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Conflitos e indisciplina na Força Policial em São Paulo

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  • Militarismo, con itos e indisciplina nas prticas policiais em So Paulo, Primeira Repblica

    Militarism, con icts and indiscipline in police practices in the State of So Paulo during the First Brazilian Republic

    Lus Antnio Francisco de [email protected]

    1 Professor Adjunto do Departa-mento de Sociologia e Antropologia da Universidade Estadual Paulista, Campus de Marlia.

    Histria Unisinos16(3):346-356, Setembro/Dezembro 2012 2012 by Unisinos doi: 10.4013/htu.2012.163.07

    Resumo. No presente artigo, procuro indicar os dilemas presentes no processo de mi-litarizao e tentativa de controle da disciplina policial, nos primrdios da Repblica em So Paulo. A experincia de adoo do modelo militarizado, iniciada pela Misso Fran-cesa de 1906, parece no ter sido suficiente para acomodar os problemas de indisciplina dos policiais. A disciplina militar cria seus prprios problemas, como o corporativismo e a hierarquia rgida. Mas no capaz de dar conta de outras dinmicas que interferem nas prticas policiais. As fontes documentais do Arquivo do Estado de So Paulo nos do vislumbres das violncias, arranjos pessoais, conflitos institucionais e interferncias polticas no exerccio cotidiano de polcia no Estado de So Paulo.

    Palavras-chave: polcia, histria da polcia, militarismo, indisciplina, So Paulo, Pri-meira Repblica.

    Abstract. Th is article examines the challenges involved in the process of police militarization and implementation of police discipline in the State of So Paulo during the First Brazilian Republic (1889 to 1930). Th e implementation of a militarized police model, initiated by the 1906 French Military Mission, was not fully able to deal with indiscipline issues among policemen. Beyond creating problems of its own, such as fostering a corporatist culture and strengthening rigid hierarchies, military discipline prevented police forces to address new issues that would aff ect its practices. Documents in the So Paulo State Public Archive provides a window to the daily violence, the personal compromises, the institutional confl icts and the political meddling that was part of police life in the State of So Paulo at the turn of the century.

    Key words: police, police history, militarism, indiscipline, So Paulo, First Brazilian Republic.

    Introduo

    [...] impressionavam a todos, principalmente aos estrangeiros, a segurana e a perfeita maestria com que eram executadas as mais melindrosas e rpidas medidas policiais, o que denotava um treino e uma disciplina pouco comuns em nosso continente. Graas a essa organizao e a esse mtodo, a polcia paulista considerada, por autoridades competentes no Brasil e fora do Brasil, absolu-tamente modelar (Fonseca, 1920, p.32).

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    Nos primrdios da Repblica, os soldados da For-a Pblica no tinham treinamento regular e a disciplina era parcamente cumprida. O governo, recm-constitudo, procurou criar cursos e escolas para aprimorar a forma-o do policial comum e dos ofi ciais. A contratao dos servios do Exrcito francs para ministrar a disciplina e a organizao militares cumpriu uma primeira etapa desse trabalho. Os efeitos desse treinamento militar em termos de um aumento do controle do arbtrio policial, no cotidiano, no foram imediatamente visveis, a des-peito da crnica louvaminheira. O governo do Estado de So Paulo, sempre que possvel, externava gratido pblica aos servios prestados pelos ofi ciais franceses milcia. A criao do Corpo-Escola da Fora Pblica per-mitiu a elaborao de um ousado programa de instruo, abrangendo a disciplina militar e formao intelectual. As escolas de soldado e de superiores pretendiam mi-nistrar instruo elementar, disciplina, esprito de corpo, esgrima, ginstica e jiu-jtsu. A Misso Francesa tambm implicou a mudana do fardamento e da organizao das companhias, assim como deu incio ao processo de substituio das espadas pelo fuzil mauser. O militarismo acabou por se converter numa verdadeira ideologia da Fora Pblica, ao menos em seus crculos superiores (Fonseca, 1920; Amaral, 1968). Parte importante dos efeitos desta discusso pode ser apanhada na bibliografi a especializada sobre polcia, em especial na Primeira Re-pblica (Souza, 2009, 2010; Bretas, 1997). A discusso mais especfi ca sobre a militarizao da fora policial de So Paulo e sobre seus limites e desdobramentos est bem referenciada tambm na bibliografi a. Em especial seu papel na conformao da estrutura administrativa e poltica do Estado de So Paulo e as vicissitudes dos soldados engajados diante das exigncias da corporao (Rosemberg, 2010; Fernandes, 1974). Evidentemente, a militarizao e a presena da Misso em So Paulo esto ligadas aos clculos polticos dos republicanos em torno da postulao da autonomia dos Estados (Dallari, 1977). A questo da constituio da polcia e seu enfrentamento em relao ao crime e criminalidade tambm parte integrante do debate e ainda carece de mais pesquisa no campo (Fausto, 2001). No presente artigo, trata-se de contribuir para este debate, ressaltando os diferentes aspectos do problema, numa perspectiva histrica, a partir da constatao da bibliografi a internacional da universalidade do militarismo na formao das organi-zaes policiais, a partir do modelo ingls (Monkkonen, 1981; Holloway, 1997).

    Disciplina, prtica ou ideologia?

    O comando da Fora Pblica, desde o princpio, estimulava os atos de bravura e de disciplina de seus subordinados. Dizia o Comando Geral, num ofcio de 16 de junho de 1914, dirigido ao Secretrio da Justia e Segurana Pblica:

    O soldado Delphino Leite de Araujo, do quinto bata-lho e destacado em Jacare, efetuou ali, com corajosa ousadia, a priso de um perigoso criminoso de nome Benedicto Seraphim (vulgo Benedicto Constantino) que no ato da priso disparou contra Delphino dois tiros de garrucha, que no o atingiram, conforme tudo se verifi ca da inclusa cpia que com este vos transmito. Atendendo ao desprendimento com que se houve o sol-dado Delphino, em to arriscada empresa, solicito-vos autorizao para mandar elogi-lo em ordem do dia, se assim julgardes acertado.2

    Soldados da Fora tambm praticavam atos de carter assistencial que mereciam elogios superiores, como os casos de salvaes contra queda acidental em rios:

    O comandante do segundo batalho em ofcio n. 1564 de 03 de julho de 1914, comunica-me que no dia primeiro do corrente, s 8 e 30 horas, o soldado Benedicto Affonso Mendes, da terceira companhia daquele batalho, que, entre outras praas, fazia exerccio no campo do Canind, salvou o menor Abilio Jos, de 3 anos de idade, o qual, conduzi-do pela inconscincia da prpria idade, caiu no canal do rio Tamanduate. Como de ordinrio sucede em ocasies tais, aglomerou-se muita gente curiosa no local, sem que entretanto desse um passo sequer para a salvao do menor, que pereceria fatalmente, se no fosse a pronta interveno do soldado em questo. O menor Jos habita com seus pais Accacio Alfredo e Dermiria da Conceio, avenida Cantareira n. 73. vista do seu procedi-mento, solicito-vos autorizao para o elogiar em ordem do dia.

    O bom desempenho militar signifi cava a valoriza-o da suspeio do cometimento de um crime, conforme o ofcio do Comandante Geral da Fora Pblica, de 30 de maio de 1914, enviado ao Secretrio da Segurana, Eloi Chaves:

    2 Os documentos citados no presente artigo so provenientes do Acervo do Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, latas de Polcia e de Processos Policiais (1890-1930), e so, em geral, peties, ofcios, relatrios de sindicncia, pronturios de soldados, fs de ofcio, relatrios policiais, portarias, telegramas, peas de inqurito, correspondn-cias policiais e recortes de jornais da poca. Optou-se aqui, para economia de espao, pela referncia genrica ao acervo e no s fontes espec cas.

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    O soldado Innocencio Brizolino, do terceiro batalho, onde exerce as funes de carroceiro, sendo chamado por um indivduo desconhecido, na madrugada de 26 do corrente, para conduzir alguns objetos, havendo suspeitado do mesmo indivduo, aceitou a proposta e, ao passar pelo posto policial de So Caetano, prendeu o desconhecido entregando-o a autoridade policial, bem como os citados objetos, que verifi cou-se ento serem roubados do armazm nmero 67 da rua Paula Souza, pertencente fi rma Luiz Colombo & Companhia, constando de diversos sacos vazios e dois com arroz e feijo, conforme tudo consta da comunicao, em ofcio n. 174, de 27 do corrente, do Sr. Dr. Primeiro Delegado de Polcia desta Capital ao comandante do Terceiro batalho. Pelo exposto julgo merecedor de ateno o procedimento do soldado Innocencio, e solicito-vos autorizao para o elogiar em ordem do dia.

    As correspondncias policiais desvelam inmeras ilegalidades cometidas pela polcia. Um preso na cadeia pblica de Araraquara fazia a seguinte denncia, em 8 de maro de 1907:

    O abaixo assinado preso condenado, recolhido cadeia de Araraquara vem perante V. Sa. pedir para que seja restituda a quantia de 270 mil reis que lhe tomara emprestado o senhor tenente Carneiro que esteve comandando o destacamento desta cidade. Certo de que V. Sa. h de tomar providencia, subscreve-se de V. Sa. Respeitosamente, Antonio Falaccis. Lhe peo por esmola de no deixar perder este dinheiro, porque s sou um coitado preso sentenciado, e carregado de famlia. Ele me iludiu muito para tirar este dinheiro dizendo que me pagava a 5 por 100 de prmio at no dia 6 de julho at hoje no vi nem prmio e nem o dinheiro que lhe emprestei.

    As anotaes do pronturio do tenente Carneiro, por exemplo, mostram que ele esteve envolvido em mui-tas encrencas, numa vida funcional que oscilava entre a bravura e a delinquncia. Em uma ocasio, o tenente foi condenado por violncias e indisciplina, aps uma sindicncia militar que gerou um processo-crime de 87 pginas, que mereceria uma anlise parte.

    Numa poca em que nas funes de polcia civil ainda encontramos muitos militares, a correspondncia policial d conta de notcias de perseguies de funcion-rios policiais a banqueiros do bicho, carcereiros exonerados por extorquir dinheiro dos presos, vrios casos de exone-rao de delegados e auxiliares, por falta de confi ana, e, como no ofcio abaixo, datado de 21/05/1914, confl itos entre policiais em que a disciplina policial est em jogo.

    O comandante do destacamento de Santa Cruz do Rio Pardo, Alferes Manoel Paranhos Bello Cardoso, queixa-se que o dr. delegado no s tem exigido dinheiros para dar atestado de comportamento para os voluntrios que se destinem Fora Pblica, como tem infringido ordens da Secretaria na concesso de passagens aos referidos voluntrios. Da sindicncia procedida se verifi ca a ve-racidade da queixa, cobrando o delegado 5$ a 10$000 por cada atestado. Em outro ofcio o referido coman-dante comunica que no tem podido atender ordens ilegais da referida autoridade quanto a servios e sobre espancamento de presos. Tendo colhido informaes de pessoas fi dedignas posso asseverar que so verdicas tais queixas e que muitas outras h contra o procedimento da referida autoridade. Assim que tendo, no Municpio, uma fazenda, abandona a cidade para cuidar de seus interesses particulares e, o que [] mais grave, tem a seu servio como criado um sentenciado que retirou da cadeia onde se achava cumprindo pena.

    Os policiais cometem crimes e outras formas de ilegalidades. Ser que esta uma preocupao que est na base da adoo da disciplina militar? Vejamos o que se evidencia em uma carta annima de Itarar, enviada ao Secretrio da Justia e Segurana Pblica, em 17 de novembro de 1913:

    Tomo a liberdade de levar ao seu conhecimento que esta tem um capito reformado como delegado de polcia fazendo os maiores despotismos. Um destes dias um fi lho de um tal Joo Cananeia deu uma facada em um sujeito ele mandou prender a Joao Cananeia e mandou dar uma dzia de bolos com palmatria s por que ele no quis votar. Aqui apareceu um passador de notas falsas e ele o prendeu as notas e pois pedra em cima. Uma nota de 200$000 ris foi passada em o Luiz Franca do Prado aqui domiciliado e farmacutico e 2 do valor de 50$000. Passado uma em Joo Lobo Sobrinho, outra em Dna. Amalia Bruneli e tem mais uma que passaro em empregado da estrada de ferro. Ns como moradores deste lugar pedimos a Vsa. Snr. tomar todas as providncias sem perca de tempo para no haver mais destes abusos. Sua Exma. poder mandar fazer uma sindicncia sobre estes fatos que parecem ser muitos grave principalmente das notas falsas. Dizem que o snr. Capito Joo Antonio da Fonseca recebeu uma carta de faxina para no fazer inqurito policial que lhe gratifi caria muito bem. As notas esto em poder do delegado de polcia do tal capito. Vamos ver o resultado se no o ver providncias iremos pela imprensa e levamos a o conhecimento do juiz fede-ral. Mais como em S. Paulo temos Governo entendemos que far justia e punir os culpados (sic).

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    Militarismo, con itos e indisciplina nas prticas policiais em So Paulo, Primeira Repblica

    Outro caso de irregularidade de conduta policial foi registrado em ofcio do segundo delegado de Polcia, Th eophilo Nobrega, em 21 de maro de 1906, dirigido ao Chefe de Polcia Augusto Meirelles Reis:

    Juntamente a este envio a V. Exa. as declaraes de diversos indivduos que indevidamente pagaram, no Posto Policial do Cambuci, a quantia de doze mil e qui-nhentos ris de licena da Polcia para jogo de bolas. Esta licena h anos cobrada diretamente pela Secretaria de Polcia, que exige apenas o pagamento de quatro mil ris em selo do Estado. Pelas declaraes juntas veem-se as graves irregularidades que se deram nessa subdelegacia e que exigem de V. Exa. um enrgico corretivo; e para que no mais se repitam tais fatos, envio-as a V. Exa., juntamente a este, para os devidos fi ns.

    As declaraes indicavam a existncia de um esquema montado havia pelo menos quatro anos pelo subdelegado coronel Silveira de Moraes, pelo escrivo Walfredo, por um agente secreto e por um sargento. Eles intimavam os negociantes a comparecer, noite, na subde-legacia, para pagar a licena do jogo de bolas. No entanto, os aplicadores do golpe no trabalhavam na subdelegacia em questo. Apenas a usavam para dar o carter ofi cial sua empresa ilcita. Aps receberem o dinheiro, no emitiam recibo, apenas pediam que as vtimas assinassem uma folha em branco, supostamente para a emisso da licena pela prefeitura. Num dos casos, o segundo sargento, Juvenal Carlos de Assumpo, do quartel do Cambuci, passou um recibo, em primeiro de maro, no qual dizia ter recebido 12 mil e 500 ris provenientes de jogo de bola e que iria entregar esta soma ao escrivo do posto policial. Os golpistas, assim que arrecadavam o dinheiro, desapa-reciam de vista. Todos os quatro negociantes inquiridos, vtimas do golpe, eram italianos. O ofcio e os termos de declaraes acabaram, no entanto, arquivados, sem que nenhuma providncia fosse tomada.

    A situao melhorou com a adoo de um modelo militar? Pelas cpias dos pronturios de muitos praas e soldados, dos diferentes corpos da Fora Pblica, constata-se que pequenas faltas disciplinares eram relatadas com frequncia. Em junho de 1914, o Comandante Geral, Antonio Baptista Luz, propunha a excluso, por indigno, do soldado Jos dos Santos, do segundo corpo da guarda cvica, por ter se embriagado e furtado do mostrurio de um estabelecimento comercial da rua Oriente n. 158, uma pea de chita, recusando entreg-la a seu dono com quem ainda travou luta corporal. Para realizar a averiguao dos

    atos de indisciplina dos soldados, o Conselho de Justia do Comando da Fora Pblica instaurava sindicncias, ou seja, os inquritos administrativos, caracterizados por sua rapidez e relativa sem-cerimnia para acusar, condenar e compelir o indivduo ao cumprimento de penas duras e sistemticas. Essas prticas, certamente, revelam o grau de discricionariedade dos poderes pblicos para dispor dos soldados da forma que quisessem, sem a interfern-cia da justia, mesmo nos casos em que aes pblicas eram cabveis. Os soldados faltosos passavam por formas militares de correo. Aps a comprovao da sua culpa, eram expulsos e, s vezes, submetidos a julgamento civil.3

    Os casos mais comuns de indisciplina eram as de-seres, o no cumprimento das funes regulamentares, o desacato autoridade judiciria, a permisso de fuga de preso, o abandono de destacamento. Pelo pronturio do soldado Antenor Fernandes, recrutado como voluntrio, em dezembro de 1912, e expulso, em julho de 1914, v-se que, logo, em maro de 1913, o soldado sofria punio de oito dias de priso, por ter sido encontrado alcoolizado em casa de meretrizes. Aps essa primeira ilegalidade, o soldado foi preso inmeras vezes, por faltar revista de recolher, sendo que foi punido certa feita com 25 dias de xadrez, por ter-se apresentado ao servio completamente bbado. Pelo mesmo motivo, permaneceu mais um total de 85 dias preso e mais 40 dias, por ter sido encontrado quando promovia desordem e por luta corporal com um seu companheiro. Esse companheiro era o soldado Anezio Ferreira da Silva, que tinha apenas seis meses de incorporao, mas que j tinha sido corrigido com 10 dias de priso, por ter sido encontrado jogando cartas a dinheiro no alpendre da Cavalaria, falta na qual reincidiu pelo menos mais duas vezes. Antonio de Oliveira Leite, incorporado em novembro de 1910, passou trs anos com fi cha limpa. Mas, em 1913, comeou a se ausentar sistematicamente do servio, fi cando preso, por isso, 56 dias intercalados. O soldado foi, fi nalmente, expulso, aps ter fi cado 25 dias preso por ter tomado de um menor uma pea de fazenda por ele encontrada em abandono na rua da Graa e Jlio Conceio, a pretexto de lev-la ao posto policial do distrito, o que no fez, fi cando com ela em seu poder.

    Um olhar atento vida dos soldados da Fora mostra as vicissitudes e contradies da disciplina militar. Em 06/11/1911, foi feita a transcrio do pronturio do soldado nmero 113, da Quarta Companhia da Fora Pblica, Francisco Gomes do Nascimento. Nascido em 1877, na cidade de Itabaiana, branco, cabelos castanhos, olhos pardos, sem ofcio anterior e solteiro. Mesmo tendo

    3 Evidentemente, a pesquisa tem demonstrado que as dinmicas sociais e polticas no contexto da passagem do Imprio Repblica foram caracterizadas pelo uso constante violncia. Esta discusso no deve ser esquecida ao longo deste texto (Franco, 1983; Telarolli, 1977).

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    desertado da Fora anteriormente, foi, em 1908, reincludo. Logo no incio de 1909, fi cou preso por quatro dias, por faltar revista de recolher. Em agosto do mesmo ano, foi promovido a recruta de ensino. Trs meses depois, cum-priu quatro dias de priso por descumprimento de ordens superiores. Em 1910, foi elogiado pelo governo do Estado pelo trabalho de fi scalizao das eleies. Um ms aps o elogio, fi cou preso mais quatro dias por ter danifi cado as rdeas do cavalo do comandante. Em junho, cumpriu mais oito dias de priso por comportar-se de forma inconve-niente quando fazia guarda no Palcio do Governo. Em outubro, cumpriu priso de 15 dias por ter desrespeitado um cabo que encontrara dormindo no Largo do Rosrio. Em dezembro, foi elogiado mais uma vez por correo e disciplina, mostradas quando da rebelio da marinha de guerra nacional. Em junho de 1911, permaneceu preso, por mais quatro dias, por ter discutido com um ofi cial inferior. Em Outubro, fi cou preso, tambm por quatro dias, pois, quando estava em patrulha na cidade de Sorocaba, dirigira gracejos pesados a vrias senhoras. Por conta desses atos, passou a responder a Conselho de Justia.

    Na mesma data, foi feita a transcrio do prontu-rio do soldado nmero 186, Carlos de Siqueira Lopes, por ter gracejado tambm com as mesmas senhoras de Sorocaba. Nascido em 1889, no Estado de So Paulo, com residncia na Capital, cor parda, cabelos pretos e cara-pinhos, cocheiro e solteiro, o soldado reincorporou-se Fora Pblica, em 1909, aps ter desertado. Foi condenado a cumprir dois meses de priso pelo crime de desero. Em maro de 1910, foi elogiado pelo Secretrio da Justia e Segurana Pblica. Um ms depois, fi cou preso por quatro dias por ter faltado revista. Em maio, fi cou preso por 25 dias em solitria, com meia rao, pois, na hora do jantar, atirara uma caneca vazia em um companheiro; sendo admoestado por um cabo, quebrou uma moringa numa mesa; em seguida, tentou agredir com um garfo ao gerente do rancho. Um ms depois, foi preso, por quatro dias, por ter faltado revista de recolher. Em julho, cumpriu priso de 15 dias, por ter sido encontrado dormindo enquanto fazia patrulha noturna. No dia 17 do mesmo ms, fi cou preso por 25 dias numa clula, com meia rao, por ter-se evadido pelos fundos do quartel e ido casa de uma me-retriz onde fez grande algazarra e sendo advertido por um seu companheiro que estava de servio no o atendeu. Em 17 de novembro, cumpriu mais 15 dias de priso por ter-se apresentado ao quartel bastante alcoolizado. Todavia, em dezembro, foi elogiado pelo governo do Estado. Em maro de 1911, cumpriu mais 15 dias de priso por ter furtado o cobertor de um companheiro e tentado agredi-lo. Em abril, fi cou preso por dez dias por ter faltado ao servio.

    Mas, em junho, foi promovido a monitor de ginstica. Em julho, foi promovido ao posto de anspeada. No mesmo ms, cumpriu priso de dez dias por estar em estado de embriaguez. Por isso, perdeu a divisa de anspeada e, ainda, fi cou preso oito dias por ter abandonado o servi-o de monitor de ginstica. Em agosto, fi cou preso por 25 dias por ter abandonado o servio de prontido na cidade de Campinas e se dirigido a um botequim. Em setembro, cumpriu mais 25 dias, em regime de jejum de po e gua, por ter abandonado o servio, embriagando-se e, com o sabre, tentado agredir um ofi cial superior.4

    As situaes de indisciplina eram fl agradas pela imprensa, conforme divulgou o Correio Paulistano, em 29/10/1921:

    Depois de meia-noite, o soldado do primeiro batalho Gumercindo de Moraes, que furtivamente se ausentara do quartel da Luz para se encontrar com uma rapariga que o esperava na rua Florncio de Abreu, esquina da rua Mau, conseguiu tudo medida de seus desejos, permanecendo ao lado da companheira, em animada palestra. Enquanto isso se passava, apareceu um paisano desconhecido que logo dirigiu provocaes ao soldado, ao mesmo tempo que convidava a rapariga a acompanh-lo. O soldado Gumercindo, que se achava alcoolizado, assumiu atitude agressiva, investindo contra o advers-rio. O desconhecido, na ocasio armado de uma navalha, repeliu o soldado, precipitando-se sobre este, golpeando-o no rosto e no brao. Aos gritos da rapariga, que estava com a vtima, acorreu ao local o vigilante da rua, que chegou sem ter mais tempo de prender o ofensor.

    Investigao, corporativismo e poltica

    Entretanto, o corporativismo tambm impedia que as denncias pblicas chegassem punio dos responsveis por violncias ou por corrupo. No jornal O Comrcio, de 29 de maio de 1914, saiu a notcia de que, sob o alegao de estar averiguando uma denncia contra duas senhoras, enquanto estas assistiam reza na Capela dos Enforcados, um guarda cvico tomando-se de zelos, foi postar-se sada da capela e, auxiliado por outros companheiros de milcia, esperou que as senhoras sassem, prendendo-as brutalmente e chegando, mesmo, a arrancar violentamente os botes do casaco de uma delas. A notcia prosseguia, dizendo que as senhoras foram levadas arbi-trariamente presena da autoridade de servio no posto vizinho Capela e imediatamente foram restitudas

    4 Para uma anlise mais atenta dessas trajetrias e dos mecanismos criados para o controle das indisciplinas dos policiais, ver Souza (2009).

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    liberdade. A notcia era concluda com o reprter so-licitando providncias contra o ato violento e arbitrrio das praas. Na informao da sindicncia realizada, o tenente Th eophilo Rodrigues Lemos, do primeiro corpo da guarda cvica e comandante da companhia aquartelada no posto policial da Liberdade, disse que estava janela do referido posto hora do ocorrido, e que notou quando o capito Jos Bernardo, segundo subdelegado de polcia, e o agente de polcia Francisco Croque aproximaram-se das senhoras que saam da Capela e as convidavam para ir ter com o segundo delegado, pois havia queixa contra elas. Como uma delas se recusasse a acompanh-los, o agente segurou-a por um dos braos e a conduziu at a entrada da Delegacia. Logo em seguida, elas foram libe-radas pela autoridade. Por isso, concluiu o tenente, no houve interveno de soldado algum. O comando geral da Fora Pblica endossou a verso do tenente, julgando infundada a notcia do jornal.

    Em 22 de junho de 1905, o terceiro subdelegado da Luz baixou uma portaria dizendo que no dia 21, s 2 horas da tarde, na avenida Tiradentes, Ignacio Maluseck sofreu uma queda e se feriu no rosto, quando estava sendo conduzido pelo soldado Antonio Nazario dos Santos. Depois de algumas inquiries, o delegado concluiu que a queda se dera porque Ignacio estava embriagado, e que o soldado no foi responsvel pelos ferimentos. Um ms depois foi registrado mais um caso de violncia policial no qual o mesmo soldado estava envolvido. O subdelegado que instaurou e presidiu o inqurito anterior havia sido substitudo pelo subdelegado Estanislau Borges, que, em 2 de agosto de 1905, abriu o inqurito com uma portaria na qual dizia ter tido conhecimento do crime atravs da leitura dos jornais. Segundo a portaria, em 31 de julho, os soldados Antnio Nazrio dos Santos e Silvino Bor-ges de Oliveira prenderam e maltrataram fi sicamente o indivduo Aff onso de Castro. Na sequncia do inqurito, o subdelegado solicitou a tomada das declaraes dos soldados, mas no a realizao do exame de corpo de delito. Antnio Nazrio declarou que, estando em servio na rua So Caetano, dois soldados da cavalaria, vestidos paisana, avisaram-lhe que dois indivduos tomaram-lhes as mulheres. Os acusados foram interpelados pelo soldado e negaram a acusao. O soldado Nazrio disse que de-licadamente convidou todos a voltarem para suas casas. Aff onso de Castro, um dos acusados, teria desacatado a Nazrio e, ao resistir ordem de priso, teria tropeado e cado. O soldado Silvino Borges de Oliveira confi rmou a verso de seu colega, dizendo que Aff onso de Castro cara e se ferira porque estava embriagado. No Posto Policial da Ponte Pequena, Aff onso alegou ter sofrido maus-tratos por parte soldados e que, sem nenhum motivo, fi cou detido. Uma testemunha disse ter visto uma das praas dar um

    empurro e um pontap no dito indivduo e caindo este por terra; que assim as duas praas foram para cima do mesmo indivduo e deram-lhe muitos socos; que em vista destes fatos o indivduo preso gritou e foi nesta ocasio que ele depoente aproximou-se e repeliu o procedimento das mesmas praas. Outra testemunha disse que dois paisanos e dois praas espancaram o moo preso, a ponto deste cair por terra. Apesar dessas declaraes, o inqu-rito permaneceu inconcluso, sem que o delegado desse qualquer justifi cativa.

    Em 12 de maio de 1925, foi instaurado inqurito policial, na primeira delegacia auxiliar, depois encami-nhado segunda delegacia da Luz, para investigar uma agresso leve envolvendo dois soldados da Fora Pblica. O soldado teria agredido um indivduo bbado que estava incomodando as pessoas num cinema. Como a priso foi efetuada com excessos de violncia, um grupo de pessoas reclamou e exigiu a libertao do preso; por essa atitude, mais duas pessoas foram presas. No meio da confuso, um grupo de soldados do batalho escola da Fora Pblica investiu contra o grupo, causando comoo geral. No inqurito policial, o primeiro delegado auxiliar, Antonio Pereira Lima, inquiriu um dos soldados, Horacio da Silva Santos, com 20 anos de idade, solteiro, fi lho de Antonio Gomes dos Santos, militar, brasileiro, natural de Belo Ho-rizonte e morador Avenida Tiradentes, 15, que declarou

    que agora s 18 horas e trinta, juntamente a Virgi-lio Belfort Arantes, se achava de servio no cinema Marcondes, em cujas imediaes apareceu um homem embriagado, que comeou a promover desordem em consequncia do que o declarante mandou que seu com-panheiro o mandasse dali embora, como dito indivduo desacatasse Virglio, o declarante se encaminhou para o local onde deu voz de priso ao turbulento o qual tentando desobedecer o declarante, este teve de usar de energia, no lhe sendo, porm, necessrio espancar o preso a quem se limitou a dar alguns empurres; que uma vez recolhido o indivduo embriagado no carro de presos alguns curiosos que no local se achavam protes-taram o modo por que Belfort efetuara a priso tendo por isso outras pessoas que ali se achavam o mesmo destino do indivduo alcoolizado; que fato que Belfort se houve com violncia no efetuar a segunda priso, chegando mesmo a lanar mo de seu cinturo com o qual desferiu vrios golpes contra o preso.

    Na sequncia do inqurito, o delegado inquiriu o indiciado, soldado Virgilio Belfort Arantes, branco, 21 anos de idade, solteiro, fi lho de Antonio Arantes, praa nmero 189 da quarta companhia do quarto batalho da Fora Pblica, brasileiro, natural de Franca, residente

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    Avenida Tiradentes, 15. Este declarou que um indivduo alcoolizado estava promovendo distrbios. Como deso-bedecesse s recomendaes, o soldado Horcio deu-lhe somente alguns empurres. Por isso, o bbado atirou-se ao cho, o que ocasionara o protesto dos curiosos que quele momento comearam a se aglomerar. Virglio disse que conduziu o turbulento e outro indivduo at a caixa policial prxima Estao da Luz, gerando assim nova onda de protestos. Para conter a situao, um grupo de soldados veio em seu auxlio; o declarante admitiu que os soldados agiram com certa violncia ao colocar um dos indivduos no carro de presos; tambm admitiu que agrediu Joo Gomes da Rocha, com o seu cinturo, com o intuito nico de pr termo aos insultos que o mesmo, no caminho, lhe vinha dirigindo.

    Aps longo processo de inquirio das testemu-nhas e vtimas, todas ressaltando a violncia cometida pelos soldados, o inqurito foi concludo apenas em 19 de setembro de 1925, pelo comissrio de polcia Henrique Gonalves, dizendo que a demora deveu-se afl uncia de servio:

    Os indiciados, que so praas, se achavam juntamente de servio, nas imediaes do Cinema Marcondes, na rua Capito Matarazzo, nas imediaes da Estao da Luz, quando por ali apareceu um indivduo em-briagado, o qual comeou a promover desordens, pelo que os indiciados o quiseram mandar embora do local e como tal indivduo desacatou Virgilio, Horacio deu voz de priso ao turbulento, tendo para esse fi m usado de energia e sendo forado a dar alguns empurres no preso, sem espanc-lo, isto o que declara o indiciado Horacio da Silva Santos, adiantando ainda que, ao ser recolhido o tal indivduo ao carro de presos, curiosos protestavam contra o modo por que se efetuou a priso, tendo dois dentre esses populares sido presos tambm nessa ocasio, que o indiciado Belfort se houve com violncia ao efetuar a segunda priso, dando vrios golpes de cinturo em um dos presos. O indiciado Bel-fort, em sua declarao, narra os factos do mesmo modo, isto , diz que, aps a priso do indivduo alcoolizado, houve um protesto que ocasionou uma segunda priso, aps a qual, seguiram ainda novos protestos, sendo ento ainda preso uma pessoa que soube chamar-se Joo Gomes da Rocha e em quem ele declarante deu uns golpes com o cinturo, irritado que estava com os insultos que lhe haviam sido dirigidos pelo mesmo Rocha. Eis o fato, que no tem a menor importncia,

    a no ser a constituda pela rebeldia dos presentes que em grande nmero se insurgiram contra uma deteno regularmente efetuada dum brio vulgar. [...] A vtima diz que encontrou uma patrulha de soldados do 4 Ba-talho composta dum anspeada e de um soldado, que lhe deram voz de priso, recebendo ento do anspeada socos e do soldado com a cinta umas coneadas (sic), que uma pessoa presente protestou, tendo sido preso. A vtima Angelotti tambm novamente ouvida, diz ter visto Raul Menezes preso e rodeado duns trinta ou quarenta praas do batalho escola, que algumas praas maltratavam o povo que acorrera curioso. [...] [Belfort], novamente inquirido, declarou que os feri-mentos na pessoa de Raul foram causados pelos tombos que levou, ao ser conduzido preso. O inqurito chegou a seu fi m. Os fatos, confusos a princpio, foram aclarados.

    A interpretao fi nal do comissrio de polcia aponta para a responsabilidade das vtimas pela agresso que sofreram, porque interferiram na ao dos soldados. Mesmo assim, o soldado Belfort foi denunciado pelo crime de agresso. Enquanto o processo corria, o comando da Fora Pblica manteve Belfort detido entre 16/11/1926 e 28/08/1927, sendo expulso da corporao em seguida. Belfort foi pronunciado em agosto de 1929, quatro anos aps o incidente. Em setembro, sendo apresentado fi nal-mente ao jri, foi absolvido das acusaes.

    Nos documentos, so poucas as notcias de casos de punio de soldados da Fora Pblica ou da Guarda Cvica motivada por agresses ou morte de no policiais. H o caso de um soldado da cidade de Cabreva que, ao tentar prender um indivduo que estava fazendo exerccios de capoeiragem, passou a agredi-lo com bordoadas de rifl e. Em decorrncia disso, o indivduo faleceu e o soldado foi condenado a dez anos e seis meses de priso, cumprindo parte da pena na Penitenciria do Estado, onde passou pela suspeita de ser degenerado, por apresentar anestesia do senso moral (cf. Salla, 1999).5

    Poucos casos de violncias cometidas por soldados da Fora Pblica geravam a abertura de inqurito poli-cial. Quando isso ocorria, as violncias relacionavam-se a problemas corriqueiros e no necessariamente ao uso da farda, e as investigaes, na maioria das vezes, no eram conclusivas. Em 11 de agosto de 1902, foi autuado em fl agrante Miguel Ribeiro dos Santos, portugus, de 45 anos, casado, soldado do segundo batalho e morador no cortio da Rua Luiz Pacheco, 12. Miguel havia alugado um quarto a um seu colega de farda de nome Alfredo.

    5 Na vertente mais contempornea da pesquisa histrica, o estudo sobre os policiais, seus problemas e seu dia a dia ganha relevo. Seria interessante pesquisar religiosidade, padres de casamento, habitao, mobilidade e mesmo problemas relativos s doenas mentais e bebida alcolica (Rosemberg, 2010). De acordo com o ofcio que me dirigiu o dr. tenente-coronel chefe do servio sanitrio da Fora, solicito vossas providncias no sentido de ser internado no Hospcio do Juqueri, com a maior brevidade possvel, o soldado do terceiro batalho, Gabriel Barboza Brito, que se acha no hospital da Fora sofrendo das faculdades mentais (O cial do Comando da Fora Pblica em maro de 1912).

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    Este ganhou algum dinheiro no jogo do bicho e, em vez de pagar o que devia a Miguel, gastou o dinheiro com bebidas. Isso provocou discusso, briga e morte, por um tiro de revlver. Miguel confessou o crime, mas alegou legtima defesa. Foi absolvido pelo jri.

    Em 13 de dezembro de 1926, a delegacia de polcia da Liberdade autuou em fl agrante delito um soldado da Fora Pblica por ter agredido gravemente sua amsia. As diligncias foram rpidas, e o comissrio de polcia, Francisco Ribeiro da Silva, fez um minucioso relatrio:

    Em nove do corrente ms, cerca das dezoito horas, na rua Clmaco Barbosa, prximo ao largo do Cam-buci, Aniceto Rodrigues Barbosa, soldado do terceiro batalho da Fora Pblica, agrediu navalha sua ex-amsia Cecilia Moura, produzindo-lhe as leses graves constantes do auto de corpo de delito de fl s. 4. As folhas encontra-se o auto de exibio e apreenso da arma. A vtima declarou s fl s. que em tempos manteve relaes sexuais com Aniceto, no o tendo mais visto desde ento. [...] O indiciado declara que de volta da Bahia conheceu Cecilia com a qual se amasiou. Estando com dinheiro, pois recebera o soldo de trs meses, fazia-lhe todos os desejos. Depois de um ms, soube que a companheira era casada com um seu colega, preso como desertor. [...] [E]ntrando o declarante em um botequim do largo do Cambuci, ali a encontrou em companhia de outro soldado, de mos dadas e bebendo. Alegrou-se com isso, pois apareceu a oportunidade de se separarem. Retirou-se para o quartel, mas na rua Cl-maco Barbosa, Cecilia e o companheiro encontraram-se cara a cara com o declarante. Cecilia, ento, dirigiu-se ao companheiro e disse vamos dormir cedo hoje. O declarante exasperou-se mas nada disse, at quando Cecilia virando-se disse ao companheiro: - Olha ali o trouxa. Nesse momento, o declarante perdeu a calma e investindo contra ela vibrou-lhe uma bofetada. Cecilia raivosamente quis reagir e foi quando o declarante sacando de uma navalha golpeou-a por duas vezes. Ficou cego com o escrnio dessa mulher que o havia explorado, deixando-o endividado. [...] Benedicto Ribeiro do Prado, o ltimo amante de Cecilia conta que Aniceto entrou muito exaltado no botequim do largo do Cambuci. Retirou-se e, na rua Climaco Barbosa, Cecilia foi agredida sem mais motivo por Aniceto, que tambm tentou agredir o declarante que fugiu. Das testemunhas ouvidas se conclui que Aniceto Rodrigues Barbosa, depois de explorado pela amante que o aban-donou e o deixou endividado, com ela se encontrando, e por ela sendo escarnecido, anavalhou-a... A primeira testemunha diz entretanto que a agresso foi estpida, pois entre eles no houve troca de palavras.

    A denncia foi oferecida somente em 1928. Du-rante a instruo, o promotor pblico solicitou a realizao de novas diligncias, mas essas jamais foram levadas a cabo, e, em janeiro de 1931, a ao foi extinta, por prescrio.

    Eram comuns as reclamaes dos delegados de polcia quanto ao procedimento disciplinar dos soldados do destacamento posto sua disposio. Em sindicncia realizada pela Segunda Diretoria da Secretaria da Justia e da Segurana Pblica sobre constantes ofcios enviados pelo delegado de polcia de Casa Branca, em 1910, encon-tramos algumas indicaes disso. Em 18 de janeiro desse ano, ele reclamava que o anspeada Bento de Noronha, alocado na cidade, no era jamais escalado para o servio ordinrio da guarnio da cadeia e policiamento da cida-de. Por conta dessa irregularidade, o capito comandante da companhia foi corrigido e o anspeada transferido para outra localidade. Em outro ofcio, do mesmo dia, o delegado reclamava da anarquia, indisciplina e outras irregularidades que eram comuns no destacamento; em 23 do mesmo ms, rusgas ocorridas entre o escrivo da delegacia e componentes do destacamento teriam origina-do uma reclamao contra o emprstimo de uma mesa ao destacamento; no mesmo dia, outro ofcio denunciava que o anspeada que gozava de privilgios no destacamento ainda no tinha sido transferido; em 28, outro ofcio foi enviado, reclamando providncia no sentido de substituir o comandante do destacamento.

    Em ofcio dirigido ao Secretrio da Justia e da Segurana Pblica, Eloi Chaves, em 30 de junho de 1914, o comandante geral da Fora Pblica referia-se ao caso de um soldado de nome Benedicto Bento da Silva, que, em defesa do comandante de seu destacamento e em represlia contra a morte de um colega, assassinou um indivduo, em Barretos. Conforme sindicncia realizada pela Fora Pblica, houve o seguinte fato:

    No dia 17, s 22 horas, os soldados Lindolpho Vieira da Silva, Ignacio Paulo e Firmino Correa das Neves, achando-se em patrulha, ao chegarem rua Alfredo Ellis, encontraram-se com um indivduo de nome Etel-vino, dando tiros a torto e a direito; que recebendo esta parte as praas procuraram encontrar dito desordeiro; que momentos depois encontraram-no e passaram-lhe revista, nada encontrando em seu poder, com relao a armas proibidas; que feito isto, a patrulha mandara-o em paz; que dito desordeiro retirou-se e em seguida veio negaceando a patrulha e desfechou-lhe quatro tiros de revlver, um dos quais atingiu o soldado Ignacio Paulo, na regio dorsal que caiu ferido mortalmente; que tendo ouvido os tiros, ele comandante do desta-camento, segundo sargento Antonio Pinto de Barros, acompanhado de diversas praas saiu imediatamente

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    do quartel em socorro da dita patrulha, que chegando ao local onde se haviam dados os tiros, j encontrou o soldado Ignacio, cado no meio da rua; que em se-guida foi no encalo do criminoso, indo encontr-lo na plataforma da estao local; que, ao receber voz de priso resistiu tenazmente, armado com faca, e de cacete; que ele sargento, travou-se em luta corporal com o mesmo; que nesse momento chegaram em socorro dele um guarda e mais trs praas, que uma delas, de nome Benedicto Bento da Silva, sacou seu revlver com que se achava armado para o patrulhamento, e disparou-o quatro vezes contra o assassino, que caiu morto.

    Embora no ofcio haja a informao de que o soldado estivesse preso disposio da justia, o chefe da segunda seo da Secretaria da Justia afi rmava no ter recebido nenhuma informao adicional do delegado de polcia. Em ofcio posterior, datado de 4 de julho, o comandante geral voltou a informar que o soldado, de fato, no estava preso porque o delegado no havia lavrado o fl agrante delito, aguardando prend-lo quando fosse fi nalmente pronunciado.

    Numa sindicncia realizada, em maro de 1912, sobre o comportamento do destacamento de Atibaia, o capito fi scal, Antonio de Carvalho Sobrinho, apurou que o sargento Joo de Castro, comandante do destacamento, no vivia em boa harmonia com o carcereiro porque este deixava o servio de limpeza dos xadrezes a cargo das praas do destacamento. O dito sargento, desejan-do manifestar seu desagrado ao delegado de polcia da cidade, formou suas praas e diante da autoridade fi zera perguntas s praas sobre o proceder do carcereiro e se elas preferiam ser recolhidas ao que todas responderam afi rmativamente. Diante desse ato de indisciplina, o delegado solicitou, por telegrama, a imediata substi-tuio de todo o destacamento. No obstante isso, o sargento, na noite do mesmo dia do incidente, incitou uma patrulha de quatro praas, que estava de servio, a entrar num cinema junto com ele. Na ocasio, o delegado determinou que todos se recolhessem ao quartel, ordem que o sargento Joo de Castro, exaltado, no atendeu. Iniciou-se, ento, um conflito entre agentes civis e soldados, motivado pela insubordinao do sargento autoridade do delegado. No fi m, o sargento foi levado detido ao quartel de onde, por fi m, se retirou, com um outro indivduo que o procurara, por volta das 11 horas da noite para ir entender-se com o chefe poltico local. O comando do Batalho enviou ordem, por telefone, ao soldado Antonio Rodrigues Lopes para que o sargento permanecesse no xadrez. Mas, mesmo assim, o sargento se retirou do destacamento com a alegao que voltaria mais tarde, o que, entretanto, no fez. O comando geral

    da Fora Pblica, mais tarde, informava ao Secretrio que o destacamento foi todo substitudo, e que o responsvel dos fatos ali ocorridos o segundo sargento Joo de Castro, ento comandante, o qual hostilizava o carcereiro, por este ocupar praas do destacamento no servio de faxina da cadeia. O sargento Joo de Castro ausentou-se do destacamento ao saber que havia ordem de priso e at a presente data no se apresentou.

    Alinhamentos polticos eram parte da atividade policial e interferiam na lgica da disciplina e da hierar-quia. A criao da polcia de carreira, em 1906, e a criao das delegacias regionais de polcia, em 1916, procuraram disciplinar estas questes assim como dar paradeiro s constantes requisies de reforos, orientaes e ajuda por parte das autoridades policiais. Mas nada mudou na dinmica das relaes entre os representantes do poder central e os chefes locais. De fato, as autoridades policiais detinham o cargo mediante acordo negociado ou tcito de algum lder poltico que tivesse poder de fogo junto estrutura do partido dominante, no caso o Partido Republicano Paulista. Se o delegado devia favores aos chefes polticos, quando a situao mudava, ele poderia ser transferido. Portanto, parte importante dos limites disciplina policial pode ser imputada poltica?

    O corporativismo parece ser uma chave possvel de explicao para o desfecho de certos casos. Em 3 de junho de 1914, uma sindicncia foi realizada, na cidade de So Bernardo, para apurar o assassinato de Octvio Gumercindo, cometido pelo soldado Jos Oriel de Mello, no momento em que efetuava uma priso. Joviniano Brando de Oliveira, major fi scal, para realizar a sindi-cncia, ouviu as pessoas que presenciaram o fato bem como as praas do destacamento e o acusado. Raphael Lombardi, companheiro da vtima, declarou que estavam conversando quando dois soldados apareceram e lhes deram voz de priso. Ele obedeceu, mas Gumercindo sacou uma garrucha e declarou que no se entregava, atirando, em seguida, em direo ao soldado Oriel. Como a arma no disparasse, Oriel teve tempo de puxar sua arma e atirar em Gumercindo, ferindo-o de morte. O proprietrio da casa onde transcorreu o fato, Joo Raymundo de Aguiar, declarou que ouviu os soldados dizendo, esto presos!. Dirigindo-se ao local da cena, viu Gumercindo puxar uma garrucha e dizer, preso o qu, soldado, e ato contnuo, procurou acertar o soldado Oriel, mas a arma no detonou, dando ocasio para o soldado Oriel alvejar Gumercindo. Declarou ainda que, se Oriel no atirasse, teria sido morto, pois Gumercindo era homem perigoso. O soldado Maximino Ferreira de Carvalho disse que foi chamado em sua casa por Oriel para auxili-lo na priso de um ladro de cavalos. Uma vez encontrados os ladres Gumercindo e Lombardi,

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    foi lhes dada voz de priso. Gumercindo resistiu com uma garrucha, mas Oriel disparou seu revlver contra Gumercindo, que morreu por isso. O sargento Manoel Marques de Britto declarou que o delegado de polcia de Cubato pediu a priso do ladro de animais Oc-tavio Gumercindo. Como a autoridade policial da vila no estava presente, o sargento mandou o soldado Oriel chamar o cabo Cupertino para efetuarem a priso. Mas Cupertino foi, primeiro, armar-se de carabina e depois, com o sargento, seguiu para o local. Os dois, nas proxi-midades da casa de Raymundo, ouviram tiros e apitos de socorro; chegando no local, encontraram Gumercindo morto. As pessoas presentes disseram-lhe que ele resistira priso e o soldado Oriel, em sua defesa, atingiu-o com um tiro de revlver. O cabo Jos Cupertino de Sousa confi rmou as declaraes do sargento e disse que no se negou a auxiliar o soldado Oriel. Portanto, todas as testemunhas declararam que o soldado Oriel agiu em legtima defesa prpria.

    Assim, o soldado Jos Oriel de Mello agiu em legtima defesa prpria. E somente se armou com arma particular porque no podia enfrentar um criminoso perigoso somente armado de espadim. O ladro estava disposto a resistir priso e estava armado com uma gar-rucha de fogo central. O soldado armou-se de revlver, mas isso no quer dizer muito, pois se no foi legal foi en-tretanto providencial pois se no fora este natural instinto de defesa seria mais uma vtima do cumprimento do dever que teramos de lamentar. O intuito de Gumercindo de assassinar o soldado est provado pelos depoimentos e pelos vestgios recentes existentes no cartucho da garrucha. Por ordem do delegado de polcia local, o soldado Oriel permanecia impedido no quartel e no foi recolhido ao xadrez. So verses dos fatos, e no temos como verifi car a extenso das verdades a colocadas, mas interessante a argumentao em torno da legitimao da morte, como instrumento de ordem pblica, que emerge na lgica corporativa.

    O corporativismo ainda parece ligar soldados e delegados. Em 09 de junho de 1930, foi registrado o inqurito de tentativa de homicdio na delegacia de So Bernardo. Joo dAngelo Sobrinho desferiu tiros de re-vlver, na estao de Ribeiro Pires, contra o anspeada Julio Epifanio de Oliveira. Em seu relatrio, o delegado Pedro Piva afi rmava a culpabilidade de Joo dAngelo:

    O desafeto entre o anspeada e Joo DAngelo vinha de longos dias, pelo fato de possuir este um cachorro que certo dia investira contra o anspeada tendo este num justifi cvel ato de defesa atirado contra o co. Apesar de no acertar o alvo este fato no agradou o dono do cachorro que injuriou grosseiramente o ans-

    peada e como tais discusses fossem frequentes, pois se davam a cada encontro do co com o anspeada, o subdelegado mandou intimar Joo para tomar as providncias que julgasse oportunas. A intimao era para as 9 horas e fora incumbido de faz-la o soldado Antonio Trajano, e ao desembarcar Joo s 6:45 foi logo na estao intimado para comparecer na subdelegacia [...] mas o anspeada interveio na intimao exigindo que o intimado comparecesse imediatamente, da se originou outra discusso entre o intimado e o anspeada [...] Com mais uma troca de desaforos e empurres, a cena tivera o desfecho de sangue que lhe deu Joo sacando de seu revlver. O procedimento do indiciado Joo foi inominavelmente srdido e criminoso, no s por desobedecer acintosa-mente s ordens de uma autoridade, como tambm por agredir a tiros um pobre soldado cumpridor de seu dever. Pelo depoimento da vtima e das testemunhas vemos que j era inteno de Joo em atirar contra o anspeada. Parece fora de dvida que o agressor atirara com intuito de matar, pois que se no fora a ligeireza deste no seriam somente a mo e o culote os perfurados pelas balas. Tratando-se assim de uma tentativa de morte por um perigoso indivduo, re-queiro seja decretada priso preventiva.

    Mas a defesa, feita pelo advogado Raphael Oliva, ao contrrio, ressaltou outro aspecto da trama:

    O mantenedor da ordem, no contente com haver atirado contra o cachorro do Sr. Angelo, para manter a ordem, entendeu que em pblico devia dizer toda a sorte de improprios a um sr. honestssimo, de distinta famlia e casado com uma professora pblica local [...] Esse mi-litar, esse representante da polcia, esse mantenedor da ordem, no satisfeito em ter insultado, vilipendiado a valer a verdadeira vtima que DAngelo, entendeu que tinha a sua parcela de autoridade, pois ouviu dizer que, talvez, nesta abenoada terra todos mandam, e, tomou o arbtrio de levar DAngelo para o posto da delegacia s 7 horas, duas horas, portanto, antes.

    Testemunhas afi rmavam que Joo foi agredido por dois policiais. O soldado Trajano, ouvido no processo como principal testemunha, disse que a luta corporal ocorreu quando intimava o acusado, procurando abraar Joo DAngelo na estao, para evitar problemas. O juiz no aceitou o argumento da tentativa de morte e desclassifi cou o crime para agresso leve, mas pronunciou o acusado, concedendo-lhe fi ana defi nitiva. A ao penal foi extinta por um indulto concedido, em 17/12/1930, por fora de deciso do governo provisrio.

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    Concluses

    Os documentos mostram que a polcia, quer por meio de medidas administrativas, quer por meio de in-quritos policiais, procurou enfrentar os problemas disci-plinares da fora policial. Mas os problemas extravasaram os limites da legalidade e estavam ligados s diferentes dinmicas sociais e polticas em que a polcia interfere e de que faz parte. Do ponto de vista estritamente disciplinar, a questo da desero e do respeito hierarquia parece ter sido mais crucial para defi nir o estilo de polcia, bem como o tipo de policial almejado em So Paulo. Mas os relatos do fi nal do perodo mostram que esta tarefa era, no mnimo, complicada. O mecanismo da punio administrativa parece ter sido adotado como estratgia principal de controle do comportamento do policial. E, dentro desta lgica de punio administrativa, os casos de desero pesavam mais do que as violncias cometidas contra no policiais ou pequenos deslizes comportamen-tais. Enquanto os primeiros casos levavam a detenes de alguns dias, os desertores eram punidos de dois a oito meses de priso, sendo depois expulsos da corporao. Aps desertarem, os soldados eram lanados no rol dos criminosos foragidos e procurados em todo o territrio do Estado. A Fora Pblica e o governo do Estado valiam-se dos processos de identifi cao e da correspondncia policial para perseguir os infratores. Nos quatro primeiros meses de 1912, por exemplo, havia um total de 21 soldados sentenciados por desero e 40 aguardavam julgamento. Parece que faltou empenho para que as aes penais por crimes de estelionato, agresso fsica, espancamento ou tentativa de homicdio fossem levadas a cabo contra os membros da fora. Uma pesquisa seria necessria para comparar se havia rigor diferente na persecuo de crimes e deslizes disciplinares cometidos pelos ofi ciais e delegados de polcia no perodo.

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    Submetido: 14/06/2012Aceito: 26/09/2012

    Lus Antnio Francisco de SouzaUniversidade Estadual PaulistaDepartamento de Sociologia e AntropologiaCampus de MarliaAv. Hygino Muzzi Filho, 73717525-900, Marlia, SP, Brasil