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UMA CASA NA GRANDE FLORESTA LAURA INGALLS WILDER

L.L.W 1 Uma Casa Na Floresta

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UMA CASA NA GRANDE FLORESTA

LAURA INGALLS WILDER

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Era uma vez, há sessenta anos, uma menina pequenina que morava naGrande Floresta do Wisconsin, numa casinha cinzenta feita de troncos de árvores.

 A toda a volta da casa erguiam-se as grandes e escuras árvores da GrandeFloresta e, para lá delas, havia outras árvores, e depois mais outras. Em toda adistância que um homem podia percorrer para norte, num dia, ou numa semana, ounum ms inteiro, s! havia florestas, mais nada. "#o havia casas. "#o havia

estradas. "#o havia pessoas. $! havia árvores e os animais que viviam no meiodelas.

"a Grande Floresta viviam lo%os, ursos, e tinham tocas nos montes epastavam gamos por toda a parte.

 &A'()*+

 *A &A$A "A G/A"0E F+/E$)A

 A leste da casinha de troncos, e tam%1m a oeste, havia quil2metros equil2metros de árvores e s! umas poucas casinhas de troncos, muito afastadasumas das outras, na %eira da Grande Floresta.

 At1 onde a menina pequenina conseguia ver, s! havia a casinha onde elamorava com o pai e a m#e, a sua irm# aria e &arrie, a %e%e. 0iante da casa haviaum caminho para carro3as, que virava e curvava at1 se perder de vista nas florestasonde viviam os animais selvagens, mas a menina pequenina n#o sa%ia aonde ocaminho conduzia nem o que poderia haver no seu fim.

 A menina pequenina chamava-se +aura e tratava o pai por 'á e a m#e por #. "aquele tempo e naquele lugar, as crian3as n#o diziam 'ai e #e, nem am# e

'apá, como agora. 4 noite, quando estava acordada na cama - que se chamava cama %ai5a,porque de dia estava metida de%ai5o da alta, dos pais -, +aura punha-se 6 escuta,mas s! conseguia ouvir o som das árvores a sussurrar umas com as outras. 4svezes, um lo%o uivava, muito longe, na escurid#o. 0epois apro5imava-se e uivavade novo.

Era um som que assustava. +aura sa%ia que os lo%os eram capazes decomer meninas pequenas. as ela estava em seguran3a, no interior das s!lidasparedes de troncos. A espingarda do pai estava pendurada por cima da porta, dianteda qual o velho 7ac8, o %uldogue malhado, montava guarda. pai dizia9

- 0orme, +aura. 7ac8 n#o dei5a entrar os lo%os.

- E +aura aninhava-se de%ai5o da roupa da cama, muito chegadinha a aria,e adormecia.*ma noite, o pai foi %uscá-la 6 cama e levou-a ao colo para a :anela, para que

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visse os lo%os. Estavam dois sentados defronte da porta. 'areciam c#es de ploeri3ado. Apontavam o focinho para a +ua grande e luminosa e uivavam.

7ac8 andava de um lado para o outro, diante da porta, a rosnar. )inha o plodas costas eri3ado e arreganhava os dentes pontiagudos e amea3adores aos lo%os.

Estes uivavam, mas n#o podiam entrar. A casa era confortável. Em cima havia um s!t#o espa3oso, onde eraagradável %rincar quando a chuva tam%orilava no telhado. Em %ai5o havia o quartopequeno e a sala grande. quarto pequeno tinha uma :anela com portas demadeira. A sala grande tinha duas :anelas com vidros e duas portas, a principal e ade servi3o.

 A toda a volta da casa havia uma cerca irregular, para n#o dei5ar entrar osursos e os gamos.

"o pátio da frente havia dois grandes e %onitos carvalhos. )odas as manh#s,assim que acordava, +aura ia a correr espreitar pela :anela. *ma manh# viu, emcada uma das árvores, um veado morto, suspenso de um ramo.

pai matara-os com a espingarda, no dia anterior, e +aura :á estava a dormir quando ele os trou5era para casa e os pendurara nas árvores, %em alto, para que oslo%os n#o chegassem 6 carne.

"esse dia, a fam;lia comeu carne fresca de veado ao almo3o. Era t#o %oaque +aura teve pena de n#o a poderem comer toda. as a maior parte tinha de ser salgada, fumada e guardada, para a comerem no nverno.

$im, porque o nverno estava 6 porta. s dias tinham-se tornado mais curtose, 6 noite, a geada amarinhava pelos vidros das :anelas acima. "#o tardaria a nevar.Ent#o a casa de troncos ficaria quase enterrada nos montes de neve que seacumulariam aos seus lados e os rios e o lago gelariam. "o tempo muito frio, o pain#o tinha a certeza de encontrar ca3a para comerem.

s ursos estariam escondidos nas suas cavernas, onde dormiriamprofundamente todo o nverno. s esquilos estariam enroscados nos seus ninhosnas árvores ocas, com a cauda felpuda %em aconchegadinha 6 volta do focinho. sgamos e os coelhos mostrar-se-iam assustadi3os e velozes. as mesmo que o paiconseguisse ca3ar um veado, seria escanzelado e magro, e n#o gordo e anafadocomo no utono.

pai podia andar 6 ca3a todo o dia na Grande Floresta co%erta de neve, comum frio de rachar, e voltar 6 noite para casa sem nada para a m#e, aria e +auracomerem.

'or isso, antes de o nverno chegar, tinham de guardar na casinha de troncos

a maior quantidade poss;vel de comida. pai esfolou os veados cuidadosamente e salgou e esticou as peles, dasquais faria ca%edal macio. 0epois cortou a carne e foi salpicando de sal os %ocados,que colocava numa tá%ua.

0e p1, no pátio, havia uma por3#o grande do tronco de uma enorme árvoreoca. pai pregara-lhe pregos no interior, o mais longe que conseguira alcan3ar decada e5tremidade. 0epois pusera o tronco de p1, co%rira-o com um telhadinho ea%rira uma portinha a um lado, pr!5imo do fundo. &olocara gonzos de couro noretângulo que cortara, depois prendera-os tam%1m ao tronco e, pronto, estava feita aportinha, ainda com a corti3a agarrada.

<uando a carne do veado estava salgada havia diversos dias, o pai a%riu um

%uraco :unto da ponta de cada %ocado e enfiou um cordel no %uraco. +aura viu-ofazer isso e, depois, pendurar a carne nos pregos do interior do tronco oco.Enfiava a m#o pela portinha e pendurava a carne nos pregos, o mais alto que

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chegava. 0epois encostou uma escada ao tronco, su%iu-a, afastou o telhado paraum lado e de%ru3ou-se para o interior, para continuar a pendurar a carne nospregos.

Em seguida p2s outra vez o telhado no seu lugar, desceu a escada e disse a

+aura9 - =ai a correr ao cepo da lenha e traz-me alguns daqueles cavacos denogueira verde que lá est#o> mas escolhe-os novos, limpos e %rancos.

+aura foi numa corrida ao cepo onde o pai partia a lenha e encheu o aventalde cavacos novos e perfumados.

pai acendeu uma fogueirinha logo 6 entrada da portinha, com %ocadinhosde corti3a e musgo, e depois colocou-lhe em cima alguns dos cavacos, com muitocuidado.

Em vez de arderem depressa, os cavacos verdes ficaram amodorrados eencheram o tronco oco de fumo espesso e sufocante. pai fechou a porta e pelafresta 6 volta dela saiu um fumozinho, assim como pelo telhado, mas a maior parte

ficou lá dentro, com a carne.- "#o há nada melhor do que %om fumo de nogueira - afirmou o pai. - =ai

fazer %oa carne de veado, que se conservará em %om estado se:a onde for e comqualquer tempo.

0epois pegou na espingarda, p2s o machado ao om%ro e dirigiu-se para aclareira, a fim de derru%ar mais algumas árvores.

+aura e a m#e tomaram conta do lume durante vários dias. <uando dei5avade sair fumo pelas frestas, +aura ia %uscar mais cavacos de nogueira e a m#epunha-os na fogueirinha, de%ai5o da carne. ?avia sempre um cheirinho a fumo nopátio e, quando a porta se a%ria, sa;a um odor forte a carne fumada.

'or fim, o pai disse que a carne de veado :á estivera a fumar temposuficiente. 0ei5aram ent#o apagar-se o lume e o pai tirou todos os %ocados de carneda árvore oca. A m#e em%rulhou cada %ocado em seu papel, muito %emem%rulhadinho, e pendurou-os no s!t#o, onde se conservariam secos e emseguran3a.

*ma manh#, o pai saiu, antes de clarear, com o carro e os cavalos e voltou 6noite carregado de pei5e. A grande cai5a do carro estava cheia e alguns dos pei5eseram do tamanho de +aura. pai tinha ido ao lago 'epin e pescara-os com umarede.

 A m#e cortou grandes postas de pei5e %ranco, de lasca, sem uma @nicaespinha, para +aura e aria. /egalaram-se todos com o %om pei5e fresco, e o que

n#o comeram foi salgado em %arricas, para o nverno. pai tinha um porco, que andava 6 solta na Grande Floresta, a alimentar-sede %olotas, nozes e ra;zes. Foi %uscá-lo e meteu-o numa pocilga feita de troncos,para engordar. $eria morto assim que estivesse frio suficiente para conservar acarne gelada.

*ma vez, no meio da noite, +aura acordou e ouviu o porco a guinchar. paisaltou da cama, tirou a espingarda da parede e correu para fora de casa. +auraouviu a arma disparar uma, duas vezes.

<uando voltou, o pai disse o que tinha acontecido9 vira um grande urso negrode p1 :unto da pocilga. urso metia a pata na pocilga, para apanhar o porco, e oporco fugia, aos guinchos. pai viu isso tudo 6 luz das estrelas e disparou logo.

as a luz era fraca e, com a pressa, ele falhara a pontaria e o urso fugira para afloresta, sem uma %eliscadura.+aura ficou com pena de o pai n#o ter acertado no urso. Gostava tanto de

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carne de urso pai tam%1m teve pena, mas disse9 - 'elo menos, salvei o porco. A horta atrás da casinha crescera todo o ano. Estava t#o perto da casa que

os gamos n#o saltavam a cerca para comer as hortali3as, durante o dia, e 6 noite

7ac8 mantinha-os 6 distância. 4s vezes, de manh#, havia pequenas pegadas entreas cenouras e as couves. as as de 7ac8 tam%1m lá se viam e os gamos quetinham entrado tinham voltado logo a sair.

 Apanharam-se as %atatas e as cenouras, as %eterra%as, os na%os e ascouves, e arrumaram-se na cave, pois tinham chegado as noites frias, que gelavamtudo.

Fizeram compridas r1stias de ce%olas, com a rama entran3ada, ependuraram-nas no s!t#o, ao lado de enfiadas de pimentos vermelhos suspensosde cordas. s diversos tipos de a%!%oras foram amontoados, em rimas cor delaran:a, amarelas e verdes, aos cantos do s!t#o.

 As %arricas de pei5e salgado estavam na despensa, em cu:as prateleiras se

encontravam empilhados quei:os amarelos. At1 que um dia o tio ?enrique veio a cavalo da Grande Floresta para a:udar o

pai na matan3a do porco. A faca de carniceiro da m#e :á estava muito %em afiadinhae o tio trou5era a da tia 'ollB.

pai e o tio ?enrique acenderam uma fogueira perto da pocilga e aqueceramum grande caldeiro de água. <uando a água estava a ferver, foram matar o porco.Ent#o +aura foi a correr esconder a ca%e3a na cama e tapar os ouvidos com osdedos, para n#o ouvir os grunhidos do animal.

- "#o lhe d!i, +aura - disse-lhe o pai -, Fazemo-lo muito depressa. - as,mesmo assim, +aura n#o o queria ouvir grunhir.

'assado um minuto, tirou cautelosamente um dedo do ouvido e escutou. porco :á dei5ara de grunhir. 0epois disso, a matan3a era uma coisa muito divertida.

Era um dia muito atarefado, com muito que ver e que fazer. pai e o tio?enrique eram muito engra3ados e haveria entrecosto para o almo3o. Al1m disso, opai prometera a %e5iga e o ra%o do porco a +aura e a aria.

0epois de matarem o porco, o pai e o tio ?enrique pegaram-lhe e foram-nometendo e tirando da água a ferver, at1 ficar %em escaldado. Em seguida,estenderam-no numa tá%ua e rasparam-no com as facas, para sa;rem todas ascerdas. 0epois disso, suspenderam-no de uma árvore, tiraram-lhe as entranhas edei5aram-no pendurado, a arrefecer.

<uando estava frio, tiraram-no da árvore e cortaram-no. ?avia presuntos e

pás, lom%o, entrecosto e %arriga. ?avia tam%1m o cora3#o, o f;gado e a l;ngua, aca%e3a para fazer galantina e o alguidar cheio de %ocadinhos diversos, para fazer enchidos.

 A carne foi colocada numa tá%ua, no telheiro das traseiras, e %em salpicadade sal. s presuntos e as pás ficaram em salmoura, pois seriam fumadas, como acarne do veado, no tronco oco.

- "#o há nada melhor do que presunto curado com fumo de nogueira -garantiu o pai.

Estava a encher a %e5iga do porco. <uando ficou transformada num pequeno%al#o, atou %em a a%ertura com um cordel e deu-a a aria e a +aura, para%rincarem. 'odiam atirá-la ao ar e atirá-la de uma para a outra com pequenas

pancadas das m#os. u faz-la ressaltar no ch#o e dar-lhe pontap1s. as o ra%o doporco divertia-as ainda mais do que o %al#o. pai esfolou-o com todo o cuidado e enfiou no lado mais grosso um pau

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afiado. A m#e a%riu a portinhola do fog#o da cozinha e :untou %rasas no forno deferro. Em seguida, +aura e aria, por turnos, seguraram o ra%o do porco por cimadas %rasas.

/echinou, e pingos de gordura ca;ram nas %rasas e fizeram pequenas

chamas. A m#e salpicou o petisco de sal. As m#os e a cara das duas ficaram muitoquentes e +aura queimou um dedo, mas estava t#o entusiasmada que n#o seimportou. Assar o ra%o do porco era t#o divertido que se tornava dif;cil fazer :ogolimpo, por turnos.

'or fim, ficou pronto. )inha um %onito tom acastanhado, a toda a volta, echeirava que era um regalo +evaram-no para o pátio, para arrefecer, mascome3aram a provar antes de estar frio e escaldaram a l;ngua.

0epois de comerem todos os %ocadinhos de carne agarrados aos ossos,deram estes ao 7ac8. E era uma vez um ra%o de porco $! para o ano seguintehaveria outro.

tio ?enrique voltou para casa depois do almo3o e o pai regressou ao seu

tra%alho na Grande Floresta. as o tra%alho da matan3a mal come3ara ainda para+aura, aria e a m#e. A m#e tinha muitas coisas que fazer e +aura e ariaa:udaram-na.

0urante todo esse dia e o seguinte, a m#e derreteu o toucinho nos grandescaldeiros de ferro do fog#o da cozinha. +aura e aria foram %uscar lenha e tomaramconta do lume, que n#o devia ser demasiado forte, para n#o queimar o toucinho. sgrandes caldeiros fervilhavam, mas n#o podiam fumegar. 0e vez em quando, a m#etirava os torresmos castanhos com uma escumadeira, colocava-os num pano,espremia a gordura toda %em espremidinha e depois punha os torresmos de parte.*sá-los-ia para dar gosto ao p#o de milho, mais tarde.

s torresmos eram muito %ons para comer, muito sa%orosos, mas +aura earia s! podiam provar, pois a m#e dizia que eram muito pesados para meninaspequenas.

 A m#e raspou e limpou a ca%e3a do porco cuidadosamente e depois cozeu-aat1 a carne se despegar dos ossos. 'icou a carne %em picadinha na tigela demadeira, com a faca pr!pria, e depois temperou-a com sal, pimenta e especiarias.Em seguida misturou tudo com o l;quido que ficara da cozedura e p2s numaca3arola, para arrefecer. <uando estivesse frio, cortava-se em fatias, e era isso agalantina.

 A m#e picou e tornou a picar, at1 ficarem reduzidos a um picado muito fininho,os %ocadinhos de carne gorda e magra aparados dos %ocados grandes. )emperou

com sal, pimenta e folhas de salva secas, da horta. Em seguida amassou e tornou aamassar com as m#os, at1 ficar tudo %em misturado, e moldou a massa em %olas.&olocou-as num alguidar, no telheiro, onde gelariam e se conservariam %oas paracomer durante todo o nverno. Eram os chouri3os.

<uando o tempo da matan3a terminou, havia os chouri3os e a galantina,grandes %oiCes de %anha, uma %arrica de carne %ranca salgada, no telheiro, e ospresuntos e as pás estavam fumados e pendurados no s!t#o.

 A casinha estava quase a re%entar de %oa comida guardada para o longonverno. A despensa, o telheiro e a cave estavam cheios e o s!t#o n#o lhes ficavaatrás.

 Agora +aura e aria tinham de %rincar dentro de casa, pois lá fora estava frio

e as folhas castanhas ca;am todas das árvores. lume nunca se apagava no fog#o. 4 noite, o pai a%afava as %rasas com cinza, para as conservar acesas at1 de manh#. s!t#o era um lugar muito %om para %rincar. As a%!%oras grandes, redondas

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e coloridas davam %onitas mesas e cadeiras, com os pimentCes vermelhos e asce%olas> pendurados por cima s presuntos e a carne de veado pendiam tam%1m,em%rulhados em pap1is, e os ramos de ervas secas e cheiros, para cozinhar, assimcomo das ervas amargas para rem1dios, davam ao s!t#o um cheiro muito

agradável.Era freqDente o vento asso%iar no e5terior, com um som frio e triste. as+aura e aria %rincavam 6s casinhas no s!t#o, com as a%!%oras, e sentiam-semuito quentinhas e aconchegadas.

aria era mais crescida do que +aura e tinha uma %oneca de trapo chamada"elinha. +aura tinha s! uma ma3aroca em%rulhada num len3o, mas que tam%1mdava uma %oa %oneca. &hamava-se $usana e n#o tinha a culpa de ser s! umama3aroca. 4s vezes, aria dei5ava +aura pegar na "elinha, mas s! quando a$usana n#o via.

s melhores momentos de todos eram 6 noite. 0epois do :antar, o pai ia%uscar as armadilhas ao telheiro, para as olear :unto do fog#o. Esfregava-as muito

%em, at1 %rilharem, e lu%rificava as do%radi3as dos dentes e as molas das placascom uma pena mergulhada em gordura de urso.

?avia armadilhas pequenas, armadilhas m1dias e armadilhas grandes paraursos, com dentes que, segundo o pai dizia, partiriam a perna de um homem, se sefechassem so%re ela.

Enquanto tratava das armadilhas, o pai contava pequenas hist!rias a +aura ea aria e depois tocava a sua ra%eca.

 As portas e as :anelas estavam muito %em fechadas e as frestas das :anelastapadas com panos, para n#o dei5arem entrar o frio. as a gata, $usana 'reta,entrava e sa;a conforme lhe apetecia, de noite e de dia, pela porta de vaiv1m dagateira, a%erta na parte de %ai5o da porta da frente. $usana 'reta sa;a ou entravasempre muito depressa, para que a porta lhe n#o apanhasse a cauda quando sefechava atrás dela.

*ma noite, quando estava a olear as armadilhas, o pai viu a $usana 'retaentrar e disse9

- Era uma vez um homem que tinha dois gatos, um grande e outro pequeno.+aura e aria foram a correr encostar-se ao seus :oelhos, para ouvir o resto.- )inha dois gatos - repetiu o pai -, um gato grande e um gato pequeno. 'or 

isso, fez uma gateira grande, para o gato grande> e depois fez uma gateira pequena,para o gato pequeno.

pai calou-se.

- as porque n#o podia o gato pequeno... - come3ou aria.- 'orque o grande o n#o dei5ava interrompeu +aura.- sso 1 muito feio, +aura. "#o devemos interromper as pessoas que est#o a

falar - disse o pai, e acrescentou9 - as estou a ver que qualquer de vocs tem maistino do que o homem que a%riu as duas gateiras na sua porta.

0epois largou as armadilhas, tirou a ra%eca da cai5a e come3ou a tocar. Esseera o melhor momento de todos.

&A'()*+

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&hegou a primeira neve e com ela o frio de rachar. )odas as manh#s o paipegava na espingarda e nas armadilhas, sa;a e passava o dia inteiro na Grande

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Floresta, a colocar as armadilhas pequenas, para ratos almiscarados e martas, aolongo dos regatos, e as armadilhas m1dias, para raposas e lo%os, nas florestas.)am%1m colocava as armadilhas grandes, na esperan3a de apanhar um urso gordo,antes de eles se meterem todos na suas cavernas, para passarem o nverno.

*ma manh# voltou a casa, foi %uscar os cavalos e o tren! e saiu de novo,apressado. )inha a%atido um urso a tiro. +aura e aria ficaram t#o contentes quedesataram aos saltos e a %ater as palmas. aria gritou9

- Eu quero a perna Eu quero a pernaaria n#o fazia id1ia do tamanho da perna de um urso.<uando voltou, o pai trazia um urso e um porco no tren!. a a andar pela

floresta, com uma grande armadilha de urso na m#o e a espingarda ao om%ro, enisto, ao contornar um grande a%eto co%erto de neve, vira o urso atrás da árvore9

urso aca%ara de matar o porco e estava a segurá-lo, para o comer. paicontou que o urso se encontrava de p1, apoiado nas patas traseiras, e agarrava oporco com as dianteiras como se fossem m#os.

pai matara o urso com um tiro e ficara sem sa%er donde o porco viera ou aquem pertencia.

- 'or isso, trou5e-o para casa.Ficaram com carne fresca em quantidade, para muito tempo. s dias e as

noites estavam t#o frios que o porco num cai5ote e a carne do urso pendurada nopequeno telheiro das traseiras gelaram solidamente sem o perigo dedescongelarem.

<uando a m#e queria carne fresca para o almo3o, o pai pegava no machadoe cortava um naco de carne congelada, de urso ou de porco. as a m#e n#oprecisava de a:uda para ir ao telheiro ou ao s!t#o %uscar os chouri3os do feitio de%olas, ou a carne de porco salgada, ou os presuntos e a carne de veado fumados.

 A neve continuou a cair at1 se amontoar, inclinada, contra as paredes dacasa. 0e manh#, os vidros das :anelas estavam co%ertos de geada, que formava%onitas árvores, flores e duendes.

 A m#e dizia que o 7o#ozinho Geada vinha de noite e fazia os desenhos,enquanto todos dormiam. +aura :ulgava que o 7o#ozinho Geada era um homempequenino, todo %ranco de neve, com um cintilante %arrete pontiagudo %ranco e%otas %rancas e macias at1 ao :oelho, feitas de pele de gamo. *sava so%retudo%ranco e mitenes %rancas e n#o trazia nenhuma espingarda 6s costas, mas as suasm#os seguravam ferramentas afiadas e reluzentes, com as quais esculpia os%onecos.

 A m#e emprestava o dedal a +aura e a aria, para fazerem %onitos desenhoscom %olinhas na geada dos vidros. as elas nunca estragavam os que 7o#o Geadafizera de noite.

<uando apro5imavam a %oca do vidro e %afe:avam, a geada %ranca derretia-se e escorria em gotas pela vidra3a. 0epois podiam ver a neve amontoada do ladode fora e as grandes árvores nuas e pretas, que pro:etavam som%ras esguias eazuladas na %rancura da neve.

+aura e aria a:udavam a m#e na lida da casa. )odas as manh#s havia alou3a para limpar. aria limpava mais do que +aura, porque era mais crescida, mas+aura limpava sempre muito %em a sua canequinha e o seu pratinho.

<uando a lou3a estava toda limpa e arrumada, are:ava-se a cama %ai5a. Em

seguida, uma de cada lado, +aura e aria esticavam as co%ertas, entalavam-nas%em aos p1s e aos lados, afofavam as almofadas e colocavam-nas no seu lugar.Ent#o a m#e empurrava a cama %ai5a para de%ai5o da cama alta.

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Feito isso, a m#e come3ava o tra%alho que competia a esse dia. &ada diatinha o seu tra%alho apropriado e a m#e costumava dizer9 +ava 6 segunda-feira,engoma 6 ter3a-feira, remenda 6 quarta feira, faz manteiga 6 quinta-feira, limpa 6se5ta-feira, ao sá%ado faz de padeira e ao domingo folga da canseira.

s dias da semana de que +aura mais gostava eram o de fazer manteiga e ode fazer p#o."o nverno, a nata n#o era t#o amarela como no =er#o e a manteiga que dela

se fazia era %ranca e menos %onita. &omo a m#e gostava que todas as coisas dasua mesa fossem %onitas, no nverno coloria a manteiga.

0epois de deitar as natas na %atedeira alta, de lou3a, e de a colocar perto dofog#o, para amornar, lavava e raspava uma cenoura comprida, cor de laran:a. Emseguida, ralava-a no fundo de uma velha frigideira de folha, que o pai enchera de%uraquinhos, com um prego. A m#e andava com a cenoura de um lado para o outro,na aspereza dos re%ordos dos %uraquinhos, e quando aca%ava levantava a frigideirae via-se um montinho mole e sumarento de cenoura ralada.

 A m#e deitava a cenoura num tachinho de leite que estava ao lume e, quandoo leite aquecia, despe:ava a mistura num saco de pano. 0epois espremia o leiteamarelo-vivo para a %atedeira a fim de colorir as natas todas. Assim a manteigaficaria amarela.

+aura e aria podiam comer a cenoura, depois de espremido o leite. ariaachava que devia comer o quinh#o maior, por ser a mais velha, e +aura dizia que amaior parte devia ser para ela, por ser a mais nova. as a m#e mandava-as dividir acenoura ralada em partes iguais. Era deliciosa.

<uando as natas estavam preparadas, a m#e escaldava o comprido %atedor de madeira, metia-o na %atedeira e colocava a tampa. Esta tinha um %uraco redondono meio e a m#e movimentava o %atedor para cima e para %ai5o, para cima e para%ai5o, atrav1s do %uraco.

atia assim durante muito tempo. 4s vezes, aria tam%1m %atia, enquanto am#e descansava, mas o %atedor era demasiado pesado para +aura.

 Ao princ;pio, viam-se salpicos de natas, espessos e lisos, 6 volta do %uracoda tampa> mas passado muito tempo come3avam a parecer granulosos. Ent#o am#e %atia mais devagar E come3avam a aparecer no %atedor gr#ozinhos demanteiga amarela.

<uando a m#e tirava a tampa da %atedeira lá estava a manteiga numa massadourada, afogada no leitelho. Ent#o a m#e tirava-a com uma espátula de madeirapara uma tigela de madeira e lavava-a muitas vezes com água fria, a virá-la e a

revirá-la e a comprimi-la com a espátula, at1 a água ficar limpa. 0epois disso,salgava a manteiga.&hegava ent#o o mais %onito da opera3#o9 A m#e moldava a manteiga. "o

fundo solto do molde de manteiga estava gravado o desenho de um morango comduas folhas.

&om a espátula, a m#e colocava e comprimia a manteiga no molde, at1 oencher. 0epois virava-o ao contrário num prato e pu5ava o ca%o do fundo solto domolde. pequeno peda3o de manteiga dourada e firme sa;a, com o morango e asfolhas gravadas no cimo.

+aura e aria o%servavam, quase sem respirar, uma de cada lado da m#e,enquanto os %ocados de manteiga dourada, cada qual com o seu morango em cima,

ca;am do molde para o prato. "o fim, a m#e dava a cada uma um copo de %om efresco leitelho. Aos sá%ados, quando a m#e fazia o p#o, dava a cada uma um %ocadinho de

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massa, para fazerem um p#ozinho. 4s vezes tam%1m lhe dava um %ocadinho demassa de %iscoitos, para fazerem %iscoitinhos, e um dia +aura at1 fez um pastel, nasua forminha.

 4s vezes, quando aca%ava o tra%alho do dia a m#e recortava-lhes %onecas

de papel. /ecortava as %onecas num papel %ranco, grosso, depois desenhava ascaras com um lápis. Em seguida, com %ocadinhos de papel colorido, talhavavestidos e chap1us, fitas e rendas para +aura e aria poderem vestir as %onecasmuito %em vestidinhas. as o melhor de tudo era a noite, quando o pai regressava acasa. =oltava das suas caminhadas pela floresta, com pingentinhos de gelopendurados das pontas do %igode. 'endurava a espingarda na parede, por cima daporta, tirava o %arrete de pele, o casac#o e as luvas e perguntava9

- nde está a minha meia canequinha de sidra doce meio %e%idaH - /eferia-se a +aura, por ela ser t#o pequena.

+aura e aria iam a correr sentar-se-lhe nos :oelhos, e lá ficavam enquantoele se aquecia :unto do lume. 0epois o pai voltava a vestir o casac#o, a p2r o %arrete

e a cal3ar as luvas e tornava a sair, para tratar dos animais e levar para casa lenhasuficiente para o lume.

 4s vezes, quando o pai via todas as armadilhas depressa, por estaremvazias, ou quando encontrava ca3a mais cedo do que era ha%itual, voltava paracasa tam%1m mais cedo. Ent#o tinha tempo para %rincar com +aura e aria.

*ma das %rincadeiras de que elas gostavam chamava-se c#o raivoso. paipassava os dedos pelo vasto ca%elo castanho e dei5ava-o todo espetado. 0epoispunha-se de gatas e, a rosnar perseguia +aura e aria atrav1s da sala, a tentar apanhá-las num canto donde n#o pudessem fugir.

Elas eram rápidas a correr e a esquivar-se, mas uma vez ele apanhou-ascontra a cai5a da lenha, atrás do fog#o. "#o tinham outra sa;da, a n#o ser passandopelo pai.

pai rosnava t#o assustadoramente e tinha ca%elo t#o desgrenhado e osolhos t#o ferozes que a %rincadeira parecia mesmo a s1rio. aria estava t#oassustada que n#o conseguia me5er-se. as quando o pai se apro5imou mais,+aura gritou e, com um grande pulo, saltou por cima da cai5a da lenha, a arrastar aria atrás de si, E pronto, dei5ou de haver c#o raivoso. <uem ali estava era o pai,de p1, a olhar para +aura com os olhos azuis muito %rilhantes.

- $im, senhor - e5clamou. 'odes ter apenas uma meia canequinha de sidrameio %e%ida, mas, com a %reca, 1s forte como um cavalinho francs

- "#o devias assustar tanto as crian3as, &arlos - disse a m#e. - /epara como

tm os olhos arregalados de medo. pai olhou para elas e depois pegou na ra%eca e come3ou a tocar e acantar.

anque 0udle foi 6 cidade,&om as cal3as 6s risquinhas,as :urou que n#o viu a cidade)antas, tantas eram as casinhas.

+aura e aria esqueceram-se por completo do c#o raivoso.

=iu lá umas espingardas t#o grandes&omo um tronco de %ordo ou dois,E para as virar, como eram t#o grandes,

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'recisavam de duas :untas de %ois.)odas as vezes que queriam disparar a-se um polvorinho ou mais que um, pum Era o de uma espingarda vulgar,

as que muito, muito mais. 'uuuum

pai marcava o ritmo com o p1 e +aura acompanhava a m@sica, %atendo asm#os, quando ele cantou9

E eu canto anque 0udle-di-du,E eu canto anque 0udle,E eu canto anque 0udle-di-du,E eu canto anque 0udle

$ozinha no meio da Grande Floresta agreste, da neve e do frio, a casinha de

troncos era quente, confortável e aconchegadinha. pai e a m#e, e aria, +aura e a%e%e &arrie sentiam-se lá muito %em e muito felizes, so%retudo 6 noite.

 4 noite, o lume crepitava na lareira, o frio e a escurid#o e os animaisselvagens n#o podiam entrar, e 7ac8, o %uldogue malhado, e $usana 'reta, a gata,piscavam os olhos 6s chamas que %rincavam na lareira.

 A m#e estava sentada na sua cadeira de %alan3o, a costurar 6 luz docandeeiro colocado em cima da mesa. candeeiro %rilhava e reluzia, ?avia sal nofundo do dep!sito de vidro do querosene, para evitar que e5plodisse, e %ocadinhode flanela vermelha no meio do sal, para o tornar %onito. E era mesmo %onito.

+aura gostava de admirar o candeeiro, com sua chamin1 de vidro t#o limpa ecintilante, sua chama amarela a %rilhar t#o certinha e o seu dep!sito de queroseneclaro, a que os %ocadinhos de flanela vermelha emprestavam colorido. Gostava deolhar para o lume da lareira, a crepitar e a modificar-se constantemente, umas vezesamarelo e vermelho e outras com um tom esverdeado por cima dos toros de lenha eazulado so%re as %rasas douradas e cor de ru%i.

E nesses momentos o pai contava hist!rias.<uando +aura e aria lhe pediam que contasse uma hist!ria, ele sentava-as

nos :oelhos e fazia-lhes c!cegas na cara com a %ar%a comprida, at1 elas rirem alto.)inha os olhos azuis e maliciosos.*ma noite, o pai olhou para a $usana 'reta que se espregui3ava diante do

lume, a estender e encolher as garras, e disse9

- $a%iam que uma pantera 1 um gatoH *m grande gato %ravoH- "#o - respondeu +aura.- 'ois 1. maginem a $usana 'reta maior do que o 7ac8 e mais feroz do que

ele, quando rosna. Assim seria mesmo uma pantera.nstalou +aura e aria mais confortavelmente, nos :oelhos, e acrescentou9- =ou-lhes falar do av2 e da pantera.- 0o seu av2H - perguntou +aura.- "#o, +aura, do teu av2. 0o meu pai.- Ah - e5clamou a menina, e aninhou-se mais contra o %ra3o do pai.&onhecia o av2, que morava muito longe, na Grande Floresta, numa grande

casa de troncos. pai come3ou9

- *m dia, o av2 foi 6 cidade e iniciou a viagem de regresso :á tarde. Estavaescuro quando meteu a cavalo pela Grande Floresta, t#o escuro que mal conseguiaver a estrada, e quando ouviu uma pantera gritar assustou-se, pois n#o tinha

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espingarda.- &omo grita uma panteraH - perguntou +aura.- &omo uma mulher - respondeu-lhe o pai -, Assim.E gritou de tal maneira que +aura e aria tiveram um arrepio de medo.

 A m#e deu um salto na cadeira e protestou.- 'or favor, &arlosas +aura e aria gostavam de apanhar sustos daqueles.- cavalo, com o av2 montado nele, corria velozmente, pois tam%1m estava

assustado. as n#o conseguia afastar-se da pantera, que os perseguia atrav1s daescura floresta. Era uma pantera esfomeada e corria tanto como o cavalo. *masvezes gritava de um lado da estrada, outras do outro, mas sempre perto, atrás deles.

av2 ia inclinado para a frente, na sela, e incitava o cavalo a andar maisdepressa. as ele corria o mais velozmente que podia e, mesmo assim, a panteracontinuava a gritar atrás deles :á muito perto.

"isto, o av2 viu-a, a saltar de copa de árvore para copa de árvore, quase por 

cima dele.Era uma enorme pantera negra, que saltava pelo ar como a $usana 'reta

costuma saltar para apanhar um rato. as era muitas, muitas vezes maior do que a$usana 'reta. )#o grande que se saltasse para cima do av2 poderia matá-lo com assuas enormes garras cortantes e os seus enormes dentes afiados.

ontado no cavalo, o av2 fugia dela e5atamente como um rato foge de umgato.

IA pantera :á n#o gritava e o av2 tam%1m :á n#o a via. as sa%ia que elacontinuava a saltar em sua persegui3#o na floresta escura, atrás dele. cavalocorria com todas as suas for3asJ.

'or fim, o cavalo chegou 6 casa do av2. av2 viu a pantera formar o salto e,sem perder um instante, saltou do cavalo, contra a porta. Entrou em casa de rold#oe %ateu logo com a porta. A pantera foi cair em cima do cavalo, e5atamente onde oav2 estivera.

I cavalo relinchou terrivelmente e fugiu. Em%renhou-se a galope na GrandeFloresta, com a pantera em cima, a rasgar-lhe as costas com as garras. as o av2tirou a espingarda da parede e correu para a :anela, mesmo a tempo de matar apantera com um tiroJ.

av2 disse que nunca mais andaria na Grande Floresta sem a suaespingarda.

Enquanto o pai contava esta hist!ria, +aura e aria tinham-se aninhado %em

contra ele, a tremer de medo. $entiam-se aconchegadas E em seguran3a no seucolo e envolvidas pelos seus %ra3os fortes.Gostavam de estar ali, diante do lume quente, com a $usana 'reta a ronronar 

 :unto da lareira e o %om do 7ac8 estendido a seu lado.<uando um lo%o uivava, 7ac8 levantava a ca%e3a e os plos eri3avam-se-lhe

ao longo da espinha. as +aura e aria ouviam o uivo solitário na negra e friafloresta, e n#o tinham medo. Estavam aconchegadas e confortáveis na sua casinhade troncos de árvore, com a neve empilhada 6 volta e o vento a chorar, porque n#opodia entrar e chegar-se ao lume.

&A'()*+

 A &A/A"A &'/0A

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)odas as noites, antes de come3ar a contar hist!rias, o pai fazia as %alas paraca3ar no dia seguinte.

+aura e aria a:udavam-no. am %uscar a grande colher de ca%o comprido, acai5a cheia de %ocadinhos de chum%o e o molde das %alas. 0epois, enquanto ele se

acocorava :unto da lareira a fazer as %alas, elas sentavam-se a o%servá-lo, uma decada lado.'rimeiro, o pai derretia os %ocados de chum%o na grande colher, que

colocava nas %rasas. <uando o chum%o estava derretido, dei5ava-o escorrer cuidadosamente da colher para o %uraquinho do molde. Esperava um minuto, depoisa%ria o molde, e ca;a para o ch#o uma reluzente %ala nova.

"#o se lhe podia tocar, por estar muito quente, mas %rilhava t#otentadoramente que, 6s vezes, +aura ou aria n#o resistiam e tocavam-lhe.<ueimavam os dedos, mas n#o diziam nada, porque o pai lhes recomendara quenunca tocassem numa %ala nova. 'or isso, se queimavam os dedos, a culpa eradelas> deviam ter dado ouvidos ao pai. +imitavam-se a meter os dedos na %oca, para

os arrefecer, e a ver o pai fazer mais %alas.<uando aca%ava, havia um montinho reluzente, defronte da lareira. pai

dei5ava-as arrefecer e depois, com a navalha, retirava as pequenas irregularidadesdei5adas pelo %uraco do molde. Apanhava as min@sculas aparas de chum%o eguardava-as cuidadosamente, para as derreter de novo quando voltasse a fazer %alas.

etia as %alas aca%adas na %olsa, que era um %onito saquinho que a m#efizera com a pele de um gamo que o pai ca3ara. Feitas as %alas, o pai tirava aespingarda da parede e limpava-a. 'odia ter acumulado alguma umidade, todo o diana floresta co%erta de neve, e o interior do cano estava com certeza su:o de fumo dep!lvora.

'or isso, o pai tirava a vareta do seu lugar, de%ai5o do cano, e prendia-lhe 6ponta um %ocadinho de pano limpo. Apoiava a coronha da espingarda numaca3arola e deitava água a ferver, da chaleira, pelo cano a%ai5o. Em seguida,rapidamente, enfiava a vareta no cano e movimentava-a para %ai5o e para cima,para %ai5o e para cima, at1 a água quente, enegrecida pela p!lvora, %or%otar pelo%uraquinho onde se colocava o fulminante, quando a arma estava carregada.

pai continuava a deitar mais água e a lavar o cano com o trapo preso 6vareta at1 a água sair clara. sso significava que a espingarda estava limpa. A águadevia estar sempre a ferver, para que o a3o aquecido secasse imediatamente.

Em seguida, o pai prendia outro trapo, limpo e impregnado de gordura, na

vareta e, enquanto o cano ainda estava quente, engordurava-o %em, no interior.&om outro trapo limpo e impregnado de gordura, esfregava-o depois todo por fora,at1 n#o haver nem um %ocadinho que n#o %rilhasse, %em untado. 0epois disso,esfregava e polia a coronha, at1 a madeira %rilhar, tam%1m.

Estava tudo preparado para recarregar a espingarda, e +aura e aria tinhamde a:udá-lo. 0e p1, alto e direito, o pai apoiava a %ase da coronha da espingarda noch#o, com o cano para cima, enquanto +aura e aria se colocavam uma de cadalado dele.

- Agora o%servem-me e ve:am se cometo algum erro - dizia o pai.Elas o%servavam-no com todo o cuidado, mas ele nunca cometia erro

nenhum.

+aura estendia-lhe o chifre de vaca liso e polido, cheio de p!lvora. A ponta dochifre era uma tampinha de metal. pai enchia a tampinha de p!lvora e despe:ava-a pelo cano a%ai5o. 0epois sacudia um %ocadinho a arma e %atia no cano, para ter a

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certeza de que a p!lvora assentava no fundo.- nde está a minha cai5a de traposH perguntava ent#o o pai, e aria dava-

lhe a cai5inha de folha cheia de %ocadinhos de trapo impregnados em gordura. pai colocava um desses trapinhos engordurados na %oca do cano, punha-

lhe uma reluzente %ala nova em cima e, com a vareta, empurrava a %ala e o trapopelo cano a%ai5o. 0epois comprimia-os %em contra a p!lvora.<uando fazia isso, a vareta ressaltava pelo cano acima e o pai agarrava-a e

empurrava-a de novo. /epetia esta opera3#o muitas vezes.Em seguida, recolocava a vareta no seu lugar, contra o cano da espingarda.

)irava ent#o uma cai5a de fulminantes da algi%eira, levantava o c#o da arma eintroduzia um dos fulminantesinhos %rilhantes so%re a agulha oca que ficava so% oc#o. ai5ava o c#o devagar e com muito cuidado, pois se descesse depressa -pum- a arma dispararia.

&arregada a espingarda, o pai colocava-a nos suportes, por cima da porta.<uando o pai estava em casa, a espingarda estava sempre deitada nesses

dois suportes de madeira, por cima da porta. pai fizera-os de um galho verde, queafei3oara com a faca, e enfiara as e5tremidades direitas, 6 martelada, em dois%uracos fundos a%ertos num tronco da parede. As pontas curvavam para cima eprendiam %em a espingarda.

 A espingarda estava sempre carregada e arrumada por cima da porta, paraque o pai lhe pudesse chegar rápida e facilmente em qualquer ocasi#o que delaprecisasse.

<uando ia para a Grande Floresta, o pai certificava-se sempre de que a %olsadas %alas estava cheia e de que tinha nas algi%eiras a cai5inha dos traposengordurados e a cai5inha dos fulminantes. chifre da p!lvora - que se chamava opolvorinho - e uma machadinha %em afiada pendiam-lhe do cinto e levava aespingarda carregada ao om%ro.

/ecarregava sempre a espingarda assim que a disparava, porque, comodizia, n#o queria ter de enfrentar qualquer percal3o com uma espingardadescarregada.

$empre que disparava contra um animal selvagem, tinha de parar e carregar a arma - medir a p!lvora, deitá-la no cano e faz-la assentar, colocar o trapinho e a%ala na %oca do cano e empurrá-los para %ai5o e p2r um fulminante novo so% o c#o,antes de poder disparar outra vez. <uando alve:ava um urso ou uma pantera, tinhade os matar com o primeiro tiro. *m urso ou uma pantera feridos eram capazes dematar um homem antes de ele ter tempo de recarregar a espingarda.

as +aura e aria nunca tinham medo quando o pai ia sozinho para aGrande Floresta. $a%iam que ele era capaz de matar ursos e panteras ao primeirotiro.

0epois das %alas feitas e da espingarda carregada, era a altura de contar hist!rias.

- &onte-nos a da voz na floresta - pedia-lhe +aura. pai olhava-a, de pálpe%ras franzidas, e e5clamava9- h, n#o "#o querem que eu fale do tempo em que era um rapazinho

travesso- <ueremos, sim, queremos - afirmavam +aura e aria, e o pai come3ava a

contar a hist!ria.

 A hist!ria da voz na floresta

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- <uando eu era um rapazinho n#o muito maior do que a aria, todas astardes tinha de ir procurar as vacas 6 floresta e conduzi-las para casa. meu paitinha-me recomendado que nunca me demorasse a %rincar no caminho, queandasse depressa e levasse as vacas para casa antes de escurecer, porque havia

lo%os, panteras e ursos na floresta.*m dia, comecei mais cedo do que de costume e, por isso, pensei que n#oprecisava de me apressar. ?avia tantas coisas que ver na floresta que me esquecida escurid#o que n#o tardaria. ?avia esquilos vermelhos nas árvores, esquiloslistrados 6s corridinhas entre as folhas e coelhinhos a %rincar nas clareiras. scoelhinhos gostam muito de %rincar sozinhos antes de irem para a cama, sa%emH

&omecei a fazer de conta que era um grande ca3ador a seguir o rastro deanimais selvagens e ;ndios. Fiz de conta que lutava com ;ndios, e a %rincadeira foitanta ou t#o pouca que a floresta n#o tardou a parecer-me cheia de selvagens."isto, ouvi os passarinhos a darem as %oas-noites, nos seus chilreios, e s! ent#oreparei que anoitecia no carreiro e :á estava escuro na floresta.

Eu sa%ia que tinha de levar as vacas depressa para casa, pois de contrárioseria completamente escuro antes de elas se encontrarem em seguran3a noestá%ulo. pior 1 que n#o conseguia encontrá-las

em apurava o ouvido, mas n#o lhes ouvia os chocalhos. &hamava,chamava, mas elas n#o vinham.

Em%ora tivesse medo do escuro e dos animais selvagens, n#o me atrevia aregressar a casa e apresentar-me ao meu pai sem as vacas. 'or isso, desatei acorrer pelo meio das árvores, a procurar e a gritar. E, entretanto, as som%rastornavam-se cada vez mais densas e mais escuras, a floresta parecia maior e asárvores e os ar%ustos pareciam estranhos.

"#o conseguia encontrar as vacas em parte nenhuma. $u%i encostas, aprocurar e a chamar, e desci %arrancos fundos e escuros, a chamar e a procurar."ada. 'arei e escutei, a ver se ouvia os chocalhos, mas n#o se ouvia um som al1mdo murm@rio das folhas.

"isto, ouvi uma respira3#o alta e pensei que estava uma pantera atrás demim, no escuro. as tratava-se apenas da minha pr!pria respira3#o.

As silvas tinham-me arranhado as pernas e quando corria pelo meio dosar%ustos os ramos %atiam-me na cara. as eu continuava a correr, a procurar e achamar9 I$u8eB $u8eBJ

I$u8eB $u8eB, gritava com todas as ganas. I$u8eBJI0e repente, qualquer coisa falou mesmo por cima da minha ca%e3a9 I*h

*hJ '2s-se-me o ca%elo em p1.I*h *hJ, repetiu a voz. E nem queiram sa%er como eu corriEsqueci-me por completo das vacas. $! queria sair da floresta e chegar a

casa.as aquela coisa escondida no escuro foi atrás de mim, a repetir I*h *hJ&orri com todas as minhas for3as e nem mesmo quando perdi o f2lego dei5ei

de correr. )ropecei n#o sei em qu e ca;, mas levantei-me logo e continuei a correr."em um lo%o teria conseguido alcan3ar-me.

'or fim, desem%oquei da floresta escura :unto do está%ulo. As vacasestavam lá paradas, 6 espera que lhes a%risse a cancela para entrarem. /ecolhi-as

e a seguir corri para casa. meu pai levantou a ca%e3a e perguntou-me9I'orque te atrasaste tanto, homenzinhoH Estiveste a %rincar no caminhoHJ

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lhei para %ai5o, para os p1s, e s! ent#o reparei que tinha ficado sem aunha de um dedo grande. medo tinha sido tanto que nem sentira a dor, at1 aquelemomento.

pai interrompia sempre a hist!ria nesta passagem e ficava 6 espera que

+aura pedisse9- &ontinue, 'á, continue, por favor- em, depois o teu av2 foi ao pátio e cortou uma vara verde, forte. =oltou

para dentro e deu-me uma sova, de tal modo que, da; em diante, passei a fazer oque me mandava.

*m rapaz de nove anos :á tem idade suficiente para n#o se esquecer do quelhe recomendamJ, disse-me. I?á uma %oa raz#o para fazeres o que te digo, e se ofizeres n#o te acontecerá mal nenhumJ.

- $im, 'á, sim, sim - e5clamou +aura, a saltar no :oelho do pai. - E depois,que disse ele depoisH

- 0isse9 I$e me tivesses o%edecido como deverias, n#o terias andado na

Grande Floresta depois de escurecer e n#o te terias assustado com o piar de ummochoJ.

 &A'()*+ =

 "A)A+

 Apro5imava-se o "atal. A casinha de troncos estava quase enterrada em neve, que se acumulava

contra as paredes e nas :anelas. 0e manh#, quando o pai a%ria a porta, havia umaparede de neve que chegava 6 altura da ca%e3a de +aura. pai pegava na pá eretirava-a e depois, do mesmo modo, a%ria um carreiro para o está%ulo, onde oscavalos e as vacas estavam aconchegadinhos e quentes nas suas %aias.

s dias estavam claros e luminosos. +aura e aria punham-se em p1 emcadeiras, :unto da :anela, e olhavam atrav1s da neve cintilante para as árvores todas%rancas. A neve espessa co%ria-lhes os ramos nus e escuros e reluzia ao sol.

'ingentes de gelo pendiam do %eiral da casa para os montes de neveempilhados contra as paredes. Eram grandes, t#o grossos na parte de cima como o%ra3o de +aura, pareciam de vidro e chispavam, cheios de luzes.

hálito do pai pairava no ar como fumo, quando ele regressava do está%ulo,pelo carreiro. <uando ele respirava, parecia que lhe sa;am da %oca nuvenzinhas que

se transformavam em geada %ranca na sua %ar%a e no seu %igode.<uando entrava em casa, %atia com os p1s a sacudir a neve das %otas eapertava +aura num a%ra3o de urso, contra o grande casac#o frio, o seu %igodeficava cheio de gotinhas de geada a derreter-se.

Fazia ser#o todas as noites, a tra%alhar numa tá%ua grande e em duas maispequenas. Afei3oava-as com a faca e alisava-as com li5a e com a palma da m#o, detal maneira que quando +aura lhes tocava as sentia macias e lisinhas como seda.

0epois, com a navalha afiada, recortou as arestas da tá%ua grande empequenos picos e torres, com uma grande estrela recortada no ponto mais alto. A%riu %uraquinhos na madeira e depois deu-lhes a forma de :anelas, estrelinhas,crescentes de lua e c;rculos. A toda a volta deles esculpiu folhas, flores e

passarinhos, tudo muito pequenino. A uma das tá%uas pequenas deu uma %onita forma arredondada e esculpiu-lhe 6 volta folhas, flores e estrelas e no meio crescentes e ara%escos.

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 4 roda da tá%ua mais pequena esculpiu uma min@scula trepadeira em flor.)ra%alhava muito devagarinho e com todos os cuidados, para fazer tudo

quanto achava que fosse mais %onito.'or fim, as pe3as ficaram prontas e, uma noite, armou-as. =iu-se ent#o que a

tá%ua maior era um suporte muito %onito e %em tra%alhado para uma prateleirinha aomeio. A estrela grande ficava mesmo ao cimo. A pe3a curva amparava, por %ai5o, aprateleira e tam%1m estava muito %onita, e a trepadeirazinha foi colocada 6 volta daprateleira.

Era uma consola que o pai fizera para presente de "atal da m#e. 'endurou-acuidadosamente na parede de troncos, entre as :anelas, e a m#e p2s a %onequinhade porcelana na prateleira.

 A %onequinha de porcelana tinha uma touca de porcelana na ca%e3a ecarac!is de porcelana chegados ao pesco3o de porcelana. vestido de porcelanatinha fitas 6 frente e a %oneca usava um aventalinho de porcelana cor-de-rosa esapatinhos de porcelana dourada. Era linda, de p1 a prateleira, com flores, folhas,

passarinhos e luas a toda a volta e a grande estrela no cimo de tudo. A m#e passava o dia inteiro atarefada, a cozinhar coisas %oas para o "atal.

&ozeu p#o levedado e p#o de centeio com especiarias, %iscoitos suecos e umagrande panela de fei:#o, com carne de porco e mela3o. Fez tartes avinagradas etartes de ma3# seca, encheu um grande %oi#o de %olinhos e dei5ou +aura e arialam%erem a colher de %ater a massa.

*ma manh#, ferveu mela3o :untamente com a3@car, at1 formar um 5aropegrosso, e o pai trou5e duas ca3arolas de neve limpa e %ranquinha. +aura e ariaficaram cada qual com a sua ca3arola e o pai e a m#e ensinaram-lhes a deitar o5arope escuro, em fio, para a neve. Fizeram c;rculos, ra%iscos e outras coisas dognero, que endureciam logo e ficavam transformadas em re%u3ado. +aura e ariaforam autorizadas a comer um re%u3ado cada uma, mas os restantes foramguardados para o "atal.

)udo aquilo se fazia porque a tia Elisa, o tio 'edro e os primos 'edro, Alice eElla viriam passar o "atal com eles.

&hegaram na v1spera de "atal. +aura e aria ouviram o ru;do alegre dosguizos do tren! aumentar de momento a momento, e depois o tren! duplo saiu domeio das árvores e apro5imou-se da cancela. =inham nele a tia Elisa, o tio 'edro eos primos, todos em%rulhados em co%ertores, casacos e peles de %@falo.

Eram tantos os casacos, os a%afos, os v1us e os 5ales que pareciamenormes trou5as disformes.

0epois de todos entrarem, a casinha ficou cheia e a deitar por fora. A $usana'reta fugiu e foi esconder-se no está%ulo, mas 7ac8 desatou aos pulos, em c;rculos,na neve, e a ladrar como se nunca mais se calasse. Agora tinham primos com quem%rincar

 Assim que a tia Elisa tirou os a%afos aos filhos, 'edro, Alice e Ella e +aura earia come3aram a correr e a gritar. 'or fim, a tia Elisa mandou-os calar. Ent#o Alicesugeriu9

- $a%em o que vamos fazerH /etratos Alice acrescentou que tinham de ir lá para fora, para os fazer, e a m#e de

+aura achou que estava muito frio para ela %rincar fora de casa.as quando viu a cara decepcionada de +aura disse que, afinal, podia ir um

%ocadinho. as antes, vestiu-lhe o casaco, cal3ou-lhe as luvas, envolveu-a na capaquente com capuz e agasalhou-lhe o pesco3o.+aura nunca se divertira tanto. 'assou a manh# toda a %rincar fora de casa,

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na neve, com Alice, Ella, 'edro e aria. A fazer retratos. A %rincadeira era assim9&ada um su%ia para um coto de árvore cortada e, todos ao mesmo tempo e

com os %ra3os %em a%ertos, atiravam-se para a neve fofa e funda. &a;am de chapa,de cara, e tentavam levantar-se sem estragar a marca que o corpo dei5ara na neve,

ao cair. $e faziam tudo %em, na neve ficavam cinco %uracos, com o formato quaseperfeito de quatro meninas e um rapazinho, com %ra3os e pernas e tudo. &hamavama isso os seus retratos.

rincaram tanto durante todo o dia que, quando a noite chegou, estavam t#oe5citados que n#o tinham sono. as teriam de dormir, pois de contrário o 'ai "ataln#o apareceria. 'or isso, penduraram as meias :unto da chamin1, rezaram as suasora3Ces e deitaram-se9 Alice, Ella, aria e +aura todas quatro numa grande cama noch#o.

'edro dormiu na cama %ai5a. A tia Elisa e o tio 'edro dormiriam na cama altae fez-se outra cama no ch#o do s!t#o para os pais de +aura. &om todas as peles de%@falo e todos os co%ertores tirados do tren! do tio 'edro, havia co%ertas para toda

a gente. pai e a m#e e a tia Elisa e o tio 'edro sentaram-se 6 lareira, a conversar.

'recisamente quando +aura come3ava a fechar os olhos e a adormecer, ouviu o tio'edro dizer9

- utro dia, a Elisa escapou por pouco, quando eu estava em +a8e &itB.&onhecem o 'r;ncipe, aquele meu grande c#oH

+aura ficou logo completamente desperta. Gostava muito de ouvir falar dec#es. Ficou quietinha como um rato, a olhar para a luz da lareira a %rilhar nasparedes de troncos e a ouvir o tio 'edro.

- em - contou o tio 'edro -, de manh#zinha cedo, Elisa p2s-se a caminho danascente, para encher um %alde de água, e o 'r;ncipe seguiu-a. <uando ela chegou6 %eira do %arranco, onde o caminho desce para a nascente, o 'r;ncipe fincou-lhede repente os dentes na parte de trás da saia e pu5ou.

=ocs sa%em que ele 1 um c#o enorme. A Elisa ralhou-lhe, mas ele n#o lhelargou a saia e ela n#o conseguiu soltar-se, t#o grande e forte o animal 1. &ontinuoua recuar e a pu5ar, at1 lhe arrancar um peda3o da saia.

- Era a azul estampada - disse a tia Elisa 6 m#e de +aura.- <ue pena - e5clamou a m#e.- Arrancou-lhe um grande %ocado, mesmo da parte de trás - continuou a tia

Elisa. - Fiquei t#o zangada que me apeteceu %ater-lhe. as ele rosnou-me.- 'r;ncipe rosnou-teH - perguntou o pai de +aura.

- /osnou - respondeu a tia Elisa.- em, ela p2s-se de novo a caminho da nascente - continuou o tio 'edro acontar -, as o 'r;ncipe saltou-lhe para a frente, no carreiro, e arreganhou-lhe osdentes. "#o fez caso nenhum dos ralhos nem das amea3as dela. &ontinuou aarreganhar-lhe os dentes e a rosnar-lhe e quando ela procurou passar-lhe 6 frenteele n#o dei5ou e tentou mord-la. sso assustou-a.

- Fa3o id1ia - e5clamou a m#e de +aura.- 'arecia t#o feroz que pensei que me morderia - confessou a tia Elisa. - E

acho que teria mesmo mordido.- "unca ouvi uma coisa assim - admirou-se a m#e de +aura. - <ue fizesteH- =oltei para trás, corri para casa, onde dei5ara os pequenos, e fechei a porta

- respondeu a tia Elisa.- &laro que o 'r;ncipe costuma mostrar-se feroz com desconhecidos - disse otio 'edro -, as foi sempre t#o manso com a Elisa e os pequenos que eu os dei5ava

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tranquilamente com ele. A Elisa n#o conseguia compreender o que se passava.0epois de ela se meter em casa, o c#o come3ou a andar 6 volta da casa e a

rosnar. )odas as vezes que a Elisa come3ava a a%rir a porta, ele saltava e rosnava.- Estaria raivosoH - perguntou a m#e de +aura.

- Foi o que eu pensei - respondeu a tia Elisa. - "#o sa%ia que fazer. Ali estavaeu, fechada em casa com os pequenos e sem me atrever a sair E n#o t;nhamoságua nenhuma. "em sequer podia apanhar um %ocado de neve para derreter, pois%astava-me a%rir uma nesgazinha da porta para o 'r;ncipe dar a impress#o de mequerer fazer em fanicos.

- <uanto tempo durou issoH - perguntou o pai de +aura.- )odo o dia, at1 ao fim da tarde - respondeu-lhe a tia Elisa. - $e o 'edro n#o

tivesse levado a espingarda, eu teria dado um tiro no c#o.- 'ara o fim da tarde - continuou o tio 'edro -, ele serenou e deitou-se diante

da porta. Elisa pensou que estivesse a dormir e decidiu tentar passar sorrateiramente por ele e ir %uscar água 6 nascente.

A%riu a porta muito devagarinho, mas, claro, ele acordou logo. <uando viuque ela tinha o %alde da água na m#o, levantou-se e seguiu 6 frente para anascente, como de costume. A toda a volta da nascente havia pegadas recentes deuma pantera.

- As pegadas eram do tamanho da minha m#o disse a tia Elisa.- $im, tratava-se de um grande %icho - confirmou o tio 'edro. - "unca vi

rastros t#o grandes como aqueles. "#o há d@vida de que teria apanhado a Elisa, seo 'r;ncipe a tivesse dei5ado ir 6 nascente, de manh#. Eu vi as pegadas. A panteratinha estado de tocaia em cima daquele grande carvalho da nascente, 6 espera queaparecesse algum animal para %e%er água. )er-se-ia, com certeza, atirado a Elisa.

Escurecia, quando ela viu as pegadas, e n#o perdeu tempo a voltar paracasa com o seu %alde de água. 'r;ncipe seguiu-a de perto e, de vez em quando,olhava para trás, para o %arranco.

- +evei-o para dentro de casa comigo - disse a tia Elisa. - Ficámos todos ládentro, at1 o 'edro voltar.

- Apanhaste-aH - perguntou o pai de +aura ao tio 'edro.- "#o. $a; com a espingarda e procurei nas imedia3Ces de casa, mas n#o a

encontrei. =i, no entanto, mais algumas pegadas suas9 seguira para norte,em%renhara-se mais na Grande Floresta.

Entretanto, Alice, Ella e aria tam%1m tinham acordado. +aura meteu aca%e3a de%ai5o da roupa e perguntou %ai5inho a Alice9

- "#o tiveste medoH Alice respondeu-lhe, tam%1m %ai5inho, que sim, que tivera medo, mas queElla ainda tivera mais. E Ella protestou que n#o senhora, que n#o tivera nada maismedo.

- em, pelo menos %arafustaste mais por teres sede - cochichou Alice.&ontinuaram aos segredinhos, at1 a m#e de +aura dizer9- &arlos, as garotas nunca mais adormecem se n#o tocares para elas.'or isso, o pai de +aura foi %uscar a ra%eca. A sala estava silenciosa, quente e iluminada pela luz do lume que ardia na

lareira. As som%ras da m#e, da tia Elisa e do tio 'edro tremiam, muito grandes, nasparedes, 6 claridade tr1mula, e a ra%eca do pai tocava, alegremente, para si mesma.

)ocou &heiro do 'inheiro, A =itela /ussa, $onho do 0ia%o e =ia:ante do Ar8ansas. +aura adormeceu enquanto o pai e a ra%eca cantavam, am%os,docemente9

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inha querida 0ora, foste-te em%ora,E eu nunca mais verei o meu amor.

0e manh#, acordaram quase todos ao mesmo tempo. lharam para as meiase viram que tinham qualquer coisa dentro. 'ai "atal passara por ali Alice, Ella,+aura e 'edro, todos de camisa de dormir de flanela encarnada, levantaram-se aosgritos, para ver o que ele lhes trou5era.

&ada meia tinha um par de luvas de um tom vermelho-vivo e um chupa-chupacomprido de hortel#-pimenta 6s riscas encarnadas e %rancas muito %em feitinhas, decada lado.

Ficaram t#o contentes que, ao princ;pio, nem conseguiram falar. lharam, deolhos %rilhantes, para os encantadores presentes de "atal. as +aura era a maisfeliz de todos9 tam%1m lhe calhara uma %oneca de trapo.

Era uma linda %oneca, com a cara de pano %ranco e uns %otCezinhos pretos a

fazer de olhos. *m lápis preto desenhara-lhe as so%rancelhas e tinha as faces e a%oca vermelhas, com tinta feita de erva-tintureira. ca%elo era feito de l# preta, quefora entran3ada e depois desentran3ada, para ficar aos carac!is.

'or cima das meiazinhas de flanela encarnada tinha umas %otinazinhas depano preto, e o seu vestido de %onito tecido estampado cor-de-rosa e azul.

Era t#o %onita que +aura n#o foi capaz de dizer nada. Apertou muito a %onecaa si e esqueceu tudo o mais. $! perce%eu que estavam todos a olhar para elaquando a tia Elisa disse9

- "unca vi uns olhos t#o grandes As outras meninas n#o se sentiam inve:osas por +aura ter rece%ido uma

%oneca, al1m das luvas e do chupa-chupa, porque +aura era a mais pequenina detodas - tirando, claro, a %e%1 &arrie e a %e%ezinha da tia Elisa, 0ollB =arden. Estaseram t#o pequeninas que n#o sa%iam %rincar com %onecas. "em sequer aindasa%iam que havia o 'ai "atal $! sa%iam meter os dedinhos na %oca e palrar, por causa de tanta agita3#o.

+aura sentou-se na %eira da cama, a segurar a %oneca. Gostava muito dasluvas encarnadas e do chupa-chupa, mas do que mais gostava era da %oneca.&hamou-lhe &arlota.

0epois olharam todos para as luvas uns dos outros e e5perimentaram-nas,para ver se lhes serviam. 'edro deu uma grande dentada no chupa-chupa, mas Alice, Ella, aria e +aura preferiram lam%er os seus, para durarem mais.

- $im, senhor $im, senhor - e5clamou o tio 'edro. - "#o há ao menos umameia s! com uma chi%atinhaH 'ortaram-se todos assim t#o %emHas eles n#o podiam acreditar que o 'ai "atal fosse capaz de lhes dei5ar s!

uma chi%atinha. &laro que isso 6s vezes acontecia a alguns meninos, mas a elesn#o podia acontecer. Era t#o dif;cil portarem-se sempre %em, todos os dias, duranteum ano inteiro

- "#o arrelies os pequenos, 'edro - disse a tia Elisa.- +aura, n#o dei5as as outras meninas pegar na tua %onecaH - perguntou a

m#e de +aura, mas o que ela queria dizer era que as meninas n#o deviam ser ego;stas.

'or isso, +aura dei5ou aria pegar na sua %onita %oneca, depois Alice

tam%1m lhe pegou um %ocadinho e, por fim, foi a vez de Ella. Alisaram o %onitovestido e admiraram as meias de flanela encarnada, as %otinas pretas e o ca%elo del#, encaracolado. as +aura s! ficou descansada quando voltou a ter &arlota de

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novo nos %ra3os. pai e o tio 'edro tiveram cada qual o seu par de quentes luvas de l#,

tricotadas aos quadradinhos %rancos e azuis. A m#e e a tia Elisa 1 que as tinhamfeito.

 A tia Elisa trou5era para a m#e de +aura uma grande ma3# vermelha, todacheia de dentes de alho espetados. &heirava t#o %em E n#o se estragaria, que osdentes de alho n#o dei5ariam.

&ontinuaria s# e doce. A m#e de +aura deu 6 tia Elisa um agulheiro do feitio de um livrinho, que

fizera com %ocadinhos de seda, a servir de capas, e folhas de macia flanela %ranca,para espetar as agulhas. A flanela n#o dei5aria as agulhas enferru:ar.

 Admiraram todos a %onita consola da m#e de +aura. A tia Elisa disse que o tio'edro tam%1m lhe fizera uma - mas com desenhos diferentes, claro.

'ai "atal n#o lhes dera nada. 'ai "atal n#o dava prendas 6s pessoascrescidas, o que n#o queria dizer que elas n#o tivessem sido %oas. pai e a m#e de

+aura tinham sido %ons. "#o dava porque eram pessoas crescidas, e as pessoascrescidas deviam dar prendas umas 6s outras.

0epois os presentes tiveram de ser a%andonados por um %ocadinho. 'edrosaiu com o pai de +aura e o tio 'edro para tratarem dos animais, Alice e Ellaa:udaram a tia Elisa a fazer as camas e +aura e aria puseram a mesa, enquanto am#e preparava o pequeno-almo3o.

?avia panquecas para o pequeno-almo3o e a m#e de +aura fez um homemde massa para cada crian3a. 0isse-lhes que se apro5imassem um de cada vez, como prato, e eles pararam :unto do fog#o e puderam ver a m#e deitar uma colheradade massa e depois acrescentar os %ra3os, as pernas e a ca%e3a. Era engra3ado v-la virar o %oneco todo de uma vez, rápida e cuidadosamente, na chapa quente.<uando ficava pronto, passava-o, a fumegar, para o prato.

'edro comeu logo a ca%e3a do seu %oneco. as Alice, Ella, aria e +auracomeram devagarinho e aos %ocadinhos, primeiro os %ra3os e as pernas e depois ocorpo, dei5ando a ca%e3a para o fim.

Estava tanto frio que n#o puderam ir %rincar para fora de casa, masentretiveram-se a admirar as luvas novas e a lam%er os chupa-chupas. Al1m disso,sentaram-se todos no ch#o a ver os desenhos da ;%lia e os desenhos de todas asesp1cies de animais e aves do grande livro verde do pai de +aura. Esta estevesempre com a %oneca ao colo, n#o a largou nem um %ocadinho.

0epois seguiu-se o almo3o de "atal. Alice, Ella, 'edro, aria e +aura n#o

disseram nem uma palavra 6 mesa, pois sa%iam que as crian3as deviam ser vistas en#o ouvidas. as n#o precisaram de pedir que as servissem de novo. A m#e de+aura e a tia Elisa encarregaram-se de lhes encher o prato e dei5aram-nos comer todas as coisas %oas que lhes apeteceram.

- $! 1 "atal uma vez por ano - disse a tia Elisa. Almo3aram cedo, porque a tia Elisa, o tio 'edro e os primos tinham um longo

caminho a percorrer.- esmo que os cavalos v#o o mais depressa que possam, será dif;cil

chegarmos a casa antes de escurecer - disse o tio 'edro.'or isso, assim que aca%aram de almo3ar, o tio 'edro e o pai de +aura foram

atrelar os cavalos ao tren!, enquanto a m#e de +aura e a tia Elisa agasalhavam os

primos.Enfiaram grossas meias de l# por cima das meias e dos sapatos que :átraziam, cal3aram as luvas, vestiram os casacos e puseram 5ales e carapu3os

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quentes, a%afos de l# 6 volta do pesco3o e v1us grossos a proteger a cara. A m#e de +aura meteu-lhes %atatas assadas a escaldar nas algi%eiras, para

conservarem os dedos quentes, e os ferros de engomar da tia Elisa estavam aaquecer no fog#o, para lhes serem colocados aos p1s, no tren!. s co%ertores, as

mantas e as peles de %@falo tam%1m foram aquecidos.nstalaram-se todos no grande tren!, aconchegados e quentinhos, e o pai de+aura co%riu-os %em com a @ltima pele de %@falo.

- Adeus Adeus - gritaram, e lá foram, com os cavalos a trotar alegremente eos guizos do tren! a tocar.

'ouco depois, dei5ou de se ouvir a alegre guizalhada e o "atal aca%ou-se.h, mas tinha sido um "atal muito feliz

&A'()*+ =

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nverno come3ou a parecer muito comprido. +aura e aria sentiam-secansadas de estarem sempre em casa. 'rincipalmente aos domingos, o tempopassava muito devagarinho.

)odos os domingos, aria e +aura vestiam a sua melhor roupa, tanto de cimacomo de %ai5o, e punham fitas lavadas no ca%elo. Ficavam muito limpinhas, porquetinham tomado %anho no sá%ado 6 noite.

"o =er#o, tomavam %anho com água da nascente. as no nverno o paienchia a tina de neve limpa, que se derretia e transformava em água no fog#o dacozinha. 0epois, perto do fog#o e com um co%ertor a%erto em duas cadeiras a servir de cortina, a m#e dava %anho a +aura e em seguida a aria.

+aura tomava %anho primeiro porque era mais pequena do que aria. Aosá%ado tinha de ir para a cama cedo com a &arlota, porque depois de ela tomar %anho e vestir a camisa de dormir lavada o pai tinha de despe:ar a tina e de aencher novamente de neve para o %anho de aria. 0epois de aria se deitar, a m#etomava %anho atrás do co%ertor e, em seguida, tomava o pai. E pronto, ficavamtodos lavados para o domingo.

 Aos domingos, aria e +aura n#o podiam correr nem gritar, nem fazer %arulho nas suas %rincadeiras. aria n#o podia costurar a sua manta de retalhos e+aura n#o podia tricotar as luvinhas que estava a fazer para a %e%1 &arrie. 'odiamolhar, sossegadinhas, para as suas %onecas de papel, mas n#o lhes podiam

acrescentar nada de novo. "#o lhes era permitido fazer-lhes vestidos novos, nemmesmo s! presos com alfinetes.)inham de se sentar, caladas, a ouvir a m#e ler-lhes hist!rias da ;%lia ou

hist!rias de leCes, tigres e ursos %rancos do grande livro verde do pai, que sechamava As aravilhas do undo Animal. 'odiam ver os desenhos, pegar nas%onecas de trapo e falar com elas. as n#o podiam fazer mais nada.

0o que +aura mais gostava era de ver os desenhos da grande ;%lia, forradade papel. melhor de todos era o desenho de Ad#o a p2r os nomes aos animais.

 Ad#o estava sentado numa pedra, com todos os animais e todas as aves,grandes e pequenos, reunidos 6 sua volta, ansiosamente 6 espera de que ele lhesdissesse que g1nero de animais eram. Ad#o parecia muito confortável. "#o

precisava de ter cuidado para n#o su:ar a roupa, pois n#o usava roupa. $! tinhauma pele atada 6 cintura.- Ad#o tinha roupas %oas para usar aos domingosH - perguntou +aura 6

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m#e.- "#o - respondeu-lhe a m#e. - &oitadinho do Ad#o, s! tinha peles para se

co%rir.as +aura n#o tinha pena do Ad#o. <uem lhe dera tam%1m s! ter peles para

se co%rir*m domingo, depois do :antar, n#o agDentou mais. &ome3ou a %rincar com o7ac8 e n#o tardou a correr e a gritar. pai mandou-a sentar-se na cadeira e estar quieta e calada, mas ela, quando se sentou, come3ou a chorar e a %ater com oscalcanhares na cadeira.

- deio o domingo - e5clamou. pai pousou o livro e chamou-a, muito s1rio9- =em cá, +aura.Ela foi a arrastar os p1s, pois sa%ia que merecia uma sova. as o pai olhou-a

um momento, pesaroso, e depois sentou-a no :oelho e pu5ou-a para si. Estendeu ooutro %ra3o a aria e disse9

- =ou-lhes contar uma hist!ria de quando o av2 era pequeno.

 A hist!ria do tren! do av2 e do porco

- <uando o teu av2 era pequeno, +aura, o domingo n#o come3ava nodomingo de manh#, como agora9 come3ava ao p2r do $ol de sá%ado. A partir dessemomento, toda a gente parava de tra%alhar ou de %rincar fosse com o que fosse.

:antar era solene e, no fim, o pai do av2 lia um cap;tulo da ;%lia em vozalta, enquanto todos o escutavam, quietos e calados, nas suas cadeiras. 0epoisa:oelhavam-se e o pai dizia uma longa ora3#o. <uando ele dizia IAm1nJ,levantavam-se, pegava cada qual na sua vela e iam para a cama. )inham de ir logopara a cama, sem %rincarem, rirem ou falarem, sequer.

"o domingo de manh# comiam um pequeno-almo3o frio, porque ao domingon#o se podia cozinhar nada. Em seguida vestiam as melhores roupas e iam a p1 6igre:a. am a p1 porque atrelar os cavalos era tra%alho, e ao domingo n#o se podiatra%alhar.

)inham de caminhar devagar e muito s1rios, a olhar em frente. "#o podiamgrace:ar nem rir, nem mesmo sorrir. av2 e os seus dois irm#os iam 6 frente e o paie a m#e caminhavam atrás.

"a igre:a, o av2 e os irm#os tinham de ficar sentados muito quietos, duranteduas longas horas, a ouvir o serm#o. "#o se atreviam a me5er-se no %anco duro ou

a %alan3ar os p1s e ai deles se olhavam para as :anelas, para as paredes ou para otecto da igre:a )inham de estar perfeitamente im!veis e sem desviar, um momentoque fosse, os olhos do pregador.

Aca%ado o serm#o, regressavam a casa, devagar. 'odiam falar no caminho,mas s! em voz %ai5a e sem rir nem sorrir. Em casa esperava-os um almo3o frio,preparado na v1spera. 0epois tinham de passar a tarde toda sentados num %anco,ao lado uns dos outros, a estudar o catecismo, at1 o $ol se p2r, finalmente, e aca%ar o domingo.

A casa do av2 ficava mais ou menos a meio da encosta de um monte;ngreme. A estrada descia do cimo ao sop1 do monte, passando mesmo pela portada frente do av2, e no nverno era o melhor lugar para escorregar que possam

imaginar.*ma semana, o av2 e os seus dois irm#os, que se chamavam 7aime e7orge, come3aram a fazer um tren! novo. )ra%alhavam nele todos os momentos do

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tempo para %rincar de que dispunham. "unca tinham feito um tren! melhor, t#ocomprido que nele ca%iam os trs, sentados uns atrás dos outros.

)inham decidido aca%á-lo a tempo de escorregarem pela encosta a%ai5o nosá%ado de tarde, pois nesse dia dispunham de duas ou trs horas para %rincar.

as nessa semana o pai deles andou a derru%ar árvores na FlorestaGrande. )inha muito que fazer e, por isso, levava os filhos consigo, para o a:udarem.Faziam os tra%alhos da manh# 6 luz da lanterna e quando o $ol nascia :á estavam atra%alhar duramente na floresta. )ra%alhavam at1 escurecer, depois tinham de tratar dos animais e a seguir ao :antar iam para a cama para se poderem levantar cedo nodia seguinte.

$! tiveram tempo para tra%alhar no tren! no sá%ado de tarde. em seapressaram, %em tra%alharam o mais depressa que puderam, mas s! o aca%arammesmo quando o $ol se p2s, ao anoitecer de sá%ado.

&laro que depois do p2r do $ol n#o puderam deslizar pela encosta a%ai5o,nem sequer uma vez. sso seria desrespeitar o dia de descanso. 'or esse motivo,

puseram o tren! no telheiro das traseiras da casa, 6 espera que o domingoterminasse.

"o dia seguinte, durante as duas compridas horas passadas na igre:a,em%ora mantivessem os p1s quietos e os olhos no pregador, s! pensavam no tren!.Em casa, enquanto almo3avam, tam%1m n#o conseguiram pensar noutra coisa.0epois do almo3o, o pai deles sentou-se a ler a ;%lia e o av2, 7aime e 7orgesentaram-se no %anco, quietinhos como ratos, com o catecismo. as continuavam apensar no tren!.

$ol %rilhava vivamente e a neve estava lisinha e cintilante, na estrada.=iam-na atrav1s da :anela. Estava um dia perfeito para deslizar pela encosta a%ai5o.s trs rapazes olhavam para o catecismo, pensavam no tren! novo e parecia-lhesque o domingo nunca mais aca%ava.

'assado muito tempo, ouviram ressonar. lharam para o pai e viram quetinha a ca%e3a inclinada para trás e dormia a sono solto.

Ent#o 7aime olhou para 7orge, levantou-se e saiu da sala p1 ante p1, pelaporta das traseiras. 7orge olhou para o vosso av2 e saiu tam%1m p1 ante p1, atrásde 7aime. vosso av2 olhou, receoso, para o pai, mas lá foi tam%1m, p1 ante p1,atrás de 7orge, e dei5ou o pai a ressonar.

Foram %uscar o tren! novo e levaram-no, sem fazer %arulho, para o cimo domonte. A sua inten3#o era deslizarem pela encosta a%ai5o s! uma vez. Em seguida,arrumariam o tren! e esgueirar-se-iam para o %anco e para o estudo do catecismo,

antes que o pai acordasse.7aime sentou-se no lugar da frente do tren!, seguido por 7orge e finalmentepelo vosso av2, que era o mais pequeno dos trs. tren! come3ou a deslizar,primeiro devagar e em seguida com velocidade crescente. &orria, voava pelacomprida e ;ngreme encosta a%ai5o, mas os rapazes n#o ousavam gritar a suaalegria. )inham de passar em silncio pela casa, sem acordar o pai.

@nico som que se ouvia era o leve chiado dos patins na neve e o silvo dadesloca3#o do ar.

"isto, quando o tren! descia vertiginosamente na direc3#o da casa, surgiuda floresta um grande porco preto, que foi parar mesmo no meio da estrada.

tren! ia t#o depressa que n#o era poss;vel pará-lo. )am%1m n#o havia

tempo para o virar. 'or isso, passou mesmo por %ai5o do porco, que grunhiu e foiaterrar no colo de 7aime. E o dem!nio do %icho continuou a grunhir ruidosa, longa eesgani3adamente9 $qui-i-i-i-i $qui-i-i-i-i

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'assaram pela casa como um raio, com o porco sentado 6 frente, depois7aime, depois 7orge e por fim o vosso av2, e viram o pai 6 porta, a olhar para eles."#o puderam parar, n#o puderam esconder-se, n#o tiveram tempo para dizer nada.&ontinuaram lan3ados pela encosta a%ai5o, com o porco ao colo de 7aime e sem

parar de grunhir.<uando chegaram ao fim da encosta, parou. porco saltou de cima de7aime e correu para a floresta, sempre a grunhir.

s rapazes su%iram lenta e solenemente a estrada e foram arrumar o tren!.0epois entraram sorrateiramente em casa e sentaram-se em silncio no %anco. pai estava a ler a ;%lia. 0isse uma palavra para eles, mas n#o levantou a ca%e3a eolhou.

0epois continuou a ler e eles reataram o estudo do catecismo.as quando o $ol se p2s e o dia de descanso terminou, o pai levou-os para

o telheiro da lenha e chegou-lhes a roupa ao plo9 primeiro a 7aime, depois a 7orgee por fim ao vosso av2.

'or isso, +aura, e tu tam%1m, aria, talvez achem dif;cil serem %oasmeninas, mas deviam alegrar-se por n#o ser t#o dif;cil agora como quando o av2 erarapaz.

- As meninas pequenas tam%1m tinham de ser assim t#o %oasH - perguntou+aura.

- 'ara as meninas ainda era mais dif;cil do que para os rapazes sim, -respondeu-lhe a m#e - pois elas tinham de se comportar como senhorinhas todos osdias e n#o s! aos domingos. As meninas pequenas n#o podiam deslizar pelaencosta, como os rapazes. As meninas pequenas tinham de ficar sentadinhas emcasa, a fazer amostras de %ordados.

- =á, agora dei5em a m#e met-las na cama disse o pai, e tirou a ra%eca dacai5a.

+aura e aria deitaram-se na cama %ai5a a ouvir os hinos dominicais, poisnem mesmo a ra%eca podia tocar can3Ces dos dias da semana ao domingo.

7esus &risto, rece%e-me, cantou o pai com a ra%eca. E depois continuou acantar9

$erá :usto que eu su%a ao &1uEm floridos leitos de %em-estar,Enquanto outros lutaram por tal pr1mioE navegaram por sangrentos maresH

+aura come3ou a sentir-se flutuar com a m@sica e, de s@%ito, ouviu um%arulho forte... E viu a m#e ao fog#o, a preparar o pequeno-almo3o.Era segunda-feira de manh# e s! dali a uma semana inteirinha voltaria a ser 

domingo."essa manh#, quando entrou em casa para tomar o pequeno-almo3o, o pai

agarrou +aura e disse que tinha de lhe dar uma sova.'rimeiro e5plicou que era o dia dos anos dela e que +aura n#o cresceria

convenientemente, no ano seguinte, se n#o levasse uma sova. 0epois come3ou adar-lhe a3oites t#o devagar e com tanto cuidado que n#o lhe doeram nada.

- *m.. 0ois.. )rs... <uatro... &inco.. $eis... - foi contando, enquanto lhe %atia,levezinho9 um a3oite por cada ano e o @ltimo com mais for3a, para crescer.

Em seguida, o pai deu-lhe um %onequinho de madeira, que fizera de um pau,com a navalha para servir de companhia a &arlota. A m#e deu-lhe cinco %olinhos,um por cada ano que vivera com os pais, e aria deu-lhe um vestidinho novo para

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&arlota. Fora ela mesma quem o fizera, quando +aura a :ulgara a tra%alhar na mantade retalhos.

"essa noite, como presente especial de aniversário, o pai tocou para ela9 Kut,foge a doninha

$entou-se com +aura e aria encostadas aos seus :oelhos, enquanto tocava.- Agora olhem... lhem %em e talvez ve:am a doninha fugir, desta vez.0epois cantou9

*ma moeda para um novelo de linha,ais outra para uma agulhaE assim se vai o dinheiro...

+aura e aria inclinaram-se muito, de olhos atentos, pois sa%iam que chegarao momento.

Kut Ldisse o dedo do pai na cordaM, Foge a doninha Lcantou a ra%eca, como

se falasseM.as +aura e aria n#o tinham visto o dedo do pai fazer a corda cantar zut- h, fa3a outra vez, fa3a, por favor 'ediram-he.s olhos azuis do pai riram e a ra%eca continuou a tocar, enquanto ele

cantava9

 4 roda do %anco do sapateiro macaco perseguia a doninha. pregador %ei:ou a sapateira... Kut Foge a doninha

0esta vez tam%1m n#o viram o dedo do pai. Ele era t#o rápido que nuncaconseguiam v-lo.

'or isso, foram a rir para a cama e ficaram deitadas a ouvir o pai e a ra%ecacantarem9

Era uma vez um velho preto,)io "ed de nome seu,<ue há muito, muito, morreu."o cocuruto n#o tinha, n#o tinha,"em um pelinho de carapinha

$eus dedos eram compridos&omo :uncos no canavial,$eus olhos viam mal, t#o mal,E dentes pNra %roa... :á os tivera.'or isso, era como se %roa n#o houvera.

 Assim, pendurou en5ada e pá,0eitou na cai5a arco e ra%ec#o.)ra%alho para o )io "ed :á n#o há9Foi para onde os pretos %ons v#o.

 &A'()*+ =

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 0$ G/A"0E$ */$$

*m dia, o pai disse que vinha a; a 'rimavera. A neve come3ava a derreter-sena Grande Floresta, ca;a aos %ocados dos ramos das árvores e fazia pequenos

%uracos na neve amolecida do ch#o. Ao meio-dia, todos os grandes pingentes degelo do %eiral da casinha tremeluziam e cintilavam ao sol e das suas pontaspendiam tr1mulas gotas de água.

pai disse que tinha de ir 6 cidade trocar as peles dos animais selvagensque apanhara nas armadilhas durante todo o nverno. 'or isso, uma noite, fez umgrande fardo com elas. Eram tantas peles que, depois de acamadas umas em cimadas outras e %em atadas, faziam um fardo quase do tamanho do pai.

0e manh#zinha muito cedo, o pai prendeu o fardo de peles 6s costas, comcorreias, e p2s-se a caminho da cidade, a p1. )inha de carregar tantas peles quen#o p2de levar a espingarda.

 A m#e ficou preocupada, mas o pai disse que, partindo antes de nascer o $ol

e andando muito depressa todo o dia, poderia estar de novo em casa antes deescurecer.

 A cidade mais pr!5ima ficava muito longe. +aura e aria nunca tinham vistouma cidade. "em nunca tinham visto um armaz1m. "unca tinham visto, sequer,duas casas ao lado uma da outra. as sa%iam que numa cidade havia muitas casase um armaz1m cheio de re%u3ados, tecidos e outras coisas maravilhosas9 p!lvora,chum%o, sal e a3@car de armaz1m.

$a%iam que o pai iria ao armaz1m e trocaria as suas peles por coisas %onitasda cidade. 'or isso, passaram o dia todo 6 espera dos presentes que ele lhes traria.<uando o $ol desceu 6 altura da copa das árvores e dei5aram de cair pingos deágua dos pingentes de gelo, come3aram a aguardar ansiosamente o pai.

$ol desapareceu, a floresta escureceu e o pai n#o chegou. A m#e come3oua fazer o :antar e p2s a mesa, e ele sem chegar. Eram horas de tratar dos animais eele ainda n#o chegara.

 A m#e disse a +aura que podia ir com ela, mungir a vaca. +aura seguraria nalanterna.

+aura vestiu o casaco e a m#e a%otoou-lho. 0epois +aura cal3ou as luvasencarnadas, que lhe pendiam do pesco3o, suspensas de um fio da mesma cor,enquanto a m#e acendia a vela da lanterna.

+aura sentia-se orgulhosa por ir a:udar a m#e a ordenhar e levava a lanternacom muito cuidado. s lados da lanterna eram de lata, mas tinham %ocadinhos

cortados, para dei5ar passar a luz da vela.Enquanto +aura caminhava atrás da m#e no carreiro que levava ao está%ulo,os %ocadinhos de luz da vela que se coavam pela lanterna saltavam 6 sua volta, naneve. Ainda n#o escurecera por completo. A floresta estava escura, mas havia umaclaridade acinzentada no carreiro co%erto de neve e no c1u %rilhavam algumasestrelas pálidas, que n#o pareciam t#o quentes nem t#o luminosas como as luzinhasque sa;am da lanterna.

+aura ficou surpreendida ao ver o vulto escuro de $u8eB, a vaca castanha, :unto da cancela do pátio do está%ulo. A m#e tam%1m se admirou.

 Ainda era muito cedo para soltar a $u8eB e dei5á-la ir comer erva na GrandeFloresta. 'or isso, ela vivia no está%ulo. as 6s vezes, quando os dias estavam

menos frios, o pai dei5ava a porta do está%ulo a%erta, para ela poder ir at1 ao pátio."aquela noite, a m#e e +aura viram-na atrás da veda3#o, 6 espera delas. A m#e apro5imou-se da cancela e empurrou-a, para a a%rir. as a cancela

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n#o se a%riu muito, porque $u8eB estava encostada a ela.- Afasta-te, $u8eB - disse a m#e, ao mesmo tempo que estendia a m#o e

%atia no lom%o da vaca.'recisamente nesse instante, um dos saltitantes %ocadinhos de luz da

lanterna passou por entre os troncos da cancela e +aura viu um plo preto, compridoe emaranhado, e dois olhinhos cintilantes. A $u8eB tinha plo castanho, curto e ralo e olhos grandes e meigos.- +aura, volta para casa - mandou a m#e.+aura virou-se e come3ou a andar para casa. A m#e seguia-a. <uando tinham

percorrido parte do caminho, a m#e pegou-lhe ao colo, com lanterna e tudo, edesatou a correr. Entrou em casa a correr e fechou logo a porta.

Ent#o +aura perguntou-lhe9- Era um urso, #H- Era, sim, era um urso.+aura come3ou a chorar. Agarrou-se 6 m#e, a solu3ar.

- =ai comer a $u8eBH- "#o - respondeu a m#e, a a%ra3á-la. - A $u8eB está em seguran3a, no

está%ulo. +em%ra-te de todos aqueles troncos grandes e pesados das paredes doestá%ulo. E a porta tam%1m 1 pesada e s!lida, feita para n#o dei5ar entrar ursos."#o, +aura, nenhum urso pode entrar e comer a $u8eB.

+aura sentiu-se mais tranqDila.- as podia ter-nos feito mal, n#o podiaH- "#o nos fez mal nenhum - respondeu a m#e. - Foste uma %oa menina,

+aura, fizeste e5actamente o que te disse, depressa e sem fazeres perguntas. A m#e, que estava a tremer, riu-se um %ocadinho.- maginem, dei uma palmada num urso - e5clamou.0epois p2s o :antar na mesa, para +aura e aria. pai ainda n#o chegara.

"em chegou enquanto comeram. A m#e despiu +aura e aria, que disseram assuas ora3Ces e se aninharam na cama %ai5a.

 A m#e sentou-se :unto do candeeiro, a remendar uma camisa do pai. A casaparecia fria, silenciosa e estranha sem ele.

+aura ouvia o vento na Grande Floresta. vento chorava a toda a volta dacasa, como se estivesse perdido na escurid#o e no frio. 'arecia assustado.

 A m#e aca%ou de remendar a camisa. +aura viu-a do%rá-la devagar ecuidadosamente e alisá-la com a m#o. 0epois fez uma coisa que nunca a vira fazer9foi 6 porta e pu5ou para dentro, atrav1s do %uraco, a tira de couro do fecho. Assim,

ningu1m poderia entrar se ela n#o levantasse o fecho. Em seguida foi 6 camagrande e pegou em &arrie, que dormia, ao colo.=iu que +aura e aria ainda estavam acordadas e disse-lhes9- 0urmam, filhas. "#o há motivo para preocupa3Ces. pai :á cá estará de

manh#.=oltou para a cadeira de %alan3o e sentou-se, a %alan3ar-se devagarinho,

com a %e%1 &arrie ao colo.a ficar a p1 at1 tarde, 6 espera do pai, e +aura e aria tam%1m estavam

decididas a n#o adormecer enquanto ele n#o chegasse. as o sono aca%ou por venc-las.

0e manh# o pai :á estava em casa. )rou5era chupa-chupas para +aura e

aria e chita %onita para fazer um vestido a cada uma9 o de aria tinha um desenhoazul-porcelana so%re fundo %ranco e o de +aura era vermelho-escuro com pintinhascastanho-douradas. )am%1m havia tecido para um vestido para a m#e9 castanho,

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todo co%erto de um padr#o plumoso, grande e %ranco.Estavam todos muito contentes, pois o pai o%tivera t#o %ons pre3os para as

peles que lhes pudera trazer prendas t#o %onitas. grande urso dei5ara pegadas a toda a volta do está%ulo, assim como

marcas das garras nas paredes. as $u8eB e os cavalos estavam em seguran3a, ládentro. $ol %rilhou todo o dia, a neve derreteu-se e dos pingentes de gelo, que se

tornavam cada vez mais delgados, correram fiozinhos de água. Antes de escurecer,as pegadas do urso estavam reduzidas a marcas informes na neve @mida e mole.

0epois do :antar, o pai sentou +aura e aria nos :oelhos e disse que tinhauma hist!ria nova para lhes contar.

 A hist!ria do pai e do urso encontrado no caminho

- ntem, quando fui 6 cidade com as peles, tive dificuldade em caminhar na

neve mole. +evei muito tempo a chegar e, entretanto, tinham chegado outroshomens com as suas peles para trocar, primeiro do que eu. dono do armaz1mestava atarefado e, por isso, tive de esperar que pudesse ver as minhas peles.

0epois tivemos de discutir o pre3o de cada uma e, em seguida, eu tive deescolher as coisas que queria em troca. 'or isso, o $ol estava quase a desaparecer quando me pus a caminho de casa.

)entei vir depressa, mas era dif;cil caminhar e eu estava cansado. Assim,n#o tinha avan3ado muito quando a noite chegou e me encontrou sozinho e sem aminha espingarda na Grande Floresta.

Ainda tinha de calcorrear dez quil!metros e continuei a andar, o maisdepressa que pude. A noite foi-se tornando cada vez mais escura e eu comecei apreocupar-me por n#o ter a espingarda, pois sa%ia que alguns ursos :á tinham sa;dodas suas cavernas de nverno. =ira-lhes os rastros de manh#, 6 ida para a cidade.

s ursos est#o famintos e zangados nesta 1poca do ano. &omo sa%em,passam o nverno todo a dormir nas cavernas, sem nada que comer, e, por isso,quando acordam est#o magros e mal dispostos. "#o dese:ava nada encontrar um.

&ontinuei a andar o mais depressa poss;vel, 6s escuras. 0e quando emquando, as estrelas davam uma claridadezinha. Ainda estava escuro como %reuonde as árvores eram mais densas, mas nos espa3os a%ertos conseguia ver vagamente. =ia um pequeno tro3o de estrada co%erta de neve 6 minha frente e asnegras florestas a toda a minha volta. Fiquei contente quando cheguei a uma

clareira e as estrelas me deram a claridadezinha de que falei.a andando o mais atento que podia, n#o fosse aparecer algum urso. Estavade ouvido apurado, para escutar o %arulho que eles fazem quando passamdescuidadamente pelo meio do matagal.

0epois cheguei a outra clareira e, mesmo no meio do meu caminho, vi umgrande urso preto.

Estava de p1, apoiado nas patas traseiras, a olhar para mim. =i-lhe os olhos%rilhar e o focinho de porco. =i-lhe at1 uma das garras, 6 luz das estrelas.

'useram-se-me os ca%elos em p1. 'arei logo e fiquei im!vel. urso n#o seme5eu. &ontinuou parado, a olhar para mim.

Eu sa%ia que seria in@til tentar contorná-lo pois ele seguir-me-ia no escuro da

floresta, onde veria melhor do que eu. "#o me apetecia nada lutar com um ursoesfomeado, 6s escuras. h , como dese:ei ter a minha espingarda)inha de passar pelo dem!nio do urso para chegar a casa. 'ensei que, se

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conseguisse assustá-lo, talvez ele se afastasse do caminho e me dei5asse passar.'or isso, respirei fundo e, de repente, desatei a gritar com toda a for3a e corri paraele, a agitar os %ra3os.

"#o se me5eu.

Garanto-lhes que n#o me atrevi a apro5imar-me muito dele 'arei a olhá-lo, eele continuou especado, tam%1m a olhar-me. Gritei outra vez... e nada. &ontinuei agritar e a agitar os %ra3os, mas ele n#o tugia nem mugia.

em, n#o me serviria de nada fugir. ?avia outros ursos na floresta. 'odiaencontrar algum de um momento para o outro. 'or isso, mais valia avir-me comaquele. Al1m disso, vinha para casa, para :unto da m#e e de vocs, e nunca mais cáchegaria se fugisse de tudo quanto me assustasse na floresta.

'or fim, olhei em redor e encontrei um %om cacete, um ramo s!lido e pesadoque o peso da neve separara de uma árvore, no nverno.

Agarrei-o com am%as as m#os e corri para o urso. randi o cacete comquanta for3a tinha e, zás, dei-lhe com ele na ca%e3a.

as o urso continuou im!vel, pois n#o passava de um grande tronco preto,queimado

'assara por ele a caminho da cidade, de manh#. "#o era urso nenhum. $!me pareceu que era porque viera sempre a pensar em ursos e com medo deencontrar algum.

- "#o era mesmo um urso, realmenteH perguntou aria.- "#o, aria, n#o era realmente um urso. E ali estivera eu a gritar, a correr e a

agitar os %ra3os, sozinho na Grande Floresta, a tentar assustar um toco de árvore- nosso era um urso a s1rio - disse +aura. as n!s n#o nos assustámos

porque pensámos que era a $u8eB. pai apertou-a mais a si, sem dizer nada.- h, aquele urso podia ter-nos comido todas, 6 # e a mim - e5clamou

+aura, e aninhou-se melhor no colo do pai. - as a # foi direita a ele e deu-lhe umapalmada, e o urso n#o fez nada. 'orque seria que n#o fez nadaH

- &reio que ficou t#o surpreendido que n#o foi capaz de fazer nada, +aura -respondeu-lhe o pai. - Acho tam%1m que se assustou, quando a luz da lanterna lhe%ateu nos olhos. E quando a m#e foi direita a ele e lhe deu uma palmada, o ursoperce%eu que ela n#o tinha medo.

- em, o 'á tam%1m foi valente - disse +aura. - Era apenas um tronco, mas o'á pensava que era um urso. )er-lhe-ia %atido na ca%e3a com o cacete, se fossemesmo um urso n#o teriaH

- &laro que teria. "#o tinha outro rem1dio, compreendesHEnt#o a m#e disse que eram horas de ir para a cama. A:udou +aura e aria adespirem-se e a%otoou-lhes as camisas de dormir de flanela encarnada. As duasa:oelharam-se ao lado da cama %ai5a e disseram as suas ora3Ces9

 Agora que para dormir me vou deitar,'e3o a 0eus para a minha alma guardar.E se antes de acordar eu morrer,'e3o a 0eus para a minha alma rece%er.

 A m#e %ei:ou as duas e aconchegou-lhes a roupa. Ficaram um %ocadinho

acordadas, a olhar para o ca%elo liso, com risco ao meio, da m#e e a ver as suasm#os atarefadas a costurar, 6 luz do candeeiro. A agulha fazia um tinidozinho, ao%ater no dedal, e depois a linha atravessava suavemente - suiche a chita %onita

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que o pai trou5era em troca das peles.+aura olhou para o pai, que estava a ense%ar as %otas. %igode, o ca%elo e

a comprida %ar%a castanha pareciam seda 6 luz do candeeiro, que tornava alegre ascores do seu casaco aos quadrados. pai asso%iava alegremente, enquanto

tra%alhava, e depois come3ou a cantar9

s pássaros cantavam na manh#, A murta e a hera desa%rochavamE o $ol espreitava so%re os montesquando eu a deitei na sepultura.

Estava uma noite quente. lume reduzira-se a %rasas, na chamin1, mas opai n#o lhe deitara mais lenha. A toda a volta da casinha, na Grande Floresta,ouviam-se sons leves, de neve a cair, e o gote:ar dos pingentes de gelo dos %eirais aderreter-se.

0entro de pouco tempo as árvores come3ariam a vestir-se de folhas novas,todas rosadas, amarelas e verde-pálidas, e na floresta haveria flores silvestres epássaros.

 Aca%ar-se-iam, ent#o, as hist!rias 6 lareira, 6 noite, mas durante o dia todo+aura e aria correriam e %rincariam entre as árvores, pois seria 'rimavera.

 &A'()*+ =

 "E=E 0&E

0urante dias o $ol %rilhou e o tempo aqueceu. 7á n#o havia geadas nas :anelas, de manh#. s pingentes de gelo levavam o dia a cair, um por um, dos%eirais, e desfaziam-se, com suaves splashes E estalidos, na neve que seamontoava em %ai5o. As árvores sacudiam os ramos @midos e pretos e dei5avamcair grandes %ocados de neve.

<uando aria e +aura encostavam o nariz ao vidro frio da :anela, viam o fiode água que pingava dos %eirais e os ramos nus das árvores. A neve n#o %rilhava>parecia mole e cansada. 0e%ai5o das árvores estava es%uracada, onde os %ocadosde neve tinham ca;do, e os aterros que ladeavam o caminho iam diminuindo eassentando.

 At1 que um dia +aura viu uma mancha de terra nua, no pátio. A mancha foi

crescendo, todo o dia, e antes de anoitecer no pátio todo :á s! havia lama.$! restavam o caminho gelado e os aterros de neve ao longo do caminho eda cerca e ao lado do monte de lenha.

- "#o posso ir %rincar lá para fora, #H - perguntou +aura.- Amanh#, podes - prometeu-lhe a m#e."essa noite, +aura acordou a tremer de frio. s co%ertores da cama

pareciam-lhe leves e tinha o nariz gelado. A m#e estava a tapá-la com outra manta.- &hega-te mais para a aria e aquecerás -, disse-lhe a m#e.0e manh# a casa estava quente, do fog#o, mas quando +aura olhou pela

 :anela viu que o ch#o estava co%erto de neve macia e densa. A neve empilhava-se,como plumas, ao longo dos ramos das árvores, formava montes no cimo da veda3#o

e adornava o alto dos postes do port#o com grandes %olas %rancas. pai entrou, a sacudir a neve macia dos om%ros e a %ater os p1s, para asacudir das %otas.

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- O neve doce - anunciou.+aura chegou rapidamente a l;ngua a um %ocadinho de neve %ranca que se

encontrava numa prega da manga do pai. as s! a sentiu @mida na l;ngua, comoqualquer outra neve. Ficou contente por ningu1m ter visto o seu gesto.

- O neve doce por que, 'áH - perguntou, mas o pai respondeu-lhe quenaquele momento n#o tinha tempo para lhe e5plicar> ia a casa do av2 e estava compressa.

av2 vivia muito longe, num lugar da Grande Floresta onde as árvoresestavam mais :untas e eram maiores.

+aura foi 6 :anela e viu o pai, alto, rápido e forte, afastar-se a p1, na neve.+evava a espingarda ao om%ro, a machada e o polvorinho 6 cinta e as suas %otasaltas dei5avam grandes rastros na neve mole. +aura seguiu-o com o olhar at1 eledesaparecer na floresta.

Era tarde quando voltou para casa, nessa noite. A m#e :á acendera ocandeeiro. pai trazia um grande em%rulho de%ai5o de um %ra3o e da outra m#o

pendia-lhe um grande %alde de madeira co%erto.- )oma, &arolina - disse, ao entregar o em%rulho e o %alde 6 m#e, e depois

arrumou a espingarda no seu suporte, por cima da porta.$e tivesse encontrado umurso - acrescentou -, n#o teria podido a%at-lo sem largar a carga. - 0eu umagargalhada. - E se largasse o em%rulho e o %alde, n#o precisaria de o a%ater.'oderia ter ficado quieto, a v-lo comer o que contm e lam%er os %ei3os.

 A m#e desfez o em%rulho e apareceram dois %olos castanhos e duros, cadaum do tamanho de uma %ilha de leite. 0epois a m#e destapou o %alde, que estavacheio de mela3o castanho-escuro.

- +aura, aria, tomem - disse o pai, e deu a cada uma delas um em%rulhinhoredondo que tirou da algi%eira.

)iraram o papel que os co%ria e ficou cada qual com um %olinho duro ecastanho, enrugado nas %ordas.

- 0em uma dentada - disse o pai, com os olhos azuis a %rilhar.0eram uma dentadinha na %orda enrugada dos %olos. Era doce e desfazia-se

na %oca. Ainda era melhor do que os chupa-chupas do "atal- A3@car de %ordo - e5plicou o pai. :antar estava pronto e +aura e aria puseram os %olinhos de a3@car de

%ordo ao lado do prato, enquanto comiam p#o com mela3o de %ordo.0epois do :antar, o pai sentou-se :unto do lume com elas nos :oelhos e falou-

lhes do seu dia em casa do av2 e da neve doce.

- av2 passou todo o nverno a fazer %aldes de madeira e pequenas calhas.F-los de cedro e frei5o %ranco, porque estas madeiras n#o d#o mau gosto aomela3o de %ordo.

'ara fazer as calhas, utilizou pequenos paus do comprimento da minha m#oe da grossura de dois dedos dos meus. 'erto de uma das pontas, o av2 cortou opau ao meio, no sentido do comprimento, e separou uma das metades. Ficou assimcom um pau chato, com um %ocado quadrado numa das e5tremidades. 0epois, comuma %roca, a%riu um %uraco, no sentido do comprimento, na parte quadrada e, coma faca, des%astou a madeira at1 ficar reduzida a uma camada fininha 6 volta do%uraco redondo. Em seguida, com a faca, escavou a parte achatada do pau, at1 atransformar numa calhazinha.

Fez d@zias delas e dez %aldes novos de madeira. )inha tudo pronto quandosurgiu o primeiro tempo quente e a seiva come3ou a percorrer as árvores.Ent#o foi ao %osque de %ordos e, com a %roca, a%riu um %uraco em cada

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árvore, introduziu nele a ponta redonda de uma calhazinha e colocou um %alde decedro por %ai5o.

&omo sa%em, a seiva 1 o sangue das árvores. $o%e das ra;zes quando otempo come3a a aquecer, na 'rimavera, e chega at1 6s pontinhas de todos os

ramos e galhos, para fazer crescer as folhas verdes.em, quando a seiva do %ordo chega ao %uraco a%erto no tronco, escorre daárvore para a calhazinha e desta para o %alde.

- h, e n#o faz doer 6 po%re árvoreH perguntou +aura.- 0!i-lhe tanto como quando tu picas um dedo e sangra - respondeu-lhe o pai.

av2 cal3a todos os dias as %otas, veste o casaco grosso e pCe o %arrete de pele, evai 6 floresta co%erta de neve recolher a seiva. =ai de árvore em árvore com um%arril em cima de um tren! e despe:a a seiva dos %aldes para o %arril. 0epoistransporta-o para um grande caldeir#o de ferro que se encontra suspenso por umacorrente de um tronco atravessado entre duas árvores.

0espe:a a seiva na caldeira de ferro, de%ai5o da qual está uma fogueira

acesa. A seiva ferve e o av2 assiste 6 opera3#o, cuidadosamente. lume deve ser suficiente para manter a seiva a ferver, mas n#o tanto que a fa3a deitar por fora.

)em de se escumar a seiva com intervalos de poucos minutos. av2escuma-a com uma grande concha de ca%o comprido, que ele fez de madeira det;lia. <uando a seiva fica demasiado quente, o av2 enche a concha, levanta-a muitoalto e despe:a-a de novo, devagarinho. /epete a opera3#o diversas vezes e issoarrefece um %ocadinho a seiva e evita que ferva muito depressa.

<uando a seiva ferveu tempo suficiente, o av2 enche os %aldes com omela3o o%tido. 0epois disso, ferve a seiva at1 ela granular, quando a arrefece numprato.

Assim que a seiva come3a a granular, o av2 retira o lume todo de %ai5o dacaldeira, muito depressa. 0epois, com toda a rapidez, deita o 5arope grosso, 6sconchas, para as latas de leite que tem preparadas e onde o 5arope se transformaem %olos de a3@car de %ordo castanho e duro.

- O por isso que esta se chama neve doce, porque o av2 está a fazer a3@carH- perguntou +aura.

- "#o - respondeu-lhe o pai. - &hama-se neve doce porque nevar nesta 1pocado ano significa que os homens podem fazer mais a3@car. Este pequeno per;odo frioe a neve retardar#o o crescimento das folhas das árvores e, por isso, a seiva terá decorrer durante mais tempo.

<uando a seiva corre mais tempo, o av2 pode fazer a3@car de %ordo

suficiente para o ano todo, para o uso diário corrente. Assim, quando leva as suaspeles 6 cidade, n#o precisa de trazer muito a3@car do armaz1m. asta-lhe umapequena quantidade, para p2r na mesa quando tem visitas.

- av2 deve estar contente com esta neve doce - disse +aura.- 'ois está, está muito contente. =ai outra vez fazer a3@car na segunda-feira e

disse para irmos todos.s olhos azuis do pai %rilhavam9 tinha estado a guardar o melhor para o fim- ?averá %aile, &arolina A m#e sorriu. 'areceu muito contente e interrompeu uns momentos a costura.- h, &arlos - e5clamou.0epois continuou a costurar, sem dei5ar de sorrir.

- +evarei o meu vestido de musselina de l#. vestido de musselina de l# da m#e era lindo. Era verde-escuro, com umdesenho pequenino de morangos maduros. Fizera-lho uma modista no +este, no

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lugar onde a m#e vivia quando casara com o pai e viera para este, para a GrandeFloresta de Wisconsin. A m#e andara muito 6 moda, antes de casar com o pai, etodas as suas roupas tinham sido feitas por uma modista.

vestido de musselina de l# estava em%rulhado em papel e guardado. +aura

e aria nunca a tinham visto usá-lo, mas ela mostrara-lho, uma vez. 0ei5ara-astocar nos %onitos %otCes encarnado-escuros que a%otoavam o corpo :usto, 6 frente,e mostrara-lhes como as %ar%as de %aleia estavam perfeitamente postas nascosturas, do lado de dentro, com centenas de pontinhos cruzados.

facto de a m#e ir usar o %onito vestido de musselina de l# demonstravacomo um %aile era importante. +aura e aria ficaram todas agitadas, saltaram nos :oelhos do pai e fizeram uma quantidade de perguntas a respeito do %aile, at1 eledizer9

- Agora toca a andar para a cama, meninas Ficar#o a sa%er tudo a respeitodo %aile quando o virem. )enho de p2r uma corda nova na minha ra%eca.

?avia dedos e %ocas pega:osas para lavar e depois houve que rezar as

ora3Ces. <uando +aura e aria ficaram, finalmente, aconchegadinhas na cama, :á opai e a ra%eca cantavam :untos, enquanto ele marcava o compasso com o p1 noch#o9

$ou o capit#o 7in8s da cavalaria, A fei:#o e milho o meu cavalo mantenhoE muitas vezes gasto mais do que tenho'orque sou o capit#o 7in8s da cavalaria'orque sou capit#o do e51rcito

 &A'()*+ =

 A+E E &A$A 0 A=P

"a segunda-feira toda a gente se levantou cedo, com pressa de se p2r acaminho de casa do av2. pai queria chegar a tempo de a:udar a recolher e ferver aseiva. A m#e a:udaria a av! e as tias a fazer %ons petiscos para todas as pessoasque iam ao %aile.

)omaram o pequeno-almo3o, lavaram a lou3a e fizeram as camas ainda 6 luzdo candeeiro. pai arrumou cuidadosamente a ra%eca numa cai5a e foi p2-la nogrande tren! que :á esperava 6 porta.

ar estava frio e a luz cinzenta quando +aura e aria e a m#e e &arrie seinstalaram, aconchegadas e quentinhas, de%ai5o das mantas e das peles, no fundoco%erto de palha do tren!.

s cavalos sacudiram a ca%e3a e empinaram-se, fazendo os guizos do tren!tocar alegremente, e lá foram pela estrada fora, atrav1s da Grande Floresta, paracasa do av2.

&omo a neve estava @mida e macia na estrada, o tren! deslizava velozmentee as grandes árvores pareciam correr, de am%os os lados.

'assado um %ocado, o sol %rilhou na floresta e o ar deu a impress#o decintilar. ?avia grandes riscas de luz amarela entre as som%ras dos troncos dasárvores e a neve ficou levemente rosada. )odas as som%ras eram azuladas e

estreitas e cada curvazinha dos montes, de neve e cada pequeno rastro na nevetinham a sua som%ra. pai mostrou a +aura os rastros de animais selvagens, na neve das %ermas

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da estrada9 as pegadas pequenas e saltitantes de coelhos, as pegadas min@sculasde ratos do campo e as pegadas, semelhantes a plumazinhas, de uma ave chamadaem%eriza-das-neves. as havia pegadas maiores, do tamanho das dos c#es, emlugares onde tinham corrido raposas, assim como as pegadas de um gamo que

entrara aos saltos na floresta. ar come3ou a aquecer e o pai disse que a neve n#o duraria muito.0a; a nada, entravam a deslizar na clareira onde ficava a casa do av2, com

todos os guizos a tocar. A av! veio 6 porta, sorriu e disse-lhes que entrassem, queentrassem.

0isse que o av2 e o tio 7orge :á estavam a tra%alhar nos %osques de %ordos.'or isso, o pai foi a:udá-los, enquanto +aura e aria, e a m#e com &arrie ao colo,entravam em casa da av! e tiravam os agasalhos.

+aura gostava muito da casa da av!, que era muito maior do que a deles.)inham um quarto grande, um quarto pequeno que era do tio 7orge e outro quartodas tias9 a tia 0!cia e a tia /u%i.

0epois havia a cozinha, com um enorme fog#o.Era divertido correr a todo o comprimento do quarto grande, desde a enorme

chamin1, que ficava a uma ponta, at1 6 cama da av!, que ficava de%ai5o da :anela,na outra ponta. ch#o era feito de tá%uas largas e grossas, que o av2 cortara detroncos, com o machado. Era muito liso e estava limpo e %ranco, de t#o esfregado. Agrande cama, de%ai5o da :anela, tinha colch#o de penas e era muito fofa.

dia pareceu passar muito depressa, enquanto +aura e aria %rincavam noquarto grande e a m#e a:udava a av! e as tias na cozinha. &omo os homens tinhamlevado almo3o para a floresta, n#o foi preciso p2r a mesa e elas comeramsandu;ches de veado frio e %e%eram leite. as a av! fez pudim de farinha de milhopara o :antar.

'arada :unto do fog#o, dei5ava correr a farinha amarela por entre os dedos,para um tacho onde fervia água com sal. Foi me5endo a água com uma grandecolher de pau e dei5ando correr a farinha, at1 o tacho ficar cheio de uma massaespessa e amarela, que fazia %olhas. 0epois colocou o tacho atrás do fog#o, para ir cozendo devagarinho.

&heirava %em. )oda a casa cheirava %em, com os odores doces e picantes dacozinha, o dos toros de nogueira que ardiam, com la%aredas luminosas, na lareira, eo de uma ma3# crave:ada de alhos, ao lado do cesto da costura da av!, em cima damesa. sol entrava pelos vidros reluzentes da :anela e era um regalo ver tudogrande, espa3oso e limpo.

 4 hora do :antar, o pai e o av2 vieram da floresta, trazendo cada um aosom%ros um :ugo de madeira que o av2 fizera. Estava afei3oado de maneira acontornar-lhes o pesco3o, atrás, e fora escavado para se lhes a:ustar aos om%ros.0e cada ponta pendia uma corrente com um gancho e de cada gancho estavasuspenso um grande %alde de madeira cheio de mela3o quente de %ordo.

pai e o av2 tinham trazido o mela3o do grande caldeir#o da floresta.mo%ilizavam os %aldes com as m#os, mas o peso e5ercia-se nos :ugos que traziamaos om%ros.

 A av! arran:ou espa3o no fog#o para uma grande caldeira de co%re. Era t#ogrande que nela cou%e o mela3o dos quatro %aldes, que o pai e o av2 lhedespe:aram para dentro.

0epois chegou o tio 7orge com um %alde de 5arope mais pequeno, e toda agente comeu, ao :antar, o pudim de farinha de milho quente, com mela3o de %ordo. tio 7orge era militar e estava em casa de licen3a. =estia o casaco azul de

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%otCes de lat#o do e51rcito, e tinha atrevidos e alegres olhos azuis. Era alto eespada@do, e gingava um %ocadinho, ao andar.

+aura n#o tirava os olhos dele enquanto comia o seu pudim de farinha demilho, pois ouvira o pai dizer 6 m#e que ele era estouvado.

- 7orge está estouvado, desde que veio da guerra, dissera o pai, a a%anar aca%e3a, como se lamentasse, mas n#o pudesse fazer nada. tio 7orge fugira de casa quando tinha catorze anos, para tocar tam%or no

e51rcito.+aura nunca tinha visto, antes, um homem estouvado, e n#o sa%ia se tinha

medo ou n#o do tio 7orge.<uando o :antar terminou, o tio 7orge foi 6 porta e tocou a sua corneta militar 

durante um %om %ocado e muito alto. 'roduzia um som vi%rante e agradável, quepercorria uma grande distância atrav1s da Grande Floresta. A floresta estava escurae silenciosa e as árvores im!veis, como se estivessem 6 escuta. 0epois o somvoltou, de muito longe, fraco mas claro, como se uma corneta pequenina

respondesse ao toque da grande.- Escuta - disse o tio 7orge. - "#o 1 %onitoH - +aura olhou-o, mas n#o

respondeu, e quando ele aca%ou de tocar correu para dentro de casa. A m#e e a av! levantaram a mesa, lavaram a lou3a e tiraram as cinzas do

fog#o, enquanto a tia 0!cia e a tia /u%i se punham %onitas no quarto.+aura sentou-se na cama, a v-las pentear o comprido ca%elo e dividi-lo

cuidadosamente em madei5as. A%riram um risco da testa at1 6 nuca e depois outrode orelha a orelha. Fizeram umas grandes tran3as com o ca%elo de trás e depoisenrolaram-nas cuidadosamente num carrapito grande.

)inham lavado muito %em as m#os e a cara com sa%onete, na %acia dacozinha. as tinham usado o sa%onete do armaz1m e n#o o sa%#o castanho-escuro, mole e escorregadio, que a av! fazia e guardava num %oi#o grande, parauso diário.

0emoraram muito tempo a arran:ar o ca%elo da frente e a verem o efeito, decandeeiro na m#o, no pequeno espelho suspenso da parede de troncos. Escovaramtanto o ca%elo de am%os os lados do risco %ranco que o dei5aram a %rilhar comoseda, 6 luz do candeeiro. A pequena poupa de cada lado tam%1m %rilhava. Aspontas foram muito %em torcidas e enroladas e metidas de%ai5o do carrapito de trás.

0epois cal3aram as %onitas meias %rancas arrendadas, que tinham feito delinha de algod#o fina, e cal3aram e a%otoaram as suas melhores %otinas. A:udaram-se uma 6 outra a vestir os espartilhos. A tia 0!cia pu5ou com quanta for3a tinha as

fitas do espartilho da tia /u%i, e depois agarrou-se aos p1s da cama enquanto a tia/u%i pu5ava o seu.- 'u5a, /u%i, pu5a - pedia a tia 0!cia ofegante. - 'u5a mais. A tia /u%i fincou %em os p1s e pu5ou com mais for3a, enquanto a tia 0!cia ia

medindo a cintura com as m#os. 'or fim, disse, sufocada9- &reio que n#o podes fazer melhor. E acrescentou9 - A &arolina diz que,

quando casaram, o &arlos lhe podia a%arcar a cintura com as m#os.&arolina era a m#e de +aura, e, por isso, ela sentiu-se orgulhosa, ao ouvir tais

palavras.Em seguida, a tia /u%i e a tia 0!cia vestiram a saia interior de flanela, a saia

interior simples e a saia %ranca, engomada e tesa, com renda a toda a volta dos

folhos. Finalmente, chegou a vez dos %onitos vestidos. da tia 0!cia era azul-escuro estampado, com muitos raminhos de floresencarnadas e folhas verdes. corpo :usto era todo a%otoado com %otCes pretos, t#o

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parecidos com sumarentas amoras pretas que +aura at1 teve vontade de os comer. vestido da tia /u%i era cor de vinho, com plumazinhas de tom mais claro.

)inha %otCes dourados, cada um com o desenho de um castelinho e uma árvore.*m grande camafeu redondo, com uma ca%e3a de senhora, prendia 6 frente

a %onita gola %ranca da tia 0!cia. A tia /u%i preferiu prender a sua com uma rosavermelha, feita de lacre. Ela pr!pria a fizera na ca%e3a de uma agulha de passa:ar cu:o %uraco se partira e, por isso, dei5ara de poder ser usada como agulha.

Estavam encantadoras, a deslizar suavemente de um lado para o outro, comas grandes saias rodadas. As cinturinhas apertadas e es%eltas faces vermelhas e osolhos %rilhantes so% as poupas, que pareciam asas, do ca%elo lustroso.

 A m#e tam%1m estava %onita, com o seu lindo vestido de musselina verde-escura com as folhinhas que pareciam morangos. A saia tufada tinha folhos edrapeados e era ornamentada com la3os de fita verde-escura. *m alfinete de ourofechava o decote, :unto ao pesco3o. alfinete recortado nas arestas. A m#e pareciat#o rica e fina que +aura tinha medo de lhe tocar.

 As pessoas tinham come3ado a chegar, umas a p1, atrav1s da florestaco%erta de neve e alumiadas por lanternas, e outras em tren!s e carros, queconduziam at1 6 porta. uviam-se constantemente guizos de tren!s.

quarto grande encheu-se de homens de %otas altas e senhoras de vestidosro3agantes e na cama da av! foram deitados diversos %e%1s, em filas. tio 7aime ea tia +i%%B tinham vindo com a sua filha pequena, que tam%1m se chamava +aurangalls. As duas +auras encostaram-se 6 cama a olhar para os %e%1s e a outra+aura disse que a sua irm#zinha era mais %onita do que a %e%1 &arrie.

- sso 1 que n#o 1 - protestou +aura. - A &arrie 1 o %e%1 mais %onito domundo inteiro

- "#o 1 nada - discordou a outra +aura.- O, sim- "#o 1, n#o A m#e apro5imou-se, como se deslizasse no seu lindo vestido de musselina,

e disse severamente9- +auraE nenhuma das +auras disse mais nada. tio 7orge estava a tocar a sua corneta, que soava alto e ecoava na grande

sala. tio ria-se, grace:ava e continuava a tocar. Ent#o o pai de +aura tirou a ra%ecada cai5a e come3ou a tocar tam%1m, e os pares formaram-se em quadrados ecome3aram a dan3ar, enquanto o pai mandava o %aile.

- =olta completa para a direita e para a esquerda. - gritou o pai, e todas assaias come3aram a rodopiar e todas as %otas a %ater.s c;rculos rodavam e tornavam a rodar, com todas as saias a ir para um lado

e todas as %otas para outro e as m#os a unirem-se e a separarem-se no ar.- Fa3am rodopiar o par - gritou o pai. &ada cavalheiro deve inclinar-se

diante da dama da sua esquerdaFizeram todos o que o pai disse. +aura viu a saia da m#e rodopiar, viu a sua

cintura estreita inclinar-se e a sua ca%e3a morena curvar-se, e pensou que a m#eera a mais %onita dan3arina do mundo. A ra%eca tocava9

Q meninas de @falo, "#o vm esta noite,

"#o vm esta noite,"#o vm esta noite,Q meninas de @falo,

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"#o vm esta noite0an3ar ao uarH

s c;rculos pequenos e os c;rculos grandes continuavam a girar e a girar, as

saias tur%ilhonavam e as %otas %atiam e os pares inclinavam-se e afastavam-se,para de novo se :untarem e inclinarem. A av! estava sozinha na cozinha, a me5er o mela3o que fervia na grande

caldeira de co%re. e5ia a compasso com a m@sica. 7unto da porta, no pátio estavaum %alde cheio de neve limpa e, de vez em quando, a av! tirava uma colherada demela3o da caldeira e deitava-a num pouco de neve, num pires.

+aura voltou a o%servar os %ailarinos. pai tocava A +avadeira rlandesa. Emandava9

0! si, damas,d! si, Apoiar,

com for3a apoiar,"o dedo grande e no calcanhar.

+aura n#o conseguia estar quieta com os p1s. tio 7orge olhou-as e riu-se.0epois pegou-lhe na m#o e dan3ou um %ocadinho com ela, ao canto da sala. +auragostava do tio 7orge.

Estava toda a gente a rir :unto da porta da cozinha, donde queriam trazer aav!.

vestido da av! tam%1m era %onito9 um estampado azul-escuro todosalpicado de folhas outonais. A av! tinha as faces rosadas, de rir, e a%anava aca%e3a, com a colher de pau na m#o.

- "#o posso dei5ar o mela3o - desculpou-se.as o pai come3ou a tocar =ia:ante do Ar8ansas e toda a gente desatou a

%ater palmas ao compasso da m@sica. 'or isso, a av! fez uma v1nia e dan3oualguns passos sozinha. 0an3ava t#o %em como qualquer das senhoras presentes.

 As palmas quase a%afaram a m@sica da ra%eca."isto, o tio 7orge deu um passo chamado Iv2o de pom%oJ, que consistia em

saltar e unir os p1s, fez uma grande v1nia 6 av! e come3ou a dan3ar a :iga. A av!entregou a colher a uma pessoa, p2s as m#os nas ancas e virou-se para o tio 7orge.)oda a gente gritou, porque a av! estava a dan3ar a :iga.

+aura %ateu palmas a compasso com a m@sica, como faziam todas as m#os.

 A ra%eca tocava como nunca tocara antes, os olhos da av! cintilavam, as suas facesestavam vermelhas e, de%ai5o das saias, os seus saltos %atiam t#o depressa comoas %otas do tio 7orge.

Estava toda a gente entusiasmada. tio 7orge continuava a :igar e a av!continuava virada para ele, a :igar tam%1m. A ra%eca n#o parava. tio 7orgecome3ou a ofegar e limpou o suor da testa. s olhos da av! %rilhavam cada vezmais.

- "#o consegues venc-la, 7orge - gritou algu1m. tio 7orge come3ou a dan3ar mais depressa. 0uas vezes mais depressa do

que antes. E a av! tam%1m. $oaram novos aplausos. As mulheres estavam todas arir e a %ater as palmas e todos os homens tro3avam de 7orge. Ele n#o se importava,

mas tam%1m n#o tinha f2lego para rir. Estava a dan3ar a :iga.s olhos azuis do pai de +aura reluziam, contentes. Estava em p1, a o%servar 7orge e a av!, e o arco dan3ava so%re as cordas da ra%eca. +aura saltava, gritava e

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%atia as palmas. A av! continuava a :igar. )inha as m#os na cintura e o quei5o levantado, e

sorria. 7orge continuava a :igar, mas as suas %otas :á n#o faziam tanto %arulho comoao princ;pio. s saltos das %otinas da av! mantinham, no entanto, o mesmo ritmo

alegre e vivo. *ma gota de suor escorreu da testa de 7orge e %rilhou-lhe na face.0e repente, levantou am%os os %ra3os e disse, ofegante9- Estou vencido - E parou de dan3ar a :iga.uviu-se um %arulho terr;vel, com toda a gente a gritar, a %ater os p1s e a

ovacionar a av!. Ela continuou a dan3ar mais um minutinho e depois parou tam%1m./iu-se, ofegante. s seus olhos cintilavam e5actamente como os do pai de +aura,quando ele ria. 7orge tam%1m se ria e limpava a testa com a manga do casaco.

"isto, a av! parou de rir, virou-se e correu o mais depressa que p2de para acozinha. A ra%eca calara-se, as mulheres estavam a falar todas ao mesmo tempo eos homens arreliavam 7orge. as, ao verem aquele repente da av!, calaram-se eficaram im!veis.

0epois ela veio 6 porta que separava o quarto grande da cozinha e disse9- mela3o está no ponto. =enham servir-se./ecome3ou toda a gente a falar e a rir. Apressaram-se a ir 6 cozinha %uscar 

pratos e a sair para os encher de neve. A porta da cozinha estava a%erta e dei5avaentrar o ar frio.

Fora de casa, as estrelas pareciam geladas, no c1u, e o ar frio mordiscou asfaces e o nariz de +aura, cu:a respira3#o parecia fumo.

Ela e a outra +aura, e todas as outras crian3as, apanharam neve limpa comos pratos e depois voltaram para a cozinha cheia de gente.

 A av! estava :unto da caldeira de co%re e, com a grande colher de pau,deitava mela3o quente em cada prato de neve. mela3o arrefecia, transformado emre%u3ado mole, e assim que arrefecia as pessoas comiam-no.

'odiam comer o que quisessem, pois o a3@car de %ordo nunca fizera mal aningu1m. E o que n#o faltava era mela3o na caldeira e neve fora de casa. &omidoum prato, enchiam-no outra vez de neve e a av! voltava a deitar uma colherada demela3o.

<uando :á n#o podiam comer mais re%u3ado mole, foram para a compridamesa que estava carregadinha de tartes de a%!%ora, tartes de amoras secas,%olinhos e %olos grandes. ?avia p#o levedado, carne de porco fria e picles. h,como os picles eram azedos

&omeram todos at1 n#o poderem mais e depois voltaram a dan3ar. E a av!

voltou a tomar conta do mela3o da caldeira de co%re. =olta e meia, tirava um%ocadinho para um pires e me5ia, 6 roda e 6 roda. 0epois a%anava a ca%e3a edeitava de novo o mela3o na caldeira.

"o quarto grande continuava a anima3#o e a alegria, com a m@sica da ra%ecae o %arulho do %aile.

'or fim, ao me5er mais uma vez o mela3o no pires e ao v-lo transformar-seem pequenos gr#ozinhos que pareciam areia, a av! chamou9

- 0epressa, pequenas Está a granular A tia /u%i, a tia 0!cia e a m#e de +aura dei5aram o %aile e foram a correr 

para a cozinha. 'egaram em ca3arolas grandes e pequenas e, assim que a av! asencheu de mela3o, arran:aram logo outras. 'useram as cheias de lado, para

arrefecerem e o mela3o se transformar em a3@car de %ordo.- Agora v#o %uscar as formas de past1is, para as crian3as - disse a av!.?avia uma forma de pastel, ou pelo menos uma chávena partida ou um

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p@caro, para cada crian3a.lharam todas ansiosamente enquanto a av! distri%u;a colheradas de

mela3o. )alvez n#o chegasse para todos, e, ent#o, algu1m teria de se mostrar altru;sta e %em-educado...

as o mela3o chegou 6 :usta para todos. As @ltimas raspas da caldeira derampara encher perfeitamente a @ltima forminha. "ingu1m ficou de fora. A m@sica e o %aile continuaram. +aura e a outra +aura andavam pela sala, a

o%servar os dan3arinos. 0epois sentaram-se no ch#o, a um canto, a o%servar. %aile era t#o %onito e a m@sica t#o alegre que +aura tinha a certeza de que nunca secansaria de uma coisa nem de outra.

)odas as saias %onitas continuavam a rodopiar, as %otas a %ater no ch#o e ara%eca a tocar alegremente.

0e repente, +aura acordou, atravessada aos p1s da cama da av!. Era demanh#. A m#e, a av! e a &arrie tam%1m estavam na cama. pai e o av2 dormiamno ch#o, enrolados em co%ertores, :unto da lareira. aria n#o se via em lado algum -

n#o se via porque estava a dormir com a tia 0!cia e a tia /u%i, na cama delas."#o tardou a levantar-se toda a gente. ?avia panquecas e mela3o de %ordo

para o pequeno-almo3o. 0epois o pai foi %uscar os cavalos e o tren! para a porta. pai a:udou a m#e e &arrie a instalar-se, enquanto o av2 pegava em aria e

o tio 7orge em +aura e as passavam por cima dos lados do tren! para a palha dofundo. pai aconchegou as peles e as mantas 6 volta delas e o av2, a av! e o tio7orge ficaram a dizer9 Adeus, adeus, enquanto eles se em%renhavam na FlorestaGrande, a caminho de casa.

sol estava quente e os cavalos a trote levantavam %ocadinhos de neveenlameada, com os cascos. +aura via as suas pisadas, atrás do tren!9 atravessavama camada de neve fina e chegavam 6 lama.

- Antes de anoitecer, desaparecerá toda a neve doce - disse o pai.

 &A'()*+ R

 0A 4 &0A0E

 <uando a neve doce desapareceu, chegou a 'rimavera. &antavam pássarosnas aveleiras ao longo da veda3#o, a erva crescia, de novo verdinha, e a florestaestava cheia de flores silvestres. ?avia por toda a parte ran@nculos e violetas,campainhas e umas estrelinhas min@sculas, que eram as flores da erva.

 Assim que os dias aqueceram, +aura e aria pediram que as dei5assemandar descal3as. Ao princ;pio, s! podiam correr at1 ao monte de lenha e voltar, dep1s descal3os. "o dia seguinte, :á puderam ir mais longe e, por fim, os seus sapatosforam ense%ados e guardados e elas passaram a andar descal3as todo o dia.

)odas as noites tinham de lavar os p1s, antes de se deitarem. A%ai5o da%ainha das saias, os seus tornozelos e os seus p1s estavam t#o %ronzeados como asua cara.

)inham casinhas de %rincar de%ai5o dos dois grandes carvalhos fronteiros 6casa. A de aria ficava de%ai5o da árvore de aria e a de +aura de%ai5o da árvorede +aura. A erva macia fazia de carpete verde e as folhas das árvores eram ostelhados, atrav1s dos quais viam %ocadinhos de c1u azul.

pai fez um %alou3o de casca de árvore resistente e suspendeu-o de umgrande ramo %ai5o da árvore de +aura. %alou3o era de +aura porque estava nasua árvore, mas ela n#o podia ser ego;sta e tinha de dei5ar aria andar tam%1m de

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%alou3o quando queria.aria tinha um pires rachado para %rincar e +aura uma %onita chávena, a que

s! faltava um %ocado. &arlota e "elinha, assim como os dois %onequinhos demadeira que o pai fizera, viviam com elas nas casas de %rincar. )odos os dias faziam

chap1us novos, de folhas, para &arlota e "elinha assim como pequeninos pires echavenazinhas, tam%1m de folhas, para porem na mesa. A mesa era uma %onitapedra lisa.

$u8eB e /osinha, as vacas, andavam agora 6 solta na floresta, para poderemcomer a erva fresca e as suculentas folhas novas. ?avia dois %ezerrinhos noestá%ulo e sete porquinhos na pocilga, com a porca.

"a clareira que a%rira no ano anterior, o pai arava a terra 6 volta dos cotosdas árvores e semeava. *ma noite, ao voltar do tra%alho, perguntou a +aura9

- $a%es o que vi ho:eHEla n#o sa%ia, claro.- em, quando estava a tra%alhar na clareira, esta manh#, levantei a ca%e3a e

vi um gamo, na orla da floresta. Era uma cor3a, uma cor3a m#e, e n#o adivinham oque estava com ela

- *m cor3ozinho %e%1 - responderam +aura e aria ao mesmo tempo, a%ater as palmas.

- $im, era o seu cor3ozinho - confirmou o pai. - Era um %ichinho %onito, deuma cor castanha muito clara e com uns grandes olhos escuros. )inha patinhasmin@sculas, n#o muito maiores do que o meu polegar, pernas fininhas e um focinhomuito macio.

lhava para mim, com os grandes olhos meigos, como se perguntasse a simesmo o que seria eu. "#o tinha medo nenhum.

- "#o mataria um cor3ozinho %e%1, pois n#o, 'áH perguntou +aura.- "#o, nunca. "em o cor3ozinho, nem a sua m#e, nem o seu pai. Agora

aca%ou-se a ca3a, at1 todos os animaizinhos selvagens crescerem. )eremos depassar sem carne fresca at1 ao utono.

pai disse que, quando terminasse as sementeiras, iriam todos 6 cidade.+aura e aria tam%1m podiam ir. Agora :á tinham idade para isso.

Ficaram muito entusiasmadas e no dia seguinte tentaram %rincar a ir 6cidade. "#o podiam %rincar muito %em, porque n#o tinham a certeza de como erauma cidade. $a%iam que tinha um armaz1m, mas nunca tinham visto nenhum.

0epois disso, &arlota e "elinha perguntavam quase todos os dias se podiamir 6 cidade. as +aura e aria respondiam-lhes sempre9 "#o, querida, este ano n#o

podes ir. )alvez para o ano possas ir, se te portares %em. At1 que uma noite o paianunciou9- Amanh# vamos 6 cidade."essa noite, em%ora estivessem no meio da semana, a m#e deu %anho a

+aura e a aria e arran:ou-lhes o ca%elo9 dividiu-lhes o ca%elo comprido emmadei5as, penteou cada madei5a com um pente molhado e enrolou-a muito %emenrolada num %ocadinho de trapo. Ficaram com a ca%e3a cheia de altinhos e n!s, oque n#o era muito c!modo, na almofada, mas de manh# teriam o ca%eloencaracolado.

 A agita3#o era tanta que n#o adormeceram logo. A m#e n#o se sentou acosturar, como de costume, pois teve de preparar tudo para um pequeno-almo3o

rápido e de dei5ar prontas as melhores meias, saias e vestidos de +aura e aria, acamisa %oa do pai e o seu pr!prio vestido estampado castanho-escuro, comflorinhas vermelhas.

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s dias agora eram mais compridos. 0e manh#, a m#e apagou o candeeiro,antes de aca%arem de tomar o pequeno-almo3o. Estava uma %onita e clara manh#de 'rimavera.

 A m#e insistiu com +aura e aria para que comessem depressa e lavou a

lou3a num instantinho. 0epois elas cal3aram as meias e os sapatos, enquanto elafazia as camas. Em seguida, a m#e a:udou-as a vestir os melhores vestidos9 o dechita azul-porcelana, de aria, e o de chita encarnado-escura, de +aura. ariaa%otoou as costas do vestido de +aura e a m#e fez o mesmo ao de aria.

 A m#e tirou os %ocadinhos de trapo do ca%elo delas e penteou-o emcompridos carac!is redondos, que lhes ca;am at1 aos om%ros. $ervia-se do pentet#o depressa que os dentes faziam doer muito. ca%elo de aria era de um lindotom dourado, mas o de +aura era de um castanho cor de terra.

Feitos os carac!is, a m#e p2s-lhes as toucas do sol, atadas com fitas de%ai5oo quei5o. 'rendeu a gola com o alfinete de ouro e estava a p2r o chap1u quando opai conduziu a carro3a para a cancela.

Escovara t#o %em os cavalos que eles reluziam. Al1m disso, varrera a carro3amuito %em varrida e pusera um co%ertor limpo no %anco. A m#e, com &arrie ao colo,sentou-se no %anco com o pai, enquanto +aura e aria se sentavam numa tá%ua,atravessada atrás do %anco.

$entiram-se muito contentes ao atravessarem a floresta alegrada pela'rimavera. &arrie ria e palrava, a m#e sorria e o pai asso%iava, enquanto conduziaos cavalos. sol estava luminoso e quente, na estrada, e dos %osques frondososvinham odores frescos e agradáveis.

 Apareciam coelhos na estrada, apoiados nas patas traseiras, com asdianteiras penduradas, o nariz a fungar e o sol a %rilhar-lhes entre as orelhas altas,sempre a tremer. 0epois fugiam, t#o depressa que quase s! se lhes via o %rilho dacauda %ranca pequenina. 'or duas vezes, +aura e aria viram gamos a olhar paraeles, com os grandes olhos escuros, das som%ras entre as árvores.

Eram onze quil!metros at1 6 cidade, que se chamava 'epin e ficava namargem do lago 'epin.

'assado muito tempo, +aura come3ou a vislum%rar manchas de água azul,entre as árvores. A estrada dura cedeu o lugar a areia macia. As rodas da carro3aenterravam-se nela profundamente e os cavalos suavam, de tanto terem de pu5ar. pai parava frequentemente, para os dei5ar descansar alguns minutos.

0e repente, a estrada dei5ou a floresta e +aura viu o lago. Era t#o azul comoo c1u e parecia que se prolongava at1 6 %eirinha do mundo. At1 onde a sua vista

alcan3ava, s! havia água azul e lisa. uito longe, o c1u e a água encontravam-se evia-se uma linha azul mais escura. c1u era enorme, lá no alto, +aura nunca imaginara que o c1u fosse t#o

grande. ?avia tanto espa3o vazio 6 volta dela que se sentiu pequenina e assustada -e contente por os pais estarem com ela.

tempo ficou, de s@%ito, mais quente. $ol estava quase por cima deles, nogrande c1u vazio, e a fresca floresta ficava afastada da margem do lago. At1 aGrande Floresta parecia mais pequena de%ai5o de tanto c1u.

pai deteve os cavalos e virou-se para trás, no %anco, enquanto apontavacom o chicote para a frente.

- &á estamos, +aura e aria - anunciou. - Ali está a cidade de 'epin.

+aura p2s-se em p1, na tá%ua, para poder ver a cidade, e o pai segurou-a por um %ra3o, para que n#o ca;sse. 0epois de ver, ficou quase sem poder respirar. Agora compreendia o que anque 0udle sentia, ao dizer que n#o podia ver a cidade

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porque as casas eram muitas.esmo na margem do lago havia um edif;cio grande. pai disse-lhe que era

o armaz1m. Em vez de ser feito de troncos, era de tá%uas largas e cinzentas, aoalto. )inha areia a toda a volta.

 Atrás do armaz1m havia uma clareira maior do que a do pai, na floresta, eentre os cotos das árvores cortadas havia tantas casas que +aura nem as conseguiacontar. )am%1m n#o eram de troncos, mas sim de tá%uas, como o armaz1m.

+aura nunca imaginara que pudesse haver tantas casas e t#o perto umas dasoutras. &laro que eram muito mais pequenas do que o armaz1m. *ma delas era detá%uas novas, que ainda n#o tinham tido tempo de ficar cinzentas> tinha a cor amarela da madeira aca%ada de cortar.

orava gente em todas aquelas casas, de cu:as chamin1s sa;a fumo. Em%oran#o fosse segunda-feira, uma mulher estendera a roupa a corar nos ar%ustospr!5imos da sua casa.

 Alguns rapazes e raparigas %rincavam ao sol, no espa3o vazio entre o

armaz1m e as casas. $altavam de um coto de árvore para outro, a gritar.- em, cá está 'epin - disse o pai.+aura limitou-se a acenar com a ca%e3a.lhava, olhava, e n#o era capaz de dizer palavra. 'assados momentos,

voltou a sentar-se e os cavalos prosseguiram.0ei5aram a carro3a na margem do lago. pai desatrelou os cavalos e

prendeu um a cada lado da carro3a. 0epois deu a m#o a +aura e a aria e, com am#e ao lado de %e%1 ao colo, lá foram pela areia solta a caminho do armaz1m. Aareia quente entrava pelos sapatos de +aura.

?avia uma grande plataforma, 6 frente do armaz1m, com alguns degraus auma das e5tremidades. cora3#o de +aura %atia t#o depressa que ela malconseguia su%ir os degraus. )remia dos p1s 6 ca%e3a.

Era naquele armaz1m que o pai trocava as suas peles. <uando entraram, odono do armaz1m reconheceu-o. $aiu de trás do %alc#o para cumprimentar o pai e am#e, e depois +aura e aria tiveram de mostrar que eram meninas educadas.

- &omo estáH - cumprimentou aria, mas +aura n#o foi capaz de dizer nada. homem disse ao pai e 6 m#e9- )m aqui uma %onita menina - e admirou os carac!is louros de aria> mas

n#o disse nada acerca de +aura nem dos seus carac!is, que eram castanhos efeios.

armaz1m estava cheio de coisas que era um regalo ver. A um lado havia

prateleiras cheias de tecidos estampados e chitas. onitos tons rosados, azuis,encarnados, castanhos e escarlates. "o ch#o, ao longo dos lados dos %alcCes depranchas, havia %arris de pregos, %arris de chum%o cinzento e redondo e grandes%aldes de madeira cheios de doces at1 acima. )am%1m havia sacas de sal e sacasde a3@car.

"o meio do armaz1m havia um arado de madeira reluzente e com uma relhaque n#o %rilhava menos, ca%e3as de machado de a3o, ca%e3as de martelo, serras etoda a esp1cie de facas facas de ca3a, facas de esfolar, facas de magarefe enavalhas. ?avia %otas grandes e %otas pequenas e sapatos grandes e sapatospequenos.

+aura poderia passar ali semanas a olhar que n#o veria todas as coisas que

havia no armaz1m. "#o imaginara que houvesse tantas coisas no mundo. pai e a m#e demoraram muito tempo a fazer neg!cio. dono do armaz1mtirava rolos e rolos de %onitos estampados e a%ria-os para a m#e ver, apalpar e olhar 

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para o pre3o. +aura e aria podiam ver, mas n#o podiam tocar. &ada nova cor ecada novo padr#o lhes pareciam mais %onitos do que os anteriores, e eram tantos+aura n#o sa%ia como a m#e conseguiria escolher.

 A m#e escolheu dois tecidos diferentes para fazer camisas para o pai e cotim

castanho para lhe fazer um fato-macaco. 0epois comprou pano %ranco para len3!ise roupa interior. pai comprou tecido para a m#e fazer um avental novo.- h, n#o, &arlos, n#o preciso, palavra - protestou a m#e.as o pai riu-se e disse-lhe que escolhesse depressa, se n#o ele escolheria o

encarnado com os grandes desenhos amarelos. A m#e sorriu e corou e lá escolheuum estampado com %otCes e folhas de rosa num fundo acastanhado-claro.

0epois o pai comprou uns suspens!rios e um pouco de ta%aco para ocachim%o e a m#e comprou meio quilo de chá e um pacotinho de a3@car dearmaz1m, para ter em casa quando tivessem visitas. Era um a3@car castanho-claroe n#o castanho-escuro como o de %ordo, que a m#e usava todos os dias.

Feitas todas as compras, o dono do armaz1m deu um chupa a aria e outroa +aura. Ficaram t#o admiradas e t#o contentes, que se limitaram a olhar para aguloseima. 0epois, aria lem%rou-se e agradeceu9

- %rigada.as +aura continuou sem ser capaz de falar. Estavam todos 6 espera que

dissesse qualquer coisa, mas ela n#o conseguia dizer nem uma palavrinha. A m#eteve de lhe perguntar9

- <ue se diz, +auraHEnt#o ela a%riu a %oca, engoliu em seco e murmurou9- %rigada.0epois disso, sa;ram do armaz1m. Am%os os chupas eram %rancos,

achatados, finos e da forma de um cora3#o. E tinham palavras escritas a encarnado,que a m#e leu. de aria dizia9 =ermelhas s#o as rosas, Azuis as violetas, E oa3@car 1 doce, )#o doce como tu.

de +aura dizia apenas9 0oces para a docinha.s chupas eram e5actamente do mesmo tamanho, mas as letras do de +aura

eram maiores.=oltaram todos, pela areia, para a carro3a, que ficara na margem do lago.

pai deu aos cavalos, no fundo da carro3a, a aveia que trou5era para eles, e a m#ea%riu o cesto do piquenique.

$entaram-se na areia quente, perto da carro3a, e comeram p#o com

manteiga e quei:o, ovos cozidos e %olinhos. As ondas do lago 'epin desfaziam-se napraia, a seus p1s, e a seguir recuavam, com um murm@rio muito leve.0epois do almo3o, o pai voltou ao armaz1m, para conversar um %ocado com

outros homens. A m#e sentou-se com a &arrie ao colo, muito sossegada, at1 elaadormecer. as +aura e aria correram ao longo da margem e apanharam %onitaspedrinhas tantas vezes levadas e trazidas pelas ondas que tinham ficado lisinhas e%rilhantes.

"#o havia pedrinhas assim na Grande Floresta.<uando encontrava uma %onita, +aura guardava-a na algi%eira. ?avia tantas,

cada uma mais %onita do que a anterior, que n#o tardou a ficar com a algi%eiracheia. 0epois o pai chamou e elas correram para a carro3a, pois os cavalos estavam

atrelados e eram horas de voltar para casa.+aura sentia-se t#o feliz ao correr pela areia para o pai, com todas aquelaslindas pedrinhas na algi%eira as quando o pai lhe pegou e a colocou na carro3a,

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aconteceu uma coisa horr;vel. As pedrinhas eram t#o pesadas que lhe arrancaram a algi%eira do vestido. A

algi%eira caiu e as pedrinhas rolaram todas pelo fundo da carro3a.+aura come3ou a chorar, por ter estragado o seu melhor vestido.

 A m#e entregou o %e%1 ao pai e foi num instante ver os estragos. 0epoisdisse que n#o havia novidade.- "#o chores, +aura, eu posso arran:ar isso. "#o está estragado, e a algi%eira

tam%1m n#o. A algi%eira era um saquinho cosido :untamente com a costura da saia e que

pendia de%ai5o dela. $! as costuras se tinham descosido e a m#e poderia p2r outravez a algi%eira. vestido ficaria como-novo.

- Apanha as pedrinhas, +aura - disse a m#e. - E para a outra vez n#o se:ast#o s2frega, n#o queiras todas.

+aura apanhou as pedras, meteu-as na algi%eira e colocou a algi%eira nocolo. "#o se importou muito quando o pai se riu por ela ser uma menina que tinha

mais olhos do que %arriga, como se costumava dizer."unca aconteciam coisas daquelas a aria. aria era uma menina %em

comportada, que nunca su:ava o vestido e tinha maneiras. aria tinha lindoscarac!is louros e no seu cora3#o de a3@car estavam escritos uns versos.

aria parecia muito %oazinha e %onita, toda arran:adinha e limpa, sentada natá%ua ao lado da irm#. +aura n#o achou :usto.

as, apesar de tudo, tinha sido um dia maravilhoso, o dia mais maravilhosode toda a sua vida. 'ensou no %onito lago, na cidade que vira e no grande armaz1mcom tantas coisas. $egurava as pedras cuidadosamente no colo e levava o cora3#ode a3@car %em em%rulhado no len3o, pois quando chegasse a casa queria guardá-lopara sempre. Era %onito de mais para o comer.

 A carro3a ia seguindo aos solavancos, pela estrada que levava a casa atrav1sda Grande Floresta. $ol p2s-se e a floresta escureceu, mas o pai tinha a suaespingarda.

suave luar coava-se pelas copas das árvores e punha manchas de luz esom%ra na estrada, em frente. s cascos dos cavalos faziam um clip-clop, clip-clopalegre.

+aura e aria n#o diziam nada, porque estavam muito cansadas, e a m#etam%1m ia calada, porque levava &arrie a dormir, ao colo. as o pai cantava,%ai5inho9

'odemos viver entre prazeres

e palácios sem par,as, por muito humilde que se:a,n#o há nada como o lar.

 &A'()*+ R

 =E/S

Era =er#o e as pessoas visitavam-se umas 6s outras. 4s vezes, o tio?enrique, ou o tio 7orge, ou o av2, vinham da Grande Floresta visitar o pai. Ent#o am#e ia 6 porta, perguntava como estavam todos e dizia9

- &arlos está na clareira.0epois fazia um almo3o maior do que o ha%itual e a hora do almo3o tam%1mera maior do que de costume. pai, a m#e e a visita ficavam um %ocadinho

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sentados a conversar, antes de voltarem para o tra%alho. 4s vezes, a m#e dei5ava +aura e aria atravessar a estrada e descer a

encosta, para visitar a $rT. 'eterson. s 'etersons tinham-se mudado para ali haviapouco tempo. A sua casa era nova e estava sempre muito limpa e arrumada, pois a

$rT. 'eterson n#o tinha filhas pequenas para a desarrumarem. Era sueca e dei5ava+aura e aria verem as coisas %onitas que trou5era da $u1cia9 rendas, %ordadoscoloridos e lou3as.

 A $rT. 'eterson falava-lhes em sueco e elas falavam-lhe em ingls, masentendiam-se perfeitamente umas 6s outras. 0ava-lhes sempre um %iscoito, quandose iam em%ora, e elas iam-no comendo 6s dentadinhas muito pequeninas, enquantoregressavam a casa.

+aura comia e5actamente metade do seu %iscoito e aria e5actamentemetade do dela> as outras metades eram para a %e%1 &arrie. <uando chegavam acasa, &arrie ficava com dois meios %iscoitos, o que era o mesmo que um %iscoitointeiro.

"#o era :usto. Elas s! queriam repartir igualmente os %iscoitos com airm#zinha. as se aria guardasse metade do seu %iscoito e +aura comesse o delatodo, ou se +aura comesse metade e aria o comesse todo, isso tam%1m n#o seria :usto.

"#o sa%iam que fazer. 'or isso, cada uma guardava metade e dava-a a&arrie. "o entanto, achavam sempre que n#o era :usto.

0e vez em quando, um vizinho mandava avisar que a fam;lia ia passar o diacom eles. Ent#o a m#e limpava melhor a casa, fazia mais comida e a%ria o pacotede a3@car do armaz1m. "o dia previsto, parava uma carro3a ao port#o, de manh#, eelas tinham crian3as desconhecidas com quem %rincar.

<uando o casal ?uleatt os visitou, trou5e consigo Eva e &larncio. Eva erauma menina %onita, de olhos escuros e carac!is pretos, que %rincava com cuidado enunca se su:ava nem amarrotava. aria gostava disso, mas +aura gostava mais de%rincar com &larncio.

&larncio era ruivo e sardento e estava sempre a rir. A sua roupa tam%1m eramuito %onita. *sava um fato azul todo a%otoado 6 frente, com %otCes dourados%rilhantes e enfeitado com gal#o, e os seus sapatos tinham %iqueiras de co%re.

 As tiras de co%re que lhe atravessavam as %iqueiras dos sapatos %rilhavamtanto que +aura at1 tinha pena de n#o ser rapaz. As meninas n#o usavam sapatosrefor3ados de co%re.

+aura e &larncio correram, saltaram e su%iram 6s árvores, enquanto aria e

Eva passeavam muito sossegadas e conversavam. A m#e e a $r T. ?uleatt estavam em casa a conversar e a ver um figurino quea $rT. ?uleatt levara. pai e o $r. ?uleatt andaram a ver os cavalos e assementeiras e a fumar cachim%o.

*ma vez, a tia +ottB foi passar o dia com eles. "essa manh#, +aura teve deestar quieta muito tempo, enquanto a m#e lhe tirava os papelotes do ca%elo e lhopenteava em carac!is compridos. aria :á estava pronta, sentada muito direita numacadeira, com os carac!is louros a %rilhar e o seu vestido azul-porcelana muito limpoe engomado.

+aura gostava do seu vestido encarnado. as a m#e pu5ava-lhe o ca%elo deuma maneira horr;vel. Al1m disso, como era castanho em vez de louro, ningu1m

reparava nele. as toda a gente reparava no de aria e o admirava.- 'ronto - e5clamou a m#e, por fim. - teu ca%elo está muito %emencaracolado e a +ottB vem a;. =#o a correr ter com ela, as duas, e perguntem-lhe

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se gosta mais de carac!is castanhos ou louros.+aura e aria sa;ram de casa e correram pelo carreiro a%ai5o, pois a tia +ottB

 :á estava ao port#o. A tia +ottB era uma menina crescida, muito mais alta do quearia. )razia um %onito vestido cor-de-rosa e segurava uma touca de sol da mesma

cor por uma fita.- 0e que gosta mais, tia +ottB, de carac!is castanhos ou de carac!is lourosH -perguntou-lhe aria.

 A m#e dissera-lhes que perguntassem e aria era uma menina muito %emcomportada, que fazia sempre e5actamente o que lhe mandavam.

Enquanto esperava a resposta da tia +ottB, +aura sentiu-se muito triste.- Gosto mais dos dois - respondeu a tia +ottB, a sorrir, deu a m#o a am%as,

uma de cada lado, e correram para a porta, onde a m#e as esperava. sol entrava a :orros pelas :anelas e estava tudo muito arrumado e %onito. A

mesa estava co%erta por uma toalha vermelha e o fog#o de cozinhar reluzia, muitopreto. Atrav1s da porta do quarto +aura via a cama %ai5a no seu lugar, de%ai5o da

cama alta. A porta da despensa estava toda a%erta, o que permitia ver e cheirar ascoisas %oas das prateleiras. A $usana 'reta desceu, a ronronar, a escada do s!t#o,onde estivera a dormir uma soneca.

Era tudo t#o agradável, e +aura sentia-se t#o %em disposta e t#o contente,que ningu1m imaginaria que pudesse ser t#o mazona como foi nesse fim de tarde.

 A tia +ottB tinha-se ido em%ora e +aura e aria estavam cansadas eamuadas. Estavam no monte de lenha, a encher um cesto de cavacos para acender o lume, de manh#. 0etestavam apanhar cavacos, mas tinham de o fazer todos osdias. E naquele dia parecia que lhes desagradava mais do que nunca.

+aura apanhou o cavaco maior e aria disse9- "#o me importo, a tia +ottB gosta mais do meu ca%elo. ca%elo louro 1

muito mais %onito do que o castanho.+aura sentiu um n! na garganta e n#o foi capaz de falar. $a%ia que o ca%elo

louro era mais %onito do que o castanho. &omo n#o podia falar, estendeurapidamente a m#o e deu uma %ofetada a aria.

uviu logo o pai chamar9- =em cá, +aura.Foi devagar, a arrastar os p1s. pai estava sentado perto da porta e vira-a

%ater em aria.- +em%ras-te de que eu lhes disse que n#o deveriam %ater uma 6 outraH -

disse o pai.

- as a aria disse... - come3ou +aura.- sso n#o faz diferen3a nenhuma - interrompeu-a o pai. - 0eves fazer o queeu digo.

0epois o pai tirou uma correia da parede e %ateu-lhe com ela.+aura sentou-se numa cadeira, a um canto, a solu3ar. <uando os solu3os

passaram, amuou. A @nica coisa que lhe dava satisfa3#o era pensar que aria tinhade encher o cesto de cavacos sozinha.

'or fim, quando escurecia, o pai disse, de novo9- =em cá, +aura. A sua voz era %ondosa e, quando +aura se apro5imou, sentou-a no :oelho e

apertou-a a si. Ela aninhou-se no c2ncavo do seu %ra3o, com a ca%e3a encostada

ao seu om%ro e os olhos parcialmente co%ertos pela comprida %ar%a castanha dopai. Estava tudo %em outra vez.&ontou ao pai o que se passara e depois perguntou-lhe9

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- "#o gosta mais de ca%elo castanho do que de louro, pois n#oH- meu ca%elo 1 castanho, +aura."#o tinha pensado nisso ca%elo do pai era castanho, assim como a sua

%ar%a era castanha e ela achava essa cor muito %onita. as mesmo assim sentiu-se

satisfeita por aria ter de apanhar os cavacos sozinha."as noites de =er#o o pai n#o contava hist!rias nem tocava ra%eca. s diaseram muito compridos e ele estava cansado, depois de tra%alhar o dia inteiro noscampos.

 A m#e tam%1m tinha muito que fazer. +aura e aria a:udavam-na a mondar ahorta e a dar de comer aos vitelos e 6s galinhas. )am%1m recolhiam os ovos ea:udavam a fazer o quei:o.

<uando a erva estava alta e %asta na floresta e as vacas davam muito leite,era tempo de fazer quei:o.

Era necessário que algu1m matasse um %ezerro, pois n#o se podia fazer quei:o sem coalheira, que 1 o forro do est2mago de um %ezerro novo. as tinha de

ser muito novo mesmo e n#o ter comido nada al1m de leite.+aura tinha medo de que o pai matasse um dos %ezerrinhos do está%ulo.

Eram t#o queridos *m era fulvo e o outro vermelho, tinham um plo muito macio euns grandes olhos muito espantados. cora3#o de +aura come3ou a %ater maisdepressa quando a m#e falou com o pai a respeito do quei:o.

pai disse que n#o mataria nenhum dos %ezerros, pois eram vitelinhas equando crescessem seriam vacas. Foi visitar o av2 e o tio ?enrique, para falar comeles acerca do quei:o, e o tio ?enrique disse que mataria um dos seus %ezerros.?averia coalheira que chegasse para a tia 'ollB, para o av2 e para a m#e de +aura.

'or isso, o pai voltou a visitar o tio ?enrique e trou5e um %ocado do est2magodo %ezerrinho. 'arecia um %ocado de couro macio, %ranco-acinzentado, lisinho deum lado e cheio de sulcos e asperezas do outro.

<uando as vacas foram mungidas, 6 noite, a m#e guardou o leite emca3arolas. 0e manh# retirou a nata, para fazer manteiga, mais tarde. 0epois,quando o leite da manh# arrefeceu, :untou-o ao leite desnatado e p2s tudo ao lume,a aquecer.

 Antes pusera de molho, em água quente, um %ocadinho de coalheiraem%rulhado num pano.

<uando o leite aqueceu o suficiente, a m#e espremeu a água toda do panoque continha a coalheira e deitou a água no leite. e5eu muito %em e dei5ou ficar amistura num s;tio quente, :unto do fog#o. 'ouco depois, tinha engrossado e estava

transformada numa massa macia, que tremia toda como pudim.&om uma faca comprida, a m#e cortou a massa em quadradinhos e dei5ouficar, enquanto a coalhada se separava do soro do leite. 0epois deitou tudo numpano, para o soro aguado e amarelado se coar.

<uando :á n#o escorria do pano soro nenhum, a m#e despe:ou a coalhadanuma grande ca3arola, salgou-a e me5eu-a muito %em.

+aura e aria estavam sempre a seu lado, para a a:udarem no que podiam. Adoravam comer %ocadinhos de coalhada, quando a m#e a salgava. /angia entreos dentes, como %orracha.

pai fizera uma %ancada com uma tá%ua, de%ai5o da cere:eira, nas traseiras,para comprimir o quei:o. A%rira dois sulcos ao comprido de uma tá%ua e apoiara-a

em dois toros, um deles um %ocadinho mais alto do que o outro. 0e%ai5o deste@ltimo estava um %alde vazio. A m#e p2s a forma de madeira do quei:o em cima da tá%ua, forrou todo o

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interior com um pano lavado, @mido, e encheu a forma de peda3os de coalhadasalgada. &o%riu com outro pano lavado e @mido e p2s-lhe em cima uma rodela demadeira, cortada de modo a encai5ar na forma. 0epois colocou uma pedra pesadaem cima da rodela de madeira.

0urante todo o dia a rodela foi %ai5ando devagarinho, so% o peso da pedra, eo resto do soro, o%rigado assim a sair, foi escorrendo pelos sulcos da tá%ua para o%alde.

"a manh# seguinte, a m#e tirou da forma o quei:o redondo, amarelo-claro,grande como uma %ilha de leite. 0epois fez mais coalhada e voltou a encher aforma, que se chamava cincho.

)odas as manh#s tirava o quei:o novo do cincho e o aparava, para ficar liso.0epois cosia-lhe 6 volta um pano %em apertado, que co%ria de manteiga fresca. quei:o ia, assim, para uma prateleira da despensa.

)odos os dias, limpava cuidadosamente os quei:os um por um, com um pano@mido, voltava a co%ri-los de manteiga fresca e repunha-os na prateleira, mas com o

lado que estivera para %ai5o virado para cima. Ao fim de muitos dias, o quei:o estavacurado e tinha uma casca grossa a toda a volta.

Ent#o a m#e em%rulhava-os em papel, um por um, e colocava-os naprateleira mais alta. Agora :á s! restava com-los.

+aura e aria gostavam da 1poca de fazer quei:o. Gostavam de comer acoalhada que lhes rangia nos dentes, e n#o gostavam menos de comer as aparasque a m#e tirava dos grandes quei:os redondos e amarelos, para os tornar lisinhosantes de os envolver no pano.

 A m#e ria-se delas por comerem quei:o verde.- ?á quem diga que a +ua 1 feita de quei:o verde - dizia-lhes. quei:o novo parecia-se mesmo com a +ua redonda, quando ela surgia atrás

das árvores. as n#o era verde9 era amarelo, como a +ua.- &hama-se verde porque ainda n#o está curado - e5plicava a m#e. - <uando

estiver curado, dei5ará de ser quei:o verde.- as a +ua 1 mesmo feita de quei:o verdeH - perguntou aria, e a m#e riu-

se.- &reio que as pessoas dizem isso porque ela se parece com um quei:o verde

- respondeu. - as as aparncias iludem.0epois, enquanto limpava todos os quei:os verdes e os co%ria de manteiga,

falou-lhes da +ua fria e morta, que era como um pequeno mundo onde n#o crescianada.

"o primeiro dia em que a m#e fez quei:o, +aura provou o soro. 'rovou-o semdizer nada 6 m#e, mas quando ela se virou e viu a sua cara, riu-se. "essa noite,enquanto lavava a lou3a do :antar e aria e +aura limpavam, a m#e contou ao paique +aura provara o soro e n#o gostara.

- "#o morrerias de fome com o soro do leite com que a m#e faz quei:o, comoo velho Grimes morreu com o da mulher - comentou o pai.

+aura pediu-lhe que contasse o que acontecera ao velho Grimes. 'or isso,apesar de cansado, o pai tirou a ra%eca da cai5a e tocou e cantou para ela9

orreu o velho Grimes, po%re coitado, A v-lo nunca mais voltaremos>

*sava um so%retudo cinzento, ro;do> A%otoado 6 frente com %otCes pequenos. A mulher fazia quei:o de leite desnatado

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E o velho Grimes %e%ia o soro fraquinho.=eio um vento +este do oeste sopradoE levou pelos ares o velho Grimes, po%rezinho.

- A; tens - e5clamou o pai. - Ela era uma mulher mesquinha, uma forreta. $en#o tivesse desnatado o leite todo, teria escorrido um pouco de nata com o soro e ovelho Grimes talvez se tivesse agDentado9

as ela tirara a nata toda, toda, e o po%re doGrimes ficou t#o magrinho que o vento o levou.ortinho de fome.

0epois o pai olhou para a m#e e acrescentou9- "ingu1m morreria de fome contigo presente, &arolina.- 'ois n#o - concordou a m#e. - "ingu1m morreria de fome se tu tam%1m

estivesses presente para ganhar o nosso sustento.

pai ficou contente. Era tudo t#o agradável, as portas e as :anelas todasa%ertas para a noite estival, o tinido alegre dos pratos que a m#e lavava e aria e+aura limpavam e o pai a guardar a ra%eca, todo sorridente e a asso%iar %ai5inho

'assados momentos, o pai disse9- Amanh# de manh# vou a casa do ?enrique, pedir-lhe emprestada a en5ada

de surri%ar. s re%entos est#o a ficar-me pela cintura, 6 volta dos tocos dos troncos,no trigal. *m homem tem de andar sempre atento e a cortá-los, sen#o a florestavolta a ocupar o seu lugar.

0e manh# cedo partiu a p1, para casa do tio ?enrique. as n#o tardou avoltar apressadamente para trás, a atrelar os cavalos 6 carro3a e a meter nela omachado, as duas tinas, a celha da %arrela e todos os %aldes de zinco e de madeiraque tinham.

- "#o sei se precisarei de todas estas coisas, &arolina, mas ficaria furioso seprecisasse e n#o as tivesse levado.

- as que 1H <ue 1H - perguntou +aura, aos saltos, toda agitada.- pai encontrou uma árvore-corti3o - respondeu-lhe a m#e. - )alvez nos

traga algum mel. pai s! voltou ao meio-dia. +aura, que estivera a esperá-lo, correu para a

carro3a, assim que ela parou :unto do pátio do está%ulo. as n#o conseguiu ver oque vinha lá dentro.

- &arolina - chamou o pai. - =em %uscar este %alde de mel, para eu

desatrelar os cavalos. A m#e apro5imou-se, decepcionada.- em, &arlos, mesmo s! um %alde de mel :á 1 alguma coisa...0epois olhou para dentro da carro3a e levantou as m#os. pai riu-se.)odos os %aldes estavam cheios at1 acima e a escorrer mel dourado. As duas

tinas tam%1m estavam cheias, assim como a celha da %arrela. A m#e e o pai andaram para trás e para diante, a levar para casa as duas

tinas, a celha e todos os %aldes. A m#e encheu uma travessa de peda3os douradosde favos de mel e tapou muito %em o restante com panos lavados.

 Ao almo3o comeram todo o mel delicioso que lhes apeteceu e o pai contou-lhes como encontrara a árvore das a%elhas.

- "#o levei a espingarda porque n#o ia ca3ar e, como 1 =er#o, n#o haviagrande perigo de ter pro%lemas. As panteras e os ursos est#o t#o gordos, nesta1poca do ano, que se tornam pregui3osos e mansos.

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em, meti por um atalho, na floresta, e quase choquei com um grande urso.&ontornei uma moita de ar%ustos e lá estava ele, a uma distância que n#o era maior do que esta sala.

lhou para mim e creio que viu que eu n#o levava espingarda. 0e qualquer 

modo, n#o me prestou mais aten3#o.Estava parado :unto de uma grande árvore, com a%elhas a zum%ir a toda avolta. Elas n#o o podiam picar, atrav1s do plo denso, e ele ia-as afastando daca%e3a com uma das patas.

Fiquei a o%servá-lo e vi-o meter a pata num %uraco da árvore e tirá-la aescorrer mel. +am%eu o mel e meteu a m#o para tirar mais. as, entretanto, euarran:ara um cacete, pois queria o mel para mim.

'or isso, fiz muito %arulho, a %ater com o cacete numa árvore e a gritar. urso estava t#o gordo e t#o empanturrado de mel que se dei5ou cair nas quatropatas e se afastou, devagar, pelo meio das árvores. 'ersegui-o um %ocado, para oo%rigar a andar mais depressa e afastar-se da árvore das a%elhas, e depois vim

%uscar a carro3a.+aura perguntou-lhe como tirara o mel 6s a%elhas.- sso foi fácil. 0ei5ei os cavalos mais atrás, na floresta, para n#o serem

picados, e depois derru%ei a árvore e a%ri-a.- As a%elhas n#o o picaramH- "#o. As a%elhas nunca me picam. A árvore estava oca e cheia de mel de

alto a %ai5o. As a%elhas deviam andar a armazenar lá mel há anos. Algum era velhoe escuro, mas creio que consegui trazer mel %om e limpo para nos durar muitotempo.

+aura, que sentia pena das po%res a%elhas, disse9- )ra%alharam tanto e agora n#o tm mel nenhum.as o pai respondeu-lhe que tinha ficado muito mel para as a%elhas e que

havia nas pro5imidades outra grande árvore oca, para a qual se poderiam mudar. Acrescentou que era tempo de terem uma casa nova e limpa.

)ransformariam o mel velho que ele dei5ara na árvore antiga em mel novo earmazená-lo-iam na nova casa. Aproveitariam cada gotinha de mel entornado eguardá-lo-iam, e voltariam a ter muito mel muito antes de o nverno chegar.

&A'()*+ R

&+?E)A

pai e o tio ?enrique trocavam o tra%alho um com o outro. <uando o cerealamadureceu nos campos, o tio ?enrique veio a:udar o pai e a tia 'ollB e os primostodos vieram passar o dia com eles. 0epois o pai foi a:udar o tio ?enrique a colher oseu cereal e a m#e levou +aura, aria e &arrie para passarem o dia com a tia 'ollB.

 A m#e e a tia 'ollB tra%alharam dentro de casa e os primos %rincaram todos :untos, no pátio, at1 6 hora do almo3o. pátio da tia 'ollB era muito %om para%rincar, porque os tocos das árvores cortadas eram muitos e estavam muito :untos.s primos %rincavam a saltar de toco para toco, sem tocar no ch#o.

 At1 +aura, que era a mais pequena, podia fazer isso sem dificuldade, nospontos onde as árvores mais pequeninas tinham crescido chegadas umas 6s outras.

primo &arlitos era um rapaz crescido, que :á ia nos onze anos, e conseguia saltar de toco para toco 6 volta do pátio todo. $altava os tocos mais pequenos a dois edois e era capaz de caminhar em cima da veda3#o sem ter medo de cair.

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pai e o tio ?enrique estavam no campo, a cortar a aveia com gadanhas deancinho. *ma gadanha de ancinho era uma lâmina de a3o curva e afiada, presa auma estrutura de ripas de madeira que prendiam e seguravam as espigas quando alâmina as cortava. pai e o tio ?enrique agarravam a gadanha pelo ca%o comprido

e curvo e %randiam-no de modo que a lâmina fosse cortar os p1s da aveia. <uandotinham segado o suficiente para fazer uma pilha, sacudiam os p1s de aveia das ripase reuniam-nos em montinhos %em feitos, no ch#o.

Era tra%alho duro, andar de um lado para o outro do campo de%ai5o do solquente, %randir as pesadas gadanhas com am%as as m#os para segar o cereal e aseguir formar os montinhos.

0epois de cortado todo o cereal, tinham de dar de novo a volta ao campo.0esta vez inclinavam-se para cada montinho, pegavam num punhado de p1s deaveia em cada m#o e atavam-nos um ao outro, para fazer uma esp1cie de cordacomprida. Em seguida apanhavam o monte de cereal, cingiam-no entre os %ra3os eamarravam-no muito apertado com a corda que tinham feito e cu:as pontas metiam

para dentro.0epois de fazerem sete molhos desses - cada molho chamava-se uma gaveia

- reuniam-nos em medas. 'ara fazer uma meda punham cinco gaveias em p1, muitochegadas umas 6s outras e com o lado das espigas para cima. $o%re elascolocavam ent#o outras duas gaveias cu:os p1s a%riam, a fim de formarem umtelhadozinho para a%rigar as cinco do orvalho e da chuva.

&ada p1 de cereal segado tinha sempre de estar armado numa meda antesde escurecer, pois se ficasse toda a noite no solo orvalhado estragar-se-ia.

pai e o tio ?enrique tra%alhavam muito depressa, porque o ar estavapesado, quente e parado e eles esperavam chuva. A aveia estava madura e se n#ofosse segada e feita em medas antes de chover a seara perder-se-ia. E, nesse caso,os cavalos do tio ?enrique passariam fome todo o nverno.

 Ao meio-dia, o pai e o tio ?enrique foram a casa num instante e engoliram oalmo3o o mais depressa que puderam. tio ?enrique disse que o &arlitos teria deos a:udar, nessa tarde.

+aura olhou para o pai, ao ouvir as palavras do tio ?enrique. Em casa, o paidissera 6 m#e que o tio ?enrique e a tia 'ollB estragavam &arlitos com mimo.<uando o pai tinha onze anos, :á tra%alhava todo o dia no campo, a guiar uma :untade %ois. as &arlitos n#o fazia praticamente nada.

"aquele dia, por1m, o tio ?enrique disse que &arlitos tinha de ir para ocampo com eles. 'oderia poupar-lhes muito tempo. 'odia, por e5emplo, ir 6

nascente %uscar água e levar-lhes a %ilha, quando eles precisassem de %e%er. Etam%1m podia levar-lhes a pedra de amolar, quando as lâminas das gadanhasprecisassem de ser afiadas.

s primos olharam todos para &arlitos. Ele n#o queria ir para o campo, queriaficar no pátio a %rincar. as, claro, n#o o disse.

pai e o tio ?enrique n#o descansaram nem um %ocadinho. &omeram 6pressa e voltaram logo para o tra%alho. &arlitos foi com eles.

0epois de eles se irem em%ora, aria era a mais velha e achou que deviam%rincar a uma coisa mais sossegada, mais de meninas. 'or isso, 6 tarde, %rincaram6s casinhas, no pátio. s tocos das árvores eram cadeiras, mesas e fogCes, asfolhas eram pratos e os filhos eram paus.

 A caminho de casa, nessa noite, +aura e aria ouviram o pai contar 6 m#e oque acontecera no campo.Em vez de a:udar o pai e o tio ?enrique, &arlitos s! fizera tropelias. etia-se-

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lhes no caminho, para n#o poderem mane:ar as gadanhas, escondia a pedra deamolar, o%rigando-os a procurá-la quando precisavam dela para afiar as lâminas, s!lhes levava a %ilha da água depois de o tio ?enrique ter gritado a pedi-la trs ouquatro vezes e ainda por cima amuava.

Em seguida come3ara a andar atrás deles, a falar e a fazer perguntas. &omoprecisavam de tra%alhar muito depressa, n#o lhe podiam prestar aten3#o> por isso,mandaram-no em%ora e que n#o os incomodasse.

as largaram as gadanhas e correram para ele, do outro lado do campo,quando o ouviram gritar. ?avia floresta a toda a volta do campo e co%ras entre aaveia.

<uando chegaram, n#o tinha acontecido nada e &arlitos riu-se deles.- 0esta vez enganei-os - tro3ou. pai disse que, se fosse o tio ?enrique, teria logo chegado a roupa ao plo

do rapaz, a valer. as o tio ?enrique n#o o fez.'or isso, aproveitaram para %e%er água e voltaram para o tra%alho.

&arlitos gritou trs vezes e trs vezes foram a correr ver o que acontecera - eoutras tantas ele se riu deles. Achava uma %oa piada. E nem mesmo assim o tio?enrique lhe chegou a roupa ao plo.

 At1 que &arlitos gritou pela quarta vez, mais alto do que nunca. pai e o tio?enrique olharam para onde ele estava e viram-no a saltar e a gritar. as n#o lhespareceu que lhe tivesse acontecido qualquer coisa e como :á tinham sido enganadostantas vezes, continuaram a tra%alhar.

&arlitos continuou a gritar, mais alto e mais esgani3adamente. pai n#odisse nada, mas o tio ?enrique resmungou9 0ei5a-o gritar. 'or isso, continuaram asua lida e dei5aram-no gritar.

&arlitos continuou a saltar e a gritar, sem parar. 'or fim, o tio ?enrique disse9- )alvez lhe tenha acontecido, realmente, alguma coisa.+argaram as gadanhas e atravessaram o campo ao seu encontro.0urante todo aquele tempo &arlitos estivera aos pulos em cima de um ninho

de vespas As vespas tinham feito ninho no ch#o e &arlitos pisara-o sem sa%er. )odo o

en5ame de vespas amarelas saiu, de ferr#o em riste, e picaram &arlitos de talmaneira que ele n#o conseguia fugir-lhes.

Enquanto saltava para cima e para %ai5o, centenas de vespas enchiam-lhe ocorpo de ferroadas. 'icavam-lhe a cara, as m#os, o nariz e o pesco3o, su%iam-lhepelas pernas das cal3as e picavam-no e desciam-lhe pelo interior da camisa e

picavam-no tam%1m. <uanto mais ele gritava e saltava, mais o picavam. pai e o tio ?enrique agarraram-no pelos %ra3os e levaram-no a correr doninho de vespas. )iraram-lhe a roupa, que estava cheia de vespas, e viram que asferroadas lhe co%riam o corpo todo e estavam a inchar. ataram as vespas que opicavam, sacudiram as que se lhe agarravam 6 roupa e depois voltaram a vesti-lo elevaram-no para casa.

+aura, aria e os primos estavam a %rincar sossegadamente no pátio quandoouviram um choro alto. &arlitos chegou ao pátio aos trope3Ces e com a cara t#oinchada que as lágrimas quase lhe n#o conseguiam sair dos olhos.

)inha as m#os e o pesco3o inchados e as %ochechas ent#o nem se fala. sdedos estavam t#o inchados que n#o os podia do%rar e tinha a cara e o pesco3o

cheios de pequenas marcas %rancas e duras.+aura, aria e os primos ficaram especados, a olhar. A m#e e a tia 'ollB sa;ram de casa a correr e perguntaram-lhe o que

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acontecera. &arlitos respondeu qualquer coisa incompreens;vel, sem parar dechorar. A m#e disse que tinham sido vespas e foi a correr 6 horta %uscar umaca3arola de terra, enquanto a tia 'ollB levava &arlitos para dentro de casa e odespia.

7untaram água 6 terra, fizeram uma grande ca3arola de lama e %esuntaram-no todo com ela. 0epois enrolaram-no num len3ol velho e deitaram-no na cama.)inha os olhos fechados, de t#o inchados, e o nariz com um feitio engra3ado. A m#ee a tia 'ollB co%riram-lhe a cara de lama e ligaram-na com panos. $! se lhe viam aponta do nariz e a %oca.

 A tia 'ollB fez uma infus#o de ervas, para lhe dar por causa da fe%re. +aura,aria e os primos ficaram um %ocado a olhar para ele.

7á estava escuro quando o pai e o tio ?enrique voltaram do campo. A aveiaestava toda apanhada e em medas, :á podia chover que n#o lhe faria mal nenhum. pai disse que n#o podia ficar para :antar, por causa da ordenha. As vacas :áestavam 6 espera, em casa, e quando n#o eram ordenhadas a tempo n#o davam

tanto leite. Atrelou rapidamente os cavalos e meteram-se todos na carro3a. pai estava muito cansado e do;am-lhe tanto as m#os que n#o podia

conduzir muito %em, mas os cavalos sa%iam o caminho para casa. A m#e sentou-seao lado dele, com &arrie ao colo, e +aura e aria sentaram-se na tá%ua, atrás.uviram ent#o o pai contar o que &arlitos fizera.

+aura e aria ficaram horrorizadas. )am%1m eram traquinas, muitas vezes,mas nunca tinham imaginado que algu1m pudesse ser t#o mau como &arlitos fora."#o tra%alhara para a:udar a salvar a aveia, n#o fizera caso do que o pai dele lhedissera e ainda por cima os ma3ara quando estavam a tra%alhar duramente.

0epois o pai contou a hist!ria das a%elhas e comentou9- Foi %em feito, para servir de emenda ao mentiroso do rapaz."essa noite, deitada na cama %ai5a, +aura ouviu a chuva tam%orilar no

telhado e escorrer dos %eirais e pensou no que o pai dissera.'ensou no que as vespas tinham feito a &arlitos e tam%1m achou que tinha

sido %em feito. )inha sido %em feito por ele ter sido t#o mauz#o. E, al1m disso, asvespas tinham o direito de o picar, pois ele saltara-lhes em cima do ninho.

$! n#o compreendeu por que motivo lhe chamara o pai Io mentiroso dorapazJ. &omo 1 que &arlitos podia ser mentiroso, se n#o dissera uma palavraH

&A'()*+ R

 A U<*"A A/A=+?$A"o dia seguinte, o pai cortou a ca%e3a a diversos fei5es de aveia e levou a

palha limpa, amarela e %rilhante 6 m#e. Ela meteu-a numa tina de água, paraamaciar. 0epois sentou-se na cadeira ao lado da tina e come3ou a entran3ar apalha.

'egava num molhinho, atava-lhe as pontas e entran3ava. &omo as palhaseram de tamanhos diferentes, quando se apro5imava do fim de uma tirava outra da%anheira, colocava-a no lugar da que terminara e continuava a entran3ar.

0ei5ava a ponta da tran3a mergulhar de novo na água e ia entran3andosempre, at1 ter muitos metros de tran3a. 0urante dias, ocupou todo o seu tempo

livre a entran3ar palha.Fez uma tran3a lisa e estreita com sete das palhas mais pequenas. *sounove palhas maiores para uma tran3a maior e %em vincada ao longo dos lados. E

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das palhas maiores fez a tran3a mais larga de todas.<uando as palhas estavam todas entran3adas, enfiou uma agulha com linha

%ranca forte e, come3ando por uma ponta da tran3a, foi-a cosendo 6 roda e 6 roda,a segurar a tran3a de modo que ficasse direita e plana, depois de cosida. Ficou

assim uma esp1cie de pequeno tapete, mas a m#e disse que era o alto da copa deum chap1u.0epois segurou a tran3a com for3a, num dos lados, e voltou a coser 6 volta,

sempre 6 volta, fazendo assim os lados da copa do chap1u. <uando achou que acopa tinha altura suficiente, a m#e pegou outra vez na tran3a com menos for3a econtinuou a coser 6 volta, para formar a a%a do chap1u.

<uando a a%a ficou com largura %astante, cortou a tran3a e rematou a pontamuito %em, para n#o se desmanchar.

Fez chap1us para aria e +aura da tran3a mais fina e estreita, e para o pai epara ela da tran3a mais larga e apertada. primeiro, era o chap1u de domingo dopai, mas depois ela fez-lhe mais dois, da tran3a mais larga e áspera, para usar todos

os dias.<uando aca%ava um chap1u, punha-o numa tá%ua, para secar, e ao mesmo

tempo moldava-o muito %em. <uando secava, o chap1u conservava a forma que elalhe dera.

 A m#e sa%ia fazer chap1us muito %onitos. +aura gostava de a ver e, assim,aprendeu a entran3ar a palha e fez um chapelinho para a &arlota.

s dias come3avam a tornar-se mais pequenos e as noites mais frias. *manoite, o 7o#ozinho Geada passou pelas imedia3Ces e, de manh#, havia cores vivasaqui e ali, entre as folhas verdes da Grande Floresta. 0epois as folhas dei5aramtodas de ser verdes e tornaram-se amarelas, escarlates, carmesins, douradas ecastanhas.

 Ao longo da veda3#o, o sumagre erguia os seus cones de %agas vermelho-escuras, acima de folhas cor de fogo. &a;am %olotas dos carvalhos e +aura e ariafaziam chavenazinhas e pirezinhos com elas, para as casinhas de %rincar. "ozesdiversas ca;am para o ch#o da Grande Floresta e os esquilos andavam numaazáfama, 6s corridinhas por todo o lado, a reunir nozes para o nverno e a escond-las em árvores ocas.

+aura e aria foram com a m#e apanhar nozes e avel#s. Espalharam-nas aosol para secar e, depois, %ateram-lhes para largarem a casca seca de fora eguardaram as nozes no s!t#o, para o nverno.

Era divertido colher as grandes nozes redondas, umas outras mais pequenas

e as avel#s ainda mais pequenas, que cresciam em cachos nos ar%ustos. As cascase5teriores moles das nozes estavam cheias de um suco castanho, que lhesmanchava as m#os, mas as cascas das avel#s cheiravam %em e tam%1m sa%iam%em quando +aura se servia dos dentes para as partir.

 Andava toda a gente atarefada, pois era necessário guardar todos os vegetaisda horta. +aura e aria a:udavam, apanhavam as %atatas terrosas, depois de o paias desenterrar, e arrancavam as compridas cenouras amarelas e os na%osredondos, com a parte de cima arro5eada. E tam%1m a:udavam a m#e a cozer a%!%ora, para fazer tartes.

&om a grande faca da carne, a m#e cortava ao meio as grandes a%!%oras cor de laran:a. )irava as pevides do meio e cortava a a%!%ora em fatias compridas, que

descascava. +aura a:udava-a a cortar as fatias em cu%os. A m#e punha os cu%os numa grande panela de ferro, no fog#o, deitavaalguma água e depois ia tomando conta, enquanto a a%!%ora fervia devagarinho,

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durante todo o dia. )oda a água e todo o sumo tinham de desaparecer, pela fervura,mas nunca se devia dei5ar queimar a a%!%ora.

 A a%!%ora ficava transformada numa massa grossa e escura, que cheirava%em. "#o fervia como a água, mas formava %olhas que re%entavam de repente e

dei5avam %uraquinhos que logo se fechavam. )odas as vezes que uma %olhare%entava, espalhava-se um cheirinho agradável a %oa a%!%ora quente.Em cima de uma cadeira, +aura vigiava a a%!%ora e me5ia-a com uma

espátula de madeira. $egurava a espátula com as duas m#os e me5iacuidadosamente, pois se a a%!%ora se queimasse n#o haveria tartes de a%!%ora.

 Ao almo3o comeram a%!%ora cozida com p#o. Fizeram desenhos %onitoscom ela, no prato. )inha uma cor %onita e alisava-se e moldava-se sem dificuldade,com a faca. A m#e nunca as dei5ava %rincar com a comida 6 mesa> tinham decomer, com %oas maneiras, tudo quanto lhes punham 6 frente, sem dei5ar nada noprato. as n#o se importava que moldassem a a%!%ora castanha cozida em formas%onitas, antes de a comerem.

"outras ocasiCes, tinham assado uma outra esp1cie de a%!%ora, chamada?u%%ard, para o almo3o. A casca era t#o dura que a m#e tinha de se servir domachado do pai para a a%rir e cortar aos %ocados. 0epois de a a%!%ora ser assadano forno, +aura gostava de espalhar manteiga no interior macio e de separar a carneamarela da casca com uma colher e com-la.

"aquela 1poca era freqDente terem para o :antar milho descascado e leite.)am%1m era muito %om. )#o %om que +aura esperava impacientemente que o milhoficasse pronto, depois de a m#e come3ar a descascá-lo. Eram precisos dois ou trsdias para ficar em condi3Ces.

"o primeiro dia, a m#e retirava todas as cinzas do forno do fog#o e limpava-o.0epois queimava alguns cavacos limpos de madeira dura e guardava as cinzas numsaquinho de pano.

"essa noite, o pai trazia algumas ma3arocas, com grandes %agos de milho. Aparava as pontas das ma3arocas, que tinham milho pequeno, e depois de%ulhavao resto para uma grande ca3arola, at1 a encher.

"o dia seguinte, de manh# cedo, a m#e punha o milho de%ulhado e osaquinho de cinzas na grande panela de ferro, enchia-a de água e dei5ava ferver muito tempo. 'or fim, os %agos de milho come3avam a inchar, a inchar, at1 a pele serachar e come3ar a despegar-se.

<uando as peles estavam todas rachadas e a despegar-se, a m#e levava apesada panela para fora de casa. Enchia uma celha limpa de água fria, da nascente,

e passava o milho da panela para a celha.0epois arrega3ava as mangas do vestido florido e a:oelhava-se :unto dacelha. &om as m#os, esfregava os %agos de milho uns nos outros, at1 as peles sesoltarem e ficarem a flutuar ao cimo da água.

Escorria muitas vezes a água e su%stitu;a-a por outra, que ia %uscar aos%aldes 6 nascente. &ontinuava a esfregar os %agos de milho entre as m#os e amudar a água at1 terem sa;do todas as peles.

 A m#e ficava %onita, com os %ra3os %rancos e roli3os nus, as faces muitocoradas e o ca%elo %em penteado e %rilhante, enquanto esfregava os %agos demilho em água limpa. "unca dei5ava cair um pingo de água para o %onito vestido.

<uando o milho ficava, finalmente, todo descascado, metia os %agos moles e

%rancos num grande %oi#o, na despensa. E :antavam, enfim, milho descascado eleite. Algumas vezes tam%1m o comiam ao pequeno-almo3o com mela3o de %ordo,

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e outras a m#e fritava os %agos moles em %anha de porco. as como +aura gostavamais era com leite.

utono era muito divertido. ?avia muito tra%alho, muitas coisas %oas paracomer e muitas coisas novas para ver. +aura corria e tagarelava de manh# 6 noite

com os esquilos."uma manh# de geada chegou uma máquina 6 estrada. 'u5avam-na quatrocavalos e vinham dois homens com ela. s cavalos pu5aram-na para o campo ondeo pai, o tio ?enrique, o av2 e o $r. 'eterson tinham empilhado o trigo.

ais dois homens trou5eram, depois da grande, outra máquina maispequena.

pai gritou 6 m#e que os de%ulhadores tinham chegado e depois dirigiu-seapressadamente para o campo, com os seus cavalos. +aura e aria pediram 6 m#eque as dei5asse ir e correram para o campo atrás dele. 'odiam ver, desde quetivessem cuidado e n#o se metessem no caminho.

tio ?enrique chegou a cavalo e prendeu o animal a uma árvore. 0epois ele

e o pai atrelaram todos os outros cavalos - oito, ao todo - 6 máquina mais pequena. Atrelaram cada parelha 6 ponta de um pau comprido que sa;a do centro da máquina.*ma comprida vara de ferro, :unto ao ch#o, ia da máquina pequena 6 máquinagrande.

0epois +aura e aria fizeram perguntas e o pai disse-lhes que a máquinagrande se chamava separadora, a vara de ferro era a vara rotativa e a máquina maispequena se chamava for3a motriz. &omo estavam atrelados a ela oito cavalos, erauma máquina com a for3a de oito cavalos.

*m homem sentou-se em cima da máquina da for3a motriz e quando tudoficou preparado gritou aos cavalos, que come3aram a andar. s cavalos andavamnum c;rculo 6 volta do homem, cada parelha a pu5ar o pau comprido 6 que estavaatrelada e a seguir a parelha da frente. Enquanto andavam, passavamcuidadosamente por cima da vara rotativa, que n#o parava de girar no ch#o.

Era a for3a dos cavalos a pu5ar que fazia a vara de ferro girar e, por sua vez,p2r em funcionamento as pe3as da separadora, que se encontrava ao lado da medade trigo.

)oda aquela maquinaria fazia uma grande %arulheira, %ang-%ang, clang-clang.+aura e aria, de m#os dadas, estavam paradas 6 entrada do campo, a o%servar tudo de olhos %em a%ertos. Era a primeira vez que viam uma máquina. E nuncatinham ouvido tanto %arulho.

pai e o tio ?enrique, em cima da meda de trigo, iam atirando fei5es para

uma tá%ua. homem que estava em cima da tá%ua cortava as ataduras dos fei5es emetia-os um de cada vez num %uraco e5istente ao fundo da separadora. %uraco parecia a %oca da máquina e tinha compridos dentes de ferro. s

dentes mastigavam os fei5es de trigo e a separadora engolia-os. $a;a palha, a voar,pelo outro e5tremo da separadora e corria trigo pelo lado.

0ois homens, a tra%alhar muito depressa, calcavam a palha e empilhavam-na. utro homem, tam%1m a tra%alhar depressa, ensacava o cereal que sa;a damáquina. s gr#os de trigo sa;am da separadora para uma medida de meio alqueiree, assim que a medida se enchia, o homem su%stitu;a-a por outra vazia e despe:ava-a num saco. al tinha tempo para a despe:ar e voltar a p2r de%ai5o da sa;da do trigoantes de a outra se encher.

s homens tra%alhavam todos o mais depressa que podiam, mas a máquinaacompanhava-os. +aura e aria estavam t#o agitadas que mal conseguiam respirar. Apertavam a m#o uma da outra e olhavam, admiradas.

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s cavalos iam andando, sempre 6 roda. homem que os conduzia estalavao chicote e gritava9 =amos lá, 7o#o "#o se:as calaceiro &rac, estalava o chicote.&uidado, illB &alma a; "#o podes andar mais depressa do que a conta, mesmoque queiras.

 A separadora engolia os fei5es, a palha amarela sa;a numa nuvem dourada, otrigo escorria, dourado-escuro, e os homens a3odavam-se. pai e o tio ?enriqueatiravam os fei5es o mais depressa que podiam. Andavam pelo ar, por toda a parte,restos de palha e poeira. +aura e aria continuaram a olhar, mas por fim voltarampara casa, a fim de a:udarem a m#e a preparar o almo3o para todos aqueleshomens.

"o fog#o fervia uma grande panela de carne e couves> no forno coziam umaca3arola de fei:Ces e um p#o de milho. +aura e aria puseram a mesa para osde%ulhadores9 p#o levedado e manteiga, tigelas de a%!%ora cozida, tartes dea%!%ora e de %agas secas, %iscoitos, quei:o, mel e :arros de leite.

0epois a m#e p2s na mesa a carne cozida com %atatas e couves, os fei:Ces

no forno, o p#o de milho quente e a a%!%ora assada no forno, e deitou chá.+aura n#o compreendia por que motivo chamavam ao p#o feito de farinha de

milho Iolo 7o#ozinhoJ. "#o era %olo. A m#e tam%1m n#o sa%ia. A n#o ser, dizia,que os soldados nortistas lhe chamassem Iolo 7o#ozinhoJ porque as pessoas do$ul, contra as quais lutavam, o comiam em tanta quantidade. &hamavamI7o#ozinhos /e%eldesJ aos soldados sulistas... e talvez chamassem %olo ao p#o do$ul s! de %rincadeira.

 A m#e ouvira algumas pessoas dizerem que se devia chamar p#o de viagem."#o sa%ia, mas parecia-lhe que n#o devia ser um p#o muito %om para levar numaviagem.

 Ao meio-dia os de%ulhadores sentaram-se 6 mesa carregada de comida. asn#o era de mais, pois os de%ulhadores tra%alham muito e ficam com muita fome.

 A meio da tarde, as máquinas tinham aca%ado o tra%alho e os homens a quepertenciam levaram-nas para a Grande Floresta e levaram consigo os sacos de trigoque constitu;am a sua paga. 0irigiam-se para outro lugar onde os vizinhos tinhamamontoado o seu trigo e queriam que as máquinas o de%ulhassem.

pai estava muito cansado, nessa noite, mas sentia-se contente. 0isse 6m#e9

- ?enrique, o 'eterson, o meu pai e eu precisar;amos de umas duassemanas cada um para de%ulhar tanto trigo, com manguais, como aquela máquinade%ulhou ho:e. E ainda por cima n#o ficar;amos com tanto trigo nem t#o limpo.

Aquela máquina foi uma grande inven3#o utros poder#o manter-se fi1is am1todos antiquados, se quiserem, mas eu sou pelo progresso. Estamos a viver numgrande s1culo. Enquanto cultivar trigo contratarei uma máquina para o de%ulhar, sehouver alguma nas imedia3Ces.

"essa noite estava t#o cansado que nem conversou com +aura, mas elasentiu-se orgulhosa dele. )inha sido o pai que convencera os outros homens a :untarem o trigo ao dele e a alugarem a máquina. *ma máquina maravilhosa Estavatoda a gente contente.

&A'()*+ R

=EA0 "A F+/E$)A

 A erva estava seca e murcha e as vacas tiveram de sair da floresta e ficar no

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está%ulo, para terem de comer. )odas as folhas de cores vivas se tornaram de umcastanho %a3o, quando as frias chuvas outonais come3aram.

7á n#o se podia %rincar de%ai5o das árvores. as o pai estava em casa,quando chovia, e recome3ara a tocar ra%eca depois do :antar.

0epois a chuva parou. tempo arrefeceu. 0e manh#zinha, cedo, estava tudo%ranco de geada. s dias tornavam-se mais pequenos e todo o dia ardia umpequeno lume de lenha no fog#o, para manter a casa quente. nverno n#otardava.

s!t#o e a cave estavam de novo cheios de coisas %oas e +aura e ariatinham come3ado a fazer mantas de retalhos. =oltara tudo a ser aconchegado eacolhedor.

*ma noite, quando voltou para casa depois de tratar dos animais, o pai disseque a seguir ao :antar iria ao seu lam%edouro de veados, para ver se apanhava um.0esde a 'rimavera que n#o se comia carne fresca na casinha da floresta, masagora os veadinhos tinham crescido e o pai voltaria a ca3ar.

pai tinha feito um lam%edouro num espa3o a%erto da floresta, com árvoresperto, de onde podia vigiar. *m lam%edouro era um s;tio aonde os veados iam parao%ter sal. <uando encontravam uma por3#o de terreno salgado, passavam a ir lam%-lo e o lugar passava a chamar-se um lam%edouro de veados. pai fizera um,espalhando sal pelo ch#o.

0epois do :antar, o pai pegou na espingarda e foi para a floresta, e +aura earia tiveram de adormecer sem hist!rias nem m@sica.

 Assim que acordaram, de manh#, correram 6 :anela, mas n#o estava nenhumveado suspenso das árvores. Era a primeira vez que o pai sa;a para ca3ar um evoltava sem nada. +aura e aria n#o sa%iam que pensar.

pai andou atarefado todo o dia, a proteger a casinha e o está%ulo comfolhas mortas e palha, seguras por pedras, para n#o dei5arem entrar o frio. tempoarrefeceu mais, durante o dia, e 6 noite voltou a haver lume aceso na lareira e as :anelas foram %em fechadas e colmatadas, para o nverno.

0epois do :antar, o pai sentou +aura no :oelho, enquanto aria se sentavaperto, na sua cadeirinha. E o pai disse9

- Agora vou-lhes contar porque n#o comeram carne fresca, ho:e. <uando fuipara o lam%edouro, su%i para um grande carvalho. Encontrei um lugar, num ramo,onde me podia sentar confortavelmente e o%servar o lam%edouro. Estava a %oadistância para matar qualquer animal que aparecesse e tinha a arma carregada epronta no :oelho.

0ei5ei-me ficar sentado, 6 espera que a +ua nascesse e iluminasse aclareira.Estava um %ocadinho cansado de ter passado todo o dia de ontem a partir 

lenha, e devo ter adormecido, pois dei comigo a a%rir os olhos.A grande +ua redonda estava a aparecer e via-a, atrav1s dos ramos nus das

árvores, su%ir devagarinho no c1u.. E, recortado nela, vi um veado. )inha a ca%e3aerguida, 6 escuta. =iam-se-lhe os grandes galhos, acima da ca%e3a.

$eria um tiro perfeito. as o veado era t#o %onito, parecia t#o forte, livre eselvagem, que n#o fui capaz de o matar. 0ei5ei-me ficar sentado a olhá-lo, at1 elesaltar e desaparecer na floresta escura.

0epois lem%rei-me de que a m#e e as minhas pequeninas estavam 6 espera

de que eu trou5esse %oa carne fresca de veado para casa. 'or isso, disse paracomigo que para a pr!5ima vez dispararia.'assado um %ocado, entrou um grande urso pesad#o na clareira. Estava t#o

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gordo, de passar todo o =er#o a empanturrar-se de %agas, ra;zes e lagartas, que eraquase t#o grande como dois ursos. A sua ca%e3a oscilava de lado para lado,enquanto ele atravessava a clareira inundada de luar. "isto, chegou a um troncopodre, cheirou-o e escutou. 0epois partiu-o com as patas, cheirou os %ocados

partidos e devorou as gordas lagartas %rancas.Em seguida ergueu-se nas patas traseiras e ficou completamente im!vel, aolhar 6 sua volta, como se desconfiasse de alguma coisa. )entava ver ou fare:ar oque era.

)am%1m constitu;a um alvo perfeito, mas eu estava t#o interessado ao%servá-lo, e a floresta %anhada de luar estava mergulhada numa paz t#o grande,que me esqueci da espingarda. $! pensei em disparar quando ele :á se afastava nafloresta.

sto assim n#o pode ser, pensei. 0esta maneira nunca mais arran:o carne./ecostei-me na árvore e esperei de novo. 0esta vez estava decidido a

a%ater o pr!5imo animal que aparecesse.

A +ua su%ira e o luar estava mais %rilhante, na pequena clareira. A toda avolta havia som%ras negras, entre as árvores.

'assado muito tempo, uma cor3a e o seu cor3ozinho de um ano sa;ramdelicadamente do meio das som%ras. "#o pareciam ter medo nenhum. 0irigiram-separa o lugar onde eu espalhara sal e lam%eram am%os um pouco.

0epois levantaram a ca%e3a e olharam um para o outro. cor3ozinhoapro5imou-se e colocou-se ao lado da cor3a. Ficaram ao lado um do outro, a olhar para a floresta e para o luar. s seus grandes olhos %rilhavam, meigos.

E eu continuei sentado a olhá-los, at1 se afastarem e desaparecerem nassom%ras. 0esci da árvore e vim para casa.

+aura segredou-+he ao ouvido9- Estou contente por n#o os ter matadoE aria disse9- 'odemos comer p#o com manteiga. pai levantou aria da cadeira e apertou am%as a si.- As minhas %oas pequerruchas - e5clamou. E agora s#o horas de dormir.

)oca para a cama, enquanto vou %uscar a ra%eca.0epois de +aura e aria rezarem as suas ora3Ces e se deitarem, %em

aninhadinhas, de%ai5o da roupa da cama %ai5a, o pai sentou-se :unto da lareira, coma ra%eca. A m#e apagara o candeeiro, porque n#o precisava da sua luz. alou3ava-se devagarinho, do outro lado da lareira, e as suas agulhas de tricotar %rilhavam

uma de cada vez, por cima da meia que estava a fazer.)inham voltado as longas noites de nverno, com a luz da lareira e m@sica. Ara%eca do pai lamentava-se, enquanto ele cantava9

Q $usa-a-na, n#o chores por mim, tesouro,<ue eu vou para a &a-li-f!r-ni-a,'ara ver o p! do ouro.

0epois o pai come3ou a tocar de novo a can3#o do velho Grimes. as aspalavras n#o eram as que cantara quando a m#e estava a fazer quei:o. Estas eramdiferentes. A voz forte e meiga do pai cantava docemente9

0ever#o esquecer-se antigos conhecimentosE nunca mais os recordarH

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0ever#o esquecer-se antigos conhecimentosE os dias de antigamenteHE os dias de antigamente, minha amiga,E os dias de antigamente,

0ever#o esquecer-se antigos conhecimentosE os dias de antigamenteH

<uando a ra%eca se calou, +aura perguntou, %ai5inho9- <ue s#o os dias de antigamente, 'áH- $#o os dias que passaram há muito tempo, +aura - respondeu-lhe o pai. -

 Agora dorme.as +aura ficou mais um %ocadinho acordada, a ouvir a ra%eca do pai tocar 

%ai5inho e o som triste do vento na Grande Floresta. lhou para o pai, sentado no%anco :unto da lareira, com a luz das chamas a %rilhar-lhe no ca%elo e na %ar%acastanhos e a reluzir na ra%eca cor de mel. lhou para a m#e, que se %alou3ava

devagarinho na cadeira e tricotava.E pensou9 sto 1 agora. $entiu-se contente por a casa acolhedora, o pai, a

m#e, a luz da lareira e a m@sica serem agora. 'ensou que n#o poderiam ser esquecidos, pois agora era agora. "unca poderia ser há muito tempo.

Fim

);tulo original9+ittle ?ouse in the ig Woods