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I e II Fórum Estadual sobre Prevenção do Suicídio TOXCEN - Centro de Atendimento Toxicológico Vitória 2009 Vidas Interrompidas Livro Vidas Interrompidas - Final.indd 1 Livro Vidas Interrompidas - Final.indd 1 23/01/2009 12:59:02 23/01/2009 12:59:02

Livro Vidas Interrompidas Final

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  • I e II Frum Estadual sobre Preveno do Suicdio TOXCEN - Centro de Atendimento Toxicolgico

    Vitria2009

    VidasInterrompidas

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  • Organizador:talo Campos

    Projeto Grfico: WGA Propaganda

    Editorao Eletrnica:Antonio Caliari

    Capa:Paulo Angelo / Antonio Caliari

    Sob tela de Claude Monet - 1840/1925Le Pont Japonais 1899/1900leo sobre tela 89cmx92cm

    Digitao:Simone Fernandes

    Impresso:Departamento de Imprensa Oficial do Esprito Santo

    Catalogao na fonte:Biblioteca Pblica do Estado do Esprito Santo_________________________________________________________________

    V649 Vidas interrompidas / Organizado por talo Francisco Campos. - Vitria : DIO, 2009. 206 p.: Il.; 15cmx21cm

    1. Suicdio. 2. Frum Estadual sobre suicdio, I e II. I. Campos, talo Francisco. II. Ttulo.

    CDD 616.8584 _________________________________________________________________

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  • SUMRIO

    Nota ................................................................................................. 5

    Sesa promove debate no dia Mundial de Preveno do Suicdio ....... 6

    A Poltica Estadual de Sade Mental: desafios e perspectivas ........... 12

    Apresentao do TOXCEN .............................................................. 18

    Perfil Epidemiolgico da Violncia do Esprito Santo ....................... 27

    Vidas Interrompidas ........................................................................ 60

    Algumas Consideraes a Respeito do Suicdio ............................. 102

    A Violncia e a Tentativa de Suicdio como Apelo ......................... 109

    O Oferecimento do Corpo e as Promessas de Fausto .................... 119

    Nota Sobre o Suicdio ................................................................... 130

    A complexidade do suicdio: h preveno possvel ...................... 134

    Preveno de Suicdio .................................................................. 147

    Suicdio, Tabu e Silncio ............................................................... 153

    Cultura, Suicdio e Identidade: dores e delcias de

    subjetividades em movimento ....................................................... 161

    O Suicdio na Abordagem Fenomenolgica................................... 178

    A mdia e a morte voluntria ......................................................... 186

    A Estratgia Nacional de Preveno de Suicdio:

    o suicdio como uma questo de sade pblica ............................ 193

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  • 5Vidas Interrompidas

    NOTA

    Este livro uma coletnea de textos apresentados no I e no II Frum Estadual de Preveno do Suicdio, realizados respectivamente no dia 10 de setembro do ano de 2007 e em 2008. Este evento comemorativo do Dia Mundial de Preveno do Suicdio 10 de setembro , institudo pela Organizao Mundial de Sade, organizado pelo Ncleo de Atendimento Toxicolgico - TOXCEN da Secretaria de Estado da Sade.

    Este livro pretende contribuir para que a reflexo sobre o suicdio no fique restrita apenas ao momento do evento e seja ampliada para outras pessoas e espaos, propondo outras possibilidades de leitura e interpretao a fim de que se possam enfrentar o trauma e suas consequncias. Nestes eventos realizou-se importante dilogo entre a psicanlise, a psiquiatria, a sade pblica, a filosofia, a antropologia, a sociologia e o jornalismo. Queremos registrar o agradecimento Gerncia Estratgica de Vigilncia em Sade - GEVS, e a toda a equipe do TOXCEN pela colaborao. Agradecemos o apoio da SAMP-Assistencia Mdica, na pessoa do seu diretor, Dr. Mrcio Maciel, o apoio dado para a produo deste livro. Agradecimento se deve tambm ao apoio dado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca SEAG, e ao Servio Nacional do Comrcio SENAC, pela concesso dos auditrios. Dirigimos um agradecimento especial ao Departamento de Imprensa Oficial - DIO, nas pessoas de seu presidente e de seus assessores, que entenderam prontamente a necessidade e importncia desta publicao, que ser destinada, preferencialmente, rede pblica de educao, sade, e de segurana pblica e rede estadual de bibliotecas pblicas. Muito especialmente agradecemos ao Dr. Jos Nazar, que aceitou o nosso convite e permitiu a apropriao do ttulo de seu trabalho para este livro.

    Ao leitor informamos que coube ao autor de cada artigo ou ensaio a responsabilidade pelo trabalho de reviso lingustica. Se pecamos, pois, pela pressa e pela ausncia de uma reviso mais apurada, esperamos, em contrapartida, oferecer-lhe a contribuio de uma anlise pertinente no calor da discusso e com a urgncia que o tema requer.

    talo Campos - Organizador

    [email protected]

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  • 6 Vidas Interrompidas

    SESA PROMOVE DEBATE NO DIA MUNDIALDE PREVENO DO SUICDIO

    A Secretaria de Estado da Sade (Sesa), por meio do Centro de Atendimento Toxicolgico - Toxcen, realiza no dia 10 de setembro a mesa redonda Dia Mundial de Preveno do Suicdio. A proposta de iniciar uma reflexo sobre o assunto, convidando vrias instituies para o debate. O evento acontece de 9 s 12h, no Auditrio da Secretaria de Estado de Agricultura, prximo ao Samu. A entrada franca. O dia 10 de setembro foi institudo pela Organizao Mundial da Sade (OMS) como Dia Mundial de Preveno do Suicdio.

    O Toxcen um servio da SESA que realiza orientao via telefone sobre preveno e atendimento imediato nos acidente por intoxicaes, fornecendo informaes populao em geral e orientando os profissionais de sade sobre substncias txicas que causam danos as vitimas humanas, animais e acidentes ambientais. O atendimento telefnico feito 24 horas no fone 0800 2839904 para todo o estado do Esprito Santo.

    O Toxcen atende, e quando h alguma ocorrncia relatada por profissionais de sade ou pessoas leigas que acionam o servio - so orientados por telefone na medida que estes informam os dados de identificao, tipo de agente causador do acidente, bem como os sinais e sintomas que se apresentam da vitima, disse Aurimar Demenech, enfermeiro do Toxcen. Os dados das notificaes so sigilosos e ficam registrados em ficha prpria. No ano de 2006 foram notificados no Toxcen um total de 9.267 acidentes por intoxicaes, e dentre esses casos, 834 foram tentativas de suicdio.

    A faixa etria que comete suicdio cada vez mais nova, devido a perda de referncia simblica, o que caracteriza um mal do mundo

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    contemporneo, ressaltou o Psicanalista do Centro, talo Campos. O Psicanalista ainda disse que na mesa redonda podero ser debatidos temas como: Sociedade Contempornea x suicdio e possvel a preveno?.

    Tipos de Intoxicao:

    - Medicamentos.

    - Drogas de abuso.

    - Agrotxicos.

    - Domissanitrios (domsticos).

    - Animais peonhentos.

    - Plantas.

    - Produtos ilegais.

    Equipe do TOXCEN

    7 mdicos.

    1 psicanalista.

    1 enfermeiro.

    3 funcionrios administrativos.

    36 estagirios acadmicos dos cursos de medicina, enfermagem e farmcia.

    1 motorista

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  • 8 Vidas Interrompidas

    I FRUM ESTADUAL SOBRE SUICDIO

    DIA MUNDIAL DE PREVEO DO SUICDIO 10/09/07 9-12h

    Convidados para a Mesa Redonda

    Escola Lacaniana de Psicanlise de Vitria.

    Secretaria de Estado de Segurana Pblica e Defesa Social.

    Associao de Psiquiatria do Esprito Santo.

    Associao de Terapia Familiar do Esprito Santo.

    Programao

    9:00 Abertura

    Anselmo Tozi Secretario de Estado da Sade /ES.

    9:30 Mesa Redonda

    Darlene Vianna Gaudio Angelo Escola Lacaniana de Psicanlise de Vitria/ES.

    Maria Isa Herkenhoff Arajo Associao de Psiquiatria/ES.

    Maria ngela Moura Rodrigues Secretaria de Estado da Segurana Pblica e Defesa - Social/ES-HPM.

    Daniele Reis e Silva Associao de Terapia Familiar do ES.

    11:00 Debate

    Debatedores

    Antnio Schimer Coordenador de Sade Mental da Sesa.

    Fronzio Calheira Mota Cel. Comandante Corpo de Bombeiros Militar/ES-CBM.

    Ailton Vicente Rocha Professor da Faculdade de Medicina da UFES

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  • 9Vidas Interrompidas

    II FRUM ESTADUAL SOBRE SUICDIO

    Violncia e suicdio nos dias de hoje

    10 de setembro de 2008

    Auditrio do SENAC - Av. Beira Mar-Vitoria-ES

    Programao

    8:00 - Inscrio com caf da manh

    9:00 - Abertura - Mesa Redonda

    Ana Maria Ferrara de Carvalho Barbosa

    Grupo de Trabalho da Estratgia Nacional de Preveno do suicdio/ MS

    Anselmo Tozi

    Secretaria de Estado da Sade do Esprito Santo

    Maria do Carmo Lopes Diniz Hatab

    Gerncia Estratgica de Vigilncia em Sade / SESA

    Sony de Freitas Itho

    Ncleo de Preveno e Ateno s Intoxicaes -TOXCEN / SESA

    Coordenador: Aurimar Demenech

    Ncleo de Preveno e Ateno s Intoxicaes -TOXCEN / SESA

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  • 10 Vidas Interrompidas

    10:00 - Conferncia: Vidas Interrompidas

    Jos Nazar

    Psiquiatra, Psicanalista-Escola Lacaniana de Psicanlise de Vitria, Rio de Janeiro e Braslia

    Coordenador: Marcia Silva Campo DallOrto

    Ncleo de Preveno e Ateno s Intoxicaes TOXCEN / SESA

    12:00 Debate

    13:30 - A Realidade do Esprito Santo

    Perfil Epidemiolgico da Violncia do Esprito Santo

    Maria Auxiliadora Fiorillo Mariani

    Ncleo Especial de Anlise e Situao de Tendncia da Sade do ES / SESA

    Atendimento Psicolgico do Paciente Suicida no Toxcen

    talo Campos

    Psiclogo, Psicanalista TOXCEN / SESA

    Coordenador: Antnio Schirmer

    Ncleo de Sade Mental da / SESA

    14:45 - Debate

    15:15 - Intervalo

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  • 11Vidas Interrompidas

    15:30 - O Suicdio sob Diferentes Abordagens

    Edebrande Cavalieri

    Filsofo - Centro de Cincias Humanas e Naturais / UFES

    Jorge Medina

    Jornalista - Universidade Federal do Esprito Santo / UFES

    Mrcia Rodrigues

    Sociloga - Ncleo de Estudos Indicirios / UFES

    Patrcia Pavesi

    Antroploga - Departamento de Cincias Sociais / UFES

    Coordenadora: Claudia Murta

    Departamento de Filosofia / UFES

    17:30 - Debate

    18:00 - Encerramento

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  • 12 Vidas Interrompidas

    ANSELMO TOZI

    Secretrio de Estado da Sade

    [email protected]

    A POLTICA ESTADUAL DE SADE MENTAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

    (O secretrio sada os componentes da mesa: Senhora representante do Ministrio da Sade, Dra. Ana Maria Ferrara; Senhor Secretrio de Estado da Justia, Dr. ngelo Roncalli; Senhor Secretrio de Estado de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Dr. Csar Colnaggi; Senhor Comandante Geral da Polcia Militar Cel. Antnio Carlos Barbosa Coutinho, Senhor Comandante do Corpo de Bombeiros Militar Cel. Frnzio Calheira; Senhor representante da Polcia Federal , Dr. Expedito Jorge e demais autoridades presente ).

    Senhoras e Senhores

    A poltica estadual de sade mental, embasada nos princpios do SUS e da Reforma Psiquitrica, tem como pressupostos a incluso social, a ateno psicossocial e a habilitao da sociedade para conviver com as diferenas. Seu eixo norteador o redirecionamento do modelo de ateno e sua prioridade a organizao de uma rede de ateno em sade mental tendo a ateno primria sade como organizadora.

    Tornar hegemnico este novo modelo de ateno um caminho a ser percorrido no s no Esprito Santo, mas em todo o Brasil, considerando

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  • 13Vidas Interrompidas

    as dificuldades de romper com a lgica hospitalocntrica, centralizada e concentrada. No estado, percebemos vazios assistenciais em sade mental nas Macrorregies Norte e Sul e um maior nmero de servios extra-hospitalares na Regio Metropolitana.

    Mas alguns avanos na cobertura de servios extra-hospitalares pelos municpios podem ser observados. Em 1999 era de 25%, 36% em 2002, 46% em 2003 e 59% em 2006. Atualmente, 62% possuem servio de sade mental, o que representa 48 municpios, com as seguintes modalidades: Centros de Ateno Psicossocial - CAPS, Equipes de sade mental em Unidades Bsicas de Sade, oferta de consulta psiquitrica nos Centros de Referncia de Especialidades e Ambulatrio de Sade Mental.

    Decorrente desta ampliao houve um aumento no financiamento dos servios extra-hospitalares, cujos gastos em 2000 eram de R$ 643.170,42 e atingiram R$ 2.631.139,72, em 2007, considerando a produo dos CAPS e das residncias teraputicas.

    - A REDE DE ATENO EM SADE MENTAL

    As estratgias para a ampliao da Rede de Ateno em Sade Mental agregam vrios segmentos do sistema de sade e foram assim definidas:

    Incentivo aos municpios na dinamizao da rede de sade mental, com recursos co-financiados do Estado para a criao de novos servios, mobilizaes locais para maior capilaridade da Poltica de Sade Mental, lcool e Outras Drogas e consequentes mudanas culturais;

    Sensibilizao dos gestores, profissionais de sade por meio da veiculao de informaes e eventos visando a ampliao da cobertura assistencial em sade mental, incorporao e fortalecimento do modelo de ateno integral s pessoas com transtornos mentais e aos usurios de lcool e outras drogas;

    Articulao e integrao com as equipes municipais e estadual da Estratgia Sade da Famlia e de agentes comunitrios de

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  • 14 Vidas Interrompidas

    sade, para identificar, acompanhar e orientar os familiares e as pessoas com transtornos mentais e/ou relacionados ao uso de lcool e de outras drogas;

    Implantao do Programa de Ateno Comunitria aos Usurios de lcool e Outras Drogas em conjunto com o Conselho Estadual sobre Drogas, Frum Metropolitano de Ateno aos Usurios de Drogas e Secretarias Municipais de Sade;

    Efetivao da Educao Permanente dos profissionais de sade e de sade mental com articulao interinstitucional entre a Secretaria de Estado da Sade, Instituies de Ensino Superior e Gestores;

    Otimizao do Frum de Sade Mental para articular e potencializar o trabalho dos diversos atores de sade mental, objetivando fortalecer a prtica clnico-institucional, a gesto poltica, a pesquisa e a veiculao das informaes.

    Plano Estadual de Expanso da Rede de Sade Mental

    A Secretaria de Estado da Sade visando a ampliao do acesso e da ateno psicossocial lanou no ano de 2007 o Plano Estadual de Expanso da Rede de Sade Mental. O objetivo ampliar a cobertura de CAPS principalmente a usurios de lcool e outras drogas, por meio de co-financiamento e de gesto compartilhada do servio. Foram repassados, aproximadamente, R$ 2,5 milhes para a construo de CAPS nos seguintes municpios:

    Nova Vencia (CAPS I) e So Mateus (CAPS ad), na Macrorregio Norte.

    Santa Maria de Jetib (CAPS I), na Macrorregio Centro.

    Castelo (CAPS I) e Cachoeiro do Itapemirim (CAPS ad) na Macrorregio Sul.

    Esto previstos repasse de recursos para a construo de CAPS I nos municpios de Aracruz e Viana e para mais 05 municpios, nos anos subsequentes

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  • 15Vidas Interrompidas

    Plano Estadual para Criao de Servios Hospitalares de Referncia na Ateno Integral aos Usurios de lcool e Outras Drogas no Esprito Santo

    As internaes psiquitricas em geral de 2001-2005 (AIHs com longa permanncia) totalizaram 52.195, o tempo mdio foi 24 dias de permanncia e o valor pago aos hospitais (05) foi R$ 33.591.790,83. Destas, 12.644 internaes foram decorrentes do uso de lcool e outras drogas, cujo valor significou R$ 7.216.159,05, sendo R$ 5.322.652,65 pagos Clnica de Repouso Santa Izabel, de Cachoeiro do Itapemirim. Especificamente no ano 2006, ocorreram 2.521 internaes, cujo valor pago a esses hospitais foi de R$1.412.605,53 (SESA/GERA/NSIAS, 2006).

    Para romper esta lgica foi elaborado em 2006 o Plano Estadual para Criao de Servios Hospitalares de Referncia para a Ateno Integral aos Usurios de lcool e Outras Drogas no Esprito Santo que otimiza os leitos clnicos. Neste mesmo ano, o Plano foi apresentado s Cmaras Tcnicas das CIBs Microrregionais visando a sensibilizao, divulgao e definio de hospitais potenciais para a criao do SHR-ad, nas diversas microrregies.

    A partir de 2007 foram realizadas as primeiras discusses para a criao do servio no Hospital da Polcia Militar, Santa Casa de Misericrdia de Cachoeiro de Itapemirim e Hospital Antonio Bezerra de Faria, estando atualmente em negociao.

    Centro Integrado de Ateno Criana e ao Adolescente

    O Centro Integrado de Ateno Criana e ao Adolescente ser um servio de sade de base territorial, para ateno psicossocial a adolescentes e jovens usurios de drogas e seus familiares, com mltiplos servios articulados rede de ateno sade.

    Este projeto est em fase de elaborao e conta com a parceria dos municpios, do Conselho Estadual sobre Drogas e da articulao com o Conselho Estadual de Sade. Estamos trabalhando para criar progressivamente, 04 Centros, sendo 01 na Macro Norte, 01 na Macro Sul e 02 na Macro Centro, formados pelos seguintes servios:

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  • 16 Vidas Interrompidas

    CAPS ad com quinze leitos e funcionamento 24 horas.

    Espao de Convivncia

    Ncleo de Estratgia da Sade da Famlia

    Articulao com os outros servios que compem a rede, com os Centros de Referencia da Assistncia Social CRAS e Centros de Referencia de Especialidades da Assistncia Social CREAS.

    Alm da estruturao da Rede de Ateno em sade mental a educao permanente dos profissionais de sade uma prioridade assumida pelo Governo do Estado. Esta afirmativa pode ser comprovada pela sociedade capixaba no lanamento da Coleo Uma Nova Sade, composta por linhas-guia e manuais que orientam a organizao das Redes de Ateno Sade ocorrida em julho deste ano, com a participao do Exmo.sr. Ministro da Sade Dr. Jos Gomes Temporo.

    Este Frum sobre o Suicdio, com a presena de autoridades de Estado, profissionais e estudantes uma boa oportunidade para darmos conhecimento das aes e projetos que o Governo do Estado do Esprito Santo tem empreendido na rea de sade mental. Esperamos que aqui se realize um aprofundamento na reflexo sobre como abordar, como prevenir o suicdio e como articular os servios existentes nesta rea. Este ser o desafio de todos neste Dia Mundial de Preveno do suicdio.

    Cumprimento a equipe de sade mental do Toxcen que realizou este evento e desejo a todos um bom trabalho.

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  • 17Vidas Interrompidas

    SONY DE FREITAS ITHO

    Graduada em Medicina pela Escola Superior de Cincias

    da Santa Casa de Misericrdia de Vitria (1977)

    Especializao em Administrao Hospitalar pela Faculdade

    de Cincias da Sade So Camilo (1984)

    Doutorado em Farmcia e Bioqumica pela Universidade

    de So Paulo (2001) e residncia mdica pelo

    Hospital Infantil Nossa Senhora da Glria (1979)

    Mdica da Secretaria Estadual de Sade do Estado

    do Esprito Santo

    Chefe do Ncleo Preveno e Ateno s Intoxicaes - Centro de

    Atendimento Toxicolgico do Esprito Santo

    Assessora da ANVISA (Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria)

    - Ministrio da Sade, nas reas de Intoxicaes por

    Agrotxicos e Plantas txicas

    Publicou dois livros tcnicos em Toxicologia

    Participao com artigos, livros, revistas, trabalhos, jornais

    [email protected]

    (A chefe do Ncleo de Atendimento Toxicolgico Toxcen sada os componentes da mesa, agradece as presenas das autoridades e do pblico)

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    APRESENTAO DO TOXCEN

    Senhoras e Senhores,

    O Ncleo de Atendimento Toxicolgico Toxcen sempre consi-derou relevante e, s vezes at determinante, a vertente psquica/emo-cional nos casos de intoxicao por tentativa de suicdio. Por isso, e por entender que um servio de sade no se faz apenas do ponto-de-vista mdico, que nosso trabalho e atendimento multiprofissional, ten-tando chegar a uma viso integral do ser humano.

    Neste ano de 2008, em que o Toxcen comemora seus dezeseis anos de funcionamento, trago para vocs alguns dados da nossa histria e de nosso servio. Ao final apresentamos algumas informaes e dados epidemiolgicos extrados de nosso banco de dados.

    Criao

    O Ncleo de Atendimento Toxicolgico do Esprito Santo - Toxcen, um servio ligado a Secretaria Estadual da Sade Gerncia Estrat-gica de Vigilncia em Sade -GEVS e est sediado no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glria (HINSG), hospital peditrico de ensino, de referncia estadual, onde funciona o servio desde sua implantao em abril/1992. Foi a montado visto que a maioria das exposies/intoxica-es acontecem nas crianas.

    Objetivo e Prestao de Servios

    Com funcionamento ininterrupto 24 horas por dia, tem como ob-jetivos: assessorar mdicos e outros profissionais de sade pblica ou privada, no atendimento do paciente com suspeita ou confirmao de

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  • 19Vidas Interrompidas

    intoxicao aguda, sejam da Grande Vitria ou do interior, neste ou em outro estado.

    Auxilia ainda na orientao da populao leiga sobre questes refe-rentes aos acidentes txicos, com vtima ou simplesmente informao.

    No deixa de exercer seu papel na preveno aos acidentes com medidas para proteger as crianas dos produtos txicos e do envenena-mento devido a acidentes com animais peonhentos, juntamente com seus familiares que vem aquela unidade hospitalar requerer atendi-mento peditrico, duas vezes por dia, desde o ano 2000. Expandiu esta modalidade de informao a mais de 20 estabelecimentos entre hospitais, pronto-atendimentos, unidades bsicas e outros servios de sade, pblicos ou privados.

    Gera busca ativa em vrios hospitais e pronto-socorros distribudos na Grande Vitria, firmando assim seu papel de referncia das intoxicaes.

    Promove treinamentos e atualizaes sobre o tema Intoxicaes comunidade universitria, profissionais de sade e populao em geral com cursos, seminrios, palestras e orientaes preventivo-educativas.

    referncia mdica das notificaes ao SINAN (Sistema Nacional de Agravos de Notificao Ministrio da Sade) referentes aos acidentes por animais peonhentos, avaliando o agente e analisando os dados clnicos com as propostas teraputicas efetuadas.

    Analisa e avalia os dossis toxicolgicos dos fabricantes de agrotxi-cos (j registrados pela ANVISA - Agencia Nacional Vigilncia Sanitria MS), atravs do Cadastro de Agrotxicos, destinados Secretaria de Estado da Sade, no que concerne a autorizao de novos produtos agrcolas requerentes para utilizao no estado.

    Anualmente encaminha os dados de atendimento ao SINITOX (Sis-tema Nacional de Informaes Txico-Farmacolgicas FIOCRUZ MS) contribuindo assim com os nmeros compilados de todos os outros Centros de Informaes e Assistncia Toxicolgica (CIAT) distribudos no pas, para servir de elemento de anlise.

    Mantm a populao orientada e atualizada, atravs das mais variadas formas de mdia, quanto aos dados epidemiolgicos e pre-

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  • 20 Vidas Interrompidas

    ventivos sobre as ocorrncias de situaes ou s quais os cidados podem estar expostos.

    Sobre o Atendimento

    O paciente intoxicado peditrico que chega ao HINSG tem seu aten-dimento direto. Os demais pacientes (adultos e crianas que chegam a outros servios de sade como urgncia/emergncia), o atendimento feito pelo telefone 0800-283-9904.

    Quando um servio recebe um paciente onde h suspeita ou con-firmao de intoxicao, o profissional de sade, partir do exame fsico, contacta o Toxcen, h uma avaliao do caso pelo plantonista e passado a melhor forma de atendimento, o diagnstico e as medidas teraputicas ideais.

    O contato entre os profissionais permanece at que o paciente este-ja em condies de alta toxicolgica.

    Registros em 2007

    No ano de 2007, ocorreram 7.786 registros, considerando os even-tos txicos em humanos (7.697 casos), em animais (33) e as solicitaes de informaes.

    O agente com o maior nmero de casos em humanos foi o me-dicamento (2.621 casos; 34,1%) seguido pelos agrotxicos (935; 12,2%), as drogas de abuso (737 casos; 9,6%), os acidentes por ani-mais peonhentos (666 casos; 8,6%) e os produtos de uso domstico (532 casos; 6,9%).

    A faixa etria de maior ocorrncia de casos foi a menor de 10 anos de idade (2.514 registros; 32,6%) com um pico de 1 a 4 anos (1730 notificaes).

    A ocorrncia acidental predominou (3203 casos; 41,6%). A tentativa de suicdio foi a segunda circunstncia (motivo) de intoxicao (1423 casos; 18,5%) com maior numero de casos na faixa etria de 20-29 anos, no sexo feminino (2,8:1).

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  • 21Vidas Interrompidas

    Considerando todos os agentes, o sexo feminino excedeu levemen-te (52,2%) que o masculino (47,5%).

    O conjunto dos municpios da Grande Vitria predominou (64,8%) aos outros municpios do estado.

    De todos os casos notificados, ocorreram 28 bitos. Os agrotxicos contriburam com 17 (60,7%), seguido pelos medicamentos (4 regis-tros) e picada por escorpio (3 casos).

    Histria do TOXCEN com 16 Anos de Atividades

    Diante do crescente nmero de crianas vtimas de Intoxicao no HINSG - Hospital Infantil Nossa Senhora da Glria e da necessidade de uma diretriz para melhor atender, aprimorar o diagnstico e as medidas teraputicas, foi implantado pela Dra. Sony de Freitas Itho, em abril de 1992, o primeiro Centro de Controle de Intoxicaes no Estado, sedia-do no prprio Hospital Infantil, funcionando em regime ininterrupto de planto, 24 horas por dia. Foi criado, inicialmente com o nome de CCI-ES - Centro de Controle de Intoxicaes do Esprito Santo, sendo que, em 1999 foi substitudo para TOXCEN - Centro de Atendimento Toxicolgico, devido sua maior abrangncia, por ampliao de suas atividades, sendo o nico do Estado.

    O TOXCEN, um servio destinado difuso de conhecimentos tc-nico-cientficos no campo da Toxicologia, tem o objetivo fundamental de informao e orientao a profissionais de sade humana ou animal no atendimento, diagnstico, tratamento e acompanhamento de agra-vos de natureza toxicolgica provocados por quaisquer substncias po-tencialmente txicas, quer sejam medicamentos, agrotxicos, animais peonhentos, plantas, produtos de uso domstico e industrial. Desen-volve ainda projetos de preveno em comunidades, escolas, creches, empresas, hospitais e unidades de sade.

    Atua em entidades pblicas e privadas tanto para a populao da capital e interior como para outras cidades de estados vizinhos.

    O TOXCEN est ligado tambm ao Ministrio da Sade atravs da Gerncia Geral de Toxicologia da Agncia Nacional de Vigilncia Sani-

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  • 22 Vidas Interrompidas

    tria (ANVISA) e ao Sistema Nacional de Informaes Txico-Farmaco-lgicas (SINITOX). Seu aprimoramento cientfico fortalecido pela As-sociao Brasileira de Centros de Informao e Assistncia Toxicolgica (ABRACIT). apoiado pelo HINSG atravs da cesso, na quase totalida-de, dos materiais de apoio e consumo, de medicamentos especiais, dos antdotos e soros, assim como da alimentao dos plantonistas.

    O TOXCEN efetua o registro dos atendimentos toxicolgicos atravs de fichas de notificao individual que, aps tabulao so enviadas ao SINITOX que, por sua vez, responsvel pela coleta, compilao, anlise e divulgao aos outros 31 Centros de Controle de Intoxicaes casos de intoxicao e envenenamento registrados por uma Rede com-posta de localizados em 17 estados brasileiros.

    No ano de 1992, contou com uma equipe de sete plantonistas aca-dmicos de medicina, uma auxiliar para a elaborao das fichas em sis-tema manual e sua mdica fundadora. Neste primeiro ano, com nove meses de criao, foram registrados 812 atendimentos (cerca de 90 casos/ms) somente com um ramal interno de telefone.

    O servio cresceu e hoje somos 28 plantonistas acadmicos em medicina, dois em enfermagem, dois em farmcia, seis mdicos, dois psiclogos, um enfermeiro, que respondem por uma mdia de 1.050 atendimentos/ms. O apoio conta com um motorista e dois funcion-rios administrativos. Por estar instalado num hospital de ensino de re-ferncia estadual, o TOXCEN tem o apoio ainda de uma equipe multi-profissional composta de mdicos de todas as especialidades, mdicos-residentes, profissionais de enfermagem e servio social com orientao adequada para assistir aos pacientes. Atualmente conta com uma linha de telefone 0800, duas linhas diretas alm do ramal interno.

    feito atendimento atravs de Busca Ativa nos hospitais Drio Silva, Santa Casa de Misericrdia, So Lucas, Antnio Bezerra de Faria, Hospital das Clnicas, Santa Rita de Vitria, Evanglico, Apart, Meridional, Metro-politano, vrios Pronto-Atendimentos e Pronto-Socorros entre outros. Este trabalho, indito aos outros 36 centros de intoxicaes do pas, tem as fi-nalidades de inserir o TOXCEN na rotina do atendimento do paciente sus-peito ou confirmado de intoxicao, minimizar a subnotificao dos casos,

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  • 23Vidas Interrompidas

    aprimorar a qualidade das informaes melhorando o preenchimento da ficha de notificao e o fluxo das evolues do paciente internado, facilitar a continuidade e fluidez do intercmbio entre o servio com os profissio-nais de sade desses hospitais, divulgar e atualizar condutas aperfeioando o diagnstico e consequentemente o atendimento alm da orientao aos usurios sobre preveno dos acidentes txicos.

    As informaes so dadas diretamente classe mdica atravs do te-lefone ou diretamente populao tendo o cuidado de evoluir o qua-dro, por contato posterior, at a resoluo do caso. Para os pacientes peditricos que normalmente chegam ao Pronto Socorro do HINSG, o atendimento feito diretamente pelo plantonista (71,6% do total de pacientes de 0-14 anos). Desde sua implantao, tem o cuidado de promover semanalmente, reunies cientficas com os plantonistas do servio e estagirios, com atualizao de temas usuais em toxicologia, ticos, administrativos e reviso clnica dos casos atendidos.

    Alm de atender as intoxicaes em humanos, fornece informaes toxicolgicas aos usurios assim como orienta e auxilia no diagnstico e tratamento de intoxicaes em animais.

    Presta atendimento em sade mental a pacientes vtimas de intoxica-o principalmente por tentativas de suicdio, para orientao psicolgica.

    O servio possui um acervo bibliogrfico para pesquisa sobre in-toxicaes agudas e crnicas, composto de livros, folhetos, folderes e monografias. Tambm conta com um arsenal de antdotos e soros anti-venenos para atender aos casos indicados.

    Para disseminar conhecimentos sobre a Toxicologia e informaes atualizadas sobre os agentes mais utilizados na clnica mdica e como preparatrio de candidatos plantonistas do servio, o TOXCEN pro-move o Curso Anual sobre Intoxicaes.

    Seus dados serviram como base para Doutorado em Toxicologia, tese de mestrado em Biologia e em Psicologia, bem como para apre-sentao de inmeros trabalhos em congressos e similares.

    Nesses 16 anos, o TOXCEN pde difundir, aos profissionais de sa-de e leigos, informaes tcnicas atualizadas, proporcionando novos

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  • 24 Vidas Interrompidas

    rumos e melhoria da qualidade do atendimento aos intoxicados re-duzindo assim os ndices de mortalidade principalmente entre adultos quando nas intoxicaes intencionais (suicidas).

    Atravs dos conhecimentos ofertados, o servio se orgulha de ter esti-mulado, direcionado e formado profissionais com capacidade em diagnos-ticar e habilidade em tratar adequadamente os pacientes que so atendi-dos nos inmeros servios de urgncia e emergncia deste Estado.

    Intoxicaes - Uma viso Abrangente

    As intoxicaes humanas tm crescido nos servios de sade que prestam atendimento de urgncia/emergncia, assim como tm au-mentado o nmero de registros nos 36 Centros de Controle de Intoxi-caes distribudos pelo pas. Em Vitria, Esprito Santo, o nico Centro denomina-se TOXCEN - Ncleo de Atendimento Toxicolgico.

    O progresso da tecnologia nas ltimas dcadas proporcionou a in-jeo de milhares de produtos qumicos no mercado, sejam eles sob a forma de medicamentos, extermnio de pragas indesejveis, enfim, facilitando nossa vida ou nos proporcionando conforto. Juntamente com este progresso veio o crescente nmero de envenenamentos de-correntes da sua m utilizao, descaso quanto s medidas preventivas, desconhecimento dos princpios ativos dos produtos e suas interaes, ignorncia, irresponsabilidade nos mais diversos nveis pessoais ou go-vernamentais, etc.

    A ausncia desta matria no currculo das escolas mdicas tem for-mado profissionais sem conhecimentos de toxicologia e portanto, des-preparados at quanto ao primeiro atendimento do intoxicado agudo. Os Ncleos ou Centros de Intoxicaes suprem parte desta carncia.

    Os envenenamentos tm vrias facetas e so devido a vrios agen-tes txicos: medicamentos, plantas, animais peonhentos, praguicidas (pesticidas), produtos domissanitrios, raticidas, produtos de toalete, alimentos, etc., atingindo a todas as idades.

    Cerca de 60% de todos os casos de intoxicao de 0-14 anos acontece entre 2-4 anos. A maioria dos envenenamentos infantis

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  • 25Vidas Interrompidas

    de causa acidental. Nos adultos, a incidncia maior de 20-29 anos e a causa mais comum a intencional, principalmente as tentativas de suicdio. Para cada 3 casos acidentais acontece 1 tentativa de ou o prprio suicdio.

    De modo geral, as intoxicaes no sexo feminino predominam so-bre o masculino. As mulheres se intoxicam mais com medicamentos e raticidas enquanto nos homens, os agentes mais usuais so praguicidas, animais peonhentos e no peonhentos e os qumicos industriais.

    Os medicamentos mais envolvidos nos envenenamentos so os de-pressores do Sistema Nervoso Central (Benzodiazepnicos, Barbitricos, Butirofenonas, Fenotiaznicos e Carbamazepina). Dentre os praguicidas (agrotxicos), os mais comuns so os inibidores da colinesterase (Orga-nofosforados e Carbamatos), alm dos raticidas. Dos produtos domissa-nitrios encontramos o hipoclorito de sdio (gua sanitria), detergen-tes, solventes (hidrocarbonetos) e o hidrxido de sdio (soda custica). As plantas mais comuns encontradas como agentes de acidentes so as que contm oxalato de clcio (comigo-ningum-pode) e toxalbuminas (mamona e pinho paraguaio).

    Os acidentes toxicolgicos so mais predominantes na zona urbana que na rural (2:1).

    A cura se d em mais de 99% dos envenenamentos. Menos de 1% (0,6%), culminam com bito, sendo que o sexo masculino tem uma prevalncia de 2:1 sobre o feminino. Os produtos que tem maior leta-lidade so os praguicidas tanto os de uso agrcola quanto domsticos, alm dos produtos veterinrios e raticidas.

    Todas as intoxicaes so evitveis. A preveno o passo mais im-portante do tratamento no envenenamento agudo.

    Vamos apresentar agora, com auxlio de recursos visuais, um resumo da nossa exposio. Aguardamos a sua visita e desejamos um proveito-so e produtivo evento.

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    MARIA AUXILIADORA FIORILLO MARIANI

    Mdica da Secretaria de Estado da Sade desde 1979

    Universidade Federal do Esprito Santo (UFES) em 1977

    Especializao em Sade Pblica pela UFES em 1984

    Especializao em Epidemiologia pela Escola Nacional de Sade

    Pblica (ENSP)/SESA em 1997

    Coordenadora do Programa Estadual de Controle

    da Tuberculose de 1992 a 1999

    Coordenadora da Rede Nacional de Informaes

    em Sade- RNIS de 1999 a 2002

    Chefe do Ncleo Especial de Anlise de Situao

    e Tendncia em Sade (NASTS) da Gerncia de Planejamento e

    Desenvolvimento Institucional-GEPDI - da SESA

    Professora da disciplina de Sade Pblica do curso de

    Medicina da UNIVIX

    [email protected]

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    PERFIL EPIDEMIOLGICO DA VIOLNCIADO ESPRITO SANTO

    Prevalncia de causas externas no Brasil 2005

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    Principais causas de bitos por faixa etria, ES - 2006

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    Prevalncia de causas externas no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2005

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  • 32 Vidas Interrompidas

    Prevalncia de bitos autoprovocados no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2000

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  • 33Vidas Interrompidas

    Prevalncia de bitos autoprovocados no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2001

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  • 34 Vidas Interrompidas

    Prevalncia de bitos autoprovocados no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2002

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  • 35Vidas Interrompidas

    Prevalncia de bitos autoprovocados no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2003

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    Prevalncia de bitos autoprovocados no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2004

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    Prevalncia de bitos autoprovocados no Brasil,

    faixa etria acima de 9 anos 2005

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  • 38 Vidas Interrompidas

    Prevalncia de bitos autoprovocados na regio,

    Sudeste, faixa etria acima de 9 anos 2005

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    JOS NAZAR

    Mdico psiquiatra e psicanalista

    Especializao e Mestrado em Psiquiatria pela UFRJ

    Membro da Escola Lacaniana de Psicanlise Vitria, Braslia e Rio de Janeiro. Membro da Associao Psiquitrica do Esprito Santo

    Editor Chefe da Companhia de Freud Editora

    [email protected]

    VIDAS INTERROMPIDAS

    Constantemente nos deparamos, em nossa clnica, com situaes complicadas e desagradveis de serem abordadas. Na maioria das vezes so situaes grotescas e traumticas demais, difceis de serem degluti-das e assimiladas, at mesmo como profissionais. So fatos distintos do cotidiano da clnica, na medida em que se apresentam como situaes que se inscrevem pela via da insolncia de um trauma, como questes que dizem respeito ao mximo do sofrimento do psiquismo humano. So situaes apresentadas por pais que perderam um filho ou uma filha, por esta ou aquela razo, sem nenhuma explicao aparente, e que apontam para a crueldade de uma ruptura. Os relatos destes pais revelam um abandono cruel que nos desconcerta de tal maneira que ficamos paralisados, sem saber muito bem como intervir no sentido de procurar minimizar o sofrimento.

    So retratos de uma dor quase sempre vividos sob a penumbra do silncio imerso nas recriminaes. So pais entristecidos que tm suas vidas paralisadas porque acabaram de perder um filho. As poucas pala-vras, quando existem, so fragmentos de interrogaes vazias que ema-

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    nam do fundo da alma: Como foi acontecer uma coisa desta com o nosso filho? Por que esse filho querido foi morrer desta maneira e to cedo assim? Por que razo ele foi fazer isso com a gente? Como? Pala-vras de um pai, de uma me, ou seja, palavras de pais frente ao corpo to viril do filho adolescente que acabara de morrer. Como ou de que maneira ele morreu? Pouco importa meu Deus! Isto nem to impor-tante assim. O que importa que um filho ou uma filha acabaram de morrer. Eles deixaram de viver e isso introduz um buraco, um rombo, uma falta.

    Outras vezes so pais suspensos na dor e no sofrimento em relao a um filho ou uma filha que j no caminha mais na vida como outras crianas e adolescentes. Eles se preocupam e querem respostas: O que se passa com o nosso filho que ele anda isolado e to quieto? Por que ser que o nosso filho vive adoecendo e no avana nos estudos? Por que este filho no consegue viver uma vida sem sofrimentos? Ora so as drogas e os seus terrveis desdobramentos que apontam tanto para uma delinquncia quanto para um isolamento sem fim, ora se trata de uma reincidncia de doenas das mais variadas possveis - anorexia, bu-limia, depresses, doenas da pele, doenas malignas.

    Muitas vezes trata-se de situaes aparentemente simples - uma ini-bio, por exemplo - mas que, depois, poder evidenciar um quadro de problemas mentais mais srios e mais graves. Nestes casos, os pais se tornaro os arautos de um sofrimento que os filhos vivem nos escombros do gozo silencioso de um sintoma, que se arrasta, por aqui e por ali, no se sabendo muito bem para qual direo isso vai dar. De alguma manei-ra, eles vo insistir numa resposta, num resultado, digamos. E este sofri-mento dos pais diz muito mais que aquele veiculado numa preocupao aparente, na medida em que eles esperam que seus filhos correspondam aos seus investimentos rumo construo de uma vida saudvel, boa e bacana, para que nasam outras geraes.

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    Proponho aqui a terminologia vidas interrompidas. Ela se coaduna e se ajusta melhor quilo que, desde sempre, nomeado de suicdio. Esta nomeao, vidas interrompidas, nos permitir uma abordagem do suicdio pelo vis psicanaltico, vale dizer, a partir de uma responsa-bilidade do prprio sujeito no ato de causar a prpria morte. Como tambm permite a incluso de um nmero maior de casos, onde no necessariamente tenha havido uma morte propriamente dita, mas situ-aes de paralisias do viver, fundamentalmente nas formas clssicas de covardia moral, onde se exacerba a mxima lacaniana que diz que o sujeito no quer aquilo que deseja.

    Nessas condies, um pai ou uma me normalmente no dizem sobre o ato suicida que causou a morte de um filho ou uma filha: meu filho se suicidou. Uma irm ou um irmo no dizem: meu irmo se suicidou. H uma dificuldade que justificvel, tornando necessrio um silenciar-se so-bre a questo. Existe, em todas as situaes, um pudor a ser considerado. um fato por demais compreensvel! Isso remonta a sculos e carregado de preconceitos. Ns nos sentimos envergonhados, temos vergonha, sim, e isso diz da histria particular de cada um. Meu filho interrompeu sua vida muito cedo, doutor! mais justo para este que ficou referir-se assim do-lorosa perda de seu rebento. Ele no precisa sofrer mais uma dor dizendo: meu filho se suicidou. So muitas implicaes carregadas de preconceitos e censuras frente ao outro, a si mesmo e ao social.

    Um breve esclarecimento

    H um fato novo. preciso dizer que ele antigo tambm. Mas o importante que sua incidncia cresce e diz respeito a todos ns: fi-lhos esto morrendo antes dos pais. Este acontecimento, traumtico por excelncia, apresenta-se como alguma coisa extremamente obscena, inslita e desagradvel. Mais ainda num momento da civilizao em que os pais nunca investiram tanto em seus filhos, no sentido de uma preparao para um futuro slido, sustentvel.

    Quando o jovem coloca fim sua prpria existncia ele est inter-rompendo, a um s tempo, tanto a transmisso de valores familiares

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    que se construiu ao seu redor quanto ao que era esperado que ele pudesse retificar em relao herana recebida de seus antepassados a partir de um universo de novas significaes. Ou seja, ele coloca por terra o sentido da vida em sua derradeira necessidade de procriao. Dessa maneira, o jovem elimina o nico elo que lhe permitiria dar seguimento aos ideais que tiveram incio em seus antepassados. Esses valores, verdadeiras marcas e insgnias de uma historicidade dos ances-trais, constituiriam, uma vez transmitidos, as geraes futuras: a sorte estaria lanada. Uma histria se escreveria, se tornaria particular atravs do inconsciente no qual poderia inscrever-se.

    Sabemos, de longa data, que o ato suicida refuta a continuidade de uma ordem genealgica, elimina a esperana que existe em relao a um possvel redirecionamento da vida em seu porvir. Algo a muti-lado, elidido: apaga-se o tempo real de uma linhagem que se escre-veria como uma nova histria, quase sempre pronta a ser revitalizada, corrigida em seus desvios, procurando no repetir os mesmos erros da-quela que a precedeu. Em todo caso, o que temos a realizao de um gesto por demais agressivo dirigido a um pai. Ou, se quisermos, ao lugar que um pai ocupa na passagem de uma herana em sua funo simblica: o sujeito que interrompe sua vida quebra o pacto implcito no ordenamento das geraes.

    O jovem que provoca sua prpria morte pode estar sofrendo os em-baraos de uma dor herdada de geraes anteriores. Por alguma razo, ele no conseguiu reverter o rumo da histria recebida, da, portanto, ele sofre os efeitos devastadores dos ideais contrariados de seus ances-trais. De todo modo, ele pode estar gozando numa posio de vtima da histria, vtima dos infortnios que recebeu e que no conseguiu reverter num bom sentido. O sujeito vitimado uma das posies sub-jetivas confortveis para o jovem em sofrimento na medida em que ele se encontra, a, tomado como objeto, em condio de acusar o outro, ou seja, seu pai, sua me, seus avs, o mundo. Por alguma fragilida-de psquica so aqueles sofrimentos psquicos mais avanados, vale dizer, as melancolias ele no conseguiu se dar a chance de assumir e se apropriar de sua prpria histria retificando a m sorte que uma

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    equao de vida lhe imps como algo to maldito. No h culpados na histria. De pai para filho, e assim por diante: dessa maneira que se processa uma transmisso. Quando um jovem interrompe sua vida, acabou! Esse fato ser sempre de uma gravidade incomensurvel.

    Temos, de algum modo, que nos tornar responsveis pela histria que recebemos e pelos efeitos de inconsciente de uma boa ou m sorte que ela instaura. A herana simblica que cada um de ns recebe, at mesmo antes do nascimento, com a interrupo de uma vida, cessar de ser transmitida para filhos e netos, restando, nesse vazio, nada mais que um ponto de sacrifcio habitado por interrogaes silenciadas. Herdamos uma vida por onde florescem todos os pecados do mundo, vale dizer, do pai, da me, dos nossos antepassados. Votos de vida e votos de morte. Queiramos ou no, cada um de ns ir lidar com uma insatisfao funda-mental que estrutural do humano. Cada um de ns ter que aprender a lidar com a sua histria de uma maneira particular, a partir de um estilo de vida. Mas temos oportunidades e meios para mudar os rumos de uma m sorte. Hoje, mais do que nunca, o amor dos pais funciona como um verdadeiro instrumento motivador de possveis mudanas na vida dos filhos. Os pais esperam que seu filho ou sua filha promovam mudanas em suas vidas, que experimentem um futuro promissor, mais leve, menos sofrido. Os rgos governamentais de sade pblica muito cedo perce-beram que a sada para quebrar a virulncia de uma vida interrompida seria criar lugares de trabalho onde o sujeito possa falar e, ao falar, que possa escutar-se naquilo que est dizendo. Lugares de acolhimento, a partir do uso da fala.

    O ato suicida, como um gesto trgico e insolente, configura a que-bra radical de uma possvel escritura genealgica. O jovem, ao se fazer matar, interrompe o que h de mais sublime na vida humana. Ele diz no incidncia da funo paterna e abole a possibilidade de se trans-mitir uma simbolizao daquilo que se articula entre lei e desejo. Ou seja, ele castra o pai em sua virilidade de transmisso dos projetos e dos investimentos futuros de seus ancestrais, tudo aquilo que habita o in-consciente de seus pais e que a ele teria sido transmitido. Ao provocar sua prpria morte, o jovem instaura o apagamento das marcas da sua

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    histria que se processaram anos a fio de pai para filho. De toda ma-neira, trata-se de um acontecimento capaz de promover uma inverso do prosseguimento da vida. Uma ruptura, portanto, do fio que liga as geraes.

    Os pais desejam que os filhos vivam cada vez mais, o que se ob-serva no cotidiano das relaes familiares. Pais querem que seus filhos tenham condies de viver uma vida longa e que nada se contraponha ao seu bem viver. Que eles tenham uma boa infncia e que possam participar das brincadeiras de crianas, que cresam e se tornem inde-pendentes, que estudem e cursem uma universidade, que encontrem um caminho vitorioso na vida amorosa e profissional. Querem que os filhos amaduream sexualmente, sejam livres nas suas escolhas e cons-tituam suas famlias. realmente isso: pais querem um futuro melhor para seus filhos. E ser nessa direo que eles iro projetar seus ide-ais no encaminhamento da vida dos filhos, no sentido de caucionar e proteger seus passos. Pelo menos esse tem sido o voto manifesto dos pais: que no haja erros graves no decorrer da vida dos filhos, que eles venham para a vida e possam insistir num viver melhor e, se possvel, que possam alcanar sucesso em seus empreendimentos afetivos e pro-fissionais. Querem filhos bons e bacanas. No importa tanto o custo deste investimento, porque querem o melhor; querem que os erros e os fracassos que foram vividos por eles no passem para os filhos. E mais: pais querem que filhos se casem e tenham seus filhos. De todo modo, e a reside um ponto que evidencia de forma gritante o ideal dos pais, eles mesmos esperam, ardentemente, que filhos fundem novas geraes e, muito mais, que possam passar para eles bons exemplos e ensinamentos para enfrentarem a vida. Pais desejam passar para filhos o sentido de uma transmisso. Mais, ainda, os pais desejam, verda-deiramente, que seus filhos estejam presentes quando eles morrerem. Este querer verdadeiro, de pais saudveis e amadurecidos em suas posies de uma tica familiar. realmente isto o que os pais almejam para o futuro de seus filhos. Desejam que filhos possam se apresentar na vida com coragem, firmeza e determinao frente s imprecises prprias do viver, que eles enfrentem e superem as dificuldades e que possam vir a testemunhar a morte de seus prprios pais. Este testemu-

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    nho ser um ponto vital na constituio de futuras geraes, da sua extrema importncia na vida subjetiva dos pais, mas que, no entanto, temente por estes.

    Mas pode acontecer alguma contingncia no desenvolvimento do jovem, na medida em que os caminhos da vida nem sempre nos levam at onde queremos chegar. Pode ser que tenhamos pais que apresen-tem algumas patologias, e que seus sintomas prevaleam instituindo in-terrupes nas vidas dos filhos. Pais patolgicos. Pais excessivos ou pais ausentes. Muitas vezes encontramos pais incapazes de ocuparem suas funes. Eles colocam filhos no mundo, mas no conseguem outorgar-lhes um lugar estrutural numa famlia. Pais que no tm condies de passar para seus filhos uma lei simblica, uma lei que diz sim ao desejo. So pais que funcionam como verdadeiros irmos de seus filhos.

    Por quem morrem os nossos filhos? Esta pergunta diz alguma coisa de um mais alm daquilo que se poderia dizer. Ela no tem a ver sim-plesmente sobre o morrer do filho. Nem mesmo sobre o porqu um filho morreu, mas ela procura falar de outro ponto: daquele por onde brotam as identificaes na vida subjetiva de um sujeito que comete o gesto de interrupo de uma vida. Por quem morrem nossos filhos? introduz a pergunta sobre o lugar, dentro de uma subjetividade, pelo qual se consegue chegar a realizar uma agresso to violenta contra si mesmo. Nessa passagem ao ato em direo morte, o sujeito encontra a razo que justifica a insensatez deste gesto numa identificao que reside em sua vida de relaes familiares de amor e de dio. A quem se dirige? Quem est morrendo dentro dele, que no ele mesmo neces-sariamente, e que tambm o ? Quem ele est matando nele mesmo, ao se fazer morrer?

    Alguma coisa o jovem adolescente em crise ir explicitar como um caminhante sem perspectivas em suas realizaes. O sujeito, quando se realiza numa pulso de morte, ou seja, na passagem ao ato de uma vida interrompida, no se pode afirmar que ele sabe o que est fazen-do. Seu ato denuncia o desejo que sempre esteve em sua origem: o voto de morte que habita a base do encontro fantasmtico, do seu pai e da sua me, do encontro de desejos de filho. Desejos de filhos! Qual

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    desejo sustentou a existncia frgil, portanto, sujeito aos riscos deste jovem ou desta jovem? Mas uma concluso se inscreve como algo que certo e seguro: aquele que interrompe sua prpria vida, ele mesmo no quer morrer, no quer a morte. Trata-se de uma procura, na morte, de uma sada possvel para continuar a viver. A morte, sim, mas como uma sada para a vida.

    O sujeito que interrompe sua vida est alienado ao sintoma que o mortifica, sem alternativas para continuar vivendo, com liberdade, seu desejo. H, a, no gesto suicida, uma necessidade de ultrapassar um es-tado de angstia, uma angstia de morte que no cessa de atorment-lo. O jovem que no encontra sada para seu viver est aprisionado, encurralado pela angstia de morte. O sujeito que promove o ato de interromper uma vida, encontra-se sem capacidade de pensar, de re-fletir, de encontrar alternativas para sua vida. Muitas vezes escutamos esses sujeitos, pouco antes do ato suicida, dizerem: no estou vendo nenhuma sada. Esta frase pode ser dita ou pensada pelo jovem sufo-cado em sua vida atormentada. Parece pouco, mas no . Esta frase catastrfica, fatal! O sujeito est ali, nesse momento de sufoco, como objeto: ele justo ali onde no-pensa. Trata-se, em todo caso, de um se fazer passar como objeto para outra cena.

    Aquele que interrompe sua vida no tem a morte como objeto lti-mo da sua ao. Falta ao ser humano um saber ou uma representao sobre a morte. Isso freudiano. No temos o registro da morte, nada sabemos sobre ela. Nem mesmo no inconsciente temos o registro da morte. O sujeito pode estar realizando em ato o sacrifcio de um objeto internalizado que ele carrega, penosamente, dentro de si. Ele se faz passar por esse objeto, no vazio atnito de um ato, e acaba por mor-rer. No suicdio, o sujeito morre por acrscimo. Por exemplo, o jovem que morre de acidente de carro j trazia dentro de si um desejo de morte voltado ao eterno conflito e embate com a figura materna. Em todo caso, ele est matando outro algum dentro de si que lhe ex-cessivamente familiar, e que vivia em desarmonia e de forma pesarosa dentro de si. Ele mesmo no acreditava querer morrer, ele no sabia. Foi levado por foras inconscientes, desencontradas de si mesmo, no

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    no pensar. O sujeito passa ao ato e acaba por matar a si mesmo. Esta uma das maneiras de autopunio: o desejo de morte que dirigido a algum acaba por retornar contra o prprio sujeito. O suicdio o ato de matar a si mesmo para no matar a outrem. No ato suicida o sujeito atualiza a pulso de morte atravs de uma passagem ao ato.

    Por isso mesmo a inflexo que permite a pergunta por quem morrem nossos filhos? Pode dizer de uma identificao e de uma mensagem que d as cartas de uma posio distinta de sua vida subjetiva. O sujeito le-vado, sem saber, a agir, consumando um ato que provoca consequncias graves, danos sem reparao alguma. Muitas vezes, o sujeito interrompe sua vida pelo simples fato de no conseguir responder ao peso dos ideais dos seus pais e tambm de seus avs colocados sobre ele. Pais que idealizam demais seus filhos dificultam o bom desenvolvimento destes. Ao quererem tanto o bem de seus filhos, os pais erram!

    Vidas interrompidas existem desde a origem da humanidade, quan-do o ser humano sofreu os efeitos de uma lancinante angstia ao se deparar com os restos mortais de seu semelhante. O medo de pensar a prpria morte, como uma simples idia em vacncia ou no, como um gesto pensado ou no, como um ato bem sucedido ou no, j estava l. Vida e morte sempre caminham juntas, uma produzindo efeitos sobre a outra. A pulso de morte inerente ao encaminhamento que damos vida da pulso em seu fundamento libidinal. Este fato condena o ser falante a viver a existncia da angstia de morte. Eros e Thanatos no esto separados, eles convivem um com o outro, um produzindo efei-tos estruturais no outro.

    O ato de interromper a vida habita o mais fundo de nossa alma, o mais ntimo da nossa vida. Por isso mesmo podemos dizer que uma idia que passa por todas as cabeas. Convivemos com esta possibili-dade, mesmo que tenhamos horror de pens-la, de emprestar corpo, a esse pensamento. Esse fato nos distingue dos animais, dos vegetais, das outras coisas no mundo vivente: pensar que podemos, de certa manei-ra, provocar a nossa prpria morte.

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    Jovens interrompidos

    Jovens esto interrompendo suas vidas. O nmero crescente e a idade tem se tornado menor. Os que interrompem suas vidas so cada vez mais novos. Trata-se de um fato difcil de aceitar, mas a realidade se impe e nos deixa estatelados, atnitos, atordoados.

    At mesmo crianas tm provocado sua prpria morte a despeito dos cuidados que os pais vm exercendo na atualidade. Hoje, temos crianas e jovens mais saudveis, fisicamente melhores que antes. Mas o problema tem recado na vida emocional, ou seja, no psiquismo da criana e do jovem.

    Em todo caso, podemos dizer que a interrupo da vida na ado-lescncia apresenta-se como um verdadeiro trauma que nos toca de perto, justo no cerne de nossa impotncia. Esse transtorno, que est na ordem do dia, nos desafia a todos como um grande drama enigmtico: autoridades, profissionais da sade pblica, educadores, pais, psicana-listas. Temos sido nocauteados por este obsceno desejo de morte que caminha sorrateiramente produzindo quebra de laos e vnculos que podem dar uma sustentao maior na vida. Esse desejo, como um ser paradoxal, habita nossas vidas, ele est a entre ns como um inslito elemento que se destaca em sua exuberante virulncia destrutiva. Tra-ta-se, sim, de uma fora estranha que nos sufoca e atordoa deixando-nos sem referncia alguma para tomar esta ou aquela posio de defesa frente a seus aspectos corrosivos.

    Vidas interrompidas e suas consequncias um dos problemas maiores da sade pblica, uma vez que faz srie no social. H, sim, verdadeiras epidemias destas formas anmalas de interrupo de uma vida. Trata-se, portanto, de alguma coisa que deve ser levada a srio no que diz respeito aos difceis trabalhos que as cercam, que se instauram sua volta, em seu entorno, no sentido de uma insistncia de pesquisas em todas as partes do mundo, independente desta ou daquela propo-sio preconcebida ideologicamente.

    Mesmo que se afirme que existe uma dificuldade de se abordar o ato que vislumbra o sujeito de uma vida interrompida, na medida em

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    que sua compreenso de todo modo impossvel pois existiriam, a, fatores diversos, mltiplos e at mesmo ocultos , o que deve mesmo prevalecer a insistncia num trabalho multidisciplinar, fundamental-mente a partir de rgos governamentais. Escutamos dizer que quan-do algum quer mesmo interromper sua vida de nada adianta esta ou aquela medida, o sujeito vai mesmo conseguir. Mas temos que insistir, pois a histria das intervenes analticas, at mesmo em casos graves de melancolia, algumas vezes tm conseguido mudar o rumo da coisa impedindo esta interrupo.

    As abordagens dos casos devem ser tomadas no um por um, na sua particularidade. No existe uma visada totalizante de aborda-gens, uma teoria que diga de um quadro nico de vida interrompi-da, um caso especfico que possa ser traduzido como universal. Por isso mesmo, cada caso na sua particularidade: eis a uma insistncia que se aproxima da tica.

    H que se interrogar as razes que levam alguns jovens a colocar fim sua existncia, seja de maneira clara e contundente ou a partir de formas encobertas. So situaes limites que envolvem o jovem em crise: em crise com ele mesmo, com as suas responsabilidades de um aprendizado escolar, com a sua famlia e com o seu redor social. Mais, ainda, com a progresso de futuras geraes.

    Uma vida sem sada

    Os distrbios psquicos que paralisam a vida dos adolescentes esto em constantes mutaes em suas formas inibitrias de desejos. Eles tm comparecido, com muita frequncia, de uma maneira traumtica, irrisria, drstica, assustadora e, at mesmo impensada. Podem com-parecer a cu aberto, visvel e facilmente detectvel. Outras vezes o jovem quieto, sofrendo em silncio, at mesmo sem o saber. Em todo caso, h o encobrimento de uma vida em intensa ebulio, numa crise constante consigo mesmo e com o outro. A cabea do jovem pode es-tar em sofrimento, numa profuso silenciosa, sem que ningum ao seu redor detecte, registre, sinalize. As mudanas que despontam na vida

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    do jovem so frutos da desagregao subjetiva que advm de uma mu-tao alucinante das pulses de vida e de morte. Mas pode haver um grave distrbio no desenvolvimento psquico do jovem que marque, em alguns casos, sua presena atravs de danos irreparveis, dando a ver o comparecimento de vidas sofridas, no resgatveis. So as patolo-gias essencialmente de fundo melanclico, depressivo, que impedem a constituio de vnculos slidos em seus fundamentos de consolidao de laos familiares, sociais e institucionais.

    Os comportamentos dos jovens, na atualidade, mascaram os sin-tomas que levam o sujeito a provocar a interrupo de uma vida. Temos que nos perguntar por que tantos conseguem suportar viver uma vida diga-se, que no nada fcil de ser vivida -, e alguns poucos no. Alguns poucos desistem, contradizendo sua ordem na-tural em direo vida. Simplesmente partem e nos deixam no de-salento de um no-saber!

    Vidas interrompidas na adolescncia apresentam-se como uma das questes mais desgastantes para todos ns, profissionais da rea da sa-de, pais, intelectuais, professores e autoridades em todas as partes do universo. Sua importncia se deve no somente pelo carter enigmti-co com que ele se impe como tambm pela desagradvel constatao de que sua incidncia cresce, o nmero aumenta e no se sabe onde isso vai dar. Pesquisas nacionais e internacionais oferecem nmeros alarmantes em relao s interrupes das vidas dos jovens. So formas diversas de se tirar a prpria vida a partir de um gesto impensado, de um ato impulsivo, violento e cruel. Muito violento! Anualmente, segun-do a Organizao Mundial de Sade, mais de um milho de pessoas se suicidam, uma a cada quarenta segundos, em algum lugar do planeta. Boa parte deles, jovens. Veremos, portanto, que ao levarmos em conta outros fatores que podem interromper uma vida, como por exemplo a morte ocasionada por uma simples batida de carro, e verificarmos que houve, de fato, uma implicao do sujeito, o suicdio poder ser con-siderado hoje, ento, como a primeira causa de mortalidade entre os jovens. Nos pases mais desenvolvidos a causa de mortalidade entre os jovens de 12 a 19 anos aumenta ainda mais. E se pode contar mais

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    de duzentas tentativas de suicdio para cada morte. Situaes das mais diversas se apresentam como causas condicionantes, ou coadjuvantes, no sentido de provocar um maior nmero de mortes dos jovens.

    H muito se sabe que uma vida interrompida pode chamar por outra vida interrompida, numa reao que se processa num encadea-mento progressivo. Por essa razo, os meios de comunicao no divul-gam tanto a causa ou razo de uma morte quando o que est colocado uma interrupo da vida em seu contexto intencional, consciente ou no. Como se no bastasse, no que diz respeito aos jovens, temos outras vertentes a considerar, que so mais graves que o suicdio no adulto. Hoje, mais do que nunca, os programas de sade pblica tm marcado sua presena. Uma nova perspectiva se sobrepe ao que j existia anteriormente. H uma macia exacerbao dos novos meios de disseminao, que se processam a partir de uma linguagem que se faz comum e nica, consistida pelo vis de computadores, por via da inter-net. Uma nova janela se abre, uma nova questo se coloca e que toca de perto uma incidncia maior de caso de suicdios na adolescncia. Ou seja, temos hoje grandes formas de contgios e de epidemias que nascem desse engajamento, e que tem a capacidade de promover uma propagao maior de vidas interrompidas. Deste modo, temos vida in-terrompida migrando no anonimato de uma comunicao virtual. Esse meio permite que se encontre com facilidade um novo hospedeiro, e mais outro, para que, juntos, celebrem vidas interrompidas. Eu te con-voco, sim, para que juntos, possamos gozar com a morte, este momen-to onipotente de triunfar sobre a vida. Em todo caso, ser estabelecido o pacto que sela uma nova ordem de gozo na morte, pelo vis virtual: to longe e, ao mesmo tempo, to perto, vamos imprimir uma vida que se faz interromper. O que se verifica o acasalamento enganoso com a morte, no sentido nico de encontrar o novo hospedeiro de vida interrompida. Uma epidemia contagiosa, semelhana das doenas causadas por vrus e bactrias.

    O jovem est mais disponvel s identificaes apaixonadas e sem limites. Ele pode estar inteiramente aberto a este ou aquele chamado, at mesmo em direo morte. Sua cabea pode estar ruim, ele pode

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    estar com muitas certezas, e pouco conseguir discernir. Pouco, ou quase nada, ser filtrado pelo simblico que lhe concerne, na medida em que se desponta, a, uma fragilidade estrutural. H uma onipotncia desmedida na maneira de ser do jovem, de lidar com os desafios que a vida impe. Por isso mesmo ele pode se deixar ou se fazer contagiar a partir de uma diversidade de clamores escandalosos. Os chamados sero tomados aqui, ao p da letra, como ordens a serem obedecidas: um gozo que vocifera em sua crueldade, obscena e cruel, numa dire-o vertiginosa rumo a vidas interrompidas. Sem mais nem por qu. Ser? O jovem em sofrimento, muitas vezes no mede consequncias do que se passa sua volta, podendo at mesmo responder aos cha-mados irracionais de redes virtuais dos computadores. A maneira de ser do jovem adolescente se apresenta a partir de uma disposio para o outro, por onde ele se oferece como um verdadeiro objeto a ser ma-nipulado, podendo ser facilmente utilizado numa forma especfica de identificao melanclica, a partir da constituio de grupos, a partir das redes grupais, virtuais.

    Os pais imersos numa vida interrompida

    Vamos tratar assim de questes especficas sobre os conflitos e os dis-trbios na vida dos filhos, distrbios estes que so tecidos e escritos nos interstcios de uma conflituosa relao entre pais e filhos, no sem a inci-dncia de efeitos contundentes advindos da babilnia social em que vi-vemos hoje. So conflitos que seguem adormecidos numa histria, mas produzindo efeitos ensurdecedores aqui ou ali. Mais especificamente, ao que escapa de um possvel domnio da relao de um casal e, que, muitas vezes, faz brotar, no real, como zona de conflito, situaes graves demais na vida de um sujeito que podem acarretar danos intermitentes e irrepar-veis, podendo ocasionar vidas interrompidas.

    A posio que os pais ocupam hoje no fcil de suportar. Eles tm sofrido na carne os desafios que se apresentam numa relao das mais difceis de serem solucionadas. Os pais navegam a partir da sublime arte de conduzir e administrar as reviravoltas presentes na educao de filhos adolescentes, num territrio que carrega, ao mesmo tempo,

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    alguns entusiasmos, preocupaes atordoantes, e grandes embaraos. Deste modo, ocupando um lugar dificlimo e quase insuportvel de se sustentar na atualidade das famlias, tendo que lutar como gigantes contra as crises estruturais que d a ver o crescimento de filhos, como tambm no sucumbir ao insidioso soterramento que os discursos da atualidade impem no sentido de deslocar um pai da sua funo de autoridade paterna? Ou seja, gozando e administrando momentos de alegrias nicas e inesquecveis entrecortadas por conflitos dos mais inesperados que apontam em direo a uma possvel construo de nova ordem de geraes.

    O lugar que um pai ocupa hoje na relao, com a me e com os filhos, sofre e carece de sustentao de autoridade. As coordenadas que medem os valores que delineiam estas novas geraes no nascem mais de razes que poderiam brotar de uma autoridade dentro da famlia, mas sim de fora. H, portanto, a incidncia de entraves no exerccio da funo paterna enquanto autoridade em relao ao papel que a me vem ocupar. As no-vas formaes sociais esto, cada vez mais, se fazendo sediar pelo discurso da cincia. Este fato por si s cria uma verdadeira avalanche de idiossin-crasias jurdicas que no cessa de destituir a funo de autoridade do pai, outrora ocupada sem oscilao. Isso conta e, por vezes, causa e razo de atravessamento de desenvolvimentos patolgicos na vida de jovens em suas vidas j to em crises.

    O sintoma do casal, de todo modo, se instala no filho ou na filha. Aquilo que no anda bem no casal parental, e que signo de um de-sencontro de desejos, certamente se desloca sintomaticamente na vida dos filhos. O que est atravancado no casal perturba o bom desenvol-vimento da criana. A criana patolgica testemunha que algo no vai bem, que algo est mal na estrutura das relaes de desejo do homem e da mulher que se tornaram pai e me. O ponto maldito no casal o que se instala de sintomtico na criana e no jovem como alguma coisa que interrompe no permitindo o bom andamento de uma vida bacana e feliz. O que comprova a tese psicanaltica de que o sintoma da crian-a acha-se em condies de responder ao que existe de sintomtico na estrutura familiar. Sintoma que se apropria e justifica a vida subjetiva

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    de um filho ou de uma filha, que se faz passar numa representao da verdade (oculta) do casal parental ou seja, aquilo que no anda bem no casal pai e me, em seu recobrimento da sexualidade que se passa entre um homem e uma mulher, em sua reinante conjugalidade. O sintoma que se faz passar, por este ou aquele sofrimento de um filho, representa a verdade do casal familiar. Este o caso mais complexo, mas tambm o mais acessvel a toda e qualquer pesquisa que possa permitir um progresso sobre esta questo.

    Os pais tm investido mais em seus filhos, sim, na sade fsica, no preparo para o futuro, fundamentalmente, o profissional. Mas o proble-ma est justamente no comportamento, naquilo que advm de um no uso das palavras entre este ou aquele membro da famlia. As palavras so soberanas, elas mesmas, quando bem colocadas, fundam os lugares de leis e de respeito na estrutura familiar, que se faz passar para o uni-verso das relaes sociais. O no, saudvel para um progresso psquico, no est presente nos bons momentos de uma educao. As coisas quando so ditas sem medo e sem pudor permitem que a verdade possa ser entrevista, venha ser relanada numa abertura necessria para que cada um possa no abrir mo de seu desejo. Quando no h lugar para a palavra por exemplo, quando os pais sabem, de antemo, o que o melhor para seus filhos, e estes, portanto, no necessitam pedir, ou dizerem que aquilo eles no querem, pelo menos naquele momen-to este lugar ser parasitado por sintomas, situaes silenciadas ou explosivas. Ou seja, pelo excesso de um gozo, que foi no castrado pela palavra do pai, palavra esta que no cessa de ser veiculada pela me. So alguns transtornos da vida psquica, que se apresentam como verdadeiros distrbios mentais, autodestrutivos, que tm, em suas ba-ses, o encaminhamento de uma vida depressiva em seus movimentos de desejos. Se eu no pude, de alguma maneira, constituir no seio da minha famlia um lugar de desejo, um lugar pelo qual eu possa querer aquilo que desejo e que somente o exerccio das palavras me permi-tir alcanar tal objetivo, ele me coloca sob o exerccio de uma lei do desejo serei levado a agir, a atuar, a viver uma vida, digamos, paralela e sem sada. O sujeito depressivo escreve sua vida como vida interrom-pida justo por no querer aquilo que deseja.

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    O comportamento desviante tanto das crianas quanto dos jovens tem sido resposta a um complexo familiar, de subjetividades desajus-tadas, subjetividades em crises, refns do mau dilogo. Trata-se de um vertiginoso imperativo do no-dito. Os dilogos so dilogos atravessa-dos por linhas imersas numa violncia descabida. Falta uma boa pala-vra, o bom uso da fala. Este lugar ser ocupado por distrbios que se tornam muitas vezes mais perigosos e incontornveis.

    O que se passa com os pais

    A criana ou o adolescente que, por alguma razo, interrompe sua vida, carregam consigo um pedao da vida dos pais e, tambm, das pessoas que mantm vnculos afetivos prximos. Ou seja, vidas interrompidas, elas mesmas dizem respeito aos pais que vivem, com seus filhos, o embate de situaes conflitantes que vm estagnar a vida de uma criana ou de um adolescente. Muitas vezes so situaes silenciosas, adormecidas, enco-bertas por sucessos e brilhantismos escolares. Os sintomas do jovem po-dem estar recobertos pelos excessivos ideais dos pais. Portanto, so pais suspensos na dor e no sofrimento cruel, real ou sintomtico, de um filho ou de uma filha que j no caminha mais na vida como outras crianas e adolescentes. Eles se preocupam e querem respostas: O que se passa com o nosso filho que ele anda isolado e to quieto? Por que ser que o nosso filho vive adoecendo e no avana nos estudos? Por que ele to bom em seus estudos e vive uma vida afetiva de relaes estagnadas? Por que este filho no consegue viver uma vida sem sofrimentos?

    Ora so as drogas e os seus terrveis desdobramentos, que apontam tanto para uma delinquncia quanto para um isolamento sem fim, ora se trata de uma reincidncia de doenas das mais variadas possveis - anorexia, bulimia, depresses, doenas da pele, doenas malignas. Muitas vezes se trata de situaes aparentemente simples - uma inibi-o, por exemplo - mas que, depois, poder evidenciar um quadro de problemas mentais mais srios e mais graves.

    Estas crianas e adolescentes vivem uma vida paralela, impenetr-vel, defendida e protegida contra qualquer investimento dos pais e de

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    outros. Eles se mantm reclusos, protegidos contra tudo e contra todos, em suas ostras narcsicas, intocveis, que guardam como grande trunfo uma agressividade onipotente e uma violncia desmedida que pode es-tar dirigida contra si mesmo. Nesses casos, os pais sero os verdadeiros arautos de um sofrimento que os filhos vivem, nos escombros do gozo silencioso de um sintoma, um sacrifcio que se arrasta, por aqui