Livro - Teorias da Aprendizagem - Valéria Bessa

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  • Teorias da Aprendizagem

    Autora Valria da Hora Bessa

  • Todos os direitos reservadosIESDE Brasil S.A.

    Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 Batel

    80730-200 Curitiba PR

    www.iesde.com.br

    2006 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

    Bessa, Valria da Hora. Teorias da Aprendizagem./Valria da Hora Bessa. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008.

    204 p.

    ISBN: 85-7638-365-9

    1. Educao. 2. Psicologia da aprendizagem. 3. Aprendi-zagem. 4. Aquisio de conhecimentos. 5. Professores-Formao Estudo Programado. I. Ttulo.

    CDD 153.15

    B557t

  • SumrioApresentao ............................................................................................................................7

    A aprendizagem e o processo de aprender ...............................................................................9Como ocorre a aprendizagem? ................................................................................................................. 10Teorias inatistas, ambientalistas, interacionistas e sociointeracionistas ................................................... 12Teorias da aprendizagem .......................................................................................................................... 13Educao e aprendizagem ........................................................................................................................ 14

    As polticas educacionais e as prticas pedaggicas liberais .................................................17Um pouco de Histria da Educao ......................................................................................................... 17As prticas pedaggicas liberais .............................................................................................................. 24

    A escola e as prticas pedaggicas renovadas .......................................................................27A transio de um modelo tradicional para um modelo renovado de educao ...................................... 27A Pedagogia da Escola Nova ................................................................................................................... 28O Movimento dos Pioneiros da Educao Renovada .............................................................................. 29

    A escola e as prticas pedaggicas progressistas ...................................................................35Prticas progressistas ............................................................................................................................... 35Correntes da Pedagogia Progressista ....................................................................................................... 35As dificuldades de implantao da Pedagogia Progressista ..................................................................... 38

    A teoria de Jean Piaget ...........................................................................................................43Histria pessoal ........................................................................................................................................ 43A Epistemologia Gentica ........................................................................................................................ 43Os estgios de desenvolvimento .............................................................................................................. 46A contribuio de Piaget para a Pedagogia .............................................................................................. 47

    O desenvolvimento social e a construo do juzo moral .....................................................51O desenvolvimento social da criana ....................................................................................................... 51O papel da escola e da famlia .................................................................................................................. 52A atividade ldica e a aprendizagem ........................................................................................................ 53

    A teoria scio-histrico-cultural do desenvolvimento ...........................................................57Histria pessoal de Lev Vygotsky ............................................................................................................ 57O conceito de mediao ........................................................................................................................... 61Aprendizagem e desenvolvimento ........................................................................................................... 61A teoria scio-histrico-cultural no espao escolar.................................................................................. 63

    A teoria de Vygotsky: pensamento e linguagem ....................................................................65A importncia do estudo das idias de Vygotsky ..................................................................................... 65A relao pensamentolinguagem ............................................................................................................ 66A fala e o uso de instrumentos ................................................................................................................. 68Interao entre aprendizado e desenvolvimento ...................................................................................... 70O papel do professor no desenvolvimento do pensamento e da linguagem............................................. 71

    A teoria de Henri Wallon ......................................................................................................73Histrico de Wallon .................................................................................................................................. 73Afeto e construo do conhecimento em Wallon ..................................................................................... 74O afeto no processo de aprendizagem ...................................................................................................... 76Relao professoraluno na sala de aula .................................................................................................. 78

  • A teoria de Henri Wallon: emoo, movimento e cognio...................................................83O papel do movimento na aprendizagem ................................................................................................. 83A importncia do desenvolvimento do esquema corporal ....................................................................... 84Psicomotricidade Relacional .................................................................................................................... 85O olhar de Wallon sobre o desenvolvimento psicomotor ......................................................................... 86

    Emlia Ferreiro e a Psicognese da lngua escrita ..................................................................91Histria pessoal ........................................................................................................................................ 91As hipteses infantis no processo de leitura ............................................................................................ 93E as cartilhas? ........................................................................................................................................... 94A alfabetizao ......................................................................................................................................... 95

    A aprendizagem segundo o mtodo montessoriano ...............................................................99Histria pessoal ........................................................................................................................................ 99A pedagogia montessoriana .................................................................................................................... 100O material criado por Montessori .......................................................................................................... 101

    Clestin Freinet e o mtodo natural .....................................................................................105Histria pessoal ...................................................................................................................................... 105O vnculo de Freinet com a Educao .................................................................................................... 106O mtodo natural .................................................................................................................................... 107A Educao pelo trabalho ....................................................................................................................... 109A avaliao na pedagogia de Freinet .......................................................................................................110

    A pedagogia libertadora de Paulo Freire ..............................................................................111Histria pessoal .......................................................................................................................................111A Educao segundo Paulo Freire ...........................................................................................................112O mtodo Paulo Freire ............................................................................................................................114Uma pedagogia da esperana ..................................................................................................................115

    Madalena Freire e a aprendizagem profissional ...................................................................119Histria pessoal .......................................................................................................................................119O vnculo de Madalena Freire com a Educao .....................................................................................119O legado de Paulo Freire ........................................................................................................................ 120A questo da cooperao ........................................................................................................................ 120A prtica educativa segundo Madalena Freire ...................................................................................... 121Principais publicaes de Madalena Freire ............................................................................................ 121

    Bruner e a aprendizagem em espiral ..................................................................................... 125Histria pessoal ...................................................................................................................................... 125A aprendizagem segundo Bruner ........................................................................................................... 127A aprendizagem em espiral .................................................................................................................... 128Caractersticas do ensino ........................................................................................................................ 129O papel do professor .............................................................................................................................. 131

    Ausubel e a aprendizagem significativa ............................................................................133Histria pessoal ...................................................................................................................................... 133A aprendizagem segundo Ausubel ......................................................................................................... 133A aprendizagem significativa ................................................................................................................. 134O papel do professor na teoria de Ausubel ............................................................................................. 137

    Howard Gardner e a Teoria das Mltiplas Inteligncias ......................................................141Histria pessoal ...................................................................................................................................... 141Compreendendo a teoria ........................................................................................................................ 141Tipos de inteligncia .............................................................................................................................. 142Inteligncias mltiplas e Educao ........................................................................................................ 146

  • Philippe Perrenoud e a Teoria das Competncias ................................................................149Histria pessoal ...................................................................................................................................... 149Compreendendo a noo de competncia .............................................................................................. 150A pedagogia das competncias ............................................................................................................... 151O currculo escolar baseado nas competncias ...................................................................................... 153A avaliao escolar sob a ptica da competncia .................................................................................. 154

    Teorias da aprendizagem e a formao de professores ........................................................157Os cursos de formao de professores: breve contextualizao ............................................................ 157O problema do fracasso escolar ............................................................................................................. 158Formao de professores e incluso: um dilogo possvel? ................................................................... 161

    Didtica: base da aprendizagem ou mtodo ultrapassado? ..................................................165Compreendendo a didtica ..................................................................................................................... 165Mas, para que serve a didtica? .............................................................................................................. 166A didtica tradicional ............................................................................................................................. 166A didtica crtica ou didtica moderna ................................................................................................... 170A necessidade de planejar ..................................................................................................................... 171

    A formao do professor e a prtica pedaggica .................................................................175Contextualizando a formao do professor ............................................................................................ 175Formao continuada: realidade ou utopia? ........................................................................................... 176O que diz a legislao ............................................................................................................................ 178A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996 .............................. 179Ser professor ........................................................................................................................................... 180As condies de aprendizagem .............................................................................................................. 180Tendncias e prticas pedaggicas: a mesma coisa? .............................................................................. 181

    As teorias comportamentalistas da aprendizagem ...............................................................189Compreendendo as idias behavioristas ................................................................................................. 190O relacionamento professoraluno numa perspectiva behaviorista ....................................................... 193

    Referncias ...........................................................................................................................197

  • Apresentao

    com muito prazer que inicio este mdulo! A partir de agora, entraremos em contato com as teorias e os tericos da aprendizagem e do desenvolvimento humano.Apesar do extenso contedo, vocs percebero j ter conhecimento sobre aprendizagem, pois,

    de uma forma ou de outra, somos colocados em contato com essas teorias desde que ingressamos na escola. Portanto, seja como aluno ou como professor, as discusses em torno da aprendizagem esto sempre presentes em nossas vidas.

    O material que vocs tm em mos agora foi elaborado buscando facilitar a compreenso do que exposto nas videoaulas, bem como contribuir com mais algumas informaes que enriqueam seus estudos.

    Sero apresentados teorias e autores. Alguns, j bastante conhecidos como Jean Piaget, e outros nem tanto, como David Ausubel. Autores que nos fazem refletir sobre outras possibilidades, que no apenas os mtodos convencionais de ensino, na relao do ensinar e aprender.

    Em outros momentos, falaremos um pouco sobre Histria da Educao. Por mais que parea que este mdulo no tenha relao com os contedos de Histria, veremos que ao longo do sculo XX tivemos muitas transformaes nas prticas pedaggicas relacionadas com os movimentos polticos e sociais em prol da Educao.

    Falaremos tambm da relao primordial e que comeamos a construir nesse momento: a relao entre professores e alunos. Relao essa que serve de base para que possamos construir tambm uma boa relao de ensino-aprendizagem.

    As referncias utilizadas pretendem ser, mais que um suporte, um estmulo para os futuros estudos que sero agora iniciados por vocs. Ento, que sejamos, mais uma vez, guiados pelo mundo da Educao e da aprendizagem! Bons estudos para todos. Um grande abrao.

    Valria da Hora Bessa

  • Doutoranda em Psicolo-gia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Psicologia Social pela UERJ. Professora de cursos de Graduao e Ps-graduao da Universi-dade Estcio de S RJ.

    A aprendizagem e o processo de aprender

    Valria da Hora Bessa*De um modo geral aceita-se que nenhuma atividade

    pode ser levada a cabo com sucesso por um indivduo que esteja preocupado, uma vez que, quando

    distrada, a mente nada absorve com profundidade, mas rejeita tudo quanto, por assim dizer, a assoberba.

    Sneca

    N esta aula, pretende-se apresentar alguns pontos interessantes sobre a questo da aprendizagem e o processo de aprender, procurando introduzir os conceitos e teorias que sero discutidos ao longo deste curso. So muitas as questes em torno da aprendizagem e muitas so tambm as dificuldades encontradas pelos profissionais dessa rea.

    A cada dia vemos surgir novas hipteses e novos conceitos que procuram explicar por que aprendemos de determinada maneira ou mesmo de que maneira funciona o crebro de quem aprende mais e de quem aprende menos. Mas, quais devem ser as preocupaes de um professor em relao aprendizagem de seus alunos? O que um professor deve saber para poder conduzir sua disciplina de maneira a facilitar a compreenso de todos?

    Para chegar a essas discusses, precisamos primeiro passear pelo universo das teorias. Quais so elas? E de que maneira auxiliam os profissionais da Educao? Mais ainda: o que vem a ser aprendizagem? Como ela ocorre?

    bom lembrarmos que para cada terico ou conjunto de teorias, a aprendizagem definida de uma maneira diferente e a explicao sobre como ela ocorre tambm se diferencia. Portanto, no devemos nos expressar de forma a validar uma e negar a outra, ou seja, no devemos dizer que uma est certa e outra errada. O que ocorre que todas tm validade, pois lanam um olhar sobre maneiras especficas de aprender.

    Por exemplo, vocs j aprenderam alguma coisa memorizando? J foram capazes de aprender a partir da experimentao do objeto (experincia)? Notam alguma habilidade maior em alguma matria ou atividade? Costumam aprender mais facilmente quando ensinados a partir de conhecimentos que vocs j possuem? Pois ento, todos vocs j foram apresentados a algumas das principais teorias da aprendizagem e todas elas trouxeram contribuies para a vida de aprendiz de vocs.

    Alm disso, as respostas sobre a aprendizagem geralmente so procuradas na infncia. Isto ocorre justamente porque podemos considerar que o crebro

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    infantil ainda est em desenvolvimento e que, a partir do nascimento que a criana vai sendo apresentada ao mundo, fazendo uso de seus sentidos para explor-lo, internalizando nomes, cores, sensaes, sentimentos, percepes, gostos, cheiros, fazendo associaes entre as informaes que recebe. A arrumao ou disposio dessas informaes recebidas pela criana chamada de aprendizagem, mas o que intriga a todos ns e aos especialistas justamente de que maneira essa arrumao vai sendo feita e o que leva a criana a associar uma informao a outra.

    Como ocorre a aprendizagem?H muito tempo o homem vem tentando explicar como aprendemos, mas a

    partir do sculo XX, com os estudos mais profundos em Psicologia, que comeam a surgir teorias explicativas do funcionamento do processo de aprender. A partir dos estudos realizados ao longo do sculo XX, percebeu-se que era atravs da aprendizagem que o homem adquiria hbitos e comportamentos. Alm disso, a aprendizagem passou a ser definida como o processo de aquisio de novos contedos a partir de um sistema de trocas (homem-meio) constante.

    Segundo Ferreira (1986), a aprendizagem definida como:

    Aprendizado; ato ou efeito de aprender; tomar conhecimento de; reter na memria mediante o estudo, a observao ou a experincia; tornar-se apto ou capaz de alguma coisa em conseqncia de estudo [...]

    Nesse ponto, introduzimos alguns novos elementos ao processo de aprender. So eles a memria, a ateno, o interesse e a inteligncia. claro que cada um desses termos j merece por si s um captulo, pois tambm so conceitos que precisam ser definidos, mas, por ora, iremos discuti-los procurando mostrar de que maneira estes elementos esto envolvidos com o processo de aprender.

    MemriaA memria geralmente tratada como a capacidade de armazenamento de

    informaes no crebro, ou ainda como a capacidade de resgatar aquilo que foi armazenado. Segundo Tulving e Thomson (apud EYSENCK; KEANE, 1984, p. 118), apenas aquilo que foi armazenado pode ser recuperado, e [...] a maneira em que pode ser recuperado depende de como foi armazenado. por isso que a memria um processo importante para a aprendizagem, o que no significa dizer que s aprendemos memorizando, mas que a memria, ou melhor, a capacidade que temos de armazenar contedos e recuper-los em nosso crebro, nos auxilia quando precisamos de alguma informao anterior onde uma nova possa se associar.

    Existem muitas teorias sobre a memria, mas uma das mais atuais a que faz uma analogia entre a memria humana e a memria dos computadores, a partir dos sistemas de input (entrada) e output (sada) de informaes, onde as mesmas so acessadas a partir de estmulos dados pelo usurio. No nosso caso, os aprendizes.

  • A aprendizagem e o processo de aprender

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    AtenoDe acordo com Eysenck e Keane (1984), o termo ateno tem sido utilizado de

    muitas maneiras, dentre as quais destaca-se a que considera a ateno um processo de concentrao. Podemos dizer, inclusive, que a concentrao ocorre a partir de estmulos que tanto podem ser internos quanto externos. Geralmente, prestamos ateno nas coisas ou objetos que nos despertam algum tipo de interesse. Esse interesse pode ser gerado por estmulos internos (como a vontade de conhecer mais sobre algo) ou por estmulos externos (a necessidade de aprender para passar no vestibular). Isto significa dizer que s conseguimos nos manter atentos quilo que nos interessa. Logo, uma aula desinteressante, desconectada dos interesses dos alunos e de suas faixas etrias, provavelmente no provocar estmulos suficientes para que os alunos se mantenham atentos ao que os professores esto dizendo ou fazendo em sala de aula.

    InteresseO interesse, como acabamos de ver, pode ser definido como uma relao entre

    o sujeito e o objeto, na qual o primeiro sente-se atrado pelo segundo por meio de algum estmulo produzido pelo segundo em relao ao primeiro. Assim, quando dizemos que o aluno desinteressado, estamos tambm dizendo que no fomos capazes de produzir estmulos que o atrasse para os objetos apresentados em sala de aula. Segundo Paola Gentile (2005), um aluno emocionalmente envolvido com o contedo aprende mais.

    IntelignciaCostumamos definir a inteligncia como a capacidade de uma pessoa

    de compreender facilmente as informaes que lhes so transmitidas, ou seja, chamamos de inteligentes aqueles que possuem facilidade em aprender. Da mesma forma, costumamos dizer que quem aprende com mais dificuldade no inteligente. Porm, se considerarmos a inteligncia como uma capacidade de resoluo de problemas de maneiras diferentes, poderemos inserir nesse conceito no apenas uma maneira ou uma resposta para as questes apresentadas aos alunos e sim, maneiras diferentes, como as que os alunos provavelmente tero. Isto porque os caminhos da aprendizagem passam pelos caminhos da percepo, ou seja, pela forma como cada um de ns compreende e interpreta o mundo em que vivemos. Dessa maneira, as associaes feitas pelos alunos no momento em que aprendem alguma nova informao influenciaro na sua maneira de resolver os problemas que lhes so propostos. Assim, no nos cabe definir ou identificar quem mais ou menos inteligente e sim, como a inteligncia de cada um se desenvolve.

    Dito isso, fica mais fcil compreendermos por que o ato de aprender to complexo. Sabemos agora que ele no envolve apenas os sentidos, mas tambm sistemas mais complexos como o interesse e a ateno.

    Dessa forma, foram sendo desenvolvidas teorias que buscavam explicar a aprendizagem por caminhos diferentes como o do inatismo, outras que buscavam

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    explic-la a partir do ambiente, outras a partir das aes da criana e outras ainda a partir das relaes sociais estabelecidas pela criana em seu meio, e sobre elas que falaremos agora.

    Teorias inatistas, ambientalistas, interacionistas e sociointeracionistas

    Falaremos, neste tpico, sobre o conjunto de teorias que foram sendo criadas para explicar de que forma aprendemos ao longo do nosso desenvolvimento. Vale lembrar que geralmente as teorias da aprendizagem esto associadas s teorias do desenvolvimento humano, justamente porque durante o desenvolvimento que vai da infncia fase adulta que podemos observar como as crianas, os jovens e os adultos vo construindo suas aprendizagens a partir de seus sentidos e percepes.

    Teorias inatistasVoltando s teorias, iniciemos pelo primeiro grande conjunto de teorias que

    tentou explicar a aprendizagem, as teorias inatistas. Para comear: vocs sabem o que significa a palavra inato? De acordo com Ferreira (1986, p. 929), significa [aquilo] que nasce com o indivduo; congnito; conato; que pertence natureza de um ser. Assim, as teorias inatistas so aquelas que acreditam na existncia de idias ou princpios, independente da experincia, ou seja, para tal corrente terica, a aprendizagem independe daquilo que vivido pelo sujeito, independe de suas experincias no mundo, estando a aprendizagem relacionada capacidade congnita do sujeito de desempenhar as tarefas que lhes so propostas.

    Segundo Moura, Azevedo e Mehlecke (2006), o inatismo ope-se experimentao por considerar que o indivduo ao nascer j traz determinadas as condies do conhecimento e da aprendizagem que se manifestaro ou imediatamente, ou progressivamente durante o processo de seu desenvolvimento biolgico. Assim, toda a atividade de conhecimento passa a ser exclusiva do sujeito que aprende, sem participao do meio.

    Podemos classificar como teorias inatistas da aprendizagem, por exemplo, as que falam sobre a aquisio da linguagem, como a proposta por Chomsky1. o que costumamos chamar de aprendizagem de dentro para fora.

    Teorias ambientalistasJ as teorias ambientalistas levam em considerao o meio no qual a criana

    est inserida. O ambiente passa a ser o grande responsvel pelo que a criana aprende. Para esse conjunto de teorias, a criana aparece como uma folha em branco, na qual sero inscritos hbitos, comportamentos e demais aprendizagens a partir do meio no qual a criana est inserida. Nesse caso, a aprendizagem efetua-se de fora para dentro. o caso, por exemplo, da teoria comportamentalista ou

    1Noam Chomsky: lingista americano que desenvol-veu uma teoria de base inatista, contrria ao behavio-rismo, procurando explicar a origem do desenvolvimento da lingua gem humana.

  • A aprendizagem e o processo de aprender

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    behaviorista da aprendizagem, que considera a aprendizagem um processo relativo s respostas que o indivduo d aos estmulos gerados pelo meio.

    Tanto no caso das teorias inatistas quanto no caso das ambientalistas, no se fala em interao entre o dentro e o fora, ou seja, entre a criana e suas estruturas internas e o meio no qual ela est inserida. Essa relao passa a ser encontrada no conjunto de teorias conhecido como interacionistas, da qual fazem parte as teorias construtivistas, que tm como principal terico Jean Piaget.

    Teorias interacionistasAs teorias interacionistas percebem a aprendizagem como um processo de

    inter-relao entre o sujeito e o objeto. Segundo este conjunto de teorias, a partir da ao do sujeito sobre o objeto, ou melhor, da interao do sujeito e do objeto que o aprendiz extrai daquilo que quer conhecer as informaes necessrias para seu uso, caracterizando um tipo de aprendizagem ativa. por isso que inclumos nesse conjunto de teorias o construtivismo, pois alm de ver a aprendizagem como um processo de interao entre o sujeito e o objeto, tambm considera o aprendiz um sujeito ativo, construtor (da a origem do termo construtivismo) de seu prprio conhecimento.

    Teorias sociointeracionistasJ as teorias sociointeracionistas explicam a aprendizagem a partir das

    interaes sociais realizadas pelo sujeito que aprende. Segundo esse conjunto de teorias, a partir das relaes sociais estabelecidas que ocorre no s a construo de um tipo especfico de aprendizagem, que chamada de aprendizagem social (por imitao, de comportamentos, que facilita a socializao), mas tambm uma aprendizagem mais humana, que envolve no apenas os processos mentais ou os estmulos gerados pelo meio, nem to somente a interao do sujeito com o objeto de seu interesse, mas passa a levar em considerao tambm as relaes estabelecidas pelo sujeito durante o seu processo de aprender, colocando em foco a relao de sala de aula, ou, mais especificamente, a relao professoraluno.

    dentro desse variado conjunto de teorias que as teorias da aprendizagem vo sendo formuladas ao longo dos tempos. Passemos agora s teorias de fato.

    Teorias da aprendizagemUma vez apresentados os conjuntos de teorias, iremos apresentar as teorias

    da aprendizagem que consideramos mais importantes para aqueles que vo lidar, de alguma maneira, com o cotidiano da Educao. Apresentamos abaixo os tericos e as teorias mais discutidas sobre aprendizagem.

    Teoria Construtivista de Jean Piaget.

    Teoria Scio-histrico-cultural de Lev Vygotsky.

    Henri Wallon e a Psicognese da pessoa completa.

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    Maria Montessori e a aprendizagem exploratria.

    Emlia Ferreiro e a aprendizagem da leitura e da escrita.

    Clestin Freinet e a aprendizagem natural.

    Teoria Libertadora de Paulo Freire.

    Madalena Freire e a aprendizagem profissional.

    Jerome Bruner e a aprendizagem em espiral.

    David Ausubel e a aprendizagem significativa.

    Howard Gardner e a teoria das mltiplas inteligncias.

    Philippe Perrenoud e a teoria das competncias.

    Alm dessas teorias, necessrio tambm que discutamos outras questes bastante relevantes para compreendermos o processo de aprendizagem. Por isso, precisamos conhecer as prticas pedaggicas, resgatando suas bases na Histria da Educao, discutir os modelos didticos e ainda analisar a formao dos professores. Dessa forma, fica mais fcil percebermos que a aprendizagem no um processo individual, ou seja, que dependa somente do esforo de quem aprende, mas sim um processo coletivo, que envolve tanto as aes do educando quanto as aes do educador.

    Educao e aprendizagemMas, o que a histria das prticas pedaggicas, a formao do professor

    e a didtica tm a ver com aprendizagem? Essa uma pergunta muito comum, principalmente nos cursos de Licenciatura. Acontece que para podermos viabilizar a aprendizagem dos alunos por meio de qualquer uma das teorias, devemos antes compreender historicamente os usos que essa teoria teve. Mais que isso, devemos tambm saber o que ns desejamos com o uso de tal teoria como suporte na sala de aula. Para tanto, devemos dispor de conhecimentos como os da Didtica, que nos auxiliam a planejar nossas aulas, traando nossos objetivos e mtodos a partir de qualquer teoria.

    Dessa maneira, como professores, podemos dispor de diferentes recursos tericos, metodologias e conhecimentos gerais que facilitam tanto o trabalho do professor, como a aprendizagem do aluno, que pode experimentar o contedo a ser aprendido de maneiras diferentes.

    claro que ao falarmos de aprendizagem e do ato de aprender no podemos deixar de fora a responsabilidade de pais e professores. Os pais, no que diz respeito aprendizagem escolar da criana, devem auxiliar na resoluo de atividades, no acompanhamento das atividades realizadas pela criana e na estimulao para que a criana seja capaz de superar suas dificuldades. O professor, por sua vez, precisa ter claro seus objetivos, contedos e mtodos para o desenvolvimento de uma aula clara e organizada, o que facilita a compreenso da matria pelos alunos, em especial quando falamos da Educao Infantil. Alm disso, o professor, para garantir uma boa aprendizagem, pode tambm lanar mo de atividades

  • A aprendizagem e o processo de aprender

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    que envolvam os conhecimentos prvios dos alunos e a reviso da matria para uma melhor compreenso e fixao dos contedos apresentados. J a escola, precisa manter o currculo das disciplinas atualizado, bem como a organizao e acessibilidade para os alunos, dando ateno aos que possuem necessidades educativas especiais.

    Conclumos, assim, que o processo de aprender no est relacionado apenas com as capacidades intelectuais de cada aprendiz, mas, de uma forma mais ampla, o processo de aprender envolve, para alm das nossas habilidades cognitivas, as relaes estabelecidas entre professores e alunos e, conseqentemente, a relao que se constri em torno do ensino e da aprendizagem. Isso significa que, mesmo um aluno considerado inteligente pode apresentar dificuldades se a relao que estabelece com a matria, a partir do professor e de sua didtica no for bem construda.

    Com o intuito de auxili-los em seus estudos, apresento abaixo algumas questes que podem servir de base para uma melhor compreenso sobre a aprendizagem e seus processos.

    Individual

    1. O que significa dizer que um aluno aprendeu a matria?

    2. Por que dizemos que o construtivismo faz parte do conjunto das teorias interacionistas de aprendizagem?

    3. De que maneira pais e professores podem auxiliar o processo de aprendizagem das crianas? Por qu?

  • Teorias da Aprendizagem

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    Em grupo

    1. Discutam qual a importncia de conhecer as teorias da aprendizagem para os profissionais ligados educao.

    2. Se possvel, criem um debate sobre a seguinte questo: possvel medirmos a aprendizagem?

    Uma boa dica de filme para aprofundar as discusses sobre o tema da aprendizagem o filme Mentes que brilham (Little man Tate Jodie Foster EUA, 1991), ou ainda o filme Meu p esquerdo (My left foot Jim Sheridan Irlanda, 1989), nos quais so enfatizadas questes como a aprendizagem de crianas portadoras de altas habilidades intelectuais (superdotados) e a importncia do estmulo para o ato de aprender.

  • N esta aula, ser abordado o desenvolvimento das prticas pedaggicas que estiveram presentes nas escolas brasileiras e que ainda hoje exercem grande influncia sobre o trabalho dos nossos professores. Para tanto, exploraremos os conhecimentos produzidos por uma outra rea de grande importncia para qualquer disciplina: a Histria.

    com base na Histria da Educao que vamos procurar apresentar alguns aspectos relevantes para que possamos compreender em que momento surgem em nossas escolas idias e ideais como os da Educao Renovada ou Escola Nova (que apresentam o construtivismo como prtica pedaggica), ou ainda como os da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire.

    Cabe ressaltar que as prticas pedaggicas dizem respeito a um conjunto pedaggico que envolve, para alm da didtica, ou seja, do mtodo de ensino a ser utilizado, uma concepo filosfica da Educao e uma teoria da aprendizagem que corresponda a tal filosofia.

    A prtica pedaggica, segundo Luckesi (1994, p. 21), [...] est articulada com uma pedagogia, que nada mais que uma concepo filosfica da educao.

    Um pouco de Histria da EducaoComo j foi dito antes, tomaremos como base a Histria da Educao para

    ilustrar os caminhos percorridos pela Educao e suas prticas ao longo do sculo XX. Tal incurso no tempo nos permite compreender a escola que temos hoje, alm de desejar tambm refrescar nossa memria sobre os acontecimentos da nossa histria recente da Educao no Brasil.

    Comearemos ento pela dcada de 1920, uma vez que at esse momento era a Educao Religiosa o grande parmetro para as prticas de ensino e Educao que, aos poucos, vo sendo substitudas por prticas de ensino laico (desvinculadas da religio), mas ainda tendo como base a rigidez e a centralizao do processo no professor. Tal prtica recebe o nome de Pedagogia Tradicional e por meio dela e de alguns fatos histricos que comeamos nossa viagem no tempo.

    A Poltica Educacional da dcada de 1920 nessa dcada, durante a Primeira Repblica, que ocorre o que ficou

    conhecido como O entusiasmo pela Educao, movimento que teve carter quantitativo, tendo a ver com a expanso da rede escolar com o intuito de diminuir o analfabetismo do povo brasileiro. claro que existiam interesses polticos por trs do projeto de alfabetizao.

    As polticas educacionais e as prticas pedaggicas liberais

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    Foi durante a Primeira Repblica, perodo que vai de 1889 a 1930, que ocorreu a expanso da lavoura cafeeira, a instalao dos portos, a reformulao urbana e um grande crescimento industrial. Tambm foi neste perodo que o regime escravocrata foi substitudo definitivamente pelo trabalho assalariado, abrindo espao para o aparecimento de carreiras intelectuais e burocrticas, levando as famlias a perceberem a escola como um caminho para seus filhos.

    Ao mesmo tempo, as discusses polticas da Repblica tambm giravam em torno da necessidade de extenso da escola pblica ao povo, entendendo que os problemas do pas s poderiam ser resolvidos se o povo fosse instrudo.

    O Movimento do Entusiasmo pela Educao teve muitos altos e baixos por causa dos interesses das oligarquias (os grandes cafeicultores) que procuravam, em 1894, afastar os intelectuais e suas idias do governo, o que foi conseguido, uma vez que ainda nessa poca eram os coronis que governavam o pas. Dessa forma, o Movimento do Entusiasmo pela Educao fica adormecido, sendo resgatado apenas durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando o sentimento patritico chamou a ateno dos intelectuais para o desenvolvimento do pas e, principalmente, para a questo da Educao.

    S para termos uma idia, segundo Ghiraldelli Jr. (2001), em 1920, 75% da populao brasileira era analfabeta e, como os analfabetos no podiam votar, surgiram, nessa poca, vrias alianas contra o analfabetismo, pois o voto seria a nica maneira de retirar do poder a permanncia do favorecimento s sociedades cafeeiras.

    Vale lembrar que na dcada de 1920 a prtica pedaggica era chamada de Tradicional e sua metodologia era baseada em heranas de metodologias de ensino religioso (jesutico) e enciclopdico, apesar do esforo do ento nascente Movimento Libertrio.

    Os professores dessa poca eram, em sua maioria, religiosos ou leigos, tendo seus princpios pedaggicos guiados pelo pensamento jesutico. A escola ento, era destinada s classes economicamente favorecidas e, por mais que o Movimento do Entusiasmo pela Educao tivesse persistido, poucas foram suas conquistas.

    No podemos dizer que no houve expanso da escola pblica em termos quantitativos, mas isso no significou maior acesso escola pelas classes menos favorecidas economicamente.

    Foi por esse motivo que outro movimento comeou a se proliferar, ainda na dcada de 1920, ganhando fora na dcada de 1930: o Movimento do Otimismo Pedaggico. Vejamos o que ocorreu nessa dcada.

    A Poltica Educacional da dcada de 1930A dcada de 1930 d incio ao perodo histrico conhecido como Segunda

    Repblica, que se estendeu de 1930 a 1937. Foi nesse perodo que emergiu com intensidade o Movimento do Otimismo Pedaggico. Tal movimento se acoplou ao Movimento do Entusiasmo pela Educao, substituindo-o, mais tarde, devido ao fracasso que esse ltimo sofreu junto ao poder das oligarquias da Primeira Repblica.

  • As polticas educacionais e as prticas pedaggicas liberais

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    O Movimento do Otimismo Pedaggico visava melhoria das condies de ensino, centrando sua nfase nos aspectos qualitativos da Educao. Veio se somar o iderio escolanovista que se apresentava como uma poltica educacional e uma teoria da Educao.

    O Movimento Escolanovista representou as lutas em prol da renovao pedaggica, ou seja, a substituio do modelo tradicional de ensino por outro em proximidade com as novas tendncias pedaggicas europias, como o construtivismo.

    importante lembrarmos que a dcada de 1930 foi marcada por grandes conflitos polticos e religiosos, principalmente sobre o que dizia respeito orientao pedaggica das escolas.

    Nesse mesmo perodo, ocorre o que ficou conhecido como a Revoluo de 1930, movimento poltico que teve como conquista o afastamento das oligarquias cafeeiras do poder e a posse provisria de Getlio Vargas como Presidente da Repblica.

    Vargas, como sabemos, foi um dos grandes responsveis pela modernizao do Estado brasileiro. Com sua capacidade de articulao poltica foi tambm capaz de controlar os movimentos trabalhistas com polticas populistas e acalmar os liberais, acatando as idias do Movimento Escolanovista e do Movimento do Otimismo Pedaggico. Ao mesmo tempo, soube controlar tambm os anseios catlicos, freando as vontades democratizantes dos Movimentos Renovados da Educao.

    Apesar de ter promulgado a Constituio Federal de 1934, que apresentava claras caractersticas democrticas , Vargas desfechou, em 1937, o golpe que instituiu o Estado Novo, abafando todos os debates democrticos, socialistas e progressistas que haviam aflorado junto com o esprito de modernidade da poca. Dando margem a uma nova atmosfera, que ser retratada a seguir.

    A Poltica Educacional da dcada de 1940Ao contrrio da Constituio de 1934, que foi produzida por uma

    assemblia Nacional Constituinte eleita pelo povo, a Carta Magna de 1937, que institui o Estado Novo, foi produzida pelo que Ghiraldelli Jr. (2001) chamou de tecnoburocracia getuliana.

    O Estado Novo compreendeu os anos de 1937 a 1945 e durante esse perodo se desincumbiu da Educao pblica, ou seja, se desobrigou a manter o ensino pblico, deixando essa obrigao a cargo, principalmente, das famlias ricas.

    As escolas passaram a ter o que ficou conhecido como caixa escolar. As famlias ricas freqentavam as escolas pagas e davam contribuies financeiras para o sustento das escolas pblicas. O Estado Novo tambm procurou separar os que podiam estudar (aqueles que provinham de famlias ricas), daqueles que deveriam ganhar o mercado de trabalho (a classe operria).

    Nessa poca as lutas em prol da democracia e os Movimentos Escolanovistas e de Otimismo pela Educao foram abafados pela ditadura imposta pelo golpe de 1937. S a partir de 1942 volta-se a falar sobre os rumos da Educao.

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    Estava bastante claro que o Brasil no poderia voltar a ser cafeeiro e que a industrializao era necessria. Para tanto, o sistema de ensino precisaria formar pessoas especializadas para as funes a serem ocupadas nas indstrias. nesse momento que surgem as escolas profissionalizantes como as do Senai e Senac, entre outras.

    J prximo ao perodo que marcou o final do Estado Novo, percebendo o enfraquecimento do poder ditatorial, Vargas retoma os projetos populares de esquerda e as idias escolanovistas que se encontravam divididas, pensando desfazer o Estado Novo e afastar as foras de direita da base aliada.

    Porm, ocorre justamente o contrrio do que era previsto por Vargas. Em 1945, Vargas derrubado pelos aliados do Estado Novo justamente por ter se aproximado novamente dos movimentos de esquerda, com interesses democrticos.

    Nesse momento teve incio o perodo que ficou conhecido como a Quarta Repblica. De 1945 a 1947 ocorreu a redemocratizao do pas, ou seja, o fim do perodo ditatorial e o retorno das discusses polticas e educacionais, mesmo porque, em 1946 uma nova Constituio Federal assinada, ficando em vigor at 1964. De acordo com esta Constituio, a Unio deveria fixar as Diretrizes e Bases da Educao Nacional (foi a primeira vez que se falou em LDB), instalando uma comisso em 1947 que remeteu o projeto ao Congresso Nacional em 1948, sendo o mesmo arquivado em 1949, retornando ao Congresso apenas em 1957, ou seja, nove anos depois de sua elaborao.

    Porm, o projeto original foi substitudo pelo projeto Lacerda em 1958 que gerou grandes conflitos entre os defensores da escola privada e os defensores da escola pblica.

    A Poltica Educacional da dcada de 1950Podemos dizer que a dcada de 1950 foi marcada por discusses em torno da

    LDB, e em torno da organizao da escola pblica, passando a responsabilidade sobre esta ltima a ficar novamente sob a custdia do Governo Federal.

    Esta dcada marcada por movimentos intensos em prol da Educao, principalmente em relao ao desenvolvimento e implementao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Alm disso, os movimentos contrrios educao tradicional voltam a aparecer no cenrio da Educao. O mais importante deles o movimento escolanovista (Defensores da Escola Nova), que na dcada de 50, por ocasio das discusses em torno da responsabilidade dos governos sobre a escola pblica, reaparece no cenrio da educao como possvel substituta do modelo tradicional de educao. Como em 1958 o projeto apresentado por Carlos Lacerda (o Substitutivo Lacerda) acirra as discusses sobre os modelos pedaggicos brasileiros, adiando a votao da LDB, o Movimento da Escola Nova estende sua tentativa at a dcada seguinte.

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    A Poltica Educacional da dcada de 1960J a dcada de 1960 foi marcada por vrios acontecimentos importantes,

    como a assinatura da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDBEN), os movimentos de Educao Popular, o surgimento da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, o enfraquecimento da Educao Nova e o Golpe Militar de 31 de maro de 1964.

    A nova LDBEN, promulgada em 1961, sofreu, segundo Ghiraldelli Jr. (2001), 200 emendas diferentes desde a sua apresentao Unio em 1947. Com tantas modificaes, ela foi considerada pelos intelectuais escolanovistas da poca uma vitria pela metade, frustrando muitos educadores, j que no atendia, de fato, s necessidades das escolas brasileiras.

    Alm disso, em 1960 o Brasil j no era mais agrrio e a industrializao crescia apoiada, inclusive, pelo operariado, que considerava o processo de industrializao responsvel pelo aparecimento de novos empregos.

    Havia, nessa poca, um grande interesse de investidores externos no Brasil, uma vez que o nosso pas tinha um mercado promissor e mo-de-obra barata. Esse novo panorama econmico do Brasil permitiu a entrada de indstrias estrangeiras em territrio nacional e fez aflorar movimentos em prol da promoo da cultura popular, entre outros.

    no bojo desses movimentos que destaca-se a experincia da cidade de Natal, em 1961, com a campanha De p no cho tambm se aprende a ler, integrando educao popular e educao escolar, tendo Paulo Freire frente das aes que deram origem Pedagogia Libertadora. Tal pedagogia tinha como principal bandeira a de que todo ato educativo , em si, um ato poltico.

    Nesse mesmo perodo, ocorre o enfraquecimento definitivo dos iderios escolanovistas, uma vez que seus mtodos eram caros e exigiam maior formao dos educadores. Por esse motivo, a Pedagogia Escolanovista desenvolveu-se, principalmente, no interior de escolas privadas, no tendo conseguido respaldo econmico por parte do governo para se desenvolver no interior das escolas pblicas.

    Ainda na dcada de 1960, os iderios de Paulo Freire so deturpados e sua Pedagogia associada aos Movimento marxistas e socialistas. Por isso, pela grande influncia que suas idias exerciam sobre os educadores, a Unio criou o Mobral como tentativa de mostrar populao que apoiava os movimentos populares de Educao.

    O projeto de Educao Popular promovido por Paulo Freire paralisado definitivamente pelo Golpe Militar de 31 de maro de 1964.

    A Poltica Educacional da dcada de 19701

    Esta dcada marcada, sobretudo, pela Ditadura Militar que estendeu suas bases para alm dos quartis e do Congresso, interferindo at mesmo, e principalmente, no ensino escolar.

    1 Tpico escrito com base na dissertao de Mes-trado Escola, Gesto e De-mocracia: as marcas dos anos de chumbo no processo edu-cacional brasileiro de minha autoria, defendida na Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro, em 2004.

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    As transformaes anunciadas pelas Reformas Educacionais no Brasil a partir da dcada de 1970 no dizem respeito somente implantao de novos modelos educacionais, mas tambm construo de prticas e tcnicas voltadas para a desarticulao poltica da sociedade e para a desativao dos movimentos populares.

    Durante os vinte e um anos de Ditadura Militar, que teve incio em 31 de maro de 1964 com a deposio do presidente Joo Goulart e fim com a eleio indireta de Tancredo Neves e Jos Sarney em 1985, o Brasil foi submetido a uma tentativa de anulao dos processos democrticos2. Tal tentativa fez com que, no pas inteiro, as prticas coletivas de trabalho fossem impedidas de ser exercidas, de modo a garantir a ordem e o progresso da nao que deveria responder ao projeto de desenvolvimento com segurana3 do Regime Militar.

    Tal projeto era baseado na aliana entre os ideais da Escola Superior de Guerra, da tecnoburocracia militar, da burguesia e das empresas multinacionais, no sentido de favorecer o processo de acumulao e centralizao do capital. Segundo nos aponta Ghiraldelli Jr. (2001), a partir dessa aliana que as polticas salarial, agrcola, fiscal e educacional passaram a deixar descontentes no s as classes populares, mas tambm a classe mdia e a elite que deu apoio ao golpe militar.

    A Ditadura Militar, por meio de mecanismos de represso, privatizao do ensino, excluso de parcelas das classes populares das escolas pblicas de boa qualidade, tecnicismo pedaggico, desqualificao e desvalorizao do magistrio, por meio das legislaes educacionais e institucionalizao do ensino profissionalizante, tratou de sufocar as organizaes da sociedade civil em torno da Educao, como fez tambm com vrios outros segmentos sociais.

    O desenvolvimento econmico na Ditadura Militar dependia, segundo Ghiraldelli Jr. (2001), do aniquilamento das organizaes e dos canais de participao populares capazes de interferir nas decises governamentais. O sistema educacional, dentro da tica da ditadura brasileira, no deveria despertar aspiraes que no pudessem ser satisfeitas.4 Na verdade, o sistema educacional foi o locus de desenvolvimento da idia de explorao do trabalho por meio da aplicao das Leis 5.540/68 e 5.692/71.

    As reformas educacionais promovidas por estas leis instituram modos de funcionamento burocratizados e desligados das questes sociais mais amplas, dando corpo ao que conhecemos como pedagogia tecnicista.

    A Pedagogia Tecnicista, tendo sido introduzida a partir da base tcnica de produo taylorista/fordista, era tida como o modelo de educao capaz de preparar tecnicamente profissionais para assumirem os postos nas linhas de produo, na operao de mquinas e no gerenciamento de pessoas e visava a separao do intelectual do instrumental, delimitando funes para trabalhadores e para dirigentes.

    De finais da dcada de setenta at os dias atuais, muitos trabalhadores da educao vm lutando pela afirmao de prticas de politizao, de debate, de

    2 Sobre o golpe militar de 1964 e os anos de ditadura no Brasil consultar o Dicionrio Histrico-Biogrfico Bra si -lei ro (DHBB) ps1930 Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil, CPDOC Funda-o Getlio Vargas.

    3 Ideologia da Escola Supe-rior de Guerra (ESG).

    4 Palavras dos generais-presidentes da poca, citadas por Guiraldelli Jr. (2001, p. 169).

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    liberdade, de organizao coletiva e de acesso das classes populares escola pblica. Lutas, que para alm do projeto de transformao da realidade educacional, visam conquista de salrios mais justos e melhores condies de trabalho, face insatisfao com as sucessivas administraes escolares.

    As lutas pela democratizao dos espaos pblicos haviam sido animadas pela possibilidade do voto direto, que se tornava realidade tambm nas escolas. Entretanto, antes que a participao se efetivasse num projeto de democratizao que atingisse todas as esferas escolares, fomos interpelados pelos discursos de uma nova forma de administrao que atropelou os movimentos populares.

    A Poltica Educacional da dcada de 1980Para Gentili (1998), o discurso da qualidade, que teve incio na dcada de 80

    em toda a Amrica Latina, aparece como contraface multiplicao dos discursos sobre a democratizao, o que foi possvel por existir no conceito de qualidade total um claro sentido mercantil (de ganhos por produtividade); no campo educacional assumiu a forma de um novo discurso conservador e funcional em conformidade com a poltica ps-ditatorial da poca, que tratou de dissolver os espaos pblicos, entre eles o da escola.

    Segundo Paro (2001), nesse momento, os problemas da educao escolar passaram a ser vistos pelos rgos governamentais como sendo de natureza eminentemente administrativa, encarados como puramente tcnicos, desvinculados de seus determinantes econmicos e sociais. Assim, mecanismos de administrao, como a gerncia, a flexibilizao e a diviso pormenorizada do trabalho, so tomados como transplantveis para a situao escolar em virtude dos altos ndices de produtividade alcanados nas empresas. Esse o modelo que serve de base para a educao desde a introduo do modelo taylorista/fordista nas escolas e que deu origem pedagogia tecnicista, presente nas escolas brasileiras at os dias atuais.

    Os gestores que antes agiam como se estivessem em indstrias, centralizando o trabalho e o poder, visando a uma produtividade pautada na ordem e na repetio instrumental, passam a promover aes dentro das escolas empresas, com a perspectiva de ampliar a produtividade pautada nos conceitos de competncia, eficincia e qualidade (VALLE, 1997). Estas ltimas comportam em si a diviso pormenorizada do trabalho. Herdam as noes tayloristas/fordistas, adequando-as s polticas neoliberais dos anos 1990.

    O desafio para os educadores, desde ento, vem se constituindo na organizao de prticas de desconstruo de tais relaes que acirram ainda mais a estratificao e a diviso social do trabalho na escola (ROCHA; GOMES, 2001).

    dentro desse panorama poltico-educacional que pende ora para o modelo tecnicista de trabalho, ora para o modelo empresarial de gesto que nos encontramos hoje, na primeira dcada dos anos 2000.

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    As prticas pedaggicas liberaisA prtica pedaggica liberal surgiu para justificar o sistema capitalista que

    teve como marco a Revoluo Industrial, estabelecendo uma forma de organizao social baseada na propriedade privada dos meios de produo. Baseada no lucro e na produtividade, tem como principal caracterstica a diviso entre as classes sociais, na qual a classe dominante, a burguesia, detentora dos meios de produo e a classe dominada vende a sua fora de trabalho, realizado de forma mecnica, fragmentada e competitiva.

    Na educao, a Pedagogia Liberal sustenta a idia de que a escola tem por finalidade preparar os indivduos para o desempenho de papis sociais, de acordo com suas aptides individuais. Assim, os indivduos devem aprender a se adaptar aos valores e s normas vigentes na sociedade burguesa.

    A mquina colocada no centro do processo de produo em srie e a escola tem a funo de preparar os indivduos para a realizao dessa produtividade, reforando a ideologia da classe dominante, reproduzindo a ordem social j estabelecida. O trabalhador s domina o mnimo de conhecimento necessrio para operar a mquina. A escola torna-se, ento, um aparelho ideolgico do Estado para reproduzir a ordem da classe social dominante, que se apropria de conhecimentos para estabelecer sua dominao, visando acumulao de capital.

    A Pedagogia Liberal sustenta a idia de que a escola tem por funo preparar os indivduos para os desempenhos de papis sociais, de acordo com as aptides individuais. Para isso os indivduos precisam aprender a adaptar-se aos valores e s normas vigentes na sociedade. A nfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenas de classes, pois embora difunda a idia de igualdade de oportunidades, no leva em conta a desigualdade de condies.

    A Pedagogia Liberal, enquanto tendncia pedaggica, deu origem s seguintes correntes: pedagogia tradicional, renovada e tecnicista.

    A Pedagogia TradicionalUtiliza-se de um conjunto de princpios e regras que regulam o ensino. A

    atividade de ensinar centrada no professor, que expe e interpreta a matria. A relao professoraluno no tem uma ligao com o cotidiano do aluno, nem com as realidades sociais. O aluno recebedor da matria e sua funo decor-la por meio do seu prprio esforo.

    Dessa forma, a escola tem como funo preparar o aluno intelectualmente para assumir sua posio na sociedade, adquirindo conhecimentos e valores sociais acumulados pelas geraes adultas que so repassados como verdades, existindo o predomnio da autoridade do professor no relacionamento com o aluno, que se desenvolve de forma hierarquizada e verticalizada.

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    O conhecimento repassado em forma de progresso lgica, tornando a aprendizagem receptiva e mecnica, sem um questionamento do aluno. A disciplina imposta, por meio de castigos, para o aluno prestar ateno e assim poder memorizar os conhecimentos transmitidos. A avaliao se d por interrogatrios e provas. Atualmente encontra-se atuante em escolas religiosas e em escolas leigas.

    A Pedagogia TecnicistaInspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistemtica

    de ensino, foi utilizada nos anos 1960 com o objetivo de adequar o sistema educacional orientao poltica-econmica do regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalizao do sistema capitalista. A escola funciona como moderadora do comportamento humano por meio do sistema de tcnicas especficas, teis e necessrias para que os indivduos se integrem na mquina do sistema. Seu interesse imediato produzir indivduos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informaes precisas, objetivas e rpidas. Seu contedo de ensino so as informaes, princpios cientficos, leis etc. So informaes passadas por especialistas seguindo uma seqncia lgica e psicolgica, decorrendo assim da cincia objetiva. O material institucional encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didticos, nos mdulos de ensino, nos dispositivos audiovisuais, entre outros. Elimina, assim, a subjetividade, acentuando o distanciamento entre a teoria e a prtica, no sendo coerente tambm com a realidade dos alunos. A Pedagogia Tecnicista contribuiu para aumentar a fragmentao do conhecimento, proporcionando o aumento dos ndices de evaso e repetncia.

    Nessa pedagogia, o professor se empenha em conseguir respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, adequando o comportamento pelo controle do ensino (tecnologia educacional). A relao professoraluno estruturada e objetiva. O professor apenas um elo de ligao entre a verdade cientfica e o aluno. A comunicao professoraluno tem um sentido exclusivamente tcnico, em que os papis so bem definidos: o professor administra e executa as condies de transmisso da matria e o aluno recebe, aprende e fixa as informaes.

    Aprender uma questo de modificao de desempenho. O ensino um processo de condicionamento por meio do uso de reforo das respostas que se quer obter. Os componentes da aprendizagem, da motivao, da reteno, da transparncia, decorrem da aplicao do comportamento operante. Segundo Skinner, o comportamento aprendido uma resposta a estmulos externos, controlados por meio de reforos que ocorrem com a resposta ou aps a mesma.

    Dessa forma, passeando pela histria recente do nosso pas, percebemos sua riqueza e tambm a enorme influncia que ela exerceu e ainda exerce sobre os modelos educacionais produzidos ao longo dos anos.

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    1. Por que recorremos Histria da Educao para pensar sobre as prticas pedaggicas?

    2. O que faz com que, em determinado momento histrico, uma prtica pedaggica seja substituda por outra nos parmetros educacionais do governo?

    3. No Brasil, at hoje, tivemos dois perodos ditatoriais: um em 1937 e outro em 1964. De que maneira a ditadura interfere no processo educacional e nas prticas pedaggicas?

    4. Com base neste captulo, pesquise os principais movimentos educacionais do sculo passado e produzam um painel com datas, nomes e fatos histricos que marcaram a educao do nosso pas.

    Para entendermos um pouco melhor a histria recente do nosso pas ligada Educao, indico a leitura do livro: GHIRALDELLI JR. P. Histria da Educao. 2. ed. So Paulo: Cortez, 2001. (Coleo Magistrio 2. grau. Srie formao do professor).

  • A escola e as prticas pedaggicas renovadas

    A transio de um modelo tradicional para um modelo renovado de educao

    Q uando nos referimos ao modelo renovado de educao, a primeira questo que se coloca : porque esse modelo pedaggico chamado de renovado? Para responder a essa questo, precisamos resgatar a idia da Pedagogia Tradicional.

    A Pedagogia Tradicional, substituta do modelo jesutico de educao, esteve fortemente presente nas escolas brasileiras at a dcada de 1920 quando, a partir de movimentos em prol da ampliao do acesso educao bsica, comeou a ser discutida enquanto modelo vlido ou no para a educao de todas as camadas sociais.

    A idia de renovao est contida nesses movimentos que tinham como propsito renovar o ensino a partir da insero de novas prticas pedaggicas, baseadas no modelo europeu. Mas por que o modelo europeu?

    Se nos lembrarmos da histria do nosso pas, encontraremos informaes sobre a sada dos filhos das famlias relacionas s grandes oligarquias que eram enviados Europa, principalmente para Portugal e Inglaterra, para darem continuidade aos estudos que no tinham como ser concludos no Brasil, uma vez que o nmero de universidades existentes ainda era muito pequeno e as prprias universidades possuam poucos recursos para bem atender aos seus alunos.

    Por esse motivo, na dcada de 1920, ao retornarem ao Brasil, aps terem concludo seus estudos no exterior, vrios intelectuais se reuniram para discutir a situao da educao brasileira, tendo como referncia o modelo educacional conhecido por eles quando de suas estadas em pases chamados desenvolvidos.

    Na mesma poca, a poltica liberal estabelecia metas para o progresso do pas, o que motivou ainda mais aqueles intelectuais a se organizarem em torno de grupos de debates para discutir, junto aos representantes do governo, as modificaes necessrias ao modelo educacional que ajudariam a retirar o pas do status de subdesenvolvido, levando-o mais rapidamente ao progresso e ao desenvolvimento.

    O modelo pedaggico proposto pelo grupo de intelectuais que tinha em Ansio Teixeira, Loureno Filho e Fernando de Azevedo seus lderes foi baseado no modelo da Escola Nova, que deu origem ao movimento escolanovista, ou seja, ao movimento que buscou renovar a educao a partir da substituio do modelo pedaggico tradicional, que tinha como centro do processo educacional o

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    professor, pelo modelo pedaggico renovado, que passava a colocar como centro do processo ensino-aprendizagem o aluno e no mais o professor.

    Falaremos agora sobre a Escola Nova e seus modelos pedaggicos.

    A Pedagogia da Escola NovaSurgiu como contraposio Pedagogia Tradicional, ligada ao movimento

    da pedagogia ativa, onde a criana percebida como um ser dotado de capacidades individuais, devendo ser respeitada a sua liberdade, a sua iniciativa, a sua autonomia e os seus interesses. Sendo a criana o sujeito do processo de aprendizagem, tem-se a idia de que o aluno aprende melhor o que faz por si mesmo.

    A Pedagogia Renovada est dividida em: Pedagogia Renovada progressista, baseada na teoria educacional de John Dewey e Renovada no-diretiva, inspirada principalmente em Carl Rogers.

    Pedagogia Renovada progressistaA Pedagogia Renovada progressista tem como finalidade adequar as

    necessidades individuais ao meio social. O conhecimento resulta da ao. Os contedos so estabelecidos em funo de experincias, dando-se mais importncia aos processos mentais e s habilidades cognitivas. O aluno o centro do processo e o professor atua para desenvolver a sua inteligncia, o seu carter e a sua personalidade. As atividades so adequadas natureza do aluno e etapa de seu desenvolvimento. H uma preocupao bsica com o desenvolvimento mental do aluno. O professor um auxiliar que incentiva, orienta e controla a aprendizagem no desenvolvimento da criana, proporcionando um relacionamento positivo entre professores e alunos. A motivao depende da estimulao do problema e das disposies e interesses do aluno, transformando o aprender em uma atividade de descoberta. A sua aplicao muito reduzida na nossa sociedade por falta de condies e por se chocar com a prtica tradicional que corrobora com as prticas sociais vigentes.

    Pedagogia Renovada no-diretivaA Pedagogia Renovada no-diretiva tem como proposta a formao de atitudes

    e est mais preocupada com os problemas psicolgicos do que com os pedaggicos. Procura adequar os indivduos s socializaes do ambiente. A transmisso dos contedos secundria em relao preocupao com a comunicao e o desenvolvimento das relaes. O professor utiliza um estilo prprio para facilitar a aprendizagem dos alunos. Sua funo a de ajudar os alunos a se organizarem por meio de tcnicas de sensibilidade, onde os sentidos so expostos sem ameaa. Propem uma pedagogia centrada no aluno, visando formao da sua personalidade, uma vez que o professor um especialista em relaes humanas.

  • A escola e as prticas pedaggicas renovadas

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    A motivao um ato interno, ou seja, o aluno aprende aquilo que percebe que capaz de aprender. Ele s retm aquilo que est relacionado com o seu eu. Essa Pedagogia foi inspirada nas teorias de Carl Rogers, psiclogo clnico. Suas idias influenciam educadores, orientadores educacionais e psiclogos escolares voltados para o aconselhamento.

    O olhar sobre as crianasAo colocar a criana como centro do processo educacional, a Escola Nova

    cria alguns impasses para os educadores brasileiros. O primeiro deles : como colocar a criana no centro do processo educacional, se no se conhece, at ento, o fato de que as crianas tm lgicas prprias, diferenciadas dos adultos? Alm dessa questo, outras como quem a criana? e como a criana pensa? foram demonstrando a necessidade de interlocuo entre a educao e outros campos do conhecimento como a Psicologia e a Sociologia.

    Assim, foi principalmente na Psicologia que se buscaram as respostas para as questes sobre a criana, seu desenvolvimento e a aprendizagem. nesse momento que teorias como as de Jean Piaget aparecem no cenrio educacional. Vale lembrar que estamos falando das dcadas de 1920 e 1930, quando a Psicologia se ocupava principalmente de estudar o comportamento humano e tinham incio os estudos sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano que, nos pases ditos desenvolvidos, j estavam sendo experimentados com xito.

    Era preciso saber mais sobre quem a criana atendida pela escola, qual a lgica do raciocnio da criana e, a partir do reconhecimento de tal lgica, estimul-la para a aquisio de novos conhecimentos.

    Esse novo olhar sobre a prtica pedaggica mudava no somente a referncia do processo ensino-aprendizagem, mas tambm a didtica e as metodologias de ensino conhecidas at ento pelos professores. Como as escolas, principalmente as pblicas, no tinham recursos para capacitar seus professores e as adequaes necessrias para atender s necessidades pedaggicas de tal modelo eram muitas, a Escola Nova acabou sendo rejeitada por boa parte dos professores que, por desconhecimento da proposta educacional contida no iderio renovado de educao, acabaram por considerar tal pedagogia frouxa, uma vez que deixa a criana livre para guiar seu prprio processo de aprendizagem.

    O Movimento dos Pioneiros da Educao Renovada

    De 1930 a 1937 vivemos o perodo da Segunda Repblica no Brasil. Nesse perodo, foram vrios os projetos elaborados na tentativa de construo de um novo pas, mas foi um projeto liberal o responsvel pela criao de uma nova proposta de poltica educacional.

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    At o incio da dcada de 1930 a pedagogia vigente no interior das escolas era a tradicional. O projeto dos intelectuais da dcada de 1930 visava, assim, a superar o modelo tradicional de educao, propondo a reformulao da poltica educacional. E por isso que falamos em transio de um modelo tradicional para um modelo renovado de educao. O termo renovado utilizado justamente para enfatizar que a proposta educacional apresentada pelos liberais desejava renovar os contedos e as prticas pedaggicas vigentes at ento.

    De fato, no podemos afirmar que houve uma transio definitiva de um modelo tradicional para um modelo renovado de educao em nosso pas, mesmo porque a ideologia renovada ia contra os interesses da Igreja Catlica, que defendia a permanncia do ensino tradicional nas escolas. Desse modo, a educao renovada s conseguiu sobreviver porque vrios intelectuais da educao e educadores apoiaram o movimento.

    Como filhos de famlias ricas eram geralmente enviados ao exterior para conclurem seus estudos, muitos dos nossos intelectuais retornavam da Europa trazendo de l idias novas. Uma delas foi justamente o modelo educacional baseado na ideologia renovada da educao. Desse modo, o Movimento dos Pioneiros da Educao Renovada comea a ganhar corpo no incio da dcada de 1930.

    O Movimento da Educao Renovada ou Movimento Escolanovista teve um carter, alm de pedaggico, cientfico, pois seus precursores defendiam que a ao dos educadores junto aos educandos, alm de ser fundamentada por filosofias diversas, deveria se fundamentar tambm em teorias cientficas.

    Alm disso, o Movimento Escolanovista tambm abriu espao para as discusses em torno da escola democrtica, ou seja, sobre a escola como espao de discusso dos problemas sociais e polticos da sociedade.

    Apesar de todas essas idias, o Movimento dos Pioneiros da Educao Renovada no formulou diretrizes educacionais definidas, mas orientava a atuao dos educadores chamando a ateno para o fato de a educao ocorrer a partir de um processo de interao entre o ensino e a aprendizagem. Portanto, uma interao entre o educador e os educandos, cabendo ao professor a tarefa de se relacionar com seus alunos levando em considerao as diferentes concepes de vida e de mundo trazidas por cada um dos presentes na sala de aula.

    Os principais nomes do Movimento Escolanovista foram Fernando de Azevedo, Loureno Filho (que foi convidado por Vargas a ocupar cargo estratgico na orientao das polticas educacionais do governo), Ansio Teixeira (nome de maior expresso do Movimento) e Ceclia Meireles (escritora de renome da Literatura Brasileira). Ao todo, 26 intelectuais assinaram o manifesto que deu origem ao Movimento Escolanovista que imprimiu grandes transformaes no modelo pedaggico brasileiro.

    A principal transformao do modelo pedaggico foi o entendimento do processo educacional como uma via de mo dupla, onde o ensino e a aprendizagem ocorrem tanto para os alunos quanto para os professores, uma vez que compreende-se que medida que ensinamos, tambm aprendemos.

  • A escola e as prticas pedaggicas renovadas

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    Outra transformao ocorreu em relao aos currculos que tiveram que ser adaptados e revistos em funo das exigncias de embasamento cientfico das disciplinas. A escola passou a ser laica, ou seja, desvinculada do pensamento religioso, gratuita e obrigatria, adquirindo autonomia na funo educacional, diminuindo a interferncia de processos polticos partidrios ou desejos polticos especficos em seu interior.

    Assim, as principais transformaes acarretadas pelo modelo pedaggico da Escola Nova ocorrem nas salas de aula. A relao professor-aluno passa a ser centralizada no aluno e no mais no professor. Dessa forma, os alunos passam a ser convidados a participar das aulas e o professor passa a atuar como um auxiliar do desenvolvimento da aprendizagem de seus educandos.

    Alm disso, a metodologia utilizada passa a ser fundamentada cientifi ca-mente, da a necessidade de se buscar suporte em disciplinas como a Psicologia para as aes implementadas pelo professor em sala de aula. nesse momento que a Pedagogia encontra a Psicologia no interior das escolas. A Psicologia trouxe, inicialmente, contribuies por meio das teorias do desenvolvimento e da aprendizagem. No caso especfico das escolas renovadas, as primeiras fontes consultadas foram as que diziam respeito a um novo mtodo de aprendizagem: o construtivismo.

    O lema do Movimento Escolanovista passa ento a ser aprender a aprender, uma vez que, com base nas teorias construtivistas, o aluno est sempre construindo o seu conhecimento de maneira ativa.

    Porm, para ser implementado, esse modelo educacional necessita que os ambientes escolares e seus espaos fsicos estejam adequados para o processo de aprender. Da mesma forma, se faz necessrio que existam recursos pedaggicos diferenciados para se trabalhar sobre as habilidades e potencialidades de cada aluno por meio da experimentao e da estimulao constantes. Alm disso, para que o professor possa trabalhar, suas turmas devem ser pequenas, com poucos alunos. Todas essas necessidades inerentes ao modelo pedaggico construtivista levam ao encarecimento da Educao, tanto para o financiamento pblico (que desiste de implement-lo), realizado pelos governos, quanto para a rea privada.

    Segundo Saviani (1999, p. 21-22),

    [...] esse tipo de escola no conseguiu, entretanto, alterar significativamente o panorama organizacional dos sistemas escolares. Isso porque, alm de outras razes, implicava em custos bem mais elevados do que aqueles da escola tradicional. Com isso, a Escola Nova organizou-se basicamente na forma de escolas experimentais ou como ncleos raros, muito bem equipados e circunscritos a pequenos grupos de elite. No entanto, o iderio escolanovista, tendo sido amplamente difundido, penetrou nas cabeas dos educadores acabando por gerar conseqncias tambm nas amplas redes escolares oficiais organizadas na forma tradicional. [...] tais conseqncias foram mais negativas que positivas uma vez que, provocando o afrouxamento da disciplina e a despreocupao com a transmisso de conhecimentos, acabou por rebaixar o nvel do ensino destinado s camadas populares, as quais muito freqentemente tm na escola o nico meio de acesso ao conhecimento elaborado. Em contrapartida, a Escola Nova aprimorou a qualidade do ensino destinado s elites.

    O lema do Movimento Escolanovista passa ento a ser aprender a aprender.

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    Percebemos, ento, que mesmo com um olhar mais dinmico e flexvel sobre a aprendizagem dos alunos o escolanovismo, ao ser um modelo caro para a educao, includo nos modelos liberais de educao por promover o classicismo, ou seja, a diferena entre as classes, uma vez que s pode ter acesso a uma escola construtivista quem pode pagar por ela.

    Individual1. O que significa dizer que a escola funcionou, e segundo alguns autores ainda, funciona como

    um aparelho ideolgico do Estado?

    2. O que caracteriza a Pedagogia Liberal?

    3. Qual a relao existente entre a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia Renovada e a Pedagogia Tecnicista?

    4. Faa um quadro comparativo entre as tendncias pedaggicas liberais, ressaltando caractersticas como a relao professor-aluno e a metodologia de ensino.

    Em grupo

    Discutam a citao de Saviani sobre a Escola Nova e criem um debate sobre os pontos positivos e negativos desse modelo pedaggico.

  • A escola e as prticas pedaggicas renovadas

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    Para aprofundar os estudos sobre as prticas pedaggicas liberais, sugiro as seguintes leituras: GHIRALDELLI JR., P. Histria da Educao. So Paulo: Cortez, 2001. (Captulos 3 e 4). PATTO, Maria Helena Souza. Introduo Psicologia Escolar. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1997. (Captulo 1).

    Alm das leituras, uma boa sugesto o filme: Ser e Ter (tre e avoir Nicolas Phillibert Frana, 2002), filme francs que mostra o modelo pedaggico francs, baseado no construtivismo. timo recurso para discutirmos o modelo pedaggico brasileiro.

  • A escola e as prticas pedaggicas progressistas

    A escola precisa deixar de ser meramente uma agncia transmissora de informao

    e transformar-se num lugar de anlises crticas e produo da informao, onde o conhecimento

    possibilita a atribuio de significado informao. Nessa escola, os alunos aprendem a buscar

    informao [...], e os elementos cognitivos para analis-la criticamente e darem a ela um significado

    pessoal. Para isso, cabe-lhe promover a formao cultural bsica, assentada no desenvolvimento de

    capacidades cognitivas e operativas.

    Libneo

    Prticas progressistas

    A Pedagogia Progressista surgiu em oposio Pedagogia Liberal, tendo como seu principal objetivo os interesses da maioria da populao, partindo de uma anlise crtica da sociedade capitalista. Para a Pedagogia Progressista, a Educao no neutra e os problemas

    educacionais so os reflexos do contexto social no qual o indivduo est inserido. A Educao no est centrada no professor ou no aluno, mas sim na relao entre os indivduos envolvidos nesse processo de formao do cidado consciente.

    Segundo Saviani (1999, p. 27), a Pedagogia Progressista est no grupo das teorias crticas em educao uma vez que postulam no ser possvel compreender a educao seno a partir de seus condicionantes sociais. A Pedagogia Progressista, enquanto tendncia pedaggica, deu origem s seguintes correntes: libertadora; libertria e crtico-social dos contedos.

    Correntes da Pedagogia Progressista

    A pedagogia libertadoraQuestiona a realidade das relaes do homem com a natureza e com os

    outros homens, visando a uma transformao. Por isso, ela chamada de educao crtica. Trabalha-se com temas geradores centrados na realidade social, nos quais o importante no a transmisso dos contedos especficos e sim despertar uma nova forma de relao com a experincia vivida, tendo em vista a ao coletiva diante de

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    problemas e realidades do meio socioeconmico e cultural da comunidade local. O conhecimento transmitido por meio do dilogo, pois ele engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato de conhecer: educador-educando e educando-educador.

    O mtodo ento o grupo de discusso de temas sociais e polticos. A relao horizontal, na qual educador e educando se posicionam como sujeitos do ato de conhecimento. No h uma relao de autoridade, o professor est presente para assegurar ao grupo um espao humano de expresso e por isso o professor coordenador ou animador das atividades desenvolvidas pelo grupo. Aprender um ato de conhecimento da realidade vivida pelo educando e s tem sentido se resulta de uma aproximao crtica dessa realidade. Tendo Paulo Freire como inspirador, a pedagogia libertadora exerceu influncia nos movimentos populares e sindicais, chegando a ser confundida com a chamada educao popular.

    A pedagogia libertriaTem como idia central instituir mecanismos de mudanas com base na

    participao grupal nos problemas cotidianos. As matrias escolares aparecem como um instrumento a mais de anlise para questes mais amplas que afetam a escola, como sexualidade, indisciplina, relaes interpessoais etc. Dessa forma, o conhecimento formal, adquirido nas aulas, auxilia na descoberta de respostas s necessidades da vida social.

    Para tanto, preciso que o grupo compreenda as regras existentes na sala de aula, na escola, ampliando essa compreenso para a sociedade como um todo. Por isso, no modelo libertrio de educao, a busca pelo conhecimento ocorre sem represso, com incentivos ao pensamento livre. Para que isso seja possvel, o grupo precisa atuar de forma autogerida, ou seja, as regras no so impostas por algum de fora, mas construdas pelo prprio grupo. Da mesma forma, o controle sobre o cumprimento das regras e as sanes estabelecidas sobre as faltas cometidas so determinadas pelo grupo escolar.

    Com isso, o aluno tem liberdade para decidir trabalhar ou no, mas faz isso reconhecendo e assumindo as conseqncias de suas aes, pois, como todos na sala de aula, participou da construo das regras coletivas. por isso que dizemos que a educao no modelo libertrio ocorre no sentido da no-diretividade, ou seja, isso significa que o professor um orientador para uma reflexo em comum e no o detentor do saber ou o nico responsvel pelo bom andamento da aula. Os alunos so livres para interferir, contribuir ou mesmo realizar outra tarefa, mas de forma alguma isso significa para o grupo falta de compromisso com a atividade escolar, pois fica claro que fundamental envolver-se com o cotidiano escolar.

    A motivao para que os alunos se engajem nesse modelo pedaggico est no interesse em crescer dentro da vivncia grupal a partir das trocas de experincias sobre as realidades dos alunos, seus interesses e conhecimentos. Dessa forma, ao negar todas as formas de represso existentes nos meios escolares, a pedagogia libertria visa ao desenvolvimento de pessoas mais livres e responsveis pelos seus atos individuais e pela coletividade.

  • A escola e as prticas pedaggicas progressistas

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    A pedagogia crtico-social dos contedosA principal tarefa desse modelo pedaggico a difuso dos contedos ligados

    realidade social. A escola um instrumento de apropriao do saber. Ela prepara o aluno para o mundo adulto e suas contradies. So levados em considerao os contedos culturais universais, incorporados pela humanidade. O importante que esses contedos se liguem de forma indissocivel a sua significao humana e social.

    Segundo Libneo (1994), o mtodo de ensino est baseado na relao direta com a experincia do aluno, confrontada com o saber trazido de fora. Vai-se da compreenso ao e da ao compreenso, at a sntese, o que se resume na unidade entre teoria e prtica. Como o conhecimento resulta de trocas estabelecidas na relao com o meio, o professor atua como mediador dessa interao, mobilizando o aluno para uma participao ativa que possibilite formar uma conscincia crtica diante da realidade social, fazendo com que ele possa assumir uma posio de luta para a transformao dessa realidade.

    O conhecimento apia-se numa estrutura cognitiva preexistente. A aprendizagem depende tanto da disposio do aluno quanto do professor e do contexto da sala de aula. Aprender, nessa perspectiva, significa desenvolver a capacidade de processar informaes, organizando os dados disponveis da experincia. A maioria dos professores de escolas pblicas utiliza essa pedagogia, articulando os contedos e mtodos para garantir a participao dos alunos no processo de democratizao efetiva do ensino para as camadas populares.

    O processo de ensino se caracteriza pela combinao das atividades do professor e dos alunos, tendo o professor a principal funo de orientar e dirigir os alunos para que eles gradativamente desenvolvam sua intelectualidade. Portanto, necessrio que no planejamento e no decorrer das aulas, o professor conjugue objetivos, mtodos e formas organizadas de ensino.

    O professor que adota a pedagogia crtico-social dos contedos deve levar em considerao importantes aspectos, tais como: os fins sociais e pedaggicos de ensino, as exigncias e os desafios que a realidade social coloca, as expectativas de formao dos alunos, para que possam atuar na sociedade de forma crtica e criadora, as informaes da origem da classe dos alunos no processo de aprendizagem, a relevncia social dos contedos etc.

    O professor deve considerar tambm que os alunos diferem entre si e, por isso, necessitam de diferentes tipos de aprendizagem para seu prprio desenvolvimento. indispensvel que o professor domine procedimentos e tcnicas de ensino e que utilize mtodos que expressem uma compreenso global do processo educativo na sociedade.

    Segundo Libneo (1994, p. 149), os mtodos de ensino so os meios adequados para realizao dos objetivos, os quais no se realizam por si mesmos, sendo necessria uma atuao do professor. Para que tais objetivos sejam alcanados, torna-se necessrio que as aes dos educadores sejam organizadas em seqncia. Os procedimentos de ensino devem incluir atividades que possibilitem a ocorrncia da aprendizagem. Essa atividade no apenas fsica, mas, tambm, interna, mental, emocional e social, porque a aprendizagem um

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    processo que envolve a participao total e global do indivduo, em seus aspectos fsicos, intelectuais e sociais.

    O autor afirma que os mtodos de ensino so fundamentados no mtodo de reflexo e ao sobre a realidade educacional, sobre a lgica interna e as relaes entre objetos, fatos e problemas do contedo de ensino, sempre vinculado ao processo de conhecimento da atividade prtica humana no mundo. Esse tipo de interao regulada pela metodologia de ensino. Seu resultado a assimilao consciente dos conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas dos alunos.

    Libneo (1994, p. 153) nos diz ainda que os mtodos devem estar estreitamente ligados aos objetivos, contedos, formas de organizao do ensino e s condies concretas das situaes didticas. O contedo do ensino no a matria em si, mas uma matria de ensino, selecionada e preparada pedaggica e didaticamente para ser assimilada pelos alunos.

    Dessa forma, no basta para o professor a transmisso da matria, preciso considerar se a matria de ensino est determinada por aspectos polticos-pedaggicos, lgicos e psicolgicos, o que significa a relao de subordinao dos contedos aos objetivos gerais e especficos. Isso porque os mtodos, medida que expressam formas de transmisso e assimilao de determinadas matrias, atuam na seleo dos objetivos e contedos, o que pode contribuir para uma boa ou m compreenso da matria por parte dos alunos.

    As dificuldades de implantao da Pedagogia Progressista

    Apesar de o modelo progressista de educao ter exercido, e ainda exercer, grande influncia na educao brasileira, alterando prticas e chamando a ateno para as questes sociais no interior dos espaos escolares, isso foi encarado po