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Projeto de Iniciação Cientifica: LULISMO: UMA REVOLUÇÃO PASSIVA OU REFORMA GRADUAL? Anderson Ferreira da Silva [email protected] Introdução Vivemos há mais de 10 anos o Partido dos Trabalhadores (PT) na presidência da República: Lula (de 2003 a 2010) o primeiro presidente brasileiro que não vinha das elites e Dilma (de 2011 até os dias atuais) a primeira mulher presidente do Brasil. O governo de Dilma está sendo um governo de continuidade das políticas feitas por Lula, ou seja, o governo dela não rompeu com seu antecessor, pelo menos até 2014 o lulismo ainda prevaleça. O que o lulismo tem de diferente dos outros governos? Os pobres e os mais pobres que antes não votavam no PT passaram a votar nele. Segundo Andre Singer houve uma lenta penetração do PT nas classes mais pobres e na região Nordeste do país, já o PSDB desde sua fundação vem tendo eleitores da classe média. Sob a figura do Lula os mais pobres passaram a receber os programas de transferência de renda e assim muitos saíram da extrema pobreza. O lulismo passou a ser a combinação de desenvolvimentismo econômico (um crescimento do produto interno bruto) aliado aos programas de transferência de renda aos pobres. O temor ao Lula ficou no passado tanto entre os mais pobres como nos mais ricos, o temor que Lula rompesse com o capital não existi mais. O que é esse lulismo que unem ricos e pobres? Será esse um fenômeno único ou um reflexo da teoria do Brasil como um ornitorrinco: uma combinação esdrúxula de setores altamente desenvolvidos, um setor financeiro macrocefálico, mas com pés de barro (ou seja, aquilo que há de mais atrasado sustenta aquilo que há de mais moderno, o atrasado e o moderno convive num mesmo país)?

Lulismo Uma Revolução Passiva Ou Reforma Gradual

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André Singer

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  • Projeto de Iniciao Cientifica:

    LULISMO: UMA REVOLUO PASSIVA OU REFORMA GRADUAL?

    Anderson Ferreira da Silva

    [email protected]

    Introduo

    Vivemos h mais de 10 anos o Partido dos Trabalhadores (PT) na presidncia da

    Repblica: Lula (de 2003 a 2010) o primeiro presidente brasileiro que no vinha das

    elites e Dilma (de 2011 at os dias atuais) a primeira mulher presidente do Brasil. O

    governo de Dilma est sendo um governo de continuidade das polticas feitas por Lula,

    ou seja, o governo dela no rompeu com seu antecessor, pelo menos at 2014 o lulismo

    ainda prevalea.

    O que o lulismo tem de diferente dos outros governos? Os pobres e os mais

    pobres que antes no votavam no PT passaram a votar nele. Segundo Andre Singer

    houve uma lenta penetrao do PT nas classes mais pobres e na regio Nordeste do pas,

    j o PSDB desde sua fundao vem tendo eleitores da classe mdia. Sob a figura do

    Lula os mais pobres passaram a receber os programas de transferncia de renda e assim

    muitos saram da extrema pobreza.

    O lulismo passou a ser a combinao de desenvolvimentismo econmico (um

    crescimento do produto interno bruto) aliado aos programas de transferncia de renda

    aos pobres. O temor ao Lula ficou no passado tanto entre os mais pobres como nos mais

    ricos, o temor que Lula rompesse com o capital no existi mais. O que esse lulismo

    que unem ricos e pobres? Ser esse um fenmeno nico ou um reflexo da teoria do

    Brasil como um ornitorrinco: uma combinao esdrxula de setores altamente

    desenvolvidos, um setor financeiro macroceflico, mas com ps de barro (ou seja,

    aquilo que h de mais atrasado sustenta aquilo que h de mais moderno, o atrasado e o

    moderno convive num mesmo pas)?

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    Justificativa

    A partir de 2003 tendo uma mudana na conjuntura econmica internacional, a adoo

    de polticas para reduzir a pobreza (combate misria), ativao do mercado interno,

    sem romper com o capital, esse cenrio teria produzido juntamente com a crise do

    suposto mensalo (deputados teriam recebido dinheiro para votar de acordo com o

    governo) um realinhamento eleitoral que se firmou em 2006.

    Segundo Andre Singer a expresso realinhamento eleitoral foi designada nos

    Estados Unidos para falar da transformao de clivagens fundamentais do eleitorado

    que nomeiam um ciclo poltico longo. Determinadas converses de blocos de eleitores

    so capazes de ditar uma agenda de longo prazo. Em 2002, deu inicio a fase prolongada

    no Brasil (como ocorreu com a eleio de Franklin Roosevelt nos Estados Unidos). Nos

    Estados Unidos em 1932, assim como no Brasil em 2002, ocorre uma eleio de

    alternncia, forma-se uma nova maioria. Em 2006, Lula se reelege, em funo de

    mudanas governamentais tomadas no 1 mandato de Lula, a classe mdia se afasta e os

    mais pobres ocupam esse lugar. O processo de mudana comeou em 2002, mas foi em

    2006 que o subproletariado adere ao Lula e a classe mdia ao PSDB.

    Paul Singer no livro Dominao e desigualdade (pgina 22) definem os

    subproletrios como aquela parcela da populao que oferecem sua fora de trabalho

    sem encontrar quem esteja disposto a adquiri-la por um preo que assegure sua

    reproduo em condies normais segundo Paul Singer quem pertenceriam a essa

    classe seriam os empregados domsticos assalariados de pequenos produtores diretos e

    trabalhadores destitudos das condies mnimas de participao na luta de classes.

    Essa classe foi mais beneficiada pelas polticas de transferncia de renda adotadas pelo

    governo Lula.

    Objetivos

    Quem so esses que aderem ao lulismo? essa massa de pobres ou miserveis (os

    subproletrios) que no conseguiam se auto-organizar, reivindicar. Mas viram iguais a

    eles (personificado na figura do Lula) que poderiam fazer aquilo que eles no

    conseguiriam fazer?

    O Lulismo seria muito prximo da revoluo passiva do Gramsci. Carlos

    Nelson Coutinho define no livro Gramsci, um estudo sobre seu pensamento poltico

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    (pgina 198): um processo de revoluo passiva, ao contrrio da revoluo popular,

    realizada de baixo, jacobina, implica sempre a presena de dois momentos: o da

    restaurao (na medida em que uma reao possibilidade de uma transformao

    efetiva e radical de baixo para cima) e o da renovao (na medida em que muitas

    demandas populares so assimiladas e postas em prtica pelas velhas camadas

    dominantes). Lula no rompeu totalmente, ele incorporou muitas demandas populares

    (acesso maior universidade, programas de transferncia de renda) nos seus dois

    governos e ainda consegue eleger sua sucessora.

    Ao contrrio do que supunha a tradio marxista-leninista, o Brasil

    experimentou um processo de modernizao capitalista sem por isso ser obrigado a

    realizar uma revoluo democrtica-burguesaou de libertao nacional segundo o

    modelo jacobino: o latifndio pr-capitalista e a dependncia em face do imperialismo

    no se revelaram obstculos insuperveis ao complexo desenvolvimento capitalista do

    Pas. Por um lado, gradualmente e pelo alto, a grande propriedade latifundiria

    transformou-se em empresa capitalista agrria; e, por outro lado, como a

    internacionalizao do mercado interno, a participao do mercado estrangeiro contribui

    para reforar a converso do Brasil em pas industrial moderno, com uma alta taxa de

    urbanizao e uma complexa estrutura social. Ambos os processos foram incrementados

    pela ao do Estado: ao invs de ser o resultado de movimentos populares, ou seja, de

    um processo dirigido por uma burguesia revolucionria que arrastasse consigo as

    massas camponesas e os trabalhadores urbanos, a transformao capitalista teve lugar

    graas ao acordo entre as fraes das classes economicamente dominantes, com a

    excluso das foras populares e a utilizao permanente dos aparelhos repressivos e de

    interveno econmica do Estado. Nesse sentido, todas as opes concretas enfrentadas

    pelo Brasil, direta ou indiretamente ligadas transio para o capitalismo (desde a

    Independncia poltica ao golpe de 1964, passando pela Proclamao da Repblica e

    pela Revoluo de 1930), encontraram uma soluo pelo alto, ou seja, elitista e

    antipopular (Carlos Nelson Coutinho. Gramsci, um estudo sobre seu pensamento

    poltico. Pgina 196)

    Temos com o lulismo: os programas de transferncia de renda, alm da reduo

    da pobreza tm tambm um novo mercado interno aquecido; pessoas que antes no

    consumiam nada passaram a consumir isso pode no parecer nada, mas pensem milhes

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    de famlias recebendo esses benefcios, movimentando os pequenos e mdios

    comrcios, assim gerando empregos, aquecendo a economia, fazendo aumentar o poder

    aquisitivo, gerando emprego e renda. E ainda as outras medidas de incentivo a consumo

    como a reduo de impostos como IPI, barateando os produtos industrializados. E mais

    ainda a concesso de bolsas de estudo para estudantes em universidades privadas e o

    aumento da construo de novas universidades federais.

    Mas por outro lado temos um endividamento das pessoas, uma desmobilizao

    das massas, se aquilo que antes era uma demanda das classes populares passa a ser do

    gabinete do governo, para que as massas vo se mobilizar j que tudo uma mera

    medida governamental.

    O Lulismo se mostra com seus pontos positivos e negativos j meio esboados

    acima, mas a questo que fica para esse projeto: Por que aderiram ao Lulismo?Quem

    so esses que aderiram ao lulismo?

    Cronograma:

    De abril a junho de 2014.

    Contraposio contra e favor do lulismo, sugestes de leituras:

    Andre Singer. Os sentidos do Lulismo Reforma Gradual e Pacto Conservador.

    Cia das Letras. 2012

    Chico de Oliveira, Ruy Braga e Cibele Rizek (orgs.). Hegemonia s Avessas.

    Ed. Boitempo. 2010

    Chico de Oliveira. Crtica razo dualista e o Ornitorrinco. Ed Boitempo. 2003.

    Braga, Ruy. A poltica do precariado: do populismo hegemonia lulista. Ed

    Boitempo.

    Sader, Emir (orgs).10 anos de governos ps-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma.

    Ed Boitempo. 2013

    De julho a setembro de 2014.

    Origens do Lulismo, sugestes de leituras:

    Castel, Robert. As metamorfoses da questo social. Ed. Vozes.

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    Gramsci, Antonio. Cadernos do Crcere.

    Carlos Nelson Coutinho. Gramsci, um estudo sobre seu pensamento poltico.

    De outubro a novembro de 2014.

    Conceitos de filosofia, sugestes de leituras:

    Foucault, Michel. Sujeito e poder.

    Agamben, Giorgio. Homo Saccer.

    1 etapa: Fichamento do livro do Andr Singer Os sentidos do

    lulismo

    Segundo Andre Singer no livro Os sentidos do Lulismo muito difcil definir de

    maneira exata o que o lulismo, pois esse fenmeno ainda est em curso. Conservao,

    mudana, reproduo, superao, decepo e esperana so alguns dos possveis

    adjetivos atribudos feitos pelo autor sobre o lulismo.

    O Lula adotou em seu governo como principal medida: a reduo da pobreza

    social e regional por meio do mercado interno, melhorando o assim o padro de

    consumo das regies mais pobres do Brasil, no entrando em conflito com os interesses

    do capitalismo atual.

    O que decretou o nascimento do termo lulismo foi exatamente relao dos

    mais pobres com o Lula, como os mais pobres foram beneficiados por programas

    governamentais que tinham como intuito melhorar as suas condies de vida. Esses

    mais pobres assim reelegeram Lula em 2006.

    O lulismo modificou a sua base social de apoio do PT. O PT na sua fundao era

    um partido em sua maioria era formado pela classe mdia, o PT passou ao longo dos

    anos a penetrar nos movimentos sociais e hoje o PT formado em sua maioria por

    pessoas de baixa renda justamente pelos movimentos sociais e pelosa programas de

    transferncia de renda. Houve um aumento do crescimento econmico com reduo das

    desigualdades sociais principalmente com a anexao do subproletariado situao

    proletria pelo emprego formal. Pela via ideolgica, lulismo se baseia no modelo do

    Getulio Vargas, aonde ele se coloca como aliado do povo e quem no esto do lado

    do Lula o antipovo.

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    Andre Singer cita Caio Prado Junior aonde ele coloca que para a nao romper o

    crculo vicioso do atraso est ligado a existncia de uma massa de miserveis:

    (...) a herana colonial brasileira ainda faz sentir, no essencial, todos ou pelo

    menos seus principais efeitos. Constitumos ainda, numa perspectiva ampla e geral (...),

    um aglomerado humano heterogneo e inorgnico, sem estruturao econmica

    adequada, e em que as atividades produtivas de grande significao expresso no se

    acham devidamente entrosadas com as necessidades prprias da massa da populao. E

    como conseqncia desse estado de coisas (...) vai economia brasileira incidir no

    crculo a que j nos referimos: os baixos padres e nvel de vida da grande massa da

    populao brasileira no do margem para atividades produtivas em propores

    suficientes para absorverem a fora de trabalho disponvel, e assegurarem com isso

    ocupao e recursos adequados quela populao. (Caio Prado Junior. A revoluo

    brasileira. Pginas 252 e 253)

    Segundo Frei Beto, o programa Fome Zero teria criado comits gestores em

    mais de 2.000 cidades. Esses comits eram formados por representantes da sociedade

    social local, que poderiam ser uma fonte de mobilizao por baixo para abrir caminho

    para uma reduo acelerada da desigualdade. Com o lanamento do programa Bolsa

    Famlia (que incorporou o programa Fome Zero) esses comits passaram a perder

    funo, pois o carto do programa era um convnio entre as prefeituras e o governo

    federal. Trazendo assim uma desmobilizao das classes e no permitindo uma auto-

    organizao para a luta poltica das classes.