Livro ABC Do Cancer

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MINISTRIO DA SADE Instituto Nacional de Cncer (INCA)

Rio de Janeiro, RJ 2011

2011 Instituto Nacional de Cncer/ Ministrio da Sade. Todos os direitos reservados. A reproduo, adaptao, modificao ou utilizao deste contedo, parcial ou integralmente, so expressamente proibidas sem a permisso prvia, por escrito, do Instituto Nacional de Cncer e desde que no seja para qualquer fim comercial. Venda proibida. Distribuio gratuita. Esta obra pode ser acessada, na ntegra, na rea Temtica Controle de Cncer da Biblioteca Virtual em Sade - BVS/MS (http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/controle_cancer) e no Portal do INCA (http://www.inca.gov.br). Tiragem: 3.000 exemplares

Elaborao, distribuio e informaes MINISTRIO DA SADE INSTITUTO NACIONAL DE CNCER (INCA) Coordenao Geral de Aes Estratgicas Coordenao de Educao (CEDC) Rua Marqus de Pombal, 125 Centro 20230-092 - Rio de Janeiro RJ Tel.: (21) 3207-5500 www.inca.gov.br Coordenao de Contedo Luiz Claudio Santos Thuler Equipe de Elaborao No anexo

Edio Servio de Edio e Informao Tcnico-Cientfica/CEDC Rua Marqus de Pombal, 125 Centro 20230-092 - Rio de Janeiro RJ Tel.: (21) 3207-5500 Superviso Editorial Letcia Casado Edio e Produo Editorial Tas Facina Reviso Fabrcio Fuzimoto (estagirio de Produo Editorial) Maria Helena Rossi Oliveira Rita Machado Capa, Projeto Grfico e Diagramao Mariana Fernandes Teles Normalizao Bibliogrfica e Ficha Catalogrfica Iara Rodrigues de Amorim

Impresso no Brasil / Printed in Brazil Flama

FICHA CATALOGRFICAI59a Instituto Nacional de Cncer (Brasil). ABC do cncer : abordagens bsicas para o controle do cncer / Instituto Nacional de Cncer. Rio de Janeiro : Inca, 2011. 128 p. : il. ISBN 978-85-7318-187-6 (verso impressa) ISBN 978-85-7318-188-3 (verso eletrnica) 1. Comunicao em sade. 2. Neoplasias Preveno e controle. 3. Educao em sade. 4. Prospecto para educao de pacientes. I. Ttulo. CDD- 302.232

Catalogao na fonte Seo de Bibliotecas/ Coordenao de EducaoTtulos para indexao Em ingls: ABC of Cancer: Basic Approaches to the Cancer Control Em espanhol: El ABC del Cncer : Abordajes Bsicas para el Control del Cncer

AGRADECIMENTOSA Coordenao de Educao do Instituto Nacional de Cncer (CEDC/INCA) agradece a participao dos discentes do programa de Residncia Multiprofissional em Oncologia (Turma 2010) e do Curso de Especializao em Enfermagem em Oncologia (Turma 2011) na validao dos contedos do curso ABC do Cncer .

PREFCIOO Instituto Nacional de Cncer (INCA) tem o prazer e o orgulho de dividir com voc este compndio sobre o cncer. Segunda causa de bitos no pas, com tendncia de crescimento nos prximos anos, o cncer uma questo de sade pblica, principalmente ao se levar em considerao seu percentual de preveno: cerca de um tero dos casos novos de cncer no mundo poderia ser evitado. Por isso, a Coordenao de Educao (CEDC) do INCA desenvolveu o Curso a Distncia ABC do Cncer, cujo foco so os profissionais de nvel superior no especializados em oncologia e os alunos dos cursos de graduao e ps-graduao na rea da sade, com o objetivo de compartilhar o conhecimento da Instituio com quem atua diretamente na ponta da assistncia, na linha de frente dos ambulatrios e consultrios; e, por isso mesmo, com grande potencial de prevenir e detectar precocemente a doena. Em uma linguagem simples, dinmica e de fcil compreenso, o curso fornece informaes bsicas e objetivas abrangendo todos os principais aspectos do cncer: definio, preveno, tratamento, epidemiologia e polticas pblicas. Nosso objetivo que voc aproveite e aplique na prtica tais conhecimentos. Acima de tudo, buscamos aliados na luta constante que o controle do cncer no pas.

Luiz Antonio Santini

APRESENTAOAtualmente, o cncer um dos problemas de sade pblica mais complexos que o sistema de sade brasileiro enfrenta, dada a sua magnitude epidemiolgica, social e econmica. Ressalta-se que pelo menos um tero dos casos novos de cncer que ocorre anualmente no mundo poderia ser prevenido. A preveno e o controle da doena so, por esse motivo, prioridades na Agenda da Sade do Ministrio da Sade (MS). Nesse contexto, um dos compromissos do Instituto Nacional de Cncer (INCA) com a sade da populao brasileira participar ativamente das polticas do Sistema nico de Sade (SUS) e colaborar na constituio da rede de cuidados integrais sade. Dessa forma, ao se utilizar tecnologias de Educao a Distncia, o curso ABC do Cncer - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer objetiva, consolidando as polticas governamentais de educao em sade, oferecer um conjunto de informaes bsicas e objetivas que facilitem o entendimento da dimenso do cncer, das medidas para o controle da doena e das estratgias de governo para o enfrentamento do problema. Segundo o sentido dicionarizado, o curso traz: (A) abordagens uma forma de tratar alguma questo; (B) bsicas consideradas indispensveis, imprescindveis, fundamentais, essenciais, sendo dirigido (C) para o controle do cncer, para dar amplitude s dimenses que nele so abordadas: desde as polticas de sade e as estratgias de promoo, preveno, deteco precoce e diagnstico at o tratamento e os cuidados paliativos. Estruturado em cinco unidades, o curso autoinstrutivo e est disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem (Plataforma MOODLE). Instrues sobre inscrio no curso podem ser obtidas na pgina do INCA na Internet (www.inca.gov.br) ou por e-mail ([email protected]). Esta no a primeira vez que, no pas, se lana um texto com esse nome. Coincidentemente, h exatos 60 anos, o mdico e farmacutico Von Doellinger da Graa lanava O ABC do cncer um manual prtico de clnica e de tratamento. De l para c, muita coisa mudou, e o presente texto de apoio ao nosso ABC do Cncer quer compartilhar com os no iniciados (ou em vias de se iniciar) na Ateno Oncolgica o que h de mais atual no conhecimento sobre a doena. Boa leitura,

Luiz Claudio Santos Thuler

SUMRIOAGRADECIMENTOS............................................................................................................................03 PREFCIO...........................................................................................................................................05 APRESENTAO.................................................................................................................................07 LISTA DE ILUSTRAES......................................................................................................................13 UNIDADE I: O QUE O CNCER........................................................................................................15 1. INTRODUO ................................................................................................................................16 2. O QUE O CNCER......................................................................................................................17 2.1 - Cncer e crescimento celular.........................................................................................17 2.2 - Cncer: tipos de crescimento celular..............................................................................18 2.3 - Classificao das neoplasias...........................................................................................19 2.4 - Cncer in situ e cncer invasivo......................................................................................20 3. A FORMAO DO CNCER..........................................................................................................21 3.1 - Oncognese....................................................................................................................22 3.2 - Agentes cancergenos.....................................................................................................23 4. A EVOLUO DOS TUMORES.......................................................................................................23 4.1 - Estadiamento clnico......................................................................................................24 5. A NOMENCLATURA DOS TUMORES.............................................................................................29 6. OS PRINCIPAIS TIPOS DE CNCER................................................................................................30 7. PENSE NISSO................................................................................................................................34 UNIDADE II: MAGNITUDE DO PROBLEMA.....................................................................................35 1. INTRODUO...............................................................................................................................36 2. TRANSIO EPIDEMIOLGICA....................................................................................................37 2.1 - A mudana do perfil epidemiolgico ocorrida no Brasil................................................37 3. O NMERO DE CASOS NOVOS DE CNCER NO BRASIL...............................................................38 3.1 - Representao espacial..................................................................................................41

ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

4. A MORTALIDADE POR CNCER NO BRASIL..................................................................................41 4.1 - Mortalidade proporcional..............................................................................................42 4.2 - Anlise da mortalidade segundo diferentes aspectos...................................................43 5. A IMPORTNCIA DO REGISTRO DE DADOS..................................................................................45 6. PENSE NISSO................................................................................................................................45 UNIDADE III: AES DE CONTROLE................................................................................................47 1. INTRODUO..............................................................................................................................48 2. PREVENO.................................................................................................................................49 2.1 - Causas de cncer............................................................................................................49 2.2 - Classificao dos fatores de risco...................................................................................53 2.3 - Conhecimento em ao.................................................................................................56 3. DETECO PRECOCE....................................................................................................................57 3.1 - Diagnstico precoce.......................................................................................................58 3.2 - Rastreamento.................................................................................................................58 3.3 - Recomendaes para deteco precoce........................................................................59 3.4 - Conhecimento em ao................................................................................................65 4. DIAGNSTICO E TRATAMENTO....................................................................................................65 4.1 - Principais formas de tratamento....................................................................................66 4.2 - Conhecimento em ao.................................................................................................70 5. CUIDADOS PALIATIVOS................................................................................................................70 5.1 - Sinais e sintomas frequentes.........................................................................................71 5.2 - Quando indicar cuidados paliativos...............................................................................72 5.3 - Modelos de assistncia..................................................................................................72 5.4 - Conhecimento em ao..................................................................................................73 6. PENSE NISSO................................................................................................................................74 UNIDADE IV: A INTEGRAO DAS AES DE ATENO ONCOLGICA......................................75 1. INTRODUO..............................................................................................................................76 2. LINHAS DE CUIDADO...................................................................................................................77 2.1 - Desenho da histria natural da doena.........................................................................79 2.2 - Organizao das linhas de cuidado................................................................................80 2.3 - Funo das linhas de cuidado........................................................................................80 3. HIERARQUIZAO DAS AES E SERVIOS.................................................................................81

4. REGIONALIZAO DAS AES E SERVIOS..................................................................................83 5. PENSE NISSO................................................................................................................................83 UNIDADE V: POLTICAS, AES E PROGRAMAS PARA O CONTROLE DO CNCER NO BRASIL........................................................................................................................................85 1. INTRODUO..............................................................................................................................86 2. O SISTEMA NICO DE SADE......................................................................................................87 3. AS POLTICAS GERAIS QUE SE APLICAM AO CONTROLE DO CNCER..........................................90 3.1 - Pacto pela Sade............................................................................................................91 4. AS POLTICAS ESPECFICAS RELACIONADAS AO CONTROLE DO CNCER....................................94 5. PENSE NISSO................................................................................................................................94 REFERNCIAS.....................................................................................................................................95 GLOSSRIO.......................................................................................................................................103 ANEXO..............................................................................................................................................125SUMRIO

LISTA DE ILUSTRAESFIGURAS Figura 1 - Caranguejo.........................................................................................................................17 Figura 2 - Hipcrates..........................................................................................................................17 Figura 3 - Clulas cancerosas.............................................................................................................17 Figura 4 - Tipos de crescimento celular..............................................................................................18 Figura 5 - Diferenas entre tipos de tumores.....................................................................................19 Figura 6 - Metstase..........................................................................................................................20 Figura 7 - Mutao e cncer...............................................................................................................21 Figura 8 - Passo a passo do processo de carcinognese....................................................................22 Figura 9 - T (tumor primrio).............................................................................................................25 Figura 10 - N (linfonodos regionais)...................................................................................................26 Figura 11 - M (metstases a distncia)..............................................................................................27 Figura 12 - Tipos de cncer mais estimados para 2010/2011, exceto pele no melanoma, na populao brasileira......................................................................................................................38 Figura 13 - Representao espacial das taxas brutas de incidncia por 100 mil homens e mulheres estimadas para os anos 2010/2011, segundo a Unidade da Federao para todas as neoplasias.....................................................................................................................................41 Figura 14 - Distribuio proporcional das causas de morte - Brasil, 1930-2008................................42 Figura 15 - As dez principais causas de morte por cncer, segundo sexo, Brasil, 2008.....................43 Figura 16 - Causas de cncer..............................................................................................................50 Figura 17 - Estatstica sobre as principais causas de cncer...............................................................52 Figura 18 - Quimioterapia..................................................................................................................67 Figura 19 - Radioterapia....................................................................................................................68 Figura 20 - Histria natural da doena...............................................................................................79 QUADROS Quadro 1 - Principais diferenas entre tumores benignos e malignos..............................................20 Quadro 2 - Recomendaes para deteco precoce segundo a localizao do tumor......................59 Quadro 3 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de mama..................60 Quadro 4 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer do colo do tero.......60

ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

Quadro 5 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de clon e reto.........61 Quadro 6 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de boca.....................62 Quadro 7 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de pulmo................63 Quadro 8 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de prstata...............63 Quadro 9 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de estmago............64 Quadro 10 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de pele...................64 Quadro 11 - Exemplo sistematizado da linha de cuidado do cncer do colo do tero......................82 TABELAS Tabela 1 - Grupamento por estdios.................................................................................................28 Tabela 2 - Estimativas, para os anos 2010/2011, do nmero de casos novos de cncer, em homens e mulheres, segundo localizao primria....................................................................39 Tabela 3 - Nmero total de casos novos de cncer (exceto pele no melanoma) por regies do Brasil, 2010/2011............................................................................................................39 Tabela 4 - Nmero total de casos novos de cncer por Unidade de Federao, Brasil, 2010/2011..............................................................................................................................40 Tabela 5 - Mortalidade proporcional (%), segundo grupos de causas, 2008.....................................42 Tabela 6 - Nmero total de bitos por cncer, distribudo por faixa etria, homens e mulheres, Brasil, em 2007................................................................................................44

Unidade I

O que o cncer

O que o cncer1. INTRODUOVoc sabe o que o cncer e como ele se desenvolve em nosso corpo?Nesta unidade, voc ver que o termo cncer refere-se a uma variedade de doenas, com localizaes e aspectos biolgicos mltiplos. Voc vai conhecer ainda os principais termos utilizados no estudo do cncer e os aspectos mais relevantes dos tipos de cncer mais comuns.

2. O QUE O CNCERA palavra cncer vem do grego karknos, que quer dizer caranguejo (Figura 1), e foi utilizada pela primeira vez por Hipcrates, o pai da medicina (Figura 2), que viveu entre 460 e 377 a.C. O cncer no uma doena nova. O fato de ter sido detectado em mmias egpcias comprova que ele j comprometia o homem h mais de 3 mil anos antes de Cristo. Atualmente, cncer o nome geral dado a um conjunto de mais de 100 doenas, que tm em comum o crescimento desordenado de clulas (Figura 3), que tendem a invadir tecidos e rgos vizinhos.

Figura 1 - Caranguejo Fonte: Stock.xchng

Figura 2 - Hipcrates Fonte: U.S. National Library of Medicine, History of Medicine Division

Figura 3 - Clulas cancerosas Fonte: Science Photo Library

2.1 Cncer e crescimento celularAs clulas normais que formam os tecidos do corpo humano so capazes de se multiplicar por meio de um processo contnuo que natural. A maioria das clulas normais cresce, multiplica-se e morre de maneira ordenada, porm, nem todas as clulas normais so iguais: algumas nunca se dividem, como os neurnios; outras as clulas do tecido epitelial dividem-se de forma rpida e contnua. Dessa forma, a proliferao celular no implica necessariamente presena de malignidade, podendo simplesmente responder a necessidades especficas do corpo.

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ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

O que se entende por crescimento desordenado de clulas?O crescimento das clulas cancerosas diferente do crescimento das clulas normais. As clulas cancerosas, em vez de morrerem, continuam crescendo incontrolavelmente, formando outras novas clulas anormais. Diversos organismos vivos podem apresentar, em algum momento da vida, anormalidade no crescimento celular as clulas se dividem de forma rpida, agressiva e incontrolvel, espalhando-se para outras regies do corpo acarretando transtornos funcionais. O cncer um desses transtornos.

O cncer se caracteriza pela perda do controle da diviso celular e pela capacidade de invadir outras estruturas orgnicas.

2.2 Cncer: tipos de crescimento celularA proliferao celular pode ser controlada ou no controlada. No crescimento controlado, tem-se um aumento localizado e autolimitado do nmero de clulas de tecidos normais que formam o organismo, causado por estmulos fisiolgicos ou patolgicos. Nele, as clulas so normais ou com pequenas alteraes na sua forma e funo, podendo ser iguais ou diferentes do tecido onde se instalam. O efeito reversvel aps o trmino dos estmulos que o provocaram. A hiperplasia, a metaplasia e a displasia so exemplos desse tipo de crescimento celular (Figura 4).Clula geneticamente alterada

Hiperplasia

Displasia

Cncer in situ Vaso sanguneo

Cncer invasivo

Figura 4 - Tipos de crescimento celular Fonte: Ilustrao de Mariana F. Teles

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2.3 Classificao das neoplasiasComo se viu no item 2.2, a neoplasia uma proliferao anormal do tecido, que foge parcial ou totalmente ao controle do organismo e tende autonomia e perpetuao, com efeitos agressivos sobre o homem. Neoplasias podem ser benignas ou malignas (Figura 5). As neoplasias benignas ou tumores benignos tm seu crescimento de forma organizada, geralmente lento, expansivo e apresentam limites bem ntidos. Apesar de no invadirem os tecidos vizinhos, podem comprimir os rgos e tecidos adjacentes. O lipoma (que tem origem no tecido gorduroso), o mioma (que tem origem no tecido muscular liso) e o adenoma (tumor benigno das glndulas) so exemplos de tumores benignos. As neoplasias malignas ou tumores malignos manifestam um maior grau de autonomia e so capazes de invadir tecidos vizinhos e provocar metstases, podendo ser resistentes ao tratamento e causar a morte do hospedeiro.

Tumor benignoFigura 5 - Diferenas entre tipos de tumores Fonte: Ilustrao de Mariana F. Teles

Tumor maligno

O cncer uma neoplasia maligna.19

O QUE CNCER

No crescimento no controlado, tem-se uma massa anormal de tecido, cujo crescimento quase autnomo, persistindo dessa maneira excessiva aps o trmino dos estmulos que o provocaram. As neoplasias (cncer in situ e cncer invasivo) correspondem a essa forma no controlada de crescimento celular e, na prtica, so denominadas tumores.

ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

Quadro 1 - Principais diferenas entre tumores benignos e malignos

Tumor benignoFormado por clulas bem diferenciadas (semelhantes s do tecido normal); estrutura tpica do tecido de origem

Tumor malignoFormado por clulas anaplsicas (diferentes das do tecido normal); atpico; falta diferenciao

Crescimento progressivo; pode regredir; mitoses normais Crescimento rpido; mitoses anormais e numerosas e raras Massa bem delimitada, expansiva; no invade nem infiltra tecidos adjacentes No ocorre metstase Massa pouco delimitada, localmente invasivo; infiltra tecidos adjacentes Metstase frequentemente presente

2.4 Cncer in situ e cncer invasivoO cncer no invasivo ou carcinoma in situ o primeiro estgio em que o cncer pode ser classificado (essa classificao no se aplica aos cnceres do sistema sanguneo). Nesse estgio (in situ), as clulas cancerosas esto somente na camada de tecido na qual se desenvolveram e ainda no se espalharam para outras camadas do rgo de origem. A maioria dos cnceres in situ curvel se for tratada antes de progredir para a fase de cncer invasivo. No cncer invasivo, as clulas cancerosas invadem outras camadas celulares do rgo, ganham Tumor original a corrente sangunea ou linftica e tm a capaciClula tumoral Capilares dade de se disseminar para outras partes do corpo. Essa capacidade de invaso e disseminao que os Vasos tumorais tumores malignos apresentam de produzir outros Eliminao da tumores, em outras partes do corpo, a partir de um clula tumoral j existente, a principal caracterstica do cncer. Metstase Clula imune Tecido normal Esses novos focos de doena so chamados de metstases (Figura 6).Figura 6 - Metstase Fonte: Adaptado da ilustrao de Alexandre Giannini

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SAIBA MAIS Acesse o vdeo A Sabedoria e a Inteligncia do Cncer (http://www.youtube.com/watch?v=-aaTkr6Nyaw&feature=youtu.be) e saiba como as clulas se proliferam no interior do organismo humano.

3. A FORMAO DO CNCERUma clula normal pode sofrer uma mutao gentica, ou seja, alteraes no DNA dos genes. As clulas cujo material gentico foi alterado passam a receber instrues erradas para as suas atividades (Figura 7). Independentemente da exposio a agentes cancergenos ou carcingenos, as clulas sofrem processos de mutao espontnea, que no alteram seu desenvolvimento normal. As alteraes podem ocorrer em genes especiais, denominados proto-oncogenes, que, a princpio, so inativos em clulas normais. Quando ativados, os proto-oncogenes transformam-se em oncogenes, responsveis pela malignizao (cancerizao) das clulas normais. Essas clulas diferentes so denominadas cancerosas.Clula normal

Clulas neoplsicas1 mutao 2 mutao 3 mutao 4 mutao

Figura 7 - Mutao e cncer Fonte: Ilustrao de Mariana F. Teles

SAIBA MAIS Leia sobre como surge o cncer em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322 Leia sobre como se comportam as clulas cancerosas em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=318r

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O QUE CNCER

A capacidade invasiva das neoplasias malignas a principal responsvel pela dificuldade da erradicao cirrgica das mesmas.

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3.1 OncogneseO processo de formao do cncer chamado de carcinognese ou oncognese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vrios anos para que uma clula cancerosa se prolifere e d origem a um tumor visvel. Os efeitos cumulativos de diferentes agentes cancergenos ou carcingenos so os responsveis pelo incio, promoo, progresso e inibio do tumor. A carcinognese determinada pela exposio a esses agentes, em uma dada frequncia e perodo de tempo, e pela interao entre eles. Devem ser consideradas, no entanto, as caractersticas individuais, que facilitam ou dificultam a instalao do dano celular. Esse processo composto por trs estgios: Estgio de iniciao, no qual os genes sofrem ao dos agentes cancergenos. Estgio de promoo, no qual os agentes oncopromotores atuam na clula j alterada. Estgio de progresso, caracterizado pela multiplicao descontrolada e irreversvel da clula.

Estgio de iniciao:Os genes sofrem ao dos agentes cancergenosFigura 8 - Passo a passo do processo de carcinognese Fonte: Ilustrao de Mariana F. Teles

Estgio de promoo:Os agentes oncopromotores atuam na clula j alterada

Estgio de progresso:Caracterizado pela multiplicao descontrolada e irreversvel da clula

O perodo de latncia varia com a intensidade do estmulo carcinognico, com a presena ou ausncia dos agentes oncoiniciadores, oncopromotores e oncoaceleradores, e com o tipo e localizao primria do cncer.SAIBA MAIS Passo a passo do processo de carcinognese: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=319

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3.2 Agentes cancergenosA presena dos agentes cancergenos, por si s, no pode ser responsabilizada pelo desenvolvimento dos tumores. H, porm, casos em que isso acontece. Sabe-se que a exposio prolongada substncia qumica benzina pode aumentar o risco de produzir cncer na bexiga (principal tipo de cncer encontrado em trabalhadores das antigas indstrias de tintas, couros, borracha e papel que utilizavam benzina na sua fabricao), e o cncer de pulmo, que ocorre entre fumantes, em mais de 90% dos casos consequncia do tabagismo crnico. Esses dois exemplos remetem a dois conceitos utilizados na epidemiologia: causa necessria e causa suficiente, em que, para que um indivduo desenvolva uma doena, no basta a presena do agente especfico da doena em seu organismo. necessrio que, sobre o indivduo, atuem outras foras (ou causas) capazes de, em conjunto com o agente especfico, provocar a doena especfica. O agente especfico a causa necessria. As outras foras so ditas causas predisponentes. Causa necessria e causas predisponentes formam a causa suficiente. Assim, as doenas multicausais, como o cncer, podem ter distintas causas suficientes.O QUE CNCER

4. A EVOLUO DOS TUMORESO conhecimento da forma como evoluem ou crescem alguns tumores permite que eles sejam previstos ou identificados quando a leso ainda est na fase pr-neoplsica, ou seja, em uma fase em que a doena ainda no se desenvolveu. A evoluo do tumor maligno depende: Exposio a fatores de risco Da velocidade do crescimento tumoral. Do rgo onde o tumor est localizado. De fatores constitucionais de cada pessoa. De fatores ambientais etc. Desenvolvimento do Frente a essas caractersticas, os tumores podem ser detectados em tumor maligno diferentes fases: Fase pr-neoplsica (antes de a doena se desenvolver). Fase pr-clnica ou microscpica (quando ainda no h sintomas). Apresentao de Fase clnica (apresentao de sintomas). manifestaes clnicas23

ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

4.1 Estadiamento clnicoIndependente da fase em que o cncer detectado, h necessidade de se classificar cada caso de acordo com a extenso do tumor. O mtodo utilizado para essa classificao chamado de estadiamento e sua importncia est na constatao de que a evoluo da doena diferente quando a mesma est restrita ao rgo de origem ou quando se estende a outros rgos. O estadiamento pode ser clnico ou patolgico. Estadiar um caso de neoplasia maligna significa avaliar o seu grau de disseminao. Para tal, h regras internacionalmente estabelecidas, que esto em constante aperfeioamento.

Essa classificao permite ao mdico especialista em oncologia propor o tratamento mais adequado para cada paciente, uma vez que dois pacientes, com o mesmo tipo de cncer, mas com estadiamentos diferentes, podem ter diferentes propostas de tratamento.O sistema de estadiamento mais utilizado o preconizado pela Unio Internacional Contra o Cncer (UICC), denominado Sistema TNM de Classificao dos Tumores Malignos. Esse sistema baseia-se na extenso anatmica da doena, levando em conta as caractersticas do tumor primrio (T), as caractersticas dos linfonodos das cadeias de drenagem linftica do rgo em que o tumor se localiza (N) e a presena ou ausncia de metstase a distncia (M). Esses parmetros recebem graduaes, geralmente de T0 a T4; N0 a N3; e de M0 a M1, respectivamente.SAIBA MAIS Leia sobre estadiamento em: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=54

O estdio de um tumor reflete no apenas a taxa de crescimento e a extenso da doena, mas tambm o tipo de tumor e sua relao com o hospedeiro. Assim, alm do TNM, a classificao das neoplasias malignas deve considerar tambm: localizao, tipo histopatolgico, produo de substncias e manifestaes clnicas do tumor, alm do sexo, idade, comportamentos e caractersticas biolgicas do paciente.SAIBA MAIS Veja o livro TNM Classificao de Tumores Malignos, 6 edio em: http://www.inca.gov.br/tratamento/tnm/index.asp

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in situ in situ in situ

Figura 9 - T (tumor primrio) Fonte: Adaptado pelo Instituto Nacional de Cncer, a partir de material divulgado pela Secretaria Municipal de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro, em 2004, e atualizado de acordo com a 7 Edio do Estadiamento Clnico - TNM - UICC, 2010. Ilustrao de Henriqueta Rodrigues Rezende

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O QUE CNCER

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Figura 10 - N (linfonodos regionais) Fonte: Adaptado pelo Instituto Nacional de Cncer, a partir de material divulgado pela Secretaria Municipal de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro, em 2004, e atualizado de acordo com a 7 Edio do Estadiamento Clnico - TNM - UICC, 2010. Ilustrao de Henriqueta Rodrigues Rezende

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Figura 11 - M (metstases a distncia) Fonte: Adaptado pelo Instituto Nacional de Cncer, a partir de material divulgado pela Secretaria Municipal de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro, em 2004, e atualizado de acordo com a 7 Edio do Estadiamento Clnico - TNM - UICC, 2010. Ilustrao de Henriqueta Rodrigues Rezende

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O QUE CNCER

M (metstases a distncia)

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Tabela 1 - Grupamento por estdios

Estdio 0IA

TumorTis T1* T0 T1 T0

LinfonodoN0 N0 N1mic N1mic N1 N1 N0 N1 N0 N2 N2 N2 N1 N2 N0 N1 N2 N3 Qualquer N

MetstaseM0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M0 M1

I

IB

IIA

T1* T2

IIIIB

T2 T3 T0 T1*

IIIA

T2 T3

IIIIIIB IIIC

T3 T4 T4 T4 Qualquer T Qualquer T *T1 inclui T1mic

IV

Fonte: Adaptado pelo Instituto Nacional de Cncer, a partir de material divulgado pela Secretaria Municipal de Sade e Defesa Civil do Rio de Janeiro, em 2004, e atualizado de acordo com a 7 Edio do Estadiamento Clnico - TNM - UICC, 2010

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5. A NOMENCLATURA DOS TUMORESA nomenclatura dos diferentes tipos de cncer est relacionada ao tipo de clula que deu origem ao tumor. Como o corpo humano possui diferentes tipos de clulas que formam os tecidos, o nome dado aos tumores depende do tipo de tecido que lhes deu origem. Nos tumores benignos, a regra acrescentar o sufixo -oma (tumor) ao termo que designa o tecido que os originou. Exemplos: Tumor benigno do tecido cartilaginoso: condroma. Tumor benigno do tecido gorduroso: lipoma. Tumor benigno do tecido glandular: adenoma. Nos tumores malignos, considera-se a origem embrionria dos tecidos de que deriva o tumor: Tumores malignos originados dos epitlios de revestimento externo e interno so denominados carcinomas; quando o epitlio de origem glandular, passam a ser chamados adenocarcinomas. Exemplos: carcinoma de clulas escamosas, carcinoma basocelular, carcinoma sebceo. Tumores malignos originados dos tecidos conjuntivos (mesenquimais) tm o acrscimo de sarcoma ao final do termo que corresponde ao tecido. Exemplo: tumor do tecido sseo osteossarcoma. Ainda sobre a nomenclatura dos tumores, cabe ressaltar que, geralmente, alm do tipo histolgico, acrescenta-se a topografia. Por exemplo: Adenocarcinoma de pulmo. Adenocarcinoma de pncreas. Osteossarcoma de fmur. Entretanto, h excees. A nomenclatura dos tumores pode ser feita tambm das seguintes formas: Utilizando o nome dos cientistas que os descreveram pela primeira vez (ou porque sua origem celular demorou a ser esclarecida, ou porque os nomes ficaram consagrados pelo uso). Exemplos: linfoma de Burkitt, sarcoma de Kaposi e tumor de Wilms. Utilizando nomes sem citar que so tumores, como por exemplo: doena de Hodgkin; mola Hidatiforme e micose fungoide. Embora os nomes no sugiram sequer neoplasia, trata-se de tumores do sistema linftico, de tecido placentrio e da pele, respectivamente.O QUE CNCER

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ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

6. OS PRINCIPAIS TIPOS DE CNCERO cncer pode surgir em qualquer parte do corpo. Alguns rgos so mais afetados do que outros; e cada rgo, por sua vez, pode ser acometido por tipos diferenciados de tumor, mais ou menos agressivos. Os vrios tipos de cncer so classificados de acordo com a localizao primria do tumor. Exemplo: colo do tero, mama, pulmo. Para informaes sucintas sobre os tipos de cncer mais incidentes na populao brasileira, veja os tipos a seguir:

Cncer da cavidade oral (boca) o cncer que afeta os lbios e o interior da cavidade oral, o que inclui gengivas, mucosa jugal (bochechas), palato duro (cu da boca), lngua (principalmente as bordas), assoalho da lngua (regio embaixo da lngua) e amgdalas. O cncer dos lbios mais comum em pessoas brancas, ocorre mais frequentemente no lbio inferior e est associado exposio solar, ao tabagismo e ao etilismo.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/boca/definicao

Cncer de clon e reto (intestino)O cncer colorretal abrange tumores que acometem um segmento do intestino grosso (o clon) e o reto. tratvel e, na maioria dos casos, curvel, quando detectado precocemente, e quando ainda no atingiu outros rgos. Grande parte desses tumores se inicia a partir de plipos, leses benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso. Uma maneira de prevenir o aparecimento dos tumores a deteco e a remoo dos plipos antes de eles se tornarem malignos.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/colorretal/definicao

Cncer de esfagoNo Brasil, o cncer de esfago figura entre os dez mais incidentes (6 entre os homens e 9 entre as mulheres). O tipo de cncer de esfago mais frequente o carcinoma de clulas escamosas (tambm30

Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/esofago/definicao

Cncer de estmagoTambm denominado cncer gstrico. Os tumores do estmago se apresentam, predominantemente, na forma de trs tipos histolgicos: adenocarcinoma (responsvel por 95% dos tumores), linfoma (diagnosticado em cerca de 3% dos casos) e leiomiossarcoma (iniciado em tecidos que do origem aos msculos e aos ossos). O pico de incidncia se d, em sua maioria, em homens, por volta dos 70 anos de idade. Cerca de 65% dos pacientes diagnosticados com cncer de estmago tm mais de 50 anos. No Brasil, esses tumores aparecem em 3 lugar na incidncia entre homens e em 5 entre as mulheres. Dados estatsticos revelam declnio da incidncia em diferentes pases, incluindo o Brasil.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/estomago/definicao

Cncer de mamaSegundo tipo mais frequente no mundo, o cncer de mama o mais comum entre as mulheres. Se diagnosticado e tratado precocemente, o prognstico relativamente bom. O envelhecimento seu principal fator de risco. Os fatores de risco relacionados vida reprodutiva da mulher (menarca precoce, no ter tido filhos, idade da primeira gestao a termo acima dos 30 anos, uso de anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia de reposio hormonal) esto bem estabelecidos em relao ao desenvolvimento do cncer de mama.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_controle_cancer_mama/

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O QUE CNCER

chamado de carcinoma escamoso, carcinoma epidermoide ou carcinoma espinocelular), responsvel por 96% dos casos. Outro tipo, o adenocarcinoma, vem aumentando significativamente.

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Cncer de pele do tipo melanomaO melanoma cutneo um tipo de cncer de pele que tem origem nos melancitos (clulas produtoras de melanina, substncia que determina a cor da pele) e tem predominncia em adultos brancos. O melanoma representa apenas 4% das neoplasias malignas da pele, sendo o tipo mais grave devido sua alta possibilidade de metstase. O prognstico desse tipo de cncer pode ser considerado bom, se detectado nos estdios iniciais. Nos ltimos anos, houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes com melanoma, principalmente devido deteco precoce do tumor.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/pele_melanoma

Cncer de pele no melanoma o cncer mais frequente no Brasil, e corresponde a cerca de 25% de todos os tumores malignos registrados no pas. Apresenta altos percentuais de cura, se for detectado precocemente. Entre os tumores de pele, o tipo no melanoma o de maior incidncia e menor mortalidade. O cncer de pele mais comum em pessoas com mais de 40 anos, sendo relativamente raro em crianas e negros, com exceo daqueles portadores de doenas cutneas prvias. Pessoas de pele clara, sensveis ao dos raios solares, so as principais acometidas. Como a pele - maior rgo do corpo humano - heterognea, o cncer de pele no melanoma pode apresentar tumores de diferentes linhagens. Os mais frequentes so o carcinoma basocelular (responsvel por 70% dos diagnsticos) e carcinoma de clulas escamosas ou carcinoma epidermoide (representando 25% dos casos). O carcinoma basocelular, apesar de ser o mais incidente, tambm o menos agressivo.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/pele_nao_melanoma

Cncer de prstataMais do que qualquer outro tipo, o cncer de prstata considerado um cncer da terceira idade, j que cerca de trs quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidncia no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evoluo dos mtodos diagnsticos (exames),32

Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/prostata

Cncer de pulmo o mais comum de todos os tumores malignos, apresentando aumento de 2% ao ano na incidncia mundial. Em 90% dos casos diagnosticados, o cncer de pulmo est associado ao consumo de derivados de tabaco. Altamente letal, a sobrevida mdia cumulativa total em cinco anos varia entre 13% e 21% em pases desenvolvidos e entre 7% e 10% nos pases em desenvolvimento. No fim do sculo XX, o cncer de pulmo se tornou uma das principais causas de morte evitveis em todo o mundo. Evidncias na literatura cientfica mostram que pessoas com cncer de pulmo apresentam risco aumentado para desenvolver um segundo cncer de pulmo e que irmos e filhos de pessoas que tiveram cncer de pulmo apresentam risco levemente aumentado de desenvolvimento desse cncer. Entretanto, difcil estabelecer o quanto desse maior risco decorre de fatores hereditrios e o quanto por conta do hbito de fumar.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/pulmao

Cncer do colo do teroO cncer do colo do tero, tambm chamado de cncer cervical, demora muitos anos para se desenvolver. As alteraes das clulas que podem desencadear o cncer so descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido tambm como exame de Papanicolaou), por isso importante a sua realizao peridica a cada trs anos aps dois exames anuais consecutivos negativos. A principal alterao que pode levar a esse tipo de cncer a infeco pelo Papilomavrus Humano (HPV), com alguns subtipos de alto risco e relacionados a tumores malignos.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_nacional_controle_cancer_colo_utero/

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O QUE CNCER

pela melhoria na qualidade dos sistemas de informao do pas e pelo aumento na expectativa de vida. Alguns desses tumores podem crescer de forma rpida, espalhando-se para outros rgos e podendo levar morte. A maioria, porm, cresce de forma to lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm) que no chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaar a sade do homem.

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LeucemiasDoena maligna dos glbulos brancos (leuccitos) do sangue. Sua principal caracterstica o acmulo de clulas jovens anormais na medula ssea, que substituem as clulas sanguneas normais. Obs.: a medula ssea produz as clulas que do origem s clulas sanguneas, que so os glbulos brancos, os glbulos vermelhos e as plaquetas.Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/leucemia/definicao

7. PENSE NISSO O cncer, como voc viu, pode surgir em qualquer parte do corpo. Existem mais de 100 tipos diferentes de cncer, cada um com caractersticas clnicas e biolgicas diversas, que devem ser estudadas para que o diagnstico, o tratamento e o seguimento sejam adequados. Ainda existem muitas ideias erradas sobre a doena. A palavra cncer traz em si alguns mitos. Muitas vezes, a m interpretao de fatos relacionados ao cncer ou uma generalizao de um caso isolado da doena, assim como especulaes, acabam por fazer com que essas ideias, e at mesmo crenas, se apresentem como verdades. Todo profissional de sade deve ter conhecimentos slidos sobre o cncer para que possa informar, cuidar e encaminhar corretamente seus pacientes. Face gravidade da situao do cncer como problema de sade que atinge toda a populao, todos os profissionais de sade, em maior ou menor grau, so responsveis pelo sucesso das aes de controle da doena.

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Unidade II

Magnitude do problema

Magnitude do problema1. INTRODUOVoc tem noo do tamanho do problema que o cncer representa?Nesta Unidade, voc vai tomar conhecimento de uma srie de dados que traduzem a magnitude do cncer no Brasil. a partir das informaes sobre o nmero de casos novos (incidncia), de casos existentes (prevalncia) e de bitos (mortalidade) por cncer que se define sua importncia epidemiolgica para a coletividade e que ele classificado como um problema de sade pblica. Somente a partir de informaes de qualidade sobre a morbidade e a mortalidade de uma doena que medidas efetivas para seu controle podem ser estabelecidas.

2. TRANSIO EPIDEMIOLGICANas ltimas dcadas, vm ocorrendo no Brasil mudanas nas causas de mortalidade e morbidade, em conjunto com outras transformaes demogrficas, sociais e econmicas. Esse fenmeno chamado de transio epidemiolgica ou mudana do perfil epidemiolgico. Esse processo engloba, basicamente, trs mudanas: Aumento da morbimortalidade pelas doenas e agravos no transmissveis e pelas causas externas. Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens para grupos mais idosos. Transformao de uma situao em que predomina a mortalidade, para outra na qual a morbidade dominante, com grande impacto para o sistema de sade.

O cncer est entre as doenas no transmissveis responsveis pela mudana do perfil de adoecimento da populao brasileira.

2.1 A mudana do perfil epidemiolgico ocorrida no BrasilVrios fatores explicam a participao do cncer na mudana do perfil de adoecimento da populao brasileira. Entre eles, podemos citar: A maior exposio a agentes cancergenos: os atuais padres de vida adotados em relao ao trabalho, alimentao e ao consumo, de modo geral, expem os indivduos a fatores ambientais (agentes qumicos, fsicos e biolgicos) resultantes de mudanas no estilo de vida das pessoas e do processo de industrializao cada vez mais intenso. O prolongamento da expectativa de vida e o envelhecimento populacional esto relacionados com: - A reduo do nmero mdio de filhos (nascidos vivos) por mulher em idade reprodutiva. - A melhoria das condies econmicas e sociais, refletindo tambm na melhoria de saneamento das cidades. - A evoluo da medicina e o uso de antibiticos e vacinas. O aprimoramento dos mtodos para se diagnosticar o cncer. O aumento no nmero de bitos pela doena. A melhoria da qualidade e do registro da informao. Atualmente, registra-se o aumento da incidncia de cnceres associados ao melhor nvel socioeconmico mama, prstata e clon e reto ao mesmo tempo em que se observam taxas de incidncia elevadas37

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de tumores geralmente associados a condies sociais menos favorecidas colo do tero, estmago, cabea e pescoo.SAIBA MAIS Breve introduo epidemiologia: http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/index.html Anlise da situao da sade: http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/02_01.html

3. O NMERO DE CASOS NOVOS DE CNCER NO BRASILO nmero de casos novos de cncer cresce a cada ano. Para 2011, a estimativa do INCA a ocorrncia de 489.270 casos novos de cncer no Brasil. A estimativa de casos novos de cncer pode ser analisada sob diferentes aspectos, conforme descrito a seguir.

a) Por localizao primria do tumor e sexoComo voc pode observar na Figura 12 e na Tabela 2, os tipos de cncer mais incidentes (exceto pele no melanoma), por localizao primria e gnero, esperados para 2010/2011, no Brasil, so: Homens prstata, pulmo e estmago. Mulheres mama, colo do tero e clon e reto.60.000 50.000 40.000 Feminino Masculino

Nmero de casos

30.000 20.000 10.000 0

Mama Feminina

Prstata

Traqueia, Bronquio e Pulmo

Clon e Reto

Estmago

Colo do tero

Cavidade Oral

Esfago

Leucemias

Pele Melanoma

Figura 12 - Tipos de cncer mais estimados para 2010/2011, exceto pele no melanoma, na populao brasileira Fonte: INCA, 2009

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Tabela 2 - Estimativas, para os anos 2010/2011, do nmero de casos novos de cncer, em homens e mulheres, segundo localizao primria

Localizao primriaMasculinoPrstata Mama feminina Traqueia, brnquios e pulmes Clon e reto Estmago Colo do tero Cavidade oral Esfago Leucemias Pele melanoma Outras localizaes

Estimativas de casos novosFeminino52.350 17.800 13.310 13.820 10.330 7.890 5.240 2.960 59.130 182.830 53.410 236.240 49.240 9.830 14.800 7.680 18.430 3.790 2.740 4.340 2.970 78.770 192.590 60.440 253.030

Total52.350 49.240 27.630 28.110 21.500 18.430 14.120 10.630 9.580 5.930 137.900 375.420 113.850 489.270 MAGNITUDE DO PROBLEMA

SubtotalPele no melanoma

Todas as neoplasiasFonte: INCA, 2009

b) Por regio geogrficaAs estimativas de cncer (Tabela 3) so de grande importncia. A partir delas, aes para o controle dos tipos de cncer mais esperados podem ser planejadas e tanto os servios de sade quanto os profissionais em sade podem se preparar para oferecer as diversas modalidades de atendimento populao.

Tabela 3 - Nmero total de casos novos de cncer (exceto pele no melanoma) por regies do Brasil, 2010/2011

RegioSudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte

Estimativas de casos novos202.340 77.880 57.890 22.510 14.800 375.420

BRASILFonte: INCA, 2009

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Tabela 4 - Nmero total de casos novos de cncer por Unidade de Federao, Brasil, 2010/2011

EstadosAcre Alagoas Amap Amazonas Bahia Cear Distrito Federal Esprito Santo Gois Maranho Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Par Paraba Paran Pernambuco Piau Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondnia Roraima Santa Catarina So Paulo Sergipe Tocantins

Mama Feminina

Traqueia, Brnquio e Pulmo

Estmago

Colo do tero

Prstata

Clon e Reto

Esfago

Leucemias

Cavidade Oral

Pele Outras Melanoma Localizaes

40 350 40 310 1.970 1.660 670 820 1.070 390 400 550 4.250 640 550 2.990 2.120 350 7.470 540 4.750 160 40 1.570 15.080 340 120

50 200 50 290 850 860 300 500 770 270 330 360 2.310 390 220 1.950 880 210 3.300 290 3.960 160 30 1.320 7.500 170 110

40 140 70 320 990 1.170 240 520 480 310 260 290 2.000 650 320 1.700 760 150 2.060 310 1.490 120 30 900 5.980 130 70

50 270 60 560 1.030 860 230 440 540 730 330 310 1.330 790 300 1.250 1.020 350 2.080 230 1.250 120 50 610 3.190 260 190

90 450 60 430 2.970 2.240 560 1.040 1.360 690 710 800 5.350 700 790 3.620 2.470 680 6.020 760 4.510 270 70 1.690 13.160 520 340

20 120 20 160 820 530 370 480 640 170 220 350 2.250 290 180 2.060 720 140 3.920 230 3.130 60 20 960 10.070 130 50

20 60 20 40 410 350 90 290 230 60 120 140 1.420 80 130 1.030 320 60 990 100 1.450 50 20 520 2.520 40 30

20 120 20 120 440 380 120 180 270 190 130 130 940 260 170 650 390 120 940 190 780 50 20 360 2.450 70 70

20 130 20 80 790 500 150 340 350 90 150 150 1.180 190 240 1.010 580 110 1.950 210 1.050 50 20 450 4.120 160 30

20 30 20 30 120 110 60 90 100 20 40 50 460 50 40 610 120 30 400 30 930 20 20 480 1.990 40 20

100 540 170 1.750 3.720 2.730 2.140 2.620 2.840 1.620 1.360 1.750 16.870 1.670 900 8.960 3.820 320 15.950 450 16.770 600 200 3.080 45.520 680 770

BrasilFonte: INCA, 2009

49.240

27.630

21.500

18.430

52.350

28.110

10.630

9.580

14.120

5.930 137.900

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3.1 Representao espacialA representao espacial das taxas brutas de incidncia por 100 mil homens e mulheres estimadas para os anos 2010/2011, segundo a Unidade da Federao, para todas as neoplasias, apresentada na Figura 13.

Homens241,84 - 437,79 184,19 - 241,83 137,91 - 184,18 79,91 - 137,9

Mulheres247,02 - 419,19 186,3 - 247,01 141,26 - 186,29 99,78 - 141,25

Figura 13 - Representao espacial das taxas brutas de incidncia por 100 mil homens e mulheres estimadas para os anos 2010/2011, segundo a Unidade da Federao para todas as neoplasias Fonte: Disponvel em: http://www1.inca.gov.br/estimativa/2010/index.asp?link=mapa.asp&ID=14

4. A MORTALIDADE POR CNCER NO BRASILNo Brasil, a mortalidade por neoplasias vem crescendo consideravelmente ao longo das ltimas dcadas, ao mesmo tempo em que diminuram as mortes por doenas infectoparasitrias, o que pode ser observado no grfico a seguir.

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MAGNITUDE DO PROBLEMA

ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

Figura 14 - Distribuio proporcional das causas de morte - Brasil, 1930-2008 Fontes : Histria e Sude Pblica - Fonseca - 1987; SIM (Sistema de Informao sobre Mortalidade)

4.1 Mortalidade proporcionalEm 2008, de acordo com as informaes de mortalidade (Tabela 5), segundo o grupo de causas (CID 10), as neoplasias (tumores) representaram a segunda causa de bito na populao (exceto as Demais causas definidas), o que representa mais de 14,6% do total de mortes ocorridas no pas.Tabela 5 - Mortalidade proporcional (%), segundo grupos de causas, 2008

Grupo de CausasDoena do aparelho circulatrio Neoplasias (tumores) Causas externas de morbilidade e mortalidade Doenas do aparelho respiratrio Doenas endcrinas nutricionais e metablicas Doenas do aparelho digestivo Algumas doenas infecciosas e parasitrias Algumas afeces originadas no perodo perinatal

Total29,51% 15,57% 12,62% 9,75% 6,00% 5,13% 4,39% 2,42%

Demais causas definidas

14,61%

TotalFonte: SIM (Sistema de Informao sobre Mortalidade)

100,00%

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4.2 Anlise da mortalidade segundo diferentes aspectosA mortalidade por cncer no Brasil pode ser analisada sob vrios aspectos, entre eles: Mortalidade conforme a localizao primria do tumor. Mortalidade por faixa etria e sexo.

a) Mortalidade conforme a localizao primria do tumorO cncer uma doena que pode acometer diversos rgos do corpo. O rgo onde diagnosticado o tumor reconhecido como a localizao primria da doena. Os cnceres de pulmo, estmago, prstata, clon e reto e mama aparecem entre as cinco maiores causas de mortalidade por cncer na populao brasileira. As trs principais causas de bito por cncer entre os homens, em 2008, foram: em 1 lugar o cncer de traqueia, brnquios e pulmes, seguido por cncer de prstata e cncer de estmago. As trs maiores causas de bito por cncer entre as mulheres, em 2008, foram: em 1 lugar o cncer de mama, seguido por cncer de traqueia, brnquios e pulmes e cncer de clon e reto.MAGNITUDE DO PROBLEMA

HomensTraqueia, brnquios e pulmes Prstata Estmago Clon e reto Esfago Fgado e vias biliares intra-hepticas Cavidade oral SNC Pncreas Laringe Outras 15,3% 14,1% 9,7% 6,8% 6,5% 4,6% 4,2% 4,2% 3,9% 3,7% 27,0% 85.988

MulheresMama Traqueia, brnquios e pulmes Clon e reto Colo do tero Estmago Pncreas SNC Fgado e vias biliares intra-hepticas Localizao primria desconhecida Ovrio Outras 16,0% 10,0% 8,6% 6,6% 6,1% 4,6% 4,5% 4,2% 4,0% 3,9% 31,3% 73.775

Total

Total

Figura 15 - As dez principais causas de morte por cncer, segundo sexo, Brasil, 2008 Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/Sistema de Informao sobre Mortalidade - SIM MS/INCA/Conprev/Diviso de Informao e Anlise de Situao

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b) Mortalidade por faixa etria e sexoEsse tipo de anlise permite conhecer a distribuio percentual dos bitos por cncer em cada faixa etria, por sexo, na populao residente em determinado espao geogrfico, no ano considerado. Refletindo sobre os nmeros: O menor nmero de bitos na faixa etria entre 0 a 19 anos est diretamente relacionado com a baixa ocorrncia de cncer em crianas e adolescentes quando comparado ao nmero de casos da doena entre os adultos e idosos. O deslocamento da concentrao de bitos para grupos etrios cada vez mais elevados reflete a reduo da mortalidade em idades jovens sobretudo adultos jovens e o consequente aumento da expectativa de vida da populao.Tabela 6 - Nmero total de bitos por cncer, distribuido por faixa etria, homens e mulheres, Brasil, em 2007

Faixa etria00 a 04 05 a 09 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 ou mais Idade Ignorada

Homens388 392 383 535 1.354 2.290 7.176 16.074 22.125 23.412 16.018 29

Mulheres357 281 304 371 1.322 3.535 8.851 14.204 16.956 17.333 13.957 19

Nmero de bitos

Importncia desse indicador: Identificar a necessidade de estudos sobre as causas de morte por idade e sexo. Subsidiar processos de planejamento, gesto e avaliao de polticas de sade voltados para grupos etrios especficos. Voc pode analisar outros dados em relao mortalidade por cncer explorando o Atlas de Mortalidade por Cncer no site do INCA: http://mortalidade.inca.gov.br/

Total

90.176

77.490

Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE/ Sistema de Informao Mortalidade - SIM MP / Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE/MS/ INCA/Conprev/Diviso de Informao

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5. A IMPORTNCIA DO REGISTRO DE DADOSUma poltica pblica para enfrentamento dos problemas de sade necessita de uma base de informaes confivel, que sustente e direcione a tomada de deciso. Informaes precisas e constantemente atualizadas so o ponto de partida para a identificao dos determinantes do processo sade-doena, das desigualdades em sade e do impacto de aes e programas para reduzir a carga de doena na populao. nesse sentido que atua a rea de Vigilncia em Sade Pblica, acompanhando sistematicamente os eventos adversos sade na comunidade, com o propsito de implementar e aprimorar medidas de controle. A vigilncia do cncer realizada por meio da implantao, acompanhamento e aprimoramento dos Registros de Cncer de Base Populacional (RCBPs) e dos Registros Hospitalares de Cncer (RHCs). Os registros possibilitam conhecer os novos casos e realizar estimativas de incidncia do cncer, dados fundamentais para o planejamento das aes locais de controle do cncer de acordo com cada regio. No Brasil, existem hoje mais de 20 localidades que possuem RCBPs e coletam dados de uma populao especfica (com diagnstico de cncer) em uma rea geogrfica delimitada. Os RHCs so implantados nos hospitais e funcionam como centros de coleta, processamento, anlise e divulgao de informaes sobre a doena, de forma padronizada, sistemtica e contnua.SAIBA MAIS Registros de Cncer de Base Populacional: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=353 Registros Hospitalares de Cncer: http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=351

6. PENSE NISSO Uma situao de sade que leva um grande nmero de pessoas a adoecer e morrer deve ser conhecida e enfrentada por todos os que trabalham na rea da Sade. Registros de informaes e notificaes so fundamentais para melhor compreenso sobre a doena e seus determinantes e para a formulao de polticas de sade. O esforo de manuteno de uma base de dados atualizada deve ser feito em todos os nveis de atendimento. Todo profissional de sade pode manter-se atualizado sobre o perfil de adoecimento da populao, suas condies de sade e os cuidados disponibilizados, consultando periodicamente os Cadernos de Informaes de Sade do Ministrio da Sade em:45

MAGNITUDE DO PROBLEMA

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http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/cadernos/cadernosmap.htm?saude=http%3A%2F%2Ftabnet.datasus. gov.br%2Ftabdata%2Fcadernos%2Fcadernosmap.htm&botaook=OK&obj=http%3A%2F%2Ftabnet.datasus. gov.br%2Ftabdata%2Fcadernos%2Fcadernosmap.htm Quando o governo entende que uma doena um srio problema de sade, que afeta grande parte da populao, ele desenvolve Programas de Sade e Planos de Ao para preveni-la, diagnostic-la e tratar e cuidar daqueles que adoecem. Contudo, nenhum plano, programa ou servio de sade, por mais bem esboado e organizado que seja, consegue atingir seus objetivos e metas se os profissionais de sade no assumirem seu papel no seu mbito de atuao. Face gravidade da situao do cncer como problema de sade que atinge toda a populao, todos os profissionais de sade, em maior ou menor grau, so responsveis pelo sucesso das aes de controle da doena.

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Unidade III

Aes de controle

Aes de controle1. INTRODUOVoc sabe que aes so eficientes para o controle do cncer? Voc sabe quais delas dependem de voc?Trataremos aqui dos fatores de risco relacionados ao desenvolvimento de cnceres e das recomendaes mais comuns nas diversas modalidades de interveno para controle da doena. O foco aqui iniciar a prtica da suspeita. Isso porque pessoas sem sinais e sintomas clnicos podem estar com cncer. Assim, conhecer fatores que podem promover ou colocar a sade em risco e saber que, em alguns casos, pode-se detectar a doena antes do seu surgimento, aumenta a possibilidade de oferecer os cuidados e tratamento adequados. A expectativa de que os conhecimentos sistematizados a partir dessas informaes tragam mais segurana para o enfrentamento do problema.

2. PREVENOPrevenir o cncer possvel? A Organizao Mundial da Sade (OMS) considera que cerca de 40% das mortes por cncer poderiam ser evitadas, o que faz da preveno um componente essencial de todos os planos de controle do cncer. Uma vez que o cncer uma doena cujo processo tem incio com um dano a um gene ou a um grupo de genes de uma clula e progride quando os mecanismos do sistema imunolgico de reparao ou destruio celular falham, a pergunta que cabe ento : quais fatores podem contribuir para o desenvolvimento do cncer? Dessa forma, a preveno do cncer, que ser tratada nesta unidade, refere-se a um conjunto de medidas para reduzir ou evitar a exposio a fatores que aumentam a possibilidade de um indivduo desenvolver uma determinada doena ou sofrer um determinado agravo, comumente chamados de fatores de risco. Os fatores de risco de cncer podem ser encontrados no ambiente fsico, ser herdados, ou representar comportamentos ou costumes prprios de um determinado ambiente social e cultural. A preveno com nfase nos fatores associados ao modo de vida, em todas as idades, e com intervenes de combate a agentes ambientais e ocupacionais cancergenos, pode trazer bons resultados na reduo do cncer.

2.1 Causas de cncerAtualmente, a definio de risco para a sade vem sendo ampliada e engloba vrias condies que podem ameaar os nveis de sade de uma populao ou mesmo sua qualidade de vida. O risco de cncer, em uma determinada populao, depende das condies sociais, ambientais, polticas e econmicas que a rodeiam, bem como das caractersticas biolgicas dos indivduos que a compem. Essa compreenso essencial na definio de investimentos em pesquisas de avaliao de risco e em aes efetivas de preveno. Mesmo se considerarmos que o conhecimento do mecanismo causal dos diversos tipos de cncer no seja completo, na prtica, do ponto de vista da sade pblica, a identificao de apenas um componente pode ser suficiente para grandes avanos na preveno, a partir da escolha de medidas preventivas. Em algumas ocasies, por precauo, poderamos tomar atitudes em favor da proteo da sade da populao at mesmo antes que qualquer componente do mecanismo causal seja descoberto.49

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Em contrapartida aos fatores de risco, h fatores que do ao organismo a capacidade de se proteger contra determinada doena, da serem chamados fatores de proteo. So fatores de proteo, por exemplo, o consumo de frutas, legumes e verduras. O estudo dos fatores de risco e de proteo, isolados ou combinados, tem permitido estabelecer relaes de causa-efeito com determinados tipos de cncer; porm, trs aspectos devem ser enfatizados: Nem sempre a relao entre a exposio a um ou mais fatores de risco e o desenvolvimento de uma doena reconhecida facilmente, especialmente quando se presume que a relao se d com comportamentos sociais comuns, como a alimentao, por exemplo. Nas doenas crnicas, como o cncer, as primeiras manifestaes podem surgir aps muitos anos de uma nica exposio (radiaes ionizantes, por exemplo) ou exposies contnuas (radiao solar ou tabagismo, por exemplo) aos fatores de risco. Por isso, importante considerar o conceito de perodo de latncia, isto , o tempo decorrido entre a exposio ao fator de risco e o surgimento Figura 16 - Causas de cncer Fonte: Ilustrao de Mariana F. Teles da doena. As causas de cncer so variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas (Figura 16).

Causas externasAs causas externas, como substncias qumicas, irradiao, vrus e fatores comportamentais, esto relacionadas ao meio ambiente, ou seja, constituem os fatores de risco ambientais. De todos os casos de cncer, 80% a 90% esto associados a fatores ambientais. Alguns desses fatores so bem conhecidos:

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Causas internasAs causas internas, como os hormnios, condies imunolgicas e mutaes genticas so, na maioria das vezes, geneticamente predeterminadas e esto ligadas capacidade do organismo de se defender das agresses externas. Apesar de o fator gentico exercer um importante papel na formao dos tumores (oncognese), so raros os casos de cncer que se devem exclusivamente a fatores hereditrios, familiares e tnicos. Alguns tipos de cncer, como, por exemplo, os cnceres de mama, estmago e intestino, parecem ter um forte componente familiar, embora no se possa afastar a hiptese de exposio dos membros da famlia a uma causa comum. Existem ainda alguns fatores genticos que tornam determinadas pessoas mais susceptveis ao dos agentes cancergenos ambientais. Isso parece explicar por que algumas delas desenvolvem cncer e outras no, quando expostas a um mesmo carcingeno.51

AES DE CONTROLE

O cigarro pode causar cncer de pulmo (cerca de 90% dos cnceres de pulmo so causados pelo cigarro) e muitos outros tipos de cncer. O uso de bebidas alcolicas pode causar cncer de boca, orofaringe e laringe (principalmente quando associado ao fumo), esfago e fgado. A exposio excessiva ao sol pode causar cncer de pele. Alguns vrus tambm podem causar cncer (exemplo: leucemia, cncer do colo do tero e cncer de fgado). A irradiao tambm pode causar cncer: a incidncia e a mortalidade por cncer nos habitantes das cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japo, aps a exploso da bomba atmica (no fim da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945), ainda hoje so muito altas. Existem outros fatores causais de cncer que ainda esto sendo estudados. Alguns componentes dos alimentos que ingerimos so motivo de diversos estudos que vm sendo realizados, mas existem outros fatores causais que so ainda completamente desconhecidos. O envelhecimento natural do ser humano traz mudanas nas clulas, que aumentam a sua suscetibilidade transformao maligna. Isso, somado ao fato de as clulas das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco para cncer, explica, em parte, o porqu de o cncer ser mais frequente nessa fase da vida.

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As causas externas e internas podem interagir de vrias formas, aumentando a probabilidade de transformaes malignas nas clulas normais. O surgimento do cncer depende da intensidade e da durao da exposio das clulas aos agentes causadores de cncer. Por exemplo: o risco de uma pessoa desenvolver cncer de pulmo diretamente proporcional ao nmero de cigarros fumados por dia e ao nmero de anos que ela vem fumando.

Principais causas de cncerResumindo, as principais causas de cncer so:

Outras 1% Poluio 2% Medicamentos 2% Raios UV 2% lcool 3% Obesidade e falta de exerccio 5% Exposio prossional 5% Alimentao 30% Infeco 5%

Hereditariedade 15%

Tabagismo 30%

Figura 17 - Estatstica sobre as principais causas de cncer Fonte: INCA, 1997

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2.2 - Classificao dos fatores de riscoSe estamos falando de preveno, cabe perguntar: possvel modificar o risco de uma pessoa desenvolver cncer? Sim. A exposio a alguns fatores de risco justamente os de maior impacto pode ser modificada. As modificaes dependem de mudanas nos modos de vida individual, do desenvolvimento de aes e regulamentaes governamentais, de mudanas culturais na sociedade e dos resultados de novas pesquisas. Nessa perspectiva, os fatores de risco para o cncer podem ser classificados segundo a possibilidade de modificao em:

a) Fatores de risco modificveisDiversos fatores de risco classificados como modificveis j foram identificados, como: uso de tabaco e lcool, hbitos alimentares inadequados, inatividade fsica, agentes infecciosos, radiao ultravioleta, exposies ocupacionais, poluio ambiental, radiao ionizante, alimentos contaminados, obesidade e situao socioeconmica. H ainda nessa relao o uso de drogas hormonais, fatores reprodutivos e imunossupresso. Essa exposio cumulativa no tempo e, portanto, o risco de cncer aumenta com a idade. Mas a interao entre os fatores modificveis e os no modificveis que vai determinar o risco individual de cncer. A boa notcia que parte desses fatores ambientais depende do comportamento do indivduo, que pode ser modificado, reduzindo o risco de desenvolver um cncer. Algumas dessas mudanas dependem somente do indivduo, enquanto outras requerem alteraes em nvel populacional e comunitrio. Um exemplo de uma modificao em nvel individual a interrupo do uso do tabaco e, em nvel comunitrio, a introduo de uma vacina para o controle de um agente infeccioso associado com o desenvolvimento do cncer, como o vrus da hepatite B. preciso lembrar sempre que um alto percentual de mortes por cncer pode ser evitado, mas para isso acontecer todos devem contribuir para modificar o risco de desenvolvimento do cncer (INCA, 2008, p. 159- 160). Uso de tabaco a principal causa dos cnceres de pulmo, laringe, cavidade oral e esfago; tem um importante papel nos cnceres de bexiga, leucemia mieloide, pncreas, colo do tero e outros.

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AES DE CONTROLE

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Alimentao inadequada Uma alimentao rica em gordura saturada e pobre em frutas, legumes e verduras aumenta o risco dos cnceres de mama, clon, prstata e esfago. Uma alimentao rica em alimentos de alta densidade energtica aumenta o risco de ganho de peso de desenvolvimento da obesidade, que um fator de risco para diversos tipos de cncer. Lembrando que alimentos de alta densidade energtica concentram muitas calorias em um pequeno volume. Em termos prticos, so alimentos que contm mais de duas calorias por grama. Na sua prxima ida ao supermercado, olhe o rtulo de um biscoito qualquer, divida o nmero de calorias da poro pelo total de gramas da poro, que aparece listada no rtulo nutricional, e descubra se ele um alimento de alta densidade energtica. Consumir frutas, legumes e verduras diminui o risco de cnceres de pulmo, pncreas, clon e reto, prstata, esfago, boca, faringe e laringe. Por outro lado, a contaminao de alimentos pode ocorrer naturalmente, como no caso das aflatoxinas (cncer de fgado). Inatividade fsica A prtica regular de atividade fsica diminui o risco de cncer de clon e reto, de mama (na ps-menopausa) e de endomtrio; alm disso, reduz o risco de desenvolver obesidade (fator de risco para diversos tipos de cncer). Obesidade um fator de risco importante para os cnceres de endomtrio, rim, vescula biliar e mama. Consumo excessivo de bebidas alcolicas O uso excessivo de bebidas alcolicas pode causar cnceres de boca, faringe, laringe, esfago, fgado, mama e clon e reto. O risco de desenvolver cncer de cavidade oral aumentado quando h associao ao fumo. Agentes infecciosos Eles respondem por 18% dos cnceres no mundo. O HPV, o vrus da hepatite B e a bactria Helicobacter Pylori respondem pela maioria dos cnceres associados a infeces.

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Radiao ultravioleta / ionizante Ultravioleta: a luz do sol a maior fonte de raios ultravioleta, causadores do cncer de pele. Ionizante: a mais importante radiao ionizante proveniente dos Raios X, mas ela tambm pode ocorrer na natureza em pequenas quantidades. Exposies ocupacionais Substncias encontradas no ambiente de trabalho, tais como: asbesto, arsnio, benzeno, slica, radiao, agrotxico, poeira de madeira e de couro e fumaa do tabaco so carcinognicas. O cncer ocupacional mais comum o de pulmo, devido ao tabagismo passivo. Poluio ambiental A poluio da gua, do ar e do solo responde por 1% a 4% dos cnceres em pases desenvolvidos. A poluio tabagstica ambiental a principal poluio em ambientes fechados, segundo a OMS, sendo classificada como tabagismo passivo. Nvel socioeconmico A associao do nvel socioeconmico com vrios tipos de cnceres provavelmente se refere ao seu papel como marcador do modo de vida e de exposio das pessoas a outros fatores de risco do cncer. Comportamento sexual Iniciar precocemente as atividades sexuais, possuir parceiro sexual com mltiplas parceiras e possuir mltiplos parceiros sexuais so fatores relacionados ao desenvolvimento de infeco pelo HPV, que o principal fator de risco para o desenvolvimento do cncer do colo do tero.

b) Fatores de risco no modificveisNesse grupo, esto relacionados os fatores de risco que no dependem do comportamento, hbitos e prticas individuais ou coletivas. Tambm so conhecidos como fatores de risco intrnsecos. So eles: idade, gnero, etnia/raa e herana gentica ou hereditariedade. So raros os casos de cnceres que se devem exclusivamente a fatores hereditrios, familiares ou tnicos, apesar de o fator gentico exercer um importante papel na oncognese. Um exemplo so os indivduos com retinoblastoma (tumor ocular) que, em 10% dos casos, apresentam histria familiar desse tumor.55

AES DE CONTROLE

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Alguns tipos de cncer de mama, estmago e intestino parecem ter um forte componente familiar, embora no se possa afastar a hiptese de exposio dos membros da famlia a uma causa comum. Determinados grupos tnicos parecem estar protegidos de certos tipos de cncer: a leucemia linfoctica rara em orientais, o Sarcoma de Ewing (uma forma de tumor sseo) muito raro em negros. Idade O risco da maioria dos cnceres aumenta com a idade e, por esse motivo, eles ocorrem mais frequentemente no grupo de pessoas com idade avanada. Etnia ou raa Os riscos de cncer variam entre grupos humanos de diferentes raas ou etnias. Algumas dessas diferenas podem refletir caractersticas genticas especficas, enquanto outras podem estar relacionadas a estilos de vida e exposies ambientais. Hereditariedade Os genes de cnceres hereditrios respondem por 4% de todos os cnceres. Alguns genes afetam a susceptibilidade aos fatores de risco para o cncer. Gnero Certos cnceres que ocorrem em apenas um sexo so devido a diferenas anatmicas, como prstata e colo do tero; enquanto outros ocorrem em ambos os sexos, mas com taxas marcadamente diferentes entre um sexo e outro, como o cncer da bexiga (muito mais frequente no homem que na mulher) e o da mama (mais frequente na mulher que no homem).

2.3 - Conhecimento em aoA preveno do cncer depende de medidas para reduzir ou evitar a exposio aos seus fatores de risco. Esse o nvel mais abrangente das aes de controle das doenas. Nesse ponto, voc pode estar se perguntando o que voc pode fazer para contribuir para a preveno do cncer e como pode colaborar para reduzir ou evitar a exposio a fatores de risco. Algumas dicas:56

De um modo geral, eliminar ou reduzir a exposio aos fatores de risco modificveis uma medida de preveno adequada para vrios tipos de cnceres. O cncer ocupacional possui o mais alto potencial de preveno, uma vez que se conhece o local e o momento exato da exposio, o que permite interromper a exposio mediante a substituio do produto cancergeno ou da tecnologia empregada. A participao efetiva dos profissionais de sade nos programas de educao comunitria para adoo de hbitos saudveis de vida (parar de fumar, ter uma alimentao rica em fibras e frutas e pobre em gordura animal, limitar a ingesto de bebidas alcolicas, praticar atividade fsica regularmente e controlar o peso) de extrema importncia. A participao de membros da comunidade em atividades educativas pode ser uma das estratgias para a informao e divulgao das medidas de controle do cncer. Para isso acontecer, os profissionais de sade devem instru-los, orientando-os, em primeiro lugar, quanto s possveis medidas alimentares e comportamentais que valem a pena serem estimuladas: evitar obesidade e sobrepeso, sedentarismo, fumo, alimentos de alta concentrao calrica e ingesto alcolica em excesso. Nesta Unidade, voc conheceu os fatores de risco para o cncer. Mas tenha em mente que a multicausalidade frequente na formao do cncer (carcinognese). Ela pode ser exemplificada no cncer de esfago e da cavidade bucal, nos quais h associao entre o consumo de lcool e do tabaco. A interao entre os fatores de risco e os de proteo, qual as pessoas esto submetidas, pode resultar, ou no, na reduo da probabilidade delas adoecerem.

3. DETECO PRECOCEDe modo geral, sabe-se que, quanto antes o cncer for detectado e tratado, mais efetivo o tratamento tende a ser, maior a possibilidade de cura e melhor ser a qualidade de vida do paciente. Agora, veremos as aes que fazem parte da deteco precoce. Nessa etapa do cuidado, o objetivo detectar leses pr-cancergenas ou cancergenas quando ainda esto localizadas no rgo de origem e antes que invadam os tecidos circundantes ou outros rgos. A seguir, voc vai conhecer as duas estratgias utilizadas na deteco precoce: Diagnstico precoce. Rastreamento.57

AES DE CONTROLE

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3.1 - Diagnstico precoceO diagnstico precoce realizado com o objetivo de descobrir o mais cedo possvel uma doena por meio dos sintomas e/ou sinais clnicos que o paciente apresenta. A exposio a fatores de risco umas das condies a que se deve estar atento na suspeio de um cncer, principalmente quando o paciente convive com tais fatores. O Programa Nacional para o Controle do Cncer da OMS (2002) recomenda que todos os pases promovam uma conscientizao para os sinais de alerta que alguns tipos de cnceres so capazes de apresentar. Os dois principais componentes de programas nacionais para o controle do cncer so: informao para a populao e informao para profissionais. Fique atento, suspeite! A preveno e a deteco precoce so as melhores armas para o controle do cncer.

3.2 - RastreamentoO rastreamento (screening) o exame de pessoas saudveis (sem sintomas de doenas) com o objetivo de selecionar aquelas com maiores chances de ter uma enfermidade por apresentarem exames alterados ou suspeitos e que, portanto, devem ser encaminhadas para investigao diagnstica. De acordo com a OMS (2003), o rastreamento pode ser oferecido de trs formas diferentes: Rastreamento organizado dispensado, por meio de planejamento ativo, a pessoas convidadas, tendo frequncia e faixa etria pr-definidas. Rastreamento seletivo de modo seletivo, para um subgrupo j identificado como de maior risco de ter uma doena. Rastreamento oportunstico oferecido, de modo oportuno, ao indivduo que, por outras razes, procura os servios de sade. Deve-se ter sempre em mente que a finalidade de qualquer tipo de rastreamento a reduo da morbimortalidade pela doena.

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3.3 - Recomendaes para deteco precoceVeja a seguir alguns tipos de cnceres para os quais existem recomendaes para deteco precoce: rastreamento populacional e/ou diagnstico precoce.

As recomendaes e orientaes apresentadas no reproduzem, necessariamente, programas governamentais de deteco precoce; mas, uma vez que se baseiam nas melhores evidncias cientficas disponveis na atualidade, servem como sugestes que podem ser incorporadas s aes dirigidas ao controle do cncer.Quadro 2 - Recomendaes para deteco precoce segundo a localizao do tumor

Localizao do cncerMama Colo do tero Clon e reto Cavidade oral Pulmo Prstata Estmago Pele (melanoma e no melanoma)a

Recomendaes para deteco precoceAES DE CONTROLE

Diagnstico precoceSim Sim Sim Sim No Sim Sim Sim

RastreamentoSima Sim Simb Sim No No No No

O rastreamento para cncer de mama utilizando o exame mamogrfico recomendado somente para sistemas de sade que possuem muitos recursos. b recomendado somente para sistemas de sade que possuem muitos recursos.Fonte: Adaptado de WORLD HEALTH ORGANIZATION. Early detection. Geneva, 2007. 42 p. (Cancer control: knowledge into action: WHO guide for effective programmes, module 3.)

No Brasil, o INCA/ MS recomenda o rastreamento populacional para os cnceres de mama e do colo do tero.

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ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

Quadro 3 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de mama

Localizao do cncer

Algumas queixas/ alteraes que podem ser notadas pelos pacientes ou identificadas pelo profissional de sadeSintomas como: dor, calor, edema, rubor ou descamao na mama Alterao na forma ou tamanho da mama

Recomendaes/ Orientaes geraisRastreamento por meio de exame clnico da mama, para todas as mulheres a partir de 40 anos de idade, realizado anualmente. Esse procedimento ainda compreendido como parte do atendimento integral sade da mulher, devendo ser realizado em todas as consultas clnicas, independente da faixa etria da mulher

MAMA

Alterao na aurola ou no mamilo Na faixa de 50 a 69 anos, alm do exame clnico da mama Presena de ndulo ou espessamento na mama, anual, a mulher deve fazer uma mamografia a cada dois anos prximo a ela, ou na axila Sensibilidade ou sada de secreo pelo mamilo, dos 35 anos, para as mulheres pertencentes a grupos inverso do mamilo para dentro da mama populacionais com risco elevado de desenvolver cncerde mama Exame clnico da mama e mamografia anual, a partir

Enrugamento ou endurecimento da pele da mama Garantia de acesso a diagnstico, tratamento e segui(a pele apresenta um aspecto de casca de laranja) mento para todas as mulheres com alteraes nos exames realizados

Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_controle_cancer_mama/Quadro 4 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer do colo do tero

Localizao do cncer

Algumas queixas/ alteraes que podem ser notadas pelos pacientes ou identificadas pelo profissional de sadeSangramento vaginal aps a relao sexual Sangramento vaginal intermitente (sangra de vez em quando) Secreo vaginal de odor ftido Dor abdominal associada a queixas urinrias ou intestinais

Recomendaes/ Orientaes gerais

COLO DO TERO

Mulheres com idade entre 25 e 64 anos devem realizar exame preventivo ginecolgico anualmente. Aps dois exames normais seguidos, devem realizar um exame a cada trs anos No caso de exames alterados, devem seguir as orientaes mdicas

Leia mais em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_nacional_controle_cancer_colo_utero/

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Quadro 5 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de clon e reto

Localizao do cncer

Algumas queixas/ alteraes que podem ser notadas pelos pacientes ou identificadas pelo profissional de sade

Recomendaes/ Orientaes geraisEsses tumores podem ser detectados precocemente por meio dos seguintes exames: pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia, retossigmoidoscopia

Alteraes referidas, geralmente acima dos 50 anos, Pessoas com mais de 50 anos devem se submeter, anudetectadas ao exame clnico ou laboratorial almente, pesquisa de sangue oculto nas fezes. Caso o Anemia de origem indeterminada Perda de sangue nas fezes Dor e/ou massa abdominal Melena (sangue nas fezes) Constipao intestinal Diarreia Nuseas Vmitos Fraqueza Tenesmoresultado seja positivo, recomendada a colonoscopia ou retossigmoidoscopia (exame de imagem que v o intestino por dentro) Estar sempre atento aos cuidados e fatores de risco:

CLON E RETO

Uma alimentao rica em vegetais e laticnios e pobre AES DE CONTROLEem gordura (principalmente a saturada), alm da prtica de atividade fsica regular, previne o cncer colorretal. Deve-se ainda evitar o consumo exagerado de carne vermelha

Alguns fatores aumentam o risco de desenvolvimentoda doena, como idade acima de 50 anos, histria familiar de cncer colorretal, histria pessoal da doena (j ter tido cncer de ovrio, tero ou mama), baixo consumo de clcio, alm de obesidade e sedentarismo

Leia mais em: http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/intestino_2010.pdf

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ABC DO CNCER - Abordagens Bsicas para o Controle do Cncer

Quadro 6 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de boca

Localizao do cncer

Algumas queixas/ alteraes que podem ser notadas pelos pacientes ou identificadas pelo profissional de sade

Recomendaes/ Orientaes gerais

A deteco precoce do cncer de boca pode ser feita por meio do autoexame da boca, a ser realizado diante do espelho, em um local bem iluminado, a fim de verificar a presena de anormalidades (descritas ao lado) nos lbios, lngua (principalmente as bordas), assoalho da boca (regio embaixo da lngua), gengivas, bochechas, palato Mudana de colorao da mucosa, reas irritadas (cu da boca) e amgdalas

debaixo de prteses (dentaduras, pontes mveis)

Feridas que no cicatrizam em uma semana, den- ser esquecida tes fraturados ou amolecidos, caroos ou endurecimento Pessoas com maior risco para o cncer bucal (homens

O autoexame deve ser feito regularmente e, mesmo sem encontrar alteraes, a visita anual ao dentista no deve

com mais de 40 anos, com dentes fraturados, fumantes

Ulceraes superficiais, com menos de 2 cm de que consomem bebidas alcolicas e que usam prteses mal ajustadas) devem fazer anualmente o exame clnico dimetro, indolores (podendo sangrar ou no) da boca, com mdicos ou dentistas treinados, em centros

BOCA

Manchas esbranquiadas ou avermelhadas nos l- de sade ou outras unidades onde haja profissional habilitado para essa atividade bios ou na mucosa bucalO exame de toda a cavidade bucal deve ser feito de maneira metdica para que todas as reas sejam analisadas e seja possvel a identificao de prteses dentrias ou Dor e presena de adenomegalia cervical (caroo outras provveis causas de trauma contnuo

de especialidades odontolgicas (CEO), postos ou centros

Dificuldade para falar, mastigar ou engolir

no pescoo)

As leses mais posteriores da cavidade bucal, por vezes, necessitam de visualizao com o auxlio de instrumentos Ateno: dificuldade de fala, mastigao e degluou por meio de espelho para a avaliao de sua extenso

tio, alm de emagrecimento acentuado, dor e presena de linfadenomegalia cervical podem ser As leses, sempre que possvel, devem ser palpadas, a fim de se confirmar seus reais limites e o acometimento sinais de doena avanadade estruturas adjacentes A palpao das cadeias linfticas cervicais completar o exame, sendo importantes a determinao do tamanho dos linfonodos, sua mobilidade e relao com estruturas vizinhas

Leia mais em: http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/intestino_2010.pdf

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Quadro 7 - Recomendaes e orientaes para deteco precoce do cncer de pulmo

Localizao do cncer

Algumas queixas/ alteraes que podem ser notadas pelos pacientes ou identificadas pelo profissional de sadeOs sintomas mais comuns d