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Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Luís Miguel Freixo Armada janeiro de 2017 Influência da entrada de genéricos na intensidade da concorrência no mercado dos medicamentos Luís Miguel Freixo Armada Influência da entrada de genéricos na intensidade da concorrência no mercado dos medicamentos UMinho|2017

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Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

Luís Miguel Freixo Armada

janeiro de 2017

Influência da entrada de genéricosna intensidade da concorrência nomercado dos medicamentos

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Luís Miguel Freixo Armada

janeiro de 2017

Influência da entrada de genéricosna intensidade da concorrência nomercado dos medicamentos

Trabalho efetuado sob a orientação daProfessora Doutora Isabel Maria MachadoCorreia Brioso Dias

Dissertação de MestradoMestrado em Economia Industrial e da Empresa

Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

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Declaração

Nome: Luís Miguel Freixo Armada

Endereço eletrónico: [email protected]

Telefone: 961292974

Número do cartão de cidadão: 14029516

Título da dissertação: Influência da entrada de genéricos na intensidade da concorrência

no mercado dos medicamentos.

Orientador(a): Professora Doutora Isabel Maria Machado Correia Brioso Dias

Designação do Mestrado: Mestrado em Economia Industrial e da Empresa

Ano de conclusão: 2017

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO/TRABALHO APENAS

PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO,

QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, ___ / ___ /_____

Assinatura:

______________________________________________________________________

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Agradecimentos

Agradeço aos meus pais pelo forte apoio e incentivo transmitido em todo o meu

percurso académico, e também aos meus colegas de curso, pela disponibilidade e

prontidão que sempre apresentaram para comigo.

Agradeço ao CIMI do Infarmed, I.P. pela disponibilização dos dados necessários

à realização deste trabalho, visto que sem os mesmos não seria possível realizá-lo.

Também um agradecimento à Farmácia Popular de Viana do Castelo pela informação

disponibilizada.

Por último, um agradecimento especial à Professora Dr.ª Isabel Correia, minha

orientadora, pela grande disponibilidade que sempre apresentou para com este

trabalho, pela sua colaboração e constante incentivo.

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Influência da entrada de genéricos na intensidade da concorrência no mercado

dos medicamentos

Resumo

O mercado dos medicamentos é bastante interessante pela grande dinâmica que

o envolve, principalmente em relação à intensidade concorrencial entre os

medicamentos de referência e os medicamentos genéricos. O grande crescimento de

genéricos em Portugal é muito recente, sendo no ano 2003 que estes medicamentos

começam a ser comercializados com uma maior expressão, impulsionados pela

introdução do Sistema de Preços de Referência e outras medidas que visavam promover

o crescimento destes medicamentos no mercado português.

Com base nos dados disponibilizados pela Autoridade Nacional do Medicamento

e Produtos de Saúde, I.P. para o período entre 2000 a 2015, foi elaborada uma análise

descritiva, com o objetivo de estudar o efeito gerado pela entrada dos genéricos sobre

as vendas dos medicamentos de referência das substâncias ativas que constituem a

amostra. Esta análise mostrou que, na maior parte dos casos, a entrada dos genéricos

no mercado gerou impactos significativos sobre as vendas e quotas de mercado, ambas

em volume, das marcas. Foram também estimados três modelos econométricos, com o

intuito de identificar os fatores determinantes da entrada de genéricos e da sua

penetração no mercado. Os resultados obtidos sugerem que a dimensão do mercado é

o fator que mais influencia a entrada dos genéricos no mercado. Relativamente à

penetração dos genéricos, os resultados mostram que esta aumenta com o número de

genéricos comercializados e com o diferencial de preços de venda praticados entre

marcas e genéricos.

Palavras-chave: mercado do medicamento; genéricos; concorrência; preços; quotas de

mercado; determinantes; e Portugal.

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Influence of generic entry on the intensity of competition in the medicines market

Abstract

The medicines market is quite interesting for its great dynamics which involves

it, especially in relation to the competitive intensity between reference medicines and

generic medicines. The high growth of generics in Portugal is very recent. Driven by the

introduction of the Reference Pricing System and other measures that would promoted

the growth of these medicines in the Portuguese market, it was in the year 2003 that

these medicines began to be more widely.

Considering the data provided by Autoridade Nacional do Medicamento e

Produtos de Saúde, I.P. for the period between 2000 and 2015, a descriptive analysis

was performed, in order to study the impact generated by the entry of generic

competitors on the reference medicines sales of the active substances in the sample.

This analysis, in most cases, showed that the entry of generics on the market has

generated significant impacts on sales and market shares, both in volume, of brands.

There were also estimated three econometric models, in order to identify the

determinants of the entry of generics and their penetration in the market. The results

suggest that the size of the market is the determinant which has more influence on the

entry of generics into the market. Regarding the penetration of generics, the results

show that this variable increases with the number of marketed generics and with the

differential of selling prices between brands and generics.

Keywords: medicines market; generics; competition; prices; market shares;

determinants; and Portugal.

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Índice Geral

Capítulo 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento e Motivação .............................................................................................. 1

1.2 Objetivos do estudo e questões de investigação ................................................................ 3

1.3 Estrutura da dissertação ..................................................................................................... 3

Capítulo 2 – REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................... 5

2.1 Introdução ........................................................................................................................... 5

2.2 Medicamentos Genéricos vs Medicamentos de Referência ............................................... 5

2.3 O mercado do medicamento .............................................................................................. 7

2.3.1 A procura de medicamentos ........................................................................................ 8

2.3.2 A oferta de medicamentos ......................................................................................... 11

2.3.2.1 Durante a proteção das patentes............................................................................ 11

2.3.2.2 Após a extinção das patentes .................................................................................. 13

2.4 O mercado do medicamento em Portugal: Regulação ..................................................... 14

2.4.1 Fixação do preço dos medicamentos não genéricos ................................................. 16

2.4.2 Aprovação de preços dos medicamentos genéricos .................................................. 17

2.4.3 As baixas administrativas de preços .......................................................................... 17

2.5 Evolução do mercado do medicamento em Portugal ....................................................... 18

2.6 A entrada de medicamentos genéricos e o seu impacto na intensidade concorrencial do

mercado .................................................................................................................................. 20

2.6.1 Determinantes da entrada ......................................................................................... 22

2.6.2 Impacto da entrada de genéricos na intensidade da concorrência ........................... 28

2.7 Sistema de Preços de Referência, regulação de preços e a penetração de genéricos ..... 34

2.8 Conclusões......................................................................................................................... 39

Capítulo 3 – DADOS E METODOLOGIA ........................................................................................ 40

3.1 Introdução ......................................................................................................................... 40

3.2 Dados ................................................................................................................................. 41

3.3. Variáveis ........................................................................................................................... 44

3.4 Modelos empíricos ............................................................................................................ 46

Capítulo 4 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ................................................................. 52

4.1 Introdução ......................................................................................................................... 52

4.2 - Impacto da entrada de genéricos sobre o volume de vendas e quotas de mercado (em

volume) dos Medicamentos de Referência ............................................................................ 52

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4.2.1 Aparelho Cardiovascular ............................................................................................ 53

4.2.2 Sistema Nervoso Central ............................................................................................ 58

4.2.3 Sangue ........................................................................................................................ 61

4.2.4 Aparelho Respiratório ................................................................................................ 62

4.2.5 Hormonas e Medicamentos Usados no Tratamento das Doenças Endócrinas ......... 64

4.2.6 Medicação Antialérgica .............................................................................................. 66

4.2.7 Medicamentos usados em Afecções Otorrinolaringológicas ..................................... 69

4.3 Relação entre preços e número de embalagens vendidas das marcas e respetivos

genéricos ................................................................................................................................. 69

4.4 Determinantes da probabilidade de ocorrer entrada de genéricos ................................. 74

4.5 Determinantes do número de genéricos comercializados em Portugal ........................... 76

4.6 Determinantes da quota de mercado dos medicamentos genéricos ............................... 78

4.7 Conclusões......................................................................................................................... 80

Capítulo 5 – CONCLUSÃO ............................................................................................................ 83

Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 87

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Lista de abreviaturas

AIM – Autorização de Introdução no Mercado

APOGEN – Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares

DCI – Denominação Comum Internacional

EUA – Estados Unidos da América

HHI – Índice de Herfindahl-Hirschman

I&D – Investigação e Desenvolvimento

INFARMED, I.P. – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.

MNSRM – Medicamento Não Sujeito a Receita Médica

MSRM – Medicamento Sujeito a Receita Médica

MG – Medicamento(s) Genérico(s)

MR – Medicamento(s) de Referência

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

PVA – Preço de Venda ao Armazenista

PVP – Preço(s) de Venda ao Público

QM – Quota(s) de Mercado

SA – Substância(s) Ativa(s)

SNS – Sistema(s) Nacional(ais) de Saúde

SPR – Sistema de Preços de Referência

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Índice de Figuras

Figura 1. Tipos de medicamentos………………………………….................................................6

Figura 2. Principais áreas da regulação e do controle no mercado do medicamento….15

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Quadro resumo dos determinantes, autores e os seus resultados………........28

Tabela 2. Substâncias Ativas que compõem a amostra em estudo…………………………....42

Tabela 2. Substâncias Ativas que compõem a amostra em estudo (continuação)………43

Tabela 3. Descrição das variáveis dos modelos..............................................................44

Tabela 4. Estatísticas descritivas das variáveis……………………………………………………………45

Tabela 5. Matriz da correlação entre as variáveis utilizadas nos modelos…………………..50

Tabela 6. Modelo 1: Determinantes da probabilidade da entrada de genéricos no

mercado em Portugal – Variável dummy: 1 se tem MG.................................................74

Tabela 7. Modelo 2: Determinantes do número de genéricos no mercado…………….....76

Tabela 8. Modelo 3: Determinantes da penetração dos genéricos……..………………………78

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Índice de Gráficos

Gráfico 1(a). Evolução das vendas do MR…………………………………………………………………..53

Gráfico 1(b). Evolução da QM do MR………………………………………………………………………...53

Gráfico 2(a). Evolução das vendas do MR……….………………………………………………………….53

Gráfico 2(b). Evolução da QM do MR……….....................................................................53

Gráfico 3(a). Evolução das vendas do MR………………….……………………………………………….54

Gráfico 3(b). Evolução da QM do MR...............................……………………………………………54

Gráfico 4(a). Evolução das vendas do MR……………………….………………………………………….54

Gráfico 4(b). Evolução da QM do MR…………………….……………………………………………………54

Gráfico 5(a). Evolução das vendas do MR………………….……………………………………………….54

Gráfico 5(b). Evolução da QM do MR…………………………….…………………………………………..54

Gráfico 6(a). Evolução das vendas do MR…............................…………………………………….54

Gráfico 6(b). Evolução da QM do MR…….…………………………………………………………………..54

Gráfico 7(a). Evolução das vendas do MR….……………………………………………………………….55

Gráfico 7(b). Evolução da QM do MR.……………..…………………………………………………………55

Gráfico 8(a). Evolução das vendas do MR……….………………………………………………………….55

Gráfico 8(b). Evolução da QM do MR……………….............................................................55

Gráfico 9(a). Evolução das vendas do MR……….………………………………………………………….55

Gráfico 9(b). Evolução da QM do MR…………….…………………………………………………………..55

Gráfico 10(a). Evolução das vendas do MR……….………………………………………………………..55

Gráfico 10(b). Evolução da QM do MR…………….............................................................55

Gráfico 11(a). Evolução das vendas do MR……….………………………………………………………..56

Gráfico 11(b). Evolução da QM do MR…………….…………………………………………………………56

Gráfico 12(a). Evolução das vendas do MR.………………………………………………………………..56

Gráfico 12(b). Evolução da QM do MR…….......................……………………………………………56

Gráfico 13(a). Evolução das vendas do MR……………………..………………………………………….56

Gráfico 13(b). Evolução da QM do MR…......................................………………………………..56

Gráfico 14(a). Evolução das vendas do MR….....................................………………………….58

Gráfico 14(b). Evolução da QM do MR…………………........................................................58

Gráfico 15(a). Evolução das vendas do MR……………….………………………………………………..58

Gráfico 15(b). Evolução da QM do MR..……………………..………………………………………………58

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Gráfico 16(a). Evolução das vendas do MR……….……………………………………………………….59

Gráfico 16(b). Evolução da QM do MR…………….............................................................59

Gráfico 17(a). Evolução das vendas do MR…….………………………………………………………….59

Gráfico 17(b). Evolução da QM do MR…………..…..……………………………………………………..59

Gráfico 18(a). Evolução das vendas do MR……….……………………………………………………….59

Gráfico 18(b). Evolução da QM do MR………………..........................................................59

Gráfico 19(a). Evolução das vendas do MR............…………………………………………………….59

Gráfico 19(b). Evolução da QM do MR……………………………………………………………….........59

Gráfico 20(a). Evolução das vendas do MR………………………………………………………………..60

Gráfico 20(b). Evolução da QM do MR….......................................................................60

Gráfico 21(a). Evolução das vendas do MR….…………………………………………………………….61

Gráfico 21(b). Evolução da QM do MR….…………………………………………………………………..61

Gráfico 22(a). Evolução das vendas do MR….…………………………………………………………….62

Gráfico 22(b). Evolução da QM do MR….…....................................................................62

Gráfico 23(a). Evolução das vendas do MR….…………………………………………………….........63

Gráfico 23(b). Evolução da QM do MR…….…………………………………………………………..……63

Gráfico 24(a). Evolução das vendas do MR….…………………………………………………………….64

Gráfico 24(b). Evolução da QM do MR……………………………………………………………….........64

Gráfico 25(a). Evolução das vendas do MR………………………………………………………………..65

Gráfico 25(b). Evolução da QM do MR.……………………………………………………………………..65

Gráfico 26(a). Evolução das vendas do MR..………………………………………………………………65

Gráfico 26(b). Evolução da QM do MR..…………………………………………………………………….65

Gráfico 27(a). Evolução das vendas do MR…..……………………………………………………………67

Gráfico 27(b). Evolução da QM do MR…..………………………………………………………………….67

Gráfico 28(a). Evolução das vendas do MR…..……………………………………………………………67

Gráfico 28(b). Evolução da QM do MR..…………………………………………………………………….67

Gráfico 29(a). Evolução das vendas do MR..………………………………………………………………69

Gráfico 29(b). Evolução da QM do MR..…………………………………………………………………….69

Gráfico 30. Preços e número de embalagens vendidas – Furosemida……..………………..70

Gráfico 31. Preços e número de embalagens vendidas – Paracetamol..………………….…70

Gráfico 32. Preços e número de embalagens vendidas – Salbutamol..………………………70

Gráfico 33. Preços e número de embalagens vendidas – Atorvastatina..…………………..70

Gráfico 34. Preços e número de embalagens vendidas – Clopidogrel.……………………….70

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Gráfico 35. Preços e número de embalagens vendidas – Quetiapina..….……………………71

Gráfico 36. Preços e número de embalagens vendidas – Ramipril……………………………..71

Gráfico 37. Poder de mercado da marca em cada mercado……………………………………….73

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Capítulo 1 – INTRODUÇÃO

Neste capítulo começa-se por discutir a relevância do tema desenvolvido e

justificar a escolha do mesmo. De seguida, são definidos os objetivos do trabalho e

apresentadas as questões de investigação. Por fim, é descrita a estrutura da dissertação.

1.1 Enquadramento e Motivação

O mercado do medicamento constitui um excelente campo para examinar

algumas questões gerais da Economia Industrial. Porque a existência de um monopólio

legal de um produto inovador nesta indústria geralmente depende de uma única

patente, esta indústria oferece um ambiente em que as condições de entrada e de

concorrência se alteram radicalmente numa determinada data fixada pelos termos da

lei de patentes. Este procedimento natural oferece uma oportunidade única para

estudar os processos e efeitos da entrada dos genéricos (Caves et al., 1991), sendo esta

umas das razões porque esta indústria tem merecido o interesse da literatura. Em

particular, destacam-se os trabalhos que têm versado sobre o efeito da entrada de

genéricos nos preços, volume de vendas, e nas quotas de mercado (QM) dos

medicamentos de referência (MR). Outro ramo da literatura centra-se nos

determinantes da entrada de medicamentos genéricos (MG), sendo esta uma questão

interessante do ponto de vista das políticas públicas, uma vez que a introdução destes

medicamentos está muito relacionada com objetivos de controlo dos custos com a

saúde.

Foi este segundo aspeto da introdução dos MG que motivou o interesse da

realização deste trabalho, particularmente pelo facto da evidência empírica acerca dos

determinantes da entrada dos genéricos ser maioritariamente relativa ao mercado do

medicamento dos Estados Unidos da América (EUA). Pareceu-nos importante, por isso,

recolher evidência para Portugal.

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Na nossa perspetiva, é interessante analisar o caso português, em primeiro lugar,

porque não temos conhecimento de nenhum estudo semelhante realizado em Portugal.

Depois, porque o crescimento do mercado dos MG é um dos aspetos mais marcantes da

evolução recente do mercado do medicamento português. Apesar de já estarem

disponíveis para serem comercializados desde o final do século passado, foi só a partir

do ano 2003 que os MG ganharam posição no mercado (Castro, 2013), sobretudo graças

a várias medidas implementadas, das quais se destaca a introdução do Sistema de

Preços de Referência (SPR)1. De facto, ao estabelecer como preço de referência para

cada grupo homogéneo o preço de venda ao público (PVP) do MG existente no mercado

que integrasse aquele grupo homogéneo e que tivesse o PVP mais elevado, o SPR

pressionou os laboratórios a baixar os preços dos medicamentos para não perderem a

QM.

A partir de 2003, o crescimento dos MG desenvolve-se de forma exponencial. De

acordo com os dados da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde,

I.P. (Infarmed, I.P.), as vendas (em número de embalagens) de MG no mercado total

cresceram de 223.844 embalagens no ano de 2000 para 8.166.987 embalagens em

2003. Este crescimento notável reflete o impacto da introdução do SPR e da

obrigatoriedade da prescrição obrigatória por Denominação Comum Internacional (DCI)

para substâncias ativas (SA) com MG autorizados2, entre outras medidas introduzidas

no mercado. O rápido crescimento perdurou, tendo-se registado em 2014 um total de

72.060.472 embalagens vendidas de MG.

Há, no entanto, diferenças assinaláveis entre SA, quer quanto ao número de

genéricos comercializados, quer quanto à sua penetração. A identificação dos fatores

que podem explicar estas diferenças constitui, por isso, uma questão de investigação

relevante.

1Decreto-Lei nº 270/2002, de 2 de Dezembro 2Decreto-Lei nº 271/2002, de 2 de Dezembro

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1.2 Objetivos do estudo e questões de investigação

Neste trabalho, aborda-se o mercado dos medicamentos em Portugal, entre os

anos 2000 e 2015, com o objetivo de analisar os efeitos da entrada dos MG sobre as

vendas e as QM dos MR, e identificar os determinantes da entrada e da penetração dos

genéricos no mercado.

Especificamente, pretende-se dar resposta às seguintes questões de

investigação:

i. Qual o impacto da entrada de genéricos nas vendas em volume dos MR?

ii. Qual o impacto da entrada de genéricos na QM dos MR?

iii. Quais são os determinantes da probabilidade de ocorrer a entrada de

genéricos no mercado?

iv. Quais os determinantes do número de genéricos no mercado?

v. Quais são os fatores que influenciam a penetração dos genéricos no

mercado em termos de QM?

1.3 Estrutura da dissertação

Após este capítulo introdutório, esta dissertação está organizada em cinco

outros capítulos. No capítulo 2 apresenta-se uma revisão de literatura estruturada em

torno de dois tópicos principais: a descrição de alguns elementos essenciais do mercado

do medicamento em Portugal e a apresentação de alguns contributos teóricos e

empíricos acerca dos determinantes e dos efeitos da entrada de MG no mercado.

No capítulo 3 é descrita a metodologia de investigação utilizada para responder

às questões de investigação e são apresentados os dados e respetivas fontes.

No capítulo 4 são apresentados e discutidos os resultados obtidos da

investigação, e no capítulo 5 é apresentada uma síntese das principais conclusões

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retiradas em função de todo o trabalho realizado, as limitações que ocorreram no

decorrer do mesmo, bem como sugestões para investigações futuras.

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Capítulo 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Introdução

Este capítulo tem como objetivos: (i) descrever alguns aspetos essenciais do

mercado do medicamento; (ii) analisar alguns aspetos da regulação do mercado em

Portugal; e (iii) apresentar uma revisão da literatura acerca dos determinantes e dos

efeitos da entrada de MG no mercado.

De facto, a procura de medicamentos apresenta características particulares que

a distinguem da generalidade dos bens e que se traduzem, nomeadamente, em

problemas de agência e de informação imperfeita. Essas características da procura,

aliadas ao facto de existirem outras falhas de mercado importantes, tornam necessária

a regulação desse mercado, pelo que se torna necessário compreender alguns

elementos dessa regulação e os seus efeitos sobre a estrutura e funcionamento do

mercado em Portugal. Por último, a revisão da literatura acerca dos determinantes e

dos efeitos da entrada dos MG no mercado tem como objetivo conhecer as

metodologias e as variáveis analisadas em estudos anteriores, e que serviram de suporte

ao desenvolvimento do trabalho empírico desta dissertação.

2.2 Medicamentos Genéricos vs Medicamentos de Referência

Segundo o Estatudo do Medicamento (Decreto-Lei nº 176/2006, alínea oo do

artigo 3º, de 30 de Agosto), «Medicamento genérico», é um medicamento com a mesma

composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, a mesma forma

farmacêutica, e cuja bioequivalência com o medicamento de referência haja sido

demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados. Isto significa que o

genérico tem que libertar o ingrediente ativo à mesma velocidade e montante que o

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medicamento de marca original (Infarmed, I.P.). É identificado pela sigla (MG), inserida

na embalagem exterior do medicamento (Infarmed, I.P.)3.

Por sua vez, «Medicamento de referência» é, de acordo com o Estatuto do

Medicamento (alínea ii do artigo 3º), um medicamento que foi autorizado com base em

documentação completa, incluindo resultados de ensaios farmacêuticos, pré-clínicos e

clínicos. Conforme a Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares

(APOGEN), durante o período de vigência de proteção da respetiva patente, a empresa

farmacêutica que desenvolveu o MR detém o monopólio da sua comercialização4.

Considerando o mercado dos medicamentos embalados, no que respeita ao

regime de venda, há dois tipos de medicamentos: os medicamentos cuja compra

(venda) está sujeita à apresentação de uma prescrição médica (MSRM) e os

medicamentos de venda livre ou não sujeitos a receita médica (MNSRM). Em cada uma

destas categorias, podemos encontrar medicamentos patenteados e MG (Figura 1).

Figura 1 – Tipos de medicamentos (reproduzido de Tribunal de Contas, 2011)

De todas as SA comercializadas no mercado dos medicamentos, apenas algumas

SA têm genérico comercializado, e outras ainda se encontram, para os genéricos, com

autorização de introdução no mercado (AIM) pendente. Em alguns casos, as SA não têm

genérico pois o MR ainda se encontra no período de proteção da patente. Noutros casos,

o medicamento de marca já não se encontra protegido por patente, mas por algum

3http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/PERGUNTAS_FREQUENTES/MEDICAMENTOS_USO_HUMANO/MUH_MEDICAMENTOS_GENERICOS/#P1 4http://www.apogen.pt/glossario-de-medicamentos-biossimilares.php

MEDICAMENTOS

MSRM

MARCAS

GENÉRICOS

MNSRM

MARCAS

GENÉRICOS

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motivo os agentes económicos não consideram interessante a entrada nesse mercado.

Neste trabalho, a análise incide sobre o mercado dos MSRM.

2.3 O mercado do medicamento

O mercado do medicamento apresenta algumas características muito

particulares comparativamente a outros mercados. De entre essas características,

destaca-se a forte regulação que, do ponto de vista económico, é justificada pela

existência de diversas falhas de mercado. Pereira e Vilares (2014) salientam o facto de

o medicamento ser um bem de experiência e de mérito5, da circunstância de existirem

monopólios legais que asseguram a remuneração dos custos de investigação, e de o

consumo do medicamento resultar da interação entre o doente, os especialistas que o

aconselham, e o Estado que, em média, suporta maioritariamente os custos.

Salientam-se, portanto, problemas de informação imperfeita e de agência, bem

como o elevado poder de mercado que pode ser exercido durante o período em que o

MR se encontra sob a proteção das patentes, impondo barreiras à entrada de

concorrentes no mercado.

No caso português, o Infarmed, I.P., sob a tutela do Ministério da Saúde, é a

autoridade reguladora que avalia, autoriza, regula e controla os medicamentos de uso

humano, bem como os produtos de saúde. A sua principal missão é garantir a qualidade,

a segurança e a eficácia dos medicamentos e dos produtos de saúde, prevenindo os

riscos decorrentes da sua utilização, e assegurando os mais elevados padrões de saúde

pública e a defesa dos interesses do consumidor (Infarmed, I.P.).

5Bens de mérito, do ponto de vista económico, são bens ou serviços cuja disponibilização de forma abrangente à população é vista como uma prioridade, ou seja, todos os indivíduos devem deles usufruir, independentemente das suas preferências ou dos seus rendimentos.

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8

2.3.1 A procura de medicamentos

Como já referimos, a intervenção e respetiva influência dos agentes no processo

de decisão de consumo é, de acordo com a literatura, uma característica muito

específica deste mercado, do lado da procura.

Os medicamentos são um bem incomum, na medida em que o consumidor do

produto não é, tipicamente, quem decide o medicamento a consumir, e na maior parte

dos casos, não é o único a pagar pelo produto. Esta situação contrasta com o modelo de

consumo normal em termos económicos, em que consideramos um único consumidor,

dispondo de informação completa, a maximizar a sua função utilidade sujeito a uma

restrição orçamental, o que levanta problemas de agência de informação interessantes

de analisar (Ellison, 1997).

De facto, a ausência de informação que seja prática e acessível a todos os

consumidores sobre os medicamentos e as suas características dá origem a um

problema de informação imperfeita, visto que a informação de que o consumidor dispõe

é, por norma, muito limitada (Tribunal de Contas, 2011).

Neste contexto, o medicamento pode ser caracterizado como um “bem de

experiência”, cujo consumo é fortemente determinado pelo conhecimento acumulado

pelo médico e pelo farmacêutico sobre as respetivas propriedades, e pelo paciente em

resultado da sua experiência com o fármaco (Pereira e Vilares, 2014).

A prescrição do medicamento é feita pelo médico (agente) que, indica não

apenas o medicamento a utilizar, mas também a forma, a dosagem, a frequência, etc..

Essa prescrição pode, em geral, ser feita pelo nome genérico do fármaco ou por

qualquer marca sob a qual o medicamento é vendido, e dependendo dos casos, o

médico tem alguma margem de discricionariedade na escolha do medicamento a

prescrever, existindo evidência de que as limitações de informação dos médicos sobre

os preços relativos aos medicamentos podem ser relevantes (Ellison, 1997). Hellerstein

(1998) considera que os médicos são agentes importantes e muito influentes no

processo de prescrição, sendo que prescrevem ambos os tipos de medicamentos, e

como tal, alguns são mais propensos a prescrever genéricos e outros nem tanto,

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podendo influenciar as opções dos consumidores. Assim, os médicos constituem

agentes (imperfeitos) dos consumidores, originando um problema de agência. Esta

característica do mercado é relevante quando se está perante a análise da “escolha”

entre um MR ou um genérico. Por esta razão, em alguns países têm vindo a ser

implementadas medidas (obrigatoriedade dos médicos prescreverem por SA ou DCI

para os MR que já têm concorrentes genéricos disponíveis no mercado) que permitem

que seja o consumidor a tomar a decisão de consumo, como é o caso de Portugal.

De salientar ainda que a influência dos médicos no consumo dos medicamentos

é tal, que as empresas produtoras de medicamentos (tanto originais como genéricos),

de modo a tirar partido dessa situação, despendem montantes substanciais em

publicidade dirigida diretamente a eles, com o objetivo claro de influenciar a sua tomada

de decisão no momento da prescrição do medicamento.

No caso dos MNSRM, os Governos têm vindo a implementar medidas para

melhorar a informação dos consumidores sobre as principais características que

distinguem os MR dos MG, de modo a que estes possam ser mais autónomos na escolha

de um medicamento. Nestes casos, se os pacientes não estiverem cientes do

medicamento que devem adquirir, a escolha é delegada nos farmacêuticos, que os

aconselham. No entanto, estes agentes têm poucos incentivos para dispensar genéricos,

visto que têm preços inferiores relativamente aos seus MR e a remuneração

proveniente da venda é baseada no valor de cada medicamento dispensado. Por essa

razão, de acordo com o relatório doTribunal de Contas (2011), à semelhança de Portugal

a partir do ano 2011, vários países da União Europeia, como a Áustria, França, Polónia,

Suécia e Finlândia, fixam taxas regressivas às margens das farmácias, permitindo

margens de comercialização (em percentagem) mais elevadas na dispensa de

medicamentos mais baratos e mais reduzidas na dispensa de medicamentos mais caros,

fornecendo incentivos à dispensa de MG.

Outra característica importante do mercado do medicamento está relacionada

com as possibilidades de substituição existentes. Com base na literatura, o relatório do

Tribunal de Contas (2011) refere que, além de ser condicionada pela tipologia do

produto, a assimetria de informação limita a capacidade dos consumidores

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identificarem substitutos, particularmente para os MSRM, o que torna a procura

relativamente inelástica (insensível ao preço).

Um caso extremo é aquele em que não há nenhum substituto próximo

(medicamentos órfãos). Noutros casos, existem algumas possibilidades de substituição,

podendo distinguir-se entre:

Medicamentos para os quais existem substitutos próximos e que podem

ser substituídos na farmácia: é o caso dos MG e MR que já não são

protegidos por patente e que têm variantes, produzidos por diferentes

laboratórios;

Medicamentos para os quais a substituibilidade económica só pode ser

exercida pelos prescritores: MR que podem ser substituídos por outro(s)

– substitutos ou sucedâneos terapêuticos - que permitem tratar a mesma

afeção (Barros e Nunes, 2011).

Ellison (1997), num trabalho em que analisa o mercado de quatro cefalosporinas,

encontrou evidência de que existe uma elasticidade da procura muito elevada entre os

substitutos genéricos. Entre substitutos terapêuticos6, a elasticidade da procura era

menor, mas significativa em muitos casos. Estes resultados sugerem alguma

sensibilidade da procura de medicamentos relativamente ao preço no mercado das

cefalosporinas.

A incerteza dos consumidores quanto à necessidade do consumo de

medicamentos (e de cuidados de saúde em geral) é também uma característica

particular da procura de medicamentos. Esta incerteza leva normalmente à intervenção

de um terceiro agente – o seguro – que, ao assumir uma parte do encargo com os

medicamentos, distorce os incentivos no mercado, aumentando a insensibilidade da

procura e podendo levar a um excesso de consumo (Tribunal de Contas, 2011).

6Medicamentos quimicamente distintos, que podem ser utilizados para tratar muitas das mesmas condições.

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11

2.3.2 A oferta de medicamentos

De acordo com o relatório do Tribunal de Contas (2011), a indústria farmacêutica

pode ser descrita como um conjunto de oligopólios com multi-produtos diferenciados

em segmentos de classes terapêuticas específicas, cujo consumo é fortemente mediado

pela prescrição médica.

A oferta de medicamentos apresenta características bem diferenciadas entre o

período em que o MR está protegido por patentes e o período após a extinção das

mesmas.

2.3.2.1 Durante a proteção das patentes

Durante o período de vigência das patentes existe poder de mercado que se

traduz em preços de venda ao público (PVP) muito elevados, uma vez que as patentes

são um procedimento legal que impede a entrada de concorrentes (genéricos ou outras

marcas).

De acordo com a APOGEN, a patente concede aos detentores direitos exclusivos

de explorar o medicamento por um determinado período de tempo e impede outros de

fabricar, utilizar ou vender o medicamento sem a permissão do detentor no território

onde a patente foi emitida. Como tal, um MG pode apenas ser introduzido no mercado

depois de todas as patentes e certificados complementares de proteção (SPCs) do

produto originador tiverem expirado.

Ainda de acordo com a APOGEN, “as patentes são usadas para proteger um

produto, processo, aparelho ou utilização com um fim prático, e que o registo dá ao

titular da patente o direito de evitar que outra entidade fabrique, use, venda ou importe

a sua invenção durante 20 anos. Qualquer produto farmacêutico está normalmente

protegido por 20-40 patentes diferentes quanto a vários aspetos e propriedades do

produto. Os certificados complementares de proteção (SPCs) concedem até cinco anos

adicionais de proteção patenteada a produtos farmacêuticos. Pode obter proteção

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adicional de introdução no mercado para o produto originador através da exclusividade

de dados, o que evita que as entidades reguladoras de medicamentos aceitem

submissões de introdução no mercado com base na bioequivalência durante um período

definido”7.

De destacar que um princípio ativo (ou conjunto de princípios ativos) que

compõe um determinado medicamento pode estar protegido por um conjunto de

patentes, cujo âmbito pode abranger o princípio ativo em si, as formas específicas do

referido produto (formas cristalinas, por exemplo), as formulações que o contenham ou,

até mesmo, os diferentes processos para a sua preparação e respetivas utilizações.

Este período de proteção permite às empresas detentoras dos MR obter

margens de lucro e QM muito elevadas.

É de salientar que o período entre a expiração das patentes e a entrada dos

genéricos pode ser longo, e como tal, as empresas detentoras dos MR aproveitam esse

período de tempo para obter essas margens, de modo a poderem compensar o longo

período de tempo despendido em rigorosos testes de eficácia e segurança do

medicamento, e os montantes muito elevados gastos em investigação e

desenvolvimento (I&D) com os medicamentos inovadores. De facto, a proteção das

patentes é uma forma de proteger as empresas que arriscam no desenvolvimento de

novas alternativas terapêuticas para o mercado, visto que os genéricos não têm

qualquer gasto em I&D, e portanto são comercializados a preços muito inferiores.

Apesar disso, Spitz e Wickham (2012) afirmam que grande parte dos lucros

retidos durante o período de proteção legal da patente não são destinados a compensar

os gastos com o desenvolvimento do medicamento ou usados para novas pesquisas e

desenvolvimento de outros medicamentos inovadores, mas sim para

marketing/publicidade, ou reformulações do medicamento já comercializado no

mercado.

Durante o período de vigência das patentes, o detentor do MR detém a

exclusividade do mercado e, portanto, detém o monopólio do mercado, o que lhe

permite ter um elevado poder e capacidade para poder influenciar os preços do mesmo.

7http://www.apogen.pt/galeria/fact_sheets/fact_sheet_7de5a9f899995e18dc2af8c797d665ed_medicamentos_genericos_exclusividade_de_dados_e_patentes.pdf

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No entanto, apesar de não se tratar de uma concorrência direta, visto que se tratam de

medicamentos com uma SA diferente, os detentores dos MR podem enfrentar a

concorrência de outros medicamentos substitutos (também eles originais) com efeitos

terapêuticos similares e que pertencem, assim, ao mesmo grupo terapêutico.

2.3.2.2 Após a extinção das patentes

Extinta a patente, este mercado caracteriza-se por uma forte dinâmica ao nível

da concorrência entre os dois tipos de medicamentos, muitas vezes com um único MR

a enfrentar a concorrência de várias dezenas de genéricos (Bernard, 2011), o que

beneficia os utentes com alternativas terapêuticas menos dispendiosas, através de

preços mais competitivos.

A proximidade entre MG e MR sugere possibilidades de substituição muito

elevadas e, por isso, que a concorrência se faça maioritariamente em preços. Do ponto

de vista económico, esperar-se-ia, portanto, que a concorrência dos genéricos fizesse

baixar o preço dos medicamentos, quer genéricos quer de referência, para níveis mais

próximos do seu custo marginal.

O mercado do medicamento é muito dinâmico. A concorrência faz-se

maioritariamente em preços, e as medidas implementadas pelos governos, com o

intuito de regularem os mercados, obrigam as empresas produtoras de medicamentos

a renovarem constantemente as suas estratégias comerciais.

No entanto, a realidade sugere que os genéricos são considerados substitutos,

mas não perfeitos. Moreno-Torres (2011) afirma que as características do medicamento

(tais como a cor, forma, embalagem, etc.) podem ser diferentes, e como tal, existe um

certo grau de diferenciação que, no ato da compra, poderá fazer a diferença na ótica do

consumidor.

Hudson (2000) considera que estes fatores diferenciadores são o que permite às

empresas produtoras de MR continuar a vender, apesar da presença dos concorrentes

genéricos com preços bastante inferiores. No entanto, a relação custo-benefício dos MG

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representa uma forte vantagem competitiva no mercado face aos MR, visto que geram

benefícios consideráveis aos utentes, através de preços competitivos e com resultados

terapêuticos idênticos.

Por outro lado, extinta a patente, as economias de escala na produção de

medicamentos deixam de ser relevantes. Caves et al. (1991) referem, a este propósito,

que embora os concorrentes atuais num determinado mercado possam ser poucos, os

entrantes potenciais são numerosos. Assim, na ausência de barreiras legais à entrada,

seria de esperar que a fixação de preços para os MR superiores ao seu custo marginal

induzisse a entrada de genéricos, eliminando totalmente o poder de mercado dos

produtores de MR.

No entanto, a evidência empírica mostra que a entrada de genéricos ocorre, em

grande parte dos casos, de forma gradual (Berndt, 2002), e que os produtores de MR

são muitas vezes capazes de manter uma estratégia de preços elevados em vez de se

envolverem numa feroz concorrência em preços com os genéricos (Dalen et al., 2006).

2.4 O mercado do medicamento em Portugal: Regulação

A existência de poder de mercado no mercado dos MR torna necessária a

regulação para evitar a exploração desse poder, não apenas por causa da situação de

monopólio, mas também devido a outras imperfeições, como a informação assimétrica

e problemas de agência.

O sector do medicamento é um sector fortemente regulado, não só em termos

comerciais, mas também em termos industriais (ex. aprovação de novos produtos), e

estas regulações estão longe de estar harmonizadas entre os diferentes países (Tribunal

de Contas, 2011).

A intervenção do Estado no mercado do medicamento, através da regulação,

tem como objetivo prevenir as consequências negativas sobre o bem-estar decorrentes

das falhas de mercado identificadas, assegurando a qualidade e a segurança dos

medicamentos, e reduzindo a incerteza e o poder de mercado.

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Figura 2 - Principais áreas da regulação e do controle no mercado do medicamento

(reproduzido de Tribunal de Contas, 2011)

Para o desenvolvimento do trabalho, interessa-nos sobretudo a regulação de

preços em Portugal.

De acordo com o disposto no Decreto-Lei n.º 97/2015, os medicamentos de uso

humano podem ficar sujeitos ao regime de preços máximos ou, em alternativa, a um

regime de preços notificados. O PVP do medicamento é fixado pelo conselho diretivo do

Infarmed, I. P., sendo os tipos de medicamentos que ficam sujeitos ao regime de preços

máximos ou notificados, definidos por portaria do membro do Governo responsável

pela área da saúde.

Ainda de acordo com o mesmo Decreto-Lei, o regime de preços máximos

determina a fixação do valor do medicamento no estádio de retalho, o qual não pode

ser ultrapassado, mas o titular da AIM ou o seu representante podem, voluntariamente,

praticar preços inferiores ao PVP máximo. É ainda permitida a prática de descontos em

todo o circuito do medicamento, desde o fabricante ao retalhista.

Regulação

Ensaios Clínicos

AIM

Farmacovigilância

Controle de Preços e

Comparticipações

Licenciamento de Produtores e Distribuidores

Controle da prescrição e

consumo

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2.4.1 Fixação do preço dos medicamentos não genéricos

A regulação dos preços dos medicamentos não genéricos sujeitos a receita

médica e dos medicamentos de venda livre comparticipados, corresponde à fixação de

um preço máximo, que resulta da comparação com a média dos preços de venda nos

estádios de produção ou importação (PVA) em vigor nos países de referência para o

mesmo medicamento ou, caso este não exista, para especialidades farmacêuticas

idênticas ou essencialmente similares, ou seja, com a mesma SA, forma farmacêutica e

dosagem (referenciação internacional)8.

Assim, os preços máximos de venda ao público dos medicamentos a introduzir

pela primeira vez no mercado nacional ou os referentes a alterações da forma

farmacêutica e da dosagem, não podem exceder a média que resulta da média dos

preços de venda dos mesmos medicamentos nos três países de referência.

Os países de referência são anualmente definidos por despacho do membro do

Governo responsável pela área da saúde, e são, segundo o mesmo, selecionados entre

os países da União Europeia que, face a Portugal, apresentem ou um produto interno

bruto per capita comparável em paridade de poder de compra ou um nível de preços

mais baixo.

Para 2017, de acordo com a Portaria 290-B/2016, de 15 de Novembro, os países

de referência são a Espanha, França e Itália. A este PVA médio, acrescem-se as restantes

variáveis (margens de comercialização dos distribuidores grossista e retalhista, taxa de

comercialização e o imposto sobre o valor acrescentado (IVA)) resultando no PVP

máximo a vigorar.

Os medicamentos não sujeitos a prescrição médica sem comparticipação têm

preços livres.

8http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUMANO/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/REGULAMENTACAO_PRECO_MEDICAMENTOS/ATRIBUICAO_PRECOS

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17

2.4.2 Aprovação de preços dos medicamentos genéricos

Os MG não estão sujeitos ao Sistema de Preços de Referência Internacional

(SPRI), mas têm igualmente preço máximo de entrada no mercado.

De acordo com a Portaria n.º 195-C/2015, de 30 de Junho, a formação de preços

dos genéricos resulta da comparação com um MR, com igual dosagem e forma

farmacêutica, devendo ser, no mínimo, inferior em 50% ao preço daquele, ou inferior

em 25% para os medicamentos cujo PVA em todas as apresentações seja igual ou

inferior a 10 euros. O PVP máximo do MR é determinado pela média do PVP máximo

desse medicamento nos dois anos imediatamente anteriores ao pedido de preço do

primeiro MG.

De acordo com Simoens (2009), este sistema de controlo de preços dos genéricos

à entrada não promove a entrada destes medicamentos, uma vez que, face à ameaça

da entrada, a empresa incumbente pode proteger os seus lucros, baixando

antecipadamente o preço até ao nível em que não é atrativo para as empresas de

genéricos entrarem no mercado. Além disso, são criados incentivos para as empresas

de genéricos entrarem em mercados de SA mais caras (Tribunal de Contas, 2011).

Os autores do relatório do Tribunal de Contas (2011) referem ainda, com base

na evidência empírica encontrada por Puig-Junoy (2010), que a fixação de preços

máximos reduz o grau de concorrência no preço, levando a um nível de preços de

genéricos mais elevado do que ocorreria na ausência de regulação.

2.4.3 As baixas administrativas de preços

O regulador pode ainda intervir nos preços dos medicamentos através do

mecanismo de baixa administrativa dos preços. O recurso a este mecanismo tornou-se

comum em Portugal a partir de 2005, justificado com a necessidade de controlar os

custos do Estado com a saúde e melhorar o acesso dos consumidores ao medicamento.

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Neste contexto, o Tribunal de Contas (2011) e Pinto (2014) destacam as

seguintes baixas (recentes) administrativas de preços:

2005 - Portaria n.º618-A/2005: redução do PVP de todos os medicamentos em

6%, com exceção dos comercializados por empresas que tenham desenvolvido

I&D no valor mínimo de cinco milhões de euros, e define margens máximas de

comercialização;

2007 - Portaria n.º 30-B/2007: nova redução de 6% nos PVP de todos os

medicamentos;

2008 - Portaria n.º 1016-A/2008: redução em 30% do PVP máximo dos genéricos

com preço superior a 5 euros;

2010 - Portaria n.º 1041-A/2010: redução dos preços dos medicamentos

comparticipados em 6%;

2011 - Decreto-Lei n.º 112/2011: alteração da margem de lucro dos grossistas e

das farmácias por escalões de preço e de forma regressiva.

2.5 Evolução do mercado do medicamento em Portugal

O mercado de medicamentos em Portugal tem estado em constante evolução,

tanto ao nível do valor das vendas como em número de medicamentos, em muito

devido ao crescimento dos MG. Segundo Pereira e Vilares (2014), os MG representaram

cerca de 2/3 do mercado no ano de 2013, passando de 295 medicamentos

comercializados no mercado em ambulatório no ano 2003 para 4.103 em 2013, num

total de 6.317 medicamentos comercializados nesse mesmo ano. A penetração dos

genéricos é menos evidente, no entanto, quando se considera o valor das vendas, o que,

segundo os autores se explica pelo facto de terem preços mais baixos e tenderem a

vender, em média, menores quantidades.

Os genéricos compreendem ainda um número relativamente reduzido de SA no

mercado português, em particular, porque muitos medicamentos de marca ainda se

encontram protegidos por patente (Pereira e Vilares, 2014). Por outro lado, os

medicamentos que não concorrem com os genéricos, apesar de representarem apenas

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1/5 dos medicamentos registados, detêm cerca de metade do mercado em termos de

valor (Pereira e Vilares, 2014).

O mesmo estudo salienta o elevado dinamismo do mercado, que se traduz em

importantes fluxos de entrada e saída de medicamentos. Os autores ilustram esta

característica com o facto de que, dos medicamentos que constituíam o mercado em

2003, apenas cerca de 50% ainda aí permanecerem em 2013, representando em 2014

somente 1/4 do valor das vendas (Pereira e Vilares, 2014). Os autores deste estudo

consideram ainda que, a importância destes fluxos reflete a forte expansão dos

genéricos no mercado português, o aparecimento de novas SA relativamente mais

eficazes, e as estratégias de posicionamento no mercado por parte da indústria

farmacêutica.

No que diz respeito à estrutura do mercado dos medicamentos, o mesmo estudo

indica que a penetração de genéricos tende a estar associada, em média, a um menor

consumo de cada apresentação substituta, e como tal, esta realidade aponta para o

efeito da concorrência de genéricos, ao transformar o monopólio legal vigente num

oligopólio ou em concorrência monopolística, sendo este fenómeno mais evidente à

medida que novos medicamentos entram no mercado (Pereira e Vilares, 2014). Assim,

ainda de acordo com o estudo supracitado, este resultado pode refletir também a

dinâmica de substituição de medicamentos mais antigos por inovadores, e neste

sentido, os medicamentos mais antigos presentes no mercado, além de tenderem a

enfrentar a concorrência dos genéricos, podem conter SA que já não se encontram na

fronteira do conhecimento biomédico, e consequentemente tendem a ser substituídas

por outras com resultados terapêuticos mais eficazes.

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2.6 A entrada de medicamentos genéricos e o seu impacto na intensidade

concorrencial do mercado

A entrada dos MG no mercado, a possível substituição por parte dos

consumidores dos MR por estes, e os seus restantes impactos, são o ponto fulcral de

muitas das análises que se realizam sobre o mercado dos medicamentos. Segundo

Bernard (2011), durante anos, as empresas detentoras de genéricos e MR têm

concorrido em mundos praticamente distintos, separados pela proteção de patentes e

por uma grande disparidade de preços. No entanto, na última década, estes dois

mundos colidiram para originar um novo espaço que o autor denomina de “Braneric

Competition”. De acordo com o mesmo autor, existem três fatores competitivos que dão

origem a esta fusão: (1) Duração competitiva: historicamente, os detentores de MR

promoviam os seus produtos apenas até à data de expiração da patente, momento em

que várias versões genéricas entram no mercado, mas agora têm de continuar a

promoção dos seus medicamentos muito tempo depois dessa data; (2) Convergência

corporativa: anteriormente a maioria das empresas ou se focava exclusivamente na

comercialização de MR, ou na comercialização de genéricos, contudo, atualmente as

empresas estão cada vez mais a comercializar os dois tipos de medicamentos. O autor

dá o exemplo prático da Novartis, que criou a divisão Sandoz dedicada apenas à

comercialização de genéricos; e por último (3) Comercialização híbrida: que acontece

pelo facto das empresas de MR e MG adotarem muitas das abordagens comerciais umas

das outras, sendo isto resultado do cruzamento das empresas e da intensificação da

concorrência (Bernard, 2011).

A literatura (ver Grabowski e Vernon (1992), entre outros) mostra que há uma

tendência para que os preços dos MR aumentem até que o primeiro MG entre no

mercado e que, posteriormente à entrada dos genéricos, haja uma queda nos preços de

venda dos MR e das suas QM, fruto da forte concorrência proveniente dos genéricos.

Pela literatura, verifica-se também que elevadas receitas dos MR atraem a entrada de

mais genéricos, levando à consequente diminuição dos seus preços e QM. Assim,

percebe-se que a relação custo-benefício dos MG representa uma forte vantagem

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competitiva face aos seus concorrentes, embora essa vantagem competitiva possa ficar

limitada no momento de prescrição ou dispensa de um medicamento.

De acordo com um estudo da IMS Health (2015), a confiança na marca ou no

produtor do medicamento também tem uma grande influência no processo da tomada

de decisão dos médicos na adesão ao regime de tratamento e nas visões subjetivas

sobre os resultados terapêuticos, e como tal, consideram que a confiança de todos os

profissionais de saúde é fundamental para o crescimento dos MG no mercado. Segundo

Figueiras et al. (2008) o motivo mais forte para a prescrição de um genérico é o custo,

enquanto, na prescrição de um MR, a sintomatologia apresentada pelo utente e o tipo

de tratamento são os motivos mais fortes para a sua escolha. Os autores referem ainda

que a idade dos pacientes e o seu poder económico também influencia a decisão dos

médicos e farmacêuticos.

Conforme a APOGEN e outras instituições relacionadas com este mercado, os

MG são produzidos em fábricas controladas de acordo com as “Boas Práticas de Fabrico”

(GMP) e cumprem exatamente as mesmas normas de qualidade, segurança e eficácia

que todos os outros medicamentos. Porém, alguns médicos expressam a preocupação

de que os MG não possuem a mesma segurança e eficácia, dado que estes

medicamentos, por vezes, não são completamente equivalentes aos seus originais, visto

que apesar do princípio ativo ser igual, a formulação (outros materiais que compõem o

medicamento) pode ser muito diferente. Isto pode levar a diferentes taxas de absorção

no organismo dos consumidores, e assim sendo, o genérico poderá ser menos eficaz

relativamente ao MR.

Posto isto, alguns médicos podem ter tido más experiências com os genéricos

devido a essas adversidades ou mesmo por queixas dos seus pacientes, e nesses casos

a escolha da marca passa a ser uma prioridade.

Por outro lado, a expiração de uma patente não conduz necessariamente ao

aumento da concorrência. Statman (1981) refere que os medicamentos são

comercializados por marcas, que são marcas registadas, e que ao contrário das patentes,

as marcas comerciais podem ser renovadas indefinidamente enquanto são usadas no

mercado. Os produtores de genéricos de um medicamento que perdeu a sua proteção

podem comercializá-lo pelo seu nome genérico ou com um novo nome de marca, mas

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o nome da marca do produtor de origem é protegido contra a utilização por outros.

Assim, o autor considera que, se o produtor original criou uma forte fidelidade à marca,

neste caso, a expiração da patente pode resultar em nenhuma mudança na posição da

marca do medicamento original. Sob tais circunstâncias, o declínio da vida de patentes

não é significativo, porque as barreiras à entrada de concorrentes sob a forma de

proteção de patente são simplesmente substituídas por uma barreira na forma de uma

marca registada juntamente com a forte lealdade à marca (Statman, 1981).

Cook (1998) considera que os produtores de MG competem de uma forma mais

intensa em função do preço relativamente aos produtores de MR, que competem com

base na qualidade e noutras diferenças existentes entre os dois tipos de medicamentos,

e que a competição neste mercado assume claramente três formas: concorrência entre

MR, entre estes e os MG, e ainda concorrência entre genéricos.

Cook (1998) destaca ainda que a entrada dos genéricos pode ser atrasada

quando um medicamento contém um princípio ativo muito poderoso que se pode

tornar nocivo para o corpo humano caso absorva muita quantidade num muito curto

período de tempo. Como tal, os fabricantes desse genérico têm maior dificuldade em

obter a AIM (Cook, 1998). A autora dá como exemplo o caso do medicamento Imuran

da SA Azatioprina que, embora tenha perdido a proteção da patente em 1979, a

aprovação do primeiro genérico deu-se apenas 17 anos depois, em 1996.

2.6.1 Determinantes da entrada

Uma empresa de genéricos, para decidir se entra ou não num mercado

farmacêutico, tem que formar uma expectativa dos lucros esperados, tendo em conta

as características da procura, da oferta (outros candidatos), e a incerteza relativa à

regulação. Considerando os custos fixos de entrada, a empresa apenas escolherá entrar

se for esperada uma margem de lucro sobre os custos variáveis e uma quantidade

vendida suficientemente grande para cobrir os custos fixos (Scott-Morton, 2000).

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23

Nesta perspetiva, pode-se esperar que, quanto maior for o lucro esperado, maior

será o número de produtores de genéricos a entrar no mercado. O lucro em cada

mercado tem sido aproximado pela dimensão do mercado (em termos do volume de

vendas) em muitos trabalhos. Esta aproximação fundamenta-se na ideia de que, uma

vez que os custos marginais de produção na indústria farmacêutica são baixos, será de

esperar uma correlação entre lucro e receita.

Diversos estudos empíricos têm analisado os determinantes da entrada de

genéricos após a expiração das patentes. A maior parte destes trabalhos centra-se no

mercado norte-americano após o ano 1984, ano em que entrou em vigor a Lei “Drug

Price Competition and Patent Term Restoration Act”, mais conhecida por Lei Hatch-

Waxman, com o objetivo de facilitar a entrada de MG, incentivando a concorrência no

mercado dos medicamentos.

Em geral, os trabalhos desenvolvidos reportam a dificuldade de penetração dos

MG, a qual é explicada por fatores como a forte notoriedade da marca, e a

insensibilidade dos médicos em prescrever produtos genéricos, mais baratos. Este

comportamento é consistente com o modelo teórico proposto por Schmalensee (1982),

que demonstra que o comportamento do comprador racional, perante informação

imperfeita sobre a qualidade do produto, pode dar vantagens duradouras às marcas

pioneiras. Efetivamente, no momento da entrada de um genérico no mercado, vários

consumidores têm receio da qualidade e da eficácia do produto. Schmalensee (1982)

considera que esta desconfiança também existe quando as marcas pioneiras são

introduzidas no mercado, contudo estas marcas têm a vantagem de entrarem primeiro

e, quando executam a sua função de forma satisfatória, se tornarem o padrão contra o

qual os futuros concorrentes terão que competir.

Segundo Grabowski e Vernon (1992), um comportamento semelhante ocorre

aquando da introdução do medicamento original, o que dificulta a tarefa dos produtores

de genéricos que têm de convencer os consumidores a adquiri-los em detrimento dos

MR, concluindo que, esta tarefa se torna difícil, visto que os consumidores podem ter

uma forte ligação com o seu medicamento.

Masson e Steiner (1985) realizaram uma análise no período inicial após as novas

leis de substituição. Encontraram evidência de que estas novas leis aumentaram, de

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facto, a sensibilidade dos preços no mercado e a quantidade de utilização dos genéricos.

No entanto, os autores também observaram um surpreendente grau de fidelidade à

marca para marcas pioneiras no mercado. Numa amostra de 45 medicamentos

verificaram que os genéricos representaram apenas 23,3% das prescrições.

Hudson (2000) utilizou dados da IMS, e escolheu, como variáveis a analisar, o

preço e o volume de vendas dos MR, e as idades destes e dos genéricos (no caso dos

genéricos a idade refere-se ao número de meses a que estão no mercado). Enfatiza no

seu estudo a importância da dimensão do mercado (associado ao volume de vendas)

como principal determinante da entrada de genéricos. O autor explica que tanto a

entrada de genéricos, como o intervalo de tempo entre a expiração da patente e a

entrada destes estão diretamente ligados à dimensão do mercado. Por outro lado, antes

de um MG poder ser comercializado, necessita de realizar vários testes, logo se a

empresa produtora de genéricos conseguir realizar esses testes antes da expiração da

patente (benefício proveniente da Lei de 1984), a sua entrada no mercado irá ser mais

rápida do que no caso em que só possa realizar os testes após a expiração da patente

(Hudson, 2000).

Vários resultados interessantes foram obtidos no estudo de Bae (1997). Este

autor trabalhou dados relativos a 81 medicamentos que perderam a proteção da

patente entre o ano de 1987 e 1994 nos EUA, com o intuito de analisar a velocidade e a

probabilidade da entrada de genéricos. Introduziu como variável explicativa o grau de

concorrência no mercado, e os seus resultados mostram que a indústria de genéricos

tem como alvo produtos que envolvem grandes receitas, sendo um resultado intuitivo

que confirma resultados de outras pesquisas: medicamentos que geram mais receitas

atraem mais concorrentes. Bae (1997) encontrou coeficientes negativos e altamente

significativos das variáveis de receitas de vendas dos MR protegidos por patente e o

tempo para a entrada de genéricos, confirmando assim que medicamentos originais

bem-sucedidos comercialmente, são mais propensos a enfrentar a concorrência dos

genéricos do que medicamentos com menor sucesso dentro do mercado.

O autor constatou ainda que as entradas de genéricos tendem a ser mais lentas

para os medicamentos que têm ou muitas marcas concorrentes ou muito poucas no

mercado. A análise de regressão através de modelos de duração realizada pelo autor

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indica que o desenvolvimento de produtos no mercado de MG diminuiu no período de

tempo considerado, apesar das muitas mudanças que se destinavam a facilitar uma

entrada mais rápida. Segundo o autor, como este período de tempo (1987-1994) foi

marcado por uma grande volatilidade da indústria de genéricos, é difícil determinar

quais os principais fatores e em que medida eles foram responsáveis pela desaceleração.

Conclui que medicamentos que tratam principalmente sintomas crónicos tendem a

entrar mais rapidamente do que os tipos de medicamentos que tratam principalmente

doenças agudas, e que uma maior estabilidade da procura poderá ser um fator que atrai

a entrada dos genéricos mais para os medicamentos associados a doenças crónicas do

que a medicamentos associados ao tratamento de doenças agudas (Bae, 1997).

Relativamente às características dos mercados mais favoráveis à entrada de

genéricos, assim como Bae (1997), também Scott-Morton (1999) considera que os

mercados mais atrativos para os produtores de genéricos são aqueles que geram mais

receitas e que tratam doenças crónicas, mas acrescenta também os mercados para os

medicamentos com mais vendas hospitalares.

Scott-Morton (1999) obtém resultados que fornecem evidência de que os lucros

por empresa entram em declínio à medida que o número de empresas no mercado

aumenta, concluindo que as empresas de produtos genéricos que pretendem entrar no

mercado devem formar expectativas sobre os planos de entrada de outras empresas

concorrentes, de modo a evitar entrar num mercado em que uma empresa adicional

seja suficiente para conduzir a prejuízos financeiros (Scott-Morton, 1999).

Num estudo posterior, Scott-Morton (2000) examinou as decisões de entrada de

genéricos nos EUA, considerando uma amostra de 98 medicamentos que perderam a

proteção da patente entre os anos 1986 e 1992. No seu modelo, considerou as

características do mercado que influenciam a decisão de entrada. Do lado da procura,

considerou a dimensão do mercado, aproximada pelas receitas dos produtores de MR

no ano anterior à expiração da patente, a forma do produto (injetável, tópico ou sólido),

o peso das vendas hospitalares, as possibilidades terapêuticas de substituição, e ainda

se o medicamento trata doenças crónicas. De facto, tratando-se de medicamentos

consumidos durante longos períodos, admite-se que os consumidores sejam mais

sensíveis aos preços. Do lado da oferta, considerou a estrutura do mercado, os efeitos

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da regulação e a publicidade, considerando que esta última se aplica principalmente no

início do ciclo de vida do medicamento em questão, o que é um passo importante na

expansão do seu mercado, permitindo também defender-se dos seus concorrentes. Os

resultados evidenciaram que as receitas da marca no ano antes de expirar a patente é o

fator mais importante que determina o número de genéricos que entram, e que maiores

receitas atraem um maior número de participantes. A entrada de genéricos tende

também a ser mais provável nos casos dos medicamentos comprados por hospitais e

ainda nos casos de medicamentos que tratam doenças crónicas.

Voltando à variável publicidade, Leffler (1981) afirma que esta tem um papel

duplo no mercado farmacêutico, ou seja, enquanto informa os médicos sobre a

existência e as características do novo medicamento, vai produzindo efeitos a favor do

medicamento em questão já estabelecido no mercado. Assim, a variável publicidade

acelera o crescimento do novo MR, e ao mesmo tempo faz retardar a entrada dos seus

substitutos genéricos (Leffler, 1981).

Assim como Scott-Morton (1999; 2000), também Ellison e Ellison (2011)

enfatizam que um medicamento de sucesso está mais suscetível de enfrentar uma maior

concorrência no mercado. Ilustram com o exemplo de um medicamento de sucesso

como o Prozac que, quando viu a sua patente expirar, enfrentou uma entrada segura e

rápida (18 meses) do primeiro genérico. Este medicamento enfrentou a concorrência de

21 substitutos genéricos, e como consequência, perdeu 80% do seu mercado (Ellison e

Ellison, 2011).

Ellison e Ellison (2011) consideram que há vários tipos de investimentos que as

empresas instaladas podem fazer para dificultar, ou até mesmo impedir, a entrada de

concorrentes, revendo-se no estudo efetuado por Scott-Morton (2000). Por um lado, as

marcas podem baixar os preços. Baixando os preços, as marcas forçam os genéricos a

entrar com preços ainda mais baixos, o que pode tornar a entrada no mercado inviável

ou economicamente desinteressante. Por outro lado, as marcas podem fazer

publicidade com o objetivo de manter as suas QM. Dada a relação de agência que

caracteriza este mercado, poderão ser particularmente eficazes as campanhas dirigidas

aos profissionais de saúde.

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De acordo com os autores, a importância da publicidade no mercado dos

medicamentos é ilustrada com o facto de, muitas vezes, as empresas gastarem mais em

publicidade/marketing do que em I&D. Afirmam que podem existir dois principais meios

de publicidade, sendo eles as visitas de representantes de vendas de medicamentos aos

consultórios dos médicos, visto que são agentes importantes e muito influentes no

processo de prescrição dos medicamentos, e ainda publicidade colocada diretamente

em jornais ligados à medicina, que são constantemente alvo de atenção por parte dos

profissionais da área da saúde.

Outro fator que dificulta a entrada dos genéricos no mercado é a variedade de

formas farmacêuticas e dosagens que, apesar de receber pouca atenção, é um potencial

meio de criar barreiras à entrada, visto que será mais dispendioso para as empresas

concorrentes replicarem a linha completa do medicamento em questão (Ellison e

Ellison, 2011).

O efeito da regulação é também focado em vários trabalhos empíricos. Segundo

Ellison e Ellison (2011), antes da Lei introduzida em 1984 no mercado norte-americano,

todos os medicamentos tinham tendência para conseguir manter a sua posição de

monopólio durante um longo período de tempo, até mesmo após a expiração da

patente. No entanto, e em acordo com outros autores e os seus estudos, também estes

autores consideram que a Lei de 1984 reduziu barreiras regulatórias à entrada dos MG,

facilitando a entrada destes, o que levou à expansão destes fármacos e à consequente

subida das suas QM.

Cook (1998) indica que existem três fatores que estão por detrás do aumento

das vendas dos MG nos EUA. Em primeiro lugar, a Lei Hatch-Waxman. Em segundo, a

aprovação das leis de substituição de medicamentos, permitindo que os farmacêuticos

dispensassem genéricos. E por último, alguns programas relacionados com a saúde do

Governo, como o Medicaid, que promoveram ativamente o consumo de MG.

De seguida, a tabela 1 resume os principais trabalhos empíricos revistos, os

fatores neles considerados e os efeitos encontrados.

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Tabela 1 – Quadro resumo dos determinantes, autores e os seus resultados

Determinantes Autores Efeito

Dimensão do Mercado Cook (1998) e Hudson (2000)

+

Receitas dos MR Bae (1997); Scott-Morton (1999;2000);

Hudson (2000); e Ellison e Ellison (2011)

+

Tratamento de doenças crónicas

Bae (1997) e Scott-Morton (1999; 2000)

+

Muitas ou poucas marcas concorrentes

Bae (1997) −

Vendas para o Mercado hospitalar

Scott-Morton (1999;

2000)

+

Número de apresentações das marcas

Ellison e Ellison (2011) −

Estratégias de preços Scott-Morton (2000) e Ellison e Ellison (2011)

Fonte: Elaboração própria

2.6.2 Impacto da entrada de genéricos na intensidade da concorrência

A análise do impacto da entrada de MG no mercado dos medicamentos após a

expiração das patentes tem merecido bastante atenção da literatura (ver, por exemplo

Caves et al. (1991) e Statman (1981)). Um dos tópicos que tem suscitado mais interesse

refere-se aos efeitos do aumento da concorrência nos preços, sendo o mercado dos

produtos farmacêuticos apontado frequentemente como um exemplo particularmente

extremo de vantagem de preço para os “first-movers” (Grabowski e Vernon, 1992).

De acordo com Statman (1981), a diminuição da vida útil das patentes de

medicamentos só tem sentido se a pressão competitiva for exercida no momento da

expiração da patente. Se a pressão competitiva aumentar após a expiração da patente,

segundo o autor, podemos esperar uma queda na receita das vendas do fármaco

original, assim como a entrada de produtores de genéricos forçando o produtor da

marca original ou a reduzir o seu preço, ou a enfrentar a perda de QM.

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Grabowski e Vernon (1992) analisaram o impacto da entrada de genéricos nos

EUA considerando uma amostra de 18 MR que ficaram expostos à concorrência entre

1983 e 1987, tendo concluído que estes medicamentos perderam percentagens

significativas de QM para os genéricos, consequência da perda de cerca de metade das

vendas após dois anos da entrada destes medicamentos. Concluíram ainda, através de

uma análise econométrica dos determinantes da entrada de genéricos, que não existem

barreiras à entrada significativas no mercado, e que após a entrada dos genéricos, os

preços médios destes movem-se numa trajetória descendente acentuada ao longo do

tempo (os preços descem para 78% do seu valor inicial no final do primeiro ano e 65%

no final do segundo ano após a entrada). E, como esperado, verificou-se que os MG com

menores preços alcançaram maiores QM. Curiosamente, as empresas detentoras dos

MR não tentaram impedir a entrada através de estratégias de preços. Pelo contrário, na

maioria dos casos, apesar das perdas de QM, as empresas continuaram a aumentar os

seus preços à mesma taxa praticada antes da entrada dos concorrentes, e como tal, os

preços dos MR evoluíram em sentido contrário, sendo 11% mais elevados dois anos após

a entrada dos genéricos (Grabowski e Vernon, 1992).

Hudson (2000) também concluiu que a perda de QM após a entrada de genéricos

é grande nos EUA. No entanto, Statman (1981) selecionou uma amostra de 12 “grandes”

medicamentos (com receitas muito elevadas) com o objetivo de examinar o efeito da

expiração da patente sobre as QM e os preços no mercado norte-americano, e os

resultados obtidos indicaram que a expiração da patente tem, pelo menos para os

primeiros anos, apenas um pequeno efeito sobre as QM e os preços dos medicamentos

originais.

Caves et al. (1991) efetuaram uma análise exploratória dos padrões de

concorrência em torno da expiração da patente e posterior entrada de genéricos para o

mercado dos EUA. Identificaram os padrões exibidos pelos MR e genéricos (preços, QM

e volumes de vendas, bem como a publicidade dos MR entre os anos 1976-1987) para

uma amostra de 30 medicamentos que perderam a proteção da patente durante esse

período.

Neste estudo foram examinados os efeitos da entrada dos genéricos sobre os

preços dos mesmos, bem como sobre os preços dos respetivos MR. Segundo os autores,

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este estudo tem interesse por várias razões. Em primeiro lugar, sob a suposição razoável

de que os custos marginais de produção de genéricos são semelhantes aos do

medicamento original, os preços dos genéricos fornecem um limite superior do nível dos

custos marginais. Assim, o nível de preços dos genéricos pode dar informações sobre o

nível das margens preço-custo existentes durante o período em que as vendas de um

medicamento são protegidas por patente. Segundo os autores, o nível de preços dos

genéricos também permite avaliar a extensão das reduções no preço dos MR causados

pela entrada dos genéricos em relação à margem preço-custo antes da entrada. Outra

questão de interesse refere-se ao grau de diferenciação dos produtos presentes neste

mercado. Para os autores é evidente que o diferencial de preços entre MR e respetivos

genéricos podem fornecer informações sobre o nível de diferenciação entre os MR e

genéricos (Caves et al., 1991).

Os autores encontraram também uma considerável regularidade no

comportamento dos produtores de MR, que enfrentam a chegada de concorrentes, e

nos efeitos dos concorrentes sobre os preços de mercado e quantidades vendidas. O

preço do MR diminui com o aumento do número de MG no mercado. A sensibilidade do

preço do medicamento original diminui com entradas sucessivas de genéricos, caindo

cerca de 2 pontos percentuais após a primeira entrada, e 22 pontos percentuais com

vinte concorrentes genéricos presentes no mercado. Foi encontrada evidência de que

os preços dos MR sobem após a expiração da patente, contudo apenas sobem até que

um concorrente genérico entre no mercado.

Tipicamente, os produtores de genéricos entram no mercado com preços muito

mais baixos do que aqueles dos seus concorrentes de marca, no entanto esses preços

também tendem a diminuir à medida que o número de MG aumenta. Conforme os

autores, o efeito da entrada de concorrentes genéricos adicionais é visivelmente mais

forte sobre os preços dos genéricos do que os de marca. Além do preço, outra variável

de decisão dos produtores de MR é o nível de despesas de promoção das vendas, que

também diminuem com a entrada de genéricos (Caves et al., 1991).

Frank e Salkever (1992) também partiram da suposição de que os custos

marginais de produção de genéricos são semelhantes aos do medicamento original,

desenvolvendo um modelo que mostra que o aumento dos preços dos MR, decorrentes

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da entrada de genéricos no mercado, pode ser explicado pelo comportamento otimista

do produtor do MR. Partindo do pressuposto de que os custos marginais de produção

de medicamentos são aproximadamente constantes, a análise do modelo básico indica

que uma condição necessária para esses aumentos de preços é que a entrada de

genéricos leve a uma diminuição na elasticidade preço da procura dos medicamentos

de marca (Frank e Salkever, 1992).

Além do seu efeito principal, que se trata da queda nas receitas dos produtores

de MR, a entrada dos MG também pode ter um pequeno efeito positivo sobre os

incentivos à inovação. Cook (1998) refere que vários economistas evidenciaram que um

monopolista pode ter a tendência para descansar sobre os lucros, e assim poderá ter

um incentivo para pesquisar e desenvolver novas formulações e novos medicamentos

que vão competir diretamente com os seus medicamentos atualmente comercializados,

sendo este fenómeno conhecido como o efeito substituição (Cook, 1998). No entanto,

a autora assinala que apenas existe um número limitado de casos em que este efeito é

forte o suficiente para compensar o declínio direto nas receitas, proveniente da entrada

dos genéricos.

Embora as empresas continuem a desenvolver medicamentos em áreas

terapêuticas onde são líderes de mercado, também investem em áreas onde poucos

medicamentos existem e onde os consumidores podem beneficiar de novos

medicamentos, sendo precisamente nestas áreas que o efeito substituição não está

presente (Cook, 1998).

Cook (1998) elabora no seu estudo uma análise, onde enfatiza o antes e o após

a Lei de 1984 para quatro parâmetros no mercado norte-americano. Concluiu assim que,

antes da Lei entrar em vigor, o período de proteção da patente era em média 11 anos e

passou a ser de 13,8 anos. O tempo entre a expiração da patente e a entrada do genérico

passou de 3 anos a 1,2 meses, e a probabilidade da entrada de genéricos aumentou de

40% para 91,5%. Por último, as QM dos MG após o primeiro, segundo e terceiro ou mais

anos da entrada no mercado, eram de 2,4%, 5,1% e 5,1% respetivamente, e após a Lei

entrar em vigor, as QM passaram a ser de 40%, 50% e 60% respetivamente. Assim,

percebe-se o fraco impacto causado sobre as QM dos MR para os primeiros anos após

a entrada dos genéricos no estudo de Statman (1981), visto que este autor realizou o

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seu trabalho com medicamentos cuja patente expirou antes da Lei de 1984 entrar em

vigor no mercado norte-americano, e portanto, através das conclusões destes dois

estudos é possível destacar as grandes diferenças existentes entre o período antes e o

após da introdução da famosa lei nos EUA.

Magazzini et al. (2004) utilizaram dados da IMS Health para 4 países (EUA, Reino

Unido, Alemanha e França), de onde retiraram uma amostra de 269 SA para análise

entre o período de 1987 a 1998, tendo encontrado evidência, assim como Bae (1997) e

Scott- Morton (1999), de que elevadas margens e volume de vendas atraem a entrada

de MG. Pelo contrário, a existência de muitos produtos patenteados é um obstáculo

para a difusão de genéricos, ou seja, quanto maior a QM de produtos patenteados

menor a difusão de genéricos (Magazzini et al., 2004). Verificaram também a existência

de diferenças significativas entre os países analisados, explicadas em grande medida

pelas diferenças no processo de formação dos preços. Ou seja, em países em que os

preços são administrativamente fixados, verificaram que a difusão dos genéricos é

bastante limitada, mesmo no longo prazo. À semelhança de Frank e Salkever (1992),

também Magazzini et al. (2004) encontraram evidência de que nos EUA os preços

praticados pelos MR crescem substancialmente no período antes e após a expiração da

patente, enquanto os países europeus, à exceção de França, são caracterizados por

descidas substanciais ao longo do tempo.

Os autores destacam ainda que as políticas de apoio à concorrência, ou seja,

políticas que visam apoiar a concorrência em preços, parecem ser eficazes após a

expiração da patente. O exemplo perfeito dessa dinâmica parece encontrar-se nos EUA,

onde os preços dos medicamentos originais sobem ao longo do tempo e também após

a expiração da patente, e os produtores de genéricos ganham continuamente QM

vendendo os seus produtos com um desconto de preço significativo (Magazzini et al.,

2004).

Huckfeldt e Knittel (2012) apoiaram-se em estudos de caso, modelos de estudo

e dados provenientes do Medical Expenditure Panel Survey (MEPS), com o intuito de

analisarem e estimarem os efeitos relacionados com a entrada de genéricos sobre os

preços e utilização de medicamentos de grupos terapêuticos que tratam a hipertensão,

colesterol elevado, depressões e diabetes do tipo 2 para o mercado norte-americano.

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Assim como outros autores referidos anteriormente, também Huckfeldt e Knittel

(2012) referem que o aumento do número de MG no mercado norte-americano deve-

se em grande parte à introdução da Lei Hatch-Waxman de 1984 que, segundo os

autores, reduziu de forma considerável os custos fixos associados à entrada dos

genéricos. Na sequência da introdução desta Lei, os MR passaram a enfrentar uma

concorrência feroz logo após o fim da patente (Huckfeldt e Knittel, 2012).

No seu estudo, os autores encontraram decréscimos nos preços para as

moléculas, cujo genérico entrou no mercado, aliado à redução da percentagem das QM

dos MR. Evidenciam ainda que dois anos após a entrada dos genéricos, os preços destes

estão entre 5 a 10 pontos percentuais abaixo dos preços aquando a sua entrada. Como

consequência, neste caso benéfica, verificaram que as despesas dos consumidores se

tornaram 15% mais baixas.

Relativamente à utilização dos medicamentos, concluem ainda que desde os dois

anos antes da entrada do genérico até aos dois anos posteriores, a utilização do MR cai

em média quase 50%. Esta queda da utilização do medicamento antes da entrada do

genérico é associada à entrada de reformulações desse mesmo medicamento, que leva

a que durante esse período os consumidores optem pelas novas formulações em

detrimento das antigas.

Simoens (2012) considera a opção pelo consumo de genéricos em substituição

dos MR um método chave para os governos de todos países, pois permite-lhes reduzir

os custos com medicamentos, visto que comparticipar genéricos envolve custos

menores do que comparticipar MR. Como tal, torna-se mais fácil para cada governo

manter o seu SNS mais estável. No seu estudo, este autor conclui que os preços dos MG

variam substancialmente entre os países europeus (os preços mais baixos praticados

encontram-se nos países nórdicos), o que implica que os preços, segundo o mesmo, não

refletem somente os custos de produção subjacentes, mas também a influência do

ambiente político em que cada país está inserido, nomeadamente a regulação dos

preços. Assim, o autor considera que a entrada de genéricos é melhor sucedida em

países cujo preço de mercado é livre, e onde a concorrência em preços é mais forte, ao

contrário de países onde o preço é regulado.

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Simoens (2012) destaca no seu estudo as principais diferenças entre o mercado

livre e o mercado regulado. O autor indica que um mercado livre pode levar a preços

mais elevados, podendo os produtores dos MR cobrar preços bastante superiores tanto

antes como após a expiração das patentes, originando a tendência para diferenças de

preços entre medicamentos originais e genéricos maiores relativamente ao mercado

regulado. Contudo, o mercado livre também estimula a concorrência entre MR e

respetivos genéricos, e ainda entre os genéricos, originando a queda de preços. Já num

mercado com regulação de preços, o autor refere que não existem incentivos por parte

dos produtores em baixar os preços para além do preço definido pelo governo de cada

país. Nestes casos, os governos fixam os preços dos MR em função do seu ciclo de vida,

encorajando assim a entrada de MG e os produtores dos MR a criar novas formulações

(Simoens, 2012).

2.7 Sistema de Preços de Referência, regulação de preços e a penetração de

genéricos

A entrada de MG influencia toda a estrutura do mercado de medicamentos e a

forma como este se desenvolve. Estes medicamentos, além de serem substitutos dos

seus MR, apresentam uma relação custo-benefício muito elevada, visto que os genéricos

têm a vantagem de serem comercializados a preços inferiores e apresentam os mesmos

resultados terapêuticos que os respetivos medicamentos originais. Esta vantagem

económica é reforçada, no caso dos utentes, pelo SPR9. Este sistema assenta no princípio

de uma comparticipação de valor fixo por parte do SNS (valor do preço de referência),

sendo a parte que excede esse valor suportada pelo utente (Infarmed, I.P.). O sistema

foi introduzido em Março de 2003, com o objetivo de fomentar a concorrência dos

genéricos, como forma de promover a contenção racional de aumento da despesa

farmacêutica (Portela, 2009).

9https://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUMANO/GENERICOS/ARTIGOS_OPINIAO/AF_TESTEMUNHO_NET_1.pdf

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35

O SPR é baseado em medicamentos de grupos homogéneos e apenas afeta os

medicamentos para os quais existem genéricos concorrentes comercializados. Cada

grupo homogéneo é constituído por medicamentos com a mesma composição de SA.

Portanto, a formação de um grupo homogéneo é sujeita ao princípio de medicamentos

com o mesmo efeito terapêutico, isto é, medicamentos que têm a mesma dosagem de

SA e as dimensões da embalagem semelhante (Portela, 2009).

Barros e Nunes (2011) e Portela (2014) definem o SPR como um instrumento

financeiro eficiente que pode promover a sensibilidade de preços no consumidor. Barros

e Nunes (2011) afirmam que a introdução desta medida leva a que na margem os

consumidores ganhem diretamente com as quedas dos preços, tornando-os mais

sensíveis a estes. Esta sensibilidade, explicam os autores, motiva as empresas

farmacêuticas que produzem os medicamentos a praticar preços mais baixos no

mercado, seja com o objetivo de manter os níveis das suas QM, ou conquistar mercado

às empresas que o dominam.

Assim como outros autores o referiram, também Portela (2014) considera que

este sistema promove reduções ao nível dos gastos dos medicamentos e nos seus

preços, tendo um impacto positivo na QM dos MG. É esperado que tenha um maior

impacto na despesa em países onde há uma diferença considerável de preços entre MR

e respetivos genéricos, contudo, devido ao facto de existirem diferentes mercados

farmacêuticos, o SPR não é capaz de assegurar um nível consistente de contenção de

custos (Portela, 2014). Barros e Nunes (2011) concluíram que o SPR teve um sucesso

moderado quando confrontado com os objetivos que dizem respeito ao acesso aos

medicamentos e à sustentabilidade do sistema. Já relativamente aos efeitos da redução

de preços provenientes de uma maior concorrência no mercado, segundo os autores,

estes esgotaram-se de forma rápida e o impacto na despesa agregada de medicamentos

foi de pouca duração.

Portela (2009) realizou uma análise descritiva, retrospetiva e longitudinal, com

observações mensais de Janeiro de 2000 até Dezembro de 2005, de 15 grupos

homogéneos em Portugal através de dados recolhidos do Infarmed, I.P., concluindo que

a estrutura do mercado se alterou com a introdução do SPR. Encontrou um número

crescente de MG (de 4 ± 3 a 7 ± 4; média ± desvio padrão) e uma diminuição no HHI

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(Índice de Herfindahl-Hirschman) para o segmento de mercado dos genéricos (a partir

de 0,7 ± 0,2 a 0,6 ± 0,3). Constatou também uma correlação negativa entre essas

variáveis que aumentou após a introdução do sistema (de -0,6 a -0,8). O HHI para as

marcas e posições dominantes permaneceram inalterados. Assim sendo, após a

implementação do sistema, o aumento da concorrência foi principalmente

impulsionado pelos agentes económicos e sociais no segmento de mercado dos

genéricos, mas não no segmento de mercado das marcas (Portela, 2009).

Mais recentemente, Galizzi et al. (2011) elaboraram também um estudo, para os

países pertencentes à OCDE, com o objetivo de fornecer uma pesquisa sistemática e

atualizada sobre o efeito da introdução de preços de referência. Os autores concluiram

que os preços de referência estão geralmente associados a uma diminuição dos preços

dos medicamentos sujeitos a essa política. Em particular, as quedas de preços parecem

ter ocorrido em praticamente todos os países que implementaram o SPR. Também

constataram que as diminuições de preços mais significativas foram observadas nos sub-

mercados em que os medicamentos já enfrentavam a concorrência de genéricos antes

da implementação do SPR, e que a queda dos preços variou muito de acordo com a

quantidade de MG existentes no mercado e estratégias industriais. Por último,

concluíram ainda que as QM dos genéricos aumentaram significativamente sempre que

as empresas que produzem MR não adotaram uma das seguintes estratégias: reduzir os

preços para os valores de preço de referência e lançamento de novas dosagens e/ou

formulações (Galizzi et al., 2011).

Além da existência do SPR, também permanece no mercado um sistema de

regulação de preços, que pode ser definido como o preço máximo a que os produtores

podem cobrar os seus medicamentos (Brekke et al., 2011). Danzon e Chao (2000)

consideram que a maioria dos países regula os preços dos medicamentos, direta ou

indiretamente, partindo do pressuposto de que na melhor das hipóteses a concorrência

é fraca nesta indústria, devido a diversos fatores: (i) as patentes, que limitam

intencionalmente a concorrência e levam a uma diferenciação do produto que pode ser

intensificada pela promoção do medicamento; (ii) os seguros, que fazem com que os

consumidores se tornem menos sensíveis aos preços; e (iii) os médicos, que são os

responsáveis pela prescrição dos medicamentos e que podem não estar a par dos preços

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e da existência dos medicamentos, tornando-se agentes imperfeitos para os

consumidores.

O estudo de Danzon e Chao (2000) testa a hipótese de que a regulação dos

preços e as margens das farmácias enfraquecem a concorrência em preços. Foram

utilizados dados provenientes da IMS Health entre Outubro de 1991 e Setembro de

1992, para 7 países, com o intuito de analisarem a concorrência em preços entre marcas

e genéricos nos diferentes regimes regulatórios.

Concluíram que a concorrência em preços é significativa em mercados não

regulados ou menos regulados, visto que permitem a liberdade de preços, o que leva a

maiores percentagens de QM dos MG, e que é também nestes mercados onde há uma

maior elasticidade preço da procura (Danzon e Chao, 2000). Tal acontece em países

como os EUA, Reino Unido, Canadá e Alemanha. Relativamente a sistemas de regulação

de preços muito rigorosos, concluem que enfraquecem a concorrência em preços, como

evidencia a experiência de países como a França, a Itália e o Japão. Consideram também

que as margens de lucro reguladas nas farmácias limitam a concorrência na França, na

Alemanha e na Itália, e que estas regulações limitam o potencial de poupanças

significativas com os medicamentos cuja patente já expirou (Danzon e Chao, 2000).

Brekke et al. (2011) estudaram o impacto do sistema de regulação de preços

sobre a concorrência entre MG e MR, e compararam com o SPR que veio substituir o

sistema de regulação de preços em 2003 inicialmente para seis SA na Noruega. Usaram

dados provenientes da Farmastat entre Janeiro de 2001 e Dezembro de 2004.

Os autores compararam o sistema de regulação de preços com o SPR, tendo

chegado a três principais conclusões: (1) O preço de referência leva a reduções dos

preços de ambos os tipos de medicamentos, com o efeito a ser mais forte para os

medicamentos mais antigos, resultando num leve decréscimo nos preços relativos (são

medidos através da relação entre os preços dos MR e da média do volume ponderado

dos preços dos MG); (2) O preço de referência estimula a concorrência por parte dos

genéricos, diminuindo substancialmente o poder de mercado dos MR; e (3) O preço de

referência resulta de forma considerável em preços médios mais baixos ao nível das

moléculas, o que gera poupanças substanciais nos gastos. Assim, para os medicamentos

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cuja patente já expirou, os autores consideram que o SPR é mais favorável que o sistema

de regulação de preços.

Simoens (2009) realizou uma análise descritiva do ambiente político em torno do

mercado de retalho de MG em Portugal. A análise centra-se em medidas do lado da

oferta (acesso aos mercados, preços de referência e os reembolsos) e em medidas do

lado da procura (incentivos para a prescrição de genéricos por parte dos médicos e para

a dispensa por parte dos farmacêuticos, e ainda para o consumo por parte dos

consumidores).

O autor defende que os preços deveriam deixar de ser regulados, e portanto,

deveria deixar de haver uma diferença mínima obrigatória entre os preços dos MR e

genéricos. Deste modo, em combinação com outros incentivos para estimular a procura

por MG, as empresas produtoras destes medicamentos teriam mais incentivos para

competir, reduzindo os preços (Simoens, 2009). No entanto, o autor indica que esta

capacidade das empresas oferecerem preços competitivos só pode ser alcançada e

mantida, caso seja assegurado um alto volume de vendas no mercado, estando esta

variável pendente das medidas do lado da procura.

Assim como Simoens (2009), também Portela (2014) fez um estudo referente ao

mercado farmacêutico em Portugal, tendo como objetivo analisar o impacto do SPR nos

gastos, preços e no consumo dos medicamentos. A partir de uma amostra de

medicamentos associados a uma elevada percentagem de gastos públicos entre Janeiro

e Setembro de 2003, a autora fez observações mensais das variáveis já enunciadas,

entre Janeiro de 2000 até Dezembro de 2005, chegando à conclusão que a diminuição

dos preços nos MR foi superior à dos genéricos.

Na análise, Portela (2014) conclui também que o SPR não tem efeito sobre a

procura total pelos medicamentos, mas que a procura varia de acordo com o preço de

referência, o que se trata de um resultado inovador. Considera que este sistema pode

modificar a oferta e a procura dos medicamentos, conduzido por um aumento na

sensibilidade dos consumidores relativamente aos preços, e além do decréscimo destes,

encontrou também uma tendência dos consumidores para optarem por medicamentos

com o mesmo preço que o preço de referência e não com um preço inferior.

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A autora observou ainda um largo crescimento do número de MG e do consumo

desses medicamentos em detrimento dos MR, sendo esta uma consequência expectável

da introdução do SPR.

2.8 Conclusões

Neste capítulo foram apresentados alguns conceitos e descritas as características

particulares do mercado do medicamento que dão origem a falhas de mercado, e que

fundamentam a regulação do mesmo. Essa regulação afeta o funcionamento do

mercado e, em particular, a penetração dos MG. Um exemplo diz respeito ao facto de o

preço máximo de venda destes medicamentos ser estimado em função do preço do MR,

o que poderá levar a que os MR baixem o seu preço de tal forma a que não seja rentável

para os produtores de genéricos entrarem no mercado. Este caso torna-se mais

preocupante para os produtores de genéricos quando o preço de venda do MR já é, por

norma, baixo.

A revisão da literatura mostrou a falta de evidência empírica acerca da entrada

de genéricos em países europeus e, em particular, em Portugal. Por outro lado, permitiu

identificar possíveis fatores determinantes da entrada de genéricos, as variáveis

suscetíveis de traduzir esses fatores e os correspondentes efeitos esperados após a sua

entrada, o que gerou um maior conhecimento sobre o tema. No geral, a literatura

destaca os efeitos sobre os preços praticados, volume de vendas e QM dos MR, após a

entrada dos concorrentes genéricos. A entrada destes medicamentos é mais susceptível

de ocorrer em mercados cujas receitas/vendas são mais elevadas, e ainda mercados em

que os medicamentos tratam doenças crónicas e vendem também para o mercado

hospitalar.

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Capítulo 3 – DADOS E METODOLOGIA

3.1 Introdução

Este capítulo tem por objetivo descrever a metodologia utilizada para

responder às seguintes questões de investigação:

i. Qual o impacto da entrada de genéricos nas vendas em volume dos MR?

ii. Qual o impacto da entrada de genéricos na QM dos MR?

iii. Quais são os determinantes da probabilidade de ocorrer a entrada de genéricos

no mercado?

iv. Quais os determinantes do número de genéricos no mercado?

v. Quais são os fatores que influenciam a penetração dos genéricos no mercado

em termos de QM?

Após a apresentação dos dados, são descritas as variáveis utilizadas nos modelos.

De seguida, são apresentados os modelos econométricos e os métodos de estimação

utilizados.

Para dar resposta às duas primeiras questões de investigação, relativas ao

impacto da entrada de genéricos nas vendas e na QM dos medicamentos de marca,

desenvolvemos uma análise descritiva.

A resposta às restantes questões de investigação envolve a estimação de três

modelos econométricos, cuja especificação e variáveis a seguir se apresentam.

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3.2 Dados

Com o intuito de alcançar os objetivos enunciados, foram recolhidos e utilizados

dados não publicados fornecidos pelo Infarmed, I.P., correspondentes ao período entre

os anos 2000 e 2015, para uma amostra de 46 SA, das quais 12 não têm genérico

comercializado no mercado.

As SA que contêm genérico comercializado foram escolhidas entre as que têm

um maior número de vendas em volume, ou que representam os maiores valores com

encargos para o SNS. Para cada SA foi escolhido um MR (cuja marca não pode ser

divulgada, visto que a informação por registo e nome comercial é confidencial), sendo

que para esse medicamento foi selecionada a forma farmacêutica, dosagem, e número

de unidades por embalagem com as maiores vendas entre as várias apresentações. Os

genéricos para cada MR e respetiva SA são atualmente comercializados no mercado, e

foram escolhidos de acordo com a mesma forma farmacêutica, dosagem, e número de

unidades por embalagem que o seu MR.

Usamos também a base de dados Infomed10, disponibilizada pelo Infarmed, I.P.,

a qual foi consultada várias vezes ao longo do período de realização do estudo. A partir

desta base de dados, foram recolhidos dados sobre as datas de AIM, e também sobre o

número de genéricos comercializados para cada MR. Dado que não foi possível obter

dados concretos sobre as QM e preços dos MR e dos respetivos genéricos para o período

em análise, estas variáveis foram estimadas em função das vendas em volume e valor.

Em relação aos preços de venda, esta variável foi aproximada pelo rácio entre as

vendas em valor e vendas em volume para cada ano. No caso dos MG, será um preço

médio, visto que as vendas em volume e valor são relativas a todos os genéricos

concorrentes de cada MR. A variável QM dos MG/MR foi calculada com base nas vendas

em volume no total de vendas entre genéricos e respetivos MR para cada ano no

mercado.

10 https://www.infarmed.pt/infomed/inicio.php

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Os dados são referentes a medicamentos comparticipados e dispensados em

regime de ambulatório aos utentes do SNS e subsistemas públicos, e como tal, não

incluem medicamentos dispensados aos quais não tenha sido atribuída uma

comparticipação por parte do SNS.

A tabela 2 indica as SA incluídas na amostra em estudo, subgrupos e grupos

terapêuticos a que pertencem, e ainda se têm ou não genéricos comercializados no

mercado.

Tabela 2 - Substâncias Ativas que compõem a amostra em estudo

Grupo terapêutico Subgrupo terapêutico Substâncias Ativas Genéricos comercializados

Medicamentos Anti-infeciosos

Macrólidos Azitromicina Sim

Sistema Nervoso Central

Antiparkinsónicos Biperideno Não

Ropinirol Sim

Antiepilépticos e anticonvulsivantes

Carbamazepina Sim

Psicofármacos

Cloxazolam Não

Escitalopram Sim

Melperona Não

Mianserina Não

Mirtazapina Sim

Quetiapina Sim

Risperidona Sim

Analgésicos e Antipiréticos

Metamizol magnésico Sim

Paracetamol Sim

Outros medicamentos com ação no Sistema

Nervoso Central

Ginkgo Biloba

Não

Aparelho Cardiovascular

Anti-Hipertensores

Candesartan + Hidroclorotiazida

Sim

Carvedilol Sim

Furosemida Sim

Indapamida Sim

Irbesartan Sim

Lercanidipina Sim

Losartan Sim

Nebivolol Sim

Nifedipina Sim

Perindopril Sim

Ramipril Sim

Antidislipidémicos Atorvastatina Sim

Fenofibrato Sim

Modificadores do eixo renina angiotensina

Lisinopril Sim

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Tabela 2 - Substâncias Ativas que compõem a amostra em estudo (continuação)

Grupo terapêutico Subgrupo terapêutico Substâncias Ativas Genéricos comercializados

Sangue Anticoagulantes e Antitrombóticos

Clopidogrel Sim

Aparelho Respiratório

Antiasmáticos e Broncodilatadores

Montelucaste Sim

Salbutamol Sim

Antitússicos e Expectorantes

Codeína + Feniltoloxamina

Não

Aparelho Digestivo Antiácidos e antiulcerosos Omeprazol Sim

Hormonas e Medicamentos usados

no tratamento das doenças endócrinas

Hormonas da tiroide e Antitiroideus

Levotiroxina sódica Sim

Insulinas, Antidiabéticos orais e Glucagom

Gliclazida Sim

Metformina Sim

Hormonas sexuais

Didrogesterona Não

Didrogesterona + Estradiol

Não

Etonogestrel Não

Aparelho Locomotor Anti-Inflamatórios não esteróides

Dexibuprofeno Não

Ibuprofeno Sim

Medicação Antialérgica Anti-Histamínicos Cetirizina Sim

Desloratadina Sim

Nutrição Vitaminas e sais minerais Carbonato de cálcio + Colecalciferol

Não

Medicamentos usados em Afeções Cutâneas

Corticosteróides de aplicação tópica

Dexametasona Não

Medicamentos usados em Afeções

Otorrinolaringológicas

Corticosteróides

Mometasona

Sim

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3.3. Variáveis

Na tabela 3, são apresentadas as variáveis utilizadas na estimação dos modelos

e as suas descrições. Todas as variáveis têm como fonte o Infarmed, I.P., à exceção da

variável “crónica”, cuja informação foi disponibilizada pela Farmácia Popular de Viana

do Castelo, e referem-se ao período entre o ano 2000 e 2015.

Tabela 3 - Descrição das variáveis dos modelos

Variáveis Descrição

Genérico Variável binária codificada como 1 se tem genérico(s)

Número Número de genéricos atualmente comercializados no mercado para cada MR

Quota Quota de mercado (em %) dos genéricos em volume no ano 2015

Vendasmr Vendas em volume (nº de embalagens) de cada MR no ano -1 (ano anterior à entrada do(s) genérico(s) no mercado)

Preçomr PVP dos MR, calculado através do rácio entre as vendas em volume e as vendas em valor (euros) no ano -1

Idademr Idade (nº de anos) dos MR entre a data de AIM e o ano -1 inclusive

Numapresent Soma do número de formulações e dosagens de cada MR

Difpreço Diferença entre os PVP praticados pelos MR e respetivos genéricos no ano 0 (ano de entrada do(s) genérico(s) no mercado)

Idadegenérico Número de anos a que os genéricos estão a ser comercializados no mercado

Vendastotais Crónica

Soma das vendas em volume dos MR e dos respetivos genéricos no ano 0 Variável binária codificada como 1 se o medicamento trata doença crónica

*Notas: Ano -1 – Ano anterior à entrada do(s) genérico(s) no mercado Ano 0 – Ano de entrada do(s) genérico(s) no mercado

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Na tabela 4 estão resumidas as estatísticas descritivas das variáveis.

Tabela 4 - Estatísticas descritivas das variáveis

Variáveis Obs Média Desv. Padrão

Mín. Máx.

Genérico 46 0 1

Número 34 12.529 8.915 1 32

Quota 34 0.629 0.269 0.059 0.997

Vendasmr 46 301802.9 338122.7 81 1511299

Preçomr 46 21.427 22.128 2.371 111.862

Idademr 46 17.565 13.013 3 54

Numapresent 34 6.558 4.513 2 21

Difpreço 34 7.679 7.024 0.210 23.456

Idadegenérico 34 8.205 3.990 2 15

Vendastotais 34 419022.9 404999.2 14457 1781928

Crónica 46 0 1

Dos 46 MR que constituem a amostra, 34 enfrentam a concorrência direta dos

MG, e 12 não têm genérico comercializado em Portugal, atualmente.

Podemos observar, na tabela 4, que o número de genéricos para as SA incluídas

na amostra varia entre 1 e 32. Entre as SA que só têm um genérico comercializado em

Portugal encontramos SA cuja comercialização de genéricos é muito recente, mas

também SA que têm apenas um genérico comercializado há vários anos, talvez por não

haver interesse por parte de outras empresas produtoras de genéricos em penetrar no

mercado. É o caso dos MR das SA Fenofibrato e Metamizol magnésico, visto que estes

dois MR apresentam um preço de venda baixo (Metamizol magnésico) e um volume de

vendas também baixo (Fenofibrato).

A amostra também inclui SA bastante diferentes considerando a idade e o

número de apresentações. Em relação à idade, há MR com um número de anos muito

baixo relativamente a outros. Tratam-se de medicamentos para os quais foram

desenvolvidas novas dosagens, e que foram mais vendidas até ao momento e, portanto,

foram incluídas na amostra em detrimento das dosagens mais antigas comercializadas.

De salientar que todos os genéricos considerados na amostra têm a mesma forma

farmacêutica, dosagem e número de unidades por embalagem que o seu respetivo MR.

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As diferenças nas vendas totais são assinaláveis, visto que algumas das SA que

compõem a amostra foram escolhidas entre aquelas que geram mais encargos para o

Estado, e como tal, algumas dessas SA não apresentam um volume de vendas tão

elevado comparativamente às SA escolhidas entre as que têm um maior volume de

vendas. Já a grande dispersão nas vendas dos MR, deve-se ao facto de três MR das SA

que não contêm genérico comercializado apresentarem vendas em volume mais baixas.

Relativamente à variável “crónica”, aproximadamente 76% da amostra diz

respeito a medicamentos que tratam doenças crónicas.

3.4 Modelos empíricos

Seguindo a metodologia usada em Grabowski e Vernon (1992) e Hudson (2000),

foram estimados três modelos com o objetivo de identificar os fatores determinantes:

da probabilidade de haver entrada de genérico(s) (modelo 1); do número de genéricos

comercializados (modelo 2); e da QM dos genéricos no mercado português, expiradas

as patentes dos MR. (modelo 3).

Para cada um dos três modelos foi testada uma especificação que incluía as

variáveis grupo e subgrupo terapêutico. Contudo, estas variáveis revelaram-se

estatisticamente não significativas, e a qualidade do ajustamento dos modelos diminuiu

consideravelmente, pois a amostra não é suficientemente grande para estas variáveis

poderem ser testadas com sucesso. Usaram-se, então, as especificações que a seguir se

apresentam. As especificações dos modelos e as variáveis a incluir seguem a literatura.

Modelo 1:

𝑮𝑬𝑵É𝑹𝑰𝑪𝑶𝒊 = ∝ + 𝜷𝟏𝑷𝑹𝑬Ç𝑶𝑴𝑹𝒊 + 𝜷𝟐𝑰𝑫𝑨𝑫𝑬𝑴𝑹𝒊 + 𝜷𝟑𝑽𝑬𝑵𝑫𝑨𝑺𝑴𝑹𝒊 +

𝜷𝟒𝑪𝑹Ó𝑵𝑰𝑪𝑨𝒊 + 𝜺𝒊,

onde GENÉRICO é uma variável binária que toma o valor de 1 se houver lugar à entrada

de genérico ou 0, caso não tenha ocorrido a entrada de genérico; PREÇOMR é o preço

dos MR no ano anterior à entrada dos genéricos; IDADEMR é a idade dos MR medida

pelo número de anos entre a data de AIM e o ano anterior à entrada de genéricos

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(inclusive); VENDASMR representa as vendas em volume dos MR no ano anterior à

entrada dos concorrentes genéricos; CRÓNICA é uma variável binária que toma o lugar

de 1 se o medicamento trata doença crónica ou 0, caso não trate doença crónica, e

representa o termo de erro.

Segundo a literatura (Hudson (2000)) são esperados coeficientes com sinais

positivos para as variáveis “preçomr” e “vendasmr”, pois a probabilidade de haver

entrada de genéricos deverá ser maior para os casos em que os MR apresentem receitas

e preços de vendas mais elevados, de modo a atraírem genéricos para o mercado. Já em

relação à variável “idademr”, o mais esperado é um sinal negativo, uma vez que com o

passar dos anos entre a data da AIM do MR e a data da entrada do primeiro genérico,

deverá existir uma menor probabilidade de um ou mais genéricos penetrarem no

mercado. Por fim, conforme Bae (1997) e Scott-Morton (2000) é esperado um

coeficiente com sinal positivo para a variável “crónica”, uma vez que os medicamentos

que tratam doenças crónicas são consumidos com grande regularidade, e portanto é

expectável que haja uma maior probabilidade de entrarem genéricos, pois o mercado é

mais atractivo e os consumidores deverão ser mais sensíveis ao preço. De salientar que,

por falta de dados disponibilizados relativamente às datas concretas da expiração das

patentes para todos os MR da amostra, foi escolhida como aproximação a essa data o

ano anterior à entrada dos MG para cada marca.

Modelo 2:

𝑵Ú𝑴𝑬𝑹𝑶𝒊 = ∝ + 𝜷𝟏𝑷𝑹𝑬Ç𝑶𝑴𝑹𝒊 + 𝜷𝟐𝑰𝑫𝑨𝑫𝑬𝑴𝑹𝒊 + 𝜷𝟑𝑽𝑬𝑵𝑫𝑨𝑺𝑴𝑹𝒊 + 𝜷𝟒𝑪𝑹Ó𝑵𝑰𝑪𝑨𝒊 +

𝜺𝒊,

onde NÚMERO traduz o número de genéricos atualmente comercializados no mercado

para cada MR; PREÇOMR, IDADEMR, VENDASMR e CRÓNICA são as mesmas variáveis

utilizadas no modelo anterior. Para estimar este modelo só foram consideradas as SA

com genérico comercializado.

Relativamente às variáveis independentes “preçomr” e “vendasmr”, espera-se

que os coeficientes estimados apresentem também um coeficiente positivo, visto que,

e tendo em conta a literatura estudada (Grabowski e Vernon (1992), entre outros), altas

receitas atraem a entrada de mais concorrentes genéricos. Em mercados regulados,

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como acontece em Portugal, preços elevados são mais atrativos para a concorrência,

uma vez que geram receitas maiores e o preço máximo praticado pelos genéricos é

calculado em função do PVP do MR, o que pode também permitir aos produtores de MG

praticar preços de vendas mais elevados, mas ao mesmo tempo inferiores aos do MR.

No caso da variável “idademr” é expectável um coeficiente com sinal negativo, visto que

um maior número de anos entre a AIM do MR e a entrada do primeiro genérico pode

refletir uma certa dificuldade dos genéricos penetrarem no mercado desse MR. Assim,

o MR pode aproveitar esse período para sustentar a notoriedade da marca perante os

consumidores e marcar uma posição no mercado, e como tal, dissuadir a entrada de

alguns novos concorrentes, nomeadamente em MR que pratiquem PVP apenas um

pouco mais altos relativamente aos seus substitutos. No que diz respeito à variável

“crónica” é expectável um sinal do coeficiente positivo, visto que a medicamentos que

tratam este tipo de doenças estão associados mercados com grandes volumes de

vendas, o que incentiva a entrada de mais produtores de genéricos no mercado.

Modelo 3:

𝑸𝑼𝑶𝑻𝑨𝒊 = ∝ + 𝜷𝟏𝒍𝒏𝑽𝑬𝑵𝑫𝑨𝑺𝑻𝑶𝑻𝑨𝑰𝑺𝒊 + 𝜷𝟐𝑵Ú𝑴𝑬𝑹𝑶𝒊 + 𝜷𝟑𝑵𝑼𝑴𝑨𝑷𝑹𝑬𝑺𝑬𝑵𝑻𝒊 +

𝜷𝟒𝑫𝑰𝑭𝑷𝑹𝑬Ç𝑶𝒊 + 𝜷𝟓𝑰𝑫𝑨𝑫𝑬𝑮𝑬𝑵É𝑹𝑰𝑪𝑶𝒊 + 𝜷𝟔𝑪𝑹Ó𝑵𝑰𝑪𝑨𝒊 + 𝜺𝒊,

onde QUOTA representa a QM dos MG em volume, LNVENDASTOTAIS são a soma das

vendas em número de embalagens dos MR e MG no ano de entrada destes; NÚMERO

representa o número de genéricos comercializados atualmente no mercado para cada

MR; NUMAPRESENT representa a soma do número de formulações e dosagens para

cada MR; DIFPREÇO é a diferença entre os PVP praticados pelos MR e respetivos

genéricos no ano de entrada destes; IDADEGENÉRICO representa o número de anos a

que os MG estão a ser comercializados no mercado; e por último a variável CRÓNICA é

a mesma utilizada nos modelos anteriores. À semelhança do modelo 2, também só

foram incluídas as SA com genérico comercializado para estimar este modelo.

De acordo com a literatura (Grabowski e Vernon (1992) e Magazzini et al. (2004)),

espera-se que os coeficientes das variáveis “lnvendastotais” e “difpreço” apresentem

sinal positivo, uma vez que a penetração dos genéricos deverá ser maior nos casos em

que a dimensão do mercado total é mais elevada, ou seja com um maior volume de

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vendas, tanto da parte do MR como dos seus respetivos genéricos em conjunto.

Também de acordo com os resultados prévios na literatura, é expectável que uma maior

diferença de preços praticados entre o MR e os genéricos conduza a uma maior

penetração destes, visto que os consumidores perante uma diferença de preços muito

grande tendem a optar pelos genéricos, que são vendidos a preços bastante inferiores.

Também é esperado que as variáveis “número” e “idadegenérico” apresentem

um coeficiente com sinal positivo, visto que é expectável que a um maior número de

concorrentes genéricos comercializados no mercado para cada MR esteja associada

uma maior QM em volume para estes medicamentos. Em relação à variável

“idadegenérico” é esperado que com o aumento do número de anos a que os genéricos

estão a ser comercializados no mercado seja mais fácil para estes conseguirem obter

melhores resultados em termos de percentagens de QM. Relativamente à variável

“numapresent” é expectável que esta tenha uma relação negativa com a variável

dependente, porque conforme a literatura (Ellison e Ellison (2011)), é mais difícil para

os produtores de genéricos conseguirem replicar uma linha de produção maior e, como

tal, torna-se mais difícil registarem maiores QM em volume. Por fim, é esperado que o

coeficiente da variável “crónica” apresente um sinal positivo, pois deverá ser mais fácil

penetrar num mercado onde os produtores de genéricos possam vendar os seus

medicamentos regularmente e a um preço inferior à respetiva marca, permitindo obter

crescentes QM.

Com o objetivo de detetar possíveis problemas de colinearidade entre as

variáveis explicativas, é apresentada, na tabela 5, a matriz de correlação entre as

variáveis utilizadas.

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50

Tabela 5 – Matriz de correlação entre as variáveis utilizadas nos modelos

Genérico Número Quota Vendasmr Preçomr Idademr Numapresent Difpreço Idadegenérico Vendastotais Crónica

Genérico 1

Número — 1

Quota — 0.717* 1

Vendasmr 0.390* 0.112 -0.156 1

Preçomr 0.067 0.595* 0.656* -0.177 1

Idademr -0.566* -0.345* -0.505* -0.283 -0.285 1

Numapresent — -0.028 -0.309 -0.046 -0.217 0.205 1

Difpreço — 0.543* 0.573* -0.168 0.892* -0.303 -0.236 1

Idadegenérico — 0.213 0.470* -0.139 0.053 -0.037 -0.040 -0.188 1

Vendastotais — 0.114 -0.146 0.985* -0.284 -0.076 0.033 -0.213 -0.084 1

Crónica 0.131 -0.018 0.114 -0.072 0.294* -0.161 -0.344* 0.411* -0.047 -0.236 1

Nota: * significativo a 5%

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51

A tabela 5 mostra que, para as SA que têm genérico comercializado, a correlação

entre a QM e o número de genéricos é positiva e significativa. Por sua vez, a idade dos

MR apresenta uma relação negativa e também significativa com as três variáveis

dependentes, como era esperado. Também o número de apresentações, como se

esperava, apresenta uma correlação negativa com a QM, embora não significativa.

Em relação às vendas dos MR, estas apresentam-se, como esperado, com uma

correlação positiva com a probabilidade de haver genérico(s) e com o número destes,

contudo, apenas é significativa com a probabilidade de haver genérico(s).

Como expectável, o preço dos MR apresenta uma correlação positiva com as

variáveis dependentes, no entanto apenas significativa para o número de genéricos e a

sua QM. Também a diferença de preços que existe entre genéricos e os respetivos MR

apresenta, como esperado, uma relação positiva e significativa com as variáveis

dependentes número de genéricos e QM. Já a idade dos genéricos apresenta uma

correlação positiva com estas variáveis dependentes, contudo, mostra-se apenas

significativa em relação à QM.

Por fim, a variável crónica apresenta uma correlação positiva com a

probabilidade de haver genérico(s) e com a QM, mas negativa com o número de

genéricos. Porém, a variável mostra-se estatisticamente não significativa para as três

variáveis dependentes.

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52

Capítulo 4 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4.1 Introdução

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados da análise descritiva,

através de comentários a cada grupo terapêutico e onde se destacam, caso existam, os

casos mais relevantes dentro de cada grupo. São também apresentados gráficos de

dispersão que mostram a relação entre o PVP e o volume de vendas em número de

embalagens para os genéricos e respetivo MR.

Apresentam-se de seguida os resultados da estimação dos modelos e discutem-

-se os resultados. No fim, é apresentado um resumo com as principais conclusões

retiradas deste capítulo.

4.2 - Impacto da entrada de genéricos sobre o volume de vendas e quotas de

mercado (em volume) dos Medicamentos de Referência

Com base em dados não publicados disponibilizados pelo Infarmed, I.P., foram

construídos dois gráficos para cada SA e respetivo MR, organizados por grupo

terapêutico, com o objetivo de dar resposta às duas primeiras questões de investigação.

Os gráficos apresentam o impacto, após a expiração das patentes de cada MR, da

entrada de genéricos no mercado sobre as vendas em volume (número de embalagens)

e as QM também em volume, de cada MR. Para cada grupo terapêutico, são escritos

comentários que abordam os efeitos gerados pela concorrência, e que destacam os

casos especiais dentro dos mesmos. De referir ainda que desta análise descritiva foram

excluídos os doze MR que não apresentam genéricos comercializados, e também cinco

SA e respetivos MR (Azitromicina, Carbamazepina, Ibuprofeno, Lisinopril e Omeprazol),

pois foi estabelecido como requisito para este subcapítulo do estudo que teria de haver

informação disponível para pelo menos os dois anos anteriores à entrada dos genéricos

no mercado. Em seguida, são apresentados os gráficos, em que a cor azul diz respeito

Page 67: Luís Miguel Freixo Armada - repositorium.sdum.uminho.pts... · as vendas dos medicamentos de referência das substâncias ativas que constituem a amostra. Esta análise mostrou que,

53

ao MR e a cor laranja aos MG. Todos os gráficos são de elaboração própria e refletem a

evolução das vendas em volume no período compreendido entre o ano de entrada do

genérico diferido três anos e 2015.

4.2.1 Aparelho Cardiovascular

Conforme o estudo elaborado pelo Gabinete de Estudos e Projetos do Infarmed,

I.P. (2014), o grupo terapêutico Aparelho Cardiovascular foi, no ano 2013, o grupo que

gerou maiores encargos para o SNS. Ainda de acordo com o mesmo estudo, este facto

é explicado, não só pela elevada utilização dos medicamentos que constituem este

grupo, mas também pela ausência de genéricos na maioria das SA que o constituem.

Apesar disso, este grupo terapêutico já apresentou no ano 2013 uma quota de dispensa

de MG superior a 50%, o que vai de encontro aos resultados da análise que a seguir se

apresenta e que reflete, em geral, uma forte penetração dos genéricos no mercado dos

MR.

Atorvastatina

Gráfico 1(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 1(b) – Evolução da QM do MR

Fenofibrato

Gráfico 2(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 2(b) – Evolução da QM do MR

0

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400000

600000

800000

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50000

100000

150000

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2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015

0%

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60%

80%

100%

2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015

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54

Candesartan + Hidroclorotiazida

Gráfico 3(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 3(b) – Evolução da QM do MR

Carvedilol

Gráfico 4(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 4(b) – Evolução da QM do MR

Furosemida

Gráfico 5(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 5(b) – Evolução da QM do MR

Indapamida

Gráfico 6(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 6(b) – Evolução da QM do MR

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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20%

40%

60%

80%

100%

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

0

50000

100000

150000

200000

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1400000

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Irbesartan

Gráfico 7(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 7(b) – Evolução da QM do MR

Lercanidipina

Gráfico 8(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 8(b) – Evolução da QM do MR

Losartan

Gráfico 9(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 9(b) – Evolução da QM do MR

Nebivolol

Gráfico 10(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 10(b) – Evolução das vendas do MR

0

50000

100000

150000

200000

250000

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100000

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20%

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80%

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50000

100000

150000

200000

250000

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200000

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Nifedipina

Gráfico 11(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 11(b) – Evolução da QM do MR

Perindopril

Gráfico 12(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 12(b) – Evolução da QM do MR

Ramipril

Gráfico 13(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 13(b) – Evolução da QM do MR

No geral, dentro deste grupo terapêutico (constituído por treze SA e os seus

respetivos MR da amostra), através da constatação dos gráficos apresentados para cada

SA confirma-se que a entrada dos MG no mercado teve um impacto muito significativo

nas vendas em volume e na QM dos MR. De realçar que, entre as treze SA, existem sete

que perdem, entre o ano anterior à entrada de genéricos e o ano 2015 inclusive, mais

de 70% do volume de vendas. Aliado ao forte e rápido crescimento dos concorrentes

genéricos, esta diminuição acentuada do volume de vendas resulta em perdas

significativas de QM para as marcas.

0

200000

400000

600000

2011 2012 2013 2014 201585%

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2011 2012 2013 2014 2015

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400000

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2010 2011 2012 2013 2014 201575%

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2010 2011 2012 2013 2014 2015

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57

Detalhando a análide por SA, e pelos gráficos 1(b) e 13(b), verifica-se que os MR

da Atorvastatina e Ramipril foram os mais afetados em termos de QM, registando em

2015 percentagens inferiores a 10% e 5 %, respetivamente. Pelo contrário, no caso da

Furosemida, os concorrentes genéricos não conseguiram causar um impacto

significativo sobre as vendas do MR, e consequentemente não atingiram uma QM tão

elevada como os restantes MG do grupo, como se pode observar pelos gráficos 5(a) e

5(b). A QM dos genéricos que competem diretamente com o MR da SA Furosemida

situou-se em 2015 nos 29%, apesar de terem registado crescimentos sucessivos das

vendas (à exceção do ano 2015, em que registam pequenas perdas). Pelo gráfico 5(a)

comprova-se que as vendas do MR, embora com taxas de crescimentos baixas, têm

crescido de forma continuada, excetuando o ano de 2010 em que registaram uma ligeira

diminuição. Portanto, sofreu um impacto quase nulo com a entrada dos MG ao nível das

vendas. Este facto aparece sobretudo associado a um forte crescimento deste mercado,

traduzido no crescimento das vendas, quer do MR quer dos genéricos. O reduzido

impacto na QM do MR pode resultar do facto de este medicamento praticar preços

competitivos, ou seja, próximo dos seus genéricos, e/ou beneficiar de uma forte

notoriedade da marca perante os consumidores. Como refere Statman (1981), se a

marca criou uma forte fidelidade, a expiração das patentes pode resultar em nenhuma

mudança na posição do MR no mercado.

Os impactos sobre os MR das SA Nifedipina e Perindopril são ainda difíceis de

avaliar, visto que os genéricos são muito recentes no mercado. No entanto, no caso da

Nifedipina ainda só existe um MG comercializado que, como nos é dado a observar nos

gráficos 11(a) e 11(b), já originou uma queda nas vendas do MR e uma perda de QM,

embora ainda muito pouco significativa. Em relação à SA Perindopril, apesar de ter

somente dois genéricos, e com apenas três anos de presença no mercado, é percebido

pelo gráfico 12(a) que o MR perde uma maior percentagem de vendas, registando uma

queda de 40,6 pontos percentuais, precisamente antes dos genéricos entrarem no

mercado, à semelhança do que acontece nas SA Candesartan + Hidroclorotiazida,

Irbesartan e Losartan, embora nestas três situações, com perdas bastante inferiores,

que rondam em média os 6,12%. Contudo, relativamente ao impacto gerado sobre a

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58

QM do MR, verifica-se pelo gráfico 12(b) que este se revelou pouco significativo, visto

que até à data as vendas dos MG não cresceram tanto como o que seria esperado.

Por fim, a SA Nebivolol, desde a expiração das patentes e a subsequente

introdução dos concorrentes genéricos no mercado, o MR viu a sua QM diminuir em

quase 70 pontos percentuais (gráfico 10(b)). Esta perda verificou-se, apesar da expansão

do mercado registada após a entrada dos MG. De facto, no período em análise, o MR

registou um aumento nas vendas em 3,8 pontos percentuais, não conseguindo, no

entanto, acompanhar o forte crescimento do mercado (gráfico 10(a)).

4.2.2 Sistema Nervoso Central

Também no grupo Sistema Nervoso Central, o impacto negativo da penetração

dos genéricos sobre as vendas dos MR foi elevado para a maioria das SA incluídas neste

grupo terapêutico. Com exceção do Paracetamol e do Metamizol magnésico, os MR das

restantes SA sofreram um impacto significativo nas suas vendas e nas suas QM, ambas

em volume.

Ropinirol

Gráfico 14(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 14(b) – Evolução da QM do MR

Escitalopram

Gráfico 15(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 15(b) – Evolução da QM do MR

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2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Mirtazapina

Gráfico 16(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 16(b) – Evolução da QM do MR

Quetiapina

Gráfico 17(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 17(b) – Evolução da QM do MR

Risperidona

Gráfico 18(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 18(b) – Evolução da QM do MR

Metamizol magnésico

Gráfico 19(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 19(b) – Evolução da QM do MR

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2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Paracetamol

Gráfico 20(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 20(b) – Evolução da QM do MR

Os gráficos 14, 15, 16, 17 e 18 mostram que o impacto negativo da penetração

dos genéricos no mercado sobre as vendas dos MR foi elevado para cinco das sete SA

incluídas neste grupo terapêutico. Dentro deste grupo, o MR da SA Quetiapina (o

segundo que pratica o PVP mais elevado da amostra) foi o que registou as maiores

perdas, com uma redução superior a 81 pontos percentuais nas vendas entre o ano

anterior à entrada da concorrência e o ano 2015. A penetração dos genéricos no

mercado desta SA foi muito rápida, uma vez que em apenas cinco anos conseguiram

registar uma QM de 89,5% (gráfico 17(b)). A diferença entre o preço de referência e o

preço máximo para esta SA, superior a 30 euros, poderá explicar esta evolução, tanto

mais que se trata de um medicamento que, por norma, requer uma utilização mais ou

menos prolongada no tempo.

Os gráficos 15(a) e (b) mostram uma evolução muito semelhante no caso do MR

da SA Escitalopram.

Em claro contraste, os gráficos 19 e 20, ilustram os casos de duas SA cuja

evolução se desvia da tendência dominante: os MR das SA Paracetamol e Metamizol

magnésico que, pertencem não só ao mesmo grupo, mas também ao mesmo subgrupo

terapêutico, e que se destacam pelo fraco impacto gerado nas vendas. Os MR destas

duas SA registaram perdas nas vendas na ordem dos 12,45 e 16,03 pontos percentuais,

respetivamente. Tal como no caso da SA Furosemida, também estes MR apresentam

uma pequena diferença nos preços de venda face aos seus concorrentes genéricos e, no

caso da SA Paracetamol, além dos preços competitivos, também a conhecida forte

notoriedade da marca poderá ter sido um fator determinante para os consumidores

continuarem a adquirir o MR, o que se trata de uma grande vantagem, visto que nestes

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casos, perante a desconfiança que possa existir em relação à qualidade dos genéricos,

os consumidores costumam ser insensíveis aos preços (visto que a diferença entre

genéricos e o medicamento original é baixa) e tendem a optar pela marca. Contudo,

também os genéricos têm registado um grande crescimento ao nível das vendas.

O MR da SA Metamizol magnésico (gráfico 19(a)) viu o único genérico

comercializado no mercado ultrapassar em 2013 o seu valor total de vendas mais

elevado até ao momento, registado no ano de 2009. Este crescimento do MG, apesar

do fraco efeito gerado sobre o volume de vendas do MR, originou um impacto

significativo na sua QM, tendo o MG registado em 2015 um total de 59,8%. Por sua vez,

os MG que concorrem com o MR da SA Paracetamol causaram um impacto mais fraco

relativamente à variável QM, situando-se em 2015 nos 34%.

4.2.3 Sangue

Clopidogrel

Gráfico 21(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 21(b) – Evolução da QM do MR

Com base nos gráficos 21(a) e 21(b), é demonstrado que a entrada dos MG no

mercado do MR da SA Clopidogrel gerou impactos muito significativos, tanto no volume

de vendas como na QM, sendo este um dos medicamentos originais que constituem a

amostra mais afetado pela concorrência. De salientar que o MR perdeu 88,5 pontos

percentuais das suas vendas no período de tempo considerado, e registou no ano 2015

uma QM de apenas 9%, o que reflete o fortíssimo impacto que foi gerado. Foi no ano de

2010 (segundo ano de presença dos genéricos no mercado) que o MR perdeu a sua

maior percentagem de vendas, com uma redução de 61 pontos percentuais face ao

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período homólogo do ano 2009. Por sua vez, os MG registaram em 2014 o maior número

de embalagens vendidas até à data no mercado entre o MR e os respetivos genéricos,

registando um total de vendas de 1.279.554 embalagens, face ao máximo atingido de

1.125.333 embalagens vendidas pela marca em 2009. A forte preferência dos

consumidores pelos genéricos em detrimento do MR poderá dever-se muito ao facto

deste medicamento ser vendido a um PVP muito elevado, tanto antes da entrada dos

genéricos como nos anos posteriores.

4.2.4 Aparelho Respiratório

Segundo o estudo do Gabinete de Estudos e Projetos do Infarmed, I.P. (2014),

dos seis grupos terapêuticos com maiores encargos para o SNS, o do Aparelho

Respiratório é aquele que regista a menor penetração de MG (20,1% em 2014). De

acordo com o estudo supracitado, contribuem para este facto: o limitado número de

MG nas opções terapêuticas de primeira linha; os padrões de prescrição; e o número

limitado de MG na área terapêutica.

No entanto, tal como acontece noutros grupos terapêuticos, registam-se

diferenças assinaláveis entre as várias SA nos efeitos da entrada dos genéricos sobre a

evolução das vendas e da QM dos MR, ilustradas nos gráficos seguintes.

Montelucaste

Gráfico 22(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 22(b) – Evolução da QM do MR

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Salbutamol

Gráfico 23(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 23(b) – Evolução da QM do MR

Como acontece na maior parte das SA que enfrentam a concorrência de MG no

mercado, também se pode constatar no gráfico 22(a) apresentado que o MR da SA

Montelucaste viu as suas vendas diminuírem logo após a entrada dos genéricos. Este

medicamento perdeu desde o ano anterior à entrada de concorrentes no mercado 56,32

pontos percentuais das vendas, sendo no terceiro ano de concorrência que sofre a maior

queda, possivelmente por ter sido nesse ano que foram introduzidos no mercado treze

dos vinte e um MG atualmente comercializados. Os genéricos registaram em 2015 uma

QM de 71,5%, o que comprova o forte impacto gerado sobre as vendas do MR. Tal como

na maior parte das outras SA, a entrada de genéricos foi acompanhada do crescimento

do mercado.

Pelo contrário, o MR da SA Salbutamol registou uma evolução bem diferente,

salientando-se por ser um dos medicamentos originais incluídos na amostra menos

afetado pela entrada dos MG. Como podemos observar no gráfico 23(a), a entrada dos

genéricos teve um impacto muito pouco significativo ou quase nulo nas vendas do MR.

De salientar que este MR se apresenta como um caso especial, dado que as

maiores perdas no total de vendas surgiram justamente no período de tempo em que

os genéricos não se encontravam no mercado e após o primeiro ano de presença destes.

Depois, o medicamento original aumentou as suas vendas, embora a um ritmo lento,

mas conseguindo mesmo assim registar em 2015 o maior número de embalagens

vendidas até ao momento e uma QM de 90,8% (gráfico 23(b)). O facto de o preço

praticado pelo MR da SA Salbutamol ser baixo poderá explicar esta evolução.

Efetivamente parece evidente que os produtores de marcas que praticam PVP mais

reduzidos e próximos dos preços exercidos pelos genéricos parecem mais aptos a

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conseguir limitar o crescimento da concorrência proveniente dos MG. A estratégia de

preços-limite parece pois ser bastante eficaz na criação de barreiras à entrada e à

penetração de genéricos, como aparentemente acontece também com as SA

Furosemida, Paracetamol e Metamizol magnésico. Contudo, além do fator preço, o

Gabinete de Estudos e Projetos do Infarmed, I.P. (2014) refere que neste grupo

terapêutico, o constrangimento ao aumento do consumo de genéricos pode resultar do

limitado número de genéricos neste segmento, que confirma o que acontece no

mercado com a SA Salbutamol, em que o MR apenas compete com dois MG

comercializados no mercado.

4.2.5 Hormonas e Medicamentos Usados no Tratamento das Doenças

Endócrinas

Este é, segundo o estudo do Infarmed, I.P. (2014), outro grupo terapêutico onde

a penetração dos genéricos tem sido mais lenta (32,5% em 2014), o que poderá estar

relacionado com factores como o padrão de prescrição ou o limitado número de MG nas

opções terapêuticas de primeira linha.

Levotiroxina sódica

Gráfico 24(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 24(b) – Evolução da QM do MR

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Gliclazida

Gráfico 25(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 25(b) – Evolução da QM do MR

Metformina

Gráfico 26(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 26(b) – Evolução da QM do MR

Tanto o MR da SA Gliclazida como o MR da SA Metformina, ambas pertencentes

ao mesmo grupo e subgrupo terapêutico, sofreram um impacto significativo no

mercado, como se encontra ilustrado nos gráficos 25 e 26. Perderam, respetivamente,

79,81 e 52,43 pontos percentuais nas vendas em volume. Apesar do MR da SA Gliclazida

ser o que apresenta maiores perdas nas vendas comparativamente ao MR da SA

Metformina, em termos de QM é o que sofre o menor impacto, porém também

significativo, registando em 2015 uma QM de 38,89% face aos 23,85% registados pelo

MR da SA Metformina. Pelo facto de se tratarem de medicamentos que visam tratar

doenças crónicas, a procura por estes medicamentos pode ser mais sensível ao preço,

visto que são medicamentos adquiridos continuamente. Isto pode dar vantagem aos

genéricos neste segmento de mercado, pelo que a sua penetração pode ser facilitada se

a escolha dos consumidores for feita essencialmente com base no preço.

Com um comportamento contrário, o MR da SA Levotiroxina sódica realça-se

neste grupo. Este MR, assim como os outros previamente identificados, pratica um PVP

muito reduzido e pouca acima do preço praticado pelo MG, e como tal, observando o

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gráfico 24(a), verifica-se que não sofreu qualquer impacto nas suas vendas, visto que em

todos os anos ocorreram aumentos consideráveis no número de embalagens vendidas

pela marca. Nestes casos, é expectável que não haja uma sensibilidade ao preço de

venda, visto que com preços muito idênticos (e baixos) entre concorrentes, os

consumidores no acto de compra tendem a optar pela marca. O preço baixo do MR

parece funcionar como barreira à entrada de genéricos neste mercado, o que

contribuirá também para esta evolução. Apesar de se tratar de um medicamento que,

em regra, é consumido com regularidade, pois está associado ao tratamento de doenças

crónicas, o facto de apresentar preços baixos (logo, um efeito-rendimento

niglegenciável) e dispor de possibilidades de substituição limitadas (que leva a que o

efeito substituição seja também baixo), torna a procura relativamente inelástica em

relação ao preço.

Assim, apesar de já ter genérico no mercado há três anos, em 2015, o MR

apresentou uma QM de 94% (a mais alta da amostra). Além do número limitado de

genéricos com AIM aprovada no mercado (apenas 1) e a provável insensibilidade aos

preços por parte dos consumidores, de acordo com Gabinete de Estudos e Projetos do

Infarmed, I.P. (2014), esta DCI está incluída na lista de SA com margem ou índice

terapêutico estreito, pelo que é permitida a prescrição pelo nome comercial, o que

dificulta ainda mais a penetração do genérico no mercado. Além da pequena diferença

de preços praticados no mercado, este também pode ser um factor que torna este

mercado pouco atrativo, desencorajando a entrada de outros laboratórios produtores

de genéricos.

4.2.6 Medicação Antialérgica

Este grupo terapêutico inclui os anti-histamínicos, os corticosteróides e os

simpaticomiméticos. De acordo com dados da Estatística do Medicamento do Infarmed,

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I.P. relativos ao ano 201311, este grupo terapêutico representava apenas uma quota de

1,3% do número total de apresentações de genéricos comercializados em Portugal.

Apesar de apresentar um número de genéricos relativamente baixo, o grupo

terapêutico Medicação Antialérgica não consitui exceção em relação às diferenças

observadas entre as diferentes SA quanto aos efeitos da entrada de genéricos sobre as

vendas e QM dos MR, como a seguir se ilustra.

As duas SA incluídas na amostra que fazem parte deste grupo terapêutico

também sofreram um impacto significativo no mercado, como é sempre expectável que

aconteça após a expiração da proteção legal de concorrência. No entanto, à semelhança

do que observamos noutros grupos terapêuticos, existem alguns MR que conseguem

contrariar essa tendência de uma forma bastante eficiente. Com base nos gráficos 27(a)

e 28(a), verifica-se que os dois MR das SA Cetirizina e Desloratadina viram as suas vendas

entrarem em queda entre o ano anterior à entrada dos genéricos e o ano 2015, com

reduções na ordem dos 78,56 e 51,66 pontos percentuais, respetivamente.

Cetirizina

Gráfico 27(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 27(b) – Evolução da QM do MR

Desloratadina

Gráfico 28(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 28(b) – Evolução da QM do MR

11http://www.infarmed.pt/documents/15786/1229727/Estat%C3%ADstica+do+Medicamento+2013/031fe3d4-8f86-45f7-adc9-55bc1ca2079e?version=1.1

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Apesar disso, os MG da Cetirizina aparentaram ter enfrentado algumas

dificuldades de crescimento até 2008. Entre 2008 e 2012 verifica-se um crescimento

mais intenso das vendas, que resulta numa quebra mais acentuada da QM do MR. No

entanto, a partir de 2012 o MR volta a recuperar QM, ainda que a um ritmo muito lento.

Ainda assim, o gráfico 27(b) mostra que os MG tinham em 2015 uma QM de 72,9%.

Este parece ser um mercado em contração, eventualmente porque outras SA do

mesmo grupo terapêutico vão baixando os preços à medida que se aproxima o fim do

período de proteção conferido pela patente. Será este o caso da Desloratadina, cujo MG

entram no mercado em 2012. Este facto, aliado à política de preços da marca, pode

constituir um obstáculo à expansão do mercado dos MG desta SA. O número elevado

de apresentações de genéricos desta SA disponíveis no mercado é relativamente

elevado (17), pelo que existem possibilidades de substituição.

As dificuldades de aumentar a penetração e ganhar QM parecem ainda mais

evidentes no caso da Desloratadina. O gráfico 28(b) mostra que, após o efeito inicial da

entrada, a QM e as vendas dos MG desta SA têm-se mantido estagnadas. Em 2015, o

MR detinha ainda quase metade do mercado. Tal como no caso da Cetirizina, existe

oferta de MG em número significativo, pelo que não será este fator a impedir o

crescimento das vendas de MG. Esta evolução deverá estar relacionada, tal como no

caso anterior, com a estratégia de preços adotada pela marca, cujo preço é cerca de 2

euros mais alto do que a média dos genéricos (para a dosagem e apresentação mais

utilizada), e pela notoriedade da marca.

Page 83: Luís Miguel Freixo Armada - repositorium.sdum.uminho.pts... · as vendas dos medicamentos de referência das substâncias ativas que constituem a amostra. Esta análise mostrou que,

69

4.2.7 Medicamentos usados em Afecções Otorrinolaringológicas

Mometasona

Gráfico 29(a) – Evolução das vendas do MR Gráfico 29(b) – Evolução da QM do MR

No caso do MR da SA Mometasona, apesar dos genéricos estarem apenas há dois

anos no mercado, à semelhança do que ocorre com outras SA já identificadas

anteriormente, já sofreu um impacto algo significativo no mercado. Em dois anos de

concorrência, com base no gráfico 29(a), as vendas do MR reduziram em 29 pontos

percentuais, passando de 416.923 embalagens vendidas em 2013 para 298.294 em

2015. Os genéricos atingiram nesse ano, tendo em conta o mesmo gráfico, as 148.089

embalagens vendidas, com um crescimento de 50,35 pontos percentuais face ao mesmo

período do ano anterior, e registam em simultâneo uma QM de 33,18% demonstrada

pelo gráfico 29(b).

4.3 Relação entre preços e número de embalagens vendidas das marcas e

respetivos genéricos

Para a apresentação dos gráficos de dispersão neste subcapítulo foram

selecionadas entre a amostra as quatro SA com as maiores perdas em percentagem de

QM (≥ 90%), e ainda três SA cujas perdas de QM foram muito pouco significativas, com

o objetivo de comparar os preços de venda (em euros) praticados entre os vários

medicamentos (marca e genéricos) e as suas correspondentes vendas (em número de

embalagens). Os preços e as vendas dizem respeito ao ano de 2015. Para cada SA, o

ponto vermelho que se encontra mais do lado direito em cada gráfico corresponde

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sempre ao MR, visto que se trata do medicamento que pratica o preço mais elevado em

comparação com os seus genéricos concorrentes.

De seguida, são apresentados os gráficos de dispersão para cada SA, onde os três

primeiros correspondem às SA menos afetadas pela entrada dos genéricos.

Gráfico 30 – Preços e número de embalagens Gráfico 31 – Preços e número de embalagens vendidas - Furosemida vendidas - Paracetamol

Gráfico 32 – Preços e número de embalagens vendidas - Salbutamol

Gráfico 33 – Preços e número de embalagens Gráfico 34 – Preços e número de embalagens Vendidas - Atorvastatina vendidas - Clopidogrel

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100000

150000

200000

250000

0 1 2 3 4

EMB

ALA

GEN

S

PREÇO (€)

0

50000

100000

150000

200000

0 5 1 0 1 5 2 0

EMB

ALA

GEN

S

PREÇO (€)

0

50000

100000

150000

200000

250000

0 5 1 0 1 5 2 0

EMB

ALA

GEN

S

PREÇO (€)

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71

Gráfico 35 – Preços e número de embalagens Gráfico 36 – Preços e número de embalagens vendidas - Quetiapina vendidas - Ramipril

Os gráficos apresentados ilustram várias diferenças entre as SA cujo MR sofreu

um impacto muito pouco significativo da entrada de concorrentes genéricos no mercado

e as que sofreram um impacto muito significativo.

No que diz respeito ao primeiro grupo, vemos que os seus genéricos, à exceção

de um genérico da SA Paracetamol, praticam à semelhança dos MR, o preço de venda

máximo que lhes é permitido. De salientar também que neste grupo se tratam de PVP

baixos. Já nas restantes SA, com exceção de um ou outro genérico dentro de cada

princípio activo, todos os outros praticam preços inferiores ao preço máximo. Nestas SA,

também os MR exercem o preço de venda máximo.

No caso das SA que sofreram impactos muito pouco significativos, isto poderá

ser explicado pelo facto dos produtores de genéricos não terem incentivos em diminuir

os preços, visto que estes iriam continuar com uma pequena diferença em relação ao

MR e, como tal, os utentes continuariam a optar pela marca. Assim, apesar de venderem

menos embalagens do que o MR, têm uma margem de venda mais alta. O facto de

nestas três SA também existirem poucos concorrentes genéricos, leva a que os

produtores destes não sintam necessidade em baixar os preços para concorrerem uns

com os outros, ao contrário do que acontece com as SA mais afetadas pela entrada de

MG no mercado.

Os produtores dos genéricos que competem com os MR das SA Atorvastatina,

Clopidogrel, Quetiapina e Ramipril, podem diminuir os seus preços de venda

relativamente ao preço máximo, conseguindo ainda obter boas margens nas vendas,

0

10000

20000

30000

40000

0 1 0 2 0 3 0 4 0

EMB

ALA

GEN

S

PREÇO (€)

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

0 2 0 4 0 6 0

EMB

ALA

GEN

S

PREÇO (€)

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72

visto que os MR praticam preços muito altos. Além disso, esta diminuição de preços por

parte dos genéricos também ocorre pelo facto de existirem no mercado muitos

concorrentes. As marcas destas SA têm perdido uma QM significativa nos últimos anos,

fruto do aumento do consumo de genéricos. Como tal, os produtores de genéricos têm

incentivos para diminuir os seus preços, visto que os consumidores estão cada vez mais

a optar pelo consumo destes medicamentos que são muito mais baratos. Contudo,

verifica-se através dos gráficos que os pacientes não optam pelo genérico mais barato.

Parece que o nome do laboratório e o preço que está associado ao genérico também

tem um grande peso na dispensa dos medicamentos, visto que, e recorrendo aos

gráficos de dispersão, nem sempre o genérico mais barato é dos mais vendidos, o que

indica que os consumidores associam em demasia o preço de venda à qualidade do

genérico. Assim sendo, e apesar das práticas de fabrico e a qualidade serem iguais em

todos os MG, o facto de alguns apresentarem o preço mais baixo poderá gerar alguma

desconfiança dos consumidores relativamente à qualidade do fármaco e do laboratório

em questão, que na maior parte das vezes nem é conhecido pelos utentes. Também o

comportamento dos agentes ligados às farmácias pode estar na origem desta situação,

visto que os farmacêuticos podem induzir os pacientes a adquirirem MG mais caros,

uma vez que têm vantagem na dispensa dos genéricos com preços de venda mais

elevados.

A Lei nº11/2012, de 8 de Março, regulamentada pela Portaria nº137 – A/2012 de

11 de Maio, indica que as farmácias só podem trocar o medicamento prescrito por DCI

por um dos outros que pertencem ao grupo dos cinco mais baratos, sendo que também

são obrigados a ter sempre três destes disponíveis para venda. Porém, também de

acordo com a Lei supracitada, o consumidor, se assim o entender, tem o direito de optar

por um medicamento mais caro, exercendo o seu direito de opção. Deste modo, com o

principal objetivo de gerar mais concorrência no mercado e com vista à redução de

custos com a dispensa de medicamentos, de acordo com os vários meios de

comunicação em Portugal, o Ministério da Saúde já está a atribuir às farmácias uma

comparticipação de 35 cêntimos por cada genérico dispensado com preço igual ou

inferior ao quarto preço mais baixo do grupo homogéneo, pelo que são gerados

incentivos para as farmácias dispensarem estes medicamentos.

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73

Assumindo que o preço do genérico mais barato é uma boa aproximação do

custo marginal de produzir o medicamento, podemos calcular o poder de mercado da

marca em cada mercado usando o índice de Lerner, que se apresenta no gráfico

seguinte.

Gráfico 37 - Poder de mercado da marca em cada mercado

Como podemos observar, o poder de mercado do MR varia consideravelmente

entre as SA consideradas. Contrariamente ao que seria esperado, o poder de mercado

da marca é maior nos mercados em que o número de concorrentes é maior. No caso das

SA do Grupo 1, a contestabilidade do mercado parece ser suficiente para limitar o poder

de mercado dos MR.

Ramipril

Quetiapina

Clopidogrel

Atorvastatina

Salbutamol

Paracetamol

Furosemida

0

5

10

15

20

25

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

Gen

éric

os

Índice de Lerner

Grupo 2

Grupo 1

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74

4.4 Determinantes da probabilidade de ocorrer entrada de genéricos

Para analisar os fatores que determinam a probabilidade de uma SA não

protegida por patente ter genéricos comercializados em Portugal, procedemos à

estimação de um modelo Probit. Trata-se de um modelo de regressão utilizado para

analisar variáveis de resposta binária, em que a variável dependente pode assumir

apenas dois valores (0 e 1). No modelo estimado, a variável dependente (probabilidade

de uma SA ter genérico) assume o valor de 0 caso a SA não tenha nenhum MG e 1 caso

tenha pelo menos um MG comercializado.

De salientar que todas as regressões foram estimadas através da utilização do

package estatístico STATA 14, utilizando a opção vce (robust), de modo a obter desvios

de padrão robustos para as estimativas dos parâmetros. Os resultados da estimação do

modelo 1 estão apresentados na tabela 6.

Tabela 6 – Modelo 1: Determinantes da probabilidade da entrada de genéricos no

mercado em Portugal – Variável dependente: dummy = 1 se tem MG

Variáveis MODELO 1

Constante 1.0609 (1.18)

Preçomr - 0.0004 (-0.04)

Idademr - 0.0687* (-2.96)

Milvendas 0.0048** (2.58)

Crónica 0.0789 (0.12)

Wald chi2(3) 16.45 Prob > chi2 0.0025 Pseudo R2 0.4657

N 46 Notas: *1% de significância **5% de significância Os valores entre parênteses são estatísticas z Milvendas = vendasmr/1000

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75

Os resultados da estimação mostram que, a dimensão do mercado, aproximada

pelo número de embalagens vendidas (Milvendas), tem uma relação positiva com a

probabilidade da entrada de pelo menos um MG. Esta variável é estatisticamente

significativa a 5%. Este resultado está de acordo com a literatura, que refere o volume

de vendas como um fator de atração de MG para o mercado.

Como os preços de entrada dos MG têm um preço máximo, definido em termos

de uma percentagem mínima abaixo do preço do MR, esperava-se que nas SA em que o

MR pratica preços mais elevados, o mercado fosse mais atrativo. Ao contrário do

esperado, o coeficiente da variável “preçomr” é negativo. O coeficiente estimado é, no

entanto, não significativo, pelo que não podemos rejeitar a hipótese nula de não haver

qualquer associação entre o preço do MR e a probabilidade de entrada de genéricos no

mercado, depois de controlarmos para outros fatores determinantes desta

probabilidade. Também no estudo de Hudson (2000) a variável preço é estatisticamente

não significativa para os quatro países estudados. No entanto, só encontrou uma relação

negativa para o Japão.

O coeficiente estimado para a variável “idademr” revelou, como esperado, uma

relação negativa com a variável dependente e estatisticamente significativa a 1%. O

resultado sugere que quanto maior o número de anos entre a data de AIM de um MR e

a data de entrada do primeiro genérico, menor é a probabilidade de ocorrer a entrada

de MG no mercado em Portugal.

Como expectável, o coeficiente da variável explicativa “crónica” é positivo,

contudo revelou-se estatisticamente não significativo, pelo que, à semelhança da

variável “preçomr”, não podemos rejeitar a hipótese nula de não haver qualquer

associação entre o facto de um MR tratar doenças crónicas e a probabilidade de entrada

de genéricos no mercado.

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76

4.5 Determinantes do número de genéricos comercializados em Portugal

Com o intuito de se identificar os determinantes do número de genéricos,

retiramos da amostra todas as SA que não têm MG comercializados em Portugal, e

procedemos à estimação do modelo 2. Uma vez que temos como variável dependente

dados de contagem (assumindo apenas valores inteiros não negativos), a estimação foi

feita usando o modelo de Poisson. Os resultados da estimação apresentam-se na tabela

7.

Tabela 7 – Modelo 2: Determinantes do número de genéricos no mercado

Variáveis MODELO 2

Constante 2.3243* (7.23)

Preçomr 0.0228* (4.19)

Idademr - 0.0156 (-1.31)

Milvendas 0.0004*** (1.79)

Crónica - 0.4681*** (-1.66)

Wald chi2(4) 23.15 Prob > chi2 0.0001 Pseudo R2 0.2711

N 34 Notas: *1% de significância ***10% de significância Os valores entre parênteses são estatísticas z Milvendas = vendasmr/1000

Os resultados da estimação do modelo 2 indicam que todas as variáveis

explicativas, à excepção da variável “idademr”, são estatisticamente significativas, e

portanto, têm influência direta sobre o número de genéricos no mercado. O coeficiente

estimado da variável “milvendas (número de embalagens vendidas)” é estatisticamente

significativo a 10%, e os coeficientes estimados das variáveis “preçomr” e “crónica” são

estatisticamente significativos a 1% e 10%, respetivamente.

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77

De acordo com os resultados obtidos, o preço e vendas dos MR têm uma relação

positiva com o número de genéricos no mercado, ou seja, este número tende a ser maior

nos mercados em que os preços e o volume de vendas dos MR sejam maiores. Estes

resultados estão de acordo com o esperado, e estão em conformidade com os trabalhos

de Grabowski e Vernon (1992), Bae (1997), Scott-Morton (2000) e Magazzini et al.

(2004), os quais encontraram evidência de que a um maior volume de vendas, está

associado um maior número de concorrentes genéricos, visto que são mercados mais

atrativos para a sua comercialização.

Em relação à idade do MR, o sinal do coeficiente estimado sugere que a duração

do ciclo de vida do MR afeta negativamente a atratividade do mercado para a entrada

dos genéricos. Porém, esta variável revelou-se estatisticamente não significativa, pelo

que não encontramos evidência de associação entre a idade do MR e o número de

genéricos.

Por último, ao contrário do que seria esperado, a variável “crónica” apresenta

um coeficiente estimado com sinal negativo e estatisticamente significativo, ou seja, o

facto de um MR tratar doenças crónicas não incentiva a entrada de outros produtores

de MG. Este resultado contraria a hipótese de que a sensibilidade dos consumidores de

medicamentos que tratam doenças crónicas ao preço deve ser maior. Este resultado

poderá estar associado ao facto de, em alguns casos de doença crónica, os pacientes (e

os próprios médicos) terem receio de trocar o MR por um genérico, devido à grande

sensibilidade às trocas de medicamento durante o tratamento. Eventualmente, isto

poderá ser mais notório em doenças do foro psicológico ou hipertensão, que são dois

subgrupos terapêuticos fortemente representados na amostra, e pode levar os

consumidores a manifestar uma maior fidelidade à marca. Este comportamento dos

consumidores pode dissuadir outros produtores de genéricos a entrarem no mercado.

De acordo com Bae (1997), os MR que tratam sintomas crónicos atraem mais

genéricos para o mercado, mas tem de haver uma estabilidade na procura. Posto isto,

este resultado não está de acordo com os resultados reportados por Bae (1997) e Scott-

Morton (1999; 2000), o que pode dever-se a diferenças nas SA consideradas na análise

e/ou diferenças entre os mercados português e norte-americano.

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78

4.6 Determinantes da quota de mercado dos medicamentos genéricos

A penetração dos genéricos no mercado é também um aspeto importante da

evolução do mercado dos medicamentos. De modo a estudar os determinantes da

penetração dos MG em termos de QM em volume, o modelo 3 foi estimado por OLS. Os

resultados são apresentados na tabela seguinte.

Tabela 8 – Modelo 3: Determinantes da penetração dos genéricos

Variáveis MODELO 3

Constante 0.7660** (2.36)

Lnvendas - 0.0373 (-1.65)

Número 0.0118* (3.26)

Numapresent - 0.0139** (-2.44)

Difpreço 0.0162* (3.97)

Idadegenérico 0.0279* (3.59)

Crónica - 0.1030 (-1.66)

F(6,27) 31.66 Prob > F 0.0000

R-squared 0.8129 Root MSE 0.12864

N 34 Notas: *1% de significância **5% de significância Os valores entre parênteses são estatísticas t Lnvendas = ln(Vendastotais)

Através dos coeficientes estimados, verificamos que as variáveis explicativas

“número”, “difpreço”, e “idadegenérico”, são estatisticamente significativas a 1% e têm

todas uma relação positiva com a QM dos MG. Estes resultados indicam que para

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79

aumentos em uma unidade dessas variáveis, há um aumento da QM dos genéricos em

volume definido pelos valores dos respetivos coeficientes.

Relativamente à variável “difpreço”, o sinal do coeficiente estimado converge

para a evidência anterior. Grabowski e Vernon (1992), que evidenciaram que a variável

preço é a mais importante na explicação da QM dos MG. De acordo com os seus

resultados, genéricos com preços mais baixos capturam maiores QM, ou seja, quanto

maior a diferença de preços praticados pelos dois diferentes tipos de medicamentos,

espera-se que a QM em volume dos MG seja maior. Em relação à variável

“lnvendastotais”, de acordo com os resultados obtidos não encontramos evidência de

associação com a QM dos MG. Este resultado não está de acordo com resultados

anteriores apresentados na literatura. Por exemplo, Magazzini et al. (2004) encontraram

evidência de que a dimensão do mercado total é um importante determinante da

difusão de genéricos, ou seja, em mercados maiores, os genéricos atingem QM

superiores.

No que diz respeito à variável “numapresent”, o resultado obtido está de acordo

com o esperado. O coeficiente estimado sugere uma relação negativa e estatisticamente

significativa a um nível de significância de 5% com a QM dos MG. Este resultado está em

conformidade com o reportado por Ellison e Ellison (2011), que indicam que quanto

maior a linha de produção dos MR, ou seja, quantas mais formulações e dosagens, mais

difícil e custoso será para os produtores de genéricos replicarem todas as

apresentações, e portanto, torna-se mais limitada a difusão destes medicamentos em

termos de QM em volume no mercado português.

Relativamente à variável “crónica”, à semelhança do que obtivemos no modelo

anterior, o sinal estimado também não é o que seria esperado, embora neste modelo

seja estatisticamente não significativo. A explicação dada no modelo anterior também

pode neste modelo justificar o sinal negativo do coeficiente.

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80

4.7 Conclusões

A análise descritiva realizada a 29 SA que constituem parte da amostra mostrou

que 8 vêm as suas vendas diminuírem mesmo antes dos genéricos entrarem no

mercado, o que vai de encontro ao estudo de Huckfeldt e Knittel (2012) em que os

autores referem que alguns MR chegam a perder, em média, 50% das vendas desde dois

anos antes até dois anos depois da entrada dos concorrentes genéricos. Grabowski e

Vernon (1992) concluem igualmente que há uma perda de cerca de metade das vendas

e grandes quedas de QM após os dois primeiros anos com a presença da concorrência.

Das 29 SA em análise, há vários MR que perderam vendas de quase 50 pontos

percentuais após três anos da entrada dos MG, e alguns chegam mesmo a atingir perdas

próximas dos 80 pontos percentuais. Esses medicamentos eram vendidos a preços entre

os 20 e os 40 euros no ano anterior à entrada dos seus substitutos, e alguns por preços

de venda acima deste intervalo.

Em suma, foram encontradas diferenças assinaláveis entre as SA que constituem

a amostra recolhida para estudo. Mas, no geral, a tendência é traduzida pela perda de

mercado dos MR, salvo algumas exceções, tanto ao nível das vendas em volume como

das QM também em volume. Com base na literatura, esta é a tendência que é esperada

quando os MR deixam de estar protegidos por patentes. Porém, apesar dos impactos

significativos gerados pela entrada de substitutos genéricos na maior parte dos MR,

encontramos também exemplos de SA que, praticando preços inferiores a 5 euros e

pouco acima dos preços praticados pelos seus substitutos, têm conseguido manter as

suas vendas estabilizadas, registando perdas pouco significativas. Nalguns casos, os MR

conseguiram mesmo registar aumentos nas suas vendas desde a entrada dos genéricos

até ao último ano do período em análise, limitando a difusão de genéricos no mercado.

No caso destes medicamentos originais, o fator decisivo para esta evolução parece estar

relacionado com os preços de venda praticados pelos detentores das marcas.

No entanto, o Gabinete de Estudos e Projetos do Infarmed, I.P. (2014) destaca

outros fatores que podem estar na origem de uma fraca penetração dos MG. Esses

fatores, de acordo com estudo referido, podem estar relacionados com os

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81

hábitos/padrões de prescrição de medicamentos, com algum desconhecimento que

ainda existe relativamente à qualidade e eficácia dos genéricos por parte da população,

e ainda pelo número limitado de concorrentes genéricos comercializados e

comparticipados.

No geral, o consumo de MG tem vindo a crescer de forma substancial nos últimos

anos, no entanto parece que os consumidores ainda não confiam totalmente na

qualidade destes medicamentos, visto que apenas os adquirem em quantidades mais

relevantes quando há diferenças significativas entre os preços praticados pela marca e

pelos genéricos.

Essa desconfiança da qualidade dos MG destaca-se ainda mais quando os

consumidores optam por comprar genéricos que praticam um preço de venda acima do

grupo de genéricos mais baratos, o que indica que os consumidores associam a

qualidade do genérico ao preço, apesar de os genéricos serem equivalentes no que diz

respeito às práticas de fabrico e qualidade, visto que todos os medicamentos, tanto

genéricos como marcas, têm de cumprir as mesmas rigorosas regras de produção. A

dispersão de preços dos MG e a circunstância de, em regra, os MG mais vendidos não

serem os mais baratos, sugerem que não há apenas diferenciação do produto entre MR

e MG, mas também entre os próprios genéricos.

A desconfiança em relação a alguns laboratórios e o comportamento das

farmacêuticas ao induzirem os genéricos mais caros também podem estar na origem

deste facto.

Relativamente aos modelos estimados, foram obtidos alguns resultados

interessantes que, em grande medida, corroboram os estudos anteriores.

Destaca-se no primeiro modelo que a dimensão do mercado (que a literatura

considera uma boa aproximação à lucratividade do mesmo) é o principal determinante

da probabilidade de haver genérico(s) comercializado(s) para uma marca já não

protegida por patente em Portugal.

Os resultados obtidos para o modelo 2 evidenciam que o aumento do número

de genéricos no mercado para cada MR, está diretamente associado a altas

receitas/vendas e, neste caso, também a preços elevados dos medicamentos originais,

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82

pois quanto maiores estas duas variáveis, mais o mercado se torna atraente para os

concorrentes genéricos. Verifica-se também a tendência para penetrarem no mercado

em maior número quando o período de tempo entre o ano da expiração da patente e o

ano da entrada do primeiro genérico é mais curto.

Aquando a entrada dos MG no mercado, não são esperadas facilidades, e como

tal, a difusão dos genéricos pode ser influenciada por vários fatores, que podem ou não

impedir estes de alcançarem os níveis de QM desejados.

Com a estimação do modelo 3, conseguimos perceber que a penetração dos

genéricos em termos de QM tende a ser maior quando são comercializados no mercado

um maior grupo destes medicamentos, ou seja, quanto maior o número de genéricos,

maior a facilidade de estes penetrarem no mercado. Também quanto maior a idade dos

MG, mais fácil será para estes obterem QM superiores.

Além disso, uma grande diferença ao nível dos preços praticados entre MR e

respetivos genéricos poderá tornar os consumidores mais sensíveis aos preços, e como

consequência, a sua preferência começa a recair sobre os genéricos.

Por fim, apenas uma variável com relação negativa é estatisticamente

significativa para poder exercer influência sobre o crescimento da QM dos genéricos.

Essa variável diz respeito ao número de apresentações dos MR, em que o aumento deste

número, pode levar os produtores de genéricos a ter dificuldades em igualar toda a linha

de produção do MR e, como tal, poderá dificultar a penetração dos genéricos no

mercado.

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83

Capítulo 5 – CONCLUSÃO

Com base na literatura revista e na análise desenvolvida ao longo do trabalho

podemos concluir que o mercado dos medicamentos é um mercado caracterizado por

uma elevada intensidade concorrencial entre marcas e genéricos. A intensidade da

concorrência pode, no entanto, ser condicionada por vários fatores, como a regulação,

nomeadamente ao nível da formação dos preços de venda, do tempo necessário para o

genérico obter a AIM, as decisões de comparticipação e a prescrição por parte dos

médicos.

Os problemas de agência e a assimetria de informação condicionam as decisões

de consumo. A desconfiança relativamente à qualidade e eficácia terapêutica dos

genéricos e ainda a forte fidelidade à marca tornam os consumidores menos sensíveis

aos preços, permitindo que os produtores dos MR continuem a beneficiar de algum

poder de mercado após enfrentarem a concorrência dos genéricos. Este poder de

mercado é, no entanto, na maior parte dos casos bastante reduzido, uma vez que a

manutenção de QM relevantes está normalmente associada à diminuição significativa

dos preços do MR.

A teoria dos mercados contestáveis diz que a intensidade da concorrência é

determinada não apenas pela concorrência atual, mas também pela ameaça de entrada.

Isto parece verificar-se neste mercado, uma vez que as empresas produtoras de MR

utilizam, em muitos casos, estratégias de preço-limite como forma de impedir a entrada.

A regulação de preços, ao impor a condição de os genéricos entrarem com um preço

que tem de ser pelo menos 50% (25%, no caso de o MR ter um preço inferior a 10 euros)

mais baixo que o preço do respetivo MR, ajuda as empresas incumbentes a impedir a

entrada, baixando o preço para níveis que tornam o mercado desinteressante para a

entrada de concorrentes.

Após a entrada dos MG no mercado, são gerados impactos muito significativos,

geralmente associados a perdas substanciais de vendas e QM em volume dos MR. Mas,

como em todos os tipos de mercados, existem sempre exceções, e como tal o mercado

dos medicamentos não foge à regra. Pela análise descritiva verificamos que entre os MR

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84

que constituem a amostra em estudo, alguns destacam-se por conseguirem contrariar

os impactos que seriam expectáveis depois da entrada dos genéricos no mercado,

conseguindo manter as suas vendas de certa forma estabilizadas, ou até mesmo

aumentá-las. Esses MR têm em comum o baixo PVP praticado no mercado (inferior a 5

euros e próximo dos preços praticados pelos MG), sugerindo que a estratégia de preços

tem uma grande importância e pode condicionar a intensidade e velocidade da

penetração dos genéricos no mercado, a par com outros fatores, tais como os hábitos

de prescrição por parte dos médicos, a falta de incentivos para os profissionais de

farmácia promoverem a compra de genéricos, os escalões de comparticipação, o

número limitado de genéricos que competem com o MR, ou até mesmo a

insensibilidade dos consumidores aos preços e as suas incertezas face à qualidade dos

MG comparadas com os MR.

Porém, a tendência geral para grande parte dos MR dentro da amostra, está

relacionada com grandes reduções no número de embalagens vendidas com o decorrer

dos anos após a expiração das patentes e consequente entrada de genéricos. Estas

perdas, aliadas ao rápido crescimento das vendas dos MG, traduzem-se em perdas

substanciais de QM para os MR. Assim, através da análise descritiva realizada, foram

identificados os resultados que seriam mais expectáveis, onde a grande parte dos MR

sofre impactos muito significativos após a expiração das patentes no mercado dos

medicamentos em Portugal, e que existem apenas poucos MR que conseguem limitar e

contrariar a penetração dos genéricos no mercado.

De acordo com a literatura, a probabilidade da entrada dos genéricos (Hudson,

2000) e o número destes medicamentos (Bae, 1997) e Scott-Morton (1999; 2000), entre

outros autores, ocorre quando o mercado é atrativo e a marca é bem sucedida

comercialmente, o que acontece quando há elevadas margens e volumes de vendas por

parte dos MR e também quando as vendas são direcionadas para o meio hospitalar, e

ainda quando os medicamentos tratam principalmente doenças crónicas.

Os principais resultados obtidos com a estimação dos modelos econométricos

também foram ao encontro da literatura e do que era esperado. Em suma, foi

encontrada evidência de que a dimensão do mercado, aproximada pelas vendas em

volume dos MR, influencia positivamente a probabilidade de haver genérico para um

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85

MR que já não se encontra sob proteção no mercado em Portugal. Também o número

de anos entre a data de AIM do MR e o ano de entrada do primeiro genérico tem

influência sobre esta probabilidade, mas neste caso negativamente, uma vez que

quanto maior esse período de tempo, menor a probabilidade de haver genéricos

comercializados.

Relativamente ao número de genéricos a concorrer no mercado para cada MR,

foi encontrada evidência de que o aumento deste número no mercado português está

relacionado positivamente com um maior número de vendas e um maior preço de venda

praticado pelos MR. Ao contrário do esperado, medicamentos que tratam doenças

crónicas, não revelaram ser mais atrativos para a entrada de MG.

Foi ainda evidenciado através do último modelo, que a penetração dos genéricos

em termos de QM em Portugal é mais significativa quando existe um maior número de

genéricos concorrentes para cada MR, uma maior diferença entre os preços praticados

pelos MR e respetivos genéricos, e também com o aumento do número de anos a que

os genéricos estão a ser comercializados no mercado. Pelo contrário, quanto maior o

número de apresentações produzidas pelo MR, mais limitada tende a ser a penetração

dos genéricos em termos de QM.

Na estimação dos modelos foram encontradas algumas dificuldades que se

traduzem em limitações do trabalho, nomeadamente ao nível das variáveis usadas. Pelo

facto de não ter sido possível obter informação relativa aos preços de venda, tanto dos

MR como dos MG, e também das datas concretas em que ocorreram as perdas de

proteção de patentes, estas variáveis tiveram de ser estimadas em função de outras

variáveis, como explicamos no capítulo 3. No entanto, estas limitações foram

ultrapassadas, e resultaram da estimação dos três modelos resultados interessantes, em

que grande parte ocorreu exatamente como o esperado inicialmente aquando foram

desenvolvidas as questões de investigação para este trabalho.

Para trabalhos futuros nesta área, seria também interessante incluir na amostra

dentro de cada SA, além de todos os MG comercializados, também todos os MR

comercializados, de modo a se poder averiguar se o número de marcas tem influência

sobre a penetração dos genéricos no mercado, e também para se poder analisar a

concorrência existente no mercado entre os próprios MR que também competem entre

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si. A percentagem de comparticipação de cada medicamento, os gastos em publicidade

dirigida diretamente aos médicos, e o tipo de medicamento que são (sólidos, injectáveis,

etc.) podem ser também variáveis interessantes a incluir num futuro estudo sobre o

mercado dos medicamentos. Idealmente, os dados deveriam incluir todas as SA

comercializadas em Portugal.

Apesar das limitações, consideramos que este trabalho dá um contributo

interessante para a discussão deste tema ao produzir evidência relativamente aos

efeitos da entrada de genéricos no mercado do medicamento português.

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