Livro Zero - Douglas Salomão

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Literatura

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  • ZERO

  • Douglas Salomo

    ZERO

    Poesia

  • Edital SEC n 007_2005Edital para seleo de incentivo difuso de obras literrias inditas deautores residentes no Esprito Santo, objetivando a publicao de livro.

    Capa e projeto grficoLara Felipe

    Imagem da capaMontagem digital sobre fotografia de Dez Pain/stock.xchng - www.sxc.hu

    RevisoWanir Azarary de Almeida

    Reviso finaldo autor

    Editorao eletrnicaBios

    Impresso e acabamentoDIO

    1 edio: setembro de 2006Tiragem: 500 exemplares

    Secretaria de Estado da Cultura do Esprito SantoRua General Osrio, 83, Ed. Portugal, 16 andarCentro, Vitria, ES - CEP: 29020-900Tel.: (27) 3132 [email protected]

    Todos os direitos reservados. A reproduo de qualquer parte desta obra,por qualquer meio, sem autorizao do autor, da autora, ou da editora constituiviolao da LDA 9610/98.

    Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP)

    Biblioteca Pblica Estadual do Esprito Santo

  • minha famlia Igor, Leonardo, Patrcia e Maria Luiza Michelly, com todo carinho

    aos meus amigos

  • "Escrever quebrar o vnculo que une a palavra ao eu".

    Maurice Blanchot

  • Este livro um dos cinco textos premiados pelo Edital007/2005, destinado seleo e incentivo difuso de obrasliterrias inditas de autores residentes no Esprito Santo,iniciativa desta Secretaria, por intermdio da Coordenaode Humanidades e do Sistema Estadual de Bibliotecas P-blicas, para estimular a criao literria e divulgar, por meioimpresso, obras significativas no campo da literatura. Poisacreditamos que dever do Governo, entre as inmeras ati-vidades que lhe cabem no desenvolvimento da cultura esta-dual, criar mecanismos para tirar do ineditismo obras lite-rrias de qualidade aqui produzidas.

    Participaram da referida seleo cerca de quarenta origi-nais em diversos gneros e categorias literrios: poesia, conto,romance, crnica, memria, literatura infantil, dramaturgia. AComisso Julgadora - composta pelos escritores Erly VieiraJr., Orlando Lopes e Reinaldo Santos Neves - examinou deti-damente todos esses originais para chegar escolha dos textosque agora a Secretaria submete apreciao e ao julgamentodo pblico leitor e, assim esperamos, sua aprovao.

    Aos demais candidatos, no includos entre os atuais edi-tados, nossos agradecimentos pela participao e nossa certe-za de que haver outras oportunidades em que, confiamos, se-ro melhor aproveitados.

    APRESENTAO

  • Aos cinco autores selecionados, a expresso de nossa ale-gria por termos, de alguma forma, contribudo para a realiza-o de seus projetos literrios.

    Primavera, setembro de 2006.

    Neusa Maria MendesSecretria de Estado da Cultura do Esprito Santo

    Srgio BlankCoordenador de Humanidades

  • Douglas Salomo | Zero

    11

    aquia poesia provisria tudo que fica falta

  • Douglas Salomo | Zero

    13

    janelas comem o tempo de fora

    e bebem gua da chuva

    janelas se fecham por intimidade

    mas tm olhos de vidro

    janelas no tm pretenso de molduras

  • Douglas Salomo | Zero

    15

    vaza algum que no sou

    em minha voz que soa

    outros olhos

    meus me olham

    se multiplicam-me

    entre tantos

    outros rostos

    meus me tm

    simultneos

    agora soltos

  • Douglas Salomo | Zero

    17

  • Douglas Salomo | Zero

    19

    trazia na memria, o medo

    dos anos que passaram desapercebidos,

    e a tez do tempo, na testa.

    temia ser levado a algum lugar que ainda no.

    sentia-se preso ao olhar os olhos,

    nos olhos do espelho.

    sentia o que se calava em seu corpo

    e no era seu

    dizia que ao seu redor,

    tudo o que via era vivo

    e que as coisas eram feitas

    de olhos que no piscam.

    ento passava horas olhando pra ver se via

    o que havia se passado por entre as coisas.

    um dia

    perdeu sua guia,

    e se descobriu sem corpo.

    e que no era coberto.

    e que, s vezes, a vida

    era feita do que no estava por perto.

    fazia parte da falta das pessoas.

    como os espelhos.

  • Douglas Salomo | Zero

    21

    retratos trazem intervalos

    e carregam coisas passadas

    retratos trazem saudades

    em silncios condensados

    retratos so retalhos do tempo

    so pedaos de pele do espao

    retratos revelam olhares atentos

    os olhos quando piscam no enxergam

    retratos duram algum tempo mas amarelam

    os intervalos duram um momento

  • Douglas Salomo | Zero

    23

    pessoas perdendo a dimenso das

    coisasfalando do tempo

    quandofaltam

    palavras(pessoas se perdem

    no tempo dascoisas

    o tempo caladotrabalha as

    pessoas)

  • Douglas Salomo | Zero

    25

    ps precisam pisar

    ps precisam de lama

    de lodo nos dedos

    precisam de caminho

    passos

    em espaos

    entre ao redor

    (ponho o corpo em prumo

    desenraizo meu eixo

    descalo o que penso

    pelo avesso

    sigo aonde piso

    um passo em falso

    e eu

    caio)

  • Douglas Salomo | Zero

    27

    palavras

    so

    nomes

    que

    as

    coisas

    no

    sabem

  • Douglas Salomo | Zero

    29

    u mm un d oi m ou mm un d om i ni m ou mm i ni m un d ou mf i od o fi m do f un d o

  • Douglas Salomo | Zero

    31

  • Douglas Salomo | Zero

    33

    palavras engravidam nos olhos

    e no cabem no corpo das pessoas

    pessoas, precipcios e rvores

    estranhamente soam

    nos becos da boca

    a quase palavra escrita ecoa

    o salto das slabas para o cu

    estala na ponta da lngua e voa

    as coisas ficam plantadas

    o tempo todo demais nos olhos da gente

    a palavra constri o que plantado

    e a voz d o corpo

    voz um lquido que enche as palavras de pessoas

    quero plantar flores em seus olhos

    sou um corpo em exploso constante

    o estouro do silncio inocente

  • Douglas Salomo | Zero

    35

    os sonhos se escondemno silncio do sono enquantoos olhos somem. os olhos so-mem. os sonhos tecem. te-cem enquanto o pensamentose consome enquanto a almase dissolve e a conscincia sedesfaz. os olhos somem. so-mem dentro da cabea, den-tro do vazio em que se voa.dentro onde barulho e forasilncio. onde o avesso nocega o que enxerga. osolhos somem. somem en-quanto o tempo pulsa en-quanto o sangue corre e ossonhos se assumem emalm. somem enquanto o es-prito ascende e o corpo cede.os olhos somem. amm.

  • Douglas Salomo | Zero

    37

    so represasvlvulas torneiras e registro de presso

    so corpos escritos em silncio escritos em explososo incmodos e coceiras

    sintomas sintonias labirinto solido

    as palavras

  • Douglas Salomo | Zero

    39

    o motor da palavragera o som. o rudo arru-na o silncio. o barulho um buraco pro ouvido.o ruir dos carros na ruaincomoda. castelo deareia desmorona. o sono a ponte pro sonho. cor-redeira pro rio carona.s vezes, quem dormeronca. como os carros narua correndo. o barulhodo ronco dos carros vemdo cano de descarga. otravesseiro confortaquem dorme. com sono ocorpo sonha. travesseirofica sobre a cama dentroda fronha. o silncio ar-runa o rudo. o barulhodesmorona.

  • Douglas Salomo | Zero

    41

    so

    l(ar

    co)e

    chu

    v(r

    is)a

  • Douglas Salomo | Zero

    43

    feito fios que saem da boca

    tecendo a memria das coisas

    palavras vo nascendo

    feito um delrio

    que desmancha o enredo da histria

    e embola o sentido dos fios

    (a loucura vem chegando

    procurando

    algum no corpo)

    feito um novelo de lnguas

    um retrs de versos

    que traa a costura no destempo do mundo

    (a poesia vem vindo)

    feito um n na garganta

    que s se desfaz no caminho

    inverso da conversa

    atravs dos fios da fala na agulha

    feito ouvidos ouvindo

    feito o que nem sempre se fala quando no se quer ouvir

    feito os sinos

  • Douglas Salomo | Zero

    45

    a escrita estoura a escrita estoua escrita estoura a escrita excretaa escrita estria a escrita histricaa escrita cria a escrita estoura

    a escrita estoura a escrita estouraa escrita estou a escrita estouraa escrita excreta a escrita a escrita histrica a escrita estouraa escrita estou a escrita estouraa escrita poca a escrita estoura

    a escrita estoura a escrita estoua escrita estoura a escrita estoua escrita estoura a escrita estouraa escrita excreta a escrita estouraa escrita estala a escrita estala

    tudo que arranha o silncioarranca fala deleo que estala espeta algum rudoo que o silncio expandeespreme o que estancatudo que arranca, tudo que arranhatudo que arranha o silncioarranca fala deleo que estala espeta algum rudoo que o silncio o silncio expandeespreme o que estanca

    a escrita estoura (aqui)a escrita estoua escrita estalaa escrita excretaa escrita cria

  • Douglas Salomo | Zero

    47

    procuro os desenhos dos desejos da linguagem

    desenho suas falas com minha lngua

    correndo o risco de ser palavra-paisagem

    ao descrever o que desgua na superfcie

    ento me procuro nos lugares pelo avesso

    (mais distante que o estranho

    mais esttico que o medo

    mais medonho que a imagem)

    e permaneo no desespero do encontro

    garimpando as palavras no silncio do meu si

    uma jazida de escrita o meu nome

    sou um mineral que prolifera em sua lngua

  • Douglas Salomo | Zero

    49

    nervo se firma no osso

    perna se solta no passo

    abrao se aperta no brao

    curiosidade estica o pescoo

    sorriso se mostra nos dentes

    cabelo se passa no pente

    pele se encobre no corpo

    plo cresce na pele

    unha nasce do dedo

    cabea sustenta o cabelo

    olhos se fecham pro sonho

  • Douglas Salomo | Zero

    51

  • Douglas Salomo | Zero

    53

    o

    ar

    tem

    poros.

    msica

    mucosa

    de vozes.

  • Douglas Salomo | Zero

    55

    o mar mastiga a praia

    seus dentes, suas bocas

    seus lbios, suas lnguas

    o mar mastiga a praia

    com avidez de gua viva

    faz barulho quando come

    o mar mastiga a praia

    com seus segredos

    desinfeta pensamentos

    (essa lmina oceano

    que assume rios e enseadas

    no carrega remorso

    de gua parada)

    mar tem boca azul

    e lnguas de ondas

    a lamber a areia

    o mar mastiga a praia

    na mar mansa da manh

    ele descansa

  • Douglas Salomo | Zero

    57

    a terra azul vista do espao,

    o sol amarelo e queima como fogo.

    marte vermelho visto da terra,

    mercrio tambm.

    o corte aberto, em contato

    com o mar, chega a queimar

    ser que marte tem mar?

    ser que mercrio tem cura?

    vermelho e no arde,

    mas na verdade,

    o que queima mesmo

    merthiolate

  • Douglas Salomo | Zero

    59

    meus olhos olham para as coisas

    sem minha permisso

  • Douglas Salomo | Zero

    61

    tem tempo

    :

    que no tenho

    :

    o tempo

    : que me

    cabe

  • Douglas Salomo | Zero

    63

    nem todatoda rosarosa rosa rosa rosa

  • Douglas Salomo | Zero

    65

    detecto com tato o impacto do meu dedo em tua pele

  • Douglas Salomo | Zero

    67

    salivo

    ao cido, sumo

    entre o ctrico, espirro

    ante a casca, absorvido

    ao cheiro vivo

    sumo,

    que me alaga a lngua,

    ficando o lbio

    espremido,

    sumo entre a azia, entre

    a gua azeda de um

    limo traduz-

    ido

  • Douglas Salomo | Zero

    69

    tmpora parede da testa

    plpebracortina da vista

    lbio janela da boca

  • Douglas Salomo | Zero

    71

    inveja tem os olhos como casa

  • Douglas Salomo | Zero

    73

    paredes fissuras rachaduras demolio.

    palavra pode ser uma casa de incmodos espaososamplos e abertos devem ser seus inquilinos

    em vontade plena de desconstruo

  • Douglas Salomo | Zero

    75

  • Douglas Salomo | Zero

    77

  • Douglas Salomo | Zero

    79

    h dias tentando dar conta do vazio que os dias trazemum aps o outro

    h dias as alegrias cadas pelo choe pelos cantos de ausncia que um intervalo de morte invadiu

    h dias uma escuta interna ruindouma voz sem nome de nada

    um arranho vivo me incomoda

    h dias adio as palavras

  • Douglas Salomo | Zero

    81

    escrever colocar a vida em risco

  • Douglas Salomo | Zero

    83

    I

    O AGORA PASSADO FUTURO

    A FISSURA 3NTR3 OS LADOS DO MURO

    OS TR3S T3MPOS PR3S3NT3S

    O TRID3NT3 D3 N3TUNO

    A T3RC3IRA MARG3M D3 GUIMAR3S

    OS TR3S 3STADOS DA MAT3RIA

    O QUAS3 POR UM TRIZ

    AS FALHAS DA FOTO TR3S POR QUATRO

    A RAIZ QUADRADA D3 NOV3

    O TR3VO D3 QUATRO FOLHAS

    O TRINGULO 3QILT3RO

    OS 3STALOS DA SLABA TR3S

  • Douglas Salomo | Zero

    85

    II

    A TR3VA

    AS 3STR3LAS D3 TR3S PONTAS

    OS AN3IS D3 SATURNO

    AS TR3S MARIAS

    AS COR3S PRIMRIAS

    O T3RC3IRO OLHO

    O T3ROL

    O CRUCIFIXO DO T3RO

    O T3RC3IRO S3XO

    AS PROPAROXTONAS

    OS MLTIPLOS D3 TR3S

    O M3NAG3 TROIS

  • Douglas Salomo | Zero

    87

    III

    O SALTO TRIPLO

    A TRAMA DA TRANA

    O 3NTR3SS3IO DO INCIO AO FIM

    OS TRIGRAMAS DO I CHING

    AS DUAS PART3S 3 O R3CH3IO

    OS TRIG3M3OS

    O ANT3P3NLTIMO

    O FILHO DO M3IO

    O TRIDIM3NSIONAL

    A M3IA-NOIT3 3NTR3 OS DOIS DIAS

    OS TR3S LTIMOS D3S3JOS

    A T3RC3IRA GU3RRA MUNDIAL

  • Douglas Salomo | Zero

    89

    a memria o tempero do tempo

  • Douglas Salomo | Zero

    91

    partopartidadocorpo

  • Douglas Salomo | Zero

    93

    mortepartida domorto

  • Douglas Salomo | Zero

    95

    ser o sumo que devora o fruto

    ser o fungo que devora o escuro

    ser a febre que devora a brasa

    ser a asa que devora o vento

    ser a fonte que devora a gua

    ser a pausa que devora o tempo

    ser o ventre que devora o feto

    ser o gesto que devora o ato

    ser o verso que devora o verbo

    ser o ter que devora o vcuo

    ser o verme que devora o corpo

    ser o livro que devora o olho

    ser o jarro que devora o lrio

    ser o delrio que aflora

    ser um ser agora

  • Douglas Salomo | Zero

    97

    s vezes, o abismo me arrasta

    sinto vontade de cair fora do corpo

    :

    ento fico abismado

  • Douglas Salomo | Zero

    99

    arte pode ser um voum corpo em curaum buraco escuroonde meu corpo escora

    (mergulho fora,entrego morte fome das palavrasque me habitam.

    alimento minha alma.

    flor da pele vazo.

    em paredes e pedras me calo)

  • Douglas Salomo | Zero

    101

    cacos de garrafa em pedaos

    so quebra-cabeas de vidro

  • Douglas Salomo | Zero

    103

  • Douglas Salomo | Zero

    105

    v o a r v o r e

  • Douglas Salomo | Zero

    107

    embriagado de rvores na tarde fiquei perdido em meusolhos passeando pelas horas que no sei minha carne em febreentre rvores mudo naquele lugar perdido em passos e em flo-res que me olhavam longe onde a tarde chegava lenta e midadesfazendo meu dia sem tempo eu estava plantado ali naquelecaminho de terra aonde sempre passo sempre que quero ga-nhar tempo e cortar caminho mas no consegui nesse dia fi-quei olhando tudo em minha volta cercado esperei que o tem-po passasse a noite chegasse e me tirasse dali.

  • Douglas Salomo | Zero

    109

  • Douglas Salomo | Zero

    111

    para entender uma cachoeira:

    criar razesa partir dos plos e da pelea ponto de ser uma rvore,num barranco de rio.

  • Douglas Salomo | Zero

    113

    orqudeas

    enfeitam

    funerais

  • Douglas Salomo | Zero

    115

    por

    olhos

    de

    faca

    lgrimas

    lminas

    desfiam

    rostos

  • Douglas Salomo | Zero

    117

    dia inteiro

    amanhecendo

    o dia cede,

    cedo,

    o sol.

    ao meio-dia

    o dia arde,

    segue a tarde,

    pendura na noite,

    e cai.

  • correnteza um car-

  • Douglas Salomo | Zero

    119

    regamento de gua que no pra

  • Douglas Salomo | Zero

    121

    gua uma palavra mole

    pedra uma palavra forte

    azul uma palavra cinza

    (gostos de cheiros sem sons)

    um nervo amorfo

    num estado de nervos

  • Douglas Salomo | Zero

    123

  • Douglas Salomo | Zero

    125

    avenca s d em casa de gente feliz

  • Douglas Salomo | Zero

    127

    sorriso como um rio que desgua no rosto

  • Douglas Salomo | Zero

    129

    espinho um arrepio de galho

  • ...vem de long e o vento

  • Douglas Salomo | Zero

    131

    vem venta e vai...

  • Douglas Salomo | Zero

    133

    textos, os dentes dessa engrenagem mundo.

  • Douglas Salomo | Zero

    135

    flores crescem olhando pra cimalgrimas sem olhos no nascem

  • Douglas Salomo | Zero

    137

    o espelho em si no envelhece

    o velho que se olha no espelho

    v em seus prprios olhos que se vem

    o velho que se olha e se envelhece

    os velhos olhos que se vem

    no vo, a princpio,

    alm do espao que os tm

    no entanto, h outros olhos que se lanam

    e alcanam em precipcios

    o mesmo tempo dos olhos dos velhos nenns

    ainda assim

    muitos querem outros que os tenham

    mesmo quando quase vistos

    quase como quando zens

    como se fossem quase conduzidos

    vaziez do vo que existe

    entre o vcuo e o vidro

    entre o velho e o novo

    no que jaz ou no que insiste

    em estar e ser algum

  • Douglas Salomo | Zero

    139

    canoa flui em lmina de rio

    remo afunda onde canoa anda

    canoeiro tem a manha

    do caminho de gua

  • Douglas Salomo | Zero

    141

    como pssaros que navegam no vento

    e voltam pra casa e comem no mesmo lugar

    como animais perdidos que vagam

    e se apegam queles que lhes do migalhas

    ou ainda como uma planta quase morta

    que um dia explode suas gemas e ressuscita

    sustento, aqui, no vazio do espao,

    palavras jazidas

    fora do corpo fora da casca fora da escrita

    soltas como so as crianas nos primeiros passos

    so palavras em crescimento de corpo de poema

    so crias e entranhas bem-vindas

    ou so estranhas porque no so ainda

    pssaros que ainda no so para mim ainda no

    so crianas para mim ainda no so poesias pra mim

    so apenas sintomas

    que se multiplicam em sintonia de infncia

    e se configuram sem vcios

    entre os vestgios dos nomes e os ecos da fala

    so fluxos no fixos

    saltos em precipcios

    rachadura vazamento hospcio tempestade

    um estado de triz

    a tez de um poema

  • Douglas Salomo | Zero

    143

    existe um lugar no corpo que vaza

    existe um lugar na ausncia que afaga

    existe um lugar na fala que sangra

    existe um lugar no olho que cega

    existe um lugar na palavra que brota

    existe um lugar no tempo que escapa

    existe um lugar na arte que jorra

    h pontes para todos

  • as a

  • Douglas Salomo | Zero

    145

    no avesso do que se vinvisvel se avista

    a asa do vento

  • Douglas Salomo | Zero

    147

    degustei com os olhoso que sinto com cheiro

    (posso te ver pela vozcom algumas palavras)

  • Douglas Salomo | Zero

    149

  • Douglas Salomo | Zero

    151

    corpo nascecada dia nele mesmo

    o dia nascee todo dia se abreno mesmo corpo

    o tempo passando,pelas coisas, passando

    passando sem permisso

    tempo no tem cortempo no tem dia

    tempo no tem horano tem alma

    no tem sobras

    tempo tem tempo que existe

  • Douglas Salomo | Zero

    153

  • Douglas Salomo | Zero

    155

    solido

    no vejo a horade ir emboraa solido das coisasme desfaz

    hoje escrevocomo quem foge

    mora em mimuma agoniade esperarpassar o tempo

    parado eudesfao o dia

    em mimmora um vazioele dormeem meu deserto

    s vezes, eleme ganha

    s vezes, euo veno

  • Douglas Salomo | Zero

    157

    escrever

    atravessaro espao.

    comoum rio

    atravessao cho,

    a escritame............

  • Douglas Salomo | Zero

    159

  • Douglas Salomo | Zero

    161

    os sinos do silncio

    oscilam em meus ouvidos

    a

    slaba

    si

    do

    silncio

    assobia

  • Douglas Salomo | Zero

    163

    trepo com as palavrasem nome da poesia.

    quero comer o cu da palavra morte

  • Douglas Salomo | Zero

    165

    assim

    desde sempre

    o fim comea

    o tempo todo incio meio

    desde sempre o tempo todo

    a todo instante

    desde sempre

    assim

  • Douglas Salomo | Zero

    167

    a porta do fim

    est fechada

    depois dela s chega

    quem no vai

    padeo em p

    por no estar

    gosto de estradas

    sem sadas

  • Douglas Salomo | Zero

    169

    os livros no se livram das palavraso que vaza poesia

  • Douglas Salomo | Zero

    171

    poesiano v embora

    se fordeixe a porta aberta

    ou a chaveembaixo do tapete

  • Douglas Salomo | Zero

    173

    Governador do Estado do Esprito Santo: Paulo Hartung

    Vice-Governador do Estado do Esprito Santo: Lelo Coimbra

    Secretria de Estado da Cultura: Neusa Mendes

    Chefe de Gabinete: Glecy Coutinho

    Coordenador de Humanidades: Srgio Blank

    Coordenadora do Sistema Estadual deBibliotecas Pblicas: Rita de Cssia Maia

    SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA

  • Douglas Salomo | Zero

    175

  • Douglas Salomo | Zero

    177

  • Douglas Salomo | Zero

    179

  • Douglas Salomo | Zero

    181