16

Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

  • Upload
    ngohanh

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá
Page 2: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá
Page 3: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

Lisboa, meados de 1994

Queridos Pais:

Espero que esta minha carta os vá encontrar de perfeita e feliz saúde, que eu cá vou indo menos mal.

Pais, quero que acreditem que o título deste livro não significa menos respeito pela vossa condição. Sei bem como é difícil o vosso trabalho, agora que têm filhos na adolescência e cada vez menos certezas.

Não ouviram ontem na televisão, a uns senhores barrigudos e de gra-vata brilhante, que a vida está difícil e o mundo está em mutação? Eu ouvi, com os meus ouvidos que a terra há-de comer, e juro que desta vez concordei. Também tenho filhos adolescentes e alguns colegas e amigos dizem que tenho jeito para tratar com jovens, com ou sem problemas. Mas sinceramente penso que é preciso mudar tudo. Em primeiro lugar, temos de nos mudar por dentro. Não podemos continuar a ser pais com as verdades que os nossos pais nos legaram, porque só servem para nos embaraçar. Não podemos continuar a vacilar perante as exigên-cias crescentes dos nossos filhos, que estão um bocado abandonados pelos nossos afazeres e exigem mais (de mais?) de nós. Não é possível esperar que a escola nos ajude, porque se não lutarmos para a trans-formar, em colaboração com professores e alunos, ela continuará para os nossos filhos a ser equivalente a um emprego aos sessenta anos. Se continuarmos a pensar que a crise da adolescência tudo explica e é pre-ciso esperar que passe, continuaremos a deixar jovens doentes sem tra-tamento ou a considerar normais seres simplesmente em crescimento.

Se persistirmos na ideia de que os filhos de pais divorciados têm mais problemas, continuaremos contra o amor e aceitaremos definitivamen-te a mentira e a dissimulação. Se continuarmos a pensar, quando o nos-so filho dá um berro e bate com a porta, que ele anda metido na droga,

Page 4: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

estaremos a cavar definitivamente um abismo entre nós e ele. Quando aceitarmos sem discussão que ele pode deixar de estudar e andar pelos cafés sem fazer nada, contribuiremos para lhe criar um universo onde só aparentemente fará o que quer.

Mas quando, sem argumentos, tentarmos proibir que ele saia à noite para rapidamente sermos aldrabados pelas suas estratégias, perdere-mos rapidamente a face e não teremos força para nos opor numa ques-tão mais decisiva. Não podemos continuar a esquecer a interioridade de cada um, sacrificando-a constantemente a um espectáculo mediáti-co falsamente «autêntico», onde tantas vezes sobressai o violento e o perverso — é assim que só poderemos ser pais mais verdadeiros se não formos atrás de modas e actuarmos de facto de acordo com as nossas convicções.

Estamos assim, queridos pais, chegados a um impasse. Não quere-mos ser pais como os nossos pais foram e ainda não descobrimos que espécie de pais queremos ser. Temos, pois, de inventar novos pais. Tere-mos que ir buscar ao sótão da nossa infância alguns episódios que nos marcaram, poderemos ir recordar a nostalgia dos amores perdidos, ou poderemos simplesmente renascer. O certo é que não poderemos con-tinuar como até aqui. O aqui significa continuar a alimentar filhos do silêncio, com a culpabilidade de quem não tenta tudo fazer para mudar. O aqui significa também deixar que os filhos nos ditem o caminho, ou decidirmos a vida por eles. Ou quer dizer ainda não fazer nada e deixar que os nossos descendentes cresçam como a erva.

Quando decidi escrever este livro foi a pensar em todos os pais de fi-lhos adolescentes que ainda não desistiram de o ser. Sei bem que posso ser tomado por moralista ou conselheiro familiar. Ninguém deve dizer o que se deve passar na casa dos outros, quando muitas vezes não sabe o que fazer em casa própria. E não há nada pior que um psiquiatra ou psicólogo para deixar tudo em confusão. Por isso, leiam o livro e se não gostarem esqueçam tudo e funcionem com a vossa intuição e ex-periência de vida. Se apreciarem o que escrevi, façam por esquecer na mesma, porque o que não conseguirem deitar fora será suficiente para os ajudar.

Page 5: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá prometia, um livro para os pais, «uma espécie de escola para quem tem filhos adolescentes». Agradeço o estímulo deste leitor, mas lamento desiludi-lo. Não sei se este é um livro mais para os pais do que para os filhos, mas certamente não quero que seja escola para ninguém. Procurei apenas continuar o trabalho anterior e reflectir sobre a adolescência, pelo facto de muitos me terem pedido que o fizesse e com a expectativa de provocar uma reflexão nalgumas adormecidas casas de família.

Pais, este livro começa por alguns retratos de jovens que publiquei numa revista que já não existe. São descrições de adolescentes que pre-ocupam, mas que devem ser ouvidos e respeitados. Pode ser que encon-trem lá alguém parecido com o vosso filho-problema, ou nada lhes fará sentido e ainda bem.

Noutros pontos deste livro falamos de equívocos, momentos decisi-vos e crises, palavras um pouco catastróficas, mas que se pretendem estimulantes.

A minha amiga Eulália Barros explica a certa altura, noutra carta a mim endereçada, por que a convidei a colaborar neste projecto. Con-cordarão certamente que valeu a pena o meu pedido. Falo também de um rambo artista e de uma donzela emagrecida, para mostrar como uma das minhas paixões, a Terapia Familiar é importante para sim-plesmente pôr as famílias a falar (para acabar de vez com os filhos do silêncio). E como sempre gostei de jornalismo, entrevisto desta vez pais de adolescentes: os pais do Miguel e do Pedro e a mãe da Mariana e do Manuel. Todas estas histórias são verdadeiras, só mudei os nomes e os locais para que vocês não os encontrassem qualquer dia ao virar da esquina. Estas narrativas, de adolescência patológica e normal, dizem--me muito: dá para falar de tudo, estão lá todos os aspectos verdadei-ramente importantes da adolescência.

E o livro termina com um manifesto. Nele procurei sintetizar a mi-nha visão global da adolescência, resultante da minha experiência e do muito que aprendi com os meus mestres e colaboradores. Para ser lido criticamente e talvez discutido se valer a pena.

Page 6: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

Termino com um pedido: se desistirem de ler este livro fiquem ape-nas com a ideia do título. Porque para ser pai é preciso inventar a cada dia que passa. O meu dicionário de Português, que na adolescência roubei a meu irmão, diz que inventar é «criar na imaginação». Espere-mos que cada pai de adolescente «crie na imaginação» o seu modo de educar e de viver. Desejo que em cada instante, em cada família, cada um possa descobrir o seu quotidiano sem copiar nada nem ninguém. E acreditem que a adolescência dos vossos filhos é a última oportunidade que têm, porque a partir daí, se as coisas não estiverem já bem, não é natural que alguma vez possam vir a estar.

Esta carta já vai longa. Escrevam se puderem, desde que isso não lhes tire tempo para estar com os filhos.

E recebam um abraço grato deste que se assina

Daniel

Adeus

Page 7: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

Alguns retratos

Page 8: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá
Page 9: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

Os Amélias

São rapazes dos 14 aos 16 anos que frequentam sobretudo co-légios particulares. Passam os reduzidos tempos livres a construir puzzles ou a comprar roupa. Não querem fumar ou falar de sexo, porque um padre amigo lhes disse que isso «era queimar etapas». No sábado à tarde vão visitar um pobre a quem dão arroz e roupas velhas. Querem estudar Gestão e continuar a carreira do pai, com quem têm um entendimento intelectual e por isso distante. Rece-beram o epíteto de «Amélia» há muito tempo. Foi talvez na selecta escola primária que frequentaram. Vestiam calções levemente com-pridos, na altura em que todos os outros rapazes já usavam calças. Em vez de T-shirt tinham camisa e, onde nos outros se viam cabelos revoltos, eles preferiam risca ao lado. Os sapatos tinham atacador e jamais usavam ténis porque cortava os pés e cheirava mal. Enquanto os colegas da escola primária jogavam futebol, se metiam com a pro-fessora e se empurravam na carrinha do colégio, eles brincavam ao elástico com as raparigas ou davam explicações sobre os trabalhos de casa. Várias vezes foram vistos a falar com a Directora do colé-gio ou com a chefe das empregadas, aquela velhota que parecia um granadeiro e achava que devia justificar a semelhança. Na primária foram alunos perfeitos: boa letra, bons testes, resposta pronta quan-do a professora, sempre atenta, lhes solicitava o verbo fácil. Jamais se viraram para trás, disseram um palavrão ou chegaram tarde à

Page 10: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

escola.A família do Francisquinho sempre passara as férias naquela

praia. A casa era uma vivenda herdada dos avós, onde os pais reu-niam às vezes uns amigos para jogar às cartas. Dos cinco aos doze anos iam diariamente à praia com a mãe. A deslocação pressupu-nha um complexo ritual. A mãe arranjava-se como quem vai para uma festa e o nosso futuro Amélia era vítima de várias decisões, tais como: a) usar um boné com elástico bem enfiado na cabeça; b) levar casaco de malha porque «o tempo podia esfriar»; c) transportar bal-de, pás e formas de plástico (uma delas era uma estrela-cadente que o protegeria das tentações); d) levar cuecas e calções para mudar quando o fato de banho se salpicasse; e) dar sempre a mão à mãe.

No areal enquanto brincava na areia via a mãe falar da vida alheia com as amigas ou o pai a olhar para outras mulheres. De vez em quando; aparecia outro Amélia com quem partilhava formas ou o pacote de batatas fritas. Os banhos de mar eram rápidos e sem ale-gria, o mundo das pranchas ou dos empurrões para a água parecia--lhe irreal.

Depois de um almoço frugal, já em casa, vinha a sesta sossegada e depois o brincar sozinho no jardim, às voltas com o triciclo enferru-jado. A mãe gritava «Francisquinho, estás a suar», e o nosso Amélia corria logo para lavar a testa e as mãos.

Mas foi na adolescência que tudo verdadeiramente se complicou. O Francisquinho não crescera muito e a barba tardara a despontar. Fugia dos colegas, que falavam em curtir e não ligavam muito aos estudos. As raparigas desabafavam com ele e não se inibiam de dis-cutir moda à sua frente. Dava consigo, às vezes, a ver revistas femi-ninas ou a ler biografias de mulheres célebres. Ao contrário do que alguns pensavam, não se sentia atraído por homens. A sexualidade era qualquer coisa suja e inquietante para si e para os Amélias da sua escola. Queria apenas adiar os problemas, passar os anos e desa-bafar com a mãe em casa.

Os Amélias que existem nas nossas escolas secundárias são assim mesmo. Cavaleiros brancos para pais e alguns professores, sofrem no

Page 11: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

banco da escola ou no autocarro para casa. Não jogam à bola, não se comparam com os amigos nas casas de banho, não se metem com raparigas, nem desafiam pais nem professores. Não correm qualquer risco, ingrediente essencial para uma boa adolescência.

Mais tarde vão ser funcionários zelosos do partido que na altura estiver no poder, visitarão a família de origem no domingo à tarde e terão filhos ainda mais insípidos. No fundo, jamais perceberão o que é a adolescência, última possibilidade para saber o que é a vida.

Page 12: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá
Page 13: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

Os cromos do estudo

Têm treze ou catorze anos e estão no 8.° ou no 9.° ano, porque mais adiantados não conseguem estar.

As suas classificações são de 5 a todas as disciplinas, com excep-ção de Educação Física, onde só a custo e a pedido dos outros pro-fessores conseguem um 3. Passeiam com os pais ao fim-de-semana, fazendo compras nos hipermercados ou exigindo jogos de computa-dor nos centros comerciais. Criticam os irmãos mais velhos, que não têm boas notas, ou acham perda de tempo brincar com os mais no-vos. São muitas vezes gordos, às vezes muito magros e borbulhentos. Vestem roupas antiquadas, escolhidas pela mãe na loja da esquina, com cores onde predomina o cinzento e o azul-escuro. Calçam sa-patos pretos tipo sapato-luva ou Camport e odeiam ténis, sobretudo de marca.

Na escola estão sempre muito atentos, mesmo quando a matéria é maçadora e o professor irritante. Não acham graça às piadas dos colegas e nos testes tapam o que escrevem para que ninguém copie e possam ter a melhor nota. No fim da aula arrumam lentamente o seu dossier impecável, colocam as suas várias canetas e marcadores num estojo antiquado e metem tudo numa pasta tipo anos sessenta. Então dá-se um momento solene: depois de todos os colegas terem saído em tropel, encontram finalmente o seu momento de paz com

Page 14: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

a professora. Puxam do seu caderno lindamente organizado e colo-cam uma dúvida para a qual sabem antecipadamente a resposta. O que é preciso é que ela os prefira e o intervalo passe depressa, sem o confronto com os outros.

Têm sempre a máxima nota nas aulas de participação ou nos tra-balhos de casa e são sempre os primeiros a pôr o dedo no ar para defender a professora ou protestar contra aqueles «que não querem aprender». São bons a todas as cadeiras, mas anunciam vir a ser ges-tores de sucesso, com montes de mestrados e doutoramentos.

O seu grande drama é o intervalo grande. Aí não há pergunta ao professor que preencha aquele tempo e são forçados a ir até ao pátio, quando não lhes é possível fugir rapidamente até casa a pretexto de um caderno esquecido. Fora da aula as dificuldades começam. A es-cola está toda dividida em grupos e eles não têm lugar em nenhum. Não percebem nada de futebol ou de surf, odeiam bandas rock e as conversas cruzadas sobre as noites de sexta-feira revelam-lhes um mundo ameaçador e que procuram desvalorizar. Como não raro são gordos e desajeitados, recebem epítetos terríveis, género porco ba-nhudo ou bola de unto. Se são rapazes, são olhados pelas raparigas como um ser assexuado e repelente, só útil para tirar dúvidas de es-tudo. Se são raparigas, sofrem com o não olhar dos colegas e ficam com a amiga caridosa ou com a empregada que espera um favor do pai.

Em casa são exigentes e críticos. Têm grande intimidade com a mãe, que os ama-odeia e os superprotege. Com o pai discutem com-putadores e pedaços de enciclopédia. São o orgulho da família por-que são bons alunos, não exigem dinheiro nem pedem para sair à noite.

São os cromos do estudo, um grupo assaz reduzido mas impor-tante de jovens no início da adolescência que frequenta as nossas escolas de ensino secundário. Antigamente eram os meninos copos--de-leite, porque se contava que desde a primária iam buscar o galão à professora.

É preciso esclarecer pais e professores (sobretudo estes últimos)

Page 15: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá

que este comportamento-tipo, se mantido, constitui um sinal de alarme na adolescência. Nesta etapa de desenvolvimento o estudo é importante, mas não é tudo. É necessário realizar com êxito as tare-fas da adolescência: conquistar a autonomia através da mudança da relação com os pais e companheiros, atingir a identidade sexual atra-vés de um processo complexo onde as experiências individuais e de grupo são fundamentais. Ora um cromo dos estudos vai passando os anos com brilhantismo, MAS: não tem amigos nem namoradas, não se torna independente da família, não vive os valores dos seus pares, acaba triste e solitário num canto do pátio ou na sala a comentar a telenovela com os pais.

Se o insucesso escolar é seguramente um sinal de que algo não vai bem com aquele jovem, os cromos dos 5 a tudo também merecem preocupação. É preciso urgentemente ajudá-los a estudar menos, a «curtir» mais a vida, a integrarem-se no grupo de jovens, a não se-rem tão competitivos, a serem mais solidários e alegres. A escola não deve ser só um sítio onde se estuda e se tiram boas notas, deve ser basicamente um local onde se aprende a viver.

Page 16: Lisboa, meados de 1994 - PDF Leyapdf.leya.com/2011/Apr/inventem_se_novos_pais_pxgx.pdf · Houve um pai que leu o livro Vozes e Ruídos e disse que eu devia escrever, tal como lá