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LIVRO … · metapsíquicas dos animais, dever-se-ia indicar o ... telepático proveniente da inteligência de uma pessoa presente, pois que ninguém assistira ao drama nem

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LIVRO

ERNESTO BOZZANO

OS ANIMAIS TÊM ALMA???

PREFÁCIO

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Já se observou muitas vezes, a propósito dasmanifestações metapsíquicas, em que os homens sãoagentes ou percipiente, que elas foram conhecidas emtodas as épocas e por todos os povos, mas não se podedizer a mesma coisa nos casos em que o papel deagente ou percipiente é desempenhado por animais.

Naturalmente que as manifestações metapsíquicas,em que os protagonistas são animais, não podemdeixar de estar circunscritas em limites de realizaçãomais modestos do que quando os protagonistas sãoseres humanos, pois esses limites correspondem àscapacidades intelectuais das espécies animais com asquais os fatos se produzem. Entretanto, eles parecemmais notáveis do que se poderia supor à primeira vista.Entre esses fenômenos encontram-se, com efeito,episódios telepáticos em que os animais nãodesempenham somente o papel de percipiente, mastambém o de agentes, episódios concernentes aanimais que percebem, ao mesmo tempo em que oshomens, espíritos e outras manifestações supranormaisfora de toda coincidência telepática e, finalmente,episódios em que os animais percebem, coletivamentecom o homem, as manifestações que acontecem naslocalidades assombradas. Deve-se acrescentar ainda aestas categorias episódios de materializações deformas de animais obtidas experimentalmente e,enfim, aparições post-mortem, de formas de animaisidentificados, circunstância que apresenta um valor

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teórico considerável, já que permite apoiar a hipóteseda sobrevivência da psique animal.

O exame deste ramo dos fenômenos metapsíquicasfoi completamente esquecido até aqui, embora nasrevistas metapsíquicas e, sobretudo, nas coleções dosProceedings e do Journal da excelente Society forPsychical Research, de Londres, encontrem-senumerosos casos do gênero, mas esses casos nuncaforam recolhidos, classificados e analisados porninguém, tendo-se, aliás, escrito e discutido bempouco a respeito deles. Não há, pois, grande coisa a seresumir relativamente às teorias formuladas a esterespeito.

Observarei apenas que, nos comentários de certocaso isolado pertencente à classe mais numerosa dosfenômenos em questão, isto é, aquela na qual osanimais percebem, juntamente com o homem, asmanifestações de telepatia ou de assombração, propõe-se a hipótese segundo a qual as percepções psíquicasdessa natureza extrairiam a sua origem de umfenômeno alucinatório criado pelos centros deidealização de um agente humano e transmitido emseguida, inconscientemente, aos centros homólogos doanimal presente e percipiente.

Para uma outra classe de fenômenos e precisamentepara a das aparições de formas de animais, supõe-seum fenômeno de alucinação pura e simples da parte dopercipiente, mas a análise comparada dos fatos mostra

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que, muitas vezes, as formas de animais sãopercebidas coletiva e sucessivamente. Elas são, alémdisto, identificadas com as de animais que viveram emorreram na localidade, e mais, que os percipienteignoravam que esses animais, vistos nessas condições,tivessem existido.

Assim sendo, é preciso concluir que, de modogeral, as duas hipóteses de que acabo de tratar sãoinsuficientes para considerar os fatos. Esta conclusão éde uma grande importância teórica, pois que ela nosforça a admitir a existência de uma subconsciênciaanimal, depositária das mesmas faculdadessupranormais que existem na subconsciência humanae, ao mesmo tempo, ela nos leva a reconhecer apossibilidade de aparições verídicas de formas oualmas de animais.

Resulta daí todo o valor científico e filosófico destenovo ramo das pesquisas psíquicas. Ele nos permiteprever que devemos, antes, considerá-lo paraestabelecer, em bases sólidas, a nova ciência da alma,que ficaria incompleta e mesmo inexplicável sem acontribuição que lhe trazem o exame analítico e asconclusões sintéticas relativamente à psique animal, oque me reservo demonstrar no momento preciso.

Inútil observar que não pretendo, de modo algum,que esta classificação - a primeira tentada sobre oassunto - baste para analisar a fundo um tema tão vastoe de grande importância metapsíquicas, científica,

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filosófica. Rejubilo-me unicamente de ter levado umaprimeira contribuição eficaz às novas pesquisas e deter com isso despertado o interesse de pessoas que seocupam com estes estudos, favorecendo assim oacúmulo ulterior do material bruto dos fatos, o queparece indispensável para fazer confinar as pesquisassobre este jovem ramo das doutrinas metapsíquicas.

Enfim, se quiser indicar a época em que secomeçou a levar à séria consideração as manifestaçõesmetapsíquicas dos animais, dever-se-ia indicar ofamoso incidente de telepatia canina do qual oconhecido romancista inglês sir Rider Haggard foi opercipiente, incidente que se produziu em condiçõestais que é impossível duvidar se dele. Como resultadode uma dessas condições providenciais de tempo, delugar, de meio, que se encontra bastas vezes nocomeço da história dos novos ramos da ciência, surgiuna Inglaterra um interesse inesperado, quaseexagerado: os jornais políticos se apoderaram dele e odiscutiram longamente, do mesmo modo que asrevistas de variedades e as revistas metapsíquicas,determinando um ambiente favorável para as novaspesquisas.

É, portanto, oportuno começar a classificação das`manifestações metapsíquicas dos animais pelo casotelepático no qual o percipiente foi o romancista RiderHaggard.

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PRIMEIRA CATEGORIA

ALUCINAÇÕES TELEPÁTICAS NAS QUAISUM ANIMAL DESEMPENHA O PAPEL DE

AGENTE

Caso I - (Em sonho, com indício aparente de posse)- É o caso Haggard, que me limitarei a narrar tal comofoi resumido, com a maior exatidão, na edição de julhode 1904 da Revue des Études Psychiques, enviando oleitor que desejar detalhes mais amplos ao número deoutubro de 1904 do Journal of the Society forPsychical Research. Ei-lo:

O senhor Rieder Haggard conta que se tinhadeitado tranqüilamente lá pela uma hora da madrugadado dia 10 de julho. Uma hora depois, a senhoraHaggard, que dormia no mesmo quarto, ouviu o seumarido gemer e emitir sons inarticulados tais como umanimal ferido. Inquieta, ela chamou por ele e o senhorHaggard percebeu a voz como em um sonho, mas nãoconseguiu livrar-se do pesadelo que o oprimia.

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Quando despertou completamente, contou à esposaque havia sonhado com Bob, o velho cão perdigueirode sua filha primogênita e que ele o vira se debaternuma luta terrível, como se fosse morrer.

O sonho tivera duas partes distintas. A respeito daprimeira, o romancista lembra-se apenas de terexperimentado uma sensação de opressão, como seestivesse a ponto de afogar-se. Entre o instante em queouvia a voz de sua esposa e aquele em que despertou,o sonho tomou uma forma mais precisa. Eu via, contao senhor Haggard, o velho Bob estendido entre oscaniços de uma lagoa. Parecia-me que a minha própriapersonalidade saía misteriosamente do corpo do cão,que comprimia a sua cabeça contra o meu rosto deuma maneira bizarra. Bob procurava como que mefalar e, não se fazendo compreender pelo som, metransmitia, de outro modo indefinível, a idéia de queestava preste a morrer.

O senhor e a senhora Haggard tornaram a dormir eo romancista não foi mais perturbado no seu sono. Namanhã seguinte, no desjejum, ele contou às filhas oque havia sonhado e riu com elas do medo que a mãetivera. Atribuía o seu pesadelo à má digestão. Quantoao cão Bob, ninguém se preocupou com ele, pois que,na tarde anterior, tinha sido visto com outros cães davila e fizera os seus agrados à sua dona, como decostume. Quando as horas da refeição colidiam passousem que Bob aparecesse, a srta. Haggard começou a

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experimentar alguma preocupação e o romancista asupor que se tratasse de um sonho verídico. Então sefizeram buscas ativas que duraram quatro dias, no fimdas quais o próprio senhor Haggard achou o pobreanimal flutuando na água de uma lagoa, a doisquilômetros da vila, com o crânio fraturado e duaspatas quebradas.

Um primeiro exame, feito pelo veterinário, fezsupor que o infeliz animal tivesse sido apanhado emuma armadilha, mas se encontraram em seguidaprovas indiscutíveis de que o cão tinha sido apanhadopor um trem na ponte que atravessava a lagoa e quefora lançado, pelo choque, entre plantas aquáticas.

Na manhã de dezenove de julho, um cantoneiro daestrada de ferro achara na ponte a coleiraensangüentada de Bob. Agora não restava dúvidaalguma de que o animal morrera na noite do sonho.Por acaso, naquela noite; tinha passado pela ponte, umpouco antes da meia-noite, um trem extraordinário derecreio que devia ter sido a causa do acidente.

Todas as circunstâncias são provadas peloromancista por meio de uma série de documentos.

Segundo o veterinário, a morte devia ter sido quaseinstantânea; ela teria então precedido de duas horas, oumais, o sonho do senhor Haggard.

Tal é, em resumo, o caso acontecido com o escritoringlês no qual se encontram várias circunstâncias defatos que concorrem para excluir, de modo categórico,

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qualquer outra explicação que não seja a deTransmissão telepática direta entre o animal e ohomem

Não se podia tratar, com efeito, de um impulsotelepático proveniente da inteligência de uma pessoapresente, pois que ninguém assistira ao drama nemfora informado dele, assim como se verifica peloinquérito feito pelo próprio senhor Haggard, como,aliás, é fácil de presumir, levando-se em conta a horaavançada da noite na qual ele se passou.

Não se podia tratar de uma forma comum depesadelo alucinatório, com coincidência fortuita, poisque as circunstâncias verídicas, que se encontram navisão, são verdadeiramente bem numerosas, sem falardo fato em si da coincidência entre o sonho e a mortedo animal.

Não se podia tratar de um caso de telestesia graçasao qual o espírito do romancista teria visto, de longe, odesenrolar do drama, pois que, então, o percipienteseria um espectador passivo, quando não foi assim.Como se pôde ver, ele foi submetido a um fenômenomuito notável de personificação ou de um começo depossessão. Esse fenômeno, tal como observou o editordo Journal ofthe Society for Psychical Research,oferece um paralelo interessante com aspersonificações e as dramatizações observadas tãofreqüentemente nos sensitivos ou médiuns no estadode transe.

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Não se poderia, finalmente, falar em sonhopremonitório, pois o senhor Haggard nada sabia sobreo acontecido, do que só soube mais tarde quando ocadáver do cão Bob foi achado, boiando, na lagoa,isto, quatro dias depois do estranho sonho. Com efeito,com essa solução, não se chegaria a nenhumaexplicação: nem o fato da coincidência verídica entre osonho e o acontecimento, nem o fenômeno dadramatização igualmente verídica do caso, nem o caso,tão notável, de personificação ou possessão.

Eis as principais considerações que concorrem paraprovar, de modo incontestável, a realidade dofenômeno de transmissão telepática direta entre ohomem e o animal. Achei dever enumerá-los pararesponder quaisquer objeções que chegaram dediferentes setores, depois que a Society for PsychicalResearch acolheu e comentou o caso em questão. Aomesmo tempo, as mesmas considerações poderãoservir de regra aos leitores para julgar sobre o valor dahipótese telepática relativamente aos casos que seseguirão.

Caso II - (Em sonho) - 10 de fevereiro de 1885.

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Na primeira segunda-feira do mês de agosto de1883 (folga do comércio), achava-me em Ilfracombe.Pelas dez horas da noite, fui deitar-me e adormecilogo. Acordei às dez e meia quando a minha esposaentrou no quarto. Contei-lhe que acabara de ter umsonho em que vira o meu cão Fox estendido, ferido emoribundo, ao pé de um muro. Não tinha uma idéiaexata com relação à localidade, todavia observara quese tratava de um dos `muros secos que são umaparticularidade do condado de Gloucester. Deduzi daíque o animal caíra do alto de um desses muros, tantomais que ele tinha o hábito de pular por cima deles. Nodia seguinte, terça-feira, recebi em nossa casa (BartonEnd Grange, Nailsworth) uma carta de nossagovernanta que me avisava de que Fox não aparecia hádois dias. Respondi imediatamente, ordenando-lhe quemandasse dar as mais minuciosas buscas possíveis. Nodomingo, recebi uma carta que me escrevera navéspera e na qual ela me informava que o cão foraatacado e morto por dois buldogues, na noite dasegunda-feira precedente.

Voltei para a minha casa quinze dias após ecomecei logo um rigoroso interrogatório do qualresultou que, na segunda-feira em questão, pelas cincohoras da tarde, uma senhora vira dois buldoguesatacarem e estraçalharem ferozmente o meu cão. Umaoutra senhora, que morava não longe de lá, contouque, pelas nove horas da noite, descobrira meu cão

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morrendo perto de um muro que ela me indicou e queeu via pela primeira vez. Na manhã seguinte, o cãohavia desaparecido. Soube a seguir que o dono dosbuldogues, sabendo do que acontecera e temendo asconseqüências, tivera o cuidado de mandar enterrá-lopelas dez e meia da mesma noite, hora doacontecimento que coincidia com a do meu sonho.

E. W. Phibbs

O caso que acabo de narrar foi citado várias vezespelo professor Charles Richet no seu Tratado demetapsíquicas com o fim de demonstrar que ele podiaser explicado pela criptestesia, sem que fosse precisosupor um fenômeno de telepatia em que o animaltivesse desempenhado o papel de agente e o seu donoo de percipiente. Richet observa a respeito: É muitomais razoável supor que a noção do fato é que atingiuo seu espírito em lugar de admitir que a alma de Foxfoi abalar o cérebro do senhor Phibbs. (p. 330)

Pela expressão a noção do fato, o senhor Richet sereporta à sua hipótese de criptestesia segundo a qual ascoisas existentes, assim como o desenrolar de todaação no mundo animado ou inanimado, emitiramvibrações sui generis, perceptíveis para os sensitivos,que, dessa maneira, estariam teoricamente em estadode conhecer tudo 0 que se produziu, se produz e seproduzirá no mundo inteiro.

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Respondi a essa hipótese em um longo artigopublicado na Revué Spirite (1922, p. 256), ondeconstatei essa onisciência, suposta, das faculdadessubconscientes, demonstrando, pelo exame dosfatos,.que as faculdades em questão eram, ao contrário,condicionadas e, portanto, limitadas, pela necessidadeabsoluta da `relação psíquica, isto é, que, se nãoexistisse anteriormente algum laço afetivo, ou, emcasos mais raros, relações de simples conhecimentoentre o agente e o percipiente, as manifestaçõestelepáticas não podiam verificar-se. Em seguida,reportando-me ao caso acima, continuava assimdizendo:

Exclui-se que o pensamento do cão, voltado comuma ansiedade intensiva para o seu protetor ausente,tenha sido o agente que determinou o fenômenotelepático, ou, em outros termos, se exclui que a coisatenha podido verificar-se graças à existência de uma`relação afetiva entre o cão e o seu dono, então não sepode deixar de perguntar: por que o senhor Phibbs viu,justamente naquela noite, seu cão agonizando e nãoviu todos os outros animais que, durante a mesmanoite, agonizavam certamente um pouco por todas aspartes? É impossível responder esta pergunta de outraforma senão a de reconhecer que o senhor Phibbs nãoviu tal coisa porque nenhuma relação psíquica, dequalquer sorte que seja, existia entre ele e os outrosanimais: ele viu, ao contrário, a agonia do seu cão

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porque laços afetivos existiam entre ele e o animal eporque, naquele momento, o animal agonizantevoltava intensamente o seu pensamento para o seuprotetor ausente, circunstância que não tem nada deinverossímil e que, ao contrário, demonstra que opobre animal moribundo desejava urgente socorro.

Parece-me que o bom fundamento destasconclusões permanece incontestável. De todo modo,os nossos leitores acharão na presente classificaçãonumerosos exemplos de diferentes espécies, queconfirmam amplamente a minha maneira de ver, aopasso que contradizem a hipótese de uma criptestesiaonisciente.

Caso III - (Em sonho) -Tiro o seguinte caso dolivro do Senhor Camille Flammarion intituladoLinconnu et les problèmas psychiques (Odesconhecido e os problemas psíquicos)

Posso citar-lhe ainda um fato pessoal que meperturbou bastante quando aconteceu, mas, como destavez se trata de um cão, talvez eu esteja errado emtomar o seu tempo. Peço-lhe que me desculpe em meperguntando onde param os problemas.

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Era então moça e possuía muitas vezes, em sonho,uma lucidez surpreendente. Tínhamos uma cadela deuma inteligência pouco comum. Era particularmenteafeiçoada a mim, pois a acariciava muito. Certa noitesonho que ela morre e que me olha com olhoshumanos. Ao acordar, disse à minha irmã: Lionnemorreu, via-a em sonho, é verdade. Minha irmã riu enão acreditou em mim. Chamamos a governanta e lhedissemos que chamasse a cachorrinha, que nãoapareceu. Procurada em todas as partes possíveis,apareceu, finalmente, morta em um canto. Ora, navéspera ela não estava doente e o meu sonho não podiater sido provocado por nada.

K. Lacassagne, Dutant em solteira (Castres).

Também neste caso, a hipótese mais verossímil é ade que o animal agonizante voltou ansiosamente seupensamento para a dona, determinando assim asimpressões telepáticas, percebidas por ela em sonho;todavia esse episódio é bem menos probante que oanterior, tanto mais que, desta vez, não se acha empresença de detalhes de modo a eliminar a outrahipótese, a de um possível fenômeno de clarividência,em sonho.

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Caso IV- (Impressão)- Eu o extraio da Light (1921,p. 187). O seu narrador é o sr. F. W. Percival, queescreve:

O senhor Everard Calthorp, grande tratador decavalos puro-sangue, no seu último livro intituladoThe horse as comrade and friend (O cavalo comocompanheiro e amigo), conta que ele possuía já háalguns anos uma magnífica égua chamadaWindermere, à qual era profundamente ligado e queera retribuído com um transporte afetivo de modo aconferir ao caso aqui apresentado um caráter realmenteemocionante. Quis a infelicidade que a égua seafogasse numa lagoa perto da herdade do senhorCalthorp, que expõe assim as impressõesexperimentadas no trágico momento:

Às três e vinte da manhã de 18 de março de 1913,despertei, de sobressalto, de profundo sono, não porcausa de algum ruído ou algum latido, mas por umpedido de ajuda que me transmitia - não sei como - aminha égua Windermere. Apurei os ouvidos e nãopercebi o menor ruído naquela noite calma, mas, assimque despertei completamente, senti vibrar, no meucérebro e nos meus nervos, o apelo desesperado deminha égua. Compreendi deste modo que ela seencontrava em perigo extremo e que invocava auxílioimediato meu. Vesti o sobretudo, calcei as botas, abri a

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porta e pus-me a correr pelo parque. Não ouvia latidosnem gemidos, porém sabia, de um modoincompreensível e prodigioso, de qual lado vinha essaespécie de `telegrafia sem fio. Retiniam sempre maisfracamente no meu cérebro e, quando cheguei àmargem da lagoa haviam cessado. Buscando na águada lagoa, percebi que ela estava ainda enrugada porpequenas ondas concêntricas que atingiam a margeme, no meio dela, percebi uma massa preta que seprecisava sinistramente na primeira claridade daalvorada. Compreendi logo que se tratava do corpo deminha pobre Windermere e que, infelizmente, eurespondera muito tarde ao seu apelo, pois ela estavamorta.

O sr. F. W. Percival, reproduzindo esta narração narevista Light (1921, p. 187), observa:

Sem dúvida, nos casos iguais a este, falta-nos otestemunho do agente, mas isto não impede que as trêsregras de Myers, destinadas a distinguir os fatostelepáticos daqueles que não o são, sejam todas damesma maneira aplicáveis ao caso de que nosocupamos. As ditas três regras são as seguintes: 1ª -que o agente seja encontrado numa situaçãoexcepcional (aqui o agente lutava contra a morte); 2ª -que o percipientes tenha experimentado algo depsiquicamente excepcional, inclusive uma impressãode natureza a fazer conhecer o agente (aqui aimpressão que revela o agente é manifesta); e 3ª - que

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os dois incidentes coincidam no ponto de vista dotempo (esta condição é igualmente satisfeita).

Poder-se-ia acrescentar que o fato do impulsotelepático foi bastante preciso e enérgico paradespertar o percipiente de um sono profundo e fazer-Ihe perceber imediatamente que se tratava de umpedido de socorro da parte de sua égua e orientar osseus passos, sem nenhuma hesitação, para o teatro dodrama. Não parece então que se possa pôr em dúvida aorigem realmente telepática do acontecimento.

Caso V - Tirei-o do Journal of the Society forPsychical Research, vol. XII, p. 21. Lady Carbery,esposa de lorde Carbery, envia do castelo de Freke,condado de Cork, a seguinte narrativa datada de 23 dejulho de 1904:

Durante uma quente tarde de domingo do verão de1900, fui, depois do almoço, fazer a minha costumeiravisita às estrebarias a fim de distribuir açúcar ecenouras aos cavalos, entre os quais se achava umaégua assustadiça e nervosa chamada Kitty e de que eugostava muito. Uma grande simpatia existia entre ela eeu, que a montava todas as manhãs, antes do almoço.Eram excursões tranqüilas e solitárias ao longo decolinas pendendo para o mar e sempre me pareceu que

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Kitty gostava, como a sua dona, desses passeios nafrescura matinal.

Na tarde de que se trata, saindo das estrebarias,segui sozinha pelo parque, percorrendo um quarto demilha e me sentando em seguida à sombra de umaárvore, com um livro muito interessante, pois eraminha intenção permanecer ali umas duas horas.Depois de uns vinte minutos, um súbito influxo desensações penosas veio se interpor entre eu e a minhaleitura, ao mesmo tempo em que experimentava acerteza de que algo de penoso tinha acontecido àminha égua Kitty. Busquei afastar tal impressão,continuando a leitura, mas a impressão aumentou detal forma que fui obrigada a fechar o livro e a medirigir para as estrebarias. Uma vez lá chegada, fuilogo para o boxe de Kitty e encontrei-a estendida nochão, sofrendo e necessitando de uma assistênciaimediata. Fui imediatamente buscar os rapazes daestrebaria, que se achavam numa outra seção, afastadado imóvel, os quais acorreram, a fim de prestar aoanimal os cuidados necessários. A surpresa deles foigrande ao ver-me aparecer na estrebaria pela segundavez, circunstância inteiramente insólita.

Lady Carbery

O cocheiro que cuidou da égua, naquela ocasião,assim confirma a supracitada narração:

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Era então cocheiro do castelo de Freke e suasenhoria vieram, durante à tarde, distribuir, segundo oseu costume, açúcar e cenouras aos cavalos. A éguaKitty achava-se solta no seu boxe e em excelentescondições de saúde. Logo depois, voltei para o meualojamento, em cima das estrebarias, e os empregadosdelas foram para os seus quartos. Depois de meia horaou quarenta e cinco minutos, fiquei surpreso ao vervoltar sua senhoria que acorria para me chamar, assimcomo aos rapazes, a fim de que fôssemos socorrerKitty que se achava estendida no chão, vítima de ummal súbito. Entrementes, nenhum de nós havia entradonas estrebarias.

Edward Nobbs

Este segundo caso é menos sensacional que oprimeiro: a impressão telepática experimentada porlady Carbery foi também menos precisa, entretanto elafoi bastante forte para dar a percipiente a convicção deque as sensações que ela sentia indicavam que a éguaKitty tinha necessidade de urgente assistência e parafazê-la decidir se a correr imediatamente para o local.Ora, essas circunstâncias de ordem excepcional e deuma significação precisa e sugestiva são suficientespara autorizar a concluir em favor do caráter telepáticodo presente caso.

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Caso VI - (Impressão) - Este caso apareceu naLight (1915, p. 168). O senhor Moldred Duke,conhecido sensitivo e autor de artigos bem profundossobre assuntos metapsíquicas, relata o seguinte fatoque lhe aconteceu:

Há alguns dias, fui levado a escrever até uma horaavançada e estava absorvido pelo assunto de quetratava quando fui literalmente invadido pela idéia deque a minha gata tinha necessidade de mim. Levantei-me e fui procurá-la. Depois de ter feito, inutilmente, avolta pela casa, passei para o jardim e, como aescuridão me impedia de ver, passei a chamá-la.Percebi um fraco miado à distância e, cada vez que eurepetia o meu chamado, o miado me respondia, mas agata não apareceu. Voltei para casa, a fim de apanharuma lanterna, e atravessei em seguida o quintal,dirigindo-me para um local de onde me pareciam viros miados. Depois de algumas buscas, achei a minhagata numa cerca, presa por um laço estendido paracoelhos, com os nós lhe apertando o pescoço. Se elativesse se esforçado para se livrar dele, teria seestrangulado. Felizmente teve a inteligência de não semexer e de enviar, ao contrário, ao seu dono, umamensagem de pedido de socorro, pelo telégrafo semfio.

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Trata-se de uma gata a que sou muito afeiçoado eesta não foi a primeira vez que uma relação telepáticase fez entre ela e mim.

Há alguns dias, nós a supúnhamos extraviada, poisnão a encontrávamos em lugar algum, em vãochamando-a em todas as partes. De repente, por umaespécie de fotografia mental, eu a vi prisioneira numapeça vazia nos entulhos da casa, peça que ficava quasesempre fechada. A visão era verídica. A gata, não sesabe como, tinha se fechado lá. Não tinha ela, porém,enviado, ainda desta vez, uma mensagem telepáticapara me avisar de sua prisão?

Para este caso, nada mais é preciso dizer, pois nãoé possível duvidar da gênese telepática das duasimpressões sensoriais recebidas pelo autor da narração.

Caso VII - (Impressões) - Tiro-o do Journal of theSociety for Psychical Research (vol. XI, p. 323). O sr.J. F. Young comunica o seguinte caso que lhe épessoal:

Possuo um cão fox-terrier de cinco anos de idade,pelo qual tenho muita afeição. Sempre gostei dosanimais e, sobretudo, dos cães. O cão de que falo medispensa tal afeição que não posso ir a qualquer parte emesmo sair do meu quarto sem que ele me siga

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sempre. É um terrível caçador de ratos e, como adespensa é às vezes freqüentada por tais roedores,coloquei lá uma caminha para o Fido. No mesmolugar, havia um fogão de cozinha onde havia sidointroduzido um forno para fazer pães, assim como umacaldeira para a limpeza, munida de um tubo queterminava na chaminé. Não deixava nunca, à noite, delevar o cão para o seu leito, antes de me deitar.

Já havia trocado de roupa e ia deitar-me quando fuide repente assaltado pela sensação inexplicável de umperigo iminente. Não podia pensar outra coisa senãoem fogo e a impressão era tão forte que acabei por serdominado por ela. Vesti-me novamente, desci e passeia inspecionar o apartamento peça por peça paracertificar-me de que tudo estava em ordem. Chegandoà despensa, não vi Fido, supondo que ele pudera sairde lá para subir para o andar de cima, porém em vãochamei por ele. Fui na casa de minha cunhada parapedir-lhe notícias, mas ela não sabia de nada. Comeceia sentir-me inquieto: Voltei logo para a despensa echamei várias vezes pelo cachorro, inutilmente. Nãosabia mais para que lado ir, quando, repentinamente,me passou pela cabeça que, se havia alguma coisa quepudesse fazer o animal responder, era a frase: Vamospassear, Fido?, convite que o punha logo contente.Pronunciei então esta frase e um gemido sufocado,como enfraquecido pela distância, chegou-me aosouvidos. Renovei o convite e ouvi distintamente o

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lamento de um cão em aflição. Tive tempo decertificar-me de que o lamento vinha do interior docano que fazia comunicar a caldeira com a chaminé.Eu não sabia como agir para retirar o cão de lá: osminutos eram preciosos e a sua vida estava em perigo.Muni-me de um martelo e comecei a derrubar a paredeno local exato. Consegui, finalmente, com bastantedificuldade, retirar Fido de lá, meio sufocado,sacudido por esforços de vômitos, a língua e o corpointeiro negros de fuligem. Se eu tivesse me demoradopor mais alguns momentos, meu cãozinho queridoestaria morto e, como não se serve senão muitoraramente da caldeira, eu não teria provavelmentenunca sabido para qual fim fora feita. Minha cunhadaacorreu com o barulho e ambos descobrimos um ninhode ratos localizado no fogão, ao lado do cano. Fido,evidentemente, teria perseguido um rato até o interiordele, de tal maneira que ficara preso sem poder voltare sair dele.

Tudo isto se passou já há alguns meses e foi entãopublicado na imprensa local, mas eu não teria nuncapensado em comunicar este fato a essa Sociedade senão tivesse acontecido, entrementes, o caso de sirRider Haggard.

J. F. YoungNew Road, Llanella, 13 de novembro de 1904.

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A senhora E. Bennett, cunhada do signatário,confirma a narração do seu parente.

Para outros informes sobre este episódio, envio oleitor ao Journal of the Society for Psychical Research,vol. XI, p. 323.

Este quarto caso de telepatia por uma impressãodifere sensivelmente dos que o precederam e nos quaiso traço característico essencial do impulso telepáticoconsistiu na percepção exata de um apelo emanado deum animal em perigo e da localização intuitiva dolugar em que ele se achava. Aqui, ao contrário, aimpressão que teve o percipiente lhe sugere a idéia deum perigo iminente em relação com fogo, todavia aimpressão é bastante forte para o levar a se vestirapressadamente e ir inspecionar a casa, de modo que,chegando à cozinha e se apercebendo da ausência docão, o chama, o procura e salva.

Resulta daí que, neste caso, a mensagem telepáticase verifica de modo imperfeito, adquirindo uma formasimbólica, o que não acrescenta nada ao seu valorintrínseco, pois que esta circunstância não constitui, demodo algum, uma dificuldade teórica. Sabe-se, comefeito, que as manifestações telepáticas, na suapassagem do subconsciente ao consciente, seguem ocanal de menor resistência, determinado pelasidiossincrasias especiais do percipiente. Elasconsistem, sobretudo, no tipo sensorial ao qual

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pertence o percipiente (visual, auditivo, motor, etc.),em seguida, nas condições do meio nas quais ele vive(hábitos, repetição dos mesmos incidentes durante avida cotidiana). Segue-se daí que, quando o impulsotelepático não chega a se realizar na forma mais direta,ele se transforma em uma modalidade de percepçãoindireta ou simbólica, que traduz, com maior ou menorfidelidade, o pensamento do agente em questão. Istoexposto, dever-se-ia dizer que, no caso queexaminamos, o apelo ansioso do cão em perigoconseguiu impressionar a subconsciência dopercipiente, mas, para atingir a sua consciência, tinhade perder uma grande parte da sua nitidez,transformando-se em uma vaga impressão de perigoimediato com alguma relação com fogo o quecorrespondia ainda à realidade, já que o animal estavaefetivamente aprisionado e em perigo de morte porasfixia no cano do forno.

Caso VIII - (Auditivo) - O dr. Emile Magnincomunica aos Annales de Sciences Psychiques (1912,p. 347) o seguinte caso:

Acabo de ler, com muito interesse, a narração docaso do cão Bobby, publicado nos Annales. Um casomais ou menos semelhante me foi contado, há alguns

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anos, pelo sr. P. M., advogado de grande talento. Eulhe dou um breve resumo dessa narrativa, certo de que,por sua analogia com o caso Bobby, interessará aosseus leitores.

O sr. P. M., advogado na Corte de Apelação,possuía uma cadela espanhola chamada Creole, queele costumava conservar perto de si em Paris e quedormia no corredor, detrás da porta do seu quarto dedormir. Cada manhã, ao primeiro movimento do seudono, ela arranhava a porta e gemia até que a porta lhefosse aberta. Durante um período de caça, o sr. P. M.deixou a cadela Creole em Ramboullet, aos cuidadosdo seu guarda-caça.

Pela manhã de um sábado, cedo, o sr. P. M. ouviuarranhar e gemer na porta do seu quarto e, muitosurpreso por ouvir a sua cadela ali, levantou-seimediatamente, convencido de que o seu guardacaçafora a Paris para lhe comunicar algo de urgente.Grande foi o seu espanto por não ver o guarda nem oanimal. Dez horas depois chegava um telegrama doguarda comunicando que Creole fora acidentalmentemorta por um caçador.

Também este episódio, no qual a alucinaçãoverídica foi de natureza auditiva, não parece possívelduvidar-se da origem realmente telepática damanifestação, e, no que diz respeito às condições nasquais o episódio se verificou, útil é observar que elasdemonstram que o impulso telepático foi, ainda uma

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vez, de natureza indireta ou simbólica. Reportando-nosàs considerações que temos desenvolvido a esterespeito, diremos aqui que, como a cadela morta tinha,quando viva, o costume de arranhar a porta do quartodo seu dono e até de gemer, enquanto ela não fosseaberta, resulta daí que o impulso telepático não chegoua se verificar de modo direto e se concretizou de modoindireto e simbólico, com modalidades de realizaçãoque eram as mais familiares ao percipiente e emrelação com o pensamento do agente. Observo aquique a circunstância de uma lei fundamental dasmanifestações telepáticas, realizando-serigorosamente, mesmo quando se trata de um agenteanimal, oferece grande valor teórico, pois é difícil nãose deduzir daí que, se as manifestações telepáticasanimais se equiparam às mesmas leis que asmanifestações telepáticas humanas, resulta aidentidade da natureza do elemento espiritual em ação,em ambas circunstâncias.

Caso IX - (Auditivo-coletivo) - Destaco no quartovolume, páginas 289/90, do Journal of the Society forPsychical Research, o seguinte caso narrado pelasenhora Beauchamp, de Hunt Lodg, Twiford, numacarta dirigida à senhora Wood, de Colchester, narraçãoda qual extraímos o trecho a seguir:

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Megatherium é o nome de meu cãozinho hindu quedorme no quarto de minha filha. Na noite passada,acordei subitamente ao ouvi-lo saltitar no quarto. Euconhecia bem a sua maneira de saltitar, muitocaracterística. Meu marido, por sua vez, não tardou adespertar. Interroguei-o, dizendo-lhe: Você ouve isto?e ele me respondeu: É Meg. Acendemos logo umavela, procuramos por todas as partes, mas nãopudemos achá-lo no quarto porque a porta dele estavabem fechada. Então me ocorreu a idéia de que algumadesgraça sucedera a Meg. Tinha o pressentimento deque ele havia morrido naquele momento mesmo.Consultei o relógio para precisar a hora e pensei quedevia descer e ir imediatamente assegurar-me deminha intuição, embora isto me parecesse um absurdo,e, depois, fazia tanto frio... Fiquei indecisa um instantee o sono voltou.

Pouco tempo devia ter-se escoado quando alguémveio bater à porta. Era a minha filha que, com umaexpressão de grande ansiedade, exclamou: Mamãe,mamãe, Meg está morrendo. Descemos a escada deum salto e achamos Meg virado de lado, com as pernasesticadas e rígidas, como se já estivesse morto. Meumarido levantou-o do chão e se certificou de que o cãoainda estava vivo, mas ele não chegou a verificar o quetinha sucedido. Verificou-se finalmente que Meg, nãose sabe como, tinha enrolado a correia de sua pequena

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veste em torno do pescoço de tal modo que quase seestrangulou. Nós o libertamos imediatamente e, logoque o animal pôde respirar, se reanimou e serestabeleceu.

De agora em diante, se me acontecer experimentarsensações precisas desta natureza a respeito dealguém, proponho-me acudir sem demora. Juro terouvido o saltitar tão característico de Meg perto dacama e meu marido pode afirmar a mesma coisa.

Para maiores detalhes sobre este caso, envio oleitor ao citado número do Journal.

Ainda neste caso, cuja gênese claramente telepáticaparece fora de qualquer dúvida (tanto mais que, destavez, as pessoas que receberam as impressões auditivasforam duas), neste caso ainda, digo eu, a manifestaçãotelepática se realiza sob uma forma simbólica, isto é,um apelo urgente de socorro, partido da mente docãozinho agente, chega até ao percipientetransformado em um eco característico do saltitar queo animal fazia cada manhã junto ao leito dos seusdonos.

Ora, é incontestável que uma percepção telepáticadesta categoria, dadas as circunstâncias nas quais elase produziu, não poderia constituir a expressão exatado pensamento do agente, mas somente uma traduçãosimbólico-verídica do pensamento do mesmo. Comefeito, é lógico e natural pensar que um animal a pontode morrer estrangulado, tenha voltado intensivamente

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seu pensamento para aqueles que eram os únicos quepodiam salvá-lo, não sendo, ao contrário, admissível,de modo algum, que o animal, naquele momentosupremo, tenha pensado, ao contrário, nos pulinhosque ele tinha o costume de dar todas as manhãs juntoao leito dos seus donos.

Caso X - (Auditivo, com coincidência de percepçãoluminosa) - Tiro o seguinte caso do volume VIII,página 45, dos Annales des Sciences Psychiques, queo reproduziram da revista italiana II Vessillo Spiritista:

A srta. Lubow-Krijanowsky, filha do general domesmo sobrenome e irmã da srta. Wera Krijanowsky(atualmente senhora Semenoff), contou-nos o seguintecaso que lhe aconteceu e que se refere à debatidaquestão da alma dos animais.

Trata-se de uma cadelinha que era predileta de nóstodos, sobretudo de Wera, e um pouco por causa destaafeição e agrados exagerados, o animal caiu doente.Sofria de sufocações e tossia, mas o médicoveterinário que tratava dela esperava que aenfermidade não fosse perigosa. Entretanto, Wera sepreocupava muito e se levantava durante a noite paralhe fazer fricções e lhe dar o seu remédio, emboraninguém pensasse que ela fosse morrer.

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Certa noite, o estado de Bonika (este era o nome dacadelinha) piorou de repente. Nós ficamospreocupados, sobretudo Wera, e então resolvemos que,logo pela manhã, a leva- ríamos ao veterinário, porque,se assim não fosse, ele só viria à noite.

Então, pela manhã, Vera e a nossa mãe partiramcom o animalzinho doente, enquanto eu ficava e mepunha a escrever. Achava-me tão absorvida que meesqueci da partida delas, quando, de repente, ouvi-atossir no quarto vizinho. Era lá que se achava a suacaminha e, depois que ficara doente, mal começava atossir ou a gemer que algum de nós ia ver do queestava precisando, dando-lhe de beber o remédio ouajustando um curativo que tinha no pescoço.

Levada pelo costume, levantei-me e aproximei-meda caminha. Vendo-a vazia, lembrei-me de que mamãee Wera haviam partido com Bonika e fiquei perplexa,porque a tosse tinha sido tão forte e tão distinta que erapreciso afastar qualquer idéia de engano.

Estava ainda pensativa, diante da caminha vazia,quando, perto de mim, fez-se ouvir um desses gemidoscom que Bonika nos saudava quando regressávamos,depois, um segundo que parecia provir do quartovizinho, enfim, um terceiro lamento que pareciaperder-se ao longe.

Confesso que fiquei sobressaltada e possuída porum tremor penoso, depois me veio a idéia de que o

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animal morrera. Olhei para o relógio, que marcavacinco minutos para o meio-dia.

Inquieta e agitada, fui para a janela e aguardei osmeus com impaciência. Vendo Wera voltar sozinha,corri ao seu encontro e lhe disse à queima-roupa:Bonika morreu. Como é que você sabe disto?,perguntou-me ela, espantada. Antes de responder-me,perguntei-lhe se sabia a hora precisa em que o animalhavia expirado. Alguns minutos antes do meio-dia, foia resposta, e ela me narrou o que se segue:

Quando elas chegaram à casa do veterinário lápelas onze horas, esse já havia saído, mas a empregadapediu-lhes insistentemente que o esperassem, vistoque, lá pelo meio-dia, o seu patrão deveria voltar,como era de costume. Então ficaram, mas, como oanimalzinho se mostrasse sempre mais agitado, Werao punha ora no divã, ora no assoalho, e consultava orelógio com impaciência. Afinal, com grande alegria,viu que faltavam poucos minutos para o meio-dia,quando ela voltou a ter sufocação. Wera quis colocá-lano divã, mas, na ocasião em que a levantava do chão,viu, de repente, que tanto o animalzinho como as suasmãos ficaram inundadas por uma luz púrpura tãointensa e tão viva que ela, não compreendendo nada doque estava acontecendo, gritou: fogo! Mamãe não viunada, porém, como estivesse de costas para a lareira,pensou que a sua roupa tivesse pegado fogo e se virou,espantada, mas logo depois viu que Bonika acabava de

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morrer, o que fez com que mamãe não censurasseWera pelo seu intempestivo grito e pelo medo que lhahavia causado.

Faço observar que este fato se reveste, por sua vez,de certo caráter simbólico. Nada de mais freqüente,com efeito, que esses casos de transformação mais oumenos aberrante dos impulsos telepáticos combinemcom as idiossincrasias especiais dos percipientes.Todavia, quando os episódios desta natureza serealizam entre criaturas humanas, cujo agente é ummorto, é permitido supor que eles possam aconteceralgumas vezes pela vontade do agente, que seconformariam assim com as idiossincrasias dopercipiente e que, quaisquer que fossem asmodalidades pelas quais esses episódios semanifestassem, dependeriam sempre do fato de queum impulso telepático deve seguir necessariamente `avia de menor resistência para chegar à consciência dopercipiente.

Nas coleções desses casos publicados pela Societyfor Psychical Research, acha-se um episódio no qualuma entidade espiritual se manifesta, simultaneamente,de três maneiras diferentes, a três pessoas, das quaisuma só percebe o espírito dela, outra lhe ouve a vozque pronuncia uma frase de saudação, ao passo que aterceira sente um suave perfume de violetas,coincidindo com a circunstância de que o cadáver daentidade, no seu leito de morte, fora literalmente

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coberto de violetas. Ora, em tais circunstâncias, seriaracional supor que a entidade que se manifestava tenhaagido com o propósito deliberado, em manifestaçõesdiversas, tudo de conformidade com as idiossincrasiaspessoais dos percipiente, isto é, que ela se tenhamanifestado sob uma forma objetiva à pessoa do `tipovisual, que tenha transmitido uma frase de saudação àpessoa de `tipo auditivo e que tenha, enfim,engendrado uma sensação olfativa na pessoa cuja viade menor resistência era constituída pelo sentido doolfato. O incidente que torna plausível esta varianteexplicativa se acha constituído pela frase de saudaçãoque percebe a pessoa do `tipo auditivo, frase que podedificilmente ter sido criada na passagem dasubconsciência à consciência de um único impulsotelepático, ao passo que tudo se explicaria facilmentesupondo-se que a frase em questão tenha sido pensadae transmitida pela entidade comunicante.

Voltando ao caso relatado mais acima, observonele uma circunstância que de fato complica a suainterpretação teórica: é que Bonika morreu nos braçosde sua dona. Isto leva a pensar que não deveria haver,no animal doente, motivos emocionais que pudessemfazer com que voltasse o seu pensamento para outrapessoa da família que ficara na casa, determinandoassim um impulso telepático. Nestas condições, dever-se-ia concluir daí que, muito provavelmente, se produznos animais o que acontece muitas vezes nas criaturas

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humanas, isto é, que o enfermo determina, ao morrer,manifestações telepáticas pelo único fato de dirigir umpensamento de tristeza para o meio afastado no qualviveu longa e felizmente. Observo, todavia, que, nocaso de criaturas humanas, haveria uma outraexplicação que seria de natureza, não telepática, masespírita, isto é, que, em circunstâncias especiais, oespírito do morto, logo que livre dos laços corporais,voltaria ao meio no qual viveu, esforçando-se por fazerconhecer a sua presença aos seus familiares.

Quanto ao fenômeno luminoso percebido pelamoça que tinha Bonika nos braços, no momento damorte, ele não se acha no meio das manifestações queacabamos de examinar, embora, de um outro ponto devista, não deixe de ser interessante e sugestivo, já quefenômenos análogos se realizam muitas vezes no leitode morte de criaturas humanas.

Caso XI - (Visual) - Colho o seguinte fato em uminteressante artigo da senhora Elisabeth Esperance,publicado pela Light no seu número de 22 de outubrode 1904, página 511:

Uma única vez aconteceu-me algo de semelhantenuma prova `pessoal da presença, em espírito, de umanimal que eu conhecera muito bem em vida. Tratava-

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se de um fox-terrier, grande favorito de minha famíliaque, em conseqüência da partida do seu dono, o tinhadado a um dos seus admiradores que morava a umacentena de milhas de nossa casa.

Um ano depois, quando eu entrava, certa manhã, nasala de jantar, vi, com grande espanto meu, a pequenaMorna que corria pulando em volta do quarto e pareciaestar presa de enorme alegria. Pulava, pulava sempre,ora se metendo debaixo da mesa, ora se introduzindodebaixo das cadeiras, assim como tinha o costume defazer nos seus momentos de excitação e alegria, depoisde uma ausência mais ou menos longa da casa.Concluí daí, naturalmente, que o novo dono de Mornaa havia levado à nossa casa ou que, pelo menos, acadelinha conseguira sozinha achar o caminho de suaantiga casa. Interroguei a esse respeito vários membrosde nossa família, mas ninguém sabia de nada, de formaque achei dever procurá-la por todas as partes emesmo chamar pelo seu nome, mas Morna nãoapareceu. Foi-me dito então que eu devia ter sonhadoou sido vítima de alguma alucinação, depois do que oincidente foi esquecido.

Vários meses, um ano talvez, se passaram antesque acontecesse encontrar-nos com o novo dono deMorna, ao qual pedimos notícias dela. Contou-nos eleque Morna havia morrido em conseqüência de feridasrecebidas durante uma luta com um canzarrão. Ora,pelo que pude verificar, a luta deu-se na mesma data

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ou bem pouco tempo antes do dia em que eu a vira(em espírito) correr, pular, girar em torno da sala desua antiga morada.

Esta narrativa relembra a última consideração quefiz a respeito do exemplo anterior, isto é, que, no casodas criaturas humanas, poder-se-ia às vezes supor quenão se trata precisamente de uma alucinação telepáticareproduzindo a forma do agente, mas antes, do próprioespírito do agente que, logo que liberto dos laços damatéria, voltou ao meio em que vivera, procurandoassinalar a sua presença aos seus familiares. Ora,embora não se trate de uma criatura humana, porém deuma cachorrinha, é preciso reconhecer que a maneiracom a qual se comporta o fantasma - correndo epulando no quarto, presa de um acesso de alegria,como a cadelinha viva tinha o costume de fazer -depois de uma longa ausência, sugere irresistivelmentea idéia da presença espiritual do animal morto.

E, aqui, a fim de prevenir qualquer objeçãopossível relativamente a esta suposição, que poderiaparecer, à primeira vista, gratuita ou audaciosa,recordo que, na introdução desta obra, já preveni osmeus leitores de que narrarei, no momento chegado,alguns bons exemplos de aparições post-mortem, deformas de animais identificados, que forampercebidos, quer coletivamente por várias pessoas,quer sucessivamente por diversos percipientes queignoravam, reciprocamente, a experiência dos outros.

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Segue-se daí que esses fatos, absolutamente conformesao que se produziu nas aparições, post-mortem, deespíritos humanos, justificam e confirmam a suposiçãoque acabo de aventar.

Caso XII - (Visual) - O seguinte caso foi tirado dosProceedings of the Society for Psychical Research,vol. XN, p. 285, e narrado pela senhora Mary Bagot.Ei-lo:

Em 1883, achavamo-nos alojados no Hotel desAnglais, em Menton. Havia deixado na minha casa,em Norfolk, um cãozinho fox-terrier amarelo e pretochamado Judy, meu grande favorito, e o confiara aoscuidados de nosso jardineiro. Certo dia, quando meachava sentada à mesa do hotel, percebi de repente queo meu cãozinho atravessava a sala e, sem refletir,gritei: Como é que você está aqui, Judy? Não havia,entretanto, nenhum cão no lugar. Breve estava na casade minha filha, que se achava acamada e sofrendo, elhe contei o caso. Alguns dias após, recebi uma cartana qual me era narrado que Judy, depois de ter saídode manhã com o jardineiro para fazer o seu passeiohabitual e, não estando muito bem, fora atingido porum mal súbito, pela hora do almoço, e morrera emmeia hora. Bastante tempo decorreu para eu me

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convencer de que o vira no instante mesmo em queexpirava.

A filha da senhora Bagot, senhora Wodehouse, apedido do senhor Frederic Myers, lhe enviou o diáriodo que tomara nota durante a sua estada em Menton.Ali escreveu a respeito do caso acontecido com a suamãe, nestes termos: 24 de março de 1883. Mamãe,durante o jantar, viu a figura de Judy! A mesmasenhora narra a Myers suas recordações sobre o caso,do qual tiro as seguintes linhas:

Recordo-me perfeitamente de que meu pai, minhamãe, minha irmã (Srta. Algernon Law) e minhacozinheira (srta. Dawnay) entraram todos no meuquarto e me contaram, rindo, que mamãe vira Judyatravessar a sala quando estava sentada à mesa dohotel. Minha mãe estava de tal modo certa de que viraalguém, que meu pai, creio eu, foi perguntar a umempregado do hotel se havia cães no estabelecimento,o que lhe foi respondido negativamente.

(Para outros detalhes a este respeito, envio osleitores ao volume VII, p. 243 dos Proceedings of theSociety for Psychical Research)

Este caso é, em tudo, semelhante ao precedente, sóque desta vez a forma do cãozinho morto se limita aatravessar o aposento, sem dar qualquer sinal de terconsciência do meio em que se achava, nem dapresença de sua dona, modalidade de manifestaçãopassiva conforme a que se produz nas alucinações

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telepáticas propriamente ditas, ao passo que, noexemplo precedente, o animal se comportou de modoespontâneo e `ativo, de modo a mostrar a sua presençaespiritual no lugar.

Caso XIII - (Visual táctil, com telecinésia) - Oastrônomo Camille Flammarion comunicou aosAnnales des Sciences Psychiques (1912, p. 279) aseguinte narração que lhe foi enviada pelo sr. G.Graeser, residente em Lausanne, na Suíça:

Permiti-me relatar-vos um pequeno fato que dizrespeito às manifestações de que falais no vosso livroLinconnu et les problèmes psychiques. Não vos falariadele se tivesse visto um caso semelhante nasupracitada obra.

Não se trata de uma pessoa, mas de um animal...Um pouco solitário, amando o estudo e não o mundo,não tenho amigos, mas tive um só: um cão, que eramais inteligente do que muitos homens. Era o meuguardião. Durante a noite, quando ficava sozinho econtemplando o céu, ele estava fielmente deitado aosmeus pés, com o seu espesso pêlo (era um SãoBernardo) me cobrindo as pernas, de forma que me eradifícil mexer quando precisava seguir a marcha deuma estrela. Se estivesse no meu quarto e lendo, ele

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ficava sentado, olhando-me, e eu direi mesmo que mecompreendendo. Sentia que ele gostava tanto dasolidão quanto eu, por isto não nos separávamos.

Vou fazer-vos esta exposição para que possaiscompreender a minha afeição por ele e por que oconsiderava como um amigo. Eis, pois, a minhanarração:

Foi em dezembro de 1910, precisamente no dia 14,que minha mãe levou o meu Bobby com ela. Devoobservar, antes de tudo, que tinha o desagradávelcostume, quando alguém se aproximava, de se mostrarpara com ele um tanto agressivo; em segundo lugar,que, quando eu discutia com meu pai, ele tomava partena disputa e se colocava seriamente ao meu lado.

Por motivo de uma queixa, penso eu (só o soubemuito tarde, para meu pesar), meus parentesresolveram mandar abatê-lo.

Aconteceu numa noitinha, às 7 horas e meia. Euestava no meu quarto e ouvi a porta abrir-se (ele aabria sozinho, pois era tão alto como eu, medindo 1metro e 80). Então, escutei a porta abrir-se e viaparecer o meu Bobby, com ar de sofrimento, nolimiar da porta. Gritei: Vem, Bobby!, sem levantar osolhos, mas ele não me obedeceu. Repeti então a minhaordem e ele veio, esfregou-se nas minhas pernas edeitou-se no tapete. Quis acariciá-lo, mas... ele nãoestava lá.

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Ainda que eu nunca tenha lido histórias iguais emincomum precipitei-me para fora de meu quarto,deixando a porta ainda aberta, e telefonei paraLausanne (dois quilômetros), ligando para o galpão doabatedouro, e eis textualmente o meu rápido diálogo:

- Alô, fala do abatedouro.- O senhor viu aí uma senhora de preto com um cão

Sao-Bernardo?-Acaba-se de abater um deles, ha dois minutos

apenas. Está deitado, e a senhora perto.A estas palavras, caí de costas e desmaiei. Quando

voltei ao meu estado normal, chamei pelo meu cão.Ele não se achava lá estava morto. Depois me foicontado todo o drama

Tal é a história de meu Bobby. E de se notar que nomesmo minuto em que morria, eu o via com meuspróprios olhos e o que afasta qualquer idéia dealucinação é a porta aberta por ele próprio

(O senhor Flamnrarion pediu a um professor daUniversidade de Lausanne que fizesse um inquéritosobre o caso. Sendo confirmada a narrativa do jovemSenhor Graeser)

Neste caso notabilíssimo, encontram duascircunstancias de produção que não se realizam senãoraramente no caso de alucinação telepática.A primeirae a mais importante consistem no fato de que aaparição da forma do cão foi precedida pelo fenômenofísico da porta que abriu. Na fenomologia telepática

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encontram às vezes episódios nos quais os percipientesvê abrir a porta e entrar um espírito mas quase semprea porta e em seguida fechada.Ao contrario neste casoassim como alias em grande numero de outros a portafoi achada aberta não se tratando de uma alucinaçãomais de um fenômeno de ordem supranormal.

O fenômeno em questão não poderia. Pois seexplicar senão reconhecendo o fundamento do queobservamos anteriormente isto é, que as aparições quechamamos de telepáticas não o são sempre nasignificação puramente alucinatório-verídica que seliga à telepatia. Pode-se tratar algumas vezes deverdadeiras aparições objetivas implicando a presença,no local, da entidade espiritual que se manifesta. Essaentidade, por motivo de morte muito recente eviolenta, ficaria, durante algum tempo, saturada deforça vital e poderia assim agir ainda sobre a matéria.Se o incidente da porta que se abriu foi bem observadoentão somos levados a inferir que a forma do cão nãoera apenas uma simples projeção alucinatória mas,antes, a objetivação de alguma coisa de análogo aoperispírito do animal

A asserção seria, de certa forma, confirmada pelaoutra circunstância que se produziu durante amanifestação, a saber: que o cão respondeu ao convitedo seu dono, entrando no quarto do moço, deitando-seaos seus pés e esfregando-se nas suas pernas. Todosestes detalhes são sugestivos em favor de uma

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presença real, pois que, em geral, as apariçõestelepáticas são inertes como estátuas. Quando elas sedeslocam e caminham, procedem de maneiraautomática, como se ignorasse o meio em que seacham, modalidades todas conformes à teoria segundoa qual elas consistiriam em puros simulacrosprojetados exteriormente pelo pensamento dopercipiente, influenciado pelo do agente.

É bem verdade que, em certos casos, as formastelepáticas provam que elas não ignoram o meio emque se acham, nem as pessoas que as observam e àsquais dirigem mesmo, por vezes, a palavra. Apenas,nestas circunstâncias, pode-se perguntar se não se tratarealmente, e sempre, de manifestações objetivas. Emsuma, já que tudo concorre para provar que asaparições de formas espirituais têm a sua origem emcausas diversas, de tal modo que há certamente formasobjetivas (entre as quais a classe total dos fenômenosde bilocação, nada impede que se admita também queuma parte das manifestações que ocorrem seja do tipotelepático-alucinatória).

Caso XIV - (Visual) - O rev. Ellis G. Robertsenviou a Light (1922, p. 241) a narração de umincidente supranormal acontecido à sua filha e escritapor esta mesma nos seguintes termos:

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Eu possuía um fox-terrier irlandês chamado Paddye havia entre nós uma afeição recíproca. Certa manhãele não apareceu para a primeira refeição e não fiqueipreocupada, porque tinha n costume de ir passearsozinho, embora fosse quase sempre regular na hora dacomida. Pelas nove horas, achava-me na cozinha quese abre sobre uma pequena arcada, de onde, por umaoutra porta, se passa à despensa. A porta exteriorestava aberta e da posição que ocupava eu podia verdiretamente o jardim. Era uma manhã ensolarada e aterra estava coberta de neve. Olhando para fora, viPaddy chegar pulando sobre a neve, atravessar ojardim, entrar na arcada e desaparecer na despensa. Euo segui, mas não o encontrei em parte alguma.Espantada e perplexa, voltei para a cozinha, onde seachavam diversas pessoas que, nada tendo visto,queriam convencer-me de que eu havia tomado porPaddy um outro cão de raça dálmata, de pêlo malhado,muito mais gordo do que Paddy e muito diferente deum fox-terrier irlandês. Esse animal ficava também nacasa. Estava apegada a uma tentativa de explicação,que me parecia absurda: eu havia percebido, no fundobrilhante da neve, o meu cãozinho, observando bem ocontraste entre o seu pêlo negro e a brancura do meio.Voltei a procurar por todas as partes, mas inutilmente.Paddy não estava na casa.

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Cerca de uma hora e meia, vi Paddy chegar emcondições deploráveis: tinha pedaços de pêloarrancados do peito e das pernas e quatro a cincodentes lhe faltavam da boca. Evidentemente o coitadodo animal tinha sido assaltado e maltratado sempiedade, porém nós nunca chegamos a saber o que lhetinha sucedido. Morreu alguns meses após, mas nãocreio, entretanto, que a morte tenha sido causada pelasferidas.

O rev. Ellis G. Roberts continua esta narração comalgumas linhas de comentários:

Minha filha nunca foi sujeita a alucinações visuais,de modo que me parece que a única explicaçãorazoável do incidente narrado consiste em oreconhecer como um exemplo de telepatia entre umcão em perigo e a sua dona, para a qual o seupensamento se voltou, precisamente, na necessidadeem que se achava de ser socorrido.

As conclusões do rev. Roberts parecemconsistentes e sólidas. sendo-nos pois, inútil tratar doassunto, mas seria útil, uma vez mais observar que ascondições, nas quais se realizou, contribuem paraconfirmar ainda a regra a que já fizemos alusão hábem pouco, isto é, que as manifestações telepáticas seproduzem geralmente seguindo a `via de menorresistência que elas encontram nas Faculdadessensoriais do percipiente. Se não for assim, quando umagente telepático se acha numa situação dramática e

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dirige o seu pensamento para um protetor que estálonge, este deveria invariavelmente perceber a imagemdo agente segundo a situação na qual se acha. Comefeito, a agitação produzida pela situação não podesenão ter invadido momentaneamente o campo inteiroda consciência do agente, parecendo então que nãopôde achar lugar para outra idéia senão a que o dominano momento da transmissão telepática. Ora, aocontrário, verifica-se, na pratica, que estacorrespondência na representação verídica dosacontecimentos não se realiza a não ser raramente nastransmissões telepáticas, assim como ela não serealizou no caso da filha do rev. Roberts, aonde vimosque um cãozinho assaltado e maltratado, tendo,inegavelmente, voltado o seu pensamento para a suaafastada protetora, determina nesta uma manifestaçãotelepática em conseqüência da qual a moça, em lugarde o perceber sua situação em que se achava, o vêvoltar para casa, caminhando penosamente, atravessaro jardim e entrar na despensa, isto é, que ela ovisualiza em uma das formas habituais de sua atitudediária. Ora, esta diferença entre o pensamento doagente e a visualização da percipiente só pode serexplicada graças à lei psíquica doe indicamos, segundoa qual todo o impulso telepático está sujeito a setransformar para o percipiente na visualização que lheé a mais familiar, com relação ao agente.

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Faço notar, em último lugar, doe, quando umavisualização telepática é a reprodução fiel da situaçãona qual se acha o agente, o fato significa que ascondições da relação psíquica entre o agente e opercipiente são de tal modo harmoniosas que nãoexistem obstáculos para o impulso telepático.

Caso XV – (Visual) – Foi publicado na Light(1918, p. 189) pela sra. Joy Snell, a bem conhecidasensitiva e clarividente, autora do livro The ministry ofthe angels (O ministério dos anjos), onde ela narrou asvisões mais importantes que teve, entre as quaisnumerosas aparições de espíritos juntos a leitos demoribundos, aparições vistas durante o exercício desua profissão de enfermeira diplomada. Ainda que anarração seja longa e que a primeira parte dela não sereporte diretamente ao assunto de que nos ocupamos,resolvemos narrá-la por inteiro, dado o interessepsicológico que apresenta. A sra. Joy Snell assim seexprime:

Prince é um cão-lobo da raça russa. Ainda que nãoesteja mais no número dos vivos há vários anos,continuo a falar dele até hoje, pois, para mim, aindaestá vivo e isto o sei positivamente já que vem semprevisitar-me, mostrando-me que tem por mim a mesmaafeição do passado. Quando ele me aparece, olha-mecom o seu olhar afetuoso, pousa a cabeça nos meus

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joelhos, balançando alegremente a sua cauda.Aconteceu-me encontrar pessoas que perceberam, porsua vez, Prince ao meu lado e fizeram uma descriçãominuciosa apesar de nunca o terem conhecido em vida.Eram pessoas que possuíam faculdades psíquicasanálogas às minhas, graças às quais o que não énormalmente visível pode tornar-se visível.

Quando Prince ainda estava neste mundo, suaprincipal ocupação consistia em acompanhar a suadona nos seus passeios a pé ou de carruagem. Numatarde de verão, voltei com o cão para casa, depois deuma longa excursão. Duas horas após, Andy, o rapazda cavalariça, veio prevenir-me de que o canil dePrince estava vazio e que não se achava o cão em partealguma. Prince nunca havia faltado, de modosemelhante, aos seus hábitos regulares. Andy semostrava preocupado e foi imediatamente à procura docão, mas eis que Prince apareceu, pulando por cima dacerca, e veio ao nosso encontro balançando a cauda.Depois de ter manifestado a sua satisfação de não tersido punido, ele me puxou levemente pela sala, emdireção à porta e, lá chegando, levantou-se sobre aspernas traseiras e, apoiando as dianteiras na porta,começou a me olhar e a latir. Como repetisse váriasvezes a mesma cena, compreendi que ele queria que oseguisse a alguma parte, de modo que o rapaz daestrebaria resolveu contentá-lo. Abriu então a porta,chamando por Prince, mas este me puxou novamente

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pela sala, fazendo-me compreender que ele queria queeu fosse também. Eram nove horas da noite e nós nospusemos em marcha, todos três. Prince seguiu aestrada por algum tempo, depois do que penetrou noscampos, correndo sempre diante de nós, e parou a unscinqüenta meros adiante para nos esperar. Depoisguiou a nossa marcha durante mais de duas milhas.Chegamos finalmente a um fosso rodeado de umacerca, numa abertura da qual se achava uma pilha defetos. Lá, o animal se deteve, esperando a nossa vinda,e, ao mesmo tempo, nos olhando com uma expressãode estranha ternura. Era evidente que tinha chegado aofim, onde havia algo de misterioso que queria mostrar-me, entretanto não podia encontrar uma explicação porque não tinha anunciado, balançando a cauda, a nossachegada, mas logo depois, compreendi a razão do seusilêncio. No monte de fetos estava deitada,profundamente adormecida, uma criancinha de pertode três anos. Se Prince tivesse balançado a cauda porcerto a teria acordado e espantado.

Agora, eis como chegou-se a explicar o estranhofato de uma criancinha adormecida em um cercado.Ela havia brincado toda a tarde no prado, com umgrupo muito numeroso de outras crianças, enquanto oscamponeses retornaram na sua carroça para a herdade,sem se aperceberem de que, naquele bando decrianças, faltava uma. Levei a criancinha aos seus paisque me agradeceram, chorando e beijando-me. Esse

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gesto magnífico de Prince o tornou famoso em todo opaís.

Pensativa, eu me perguntava, perplexa: “ComoPrince pôde descobrir a criança adormecida?” Ascircunstâncias nas quais a descoberta se deu mostramque não se trata de um acaso, pois eu não podiaimaginar coisa alguma, mas, agora, depois de anos, jánão acontece o mesmo. Eu sei, agora, que os cães – oupelo menos certos cães – são dotados de faculdadespsíquicas e podem perceber os espíritos dos mortos.Segundo penso, na tarde em que Prince saiu à procurada criancinha extraviada, ele foi levado a agir assimpor alguma entidade espiritual percebida somente porele, como acontece nos casos de pessoas dotadas defaculdade de clarividência. Essa entidade deve terguiado o animal até o cercado onde a criança dormia ea inteligência e o instinto do cão fizeram o resto.

O coitado do Prince teve uma morte violenta, e,provavelmente, sem sofrer. Andy, o moço dacavalariça, indo à estação da estrada de ferro, levou-opara fazer um passeio. Prince foi apanhado eesmagado por um trem que chegava. Naquelemomento, eu lia ao lado da lareira e, acontecendo-meolhar por cima do livro, vi Prince estendido com todoo comprimento do seu corpo sobre o capacho dela e euexclamei: “Já de volta, Prince?” Isto dizendo, estendi amão para acariciá-lo, porém ela não encontrouresistência, só o vácuo: Prince tinha desaparecido.

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Naturalmente concluí que fora joguete de algumaimaginação de maneira estranha, mas uma hora depoisAndy chegava trazendo a triste notícia. Quando Princeme apareceu foi pouco depois do instante em que foraesmagado pelo trem.

A primeira parte da narração da sra. Joy Snell éinteressante sob o ponto de vista da psicologia animal,pois que contém um exemplo esplêndido dainteligência e dos sentimentos generosos que possuemalguns espécimes da raça canina.

Assim como justamente observou a sra. Snell, nãoparece possível explicar o fato da descoberta dacriancinha extraviada pela hipótese do acaso,considerando-se que o cão havia deixadopropositalmente, e contra todos os seus hábitos, ocanil, para ir procurá-la, como se ele tivesse agido sobo golpe de um impulso exterior que, neste caso, nãopodia ser senão de origem supranormal.

Quanto à afirmativa da sra. Snell de que elacontinuava a perceber freqüentemente a forma do cãofalecido e que diferentes pessoas o tinham percebidocomo ela, é uma afirmativa a que só se pode atribuirvalor de prova, tendo em vista a naturezapositivamente alucinatória de várias formas análogasde visões subjetivas e a impossibilidade de separar asformas alucinatórias das que não o são. Observo,todavia, que, no presente caso, encontra-se uma

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circunstância colateral que militaria em favor darealidade objetiva das aparições em questão, a qualconsiste no fato de que a mesma clarividente estevesujeita a formas múltiplas de aparições subjetivas, deque se pôde comprovar a natureza positivamenteverídica, tais como, por exemplo, numerosas apariçõesde espíritos no leito de morte, percebidos por ela noexercício de sua profissão de enfermeira diplomada.

Caso XVI - (Visual-auditivo) - Tomo-o deempréstimo a Revue Scientifique et Morale duSpitisme (1920, p. 251) e é a senhora Camier que narraeste fato acontecido a ela mesma:

Eu possuía uma belíssima gata angorá, decomprido pêlo branco manchado de cinza e de olhosverdes rodeados de preto. Era mansa e meiga e todo omundo a admirava, mas tinha um defeito: todas asnoites tentava fugir para ir passear. O pátio da casa emque eu morava era dividido em dois por uma grade eela escapava saltando por cima dela.

Certa noite cheguei ao pátio a tempo de agarrá-laquando se preparava para pular a grade. Tinha-aapenas apertada nos meus braços quanto tive asurpresa de perceber uma outra gata angorá, em tudoigual à minha, e que pulava por cima da grade.

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Naquela ocasião, nada sabia a respeito de doutrinaespírita e olhei do outro lado da grade para certificar-me desse fato estranho, embora sabendo que, em todoquarteirão, não existia uma gata semelhante à minha,mas, lá do outro lado, nada vi.

Mais tarde, já tendo algum conhecimento deespiritismo, compreendi que a minha gata estava,naquele instante, de tal modo possuída pela idéia defugir, que o seu perispírito se libertou com tamanhaforça e ele pôde parecer substancial.

Algum tempo depois, o pobre animal ficou doentee me vi na necessidade de confiá-lo aos cuidados deum veterinário. Na noite em que ela morreu, senti -positivamente senti - a minha gata agarrar, com as suasunhas, a minha coberta e subir para a cama, comofazia habitualmente, impressão tão real que estendiinstintivamente a mão para certificar-me de que nãoestava enganada. Na manhã do dia seguinte fui à casado veterinário, onde soube que a minha gata haviamorrido durante a noite, sendo o seu últimopensamento evidentemente para mim.

Dos dois incidentes de telepatia animal contidos nanarração da senhora Camier, o segundo não difere dosoutros que relatamos, ao passo que o primeiro é denatureza excepcional e interessante. Dispensando aexplicação fantasista que dele dá a percipiente,podemos dizer, entretanto, que este incidente constituium exemplo bem característica de transmissão

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telepática de pensamento entre o animal e o homem.Ele nos faz assistir ao fenômeno de uma gata,surpreendida pela dona em flagrante delito em bruscainterrupção de sua intenção. A idéia que invade a suamente se transmite telepaticamente a mente da donaque percebe uma gata alucinatória saltando por cimada grade, de acordo com a imagens pensamentoexistente na mente da gata real. O caso é notável einstrutivo, tanto mais que o animal agente se achavanos braços da percipiente.

*

Deixo de narrar, por brevidade, sete outros casossemelhantes, enviando os eventuais leitoresinteressados às seguintes obras e publicações:

Caso XVII -Phantasmas of the Living vol. II p. 446(Visual).

Caso XVIII - Journal of the S.P.R., vol. VI, p. 375(Visual-coletivo).

Caso XIX - Juiz Edmonds: letters and tracts p. 336(Visual-coletivo).

Caso XX - Rivista di Studi Psichici, 1900, p. 350(Visual).

Caso XXI - Proceedings of the S.P.R., vol. X, p.181 (Visual Coletivo)

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Caso XXII - Revue Scientifique et Morale duSpiritisme 1911, p. 723 (Visual-táctil-coletivo).

Caso XXIII - Revue Scientifique et Morale duSpiritisme 1920, p. 25 (Visual).

SEGUNDA CATEGORIA

ALUCINAÇÕES TELEPÁTICAS NAS QUAISUM ANIMAL

É O PERCIPIENTE

Os casos desta categoria ainda que não lhes faltepor vezes algum interesse, não podem representar umvalor cientifico rela pela impossibilidade de assegurardo que efetivamente aconteceu com o animal e o queele percebeu realmente.

Caso XXIV - Em La Revue Spirite de janeiro de1905 p. 5l, o barão Joseph de Kronhelm narra oseguinte Cato que aconteceu a pessoas de suasrelações:

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Um oficial de meu conhecimento, acantonado emGajsin, na Podólia, Rússia, partia, no mês de abril,para a guerra com o Japão. Na véspera do dia de suapartida, enviou o seu cão de caça, um belo animal,muito inteligente e que lhe era muito afeiçoado, a umoutro oficial do mesmo regimento, seu amigo, grandeamante da caça, pedindo-lhe para guardar o animal atéa sua volta, se Deus lhe permitisse voltar. Naeventualidade de sua morte devia o cão ficar comopropriedade do amigo. Três meses após a partida dooficial, certa manhã, o cão, sem nenhuma causaaparente, se pôs a soltar terríveis uivos queincomodaram muito a família do oficial e os seusvizinhos. Tudo o que se fez para acalmá-lo foi inútil.O pobre do animal não deu a menor importância àscarícias do oficial e de sua esposa, nem quis comernada, uivando sem cessar dia e noite, até que os seusuivos cessaram no terceiro dia. O dito oficial, umhomem muito instruído, que já ouvira falar sobre ospressentimentos dos animais, anotou cuidadosamente adata do acontecimento e disse à sua esposa: QueiraDeus que eu me engane... mas estes uivos de nossocão, sem nenhuma razão aparente, são um sinal demau agouro. Acho que vai acontecer-nos algumadesgraça ou iremos receber má notícia. E a desgraçanão se fez por esperar. Algum tempo após, chegava ànotícia da morte do antigo dono do animal, que

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falecera durante uma luta com os japoneses, noinstante mesmo em que esse começara a uivar.

Este fato parece bastante probante no sentidonitidamente telepático, pois, se o animal se pôssubitamente a uivar lastimosamente, sem causaaparente, persistindo nessa atitude apesar dos afagosque lhe faziam os familiares e mesmo recusando-se acomer, é preciso supor que devia haver aí uma causaoculta qualquer correspondente à desolação dele. Ora,como se verificou que, no momento em que o cãocomeçou a uivar, o seu antigo dono morria na guerra,tudo contribui para se presumir que o animal teverealmente a visão telepática da morte do oficial.

Caso XXV - Foi primeiramente publicado na Light(1818, p. 5) - Um redator dessa publicação espíritalondrina, amigo do senhor Tom Terriss, filho do atordramático William Terriss, assassinado em 1817,escreve:

Na noite mesma do assassinato, a senhora Terrissestava sentada no salão do seu pequeno hotel noBelford Park e tinha, sobre os joelhos, um pequenofox-terrier chamado Davie, que dormia. Seus filhos,William e Tom, estavam com ela. O relógio marcavasete horas e vinte minutos quando, de repente, sem que

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nada o pudesse fazer prever, o cão pulou para o chão ecomeçou a se atirar para cá e para lá, rosnando,ladrando, arreganhando os dentes e mordendo, numextraordinário estado de cólera e de terror. Essainsólita atitude cio animal causou profunda impressãona senhora Terriss, que ficou transtornada pelo restoda noite. Pois bem, foi exatamente às sete e vinte danoite que o ator dramático William Terriss tombouassassinado.

Seu filho Tom exprimiu-se assim a este respeito eujogava uma partida de xadrez com meu irmão Williame o cão dormia em cima dos joelhos de nossa mãe,quando, repentinamente, ele nos assustou ao pular parao chão e começou a pular de um lado para outro,furioso e agitado, arreganhando os dentes e mordendoo vácuo. Nossa mãe ficou espantada e exclamou: `Queaconteceu? O que ele está vendo? Ela estavaconvencida de que a raiva do animal era dirigidacontra um inimigo invisível. Eu e o meu irmão nosesforçamos por acalmá-lo, embora estivéssemos, pornossa vez, bastante surpresos e perplexos com aatitude inexplicável de um cão geralmente tranqüilo ede um temperamento dócil.

Considerando a natureza inverificável do episódioem questão, seria inútil estender-se em comentáriosespeciais, limitando-me então a observar que o fato dehaver correspondência perfeita da hora em que se deuo assassinato com a mímica furiosamente agressiva do

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animal leva irresistivelmente a pensar gire ele teverealmente a visão subjetiva da cena dramática na qualo seu dono sucumbia e, em conseqüência, tentoudefendê-lo, lançando-se contra o agressor.

Caso XXVI - Retiro-o de Les Annales des SciencesPsychiques (1916, p. 149) - Consta de uma cartaparticular que a senhora Esperanza Payker enviou a 7de dezembro de 1916, de Zurique, Suíça, a uma dasamigas, e se refere à morte, na guerra, de um irmão daremetente da carta. Eis a passagem essencial danarrativa:

Você me pede notícias de Richard. Ele faleceu,infelizmente, combatendo contra os russos. Ele, ocosmopolita, que queria ver todo homem um irmão!No momento de sua morte, aconteceu um fato que nãopode deixar de lhe interessar. Você se lembra deKacuy (o cão de Richard). Pois bem, às sete horas danoite, de treze de agosto último, ele estava como queadormecido aos meus pés. Repentinamente, levanta-see corre para a porta, sacudindo a cauda, latindo epulando como se fosse receber uma pessoa conhecida,mas, subitamente, retirou-se espantado, uivoulastimosamente, gemeu, tremeu, voltou a deitar-se aosmeus pés, sem deixar de gemer a noite inteira. Na

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manhã do dia seguinte, abandonou a casa e nunca maisfoi visto.

Ora, a estranha manifestação do cão coincidiuexatamente com a hora em que Richard tombavagravemente ferido e o desaparecimento dele se deu nahora da morte do seu dono.

Também neste exemplo a mímica expressiva doanimal tende a demonstrar ao caráter verídico datelepatia e neste caso considerando que de inicio ele secomportou alegremente como se assistisse a volta deum familiar para mudar, em seguida, bruscamente, deatitude, dando mostras de espanto, como se tivessenotado a natureza fantasmagórica do que percebia.

TERCEIRA CATEGQRIA

Alucinação telepática percebida coletivamente peloanimal e pelo animal

Esta categoria e o complemento da precedente eserve para apoiar a suposição de que casos focalizadosna série anterior são realmente telepáticos.

Caso XXVII – (auditivo-visual-coletivo comimpressão de vento muito frio) Tiro-o da obra Camille

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Flammarion (O desconhecido e os problemascientíficos)

Uma das minhas amigas de estudo fora à Índiacomo medica. Perdendo de vista, mais sempregostando uma da outra.

Certa vez, na noite de vinte e oito para o dia vinte enove de outubro (eu estava então em Lausanne, Suíça),fui despertada antes das seis horas por pequenasbatidas na minha porta. Meu quarto de dormir davapara um corredor que terminava na escada do andar.Eu deixava a porta do meu quarto entreaberto parapermitir que um grande gato branco que eu então tinhafosse caçar durante a noite (a casa formigava de ratos).As batidas se repetiram, mas a campainha da noite nãohavia tocado e eu não ouvi ninguém subir a escada.

Por acaso, meus olhos caíram sobre o gato queocupava o seu lugar habitual ao pé de minha cama eele estava sentado, com o pelo eriçado, tremendo erosnando. A porta moveu-se como se agitada por umleve golpe de vento e eu vi aparecer uma formaenvolvida numa espécie de tecido vaporoso brancocomo um véu sobre uma roupa escura, mais não podedistinguir bem o rosto. A forma aproximou-se e eusenti um sopro glacial passar por mim, ao passo que ogato rosnava furiosamente. Instintivamente fechei osolhos e, quando os reabri, tudo havia desaparecido. O

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gato tremia o corpo inteiro, que estava banhado desuor.

Confesso que não pensava na minha amiga naÍndia, mas em outra pessoa. Cerca de quinze dias maistarde, soube da morte de minha amiga na noite devinte e nove para o dia trinta de outubro de 1890, emShrinagar, na Cachemira. Soube depois que haviasucumbido a uma peritonite.

Neste caso, em que a percipiente não pôde ver aface do espírito, não se pode dizer que ele tenha sidoidentificado como a amiga da percipiente, falecidanaquele dia, na mesma hora, todavia o simples fatodesta coincidência já constitui uma boa presunção nosentido das conclusões da doutora Thyle.

De certo modo isto não diz respeito ao assunto deque nos ocupamos no momento, isto é, o da percepçãocoletiva de manifestações supranormais por parte dehomens e animais. Ora, sob este ponto de vista, épreciso observar que, se o gato mostrou-se espantado aponto de ficar tremendo e com abundante transpiração,tal fato mostra que teve, por sua vez, a visão de algode bastante anormal para o aterrorizar. Que podia seressa qualquer coisa senão a forma espectral percebidapela sua dona?

Caso XXVIII - (Auditivo-coletivo) - Encontram-sena obra de Hudson Tuttle intitulada The arcana of

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Spiritualism fatos de percepções supranormais da partede animais, entre os quais figura este, de ordemcoletiva, na página 234:

O grumete do navio à vela Avalanche, no naufrágiodo qual pereceu toda a tripulação, possuía um cão queo amava muito e que atendia prontamente à chamadade um apito para cães que o seu dono trazia sempreconsigo. Na noite do naufrágio, a mãe e a tia dogrumete achavam-se no toalete e o animal na cozinha.Entre nove e dez horas, ambas foram surpreendidaspor um assobio muito forte vindo do andar superior. Osom era justamente o do apito de que se servia o jovemgrumete. O cão o tinha reconhecido por sua vez eimediatamente correspondido por meio de latidos,como era de seu hábito, e corrido para o andarsuperior, onde, acreditava ele, supunha encontrar o seudono.

Se o cão do coitado do grumete correu para o andarsuperior, latindo, e se, no mesmo instante, as duaspercipiente tinham localizado o soar alucinatório doapito familiar, tudo leva a crer, logicamente, que oanimal tinha ouvido a mesma coisa.

Caso XXIX – Encontrei-o no Journal of the Societyfor Psychical Research (vol. XIII, p. 28). O eminentemitólogo e sociólogo Andrew Lang comunicou o

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seguinte fato observado por uma sua sobrinha, que lheescreveu a respeito:

Skelhill, Kawick, 8 de outubro de 1906Cheguei a este país a quatro de agosto; segunda-

feira, 6, estive no monte Pen, onde, pela primeira vez,vi um espírito. Achava-me acompanhado de meuvelho cão Turk e subia a encosta muito lentamente,parando várias vezes, devido às pernas curtas do meucompanheiro e à sua respiração difícil, isto tanto maisque o mato era rasteiro e duro. Havia marcado umúltimo descanso no lugar em que o Pen erigebruscamente o seu cimo imponente. Estava sentadocom as costas voltadas para o dique e com o rosto paraa costa rochosa, enquanto Turk estava sentado,ofegante, a meus pés.

Repentinamente vi chegar em minha direção minhaamiga, a doutora H., com a qual fiz a viagem de voltada América, em 1905. Vestia uma saia curta, azul, comum corpete de algodão branco. Estava sem chapéu etrazia uma bengala na mão. Quando se achou perto demim, notei uma mecha de cabelos caída sobre a testa.Soube, quinze dias antes, que ela voltara da Américapara a Inglaterra, de onde devia partir novamente adoze de setembro e que se propunha ir até a Cornualhapara rever os seus pais, porém eu ignorava quando elavoltaria. Fiquei de tal modo surpresa por reencontrá-lanaquele lugar que, durante um instante, não me mexi e

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não pude articular uma só palavra, mas Turk fez-mevoltar a mim, rosnando contra a recém-vinda. Entãolevantei-me com um salto, exclamando: “A sra. aqui,doutora H.?” A estas palavras, a doutora se voltaraolhando-me, e, em seguida, continuou tranqüilamentea descer pelo atalho que eu acabara de subir. Surpresacom a sua atitude, pois estava certa de que ela mehavia visto, segui-a com a intenção de detê-la.Esperando, Turk não parara de rosnar e de latir, massem se afastar de mim, embora de hábito ele avance,rosnando, contra as pessoas e os cães que lhe sãodesconhecidos. Observei que os pêlos do seu dorsoestavam eriçados e que a sua cauda estava arqueadafeito um grande gancho. Quando eu a alcancei e iaestender o braço para pôr a mão sobre o ombro dela,um grande inseto zumbidor se interpôs entre nós,voando através do seu corpo! Então vi a doutoradesaparecer. Naturalmente que fiquei perplexa econsternada, pois então não havia tido a menor idéiade que não se tratava de minha amiga em carne e osso.Sem Turk, eu teria duvidado dos meus sentidos, mas,nestas condições, não era possível, já que o cão semostrara incontestavelmente irritado e rosnando contraalguém. Juro-lhe que estou gozando de boa saúde, quenunca me senti tão bem e que há um ano só bebo água.Não posso precisar o minuto em que vi a aparição,mas, como quando me sentei, eram seis horas e cincominutos do cair da tarde, deduzi daí que deviam ser

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seis horas e quinze, talvez um ou dois minutos mais,quando a vi desaparecer.

Apanhei rapidamente o lápis e tomei nota doestranho fato num envelope que tinha no bolso. Logoque voltei para a minha casa, ditei a narraçãodetalhada do sucedido. Naturalmente que escrevidesde ontem á doutora, perguntando-lhe o que elafazia em tal dia e tal hora em que me apareceu. Logoque tenha respondido, eu lhe informarei a respeito.

Em sucessiva carta da sobrinha do professor Langao seu tio havia o seguinte trecho:

Encontrei-me com a doutora H. e ela me disse que,no dia e na hora indicados, descia a colina do Tintagel,vestida exatamente como eu a descrevi, com mais umtraje de banho no braço, que eu não vira no momento.

A irmã da doutora H. escreve por sua vez:

No dia 6 de agosto de 1906, pelas seis horas datarde, a doutora H. descia a colina do Tintagel, depoisde se ter banhado. Estava com uma saia azul, semchapéu, e no braço, um traje de banho.

Como se pôde ver, no caso em questão, trata-se daaparição de uma pessoa viva, percebida juntamentepor um cão e a sua dona. Se a autenticidade da

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aparição não pode ser posta em dúvida, por outro lado,as modalidades da manifestação se afastam da regraque rege as aparições desta espécie, pois que,geralmente, o agente se acha em condiçõesexcepcionais do ponto de vista emocional, enquantoque, no caso de que nos ocupamos, não parece queseja assim. De todo modo, é verossímil que a doutoraH. tenha podido, naquele momento, volver o seupensamento para a sua amiga ausente, com a qualdeveria encontrar-se dias mais tarde.

Sob a ótica que nos interessa, observo que aaparição foi vista simultaneamente pelo animal e pelasua dona, pois a atitude do cão, que rosnava e latiacontra a forma percebida mas não ousava afastar-se dasaia protetora de sua dona, mostra que elecompreendia claramente que se achava na presença deuma manifestação fantasmagórica, ao passo que a suadona acreditava absolutamente achar-se em face de suaamiga em carne e osso. Esta é mais uma razão paracontradizer a hipótese de transmissão do pensamentodo homem ao animal.

Caso XXX - (Visual com anterioridade do animalsobre o homem) - Este caso foi publicado na Light(1907, p. 225). O senhor J. W. Boulding, conhecidoautor espiritualista, relata o seguinte fato queaconteceu com uma família amiga da sua:

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Um dos meus amigos, residente cm Kensington,estava enfermo já há algum tempo e, em certa tarde dedomingo do verão passado, um outro dos meus amigose a sua esposa foram fazer-lhe, de carro, uma visita.Quando chegaram perto de um ponto da estrada deferro, não longe da residência do doente, o cavalocomeçou a se rebelar, não quis seguir caminho,parecendo tomado de um súbito terror. Tremia,recuava, empinava, espantando muito as pessoas quese achavam no veículo. Em dado momento, a senhorase levantou para certificar-se do que se passava e o seuespanto foi grande ao ver que, diante do cavalo, debraços abertos, estava o amigo doente que eles iamvisitar! Seu espanto foi tal que ela caiu desmaiada noassento da carruagem e o marido teve de dar ordem aococheiro para que voltasse para casa. Eram 6 horas datarde. Mais tarde resolveram pôr-se novamente acaminho e, quando chegaram à casa do amigo,notaram que os postigos das janelas estavam fechados:não tardaram a serem informados de que o enfermomorrera exatamente na hora em que surgira diante docavalo. Note-se que o primeiro a perceber a apariçãofoi o animal, circunstância que surge em apoio àafirmação de grande número de pessoas de que osanimais compartilham com o homem as faculdades declarividência.

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Com efeito, nos casos em que o animal é oprimeiro a perceber uma aparição telepática, não háhipótese racional a se opor à que considera os animaiscomo dotados de faculdades supranormaissubconscientes, à semelhança do homem, e estaconsideração solve problemas psicológicos efilosóficos de primeira importância.

Caso XXXI - (Visual com anterioridade do animalsobre o homem) - O rev. Minot Savage, no seu livro(Pode a telepatia explicar?), pp. 46/48, narra o seguintecaso:

Uma jovem dama, pertencente à minha paróquia deBoston, estava, em certa tarde de domingo, sentada nobanco do seu piano, tocando, e não pensando em nada.Nenhum dos membros da família se achava na casa,nem mesmo criados. Um cãozinho, muito querido pelareferida senhora, estava deitado numa cadeira, a algunspassos. Estando sentada frente ao piano, dava as costasà porta que abria para o salão. De repente, sua atençãofoi atraída pela atitude do animal que se tinhalevantado, com o pêlo eriçado no dorso, e começara arosnar surdamente, olhando para a porta. A moçavirou-se logo e percebeu as silhuetas vagas de trêsformas humanas que se achavam no outro quarto,

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perto da porta dando para o salão. Antes que as formasdesaparecessem, pareceu-lhe reconhecer uma delas.Nesse meio tempo, o terror do cão tinha aumentado atal ponto que fora se ocultar debaixo do sofá, de ondenão se decidiu a sair senão depois de insistenteschamados de sua dona.

A importância deste episódio está em que provaque se tratava de alguma coisa que fora percebido peloanimal antes que a sua dona, isto é, excluindo todaforma de sugestão relacionada com uma origemhumana.

Da mesma maneira, relativamente a este fato, éfácil observar que, se o cãozinho se levantou de umpulo, rosnando surdamente e olhando para a porta,para correr em seguida a se refugiar debaixo de ummóvel, tudo isto mostra claramente que ele teve avisão de algo fantasmagórico capaz de o espantar, talcomo acontece muitas vezes nos casos desta espécie.O caso é tanto mais notável porque os cães têm oinstinto de ficarem irritados e de rosnarem à vista deum intruso em carne e osso, mas não o de terem medoe se esconderem.

Caso XXXII - (Visual-coletivo, com anterioridadedo animal sobre o homem). O seguinte caso é muitoimportante, pois que as pessoas que experimentaram amesma forma de alucinação telepática,

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simultaneamente com um cão - foram sete. O caso foicomunicado a Society for Psychical Research porAlexandre Aksakof Eu o extraio do vol. X, p. 127, dosProceedings (atas) da Sociedade:

São Petersburgo, 4 de maio de 1891. - Eis anarrativa do fenômeno de que toda a nossa família foitestemunha. Aconteceu em São Petersburgo, em 1880,quando morávamos na rua Pouchkarska. Numa tardedo mês de maio, pelas seis horas, minha mãe (hojesenhora Telechof) estava no salão com os seus cincofilhos, dos quais era eu o primogênito (tinha então 16anos). Naquele momento, um antigo servidor da casa,que se tratava como amigo (mas que, na época, nãoservia mais conosco), viera visitar-nos e se empenharaem conversa com a minha mãe. De repente, as alegresdistrações das crianças pararam e a atenção geralvoltou-se para o nosso cachorro Moustache, que seprecipitara, ladrando fortemente, para a lareira.Involuntariamente olhamos todos na mesma direção evimos na cornija da grande lareira, como ornato defaiança, um meninote de seis anos mais ou menos, decamisola. Reconhecemos nele o filho de nosso leiteiro,André, que vinha muitas vezes, em companhia de suamãe, brincar com as crianças, pois viviam bem pertode nós. A aparição se destacou da cornija, passouacima de todos nós e desapareceu pela janela aberta.

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Durante todo esse tempo, uns segundos apenas, o cãonão deixava de latir com todas as suas forças e corria erosnava ainda, seguindo o movimento da aparição.

No mesmo dia, um pouco mais tarde, nosso leiteiroveio à nossa casa e nos comunicou que o seu filhoAndré, depois de uma enfermidade de alguns dias (nóssabíamos que ele estava doente) acabara de falecer, oque aconteceu provavelmente no momento em que ovimos aparecer.

Daniel Amossof, Maria Telechof, (mãe de M.Amossof, no segundo casamento) Kousema Pétrof(morando presentemente em Lebiajeyé, perto deOranienbaum).

Neste último caso, a atitude do cão, em face daaparição, parece de tal forma característica e eloqüenteque somos irresistivelmente levados a concluir que eleteve a mesma visão que o sete outros percipientes. Épreciso observar, com efeito, que o cão (que fora, alémdisto, o primeiro a experimentar a sensação telepática)se atirara na direção da lareira, onde os outrospercipientes localizaram a aparição, e que, durantetodo o tempo em que a aparição ficou visível, nãoparara de ladrar para ela, seguindo-a no seumovimento aéreo.

Caso XXXIII - (Visual-auditivo-coletivo, comanterioridade do animal sobre o homem e impressão,

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pela percipiente, de um sopro de vento frio). O casofoi colhido e examinado pelo professor,James Hyslop,que o publicou no Journal of the American Society forPsychical. (1907, p. 432), sem dar os nomes dosprotagonistas por pedido feito pela senhora que éautora da narrativa. Eis o que conta ela:

Há dois anos, meu primo William P., de 21 anos deidade, morria tuberculoso. Desde os primeiros anos dainfância que a mais profunda afeição existia entre nóse a circunstância de sermos ambos apaixonados pelamúsica nos ligava ainda mais, embora ele morasse emTottenville (Nova Iorque) e eu, X., a uma distância deduzentas milhas. No mês de março de 1901, caiudoente e... Faleceu a vinte e nove de março de 1902.Naquela ocasião, estava no meu quarto e lia a Bíblia.Achava-me só com o meu filho de quatro anos,dormindo na sua caminha, e o meu cãozinho favorito.O quarto dava para um gabinete de trabalho cuja portanão era fechada senão por uma dupla cortina de corazul. Lia atentamente e sem ser perturbada, durantealgum tempo, mas, em um dado momento, ouvi passospesados no dito gabinete, e no instante seguinte umsopro de vento glacial abria as cortinas, roçando-me orosto. O animal levantou a cabeça, olhou naqueladireção e correu, gemendo, para se meter debaixo deuma cadeira. Por minha vez olhei e percebi, entre as

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porteiras, o espírito de meu primo, alto e ereto, talcomo ele era antes da doença, com os braçosestendidos, um sorriso angélico nos lábios. Fiqueiolhando-o como que petrificada, durante algunsminutos, e o vi desaparecer quando o relógio marcavanove horas. No mesmo instante, ouvi soar a campainhada porta e chegava um telegrama dizendo: Williamfaleceu oito horas. Venha imediatamente.

Minha mãe me disse que o rosto de meu primorecém-falecido oferecia à vista uma expressão degrande sofrimento, mas que, depois de cerca de meiahora, tinha experimentado uma mudança estranha,transformando-se em um sorriso angélico, queconservava ainda quando o depositamos no esquife,sorriso cont o qual me apareceu entre as cortinas daporta do gabinete de trabalho.

Se esta narrativa for publicada, queira suprimir osnomes dos protagonistas, pois os meus familiaresatribuem minha visão a uma superexcitação nervosa.(Assinado por inteiro: senhora H. L. B.).

O professor Hyslop escreveu ao marido da senhoraH. L. B., que é médico, e ele confirmou os fatos assim:

Respondendo às perguntas que V. 5a. que meformulou em sua carta de 22 de maio, declaro que asduas notáveis experiências relatadas por minha esposase desenrolaram tais como ela as narrou. O segundofato, em relação ao falecimento de um dos nossosprimos, não está menos presente à minha memória que

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o primeiro. Ele aconteceu antes da chegada dotelegrama nos comunicando o seu falecimento. Minhaesposa contou logo o fato à criada de quarto, que seacha atualmente em Filadélfia, e ao sr. J. H., residenteaí. Não sei como explicar teoricamente os fatos emquestão. (Assinado por inteiro: doutor M. L.).

Neste caso ainda, o primeiro percipiente foi umcão.

Há que se notar que o espírito do defunto semanifestou urna hora após a sua morte, com o rostoapresentando o mesmo sorriso angelical que haviaaparecido no cadáver uma hora depois do decesso eque, além disto, sua manifestação foi precedida pelofenômeno auditivo de passos pesados vindos dogabinete de trabalho bem como é percebido durante assessões experimentais no momento da materializaçãomediúnica.

A circunstancia teoricamente mais importante é ademora de uma hora da manifestação telepática,embora isso possa ainda ser explicado pela hipótese da`telepatia retardada, entretanto esta hipótese não émais válida quando se trata de fatos do mesmo gêneronos quais a demora foi de dias e de semanas,resultando daí a necessidade de recorrer a umahipótese mais compreensível, capaz de explicarcumulativamente toda a série de manifestaçõesretardadas coincidentes com casos de morte. Ora, istonão pode ser feito sem se acolherem essas

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manifestações na categoria das aparições de mortos enão na das aparições de vivos, como se tem feito atéhoje. Isto não é adiantado, bem entendido, senão demaneira geral, admitindo a possibilidade de exceções àregra nos casos de breves demoras, de acordo comcondições especiais.

Caso XXXIV - (Visual-coletivo, com anterioridadedo animal sobre o homem) - O professor Andrew Langcomunicou a Society for Psychical Research (Journal,vol. XN, p. 70) o episódio que segue,constante de umacarta que lhe foi dirigida por uma senhora de suaamizade:

22 York Mansions, Battersea Park, S. W. 10 defevereiro de 1909

Caro professor,No decurso do seu artigo publicado no Morning

Post, o senhor citou um caso de aparição percebidasimultaneamente por uma dama e o seu cão. Penso quelhe pode interessar um caso semelhante que aconteceucomigo mesma e o meu cão, há seis anos. Eu lia,sentada ao lado da lareira, no meu salão, cuja portaestava fechada. Meu cão, Dan, dormia em cima dotapete. De repente, fui distraída, na minha leitura, peloanimal, que começara a rosnar surdamente. Debrucei-

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me para ele a fim de o acalmar, fazendo-lhe carinhos,porém ele ficou mais estranho. Então olhei na mesmadireção que o animal (o que não pude fazer senãovirando-me na minha cadeira) e, com grande espantomeu, distingui uma forma de mulher vestida decinzento, de pé, junto à porta. Não podia distinguir ostraços do seu rosto, que ficara oculto por uma plantacolocada sobre a mesa. Julguei a princípio que fosse aminha irmã e não dirigi a palavra para lhe perguntarpor que viera tão cedo e como pudera entrar noaposento sem fazer ruído, mas logo me lembrei de que,estando sozinha, havia colocado o ferrolho na porta dacasa. Então me levantei de um salto, espantada,enquanto que Dan se lançara ladrando contra a intrusa,que desapareceu subitamente, embora a porta do salãocontinuasse fechada. O animal mostrava todos ossintomas de raiva e medo ao mesmo tempo, com osolhos luzindo, mas a cabeça baixa e o pelo eriçado aolongo da coluna vertebral. Parecia convencido de tervisto uma pessoa real, visto que, quando abri a porta,lançou-se, latindo furiosamente , e desceu a escada,para subi-la em seguida, procurando sempre a intrusaque, naturalmente, não chegamos a achar. Só na casa,experimentei um sentimento de alívio quando, poucodepois, a campainha da porta tocou e a minha irmãentrou.

Não tenho nenhuma teoria a propor para aexplicação deste fato, sendo-me, aliás, impossível ligar

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a visão tida com acontecimentos que se produziramantes ou depois, mas estou absolutamente certa do quepercebemos, eu e o meu cão, embora não tenha outratestemunha para confirmar a minha narrativa.Naturalmente, contei imediatamente o caso a minhairmã.

Senhora Emma-L. Darton

Podem-se encontrar detalhes adicionais do caso emquestão no supracitado volume do Journal da Societyfor Psychical Research. O sr. Andrew Lang supõe que,nesta circunstância, trata-se provavelmente de um casode telepatia procedendo uma chegada, isto é, que airmã da senhora Darton, dispondo-se a sair, tinhapensado intensamente em algo relativo ao seu meiodoméstico, determinando a projeção telepática do seuespírito no local. Essas manifestações telepáticas têmrealmente acontecido e a Sociedade inglesa depesquisas psíquicas já juntou um número bem grandedelas, todavia creio pouco verossímil que assim sejano caso em exame, porque não me parece que o animalficasse furioso na presença de uma pessoa da família.

Eliminando esta hipótese, não seria fácil descobrira gênese da forma vista pela referida senhora e o seucão, a menos que se considere como um simplesfenômeno de assombração.

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Em todo o caso, a solução do problema não pareceinteressar no momento. Basta-nos notar que, aindaneste exemplo, o animal foi o primeiro percipientes.

*

Omito treze outros casos análogos que constam dasseguintes obras e publicações:

Caso XXXV -Proceedings of the S.P.R., vol. V, p.307 (Auditivo coletivo-assombração).

Caso XXXVI -Proceedings of the S.P.R., vol. V, p.308 (Auditivo-coletivo-assombração).

Caso XXXVII -Proceedings of the S.P.R., vol. V,p. 453 (Visual-auditivo).

Caso XXXVIII -Proceedings of the S.P.R., vol. X,p. 327 (Visual-coletivo).

Caso XXXIX - Camille Flammarion: L inconnu p.104 Visual-coletivo).

Caso XL - Phantasms of the living, vol. II, p. 149(Visual).

Caso XLI - Phantasms of the living, vol. II, p. 245(Visual).

Caso XLII - Phantasms of the living, vol. II, p. 458(Visual).

Caso XLIII - Phantasms of tlte living, vol. II, p.510 (Visual).

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Caso XLIV - Journal of the S.P.R., vol. N, p. 53(Visual - Coletivo anterioridade do animal sobre ohomem).

Caso XLV -American Proceedings of the S.P.R., p.144 Visual coletivo).

Caso XLVI -American Proceedings of the S.P.R.,p. 145 Visual coletivo, com anterioridade do animalsobre o homem).

Caso XLVII-American Proceedings of the S.P.R.,p. 146 Visual auditivo, com anterioridade do animalsobre o homem).

QUARTA CATEGORIA

VISÕES DE ESPÍRITOS HUMANOS TIDASFORA DE QUALQUER COINCIDÊNCIA

TELEPÁTICA E PERCEBIDAS COLETIVAMENTEPOR HOMENS E ANIMAIS

Os fatos pertencentes a esta categoria sãorelativamente freqüentes e têm uma importância

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teórica porque apresentam muitas vezes o valor decaso de identificação espirítica.

Relatarei primeiramente dois episódios de datasbem antigas, resumindo-os:

Caso XLVIII - Visual) - No seu livro sobre avidente de 1revorst, o dr. Justinus Kerner fala de umaaparição que a vidente percebia, freqüentemente, juntodela, durante mais de um ano.

Ele observa a respeito que, cada vez que a videnteanunciava a presença da aparição, um galgo,pertencente à família, se comportava de modo a fazersupor que ele a via também e corria logo para perto dealguma das pessoas presentes, como se lhe quisessepedir proteção, gemendo, às vezes, lastimosamente.Desde o primeiro dia em que ele viu a aparição, nuncamais quis ficar sozinho durante a noite.

Caso XLIX - Visual-auditivo) - Sob o título deAparições reais de minha esposa antes de sua morte(Chemnitz, 1804), o dr. Wetzel publicou um livro quecausou grande impressão na sua época.

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Ele conta que, certas tarde, algumas semanasdepois da morte de sua esposa, quando se achava noseu quarto, sentiu subitamente, em torno de si, umvento turbilhonante, ainda que as portas e as janelasestivessem fechadas. A luz se apagara enquanto umbatente da alcova se abrira. Na fraca claridade quereinava no quarto, Wetzel havia percebido a forma desua mulher, que lhe dissera com voz fraca: Carl, souimortal, nós nos veremos novamente. A apariçãotornou a se mostrar e, desta vez, o cão do doutorWetzel tinha girado em torno do lugar onde se achavaela, sacudindo alegremente a cauda.

Neste último caso, semelhantemente, é precisoconsiderar a atitude do cão, que parecia terefetivamente percebido uma forma se assemelhando àsua falecida dona.

Apesar disto, considerando-se que, nos dois fatosque acabo de citar, os primeiros a experimentar em aalucinação foram, respectivamente, a vidente e odoutor Wetzel, pode-se sustentar, razoavelmente, ahipótese de que os dois percipientes tenham, emseguida, servido de agentes, transmitindo aos animaisuma forma alucinatória que germinou no cérebrodeles. Em todo caso, esta hipótese não destruiria aimportância dos fatos em questão, no nosso ponto devista, pois que esta solução do problema provariaigualmente, de maneira categórica, que fenômenos de

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transmissão telepática entre o homem e o animal seproduzem, com efeito, o que constitui o fim essencialdesta classificação.

Ora, este fato uma vez reconhecido como formasalucinatórias do tipo em questão, não seria mais lógicorecusar reconhecê-lo como formas da telepatiaverídica ou como uma outra modalidade qualquer depercepções psíquicas no fundo das quais existe sempreuma forma mais ou menos disfarçada de transmissãotelepática. Isto dita, importa salientar que a hipótese deque nos ocupamos não chega a explicar senão ossimples casos nos quais a visão alucinatória foipercebida precedentemente pelo homem, e não osoutros casos em que a anterioridade pertencecertamente aos animais.

Observo enfim que a hipótese em questão, aindaque livremente explorada por numerosospesquisadores no domínio dos estudos metapsíquicos,está longe de ter fundamento. Ao contrário, elaconstitui um grosseiro erro, pois que, salvo rarasexceções confirmando a regra, não se conhece aindaexemplo de alucinações coletivas entre criaturashumanas que extraiam as suas origens de um influxocontagioso de transmissão telepática do pensamento.Bem sei que, nos tratados de patologia mental,encontra-se um grande número de casos de alucinaçãocoletiva, sobretudo nos loucos, por contágio místico,porém tudo isso se realiza exclusivamente por

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sugestão verbal, e jamais por `transmissão telepáticado pensamento, o que equivale a declarar que umabismo existe entre as duas ordens, de fato.

Deve-se, por acréscimo, considerar que, mesmo nasexperiências hipnóticas em que existe entre ohipnotizador e o sensitivo uma `relação psíquicafirmemente estabelecida, é muito raro que ohipnotizador chegue a provocar, à distância, nosensitivo, formas alucinatórias com o auxílio datransmissão telepática do pensamento, quando ele asobtém, à vontade, por meio da `sugestão verbal.

A importância teórica destas observações nãoescapará a ninguém e eu almejo que os futurospesquisadores, operando no domínio das ciênciasmetapsíquicos, façam a consideração devidamente.Entre as investigações atuais, não há senão a doprofessor Charles Richet que reconhece a absurdidadede explicar, pela transmissão telepática dopensamento, os casos de visões ou percepçõessupranormais de ordem coletiva, o que deve serassinalado em sua honra.

Caso L - (Visual) - O seguinte caso foi comunicadoa Society for Psychical Research por AlexandreAksakof. Eu o extraio dos Proceedings dela, vol. X, p.328, assim:

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(Nota tomada da narração da senhora T.) - Outubrode 1891 - Em 187... a senhora T. achava-se, certo dia,em casa dos seus vizinhos do campo, senhor e senhoraB..., em P... A conversa versava sobre umacontecimento trágico que ocorreu na família dos T. eterminou pelo suicídio de um dos parentes da senhoraT., que de repente o viu aparecer no quarto contíguoao salão, onde eles se achavam e cuja porta estavafechada. Ao mesmo tempo, o cão da dona da casa, quese achava deitado aos seus pés, se levantou e começoua latir furiosamente na direção da porta. O senhor esenhora B... não viram nada, porque estavam com ascostas voltadas para a porta, e a senhora T... não lhesdisse nada do que havia visto.

(Confirmação desta narração por uma carta datestemunha, senhora B...) - 15 de outubro de 1891 -Foi em 187..., em nossa propriedade de Twer. Éramostrês: senhora T..., nossa vizinha que tinha vindovisitar-nos, meu marido e eu. Achávamo-nos reunidosno pequeno salão de nossa casa de campo, não longede uma porta aberta dando para o meu quarto dedormir, aclarada por uma grande janela. A senhora T.estava sentada num sofá, defronte dessa porta, eu pertodela num tamborete, também defronte da porta, porémo meu marido estava num canto, de modo que ele nãovia essa porta. Aos meus pés estava deitado o meu cãoBeppo, com a cabeça voltada para a saída. Nós

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falávamos sobre o acontecimento que acabara deocorrer com a família dos T., onde a mulher, arrastadapor uma paixão, abandonara seu marido e seus filhosc, onde, desesperado, este estourara os miolos. Meumarido acusava a mulher; a senhora. acusava omarido, que ela sempre estimara muito, todavia, nestecaso, ela não o desculpava. De repente ela se calou c ocachorro, levantando a cabeça, se pôs a uivar e quisprecipitar-se para a porta aberta do quarto de dormir,com o pêlo todo eriçado. O animal escapou de minhasmãos como que para se lançar sobre alguém. Tivegrande dificuldade em retê-lo. Meu marido quis baternele, mas eu o impedi. Nem ele nem eu vimos nada,exceto a raiva do rio. A senhora T. se calara e, quando0 animal se acalmou, ela propôs passarmos para a salaonde se achava seu marido. Logo o Senhor e a senhoraT. partiram e não foi senão mais tarde, quando fui àcasa de campo deles, que a senhora T. me contou queela vira, diante da porta de meu quarto de dormir, oespírito daquele que ela acusava, vestido de branco, ecom uma expressão de desespero em seus gestos comolhe censurando que ela também fosse contra ele. Seucão Beppo viu a mesma coisa, disse-me ela. Ele ficoufurioso e queria atirar-se contra a aparição. Bem quenotei a raiva de Beppo, mas eu não percebi a apariçãodo espírito.

N.B.

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Ainda neste episódio, a mímica agressiva do cão,doe late furiosamente e quer lançar-se contra alguémna direção da porta, onde a senhora T. percebe, aomesmo tempo, a aparição do defunto que ela haviaacusado, tende a fazer admitir que o animal pôde ver aaparição, agindo do modo que agiu, pois os cães nãoagem senão contra pessoas desconhecidas.

E neste caso, não menos que em outros, a visão,tendo sido simultânea, poder-se-ia admitir a possívelhipótese de uma alucinação que teria nascido nocérebro da senhora T. e sido transmitidotelepaticamente ao cão, mas parece que as explicaçõesfornecidas anteriormente por mim são suficientes paraexcluir esta hipótese gratuita, o que equivale areconhecer o aspecto verídico do caso da aparição deum morto censurado pela senhora T.

Caso LI - (Visual auditivo-coletivo) - Recolho aseguinte passagem numa outra narração, bem notável,de Alexandre Aksakof; publicada nos Proceedings ofthe S.P.R.

Acrescento, para plena compreensão doacontecimento, que o caso aqui relatado se refere à

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história de contínuas aparições tidas por uma moça denome Palladia, falecida aos quinze anos de idade.

O narrador, senhor Manultitch, foi o principalpercipientes dele e assim o descreve:

Em 1858, morava com meus pais na regido dePoltava. Uma senhora de nossas relações viera passaralguns dias conosco, trazendo as suas duas filhas.Algum tempo depois da chegada delas, quando acordeide manhã, vi Palladia (eu dormia numa ala separadaonde ficava sozinha) diante de mim, a cinco passosmais ou menos, olhando-me com um sorriso alegre.Aproximando-se de mim, disse me duas palavras: Euvi. E, ainda sorrindo, desapareceu. Não pudecompreender o que significavam estas palavras. Nomeu quarto, perto de mim, dormia o meu cão que,desde que vi Palladia, eriçou o pêlo e, com umgrunhido, pulou para a minha cama, premendo-secontra o meu corpo e olhando na direção onde viraPalladia. O animal não ladrava, habitualmente, masnão deixava entrar ninguém no quarto senti latir, ourosnar. E todas as vezes que o meu cão via Palladia,ele se comprimia contra mim como que procurandoum refugio.

Quando Palladia desapareceu, fui para o andarinferior e não disse nada a ninguém. Na tarde domesmo dia, a filha mais velha da senhora que seachava em nossa casa me contou de uma coisaestranha lhe tinha acontecido pela manhã: Acordando

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cedo senti como se alguém se colocasse na cabeceirade minha cama e ouvi distintamente uma voz dizendo:Não tenha medo, sou boa e carinhosa. Virei a cabeça,mas não percebi nada. Minha mãe e minha irmãdormiam tranqüilamente é isto me espantou bastante,porque nada de semelhante nunca me aconteceu.Disse-lhe que emitas coisas inexplicáveis nosacontecem, porém não lhe falei sobre o que vira pelamanhã. Só um ano mais tarde, quando já era seu noivo,Falei-lhe da aparição e das palavras de Palladia nomesmo dia. Não é que ela a viu também? Devoacrescentar que eu via essa moça pela primeira vez eque jamais pensara que ia casar-me com ela.

A senhora Mamtchitch confirma a supracitadanarração da seguinte maneira:

5 de maio de 1891 - Recordo-me muito bem de quea dez de julho de 1885, quando estávamos na casa dospais. Senhor I Wamtchitch, eu acordava cedo porquetínhamos combinado, minha irmã e eu, irmos fazer umpasseio matinal. Levantando-me da cama, vi quemamãe e minha irmã dormiam e, nesse mesmomomento, senti como se alguém estivesse na cabeceirade minha cama. Virando-me de lado, porque temiamuito olhar para lá, não vi pessoa alguma. Tendo-medeitado de novo, ouvi imediatamente detrás e acima deminha cabeça uma voz de mulher que me dizia, suavemas distintamente: Não tenha medo, sou boa ecarinhosa e ainda uma frase de que me esqueci no

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mesmo instante. Logo depois me vestiaadequadamente e ia passear. O estranho é que estaspalavras não me espantaram absolutamente.

Nesta narrativa, a melhor demonstração de que ocão teve a mesma visão que o seu dono é fornecidapelo terror que ele experimentou diante damanifestação. O senhor Mamtchitch diz que o cãopulou para cima de sua cama, com o pêlo eriçado nodorso, tremendo e gemendo, e se comprimira contra oseu corpo, olhando com espanto na direção em que oseu dono via Palladia. Ele acrescenta que o animaltinha o hábito de rosnar e latir contra quem quer quefosse. Ora, o insólito terror experimentado pelo cãomostra, de forma incontestável, que não somente elevia Palladia como compreendia instintivamente quenão se achava diante de uma pessoa viva, de carne eosso, pois se fosse de outra forma acolheria o intrusorosnando e ameaçando.

Sob um outro ponto de vista - que não é o de quenos ocupamos nesta obra - observo que a narração, deonde extraio o episódio que acabo de reproduzir,constitui um excelente exemplo de identificaçãoespirítica no qual o espírito de Palladia (que se ligara,quando viva, ao juiz Mamtchitch, por laços de afeição)forneceu numerosas e admiráveis provas a respeito desua presença espiritual.

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Caso LII - (Visual, com anterioridade do animalsobre o homem) - Este episódio faz parte dainteressante relação enviada pelo professor Alexander,da Universidade do Rio de Janeiro, ao senhor FredericMyers, e trata de um fenômeno psíquico de que opróprio autor foi testemunha:

Depois, numa noite muito escura, quandoestávamos sentados na varanda, o latido lento emonótono de um cachorro, acorrentado fora de casa,atraiu a nossa atenção. Nós o encontramos olhando noar alguma coisa que nem o sr. Davis nem eu pudemosperceber. As moças, entretanto, declararam que elasviam uma forma espiritual bem conhecida que semantinha em face do animal e o seu latido exprimiarealmente um grande espanto.

Mais tarde, quando a família ocupava a parteinferior da casa, a mais jovem das moças, quase aindaum bebê naquela ocasião, chamou a atenção do seu paipara alguém perto da porta: Um homem, um homem!,exclamava ela, mas para outros olhos que não os seus,nenhum homem era visível. E, enfim, antes que elaconseguisse nos fazer ver o que, aos seus olhos, era tãoevidente, sua expressão transformou-se num espantointenso e ela articulou um `tudo partiu habitual que, nasua linguagem infantil, significava que alguma coisa

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havia desaparecido. (Proceedings of the S.P.R., vol.III, p. 188)

Neste caso, os latidos de terror emitidos pelo cãobem mostram que ele percebia algo de anormal. Acircunstância, teoricamente importante, em que talcoisa aconteceu, antes que as duas moças tivessempercebido o espírito de um dos seus familiares nadireção para a qual o animal rosnava, excluidefinitivamente a hipótese pela qual se queriamexplicar as manifestações de que se trata, isto é, umfenômeno de transmissão telepática, aos animais, deformas alucinatórias criadas pela mente de pessoaspresentes.

Caso LIII - (Visual, com anterioridade do animalsobre o homem) - Eu o extraio dos Proceedings of theS.P. R., vol. X, p. 327). O sr. H. E. S., que não desejaque se publique o seu nome, escreve o que se segue:

8 de agosto de 1892 - No ano de 1874, quandotinha apenas dezoito anos de idade, achava-me na casade meu pai e, em certa manhã de verão, levantei-me lápelas cinco horas, a fim de acender o fogão e prepararum chá. Um gordo cão da raça bull-terrier, que tinha ocostume de me acompanhar por todas as partes,achava-se ao meu lado, quando me ocupava com o

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fogo. Em um dado momento, ouvi emitir um surdorosnar, e olhar na direção da porta. Voltei-me paraaquele lado e, com grande espanto, percebi uma figurahumana, alta e tenebrosa, cujos olhos brilhantes sedirigiam para mim. Soltei um grito de alarma e caí decostas no chão. Meu pai e meus irmãos acorreram logopensando que ladrões haviam entrado na casa. Contei-lhes o que havia visto e eles julgaram que a visão sótinha sua origem na minha imaginação, perturbada pormotivo de recente doença. Mas, por que o cachorrotambém havia visto algo? Ele via às vezes coisas queeram invisíveis para mim e se lançava contra elas, comgestos de morder no ar e, em seguida, me olhava decerta forma como se quisesse perguntar-me: Não viunada????

Neste caso, como no que o precede, o narrador-percipiente que, naquele momento, estava ocupado emacender o fogo - operação pouco própria parafavorecer alucinações - se voltara e percebera a formaespiritual, porque o seu cão se pusera a rosnar de modoameaçador. É, pois, difícil duvidar de que houvesseuma aparição objetiva no lugar do aposento para a qualo animal rosnava. Há ainda duas circunstâncias asalientar que o animal foi o primeiro a assinalar aaparição e a acolhê-la do modo que os cães têm ohábito de acolher as pessoas intrusas, sendo fora deduvida que o cão a percebera um momento antes de oseu dono.

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Caso LIV - (Visual -coletivo) - Tirados doPhantasms of living, vol. II, p. 197. O riso que vourelatar e o que lhe seguirá têm relação com localidadesassombradas e pertenciam, por conseqüência, àcategoria VI desta classificação, entretanto,considerando que, nas localidades em questão, não seproduziam outros fenômenos psíquicos a não ser aaparição de uma figura humana, me pareceu oportunoincluí-los na presente categoria, Ei-lo:

2 de março de 1884 - Em 1875, minha irmã e eu(tínhamos então treze anos de idade) voltávamos paracasa, de carruagem, pelas quatro horas da tarde, numdia de verão, doando, e repente, vimos flutuar, acimade uma cerca uma forma de mulher que deslizava, semruído, através da estrada. Essa forma era branca, estavaem posição oblíqua e a uns dez pés do chão.

O cavalo subitamente parou e tremia de tal modoespantado que não conseguíamos dominá-lo.

Dirigindo-me à minha irmã, exclamei: Você vê istoao que respondeu que sim e fez a mesma pergunta aoseu Filho Calfrey, que se achava também nacarruagem.

Essa Forma franqueou a cerca, atravessou a estradae passou por cima de um campo, depois a perdemos

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inteiramente de vista além de uma plantação. Creioque a observamos durante dois minutos. Ela não tocoununca o solo mais flutuou sempre a uma pequenadistancia da terra.

Chegando a casa, contamos à nossa mãe o quehavíamos visto. Tínhamos a certeza de que não foi umengano, nem uma ilusão de nossos sentidos, nem umpássaro, nem nada desta natureza.

Nunca vimos nada semelhante, nem jamais tivemosqualquer outra visão antes ou depois. Todos nós trêsestávamos gozando de boa saúde, fazia um belo tempoe ninguém nos tinha sugerido a idéia de uma aparição,antes da que nós vimos.

Mais tarde soubemos que se dizia que essecaminho era assombrado e que vários moradores daregião tinham ali visto uma aparição.

Violet MontgomerySidney Montgomery

Aqui a aparição foi vista por três pessoas ao mesmotempo e por um cavalo que parou de repente, trêmulo eespantado, a ponto de não obedecer à ação dococheiro. Não penso que seja preciso ainda insistir nofato de que, em circunstâncias análogas às que tenhosucessivamente exposto, seria absurdo chegar a novasdúvidas na suposição de que os animeis têm realmenteas mesmas visões percebidas pelos homens. Não

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ignoro que, de um ponto de vista rigorosamentecientífico, não temos, em semelhantes circunstâncias, a`prova absoluta necessária para apoiar a hipótese emquestão. Não o ignoro de forma alguma, mas queroobservar que esta objeção não tem absolutamente umvalor absoluto e que, ao contrário, ela se transformaem sofisma, em face do acúmulo imponente de `provasrelativas.

Recordo que a forma espiritual percebida por elastrês já tinha sido vista por várias pessoas na mesmalocalidade, ao passo que as três pessoas que seachavam na carruagem a ignoravam, o que serve paraexcluir inteiramente a hipótese da atenção expectante.Não resta, pois, mais que reconhecer a natureza, deuma certa forma objetiva, da aparição, que pertence àclasse das assombrações.

Caso LV - (Visual, com anterioridade do homemsobre o animal) -Tirado da mesma fonte anterior enarrado por uma dama que não deseja que o seu nomeseja mencionado, nome que é conhecido pelosmembros da diretoria da S.P.R. Escreve a srta. K. oseguinte:

Foi numa tarde de inverno do ano de 1918...Achava-me no meu quarto, sentada perto da lareira,inteiramente absorvida em acariciar a minha gatinhafavorita que estava agachada sobre os meus joelhos,

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numa atitude quase sonhadora, com os olhos semifechados, parecendo adormecida.

Embora não houvesse luz no quarto, os reflexos dofogo aclaravam perfeitamente todos os objetos. Oaposento em que nos achávamos tinha duas portas,uma das quais dava para uma peça inteiramentefechada. A outra, colocada defronte da primeira, abriapara um corredor.

Minha mãe me deixara havia poucos minutos e apoltrona confortável e antiga, com um espaldaraltíssimo que ela ocupava, ficou vazia no outro cantoda chaminé. Minha gatinha, com a cabeça apoiada nomeu braço esquerdo, parecia cada vez mais sonolenta eeu pensava em ir deitar-me. De repente, percebo quealgo de inesperado havia perturbado a tranqüilidade deminha favorita. Cessara bruscamente o seu ressonar edava sinais evidentes de uma inquietação crescente.Curvei-me sobre ela, esforçando-me por acalmá-lacom os meus carinhos, quando, repentinamente, selevantou nas quatro patas e começou a rosnarfortemente, numa atitude de defesa e de medo.

Essa atitude fez-me levantar a cabeça, por minhavez, e percebi, com espanto, uma figura pequena, feia,enrugada, de velha megera, que ocupava agora o sofáde minha mãe. Tinha as mãos sobre os joelhos einclinara o corpo de modo a colocar a sua cabeça pertoda minha. Os olhos penetrantes, luzentes, maus, mefixavam, imóveis. Parecia-me que era o diabo que me

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olhava pelos olhos dela. Suas roupas e o conjunto doseu aspecto pareciam os de uma mulher da burguesiafrancesa, mas eu não me importava com isto, porqueseus olhos, com pupilas estranhamente dilatadas e deuma expressão tão perversa, absorviam completamenteminha atenção. Gostaria de gritar com toda a força demeus pulmões, ruas esses olhos maléficos mefascinavam e me continha a respiração. Não podiadesviar o olhar dela, e ainda menos me levantar.

Enquanto isso, procurava segurar fortemente agata, ruas ela parecia não querer ficar nessa horrívelvizinhança e, depois de alguns esforços desesperados,chegou a libertar-se, pulando por cima de cadeiras,mesas, tudo o que se achasse diante dela, lançando-sevárias vezes e com violência extrema contra oscaixilhos superiores da porta do aposento fechado. Emseguida, voltando-se para a outra porta, começou aatirar-se contra ela com uma raiva redobrada. Meuterror tinha assim aumentado. Ora observava essamegera cujos olhos maléficos continuavam a me fitar,ora seguia os olhos da gata, que ficava cada vez maisfrenética. Finalmente, a espantosa idéia de que oanimal talvez tivesse ficado enraivecido teve por efeitodevolver-me o ar e eu comecei a gritar com todas asminhas forças.

Mamãe acorreu com toda a pressa. Logo que elaabriu a porta, a gata saltou literalmente sobre a suacabeça e, durante uma boa meia hora, continuou a

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correr, para cima e para baixo, pela escada, como sealguém a perseguisse. Voltei para mostrar à minhamãe a causa de meu espanto. Tudo havia desaparecido.

Em semelhantes circunstâncias, é bem difícilapreciar a duração do tempo, todavia estimo a duraçãoda visão de quatro a cinco minutos. Soube-se emseguida que a casa pertencera a uma mulher que seenforcara nesse mesmo quarto.

Srta. K.

(O general K., irmão da percipientes, confirma anarração acima. Para outros detalhes a este respeito,indico o Journal of the Society for Psychical Research,vol. III, pp. 268/271).

Este caso é incontestavelmente notável, quer por simesmo, já que se trata de um fenômeno deassombração e tem relação com o suicídio de umavelha naquele mesmo quarto, quer por causa doparoxismo de terror verdadeiramente excepcional quese apossou da infeliz agora à vista do repugnantefantasma que surgiu, de repente, diante dela. Digofantasma porque não se poderia achar outra coisa paraexplicar o pavor extraordinário que se apossou da gata,pavor que não deixou de existir mesmo depois dodesaparecimento da causa que o provocou.

Pode-se acrescentar que, também neste caso, apercipientes ignorava o drama desenrolado naquele

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quarto, de modo que, se a gata não tivesse sido aprimeira percipientes, a srta. K. não teria podido auto-sugestionar-se no sentido de provocar, em si própria,uma alucinação em relação com um drama que elaignorava.

Segue-se daí que esta narração constitui umautêntico exemplo, muito interessante, de um caso deassombração com identificação do fantasma.

Caso LVI - (Visual-coletivo) - Colho-o nosAnnales des Sciences Psychiques (1907, pp. 67 e 72, e1911, p. 161). Refere-se às famosas experiênciasclássicas do professor Ochoroswicz com a médiumsrta. Stanislawa Tomczyk. Na sua ata de 16 de janeirode 1909, diz ele o seguinte:

Na maior parte das precedentes sessões, tomaramparte, na qualidade de testemunhas sem vozconsultiva, meus dois cães, um grande terra-nova e umpequeno fraldiqueiro de raça bastarda.

Eram bem-educados, não se preocupavam coarnada e se deitavam tranqüilamente no assoalho pertode uma poltrona, afastada cinco metros do divã ondese fazia a maior parte das experiências.

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No instante em que a sonâmbula declarou que apequena Stasia acabava de sentar-se na poltrona, ofraldiqueiro, deitado defronte dela, se pôs a rosnar.

Voltei-me e vi o animal fixando a poltrona. O terra-nova dormia e não prestava atenção em nada. Ele nãopodia, aliás, ver a poltrona, mas o outro repetiu o seurosnado por três vezes, levantando apenas a cabeça esem se mexer. Ele não ficou calmo senão depois que asonâmbula declarou que a menina não estava mais ali.

Um pouco mais adiante, na ata da sessão dedezenove de janeiro de 1909 (p. 72), o doutorOchorowicz relata este outro incidente, do qual umagata é que é a protagonista:

Os começos da materialização do duplo pareciamse confirmar pela atitude de uma gata branca que seachava na sala de jantar. Ela fixa, com visível espanto,o lugar, debaixo da mesa, onde devia estar a pequenaStasia e, por várias vezes, vira o seu olhar para esselado, depois salta apavorada, e se enfia num canto, oque nunca fez.

Na ata de dezessete de outubro de 1911 (Annales,1911, p. 161), encontra-se um terceiro incidente domesmo gênero, cujo protagonista é uma cadela SãoBernardo. Eis o que conta o dr. Ochorowicz:

Estou sentado perto de minha mesa de trabalho, asrta. Tomczyk defronte de mim e conversamos. Derepente a minha jovem cadela da raça São Bernardo,que se acha deitada debaixo da mesa, aos meus pés, se

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levanta e começa a rosnar, olhando para um canto docanapé colocado detrás de mim. Ela avançalentamente, como espantada, e se põe a latir, fixandosempre o mesmo ponto, onde não havia nada devisível.

A srta. Tomczyk sentiu, nesse momento, umarrepio que atribui à atitude incompreensível dacadela.

- Será que ela está vendo alguma coisa?- É, sem dúvida, a pequena Stasia, digo que veio

brincando, juntar-se a nós... Consultemos a prancheta.A srta. Tomczyk coloca ali a sua mão esquerda, e

esperamos... A prancheta aproxima-se de mim comoque para me saudar com alegria.

- É bem você, pequena Stasia?- Sim, respondeu pela mesa.Então resolvo fazer uma primeira sessão depois de

amanhã... A pequena Stasia se manifesta, mas está tãofracamente materializada que a sonâmbula apenas apercebe, ao passo que a cadela não vê nadaabsolutamente...

Os episódios que acabo de relatar, nos quais osanimais, que viram a forma espiritual da pequenaStasia, são três, quando a própria médium, no estadonormal, não chegou a vê-la, e não pôde vê-la senão emcondições sonambúlicas, servem para mostrar que osanimais superiores, não apenas partilham com oshomens a posse de faculdades supranormais

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subconscientes, como estão aptos a exercê-las quasenormalmente. Sem negar esta possibilidade, é preciso,entretanto, observar-se: nos casos de manifestaçõestelepáticas, trata-se efetivamente do exercício de umafaculdade supranormal subconsciente, pois quequalquer manifestação telepática é determinada poruma mensagem psíquica transmitida pelo eu integral,ou espiritual, do percipientes, que o passa ao seu euconsciente, ou encarnado, em forma de projeçãoalucinatório-verídica, única forma acessível a umapersonalidade desta natureza, porém, no caso dasexperiências que acabo de citar, poder-se-ia aindaexplicar os fatos sem sair do exercício da visãoterrestre, pois que, nesses casos, a forma espiritual dapequena Stasia conseguia manifestar-se de umamaneira mais ou menos vaga a tal ponto que seconseguia fotografá-la. Para explicar tais fatos,bastaria então supor que as pupilas desses animais sãosensíveis aos raios ultravioletas (como uma chapafotográfica) e que, por conseqüência, eles conseguemperceber, com os seus olhos corporais, o quepermanece invisível aos olhos humanos.

Caso LVII - (Visual-coletivo, com diferença depercepções) - Consta dos Annales des SciencesPsychiques (1911). O sr. M. G. Llewellyn, conhecidoescritor inglês, começa por prevenir os leitores de que

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ele não é espírita e que nada sabe sobre espiritismo,bem como que nunca leu livros ou revistas tratandodesses assuntos até estes últimos tempos. Apenas lhefoi assegurado, de diferentes lados, que ele é umsensitivo. Depois destas premissas, prossegue assim:

Certa noite, de que não me esquecerei nunca,estava no meu estado normal de saúde e muitotranqüilo já havia ceado como de costume e me deitarapouco depois, achando-me nesse doce estado deespírito que constitui a sonolência. O quartocontinuava mergulhado na mais completa escuridão,pois havia apagado a luz elétrica e fechado, além disto,as amplas e espessas cortinas que cobriam sempre asduas grandes janelas. Meu gatinho, que dormia semprena minha cama, ali se achava como de hábito eressonava tranqüilamente.

Enquanto permanecia assim, com os olhos semicerrados, percebi, aparecendo subitamente no alto daparede, à direita (o lado para onde eu estava virado),um longo rastro de luz, de um azul claro e encantador.Ele se movia na direção da janela da direita e eu oobservava com um olhar fascinado. É estranho -pensava eu. Nunca vi o luar entrar desta maneiraquando estas cortinas estão fechadas e, ademais, é umazul que não é o do luar e se move de um modo tão

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bizarro! O que pode ser isto? Mas naturalmente deveser o luar e talvez haja nuvens que passem sob a lua.

A luz, de um azul que nunca vira antes e que nuncamais vi depois, continuava a entrar pelo quarto,sempre do mesmo lado, perto do teto, e eu olhavaestupidamente o alto da porta sobre a qual pendia umpesado reposteiro vermelho, como se a luz tivessepodido atravessar uma muralha!

Finalmente, saltei da cama para o chão, abri ascortinas e olhei pela janela. Meu olhar espantado nãoencontrou senão uma escuridão impenetrável. Nada delua, nada de estrelas, e nem a menor claridade! Nãopodia ver a estrada, nem a fila arvores que havia nela,nada. As lanternas das mas eram apagadas cedo nalocalidade em que moro, e as trevas eram absolutas.

Podia ser alguém com uma lanterna ou umprolator?, perguntava-me, ainda espantado ao voltarpara a cama. Não estava inteiramente tranqüilo e nãome acorrera ainda à idéia de que em tudo isto haviaalgo de sobrenatural.

Enquanto eu torturava assim o meu cérebro, o gatopulava de repente para fora da cama, com o pêloeriçado e os olhos brilhantes e, de um salto, correrapara a porta, onde começou a arranhar furiosamente oreposteiro, sempre soltando os mais espantosos chiosque jamais vi em um animal. Eu estava bemespantado, todavia, mesmo assim, não pensava emnada de sobrenatural. Só pensava que o gato tivesse

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ficado de repente maluco. Este novo acontecimentome fez esquecer completamente a luz azul.

Sofria de tal modo vendo o terror do pobre animalque o tomei nos braços e procurei acalmá-lo. Todotrêmulo, o gatinho aconchegou-se contra mim,ocultando a cabeça e demonstrando estar preso domais intenso pavor. Acariciei-o e consegui acalmar umtanto, pouco a pouco, mas, com grande espanto meu,ele se mantinha em um lado da cama, olhando commedo, olhos luzindo e pêlo eriçado. Eu não via nada,portanto estou absolutamente convencido de que ogatinho percebia alguma coisa, embora nada pudesseabalar a minha convicção.

Sentindo-se em segurança nos meus braços, agoraque o choque do horrível espetáculo - qual fosse ele -tinha passado, o pobre Fluff esticava o pescoço eolhava para baixo, para o tapete, seguindo osmovimentos do inimigo, como se este, invisível paramim, andasse ao longo do leito, voltando diante dotoalete. A coisa - qual fosse ela - estava no assoalho enão fazia nenhuma tentativa para subir para a cama. Se`isto se aproximasse de nós, estou certo de que Fluffmorreria de medo imediatamente. Olhei à minha volta,na direção do olhar do gato, porém não vi nada notapete!

Não resta dúvida de que não devo esquecer-me deque vi a luz azul quando o animal dormia. Poder-se-iasupor que o meu medo a respeito da luz foi transmitido

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ao gato, mas até então eu não tivera nenhum medo,pensando mesmo que se tratava de uma coisa natural.

Em todo caso, o que meu gato viu deveria ser umaforma bem horrível, porque Fluff o mais tranqüilo, omais carinhoso animalzinho que jamais conheci.Durante bastante tempo acreditamos que ele tivesseficado mudo, pois não se ouviram nunca mais os seusmiados.

A respeito desta interessante narração, apresso-meantes em fazer observar que o extraordinário pavormanifestado pelo gato não deve necessariamente noslevar a crer que ele tenha visto algo de terrível.Numerosos exemplos atestam que os animais sãotomados de um pavor irresistível na presença dequalquer forma espiritual, mesmo inteiramenteangelical. O que determina o terror deles é a intuiçãoinstintiva de que se acham na presença de umfenômeno supranormal.

Quanto ao outro fenômeno da luminosidade erranteque o senhor Llewellyn tinha precedentementeobservado, serve para apoiar a gênese supranormal damanifestação percebida pelo animal e demonstra, comefeito, que, durante aquela noite e naquele lugar, seproduziram realmente manifestações supranormais dasquais um gato e seu dono foram espectadores demaneira diferente. Já disse que essa diferença depercepções, muito freqüente nas manifestaçõessupranormais, se explica pelas idiossincrasias

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especiais dos percipientes, em virtude das quais umamesma manifestação supranormal pode não afetar sobforma visual, a mente de uma pessoa, mas lhe serparcialmente transmissível sob forma auditiva, táctil,olfativa,emocional. Esses são, com efeito, modosdiferentes sob os quais pode-se transformar,indiferentemente, o mesmo impulso telepático-espíritaque, para passar da subconsciência à consciência, sópode seguir a via de menor resistência traçada pelasidiossincrasias sensoriais próprias a cada um dospercipientes.

Tudo isso se liga às manifestações supranormaispercebidas coletivamente por intermédio de sentidosdiferentes, mas o mesmo fenômeno pode-se produzirpara as manifestações supranormais percebidascoletivamente por intermédio de um mesmo sentido,como aconteceu no caso relatado pelo senhorLlewellyn. E essas diferenças, na forma da percepçãode um fenômeno, são bem freqüentes nasmanifestações metapsíquica. Lembro-me de que, nodecurso das sessões com William Stainton Moses,acontecia freqüentemente que, no lugar em que omédium percebia uma entidade espiritual, astestemunhas viam uma coluna luminosa e, às vezes,uma simples banda luminosa errando pela parede,bastas vezes colorida de azul, como no caso que acabode citar. Este caso pode então ser perfeitamenteexplicado da mesma maneira, supondo que o animal

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tenha percebido uma forma espiritual lá onde o seudono só percebeu um traço errante azulado.

Caso LVIII - (Visual-coletivo) - Este caso foipublicado pelos mesmos Annales des SciencesPsychiques (1907, p. 423) e faz parte integrante damisteriosa história de Noula, relatada pelo coronel deRochas. Trata-se de uma jovem dama russa, de altalinhagem, descendente dos príncipes de Radzwill, quepercebia, constantemente ao seu lado, uma formaespiritual feminina, que ela chamava de Noula e cujarealidade objetiva foi aprovada pelo fato de ter sidofotografada por várias vezes. Nas primeiras vezes emque Noula apareceu, ela foi percebida, primeiramente,pelo cavalo da senhora a quem se deve a narraçãodeste episódio:

Sempre vivi com essa dupla personagem que euchamava de Noula. Quando criança, não a via, ruassempre, para os meus olhos, existia a impressão de queeu não estava só. Ouviam-me sempre responderperguntas que pareciam aos outros formulados pelaminha imaginação. A quem eu respondia? Eu não sei enão tenho absolutamente recordação dos fatos de quelhe falo mais meu pai, quando me levou aos médicos,recordou-se perfeitamente do caso. O que lhe posso

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afirmar é que não tinha nenhum prazerem brincar comas outras crianças, gostando de ficar completamentesó, quando, na verdade, não o estava.

Vi Noula quando saía da infância e quando era,logo em seguida, moça. Sua primeira aparição deu-secerto dia em que fui passear a cavalo com meu pai,que me acompanhava sempre. Ela me apareceu tãoassombrosa que, no começo, acreditei numaalucinação minha.

Ordinariamente eu montava um cavalo habituado àmira e dirigido da sela. Nesse dia tive a fantasia demontar um garanhão que nunca montara antes. Noprincípio pude dominar, depois, tomado de umcapricho, partiu à disparada, Que se passou? Não sei,mas subitamente ele ficou dócil e, diante dos meusolhos, percebi Noula, mui distintamente. Pensei porum instante que alguma pessoa, vendo-me em perigo,tivesse detido o cavalo e quis agradecer-lhe. Meu paiveio para perto de mim e começou a me censurarsuavemente por causa do meu capricho, quando,observando-me, ele me viu tão mudada que teve medo,muito medo. (Eu sentia precisamente, em talmomento, uma estranha sensação de um vácuo imensocomo se eu estivesse sentada no ar). Ele me tomou nosseus braços e me desmontou. Eu estava ainda com oolhar fixo e olhos dilatados que o espantavam tanto.Isso durou talvez um minuto, que pareceu muitolongo. Quando saí de tal estado, minhas palavras

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foram: O senhor não a viu? Diga-me! Meu pai não meentendeu e os seus olhos me observavam com tantainquietação que adivinhei logo o seu pensamento.Contei-lhe então o que se tinha passado e, com a sualógica de matemático, ele concluiu que o medo mecausara uma alucinação. Mas eu sentia que não.Apenas desejava tranqüilizá-los, pois tivera tantoreceio por minha causa!

Voltamos para casa sem novo incidente. Faziatodos os esforços para parecer alegre e, no entanto,tinha medo. Ao entrarmos, meu pai me levou para omeu quarto, pois entendia que eu sofria de algumacoisa. Afastou-se por um instante para deixar ir aotoalete e lá, quando estava só, ela voltou. Meus gritosatraíram meu pai que chamou o nosso médico, porqueele não via nada. E quando esse bom homem chegou,procurou acalmar-me um pouco, ministrou quinzegotas de ópio que me fizeram dormir.

Eis, caro senhor, a primeira visita de `Noula. Edepois dessa ocasião, Noula tornou-se cada vez maisdistinta para mim, sobretudo quando enfraqueci,porque a tristeza de minha vida incluiu danosamenteno meu estado de saúde. Fiquei anêmica e fraca,enquanto que Noula era bem forte e de bom aspecto.

Interrompo aqui a interessante narração de ondeextraí o incidente que se acaba de ler. O que se seguenão entra, a dizer a verdade, no quadro do assuntotratado. Acrescentarei apenas que a dama de que falei,

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na esperança de que o coronel de Rochas pudesselivrá-la dessa forma obsedante, partiu para a França,mas, infelizmente, chegando a Varsóvia, ficou doentee faleceu.

Do conjunto do incidente exposto, nota-se que ocavalo viu a figura de `Noula antes da moça e que aaparição dela exercera imediatamente uma influênciatranqüilizante sobre o animal. Ora, como esse efeito édiametralmente oposto ao que determina de ordinário avisão de um espírito sobre os animais, é preciso entãodeduzir que o fato se produziu de acordo com avontade de `Noula, que evidentemente se propôs asalvar de um grave perigo a moça com a qual estavaem relação.

Mas como explicar a presença e a persistênciadessa forma espiritual misteriosa O coronel de Rochashesita entre a hipótese de um fenômeno dedesdobramento da percipientes e a de um caso devampirismo. Em favor da primeira hipótese, pode-secitar a observação da narradora de que, no momentoem que Noula lhe aparecera, tinha experimentado umaestranha sensação de vácuo imenso, simultâneo aosentimento de planar no ar, observação que levariaefetivamente a supor um fenômeno de desdobramento.Todavia, neste caso, a percipientes devia ter visto aimagem espectral dela mesma, e não a de uma outrapessoa fisicamente muito diferente dela, pois que apercipientes era loura, delgada, pálida, ao passo que

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`Noula parecia morena, forte e corada. Levando emconta esse detalhe, a sensação de vácuo experimentadapela percipientes deveria explicar-se o atribuindo aofato de uma subtração de força vital do seu organismopela entidade que se manifestava.

Quanto à hipótese de um caso de vampirismo,exercido por `Noula sobre a percipientes, o coronel deRochas o examina levando em conta sobretudo oprogressivo depauperamento da saúde da referidasenhora, depauperamento que se podia racionalmenteatribuir a uma subtração persistente de força vitalexercida por Noula. Esta última devia então serencarada como uma entidade espiritual de baixacategoria, ainda desejosa de viver, e que, tendoencontrado, na constituição orgânico-funcional dessasenhora, uma sensitiva de quem podia subtrair forçavital, dela se apoderaria a fim de encontrar a alegria dese sentir ainda ligada ao meio terrestre, revivendo asua existência por reflexo. Conhecem-se algunsexemplos cientificamente estudados que sugerem estahipótese, mas não se trata, até o momento, senão decasos bem raros e suscetíveis de serem explicados deoutra maneira, entretanto eles não se poderiam prestara autorizar, neste sentido, uma `hipótese de trabalhoqualquer e ainda menos uma teoria clara e bemdefinida do gênero daquela que os ocultistasconstruíram sobre o vampirismo: melhor entãosuspender qualquer julgamento a este respeito,

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deixando a solução do problema aos que virão depoisde nós.

*

Para nove outros casos pertencentes a estacategoria, envio o leitor às seguintes obras epublicações:

Caso LIX -Proceedings oft the S.P.R., vol. VCaso LX -Proceedings oft the S.P.R., vol. VICaso LXI-Proceedings oft the S.P.R., vol. X.Caso LXII - Light, 1903, p. 141Caso LXIII - Journal of the S. P. R., vol. IIICaso LXIV-,Journal oft the S.P.R., vol. IVCaso LXV -_Journal of the S.P.R., vol. VCaso LXVI - Journal of the S.P.R., vol. VIIICaso LXVII - Journal of the S.P.R., vol. IX,

QUINTA CATEGORIA

ANIMAIS E PREMONIÇÕES DE MORTE

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Esta categoria se subdivide em três subgruposdistintos, dos quais só o terceiro reveste-se de umaimportância especial relativamente ao assunto de quetratamos.

O primeiro subgrupo se refere aos casos demanifestações premonitórias percebidas coletivamentepor animais e por homens, circunstância interessante,porém, que, do nosso ponto de vista, não difere emnada das outras circunstâncias já examinadas nascategorias precedentes.

O segundo subgrupo é composto de casos nos quaisos acontecimentos premonitórios se repetemtradicionalmente numa mesma família e tomamgeralmente uma forma simbólica, isto é, a iminênciade um acontecimento de morte é anunciada pelaaparição, por exemplo, de uma dama branca (como nafamília alemã dos Hohenzollern) ou pelo tique-taquecaracterístico que se chamou de `relógio da morte, oupelo estampido de um tiro de fuzil, ou por gritoslastimosos, ou, enfim, pela aparição de uma formaanimal, sempre o mesmo para uma dada família.Como se pode ver, este segundo subgrupo, no qual aforma animal não é senão um símbolo, não apresentanada de comum com as manifestações de que nosocupamos nesta obra, fora a simples aparência.

Enfim, o terceiro subgrupo é constituído de fatosimportantes para o nosso estudo, pois se liga àsfaculdades premonitórias da psique animal e consistem

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no fato de que os animais domésticos manifestam àsvezes a faculdade de prever, em curto prazo, otrespasse de uma pessoa da família, por meio degemidos e uivos característicos. Esta faculdade devárias espécies de animais é bem conhecida e osgemidos da morte dos cães fazem parte da tradição detodos os povos. Tratar-se-ia então de uma faculdadesemelhante à faculdade mas circunscrita em limitesmais modestos

Nestas condições, limitar relatar um só exemplopertencente ao primeiro subgrupo e dois outros, muitocurtos, pertencentes ao segundo limitando-me adesenvolver, de uma maneira adequada, o assunto doterceiro subgrupo.

PRIMEIRO SUBGRUPO

Manifestações premonitórias de morte percebidascoletivamente por homens e por animais

Caso LXVIII - (Auditivo-coletivo) - Este caso foinarrado pela senhora Sidgwick na sua obra sobre aspremonições (Proceedings of the S.P.R., vol. V, pp.307/8) e recolhido e estudado pelo sr. Myers em abrilde 1888.

Conta à senhora Cowland-Trevalor o seguinte:

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Certa noite do mês de junho de 1863, em nossaresidência no vicariato de Weeford (Staffordshire),minha irmã e eu fomos repentinamente despertadaspor lamentoso uivo. Percorremos todos os recantos dacasa que se elevava, isolada, no meio do campo, semnada descobrir. Nesta primeira circunstância, nem anossa mãe nem os criados foram despertados pelouivo, mas, ao contrário, fomos encontrar o nossocachorro buldogue com o focinho metido debaixo deuma pilha de lenha, tremulo de medo. No dia 27 domês de junho, falecia a nossa mãe.

O segundo caso foi muito mais impressionante e seproduziu no mesuro vicariato em agosto de 1879.Havia já algum tempo que o nosso pai estava enfermo,mas as suas condições de saúde permaneciamestacionárias e, no domingo, dia 31 de agosto, eleainda oficiava na igreja, embora fosse morrer novedias depois a família era, nessa época, composta denosso pai, minha irmã, meu irmão, de mim, com doiscriados e ainda de uma camareira. Dormíamos todosem quartos separados, distribuídos em diferentespartes da casa, que, para um presbitério, era muitovasta.

Era uma noite calma e serena dos últimos dias domês de agosto. Não havia nenhuma via Férrea nosarredores e casas na vizinhança, nem ruas que podiamser percorridas por transeuntes retardados. Em suma, o

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silêncio era completo e a família estava mergulhadaem sono, quando, entre meia-noite e meia-noite equinze, fomos todos acordados, menos nosso pai, porsúbitos uivos, desesperados e terríveis, com umatonalidade diferente de qualquer voz humana esemelhante à precedentemente ouvida por ocasião damorte de nossa mãe, porém infinitamente mais intensa.Provinham eles do corredor conducente ao quarto denosso genitor. Minha irmã e eu pulamos da cama(ninguém poderia dormir com tal barulho), acendemosuma vela e fomos para o corredor sem pensar mesmoem nos vestir e lá encontramos meu irmão e os trêsempregados, todos aterrorizados como nós ambas.Embora a noite fosse muito calma, esses uivosdesesperados eram acompanhados de golpes de ventoque pareciam propagá-los ao longe e poder-se-ia dizerque saíam do teto. Persistiam durante mais de umminuto para sumir, em seguida, através de uma janela.

Uma estranha circunstância se liga a esseacontecimento: os nossos três cães, que dormiam nomeu quarto e de minha irmã, correram logo para seagacharem nos cantos, com o pêlo eriçado no dorso. Obuldogue se escondera debaixo da cama e, como eunão conseguisse fazê-lo sair de lá, chamando-o, tiveque tirá-lo à força, verificar que estava tomado por umtremor convulsivo.

Corremos para o quarto de nosso pai, ondeverificamos que ele dormia tranqüilamente. No dia

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seguinte, com as indispensáveis precauções, fizemosalusão, na sua presença, ao acontecimento da noite, oque nos permitiu verificar que ele nada havia ouvidonada. Ora, como era impossível dormir um sonocomum quando ressoavam esses uivos atrozes, épreciso supor que só não ressoavam para ele. Cerca dequinze dias após, ou mais precisamente a 9 desetembro, nosso pai expirava.

E eis o terceiro caso: em 1885, eu me casava e iamorar em Firs (Bromyard), onde vivia com a minhairmã, a senhora Gardiner. Meu irmão morava a cincomilhas de distância e gozava então de perfeita saúde.Certa noite, em meados de maio, minha irmã e eu, adoméstica Emily Corbett e os outros criados (meumarido estava ausente), ouvimos novamente osconhecidos uivos desesperados, ainda que menosterríveis que da última vez. Descemos das nossascamas e vistoriamos a casa, sem nada encontrar. Nodia 26 de maio de 1885, meu irmão falecia.

O quarto caso se deu no fim de agosto de 1885. Eumesma, Emily Corbett e os outros criados tornamos aescutar os uivos, entre tanto, como a nossa morada nãoera isolada, assim como o presbitério de Weesford, eos uivos não eram tão fortes como naquela ocasião,tive a idéia de que eles poderiam provir de algumpedestre, embora não pudesse ocultar certa inquietaçãoa respeito de minha irmã, a senhora Gardiner, que, nomomento, passava mal. Ao contrário, nada sucedeu à

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senhora Gardiner, que vive até hoje, porém uma outradas minhas irmãs, a srta. Annie Cowpland, que estavade perfeita saúde no instante em que os uivos sefizeram ouvir, falecia uma semana depois de difteria.

SenhoraCowpland-Trelaor, senhoraCowpland-Gardiner, Emily Corbett

Analisemos brevemente este interessante-caso,estudado por Myers. Como disse, do ponto de vista daclassificação, ele não tem nenhuma importânciaespecial, sendo igual aos casos narrados na quartacategoria, fora à circunstância de que aqui não se tratamais de visão coletiva de espíritos, mas de percepçãode sons de natureza supranormal. Recordo a esterespeito que o fato em si, de prenúncio de morte,transmitido aqui sob a forma de uivos desesperados, seexplica pelas idiossincrasias pessoais próprias aossensitivos aos quais a mensagem é endereçada, isto é,que, ordinariamente, a forma de realização dosfenômenos premonitórios, assim como todo Fenômenosupranormal, não procura senão `a via de menorresistência percorrida pela mensagem para chegar, oudo além, ou dos refolhos da subconsciência, até aconsciência dos sensitivos. Isto, naturalmente, se ligaàs manifestações de ordem subjetiva que constituem agrande maioria dos casos de realização inteligente, aopasso que, no caso da aparição de espíritos ou depercepções fônicas de natureza objetiva, o fato darealização deles não dependeria mais de

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idiossincrasias dos percipientes, porém da presença deum sensitivo fornecendo fluidos e da força da entidadeque se manifesta.

Ora, faço notar que, no caso que acabo de expor, háa circunstância de animais que perceberam, ao mesmotempo em que seres humanos, o barulho dos uivospremonitórios, circunstância que levaria a supor que setratava, dessa vez, de sons objetivos. Neste caso, acircunstância do pai enfermo, que nada ouvira (porqueele não devia ouvir) teria que ser explicada supondo-seque ele se achava então mergulhado em sonosonambúlico.

SEGUNDO SUBGRUPO

Aparições,de animais sob forma simbólicopremonitória

Assim, como tivemos ocasião de verificar, asformas de animais, que têm estritamente função desímbolo, não pertencem à categoria de manifestaçõesde que nos ocupamos nesta obra, mas à de simbolismonas manifestações metapsíquica em geral, assunto deque trarei numa outra monografia especial. Nessasocasiões, a forma animal, segundo toda

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verossimilhança, não representa senão uma projeçãoalucinatória de uma idéia pensada e transmitidaintencionalmente pelo agente telepatizante e isso deacordo com a circunstância de que, no meio familiar,existia uma tradição segundo a qual a aparição de umaforma animal especial equivale a prenúncio de morteiminente na família. Por conseqüência, esta forma depremonições dependeria também de uma espécie deidiossincrasia que se teria perpetuado de uma geraçãoa outra, tios membros da mesma família.

Conhecem-se exemplos de mensagens simbólico-premonitórias que, há vários séculos, se renovam, deforma idêntica, no mesmo meio familiar, porém essasmensagens são constituídas de outros simbolismos deque não tratamos aqui. Acrescento que os casos nosquais o simbolismo toma a forma de um animal sãoantes raros e só compreendem um pequeno número derepetições da mesma aparição. Dever-se-ia entãoencará-los como que episódios rudimentares desimbolismo premonitório.

Eis dois breves exemplos que resolvi citar:

Caso LXIX - (Visual) - Este caso se acha nosPooceedings of lhe S.P.R., vol. V, p. 156. Narra asenhora E. L. Kearney:

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17 de janeiro de 1892 - Meu avô estava enfermo.Descia certa tarde por uma escada interna de nossoaposento, quando percebi, no corredor, um gatoestranho que caminhava em minha direção. Logo queme avistou, correu para se ocultar detrás de uma portaque dividia, em duas partes, o corredor. Essa portaestava disposta de tal modo que ficava sempre aberta.Corri imediatamente para trás dela, a fim de caçar oestranho animal, mas fiquei muito surpresa por não vernada ali, nem nada achar no resto do aposento. Conteilogo o caso a minha mãe (ela me disse, já há algunsdias, que se lembrava perfeitamente do incidente).Meu avô morreu na manhã do dia seguinte.

Isto parece tanto mais interessante se forconsiderado em relação a uma outra circunstância.Minha mãe me contou que, na véspera do dia da mortede seu pai, tinha ela também percebido um gato queandava ao redor da cama do doente. Tinha, como eu,tentado apanhá-lo, mas logo não viu mais nada.

Caso LXX - (Visual) -Tirado dos Proceedings ofthe S.P.R., vol. V, p. 302. A narração é feita pelasenhora Welman:

Existe no muro materno de minha família umatradição segundo a qual, pouco tempo antes da morte

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de algum dos seus membros, um grande cão negroaparece a um ou outro dos seus parentes. Certo dia doinverno de 1877, pela hora do jantar, eu descia doandar superior, com a casa iluminada e, quando medirigia para o corredor que conduz à escada, vi, derepente, um grande cão preto que caminhava diante demim, sem fazer ruído. Nessa semi-obscuridade, penseique se tratasse de um dos nossos cães pastores echamei Laddie, mas ele não se voltou e pareceu não terouvido. Segui-o e experimentei vaga sensação de mal-estar, que se transformou em um profundo espanto,quando, chegando ao pé da escada, vi desaparecer,diante de mim, qualquer vestígio do animal, emboratodas as portas estivessem fechadas. Não contei nadadisso a ninguém, mas não podia deixar de pensarcontinuamente no que me tinha acontecido. Dois outrês dias após, recebemos da Irlanda a notícia da morteinesperada de uma tia, irmã de minha mãe, morte queocorreu em conseqüência de um acidente.

TERCEIRO SUBGRUPO

Premonições de morte nas quais os animais sãopercipientes

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Eis uma das faculdades mais curiosas e misteriosasda psique animal. Na introdução a esta categoria, jádisse que ela consistia no fato de que os animaisdomésticos manifestam às vezes a faculdade de prever,a curto prazo, a morte de uma pessoa da família a quepertence, anunciando-a por meio de gemidos e uivoscaracterísticos. Acrescentei que esta faculdade devárias espécies de animais é muito conhecida entre astradições dos povos, havendo também a que trata dos`uivos da morte dos cães. Tratar-se-ia então de umaverdadeira faculdade .`premonitória dos animais,embora seja mais limitada que a faculdadecorrespondente manifestada esporadicamente nohomem.

Caso LXXI - O doutor Gustave Geley, que foi oprimeiro diretor do Instituto MetapsíquicosInternacional de Paris e autor de obras metapsíquicosque se tornaram clássicas, resolveu fazer umaexperiência pessoal destas faculdades supranormaisdos animais e a descreve assim no seu livro Deinconscient au conscient, p. 192:

Certa noite eu velava, na qualidade de médico deuma jovem que, atingida, em plena saúde, no mesmodia, por um mal fulminante estava em agonia. A

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enferma estava em estertores. Era uma hora damadrugada (a morte aconteceu de dia).

Repentinamente, no jardim que circundava a casa,soaram os uivos da morte soltados pelo cachorro dacasa. Era um som lúgubre e lastimoso de uma únicanota, decrescendo até se extinguir docemente e muitolentamente.

Depois de um silêncio de alguns segundos, olamento se repetiu, idêntico e monótono, infinitamentetriste. A enferma teve um momento de consciência enos olhamos ansiosos. Ela havia compreendido. Omarido saiu às pressas para fazer calar o animal e suaaproximação, ele se ocultou e foi impossível, no meioda noite, achá-lo. Logo que o marido retornou, olamento recomeçou e foi, assim, durante mais de umahora, até que o cão pôde ser apanhado e levado paralonge.

O que devemos pensar de tais manifestações? Onarrador deste caso foi um cientista muito distinto, aautenticidade do fato é incontestável, os uivos do cãoforam evidentemente característicos, a premonição demorte se verificou, de modo que não se pode entãodeixar de concluir que o animal teve realmente umpressentimento da morte iminente de pessoa da casadele, a menos que se prefira explicar os fatos pelahipótese das coincidências fortuitas. Neste caso,faltaria explicar por que os cães emitem, em taiscircunstâncias uivos absolutamente característicos que

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o narrador descreveu com tanta precisão. Aliás se ahipótese das coincidências fortuitas pode ser aindasustentada em um caso isolado, ela não se manteriaarais se as manifestações desta natureza se realizaremmuitas vezes. Ora, é indubitável que elas se produzem,efetivamente, com freqüência, embora, por causainclusive da natureza dos acontecimentos e porqueesses se realizem em meios estranhos às pesquisasmetapsíquica, só cheguem raramente às revistasespecializadas.

Caso LXXII - Este caso está consignado na obra deRobert Dale intitulada (Região em debate), p. 282. Oautor escreve que, há mais de trinta anos, é amigoíntimo da família na qual se deu o fato que ia expor,depois do que prossegue, dizendo:

A srta. Haas, que contava então vinte anos deidade, tinha um irmãozinho de dois anos, o qualpossuía um pequeno cão, seu companheiro constante,de quem gostava muito e que lhe era paralelamentemuito ligado. Dir-se-ia que olhava por ele como umpai. Certo dia, quando o menino andava de lá para cá,no salão, tropeçou com um pé no carpete e caiu. Suairmã acorreu, levantando-o e lhe fez carinhos,conseguindo diminuir o seu choro, entretanto, na hora

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do jantar, os pais observaram que ele estendia a mãoesquerda em vez da direita e verificaram que não podiamesmo mover esta última. Fizeram-lhe fricções deálcool alcanforado no braço enfermo, sem que acriança se lastimasse do que quer que fosse e alevaram de novo para a mesa. Subitamente o cãozinhose aproximou da cadeira da criança e se pôs a uivar demodo lastimoso e não habitual. Foi levado de lá, mascontinuou a uivar na peça contígua. Então foi tocadoda casa e levado para o jardim, quando se pôs dianteda janela do quarto do menino e recomeçou os seusuivos, com curtos intervalos de repetição, continuandoassim durante a noite inteira, apesar das tentativasfeitas para afastá-lo de lá.

Na tarde do mesmo dia, a criança caiu gravementeenferma em conseqüência da queda e faleceu à umahora da madrugada. Enquanto ela ainda estava viva, osuivos infinitamente tristes do animal se renovavam acurtos intervalos, porém, desde que ela expirou, ocãozinho parou com eles, para não mais recomeçá-los,nem então, nem depois.

No primeiro caso que citei, a premonição de mortediz respeito a um moribundo cujos familiares nãofizeram nenhuma alusão ao começo da doença. Nosegundo caso, ao contrário, a premonição de morte serefere a uma criança que parecia sã e cujo aspecto nãodeixava entrever conseqüência fatal da queda tidaalgumas horas antes, de modo que a família não se

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preocupou com o fato. Segue-se daí que opressentimento de morte manifestado pelo animalparece, nesta circunstância, ainda mais notável que oprecedente. No primeiro caso, poder-se-ia talvezobjetar que o cãozinho havia experimentado,telepaticamente, a influência do pensamento dosfamiliares do moribundo. Já no segundo, esta objeçãoé inteiramente excluída.

Casos LXXIII, LXXIV e LXXV -A senhora CáritaBorderieux, então diretora da revista Psychicalpublicou na Revue Scientifique et Morale duSpiritisme (1918, p. 136), um artigo sobre ospressentimentos entre os animais, do qual extraio trêscasos que ela mesma recolheu:

1 ° caso - Uma das minhas amigas morava emNeuilly-sur-Seine, onde morreu de tuberculose. Suaagonia foi perturbada pelos sinistros uivos de umcachorro da vizinhança. Os pais da moribunda,desesperados por não poderem fazer calar esse animal,habitualmente calmo, deram ordem para lhe levaremum naco de carne que se acabara de preparar. Trabalhoinútil, pois o cachorro, desprezando a suculentarefeição, continuou uivando até a morte.

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2° caso - O sr. Marcel Mangin, pintor e psiquistas,falecido em 1915, possuía um cão dotado da faculdadede pressentir a morte das pessoas da família. Antesmesmo de a doença vir a causar-lhe preocupações, oanimal se punha a uivar de modo estranho, fazendocolo que se notasse essa previsão, que era de espantar.

O sr. Marcel Mangin morreu subitamente de umaembolia. Ora, no dia anterior, quando nada faziaprever um fim tão próximo para o artista, o cão se pôsa uivar de maneira significativa. - Que quer dizer estedanado de animal? - perguntavam-se o sr. e sra.Mangin. No dia seguinte o pintor morria.

Perplexa e injusta também, é preciso dizer, asenhora Mangin mandou matar o cão fatal.

3° caso - Madame Camille, a célebre vidente deNancy, contou-me que ela possuía uma cadelinha eque o seu marido estava enfermo há muito, mas,embora o seu estado de saúde não apresentassenenhuma piora, o animalzinho se metera subitamentedebaixo do sofá, em que ele repousava, e se pusera auivar lamentosamente.

- Que tem este animal?, perguntou o doente. Atéparece que anuncia a minha morte...

Acalmou-se o enfermo e afastou-se o animal, mas,no dia seguinte, o marido de madame Camilleexpirava.

Dos três casos citados pela senhora Borderieux, oque diz respeito ao falecimento do sr. Marcel Mangin,

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o conhecido psiquistas, é o mais notável, primeiro,porque contém a circunstância análoga à do casoanterior do cão que começou os uivos da morte quandoo seu dono gozava de excelente saúde e nada faziaprever a iminência do seu fim - em segundo lugar,porque se ficou sabendo, pela narração, que o mesmocão tinha, já em outras ocasiões e da mesma maneira,anunciado iminência de morte na família.

No primeiro dos três casos citados, só se podeachar característico o incidente do cão que recusa umnaco de suculenta carne, preferindo uivar até a mortedo agonizante. Dir-se-ia que, nestas circunstâncias, osanimais se acham em condições de meiosonambulismo, no qual o automatismo subconsciente,dominando o campo de sua consciência, os tornainsensíveis a algumas tentações dos sentidos, queseriam para eles irresistíveis, no estado normal.

Caso LXXVI - O sr. William Ford, residente emReading, na Inglaterra, escreveu, nos seguintes termos,a Light (1921, p. 569):

Na minha mocidade, eu possuía um cão-pastor deraça cruzada e cauda curta, que fora destinado a reunire guiar os carneiros e os bois. Havíamos passadojuntos bons dias felizes na fazenda paterna, mas

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chegou o dia em que os negócios nos obrigaram adeixar a casa e o meu cão foi dado a um velhofazendeiro que residia perto de Maidstone. Logo, ele eo cão se tornaram amigos inseparáveis e, onde ohomem fosse, o animal o seguia, amizadeenternecedora que durou três anos.

Certa manhã, o velho fazendeiro não se levantou nahora habitual e seu filho foi ver o que podia significaressa infração aos costumes paternais. O velho, com amaior calma, anunciou que há sua hora era chegada epediu que lhe trouxesse o cão, que ele queria ver umavez ainda, antes de falecer.

O filho tentou persuadir seu pai dessa afirmação,que, para ele, era o produto de uma lúgubre fantasia,mas, como sua insistência contrariasse o velho, foibuscar o cão e o levou para o pai. Logo que o animalentrou no quarto, pulou para cima da cama e começoua agradar o velho dono, para, pouco depois, se retirarpara um canto e começar a uivar lamentosamente. Oanimal foi levado para fora, acariciado, mas nadaconseguia confortá-lo ou fazê-lo calar. Acabou por seretirar para o seu canil e entregar-se a um abatimentotão profundo e tão desesperado que morreu às oito emeia da noite. Seu velho dono o seguiu na morte,falecendo às dez horas.

Dez anos depois, achava-me sentado num centroexperimental particular e, num dado momento, omédium teve um sobressalto. Indagado sobre o que

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havia visto, respondeu: Pareceu-me ver um urso, o quenão era senão um cão. Surgiu, no centro, de um pulo,apoiou as patas sobre os joelhos do sr. Ford e ele oacariciou. Fez em seguida uma descrição minuciosa docão que aparecera, a qual correspondia inteiramente àdo meu cão-pastor. O médium conclui, dizendo: Tinhaum focinho que parecia sorrir. Esse detalhe seadaptava bem ao animal e eu não duvido de modoalgum de sua identidade.

Neste caso, a premonição de morte por parte doanimal é menos interessante do que nos casosprecedentes, pois que ela se produziu apenas meio diaantes do falecimento, quando o velho já sabia queestava para morrer. Essas circunstâncias não impedem,entretanto, que houvesse, integralmente, como nosoutros casos, rima percepção de morte iminente pelocão. Há, além disso, o episódio emocionante da mortedo animal em conseqüência de sua profunda dor.

O último incidente da aparição do animal duranteuma sessão mediúnica, dez anos depois de sua morte,transforma esta narração em um caso de transiçãoentre a presente categoria e a seguinte, na qualtratamos dos casos de aparições identificadas deformas de animais.

No meu conjunto de fatos, não se encontram outrosexemplos de premonição de morte por parte dosanimais, o que não significa, de modo algum, que asmanifestações desta espécie sejam raras, mas apenas

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que se negligenciou, até aqui, de as reunir. O quecontribui para demonstrar isso é que, quando se fazalusão aos fatos desta natureza nos meios populares,provocam-se sempre narrações de casos semelhantes.Essas, infelizmente, são feitas de uma maneira tãovaga ou passaram por tantas bocas que não se podeacolhê-las numa classificação científica.

Resulta daí que, embora tudo contribua para provara realidade das manifestações em questão, seria, noentanto, prematuro comentá-las, visto que o examedelas não será oportuno senão quando se chegar aacumular, em quantidade suficiente, os materiaisbrutos dos fatos, de maneira a poder analisá-los,compará-los e classificá-los de acordo com um métodorigorosamente científico.

SEXTA CATEGORIA

ANIMAIS E FENÔMENOS DEASSOMBRAÇÃO

Esta categoria é muito abundante em exemplosinteressantes e instrutivos. Com efeito, depois de umatriagem rigorosa feita na minha coleção de fatos, achei

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ainda trinta e nove casos à minha disposição, casos dosquais me limitarei, naturalmente, a relatar somenteuma parte, enviando o leitor, para os outros, àspublicações que os contêm.

Para maior clareza, subdividi estes casos em doissubgrupos. No primeiro, examino os fatos nos quais osanimais deram sinais certos de perceber, coletivamentecom o homem, manifestações de assombração e, nosegundo, trato de casos de aparições de formas deanimais em lugares assombrados.

PRIMEIRO SUBGRUPO

Manifestações de assombração percebidas poranimais

Resumo, primeiramente, alguns casos que, sendoconstituídos de curtos incidentes episódicosespalhados em longas narrativas, não podem ainda serrelatados por inteiro. Começo por três casos históricosque extraio de um artigo de sir Alfred Russell Wallace,intitulado Étude sur les apparitions e estampado nosAnnales des Sciences Psychiques, 1891.

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Caso LXXVII - (Auditivo, com anterioridade doanimal sobre o homem):

Em sua narrativa sobre os fenômenos que se deramno curato de Epworth, o eminente John wesley(fundador da seita dos metodistas), depois de terdescrito estranhos ruídos semelhantes aos que fariamobjetos de ferro e de vidro atirados por terra,acrescenta: Pouco depois, o nosso grande buldogueMasheff correu para se refugiar entre o senhor e asenhora Wesley. Enquanto duraram os ruídos, ele latiae saltava, mordendo o ar de um lado e de outro, e istoantes que alguém no aposento ouvisse qualquer coisa,mas depois de dois ou três dias, ele já tremia e se iarastejando antes que os ruídos recomeçassem. Afamília sabia, a este sinal, o que iria acontecer e istonão falhava nunca...

Caso LXXVIII - (Auditivo-coletivo):

Durante os fenômenos sucedidos no cemitério deArensburg, na ilha de Oesel, onde caixões foramvirados dentro de abóbadas fechadas, fatosdevidamente verificados por uma comissão oficial, oscavalos das pessoas que iam ao cemitério Ficaram

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muitas vezes tão espantados e excitados que acabaramcobertos de suor e espuma. Algumas vezes eles searrojavam por terra e pareciam agonizar e, apesar dossocorros que lhes levavam imediatamente, váriosmorreram ao cabo de um dia ou dois. Neste caso,como em tantos outros, embora a comissão fizesseuma investigação muito severa, não descobriu alinenhuma causa natural (Robert Dale Owen emFootfalls om the boundaries of another world, p. 186).

Caso LXXIX - (Auditivo-coletivo):

No terrível caso de residência assombrada narradoao sr. K. Dale Owen pela senhoras. C. Hall - elaprópria testemunha dos fatos principais - vimos que ohomem assombrado não pudera, guardar um cão pormuito tempo: não foi possível fazê-lo permanecer noaposento nem de dia nem de noite. O que ele tinha,quando a senhoraS. C. Hall o conheceu, assim que osfenômenos começaram e, logo depois, fugiu edesapareceu. (Footfalls, p. 326).

A estes casos históricos, Wallace acrescenta trêsoutros de datas recentes:

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Caso LXXX - (Visual-coletivo):

No caso narrado pelo senhor Hudson em Arena,setembro de 1889, quando a dama de branco apareceuao irmão do autor, lemos que, na terceira noite, ele viuo cão rastejar e permanecer com o olhar fixo e, emseguida, agir como se fosse perseguir por todo oaposento. Meu irmão não viu nada, porém ouviu umaespécie de silvo e o pobre do cão latia, depoisprocurou ocultar-se e não quis mais entrar naquelelugar.

Caso LXXXI - (Auditivo-coletivo):

Na notável narração de casa assombrada feita porum dignitário muito conhecido da igreja anglicana,que morou na referida casa por doze meses, é precisoconsiderar a conduta muito diferente dos cães empresença de insólitos efeitos reais ou fantasmagóricos.Quando uma tentativa de roubo foi feita no presbitério,os animais deram logo alarma e o clérigo se levantoudevido aos seus ferozes latidos. Ao contrário, duranteruídos misteriosos, embora fossem muito mais fortes einquietantes, eles absolutamente não ladraram. Foramencontrados num canto, num estado de lastimável

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terror. Estavam mais perturbados do que ninguém e, senão tivessem sido levados para baixo, teriam corridopara a porta do nosso quarto de dormir e teriam seagachado lá, rastejando e gemendo tanto tempo quantolhes fosse permitido (Proceedings of the S.P.R., vol. II,p. 151).

Caso LXXXII - (Auditivo-coletivo):

Numa casa assombrada de Hammersmith(Proceedings of the S.P.R., vol. III, pp. 1 15/16), ondese ouviam ruídos de todas as espécies, inclusive o ecode passos e o som de lágrimas e de suspiros, onde seviam portas se abrindo sem qualquer causa aparente,onde, enfim, aparecia uma forma de mulher que foisucessivamente vista por três pessoas adultas e umamenina de seis anos, o cachorro da casa percebia, porsua vez, os fenômenos. Breve -escreve à senhora K. -os antigos ruídos recomeçaram em nossa pequenabiblioteca. Eram sons de objetos que tombavam,janelas que se agitavam violentamente, abalostremendos por toda a casa, enfim, da mesma maneira,a janela do meu quarto começou a se agitarruidosamente. Entrementes, o cão uivava sem parar e oruído das pancadas e quedas aumentava emintensidade. Deixei meu quarto e me refugiei no de

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Helena, onde passei o resto da noite. Na manhã do diaseguinte, o cão mostrava claramente que a visão doquarto assombrado o espantava ainda. Chamei-o paraentrar comigo lá, mas ele se encolheu no chão,metendo a cauda entre as pernas. Via-se que tinhamedo de entrar lá. Eu estava só na minha casa, comHelena e a governanta.

Caso LXXXIII - (Auditivo-telecinésico-coletivo) -A propósito de uma casa assombrada em Versalhes(Annales des Sciences Psychiques 1895, p. 85), o sr.H. de V. se exprime assim numa carta dirigida aodoutor Dariex:

Ao cabo de cerca de dez minutos, como a criadanos contava os seus dissabores, um velho sofá deroldanas, colocado num canto à esquerda, se pôs emmovimento e, descrevendo uma linha irregular, veiopassar entre o senhor Shenwood e mim, depois voltousobre si mesmo, cerca de um metro detrás de nós,bateu duas ou três vezes no assoalho com os pés dedetrás e voltou, em linha direta, para o seu canto. Issose passava em pleno dia e nós pudemos verificar quenão havia nenhum compadrio, nem truque de qualquerespécie. O mesmo sofá fez o mesmo percurso por trêsvezes diferentes, tomando 0 cuidado - coisa estranha -

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de não ferir ninguém. Ao mesmo tempo, pancadasviolentas se faziam ouvir no outro canto da sala, comose pedreiros estivessem trabalhando na peça vizinhaque estava inteiramente aberta e completamentedeserta. O amigo que nos havia levado empurrou o seucão para o canto da sala e o animal voltou uivando,evidentemente presa de grande terror. Ele não queriamais se mexer em nenhum sentido e o seu dono foiobrigado a mantê-lo nos braços durante o tempo emque permanecemos na casa.

Caso LXXXIV - (Auditivo-coletivo) - Nos artigospublicados pelo dr. J. Morice a respeito do casofantasmagórico do castelo de T., na Normandia, umdos casos mais interessantes e mais extraordináriosque se conhecem (Annales des Sciences Psychiques,1892/93, pp. 211/223 e 65/80), foi narrado o que sesegue:

Ele comprou (o senhor de X., primeiro proprietáriodo castelo) dois formidáveis cães de guarda que eramsoltos durante a noite e nada aconteceu. Certo dia, osanimais se puseram a uivar na direção de um dosmaciços do jardim com uma tal persistência que osenhor de X. acreditou que assaltantes se haviamocultado ali. Ele se armou, fez armar os seus criados,

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cercou o maciço e lá soltou os animais. Eles seprecipitaram com furor, porém, mal ali penetraram, osseus uivos se transformaram em latidos dolorosos,como os dos cavalos recebendo um corretivo. Depoisfugiram com a cauda baixa e não se conseguiu quevoltassem para o lugar. Os homens entraram então nomaciço, revistaram em todos os sentidos e nãoacharam lá absolutamente nada (pp. 82/83).

Caso LXXXV - (Visual-coletivo, comanterioridade do animal sobre o homem) - Na relaçãomuito bem documentada que a senhora R. C. Mortonforneceu n Society for Psychical Research, a respeitode uma casa assombrada em que ela morava e na qualaparecia, entre outras coisas, uma forma de mulher depreto, ela fala assim da atitude do seu cãozinho fox-terrier:

Lembro-me de o ter visto, por duas vezes diversas,correr para o fundo da escada do vestíbulo, sacudindoalegremente a cauda e se fazendo importante, como oscães têm o hábito de fazer quando esperam carícias.Ele para ali correu com uma expressão de alegria,precisamente como se uma pessoa se achasse naquelelugar, mas logo o vimos escapar com toda pressa, decauda entre as pernas, e refugiar-se, todo trêmulo,

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debaixo do sofá. Nossa impressão firme é de que viraum fantasma (Proceedings, vol. VIII, p. 323).

Pelos dois primeiros casos históricos narrados aqui,assim como pelo caso LXXX, pôde-se ver que osanimais percebem manifestações metapsíquica queescapam às pessoas presentes, prerrogativa animal deque já houve um exemplo no caso LIII e de quefalamos nos comentários ao caso LXI. Um pouco maisadiante, relataremos um outro fato notável queaconteceu à senhora dEspérance (caso XCV). Noscomentários ao caso LVI, onde se tratou, caso serecorde dele, de manifestações experimentais corainício de materialização de espírito, fiz notar que ofato de que os animais pareciam perceber a presençade uma forma espiritual quando mesmo as pessoaspresentes não percebiam nada podia ser explicadosupondo-se que os olhos de certos animais seriamsensíveis aos raios ultravioletas (como a chapafotográfica) e que, em conseqüência, eles chegariam adiscernir com os `olhos corporais o que era invisívelaos olhos humanos. Entretanto, esta hipótese - justapara as circunstancias nas quais a havia proposto - nãoparece aplicável aos casos que examinamos agora enos quais se trata de Fenômenos, não objetivos, massubjetivos. Nestas condições, é preciso concluir que osanimais se mostram efetivamente mais bem-dotadosdo que o homem, no fato de sensibilidade subliminal,nas manifestações supranormais. Os casos em que os

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animais se mostram refratários à produção defenômenos psíquicos percebidos pelo homem sãointeiramente raros, ao passo que os homens refratáriosa essas mesmas manifestações constituem a grandemaioria. É difícil conhecer a causa dessa superioridadeda suscetibilidade animal às percepções da atividadesubconsciente ou espiritual, mas, como essaprerrogativa parece existir, em condições análogas,entre os povos selvagens, entre os quais as faculdadestelepática e telestésica são bem freqüentes, seriapreciso deduzir dela que a causa consiste ou namentalidade ainda virgem deles, isenta de prevençõeshabituais de um meio contrário ao exercício dasfaculdades subconscientes, ou na circunstância de quea atividade psíquica deles não é continuamente gastapelos cuidados e as preocupações da vida civilizada. Ajusteza destas observações é demonstrada pelo fato,muito conhecido, de que, entre os sensitivosclarividentes, basta uma contrariedade passageira ouuma ligeira condição de ansiedade ou de preocupaçãopara neutralizar completamente as suas faculdadessupranormais.

Caso LXXXVI - (Visual-coletivo) - Eu o extraio doJournal of the S.P.R., vol. XIV, p. 378. O rev. H.Northcote envia um relatório sobre um caso deassombração estudado por ele mesmo e que se

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produziu na residência de uma família de amigos seus.Tratava-se de um fantasma de homem que apareciaconstantemente no mesmo quarto, na mesma hora desempre e que foi visto, independentemente, por váriaspessoas, das quais uma não sabia nada do que a outrahavia visto. Certo dia, a família Clemsford, quemorava nessa casa e ali deu hospedagem a srta.Dentou, a instalou no quarto assombrado. A srta.Dentou conta o seguinte:

Na noite do mesmo dia de minha chegada fuideitar-me bastante cansada e dormi muito mal... Nãoliguei muita importância a isso, atribuindo a coisa àminha excessiva fadiga c à mudança de cama, mas, nasegunda noite, já me aconteceu à mesma coisa e, pelastrês horas, fiquei surpresa ao perceber uma massaopaca, levemente luminosa, ao pé da cama. Pensei, aprincípio, que se tratava de um reflexo de luzproveniente da janela, mas essa massa tomougradualmente uma forma e acabou por transformar-seem um homem de muito alto porte que permaneceuimóvel durante um certo tempo - que me pareceumuito longo, embora pudesse tratar-se de apenasalguns segundos - para atravessar logo em seguida oquarto e desaparecer num armário. Na terceira noiteassisti à mesma manifestação e, dessa vez, com grandeespanto meu, o que fez com que, no dia seguinte, fosse

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pedir a um aos meus amigos para deixar o cão deledormir no meu quarto, porque eu havia percebidorisos. Meu desejo foi logo satisfeito e, no quarto dia, jáfui deitar-me animada e tranqüila. O cão se acomodouno Jeitinho que eu lhe arrumara no sofá e não tardei adomar profundamente.

Lá pelas duas horas fui acordada pelos gemidos doanimal e observei que se tinha levantado e girava emvolta do quarto, sempre gemendo. Ao mesmo tempo,vislumbrei ao pé do leito o fantasma do meu visitantenoturno. Presa novamente de um grande espanto, pus-me a gritar-lhe: Vá embora! Suma!

Uma outra noite, depois de cerca das dezoito horas,quando me achava na casa dos Clemsford, o fantasmame apareceu como se fosse de fogo, tal como umafigura aclarada por transparência, na qual os traços dorosto e as principais linhas do corpo sobressaíam comsinistro clarão. Meu pavor foi tal que me decidi a falar,não querendo absolutamente ficar no tal quarto.Conduzi a conversa para o assunto, no almoço,perguntando se alguém da casa já havia visto umfantasma no quarto em que eu dormia e, ao mesmotempo, descrevi a figura que percebera. Minhasurpresa foi muito forte quando me disseram que aminha descrição correspondia exatamente à aparênciado fantasma visto no referido quarto e na mesma horapelo senhor e senhora Clemsford. Naturalmente quenão quis mais dormir no tal quarto...

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Neste exemplo, a agitação e o espanto do cãopodem parecer concludentes do ponto de vista que nosinteressa especialmente, se os compara à mímicaanimal, infinitamente mais demonstrativa, em tantosoutros períodos do mesmo gênero. Entretanto, aquineste caso, há a circunstância eloqüente do animal queé presa, de repente, de pavor, às duas horas damadrugada, isto é, na hora exata em que se produziaconstantemente a manifestação de assombração nolugar. Se considerar esta circunstância, não parecelogicamente possível evitar a conclusão de que oanimal bem que havia percebido o fantasmamanifestado no quarto, naquele momento. Acircunstância de que ele ali se achava semconhecimento da srta. Dentou, adormecida, aumentade valor probativo a manifestação, da qual o animal foio primeiro percipientes.

Caso LXXXVII - (Visual-coletivo) - Este casoapareceu no American Journal of the S.P.R. (1910, p.45). Faz parte de uma pequena coleção de fatosexaminados por um ministro da igreja episcopal. Oprofessor Hyslop diz que não se podem citar nomesdos percipientes que são, em grande parte, pessoasbem conhecidas e que não desejam dar seus nomes. Opastor, que faz a narrativa, relata o seguinte fato:

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A vila do dr. G., residente na 5 Avenida, n° 13, emNova Iorque, fica em Fishkill, no rio Hudson. A vintede outubro a srta. F. G., filha dele, tinha ido a NovaIorque, aonde chegara há uma hora avançada da noite.O cocheiro fora esperá-la na estação da estrada deferro com uma charrete e um excelente cavalo. A noiteestava muito sombria e a carruagem não se achavaprovida de lanternas. O caminho era fácil e o cavalo opercorria tranqüilamente. Colinas cercadas de árvoresaumentavam ainda a escuridão, quando, em um dadomomento, o cavalo começou a escoicearviolentamente, enquanto o cocheiro não sabia para quesanto apelar. A srta. F. G. olhou e viu uma compridacoluna esbranquiçada, semelhante ao nevoeiro, que,depois de ter-se elevado no caminho, em face docavalo, passou ao lado desse, roçou no cotovelo damoça e desapareceu por cima dos seus ombros. Nomomento em que a aparição lhe tocou no cotovelo, elaexperimentou uma sensação de frio e teve umestremecimento. Em todo o caso a sua mente era muitopositiva para acolher uma explicação supranormal doacontecimento, todavia, dirigindo se ao cocheiro, lhedisse: Presta atenção, Michel. Devemos ter passadopor cima de alguma coisa. Desça e veja o que sucedeu.Mas o cocheiro discordou e se mostrou inquieto,declarando que não se tratava, absolutamente, de umacidente material e sim, de um encontro com algum

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fantasma. E acrescentou: A senhora e eu podemos ter-nos enganado, mas não se pode dizer outro tanto docavalo. O pobre do animal sua e treme nos vamos.Finalmente decidiu descer e olhar, mas não viu nadano chão, pondo-se a caminho. A srta. F. G. ordenou aococheiro que não Falasse o que se tinha passado aninguém, com receio de assustar os criados.

Alguns dias mais tarde, ela contou o fato a umsenhor que viera visitá-la e que morava há muito emFishkill, o qual, depois de ouvi-la com vivo interesse,disse: A senhora viu o Fantasma de Verplanck, eforneceu as seguintes explicações: No tempo dageração anterior à presente, a srta. Verplanck, herdeirade urna grande família dinamarquesa residente aqui,estava enamorada de um jovem advogado de NovaIorque, mas a sua família desejava que ela se casassede preferência coar um seu primo chamado SamuelVerplanck. No dia vinte de outubro, o jovem advogadodevia procurar, mas uma violenta tempestade estourounaquela ocasião e ele não apareceu. Na manhãseguinte, a srta. Verplanck anunciou: `Ele foiassassinato ontem à noite. Alguns minutos após,espalhou-se à notícia de que havia sido descoberto oseu cadáver com um punhal mergulhado no coração.Ao mesmo tempo, Samuel Verplanck desaparecia enão era visto em lugar algum. Passado bem poucotempo começou-se a dizer que, na noite de vinte deoutubro, Samuel Verplanck aparecia no lugar do

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crime. O que aconteceu à srta. F. G. naquela noite devinte de outubro confirmaria essa tradição.

Ainda neste caso, o animal teria sido o primeiropercipientes, circunstância que mostra sempre melhorquão admiráveis sensitivos são os animais superiores.

Este caso é notável por si mesmo, sem apresentarnada de especial, pois se conhecem centenas de fatosanálogos ligados a uma tradição de crimesconsumados no local da assombração, assim como jáfiz observar numa obra que consagrei a essasmanifestações.

Caso LXXXVIII - (Visual-coletivo) - O conhecidosociólogo professor Andrew Lang conta o seguintefato que sucedeu numa família de amigos seus.Transcrevo da Light (1912, p. 111) o texto que sesegue:

Em um dos subúrbios de Londres há uma mansãoespecial, bem antiga, construída inteiramente de tijolose cercada de um jardim, a qual conheci muito bem.Quando os meus amigos o senhor e senhoraRotherhams foram ali residir, a mansão erainteiramente assombrada. Entre outras coisas, quandoa senhora Rotherhams se aproximava de uma porta,esta se abria espontaneamente diante dela. Algumas

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vezes sentia-se puxada pelos cabelos por mãosinvisíveis, barulhos noturnos, estranhos einexplicáveis, tais como de baixelas se entrechocando,de móveis arrastados, perturbavam sem parar o sonodos moradores dela.

Certa noite em que o senhor Rotherhams se achavaausente, sua esposa foi deitar-se com o seu bebê, noquarto acima da sala de jantar, tendo antes fechadonela o seu cãozinho da raça colhe. Ela observou que,quando começou a ouvir os ruídos dos móveisarrastados e das baixelas se entrechocando, o animalcomeçou a uivar lastimosamente. A senhora não tevecoragem de descer ao andar inferior a fim de soltá-lo,mas, quando, de manhã, abriu a porta do aposentoassombrado, o cãozinho foi ao seu encontro com acauda entre as pernas. Ela verificou que os móveis e asbaixelas estavam perfeitamente nos seus lugares.

Outro dia, essa mesma senhora estava ocupada emensinar uma lição à sua filhinha na sala de jantar,sentada defronte da porta. Em dado momento, tendotocado a sineta para chamar a camareira, viu uma portaabrir-se e entrar uma mulher estranhamente vestidacom um roupão cinza-claro e o rosto da mesma cor.

Um outro dia, quando o senhor Rotherhanrs setinha demorado a fumar na mesma sala, ele viu oanimal levantar-se com um pulo, o pêlo eriçado nascostas, e rosnar surdamente voltado para a porta.Olhando nessa direção, ele viu a porta abrir-se e entrar

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a mulher vestida de uma cor parecendo azul.Levantou-se para sair ao encontro dela, porém não viumais nada.

Se tal fantasma tinha um objetivo, este seria o deobrigar os novos ocupantes da casa a se mudarem, maseles permaneceram intrepidamente no lugar e asmanifestações foram enfraquecendo pouco a pouco atécessarem definitivamente. Os membros da família sãopessoas sãs e robustas e contam entre os íntimosamigos meus.

Professor Andrew Lang

No caso acima, acham-se dois fatos concernentes apercepções animais. No primeiro, de naturezapuramente auditiva, o cão, encerrado na salaassombrada, mostra logo, por meio de uivos dolorosos,que ele percebe manifestações ruidosas que os outrosouvem de fora; no segundo, o animal é o primeiro aperceber o Fantasma da dama azul. Não resta entãonenhuma dúvida sobre a participação do animal emmanifestações de assombração às quais estão sujeitascoletivamente seus donos.

Caso LXXXIX - (Auditivo-coletivo) - Na bemconhecida obra do dr. Edward Binns, (Anatomia do

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Sono p. 479), encontra-se o seguinte fato comunicadoao autor por lord Stanhope, amigo íntimo doprotagonista do acontecimento, sr. G. De Steigner, queconta:

Na minha mocidade, quando eu era oficial doexército dinamarquês, ocupava já há algum tempo oalojamento que me fora designado, sem perceber nadade especial. Meu quarto estava colocado entre doisoutros aposentos, servindo de um pequeno salão e ooutro de quarto de dormir de meu ordenança ecomunicando-se as três peças entre si.

Certa noite em que estava deitado sem dormir, ouviorar ruído de passos que iam e vinham no quarto e quepareciam ser de um homem de chinelas. Esse ruídoinexplicável durou longo tempo.

Chegada à manhã, perguntei à minha ordenança seele não havia percebido nada durante a noite e omesmo me respondeu: Nada, a não ser que há umahora avançada da noite o senhor passeou no seuquarto. Assegurei-lhe de que não havia deixado o leitoe, como ele permanecesse incrédulo, lhe ordenei que,se o ruído de passos se repetisse, me chamasse.

Na noite seguinte eu o chamei sob o pretexto de lhepedir uma vela e procurei saber se ele não vira nada.Respondeu-me negativamente, acrescentando, todavia,que ouvira um ruído de passos como se alguém se

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aproximasse dele para se afastar em seguida na direçãooposta.

Tinha no meu quarto três animais: um cão, umagatinha e um canário, que reagiam todos de um modocaracterístico quando o ruído de passos começava. Ocão pulava imediatamente para cima de minha cama ese encolhia junto de mim, tremendo; a gata seguia como olhar o arrastar dos passos como se percebesse ouprocurasse perceber o que os produzia. O canário, quedormia no seu poleiro, acordava logo e se punha a voardentro da gaiola, tomado de grande agitação.

Em outras circunstâncias, ouviam-se sons musicaisno salão como se alguém tocasse fracamente as teclasde um piano, ou bem se percebia um ruídocaracterístico como se girasse a chave da secretaria nafechadura e a abrisse, entretanto tudo permanecia nosseus lugares. Falei sobre esses ruídos inexplicáveis aosmeus camaradas, do regimento que foram dormirsucessivamente no sofá do meu quarto e eles ouviram,uns após outros, os ruídos que eu mesmo percebi.

Em seguida, o senhor De Steigner conta quemandou examinar as tábuas do assoalho e os lambrisdo quarto, sem descobrir nenhum sinal de ratos.Algum tempo depois disso, ele caiu doente e, como asua enfermidade tendia a piorar, o médico oaconselhou a mudar-se imediatamente de alojamento,sem lhe dar a respeito nenhuma explicação, e eleobedeceu. Quando já convalescente, insistiu junto ao

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médico para saber da razão que o levara a aconselhar-lhe a mudança, o médico lhe explicou, enfim, que oalojamento em que ele estivera gozava de deplorávelreputação, pois um homem se enforcara naquelequarto e outro fora ali assassinado.

Os leitores já terão observado que, nos casosrelatados até aqui, os animais percipientes têm sido oucães ou gatos ou cavalos, mas no supracitado caso háum canário e isto mostra que o reino dos pássaros écapaz, por sua vez, de perceber as manifestaçõessupranormais e de se espantar por causa delas.

Quanto à atitude do canário em face dasmanifestações auditivas acontecidas no quartoassombrado, não me parece possível levantar dúvidassobre o seu alcance demonstrativo, isto é, que ocanário percebia muito bem, como os outros animais,as manifestações em curso, pois, com efeito, o ruídode um passo leve, tal como o de um homem dechinelas, não é de molde a espantar um canário,habituado a viver com o homem. Segue-se daí que, seesse passarinho se espantava com ele, é porquepercebia realmente as manifestações de assombração eque tinha a intuição instintiva de sua naturezasupranormal.

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SEGUNDO SUBGRUPO

Aparição de animais em lugares assombrados

Não é certamente fácil determinar o querepresentam as aparições de formas animais nasmanifestações de assombração. Às vezes, a produçãodelas coincide com o fato de que animais semelhantesaos aparecidos tenham vivido no lugar. Nesses casos,as for mas animais poderão ser explicadas seja pelahipótese da sobrevivência da psique animal, sejasupondo uma projeção telepática do pensamento deum morto (tanto mais que, muitas vezes, os animais semanifestam de combinação com fantasmas de pessoasfalecidas), seja ainda pela hipótese da revivescênciapsicometria de acontecimentos que se produziram nolocal, na época. Mas, bastas vezes, não apenas não severifica nenhuma coincidência que permita explicar aaparição animal por uma destas suposições, como sepode mesmo excluir absolutamente que as formasanimais aparecidas em um lugar assombradocorrespondam, de um modo qualquer, a outros animaisque viveram no lugar. Neste caso, a explicaçãopopular dos fatos é que as aparições de animais

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representam espíritos de mortos que, tornando-seculpados por faltas graves, tomam, depois da morte,formas animais correspondentes à natureza das suasfaltas. Na minha obra Lês phénomènes de hantise(Fenômenos de assombração), capítulo III, citei umcaso da aparição de um porco. A pessoa que conta essefato diz que, tendo interrogado alguns pastores arespeito, esses explicaram que o responsável pelosfatos era Tommy King, um farmacêutico que viveracem anos antes e que se enforcara numa casa situadanos arredores e, desde então, o espírito do infelizerrava por aqueles lugares e ali aparecia sob a formade um animal.

Sobre o assunto escrevi:É a explicação popular sobre as aparições de

animais em lugares assombrados e, embora seja elapuramente tradicional e gratuita, não é fácil substituí-la por outra menos gratuita e mais científica. Limitar-me-ei então a observar que, na obra do doutor JustinusKerner sobre a vidente de Prevorst, lê-se que a vidente,nas suas fases de sonambulismo, explicava da mesmamaneira as aparições de animais. Assim, no capítuloVI (4° caso), a propósito de um espírito baixo que lheaparecia, o doutor Kerner escreveu: No meu quarto, aaparição se renovou sob o aspecto de um urso.Adormecida, ela diz: Agora eu vejo quanto a sua almadeve ser negra, pois que ele volta sob formas tãoespantosas, mas é preciso que eu o reveja.... No 5°

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caso, a vidente em sonambulismo se dirige a umespírito e lhe pergunta se ele poderia manifestar-se sobforma diferente da que tinha quando vivo, e o espíritorespondeu: Se eu tivesse vivido como urna besta eudeveria aparecer-lhe como tal. Nós não podemos,entretanto, tomar as formas que queremos e devemosaparecer-lhe tal como éramos em vida. E no capítuloN: O devasso pode aparecer sob a forma de um animalao qual ele se assemelhe por sua maneira de viver...

Ao contrário, eu observo que, entre os casos deassombração animal que reuni, há dois deles quesugerem uma explicação diferente, o que, aliás, nãoexcluiria a outra. Foram publicados no Journal of theS.P.R. (vol. XIII, pp. 58/62 e vol. XV, pp. 249/252).Trata-se das aparições de um cão e de uma gatinhacom esta circunstância notável de que, ondeapareciam, haviam morrido um cão e urra gatinhaidênticos aos que se manifestavam. No que dizrespeito à gatinha, a identificação foi ainda melhorestabelecida pelo da forma coxa, à imagem da gatinha,que fora, quando viva, aleijada por um cachorro.Encontra-se, aqui, diante de um autêntico caso deidentificação, de modo que é possível deduzir daí que,se chegar a acumular, em grande número, exemplosdesta natureza, eles levarão à demonstração dasobrevivência da alma do animal, possibilidade quenão deveria certamente espantar.

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Devo acrescentar agora, ao que escrevi nasupracitada obra, que cheguei, com efeito, a reunir umcerto número de fatos análogos aos que acabei de fazeralusão e dos quais tratarei na oitava categoria. Elescontribuem para tornar provável que se chegue um diaa demonstrar cientificamente a sobrevivência ciapsique animal. Isto não exclui aliás, de modo algum,que as outras hipóteses indicadas há pouco não possamser legítimas por sua vez e doe elas devem, segundo ascircunstâncias, ser levadas em consideração para aexplicação de certas modalidades das formas animais.Mais ainda, tudo contribui para demonstrar que ashipóteses expostas acima explicam alguns dos casospertencentes a esta categoria.

Caso XG - (Visual-coletivo) - HerewardCarrington, um dos mais distintos metapsiquistas dosEstados Unidos da América e autor de obrasconhecidas por todos os que se ocupam das nossaspesquisas, relata no American Journal of the S.P.R.(1908, p. 188) o seguinte fato que ele mesmosubmeteu a um inquérito:

O muito interessante caso que vou expor é deminha experiência pessoal. Aconteceu no último verão

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e é, na minha opinião, muito sugestivo senão jáconcludente...

Quando me achava em Lilly Dale, o acampamentode espíritas americanos, fiz amizade com três pessoasque foram protagonistas do caso em questão e que seinteressavam como eu pelas pesquisas metapsíquicas.Soube do fato por essas mesmas três pessoas novestíbulo do hotel em que se hospedavam e algunsminutos depois que o acontecimento se deu. Eis de doese trata:

Os três personagens em apreço - duas senhoras eum senhor - passeavam num caminho pouco afastadoda vila e conversavam sobre assuntos diferentesquando uma das senhoras, que possui algumasfaculdades clarividentes, percebeu um cãozinho quecorria no caminho, diante dela. O sol se punha, mas aclaridade do dia era ainda completa e, no entanto, osoutros não viram nada porque, na realidade, o animalnão existia. O terreno era amplo, nu e plano, portanto,não se tratava de obstáculos naturais à vista a senhoraafirmava que o animalzinho corria diante dela a ouradezena de jardas de distância, mantendo-se no meio docaminho, inteiramente à vista e acrescentou que eleparecia ter as dimensões de um Fox-terrier, que tinha opêlo amarelo, o focinho alongado, a cauda pequena eanelada. Enquanto as três pessoas discutiam entre siesse estranho caso, um gato saía tranqüilamente deuma casa situada a pouca distância delas e se dirigia

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para o caminho a fim de o atravessar, mas, logo que alichegou, chamou a atenção ao bufar e arranhar o ar,justamente no lugar em que se achava o cão fantasma,como se lá estivesse um cão de carne e osso, aparecidodefronte do gato. Insisto no fato de que este íntimohavia chegado até o caminho, conservando um aspectoabsolutamente tranqüilo e indiferente para tomar,repentinamente, uma atitude de briga. Logo depois ogato voltou-se com um pulo e retornou, correndo, paraa casa donde saíra. Durante essa cena, a senhoravidente tinha continuado a perceber o cão, depoisvoltara um instante o olhar para seguir a fuga do gato evirara de novo para o cão, mas o cão já havia sumido.Ela declarou que esse animal não dera nenhumaatenção ao gato, mesmo quando este parecia quererarranhá-lo e seguia tranqüilamente o seu caminho. Éevidente que, se o gato havia se comportado dessamaneira, é porque ele tinha acreditado perceber diantedele um cão autêntico, surgido de surpresa. Eentretanto esse cão não existia! Tais são os fatos sobrea autenticidade dos quais eu me torno fiador. Deixoaos leitores a liberdade de explicá-los ao seu bel-prazer.

Nesta narrativa, não está indicado se o lugar tinha areputação de ser assombrado e se um cão igual tinhavivido nos arredores. Não é, pois, possível, chegar-se auma solução teórica qualquer sobre a gênese dos fatos.

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Mas isto não anula o incidente por si só, claro eindubitável, da aparição de um cão fantasma, vistocoletivamente por uma senhora e por um gato.

Caso XCI - (Visual-coletivo) - Este caso foipublicado pela revista inglesa Light (1915, p. 215) e ésemelhante ao antecedente. O rev. Charles L.Tweedale escreve o doe segue:

Pelas dez horas e meia da noite, minha esposasubiu para o meu quarto e, arrumando os travesseiros,lançou o olhar para os pés da cama. Então percebeu alium grande cão preto, ereto nas suas patas, que pôdedistinguir em todos os seus detalhes. Quase ao mesmotempo, nosso gato, que havia seguido a sua dona naescada, penetrou no quarto e, vendo por sua vez o cão,deu um pulo, arqueando o dorso, eriçando a cauda,bufando e arranhando o ar. Saltou em seguida paracima do toalete colocado num canto do quarto e serefugiou detrás do espelho do móvel. Pouco depois, ocão fantasma desapareceu e a minha mulher, querendocertificar-se se o gato não era, por sua vez, de naturezafantasmagórica, se aproximou do toalete, olhando portrás do espelho, e ali viu muito bem o autêntico gatonum estado de agitação frenética e sempre de pêloeriçado. Quando ela achou que devia levá-lo para o

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seu canto, o felino bufou e a arranhou, permanecendoainda presa do terror que lhe havia causado o cãofantasma.

Ainda neste incidente, como no anterior, não secolhe nenhuma indicação de natureza a orientar opensamento para a busca das causas, o que não impedede ser, por sua vez, muito característico e sugestivo.Com efeito, nos dois casos observa-se à combinaçãode duas modalidades de manifestação supranormal deque nos ocupamos aqui, a saber: uma, na qual osanimais percebem, coletivamente com os homens, asmanifestações de assombração; a outra, na qual asmanifestações de assombração são constituídas deanimais fantasmas percebidos coletivamente porhomens e animais.

Caso XCII - (Visual, com impressões coletivas) -Asenhora J. Toye Warner Staples enviou a Light (1921,p. 553) a narração aqui reproduzida e referente a umcaso que lhe é pessoal:

Temo verdadeiramente que a minha contribuiçãoao inquérito sobre a sobrevivência da psique animalnão seja de natureza a satisfazer às provas exigidaspela Society for Psychical Research, todavia o fato que

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vou expor-lhes é escrupulosamente autêntico e dignode confiança, qualquer que seja a explicação dele.

Minha infância decorreu na parte ocidental daIrlanda e, desde a idade de quatro anos até os seis,morei numa casa muito grande e velha situada àsmargens do Shannon. Minha família, sendo inglesa,não dava atenção às narrativas da gente do lugar queafirmava que a nossa residência devia ser assombrada.Ora, foi lá que tive a primeira experiência do que sepode chamar de cão fantasma. Nas horas da tarde,durante o verão, em plena luz do dia, algumas vezesdurante vários dias consecutivos e outras vezes com ointercalo de vários meses, eu era amedrontada pelaaparição, muito nítida e natural, de um cãozinhobranco, de raça pomerania, que se manifestava a mimna cabeceira de minha cama. Ele me olhava com aLoca aberta e a língua de fora quando estava ofegantee se comportava como se me visse, tomando a atitudeque teria adotado se tivesse querido saltar para cima deminha cama. Então eu me espantava terrivelmente,embora tendo a intuição de que não se tratavaabsolutamente de um cão em carne e osso. Por vezes,quando o cachorro se mostrava perto da janela, eupercebia os móveis do quarto através do seu corpobranco e me punha a gritar, chamando a minha mãe eexclamando: Leve-o! Suma com ele! Logo que mamãeentrava no quarto, ele a seguia e, quando ela saía, elesaía com ela. Então eu era levada para baixo e, à força

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de carinhos, fazer-me esquecer o medo que haviaexperimentado.

O mais curioso é que, enquanto eu era a única aperceber esse fantasma canino, quatro outras pessoas osentiam.

Na plena luz das manhãs de verão, dois membrosda minha família - duas mulheres - e uma senhora eum senhor que tinham habitado a casa antes de nós,perceberam muitas vezes algo constituído de um corposólido, com as dimensões e peso de um cãozinho, queparecia pular para as camas, do lado dos pés, parapassarem seguida lentamente sobre os seus corpos,chegando assim até os ombros e descer para o chão, dooutro lado. Em tais ocasiões, os percipientes sesentiam como que paralisados e eram incapazes de semover, mas, logo depois, eles pulavam do leito eexaminava minuciosamente o quarto sem nada alidescobrir.

Por razões fáceis de serem compreendidas,abstenho-me de dar o endereço da supracitada casa,mas eu o confiaria ao professor Horace Leaf se estanarração interessar a alguém.

Nada de mais incômodo quando não se podeformular uma teoria capaz de explicar, de modosatisfatório, fatos do gênero de que acabamos de narrare seria talvez melhor passar adiante sem discuti-lo.Caso se pretenda dar uma orientação de qualquermaneira, procedendo pela via de eliminação, dever-se-

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ia dizer que, no caso em questão, não poderia tratar-sede percepção psicometria de acontecimentos passadosporque o detalhe do cãozinho que olhava em face dapercipientes, que se dispunha a pular para cima de suacama, que seguia os passos de pessoas presentes,saindo com elas, assim como 0 outro detalhe dasimpressões táteis experimentadas por uma das quatropessoas, evocando um animal que passaria sobre seuscorpos, indicam uma ação no presente e não umareprodução automática de ações que se desenrolam nopassado como deveria unicamente se produzir no casodas percepções psicometricas.

Pela mesma razão dever-se-ia excluir a hipótese deuma projeção telepática por parte de um morto, vistoque uma projeção dessa natureza provocaria apercepção alucinatória de uma forma de animalplasticamente inerte ou que se deslocariaautomaticamente, mas nunca a de uma forma animalconsciente do meio em que se acha.

Enfim, mesmo a hipótese alucinatória, entendidasegundo o significado patológico deste termo, nãopoderia ser sustentada, considerando-se que quatrooutras pessoas tinham por várias vezes experimentadoimpressões táteis correspondentes às percepçõesvisuais da criança, o que bem demonstra que, naorigem dos fatos, devia haver um agente único quetinha que ser, forçosamente; inteligente e estranho aspercipientes.

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Assim sendo, não restaria a disposição dopesquisador sendo duas hipóteses: primeiramente, atradicional ou popular, segundo a qual as formasanimais, que aparecera nos lugares assombrados,representam o simulacro simbólico de espíritoshumanos de uma categoria baixa e depravada; depois,a graça à qual se supõe que a psique animal sobreviveà morte do corpo e chega algumas vezes a semanifestar aos vivos.

Após ter exposto estas observações para satisfazermeu dever de relator, abstenho-me de toda conclusão,pois que a ausência dos necessários dados não opermite. Limito-me a observar que as duas hipótesesque acabo de mencionar podem ambas explicar osfatos pela intervenção de entidades espirituaisdesencarnadas: no caso da primeira, tratar-se-ia deentidades animal.

Caso XLIII - (Visual, com impressões coletivas) -Tiro-o do Journal oft the S.P.R. (vol. XIII, pp. 52/64).Faz parte de um longo relatório sobre uma casaassombrada na dual apareciam os fantasmas de umamulher vestida de preto, um honrem enforcado numgalho de árvore e um cãozinho, percebidos pornumerosos percipientes. No relatório estão assinaladosquatorze aparições do cãozinho, mas me restrinjo anarrar aqui a primeira delas:

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Preciso chamar a atenção dos leitores para o fato deque, quando o animal roçava os percipientes emalguma parte do corpo, eles experimentavam logo umasensação de queimadura no ponto em que se tinhaexercido a pressão alucinatório-verídica do corpo docão fantasma. A senhora Fletcher escreve a esterespeito o seguinte:

Eis o que conta à senhora Fletcher residia na casaassombra

O cãozinho branco fez a sua primeira aparição nomês de janeiro de 1900. Nunca tardinha, meu maridosaiu da biblioteca, onde estava sozinho, e me disse: Vicãozinho brinco na biblioteca. E eu lhe respondisorrindo: Nada de mais natural, pois nossos dois cãescostumam passar de um aposento para outro, mas meuesposo, sério, acrescentou então: Não estou falandodos seus cães. Enquanto eu escrevia, vi um cãozinhobranco andarem volta da secretária e caminhar para aparta, que se achava fechada. Pensando que fosse aNipper, levantei-me a fim de abrir a porta, aras ocachorrinho havia desaparecido. Depois desseprimeiro incidente, as aparições do cãozinho branco setornaram freqüentes e todos nós as pudemos ver,inclusive os criados, os nossos hóspedes, a srta.Plumtre (da qual se acha junta a narração) e o seuirmão.

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A respeito de minha perna, acima do joelho, que ocão havia roçado ao passar, experimentei, por váriashoras, uma sensação de picada bastante aguda, talcorno a de leve queimadura. Minha filha Eglantine nãose achava presente quando falei sobre isto, entretanto,pouco depois, observou espontaneamente: Mamãe, emlugar de minha perna, onde a nariz do cão me tocou,eu sinto naco sensação de queimadura.

Um pouco mais adiante, observa a senhoraFletcher:

Não cheguei a descobrir nenhum incidente dopassado que tenha relação com a aparição docachorrinho branco exceto que, há trinta anos, eupossuía um fox-terrier de pêlo branco duro, chie forameu grande favorito e absolutamente parecido com oque se manifesta.

Esta última observação da senhora Fletcherdeixaria supor que, neste caso, já se trataria de umprimeiro exemplo de identificação de uma formaanimal, mas esta observação é realmente muito vagapara poder ser tomada em consideração. Não é senãocolocando-o em comparação com casos análogos, quecitarei na oitava categoria, que ele chega a adquirir,indiretamente, certo valor probante. De toda maneira,não se saberia ligar o fato da aparição verídica de umcão morto há alguns anos apenas com as aparições defantasmas de homem e de mulher, a menos que não sequeira inferir desta coincidência que as condições de

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saturação fluídica inerente a um meio assombradotenham tornado possível ao cão se manifestar.

Caso XCIV - (Visual-coletivo, com precedênciados animais sobre o homem) - Destaco-o de um artigojá citado pela senhora Elizabeth dEspérance epublicado em um número de outubro de 1904 daLight. Considerando que o fato examinado é contadopor uma dama estimada, universalmente conhecida nodomínio dos estudos psíquicos e que foi ela mesma aprotagonista do acontecimento, o que faz com que sejauma garantia do que a própria afirma, parece me queesta narração merece séria consideração.

Eis as passagens que reproduzimos estritamente:

A localidade, onde se produziram os fatos, nãoestai afastadas de minha casa e eu mesma fuitestemunha ocular deles. Depois da publicação de meucaso, tive o ensejo de assistir a um fato semelhante.Eis brevemente a sua história:

Em 1896, estabeleci-me definitivamente na minharesidência atual. Conhecia muito bem o lugar, que jáhavia visitado várias vezes, e estava mesmo informadade que ele tinha a fama de ser assombrado, todavia eunão tinha sabido grande coisa a este respeito,sobretudo porque não conhecia quase ninguém nos

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arredores, depois porque não se conhecia a minhalíngua e cu ignorava a do país. Após isto é fácilconceber que as comunicações entre nós deviamnecessariamente ficar limitada, pelo menos durantecerto tempo. O que vi ou acreditei ver não deve entãoser atribuído a um efeito de rumores que eu nãopoderia conhecer.

Nos meus passeios cotidianos, eu tinha o hábito deir a um bosquezinho de que gostava muito por causada sombra fresca da qual ali se gozava no verão eporque também se ficava livre dos ventos do decursodo inverno. Uma estrada publica atravessava-o de umlado a outro. Ora havia freqüentemente observado queos cavalos eram ali tomados de medo e tal coisasempre me intrigara, não sabendo a que atribuir o fato.Em outras ocasiões, quando eu chegava a esse lugarcom o meu par de cães, esses se recusavamdecididamente a entrar no bosque, se arrojavam porterra, metiam os focinhos entre as patas e ficavamsurdos à persuasão bem como as ameaças. Se eu medirigisse para qualquer outra direção, eles me seguiamalegremente, porém, se eu insistisse em querer voltarpara o bosque, me abandonavam e se dirigiam paracasa, presas de uma espécie de pânico. Renovando-seesse fato por várias vezes, decidi-me falar dele a umaamiga, que era proprietária desse lugar. Soube entãoque incidentes iguais se tinham muitas vezesreproduzido no local há anos bem recuados, não

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constantemente, mas a intervalos de tempos, comcavalos ou cães, indiferentemente. Contou-me tambémque essa parte da rota que atravessava o bosque eraolhada pelos lavradores do lugar como um terrenoassombrado devido a um terrível crime que foicometido no começo do século passado.

Um cortejo matrimonial tinha sido atacado por umapaixonado que a esposa repelira e essa foi assassinadaao mesmo tempo em que o marido e o pai. O culpadofugiu, mas foi alcançado, a dois ou três campos dedistância, pelo irmão da esposa, que o matou. Estahistória, muito conhecida, é autêntica. Perto dopequeno bosque (mas não onde os cavalos seespantavam) há três cruzes de pedra que marcam olugar onde os três assassinatos foram cometidos e umaoutra cruz, colocada a três campos de distância,assinala o ponto em que o culpado tombou por suavez. Tudo isto se passou há um século, mas a presençadas cruzes tem servido para conservar na região, alembrança do drama, o que explicaria, portanto, aatitude dos cavalos e dos cães.

Num dia do outono de 1896, eu havia saído comuma amiga para fazer um passeio... Chegamos aobosquezinho no qual entramos pelo lado do oeste,seguindo tranqüilamente o nosso caminho... Fui aprimeira a me voltar e percebi uma vitela de tomvermelho-escuro. Surpresa com a aparição inesperadadesse animal ao meu lado, soltei uma exclamação de

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espanto e ela se abrigou logo no bosque, do outro ladodo caminho. No momento em que penetrava noarvoredo um estranho clarão avermelhado sedesprendeu dos seus grandes olhos e dir-se-ia queprojetavam chamas. Era hora do pôr-do-sol, o que fezcom que eu pensasse que os raios do sol, quedardejavam em linha horizontal, sobre os olhos dobicho, bastassem para explicar o fato, olhos esses quebrilhavam quase como as esquadrias de uma janelaquando eram batidas diretamente pelos raios do sol.

Quando estávamos perto de nossa casa, minhaamiga verificou que havia perdido o cabo de prata desua sombrinha e se dirigiu para um dos jardineiros afim de lhe pedir para um homem procurar o objetoperdido e lhe deu todas as indicações necessárias aolhe indicar exatamente qual o caminho que havíamospercorrido.

O jardineiro lhe disse que, antes do anoitecer, elemesmo iria lá e lhe explicou que os camponeses daregião experimentavam grande mal estar aopenetrarem no bosque, sobretudo à tarde. - E por quê -perguntou a minha amiga. O jardineiro contou entãoque a superstição desses camponeses ignorantes, já tãointoleravelmente estúpidos e irritantes, tinha aindapiorado ultimamente em conseqüência do rumor deque a vitela de olhos reluzentes fora vista no bosque, oque fez com que ninguém se aventurasse a ir lá...Minha amiga e trocamos um olhar, sem contradizer o

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douto jardineiro que foi procurar o objeto perdidoenquanto voltávamos para casa.

Desde então, por algumas outras vezes, a longosintervalos, espalhava-se o rumor de que a vitela deolhos reluzentes fora vista por alguém e o bosque eracada vez mais evitado pelos camponeses, se bem que,depois dessa época, bem poucos dias se passavam semque eu atravessasse o bosque a pé ou a cavalo (salvocertos períodos durante os quais eu devia ausentar-meda casa) e quase sempre com o meu par de cães, enunca mais, até a algumas semanas, me aconteceuencontrar novamente com o animal misterioso.

Era uma jornada sufocante e eu me dirigira para obosque em busca de abrigo contra o sol e areverberação enceguecedora do caminho. Estavaacompanhada de dois copies (cães pastores) e por umpequeno terrier. Chegando ao limite do bosque, os doiscães se agacharam subitamente debaixo do sol e serecusaram a prosseguir caminho, ao mesmo tempo emque exerciam toda a sua arte de persuasão canina paraque eu me dirigisse para outro lado. Vendo que eupersistia em querer prosseguir, acabaram por meacompanhar, porém com visível repugnância. Todavia,alguns instantes após, pareceram se esquecer erecomeçaram a correr para cá e para lá, enquanto eucontinuava tranqüilamente o meu caminho, colhendoamoras. Num certo momento, eu os vi chegar àscarreiras para irem deitar-se, tremendo e gemendo, aos

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meus pés. Simultaneamente, o pequeno terrier saltavasobre os meus joelhos. Eu não conseguia explicaçãopara o evento, quando, de repente, ouvi detraís de mimumas patadas furiosas que se aproximavamrapidamente. Antes que eu tivesse tempo de afastar-me, vi correr, na minha direção, um bando de gamoscheios de pavor e que, na sua desenfreada galopada,fazia tão pouco caso de mim e dos cães que quase mejogaram por terra. Olhei em torno de mim, espantada,para descobrir a causa de tal pânico e percebi urnavitela de cor vermelha carregada. que, voltando sobreos seus passos, se embarafustou pelas partes podadas,enquanto os garros se tinham virado para uma outradireção do bosque. Meus cães que, em outrascircunstancias ordinárias, lhes teriam dado caça, semantinham agachados e trêmulos nos meus pés, aopasso que o cão terrier não queria descer de cima dosmeus joelhos por vários dias esse cãozinho não quismais atravessar o bosque e os collies não se recusavama isso porém ali entravam contra a vontade deles,mostrando visivelmente a sua desconfiança e o seutemor.

O resultado das nossas indagações não tez senãoconfirmar ainda mais as nossas impressões, isto é, quea vitela de cor vermelha escura ou, como se diz naregião, a vitela de olhos reluzentes, não era um animalcomum, vivo e terrestre... Qual relação, porém, podiaexistir entre o fato em questão e a tragédia que se

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desenrolara no bosque é um problema para o qual nãoencontrei nenhuma resposta. Não duvido, portanto, deque as faculdades de intuição e de clarividênciapróprias aos animais deviam ter-lhes feito conhecer aexistência de alguma coisa de anormal ou desupranormal no bosque e que a repugnância pelosFenômenos desta natureza - repugnância que, nohomem, é chamada superstição - era a causaverdadeira de sua estranha atitude.

Se eu tivesse sido a única pessoa a ver o misteriosoanimal é mais do que provável que não teria faladodele, mas foi de outra maneira, isto é, ele foi vistovárias vezes, em circunstâncias diferentes, pornumerosas pessoas da região.

Tal é o muito notável caso narrado pela senhoradEspérance que faz justamente observar que, nessacircunstância, não podia tratar-se de um animal vivo.Observo, por minha vez, que esta íntima hipótese nãoresiste a mais superficial análise dos fatos. É o queparecerá evidente se considera antes que uma vitelaem carne e osso não podia ter existido e aparecer numalocalidade, durante um século inteiro. Depois oscavalos, os cães e os gamos não estão habituados a seespantar diante de uma vitela inofensiva em últimolugar, que, com esta suposição, não se explicaria oterror e o pânico a qual estavam sujeitos tantas vezesos cavalos e os cães, quando, na aparência, não existianada de anormal para o homem.

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SÉTIMA CATEGORIA

MATERIALIZAÇÕES DE ANIMAIS

Apresso-me a declarar que as pesquisasexperimentais sobre as manifestações animais tratadasnesta categoria se acham ainda em condiçõesrudimentares, de modo que esses fenômenos nãopodem ser ainda considerados sob um ponto de vistacientífico e eu me contentarei em apreciar a questãopara que não haja uma aparência de lacuna na minhaobra.

Entre as atas das sessões experimentais de efeitosfísicos, os casos em que se faz alusão amaterializações de formas de animais não são muitoraros. Apenas, como se trata quase sempre demanifestações inesperadas e fugazes, as descrições quedelas nos são fornecidas nunca são bem detalhadaspara que se autorize a considerá-las comocientificamente probantes. Elas poderão, entretanto,adquirir um dia certa importância do ponto de vista dahistória deste ramo especial de fenômenos e isto terá

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lugar quando essas manifestações forem ligadas àciência ao mesmo tempo em que os outros ramos maisevoluídos do mesmo tronco supranormal, podendo-seisto esperar sem se mostrar temerário nas suasprevisões.

Visando à futura história desse novo ramo depesquisas, disponho-me então a relatar alguns fatos dogênero, a simples título anedótico e, por conseqüência,sem lhes atribuir um número de ordem, pois que nãose pode reuni-los, no momento, numa classificaçãocientífica.

*

Se nos reportarmos a meio século atrás nacronologia . das manifestações mediúnicas,encontramos uma primeira alusão às manifestações deanimais numa carta remetida a Light (1907, p. 27) porAlfred Vout Peters, o conhecidíssimo médiumpsicometra, carta à qual, falando sobre uma visão deanimal morto que acabava de ter, acrescenta:

Recordo-me de que, nas sessões com a senhoraComer (a médium, então solteira, Florence Cook),obteve-se a materialização de um macaco com grandeterror do médium, que não esperava semelhantemanifestação.

Acho uma outra alusão análoga, porém um poucomais detalhada, na obra do dr. Paul Gibier, Analyse

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des choses, p. 210, na qual, tratando dos fenômenos dematerialização que se produziam na casa do coronelM., da Escola Politécnica de Paris, observa:

Nas sessões com o coronel M. (1875/ 1877),assistidas por diferentes notabilidades científicas doexército, a médium era a filha adotiva do própriocoronel. Um fenômeno que, sobretudo me despertou aatenção, no decurso de uma série de experiências, eque eu registro para aqueles que estão bem iniciadosnesses estudos, foi a materialização perfeita de umcãozinho, morto, há alguns anos, e que pertencia aocoronel.

Na obra de Gambier Bolton, intitulada Ghosts insolid form (Fantasmas em forma sólida), na qual seacham resumidas as principais manifestações obtidasdurante sete anos de experiências com médiunsprivados, encontram-se algumas materializações deanimais. No decurso de uma sessão a que assistia omarechal-de-campo lord Wolseley, houve amaterialização de uma foca e, numa outra, a de umanimal selvagem da Índia, que tinha sido educado edomesticado por uma senhora presente à reunião. Oanimal, tendo imediatamente reconhecido a sua antigadona, tinha saltado dos joelhos do médium para os dareferida senhora, manifestando a sua alegria por meiode guinchos bem característicos, idênticos aos queemitia quando vivo, em iguais circunstâncias.

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Durante as famosas sessões de materializações quetiveram lugar em Argel em 1905 com a médiumMarthe (a Eva C., da senhora Bisson), na presença doprofessor Charles Richet e de Gabriel Delanne, umaforma animal se materializou. A senhora X. fala delaassim:

O professor Richet não falou senão elasmanifestações que se ligam à figura central de Bien-Boa, mas penso que ele não seja contrario a que eurelate um curioso incidente que se passou na sessão desete de setembro.

A gatinha da casa nos seguira, sem que nós opercebêssemos, à sala das sessões e, quando ocupamosos nossos lugares, saltou sobre os meus joelhos e nãose mexeu mais. Durante cerca de meia hora não houvesenão fracos fenômenos. Em seguida as cortinas dogabinete mediúnico foram abertas por uma mãoenvolvida numa das cortinas, deixando ver o médium,acompanhado da forma materializada de Aischa.Imediatamente a gatinha deixou os meus joelhos parapular sobre os do médium, mas, quando estava lá, asua atenção pareceu fixar-se em alguma coisa existenteno canto do gabinete. Um de nós observou: Queestaria ela vendo. E uma voz respondeu do canto dogabinete: Ela me percebeu. Simultaneamente umaforma envolvida na cortina se encaminhou para agatinha, começou a fazer-lhe carinhos e a brincar comela. O bicho correspondeu a eles alegremente,

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esfregando-se na orla da cortina, mas a deixou logopara virar o seu olhar para o canto B do gabinete,tomando uma atitude de defesa, como se estivesse napresença de uma criatura hostil, e logo empinou odorso e se pôs a bufar e a miar de modoameaçador.Uma voz, do canto B, disse então: Elapercebe um outro gato e, ao mesmo tempo, ouvimos,do mesmo canto, um forte miado fazendo eco ao dagata. Esta saltou dos joelhos do médium para os dasenhora Paulette, um dos membros de nosso grupoexperimental, enquanto ouvíamos provir, por duasvezes, do canto, os miados do gato materializado,depois do que uma massa preta, da dimensão de uri?gato, pulou para cima dos joelhos do médium e alipermanecer durante cerca de dois minutos paradesaparecer em seguida, de uma maneira bastanteespecial, visto que pareceu dissolver-se lentamente.(Light, 1921, p. 594).

No decurso das sessões com a célebre médiumsenhora Wriedt da qual o traço mais característico éconstituído pelos fenômenos de voz direta, obtêm-semuitas vezes materializações de animais que fazemouvir as suas vozes, Limito-me a reproduzir doisexemplos.

Na ata das sessões de Cambridge, Inglaterra, queforam realizadas em 1914, um magistrado dessacidade assim fala delas na Light, 1914, p. 296:

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Durante a primeira sessão realizada emWimbledon, a minha esposa sentiu uma pressãocaracterística sobre um de seus pés, mas não soubeprecisar de que se tratava. Isso se renovou por váriasvezes, dando lugar a diversas suposições por parte dosexperimentadores. De repente, fomos surpreendidoscom o latir de um cão e então perguntamos ao espírito-guia, dr. Sharp, o que nos poderia dizer a respeitodesses latidos e ele nos respondeu: Está aqui um cãofraldiqueiro que pertencia à vossa esposa. Com efeito,vários anos antes havíamos perdido um fraldiqueiro aoqual éramos muito afeiçoados e que já havia sido vistoconosco, em outras sessões, por médiuns clarividentes.Inútil é acrescentar que o médium não podia sabernada disso.

Numa outra sessão com o mesmo médium, sessãocuja ata foi publicada na Light (1921, p. 490), o sr. A.J. Wood diz:

Levei à sessão um dos meus amigos, acompanhadode sua esposa. A senhora Wriedt descreveu, com muitaprecisão, um cão da raça copie que ela percebia aolado desses meus amigos. Num dado momento,dirigindo-se à esposa, o médium disse: Ele pousou acabeça em cima dos vossos joelhos. No mesmoinstante, ouvimos partir desse canto um latido forte ealegre. Ora, com efeito, os meus amigos haviampossuído um cão collìe, grande favorito deles, que

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morrera vários anos antes e cuja descriçãocorrespondia exatamente à feita pelo médium.

Cito, em último lugar, alguns extratos das atas dassessões com o médium polonês Frank Kluski,publicadas na Revue Metapsíquica, de onde sobressaique se acha verossimilmente em face de uma primeiracontribuição experimental séria em favor damaterialização de animais.

Já no fascículo de julho/agosto de 1921 (p. 201) dasupracitada revista, o doutor Gustave Geley, queassistiu às sessões, anunciara a publicação iminentedas atas a respeito do extraordinário fenômeno dasmaterializações de animais, nos seguintes termos:

As materializações de formas animais não são rarascom Kluski. Nas atas das sessões realizadas naSociedade de Estudos Psíquicos de Varsóvia, quepublicaremos em breve, veremos assinalados,especialmente, uma grande ave de rapina, aparecidaem várias sessões e fotografada; e depois um serbizarro, uma espécie de intermediário entre o macaco eo homem. Ele é descrito como tendo a altura de umhomem e uma face simiesca, mas com uma frontedesenvolvida e reta, cara e corpo coberto de pêlos,braços bem compridos, mãos grossas e compridas, etc.Mostra-se sempre mudo, pega as mãos dos assistentese as lambe, como o faria um cachorro.

Ora, esse ser, que havíamos chamado de OPitecantropo, se manifestou várias vezes durante as

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nossas sessões. Um de nós, na sessão de vinte denovembro de 1920, sentiu a sua grande cabeça peludase apoiar pesadamente sobre o seu ombro direito econtra as suas faces. Essa cabeça era ornada de cabelosduros e desagradáveis. Um odor de bicho, de cãomolhado, se desprendia dele. Um dos assistentes,tendo então estendido uma das mãos, o Pitecantropo asegurou e depois a lambeu demoradamente por trêsvezes. Sua língua era longa e macia.

Em outras vezes, sentimos, junto de nossas pernas,contatos lembrando o roçar dos cães.

O relatório das sessões, às quais ele fez alusão noparágrafo acima, foi publicado no número deJaneiro/Fevereiro de 1923, pp. 27/39, da RevueMétapsychique. Extraio da ata da sessão de trinta deagosto de 1919 a seguinte passagem:

Vimos, simultaneamente, várias aparições. Aprimeira, que se fez ver bem, foi uma aparição que jáera conhecida dos assistentes pelas sessões anteriores.Era um ser da altura de um homem adulto,grandemente peludo, com enorme cabeleira e barbaemaranhada. Estava vestido como que numa pelegrosseira e sua aparência era a de um ser lembrandoum animal ou um homem muito primitivo. Não falava,e sim, emitia sons roucos com os seus beiços, estalavaa língua e rangia os dentes, procurando em vão fazer-se entender. Quando foi chamado, aproximou-se edeixou acariciar a sua peluda capa, e tocava as mãos

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dos assistentes e as apertava muito suavemente comgarras em vez de mãos. Obedecia à voz do médium enão fazia nada de mal aos assistentes ao tocá-lossuavemente. Já era um progresso porque, nas sessõesanteriores, esse estranho ser manifestava grandeviolência e brutalidade. Tinha visível tendência evontade tenaz em lamber as mãos e as faces dosassistentes, que se defendiam dessas carícias tãodesagradáveis. Obedecia a cada ordem dada pelomédium, não apenas quando essa ordem era expressapela palavra, mas também quando expressa pelopensamento.

Extraio esta outra passagem da ata da sessão de 3de setembro de 1919. Escreve o relator:

Simultaneamente o médium e as pessoas sentadasem torno dele sentiram a presença do animal-homemprimitivo, como durante as sessões anteriores. Essamaterialização fez a volta aos assistentes, lambendo-lhes as mãos e as faces, sobre as quais passeava suanão ou pata peluda, ou apoiava a sua cabeça hirsuta.Todos esses gestos foram lentos e não bruscos. Essaentidade só mostrava certa animosidade contra agatinha da senhora Kluska, de nome Frusia, que sedeitara sobre os joelhos da senhora Grzelak. Amaterialização puxou os pêlos e as orelhas da gatinha,que começou a se afligir e a miar. Finalmente, muitoespantada, a gatinha pulou dos joelhos da senhora

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Grzelak e foi se refugiarem cima do sofá, entre aspessoas que ali se achavam, e não se mexeu mais.

A sessão foi suspensa por algum tempo e, quandoreiniciada, o homem primitivo se materializounovamente: A ata continua assim:

Desde o começo vimos várias aparições entre asquais a do `homem primitivo. Este ficou todo o temposentado no assoalho, em cima do tapete, entre osassistentes, mantendo-se relativamente tranqüilo, masnão permitiu que fosse iluminado com as lanternas earrancou mesmo a que era segura pela senhora Kluska.

As atas em questão contêm três outros episódios dematerialização do mesmo fantasma do homemprimitivo e eu não as reproduzo considerando que sãoanálogas às anteriores.

No que diz respeito às materializações da grandeave de rapina, não acho nessas atas senão uma únicaalusão a um dos fatos, isto é, na sessão de 7 desetembro. O relator escreve assim:

Às onze horas e vinte minutos vimos um grandepássaro (como a águia ou o abutre da sessão n° 1),bem materializado e bem iluminado, acima da cabeçada senhora Jankowska. Ouvimos também estalos eruídos de passos.

Faço observar a propósito que, na Revue Spirite(janeiro/fevereiro de 1923), foi estampada umabelíssima fotografia da ave de rapina de que falo e quefoi vista encarapitada sobre o ombro esquerdo do

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médium, com suas grandes asas abertas e o olharpenetrante dirigido para os experimentadores.

Tais são as manifestações, todas recentes, dematerializações de animais, materializações que serevestem de uma importância ao mesmo tempocientífica e metapsíquica e a circunstancia de ser ogrande pássaro de rapina fotografado é de grande valorteórico decisivo, pois que basta para eliminar ahipótese alucinatória. E que esperanças de uma futuraciência antropológico-supranormal não permite essaaparição materializada de um ser apresentando todosos traços característicos de um dos nossos longínquosancestrais, laço de conjunção entre o homem e osmacacos antropóides, confirmando as induções denaturalistas sobre a existência do PithecantropusAlalus? O assunto é, sem dúvida, bem apaixonaste esugere muito naturalmente amplas considerações sobrea filogênese humana, mas não devemos nos aventuraraqui em questões prematuras.

Do conjunto dos casos citados até aqui, pôde-sededuzir, em suma, que os episódios dasmaterializações animais tomam muitas vezes o aspectode provas de identificação espírita para a raça animal,provas análogas às das de identificação espírita para ogênero humano. Decorre daí que, se este novo ramo depesquisas pode evoluir, ele contribuirá, com os outros,para demonstrar, espiritualmente, a existência e asobrevivência da psique animal.;

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Prevejo a objeção que se poderá fazer-me arespeito: a de que os fenômenos de materializaçãohumana, tanto como os fenômenos de materializaçãoanimal, são explicáveis pela hipótese ideoplásticas semque se precise recorrer à hipótese espírita. Respondoque, se a hipótese ideoplásticas é suficiente paraconsiderar certas modalidades rudimentares dematerializações humanas e animais, se ela éverdadeiramente a causa desses fenômenos, seria, aocontrário, absurdo e insustentável estender-se estaexplicação à classe inteira dos fenômenosconsiderados. A este respeito nunca será bastanterepetir que animismo e espiritismo são dois termosinseparáveis de um mesmo problema e que, porconseqüência, nas manifestações mediúnicas de todasas espécies, achar-se-á forçosamente em face demodos de manifestações que são, em parte, anímicas e,em parte, `espíritas. E não poderia ser de outro modo eseria mesmo absurdo pretender-se o contrário,considerando-se que, em ambos os casos, o espíritoque opera é o mesmo, com diferença todavia de que,em um caso, ele se acha em condição de encarnado e,no outro, de desencarnado. Nada mais natural, então,que esta combinação inseparável das duas ordens demanifestações se realize também nos casos defenômenos de materialização, para os quais,entretanto, é relativamente fácil distinguir entre osfenômenos anímicos e espíritas. Com efeito, assim

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como já observei em uma outra de minhas obras, ocaso do espírito de Katie King, que conta aos filhos deWilliam Crookes a sua vida terrena; o de EstepeLivermore, que escreve ao seu marido longas cartasem francês, língua ignorada pela médium; o outro deNepenthes, da senhora dEspérance, que afirma tervivido nos tempos históricos da Grécia antiga e queescreveu uma mensagem de sete linhas em gregoantigo, língua ignorada por todos os assistentes, estescasos não poderão nunca ser explicados pela hipóteseideoplásticas e deverão ser considerados como sendoincontestavelmente espíritas. Pode-se dizer outro tantodo caso Sven Stromberg-dEspérance, no qual, umobscuro pastor sueco, emigrado e falecido no Canadá,numa região perdida no campo, se manifesta pelaescrita automática sessenta horas depois do seudesencarne, materializa-se em seguida, é fotografadopelo professor Bloutlerof na presença de AlexandreAksakof e outros eminentes experimentadores, depoisdo que a fotografia é enviada à Suécia, pequeno paísnatal de Sven Stromberg, de acordo com o endereçodado pelo próprio espírito e lá ela é identificada pornumerosos patrícios do morto (Light, 1905, pp. 43/45),e Shadowland (No país das sombras), pela senhoradEspérance.

É evidente que, nos casos análogos a este último, ahipótese ideoplásticas fica excluída ao se considerarque o poder criador do pensamento do médium não

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podia certamente materializar os traços de um mortoque ele não conhecia e que os próprios assistentesdesconheciam. Daí a inferência inevitável de que, seum morto, ignorado de todos os assistentes, chega a sematerializar, a coisa não pode ser explicada senãosupondo-se que ele se acha presente e que age. Essainferência não pode ser discutida e, corno não háhipótese racional a lhe opor, ela se reveste de um valorde prova decisiva.

Apenas, como se tratam, em nosso caso, dematerializações animais, vemos surgir, a este respeito,uma importante dúvida teórica. Pode-se observar, comefeito, que as materializações autênticas de espíritoshumanos desencarnados podem ser, até um certoponto, compreensíveis pelo fato de que nós podemoscontrolar- as afirmações das personalidadesmediúnicas segundo as quais as materializações seproduziram graças a um ato da vontade da entidadeque se manifesta. E nós podemos controlar essasafirmativas comparando os fenômenos dematerialização com certas manifestações teratológicasdo desenvolvimento orgânico tais como os sinaismaternos e as `cicatrizes que se pode comparar a umfenômeno de ideaplastia subconsciente e, porconseguinte, a um ensaio rudimentar terrestre do podercriador da idéia.

Essas manifestações anormais tornam entãoverossímil o fato de que o processo materializante tem

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lugar por força de um ato de vontade da entidademanifestante, mas não se saberia considerarmaterializações de animais para as quais, na falta defaculdades de raciocínio bastante evoluídas, o ato devontade necessário não seria possível.

O assunto é teoricamente interessante. Antes dediscuti-lo segundo a minha maneira de abordar ascoisas, reproduzo aqui a opinião de uma pessoaprofundamente versada nos estudos metapsíquicos,pessoa com a qual troquei algumas cartas a esterespeito. Escreve ela:

Não se deveria, perguntar se as faculdadessubliminais dos animais - de alguns, sobretudo - nãoseriam infinitamente superiores às que se manifestamdurante a vida encarnada, no decurso da qual umanimal é colocado numa posição quase sempre inferior(por força da estrutura rudimentar de seu organismocerebral) à alma de um homem, o que reduzmomentaneamente, ou definitivamente, sua condição?Por que um cão morto deveria achar mais dificuldadeem se materializar como um cão vivo e não ser agentede um fenômeno telepático? Os dois fenômenospodem provavelmente efetuar-se automaticamenteassim como a ostra constrói automaticamente a suaconcha; a aranha, a sua teia; a abelha, o seu casulo e omel, etc. E isto, bem entendido, sem mesmo entrar naquestão obscura da inteligência, sobretudo matemática,que executam os animais quando nos dão uma

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comunicação automática (cavalos de Elberfeld, cães deManheim, etc.). Prefiro não levantar esta questãojustamente porque ignoro qual seja o papel que podedesempenhar, em tudo isto, a colaboração inconscientedo homem. Nossos médiuns sabem até então comoproduzem os seus fenômenos supranormais não-espíritas e, por exemplo, as materializações puramenteideoplásticas?

Tais são as argumentações racionais e convincentessugeridas ao meu correspondente pela dificuldadeteórica em questão. Não posso senão observar,todavia, que o seu ponto de vista depende do fato deadmitir que a mente subliminal dos animais seja demuito superior à que se manifesta na sua vidaencarnada, a ponto de que a sua personalidadeespiritual possa ter a vontade de se materializar,vontade indispensável numa semelhante circunstância.

Para aqueles que não se sentiriam em condição deconceder à subconsciência animal uma vontade e umainteligência quase humanas, eu farei apreciar que sepoderia resolver o enigma de uma outra maneira, istoé, acolhendo as explicações que fornecem a esterespeito às personalidades mediúnicas que secomunicam e que afirmam que uma entidadedesencarnada tanto humana como animal, nãopodendo chegar sozinha a se tornar tangível, ao sematerializar, deve ter obtido o concurso de numerososespíritos auxiliares

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OITAVA CATEGORIA

VISÃO E IDENTIFICAÇÃO DE FANTASMASDE ANIMAIS MORTOS

A categoria das percepções de fantasmas animais éricamente cheia de episódios variados, mas, sepropuser encará-los sob o ponto de vista rigorosamentecientífico, é-se levado a concluir daí que os doisprimeiros grupos são os mais abundantes em casos. Oprimeiro trata de visões de fantasmas de animais quenão foram identificados com outros animais queviveram ou morreram recentemente nos arredores,visões que se pode muito facilmente explicar pelahipótese alucinatória, embora haja exemplos nos quaisos fantasmas animais foram percebidos coletiva esucessivamente por diferentes pessoas. O outro grupode fantasmas animais a se excluir é o das visualizaçõesque, na maior parte, são devidas a um fenômeno declarividência telepática, isto é, à leitura do pensamento

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na subconsciência do consultante, e isso emconseqüência da relação que se estabelece entre asubconsciência do sensitivo e a do consultante. É oque se produz, sob uma outra forma, no caso depsicometria no qual o objeto apresentado ao sensitivoserve para estabelecer a `relação entre asubconsciência deste último e a do proprietário doobjeto, o que faz com que, diante da visão subjetiva dosensitivo, surjam imagens representando fatos eacontecimentos relacionados com o dono do objeto emquestão e que constituem a representação mais oumenos simbólica dos informes colhidos pelo sensitivoda subconsciência do consulente. Segue-se daí que asvisões de animais mortos, quando elas se verificam emcondições que permitam atribuí-las à clarividênciatelepática, não podem se revestir de um valor de provade identificação animal, a menos que haja algumacircunstância secundária de natureza a corroborar estaúltima interpretação, circunstância que se produzbastas vezes nas consultas de que se trata. Então nãopode ser mais questão de clarividência telepáticapropriamente dita e sim de clarividência-telepática.Este cruzar de manifestações semelhantes, com umafonte diferente, contribui para mostrar o bomfundamento e a importância da lei metapsíquica a quefizemos alusão anteriormente, lei segundo a qual todasas formas de vidência e de mediunidade podem seralternativamente anímicas e espíritas e isto em

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conseqüência do fato essencial de que todamanifestação supranormal, que se produz porintermédio de um espírito desencarnado, podeigualmente se produzir por intermédio de um espíritoencarnado, quando este se acha em condiçõestransitórias de desencarnação parcial do espírito, isto é,em condições leves ou profundas do sono fisiológico,sonambúlico, mediúnico ou por causa de uma crise degrave enfermidade, de síncope ou êxtase. Resulta daíque, em todas as formas de manifestaçõessupranormais, são as circunstâncias em que os fatos seproduzem que devem pôr-nos no rasto das causaspelas quais são eles engendrados e não, as diferentesformas de vidência ou mediunidade graças às quaisforam obtidos, pois estas são todas equivalentes, já quesão todas suscetíveis de serem espíritas ou anímicas.

Chego agora à exposição dos casos recolhidos,começando por um episódio explicável pelaclarividência telepática para citar, em seguida, casossempre menos suscetíveis desta interpretação atéchegar a exemplos para os quais ela deve serabsolutamente excluída.

Caso CXVII - (Mediunidade vidente) - O sr. PaulG. Leymarie, pai, que foi diretor da Revue Spirite,publicou em 1900 o seguinte fato:

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No mês de janeiro de 1887, a senhora Bosc, viúvado eminente engenheiro, estava sentada perto dachaminé do nosso apartamento no número sete da ruade Lille, em Paris, quando o conde Levofl, presidenteda Alta Corte de Moscou, chegando da Rússia, nos feza primeira visita. Nós o havíamos apresentado àsenhora Bosc e, enquanto eu escrevia, elesconversavam um com o outro. Em um dado momento,a senhora Bosc disse: Percebo ao vosso lado um cãoque parece ser muito ligado a vós. É um grande terra-nova branco, com as patas e as orelhas pretas e umaestrela preta na testa. Tem em torno do pescoço umacoleira de prata, fechada por uma pequena cadeia, coma inscrição Serge Levolf e o nome do cão (que avidente citou, mas o senhor Leymarie se esqueceu).Possui uma linda cauda comprida e vos acaricia,olhando para vós.

A estas palavras os olhos do senhor Levofl seencheram de lágrimas e ele contou:

Na minha infância eu era ágil e destro e meus paisme confiaram a guarda de meu cão, que foiexatamente descrito. Ele me salvou a vida por mais deuma vez, tirando-me das águas do rio em que estava aponto de afogar-me. Tinha doze anos quando perdi ofiel amigo e chorei como se perdesse um irmão. Ficofeliz ao saber que ele está perto de mim, com a certezade que esses companheiros de nossas vidas tenham

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uma alma inteligente que sobrevive à morte do corpo eum perispírito graças ao qual podem reconstituir osseus corpos, com a coleira e a sua inscrição ainda.Posso, além disso, reconhecer na senhora um médiumde grande poder, que despertou em mim recordaçõesde há quarenta anos. Obrigado, madame, e que Deus aabençoe.

A senhora Bosc viu ainda o cão fazer grandesmanifestações de alegria e depois desaparecer pouco apouco. Ora, nós não esperávamos o conde Levoff, quea senhora via pela primeira vez, e nenhuma relaçãonunca existiu entre nós. Da minha parte, eu não sabiaque o nome próprio do conde era Serge.

É assim que se produzem as manifestações daclarividência telepática nas suas mais simples e típicasformas que é preciso convir que, se nãoconhecêssemos exemplos de leitura nassubconsciências dos outros, obtidas no sonambulismomagnético, e não menos circunstanciais ouimpressionantes, assim como um grande número deexemplos mais maravilhosos ainda, obtidos pelapsicometria, seríamos levados a atribuir um valorobjetivo aos fatos análogos ao que acabamos de expor,mis qualquer pessoa, cujo espírito tiver garbocientífico, não se deixará enganar pelas aparências econcluirá observando que, na ausência decircunstâncias colaterais contribuindo para provar aorigem extrínseca da visão da senhora Bosc,

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precisamos encará-lo como tendo sido produzido porum fenômeno de leitura subconsciente do pensamento.Não contesto, de modo algum, o que pode ter demisterioso no fato de uma clarividência que extrai, nasubconsciência de um outro, um incidente acontecidoa quarenta anos antes, de preferência a tantos outrosmuito recentes e que, por causa de suas datas recentes,deveriam ser mais perceptíveis para as faculdadessupranormais. Sim, certamente, o fato apresenta algode inconcebível e contraditório e, no entanto, ele serealiza incontestavelmente nos casos de clarividênciatelepática. Só nos resta então acolher esta interpretaçãodos fatos, resignando-nos à nossa ignorância. Aliás,uma solução satisfatória do mistério poderia serobtida, supondo-se que, no caso que examinamos, oassunto da conversa tenha levado, à memória dosenhor Levoff, o terno episódio de sua infância,fazendo-o assim `atual para as faculdades penetrantesda clarividência telepática.

Caso GXVIII - (Criança vidente em tenra idade) -A Light publicou-o no ano de 1906, p. 387. O senhorFrancis T. Harris fala do desencarne de um dos seusfilhos na idade de sete anos apenas. Ele nasceu de paissaudáveis e robustos e era assim também, semqualquer tara neuropática e, entretanto, mostrara,

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desde os seus primeiros anos, suas disposições para aclarividência. Conta o sr. Harris:

Desde o primeiro período de sua vida, seus paistinham observado que ele via coisas que não existiampara os outros, particularidade que tinha sido muitasvezes discutida pelos seus familiares. Antes mesmoque tivesse aprendido a falar, parecia muitas vezesespantado com alguma coisa de invisível. Em outroscasos, porém, parecia, ao contrário, muito alegre como que percebia e estendia os seus bracinhos para umser que não existia senão para ele somente.

Não havia ainda feito três anos e se divertia certodia com os seus bonequinhos, no quarto de dormir, adois pés de distância de seus pais, quando foi tomadode um grande medo e correu, gritando, para a sua mãe.Como ela o interrogasse, respondeu que se tinhaespantado à vista de dois cães, sendo um ruço e ooutro preto. Seu pai tomou-o nos braços e esforçou-sepor distraí-lo e acalmá-lo, dizendo-lhe que os doisanimais vieram brincar com ele.

Alguns dias depois se deram o mesmo incidente nomesmo aposento e nas mesmas circunstâncias e acriancinha correram para o pai, mais espantada do quenunca, à vista dos dois cães, e se refugiou nos braçospaternos. Este buscou tranqüilizá-la dizendo-lhe que osdois cãezinhos não lhe fariam nenhum mal e, dizendo

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isto os chamava assobiando, depois estalando os dedose acariciando o ar perto deles. Isto levou o bebê a fazeroutro tanto e o seu espanto não teve limites quando viuque não conseguia apalpá-los. Tudo isto, porém, teve ofeliz resultado de lazer desaparecer o seu medo, eembora lhe acontecesse ver ainda os cãezinhos pormuitas vezes, ele não se assustava mais.

Ora, é preciso notar que o pai da criancinha videntepossuía dois cães setters, um ruço e o outro preto, quehaviam morrido três anos antes.

A relação entre os fantasmas caninos aparecidos aobebê e os cães de cores idênticas, que o pai delepossuíra, não me parece duvidosa. Ao contrário, não sepoderia excluir absolutamente a hipótese de leitura nopensamento paterno por parte da criancinha, porémessa hipótese não parecerá muito verossímil se pensarque ela se mostrara vidente desde o seu nascimento,que tinha, ao mesmo tempo, visões de naturezadiferente, que não se poderia atribuir à leitura dopensamento e que os fantasmas dos cães lhe apareciamfreqüentemente a ponto de se tornarem familiares. Estaúltima circunstância é dificilmente conciliável com ahipótese de transmissão do pensamento materno oupaterno que se deveria orientar para os cães mortoscada vez que a criancinha os visse. De qualquer modo,a gênese deste caso permanece duvidosa.

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Caso CXIX - (Visual) - Na obra do sr. Arthur Hillintitulada (O homem é um espírito), p. 117, lê-se aseguinte narração remetida ao autor pela percipientes,senhora Janet Holt:

Meu marido levou, certo dia, para a nossa casa, umgrande cachorro buldogue e disse que esse animal lhefaria ganhar dinheiro, apresentando-o como campeãonas lutas entre os cães buldogues. Era Charles o nomedesse bom e carinhoso animal de que não tardei emgostar muito. Saiu vitorioso em vários combates,porém uma vez foi derrotado e meu esposo, aborrecidocom a derrota, o agarrou e atirou no rio.

Alguns anos depois, quando quase me haviaesquecido do pobre do Charles, fui acordada certanoite, de sobressalto, como se alguém me tivessesacudido para tal fim e me vi cercada de estranhaluminosidade. Sentei-me na cama e, com vivo espantomeu, percebi Charles sentado ao meu lado. Parecia emproporções normais, absolutamente igual ao que eraem vida. Olhou-me com insistência durante algumtempo, depois do que, desapareceu lentamente. Namanhã do dia seguinte, meu marido foi preso. TalvezCharles tivesse se manifestado a título premonitório.(Meu marido era um tratante e eu me separei dele para

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sempre). Encontra-se presentemente na América doNorte.

Quão estranha e surpreendente é esta história deum cão cruel e injustamente morto por um mau dono eque se manifesta à mulher dele justamente na vésperade sua prisão, isto é, no momento em que ele iria pagarparte dos seus delitos. Todavia, e justamente por causadesta coincidência, se o episódio não pode serexplicado pela clarividência telepática, ele pode serencarado sob um outro ponto de vista que é o dasobrevivência da psique animal. Com efeito, pareceque se pode reduzi-lo a um episódio de visãosimbólico premonitória e, neste caso, a aparição dofantasma do animal, sacrificado por aquele que se iriaprender, não seria de natureza objetiva, masconstituiria um símbolo transmitido telepaticamentepor uma entidade espiritual humana, unida por laçosafetivos a percipientes.

Uma variação desta mesma explicação consistiriaem supor que a entidade espiritual em apreço estaria,ao contrário, disposta a ajudar o espírito do cão a semanifestar objetivamente a percipientes, sempre atítulo simbólico-premonitório e, neste caso agora, ofantasma do cão conservaria a sua identidadeespiritual.

Como quer que seja, e qual que seja a explicaçãoque se prefira dar ao problema, certo é que o fatosupracitado não apresenta teoricamente nenhuma base

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suficiente para permitir que nos pronunciemossolidamente a respeito de sua origem.

Casos CXX e CXXI - (Visual-auditivo-coletivo) -O conde de Tromelin, pessoa conhecida no meio daspesquisas metapsíquicas, autor de duas obras sobreestas questões, comunicou a Revue Spiritusme (1913,p. 40), os dois seguintes casos que lhe dizem respeito:

Até o mês de março deste ano de 1913, eu possuíauma bela cadela chamada Flore, da qual nasceu umfilhote de nome Radium, parecido com a mãe, porémtinha esta, além do mais, uma estrela branca na testa.Fora isto, o pêlo de ambos era completamenteamarelo.

A 25 de março, um automóvel passou sobre ocorpo de Flore, que me foi levada, agonizante, à vila,mas, apesar de nossos desvelados cuidados, o pobreanimal não tardou a morrer, com grande pesar nosso.Seu filho Radium ficou sozinho na vila. Eis o curiosoincidente a que tive ocasião de assistir no outro dia.

Há, diante de minha pequena mansão, um grandeterraço no meio do qual está uma mesa de mármore e,à direita, na entrada, o nicho de Radium. No dia três deabril, às 11 horas da manhã, estava sentado a essamesa, conversando com a senhora Meille. Achava-me

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colocado de forma que tinha diante de mim o nicho deRadium, cujas patas amarelas saíam da abertura, e asenhora Meille, de costas voltadas para o mesmo,olhando para o lado esquerdo do terraço. Conversamosdurante cinco minutos sobre indiferentes coisasquando vi a senhora Meille virar-se um instante paraolhar o nicho de Radium e, em seguida, exclamar: Quecoisa extraordinária! É bem Flore, no momento emque Radium está no seu nicho.

Pedi uma explicação para estas palavras,observando: Sim, Radium está no seu nicho, mas ondeé que você vê Flore

A senhora Meille estendeu um braço, indicando olugar, e precisando o fato com estas palavras queescrevi: Enquanto conversávamos, observava um cãodeitado no lado esquerdo do terraço. Lá (e ela apontoucom o dedo), eu supunha ser Radium, não imaginandocertamente ter diante de mim a pobre da Flore, quesabia estar morta. Entretanto, Radium era de tal modoparecido com Flore que eu pensei: `Se eu não soubesseque Flore morreu, juraria que o cão que me olha érealmente Flore. Com efeito, a ilusão era completaporque o animal me olhava com a expressão tão boa,meiga, melancólica, de Flore, e tinha na testa a suaestrela branca, mas eu estava muito longe de pensarseriamente em Flore ressuscitada, pois pensava que aestrela branca que eu via era um efeito de luz. Eu meperguntava, além disso, como Radium, que tinha o

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hábito de deitar-se sempre ao sol, estava, desta vez,deitado na sombra. Eis, porém, que, enquanto refletiaassim, ouvi detrás de mira o ruído característico de umcão que se agacha no seu nicho. Foi então que me vireium instante para olhar, para voltar imediatamente omeu olhar para o outro cão que estava diante de mimhá cinco minutos, mas ele havia desaparecido no breveintervalo de tempo em que me voltara dai a minhaexclamação de espanto. Tive a prova de que esse cão,que me olhava, deitado na sombra, diante de mira, eque se assemelhava muito a Flore, era realmente Floreressuscitada, voltada um instante para nós.

Tal foi à narração da senhora Meille e é bemprovável que se eu me virasse no momento em queFlore era visível para ela, eu a teria percebido também.Em todo o caso, parece-me que as circunstâncias nasquais os fatos se passaram sejam de natureza a fazerconsiderar do mesmo modo como autêntica e certa aaparição de Flore.

Este fato não é isolado. Eu possuía uma outracadela fox-terrier, chamada Flore como a precedente,morta envenenada, depois de longos sofrimentos, porum mal vizinho. Aqueles que me conhecem sabemque, quando me deito, à noite, tenho visões e percebofantasmas de toda sorte, que desfilam diante ele mim.Isto acontece quando estou completamente acordado ede posse de minha consciência normal.

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Ora, na manhã da morte da outra Flore, ela meapareceu subitamente: era indubitavelmente ela,todavia, nessa primeira visco, esforçou-se, em vão, porse levantar sobre as patas.

De manhã, com outras visões, Flore me apareceupela segunda vez e conseguia manter-se sobre as pataspara desaparecer logo em seguida. No terceiro dia, amesma aparição se repetiu. Desta vez alegre e sã. Deualguns saltos de alegria e desapareceu. Em seguida nãoa vi mais, ruas, algum tempo depois, em certa noite,ela se manifestou bem ruidosamente, fazendo-se ouvirem uma diversão toda especial de que gostava muito eque era então muito indicada para se fazer reconhecer.O traço característico mais saliente de Flore era a suapaixão de brincar com seixos que nós lhe lançávamose que ela nos devolvia, para em seguida fazermos rolarruidosamente pelo terraço e outros lugares. Ora, foi oruído produzido por esse jogo de pedras, rolando nochão do terraço, que percebemos nitidamente certa veza ponto de que seríamos capazes de jurar que Floreestava lá a se divertir em rolar os seixos se nãosoubéssemos que a cadela havia morrido há seismeses.

Concluo daí que, provavelmente, os animaisdomésticos que amamos sobrevivem à morte do corpoe que nós voltaremos a vê-los um dia no mundoespiritual, no qual acredito firmemente.

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Tais são as conclusões do conde de Tromelin. Nosegundo dos episódios citados, as visões subjetivas donarrador não se revestem por si mesmas de nenhumvalor probante, porque recordam muito de perto a bemconhecida classe das alucinações hipnagógicas ehipnopômpicas, mas é inteiramente diferente para ooutro fenômeno auditivo subjetivo do ruídocaracterístico imitando pedras rolando no terraço, deacordo com o jogo favorito da cadelinha morta. Essamanifestação supranormal corresponde a outrosfenômenos análogos de origem humana, nos casos detelepatia entre vivos ou entre vivos e mortos. Quandoessas manifestações se realizam entre vivos e mortos,elas constituem uma boa prova em favor daidentificação pessoal do morto que elas caracterizam, eisto em virtude da contraprova de que, quando essesmesmos fenômenos de audição telepática se produzementre vivos, verifica-se que eles são verídicos nosentido de que correspondem a uma ação real ou auma ideação autêntica do agente. Se assim é para asmanifestações humanas, não se poderia repelir amesma conclusão para as manifestações animais,quando estas se acham em perfeita relação com asidiossincrasias que caracterizam o animal, quandovivo. Sem dúvida, do ponto de vista rigorosamentecientífico, uma prova isolada desta natureza nãopoderia bastar para legitimar uma conclusão definitivafavorável à identificação pessoal do morto, no entanto

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ela é considerada como uma boa prova auxiliarconvergente para esta demonstração. Isto járepresentaria uma concessão de valorem nosso pontode vista da identificação animal.

Caso CXXII - (Visual-auditivo) - A revista espíritaLight (Luz) publicou em 1921, p. 594, a seguintecomunicação do sr. Ernest W. Duxbury:

O problema da sobrevivência da psique animal nãopode ser cientificamente resolvido senão se reunindoum numero suficiente de fatos bem verificados queforneçam a prova dessa sobrevivência. As discussõesfilosóficas não mudam nada as coisas.

O incidente que relato é de data recente e eu só medecido a publicá-lo porque estou bem certo de suaautenticidade, quaisquer que sejam as conclusões quese possam tirar dele. Aconteceu com uma dama dasminhas amizades e dotada de faculdades mediúnicas,embora nunca se tenha preocupado em desenvolver.Acrescento que conheço pessoalmente ascircunstâncias que levaram a referida senhora ao meioem que o fato aconteceu. A narração que reproduzo foiescrita e assinada pela mesma, cujo nome só possoindicar pelas iniciais N. Y. Z. Eis o que ela escreveu:

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Tendo chegado subitamente do estrangeiro, tivenecessidade de alugar um quarto mobiliado numavelha casa de Londres e não tardei em me aperceber deque estava infestado de ratos que ali produziam,durante a noite ruídos de todas as espécies, correndopelo assoalho e lançando gritos estridentes. Para meproteger desses hóspedes tão indesejáveis, arranjeiemprestada uma bela gata que me pareceu logo felizem se achar na minha companhia. Gosto muito da raçafelina e a dita gata correspondia bem à minha afeição;dormia na minha cama e colocava as suas patasdianteiras em torno do meu pescoço, roncando tãoforte que me impedia de dormir. Infelizmente a gataficou doente e, em um certo dia, entrando no meuaposento, às dez horas, encontrei-a morta, para grandee dolorosa surpresa minha.

Nessa mesma noite, os ratos recomeçaram os seusdivertimentos e eu resolvi acender o gás e me pôr a ler,não ousando dormir com tal companhia, mas odepósito do contador do gás estava quase esgotado e àstrês horas a chama se extinguiu. Acendi então alamparina e me meti debaixo das cobertas, porque apresença dos pequenos roedores me causavaaborrecimento e medo. De repente, ouvi a gata roncarruidosamente. Escutei durante cerca de um minuto,depois do que resolvi levantar a cabeça e olhar paraentão observar um estranho fato: vi, diante da paredeaderente a um lado da cama, ao nível de minha cabeça,

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uma espécie de disco opaco, do diâmetro de uma gatabranca e preta, absolutamente igual à que acabara demorrer. Olhou-me, fazendo várias vezes ummovimento de cabeça da maneira característica da gatamorta, em seguida o seu corpo se tornou transparentedurante alguns segundos para logo tomar uma formaopaca mais consistente do que a anterior e então vi agata olhar para o alto como se lá houvesse alguém. Aaparição era tão real que eu dirigi a palavra à gatacomo se ela estivesse viva, mas, repentinamente,desapareceu. Em seu todo, o fenômeno foi de curtaduração, porém, durante a noite inteira, não fui maisincomodada pelos ratos, embora não conseguissedormir, senão a longos intervalos.

Não havia nenhuma possibilidade de outro gatoentrar no meu quarto, porque a porta e as janelasestavam bem fechadas, além do que, ao romper damanhã, não achei nenhum gato vivo nele. Quando ofenômeno aconteceu, eu não havia ainda adormecido eestava perfeitamente consciente de me achar acordada.

No caso que acabo de reproduzir, a descrição deum disco opaco que toma, pouco a pouco, a forma dagata morta recorda de muito perto o processo normaldas materializações mediúnicas e, como o senhorDuxbury, ao comunicara Light esta narração, teve ocuidado de observar que a senhora deste caso possuíafaculdades mediúnicas, é completamente aceitável queela tivesse assistido realmente a uma sessão de

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materialização de animal. A outra circunstância de queos ratos não mais se moveram, a noite inteiratestemunharia em Favor desta interpretação, porquemostraria que os roedores perceberam, de algummodo, o fenômeno supranormal e ficaram espantados.Trata-se, então, de um caso de pura e simplesalucinação, os ratos não teriam experimentado osefeitos dela e teriam continuado a correr pelo chão.

Caso CXXIII - (Mediúnico) - Neste outro episódio,que parece explicável, em princípio, pela hipótese daclarividência telepática, encontra-se uma circunstânciasecundária, dando a supor, razoavelmente, que podetratar-se, ao contrário, de clarividência telepático-espírita. Reproduzo-o do vol. III, p. 130, dosProceedings of the Society for Psychical Research Elefaz parte do relatório do doutor Hodgson sobre asexperiências com a senhora Piper. O sr. J. RogersReach escreve a respeito de suas próprias experiênciaso seguinte:

Entreguei em seguida à médium uma coleira decachorro. Depois de tê-la apalpado durante algumtempo, o doutor Phinuit, guia espiritual da senhoraPiper, declarou que a coleira pertencera a um cão doqual fui dono. Perguntei-lhe então se, na esfera

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espiritual, onde ele se encontrava, havia cães e merespondeu que havia milhares deles. E acrescentou queprocuraria atrair a atenção de meu cão por meio de suacoleira. Quando conversávamos, ele se interrompeupara me dizer: Eis que vem ele! Penso que já sabe queestais comigo porque o vejo vir de muito longe.Descreveu-me então o animal ao qual me referia,descrição que correspondia exatamente à do meu cão,de raça copie. Terminou dizendo-me: Chame-o agora,senhor Reach. Emiti um assobio pelo qual tinha ocostume de chamá-lo e Phinuit exclamou: Eis que elechega! Como corre! Como voa! Está agora presente epula alegremente em torno de vós. Como está feliz emvos rever! Rover! Rover! Não. Grover! Grover! É oseu nome. Com efeito, o cão se chamava Rover, masem 1884, mudei o seu nome para o de Grover comorecordação da eleição do presidente Grover Cleveland.

Esse incidente, por si mesmo, não contém nenhumacircunstância que possa distingui-lo dos habituaiscasos de clarividência telepática, mas eis um incidentecolateral que leva, ao contrário, a classificá-lo entre oscasos telepático-espíritas. O narrador continua assim:

Entre um grande número de coisas que o doutorPhinuit me revelou, há esta: disse-me que estavaconstantemente perto de mim um bebê que exerciagrande influência sobre a minha pessoa, que ele me eraligado por estreito parentesco, que se tratava de umairmãzinha. Respondi-lhe que não tinha nem nunca

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tivera nenhuma, irmã, mas ele replicou: Previa a vossaresposta, eu sabia muito bem que ninguém nunca vosfalou de vossa falecida irmãzinha. Trata-se de umacriança natimorto. Isso se deu vários anos antes devossa vinda ao mundo terreno. Quando chegar emcasa, perguntai à vossa tia. Não deixei de fazê-lo esoube assim, com grande espanto meu, que Phinuithavia dito a verdade. Minha tia me revelou que,doando vim ao mundo, o caso da criança natimortoestava esquecido e nunca houve motivo para que mefalassem disto. Ora, esta minha ignorância absoluta arespeito demonstra muito bem que dita comunicaçãonão podia ser explicada por leitura do pensamento.

Se o segundo episódio não pode ser explicado pelahipótese leitura de pensamento subconsciente pela boarazão de que o consulente ignorara sempre o fatorevelado por Phinuit e que não podia haver então, nasua subconsciência, traços mnemônicoscorrespondendo ao fato em questão, se assim é, entãohá toda razão para crer que o primeiro episódiocomunicado pela mesma personalidade mediúnica,com o mesmo médium, na mesma sessão, tinhaigualmente origem extrínseca ou espírita.

Caso CXXIV - (Visual-sonambúlico) - Passandoagora à exposição dos casos que não são maisexplicados pela clarividência telepática, começo por

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um curioso fato que se verificou no sonambulismomagnético e que reproduzo do livro de AdolphedAssier (A humanidade póstuma), p. 83. Escreve esteautor:

Para o fim do ano de 1869, achando-me emBordeaux, encontrei certo dia um amigo que se dirigiapara uma sessão de magnetismo e ele me convidoupara eu ir à sua companhia. Aceitei o convite, desejosoque estava de ver de perto os fenômenos magnéticosque só conhecia de nome. A sessão não apresentounada de notável, pois foi a repetição do que se obtémordinariamente nessas circunstâncias. Uma moçaservia de sonâmbula e, a julgar pela maneira com querespondia às perguntas formuladas pelos assistentes,devia ser bem clarividente. Entretanto o que mais mesurpreendeu no decurso dessa sessão foi um incidenteimprevisto. Pelo meio da tarde, uma das pessoas queassistiam às experiências, tendo avistado uma aranhano assoalho, a esmagou com o pé. Imediatamente asonâmbula exclamou: Vejam, vejam! Percebo oespírito de uma aranha que se vai! Sabe-se que, nalinguagem do médium, a palavra espírito indica o queeu chamo de fantasma póstumo. O magnetizadorperguntou: Sob qual forma a vês A sonâmbularespondeu: Sob a forma de uma aranha mesmo.

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Desde aquele tempo, eu não sabia o que pensardesse estranho incidente. Não duvidava da lucidez dasonâmbula, porém, como não acreditava em nenhumamanifestação póstuma humana, era natural que não aadmitisse também para os animais. A explicação domisterioso incidente me pareceu clara vários anosdepois, quando, tendo obtido a certeza dodesdobramento humano, eu me empenhara emdescobrir fenômeno análogo no meio dos animaisdomésticos. Em resultado das minhas investigações,fiquei convencido de que a sonâmbula de Bordeauxnão fora vítima de qualquer alucinação, como acontecealgumas vezes nas experiências magnéticas, e que elatinha observado um fenômeno objetivo e real.

O incidente exposto é certamente notável e acircunstância de que ele aconteceu de uma maneirainesperada contribui para estabelecer a autenticidadesupranormal do Cato.

Se conseguir reunir um numero suficientes deincidentes desta espécie, tomando as precauçõesnecessárias para evitar a possibilidade de umatransmissão telepática do pensamento doexperimentador à sonâmbula, ter-se-á dado assim umgrande passo para a demonstração científica daexistência de um perispírito animal, absolutamenteanálogo ao humano. É mesmo de espantar queninguém tenha tentado, até aqui, repetir umaexperiência que, na verdade, é fácil, pois que qualquer

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experimentador pode tentar. Ao contrário, o incidenteexposto continua, até o momento, quase único.Lembro-me apenas de que algo de semelhanteaconteceu, certa vez, durante uma das sessões com omédium Daniel Dunglas Home, mas a obra quecontém a narração do incidente é incontrolável e devolimitar-me a reproduzir estas poucas linhas que extraiode um artigo da revista Light (1907, p. 311):

No livro publicado pelo conde de Dunraven, nãoposto à venda e só remetido a um pequeno número deamigos seus, acha-se a ata de uma sessão na qualDaniel Dunglas Home, então em transe, diz perceber oespírito de um cãozinho, bem conhecido de um dosassistentes. Ora, naquele instante, o animal morria e omédium vira o espírito dele quando deixava o corpo.

Caso CXXV - (Visual) - Foi publicado dosProceedings of the Society for Psychical Research e asenhora Gordon Jorres narra o seguinte:

Sempre tive uma grande aversão pelos gatos,aversão que herdei de meu pai, que não suportava apresença deles. Nunca os tolerei na minha casa até odia em que ela Foi invadida por um bando de ratos.Fui buscar um gato comum cujo pêlo era riscado de

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listras cinzas e pretas, mas nunca me ocupei com ele enunca permiti que subisse até o andar superior da casa.

Certo dia foi-me dito que o gato estava com raiva efoi pedida a minha autorização para que o suprimisse,afogando-o. Não tive a força moral para ir certificar-me de chie a informação era verdadeira e, sem mais,concedi a permissão. Pouco depois, foi-mecomunicado que o criado da cozinha afogara o gatonuma caldeira. Como jamais gostei do animal e nãoera n:eu companheiro habitual, seu desaparecimentome deixou indiferente.

Na tarde do mesmo dia em que o gato foi morto,encontrava-me sozinha na sala de jantar mergulhadana leitura (estou bem certa de que não pensava emgatos, nem em fantasmas), quando de repente tive oimpulso de levantar os olhos e de olhar para o lado daporta. Vi, ou acreditei ver, que a porta se abrialentamente, deixando entrar o gato sacrificado demanhã. Era ele mesmo, não havia dúvida alguma, masparecia ter emagrecido e estar todo molhado epingando água. Apenas a expressão do seu olhar nãoera mais a mesma, porque me olhava com olhoshumanos tão tristes que me causaram pena. Seu olharme ficou gravado na memória como uma obsessão.Estava tão certa do que via que não duvidei de meachar na presença do gato real, escapado doafogamento. Toquei a campainha chamando acamareira e, logo que ela se apresentou, eu lhe disse:

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Há um gato ali, leve-o para fora. Parecia-meimpossível que a doméstica não pudesse ver o gato,porque eu o via tão nítido e sólido quanto a mesa e ascadeiras, mas ela me olhou espantada e me disse:Madame, eu estava presente quando William levou ogato já morto para o jardim a fim de enterrá-lo. Masele está lá, acrescentei, não vê, perto da portar Acamareira não via nada e, pouco depois, o gatocomeçou a tornar-se transparente e a desaparecerlentamente, tão bens que eu acabei por não o ver mais.

É claro que a hipótese da clarividência telepáticanão poderia ser aplicada ao caso que acaba de serreproduzido. Ao contrário, entre as hipóteses às quaisse poderiam recorrer para explicá-lo, há a alucinatória,que teria parecido bem menos legítima se a camareirativesse tido a mesma visão que a patroa. Entretanto, sepensar que a senhora Gordon Jones afirma que estavaindiferente à morte do gato que, ao contrário, lheinspirava um sentimento de aversão (o que fariaafastar a principal condição predisponente às visõesalucinatórias, isto é, o estado emotivo); se considerar,de outra parte, que, quando o gato apareceu, a referidasenhora estava mergulhada na leitura (o que excluiriaque ela pensasse no momento no animal morto) e,sobretudo, se levar em consideração que elaexperimentou um impulso súbito e injustificado paralevantar os olhos e olhar para o lado da porta, onde aaparição justamente se produziu (circunstância que

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caracteriza as manifestações realmente telepáticastanto quando elas se produzem entre as pessoas vivascomo quando se verificam entre os vivos e os mortos).Se observar este conjunto de circunstâncias, concluir-se-á que o fantasma do gato aparecido a essa senhoraconsistia numa manifestação telepático-espírita, cujoagente era o animal sacrificado há algumas horas.

Caso CXXVI - (Animal vidente) - O senhor JamesCoates, autor do notável livro (Fotografando oinvisível), enviou a Light (1915), o seguinte episódiocanino:

Eu possuía um cachorro pomeraneo chamadoTobby nosso grande favorito, que havíamos levadoconosco para Rthsay, em 1893. Cerca de dois anosdepois, durante nossa ausência da casa, Tobby foiterrivelmente maltratado por um cão da vizinhança enão tardou a morrer das complicações sobrevindas.Depois de um mês, ou talvez seis semanas, recebi depresente uma cadela fox-terrier chamada Katie, e eis oestranho fato a que então assistimos. Durante váriassemanas, ela não ousou se aproximar do canto dacozinha onde Tobby tinha o costume de deitar-se e,sempre, quando entrava na cozinha, latia furiosamentenaquela direção, tal como se ela visse ali um outro cão.

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Li, ou ouvi contar, outros fatos de cães que vêemfantasmas, que latem para eles e que se espantam. Emtodo o caso, a minha Katie, durante várias semanas,manteve uma atitude como se ela visse Tobby e tivessese espantado. Como explicar de outro modo àcircunstância de não ousar aproximar-se e ainda menosse deitar no canto da cozinha que Tobby tinhaescolhido para seu leito favorito quando vivo

Entre as boas provas aventadas para provar asobrevivência da alma humana, registra-se a tirada dasfaculdades clarividentes de que o homem é dotado,observando-se, com efeito, que essas faculdades vãoalém de toda visão terrestre e não dependem doexercício das faculdades sensoriais. Ora, se estáprovado que os cães possuem, por sua vez, faculdadesclarividentes, qual conseqüência devemos tirar delasLimito-me a responder assim: o que constitui uma boademonstração em favor da sobrevivência humana sópode constituir também uma boa demonstraçãorelativamente à sobrevivência animal.

A rigor, este caso deveria ser considerado antescomo fraco ponto de vista probante. Com efeito,ninguém partilhou com o animal, das mesmasimpressões supranormais, ninguém saberia dizerpositivamente o que a cadela via no canto da cozinha,mas, embocar não perdendo tudo isto de vista, deacordo com os métodos das pesquisas científicas,acrescentarei que há situações que não permitem

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interpretação múltipla a respeito do mesmo fato e que,por conseguinte, autorizem a que se chegue a umaconclusão, de uma maneirar bastante precisa, mesmona falta de testemunhas diretas. É o que me pareceacontecer no fato em questão. Com efeito, se a cadelalatia furiosamente e sem parar para o mesmo canto dacozinha, onde tinha o hábito de deitar-se o animalmorto, demonstrando bastante medo para não ousaraproximar-se dele e mesmo de deitar-se lá, istosignifica que ela agia como um cão qualquer que seacha na presença de um honrem ou de um animal queele não conhece. Em tais condições, que se poderiadeduzir daí fora da conclusão lógica de que, naquelecanto, percebia ela o fantasma do cão morto? Semduvida, esta conclusão pareceria bem audaciosa se nãose conhecesse algum exemplo de visões de fantasmaspor parte de animais. Já que esses exemplos são, aocontrário, freqüentes e cientificamente constatados,nada impede que, pela lei das analogias, se possaexplicar, da mesma maneira, o fato relatado pelo sr.James Contes.

Caso CXXVII - (Auditivo-coletivo) - Estáconsignado em um artigo publicado na Light (1915, p.215) pelo rev. Charles L. Tweedale, autor de diferentesobras muito interessantes sobre assuntos

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metapsíquicos. Ele conta entre outras coisas oseguinte:

Há cerca de dois anos (registrei o acontecimento naminha agenda), minha esposa e a aia estavam sentadas,certas tarde, conversando num quartinho da casa e derepente, ouviram o roncar barulhento de um gato,perto da senhora Tweedale. ambas localizaram o ruídonum lugar preciso, isto é, junto da saia de minhamulher. Ele se prolongou por algum tempo, depoiscessou e começou-se a ouvir nitidamente, no seu lugar,o roído delicado que produz a língua de um gatoquando lambe o leite. Não sabendo o que pensar, asenhora Tweedale chamou, em vão, pelo gato da casae, em seguida, ajudado pela aia, vasculhouminuciosamente a peça, porém inutilmente. Sentaram-se e recomeçaram as conversas. Mas, quaseimediatamente se fez ouvir o roncar barulhento dogato invisível ao qual sucedeu ainda o outro som deuma língua de gato que lambe um líquido vasculharamnovamente o quarto, raro sempre em vão.

Devo observar que, já há alguns dias, o nosso gatohavia desaparecido. Quando a senhora tweedale e a aiavieram me contar o que se tinha passado, eu lhes disse:Isto significa que nunca mais veremos o nosso gatovivo. E assim aconteceu: o pobre do nosso animal

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tivera o mesmo firo que um grande número de gatosnessas regiões em que eles são mortos maldosamente.

Neste exemplo, a manifestação supranormal épuramente auditiva, o que não diminui, de modoalgum, o valor teórico do incidente, que é notável porcausa de sua natureza coletiva. Com efeito, acircunstância de que duas pessoas tiveram, ao mesmotempo, as mesmas impressões auditivas, localizando-as exatamente no mesmo ponto, é uma garantia daveracidade supranormal do incidente. De outra parte, édifícil duvidar da relação entre causa e efeito, isto é,entre o desaparecimento e a morte do gato da casa e amanifestação supranormal que se verificou na casa dorev. Tweedale. Pode-se perguntar se o fato deve serconsiderado como uma manifestação telepático-espírita (isto é post mortem) ou propriamente urra casotelepático no momento da morte, sendo esta dúvidalegitimada pela falta de indicação a respeito doinstante em que o gato desaparecido foi morto.Entretanto, corno o gato sumira da casa já há algunsdias e que é de se presumir que tenha sido morto nodia seguinte ao seu desaparecimento, isto tornaria maisverossímil a explicação telepático-espírita do presentecaso.

Caso CXXVIIl - (Visual-coletivo) - Colho-o noJournal of the Society for Psychical (vol. X, p. 249).

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Trata-se de um caso rigorosamente documentário eque foi remetido a Society durante a semana em que omesmo se verificou. Escreve a srta. B. J. Green:

Minha irmã H.J. Green tinha uma gata de quegostava muito. Era de raça persa puro-sangue, pêlocinza-azulado característico, pequenas proporções, eseu nome era Smoky. Não havia na aldeia outro gatoda mesma raça ou que apenas se lhe assemelhasse.Durante a primavera, ela caiu doente e morreu pelomeio de junho de 1909. O jardineiro a enterrou numaplatibanda do jardim, plantando no seu túmulo um péde dália. Algum tempo antes da morte dela, a gata foraatacada e maltratada por um cachorro que tinhaquebrado algumas costelas. Em conseqüência desseincidente, ela caminhava coxeando com o corpocoxeando e a sua morte foi resultado das feridasrecebidas.

Terça-feira, seis de julho de 1909, achava-mesentada à mesa, almoçando com a minha irmã e lendo,em voz alta, uma carta. Tinha as costas voltadas para ajanela, que estava à direita ele minha irmã. De repentevi que ela olhava para fora da janela, com untaexpressão de espanto quase misturada à de medo eperguntei-lhe: Que é que hás, c ela me respondeu:Vejo a Smoky, que anda no meio do mato.Precipitamo-nos para a janela e percebemos

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efetivamente a Smoky , que parecia muito doente,tinha o pêlo eriçado e os olhos assustados. Caminhavacoxeando através cia platibanda defronte da janela, atrês ou quatro metros de nós minha irmã chamou porela, mas, como a gata não parecia ouvir, correu paraela, continuando a chamá-la. Permaneci na janela e via gata se encaminhar para uma alameda que conduziaao fundo do jardim. Minha irmã seguiu-a chamandosempre por ela, mas, para grande espanto seu, aSmoky não se voltou nunca, como se não ouvisse nadae, em um dado momento, meteu-se dentro da moita e aminha irmã não a viu mais. Depois de uns dezminutos, a minha irmã e uma amiga, que se hospedarapor algum tempo em nossa casa, viram novamente aSmoky que caminhava na relva bem defronte dajanela. Minha irmã saiu para encontrar-se com ela,mas não a viu mais. Depois de meia hora, a gataapareceu no corredor que leva à cozinha e foi vistapela empregada, que apanhou uma vasilha de leite efoi em sua direção para dar-lhe de beber, mas a gatacontinuou o seu caminho e saiu no jardim,desaparecendo diante dela.

A conseqüência dessas visões foi que nós fomosinterrogados se não houvera algum equívoco a respeitoda morte da gata, embora a nossa amiga, o jardineiro euma jovem doméstica tivessem visto seu cadáver. Ojardineiro ficou tão indignado com a suspeita c que

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não havia enterrado o cadáver que foi na sepultura,arrancou a dália e exumou o cadáver de Smokv.

Nos não sabemos o que pensar desseacontecimento, que teve quatro testemunhas: srta. B.J.Green, srta. H. L. Green, srta. Smith e Kathleen 13. (aempregada) e minha irmã contou que, quando elaseguiu a gata na primeira vez, ela caminhava muitodepressa, mas capengando de um lado, como faziaantes de sua morte.

(Numa carta consecutiva, a srta. B. ,J. Green,falando sobre a segunda vez em que a sua irmã seguiua gata, escreve: a gata não pulou o muro da cerca, masdesapareceu quando se achava perto desse muro).

O caso precedente é muito interessante esignificativo, primeiramente por causa da naturezaincontestável do fato, em seguida porque o fantasmafoi visto por quatro pessoas, em momentos diferentes,o que exclui a hipótese alucinatória pura e simples.Considerando este caso, duas únicas hipóteses podemexplicá-lo: a primeira consistiria em supor que setratava da vicio de uma gata viva que teria sido tomadapela gata morta; a segunda seria a hipótese telepático-espírita. Referi-me à primeira explicação por simplesdever de relator, porque os nossos leitores já terãonotado chie esta suposição não se sustenta diante daanálise das circunstâncias. Primeiramente porque, nocaso em questão, se tratava de uma gata exótica, únicano seu gênero, no meio onde o acontecimento se

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produziu, e caracterizada por um pêlo que é especialnos gatos persas, circunstâncias todas que tornamabsurdos presumir que quatro pessoas, em plena luz dodia, pudessem se enganar na identificação. Emseguida, porque foi notado que a gata aparecidacaminhava capengando, precisamente como o animalmorto. Em terceiro lugar, porque a gata-fantasma nãodeu nunca sinal de perceber as pessoas que achamavam, o que não se daria se fosse uma gata viva eque, ao contrário, constitui o traço característico damaior parte dos fantasmas telepáticos e telepático-espíritas, que não têm consciência do meio em que seencontram. Enfim, é preciso não esquecer que opequeno fantasma desapareceu várias vezes diante dospercipientes, de modo súbito e inexplicável. Nãoacrescento outra coisa porque o que acabo de dizerbasta para provar que a hipótese da visão de uma gataviva, que quatro pessoas teriam tomado pela gatamorta, não se sustenta em face do exame dos fatos.Fica-se, portanto, obrigado a concluir que o presenteepisódio é realmente um autêntico exemplo deaparição do fantasma de um animal morto.

Caso CXXIX - (Visual-auditivo-coletivo) - Trata-se de um caso publicado também na Light, de Londres(1911, p. 101). O rev. Charles L. Tweedale, do qual já

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tivemos ocasião de reproduzir uma narração,comunicou este outro fato que, como o primeiro,aconteceu na casa dele, onde manifestaçõessupranormais impressionantes se desenrolaram pormais de um ano. Escreve ele:

Nestes últimos cinco meses, assistimos às maisextraordinárias manifestações espontâneas queultrapassara de muito as manifestações históricasocorridas no presbitério do rev. Charles . Todos nóstemos escutado ultimamente uma `voz direta que noschamava pelos nossos nomes, em pleno dia, e assistidoàs aparições repetidas de um fantasma feminino dealto porte, vestido de branco e que todos os membrosda família puderam ver, exceto eu que pude entretanto.ouvir a voz dele soar maravilhosamente distinta comose ela viesse do ar e na presença da família inteira. Aaparição foi vista varias vezes , coletivamente, pordiversas pessoas, quase sempre com boa claridade ealgumas vezes em plena luz do dia. Por duas vezes ofantasma dialogou com os presentes.

Há uns quinze dias, essas maravilhosasmanifestações atingiram o apogeu com a aparição, empleno dia, de um fantasma vestido de brancoacompanhado de um cão. Numa tardinha, eles foramvistos juntos duas vezes e por diferentes pessoassucessivamente e sempre nessa mesma tardinha o cão

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foi visto três vezes sozinho e uma vez quatro pessoas oviram coletivamente, entre elas uma criancinha de doisanos que correu atrás do cão-fantasma até debaixo dacama, onde ele desapareceu, gritando: Buh! Buh!.Repito que tudo isto se passou em plena claridade dodia. Depois, o tal cão foi visto várias outras vezes atéestes últimos dias.

Todos os que o viram estão de acordo em descreverum cão fòx-terrier alto, branco, com uma grandemancha preta irregular no dorso, orelhas retas e curtas,cauda inteira. Observou-se, além disso, que ele pareciasacudido por um forte tremor em todo o corpo e que opêlo de sua pele era mais curto e mais brilhante do quede hábito. Ora, esta descrição corresponde exatamenteà de um cão que me pertencia e que é morto há quasedoze anos mais ou menos. Tinha me quase esquecidoda existência dele. Nenhuma das pessoas que odescreveram o tinham conhecido quando vivo e nãotinham sabido mesmo que ele existira. Minha tia (poisque é o seu fantasma que sc manifesta) é morta há seisanos e tinha muita amizade pelo cão e a acompanha. Éde observar que, como disse há pouco, o meu cão eracaracterizado por uma exuberância de vitalidade quese manifestava por um violento tremor que sacudia oseu corpo inteiro cada vez que se despertava a suaatenção. Tinha, além disto, uma grande manchairregular no dorso, precisamente do lado direito daespinha dorsal. Não esqueçamos que todos estes

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detalhes verídicos eram absolutamente ignorados portodos os que o viram e descreveram o fantasma do cão.

Recordo também que, antes de sua manifestação,foram ouvidos latidos e rosnados característicos que seproduziam no mesmo momento em que o fantasmafeminino aparecia, mas, como nenhum de nós tinhavisto ainda animais fantasmas, essas manifestaçõesauditivas foram para nós inexplicáveis até o dia emque a aparição do cão veio esclarecer o mistério.

A significação teórica deste memorávelacontecimento se mostra de um modo bem claro, istoé, que ele tende a provar o que logicamente se deviapresumir: que o espírito de um cão, como o de suadona, podem sobreviver à morte do corpo.

Neste exemplo, é preciso, sobretudo, recordar aseguinte circunstância: que o fantasma canino foi vistovárias vezes, quer coletivamente, quer sucessivamente,em plena luz do dia; que ele certa vez foi visto por umbebê de dois anos que correu atrás dele até debaixo dacama, gritando, com a inocência de sua idade,Buh!Buh!; que ele foi descrito, tal como era, porpessoas que não o tinham conhecido quando vivo, e,finalmente, que, antes da manifestação do fantasmacanino, foram ouvidos latidos e rosnadoscaracterísticos do animal, circunstâncias todas quecontribuem para excluir, absolutamente, a hipótesealucinatória pura e simples e que servem, ao contrário,

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para demonstrar a natureza supranormal e extrínsecada aparição.

Segue-se daí que as conclusões do rev. Tweedaleparecem se sobressair incontestavelmente dos fatos,tanto mais que a aparição do fantasma canino não podeser encarada separadamente da aparição do fantasmafeminino que o acompanhava durante o períodomemorável de manifestações espontâneas descritas emum longo relatório do rev. Tweedale. É, pois, racionalpensar que, se a identificação do fantasma femininocom a falecida tia do clérigo citado deve serconsiderada como uma boa prova em favor dasobrevivência do espírito desta, não se pode concluir,de outro modo, para o fantasma canino, que foi por suavez identificado.

Caso CXXX - (Visual-coletivo) - O sr. JamesCoates, do qual já reproduzimos uma narração,remeteu a Light (1915, p. 356) este incidente que lhe épessoal:

Durante o verão de 1861, achava-me em Rothsaycom a minha família. Meu cunhado, George Anderson,de Glasgow, me remetera de presente um belo cão daraça copie. Era um animal muito vivo e, infelizmentetambém, indisciplinado. Eu não tinha muita paciência

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para o educar e Rover muitas vezes se metia e a nóstodos em embaraço devido aos seus modos.

Tínhamos então o hábito de ir pescar à tardinha nabaía de Glenburno. O cão nos acompanhava e, quandoentrávamos no pequeno barco, ele esperava por nossavolta, errando livremente pela praia. Tudo foi bemdurante cerca de um mês, mas um dia o chefe depolícia mandou me procurar não oficialmente para medizer que um cão idêntico ao meu havia espantado umcavalo atrelado a uma carruagem e que essa virara coma dama que nela se achava. Em conseqüência disto, ochefe de polícia me persuadiu a desfazer-meimediatamente do animal, se eu não quisesse incorreroutras penalidades. Não havendo nenhum meio desubtrair-me a esta intimação, enviei o cão a umfuncionário da polícia com a ordem expressa de levá-lo à baía e de ali afogar o pobre animal.

Fiquei bastante triste com a sorte imposta ao nossoRover e meus filhos ficaram desolados, porque oanimal se ligara a eles de uma maneira especial, masse devia obedecer à lei.

Continuamos a ir pescar todas as tardinhas. Noterceiro dia da morte de Rover, quando estávamos devolta, pouca distância da porteira da entrada da casa,todos nós três exclamamos ao mesmo tempo: Olha lá oRover! Sim, ele estava lá, com efeito, à nossa espera,no solar da casa! Evidentemente o homem encarregadode suprimir o animal não o fizera. Foi o que pensei

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logo, e era natural que eu assina pensasse, pois que oRover estava diante de nós, perto da gamela,sacudindo a cauda e nos olhando com um ar alegre.Abrimos a porteira e nos dirigimos para ele, mas,repentinamente, vimos que desaparecia. Não podiahaver dúvida no fato de que nós o havíamos vistoefetivamente, seguramente, todos nós três. Minhaesposa insiste em afirmar que o cão pareciafosforescente, mas, para mim e para a nossa filha, erao nosso Rover, nem mais nem menos.

Mesmo se devesse passar por crédulos, persistimosem estar convencido de ter visto, simultaneamente, ofantasma objetivo de nosso cão Rover, pois parecia atal ponto natural que eu não podia supor senão que ofuncionário, ao qual eu o enviara, não o matara. Nãotenho uma explicação para fazer valer de modoespecial. Observo, unicamente, que o fato, para trêspessoas, de ver coletivamente um cão que tinha sidoafogado três dias antes constitui uma prova de suasobrevivência, mais convincente do que tantas outrasque nós, espíritas, aceitamos como suficientes nodecurso de nossas sessões.

Como se podem ver, as conclusões dos percipientesque narraram estes fatos são todos acordes em afirmara sua certeza inabalável de se terem achado em face defantasmas objetivos de animais. Não se pode dizer queestejam errados, mesmo de um ponto de vistarigorosamente científico, sobretudo no que concerne

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aos quatro últimos casos, que são de natureza coletiva,e dois dentre eles também de natureza sucessiva, istoé, que os fantasmas animais foram percebidos porpessoas diversas e afastadas umas das outras,circunstancias todas que servem para eliminar, demodo absoluto, a explicação alucinatória dos fatos - aúnica hipótese que se possa cientificamente opor àtranscendental telepático-espírita.

CONCLUSÕES

Chegados ao término desta classificação, não nosresta senão lançar um olhar retrospectivo sobre ocaminho percorrido e recordar as principaisconsiderações que os fatos nos sugeriram,condensando-os numa síntese.

No que diz respeito às nossas repetidas afirmativasem favor da existência real das manifestaçõestelepáticas nas quais os animais desempenham o papelde agentes ou de percipientes, assim como osfenômenos de assombração ou aparições de outraespécie, nas quais os animais são percipientesjuntamente com o homem, não parece nada científicolevantar ainda reservas ou dúvidas, pois os casosexpostos nesta classificação bastam para provar o bom

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fundamento de nossas afirmações. Com efeito, nosexemplos que relatamos, figuram as principais formasdas manifestações de assombração, aparições e osfenômenos supranormais similares.

Além disto, as nossas afirmativas são controladasde uma maneira decisiva por alguns dados estatísticosque podem ser colhidos nos cento e trinta casosenumerados nesta obra. Resulta, com efeito, do examedeles que os fatos, nos quais os animais perceberammanifestações supranormais anteriormente ao homem,são em número de vinte e cinco; os casos, nos quais osanimais pareceram perceber manifestaçõessupranormais quando os homens não percebiam nada,são em número de dezessete. Ora, este quadro ébastante para autorizar-nos a tirar dele as inferênciasque sugerem os fatos em questão. A principalinferência que se deve tirar dele é a seguinte: os casos,nos quais os animais percebem, antes do homem,manifestações supranormais ou as percebem quandoelas são despercebidas pelo homem, apresentam umvalor decisivo em favor de nossa hipótese, pois queprovam que não existe qualquer hipótese racional aopor à que considera os animais como sendo dotadosde Faculdades supranormais subconscientes como ohomem.

Estas conclusões, solidamente fundadas em dadosestatísticos, são ainda confirmadas pelas manifestaçõesque mencionamos na quinta categoria, na qual

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tratamos de cães que `prenunciam a morte, isto é, decães que anunciavam, por meio de uivos bemcaracterísticos e prolongadamente lúgubres, a morteiminente de uma pessoa da família a que pertenciam eali perseveravam até o decesso da pessoa em questão,manifestações que demonstram a existência, nasubconsciência animal, de faculdades premonitórias e,por conseqüência, de uma outra faculdade supranormala acrescentar às enumeradas mais acima. Esse dommisterioso era, aliás, já universalmente atribuído aomundo animal sob a forma de previsão deperturbações atmosféricas iminentes ou da iminênciade tremor de terra e de erupções vulcânicas.

Na base dos fatos recolhidos, deve-se, pois,afirmar, sem medo de errar, que o veredicto da futuraciência não pode ser senão favorável à existência, nasubconsciência animal, das mesmas faculdadessupranormais que encontramos na subconsciênciahumana, e, como o fato da existência latente, nasubconsciência humana, de faculdades supranormais,independentes da lei da evolução biológica, constitui amelhor prova em favor da existência, no homem, deum espírito independente do organismo corporal, e,por conseguinte, sobrevivente à morte desseorganismo, é racional e inevitável inferir-se daí - jáque na subconsciência animal são encontradas asmesmas faculdades supranormais - que a psique

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animal está destinada a sobreviver, ela também, àmorte do corpo.

Estas considerações, logicamente, irreprocháveis,tinham, porém, ainda necessidade de uma confirmaçãocomplementar no terreno experimental. Se a hipóteseda existência, nos animais, de uma psique sobreviventeà morte do corpo tem fundamento, deveria haver casosde aparição post-mortem de fantasmas animais de umamaneira análoga à que se realiza para o homem. Poisbem, esta demonstração complementar é fornecida nodecurso de nossa classificação na qual foi citado umnúmero suficiente de fatos desta espécie, ondeencontramos os mesmos traços característicos queservem como provas de identificação espírita noscasos correspondentes de fantasmas humanos.

Chegamos assim a demonstrar a existência de doisgrupos de fatos que constituem o problema a resolver,isto é, que, na subconsciência animal, encontram-se asmesmas faculdades supranormais que existem nasubconsciência humana e que os fantasmas de animaismortos se manifestam como os fantasmas humanos.Dever então considerar que se conseguiu ademonstração necessária para provar a existência e asobrevivência da psique animal. A hipótese em apreçonão podia ser então considerada senão comocientificamente legítima, embora ainda apenas a títulode `hipótese de trabalho, esperando julgá-la como umaverdade definitivamente adquirida para a ciência

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quando o acúmulo dos fatos nos permita analisar afundo este assunto tão importante.

O assunto, todavia, atingiu um grau de maturidadesuficiente para autorizar a formular alguns resumossobre as conseqüências filosóficas e psicológicas queapresentará o fato da existência e da sobrevivência dapsique animal. E o que me proponho a fazersumariamente para completar e confirmar a tesesustentada, isto é, que, depois de ter fornecido a provaexperimental da existência e sobrevivência da psiqueanimal, vou demonstrar ulteriormente a validade e anecessidade dela do ponto de vista das leis quegovernam a evolução biológica e psíquica dos seresvivos, e também em nome da eterna justiça.

*

Os homens de ciência, que professam convicçõesmaterialistas, sustentam, muitas vezes, que o espíritodos animais, como o dos homens, sendo uma simplesfunção do órgão cerebral, deixa de existir quando esseórgão cessa de funcionar por força da morte. Nada deinconseqüente nesta teoria pela qual o destino dosanimais é igualado ao dos homens, porém ainconseqüência existe, ao contrário, entre os crentes naexistência da alma humana, assim como entre osprofitentes de diferentes confissões religiosas, comoentre uma parte dos adeptos das doutrinas espíritas,

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que supõem, por sua vez, que o espírito dos animais émuito imperfeitamente organizado para sobreviver àmorte do corpo e que, conseqüentemente, ele sedissolve nos seus elementos constitutivos,dissolvendo-se praticamente no nada, precisamentecomo o afirmam os materialistas.

Quero observar, primeiramente, que estas teoriassão muito perigosas para a doutrina da sobrevivênciaespiritual humana, pois que nos levam a admitir queuma simples diferença de grau ma evolução do espíritobasta para decidir o seu destino, as vezes caducas semnenhuma falta, outras vezes imortal sem a sombra demérito. E então que pensar da sorte de uma grandeparte do gênero humano?

Com efeito, se nós reconstituirmos a história daespécie humana com o auxílio da paleontologia,chegaremos a um ponto em que o homem daAntigüidade pré-histórica mais recuada se confundecom as formas animais mais elevadas. Se o mesmo sedeu com as raças humanas existentes, com a ajuda daantropologia, chegamos a algumas tribos selvagensmuito pouco elevadas acima dos animais com queviviam e em que a degradação dos indivíduos atingiu oponto de se mostrarem desprovidos de todo sensomoral, com uma mentalidade apenas suficiente para osguiar nas necessidades materiais de sua miserávelexistência, mais ou menos iguais às dos animais. Podese então perguntar: Em qual grau da elevação psíquica

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o espírito de um indivíduo torna-se bastante evoluídopara resistir à crise da separação do organismocorporal sem se dissolver nos seus elementosconstitutivos? Devemos considerar que os nossosprimeiros ancestrais, bem pouco evoluídos acima dosmacacos antropóides, e certos selvagens de nossostempos, dos quais podemos dizer outro tanto, sãobastante evoluídos espiritualmente para merecer o domda imortalidade, enquanto que um generosorepresentante da raça animal, que perde a vidatentando salvar uma criança que se afoga, ou quemorre de dor sobre o túmulo de seu dono, deverámorrer para sempre, sem ter ultrapassado essa pretensabarreira dos imortais? Uma diferença de grau naevolução espiritual dos seres não implica de modoalgum uma diferença qualitativa, mas unicamentequantidade esta não pode representar senão aexpressão exterior de um espírito que está aliencarnado em potência e que não pode ser senãoidêntico, em essência, ao espírito que se manifesta nasmais inferiores raças humanas, passadas econtemporâneas, bem como nas mais civilizadas raçasatuais. Em outros termos, de vida, em todas as suasformas e em todos os seus casos, é a expressão, em ummeio terrestre, de um espírito que se encarnou numacerta síntese de matéria organizada e indica o grau deevolução ao qual chegou esse espírito, e é tudo, pois oespírito, por si próprio, só pode ser absolutamente

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idêntico aos outros espíritos que animam o grau deprocesso atingido. Se eu precisasse recorrer a umexemplo para esclarecer esta idéia, falaria de umachama colocada dentro de um vaso de cristal e cujaclaridade brilhasse sem obstáculo, enquanto que umaoutra, colocada num vaso de porcelana, só lançasseuma luz atenuada, e uma terceira, colocada num vasode faiança, não desprendesse nenhuma luz, salvo pelosinterstícios que poderiam existir nos lados - interstíciosque, nos animais, corresponderiam aos respiradourospelos quais emergem as faculdades do instinto ealgumas vezes pelas rachaduras que poderiam ocorrerno vaso - elas explicariam a emersão das faculdadessupranormais subconscientes. Pode-se então concluirque são do mesmo modo os destinos do espírito, nas ,suas inúmeras fases de encarnação, durante as quais oque muda são os invólucros que ele reveste e não oespírito, que permanece em potência inalterado einalterável.

Naturalmente, para reconhecer esta verdadefundamental da evolução da vida nos mundos,precisamos desligar o nosso espírito das doutrinaspueris absorvidas durante a adolescência, segundo asquais a alma é criada do nada, no momento donascimento. E uma vez que ficarmos livres dessacrença absurda, só resta aderir à única doutrina capazde explicar a evolução espiritual da vida: a dareencarnação progressiva de todos os seres vivos,

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doutrina que tem sido intuitivamente conhecida pelasraças mais diversas desde a mais remota Antigüidade.

Há alguma coisa de anticientífico em se supor quea evolução biológica da espécie, ilustrada pela ciência,seja regulada por uma evolução correspondente eparalela do espírito, que se individualizaria gradual elentamente, ganhando uma consciência própria,sempre mais forte, graças ao acúmulo de uma série deexperiências adquiridas na passagem através de umamultidão de existências vegetais, animais e humanas?

Como quer que seja, não é menos verdade que ateoria da sobrevivência da psique animal -sobrevivência que, como se pôde ver, resultaincontestavelmente dos fatos observados - deixaria deter uma base racional se ela não fosse completada pelahipótese reencarnacionista, porque não se poderiaadmitir uma condição de existência espiritual dosanimais sem a qual um quadrúpede, um réptil, umpássaro, etc. devessem permanecer como taiseternamente.. Segue-se daí que as formas animais daexistência terrena, do mesmo modo que as graduaçõesdas raças humanas, não podem ser senão consideradascomo formas transitórias por meio das quais todos osseres vivos devessem passar, sem o que a vida douniverso não se explicaria e seria sem finalidade, comonão existiria, aliás, qualquer justiça no mundo.

Insisto neste ponto: que a escala infinita dos seresvivos só pode ser a expressão das manifestações da

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alma nas suas etapas progressivas de elevaçãoespiritual. O que se tornou atual no homem, graças auma longa evolução, fica potencial nos seresinferiores. A involução precede a evolução. Não é,portanto, a matéria que faz evoluir o espírito, é oespírito que, para evoluir sozinho, precisa de todas asfases de experiência que ele poderá obter na Terra, e ,por conseqüência, tem necessidade de se revestir detodas as formas sucessivamente mais refinadas que lhepode oferecer a matéria organizada. As leis biológicasda `seleção natural, da `sobrevivência do mais capaz,da influência do meio não são senão os acessóriosmais indispensáveis para essa evolução, mas averdadeira causa da evolução dos organismos vivos éinterior e se chama espírito.

Uma das melhores definições compreensíveis sobrea natureza íntima dos processos evolutivos nasindividualidades vivas foi ditada mediunicamente àlady Cathness, que a transcreve no seu livro Old truthin new light (Antiga verdade com nova luz). Emboraessa dama fosse inglesa, esta definição lhe foi dada emfrancês. Reproduzo-a tal como é:

O gás se mineraliza,O mineral se vegetaliza,O vegetal se humaniza,O homem se diviniza.

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Se fossem acolhidas as conclusões acima, em favorda existência é da sobrevivência da psique animal é desua passagem ascensional através da escala dos serespor meio das reencarnações sucessivas até o ponto dese humanizar, uma nova luz esclareceria assim oeterno problema que todas as filosofias e todas asreligiões se propuseram a resolver: o do fim da vida nouniverso. Infeliz o povo que perder toda a fé nos altosdestinos do ser! Todos, aqui na Itália, nos lembramosdas palavras desoladas pronunciadas no seu leito demorte, pelo eminente filósofo Roberto Ardigo, quetentara por duas vezes suicidar-se: Deixai-me entãomorrer! Para que serve a vida? Palavras querepercutem como uma condenação terrível, contra asteorias positivistas materialistas professadas de boa fépor esse ilustre pensador. Somos levados a exclamar:Eis, pelo menos, um filósofo de acordo com as suaspróprias convicções! Sua desoladora concepçãomaterialista da vida o havia levado racionalmente,inevitavelmente, a concluir que a vida não tinhanenhum fim, porque, se tudo termina com a morte docorpo, para que sem ter vivido, ter contemplado porum instante a grandeza do universo, ter estudadodurante toda a sua vida, ter do mesmo modo sofrido,moral e fisicamente? Talvez para o bem das futurasgerações? Mas, se essas, por sua vez, deverãodesaparecer sem deixar traços, se, num certo númerode séculos, por força do resfriamento progressivo da

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Terra, nosso mundo deverá morrer, ele também comtodos os seres aos quais dá a vida - e, se é esta a sorteextrema de todos os mundos espalhados pelo universo,para que serve então a elevação progressiva dahumanidade? Para que o culto da arte, do belo, dobom? A febre de saber, de se consagrar a um ideal?Para que serve a vida? Para que servem os mundos?Para que serve o universo? E, sobretudo, qual é o fimde tantas dores materiais e morais, sofridas pelos seresaos quais foi concedido, sem que o tenha pedido, odom nefasto da vida?

Que imensa decepção para uma alma elevada talcomo a de Roberto Ardigo! Ele não podia deixar decontemplar, espantado, o abismo da vaidade infinita dotodo, ele não podia impedir de se revoltar na presençadessa trágica ironia da sorte: Ele achava então melhordesafiar fortemente o destino da única maneirapermitida a um vivo: libertar-se, pelo suicídio, dosuplício moral de contemplar, impotente, a tragédia doser. Roberto Ardigo foi conseqüente com ele mesmo eos filósofos, que compartilham das suas convicçõesmaterialistas e que apesar disto não acabam como elepelo suicídio, são infelizmente inconseqüentes, os quese deve atribuir ao fato de que, nos arrefolhos das suassubconsciências, existe uma centelha divina que sabeser imortal e que consegue transmitir às suassubconsciências uma vaga intuição da verdade. Então,

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sem se darem conta disto, eles pensam de uma maneirae agem de outra.

Já é tempo de dispersar, nos meios filosóficos ecientíficos, os asfixiantes vapores do positivismomaterialista, proclamando ao mundo a feliz nova que,no mais ensolarado alto da majestosa árvore do saberhumano, brotou um outro ramo luxuriante e fecundode frutos regeneradores, ramo que se chama à ciênciada alma e graças à qual se demonstra à vaidade, aincoerência; o erro da concepção materialista douniverso. Ela demonstra também, esta ciência da alma,que a germinação da vida nos mundos tem por fim aevolução do espírito que, tendo-se encarnado, empotência, na matéria, deve-se se elevar ao estado deuma perfeita individualidade consciente, moral,Angélica, graças a inúmeras experiências que alternamcom ciclos de existência espiritual, sempre maissublime, até atingir os supremos cimos deidentificação com Deus, o fim supremo do ser. Istonão significa, de modo algum, o aniquilamento do eu esim a sua integração com o divino, sem nada perder desua própria individualidade, como as células doorganismo humano concorrem para criá-lo, sem nadaperder da individualidade que lhes é própria. Emoutros termos: ao microcosmo-homem, supremasíntese polizóica e polipsíquica no domínio dorelativo, corresponde o microcosmo de Deus, síntese

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transcendental polipsíquica e una, eterna,incorruptível, infinita no domínio do absoluto.

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Eis como a alma, a evolução, os destinos do ser,são definidos nas famosas sentenças filosóficas obtidasmediunicamente por Eugène Nus:

Alma: porção de substância que Deus subtrai daforça universal para cada individualidade, centro deatividade assimilados incandescente que adquire, um aum, todos os atributos do Criador.

Evolução: as moléculas simples, mudas por atraçãodireta, se agregam e se combinam para formarorganismos diferentes, mínimos nos minerais, jásensíveis nos vegetais e instintivos nos animais .

Progredir, para o ser consciente, significa semodificar, empregando racionalmente os elementosinteriores e exteriores de que dispõe.

Para os graus sucessivos, o ser consciente cumpre oseu destino, percorrendo moralmente a longaperegrinação da vida. Vida livremente manifestada,mas subordinada a leis necessariamente determinadaspela ordem do universo.

O fim supremo dos destinos individuais é o deconcorrer para formar o ser coletivo de que somosmoléculas inteligentes, da mesma maneira que o fiminconsciente, ou o destino das moléculas, das forças

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puramente instintivas, ou mesmo menos queinstintivas, que concorrem para formar nossosorganismos, é o de criar o ser individual.

Para o todo como para as partes, a vida é umrecomeçar perpétuo e não é semelhante a si mesma emcada momento da sua passagem no tempo.

*

Percebo, porém, que as especulações filosóficas arespeito do grande problema do ser me fizeram perderde vista a tese bem mais modesta que constitui oobjeto desta obra. Ela consiste em um primeiro ensaiopara demonstrar, por um método científico, asobrevivência da psique animal. É preciso quevoltemos ao nosso assunto e concluir, salientando quea existência de faculdades supranormais nasubconsciência animal, existência suficientementecomprovada pelos casos que expusemos, constitui umaboa prova em favor da psique animal. Para o homem,deve-se inferir que as faculdades em questãorepresentam, na sua subconsciência, os sentidosespirituais pré-formados, esperando exercer-se em ummeio espiritual (como as faculdades dos sentidosestavam pré-formadas no embrião, esperando exercer-se no meio terrestre). Se assim é, como as mesmasfaculdades encontram-se na subconsciência animal,deve-se inferir daí, logicamente, que os animais

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possuem, por sua vez, um espírito que sobrevive àmorte do corpo.

Além disto, esta tão interessante demonstração temsido seguida de uma outra complementar e não menosestabelecida: a que foi extraída dos casos de aparição,depois da morte, de fantasmas animais identificados,daí a conclusão legítima de que tudo contribui paraprovar a realidade da existência e da sobrevivência dapsique animal, se bem que, de acordo com os métodosde pesquisa científica, antes de se pronunciardefinitivamente a este respeito, é preciso esperar umacúmulo posterior de fatos, a fim de se ter o meio deexaminar a gênese deles numa vasta escala,analisando, comparando, classificando aindalongamente, enquanto não for afastada qualquerperplexidade legítima neste assunto de uma tão grandeimportância psicológica, filosófica, moral. Assim,apenas, o que no momento não é senão uma hipótesede trabalho suficientemente apoiada em fatos, para sertomada em séria consideração, poderá transformar-seem verdade demonstrada.

As atuais pesquisas sobre o assunto não deixamdúvida alguma quanto ao fato de que o veredito dafutura ciência deverá pronunciar-se neste sentido.

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FIM