Livro_ONG.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    1/160

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    2/160

    AS REFLEXES DE UM SONHOQUE NO TEM FIM

    Uma antologia da

    Organizao no-governamentalprojetos sociais meu sonho no tem fim

    Esta obra no tem nenhuma finalidade comercial. Partes do seu contedo so dotadas de direi-

    tos autorais, ficando claro que a cpia parcial ou integral, seja ela qual for e independente dafinalidade, sem prvia autorizao, punvel pelas leis de direitos autorais em vigor.

    Copyright 2009 ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim

    Todos os direitos reservados.

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    3/160

    Agradeo primeiramente a Deus, pela oportunidade de reali-zar este sonho, pela boa terra por onde trilho os meus cami-nhos e pela luz que ilumina meu horizonte. Aos grandessonhadores pela inspirao, exemplo de vida e legado. Aminha querida e amada famlia - especialmente a minha espo-sa - pelo apoio, colaborao e compreenso da importncia

    deste sonho em minha vida. E finalmente, mas no menosimportante, a todos os amigos desta comunidade sonhado-ra, que, com suas palavras de incentivo, oraes, sugestes,elogios, crticas construtivas, tornam o dia-a-dia desta organi-zao em um adorvel sonho que no tem fim.

    Alex Cardoso de Melo

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    4/160

    SUMRIO

    Introduo .................................................................................... 7

    Meu sonho no tem fim ............................................................... 10

    A guia e a galinha ...................................................................... 13

    A balana ..................................................................................... 14

    A bolsa com batatas ..................................................................... 16A carroa vazia ............................................................................ 17

    A fora de um gesto de carinho ................................................... 18

    A grandeza de um pequeno gesto ................................................ 20

    A importncia do horizonte ......................................................... 22

    A inveja e a competncia ............................................................. 23

    A janela ........................................................................................ 25

    A lenda do monge e do escorpio ................................................ 27

    A lio do jardineiro .................................................................... 28

    A menina e o co .......................................................................... 29

    A panela de sopa .......................................................................... 31

    A pedra no caminho ..................................................................... 32

    A porta mais larga do mundo ....................................................... 34

    A porta negra ................................................................................ 36

    A princesa Nola ............................................................................ 37

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    5/160

    A verdadeira riqueza .................................................................... 39

    A vida um espelho ..................................................................... 40

    Amor em uma lata de leite ........................................................... 42

    Aquilo que o corao carrega ...................................................... 43

    As cicatrizes do descontrole ........................................................ 44

    As lies de um lpis ................................................................... 46

    As pequenas ddivas .................................................................... 48

    As quatro estaes ........................................................................ 51

    As trs peneiras ............................................................................ 52

    Auxlio mtuo .............................................................................. 53

    Cenouras, ovos e caf .................................................................. 55

    Construindo pontes ...................................................................... 57Dando o melhor ............................................................................ 58

    Deficincias .................................................................................. 59

    Duas crianas ............................................................................... 60

    Duvidando da existncia de Deus ................................................ 61

    Eco ou vida .................................................................................. 62

    Enfrentando os obstculos ........................................................... 64

    Esopo e a lngua ........................................................................... 65

    Estrela do mar .............................................................................. 67

    Eu ouvi um no ............................................................................ 68

    Flores na estrada .......................................................................... 69

    Francisco e o lobo ........................................................................ 71

    Gratido ........................................................................................ 73

    Lenis sujos ................................................................................ 75

    Lio de criatividade .................................................................... 76

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    6/160

    Mais cinco minutos ...................................................................... 77

    Matando uma criana ................................................................... 78

    Mundo virtual ............................................................................... 79

    O amor ......................................................................................... 81

    O amor de uma me no inferno .................................................... 83

    O barqueiro .................................................................................. 85

    O cavalo e o fazendeiro ................................................................ 86

    O cu e o inferno ntimos ............................................................. 87

    O estranho homem tatuado .......................................................... 88

    O furo no barco ............................................................................ 91

    O garoto e a flor ........................................................................... 92

    O homem triste ............................................................................. 94O lenhador e a raposa ................................................................... 95

    O monge e a prostituta ................................................................. 96

    O nufrago ................................................................................... 98

    O pacote de biscoito ..................................................................... 99

    O plantador de rvores ................................................................. 100

    O poder da gentileza .................................................................... 101

    O presente mais especial .............................................................. 103

    O rei e a camisa ............................................................................ 105

    O reino a que voc pertence ......................................................... 107

    O sorriso de Deus ......................................................................... 109

    O ltimo dos mortais .................................................................... 110

    O vendedor de bales ................................................................... 111

    O veredicto ................................................................................... 112

    O zelador da fonte ........................................................................ 114

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    7/160

    Pare, por favor! ............................................................................ 116

    Pedao de carvo .......................................................................... 118

    Persistncia e f ............................................................................ 120

    Ps grandes, corao enorme ....................................................... 122

    Quando a bondade se expressa .................................................... 123

    Reconhecimento ........................................................................... 125

    Reconstruindo o mundo ............................................................... 127

    Riqueza e pobreza ........................................................................ 128

    Sem julgamentos .......................................................................... 130

    Ser feliz uma deciso ................................................................ 132

    Telha de vidro .............................................................................. 133

    Trabalhar com alegria .................................................................. 135Trs dias para ver ......................................................................... 137

    Um certo homem .......................................................................... 139

    Um corao de ouro ..................................................................... 141

    Uma lio de amor ....................................................................... 148

    Uma lio de perdo na escravido ............................................. 149

    Uma oferta caridosa ..................................................................... 151

    Uma slida amizade ..................................................................... 153

    Uma virtude valiosa ..................................................................... 156

    Um presente valioso ..................................................................... 143

    Uma casa no caminho .................................................................. 145

    Uma taa de sorvete ..................................................................... 155

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    8/160

    INTRODUO

    O que buscamos nesta vida?O que realmente importante para ns?Certamente a essncia de nossa existncia, no apenas a bus-

    ca de nossa satisfao individual, buscando aproveitar ao mximotodos os nossos dias. A vida tem que ser muito mais do que isso.

    Obviamente, existe um sentido melhor e muito maior para vi-

    vermos. Certamente, estamos nesta vida por diversos motivos, algunsessenciais, como evoluirmos como indivduo.O crescimento material e econmico natural e no pecado

    algum vivermos bem, com conforto. Porm, devemos ter conscinciade que todos os nossos bens, na verdade, no so nossos, so emprs-timos. Jamais devemos desperdiar as oportunidades que a vida nosd para nos aprimorarmos e evoluirmos como pessoas.

    Muitas vezes, nossos fracassos so nossos melhores professo-

    res e so nestes momentos mais difceis, que necessitamos encontraruma razo maior para continuarmos em frente, em nossa luta. Nossasuperao, em certos momentos com suor e lgrimas, faz com quenos tornemos pessoas melhores. A capacidade de resistir ao desni-mo, as tentaes, privaes e tristezas, continuando em nosso cami-nho evolutivo, o que nos torna pessoas especiais.

    Os grandes sonhadores, a essncia de nosso trabalho deconscientizao e motivao - cujos pensamentos vocs conhecero

    um pouco mais, expressos nas frases que encerram cada reflexo in-cluda nesta obra - no vieram entre ns apenas com a misso de jun-tar dinheiro e comer do bom e do melhor. Alguns deles at tiverameste privilgio, no entanto, esta no era a razo de suas vidas.

    muito difcil imaginar pessoas como Martin Luther King,Mahatma Gandhi, Madre Teresa, Albert Schweitzer, Irm Dulce,Betinho, Bezerra de Menezes, Chico Xavier e tantas outras, queconstam neste livro ou milhares de outras annimas, que lutaram elutam para melhorar a vida dos mais fracos, motivadas pela idia deganhar dinheiro.

    O que moveu essas pessoas, to generosas a trabalhar, diaria-mente, por toda suas vidas pelos menos favorecidos e pelo bem co-mum, sem jamais desistir, foi a busca de seus sonhos, de um mundo

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 7

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    9/160

    melhor, mais justo e fraterno. Quando voc tem sonhos com essamagnitude, essa grandeza de esprito, voc desenvolve uma foraextra, capaz de lev-lo lugares inimaginveis.

    Infelizmente, muitos de ns se perdem nesta viagem e acabamdistorcendo o sentido de sua existncia. Focando todos os seus esfor-os apenas para acumular bens materiais durante toda a sua vida.Entretanto, quando suas histrias chegam ao fim, percebem que no

    podero levar daqui suas riquezas e que a nica coisa que se levadessa vida, o bem que fazemos ao prximo.

    Espero que, alm dos pensamentos de nossos grandes sonha-

    dores, as reflexes e parbolas de domnio pblico, contidas nestelivro e selecionadas entre milhares de textos utilizados por esta orga-nizao em mais de duas dcadas de existncia, faa-os refletir aindamais sobre a realidade de nossos irmos excludos, esquecidos e infe-lizes.

    Uma situao que, infelizmente, em diversas ocasies, passadesapercebida, pois, muitas vezes, a triste realidade de nossos seme-lhantes uma tragdia a conta-gotas, dispersa, silenciosa, escondida,

    desde os humildes rinces e majestosas fazendas das reas rurais atas periferias e condomnios de luxo das grandes cidades. Fica l, toescondida e esquecida, que aqueles que tm condies dignas de so-

    brevivncia, liberdade, paz e principalmente, so felizes, no enxer-gam seus irmos famintos, enclausurados e infelizes. Para muitos dens, estes males se transformaram em nmeros, estatsticas, como seno trouxessem juntos histrias, nomes e seus dramas.

    Agora o tempo para transformarmos em realidade nossas

    promessas de melhorarmos como seres humanos e filhos de Deus, desubirmos do vale das trevas da intolerncia, injustia e indiferena

    para com nosso semelhante, ao caminho iluminado pelo sol da justi-a, compreenso, bondade e fraternidade.

    Enquanto voc l a introduo desta obra, o mundo contabilizamais algumas centenas de mortes, vtimas da fome, da pobreza, daopresso e da infelicidade. Para muitas famlias mais um luto, maisuma perda irreparvel, para ns, como humanidade, um pouco maisde nosso maior tesouro se perdendo, pela indiferena, ganncia ecrueldade dos mais poderosos e abastados, e principalmente, pelaconformidade e descaso, pois, como j dizia o saudoso e inesquec-vel Martin Luther King, ns no lamentamos tanto os crimes dos

    perversos, quanto o estarrecedor silncio dos bondosos.

    As reflexes de um sonho que no tem fim8

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    10/160

    Ningum jamais poder ser plenamente feliz e realizado, ven-do o sofrimento de seu semelhante.

    Boa leitura.

    Alex Cardoso de MeloONG Projetos sociais meu sonho no tem fim

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 9

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    11/160

    MEU SONHO NO TEM FIM...

    A ONG projetos sociais meu sonho no tem fim, uma orga-nizao pequena, praticamente uma ao individual. No possui ne-nhum vnculo financeiro, ideolgico, poltico, tnico ou religioso,no tem associao com nenhuma marca e no aceita doaes dequalquer espcie.

    O principal objetivo da organizao, a conscientizao e mo-

    tivao, pois, acredita existir uma enorme necessidade de motivar-mos as pessoas fazerem o bem, se envolverem e auxiliarem o pr-ximo. Conscientizando em seus projetos de que ningum, jamais po-der ser plenamente feliz e realizado, vendo o sofrimento de seu se-melhante. Esta sua principal misso, a qual realiza disponibilizan-do, gratuitamente, ferramentas de conscientizao e motivao, paraserem utilizadas por formadores de opinio, lderes comunitrios,associaes, fundaes, institutos, ONGs e pelo pblico em geral,

    criando assim, uma corrente do bem cada vez mais ampla, sincro-nizada e eficiente.

    A organizao nasceu em agosto de 1997 de uma pequena ho-menagem a Ayrton Senna da Silva. No incio, foram criados textoscom foco no aspecto humano de Senna e distribudos para um grupode, aproximadamente, cinqenta pessoas. Ainda em 1997, iniciou-sea compilao de materiais (imagens e pequenos arquivos de udio evdeo) para a criao de um CD ROM, que seria, distribudo gratuita-

    mente, junto direo de escolas em comunidades carentes, difun-dindo o legado e exemplo de vida deixado por Senna entre crianasdestas localidades. Nos anos seguintes surgiram outros trs ttulosem CD ROM, mais completos e com novos aspectos visuais, porm,mantendo a mesma finalidade e caractersticas de distribuio do CDROM inicial.

    No final de 2002, a ONG iniciou as exposies meu sonhono tem fim, hoje denominadas grandes sonhadores, que levavamdiversas opes - principalmente para crianas de comunidades ca-rentes - de conhecerem o maravilhoso legado e exemplo de vida dei-xado por Senna, focando em seis pilares que eram a base de sustenta-o do projeto e fortes caractersticas na personalidade de Senna.Essas exposies foram levadas unidades dos CEUs, FEBEMs e

    As reflexes de um sonho que no tem fim10

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    12/160

    escolas, alcanando aproximadamente 200.000 crianas e adolescen-tes.

    Ainda no final de 2002 a ONG passou por uma grande refor-mulao, mudando seu foco principal e associando seu trabalho aosexemplos de vida e legado de vinte e um grandes sonhadores, queso hoje, a fonte de inspirao do trabalho da organizao.

    Em outubro de 2003 surgiram as palestras motivacionaisacreditando e concretizando seus sonhos, tendo como objetivo

    principal, transmitir informao, reflexo, conscientizao e motiva-o.

    No ano de 2004 nasceu o projeto social, amor em cena, eposteriormente, foram criados outros dois novos projetos: opassageiros da esperana e a pirmide do bem.

    A ONG tambm desenvolve estudos e pesquisas sobre temaspolmicos e importantes como a discriminao racial, a violncia, afome, a pobreza, a importncia de investimentos nas reas perifricasdas grandes metrpoles, dentre outros enfoques, para a conscientiza-o de formadores de opinio e tambm da populao de uma forma

    geral. A organizao no tem sede prpria, na verdade sem buscade mritos pessoais, apenas como esclarecimento e transparncia trata-se de um trabalho basicamente individual. At pouco tempoatrs, a organizao no mencionava esta caracterstica de seu traba-lho, no entanto, hoje acredita que, de uma forma clara, humilde eserena, isso deve ser colocado para as pessoas, pois, tornou-se umexemplo de que possvel buscarmos nossos sonhos e principalmen-

    te, a concretizao de trabalhos que buscam o bem comum, inde-pendentemente, das dificuldades e limitaes financeiras que possu-mos.

    Muitas vezes, ao analisarem seus materiais e projetos, as pes-soas imaginam uma organizao rica e grandiosa, quando na verda-de, um nico indivduo realiza, praticamente, todas as suas ativida-des, dividindo ainda seu tempo com sua amada e extremamente com-

    preensvel famlia e suas atividades profissionais, que por ser umprofissional liberal, tem flexibilidade em seus horrios.

    Com este histrico, a organizao tornou-se um exemplo deque possvel construirmos algo, mesmo sozinhos e sem recursos. Oidealizador deste trabalho no uma pessoa rica, porm, h vinte edois anos, quando surgiu este sonho, iniciou uma pequena poupana,

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 11

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    13/160

    onde se comprometeu a guardar mensalmente de 20% a 30% de seusalrio para viabilizar sua concretizao, algo que cumpriu religiosa-mente por mais de 180 meses. Era como uma poupana para a aqui-sio de seu sonho de consumo.

    Seu segredo foi exatamente isso. E se, em sua humilde exis-tncia, ele pode dar um conselho para algum que deseja fazer algo

    pelos nossos irmos menos favorecidos, esquecidos e infelizes e embusca do bem comum, essas so algumas das palavras mgicaspara a concretizao deste sonho: muito amor, humildade, tica, dis-ciplina e perseverana.

    As reflexes de um sonho que no tem fim12

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    14/160

    A GUIA E A GALINHA

    Um campons criou um filhote de guia junto com suas gali-nhas, tratando-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modoque ela pensasse que tambm era uma galinha.

    Dava a mesma comida jogada no cho, a mesma gua numbebedouro rente ao solo, e fazendo-a ciscar para complementar a ali-mentao, como se fosse uma galinha.

    E a guia passou a se portar como se galinha fosse.Certo dia, passou por sua casa um naturalista, que vendo a -guia ciscando no cho, foi falar com o campons:

    Isto no uma galinha, uma guia!O campons retrucou:

    Agora ela no mais uma guia, agora ela uma galinha!O naturalista disse:

    No, uma guia sempre uma guia, vamos ver uma coisa.

    Levou-a para cima da casa, elevou-a nos braos e disse: Voa, voc uma guia, assuma sua natureza! Mas a guia no voou, e o campons disse: Eu no falei que ela agora era uma galinha!O naturalista disse: amanh veremos.

    No dia seguinte, logo de manh, eles subiram at o alto de u-ma montanha. O naturalista levantou a guia e disse:

    guia, veja este horizonte, veja o sol l em cima e os cam-

    pos verdes l em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas.Desperte para sua natureza, e voe como guia que s.

    A guia comeou a ver tudo aquilo e ficou maravilhada com abeleza das coisas que nunca tinha visto, ficou tambm confusa noincio, sem entender o porqu tinha ficado tanto tempo alienada.

    Ento, ela sentiu seu sangue de guia correr nas veias, perfi-lou, devagar, suas asas e partiu num vo lindo, at que desapareceuno horizonte azul.

    Nunca se deve engatinhar quando o impulso voar.

    Helen Keller

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 13

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    15/160

    A BALANA

    Uma pobre senhora, com visvel ar de derrota estampado norosto, entrou num armazm, se aproximou do proprietrio, conhecido

    pelo seu jeito grosseiro e lhe pediu fiado alguns mantimentos.Ela explicou que o seu marido estava muito doente e no podia

    trabalhar e que ela tinha sete filhos para alimentar.O dono do armazm zombou dela e pediu que se retirasse do

    seu estabelecimento.Pensando na necessidade da sua famlia ela implorou: Por favor, eu lhe darei o dinheiro assim que eu tiver.Ao que ele lhe respondeu que ela no tinha crdito e nem con-

    ta na sua loja.Em p, no balco ao lado, um fregus que assistia a conversa

    entre os dois, se aproximou do dono do armazm e lhe disse que eledeveria dar o que aquela mulher necessitava para a sua famlia por

    sua conta.Ento o comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:

    Voc tem uma lista de mantimentos? Sim, respondeu ela. Muito bem, coloque a sua lista na balana e o quanto ela pe-

    sar, eu lhe darei em mantimentos!A pobre mulher hesitou por uns instantes e com a cabea cur-

    vada, retirou da bolsa um pedao de papel, escreveu alguma coisa e o

    depositou suavemente na balana.Os trs ficaram admirados, quando o prato da balana com o

    papel desceu e permaneceu embaixo.Completamente pasmo com o marcador da balana, o comerci-

    ante virou-se lentamente para o seu fregus e comentou contrariado: Eu no posso acreditar!O fregus sorriu e o homem comeou a colocar os mantimen-

    tos no outro prato da balana.Como a escala da balana no equilibrava, ele continuou colo-

    cando mais e mais mantimentos at no caber mais nada.O comerciante ficou parado ali por uns instantes olhando para

    a balana, tentando entender o que havia acontecido.Finalmente, ele pegou o pedao de papel da balana e ficou

    As reflexes de um sonho que no tem fim14

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    16/160

    espantado, pois, no era uma lista de compras e sim uma orao quedizia:

    Meu Senhor, o senhor conhece as minhas necessidades e euestou deixando isto em suas mos.

    O homem deu as mercadorias para a pobre mulher no maiscompleto silncio, que agradeceu e deixou o armazm.

    O fregus pagou a conta e disse: Valeu cada centavo.S mais tarde, o comerciante pde reparar que a balana havia

    quebrado. Entretanto, s Deus sabe o quanto pesa uma orao.

    O homem mais rico o que tem menos necessidades.

    Chico Xavier

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 15

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    17/160

    A BOLSA COM BATATAS

    O professor pediu para que os alunos levassem batatas e umabolsa de plstico para a aula.

    Ele pediu tambm para que separassem uma batata para cadapessoa de quem sentiam mgoas, escrevessem os seus nomes nasbatatas e as colocassem dentro da bolsa. Algumas das bolsas ficarammuito pesadas.

    A tarefa consistia em, durante uma semana, levar a todos oslados a bolsa com batatas. Naturalmente a condio das batatas foi sedeteriorando com o tempo. O incmodo de carregar a bolsa, a cadamomento, mostrava-lhes o tamanho do peso espiritual dirio que amgoa ocasiona, bem como o fato de que, ao colocar a ateno na

    bolsa, para no esquec-la em nenhum lugar, os alunos deixavam deprestar ateno em outras coisas que eram importantes para eles.

    Esta uma grande metfora do preo que se paga, todos os

    dias, para manter a dor, a insatisfao, a intolerncia e a negativida-de.

    Quando damos importncia aos problemas no resolvidos ous promessas no cumpridas, nossos pensamentos enchem-se de m-goa, aumentando o stress e roubando nossa alegria.Perdoar e deixar estes sentimentos irem embora, a nica forma detrazer de volta a paz e a serenidade.

    Jogue fora suas batatas!

    As pessoas te pesam?No as carregues nos ombros.

    Leve-as no corao.

    Dom Hlder Cmara

    As reflexes de um sonho que no tem fim16

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    18/160

    A CARROA VAZIA

    Certa manh, meu pai, muito sbio, convidou-me a dar umpasseio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clarei-ra e depois de um pequeno silncio me perguntou:

    Alm do cantar dos pssaros, voc est ouvindo mais algumacoisa?

    Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

    Estou ouvindo um barulho de carroa. Isso mesmo - disse meu pai - uma carroa vazia.Perguntei ao meu pai:

    Como pode saber que a carroa est vazia, se ainda no avimos?

    Ora - respondeu meu pai - muito fcil saber que uma carro-a est vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroa, mai-or o barulho que faz.

    Tornei-me adulto e at hoje, quando vejo uma pessoa falandodemais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o prximo comgrossura inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todomundo e querendo demonstrar que a dona da razo e da verdadeabsoluta, tenho a impresso de ouvir a voz do meu pai dizendo:

    Quanto mais vazia a carroa, mais barulho ela faz.

    Vivemos numa poca perigosa. O homem domina a naturezaantes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo.

    Albert Schweitzer

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 17

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    19/160

    A FORA DE UM GESTO DE CARINHO

    Certa vez, doutor Bezerra de Menezes, um renomado mdicobrasileiro da segunda metade do sculo XIX, saa de uma reunio deuma das entidades de que fazia parte na cidade do Rio de Janeiro,ento capital do Imprio do Brasil, quando localizou um irmo emsofrimento, de seus 45 anos, cabelos em desalinho, com a roupasuja e amarrotada. Os dois se olharam e doutor Bezerra compreendeu

    logo que ali estava um caso todo particular para resolver. Bendito osque tm olhos no corao! E ele sempre os teve.Ele levou o desconhecido para um canto e lhe ouviu, com a-

    teno, o desabafo, o pedido: Doutor Bezerra, estou sem emprego, com a mulher e dois

    filhos doentes e famintos. E eu mesmo, como v, estou sem alimentoe febril!

    Doutor Bezerra, apiedado, verificou se ainda tinha algum di-

    nheiro. Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde.Devido a situao e no tendo condies de auxili-lo, tornou-semais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos j molhados de pran-to para o alto e, numa prece muda, pediu inspirao para solucionarmais este problema. Depois, virando-se disse:

    Meu filho, voc tem f em Deus? Tenho e muita doutor Bezerra! Pois, ento, receba este abrao.

    E o abraou envolvente e demoradamente. E, despedindo-se,disse:

    V com Deus meu filho. E, em seu lar, faa o mesmo comtodos os seus familiares, abraando-os, afagando-os. E confie emDeus, que seu caso h de ser resolvido.

    Doutor Bezerra partira. A caminho do lar, meditava: teriacumprido seu dever, ser que possibilitara ajuda ao irmo em prova,faminto e doente? E arrependia-se por no lhe haver dado seno umabrao. No possua nenhum dinheiro. O prprio anel de grau j noestava mais em seu dedo. Tudo havia dado. No tendo dinheiro, deraalgo de si mesmo ao irmo sofredor, boas vibraes, bom nimo,moeda da alma, mas, no tinha certeza de que isso lhe bastara. E,neste estado de esprito, preocupado pela sorte de seu semelhante,

    As reflexes de um sonho que no tem fim18

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    20/160

    chegou ao lar.Uma semana passara-se. Doutor Bezerra praticamente no se

    recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas a serem re-solvidos. Aps uma reunio, no mesmo prdio em que encontrara oirmo em sofrimento na semana anterior, descia as escadas quandoalgum, trazendo na fisionomia toda a emoo do agradecimento,toca-lhe o brao e lhe diz:

    Venho agradecer-lhe, doutor Bezerra, o abrao milagrosoque me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora. Da-qui sa logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abra-

    cei minha mulher e meus filhos. Na linguagem do corao, oramostodos a Deus. Na gua que bebemos e demos aos familiares, parece,continha alimento, pois, dormimos todos bem. No dia seguinte, est-vamos sem febre e como que alimentados. E veio-me a inspirao,guiando-me a uma porta, que se abriu e algum por ela saiu, ouviumeu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego. Venholhe agradecer a grande ddiva que o senhor me deu, arrancada de simesmo, maior e melhor do que dinheiro!

    O ambiente era tocante. Lgrimas caam tanto dos olhos dedoutor Bezerra como do irmo beneficiado e desconhecido. E umaprece muda, de dois coraes unidos numa mesma fora, subiu aoscus.

    Soletremos antes de tudo o alfabeto da bondade.Sem as primeiras letras do amor e da caridade,

    jamais entenderemos o sagrado poema da vida.Bezerra de Menezes

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 19

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    21/160

    A GRANDEZA DE UM PEQUENO GESTO

    Logo aps o trmino da Segunda Grande Guerra, a Europacomeou a ajuntar os cacos do que restara.

    Grande parte da Inglaterra estava destruda. As runas estavampor todo lugar. E, possivelmente, o lado mais triste da guerra tenhasido assistir as criancinhas rfs morrendo de fome, nas ruas das ci-dades devastadas.

    Certa manh, de muito frio na capital londrina, um soldadoamericano estava retornando ao acampamento. Numa esquina, eleviu, do seu jipe, um menino com o nariz pressionado contra o vidrode uma confeitaria.

    Parou o veculo, desceu e se aproximou do garoto. L dentro,o confeiteiro sovava a massa para uma fornada de rosquinhas.

    Os olhos arregalados do menino, falava da fome que lhe devo-rava as entranhas. Ele observava todos os movimentos do confeitei-

    ro, sem perder nenhum.Atravs do vidro embaado pela fumaa, o soldado viu as ros-

    quinhas quentes, de dar gua na boca, sendo retiradas do forno. Logomais, o confeiteiro as colocou no balco de vidro com todo o cuida-do.

    O soldado ouviu o gemido do menino e percebeu como elesalivava. Em p, ao lado dele, comoveu-se diante daquele rfo des-conhecido.

    Filho, voc gostaria de comer algumas rosquinhas?O menino se assustou. Nem percebera a presena do homem a

    observ-lo, to absorto estava na sua contemplao. Sim, respondeu. Eu gostaria.O soldado entrou na confeitaria e comprou uma dzia de ros-

    quinhas. Colocou-as dentro de um saco de papel e se dirigiu ao localonde o menino se encontrava, na glida e nevoenta manh de Lon-dres. Sorriu e lhe entregou as rosquinhas, dizendo de forma descon-trada:

    Aqui esto as rosquinhas.Virou-se para se afastar. Entretanto, sentiu um puxo em sua

    farda. Olhou para trs e ouviu o menino perguntar, baixinho: Moo, voc Deus?

    As reflexes de um sonho que no tem fim20

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    22/160

    Em diversas situaes, pequenos gestos significam muito paraalgumas vidas.

    Jamais subestime o poder de suas aes.Com um pequeno gesto voc pode mudar a vida

    de uma pessoa. Para melhor ou para pior.

    Alex Cardoso de Melo

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 21

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    23/160

    A IMPORTNCIA DO HORIZONTE

    Certa vez, uma pessoa chegou no cu e queria falar com Deus,porque segundo o seu ponto de vista, havia uma coisa na criao queno tinha nenhum sentido. Deus o atendeu de imediato, curioso porsaber qual era a falha na criao.

    Senhor Deus, sua criao muito bonita, muito funcional,cada coisa tem sua razo de ser, mas, no meu ponto de vista, tem u-

    ma coisa que no serve para nada, disse aquela pessoa para Deus. E que coisa essa que no serve para nada? Perguntou Deus. o horizonte. Para que serve o horizonte? Se eu caminho

    um passo em direo ao horizonte, ele se afasta um passo de mim. Secaminho dez passos ele se afasta outros dez passos. Se caminho qui-lmetros em direo ao horizonte, ele se afasta os mesmos quilme-tros de mim. Isso no tem sentido. O horizonte no serve para nada.

    Deus olhou para aquela pessoa, sorriu e disse:

    justamente para isso que serve o horizonte meu filho, parafaz-lo caminhar!

    Toda grande caminhada comea com um simples passo.

    Buda

    As reflexes de um sonho que no tem fim22

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    24/160

    A INVEJA E A COMPETNCIA

    Marcos era um funcionrio extremamente insatisfeito com aempresa em que trabalhava e seu patro. Trabalhava h 20 anos nacompanhia, era srio, dedicado e cumpridor de suas obrigaes.

    Um belo dia, ele foi ao dono da empresa para fazer uma recla-mao. Disse que trabalhava ali h 20 anos com toda dedicao, mas,se sentia injustiado. O Alexandre, seu colega de departamento, que

    havia comeado h apenas trs anos, estava ganhando muito mais doque ele.O patro fingiu no ouvir e lhe pediu que fosse at a barraca

    de frutas da esquina. Ele estava pensando em oferecer frutas comosobremesa ao pessoal, aps o almoo daquele dia, e queria que eleverificasse se na barraca havia abacaxi.

    Marcos no entendeu direito, mas obedeceu. Voltando, muitorpido, informou que o moo da barraca tinha abacaxi.

    Quando o dono da empresa lhe perguntou o preo ele disseque no havia perguntado. Como tambm no sabia responder se orapaz tinha quantidade suficiente para atender todos os funcionriosda empresa. Muito menos, se ele tinha outra fruta para substituir oabacaxi, neste caso.

    O patro pediu a Marcos que se sentasse em sua sala e chamouo Alexandre. Deu a ele a mesma misso que dera para Marcos:

    Estou querendo dar frutas como sobremesa ao nosso pessoal

    hoje. Aqui na esquina tem uma barraca. V at l e verifique se elestm abacaxi.

    Poucos minutos depois, Alexandre voltou com a seguinte res-posta:

    Eles tm abacaxi e em quantidade suficiente para todo o nos-so pessoal. Se o senhor preferir, tm tambm laranja, banana, meloe mamo. O abacaxi est R$ 1,50 cada, a banana e o mamo a R$1,00 o quilo, o melo R$ 1,20 a unidade e a laranja R$ 20,00 o cento,

    j descascada.Como falei que a compra seria em grande quantidade, ele dar

    um desconto de 15%. Deixei reservado. Conforme o senhor decidir,volto l e confirmo.

    Agradecendo pelas informaes, o patro dispensou Alexan-

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 23

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    25/160

    dre. Voltou-se para Marcos e perguntou: O que voc estava querendo falar comigo antes?Marcos se levantou e se encaminhando para a porta, falou:

    Nada srio, patro. Esquea. Com sua licena.

    A causa real da maioria dos nossos grandes problemasest entre a ignorncia e a negligncia.

    Goethe

    As reflexes de um sonho que no tem fim24

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    26/160

    A JANELA

    Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmoquarto de hospital.

    Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todasas tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmes.

    A sua cama estava junto da nica janela do quarto.O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.

    Os homens conversavam horas a fio.Falavam das suas mulheres e famlias, das suas casas, dos seusempregos, onde tinham passado as frias.

    E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela sesentava, ele passava o tempo a descrever ao seu companheiro dequarto, todas as coisas que ele conseguia ver do lado de fora da jane-la.

    O homem da cama ao lado comeou a viver espera desses

    perodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animadopor toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela.

    A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cis-nes chapinhavam na gua enquanto as crianas brincavam com osseus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braos dados

    por entre as flores de todas as cores do arco-ris. rvores velhas eenormes acariciavam a paisagem, e a tnue vista da silhueta da cida-de, podia ser vista no horizonte.

    Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tu-do com extraordinrio pormenor, o homem no outro lado do quartofechava os seus olhos e imaginava a pitoresca cena.

    Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que iaa passar.

    Embora o outro homem no conseguisse ouvir a banda, eleconseguia v-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor arefratava atravs de palavras bastante descritivas.

    Dias e semanas passaram.Uma manh, a enfermeira chegou ao quarto trazendo gua pa-

    ra os seus banhos e encontrou o corpo sem vida do homem perto dajanela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.

    Ela ficou muito triste e chamou os funcionrios do hospital

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 25

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    27/160

    para que levassem o corpo.Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se

    podia ser colocado na cama perto da janela.A enfermeira disse logo que sim e fez a troca.Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado,

    a enfermeira deixou o quarto.Lentamente e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no

    cotovelo, para contemplar o mundo l fora.Fez um grande esforo e lentamente olhou para o lado de fora

    da janela, que dava, afinal, para uma parede de tijolo!

    O homem perguntou enfermeira o que teria feito com que oseu falecido companheiro de quarto, lhe tivesse descrito coisas tomaravilhosas do lado de fora da janela.

    A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequerconseguia ver a parede. Talvez ele quisesse apenas dar-lhe cora-gem.

    Corao feliz resultado de um corao repleto de amor.Madre Teresa de Calcut

    As reflexes de um sonho que no tem fim26

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    28/160

    A LENDA DO MONGE E DO ESCORPIO

    Um monge e seus discpulos iam por uma estrada; quando pas-savam por uma ponte, viram um escorpio sendo arrastado pelas -guas. Imediatamente, o monge correu pela margem do rio, entrou nagua e tomou o bichinho na mo. Quando o trazia para fora, o escor-

    pio o picou.Devido dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi

    ento que o monge pegou um ramo de rvore, adiantou-se outra veza correr pela margem, entrou no rio, mais uma vez, colheu o escorpi-o e o salvou.

    Satisfeito, o monge voltou ponte e juntou-se a seus discpu-los. Eles, que haviam assistido cena, o receberam perplexos e pena-lizados. Um deles, ento falou:

    Mestre, deve estar doendo muito! Mas, porque foi salvaresse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos.

    Veja como ele retribuiu sua ajuda. Picou a mo que o salvava. Nomerecia a sua compaixo!

    O monge ouviu tranqilamente os comentrios e respondeusereno:

    Ele agiu conforme a sua natureza e eu de acordo com a mi-nha.

    Ns devemos ser a mudana que queremos ver no mundo.

    Mahatma Gandhi

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 27

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    29/160

    A LIO DO JARDINEIRO

    Certo dia, um executivo contratou, pelo telefone, um jardineiroautnomo para fazer a manuteno do seu jardim.

    Chegando em casa, o executivo viu que estava contratando umgaroto de apenas 16 anos de idade. Contudo, como j estava contra-tado, ele pediu para que o garoto executasse o servio.

    Quando terminou, o garoto solicitou ao dono da casa permis-

    so para utilizar o telefone e o executivo no pde deixar de ouvir aconversa.O garoto ligou para uma mulher e perguntou:

    A senhora est precisando de um jardineiro? No. Eu j tenho um, foi sua resposta. Mas, alm de aparar a grama, frisou o garoto, eu tambm tiro

    o lixo. Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O

    meu jardineiro tambm faz isso.O garoto insistiu:

    Eu limpo e lubrifico todas ferramentas no final do servio. O meu jardineiro tambm, tornou a falar a senhora. Eu programo seu atendimento, o mais rpido possvel. Bom, o meu jardineiro tambm me atende prontamente.

    Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa.Numa ltima tentativa, o menino arriscou:

    O meu preo um dos melhores. No, disse firme a voz ao telefone. Muito obrigada! O preo

    do meu jardineiro tambm muito bom.Desligado o telefone, o executivo disse ao jardineiro:

    Meu rapaz, voc perdeu um cliente. Claro que no, respondeu rpido. Eu sou o jardineiro dela.

    Fiz isto apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo.

    A cmera fotogrfica nos retrata por fora,mas, o trabalho nos retrata por dentro.

    Andr Luiz

    As reflexes de um sonho que no tem fim28

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    30/160

    A MENINA E O CO

    Uma menina entra na lojinha de animais e pergunta o preodos filhotes venda.

    Entre cem e trezentos reais, respondeu o dono.A menina puxou uns trocados do bolso e disse:

    Mas, eu s tenho dez reais. Poderia ver os filhotes?O dono da loja sorriu e chamou Duquesa, a me dos cachorri-

    nhos, que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de plo.Um dos cachorrinhos vinha mais atrs, com dificuldade, man-cando de forma visvel.

    A menina apontou aquele cachorrinho e perguntou: O que que h com ele?O dono da loja explicou que o veterinrio tinha examinado e

    descoberto que ele tinha um problema na junta do quadril, mancariae andaria devagar para sempre.

    A menina se animou e disse com enorme alegria no olhar: Esse o cachorrinho que eu quero comprar!O dono da loja respondeu:

    No, voc no vai querer comprar esse.Se quiser realmente ficar com ele, eu lhe dou de presente.A menina emudeceu e, com os olhos marejados de lgrimas,

    olhou firme para o dono da loja e falou: Eu no quero que voc o d para mim. Aquele cachorrinho

    vale tanto quanto qualquer um dos outros e eu vou pagar tudo.Na verdade, eu lhe dou dez reais agora e mais dez reais por

    ms, at completar o preo total.Surpreso, o dono da loja contestou:

    Voc no pode querer realmente comprar este cachorrinho.Ele nunca vai poder correr, pular e brincar com voc e com os

    outros cachorrinhos.A menina ficou muito sria, acocorou-se e levantou lentamen-

    te a perna esquerda da cala, deixando mostra a prtese que usavapara andar. Olhou bem para o dono da loja e respondeu:

    Veja, no tenho uma perna, eu no corro muito bem e o ca-chorrinho vai precisar de algum que entenda isso.

    O homem estava agora envergonhado e seus olhos se enche-

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 29

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    31/160

    ram de lgrimas.Ele sorriu e disse:

    Filha, s espero e oro para que cada um destes cachorrinhostenha uma dona como voc.

    Minhas expectativas foram reduzidas a zero quando eutinha 21 anos. Tudo, desde ento, tem sido um bnus.

    Stephen Hawking

    As reflexes de um sonho que no tem fim30

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    32/160

    A PANELA DE SOPA

    Uma antiga lenda judaica diz que certo dia, Deus convidou umrabino para conhecer o cu e o inferno.

    Ao abrirem a porta do inferno, viram uma sala em cujo centrohavia um caldeiro, no qual se cozinhava uma suculenta sopa.

    Em volta dele, estavam sentadas pessoas famintas e desespera-das. Cada uma delas segurava uma colher de cabo to comprido que

    lhe permitia alcanar o caldeiro, mas, no suas prprias bocas. Osofrimento era imenso.Em seguida, Deus levou o rabino para conhecer o cu. Entra-

    ram em uma sala idntica primeira, onde havia o mesmo caldeirocom as pessoas sua volta e colheres de cabo comprido. A diferena que todos estavam saciados.

    Eu no compreendo disse o rabino, por que aqui as pessoasesto felizes, enquanto na outra sala morrem de aflio, se tudo

    igual?Deus sorriu e respondeu:

    por que aqui elas aprenderam a dar comida umas s outras.

    Democracia serve para todos ou no serve para nada.

    Betinho

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 31

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    33/160

    A PEDRA NO CAMINHO

    Conta-se a lenda de um rei que viveu num pas alm-mar hmuito anos. Ele era muito sbio e no poupava esforos para ensinar

    bons hbitos ao seu povo. Freqentemente fazia coisas que pareciamestranhas e inteis; mas tudo que fazia era para ensinar o povo a sertrabalhador e cauteloso.

    Nada de bom pode vir uma nao dizia ele cujo povo

    reclama e espera que outros resolvam seus problemas. Deus d ascoisas boas da vida quem lida com os problemas por conta prpria.Uma noite, enquanto todos dormiam, ele ps uma enorme pe-

    dra na estrada que passava pelo palcio. Depois foi se esconder atrsde uma cerca e esperou para ver o que acontecia.

    Primeiro veio um fazendeiro com uma carroa carregada desementes que ele levava para moagem na usina.

    Quem j viu tamanho descuido? disse ele contrariadamen-

    te, enquanto desviava sua parelha e contornava a pedra. Por que esses preguiosos no mandam retirar essa pedra da

    estrada? E continuou reclamando da inutilidade dos outros, mas, semao menos tocar, ele prprio, na pedra.

    Logo depois, um jovem soldado veio cantando pela estrada. Alonga pluma de seu quepe ondulava na brisa e uma espada reluzente

    pendia sua cintura. Ele pensava na maravilhosa coragem que mos-traria na guerra.

    O soldado no viu a pedra, tropeou nela e se estatelou nocho poeirento. Ergueu-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou a espadae enfureceu-se com os preguiosos que insensatamente haviam larga-do uma pedra imensa na estrada. Ento, ele tambm se afastou, sem

    pensar uma nica vez que ele prprio poderia retirar a pedra.Assim correu o dia. Todos que por ali passavam reclamavam e

    resmungavam por causa da pedra colocada na estrada, mas, ninguma tocava.

    Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por l passou.Era muito trabalhadora e estava cansada, pois, desde cedo andavaocupada no moinho.

    Mas, disse a si mesma: J que esta quase escurecendo, algum pode tropear nesta

    As reflexes de um sonho que no tem fim32

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    34/160

    pedra noite e se ferir gravemente. Vou tir-la do caminho.E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas, a moa

    empurrou e empurrou, e puxou, e inclinou, at que conseguiu tir-lado lugar. Para a sua surpresa encontrou uma caixa debaixo da pedra.

    Ergueu a caixa. Era pesada, pois, estava cheia de alguma coi-sa. Havia na tampa os seguintes dizeres:

    Esta caixa pertence a quem retirar a pedra.Ela abriu a caixa e descobriu que estava cheia de ouro.A filha do moleiro foi para casa com o corao feliz. Quando o

    fazendeiro, o soldado e todos os outros que ouviram o que havia o-

    corrido, juntaram-se em torno do local na estrada onde a pedra esta-va. Revolveram o p da estrada com os ps, na esperana de encon-trar um pedao de ouro.

    Meus amigos - disse o rei - com freqncia encontramosobstculos e fardos no caminho. Podemos reclamar em alto e bomsom, enquanto nos desviamos deles se assim preferirmos, ou pode-mos ergu-los e descobrir o que eles significam. A decepo nor-malmente o preo da preguia.

    Ento, o sbio rei montou em seu cavalo e com um delicadoboa noite retirou-se.

    No meio de toda dificuldade existe sempre uma oportunidade.

    Albert Einstein

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 33

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    35/160

    A PORTA MAIS LARGA DO MUNDO

    Conta-se que, um dia, um homem parou na frente de um pe-queno bar, tirou do bolso um metro, mediu a porta e falou em vozalta:

    Dois metros de altura, por oitenta centmetros de largura.Admirado mediu-a de novo.Como se duvidasse das medidas que obteve, mediu-a pela ter-

    ceira vez. E assim, tornou a medi-la diversas vezes.Curiosas, as pessoas que por ali passavam, comearam a parar.Primeiro, um pequeno grupo, depois, um grupo maior, por

    fim, uma multido.Voltando-se para os curiosos, o homem exclamou, visivelmen-

    te impressionado: Parece mentira! Esta porta mede apenas dois metros de altu-

    ra e oitenta centmetros de largura, no entanto, por ela passou todo o

    meu dinheiro, meu carro, o po dos meus filhos, passaram os meusmveis e a minha casa. E no foram s os bens materiais. Por elatambm passou a minha sade, passaram as esperanas de minhaesposa, passou toda a felicidade e prosperidade do meu lar. Almdisso, passaram tambm a minha dignidade, minha honra, meus so-nhos e meus planos. Sim, senhores, todos os meus planos de constru-ir uma famlia feliz, passaram por esta porta, dia aps dia, gole porgole. Hoje, eu no tenho absolutamente mais nada. Nem famlia,

    nem sade, nem esperana. Mas, quando passo pela frente desta por-ta, ainda ouo o chamado daquela que a responsvel pela minhadesgraa. Ela ainda me chama insistentemente: S mais um trago! Shoje! Uma dose, apenas! Sim, essa era a senha. Essa era a isca. Emais uma vez eu caa na armadilha, dizendo comigo mesmo:quando eu quiser, eu paro. Isso o que muita gente pensa, mas,somente pensa. Hoje, eu sou um trapo humano. A bebida, bem, a

    bebida continua fazendo as suas vtimas. Por isso que eu lhes digo,senhores: esta porta a porta mais larga do mundo! Ela tem engana-do muita gente. Por esta porta, que pode ser chamada de porta dovcio, de aparncia to estreita, simples e inofensiva pode passar tudoo que se tem de mais valioso na vida.

    Visivelmente amargurado, aquele homem se afastou, a passos

    As reflexes de um sonho que no tem fim34

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    36/160

    lentos, deixando a cada uma das pessoas que o ouviram, motivospara profundas reflexes.

    Todo vcio tende a justificar-se.

    Friedrich Nietzsche

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 35

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    37/160

    A PORTA NEGRA

    H algumas geraes atrs, durante uma das mais turbulentasguerras no Oriente Mdio, um general persa capturou um espio e ocondenou morte.

    O general, um homem de grande inteligncia e compaixo ha-via adotado um estranho costume em tais casos. Ele permitia ao con-denado que escolhesse. O prisioneiro podia enfrentar um peloto de

    fuzilamento ou podia atravessar a porta negra.Um pouco antes da execuo, o general ordenava que trouxes-sem o espio sua presena para uma breve e final entrevista, sendoseu principal objetivo saber qual seria sua resposta: o peloto de fuzi-lamento ou a porta negra.

    Esta no era uma deciso fcil e o prisioneiro vacilava e prefe-ria, invariavelmente, o peloto ao desconhecido e aos espantososhorrores que poderiam estar por detrs da tenebrosa e misteriosa

    porta negra. Momentos aps, se escutava o rajar das balas que da-vam cumprimento sentena. O general, com os olhos fixos em suas

    bem polidas botas, voltava-se para o seu ajudante de ordens e dizia: Eis ali o que o homem, prefere o mal conhecido ao desco-

    nhecido. uma caracterstica dos humanos temer o incerto. Voc v,eu disse a ele para escolher.

    Afinal, o que existe atrs da porta negra? Perguntou seuajudante de ordens.

    A liberdade respondeu o general e poucos tm sido oshomens que tiveram o valor de decidir-se por ela.

    Aquilo que pedimos aos cus, muitas vezesse encontra em nossas mos.

    William Shakespeare

    As reflexes de um sonho que no tem fim36

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    38/160

    A PRINCESA NOLA

    Havia uma linda princesa chamada Nola. Todos os dias, quan-do o sol estava para se pr, ela cantava em gratido por mais um dia.E todo o reino silenciava para ouvir sua linda cano. Todos sentiamuma grande paz.

    As crianas amavam a voz de Nola. A sua voz era um smbolode amor dentro do reino.

    Um dia, a voz de Nola silenciou. Nola no conseguia falar enem cantar e ningum sabia o porqu.O rei muito preocupado, pediu ajuda a todos os sbios do reino

    na tentativa de recuperar a voz de Nola.Alguns traziam receitas caseiras, ervas consideradas milagro-

    sas, outros oravam. Mas nada surtia efeito e, assim, o reino caiu emprofunda tristeza. As tardes j no eram to especiais sem o canto deNola.

    E o tempo foi passando...Nola no era mais vista ao entardecer, e o rei estava em pran-

    tos pela dor de sua filha.Numa noite fria, o rei ouviu batidas na porta do castelo e ele

    prprio foi abri-la. Quando viu um mendigo a pedir por comida: Senhor d-me de comer, tenho muita fome.O rei, vendo o pobre homem, ordenou que dessem de comer

    ao mendigo.

    E ento o mendigo disse ao rei: s um homem to bondoso! Deste-me de comer quando eu

    mais precisava. Como posso retribuir tamanha generosidade?E o rei, tristonho, olhou para a noite fria e disse:

    No h nada que possas fazer. O meu maior desejo, ningumpode realizar. V com Deus.

    E assim, o mendigo saiu do castelo muito agradecido.No dia seguinte o Rei ouviu sua filha cham-lo. Subiu s pres-

    sas a escadaria do castelo e no acreditou ao ver que Nola havia re-cuperado sua voz.

    O reino inteiro festejou pelo milagre ocorrido com Nola. Pode-riam ouvir sua voz ao entardecer e os dias seriam felizes novamente.

    E o rei, em sua tamanha alegria, comeou a questionar quem

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 37

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    39/160

    teria feito tal milagre. Foi quando lembrou-se do mendigo que haviaestado em seu castelo na noite anterior. Ele tinha um olhar diferentequando falou em retribuir ao rei pela comida dada.

    Sim, procurem aquele homem, por que, se foi ele quem fez talmilagre, devo agradecer-lhe.

    E ento, saram em busca do mendigo e o encontraram na flo-resta:

    s o mendigo que o rei procura?E o mendigo falou:

    Como est o rei?

    Ento, s tu quem realizou o milagre? Como conseguiste? Nada fiz senhor. Apenas pedi a Deus com amor, que desseao rei o que lhe faltava. E quando pedimos com amor, nem mesmoDeus pode nos negar, pois, sendo Ele o amor, como poderia contrari-ar o Seu prprio pedido?

    Escreva suas mgoas em areia, sua gratido em mrmore.

    Benjamin Franklin

    As reflexes de um sonho que no tem fim38

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    40/160

    A VERDADEIRA RIQUEZA

    Um dia, um rico pai de famlia levou seu filho para viajar parao interior com o firme propsito de mostrar o quanto as pessoas po-dem ser pobres.

    Eles passaram um dia e uma noite no sitio de uma famlia mui-to pobre. Quando retornaram da viagem o pai perguntou ao filho:

    Como foi a viagem?

    Muito boa papai! Voc viu como as pessoas pobres podem ser? - o pai pergun-tou.

    Sim. E o que voc aprendeu? - o pai perguntou.O filho respondeu:

    Eu vi que ns temos um cachorro em casa, e eles tm quatro.Ns temos uma piscina que alcana o meio do jardim, eles tm um

    riacho que no tem fim. Ns temos uma varanda coberta e iluminadacom luz, eles tm as estrelas e a lua. Nosso quintal vai at o portode entrada, eles tm uma floresta inteira.

    Quando o pequeno garoto estava acabando de responder, seupai j estava estupefato, e seu filho acrescentou:

    Obrigado pai por me mostrar quanto pobre ns somos!

    A verdadeira riqueza no consiste em termos grandes posses,mas, em termos poucas necessidades.

    Alex Cardoso de Melo

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 39

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    41/160

    A VIDA UM ESPELHO

    Ele quase no viu a senhora, com o carro parado no acosta-mento. Chovia forte e j era noite. Mas, percebeu que ela precisavade ajuda. Assim parou seu carro e se aproximou.

    O carro dela cheirava a tinta, de to novinho. Mesmo com osorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ningumtinha parado para ajudar. Ele iria aprontar alguma?

    Ele no parecia seguro, parecia pobre e faminto. Ele pode verque ela estava com muito medo e disse: Eu estou aqui para ajudar madame, no se preocupe. Por que

    no espera no carro onde est quentinho? A propsito, meu nome Rodrigo.

    Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas, para umasenhora de idade avanada era ruim o bastante.

    Rodrigo abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Ele

    j estava trocando o pneu. Mas, ficou um tanto sujo e feriu uma dasmos. Enquanto fixava a roda ela abriu a janela e comeou a conver-sar com ele. Contou que era de So Paulo e que s estava de passa-gem por ali e que no sabia como agradecer pela preciosa ajuda.

    Rodrigo apenas sorriu enquanto se levantava.Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia teria sido muito

    pouco para ela. J tinha imaginado todos as terrveis coisas que po-deriam ter acontecido, se Rodrigo no tivesse parado e ajudado.

    Rodrigo no pensava em dinheiro, aquilo no era um trabalhopara ele. Gostava de ajudar quando algum tinha necessidade e Deusj lhe havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lheocorreu agir de outro modo. E respondeu:

    Se realmente quiser me pagar, da prxima vez que encontraralgum que precise de ajuda, d para aquela pessoa a ajuda de queela precisar. E acrescentou: e lembre-se de mim.

    Esperou at que ela sasse com o carro e tambm se foi.Tinha sido um dia frio e deprimente, mas, ele se sentia bem,

    indo para casa, desaparecendo no crepsculo.Alguns quilmetros abaixo, a senhora parou seu carro num

    pequeno restaurante e entrou para comer alguma coisa.Era um restaurante muito simples. A garonete veio at ela e

    As reflexes de um sonho que no tem fim40

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    42/160

    trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse esfregar e secar o ca-belo molhado e lhe dirigiu um doce sorriso, um sorriso que mesmoos ps doendo por um dia inteiro de trabalho, no pode apagar.

    A senhora notou que a garonete estava com oito meses degravidez, mas, ela no deixou a tenso e as dores mudarem a sua ati-tude. Ela ficou curiosa em saber como algum que tinha to pouco,

    podia tratar to bem a um estranho. Ento, lembrou-se de Rodrigo.Depois que terminou a sua refeio, enquanto a garonete bus-

    cava troco para a nota de cem reais, a senhora se retirou.J tinha partido quando a garonete voltou. Ela queria saber

    onde a senhora poderia ter ido, quando notou algo escrito no guarda-napo, sob o qual tinha mais quatro notas de cem reais.Existiam lgrimas em seus olhos quando leu o que a senhora

    escreveu. Dizia: Voc no me deve nada, eu j tenho o bastante. Algum me

    ajudou hoje e da mesma forma estou lhe ajudando. Se voc realmen-te quiser me reembolsar por este dinheiro, no deixe este crculo deamor terminar com voc, ajude algum.

    Bem, haviam mesas para limpar, aucareiros para encher, epessoas para servir, e a garonete voltou ao trabalho.Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na ca-

    ma, seu marido j estava dormindo e ela ficou pensando no dinheiroe no que a senhora deixou escrito.

    Como pde aquela senhora saber o quanto ela e o marido pre-cisavam disto? Com o beb que estava para nascer no prximo ms,como estava difcil!

    Ficou pensando na bno que havia recebido, deu um grandesorriso, agradeceu a Deus e virou-se para o preocupado marido quedormia ao lado, deu-lhe um beijo macio e sussurrou:

    Tudo ficar bem; eu te amo Rodrigo!A vida assim, um espelho. Tudo o que voc transmite volta

    para voc, e geralmente em dobro.

    Se os seus sonhos estiverem nas nuvens, no se preocupe, poiseles esto no lugar certo. Agora, construa os alicerces.

    William Shakespeare

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 41

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    43/160

    AMOR EM UMA LATA DE LEITE

    Dois irmozinhos maltrapilhos, provenientes de uma favela -um deles de cinco anos e o outro de dez - iam pedindo um pouco decomida pelas casas de uma das ruas de So Paulo.

    Estavam famintos! Vai trabalhar e no amole, ouvia-se detrs da porta. Aqui no tem nada neguinho, dizia outro.

    As mltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianas.Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes: Vou ver se tenho alguma coisa para vocs garotinhos! E vol-

    tou com uma latinha de leite.Que festa! Ambos se sentaram na calada.O menorzinho disse para o de dez anos:

    Voc mais velho, tome primeiro. E olhava para ele comseus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da lngua.

    O irmo mais velho leva a lata boca e, fazendo gesto de be-ber, aperta fortemente os lbios para que por eles no penetre uma sgota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmo:

    Agora sua vez. S um pouco. E o irmozinho, dando umgrande gole exclama: como est gostoso!

    Agora eu, diz o mais velho. E levando a latinha, j meio va-zia, boca, no bebe nada.

    Agora voc, agora eu, agora voc, agora eu... E, depois de trs,

    quatro ou cinco goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barri-gudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo, ele sozinho.

    E ento, aconteceu algo extraordinrio. O mais velho comeoua cantar, a danar, a jogar futebol com a lata de leite vazia.

    Estava radiante, o estmago vazio, mas, o corao trasbordan-te de alegria. Pulava, com a naturalidade de quem no fez nada deextraordinrio, ou melhor, com a naturalidade de quem est habitua-do a fazer coisas extraordinrias, sem dar-lhes maior importncia.

    A arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte.

    Mahatma Gandhi

    As reflexes de um sonho que no tem fim42

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    44/160

    AQUILO QUE O CORAO CARREGA

    Conta uma popular lenda do Oriente Prximo, que um jovemchegou a beira de um osis junto a um povoado e aproximando-se deum velho perguntou-lhe:

    Que tipo de pessoa vive neste lugar?Por sua vez perguntou o ancio:

    Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde voc vem?

    Oh, um grupo de egostas e malvados - replicou o rapaz -estou satisfeito de haver sado de l.A isso o velho replicou:

    A mesma coisa voc haver de encontrar por aqui.No mesmo dia, um outro jovem se acercou do osis para beber

    gua e vendo o ancio perguntou-lhe: Que tipo de pessoa vive por aqui?O velho respondeu com a mesma pergunta:

    Que tipo de pessoa vive no lugar de onde voc vem?O rapaz respondeu:

    Um magnfico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospita-leiras. Fiquei muito triste por ter de deix-las.

    O mesmo encontrar por aqui, respondeu o ancio.Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou:

    Como possvel responder to diferente mesma pergunta?Ao que o velho respondeu:

    Cada um carrega no seu corao o meio ambiente em quevive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde pas-sou, no poder encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encon-trou amigos ali, tambm os encontrar aqui porque, na verdade, anossa atitude mental a nica coisa na nossa vida sobre a qual pode-mos manter controle absoluto.

    Sempre temos a possibilidade de mudarmos as nossas vidase as atitudes de todos queles que nos cercam,

    simplesmente mudando a ns mesmos.

    Alex Cardoso de Melo

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 43

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    45/160

    AS CICATRIZES DO DESCONTROLE

    Naquele dia de sol, Antnio chegou feliz e estacionou o relu-zente caminho em frente porta de sua casa. Aps 20 anos de muitaeconomia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, eleconseguiu: comprou um caminho.

    Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a suaaquisio. A partir de agora, seria seu prprio patro.

    Ao chegar prximo do caminho, uma cena o deixou descon-trolado. Seu filho de apenas seis anos estava martelando alegrementea lataria do caminho.

    Irritado e aos berros, ele investiu contra o pequeno filho. To-mou o martelo das mos dele e, totalmente fora de controle, martelouas mozinhas do garoto.

    Sem entender o que estava acontecendo, o menino se ps achorar de dor, enquanto a me interferiu e retirou o pequeno da cena.

    Na seqncia, ela trouxe o marido de volta realidade e juntoslevaram o filho ao hospital, para fazer curativos.

    O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram sermuito grave. As marteladas nas frgeis mozinhas tinham feito talestrago que o garoto foi encaminhado para cirurgia imediata.

    Passadas vrias horas, o cirurgio veio ao encontro dos pais elhes informou que as dilaceraes tinham sido de grande extenso eos dedinhos tiveram que ser amputados.

    De resto, falou o mdico, a criana era forte e tinha resistidobem ao ato cirrgico. Os pais poderiam aguard-lo no quarto, paraonde logo mais seria conduzido.

    Com um aperto no corao, os pais esperaram que a crianadespertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai o meninoabriu um sorriso e falou:

    Papai, me desculpe, eu s queria consertar o seu caminho,como voc me ensinou outro dia. No fique bravo comigo.

    O pai, com lgrimas a escorrer pela face, se aproximou do pe-queno inocente e disse que no tinha a menor importncia o que elehavia feito. Mesmo porque, a lataria do caminho nem tinha sidoestragada.

    O menino insistiu:

    As reflexes de um sonho que no tem fim44

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    46/160

    Quer dizer que no est mais bravo comigo? No, mesmo, falou o pai. Ento, perguntou o garoto, se estou perdoado, quando que

    meus dedinhos vo nascer novamente?

    Quando um pas deixa maltratar e matar crianas, porque comeou seu suicdio como sociedade.

    Betinho

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 45

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    47/160

    AS LIES DE UM LPIS

    O pequeno menino olhava atentamente a sua av escrevendouma carta.

    A certa altura perguntou: Voc est escrevendo uma histria que aconteceu conosco?

    uma histria sobre mim?A av parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:

    Estou escrevendo sobre voc, verdade. Entretanto, muitomais importante do que as palavras o lpis que estou usando. Eugostaria que voc fosse como ele, quando crescesse e se torna-se um

    belo rapaz.O menino olhou para o lpis, extremamente intrigado e no

    viu nada de especial. Mas vov, ele igual a todos os lpis que eu j vi em minha

    vida!

    Tudo depende do modo como voc olha as coisas. H cincoqualidades nele que, se voc conseguir mant-las, ser sempre uma

    pessoa em paz com o mundo. Primeira qualidade: voc pode fazer grandes coisas, mas,

    no deve esquecer nunca que existe uma mo que guia seus passos.Esta mo ns chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo emdireo Sua vontade.

    Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que

    estou escrevendo e usar o apontador. Isso faz com que o lpis sofraum pouco, mas no final, ele est mais afiado e com uma nova ponta.Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o faro ser uma

    pessoa melhor. Terceira qualidade: o lpis permite que usemos uma borra-

    cha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir umacoisa que fizemos no necessariamente algo mau, muito pelo con-trrio, algo importante para sempre nos manter no caminho da jus-tia.

    Quarta qualidade: o que realmente importa no lpis no amadeira ou sua forma exterior, mas, a grafite que est dentro. elaque o faz escrever e desenhar. Portanto, sempre cuide daquilo queacontece dentro de voc.

    As reflexes de um sonho que no tem fim46

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    48/160

    Finalmente, a quinta qualidade do lpis: ele sempre deixauma marca por onde passa. Da mesma maneira, saiba que tudo quevoc fizer em sua vida ir deixar traos, e procure ser consciente decada ao.

    Ajudemos a criana!O bero o ponto vivo em que a educao comea a brilhar.

    Bezerra de Menezes

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 47

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    49/160

    AS PEQUENAS DDIVAS

    A famlia, constituda do pai e um filho menor era pobre, vi-vendo com os poucos recursos financeiros que o pai ganhava no tra-

    balho de vigilncia noturna.Certo dia, o pai adoeceu, ficando acamado por tempo mais

    longo do que podiam suportar suas economias.Com falta do que comer em casa, o filho pequeno saiu s ruas

    pedindo comida para ele e para o pai doente.Escondendo as lgrimas pela tristeza e pela preocupao, pas-sou o primeiro dia sem nada conseguir.

    No segundo dia, quase ao anoitecer, enquanto revirava umsaco com lixo residencial em frente a uma loja que estava encerrandoo expediente, viu se aproximar um senhor de meia idade, sorridente,com ar bondoso, que trazia nas mos uma pequena marmita, bemquentinha, que lhe ofereceu.

    Meio receoso, o menino segurou a marmita ouvindo a reco-mendao do seu benfeitor:

    Coma enquanto est quente! Muito obrigado senhor, mas, gostaria de ir com-la em casa,

    para repartir com meu pai. Disse o menino.Sorridente e paternal, o lojista perguntou-lhe:

    O que o seu pai faz em casa, enquanto voc sai por a procu-rando o que comer? Ele no trabalha?

    Trabalha sim, e muito. Mas, h dias est acamado. Comoacabou o dinheiro para comprar comida, fui obrigado a sair pedindoum pedao de po. S que no tenho recebido quase nada. Respon-deu o pequeno andarilho.

    Voc mora muito longe daqui? Continuou o bom senhor. No, no. Em pouco tempo eu chego l. E sei que a comida

    ainda estar bem quentinha. Apressou-se em dizer o menino, comolhos um pouco mais alegres.

    Quer saber, meu pequeno, eu vou at l com voc, se vocdeixar. Assim, aprendo onde voc mora e aproveito para conhecerseu pai. Que tal? Acrescentou o jovem senhor.

    O menino concordou e l se foram os dois.O quadro, com que se deparou o dadivoso lojista, ao entrar no

    As reflexes de um sonho que no tem fim48

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    50/160

    barraco, era de lastimar.No entanto, pai e filho sorriam diante do alimento, que o meni-

    no rapidamente dividiu em dois pratos e serviu logo ao chegar emcasa.

    Depois que os dois terminaram a rpida refeio, a primeiranos ltimos dois dias, o nobre comerciante despediu-se e retornou aoseu lar, prometendo voltar em breve.

    Alguns dias se passaram, quando, tambm num final de tarde,entram na loja o menino e seu pai, este um pouco mais disposto, pro-curando pelo dono.

    Vieram para agradecer, disseram jovem senhora que estavaatendendo no balco, ao tempo que queriam saber o que poderiamfazer para retribuir a ddiva da comida limpa e quentinha, que havi-am recebido dele.

    Enquanto seu pai falava com a atendente, o menino comeou ajuntar pedaos de papel que estavam no cho, quando chegou o donoda loja, marido da senhora que os atendia.

    Alegria, abraos e boa conversa. Ao se despedirem, o lojista

    olha demoradamente para o menino e lhe diz: Meu pequeno, voc no tem o que me agradecer, eu apenasfiz o que faria por um filho meu. Fico feliz de ter podido ajudar. Noentanto, se voc quiser, poder vir trabalhar comigo, ajudando-me naloja, assim, no ser preciso voc sair por a pedindo comida, caso oseu pai volte a adoecer. Que tal?

    O menino timidamente olhou para o seu pai, como a perguntarcom o olhar: e a, o que eu digo?

    O pai, discretamente lhe fez um sinal afirmativo com a cabea,sem nada falar.

    A partir da, o menino comeou trabalhar. Passado um tempo,voltou para a escola, e continuou trabalhando.

    Cresceu, tornou-se adulto e, na loja continuava a trabalhar.Sempre com muita seriedade, responsabilidade e esprito de gratido.

    Seu pai veio a falecer, devido a idade avanada.O casal de lojistas no tinha filhos. Com o tempo, chegou a

    velhice dos dois. Logo mais, a esposa tambm falecera.E aquele pequeno menino, agora j um homem, foi quem ficou

    cuidando da loja e tambm do bondoso lojista, amparando-o na ve-lhice, auxiliando-o na enfermidade, acompanhando-o no dia-a-dia,como devotado filho.

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 49

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    51/160

    E pensar que tudo comeou com um prato de comida!Uma pequena ddiva, modificando destinos.Um sorriso, um gesto de carinho, um telefonema, um abrao,

    um beijo, uma palavra de apoio e de incentivo, uma flor, um bilhete,um aceno, um bombom, um copo com gua, um pedao de po.

    Ns podemos fazer muito, com to pouco...

    Ns no podemos criar uma outra alma, mas podemosdespertar a alma que est adormecida.

    Janusz Korczak

    As reflexes de um sonho que no tem fim50

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    52/160

    AS QUATRO ESTAES

    Um homem tinha quatro filhos. Ele queria que seus filhos a-prendessem a no julgar as coisas de modo apressado, por isso, elemandou cada um em uma viagem, para observar uma parreira queestava plantada em um distante local.

    O primeiro filho foi l no inverno, o segundo na primavera, oterceiro no vero e o quarto e mais jovem, no outono.

    Todos eles partiram e quando retornaram, o pai os reuniu, epediu que cada um descrevesse o que tinham visto.O primeiro filho disse que a rvore era feia, torta e retorcida.O segundo filho disse que no, que ela era recoberta de botes

    verdes e cheia de promessas.O terceiro filho discordou; disse que ela estava coberta de flo-

    res, que tinham um cheiro to doce e eram to bonitas, que ele arris-caria dizer que eram a coisa mais graciosa que ele jamais tinha visto.

    O ltimo filho discordou de todos eles; ele disse que a rvoreestava carregada e arqueada, cheia de frutas, vida e promessas.

    O homem ento explicou a seus filhos que todos eles estavamcertos, porque eles haviam visto apenas uma estao da vida da rvo-re.

    Ele falou que no se pode julgar uma rvore, ou uma pessoa,por apenas uma estao, e que a essncia de quem ela , o prazer, aalegria e o amor que vm daquela vida podem apenas ser medidos ao

    final, quando todas as estaes esto completas.Se voc desistir quando for inverno, voc perder a promessa

    da primavera, a beleza de seu vero, a expectativa do outono.No permita que a dor de uma estao destrua a alegria de to-

    das as outras. No julgue a vida apenas por uma estao difcil. Per-severe atravs dos caminhos difceis, e melhores tempos certamenteviro de uma hora para a outra.

    A verdade jamais se torna erro pelo fato de ningum a ver.

    Mahatma Gandhi

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 51

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    53/160

    AS TRS PENEIRAS

    Um homem foi ao encontro de Scrates, levando ao filsofouma informao que julgava de seu interesse:

    Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu! Espera - disse o sbio - antes de contar-me, quero saber se

    fizeste passar essa informao pelas trs peneiras. Trs peneiras? Que queres dizer?

    Devemos sempre usar as trs peneiras. Se no as conheces,preste bastante ateno. A primeira a peneira da verdade. Tens certeza de que isso

    que queres dizer-me verdade? Bem, foi o que ouvi outros contarem. No sei exatamente se

    verdade. A segunda peneira a da bondade. Com certeza, deves ter

    passado a informao pela peneira da bondade. Ou no?

    Envergonhado, o homem respondeu: Devo confessar que no. A terceira peneira a da utilidade. Pensaste bem se til o

    que vieste falar a respeito do meu amigo? til? Na verdade, no. Ento - disse-lhe o sbio - se o que queres contar-me no

    verdadeiro, nem bom, nem til, ento melhor que o guardes apenaspara ti.

    Antes de comear a criticar os defeitos dos outros,enumere ao menos dez dos teus.

    Abraham Lincoln

    As reflexes de um sonho que no tem fim52

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    54/160

    AUXLIO MTUO

    Em zona montanhosa, atravs de regio deserta, caminhavamdois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se quanto

    possvel contra os golpes do ar gelado e de intensa tempestade, quan-do foram surpreendidos por uma criana semi-morta na estrada, aosabor da ventania de inverno.

    Um deles, fixou o singular achado e exclamou, irritadio:

    No perderei tempo! A hora exige cuidado para comigomesmo. Sigamos frente.O outro, porm, mais piedoso, considerou:

    Amigo, salvemos o pequenino. nosso irmo em humanida-de.

    No posso, disse o companheiro endurecido. Sinto-me can-sado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportvel. Preci-samos chegar aldeia prxima sem perda de minutos. E avanou

    para adiante em largas passadas.O viajante de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o

    menino estendido, demorou-se alguns minutos, colando-o paternal-mente ao prprio peito, e aconchegando-o ainda mais, marchou adi-ante, embora mais lentamente.

    A chuva gelada caiu metdica pela noite adentro, mas ele, am-parando o valioso fardo, depois de muito tempo, atingiu a hospedariado povoado que buscava.

    Com enorme surpresa, porm, no encontrou o colega que ha-via seguido na frente.

    Somente no dia seguinte, depois de minuciosa procura, foi oinfeliz viajante encontrado j sem vida numa vala do caminho com-

    pletamente alagado.Seguindo a pressa e a ss, com a idia egosta de preservar-se,

    no resistiu a onda de frio que se fizera violenta e com o aumento daintensidade da chuva, tombou encharcado, sem recursos com que

    pudesse fazer face ao congelamento.Enquanto que o bondoso companheiro, recebendo em troca o

    suave calor da criana que sustentava junto do prprio corao, supe-rou os obstculos da noite frgida, salvando-se de semelhante desas-tre.

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 53

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    55/160

    Descobrira a sublimidade do auxlio mtuo. Ajudando o meni-no abandonado, ajudara a si mesmo. Avanando com sacrifcio paraser til a outrem, conseguira triunfar dos percalos do caminho, al-canando as bnos da salvao recproca.

    As atitudes so muito mais importantes do que os fatos.

    Alexander Fleming

    As reflexes de um sonho que no tem fim54

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    56/160

    CENOURAS, OVOS E CAF

    Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como ascoisas estavam difceis para ela.

    Ela j no sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava can-sada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estavaresolvido um outro surgia.

    Seu pai, um chef, levou-a at a cozinha dele. Encheu trs

    panelas com gua e colocou cada uma delas em fogo alto.Logo, as panelas comearam a ferver. Numa ele colocou ce-nouras, noutra colocou ovos e na ltima, p de caf. Deixou que tudofervesse, sem dizer uma palavra.

    A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginan-do o que ele estaria fazendo.

    Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gs.Pescou as cenouras e colocou-as numa tigela. Retirou os ovos e colo-

    cou-os em outra tigela. Ento pegou o caf com uma concha e colo-cou-o numa xcara.

    Virando-se para ela, perguntou: Querida, o que voc est vendo? Cenouras, ovos e caf - ela respondeu.Ele a trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as

    cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias.Ento, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obe-

    deceu e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera coma fervura.

    Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do caf. Elasorriu ao provar seu aroma delicioso.

    Ento, ela perguntou humildemente: O que isto significa, pai?Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma ad-

    versidade, gua fervendo, mas, que cada um reagira de maneira dife-rente.

    A cenoura entrara forte, firme e inflexvel. Mas, depois de tersido submetida gua fervendo, ela amolecera e se tornara frgil.

    Os ovos eram frgeis. Sua casca fina havia protegido o lquidointerior. Mas depois de terem sido colocados na gua fervendo, seu

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 55

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    57/160

    interior se tornou mais rijo.O p de caf, contudo, era incomparvel. Depois que fora co-

    locado na gua fervente, ele havia mudado a gua. Qual deles voc? - ele perguntou sua filha.Quando a adversidade bate sua porta, como voc responde?Voc uma cenoura, um ovo ou um p de caf?

    S h duas maneiras de viver a vida: a primeira viv-lacomo se os milagres no existissem. A segunda

    viv-la como se tudo fosse um milagre.

    Albert Einstein

    As reflexes de um sonho que no tem fim56

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    58/160

    CONSTRUINDO PONTES

    Dois irmos, que moravam em fazendas vizinhas, separadasapenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira desaven-a em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas, agora tudo haviamudado. O que comeou com um pequeno mal entendido, explodiunuma troca de palavras rspidas, seguidas por semanas de silncio.

    Numa manh, o irmo mais velho ouviu baterem na sua porta.

    Ao abri-la, notou um homem com ferramentas de carpinteiro. Estou procurando trabalho - disse ele - talvez voc tenhaalgum servio para mim.

    Sim, claro! - disse o fazendeiro - v aquela fazenda ali, almdo riacho? do meu vizinho. Na realidade do meu irmo mais novo.

    Ns brigamos e no posso mais suport-lo. V aquela pilha de ma-deira ali no celeiro? Pois a use para construir uma cerca bem alta.

    Acho que entendo a situao - disse o carpinteiro.

    O irmo mais velho entregou o material necessrio para a obrae foi para a cidade. O homem ficou ali trabalhando o dia inteiro.Quando o fazendeiro chegou, no acreditou no que viu: em vez dacerca, uma ponte fora construda, ligando as duas margens do riacho.Era um belo trabalho, mas, o fazendeiro ficou enfurecido e falou:

    Voc foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo quelhe contei.

    Mas, as surpresas no pararam a. Ao olhar novamente para a

    ponte viu seu irmo se aproximando de braos abertos. Por um ins-tante permaneceu imvel do seu lado do rio. Mas, de repente, num simpulso, correu na direo do outro e abraaram-se no meio da pon-te. Enquanto isso, o carpinteiro que fez o trabalho ia partindo.

    Espere, fique conosco! Disse o irmo mais velho.E o carpinteiro respondeu:

    Eu adoraria, mas tenho outras pontes para construir.

    No se deve interromper o dilogo, porque muitas vezes,o silncio, envenena as relaes.

    Roberto Marinho

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 57

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    59/160

    DANDO O MELHOR

    Muitas coisas se falam a respeito de Beethoven. O fato de tercomposto extraordinrias sinfonias, mesmo aps a total surdez, sempre recordado.

    Exatamente por causa de sua surdez, ele era pouco socivel.Enquanto pde, escondeu o fato de sua audio estar comprometida.Evitava as pessoas, porque a conversa se lhe tornara uma prtica dif-

    cil e humilhante. Era o atestado pblico da sua deficincia auditiva.Certo dia, um amigo de Beethoven foi surpreendido pela mor-te sbita de seu filho. Assim que soube, o msico correu para a casadele, pleno de sofrimento.

    Beethoven no tinha palavras de conforto para oferecer. Nosabia o que dizer. Percebeu, contudo, que num canto da sala haviaum piano.

    Durante 30 minutos, ele extravasou suas emoes da maneira

    mais eloqente que podia. Tocou piano. Ao contato dos seus dedos,as teclas acionadas emitiram lamentos e melodiosa harmonia de con-solo.

    Assim que terminou, ele foi embora. Mais tarde, o amigo co-mentou que nenhuma outra visita havia sido to significativa quantoaquela.

    Na ausncia de palavras, Beethoven deixou que falassem osseus mais sinceros sentimentos.

    No existe verdadeira inteligncia sem bondade.

    Ludwig van Beethoven

    As reflexes de um sonho que no tem fim58

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    60/160

    DEFICINCIAS

    Voc realmente sabe o que uma pessoa deficiente?Pois, aqui vo algumas definies interessantes:Deficiente - aquele que no consegue modificar sua vida,

    aceitando as imposies de outras pessoas ou da sociedade em quevive, sem ter conscincia de que dono do seu destino.

    Louco - quem no procura ser feliz com o que possui.Cego - aquele que no v seu prximo morrer de frio, de

    fome, na misria, infeliz e s tem olhos para seus mseros problemase pequenas dores.Surdo - aquele que no tem tempo de ouvir um desabafo de

    um amigo ou o apelo de um irmo, pois, est sempre apressado parao trabalho e quer garantir seus tostes no fim do ms.

    Mudo - aquele que no consegue falar o que sente e se es-conde por trs da mscara da hipocrisia.

    Paraltico - quem no consegue andar na direo daqueles

    que precisam de sua ajuda.Diabtico - quem no consegue ser doce.Ano - quem no sabe deixar o amor crescer.E, finalmente, a pior das deficincias ser miservel, pois:Miserveis - So todos aqueles que no conseguem estender a

    mo aos mais necessitados, abandonados e infelizes.

    Falando ou silenciando, sempre possvel fazer algum bem.

    Chico Xavier

    ONG Projetos sociais meu sonho no tem fim 59

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    61/160

    DUAS CRIANAS

    Conta certa lenda, que estavam duas crianas patinando numlago congelado. Era uma tarde nublada e fria, e as crianas brinca-vam despreocupadas.

    De repente, o gelo se quebrou e uma delas caiu, ficando presana fenda que se formou. A outra, vendo seu amigo preso e se conge-lando, tirou um dos patins e comeou a golpear o gelo com todas as

    suas foras, conseguindo por fim, quebr-lo e libertar o amigo.Quando os bombeiros chegaram, e viram o que havia aconteci-do, perguntaram ao menino:

    Como voc conseguiu fazer isso? impossvel que tenhaconseguido quebrar o gelo, sendo to pequeno e com mos to fr-geis!

    Nesse instante, um ancio que passava pelo local comentou: Eu sei como ele conseguiu.

    Todos perguntaram: Pode nos dizer como?E respondeu o idoso: simples, no havia ningum ao seu redor para lhe dizer

    que no seria capaz.

    No h barreiras que o ser humano no possa transpor.

    Helen Keller

    As reflexes de um sonho que no tem fim60

  • 7/23/2019 Livro_ONG.pdf

    62/160

    DUVIDANDO DA EXISTNCIA DE DEUS

    Um homem foi cortar o cabelo e a barba. Como sempre acon-tece, ele e o barbeiro ficaram conversando sobre vrias coisas, atque por causa de uma notcia de jornal sobre meninos abandonados

    o barbeiro afirmou: Como o senhor pode ver, esta tragdia mostra que Deus no

    existe.

    Como? Indagou o cliente. O senhor no l jornais? Temos tanta gente sofrendo, crian-as abandonadas, crimes de todo tipo. Se Deus existisse, no haveriasofrimento.

    O cliente ficou pensando, mas, o corte estava quase no fim, eresolveu no prolongar a conversa. Voltaram a discutir temas maisamenos, o servio foi terminado, o cliente pagou e saiu.

    Entretanto, a primeira coisa que viu foi um mendigo, com bar-

    ba de muitos dias e longos cabelos desgrenhados. Imediatamente,voltou para a barbearia e falou para o barbeiro que o atendera:

    Sabe de uma coisa? Os barbeiros no existem. Como no existem? Eu estou aqui e sou barbeiro. No existem! Insistiu o homem. Porque, se existissem, no

    haveria pessoas c