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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL LUIS GUSTAVO RAMOS DOS SANTOS ESPAÇO PRA QUE TE QUERO? São Leopoldo 2010

LUIS GUSTAVO RAMOS DOS SANTOS - ESPAÇO PRA QUE TE QUERO?

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O objetivo desta monografia foi refletir a respeito do espaço físico escolar na educação infantil, sobre como ele se constitui e como vem sendo utilizado, além de realizar uma análise da influência do ato de brincar no desenvolvimento geral da criança, da função do professor enquanto mediador da relação criança-espaço, e das proposições feitas pelo Estado e estudiosos a respeito do assunto. Foi possível perceber que existe um consenso geral quando se fala sobre como deve ser a infra-estrutura escolar e sobre como esses espaços podem ser utilizados, ainda que a teoria não seja um retrato fiel da realidade encontrada na maior parte das Instituições de Educação Infantil. Pode-se dizer que muito já se foi feito, mas ainda há muito por fazer. Essa questão deve sempre estar em pauta, uma vez que se faz necessária a constante discussão do assunto a fim de ouvir os envolvidos procurando sempre promover melhorias e a evolução da educação infantil no país.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE PÓS-GRADUAÇÃO – CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

LUIS GUSTAVO RAMOS DOS SANTOS

ESPAÇO

PRA QUE TE QUERO?

São Leopoldo

2010

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LUIS GUSTAVO RAMOS DOS SANTOS

ESPAÇO

PRA QUE TE QUERO?

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos como requisito para obtenção do título de Especialista em Educação Infantil.

Orientador: Prof. Dr. Euclides Redin

São Leopoldo

2010

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Dedico com todo carinho à minha mãe, incansável incentivadora,

que se fez presente nos melhores e piores momentos,

responsável pelo homem que sou.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, o grande arquiteto do universo, que tem traçado

caminhos em minha vida pelos quais eu jamais pensei caminhar, por afastar os perigos e por me

dar força para continuar na eterna busca pelo conhecimento.

À minha amada mãe, que com muita fibra, garra, inteligência, determinação entre

tantas outras qualidades que tem, me criou para ser forte e vencer. És o meu porto seguro, e

serei eternamente grato por isso, apesar de nem sempre demonstrar. Te amo minha “véia” e saiba

que és uma das poucas pessoas pelas quais eu daria minha vida.

Ao meu irmão e padrinho, por ter transmitido serenidade nos momentos turbulentos,

por ser meu maior sócio e por ser sempre tão afável, alguém que me inspira a querer ser um

homem melhor.

À minha querida irmã, pela compreensão, pelo apoio irrestrito quando mais precisei,

pelo ombro amigo, por ter me permitido ser teu co-piloto e principalmente por ter me dado os

meus maiores orgulhos, minhas maiores paixões: Ana Carolina e Luiz Henrique, afilhados que

não têm noção do quão importante são para mim.

À minha namorada, Claudete Weber, pelo apoio incondicional, por acreditar em mim

quando nem eu mesmo acreditei, pela paciência, pelo carinho, pelo colo, pelo beijo, pelo amor,

por tudo que és. Te amo muito, sempre, pra sempre.

Aos meus cunhados, Rogério e Rosane, por fazerem meus irmãos felizes e por fazerem

parte da história dessa família.

Ao meu orientador Professor Doutor Euclides Redin, pela

paciência, pelo conhecimento transmitido, por ser essa pessoa amável, simples e humilde, e

principalmente por amar o que faz e por isso o fazer tão perfeitamente. Sinto-me orgulhoso

em dizer que sou seu aluno.

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A todos os professores que me conduziram nesta jornada, por ter acreditado em meu

potencial como educador.

Aos meus superiores que acreditaram em mim e que contribuíram para que este trabalho

se tornasse possível.

À equipe da SEMEC de Ivoti, aos professores e funcionários da E.M.E.I.

Pedacinho do Céu e à Cia de Dança Raízes da Paz que, mais do que colegas de trabalho,

foram amigos e que contribuíram imensamente para minha formação enquanto

educador, o meu muito obrigado a todos.

Aos meus tão queridos alunos, que confiam em mim a cada dia, a cada nova proposta, e

aos pais que me confiam seus bens mais preciosos, fazendo de mim um profissional plenamente

realizado por permitir que eu faça o que mais amo nesse mundo, ensinar.

Enfim, aos meus amigos e a todos que foram compreensivos quando estive ausente,

quando não fui paciente, quando não pude dar atenção, quando me fechei e não falei o que

sentia a fim de poupá-los, mas que entendem que sem sofrimento não há mudança e que tudo

valeu a pena, pois o dia de colher os louros da vitória está próximo e espero que estejam comigo

para comemorar esta e tantas outras vitórias que ainda estão por vir.

Luis Gustavo

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“Podemos escolher o que semear,

mas somos obrigados a colher aquilo de plantamos”

Provérbio Chinês

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RESUMO

O objetivo desta monografia foi refletir a respeito do espaço físico escolar na educação infantil, sobre como ele se constitui e como vem sendo utilizado, além de realizar uma análise da influência do ato de brincar no desenvolvimento geral da criança, da função do professor enquanto mediador da relação criança-espaço, e das proposições feitas pelo Estado e estudiosos a respeito do assunto. Foi possível perceber que existe um consenso geral quando se fala sobre como deve ser a infra-estrutura escolar e sobre como esses espaços podem ser utilizados, ainda que a teoria não seja um retrato fiel da realidade encontrada na maior parte das Instituições de Educação Infantil. Pode-se dizer que muito já se foi feito, mas ainda há muito por fazer. Essa questão deve sempre estar em pauta, uma vez que se faz necessária a constante discussão do assunto a fim de ouvir os envolvidos procurando sempre promover melhorias e a evolução da educação infantil no país.

Palavras Chave: Educação Infantil. Infra-estrutura escolar. Espaços de recreação.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Crianças desenhistas .......................................................................... 13

Figura 2: A jaula ............................................................................................... 15

Figura 3: O difícil caminho da autonomia ..................................................... 16

Figura 4: [Arteiros] ............................................................................................... 17

Figura 5: [Tudo é sujo] .................................................................................... 18

Figura 6: [Desejo] ............................................................................................... 20

Figura 7: O conselho de crianças ............................................................... 22

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 9

2 ONDE BRINCAR? COMO O ESPAÇO É TRATADO ............................... 11

3 O ESPAÇO HOJE .................................................................................... 14

4 O QUE PODE SER FEITO .......................................................................... 19

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 21

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 23

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1 INTRODUÇÃO

Por ter no brincar a ferramenta fundamental para o desenvolvimento infantil,

este estudo se propõe a realizar reflexões no que diz respeito ao espaço físico

escolar, fora da “sala de aula”, disponibilizado para esta tão importante etapa da

vida.

O brincar, de acordo com Piers e Landau (1980, p. 43 apud Moyles, 2002, p.

21), “desenvolve a criatividade, a competência intelectual, a força e a estabilidade

emocionais, e... sentimentos de alegria e prazer: o hábito de ser feliz”. É nesse

sentido que acredito no brincar enquanto ferramenta pedagógica, em criar não

apenas momentos, mas esse “hábito de ser feliz”, não do brincar pelo brincar, mas

pela possibilidade de aprendizado inerente a ele e que pode ser levada para a vida

adulta.

O caráter lúdico presente no brincar torna-o capaz de fazer simples e divertida

uma tarefa muitas vezes complicada e aparentemente chata, isso permite, a meu

ver, criar em cada ser humano a possibilidade da adaptabilidade e da confiança. E

como afirma Loizos (1969, p. 275 apud Moyles, 2002, p. 14), “longe de ser uma

atividade supérflua, para “o tempo livre”... o brincar, em certos estágios cruciais,

pode ser necessário para a ocorrência e o sucesso de toda a atividade social

posterior”.

Porém para que o brincar seja reconhecido e que lhe seja dada a devida

importância, duas coisas são fundamentais: a aceitação por parte de professor e o

espaço disponibilizado para que ele ocorra.

A aceitação do professor torna-se primordial, uma vez que ele é o

responsável pela mediação necessária, e conforme Moyles (2002, p. 18) “é um “fato”

reconhecido na educação que o ensino e a aprendizagem bem-sucedidos de

qualquer coisa dependem muito de o professor estar convencido dos méritos de

uma determinada filosofia, método ou estilo.”

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Contudo, o objetivo desse estudo não está em convencer os professores da

importância do brincar, para isso existem diversos livros e estudos de autores

reconhecidos e que podem dar conta desse objetivo com maestria. Este estudo se

destina a realizar reflexões sobre o espaço disponibilizado para que o brincar

aconteça de forma saudável, seja instrumento de experimentações, desafios e

novas aprendizagens nas escolas de educação infantil.

A presente monografia apresentará três partes, na primeira será dito como é

tratado o assunto, a segunda parte procurará explanar a minha forma de ver

enquanto profissional da Educação Física atuante na Educação Infantil e finalmente

a terceira parte tentará expor algumas proposições sobre o tema.

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2 ONDE BRINCAR? COMO O ESPAÇO É TRATADO

A legislação brasileira prevê a construção e organização do espaço físico da

escola de educação infantil, descrevendo-o como devendo ser “promotor de

aventuras, descobertas, criatividade, desafios, aprendizagem e que facilite a

interação criança-criança, criança-adulto e deles com o meio ambiente” (Brasil,

2008). Essa descrição remete a um espaço amplo, desafiador, capaz de

proporcionar aos pequenos as mais diversas experimentações, porém não traduz a

realidade.

O documento do Ministério da Educação, intitulado Parâmetros Básicos de

Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil, traz uma série de sugestões de

como podem ser elaborados tanto projetos de criação quanto de reforma das

Instituições de Educação Infantil. Porém mais importante do que o resultado do

projeto, seja ele de reforma ou construção, é como ele será elaborado. Concordo

com o documento citado anteriormente quando este afirma que “a criança pode e

deve propor, recriar e explorar o ambiente, modificando o que foi planejado” (Brasil,

2008), contudo, penso que a criança deve estar presente desde o desenvolvimento

do projeto, opinando também na criação e não apenas na “reforma”.

O Plano Nacional de Educação – PNE (Brasil, 2001) traz uma série de metas

a serem cumpridas e a que mais chama a atenção sobre o assunto traz o seguinte

texto na Meta nº2 em sua alínea d: “ambiente interno e externo para o

desenvolvimento das atividades, conforme as diretrizes curriculares e a metodologia

da Educação Infantil, incluindo repouso, expressão livre, movimento e brinquedo”. O

documento do MEC, Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de

Educação Infantil, chama a atenção para mais uma parte do PNE no que diz

respeito à Meta nº 18, fazendo a observação de que:

[...] se passa a exigir uma atenção especial no planejamento do espaço e na organização do ambiente considerando as várias atividades de cuidado (banho, repouso e alimentação), bem como a diversidade de situações e atividades a serem oferecidas às crianças para evitar um ambiente de confinamento e monotonia. (BRASIL, 2008)

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A relação estabelecida entre a criança e o espaço a que ela terá acesso

dependerá fundamentalmente do tempo e da qualidade deste tempo em que se dará

essa vivência. Ao realizar atividades no ambiente externo à sala de aula a criança

tem a possibilidade de fazer uma leitura de mundo mais ampla. Relacionando-se

com o espaço e no espaço ela recria suas vivências, reconhece-se como ser,

interage com seu semelhante, e acaba por conhecer suas limitações, suas

possibilidades e proporções.

Na Figura 1 Tonucci (2008, p. 224) coloca de forma simples, porém objetiva, o

que se pode entender como o “desejo” de muitas crianças freqüentadoras das

escolas de educação infantil, uma vez que para elas é muito mais interessante

recriar, ressignificar, do que simplesmente ter brinquedos “prontos”, que não geram

desafios. No trabalho com as crianças, já me deparei muitas vezes com situações

onde uma estante passa a ser cama, os degraus de uma escada formam um ônibus,

folhas ou sementes são dinheiro, etc. E quando digo que são não o faço por acaso,

mas porque por alguns instantes aqueles objetos deixaram de ter seu significado e

uso habituais e passaram a realmente ser o que as crianças queriam naquele

momento.

Compartilho das mesmas idéias de Barbosa e Horn (2001, p. 73) quando

dizem que o espaço físico da escola influencia no desenvolvimento das crianças

[...] na medida em que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas

e relacionais. Inicialmente as crianças têm as suas percepções centradas no corpo;

concomitante com o seu desenvolvimento corporal, sua percepção começa a descentralizar-

se e estabelecer as fronteiras do eu e do não-eu. Conseqüentemente os espaços educativos

não podem ser todos iguais, o mundo é cheio de contrastes e de tensões, sendo importante

às crianças aprenderem a lidar com isso.

Barbosa e Horn (2001, p. 75 e 76) ainda sugerem uma organização para

utilização do espaço externo de acordo com a atividade a ser realizada: Espaço de

Interligação para jogos tranqüilos, Espaço para brinquedos de manipulação e

construção, Espaço Estruturado para jogos de movimento, Espaço para jogos

imitativos e Espaço Não Estruturado para jogos de aventura e imaginação. Essa

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forma de organizar a área externa da sala de aula nos dá uma idéia das

possibilidades de atividades que existem para serem propostas nos ambientes

externos. Atividades que podem ser livres ou dirigidas, porém a interação do

professor é indispensável em qualquer uma delas para que o desenvolvimento das

crianças seja pleno.

Figura 1 – Crianças desenhistas

Concordo com Barbosa e Horn (2001, p. 72) quando dizem que “o cotidiano

das escolas infantis está impregnado de vínculos afetivos em que o adulto tem

importante papel de favorecer, de mediar a compreensão e interpretação do mundo

pela criança”, e para isso acredito que são necessários profissionais comprometidos

com esse objetivo, responsáveis pela utilização do espaço disponibilizado para a

educação infantil, a fim de torná-los não apenas locais de “trabalho”, mas que

possibilitem a criação do “hábito de ser feliz”.

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3 O ESPAÇO HOJE

Enquanto profissional da Educação Física atuante na Educação Infantil,

penso que o espaço destinado às atividades externas, fora da sala de aula, ainda é

um tanto quanto restrito na maioria das instituições de educação infantil, uma vez

que ainda são poucos os espaços realmente pensados com essa finalidade desde o

projeto. Muitos locais ainda são casas adaptadas ou reformadas, prédios adaptados,

entre outros, o que acaba por limitar as possibilidades de trabalho.

Nos Parâmetros Básicos de Infra-estrutura (Brasil, 2008) consta que devem

ser levadas em consideração as relações entre área construída e áreas livres, além

de uma recomendação de que a área construída seja de 1/3 do terreno, não

ultrapassando 50% do mesmo. Mas isso só é plenamente possível de ser atendido

quando se pensa na escola de Educação Infantil desde seu projeto, da aquisição do

terreno à implantação, do contrário atender a essas regras torna-se um tanto quanto

problemático.

Ainda no documento do MEC é possível encontrar notas a respeito do

ambiente natural presente na escola:

A interação com o ambiente natural estimula a curiosidade e a criatividade. Sempre que possível, deve-se prover um cuidado especial com o tratamento paisagístico, que inclui não só o aproveitamento da vegetação, mas também os diferentes tipos de recobrimento do solo, como areia, grama, terra e caminhos pavimentados. (BRASIL, 2008)

Observando as crianças em momentos de atividades livres no espaço

disponível é possível ver o quanto esse simples cuidado em manter a natureza por

perto pode fazer a diferença no desenvolvimento integral das crianças. Podemos

observá-los subindo em árvores, fazendo castelos de areia, transportando areia com

caminhõezinhos, rolando na grama, entre tantas outras atividades, interações que

podem ser intensificadas com a mediação do professor.

Tonucci (2008, p. 48) faz uma série de críticas ao sistema atual na Figura 2,

ele expressa a restrição do espaço físico e a aparente satisfação do cuidador,

considerando que por ser pequena a criança, o espaço disponível para ela também

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pode ser, privando-a da liberdade de criação e de experimentação. Contudo, o

documento do MEC, nos lembra que a ausência total de limites físicos também pode

ser prejudicial, portanto:

É preciso refletir sobre o momento de desenvolvimento da criança para organizar as áreas de recreação. Crianças menores necessitam de uma delimitação mais clara do espaço, correndo o risco de se desorganizarem quando este é muito amplo e disperso. Espaços semi-estruturados em espaços-atividades contribuirão para a apropriação dos ambientes pelos pequenos usuários. (BRASIL, 2008)

Figura 2 – A jaula

Outra situação comum de se observar na educação infantil é a cobrança do

desenvolvimento de capacidades como autonomia, criatividade e independência,

porém sem que se permita a ação. Situações que são apresentadas de maneira

genial por Tonucci (2008, p. 52) na Figura 3.

A apropriação do espaço desde o berçário proporciona um pleno

desenvolvimento da criança com relação a aspectos como compreensão espacial,

dimensionamento, proporções, entre outros. Mas é preciso que essa apropriação

aconteça por completo e para isso se faz necessária uma série de interações e

experimentações que podem ser mediadas pelo professor quando se chega a certo

ponto, proporcionando sempre um novo desafio.

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Figura 3 – O difícil caminho da autonomia

Outra situação tão complicada quanto à falta de espaço é a não

utilização dele devido às condições em que se encontra, ou quanto ao terreno. Ao

levar as crianças para a área de recreação, o professor deve estar ciente de que

elas experimentarão e utilizarão o espaço das mais diferentes maneiras possíveis,

imagináveis e muitas vezes até inimagináveis, cabe ao professor fazer as mediações

e intervenções necessárias, porém sem “podar” as crianças. Tonucci (2008, p. 53 e

84) traduz essa situação nas Figuras 4 e 5.

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Figura 4 – [Arteiros]

Essas são situações que ocorrem no dia-a-dia de qualquer escola de

educação infantil, seja ela pública ou privada. Cabe a toda a comunidade escolar

mudar a realidade, mudar o quadro atual. Quando digo comunidade escolar, me

refiro aos diretores, professores, funcionários, pais e alunos, mas estes últimos só

terão voz se os demais assim desejarem e ouvirem.

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Figura 5 – [Tudo é sujo]

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4 O QUE PODE SER FEITO

Um primeiro passo já foi dado quando documentos como a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDB (Brasil, 1996), o Plano Nacional da Educação –

PNE (Brasil, 2001), os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

(Brasil, 1998), a Política Nacional de Educação Infantil (Brasil, 1994), os Parâmetros

Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil (Brasil, 2008), entre

tantos outros que surgem a cada dia, tratam do assunto de forma séria e com a

devida importância. Porém o próprio Ministério da Educação admite a precariedade

de muitos ambientes destinados à educação infantil:

No Brasil, grande número de ambientes destinados à educação de crianças com menos de 6 anos funciona em condições precárias. Serviços básicos como água, esgoto sanitário e energia elétrica não estão disponíveis para muitas creches e pré-escolas. Além da precariedade ou mesmo da ausência de serviços básicos, outros elementos referentes à infra-estrutura atingem tanto a saúde física quanto o desenvolvimento integral das crianças. Entre eles está a inexistência de áreas externas ou espaços alternativos que propiciem às crianças a possibilidade de estar ao ar livre, em atividade de movimentação ampla, tendo seu espaço de convivência, de brincadeira e de exploração do ambiente enriquecido. (BRASIL, 2008)

Outro ponto importante a ser pensado é a implantação de comissões ou

conselhos, como os apresentados por Tonucci (2005), atuantes junto ao poder

público, fiscalizando e propondo melhorias para que não só as instituições de

educação infantil, mas as cidades sejam melhores e as necessidades da população

sejam atendidas plenamente para todas as faixas etárias. Seria muito bom se a

Figura 6 criada por Tonucci (2008, p. 124) fosse um retrato da realidade no que se

refere a ouvir os anseios da população infantil.

Mas é de suma importância o comprometimento dos professores quando os

espaços forem adequados, afinal para que tenhamos uma educação infantil sólida,

bem estruturada e consciente do seu papel como primeira etapa da educação

básica, é preciso que os profissionais que atuam nela sejam qualificados e que se

sintam parte integrante do processo. Para isso é necessário o investimento em

formação e valorização desse profissional.

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Contudo, não basta criar leis e outros documentos que tratem com respeito a

educação infantil se essas proposições ficarem no papel. É preciso que isso seja

vivido na prática do dia-a-dia. Faz-se necessário aplicar tais regras para que a

educação infantil seja consolidada como espaço de educação e não visto apenas

como um espaço de cuidados básicos.

Figura 6 – [Desejo]

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu conhecer, ainda que minimamente, as atuais leis

e discussões a respeito da infra-estrutura escolar e de como esse assunto vem

sendo tratado no Brasil, além de permitir um aprofundamento na questão do brincar.

Foi possível constatar que, apesar de existirem leis e documentos atestando

sobre a necessidade de investimento na área, na prática o espaço está longe de ser

prioridade. O reconhecimento da Educação Infantil como primeira etapa da

educação básica em nosso país ainda é recente e acredito que este seja um dos

fatores determinantes para a caracterização do quadro atual. Outro fator importante,

a meu ver, é a inexistência de uma cultura de cobrança e fiscalização por parte da

população.

Porém para que ocorra mudança, acredito seja necessário que toda a

sociedade esteja envolvida e comprometida, a começar pelos pais e professores que

estão diretamente ligados ao assunto.

Talvez, mudar a visão de um país seja algo utópico, mas se começarmos com

a escola onde matriculamos nossos filhos ou onde trabalhamos, possamos

promover a mudança necessária, afinal nossas crianças passam a maior parte do

dia nas instituições de educação. Cabe a nós adultos parar para ouvir os anseios da

população infantil, assim será muito gratificante quando a criança retratada por

Tonucci (2008, p. 225) na Figura 6 não estiver mais espantada por ser ouvida.

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Figura 7 – O conselho de crianças

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REFERÊNCIAS

BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotinas da educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. 240 p. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Coordenadoria de Educação Infantil. Política Nacional de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/Coedi, 1994a. BRASIL. Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro de 1996a. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998b, 3v. BRASIL. Plano Nacional de Educação. Apresentado por Ivan Valente. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (Org.). Educação infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. 164 p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Coleção Leitura. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa: conforme a nova ortografia. 4. ed. São Paulo: Positivo, 2009. Acompanha CD-Rom. HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons, aromas: A organização dos espaços na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004. MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Tradução de Maria Adriana Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2002. 200 p. il. TONUCCI, Francesco. Quando as crianças dizem: agora chega! Tradução de Alba Olmi. Porto Alegre: Artmed, 2005. 243 p.

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______. Frato: 40 anos com olhos de criança. Tradução de Maria Carmem Silveira Barbosa. Porto Alegre: Artmed, 2008. 248 p. il.