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Llamado a los malos poetas

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ESTE PEQUENO LIVRETO BINÁRIO TRATA DA ALFORRIA DOS REJEITADOS TODAS AS POESIAS PRESENTES AQUI FORAM DESCARTADAS PELO AUTOR E PERMANECERAM ASSIM, AMASSADAS NO FUNDO DAS GAVETAS ESQUECIDAS ELE AINDA AS CONSIDERA O PIOR DE SUA BREVE OBRA POR ISSO SUA CONDENAÇÃO IMPRESCINDÍVEL AO CHAMADO NECESSÁRIO DE RODOLFO FOGWILL

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ESTE PEQUENO LIVRETO BINÁRIO

TRATA DA ALFORRIA DOS REJEITADOS

TODAS AS POESIAS PRESENTES AQUI

FORAM DESCARTADAS PELO AUTOR

E PERMANECERAM ASSIM, AMASSADAS

NO FUNDO DAS GAVETAS ESQUECIDAS

ELE AINDA AS CONSIDERA

O PIOR DE SUA BREVE OBRA

POR ISSO SUA CONDENAÇÃO

IMPRESCINDÍVEL

AO CHAMADO NECESSÁRIO

DE RODOLFO FOGWILL

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Daquilo que já foi

Um dia

nossa noite já foi dia

nossa prosa, poesia

nosso samba, rockstar.

Lupicinio

por meus lábios assovia

inda longe do mar

pampeano

aos pobres moços intangível judiaria

mas na camiseta sandinista

look here

what d’you think you’re

gonna be doing next year.

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Sabina

da nossa distorção el mediodía

inssurecto grito nas jovens tardes de rebeldia

um refrão que era nosso

e ninguém sabia

cantar.

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me dê a mão

vamos dançar na beira do penhasco

não precisamos mais chorar

o que foi

e o futuro está no próximo passo

nosso cadafalso para todo

sempre

lá embaixo

as incertezas e os medos

perdem as cores nas lentes do ar

pousa seus dedos em meus ombros e sente

os meus

firmes

na sua cintura

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rodopiamos de olhos fechados e sussurro

em nossa história

a canção da morte

eu só quero beijar seus lábios quando cair

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O que há do outro lado da tragada?

têm olhos de jornal

obviamente familiar

enxerga manchetes andando vivas e queimando

dúvidas e desesperanças

de pedra rolada do concreto da cidade de concreto

cimento e aço duro

reerguerão um novo futuro

segundo havia lido ontem

ficaria no lugar que desabito

onde se esconde o homem perdido

pela chama em plástico de açoite

e cicatriz de tinta negra

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espreita entre todas as escolhas de merda

existência de nada

uma geração e meia na mesma calçada

para agora seguir como manada a fuga

dos derrotados que somos

esquecidos pelo caminho

que dizia felicidade

e já não importa

para alguns ódio

para outros piedade

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Haverá um depois depois de nós

nascemos estrela e morreremos buraco negro

e então

já bastante humano

confundirá gravidade com egoísmo

e solitário esfriará conosco

no maior de todos os invernos

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se não soubesse o sentido da vida – a existência da

palavra vida – se não houvesse a palavra sentido – o

sentido da palavra vida – se nem imaginasse a

existência da palavra existência – se não fizesse

sentido a palavra sentido – nem a existência no

sentido da palavra vida – este é o dilema do átomo

Page 12: Llamado a los malos poetas

É muito louco

sentir como ela sai

sem medo

pela ponta dos meus dedos

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a pior poesia que já escrevi

justo eu que sempre disse

de peito estufado e otimista

que se apaixonar é fácil

instinto simples

como estava enganado

percebo agora

profundamente triste

quando te espero

às vezes te busco

noutras te escuto

num sussurro te sonho

meu amor

seria nosso o romance do desencontro?

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sempre imaginei-a

revelando-se

arrebatadora e surpreendente

mas de repente

tudo isso se tornou somente

ensejo rápido

de um verso patético, infeliz e inocente

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acordo com sono discordo como um amanhã

em nosso amanhã

acendo o cigarro e sinto o gosto louco dos porquês

peco pouco e escarro na sorte da noite

era dia quando ela me fez

esquecer de te levar

pro céu da minha história

atrita agora essas duas rochas vadias

que palpitam e sangram

e nas faíscas dessas horas

dessas fodas

nessa brasa

esquenta teu peito

no fogo alto de nossos corpos

queima a última fogueira

do depois

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O Amor em Dois Atos

O Primeiro Amor: fodeu, amor, fodeu, tu e eu, deu,

amor, deu, tu e eu, amor, fodeu.

Amor Segundo o Amor: me dá carinho, caralho,

latejando, eu to carente, daqueles lábios, sugando,

teu carinho, meu caralho.

Page 18: Llamado a los malos poetas

Rente a palavras busco estrelas

entre estrelas busco palavras

junto palavras busco estrelas

junto estrelas e não leio palavras

voo em palavras entre estrelas

condeno estrelas ao contorno das palavras

curiosamente palavras e estrelas

têm algo em comum: nós

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Amiga

Para Natália Palhares

estou com vontade de lembrar de você

você que ama: mas não a mim

você que é: de vez em quando

porém triste, muito triste

com leminski num copo de vodca

dois dedos amargos de nossos idos de escola

bons tempos, me diz

os piores, contesto

você: admirada pelos padres

a mocidade cristã

entre os mais populares

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eu: discos do nirvana

legião urbana

poetas malditos

os primeiros porres

e gramas de maconha

os anos e a distância borraram-nos muito

mas quando penso naquele começo de milênio

só me sobra a vontade

dos seus olhos verdes de amizade

nos meus platônicos e selvagens

que hoje em mim já não reconheço

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15/06/2004 – 0h14

queria voar por entrelinhas, ambígua, caretas. não

poesia retilínea, estúpida pretensão que obriga à

rima, imperfeita, suburbana, subversiva – ah,

profana. a cafonice é tão bela quando se está

apaixonado, loucuras parecem escritas em diários,

tudo devidamente assinado, para contrariar-nos por

aquilo que parece deliciosamente oficioso. no sono

que vem vindo, pela noite que só espera pra passar,

o dia de ponto insiste, teimoso em retornar. de pé

cedo amanhã, pois poesia também se faz de amanhã

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as livres possibilidades do amor

ele ela ele ela ele ela

ele ela ela ele ele ela

ele ele ele ela ele ela

ele ela ela ela ele ela

eleelaelaeleeleeleelaela

ela ele ele ela ela ela

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[confesso:não me basto]

[há algo em alguém que preciso]

[e só pode ser-me dado]

[há algo em alguém:insisto]

[que deseja ser conquistado]

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o sol insurge contra as fronteiras dos incontinentes

rompem das sombras das serras os seres

que compartilham escuridão à ribeira

dos montes de terra arrasada onde

é preciso ensolarar-se!

poeta de baixo

de libertários dedos

e proletárias penas

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mirada molenga de nega faceira

que dengosa se achega

com cheiros no pescoço

estala nos beiços o som do beijo que é só nosso

choramos juntos

imigrante e escrava

numa bárbara terra miscigenada por tantos

deuses, macumbas, santos

e os mesmos malditos senhores do engenho

de antes

de logo há pouco

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… e as únicas réstias

que suas retinas capturavam

eram os pingos suados que despencavam

salgados do suor das paredes de seu mundo.

Mirava alguém sem cheiro

o cheiro de alguém sem nome

o nome de alguém sem lágrimas.

O Sindicato dos Egoístas.

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A instituição

que perpetuou

tamanha obliquidade

agora parte de suas entranhas

o tórrido envolvia seu tronco

ora sentido nublado que se refestela suave

pelas vísceras solitárias de outrem e outrora.

:Um som familiar:

:O apito anuncia a ração:

.Meio copo de sêmen ainda morno e um colhão crú.

Já distinguia entre os bagos dos bravos

e dos covardes. De jovens, crianças e adultos.

Tudo depende da temperatura do sangue

e a coagulação quando envolve a língua.

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O esperma, sente da mesma forma

Colheita de bestas raivosas

em tom aperolado de creme azedo

durante a florada de cinzas

escorrendo nas bordas da garganta

dos entes e dos idos breves

quando não se agarra aos dentes

cemitérios entre os frontes

como tudo que lhe saboreia a alma

da contenda dos contentes

no desjejum de orifícios e de carne quente.

ao longo de disparos cegos e solidários.

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Primeiro fora uma sutil sensação de formigamento

que veio sugando-lhe os ossos e emaranhando as

ideias.

Foi lançado à mordaça nas cavernas cindidas

pelos canhões de angustia e desilusão...

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Lírios ou Rosas

quando abrir sua cortina

e mostrar ao mundo seu jardim de lírios

antes tenras rosas ruivas

chama no encosto da janela

os segundos largos

mergulhados na sutileza

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a sós

e silenciosa

uma gota

antes geada

tateia a pétala

de

li

za

e

s

c

o

r

r

e

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IBIS REDIBIS NON PERIBIS IN ARMIS

algo de errado está errado nalgum lugar estranho

em todas as partes em todos os mitos

as espadas brandem as pedras partem

marés em gritos

os olhares se cruzam como lanças no escuro

dementes rogam diferentes lutos

o sangue se espalha a mente se engaja

tribulam-se almas em neblina e sal

surpresas esperam presentes rotineiros

bocas aflitas emudecem ainda mais

a dor aloja-se nas gerações com medo

talvez sonhos ainda busquem cais

procurando farelos entre migalhas

desvendado cinzas queimadas

e o que foi nada um dia de repente corrompeu

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tateio nos passos do deserto

entre tatos batalhões e exércitos

os vestígios do que ainda resta

das estátuas deportadas a força

esculpidas em carne e osso

movimentos perdidos alertam

há um presente que chega de longe

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de um tempo biologicamente estéreo

ruflam asas historicamente espessas

não se contempla o cronômetro

que nos tornamos

como abstrato que passa

se por si

não passa

igual aqui

e a um metro de mim

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preciso saber qual foi meu erro

talvez eu erre tanto assim

disputando espaço com meu passos

no escuro da solidão que acalma

meu oceano procura algum mar

ou qualquer estrela que por tristeza

desaprendeu a brilhar

não é imaturidade essa minha irresponsabilidade

é desânimo

pois o dono da verdade tem certeza que a teimosia

não compensa

e sequer tentou me convencer

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vivo preocupado em não me preocupar

me pego pensando e faço o que vai dando

sem reclamar

por enquanto

manchei os anéis de saturno

espalhei todos no chão

olhei marte pelo avesso

tomei banhos de sol de plutão

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lobos camuflados rosnam ao meu lado e vão

misteriosos sem avisar sobre o alinhamento

caótico de cada posição e aquele silêncio mórbido e

a sua ingratidão que então revida pelo ontem o que

lamento integro era antes mártir e não tardaria

incrédulo aos que lhe tentam quando piso entediado

em teu nome e resgato indecisão em piedade num

insulto que aqui deixastes qual a benção que

veneras tarde mas não tarda pois inquietos gritam

por deslumbre já chega arbitrária em teus contrastes

que reges em orquestras quando regas mortalhas e

repudia a ânsia promiscua que vai sepultar no penão

de serpente a gritar rijo e ardente suas sombras a

clamar horrores estalando cedo as mágoas

arrastadas a correntes de pó que silencia teu pranto

pois não honrastes tua corja amada e nem agora

ouve os ecos de tua história soar

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no nosso peito bate um órgão muito falso

e no nosso corpo a defesa é tão frágil

pele corada mas doentia

sorriso mordo de rotina

rosto e fadiga já se completam

é tal a lonjura de seu olhar

o infinito é só uma esperança

estúpida o suficiente para confortar

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.um fantasma ronda a poesia.

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Minha mão está seca

e meus lábios também

nada adianta

sequer sêmen de desdém

vou tirar meus bagos

e te dar pra adubo

ser popular com cereal de hormônio

tomando laxante pra cagar o coração

debaixo da sua cama

adiantando a pulsação

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Teoria Antropocêntrica das Imagens Enluaradas

bocas movidas à pilha

esperanças queimando em velas de sétimo dia

espirros de suor e peitos de aço

cartas em latim arcaico

sobre castelos de papel líquido

e seus filósofos-reis analfabetos

para-raios no chão e espelhos em espadas

o ar sente-se livre embriagado

a venda de indulgências está novamente na moda

mas agora com passaporte e carimbo

a democracia burguesa é a nova simonia da plebe

sempre foi assim

poeira e deserto flutuando no concreto

religiões complexas e seus lençóis de histeria

estaca aberta no braço

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alcança

arde e repudia

está no pântano

no pântano de estranhos

e também na arca

na arca incendiada

parece câncer crescendo em prantos

parece unha calejada

está chorando

vê!

mas não sente nada

enlouquece!

segue lenta e embalsamada

a alma que enfim

bateu em retirada

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precisa-se urgentemente de água potável, telhas,

fraudas, madeira, roupas e alimentos não-

perecíveis como arroz, feijão, fubá, amor...

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das rupturas distorcidas desta realidade morta

os devaneios sinceros do absurdo

elementos distintos conjugados contraditórios

convergem num horizonte comum

necrosado nos traços ideais

controversos e putrefatos

como a memória

espada que retalha

e o sonho

doença mal curada

então a lágrima é o grito de resistência

ou de esperança

nunca

nunca ambas

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olhos lameados

insistentes no olhar

sob o prisma um tanto aquoso

num lacrimejar nebuloso

pelas ambições de antes

e de jamais

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só, curtindo minha estratégia estúpida do flerte

frente à melancolia, o sabor doce da decepção, eu

sei, é uma paixão por dia, daquela que desafia a

constância fria, e má, da vida, desavisada, vazia e

regrada, marca rasgada na alma, negativa vazão na

carne, pletora das minhas veias, pulsa a cor

pessimista, que parte de sua vista, até o mórbido

anseio insistente, quer tornar-se novamente, ato da

vida matando a vida, e das letras, cantando mortes

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ARTE DA CAPA POR BIBI MONTEIRO

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