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LITERATURA INFANTIL E INFANTO-JUVENIL: LENDO REPRESENTAÇÕES DO MUNDO FICCIONAL
Soeli Berton Pantano1 Gilmei Francisco Fleck2
RESUMO
Ao longo do presente texto trataremos da pesquisa realizada e das propostas executadas durante o
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Nesse contexto nos dedicamos à temática
“Ensino e a aprendizagem de leitura – o poder da representação nos contos infantis e infanto-
juvenis”, tema este norteador de todos os elementos constitutivos das atividades desenvolvidas,
como o Projeto de Intervenção Pedagógica, a Produção Didático-Pedagógica, o Grupo de Trabalho
em rede – GTR e a Implementação na Escola. Buscamos na leitura e interpretação dos contos “Uma
Ideia Toda Azul” e “A Moça Tecelã”, de Marina Colasanti, e “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga,
despertar nos jovens leitores o gosto e o hábito pela leitura da literatura. A leitura, nesse sentido,
transforma-se em momentos de prazer nos quais a imaginação possibilita a passagem a um universo
maravilhoso como aquele representado nas histórias. Essa prática leva o leitor a estabelecer
comparações e analogias entre a realidade e a ficção. Acreditamos que o educando terá mais
chances de se tornar um bom leitor se for estimulado a desfrutar do mundo das representações
ficcionais. A leitura de textos literários na escola tem um papel importante para a formação de
leitores, conforme defendem Aguiar e Bordini (1993), Bamberger (1986), Cademartori (1986),
Zilberman (2003), Fleck (2007), Solé (1988), Zilberman e Silva (2005), Martins (1994), Ferreira (2001)
e Morais (1996). Ela possibilita, com o passar do tempo, que o estudante se posicione criticamente
face à realidade. Destacamos ainda que o professor passa a ser o mediador para o ensino na escola,
fazendo a “ponte” entre leitor e texto.
Palavras – chave: Leitura; Literatura infanto-juvenil; Contos; Formação de leitores
1. INTRODUÇÃO
A leitura da literatura infantil e infanto-juvenil é a chave fundamental para a
entrada no mundo da leitura. Ela proporciona ao futuro leitor “bagagem” que permite
a compreensão daquilo que lê, levando em conta o seu conhecimento de mundo
adquirido através de sua vivência. É necessário garantir ao aluno/leitor, a partir da
1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, graduada em Letras pela FAFIJAN,
Jandaia do Sul/Pr, com especialização em Linguística Aplicada em Língua Estrangeira, Unioeste/Pr e Especialização em Literatura e Língua Portuguesa, Mandaguari/Pr, Atua no Colégio Estadual Carlos Gomes, Iguatu/Pr no Ensino Fundamental e Médio, inserida no Programa de desenvolvimento Educacional PDE (2012-2013). 2 Orientador PDE. Professor Adjunto da UNIOESTE/Cascavel na Graduação e Pós-graduação nas
áreas de Literatura e Cultura Hispânicas. Doutor em Letras pela UNESP/Assis. Vice-Líder do grupo de pesquisa: “Confluências da Ficção, História e Memória na Literatura e nas Diversas Linguagens”. Coordenador do PELCA – Programa de Ensino de Literatura e Cultura.
experiência oferecida pela escola através da leitura da literatura, experiências que
lhe possibilitem desenvolver seu espírito crítico em relação à formação e atuação do
ser humano na sociedade. Essa prática leva-o a refletir acerca do processo de como
a sociedade vem sendo construída desde seus primórdios até então, e que papel
pode desempenhar um cidadão capaz de ver o mundo e perceber de que forma ele
pode atuar como agente transformador. Segundo as (DCEs, 2008, p. 71), a prática
da leitura na escola deve ser um ato reflexivo, como vemos abaixo:
Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles. Sob esse ponto de vista, o professor precisa atuar como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas. Assim o professor deve dar condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade.
Só um leitor crítico terá condições de fazer uma interpretação mais apurada
da realidade e perceber-se como sujeito capaz de mudá-la. Nesses contextos, a
leitura é o meio mais eficaz e consciente de adquirir conhecimento e cultura.
Conhecimento este que se constitui através de uma longa e contínua caminhada
pelo mundo da leitura.
A escolha do tema “Ensino e aprendizagem de leitura – o poder da
representação nos contos infantis e infanto-juvenis” para incentivar o gosto pela
leitura literária e estimular o hábito de ler teve o intuito de proporcionar momentos
favoráveis à prática da leitura prazerosa, bem como a motivação de relações entre
leitor e livros, objetivando, assim, despertar neles o gosto e o hábito da leitura. Além
disso, buscamos, também, a viabilidade de proporcionar ou resgatar um trabalho
com a leitura que envolvesse imaginação, criatividade e fantasias. Essas práticas de
leitura não podem assumir um caráter apenas instrucional, mas transformar-se num
momento de prazer em que a imaginação, as emoções, a beleza e a fantasia levem
o pequeno leitor a outro mundo: o das representações ficcionais.
O passo seguinte ao dos contatos primeiros com os livros, na formação do
leitor crítico, é auxiliá-lo a ler essas representações ficcionais para que, do mundo da
fantasia, ele possa dar o passo à realidade que o cerca, estabelecendo
comparações e analogias entre a realidade e a ficção. Nesse sentido, é valido
verificar o exposto por Martins (1994, p. 36), que menciona:
[...] o propósito é compreender a leitura, tentando desmistificá-la, por meio de uma abordagem despretensiosa mas que permita avaliar aspectos básicos do processo, dando margem a se conhecer mais propriamente o ato de ler. Esses aspectos se relacionam à própria existência do homem, incitando a fantasia, o conhecimento e a reflexão acerca da realidade.
Desse modo, o texto literário pode levar o leitor a momentos de reflexão e,
assim, preparar o indivíduo para a vida num mundo repleto de diversidades. O ato
de ler aprofunda o conhecimento e ajuda o sujeito leitor a fazer leituras de sua
própria vida, além de instigar a imaginação e a indagação. Ao pensarmos no que foi
exposto, nos fizemos o seguinte questionamento: Quais seriam os
encaminhamentos metodológicos mais adequados para a consecução de atividades
didáticas que oferecessem melhor aproveitamento na formação de leitores?
Com base na questão acima colocada, dedicamo-nos à produção e
elaboração de um modelo de sequência didática para trabalhar com o gênero
literário conto, a fim de explorar com alunos do 6o ano do Ensino Fundamental, do
Colégio Estadual Carlos Gomes, do Município de Iguatu/PR, os contos selecionados
de Marina Colasanti e Lygia Bojunga. Com eles planejamos atividades de linguagem
que levassem em consideração, primeiramente, o conhecimento prévio dos
estudantes e, em seguida, propomos a leitura como ação transformadora e de
emancipação.
2. LEITURA E LITERATURA: MEDIAÇÃO ENTRE O LEITOR E O MUNDO
Apontada como a grande vilã das causas do fracasso na escola, a falta do
hábito de leitura, mostra-nos o seu lado mais obscuro: aquele que limita o indivíduo
ao exercício da cidadania, ou seja, posicionar-se criticamente perante os fatos
conflitantes do momento presente ou da própria história da qual o sujeito é fruto. A
preocupação da escola, nesse sentido, não seria a de reproduzir as fracassadas
leituras da literatura, mas fazer dela um sentido para a existência, para levar o aluno
a ler por prazer de ler e, se for proposto algum trabalho com tais textos, que este
seja motivador de novos descobrimentos e de ampliação de mundo e não apenas
para reconhecer algum aspecto estrutural ou linguístico. Diante dessa constatação,
nossos estudos durante a permanência no PDE estiveram voltados a repensar tais
problemas, pesquisar e estudar o que dizem os estudiosos sobre o assunto e
desenvolver estratégias para tentar resolver alguns dos problemas de leitura junto
aos educandos do 6o ano. Podemos nos referir aqui aos autores consagrados da
literatura que nos deram suporte para desenvolver as estratégias e métodos, tais
como, Zilberman (2003), Solé (1998), Bamberger (1986), Aguiar e Bordini (1993),
Cademartori (1986), Zilberman e Silva (2005), Martins (1994), entre outros, além dos
pressupostos teóricos fundamentados nas Diretrizes Curriculares da Educação
Básica do estado do Paraná – DCEs (2008) em Língua Portuguesa.
Valendo-se do poder representativo dos signos linguísticos, a literatura pode
extrapolar o poder da linguagem, dando outros sentidos às palavras e esses vão
muito além do seu valor denotativo. Há certos textos que são mais indicados para se
introduzir a literatura na vida escolar dos educandos. Na opinião de Fleck (2007, p,
24), vemos que, nesses casos
[...] os textos mais curtos e não fragmentados, como poemas, fábulas, contos são ideais para se introduzir a literatura no programa de leitura. Sua compreensão será facilitada pelo conhecimento prévio do gênero, e pelas discussões que se deveria oportunizar.
Dessa maneira, inclusive, pode-se despertar no jovem leitor o interesse por
leituras mais extensas e complexas no futuro. Só um leitor crítico terá condições de
fazer uma interpretação mais apurada da realidade e perceber-se como sujeito
capaz de mudá-la. Nesses contextos, a leitura é o meio mais eficaz e consciente de
adquirir conhecimento e cultura. Conhecimento este que se constitui através de uma
longa e contínua caminhada pelo mundo da leitura. É ela que nos proporciona
embasamento e capacidade para melhor atingirmos as necessidades provenientes
do meio em que vivemos, conhecer melhor a nós mesmos e ampliar também a
nossa percepção. De acordo com Fleck (2007), sendo o texto literário, por sua
natureza aberta, um dos meios mais preciosos para o aprendizado crítico da leitura,
um processo que, necessariamente, começa pelo incentivo à leitura nos primeiros
anos de formação escolar.
Propusemos-nos a analisar a mediação e as práticas pedagógicas
relacionadas ao ato de ler, focalizando as relações de interação estabelecidas entre
o professor, o aluno e a leitura. As práticas pedagógicas assumidas pelos
professores são um dos fatores intimamente ligados ao sucesso na formação do
leitor, sendo também de fundamental importância a mediação da família nesse
processo.
Para tanto foi necessário buscar aprofundamento das teorias sobre o
processo de leitura e dos seus pressupostos, objetivando uma concepção mais
articulada com reflexos das práticas pedagógicas. Nesse sentido, é importante
fundamentar teoricamente as análises e as reflexões ocorridas durante a execução
do trabalho, sendo imprescindível a contribuição de autores diferentes que tratam do
tema em questão. Como afirma Solé (1998, p. 46),
[...] quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo; à medida que sua leitura o informa, permite que se aproxime do mundo de significados de um autor e lhe oferece novas perspectivas ou opiniões sobre determinados aspectos [...]. A leitura nos aproxima da cultura, ou melhor, de múltiplas culturas e, neste sentido, sempre é uma contribuição essencial para a cultura própria do leitor. Talvez pudéssemos dizer que na leitura ocorre um processo de aprendizagem não-intencional, mesmo quando os objetivos do leitor possuem outras características, como no caso de ler por prazer.
Procuramos investigar como a escola pode contribuir para que os alunos
adquiram e aperfeiçoem habilidade de leitura, encontrando caminhos e
possibilidades que contribuam para um ensino mais significativo em uma sociedade
considerada letrada, cultivando a sensibilidade e a imaginação criadora. Cademartori
(1986, p. 19) declara:
Se, adquirindo o hábito da leitura, a criança passa a escrever melhor e dispor de um repertório mais amplo de informações, a principal função que a literatura cumpre junto a seu leitor é a apresentação de novas possibilidades existenciais, sociais, políticas e educacionais. É nessa dimensão que ela se constitui em meio emancipatório que a escola e a família, como instituições, não podem oferecer.
Historicamente o modelo tradicional de educação utilizava o conceito de
alfabetizado para designar quem sabia ler e de analfabeto para designar quem não
possuía nenhuma das habilidades. Nas últimas décadas os conceitos mudaram e
para ser considerado um sujeito alfabetizado, é preciso saber fazer uso dessas
práticas, fazendo com que surgisse, assim, o termo letramento.
Hoje se espera da escola um ensino voltado para a construção do
conhecimento, não somente no que se refere à aquisição da leitura e da escrita,
mas, sobretudo, no que diz respeito à compreensão e interpretação do que se lê e
se escreve.
A leitura de textos literários na escola tem um papel muito importante para a
formação do leitor, pois ela leva os educandos a estabelecer relações de diálogo
entre diferentes tipos de textos, e possibilita que eles se posicionem criticamente
face à realidade. Literatura e leitura são fontes de conhecimento, e o hábito de ler e
o gosto pela literatura – fatores imprescindíveis à formação de um leitor crítico –
podem ser advindos dessa aprendizagem realizada no âmbito escolar. Para tanto se
fazem necessários procedimentos didático-pedagógicos adequados, pois o prazer
de ler se constrói mediante a superação de limitações e dificuldades em que o
sujeito leitor vá criando novas relações entre as situações da realidade e de sua
imaginação.
O professor passa a ser, portanto o principal mediador para o ensino da
leitura na escola, fazendo a “ponte” entre o leitor e o texto. Para que isso de fato
ocorra é necessário que esse profissional investigue e planeje metodologias que
despertem o interesse das crianças e adolescentes pela leitura, transcendendo suas
limitações e colaborando para o seu amadurecimento. Como nos afirma Bamberger
(1986, p. 10), “a leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento
sistemático da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a linguagem é
trabalhar com o homem”. O sistema educacional deve ser o intermediador entre as
práticas de leitura e o leitor. O exercício consciente dessa tarefa resulta em leitores
mais eficientes e capazes de interagir no meio em que vivem.
Nesse processo, a escola e o professor tem que buscar meios eficientes de
atuação, planejar e usar estratégias que ajudem a despertar o interesse. Além disso,
o professor precisa mostrar-se íntimo com as obras literárias, partindo,
primeiramente, do seu gosto de ler, porque os alunos buscam essa referência no
seu professor. Portanto, o professor tem que ter prazer em ler para seus alunos,
comentar sobre obras que já leu e aquelas que esteja lendo, demonstrando, assim,
tudo que a literatura pode nos proporcionar.
Através do gênero discursivo “conto”, buscamos entender esse modo de
narrar, como sendo uma produção de arte que pode ser apreciada, sentida e
vivenciada em qualquer momento histórico. Por entendermos que a leitura do conto
não cansará o leitor, muito pelo contrário porque ela o levará para o mundo da
fantasia e do sonho, tão desejado pelo ser humano. Neste universo fantástico o
aluno criará a sua história, a qual poderá confrontá-la ao real e ali continuar num ato
autêntico e reabastecedor, promovendo uma mudança conceitual do pensamento
para uma consciência livre de condicionamentos. O conto em sua dinamicidade,
poderá abrigar a palavra mágica, o que agrada a todos os seres humanos, porque
sua boa história sempre nos cativa e envolve. Para Aguiar e Bordini (1993, p. 18, 19)
[...] o primeiro passo para a formação do hábito da leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor, que levantem questões significativas para ele. A literatura brasileira e a literatura infanto-juvenil nacionais vêm preencher estes quesitos ao fornecerem textos diante dos quais o aluno facilmente se situa, pela linguagem, pelo ambiente, pelos caracteres das personagens, pelos problemas colocados. [...] Quando o professor realiza o trabalho com literatura em sala de aula a partir das expectativas dos estudantes, significa que ele está atento aos interesses dos mesmos.
Dentre as várias opções de trabalho com gêneros textuais distintos,
escolhemos as histórias/contos pelo interesse que esse gênero desperta no aluno e
por compreender que, de certa forma, os contos transmitem a cultura dos povos.
Podemos assim dizer que, o presente se fundamenta nas histórias do passado, e
que, muitos ensinamentos foram transmitidos através de histórias passadas através
das gerações, no início oralmente e depois por escrito.
Diante do exposto podemos inferir que as mais variadas formas de vida do
cotidiano podem servir de objeto para a construção de um conto. E, independente do
assunto, do tema, do estilo ou da época de uma narrativa, haverá sempre um
público disposto a recebê-la.
As histórias despertam o prazer para a leitura porque durante este ato,
viaja-se pelo mundo da fantasia e retorna-se à realidade não mais como antes, pois
esta lhe proporcionará uma compreensão da vida além daquela que ele possuía até
então. Conforme Aguiar e Bordini (1993, p. 27) “ler é imergir num universo
imaginário, gratuito, mas organizado, carregado de pistas as quais o leitor vai
assumir o compromisso de seguir, se quiser levar sua leitura, isto é, seu jogo literário
a termo.” A literatura, por meio da linguagem, conquista a realidade. Cabe a ela,
portanto, a função de preservar a história do homem, não deixando a realidade
anterior morrer, porque ela se atualiza quando incorporada ao presente.
A leitura do conto suscita imagens e sentimentos tão diferentes quanto à
quantidade de seus leitores, pois, cada indivíduo é um ser único, e única também é
a sensação que lhe advém do contato com a obra lida. A experiência que cada leitor
adquire é simplesmente intransferível, só a ele pertencerá. Talvez este seja o
verdadeiro segredo da imortalidade conferido às histórias. A dimensão
transcendental da qual o conto é revestido não provém do acaso, mas do talento do
admirador. No entanto, tanto aquele que lê, como aquele que escreve, deverá captar
a dimensão proposta pela palavra escrita. A boa narrativa requer sensibilidade e
perspicácia para um bom entendimento.
Através das atividades indicadas, buscou-se valorizar a leitura como sendo
capaz de promover a informação, o conhecimento enquanto fonte de entretenimento
e lazer, despertando no aluno o interesse pela literatura. Esta pode ser uma grande
aliada do professor na formação de leitores, como declara Ferreira (2001, p. 20),
Ao colocar-se o ‘professor’ de leitura como intermediário no ato de ler, a leitura passa de processo natural a processo cultural. Agora, entre o mundo natural – texto e o leitor, há um código, o texto, e um mediador, o que ensina a ler.
Portanto, a literatura enriquece a visão de mundo do leitor, fazendo uma
conexão entre essa comunicação que se estabelece, permitindo-lhe viajar, fantasiar,
sonhar, imaginar, participar e invadir a obra, compará-la à realidade e à história,
motivando-o e libertando-o de suas monotonias, para, finalmente, torná-lo um ser
crítico. Para que isso de fato ocorra, a escola e o professor precisam de
metodologias voltadas para o ensino da leitura com procedimentos bem definidos
para se obter resultados satisfatórios. Para Ferreira (2001, p. 43 e 44), a ficção
[...] é um texto que recria e torna idealizada a realidade, apresentando versões de um real que poderia ser, ao mesmo tempo em que lida com a subjetividade do leitor: seus medos, suas utopias, suas visões de mundo. Esta é uma relação que a arte literária estabelece como leitor em nível muito subjetivo, quase imperceptível tanto para um observador, quanto para o próprio leitor.
A leitura é uma atividade de interação entre o leitor e o texto onde ambos
interagem entre si num processo dialógico. Este recurso de interação entre leitor,
autor e texto é capaz de proporcionar um novo perfil ao processo de leitura,
tornando-o interativo, dinâmico, desafiador e produtor de sentidos. Tal prática leva o
leitor a um processo crítico de leitura e não apenas à ação de decodificador dos
signos linguísticos.
A interação proposta pode torná-lo capaz de compreender até as entrelinhas
daquilo que leu, ampliando assim sua visão de mundo. Para Zilberman (2003, p. 30)
“[...] o uso do livro na escola nasce, pois, de um lado, da relação que estabelece
com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante sua circunstância; e, de outro,
do papel transformador que pode exercer dentro do ensino [...]”.
Parece-nos impossível imaginar a aquisição do conhecimento da escrita
clara e comunicativa, sem a prática da leitura. Acredita-se que o prazer de ler
capacita o leitor na arte da escrita. Com base nisso, enfatizamos a importância da
leitura do texto literário, pois entendemos que ela possa ser um dos caminhos
sinalizadores para a formação do leitor e do escritor. Para Aguiar e Bordini (1993, p.
26), “quando o ato de ler se configura, preferencialmente, como atendimento aos
interesses do leitor, desencadeia o processo de identificação do sujeito com os
elementos da realidade representada, motivando o prazer da leitura”. Para que a
pessoa possa se envolver em uma atividade com leitura é preciso que ela sinta que
é capaz de ler e de compreender o texto, tanto por si própria como com a ajuda de
alguém mais experiente que lhe dê suporte. Não se deve esquecer que o interesse
também é criado e suscitado pelo entusiasmo do professor ao fazer uma
determinada leitura e das possibilidades de exploração da mesma.
Destacamos, assim, a importância do texto de ficção, independente do
contexto histórico em que foi produzido, pois este se dirige sempre a um destinatário
concreto. E este destinatário não é um ser qualquer, mas um ser sensível, que em
contato com a literatura, vai aos poucos resgatando a sua própria história, com o
objetivo de se autorrealizar. E, nesse sentido, a ficção comunga com os anseios do
leitor na busca cotidiana da felicidade.
Podemos nos referir à literatura como mediadora entre o sujeito leitor e o
mundo, que nos leva a uma relação autônoma do fenômeno literário, visto que a arte
produz formas que interagem com aquelas já existentes no mundo. A história do
homem é de certa forma preservada pela literatura. E a história que é contada na
literatura universal ocupa lugar na consciência de muitos, seja ela conscientemente
ou apenas guardada em seu inconsciente. A ficção, portanto, comunga com os
anseios do leitor, porque o que vemos através da palavra poética muitas vezes é o
retrato de sua própria vida.
Os contos são importantes para as crianças porque provocam e
desencadeiam uma batalha com seus conflitos interiores, resultando na resolução
dessas inquietudes. Para Bettelheim (1980, p. 18), “o conto de fadas, em contraste,
toma estas ansiedades existenciais e dilemas com muita seriedade e dirige-se
diretamente a eles [...] oferece soluções sob formas que a criança pode apreender
no seu nível de compreensão”. A boa narrativa requer sensibilidade e perspicácia
para um bom entendimento.
Os contos de Marina Colasanti possuem uma atmosfera mágica, sendo assim
capazes de envolver crianças e até adultos em suas teias cheias de significados e
ambiguidades. O “maravilhoso” não é proporcionado pela presença de seres
especiais como fadas, bruxas, reis, rainhas, princesas, mas ele aparece relacionado
com o real. Vejamos, a seguir, com mais propriedade, algo sobre estes aspectos
analisados nas obras estudadas durante o percurso da implementação.
3. O MARAVILHOSO E A LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR INFANTIL
As narrativas maravilhosas estão entre as formas literárias mais importantes,
vindas de tempos distantes e que se transformaram em Literatura Infantil. São
narrativas de aventuras ou acontecimentos que se passam no mundo mágico ou
maravilhoso – espaço fora da realidade comum à qual vivemos.
O “maravilhoso” presente na literatura destinada ao público infantil sempre foi
e continua sendo um dos elementos mais importantes. Os significados dos símbolos
presentes nos contos maravilhosos estão ligados aos “dilemas” que o homem
enfrenta no decorrer de seu amadurecimento emocional. Segundo Bettelheim (1980,
p. 25), “[...] os contos de fadas têm grande significado psicológico para as crianças
de todas as idades, tanto meninas quanto meninos, independentemente da idade e
sexo do herói da estória”. Inicia-se nesta fase, para a criança, a luta em defesa de
suas vontades e desejos de ser independente em relação aos pais ou à rivalidade
entre os irmãos ou amigos. É neste momento que, inconscientemente, a criança
busca construir sua própria imagem ou identidade e se depara com muitas barreiras
aos impulsos e estímulos. É, pois, nessa fase de amadurecimento interior que a
Literatura Infantil, mais precisamente, os contos podem ser decisivos para a
formação da criança, de sua individualidade, subjetividade e sua relação com o
mundo que a cerca.
Podemos nos assegurar de certo propósitos da intervenção com base no que
Bettenheim (1980, p. 32) diz:
Os contos de fadas, à diferença de qualquer outra forma de literatura, dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação, e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter.
Este maravilhoso e mágico existentes nos universos da ficção, continuam
sendo grandes atrações e a presença desse “maravilhoso”, “mágico”, “fantástico”,
agindo como participante natural da vida cotidiana e real atua de forma sutil no
interior do leitor fazendo sem que este conceba um melhor entendimento de certos
comportamentos que fazem parte do ambiente ao qual ele pertence.
Esse maravilhoso, concretizado em imagens, símbolos, metáforas, é o
mediador dos “valores” a serem assimilados pelo leitor. No processo metafórico
(representação figurada), a matéria literária identifica-se, não com a realidade
vivenciada, mas com a realidade imaginada, através do sonho, da fantasia, do
imaginário.
Dentro do contexto da literatura infantil o maravilhoso é um elemento muito
importante, pois é através do elemento simbólico – que está implícito nas tramas e
nos personagens das histórias – que as crianças irão vivenciar o prazer e as
emoções, elementos capazes de agir no inconsciente, atuando aos poucos para
ajudar a resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida. O leitor verá
realizadas suas expectativas de encontrar soluções aos conflitos propostos no
desenrolar das ações dos personagens. Constata-se que a ação facilita à criança e
ao adolescente a compreensão de certos valores básicos da conduta humana e de
convívio social.
Nesse sentido cabe lembrar que a criança ou adolescente terá muito mais
chances de se tornar um bom leitor se for estimulado a desfrutar do mundo das
representações ficcionais. Para tanto, propusemos um trabalho diversificado e
criativo com a leitura literária, tendo em vista as mudanças e exigências da
sociedade atual. As múltiplas vantagens da leitura do texto literário são destacadas
por Zilberman e Silva (2005, p. 19) quando expressam que
[...] atribui-se à leitura um valor positivo absoluto: ela traria benefícios óbvios e indiscutíveis ao indivíduo e à sociedade – forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimento e de enriquecimento cultural, de ampliação das condições de convívio social e de interação (ZILBERMAN; SILVA, 2005, p. 19).
Diante do exposto podemos perceber que a leitura do texto literário fornece
base para o enriquecimento pessoal, proporcionando assim o entendimento do
mundo fantástico presente na literatura. Sendo esta uma fonte segura da qual o
professor deve fazer uso para que aconteça o desenvolvimento intelectual e
cognitivo, pois pode levar à criação de um universo criativo e imaginário, ligado a
capacidade de expressão do sujeito. A prática da leitura desenvolve no leitor uma
série de aptidões que o torna mais consciente do poder das palavras na construção
do discurso, estando isso ainda mais perceptível ao explorar o poder do elemento
metafórico da linguagem utilizada na produção do texto literário.
Ao se tratar de criança, a fantasia exerce um papel importante ao possibilitar
que seu desenvolvimento aconteça de maneira mais branda e harmoniosa. Desde
seus primeiros anos, ela vive em um mundo em que, em todos os momentos,
confronta-se com a realidade tal qual ela é, pois mesmo que queiramos preservá-la
dos acontecimentos que acometem a vida dos adultos, ela está, inevitavelmente,
exposta aos conflitos vivenciados pelos familiares, à ausência dos pais que
geralmente trabalham fora, ao novo modelo de constituição de família, à
desestruturação familiar, à agitação dos tempos modernos e às notícias veiculadas
pelos meios de comunicação.
Tudo isso é encarado pela criança, sem “recortes”, que possam minimizar o
impacto que esses fenômenos podem acometer à mente infantil. Ao absorver tantos
infortúnios e informações, a criança procura explicações que satisfaçam sua
curiosidade e diminuam o sentimento de apreensão que a rodeia. É, pois, no mundo
da fantasia que ela pode encontrar refúgio e as respostas de suas frequentes
indagações, descobrindo que o meio em que vive é tão maravilhoso como o mundo
fantástico presente nas histórias. De acordo com as DCEs (2008, p. 76):
[...] um exemplo desse trabalho é a utilização, na sala de aula, de livros infanto-juvenis, cuja temática é o mágico. O professor apresenta textos em que o mágico não é apenas um mero recurso narrativo, mas um elemento importante na composição estética da obra, um fantástico que amplia a compreensão das relações humanas, como o elemento fantástico presente.
Quando se trata da área da literatura, nota-se que a criança procura por livros
que expressem suas inquietações e satisfaçam seus interesses, priorizando a leitura
de textos em que encontre um “lugarzinho” para desenvolver sua imaginação. Sob
esse ponto de vista, torna-se perfeitamente compreensível o fascínio exercido pelos
contos maravilhosos. O leitor infantil entende como verdadeiro o maravilhoso,
principalmente pelo uso do elemento metafórico e pelos significados simbólicos dos
elementos que constituem a narrativa. Ao enfrentar os conflitos propostos no texto
dos contos, a criança reflete, sofre, faz comparações, ama, repele, desfruta, toma
decisões. Portanto, o enredo auxilia no desenvolvimento de habilidades cognitivas
de afetos, na formação de valores.
É na fantasia que se encontra liberdade criativa e fugas que também
encontramos na realidade. Para Ferreira (2001, p. 16) “[...] a leitura só é produção
de sentidos quando se é capaz de relacioná-la com as observações – leitura – da
realidade já realizadas estabelecendo-se, portanto, uma relação dialógica como
texto”. A leitura dos contos escolhidos para este trabalho teve a intenção de
enriquecer a vida dos alunos participantes, possibilitando-lhes, assim, um
crescimento interior. Com as imagens “criadas” durante a leitura os educandos
tiveram a oportunidade de estruturar melhor seus pensamentos e comportamentos e
dar melhor direção às suas vidas.
4. INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA – FORMAS DE INCENTIVAR A LEITURA NA
ESCOLA
Tendo como suporte os estudos realizados durante o período dedicado ao
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, como as aulas na Universidade,
a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica, da Produção Didático
Pedagógica, além das orientações recebidas, é que foi realizada a Implementação
no Colégio estadual Carlos Gomes, com a turma de 6o ano, no primeiro semestre de
2013 e, concomitantemente a isso, acontecia o grupo de Trabalho em Rede (GTR),
o qual interagia conosco com sugestões, comentários, discussões, análises e
contribuições acerca do desenvolvimento das ações durante a Implementação.
O projeto buscou abordar as práticas discursivas (leitura, oralidade e escrita)
através do gênero textual conto, tendo como tema “O poder da representação nos
contos infantis e infanto-juvenis”. Para tanto, foram selecionados os seguintes
contos “Uma Ideia Toda Azul” e “A Moça tecelã”, ambos da escritora Marina
Colasanti e “A Bolsa Amarela” da autora Lygia Bojunga. O estudo desses contos
contribuiu para refletir e discutir sobre aspectos que são muito relevantes e
particulares no desenvolvimento da subjetividade da criança, fazendo com que o
tema abordado nas histórias pudesse ajudá-los a entender o seu próprio mundo e
solucionar certos impasses e dúvidas tão pertinentes nesta faixa etária.
Verificamos que os contos de Marina Colasanti possuem uma atmosfera
mágica, capaz de envolver tanto as crianças quanto os adultos em suas tramas
cheias de significados.
“Uma Ideia Toda Azul”, aparentemente, parece ser um conto de fácil leitura
pela estrutura da obra, mas não é tão simples assim; pelo contrário, trata-se de uma
narrativa bastante profunda e exige uma certa atenção, quando nos mostra que, às
vezes, nem a fantasia é capaz de solucionar alguns conflitos. Esse conto traz a
história de um rei que teve uma ideia e não sabia onde guardá-la com medo de que
alguém a encontrasse. O leitor é conduzido de tal forma que acaba se sentindo
cúmplice do rei, por mais absurda que seja a situação e tenta ajudá-lo a encontrar
um lugar para esconder essa tal ideia. O leitor acaba por participar das ações junto
com o rei, sem se dar conta se a aventura pertence ao mundo real ou
imaginado/irreal. Percebe-se, notadamente, um pouco de insatisfação das crianças
quanto à atitude do rei que, após vários anos e já idoso, deixa o trono, corre
atravessando os salões das Salas do Tempo, para buscar sua ideia.
O tema do texto “A Moça tecelã” é o fazer e o desfazer, ou ainda, tecer e
destecer destinos. Com a ajuda de seu tear a Tecelã traça todo seu universo,
inclusive seu destino, contudo quando ela se vê sufocada pelo materialista e
ambicioso marido que fora “tecido” por ela própria, decide desfazer tudo o que
traçara, os bens materiais e até mesmo o próprio marido, que fora tecido quando a
personagem se sentiu sozinha e pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.
A sensação de felicidade, porém durou pouco e logo ela percebeu que o
homem estava apenas interessado nas riquezas materiais que o tear lhe
proporcionava e com isso passou a exigir cada vez mais que a mulher trabalhasse
para concretizar seus sonhos ambiciosos. Manipulada pelo marido ela passou dias,
semanas e meses tecendo e já não tinha mais tempo para si, estava submetida a
atender os caprichos do homem.
No conto, a figura masculina oprime a personagem feminina, através das
exigências constantes, impedindo que a moça se volte ao seu universo natural. Com
isso ela se sente insatisfeita, e sem liberdade, o que faz com que ela resolva
destecer tudo o que tecera, e volte a viver sua vida de antes.
Uma característica muito presente nos contos de Marina Colasanti é a força
das personagens femininas. Na condição de protagonistas, elas são responsáveis
pelo desenrolar da narrativa. Elas são sempre determinadas, atuantes, ativas e
responsáveis. E é justamente deste modo que age a tecelã.
“A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, constitui-se de uma trama, cujo enredo
é rico em elementos do universo infantil, pois narra as situações vividas por Raquel
– personagem principal – que é uma menina que tem grandes desejos, que viviam
crescendo dentro dela, a vontade de crescer, de ser garoto e a de ser escritora. Ela
resolve guardar essas vontades dentro de uma bolsa amarela, para ninguém ver, e
assim ela descobre a liberdade e a autoafirmação. Através da fantasia ela denuncia
o mundo adulto, intolerante e repressivo.
A autora tece uma trama envolvente nesse conto em que tudo vai existindo
com tanta verossimilhança que fica difícil o leitor saber determinar os limites entre o
real e o imaginário, demonstrando o grande papel que o sonho, a fantasia e a
imaginação desempenham na vida do ser humano. A família, para a personagem,
constitui uma grande barreira, pois a autoridade e a submissão se manifestam de
forma expressiva. É um livro muito criativo, com uma riqueza de conteúdo muito
grande e muito agradável de ser lido tanto pelas crianças quanto pelos adultos.
Procuramos, agora, relatar como foram nossos estudos e encontros durante a
Implementação na escola, sendo que a primeira ação desempenhada foi a
apresentação da proposta para a direção, equipe pedagógica e professores na
semana pedagógica, no início do ano letivo.
Nas primeiras semanas de início das aulas foi feito o convite aos alunos da
turma a qual o trabalho fora destinado, foram informados de que eles seriam
contemplados com um projeto na área de Língua Portuguesa, em horário diferente
ao que eles estudavam, além dos dias e horários dos estudos. Assim, começávamos
nossa Implementação na escola, com muito entusiasmo e determinação. Para
realizar todas as ações foram necessários vários encontros no decorrer de três
meses.
Iniciamos com a apresentação da proposta do projeto para alunos, explicando
a eles a finalidade, os recursos que seriam utilizados, alguns procedimentos
metodológicos e os livros de contos que seriam lidos. Tudo bem preparado para
causar um impacto positivo nos envolvidos. E, deste modo, prosseguimos com os
trabalhos com a Unidade Didática, discutindo, primeiramente, sobre literatura e
literatura infanto-juvenil e o que eles conheciam desta literatura no Brasil. Em
seguida, um pouco da história do surgimento da literatura infantil e uma reflexão a
partir de alguns questionamentos sobre leitura. Na biblioteca da escola vimos as
obras de Monteiro Lobato e fizemos a leitura de sua biografia.
No encontro seguinte, primeiramente, foi realizada uma pesquisa sobre Os
Irmãos Grimm e suas obras. Vimos a sinopse do filme “Os Irmãos Grimm” e depois
assistimos ao filme na sala de vídeo, bem ambientado, com um clima de cinema. E,
logo após, os alunos, em grupos apresentaram sua anotações, comentários e
impressões sobre o filme. Foi um encontro muito bom, porém muito extenso.
No terceiro e quarto encontros, estudamos sobre o gênero literário conto,
suas características e tipos. Lemos a biografia da escritora Marina Colasanti, o conto
“Uma Ideia Toda Azul” e uma atividade oral sobre o conto. Alguns alunos tiveram
dificuldades, a princípio, na compreensão deste texto, por isso tivemos que intervir e
ajudá-los em alguns momentos. Mas a maioria conseguiu interpretar, fazer uma
relação com suas próprias vidas, argumentar e se posicionar contra as atitudes do
rei – personagem principal. Realizaram uma atividade em grupos para analisar os
elementos de uma narrativa. Confeccionaram cartazes com a frase, “Uma ideia toda
azul é...”, com esta frase eles puderam expressar livremente seus pensamentos e
emoções. E, para finalizar as atividades com este texto, criaram uma história, com o
mesmo tema e apresentaram-na à classe.
Nos dois encontros seguintes, realizamos atividade de pré-leitura, para
levantar hipóteses e criar expectativas sobre o título do próximo conto; a leitura do
conto; atividade de compreensão e uma de análise da estrutura composicional;
explicações e exemplos de contos pertencentes à linha do mágico e do maravilhoso;
uma definição de metáfora; discussão em grupos a partir das questões propostas;
produção escrita com o tema “Tecendo meu futuro”. Todas as atividades
relacionadas a este conto geraram discussões, comentários, análises, e foram
transportadas para o hoje através de comparações.
A partir deste momento começamos a estudar outro conto, “A bolsa amarela”
de Lygia Bojunga, lendo sua biografia e alguns trechos do conto, porque a maioria
dos alunos já tinham lido o livro em casa, pois não teríamos tempo suficiente para
fazê-lo todo em sala. Após a leitura, procuramos encaminhá-los a uma discussão
sobre o que se passa no interior da personagem, suas emoções ou repressões,
dando oportunidade para que manifestassem suas opiniões e indagações acerca do
comportamento e das ações imaginárias da personagem, fazendo inferências e
localizando informações explícitas. As questões elaboradas para a compreensão e
interpretação deste texto trouxeram à tona uma série de questionamentos, de
comparações, de confrontos e de incertezas, que fizeram com que cada um se visse
na personagem ou com algo parecido que ela tenha vivenciado na história. Depois
disso, a turma foi dividida e cada grupo pode fazer a dramatização de um dos contos
escolhidos. Eles puderam deixar a imaginação e a criatividade se manifestar nesse
momento, e meio que de improviso, sem ensaios e sem um cenário específico para
cada cena, fizeram a manifestação da literatura em arte.
Após todo o trabalho desenvolvido durante os encontros, este foi o momento
da retomada da proposta para a realização da produção final. Para desenvolver esta
tarefa foram várias aulas, para que pudéssemos atender as particularidades de cada
aluno individualmente, para orientá-los durante a escrita e, principalmente, na
reestruturação dos textos. Nesta parte da Implementação tivemos que ter muita
paciência, determinação e empenho para atingir os resultados esperados, mas valeu
todo esforço e dedicação porque eles ficaram entusiasmados com o resultado final.
Nosso último encontro foi para fazer a entrega da coletânea dos textos à
biblioteca do colégio. Nesse momento entregamos a eles um folder contendo
imagens e textos relacionados aos contos estudados, como lembrança pelo tempo
que passamos juntos. Pudemos contar com a presença de funcionários, da equipe
pedagógica e direção da escola para a solenidade de encerramento e
agradecimentos. Sem dúvida, foi um trabalho muito gratificante para todos os
envolvidos e conseguimos cumprir nossa tarefa e obter os resultados pretendidos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho desenvolvido junto aos alunos do 6o ano do Ensino Fundamental
procurou buscar, principalmente, um contato bem próximo da leitura através dos
contos selecionados com o intuito de que, esta proximidade com os textos fizesse
com que eles sentissem prazer no que estavam fazendo e, a partir disso,
descobrissem o quanto a leitura poderia fazer parte de suas vidas pessoais, como
seres que pensam, amam, sonham, sofrem. Buscamos revelar que a leitura da
literatura pode proporcionar momentos absolutamente mágicos e que os educandos,
com esta descoberta, viessem a tornar a leitura um hábito constante no seu
cotidiano.
Quando o leitor toma conhecimento por meio da leitura dos conflitos de um
rei, de uma moça que tece seu destino e uma menina com várias vontades dentro
dela, não está apenas dando asas à sua imaginação, mas sim enfrentando conflitos
próprios com os quais tenha se deparado, encontrando, possivelmente, na literatura,
elementos que de uma forma ou de outra auxiliam na resolução.
Além disso, desenvolvemos atividades para ampliar a capacidade de ler,
desenvolver a fluência, a entonação, o ritmo da leitura, além da construção de
sentidos, para descobrir o tema presente nos textos e a sua finalidade, para
melhorar a argumentação, a compreensão e a interpretação e, também, as
habilidades de escrita. Para Morais (1996, p. 12), “os prazeres da leitura são
múltiplos. Lemos para saber, para compreender, para refletir. [...], para nossa
emoção, para nossa perturbação. Lemos para compartilhar. Lemos para sonhar e
para aprender a sonhar [...]”. Tudo isso vem de encontro com o que procuramos
enfatizar em nosso projeto, ou seja, as muitas funções da leitura.
Os contos de fadas com sua carga simbólica ressaltam o papel que a
literatura deve ter para a criança. Esse papel disponibiliza para o leitor experiências
ricas que podem proporcionar autoconfiança em favor de seu próprio crescimento.
Como resultado podemos considerar que os nossos objetivos foram
alcançados, pois houve uma grande troca e interação, superando certas
dificuldades. Os textos propiciaram muitas reflexões e, em função disso,
percebemos o aumento da autoestima dos alunos, autoconfiança para a autoria das
produções textuais e uma contribuição generosa nas habilidades de leitura,
oralidade e escrita.
Nesse sentido, o fato de termos trabalhado com contos cujos temas
desencadeiam muitas discussões, proporcionou a participação e o interesse por
parte dos alunos que expuseram suas opiniões e até, inclusive, nos surpreendendo
com tamanha seriedade com que expunham seus argumentos em defesa de suas
ideias, por se tratarem ainda de pessoas de tão pouca idade e sem muita
experiência no domínio do discurso. Com certeza as leituras e discussões realizadas
em sala, por intermédio das obras literárias, contribuíram para que o trabalho fosse
muito significativo.
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