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Velhos tempos, novos dias. A realidade de ser idoso no Brasil Aluska, Kelly, Jeani e Rosiene 1

LIVRO REPORTAGEM - Velhos tempos, novos dias

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Trabalho de Jornalismo Impresso II

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2

V ,

: A

B .

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3

“Nós ainda somos os mesmos e vivemos, como os

nossos pais”.

Elis Regina

À

Aqueles que têm mãos calejadas, marcas de uma vida

de trabalho, e aquelas que souberam ser mãe, antes mesmo das nossas.

Vô e Vô.

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Sumário

Capítulo I – SER IDOSO

Idoso e velho ------------------------------------------------- 05

Uma população que cresce e consome ---------- 10

Capítulo II – EU TENHO DIREITO!

Idoso: Direito a vida, ao sorriso e a dignidade de ser reconhecido.---------------------------------------------------- 12

Capítulo III – NÃO É SÓ ENVELHECER

Idoso e família ------------------------------------------------ 16

Vida nos asilos------------------------------------------------- 19

O cuidado fora dos asilos -------------------------------- 21

A relação cuidador e Idoso----------------------------- 23

Capítulo IV – PERFIS

E as rugas engradecem o sorriso---------------------- 26

Quem tem a vida comprida puxa por ela. -------- 29

Pra viver o que eu vivi, só vivendo 80 anos.------- 34

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Capítulo I

Idoso e Velho

“IDOSA é a pessoa que tem muita Idade;

Velha é a pessoa que perdeu a jovialidade.

A idade causa degeneração das células;

A velhice causa degeneração do espírito.

Por isso, nem todo idoso é velho e há velho que

nem chegou a ser idoso.

O mesmo ocorre com as coisas: há coisas que são

idosas (antigas) e há coisas que são velhas. Um

vaso da dinastia Ming (1368-1644) pode ser uma

antigüidade, uma relíquia que não tem preço;

outro de apenas 50 anos ou menos, pode ser um

vaso velho a ser relegado a um depósito.

Você é idoso quando pergunta se vale a pena;

Você é velho, quando sem pensar responde que

não.

Você é idoso quando sonha;

Você é velho quando apenas dorme.

Você é idoso quando ainda aprende;

Você é velho quando já nem ensina.

Você é idoso quando pratica esporte ou de

alguma forma se exercita;

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Você é velho quando apenas descansa.

Você é idoso quando ainda sente AMOR;

Você é velho quando só sente ciúmes e

possessividade.

Você é idoso quando o dia de hoje é o primeiro do

resto de sua vida;

Você é velho quando todos os dias parecem o

último da longa jornada;

Você é idoso quando seu calendário tem

amanhãs;

Você é velho quando seu calendário só tem

ontem.

Idosa é aquela pessoa que tem tido a felicidade

de viver uma longa vida produtiva, de ter

adquirido uma grande experiência; ela é uma

porta entre o passado e o futuro e é no presente

que os dois se encontram.

O velho é aquele que tem carregado o peso dos

anos; que em vez de transmitir experiência às

gerações vindouras, transmite o pessimismo e a

desilusão. Para ele, não existe ponte entre o

passado e o presente, pois lá existe um fosso que o

separa do presente, pelo apego ao passado.

O idoso se renova a cada dia que começa,

O velho se acaba a cada noite que termina,

Pois enquanto o idoso tem seus olhos postos no

horizonte, de onde o sol desponta e a esperança

se ilumina, o velho tem sua miopia voltada para os

tempos que passaram.

O idoso tem planos, o velho tem saudades.

O idoso se moderniza, dialoga com a juventude,

procura compreender os novos tempos;

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O velho se emperra no seu tempo, se fecha em sua

ostra e recusa a modernidade.

O idoso leva uma vida ativa, plena de projetos e

preenche de esperança. Para ele o tempo passa

rápido e a velhice nunca chega.

O velho cochila no vazio de sua vidinha e suas

horas se arrastam, destituídas de sentido.

As rugas do idoso são bonitas porque foram

marcadas pelo sorriso; as rugas do velho são feias,

porque foram vincadas pela amargura.

Em suma, o idoso e o velho são duas pessoas que

até podem ter, no cartório, a mesma idade

cronológica, mas o que têm são idade diferentes

no coração.”

- Autor desconhecido

No Brasil, segundo o Estatuto do Idoso (Lei

10.741, de 1º de outubro de 2003) considera-se

idoso aquele que tem 60 anos ou mais, já para

organização mundial da saúde esta classificação

segue a seguinte ordem: 6O anos nos países em

desenvolvimento e mais de 65 nos países

desenvolvidos; dessa forma poderíamos dizer que

os idosos do nosso país, considerado em

desenvolvimento se enquadram na proposta da

OMS1.

Todas as definições partem do pressuposto

de faixa etária do indivíduo associando-se aos

1 A Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma agência especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações Unidas.

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processos biológicos. Geralmente é nessa idade

que os sinais do avanço da idade começam a

aparecer, muitos já não seguem a mesma rotina

de trabalho, a realidade começa a mudar, o

cansaço, a aposentadoria, os netos e a memória

de uma vida inteira de luta começa a se fazer

presente nessa fase da vida.

Para Camarano (2004) O conceito de idoso,

portanto, envolve mais do que a simples

determinação de idades-limite biológicas e

apresenta, pelo menos, três limitações. A primeira

diz respeito à heterogeneidade entre indivíduos no

espaço, entre grupos sociais, raça/cor e no tempo.

A segunda é associada à suposição de que

características biológicas existem de forma

independente de características culturais e a

terceira à finalidade social do conceito de idoso.

Daí muitos passam a utilizar o termo terceira

idade, para definir esse período, depois de

ultrapassar a infância e a fase adulta, o indivíduo

chega à terceira idade o melhor idade como é

denominada atualmente, mas será que estas pessoas estão de fato na terceira idade?

Muitas vezes ao usarmos esse termo

pensamos apenas nas características gerais dessa

fase da vida, velhice cabelos brancos a fragilidade

e a incapacidade do outro após atingir certo

tempo de vida, e não atentamos para perceber

que são pessoas normais, que estão em todas as

camadas da população, afinal o envelhecimento

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é um processo comum a todos os seres humanos

que conseguem alcança-lo.

Ao questionar: ‘Será que todas as pessoas

que tem mais de 60 anos estão na terceira idade?

’, é aberto um espaço para a discussão onde nós

podemos perceber, que não é necessariamente a

idade de você possui, ou as marcas que foram

deixadas durante uma vida e que se tornam visíveis

com o passar dos anos, que vai determinar o seu

grau de velhice. Hoje em dia, há muitos jovens no

sedentarismo, presos a uma vida cansada e

desgastada, enquanto que a terceira idade luta

para alcançar seus direitos, são exemplos de

coragem e determinação e fazem valer o termo

melhor idade. É preciso acreditar que nessa

vontade de viver dos idosos esteja a resposta para

muitas das nossas perguntas, é preciso enxergar o

passado como algo prazeroso, pois o idoso

aprende a elencar os fatos relevantes, positivos, do

passado como matéria-prima para o dia a dia

visando um futuro bem sucedido.

Com isso o idoso tem sido encarado de

formas diferentes a o longo do tempo e nas

diversas culturas, há quem veja a terceira idade

com olhos de respeito amor e dedicação à uma

pessoa que carrega consigo inúmeras

experiências de vida, como também há quem

acredite que o ser humano ao chegar na fase

idosa torna-se um objeto, que com um passar do

tempo tende a ser descartado após o uso, seja

pela perda da autonomia física e funcional,

dificuldade de comunicação e interação com as

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gerações mais recentes ou pelo simples fato de

acreditar que o que é velho não há valor.

Investigando um pouco mais sobre o

cotidiano dessas pessoas é possível enxergar, as

contribuições, os desafios, as dificuldades e a

realidade positiva ou não, enfrentada pelo idoso

atualmente, e perceber a importância dos

‘cabelos brancos’ na nossa pauta diária e no

cotidiano de uma sociedade como um todo.

Uma população que cresce e consome

O dados demográficos nos mostram que

segundo o resultados das pesquisas do IBGE,

pode-se observar um crescimento na participação

relativa da população com 65 anos ou mais, que

era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e

chegando a 7,4% em 2010. O crescimento absoluto

da população do Brasil nestes últimos dez anos se

deu principalmente em função do crescimento

da população adulta, com destaque também

para o aumento da participação

da população idosa, na distribuição por região a

população idosa se concentra em sua maioria na

região sul e sudeste com 8,1 % da população e em

seguida o nordeste, com 7,2%.

A população idosa brasileira também

movimenta a economia do país, os idosos de hoje

não podem ser comparados aos idosos de

décadas atrás, com o crescimento dos números de

benefícios da previdência social nos últimos 30

anos, o Brasil praticamente erradicou a pobreza

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entre idosos, no início da década de 80 até o final

da passada, a proporção de brasileiros entre 60 e

74 anos vivendo com menos de US$ 2 por dia (linha

de pobreza segundo o Banco Mundial) caiu de

45% para 2%.

Aumentaram

também o

consumo por

parte destes,

que a cada

ano são vistas

como um

mercado

consumidor

solidificado.

Como o exemplo de mercado que cresceu graças

aos consumidores com mais de 60 anos podemos

citar, o farmacêutico, pois grande parte da

população idosa brasileira utiliza alguma

medicação contínua como medicamentos para

hipertensão, diabetes, Alzheimer entre outros. E

crescem também as opções para aqueles que não

possuem crédito suficiente pra atender a demanda

do consumo, ou que necessitam de uma renda

extra para atender necessidades especiais, estão

sendo liberados cada vez mais, créditos

consignados, os famosos empréstimos, que

também fazem parte da realidade da terceira

idade brasileira, porém o grande risco apresentado

em relação a esses empréstimos e um possível

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endividamento, problema questionado entre

muitos idosos aposentados.

Capítulo II

Idoso: Direito a vida, ao sorriso e a dignidade de ser reconhecido.

De acordo com a lei no Art. 3°, título I,

Disposições Preliminares, todo idoso possui direito

de ser reconhecido pela família, comunidade,

sociedade e poder político, a prática de esporte,

direito a saúde, á alimentação, educação, cultura e lazer.

Embora existam atos de autoridades que

ordenam os direitos aos idosos, ainda se percebe

uma carência e descumprimento dessas leis, não

se precisa apenas visibilizar um adulto com mais de

60 anos, perseverando o respeito de não

discriminá-lo, porém pequenos gestos como,

atendimentos preferenciais em filas de bancos,

assentos públicos ou até ajudar a atravessar de

uma rua para outra se necessário, são atitudes que

se remetem não apenas ás regras, mas ao bom senso.

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No Art. 9° do Capítulo I, Direito à Vida, a lei

aborda a obrigação do estado, garantir e da

sociedade assegurar á pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana o

sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

No Brasil a todo instante nos deparamos

com as dificuldades no atendimento público,

principalmente quando se trata de saúde e da

espera por um serviço á exemplo do SUS, onde no

Art. 15° do Capítulo IV, do Direito á Saúde, a lei

afirma “É assegurada a atenção integral a saúde

do idoso, por intermédio do Sistema Único de

Saúde – SUS2, garantindo-lhe o acesso universal e

igualitário, em conjunto articulado e contínuo das

ações e serviços para a prevenção, promoção,

proteção e recuperação da saúde, incluindo a

atenção especial ás doenças que afetam

preferencialmente os idosos”. Todavia embora seja

oficial na Constituição ainda existem lacunas que

contrariam essa imposição exemplo dessa

afirmação a senhora Maria das Dores Pessoa de 64

anos, que espera uma cirurgia cardiovascular há

2 O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 para que toda a população brasileira tenha acesso ao atendimento público de saúde. Os princípios da universalidade, integralidade e da equidade são às vezes chamados de princípios ideológicos ou doutrinários, e os princípios da descentralização, da regionalização e da hierarquização de princípios organizacionais, mas não está claro qual seria a classificação do princípio da participação popular.

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um ano e até agora nada foi solucionado, e onde

se fica a atenção especial? Será que em um ano o

SUS não conseguiria um cardiologista para

solucionar o problema? Seria essa a proteção e o

direito a saúde de qualidade que os governos disponibilizam para uma população idosa?

É necessário analisar que não é viável

apenas á escrita em um papel, porém a prática

dessas regras, os idosos precisam ser vistos como

seres humanos que necessitam de cuidados

especiais, iniciando da família até os demais que

compõem um âmbito social, não se pode

desprezar alguém tão importante e que possui

uma parcela de contribuição na construção de uma sociedade atual.

Para a secretária de Ação Social do

município de Cubati, a senhora Valquiria Lopes

(38), o idoso é um retrato experiente de todas as

lutas passadas, “A terceira idade é um dos públicos

mais importante da sociedade, pessoas que são

fiéis em suas decisões e que se tornam ponto de

amadurecimento e exemplo para todos que os

rodeiam”, afirma a secretária exemplificando

ainda que no seu âmbito de trabalho o CRAS3

existe Grupo de idosos onde se encontram

3 O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é uma unidade pública estatal descentralizada da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). O Cras atua como a principal porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), dada sua capilaridade nos territórios e é responsável pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social.

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semanalmente chamado “A vida continua” e há 3

anos vivenciam esses encontros, participando de

peças teatrais e eventos juninos como dançar em

quadrilhas. Percebe-se que essas ações são

deveres que o município tem que cumprir, haja

visto que os idosos por lei são acobertados e

querem demonstrar que ainda possuem

capacidade de ser úteis e produtivos. Esperam

assumir um lugar mais digno em sua comunidade.

Só esperam de cada um de nós um cuidado e um

olhar mais generoso para essa ideia; ainda

persistente, de terceira idade como sinônimo de

improdutividade, de pessoas fracas, amarguradas

e aborrecidas, que só atrapalham; ser finalmente abolida.

É preciso que os órgãos políticos, assim

como a sociedade perseverem nesses direitos,

fazendo uso do conhecimento exato de que a

qualidade de vida é um direito de cada ser vivo,

sem preconceito, maus tratos e exclusão social. Se

cada um refletisse sobre como se dá sua existência

no mundo perceberia, com responsabilidade os

efeitos

causados

por suas

ações.

Grupo de idosos do

CRAS do município de

Cubati -PB

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Capítulo III

Idoso e Família

A família é a primeira base de apoio do ser

humano, não há dúvidas que as relações

construídas no ambiente familiar em sua maioria,

contribuem para o desenvolvimento pessoal, social

e psicológico dos indivíduos, é através deste

habitat que o ser humano cresce e se desenvolve,

atingindo a vida adulta, onde sai do ninho para

construir a sua própria família. O ciclo; infância,

adulto, e velhice é algo comum a todas as famílias,

onde podemos observar o papel dos idosos como

pais e avós na importância dessa construção da identidade dos seus familiares.

A relação idoso x família pode ser

apresentada de várias formas, primeiramente

podemos observar a velhice como um processo

doloroso; os idosos que se enquadram neste caso

podem ser chamados de ‘idosos dependentes’

que apresentam algum tipo de dependência

física, financeira, ou funcional. Nesse grupo, a

maioria das pessoas já apresenta um desgaste

significativo e residem com família, nestes casos os

cuidados caseiros são mais viáveis, uma vez que

estas pessoas necessitam de cuidados específicos

em atividades relativamente simples, como um

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banho por exemplo. O segundo grupo que pode

ser analisado, são aqueles idosos independentes,

que moram em sua própria casa, e apesar de sua

idade avançada conseguem realizar sua

atividades com autonomia, sem necessitar de

cuidados específicos dos familiares, porém a

autonomia destes em relação aos idosos

dependentes não representa um fator decisivo

para a ausência familiar.

Em linhas gerais podemos afirmar que

independente do tipo de idoso, a família que age

direta ou indiretamente é um indicativo de suma

importância, pois é nela que o idoso necessita de

cuidados, apresenta as suas manias e acaba por

envolver a família em torno de si, levando os mais

jovens a olhar não só para si como também para

tudo a sua volta. Porém atualmente essa relação

vem sendo reconfigurada, a ausência dos

parentes tornou-se algo comum na realidade

vivida por essas pessoas, a função social da família

na vida dos idosos vem sendo cada vez menos

exercida, hoje a família é considerada nuclear

onde convivem pais e filhos e as vezes até mesmo

mães e filhos sem a figura dos avós.

A questão da ausência passa a se

problematizar quando apresenta resultados

negativos, principalmente em relação a problemas

psicológicos desenvolvidos na terceira idade, em

conversa com a psicóloga Rebecca Athayde, ela

afirma que o apoio social é uma variável que está

diretamente relacionada com o bem estar

subjetivo, e existem estudos que mostram que

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quanto maior o apoio familiar, menor as

tendências depressivas, os pensamentos de morte, ou a insatisfação com a vida.

Como exemplo temos o relato da senhora

Isaura Fábio, que tem 80 anos e há 25 tornou-se

vizinha da sua filha Socorro, ela afirma que estar

perto de família foi a melhor coisa que ela fez, em

todos os momentos alegres e tristes dos últimos

anos, pois ela teve filhos e netos para compartilhar,

e nunca passou pela cabeça algum desejo

negativo porque a família é o bem mais precioso

que ela

possui.

Dona Izaura

Fábio, 80.

Quanto maior o apoio maior será qualidade

de vida dessas pessoas, apesar das dificuldades

enfrentadas, a família torna-se o personagem

primordial na terceira idade, conforme nos mostra

o artigo 3º do Estatuto do Idoso: “É obrigação da

família, da comunidade, da sociedade e do Poder

Público assegurar ao idoso, com absoluta

prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde,

à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte,

ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à

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dignidade, ao respeito e à convivência familiar e

comunitária”. Portanto, pode-se concluir que, para

a família prevenir, proteger, promover e incluir seus

membros, é preciso garantir condições de

sustentabilidade, é preciso que todos estejam

empenhados em inserir estes membros na

realidade social que eles vivenciam e que essas condições favoráveis sejam aplicadas.

Vida nos Asilos

Ser idoso é uma arte. Arte de ser bem

cuidado, de merecer uma atenção maior, de ter

longas histórias para contar, e de agora descansar, apenas descansar.

Para alguns idosos que não tem o privilégio

desses, uma das opções é procurar asilos, lugares

onde pessoas se dispõem a fazer atos tão

grandiosos e solidários. Em Campina Grande-PB o

Asilo São Vicente de Paulo abriga pessoas da

terceira idade, que

por algum motivo

optaram por não

mais levar a vida

em casa.

É o caso da

Senhora Marli

Gonzaga, uma

senhora de 90

anos, que vive no

Asilo a quase dois. Marli perdeu os pais ainda muito

jovem, teve apenas uma irmã e nunca casou, na

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juventude era enfermeira, hoje habita o asilo por

opção da sobrinha, que por sua vez via a tia

sozinha e com medo da violência, tomou a decisão.

“No asilo Nós somos muito bem tratados,

elas agem com uma delicadeza grande e

podemos dormir tranquilos”, acrescenta Marli Gonzaga.

Para os senhores de

idade, os asilos servem

como uma opção para

quem não tem família,

para quem sofre maus

tratos e até mesmo por

nenhum desses e sim, por

uma escolha de um idoso

que precisa de cuidados e

não encontram em suas casas.

Dona Marli, diz ser

feliz e ter vários amigos,

desde a juventude, foi

uma pessoa alegre e

calma que hoje sente falta da família e lembra com alegria de seu passado.

O Asilo São Vicente de Paulo abriga

senhoras e senhores de todas as idades e de várias

cidades do estado, o espaço é coordenado por

freiras, eles têm o tratamento adequado para a

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idade, com cuidados médicos horários marcados

para refeições e tudo que um idoso precisa.

Levam uma vida tranquila, com a presença

de vários amigos, aqueles que chegam e aqueles

que por uma vontade maior vão embora, deixando tristeza e um vazio aos que ficam.

O cuidado fora dos asilos.

É importante relatar, aqui, a vida do idoso

fora dos asilos. A presença da família é primordial

na vida dos idosos, porém, muitos hoje em dia, por

falta de tempo e ou paciência tem entregado os

cuidados nas mãos de segundos.

É preciso fazer uma seleção muito rígida

antes de confiar a pessoa de melhor idade a

alguém desconhecido. Muitos aceitam cuidar por

que necessitam mesmo do salário, outros

simplesmente por questão de solidariedade. Aí

pergunto. A pessoa que está sendo paga é mesmo

de confiança? Ou seria mais de confiança do que

um próprio parente? A família pode ou consegue

contribuir nessa faixa etária? Ou contribuem

apenas com os custos? Hoje em dia pouco se ver

um filho (a), uma nora, ou qualquer que seja o grau

de parentesco, tomando para si os cuidados que

um idoso necessita.

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As histórias de maus tratos contra a terceira

idade são constantes no nosso cotidiano. Para isso

existe a Lei que protege o idoso, o Art.226,

parágrafo 8º defende a coibição de violência no

seio familiar. O estatuto define diversas medidas de

proteção às pessoas com melhor idade, dentre

elas a punição de seis meses a 12 anos de cadeia

por maus tratos aos idosos.

Tanto como uma criança precisa de

cuidados e atenção, assim também são os idosos.

Levando em conta que todos vão envelhecer um

dia, não há explicação para humilhar e mal tratar

quem nos carregou em seus braços, nos deu

carinho, nos ensinou e nos privou de tantas coisas

ruins na vida. Seja por necessidade ou

solidariedade, quem se dispõe a cuidar, deve fazê-

lo com respeito, dignidade e amor.

Relação entre cuidador e idoso

Geruza Barbosa de Medeiros de trinta anos

é cuidadora de idosos desde os 17 anos de idade.

Há um ano e meio, cuida de Maria Helenira

Almeida da Silva, 78 e Francisco Adão José da

silva, 80, cadeirante. Apesar da atenção que

recebem da família, é preciso todo um cuidado

com a higiene, alimentação e remédio, por isso se

fez necessário à presença da cuidadora. Geruza

mora no sítio Mãe Joana, mas passa a semana em

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Campina Grande, diz que

não é fácil deixar a família

e que sente muita

saudade de todos, mas o

que ela pode fazer pelo

seu filho através do seu

trabalho já compensa o

tempo que eu passa

longe deles.

Em depoimento, conta emocionada que

quando começou a cuidar deles fazia quatro

meses que seus avós tinham falecido, então se

apegou muito aos dois. “Eu já estava entrando

numa depressão que não me fazia bem, então

Deus colocou eles no meu caminho e eu no

caminho deles, pois naquele momento eu estava

necessitando de dá carinho e receber também.”

Fala que sente o maior prazer no que faz e que se

um dia Deus tirasse um da vida do outro, ela não

abandonaria a profissão, pois não gosta de

trabalhar para gente nova. “Aqui existe uma

relação de pais e filho, preciso sim do salário que

ganho, mas amo o que faço, sempre amei.

Quando a gente trabalha com amor tudo vai bem,

tudo dá certo.”

Todo esse carinho é recíproco, dona

Helenira e seu Francisco expressam o que sente

pela sua cuidadora. “É mais que uma filha para

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nós, confiamos muito nela, no que podemos ajudar

a gente ajuda, pois o que recebemos em troca é

muito mais do que fazemos por ela. Todo final de

semana ela vai embora e só vem na segunda, mas

nossa vontade era ter ela sempre por perto, só pra

gente [risos]. E é isso. Não permitimos nada de

errado com ela, mexeu com ela mexeu com a

gente também.”

Mas esta relação existe de igual forma na vida

de todos?

Por toda parte sempre podemos tomar

conhecimento de alguma história como essa, o

lamentável é que essa relação não existe em todo

lugar, há casos de maus tratos que nos indignam

bastante. Segundo os dados da Fundação Perseu

Abramo4, são 18 milhões de idosos vivendo no país

atualmente. Destes, 35%, ou seja, três em cada dez,

já foram vítimas de humilhação, ameaças,

abandono, agressão física, discriminação,

exploração financeira e até mesmo abuso sexual.

A pesquisa foi realizada recentemente nas cinco

regiões do país.

4 Fundação criada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) tem por objetivos a pesquisa, a elaboração doutrinária e a contribuição para a educação política dos filiados do PT.

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Numa matéria investigativa, em 23 de

agosto de 2010, o Repórter Record5 mostra os

diversos tipos de maus tratos. As agressões de

enfermeiros, enfermeiras e empregadas, pessoas

que recebem dinheiro para ministrar cuidados e

que, algumas vezes, usam de violência contra seus

pacientes. Dão socos, pontapés, puxam os

cabelos... As agressões são tantas e tão fortes, que

alguns idosos acabam morrendo, vítimas do

espancamento.

Com uma câmera escondida, os produtores

entraram em asilos clandestinos. Flagraram

geladeiras vazias, remédios vencidos, velhos

mijados e largados. Flagraram também o

abandono de velhinhos pela família. A dor de

quem cuidou de seus filhos a vida toda e agora

não recebe os mesmos cuidados. A dor de quem

lutou a vida inteira para receber uma

aposentadoria pequena e, mesmo assim, acaba

sendo roubado pelos próprios parentes. A dor dos

velhinhos que não têm onde morar, que vivem nas

ruas, pedindo esmolas e em abrigos da prefeitura,

em fim, que foram completamente esquecidos.

5 Programa jornalístico temático e semanal.

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Capítulo IV - Perfis

Muitos deles são responsáveis pelo sustento

dos seus familiares e concentram a renda em

muitos domicílios brasileiros, idosos que cuidam de

filhos, netos e acabam invertendo a cena comum

de incapacidade que nos é apresentada. Todos

desejam amar e ser amados, distribuir esse amor,

poder compartilhar momentos importantes de suas

vidas, chegar à determinada idade com

perseverança de quem viveu, e a jovialidade de

quem ainda tem muito pra mostrar e que o

passado tornou-se algo tão rico quanto a

satisfação e a emoção de relembrar e reviver isso

no presente. A seguir serão apresentados perfis de

pessoas que passaram dos 60 com uma certeza:

“Se chorei ou se sorri o importante, é que emoções eu vivi”.

E as rugas engrandecem o sorriso

A senhora Maria da Paz Pessoa de 62 anos é

personagem da vida real que nos narra com

demonstração e orgulho em uma manhã de

Domingo no balanço da cadeira, ao canto dos

pássaros a sua trajetória de vida até os dias atuais.

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Nascida em 16 de Março de 1950, no sítio

Praia Nova, região do município de Cubati, dona

Maria dividiu sua infância e adolescência com 26

irmãos, desde criança trabalhou na zona rural no

setor de agricultura, e depois se tornou professora

do ensino primário como era identificado na

época, onde permaneceu 12 anos educando e perseverando em prol do conhecimento.

Casou-se com

23 anos, onde teve três

filhos, Jakson Pessoa,

Laudienne Pessoa e

Jaqueline Pessoa, esta

última veio a falecer

ainda recém nascida.

Mesmo com

problemas pessoais,

familiares e de saúde

já que ela foi internada

várias vezes vítima de

derrames cerebral,

dona Maria não se

conteve e após sua

separação

matrimonial, ela

demonstrou um espírito

de fortaleza, criando

seus dois filhos; por consequência de tantas

dificuldades, abandonou a sala de aula e nos anos

90 retorna as atividades não mais atuando como

educadora e sim como doméstica e trabalhou

durante 10 anos. “A vida sempre foi dura comigo,

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mas hoje percebo que valeu a pena, o que é fácil

se vai depressa, o que nos custa sacrifício

permanece conosco”, relata dona Maria após um

silêncio que prevaleceu alguns segundos durante a

conversa, dando a entender que a reflexão de sua

história permanece a emocionar em cada palavra

pronunciada, coisas que não se veem pelas rugas,

porém são percebidas em cada palavra de

amadurecimento.

Atualmente a senhora Maria da Paz vive em

um sítio próximo a cidade de Cubati e para ela

lugar melhor não há, a rotina da zona urbana

estressa, o conveniente é morar em um lugar onde

se “reine” paz e oportunidade para trabalhar com

a agricultura. Avó de cinco netos explica quando

indagada sobre o que significa a família “Batalhei

muito para criar os meus filhos, rezo todos os dias

para que Deus conceda a mesma alegria ao ver

meus netos, homens e mulheres de bem, me

orgulho da família que tenho e que eles possam

acreditar nos planos de Deus, e os digo sempre

que já sou senhora e nunca usei isso como pretexto

para acomodar e não buscar aquilo que quero, a

vida ensina, mas a determinação transforma”.

Dona Maria causa orgulho, porque existem

tantos que criticam a vida e se quer pararam para

pensar no que ela pode representar e no quanto

os idosos são reflexos e exemplos disso, “Tenha

sempre a convicção que a pele se enruga, o

cabelo embranquece, os dias convertem-se em

anos e atrás de cada conquista um aprendizado”.

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Quem tem a vida comprida puxa por ela

A casa simples na ladeira, cheia de janelas

numa tarde ensolarada, foi o cenário de uma

conversa com uma mulher dona de uma história

de vida incrível. Claudina Ferreira Silva nos relata

com uma boa dose de sinceridade, emoção, e bom humor, momentos inesquecíveis.

Bisavó, avó, e mãe; Dona Dina, como

prefere ser chamada, é nada mais nada menos

que avó de 32 netos, bisavó de 34, e mãe de 22

filhos e mais um adotivo. Na simplicidade de suas

histórias, em meio a tantas dificuldades, ela

conseguiu formar essa família numerosa que “se

fosse juntar todo mundo, essa casinha aqui não

cabia nem a metade do povo”, declara Dona

Dina.

Herdou o nome Claudina, da própria

assinatura da família de sua mãe, pertencia à

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família Claudino, formada por marceneiros da

região. Nascida em 01 de julho de 1924, no sítio

Logradouro, onde hoje está localizada as

proximidades da BR 230, aos 87 anos ela é dona de

uma memória invejável, lembra detalhadamente

da maioria dos períodos de sua vida, desde os seus

sete anos de idade quando ficou órfã e teve que

percorrer vários lugares do interior da paraíba ao

lado de 6 irmãos; dois mais velhos e quatro

menores, até os dias atuais, nos momentos em que

ela segura os seus bisnetos no colo para contar

essas histórias. E quem disse que velho não

consegue fazer mais nada? Como uma boa

agricultora e dona de casa, lavar roupa e capinar

as plantações de fava no quintal não é problema para Dona Dina.

Mas por trás de uma história de alguém que

lutou e batalhou a vida inteira, Dona Claudina

relembra fatos tristes que ficaram marcados, como

uma infância sofrida com a ausência dos pais

“foram épocas de dificuldades, não cheguei a

aprender a ler e ter essas oportunidades que vocês

tiveram na vida, o que eu sinto mais falta é do meu

estudo, na idade que vocês estão hoje, eu já tinha

vivido muita coisa, já tinha trabalhado demais pela

casa dos outros” declara dona Dina emocionada.

Como alguém que percorreu muitos lugares

da Paraíba, Dona Dina sai do sítio Cafula onde foi

criada, e passa a morar em outras comunidades

rurais da redondeza, residiu na cidade de Riachão

do Bacamarte, depois na Capital, onde passou seis

meses e lembra com alegria “foi um dos melhores

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lugares que vivi, já não tinha tanta dificuldade, me

recordo bastante de uma amiga chamada

Lourdes que eu tinha lá”, depois de João Pessoa foi

à vez de peregrinar pelo Cariri Paraibano, onde

passou seis meses, três deles, sem andar por um

problema de saúde, quando perguntamos o

motivo ela nos surpreende com a resposta:

__ Fui picada por uma cobra cascavel na

perna e quase morri,

__ E o veneno, trouxe alguma sequela?

__ Sim trouxe, mas o poder de Deus é maior,

‘Quem tem a vida comprida, puxa por ela’, estou aqui contando a história.

__ E como a senhora conseguiu se curar sem

os recursos que temos hoje?

__ Rapadura minha filha, comi até abusar, por isso

que até hoje tenho abuso, e um pouquinho de diabetes [risos].

Essa é apenas uma das muitas histórias que

Dona Dina nos conta com muita alegria e

sinceridade em nossa conversa. Perguntando sobre

a coisa mais inusitada que ela já fez ela nos

respondeu: “foi fazer uma promessa que se um

feijão que eu tinha lucrado na última safra

aparecesse, por que ele estava sumido, eu

colocava o nome de todas as filhas que eu tivesse

de Maria, meu feijão apareceu, na época eu era solteira, mas eu tive que cumprir”.

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De fato dona Claudina cumpriu sua

promessa, dos seus 22 filhos, hoje ela tem sete

Marias, todas nascidas e criadas num casinha de

taipa simples na zona rural de Massaranduba, viveu

a vida toda basicamente da agricultura, do

trabalho no campo, e da produção de alguns

artesanatos como objetos em argila, as famosas

panela de barro, e os bordados em labirinto,

herança que deixou para algumas de suas filhas.

Em 1983, Dona Claudina se muda para a

cidade de Massaranduba onde reside até hoje, um

ano depois perde seu esposo, senhor Severino

Venâncio, e passa a morar com a filha caçula que

lhe deu 4 netos e 1 bisneto, o que permitiu que

dona Claudina nunca saísse do clima de família,

de casa cheia. Perguntado aos seus familiares

como eles definiriam essa mulher eles respondem:

Um exemplo de vida, ela é incrível. E não são só

netos biológicos que demostram esse amor por ela,

dona Dina também e rezadeira e 90% dos bebês

recém nascidas, jovens e adultos, já passaram

pelas bênçãos contra mal olhado da “vó Dina” como alguns chamam.

Ela ainda afirma que seu hobby é não ficar

parada e que se sente útil quando pode fazer

alguma coisa; sempre bem disposta, facilmente a

encontramos pelo quintal cantarolando com uma

voz de fazer inveja “Você foi embora, nunca mais

voltou, eu sei que você tem um novo amor”, e se

você pensa que ela só gosta de música antiga,

tem que ter pique pra ouvir Paula Fernandes, comer Pizza e tomar Coca-Cola com ela.

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Exemplo de determinação, Dona Claudina

tornou-se uma pessoa especial na vida de muitos,

levando uma alegria que nem todos os jovens de

20 ou 30 anos possuem. Definir alguém desse tipo

em apenas uma conversa ou em palavras de um

texto seria impossível, mas ela nos deixa a lição que

é uma idosa, mas não velha. “O velho é aquele

que tem carregado o peso dos anos; que em vez

de transmitir experiência às gerações vindouras,

transmite o pessimismo e a desilusão, já idosa é

aquela pessoa que tem tido a felicidade de viver

uma longa vida produtiva, de ter adquirido uma

grande experiência; ela é uma porta entre o

passado e o futuro e é no presente que os dois se

encontram”. E basta olhar pra vida de Dona

Claudina e perceber nitidamente o que é ser idoso.

Dona Claudina 87,e seu bisneto Renan,3.

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Para viver o que eu vivi, só vivendo 80 anos

como eu.

Francisco Adão da Silva nasceu em Souza,

no Sertão da Paraíba, no dia 05 de setembro de

1931. Em 1949 veio para campina Grande. “Vim

morar com minha avó e meu avô com 17 anos de

idade, nunca gostei desse negócio de sítio. Um dia

ganhei um cavalo lindo, mas acabei dando ao

padre, preferia uma bicicleta quebrada [risos].”

Tinha 26 anos quando se casou com Maria

Helenira. Segundo seu Francisco, sua esposa

morava em Lagoa Nova e veio para Campina

grande estudar no Colégio Alfredo Dantas,

terminou contabilidade, trabalhou numa farmácia

e fez um curso de costureira, mas só costurava

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para família. Na verdade ela sempre foi uma boa

dona de casa, diz.

Na sua atual casa moram as lembranças

de uma vida feliz. No primeiro andar, onde

funcionava uma boate, guarda discos da época e

lindos quadros, tem em média de 400 retratos que

ele mesmo pintava da família e de amigos. No

quintal, as paredes são uma verdadeira arte, tem

diversas pinturas de capa de discos de cantores e

artistas como Orlando Silva, Vicente Celestino,

entre outros em que se considera fã. “Eu sei a

história desses artistas, o dia que nasceu e morreu

e, de cabeça, todas as músicas [...] esse é um

espaço de muitas boas recordações [...] colocava

mesas aqui e cantava até o dia amanhecer com

amigos.”

Dona Helenira conta que a maior perdição

da vida de seu Francisco foi o vício em uísque e

cigarro, mas já não pode mais beber por conta dos

remédios que toma. Fala que ele sempre foi

inteligente e era considerado um dos homens mais

elegantes de Campina Grande, até hoje se acha

[risos]. Foi um boêmio cantava e tocava na rádio

Borborema que hoje é Rádio Clube e toda sexta-

feira fazia seresta com amigos no quintal de casa,

tem cerca de 70 DVD’S gravados. Amava cinema

e já frequentou de tudo – igreja, cabaré. Em fim,

aproveitou bem a vida.

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Hoje é aposentado, tem dois filhos – um

mora em Manaus e o outro é professor de

engenharia na UFCG. Viveu um momento triste da

sua vida, quando, com 79 anos de idade, teve que

amputar a perna direita, consequencia de uma

má circulação por falta de exercícios físicos.

Depende de uma cadeira para cada

necessidade, mas ainda assim carrega um sorriso

no rosto. “Depois de tanta coisa resolvi me

aquietar, vendi meus imóveis e ainda me restam

duas casas que também pretendo vender, pois

quero tranqulidade agora. Tenho a sensação que

já vivi tudo que podia”.

Poema do idoso

Se meu andar é hesitante e minhas mãos trêmulas,

ampare-me.

Se minha audição não é boa e tenho de me

esforçar para ouvir o que você está dizendo,

procure entender-me.

Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento

escasso, ajude-me com paciência.

Se minha mão treme e derrubo comida na mesa

ou no chão, por favor, não se irrite, tentei fazer o

que pude.

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Se você me encontrar na rua, não faça de conta

que não me viu. Pare para conversar comigo.

Sinto-me só.

Se você, na sua sensibilidade, me ver triste e só,

simplesmente partilhe comigo um sorriso e seja

solidário.

Se lhe contei pela terceira vez a mesma história

num só dia, não me repreenda, simplesmente

ouça-me.

Se me comporto como criança, cerque-me de

carinho.

Se estou doente e sendo um peso, não me

abandone.

Se estou com medo da morte e tento nega-la, por

favor, ajude-me na preparação para o adeus.

- Autor Desconhecido

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Referências Bibliográficas

CAMARANO, Ana Amélia; Kanso, Solange; Mello,

Juiana Leitão e. Como vive o Idoso Brasileiro?

CAMARANO, Ana A. (orgs.) Os Novos Idosos

Brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro, IPEA,

2004. 604p. (Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada – IPEA – set/2004).

OLIVEIRA, M.M; RENTE, E. C. A terceira idade: a

melhor fase da vida? Trabalho de graduação

apresentado ao curso de Psicologia do Centro de

Ciências Biológicas e da Saúde da Unama como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Bacharel em Psicologia. Belém, Unama

(Universidade da Amazônia), 2002. 33p.

Maus tratos contra Idosos – Portal do

Envelhecimento, Disponível

em<<http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticia

s/violencias/maus-tratos-contra-idosos.html >>

Acesso em 15 de junho de 2012.