebeu uma carta de Tavares dizendo-lhe que não voltaria mais à casa de seu pai, por este lhe haver mostra-do má cara nas últimas vezes que ele lá estivera.”

Idem. Ibidem, p. 48.

Nesse caso o narrador para citar que Tavares disse a Serafina, usa o outro procedimento: não reproduz literalmente as palavras de Tavares, mas comunica, com suas palavras, o que a personagem diz. A fala de Tavares não chega ao leitor diretamente, mas por via indireta, isto é, por meio das palavras do narrador. Por essa razão, esse expediente é chamado discurso indireto.

As principais marcas do discurso indireto são:

- As falas das personagens também vem introduzidas por um verbo de dizer;

- As falas das personagens constituem oração subordinada substantiva objetiva direta do verbo de dizer e, portanto, são se-paradas da fala do narrador por uma partícula introdutória normal-mente “que” ou “se”;

- Os pronomes pessoais, os tempos verbais e as palavras que indicam espaço e tempo (como pronomes demonstrativos e ad-vérbios de lugar e de tempo) são usados e relação a narrador, ao momento em que ele fala e ao espaço em que está.

Passagem do Discurso Direto para o Discurso Indireto

Pedro disse:- Eu estarei aqui amanhã.

No discurso direto, o personagem Pedro diz “eu”; o “aqui” é o lugar em que a personagem está; “amanhã” é o dia seguinte ao que ele fala. Se passarmos essa frase para o discurso indireto ficará assim:

Pedro disse que estaria lá no dia seguinte.

No discurso indireto, o “eu” passa a ele porque á alguém de quem o narrador fala; estaria é futuro do pretérito: é um tempo re-lacionado ao pretérito da fala do narrador (disse), e não ao presente da fala do personagem, como estarei; lá é o espaço em que a perso-nagem (e não o narrador) havia de estar; no dia seguinte é o dia que vem após o momento da fala da personagem designada por ele.

Na passagem do discurso direto para o indireto, deve-se ob-servar as frases que no discurso direto tem as formas interrogati-vas, exclamativa ou imperativa convertem-se, no discurso indire-to, em orações declarativas.

Ela me perguntou: quem está ai?Ela me perguntou quem estava lá.

As interjeições e os vocativos do discurso direto desaparecem no discurso indireto ou tem seu valor semântico explicitado, isto é, traduz-se o significado que elas expressam.

O papagaio disse: Oh! Lá vem a raposa.O papagaio disse admirado (explicitação do valor semântico

da interjeição oh!) que ao longe vinha a raposa.

Se o discurso citado (fala da personagem) comporta um “eu” ou um “tu” que não se encontram entre as pessoas do discurso citante (fala do narrador), eles são convertidos num “ele”, se o dis-curso citado contém um “aqui” não corresponde ao lugar em que foi proferido o discurso citante, ele é convertido num “lá”.

Pedro disse lá em Paris: - Aqui eu me sinto bem.

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Didatismo e Conhecimento 18

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAEu (pessoa do discurso citado que não se encontra no discurso

citante) converte-se em ele; aqui (espaço do discurso citado que é diferente do lugar em que foi proferido o discurso citante) trans-forma-se em lá:

- Pedro disse que lá ele se sentia bem.

Se a pessoa do discurso citado, isto é, da fala da personagem (eu, tu, ele) tem um correspondente no discurso citante, ela ocupa o estatuto que tem nesse último.

Maria declarou-me: - Eu te amo.

O “te” do discurso citado corresponde ao “me” do citante. Por isso, “te” passa a “me”:

- Maria declarou-me que me amava.

No que se refere aos tempos, o mais comum é o que o verbo de dizer esteja no presente ou no pretérito perfeito. Quando o verbo de dizer estiver no presente e o da fala da personagem estiver no presente, pretérito ou futuro do presente, os tempos mantêm-se na passagem do discurso direto para o indireto. Se o verbo de dizer estiver no pretérito perfeito, as alterações que ocorrerão na fala da personagem são as seguintes:

Discurso Direto – Discurso IndiretoPresente – Pretérito ImperfeitoPretérito Perfeito – Pretérito mais-que-perfeitoFuturo do Presente – Futuro do Pretérito

Joaquim disse: - Compro tudo isso.- Joaquim disse que comprava tudo isso.

Joaquim disse: - Comprei tudo isso.- Joaquim disse que comprara tudo isso.

Joaquim disse: - Comprarei tudo isso.- Joaquim disse que compraria tudo isso.

Discurso Indireto Livre

“(...) No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fe-char o negócio notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.

Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se des-cobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!

Graciliano Ramos. Vidas secas. 28ª Ed. São Paulo, Martins, 1971, p. 136.

Nesse texto, duas vozes estão misturadas: a do narrador e a de Fabiano. Não há indicadores que delimitem muito bem onde começa a fala do narrador e onde se inicia a da personagem. Não

se tem dúvida de que o período inicial está traduzido a fala do narrador. A bem verdade, até não se conformou (início do segundo parágrafo), é a voz do narrador que está comandando a narrativa. Na oração devia haver engano, já começa haver uma mistura de vozes: sob o ponto de vista das marcas gramaticais, não há nenhu-ma pista para se concluir, que a voz de Fabiano é que esteja sendo citada; sob o ponto de vista do significado, porém, pode-se pensar numa reclamação atribuída a ele.

Tomemos agora esse trecho: “Ele era bruto, sim senhor, via--se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco.” Pelo conteúdo de ver-dade é pelo modo de dizer, tudo nos induz a vislumbrar aí a voz de Fabiano ecoando por meio do discurso do narrador. É como se o narrador, sem abandonar as marcas linguísticas próprias de sua fala, estivesse incorporando as reclamações e suspeitas da perso-nagem, a cuja linguagem pertencem expressões do tipo bruto, sim senhor e a mulher tinha miolo. Até a repetição de palavras e uma certa entonação presumivelmente exclamativa confirmam essa in-ferência.

Para perceber melhor o que é o discurso indireto livre, con-frontemos uma frase do texto com a correspondente em discurso direito e indireto:

- Discurso Indireto LivreEstava direito aquilo?

- Discurso DiretoFabiano perguntou: - Esta direito isto?

- Discurso IndiretoFabiano perguntou se aquilo estava direito

Essa forma de citação do discurso alheio tem características próprias que são tanto do discurso direto quanto do indireto. As características do discurso indireto livre são:

- Não há verbos de dizer anunciando as falas das personagens;- Estas não são introduzidas por partículas como “que” e “se”

nem separadas por sinais de pontuação;- O discurso indireto livre contém, como o discurso direto,

orações interrogativas, imperativas e exclamativas, bem como in-terjeições e outros elementos expressivos;

- Os pronomes pessoais e demonstrativos, as palavras indi-cadoras de espaço e de tempo são usados da mesma forma que no discurso indireto. Por isso, o verbo estar, do exemplo acima, ocorre no pretérito imperfeito, e não no presente (está), como no discurso direto. Da mesma forma o pronome demonstrativo ocorre na forma aquilo, como no discurso indireto.

Funções dos diferentes modos de citar o discurso do outro

O discurso direto cria um efeito de sentido de verdade. Isso porque o leito ou ouvinte tem a impressão de que quem cita preser-vou a integridade do discurso citado, ou seja, o que ele reproduziu é autêntico. É como se ouvisse a pessoa citada com suas próprias palavras e, portanto, com a mesma carga de subjetividade.

Essa modalidade de citação permite, por exemplo, que se use variante linguística da personagem como forma de fornecer pis-tas para caracterizá-la. Sirva de exemplo o trecho que segue, um diálogo entre personagens do meio rural, um farmacêutico e um agricultor, cuja fala é transcrita em discurso direto pelo narrador:

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Didatismo e Conhecimento 19

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAUm velho brônzeo apontou, em farrapos, à janela aberta o azul.- Como vai, Elesbão?- Sua bênção...- Cheio de doenças?- Sim sinhô.- De dores, de dificuldades?- Sim sinhô.- De desgraças...O farmacêutico riu com um tímpano desmesurado. Você é o

Brasil. Depois Indagou:- O que você eu Elesbão?- To precisando de uns dinheirinho e duns gênor. Meu arroi-

zinho tá bão, tá encanando bem. Preciso de uns mantimento pra coiêta. O sinhô pode me arranjá com Nhô Salim. Depois eu vendo o arroiz pra ele mermo.

- Você é sério, Elesbão?- Sô sim sinhô!- Quanto é que você deve pro Nhô Salim?- Um tiquinho.

Oswaldo de Andrade. Marco Zero. 2ª Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1974, p. 7-8.

Quanto ao discurso indireto, pode ser de dois tipos, e cada um deles cria um efeito de sentido diverso.

- Discurso Indireto que analisa o conteúdo: elimina os ele-mentos emocionais ou afetivos presentes no discurso direto, assim como as interrogações, exclamações ou formas imperativas, por isso produz um efeito de sentido de objetividade analítica. Com efeito, nele o narrador revela somente o conteúdo do discurso da personagem, e não o modo como ela diz. Com isso estabelece uma distância entre sua posição e a da personagem, abrindo caminho para a réplica e o comentário. Esse tipo de discurso indireto des-personaliza discurso citado em nome de uma objetividade analíti-ca. Cria, assim, a impressão de que o narrador analisa o discurso citado de maneira racional e isenta de envolvimento emocional. O discurso indireto, nesse caso, não se interessa pela individualida-de do falante no modo como ele diz as coisas. Por isso é a forma preferida nos textos de natureza filosófica, científica, política, etc., quando se expõe as opiniões dos outros com finalidade de criticá--las, rejeitá-las ou acolhê-las.

- Discurso Indireto que analisa a expressão: serve para des-tacar mais o modo de dizer do que o que se diz; por exemplo, as palavras típicas do vocabulário da personagem citada, a sua ma-neira de pronunciá-las, etc. Nesse caso, as palavras ou expressões ressaltadas aparecem entre aspas. Veja-se este exemplo. De Eça de Queirós:

...descobrira de repente, uma manhã, eu não devia trair Ama-ro, “porque era papá do seu Carlinhos”. E disse-o ao abade; fez corar os sessenta e quatro anos do bom velho (...).

O crime do Padre Amaro. Porto, Lello e Irmão, s.d., vol. I, p. 314.

Imagine-se ainda que uma pessoa, querendo denunciar a for-ma deselegante com que fora atendida por um representante de uma empresa, tenha dito o seguinte:

A certa altura, ele me respondeu que, se eu não estivesse sa-tisfeito, que fosse reclamar “para o bispo” e que ele já não estava “nem aí” com “tipinhos” como eu.

Em ambos os casos, as aspas são utilizadas para dar desta-que a certas formas de dizer típicas das personagens citadas e para mostrar o modo como o narrador as interpreta. No exemplo de Eça de Queirós, “porque era o papá de seu Carlinhos” contem uma expressão da personagem Amélia e mostra certa dose de ironia e malícia do narrador. No segundo exemplo, as aspas destacam a insatisfação do narrador com a deselegância e o desprezo do fun-cionário para com os clientes.

O discurso indireto livre fica a meio caminho da subjetividade e da objetividade. Tem muitas funções. Por exemplo, dá verossimi-lhança a um texto que pretende manifestar pensamentos, desejos, enfim, a vida interior de uma personagem.

Em síntese, demonstra um envolvimento tal do narrador com a personagem, que as vozes de ambos se misturam como se eles fossem um só ou, falando de outro modo, como se o narrador tives-se vestido completamente a máscara da personagem, aproximan-do-a do leitor sem a marca da sua intermediação.

Veja-se como, neste trecho: “O tímido José”, de Antônio de Alcântara Machado, o narrador, valendo-se do discurso indireto livre, leva o leitor a partilhar do constrangimento da personagem, simulando estar contaminado por ele:

(...) Mais depressa não podia andar. Garoar, garoava sempre. Mas ali o nevoeiro já não era tanto felizmente. Decidiu. Iria indo no caminho da Lapa. Se encontrasse a mulher bem. Se não en-contrasse paciência. Não iria procurar. Iria é para casa. Afinal de contas era mesmo um trouxa. Quando podia não quis. Agora que era difícil queria.

Laranja-da-china. In: Novelas Paulistanas.1ª Ed. Belo Horizonte, Itatiaia/ São Paulo, Edusp, 1998, p. 184.

● SINTAXE E MORFOSSINTAXEA. A oração e seus termos essenciais,

integrantes e acessórios.B. A coordenação e a subordinação de termos e

de orações e respectivos conectivosC. Emprego das palavras gramaticais: pronomes pessoais, demonstrativos e possessivos; artigos

definido e indefinido; advérbiosD. Concordância verbal e nominal

E. Regência verbal e nominal.F. Colocação das palavras, dos termos e

das orações.G. Categorias gramaticais e flexões do

substantivo, do verbo e do adjetivo

A Análise Sintática examina a estrutura do período, divide e classifica as orações que o constituem e reconhece a função sintá-tica dos termos de cada oração.

Daremos uma ideia do que seja frase, oração, período, termo, função sintática e núcleo de um termo da oração.

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Didatismo e Conhecimento 20

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAAs palavras, tanto na expressão escrita como na oral, são reu-

nidas e ordenadas em frases. Pela frase é que se alcança o objetivo do discurso, ou seja, da atividade linguística: a comunicação com o ouvinte ou o leitor.

Frase, Oração e Período são fatores constituintes de qualquer texto escrito em prosa, pois o mesmo compõe-se de uma sequên-cia lógica de ideias, todas organizadas e dispostas em parágrafos minuciosamente construídos.

Oração: é todo enunciado linguístico dotado de sentido, po-rém há, necessariamente, a presença do verbo. A oração encerra uma frase (ou segmento de frase), várias frases ou um período, completando um pensamento e concluindo o enunciado através de ponto final, interrogação, exclamação e, em alguns casos, através de reticências.

Em toda oração há um verbo ou locução verbal (às vezes elíp-ticos). Não têm estrutura sintática, portanto não são orações, não podem ser analisadas sintaticamente frases como:

Socorro!Com licença!Que rapaz impertinente!Muito riso, pouco siso.“A bênção, mãe Nácia!” (Raquel de Queirós)

Na oração as palavras estão relacionadas entre si, como partes de um conjunto harmônico: elas formam os termos ou as unidades sintáticas da oração. Cada termo da oração desempenha uma fun-ção sintática. Geralmente apresentam dois grupos de palavras: um grupo sobre o qual se declara alguma coisa (o sujeito), e um grupo que apresenta uma declaração (o predicado), e, excepcionalmente, só o predicado. Exemplo:

A menina banhou-se na cachoeira.A menina – sujeitobanhou-se na cachoeira – predicadoChoveu durante a noite. (a oração toda predicado)

O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em número e pessoa. É normalmente o “ser de quem se declara algo”, “o tema do que se vai comunicar”.

O predicado é a parte da oração que contém “a informação nova para o ouvinte”. Normalmente, ele se refere ao sujeito, cons-tituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.

Observe: O amor é eterno. O tema, o ser de quem se declara algo, o sujeito, é “O amor”. A declaração referente a “o amor”, ou seja, o predicado, é “é eterno”.

Já na frase: Os rapazes jogam futebol. O sujeito é “Os rapa-zes”, que identificamos por ser o termo que concorda em número e pessoa com o verbo “jogam”. O predicado é “jogam futebol”.

Núcleo de um termo é a palavra principal (geralmente um substantivo, pronome ou verbo), que encerra a essência de sua sig-nificação. Nos exemplos seguintes, as palavras amigo e revestiu são o núcleo do sujeito e do predicado, respectivamente:

“O amigo retardatário do presidente prepara-se para desem-barcar.” (Aníbal Machado)

A avezinha revestiu o interior do ninho com macias plumas.Os termos da oração da língua portuguesa são classificados

em três grandes níveis:- Termos Essenciais da Oração: Sujeito e Predicado.- Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal e

Complementos Verbais (Objeto Direto, Objeto indireto e Agente da Passiva).

- Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal, Adjun-to Adverbial, Aposto e Vocativo.

- Termos Essenciais da Oração: São dois os termos essen-ciais (ou fundamentais) da oração: sujeito e predicado. Exemplos:

Sujeito PredicadoPobreza não é vileza.Os sertanistas capturavam os índios.Um vento áspero sacudia as árvores.

Sujeito: é equivocado dizer que o sujeito é aquele que pratica uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma coisa. Ao fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto semântico do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto estilístico (o tópico da sentença). Já que o sujeito é depreendido de uma análise sin-tática, vamos restringir a definição apenas ao seu papel sintático na sentença: aquele que estabelece concordância com o núcleo do predicado. Quando se trata de predicado verbal, o núcleo é sempre um verbo; sendo um predicado nominal, o núcleo é sempre um nome. Então têm por características básicas:

- estabelecer concordância com o núcleo do predicado;- apresentar-se como elemento determinante em relação ao

predicado;- constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo ou,

ainda, qualquer palavra substantivada.Exemplos:

A padaria está fechada hoje. está fechada hoje: predicado nominalfechada: nome adjetivo = núcleo do predicadoa padaria: sujeitopadaria: núcleo do sujeito - nome feminino singular

Nós mentimos sobre nossa idade para você. mentimos sobre nossa idade para você: predicado verbalmentimos: verbo = núcleo do predicadonós: sujeito

No interior de uma sentença, o sujeito é o termo determinante, ao passo que o predicado é o termo determinado. Essa posição de determinante do sujeito em relação ao predicado adquire sentido com o fato de ser possível, na língua portuguesa, uma sentença sem sujeito, mas nunca uma sentença sem predicado.

Exemplos:

As formigas invadiram minha casa. as formigas: sujeito = termo determinanteinvadiram minha casa: predicado = termo determinado

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Didatismo e Conhecimento 21

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAHá formigas na minha casa. há formigas na minha casa: predicado = termo determinadosujeito: inexistente

O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma nomi-nal, isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse nome se refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o sujeito é repre-sentado por um pronome pessoal do caso reto (eu, tu, ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa, sua representa-ção pode ser feita através de um substantivo, de um pronome subs-tantivo ou de qualquer conjunto de palavras, cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo.

Exemplos:

Eu acompanho você até o guichê. eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoaVocês disseram alguma coisa? vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoaMarcos tem um fã-clube no seu bairro. Marcos: sujeito = substantivo próprioNinguém entra na sala agora. ninguém: sujeito = pronome substantivoO andar deve ser uma atividade diária. o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa oração

Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de oração substantiva subjetiva:

É difícil optar por esse ou aquele doce...É difícil: oração principaloptar por esse ou aquele doce: oração substantiva subjetivaO sujeito é constituído por um substantivo ou pronome, ou

por uma palavra ou expressão substantivada. Exemplos:

O sino era grande.Ela tem uma educação fina.Vossa Excelência agiu como imparcialidade.Isto não me agrada.

O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um subs-tantivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, etc.) Exemplo:

“Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma voz para a selvagem filha do sertão.” (José de Alencar)

O sujeito pode ser:

Simples: quando tem um só núcleo: As rosas têm espinhos; “Um bando de galinhas-d’angola atravessa a rua em fila indiana.”

Composto: quando tem mais de um núcleo: “O burro e o ca-valo nadavam ao lado da canoa.”

Expresso: quando está explícito, enunciado: Eu viajarei amanhã.Oculto (ou elíptico): quando está implícito, isto é, quando não

está expresso, mas se deduz do contexto: Viajarei amanhã. (sujei-to: eu, que se deduz da desinência do verbo); “Um soldado saltou para a calçada e aproximou-se.” (o sujeito, soldado, está expresso na primeira oração e elíptico na segunda: e (ele) aproximou-se.); Crianças, guardem os brinquedos. (sujeito: vocês)

Agente: se faz a ação expressa pelo verbo da voz ativa: O Nilo fertiliza o Egito.

Paciente: quando sofre ou recebe os efeitos da ação expres-sa pelo verbo passivo: O criminoso é atormentado pelo remorso; Muitos sertanistas foram mortos pelos índios; Construíram-se açudes. (= Açudes foram construídos.)

Agente e Paciente: quando o sujeito faz a ação expressa por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe os efeitos dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho; Regina trancou-se no quarto.

Indeterminado: quando não se indica o agente da ação verbal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem atropelou a senhora? Não se diz, não se sabe quem a atropelou.); Come-se bem naquele restaurante.

Observações:- Não confundir sujeito indeterminado com sujeito oculto.- Sujeito formado por pronome indefinido não é indetermina-

do, mas expresso: Alguém me ensinará o caminho. Ninguém lhe telefonou.

- Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente já ex-presso nas orações anteriores: Na rua olhavam-no com admiração; “Bateram palmas no portãozinho da frente.”; “De qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.”

- Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. O prono-me se, neste caso, é índice de indeterminação do sujeito. Pode ser omitido junto de infinitivos.

Aqui vive-se bem.Devagar se vai ao longe.Quando se é jovem, a memória é mais vivaz.Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar.

- Assinala-se a indeterminação do sujeito deixando-se o verbo no infinitivo impessoal: Era penoso carregar aqueles fardos enor-mes; É triste assistir a estas cenas repulsivas.

Normalmente, o sujeito antecede o predicado; todavia, a pos-posição do sujeito ao verbo é fato corriqueiro em nossa língua. Exemplos:

É fácil este problema!Vão-se os anéis, fiquem os dedos.“Breve desapareceram os dois guerreiros entre as árvores.”

(José de Alencar)“Foi ouvida por Deus a súplica do condenado.” (Ramalho

Ortigão)“Mas terás tu paciência por duas horas?” (Camilo Castelo

Branco)

Sem Sujeito: constituem a enunciação pura e absoluta de um fato, através do predicado; o conteúdo verbal não é atribuído a ne-nhum ser. São construídas com os verbos impessoais, na 3ª pessoa do singular: Havia ratos no porão; Choveu durante o jogo.

Observação: São verbos impessoais: Haver (nos sentidos de existir, acontecer, realizar-se, decorrer), Fazer, passar, ser e estar, com referência ao tempo e Chover, ventar, nevar, gear, relampejar, amanhecer, anoitecer e outros que exprimem fenômenos meteo-rológicos.

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Didatismo e Conhecimento 22

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAPredicado: assim como o sujeito, o predicado é um segmento

extraído da estrutura interna das orações ou das frases, sendo, por isso, fruto de uma análise sintática. Nesse sentido, o predicado é sintaticamente o segmento linguístico que estabelece concordân-cia com outro termo essencial da oração, o sujeito, sendo este o termo determinante (ou subordinado) e o predicado o termo deter-minado (ou principal). Não se trata, portanto, de definir o predica-do como “aquilo que se diz do sujeito” como fazem certas gramá-ticas da língua portuguesa, mas sim estabelecer a importância do fenômeno da concordância entre esses dois termos essenciais da oração. Então têm por características básicas: apresentar-se como elemento determinado em relação ao sujeito; apontar um atributo ou acrescentar nova informação ao sujeito. Exemplos:

Carolina conhece os índios da Amazônia. sujeito: Carolina = termo determinantepredicado: conhece os índios da Amazônia = termo determinado

Todos nós fazemos parte da quadrilha de São João. sujeito: todos nós = termo determinantepredicado: fazemos parte da quadrilha de São João = termo

determinado

Nesses exemplos podemos observar que a concordância é estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos es-senciais. No primeiro exemplo, entre “Carolina” e “conhece”; no segundo exemplo, entre “nós” e “fazemos”. Isso se dá porque a concordância é centrada nas palavras que são núcleos, isto é, que são responsáveis pela principal informação naquele segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois tipos: um nome, quase sempre um atributo que se refere ao sujeito da oração, ou um verbo (ou locução verbal).

No primeiro caso, temos um predicado nominal (seu núcleo significativo é um nome, substantivo, adjetivo, pronome, ligado ao sujeito por um verbo de ligação) e no segundo um predicado ver-bal (seu núcleo é um verbo, seguido, ou não, de complemento(s) ou termos acessórios). Quando, num mesmo segmento o nome e o verbo são de igual importância, ambos constituem o núcleo do predicado e resultam no tipo de predicado verbo-nominal (tem dois núcleos significativos: um verbo e um nome). Exemplos:

Minha empregada é desastrada. predicado: é desastradanúcleo do predicado: desastrada = atributo do sujeitotipo de predicado: nominal

O núcleo do predicado nominal chama-se predicativo do sujeito, porque atribui ao sujeito uma qualidade ou característica. Os verbos de ligação (ser, estar, parecer, etc.) funcionam como um elo entre o sujeito e o predicado.

A empreiteira demoliu nosso antigo prédio. predicado: demoliu nosso antigo prédionúcleo do predicado: demoliu = nova informação sobre o

sujeitotipo de predicado: verbal

Os manifestantes desciam a rua desesperados.

predicado: desciam a rua desesperadosnúcleos do predicado: desciam = nova informação sobre o

sujeito; desesperados = atributo do sujeitotipo de predicado: verbo-nominal

Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é respon-sável também por definir os tipos de elementos que aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho basta para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros casos é necessário um complemento que, juntamente com o verbo, constituem a nova in-formação sobre o sujeito. De qualquer forma, esses complementos do verbo não interferem na tipologia do predicado.

Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo, quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos:

“A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo é depois de algozes)

“Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe)

“A cidade parecia mais alegre; o povo, mais contente.” (Povi-na Cavalcante) (isto é: o povo parecia mais contente)

Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo forma o predicado.

Há verbos que, por natureza, tem sentido completo, podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos de predicação completa denominados intransitivos. Exemplo:

As flores murcharam.Os animais correm.As folhas caem.“Os inimigos de Moreiras rejubilaram.” (Graciliano Ramos)

Outros verbos há, pelo contrário, que para integrarem o pre-dicado necessitam de outros termos: são os verbos de predicação incompleta, denominados transitivos. Exemplos:

João puxou a rede.“Não invejo os ricos, nem aspiro à riqueza.” (Oto Lara Re-

sende)“Não simpatizava com as pessoas investidas no poder.” (Ca-

milo Castelo Branco)

Observe que, sem os seus complementos, os verbos puxou, in-vejo, aspiro, etc., não transmitiriam informações completas: puxou o quê? Não invejo a quem? Não aspiro a que?

Os verbos de predicação completa denominam-se intransiti-vos e os de predicação incompleta, transitivos. Os verbos transiti-vos subdividem-se em: transitivos diretos, transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos (bitransitivos).

Além dos verbos transitivos e intransitivos, quem encerram uma noção definida, um conteúdo significativo, existem os de li-gação, verbos que entram na formação do predicado nominal, re-lacionando o predicativo com o sujeito.

Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em:

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Didatismo e Conhecimento 23

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAIntransitivos: são os que não precisam de complemento, pois

têm sentido completo.“Três contos bastavam, insistiu ele.” (Machado de Assis)“Os guerreiros Tabajaras dormem.” (José de Alencar)“A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.”

(Marquês de Maricá)

Observações: Os verbos intransitivos podem vir acompanha-dos de um adjunto adverbial e mesmo de um predicativo (quali-dade, características): Fui cedo; Passeamos pela cidade; Cheguei atrasado; Entrei em casa aborrecido. As orações formadas com verbos intransitivos não podem “transitar” (= passar) para a voz passiva. Verbos intransitivos passam, ocasionalmente, a transitivos quando construídos com o objeto direto ou indireto.

- “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do Nascimento)- “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís Jardim)- “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves Dias)- “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo que

já morreu...” (Ciro dos Anjos)

Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer, cres-cer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar, chegar, vir, mentir, suar, adoecer, etc.

Transitivos Diretos: são os que pedem um objeto direto, isto é, um complemento sem preposição. Pertencem a esse grupo: jul-gar, chamar, nomear, eleger, proclamar, designar, considerar, de-clarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos:

Comprei um terreno e construí a casa.“Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de

Maricá)“Então, solenemente Maria acendia a lâmpada de sábado.”

(Guedes de Amorim)Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os que

formam o predicado verbo nominal e se constrói com o comple-mento acompanhado de predicativo. Exemplos:

Consideramos o caso extraordinário.Inês trazia as mãos sempre limpas.O povo chamava-os de anarquistas.Julgo Marcelo incapaz disso.

Observações: Os verbos transitivos diretos, em geral, podem ser usados também na voz passiva; Outra características desses verbos é a de poderem receber como objeto direto, os pronomes o, a, os, as: convido-o, encontro-os, incomodo-a, conheço-as; Os verbos transitivos diretos podem ser construídos acidentalmen-te, com preposição, a qual lhes acrescenta novo matiz semânti-co: arrancar da espada; puxar da faca; pegar de uma ferramenta; tomar do lápis; cumprir com o dever; Alguns verbos transitivos diretos: abençoar, achar, colher, avisar, abraçar, comprar, castigar, contrariar, convidar, desculpar, dizer, estimar, elogiar, entristecer, encontrar, ferir, imitar, levar, perseguir, prejudicar, receber, saldar, socorrer, ter, unir, ver, etc.

Transitivos Indiretos: são os que reclamam um complemento regido de preposição, chamado objeto indireto. Exemplos:

“Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma ado-lescente.” (Ciro dos Anjos)

“Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e neu-tros.” (Érico Veríssimo)

“Lúcio não atinava com essa mudança instantânea.” (José Américo)

“Do que eu mais gostava era do tempo do retiro espiritual.” (José Geraldo Vieira)

Observações: Entre os verbos transitivos indiretos importa distinguir os que se constroem com os pronomes objetivos lhe, lhes. Em geral são verbos que exigem a preposição a: agradar-lhe, agradeço-lhe, apraz lhe, bate-lhe, desagrada-lhe, desobedecem--lhe, etc. Entre os verbos transitivos indiretos importa distinguir os que não admitem para objeto indireto as formas oblíquas lhe, lhes, construindo-se com os pronomes retos precedidos de preposição: aludir a ele, anuir a ele, assistir a ela, atentar nele, depender dele, investir contra ele, não ligar para ele, etc.

Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam a forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e pouco mais, usados também como transitivos diretos: João paga (perdoa, obedece) o médico. O médico é pago (perdoado, obedecido) por João. Há verbos transitivos indiretos, como atirar, investir, conten-tar-se, etc., que admitem mais de uma preposição, sem mudança de sentido. Outros mudam de sentido com a troca da preposição, como nestes exemplos: Trate de sua vida. (tratar=cuidar). É desa-gradável tratar com gente grosseira. (tratar=lidar). Verbos como aspirar, assistir, dispor, servir, etc., variam de significação confor-me sejam usados como transitivos diretos ou indiretos.

Transitivos Diretos e Indiretos: são os que se usam com dois objetos: um direto, outro indireto, concomitantemente. Exemplos:

No inverso, Dona Cléia dava roupas aos pobres.A empresa fornece comida aos trabalhadores.Oferecemos flores à noiva.Ceda o lugar aos mais velhos.De Ligação: Os que ligam ao sujeito uma palavra ou expres-

são chamada predicativo. Esses verbos, entram na formação do predicado nominal. Exemplos:

A Terra é móvel.A água está fria.O moço anda (=está) triste.Mário encontra-se doente.A Lua parecia um disco.

Observações: Os verbos de ligação não servem apenas de ane-xo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os quais se con-sidera a qualidade atribuída ao sujeito. O verbo ser, por exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo estar, aspecto transitório: Ele é doente. (aspecto permanente); Ele está doente. (aspecto transitó-rio). Muito desses verbos passam à categoria dos intransitivos em frases como: Era =existia) uma vez uma princesa.; Eu não estava em casa.; Fiquei à sombra.; Anda com dificuldades.; Parece que vai chover.

Os verbos, relativamente à predicação, não têm classificação fixa, imutável. Conforme a regência e o sentido que apresentam na frase, podem pertencer ora a um grupo, ora a outro. Exemplo:

O homem anda. (intransitivo)O homem anda triste. (de ligação)

O cego não vê. (intransitivo)O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto)

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRADeram 12 horas. (intransitivo)A terra dá bons frutos. (transitivo direto)

Não dei com a chave do enigma. (transitivo indireto)Os pais dão conselhos aos filhos. (transitivo direto e indireto)

Predicativo: Há o predicativo do sujeito e o predicativo do objeto.

Predicativo do Sujeito: é o termo que exprime um atributo, um estado ou modo de ser do sujeito, ao qual se prende por um verbo de ligação, no predicado nominal. Exemplos:

A bandeira é o símbolo da Pátria.A mesa era de mármore.O mar estava agitado.A ilha parecia um monstro.

Além desse tipo de predicativo, outro existe que entra na constituição do predicado verbo-nominal. Exemplos:

O trem chegou atrasado. (=O trem chegou e estava atrasado.)O menino abriu a porta ansioso.Todos partiram alegres.Marta entrou séria.

Observações: O predicativo subjetivo às vezes está preposi-cionado; Pode o predicativo preceder o sujeito e até mesmo ao verbo: São horríveis essas coisas!; Que linda estava Amélia!; Completamente feliz ninguém é.; Raros são os verdadeiros líde-res.; Quem são esses homens?; Lentos e tristes, os retirantes iam passando.; Novo ainda, eu não entendia certas coisas.; Onde está a criança que fui?

Predicativo do Objeto: é o termo que se refere ao objeto de um verbo transitivo. Exemplos:

O juiz declarou o réu inocente.O povo elegeu-o deputado.As paixões tornam os homens cegos.Nós julgamos o fato milagroso.

Observações: O predicativo objetivo, como vemos dos exem-plos acima, às vezes vem regido de preposição. Esta, em certos casos, é facultativa; O predicativo objetivo geralmente se refere ao objeto direto. Excepcionalmente, pode referir-se ao objeto in-direto do verbo chamar. Chamavam-lhe poeta; Podemos antepor o predicativo a seu objeto: O advogado considerava indiscutíveis os direitos da herdeira.; Julgo inoportuna essa viagem.; “E até embriagado o vi muitas vezes.”; “Tinha estendida a seus pés uma planta rústica da cidade.”; “Sentia ainda muito abertos os ferimen-tos que aquele choque com o mundo me causara.”

Termos Integrantes da OraçãoChamam-se termos integrantes da oração os que completam

a significação transitiva dos verbos e nomes. Integram (inteiram, completam) o sentido da oração, sendo por isso indispensável à compreensão do enunciado. São os seguintes:

- Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto);- Complemento Nominal;- Agente da Passiva.

Objeto Direto: é o complemento dos verbos de predicação incompleta, não regido, normalmente, de preposição. Exemplos:

As plantas purificaram o ar.“Nunca mais ele arpoara um peixe-boi.” (Ferreira Castro)Procurei o livro, mas não o encontrei.Ninguém me visitou.

O objeto direto tem as seguintes características:- Completa a significação dos verbos transitivos diretos;- Normalmente, não vem regido de preposição;- Traduz o ser sobre o qual recai a ação expressa por um verbo

ativo: Caim matou Abel.- Torna-se sujeito da oração na voz passiva: Abel foi morto

por Caim.

O objeto direto pode ser constituído:- Por um substantivo ou expressão substantivada: O lavrador

cultiva a terra.; Unimos o útil ao agradável.- Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos:

Espero-o na estação.; Estimo-os muito.; Sílvia olhou-se ao espe-lho.; Não me convidas?; Ela nos chama.; Avisamo-lo a tempo.; Procuram-na em toda parte.; Meu Deus, eu vos amo.; “Marchei resolutamente para a maluca e intimei-a a ficar quieta.”; “Vós ha-veis de crescer, perder-vos-ei de vista.”

- Por qualquer pronome substantivo: Não vi ninguém na loja.; A árvore que plantei floresceu. (que: objeto direto de plantei); Onde foi que você achou isso? Quando vira as folhas do livro, ela o faz com cuidado.; “Que teria o homem percebido nos meus escritos?”

Frequentemente transitivam-se verbos intransitivos, dando-se lhes por objeto direto uma palavra cognata ou da mesma esfera semântica:

“Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.” (Vi-valdo Coaraci)

“Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal Ma-chado)

“Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” (Machado de Assis)

Em tais construções é de rigor que o objeto venha acompanha-do de um adjunto.

Objeto Direto Preposicionado: Há casos em que o objeto direto, isto é, o complemento de verbos transitivos diretos, vem precedido de preposição, geralmente a preposição a. Isto ocorre principalmente:

- Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico: Deste modo, prejudicas a ti e a ela.; “Mas dona Carolina amava mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me que Roberto hostiliza-va antes a mim do que à ideia.”; “Ricardina lastimava o seu amigo como a si própria.”; “Amava-a tanto como a nós”.

- Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro Seve-riano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a todos; deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo desenvolvimento das suas graças.”; “Agora sabia que podia manobrar com ele, com aquele homem a quem na realidade também temia, como todos ali”.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando

que o objeto direto seja tomado como sujeito, impedindo constru-ções ambíguas: Convence, enfim, ao pai o filho amado.; “Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem cerimônia, como a um ir-mão.”; A qual delas iria homenagear o cavaleiro?

- Em expressões de reciprocidade, para garantir a clareza e a eufonia da frase: “Os tigres despedaçam-se uns aos outros.”; “As companheiras convidavam-se umas às outras.”; “Era o abraço de duas criaturas que só tinham uma à outra”.

- Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas, prin-cipalmente na expressão dos sentimentos ou por amor da eufonia da frase: Judas traiu a Cristo.; Amemos a Deus sobre todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é a Pedro.”; “O estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”.

- Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o objeto direto para dar-lhe realce: A você é que não enganam!; A médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A este confrade conheço desde os seus mais tenros anos”.

- Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a ambos...”.

- Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes a pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e odeias a outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes também aos outros.; A quantos a vida ilude!.

- Em certas construções enfáticas, como puxar (ou arrancar) da espada, pegar da pena, cumprir com o dever, atirar com os li-vros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas de aço fino...”; “Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a coser.”; “Imagina-se a consternação de Itaguaí, quando soube do caso.”

Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a prepo-sição é de rigor, nos cinco outros, facultativa; A substituição do objeto direto preposicionado pelo pronome oblíquo átono, quando possível, se faz com as formas o(s), a(s) e não lhe, lhes: amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo (convencê-lo); O objeto dire-to preposicionado, é obvio, só ocorre com verbo transitivo direto; Podem resumir-se em três as razões ou finalidades do emprego do objeto direto preposicionado: a clareza da frase; a harmonia da frase; a ênfase ou a força da expressão.

Objeto Direto Pleonástico: Quando queremos dar destaque ou ênfase à ideia contida no objeto direto, colocamo-lo no início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do pronome oblíquo. A esse objeto repetido sob forma pronominal chama-se pleonástico, enfático ou redundante. Exemplos:

O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas da camisa.O bem, muitos o louvam, mas poucos o seguem.“Seus cavalos, ela os montava em pêlo.” (Jorge Amado)

Objeto Indireto: É o complemento verbal regido de preposi-ção necessária e sem valor circunstancial. Representa, ordinaria-mente, o ser a que se destina ou se refere a ação verbal: “Nunca desobedeci a meu pai”. O objeto indireto completa a significação dos verbos:

- Transitivos Indiretos: Assisti ao jogo; Assistimos à missa e à festa; Aludiu ao fato; Aspiro a uma vida calma.

- Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou passiva): Dou graças a Deus; Ceda o lugar aos mais velhos; Dedicou sua vida aos doentes e aos pobres; Disse-lhe a verdade. (Disse a ver-dade ao moço.)

O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras ca-tegorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente tran-sitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta; Sobram--lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe convém; A proposta pareceu-lhe aceitável.

Observações: Há verbos que podem construir-se com dois ob-jetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a Deus por nós.; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto direto com o complemento nominal nem com o adjunto adverbial; Em frases como “Para mim tudo eram alegrias”, “Para ele nada é impossí-vel”, os pronomes em destaque podem ser considerados adjuntos adverbiais.

O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes objetivos in-diretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Exemplos: Obedece--me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence. (=Isto pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...); Peço-vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a preposição é expressa, como carac-terística do objeto indireto: Recorro a Deus.; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com pouco.; Ele só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.; Conto com você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti agradou ao público.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de que mais gosto é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a conhece.; Os obstáculos contra os quais luto são muitos.; As pessoas com quem conto são poucas.

Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é repre-sentado pelos substantivos (ou expressões substantivas) ou pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: a, com, con-tra, de, em, para e por.

Objeto Indireto Pleonástico: à semelhança do objeto direto, o objeto indireto pode vir repetido ou reforçado, por ênfase. Exem-plos: “A mim o que me deu foi pena.”; “Que me importa a mim o destino de uma mulher tísica...? “E, aos brigões, incapazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.”

Complemento Nominal: é o termo complementar reclamado pela significação transitiva, incompleta, de certos substantivos, ad-jetivos e advérbios. Vem sempre regido de preposição. Exemplos: A defesa da pátria; Assistência às aulas; “O ódio ao mal é amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino.”; “Ah, não fosse ele surdo à minha voz!”

Observações: O complemento nominal representa o recebe-dor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor de músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas no objeto indireto. Difere des-te apenas porque, em vez de complementar verbos, complementa nomes (substantivos, adjetivos) e alguns advérbios em –mente. A nomes que requerem complemento nominal correspondem, ge-

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAralmente, verbos de mesmo radical: amor ao próximo, amar o próximo; perdão das injúrias, perdoar as injúrias; obediente aos pais, obedecer aos pais; regresso à pátria, regressar à pátria; etc.

Agente da Passiva: é o complemento de um verbo na voz pas-siva. Representa o ser que pratica a ação expressa pelo verbo passi-vo. Vem regido comumente pela preposição por, e menos frequen-temente pela preposição de: Alfredo é estimado pelos colegas; A cidade estava cercada pelo exército romano; “Era conhecida de todo mundo a fama de suas riquezas.”

O agente da passiva pode ser expresso pelos substantivos ou pelos pronomes:

As flores são umedecidas pelo orvalho.A carta foi cuidadosamente corrigida por mim.Muitos já estavam dominados por ele.

O agente da passiva corresponde ao sujeito da oração na voz ativa:

A rainha era chamada pela multidão. (voz passiva)A multidão aclamava a rainha. (voz ativa)Ele será acompanhado por ti. (voz passiva)Tu o acompanharás. (voz ativa)

Observações: Frase de forma passiva analítica sem comple-mento agente expresso, ao passar para a ativa, terá sujeito inde-terminado e o verbo na 3ª pessoa do plural: Ele foi expulso da cidade. (Expulsaram-no da cidade.); As florestas são devastadas. (Devastam as florestas.); Na passiva pronominal não se declara o agente: Nas ruas assobiavam-se as canções dele pelos pedestres. (errado); Nas ruas eram assobiadas as canções dele pelos pedes-tres. (certo); Assobiavam-se as canções dele nas ruas. (certo)

Termos Acessórios da Oração

Termos acessórios são os que desempenham na oração uma função secundária, qual seja a de caracterizar um ser, determinar os substantivos, exprimir alguma circunstância. São três os ter-mos acessórios da oração: adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto.

Adjunto adnominal: É o termo que caracteriza ou determina os substantivos. Exemplo: Meu irmão veste roupas vistosas. (Meu determina o substantivo irmão: é um adjunto adnominal – vistosas caracteriza o substantivo roupas: é também adjunto adnominal).

O adjunto adnominal pode ser expresso: Pelos adjetivos: água fresca, terras férteis, animal feroz; Pelos artigos: o mundo, as ruas, um rapaz; Pelos pronomes adjetivos: nosso tio, este lugar, pouco sal, muitas rãs, país cuja história conheço, que rua?; Pelos numerais: dois pés, quinto ano, capítulo sexto; Pelas locuções ou expressões adjetivas que exprimem qualidade, posse, origem, fim ou outra especificação:

- presente de rei (=régio): qualidade- livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença- água da fonte, filho de fazendeiros: origem- fio de aço, casa de madeira: matéria- casa de ensino, aulas de inglês: fim, especialidade- homem sem escrúpulos (=inescrupuloso): qualidade- criança com febre (=febril): característica- aviso do diretor: agente

Observações: Não confundir o adjunto adnominal formado por locução adjetiva com complemento nominal. Este represen-ta o alvo da ação expressa por um nome transitivo: a eleição do presidente, aviso de perigo, declaração de guerra, empréstimo de dinheiro, plantio de árvores, colheita de trigo, destruidor de matas, descoberta de petróleo, amor ao próximo, etc. O adjunto adnominal formado por locução adjetiva representa o agente da ação, ou a origem, pertença, qualidade de alguém ou de alguma coisa: o discurso do presidente, aviso de amigo, declaração do ministro, empréstimo do banco, a casa do fazendeiro, folhas de árvores, farinha de trigo, beleza das matas, cheiro de petróleo, amor de mãe.

Adjunto adverbial: É o termo que exprime uma circunstância (de tempo, lugar, modo, etc.) ou, em outras palavras, que modifica o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio. Exemplo: “Meninas numa tarde brincavam de roda na praça”. O adjunto adverbial é expresso: Pelos advérbios: Cheguei cedo.; Ande devagar.; Ma-ria é mais alta.; Não durma ao volante.; Moramos aqui.; Ele fala bem, fala corretamente.; Volte bem depressa.; Talvez esteja en-ganado.; Pelas locuções ou expressões adverbiais: Às vezes viaja-va de trem.; Compreendo sem esforço.; Saí com meu pai.; Júlio reside em Niterói.; Errei por distração.; Escureceu de repente.

Observações: Pode ocorrer a elipse da preposição antes de adjuntos adverbiais de tempo e modo: Aquela noite, não dormi. (=Naquela noite...); Domingo que vem não sairei. (=No domin-go...); Ouvidos atentos, aproximei-me da porta. (=De ouvidos atentos...); Os adjuntos adverbiais classificam-se de acordo com as circunstâncias que exprimem: adjunto adverbial de lugar, modo, tempo, intensidade, causa, companhia, meio, assunto, negação, etc;

É importante saber distinguir adjunto adverbial de adjunto ad-nominal, de objeto indireto e de complemento nominal: sair do mar (ad.adv.); água do mar (adj.adn.); gosta do mar (obj.indir.); ter medo do mar (compl.nom.).

Aposto: É uma palavra ou expressão que explica ou esclarece, desenvolve ou resume outro termo da oração. Exemplos:

D. Pedro II, imperador do Brasil, foi um monarca sábio.“Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência.”

(Carlos Drummond de Andrade)“No Brasil, região do ouro e dos escravos, encontramos a

felicidade.” (Camilo Castelo Branco)“No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de nos-

sa gente.” (Mário de Andrade)

O núcleo do aposto é um substantivo ou um pronome subs-tantivo:

Foram os dois, ele e ela.Só não tenho um retrato: o de minha irmã.O dia amanheceu chuvoso, o que me obrigou a ficar em casa.

O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases se-guintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do sujeito:

Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas.As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de

cores.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAOs apostos, em geral, destacam-se por pausas, indicadas, na

escrita, por vírgulas, dois pontos ou travessões. Não havendo pau-sa, não haverá vírgula, como nestes exemplos:

Minha irmã Beatriz; o escritor João Ribeiro; o romance Tóia; o rio Amazonas; a Rua Osvaldo Cruz; o Colégio Tiradentes, etc.

“Onde estariam os descendentes de Amaro vaqueiro?” (Gra-ciliano Ramos)

O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às vezes, está elíptico. Exemplos:

Rapaz impulsivo, Mário não se conteve.Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da

alma humana.“Irmão do mar, do espaço, amei as solidões sobre os roche-

dos ásperos.” (Cabral do Nascimento)(refere-se ao sujeito oculto eu).

O aposto, às vezes, refere-se a toda uma oração. Exemplos:Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, sinal de

tempestade iminente.O espaço é incomensurável, fato que me deixa atônito.Simão era muito espirituoso, o que me levava a preferir sua

companhia.

Um aposto pode referir-se a outro aposto:“Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do ve-

lho coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo)

O aposto pode vir precedido das expressões explicativas isto é, a saber, ou da preposição acidental como:

Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai, não são banhados pelo mar.

Este escritor, como romancista, nunca foi superado.

O aposto que se refere a objeto indireto, complemento nomi-nal ou adjunto adverbial vem precedido de preposição:

O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado.“Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das coi-

sas.” (Raquel Jardim)De cobras, morcegos, bichos, de tudo ela tinha medo.

Vocativo: (do latim vocare = chamar) é o termo (nome, título, apelido) usado para chamar ou interpelar a pessoa, o animal ou a coisa personificada a que nos dirigimos:

“Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!” (Maria de Lourdes Teixeira)

“A ordem, meus amigos, é a base do governo.” (Machado de Assis)

“Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (fagundes Varela)“Ei-lo, o teu defensor, ó Liberdade!” (Mendes Leal)

Observação: Profere-se o vocativo com entoação exclamativa. Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo inicial, os pontos interrogativo e exclamativo indicam um chamado alto e prolonga-do. O vocativo se refere sempre à 2ª pessoa do discurso, que pode ser uma pessoa, um animal, uma coisa real ou entidade abstrata personificada. Podemos antepor-lhe uma interjeição de apelo (ó, olá, eh!):

“Tem compaixão de nós , ó Cristo!” (Alexandre Herculano)

“Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!” (Graci-liano Ramos)

“Esconde-te, ó sol de maio, ó alegria do mundo!” (Camilo Castelo Branco)

O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura da oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado.

Exercícios

01. Considere a frase “Ele andava triste porque não encon-trava a companheira” – os verbos grifados são respectivamente:

a) transitivo direto – de ligação;b) de ligação – intransitivo;c) de ligação – transitivo indireto;d) transitivo direto – transitivo indireto;e) de ligação – transitivo direto.

02. Indique a única alternativa que não apresenta agente da passiva:

a) A casa foi construída por nós.b) O presidente será eleito pelo povo.c) Ela será coroada por ti.d) O avô era querido por todos.e) Ele foi eleito por acaso.

03. Em: “A terra era povoada de selvagens”, o termo grifado é:

a) objeto direto;b) objeto indireto;c) agente da passiva;d) complemento nominal;e) adjunto adverbial.

04. Em: “Dulce considerou calada, por um momento, aquele horrível delírio”, os termos grifados são respectivamente:

a) objeto direto – objeto direto;b) predicativo do sujeito – adjunto adnominal;c) adjunto adverbial – objeto direto;d) adjunto adverbial – adjunto adnominal;e) objeto indireto – objeto direto.

05. Assinale a alternativa correta: “para todos os males, há dois remédios: o tempo e o silêncio”, os termos grifados são res-pectivamente:

a) sujeito – objeto direto;b) sujeito – aposto;c) objeto direto – aposto;d) objeto direto – objeto direto;e) objeto direto – complemento nominal.

06. “Usando do direito que lhe confere a Constituição”, as palavras grifadas exercem a função respectivamente de:

a) objeto direto – objeto direto;b) sujeito – objeto direto;c) objeto direto – sujeito;d) sujeito – sujeito;e) objeto direto – objeto indireto.

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Didatismo e Conhecimento 28

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA07. “Recebeu o prêmio o jogador que fez o gol”. Nessa frase

o sujeito de “fez”?a) o prêmio;b) o jogador;c) que;d) o gol;e) recebeu.

08. Assinale a alternativa correspondente ao período onde há predicativo do sujeito:

a) como o povo anda tristonho!b) agradou ao chefe o novo funcionário;c) ele nos garantiu que viria;d) no Rio não faltam diversões;e) o aluno ficou sabendo hoje cedo de sua aprovação.

09. Em: “Cravei-lhe os dentes na carne, com toda a força que eu tinha”, a palavra “que” tem função morfossintática de:

a) pronome relativo – sujeito;b) conjunção subordinada – conectivo;c) conjunção subordinada – complemento verbal;d) pronome relativo – objeto direto;e) conjunção subordinada – objeto direto.

10. Assinale a alternativa em que a expressão grifada tem a função de complemento nominal:

a) a curiosidade do homem incentiva-o a pesquisa;b) a cidade de Londres merece ser conhecida por todos;c) o respeito ao próximo é dever de todos;d) o coitado do velho mendigava pela cidade;e) o receio de errar dificultava o aprendizado das línguas.

Respostas: 01-E / 02-E / 03-C / 04-C / 05-C / 06-E / 07-C / 08-A / 09-D / 10-C /

Período: Toda frase com uma ou mais orações constitui um período, que se encerra com ponto de exclamação, ponto de inter-rogação ou com reticências.

O período é simples quando só traz uma oração, chamada ab-soluta; o período é composto quando traz mais de uma oração. Exemplo: Pegou fogo no prédio. (Período simples, oração absolu-ta.); Quero que você aprenda. (Período composto.)

Existe uma maneira prática de saber quantas orações há num período: é contar os verbos ou locuções verbais. Num período ha-verá tantas orações quantos forem os verbos ou as locuções verbais nele existentes. Exemplos:

Pegou fogo no prédio. (um verbo, uma oração)Quero que você aprenda. (dois verbos, duas orações)Está pegando fogo no prédio. (uma locução verbal, uma oração)Deves estudar para poderes vencer na vida. (duas locuções

verbais, duas orações)Há três tipos de período composto: por coordenação, por su-

bordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo tempo (também chamada de misto).

Período Composto por Coordenação. Orações Coordenadas

Considere, por exemplo, este período composto:

Passeamos pela praia, / brincamos, / recordamos os tempos de infância.

1ª oração: Passeamos pela praia2ª oração: brincamos3ª oração: recordamos os tempos de infância

As três orações que compõem esse período têm sentido pró-prio e não mantêm entre si nenhuma dependência sintática: elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma relação de sentido, mas, como já dissemos, uma não depende da outra sintaticamente.

As orações independentes de um período são chamadas de orações coordenadas (OC), e o período formado só de orações coordenadas é chamado de período composto por coordenação.

As orações coordenadas são classificadas em assindéticas e sindéticas.

- As orações coordenadas são assindéticas (OCA) quando não vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:

Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram. OCA OCA OCA

“Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui.” (Machado de As-sis)

“A noite avança, há uma paz profunda na casa deserta.” (An-tônio Olavo Pereira)

“O ferro mata apenas; o ouro infama, avilta, desonra.” (Coe-lho Neto)

- As orações coordenadas são sindéticas (OCS) quando vêm introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:

O homem saiu do carro / e entrou na casa. OCA OCSAs orações coordenadas sindéticas são classificadas de acor-

do com o sentido expresso pelas conjunções coordenativas que as introduzem. Pode ser:

- Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só... mas também, não só... mas ainda.

Saí da escola / e fui à lanchonete. OCA OCS Aditiva

Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa ideia de acréscimo ou adição com referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa aditiva.

A doença vem a cavalo e volta a pé.As pessoas não se mexiam nem falavam.“Não só findaram as queixas contra o alienista, mas até ne-

nhum ressentimento ficou dos atos que ele praticara.” (Machado de Assis)

- Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.

Estudei bastante / mas não passei no teste. OCA OCS Adversativa

Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa ideia de oposição à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa adversativa.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAA espada vence, mas não convence.“É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles)Tens razão, contudo não te exaltes.Havia muito serviço, entretanto ninguém trabalhava.

- Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto, por isso, pois, logo.

Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão. OCA OCS Conclusiva

Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que expressa ideia de conclusão de um fato enunciado na oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa conclusiva.

Vives mentindo; logo, não mereces fé.Ele é teu pai: respeita-lhe, pois, a vontade.Raimundo é homem são, portanto deve trabalhar.

- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou,ou... ou, ora... ora, seja... seja, quer... quer.

Seja mais educado / ou retire-se da reunião! OCA OCS Alternativa

Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção que estabelece uma relação de alternância ou escolha com refe-rência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa alternativa.

Venha agora ou perderá a vez.“Jacinta não vinha à sala, ou retirava-se logo.” (Machado de

Assis)“Em aviação, tudo precisa ser bem feito ou custará preço

muito caro.” (Renato Inácio da Silva)“A louca ora o acariciava, ora o rasgava freneticamente.”

(Luís Jardim)

- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, porque, pois, porquanto.

Vamos andar depressa / que estamos atrasados. OCA OCS Explicativa

Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção que expressa idéia de explicação, de justificativa em relação à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa explicativa.

Leve-lhe uma lembrança, que ela aniversaria amanhã.“A mim ninguém engana, que não nasci ontem.” (Érico Ve-

ríssimo)“Qualquer que seja a tua infância, conquista-a, que te aben-

çôo.” (Fernando Sabino)O cavalo estava cansado, pois arfava muito.

Exercícios

01. Relacione as orações coordenadas por meio de conjun-ções:

a) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram.b) Não durma sem cobertor. A noite está fria.c) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.

Respostas:Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram.Não durma sem cobertor, pois a noite está fria.Quero desculpar-me, mais consigo encontrá-los.

02. Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o maru-lhar das ondas...” a partícula como expressa uma ideia de:

a) causab) explicaçãoc) conclusãod) proporçãoe) comparação

Resposta: EA conjunção como exercer a função comparativa. Os amplos

bocejos ouvidos são comparados à força do marulhar das ondas.

03. “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração sublinhada pode indicar uma ideia de:

a) concessãob) oposiçãoc) condiçãod) lugare) consequência

Resposta: CA condição necessária para procurar emprego é entrar na fa-

culdade.04. Assinale a sequência de conjunções que estabelecem, en-

tre as orações de cada item, uma correta relação de sentido.

1. Correu demais, ... caiu.2. Dormiu mal, ... os sonhos não o deixaram em paz.3. A matéria perece, ... a alma é imortal.4. Leu o livro, ... é capaz de descrever as personagens com

detalhes.5. Guarde seus pertences, ... podem servir mais tarde.

a) porque, todavia, portanto, logo, entretantob) por isso, porque, mas, portanto, quec) logo, porém, pois, porque, masd) porém, pois, logo, todavia, porquee) entretanto, que, porque, pois, portanto

Resposta: BPor isso – conjunção conclusiva. Porque – conjunção explicativa.Mas – conjunção adversativa.Portanto – conjunção conclusiva.Que – conjunção explicativa.

05. Reúna as três orações em um período composto por coor-denação, usando conjunções adequadas.

Os dias já eram quentes.A água do mar ainda estava fria.As praias permaneciam desertas.

Resposta: Os dias já eram quentes, mas a água do mar ainda estava fria, por isso as praias permaneciam desertas.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA06. No período “Penso, logo existo”, oração em destaque é: a) coordenada sindética conclusiva b) coordenada sindética aditiva c) coordenada sindética alternativa d) coordenada sindética adversativa e) n.d.a

Resposta: A

07. Por definição, oração coordenada que seja desprovida de conectivo é denominada assindética. Observando os períodos se-guintes:

I- Não caía um galho, não balançava uma folha. II- O filho chegou, a filha saiu, mas a mãe nem notou. III- O fiscal deu o sinal, os candidatos entregaram a prova.

Acabara o exame.

Nota-se que existe coordenação assindética em: a) I apenas b) II apenas c) III apenasd) I e IIIe) nenhum deles

Resposta: D08. “Vivemos mais uma grave crise, repetitiva dentro do ci-

clo de graves crises que ocupa a energia desta nação. A frustra-ção cresce e a desesperança não cede. Empresários empurrados à condição de liderança oficial se reúnem, em eventos como este, para lamentar o estado de coisas. O que dizer sem resvalar para o pessimismo, a crítica pungente ou a auto absolvição?

É da história do mundo que as elites nunca introduziram mu-danças que favorecessem a sociedade como um todo. Estaríamos nos enganando se achássemos que estas lideranças empresariais aqui reunidas teriam motivação para fazer a distribuição de po-deres e rendas que uma nação equilibrada precisa ter. Aliás, é in-genuidade imaginar que a vontade de distribuir renda passe pelo empobrecimento da elite. É também ocioso pensar que nós, de tal elite, temos riqueza suficiente para distribuir. Faço sempre, para meu desânimo, a soma do faturamento das nossas mil maiores e melhores empresas, e chego a um número menor do que o fatura-mento de apenas duas empresas japonesas. Digamos, a Mitsubishi e mais um pouquinho. Sejamos francos. Em termos mundiais so-mos irrelevantes como potência econômica, mas o mesmo tempo extremamente representativos como população.”

(“Discurso de Semler aos empresários”, Folha de São Paulo)

Dentre os períodos transcritos do texto acima, um é composto por coordenação e contém uma oração coordenada sindética ad-versativa. Assinalar a alternativa correspondente a este período:

a) A frustração cresce e a desesperança não cede.b) O que dizer sem resvalar para o pessimismo, a crítica pun-

gente ou a auto absolvição.c) É também ocioso pensar que nós, da tal elite, temos riqueza

suficiente para distribuir.d) Sejamos francos. e) Em termos mundiais somos irrelevantes como potência

econômica, mas ao mesmo tempo extremamente representativos como população.

Resposta E

Período Composto por Subordinação

Observe os termos destacados em cada uma destas orações:Vi uma cena triste. (adjunto adnominal)Todos querem sua participação. (objeto direto)Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de causa)

Veja, agora, como podemos transformar esses termos em ora-ções com a mesma função sintática:

Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada com função de adjunto adnominal)

Todos querem / que você participe. (oração subordinada com função de objeto direto)

Não pude sair / porque estava chovendo. (oração subordina-da com função de adjunto adverbial de causa)

Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto, subordi-nada a ela. Quando um período é constituído de pelo menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a subordinada) de-pende sintaticamente da outra (principal), ele é classificado como período composto por subordinação. As orações subordinadas são classificadas de acordo com a função que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas.

Orações Subordinadas Adverbiais

As orações subordinadas adverbiais (OSA) são aquelas que exercem a função de adjunto adverbial da oração principal (OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordinativa que as introduz:

- Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que, visto que.

Não fui à escola / porque fiquei doente. OP OSA Causal

O tambor soa porque é oco.Como não me atendessem, repreendi-os severamente.Como ele estava armado, ninguém ousou reagir.“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de Sousa)- Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a

ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se, con-tanto que, a menos que, a não ser que, desde que.

Irei à sua casa / se não chover. OP OSA Condicional

Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos ofensores.Se o conhecesses, não o condenarias.“Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond de

Andrade)A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência te-

nha êxito.

- Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização. Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais que, mesmo que.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAEla saiu à noite / embora estivesse doente. OP OSA Concessiva

Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente.

Embora não possuísse informações seguras, ainda assim arriscou uma opinião.

Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo quando ou ainda quando ou mesmo que) todos nos critiquem.

Por mais que gritasse, não me ouviram.

- Conformativas: Expressam a conformidade de um fato com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo.

O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado. OP OSA Conformativa

O homem age conforme pensa.Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi.Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas.O jornal, como sabemos, é um grande veículo de informação.

- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando, assim que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal (=assim que).

Ele saiu da sala / assim que eu cheguei. OP OSA Temporal

Formiga, quando quer se perder, cria asas.“Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se esva-

ziam.” (Carlos Povina Cavalcânti)“Quando os tiranos caem, os povos se levantam.” (Marquês

de Maricá)Enquanto foi rico, todos o procuravam.

- Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de que, porque (=para que), que.

Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar. OP OSA Final

“O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.” (Mar-quês de Maricá)

Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor.“Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que = para

que)“Instara muito comigo não deixasse de frequentar as recep-

ções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse = para que não deixasse)

- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi enun-ciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como (= por-que), pois que, visto que.

A chuva foi tão forte / que inundou a cidade. OP OSA Consecutiva

Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos.“A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.” (José

J. Veiga)De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais.

As notícias de casa eram boas, de maneira que pude prolon-gar minha viagem.

- Comparativas: Expressam ideia de comparação com re-ferência à oração principal. Conjunções: como, assim como, tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado com menos ou mais).

Ela é bonita / como a mãe. OP OSA Comparativa

A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.” (Marquês de Maricá)

Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro.Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram.Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à luz

daquele olhar.

Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam clara-mente o verbo, como no exemplo acima, em que está subentendido o verbo ser (como a mãe é).

- Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona pro-porcionalmente ao que foi enunciado na principal. Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais, quanto menos.

Quanto mais reclamava / menos atenção recebia. OSA Proporcional OP

À medida que se vive, mais se aprende.À proporção que avançávamos, as casas iam rareando.O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai dimi-

nuindo.

Orações Subordinadas Substantivas

As orações subordinadas substantivas (OSS) são aquelas que, num período, exercem funções sintáticas próprias de subs-tantivos, geralmente são introduzidas pelas conjunções integrantes que e se. Elas podem ser:

- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto)

O grupo quer / que você ajude. OP OSS Objetiva DiretaO mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O mestre

exigia a presença de todos.)Mariana esperou que o marido voltasse.Ninguém pode dizer: Desta água não beberei.O fiscal verificou se tudo estava em ordem.

- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto indireto)

Necessito / de que você me ajude. OP OSS Objetiva IndiretaNão me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua

viagem.)Aconselha-o a que trabalhe mais.Daremos o prêmio a quem o merecer.Lembre-se de que a vida é breve.

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Didatismo e Conhecimento 32

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela que

exerce a função de sujeito do verbo da oração principal. Observe: É importante sua colaboração. (sujeito)

É importante / que você colabore. OP OSS Subjetiva

A oração subjetiva geralmente vem:- depois de um verbo de ligação + predicativo, em construções

do tipo é bom, é útil, é certo, é conveniente, etc. Ex.: É certo que ele voltará amanhã.

- depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta--se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade.

- depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir, ocor-rer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e seguidos das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos participem da re-união.

É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é neces-sária.)

Parece que a situação melhorou.Aconteceu que não o encontrei em casa.Importa que saibas isso bem.

- Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal: É aquela que exerce a função de complemento nominal de um termo da oração principal. Observe: Estou convencido de sua inocência. (complemento nominal)

Estou convencido / de que ele é inocente. OP OSS Completiva Nominal

Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão dele.)

Estava ansioso por que voltasses.Sê grato a quem te ensina.“Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo.”

(Graciliano Ramos)

- Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela que exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal, vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O importante é sua felicidade. (predicativo)

O importante é / que você seja feliz. OP OSS Predicativa

Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.)Minha esperança era que ele desistisse.Meu maior desejo agora é que me deixem em paz.Não sou quem você pensa.

- Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela que exerce a função de aposto de um termo da oração principal. Obser-ve: Ele tinha um sonho: a união de todos em benefício do país. (aposto)

Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício do país.

OP OSS Apositiva

Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma coi-sa: a sua felicidade)

Só lhe peço isto: honre o nosso nome.“Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto: de

que virias a morrer...” (Osmã Lins)“Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum motivo

oculto?” (Machado de Assis)

As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de dois--pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à oração principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho recuperasse a saúde, tornou-se realidade.

Observação: Além das conjunções integrantes que e se, as ora-ções substantivas podem ser introduzidas por outros conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos:

Não sei quando ele chegou.Diga-me como resolver esse problema.

Orações Subordinadas Adjetivas

As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem a fun-ção de adjunto adnominal de algum termo da oração principal. Observe como podemos transformar um adjunto adnominal em oração subordinada adjetiva:

Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal)Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada adjetiva)As orações subordinadas adjetivas são sempre introduzidas

por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem, etc.) e podem ser classificadas em:

- Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que se referem. Exemplo:

O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar. OP OSA Restritiva

Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não aplau-diu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º lugar.

Pedra que rola não cria limo.Os animais que se alimentam de carne chamam-se carní-

voros.Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas es-

creveram.“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário Ma-

riano)

- Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se refe-rem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem restringi--lo ou especificá-lo. Exemplo:

O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um novo livro.

OP OSA Explicativa OP

Deus, que é nosso pai, nos salvará.Valério, que nasceu rico, acabou na miséria.Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho.Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado.

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Didatismo e Conhecimento 33

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAOrações Reduzidas

Observe que as orações subordinadas eram sempre introdu-zidas por uma conjunção ou pronome relativo e apresentavam o verbo numa forma do indicativo ou do subjuntivo. Além desse tipo de orações subordinadas há outras que se apresentam com o ver-bo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio e particípio). Exemplos:

- Ao entrar nas escola, encontrei o professor de inglês. (in-finitivo)

- Precisando de ajuda, telefone-me. (gerúndio)- Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário. (par-

ticípio)

As orações subordinadas que apresentam o verbo numa das formas nominais são chamadas de reduzidas.

Para classificar a oração que está sob a forma reduzida, de-vemos procurar desenvolvê-la do seguinte modo: colocamos a conjunção ou o pronome relativo adequado ao sentido e passamos o verbo para uma forma do indicativo ou subjuntivo, conforme o caso. A oração reduzida terá a mesma classificação da oração desenvolvida.

Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês.Quando entrei na escola, / encontrei o professor de inglês. OSA TemporalAo entrar na escola: oração subordinada adverbial temporal,

reduzida de infinitivo.

Precisando de ajuda, telefone-me.Se precisar de ajuda, / telefone-me. OSA CondicionalPrecisando de ajuda: oração subordinada adverbial condicio-

nal, reduzida de gerúndio.

Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.Assim que acabou o treino, / os jogadores foram para o ves-

tiário. OSA Temporal

Acabado o treino: oração subordinada adverbial temporal, re-duzida de particípio.

Observações:

- Há orações reduzidas que permitem mais de um tipo de de-senvolvimento. Há casos também de orações reduzidas fixas, isto é, orações reduzidas que não são passíveis de desenvolvimento. Exemplo: Tenho vontade de visitar essa cidade.

- O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal. Exemplos:

Preciso terminar este exercício.Ele está jantando na sala.Essa casa foi construída por meu pai.- Uma oração coordenada também pode vir sob a forma redu-

zida. Exemplo:O homem fechou a porta, saindo depressa de casa.O homem fechou a porta e saiu depressa de casa. (oração

coordenada sindética aditiva)

Saindo depressa de casa: oração coordenada reduzida de ge-rúndio.

Qual é a diferença entre as orações coordenadas explicativas e as orações subordinadas causais, já que ambas podem ser iniciadas por que e porque? Às vezes não é fácil estabelecer a diferença entre explicativas e causais, mas como o próprio nome indica, as causais sempre trazem a causa de algo que se revela na oração principal, que traz o efeito.

Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre a ora-ção explicativa e a precedente e que esta é, muitas vezes, imperati-va, o que não acontece com a oração adverbial causal. Essa noção de causa e efeito não existe no período composto por coordenação. Exemplo: Rosa chorou porque levou uma surra. Está claro que a oração iniciada pela conjunção é causal, visto que a surra foi sem dúvida a causa do choro, que é efeito. Rosa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.

O período agora é composto por coordenação, pois a oração iniciada pela conjunção traz a explicação daquilo que se revelou na coordena anterior. Não existe aí relação de causa e efeito: o fato de os olhos de Elisa estarem vermelhos não é causa de ela ter chorado.

Ela fala / como falaria / se entendesse do assunto.OP OSA Comparativa SA Condicional

Exercícios

01. Na frase: “Maria do Carmo tinha a certeza de que estava para ser mãe”, a oração destacada é:

a) subordinada substantiva objetiva indireta b) subordinada substantiva completiva nominal c) subordinada substantiva predicativa d) coordenada sindética conclusiva e) coordenada sindética explicativa

02. A segunda oração do período? “Não sei no que pensas” , é classificada como:

a) substantiva objetiva direta b) substantiva completiva nominal c) adjetiva restritivad) coordenada explicativa e) substantiva objetiva indireta

03. “Na ‘Partida Monção’, não há uma atitude inventada. Há reconstituição de uma cena como ela devia ter sido na realida-de.” A oração sublinhada é:

a) adverbial conformativa b) adjetiva c) adverbial consecutiva d) adverbial proporcionale) adverbial causal

04. No seguinte grupo de orações destacadas: 1. É bom que você venha. 2. Chegados que fomos, entramos na escola. 3. Não esqueças que é falível.

Temos orações subordinadas, respectivamente: a) objetiva direta, adverbial temporal, subjetiva b) subjetiva, objetiva direta, objetiva direta c) objetiva direta, subjetiva, adverbial temporal d) subjetiva, adverbial temporal, objetiva direta e) predicativa, objetiva direta, objetiva indireta

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Didatismo e Conhecimento 34

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA05. A palavra “se” é conjunção integrante (por introduzir ora-

ção subordinada substantiva objetiva direta) em qual das orações seguintes?

a) Ele se mordia de ciúmes pelo patrão. b) A Federação arroga-se o direito de cancelar o jogo. c) O aluno fez-se passar por doutor. d) Precisa-se de operários. e) Não sei se o vinho está bom.

06. “Lembro-me de que ele só usava camisas brancas.” A oração sublinhada é:

a) subordinada substantiva completiva nominal b) subordinada substantiva objetiva indireta c) subordinada substantiva predicativa d) subordinada substantiva subjetiva e) subordinada substantiva objetiva direta

07. Na passagem: “O receio é substituído pelo pavor, pelo respeito, pela emoção que emudece e paralisa.” Os termos sub-linhados são:

a) complementos nominais; orações subordinadas adverbiais concessivas, coordenadas entre si

b) adjuntos adnominais; orações subordinadas adverbiais comparativas

c) agentes da passiva; orações subordinadas adjetivas, coor-denadas entre si

d) objetos diretos; orações subordinadas adjetivas, coordena-das entre si

e) objetos indiretos; orações subordinadas adverbiais compa-rativas

08. Neste período “não bate para cortar” , a oração “para cor-tar” em relação a “não bate” , é:

a) a causa b) o modo c) a consequência d) a explicaçãoe) a finalidade

09. Em todos os períodos há orações subordinadas substanti-vas, exceto em:

a) O fato era que a escravatura do Santa Fé não andava nas festas do Pilar, não vivia no coco como a do Santa Rosa.

b) Não lhe tocara no assunto, mas teve vontade de tomar o trem e ir valer-se do presidente.

c) Um dia aquele Lula faria o mesmo com a sua filha, faria o mesmo com o engenho que ele fundara com o suor de seu rosto.

d) O oficial perguntou de onde vinha, e se não sabia notícias de Antônio Silvino.

e) Era difícil para o ladrão procurar os engenhos da várzea, ou meter-se para os lados de Goiana

10. Em - “Há enganos que nos deleitam”, a oração grifada é: a) substantiva subjetiva b) substantiva objetiva direta c) substantiva completiva nominal d) substantiva apositivae) adjetiva restritiva

Respostas: (01-B) (02-E) (03-A) (04-D) (05-E) (06-B) (07-C) (08-E) (09-C) (10-E)

Artigo

Artigo é uma palavra que antepomos aos substantivos para determiná-los, indicando, ao mesmo tempo, gênero e número.

Dividem-se os artigos em: definidos: o, a, os, as e indefini-dos: um, uma, uns, umas.

Os definidos determinam os substantivos de modo preciso, particular: Viajei com o médico.

Os indefinidos determinam os substantivos de modo vago, im-preciso, geral: Viajei com um médico.

- Ambas as mãos. Usa-se o artigo entre o numeral ambas e o substantivo: Ambas as mãos são perfeitas.

- Estou em Paris / Estou na famosa Paris. Não se usa artigo antes dos nomes de cidades, a menos que venham determinados por adjetivos ou locuções adjetivas.

Vim de ParisVim da luminosa Paris.

Mas com alguns nomes de cidades conservamos o artigo. O Rio de Janeiro, O Cairo, O Porto.

Pode ou não ocorrer crase antes dos nomes de cidade, confor-me venham ou não precedidos de artigo.

Vou a Paris.Vou à Paris dos museus.

- Toda cidade / toda a cidade. Todo, toda designam qualquer, cada.

Toda cidade pode concorrer (qualquer cidade). Todo o, toda a designam totalidade, inteireza. Conheci toda a cidade (a cidade inteira).

No plural, usa-se todos os, todas as, exceto antes de numeral não seguido de substantivo.

Todas as cidades vieram.Todos os cinco clubes disputarão o título.Todos cinco são concorrentes. - Tua decisão / a tua decisão. De maneira geral, é facultativo o

uso do artigo antes dos possessivos. Aplaudimos tua decisão.Aplaudimos a tua decisão.

Se o possessivo não vier seguido de substantivo explícito é obrigatória a ocorrência do artigo.

Aplaudiram a tua decisão e não a minha.

- Decisões as mais oportunas / as mais oportunas decisões. No superlativo relativo, não se usa o artigo antes e depois do subs-tantivo.

Tomou decisões as mais oportunas.Tomou as decisões mais oportunas.É errado: Tomou as decisões as mais oportunas.

- Faz uns dez anos. O artigo indefinido, posto antes de um numeral, designa quantidade aproximada: Faz uns dez anos que saí de lá.

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Didatismo e Conhecimento 35

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Em um / num. Os artigos definidos e indefinidos contraem-se

com preposições: de + o= do, de + a= da, etc. As formas de + um e em + um podem-se usar contraídas (dum e num) ou separadas (de um, em um). Estava em uma cidade grande. Estava numa cidade grande.

Substantivo

Substantivo é tudo o que nomeia as “coisas” em geral. Substantivo é tudo o que pode ser visto, pego ou sentido. Substantivo é tudo o que pode ser precedido de artigo . Classificação e Formação

Substantivo Comum: Substantivo comum é aquele que de-signa os seres de uma espécie de forma genérica. Por exemplo: pedra, computador, cachorro, homem, caderno.

Substantivo Próprio: Substantivo próprio é aquele que de-signa um ser específico, determinado, individualizando-o. Por exemplo: Maxi, Londrina, Dílson, Ester. O substantivo próprio sempre deve ser escrito com letra maiúscula.

Substantivo Concreto: Substantivo concreto é aquele que de-signa seres que existem por si só ou apresentam-se em nossa ima-ginação como se existissem por si. Por exemplo: ar, som, Deus, computador, Ester.

Substantivo Abstrato: Substantivo abstrato é aquele que de-signa prática de ações verbais, existência de qualidades ou sen-timentos humanos. Por exemplo: saída (prática de sair), beleza (existência do belo), saudade.

Formação dos substantivos

Substantivo Primitivo: É primitivo o substantivo que não se origina de outra palavra existente na língua portuguesa. Por exem-plo: pedra, jornal, gato, homem.

Substantivo Derivado: É derivado o substantivo que provém de outra palavra da língua portuguesa. Por exemplo: pedreiro, jornalista, gatarrão, homúnculo.

Substantivo Simples: É simples o substantivo formado por um único radical. Por exemplo: pedra, pedreiro, jornal, jorna-lista.

Substantivo Composto: É composto o substantivo formado por dois ou mais radicais. Por exemplo: pedra-sabão, homem-rã, passatempo.

Substantivo Coletivo: É coletivo o substantivo no singular que indica diversos elementos de uma mesma espécie.

- abelha - enxame, cortiço, colmeia- acompanhante - comitiva, cortejo, séquito- alho - (quando entrelaçados) réstia, enfiada, cambada- aluno - classe- amigo - (quando em assembleia) tertúlia

Adjetivo

É a classe gramatical de palavras que exprimem qualidade, defeito, origem, estado do ser.

Classificação dos Adjetivos

Explicativo - exprime qualidade própria do se. Por exemplo, neve fria.

Restritivo - exprime qualidade que não é própria do ser. Ex: fruta madura.

Primitivo - não vem de outra palavra portuguesa. Por exem-plo, bom e mau.

Derivado - tem origem em outra palavra portuguesa. Por exemplo, bondoso

Simples - formado de um só radical. Por exemplo, brasileiro.Composto - formado de mais de um radical. Por exemplo,

franco-brasileiro.Pátrio - é o adjetivo que indica a naturalidade ou a nacionali-

dade do ser. Por exemplo, brasileiro, cambuiense, etc.

Locução Adjetiva

É toda expressão formada de uma preposição mais um subs-tantivo, equivalente a um adjetivo. Por exemplo, homens com ap-tidão (aptos), bandeira da Irlanda (irlandesa).

Gêneros dos Adjetivos

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino. Por exemplo, mau e má, judeu e judia. Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento. Por exemplo, o motivo sócio-literário e a causa sócio-literária. Exceção = surdo-mudo e surda-muda.

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino. Por exemplo, homem feliz ou cruel e mulher fe-liz ou cruel. Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino. Por exemplo, conflito político-social e desavença político-social.

Número dos AdjetivosPlural dos adjetivos simples: Os adjetivos simples flexionam-

-se no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substantivos simples. Por exemplo, mau e maus, fe-liz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.

Plural dos adjetivos compostos: Os adjetivos compostos fle-xionam-se no plural de acordo com as seguintes regras:

- os adjetivos compostos formados de adjetivo + adjetivo fle-xionam somente o último elemento. Por exemplo, luso-brasileiro e luso-brasileiros. Exceções: surdo-mudo e surdos-mudos. E ficam invariáveis os seguintes adjetivos compostos: azul-celeste e azul--marinho.

- os adjetivos compostos formados de palavra invariável + adjetivo flexionam também só o último elemento. Por exemplo, mal-educado e mal-educados.

- os adjetivos compostos formados de adjetivo + substantivo ficam invariáveis. Por exemplo, carro(s) verde-canário.

- as expressões formadas de cor + de + substantivo também ficam invariáveis. Por exemplo, cabelo(s) cor-de-ouro.

Graus dos Adjetivos

O adjetivo flexiona-se em grau para indicar a intensidade da qualidade do ser. Existem, para o adjetivo, dois graus:

Comparativo - de igualdade: tão (tanto, tal) bom como (quão, quanto).

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Didatismo e Conhecimento 36

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- de superioridade: analítico (mais bom do que) e sintético

(melhor que).- de inferioridade: menos bom que (do que).Superlativo

- absoluto: analítico (muito bom) e sintético (ótimo, erudito; ou boníssimo, popular).

- relativo: de superioridade (o mais bom de) e de inferioridade (o menos bom ).

Somente seis adjetivos têm o grau comparativo de superiori-dade sintético. Veja-os: de bom - melhor, de mau - pior, de grande - maior, de pequeno - menor, de alto - superior, de baixo - inferior. Para estes seis adjetivos, usamos a forma analítica do grau compa-rativo de superioridade, quando se comparam duas qualidades do mesmo ser. Por exemplo, Ele é mais bom que inteligente. Usa-se a forma sintética do grau comparativo de superioridade, quando se comparam dois seres através da mesma qualidade. Por exemplo: Ela é melhor que você.

Numeral

É a classe de palavras que exprimem quantidade, ordem, divi-são e multiplicação dos seres na natureza.

Classificação

Cardinais: indicam contagem, medida. Por exemplo, um, dois, três…

Ordinais: indicam a ordem do ser numa série dada. Por exem-plo, primeiro, segundo, terceiro…

Fracionários: indicam a divisão dos seres. Por exemplo, meio, terço, quarto, quinto …

Multiplicativos: indicam a multiplicação dos seres. Por exem-plo, dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo …

um primeiro vinte vigésimodois segundo trinta trigésimotrês terceiro cinquenta quinquagésimoquatro quarto sessenta sexagésimocinco quinto setenta septuagésimoseis sexto cem centésimosete sétimo quinhentos quingentésimooito oitavo seiscentos sexcentésimonove nono mil milésimodez décimo milhão milionésimo

Faz-se a leitura do numeral cardinal, dispondo-se a palavra “e” entre as centenas e as dezenas e entre as dezenas e unidades. Por exemplo, 1.203.726 = um milhão duzentos e três mil setecen-tos e vinte e seis.

Pronome

A palavra que acompanha (determina) ou substitui um nome é denominada pronome. Ex.: Ana disse para sua irmã: - Eu preciso do meu livro de matemática. Você não o encontrou? Ele estava aqui em cima da mesa.

- eu substitui “Ana”- meu acompanha “o livro de matemática”- o substitui “o livro de matemática”- ele substitui “o livro de matemática”

Flexão: Quanto à forma, o pronome varia em gênero, número e pessoa:

Gênero (masculino/feminino)Ele saiu/Ela saiuMeu carro/Minha casa

Número (singular/plural)Eu saí/Nós saímosMinha casa/Minhas casas

Pessoa (1ª/2ª/3ª)Eu saí/Tu saíste/Ele saiuMeu carro/Teu carro/Seu carro

Função: O pronome tem duas funções fundamentais:

Substituir o nome: Nesse caso, classifica-se como pronome substantivo e constitui o núcleo de um grupo nominal. Ex.: Quan-do cheguei, ela se calou. (ela é o núcleo do sujeito da segunda ora-ção e se trata de um pronome substantivo porque está substituindo um nome)

Referir-se ao nome: Nesse caso, classifica-se como pronome adjetivo e constitui uma palavra dependente do grupo nominal. Ex.: Nenhum aluno se calou. (o sujeito “nenhum aluno” tem como núcleo o substantivo “aluno” e como palavra dependente o prono-me adjetivo “nenhum”)

Pronomes Pessoais: São aqueles que substituem os nomes e representam as pessoas do discurso:

1ª pessoa - a pessoa que fala - eu/nós2ª pessoa - a pessoa com que se fala - tu/vós3ª pessoa - a pessoa de quem se fala - ele/ela/eles/elas

Pronomes pessoais retos: são os que têm por função principal representar o sujeito ou predicativo.

Pronomes pessoais oblíquos: são os que podem exercer fun-ção de complemento.

Pessoas do Discurso

Pronomes pessoais

retos

Pronomes pessoais oblíquos

Átonos Tônicos

Singular1ª pessoa eu me mim, comigo2ª pessoa tu te ti, contigo3ª pessoa ele/ela se, o, a,

lhesi, ele, consigo

Plural

1ª pessoa nós nos nós, conosco2ª pessoa vós vos vós convosco3ª pessoa eles/elas se, os,

as, lhessi, els, consigo

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Didatismo e Conhecimento 37

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAPronomes Oblíquos

- Associação de pronomes a verbos: Os pronomes oblíquos o, a, os, as, quando associados a verbos terminados em -r, -s, -z, assumem as formas lo, la, los, las, caindo as consoantes. Ex.: Car-los quer convencer seu amigo a fazer uma viagem; Carlos quer convencê-lo a fazer uma viagem.

- Quando associados a verbos terminados em ditongo nasal (-am, -em, -ão, -õe), assumem as formas no, na, nos, nas. Ex.: Fi-zeram um relatório; Fizeram-no.

- Os pronomes oblíquos podem ser reflexivos e quando isso ocorre se referem ao sujeito da oração. Ex.: Maria olhou-se no espelho; Eu não consegui controlar-me diante do público.

- Antes do infinitivo precedido de preposição, o pronome usa-do deverá ser o reto, pois será sujeito do verbo no infinitivo. Ex.: O professor trouxe o livro para mim. (pronome oblíquo, pois é um complemento); O professor trouxe o livro para eu ler. (pronome reto, pois é sujeito)

Pronomes de Tratamento: São aqueles que substituem a ter-ceira pessoa gramatical. Alguns são usados em tratamento cerimo-nioso e outros em situações de intimidade. Conheça alguns:

- você (v.): tratamento familiar- senhor (Sr.), senhora (Srª.): tratamento de respeito- senhorita (Srta.): moças solteiras- Vossa Senhoria (V.Sª.): para pessoa de cerimônia- Vossa Excelência (V.Exª.): para altas autoridades- Vossa Reverendíssima (V. Revmª.): para sacerdotes- Vossa Eminência (V.Emª.): para cardeais- Vossa Santidade (V.S.): para o Papa- Vossa Majestade (V.M.): para reis e rainhas- Vossa Majestade Imperial (V.M.I.): para imperadores- Vossa Alteza (V.A.): para príncipes, princesas e duques

1- Os pronomes e os verbos ligados aos pronomes de trata-mento devem estar na 3ª pessoa. Ex.: Vossa Excelência já termi-nou a audiência? (nesse fragmento se está dirigindo a pergunta à autoridade)

2- Quando apenas nos referimos a essas pessoas, sem que es-tejamos nos dirigindo a elas, o pronome “vossa” se transforma no possessivo “sua”. Ex.: Sua Excelência já terminou a audiência? (nesse fragmento não se está dirigindo a pergunta à autoridade, mas a uma terceira pessoa do discurso)

Pronomes Possessivos: São aqueles que indicam ideia de pos-se. Além de indicar a coisa possuída, indicam a pessoa gramatical possuidora.

Masculino FemininoSingular Plural Singular Pluralmeu meus minha minhasteu teus tua tuasseu seus sua suas

nosso nossos nossa nossasvosso vossos vossa vossasseu seus sua suas

Existem palavras que eventualmente funcionam como prono-mes possessivos. Ex.: Ele afagou-lhe (seus) os cabelos.

Pronomes Demonstrativos: Os pronomes demonstrativos possibilitam localizar o substantivo em relação às pessoas, ao tem-po, e sua posição no interior de um discurso.

Pronomes Espaço Tempo Ao dito Enumera-ção

este, esta, isto, estes, estas

Perto de quem fala (1ª pessoa).

Presente

Referente aquilo que ainda não foi dito.

Referente ao último elemento citado em uma enume-ração.

Ex.: Não gostei deste livro aqui.

Ex.: Neste ano, tenho realizado bons ne-gócios.

Ex.: Esta afirma-ção me deixou surpresa: gostava de quími-ca.

Ex.: O ho-mem e a mulher são massacrados pela cultura atual, mas esta é mais oprimida.

esse, essa, esses, essas

Perto de quem ouve (2ª pessoa).

Passado ou futuro próximos

Referente aquilo que já foi dito.

Ex.: Não gostei desse livro que está em tuas mãos.

Ex.: Nesse último ano, rea-lizei bons negócios

Ex.: Gos-tava de química. Essa afir-mação me deixou surpresa

aquele, aquela, aquilo, aqueles, aquelas

Perto da 3ª pessoa, distante dos interlocuto-res.

Passado ou futuro remotos

Referente ao primeiro elemento citado em uma enume-ração.

Ex.: Não gostei da-quele livro que a Ro-berta trouxe.

Ex.: Tenho boas re-cordações de 1960, pois na-quele ano realizei bons ne-gócios.

Ex.: O ho-mem e a mulher são massacrados pela cultura atual, mas esta é mais oprimida que aquele.

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Didatismo e Conhecimento 38

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAPronomes Indefinidos: São pronomes que acompanham o

substantivo, mas não o determinam de forma precisa: algum, bas-tante, cada, certo, diferentes, diversos, demais, mais, menos, muito nenhum, outro, pouco, qual, qualquer, quanto, tanto, todo, tudo, um, vários.

Algumas locuções pronominais indefinidas: cada qual, qual-quer um, tal e qual, seja qual for, sejam quem for, todo aquele, quem (que), quer uma ou outra, todo aquele (que), tais e tais, tal qual, seja qual for.

Uso de alguns pronomes indefinidos:

Algum:- quando anteposto ao substantivo da ideia de afirmação. “Al-

gum dinheiro terá sido deixado por ela.” - quando posposto ao substantivo dá ideia de negação. “Di-

nheiro algum terá sido deixado por ela.”

O uso desse pronome indefinido antes ou depois do verbo está ligado à intenção do enunciador.

Demais: Este pronome indefinido, muitas vezes, é confun-dido com o advérbio “demais” ou com a locução adverbial “de mais”. Ex.:

“Maria não criou nada de mais além de uma cópia do quadro de outro artista.” (locução adverbial)

“Maria esperou os demais.” (pronome indefinido = os outros)“Maria esperou demais.” (advérbio de intensidade)

Todo: É usado como pronome indefinido e também como advérbio, no sentido de completamente, mas possuindo flexão de gênero e número, o que é raro em um advérbio. Ex.:

“Percorri todo trajeto.” (pronome indefinido)“Por causa da chuva, a roupa estava toda molhada.” (advérbio)

Cada: Possui valor distributivo e significa todo, qualquer den-tre certo número de pessoas ou de coisas. Ex.: “Cada homem tem a mulher que merece”. Este pronome indefinido não pode antece-der substantivo que esteja em plural (cada férias), a não ser que o substantivo venha antecedido de numeral (cada duas férias). Pode, às vezes, ter valor intensificador: “Mário diz cada coisa idiota!”

Pronomes Relativos: São aqueles que representam nomes que já foram citados e com os quais estão relacionados. O nome citado denomina-se antecedente do pronome relativo. Ex.: “A rua onde moro é muito escura à noite.”; onde: pronome relativo que representa “a rua”; a rua: antecedente do pronome “onde”.

Alguns pronomes que podem funcionar como pronomes re-lativos: Masculino (o qual, os quais, quanto, quantos, cujo, cujos). Feminino (a qual, as quais, quanta, quantas, cuja, cujas). Invariável (quem, que, onde).

O pronome relativo quem sempre possui como antecedente uma pessoa ou coisas personificadas, vem sempre antecedido de preposição e possui o significado de “o qual”. Ex.: “Aquela me-nina de quem lhe falei viajou para Paris”. Antecedente: menina; Pronome relativo antecedido de preposição: de quem.

Os pronomes relativos cujo, cuja sempre precedem a um substantivo sem artigo e possuem o significado “do qual”, “da qual”. Ex.: “O livro cujo autor não me recordo.”

Os pronomes relativos quanto(s) e quanta(s) aparecem ge-ralmente precedidos dos pronomes indefinidos tudo, tanto(s), tanta(s), todos, todas. Ex.: “Você é tudo quanto queria na vida.”

O pronome relativo onde tem sempre como antecedente pa-lavra que indica lugar. Ex.: “A casa onde moro é muito espaçosa.”

O pronome relativo que admite diversos tipos de anteceden-tes: nome de uma coisa ou pessoa, o pronome demonstrativo ou outro pronome. Ex.: “Quero agora aquilo que ele me prometeu.”

Os pronomes relativos, na maioria das vezes, funcionam como conectivos, permitindo-nos unir duas orações em um só período. Ex.: A mulher parece interessada. A mulher comprou o livro. (A mulher que parece interessada comprou o livro.)

Pronomes Interrogativos: Os pronomes interrogativos levam o verbo à 3ª pessoa e são usados em frases interrogativas diretas ou indiretas. Não existem pronomes exclusivamente interrogativos e sim que desempenham função de pronomes interrogativos, como por exemplo: que, quantos, quem, qual, etc. Ex.: “Quantos livros teremos que comprar?”; “Ele perguntou quantos livros teriam que comprar.”; “Qual foi o motivo do seu atraso?”

Verbo

Quando se pratica uma ação, a palavra que representa essa ação e indica o momento em que ela ocorre é o verbo. Exemplos:

- Aquele pedreiro trabalhou muito. (ação – pretérito)- Venta muito na primavera. (fenômeno – presente)- Ana ficará feliz com a tua chegada. (estado - futuro)- Maria enviuvou na semana passada. (mudança de estado –

pretérito)- A serra azula o horizonte. (qualidade – presente)

Conjugação Verbal: Existem 3 conjugações verbais:- A 1ª que tem como vogal temática o ‘’a’’. Ex: cantar, pular,

sonhar etc...- A 2ª que tem como vogal temática o ‘’e’’. Ex: vender, comer,

chover, sofrer etc....- A 3ª que tem como vogal temática o ‘’i’’. Ex: partir, dividir,

sorrir, abrir etc....

1º CONJUGAÇÃOverbos terminados

em AR

2º CONJUGAÇÃO verbos terminados

em ER

3º CONJUGAÇÃO verbos terminados

em IR

cantaramar

sonhar

venderchoversofrer

partirsorrirabrir

OBS: O verbo pôr, assim como seus derivados (compor, re-por, depor, etc.), pertence à 2º conjugação, porque na sua forma antiga a sua terminação era em er: poer. A vogal “e”, apesar de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas formas de verbo: põe, pões, põem etc.

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Didatismo e Conhecimento 39

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAPessoas: 1ª, 2ª e 3ª pessoa são abordadas em 2 situações: sin-

gular e plural. Primeira pessoa do singular – eu; ex: eu cantoSegunda pessoa do singular – tu; ex: tu cantasTerceira pessoa do singular – ele; ex ele: cantaPrimeira pessoa do plural – nós; ex: nós cantamosSegunda pessoa do plural – vós; ex: vós cantaisTerceira pessoa do plural – eles; ex: eles cantam

Tempos e Modo de Verbo

- Presente. Fato ocorrido no momento em que se fala. Ex: Faz- Pretérito. Fato ocorrido antes. Ex: Fez- Futuro. Fato ocorrido depois. Ex: FaráO pretérito subdivide-se em perfeito, imperfeito e mais-que-

-perfeito.- Perfeito. Ação acabada. Ex: Eu li o ultimo romance de Ru-

bens Fonseca.- Imperfeito. Ação inacabada no momento a que se refere à

narração. Ex: Ele olhava o mar durante horas e horas. - Mais-que-perfeito. Ação acabada, ocorrida antes de outro

fato passado. Ex: para poder trabalhar melhor, ela dividira a turma em dois grupos.

O futuro subdivide-se em futuro do presente e futuro do pre-térito.

- futuro do Presente. Refere-se a um fato imediato e certo. Ex: comprarei ingressos para o teatro.

- futuro do Pretérito. Pode indicar condição, referindo-se a uma ação futura, vinculada a um momento já passado. Ex: Apren-deria tocar violão, se tivesse ouvido para a música (aqui indica condição); Eles gostariam de convidá-la para a festa.

Modos Verbais

- Indicativo. Apresenta o fato de maneira real, certa, positiva. Ex: Eu estudo geografia Iremos ao cinema; Voltou para casa.

- subjuntivo. Pode exprimir um desejo e apresenta o fato como possível ou duvidoso, hipotético. Ex: Queria que me levas-ses ao teatro; Se eu tivesse dinheiro, compraria um carro; Quando o relógio despertar, acorda-me.

- Imperativo. Exprime ordem, conselho ou súplica. Ex: Lim-pa a cozinha, Maria; Descanse bastante nestas férias; Senhor tende piedade de nós.

As formas nominais do verbo são Três: infinitivo, gerúndio e particípio.

Infinitivo: Pessoal - cantar (eu), cantares (tu), vender (eu), venderes (tu),

partir (eu), partires (tu)Impessoal - cantar, vender, partir.Gerúndio - cantando, vendendo, partindo.Particípio - cantado,vendido,partido.

Impessoal: Uma forma em que o verbo não se refere a ne-nhuma pessoa gramatical: é o infinitivo impessoal quando não se refere às pessoas do discurso. Exemplos: viver é bom. (a vida é boa); É proibido fumar. (é proibido o fumo)

Pessoal: Quando se refere às pessoas do discurso. Neste caso, não é flexionado nas 1ª e 3ª pessoas do singular e flexionadas nas demais:

Falar (eu) – não flexionadoFalares (tu) – flexionadoFalar (ele) – não flexionado Falarmos (nós) – flexionadoFalardes (voz) – flexionadoFalarem (eles) – flexionado

Ex: É conveniente estudares (é conveniente o estudo); É útil pesquisarmos (é útil a nossa pesquisa)

Aspecto: Aspecto é a maneira de ser ação.

O Pretérito Perfeito Composto: indica um fato concluído, revela de certa forma a ideia de continuidade. Ex: Eu tenho estu-dado (eu estudei até o presente momento). Os verbos invocativos (terminados em “ecer” ou “escer”) indica uma continuidade gra-dual. Ex: embranquecer é começar a ficar grisalho e envelhecer é ir ficando velho.

O Presente do Indicativo pode:- indicar frequência. Ex: O sol nasce para todos.- ser empregado no lugar do futuro. Ex: amanhã vou ao teatro.

(irei); Se continuam as indiretas, perco a paciência. (continuarem; perderei)

- ser empregado no lugar do pretérito (presente histórico). Ex: É 1939: alemães invadem o território polonês (era; invadiram)

O Pretérito Imperfeito do Indicativo pode: - Substituir o futuro do pretérito. Ex: se eu soubesse, não dizia

aquilo. (diria)- Expressar cortesia ou timidez. Ex: o senhor podia fazer o

favor de me emprestar uma caneta? (pode)

Futuro do Presente pode:- Indicar probabilidade. Ex: Ele terá, no máximo, uns 70 quilos.- Substituir o imperativo. Ex: não matarás. (não mates)

Tempos Simples e Tempos Compostos: Os tempos são sim-ples quando formados apenas pelo verbo principal.

Indicativo:Presente - canto, vendo, parto, etc.Pretérito perfeito - cantei,vendi,parti, etc.Pretérito imperfeito - cantava, vendia, partia, etc.Pretérito mais-que-perfeito - cantara, vendera, partira, etc.Futuro do presente - cantarei, venderei, partirei, etc.Futuro do pretérito - cantaria, venderia, partiria, etc.

Subjuntivo:Presente - cante,venda, parta, etc.Pretérito imperfeito - cantasse, vendesse, partisse, etc.Futuro - cantar, vender, partir.

Imperativo: Ao indicar ordem, conselho, pedido, o fato ver-bal pode expressar negação ou afirmação. São, portanto, duas as formas do imperativo:

- Imperativo Negativo: Não falem alto.- Imperativo Afirmativo: Falem mais alto.

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Didatismo e Conhecimento 40

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAImperativo negativo: É formado do presente do subjuntivo.

1º CONJUGAÇÃO CANT - AR

2º CONJUGAÇÃO VEND - ER

3º CONJUGAÇÃO PART - IR

Não cantesNão canteNão cantemosNão canteisNão cantem

Não vendasNão vendaNão vendamosNão vendaisNão vendam

Não partasNão partaNão partamosNão partaisNão partam

Imperativo afirmativo: Também é formado do presente do subjuntivo, com exceção da 2º pessoa do singular e da 2º pessoa do plural, que são retiradas do presente do indicativo sem o “s”. Ex: Canta – Cante – Cantemos – Cantai – Cantem

O imperativo não possui a 1º pessoa do singular, pois não se prevê a ordem, o pedido ou o conselho a si mesmo.

Tempos são compostos quando formados pelos auxiliares ter ou haver.

Indicativo:Pretérito perfeito composto - tenho cantado, tenho vendido,

tenho partido, etc.Pretérito mais-que-perfeito composto - tinha cantado, tinha

vendido, tinha partido, etc.Futuro do presente composto - terei cantado, terei vendido,

terei partido, etc.Futuro do pretérito composto - teria cantado, teria vendido,

teria partido, etc.

Subjuntivo:Pretérito perfeito composto - tenha cantado, tenha vendido,

tenha partido, etc.Pretérito mais-que-perfeito composto - tivesse cantado, tives-

se vendido, tivesse partido, etc.Futuro composto - tiver cantado, tiver vendido,tiver partido, etc.

Infinitivo:Pretérito impessoal composto - ter cantado, ter vendido, ter

partido, etc.Pretérito pessoal composto - ter (teres) cantado, ter (teres)

vendido, ter (teres) partido.Gerúndio pretérito composto - tendo cantado, tendo vendido,

tendo partido.

Regulares: Regulares são verbos que se conjugam de acordo com o paradigma (modelo) de cada conjugação. Cantar (1ª conju-gação) vender (2ª conjugação) partir (3ª conjugação) todos que se conjugarem de acordo com esses verbos serão regulares.

Advérbio

Palavra invariável que modifica essencialmente o verbo, ex-primindo uma circunstância.

Advérbio modificando um verbo ou adjetivo: Ocorre quan-do o advérbio modifica um verbo ou um adjetivo acrescentando a eles uma circunstância. Por circunstância entende-se qualquer particularidade que determina um fato, ampliando a informação nele contida. Ex.: Antônio construiu seu arraial popular ali; Estra-das tão ruins.

Advérbio modificando outro advérbio: Ocorre quando o ad-vérbio modifica um adjetivo ou outro advérbio, geralmente inten-sificando o significado. Ex.: Grande parte da população adulta lê muito mal.

Advérbio modificando uma oração inteira: Ocorre quando o advérbio está modificando o grupo formado por todos os outros elementos da oração, indicando uma circunstância. Ex.: Lamenta-velmente o Brasil ainda tem 19 milhões de analfabetos.

Locução Adverbial: É um conjunto de palavras que pode exercer a função de advérbio. Ex.: De modo algum irei lá.

Tipos de Advérbios

- de modo: Ex.: Sei muito bem que ninguém deve passar ates-tado da virtude alheia. Bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, de-pressa, acinte, debalde, devagar, ás pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondas, aos poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em -mente: calmamente, tristemente, propositadamente, pacientemente, amorosamente, do-cemente, escandalosamente, bondosamente, generosamente.

- de intensidade: Ex.: Acho que, por hoje, você já ouviu bas-tante. Muito, demais, pouco, tão, menos, em excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,bem (quando aplicado a propriedades graduáveis).

- de tempo: Ex.: Leia e depois me diga quando pode sair na gazeta. Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora, amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes, doravante, nunca, en-tão, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes, imediatamente, primeiramente, pro-visoriamente, sucessivamente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.

- de lugar: Ex.: A senhora sabe aonde eu posso encontrar esse pai de santo? Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, alhu-res, nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distancia, à dis-tancia de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta.

- de negação : Ex.: De modo algum irei lá. Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.

- de dúvida: Ex.: Talvez ela volte hoje. Acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- de afirmação: Ex.: Realmente eles sumiram. Sim, certamen-

te, realmente, decerto, efetivamente, certo, decididamente, real-mente, deveras, indubitavelmente.

- de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somen-te, simplesmente, só, unicamente.

- de inclusão: Ex.: Emocionalmente o indivíduo também amadurece durante a adolescência. Ainda, até, mesmo, inclusiva-mente, também

- de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente

- de designação: Eis

- de interrogação: Ex.: E então? Quando é que embarca? onde? (lugar), como? (modo), quando? (tempo), porque? (causa), quanto? (preço e intensidade), para que? (finalidade).

Palavras Denotativas: Há, na língua portuguesa, uma série de palavras que se assemelham a advérbios. A Nomenclatura Grama-tical Brasileira não faz nenhuma classificação especial para essas palavras, por isso elas são chamadas simplesmente de palavras denotativas.

- Adição: Ex.: Comeu tudo e ainda queria mais. Ainda, além disso.

- Afastamento: Ex.: Foi embora daqui. Embora.- Afetividade: Ex.: Ainda bem que passei de ano. Ainda bem,

felizmente, infelizmente.- Aproximação: quase, lá por, bem, uns, cerca de, por volta de.- Designação: Ex.: Eis nosso novo carro. Eis.- Exclusão: Ex.: Todos irão, menos ele. Apenas, salvo, menos,

exceto, só, somente, exclusive, sequer, senão.- Explicação: Ex.: Viajaremos em julho, ou seja, nas férias.

Isto é, por exemplo, a saber, ou seja.- Inclusão: Ex.: Até ele irá viajar. Até, inclusive, também,

mesmo, ademais.- Limitação: Ex.: Apenas um me respondeu. Só, somente, uni-

camente, apenas.- Realce: Ex.: E você lá sabe essa questão? É que, cá, lá, não,

mas, é porque, só, ainda, sobretudo.- Retificação: Ex.: Somos três, ou melhor, quatro. Aliás, isto

é, ou melhor, ou antes.- Situação: Ex.: Afinal, quem perguntaria a ele? Então, mas,

se, agora, afinal.

Grau dos Advérbios: Os advérbios, embora pertençam à ca-tegoria das palavras invariáveis, podem apresentar variações com relação ao grau. Além do grau normal, o advérbio pode-se apresen-tar no grau comparativo e no superlativo.

- Grau Comparativo: quando a circunstância expressa pelo advérbio aparece em relação de comparação. O advérbio não é fle-xionado no grau comparativo. Para indicar esse grau utilizam as formas tão…quanto, mais…que, menos…que. Pode ser:

- comparativo de igualdade. Ex.: Chegarei tão cedo quanto você.

- comparativo de superioridade. Ex.: Chegarei mais cedo que você.

- comparativo de inferioridade. Ex.: Chegaremos menos cedo que você.

- Grau Superlativo: nesse caso, a circunstância expressa pelo advérbio aparecerá intensificada. O grau superlativo do advérbio pode ser formado tanto pelo processo sintético (acréscimo de sufi-xo), como pelo processo analítico (outro advérbio estará indicando o grau superlativo).

- superlativo (ou absoluto) sintético: formado com o acrésci-mo de sufixo. Ex.: Cheguei tardíssimo.

- superlativo (ou absoluto) analítico: expresso com o auxilio de um advérbio de intensidade. Ex.: Cheguei muito tarde.

Quando se empregam dois ou mais advérbios terminados em –mente, pode-se acrescentar o sufixo apenas no ultimo. Ex.: Nada omitiu de seu pensamento; falou clara, franca e nitidamente.

Quando se quer realçar o advérbio, pode-se antecipá-lo. Ex.: Imediatamente convoquei os alunos.

Preposição

É uma palavra invariável que serve para ligar termos ou ora-ções. Quando esta ligação acontece, normalmente há uma subor-dinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura da língua pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.

Tipos de Preposição

- Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamen-te como preposições. A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.

- Preposições acidentais: palavras de outras classes gramati-cais que podem atuar como preposições. Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.

- Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas. Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

A preposição, é invariável. No entanto pode unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em gênero ou em núme-ro. Ex: por + o = pelo; por + a = pela

Vale ressaltar que essa concordância não é característica da preposição e sim das palavras a que se ela se une. Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra pode se dar a partir de dois processos:

- Combinação: A preposição não sofre alteração. preposição a + artigos definidos o, osa + o = aopreposição a + advérbio ondea + onde = aonde

- Contração: Quando a preposição sofre alteração.Preposição + ArtigosDe + o(s) = do(s)De + a(s) = da(s)De + um = dum

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Didatismo e Conhecimento 42

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRADe + uns = dunsDe + uma = dumaDe + umas = dumasEm + o(s) = no(s)Em + a(s) = na(s)Em + um = numEm + uma = numaEm + uns = nunsEm + umas = numasA + à(s) = à(s)Por + o = pelo(s)Por + a = pela(s)

- Preposição + Pronomes

De + ele(s) = dele(s)De + ela(s) = dela(s)De + este(s) = deste(s)De + esta(s) = desta(s)De + esse(s) = desse(s)De + essa(s) = dessa(s)De + aquele(s) = daquele(s)De + aquela(s) = daquela(s)De + isto = distoDe + isso = dissoDe + aquilo = daquiloDe + aqui = daquiDe + aí = daíDe + ali = daliDe + outro = doutro(s)De + outra = doutra(s)Em + este(s) = neste(s)Em + esta(s) = nesta(s)Em + esse(s) = nesse(s)Em + aquele(s) = naquele(s)Em + aquela(s) = naquela(s)Em + isto = nistoEm + isso = nissoEm + aquilo = naquiloA + aquele(s) = àquele(s)A + aquela(s) = àquela(s)A + aquilo = àquilo

1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los?

- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substanti-vo. Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular e feminino.

- A dona da casa não quis nos atender.- Como posso fazer a Joana concordar comigo? - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois ter-

mos e estabelece relação de subordinação entre eles.- Cheguei a sua casa ontem pela manhã.- Não queria, mas vou ter que ir a outra cidade para procurar

um tratamento adequado. - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ou

a função de um substantivo.- Temos Maria como parte da família. / A temos como parte

da família.

- Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. / Creio que a conhecemos melhor que ninguém.

2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das preposições:

Destino: Irei para casa.Modo: Chegou em casa aos gritos.Lugar: Vou ficar em casa;Assunto: Escrevi um artigo sobre adolescência.Tempo: A prova vai começar em dois minutos.Causa: Ela faleceu de derrame cerebral.Fim ou finalidade: Vou ao médico para começar o tratamento.Instrumento: Escreveu a lápis.Posse: Não posso doar as roupas da mamãe.Autoria: Esse livro de Machado de Assis é muito bom.Companhia: Estarei com ele amanhã.Matéria: Farei um cartão de papel reciclado.Meio: Nós vamos fazer um passeio de barco.Origem: Nós somos do Nordeste, e você?Conteúdo: Quebrei dois frascos de perfume.Oposição: Esse movimento é contra o que eu penso.Preço: Essa roupa sai por R$ 50 à vista.

Interjeição

É a palavra que expressa emoções, sentimentos ou pensamen-tos súbitos. Trata-se de um recurso da linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de maneira lógica, como são as sen-tenças da língua, mas sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma decorrente de uma situação particular, um momento ou um contexto específico. Exemplos:

- Ah, como eu queria voltar a ser criança! (ah: expressão de um estado emotivo = interjeição)

- Hum! Esse cuscuz estava maravilhoso! (hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição)

As sentenças da língua costumam se organizar de forma ló-gica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e os distribui em posições adequadas a cada um deles. As interjeições, por ou-tro lado, são uma espécie de palavra frase, ou seja, há uma ideia expressa por uma palavra (ou um conjunto de palavras - locução interjetiva) que poderia ser colocada em termos de uma sentença. Observe:

- Bravo! Bravo! Bis! (bravo e bis: interjeição) ...[sentença (sugestão): “Foi muito bom! Repitam!”]

- Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé... (ai: interjeição) ...[sentença (sugestão): “Isso está doendo!” ou “Estou com dor!”]

O significado das interjeições está vinculado à maneira como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que dita o senti-do que a expressão vai adquirir em cada contexto de enunciação. Exemplos:

- Psiu! ...(contexto: alguém pronunciando essa expressão na rua) ...[significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando! Ei, espere!”]

- Psiu! ...(contexto: alguém pronunciando essa expressão em um hospital) ...[significado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!”]

- Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! ...(puxa: interjei-ção) ...(tom da fala: euforia)

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! ...(puxa: interjeição)

...(tom da fala: decepção)

As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não sofrem va-riação em gênero, número e grau como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso específico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Deve-se ter claro, neste caso, que não se trata de um processo natu-ral dessa classe de palavra, mas tão só uma variação que a lingua-gem afetiva permite. Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.

Exercícios

01. Assinale o par de frases em que as palavras sublinhadas são substantivo e pronome, respectivamente:

a) A imigração tornou-se necessária. / É dever cristão praticar o bem.

b) A Inglaterra é responsável por sua economia. / Havia muito movimento na praça.

c) Fale sobre tudo o que for preciso. / O consumo de drogas é condenável.

d) Pessoas inconformadas lutaram pela abolição. / Pesca-se muito em Angra dos Reis.

e) Os prejudicados não tinham o direito de reclamar. / Não entendi o que você disse.

02. Assinale o item que só contenha preposições:a) durante, entre, sobreb) com, sob, depoisc) para, atrás, pord) em, caso, apóse) após, sobre, acima

03. Observe as palavras grifadas da seguinte frase: “Encami-nhamos a V. Senhoria cópia autêntica do Edital nº 19/82.” Elas são, respectivamente:

a) verbo, substantivo, substantivob) verbo, substantivo, advérbioc) verbo, substantivo, adjetivod) pronome, adjetivo, substantivoe) pronome, adjetivo, adjetivo

04. Assinale a opção em que a locução grifada tem valor ad-jetivo:

a) “Comprei móveis e objetos diversos que entrei a utilizar com receio.”

b) “Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos.”c) “Pediu-me com voz baixa cinquenta mil réis.”d) “Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras...”e) “Resolvi abrir o olho para que vizinhos sem escrúpulos

não se apoderassem do que era delas.”

05. O “que” está com função de preposição na alternativa:a) Veja que lindo está o cabelo da nossa amiga!b) Diz-me com quem andas, que eu te direi quem és.c) João não estudou mais que José, mas entrou na Faculdade.d) O Fiscal teve que acompanhar o candidato ao banheiro.e) Não chore que eu já volto.

06. “Saberão que nos tempos do passado o doce amor era jul-gado um crime.”

a) 1 preposiçãob) 3 adjetivosc) 4 verbosd) 7 palavras átonase) 4 substantivos

07. As expressões sublinhadas correspondem a um adjetivo, exceto em:

a) João Fanhoso anda amanhecendo sem entusiasmo.b) Demorava-se de propósito naquele complicado banho.c) Os bichos da terra fugiam em desabalada carreira.d) Noite fechada sobre aqueles ermos perdidos da caatinga

sem fim.e) E ainda me vem com essa conversa de homem da roça.

08. Em “__ como se tivéssemos vivido sempre juntos”, a for-ma verbal está no:

a) imperfeito do subjuntivo;b) futuro do presente composto;c) mais-que-perfeito composto do indicativo;d) mais-que-perfeito composto do subjuntivo;e) futuro composto do subjuntivo.

09. Assinale a alternativa que completa adequadamente a fra-se: “___ em ti, mas nem sempre ___ dos outros”.

a) creias - duvides;b) crê - duvidas;c) creais - duvidas;d) creia - duvide;e) crê - duvides.

10. Se ele ____ (ver) o nosso trabalho _____ (fazer) um elo-gio.

a) ver – fará;b) visse – fará;c) ver – fazerá;d) vir – fará;e) vir – faria.

Respostas: 01-E / 02-A / 03-C / 04-E / 05-D / 06-E / 07-B / 08-D / 09-E / 10-D

Concordância Verbal e Nominal

Concordância é o mecanismo pelo qual algumas palavras al-teram suas terminações para adequar-se à terminação de outras palavras. Em português, distinguimos dois tipos de concordância: nominal, que trata das alterações do artigo, do numeral, dos pro-nomes adjetivos e dos adjetivos para concordar com o nome a que se referem, e verbal, que trata das alterações do verbo, para con-cordar com o sujeito.

Concordância Nominal

- Regra Geral: o adjetivo e as palavras adjetivas (artigo, nu-meral, pronome adjetivo) concordam em gênero e número com o nome a que se referem.

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Didatismo e Conhecimento 44

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAEsta / observação / curta / desfaz o equívoco.

Esta (pronome adjetivo – feminino – singular)observação (substantivo – feminino – singular)curta (adjetivo – feminino – singular)- Um só adjetivo qualificando mais de um substantivo.

Adjetivo posposto: quando um mesmo adjetivo qualifica dois ou mais substantivos e vem depois destes, há duas construções:

1- o adjetivo vai para o plural: Agia com calma e pontualida-de britânicas.

2- o adjetivo concorda com o substantivo mais próximo: Agia com calma e pontualidade britânica.

Sempre que se optar pelo plural, é preciso notar o seguinte: se entre os substantivos houver ao menos um no masculino, o adjeti-vo assumirá a terminação do masculino: Fez tudo com entusiasmo e paixão arrebatadores.

Quando o adjetivo exprime uma qualidade tal que só cabe ao último substantivo, é óbvio que a concordância obrigatoriamen-te se efetuará com este último: Alimentavam-se de arroz e carne bovina.

Adjetivo anteposto: quando um adjetivo qualifica dois ou mais substantivos e vem antes destes, concorda com o substantivo mais próximo: Escolhestes má ocasião e lugar.

Quando o adjetivo anteposto aos substantivos funcionar como predicativo, pode concordar com o mais próximo ou ir para o plural:

Estava quieta a casa, a vila e o campo.Estavam quietos a casa, a vila e o campo.

- Verbo ser + adjetivo: Nos predicados nominais em que ocor-re o verbo ser mais um adjetivo, formando expressões do tipo é bom, é claro, é evidente, etc., há duas construções possíveis:

1- se o sujeito não vem precedido de nenhum modificador, tanto o verbo quanto o adjetivo ficam invariáveis: Pizza é bom; É proibido entrada.

2- se o sujeito vem precedido de modificador, tanto o verbo quanto o predicativo concordam regularmente: A pizza é boa; É proibida a entrada.

- Palavras adverbiais x palavras adjetivas: há palavras que ora têm função de advérbio, ora de adjetivo.

Quando funcionam como advérbio são invariáveis: Há oca-siões bastante oportunas.

Quando funcionam como adjetivo, concordam com o nome a que se referem: Há bastantes razões para confiarmos na proposta.

Estão nesta classificação palavras como pouco, muito, bastan-te, barato, caro, meio, longe, etc.

- Expressões anexo e obrigado: são palavras adjetivas e, como tais, devem concordar com o nome a que se referem. Exem-plos:

Seguem anexas as listas de preços.Seguem anexos os planos de aula.Muito obrigado, disse ele.Muito obrigada, disse ela.Obrigadas, responderam as cantoras da banda.

Podemos colocar sob a mesma regra palavras como incluso, quite, leso, mesmo e próprio.

1- Alerta e menos são sempre invariáveis:Estamos alerta.Há situações menos complicadas.Há menos pessoas no local.

2- Em anexo é sempre invariável:Seguem, em anexo, as fotografias.

- Expressões só e sós: quando equivale a somente, é advérbio e invariável; quando equivale a sozinho, é adjetivo e variável.

Só eles não concordam.Eles saíram sós.

A expressão a sós é invariável: Gostaria de ficar a sós por uns momentos.

Exercícios

01. Assinale a frase que encerra um erro de concordância no-minal:

a) Estavam abandonadas a casa, o templo e a vila.b) Ela chegou com o rosto e as mãos feridas.c) Decorrido um ano e alguns meses, lá voltamos.d) Decorridos um ano e alguns meses, lá voltamos.e) Ela comprou dois vestidos cinza.

02. Enumere a segunda coluna pela primeira (adjetivo pos-posto):

(1) velhos (2) velhas ( ) camisa e calça. ( ) chapéu e calça.( ) calça e chapéu.( ) chapéu e paletó.( ) chapéu e camisa.

a) 1-2-1-1-2b) 2-2-1-1-2c) 2-1-1-1-1d) 1-2-2-2-2e) 2-1-1-1-2

03. Complete os espaços com um dos nomes colocados nos parênteses.

a) Será que é ____ essa confusão toda? (necessário/ necessária)b) Quero que todos fiquem ____. (alerta/ alertas)c) Houve ____ razões para eu não voltar lá. (bastante/ bas-

tantes)d) Encontrei ____ a sala e os quartos. (vazia/vazios)e) A dona do imóvel ficou ____ desiludida com o inquilino.

(meio/ meia)

04. “Na reunião do Colegiado, não faltou, no momento em que as discussões se tornaram mais violentas, argumentos e opi-niões veementes e contraditórias.” No trecho acima, há uma infra-ção as normas de concordância.

a) Reescreva-o com devida correção.b) Justifique a correção feita.

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Didatismo e Conhecimento 45

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA05. Reescrever as frases abaixo, corrigindo-as quando neces-

sário.a) “Recebei, Vossa Excelência, os processos de nossa estima,

pois não podem haver cidadãos conscientes sem educação.”b) “Os projetos que me enviaram estão em ordem; devolvê-

-los-ei ainda hoje, conforme lhes prometi.”

06. Como no exercício anterior.a) “Ele informou aos colegas de que havia perdido os docu-

mentos cuja originalidade duvidamos.”b) “Depois de assistir algumas aulas, eu preferia mais ficar no

pátio do que continuar dentro da classe.”

07. A frase em que a concordância nominal está correta é:a) A vasta plantação e a casa grande caiados há pouco tempo

era o melhor sinal de prosperidade da família.b) Eles, com ar entristecidos, dirigiram-se ao salão onde se

encontravam as vítimas do acidente.c) Não lhe pareciam útil aquelas plantas esquisitas que ele cul-

tivava na sua pacata e linda chácara do interior.d) Quando foi encontrado, ele apresentava feridos a perna e o

braço direitos, mas estava totalmente lúcido.e) Esses livro e caderno não são meus, mas poderão ser impor-

tante para a pesquisa que estou fazendo.

08. Assinale a alternativa em que, pluralizando-se a frase, as palavras destacadas permanecem invariáveis:

a) Este é o meio mais exato para você resolver o problema: estude só.

b) Meia palavra, meio tom - índice de sua sensatez.c) Estava só naquela ocasião; acreditei, pois em sua meia pro-

messa.d) Passei muito inverno só.e) Só estudei o elementar, o que me deixa meio apreensivo.

09. Aponte o erro de concordância nominal.a) Andei por longes terras.b) Ela chegou toda machucada.c) Carla anda meio aborrecida.d) Elas não progredirão por si mesmo.e) Ela própria nos procurou.

10. Assinale o erro de concordância nominal.a) – Muito obrigada, disse ela.b) Só as mulheres foram interrogadas.c) Eles estavam só.d) Já era meio-dia e meia.e) Sós, ficaram tristes.

Respostas: 01-A / 02-C03. a) necessária b) alerta c) bastantes d) vazia e) meio04. a) “Na reunião do colegiado, não faltaram, no momento

em que as discussões se tornaram mais violentas, argumentos e opiniões veementes e contraditórias.”

b) Concorda com o sujeito “argumentos e opiniões”.05. a) “Receba, Vossa Excelência, os protestos de nossa esti-

ma, pois não pode haver cidadãos conscientes sem a educação.” b) A frase está correta.

06. a) “Ele informou aos colegas que havia perdido (ou: ele informou os colegas de que havia perdido os documentos de cuja originalidade duvidamos.”

b) “Depois de assistir algumas aulas, eu preferia ficar no pátio a continuar dentro da classe.”

07-E / 08-E / 09-D / 10-C

Concordância Verbal

- Regra Geral: o verbo concorda com seu sujeito em pessoa e número.

Eu contarei convosco.Tu estavas enganado.Os alunos saíram tarde.

- Sujeito composto anteposto ao verbo: quando o sujeito composto vem anteposto ao verbo, este vai para o plural: O sol e a lua brilhavam. Há casos em que, mesmo com o sujeito composto anteposto, justifica-se o singular. Isto ocorre basicamente em três situações:

1- quando o sujeito é formado de palavras sinônimas ou que formam unidade de sentido: A coragem e o destemor fez dele um herói. É bom notar que, no mesmo caso, vale também o plural. O singular, aqui, talvez se explique pela facilidade que temos em juntar, numa só unidade, conceitos sinônimos.

2- quando o sujeito é formado por núcleos dispostos em gra-dação (ascendente ou descendente): Uma palavra, um gesto, um mínimo sinal bastava. No mesmo caso, cabe também o plural. A construção com o verbo no singular é compreensível: nas sequên-cias gradativas, o último elemento é sempre mais enfático, o que leva o verbo a concordar com ele.

3- quando o sujeito vem resumido por palavras como alguém, ninguém, cada um, tudo, nada: Alunos, mestres, diretores, nin-guém faltou. Aqui não ocorre plural. É que o valor sintetizante do pronome (ninguém) é tão marcante que só nos fica a ideia do conjunto e não das partes que o compõem.

- Sujeito composto posposto ao verbo: quando o sujeito com-posto vem depois do verbo, há duas construções igualmente certas.

1- o verbo vai para o plural: Brilhavam o sol e a lua.2- o verbo concorda com o núcleo mais próximo: Brilhava o

sol e a lua.

Quando, porém, o sujeito composto vem posposto e o núcleo mais próximo está no plural, o verbo só pode, obviamente, ir para o plural: Já chegaram as revistas e o jornal.

- Sujeito composto de pessoas gramaticais diferentes: quan-do o sujeito composto é formado de pessoas gramaticais diferen-tes, o verbo vai para o plural, sempre na pessoa gramatical de nú-mero mais baixo. Assim, quando ocorrer:

1ª e 2ª – o verbo vai para a 1ª do plural.2ª e 3ª – o verbo vai para a 2ª do plural.1ª e 3ª – o verbo vai para a 1ª do plural.

Eu, tu e ele ficaremos aqui.

Quando o sujeito é formado pelo pronome tu mais uma 3ª pes-soa, o verbo pode ir também para a 3ª pessoa do plural. Isto se deve à baixa frequência de uso da segunda pessoa do plural: Tu e ele chegaram (ou chegastes) a tempo.

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Didatismo e Conhecimento 46

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Verbo acompanhado do pronome se apassivador: quando

o pronome se funciona como partícula apassivadora, o verbo con-corda regularmente com o sujeito, que estará sempre presente na oração.

Vende-se apartamento.Vendem-se apartamentos.

- Verbo acompanhado do pronome se indicador de indeter-minação do sujeito: quando a indeterminação do sujeito é mar-cada pelo pronome se, o verbo fica necessariamente no singular: Precisa-se de reforços (sujeito indeterminado).

- Verbos dar, bater, soar: na indicação de horas, concordam com a palavra horas, que é o sujeito dos respectivos verbos.

Bateram dez horas.Soou uma hora.

Pode ser que o sujeito deixe de ser o número das horas e passe a ser outro elemento da oração, o instrumento que bate as horas, por exemplo. No caso, a concordância mudará: O relógio bateu dez horas.

- Sujeito coletivo: quando o sujeito é formado por um subs-tantivo coletivo no singular, o verbo fica no singular, concordando com a forma do substantivo e não com a ideia: A multidão aplau-diu o orador. Nesse caso, pode ocorrer também o plural em duas situações:

1- quando o coletivo vier distanciado do verbo: O povo, ape-sar de toda a insistência e ousadia, não conseguiram evitar a ca-tástrofe.

2- quando o coletivo, antecipado ao verbo, vier seguido de um adjunto adnominal no plural: A multidão dos peregrinos caminha-vam lentamente.

- Nomes próprios plurais: quando o sujeito é formado por nomes próprios de lugar que só têm a forma plural, há duas cons-truções:

1- se tais nomes vierem precedidos de artigo, o verbo concor-dará com o artigo.

Os Estados Unidos progrediram muito.O Amazonas corre volumoso pela floresta.

2- se tais nomes não vierem precedidos de artigo, o verbo fica-rá sempre no singular: Ø Minas Gerais elegeu seu senador.

Quanto aos títulos de livros e nomes de obras, mesmo prece-didos de artigo, são admissíveis duas construções:

Os lusíadas foi a glória das letras lusitanas.Os lusíadas foram a glória das letras lusitanas.

- Sujeito constituído pelo pronome relativo que: quando o sujeito for o pronome relativo que, o verbo concorda com o ante-cedente desse pronome.

Fui eu que prometi.Foste tu que prometeste.Foram eles que prometeram.

- Sujeito constituído pelo pronome relativo quem: quando o sujeito de um verbo for o pronome relativo quem, há duas cons-truções possíveis:

1- o verbo fica na 3ª pessoa do singular, concordando regular-mente com o sujeito (quem): Fui eu quem falou.

2- o verbo concorda com o antecedente: Fui eu quem falei.

- Pronome indefinido plural seguido de pronome pessoal preposicionado: quando o sujeito é formado de um pronome inde-finido (ou interrogativo) no plural seguido de um pronome pessoal preposicionado, há possibilidade de duas construções:

1- o verbo vai para a 3ª pessoa do plural, concordando com o pronome indefinido ou interrogativo: Alguns de nós partiram.

2- o verbo concorda com o pronome pessoal que se segue ao indefinido (ou interrogativo): Alguns de nós partimos.

Quando o pronome interrogativo ou indefinido estiver no sin-gular, o verbo ficará, necessariamente, na 3ª pessoa do singular.

Alguém de nós falhou?Qual de nós sairá?

- Expressões um dos que, uma das que: quando o sujeito de um verbo for o pronome relativo que, nas expressões um dos que, uma das que, o verbo vai para o plural (construção dominante) ou fica no singular.

Ele foi um dos que mais falaram.Ele foi um dos que mais falou.Cada uma das construções corresponde a uma interpretação

diferente do mesmo enunciador.Ele é um dentre aqueles que mais falaram.Ele é um que mais falou dentre aqueles.

- Expressões mais de, menos de: quando o sujeito for consti-tuído das expressões mais de, menos de, o verbo concorda com o numeral que se segue à expressão.

Mais de um aluno saiu.Mais de dois alunos saíram.Mais de dois casos ocorreram.

Com a expressão mais de um pode ocorrer o plural em duas situações:

1- quando o verbo dá ideia de ação recíproca: Mais de um veículo se entrechocaram.

2- quando a expressão mais de vem repetida: Mais de um pa-dre, mais de um bispo estavam presentes.

- Expressões um e outro, nem um nem outro: quando o su-jeito é formado pelas expressões um e outro, nem um nem outro, o verbo fica no singular ou plural.

Nem um nem outro concordou.Nem um nem outro concordaram.

O substantivo que segue a essas expressões deve ficar no sin-gular: Uma e outra coisa me atrai.

Quando núcleos de pessoas diferentes vêm precedidos de nem, o mais usual é o verbo no plural, na pessoa gramatical prioritária (a de número mais baixo): Nem eu nem ele faltamos com a palavra.

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Didatismo e Conhecimento 47

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Sujeito constituído por pronome de tratamento: quando o

sujeito é formado por pronomes de tratamento, o verbo vai sempre para a 3ª pessoa (singular ou plural).

Vossa Excelência se enganou.Vossas Excelências se enganaram.- Núcleos ligados por ou: quando os núcleos do sujeito vêm

ligados pela conjunção ou, há duas construções:

1- o verbo fica no singular quando o ou tem valor excludente: Pedro ou Paulo será eleito papa. (a eleição de um implica necessa-riamente a exclusão do outro)

2- o verbo vai para o plural, quando o ou não for excludente: Maça ou figo me agradam à sobremesa. (ambas as frutas me agradam)

- Silepse: ocorre concordância siléptica quando o verbo não concorda com o sujeito que aparece expresso na frase, mas com um elemento implícito na mente de quem fala: Os brasileiros so-mos improvisadores. Está implícito que o falante (eu ou nós) está incluído entre os brasileiros.

- Expressão haja vista: na expressão haja vista, a palavra vista é sempre invariável. O verbo haja pode ficar invariável ou concordar com o substantivo que se segue à expressão.

Haja vista os últimos acontecimentos.Hajam vista os últimos acontecimentos.

Admite-se ainda a construção:Haja vista aos últimos acontecimentos.

- Verbo parecer seguido de infinitivo: o verbo parecer, segui-do de infinitivo, admite duas construções:

1- flexiona-se o verbo parecer e não se flexiona o infinitivo: Os montes parecem cair.

2- flexiona-se o infinitivo e não se flexiona o verbo parecer: Os montes parece caírem.

- Verbo impessoais: os verbos impessoais ficam sempre na 3ª pessoa do singular.

Haverá sóis mais brilhantes.Fará invernos rigorosos.

Também não se flexiona o verbo auxiliar que se põe junto a um verbo impessoal, formando uma locução verbal.

Deve fazer umas cinco horas que estou esperando.Costuma haver casos mais significativos.Poderá fazer invernos menos rigorosos.

O verbo haver no sentido de existir ou de tempo passado e o verbo fazer na indicação de tempo transcorrido ou fenômeno da natureza são impessoais.

O verbo existir nunca é impessoal: tem sempre sujeito, com o qual concorda normalmente: Existirão protestos; Poderão existir dúvidas.

Quando o verbo haver funciona como auxiliar de outro ver-bo, deve concordar normalmente com o sujeito: Os convidados já haviam saído.

- Verbo ser: a concordância do verbo ser oscila frequente-mente entre o sujeito e o predicativo. Entre tantos casos, podemos ressaltar:

Quando o sujeito e o predicativo são nomes de coisas de nú-meros diferentes, o verbo concorda, de preferência, com o que está no plural.

Tua vida são essas ilusões.Essas vaidades são o teu segredo.

Nesse caso, muitas vezes, faz-se a concordância com o ele-mento a que se quer dar destaque.

Quando um dos dois (predicativo ou sujeito) é nome de pes-soa, a concordância se faz com a pessoa.

Você é suas decisões.Suas preocupações era a filha.

O verbo concorda com o pronome pessoal, seja este sujeito, seja predicativo.

O professor sou eu.Eu sou o professor.

Nas indicações de hora, data e distância, o verbo ser, impes-soal, concorda com o predicativo.

É uma hora.São duas horas.É uma légua.São duas léguas.É primeiro de maio.São quinze de maio.

Neste último caso (dias do mês) o verbo ser admite duas cons-truções:

É (dia) treze de maio.São treze (dias) de maio.

O verbo ser, seguido de um quantificador, nas expressões de peso, distância ou preço, fica invariável.

Quinze quilos é bastante.Três quilômetros é muito.Cem reais é suficiente.

Exercícios

01. Indique a opção correta, no que se refere à concordância verbal, de acordo com a norma culta:

a) Haviam muitos candidatos esperando a hora da prova. b) Choveu pedaços de granizo na serra gaúcha. c) Faz muitos anos que a equipe do IBGE não vem aqui. d) Bateu três horas quando o entrevistador chegou. e) Fui eu que abriu a porta para o agente do censo. 02. Assinale a frase em que há erro de concordância verbal: a) Um ou outro escravo conseguiu a liberdade. b) Não poderia haver dúvidas sobre a necessidade da imigração. c) Faz mais de cem anos que a Lei Áurea foi assinada. d) Deve existir problemas nos seus documentos. e) Choveram papéis picados nos comícios.

03. Assinale a opção em que há concordância inadequada: a) A maioria dos estudiosos acha difícil uma solução para o

problema.b) A maioria dos conflitos foram resolvidos. c) Deve haver bons motivos para a sua recusa. d) De casa à escola é três quilômetros. e) Nem uma nem outra questão é difícil.

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Didatismo e Conhecimento 48

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA 04. Há erro de concordância em: a) atos e coisas más b) dificuldades e obstáculo intransponível c) cercas e trilhos abandonados d) fazendas e engenho prósperas e) serraria e estábulo conservados 05. Indique a alternativa em que há erro: a) Os fatos falam por si sós. b) A casa estava meio desleixada. c) Os livros estão custando cada vez mais caro. d) Seus apartes eram sempre o mais pertinentes possíveis. e) Era a mim mesma que ele se referia, disse a moça. 06. Assinale a alternativa correta quanto à concordância ver-

bal: a) Soava seis horas no relógio da matriz quando eles chega-

ram. b) Apesar da greve, diretores, professores, funcionários, nin-

guém foram demitidos. c) José chegou ileso a seu destino, embora houvessem muitas

ciladas em seu caminho. d) Fomos nós quem resolvemos aquela questão. e) O impetrante referiu-se aos artigos 37 e 38 que ampara sua

petição. 07. A concordância verbal está correta na alternativa: a) Ela o esperava já faziam duas semanas. b) Na sua bolsa haviam muitas moedas de ouro. c) Eles parece estarem doentes. d) Devem haver aqui pessoas cultas. e) Todos parecem terem ficado tristes. 08. É provável que ....... vagas na academia, mas não ....... pes-

soas interessadas: são muitas as formalidades a ....... cumpridas.a) hajam - existem - ser b) hajam - existe - serc) haja - existem - seremd) haja - existe - sere) hajam - existem - serem

09. ....... de exigências! Ou será que não ....... os sacrifícios que ....... por sua causa?

a) Chega - bastam - foram feitos b) Chega - bastam - foi feitoc) Chegam - basta - foi feitod) Chegam - basta - foram feitose) Chegam - bastam - foi feito

10. Soube que mais de dez alunos se ....... a participar dos jogos que tu e ele ......

a) negou – organizoub) negou – organizastesc) negaram – organizasted) negou – organizarame) negaram - organizastes Respostas: (01-C) (02-D) (03-D) (04-D) (05-D) (06-D) (07-

C) (08-C) (09-A) (10-E)

Regência Nominal

Assim como há verbos de sentido incompleto (transitivos), há também nomes de sentido incompletos. Substantivos, adjetivos, e, certos advérbios, também podem, como no caso dos verbos, soli-citarem um complemento (complemento nominal) para ampliar, ou mesmo, completar seu sentido: Tenho amor (nome de sentido incompleto) aos livros (compl. Nominal).

O substantivo amor rege um complemento nominal precedido da preposição (a). Portanto, a relação particular, entre o nome e seu complemento, vem sempre marcada por uma preposição: Estava ansioso para ouvir música.

Contudo, cabe observar, que certos substantivos e adjetivos admitem mais de uma regência, ou seja, mais de uma preposição. A escolha desta ou daquela preposição deve, no entanto, obede-cer às exigências da clareza, da eufonia e adequar-se as diferentes nuanças do pensamento.

Ao aprender a regência do verbo, você estará praticamente aprendendo a regência do nome cognato (que vem da mesma raiz do verbo). É o caso, por exemplo, do verbo obedecer e do nome obediência. O verbo obedecer exige a preposição (a), que é a mes-ma exigida pelo nome obediência. De maneira, que a regência des-te verbo e deste nome resume-se na mesma preposição (a).

Na regência nominal, não há tantos desencontros entre a nor-ma culta e a fala popular. Em todo caso, segue aqui uma lista de nomes acompanhados das respectivas preposições:

Acesso (a) - acessível [a, para] - acostumado [a, com] - ade-quado [a] - admiração [a, por] - afável [com, para com] - afeição [a, por] - aflito [com, por] - alheio [a, de] - aliado [a, com] - alusão [a] – amante [de] – amigo [de] - amor [a, de, para com, por] – amoroso [com] - análogo [a] - ansioso [de, para, por] - antipatia [a, contra, por] – aparentado [com] - apologia [de] - apto [a, para] - assíduo [a, em] - atenção [a] - atento [a, em] - atencioso [com, para com] - aversão [a, para, por] - avesso [a] - ávido [de, por] - benéfico [a] - benefício [a] – bom [para].

Cobiçoso [de] - capacidade [de, para] - capaz [de, para] – cego [a] - certeza [de] - coerente [com] – comum [de] - compaixão [de, para com, por] - compatível [com] - concordância [a, com, de, en-tre] - conforme [a, com] – contemporâneo [de] - constituído [com, de, por] - consulta [a] - contente [com, de, em, por] - contíguo [a] – constante [em] – convênio [entre] - cruel [com, para, para com] – cuidadoso [com] – cúmplice [em] - curioso [de, por] - desacostu-mado [a, com] - desatento [a] – descontente [com] - desejoso [de] - desfavorável [a] – desleal [a] - desrespeito [a] - desgostoso [com, de] - desprezo [a, de, por] - devoção [a, para, com, por] - devoto [a, de] – diferente [de] - dificuldade [com, de, em, para] – digno [de] - discordância [com, de, sobre] – disposição [para] - dotado [de] - dúvida [acerca de, em, sobre].

Equivalente [a] - empenho [de, em, por] – entendido [em] – erudito [em] – escasso [de] – essencial [para] – estreito [de] - exato [em] - fácil [a, de, para] - facilidade [de, em, para] - falho [de, em] - falta [a] - fanático [por] - favorável [a] - fiel [a] - feliz [de, com, em, por] - fértil [de, em] – forte [em] - fraco [em, de] – furioso [com] - grato [a] - graduado [a] - guerra [a] - hábil [em] - habi-tuado [a] - horror [a, de, por] - hostil [a, contra, para com] - ida [a] – idêntico [a] - impaciência [com] – impossibilidade [de, em] - impotente [para, contra] - impróprio [para] - imune [a, de] - inábil

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Didatismo e Conhecimento 49

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA[para] - inacessível [a] – incansável [em] - incapaz [de, para] – in-certo [em] - inconsequente [com] – indeciso [em] - indiferente [a] – indigno [de] - indulgente [com, para com] - inerente [a] – infiel [a] – influência [sobre] - ingrato [com] – insensível [a] - intolerante [com] - invasão [de] – inútil [para] - isento [de] - junto [a, de] - leal [a] - lento [em] – liberal [com].

Maior [de] – manifestação [contra] - medo [de, a] – menor [de] – misericordioso [com] - morador [em] - natural [de] - neces-sário [a] - necessidade [de] – nobre [em] - nocivo [a] - obediente [a] - ódio [a, contra] - ojeriza [a, por] - oposto [a] – orgulhoso [de, com] - paixão [de, por] – pálido [de] - parecido [a, com] - paralelo [a] – parecido [a, com] - pasmado [de] - passível [de] - peculiar [a] – perito [em] – prático [em] - preferência [a, por] – preferível [a] - preste [a, para] - pendente [de] – prodigo [em, de] - propício [a] - próximo [a, de] - pronto [para, em] - propensão [para] - pró-prio [de, para].

Querido [de, por] – queixa [contra] - receio [de] - relação [a, com, de, por, para com] - relacionado [com] - rente [a, de, com] - residente [em] - respeito [a, com, para com, por] – responsável [por] - rico [de, em] – sábio [em] - satisfeito [com, de, em, por] - semelhante [a] - simpatia [a, para com, por] - sito [em] - situado [a, em, entre] - solidário [com] - superior [a] – surdo [a, de] - suspeito [a, de] - tentativa [contra, de, para, para com] – triunfo [sobre] - último [a, de, em] - união, [a, com, entre] – único [em] - útil [a, para] – vazio [de] - versado [em] – visível [a] - vizinho [a, de, com] – zelo [a, de, por].

Regência de Advérbios: Merecem menção estes três advér-bios: longe [de], perto [de] e proximamente [a, de]. Todos os ad-vérbios formados de adjetivos + sufixo [-mente], tendem a apre-sentar a mesma preposição dos adjetivos: Compatível [com]; com-pativelmente [com]. Relativo [a]; relativamente [a]

Exercícios

01. O projeto.....estão dando andamento é incompatível.....tra-dições da firma.

a) de que, com asb) a que, com asc) que, asd) à que, àse) que, com as

02. Quanto a amigos, prefiro João.....Paulo,.....quem sinto......simpatia.

a) a, por, menosb) do que, por, menosc) a, para, menosd) do que, com, menose) do que, para, menos

03. Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser segui-dos pela mesma preposição:

a) ávido, bom, inconsequenteb) indigno, odioso, peritoc) leal, limpo, onerosod) orgulhoso, rico, sedentoe) oposto, pálido, sábio

04. “As mulheres da noite,......o poeta faz alusão a colorir Ara-caju,........coração bate de noite, no silêncio”. A opção que comple-ta corretamente as lacunas da frase acima é:

a) as quais, de cujob) a que, no qualc) de que, o quald) às quais, cujoe) que, em cujo

05. Assinale a alternativa correta quanto à regência:a) A peça que assistimos foi muito boa.b) Estes são os livros que precisamos.c) Esse foi um ponto que todos se esqueceram.d) Guimarães Rosa é o escritor que mais aprecio.e) O ideal que aspiramos é conhecido por todos.

06. Assinale a alternativa que contém as respostas corretas.I. Visando apenas os seus próprios interesses, ele, involunta-

riamente, prejudicou toda uma família.II. Como era orgulhoso, preferiu declarar falida a firma a acei-

tar qualquer ajuda do sogro.III. Desde criança sempre aspirava a uma posição de destaque,

embora fosse tão humilde.IV. Aspirando o perfume das centenas de flores que enfeita-

vam a sala, desmaiou.a) II, III, IVb) I, II, IIIe) I, III, IVd) I, IIIe) I, II

07. Assinale o item em que há erro quanto à regência:a) São essas as atitudes de que discordo.b) Há muito já lhe perdoei.c) Informo-lhe de que paguei o colégio.d) Costumo obedecer a preceitos éticos.e) A enfermeira assistiu irrepreensivelmente o doente.

08. Dentre as frases abaixo, uma apenas apresenta a regência nominal correta. Assinale-a:

a) Ele não é digno a ser seu amigo.b) Baseado laudos médicos, concedeu-lhe a licença.c) A atitude do Juiz é isenta de qualquer restrição.d) Ele se diz especialista para com computadores eletrônicos.e) O sol é indispensável da saúde.

Respostas: 01-B / 02-A / 03-D / 04-D / 05-D / 06-A / 07-C / 08-C

Regência Verbal

O estudo da regência verbal nos ajuda a escrever melhor. Quanto à regência verbal, os verbos podem ser:

- Verbos Transitivos: Exigem complemento (objetos) para que tenham sentido completo. Podem ser: Transitivos Diretos; Transi-tivos Indiretos; Transitivos Diretos e Indiretos.

- Verbos Intransitivos.

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Didatismo e Conhecimento 50

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRATransitivos Diretos: Não possuem sentido completo, logo

precisam se um complemento(objeto). Esses complementos (sem preposição), são chamados de objetos diretos. Ex.: Maria comprou um livro.

“Um livro” é o complemento exigido pelo verbo. Ele não está acompanhado de preposição. “Um livro” é o objeto direto. Note que se disséssemos: “Maria comprou.” a frase estaria incompleta, pois quem compra, compra alguma coisa. O verbo comprar é tran-sitivo direto.

Transitivos Indiretos: Também não possuem sentido com-pleto, logo precisam de um complemento, só que desta vez este complemento é acompanhado de uma preposição. São chamados de objetos indiretos. Ex. Gosto de filmes.

“De filmes” é o complemento exigido pelo verbo gostar, e ele está acompanhado por uma preposição (de). Este complemento é chamado de objeto indireto. O verbo gostar é transitivo indireto

Transitivos Diretos e Indiretos: Exigem 2 complementos. Um com preposição, e outro sem. Ex. O garoto ofereceu um livro ao colega.

O verbo oferecer é transitivo direto e indireto. Quem ofere-ce, oferece alguma coisa a alguém. Ofereceu alguma coisa = Um brinquedo (sem preposição). Ofereceu para alguém = ao colega (com preposição). ao = combinação da preposição a com o artigo definido o.

Intransitivos: não possuem complemento. Ou seja, os verbos intransitivos possuem sentido completo. Ex: “Ele morreu.” O ver-bo morrer tem sentido completo. Algumas vezes o verbo intransiti-vo pode vir acompanhado de algum termo que indica modo, lugar, tempo, etc. Estes termos são chamados de adjuntos adverbiais. Ex. Ele morreu dormindo. Dormindo foi a maneira, o modo que ele morreu. Dormindo é o adjunto adverbial de modo.

Existem verbos intransitivos que precisam vir acompanhados de adjuntos adverbiais apenas para darem um sentido completo para a frase. Ex. Moro no Rio de Janeiro.

O verbo morar é intransitivo, porém precisa do complemento “no RJ’ para que a frase tenha um sentido completo. “No RJ” é o adj. adverbial de lugar.

Aspirar: O verbo aspirar pode ser transitivo direto ou transi-tivo indireto.

Transitivo direto: quando significa “sorver”, “tragar”, “inspi-rar” e exige complemento sem preposição.

- Ela aspirou o aroma das flores.- Todos nós gostamos de aspirar o ar do campo.Transitivo indireto: quando significa “pretender”, “desejar”,

“almejar” e exige complemento com a preposição “a”.- O candidato aspirava a uma posição de destaque.- Ela sempre aspirou a esse emprego.Quando é transitivo indireto não admite a substituição pelos

pronomes lhe(s). Devemos substituir por “a ele(s)”, “a ela(s)”.- Aspiras a este cargo?- Sim, aspiro a ele. (e não “aspiro-lhe”).

Assistir: O verbo assistir pode ser transitivo indireto, transiti-vo direto e intransitivo.

Transitivo indireto: quando significa “ver”, “presenciar”, “ca-ber”, “pertencer” e exige complemento com a preposição “a”.

- Assisti a um filme. (ver) - Ele assistiu ao jogo.- Este direito assiste aos alunos. (caber)Transitivo direto: quando significa “socorrer”, “ajudar” e exi-

ge complemento sem preposição.- O médico assiste o ferido. (cuida)

Nesse caso o verbo “assistir” pode ser usado com a preposição “a”.- Assistir ao paciente.

Intransitivo: quando significa “morar” exige a preposição “em”.

- O papa assiste no Vaticano. (no: em + o) - Eu assisto no Rio de Janeiro.“No Vaticano” e “no Rio de Janeiro” são adjuntos adverbiais

de lugar.

Chamar: O verbo chamar pode ser transitivo direto ou tran-sitivo indireto.

É transitivo direto quando significa “convocar”, “fazer vir” e exige complemento sem preposição.

- O professor chamou o aluno.É transitivo indireto quando significa “invocar” e é usado com

a preposição “por”.- Ela chamava por Jesus.Com o sentido de “apelidar” pode exigir ou não a preposição,

ou seja, pode ser transitivo direto ou transitivo indireto.Admite as seguintes construções:- Chamei Pedro de bobo. (chamei-o de bobo)- Chamei a Pedro de bobo. (chamei-lhe de bobo)- Chamei Pedro bobo. (chamei-o bobo)- Chamei a Pedro bobo. (chamei-lhe bobo)

Visar: Pode ser transitivo direto (sem preposição) ou transiti-vo indireto (com preposição).

Quando significa “dar visto” e “mirar” é transitivo direto.- O funcionário já visou todos os cheques. (dar visto)- O arqueiro visou o alvo e atirou. (mirar)Quando significa “desejar”, “almejar”, “pretender”, “ter em

vista” é transitivo indireto e exige a preposição “a”.- Muitos visavam ao cargo.- Ele visa ao poder.Nesse caso não admite o pronome lhe(s) e deverá ser substi-

tuído por a ele(s), a ela(s). Ou seja, não se diz: viso-lhe.

Quando o verbo “visar” é seguido por um infinitivo, a prepo-sição é geralmente omitida.

- Ele visava atingir o posto de comando.

Esquecer – Lembrar:

- Lembrar algo – esquecer algo- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)No 1º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja exigem

complemento sem preposição.- Ele esqueceu o livro.No 2º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem

complemento com a preposição “de”. São, portanto, transitivos in-diretos.

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Didatismo e Conhecimento 51

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Ele se esqueceu do caderno.- Eu me esqueci da chave.- Eles se esqueceram da prova.- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alteração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.

- Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)- Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)O verbo lembrar também pode ser transitivo direto e indireto

(lembrar alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa).

Preferir: É transitivo direto e indireto, ou seja, possui um ob-jeto direto (complemento sem preposição) e um objeto indireto (complemento com preposição)

- Prefiro cinema a teatro.- Prefiro passear a ver TV.Não é correto dizer: “Prefiro cinema do que teatro”.

Simpatizar: Ambos são transitivos indiretos e exigem a pre-posição “com”.

- Não simpatizei com os jurados.

Querer: Pode ser transitivo direto (no sentido de “desejar”) ou transitivo indireto ( no sentido de “ter afeto”, “estimar”).

- A criança quer sorvete.- Quero a meus pais.

Namorar: É transitivo direto, ou seja, não admite preposição.- Maria namora João.Não é correto dizer: “Maria namora com João”.

Obedecer: É transitivo indireto, ou seja, exige complemento com a preposição “a” (obedecer a).

- Devemos obedecer aos pais.Embora seja transitivo indireto, esse verbo pode ser usado na

voz passiva.- A fila não foi obedecida.

Ver: É transitivo direto, ou seja, não exige preposição.- Ele viu o filme.

Exercícios

01. Assinale a única alternativa que está de acordo com as normas de regência da língua culta.

a) avisei-o de que não desejava substituí-lo na presidência, pois apesar de ter sempre servido à instituição, jamais aspirei a tal cargo;

b) avisei-lhe de que não desejava substituí-lo na presidência, pois apesar de ter sempre servido a instituição, jamais aspirei a tal cargo;

c) avisei-o de que não desejava substituir- lhe na presidência, pois apesar de ter sempre servido à instituição, jamais aspirei tal cargo;

d) avisei-lhe de que não desejava substituir-lhe na presidência, pois apesar de ter sempre servido à instituição, jamais aspirei a tal cargo;

e) avisei-o de que não desejava substituí-lo na presidência, pois apesar de ter sempre servido a instituição, jamais aspirei tal cargo.

02. Assinale a opção em que o verbo chamar é empregado com o mesmo sentido que apresenta em __ “No dia em que o chamaram de Ubirajara, Quaresma ficou reservado, taciturno e mudo”:

a) pelos seus feitos, chamaram-lhe o salvador da pátria;b) bateram à porta, chamando Rodrigo;c) naquele momento difícil, chamou por Deus e pelo Diabo;d) o chefe chamou-os para um diálogo franco;e) mandou chamar o médico com urgência.

03. Assinale a opção em que o verbo assistir é empregado com o mesmo sentido que apresenta em “não direi que assisti às alvo-radas do romantismo”.

a) não assiste a você o direito de me julgar;b) é dever do médico assistir a todos os enfermos;c) em sua administração, sempre foi assistido por bons con-

selheiros;d) não se pode assistir indiferente a um ato de injustiça;e) o padre lhe assistiu nos derradeiros momentos.

04. Em todas as alternativas, o verbo grifado foi empregado com regência certa, exceto em:

a) a vista de José Dias lembrou-me o que ele me dissera.b) estou deserto e noite, e aspiro sociedade e luz.c) custa-me dizer isto, mas antes peque por excesso;d) redobrou de intensidade, como se obedecesse a voz do má-

gico;e) quando ela morresse, eu lhe perdoaria os defeitos.

05. O verbo chamar está com a regência incorreta em:a) chamo-o de burguês, pois você legitima a submissão das

mulheres;b) como ninguém assumia, chamei-lhes de discriminadores;c) de repente, houve um nervosismo geral e chamaram-nas de

feministas;d) apesar de a hora ter chegado, o chefe não chamou às femi-

nistas a sua seção;e) as mulheres foram para o local do movimento, que elas

chamaram de maternidade.

06. Assinale o exemplo, em que está bem empregada a cons-trução com o verbo preferir:

a) preferia ir ao cinema do que ficar vendo televisão;b) preferia sair a ficar em casa;c) preferia antes sair a ficar em casa;d) preferia mais sair do que ficar em casa;e) antes preferia sair do que ficar em casa.

07. Assinale a opção em que o verbo lembrar está empregado de maneira inaceitável em relação à norma culta da língua:

a) pediu-me que o lembrasse a meus familiares;b) é preciso lembrá-lo o compromisso que assumiu conosco;c) lembrou-se mais tarde que havia deixado as chaves em casa;d) não me lembrava de ter marcado médico para hoje;e) na hora das promoções, lembre-se de mim.

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Didatismo e Conhecimento 52

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA08. O verbo sublinhado foi empregado corretamente, exceto em:a) aspiro à carreira militar desde criança;b) dado o sinal, procedemos à leitura do texto.c) a atitude tomada implicou descontentamento;d) prefiro estudar Português a estudar Matemática;e) àquela hora, custei a encontrar um táxi disponível.

09. Em qual das opções abaixo o uso da preposição acarreta mudança total no sentido do verbo?

a) usei todos os ritmos da metrificação portuguesa. /usei de todos os ritmos da metrificação portuguesa;

b) cuidado, não bebas esta água./ cuidado, não bebas desta água;

c) enraivecido, pegou a vara e bateu no animal./ enraivecido, pegou da vara e bateu no animal;

d) precisou a quantia que gastaria nas férias./ precisou da quantia que gastaria nas férias;

e) a enfermeira tratou a ferida com cuidado. / a enfermeira tratou da ferida com cuidado.

10. Assinale o mau emprego do vocábulo “onde”:a) todas as ocasiões onde nos vimos às voltas com problemas

no trabalho, o superintendente nos ajudou;b) por toda parte, onde quer que fôssemos, encontrávamos

colegas;c) não sei bem onde foi publicado o edital;d) onde encontraremos quem nos forneça as informações de

que necessitamos;e) os processos onde podemos encontrar dados para o relató-

rio estão arquivados

Respostas: 1-A / 2-A / 3-D / 4-B / 5-D / 6-B / 7-B / 8-E / 9-D / 10-B /

● ESTRUTURA, FORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS

A. Reconhecimento do significado das palavras com base em sua estrutura morfológica e nos

processos de sua formação (composição e derivação); produtividade e criatividade lexicais; neologismos e estrangeirismos

B. Aspectos do significado lexical: sinonímia, antonímia, hiperonímia, hiponímia,

polissemia, denotação e conotação

Estudar a estrutura é conhecer os elementos formadores das palavras. Assim, compreendemos melhor o significado de cada uma delas. As palavras podem ser divididas em unidades menores, a que damos o nome de elementos mórficos ou morfemas.

Vamos analisar a palavra “cachorrinhas”. Nessa palavra ob-servamos facilmente a existência de quatro elementos. São eles:

cachorr - este é o elemento base da palavra, ou seja, aquele que contém o significado.

inh - indica que a palavra é um diminutivoa - indica que a palavra é femininas - indica que a palavra se encontra no plural

Morfemas: unidades mínimas de caráter significativo. Exis-tem palavras que não comportam divisão em unidades menores, tais como: mar, sol, lua, etc. São elementos mórficos:

- Raiz, Radical, Tema: elementos básicos e significativos- Afixos (Prefixos, Sufixos), Desinência, Vogal Temática:

elementos modificadores da significação dos primeiros- Vogal de Ligação, Consoante de Ligação: elementos de li-

gação ou eufônicos.

Raiz: É o elemento originário e irredutível em que se concen-tra a significação das palavras, consideradas do ângulo histórico. É a raiz que encerra o sentido geral, comum às palavras da mesma família etimológica. Exemplo: Raiz noc [Latim nocere = prejudi-car] tem a significação geral de causar dano, e a ela se prendem, pela origem comum, as palavras nocivo, nocividade, inocente, ino-centar, inócuo, etc.

Uma raiz pode sofrer alterações: at-o; at-or; at-ivo; aç-ão; ac--ionar;

Radical:

Observe o seguinte grupo de palavras: livr-o; livr-inho; livr--eiro; livr-eco. Você reparou que há um elemento comum nesse grupo? Você reparou que o elemento livr serve de base para o sig-nificado? Esse elemento é chamado de radical (ou semantema). Elemento básico e significativo das palavras, consideradas sob o aspecto gramatical e prático. É encontrado através do despojo dos elementos secundários (quando houver) da palavra. Exemplo: cert-o; cert-eza; in-cert-eza.

Afixos: são elementos secundários (geralmente sem vida autô-noma) que se agregam a um radical ou tema para formar palavras derivadas. Sabemos que o acréscimo do morfema “-mente”, por exemplo, cria uma nova palavra a partir de “certo”: certamente, advérbio de modo. De maneira semelhante, o acréscimo dos mor-femas “a-” e “-ar” à forma “cert-” cria o verbo acertar. Observe que a- e -ar são morfemas capazes de operar mudança de classe gramatical na palavra a que são anexados.

Quando são colocados antes do radical, como acontece com “a-”, os afixos recebem o nome de prefixos. Quando, como “-ar”, surgem depois do radical, os afixos são chamados de sufixos. Exemplo: in-at-ivo; em-pobr-ecer; inter-nacion-al.

Desinências: são os elementos terminais indicativos das fle-xões das palavras. Existem dois tipos:

- Desinências Nominais: indicam as flexões de gênero (mas-culino e feminino) e de número (singular e plural) dos nomes. Exemplos: aluno-o / aluno-s; alun-a / aluna-s. Só podemos falar em desinências nominais de gêneros e de números em palavras que admitem tais flexões, como nos exemplos acima. Em palavras como mesa, tribo, telefonema, por exemplo, não temos desinência nominal de gênero. Já em pires, lápis, ônibus não temos desinên-cia nominal de número.

- Desinências Verbais: indicam as flexões de número e pes-soa e de modo e tempo dos verbos. A desinência “-o”, presente em “am-o”, é uma desinência número pessoal, pois indica que o verbo está na primeira pessoa do singular; “-va”, de “ama-va”, é desinência modo-temporal: caracteriza uma forma verbal do pre-térito imperfeito do indicativo, na 1ª conjugação.

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Didatismo e Conhecimento 53

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAVogal Temática: é a vogal que se junta ao radical, preparando-

-o para receber as desinências. Nos verbos, distinguem-se três vo-gais temáticas:

- Caracteriza os verbos da 1ª conjugação: buscar, buscavas, etc.- Caracteriza os verbos da 2ª conjugação: romper, rompemos, etc.- Caracteriza os verbos da 3ª conjugação: proibir, proibirá, etc.

Tema: é o grupo formado pelo radical mais vogal temática. Nos verbos citados acima, os temas são: busca-, rompe-, proibi-

Vogais e Consoantes de Ligação: As vogais e consoantes de ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a pronúncia de uma determi-nada palavra. Exemplos: parisiense (paris= radical, ense=sufixo, vogal de ligação=i); gas-ô-metro, alv-i-negro, tecn-o-cracia, pau-l--ada, cafe-t-eira, cha-l-eira, inset-i-cida, pe-z-inho, pobr-e-tão, etc.

Formação das Palavras: existem dois processos básicos pe-los quais se formam as palavras: a Derivação e a Composição. A diferença entre ambos consiste basicamente em que, no processo de derivação, partimos sempre de um único radical, enquanto no processo de composição sempre haverá mais de um radical.

Derivação: é o processo pelo qual se obtém uma palavra nova, chamada derivada, a partir de outra já existente, chamada primiti-va. Exemplo: Mar (marítimo, marinheiro, marujo); terra (enterrar, terreiro, aterrar). Observamos que «mar» e «terra» não se formam de nenhuma outra palavra, mas, ao contrário, possibilitam a for-mação de outras, por meio do acréscimo de um sufixo ou prefixo. Logo, mar e terra são palavras primitivas, e as demais, derivadas.

Tipos de Derivação

- Derivação Prefixal ou Prefixação: resulta do acréscimo de prefixo à palavra primitiva, que tem o seu significado alterado: crer- descrer; ler- reler; capaz- incapaz.

- Derivação Sufixal ou Sufixação: resulta de acréscimo de sufixo à palavra primitiva, que pode sofrer alteração de significado ou mudança de classe gramatical: alfabetização. No exemplo, o sufixo -ção transforma em substantivo o verbo alfabetizar. Este, por sua vez, já é derivado do substantivo alfabeto pelo acréscimo do sufixo -izar.

A derivação sufixal pode ser:Nominal, formando substantivos e adjetivos: papel – papela-

ria; riso – risonho.Verbal, formando verbos: atual - atualizar.Adverbial, formando advérbios de modo: feliz – felizmente.

- Derivação Parassintética ou Parassíntese: Ocorre quando a palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de prefixo e sufi-xo à palavra primitiva. Por meio da parassíntese formam-se nomes (substantivos e adjetivos) e verbos. Considere o adjetivo “triste”. Do radical “trist-” formamos o verbo entristecer através da junção simultânea do prefixo “en-” e do sufixo “-ecer”. A presença de apenas um desses afixos não é suficiente para formar uma nova palavra, pois em nossa língua não existem as palavras “entriste”, nem “tristecer”. Exemplos:

emudecermudo – palavra iniciale – prefixomud – radicalecer – sufixo

desalmadoalma – palavra inicialdes – prefixoalm – radicalado – sufixo

Não devemos confundir derivação parassintética, em que o acréscimo de sufixo e de prefixo é obrigatoriamente simultâneo, com casos como os das palavras desvalorização e desigualdade. Nessas palavras, os afixos são acoplados em sequência: desvalo-rização provém de desvalorizar, que provém de valorizar, que por sua vez provém de valor.

É impossível fazer o mesmo com palavras formadas por pa-rassíntese: não se pode dizer que expropriar provém de “propriar” ou de “expróprio”, pois tais palavras não existem. Logo, expro-priar provém diretamente de próprio, pelo acréscimo concomitante de prefixo e sufixo.

- Derivação Regressiva: ocorre derivação regressiva quando uma palavra é formada não por acréscimo, mas por redução: com-prar (verbo), compra (substantivo); beijar (verbo), beijo (substan-tivo).

Para descobrirmos se um substantivo deriva de um verbo ou se ocorre o contrário, podemos seguir a seguinte orientação:

- Se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o ver-bo palavra primitiva.

- Se o nome denota algum objeto ou substância, verifica-se o contrário.

Vamos observar os exemplos acima: compra e beijo indicam ações, logo, são palavras derivadas. O mesmo não ocorre, porém, com a palavra âncora, que é um objeto. Neste caso, um substanti-vo primitivo que dá origem ao verbo ancorar.

Por derivação regressiva, formam-se basicamente substanti-vos a partir de verbos. Por isso, recebem o nome de substanti-vos deverbais. Note que na linguagem popular, são frequentes os exemplos de palavras formadas por derivação regressiva. o portu-ga (de português); o boteco (de botequim); o comuna (de comu-nista); agito (de agitar); amasso (de amassar); chego (de chegar)

O processo normal é criar um verbo a partir de um substanti-vo. Na derivação regressiva, a língua procede em sentido inverso: forma o substantivo a partir do verbo.

- Derivação Imprópria: A derivação imprópria ocorre quando determinada palavra, sem sofrer qualquer acréscimo ou supressão em sua forma, muda de classe gramatical. Neste processo:

Os adjetivos passam a substantivos: Os bons serão contem-plados.

Os particípios passam a substantivos ou adjetivos: Aquele ga-roto alcançou um feito passando no concurso.

Os infinitivos passam a substantivos: O andar de Roberta era fascinante; O badalar dos sinos soou na cidadezinha.

Os substantivos passam a adjetivos: O funcionário fantasma foi despedido; O menino prodígio resolveu o problema.

Os adjetivos passam a advérbios: Falei baixo para que nin-guém escutasse.

Palavras invariáveis passam a substantivos: Não entendo o porquê disso tudo.

Substantivos próprios tornam-se comuns: Aquele coordena-dor é um caxias! (chefe severo e exigente)

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Didatismo e Conhecimento 54

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAOs processos de derivação vistos anteriormente fazem parte

da Morfologia porque implicam alterações na forma das palavras. No entanto, a derivação imprópria lida basicamente com seu signi-ficado, o que acaba caracterizando um processo semântico. Por essa razão, entendemos o motivo pelo qual é denominada “imprópria”.

Composição: é o processo que forma palavras compostas, a partir da junção de dois ou mais radicais. Existem dois tipos:

- Composição por Justaposição: ao juntarmos duas ou mais palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética: passatempo, quinta-feira, girassol, couve-flor. Em «girassol» houve uma altera-ção na grafia (acréscimo de um «s») justamente para manter inal-terada a sonoridade da palavra.

- Composição por Aglutinação: ao unirmos dois ou mais vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou mais de seus elementos fonéticos: embora (em boa hora); fidalgo (filho de algo - referindo-se a família nobre); hidrelétrico (hidro + elétrico); pla-nalto (plano alto). Ao aglutinarem-se, os componentes subordi-nam-se a um só acento tônico, o do último componente.

- Redução: algumas palavras apresentam, ao lado de sua for-ma plena, uma forma reduzida. Observe: auto - por automóvel; cine - por cinema; micro - por microcomputador; Zé - por José. Como exemplo de redução ou simplificação de palavras, podem ser citadas também as siglas, muito frequentes na comunicação atual.

- Hibridismo: ocorre hibridismo na palavra em cuja forma-ção entram elementos de línguas diferentes: auto (grego) + móvel (latim).

- Onomatopeia: numerosas palavras devem sua origem a uma tendência constante da fala humana para imitar as vozes e os ruí-dos da natureza. As onomatopeias são vocábulos que reproduzem aproximadamente os sons e as vozes dos seres: miau, zumzum, piar, tinir, urrar, chocalhar, cocoricar, etc.

Prefixos: os prefixos são morfemas que se colocam antes dos radicais basicamente a fim de modificar-lhes o sentido; raramen-te esses morfemas produzem mudança de classe gramatical. Os prefixos ocorrentes em palavras portuguesas se originam do latim e do grego, línguas em que funcionavam como preposições ou ad-vérbios, logo, como vocábulos autônomos. Alguns prefixos foram pouco ou nada produtivos em português. Outros, por sua vez, tive-ram grande vitalidade na formação de novas palavras: a- , contra- , des- , em- (ou en-) , es- , entre- re- , sub- , super- , anti-.

Prefixos de Origem Grega

a-, an-: afastamento, privação, negação, insuficiência, carên-cia: anônimo, amoral, ateu, afônico.

ana-: inversão, mudança, repetição: analogia, análise, anagra-ma, anacrônico.

anfi-: em redor, em torno, de um e outro lado, duplicidade: anfiteatro, anfíbio, anfibologia.

anti-: oposição, ação contrária: antídoto, antipatia, antagonis-ta, antítese.

apo-: afastamento, separação: apoteose, apóstolo, apocalipse, apologia.

arqui-, arce-: superioridade hierárquica, primazia, excesso: arquiduque, arquétipo, arcebispo, arquimilionário.

cata-: movimento de cima para baixo: cataplasma, catálogo, catarata.

di-: duplicidade: dissílabo, ditongo, dilema.dia-: movimento através de, afastamento: diálogo, diagonal,

diafragma, diagrama.dis-: dificuldade, privação: dispneia, disenteria, dispepsia,

disfasia.ec-, ex-, exo-, ecto-: movimento para fora: eclipse, êxodo, ec-

toderma, exorcismo.en-, em-, e-: posição interior, movimento para dentro: encé-

falo, embrião, elipse, entusiasmo.endo-: movimento para dentro: endovenoso, endocarpo, en-

dosmose.epi-: posição superior, movimento para: epiderme, epílogo,

epidemia, epitáfio.eu-: excelência, perfeição, bondade: eufemismo, euforia, eu-

caristia, eufonia.hemi-: metade, meio: hemisfério, hemistíquio, hemiplégico.hiper-: posição superior, excesso: hipertensão, hipérbole, hi-

pertrofia.hipo-: posição inferior, escassez: hipocrisia, hipótese, hipo-

dérmico.meta-: mudança, sucessão: metamorfose, metáfora, metacarpo.para-: proximidade, semelhança, intensidade: paralelo, para-

sita, paradoxo, paradigma.peri-: movimento ou posição em torno de: periferia, peripé-

cia, período, periscópio.pro-: posição em frente, anterioridade: prólogo, prognóstico,

profeta, programa.pros-: adjunção, em adição a: prosélito, prosódia.proto-: início, começo, anterioridade: proto-história, protóti-

po, protomártir.poli-: multiplicidade: polissílabo, polissíndeto, politeísmo.sin-, sim-: simultaneidade, companhia: síntese, sinfonia, sim-

patia, sinopse.tele-: distância, afastamento: televisão, telepatia, telégrafo.

Prefixos de Origem Latina

a-, ab-, abs-: afastamento, separação: aversão, abuso, absti-nência, abstração.

a-, ad-: aproximação, movimento para junto: adjunto,advogado, advir, aposto.

ante-: anterioridade, procedência: antebraço, antessala, an-teontem, antever.

ambi-: duplicidade: ambidestro, ambiente, ambiguidade, am-bivalente.

ben(e)-, bem-: bem, excelência de fato ou ação: benefício, bendito.

bis-, bi-: repetição, duas vezes: bisneto, bimestral, bisavô, biscoito.

circu(m)-: movimento em torno: circunferência, circunscrito, circulação.

cis-: posição aquém: cisalpino, cisplatino, cisandino.co-, con-, com-: companhia, concomitância: colégio, coope-

rativa, condutor.

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Didatismo e Conhecimento 55

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAcontra-: oposição: contrapeso, contrapor, contradizer.de-: movimento de cima para baixo, separação, negação: de-

capitar, decair, depor.de(s)-, di(s)-: negação, ação contrária, separação: desventura,

discórdia, discussão.e-, es-, ex-: movimento para fora: excêntrico, evasão, expor-

tação, expelir.en-, em-, in-: movimento para dentro, passagem para um es-

tado ou forma, revestimento: imergir, enterrar, embeber, injetar, importar.

extra-: posição exterior, excesso: extradição, extraordinário, extraviar.

i-, in-, im-: sentido contrário, privação, negação: ilegal, im-possível, improdutivo.

inter-, entre-: posição intermediária: internacional, interpla-netário.

intra-: posição interior: intramuscular, intravenoso, intraver-bal.

intro-: movimento para dentro: introduzir, introvertido, in-trospectivo.

justa-: posição ao lado: justapor, justalinear.ob-, o-: posição em frente, oposição: obstruir, ofuscar, ocupar,

obstáculo.per-: movimento através: percorrer, perplexo, perfurar, per-

verter.pos-: posterioridade: pospor, posterior, pós-graduado.pre-: anterioridade: prefácio, prever, prefixo, preliminar.pro-: movimento para frente: progresso, promover, prosse-

guir, projeção.re-: repetição, reciprocidade: rever, reduzir, rebater, reatar.retro-: movimento para trás: retrospectiva, retrocesso, retroa-

gir, retrógrado.so-, sob-, sub-, su-: movimento de baixo para cima, inferiori-

dade: soterrar, sobpor, subestimar.super-, supra-, sobre-: posição superior, excesso: supercílio,

supérfluo.soto-, sota-: posição inferior: soto-mestre, sota-voga, soto-pôr.trans-, tras-, tres-, tra-: movimento para além, movimento

através: transatlântico, tresnoitar, tradição.ultra-: posição além do limite, excesso: ultrapassar, ultrarro-

mantismo, ultrassom, ultraleve, ultravioleta.vice-, vis-: em lugar de: vice-presidente, visconde, vice-almi-

rante.

Sufixos: são elementos (isoladamente insignificativos) que, acrescentados a um radical, formam nova palavra. Sua principal característica é a mudança de classe gramatical que geralmente opera. Dessa forma, podemos utilizar o significado de um verbo num contexto em que se deve usar um substantivo, por exemplo. Como o sufixo é colocado depois do radical, a ele são incorpora-das as desinências que indicam as flexões das palavras variáveis. Existem dois grupos de sufixos formadores de substantivos extre-mamente importantes para o funcionamento da língua. São os que formam nomes de ação e os que formam nomes de agente.

Sufixos que formam nomes de ação: -ada – caminhada; -ança – mudança; -ância – abundância; -ção – emoção; -dão – so-lidão; -ença – presença; -ez(a) – sensatez, beleza; -ismo – civismo; -mento – casamento; -são – compreensão; -tude – amplitude; -ura – formatura.

Sufixos que formam nomes de agente: -ário(a) – secretário; -eiro(a) – ferreiro; -ista – manobrista; -or – lutador; -nte – feirante.

Sufixos que formam nomes de lugar, depositório: -aria – churrascaria; -ário – herbanário; -eiro – açucareiro; -or – corre-dor; -tério – cemitério; -tório – dormitório.

Sufixos que formam nomes indicadores de abundância, aglomeração, coleção: -aço – ricaço; -ada – papelada; -agem – folhagem; -al – capinzal; -ame – gentame; -ario(a) - casario, in-fantaria; -edo – arvoredo; -eria – correria; -io – mulherio; -ume – negrume.

Sufixos que formam nomes técnicos usados na ciência:-ite - bronquite, hepatite (inflamação), amotite (fósseis).-oma - mioma, epitelioma, carcinoma (tumores).-ato, eto, Ito - sulfato, cloreto, sulfito (sais), granito (pedra).-ina - cafeína, codeína (alcaloides, álcalis artificiais).-ol - fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto).-ema - morfema, fonema, semema, semantema (ciência lin-

guística).-io - sódio, potássio, selênio (corpos simples)

Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas filosóficas, sistemas políticos: - ismo: budismo, kantismo, comunismo.

Sufixos Formadores de Adjetivos

- de substantivos: -aco – maníaco; -ado – barbado; -áceo(a) - herbáceo, liláceas; -aico – prosaico; -al – anual; -ar – escolar; -ário - diário, ordinário; -ático – problemático; -az – mordaz; -engo – mulherengo; -ento – cruento; -eo – róseo; -esco – pito-resco; -este – agreste; -estre – terrestre; -enho – ferrenho; -eno – terreno; -ício – alimentício; -ico – geométrico; -il – febril; -ino – cristalino; -ivo – lucrativo; -onho – tristonho; -oso – bondoso; -udo – barrigudo.

- de verbos: -(a)(e)(i)nte: ação, qualidade, estado – semelhante, doente,

seguinte.-(á)(í)vel: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação – lou-

vável, perecível, punível.-io, -(t)ivo: ação referência, modo de ser – tardio, afirmativo,

pensativo.-(d)iço, -(t)ício: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação,

referência – movediço, quebradiço, factício.-(d)ouro,-(t)ório: ação, pertinência – casadouro, preparatório.

Sufixos Adverbiais: Na Língua Portuguesa, existe apenas um único sufixo adverbial: É o sufixo “-mente”, derivado do substan-tivo feminino latino mens, mentis que pode significar “a mente, o espírito, o intento”.Este sufixo juntou-se a adjetivos, na forma feminina, para indicar circunstâncias, especialmente a de modo. Exemplos: altiva-mente, brava-mente, bondosa-mente, nervo-sa-mente, fraca-mente, pia-mente. Já os advérbios que se derivam de adjetivos terminados em –ês (burgues-mente, portugues-men-te, etc.) não seguem esta regra, pois esses adjetivos eram outrora uniformes. Exemplos: cabrito montês / cabrita montês.

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Didatismo e Conhecimento 56

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRASufixos Verbais: Os sufixos verbais agregam-se, via de regra,

ao radical de substantivos e adjetivos para formar novos verbos. Em geral, os verbos novos da língua formam-se pelo acréscimo da terminação-ar. Exemplos: esqui-ar; radiograf-ar; (a)doç-ar; nivel-ar; (a)fin-ar; telefon-ar; (a)portugues-ar.

Os verbos exprimem, entre outras ideias, a prática de ação. -ar: cruzar, analisar, limpar-ear: guerrear, golear-entar: afugentar, amamentar-ficar: dignificar, liquidificar-izar: finalizar, organizar

Verbo Frequentativo: é aquele que traduz ação repetida.Verbo Factitivo: é aquele que envolve ideia de fazer ou cau-

sar.Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pouco in-

tensa.

Exercícios

01. Assinale a opção em que todas as palavras se formam pelo mesmo processo:

a) ajoelhar / antebraço / assinatura b) atraso / embarque / pesca c) o jota / o sim / o tropeço d) entrega / estupidez / sobreviver e) antepor / exportação / sanguessuga

02. A palavra “aguardente” formou-se por: a) hibridismob) aglutinaçãoc) justaposiçãod) parassíntesee) derivação regressiva

03. Que item contém somente palavras formadas por justa-posição?

a) desagradável – complementeb) vaga-lume - pé-de-cabrac) encruzilhada – estremeceud) supersticiosa – valiosase) desatarraxou – estremeceu

04. “Sarampo” é:a) forma primitivab) formado por derivação parassintéticac) formado por derivação regressivad) formado por derivação imprópriae) formado por onomatopeia

05. Numere as palavras da primeira coluna conforme os pro-cessos de formação numerados à direita. Em seguida, marque a alternativa que corresponde à sequência numérica encontrada:

( ) aguardente 1) justaposição( ) casamento 2) aglutinação( ) portuário 3) parassíntese( ) pontapé 4) derivação sufixal ( ) os contras 5) derivação imprópria( ) submarino 6) derivação prefixal( ) hipótese

a) 1, 4, 3, 2, 5, 6, 1b) 4, 1, 4, 1, 5, 3, 6c) 1, 4, 4, 1, 5, 6, 6d) 2, 3, 4, 1, 5, 3, 6e) 2, 4, 4, 1, 5, 3, 6 06. Indique a palavra que foge ao processo de formação de

chapechape:a) zumzumb) reco-recoc) toque-toqued) tlim-tlime) vivido

07. Em que alternativa a palavra sublinhada resulta de deriva-ção imprópria?

a) Às sete horas da manhã começou o trabalho principal: a votação.

b) Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto secre-to... Bobagens, bobagens!

c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições continua-riam sendo uma farsa!

d) Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se entenderam.e) Dr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva.

08. Assinale a série de palavras em que todas são formadas por parassíntese:

a) acorrentar, esburacar, despedaçar, amanhecerb) solução, passional, corrupção, visionárioc) enrijecer, deslealdade, tortura, vidented) biografia, macróbio, bibliografia, asteroidee) acromatismo, hidrogênio, litografar, idiotismo

09. As palavras couve-flor, planalto e aguardente são forma-das por:

a) derivaçãob) onomatopeiac) hibridismod) composiçãoe) prefixação

10. Assinale a alternativa em que uma das palavras não é for-mada por prefixação:

a) readquirir, predestinado, propor b) irregular, amoral, demover c) remeter, conter, antegozard) irrestrito, antípoda, prevere) dever, deter, antever

Respostas: 1-B / 2-B / 3-B / 4-C / 5-E / 6-E / 7-D / 8-A / 9-D / 10-E /

Significação das Palavras

Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguin-tes categorias:

Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. Exemplo:

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Didatismo e Conhecimento 57

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA

- Alfabeto, abecedário.- Brado, grito, clamor.- Extinguir, apagar, abolir, suprimir.- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.

Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os sinônimos dife-renciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes de significação e certas propriedades que o escritor não pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais restrito (ani-mal e quadrúpede); uns são próprios da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética (orador e tribuno, oculista e oftalmo-logista, cinzento e cinéreo).

A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos:

- Adversário e antagonista.- Translúcido e diáfano.- Semicírculo e hemiciclo.- Contraveneno e antídoto.- Moral e ética.- Colóquio e diálogo.- Transformação e metamorfose.- Oposição e antítese.

O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinoní-mia, palavra que também designa o emprego de sinônimos.

Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos:- Ordem e anarquia.- Soberba e humildade.- Louvar e censurar.- Mal e bem.

A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial.

Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos:

- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo).- Aço (substantivo) e asso (verbo).

Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é conside-rada uma deficiência dos idiomas.

O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em:

Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes no timbre ou na intensidade das vogais.

- Rego (substantivo) e rego (verbo).- Colher (verbo) e colher (substantivo).- Jogo (substantivo) e jogo (verbo).- Apoio (verbo) e apoio (substantivo).- Para (verbo parar) e para (preposição).- Providência (substantivo) e providencia (verbo).- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo).- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o).

Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e diferentes na escrita.

- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de con-

sertar).- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).- Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).- Censo (recenseamento) e senso (juízo).- Cerrar (fechar) e serrar (cortar).- Paço (palácio) e passo (andar).- Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).- Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =

anular).- Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão

(tempo de uma reunião ou espetáculo).

Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia.- Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).- Cedo (verbo), cedo (advérbio).- Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).- Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).- Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).- Alude (avalancha), alude (verbo aludir).

Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente, tetânico e titâni-co, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento, deferir (conceder, dar defe-rimento) e diferir (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confir-mar) e retificar (tornar reto, corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).

Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:

- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plan-tas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de gado.

- Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.- Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu

do palato.Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polissêmi-

cas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que têm dezenas de acepções.

Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem ser empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado. Exemplos:

- Construí um muro de pedra. (sentido próprio).- Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado).- As águas pingavam da torneira, (sentido próprio).- As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado).

Denotação e Conotação: Observe as palavras em destaque nos seguintes exemplos:

- Comprei uma correntinha de ouro.- Fulano nadava em ouro.

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Didatismo e Conhecimento 58

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRANo primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa sim-

plesmente o conhecido metal precioso, tem sentido próprio, real, denotativo.

No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas, poder, glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo, possui várias conotações (ideias associadas, sentimentos, evocações que irra-diam da palavra).

Exercícios

01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos erros do passado.

a) eminente, deflagração, incidiramb) iminente, deflagração, reincidiramc) eminente, conflagração, reincidiramd) preste, conflaglação, incidirame) prestes, flagração, recindiram

02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre diante da ....... demonstrada pelo político”.

a) seção - fragrante - incipiênciab) sessão - flagrante - insipiênciac) sessão - fragrante - incipiênciad) cessão - flagrante - incipiênciae) seção - flagrante - insipiência

03. Na ..... plenária estudou-se a ..... de direitos territoriais a ..... .

a) sessão - cessão - estrangeirosb) seção - cessão - estrangeirosc) secção - sessão - extrangeirosd) sessão - seção - estrangeirose) seção - sessão - estrangeiros

04. Há uma alternativa errada. Assinale-a:a) A eminente autoridade acaba de concluir uma viagem política.b) A catástrofe torna-se iminente.c) Sua ascensão foi rápida.d) Ascenderam o fogo rapidamente.e) Reacendeu o fogo do entusiasmo.

05. Há uma alternativa errada. Assinale-a:a) cozer = cozinhar; coser = costurarb) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no paísc) comprimento = medida; cumprimento = saudaçãod) consertar = arrumar; concertar = harmonizare) chácara = sítio; xácara = verso

06. Assinale o item em que a palavra destacada está incorre-tamente aplicada:

a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros.c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever.e) A cessão de terras compete ao Estado.

07. O ...... do prefeito foi ..... ontem.a) mandado - caçadob) mandato - cassadoc) mandato - caçadod) mandado - casçadoe) mandado - cassado

08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem correta-mente as respectivas lacunas, na frase seguinte: “Necessitando ...... o número do cartão do PIS, ...... a data de meu nascimento.”

a) ratificar, proscrevib) prescrever, discriminei c) descriminar, retifiqueid) proscrever, prescrevie) retificar, ratifiquei

09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os ..... em astronomia.”

a) insipiência tachar expertosb) insipiência taxar expertosc) incipiência taxar espertosd) incipiência tachar espertose) insipiência taxar espertos

10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, apresen-tava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras adequadas para preenchimento das lacunas são:

a) censo - lasso - cumprimento - eminentesb) senso - lasso - cumprimento - iminentesc) senso - laço - comprimento - iminentesd) senso - laço - cumprimento - eminentese) censo - lasso - comprimento - iminentes

Respostas: (01.B)(02.B)(03.A)(04.D)(05.B)(06.C)(07.B)(08.E)(09.A)(10.B)

2. LITERATURA BRASILEIRA: CONTEXTO, TEMAS E FORMAS

● ASPECTOS TEÓRICOS DA LITERATURAA. Recursos expressivos da criação estética

B. Gêneros literários: caracterização e problematização

C. Elementos da narrativa: enredo, personagens, tempo, espaço e foco narrativo

D. Elementos de estruturação do texto poético: sonoridade, metro, ritmo, rima, estrofe,

formas fixas e figuras de linguagem e. Procedimentos de intertextualidade: estilização,

paródia, paráfrase, apropriação e citação

Uma obra literária apresenta-se a nós, em princípio, como uma realidade concreta. Essa realidade concreta é apenas a forma da obra, sua expressão, porque seu conteúdo, ou aquilo que ela expressa, é uma realidade abstrata, que existiu no espírito do autor e passará a existir no espírito dos seus leitores, auditores ou espectadores. Os elementos fundamentais da obra literária: forma e conteúdo. A forma, expressão ou linguagem, é um elemento concreto e estruturado. Concreto porque podemos ler, ouvir ou ver e podemos analisar objetivamente. A forma é o elemento que fixa o conteúdo e o transmite do espírito do escritor ao do leitor, auditor ou espectador.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAO conteúdo fixado e carregado pela forma é uma realidade

imaterial; por exemplo: as personagens de um romance e suas ações são criadas pela imaginação do escritor, e passam a existir para o leitor apenas na sua imaginação.

O conteúdo e a forma de uma palavra, de uma frase e de uma obra surgem concomitantemente no ato criador do artista e concomitantemente se impõem à consciência do leitor, auditor e espectador. Daí dizer-se que formam uma unidade. Conteúdo e forma são, portanto, realidades concomitantes no espírito e, de tal modo inter-relacionadas e interativas, que a Teoria da Literatura as vê como unidade perfeita. Se penetrarmos profundamente no espírito do escritor chegaremos à conclusão de que um escritor, apesar do empenho que põe em expressar o máximo de estado emocional que o domina, o máximo de sua intuição da realidade e o máximo de seu pensamento, depois de realizada sua obra ainda fica dentro de si muita coisa que ele não conseguiu dizer. No ato criador do artista há um fundo indizível que é um conteúdo sem forma.

A Obra Literária: suas formas

Na música a forma é o som, a frase musical, o ritmo, a harmonia e a melodia; na pintura é a linha, o desenho, a composição, a perspectiva e a cor; na escultura e na arquitetura são os volumes, suas formas e sua composição; na coreografia são as posições e os movimentos rítmicos; e na literatura é fácil compreender, a forma é a linguagem, composta de fonemas, palavras, frases e, quando escrita, transformada em imagem visual. A linguagem falada e escrita não é apenas o processo usado para nos comunicarmos com os nossos semelhantes, mas também a forma ou “material” que os escritores trabalham para conseguir expressar, da melhor maneira, o que conscientizam de seus estados criativos.

Tipos de Forma ou Linguagem

Um escritor não é apenas um homem que pensa e sente de modo diferente do comum dos homens; é também um artista, que se empenha, tecnicamente, na expressão estrutural da obra, para que a estrutura obtida seja a mais adequada ao conteúdo que deseja expressar e a mais eficaz para levar o leitor a compreender e sentir sua obra.

A Arte de Escrever

A arte de escrever não consiste em saber a gramática da língua em que se escreve; é infinitamente mais: é saber obter todos os efeitos nocionais, sonoros e visuais da expressão linguística; e quando os materiais linguísticos manipulados não satisfazem às necessidades expressivas do estado criativo ou artístico, a arte de escrever passa a ser também criadora de expressão.

A Obra Literária: sua forma poemática

Quem pensa em estabelecer a diferença entre prosa e verso ou, entre forma prosaica e forma poemática, parte do princípio de que a prosa é a linguagem natural, enquanto que a linguagem da poesia é artificial.

- A prosa literária, se bem semelhante à linguagem comum, não é, evidentemente, uma linguagem comum, pois é sempre o resultado de um trabalho estético do escritor.

- A linguagem poemática é também trabalhada estilisticamente pelo escritor.

- Poesia é o conteúdo do poema; e nesse caso o poema resulta em ser a expressão ou a forma da poesia (distinção que de pronto percebemos quando verificamos que poesia só os poetas são capazes de criar; ao passo que poema qualquer pessoa aprende a construir).

Relação entre conteúdo da obra literária e a realidade Realidade é tudo aquilo de que temos consciência. Todos os

seres, concretos e abstratos, verdadeiros ou imaginados, e todos os fatos ou fenômenos passam a ser, para nós, realidade, desde que sejam objeto de nossa consciência. Ao conscientizarmos uma realidade, criamos, no espírito, uma ideia (noção abstrata) ou uma imagem (figuração) dessa realidade. O conteúdo de uma obra literária é um conjunto de ideias e imagens da realidade ou supra realidade.

Os dois Mundos da Realidade: o Natural e o Sobrenatural

A realidade física chega a esse psiquismo por intermédio de nossas percepções sensoriais (vista, olfato, audição, paladar, tato, etc.) a realidade psíquica é esse mesmo psiquismo, de cujos fenômenos extremamente complexos temos consciência (os sentimentos; as manifestações do inconsciente; o raciocínio). O mundo sobrenatural – mundo sem as limitações impostas ao nosso mundo pelas leis da natureza física e psíquica. No conteúdo das obras literárias podem ser tanto uma imagem do mundo natural (físico e psicológico) como do sobrenatural. A arte literária é um tipo de conhecimento da realidade.

Os Gêneros Literários

Gênero Lírico

É certo tipo de texto no qual um eu lírico exprime suas emoções, ideias e impressões ante o mundo exterior. Normalmente os pronomes e os verbos estão em 1ª pessoa e há predomínio da função emotiva da linguagem.

Ardo em desejo na tarde que arde! Oh, como é belo dentro de mim Teu corpo de ouro no fim da tarde: Teu corpo que arde dentro de mim Que ardo contigo no fim da tarde.

Manuel Bandeira

Olhei até ficar cansadoDe ver os meus olhos no espelhoChorei por ter despedaçadoAs flores que estão no canteiro

Os pulsos e os punhos que estão cortadosE o resto do meu corpo inteiroTitãs

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Didatismo e Conhecimento 60

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAGênero Épico: Nesse gênero há a presença de um narrador,

que quase sempre conta uma história que envolve terceiros. Isso implica certo distanciamento entre o narrador e o assunto tratado, o que não ocorre no gênero lírico. Os verbos e os pronomes quase sempre estão na 3ª pessoa, porque se trata “dele” ou “deles”. Além disso, os textos épicos pressupõem a presença de um ouvinte ou de uma plateia. Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias de um povo ou uma nação. Envolvem aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos e apresentam um tom de exaltação, isto é, de valorização de heróis e seus feitos.

Gênero Dramático: Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um narrador contando a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os papeis das personagens. Todo o texto se desenrola a partir de diálogos, obrigando a uma sequência rigorosa das cenas e de suas relações de causa e consequência.

Estilos de Época

O homem se modifica através dos tempos e, com ele, mudam também as formas de expressão acústica.

ERA MEDIEVAL

Primeira época (Trovadorismo) 1189(?)1198“Cantiga da Ribeirinha” de Paio SoaresD. DinisMarrtim CodaxJoão Garcia de GuilhadePeri da Ponte

Segunda época

1934Criação do cargo cronista-mor do reinoFernão LopesGil VicenteGarcia de Rezende

A Plurissignificação da Linguagem Literária

Denotação:- palavra com significação restrita;- palavra com sentido comum, aquele encontrado no

dicionário;- palavra utilizada de modo objetivo;- linguagem exata e precisa.

Conotação:- palavra com significação ampla, criada pelo contexto;- palavra com sentidos que carregam valores culturais e

sociais;- palavra utilizada de modo criativo, artístico;- linguagem expressiva, rica em sentimentos. Texto Literário e Não Literário

Texto literário:- linguagem pessoal, contaminada pelas emoções e valores;- linguagem plurissignificativa, conotativa;- função poética da linguagem;- recriação da realidade, intenção estética;- ênfase na expressão.

Texto não literário:- linguagem impessoal, objetiva, informativa;- linguagem que tende à denotação;- função referencial da linguagem;- informações sobre a realidade.

Funções da Linguagem

Diálogo das funções: numa mesma mensagem, porém, várias funções podem ocorrer, uma vez que, atualizando concretamente possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de linguagem.

Função Referencial da Linguagem

- Função cognitiva, ou referencial ou denotativa é a função que ocorre quando o destaque é dado ao referente, ou seja, ao contexto, ao assunto. A intenção principal do autor é informar o leitor. As principais características desse tipo de texto são:

- Objetividade: linguagem direta, precisa, denotativa.- Clareza nas ideias;- Finalidade é traduzir a realidade, tal como ela é;- Presença predominante em textos informativos,

jornalísticos, textos didáticos, científicos.

Função Poética da Linguagem

- Ocorre quando a própria mensagem é posta em destaque, ou seja, chama-se a atenção para o modo como foi organizada a mensagem;

- Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, ela é metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações.

- Exemplos de textos poéticos: além dos provérbios e letras de música, conforme citado, encontramos esse tipo de função em textos escritos em prosa, em slogans, ditos populares. Logo, não se trata de uma função exclusivamente encontrada em poesias.

O que é literatura? Literatura é a arte da palavra. Recria a realidade, dando origem a uma supra realidade ou realidade ficcional.

Os Gêneros Literários

- Gênero Lírico: é certo tipo de texto no qual um eu-lírico (a voz que fala no poema, que nem sempre corresponde à do autor) exprime suas emoções, ideias e impressões ante o mundo exterior.

- Gênero Épico: Nesse gênero há a presença de um narra-dor, que quase sempre conta uma história que envolve terceiros. Isso implica certo distanciamento entre o narrador e o assunto tratado, o que não ocorre no gênero lírico. Os textos épicos são

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAgeralmente longos e narram histórias de um povo ou uma nação. Envolvem aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos e apre-sentam um tom de exaltação, isto é, de valorização de heróis e seus feitos.

- Gênero Dramático: Trata-se do texto escrito para ser ence-nado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um narrador contan-do a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada por autores, que assumem os papéis das personagens.

Trovadorismo (Século XII –XIV)

- Trovador: membro da nobreza ou do clero; era o autor da letra e da música das composições que executava para o seleto público das cortes.

- Jogral: cantor de origem popular, raramente compunha, limitando-se a executar composições dos trovadores.

- no Trovadorismo: os poemas eram sempre cantados e acompanhados de instrumentos musicais e de dança – por isso o nome das produções poéticas é Cantiga.

- as cantigas: foram reunidas em cancioneiros (coleções de cantigas), merecendo destaque:

- O Cancioneiro da Ajuda;- O Cancioneiro da Vaticana;- O Cancioneiro da Biblioteca Nacional.- o primeiro texto literário em galego-português de que se

tem registro data do final do século XII – Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga da Guarvaia (Garvaia) do escritor Paio Soares de Taveirós.

Características Gerais da Linguagem das Cantigas

Quanto à forma:- estrutura simples, de fácil memorização;- repetição de palavras e versos inteiros;- presença constante de refrãos;- escrito em galego-português.

Quanto ao conteúdo:- lírica – temas de amor e saudade.- satírica – crítica aos costumes.

A Lírica

Cantigas de Amigo:- ambientação rural;- linguagem e estrutura simples;- tema frequente: lamento amoroso da moça cujo namorado

partiu para a guerra.

Cantigas de Amor:- amor cortês;-coita amorosa (sofrimento);- o homem é submisso à amada, sendo o homem um vassalo

e a amada uma suserana. A Satírica

Cantigas de Escárnio:-crítica indireta;-linguagem trabalhada, com sutilezas;-ironia.

Cantigas de Maldizer:- crítica direta;- linguagem agressiva, obscena;- zombaria.

- os poemas eram sempre cantados e acompanhados de instrumentos musicais e de dança. Por esse motivo foram denominados cantigas.

- criadas por um trovador (alguém que fazia Trovas, Rimas), as cantigas deram origem ao Trovadorismo, período na Literatura Portuguesa que se entendeu do século XII a meados do século XIV.

Características da Cantiga Trovadoresca

Os paralelismos têm um papel importante na construção das cantigas, pois facilitam a memorização do texto e assim, sua transmissão oral. Além de refrão, outros dois tipos de paralelismos são frequentes nas cantigas: o paralelismo de par de estrofes e o leixa-pren (deixa-toma) Observe:

Apesar de algumas diferenças, as cantigas trovadorescas que se enquadram no gênero lírico geralmente tratam de temas como amor e saudade. As que se enquadram no gênero satírico se voltam à crítica de costumes.

Cantiga da Ribeirinha

No mundo non me sei parelha, Mentre me for como me vay, Ca já moiro por vos – e ay!Mia senhor branca e vermelha, Queredes que vos retraya Quando vus eu vi en saya!Mao dia me levantei,Que vus enton non vi fea!E mia senhor, dês aquel di’ay! Me foi a mi muyn mal,E vos, filha de Don PaayMoniz, e bem vus semelha D’aver eu por vos guarvaya, Pois

eu, mia senhor, d’alfaya Nunca de nos ouve nen ei Valia d’ua Correa.

Tradução para a Língua Portuguesa

No mundo não conheço Ninguém igual a mim,

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Didatismo e Conhecimento 62

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAEnquanto acontecer o Que me aconteceu,Pois eu morro por vós e ai! Minha senhora alva e rosada, Quereis que vos lembreQue já vos vi na intimidade! Em mau dia eu me levanteiPois vi que não sois feia! E, minha senhoraDesde aquele dia, ai!Venho sofrendo de um grande mal Enquanto vós, filha de Dom Paio Muniz, a julgar forçosoQue eu lhe cubra com o mantoPois eu, minha senhoraNunca recebi de vósA coisa mais insignificante.

O Trovadorismo: foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em plena Idade Média, período em que Portugal estava no processo de formação nacional.

Humanismo

- Humanismo é o nome que se dá à produção escrita do final da Idade Média e início da Idade Moderna, ou seja, parte do século XV e início do século XVI, mais precisamente, de 1434 a 1527.

- Há três tipos de atividades literárias que mais se destacam nesse período: a produção historiográfica de

- Fernão Lopes, a produção poética dos nobres, por isso dita Poesia Palaciana e a atividade teatral de Gil Vicente.

- no final do século XV, a Europa passava por grandes mudanças, provocadas por invenções como a bússola (China), pela expansão marítima que incrementou a indústria naval e o desenvolvimento do comércio com a substituição da economia de subsistência, levando a agricultura a se tornar mais intensiva e regular.

- deu-se o crescimento urbano, especialmente das cidades portuárias, o florescimento de pequenas indústrias e todas as demais mudanças econômicas provenientes do Mercantilismo, inclusive o surgimento da burguesia.

- todas essas alterações foram agilizadas com o surgimento dos humanistas, estudiosos da cultura clássica antiga. Alguns eram ligados à Igreja; outros, artistas ou historiadores, independentes ou protegidos por mecenas.

- esses estudiosos tiveram uma importância muito grande porque divulgaram, de forma mais sistemática os novos conceitos, além de identificarem e valorizarem os direitos dos cidadãos.

- acabaram por situar o homem como senhor de seu próprio destino e elegeram-no como a razão de todo conhecimento, estabelecendo, para ele, um papel de destaque no processo universal e histórico.

- essas mudanças na consciência popular, aliados ao fortalecimento da burguesia, graças à intensificação das atividades agrícolas, industriais e comerciais, foram, lenta e gradativamente, minando a estrutura e o espírito medieval.

- Em Portugal, todas essas alterações se fizeram sentir, evidentemente, ainda que algumas pudessem chegar ali com menor força ou, talvez, difusas, sobretudo porque o impacto maior vivido pelos portugueses foi proporcionado pela Revolução de Avis (1383-1385), na qual D. João, mestre de Avis, foi ungido rei, após liderar o povo contra injunções de Castela.

- alguns fatores ligados a esse quadro histórico indicam sua influência no rumo que as manifestações artísticas tomaram em Portugal.

São eles:- as mudanças processadas pelo país pela Revolução de Avis;- os efeitos mercantilistas;- a conquista de Ceuta (1415) fato que daria início a um

século de expansionismo lusitano;- o envolvimento do homem comum com uma vida mais

prática e menos lirismo cortês, morto em 1325;- o interesse de novos nobres e reis por produções literárias

diferentes do lirismo;

Tudo isso explica a restrição do espaço para o exercício e a manifestação da imaginação poética, a marginalização da arte lírica e o fim do Trovadorismo. A partir daí, o ambiente se tornou mais propício à crônica e à prosa histórica, ao menos nas primeiras décadas do período.

Características do Humanismo

Culturalmente, a melhoria técnica da imprensa propiciou uma divulgação mais ampla e rápida do livro, democratizando um pouco o acesso a ele. O homem desse período passa a se interessar mais pelo saber, convivendo com a palavra escrita. Adquire novas ideias e outras culturas como a Greco-latina. O homem, sobretudo, percebeu-se capaz, importante, agente. Acreditando-se dotado de “livre arbítrio”, isto é, capacidade de decisão sobre a própria vida, não mais determinada por Deus, afasta-se do teocentrismo, assumindo, lentamente, um comportamento baseado no antropocentrismo.

Isso implica profundas transformações culturais, de uma postura religiosa e mística, o homem passa gradativamente a uma posição racionalista. O Humanismo funcionará como um período de transição entre duas posturas. Por isso, a arte da época é marcada pela convivência de elementos espiritualistas (teocêntricas) e terrenos (antropocêntricos). A Historiografia, a poesia, a prosa doutrinária e o teatro apresentaram características específicas.

Prosa Doutrinária: Com o aumento de interesse pela leitura, houve um significativo e rápido crescimento da cultura com o surgimento de bibliotecas e a intensificação de traduções de obras religiosas e profanas, além de atualização de escritos antigos. Esse envolvimento com o saber atingiu também a nobreza, a ponto de as crônicas históricas passarem a ser escritas pelos próprios reis, especificamente da dinastia de Avis, com os exemplos de D. João I, D. Duarte e D. Pedro. Essa produção recebeu o nome de doutrinária, porque incluíam a atitude de transmitir ensinamentos sobre certas práticas diárias, e sobre a vida.

Poesia Palaciana: O Mercantilismo e outros acontecimentos de âmbito português modificaram o gosto literário do público, diminuindo-o quanto à produção lírica, o que manteve a poesia enfraquecida durante um século (mais ou menos de 1350 a 1450). No entanto, em Portugal, graças à preferência do rei D. Afonso V (1438-1481), abriu-se um espaço na corte lusitana para a prática lírica e poética. Assim, essa atividade literária sobreviveu

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Didatismo e Conhecimento 63

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAem Portugal, ainda que num espaço restrito, e recebeu o nome de Poesia Palaciana, também identificada por quatrocentista. Essa produção poética tem certa limitação quanto aos conteúdos, temas e visão de mundo, porque seus autores, nobres e fidalgos, abordavam apenas realidades palacianas, como assunto de montaria, festas, comportamentos em palácios, modas, trajes e outras banalidades sem implicação história abrangente. O amor era tratado de forma mais sensual do que no Trovadorismo, sendo menos intensa a idealização da mulher. Também neste gênero poético, ocorre a sátira.

Formalmente são superiores à poesia trovadoresca, seja pela extensão dos poemas graças à cultura dos autores, seja pelo grau de inspiração, seja pela musicalidade ou mesmo pela variedade do metro estes dois últimos recursos conferiam a cada poema a chance de possuírem ritmo próprio. A diferença mais significativa em relação às cantigas do Trovadorismo é que as poesias palacianas foram desligadas da música, ou seja, o texto poético passou a ser feito para a leitura e declamação, não mais para o canto.

O Teatro Vicentino

O teatro vicentino tem como característica principal a sátira. Por meio dela Gil Vicente criticou todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Apesar de sua extrema religiosidade o alvo das sátiras de Gil era o frade que se entregava enlouquecidamente aos amores proibidos, a venda de indulgências, ao misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Gil não fez exceção à hierarquia clerical; criticou desde o frade de aldeia até o papa. No âmbito dos fiéis, criticou aqueles que rezavam mecanicamente; os que solicitavam, a Deus, favores pessoais e os que assistiam à missas por obrigação social:

Sapateiro: Quantas missas eu ouvi, / nom me hão elas de prestar? Diabo: Ouvir missa, então roubar – / é caminho para aqui. (diálogo entre um sapateiro e o Diabo; enxerto do Auto da Barca do Inferno). Digno de observação é que, no teatro de Gil Vicente, o diabo nunca força ninguém ao pecado. As próprias pessoas o cometem por si só. Por exemplo: na peça Auto da Feira, o Diabo, do mesmo modo que um camelô, monta sua banca para oferecer os pecados, quando é interpelado por um anjo que assim argumenta o Diabo:

[...]Mas cada um veja o que faz, porque eu não forço ninguém.

Se me vem comprar qualquer clérigo, ou leigo, ou frade falsas manhas de viver, muito por sua vontade, senhor, que lhe hei-de-fazer?

Outra classe social muito criticada por Gil foi a baixa nobreza, representada pelo fidalgo decadente. Por outro lado, ele tinha especial carinho pelo “lavrador”, que considerava o “verdadeiro povo”, vítima da exploração de toda a estrutura social:

Sempre é morto quem do arado há - de viver.Nos somos a vida das gentes, E morte de nossas;A tiranos – pacientesQue a unhas e a dentes nos tem as almas roídas.[...] (excerto do Auto da Barca do Purgatório)

Dos outros tipos humanos que povoaram os textos de Gil Vicente temos: O judeu ganancioso; a velha beata, o médico incompetente, a mulher adúltera, o padre corrupto, o sapateiro que rouba o povo, a alcoviteira, o velho apaixonado que se deixa roubar. Gil Vicente não tem a preocupação de fixar tipos psicológicos, e sim sociais; pondo em relevo os vícios da época. Ridiculariza a imperícia dos médicos (físicos) na Farsa dos Físicos; as práticas da feitiçaria, no Auto das Fadas, o relaxamento dos costumes clericais, no Clérigo da Beira, no Auto da Barca do Inferno e na Farsa de Inês Pereira. Porém, a maior parte das personagens de seu teatro, não tem nome de batismo; são designados pela profissão ou pelo tipo humano que representam.

Quanto à forma (cenários e montagens) o teatro de Gil é extremamente simples. O texto apresenta estrutura poética, com predomínio da redondilha maior, havendo varias cantigas populares no corpo de sua peça, promovendo a participação da plateia. A produção completa de Gil Vicente constitui-se de 44 peças, sendo 17 escritas em português, 11 em castelhano e 16 bilíngues.

O Auto da Barca do Inferno Antes de mais nada, “auto” é uma designação genérica para

peça, pequena representação teatral. Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois tornou-se popular, para distração do povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu esse tipo de teatro em Portugal. O “Auto da Barca do Inferno” (1517) representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão ao paraíso ou ao inferno.

Chegam os mortos

Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a deixá-lo rever sua amada, pois esta “sente muito” sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela o estava enganando.

Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba na barca do inferno.

O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe entrar na barca do céu.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAO frade e a alcoviteira

A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida enganou muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena como alguém que roubou do povo. O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o convida a entrar na barca do inferno, pois, sendo representante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, condenado ao inferno por falso moralismo religioso.

Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são “seiscentos virgos postiços”. Virgo é hímen, representa a virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu muitas meninas virgens, e “postiço” nos faz acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada por prostituição e feitiçaria.

De judeus e “cristãos novos”

A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo, pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, porém não consegue aproximar- se dele: é impedido, acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, e, sim, rebocados. Tal trecho faz-nos pensar em preconceito antissemita do autor, porém, para entendermos por que Gil Vicente deu tal tratamento a esse personagem, precisamos contextualizar a época em que o auto foi escrito. Durante o reinado de dom Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, tiveram que se converter ao cristianismo, sendo perseguidos e chamados de “cristãos novos”. Ou seja, Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época.

Representantes do judiciário

O corregedor e o procurador, representantes do judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos. Quando convidados pelo diabo para embarcarem, começam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são condenados à barca do inferno por manipularem a justiça em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em trocas de serviços entre eles e ela...

O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno por corrupção. Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente.

O bem e o mal

Como você percebeu, todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu

apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado. O “Auto da Barca do Inferno” faz parte de uma trilogia (Autos da Barca “da Glória”, “do Inferno” e “do Purgatório”). Escrito em versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens é coloquial - e é através das falas que podemos classificar a condição social de cada um dos personagens.

Valores de duas épocas

Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os valores morais de duas épocas: ao mesmo tempo em que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a obra também está religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval. A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é “rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade”. A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto pessimista.

O Renascimento Cultural

Como já sabemos anteriormente que a intensificação do comércio e da produção artesanal resultou no desenvolvimento das cidades, no surgimento de uma nova classe social a burguesia e na posterior formação das monarquias nacionais. Estas transformações vieram acompanhadas de uma nova visão de mundo, que se manifestou na arte e na cultura de maneira de geral. A cultura medieval se caracterizava pela religiosidade. A Igreja Católica, como vimos, controlava as manifestações culturais e dava uma interpretação religiosa para os fenômenos da natureza, da sociedade e da economia. A esta cultura deu-se o nome de teocêntrica (Deus no centro). A miséria, as tempestades, as pragas, as enchentes, as doenças e as más colheitas eram vistas como castigos de Deus. Assim como a riqueza, a saúde, as boas colheitas, o tempo bom, a fortuna eram bênçãos divinas. A própria posição que o indivíduo ocupava na sociedade (nobre, clérigo ou servo) tinha uma explicação religiosa.

A arte medieval, feita normalmente no interior das Igrejas, espelhava esta mentalidade. Pinturas e esculturas não tinham preocupações estéticas e sim pedagógicas: mostrar a miséria do mundo e a grandiosidade de Deus. As figuras eram rústicas, desproporcionais e acanhadas. Os quadros não tinham perspectiva. Como as obras de arte eram de autoria coletiva, o artista medieval é anônimo. A literatura medieval era composta de textos teológicos, biografias de santos e histórias de cavalaria. Isto refletia o domínio da Igreja e da nobreza sobre a sociedade. Essa visão de mundo não combinava com a experiência burguesa. Essa nova classe devia a sua posição social e econômica ao seu próprio esforço e não à vontade divina, como o nobre.

O sucesso nos negócios dependia da observação, do raciocínio e do cálculo. Características que se opunham às explicações sobrenaturais, próprias da mentalidade medieval. Por outro lado, era uma classe social em ascensão, portanto

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAotimista. Sua concepção de mundo era mais materialista. Queria usufruir na terra o resultado de seus esforços. E também claro que o comerciante burguês era essencialmente individualista. Quase sempre, o seu lucro implicava que outros tivessem prejuízo. A visão de mundo da burguesia estará sintonizada com a renovação cultural ocorrida nos fins da Idade Média e no começo da Idade Moderna. A essa renovação denominamos Renascimento.

Características do Renascimento Cultural

O Renascimento significou uma nova arte, o advento do pensamento científico e uma nova literatura. Nelas estão presentes as seguintes características:

- antropocentrismo (o homem no centro): valorização do homem como ser racional. Para os renascentistas o homem era visto como a mais bela e perfeita obra da natureza. Tem capacidade criadora e pode explicar os fenômenos à sua volta.

- otimismo: os renascentistas acreditavam no progresso e na capacidade do homem de resolver problemas. Por essa razão apreciavam a beleza do mundo e tentavam captá-la em suas obras de arte.

- racionalismo: tentativa de descobrir pela observação e pela experiência as leis que governam o mundo. A razão humana é a base do conhecimento. Isto se contrapunha ao conhecimento baseado na autoridade, na tradição e na inspiração de origem divina que marcou a cultura medieval.

- humanismo: o humanista era o indivíduo que traduzia e estudava os textos antigos, principalmente gregos e romanos. Foi dessa inspiração clássica que nasceu a valorização do ser humano. Uma das características desses humanistas era a não especialização. Seus conhecimentos eram abrangentes.

- hedonismo: valorização dos prazeres sensoriais. Esta visão se opunha à ideia medieval de associar o pecado aos bens e prazeres materiais.

- individualismo: a afirmação do artista como criador individual da obra de arte se deu no Renascimento. O artista renascentista assinava suas obras, tomando-se famoso.

- inspiração na antiguidade clássica: os artistas renascentistas procuraram imitar a estética dos antigos gregos e romanos. O próprio termo Renascimento foi cunhado pelos contemporâneos do movimento, que pretendiam estar fazendo renascer aquela cultura, desaparecida durante a “Idade das Trevas” (Média).

Itália: o Berço do Renascimento

O Renascimento teve início e atingiu o seu maior brilho na Itália. Daí irradiou-se para outras partes da Europa. O pioneirismo italiano se explica por diversos fatores:

- a vida urbana e as atividades comerciais, mesmo durante a Idade Média, sempre foram mais intensas na Itália do que no resto da Europa. Como vimos, o Renascimento está ligado à vida urbana e à burguesia. Basta lembrar que Veneza e Gênova foram duas importantes cidades portuárias italianas, ambas com uma poderosa classe de ricos mercadores.

- a Itália foi o centro do Império Romano e por isso tinha mais presente a memória da cultura clássica. Como vimos, o Renascimento inspirou-se na cultura greco-romana.

- o contato com árabes e bizantinos, por meio do comércio, deu condições para que os italianos tivessem acesso às obras clássicas preservadas por esses povos. Quando Constantinopla foi conquistada pelos turcos, em 1453, vários sábios bizantinos fugiram para Itália levando manuscritos e obras de arte.

- O grande acúmulo de riquezas obtidas no comércio com o Oriente, formou uma poderosa classe de ricos mercadores, banqueiros e poderosos senhores. Esse grupo representava um mercado para as obras de arte, estimulando a produção intelectual. Muitos pensadores, pintores, escultores e arquitetos se tomaram protegidos dessa poderosa classe. À essa prática de proteger artistas e pensadores deu-se o nome de mecenato. Entre os principais mecenas podermos destacar os papas Alexandre II, Júlio II e Leão X. Também ricos mercadores e políticos foram importantes mecenas, como, por exemplo, a família Médici.

Já no século XIV surgiram as primeiras figuras do Renascimento, como, por exemplo, Giotto (na pintura), Dante Allighieri, Boccaccio e Francesco Petrarca (na literatura). No século XV a produção cultural atingiu uma grande intensidade. Mas foi no século XVI que o Renascimento atingiu o auge.

A Decadência do Renascimento Italiano

A decadência do Renascimento italiano pode ser explicada por diversos fatores. As lutas políticas internas entre as diversas cidades-estados e a intervenção das potências políticas da época (França, Espanha e Sacro Império Germânico), consumiram as riquezas da Itália. Ao mesmo tempo, o comércio das cidades italianas entrou em franca decadência depois que a Espanha e Portugal passaram a liderar, através da rota do Atlântico, o comércio com o Oriente.

O Renascimento em outras partes da Europa

O renascimento comercial e urbano ocorreu em várias partes da Europa. Desta forma, criaram-se as condições para a renovação cultural, assim como ocorreu na Itália. Nos Países Baixos, uma classe de ricos comerciantes e banqueiros estava ligada ao consumo e à produção de obras de arte e literatura. Um dos grandes pintores flamengos foi Brueghel, que viveu em Antuérpia. Ele pintou, principalmente, cenas da vida cotidiana, retratando o estilo de vida da classe burguesa em ascensão (A Dança do Casamento, de 1565). Destacaram-se ainda os irmãos pintores Hubert e Jan van Eyck (A Virgem e o Chanceler Rolin). A crítica à intolerância do pensamento religioso medieval foi feita por Erasmo de Roterdan (1466-1529) com sua obra Elogio da Loucura.

Na França, o Renascimento teve importantes expoentes:- na literatura e filosofia, Rabelais (1490-1 553), autor de

Gargantua e Pantagruel, obra na qual critica a educação e as táticas militares medievais. Montaigne (1533-1592), autor de estudos filosóficos céticos intitulados Ensaios, nos quais o principal objeto de crítica é o clero.

- nas ciências, Ambroise Pare (1517-1590) destacou-se com estudos de medicina. Inventou uma nova técnica para sutura das veias.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRANa Espanha, a forte influência da Igreja Católica e o clima

repressivo da Contra-Reforma, dificultaram as inovações. Desta forma, as realizações culturais marcadamente renascentistas foram reduzidas. Nas artes plásticas destacou-se El Greco (1575-1614), o grande pintor espanhol do Renascimento (O Enterro do Conde de Orgaz e A Visão Apocalíptica). Na literatura, a Espanha produziu um dos maiores clássicos da humanidade. Trata-se de D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, obra na qual o personagem principal (D.Quixote) é um cavaleiro romântico que imagina estar vivendo em plena Idade Média. A metáfora é referente à decadência da cavalaria e ao conflito entre a mentalidade moderna e a medieval. Na ciência, a Espanha contribuiu com Miguel de Servet, que se destacou pelo seus estudos da circulação do sangue.

Na Inglaterra, um dos principais expoentes do Renascimento foi Tomas Morus (1475-1535), autor de Utopia, obra que descreve as condições de vida da população de uma ilha imaginária, onde não havia classes sociais, pobreza e propriedade privada. É também inglês o maior dramaturgo de todos os tempos, William Sheakspeare (1564-1616). Foi sob o reinado de Isabel 1 que Sheakspeare produziu a maioria de suas obras, dentre as quais destacam-se Hamlet, Ricardo III, Macbeth, Otelo e Romeu e Julieta. Destaca-se ainda no Renascimento inglês, o filósofo Francis Bacon (1561-1626), autor de Novun Organun. Esse autor pode ser considerado um dos precursões do Iluminismo.

Em Portugal, o grande representante do renascimento literário foi Luís Vaz de Camões (1525-1580), autor de Os Lusíadas, poema épico que narra os grandes feitos da navegação portuguesa. O teatro português renascentista foi imortalizado por Gil Vicente, autor das obras Trilogia das Barcas e a Farsa de Inês Pereira.

Na Alemanha, a pintura renascentista consagrou os nomes de Hans Holbein (1497-1553) e Albert Durer (1471-1528). Podemos destacar ainda, como representantes do Renascimento científico, o monge polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que formulou, antes de Galileu, a teoria heliocêntrica (sol no centro do sistema planetário); e Kepler (1571-1630), inventor do telescópio e estudioso das leis da mecânica celeste. Demonstrou que a órbita que os planetas descrevem em torno do sol é elíptica.

A Reforma Religiosa

Podemos definir a Reforma Religiosa como o movimento que rompeu a unidade religiosa da Europa ocidental, dando origem a novas igrejas cristãs. Com ela a Igreja Católica perdeu o monopólio religioso que mantivera durante a Idade Média. A Reforma Religiosa foi contemporânea do Renascimento, e também pode ser explicada pelas transformações econômicas e sociais ocorridas na Europa na transição da Idade Média para os tempos modernos. Todavia, enquanto o Renascimento foi um movimento de elite, a Reforma envolveu todas as camadas sociais europeias.

Fatores que explicam a Reforma

Os fatores que explicam a Reforma Religiosa são de ordem cultural, econômica e política.

- Cultural. O racionalismo e a valorização do homem, próprios do Renascimento, deram origem a uma mentalidade que se opunha a religiosidade católica medieval. O espírito crítico do Renascimento colocou em xeque os tradicionais ensinamentos da Igreja. A divulgação e a leitura dos textos bíblicos, dos escritos dos sábios da antiguidade e dos santos da Igreja criaram um clima de debate e questionamento das verdades estabelecidas. Tanto que os primeiros movimentos que questionaram a autoridade da Igreja surgiram no interior das Universidades. O homem renascentista exigia uma religião mais adequada aos novos tempos.

- Econômico. O renascimento comercial criou uma nova realidade econômica na Europa. A Igreja teve dificuldade em adequar os seus ensinamentos a essa nova realidade. Os dogmas católicos tradicionais combinavam com a economia de subsistência da Idade Média. No entanto, o lucro e a cobrança de juros, estranhos a essa economia, passaram a ser essenciais depois do renascimento comercial. De modo que a burguesia tendia a não aceitar aqueles dogmas religiosos.

- Político. Como vimos em capítulo anterior, o poder nacional do rei, surgido com a centralização política, se contrapunha ao poder supranacional da Igreja. Os conflitos entre os interesses das monarquias nacionais e os de Roma se manifestavam nos direitos de cobrar impostos, na administração da justiça e na nomeação dos bispos. Os reis não podiam admitir que as rendas obtidas pela Igreja em seus domínios fossem enviadas para Roma. Por outro lado, precisavam impor sua justiça em todo o território nacional, e isto significava a supressão dos tribunais eclesiásticos.

Além disso, os reis disputavam com os papas o direito de nomear os bispos, pois estes tinham um grande poder político. Portanto, o rompimento dos Estados Nacionais com a Igreja Católica, foi uma decorrência natural desses conflitos de interesses. Foram ainda fatores importantes para a Reforma a crise e a decadência da Igreja Católica. O luxo do clero, a compra de cargos eclesiásticos, o envolvimento da Igreja nas questões políticas, a má formação teológica dos padres, a venda de indulgências (perdão da Igreja aos pecados) e de falsas relíquias religiosas contribuíam para o desprestígio da instituição diante dos fiéis.

Antecedentes da Reforma - As Heresias

A Igreja Católica considerava como herética toda e qualquer manifestação religiosa (ou não) que não estivesse conforme a sua doutrina e submetida a sua autoridade. Uma das heresias que floresceram durante a Baixa Idade Média foi a de John Wycliffe (1320-1384), professor de Oxford (Inglaterra). Ele achava que a Igreja deveria ser subordinada ao Estado. Não admitia a veneração de imagens, nem a confissão e o perdão que a Igreja dava aos pecados. A salvação dos homens era uma questão direta entre estes e Deus. Estes ensinamentos foram suficientes para transformar Wycliffe em um herético.

Também em Praga, na Boêmia, Jan Huss (1369-1415), reitor da universidade local, atacou os abusos da Igreja e defendeu princípios semelhantes aos de Wycliffe. Sua influência foi tão grande que o papa decidiu pela sua excomunhão. Huss foi queimado por heresia. Wycliffe e Huss foram precursores do

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAmovimento reformista do século XVI. Muitas revoltas populares tiveram inspiração religiosa. Os ensinamentos de Wycliffe inspiraram propostas radicais, como as do monge John Baíl. Elas acabaram desencadeando uma revolta camponesa liderada por Watt Tyler (1381). Por meio de uma nova interpretação do cristianismo, tentava-se também criar formas alternativas de organização social. Este foi o caso dos cátaros (albigenses) e dos valdenses, movimentos heréticos aniquilados com extrema violência pela Igreja.

A Reforma Luterana

Martinho Lutero (1483-1546), era um monge agostiniano alemão de sagaz inteligência e estudioso da bíblia. Com base nos seus estudos começou a criticar os abusos da Igreja. Depois de uma viagem à Roma voltou abalado com o luxo, a decadência de costumes e a corrupção do alto clero. O conflito de Lutero com a Igreja começou com suas críticas à venda de indulgências na Alemanha. Lutero criticou não só o fato de serem vendidas, mas o próprio valor espiritual dessas indulgências. Segundo ele, a Igreja não tinha o poder de conceder perdão aos pecados. Isto só caberia a Deus. A polêmica acabou levando à excomunhão de Lutero. O monge rebelde rasgou a bula da excomunhão e afixou na porta da catedral de Wittemberg as famosas 95 teses. Neste documento já estão presentes as linhas mestras de sua doutrina. Basicamente, a doutrina luterana divergia do catolicismo nos seguintes pontos:

- Livre-exame. O crente teria direito de ler a bíblia e tirar suas próprias conclusões. Desta forma, Lutero negava à Igreja o direito de ser a intérprete da palavra divina.

- Salvação pela fé. Com base em São Paulo, Lutero afirmava que o homem está destinado a pecar. Para São Paulo o homem não é capaz de fazer o bem que quer mas faz o mal que não quer. Assim não se salvará pelas obras, mas sim pelo arrependimento e pela fé.

- Condenação do celibato. Para Lutero não havia fundamento bíblico para o celibato do clero. Sendo assim, os ministros da Igreja deveriam se casar.

- Condenação da veneração ou culto aos santos. A veneração e culto deveriam ser prestados somente a Deus. As imagens que enchiam as Igrejas católicas eram vistas por Lutero como pura idolatria.

- Negação do dogma da transubstanciação. O vinho e o pão não se transformariam no sangue e no corpo de Cristo. A comunhão seria apenas uma reafirmação da fé na ressurreição de Cristo e na sua promessa de resgatar os pecados.

- Negação da infalibilidade papal. Para Lutero os papas estavam sujeitos ao erro como qualquer ser humano. Um dos fatores principais da vitória da Reforma Luterana foi o apoio que o ex-monge recebeu dos nobres alemães. Como a Igreja era a maior proprietária de terras na Alemanha, os príncipes viram no conflito religioso uma oportunidade de se apossarem destas terras.

Os camponeses alemães, oprimidos pela miséria, viram na pregação reformista uma esperança para seus males. Eles também queriam as terras eclesiásticas. Todavia, Lutero não endossou as pretensões camponesas, pois estava identificado com os interesses da nobreza. O reformador que apoiou e liderou as revoltas camponesas foi Tomas Mtinzer, o teólogo da revolução.

Segundo Miinzer, o reino de Deus deveria ser implantado neste mundo. O conflito entre nobres e camponeses deu origem a uma guerra civil na Alemanha. Os camponeses foram massacrados pelos nobres, em 1523, com pleno apoio de Lutero.

Na época, o Sacro Império Germânico era composto por vários estados semi-independentes. A rebeldia e a ambição dos príncipes alemães ameaçava mais ainda a pouca autoridade do imperador. Dessa forma, o imperador condenou a Reforma e apoiou a Igreja. A oposição entre o Imperador (apoiado pela Igreja) e os nobres alemães (apoiados por Lutero), resultou em uma prolongada guerra político-religiosa. Depois dessa guerra, a Alemanha ficou dividida em estados católicos e luteranos. Uma das características do luteranismo, certamente em virtude da vinculação entre Lutero e os príncipes alemães, é a defesa da união Estado-Igreja. A Igreja Luterana já nasceu vinculada ao Estado.

A Reforma Calvinista

João Calvino (1509-1564), francês e seguidor das ideias luteranas, se estabeleceu em Genebra (Suíça), onde escreveu As Instituições Cristãs. Nessa cidade começou a pregar a sua doutrina, que tinha muitos pontos em comum com o luteranismo. A diferença mais importante se refere à doutrina da salvação. Para Lutero, como vimos, a salvação se dá pela fé e para Calvino pela predestinação. Baseando-se em Santo Agostinho, Calvino diz que nós viemos ao mundo predestinados por Deus a sermos salvos ou condenados. Desta forma, a nossa salvação não depende da fé e nem das boas obras, mas sim da escolha divina.

Os sinais da escolha divina se manifestariam na vida dos indivíduos. O trabalho, a pureza de costumes, o cumprimento dos deveres para com a sociedade e a família seriam alguns desses sinais. Esse cidadão teria também a sua vida abençoada por Deus, resultando no progresso econômico. O estudioso alemão Max Weber, na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, mostrou a relação existente entre o calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo. Segundo esse autor, o calvinismo favorece a acumulação capitalista, prescrevendo uma vida dedicada ao trabalho e à poupança. Coincidência ou não, os países do norte da Europa, onde o capitalismo mais se desenvolveu, localizam-se exatamente nas áreas onde a reforma calvinista mais se implantou.

A Expansão do Calvinismo

A partir da Suíça, os pregadores calvinistas conseguiram difundir sua doutrina em várias partes da Europa. Na Inglaterra os calvinistas ficaram conhecidos como puritanos. Foram perseguidos e imigraram em grande número para a América. Na Escócia, ficaram conhecidos como presbiterianos, e na França como huguenotes. A burguesia encontrou no calvinismo a doutrina adequada à seus interesses e ao seu modo de vida. Incompatibilizada com o princípio católico do justo preço e da proibição da usura, a burguesia abraçou a nova doutrina.

A Reforma Anglicana De todos os movimentos reformistas, a Reforma Anglicana

foi a que mais claramente revelou motivos políticos. Ela teve origem no conflito entre o rei Henrique VIII (1509-1547)

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAda Inglaterra e o papa Clemente VII, que não concordou em conceder ao rei o divórcio de sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Esse conflito, aparentemente simples, escondia divergências mais profundas. Vimos que a centralização política opunha os monarcas nacionais à Igreja. Além disso, Henrique VIII pretendia confiscar as terras da Igreja em solo inglês. A questão do divórcio serviu como pretexto para o rompimento definitivo. Por meio do Ato de Supremacia, Henrique VIII tornou-se o chefe da Igreja inglesa. Os membros do clero inglês tiveram que jurar fidelidade ao rei e romper com o papa. Os que se recusaram, foram destituídos e perseguidos. As terras confiscadas da Igreja foram vendidas à nobreza inglesa, que, desta forma, se tornou fiel partidária da Igreja Anglicana.

Como se pode perceber, esta reforma não se deu por motivos doutrinários e sim claramente políticos. Por isso, inicialmente, a religião anglicana pouco diferia da católica. Se diferenciava apenas pelo uso do inglês em lugar do latim e pela obediência ao rei e não ao papa. Mais tarde, sofreu algumas mudanças introduzidas pela rainha Isabel 1, filha de Henrique VIII.

A Contra-Reforma

Podemos definir a Contra-Reforma como o conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica para deter o avanço das igrejas reformadas. A principal providência tomada foi a convocação do Concílio de Trento (1545-1563). Neste Concílio foram reafirmados os dogmas e os princípios católicos negados pelos reformadores. Foram criados o Index Libro rum Prohibitorum (relação de livros proibidos); o Catecismo, para dar educação religiosa, principalmente às crianças, e Seminários, para formar melhor o clero. O Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) foi remodelado e reativado para perseguir os que se desviassem dos princípios católicos. A Contra-Reforma reafirmava ainda que só à Igreja era permitida a interpretação da bíblia.

Nesta época, a ordem religiosa fundada por Inácio de Loiola, Companhia de Jesus, foi reconhecida pela Igreja. Esta ordem teria importante papel da difusão do catolicismo na América. Os jesuítas, submetidos a uma rigorosa disciplina, se dedicavam à educação e à catequese. A Contra-Reforma conseguiu afastar a ameaça reformista do sul da Europa. Até hoje, Itália, Espanha e Portugal são países essencialmente católicos. Mas, muitos estudiosos atribuem o relativo atraso cultural e científico dos países católicos à atuação repressiva da Igreja.

Classicismo (Século XVI)

A história da cultura renascentista nos ilustra com clareza todo o processo de construção do homem e da sociedade contemporânea. Nela se manifestam os germes do individualismo, do racionalismo e da ambição ilimitada, típicos de comportamentos mais imperativos e representativos do nosso tempo. Ela consagra a vitória da razão abstrata, que é a instância suprema de toda a cultura moderna, versada no rigor das matemáticas, que passarão a reger os sistemas de controles do tempo, do espaço, do trabalho e do domínio da natureza.

A literatura renascentista caracteriza-se por imitar as obras de escritores da Antiguidade Clássica Greco- Latina; por isso, é chamada Classicismo. Portanto, o Classicismo do século

XVI é a expressão literária de um movimento mais amplo, o Renascimento, que envolveu as artes, a ciência e a cultura em geral. O interesse pela cultura Greco-Latina e a imitação de seus autores, porém, não se restringem ao século XVI. Estendem-se até o final do século XVIII, formando uma verdadeira Era Clássica, introduzida pelo Classicismo e seguida pelo Barroco e pelo Arcadismo (ou Neoclassicismo).

ANTIGUIDADECultura Greco-Latina: Século XII a.C. – II a.C

IDADE MÉDIAAlta Idade Média: Século V – XI - Século XIIBaixa Idade Média: Século XII - XV

ERA CLÁSSICA Classicismo: Século XVIBarroco: Século XVIIArcadismo: Século XVIII

Classicismo e Humanismo

- a literatura renascentista portuguesa do século XVI resultou das inovações que vinham ocorrendo na Europa, particularmente na Itália, desde o final do século XIII.

- bem mais adiantados do que os escritores de outros países – ainda mergulhados no espírito religioso da Idade

Média – os artistas e intelectuais italianos, desde aquela época, já se empenhavam em traduzir para o italiano e imitar as obras da Antiguidade Greco-Latina, além de difundir suas ideias.

- esse grupo de artistas, chamados humanistas, defendia que a cultura pagã, anterior ao aparecimento do cristianismo, era mais rica e expressiva, pois valorizava o indivíduo, seus feitos heroicos e sua capacidade de dominar e transformar o mundo.

- a atitude de valorização das capacidades físicas e espirituais do homem foi chamada de antropocentrismo e, naturalmente, contrapunha-se à visão teocêntrica do mundo imposto pela Igreja.

Texto I

Neste fragmento do Canto I da Divina Comédia, Dante desce ao inferno e, perdido, encontra um vulto. Pede- lhe ajuda e, pela resposta recebida, percebe se tratar do espectro de Virgílio, poeta latino.

“Então, tu és Virgílio, aquela fonteQue expande de eloquência num largo rio?”- perguntei-lhe, baixando humilde a fronte.“Dos outros poetas honra e desafio, Valham-me o longo

esforço e o fundo amor Que ao teu poema voltei anos a fio.Na verdade, és meu mestre e meu autor; Ao teu exemplo devo,

deslumbrado,O belo estilo que é meu só valor.”

O Renascimento foi um amplo movimento cultural que aconteceu na Europa ocidental nos séculos XV e XVI, que conheceu seu apogeu entre 1490 e 1560, embora se possam considerar antecedentes e prolongamentos isolados. Apesar de o termo Renascimento ser normalmente empregado para designar

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAas transformações desses séculos ocorridas no campo da cultura, suas ligações com outros domínios da sociedade europeia são evidentes. Alguns historiadores chegam a falar também em renascimento comercial, político e religioso. Pode-se afirmar que o Renascimento é a expressão artística dos sentimentos e anseios do homem dos séculos XV e XVI, uma época de profundas transformações sociais e ideológicas.

Marcada por um espírito de euforia econômica, de coragem e ousadia decorrente das navegações e por uma profunda revisão de valores provocada pelas descobertas científicas e pela Reforma, essa foi uma época em que o homem, acreditando em sua capacidade de explorar e dominar o mundo substitui a visão terrestre, fechada pelos limites do feudo medieval, por uma visão marítima, aberta, em consequência das navegações e das conquistas. Sendo o resultado dos esforços empreendidos pelos primeiros humanistas do século XIV e das transformações que se operaram nos séculos XV e XVI, a arte renascentista está voltada para dois horizontes: de um lado, a cultura clássica Greco-latina, fonte de inspiração e modelo para humanistas e renascentistas; de outro, o seu próprio tempo, um tempo em que o homem desafiou os limites do mundo conhecido e se lançou na conquista do globo terrestre.

Entre os séculos XV e XVI, Portugal tornou-se um dos países mais importantes da Europa, em virtude de seu papel decisivo no processo de expansão marítima e comercial. O país amadurecia como Estado, povo, língua e cultura; contudo, faltava aos portugueses uma grande obra literária que consagrasse a euforia que viviam. O poema épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, é a resposta concreta a esse desejo, projetando a literatura portuguesa entre as mais significativas do cenário europeu nesse momento histórico.

Quinhentismo – Classicismo

Medida Nova – decassílabos heroicos e sáficos, oitava-rima...

Características Gerais da Estética

As armas e os barões assinalados,Que da ocidental praia Lusitana,Por mares nunca de antes navegados, Passaram ainda além da

Taprobana,Em perigos e guerras esforçados,Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota

edificaramNovo Reino, que tanto sublimaram;E também as memórias gloriosas Daqueles Reis, que foram

dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosasDe África e de Ásia andaram devastando; E aqueles, que por

obras valerosas,Se vão da lei da morte libertando; Cantando espalharei por

toda parte,Se a tanto me ajudar o engenho e arte.Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes

que fizeram; Cale-se de Alexandro e de TrajanoA fama das vitórias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e

Marte obedeceram:Cesse tudo o que a Musa Antígua canta, Que outro valor mais

alto se alevanta.

Características:

- Comedimento racional;-Valorização do homem, colocado no centro do universo

(antropocentrismo);- Superioridade humana ante a natureza e os deuses;- A universalidade;- A retomada dos ideais Greco-romanos e a busca da perfeição,

do rigor métrico, do equilíbrio e da harmonia.

Poesia Lírica - composta utilizando-se da forma poética tradicional (a medida velha, utilizada no Período Medieval) e da forma renascentista (medida nova) e tem como base a angústia interior que o “eu” sente ao sondar seu próprio mundo e o de sua amada, irmanando-se a todos os homens pelo sofrimento universal causado pelo amor. Além disso, também se preocupa com o propósito da existência humana, tentando analisar o porquê dos atos humanos, buscando justificativas para a existência humana.

Sonetos

ISete anos de pastor Jacó serviaLabão, pai de Raquel serrana bela, Mas não servia ao pai,

servia a ela,Que a ela só por prêmio pertencia.Os dias na esperança de um só dia Passava, contentando-se

com vê-la: Porém o pai usando de cautela,Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.Vendo o triste pastor que com enganos Assim lhe era negada a

sua pastora, Como se a não tivera merecida,Começou a servir outros sete anos, Dizendo: Mais servira, se

não fora Para tão longo amor tão curta a vida!

II

Um mover de olhos, brando e piedoso, Sem ver de quê; um riso brando e honesto,

Quase forçado; um doce e humilde gesto,De qualquer alegria duvidoso;Um despejo quieto e vergonhoso; Um repouso gravíssimo e

modesto;Uma pura bondade, manifestoIndício da alma, limpo e gracioso;Um encolhido ousar; uma brandura; Um medo sem ter culpa;

um ar sereno;Um longo e obediente sofrimento:Esta foi a celeste formosuraDa minha Circe, e o mágico venenoQue pôde transformar meu pensamento.Medida Nova – influência de Petrarca – surge a idealização da

mulher e do amor, a revelação do microcosmo e do macrocosmo do escritor – o particular e o universal – dor / Dor; amor / Amor.

III

Alma minha gentil, que te partisteTão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu

eternamente,

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAE viva eu cá na terra sempre triste.Se lá no assento etério, onde subiste, Memória desta vida se

consente,Não te esqueças daquele amor ardenteQue já nos olhos meus tão puro viste.E se vires que pode merecer-teAlguma cousa a dor que me ficouDa mágoa, sem remédio, de perder-te;Roga a Deus que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me

leve a verte,Quão cedo de meus olhos te levou.

IV

Busque Amor novas artes, novo engenho, Para matar-me, e novas esquivanças;

Que não pode tirar-me as esperanças,Que mal me tirará o que eu não tenho.Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas

seguranças!Que não temo contrastes nem mudanças, Andando em bravo

mar, perdido o lenho.Mas, conquanto não pode haver desgostoOnde esperança falta, lá me escondeAmor um mal, que mata e não se vê.Que dias há que n’alma me tem postoUm não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, e

dói não sei porquê.

V

Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar;

Não tenho logo mais que desejar,Pois em mim tenho a parte desejada.Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o

corpo de alcançar? Em si somente pode descansar,Pois consigo tal alma está liada.Mas esta linda e pura semideia,Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co’a alma minha

se conforma,Está no pensamento como ideia;E o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples

busca a forma.Ambiguidades e paradoxos em que o autor revela a profunda

contradição em que se encontra e, ao mesmo tempo, aponta as características do próximo movimento literário – o Barroco.

VI

Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente;

é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;é um andar solitário entre a gente;é nunca contentar-se de contente;é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?Epopeia; Os Lusíadas Divisão das partes:

INTRODUÇÃO – proposição, invocação, dedicatória. NARRAÇÃO;EPÍLOGO.

Carga mágica dada pela fábula mitológica, pela intriga dos deuses e o equilíbrio racional, o herói representado pelo povo português – toda a coletividade é heroica.

Outros Gêneros do Classicismo Português

HistoriografiaLiteratura de viagens; Prosa doutrinária.

Autores menores: João de Barros.Frei Amador Arrais.

Narração

A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo apresenta personagens que atuam em um tempo e em um espaço, organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um estado para outro, segundo relações de sequencialidade e causali-dade, e não simultâneos como na descrição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm essa vi-vência.

Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narra-dor acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocor-reu o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de texto são os verbos de ação.

O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de en-redo.

As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas per-sonagens, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que está sendo contado. As personagens são identificadas (nomea-das) no texto narrativo pelos substantivos próprios.

Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar) as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações é chamado de espaço, representado no texto pelos advérbios de lugar.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAAlém de contar onde, o narrador também pode esclarecer

“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da narra-tiva é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu.

A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvi-mento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) e termina com a conclu-são da história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história é o narrador, que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele...).

Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos subs-tantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos ver-bos, formando uma rede: a própria história contada.

Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a história.

Elementos Estruturais (I):

- Enredo: desenrolar dos acontecimentos.- Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam e

dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou antiherois, protagonistas ou antagonistas.

- Narrador: é quem conta a história.- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o tem-

po convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo inte-rior, subjetivo.

Elementos Estruturais (II):

Personagens - Quem? Protagonista/AntagonistaAcontecimento - O quê? FatoTempo - Quando? Época em que ocorreu o fatoEspaço - Onde? Lugar onde ocorreu o fatoModo - Como? De que forma ocorreu o fatoCausa - Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fatoResultado - previsível ou imprevisível.Final - Fechado ou Aberto.Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de

tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, como simples exemplos de uma narração. Há uma relação de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e verossimilhança à his-tória narrada.

Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, obrigato-riamente sempre presentes no discurso, exceto as personagens ou o fato a ser narrado.

Exemplo:

Porquinho-da-índia

Quando eu tinha seis anosGanhei um porquinho-da-índía.Que dor de coração me davaPorque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!Levava ele pra salaPra os lugares mais bonitos mais limpinhosEle não gostava:Queria era estar debaixo do fogão.Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.

Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110.

Observe que, no texto acima, há um conjunto de transforma-ções de situação: ganhar um porquinho-da-índia é passar da situa-ção de não ter o animalzinho para a de tê-lo; levá-lo para a sala ou para outros lugares é passar da situação de ele estar debaixo do fogão para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria era estar debaixo do fogão” implica a volta à situação anterior; “não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender que o menino passava de uma situação de não ser terno com o animalzinho para uma situação de ser; no último verso tem-se a passagem da situação de não ter namorada para a de ter.

Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o compo-nente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de es-tado pela ação de alguma personagem, é uma transformação de si-tuação. Mesmo que essa personagem não apareça no texto, ela está logicamente implícita. Assim, por exemplo, se o menino ganhou um porquinho-da-índia, é porque alguém lhe deu o animalzinho.

Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele em que alguém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o porquinho--da-índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o porquinho per-dia, a cada vez que o menino o levava para outro lugar, o espaço confortável de debaixo do fogão). Assim, temos dois tipos de nar-rativas: de aquisição e de privação.

Existem três tipos de foco narrativo:

- Narrador-personagem: é aquele que conta a história na qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.

- Narrador-observador: é aquele que conta a história como alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a his-tória é contada em 3ª pessoa.

- Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece misturada com pensamentos dos personagens (discurso indireto livre).

Estrutura:

- Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- Complicação: é a parte do texto em que se inicia propria-

mente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, conduzindo ao clímax.

- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável.

- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens.

Tipos de Personagens:

Os personagens têm muita importância na construção de um texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou se-cundários, conforme o papel que desempenham no enredo, po-dem ser apresentados direta ou indiretamente.

A apresentação direta acontece quando o personagem aparece de forma clara no texto, retratando suas características físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando os persona-gens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.

- Em 1ª pessoa:

Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a história e é o protagonista. Exemplo:

“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e estacava.”

(Machado de Assis. Dom Casmurro)

Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar, eu estava lá e vi. Exemplo:

“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista que fez cancha nos banhados do Ibirocaí.

Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na es-curidão das noites, na cerração das madrugadas...; ainda que cho-vesse reunimo-nos acolherados ou que ventasse como por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou cruzada!...

(...)Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele.

Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito tempo. (...)

Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matan-ça dos leitões e no tiramento dos assados com couro.

(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)

- Em 3ª pessoa:

Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa. Exemplo:

“Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fantasiaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de ri-dículo.”

(Ilka Laurito. Sal do Lírico)

Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:

Festa

Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meni-nos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos com menos de dez anos.

Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas resoluta-mente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas desertas.

O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O ho-mem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois pãezinhos.

__ Duzentos e vinte.O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.__ Como?__ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gostoso.O homem olha para os meninos.__ O preço é o mesmo – informa o rapaz.__ Está certo.Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como

se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em se-

guida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.

Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o primeiro bocado do pão.

O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando cri-teriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvi-dos com o sanduíche e a bebida.

Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados naquela mesa.

(Wander Piroli)Tipos de Discurso:

Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para o personagem, sem a sua interferência. Exemplo:

Caso de Desquite

__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca). Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado. Agora com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.

__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não me pise, fico uma jararaca.

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Didatismo e Conhecimento 73

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA__ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão.__ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom?

Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no primei-ro mês.

__Você desempregado, quem é que fazia roça?__ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui jo-

gado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom?

__ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende?__ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre só.

Sempre tem um cristão que enterra o pobre.__ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...__ Eu arranjo.__ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois

cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor. Vai me deixar sem nada?

__ Você tinha a mula e a potranca. A mula vendeu e a potran-ca, deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e roupa lavada.

__ Para onde foi a lavadeira?__ Quem?__ A mulata.(...)

(Dalton Trevisan – A guerra Conjugal)Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz,

sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo:

Frio

O menino tinha só dez anos.Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde.

Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia, afastou a ideia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que perce-besse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)

Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitri-nes, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para nada.

__ Olho vivo – como dizia Paraná.Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele

ia pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas esquinas. O seu coraçãozinho se apertava.

Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher. Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo jar-dim, pelos escuros da Alameda Cleveland.

Ela lhe deu, ele seguiu. Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente faltava mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes passavam.

(João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço)

Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente re-cente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exem-plo:

A Morte da Porta-Estandarte

Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso se-gurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciên-cia... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambo-res? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que não está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do País... Abraçá-la no alto de uma colina...

(Aníbal Machado)

Sequência Narrativa:

Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma coordena-se a outra, uma implica a outra, uma subordina-se a outra.

A narrativa típica tem quatro mudanças de situação: - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um

dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo); - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma compe-

tência para fazer algo); - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou de-

via fazer (é a mudança principal da narrativa);- uma em que se constata que uma transformação se deu e em

que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens (geral-mente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os maus).

Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se pres-supõem logicamente. Com efeito, quando se constata a realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetua-se porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazê-la. Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina a escritura, realiza-se o ato de compra; para isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer ou dever comprar (respectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo).

Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu ou outro instrumento para derrubá-la. Para ter um carro, é preciso antes conseguir o dinheiro.

Narrativa e Narração

Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é um componente narrativo que pode existir em textos que não são narrações. A narrativa é a transformação de situações. Por exem-plo, quando se diz “Depois da abolição, incentivou-se a imigra-ção de europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto, apresenta um componente narrativo, pois contém uma mudança de situação: do não incentivo ao incentivo da imigração europeia.

Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, o que é narração?

A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características:- é um conjunto de transformações de situação (o texto de Ma-

nuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche essa condição);

- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos concretos (o texto “Porquinho-da-índia” preenche também esse requisito);

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal que,

entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e posterio-ridade (no texto “Porquinho-da-índia” o fato de ganhar o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez é anterior ao de o menino levá-lo para a sala, que por seu turno é anterior ao de o porquinho-da-índia voltar ao fogão).

Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre perti-nente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear da tem-poralidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance ma-chadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador começa contando sua morte para em seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações de anterioridade e de posteriorida-de.

Resumindo: na narração, as três características explicadas acima (transformação de situações, figuratividade e relações de anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) devem estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas dessas características não é uma narração.

Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto narra-tivo:

- Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que aconteceu, quando e onde.

- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos perso-nagens.

- Desenvolvimento: detalhes do fato.- Conclusão: consequências do fato.

Caracterização Formal:

Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto nar-rativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função da individuali-dade e do estilo do narrador. Dependendo do enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim é de grande importância saber se o relato é feito em primeira pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a participação do narrador; segundo, há uma in-ferência do último através da onipresença e onisciência.

Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos acon-tecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O narrador que usa essa técnica (característica comum no cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade, podendo observar as ações ziguezagueando no tempo e no espaço.

Exemplo - Personagens

“Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr. Amâncio não viu a mulher chegar.

Não quer que se carpa o quintal, moço?Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face es-

calavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do pas-sado, os olhos).”

(Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mer-cado Aberto, p. 5O)

Exemplo - Espaço

Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não havia, em todo o caso, como negar-lhe a insipidez.”

(Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto Alegre: Movimento, 1981, p. 51)

Exemplo - Tempo

“Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra-se: a mu-lher lhe pediu que a chamasse cedo.”

(Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)

Tipologia da Narrativa Ficcional:

- Romance- Conto- Crônica- Fábula- Lenda- Parábola- Anedota- Poema Épico

Tipologia da Narrativa Não-Ficcional:

- Memorialismo- Notícias- Relatos- História da Civilização

Apresentação da Narrativa:

- visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em qua-drinhos) e desenhos.

- auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos.- audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.

Chamamos de sílabas métricas ou sílabas poéticas cada uma das sílabas que compõem os versos de um poema. As sílabas de um poema não são contadas da mesma maneira que contamos as sílabas gramaticais. A contagem delas ocorre auditivamente. Quando fazemos isso, dizemos que estamos escandindo os versos. A partir dessa escansão é que podemos classificá-los.

Para contarmos corretamente as sílabas poéticas, devemos seguir os seguintes preceitos:

Não contamos as sílabas poéticas que estão após a última sílaba tônica do verso.

Ditongos têm valor de uma só sílaba poética.Duas ou mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem

fundir-se entre uma palavra e outra, formando uma só sílaba poética.

Observe a escansão dos versos de um trecho do poema “A língua do nhem”, de Cecília Meireles.

1 2 3 4 5 6“Ha / vi / a u / ma / ve / lhinha (a última sílaba não conta)Junção das vogais Sílaba tônica

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA1 2 3 4 5 6que an / da / va a/ bo / rre / cida

1 2 3 4 5 6pois / da / va a / su / a / vida

1 2 3 4 5 6pra / fa / lar / com / al / guém.

No verso tradicional a quantidade de sílabas (a métrica) do poema é fixa: eles terão de uma a doze sílabas. No verso moderno, porém, a métrica é livre, ou seja, cada verso poderá conter o número de sílabas que o poeta achar conveniente. Por essa razão, o ritmo também é apresentado de maneira livre, de acordo com o desejo do autor.

Verso Tradicional

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10“Al / ma / mi / nha / gen / til, / que / te / par / tistetão / ce / do / des / ta / vi / da / des/ con/ tente,re / pou / sa / lá / no / céu / e / ter / na / mente,e / vi / va eu/ cá / na / te / rra / sem / pre/ triste.”

(Camões)

Verso Livre01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14“É / pre / ci / so a/ ma/ r as/ pe/ sso/ as / co/ mo / se / não / hou 15 16 17 18/ ve / sse a / ma / nhã(Renato Russo)

Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são recursos que tornam mais expressivas as mensagens. Subdividem-se em figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras.

Figuras de Som

a) aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.

“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

b) assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.

“Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.”

c) paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.

“Eu que passo, penso e peço.”

Figuras de construção

a) elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.

“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)

b) zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes.

Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)

c) polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.“

E sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito (...)”

d) inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.

“De tudo ficou um pouco.Do meu medo. Do teu asco.”

e) silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:

- De gêneroVossa Excelência está preocupado.

- De númeroOs Lusíadas glorificou nossa literatura.

- De pessoa“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos

em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”

f) anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.

A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.

g) pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.

“E rir meu riso e derramar meu pranto.”h) anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no

início de versos ou frases.“ Amor é um fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer”

Figuras de pensamento

a) antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.

“Os jardins têm vida e morte.”

b) ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.

“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”

c) eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.

Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)

d) hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática.

Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAe) prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a

seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

f) gradação ou clímax: é a apresentação de ideias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)

“Um coração chagado de desejosLatejando, batendo, restrugindo.”

g) apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).

“Senhor Deus dos desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!”

Figuras de palavras

a) metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.

“Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

b) metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe:

Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)c) catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico

para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.

O pé da mesa estava quebrado.

d) antonomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:

...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)

e) sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

A luz crua da madrugada invadia meu quarto.

Vícios de linguagem

A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas, em se tratando da linguagem escrita. O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.

a) barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta.

pesquiza (em vez de pesquisa)prototipo (em vez de protótipo)

b) solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática.

Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)

c) ambiguidade ou anfibologia: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.

O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)

d) cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras.

Paguei cinco mil reais por cada.

e) pleonasmo vicioso: consiste na repetição desnecessária de uma ideia.

O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente.

Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso.

f) eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.

O menino repetente mente alegremente.

Exercícios1- No enunciado: “Virgílio, traga-me uma coca cola bem

gelada!”, registra-se uma figura de linguagem denominada:a) anáforab) personificaçãoc) antítesed) catacresee) metonímia

2- (FMU) Quando você afirma que enterrou “no dedo um alfinete”, que embarcou “no trem” e que serrou “os pés da mesa”, recorre a um tipo de figura de linguagem denominada:

a) metonímiab) antítesec) paródiad) alegoriae) catacrese

3- (U. Taubaté) No sintagma: “Uma palavra branca e fria”, encontramos a figura denominada:

a) Sinestesiab) Eufemismoc) Onomatopéiad) Antonomásiae) catacrese

4- FAU-Santos) Nos versos: “Bomba atômica que aterraPomba atônita da pazPomba tonta, bomba atômica…”A repetição de determinados elemento fônicos é um recurso

estilístico denominado:a) Hiperbibasmob) sinédoquec) metonímiad) aliteraçãoe) metáfora

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA5- (Maringá) Leia os versos e depois assinale a alternativa

correta:“Amo do nauta o doloroso gritoEm frágil prancha sobre o mar de horrores,Porque meu seio se tornou pedra,Porque minh’alma descorou de dores.” (Fagundes Varela)

No primeiro verso, há uma figura que se traduz por:a) Pleonasmob) Hipérbatoc) Gradaçãod) Anacolutoe) Anáfora

Gabarito

1-E 2- E 3-A 4- D 5- B

Intertextualidade

A Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre dois textos. Observe os dois textos abaixo e note como Murilo Mendes (século XX) faz referência ao texto de Gonçalves Dias (século XIX):

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.”

(Gonçalves Dias)

Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórniaonde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas,os filósofos são polacos vendendo a prestações.gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a [Gioconda Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosasmas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de [verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade!

(Murilo Mendes)

Nota-se que há correspondência entre os dois textos. A paró-dia piadista de Murilo Mendes é um exemplo de intertextualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como ponto de partida o texto de Gonçalves Dias.

Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é persistente. Sabemos que todo texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qualquer texto que se refere a assuntos abordados em outros textos é exemplo de in-tertextualização.

A intertextualidade está presente também em outras áreas, como na pintura, veja as várias versões da famosa pintura de Leo-nardo da Vinci, Mona Lisa:

Mona Lisa, Leonardo da Vinci. Óleo sobre tela, 1503.Mona Lisa, Marcel Duchamp, 1919.Mona Lisa, Fernando Botero, 1978.Mona Lisa, propaganda publicitária.

Pode-se definir então a intertextualidade como sendo a criação de um texto a partir de um outro texto ja existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela é inserida.

Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao “conhecimento do mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.

Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pin-

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAtado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sen-sual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.

Na publicidade, por exemplo, a que vimos sobre anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era “Mon Bijou deixa sua rou-pa uma perfeita obra-prima”. Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci). Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).

Intertextualidade é a relação entre dois textos caracterizada por um citar o outro.

Tipos de Intertextualidade

Pode-se destacar sete tipos de intertextualidade:- Epígrafe: constitui uma escrita introdutória.- Citação: é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.- Paráfrase: é a reprodução do texto do outro com a palavra do

autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.

- Paródia: é uma forma de apropriação que, em lugar de en-dossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando a ironia ou a crítica.

- Pastiche: uma recorrência a um gênero.- Tradução: está no campo da intertextualidade porque implica

a recriação de um texto.- Referência e alusão.

Para ampliar esse conhecimento, vale trazer um exemplo de intertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou moder-nização do primeiro texto. Nota-se isso no livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de “Os Lusíadas” de Camões. Ocorre como que um diálogo entre os dois textos. Em alguns casos, aproxima-se da paródia (canto paralelo), como o poema “Madrigal Melancólico” de Manuel Bandeira, do livro “Ritmo Dissoluto”, que seguramente serviu de inspiração e assim se refletiu no seguinte poema:

Assim como Bandeira

O que amo em tinão são esses olhos docesdelicadosnem esse riso de anjo adolescente.

O que amo em tinão é só essa pele acetinadasempre pronta para a carícia renovadanem esse seio róseo e atrevidoa desenhar-se sob o tecido.

O que amo em tinão é essa pressa loucade viver cada vão momentonem a falta de memória para a dor.

O que amo em tinão é apenas essa voz leveque me envolve e me consomenem o que deseja todo homemflor definida e definitivaa abrir-se como boca ou feridanem mesmo essa juventude assim perdida.

O que amo em tienigmática e solidária:É a Vida!

(Geraldo Chacon, Meu Caderno de Poesia, Flâmula, 2004, p. 37)

Madrigal Melancólico

O que eu adoro em tinão é a tua beleza.A beleza, é em nós que ela existe.A beleza é um conceito.E a beleza é triste.Não é triste em si,mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

(...)

O que eu adoro em tua natureza,não é o profundo instinto maternalem teu flanco aberto como uma ferida.nem a tua pureza. Nem a tua impureza.O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!O que eu adoro em ti, é a vida.

(Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, José Olympio, 1980, p. 83)

A relação intertextual é estabelecida, por exemplo, no texto de Oswald de Andrade, escrito no século XX, “Meus oito anos”, quando este cita o poema , do século XIX, de Casimiro de Abreu, de mesmo nome.

Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem maisQue amor, que sonhos, que floresNaquelas tardes fagueirasÀ sombra das bananeirasDebaixo dos laranjais!

(Casimiro de Abreu)

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA“Meus oito anos”

Oh! Que saudade que tenhoDa aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem maisNaquele quintal de terraDa rua São AntonioDebaixo da bananeiraSem nenhum laranjais!

A intertextualidade acontece quando há uma referência explí-cita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextua-lidade.

Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o autor do texto citado é indicado, já na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. Vejamos duas das formas: a Paráfrase e a Paródia.

Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano Sant’Anna em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” :

Texto OriginalMinha terra tem palmeirasOnde canta o sabiá,As aves que aqui gorjeiamNão gorjeiam como lá.

(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)

ParáfraseMeus olhos brasileiros se fecham saudososMinha boca procura a ‘Canção do Exílio’.Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?Eu tão esquecido de minha terra…Ai terra que tem palmeirasOnde canta o sabiá!(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”)

Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo conser-vando suas ideias, não há mudança do sentido principal do texto que é a saudade da terra natal.

A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retoma-da para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica

de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces-so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente-mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. Com o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, uma paródia.

Texto OriginalMinha terra tem palmeirasOnde canta o sabiá,As aves que aqui gorjeiamNão gorjeiam como lá.

(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)

ParódiaMinha terra tem palmaresonde gorjeia o maros passarinhos daquinão cantam como os de lá.

(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”)

O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil.

Na literatura relativa à Linguística Textual, é frequente apon-tar-se como um dos fatores de textualidade a referência - explíci-ta ou implícita - a outros textos, tomados estes num sentido bem amplo (orais, escritos, visuais - artes plásticas, cinema - , música, propaganda etc.) A esse “diálogo”entre textos dá-se o nome de in-tertextualidade.

Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci-mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.

A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am-plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função daquela citação ou alusão em questão.

Entre os variadíssimos tipos de referências, há provérbios, di-tos populares, frases bíblicas ou obras / trechos de obras constante-mente citados, literalmente ou modificados, cujo reconhecimento é facilmente perceptível pelos interlocutores em geral. Por exemplo, uma revista brasileira adotou o slogan: “Dize-me o que lês e dir-te--ei quem és”. Voltada fundamentalmente para um público de uma determinada classe sociocultural, o produtor do mencionado anún-cio espera que os leitores reconheçam a frase da Bíblia (“Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”). Ao adaptar a sentença, a intenção da propaganda é, evidentemente, angariar a confiança do leitor (e, consequentemente, a credibilidade das informações con-tidas naquele periódico), pois a Bíblia costuma ser tomada como um livro de pensamentos e ensinamentos considerados como “verdades” universalmente assentadas e aceitas por diversas co-munidades. Outro tipo comum de intertextualidade é a introdução em textos de provérbios ou ditos populares, que também inspiram

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAconfiança, pois costumam conter mensagens reconhecidas como verdadeiras. São aproveitados não só em propaganda mas ainda em variados textos orais ou escritos, literários e não-literários. Por exemplo, ao iniciar o poema “Tecendo a manhã”, João Cabral de Melo Neto defende uma ideia: “Um galo sozinho não tece uma manhã”. Não é necessário muito esforço para reconhecer que por detrás dessas palavras está o ditado “Uma andorinha só não faz verão”. O verso inicial funciona, pois, como uma espécie de “tese”, que o texto irá tentar comprovar através de argumentação poética.

Há, no entanto, certos tipos de citações (literais ou construí-das) e de alusões muito sutis que só são compartilhadas por um pequeno número de pessoas. É o caso de referências utilizadas em textos científicos ou jornalísticos (Seções de Economia, de Informática, por exemplo) e em obras literárias, prosa ou poesia, que às vezes remetem a uma forma e/ou a um conteúdo bastante específico(s), percebido(s) apenas por um leitor/interlocutor mui-to bem informado e/ou altamente letrado. Na literatura, podem-se citar, entre muitos outros, autores estrangeiros, como James Joyce, T.S. Eliot, Umberto Eco.

A remissão a textos e para-textos do circuito cultural (mídia, propaganda, outdoors, nomes de marcas de produtos etc.) é es-pecialmente recorrente em autores chamados pós-modernos. Para ilustrar, pode-se mencionar, entre outros escritores brasileiros, Ana Cristina Cesar, poetisa carioca, que usa e “abusa” da inter-textualidade em seus textos, a tal ponto que, sem a identificação das referências, o poema se torna, constantemente, ininteligível e chega a ser considerado por algumas pessoas como um “amontoa-do aleatório de enunciados”, sem coerência e, portanto, desprovido de sentido.

Os teóricos costumam identificar tipos de intertextualidade, entre os quais se destacam:

- a que se liga ao conteúdo (por exemplo, matérias jornalís-ticas que se reportam a notícias veiculadas anteriormente na im-prensa falada e/ou escrita: textos literários ou não-literários que se referem a temas ou assuntos contidos em outros textos etc.). Podem ser explícitas (citações entre aspas, com ou sem indicação da fonte) ou implícitas (paráfrases, paródias etc.);

- a que se associa ao caráter formal, que pode ou não estar ligado à tipologia textual como, por exemplo, textos que “imitam” a linguagem bíblica, jurídica, linguagem de relatório etc. ou que procuram imitar o estilo de um autor, em que comenta o seriado da TV Globo, baseado no livro de Guimarães Rosa, procurando manter a linguagem e o estilo do escritor);

- a que remete a tipos textuais (ou “fatores tipológicos”), liga-dos a modelos cognitivos globais, às estruturas e superestruturas ou a aspectos formais de caráter linguístico próprios de cada tipo de discurso e/ou a cada tipo de texto: tipologias ligadas a estilos de época. Por superestrutura entendem-se, entre outras, estruturas argumentativas (Tese anterior), premissas - argumentos (contra--argumentos - síntese), conclusão (nova tese), estruturas narrativas (situação - complicação - ação ou avaliação – resolução), moral ou estado final etc.;

Um outro aspecto que é mencionado muito superficialmente é o da intertextualidade linguística. Ela está ligada ao que o lin-guista romeno, Eugenio Coseriu, chama de formas do “discurso repetido”:

- “textemas” ou “unidades de textos”: provérbios, ditados populares; citações de vários tipos, consagradas pela tradição cul-tural de uma comunidade etc.;

- “sintagmas estereotipados”: equivalentes a expressões idio-máticas;

- “perífrases léxicas”: unidades multivocabulares, emprega-das frequentemente mas ainda não lexicalizadas (ex. “gravemente doente”, “dia útil”, “fazer misérias” etc.).

A intertextualidade tem funções diferentes, dependendo dos

textos/contextos em que as referências (linguísticas ou culturais) estão inseridas. Chamo a isso “graus das funções da intertextua-lidade”.

Didaticamente pode-se dizer que a referência cultural e/ou linguística pode servir apenas de pretexto, é o caso de “epígrafes” longinquamente vinculadas a um trabalho e/ou a um texto. Sem dizer com isso que todas as epígrafes funcionem apenas como pre-textos. Em geral, o produtor do texto elege algo pertinente e condi-zente com a temática de que trata. Existam algumas, todavia, que estão ali apenas para mostrar “conhecimento” de frases famosas e/ou para servir de “decoração” no texto. Neste caso, o “intertexto” não tem um papel específico nem na construção nem na camada semântica do texto.

Outras vezes, o autor parte de uma frase ou de um verso que ocorreu a ele repentinamente (texto “A última crônica”, em que o autor confessa estar sem assunto e tem de escrever). Afirma então:

“Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: assim eu que-reria meu último poema.”

Descreve então uma cena passada em um botequim, em que um casal comemora modestamente o aniversário da filha, com um pedaço de bolo, uma coca cola e três velinhas brancas. O pai pare-cia satisfeito com o sucesso da celebração, até que fica perturbado por ter sido observado, mas acaba por sustentar a satisfação e se abre num sorriso. O autor termina a crônica, parafraseando o verso de Manuel Bandeira: “Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso”. O verso de Bandeira não pode ser considerado, nessa crônica, um mero pretexto. A intertextuali-dade desempenha o papel de conferir uma certa “literariedade” à crônica, além de explicar o título e servir de “fecho de ouro” para um texto que se inicia sem um conteúdo previamente escolhido. Não é, contudo, imprescindível à compreensão do texto.

O que parece importante é que não se encare a intertextualida-de apenas como a “identificação” da fonte e, sim, que se procure estudá-la como um enriquecimento da leitura e da produção de textos e, sobretudo, que se tente mostrar a função da sua presença na construção e no(s) sentido(s) dos textos.

Como afirmam Koch & Travaglia, “todas as questões ligadas à intertextualidade influenciam tanto o processo de produção como o de compreensão de textos”.

Considerada por alguns autores como uma das condições para a existência de um texto, a intertextualidade se destaca por relacio-nar um texto concreto com a memória textual coletiva, a memória de um grupo ou de um indivíduo específico.

Trata-se da possibilidade de os textos serem criados a partir de outros textos. As obras de caráter científico remetem explici-tamente a autores reconhecidos, garantindo, assim, a veracidade

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAdas afirmações. Nossas conversas são entrelaçadas de alusões a inúmeras considerações armazenadas em nossas mentes. O jornal está repleto de referências já supostamente conhecidas pelo leitor. A leitura de um romance, de um conto, novela, enfim, de qualquer obra literária, nos aponta para outras obras, muitas vezes de forma implícita.

A nossa compreensão de textos (considerados aqui da forma mais abrangente) muito dependerá da nossa experiência de vida, das nossas vivências, das nossas leituras. Determinadas obras só se revelam através do conhecimento de outras. Ao visitar um museu, por exemplo, o nosso conhecimento prévio muito nos auxilia ao nos depararmos com certas obras.

A noção de intertextualidade, da presença contínua de outros textos em determinado texto, nos leva a refletir a respeito da indi-vidualidade e da coletividade em termos de criação. Já vimos ante-riormente que a citação de outros textos se faz de forma implícita ou explícita. Mas, com que objetivo?

Um texto remete a outro para defender as ideias nele contidas ou para contestar tais ideias. Assim, para se definir diante de deter-minado assunto, o autor do texto leva em consideração as ideias de outros “autores” e com eles dialoga no seu texto.

Ainda ressaltando a importância da intertextualidade, remete-mos às considerações de Vigner: “Afirma-se aqui a importância do fenômeno da intertextualidade como fator essencial à legibilidade do texto literário, e, a nosso ver, de todos os outros textos. O tex-to não é mais considerado só nas suas relações com um referente extra-textual, mas primeiro na relação estabelecida com outros textos”.

Como exemplo, temos um texto “Questão da Objetividade” e uma crônica de Zuenir Ventura, “Em vez das células, as cédulas” para concretizar um pouco mais o conceito de intertextualidade.

Questão da Objetividade

As Ciências Humanas invadem hoje todo o nosso espaço men-tal. Até parece que nossa cultura assinou um contrato com tais dis-ciplinas, estipulando que lhes compete resolver tecnicamente boa parte dos conflitos gerados pela aceleração das atuais mudanças sociais. É em nome do conhecimento objetivo que elas se julgam no direito de explicar os fenômenos humanos e de propor soluções de ordem ética, política, ideológica ou simplesmente humanitária, sem se darem conta de que, fazendo isso, podem facilmente con-verter-se em “comodidades teóricas” para seus autores e em “co-modidades práticas” para sua clientela. Também é em nome do rigor científico que tentam construir todo o seu campo teórico do fenômeno humano, mas através da ideia que gostariam de ter dele, visto terem renunciado aos seus apelos e às suas significações. O equívoco olhar de Narciso, fascinado por sua própria beleza, esta-ria substituído por um olhar frio, objetivo, escrupuloso, calculista e calculador: e as disciplinas humanas seriam científicas!

(Introdução às Ciências Humanas. Hilton Japiassu. São Paulo, Letras e Letras, 1994, pp.89/90)

Comentário: Neste texto, temos um bom exemplo do que se

define como intertextualidade. As relações entre textos, a citação de um texto por outro, enfim, o diálogo entre textos. Muitas vezes, para entender um texto na sua totalidade, é preciso conhecer o(s) texto(s) que nele fora(m) citado(s).

No trecho, por exemplo, em que se discute o papel das Ciên-cias Humanas nos tempos atuais e o espaço que estão ocupando, é trazido à tona o mito de Narciso. É preciso, então, dispor do co-nhecimento de que Narciso, jovem dotado de grande beleza, apai-xonou-se por sua própria imagem quando a viu refletida na água de uma fonte onde foi matar a sede. Suas tentativas de alcançar a bela imagem acabaram em desespero e morte.

O último parágrafo, em que o mito de Narciso é citado, de-monstra que, dado o modo como as Ciências Humanas são vistas hoje, até o olhar de Narciso, antes “fascinado por sua própria be-leza”, seria substituído por um “olhar frio, objetivo, escrupuloso, calculista e calculador”, ou seja, o olhar de Narciso perderia o seu tom de encantamento para se transformar em algo material, sem sentimentos. A comparação se estende às Ciências Humanas, que, de humanas, nada mais teriam, transformando-se em disciplinas científicas.

Em vez das células, as cédulas

Nesses tempos de clonagem, recomenda-se assistir ao docu-mentário Arquitetura da destruição, de Peter Cohen. A fantástica his-tória de Dolly, a ovelha, parece saída do filme, que conta a aventura demente do nazismo, com seus sonhos de beleza e suas fantasias genéticas, seus experimentos de eugenia e purificação da raça.

Os cientistas são engraçados: bons para inventar e péssimos para prever. Primeiro, descobrem; depois se assustam com o risco da descoberta e aí então passam a gritar “cuidado, perigo”. Fize-ram isso com quase todos os inventos, inclusive com a fissão nu-clear, espantando-se quando “o átomo para a paz” tornou-se uma mortífera arma de guerra. E estão fazendo o mesmo agora.

(...) Desde muito tempo se discute o quanto a ciência, ao pro-curar o bem, pode provocar involuntariamente o mal. O que a Ar-quitetura da destruição mostra é como a arte e a estética são capa-zes de fazer o mesmo, isto é, como a beleza pode servir à morte, à crueldade e à destruição.

Hitler julgava-se “o maior ator da Europa” e acreditava ser al-guma coisa como um “tirano-artista” nietzschiano ou um “ditador de gênio” wagneriano. Para ele, “a vida era arte,” e o mundo, uma grandiosa ópera da qual era diretor e protagonista.

O documentário mostra como os rituais coletivos, os grandes espetáculos de massa, as tochas acesas (...) tudo isso constituía um culto estético - ainda que redundante (...) E o pior - todo esse apa-rato era posto a serviço da perversa utopia de Hitler: a manipula-ção genética, a possibilidade de purificação racial e de eliminação das imperfeições, principalmente as físicas. Não importava que os mais ilustres exemplares nazistas, eles próprios, desmoralizassem o que pregavam em termos de eugenia.

O que importava é que as pessoas queriam acreditar na insen-satez apesar dos insensatos, como ainda há quem continue acre-ditando. No Brasil, felizmente, Dolly provoca mais piada do que ameaça. Já se atribui isso ao fato de que a nossa arquitetura da destruição é a corrupção. Somos craques mesmo é em clonagem financeira. O que seriam nossos laranjas e fantasmas senão clones e replicantes virtuais? Aqui, em vez de células, estamos interessa-dos é em manipular cédulas.

(Zuenir Ventura, JB, 1997)

Comentário: Tendo como ponto de partida a alusão ao docu-mentário Arquitetura da destruição, o texto mantém sua unidade de sentido na relação que estabelece com outros textos, com dados da História.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRANesta crônica, duas propriedades do texto são facilmente per-

ceptíveis: a intertextualidade e a inserção histórica. O texto se constrói, à medida que retoma fatos já conhecidos.

Nesse sentido, quanto mais amplo for o repertório do leitor, o seu acervo de conhecimentos, maior será a sua competência para per-ceber como os textos “dialogam uns com os outros” por meio de referências, alusões e citações.

Para perceber as intenções do autor desta crônica, ou seja, a sua intencionalidade, é preciso que o leitor tenha conhecimento de fatos atuais, como as referências ao documentário recém lançado no circuito cinematográfico, à ovelha clonada Dolly, aos “laranjas” e “fantasmas”, termos que dizem respeito aos envolvidos em tran-sações econômicas duvidosas. É preciso que conheça também o que foi o nazismo, a figura de Hitler e sua obsessão pela raça pura, e ainda tenha conhecimento da existência do filósofo Nietzsche e do compositor Wagner.

O vocabulário utilizado aponta para campos semânticos rela-cionados à clonagem, à raça pura, aos binômios arte/beleza, arte/destruição, corrupção.

- Clonagem: experimentos, avanços genéticos, ovelhas, cien-tistas, inventos, células, clones replicantes, manipulação genética, descoberta.

- Raça Pura: aventura, demente do nazismo, fantasias genéti-cas, experimentos de eugenia, utopia perversa, manipulação gené-tica, imperfeições físicas, eugenia.

- Arte/Beleza - Arte/Destruição: estética, sonhos de beleza, crueldade, tirano artista ditador de gênio, nietzschiano, wagneria-no, grandiosa ópera, diretor, protagonista, espetáculos de massa e tochas acesas.

- Corrupção: laranjas, clonagem financeira, cédulas, fantasmas.

Esses campos semânticos se entrecruzam, porque englobam referências múltiplas dentro do texto.

● LITERATURA OITOCENTISTA NO BRASILA. Renovação e permanência de temas e

meios de expressão literária em comparação com o período colonial

B. Romantismo e construção de identidadeC. Diversidade interna do movimento romântico

D. Ficção romântica e realista/naturalista: continuidades e descontinuidades

E. Poesia romântica, parnasiana e simbolista, em perspectiva comparada

Romantismo

O Romantismo surgiu na Inglaterra e na Alemanha na metade do séc. XVIII a partir de escritores que descreviam os tempos medievais; valorizavam os heróis nacionais e os sentimentos populares; falavam de amor e saudade de forma pessoal e íntima. Esse subjetivismo era intenso na nova literatura e então surgiu o Romantismo. Esse estilo chega à França e estende-se aos demais países da Europa. É um estilo rico de características, onde algumas delas são:

- busca por liberdade política;- valorização da natureza, sinal da manifestação divina que

serve como refúgio para o homem angustiado;- exposição de sentimentos íntimos, dos estados da alma e

das paixões;- preferência por ambientes noturnos, solitários que

propiciam aos desabafos mais íntimos.- descarta a ideia centrada na razão do estilo anterior e

inspira-se em subjetividades como a fé, o sonho, a intuição, a saudade e as lendas nacionais.

O que propiciou que o Romantismo se difundisse com maior velocidade foi o desenvolvimento do meio de comunicação jornalístico e a ascensão da classe burguesa que tinha acesso aos jornais, onde começaram a ser publicados os folhetins com histórias românticas e de suspense publicadas em capítulos. Então, a literatura começou a popularizar-se.

O Romantismo no Brasil

No Brasil, o Romantismo inicia-se com a publicação do livro de poesias de Gonçalves de Magalhães, “Suspiros poéticos e saudades” e no mesmo ano é lançada em Paris a revista “Niterói” por iniciativa de Araújo Porto Alegre, Torres Homem, Pereira da Silva e Gonçalves de Magalhães. Tornando uma porta-voz dos ideais românticos. Também, junto à política o Romantismo se expressou envolvido pelo entusiasmo da independência proclamada em 1822, surgindo daí o desejo de criar uma literatura com autenticidade nacional, apesar dessa atitude ser bastante criticada por alguns autores puristas que prezavam pela linguagem poética praticada em Portugal.

O Romantismo e o teatro

Com a ascensão sociocultural dos brasileiros e com a chegada da família real em 1808, que trouxe consigo costumes da corte portuguesa; o Brasil era frequentemente visitado por companhias portuguesas de teatro e ópera. Então, foi crescendo a vontade pela criação de um teatro brasileiro. O ator e empresário João Caetano fundou, em 1834, a Companhia Dramática Nacional e deu a seu teatro o nome de Teatro Nacional. Em 1836, o poeta Gonçalves de Magalhães lhe entregou a peça “Antônio José ou o Poeta e a Inquisição”, encenada em 1838, representando a primeira obra teatral de assunto e autor brasileiros. O teatro brasileiro ampliou-se com o comediógrafo Martins Pena tornando-se autenticamente popular. Em 1843, foi criado o Conservatório Dramático e em 1855, o teatro Ginásio Dramático, recebendo o apoio de escritores como José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo.

O Indianismo romântico

Nos países da Europa os autores voltavam-se aos heróis nacionais dos tempos medievais. No Brasil, a literatura desenvolveu a corrente indianista responsável pelo nacionalismo romântico. Como exemplo dessa linha podemos citar o romance “O guarani”, de José de Alencar, onde o índio Peri salva Cecília, filha do colonizador português D. Antônio de Mariz em razão de um ataque indígena onde toda a família de Cecília é morta. Os índios ganham uma imagem de herói neste estilo literário, é considerado nobre, valoroso, fiel e cavalheiro na intenção de valorizar as origens da nacionalidade. O índio surge com símbolo do nacionalismo romântico, umas das características básicas do Romantismo.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRARomantismo (poesia)

As três gerações de poetas românticos:

Primeira geração romântica: foi a geração que introduziu as ideias românticas no Brasil e tem como características principais a exaltação da natureza, o indianismo, a expressão da religiosidade e o sentimento amoroso. Representantes dessa geração são: Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.

Segunda geração romântica: considerada “mal do século” ou “ultra-romântica” é uma geração que tem uma visão trágica da existência e um profundo desencanto pela vida. Seus poemas falam de morte, tédio, solidão e melancolia. Seus poetas morreram muito jovens. Seus melhores representantes foram: Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela.

Terceira geração romântica: sua característica principal é a preocupação com os problemas sociais, tendo com objetivo denunciar as injustiças e lutar pela liberdade. Seu maior representante é Castro Alves.

Gonçalves Dias: Nasceu no Maranhão em 1823, formou-se em direito em Coimbra e morreu num naufrágio em 1864. Escreveu poemas de amor, mas é sempre lembrado como poeta indianista. Exaltou a honra e a valentia do índio em poemas como “I-Juca Pirama”, “Canção do Tamoio”, ”Canto do Piaga”, “Deprecação”, entre outros. Em poemas de amor escreveu “Leito de folhas verdes” e “Marabá”. Como poeta lírico-amoroso escreveu: “Se se morre de amor”, “Como? és tu?”, “Ainda uma vez – adeus!”, “Seus olhos”.

Álvares de Azevedo: Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, em 1831 e faleceu em 1852. Considerado o melhor autor ultra-romântico, com influência dos poetas europeus como Byron. Seus poemas são marcados por mulheres perfeitas e inacessíveis, por isso se lamenta. Também é marcante em sua obra o tema “morte”, cheios de carga emotiva, fazendo dele um dos poetas mais lidos do nosso Romantismo. Escreveu o poema “Lira dos vinte anos”, uma obra dramática “Macário” e um volume de contos “Noite na taverna”.

Castro Alves: Antônio de Castro Alves nasceu na Bahia em 1847 e ali morreu em 1871. Abolicionista, ficou conhecido como “Poeta dos escravos” por manifestar em seus versos a indignação perante a escravidão. Também escreveu poesias amorosas, diferentemente dos outros românticos, a mulher tinha uma imagem bastante erótica e sensual. Suas obras mais importantes são: “Espumas flutuantes”, “A cachoeira de Paulo Afonso”, “Os escravos”, “Navio negreiro” e a “Canção do africano”.

Outros poetas românticos e suas obras

Junqueira Freire: Inspirações do Claustro;Casimiro de Abreu: As primaveras;Fagundes Varela: Vozes da América; Estandarte auriverde;

Cantos do ermo e da cidade; Cantos religiosos; Diário de Lazaro; Anchieta ou O Evangelho nas selvas.

Romantismo (prosa)

Com o Romantismo surgiu o romance brasileiro. O romance tornou-se popular entre os jovens da classe média, principalmente do Rio de Janeiro; liam apenas por distração. Acompanhavam as histórias dos folhetins e torciam por um final feliz que sempre acontecia.

Principais romances do Romantismo

1844- A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo.1845- O moço loiro, de Joaquim Manuel de Macedo.1852/53- Memórias de um sargento de milícias, de Manuel

Antônio de Almeida.1856- Cinco minutos, de José de Alencar.1857- O guarani, de José de Alencar.1862- Lucíola, de José de Alencar1865- Iracema, de José de Alencar.1872- Inocência, de Taunay; O seminarista, de Bernardo

Guimarães1874- Ubirajara, de José de Alencar.1875- Senhora e o Sertanejo, de José de Alencar; A escrava

Isaura, de Bernardo Guimarães.1876- O cabeleira, de Franklin Távora.

Joaquim Manuel de Macedo: Nasceu no Rio de Janeiro, em 1820 e ali morreu em 1882. Escrevia textos com assuntos corriqueiros e tradicionais, reproduzia a vida social da burguesia, com seus mocinhos e mocinhas, casos amorosos, cenas engraçadas e finais felizes. Não há análises sociais, mas um pouco de suspense e muita emoção passageira.

A moreninha: Conta a história de uma aposta entre dois

rapazes, Filipe e Augusto. Augusto, que se diz incapaz de se apaixonar por uma mulher, aposta com Filipe que se isso acontecer ele irá escrever um romance contando sua história de amor. Ele encontra seu grande amor, Carolina, irmã de Filipe. Ele perde a aposta e escreve o romance intitulado A moreninha.

Manuel Antonio de Almeida: Anonimamente escreveu o folhetim “Memórias de um sargento de milícias”, que fez muito sucesso entre os leitores. Este folhetim retratava com riqueza de detalhes os becos, as praças, as tradições e os moradores da cidade do Rio de Janeiro. Mais tarde publicou a história em livro e se destacou entre os escritores do romance brasileiro.

Memórias de um sargento de milícias: Conta a história de um menino, Leonardo, filho enjeitado de Leonardo Pataca. Relata seus dramas cotidianos, casos engraçados e o cotidiano da vila onde morava. Diferentemente de “A moreninha” sai do ambiente burguês e dá ao romance um toque de realismo.

José de Alencar: José Martiniano de Alencar nasceu no Ceará em 1829 e morreu no Rio de Janeiro em 1877. É o mais importante prosador do nosso Romantismo. Ele abrange com seus romances as quatro linhas da época:

Social ou urbana: Cinco minutos; A viuvinha; Lucíola; Diva; A pata da gazela; Sonhos d’ ouro, Senhora(considerado seu 2º melhor livro); Encarnação.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRARegionalista: O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo.Histórica: O guarani (livro épico, considerado seu melhor

livro), As minas de prata, A guerra dos Mascates.Indianista: Iracema, Ubirajara.Senhora: Romance baseado na história de uma mulher

(Aurélia) que dividida entre o amor e o desejo de vingança por ter sido abandonada quando era pobre; ao herdar uma herança resolve comprar o homem que a abandonou (Fernando Seixas) em busca de um casamento rico e espera ansiosamente que ele não aceite o trato feito por Lemos, seu porta-voz. Mas, para seu descontentamento ele aceita se casar por dinheiro e aceita também a condição de conhecer a noiva apenas alguns dias antes da cerimônia.

Quando Fernando descobre quem é a noiva fica feliz porque ele ainda a ama, mas ele cai no conceito de Aurélia que o maltrata e o humilha após o casamento. Apaixonado e ferido ele resolve trabalhar com afinco e depois de onze meses devolve à Aurélia o dinheiro que recebeu por ter se casado com ela. Sem terem mais motivo para ficarem separados, os dois se reconciliam e vivem um grande amor. Esse romance é uma crítica à sociedade que dava mais valor ao dinheiro do que ao caráter e por isso, seu livro é dividido em quatro capítulos que representam o sistema financeiro: preço, quitação, posse e resgate.

Realismo

O Realismo foi um estilo oposto ao Romantismo, seus autores escreviam sobre a realidade de forma nua e crua, foi um abandono das realidades do modo de vida burguês para a realidade da população anônima, marginalizada da sociedade do séc.XIX. Teve início na França, em 1857,com a publicação do romance “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert. Em 1881, iniciou no Brasil com a publicação do romance de Machado de Assis “Memórias póstumas de Brás Cubas”, e de Aluísio de Azevedo “O mulato”.

Foi uma época de apogeu dos progressos científicos na medicina, nas ciências, biológicas, genética e das filosofias (Positivismo de Augusto Conte, Determinismo de Hippolyte Taine, Darwinismo de Charles Darwin, Evolucionismo social de Herbert Spencer, Socialismo Utópico de Saint-Simon e Socialismo científico de Karl Marx). O Realismo apresenta um trabalho realizado na realidade da vida humana e deixa o sentimentalismo e o subjetivismo romântico de lado, o romance deixa de ser visto como pura distração e passa a ser crítico e realista.

Principais romances realistas

1881- O mulato, de Aluísio Azevedo; Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

1884- Casa de pensão, de Aluísio Azevedo1888- O missionário, de Inglês de Sousa; O Ateneu, de Raul

Pompéia1890- O cortiço, de Aluísio Azevedo1891- Quincas Borba, de Machado de Assis1893- A normalista, de Adolfo Caminha1895- Bom-crioulo, de Adolfo Caminha1899- Dom Casmurro, de Machado de Assis1903- Luzia-Homem, de Domingos Olímpio

1904- Esaú e Jacó, de Machado de Assis1908- Memorial de Aires, de Machado de AssisAluísio Azevedo: Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo

nasceu em São Luís, no Maranhão e faleceu em 1913, em Buenos Aires, na Argentina. Escreveu várias obras, mas nem todas tinham a mesma qualidade literária. As melhores são os romances “O mulato”, “Casa de Pensão” e “O cortiço”.

O cortiço: Este romance tem como personagem principal João Romão, vendeiro português, que tem por meta de vida ascender socialmente; tinha por amante uma escrava fugida que o ajudou a enriquecer (Bertoleza). Seu sonho era adquirir boa posição social com a de seu patrício Miranda, que tinha um sobrado ao lado do cortiço, e ficar noivo de sua filha. Mas para isso ele tinha de se livrar de Bertoleza que poderia atrapalhar sua ascensão. Então, ele a delata como escrava fugida. Ao perceber a traição de João, Bertoleza suicida-se. É um texto povoado de tipos humanos como lavadeiras, operários, prostitutas, mascates que vivem num ambiente marginalizado, degradante e corruptor.

Machado de Assis: Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 1839, e ali morreu em 1908. Mestiço, gago, epilético foi considerado símbolo de esforço por nunca ter ido à escola. Foi tipógrafo, revisor, colaborador da imprensa da época e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, que ajudou a fundar em 1897; o melhor escritor brasileiro do séc. XIX e um dos mais importantes de toda a história literária em língua portuguesa. Possuía um estilo preciso, não falava demais nem de menos, usava frases curtas, tinha um misto de graça e amargura.

Os contos: Machado de Assis tinha uma grande habilidade para escrever histórias curtas baseadas na realidade e na análise do comportamento humano (os contos). Seus contos eram verdadeiras obras-primas. Dentre eles, estão: “O enfermeiro”, “ A cartomante”,”A igreja do diabo”, “O alienista”, “Pai contra mãe”, “A causa secreta”,”Conto de escola”, “Umas férias”, “Noite de almirante”, “O espelho”, “Missa do galo”, “Uns braços” etc.

Os romances: Na primeira fase de sua produção, Machado de Assis, escreveu quatro romances com traços românticos: Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878). Após essa fase ele assume um aspecto realista em suas obras com Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires (1908) e aprofunda suas análises psicológicas dos personagens.

Dom Casmurro: É um de seus romances mais famosos pela incerteza que ele nos causa em relação à ambiguidade da personagem Capitu, onde ao final da história, não se sabe se ela traiu ou não seu marido Bentinho com seu amigo Escobar. Bentinho fez o seminário, mas, por influência de Capitu, não se ordenou padre para casar-se com ela e, Escobar, seu amigo de seminário, casou-se com a melhor amiga de Capitu, tornando-se muito próximos. Bentinho e Capitu têm um filho, mas ele desconfia que o filho seja do suposto amante de Capitu. Bentinho é apelidado Dom Casmurro por viver recluso e o texto é uma retrospectiva de sua vida.

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Didatismo e Conhecimento 85

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRANaturalismo

Em obras de alguns autores brasileiros realistas podemos notar certas características que definem o Realismo extremo como Naturalismo. É um estilo que classifica os homens de acordo com:

- a raça, que determina o comportamento humano previsível.- o meio, que forma o homem em seus aspectos morais, e- a situação social, que define o homem social e culturalmente.

Portanto, o ser humano era fruto da ação do meio social em que vivia e da sua hereditariedade. Então, o homem era previsível, teria sempre as mesmas reações, instintivas e incontroláveis. Era uma análise dessas reações com base na Biologia, na Psicologia e na Sociologia sem interferência de ordem pessoal ou moral.

Esses escritores sofreram a influência do francês Émile Zola, um dos mais importantes autores naturalistas. No Brasil, o primeiro romance naturalista publicado foi “O mulato”, de Aluísio Azevedo.

Parnasianismo

O Parnasianismo é um estilo poético que teve origem na França, em 1866, com a publicação do livro “O Parnaso contemporâneo”. Parnaso era o nome de uma montanha, na Grécia, consagrada a Apolo, deus da luz e das artes, e às musas, entidades mitológicas ligadas às artes. No Brasil, a publicação que deu início ao Parnasianismo foi a do livro “Fanfarras”, de Teófilo Dias. A principal característica do Parnasianismo é o cuidado com a forma do poema que deve ser objetivo, deve prezar pelas rimas ricas e raras e pelo uso de linguagem elaborada e perfeita. A expressão poética não era o fundamental. Era um estilo bastante descritivo e detalhista. É o que podemos observar neste soneto de Alberto de Oliveira:

Vaso chinês

Estranho mimo, aquele vaso! Vi-oCasualmente, uma vez, de um perfumadoContador sobre o mármor luzidio,Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,Nele pusera o coração doentioEm rubras flores de um sutil lavrado,Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura-Quem o sabe?- de um velho mandarimTambém lá estava a singular figura:

Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-aSentia um não-sei-quê com aquele chimDe olhos cortados à feição de amêndoa.

Estilo de texto descritivo comum ao Parnasianismo onde o autor descreve detalhes de um vaso chinês, um objeto de arte. O texto é construído sob formas perfeitas, com rimas ricas, bem trabalhadas, porém, é um texto sem expressão, o que se percebe é a impessoalidade e a inexpressividade do autor. É um texto bem escrito, porém pobre de conteúdo.

Nem todos os poetas conseguiam construir o poema com a perfeição das rimas e quando isso acontecia e o sentimento fluía nos versos, belas poesias eram escritas.

Os principais poetas do Parnasianismo foram:

Alberto de Oliveira (1857-1937): Canções românticas, Meridionais, Sonetos e poemas, Versos e rimas.

Raimundo Correia (1860-1911): Primeiros sonhos, Sinfonias, Versos e versões, Aleluias, Poesias.

Olavo Bilac (1856-1918): Via láctea, Sarças de fogo, Alma inquieta, O caçador de esmeraldas, Tarde.

Vicente de Carvalho (1866-1924): Ardentias, Relicário, Rosa, rosa de amor, Poemas e canções.

O parnasianismo continua manifestando-se paralelamente ao surgimento do Simbolismo e início do Modernismo.

Simbolismo

No Brasil, o Simbolismo surge numa época de conflitos políticos, marcados pela transição do regime escravocrata para o regime assalariado, onde alguns escritores defendiam a causa das liberdades civis. O Simbolismo foi uma reação ao materialismo e ao cientificismo preconizados pelo Realismo e pelo Parnasianismo. Surgiu na França no final do séc.XIX e foi um movimento poético de revalorização do poder sugestivo das imagens poéticas, do subjetivismo e da vida espiritual. Deu ao estilo poético uma musicalidade inexistente nos estilos anteriores. Vejamos estes versos do poeta Cruz e Souza com sua expressão simbolista:

Busca palavras límpidas e castas,Novas e raras, de clarões ruidosos,Dentre as ondas mais pródigas, mais vastasDos sentimentos mais maravilhosos.

Enche de estranhas vibrações sonorasA tua estrofe, majestosamente...Põe nela todo o incêndio das auroras para torná-la emocional e ardente.

Derrama luz e cânticos e poemasNo verso, e torna-o musical e doce,Como se o coração nesses supremasEstrofes, puro e diluído fosse.

É um poema que ensina como deve ser escrito um poema, que ele transmita musicalidade, que seja romântico sem ser sofrido. Vai na contramão do Parnasianismo que considera o poeta um escultor de obras perfeitas e valoriza o ritmo, as sensações, o uso dos sentidos ( o cheiro, o sabor), das sugestões. Retratam anseios e angústias que atormentam o espírito sensível do poeta.

Os poetas simbolistas fazem uso da sinestesia (sensação produzida pela interpenetração dos órgãos do sentido: (cheiro doce), de figuras de linguagem para melhor expressar seus sentimentos, como aliterações (repetição de letras ou sílabas numa mesma oração) e das assonâncias (repetição fônica das vogais). Todo esse jogo de palavras causa o que os poetas simbolistas tanto buscam, que é transmitir seus anseios e angustias com musicalidade.

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Didatismo e Conhecimento 86

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAOs maiores representantes deste movimento no Brasil foram

Cruz e Sousa e Alphonsus Guimaraens. O Simbolismo teve origem com a publicação de dois livros de Cruz e Sousa “Missal” e “Broquéis”.

Cruz e Sousa: João da Cruz e Sousa nasceu em 1861, em Santa Catarina, e morreu em 1898, em Minas Gerais. Um dos poetas mais importantes da nossa literatura, filho de escravos, de vida difícil. Todas essas condições fizeram com que ele voltasse seus versos para os marginalizados da sociedade. Cruz e Sousa escreveram os livros: Faróis, Últimos sonetos e Evocações. Com Virgilio Várzea escreveu Tropos e Fantasias.

O grande sonho

Sonho profundo, ó Sonho doloroso,Doloroso e profundo Sentimento!Vai, vai às harpas trêmulas do ventoChorar o teu mistério tenebroso.

Sobe dos astros ao clarão radioso,Aos leves fluidos do luar nevoento,Às urnas de cristal do firmamento,Ó velho Sonho amargo e majestoso!

Sobe às estrelas rútilas e frias,Brancas e virginais eucaristias,De onde uma luz de eterna paz escorre.

Nessa Amplidão das Amplidões austerasChora o Sonho profundo das Esferas,Que nas azuis melancolias morre...

Perceba neste poema uma característica marcante de Cruz e Sousa e outros poetas simbolistas, que é a utilização de palavras iniciadas com letra maiúscula no meio do poema. Também faz uso dos sentidos quando se refere a cores, sons, perfumes e sensações.

Alphonsus de Guimaraens: Afonso Henrique da Costa Guimarães, nasceu em 1870 em Minas Gerais e ali faleceu em 1921. Teve uma vida solitária e sua poesia remetia ao espiritualismo, carregada de rituais católicos, sonhos e devaneios. Muito se preocupava com a morte, um dos seus temas. Escreveu Sentenário das dores de Nossa Senhora, Câmara ardente, Dona mística, Kiriale, Pastoral aos crentes do amor e da morte.

Augusto dos Anjos: Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu na Paraíba, em 1884, e morreu em 1914, em Minas Gerais. Foi considerado um poeta original, ocupando um lugar á parte em nossa literatura por revelar traços parnasianos e simbolistas ao usar a beleza do simbolismo e as ciências biológicas do parnasianismo. Seus temas preferidos eram a morte, a decomposição da matéria e o vazio da existência. Auto intitulava-se o poeta das coisas mortas e deixei apenas um livro publicado chamado “Eu”, em 1912.

Pré-Modernismo

O Pré-Modernismo não é um movimento literário como vimos acontecer até o momento, não se resume a textos para distrair. É o período dos primeiros 20 anos do Séc.XX onde as mudanças políticas e sociais estavam alterando a sociedade brasileira e alguns escritores usavam de suas obras para fazer uma análise crítica da realidade brasileira. Seus maiores representantes foram Monteiro Lobato, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Graça Aranha. Esses escritores queriam despertar seus leitores para a realidade e usavam de sua literatura para isso. Vejamos os acontecimentos sociais importantes dessa época:

1903- Osvaldo Cruz é nomeado diretor-geral da saúde pública para combater a febre amarela que dizimou quase mil pessoas em 1902 só no Rio de Janeiro.

1906- Começa a política do café-com-leite. Afonso Pena é eleito Presidente. Explodem as greves dos operários.

1907- Uma grande greve operária explode em São Paulo. O movimento é duramente reprimido pela polícia e os operários se unem por uma jornada de trabalho de 8 horas.

1908-Sancionada a lei do serviço militar obrigatório.1910- rebelam-se mais de dois mil marinheiros contra

os maus tratos e castigos físicos recebidos de oficiais. Nessa revolta o Rio de Janeiro fica sob a mira de canhões. Dois meses após solucionada a revolta vários de seus líderes são presos e desaparecem.

1912- Eclosão da Guerra do Contestado no sul do país.1913- Mobilização dos operários que lutam por melhores

condições de trabalho e ainda pela jornada de 8 horas.1914- No dia 28 de julho começa a Primeira Guerra

Mundial.1971- O Brasil declara guerra à Alemanha.1918-Termina, no dia 11 de novembro, a Primeira Guerra

Mundial.1919- Mais greves operárias explodem no país.1920- A população do país atinge a marca de 30,6 milhões de

habitantes, onde 800 mil são de operários.

Euclides da Cunha: Nasceu no Rio de Janeiro, em 1866, e ali morreu assassinado em 1909. Cursou a escola militar e a politécnica, formou-se em Engenharia. Após desligado do exercito trabalhou no jornal o estado de são Paulo, por quem foi designado a ir para a Bahia cobrir a Guerra de Canudos. Baseando-se nesse trabalho, Euclides da Cunha escreve o livro “Os sertões”, que causa um grande impacto na sociedade por sua coragem e estilo.

Lima Barreto: Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu

em 1881, no Rio de Janeiro e ali morreu em 1922. Pobre, filho de pais mestiços, sofreu muito preconceito por sua cor o que era influenciou bastante o seu trabalho. Seu estilo é simples e comunicativo, por isso o chamavam de desleixado. Tinha uma visão crítica da sociedade e sensibilidade para representar a população humilde e marginalizada do subúrbio. Sua visão critica da realidade o fez ocupar um lugar de destaque na literatura brasileira, no entanto, nunca foi convidado a participar da Academia Brasileira de Letras.

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Didatismo e Conhecimento 87

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAEscreveu crônicas, contos e romances, deixou também

um livro de memórias “O cemitério dos vivos”, fruto de sua dolorosa experiência passada no Hospício Nacional, onde esteve internado por causa de suas crise de alcoolismo. Suas obras de destaque são Triste fim de Policarpo Quaresma, Recordações do escrivão Isaías Caminha, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá e os contos resumidos no volume Histórias e sonhos.

Monteiro Lobato: José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, em 1882, e morreu em 1948. Exerceu muitas funções; foi promotor, fazendeiro, jornalista, adido comercial nos Estados Unidos e lutou arduamente na campanha pela nacionalização do petróleo. Ficou por algum tempo preso, devido à pressão de empresas estrangeiras. Depois, foi um exímio editor, contribuindo muito com nosso mercado editorial. A estética de Monteiro Lobato tem traços clássicos, conservadores e puristas, por isso ele não pode ser considerado como genuíno modernista já que temia que essa nova linguagem pudesse ser apenas uma influência estrangeira passageira. Mas sua face moderna é revelada quanto faz críticas à sociedade e quando demonstra um nacionalismo lúcido e objetivo.

Ele tornou-se bastante popular pelos livros infantis que constituem metade de sua obra, onde as mais famosas são “Reinações de Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939).” Seu primeiro livro importante foi “A menina do narizinho arrebitado”, em 1920, que nunca foi re-editado, apenas por uma edição fac simile em 1981. Suas histórias infantis normalmente passavam em um sítio no interior do Brasil, que tinham como personagens a Dona Benta, seus netos Narizinho e Pedrinho e a empregada Tia Anastácia. As histórias eram complementadas por personagens do folclore brasileiro e animais que ganhavam características humanas, e se passavam em lugares fantasiosos como o fundo do mar, por exemplo. Também escreveu contos,crônicas, romances, artigos e ensaio. Alguns dos livros de conto são “Urupês”, “Cidades mortas” e “Negrinha”.

Modernismo

O Modernismo tem seu marco inicial com a Semana de Arte Moderna de 1922 que foi uma época de culminância de todo um processo de transformação pelo qual o país vinha passando nas áreas tecnológicas, cientificas e culturais. Nos primeiros anos do séc. XX, os pré-modernistas já se rebelavam contra o estilo Parnasiano. Eles buscavam algo novo, que abandonasse a cópia de estilos internacionais. Foram buscar novas formas de expressão, daí temos o advento do Futurismo, do Cubismo, do Expressionismo e do Surrealismo.

Dividindo didaticamente o Modernismo temos duas fases:1ª fase, de 1922-1930, marcada pela “destruição” ou

“combate” das antigas construções, principalmente do Parnasianismo.

2ª fase, de1930-1945, período chamado de “construção”, é quando se consolidam as ideias do Modernismo e o movimento assume características definidas.

A Semana de Arte Moderna ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Muitas foram as atividades realizadas neste evento. Havia conferências, dança,

música e leitura de poemas. O grupo que liderou a Semana foi chamado de Grupo dos cinco, formado pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia e pelas pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, que contou com a participação de Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida e muitos outros.

Foi um evento bastante criticado, principalmente por um artigo publicado por Monteiro Lobato no jornal “O Estado de S. Paulo” intitulado “Paranoia ou mistificação?”. Neste artigo, Monteiro Lobato mostrou-se bastante avesso ao que era considerado moderno, chegando a ridicularizar a pintura de Anita Malfatti. A repercussão do artigo foi instantânea, quadros que haviam sido comprados foram devolvidos. Apesar das críticas, a Semana de Arte Moderna foi uma das maiores influências sobre a arte até os dias atuais.

A primeira fase (1922-1930)

Apontaremos algumas características desta fase:- conquista definitiva do verso livre;- acentuada inspiração nacionalista;- grande liberdade de criação;- maior aproximação entre a língua falada e a escrita.

Alguns autores desse período:

Oswald de Andrade (1890-1954): inovador, dinâmico, polêmico. Foi jornalista, poeta, romancista e autor de peças teatrais. Suas principais obras são: Poesia Pau-Brasil; Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald De Andrade; Poesias reunidas; Memórias sentimentais de João Miramar; Serafim Ponte Grande;Os condenados e peças teatrais: O homem e o cavalo, A morta, O rei da vela.

Manuel Bandeira (1886-1968): professor de literatura,tradutor e crítico literário. Escreveu os seguintes livros de poesia: A cinza das horas; Carnaval; Ritmo dissoluto; Libertinagem; Estrela da manhã; Lira dos Cinquent’anos; Mafuá do Malungo; Belo belo;Opus; Estrela da tarde. Em prosa escreveu: Crônicas da Província do Brasil, Itinerário de Pasárgada; Os reis vagabundos e mais cinquenta crônicas; Andorinha, andorinha.

Mário de Andrade (1893-1945): foi um escritor muito fecundo, escreveu poesias, contos, romances, crônicas e ensaios. Exerceu grande influência no Modernismo por ser crítico e dinâmico. Poesias: Há uma gota de sangue em cada poema; Pauliceia desvairada; Losango Cáqui; Clã do jabuti; Remate de males; Poesias; Lira paulistana. Prosas: Primeiro andar;Amar, verbo intransitivo; Macunaíma; O herói sem nenhum caráter; Belazarte; Contos novos.

Antônio de Alcântara Machado (1901-1935): Apesar de ter morrido jovem, ele contribui bastante com o Modernismo tendo colaborado com as revistas Terra roxa e outras terras, Revista de Antropofagia e Revista nova. Suas melhores obras são os contos de Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China, que hoje estão reunidos no livro Novelas paulistanas.

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Didatismo e Conhecimento 88

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAA segunda fase (1930-1945)

Nesta fase, o romance apresenta várias tendências:- Romance social nordestino: Jorge Amado, José Lins do

Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e outros.

- Romance intimista e psicológico: Lúcio Cardoso, Cornélio Pires e Ciro dos Anjos.

- Romance de temática social urbana: Érico Veríssimo, Dionélio Machado e Marques Rebelo.

O romance social nordestino neorrealista é considerado o estilo mais importante desse período. O início desse trabalho acontece com a publicação do livro “A bagaceira”, de José Américo de Almeida, que tem por principal objetivo denunciar as injustiças sócias no Nordeste, a exploração do povo e o drama dos retirantes da seca.

Rachel de Queiroz (1910-2003): destacou-se ainda bem jovem com a publicação do romance O quinze. Também conhecida por outras obras, como: João Miguel, Caminhos de Pedra, As três Marias, Memorial de Maria Moura.

Jorge Amado (1912-2001): um dos maiores escritores brasileiros. Em seus primeiros romances fazia denúncia social e participava na política. Dessa fase constam Cacau, Jubiabá, Mar morto, Capitães da areia, Terras do sem-fim. Posteriormente modifica suas obras e passa a predominar a crítica aos costumes e a sátira. Dessa fase destacam-se Gabriela, cravo e canela; Os pastores da noite, Dona flor e seus dois maridos; Tenda dos milagres, Tieta do agreste, entre outros.

Graciliano Ramos (1892-1953): considerado o mais importante prosador do Modernismo. Escreveu os romances Caetés, São Bernardo; Angústia, Vidas secas, o conto Insônia, memórias Infância e memórias do cárcere e literatura infantil Histórias de Alexandre.

José Lins do Rego (1901-1957): suas obras têm um aspecto memorialista, faz alusão à época da Infância e da adolescência passadas no engenho do avô, na Paraíba. Tratava nestes textos da decadência das estruturas econômicas do Nordeste e dos desmandos dos senhores de engenho. Suas obras “Menino de Engenho”. “Doidinho”, “Bangüê”, “Usina” e “Fogo morto”, formam o ciclo que ele classifica de ciclo da cana-de-açúcar. “Pedra bonita” e “Cangaceiros” compõem o ciclo do cangaço e “O moleque Ricardo”, “Pureza”, “Riacho doce”, “Água-mãe” e “Eurídice”, falam do misticismo e da seca.

Érico Veríssimo (1905-1975): nasceu no Rio Grande do Sul e por isso algumas de suas histórias são naquele cenário. Na primeira fase de suas obras os romances transcorrem em ambiente urbano e contemporâneo. As obras dessa fase são: ”Clarissa”, “Música ao longe”, “Um lugar ao sol”,” Olhai os lírios do campo”, “Saga” e “O resto é silêncio”. Sua segunda fase é um retorno aos tempos passados do Rio Grande do Sul, onde ele discute sua formação social. Os romances que compõem essa fase recebem o título de “O tempo e o vento”, do qual fazem parte os romances “O continente”, “ O retrato”

e “O arquipélago”. Em seus últimos trabalhos há um retorno a contemporaneidade quando escreve “O prisioneiro”, “O senhor embaixador” e “Incidente em Antares”. Após, publica seu último livro, um livro de memórias “Solo de Clarineta”.

No estilo poético dessa segunda fase do Modernismo os

principais poetas foram: Carlos Drummond de Andrade (além de ser o mais importante poeta desta fase, também foi cronista, contista e tradutor), Cecília Meireles, Murilo Mendes, Mário Quintana e Vinícius de Moraes.

● LITERATURA BRASILEIRA DO MODERNISMO À ATUALIDADE

A. Tradição e ruptura em relação a correntes literárias anteriores

B. Relações entre a estética modernista e a revisão da cultura e da história brasileiras

C. Principais tendências na prosa, na poesia e no teatro contemporâneos

D. Relações entre literatura e outras artes.

Modernismo

O Modernismo tem seu marco inicial com a Semana de Arte Moderna de 1922 que foi uma época de culminância de todo um processo de transformação pelo qual o país vinha passando nas áreas tecnológicas, cientificas e culturais. Nos primeiros anos do séc. XX, os pré-modernistas já se rebelavam contra o estilo Parna-siano. Eles buscavam algo novo, que abandonasse a cópia de es-tilos internacionais. Foram buscar novas formas de expressão, daí temos o advento do Futurismo, do Cubismo, do Expressionismo e do Surrealismo.

Dividindo didaticamente o Modernismo temos duas fases:1ª fase, de 1922-1930, marcada pela “destruição” ou “com-

bate” das antigas construções, principalmente do Parnasianismo.2ª fase, de 1930-1945, período chamado de “construção”, é

quando se consolidam as ideias do Modernismo e o movimento assume características definidas.

A Semana de Arte Moderna ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Muitas foram as ativi-dades realizadas neste evento. Havia conferências, dança, música e leitura de poemas. O grupo que liderou a Semana foi chamado de Grupo dos cinco, formado pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia e pelas pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, que contou com a participação de Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Al-meida e muitos outros.

Foi um evento bastante criticado, principalmente por um ar-tigo publicado por Monteiro Lobato no jornal “O Estado de S. Paulo” intitulado “Paranoia ou mistificação?”. Neste artigo, Mon-teiro Lobato mostrou-se bastante avesso ao que era considerado moderno, chegando a ridicularizar a pintura de Anita Malfatti. A repercussão do artigo foi instantânea, quadros que haviam sido

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Didatismo e Conhecimento 89

LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAcomprados foram devolvidos. Apesar das críticas, a Semana de Arte Moderna foi uma das maiores influências sobre a arte até os dias atuais.

A primeira fase (1922-1930)

Apontaremos algumas características desta fase:- conquista definitiva do verso livre;- acentuada inspiração nacionalista;- grande liberdade de criação;- maior aproximação entre a língua falada e a escrita.

Alguns autores desse período:

Oswald de Andrade (1890-1954): inovador, dinâmico, polê-mico. Foi jornalista, poeta, romancista e autor de peças teatrais. Suas principais obras são: Poesia Pau-Brasil; Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald De Andrade; Poesias reunidas; Memórias sentimentais de João Miramar; Serafim Ponte Grande;Os condena-dos e peças teatrais: O homem e o cavalo, A morta, O rei da vela.

Manuel Bandeira (1886-1968): professor de literatura,tradutor e crítico literário. Escreveu os seguintes livros de poesia: A cin-za das horas; Carnaval; Ritmo dissoluto; Libertinagem; Estre-la da manhã; Lira dos Cinquent’anos; Mafuá do Malungo; Belo belo;Opus; Estrela da tarde. Em prosa escreveu: Crônicas da Pro-víncia do Brasil, Itinerário de Pasárgada; Os reis vagabundos e mais cinquenta crônicas; Andorinha, andorinha.

Mário de Andrade (1893-1945): foi um escritor muito fecun-do, escreveu poesias, contos, romances, crônicas e ensaios. Exerceu grande influência no Modernismo por ser crítico e dinâmico. Poe-sias: Há uma gota de sangue em cada poema; Pauliceia desvairada; Losango Cáqui; Clã do jabuti; Remate de males; Poesias; Lira pau-listana. Prosas: Primeiro andar;Amar, verbo intransitivo; Macunaí-ma; O herói sem nenhum caráter; Belazarte; Contos novos.

Antônio de Alcântara Machado (1901-1935): Apesar de ter morrido jovem, ele contribui bastante com o Modernismo tendo colaborado com as revistas Terra roxa e outras terras, Revista de Antropofagia e Revista nova. Suas melhores obras são os contos de Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China, que hoje estão reunidos no livro Novelas paulistanas.

A segunda fase (1930-1945)

Nesta fase, o romance apresenta várias tendências:- Romance social nordestino: Jorge Amado, José Lins do

Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e outros.

- Romance intimista e psicológico: Lúcio Cardoso, Cornélio Pires e Ciro dos Anjos.

- Romance de temática social urbana: Érico Veríssimo, Dioné-lio Machado e Marques Rebelo.

O romance social nordestino neorrealista é considerado o es-tilo mais importante desse período. O início desse trabalho acon-tece com a publicação do livro “A bagaceira”, de José Américo de Almeida, que tem por principal objetivo denunciar as injustiças sócias no Nordeste, a exploração do povo e o drama dos retirantes da seca.

Rachel de Queiroz (1910-2003): destacou-se ainda bem jo-vem com a publicação do romance O quinze. Também conhecida por outras obras, como: João Miguel, Caminhos de Pedra, As três Marias, Memorial de Maria Moura.

Jorge Amado (1912-2001): um dos maiores escritores brasi-leiros. Em seus primeiros romances fazia denúncia social e parti-cipava na política. Dessa fase constam Cacau, Jubiabá, Mar mor-to, Capitães da areia, Terras do sem-fim. Posteriormente modifica suas obras e passa a predominar a crítica aos costumes e a sátira. Dessa fase destacam-se Gabriela, cravo e canela; Os pastores da noite, Dona flor e seus dois maridos; Tenda dos milagres, Tieta do agreste, entre outros.

Graciliano Ramos (1892-1953): considerado o mais impor-tante prosador do Modernismo. Escreveu os romances Caetés, São Bernardo; Angústia, Vidas secas, o conto Insônia, memórias Infância e memórias do cárcere e literatura infantil Histórias de Alexandre.

José Lins do Rego (1901-1957): suas obras têm um aspec-to memorialista, faz alusão à época da Infância e da adolescência passadas no engenho do avô, na Paraíba. Tratava nestes textos da decadência das estruturas econômicas do Nordeste e dos desman-dos dos senhores de engenho. Suas obras “Menino de Engenho”. “Doidinho”, “Bangüê”, “Usina” e “Fogo morto”, formam o ciclo que ele classifica de ciclo da cana-de-açúcar. “Pedra bonita” e “Cangaceiros” compõem o ciclo do cangaço e “O moleque Ricar-do”, “Pureza”, “Riacho doce”, “Água-mãe” e “Eurídice”, falam do misticismo e da seca.

Érico Veríssimo (1905-1975): nasceu no Rio Grande do Sul e por isso algumas de suas histórias são naquele cenário. Na primei-ra fase de suas obras os romances transcorrem em ambiente urbano e contemporâneo. As obras dessa fase são: ”Clarissa”, “Música ao longe”, “Um lugar ao sol”,” Olhai os lírios do campo”, “Saga” e “O resto é silêncio”. Sua segunda fase é um retorno aos tempos passados do Rio Grande do Sul, onde ele discute sua formação so-cial. Os romances que compõem essa fase recebem o título de “O tempo e o vento”, do qual fazem parte os romances “O continen-te”, “ O retrato” e “O arquipélago”. Em seus últimos trabalhos há um retorno a contemporaneidade quando escreve “O prisioneiro”, “O senhor embaixador” e “Incidente em Antares”. Após, publica seu último livro, um livro de memórias “Solo de Clarineta”.

No estilo poético dessa segunda fase do Modernismo os prin-

cipais poetas foram: Carlos Drummond de Andrade (além de ser o mais importante poeta desta fase, também foi cronista, contista e tradutor), Cecília Meireles, Murilo Mendes, Mário Quintana e Vinícius de Moraes.

Neorrealismo

O neorrealismo foi um movimento que aconteceu em meados do séc.XX; um estilo que resgata o realismo, baseado na veracida-de das situações e tem o intuito de intervir e lutar contra as injus-tiças sociais. É um retorno ao estilo realista e naturalista com forte influência do Modernismo e do Marxismo. Este estilo é iniciado com a publicação do livro de José Américo de Almeida, “A baga-

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRAceira” e outros autores como, Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos adotam este estilo em suas produções literárias.

Questões

1) A história da literatura passou por vários estilos. Cada estilo recebeu um nome, como Barroco, por exemplo, que foi um estilo que predominou no séc. XVIII. Então, podemos dizer que estilo literário:

a) É a exata expressão do modo de pensar de todos os escri-tores de uma certa época.

b) É o conjunto dos estilos individuais de todos os autores de uma certa época.

c) É a forma como cada autor escreve.d) São os procedimentos artísticos e as concepções do mun-

do predominante nas obras de uma certa época.

2) Relacione:(a) Arcadismo(b) Barroco(c) Modernismo(d) Simbolismo

1- Uma de suas principais características é o bucolismo, a idealização da vida campestre. ( )

2- Estilo que faz uso exagerado de hipérboles e antíteses. ( )3- Movimento político de revalorização do subjetivismo e

da vida espiritual, que desprezava a descrição detalhada do Parna-sianismo. ( )

4- Estilo literário em que foi escrito “Macunaíma”. ( )

3) Os autores das obras “Marília de Dirceu” e “A moreni-nha”, respectivamente, são:

a) Santa Rita Durão e Basílio da Gama.b) Gonçalves Dias e Joaquim Manuel de Macedo.c) Tomás Antônio Gonzaga e Joaquim Manuel de Macedo.d) Gregório de Matos e Tomás Antônio Gonzaga.

4) Podemos afirmar sobre Gregório de Matos:

I) escreveu apenas poesias satíricas, razão pela qual ficou co-nhecido pelo apelido de “Boca do Inferno”.

II) escreveu o “ Sermão da Sexagésima” e outros sermões.III) não teve nenhum livro publicado em vida, o que conhece-

mos é fruto de pesquisas em coletâneas da época.IV) escreveu o poema “Caramuru”.

a) I e III são verdadeirasb) I, II e IV são verdadeirasc) II, III e IV são verdadeirasd ) todas as alternativas são verdadeiras

5) Que obra representou uma crítica à Cunha Meneses, go-vernador da capitania de Minas?

a) Marília de Dirceu.b) O sermão da sexagésima.c) Cartas chilenasd) Prosopopeia.

6) Leia este trecho do texto do padre Vieira:

“Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rom-pendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banquetean-do, os escravos perecendo á fome; os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros”.

A que estilo literário pertence este texto? Qual a figura de lin-guagem utilizada pelo autor?

a) Simbolismo e pleonasmo.b) Arcadismo e hipérbole.c) Barroco e antítese.d) Realismo e aliteração.

7) Complete as lacunas com as palavras correspondentes:

Podemos dizer que, historicamente, o Parnasianismo brasilei-ro teve início no século _____, com a publicação do livro ____ em ___ pelo escritor ____.

a) século XIX, Fanfarras, 1882, Teófilo Dias.b) século XIX, Fanfarras, 1886, Olavo Bilac.c) século XVIII, O Parnaso contemporâneo, 1780, Teófilo

Dias.d) século XVIII, O Parnaso contemporâneo, 1780, Olavo Bi-

lac.

8) Relacione autores e obras:(a ) Bernardo Guimarães ( ) Lucíola(b ) José de Alencar ( ) Inocência(c ) Joaquim M. de Macedo ( ) A escrava Isaura(d ) Taunay ( ) O moço loiro

9) Qual das obras citadas abaixo não foi escrita por José de Alencar?

a) O guarani.b) Cinco minutos.c) A viuvinha.d) O seminarista.

10) Assinale dois importantes autores que se destacaram no Romantismo e seus respectivos estilos literários.

a) Gonçalves Dias (prosa) e José de Alencar (poesia).b) Tomás Antônio Gonzaga (poesia) e Basílio da Gama (poe-

sia).c) Aluísio Azevedo (romance) e Machado de Assis (conto)d) Gonçalves Dias (poesia) e José de Alencar (prosa).11) Qual estilo literário tem as seguintes características?- Apresenta como uma de suas principais características o bu-

colismo e a idealização da vida campestre.- Uso da razão em contraposição à fé.- Sofreu influências dos filósofos iluministas.

a) Barrocob) Arcadismoc) Romantismod) Neorrealismo

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA12) Podemos dizer que o Simbolismo:a) retoma o espírito nacionalista do Romantismo.b) Valoriza o poder sugestivo das imagens poéticas e a mu-

sicalidade da linguagem.c) busca obsessivamente a objetividade, por isso dá prefe-

rência ao soneto descritivo.d) faz da poesia uma forma de denúncia social, assemelhan-

do-se, nesse ponto ao Realismo.

13) Lima Barreto é um autor que se caracteriza por criar tipos:a) aristocratas do campo.b) aristocratas da cidadec) popular do subúrbiod) rústico do campo

14) Coloque V para verdadeiro e F para falso:

I- a análise crítica da realidade brasileira é uma das caracte-rísticas em comum entre Monteiro Lobato e Lima Barreto.( )

II- Lima Barreto produziu dois livros de memórias: Diário íntimo e O cemitério dos vivos. ( )

III- Negrinha e Cidades mortas são contos de Monteiro Lo-bato. ( )

IV- Os sertões, de Euclides da Cunha, pode ser considerado uma obra de história e literatura. ( )

a) III e IV são verdadeiras,b) I,II e III são verdadeiras,c) I e III são verdadeirasd) Todas as alternativas são verdadeiras.

15) Os romances abaixo citados estão numa sequencia crono-logicamente correta, exceto na alternativa:

a) A moreninha - Grande sertão: veredas – O Ateneu.b) Iracema – O cortiço – Triste fim de Policarpo Quaresma.c) Senhora – Quincas Borba – O quinze.d) Lucíola – Dom Casmurro – Fogo morto.

16) Assinale a alternativa correta:a) Cecília Meireles – Modernismo – séc. XX.b) Cruz e Sousa – Simbolismo – Séc.XVIIc) Graciliano Ramos – Realismo – séc. XVId) Érico Veríssimo – Modernismo – séc.XIX.

17) Assinale a alternativa incorreta:a) O autor de Fogo morto também escreveu Menino de en-

genho.b) O autor de O quinze também escreveu Memorial de Ma-

ria Moura.c) O autor de Incidente em Antares também escreveu Cla-

rissa.d) O autor de Vidas Secas também escreveu Capitães da

areia.

18) Assinale a cronologia correta dos movimentos literários no Brasil:

a) Quinhentismo – Barroco – Romantismo.b) Quinhentismo – Arcadismo – Simbolismo.c) Quinhentismo – Romantismo – Barroco.d) Quinhentismo – Barroco – Arcadismo.

19) Quais acontecimentos históricos marcaram o Arcadismo?a) Primeira Guerra Mundial e Conjuração Mineira.b) Conjuração Mineira e Fundação da Arcádia Lusitana.c) Revolução Francesa e Segunda Guerra Mundial.d) Semana de Arte Moderna e Fundação da Arcádia Lusitana.

20) Formaram o Grupo dos cinco na Semana de Arte moderna: a) Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Pic-

chia, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.b) Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Menotti Del Pic-

chia, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.c) José Lins do Rego, Oswald de Andrade, Menotti Del Pic-

chia, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.d) Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Érico Veríssimo,

Anita Malfatti e Tarsila do Amaral.

Respostas

1) d, em cada época predomina um estilo literário, geral-mente baseado nos acontecimentos históricos e na cultura vigente naquele momento. Mas, nem todos que fazem parte deste contexto produzem sua obra da mesma forma, é apenas algo predominante.

2) 1-a, os poetas árcades prezavam por uma vida simples em contato com a natureza, o que é chamado de bucolismo.

2-b, os escritores barrocos faziam uso de uma linguagem bastante trabalhada, culta, por isso em seus textos sempre havia figuras de linguagem.

3-d, os simbolistas estavam cansados do estilo detalhista e sem expressão do Parnasianismo, por isso resgataram a expressi-vidade e a musicalidade em suas obras.

4-c, Macunaíma, foi um rapsódia (compilação numa mes-ma obra de temas ou assuntos heterogêneos) construída a partir de um conjunto de escritos folclóricos, por Mário de Andrade em 1928, durante, portanto, o Modernismo.

3) c, Tomás Antônio Gonzaga, escrevia sob o pseudônimo de Dirceu à sua amada Marília, daí a coletânea de poesias que formou um livro chamado “Marília de Dirceu”. Joaquim Manuel Macedo escrevia textos com assuntos corriqueiros e tradicionais, reproduzia a vida social da burguesia, com mocinhos e mocinhas, daí nasceu o romance “A moreninha”.

4) a, Gregório de Matos em suas obras fazia críticas ao go-verno, por isso suas poesias são consideradas satíricas e recebeu o apelido de “Boca do Inferno”. Quem escreveu o Sermão da se-xagésima foi o padre Vieira e caramuru foi escrito por Santa Rita Durão em 1781.

5) c, Cartas chilenas são poemas satíricos que criticavam o governador. Tinha esse nome porque supostamente sua história se passava no Chile. Esta era uma forma das poesias não serem censuradas e seu autor punido.

6) c, esse trecho é considerado Barroco porque foi escrito no séc.XVII, onde predominava esse estilo e o uso da figura de linguagem Antítese se prova quando o autor faz uso de ideias con-trárias, opostas. Ele fala de banquete e de fome, de poucos e de muitos, entre outros.

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LÍNGUA PORTUGUESA/LITERATURA BRASILEIRA7) a, Foi com o livro “Fanfarras”, de Teófilo Dias, que o

Parnasianismo tem início em 1882. Foi o livro que cristalizou o estilo naquele século.

8) Bernardo Guimarães escreveu “A escrava Isaura”, seu livro mais conhecido, foi publicado em 1875, o romance virou no-velas em algumas redes de televisão do país e foi exportado para mais de 150 países.

José de Alencar escreveu “Lucíola”, que faz parte dos vários livros a quem ele intitula com adjetivos ou nomes femininos: Se-nhora, Diva e Lucíola.

Joaquim Manuel de Macedo escreveu “O moço loiro” em 1845.

Alfredo Maria Adriano d’EscragnolleTaunay, primeiro e úni-co Visconde de Taunay escreveu “Inocência” em 1872.

9) d, os livros “O guarani”, ”Cinco minutos” e “A viuvinha” foram escritos por José de Alencar. “O seminarista” foi escrito por Bernardo Guimarães em 1872.

10) d, Gonçalves Dias foi um importante poeta do Roman-tismo e José de Alencar teve a prosa romântica como uma de suas principais vertentes e seus livros são bastante requisitados em ves-tibulares.

11) b, o estilo que assume estas características é o Arcadis-mo, são bucólicos; e por valorizarem o material estão sempre a favor da razão e não usam a fé com tábua de salvação e acima de tudo porque eram influenciados por filósofos iluministas que bus-cavam na razão reformar a sociedade. Foi um movimento contra os abusos da igreja e do estado.

12) b, o Simbolismo foi um estilo marcado pela subjetividade, pela musicalidade, por aquilo que a imagem sugere e não pelo que ela é fisicamente, como é o caso do Parnasianismo, que dá riqueza de detalhes mas tem pobreza de expressões e de sentimentos.

13) c, Lima Barreto, por ser filho de mestiços e pobres, foi vítima de preconceito e esse preconceito marcou toda a sua obra onde ele criou tipos populares que viviam nos subúrbios do Rio de Janeiro. Sentia-se em suas obras, um pouco de sua própria história.

14) d, todas as alternativas são verdadeiras porque, Monteiro Lobato e Lima Barreto fizeram, cada um a seu modo, críticas à sociedade, Monteiro preza pelo nacionalismo tentando proteger o nosso petróleo de empresas estrangeiras e Lima Barreto defende as classes menos favorecidas da sociedade. As obras destacadas na alternativa II foram produzidas por Lima Barreto; as destacadas na alternativa III são, de fato, de Monteiro Lobato e “Os sertões”, de Euclides da Cunha, pode ser considerado tanto literatura quanto história, porque é um livro baseado em fatos reais pois ele esteve na Guerra de Canudos, no sertão, como jornalista.

15) a,

A moreninha – 1844Grande sertão: veredas – 1956O Ateneu-1888

Iracema – 1865O cortiço – 1890Triste fim de Policarpo Quaresma -1911

Senhora – 1875Quincas Borba – 1892O quinze -1930

Lucíola – 1862Dom Casmurro – 1899Fogo morto -1943

16) a, só nesta alternativa encontramos a relação correta pois, Cruz e Sousa, pertence ao Simbolismo, mas no séc.XIX; Gracilia-no Ramos,pertence ao Modernismo no séc.XX e Érico Veríssimo também pertence ao Modernismo no séc.XX.

17) d, O autor de “Fogo Morto” e “Menino de engenho” é José Lins do Rego, o autor de “O quinze” e “Memorial de Maria Moura” é Rachel de Queiroz, o autor de “Incidente em Antares” e “Clarissa” é Érico Veríssimo, mas o autor de “Vidas Secas” é Gra-ciliano Ramos e o de “Capitães da areia” é Jorge Amado.

18) d, O Quinhentismo ou Literatura informativa é o primeiro, pois, data da época do Descobrimento, logo após vem o Barroco,no séc.XVII e o Arcadismo no séc. XVIII.

19) b, o Arcadismo português teve origem com a Fundação da Arcádia Lusitana e quando chegou ao Brasil, o país estava em luta por independência. Um dos movimentos com esse ideal foi a Conjuração mineira.

20) a, Esse grupo defendia as ideias modernistas tanto na li-teratura, quanto em outras artes e eles encabeçaram a Semana de Arte Moderna de 22, foram duramente criticados por alguns con-servadores, inclusive por Monteiro Lobato, mas foram aplaudidos por muitos.

ANOTAÇÕES

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