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LIVRO DE ACTAS FORMANDO CONHECIMENTO DIÁLOGOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO 2009-2010

LIVRO DE ACTAS - aicep Portugal Global · A Língua Portuguesa e o seu valor económico no contexto da lusofonia e ... da língua portuguesa e a sua importância ... mercado de trabalho

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LIVRO DE ACTAS

FORMANDO CONHECIMENTO

DIÁLOGOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

2009-2010

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Editor: AICEP Portugal Global - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal ISBN: 978-972-737-227-0Janeiro 2012

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LIVRO DE ACTAS FORMANDO CONHECIMENTO

DIÁLOGOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

Informação e internacionalização

FRAnCISCO Ferreira da Silva

Conhecimento Tecnológico gera Competitividade Agro-alimentar

OnDInA BEATRIz aFonSo

A Vigilância Tecnológica na Galp Energia: Caso Prático

RuBEn eiraS

Economic Intelligence: the key of competitive success in the future

ALAIn Juillet

Desafios da Inteligência Económica e Competitiva

AnDRÉ MaGrinHo

INTERVENÇõES TRANSCRITAS

REVISTAS E AuTORIZADAS PELOS AuTORES

Portugal, a União Europeia e os Desafios Globais

JOãO SalGueiro

A Língua Portuguesa e o seu valor económico no contexto da lusofonia

e da economia global

JORgE BraGa de Macedo

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5LIVRO DE ACTAS • FORMANDO CONHECIMENTO DIÁLOGOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

InFORMAÇãO E InTERnACIOnALIzAÇãO

Informação e internacionalização

FRAnCISCO Ferreira da SilvaSuBDIRECTOR DO DIÁRIO ECONóMICO

A internacionalização das empresas portuguesas é um factor determinante para o futuro. Portugal só conseguirá ultrapassar o tecto estrutural de exportações, de cerca de um terço do PIB, com uma aposta forte na competitividade, na investigação, no desenvolvimento e na inovação, com a necessária ligação às universidades, mas também com uma maior informação sobre os mercados externos. Daí a necessidade de aprofundar os conhecimentos dos nossos empresários e gestores sobre os ambientes de negócios internacionais e as especificidades próprias de cada mercado e de cada país. A presença em mercados globalizados e altamente competitivos implica o conhecimento atempado dos movimentos dos agentes económicos e das tendências que se desenham em cada momento, pelo que a inteligência económica, onde os métodos de pesquisa e de investigação se confundem muitas vezes com os da espio-nagem, embora sempre por processos lícitos, transparentes e sem secretismos, ajuda a criar condições para identificar concorrentes, sistemas ou tecnologias que possam servir de supor-te às decisões estratégicas e à melhoria dos processos de internacionalização das empresas. Empresas que, em simultâneo, têm de aprofundar a eficiência energética e a utilização racional da energia como factores essenciais e cada vez mais determinantes no mundo empresarial. Isto, sem esquecer as vantagens da língua portuguesa e a sua importância e valor económico no contexto internacional.

A internacionalização é cada vez mais uma atitude e um estado de espírito em cada empre-sário, gestor ou governante. A internacionalização passa pelas autoridades e pela forma como consigam dinamizar a diplomacia económica e colocar instrumentos de apoio ao ser-viço das empresas. Mas é, sobretudo, através das decisões empresariais e da assumpção de riscos que os casos de internacionalização podem multiplicar-se e ganhar dimensão. Por isso, os debates com personalidades destacadas em diversas áreas de actividade, que concor-rem para dinamizar a competitividade das empresas nacionais nos mercados externos, são fundamentais para alargar horizontes. Debates que também servem para chamar a atenção de todos para a importância da internacionalização em ambiente de crise económica e para os benefícios que pode gerar. A Agência para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal – AICEP Portugal global – tem responsabilidades acrescidas no apontar de soluções para as empresas e para a economia portuguesas, bem como em ajudar a desbravar caminhos e apontar os respectivos perigos e desafios. Daí que os Diálogos de Internacionalização assu-mam uma importância acrescida como pontos de encontro e de troca de informação sobre experiências fundamentais num mundo em constante mutação. Muito do que hoje se passa no mundo empresarial está, directa ou indirectamente, ligado à informação e só os mais bem informados têm condições para sobreviver e prosperar. O Diário Económico orgulha-se, por isso, do papel assumido na moderação e na divulgação destas iniciativas, agora reunidas neste ‘e-book’, pondo-as em comum com um número alargado de empresários, gestores e decisores de várias índoles e proveniências.

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Conhecimento Tecnológico gera Competitividade Agro-alimentar

OnDInA BEATRIz aFonSo DIRECTORA ExECuTIVA DO PóLO DE COMPETITIVIDADE AGRO-ALIMENTAR, DOCENTE uNIVERSITÁRIA E CONSuLTORA EM BENCHMARkING E BOA PRÁTICAS.

Introdução

Este documento visa apresentar a PORTugALFOODS enquanto Pólo de Competitividade e Tecnologia Agro-Alimentar, a sua missão e os seus objectivos estratégicos. Para além disso, são também apresentados os projectos âncora desta estratégia de eficiência colectiva, bem como o seu projecto anual de internacionalização.

A Portugalfoods

É uma associação formada por empresas, entidades do sistema científico e tecnológico nacional, entidades regionais e nacionais com uma representatividade transversal do sector agro-ali-mentar português, entendendo-se por Pólo um “espaço” onde aquelas entidades estabele-cem relações win-win, tendo como objectivo final a produção e partilha de conhecimento como suporte à inovação e à competitividade.

A Associação tem como missão reforçar a competitividade das empresas do sector agro-ali-mentar através do aumento do seu índice tecnológico, promovendo a produção, transferência, aplicação e valorização do conhecimento orientado para a inovação, bem como promover a internacionalização das empresas do sector através da sua capacitação para a internacio-nalização e na identificação e captação de oportunidades.

Os objectivos estratégicos desta entidade são:

• Impulsionar a aplicação prática do “conhecimento” através da promoção da transferên-cia activa desse conhecimento, identificando as competências chave nas instituições do sistema científico nacional e internacional, e captando-o, trabalhando-o e adap-tando-o à linguagem e às necessidades das empresas;

• Funcionar como um Observatório nacional e Internacional, produzindo relatórios à medi-da das necessidades do Associado em específico e da Fileira em geral e, assim, estimular a inovação;

• Instituir uma verdadeira mentalidade de Fileira, através da promoção do diálogo e cooperação entre os diversos actores públicos e privados, reforçando as sinergias para a competitividade estratégica e criando vantagens competitivas que assegurem a sustentabilidade das empresas e potenciação do negócio;

• Promover a internacionalização das empresas do sector agro-alimentar através de um suporte activo, seja na sua capacitação para a internacionalização, seja pela identifi-cação e captação de oportunidades através do Business Intelligence ;

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COnhECIMEnTO TECnOLógICO gERA COMPETITIVIDADE AgRO-ALIMEnTAR

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• Reforçar e desenvolver um ambiente favorável à criação e desenvolvimento de novas empresas de base tecnológica, assim como o emprego científico e altamente qualificado.

Os eixos estratégicos lançados por esta entidade de eficiência colectiva e orientados para a Fileira Agro-Alimentar são:

• Alimentos Seguros e Saudáveis• Alimentos Amigos do Ambiente• Dieta Atlântica.

Estas três grandes áreas de intervenção deram origem a um ambicioso plano de acção base-ado em projectos âncora, centrado em:

desenvolvimento e comercialização de novos produtos alimentares com dimensão com-petitiva e de valor acrescentado.Sistemas de produção inovadores e sustentáveis. definição de uma estratégia selectiva e integrada para a internacionalização do Agro-Ali-mentar Português.lançamento de novos conceitos de alimentação portuguesa mais saudável, original e con-veniente.desenvolvimento de novas tecnologias de produção, processamento e conservação dos alimentos destinados a mercados mais distantes. valorização e reutilização de subprodutos provenientes do processamento alimentar. desenvolvimento e estimulo de empresas mais eco-eficientes, e sistemas de produção com maior potencial para obtenção de alimentos seguros, saudáveis, amigos do ambiente e sustentáveis social e financeiramente.

Fazem parte do plano de acção da PortugalFoods, projectos considerados âncora para o sector agro-alimentar.

Projectos

Mais Produtos Funcionais - tem por objectivo a promoção da criação de novos produtos ali-mentares e/ou valorização dos já existentes junto das empresas, com vista à sua contribuição para o bem-estar e saúde dos consumidores, dirigidos a diferentes segmentos de mercado, permitindo assim desenvolver, as melhores soluções do ponto de vista nutricional e de segu-rança alimentar, pela via da funcionalização dos produtos e da diferenciação no mercado.

Mais Produção Sustentável - O objectivo principal do projecto é o de sensibilizar os produtores nacionais (produção vegetal e animal) para práticas de produção mais limpas, mais susten-táveis e mais rentáveis, promovendo uma imagem do sector com mais responsabilidade social e ambiental. Este projecto irá desenrolar-se em seis meses e em seis actividades: inicialmente será feito um mapeamento da informação existente nas Associações/Organizações de Pro-dutores em termos do conhecimento sobre produção sustentável tendo em consideração as variáveis relacionadas com as alterações climáticas, o modo de produção biológico, o uso de fitossanitários, entre outras.

Simultaneamente as associações/organizações de produtores serão auscultadas sobre os temas mais pertinentes que desejam ver desenvolvidos para numa fase posterior serem transfor-mados em conteúdos de sensibilização para aqueles grupos.

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COnhECIMEnTO TECnOLógICO gERA COMPETITIVIDADE AgRO-ALIMEnTAR

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Mais ainda será feita uma pesquisa que reflicta o “status quo” da informação sobre alterações climáticas e produção sustentável. Também serão entrevistos outras entidades, como a grande Distribuição, Câmaras Municipais, associações de apoio à produção biológica, de modo a con-tribuírem também com as suas preocupações relacionadas com a produção sustentável, sob o ponto de vista do agricultor e do consumidor.

Mais Informação Internacional (Parceria com InovCluster)O projecto CROSSEXPORT pretende criar condições às empresas da Fileira Agro-Alimentar para internacionalizarem o seu negócio de uma forma competitiva, pelo desenvolvimento de informação de “intelligence” accionável, identificando oportunidades concretas de inter-nacionalização e mercados prioritários e ainda fomentando parcerias internacionais tendentes a abrir os canais adequados para internacionalizar.

Mais Formação Agrícola O projecto tem como principais objectivos estratégicos:

• Avaliar, definir e organizar a oferta formativa orientada para o sector agro-industrial;• Desenvolver respostas de formação diversificadas e flexíveis, adequadas ao público-alvo

(Qualificação Inicial, Especialização Tecnológica, Aperfeiçoamento de Activos Empre-gados e Formação universitária);

• Responder ao interesse individual e empresarial através da criação de cursos profissio-nalizantes que preencham, simultaneamente, as tendências do mercado de trabalho e as carências das empresas em técnicos qualificados e cientificamente preparados; Preparar e fundamentar planos de formação para posterior submissão de candidaturas ao POPh;

• Divulgar as actividades do projecto e criação de uma base de dados que dê a conhecer a oferta formativa e os perfis profissionais.

• Fazem parte deste projecto a universidade da Beira Interior (promotor), a Escola Superior Agrária de Coimbra, o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, o Instituto Politécnico da guarda, o Instituto Politécnico de Castelo Branco, o InovCluster - Associação do Cluster Agro-industrial e o Pólo de Competitividade e Tecnologia Agro-Industrial.

Tecnologias de ProduçãoO objectivo geral deste projecto é o desenvolvimento de novas tecnologias de suporte à criação de produtos inovadores, de qualidade Premium e com prazos de validade alargados que permitam ir ao encontro das necessidades do consumidor em termos de conveniência, valor nutricional, prazer e saúde e, simultaneamente com maior potencial para exportação, tendo em conta o aumento do seu tempo de prateleira. Deste projecto fazem parte 12 parceiros, incluindo o Pólo, a saber: Frulact, Pascoal & Filhos, Derovo, Decorgel, Ernesto Morgado, Quinta dos Ingleses, Quinta dos Moinhos novos, SenseTest, universidade do Minho, univer-sidade de Aveiro e universidade do Porto.

Dieta Atlântica – O Modo de Estar Português Este projecto tem por objectivo geral a promoção da Dieta Atlântica – o modo de estar por-tuguês como factor de inovação e de diferenciação, contribuindo assim para o aumento da competitividade e da capacidade do sector agro-alimentar e do turismo em termos nacionais e, principalmente, em termos internacionais.

O projecto da Dieta Atlântica pretende lançar um novo conceito de alimentação associado ao modo de estar português, evidenciando as suas características de alimentação saudável,

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COnhECIMEnTO TECnOLógICO gERA COMPETITIVIDADE AgRO-ALIMEnTAR

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actuando como veículo para o seu posicionamento na gastronomia Europeia e Mundial e criando assim novas oportunidades de negócio e de internacionalização dirigidas às empresas da Fileira Agro-Alimentar.

Para além destes projectos, a PORTugALFOODS desenvolve anualmente um projecto con-junto de internacionalização que visa a participação agrupada das empresas em diversos certames internacionais, sob o formato de Feiras, assim como acções promocionais. Além disso, e para que a presença em Feiras tenha follow-up efectiva, a PortugalFoods organiza missões inversas com os potenciais compradores de diversos mercados.

A PORTugALFOODS é um interlocutor activo junto das tutelas no alinhamento de estratégias e na defesa de Políticas de apoio à fileira Agro-Alimentar. Além disso, todos os Associados podem usufruir de uma oferta de serviços, a saber:

• Disponibilização de informação adequada, diferenciada e adaptada ao perfil do Asso-ciado, com base em ferramentas de business intelligence;

• Dinamização de parcerias, através da promoção de fóruns de discussão, workshops, seminários e outros eventos;

• Intermediação entre utilizadores e produtores de conhecimento nos aspectos de trans-ferência de conhecimento e identificação de oportunidades;

• Contribuição para a identificação de prioridades dos Sistemas de Incentivos do QREn;• Dinamização de parcerias para a promoção de projectos nacionais e europeus; e• Promoção da internacionalização das empresas, pela participação em actividades

de Feiras e Missões, em mercados prioritários e sob a marca PORTugALFOODS.

Conclusões

O Pólo de Competitividade e Tecnologia Agro-Alimentar - PORTugALFOODS é uma plataforma, que pretende ser o promotor relacional entre o mundo empresarial e os produtores de conhe-cimento.

Pretende a PORTugALFOODS, desta forma, reforçar a competitividade das empresas da Fileira Agro-Alimentar, através do aumento do seu índice tecnológico, promovendo a pro-dução, transferência, aplicação e valorização do conhecimento orientado para a inovação e internacionalização, pretendendo assim, posicionar-se como o verdadeiro representante do agro-alimentar Português.

PercurSo OnDInA BEATRIz AFOnSO

natural de São Paulo, Brasil. É licenciada em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de biotecnologia

da universidade Católica. Tem uma Pós-graduação em Enologia pela Charles Sturt university, Austrália e frequência

do Programa de Doutoramento em Ciência e Engenharia Alimentar, com o tema “Sensorial Analysis as Tool of

Marketing - Optimisation System for Selling branded wine”. Desempenhou funções como coordenadora,

responsável e consultora nas áreas agro-alimentar, biotecnologia, Benchmarking e boas práticas. Tem sido

convidada como oradora em diversos seminários, conferências e simpósios.

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COnhECIMEnTO TECnOLógICO gERA COMPETITIVIDADE AgRO-ALIMEnTAR

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A Vigilância Tecnológica na Galp Energia: Caso Prático

RuBEn eiraS

RESPONSÁVEL PELAS RELAÇõES COM O SISTEMA CIENTíFICO DA GALP ENERGIA

A Inteligência Competitiva (IC), segundo Magrinho (2009), é um conceito e uma abordagem aos quais correspondem práticas com carácter multidisciplinar (ciências económicas e da gestão, ciências jurídicas e políticas, ciências da informação e da comunicação, direito e informática, por exemplo.

Com efeito, a Inteligência Competitiva é ainda um conceito pouco conhecido e pouco prati-cado (em Portugal) e que, segundo Magrinho, convém redefinir e implementar com grande sentido pragmático segundo o contexto e necessidades de cada organização.

Primeiro, há que definir o conceito de Inteligência Competitiva. Segundo a Society of Competitive Intelligence Professionals (SCIP), “a Inteligência é o processo de coleta, análise e disseminação éticas de informação acurada, relevante, específica, atualizada visionária e viável relacionadas ao ambiente de negócios, da concorrência e da empresa”.

Por sua vez, a Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC), “a Inte-ligência Competitiva é um processo informacional proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou operacional. É um processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado”.

Como podemos constatar pelas duas definições, a IC, em essência, consiste numa metodologia sistematizada de identificação e análise de informação que suporte o pensamento estraté-gico de fundamentação de uma decisão de negócio.

no contexto da galp Energia, constatou-se a inexistência de uma prática de inteligência informacional estruturada e integrada no que respeita à evolução tecnológica no sector energético. Ou seja, a prática existia, mas não organizada de forma estratégica. Isto porque o ciclo de inovação tecnológica no sector da energia era, até há relativamente pouco tempo, muito longo e de baixa dinâmica. Todavia, a crescente escassez dos combustí-veis fósseis convencionais, o impacto climático destes e a necessidade de novas soluções mais sustentáveis alteraram radicalmente o contexto tecnológico. É neste panorama que na galp Energia se implementou um sistema de Vigilância Tecnológica (VT). Em suma, a VT consiste um conjunto de metodologias e técnicas para a coleta e análise sistemática de informações científicas e tecnológicas para uma organização.

O objectivo central da implantação de um processo de vigilância tecnológica é o de favorecer a criatividade a inovação, com a finalidade de apoiar a tomada de decisões estratégicas.

Trata-se de captar novas tendências e modas, mas também de identificar novas oportunidades. Com efeito, a inovação e a criatividade não se impõem por decreto, mas podem e devem ser cultivadas.

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A VIgILânCIA TECnOLógICA nA gALP EnERgIA: CASO PRáTICO

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A VIgILânCIA TECnOLógICA nA gALP EnERgIA: CASO PRáTICO

Para tal, é necessário conhecer não apenas os desenvolvimentos tecnológicos externos, mas também o mercado (e as suas necessidades emergentes) bem como novos quadros jurídicos e regulamentares (por exemplo, novas directivas comunitárias que possam indicar ameaças ou oportunidades emergentes para projectos de I&D e Inovação da galp Energia.

A recolha de informação é realizada com base na consulta e análise de fontes primárias e secundárias. As fontes primárias são os criadores diretos do conhecimento (os autores, os cientistas, bases de dados, por exemplo) e as fontes secundárias são aquelas que filtram, agregam e interpretam a informação (p.e., revistas, jornais, blogues, estudos).

no domínio da Vigilância Tecnológica, as bases de dados de patentes constituem uma fonte fundamental de informação de três tipos:

• Dados técnicos (80% destes estão nas bases de dados) • Dados de mercado • Dados concorrenciais

Muitas destas bases de dados são gratuitas e encontram-se disponíveis online, como por exemplo:

• InPI (Instituto nacional de Propriedade Industrial) - www.inpi.pt• Espacenet (Base de dados do Secretariado Europeu de Patentes, 35 milhões de paten-

tes do mundo inteiro) - www.epo.org/index.html • uSPTO (base de dados do Secretariado Americano de Patentes, todas as patentes ame-

ricanas desde 1970) - www.uspto.gov

Toda esta informação coletada deve ser tratada através de estudos e newsletters de vigilân-cia tecnológica, gerando documentos onde são identificados factores críticos para as deci-sões-chave sobre a tecnologia em causa. Extrai-se a informação relevante sobre a evolução da tecnologia, as inovações, as invenções, os potenciais parceiros ou concorrentes, as aplica-ções de tecnologias emergentes, e também os aspectos regulamentares e de mercado que pode determinar o sucesso da inovação tecnológica.

Todas essas informações codificadas e analisadas permitem que uma pessoa, organização ou instituição científica, possa decidir sobre as opções para desenvolver planos e estratégias tecnológicas, minimizando os riscos e facilitando o avanço das mudanças.

Com este processo em mente, segue-se um esquema do fluxo de informação de um processo de VT na empresa, o qual plasma em termos práticos o anteriormente descrito.

A Vigilância Tecnológica na Galp Energia

FOnTE: RuBEn EIRAS, 2010

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Como se pode verificar no gráfico, o processo estruturado de Vigilância Tecnológica:

• Desenvolve o desempenho organizacional da empresa (observação das melhores prá-ticas, conhecimento dos melhores parceiros…)

• Favorece a tomada de decisões estratégicas (minimização de riscos derivados da incer-teza, domínio do ambiente externo à organização)

• Facilita a comercialização (melhor conhecimento dos clientes e dos concorrentes)

A Rede Galp Inovação

um acesso privilegiado e estruturado a fontes primárias de informação é crítico para uma recolha com conteúdo significativo e relevante. Para o efeito, foi criado o portal «Rede galp Inovação», concebido segundo os paradigmas da «Open Innovation» e da Web 2.0, para conectar de forma colaborativa a empresa à inteligência colectiva das comunidades «univer-sidades e comunidade científica/tecnológica» e «Empresas de Base Tecnológica» que ope-rem na área da energia e sectores relacionados.

O objectivo principal é criar um Espaço de Inovação único e original para as comunidades universitárias e de empresas de base tecnológica para recolha de ideias destinadas à criação de novos processos, produtos e serviços que melhorem de forma inovadora a criação de valor para os clientes da galp Energia.

Com esta nova ferramenta, a galp Energia aumenta a sua capacidade de relacionamento com o Sector Científico, afirmando-se como um actor pró-activo e inovador junto da comu-nidade científica e tecnológica da área energética.

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A VIgILânCIA TECnOLógICA nA gALP EnERgIA: CASO PRáTICO

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O portal de Open Innovation Rede galp Inovação para as comunidades «universidades e comu-nidade científica/tecnológica» e «Empresas de Base Tecnológica» congrega as seguintes principais funcionalidades:

Rede social (tipo Linkedin/Facebook) - para registo dinâmico do perfil e das actividades dos membros da rede, bem como para fomentar a interactividade social.

Perguntas à Rede - colocação de perguntas aos membros da Rede galp Inovação, segundo temáticas de negócio predefinidas, tendo em vista a pré-identificação de especialistas de conhe-cimento e potenciais parcerias na comunidade científica e tecnológica.

Submissão de Inovações - directório das necessidades de Inovação da galp Energia, no qual os membros da Rede galp Inovação poderão submeter projectos de I&D e de Inovação segundo as necessidades específicas de inovação de cada área de negócio.

A abertura da Rede galp Inovação às comunidades «universidades e comunidade científica/tecnológica» e «Empresas de Base Tecnológica» é realizada de forma gradual, com acesso restrito, aos níveis nacional e internacional e por segmento de negócio.

Desta forma, a galp Energia aumenta a sua capacidade de inovar pró-activa com práticas de Vigilância Tecnológica agéis, com um custo competitivo e com acesso privilegiado aos melhores especialistas nacionais e internacionais.

Vigilância Tecnológica Colaborativa com tecnologias open-source

FOnTE: RuBEn EIRAS, 2010

Seguidamente, descrevo de forma muito prática como configurar o browser Firefox //euro-pe.mozilla.org/pt para implementar um sistema colaborativo de Vigilância Tecnológica na sua organização, com tecnologias de informação open-source e totalmente gratuitas.

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A VIgILânCIA TECnOLógICA nA gALP EnERgIA: CASO PRáTICO

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Instalar add-ons no browser Firefox

Depois de instalado o Firefox no seu PC, é muito fácil «artilhá-lo» para aumentar as suas capacidades de pesquisa e catalogação da informação. Basta digitar no google ou na caixa de pesquisa integrada do Firefox a seguinte expressão: «Firefox add-ons». É só clicar no clique e já está na loja de aplicações e ferramentas para o browser Firefox. Concluída a instalação, reiniciado o browser, o botão da nova aplicação deverá surgir na barra de ferramentas do browser Firefox .

Monitorização de notícias de sites e blogs, via Real Simple Syndication (RSS)

O feedly é uma ferramenta de monitorização de notícias de sites e blogs, que integra a ali-mentação de conteúdos via assinatura RSS. Ou seja, todos os sites e blogs que tenham este símbolo podem ser assinados via feedly. É necessário instalar o feedly no firefox, via “firefox add-ons”.

Para encontrar notícias e conteúdos relacionados com um conceito ou palavra dentro do feedly, basta digitar a respectiva palavra na caixa de pesquisa do feddly localizada no canto supe-rior direito.

Plataforma Web de arquivo de conteúdos e de catalogação da pesquisa, com funcionalidades colaborativas

O Diigo é uma ferramenta que permite arquivar e catalogar a pesquisa de conteúdos reali-zada na Web. Por exemplo, se encontrar uma notícia ou um site que considere importante para a sua pesquisa, clique em «Bookmark» e siga os passos seguintes (partindo do princípio que já tem instalado o diggo no firefox, com a respectiva barra de ferramentas).

Se desejar utilizar o Diigo para partilha de conhecimento dentro da sua organização, crie uma conta com o mesmo username e password a ser utilizado por todos os membros da rede. Desta forma, todos têm acesso e partilham todo o conhecimento. É uma óptima ferra-menta colaborativa para criar uma comunidade digital de conhecimento.

Deeper Web

Amplificador de pesquisa do google

O deeper web é um amplificador de pesquisa do google que permite organizar a informa-ção pesquisada em várias «gavetas» logo de partida.

Depois de instalada a aplicação deeper Web, quando abrir o google e pesquisar uma palavra, irá surgir no lado direito da página um novo menu com várias «caixas» organizadoras dos resultados da pesquisa efetuada.

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A VIgILânCIA TECnOLógICA nA gALP EnERgIA: CASO PRáTICO

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gnosis

Amplificador de pesquisa de conteúdo nas páginas Web

O gnosis é um amplificador de pesquisa dos conteúdos das páginas Web. Depois de instala-do, com o respectivo botão localizado na barra de ferramentas do Firefox, ao visitar uma página, clique no gnosis. Irá surgir no lado direito do browser uma barra de navegação com várias categorias de conteúdo, como, por exemplo, as seguintes: Industry, Place, People. Cada uma destas tem uma cor diferente. E se reparar na página que está a ler, existe uma série de palavras sublinhadas segundo essas cores. O que o gnosis faz é classificar automati-camente as palavras existentes na página segundo o seu significado. Esta é uma ajuda muito útil para realizar uma leitura rápida da página ou encontrar de forma muito célere um lugar, uma pessoa ou uma organização na página.

Para integrar toda esta informação de forma colaborativa, crie uma comunidade de partilha de conhecimento na rede social Facebook, criando um grupo na modalidade “Fechado”ou “Secre-to”, para assegurar o controlo de fluxo de informação.

reFerênciaS BiBlioGráFicaS

Magrinho, André (2009), Inteligência Económica: O modelo de exploração pelas empresas portuguesas

Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva, www.abraic.org.b.

Strategic and Competitive Intelligence Professionals, www.scip.org/.

PercurSo RuBEn EIRAS

Licenciado em Sociologia do Trabalho. Tem um Mestrado Executivo Sistemas Sustentáveis de Energia do MIT-Portugal.

É doutorando em Política de Segurança Energética – Cooperação Portugal-Brasil, pelo ISCTE-IuL e pela Academia

Militar, na área de história, Defesa e Relações Internacionais.

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A VIgILânCIA TECnOLógICA nA gALP EnERgIA: CASO PRáTICO

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Economic Intelligence: the key of competitive success in the future

ALAIn Juillet

É MEMBRO Du CONSEIL SCIENTIFIquE DE L’INSTITuT DES HAuTES ETuDES POuR LA SCIENCE ET LA TECHNOLOGIE

(IHEST) E ADMINISTRADOR DE EMPRESAS.

Abstract

Today I shall talk about Economic Intelligence and the reason why this old concept will be as important in the next 50 years as Marketing was in the last 50 years. how it will impact strategy and action practices in this 21st century. For experts it is now obvious that ability to master Economic intelligence methods will be the key of competitive success in the future.

Tools and techniques have changed since its use by Venetian republic to maintain it leadership on Mediterranean sea.

We are entering in a new era characterized by the mergence of new powers and new states really different from those of the last century. In this world of globalization, becoming increasingly interdependent, market competition will be fierce. Fight for leadership will be focused much more through the use of economic leverage, than through military battles.

Facing a new reality

We are entering in a new age. We can define it by the following highlights:

In this new economic era, major changes rely on the move from western world dominance to the dominance of new and emergent economies, such as China, India, Brazil, Russia and others.

This new environment is full of new opportunities for entrepreneurs and threats for the companies and nations unable to use the new set of rules.

The economic crisis is only a small symptom of a great shift that occurs at world level. We are experiencing a shift in the world’s wealth and power relations, from the developed, mainly western world, to the emergent markets; this process is still in the making, and will take several years before it ends.

The new world requires identifying several key changes. We think that we live in a globalize economy, but in fact local conditions influence company’s activities. For instance, Coca Cola is not exactly the same all over the world. India uses a different formula, because the local regulation does not admit secret formulas in food products.

LIVRO DE ACTAS FORMANDO CONHECIMENTO DIÁLOGOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

ECOnOMIC InTELLIgEnCE: ThE kEy OF COMPETITIVE SuCCESS In ThE FuTuRE

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We are moving from a world economy dominated by the western culture, being agreed it includes real differences between European and American countries, to a new economic order built around several emerging blocks of nations. Each one of these focal points, expected to be between six and nine, will be completely different from each other.

In this new era all participants will be forced to move to new roles. Economic pressure will be used as a weapon. The leadership will be achieved not with military weapons, but by economic means.

We live in an information age. The fast development of information technology will open new opportunities and possibilities. These new developments will enhance the commercial and industrial processes.

Creating a new competitive hedge

Once defined the set of conditions for this new era, how can we succeed and answer? how can we build or increase our competitive advantage? In order to answer this question we have to identify previously six key facts about this new competitive environment:

The current exchange system is not adapted to the new reality of globalization when all the poles want to keep in main part of their creation of value

nations are changing their laws and rules, or pressuring to modify standards and patterns in use, with the objective of protecting their homeland and their key markets.

Willingness to boost financial results or market share and the entrance of criminal organiza-tions in the business, generate a lack of ethics, a lot of corruption, and a need for public-private partnership.

Worldwide managers are trained in the same economic theory with the same methods; this uniformity leaves little room for real innovation and creative jump, either in products or services.

Time for market is shortening. To be first in the market one has to anticipate and to be very quick in responding to the changes that will occur.

use of legal (alliance and joint venture) or illegal (copy) means will be used by our competitors. Willingness to stay in the market or to speed up the date of entrance will impose such behaviors.

As we can see the coming period will be a different game altogether. Degree of competiti-veness between the companies will be greater than before and governments will have a bigger role in the economic field.

That is the reason why some of the new players from emerging markets look at this situation as a war between countries, and not as a purely economic activity. Facing a world of scarce resources, countries will tend to defend its national interests in order to preserve or increase the general well being of its people.

how can we answer to these new challenges? how can we build a competitive advantage in this world?

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The survival of the companies goes through the creation and preservation of specific advantages which requires studying and evaluating their own strengths and weakness.

Mastering of information and communication is a strategic issue which allows improving the capacity to obtain knowledge and its ability to react to the market changes.

Information does not give more power. But if shared and challenged through a network it can be a powerful tool for value creation.

Company Management has to build internally and externally à track allowing information to be used in the most effective way. goal is to create value from existing information.

European company cannot compete against lower labor costs or cheaper raw materials of emerging countries; therefore keys for success and competitiveness rely on investments in R&D and knowledge management.

In this new environment the roles of the companies and its positioning relative to one another are not fixed. Present competitor can switch to future partner in a joint venture. That explains why the market will be more fluid than before.

Principles for Economic intelligence

What are the principles of this Economic Intelligence which is the right answer to all these challenges issued from the new economic paradigm?

To collect through a network, within a defined framework, all the data needed to elaborate an analysis aimed to provide the management with winning options.

To reach this target it is necessary to control sources as well as to analyze contents of the information, and its strategic applications and outcomes.

To master the strategic information we must keep in mind that:

Before action it is necessary to define the size of the search and to use the right tools.

Between 80-95 % of all information is obtained from sources open to everybody.

To master the information coming from open sources, it is necessary to control the process of acquisition and treatment of this information. you must check that collected information is right, does not includes any mistakes, or if it is a disinformation from our competitors.

This process starts with the definition of the scope and framework of our task; it implies data research, selection and collection, analysis of the information, synthesis and final delivery.

We have to remember that 20% of all published information is wrong and has to be crossed with other sources;

Same tools are used to master the process or to destroy it. Therefore they can supply false information which requires controlling it externally. never forget than information is an asset which has to be secured and protected.

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But Economic Intelligence is not only the gathering of information allowing building up a winning strategy. Today a good strategy is not enough to succeed and you need to add up influence actions to turn positive environment. That is the reason why companies and nations use influence techniques in its strategies.

History of Economic intelligence

The Principles of Economic intelligence have been used since the oldest civilizations at the level they were:

• you meet them in Sun Tsu books.• In our area Venetian republic has been the first country to use it for the economic

control of the Mediterranean sea • The British have developed and used it since the 15th century to ensure their dominance

on trade routes of the British Empire all around the world.• After the Second World War Japanese as well as Russian used them to speed up their

economic recovery through an improvement of their technological capacities.• In the 80’s the concept has been structured and promoted by Michael Porter in united

States and Steven Dedijer in Sweden.

The concept has evolved since the beginning, each country adapting it to its own culture and requirements.

Japan and Russia: the monitoring of formal and informal information was focused mainly on the industry, science and technologies of other countries; this monitoring activity was pursued through an organization financed by the State.

In the uSA the competitive Intelligence is focused on competitors and the developments of the sciences, technologies and industries. This activity is ranked so high that is part of the daily intelligence brief given to President Obama.

In uk the focus of the business Intelligence is mainly competitors and markets.

The French use two different wordings: one for business and one for administration.

On business side Economic Intelligence aims to master and secure information which is per-tinent for all economic players: This vision focus on business, society and cultural environ-ment, nations and companies strategies, and technologies development and use.

On administration side Economic Intelligence aims to implement a form of governance able to search and control information, with the final goal of improving and enhancing the competitiveness and security of the French economy and its strategic companies.

Golden rules for Economic intelligence

In order to implement a successful management using Economic intelligence there are ten golden rules:

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• define clearly the information requirements necessary to implement the desired stra-tegy.

• Search and collect information through open sources• collect through human sources missing information• analyze and synthesize all the data stored• control and monitor the degree of satisfaction of the management and receivers.• Protect important data, know how and in house expertise• influence positively and defensively the environment • try to be realistic, pragmatic and operational avoiding falling in a naïve or paranoia-

attitude.• Motivate staff and all employees to be involved and actively participate in Economic

Intelligence.

Conclusions

Economic Intelligence is the key for companies and countries to create a competitive advantage.

More than 80% of the information is open and available to everybody. key element is to get the right conclusions from the information that we gathered legally.

We have to keep in mind that network world where we live is tough. We suffer attacks from hostile competitors. We must also bear in mind that it is easy to get useful information about a company through direct or indirect way. hence we must protect our sensitive infor-mation.

Information is only useful if received at the right time to the right persons; if this goal is not achieved, information will be lost and the company or organization will loose a competitive hedge.

PercurSo ALAn JuILLET

Dirigiu, desenvolveu e reorganizou várias grandes empresas, tendo sido seguidamente convidado para funções e missões

oficiais no âmbito do gabinete do Primeiro-ministro e do Ministério da Defesa franceses. É licenciado pela

universidade de Stanford, da Califórnia e do Institut dés hautes Études de Defense nacionale e do Institut dês

hautes Études de Sécurité Intérieur. Foi docente universitário em Paris, Lyon e Madrid, bem como membro do

Conselho Económico do Ministério do Interior de 2008 a 2010, bem como administrador da Imprensa nacional,

conselheiro do Comércio Externo da França e presidente do Cercle Culture Economie Defense.

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Desafios da Inteligência Económica e Competitiva

AnDRÉ MaGrinHoECONOMISTA E DOCENTE uNIVERSITÁRIO NAS ÁREAS DE ECONOMIA E GESTÃO

Introdução

A “Inteligência Económica e competitiva” é um instrumento de gestão e de intervenção, de importância crescente, utilizado sobretudo pelas empresas e instituições das economias desenvolvidas, onde se assume a “gestão estratégica da informação” como uma alavanca fundamental do desempenho e da competitividade. Refira-se que os conceitos de inteligên-cia económica, inteligência competitiva, inteligência de negócios ou, como se optou neste artigo, inteligência económica e competitiva, são, apesar de algumas pequenas diferenças teóricas, equivalentes.

A razão de ser da “Inteligência Económica e competitiva” prende-se com a necessidade de infor-mar e estimular continuamente os diferentes níveis de execução da empresa e das institui-ções, de modo a criar uma gestão ofensiva e colectiva da informação útil e estratégica, por via de mecanismos eficazes de intervenção e de antecipação em relação aos mercados-alvo.

De acordo com Juillet (2004: 13) a inteligência económica pode ser definida como “o controlo e a protecção da informação estratégica pertinente para todos os actores económicos”. A exploração da informação assimétrica não se compadece com improvisos no mundo hiper-com-petitivo em que vivemos, na medida em que está em causa o conhecimento e o saber–fazer que está na base da competitividade e da segurança das empresas e do Estado.

Este artigo tem por objectivo proporcionar uma reflexão sobre o contexto que justifica a adop-ção de práticas de inteligência económica e competitiva por parte das empresas e do Estado e, bem assim, evidenciar os principais desafios a que, em Portugal, se colocam nesta matéria.

Os conceitos de inteligência económica, inteligência competitiva, inteligência de negócios, ou como se optou neste artigo, inteligência económica e competitiva, são, apesar de algumas pequenas diferenças teóricas, equivalentes.

O Contexto da Inteligência Económica e Competitiva

O fenómeno da globalização que se tem vindo a acelerar a partir do final da década de 80 do século XX até à actualidade, muito particularmente, após a queda do muro de Berlim, veio trazer um novo enquadramento e novos desafios às economias e sociedades. As mudanças de ordem política, económica e estratégica que lhe estão associadas são acompanhadas e impulsionadas por uma revolução tecnológica. Baseada, de acordo com Venkatraman (1989), em inovações técnicas cuja finalidade é a compressão do tempo e do espaço, estas tecnologias

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constituíram um eixo de desenvolvimento de novas actividades geradoras de rentabilidade e de vantagens concorrenciais.

neste novo contexto assiste-se à emergência de um novo paradigma estruturado em torno da informação, entendida como recurso estratégico das organizações e dos Estados, com consequências importantes ao nível das estratégias empresariais e das políticas públicas. O “valor da informação” (Martinet e Marti, 2000: 19) é um elemento-chave da sociedade da informa-ção ou da economia baseada no conhecimento, que são os conceitos que melhor traduzem esta nova dinâmica económica e social, em que a exploração da informação assimétrica está no epicentro.

O acesso à informação para além de uma questão de poder transformou-se, de acordo com Bulinge (2002), numa questão económica e social, o símbolo de uma dialéctica de indepen-dência ou de dominação política, cultural ou comercial, de integração ou de exclusão económica e social. Acresce que uma análise comparada de diferentes sistemas económicos revela uma ligação entre eficiência económica e modelos portadores de uma cultura colectiva de infor-mação, isto é, orientada pela troca e partilha.

A afirmação das economias no quadro da nova era global é uma componente indissociável da competitividade das empresas, cujas vantagens competitivas decorrem, cada vez mais, do domínio dos intangíveis competitivos, em cuja essência está o conhecimento intensivo, isto é, informação, formação, marca, design, marketing, patentes, propriedade intelectual, redes de cooperação e de conhecimento, entre outros, os quais corporizam o seu “património imate-rial” (Debecque, 2007: 4). O domínio destes factores é essencial para capacitar as economias e as organizações para anteciparem as mudanças, estimularem a criatividade e a inovação que lhes conferem a criação de vantagens competitivas. Aliás, sem inovação não há reactividade, nem soluções novas para os problemas específicos e muito menos existirá proactividade.

O conhecimento e a informação como principais fontes da produtividade e do crescimento, obrigam a que as organizações tenham que considerar cada vez mais o seu ambiente exter-no como uma dimensão activa da sua estratégia. nesta perspectiva, “é a atitude individual e colectiva para compreender a informação, produzir e dominar o conhecimento novo e agir de forma coordenada que fundamenta a performance de uma empresa, a prosperidade de um território, o poder de um país, ou um conjunto de países que partilham uma comuni-dade de destino (a união Europeia, por exemplo)” (Levet, 2001: VIII).

É neste quadro que a inteligência económica (IE), muitas vezes assumindo outras designa-ções (sobretudo inteligência económica e competitiva, inteligência competitiva, inteligência de negócios, inteligência territorial), alicerçada na gestão estratégica da informação, ganha expressão como instrumento de competitividade. Daí que as empresas e também os poderes públicos passem a recorrer cada vez mais à inteligência económica, respectivamente a nível das estratégias empresariais e nas políticas públicas, para melhor responderem aos principais desafios que se lhes colocam, designadamente em matéria de inovação e competitividade, desígnios incontornáveis numa economia baseada no conhecimento. na perspectiva empre-sarial “a inteligência económica é acima de tudo um instrumento de apoio à decisão; apoia-se na informação de decisão, isto é a informação que constitui um recurso estratégico para a empresa. O seu objecto é a redução da incerteza com o objectivo de tornar a decisão não aleatória” (Dupré e Duhard, 1997: 14).

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A inteligência económica articula-se em torno de um produto (a informação para agir), de um processo (os meios utilizados para aceder e servir-se da informação) e de um mercado (troca e partilha da informação). É este o sentido da informação na óptica da inteligência económica em que os imperativos da inovação e da competitividade sobrelevam. Refira-se que “as fontes de informação multiplicam-se, entrecruzam-se, sobrepõem-se. Os stocks gigantescos, tanto no interior como no exterior das empresas, são largamente inexplorados por estas; a menos que a informação seja metodicamente classificada, inventariada, disseca-da, a sua proliferação é mais um mal do que um bem. O responsável tem muitas vezes de tomar decisões de curto prazo. Tem ele tempo para avaliar a informação disponível? Sim, desde que tenha à sua disposição um instrumento eficaz e fiável que a partir de agora se passa a designar «inteligência económica»” (Audigier et al, 2003: 20).

De facto, os imperativos da competitividade a que as empresas têm que fazer face em per-manência, obrigam-nas a que sejam vistas pelo mercado, pelo ponto de vista das vantagens competitivas, isto é, em função da cadeia de valor para o cliente, repercutida na percepção da qualidade dos produtos e serviços que providenciam. Daí que necessitem de se interrogar sistematicamente sobre: o que fazer para manter ou reforçar a sua vantagem competitiva face aos seus concorrentes tendo em conta as mudanças constantes na envolvente de negó-cios? Obviamente, antecipando-se às mudanças, perspectivando as oportunidades e obser-vando com olhos críticos o panorama socio-económico. E como fazer tudo isto? Monitori-zando permanentemente o fluxo de informação crítico da empresa, o que desde logo exige uma avaliação inteligente do ambiente interno e externo da empresa. A empresa deve adoptar uma série de reflexos normalmente reagrupados sob o termo de inteligência eco-nómica ou inteligência competitiva, nomeadamente, “implementar operações sólidas de vigilância, securizar o seu património informacional, e enfim, exercer uma influência” (Blanc et al, 2006: 3). É por isso que a actividade de inteligência económica e competitiva se revela tão importante dentro do processo decisório, nomeadamente no contexto empresarial. Con-cretamente, “os profissionais da área da inteligência, através das suas análises, devem ser capazes de apoiar o planeamento estratégico da organização na identificação dos mercados potenciais, no desenvolvimento de novos produtos, no planeamento de fusões e aquisições, nas antecipações de mudanças na indústria e nas estratégias dos concorrentes, na identificação de novos e potenciais concorrentes, na descoberta de potenciais parceiros, na identificação das forças e fraquezas dos concorrentes, e na identificação do que está ou não a correr bem” (Silva e neves, 2003: 339).

Se o papel da inteligência económica é inquestionavelmente importante ao nível microeco-nómico, não o é menos como política pública. nesta perspectiva, veja-se, por exemplo, o caminho que a inteligência económica trilhou em França com dois marcos importantes, primeiro o relatório Martre em 1994, que teve a particularidade de promover e implantar o conceito, levando à criação de um conselho de orientação presidido por Bernard Esambert em 1995, e, mais recentemente, à publicação de um relatório, por solicitação do Primeiro Ministro francês, pelo deputado Bernard Carayon em 2003, cuja consequência foi a criação da missão do “Alto Responsável” para a inteligência económica. Com a designação de “inte-ligência económica, coesão social e competitividade”, o relatório coloca a inteligência eco-nómica como “uma verdadeira e grande política pública do Estado à semelhança do que são as políticas de saúde, do ambiente ou da fiscalidade” (Carayon, 2003: 11). Consequentemente, e ainda segundo este autor, do sistema de inteligência económica espera-se que contribua para a “protecção do nosso [França] património científico e industrial, para os ganhos de competitividade e quotas de mercado, uma influência renovada no mundo nomeada-mente junto de todos os que não se resignam a depender de um fornecedor exclusivo,

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DESAFIOS DA InTELIgÊnCIA ECOnóMICA E COMPETITIVA

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mas também, das organizações internacionais, junto daqueles que exprimem desolação perante os contornos ou a recusa das regras do direito internacional: ontem as de kyoto, hoje as da Onu (Organização das nações unidas), e amanhã ou depois, as da OMC” (op. cit.).

As respostas a estes desafios e mudanças relacionadas com o acesso aos mercados e a neces-sidade de posicionamento competitivo que daí decorre, a par das indispensáveis iniciativas regulamentares que o Estado deve tomar, exige da empresa a adopção de uma série de reflexos que se revêem na inteligência económica e competitiva. Constituem elementos rele-vantes da “inteligência económica e competitiva”: a recolha, a interpretação, a partilha, a protecção e a distribuição da informação útil e estratégica junto dos decisores que dela necessitam, assim como a cooperação, as redes, a vigilância, a influência (lobbying), a inovação e a gestão do conhecimento, a securização do património informacional. As empresas que adoptam boas práticas de “inteligência económica” preocupam-se com a gestão do conhe-cimento e da inovação; a criação de uma competência interna para valorizar a informação; a adopção de métodos eficazes de análise e de interpretação da informação; a gestão da per-cepção (perception management); a reacção em tempo útil e a capacidade de antecipação de acordo com os seus objectivos estratégicos e as exigências dos clientes e dos mercados.

Deste modo pode-se considerar que a inteligência económica e competitiva é, acima de tudo, um assunto das empresas, estando intrinsecamente ligada à valorização da sua cadeia de valor e à sua afirmação competitiva em termos de acesso aos mercados, através de uma adequada gestão estratégica da informação. Todos os colaboradores da empresa devem ser parte acti-va dos procedimentos de inteligência económica e competitiva. Aliás, esta pressupõe a exis-tência de vontade da direcção de topo, mas com uma cultura partilhada, organizações com estruturas tendencialmente mais planas, aptas a trabalhar em rede.

Mas a inteligência económica e competitiva é, também, um assunto dos Estados e dos pode-res públicos, seja porque a competitividade sustentável exige o aumento da produtividade que só pode ser conseguida por via de uma política económica e industrial que privilegie a I&D, uma gestão activa visando reduzir o risco inerente ao investimento, assim como a intro-dução de novas tecnologias e a entrada em novas actividades, bem como o funcionamento em rede das diversas estruturas do Estado ao serviço das empresas, o que pressupõe nome-adamente uma melhor utilização das redes internacionais que dispõe e, consequentemente, uma adequada agilização dos mecanismos de diplomacia económica disponíveis.

É, ainda, um assunto dos cidadãos, que se reflecte na identidade, solidariedade, na mobili-zação e sentimento de pertença a uma comunidade nacional, enquanto elementos decisivos da acção colectiva.

Portugal e a Inteligência Económica e Competitiva

Se outras razões não existissem, as que se prendem com a inovação, internacionalização e competitividade da economia portuguesa são mais que suficientes para justificar a adop-ção de procedimentos de inteligência económica e competitiva por parte das empresas portuguesas. De igual modo se justifica uma política pública de inteligência económica. À semelhança do que sucede em França, que após a adopção como política pública, do rela-tório intitulado “inteligência económica, competitividade e coesão social”, datado de 2003, da responsabilidade do deputado Bernard Carayon, tendo sido nomeado um Alto Responsá-vel para a Inteligência Económica, também em Portugal se justifica a assumpção da inteligência

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económica como política pública, traduzindo uma visão e um programa estratégicos e um conjunto de práticas relacionadas com a gestão estratégica da informação que, entre outros aspectos, permitirá: (i) reforçar o acesso das empresas à informação sobre os mercados externos, e o apoio que devem receber das representações portuguesas no estrangeiro, nomeada-mente em matéria de diplomacia económica; e, (ii) apoiar as empresas no contexto de saída da crise, proporcionando-lhes informação, incentivos rápidos, acesso a fundos multilaterias, acções de lobbying e enfim o apoio logístico e de segurança por forma a minimizar riscos num ambiente hipercompetitivo e, em muitos casos, de insegurança acrescida.

A inteligência económica e competitiva é, por isso, necessária, em primeiro lugar para poten-ciar aquele que é o principal objectivo estratégico que, em matéria de inovação e competi-tividade, se coloca actualmente à economia portuguesa: alargar e enriquecer a carteira de actividades, produtos e serviços transaccionáveis com que Portugal se expõe perante a globalização e, consequentemente, lhe permite também defender o seu mercado interno e a economia de proximidade em sistema aberto. Em segundo lugar, um dispositivo de inte-ligência económica e competitiva é também importante para apoiar a diversificação dos nos-sos mercados de exportação, concentrado excessivamente na união Europeia (cerca de 73%) e, nesta, sobretudo em quatro países, afigurando-se por isso necessário prospectar e investir em mercados de oportunidade, principalmente situados na vertente atlântica do nosso rela-cionamento externo. Em terceiro lugar, a inteligência económica e competitiva, serve também para apoiar a constituição das redes e parcerias, incluindo as de natureza público-privada, assim como a implementação de formas de cooperação interempresas que contribuam para a modernização e o redimensionamento do tecido empresarial português, particularmente no que se refere às PME. Em quarto lugar, a inteligência económica e competitiva deve ser um instrumento para apoiar a inovação nos denominados sectores tradicionais, como os têxteis e o calçado, onde aliás existem excelentes experiências, mas, também, para investir de forma inteligente em novas actividades e sectores, onde a procura internacional se afigura mais dinâmica no futuro, como são os casos das TIC, novas energias, tecnologias da saúde, biotecnologias, novos materiais, entre outros. Em quinto lugar, a inteligência económica e competitiva deve servir para criar os mecanismos e os incentivos que permitam trazer para o terreno da internacionalização e da exportação uma fatia das PME muito superior à actual, aliás, um factor decisivo para Portugal alargar a sua base exportadora.

Por último a inteligência económica e competitiva permitir-nos-á uma leitura e um posicio-namento adequado em relação ao novo paradigma económico que está a emergir no con-texto da actual crise sistémica. De facto, de acordo com os mais reputados economistas e centros de prospectiva, o novo ciclo de crescimento que se seguirá à actual crise sistémica internacional, terá como paradigma o aprofundamento da economia baseada no conhecimento e, conse-quentemente, o reforço do papel da inovação na actividade empresarial. Significa, também, que se assistirá à massificação em toda a extensão dos bens e serviços característicos da eco-nomia do conhecimento, mediante uma forte clusterização entre novas tecnologias e tecnologias maduras, criando novos produtos, novos serviços, novos processos e novas funcionalidades, em que relevam alguns sectores, muito particularmente, em torno do binómio energia-ambien-te no quadro do desenvolvimento sustentável. Outros sectores e actividades, tais como os novos materiais, as tecnologias da saúde, as nanotecnologias, as biotecnologias, o espaço, os oce-anos reforçarão igualmente a sua importância como motores e fontes de oportunidades. As TIC terão um papel transversal da maior importância em relação a todos eles. É neste quadro que devem ser equacionados muitos dos desafios e oportunidades para as empresas e para a economia portuguesa, particularmente em matéria de inovação e competitividade, onde a inteligência económica e competitiva deverá ter um papel acrescido.

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DESAFIOS DA InTELIgÊnCIA ECOnóMICA E COMPETITIVA

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Em síntese, a necessidade de investir na inteligência económica e competitiva diz respeito tanto às empresas como ao Estado e às entidades que estão na sua esfera, mediante um envolvimento colectivo que carece de um foco, o qual deverá ter como móbil a informação útil e estratégica relacionada com o acesso aos mercados e as redes e parcerias, incluindo as de natureza público-privada, que no seu conjunto deverão contribuir para afirmação competitiva das empresas e da economia.

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PercurSo AnDRÉ MAgRInhO

Doutorado em gestão pela universidade da Beira Interior (uBI), em 2009, tendo como objecto de tese,

“A inteligência económica – um modelo empírico de exploração da inteligência económica pelas empresas

portuguesas”; Economista; Mestre em Economia pelo Instituto Superior de Economia e gestão (ISEg), em 1993.

É adjunto do Presidente do Conselho geral da AIP-CCI e da Fundação AIP. Exerce docência universitária nas áreas

de Economia e gestão. Desempenhou funções de Assessor Económico do gabinete do Primeiro-ministro entre

novembro de 1995 e Abril de 2001, ocupando-se dos dossiers relacionados com o comércio, indústria e turismo.

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DESAFIOS DA InTELIgÊnCIA ECOnóMICA E COMPETITIVA

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Intervenções transcritas revistas e autorizadas pelos autores

Portugal, a união Europeia e os Desafios globaisJOÃO SALGuEIRO

A Língua Portuguesa e o seu valor económico no contexto da lusofonia e da economia globalJORGE BRAGA DE MACEDO

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Portugal, a União Europeia e os Desafios Globais

JOãO SalGueiro

DOCENTE uNIVERSITÁRIO E MEMBRO DO CONSELHO ECONóMICO E SOCIAL

Introdução

gostaria, antes de mais, de sublinhar a oportunidade e a relevância estratégica deste ciclo de conferências. E também de agradecer o convite que me permite participar nesta primeira reflexão. gostaria ainda de expressar o meu apreço pelo trabalho que o AICEP vem desen-volvendo para corresponder a duas prioridades fundamentais que condicionam o futuro da nossa economia: encorajar o investimento produtivo e, assim, o emprego; contribuir para o reequilíbrio da nossa balança externa.

numa época em que, nos países emergentes, se assiste à derradeira etapa da Revolução Industrial, iniciada no séc. XVIII no Reino unido, sobressai a necessidade de compreender as radicais consequências dos novos desafios globais. A união Europeia e muitos dos Países Membros têm evidenciado dificuldade em conciliar as suas tradições e prioridades próprias com as exigências de um mercado globalizado e pluricultural, que impõe a reavaliação do Modelo Social e do posicionamento eurocêntrico.

neste contexto, merece particular relevo a realidade portuguesa, caso extremo de dificuldade e adiamento na reconversão das suas estruturas produtivas.

Interpretação da crise

A avaliação do actual quadro económico internacional deve, naturalmente, iniciar-se pela interpretação da crise bancária e financeira que temos defrontado nos últimos dois anos.

Quando, após continuada e excessiva valorização de activos mobiliários e imobiliários nos E.u.A., se tornou evidente a impossibilidade de manter os níveis já atingidos, assistiu-se a rápida queda de valores, conduzindo diversos bancos de investimento americanos a situações de rotura financeira, pela queda do “subprime” e valores bolsistas, com a consequente per-da de confiança no sistema bancário.

A crise financeira rapidamente conduziu à crise generalizada da actividade económica, atin-gindo também a Europa e os mercados mundiais. Com o colapso das expectativas de cresci-mento, os investidores diminuíram ou adiaram as transacções previstas, optaram pela redução de stocks, pela preferência de liquidez e reduziram a compra de equipamentos, provocando generalizada diminuição da procura. Deste modo, inevitavelmente, teve lugar a redução do nível de actividade económica, com repercussões directas no emprego, nas políticas de salá-rios e nas receitas fiscais.

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A análise da crise económica de 1929 e das políticas de inspiração keynesiana, posteriormente adoptadas, permite contextualizar a gestão da procura agregada. Deve recordar-sea dificul-dade de plena utilização da capacidade produtiva dos países na ausência de níveis de despesa global que a tornem possível. um nível insuficiente de despesa conduz ao desemprego, mas o seu excesso, originando pressões inflacionistas, produz novos desequilíbrios, o que exige dos governos a gestão rigorosa da despesa nacional, evitando o agravamento de expectati-vas e desequilíbrios nos mercados.

no período imediato do pós-guerra, desde 1945, a gestão da despesa global permitiu a expan-são continuada dos novos investimentos exigidos pelos níveis da destruição causada em diversos países. As dinâmicas de desenvolvimento industrial beneficiaram, em variados secto-res, de importantes inovações adiadas pelas exigências do rearmamento - como na indústria automóvel, aviação, plásticos ou indústria farmacêutica - bem como da energia abundante e de baixo custo, com base no petróleo, e da disponibilidade de mão de obra, em conse-quência de desmobilizações, fluxos de refugiados e redução do emprego na agricultura.

Face à actual crise económica internacional - por alguns perspectivada como a mais grave desde os anos trinta - os governos dispõem naturalmente de instrumentos eficazes para dinamizar a retoma da procura interna, como a descida das taxas de juro, aumento da des-pesa pública ou concessão de reduções fiscais. Estas medidas contribuem para a revitalização económica e também para retoma da confiança se alicerçadas numa actuação responsável do Estado, uma vez que não se pode esquecer a necessidade de manter a disciplina da des-pesa pública, evitando o endividamento excessivo e o agravamento das taxas de juro.

Da análise do enquadramento económico da crise financeira nos E.u.A resulta a percepção de que o dinamismo da sua economia dependeu, em larga medida, de autêntico “dopping” financeiro, que favoreceu a exuberância do consumo, e a valorização continuada do imobi-liário e dos activos financeiros, contribuindo para a crescente especialização em serviços de valor acrescentado e a gradual desindustrialização, com actividades industriais deslocalizadas para Países em vias de desenvolvimento. Em larga medida, o desempenho da economia nor-te americana assentou, assim, em sectores fortemente associados à expansão do crédito, como os serviços financeiros e a construção imobiliária.

É provável que ao favorecer esta reconversão se tenha procurado compensar a perda da com-petitividade e do emprego nos sectores tradicionais, consequência do acréscimo de concor-rência global.

Perspectiva

numa perspectiva de médio prazo, não se pode esquecer que o termo das lógicas de guerra-fria conduziu a alterações fundamentais, com o abandono da competição entre modelos alter-nativos, de economia planificada e de economia de mercado. A adesão a sistemas de livre concorrência, mesmo em países que mantiveram regimes de governo comunista, como a China e o Vietname, levaram ao abandono generalizado das economias planificadas e a processos de industrialização orientados para o mercado internacional.

A dimensão das transformações agora em curso revela-se melhor quando se compara a Revo-lução Industrial Inglesa com a actual industrialização dos países emergentes. A Revolução Industrial Inglesa, iniciada no séc. XVIII e que marcou o mundo no séc. XIX, teve lugar, com

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taxas de crescimento de 2% num País de 13 milhões de habitantes. Em contraste, a revolução industrial na China, paradigma dos desenvolvimentos actuais, tem tido lugar com taxas de cres-cimento da ordem dos 10% num País com 1.300 milhões de habitantes. É, assim, fácil avaliar a dimensão dos desafios globais que, inevitavelmente, daí decorrem.

neste quadro da economia global, e das radicais transformações em curso, paradoxalmente, a Estratégia de Lisboa prolonga uma lógica de eurocentrismo, ignorando, na prática, a con-corrência dos países emergentes, dando prioridade à conservação do modelo social europeu, à manutenção de salários elevados e de avançado sistema de segurança social, sem avaliação fundamentada das exigências de modernização da base económica face à concorrência internacional.

O modelo social europeu é, naturalmente, valorizado pela classe política, pelos sindicatos e pelos cidadãos em geral mas dificilmente resistiria no futuro se não encontrasse novas respostas face às ameaças da subvalorização salarial em economias como a China ou a Índia. De momento, a solução projectada é a da especialização europeia em produtos de alto valor acrescentado e inovação tecnológica, mas também esta estratégia poderá vir a ser condicio-nada pela reorientação produtiva dos países emergentes para produtos semelhantes, de crescente valor e inovação. não devemos esquecer que, se o reajustamento europeu não se conseguir pelo aumento de competitividade, poderá conduzir a níveis elevados de desemprego endémico.

Eficácia das políticas

A curto prazo, face à crise actual, pode prever-se uma recuperação mais célere dos E.u.A. do que na união Europeia. neste contexto, interroga-se crescentemente a definição e eficácia das polí-ticas comuns da uE no avanço da integração europeia. Ao mesmo tempo, assiste-se ao reno-vado interesse pelas prioridades e estratégias nacionais, mesmo em pequenos países, na Europa como em outros Continentes.

De qualquer modo, a ausência de claro posicionamento estratégico e a inoperância de polí-ticas comuns contrariam uma resposta europeia aos desafios actuais. Acresce que é impossível definir políticas comuns sem os recursos adequados; as conhecidas objecções ao federalismo fiscal na Europa mantém um orçamento comunitário inferior a 1,5 por cento do PIB, com cerca de 40% do seu valor destinado à PAC e quase 10 por cento para encargos gerais.

As características das instituições políticas europeias e o deficit democrático que delas resulta, com a dificuldade de ajustamento das políticas comunitárias às realidades nacionais, agrava, naturalmente, a capacidade de resposta efectiva de cada país-membro aos desafios interna-cionais.

no sistema comunitário, a influência do Conselho Europeu, que é decisiva nas opções finais, dificilmente assegura uma lógica comunitária, uma vez que cada um dos seus membros não é directamente eleito por “cidadãos europeus”, mas eleito e avaliado apenas pelos seus próprios eleitores nacionais. É certo que a iniciativa é assegurada pela Comissão Europeia, mas a existência de propostas por parte de Estados influentes raramente pode ser ignorada. na prática, prevalece a lógica de um Directório, sendo a própria ponderação de votos defi-nida pelos Tratados Europeus de modo a assegurar que um pequeno conjunto de países tenha posição determinante. Muito diferente é, por exemplo, a configuração das institui-ções políticas nos E.u.A. permitindo conciliar a definição e a prevalência dos interesses

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comuns com as dos diferentes interesses estaduais, em consequência da eleição directa do Presi-dente - num sistema presidencialista - e de um Senado que garante idêntico peso de voto para cada um dos Estados, tornando-se, assim, inviável a prevalência das posições de poucos Estados de maior dimensão.

um recente inquérito Eurobarómetro mostrou que apenas 4 por cento se definiam como euro-peus e mais de 40 por cento como nacionais do seu próprio País, em detrimento da identidade europeia. Torna-se, assim, naturalmente difícil que se procurem e definam soluções solidá-rias, prevalecendo as lógicas nacionais, muitas vezes contraditórias. Em épocas de crise acen-tuam-se ainda as disparidades de interesses, limitando o reforço das políticas de coesão.

Défice de competitividade

De qualquer modo, impõe-se reconhecer que os desequilíbrios conjunturais e a falta de com-petitividade dos Países Europeus, que se tem vindo a registar no quadro da economia global, não podem ser unicamente explicados pelas consequências da crise financeira. no espaço da união, alguns Países apresentam deficits da balança de pagamento desde o início do século (como se verifica, particularmente, nos Países Mediterrâneos), enquanto outros têm registado sem-pre excedentes (como é o caso da Alemanha ou dos Países nórdicos).

Os desafios de competitividade que os países da uE defrontam têm encontrado limitadas respostas no quadro das políticas comuns - da política comercial, política de concorrência e, para a zona Euro, da política monetária. Subsistem situações muito diversas, reveladas nas disparidades vincadas e persistentes na balança de pagamentos dos países excedentários e deficitários.

As diferentes situações resultam certamente de desajustamentos das políticas orçamentais, mas revelam também estruturas produtivas, atingidas em diferente grau pela concorrência dos países emergentes. numa primeira fase foram afectadas as actividades de mão de obra intensiva, mas a progressão na cadeia de valor das economias emergentes tenderá a atingir sectores mais avançados - como a indústria automóvel, química ou de equipamentos - o que aconteceu, aliás, em idênticos sectores nos E.u.A. Para além das economias periféricas, outros Países Europeus tenderão, assim, a ser afectados em períodos posteriores. no seu conjunto, a taxa média de crescimento do PIB europeu e os níveis de desemprego que se têm mantido revelam já a deficiente resposta aos desafios de competitividade.

Pode perguntar-se como foi possível que os desequilíbrios do comércio mundial tenham atingido níveis tão elevados e duradouros. Várias razões explicam a ausência ou a fraca prio-ridade atribuída à correcção das disparidades de enquadramento institucional entre a uE, os E.u.A e alguns países asiáticos. A prioridade atribuída pelos dirigentes europeus e ameri-canos à promoção da liberdade do comércio mundial, resulta, por um lado, da vontade de facilitar o acesso das suas exportações aos mercados emergentes e, também, das vantagens reconhecidas à importação de produtos de consumo e componentes industriais de preço reduzido, que contribuem para limitar pressões inflacionistas. Acresce que a generalidade das multinacionais europeias, em regra com sede nos Países Membros de maior tradição industrial, têm deslocalizado muitas das suas principais unidades para países de menores custos salariais e fraco grau de sindicalização. Reduzem, assim, os seus custos embora contri-buam, naturalmente, para agravar problemas de desemprego na Europa.

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Um caso extremo

Portugal configura um caso extremo de desequilíbrio nas contas externas desde 1999, inde-pendentemente, portanto, das consequências da recente crise. Ao tradicional deficit das tro-cas comerciais tem-se acrescentado o crescente peso dos juros da dívida externa e o declínio das transferências correntes, nomeadamente do saldo das remessas de emigrantes.

Mais do que reflexo dos recentes desequilíbrios conjunturais, o agravamento das contas nacionais revela-se como consequência de graves dificuldades estruturais no ajustamento das actividades produtivas aos novos desafios da concorrência global. no conjunto, a insufi-ciente expansão das exportações tradicionais prevalece face ao peso ainda limitado das empre-sas que têm sido capazes de maior inovação tecnológica. no sector dos Serviços, a expansão de oferta turística contrasta com a incapacidade que temos revelado - no confronto com outros países - quanto ao potencial exportador dos serviços financeiros, de saúde ou de edu-cação. Inversamente, assistiu-se em Portugal ao desproporcionado crescimento dos sectores de bens não transaccionáveis, como obras públicas, infra-estruturas de transportes e energia ou administração pública.

Face ao declínio da poupança interna, o peso dos grandes investimentos e o crescimento da despesa pública corrente têm vindo a provocar o recurso ao financiamento internacional, cujos custos se tem procurado adiar, nomeadamente com a opção por parcerias público-pri-vadas. no mesmo sentido, assistiu-se desde o início do século à acumulação de dívida pelo sector empresarial e pelas famílias portuguesas, através da intermediação bancária, atingin-do os mais elevados níveis relativos no confronto europeu.

Definir com realismo

não estando ao alcance de Portugal impor a inflexão das políticas comunitárias (nomeada-mente quanto ao comércio externo e ao IDE) dependentes das prioridades do Directório Europeu, importa-nos assumir com rigor a inevitabilidade do actual quadro e definir com realismo as melhores estratégias ao nosso alcance, sem ilusões ou adiamento dos ajustamen-tos indispensáveis.

O nosso problema reduz-se assim - sem deixar de defender, nas instâncias europeias, políti-cas de coesão económica e social e de desenvolvimento sustentável - a definir e implemen-tar, com determinação, estratégias nacionais para estimular a competitividade e o emprego o que, infelizmente, não temos conseguido.

Antes de mais, é indispensável assumir um diagnóstico correcto da situação e das perspectivas da nossa economia. não é possível, nem defensável, continuar a atribuir os nossos actuais desequilíbrios económicos a meros efeitos da crise internacional, uma vez que a precederam de vários anos, pelos menos desde o início do milénio. um diagnóstico correcto impõe, pelo contrário, assumir que os nossos indicadores de competitividade evidenciam, há mais de oito anos, a pior situação da zona Euro e uma das piores de entre os vinte e sete Estados Mem-bros. Portugal não pode, pois, esperar que a solução nos seus bloqueamentos económicos resulte da recuperação da conjuntura europeia e da conjuntura internacional, impondo-se corrigir os obstáculos internos e os problemas estruturais que revelam.

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Em várias áreas se reconhece, aliás, e desde há muito, a necessidade de reformas estruturais, como é o caso dos sistemas de justiça, de educação, de saúde, do mercado de arrendamento ou da administração pública, que representam graves condicionantes da competitividade do País e da qualidade de vida dos portugueses. Pelo menos, desde 1978, com o V governo Constitucional, se sublinha a necessidade destas reformas, consideradas urgentes mas sem-pre adiadas; de novo, em 1983, o governo de “Bloco Central”, com a maioria de dois terços que dispunha na Assembleia da República, assumiu o objectivo de as levar a cabo mas, mais uma vez, não tiveram lugar. nas várias fases de crescente integração da nossa economia no espaço europeu - com a adesão à CEE em 1986, o Mercado Único em 1992, o Euro em 1999 e os sucessivos alargamentos - permaneceram sem resposta os entraves sistémicos que com-prometiam a nossa capacidade competitiva e deviam ter sido corrigidos.

Estratégias vencedoras

A correcção dos desequilíbrios e bloqueamentos estruturais que enfrentamos e que importa erradicar, implica a definição de estratégias vencedoras mas exige, ao mesmo tempo, a elimi-nação dos complexos, desperdícios, comportamentos ineficazes e decisões ruinosas com que temos convivido.

Com o reconhecido complexo de “bom aluno europeu”, temos prescindido de objectivos nacionais mais ambiciosos, à medida dos nossos desafios e oportunidades. A falta de deter-minação no reconhecimento e resolução dos obstáculos tem conduzido a generalizada resig-nação - por parte do estado, dos políticos, das empresas e suas associações, e dos particulares em geral, quanto aos objectivos de crescimento económico, de competitividade e de emprego.

Para além do complexo de dependência europeia - que nos tem inibido de posições claras para defesa de interesses essenciais, como aconteceu, por exemplo, na negociação do Tratado de Lisboa - outros complexos limitam as nossas expectativas de progresso. É esse o caso da acei-tação de limitações que se julga decorrerem da pequena dimensão do País mas que, na reali-dade, não assentam em qualquer evidência empírica que demonstre maiores dificuldades de países de menor dimensão no acesso aos mercados e aos objectivos de crescimento. Pelo contrário, existem suficientes exemplos de sucesso económico e político de países de menor dimensão, tanto na Europa como na ásia. O complexo associado às limitações de pequeno país para atingir um desempenho de primeira linha é algo que importa erradicar da menta-lidade dos governantes, dos eleitores e dos empresários portugueses.

O reforço da competitividade nacional também impõe rejeitar o argumento da nossa locali-zação periférica. A visão de um país na “cauda da Europa” impede o reconhecimento de que Portugal está, na realidade, localizado entre os dois maiores mercados do mundo: Europa Ocidental e América do norte. Comparativamente, países como a Coreia, Singapura ou Taiwan, que estão em zonas de maior risco e bem mais distantes dos E.u.A. e da uE, não invocam a perifericidade como atenuante para a não concretização de objectivos ambiciosos de competitividade e desenvolvimento.

A mediocridade dos nossos objectivos revela-se também quando consideramos “já estar no bom caminho” como sinónimo de sucesso. Mesmo quando se progride, qualquer progresso tem de ser aferido em relação aos avanços dos nossos parceiros e dos nossos concorrentes. O objectivo central da política económica portuguesa após 1986, de convergência a longo prazo para a média da uE -desde logo limitado nos seus próprios termos - não tem sido assegurado após

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2001, o que constitui insucesso flagrante e persistente, que deveria justificar avaliação e revisão das nossas estratégias e das políticas adoptadas.

na mesma linha de abdicação de objectivos de sucesso se insere a prática introduzida em Portugal nos últimos anos de benchmarking negativo, justificando os nossos insucessos pela comparação com os casos ainda mais desfavoráveis. Mas, é óbvio, que a utilidade da prática de benchmarking só pode resultar do estímulo derivado da comparação com casos de maior sucesso e da determinação de atingir os seus níveis no mais curto prazo.

Reformas sistémicas

Reconhecidamente, Portugal carece de abandonar o estado de negação em que tem vivido há mais de uma década para defender com frontalidade uma estratégia de progresso, fun-damentada e transparente, e assumir as políticas necessárias à sua concretização. Carece também de assegurar uma prática de avaliação sistemática dos resultados, pondo termo ao jogo de ilusões com que se confunde, intencionalmente, o mérito do anúncio de intenções e projectos com a conclusão das realizações efectivas.

Ponderando os custos e benefícios de opções alternativas, das orientações comunitárias e do benchmarking dos nossos parceiros, Portugal deve adoptar o seu próprio caminho para res-ponder aos desafios, ameaças e oportunidades que se nos deparam. uma década perdida desde o início do milénio - no qual vivemos sistematicamente acima dos recursos que fomos capazes de criar, agravando a nossa dependência face ao exterior - torna agora muito claras a urgência e dimensão das respostas que temos de construir.

Paradoxalmente, os desequilíbrios e a generalizada perda de confiança que a crise agudizou após 2008 podem hoje representar factores positivos, na medida em que favorecem consci-ência mais nítida dos problemas e põem fim às ilusões de que outros assegurarão a solução dos nossos desequilíbrios ou de que poderemos continuar a recusar ou adiar as mudanças necessárias.

na administração do Estado e das Autarquias as prioridades são agora ainda mais evidentes: eliminar os excessos de despesa corrente, as irracionalidades das práticas administrativas, a precariedade do ordenamento legal e jurídico, e o excessivo peso da burocracia -desenco-rajador das iniciativas de modernização, factor de desperdício e favorecedor de clientelismo e corrupção.

Por sua vez, o nível de desemprego atingido em Portugal representa hoje muito séria ameaça à coesão social e, ao mesmo tempo, evidencia a urgência de reconfigurar a orientação das políticas económicas. A ineficácia destas tornou-se flagrante face à dimensão e persis-tência dos desequilíbrios da balança de pagamentos, que consubstancia grave falta de com-petitividade externa. Durante dez anos foi ainda possível mascarar a gravidade dos desafios pelo recurso ao aumento da despesa pública e ao endividamento financeiro. Mas atingidos agora níveis insustentáveis nas taxas de juro da dívida ao exterior e no deficit das contas públi-cas, Portugal só poderá encontrar respostas para ambos os desequilíbrios através de políticas que estimulem investimento produtivo e, assim, a criação de emprego e o saldo das expor-tações. O mesmo é dizer que a solução depende de um quadro de competitividade capaz de encorajar o investimento empresarial, face aos bloqueamentos no financiamento dos inves-timentos públicos pelos mercados financeiros.

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nos seus fundamentos, o quadro de competitividade depende da conclusão de reformas sistémicas, já atrás referidas, consideradas urgentes há mais de duas décadas, para assegurar maior eficácia e certeza da justiça, qualidade do ensino e da formação profissional, adminis-tração pública modernizadora, competitividade fiscal, mobilidade e motivação da mão de obra, estímulo do arrendamento e requalificação urbana. A qualidade e prontidão das refor-mas é hoje, na prática, avaliada em tempo real pelo confronto com as condições e os estímulos à deslocalização oferecidos aos investidores nacionais e estrangeiros no espaço da uE alar-gada e da economia global. Portugal não pode prescindir de condições capazes de resistir ao confronto com os sistemas aplicados pelos nossos parceiros e que, em cada domínio, se reve-lem mais eficientes.

O papel dos actores

A resposta depende, na prática, do reconhecimento efectivo do papel dos empresários para o crescimento do PIB, para o equilíbrio das contas externas e para a criação de novos empre-gos. O Estado terá que assumir em permanência papel activo, para assegurar o quadro de estímulo exigido pelo confronto internacional.

Ao mesmo tempo, deve também sublinhar-se o papel directo dos nossos principais agentes económicos e sociais na promoção da competitividade. Esse será o caso das associações sin-dicais e das organizações de trabalhadores ao nível da empresa, se continuarem a progredir para uma cultura mais activa de intervenção no estímulo à produtividade e crescimento económico, como acontece nas economias de influência germânica, nos países nórdicos e, até, em alguns escassos exemplos em Portugal. Ao ideal de redistribuição que se justificava no séc. XIX e no período após a 2ª guerra Mundial, em espaços nacionais que mantinham ainda soberania comercial, monetária e cambial -podendo aplicar com sucesso políticas de inspiração keynesiana, para o pleno emprego e o progresso salarial - tem-se vindo a associar, face à concor-rência dos países emergentes, a preocupação de estimular o emprego e o desenvolvimento.

A correcção dos nossos desequilíbrios depende também, naturalmente, do contributo directo da classe empresarial para a mudança dos paradigmas comportamentais, com vista ao desen-volvimento e à competitividade, traduzindo maior exigência e determinação na fixação dos objectivos nacionais e dos programas necessários à sua realização. O associativismo empresarial tem, infelizmente, mantido influência insuficiente na formação dos objectivos e na avaliação dos resultados das políticas nacionais, configurando uma passividade que não deveria ter sobrevivido ao agravamento dos problemas portugueses no confronto externo.

no domínio das relações laborais, como exemplo, vale a pena referir a vantagem de ultra-passar a dicotomia jurídica que tem prevalecido entre nós, entre os regimes contratuais de duração perpétua e a precariedade dos contratos a termo certo. Face à rigidez prevale-cente em 1976, a orientação pragmática que presidiu à criação de um novo regime, de con-tratos a prazo certo, permitiu a criação, até ao presente, de quase 1/3 das oportunidades do mercado de emprego. Esta dicotomia, tendo sobrevivido a um período excessivamente longo, não responde aos desafios actuais. Se se mantiver a ausência de condições políticas para reconfigurar de forma integrada e mais justa o ordenamento jurídico das relações laborais, restaria responder aos desafios da realidade, mais uma vez com uma solução incompleta mas que permitisse mais rápida expansão do emprego nos sectores expostos à concorrência externa, com a criação, entre nós, de um terceiro regime, idêntico ao que vigora nos países nossos concorrentes.

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Prioridades

Quanto às prioridades do investimento produtivo, a exposição à concorrência internacional não permite soluções de excessivo voluntarismo político, devendo assentar, antes de mais, nas decisões das empresas, avaliando os seus projectos em função dos desafios e oportuni-dades que defrontam nos mercados. A simples vantagem comparativa dos sectores não asse-gura, automaticamente, o sucesso dos projectos e das empresas que os integram, directa-mente sujeitos ao exame da concorrência. Tal não obsta a reconhecer que por ausência de políticas orientadoras e de enquadramento favorável se tenham mantido, inexplicavelmente, desaproveitadas potencialidades nas actividades da agricultura e da pesca, que importa corrigir. Também não é fácil explicar que não se tenha enquadrado e promovido activamente a exportação de serviços (com a evidente excepção do turismo) como outros países têm feito, designadamente, os serviços financeiros, de educação ou de saúde.

Em regra, nas condições actuais do mercado global, graves desafios de concorrência resultam para as economias europeias dos baixos custos e das vantagens de escala associadas à dimen-são dos países emergentes. não se pode esquecer que o novo quadro de concorrência global atinge a generalidade dos países da uE, mas Portugal tem revelado maior incapacidade de compreender e responder aos novos desafios. Impõe-se, assim, mais rigoroso aproveita-mento das vantagens competitivas que estão ao nosso alcance.

não podemos, certamente, concorrer na redução de preços e em produtos indiferenciados mas sim pelo aproveitamento de nichos de mercados específicos e por imagens de marca. Depende certamente da especialização em produtos e serviços que permitam maior valor acrescentado, pela proximidade e segurança em relação aos mercados de maior poder de com-pra, através de uma prática sustentada de qualidade, rigor no cumprimento dos prazos, inovação, flexibilidade e ajustamento a procuras diversificadas.

A generalização de parcerias activas entre as empresas e os departamentos do Estado - de que esta Casa constitui um caso de sucesso - tende, felizmente entre nós, a merecer melhor compreensão.

Sendo agora bem mais claras a dimensão dos desafios e a sua urgência, importa seguir os bons exemplos e impor uma prática de maior exigência nos objectivos e na sua concretização em tempo útil. É o caminho que nos resta e que certamente vamos ser capazes de prosseguir para corresponder às necessidades e aspirações do tempo actual, como conseguimos em outras épocas recentes que exigiram grandes reajustamentos. Os portugueses têm certa-mente direito a aspirar a níveis de vida europeus, mas para o conseguir impõe-se que se organizem para criar as condições que os tornem possíveis.

Iniciativas como a que hoje nos reúne, proporcionam contributo essencial para a competiti-vidade na nossa economia. Importa motivar para diagnósticos realistas, objectivos mais ambiciosos e estratégias mais determinadas, assegurando uma participação activa e esclare-cida dos portugueses, a nossa melhor garantia para atingirmos respostas consequentes no tem-po que se impõe.

Principais conclusões

O balanço efectuado no âmbito da intervenção do Dr. João Salgueiro e do respectivo deba-te, focou-se fundamentalmente nos seguintes aspectos sobre as estratégias nacionais:

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• Ao confrontar as eventuais melhores políticas de combate à crise económica, seja pelo aumento de exportações ou pela redução de importações, considera-se que ambas as vias são susceptíveis de contribuir para o controlo do deficit externo, que se impõe com urgência sob risco de limitação do acesso aos mercados internacional de financiamento.

• Atendendo a que as políticas mencionadas traduzem efeitos de médio/longo prazo, Portugal deverá focar-se, simultaneamente, na elaboração de uma estratégia concer-tada de resposta aos problemas estruturais, com os quais se tem vindo a confrontar nos últimos anos.

• A melhoria do desempenho económico nacional e das condições de vida da população depende, consequentemente, da aquisição de um nível de produção e de criação de valor que corresponda às melhores práticas observadas na união Europeia. Face às limitações financeiras do sector público, é indispensável assegurar um quadro de com-petitividade que estimule o investimento empresarial. Para o efeito, é necessária a recon-figuração dos serviços públicos em áreas como justiça, educação e formação profissional, quadro laboral e da segurança social, entre outras.

• no que se refere ao turismo, foi realçado o respectivo contributo para as exportações de serviços nacionais, assim como a necessidade de maior investimento na qualificação profissional dos recursos humanos e no aumento da produção nacional que corres-ponda às necessidades do sector, aproveitando o potencial actualmente registado em relação aos bens e serviços importados.

• Sublinhou-se, igualmente, a necessidade de promover a exportação de outros servi-ços, designadamente, os serviços financeiros, de educação ou de saúde

• Finalmente, mereceu reflexão o contributo da política de promoção de obras públicas para a resolução dos actuais problemas económicos nacionais. Os projectos de grande dimensão, como a linha férrea de alta velocidade (TgV), o novo Aeroporto de Lisboa (nAL) ou a Terceira Travessia do Tejo, requerem nova análise dos custos e benefícios envolvidos, para fundamentar a utilidade dos respectivos programas face aos actuais desequilíbrios financeiros e elevadas taxas de juro.

• Porém, constatou-se a vantagem actual dos diversos projectos de menor dimensão -como a requalificação dos edifícios escolares ou a construção de barragens para produção de energia eléctrica - cuja relevância autónoma se impõe no relançamento económico do país, pelos significativos efeitos directos por unidade de investimento na criação de novos postos de trabalho.

PERCuRSO JOãO SALguEIRO

Licenciado em Economia, pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras e pós-graduado em Planeamento

Económico e Contabilidade Pública, pelo Instituto de Estudos Sociais de haia (Países Baixos).Iniciou a sua vida

profissional como técnico do Banco de Fomento nacional, foi director do Departamento Central de Planeamento,

vice-governador do Banco de Portugal, presidente dos Conselhos de Administração Banco de Fomento nacional

e da e da Caixa geral de Depósitos e presidente da Associação de Bancos Portugueses. Foi Ministro de Estado, das

Finanças e do Plano do VIII governo Constitucional de Pinto Balsemão (1981-1983). Actualmente é membro do Conselho

Económico e Social, vogal do Fundo de garantia de Depósitos e colaborador da Faculdade de Economia da universidade

nova de Lisboa, onde rege a cadeira de Seminário de Economia Europeia.

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PORTugAL, A unIãO EuROPEIA E OS DESAFIOS gLOBAIS

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A Língua Portuguesa e o seu valor económico no contexto da lusofonia e da economia global

JORgE BraGa de Macedo

DOCENTE uNIVERSITÁRIO E PRESIDENTE DO INSTITuTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTíFICA TROPICAL

Introdução

no momento em que a internacionalização está na ordem do dia, urge reflectir e perspecti-var a dimensão do valor de Portugal no mundo e compreender a importância do seu povo, da sua língua e da diáspora portuguesa, sem estar alheio às realidades da nossa integração europeia e do panorama internacional. nesse sentido, este debate – que exige uma interdis-ciplinaridade que combine história e geografia, economia e política, nacional e internacional - baseou-se na imperatividade de não descurar algumas áreas da política externa portuguesa, como a diplomática, a cultural e a económica, frequentemente incompreendidas ou ignoradas.

Lusofonia e Valor Económico da Língua Portuguesa um dos aspectos centrais na problemática da lusofonia é o conceito de lusofonia global. no que concerne a este ponto, que é uma “matéria esquecida ou presumida da política externa portuguesa”, a realidade não se pode cingir apenas ao facto de existirem oito países e muitas outras comunidades que falam a nossa língua, mesmo com sotaques ou ortografias diversificadas. Deve, portanto, comportar uma dimensão que projecte os oito países em direcções comuns e deve ser alvo de um maior enfoque na sua operacionalização porque, num mundo com concorrência à escala global, a lusofonia deve ser um desígnio nacional.

A Declaração de Bissau, que se encontra na génese desta percepção, revelando originalidade a nível de outras declarações sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, ao realçar a dimensão do “conhecimento mútuo” como um aspecto indispensável para a projecção dos países, destaca que a vontade política e os recursos financeiros não são suficientes. Sem conhecimento, e não é qualquer conhecimento, mas conhecimento mútuo, não existem resultados no terreno que permitam cumprir tais objectivos e que potenciem o valor de todos países da CPLP. Para além deste princípio generalizado da mutualidade, este conhecimento deverá ser continuado e repetido através de iniciativas de troca de impressões e experiên-cias, não podendo existir um isolamento entre o conhecimento abstracto dos universitários (ou do laboratório do Estado) e o da realidade das empresas.

É preciso mutualizar o conhecimento e isso deverá passar por uma análise multidimensional de diversos planos e indicadores. De facto, apenas um enquadramento interdisciplinar e uma reflexão departamental dos aspectos específicos da realidade e da forma de os potenciar em países em vias de desenvolvimento, permitirá, no âmbito da concepção de internacionalização, a transformação do conceito de competitividade num conceito político – naquilo que o orador denominou de diferencialidade.

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Este conceito define-se na forma como uma nação-Estado, foi nesse plano que o conceito se aplicou, é “igual, sendo diferente”, ou seja, “é melhor, sendo comparável”. nesse sentido, emerge uma espécie de “desconstrução” da diferencialidade através de dois tipos de equilí-brio: (i) equilíbrio complexo, o qual envolve, no caso de Portugal, uma combinação que, por vezes, é virtuosa e, em outros momentos, é viciosa de liberdades e de pertenças; e (ii) com-binação de liberdades, na qual a liberdade politica e a liberdade financeira são consecutiva-mente vistas como conflituantes. historicamente, uma das vertentes ignora frequentemente a outra e, se analisarmos a nossa história desde 1820, verificam-se períodos em que a liber-dade politica e a liberdade financeira não se compatibilizam. O facto de estarem em conflito não passa por essa falta de compatibilidade mas pela existência de factores que a desenca-deiam, como a convertibilidade da moeda. Contudo, não nos podemos reduzir à liberdade dos indivíduos, sendo que se deve abordar, igualmente, as suas pertenças e as suas concepções do mundo. neste ponto, para além da realidade local que é a tradicional do nosso país, exis-tem, de facto, duas – a europeia e a atlântica.

Em termos de valor económico, clarificou-se que o valor económico de Portugal no mundo deve avaliar-se antes de mais na perspectiva do mercado nacional relativamente ao mercado global, e depois pela introdução da dimensão política, a nível da nação. neste domínio, de denotar o perigo da existência de conflitos dentro dos próprios governos, muito mais graves do que entre o governo e a oposição, verificando-se a existência de uma espécie de guerra de destruição mútua entre órgãos de soberania, cuja consequência é evidente-mente a perda, muito embora não atinja sobremaneira os titulares, antes o país. De consi-derar também, neste quadro, a separação de poderes, posto que uma grande conquista, também leva, por vezes, a ineficiências dramáticas.

A nível externo, o país deverá caminhar para a diferencialidade não deixando de atender à necessidade de existência de cooperação com países subdesenvolvidos dependentes da ajuda exterior. Assim, se acrescentarmos à equação a competitividade económica, medi-da nos termos habituais - com as taxas de câmbio reais efectivas e outras medidas que permitam ver como o mercado nacional se compara ao mercado global - ter-se-á que intro-duzir estas duas dimensões, cooperação e competitividade, para se poder alcançar o concei-to de diferencialidade.

numa menção à história de Portugal, o conferencista ilustrou o peso da CPLP, nomeadamente através de um indicador que avalia a percentagem do peso do Produto por Lusófono em rela-ção à média mundial. Evolutivamente, até ao princípio da era industrial, existe uma afirmação e convergência através de um ganho de competitividade e diferencialidade. A visão moder-na da globalização dá uma grande importância a este crescimento de diferencialidade, que começou neste momento, apesar da revolução do conhecimento ter ocorrido muito antes.

no século XIX, as consequências das invasões napoleónicas e o drama da Revolução Francesa, principalmente no Brasil, o único caso da América do Sul em que não foi a Revolução Americana que agitou as elites, confirmam o descalabro da diferencialidade até ao início do século XX seguida das guerras Mundiais. Entretanto, existe uma recuperação a partir de 1950 e, em 1980, atingimos o valor do início da era moderna, apesar de que, com a pujança do crescimento asiático, decrescemos. não obstante, verificou-se uma visão de longa dura-ção que ainda nos mostra o potencial de dinamismo da lusofonia, principalmente ao nível das relações luso-brasileiras.

neste âmbito, de salientar a ligação entre os dois países e também o cepticismo e o receio relativamente à ligação de Portugal com o Brasil, ignorando este a diferencialidade e detendo

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uma visão bilateralista e proteccionista que não permite compreender a dimensão de bem comum lusófono. há pois que se analisar em concreto em que termos os nossos interesses podem estar alinhados com aqueles de um país continental como o Brasil.

Outro ponto relevante nesta acção relaciona-se com a dimensão financeira que se encontra incompreensivelmente ignorada. historicamente, Portugal teve uma sólida reputação finan-ceira reconhecida até ao liberalismo, mas a partir do século XIX, constatou-se uma deterio-ração substancial neste domínio. Continuamos a estar conscientes de que a estabilidade financeira se pode perder instantaneamente, e ainda que a bancarrota não seja inevitável nem eterna, não se pode descartar um choque com repercussões a médio e longo prazo.

Quanto à governação em Portugal, esta tem oscilado entre a liberdade política e a liberdade financeira e, na construção da lusofonia global, é de sublinhar a importância da vertente financeira e o facto da estratégia dever passar não tanto pelo comércio mas por instrumentos de índole financeira, sobretudo numa altura de crise. Por exemplo, em termos de comércio, a CPLP não se pode constituir como uma realidade comum porque é impossível alinhar todos os interesses dos países. Institucionalmente, mesmo não assumindo a importância da subs-tância, foi fornecido um enquadramento através da explicação dos trabalhos desenvolvidos na OCDE, sobretudo do relatório Perspectivas Económicas em África, financiado pela Comissão Europeia e realizado em parceria com o Banco Africano de Desenvolvimento.

Relativamente à CPLP em específico, de referir a importância da Comunidade e o facto da CPLP valer algo em que a métrica não pode ser o PIB pelos níveis díspares de diferencialidade. Outro aspecto da CPLP e, em particular, dos PALOP, é a volatilidade, muito superior à média continental, exceptuando a áfrica do norte, pois são países muito pujantes quando crescem mas também com quedas muito substanciais. Por último, existe uma divergência na CPLP derivada da sua dispersão geográfica absolutamente descomunal, sendo que a distância média entre capitais ou cidades principais é de 7200km, quando na Europa dos 27 é de 1400km. Estrategicamente, se perspectivarmos apenas os cinco estados atlânticos da CPLP, esta seria filha desse oceano, pois passamos a ter uma distância reduzida a metade, havendo inegavel-mente, quer histórica quer geograficamente, um elevado potencial. no entanto, a lusofonia só será global se olhar para o mundo.

Em suma, a CPLP continuará a ser ignorada enquanto não se compreender que a riqueza da comunidade está precisamente na sua diversidade e que a cultura não é inimiga da eco-nomia. E, para a gestão dessa diversidade, não basta a aplicação dos recursos financeiros, pelo que se torna imprescindível a existência de confiança e de um conhecimento mútuo. O multilateralismo baseado na cultura auxilia, de facto, mas não é um entrave e os empre-sários necessitam efectivamente de conhecimento concreto.

A Estratégia de Lisboa foi referida por ser crucial na compreensão deste ponto, pela existência de indicadores comuns que permitem avaliar o progresso da educação e da pesquisa da ino-vação, apesar de se considerar que este esforço em torno do conhecimento para o desenvol-vimento global, deve aliar várias entidades. A Declaração de Lisboa, de 18 de Setembro de 2008, foi já alavancada em Maputo com a própria CPLP e com o Ministério da Ciência e Tecnologia de Moçambique, que fizeram suas as considerações da Declaração de Lisboa. Seguiu-se uma reunião em Brasília dos Ministros da Agricultura da CPLP a respeito da quali-dade alimentar, que se insere na linha da declaração de Maputo, tendo sido reforçado o interesse pelo tema na cimeira que iniciou a presidência angolana.

na apresentação, houve um balanço dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, e foi referido que só Cabo Verde consegue cumprir quatro desses objectivos, sendo que os restantes

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países da CPLP apenas alcançam um ou dois deles, concluindo-se, através de uma análise minuciosamente apresentada, que o conhecimento estatístico e o conhecimento geral são insatisfatórios nesses países relativamente aos objectivos a alcançar.

Considerações Gerais

Com este plano, abordou-se a crise e falou-se na forma como se pode aproveitar, enfatizando a ciência e a tecnologia como alavancas, porque a base do conhecimento e as infra-estruturas tecnológicas não se alteram. Dever-se-á, portanto, estimular a inovação local que permita utilizar a capacidade já instalada. E essa inovação terá que ser determinada pela procura societal e local, já que os mercados de exportação estão em crise. Essa inovação não depende apenas de investigação e desenvolvimento, mas do facto de se poder aproveitar o conheci-mento já existente para inovar. De destacar, por último, a menção aos pacotes de estímulo orçamental feitos por Estados desenvolvidos, como os Estados unidos, alguns Estados europeus e também a China, potenciadores de oportunidades excepcionais a nível da energia e do ambien-te, que podem ser trabalhadas fora do plano interno dos países.

Como exemplo, referiu as parcerias público-privadas relativamente às energias renováveis, que estão a funcionar nesses termos entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Insistiu que os pacotes de estimulo levam muitas vezes a que não se possa discriminar em função da nacionalidade, existindo um montante de fundos a que se pode e deve recorrer. Essas inovações poderão, igualmente, constituir o uso de todos os serviços de fonte aberta, e não apenas o software. Assim, dever-se-á aproveitar o conhecimento que existe e recorrer ao seu uso, através do aproveitamento do investimento de outrem para conseguir fazer ou uti-lizar os softwares que existem na Internet.

Abordou-se ainda a questão das chamadas inovações negligenciadas e, pelo recurso a um gráfico, visualizou-se o boom de Portugal no crescimento da inovação e justificou-se esta performance pelo empenho nacional que tem sido visível nos últimos anos. A par disso, ter-minou-se este raciocínio pela conclusão de que existem inovações que não são baseadas na inovação e tecnologia e que a diferencialidade não assenta tanto nas infra-estruturas, mas na capacidade de as aproveitar.

Como apontamento final, de mencionar que não se pode compreender o valor de Portugal no mundo sem compreender o valor da CPLP e o facto do conhecimento mútuo ser determi-nante para a projecção da lusofonia a nível global.

Conclusões

A vasta dimensão do tema “O Valor Económico da Língua Portuguesa” exige uma análise multidimensional para se compreender a potencialidade da Língua na projecção das economias dos oito países e comunidades falantes. nesse sentido, procurou-se detalhar o valor econó-mico do nosso país, enquadrando-o no ambiente internacional pelo recurso a uma aborda-gem composta por diversos conceitos na ampla concepção da internacionalização.

no âmbito do debate foram apresentadas diversas questões e reflexões sobre o tema abor-dado, ao qual se acrescentou algumas considerações relevantes.

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um dos conceitos mais debatidos foi o da lusofonia global pela sua avaliação como um valor político genuíno capaz de cimentar um conjunto de relações e regimes quer do aspecto político, quer da liberdade financeira ou comercial e até em termos de conhecimento mútuo. Além disso, conclui-se que o termo global se refere ao facto dos países lusófonos terem que encontrar um programa global no qual faça sentido estes oito Estados terem qualquer coisa a acrescentar.

Igualmente, analisou-se a CPLP como um fórum multilateral e a sua capacidade de gerir a própria diversidade, estudando de que forma as relações bilaterais podem prevalecer em detrimento de uma estratégia comum para a Comunidade. no debate, foi visível a relevância de Portugal como um ponto geográfico estratégico e por ser portador de um papel inigualável na projecção da lusofonia. Compreendeu-se, assim, como é essencial potenciar a história, a geografia e os dados recolhidos e apresentados para cultivar uma maior atenção das elites empresariais, das elites universitárias e das elites políticas à lusofonia, o que não tem sido feito até agora.

Outro ponto de destaque relaciona-se com a mutualidade do conhecimento e a consciência das empresas portuguesas de que os fenómenos de cooperação, de internacionalização e de desenvolvimento internacional se devem fazer com base em tecnologia e são impres-cindíveis para a construção desse conhecimento mútuo e para o desenvolvimento da inovação. Face ao conservadorismo organizacional que ainda caracteriza o nosso tecido produtivo, é geralmente aceite que é essencial fomentar a inovação organizacional. Em adição, foi referida a importância de:

• Constituição de uma plataforma de conhecimento capaz de disseminar pelas empre-sas e pelos organismos públicos todo o conhecimento que temos.

• Constituição de um Centro Português de Internacionalização Empresarial portador de várias valências, como a reflexão sobre os instrumentos de politica legislativa e admi-nistrativa essenciais à internacionalização a nível fiscal, no âmbito financeiro, na utiliza-ção do QREn e em tudo o que se relacione directamente com a internacionalização.

• Planear a internacionalização nos sectores mais importantes ou prioritários para a eco-nomia portuguesa e criar clusters em volta de uma empresa âncora e estudar a inter-nacionalização sectorialmente de forma a gerir e partilhar conhecimento dos vários sectores importantes para a internacionalização da economia portuguesa.

• Institucionalização administrativa ou governativa no sector da internacionalização, ou seja, a ligação entre aquilo que se denomina de diplomacia económica com a diplo-macia em sentido estrito.

Estes temas de instrumentos de política legislativa e administrativa, de estudos dos sectores e de mercado, e do figurino de organização politica seriam o objectivo sobre o qual o centro se debruçaria na sequência dos trabalhos que a Business Intelligence Unit está a desenvolver.

Em suma, enalteceu-se a emergência de um novo paradigma da forma como Portugal olha para esta lusofonia global, em que a lusofonia deverá ser mesmo um desígnio português e que nós sem a lusofonia somos uma pátria amputada. nesse sentido, a solução passa por um percurso até à diferencialidade que assente na pertença europeia e lusófona e na liber-dade política e financeira dos residentes. A diferencialidade incluirá, para além das políticas intergovernamentais, processos de colaboração entre órgãos de soberania que evitem even-tuais excessos da separação dos poderes, sendo que os seus efeitos ultrapassam os mercados.

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Visualiza-se actualmente uma elevada facilidade da comunicação entre pessoas e empresas a nível global e esse facto ilustra a aceleração da interdependência, ou da sensibilidade, das economias nacionais entre si. nesta lógica de raciocínio, a interacção entre a governação de Portugal e a globalização deverá assentar na gestão da diversidade relativamente a outros Estados de modo a convergir interesses e de forma a que o bilateralismo e multilateralismo das relações respondam eficazmente ao fenómeno da globalização.

Seguindo o caminho da diferencialidade política e da cooperação em termos de mercado no plano global e a competitividade interna em termos de mercado aliada a uma cooperação política nacional, Portugal melhorará o seu desempenho no contexto do quadro internacional.

Finalmente, devemos compreender que o Valor Económico não é um número mas uma ati-tude e que sem uma lusofonia global nós temos um valor diminuto, mesmo na Europa. Para além disso, este Valor depende em grande parte do que Portugal consegue trazer para a Europa, pelo que é fundamental operacionalizar uma estratégia com credibilidade e segu-rança. Acima de tudo, estar de corpo inteiro na internacionalização é o critério para a pro-jecção de Portugal no mundo.

PERCuRSO JORgE BRAgA DE MACEDO

Professor Catedrático e Director do Centro globalização e governação da Faculdade de Economia da universidade

nova de Lisboa, Presidente do Instituto de Investigação Científica Tropical, sócio da Academia das Ciências de Lisboa,

Presidente da Direcção do Fórum Portugal global, Professor Associado do Institut d´Études Politiques, em Paris,

Investigador associado do national Bureau of Economic Research em Cambridge, Mass e do Centre for Economic

Policy Research em Londres. Foi Ministro das Finanças e Presidente da Comissão Parlamentar dos Assuntos

Europeus. Trabalhou no FMI, Banco Mundial, Onu, Comissão Europeia, BERD, OCDE e ensinou em universidades

da Europa, América e áfrica

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