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UNIVERSIDADE DE ÉVORA ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE SÃO JOÃO DE DEUS DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE INSTITUTO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR LOPES DIAS Literacia em Saúde Mental dos Enfermeiros de Cuidados Gerais Emília de Jesus Guerra Gomes Orientação: Doutor Raul Alberto Carrilho Cordeiro Mestrado em Enfermagem Área de Especialização: Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica Relatório de Estágio Évora, 2018

Literacia em Saúde Mental dos Enfermeiros de Cuidados Gerais...INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR LOPES DIAS Literacia em Saúde Mental dos Enfermeiros

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  • UNIVERSIDADE DE ÉVORA

    ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE SÃO JOÃO DE DEUS

    DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

    INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

    ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

    INSTITUTO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE

    ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

    INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL

    ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

    INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

    ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR LOPES DIAS

    Literacia em Saúde Mental dos Enfermeiros de

    Cuidados Gerais

    Emília de Jesus Guerra Gomes

    Orientação: Doutor Raul Alberto Carrilho Cordeiro Mestrado em Enfermagem Área de Especialização: Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

    Relatório de Estágio

    Évora, 2018

  • 2

    UNIVERSIDADE DE ÉVORA

    ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE SÃO JOÃO DE DEUS

    DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

    INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

    ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

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    INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

    ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR LOPES DIAS

    Literacia em Saúde Mental dos Enfermeiros de

    Cuidados Gerais

    Emília de Jesus Guerra Gomes

    Orientação: Doutor Raul Alberto Carrilho Cordeiro Mestrado em Enfermagem Área de Especialização: Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

    Relatório de Estágio

    Évora, 2018

  • 3

    Se tratarmos as pessoas como elas devem ser, nós as

    ajudamos a se tornarem o que elas são capazes de ser”

    Johan Wolfgang Von Goethe

  • 4

    RESUMO

    Literacia em Saúde Mental de Enfermeiros de Cuidados Gerais

    A saúde mental e mais concretamente o campo das doenças mentais e psiquiátricas é com toda a

    certeza uma das áreas da saúde que mais alterações tem produzido ao longo das últimas décadas.

    Assim, e se é comummente aceite que a saúde mental é um bem a preservar, sendo considerada

    uma prioridade da saúde pública dado o seu inestimável valor, as doenças são contingentes da condição

    humana, com pesadas implicações para os indivíduos e para a sociedade (OMS, 2001).

    O presente relatório visa responder às exigências regulamentares do Curso de Mestrado em

    Enfermagem – Ramo de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica relatando as incidências da

    realização de um Estágio Final.

    O referido Estágio foi desenvolvido no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da Unidade

    Local de Saúde do Norte Alentejano, EPE e teve como temática avaliar o nível de literacia em saúde

    mental dos enfermeiros cuidados gerais.

    O referido projeto propunha-se partir de uma avaliação tomando como instrumento de colheita o

    questionário QualisMental (Questionário de Avaliação da Literacia em Saúde Mental, versão adaptada e

    autorizada para Portugal do National Survey of Mental Health Literacy in Young People – Interview

    version) e mediante os resultados obtidos estruturar uma proposta de consultoria em Enfermagem de

    Saúde Mental e Psiquiátrica de ligação numa Unidade Local de Saúde, na esfera de competências do

    Enfermeiro Especialista.

    Não foi possível concretizar o referido projecto na sua totalidade já que as autorizações do Conselho

    de Administração da ULSNA não foram despachadas até à data da conclusão do Estágio.

    No entanto não quisemos deixar de apresentar a referida proposta.

    Este documento pretende, ainda, analisar o processo de aquisição de competências de Mestre e de

    desenvolvimento de competências de Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e

    Psiquiátrica.

    Palavras-chave: Literacia; Saúde Mental; Psiquiatria; Enfermagem

  • 5

    ABSTRACT

    Mental Health literacy of General Care Nurses

    The mental health, and the field of mental diseases is, without a doubt, one of health areas that

    had more changes in the last decades.

    Therefore, if its well known that the mental health is a value to preserve, being considered one

    priority in the public health due to its priceless value, the diseases are contingents in the human

    condition, with heavy implications to the individuals and the society (OMS, 2001).

    This report aims to respond to the regulatory requirements of the Master Course in Nursing -

    Mental and Psychiatric Nursing Health reporting the incidences of the completion of a Final Stage.

    This internship was developed in the department of psychiatrics and mental health of the Local

    health of North Alentejo and had as thematic, to evaluate the level of the literacy in mental health of

    the nurses of global care.

    This project proposed starting from an evaluation using the “QualisMental” questionnaire

    (Questionnaire for Assessment of Mental Health Literacy, adapted and authorized for Portugal from the

    National Survey of Mental Health Literacy in Young People - Interview version) and using the results

    obtained structuring a proposal of Consulting in Mental Health and Psychiatric Nursing in a Local Health

    Unit, within the competence of the Specialist Nurse.

    This project could not be fully implemented since the authorizations of the Board of Directors were

    not dispatched until the public discussion of this Report.

    This document intends to analyze the process of skills acquisition of master and development of

    skills of the specialist nurse, in mental health and psychiatrics nursing.

    Keywords: Literacy; Mental Health; Psychiatry; Nursing

  • 6

    DEDICATÓRIA

    Aos meus pais pelo apoio incondicional e por serem o meu pilar.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Às pessoas que passaram ou estão presentes na minha vida e que de alguma forma, contribuíram

    para a minha formação, gostaria de agradecer a forma como me ensinaram, incentivaram e transmiti-

    ram conhecimentos.

    Às Enfermeiras Especialistas Marisa Rodrigues e Rosa Marques, minhas orientadoras no Estágio I.

    À minha orientadora no Estágio Final Enf.ª Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria Maria Isabel

    Telo, pela sua dedicação e orientação durante todo o ensino clínico, assim como a todo o pessoal do

    Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da ULSNA, situado no Hospital Dr. José Maria Grande, em

    Portalegre, pelo esforço e simpatia que sempre demonstraram.

    Ao Professor Doutor Raul Cordeiro, docente que me orientou todo o relatório clínico e posterior

    defesa perante o júri, o meu muito obrigada.

    Aos meus colegas do Serviço de Medicina Ala Direita e ao meu chefe Enf.º António Louro, pela

    disponibilidade profissional em assegurar a mesma qualidade no serviço, possibilitando a minha

    frequência no Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria.

    Aos colegas de Mestrado, em especial às colegas Madalena Santos e Joana Carvalho que estiveram

    sempre presentes.

    Agradecer de uma forma muito especial aos amigos e sobretudo aos meus pais e ao João pelo

    enorme apoio e muita disponibilidade.

    A todos os que mencionei o meu MUITO OBRIGADA, pois sem vocês talvez não tivesse sido

    possível.

  • 8

    SIGLAS E ABREVIATURAS

    CIPE – Classificação Internacional para a prática de Enfermagem

    Cit. – citando

    DGS – Direção Geral de Saúde

    DSMP – Departamento Saúde Mental e Psiquiatria

    EESMP – Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica

    E.P.E. – Entidade Pública Empresarial

    ESMP – Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica

    HDJMG – Hospital Dr. José Maria Grande

    OE – Ordem dos Enfermeiros

    OMS – Organização Mundial de Saúde

    p.- página

    pág.- página

    SAPE – Sistema de apoio à prática de enfermagem

    UE – Universidade de Évora

    ULSNA - Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano

    UTRA – Unidade de Tratamento e Reabilitação de Alcoólicos SAPE – Sistema de Apoio a Prática de

    Enfermagem

  • 9

    ÍNDICE

    1- INTRODUÇÃO ............................................................................................... 13

    2 – ANÁLISE DO CONTEXTO .............................................................................. 15

    2.1 – Recurso organizacional ................................................................................................................... 15

    2.2 – Caracterização do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental ................................................. 16

    2.3 – Recursos humanos ......................................................................................................................... 21

    2.4 – Recursos pessoais ........................................................................................................................... 21

    3 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ...................................................................... 22

    3.1 – Literacia em Saúde ......................................................................................................................... 22

    3.2 – Literacia em Saúde Mental ............................................................................................................. 22

    3.3 – Contextualização da problemática ................................................................................................. 29

    3.3.1 – Objectivo geral ............................................................................................................................ 29

    3.3.2 – Objectivos específicos ................................................................................................................. 30

    3.3.3 – Amostra ....................................................................................................................................... 30

    3.3.4 – Procedimentos a executar........................................................................................................... 30

    3.3.5 – Dados a colher ao longo da intervenção ..................................................................................... 31

    3.3.6 – Importância da Intervenção ........................................................................................................ 31

    3.3.7 – Motivos pessoais e profissionais ................................................................................................. 31

  • 10

    3.3.8 – Análise estatística dos dados....................................................................................................... 31

    4 – ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE AS COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS E

    DESENVOLVIDAS .............................................................................................. 32

    4.1- Competências Comuns de Enfermeiro Especialista ..................................................................... 32

    4.2 - Competências Específicas da prática especializada em Enfermagem de Saúde Mental e

    Psiquiátrica .......................................................................................................................................... 33

    4.1.3 – Competências de Mestre ........................................................................................................ 41

    5 – PROPOSTA PARA CONSULTORIA EM ESMP DE LIGAÇÃO ............................. 42

    6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 45

    7 – CONCLUSÃO ............................................................................................... 46

    8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 47

    Anexos ............................................................................................................. 50

    Anexo I ............................................................................................................. 51

    Declaração de Aceitação de Orientação ........................................................... 51

    Anexo II ............................................................................................................ 53

    Cronograma de Actividades .............................................................................. 53

    Anexo III ........................................................................................................... 55

    Pedido de Autorização à ULSNA ....................................................................... 55

  • 11

    Anexo IV ........................................................................................................... 57

    Questionário QualisMental .............................................................................. 57

    Anexo V ............................................................................................................ 67

    Estudo de Caso ................................................................................................. 67

    DEPRESSÃO COM ALCOOLISMO ................................................................................. 67

    Anexo VI ........................................................................................................... 82

    Sessão de Formação ......................................................................................... 82

    HIGIENE DO SONO ................................................................................................. 82

    Anexo VII .......................................................................................................... 96

    Artigo Estágio Final ........................................................................................... 96

  • 12

    ÍNDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Caracterização distrito de Portalegre ......................................................................................... 15

    Figura 2- Modelo conceptual da literacia em Saúde ................................................................................. 24

    Figura 3 – Sub-dimensões da Literacia em Saúde ...................................................................................... 29

  • 13

    1- INTRODUÇÃO

    A elaboração deste Relatório de estágio surge no âmbito do programa de estudos do primeiro

    curso de Mestrado em Associação em Enfermagem, promovido pelas Escolas Superiores de Saúde dos

    Institutos Politécnicos de Portalegre, Beja, Setúbal e Castelo Branco e pela Escola Superior de

    Enfermagem de S. João de Deus da Universidade de Évora, na Unidade Curricular de Relatório.

    Este relatório tem como objectivo primordial a apresentação do relatório final do estágio que

    decorreu entre 18 de setembro de 2017 e 26 de janeiro de 2018, no Departamento de Saúde Mental e

    Psiquiatria – Internamento de Agudos – na Unidade Local do Norte Alentejano, Hospital Dr. José Maria

    Grande.

    O presente trabalho é elaborado em concordância com o decreto-lei n.º

    74/2006 de 24 de Março, republicado como anexo do decreto-lei n.º 115/2013 (Ministério da Educação

    e Ciência, 2013) e com os regulamentos da Ordem dos Enfermeiros, referentes às competências de

    mestre, às competências comuns dos enfermeiros especialistas e às competências específicas dos

    Enfermeiros Especialistas em Saúde Mental e Psiquiátrica.

    O presente estágio teve uma duração total de 16 semanas, respeitando o prazo limite

    estabelecido pelo calendário escolar da Universidade de Évora (UE).

    A organização atribuída ao presente documento obedece às indicações dispostas no Regulamento

    do Estágio Final e Relatório dos Mestrados em Enfermagem, fornecido pelo Diretor de Curso, e a sua

    redação e formatação está de acordo com a sexta edição da Norma da American Psychological

    Association (APA, 2010).

    Os objectivos deste relatório visam:

    ↘ Demonstrar a aquisição de competências comuns e especificas do enfermeiro especialista em

    enfermagem de saúde mental;

    ↘ Demonstrar a necessidade de existência de consultoria em Enfermagem de Saúde Mental e

    Psiquiátrica de ligação numa Unidade Local de Saúde, partindo de uma avaliação prévia do nível de

    literacia em saúde mental de enfermeiros de cuidados gerais.

  • 14

    Este relatório encontra-se dividido em cinco partes principais. Na primeira surge a

    caracterização e análise do contexto onde decorreu esta intervenção, fazendo-se menção aos recursos

    físicos e humanos bem como à sua dinâmica.

    Numa segunda parte é feito o enquadramento teórico sobre literacia em saúde e literacia em

    saúde mental.

    Na terceira parte é feita a análise reflexiva dobre as competências mobilizadas e adquiridas.

    A quarta parte refere-se a uma proposta de consultoria em enfermagem de saúde mental e

    psiquiátrica.

    Na última, e quinta parte, são feitas as considerações finais bem como uma reflexão a nível

    profissional e pessoal.

  • 15

    2 – ANÁLISE DO CONTEXTO

    A elaboração deste relatório de estágio surge na Unidade Curricular Estágio Final, que decorreu

    entre 18 de setembro de 2017 e 26 de janeiro de 2018, no Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria

    – Serviço de Internamento de Psiquiatria – ULSNA – Hospital Dr. José Maria Grande, Portalegre, sob a

    supervisão de ensino clínico da Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica Maria Isabel

    Telo. A orientação pedagógica esteve a cargo do Professor Doutor Raul Cordeiro, docente do Mestrado

    em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.

    2.1 – Recurso organizacional

    A Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, EPE foi criada em 1 de Março de 2007 (Decreto-Lei

    n.º 50-B/2007, 28 de Fevereiro de 2007), entidade jurídica que presta cuidados assistenciais de saúde

    primários e diferenciados, tendo como principal objectivo a prestação de cuidados de saúde primários,

    secundários, cuidados de reabilitação, cuidados continuados integrados e paliativos à população.

    A sua área de influência corresponde ao distrito de Portalegre abrangendo todos os seus concelhos:

    Alter do Chão, Arronches, Avis, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Fronteira, Gavião, Marvão,

    Monforte, Nisa, Ponte de Sôr, Portalegre e Sousel.

    Figura 1 - Caracterização distrito de Portalegre

    A ULSNA, E.P.E. é constituída pelos Hospitais Dr. José Maria Grande de Portalegre e Santa Luzia de

    Elvas, bem como pelo Agrupamento de Centros de Saúde de São Mamede, cuja composição se encontra

    prevista no artigo 33.º do Regulamento. de Elvas e pelos Centros de Saúde do distrito de Portalegre.

    https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjcjvzG2bXaAhUHaxQKHb6JC3oQjRx6BAgAEAU&url=http://ecoalentejo.blogspot.com/2011/11/caracterizacao-do-distrito-de_29.html&psig=AOvVaw3oaq5uyFdWTp0BNPSDDp5x&ust=1521899221330941

  • 16

    O objectivo da ULSNA assenta na promoção do potencial de todos os cidadãos, através do fomento

    da saúde e da resposta à doença e incapacidade, garantindo a qualidade dos serviços prestados, a tutela

    da dignidade humana e a investigação permanente na procura contínua de soluções que reduzam a

    morbilidade e permitam obter ganhos em saúde.

    2.2 – Caracterização do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental

    O Serviço de Psiquiatria presta assistência psiquiátrica e de saúde mental aos utentes com idade

    superior a 18 anos de idade, de ambos os sexos, que residem no distrito de Portalegre ou fora dele,

    sendo que tenham recorrido ao Serviço de Urgência ou à Consulta Externa, havendo necessidade de

    internamento. Os utentes são referenciados pelo Médico de Família, outras instituições ou serviços,

    recorrendo ao Serviço de Urgência, por iniciativa própria, ou respectiva família. Na admissão, o utente

    passa primeiramente pela Consulta Externa do Departamento de Psiquiatria, ou Serviço de Urgência

    Geral/Psiquiátrica, onde o Enfermeiro, Médico, Psicóloga ou Assistente Social realizam uma entrevista

    inicial, para posteriormente o Médico Psiquiatra analisar e encaminhar para o tratamento, que segundo

    a condição médica, aditiva, mental, relações interpessoais, suporte familiar e financeiro e problemas

    legais do indivíduo, determina em concordância com este, se o tratamento se iniciará em contexto de

    internamento ou de domicílio. O seu internamento pode ser voluntário ou em regime compulsivo

    (previsto na Lei nº. 36/98, de 24 de Julho, conhecida por Lei de Saúde Mental).

    É, também, objectivo do serviço melhorar a qualidade dos cuidados, através da realização de

    programas de educação e promoção para a saúde ao utente/família reabilitando e reintegrando os

    utentes na comunidade, prevenindo deste modo recaídas e diminuindo os reinternamentos.

    Actualmente o Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria coloca ao serviço da população do distrito

    de Portalegre as seguintes valências:

    Consulta Externa de Psiquiatria – Realiza-se de segunda-feira a sexta-feira no Departamento de

    Saúde Mental e Psiquiatria do Hospital Dr. José Maria Grande.

    Área de Atendimento Infantil e Juvenil – Consulta diária no Departamento de Saúde Mental e

    Psiquiatria do Hospital Dr. José Maria Grande, onde o diagnóstico e intervenção, na criança, adolescente

    e família, se realiza consoante as necessidades.

  • 17

    Consulta de Psicologia Clínica – Realiza-se de segunda-feira a sexta-feira no Departamento de

    Saúde Mental e Psiquiatria do Hospital Dr. José Maria Grande.

    Consulta/Assistência de Serviço Social – É realizada diariamente, sempre que necessário aos

    utentes e famílias que recorram a este serviço.

    Consulta/Terapia Ocupacional – É realizada semanalmente para utentes externos ao

    Departamento de Saúde Mental e Psiquiatria.

    Urgências Psiquiátricas – Estão incluídas no Serviço de Urgência Geral, sendo responsáveis pela

    avaliação clinica 2 Médicos Psiquiatras e sempre que necessário uma psicóloga, nos dias úteis no horário

    das 9.00h às 21.00h no Hospital Dr. José Maria Grande. Sempre que não haja Médico Psiquiatra

    escalado no Serviço de Urgência os doentes são encaminhados para o Hospital Central de referência,

    Hospital de São José, em Lisboa.

    U.T.R.A. - Unidade de Tratamento e Recuperação de Alcoólicos – As sessões de terapia de

    grupo da Unidade de Tratamento e Recuperação de Alcoólicos de Portalegre, atendem grupos de

    indivíduos de ambos os sexos (entre 5 a 10 pessoas, por sessão) que vêm do serviço de internamento e

    consultas externas. São sessões quinzenais, durante mais ou menos um ano, com a intervenção

    autónoma e da inteira responsabilidade dos Senhores Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de

    Saúde Mental e Psiquiátrica Ana Tomás e Manuel Brandão.

    Comunidade – Visitação Domiciliária – A equipa de enfermagem actua de forma planeada na

    supervisão terapêutica e na relação de ajuda ao utente/família e/ou cuidador, com participação efectiva

    da assistente social e caso seja necessário do Médico Psiquiatra responsável. Os Enfermeiros

    responsáveis pela visitação domiciliária são “Enfermeiros de Referência” dos doentes, indo

    quinzenalmente ou mensalmente visitá-los de forma a fazerem um acompanhamento mais presente e

    tendo como intuito diminuir a taxa de reincidência de internamento.

  • 18

    Formação – Processo Formativo – O serviço envolve-se no processo formativo na medida em

    que coloca ao dispor recursos físicos e técnicos para:

    √ Ensinos clínicos no curso de pós licenciatura de especialização em enfermagem de saúde mental e

    psiquiátrica e/ou mestrado em enfermagem;

    √ Ensinos clínicos no curso de licenciatura em enfermagem;

    √ Ensinos clínicos em Programa de Erasmus no curso de licenciatura em enfermagem;

    √ Ensinos clínicos de licenciatura em medicina;

    √ Internato de medicina geral e familiar;

    √ Internato complementar de psiquiatria;

    √ Ensinos clínicos de psicologia clínica;

    √ Ensinos clínicos de terapia ocupacional.

    A equipa multidisciplinar do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental é constituída por

    dezasseis enfermeiros, doze dos quais trabalham em regime de roulement, e três em regime de horário

    fixo, mais especificamente a enfermeira chefe, uma enfermeira coordenadora do serviço e a enfermeira

    responsável pelas consultas externas. O outro elemento está actualmente destacado para funções

    sindicais.

    A equipa médica constitui-se por três médicos especialistas em psiquiatria, um dos quais é Director

    de Serviço e outro é Coordenador do Serviço de Internamento. Realiza internato em psiquiatria uma

    médica. Destacam-se ainda duas técnicas de serviço social, que orientam a sua prática diária no apoio

    social aos utentes/famílias que se encontram no serviço de internamento ou no ambulatório, uma

    psicóloga, que trabalha em conjunto com a equipa de enfermagem, na realização de entrevistas e

    elaboração de testes de avaliação psicológica aos utentes em internamento. Integra ainda a equipa de

    saúde, a terapeuta ocupacional que adequa a sua acção em sessões de grupo ou individual diariamente,

    contando sempre com a participação da equipa de enfermagem caso seja necessário. Por fim

    completam a equipa multidisciplinar quatro assistentes operacionais em regime de roulement e duas

    assistentes operacionais com horário fixo, que desempenham actividades de acordo com as

  • 19

    necessidades dos utentes e do serviço. O Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental (Internamento) tem uma

    lotação de onze camas, sendo composto por três enfermarias, uma sala de convívio, uma sala de fumo,

    uma sala de televisão, uma sala de terapia ocupacional, um jardim interno, uma sala de trabalho de

    enfermagem, vários gabinetes e instalações próprias de uma unidade hospitalar (wc homens e

    mulheres, rouparia, refeitório, copa, arrecadação).

    A equipa multidisciplinar reúne-se semanalmente quarta-feira ou quinta-feira, onde médicos,

    enfermeiros, terapeuta ocupacional, técnica de serviço social e psicóloga avaliam utente a utente em

    termos da sua evolução clínica o ajuste necessário do plano terapêutico e intervenções a realizar com os

    mesmos.

    A equipa de enfermagem na sua maioria possui vários anos de experiência profissional na área da

    saúde mental e psiquiatria, salientando o facto de seis dos dezasseis enfermeiros do serviço terem

    creditações de enfermeiros especialistas sendo os restantes seis elementos enfermeiros generalistas e

    de cuidados gerais. A metodologia de trabalho do serviço, carateriza-se pelo método por Enfermeiro

    Responsável. A distribuição dos utentes é feita pelo responsável de turno, pelos diferentes enfermeiros

    presentes no turno. De salientar ainda que no turno da manhã (8h-16h), no Serviço de Internamento,

    estão presentes dois enfermeiros, a enfermeira-chefe, um assistente operacional e os restantes técnicos

    do serviço. No turno da tarde (16h-24h), encontram-se no serviço dois enfermeiros, um assistente

    operacional, sendo exactamente igual no turno da noite (00h-8h).

    Deste modo, o enfermeiro é o responsável pela admissão do utente no serviço, realizando a

    entrevista de avaliação diagnóstica, identificando os diagnósticos, avaliando as necessidades e

    planeando as intervenções para o utente. É estabelecido o plano individual de cuidados, traçando

    objectivos e intervenções de forma a obter ganhos em saúde. No decorrer do internamento e de acordo

    com a evolução clínica do utente, esse mesmo plano deverá ser orientado de acordo com o estado

    clínico do utente ou até mesmo delineando outro plano de cuidados mediante a necessidade para tal.

    Na programação da alta clínica, o processo clínico fica concluído e o plano de cuidados definido, que

    poderá ter sido atingido ou não, sendo então realizada a carta de alta de enfermagem ou de

    transferência. O processo clínico encontra-se informatizado.

    No que respeita aos registos de enfermagem, foi adoptada pela ULSNA a Classificação Internacional

    para a Prática de Enfermagem (CIPE), colocada em prática através do Sistema de Apoio à Prática de

    Enfermagem (SAPE). Esta classificação permite avaliar resultados sensíveis aos cuidados de enfermagem

    através das respostas às intervenções de enfermagem, tendo por base os diagnósticos identificados, de

  • 20

    modo a obter ganhos em saúde. São utilizadas as seguintes escalas: Escala numérica da dor, avaliada

    diariamente e sempre que necessário; Escala de Morse para avaliação do risco de quedas; Escala de

    Braden, avaliada em dias alternados, para avaliação do risco de úlceras de pressão (no turno da manhã).

    Após a admissão do utente no serviço, vários procedimentos e regras são explicadas aos próprios

    utentes e seus familiares, sendo desde logo verificados todos os seus pertences e sendo entregues à

    família ou ao acompanhante os objectos de valor, se o mesmo assim o entender. Não é permitido o

    utente ter em sua posse o telemóvel, computador, objectos cortantes, cintos, ou outros objectos que

    possam pôr em causa a sua integridade física e a dos restantes utentes. Relativamente ao consumo de

    tabaco no caso de o utente não ter condições para gerir o próprio consumo, os cigarros são guardados

    em local próprio e facultado ao utente sensivelmente um a dois cigarros por hora.

    Os utentes têm indicações expressas que só podem fumar na sala definida para esse fim (sala de

    fumo) com ventilação e condições propícias a isso, ou no jardim interno do serviço.

    Os utentes podem realizar chamadas para o exterior e receber todas as que lhe sejam dirigidas, no

    entanto se os profissionais de saúde entenderem que os contactos são prejudicais para o utente, podem

    restringir esses mesmos contactos.

    Relativamente às visitas por parte de familiares e amigos as mesma estabelecem-se fora do

    internamento numa sala destinada para esse efeito, não havendo, por isso uma maior supervisão da

    parte dos profissionais de saúde. Existem diariamente dois horários de visitas, sendo estes das 14h às

    15h e das 18h às 19h. Os utentes têm o direito de recusar receber qualquer contacto do exterior assim

    como visitas da família e amigos desde que expressem essa vontade junto da equipa multidisciplinar.

    O serviço pretende contribuir para uma melhoria da qualidade de vida dos utentes que nele se

    inserem e os cuidados prestados visam uma evolução positiva quer nos utentes, quer na família. Desta

    forma e sempre que seja benéfico os utentes saem à rua acompanhados pela terapeuta ocupacional e

    por enfermeiros do serviço, para realizarem pequenos passeios, indo ao bar do Hospital beber um café

    por exemplo, com o intuito de fomentar momentos que favoreçam uma interacção com o meio e uma

    reintegração social.

  • 21

    2.3 – Recursos humanos

    A Enfermeira mestranda - estudante do curso de Mestrado de Enfermagem de Saúde Mental e

    Psiquiátrica – Emília de Jesus Guerra Gomes; a Supervisora Clínica – Enfermeira Maria Isabel Telo e o

    Professor Orientador – Raul Cordeiro.

    2.4 – Recursos pessoais

    A mestranda para a execução do presente ensino clinico mobiliza os conhecimentos adquiridos no

    1º e 2º semestre do curso de Mestrado, assim como outros saberes alcançados ao longo da vida

    profissional, a mobilização de competências de reflexão e autoanálise, motivação pessoal, dedicação e

    empenho.

  • 22

    3 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

    3.1 – Literacia em Saúde

    Enfermeiros com maior nível de literacia em saúde mental e psiquiatria agirão em conformidade

    com as situações que lhes surgirão, uma vez que se tornarão detentores de mais conhecimentos para

    tomar decisões. Segundo Nutbeam (2000), este termo consiste em muito mais do que capacitar o

    indivíduo para o correcto seguimento de prescrições, tabelas terapêuticas, folhetos informativos, bulas

    de medicamento. Engloba a capacidade para interagir e para exercer controlo em situações com o

    objectivo de manter ou melhorar a condição de saúde. O seu maior contributo será o poder que

    fornecerá ao indivíduo – empowerment, que segundo OMS (2014), o empoderamento da comunidade é

    mais do que a participação ou envolvimento das comunidades pois implica o domínio e acção da

    comunidade na mudança social e política. É um processo de renegociação, com o objectivo de alcançar

    maior controlo, considerando que se algumas pessoas tiverem poder, então outros irão adquirir esse

    poder, iniciando-se um processo de partilha (Baum 2008 cit. por OMS, 2014). O poder é um conceito

    central na fortificação da comunidade e promoção da saúde. É um processo contínuo, no qual

    indivíduos e/ou comunidades adquirem capacidades, fomentam parcerias e ganham voz ou seja, poder

    necessários para ganharem controlo sobre as próprias vidas. Logo, empoderar a pessoa pode ajudá-la a

    compreender as suas próprias situações e aumentar o controlo sobre os factores que afectam a sua vida

    (www.who.int/healthpromotion/conferences/).

    A capacitação para a tomada de decisão e de escolha pela opção e/ou resposta adequada é

    adquirida mais facilmente com o uso de uma ferramenta bastante produtiva neste papel - a literacia em

    saúde – que será crucial no empoderamento do indivíduo. Para reforçar, OMS (2014), refere que a

    literacia é uma capacidade que determinará o alcance da compreensão e uso da informação no sentido

    da promoção e manutenção de um bom estado de saúde.

    3.2 – Literacia em Saúde Mental

    A doença mental surge quando uma ou diversas capacidades humanas fracassam de certa forma.

    Segundo Neeb (2000, p.178), as capacidades necessárias para a manutenção de saúde mental são a de

    ser flexível, ter sucesso, estabelecer relações próximas, julgar adequadamente, resolver problemas, lidar

    com stress do dia-a-dia e sentir o eu de forma positiva. Em enfermagem a doença mental segundo a

    http://www.who.int/healthpromotion/conferences/

  • 23

    autora é nomeada de “ameaças” e são as alterações ou dificuldades em gerir as capacidades acima

    referidas que nos tornam doentes mentais.

    A Literacia no âmbito da saúde mental é fundamental para a sua prevenção, logo para a diminuição

    do número de pessoas com perturbações mentais. Segundo o PNPS, (2013-2017, p. 32), “A literacia em

    saúde pode ser entendida como o conjunto das competências cognitivas e sociais e capacidades que

    permitem aos indivíduos aceder, compreender e usar informação relativa a questões de saúde. Ao longo

    da última década tem sido vista como uma dimensão fundamental para os programas de promoção da

    saúde e prevenção das perturbações mentais”.

    A literacia em saúde mental é segundo Jorm (2000), conhecimentos e crenças sobre distúrbios

    mentais, que suportam o seu reconhecimento, gestão e prevenção. Porém segundo Loureiro, (2011, p.

    164), a literacia em saúde mental não se limita a esta definição, sendo que: “ (…) faz um apelo

    inequívoco para o valor que a saúde e bem-estar assumem para os indivíduos, tendo consciência

    daquelas que são as implicações em termos pessoais e sociais das doenças mentais”.

    Ainda Jorm et al, (1997 cit. por Loureiro, 2011, p. 162), a literacia em saúde mental inclui

    determinados componentes essenciais, “a) the ability to recognise specific disorders or different types

    of psychological distress; b) Knowledge and beliefs about risk factors and causes; c) knowledge and

    beliefs about self-help interventions; d) knowledge and beliefs about professional help available; e)

    attitudes which facilitate recognition and appropriate self-seeking and f) knowledge of how to see

    mental health information”.

    Segundo a UNESCO, citada no portal da DGS (2003), “Literacia é a capacidade para identificar,

    compreender, interpretar, criar, comunicar e usar as novas tecnologias, de acordo com os diversos

    contextos. A Literacia envolve um processo contínuo de aprendizagem que capacita o indivíduo a

    alcançar os seus objectivos, a desenvolver os seus potenciais e o seu conhecimento, de modo a poder

    participar de forma completa na sociedade”.

    Segundo o modelo conceptual de literacia em Saúde, o processo dinâmico relacionado com a

    literacia engloba a relação indivíduo-sociedade dando ênfase ao conceito de competência. Segundo

    Mancuso (2008 cit. por Loureiro, 2011) podemos observar que os atributos da literacia são a

    compreensão, capacidade e comunicação.

  • 24

    Especificamente, a nível de saúde mental, quando se fala em literacia, é um requisito para a

    detecção das perturbações e intervenções de forma atempada com vista à promoção da saúde.

    Figura 2- Modelo conceptual da Literacia em Saúde, (Mancuso, J. 2008 cit. por Loureiro, L. et al, 2011)

    Segundo o Conselho Nacional de Saúde Mental, (2002, p. 5), “há uma necessidade cada vez mais

    premente de dar a conhecer e de sensibilizar a população para os problemas da Saúde Mental. Há

    necessidade de promover uma campanha nesse sentido, porque as suas perturbações aumentam em

    flecha no nosso país, tal como nos países mais desenvolvidos”.

    Esta urgência é demonstrada no mesmo documento, p. 5, pela apresentação de alguns números:

    “Mais de 20% da população adulta sofre de algum problema de Saúde Mental em certa altura da sua

    vida; O número de suicídios nos países da comunidade europeia é igual ou superior ao número de

    mortos em acidentes de viação; A depressão ocupa o quarto lugar na lista das doenças com mais

    prejuízos económicos (DALYs. Na progressão actual ocupará o segundo, daqui por quinze anos (OMS);

    As doenças mentais acarretam um custo equivalente a 3-4 % do produto nacional bruto na Região

    Europeia (C. E.)”.

  • 25

    Considerando a prevalência de doenças mentais na população portuguesa, torna-se indispensável a

    promoção da literacia em saúde mental. Se esta não for promovida pode resultar num obstáculo para a

    população, na aceitação dos cuidados de saúde mental baseados na evidência e as pessoas portadoras

    de perturbação mental poderão ser menosprezadas e não ter acesso aos cuidados de saúde, nem apoio

    por parte da comunidade (Jorm, 2000).

    Deve caminhar-se no sentido de tornar cada indivíduo competente, conhecedor e informado,

    oferecendo-lhe uma arma poderosa – maior literacia. A literacia em saúde é “facilitadora para a

    participação efectiva nos cuidados de saúde. Porém existe ainda a necessidade de estudar a forma de a

    aumentar e fazer com que constitua uma verdadeira influência nos cuidados de saúde” (Antunes, 2014,

    p. 125).

    Através dos estudos analisados compreende-se que um baixo nível de literacia em saúde acarreta

    consequências negativas no sistema em geral e são vários os autores que as apresentam. Baseado em

    diferentes estudos (Nielsen-Bohlman, Panzer & Kindig, 2004; Weiss, 2005; Edmunds, 2005), Mancuso

    (2008 cit. por Loureiro, 2011, p. 162) enumera as seguintes consequências: “(…) custos acrescidos nos

    cuidados de saúde; reduzido ou falso conhecimento sobre as doenças e tratamentos; menor

    competências de autogestão; menor capacidade para cuidar de pessoas em condições crónicas; erros de

    medicação; incapacidade para lidar com sucesso com o sistema de cuidados de saúde.”

    Segundo Loureiro (2011), a baixa literacia em saúde mental acarreta consequências e riscos para a

    sociedade, impedindo o reconhecimento atempado dos sintomas, tanto no próprio como nos outros,

    atrasando a procura de ajuda. Existe ainda a dificuldade em comunicar com os profissionais de saúde,

    não só porque desconhecem a disponibilidade dos serviços de saúde mas também porque desconhecem

    que estão doentes.

    Para reforçar, Santos (2010) refere que, a baixa literacia em saúde se relaciona com a baixa

    compreensão de conceitos básicos, baixa auto-eficácia na prevenção e gestão de problemas de saúde,

    bem como comportamentos ineficazes de saúde: uso inadequado de medicamentos, uso excessivo dos

    serviços de saúde, ou ineficácia em lidar com situações de emergência. De acordo a Associação Médica

    Americana, (cit. por Monteiro, 2009, p. 24) a baixa literacia em saúde é “um prognóstico mais forte da

    saúde individual do que a idade, rendimentos, estatuto profissional, nível académico ou raça”.

    Para Antunes (2014, p. 123), a baixa literacia em saúde relaciona-se com a “dificuldade na

    prevenção e na gestão de problemas de saúde, bem como com comportamentos ineficazes de saúde”

  • 26

    ou seja, com o uso indevido de, medicamentos e serviços de saúde (nomeadamente serviços de

    urgência) e com a dificuldade em intervir em situações de emergência. As consequências da baixa

    literacia em saúde são, taxas de hospitalização mais altas e mais longas no tempo implicando mais

    custos, uma vez que implica mais exames de diagnóstico, mais terapêutica, e outras despesas associadas

    a um internamento, a fraca adesão à prescrição terapêutica, a diminuição da utilização de medidas

    preventivas e afecta ainda a comunicação médico-utente.

    Como já definido anteriormente, a literacia é a capacidade do indivíduo em compreender e utilizar

    a informação no sentido da promoção e manutenção de um bom estado de saúde (OMS, 2014), porém

    essa informação convém ser transmitida de forma eficaz e de acordo com os traços da população a que

    se direcciona,

    “A transmissão da informação sobre a saúde é mais eficaz quando os seus conteúdos são

    especificamente desenhados para uma pessoa ou para um grupo populacional e quando a mensagem é

    bem delimitada, realçando os benefícios (ganhos) e os custos (perdas) associados aos comportamentos

    e às tomadas de decisão” (Antunes, 2014, p.123).

    Para desenvolver a literacia os profissionais de saúde deverão tornar-se “cada vez melhores

    comunicadores e melhores utilizadores das tecnologias de informação”.

    Para o mesmo autor, outra área que deverá ser desenvolvida, é a assertividade e empowerment

    dos utentes, sendo importante desenvolver acções destinadas a promover competências de

    comunicação. Nos serviços de saúde e na comunidade, estas acções poderão tornar o indivíduo mais

    pró-activo na procura de informação sobre saúde.

    “Nos serviços de saúde trata-se de aumentar o seu nível de participação, ajudar a identificar as

    preocupações, incentivar a fazer, antes da consulta, exames ou tratamentos, uma lista do que querem

    falar ou perguntar, assegurar que consegue fazer as perguntas que quer fazer. Na comunidade trata-se

    de contribuir para o desenvolvimento da literacia de saúde, através de actividades nas escolas, locais de

    trabalho, grupos comunitários e, ainda, de aumentar o acesso à Internet, o que é essencial para

    aumentar a acessibilidade à informação de saúde, bem como o contacto com técnicos e serviços de

    saúde” (Teixeira, 2004, p. 619).

    A promoção e educação para a saúde é outro componente que merece realce, uma vez que pode

    constituir-se como importante foco de intervenção principalmente no desenvolvimento da literacia em

    saúde mental. A promoção da saúde mental implica a criação de condições individuais, sociais e

  • 27

    ambientais que visem o desenvolvimento optimizado, tanto físico como psicológico. Estas iniciativas

    envolvem o indivíduo neste processo de obtenção de uma saúde mental positiva, de qualidade de vida e

    diminuindo a diferença na esperança de vida entre países e grupos (WHO, 2004, p.16). A prevenção da

    doença mental pode ser considerada como uma estratégia de promoção, sendo que é definida, como

    um processo que almeja reduzir a incidência, prevalência, recidiva da doença mental, a duração dos

    sintomas ou das condições de risco, prevenindo e atrasando recorrências e ainda diminuindo o impacto

    da doença na pessoa afectada, na família e na sociedade. A diferença entre promoção e prevenção

    reside no alvo a que cada uma se destina. A promoção tenta alcançar uma positiva saúde mental

    aumentando o bem-estar, as competências da população e a resiliência, construindo ambiente e

    condições que o suportem. A prevenção por sua vez servirá para reduzir os sintomas e em última

    análise, os próprios distúrbios mentais. Uma saúde mental positiva é uma excelente arma e um

    poderoso factor de protecção contra a doença mental WHO (2004, p.17).

    Os principais factores influenciadores da saúde mental são de natureza ambiental e

    socioeconómica tais como tais como a pobreza, a guerra e a desigualdade. Podemos verificar que os

    utilizados para este tipo de risco são o empowerment, integração das minorias étnicas, interacções

    interpessoais positivas, participação social, responsabilidade social e tolerância, serviços sociais e as

    redes de apoio social e comunitário. O primeiro muito ligado à literacia em saúde mental poderá ser a

    grande resposta para uma significativa melhoria das condições em que o individuo pensa, reflecte e age

    na sua saúde e pela sua saúde. Ao longo da última década tem sido vista como uma dimensão

    fundamental para os programas de promoção da saúde e prevenção das perturbações mentais” (Plano

    nacional de prevenção do suicídio, 2013-2017, p.32).

    Outros factores importantes definidos no documento são os individuais e familiares. Por exemplo,

    o abuso de crianças e doença mental dos pais durante a infância precoce, comportamentos de risco da

    mãe durante a gravidez, discórdia conjugal, podem anteceder problemas comportamentais em crianças,

    depressão e problemas relacionados com o álcool, nos adultos. WHO (2004, p. 23), demonstra várias

    estratégias que poderão diminuir ou até mesmo colmatar problemas desta natureza.

    No desenvolvimento da promoção e prevenção da saúde surge o importante papel da enfermagem.

    A enfermagem de saúde mental e psiquiatria exerce o seu foco na promoção da saúde mental, na

    prevenção, no diagnóstico e na intervenção contribuindo para a adequação das respostas do utente e

    sua família. Os enfermeiros especialistas em saúde mental assistem a pessoa ao longo do ciclo de vida,

    família, grupos e comunidade na optimização da saúde mental e coordenam, implementam e

    desenvolvem projectos de promoção e protecção da saúde mental e prevenção da perturbação mental

  • 28

    na comunidade e grupos. Como exemplo, uma das competências do enfermeiro especialista é realizar e

    implementar um plano de cuidados individualizado, com base nos diagnósticos de enfermagem e

    resultados esperados concebendo, entre outras, estratégias de empoderamento que permitam ao

    utente desenvolver conhecimentos, capacidades e factores de protecção, de forma a eliminar ou reduzir

    o risco de perturbação mental. Ainda coordena, implementa e desenvolve projectos de promoção e

    protecção da saúde mental e prevenção da perturbação mental na comunidade e grupos, através por

    exemplo, da implementação na comunidade de programas centrados na população que promovam o

    empoderamento, a saúde mental e previnam ou reduzam o risco de perturbações mentais, privilegiando

    estratégias de desenvolvimento comunitário participativo; Implementa programas de promoção da

    participação activa através da educação para a cidadania e empoderamento das pessoas com doença

    mental grave. A enfermagem de Saúde Mental tem ainda um papel crucial na promoção e reabilitação

    psicossocial de pessoas com doença mental, com o intuito de atingir a sua máxima autonomia e

    funcionalidade pessoal, familiar, profissional e social, através do incremento das competências

    individuais, bem como da introdução de mudanças ambientais (Regulamento Competências

    Enfermagem em Saúde Mental, 2011).

    A literacia em saúde mental e psiquiatria como estratégia terapêutica revelou-se um importante

    mecanismo no aumento da saúde e bem-estar geral da população pois é através dele que a pessoa se

    torna mais eficiente, autónoma, colaborante e principalmente consciente dos seus deveres e direitos no

    seu projecto de saúde.

    Segundo Monteiro (2009), as capacidades em literacia em saúde incluem:

    1. Aptidões de saúde básicas tais como a aplicação de promoção na saúde, protecção na saúde e

    comportamentos de protecção na doença, assim como cuidados individuais.

    2. Aptidões para actuar como um parceiro activo com os profissionais de saúde.

    3. Aptidões como consumidor para fazer decisões saudáveis na selecção de enfermeiros e serviços

    e para actuar a nível de direitos do consumidor, se necessário.

    4. Aptidões como cidadão, através de comportamentos informados, conhecimento de direitos em

    saúde e membro de organizações de saúde.

    No modelo conceptual do Questionário Europeu da Literacia em Saúde (em que Portugal também

    está envolvido) são apresentadas as sub-dimensões de literacia em saúde.

  • 29

    Figura 3 – Sub-dimensões da Literacia em Saúde

    Fonte: Questionário Europeu de Literacia em Saúde aplicado em Portugal (Modelo Conceptual do HLS-EU, Revista

    Portuguesa de Saúde Pública, Set-Dez, 2016)

    3.3 – Contextualização da problemática

    As questões da literacia em saúde mental são importantes pois a literacia é uma condição

    necessária para o desenvolvimento pessoal e colectivo. Quanto mais literacia tiver a pessoa, maior o seu

    contributo. Em várias definições de literacia encontradas, o termo “capacitação” é comum e parece ser

    a chave para o sucesso da literacia em saúde. O desenvolvimento dessa capacitação, ou seja de maior

    poder, resultará num progresso considerável na autonomia e aquisição de competências pelo indivíduo.

    Neste sentido foi planeado um estudo sobre a literacia em saúde mental de enfermeiros de

    cuidados gerais da ULSNA com os seguintes objectivos:

    3.3.1 – Objectivo geral

    - Avaliar o nível de literacia em saúde mental de uma população de enfermeiros de cuidados gerais.

  • 30

    3.3.2 – Objectivos específicos

    Preparar um estudo de caracterização do nível de literacia em saúde mental dos enfermeiros de

    cuidados gerais integrados no projecto que permitisse:

    ↘ Identificar as necessidades dos enfermeiros de cuidados gerais em saúde mental;

    ↘ Realizar um estudo sobre literacia em saúde mental recorrendo à utilização de um

    questionário;

    ↘ Tratar os dados do levantamento de necessidades identificadas;

    ↘ Construir uma proposta de Consultoria em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica de

    ligação na ULSNA.

    Tal como referido anteriormente a avaliação não foi efectuada já que, até à data de final do

    Estágio, o Conselho de Administração da ULSNA não despachou a respectiva autorização.

    3.3.3 – Amostra

    População é o conjunto de todos os elementos que constituem um determinado grupo que se

    pretende estudar. Na área da saúde mental, as populações tendem a ser muito grandes pelo que é

    prática habitual recorrer-se a amostras ou seja a grupos de elementos que são retirados da população

    de interesse e que se espera que partilhem as mesmas características (Coolican, 2004). A população alvo

    seriam os Enfermeiros de Cuidados Gerais da ULSNA.

    3.3.4 – Procedimentos a executar

    Seria avaliado o nível de literacia em saúde mental dos Enfermeiros de Cuidados Gerais usando

    como instrumento uma adaptação do Questionário QualisMental, sendo este um estudo quantitativo.

    Seria, posteriormente, elaborada uma proposta de Consultoria em ESMP de ligação.

  • 31

    3.3.5 – Dados a colher ao longo da intervenção

    Dados de caracterização e avaliação do nível de literacia em saúde mental.

    3.3.6 – Importância da Intervenção

    √ Contribuir para a valorização da especialidade e para os ganhos em saúde mental relacionada

    com a literacia dos profissionais

    √ Promoção da saúde mental

    √ Prevenção da doença mental

    3.3.7 – Motivos pessoais e profissionais

    Em termos pessoais esta é uma área que julgamos ser importante ser estudada e que está

    relacionada com uma necessidade identificada pelo DSMP da ULSNA.

    3.3.8 – Análise estatística dos dados

    Não foi efectuada por não ter sido possível obter autorização da ULSNA para colocar o estudo em

    prática. Desta forma, o mesmo fica na fase de planeamento.

  • 32

    4 – ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE AS COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS E DESEN-

    VOLVIDAS

    4.1- Competências Comuns de Enfermeiro Especialista

    A área de formação em serviço torna-se essencial no desenvolvimento de competências comuns e

    específicas do Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica. Especificamente nos domínios

    referidos no Regulamento nº122/2011 (Diário da República, nº122/2011, 18 de Fevereiro) A – Domínio

    da responsabilidade profissional, ética e legal: A2.2 Gere na equipa, de forma apropriada as práticas de

    cuidados que podem comprometer a segurança, a privacidade ou a dignidade do cliente; C – Domínio na

    gestão dos cuidados: C1.1 Otimiza o processo de cuidados ao nível da tomada de decisão; C2.2.1

    Reconhece e compreende os distintos e interdependentes papéis e funções de todos os membros da

    equipa. Promove um ambiente positivo e favorável à prática; D – Domínio do desenvolvimento das

    aprendizagens profissionais: D1.2 Gera respostas, de elevada adaptabilidade individual e organizacional;

    D1.2.4 Reconhece e antecipa situações de eventual conflitualidade; D2 Baseia a sua praxis clínica

    especializada em sólidos e válidos padrões de conhecimento; D2.1 Responsabiliza-se por ser facilitador

    da aprendizagem, em contexto de trabalho, na área da especialidade.

    Benner (2001) afirmou que a formação em serviço permite a aquisição de conhecimentos clínicos

    por parte da enfermagem bem como a partilha de pontos de vista comuns e diferentes de vários casos

    clínicos, contribuindo para o aumento da competência.

    No âmbito deste Ensino Clínico foram desenvolvidas muitas aprendizagens na área da saúde mental

    pelo desenvolvimento do método Estudo de Caso em vários casos clínicos, dando oportunidade de agir

    não só no campo das competências comuns do enfermeiro especialista tanto quanto nas competências

    especializadas em enfermagem de saúde mental.

    Neste seguimento, o acompanhamento de um caso específico de uma depressão associada ao

    alcoolismo contou com um estudo mais prolongado e uma avaliação mais prolongada.

    Yin (2010) defende que o estudo de caso difere de outros tipos de pesquisa pela potencialidade de

    ser um recurso de comunicação significativo, uma vez que pode também comunicar informação sobre

    um fenómeno a quem não é especialista.

  • 33

    Dentro do domínio do desenvolvimento das aprendizagens profissionais destaca-se a participação

    da mestranda nas Jornadas da Sociedade Portuguesa de Alcoologia que decorreu nos dias 19 e 20 de

    Outubro em Portalegre.

    Importa realçar que é o acesso à teoria que permite à enfermeira um acesso rápido e seguro aos

    conhecimentos clínicos, constituindo uma base que fornecerá uma resposta correta aos verdadeiros

    problemas (Benner, 2001). A autora realça que uma “bagagem limitada não tem os utensílios

    necessários para tirar lições das experiências vividas” (Benner, 2001, p.177), evidenciando a importância

    do desenvolvimento contínuo de aprendizagens na prática de enfermagem.

    4.2 - Competências Específicas da prática especializada em Enfermagem de Saúde Mental

    e Psiquiátrica

    As competências específicas do enfermeiro EESMP dão resposta à promoção da saúde mental, na

    prevenção, no diagnóstico e na intervenção a respostas humanas desajustadas ou desadaptadas a

    processos de vida e problemas de saúde. E ainda, o EESMP mobiliza-se a si mesmo como instrumento

    terapêutico, desenvolve vivências, conhecimentos e capacidades de âmbito terapêutico que lhe

    permitem mobilizar competências psicoterapêuticas, socioterapêuticas, psicossociais e

    psicoeducacionais.

    O EESMP, segundo a Ordem dos Enfermeiros, além das competências gerais possui ainda

    competências específicas de acordo com o Artigo 4º do Regulamento das Competências Específicas do

    Enfermeiro Especialista em Saúde Mental.

    a) Detém um elevado conhecimento e consciência de si enquanto pessoa e enfermeiro, mercê de

    vivências e processos de autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e profissional;

    b) Assiste a pessoa ao longo do ciclo de vida, família, grupos e comunidade na optimização da

    saúde mental;

    c) Ajuda a pessoa ao longo do ciclo de vida, integrada na família, grupos e comunidade a recuperar

    a saúde mental, mobilizando as dinâmicas próprias de cada contexto;

  • 34

    d) Presta cuidados de âmbito psicoterapêutico, socioterapêutico, psicossocial e psicoeducacional à

    pessoa ao longo de vida, mobilizando o contexto e dinâmica individual, familiar de grupo ou

    comunitário, de forma a manter, melhorar e recuperar a saúde.

    Competência F 1. Detém um elevado conhecimento e consciência de si enquanto pessoa e enfermeiro,

    mercê de vivências e processos de auto-conhecimento, desenvolvimento pessoal e profissional.

    DOMÍNIOS:

    F1.1. Demonstra tomada de consciência de si mesmo durante a relação terapêutica e a realização de

    intervenções psicoterapêuticas, socioterapêuticas, psicossociais e psicoeducativas;

    F1.1.3. Mantém o contexto e limites da relação profissional para preservar a integridade do processo

    terapêutico;

    F1.1.4. Monitoriza as suas reacções corporais, emocionais e respostas comportamentais durante o

    processo terapêutico, para melhorar a relação terapêutica.

    ACÇÕES A DESENVOLVER:

    √ Reflexão individual com vista a melhorar a relação terapêutica e as práticas prestadas na área da Saú-

    de Mental e Psiquiátrica;

    √ Promoção da relação terapêutica de modo a desenvolver a relação de ajuda, com o doente e família;

    √ Promoção da comunicação assertiva com o doente e família;

    √ Realização de intervenções psicoeducativas.

    AVALIAÇÃO: Julgo ter adquirido as competências em análise.

  • 35

    Segundo Mackinnon (1990), a entrevista centrada na percepção da pessoa oferece informação

    diagnóstica mais valiosa que aquela centrada na psicopatologia, ainda que o entrevistador possa ver a

    pessoa uma única vez é possível uma interacção verdadeiramente terapêutica.

    Foi realizada a avaliação da pessoa através da entrevista, tendo sido escutada de forma activa, e tendo

    sido demonstrada sempre disponibilidade e autenticidade.

    Competência F2. Assistir a pessoa ao longo do ciclo de vida, família, grupos e comunidade na

    optimização da Saúde Mental

    DOMÍNIOS:

    F2.2. Executa uma avaliação global que permita uma descrição clara da história de saúde, com ênfase na

    história de saúde mental do indivíduo e família;

    ACÇÕES A DESENVOLVER:

    √ Consulta dos processos individuais dos doentes;

    √ Realização do acolhimento do doente no internamento, registar e analisar informação inicial

    identificando o estado de saúde, o potencial para o bem-estar, os défices de saúde, alterações no

    conteúdo ou processo de pensamento, alterações no comportamento, de afecto, comunicação…

    √ Avaliação do estado mental do doente com aplicação do exame mental;

    √ Realização de entrevistas de Enfermagem ao doente e prestador de cuidados informais.

    AVALIAÇÃO: Julgo ter adquirido as competências em análise.

    Além do que já foi supracitado, foi muito importante a relação com a equipa multidisciplinar do serviço.

    Através da comunicação, tentou-se sempre identificar quais as necessidades do doente, as suas

    capacidades e recursos.

  • 36

    Competência F3. Ajuda a pessoa ou longo do ciclo de vida, integrada na família, grupos e comunidade

    a recuperar a saúde mental, mobilizando as dinâmicas próprias de cada contexto.

    DOMÍNIOS:

    F3.1. Estabelece o diagnóstico de saúde mental da pessoa, família, grupo e comunidade.

    F3.4. Realiza e implementa um plano de cuidados individualizado em saúde mental ao cliente, com base

    nos diagnósticos de enfermagem e resultados esperados.

    F3.5. Recorre à metodologia de gestão de caso no exercício da prática clínica em saúde mental, com o

    objectivo deajudar o cliente a conseguir o acesso aos recursos apropriados e a escolher as opções mais

    ajustadas em cuidados de saúde.

    ACÇÕES A DESENVOLVER:

    √ Determinação e planeamento de intervenções com base nos diagnósticos de enfermagem e resposta

    do doente;

    √ Preparação e administração de terapêutica de forma rigorosa e segura e monitorizar as respostas te-

    rapêuticas, reacções, efeitos secundários, toxicidade e potenciais incompatibilidades;

    √ Efectuar registos de enfermagem oportunos de modo a manter o processo atualizado e promover a

    continuidade dos cuidados.

    √ Promoção da autonomia do doente e família, envolvendo-os no processo de tratamento;

    √ Preparação do doente para a alta:

    ↘ Programar, planear e realizar sessões de psicoeducação aos doentes e prestador de cuidados

    informais, oportunamente;

    ↘ Mediante as necessidades fornecer informação sobre terapêutica, importância da adesão e

    gestão do regime terapêutico; actividades de vida diária, sono e repouso…

  • 37

    √ Elaboração de um estudo de caso:

    ↘ Entrevista de enfermagem psiquiátrica (doente e família);

    ↘ Observação;

    ↘ Participação em reuniões da equipa multidisciplinar;

    ↘ Consulta do processo individual do doente;

    ↘ Planificação de diagnósticos e intervenções de enfermagem segundo a CIPE;

    ↘ Intervenção Familiar de Enfermagem;

    ↘ Treino de Competências Sociais;

    ↘ Sessão de Relaxamento;

    ↘ Sessões de Educação para a Saúde / Psicoeducação;

    ↘ Apresentação do trabalho de caso clínico à equipa.

    AVALIAÇÃO: Julgo ter adquirido as competências em análise (ver anexo V).

    Competência F4. Presta cuidados de âmbito psicoterapêutico, socioterapêutico, psicossocial e

    psicoeducacional, à pessoa ao longo do ciclo de vida, mobilizando o contexto e dinâmica individual,

    familiar de grupo ou comunitário, de forma a manter, melhorar e recuperar a saúde.

    DOMÍNIOS:

    F4.1. Coordenar, desenvolver e implementar programas de psicoeducação e treino em saúde mental

    F4.3. Promover a reabilitação psicossocial de pessoas com doença mental, com o intuito de atingir a sua

    máxima autonomia e funcionalidade pessoal, familiar, profissional e social, através do incremento das

    competências individuais, bem como da introdução de mudanças ambientais

    ACÇÕES A DESENVOLVER:

    √ Planear actividades psicoterapêuticas no doente com Psicose Esquizo-Afetiva e intervenção no

    prestador de cuidados informais:

  • 38

    ↘ Oferecer informação sobre a doença e modos de lidar com ela;

    ↘ Promover interacção social promovendo participação em actividades lúdico –educativas (lei-

    turas de livros, jogos psicológicos de grupo, caminhadas)

    ↘ Realizar sessões de psicoeducação ao doente e prestador de cuidados informais, oportuna-

    mente;

    √ Executar treino de competências:

    ↘ Gestão do regime terapêutico

    AVALIAÇÃO: Julgo ter adquirido as competências em análise.

    As Consultas de Enfermagem, constituíram também um momento essencial para adquirir

    competências do enfermeiro especialista em saúde mental, pois permitiram realizar uma apurada

    avaliação inicial que levando à delineação rigorosa de diagnósticos de enfermagem, com vista a

    desenvolver intervenções psicoterapêuticas, psicoeducativas, psicossociais e socioterapêuticas ao

    individuo portador de doença mental e à sua família. Nas consultas foi dada importância a uma

    avaliação prévia de cada utente pelo exame mental, que permitiu à mestranda um corte transversal no

    estado e na sintomatologia que o utente apresentava, no momento da avaliação, utilizando-se para tal

    os conhecimentos da psicopatologia.

    Para a mestranda o espaço de consulta de enfermagem constituiu uma oportunidade de

    desenvolver a sua prática com base no modelo da teoria das relações interpessoais de Peplau,

    contribuindo assim para os seu crescimento e para o desenvolvimento humano dos pacientes com o

    intuito da realização do seu potencial máximo.

    A mestranda teve em consideração sempre que possível a utilização da linguagem classificada

    (CIPE, versão 2), tendo em atenção os elementos importantes face à organização dos cuidados de

    enfermagem especializados em saúde mental a existência de um sistema de melhoria contínua da

    qualidade do exercício profissional (OE, 2011), e que deram resposta às unidades de competência

    específicas do EESMP, do Regulamento n.º129/2011 (F2, F3.4, F3.5, F4.1 e F4.3).

    Ao longo do Ensino Clínico no departamento de Psiquiatria foi dado privilégio ao método de

    desenvolvimento de aprendizagens e competências pelo método de Estudos de Caso. Através da

    análise de cada caso, foi possível a elaboração de um plano de intervenções no âmbito da prática

    especializada em enfermagem de saúde mental, que permitisse dar resposta aos diagnósticos

  • 39

    inicialmente levantados. A utilização da linguagem classificada para a prática da enfermagem (CIPE

    versão 2), foi uma preocupação da mestranda, desde o início, e contribuiu de certa forma para a

    familiarização de toda a equipa de enfermagem com a versão mais recente da CIPE.

    O Enfermeiro sendo o elemento da equipa de saúde que contacta mais directamente com o

    paciente, é favorecido de melhores competências para personalizar os cuidados baseados na evidência

    cientifica, que qualquer outro terapeuta (Cardoso, 2010). Com o trabalho desenvolvido foi possível

    desenvolver as competências específicas F2 e F4.

    Ser prestador de cuidados implica pôr em prática toda a dimensão humana de quem cuida e de

    quem é cuidado. Exige preocupação, respeito pelo outro e cuidar a pessoa na sua singularidade

    (Hesbeen, 2001).

    O exercício profissional de Enfermagem é caracterizado pela relação interpessoal, relação humana

    estabelecida entre o enfermeiro e a pessoa cuidada (Mendes, 2006).

    É nesta vertente humanista que a relação de ajuda com o outro é primordial, uma vez que a mesma

    para além de auxiliar na cura contribui para a auto-realização da pessoa cuidada (Phaneuf, 2005).

    A relação de ajuda possui um carácter particular. Não é uma conversa amigável nem é uma

    exposição brilhante da pessoa que ajuda, nem uma discussão no sentido de troca de pontos de vista e

    de objecções entre os interlocutores (Phaneuf, 2002).

    As técnicas utilizadas são várias e devem ser adaptadas ao contexto e necessidades da pessoa.

    Lopes (sd) refere que é nestas técnicas que é incluído o cuidado psicoterapêutico, apontando

    quatro características deste cuidado:

    1 – A relação terapêutica concretiza-se através de cuidados psicoterapêuticos que são uma

    dimensão dos cuidados de enfermagem. Isto é, a enfermagem pela forma como aborda a pessoa tem

    em conta toda a sua estrutura havendo assim uma visão holística daqueles a quem prestamos cuidados.

    Assim o enfermeiro presta cuidados aos três níveis de prevenção (primário, secundário e terciário) de

    forma a capacitar as pessoas a “melhorar, manter ou recuperar a saúde, lidar com problemas de saúde e

    alcançar a melhor qualidade de vida possível, seja qual for a sua doença ou deficiência até a morte

  • 40

    (Royal College of Nursing, 2003 citado por Lopes, sd). Assim o enfermeiro usa todo o seu saber teórico,

    pessoal, estético e ético para que de uma forma processual consiga dar respostas às necessidades da

    pessoa desde a avaliação de necessidades, elaboração de objetivos e resultados esperados,

    implementação do plano e avaliação. Esta forma de actuar permite criar condições para um cuidado

    centrado na pessoa, onde se inclui o cuidado psicoterapêutico, numa perspetiva de parceria e co-

    produção.

    2 – A relação psicoterapêutica e consequentemente os cuidados psicoterapêuticos são intencionais.

    A relação terapêutica tem intenção na sua intervenção e é isso que lhe dá esse carácter de terapia. É

    feito assim num processo de avaliação e readaptação constantes com um objetivo bem definido.

    3 – A relação terapêutica é processual. Através das necessidades do doente, da forma de

    abordagem do enfermeiro, do seu raciocínio clínico a relação terapêutica vai sendo construída

    gradualmente de forma a atingir um fim, numa relação de confiança em que o doente confia no

    enfermeiro e o enfermeiro confia nas capacidades do doente não o inferiorizando pela sua doença mas

    sim vendo-o também como parceiro e fim dos seus cuidados. Há assim um crescimento numa espiral em

    que pelo processo que se estabelece se vão atingindo graus de crescimento.

    4 – A relação terapêutica é uma resposta terapêutica que ocorre a dois num determinado contexto

    (privado ou mias alargado). Pretende-se que ocorra no contexto onde a pessoa está que poderá ser em

    espaço de gabinete, mas também no seu contexto de autocuidado. Ao ser uma resposta que pode ser

    dada em grupo, fica implícita a questão ética do que é ou não da esfera íntima da pessoa.

    Phaneuf (2002) faz ainda a distinção entre relação de ajuda e intervenção ajudante do enfermeiro.

    No nosso dia-a-dia prestamos cuidados que estão muito próximos dos que se prestam numa relação de

    ajuda, o que pode gerar por vezes confusão. Dá o seguinte exemplo: fazer comer um doente e proceder

    à sua higiene não são relações de ajuda, são cuidados, porque estas acções visam principalmente o

    bem-estar físico do doente. Mas instalá-lo numa posição confortável a fim de que respire melhor e

    aliviar a sua dor podem tornar-se elementos de uma relação de ajuda se são acompanhados de uma

    intervenção que visa o seu reconforto afectivo, a satisfação das suas necessidades superiores de

    evolução pessoal ou a resolução de um problema existencial. Assim a distinção embora por vezes subtil

    situa-se principalmente no objectivo. O que distingue é a intencionalidade terapêutica das acções e

    objectivos dando assim abrangência e profundidade à relação de ajuda.

  • 41

    4.1.3 – Competências de Mestre

    Um dos principais objectivos do estágio, das actividades empreendidas no âmbito do mesmo e da

    concepção do presente relatório, para além do desenvolvimento das competências de especialista,

    prende-se com a aquisição das competências de mestre. O actual curso de mestrado em enfermagem

    prevê então a aquisição das seguintes competências de mestre:

    1. Demonstra competências clínicas na conceção, na prestação, na gestão e na supervisão dos

    cuidados de enfermagem, numa área especializada;

    2. Inicia, contribui, desenvolve e dissemina investigação para promover a prática de

    enfermagem baseada na evidência;

    3. Tem capacidades para integração de conhecimentos, tomada de decisão e gestão de

    situações complexas, com ponderação sobre as implicações e as responsabilidades éticas,

    profissionais e sociais;

    4. Realiza desenvolvimento autónomo de conhecimentos, aptidões e competências ao longo

    da vida;

    5. Participa de forma proactiva em equipas e em projetos, em contextos multidisciplinares e

    intersectoriais;

    6. Realiza análise diagnóstica, planeamento, intervenção e avaliação na formação dos pares e

    de colaboradores, integrando a formação, a investigação e as políticas de saúde em geral e

    da enfermagem em particular;

    7. Evidencia competências comuns e específicas do enfermeiro especialista, na sua área de

    especialidade.

    (Ministério da Educação e Ciência, 2013)

  • 42

    5 – PROPOSTA PARA CONSULTORIA EM ESMP DE LIGAÇÃO

    De acordo com a OMS (2005, p.1), os “problemas de saúde mental afectam pelo menos uma em

    cada quatro pessoas em algum momento das suas vidas”. A mesma organização refere, ainda, que a

    ansiedade e a depressão são os problemas de saúde mental que mais afectam a população da Europa,

    sendo que Portugal é o país com maior prevalência anual, 22,9%, de doença mental na população

    (Observatório Português Sistemas de Saúde, 2013).

    Segundo a Ordem dos Enfermeiros (2010, p.3) faz parte das competências específicas do

    Enfermeiro Especialista em enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, a prestação de cuidados no

    “âmbito psicoterapêutico, socioterapêutico, psicossocial e psicoeducacional à pessoa ao longo do ciclo

    de vida, mobilizando o contexto e dinâmica individual, familiar de grupo ou comunitário, de forma a

    manter, melhorar e recuperar a saúde”.

    O projecto de consultoria será desenvolvido nas dependências da ULSNA, a qual deverá

    disponibilizar os recursos necessários.

    As metas a serem atingidas serão:

    √ Consolidar um modelo de estrutura organizacional;

    √ Reestruturar uma cultura organizacional;

    √ Uniformizar e padronizar processos de comunicação interna;

    √ Melhorar o relacionamento interpessoal.

    Numa primeira fase pretende-se avaliar e sinalizar os utentes e as famílias através do Serviço de

    Internamento. Nesta avaliação inicial é realizado o despiste de ocorrência de psicopatologia, através da

    realização de uma entrevista e da aplicação de instrumentos de avaliação.

    Se forem detectadas alterações os doentes passarão então a ser acompanhados pelo

    Enfermeiro Especialista de Saúde Mental e Psiquiátrica, sendo orientados para a Consulta de Psiquiatria

    de ligação.

  • 43

    De forma esquematizada as fases desta proposta centram-se:

    (1ª fase) Avaliação

    Realizada em doentes em contexto de Internamento

    Utilizando Escala de Medida

    (2ª fase) Identificar diagnóstico de Enfermagem

    (3ª fase) Alta – Saúde Mental Comunitária

    Sessões individualizadas

    Sessões de grupo (cada grupo deverá ter de oito a dez

    sessões, com periodicidade semanal ou quinzenal)

    Tal como já foi referido as Consultas de Enfermagem constituíram um momento essencial para

    adquirir competências do enfermeiro especialista em saúde mental, pois permitiram realizar uma

    apurada avaliação inicial que levando à delineação rigorosa de diagnósticos de enfermagem, com vista a

  • 44

    desenvolver intervenções psicoterapêuticas, psicoeducativas, psicossociais e socioterapêuticas ao

    individuo portador de doença mental e à sua família. Assim sendo, contribuíram para os seu

    crescimento e para o desenvolvimento humano dos pacientes com o intuito da realização do seu

    potencial máximo.

    A Consulta de Psiquiatria de ligação, numa fase inicial será realizada em contexto de

    internamento e após a alta do utente, o mesmo será integrado em grupos terapêuticos.

    Cada grupo deverá ter de oito a dez sessões, sendo que estas se deverão realizar com

    periodicidade semanal ou quinzenal, sendo desenvolvidas intervenções de enfermagem em saúde

    mental e psiquiátrica como: psicoterapia de grupo (visa investigar a congruência entre as atitudes das

    pessoas participantes no grupo); escuta activa (é uma técnica de comunicação que implica que, num

    diálogo, o ouvinte comece por interpretar e compreender a mensagem que recebe. Escutar é o processo

    de descodificar e interpretar activamente as mensagens verbais); espelho (tem como objectivo

    melhorar a auto-percepção. Espelha o inconsciente e permite a compreensão mútua e comunicação);

    inversão de papéis (As pessoas envolvidas estão presentes e representam o papel dos seus

    antagonistas. Ao longo deste processo aumenta a percepção que um indivíduo tem de si mesmo, quer a

    percepção que tem da outra pessoa); técnicas de relaxamento (Técnica que diminui a ansiedade e

    constitui uma forma eficaz de estabelecer um relacionamento de confiança entre enfermeiro e utente),

    tentando assim transformar os participantes em elementos proactivos no seu processo de saúde

    mental.

    Como critérios de exclusão temos:

    √ Utentes que se encontrem, ainda na fase de internamento, em contenção física, nos termos

    da Circular Normativa da DGS;

    √ Utentes sem capacidade de apreensão;

    √ Utentes que recusem participar na sessão.

    Pretende-se com este projecto atingir determinados benefícios como uma maior agilidade nos

    nos processos objectivando acompanhar as mudanças, proporcionando um atendimento com maior

    rapidez e descentralizando as tomadas de decisões, surgindo assim, equipas motivadas e lideranças

    adaptadas a um novo modelo de estrutura organizacional.

  • 45

    6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Este relatório de estágio, permitiu a descrição das actividades desenvolvidas durante o Estágio Final

    – Internamento de Agudos e nomear as competências adquiridas ao longo do mesmo. Durante este

    período pude compreender a abrangência do papel do EESMP, que se inscreve na promoção dos estilos

    de vida saudáveis, promovendo a saúde e prevenindo a doença mental, passando pelo internamento da

    pessoa em crise e do apoio à família e pessoas significativas até à reabilitação psicossocial com a

    revalorização de competências e reintegração familiar, social e profissional.

    A própria Comissão de Especialidade de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica da Ordem dos

    Enfermeiros afirma que a especificidade da enfermagem de saúde mental e psiquiátrica consiste na

    incorporação de intervenções psicoterapêuticas durante o processo de cuidar da pessoa, da família, do

    grupo e da comunidade, ao longo do ciclo vital, visando a promoção e protecção da saúde mental, a

    prevenção da perturbação mental e o tratamento, a reabilitação psicossocial e a reinserção social da

    pessoa (Nabais, 2008).

    O EESMP deve ter a capacidade de desenvolver uma visão holística no seu cuidar, sabendo que é

    essencial desenvolver competências na área da relação interpessoal, da comunicação e da relação de

    ajuda. Sob este paradigma do cuidar, o EESMP, torna-se uma referência e uma mais-valia, para a pessoa,

    (Sequeira, 2006).

    As principais dificuldades e limitações que senti durante este percurso de crescimento foram ao

    nível da articulação do que considero serem as três dimensões envolvidas: pessoal, académica e

    profissional, que conduziu a momentos de algum stress, no que respeita a elaboração de horários

    compatíveis. Como aspectos facilitadores saliento os conhecimentos, a experiência e disponibilidade

    pela enfermeira supervisora, Enf.ª Maria Isabel Telo e restantes elementos da equipa, que fizeram com

    que, este fosse um período de “despertar” para novos conhecimentos, realidades e sentires.

  • 46

    7 – CONCLUSÃO

    A doença mental foi percepcionada e interpretada de formas muito diversas ao longo da história,

    durante muito tempo explicada através de paradigmas pré-científicos, metafísicos e mágico-religiosos.

    As doenças mentais foram muitas vezes atribuídas ao castigo dos deuses, a possessões demoníacas. Os

    remédios e soluções para os males do espírito procuravam-se junto dos que, baseados em

    conhecimentos e práticas ancestrais, muito enraizadas na cultura das populações, iam aliviando o

    sofrimento e satisfazendo as suas mais prementes necessidades de saúde.

    Algumas doenças só poderão ser devidamente explicadas e compreendidas se os técnicos de saúde

    entenderem a sua dimensão social e cultural.

    O conhecimento da história de vida da pessoa, relativamente à doença, pode fazer a mediação

    entre a sua cultura, as suas crenças, os seus desejos e esperanças. Pode encaminhar os profissionais de

    saúde para uma visão holística da pessoa e a criação de uma relação empática técnica de saúde/pessoa,

    ao estabelecer de uma relação de confiança e por conseguinte a uma verdadeira e eficaz relação

    terapêutica.

    Tão importante quanto o conhecimento científico acerca da semiologia psiquiátrica é o que o

    EESMP fará em prol do cuidado de enfermagem único, personalizado e holístico.

    Em se tratando de um doente psiquiátrico, a escuta e a observação configuram-se como

    instrumentos importantes de avaliação e na colecta das informações.

    Prácticas de enfermagem que contemplam os aspectos psicossocial, psicoespirituais e

    psicobiológicos constituirão um elo para o bom relacionamento enfermeiro-paciente, estabelecendo

    assim um espaço terapêutico ideal para a instituição do cuidado.

    Por tudo o que foi supracitado culminamos com a proposta final da criação de um Elo de Ligação de

    Consultoria em ESMP.

  • 47

    8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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