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Ivan Luís Corrêa da Silva HORA DE POESIA Publicação?

LIVRO HORA DE POESIA2 Ivan Luís Corrêa da Silva Hora de Poesia. Nasceu no Distrito Administrativo de Pires Belo, Município de Catalão, Estado de Goiás, no dia 28 de dezembro de

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Ivan Luís Corrêa da Silva

HORA DE POESIA

Publicação?

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Ivan Luís Corrêa da Silva

Hora de Poesia.

Nasceu no Distrito Administrativo de Pires Belo, Município de

Catalão, Estado de Goiás, no dia 28 de dezembro de 1965, tendo passado a infância na

Zona Rural de Catalão, onde iniciou os estudos no Grupo Escolar de Pires Belo. Fez o

antigo Ginásio no Colégio Estadual João Netto de Campos, logo após, cursou Direito no

Centro de Ensino Superior de Catalão – CESUC, sendo formando da primeira turma (27

de junho de 1989) daquela entidade de ensino. Há aproximadamente 25 (vinte e cinco)

anos é servidor público municipal, ocupando o cargo de Assessor Jurídico do Município

de Catalão desde o ano de 1989. É membro da Academia Catalana de Letras –

www.acletras.org.br - E-mail: [email protected] e [email protected] .

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois, sem Ele, nada

seria possível.

Aos meus pais Homero e Sebastiana; pelo esforço, dedicação e

compreensão, em todos os momentos da minha vida.

Dedico especialmente as minhas filhas e a minha Esposa Isabel

(Bel), pelo apoio e o incentivo, sem elas, talvez este livro não

existisse.

Ao meu irmão e irmã, a todos os meus amigos, que de uma

forma ou de outra, contribuíram e incentivaram sempre.

Ao amigo e acadêmico Valdo Alencar Rolin, que sempre

acreditou e incentivou-me a publicar meus escritos.

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Nada do que eu diga neste livro será totalmente original. Tudo, de

alguma forma, já foi falado algum dia, em algum lugar. Embora

sempre queiramos ouvir as mesmas coisas ditas de uma forma um

pouquinho diferente. - o Autor -

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Índice:

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Hora de poesia

“Qualquer hora é hora de fazer um poema.” (Gertrude Stein).

Bateram à minha porta

não era noite

nem era dia,

era hora de poesia.

Bateram à minha porta

não tinha corpo

nem tinha alma,

tinha a calma da poesia.

Bateram à minha porta

ninguém chamou

ninguém entrou,

inquietou-se a poesia.

Bateram à minha porta

e era à hora da hora

da poesia de agora,

...e nasceu a poesia.

Bateram à minha porta

a poesia é quem batia...

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É este o poema que eu caço

Se o poema não nasce

ou surge meio torcido,

quem pranteia sou eu.

A dor dilacera o tecido

e no peito meu a carne,

a mercê da dor, adoece.

Se o poema não corre solto

e leve nas linhas do papel,

perco o chão e o meu céu.

Fico, assim: sem sal e mel.

Aturdido, um tanto revolto,

vida torta, um porto morto.

Busco o poema arrebatador

que na primeira mão de cal

aparece pronto e magistral.

Uma diva em noite nupcial,

a deleitar-se em puro amor,

louca, sem nada de divinal.

É este o poema que eu caço,

armo laço, arregaço o peito,

e ele teima em não nascer.

Quanto mais faço e desfaço

mais me perco no fracasso

de não vê-lo resplandecer.

Se o poema não corre solto

e leve nas linhas do papel,

perco o chão e o meu céu.

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Doce escolha...

Se até a manhã de amanhã

eu não estiver de volta,

foi que a morte,

pareceu-me, uma doce escolha...

Que Deus, na sua calma,

acolha a minha alma,

e, dela faça a escolta

a uma terna fleuma...

Desta insana escolha

que não tem volta,

perdoe-me Deus

e todos os meus...

Que a bondade solta

deste seu coração,

recolha meus erros

no baú da saudade...

E, na volta da tarde,

de um dia qualquer;

ainda suspire por mim,

seus desejos de mulher...

Se até a manhã de amanhã

eu não estiver de volta,

foi que a morte,

pareceu-me, uma doce escolha...

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Um beija-flor estradeiro...

Vou ser feliz e voltarei, talvez.

Se grande for o seu amor,

de aceitar-me depois...

Vou ser feliz e voltarei, talvez.

Feliz ou com mais amargor,

ruflar asas para amadurar-me.

Vou ser feliz e voltarei, talvez.

Beberemos o legítimo licor,

Brindaremos o dulçor da vida.

Vou ser feliz e voltarei, talvez.

Se, de ti, ainda, for merecedor.

Eu, um beija-flor estradeiro,

venturoso retornarei ao ninho.

Para de novo beijar a mais bela

das flores. Você, minha querida.

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Assim sou eu

“Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.” (Cecília Meireles).

Não procure em mim

um ponto final.

Jamais encontrará.

No máximo deparará

com um ponto e vírgula;

já um tanto afoito

querendo prosseguir...

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Dentro de mim tem um mar...

“Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável.” (Sêneca).

Dentro de mim tem um mar...

Um mar feito de desenganos.

Flutua nele toda falta de amor

ermos navios singram águas azuis.

Dentro de mim tem um mar...

Que navega um Vasco da Gama,

velejam os sonhos de um homem

antes de finar-se na areia da costa.

Dentro de mim tem um mar...

Águas doces e salgas, calmas e bravias,

com gaivotas e golfinhos brincalhões,

noutras vezes de monstros e piratas.

Dentro de mim tem um mar...

Um mar revolto e sem fim.

Navegando-o, pasmo, descobri,

meu barco navega sem rumo.

Dentro de mim tem um mar...

Desvairado dentro do tempo.

Percorre as minhas artérias

e banha minhas entranhas.

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Dentro de mim tem um mar...

De água que serve pra beber.

Sorvo dela nas noites e dias,

às vezes sacia, às vezes vicia.

Dentro de mim tem um mar...

Somente você não percebe.

Olhe com olhos de poeta

e também verás o azul além...

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Se tivesse o seu amor...

Se tivesse o seu amor...

As canoas do Tejo

tornariam inúteis;

As gôndolas de Veneza

perderiam o encanto.

Se tivesse o seu amor...

Nem lembraria que o

belo Tejo existe.

Veneza não seria

mais que uma cidade.

Se tivesse o seu amor...

Qualquer fio d água

seria o meu Tejo.

Minha cidade,

nossa Veneza!

Se tivesse o seu amor...

Eu seria o mais feliz.

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Esse é o meu amor...

Se decidires morrer,

mesmo que sejas

aos noventa anos,

avise-me, antes:

para que eu tenha

chance de falecer

ao mesmo tempo,

ou, quem, sabe,

um dia antes de ti.

Pois, sei, não terei

ânimo de seguir

a vida, sabendo

que não estais

mais comigo.

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Escura noite

Agora a noite chega

e não me traz nada

além de si mesma.

Logo ela,

que no passado,

era tão repleta de tudo...

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O adeus não tem que doer

“Faz a tua ausência para que alguém sinta a tua falta. Mas não prolongue demais para que esse alguém não sinta que pode viver sem você.” (Flóra Cavalcanti).

Não me perguntes,

quanto tempo ficarei.

Talvez partirei

ao amanhecer;

talvez, depois

de depois de amanhã.

Talvez, bem depois...

além até, da sua

vontade de que,

aqui, eu permaneça.

Saiba, apenas,

Que, um dia, partirei.

Quando eu for partir,

não chores.

Faze cintilar

em teu olhar,

o tempo bom

que tivemos.

Levarei, na bagagem,

a leveza do teu sorriso.

O adeus não tem que doer.

Tem, sim, que ter o gosto

do recomeçar,

do andar em

outras direções,

do descobrir novos caminhos...

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Se eu teimar em ficar tempo demais,

Faze-me partir.

Nem que seja

para eu voltar depois.

O meu amor necessita

de novos sopros para

suavizar minha alma:

- de alma leve, te amarei melhor.

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O amor quebrou ao meio

“O fraco jamais perdoa: o perdão é característica do forte.” (Gandhi).

O amor quebrou ao meio

e não há como restaurá-lo.

Fragmentou-se a confiança.

Despedaçou-se a cumplicidade.

No peito a dor, na face o choro;

nos olhos não há mais viço...

O amor quebrou ao meio

e não há como restaurá-lo.

Seus cacos se espalharam

pelo chão da casa, há risco

de se cortar, de se ferir.

Dor já não há maior.

O amor quebrou ao meio

e não há como restaurá-lo.

Quebrado perdeu a forma,

não há mais cor nem luz.

Remendá-lo não há cola

que consiga segurar.

O amor quebrou ao meio

e não há como restaurá-lo.

O amor não é máquina

que se retifica e funciona.

Amor é confiança, doação

tato e cumplicidade.

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Amor em vão...

“O apaixonado tímido nunca é feliz: a felicidade é o preço da audácia.” (Lope de Vega).

Amo-te, hoje,

menos que amarei

no amanhã.

Amo-te, atualmente,

mais que ontem,

mais que antes.

Amo-te, tanto,

e não menos

desejo-te.

Somente tu, cativas

em ti mesma,

nem percebe.

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Deu choro no meu riso...

“Desconfia da tristeza de certos poetas. É uma tristeza profissional e tão suspeita como a exuberante alegria das coristas.” (Mário Quintana).

Deu noite escura

na minha lua cheia,

derreteu-se toda

minha pedra de gelo.

Caiu chuva grossa

na manhã de domingo.

Dos meus olhos

obstinadas lágrimas

quentes brotaram...

Deu noite escura

na minha lua cheia,

somente pimenta

na minha canja.

Muito sal

no meu feijão.

Deu vários zeros

as minhas

respostas...

Deu noite escura

na minha lua cheia,

faltou vontade

pra vencer.

Deu desejo

de esquecer.

Deu tanta água

no meu fogo

que até o fogo

virou água...

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Deu noite escura

na minha lua cheia,

deu insônia na

minha cama.

Deu escassez de amor

no meu deleite.

Deu saudade

não sei de que

ou de quem.

Deu choro no

meu riso...

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Empresta-me seus olhos...

Empresta-me seus olhos

para que de você

eu possa ter ciência

de como é que me vê.

Empresta-me seus lábios

para que eu possa sentir

o exato sabor

do beijo meu.

Empresta-me sua mente

para eu explorar

e saber se estou

integrado a ela.

Empresta-me seus sonhos

para que eu possa saber

se divide comigo

as ações do seu sonhar.

Empresta-me seu corpo

para que eu possa sentir

o que é que ele sente

quando a amo.

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O corpo do homem...

“Pensamos muitas vezes que Deus não escuta nossos apelos. Nós é que não escutamos suas respostas”. (F Mauriac)

O corpo do homem é

feito de duas porções:

uma, animal, carne apenas.

Outra, intelecto e compaixão.

Uma, bicho, meio selvagem.

Outra, doce, meio poeta.

Uma, sente, até chora.

Outra bate, até mata.

O corpo do homem é

feito de duas porções:

uma, meiga, meio mãe.

Outra, fera, tão indócil.

O corpo do homem é

feito de duas porções,

onde as disparidades

se juntam, compondo-se

e formando o todo.

No rosto, mostra-se

apenas, a parte homem...

Nas ações, o ser inteiro.

O corpo do homem,

feito de duas porções,

diferentes demais,

encantadoras além.

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O milagre se deu,

quando Deus fez,

duas díspares porções

comporem um só corpo.

Somente Ele mesmo

para saber tão bem,

estas duas metades

de uma parte Dele.

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Oração de bebê

“Em cada dia de nossas vidas, depositamos algo no banco de memórias de nossos filhos”. (Charles R. Swindoll)

Querido papai do céu,

peço-lhe que se empenhe,

em não me deixar faltar o sono,

quando da escuridão da noite.

Caso não seja possível atender-me,

nunca deixe faltar paciência

ao meu papai da terra;

quando com medo do escuro,

passo a passo, eu procurar

sua cama no meio da noite.

Querido papai do céu,

abrandes o coração do meu pai,

para não me zangar,

quando nas noites,

eu fizer carinho

no rosto dele,

simplesmente para acordá-lo

e comigo ficar de companhia;

Se não for pedir demais,

que ele brinque comigo

até que o dia expulse a noite,

e com ela vão embora os meus medos.

Papai do céu,

se não ouvires os meus pedidos,

não vou aborrecer com você.

Então lhe peço apenas

que me dê coragem;

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uma coragem de pai,

para enfrentar os meus fantasmas.

E, que a cada noite,

seja fortalecida esta bravura,

pois a cada pôr do sol,

parece que mais crescem

os meus temores,

ou, então, simplesmente

faça-me acostumar

com a escuridão,

e se puder, faça com que

eu goste das noites,

mesmo que escuras.

Obrigado,

meu papai do céu,

por ouvir-me, amém.

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Além das curvas do corpo...

Você não sabe,

você nem desconfia;

mas este meu silêncio

é carinho que faço na sua alma.

Você não sabe,

você nem desconfia;

mas quem acaricia alma

ama além das curvas do corpo.

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Quero morrer contigo

“Ninguém morre por falta de sexo. É por falta de amor que nós morremos.” (Margaret Atwood).

Quero morrer contigo;

sem alarde, sem nada,

morrer apenas...

Quero morrer contigo;

sentindo poesia,

pedindo perdão...

Quero morrer contigo;

afogado no teu seio e

tremendo de emoção...

Quero morrer contigo;

saciado de gozo e prazer,

extasiado de suas formas...

Quero morrer contigo;

antes que sozinho e triste

eu morra pensando em ti...

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Quero morrer contigo;

apenas para feliz morrer.

Viver assim não mereço...

Quero morrer contigo;

sorrindo de mim e

feliz com a morte...

Quero morrer contigo;

para saber se morrendo

morrerá, ainda, o meu amor.

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Separação

Você devia

ter estado comigo,

no primeiro dia,

após sua partida.

Somente assim,

perceberia o quanto

aquele adeus ruiu

minhas esperanças;

o quanto doeu

no peito meu,

nossa separação.

Você devia

ter estado comigo,

no primeiro dia,

após sua partida.

Para ver o quanto chorei,

para saber o que sofri,

para se ter idéia

da dor que me causou,

para saber que somente

faltou, no meu peito,

o coração parar de bater.

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Você devia

ter estado comigo,

no primeiro dia,

após sua partida.

Pra, quem sabe?

depois de ver

a dor que me

inundava,

pedir pra voltar.

Pra, quem sabe?

apenas me consolar.

Você devia ter estado comigo...

Talvez, agora, estivéssemos juntos.

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À espera das baleias...

“Quando não podemos mais sonhar, morremos.” (Emma Goldman).

Estou à beira do mar

a esperar as baleias;

Já refiz as orações,

colhi das roseiras

flores orvalhadas,

busquei no pomar

as frutas do final

de semana.

Estou à beira do mar

a esperar as baleias;

Já compus o

poema do dia,

alimentei o canário,

reguei com água fria

o pé da macieira.

Estou a esperar...

Estou à beira do mar

a esperar as baleias;

Já atravessei o atalho,

brinquei na chuva,

joguei com a vida

e sonhei o instante

de arrostar as baleias.

Estou a esperar...

Estou à beira do mar

a esperar as baleias;

não quero gaivotas

nem quero golfinhos...

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Quero das baleias

apenas o bailar feliz

na deserta praia

dos meus sonhos.

Estou a esperar

a beira do mar...

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Os olhos ávidos de todos nós

“Se nós não tivéssemos defeitos, não teríamos tanto prazer em notá-los nos outros.” (La Rochefoucauld).

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

do último olheiro da terra.

Ele sabe de tudo e se cala,

sabe das falas e não fala,

das dores e dos temores

de cada ser que leva a vida

no frescor desse Vale...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que não precisava

de olhos, ele que tão bem

discerne o mal do bem,

o puro do impuro;

somente ele distingue

o além do que há aqui...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que sabe que o amor

de Letícia pertence a Simão,

que o coração de Simão palpita

pela menina da casa de pedra,

e que Paula, a doce menina

da casa de pedra, nem sabe

nada sobre o amor ainda...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

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daquele que sabe dos versos

secretos que João Paulo

dedica à Maria;

daquele que sabe

que nas noites escuras

Josué espia Maria

quando ela vai se deitar,

daquele que vê quando

Maria vai se encontrar

com Décio na pedra do mar...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que viu, quando o

negrinho Tiziu, saciou-se

com a dama de companhia

da moça mais pura da Vila.

Aquela que do magno jardim

de casa, nas noites de lua,

sai de sua casa para ver

os afagos, que os homens

que pagam recebem

das mulheres de rua...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo os olhos

daquele que sabe que a peça

encenada, não era cena,

que no beijo do ator e atriz,

tinha amor, queriam bis.

Daquele que viu, quando

da platéia, brotaram duas

lágrimas dos olhos da

menina que sonhava

ser a estrela deste

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teatro da vida...

Do alto do mais alto farol,

observam o mundo,

os olhos ávidos de todos nós...

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Quem sabe Deus

“Creio no Deus que fez os homens e não nos deuses que os homens fazem.” (A.Karr).

Se eu busquei seu beijo

foi que um louco desejo

aninhou-se no âmago

coagindo meus passos;

Se ganhei seu carinho

sei, por certo sozinho,

de agora em diante

não saberei caminhar...

Se eu pranteei na vida

foi àquela despedida

que sangrou no peito

ulcerando a carne.

Se eu tombei de amor

foi que o peso da dor

inventou-se de aninhar

sobre os meus ombros;

Se suportei seu adeus

foi quem sabe Deus

que me fez meio poeta

para desvendar na poesia

todo valor que tem o amor.

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A mãe que há em cada mulher

"Aqueles que amamos nunca morrem; apenas partem antes de nós.” (A. Nervo).

Ao seu redor

reinava a paz

e a exultação.

E Deus se fazia

presente em

cada gesto seu...

O seu olhar

era um mar

de calmaria.

E Deus falava

por meio

daqueles olhos...

Deus se desejasse,

curava por meio

de suas mãos;

rezava e doutrinava

através de sua

boca...

Mãe, você era tudo

e se mostrava

tão pouco;

e até a sua

fragilidade inundava

de vida o nosso mundo...

Era tão perfeita

e cheia de amor,

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que, Deus, um dia,

decidiu levar-lhe

para junto

Dele...

E, nós ficamos

para sempre, sem

a luz da nossa vida;

sem onde buscar abrigo,

sem saber para

que lado seguir...

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Vinha como se viesse do céu...

“A poesia é a arte de materializar sombras e dar existência ao nada.” (Edmund Burke).

Vinha como se viesse do céu...

Aparentava flutuar na estrada.

Aquela visão de encantar,

parecia apenas querer,

ao mundo enfeitiçar...

De um feitiço moreno.

Vinha como se viesse do céu...

Vinha como se fosse pra mim,

vinha como se quisesse ficar.

Vinha como se viesse do céu...

Talvez, fosse um anjo,

talvez, apenas mulher,

talvez, dádiva celestial.

Talvez, devesse me declarar.

Talvez, apenas cobiçar.

Quiçá jamais fosse ter

aquela visão de arrebatar.

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Vinha como se viesse do céu...

Flutuava como num sonho.

Partiu como quem

nunca veio.

Talvez

devesse

encantar

outros

mundos.

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Pela fenda do seu olhar...

Pela fenda do seu olhar,

pude ver a sua alma,

pude ver o seu querer,

pude crer no seu amor.

Pela fenda do seu olhar,

pude ver o que não via

sentir o que não sentia;

pude ver o amor fazer festa

e valsar feliz em noite de lua.

Pela fenda do seu olhar

pude ver o que ainda

estava por ocorrer,

consegui ver

o amor repousar

anos depois do hoje.

Estava de cabelos brancos

Mas ainda parecia feliz.

Pela fenda do seu olhar,

pude ver a sua alma,

brincar na sua calma.

Consegui espantar os traumas

e passei a acreditar no amor.

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Agonia de um velho...

“O fogo vê-se nos olhos dos moços, mas nos olhos dos velhos vê-se a luz”. (Victor Hugo)

Trago a mala

plena de dor e de coisas,

e a mente apinhada de fatos...

Trago na algibeira

um velho lenço e retratos,

testemunhas de tantos eventos...

Trago no corpo o peso

de noventa anos de história,

todos entalhados na memória.

Trago nos olhos

a saudade de filhos e netos

e das pessoas da rua de casa...

Trago na face

as marcas do meu cansaço,

nos ombros uma carga de suplícios...

Trago um restinho de vida

cheio de amarguras e mágoas,

e a fadiga de tantos dias e noites...

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Trago no coração

uma indústria de perdões,

e um elenco a serem perdoados...

Trago na aparente calma

uma indomável pressa,

de ir para o além-mundo...

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Passei da vez ...E esta minha cidade

que não se atreve

a sair do lugar,

prosperar,

virar Paris.

Também, quem sabe,

melhor fosse recuar,

retroceder à época

dos lampiões a gás

e das ruas de chão,

aos tempos de antes...

Assim, quem sabe,

novamente, eu veria,

na varanda da velha

morada da rua de baixo,

a minha antiga namorada,

linda! naquele vestido de chita...

Somente eu caminhei no tempo

e tenho, comigo, a sensação,

que, sem perceber,

passei da vez.

não fui feliz,

nem minha cidade,

parece Paris.

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- Se sou feliz?

“A felicidade se faz, não se acha.” (Hardy).

- Se sou feliz?

Como não seria?

Tenho tudo:

saúde e paz.

O que às vezes

falta-me,

tem gente que tem

ou gente que faz...

- Se sou feliz?

evidente que sou.

Estou aqui,

isto é o bastante:

viver o instante,

reviver o antes,

buscar o depois...

- Se sou feliz?

Como não seria?

Se Deus me esteia,

e se tenho você?

Tenho as noites

para te sentir,

e são ardentes e

inebriantes meus dias?

- Se sou feliz?

Veja os meus olhos

e saberás que fui,

e mais sou agora.

Agora que sei

o valor de um abraço

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ou de um beijo da mulher;

que sei da sinceridade do

sorriso de uma filha.

- Se sou feliz?

Estou vivo e sou poeta,

ora, pois...

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Seu amor, um santo pecador...

O seu amor é contradição.

É silêncio, fogo, ação.

Seu amor é conforto,

porto, segurança.

O seu amor é puro,

uma pureza angelical.

Ardente, meio vulcão,

ora doce, qual o mel.

Às vezes, o seu amor,

é só amor de carne.

Coisa profana, insana...

Coisa de mulher e homem;

Sedução, paixão, entrega.

Quando a noite chega,

nosso amor torna pleno,

de um inteiro vigoroso,

sereno, um santo pecador.

Seu amor é meu,

e será sempre e sempre.

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Teus olhos

Teus olhos deixam marcas

indeléveis na palidez do meu rosto.

Teus olhos encerram segredos

segredados, inclusive, de Deus.

São por demais formosos,

de tão belos estão a toda hora a ferir-me.

Teus olhos mudos dizem mais

que dez mil belas palavras.

São meias frases que se

fazem inteiras e cabais,

capazes de mudarem o curso da vida.

Sob o fogo dos teus lindos olhos

sinto-me largado do mundo.

Sou levado a cometer erros e equívocos

e não vislumbro cais seguro.

Teus olhos talvez não me conheçam

bem, mas eu os sei intimamente.

Sinto falta quando não

fitam-me de frente e

um sublime alívio

por tê-los perto.

Teus olhos deixam marcas

esculpidas na minha

alma de homem.

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Sonhador da hora

Sempre sou eu

a seguir teus passos,

a rogar teus beijos,

a idolatrar-te além

do além do amor...

Sempre sou eu

a mendigar carinhos,

a reclamar cuidados,

a desejar-te bem mais

que a própria vida...

Sempre sou eu

a acreditar num

amanhã diferente,

e que no teu peito

surgirá o amor...

Sempre sou eu,

o sonhador da hora

de agora e sempre.

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Sou tantos

Revelo, ao mundo, parcelas do que sou:

ora sou ébrio descrente, ora fé e apego.

Disfarço, nego e renego. Depois eu sou

choro e canção, o sorriso e o sossego.

Aos olhos das pessoas eu sou tantos:

rei, súdito, o rio, o muito e o pouco.

Sou o dia de sol, noites de prantos,

sou à distância, a ânsia e o louco...

Sou vestígio, sou a prata e o ouro.

Sou eu e sou os outros, sou vário.

Sou idas e vindas, sou os atalhos...

Sou o antes e o depois do depois...

Sou o frio, sou o calor e sou desejo.

Eu sou a pluralidade a cada ensejo.

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Os teus seios

Estes teus seios

dourados, sensuais

e alforriados sob o

decote da blusa.

Estes teus seios

prestes a aflorarem

contentam-me

mesmo sem tocá-los.

Estes teus seios

nos meus sonhos

habitam, transitam

e ficam a me humilhar.

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Que inveja que eu tenho...

Que inveja que eu tenho

da velha que mora

na casa velha

do final da rua...

Ela é tão feliz

naquele casebre

de chão batido

e paredes barreadas...

No seu quintal

apanha as frutas

que sobraram

da ceia dos pássaros...

Que inveja que eu tenho

de quem nem

sabe quem é o

presidente do Brasil...

Que inveja que eu tenho

da velha que mora

na casa velha

do final da rua...

Que Deus a proteja

da inveja

que eu tenho

dela.

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Parto da poesia...

De você, agora,

preciso apenas

de um puro carinho,

daqueles despretensiosos.

Com suas mãos de fada,

continuamente

quero que toque

meu rosto.

Não pare,

não cesse por nada.

Continue, continue;

apenas continue...

Flutuarei acima do mundo

e propositadamente

permanecerei imóvel

com os olhos cerrados.

É que justamente

neste instante,

estarei entrando

no útero da inspiração,

para arrebatar a poesia

que acabamos de conceber.

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Brincando de poeta

Até agora levei a vida

brincando de ser poeta...

Enquanto brincava,

quantas poesias

se esconderam

em mim!

Comigo brincaram de roda,

embirraram, choraram, gritaram à toa.

Depois cresceram.

Crescidas partiram.

Qual filhos, ganharam vida

e desapareceram no mundo.

Algumas ainda mantêm comigo

relação de pai e filho. Foram-se,

mas deixaram um pouco delas neste peito.

De mim levaram tudo, até os sonhos.

Até agora foram as poesias que

brincando me fizeram meio poeta.

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Devaneios de criança

“As crianças precisam mais de exemplos do que de conselhos”. (Joubert)

Quero brincar de ser criança.

Sorrir do nada,

correr à toa,

levar a vida, assim, numa boa...

Tropeçar na pedra,

chorar e gritar

ao ver o sangue,

e entre as lágrimas

novamente deixar

brotar o riso.

Quero brincar de ser criança.

Ganhar presentes

que não sejam roupas.

Quero brinquedos modernos,

nada de cavalo de pau,

pião, carrinho de latas...

Quero games e DVDs

de lutas, com disputas

acirradas e muitos tapas.

Quero brincar de ser criança.

Ter sete namoradas lindas,

uma no Clube, outra na Escola,

e uma na rua de casa...

Quero que os sonhos

ganhem asas e voe.

Quero brincar de ser criança

e criança voltar a ser,

assim: do nada, do sonho, do devaneio...

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Um olhar de soslaio Um olhar à espreita,

lançado com receio,

depois outro e outro

e outros depois...

Na face, um riso

meio desconfiado,

expõe todo querer

de se dar por inteira.

E, um dia, sem hora

nem lugar indicado,

uns beijos roubados,

dois peitos marcados.

Depois de loucos beijos

e de toques sensuais,

um desejo alucinado

já queimava os corpos.

Um quarto testemunhou

o auge de uma paixão,

que nasceu de um olhar,

de um olhar de soslaio.

E, assim, se fez o amor,

um amor de um olhar,

de um olhar de soslaio.

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De forma bem discreta

“Quando sentir vontade de sair, não bata a porta... Para quem escancara a sua própria porta, qualquer barulho é ensurdecedor.” (Cláudia Letti).

Queres deixar-me eu aceito.

Arrume suas coisas

e saia sem alarde.

Não faça drama,

não faça cena.

Partas assim:

de forma bem discreta.

Seja igual ao nosso amor,

que partiu sem avisar,

sem destino e sem adeus,

perdeu a voz, passou da vez.

Queres deixar-me eu aceito.

Arrume suas coisas

e saia sem alarde;

não diga nada,

apenas siga...

Antes, feche a porta suavemente

e partas para longe,

assim, feito o nosso amor

que fugiu por entre os dedos,

não suportou tantos e tantos segredos,

talvez, partiu, fugindo das nossas culpas.

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Queres deixar-me eu aceito.

Arrume suas coisas

e saia sem alarde;

não me culpe por nada,

amaldiçoe o amor.

Este, sim, foi um fraco,

que fugiu pela tampa

do frasco e sumiu...

Fugindo de nós dois.

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O que a saudade faz

Deitei na noite toda

a minha inquietação,

joguei pelos ares

os meus pesares...

Busquei ao longe

os meus ausentes,

tentei aconchego

nos seus sorrisos...

Acariciei cada face,

Abracei cada vulto...

Doei a eles todo meu

estoque de beijos,

antes tão contidos

no cerne do meu ser.

Fiz poeira fina de todos

os meus suplícios,

brinquei na carência,

fiz verdade à mentira.

Abusei da fantasia...

E, igual ao poeta,

fingi não sentir

a dor que doía;

Deitado na rede da saudade,

cobri o rosto com o negror da noite.

Adormeci assim: na presença dos meus ausentes.

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Um pé de versos...

Há muito tentei

cultivar dentro de mim um pé de versos.

Eliminei as pragas,

lacerei canteiros,

adubei o terreno,

reguei as sementes...

Passou as noites,

brilhou forte o sol,

procurei os primeiros brotos que não saíram.

Chorei calado,

em solo estéril,

não nasce versos.

Agora levo a vida a degustar

versos cultivados em outros solos.

Não consegui fazer

nascer às sementes

que noutras terras

abrolham robustas.

Há muito tentei

cultivar dentro de mim um pé de versos.

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Depois do amor

Depois do amor...

Assim deitada no meu peito,

o mundo parece completo.

A vida torna-se perfeita,

o silêncio reflete a paz.

É musical nossa mudez.

Depois do amor...

Assim deitada no meu peito,

já fartos de corpos ainda

acaricio seus cabelos:

como quem sabe o que faz,

como quem sabe o que fez.

Depois do amor...

Assim deitada no meu peito,

nem fazemos conta

como é fino o liame

que separa o duelo

de antes da paz de agora.

Depois do amor...

Assim deitada no meu peito,

a quietude da alcova

nos faz dormir pra

noutra hora, refeitos de tudo,

recomeçar nossa batalha.

Depois do amor...

Quero somente que deite

no meu peito e comigo sonhe.

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Teu corpo

Ninguém...

Nem o poeta,

tradutor

de sonhos,

senhor das palavras;

Nem o escultor

que eterniza detalhes,

senhoril das formas

e das minúcias;

Nem mesmo

o pintor,

possuidor

do domínio

das cores

e dos contornos;

conseguiriam

dar ao mundo

obra mais

perfeita e real

que o teu corpo,

assim: desnudo,

a mercê dos meus olhos...

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Teu passeio matinal

Teu olhar

sensual

cintila,

na manhã

dos passantes,

felizardos andantes,

que, a cada dia,

na necessidade

da caminhada

matinal para

o ganha pão,

recebem

como prêmio

o brilho do teu olhar,

vindo do calçadão da

avenida central...

donde,

para o deleite de todos,

a cada novo alvorecer,

passeia imponente,

feito uma Deusa grega.

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Teus olhos de Deusa

Teus olhos são setas certeiras

lançadas rumo ao coração...

Com eficácia maneja o arco,

jamais erra o alvo que mira.

Teus olhos passeiam a esmo

a procura de seguro porto...

Brincam de possuir bulindo

aos poucos e fazendo ferida.

Teus olhos fazem a fera virar

presa mansa, domesticada...

Adjudicada e sem as forças

estará sempre a tua mercê.

Teus olhos cessariam guerra

e meio santa seria venerada...

Se quisessem, além de tudo,

abrasariam o campo de luta.

Teus olhos pujantes aclarariam

a tenda do Capitão da tropa...

De tal forma e tamanha força

Que, após, tu tornarias Deusa.

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Quase poesia

Nasce de dentro de mim

um verso chorado,

inseguro e meio morto...

Ganha vida na virgem

página do papel a morte

que habita em mim...

Solta a voz nas linhas desordenadas

do meu poema o grito que sempre

esteve preso à minha garganta...

Assim sou eu:

um poema tristonho, meio doente,

de versos tortos, brancos e frágeis.

Eu sou assim:

uma dor dissimulada de poema

que possui pernas e que vaga pela vida...

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Assim...

Assim,

como quem sonhasse sair vagando pelo mundo;

como quem tivesse partido a busca de venturas;

como quem tivesse suplantado o louco duelo;

assim,

como quem viesse sem saber de onde viera.

Assim,

como quem ficasse noites a espreitar estrelas;

como quem lutasse com uma lauda de papel,

branca como a neve, virgem como os anjos;

assim,

como quem ficasse a espiar nas minúcias...

Assim,

como quem não soubesse do hoje, nem do manhã;

como quem ouvisse a pregação conhecendo o final;

como quem buscasse a paz, não fugindo a guerra;

assim,

como quem soubesse mais da terra que dos céus...

Assim,

como quem fizesse odes em vez textos memoráveis;

como quem colhesse botões de rosa a cada manhã;

como quem andasse por atalhos buscando o verde;

assim,

como quem buscasse apenas saciar e matar a sede.

Assim,

quem sabe,

fosse eu quem caminhasse naquele caminho.

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Quem delirasse sempre a cada novo alvorecer.

Assim,

como quem apenas ainda estivesse vivo.

E, disso, soubesse bem.

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Sou terra

Sou da terra,

a ela pertenço.

Quando cravo os pés no chão,

dele recebo forças que sobem

pelas minhas pernas e nutre

todo o meu ser.

Na cidade enfraqueço,

na roça restabeleço,

revigoro, venço guerras...

Sou mato, sou rio,

sou queda d'água.

Sou pássaro;

sou trilha, atalho,

sou floresta, sou galho...

Sou da terra,

a ela pertenço;

a ela voltarei.

Sou da terra,

a ela pertenço.

Com o tempo

serei terra,

sendo terra,

serei eu.

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O poema que eu não te fiz

Meu amor!

Recoste-se no meu peito e ouça

o meu acanhado amor sussurrar,

o que, eu mesmo, assim sóbrio,

jamais diria a alguém...

Tu terás de saber extrair de dentro de mim,

o belo poema que eu não te fiz,

mas, que, há muito tempo,

jaz entorpecido neste corpo...

Meu amor!

Recoste-se no meu peito e ouça

o meu tímido amor revelar

tantas coisas que eu,

em meu juízo normal,

segredaria para a eternidade...

Ele dirá baixinho que você

é importante demais,

e que há muito passou a

ser e fazer parte de mim...

Meu amor!

Recoste-se no meu peito

e não diga nem tente ouvir nada.

Apenas recoste aqui,

o momento dirá por nós...

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Perdas da vida

Perdi a inocência da infância

e sobrevivi...

Perdi a alegria dos domingos

e sobrevivi...

Perdi toda força da juventude

e sobrevivi...

Perdi até a vontade de viver

e sobrevivi...

Perdi meu pai, perdi minha mãe,

e sobrevivi...

Depois perdi a doçura dos seus beijos

e disse adeus para a vida...

Somente aí, foi que eu,

de fato, morri.

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Dos atalhos sabemos bem

Vamos nós outra vez

fazer o mesmo amor

com muito mais amor...

Um velho amor vale mais,

que mil diferentes amores,

dos atalhos sabemos bem...

Vamos nós outra vez

fazer um amor novo

do nosso velho amor...

Um velho amor feito

de maneira especial,

tem gosto extraordinário...

Vamos nós outra vez

fazer do nosso velho

amor um amor púbere...

Amor velho feito

de jeito inovador e

pecador, é um novo amor...

Vamos nós outra vez

regar o velho amor,

e dele cuidar melhor...

Irrigado cedo e à noite

responde bem

e rende mais...

Vamos nós outra vez

trilhar as mesmas trilhas,

rever as mesmas coisas...

Que bom que podemos

refazer os caminhos,

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agora, com a calma que temos!

Vamos nós outra vez

viajar no velho amor e

atracar em seguro porto...

Tudo é invariável

nesse nosso amor,

menos a intensidade.

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Como quem se ama além da conta...

Quem me encante com o olhar,

quem me convença pelos atos.

Procuro...

Quem se disponha a andar

pelas alamedas da cidade

de mãos dadas comigo,

assim:

como quem se ama

além da conta...

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Feito princesa

Se bem alto

eu gritasse

quem sabe

ouvirias e

prontamente

na minha frente

surgira...

E, igual à Isabel,

alforriar-me-ia

desta dor de amor

que me maltrata,

desde que partistes...

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Noite de lua cheia

“O que sabemos é uma gota, o que não sabemos é um oceano.” (Newton).

Nas noites de lua cheia

a linda beata do

velho sobrado

uiva aos céus...

Uiva, e meio louca,

deixa furiosos

os moradores

do Povoado...

Aterroriza

até o pároco,

que ora em vão

uma hora e meia...

E, quando some a lua,

ela ainda nua,

acorda para a

vida real...

E, na outra lua cheia,

ela cheia de vida

novamente uiva,

mais forte ainda...

As noites de lua cheia

guardam segredos

segredados até do

Onipotente Criador.

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Loucos (serei normal?)

Têm os loucos

uma doçura ingênua,

uma pureza de alma,

tal qual um sorriso de criança.

São tábuas em branco,

sem nenhuma escrita,

nem por nós,

ditos normais,

podem ser

manipulados.

Estão imunes,

postos por Deus

acima do bem

e do mal.

São, na realidade, salvos pela peculiar loucura.

Nela se alicerçam e criam um mundo à parte,

independente e intransponível.

Geram o próprio casulo e isolam-se

do mundo dos normais, para eles,

os verdadeiros dementes.

Ultimamente tenho nos loucos acreditado piamente.

Serei normal ou impiedosamente louco?

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Morte do escritor Cornélio Ramos

“Ao mestre Cornélio Ramos”

Morreu Cornélio...

O homem que contava

a história dos homens...

Morreu Cornélio,

o ferroviário feito

de ferro forte.

Morreu Cornélio...

O poeta, o contista,

o historiador...

Morreu Cornélio,

o mais goiano

dos mineiros.

Morreu Cornélio...

E o baque seco

inundou de dor.

Morreu Cornélio...

Agora o Criador

ouvirá estórias.

Morreu Cornélio...

Quem sabe foi

excesso de verso!

Morreu Cornélio...

Vitimou a cultura

de um povo.

Morreu Cornélio...

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Queria um verso pleno

Queria assim,

que surgisse de mim

um verso pleno;

belo e ambíguo,

forte e real,

quiçá ingênuo,

se fosse lindo.

Queria assim,

que surgisse de mim

um poema divino;

quem sabe ela

valsando nas linhas

liberta e linda,

quem sabe nós.

Queria assim,

que surgisse de mim

a poesia mais perfeita;

que a face dela

não fosse só ela,

que a parte meio

fosse cabal.

Queria assim,

que surgisse de mim

frases apuradas;

queria o amor

pronto e purificado,

queria a paixão

vestida para amar.

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Queria assim,

que surgisse de mim

algo além das letras,

que o amor contido

se revelasse todo,

mesmo que pouco

se fosse louco.

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Sou todo delírio

“Os poetas possuem autorização para mentir.” (Plínio – o Moço).

Sou sonhador do mundo, amante da lua.

Sou caminhante das estradas e um pouco poeta,

sou uma parte do dia e o muito de todas as noites,

sou os pingos da chuva e o calor de todos os sóis,

sou a loucura dos amantes e a rotina dos casais,

sou, às vezes, o jogo jogado, a lágrima chorada...

Sou o canto dos pássaros e a poeira da estrada.

Sou ator da vida, amante de toda Madalena,

sou o movimento dos bebês no útero de toda mãe,

sou o vento cantador da sua madrugada,

sou o grito preso na garganta do operário.

Sou uma parte do céu que caiu na terra,

sou um pouco da chaga que maltrata o corpo

sou e serei tudo que sua imaginação permitir.

Sou a paz, sou a alegria, sou ternura...

Também posso ser a dor e a tortura.

Sou, na verdade, uma parte de você

e um mínimo do meu próprio ser,

sou todo é delírio, devaneio...

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Prazer extremo

“A única maneira de se livrar de uma tentação é entregar-se a ela.” (Oscar Wilde).

Tu és prazer,

cheiro de cio,

fogo a arder...

Milagrosamente

tornas-te um lago,

onde me banho

e me descanso.

Tu és um castelo,

e eu te invado

e te conheço.

Tu és um ninho,

que me acolhe

tão bem...

Tu és uma obra de arte,

e em tuas formas

eu me encaixo

e me acho um rei.

Tu possuis uma brasa,

que não te queima as pernas,

mas alucina-te.

E, eu sou um rio

e o meu líquido cura-te,

te salva momentaneamente,

e em seguida,

tu te agitas,

imploras,

choras,

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uivas,

gozas,

calas,

morres,

para depois,

noutro momento,

novamente tornares a viver,

e em outro dia, talvez,

voltares a te entregar,

para novamente

tornares a morrer.

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Borboleta de Deus pai

Borboleta folgazã e multicor

Que brinca nesse meu jardim.

Fale pra mim com todo vigor,

- tu foste sempre bela assim?

Não saiu da lagarta esse primor.

Não esconda a verdade de mim.

Um bichinho tão aterrorizador,

Não tornaria assim esse cetim!

Borboleta. Sou seu admirador!

Deleite-se nessas flores, e enfim,

Voeje aqui todo dia; com o ardor

E sede desse meu verde sem fim.

E, Deus Pai, grato por ser o criador,

Faz mais linda a flor e esse jasmim.

E, do céu, o Supremo, de apreciador,

Assisti a você fazer todo esse motim.

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A chegada de Cabral

Vi a lua brincar faceira

Na esquadra de Cabral.

Eu vi Deus e a feiticeira

Ele do bem e ela do mal.

Vi gente de toda maneira,

Um bravo, outro liberal.

Vi uma menina trigueira

Com um olhar angelical.

Estava nua e de pulseira

Corpo pintado ao natural.

Não sabia da desgraceira

Que chegava de Portugal.

Teve até missa, a primeira,

Disseram sobre o celestial,

E a indiazinha na palmeira

Nada sabia sobre espiritual.

Seu moço foi dessa maneira

Que em 1500 chegou Cabral,

Pra roubar a terra brasileira

E fazer do Brasil seu quintal.

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- Diálogo de pai e filha (de cinco anos)

- Por que estais a banhar no meu banheiro, se tens um somente

para ti?

- Foi à mamãe quem mandou usar este daqui.

- Brincando com a pequenina:

- Então vou dar uns cascudos na cabeça dela.

- Não, não papai, não bata nela. Pode bater em mim, se quiser,

mas não bata na minha mãe, ta?

Fazer o que, depois dessa? - Apenas sorrir...

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Mãe parece árvore do cerrado...

“Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe

não morre nunca, mãe ficará sempre junto de

seu filho e ele, velho embora, será pequenino

feito grão de milho.” (Carlos Drummond de

Andrade)

Mãe parece árvore do cerrado...

Agora quando abro os olhos

vejo uma mulher meio cansada.

... E nem Deus tem piedade dela.

Não abranda suas dores e aflição,

nem atenua a carga sobre ombros...

Parece que dela não se lembra mais.

Nem suas preces Ele ouve.

Somente a deixa viva

para mostrar que é o todo poderoso...

Deixa-a largada no mundo.

Talvez, para compreender

o quanto as mães são fortes.

O quanto resiste aos desgostos da vida.

Sempre com nobreza de alma e paciência.

Mãe parece árvore do cerrado...

resiste seca, se retorce toda,

enfrenta fogo, escurece as cascas,

mas não tombam nem perecem.

O tronco pode até ficar feio e ferido

Mas no topo florescerá sempre verde...

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Mãe, mesmo cansadas continuam a ser

o que elas sabem tão bem ser: mãe.

Nós, os filhos, continuamos alucinados

e indiferentes a esta doce figura.

Para a mãe, oferecemos sempre

menos do que deveríamos.

Mãe sente a própria dor e a dos filhos,

sente a dor do marido e a dos outros.

Passa noite acordada rezando

e esperando filho voltar de festa.

Mãe parece que não se cansa nunca.

Mãe resiste sempre e não fraqueja.

Mãe deve ser uma parte de Deus

Que caminha pela terra para deixá-la

mais dócil. Mãe não se explica, nem se

compreende. Como falou o poeta mineiro:

Mãe devia ser eterna e não morrer jamais.

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