Upload
trinhminh
View
219
Download
4
Embed Size (px)
Citation preview
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO TÉCNICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLÓGICA DO MATO
GROSSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
TECNOLÓGICA INCLUSIVA
JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS
LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL
Natal-RN 2009
JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS
LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL
Natal-RN
2009
Monografia apresentada à banca
examinadora da Especialização: Educação
Profissional e Tecnológica Inclusiva do
MEC/IF/MT, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista.
JOSÉ GLEDSON IZAIAS DOS SANTOS
LUDICIDADE, QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL NO CANTO CORAL
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________ Sonia Cristina Ferreira Maia, Dra. (Orientadora)
_____________________________________________________ Narla Sathler Musse de Oliveira, Ms.
____________________________________________________ Lígia Sousa de Santana Pereira, Ms.
Natal/RN 2009
Monografia apresentada à banca
examinadora da Especialização: Educação
Profissional e Tecnológica Inclusiva do
MEC/IF/MT, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 6
1.1 Problematização 6
1.2 OBJETIVOS 8
1.2.1 Objetivo Geral 8
1.2.2 Objetivos Específicos 8
1.3 Justificativa 8
1.4 Metodologia 10
1.4.1 Caracterização da pesquisa 10
1.4.2 População e Amostra 11
1.4.3 Instrumento de Pesquisa 11
1.4.4 Analise e Discussão dos Resultados 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO 12
2.1 Terceira Idade e Educação Inclusiva 12
2.2 Qualidade de Vida e Ludicidade 17
2.3 Técnicas Básicas de Regência Coral 22
2.4 Educação Inclusiva 25
2.5 A Música e sua relação com a Ludicidade 30
3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS 34
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
41
42
RESUMO:
A pesquisa é problematizada com a prática musical do canto coral
vivenciado no Programa Saúde e Cidadania da Terceira Idade no Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte. O canto coral
compreendido como uma manifestação educacional musical com significado para
a interação social da pessoa da Terceira Idade. O estudo tem como objetivo
descrever os principais fatores e aplicar técnicas vocais no canto que contribuam
com a ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão social no processo pedagógico
na formação de um coral. O referencial teórico pautado na Terceira Idade, na
Ludicidade, na Educação Inclusiva, na Qualidade de Vida, nas Técnicas de
Regência, na Música e na Inclusão Social. Como resultados podemos destacar os
benefícios dos exercícios para a respiração, melhor afinação, melhora no estado
emocional, o prazer e estar no grupo e conseguir superar dificuldades emocionais
por participarem de apresentações.
PALAVRAS – CHAVES: Ludicidade – Qualidade de Vida – Terceira Idade.
6
1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
O canto coral configura-se como uma prática musical exercida e difundida
nas mais diversas etnias e culturas por apresentar–se como um grupo de
aprendizagem musical, desenvolvimento vocal, integração e inclusão social. O
coro, por sua vez é um espaço constituído por diferentes relações interpessoais e
de ensino-aprendizagem, exigindo do regente, uma série de habilidades, e
competências referentes não somente ao preparatório técnico musical, mas
também gestão e condução de um conjunto de pessoas que buscam motivação,
aprendizagem e convivência em um grupo social. O coral, nesse sentido é um
espaço de motivação, inclusão e integração social que viabiliza o desenvolvimento
da cultura.
O canto coral se constitui em uma relevante manifestação educacional
musical e em uma significativa ferramenta de integração social. Os trabalhos com
grupos vocais nas mais diversas comunidades, empresas, instituições e centros
comunitários pode, por meio de uma prática vocal bem conduzida e orientada
realizar a integração (entendida como uma questão de atitude, na igualdade e na
transmissão de conhecimentos novos para todas as pessoas, independente da
origem social, faixa etária ou grau de instrução, envolvendo-as no fazer o novo)
entre os mais diversos profissionais, pertencentes a diversas classes
socioeconômicas e culturais, em uma construção de conhecimento de si (da sua
voz, de cada um, do seu aparelho fonador) e da realização da produção vocal em
conjunto, culminando no prazer estético e na alegria de cada execução com
qualidade e reconhecimentos mútuos, enquanto fazedores de arte e apreciados
por tal, por exemplo, em apresentações públicas. Além disso, os conhecimentos
adquiridos pelos integrantes do coral influenciam na apresentação artística e na
motivação pessoal de cada um, independentemente de sua faixa etária ou de seu
capital cultural, escolar ou social.
A partir da análise acima, podemos incluir o canto coral em um cenário de
qualidade de vida e equilíbrio social. Assim, após o cumprimento das
necessidades básicas e de segurança de dada população, a participação em
7
atividades que promovam o aumento da auto-estima e do senso de auto-
realização constitui significativo aspecto da formação do indivíduo. Nessa
perspectiva, o canto coral auxilia a pessoa no seu crescimento pessoal e, a partir
de então, em sua motivação (AMATO NETO; AMATO, 2007).
O regente de um coral deve atuar com a perspectiva de realizar um trabalho
de educação musical dos integrantes do seu grupo. Para a condução de um
trabalho artístico que envolve um grupo diversificado como um coral faz-se
necessária a capacidade de estabelecer critérios, motivar cada um de seus
integrantes, liderá-los e levá-los a uma meta estabelecida. A partir desse processo
pode-se gerar e difundir conhecimentos musicais e vocais, estimulando a
propriocepção e o aumento da qualidade de vida dentro de uma comunidade no
que diz respeito a uma participação cultural, tornando-o participativo e sujeito na
sociedade.
A Organização das Nações Unidas – ONU, em 1999, preocupada com a
qualidade de vida da pessoa idosa declarou como o “Ano Internacional do Idoso”
cujo tema foi “Para uma sociedade de todas as idades”. Também foi criado no ano
de 1988 pela WLRA (leisure and Recreation Association) – Associação Mundial de
Lazer e Recreação, uma comissão para a terceira idade com o objetivo de criar
Programas de lazer, no intuito de incluir a pessoa idosa na sociedade,
desmistificando aquela antiga idéia de que o idoso, a partir de certa idade, não
serve mais pra nada.
Em virtude da falta de compreensão do lazer na terceira idade e a falta de
iniciativas para implementação de programas de lazer para os idosos, as decisões
da ONU e da WLRA, vem estimular a pesquisa e o estabelecimento de políticas
que irão melhorar a qualidade de vida dos idosos em diferentes contextos sociais
e culturais.
Com a preocupação aflorada na qualidade de vida da pessoa idosa e por
ser regente de coral é que surge a seguinte pergunta fundamental: Como a prática
pedagógica na formação de um coral para a terceira idade pode proporcionar a
ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão social?
8
1.2 OBJETIVOS
1.2 Objetivo Geral
Descrever os principais fatores e aplicar técnicas vocais no canto, que
contribuam com a Ludicidade, Qualidade de vida e Inclusão Social no processo
pedagógico na formação de um Coral.
1.2.1 Objetivos Específicos
� Aplicar técnicas vocais para o canto coral para desempenho no estudo do
repertório.
� Relacionar as atividades prioritárias da técnica vocal de forma lúdica as
quais proporcionam saudabilidade e qualidade de vida aos integrantes.
� Identificar a ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão social dos
integrantes por meio das vivências pedagógicas.
1.3 JUSTIFICATIVA
Devido a uma grande experiência com o tema Canto, por meio da
participação no Coral do Povo, da Fundação Demócrito Rocha na cidade de
Fortaleza - CE, no período de 1985 a 1992, quando tive a oportunidade de
ingressar no Projeto Ópera Nordestina da Universidade Federal do Ceará que teve
como ideologista o Sopranista Lírico Internacional Paulo Abel do Nascimento com
o qual estudei teoria musical, regência e técnica vocal. Por isso o grande interesse
em defender essa monografia da terceira idade por meio da prática do canto. O
Curso de Tecnologia em Lazer e Qualidade de Vida no IFRN – Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, onde conclui a
graduação, me deu bastante prática na elaboração de projetos sociais na área
cultural ampliando assim, um trabalho de pesquisa. Na Graduação estudei
9
disciplinas como “Lazer e Inclusão Social”, “Princípios Básicos da Qualidade de
Vida”, “Elemento Lúdico da Cultura”, dentre outras que me deram embasamento
teórico para avançar no estudo que se propõe. Por isso, o grande interesse em
defender e elaborar um Projeto Social com o Canto Coral no IFRN no Programa
Saúde e Cidadania na Melhor Idade no qual o pragmatismo pedagógico Nesse
sentido o grande interesse em defender pedagógica na formação de um coral.
Segundo Maia (2007) os saberes que ora devemos nos preocupar ocorrem
no contexto de um mundo organizado por instâncias individuais, coletivas e
institucionais, no qual os sujeitos que interagem são heterogêneos. As três
instâncias se diferenciam pelos seus atos, dando sentido ao mundo e subsidiando
a rede do conhecimento, como uma multiplicidade de instâncias em articulações
dinâmicas e complexas. Compreender a construção de saberes nesse novo
cenário plurisensual do conhecimento, o qual poderá se preocupar com o jogo
entre as certezas e as incertezas que vão acontecendo no decorrer das mudanças
que a vida nos vai apresentando é uma arte vislumbrada e tentada por poucos.
O estudo tem uma grande relevância acadêmica por ser um tema bem
divergente dos explorados dando uma contribuição para o acervo bibliográfico na
área de Lazer e Qualidade de Vida, como também da Inclusão Social
Era bastante comum caracterizar o idoso com estereotipo de inútil, de uma
ferramenta descartada das suas atribuições como cidadão, na construção de uma
sociedade mais inclusiva no que diz respeito ao ser humano. Por isso as técnicas
trabalhadas no canto trazem melhorias na qualidade de vida dos atores do Projeto
Saúde e Cidadania na Melhor Idade do IFRN, fortalecendo assim as atividades
desenvolvidas no Programa.
A experiência com o Canto Coral é de uma grande relevância pessoal
podendo-se fazer a relação do aprendizado antes do ingresso no Curso com a
aplicação desse aprendizado numa nova visão como profissional de Lazer e
qualidade de vida.
Nesse sentido é que se faz necessário pensar no Programa Saúde e
Cidadania da Melhor Idade um indivíduo que constrói o conhecimento através de
interações que ocorrem entre a cultura e o pensamento e, dessa forma, resgatar a
10
visão de contexto social revelando que os indivíduos são o que são dentro de
determinados contextos, podendo e devendo ser compreendidos a partir de suas
conexões e de suas relações com a sua realidade contextual. Isso implica em que
a Educação/Estado/Sociedade promova o respeito às diferenças, à diversidade
entre os seres, às variações culturais e aos diferentes processos de
desenvolvimento humano. Ressaltam-se nesses processos, alguns aspectos
relevantes, dentre eles a interconectividade dos problemas educacionais
existentes em nosso País e especificamente em nossa cidade, a reintegração do
sujeito da terceira idade no processo de construção do conhecimento, sendo este
algo que está sempre em processo de vir-a-ser. Ampliando ainda a nossa
compreensão ao esclarecer a existência de transitoriedade, da criatividade
presente nos processos da natureza e sua importância para a evolução da
humanidade.
1.4 METODOLOGIA
1.4.1 Caracterização da Pesquisa.
A caracterização da pesquisa deu-se através de observações de
modalidades culturais no sentido do Canto Coral e outras atividades, de lazer,
paralelas desenvolvidas no projeto da terceira idade do IFRN, onde se
desencadeia palestras de ordem referente ao tema citado. Busca de
apresentações nos locais populares da cidade como escolas, creches, instituições
filantrópicas etc.
Pesquisa descritiva do tipo pesquisa ação, na qual o pesquisador interage
diretamente com o grupo pesquisado e se pauta numa dimensão interventiva – na
produção de recursos adequados ao canto, no encontro com os atores envolvidos
e criação do diário de campo; formativa – capacitação do pesquisador e dos
atores da pesquisa na operacionalização do conhecimento técnico do canto;
dimensão investigativa - levantamento da realidade do conhecimento que os
atores tem do canto, estudo sobre as preferências dos atores e a coleta sobre
estratégias e técnicas adotadas.
11
1.4.2 População e Amostra
A população a que se destinou este estudo são as pessoas da terceira
idade que estão inseridas no Projeto da Cidadania da Terceira Idade do IFRN.
Dentre as pessoas do Projeto da Cidadania da Terceira Idade do IFRN,
foram escolhidos 30 pessoas, 7 homens e 23 mulheres. Os mesmos foram
selecionados de forma inclusiva e aleatória, estando aberto a participação de
qualquer membro do Projeto, basta haver interesse e querer participar, isso é que
chamamos de forma aleatória e a forma inclusiva é qualquer integrante do Projeto
seja de qualquer raça, etnia, tenha voz afinada ou desafinada é aceito no Grupo
do Coral, pois tenho a responsabilidade de ensinar a cantar até fazer
apresentações em público. A minha formação de Técnica vocal pela UFC –
Universidade Federal do Ceará, me deu aprendizado profissional, para que eu
possa fazer um Coral de todas as modalidades: Infantil, juvenil,adulto e terceira
idade, basta para cada modalidade, eu faça um planejamento pedagógico para ter
um bom êxito.
1.4.3 Instrumento de pesquisa
Avaliações através de discussões e das observações com o diário de
campo, observação participante e entrevista semi-estruturada.
1.4.4 Análise e discussão dos resultados
Os dados foram analisados de forma qualitativa por meio das entrevistas
disponibilizadas e o diário de campo nos quais foram discutidos com o referencial
teórico abordado ao longo do estudo.
12
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 TERCEIRA IDADE E EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Educação inclusiva é o processo de adequação da escola para que todos
os alunos possam receber uma educação de qualidade, cada um a partir da
realidade com que chega à escola, independentemente de raça, etnia, gênero,
situação sócio econômica, deficiências à realidade do alunado que, por sua vez,
deve representar toda a diversidade humana. É a escola que deve ser capaz de
acolher todo tipo de aluno e de lhe oferecer uma educação de qualidade, ou seja,
respostas educativas compatíveis com as suas habilidades, necessidades e
expectativas. Nenhum tipo de aluno poderá ser rejeitado pelas escolas. As escolas
passam a ser chamadas inclusivas no momento em que decidem aprender com os
alunos o que deve ser eliminado, modificado, substituído ou acrescentado nas seis
áreas de acessibilidade, a fim de que cada aluno possa aprender pelo seu estilo
de aprendizagem e com o uso de todas as suas múltiplas inteligências.
As escolas passam a ser chamadas inclusivas no momento em que
decidem aprender com os alunos o que deve ser eliminado, modificado,
substituído ou acrescentado nas seis áreas de acessibilidade, a fim de que cada
aluno possa aprender pelo seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas as
suas múltiplas inteligências. As seis áreas de acessibilidade são: arquitetônica
(desobstrução de barreiras ambientais), atitudinal (prevenção e eliminação de
preconceitos, estigmas, estereótipos, discriminações), comunicacional (adequação
de códigos e sinais às necessidades especiais), metodológica (adequação de
técnicas, teorias, abordagens, métodos), instrumental (adaptação de materiais,
aparelhos, equipamentos, utensílios, tecnologias assistivas) e programática
(eliminação de barreiras invisíveis existentes nas políticas, normas, portarias, leis
e outros instrumentos afins
O envelhecimento populacional vem se constituindo uma preocupação
emergente na agenda de inúmeros governantes. Ouvimos com freqüência que o
13
Brasil não é mais um país jovem. Os idosos representavam apenas 3,2% da
população geral de 1900 e 4,7% em 1960, poderão atingir 13,8% no ano de 2025.
No período de 1960 a 2025, espera-se que o crescimento da população idosa seja
de 917% enquanto que o ritmo de aumento da população total deverá cair para
250%. Hoje, temos aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60
anos (idosos), e projeções indicam que seremos o 6o.País do mundo em número
de idosos no ano de 2020, com aproximadamente 32 milhões (WORLD HEALTH
STASTISTICS).
Considerando o rápido e acelerado aumento da população idosa, talvez o
país não tenha tido tempo suficiente para se preparar para lidar de modo
adequado com as demandas dessa população. Embora sejam situações já
conhecidas e previsíveis, tais como preconceito, marginalização social, pobreza,
abandono, doenças, incapacidades e baixa qualidade de vida, inexistem ainda
políticas efetivas para essa clientela.
Diante deste contexto do envelhecimento nacional os docentes da área da
saúde, se preocupam com a situação da realidade profissional, o "cuidar do idoso"
nos diferentes espaços de atuação, dos cuidados integrais desse contingente,
restaurando a importância das pessoas idosas para a sociedade, fazendo com
que a velhice seja marcada pela “vida, dignidade e esperança”. E é por isso que
buscamos, por meio de uma atuação multidisciplinar, uma prática voltada para a
atenção e qualidade de vida do idoso no contexto social.
Ao longo da existência humana, os homens procuram entender o sentido
da própria vida e os mistérios da morte. Nesse processo está incluída a chegada
da velhice, quando acontece o enfraquecimento das forças e o aumento da
necessidade de apoio familiar e social.
Algumas civilizações lidam com a questão de forma amena, outras não. O
certo é que a vida longa traz conseqüências, principalmente numa sociedade que
idolatra a juventude, na qual “ser velho” significa estar envolvido num universo de
preconceito e exclusão.
14
O que é ser velho? Velho não é apenas aquele que “conseguiu” viver mais,
mas aquele que teve possibilidade de vivenciar mais desejos e sonhos e aprendeu
com isso, o que o torna doutor em vida. Talvez, essa seja a inveja dos jovens, ao
designar essa faixa etária de forma pejorativa.
A velhice pode ser compreendida como um destino do homem. Nela ocorre
o declínio do funcionamento físico e mental do ser humano, que acontece em
diferentes proporções e varia de pessoa para pessoa. É muito mais um fenômeno
psicossocial do que um momento cronobiológico da vida. O dinamismo joga,
nesse sentido, um papel decisivo para que a velhice possa ser entendida com
uma redução aceitável dessa mobilidade e/ou uma abertura para infinitas
possibilidades de novos horizontes.
Salvo exceções, todos nascem com saúde. Manter essa condição, através
de hábitos saudáveis como uma boa alimentação, atividade física regular, um
trabalho prazeroso, boas relações afetivas e de lazer freqüentes deveria ser
compromisso de todos.
Inúmeras são as definições de velhice, mas preferimos listar somente duas,
sobre as quais idealizamos a filosofia deste programa: “É fase da incerteza do
futuro, do medo da morte. É a diminuição da vitalidade das forças físicas e das
aptidões, carência que obriga a pessoa a adotar definitivamente um outro ritmo de
vida” (D’EPINAY, 1984 p. 461); “é a fase da existência diferente da juventude e da
maturidade, mas dotada de um equilíbrio próprio, deixando aberta ao indivíduo
uma ampla gama de possibilidades” (BEAUVOIR, 1970 p.300).
Além disso, a procura por certos tipos de lazer também é um reflexo de
certas tendências que podem influenciar somente um grupo etário ou somente
certo segmentos de um grupo etário.
Ao longo da história muitas imagens do processo de envelhecimento e dos
idosos têm estado presentes na literatura, nas artes, no cinema e na mídia.
Geralmente, essas imagens são mais negativas do que positivas, por causa dos
exemplos radicais de idosos descritos como fracos e dependentes, algumas vezes
com um traço de ironia, ou seja, a terceira idade é freqüentemente retratada como
15
um período no qual a doença, a dependência, a solidão, a pobreza, a fraqueza
tanto cognitiva como física e o isolamento prevalecem. Essas imagens negativas
da terceira idade são aceitas não somente pelos idosos, mas também pela mídia e
pela população em geral.
Para desenvolvermos e colocarmos em prática, programas e políticas de
lazer eficientes para a Terceira Idade é necessário compreender as estruturas de
idade atual e projetada de uma sociedade e de uma comunidade. É de
conhecimento de todos que a expectativa de vida está aumentando, que as taxas
de fertilidade estão decaindo, que as populações estão envelhecendo e que as
proporções de idosos, comparada a outros grupos etários, estão crescendo em
muitas sociedades.
A busca por atividades de lazer durante o curso da vida é geralmente
caracterizada tanto pela continuidade quanto pela mudança, por um tipo
específico de lazer.
No decorrer de nossas vidas, adquirimos um repertório de habilidades e
atividades de lazer, sendo que todas podem ter significados e graus diferentes de
importância em nossa história pessoal em determinado estágio da vida. Se
adquirirmos certas habilidades específicas, ou mesmo se uma habilidade ou
atividade se torna significativa na vida de uma pessoa ou de um grupo etário, isso
depende de normas culturais e de fatores sócio-demográficos como sexo, raça
etnia, lugar de residência, do custo da atividade, do clima e da qualidade da
comunidade, assim como da disponibilidade de instalações físicas, programas e
condições favoráveis de transporte e em grupo podem mudar em razão de
mudanças nas preferências, nas limitações, nas habilidades, na saúde e nos
valores culturais.
Não obstante, também há consistência e continuidade em muitos interesses
relacionados a atividades de lazer a participação e a intensidade possam mudar
em diferentes estágios. Por exemplo, uma pessoa que durante toda a vida foi uma
ardorosa fã de ópera pode assistir a um número menor de concertos de ópera à
medida que vai envelhecendo, mas seu interesse por ópera vai continuar a existir
e vai ser expresso e vivido quando escutar óperas no rádio ou em CDs.
16
Além disso, a adoção de um tipo específico de um estágio da vida pode
persistir por toda a vida, mas ser expressa de maneiras diferentes.
No próximo milênio, seremos parte de uma sociedade global que será a
maior e mais longeva de toda a história da humanidade. Com uma população
projetada de um bilhão de idosos, de 60 anos ou mais, para o ano 2025, as
sociedades devem preparar-se para essa mudança demográfica que vai introduzir
diferentes necessidades e desafios nas regiões desenvolvidas versus região em
desenvolvimento. Em 2025, enquanto 25% da população total dos países
desenvolvidos vão atingirem 60 anos de idade ou mais, somente 12% da
população dos países em desenvolvimento vão atingir mais de 70 anos. E essa
última porcentagem pode representar aproximadamente 860 milhões de pessoas,
quase que 71% da população mundial de idosos. (BARRY, 2000)
Segundo Comênio (1985) a idéia de qualidade de vida parece ser um
acontecimento novo surgido no final do século XX. Para contestar essa hipótese,
basta a lembrança da Didática Magna, de Comênio, quando demonstrava a
vinculação entre saúde, higiene educação no sentido de estabelecer fundamentos
para o prolongamento da vida. Nessa obra, o autor enaltece que prolongar a vida
está relacionado ao sentido de uso ou utilização que fazemos da vida, quando
mostra que, se soubermos fazer bom uso da nossa vida, ela será longa ou
suficiente; da mesma forma, se a gastarmos de forma perdulária, ela será curta e
insuficiente. Ao que tudo indica, Comênio (1985) estava mais preocupado com o
destino que atribuímos à nossa vida do que com sua duração em anos. Também
era sua preocupação o cuidado com a vida em decorrência de problemas que
poderiam acarretar perdas para o portador dessa vida ou a seus descendentes.
Como se vê, já nessa época identificou um movimento pela saúde, pela qualidade
de vida, e os problemas e riscos decorrentes dos excessos cometidos contra o
corpo. Sem dúvida podemos chamar a isso de preocupação com a “qualidade de
vida” – e podemos constatar que esta inquietação já não é tão recente.
No entanto, fazendo um contraponto com o pensamento de Comênio,
identificamos que nas propostas de qualidade de vida de nosso tempo atual o
sentido de prolongar a vida é um valor por si só, descartando-se as preocupações 9
17
sobre como usamos essa vida. O prolongar da vida é um valor biologicamente
desejável, posto como um valor cultural. Prolongar a vida hoje torna absoluta a
cronologia, traduzida como longevidade e esperança de vida, e a falta de cuidados
para atingir esse fim é alertada por campanhas contra seus riscos, pelo valor
negativo para as finanças públicas nos gastos com saúde. Não faz parte da
preocupação atual do movimento da qualidade de vida o que cada um deve fazer
com sua própria vida, bem como na relação que cada um estabelece com a vida
de seus semelhantes, quando beneficiado com o aumento dos anos que deverá
viver.
A indagação a ser feita desse momento é aumentar o tempo de duração da
vida por que e para que? Como apenas um exemplo dessa preocupação,
lembramos Simões (1994), quando seus escritos sobre a terceira idade já fazem
referências elucidativas a esse respeito, ao afirmar que as ciências biológicas
procuram de várias maneiras, prolongar a vida dos indivíduos. No entanto,
também menciona que, embora o desenvolvimento científico esteja contribuindo
para prolongar a vida dos indivíduos, socialmente, aqueles que chegam a vida
avançada sofrem vários preconceitos, como o de serem pessoas irrelevantes, de
representarem algo menos que o adulto, de serem tratados com desprezo pelas
políticas públicas, condenando-os muitas vezes ao isolamento.
2.2 QUALIDADE DE VIDA E LUDICIDADE
No mundo das idéias de hoje, está disseminado o trato com a chamada
“qualidade de vida”, em todas as áreas do saber, parecendo ser essa a nova
panacéia para os males da humanidade. Vemos textos sobre o assunto em
propostas para: uma “filosofia alternativa”; um “novo tratamento ou novo recurso
terapêutico”; “formas emergentes de atividades físicas” ou mesmo de “exercícios
mentais de relaxamento”; facilitar o “contato com energias místicas”; ajude-se com
“novos manuais de auto ajuda”, dentre outros, sempre para melhorar a vida do
cidadão neste planeta, assumido como um lugar inóspito.”Naturalmente”
complicado para a vida em comunicação e em comunhão social.
18
A maioria dessas propostas, visando à busca da qualidade de vida, parte
do princípio de que, alterando-se as estratégias daquilo que é feito, ou alterando-
se alguns critérios que balizam ações no dia a dia, será possível reverter o quadro
da desqualificação da vida atual e, como num passe de mágica ou de posse de
um poder revelador, estaremos desfrutando de vida qualificada. Assim, parece-
nos, numa primeira análise, que essas propostas são portadoras de idealismos
positivistas históricos, tentando mais uma vez afirmar que os meios (técnicas ou
procedimentos metodológicos) podem alterar ou até mesmo transformar os fins
(atitudes incorporadas ao longo dos tempos). Isso tudo sem nos esquecermos de
que muito dessas propostas tem como suporte a “qualidade em educação”, a
“qualidade da eficiência do e no trabalho”, a qualidade dos serviços prestados ao
consumidor que ele esteja na escola, na linha de produção ou na linha de
consumo de bens materiais, apontando claramente para o valor mercantil das
propostas, pois elas são destinadas aos que tem o poder da aquisição.
Evitar equívocos é uma das funções do pensar acadêmico, o que nos
motiva a produzir algum alerta apresentado por Morin citado por Moreira (2001)
aos colegas que estão empenhados na produção de conhecimento.
Observação que gostaríamos de fazer sobre o tema qualidade de vida é a
de que não se pode pensar de forma linear preconizada pelo paradigma
cartesiano, pois nesse caso, podemos prever um futuro de uma vida com
qualidade calcado na tecnocracia, como destaca Morin (1996):
A furologia dos anos 60 colocava que o passado era por demais conhecido e que a base de nossas sociedades era estável, considerando que, nessas bases seguras, o futuro se forjava no e pelo desenvolvimento das tendências dominantes da economia, da técnica, da ciência (...) Mas, na realidade, os futurólogos edificaram um futuro imaginário a partir de um presente abstrato. Um pseudopresente alimentado à base de hormônios substituiu-lhes o futuro. As ferramentas grosseiras, mutiladas, mutilantes, que lhes permitem perceber, conceber o real, cegaram-nos não só para o imprevisível, mas também para o previsível. Não posso resistir ao prazer de citar de novo p especialista dos especialistas. Robert Gibrat, presidente das Sociétés statistiques de France:”Os especialistas têm se enganado regulamente aos vinte anos “ (...) Isso porque, aqui, ainda e principalmente, para conseguir o devir histórico é preciso substituir por uma concepção complexa a concepção simplista reinante (p.307).
19
A concepção complexa proclama que o passado é construído do presente,
e a seleção histórica do passado é feita pelo observador no presente com os olhos
desse observador. Assim o passado toma o seu sentido a partir de uma
abordagem posterior que lhe dá o sentido da história.
Da mesma forma, o futuro nasce do presente, o que já nos coloca adiante
de problema: é difícil pensar o presente. Se estivermos cegos no presente,
teremos que “perspectivar” um futuro às cegas.
O tema de qualidade de vida é presente, e pensá-lo para o futuro, com
base nas perspectivas do presente, requer pensá-lo na pluralidade de
perspectivas do presente. As perspectivas do presente são necessárias para as
prospectivas futuras. Assim, “o jogo do devir é de uma prodigiosa complexidade”.
O Tema qualidade de vida, assim encarado, faz-nos lembrar que foi
considerado um século de progressos, de desenvolvimentos, de grandes
descobertas, mas, ao mesmo tempo, foi um século de convulsões, de horrores, de
holocausto, de guerras mundiais. O desenvolvimento trouxe consigo o
subdesenvolvimento; o progresso foi experimentado e, com ele, as regressões.
Vivenciou-se, nesse período, o verdadeiro significado de crise, quando os perigos
conviveram com as oportunidades de mudança.
Quando adentramos a análise do que significa qualidade de vida,
necessitamos realizar essa tarefa dentro do pensamento complexo, dentro das
incertezas, dentro dos avanços e dos retrocessos, sabendo dos ganhos e das
perdas, pois isso qualificará nossas idéias críticas. A crise do presente não é para
ser negada nem para ser enfrentada como se possuíssemos apenas duas opções
para a solução do problema. A crise do presente é para ser superada, daí a
necessidade de associarmos as noções de crise, evolução, revolução, regressão,
em vez de escolhermos uma, abandonando as outras.
Qualidade de vida significa vivenciar tudo isso ao mesmo tempo, motivo
suficiente para realizarmos propostas, em qualquer área do conhecimento
humano, que levem em consideração a interdependência de ver, perceber,
20
conceber e pensar. Isso só é possível por meio do conhecimento complexo, pois
este reconhece os limites do próprio ato de conhecer.
A essência da atividade lúdica, a priore, se desvendou com suas raízes na
dimensão histórica e cultural da produção coletiva dos homens vivendo em
sociedade, hoje sabemos que o lúdico se constitui no ato criativo de afastamento
da realidade para a proximidade da fantasia, da liberdade e da alegria.
Em determinados períodos da história o lúdico da música foi utilizado como
forma de alienação para ocultar certos desígnios políticos ou sociais, porém, de
acordo com os estudos, conclui-se que a civilização tem suas raízes no jogo lúdico
e, portanto só conseguiremos a plenitude da dignidade e estilo com a utilização
correta desse elemento.
Para existir uma força de cultura autêntica é necessário que o elemento
lúdico seja puro, que ele não sirva de máscara para esconder normas ditadas pela
razão, pela humanidade ou pela fé.
Segundo a concepção teórica de Vygotsky (1991), pode-se inferir que o
comportamento humano não é uma doação, nem decorrente de um processo
biológico hegemônico, mas resulta de um processo de inter-relação entre fatores
internos e externos, construção humana sistemática e permanente que ocorre
para atender às necessidades com as quais o homem se depara em todos os
momentos históricos.
Talvez, a necessidade mais marcante e presente desde os tempos mais
remotos até a contemporaneidade seja a necessidade de criar e vivenciar uma
cultura que proporcione um bem-estar e uma atmosfera propícia para a
integração. Pois hoje, mais do que nunca, no mundo moderno, se faz necessário
que os cidadãos tenham uma força cultural, que por sinal, ainda lhe sirva como
instrumento de lazer para a vivência do lúdico e para o relaxamento dos conflitos.
Contudo, a música também tem o seu papel profissional na sociedade
capitalista, onde leigos e estudiosos que adquirem vasto conhecimento sobre o
mundo físico e o homem, além de um conjunto de matérias relacionadas às
humanidades, buscam remunerações por atuações profissionais.
21
Segundo Barcellos apud Morais (1998), no processo de urbanização e
profissionalização, em que se vive hoje, há uma nítida separação dos campos do
trabalho e do lazer. A ruptura lazer/trabalho tem significado o ocultamento e
desvalorização do lúdico, uma vez que a sociedade só valoriza a utilidade, ou
seja, o produto que dá lucro.
Segundo Maia (2005), a sociedade contemporânea o homem passa grande
parte de sua vida trabalhando e tentando chegar em algum lugar no mundo do
trabalho primeiro do que o outro, como se fosse uma atitude de gênio. Tornando-
se um funcionário exemplar e comprometido com a empresa, submetido ao chefe,
como um verdadeiro esquizofrênico, porque o apogeu de um homem e sua
dignidade passa pela conquista do trabalho. Nas palavras de Lafargue (2000, p.
11):
Essa idéia aparece em quase todos os mitos que narram a origem das sociedades humanas como efeito de um crime cuja punição será a necessidade de trabalhar para viver. Ela também aparece nas sociedades escravistas antigas, como a grega e a romana, cujos poetas e filósofos não se cansam de proclamar o ócio um valor indispensável para a vida livre e feliz, para o exercício da nobre atividade da política, para o cultivo do espírito (pelas letras, artes e ciências) e para o cuidado com o vigor e a beleza do corpo (pela ginástica, dança e arte militar), vendo o trabalho como pena que cabe aos escravos e desonra que cai sobre homens livres pobres.
Parte dessas mudanças paradigmáticas nas relações de trabalho se dá
pela transformação da operação manual em tecnologias sofisticadas para atender
aos investimentos e as exigências do mercado, ou seja, passa-se da simplicidade
à complexidade.
Esse marco tecnológico foi característica do século XX com o crescimento
demográfico, pelo progresso tecnológico, pela excitante vitalidade, pela grande
expansão da classe média, pela profunda reestruturação dos conceitos de tempo
e espaço, então modificados pela difusão do relógio, da bússola e da escrita, hoje
modificada pelos meios de transportes velozes, pelos meios de comunicação de
massa, pelo computador e as redes informáticas.
Aliado a isso, conforme Morais (1998, p.158):
22
Certamente que ninguém nunca desejou a sordidez, a feiúra ou a falta de sentido. Se FREUD esteve certo ao afirmar que somos todos vitalmente fascinados pela busca do prazer (princípio do prazer), ou bem antes de FREUD esteve certo ARISTÓTELES ao ponderar que a vida humana é uma caminhada constante à procura da felicidade, ninguém pode ter planejado e desejado construir a própria infelicidade do atual ambiente, que caracteriza a tecnologia científica. No entanto todos fomos contribuindo para a construção de um ambiente feio, freqüentemente sórdido, e para a instalação de um modo de viver vazio e desorientado.
Contudo, a manifestação musical ainda serve ao homem, no geral, na
medida em que atende às suas necessidades como ser social vale dizer, cultural.
A música como cultura toma, em cada momento histórico, uma dimensão
diferente na vida do homem, em razão não só de suas condições, mas de suas
necessidades e capacidades. Portanto, a música só pode ser compreendida por
meio do sentido a ela conferido pelo homem, como sujeito do processo cultural, o
que constitui a face subjetiva da cultura.
A música como arte se exprime por meio de sons seguindo regras e
variações conforme a época e a civilização, constituindo assim, em elemento de
uma cultura que se situa em tempos e espaços historicamente determinados.
Percebe-se que para um entendimento concreto do contexto histórico-
cultural da música é necessário primeiro considerar que a arte musical e seus
objetivos estão presentes na sociedade desde os tempos mais remotos e sobrevive
até os dias atuais como fonte de suprimento das várias necessidades humanas,
inclusive a necessidade do lúdico.
2.3 TÉCNICAS BÁSICAS DE REGÊNCIA CORAL
Para a formação de um coral existe uma metodologia pedagógica onde,
segundo Zander (1979), a mesma facilita bastante o aprendizado e
desenvolvimento musical do coralista. È de grande importância o regente ter uma
formação de regência e técnica vocal, para um bom desempenho das atividades
no que diz respeito da formação de um coral ou um grupo vocal.
23
• Conceituação geral: Regência vem da palavra em latim – dirijo – que significa
dirigir, ordenar. Em música significa dirigir, conduzir um grupo de executantes,
músicos ou cantores, guiada pelos gestos das mãos, do corpo e, até certo
ponto por expressões fisionômicas.
• Condições fundamentais: ter talento e liderança de grupo
� Fundamentos psicológicos: regente se realiza através de sua vivência emotiva
no seu ambiente natural, que é o seu conjunto, os solistas e o grupo vocal.
� O regente como formador e educador de seu grupo: o importante não é só
cantar, mas, o como cantar e também o por quê cantar. O principal papel do
regente é o de recriar a obra de arte e reapresentá-la seguindo os níveis de
preparo do grupo que a recriou.
� A importância do canto coral na sociedade: é uma atividade que além de
proporcionar a educação musical também integra as pessoas direcionando-as
para um mesmo objetivo que só é alcançado a base de paciência,
determinação nos ensaios e o resultado são pura harmonia, como se expressa
na foto abaixo.
� A Técnica da regência: tipos de regência:
a) Regência Coral - O regente coral convive mais com o seu grupo. Esta
convivência já começa pela formação da voz. Os ensaios corais têm um caráter
mais íntimo e subjetivo;
b) Regência Orquestral – A orquestra é um conjunto mais neutro em
relação ao regente. Ele tem menos contato com os músicos, daí a regência
orquestral ser mais impessoal mais abstrato e objetivo.
• Os tipos de marcação:
1 – Marcação rítmica ( gregoriana) – Consiste no movimento das mãos do
regente que deverão indicar todo o desenrolar do canto. Esta é a técnicas mais
orgânicas, naturais e lógicas.
2 - Marcação da pulsação da unidade – Consiste num movimento ascendente
e descendente da mão , como se fosse um metrômono, dando a pulsação
normal e constante que deverá guiar a execução da música.
24
3 – Marcação métrica – a marcação métrica é a que indica os tempos do
compasso e é a mais freqüente.
• Os diferentes tipos de marcação de compassos simples:
1- Compasso binário 2 / 4 .
2- Compasso ternário 3 / 4 .
3- Compasso quaternário 4 / 4
� A empostação e a técnica da respiração
1- A respiração diafragmática – a) Voz falada; b) Voz cantada
2- A respiração completa – exercício diário para a oxigenação e purificação do
sangue além de aumentar a capacidade de ar dos pulmões
� A afinação
a) A técnica de passar a afinação para o coro
� O ouvido absoluto ou o relativo
� O arpejo de acordes nas posições fundamental, 1º e 2
inversão
� Exercícios de intervalos partindo do lá (diapasão)
b) As causas musicais da desafinação
� Falta de ouvido musical de alguns componentes.
� A falta de capacidade do regente em saber manter a
afinação através dos gestos e da entonação.
� O ambiente onde o coro canta que pode acusticamente, ser
pesado e fazer o coro baixar.
� Outros fatores que são impertinentes à maneira de ensaiar o
coro
� AS VÁRIAS FORMAÇÕES CORAIS (Disposições dos coralistas no palco)
Deve ser observado o fator técnico da regência, o fator acústico, humano e a
estrutura das vozes na composição coral.
25
� A ESCOLHA DO REPERTÓRIO.
a) A formação do regente
b) As características do coral
c) Os objetivos do coral
d) A escolha do repertório em função das características que envolvem
a apresentação (data comemorativa, ambiente, assistência etc).
� A ESTRUTURA DO PROGRAMA, A APRESENTAÇÃO NO CONCERTO:
a) Obedece geralmente a seqüência cronológica de criação das peças.
b) Os estilos – do Clássico para o regional e folclore.
c) Os andamentos – alternados com a tendência do encerramento com
a peça mais alegre.
2.4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
.
Já estamos bem adiantados, no que se diz respeito ao termo "Educação
Inclusiva". É importante que saibamos que já houve um processo evolutivo na
sociedade, no que diz respeito ao trinômio "segregação, exclusão social e inclusão
social.Como por exemplo:Na segregação, temos as colônias dos
leprosos,hospícios para loucos.Exclusão social, um passo a frente da segregação,
já existe tratamento para hanseníase, antiga lepra e as pessoas convivem
normalmente na sociedade, mas ainda existe grande preconceito.Inclusão social
A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou as
pessoas com necessidades especiais de deficiência, marginalizando-os e
privando-os de liberdade. Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de
pais têm promovido e implementado a inclusão, nas escolas, de pessoas com
algum tipo de deficiência ou necessidade especial, visando resgatar o respeito
humano e a dignidade, no sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o
acesso a todos os recursos da sociedade por parte desse segmento.Movimentos
26
nacionais e internacionais têm buscado o consenso para a formatação de uma
política de integração e de educação inclusiva.
Os constantes avanços da ciência e da tecnologia e de como estes vêm
modificando as formas de relações sociais até então conhecidas nos levam a
reforçar a o papel da escola e do fazer pedagógico que se vê comprometido com a
formação humana. Nesta perspectiva, a escola se constitui em um espaço
privilegiado para encontrar pessoas, para estabelecer relações de interação, para
desvelar a realidade e construir novos conhecimentos. A educação, na abordagem
histórico-cultural tem a função de contribuir para a integração social através da
apropriação da cultura e a função de construção da própria identidade do sujeito.
O termo “deficiência” significa uma restrição física, mental ou sensorial, de
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou
mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente
econômico e social. O termo “Incluir” significa inserir, pôr, colocar para dentro,
compreender, tornar parte de..
A discussão sobre a educação inclusiva de alunos com deficiências ou com
necessidades educacionais especiais tem se intensificado nestas duas últimas
décadas no Brasil e no mundo, levando a uma reflexão sobre como a deficiência é
encarada e vivenciada no contexto escolar. Esta incursão exploratória no mundo
da “escola que procura ser inclusiva” tem sido inspirada na necessidade de nova
avaliação do ensino, sob a influência de transformações paradigmáticas que
defendem a educação de qualidade para todos.
Na cultura brasileira, os professores mostram-se mais preocupados em
atribuir notas ao desempenho dos alunos, como se a medida que expressa os
resultados fosse o mais importante aspecto da avaliação em vez de seu
significado e, principalmente, sua função. A avaliação é elemento do processo
ensino-aprendizagem e deve ter características que a tornem importante para
melhorar a qualidade do referido processo.
O projeto político-pedagógico é um instrumento técnico e político que orienta
as atividades da escola, delineando a proposta educacional e a especificidade
cação da organização e os recursos a serem disponibilizados para sua
27
implementação. Uma escola que se propõe inclusiva necessita ter uma definição
operacional do processo de avaliação escolar do aluno com necessidades
especiais e das adaptações de acesso ao currículo, ou seja, eliminação de
barreiras arquitetônicas e metodológicas.
Entendemos que estas mudanças de concepções do educador favorecem o
repensar a sua prática pedagógica e, conseqüentemente, a transformação da
escola e da sociedade em relação ao respeito às diferenças. Dessa forma, parece-
nos evidente que a formação de educadores é essencial para que se viabilizem
novas concepções do ensinar e do aprender em um contexto inclusivo uma vez
que os educadores são os atores e autores das mesmas.
A inclusão é um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir,
em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e,
simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A
inclusão social constitui então, um processo bilateral no qual as pessoas,ainda
excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir
sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. Para isso
pressupõe a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com
necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania.
A educação de alunos com necessidades educacionais especiais inseridos
no ensino regular apresenta-se portanto, como proposta de mudança de
paradigma, na perspectiva social. Trata-se de um processo que contribui para a
construção de um novo tipo de sociedade através de transformações nos
ambientes físicos (espaço internos e externos, equipamentos aparelhos e
utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade das pessoas, com
ou sem deficiência
A escola deve ser capaz de atender seus alunos em suas especificidades e
singularidades e isso é válido para todos, não só para os que possuem algum
déficit. Todas as pessoas apresentam diferentes características, se sobressaem
em algumas áreas e apresentam dificuldade em outras, e isso precisa ser
respeitado e levado em conta na hora da aprendizagem e do convívio social.
28
Sendo assim, os alunos que apresentam diferentes déficits, sejam eles
temporários ou crônicos, graves ou leves, devem ser inseridos no ensino regular.
Hoje, no Brasil, milhares de pessoas com algum tipo de deficiência estão
sendo discriminadas nas comunidades em que vivem ou sendo excluídas do
mercado de trabalho. O processo de exclusão social de pessoas com deficiência
ou alguma necessidade especial é tão antigo quanto a socialização do homem.
A estrutura das sociedades, desde os seus primórdios, sempre inabilitou as
pessoas com necessidades especiais, marginalizando-as e privando-as de
liberdade. Essas pessoas, sem respeito, sem atendimento, sem direitos, sempre
foram alvo de atitudes preconceituosas e ações impiedosas.A literatura clássica e
a história do homem refletem esse pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar
atenção aos impedimentos e às aparências do que aos potenciais e capacidades
de tais pessoas.
Nos últimos anos, ações isoladas de educadores e de pais têm promovido e
implementado a inclusão, nas escolas, de pessoas com algum tipo de deficiência
ou necessidade especial, visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no
sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da
sociedade por parte desse segmento. Movimentos nacionais e internacionais têm
buscado o consenso para a formatação de uma política de integração e de
educação inclusiva, sendo que o seu ápice foi a Conferência Mundial de Educação
Especial, que contou com a participação de 88 países e 25 organizações
internacionais,em assembléia geral, na cidade de Salamanca, na Espanha, em
junho de 1994.Este evento teve como culminância a “Declaração de Salamanca”,
da qual transcrevem-se, a seguir, pontos importantes, que devem servir de
reflexão e mudanças da realidade atual, tão discriminatória.
Acreditamos e Proclamamos que: - toda criança tem direito fundamental à
educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de
aprendizagem; - toda criança possui características, interesses, habilidades e
necessidades de aprendizagem que são únicas;- sistemas educacionais deveriam
ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido
de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; -
29
aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola
regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança,
capaz de satisfazer tais necessidades; - escolas regulares, que possuam tal
orientação inclusiva,constituem os meios mais eficazes de combater atitudes
discriminatórias, criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma
sociedade inclusiva e alcançando educação para todos.
Movido pela necessidade de fontes de análise sobre o lúdico, procuramos
elaborar esta pesquisa em que se encontram condensados aspectos
diversificados a cerca do processo cultural da música e sua relação com o lúdico.
A presente pesquisa traz como tema a musicalidade como manifestação
convincente do fenômeno lúdico. Entendemos, pois, que através da música, que
se constitui na relação de combinar a arte e a técnica na produção de sons de
maneira agradável ao ouvido, pode-se abstrair a harmonia e o prazer de infinitas
experiências lúdicas.
O caráter lúdico da música é ancestral na humanidade, ele serve aos
apreciadores dessa arte como fórmula estimulante e tocante ao espírito cultural.
Foi explorado nesse projeto o universo musical e cultural do Coral do
Projeto Saúde e Cidadania da Melhor Idade do IFRN
Este projeto oferece uma discussão sobre a música e sua construção
histórico-cultural, além de lúdico e prazer; o qual pode ser utilizado por pessoas de
diferentes áreas que desejem conhecer mais acerca do fenômeno lúdico e
desenvolver o seu maior potencial humano, a capacidade de sociabilidade e
comunicação.
Refiro-me à música não como uma simples atividade banal que proporciona
bem-estar, mas sim como uma manifestação direta de sentimentos e conflitos que
funcionam de maneira adequada e simbólica.
Já o lúdico é visto como forma de resgate da criatividade, da produção e da
função do homem na humanidade.
30
Para Alves (1982, p.86),
“Através do lúdico, não se está perdendo uma evasão da realidade, mas, ao contrário, procura-se construir e recriar esta realidade, desistindo da lógica dominante do presente estado de coisas e tornando-se criativo”.
Dessa maneira surge uma grande expectativa a respeito do proveito deste
trabalho para a nossa sociedade. Esperamos, pois, que ele sirva de fonte de
inspiração para uma vivência mais constante do lúdico e do lazer que proporciona
a integração dos cidadãos e o bem-estar geral.
O lazer nos dias atuais se faz cada vez mais necessário, como forma de
desprendimento das tensões do cotidiano, além disso, a música é notada como
uma forma adequada e realmente lúdica para a prática do mesmo.
Estas considerações iniciais pretendem apenas situar dois dos elementos
chaves deste estudo, lançar algumas análises sobre a discussão conceitual
envolvendo o lúdico e a música, como elementos da cultura, e alguns
questionamentos sobre o lazer, enquanto espaço para a sua manifestação, na
nossa moderna sociedade urbano-industrial.
2.5 A MÚSICA E SUA RELAÇÃO COM A LUDICIDADE
Estudar o fenômeno lúdico em nossa sociedade parece uma atitude banal
por vê-lo como diversão, entretenimento, alegria e concebido como brinquedo,
jogo, brincadeira e festa, atividades desprovidas de utilidade para o sistema
capitalista em que se vive e que se permite um olhar vislumbrado ao dogma da
produtividade, furtando o lúdico de forma a impossibilitar a criatividade, alegria,
prazer, imaginação, sonhos, entre outras possibilidades.
Como retrata Santin (1994), num momento de entrega ao
imaginário e a realidade é o presente vivido, é como se estivesse vivendo no
mundo do brinquedo. É de uma vivência rica em conhecimento corporal, no qual a
fantasia tem seu lugar de honra que os homens da técnica perderam, ainda do
mesmo autor:
31
[... o desaparecimento da ludicidade pode ser creditado a vários fatores. Primeiramente a idéia de rendimento traz em si mesma a obrigação da vitória e conseqüentemente dos resultados. O rendimento impõe a introdução de técnicas de treinamento para a melhoria da execução do gesto esportivo. Os treinamentos é uma preparação para o jogo. O impulso não exige nenhum ato preparatório..] (SANTIN, 1994, p. 27).
O comportamento lúdico que é vivenciado na música e na arte, como um
todo, atinge principalmente ao espírito humano, no tocante a sensibilidade e ao
prazer natural e artístico da expressividade de emoções e sentimentos. Ele se
apresenta como fator cultural de divertimento e arte que transcende o seu tempo e
torna-se patrimônio imortal de valor para a humanidade.
A música movimenta, mobiliza, e por isso contribui para a transformação e
para o desenvolvimento do homem. Cada um dos aspectos ou elementos da
música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual o mobiliza com
exclusividade ou mais intensamente. O ritmo musical induz ao movimento corporal,
a melodia estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na harmonia ou
na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a restauração da
ordem mental no homem.
Segundo Bruhns (1985), o traço identificador do humano é a separação
reflexiva em relação aos bens produzidos e a atribuição de significados a essa
produção. Os homens recriam o que criam, e faz isso como uma extensão da
consciência e não meramente do corpo, como os animais; o que lhes permite um
conhecer-se conhecendo através de uma construção social.
A música, pois, uma manifestação humana que se conserva intermediária
entre a atividade consciente das necessidades do espírito e atividade fisiológica,
atividades visceral, nervosa e muscular.
Conclui-se, portanto, que são várias as funções e finalidades da
musicalidade, porém o lúdico persiste na maior parte das expressões, fazendo com
que a consciência musical se torne aplicável à compreensão de cultura e de arte e
inspire o ato reflexivo.
32
O comportamento lúdico não é herdado, é um comportamento adquirido
através do processo de aprendizagem, não só na escola, mas sim nos diferentes
contextos socioculturais.
O desenvolvimento do lúdico na humanidade foi e continua sendo uma
constante, na forma de um processo participativo e prazeroso no movimento
humanista e renovador.
A atividade do homem está, reconhecidamente, vinculada à construção de
significados que dão sentido à sua existência. A análise da cultura, pois, não pode
ficar restrita ao produto da atividade humana, mas tem que considerar também o
processo dessa produção. Assim, o lúdico, como componente da cultura, também
precisa ser visto dessa dupla perspectiva inter-relacionada: como produto e como
processo; enquanto conteúdo e enquanto forma.
Desse modo, as atividades artísticas, a música, a inspiração poética, o
comportamento moral, a organização política e outras formas de ação, como a
busca científica, totalizam as atividades humanas.
Porém, as formas de recepção e aceitação da música, enquanto atividade,
na nossa sociedade, é diversa e variam de acordo com a idade, com a educação e
o estado psicofísico de cada pessoa, assim as pessoas reagem mostrando maior
ou menor atração ou apetite pelo “alimento” sonoro que está ao seu alcance ou
que lhes é oferecido.
Contudo, fica explicito as diversas funções a que a música se propõe,
enquanto arte estimulante da liberdade e da sensibilidade; essas que são
características do sentido lúdico que rege todas as produções artísticas.
Todavia, fica claro que toda a manifestação humana é regida e comandada
pelo desejo maior do homem em ser e fazer a cultura, em detrimento de um
processo lúdico puro e transformador da realidade; para assim haver um
desenvolvimento ou crescimento deste na sociedade.
Na vivência lúdica a imaginação é aflorada e nesse momento o processo
criativo é vivenciado e de valor extremo, tendo em vista que a criatividade é uma
característica inerente à natureza humana, embora reconheça que a educação
atual venha inibindo esses processos. A criatividade e a capacidade de inovação
33
evidenciam o potencial do indivíduo para mudar, para crescer e aprender ao longo
da vida. As capacidades de criar e inovar permite organizar e reorganizar
experiências ao longo da vida, recombinando-as para constituírem um novo
repertório existencial do indivíduo. A ampliação de oportunidade de ocorrência de
processo criativo e inovador, que facilita a compreensão de mudanças, tanto no
nível individual quanto coletivo.
Para Santin (1994) relata que o homem busca fundamentalmente a
plenitude de sua existência humana, ou seja, seu modo de ser. Engajar-se na
tarefa de humanização é seu desafio. Avanços e recuos, erros e acertos fazem
parte desse processo de humanização em diferentes narrativas históricas.
Sabendo que há grande dificuldade de avançar nessa reflexão, pelo fato de não
haver um ideal universal de humanização, um modelo único de existência
humana. O avanço científico e tecnológico tornou-se sinônimo do homem
civilizado, confundindo assim, o processo de humanização. O primeiro ponto que
esse processo deve tomar com o objetivo de resgatar o humano do homem é
proporcionar meios que levem o homem em direção a ele mesmo, como por
exemplo: encontro com o passado histórico, suas origens, valores culturais e suas
utopias.
A natureza lúdica do coral é notada como componente imprescindível e
indissociável para a realização completa do fenômeno cultural, que se expressa
através da arte musical.
Segundo Barcellos (2001), entender a cultura como algo dinâmico e
necessário à vida humana, permite uma análise concreta da manifestação lúdica,
verificando assim, a sua crescente desvalorização na nossa sociedade.
Nos dias atuais, com o presente processo de globalização percebe-se que
a ludicidade vem perdendo espaço para padrões, já estabelecido pela sociedade
capitalista, que impendem à criatividade e tornam as atividades culturais
uniformizadas, havendo dessa forma uma homogeneização da cultura.
O universo do coral é apenas um ambiente propício para a vivência do
lúdico, uma vez que podemos vivenciá-lo em diversos espaços e momentos do
nosso cotidiano.
34
A vivência lúdica é dada por ações significativas praticadas por sujeitos
sociais, não sendo somente uma possibilidade de fuga da seriedade do cotidiano,
e sim como elemento constitutivo do homem dentro da própria sociedade,
“Um dos espaços possíveis para a recuperação do lúdico está nas atividades de lazer, uma vez que estas constituem um dos canais possíveis de transformação moral e cultural da sociedade, sendo, assim, instrumento de mudanças, mas instrumentos que podem ser acionados qualquer que seja a ordem social dominante” (MARCELLINO, 1995).
A nossa vida cotidiana necessita de dimensões que favoreçam a vivência
de atividades que estimulem o divertimento e o desenvolvimento da personalidade
e da sociabilidade, sendo assim o coral se enquadra nessa perspectiva na medida
em que se revela como um projeto coletivo, que favorece a comunicação, ao
relaxamento das tensões e principalmente, ao desenvolvimento do espírito cultural
para,
“Reencontrar o lúdico, entender o seu valor revolucionário torna-se imperativo se se deseja preservar os valores humanos no homem. Da mesma forma, através dele podemos resgatar a criatividade, ousando experienciar o novo, acordar do estado vegetativo, improdutivo, disfuncional do corpo ou da mente e escolher tornar-se homem, resistindo às experiências de vida desumanizantes; acreditando em si, em suas idéias, sonhos e visões, elementos, entre outros, percebidos como intrínsecos dos homens e da humanidade.” (MELLO, 1999).
Portanto, o coral, sendo fonte do lúdico e da cultura, se destina a satisfazer
as necessidades do ser humano na sociedade, que procura construir e recriar a
sua realidade.
3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS
Ao final dos trabalhos houve entrevistas, esclarecimento junto ao grupo
do Canto Coral com o intuito de se averiguar as repercussões da ação lúdica,
qualidade de vida e integração no dia a dia dos participantes, juntamente às
35
discussões. Os resultados foram analisados, sobre a forma de percentual e
exposto em forma de gráfico e fotografias.
Gráfico 1.
Prazer X Monotonia na Aula de Canto
16%
84%
1
2
Dos 100% da amostra, apenas 84% relataram que durante as aulas do
Canto Coral experimentaram o prazer de participar do grupo 16% ajudaram na
superação dos problemas do dia a dia, ou monotonia.
36
Gráfico 2.
Benefícios dos Exercíicos de Respiração
20%
80%
1
2
Com relação aos benefícios proporcionados pelos exercícios de respiração
durante as aulas 80%, dos entrevistados relataram que os exercícios de técnica
vocal,ampliaram a capacidade respiratória, e 20% confirmou melhorar a afinação.
Estes resultados condizem com a literatura, pois já existem trabalhos que
constatam os benefícios dos exercícios respiratórios.
Gráfico 3.
Relação das apresentações em público e Estado Emocional
37%
25%
38%1
2
3
Outro ponto importante inserido no questionário é a relação das
apresentações em público e o estado emocional do grupo. No gráfico acima
observamos que em 38% dos questionários havia referência a melhora da
37
sensação de sentir-se útil com as apresentações em público, 37% relatou sentir-se
emocionado com as apresentações, e 25% diz sentir nostalgia com as mesmas.
Estes dados confirmam a importância de trabalhos que promovam resgate da
memória e reinserção dos idosos na sociedade.
Gráfico 4.
12%
25%
38%
25%
Canto Coral X qualidade de Vida
123
O Gráfico acima mostra a relação do Canto coral com a qualidade de
vida dos participantes do grupo. De acordo com o 4 gráfico , 38% refere ter
melhorado a auto-confiança, 25% diz conseguir expressar o que está no coração,
25% diz experimentar crescimento espiritual, e 12% relatou uma nova
oportunidade de participar da vida social.
4 CONSIDERAÇÔES FINAIS
A ludicidade se concretiza no ambiente de total liberdade e autonomia. O
momento lúdico proporciona ao corpo viver o prazer da alegria construída no
sentir, amar, vibrar, conviver e relacionar-se em liberdade. Conseqüentemente,
exercita a participação, cooperação e a autogestão, na tomada de decisão coletiva
sobre as atividades propostas, musicais ou não, que se valoriza através da troca
de informações, estimulando o diálogo, múltiplas linguagem, hábitos e
sentimentos. É um espaço de manifestações, de desejos e de recriar o novo.
38
Percebe-se que a música e o som, enquanto energia estimula o movimento
interno e externo no homem; impulsionando à ação, e promovem nele uma
multiplicidade de condutas de diferente qualidade e grau.
Desse modo, este trabalho baseou-se no pressuposto da ludicidade para melhorar
o desempenho do cidadão na sociedade e na vida.
Para a construção da teoria foram utilizados diversos conhecimentos:
dentre eles, conhecimento científico, conhecimento empírico, dado através da
experiência, e o conhecimento do senso comum.
A compreensão total da música se dá de maneira muito subjetiva,
dependendo essa maneira, das concepções pessoais de cada um: políticas,
culturais e sociais.
Além das observações feitas nos ensaios foi constatada com mais eficácia a
vivência da ludicidade em apresentações públicas nos vários espaços culturais na
cidade do Natal.
A escolha do repertório deu-se a partir de sugestões dos próprios
participantes em comum acordo com o regente e vice-versa, onde foram
escolhidas as músicas, cabendo ao regente fazer explicações técnicas e históricas
da música, resgatando valores da cultura.
Sendo assim, através da fala dos participantes constatamos que, realmente, o
elemento lúdico nas práticas do canto coral auxilia para um envelhecimento
saudável.
Pode-se dizer que esse estudo obteve como resultado, o aumento da
capacidade respiratória dos participantes, uma evolução na afinação das suas
vozes através dos exercícios de técnica vocal, e a facilidade de recordar
informações passadas, além de ficar bem perceptível a melhora na auto-estima
dos idosos, principalmente quando fazem apresentações em público.
39
CORAL “GLEDSON IZAIAS” do Projeto Saúde e Cidadania da Melhor Idade do IFRN
(Regente: José Gledson Izaias dos Santos)
Ocorrências desse tipo de pesquisa anunciam uma saudável mudança de
hábitos e valores em relação à saúde, ao corpo e à convivência entre as gerações.
Progressivamente deverão ocorrer mudanças também no que hoje se concebe
como limites etários para algumas atividades, o que acarretará importantes
alterações nas normas sociais relativas a comportamentos esperados para cada
idade e no próprio funcionamento das instituições sociais.
O que antes era apontado como exceção: velhos bem-sucedidos,
vigorosos, olhos brilhantes de interesse pela vida, está se tornando um fato cada
vez mais possível para um número crescente de pessoas em todo o mundo. As
novas possibilidades do envelhecimento refletem avanços sociais que ecoam em
novos costumes e estilos de vida.
Em conjunto, essas influências deverão configurar novos cenários para a
espécie humana. Pessoas mais eficazes e satisfeitas tendem a buscar mais
controle, mais satisfação e mais envolvimento, parecendo, assim, diferentes do
estereótipo de velhice doentia, apagada e infeliz. A criação desse novo estímulo
social exerce um efeito positivo sobre as pessoas que envelhecem, as quais
passam a aspirar a um novo roteiro para suas vidas.
40
As respostas e depoimentos dos participantes revelaram múltiplos
benefícios percebidos, nos domínios físico, afetivo, cognitivo e social, confirmando
tendências da literatura internacional. Os idosos pesquisados, sem sombra de
dúvida, proporcionaram informações de grande interesse para a comunidade
científica interessada em beneficiar mais e mais esse segmento da população, o
que nos leva a concluir que parte de nossas metas almejada pelo Programa no
canto coral estão sendo alcançada.
Espera-se que em futuros trabalhos possa se avançar e relacionar a
ludicidade, a qualidade de vida e a inclusão no canto coral de forma que se possa
averiguar a corporeidade fluída no corpo da pessoa da Terceira Idade.
41
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
ANDRADE, Mário de. Introdução à estética musical. São Paulo. Hucitec,1995.
BARCELLOS, Ângela. O direito à cultura do lúdico. In: Licere . Belo Horizonte,
CELAR/ EEF/ UFMG. v. 4, n .1, 2001.
BARRY Mc Person. Lazer Numa Sociedade Globalizada: Leisure in a Globalized
Society. São Paulo : SESC/WLRA, 2000.
BRUHNS, Heloisa Turii. Conversando sobre o corpo. Campinas: Papirus. 1985.
COMÊNIO, João Amos. Didactica Magna. Lisboa: Calouste Gulben. 1985.
HUIZINGA, Johan. O elemento lúdico da cultura contemporânea. In: Homo
ludens. São Paulo. Pespectivas, 1971.
LAFARGUE, Paul. Direito a preguiça. São Paulo: HUCITEC, 2000.
MAIA, Sonia Cristina Maia. Corporeidade na pedagogia da imaginação. III
Congresso de iniciação científica, ciência, tecnologia e inovação CEFET/RN.
Natal-RN, 2005.
Programa Saúde e Cidadania da Terceira Idade. Relatório. Natal, RN: IFRN,
2007.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animação. Campinas: Papirus,
1995.
MELLO, Míriam Moreira. O Lúdico e o processo de humanização. In
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Humanização. Campinas: Papirus, 1995.
MORAES, Maria Cândida. O Paradigma Educacional Emergente. Ed. Papirus;
1998.
MOREIRA Wagner Wey(Org). Qualidade de Vida: Complexidade e Educação.
Campinas, São Paulo: Papirus, 2001.
MORIN, Edgar. O método 2. A vida da vida. Porto Alegre, RS: Sulina, 1996.
SANTIN, Silvino. Educação física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento.
Porto Alegre: EST/ESEF, 1994.
SIMÕES, Regina. Corporeidade e terceira idade: a marginalização do corpo
idoso. Piracibaca: UNIMEP, 1994
42
THOMPSON, Helen M. Panorama da música. São Paulo. Fundo de cultura,
1963.
ZANDER, Oscar. Regência Coral. Porto Alegre, Movimento do Livro, 1979.
(D’EPINAY, 1984 p. 461)
(BEAUVOIR, 1970 p.300)