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Fábula, emblema, sermão: aproximações na obra do Padre Francisco Garau
LUÍSA XIMENES SANTOS∗
O tema abordado neste artigo insere-se em uma pesquisa mais ampla e ainda inicial,
em que procuro investigar o uso da cultura emblemática pela Assistência portuguesa da
Companhia de Jesus, bem como o papel dessa Ordem religiosa na difusão, circulação e
produção da emblemática no império português de meados do século XVII a meados do
século XVIII.
Para tanto, busco utilizar uma abordagem de cunho histórico que não entende o
emblema apenas no que concerne à literatura ou como aparato decorativo, mas sim enquanto
elemento constituinte de um discurso didático-moralizante, quando não político.
Originariamente profana, a emblemática posteriormente foi incluída no rol de
instrumentos e armas de persuasão da Igreja Católica, sendo prolífera sua difusão entre os
séculos XVI e XVIII. A Companhia de Jesus exerceu um papel imprescindível como
propagadora dessa cultura emblemática.
Nesta sede, pretendo debruçar-me sobre a primeira parte da obra trilógica de autoria
do jesuíta espanhol Francisco Garau1 (1640-1701): El sabio instruido de la naturaleza en
quarenta maximas politicas y morales2, cuja primeira edição veio à luz em Barcelona, no ano
de 1675.
Não nos deteremos, pelas limitações deste artigo, na segunda e terceira componentes,
El Olimpo del sabio instruido3 e a Tercera Parte del sabio instruido
4. Tampouco trataremos
∗ Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História junto à Universidade Federal de Pernambuco sob orientação da Profª Drª Marília de Azambuja Ribeiro. O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil. 1 Nascido em Gerona, ele ingressou na Companhia de Jesus aos quinze anos. Durante sua vida eclesiástica,
exerceu diversas funções: docente; qualificador do Santo Ofício; examinador sinodal; reitor dos Colégios de Barcelona, Urgell, Palma e Saragoça; pregador e diretor espiritual. 2 El sabio instruido de la naturaleza en quarenta maximas politicas, y morales, illustradas con todo genero de
erudicion sacra, y humana. (Barcelona: Em Casa Cormellas, por Vicente Suria, à custa de Antonio Ferrer, 1675). 3 El Olimpo del sabio instruido de la naturaleza y segunda parte de las maximas politicas, y morales, ilustradas
con todo genero de erudicion sacra y humana. (Barcelona: Antonio e Baltasar Ferrer, 1680). 4 Tercera parte del sabio instruido de la naturaleza con esfuerzos de la verdad… alegados en quarenta y dos
máximas políticas y Morales ilustradas con todo genero de erudición… contra las vanas ideas de la Politica de
Machiavelo. (Barcelona: Imprenta de Cormellas, por Tomás Loriente, 1700).
2
do outro livro de emblemas de autoria de Francisco Garau: El sabio instruido de la gracia, en
maximas, o ideas evangelicas, politicas, y morales5.
Esses livros de emblemática do Padre Garau conheceram grande fortuna. Em relação
ao primeiro deles, El sabio instruido de la naturaleza, temos notícia de publicações em
Barcelona, Madrid, Lisboa e Valência entre os anos de 1675 e 17116.
A escolha por analisar essa obra advém do fato de a mesma, até o presente momento,
constituir um dos poucos livros de emblema de autoria jesuítica encontrados impressos em
Portugal.
Existem versões portuguesas do Pia Desideria7 do jesuíta belga Hermann Hugo
(1588-1629). No entanto, foram feitas por autores não pertencentes à Companhia de Jesus: o
Desejos piedosos de huma alma saudosa do seu divino esposo Jesu, de Joseph Pereira Veloso,
edição lisboeta de 16888 e o Reyno de Babylonia, Ganhado pelas armas do Empyreo
Discurso morale de Leonarda Gil da Gama9, impressa em Lisboa em 174910.
No âmbito da Ordem, foram publicadas traduções para a língua portuguesa de livros
de emblemas de autores jesuítas: a tradução da Practica dos exercicios espirituaes do jesuíta
espanhol Sebastián Izquierdo feita pelo Pe. Manoel de Coimbra publicada em Lisboa em 1687
e a tradução da obra Le grand chemin, do jesuíta francês Julien Hayneuve, feita pelo Pe.
Francisco de Mattos, intitulada Guia para tirar as almas do caminho espaçoso da perdiçaõ e
publicada em Lisboa em 1695.
5 A primeira parte veio à luz em Barcelona: por Joseph Llopis, 1688. A segunda, pelo mesmo impressor, em 1690. As duas partes são publicadas juntas em Olite por Vicente Armendáriz em 1693, sem gravuras. Essas estariam presentes na edição barcelonense em dois volumes publicada por Joseph Llopis em 1703. 6 Em ordem cronológica, conhecemos as seguintes edições: Barcelona: Em Casa Cormellas, por Vicente Suria, à custa de Antonio Ferrer, 1675; Madrid: Antonio Gonzalez de Reyes, à custa de Gabriel de Leon, 1677; Madrid: Gonzalez de Reyes, à custa de Gabriel de Leon, 1679; Lisboa: Theotonio Craesbeeck de Mello, Impressor de sua Magestade, à sua custa impresso, e de Antonio Leyte Pereira mercador de livros, 1687; Valencia: Jaime de Bordazar, à custa de Asensio Duarte (pseudônimo de Francisco Garau), 1690; Barcelona: Antonio Ferrer e Balthazar Ferrer, 1691; Barcelona: Rafael Figuero, à sua custa, 1702; Madrid: Antonio Gonzalez de Reyes, à custa de Joseph Laso, 1709; Barcelona: Juan Pablo Marti, 1711. 7 Pia desideria. Emblematis elegiis et affectibus SS. Patrum illustrata. Antuérpia, 1624. 8 Desejos piedosos de huma alma saudosa do seu divino esposo Jesu Christo: divididos em varios emblemas
para antes da confissaõ, & antes, & depois da sagrada cõmunhão: com humas advertencias... por Joseph
Pereira Velozo; em cada emblema leva hum cantico composto pelo... Padre Fr. Antonio das Chagas. Lisboa: na officina de Miguel Deslandes, 1688. 9 Pseudônimo da Irmã Magdalena da Gloria. 10 Por Pedro Ferreira.
3
Apesar do livro de Sebastián Izquierdo ter sido traduzido do espanhol para o
português, era muito comum a circulação em Portugal de obras em castelhano, devido à vasta
produção de literatura emblemática na Espanha, à vizinhança entre esses dois reinos e ao
bilinguismo característico do Portugal seiscentista.
Assim, não é de estranhar o fato de que a obra do jesuíta Francisco Garau a que nos
propomos aqui investigar, publicada primeiramente em Barcelona em 1675, quando impressa
em Lisboa em 1687 tenha mantido o idioma original em que foi escrita.
Nessa edição lançada por prensas lisboetas, as duas primeiras partes da obra – El sabio
instruido de la naturaleza e El Olimpo del sabio instruido – foram publicadas aglutinadas, no
que não difere de boa parte das demais edições da obra.
Como mencionado, nos deteremos, nesta sede, apenas na primeira das partes. O livro
inicia-se com a costumeira dedicatória laudatória e com as aprovações elogiosas da obra por
qualificadores do Santo Ofício.
Em seguida encontra-se a parte dedicada ao leitor – a introdução e razão da obra –
sobre a qual teceremos comentários mais à frente, e o sumário do livro, no qual constam
quarenta subtítulos – as máximas –, bem como os assuntos que serão abordados em cada um
deles.
A partir de uma ficcion – uma fábula de Esopo – e de sua característica “moral da
história” – a máxima –, o jesuíta espanhol desenvolve um longo comentário. No fim do livro,
após essas quarenta seções, encontra-se um Indice de las materias predicables, disposto em
ordem alfabética.
A edição valenciana de 1690 foi a primeira com ilustrações. Pode-se, nesse caso,
pensar numa adaptação do emblema em estilo tripartido. Cada uma das quarenta partes do
livro são introduzidas por uma imagem (pictura). Nela não se encontra inscrito nenhum mote,
que viria logo após a ficcion, na forma de máxima. O subscriptio seria justamente a ficcion, a
fábula, à qual se segue uma explanação (VISTARINI; SAJÓ, 2007)11. A edição de Barcelona
de 1691, por sua vez, já traria o mote inscrito na imagem.
11
Antonio Bernat Vistarini e Tamás Sajó (VISTARINI; SAJÓ, 2007) afirmam que no início do século XII, ao difundir-se a fábulística na Europa, formou-se um esquema tripartido formado por título, imagem – que
4
Nessa obra é possível discutir-se a fundamental questão da importância da imagem
como elemento definidor da classificação do emblema como tal. Se ele só deve ser assim
considerado se em sua composição houver uma imagem visível ou se o fato de a leitura de um
texto atuar na formação de uma imagem mental faria com que um escrito sem imagens
também fosse caracterizado como um livro de emblemas.
Confrontando a primeira edição ilustrada do El sabio instruido de la naturaleza
(Valencia, 1690) com a primeira edição da obra (Barcelona, 1675) percebemos que não foram
feitas alterações no texto. Mesmo a introdução permanece a mesma, sem a inclusão de
qualquer comentário acerca da novidade das imagens adicionadas que introduzem cada uma
das historietas.
O que nos propomos, nesta sede, a discutir é a relação entre fábula, emblema e sermão
através da análise da parte do livro dedicada ao leitor – Introdvccion, y razon de la obra – e
de uma das quarenta máximas do Pe. Francisco Garau.
Na introdução à obra, o jesuíta nos revela o escopo de seu livro: “observar en las cosas
mas comunes, la sabiduria mas alta” (GARAU, 1675).
Garau buscou atingir esse objetivo através do uso das fábulas de Esopo, obra bastante
difundida na Espanha. O jesuíta justifica sua escolha:
Facil me fuera fundar las maximas em Empresas, pues no ai alguna, que no se
apoie, ù esplique, con muchas; pero mas quise fundarlas en las Ficciones, ia porque
muchas vezes los ombres gustan mas de una Ficcion ermosa, que de una verdad
discurrida: y todos los Filosofos, como dice el principe dellos, son mui amigos de
Apologos; porque se componen siempre de cosas admirables, y exquisitas.
(GARAU, 1675)
Além desse motivo, aponta outros dois: o merecimento desse lustre por Esopo e o
respeito devido “(...) a las nunca dignamente alabadas Empresas de Don Diego Saavedra
Faxardo, y a las del R. P. Andres Mendo (...)” (GARAU, 1675).
Nessa parte inicial da obra o jesuíta exalta a figura de Esopo citando autoridades: “Fve
Isopo venerada admiracion de su siglo, y respetado por Maestro de la Filosofia Moral en toda
representava o clímax do relato – e corpo da fábula. Segundo eles, essa disposição serviu de modelo para a emblemática.
5
edad: A sus elogios dedicaron gustosos sus plumas, con encarecidos encomios muchos de los
ingenios, que venerò por maiores la antiguedad” (GARAU, 1675).
Afora essas referências, Garau faz também alusão a passagens bíblicas e a destacadas
autoridades no mundo eclesiástico. Também não deixa de mencionar, ainda que brevemente,
os trabalhos de emblemática dos autores supracitados. A obra de Andres Mendo12 foi,
inclusive, o primeiro livro de emblema espanhol ilustrado feito por um membro da Ordem
jesuítica.
No texto, a fábula é tida, de acordo com as citações das autoridades, como um deleite
que persuade e, portanto, ensina. Essa ideia de que o deleite e o aprendizado podem ocorrer
simultaneamente é bastante antiga e remonta ao utile dulci horaciano. Característica que não
passou desapercebida pelos padres jesuítas qualificadores do Santo Ofício que concederam a
licença à primeira edição da obra de Garau: Pe. Thomas Muniessa, examinador sinodal no
Bispado de Barcelona e Pe. Theodoro Mauris, catedrático de prima no Colégio da mesma
cidade.
O primeiro deles afirmou que da primeira vez leu o livro por obediência e nas outras
vezes o fez por seu próprio gosto e todas tiveram proveito, “(...) logrando en èl lo que en
todos deseava el Lirico para ser buenos de todo punto: omne tulit punctum qui miscuit utile
dulci. Modo es de Filosofar usado de Padres de la Iglesia, y aun consagrado en divinas
Letras” (GARAU, 1675). Mauris tece comentários elogiosos à obra, na medida em que, “(...)
con fecunda e exquisita Erudicion sagrada, y umana ofree en breve lo mejor de unas, y otras
letras, consiguiendo felizmente el deleitar provechando” (GARAU, 1675). Com essa erudição
convence, instruindo e compondo o juízo, “(...) y en particular el estilo deleita tanto quanto
enseña” (GARAU, 1675).
No século XVI já havia a distinção entre fábula milésia e fábula apóloga. A primeira
teria a função pura e simplesmente de provocar o deleite, enquanto a segunda, além do gozo,
ensinaria. Assim, as fábulas esopianas utilizadas pelo Pe. Garau podem ser classificadas como
apólogas e serviram como ponto de partida para que o mesmo construísse seus discursos, ou
melhor, seus sermões.
12 Príncipe perfecto y ministros aiustados: documentos políticos y Morales em emblemas (Lyon, 1642).
6
Podemos vislumbrar como Francisco Garau participa dessa tendência a partir das
referências a textos de Aulio Gelio, de Máximo Planudes e de Justo Lipsio elencadas por ele,
em que se atesta o deleite provocado pelas fábulas moralizantes de Esopo. Embora isso seja
feito por contraposição com a severidade dos escritos de outros filósofos, ao longo de sua
obra não faltarão referências a essas autoridades13.
O primeiro deles teria dito que Esopo foi venerado com razão pelos antigos “(...) pues
reconociendo la dificultad de los ombres, en dexarse persuadir a lo onesto, supo (...) azer
gustosa su enseñança (...)” (GARAU, 1675). Soube, ainda “(…) azucarar tan dulcemente los
suios, con la suavidad de sus Ficciones, que no dexa menos saboreado el ingenio, que
enamorada de la sabiduria, la voluntad” (GARAU, 1675).
Planudes é citado logo após Gelio e ratifica a diferença das fábulas de Esopo em
relação aos demais:
(...) adelantóse (...) a quantos an enseñado el bien vivir a los ombres Isopo; porque
no con definiciones, ni argumentos, ni con istorias de sucessos passados, sino con
Ficciones sabrosas, assi coge los animos que le escuchan, que les dexa corridos, ù
de no azer quien usa de razon lo que los brutos azen, ù de azer lo que los brutos no
izieran. (GARAU, 1675)
Justo Lipsio, por sua vez, é aludido com o intuito de afirmar que além do deleite
proporcionado pela fábula, ela contém em si lições encobertas que transpõem o mundo
fabulístico e alcançam o mundo real, a verdade:
Como baxo la verde ojarasca de los pampanos, se esconden los dorados razimos;
assi dice Iusto Lipsio, entre los vanos juguetes de las Fabulas, y desaliñados ramos
de las Ficciones, se dexan gozar sazonados los frutos de la verdad. Baxo lo tosco de
la corteza, se encierra la dulçura de la almendra; y lo bruto de la colmena, encubre
lo gustoso del panal. (GARAU, 1675)
Mais à frente, o jesuíta espanhol nos remete ao grande Agustino para reafirmar essa
ideia de uma verdade passível de ser apreendida nas entrelinhas, se lidas com o devido
cuidado já que esses sentidos mais profundos não se revelam de imediato:
Ni avrà alguno, dice el grande Agustino, de erudicion tan limitada, que juzgue, que
las Fabulas de Isopo aian de llamarse mentiras; y la razon es, porque no se à de
13 Antonio Bernat Vistarini (VISTARINI, 2000: 65) aponta uma maior reflexão religiosa e um maior uso de fontes sagradas na segunda componente da obra, El Olimpo del sabio instruido. Nela, o próprio Garau afirma que as palavras deixam de deleitar e são mais proveitosas, havendo, nessa segunda parte, mais substância e menos entretenimento no discurso.
7
tomar en ellas el immediato sentido de las palabras; sino el que mediante las cosas
significan: entendiendo el Leon, al Poderoso; en el Pavon, al Vano; en el Lobo al
Voraz: y en la Raposa, al Astuto; y assi de otros. (GARAU, 1675)
Garau nos chama ainda a atenção para a clareza da fabulística esopiana no que tange
ao ensinamento de valores morais, ainda contrapondo a eficiência do método esopiano em
relação a escritos de autoridades antigas. Afirma, então, que os ensinamentos advindos da
fábula, a seu entender, têm vantagens em relação às definições de Aristóteles e às de Platão,
aos hieroglíficos dos egípcios, aos símbolos pitagóricos, bem como às perguntas socráticas.
Argumenta, então, que a fábula de Esopo “a todos aprovecha”. Diferentemente dos escritos
dos demais filósofos, muitos de difícil compreensão. Esopo, por sua vez, “convence siempre”
(GARAU, 1675).
Como é sabido, desde Aristóteles pensou-se na fábula enquanto meio para obter a
persuasão (VISTARINI; SAJÓ, 2007). O ensino relacionado ao deleite é, então, referente à
transmissão de preceitos morais, sendo a persuasão elemento necessário para captar a
obediência a esses valores:
Salen los otros quando mucho con la vitoria del ingenio; Isopo entra con ella,
aziendo evidencia de la importancia del bien, que persuade: y como con esto se
añade lo deleitable del precepto, y lo gustoso del arte, sale facilmente con el
rendimiento de la voluntad. Pues cerca está de obedecer, quien del precepto se
gusta. (GARAU, 1675)
Para que percebamos mais nitidamente essa relação entre fábula, emblema e sermão
discorreremos – brevemente e sem nenhuma pretensão de esgotar seu conteúdo – acerca da
ficcion de número XVI, cuja máxima é Para enemigo, un mosquito es malo. Os emblemas das
edições de 1690 e de 1691 apresentam diferentes momentos da fábula, como pode ser visto
nas figuras abaixo:
8
Figura 1. Francisco Garau. El sabio instruido de la naturaleza (Valencia: Jayme de Bordazar, 1690, p.
159)
Figura 2. Francisco Garau. El sabio instruido de la naturaleza (Barcelona: Antonio Ferrer e Balthazar
Ferrer, 1691, p. 152)
O mote inscrito na imagem da edição de 1691 é VT NO CEAT SAT QVIS QVE
POTENS, ou seja, qualquer um tem poder para causar dano.
Essa mesma fábula esopiana já havia sido narrada pelo italiano Andrea Alciato, tido
como o primeiro autor de livro de emblemas14. Assim, seu emblema LIV traz o lema A
minimis quoque timendum – Deve-se temer também os mais débeis. Além de apresentar
algumas variações em relação à narrativa da fábula esopiana, e, consequentemente, da
presente no livro de Francisco Garau, na obra desse leigo não se tece um comentário ao
emblema.
14 Emblematum Liber. (Augsburgo: Steyner, 1531).
9
Da fábula narrada n’El sabio instruido de la naturaleza participam três personagens: a
Águia, a Lebre e um mosquito – especificamente um escaravelho na original de Esopo. A
Lebre, presa entre as garras da ave de rapina, suplica ao asqueroso e diminuto mosquito que a
ajude. Sentindo-se envaidecido, o vil inseto fará de tudo para salvar sua, a partir de então,
protegida. A Águia, nutrindo notável desprezo pelo pequeno animal e ignorando seus apelos,
não hesita em devorar a Lebre e mostra o bico ensanguentado ao acanhado protetor de sua
presa. A partir de então, o escaravelho, indignado, não descansará até vingar-se da ofensa.
Nem mesmo a visita da Águia feita à Júpiter impediu que fossem destruídos o ninho da ave e,
consequentemente, os ovos que ali estavam.
Examinemos, por ora, certas aparições em outros livros de emblemas dos dois
personagens principais dessa fábula, a Águia e o Escaravelho. Compreendemos o terceiro
elemento, a Lebre, apenas como coadjuvante na narrativa da história, inclusive estando
ausente na narrativa de Alciato.
A presença da águia na emblemática é, particularmente, bastante profusa,
representando poder, força e prestígio. Entre as qualidades destacadas está a capacidade desse
animal de olhar diretamente para o sol, o que será bastante explorado pela emblemática sacra,
na qual muitas vezes o sol representa a divindade.
Na obra de Juan Rojas y Ausa a ave é associada às figuras de Maria Madalena e São
Paulo. No mesmo emblema, encontramos insetos, aqui representando, ao lado de outros
animais, os desejos mundanos, atrapalhando assim a águia, que voa rasteira ao invés de alçar
voo alto a fim de atender ao chamado do sol, ou melhor, de Deus15.
Em livro posterior à obra de Garau, a do também jesuíta Francisco Nuñez de Cepeda,
a águia simboliza o Bispo em dois emblemas. Assim como a ave cuida para que serpentes não
invadam os ninhos e matem seus filhotes, deve o prelado pastorear suas ovelhas, atentando
para as necessidades dos fiéis. São bem claras, aqui, a reafirmação da importância dada às
visitas pastorais, ministério de grande importância para a Companhia de Jesus, e a crítica à
15 Representaciones de la Verdad Vestida, Misticas, Morales y Alegóricas, sobre las Siete Moradas de Santa
Teresa de Iesus, Gloria del Carmelo, y Maestra de la Primitiva Observancia. (...) Ilustradas con Versos Sacros,
varios Geroglíficos, Emblemas y Empresas, estampadas para mayor inteligencia de la Doctrina de la Serafica
Doctora. (Madrid, 1677). Na edição de 1679: Emblema 3. Mote: REGNUM DEI INTRA VOS EST.
10
ocupação de cargos seculares por eclesiásticos16. A Igreja deve abolir o vício. O Bispo deve
fazer uso da clemência e da misericórdia quando os vícios atingirem a população17.
Nessa literatura, a majestosa ave jupiteriana também simbolizou diversos reis da Casa
de Habsburgo. No livro das honras feitas pelo Colégio da Companhia de Jesus de Madri à sua
fundadora em ocasião de sua morte, a ave, bicéfala e coroada tal qual o símbolo do Sacro
Império Romano-Germânico, representava a própria Imperatriz D. Maria de Áustria18. Outros
exemplos encontram-se no livro de Don Sebastián de Covarrubias – na qual fez as vezes de
Filipe II de Espanha19 – e no de Diego López, representando Carlos V20.
Na obra de Pedro Rodríguez de Monforte o renovo da plumagem da águia é usado
para aludir à morte de Felipe IV de Espanha, enquanto o filhote da ave remete ao herdeiro do
trono, Carlos II21.
Citado por Garau na introdução, Don Diego de Saavedra Fajardo, em seu Empresas
políticas o Idea de um príncipe christiano também associa a ave a um príncipe, aconselhando-
o a perdoar os pequenos, devendo com a justiça fazer-se respeitar e com a clemência garantir
o amor de seu povo22.
16 Idea de el Buen Pastor copiada por los SS. Doctores representada en Empresas Sacras con Avisos
Espirituales, Morales, Políticos, y Económicos para el Govierno de un Príncipe Ecclesiástico... (Lyon: à custa de Anisson e Possuel, 1682). Emblema 27. Mote: NIDI CIRCUMVOLAT ORBEM. 17 Idem. Emblema 37. Mote: SPICULA DIFFERT. 18 Libro de las honras que hizo el Colegio de la Compañia de IESUS de Madrid, à la M. C. de la Emperatriz
doña Maria de Austria, fundadora del dicho Colegio, que se celebraron a 21. de Abril de 1603... (Madrid: Luis Sánchez, 1603). 19 Emblemas morales... (Madrid: Luis Sánchez, 1610). Livro 1, emblema 44. Mote: UT LAPSU GRAVIORE
RUAT. 20 Declaración magistral sobre las emblemas de Andrés Alciato con todas las Historias, Antigüedades,
Moralidad, y Doctrina tocante a las buenas costumbres... (Nájera: Juan de Mongastón, à custa de Diego López, 1615). Emblema 33. Mote: SIGNA FORTIUM. 21 Descripcion de las honras que se hicieron a la Catholica Magd. de D. Phelippe quarto Rey de las Españas y
del nuevo Mundo en el Real Convento de la Encarnacíon... (Madrid: Francisco Nieto, 1666). Emblema 14. Mote: RENOVABITUR UT AQUILA. Após a morte precoce de Baltasar Carlos, o herdeiro do trono, o rei contraiu um segundo matrimônio. Carlos II, então, era o único filho legítimo varão de Felipe IV vivo na ocasião da morte do pai. Assim, com apenas quatro anos de idade, impediu uma disputa sucessória, que ocorreria, no entanto, logo após sua morte. 22 Empresas políticas o Idea de um príncipe christiano representada en cien Empresas. (Munique, 1640). Na edição de Milão, 1642: Emblema 22. Mote: PRAESIDIA MAIESTATIS. Livro destinado à educação do príncipe Baltasar Carlos.
11
Na obra de Juan Francisco de Villava, por sua vez, a águia simboliza o próprio Deus23.
Passemos agora ao Escaravelho. Encontramos dois emblemas nos quais atua de
maneira diversa. No Emblemas Morales de Sebastián de Covarrubias, o inseto aparece na
discussão em torno do Sacramento da Eucaristia que, comparada com a rosa, é benção para o
fabrico do mel pelas abelhas – os homens virtuosos – e condenação aos escaravelhos – os
pecadores – já que os mata pelo odor exalado24.
Outra aparição do escaravelho em emblema ocorre no Empresas Morales de Juan de
Borja. Nela o inseto emerge como símbolo do mais valente dos homens, justamente por ter
um dia enfrentado Júpiter25.
A visão do pequeno animal como estrategista presente na fábula discutida neste artigo
é bastante antiga. Plutarco e Eliano nos dois primeiros séculos da era cristã informavam que
os militares egípcios costumavam usar um anel com a figura do escaravelho. Uma
especificidade desse inseto é justamente sua condição de macho unigênito, como bem
destacou Horapolo, em seu Hieroglyphica, no século IV. Da mesma forma, aqueles que
combatiam em defesa da pátria eram másculos.
Dois importantes humanistas retomaram essa questão. Para Pierio Valeriano, o
escaravelho era o símbolo do guerreiro valente e valoroso. Erasmo de Roterdã, por sua vez,
usando a fábula da Águia e do Escaravelho, desenvolveu uma severa crítica antimonárquica.
Para ele, a ave, rainha dos ares e símbolo imperial, que humilhava os humildes e não os
tratava com respeito representava o tirano, que dessa mesma forma administrava o Estado. A
justiça seria feita pelo povo, afirmava Erasmo, que saberia punir seu opressor.
O comentário desenvolvido por Francisco Garau a partir da fábula da Águia e do
inseto, como veremos, trilhará um caminho diferente do escolhido pelo humanista neerlandês.
Ela é composta por alguns assuntos, assim denominados pelo autor, que dividem o texto em
sete tópicos.
23 Empresas espirituales y morales... (Baeza: Fernando Díaz de Montoya, 1613). Livro 1, Emblema 11. Mote: SIC DEFFENSSO MEOS. 24 Emblemas morales... Livro 1, Emblema 3. Mote: DISPAR EXITUS. 25 Empresas Morales... (Praga: Por Iorge Nigrin, 1581). Na edição de 1680 (Bruselas: editada por Francisco de Borja e impressa por Francisco Foppens), dedicada ao rei Carlos II: Emblema 167. Mote: STRENUUS
BELLATOR.
12
O primeiro deles é No ai fiar en la fortuna. Começando, assim, pela tópica da roda da
fortuna, o jesuíta nos fornece alguns exemplos da ocorrência de mudanças repentinas. É o
caso de Andronico: “Oi es Andronico, el desprecio del pueblo, que aier mandava. Aquellas
manos, que poco antes rigiendo un Baston, parecia que lo querian azer cetro; rigen un palo,
que les sirve de guia para pidir un pedaço de pan, para Belisario, su dueño” (GARAU, 1675:
136); bem como o do próprio Cristo, já que "Aquella misma Ciudad que recibiò al Redentor
de la vida con aplausos de triunfo le acompañò en breve cargado de una Cruz al Calvario: y
aquella misma boca de Pilatos, que le diò por innocente, en pocas oras blasfema, le diò por
reo de muerte” (GARAU, 1675: 136). Garau lembra também que “Redonda es la corona;
redondo el cetro; y quanto està mas sublime, tanto es mas seguro el peligro, y el daño de caer”
(GARAU, 1675: 137).
Ainda tratando da fortuna, no segundo assunto – Ni ai grandeza, que no tenga que
temer – Garau afirma que até mesmo para a Águia, amiga e parente dos raios solares, não é
bom que tenha inimizade nem com os mais vis insetos. Utiliza-se de historietas em que o
menor ajuda o maior, como a da Formiga que roi os ramos em que a Pomba está presa,
impedida de voar, salvando-a. Para ele “Nada ai tan grande, que no pueda temer lo pequeño; y
nada ai tan pequeño que no pueda valer a lo grande” (GARAU, 1675: 137). Outras partes
mostram ocasiões semelhantes à da Águia e do escaravelho, em que o pequeno sobressai ao
grande. É necessário, como ensina a Fortuna, proteger-se das multidões, mesmo que ela seja
formada por humildes. Assim, conclui o jesuíta, “Aunque eres tan grande, non te arrojes a
despreciar lo pequeño” (GARAU, 1675: 138).
Utilizando metáforas e fábulas, o Pe. Garau continua, no terceiro ponto, Aun del mas
despreciable, a reforçar que, como disse o Cita a Alexandro, “(...) nada estan fuerte, que no
pueda deverle temores al mas flaco. Cordura es, advertia Publio Siro, temer al enemigo,
aunque vil. Mas cordura será no querer enemigo a ninguno, y azer amigo del que lo es”
(GARAU, 1675: 139).
A partir do quarto tópico, Que el que oi es el mas dichoso, mañana puede ser el mas
infeliz, a glosa tem caráter político ainda mais explícito. Novamente fazendo referência à
questão primordial da roda da fortuna, o autor elenca histórias, como a retirada de Plutarco,
13
referente ao Rei Cresso e a Ciro. Outra história interessante narrada é a de Soldan, um
príncipe que foi cativo de Luis Segundo em Capua. A única ocasião em que Soldan, sempre
sério, sorriu foi ao observar as rodas de uma carroça, ao dar-se conta de que os sucessos dos
homens oscilavam tal como em uma roda, ora em cima, ora embaixo.
Conta-nos, também, a trajetória de Marco, que no sexto Consulado mendigava em
Cartago e no seguinte consagrou-se Imperador. No final deste quarto tópico Garau anuncia:
“Sirva el poder para comprar amigos, para el tempo de la necessidad a precio de beneficios, q
esse es el maior bien, y la maior seguridad de un Imperio” (GARAU, 1675: 141).
Quanto mayor fores, tanto necessitas de mas é o título do quinto assunto. Garau
retoma o primeiro tópico ao afirmar que não se deve confiar na Fortuna. Diz ter a providência
divina atado todas as coisas para mantê-las unidas, cada uma dependendo das outras numa
espécie de corrente. Nesse momento, o autor jesuíta chega ao ápice de seu discurso político:
Ninguno necessita de mas cosas, que el que quiere entronizarse sobre mas. La
palma, que mas se encumbra, se obliga a deverle mas socorros al terreno. Estàs
gloriosamente elevado sobre muchos? agradecelo a los que sobre sus espaldas te
sustentan. Eres cabeça? estimales a los pies, que te levantan. Eres definicion, y
corona del edificio? reconoce tus lucimientos, a la deslucida umildad del cimiento.
Claro està, que es mas vistoso, mas poderoso, mas fuerte, que un junco, un roble;
pero todo aquello que le lleva mas de poder, tiene mas de nenessidad. (GARAU, 1675: 141)
Explicita, assim, a ideia da corporeidade do Estado. O rei representando a cabeça; o
povo, os seus pés. Chama a atenção o fato de Garau evidenciar a força do povo. No entanto,
diferentemente do panfleto antimonárquico erasmiano, o faz para aconselhar os poderosos,
mostrando-lhes como proceder para que a população não se rebele contra eles.
Percebemos, então, como sugerido pelo jesuíta na introdução ao leitor, a verdade
escondida na fábula e, consequentemente, sua transposição para o mundo real. Como a Águia,
rainha dos ares, não deve desprezar o escaravelho, ou seja, como o grande não deve desprezar
o pequeno, assim o rei não deve desprezar o povo. Assim como o vil inseto, indignado pelo
fato de a majestosa ave ter devorado a lebre, vingou-se destruindo-lhe o ninho e os ovos,
assim o povo, perante a tirania de um monarca, pode revoltar-se contra ele. Como alertado no
segundo ponto da glosa, é necessário proteger-se da multidão, mesmo quando formada por
humildes.
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Retoma esse segundo assunto também na sexta parte da glosa, El mas umilde necesita
menos. Tal qual a fábula da Formiga e da Pomba narrada naquele ponto, Garau conta a fábula
do Leão e do rato. Tendo o Rei dos montes uma vez perdoado o pequeno animal, este pode
retribuir-lhe o favor, salvando o Leão ao roer a corda da armadilha em que se encontrava.
Conclui o jesuíta, então, que “Por esso dizen comunmente que quien tiene mas que perder,
deve tambien temer mas de aquel que tiene, que perder menos” (GARAU, 1675: 142).
Pero, por grande que seas, estàs obligado a socorrer al menor. Esse é o tema da
sétima e última parte da glosa. A partir da pergunta se, na imaginação do leitor, ele se forja
Deus ou ser humano, Francisco Garau faz um paralelo entre a conduta de Deus e aquela que
deveria ser a do homem, através do recurso às autoridades – entre elas Ovídio, Plínio e
Sêneca.
Não se trata, porém, de qualquer homem. Garau escreve esses conselhos para “(...)el
Dios de la tierra, um ombre, bienechor de los ombres (...)” (GARAU, 1675: 143). O caminho
da imortalidade da fama seria traçado pelo reconhecer-se homem e pelo agradecimento aos
miseráveis.
O “Deus da terra” deve comprar o amor com clemência e humanidade. Percebemos
claramente, aqui, a influência da obra de Saaverda Fajardo, conforme visto anteriormente.
Esse homem poderoso deve ainda comprar sua segurança pela virtude e não apenas pela força
de seu poder ou contando com a paciência e fraqueza alheias. Se se considera Deus, deve
amparar os miseráveis que, favorecidos pela sua magnanimidade, lhe darão seus corações.
Garau dá um último, porém não menos importante conselho: “(...) acordandote, que ablará sin
lisonja de tu nombre, sigun tus meritos la posteridad, ù para el aplauso, ù para la
abominacion” (GARAU, 1675: 143).
Pudemos vislumbrar, ainda que brevemente, como o jesuíta Francisco Garau, através
do uso da fábula esopiana e do deleite por ela proporcionado, conseguiu transpor a moral e a
verdade contidas na historieta para o mundo real. A fabulística que “a todos aproveita”, no
entanto, foi, na ficcion de número XVI d’El sabio instruido de la naturaleza, utilizada muito
claramente para aconselhar os poderosos. O padre teceu, em seu livro de emblemas, um
discurso didático-moralizante e, sobretudo, de cunho marcadamente político.
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