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Livro do Projeto Entre na Roda
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Minha História de Leitura
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Ap r e s e n t a ç ã o
Se cada um de nós se perguntar quando a leitura passou a fazer
parte do seu universo como possibilidade de relação com o mundo,
a resposta virá, quase sempre, envolvida em memórias de infância,
nas quais os lugares, os objetos e as pessoas ganham a dimensão
especial do afeto. E essa aproximação com a palavra escrita e com a
ficção, seja precoce ou tardia, vem sobretudo mediada pela mão e
pela voz de pessoas que invariavelmente nos marcaram. Cenas
distantes fluem, filtradas pelo olhar do leitor que somos hoje.
São essas cenas que os depoimentos aqui registrados nos trazem.
A voz da mãe contadora misturada ao barulho da máquina de
costura; o irmão mais velho que acolhe, protege e orienta; o pai,
cuja leitura de jornais traz para o menino a possibilidade de
imaginar e de viver sonhos; o tio-avô, com suas histórias repletas
de “princesas, castelos, temporais, amores impossíveis, perdas e
conquistas”; o avô e suas histórias fantásticas, anedotas, músicas,
trovas e causos “do tempo em que os bichos falavam”; a avó que
assustava o avô com seus contos de assombração; a professora,
encantada com a profunda emoção da menina leitora; os gibis
dados pelos pais ou comprados quando era possível; o livro dos
sonhos encontrado por acaso numa lata de lixo...
A partir de experiências diversas, os autores destes depoimentos
descobriram que ler é vital e que “a vida seria sempre menos do
que ela é, sem o livro”. Folheie este livro e conheça suas histórias.
Maria Alice Armelin
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Su m á r i o
Ana Carolina D Eca Rodrigues
São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Ângela Cristina Trainotti
Hortolândia – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)
Aracidelma Aparecida Rezende Carvalho
Três Corações – Turma Três Corações (MG)
César Augusto Pimentel de Souza
Francisco Morato – Turma G10 (SP)
Claudia Maria Naves de Avelar
Três Corações - Turma Três Corações (MG)
Cléo Lima
São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Edneide do Nascimento Pereira
São Paulo-SP – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)
Fabiana Maria de Paula
Santa Cruz do Rio Pardo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Grinauria Enedina da Silva
São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Izabel Diório Peres Alexandrino
Reginópolis – Turma G12 (SP)
José Cetra Filho
São Paulo – Turma G-10 (SP)
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História de leitura de:
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Su m á r i o
Karina Adelia Franco Saliba
Peruíbe – Turma Peruíbe (SP)
Maria Aparecida Palazzolli da Silva
Pirapora do Bom Jesus – Turma Pirapora do Bom Jesus (SP)
Maria Salete Victor de Almeida
Piedade – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Nailda Souza Soares
São Bernardo do Campo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Shirley de Souza
São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP)
Silvia Angela Zanata Duarte
Pongai – Turma G12 (SP)
Vanessa Lima dos Santos
São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
Vilma Teixeira de Carvalho
São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP)
Créditos
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Minha história de leitura
uando era bem pequena, talvez entre uns cinco ou
seis anos, lembro de diversos livros nas estantes de minha
casa: meu tio assinava o Círculo do Livro e minha tia é
professora, porém não liam ou contavam histórias para mim
e minha irmã, mas sempre estive cercada pelas histórias. Já
na escola, no ensino fundamental, por volta da 5ª ou 6ª série,
lembro-me das fichas de leitura que tínhamos que preencher
e assim a professora de Português levava toda a sala para a
"sala de livros", pois não mantinha os critérios necessários a
uma biblioteca e nem sempre estava disponível para os
alunos. Éramos encaminhados aos livros para nossa idade,
em sua maioria eram os da série Vaga-lume. Dos que
li, adorei O mistério dos cinco estrelas, de Marcos Rey, e
Tráfico de anjos de Luiz Puntel, embora fosse uma leitura
obrigatória, pelo menos tínhamos a opção de escolher a
história. O que marcou muito minha história de leitura foram
as diversas tardes que passei depois das aulas em uma
biblioteca de uma escola de idiomas que ficava bem próxima
da escola em que estudava e nesta biblioteca, havia uma sala
infantil, com decoração agradável, livros brinquedos e vários
"Onde está Wally?". Embora minha mãe ou minha avó não
tenham feito leituras de livros comigo, me contaram diversas
histórias reais de vida, que acredito que tenham contribuído
pelo gosto pela leitura. E a escola foi sim o cenário que
favoreceu em boa parte o apego aos livros.
Q
Ana Carolina D Eca Rodrigues – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
6
Minha experiência como leitora
Ângela leitora nasceu embalada pela voz suave e dedinhos
ágeis da mamãe Lila nos momentos de espera pelo ônibus na
rodoviária de Campinas. A prazerosa leitura vinha dos gibis Tio
Patinhas e Pato Donald que engordavam a coleção, quase a não
caber mais na gavetinha da máquina de costura que ficava em meu
quartinho de menina. Se na banca/livraria da rodoviária minha
leitura iniciava, era no meu quarto/cantinho de costura de mamãe
que a leitura pela mamãe se repetia infinitas vezes até o momento
em que a pequena menina “lia” fantásticas histórias, mesmo ainda
sem saber ler, no auge de seus quatro/cinco aninhos...
Se fechar os olhos ainda consigo ouvir alguns trechos embalados
pela sinfonia daquela máquina de costura... A menina cresceu, foi
pra escola e surpreendeu pela intimidade que tinha com os textos
escolares e muito feliz ficava com livros-presentes que ganhava da
professora de primeira série, Dona Maria Elisa. Livros estes que
m a n t é m g u a r d a d o s a t é h o j e !
Quanto a minha coleção de gibis, ela começou a se dissipar
quando eu, já formada professora, levava-a para meus alunos
lerem em classe, em casa, na biblioteca da escola... Já ouvi dizer
que “livros não se perdem, só mudam de dono”, acho que é verdade.
Houve um tempo em minha vida em que os gibis foram asfixiados
por outras necessárias leituras: da graduação, da pós, do trabalho
etc., etc., porém, hoje, eles (os gibis) voltaram a freqüentar minha
casa e já formam uma coleção bem gorducha de Mônicas e
Cebolinhas. Onde? Nas gavetinhas das camas dos quartos de
minhas filhinhas...
A
Ângela Cristina Trainotti – Hortolândia – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)
7
Memorial de uma leitora s lembranças de minha infância são poucas, mas o que ficou
foi muito bom. De família humilde, não tínhamos muitas
condições materiais, mas havia muito amor e doação por parte
de meus pais e meu irmão acima de mim (diferença de oito
anos). Éramos quatro irmãos. Meu pai era açougueiro e minha
mãe costurava dia e noite, segurando a barra. O
relacionamento com meus irmãos era muito vago, pois a
diferença de idade era muito grande, quase quinze anos e,
quando se é pequeno, isso pesa muito, além de todos serem
homens. Quem mais foi meu companheiro foi o meu irmão
acima de mim, pois tinha a maior paciência comigo. Era muito
inteligente e sempre me ensinava coisas novas, contava
histórias e brincava comigo. Não tinha muitos brinquedos, o
que tinha era um cachorrinho e uma galinha garnizé que me
distraíam bastante. Era muito criativa em minhas brincadeiras.
Diante disso, a ida para a escola era uma grande expectativa.
Em casa, meu irmão e minha cunhada já me ensinavam as
primeiras lições. Tinha facilidade para aprender, era uma
menina muito esperta. Quando entrei para a pré-escola, já
sabia escrever meu nome, conhecia o alfabeto, contar e realizar
pequenas operações. Lembro-me até de um caderninho de
capa verde com uma águia preta se destacando.
Em casa meu irmão já possuía um pequeno acervo de livros
que ele comprava de outras pessoas. O que mais me chamava
a atenção era aquela coleção azul de capa dura: “Os
Pensadores”. Mas o livro que realmente me cativava e que
sempre pedia para ele ler era: Poesias Infantis, de Olavo Bilac
(que tenho até hoje). Tinha uma poesia em especial que
decorei rapidinho: Plutão, linda e triste.
Em seguida já na escola, minha primeira cartilha foi a do
Carequinha, achava linda e a gente podia colorir os
personagens. Tinha o maior cuidado com ela, devia ter
guardado.
Logo na 1ª série, quando já estava bem desenvolvida na leitura,
ganhei uma coleção de minha mãe, com seis volumes e cada
volume com uns oito ou dez contos, todos ilustrados. Eram de
capa dura.
A
8
Ainda tenho quatro, os outros dois minha sobrinha os perdeu.
Além de livros, eu adorava ler revistas em quadrinhos, meus
personagens favoritos: Mickey, Pato Donald, Zé Carioca; com o
passar do tempo: Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali etc.
Quando na escola a professora passava livros para ler, eu adorava.
Eram livros pequenos, que a gente comprava por catálogos, eu
acho, não lembro bem, ficava em cima de minha mãe para
comprar.
Meu irmão mudou para o Rio de Janeiro e sempre que vinha nos
visitar, trazia livros para eu ler. O Pequeno Príncipe foi o primeiro,
li várias vezes. Depois veio “O Menino do dedo verde” e coleções
do Eça de Queiroz, que eu perdi com uma chuva que entrou em
meu quarto e molhou toda.
Meu irmão era um poeta, com 23 anos escreveu um livro e com 24
anos morreu. Sua trajetória marcou muito minha adolescência, me
ensinou muito sobre os cantores da época, a MPB: Chico Buarque,
Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Vinícius de Moraes e
outros.
Sempre fui amante da leitura, durante a adolescência fazia parte
do Círculo do Livro. Lia Agatha Christie, Sidney Sheldon, Khalil
Gibran, Hermann Hesse e outros. Assinava revistas de psicologia e
lia todas
Quando casei e tive filhos tinha o maior prazer em contar histórias
a eles antes de deitar.
Nunca me imaginei sendo professora, mas acabei abraçando essa
causa e adorava contar histórias aos meus alunos. Fiquei 10 anos
na direção e o lugar mais prazeroso para mim era a biblioteca.
Adorava organizar, emprestar livros, “copiar modas” como diziam
os professores. Estava sempre envolvida com os projetos de
biblioteca na escola
Atualmente estou trabalhando diretamente na biblioteca de nossa
escola, que antes não existia –no final do ano de 2008 montamos
uma – e está funcionando com muito dinamismo.
Espero com esse projeto, Entre na Roda – Educação Infantil,
aperfeiçoar a minha prática, enriquecê-la e aplicá-la com os alunos
e a comunidade.
Continuação... Memorial de uma leitora
Aracidelma Aparecida Rezende Carvalho – Três Corações – Turma Três Corações (MG)
9
Memórias de leitura
esde muito pequeno (três ou quatro anos) já recebia
livros de meus pais, principalmente de minha mãe,
pois, mesmo não sendo professora de formação
acadêmica, tinha bons hábitos de leitura e, sobretudo, um
jeito bem pedagógico de agir conosco. Eram pequenos
livros, histórias em quadrinhos, gibis. E mesmo antes de
estar alfabetizado, chamava as pessoas para ouvir as
histórias que, pela repetição, já estavam decoradas. Pegava
os livros de “ponta-cabeça”, às vezes de trás para frente,
mas lia. Tinha estímulo e motivo para fazê-lo.
Independentemente da leitura matinal de jornais pelo meu
pai, dos livros de romance de minha mãe, também tive
influências bem marcantes de outras pessoas da minha
família. Por exemplo, minha tia Maria, quando nos levava
para sua casa, pegava grandes livros ilustrados, e lia
deliciosos Contos de Fadas realizando as paradas e
entonações que toda boa tia que se preza faz, para assustar
ou encantar os sobrinhos.
Meu saudoso avô materno, filho de italianos, que não sabia
falar sem gesticular com as mãos, morava numa chácara
rodeada de criação de animais, árvores e pomares, (lugar
este onde passaria minha adolescência), tinha o maravilhoso
costume de me sentar na beira da cama e apresentar
histórias fantásticas, anedotas de caipiras incrivelmente
engraçadas, contos de assombração, músicas e trovas
esquisitas, e causos “DO TEMPO EM QUE OS BICHOS
FALAVAM” – afirmava ele com um risinho irônico. Eram
histórias únicas. Esquecia-se de como terminar uma história
anteriormente contada, mas, não havia problema algum,
pois as histórias jamais começavam e terminavam da mesma
maneira. Ele, com seu breve esquecimento, ampliava
diariamente seu repertório, e me concedia o magnífico
benefício da dúvida e a expectativa do inesperado.
D
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Memórias de leitura
Na escola, nas séries iniciais, infelizmente, meu contato com
leitura ficava restrito a breves palavras e frases soltas
relacionadas às famílias silábicas contidas no livro didático -
cartilha.
Com oito anos, na 2ª série (período primário), minha
professora indicou a leitura do Pequeno Príncipe de Antoine
Saint-Exupéry, uma literatura que a primeira vista não seria
muito indicada a uma criança dessa idade.
Ao ter contato com um Aviador perdido no deserto do Saara
totalmente a mercê do tempo e espaço, que havia sido
conduzido a deixar seus dotes artísticos quando criança, por
pessoas “grandes” e com um esquisito menino vestido como
príncipe que se preocupava com o significado de simples
desenhos, que conseguia capturar as mais íntimas
características das pessoas, e que nunca, nunca, desistia de
uma pergunta, passei a conhecer naquele instante o mais
incrível universo de sensações e descobertas – a leitura.
Mesmo alfabetizado com seis anos de idade, considero que
minha primeira experiência de leitura foi aos oito, quando
me deparei com o Pequeno Príncipe. Fez sentido. Foi
engraçado. Fiquei indignado. Algumas vezes me identifiquei
com o Aviador egoísta, outras, com o ingênuo Príncipe,
outras até, com os estranhos habitantes dos planetas
visitados pelo monarca. Então, quis muito que a história não
terminasse. Mas enfim terminou. Consegui entender que
muitos outros príncipes e seres extraordinários poderiam ser
despertados, enfurecidos, poderiam inclusive deixar de
serem príncipes para serem alpinistas ou acendedores de
lampiões, quem sabe até experimentadores de bolo de
chocolate. Por que não?
Eu é que deveria encontrá-los e descobrir seus segredos.
César Augusto Pimentel de Souza - Francisco Morato – Turma G10 (SP)
Continuação...
11
História de leitura
assim começou a minha história com a leitura. Eu,
criança, 6 anos, não conhecia nem entendia bem as
letras. Sabia que juntas, era possível contar histórias, mas
não tinha tido ainda nas mãos nenhum livro. Ouvia então
histórias de um tio avô que me levava a sua casa para
contar histórias e passar horas alegres. Enquanto isso, em
minha casa, a máquina de costuras de minha mãe não parava nunca.
Na casa de meu tio avô, lá ficava eu, ouvindo atenta as
histórias que ele me contava com todo o cuidado. Falava
de princesas, de castelos, de temporais, de amores
impossíveis, de perdas e conquistas que ficaram
guardadas em minha memória por muito tempo. Hoje,
resta uma névoa do que se passou num tempo distante e
fica forte aquela vontade de encontrar em livros aquilo
que me foi tão importante na infância.
Resta buscar em livros novas aventuras, novas descobertas,
novas histórias de princesa, castelos e amores impossíveis
e v o l t a r a v i a j a r n a i m a g i n a ç ã o .
Quando iniciei minha escolarização na Escola Estadual
Bueno Brandão, fui alfabetizada com o livro O Barquinho
Amarelo e até hoje tenho um exemplar guardado junto a
tantos livros que fazem parte de meu acervo. Divido com
carinho este meu acervo com meu filho, João Victor, que
diferente de mim iniciou sua vida de leitor bem mais cedo
que eu. Fico feliz e acredito que toda criança deveria ter na
vida alguém para lhe dar o exemplo da leitura. É
maravilhoso. Boas histórias devem ser contadas. Boa
leitura para todos.
E
Claudia Maria Naves de Avelar – Três Corações - Turma Três Corações (MG)
12
História de leitura
minha história de leitura começou com
leituras de histórias em quadrinhos e gibis
da Turma da Mônica. Logo depois eu passei a
ler revista de esporte como a 'Placar'
e realmente as primeiras leituras que me
fizeram despertar para o mundo literário e
aguçar o meu senso crítico foi O Capital para
principiantes e Triste Fim de Policarpo
Q u a r e s m a , d e L i m a B a r r e t o .
Após a minha entrada na Universidade passei
a ler livros e artigos técnicos sobre
biblioteconomia e clássicos da literatura
brasileira como, por exemplo, Mémorias
Póstumas de Brás Cubas de Machado de
Assis , A hora da estrela de Clarice Lispector e
Vidas secas de Graciliano Ramos.
Mas apesar de ter lido essas obras
fundamentais para o desenvolvimento do meu
hábito e gosto pela leitura, o que me chamou
à atenção foi a Biografia de Ernesto "Che”
Guevara, pois eu também me considero um
"guerrilheiro" como ele.
A
Cléo Lima – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
13
Diário de bordo
eço licença a Alberto Mussa para usar uma
frase sua para dar início ao meu „Diario de bordo‟.
“Não sou capaz de dizer que obra ou autor inoculou
e m m i m o v í c i o d a l e i t u r a . . . ”
(Decompondo uma biblioteca – Alberto Mussa – 03.03.2010).
Infelizmente não nasci entre os livros, nem cresci com
eles espalhados por toda casa. Cresci sim, com os
contos falados. Não sei em que momento minha mãe
começou a contá-los, mas lembro-me das noites
iluminadas por um candeeiro a querosene e os cinco
filhos reunidos para ouvi-la. Eram mágicos seus
contos, suas histórias... Que saudade!
Não sei se tudo aquilo era verdade. Mas, para ela sim,
era tudo real. Sacis, lobos, rezas fortes, cumadre
fu lôz inha , esp í r i tos bons e maus .
No entanto não fui educada para sonhar, mas para
viver cada dia. E, vivendo-os crescí. Um dia descobri
que teria de ler para fazer os trabalhos de literatura
da escola. Foi só aí que conhecí alguns escritores.
Q u e g r a n d e d e s c o b e r t a !
Terminei a escola e não parei mais até ser guiada por Deus, por
caminhos que me levaram a livros, e mais livros, e mais...
Espera! Tem uma biblioteca neste caminho. Parei!
Pelo menos por enquanto.
P
Edneide do Nascimento Pereira – São Paulo-SP – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)
14
Minha história de leitura
inceramente, cheguei a pensar que não teria nada
a declarar sobre a minha história de leitura, mas, felizmente
isso não aconteceu. Acredito que todos, ao longo de suas
vidas, devem ter ao menos uma palavra a dizer sobre sua
história de leitura, seja ela boa ou ruim.
Ao voltar no tempo da minha infância, constatei que a
leitura nunca fez parte do meu ambiente familiar. Lembro
que o meu primeiro contato com os livros foi através de
uma professora que os levava para a escola. Alguns deles
ficaram marcados em minha memória, como O jogo do
contrário, A limpeza de Tereza, entre outros.
Depois dessa experiência, ainda não consegui criar gosto
pela leitura e desenvolver o hábito de ler. Dificilmente eu
conseguia ler um livro inteiro para fazer os resumos que os
professores de português pediam. Considerava isso uma
chatice e geralmente copiava trechos dos livros para fazer
os resumos e não me interessava por eles. Por outro lado,
quando passava perto da biblioteca ou a visitava para fazer
alguma pesquisa escolar, me sentia culpada por ver tantos
livros à minha disposição, saber da importância que eles
tinham e mesmo assim não ser capaz de pegar ao menos
um para ler. Até que um dia, aos meus dezoito anos resolvi
prestar um concurso público justamente para trabalhar em
uma biblioteca, mas posso garantir que não foi por amor
aos livros, e sim por acaso. O tempo foi passando, hoje,
depois de dez anos em contato com livros, me tornei
apaixonada, não consigo mais viver sem eles e digo que fui
contemplada, pois aprendi a gostar de ler e sei que posso
levar outras pessoas a gostar também.
S
Fabiana Maria de Paula – Santa Cruz do Rio Pardo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
15
Minha história de leitura
ou paulistana e minha infância foi desprovida de livros,
meus pais eram analfabetos, não havia incentivo à leitura.
Então, como muitos, minha leitura iniciou na escola, com as
exigências da literatura clássica, porém, sempre que ganhava
algum dinheiro ia correndo comprar gibi da Turma da
Mônica, e depois conheci as revistas de horóscopo, pensei
até em ser astróloga...o conhecimento despertava minha
paixão de ler. Tive uma profª de português - Maria Helena -
no ginásio que sempre nos alertava sobre a importância de
ler jornal, revistas etc. Retornando a leitura da escola, fiquei
apaixonada pelas histórias de Iracema, O Moço Loiro, e
outras mais. Infelizmente o acesso aos livros era restrito, sem
condições financeiras, sem tempo para ir às bibliotecas... Até
que chegou o grande dia de ingressar na faculdade, e na
procura pelo curso no guia dos Estudantes - lá estava:
Biblioteconomia. Fiquei emocionada em saber que existia
um curso sobre o conhecimento dos livros, da informação,
da biblioteca. A partir daí, a paixão da leitura tornou-se
amor pelo conhecimento, pela magia das palavras.
Hoje, posso afirmar que minha vida é mais bela e feliz:-
"A leitura encanta
Faz-me sorrir
Enxuga meus prantos
Mostra o caminho a seguir".
S
Grinauria Enedina da Silva – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
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Leituras e lembranças, lembranças e leituras...
screver esse relato me fez viajar nas lembranças de infância,
adolescência e juventude, quanta saudade! Lembranças
essas que tiveram início com leituras de jornais, e por incrível
que pareça gostava de ler as notícias policiais, mas depois
ficava com medo, à noite, para dormir.
Eu creio que antes de saber ler mesmo, folheava a cartilha de
minha irmã, que depois se tornou a minha cartilha também,
recordo ainda dos nomes das personagens (Paulinho, Marita,
e um cachorrinho de nome Tupi) que por sinal foi o nome
d a d o a o p r i m e i r o c a c h o r r i n h o .
Depois disso vieram muitas outras leituras. Em minha casa não
tinha muito acesso a livros, mas na casa da minha avó Izabel
(avó paterna, muito querida), podia viajar na imaginação,
através da leitura de gibis do Walt Disney, como Tio Patinhas,
Pato Donald e seus sobrinhos, Margarida, Pateta etc. (recordo
que minha história em quadrinhos favorita era a do Fantasma),
também lia Seleções de Reader‟s Digest, tudo isso porque meu
tio Maurílio (irmão de meu pai), que era professor de
Geografia, me proporcionou esse acesso e ao mesmo tempo
me estimulou, sem nem mesmo saber, no mundo
encantador da leitura. Desde essa época já lia com muito
prazer, porém sem ter conhecimento da importância ou da
influência que teria em meus estudos, em minha vida escolar, e
até mesmo na minha trajetória como professora. Sou
encantada pela leitura e acredito que devo passar isso para os
meus alunos, todos os dias, no momento em que faço a “Hora
da Leitura” em minha sala de aula.
E
17
Durante a adolescência e juventude, vou ser sincera, os
livros que eram solicitados na escola para eu ler, como
obrigação, não me estimulavam. Mas, nessa mesma
época fiquei sócia do círculo do livro e então tive
contato com livros que eu mesma escolhia para ler:
Sidney Sheldon, Agatha Christie, Khalil Gibran etc.
Depois, já no Magistério, tive contato com livros
relacionados à profissão, ou melhor, passei a ler não só
por prazer, mas também para pesquisar, estudar, me
informar, me atualizar. Já na faculdade, lia os livros de
estudo das disciplinas, mas sempre procurava me
aprofundar mais nos conteúdos, foi então que na
disciplina de filosofia, tive contato com o livro O mundo
de Sofia, livro este que trago para indicar aos meus
c o l e g a s d o “ E n t r e n a r o d a ” .
Atualmente, leio muito sobre as pesquisas de Emilia
Ferreiro, Délia Lerner, Telma Weisz, Katia Lomba
Bräkling etc., autoras que fazem parte de nossa
capacitação, para melhor desempenhar nossa profissão,
tão inebriante, eloquente, quanto elucidante.
Gosto tanto de ler, que um dos meus presentes
favoritos, tanto para eu ganhar como para eu
presentear, principalmente crianças, são livros.
Creio que minha história de leitura não acaba por aqui,
ao contrário, a cada dia tem um novo recomeço.
Leituras e lembranças, lembranças e leituras...
Izabel Diório Peres Alexandrino – Reginópolis – Turma G12 (Arealva - SP)
Continuação...
18
História de leitor inha primeira lembrança de leitor tem a ver com jornais. Diariamente
meu pai comprava o jornal “A Gazeta”. Ele lia o jornal de trás para frente e à
medida que ia deixando os cadernos, eu pegava para ver, ainda sem saber ler.
Eu adorava os quadrinhos do Professor Nimbus! Aos domingos era a festa.
Meu pai comprava “O Estado de São Paulo” e aquele monte de cadernos
espalhados pela sala era um verdadeiro mar de surpresas no qual eu
mergulhava maravilhado.
Tinha verdadeiro fascínio pelas páginas com propagandas de filmes e de
peças de teatro e, já um pouco mais velho, as recortava para enfeitar o
teatrinho virtual que eu tinha no fundo do quintal.
Voltando às leituras, se bem me lembro, comecei a decifrar as primeiras letras
no colo do meu pai, olhando para o jornal. Meu pai tinha uma coleção da
revista Fon Fon encadernada, com folhetins do escritor francês Michel Zevaco.
Eu adorava revirar aquelas folhas amareladas e admirar as gravuras das capas.
Ler eu ainda não lia. Minha mãe não via com bons olhos eu manusear
aqueles livros com títulos como “Os Bórgias” e “O Caso Dreyfuss”, mas como
eu não sabia ler e contentava-me com as gravuras, ela permitia que eu o
fizesse e ainda brincava com o meu nome (Zé) e o sobrenome do autor
(Zevaco).
Quanto ao objeto livro, creio que o primeiro que caiu em minhas mãos foi a
cartilha, cuja primeira folha mostrava a gravura de um bicho estranho seguida
do seguinte texto:
“Eu vejo um tatu.
Ta-tu Ta-ta.”
Fui um bom aluno no primeiro ano e ganhei como prêmio “O pássaro de
fogo” da Dona Iracema, saudosa primeira professora.
Daí em diante eu não abandonei mais os livros e nem eles a mim. Sucederam
-se Monteiros Lobatos, Júlios Vernes e tantos outros, existindo uma atração
mútua, linda e inexplicável. Tudo com um gostinho de Bolero de Ravel,
uma das minhas primeiras experiências musicais (trazidas também
pelo meu pai em dois bolachões 78 RPM, onde o Bolero ocupava
três lados).
M
19
Sempre que eu tento me lembrar das primeiras leituras, o Bolero e o
meu pai surgem e permanecem.
E falando em leitura, eu não posso deixar de lado outras três
experiências inesquecíveis:
- A primeira enciclopédia: Eu devia ter uns dez anos. Vi uma
propaganda das obras completas de Shakespeare na revista “Seleções”.
Preenchi um formulário pedindo mais informações e enviei pelo Correio.
Dias depois um vendedor aparece na porta de casa disposto a vender as
tais obras de Shakespeare. Minha mãe atendeu a porta e disse que
aquilo não era obra para uma criança. Mas ele insistia e insistia. Nisso eu
virei a esquina, com um litro de leite na mão e um filão de pão debaixo
do braço. Minha mãe me apontou e falou para o vendedor: “Aquele é o
pretenso comprador das obras de Shakespeare!”. Eles riram, mas o
vendedor acabou voltando à noite para oferecer outros produtos e meu
pai acabou me presenteando com o Lello Universal, respeitável
enciclopédia portuguesa daquela época.
- A revista “Filmelândia”: Aos dez anos eu comprava a revista que trazia o
enredo dos filmes que estavam em cartaz e dramatizava esses textos, criando
diálogos e rubricas. Acho que a paixão pelo teatro germinou aí.
- A revista “Teatro Brasileiro”: Aqui eu tinha quase doze anos (janeiro
de 1956). Descobri (não sei como) que havia uma revista que tratava de
teatro e que só era vendida na livraria Marconi no centro da cidade.
Meu pai ia ao centro toda segunda-feira tratar das contas do seu
negócio e eu pedi para ele comprar a revista. Ela trazia reportagens e
fotos de espetáculos em cartaz, assim como o texto completo de uma
peça (o primeiro número que ele comprou trazia o texto de “Woyzeck”
de Büchner). Como já disse, eu tinha um teatrinho virtual no fundo do
quintal e na minha imaginação criava até propaganda dos espetáculos,
criando também nomes de atores que compunham o elenco. É claro
que “Woyzeck” foi o maior sucesso da minha Companhia de Teatro!!
História de leitor
José Cetra Filho – São Paulo – Turma G-10
Continuação...
20
Como a leitura entrou na minha vida
eu caso com a leitura começou muito cedo. Desde pequena minha
mãe contava histórias da família, causos para ser mais precisa, pois
eram todas engraçadas – que vinham acompanhadas de fotos ou caricaturas
que ela mesma desenhava. Os melhores diziam respeito ao meu avô, que era
super medroso e à minha avó. Sendo ela muito mais nova que ele, usava a
esperteza para convencê-lo de certas coisas, principalmente quando era
contrariada. Ela assustava meu avô com histórias de assombração. Quando
faltava luz, além das histórias, ela ascendia uma vela, colocava bem
posicionada embaixo do rosto, e contava histórias aos filhos e meu avô, diz
minha mãe, morria de medo, implorava para ela parar! Herdando este
fascínio por amedrontar com causos, minha mãe passou isso para nós. Mais
tarde, achei esses causos em livros folclóricos. Além deste fato, outros dois me
marcaram bastante. Um, nesta mesma época e, outro, já na adolescência. O
primeiro diz respeito ainda a minha família materna, mais precisamente a
uma prima. Ela é ainda hoje uma figurinha (tem 1,50m no máximo)
espetacular. Lia e contava histórias do “Sítio do Pica Pau Amarelo” à noite -
entre outras - e durante o dia, o nosso sítio se transformava como mágica.
Usávamos (eu e meus primos) roupas “velhas” que pareciam fantasias. Estas
rasgavam durante o dia e à noite ela costurava para começarmos tudo
novamente. As histórias noturnas tinham direito ainda à trilha musical, visto
que a família é composta de músicos. Aprendi com ela também a fazer
fantoches e descobri mais tarde que para ser uma boa contadora de histórias
teria de lê-las e transformá-las a minha maneira. O último fato marcante, já
quase na adolescência, devia ter por volta de 11 anos, foi quando a escola
solicitou que lêssemos “Quando florescem os Ipês”. Eu não queria ler de
forma alguma, ainda mais nas férias de julho! Minha mãe, novamente muito
esperta, começou a ler o livro em voz alta para mim. Quando chegou na
metade do livro, e a história ficou tão interessante... ela me perguntou: – Você
quer saber o que acontece agora? É claro que eu queria! E veio a maldade
(pode!)! – Então leia, porque eu já terminei! Fiquei desconcertada mas... tive
que ler o livro. Desse fato em diante virei uma grande amante da leitura, sem
preconceitos. Aprecio o que estiver com vontade de ler!
M
Karina Adelia Franco Saliba – Peruíbe – Turma Peruíbe - (SP)
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Minha história de leitura resci ouvindo minha avó contar histórias, fábulas, lendas.
Meu avô todos os dias recebia o jornal cedinho em casa e
ficava lendo na sala de estar muito atento e virava aquelas folhas
que para mim eram enormes. Na sala havia uma estante enorme
que pegava toda a parede e era cheia de livros e coleções. Aprendi a
ler bem cedo e não via a hora de alcançar os livros mais bonitos da
estante, que ficavam na parte mais alta. Com o passar dos anos fui
aprendendo e meus avós diziam que ali havia bons livros para
pesquisas escolares. Lembro-me da Enciclopédia do Estudante,
Barsa, Mirador Internacional, fábulas e também um livro super
grande e pesado que se chamava Tudo e que fazia jus ao nome, porque
qualquer pesquisa ou palavra desconhecida encontrávamos nele de forma resumida.
Ah! Em um canto também havia uma vitrola , como era chamada naquela época
e na parte mais baixa da estante ficavam discos com histórias infantis.
Lembro também quando o meu avô comprou uma máquina de
escrever “Olivetti” com letra de mão para que pudéssemos aprender
a datilografar e fazer nossos trabalhos com mais capricho.
Enfim, tudo que esteve ao alcance de meu avô naquela época ele
nos proporcionou para que os seis netos pudessem ter acesso.
Minha avó, sempre muito presente, adorava contar as fábulas e
lendas. Também havia um álbum do mundo animal que lembro
muito bem, pois todos nós gostávamos de ver, sempre junto deles
para nos falar que animal era aquele, onde vivia etc. Esse álbum era
guardado com muito cuidado, pois era completo. Com sorte, minha
filha pôde conhecê-los, conviveu mais com minha avó porque meu
avô partiu quando ela completou dois anos, porém ela conheceu
esse álbum e gostava muito dele. Quando íamos à casa de minha
avó, ela adorava ouvir fábulas e as brincadeiras cantadas. Bem, vou
parando por aqui, foi muito bom poder relembrar esses momentos
de minha infância, a sala de estar da casa de meus avós, onde
sempre nos reuníamos para conversar, nos alimentar, enfim
momentos preciosos que até hoje estão vivos em minhas
lembranças.
C
Maria Aparecida Palazzolli da Silva – Pirapora do Bom Jesus – Turma Pirapora do Bom Jesus (SP)
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Minha história de leitura ão sei dizer quando teve início minha história de leitura até
porque acredito que ela esteja em construção, não tenho
lembranças de meus pais lendo ou contando histórias para nós (eu e
meus irmãos), embora eles sempre tenham nos alertado para a
importância de ler, de estudar. Me recordo dos dois lendo o
jornal do começo ao fim, lendo até a coluna dos falecidos,
pa ra ve r se a lguém conhec ido es t ava l á .
Durante minha vida escolar eu sempre estava na biblioteca da escola,
participava de concursos de poesia e redação, mas não era uma
exímia leitora, adorava ir a Biblioteca Municipal no centro da cidade
fazer pesquisa. Ai, aqueles corredores repletos de livros eram
maravilhosos, me deliciava em ver o acervo, ver como um assunto era
abordado de diferentes maneiras, toda a semana se pudesse tinha
uma pesquisa que tinha que ser feita na BP, outro lugar nem tinha o
que procurava e foi assim nas inda e vindas da biblioteca escolar e da
biblioteca pública que fui me interessando e, lá pela adolescência,
comecei a desenvolver minha “embriã” leitora, porém uma gestação
bem maior que nove meses que continua até hoje com as leituras
para minha filha. Foi com ela que descobri alguns contos de fadas, O gato de
botas, O soldadinho de chumbo, que não conhecia ou não me recordava.
Outra coisa que me ajudou foi trabalhar em biblioteca escolar. Eu
queria tirar o estigma de que a biblioteca é um lugar chato: fez
bagunça na sala vai fazer pesquisa na biblioteca. Queria mesmo a
biblioteca cheia, mas de prazer e não de temor, então para realizar a
hora do conto precisava me preparar, afinal criança sabe quando o
adulto não conhece a história: isso me estimulou a ler mais um pouco.
Em 2008 assumi a Biblioteca Pública de Piedade e, conversando com
usuários, vi que o meu repertório estava pequeno. Então passei a
também ser usuária da biblioteca: reler livros, ler livros que antes não
haviam me despertado interesse. – Como oferecer aos meus clientes
um material que desconheço? – Nessas leituras de campo estou a
cada dia descobrindo romances, contos, crônicas que com certeza
estavam nas estantes da BP de minha adolescência.
N
Maria Salete Victor de Almeida - Piedade – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
23
Minha história de leitura
ive uma infância difícil, a condição financeira de
meus pais era bastante difícil, família simples, mas
batalhadora. Sempre me destaquei na escola, gostava
de muito de ler e de escrever. Escrevia excelentes
redações, fui até premiada em uma redação que na
época fora encaminhada para Brasília por ter sido a
melhor do concurso. Embora meus pais não tivessem
dinheiro para comprar livros, eu encontrava formas de
ter contato com eles emprestando-os de amigos que
tinham melhores condições que eu e utilizando a
biblioteca pública. Não culpo os meus pais por essa
carência literária, sei que fizeram o melhor que
puderam e que se orgulham da minha formação.
A partir da minha adolescência ampliei o contato com
os livros, o que possibilitou o conhecimento de diversos
gêneros literários e hoje como educadora desenvolvo
um trabalho incansável de motivação à leitura levando
os meus alunos a terem contato com todos os
dispositivos informacionais: livros diversos, periódicos,
DVDs, CDs, pois acredito que tenho que colocá-los em
contato com toda essa diversidade literária para motivá-
los a adentrar nesse mundo maravilhoso que é a leitura.
E hoje, participando do grupo Entre na Roda, busco
formas de dinamizar o meu trabalho e sou grata aos
responsáveis por esse belo projeto que possibilita a
todos os participantes enriquecimento profissional e
T
Nailda Souza Soares – São Bernardo do Campo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
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Minha história de leitura
uando ouço histórias de leitores que se iniciam com pais e
avós lendo para seus filhos e netos, sinto uma pontinha de
inveja. Vinda de família pobre com quase nenhum contato com a
escrita literária, as leituras em casa eram de rótulos de produtos e
vez ou outra uma revista ou uma folha de jornal. Meus pais mal
sabiam escrever seus nomes, portanto minha formação leitora não
aconteceu em casa. Tenho uma dívida com a escola. Isso é
importante que se diga, pois essa é a realidade de muitas crianças
ainda hoje, que conhecem a visão romântica de mães lendo para
seus filhos apenas pela TV. Apesar de suas deficiências é na escola
pública o lócus, por vezes o único, que muitas crianças conhecem
histórias. Eu fui uma dessas. Meu legado leitor é totalmente
advindo da escola que freqüentei, mais precisamente após o 5º
ano, porque até a 4ª série do primeiro grau a maioria dos textos
que li foram nas cartilhas escolares. Tenho uma dívida de gratidão
principalmente com as professoras Dona Tereza e Dona Rita de
Cássia, com quem conheci meus primeiros encantamentos.
Primeiro perdi o fôlego com o suspense presente no livro de
Agatha Christie - O caso dos dez negrinhos. Lembro-me de ficar
sozinha durante a madrugada na cozinha lendo, apreensiva com
pequenos barulhos, respiração ofegante, vivendo cada palavra
daquele suspense, quase em transe entre um sumiço e outro dos
personagens.
Minha mãe acompanhava com certa curiosidade essa minha
inserção no mundo da leitura, achando por vezes estranho uma
garota de 11, 12 anos ficar tanto tempo “com a cara enfiada num
livro”, como ela dizia. Sua curiosidade tornou-se preocupação
quando ela foi acordada por um choro copioso no meio de uma
fria madrugada de inverno.
Q
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Quando ela chegou à cozinha encontrou-me enrolada num cobertor,
chorando num sofrimento sem explicação. No colo um livro - Capitães
de Areia de Jorge Amado. Minha mãe preocupada queria saber o que
estava acontecendo e eu só consegui dizer: “Dora morreu!” Fui dormir
soluçando. No dia seguinte minha mãe foi à escola investigar, tentar
saber o que estava acontecendo. Ficou sabendo quem era Dora e saiu
da escola achando que todo mundo era meio doido, porque a
professora ficou encantada ao saber que eu havia me emocionado
tanto. Isto me causou certo embaraço, pois a professora achou o meu
descompasso um encanto, mas eu era uma adolescente e comentar
isso numa sala cheia de alunos da mesma idade é o maior mico. Mas o
preço valia a pena. Durante toda a minha vida profissional, como
professora e hoje coordenadora, li e leio para meus alunos porque sei
que para muitos deles pode ser que eu seja sua única referencia de
leitura. Na minha vida pessoal leio para meus filhos desde seus
primeiros dias de nascidos, porque meus pais não liam para mim
porque não podiam, mas eu posso e devo, mas é um grande prazer
fazer isso para eles, Arthur e Sofia poderão dizer que seu modelo
leitor começou em casa. Porém acredito que minha obrigação é ainda
maior, por isso leio em qualquer reunião de família para sobrinhos e
quem mais quiser ouvir, aliás, um número cada vez maior e variado de
pessoas. Fico propositalmente aguardando, observando a
movimentação das crianças e sinto-me ligeiramente lisonjeada
quando um deles toma coragem, aparece do meu lado com olhos
brilhantes e faz a pergunta que não tarda aparecer em todo
acontecimento: “Tia, você pode contar uma história pra gente hoje?”
Em família sou a Tia que lê histórias, na escola sou aquela que adora
ler histórias para os alunos e para os pais, na minha comunidade sou a
maluca que gosta de ler para as crianças e certamente serei a Vovó
que Lê e conta histórias para quem quiser ouvir. E quando dessa terra
partir que meu epitáfio seja: Aqui jaz alguém que dividiu seu maior
tesouro como todos que conheceu: Lia para eles.
Minha história de leitura
Shirley de Souza – São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP)
Continuação...
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Minha história de leitura m casa quando pequena Leitura e diálogo nenhum,
Mas ouvia muitos causos Contados por um vizinho. Toda noite era um. Meu primeiro contato com livros Foi na escola: "Cartilha". Professor muito severo! Autoestima e estímulo zero. Muito tímida e insegura Na diretoria, exame de leitura. Não soube ler a lição de "casa", Castigo! Experiência marcante, Para mim decepcionante! Gostava muito quando ia passar Finais de semana e férias Na casa de meus tios no sítio. Lá as noites eram preciosas, Pois ficávamos sentados ao luar Ouvindo a Hora do Brasil E causos contados pelo meu tio. Na adolescência com Sabrina Chorei, sonhei, viajei... Livros de amigas emprestados Sonhos realizados de menina. Mais tarde: livros comprados, Sociedade com minhas irmãs E por isso foram agora doados Comigo não ficou nenhum Só lembranças de cada um. Hoje, ler!!! Ler para estudar, Ler para informar, Ler para aprender, Sem tempo de ler por prazer.
E
Silvia Angela Zanata Duarte – Pongai – Turma G12 (Arealva-SP)
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eu início ao mundo da leitura foi um tanto tardio.
Na minha infância não tive contato com os livros. Meus
pais, naquela época muito pobres, não tinham condições
de comprar livros e a biblioteca que havia na minha
cidade era longe e havia a necessidade de gastar
dinheiro com o transporte. Meu pai nessa época já
trabalhava em uma biblioteca, mas era uma biblioteca
universitária e especializada, não havia livros infantis.
Na escola, no ensino básico, não me recordo de ter tido
grande contato com a leitura. As professoras não tinham
o hábito de ler para os seus alunos. Somente no ensino
fundamental, por volta da 6ª ou 7ª série que eu passei a
ler na escola. E também passei a ter livros em casa.
Acredito que foi a partir deste período que eu me
encantei com este mundo tão fantástico, maravilhoso
em que cada um pode deixar sua imaginação fluir, em
que cada um pode sonhar o seu sonho e ter a visão que
quiser sobre determinado assunto, além de descobrir
novos mundos e novas possibilidades.
Não tive uma pessoa específica ou um fato específico
que tenha me instigado a ler, só sei que desde que
comecei nunca mais parei... Sempre que possível estou
com um livro em mãos. A leitura pra mim tem que ser
algo prazeroso, por isso não me importo se o livro é um
clássico ou um best seller...tem que me encantar.
Hoje, sabendo da importância que a leitura tem, tento
de todas as formas incentivar aqueles que estão a minha
volta para que possam construir carinho e amor pela
leitura...
M Experiência de leitura
Vanessa Lima dos Santos – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)
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Minha história de leitura
inha historia de leitura começou quando eu
tinha entre 10 e 12anos de idade, pois eu não
tinha TV em casa e às vezes assistia na casa da
minha tia, só que infelizmente ela desligava a TV
para que eu fosse pra casa, pois não queria
criança sujando lá. Mas meu maior desejo
naquele momento era assistir a O sítio do pica-
pau amarelo que estava passando na TV, então
me sentia triste pelo fato de não conseguir
assistir. Foi então que em um lixo de um bazar
perto da minha casa, lá estava um livro em mau
estado mas o livro mais maravilhoso que já li, lá
estava o livro As caçadas de Pedrinho, de
Monteiro Lobato. Esse livro me fez acreditar que
tudo é possível, que um sonho pode se tornar
realidade... Sou muito feliz por Deus ter me dado
a oportunidade de ler este livro, hoje não consigo
mais parar de ler.
M
Vilma Teixeira de Carvalho - São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP)
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